Deus Trindade, Unidade Dos Homens
Deus Trindade, Unidade Dos Homens
Deus Trindade, Unidade Dos Homens
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ÍNDICE GERAL
Nota preliminar
APRESENTAÇÃO
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NOTA PRELIMINAR
APRESENTAÇÃO
O texto de reflexão teológica que apresentamos destina-se a evidenciar alguns
aspectos do discurso cristão sobre Deus que, no contexto actual, exigem um
esclarecimento teológico específico. A ocasião imediata deste esclarecimento é a
teoria, exposta com argumentos de índole diversa, segundo a qual existe uma relação
necessária entre o monoteísmo e as guerras de religião. A discussão em torno deste
liame revelou numerosos motivos de incompreensão da doutrina religiosa, a ponto de
obscurecer o autêntico pensamento cristão do único Deus.
Poderíamos resumir o fito do nosso discurso numa dupla pergunta: (a) Como é que a
teologia católica se pode confrontar criticamente com a opinião cultural e política que
estabelece uma relação intrínseca entre monoteísmo e violência? (b) Como é que a
pureza religiosa da fé no único Deus se pode reconhecer como princípio e fonte do
amor entre os homens?
De qualquer forma, nesta reflexão sustém-nos a convicção, que por motivos vários
consideramos partilhada por muitíssimos contemporâneos nossos, crentes e não-
crentes, de que as guerras interreligiosas, como também a guerra contra a religião, são
de todo insensatas.
Em seguida, como teólogos católicos e à luz da verdade de Jesus Cristo, procurámos
ilustrar o nexo entre revelação de Deus e humanismo não-violento. Fizemo-lo mediante
a reexposição de algumas implicações da doutrina peculiarmente apropriadas para
iluminar o debate actual: quer no tocante à autêntica compreensão da confissão
trinitária do Deus único, quer no que diz respeito à abertura da revelação cristológica
para a recuperação do vínculo entre os homens.
No Capítulo II, indagamos o horizonte da fé bíblica, com especial atenção ao tema das
suas "páginas difíceis": aquelas em que a revelação de Deus surge envolvida nas
formas da violência entre os homens. Tentamos identificar os pontos de referência que
a própria tradição escriturística realça – no seu seio – para a interpretação da Palavra
de Deus. Com base neste reconhecimento, oferecemos um primeiro esboço de
enquadramento antropológico e cristológico dos desenvolvimentos da interpretação do
tema, requeridos pela condição histórica actual.
CAPÍTULO I
SUSPEITAS SOBRE O MONOTEÍSMO
3. O núcleo da fé religiosa, através dos mitos e dos ritos, das crenças e das devoções,
dá testemunho da experiência misteriosa de Deus e interpela na profundidade todos os
seres humanos. Deus é princípio e fim de todas as coisas. E nada é como Deus. O
“monoteísmo” foi assim, durante muito tempo, também reconhecido, sob o ponto de
vista da história da civilização, como a forma culturalmente mais evoluída da religião: a
saber, o modo de pensar o divino mais congruente com os princípios da razão. A
unicidade de Deus, acessível à filosofia, foi identificada como princípio da razão
natural, que precede as tradições históricas das religiões. O pensamento puramente
racional da unicidade de Deus, como ponto de convergência da razão e das religiões,
servira justamente para regulamentar cultural e civilmente os conflitos confessionais e
inter-religiosos da modernidade. Todavia é verdade que, no decurso da história e da
própria modernidade ocidental, essa configuração da religião, que as filosofias e as
ciências da cultura concordaram, em seguida, em chamar “monoteísmo judeo-cristão”,
foi utilizada ideologicamente, na perspectiva de um directo paralelismo teológico-
político para justificar a forma monárquica do poder soberano.
16. A oposição da revelação de Jesus ao perfil de uma religião que induz separação e
aviltação entre os seres humanos é um traço profundo da originalidade da fé cristã, que
aqui queremos explicitar. Ele representa um tema de anúncio decisivo, para a
esperança em Deus da humanidade inteira. E é um princípio de incomensurável
alcance para a redenção de uma religião que queira ser “pura e sem mancha” (Tg 1,
27). A Lei, mesmo a mais santa, e a Profecia, mesmo a mais elevada, não bastam para
combater a degradação de uma religião que se afasta da adoração de Deus “em
Espírito e verdade” (Jo 4, 24). A pureza da religião, e da sua justiça, vem da fé em
Jesus Cristo. “O sábado é para o homem”, não para si próprio (Mc 2, 27). E a profecia
mais exaltante “nada vale sem o amor” (1 Cor 13, 2).
17. A unidade indissolúvel do mandamento evangélico do amor de Deus e do próximo
estabelece e afere o grau de autenticidade da religião. Em toda a religião. E também
em todo o pretenso humanismo, religioso ou não religioso. Os Evangelhos apresentam
Jesus Cristo na unicidade da Sua relação pessoal com o Pai. N’Ele reconhecemos
Deus, que se torna visível, justamente no momento em que contemplamos a perfeição
do homem que corresponde intimamente à relação com Deus. Na sua paixão e
ressurreição Jesus traz a redenção do pecado, restituindo ao homem, de modo não
revogável e não superável – o acesso do amor de Deus. O autêntico anúncio de Cristo,
a partir da narrativa evangélica da sua manifestação, é uma chave fundamental para a
discussão hodierna sobre o monoteísmo e as suas falsas interpretações.
CAPÍTULO II
A INICIATIVA DE DEUS NO CAMINHO DOS HOMENS
20. Graças à experiência do exílio, Israel compreende que JHWH, o seu Deus, lhe está
de algum modo – e em toda a parte – próximo. A sua presença e a sua acção salvífica
não estão limitadas a uma lugar determinado (a Terra prometida ou o Templo), mas
são verdadeiramente universais. Esta ampliação corresponde ao emergir da doutrina
da criação. O grande mistério, que progressivamente vem à luz, é justamente a
percepção do facto de que o Deus de Abraão e do Êxodo é aquele que “no princípio...
criou o céu e a terra” (Gn 1,1). No horizonte desta abertura (o Deus dos Pais e do
Êxodo é o Senhor de todo o criado) Deus é Aquele que está destinado a ser conhecido
– e reconhecido – pelos povos da terra como Deus da salvação para todos os homens.
Israel compreende também que JHWH não se assemelha em nada aos deuses “das
nações” . Estes surgem como deuses impotentes para dar a salvação: também àqueles
que neles confiam: “Iludem-se, enganam-se os que transportam os seus deuses de
madeira e rezam a um deus que não pode salvá-los. [...] (Is 45, 20b-22): cf. 1 Sm 5, 2-
5; 1 Rs 18, 33-35). No termo desta lenta maturação, o Deutero-Isaías pode pregar o
monoteísmo rigoroso que confessa e professa a unicidade absoluta de Deus e, por
conseguinte, nega a existência dos outros deuses: “Assim fala JHWH, Deus de Israel,
JHWH Sabaoth, o seu redentor: Eu sou o primeiro e o último e além de mim não existe
outro Deus. Haverá um deus além de mim? [...] (Is 44, 6.8) Baruch exorta
repetidamente o povo a não ter medo dos ídolos e a não ceder à sua sedução: “não
tenhas medo, não são deuses” (Br 6, 14.22.28.64). O Livro da Sabedoria completa o
processo, desvelando a origem puramente humana dos ídolos e dos falsos deuses: “Os
ídolos não existiam na origem e jamais existirão; a superficialidade dos homens é que
os fez entrar no mundo (Sb 14, 13-14). JHWH foi sempre, e para sempre permanecerá
o único Deus.
24. A revelação de Deus, na formação do antigo Israel, abriu caminho no cenário das
tensões, dos conflitos e até dos excessos violentos, que acompanham a história de
todos os povos em demanda do seu destino histórico. A revelação, por outro lado,
conhece igualmente todos os íntimos matizes e os tons fortes do amor, da amizade, do
cuidado materno e até do eros passional.
26. As Sagradas Escrituras contêm, sem dúvida, páginas que permanecem também
para nós, crentes, muito perturbantes e muito difíceis de decifrar. Alguns exemplos:
Deus castiga o género humano com o dilúvio (Gn 6-7) e destrói Sodoma e Gomorra
com o fogo. Deus inflige uma série de duras punições ao Egipto, que culminam com a
morte dos seus primogénitos e com a aniquilação dos seus guerreiros (Ex 7-13). No
período da conquista da Terra prometida ouvimos, mais vezes, ressoar a ordem de
extermínio (anátema) de exércitos e de cidades inteiras (cf. Gn 6, 21; 8, 22-25; 1 Sm
15, 3). As formas de violência sacrificial, no contexto das guerras de conquista, surgem
também como promessas feitas a Deus em vista do seu apoio para a vitória. O
extermínio que se segue à vitória e a conquista é decerto uma prática sacrificial
praticada também pelos outros povos. Como ainda os sacrifícios humanos
propiciatórios, que estão presentes na própria história do antigo Israel (Lv 20, 2-5; 2 Rs
16, 3; 21, 6). Atesta-o justamente o facto de que, no último período profético, estas
práticas, que a mesma releitura deuteronómica denuncia como típicas de Canaã (Dt
12, 31), são duramente condenadas (Mq 6, 6-8; Jr 19, 4-6).
28. O sentido postremo da aliança de Deus com o antigo povo continua a ser a
revelação da sua misericórdia e da sua justiça. Pense-se, por exemplo, no inspirado
repensar da tradição deuteronomista acerca do sentido e da má compreensão da
aliança com Deus, mais associada à qualidade da fé do que ao formalismo da lei; ou no
contributo da tradição Profética em vista da crítica da auto-exaltação da instituição
político-religiosa, que prejudica o primado da fé e a busca da justiça de Deus; ou ainda
na imensa releitura da antiga experiência de Deus e da história de Israel, que a
tradição da Sabedoria indaga na óptica da “aliança originária” de Deus com a vida do
homem inscrita na constituição do “mundo criado”: abrem para o confronto da Palavra
de Deus com a beleza e com o drama da universal condição humana.
29. De resto, o amor do poder nunca foi sequer a primeira palavra de Deus. Pelo
contrário, foi a palavra da tentação e do delírio de omnipotência do primeiro Adão, que
removeu a evidência da criação e contaminou para sempre – mas não de modo
insuperável – a linguagem da humana teo-logia. Escreve S. Paulo: “Pois, embora
vivamos numa natureza frágil, não lutamos por motivos humanos (en sarki 2 Cor 10, 3).
As armas do nosso combate não são de origem humana (kata sarka, 2 Cor 10, 4), mas,
por Deus, são capazes de destruir fortalezas. Destruímos os sofismas e toda a altivez
que se levanta contra o conhecimento de Deus e cativamos todo o pensamento para o
conduzir à obediência a Cristo” (2 Cor 10, 3-5). Numa passagem como esta (e outras
afins: cf. Ef 6, 10-17) está bem documentada a definitiva conquista de uma mudança de
linguagem que decide a interpretação cristológica do conflito que põe em causa a
religião. Esta viragem é, de resto, como que prefigurada pelo fruto maduro da antiga
profecia. A cena do drama é doravante toda a história do pecado no mundo: por meio
do qual as potências malignas que nos dominam obscurecem a justiça de Deus,
derramando o sangue dos homens e alimentando hostilidades entre os povos. A luta
pela verdade de Deus contra a incredulidade dos homens e o pecado do mundo
consiste no próprio acto do anúncio do amor, que muda a realidade da história
mediante o testemunho vivido da fé. A resposta da fé à violência humana liberta-se
assim do equívoco de uma violência religiosa que pretende antecipar o juízo
escatológico de Deus. Por outras palavras, não pode tornar-se – sem se contradizer
gravemente – guerra de religião entre os homens e violência homicida em nome da fé.
30. Não estavam, por isso, tão longe do justo juízo os Pais da nossa fé quando se
empenhavam – embora com algum excesso da alegoria – a interpretar, na “figura” dos
antigos incitamentos divinos à luta contra os inimigos, a “verdade” escatológica do
apoio de Deus na luta contra as potências do mal, que importunam e asssediam a paz
com Deus e entre os homens[8]. Vale a pena, no entanto, completar estas reflexões
com algumas ulteriores precisões que sugerem também necessários aprofundamentos.
31. A evolução moderna da diferença entre religião e política – decerto propiciada pela
cultura do cristianismo – é igualmente um processo de maturação hermenêutica no
interior da leitura da revelação. Apesar de tudo, a enigmática palavra de Jesus acerca
do Reino “que sofre violência”, e no qual se entra com um “acto de força” (cf. Mt 11,
12), adverte-nos sobre o facto de que o amor permanece exposto à violência. No fim de
contas, seria também preciso afastar-se da aparente sensatez de uma cultura que
censura toda a paixão pela sua justiça como propensão à violência. As palavras da fé
bíblica, que se deixam instruir pelas metáforas do “ciúme” de Deus pelo seu povo (de
certo modo retomadas pelo “zelo” da casa de Deus a que alude o gesto simbólico de
Jesus, cf. Jo 2, 17; cf. Sl 69, 9), não devem esvaziar-se de todo o significado. Por
último, a sua hermenêutica mais comovente pode captar-se no seio da própria Bíblia,
no instrutivo diálogo entre Deus e Abraão (Gn 18, 18-22), que intercede por um povo
que nem sequer é o seu; ou entre Deus e Moisés (Ex 32, 32), que rejeita a oferta de
ser separado do povo rebelde.
32. O amor autêntico não se confunde, pois, com a falta de coragem, nem se aponta
como irresponsável ingenuidade de todo ignara da dialéctica do Espírito e da força. As
narrativas de vocação, como as de Abraão (Gn 12, 1-3), Moisés (Ex 3, 1-10) e
Jeremias (Jr 1, 4-10), instruem-nos do modo mais eloquente acerca do perfil “forte” das
histórias de amor do crente com Deus, a favor dos homens. A dialéctica da obediência
e da liberdade que empenha a testemunha é uma dramática séria, e de alto perfil, na
lógica do amor de Deus. Por fim, muitas parábolas do Reino, e igualmente as
representações simbólicas da escatologia neotestamentária, recordam-nos que,
embora tenhamos de deixar à justiça de Deus a derrota da violência pecaminosa do
homem contra o homem, o juízo e a vitória do amor de Deus se apresentam também
sempre no horizonte de um acto do testemunho que resiste, com a força do Espírito, à
injustiça da história: confirmando a irrevogável consumação e realização da justiça de
Deus. O amor – que, até ao último dia, abre o caminho da conversão e da misericórdia,
à custa da sua própria vida – mantém assim a sua promessa para o povo das Bem-
aventuranças disseminadas entre as gentes. E abre, com o seu poder, o lugar e o
tempo do resgate e da protecção de Deus para as vítimas da violência prevaricadora
(Ap 21). O seu abandono julgará os povos (Mt 25).
33. Uma justiça de Deus sem amor ressoa sempre como uma condenação inevitável
para o homem pecador. Sê-lo-ia também uma promessa do amor de Deus sem a
resolutiva eficácia da sua justiça, que abriga definitivamente a vítima das potências
mundanas pela violência que sofreu[9]. A nossa cultura corre, sem dúvida, o grave
risco de uma drástica separação entre o amor e a razão, e também entre o amor e a
justiça. Esta dupla separação alimenta-se de uma retórica muito sedutora, que se
arrisca a legitimar o esmagamento do outro como a tendência perfeitamente natural da
afirmação de si. E induz ainda, por outro lado, uma grave confusão entre a não-
violência do amor e o abandono do outro à injustiça.
34. O primado teologal do amor, que desvaloriza radicalmente a violência religiosa (da
qual essencialmente aqui falamos), não é uma alternativa – mais ainda, é um
encorajamento – à busca de boas políticas do direito e da justiça (das quais aqui não
nos ocupamos[10]). A difusão de uma certa cultura radical conduz à suspeita frente a
toda a figura da autoridade e da lei consideradas como formas mascaradas de
perversão e manipulação, sempre inaceitáveis. O correspondente simétrico a este
fundamentalismo crítico é uma retórica sentimental do amor que se subtrai a todo o
juízo ético e a todo o empenhamento sério com a justiça. Esta dupla simplificação é de
fácil conquista demagógica e alimenta um conformismo da liberdade hostil a toda a
responsabilidade e a toda a vinculação. Incrementa decerto o nível de tolerância e de
resignação perante a violência difundida, que aumenta o risco de todos.
35. O nosso empenhamento específico, como crentes, continua a ser, acima de tudo, o
de invocar o Espírito e a força essenciais ao anúncio da justiça do amor de Deus:
detendo o ressentimento da injustiça e aceitando o risco do testemunho[11]. A firmeza
da oposição religiosa à violência deve recusar – precisamente enquanto tal – a
justificação teológica de toda a forma de perversão. Nesta fase histórica, a evidência
desta contraposição torna-se um factor de primeiro plano para o discernimento acerca
da qualidade da experiência religiosa.
36. A tradição da fé bíblica, de acordo com a sua vocação originária, abre o horizonte
da salvação de Deus para todos os homens. É este o tema fundamental sobre o qual a
fé cristã instaura o seu diálogo com todas as épocas. O sentido autêntico desta
abertura é selado no evangelho do Filho Crucificado que torna para sempre
contraditória a violência entre os homens “em nome de Deus”. O próprio cristianismo,
em virtude da palavra e da acção de Deus que continuamente o incita e solicita, é
reconduzido sempre de novo à fidelidade deste significado da verdadeira fé no Deus
único. A oposição da fé ao ódio religioso encontra a sua força no testemunho da sua
derrota em Jesus crucificado (1 Cor 2, 2). A história da salvação brota da iniciativa de
Deus para o homem. O próprio Deus torna possível o nosso encontro com Ele. A
própria fé faz parte do dom. Na disposição ao testemunho, a fé cristã anuncia o Senhor
Jesus Cristo a cada homem. Desta fé ninguém é “senhor” (2 Cor 1, 24), e todos os
discípulos são “servos” (Lc 17, 10). A tendência para transformar a graça da eleição em
privilégio étnico ou preconceito sectário deve ser combatida e vencida.
CAPÍTULO III
DEUS, PARA NOS SALVAR DA VIOLÊNCIA
43. O Deus único é, em primeiro lugar, Pai de todos os homens. A palavra da antiga
profecia já o prefigura: “Porventura, não temos nós todos um único pai? Não foi o
mesmo Deus que nos criou? Por que razão, pois, somos nós pérfidos uns para com os
outros, profanando a aliança de nossos pais?” (Ml 2, 10). Mediante o envio do Filho na
carne e por meio do dom do Espírito, esta paternidade de Deus Pai estende-se a todos
os homens, cuja salvação Ele deseja (cf. 1 Tm 2, 4), na aliança definitivamente selada
pela encarnação e pela Páscoa do Senhor. “Mas, quando chegou a plenitude do
tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher, nascido sob o domínio da Lei,
para resgatar os que se encontravam sob o domínio da Lei, a fim de recebermos a
adopção de filhos. E, porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito
do seu Filho, que clama: "Abbá! - Pai!” (Gl 4, 4-6; cf. Rm 8, 15).
44. A revelação trinitária do Deus único está intrinsecamente ligada à oferta, feita a
todos os homens[14], de serem redimidos no mistério pascal de Jesus Cristo, a fim de
participarem na relação filial de Jesus perante o Pai, por meio do dom do Espírito
Santo, e poderem ser acolhidos entre os membros da única Igreja de Cristo, que reúne
e congrega os filhos de Deus “desde Abel” – como diziam os antigos Padres da fé[15] –
até “ao mais pequenino” entre todos aqueles que aguardam o regresso do Senhor no
fim dos tempos.
45. No seu sacrifício pascal, o Filho, Cristo Jesus, tomou literalmente sobre si a
violência do pecado e o sofrimento dos homens. “Ele levou os nossos pecados no seu
corpo, para que, mortos para o pecado, vivamos para a justiça: pelas suas chagas
fostes curados” (1 Pe 2, 24-25). A violência é o fruto do homem pecador e atinge o
próprio Deus: não na sua divindade, mas nos dons do seu amor. Atinge-o no coração
da paz que Ele quer entre os homens, atinge-o no próprio corpo do Filho. A antiga
doutrina cristã, com assombro e admiração, proclamou solenemente a impressão desta
revelação, que leva além do limite do pensável a antiga profecia do Servo sofredor do
Deutero-Isaías (52, 13-53, 12): “Aquele que foi crucificado na carne […] é um da
Trindade”[16]. Unus de Trinitate passus est. Na morte de Jesus, em que o próprio Filho
sofreu a violência do “pecado do mundo”, que corrompe toda a religião e obscurece
toda a compaixão, está de algum modo oculto – e por isso mesmo revelado – o
mistério da “salvação do mundo”. O nosso pecado e o nosso mal estão sepultados com
Cristo, a nossa cura e a nossa redenção ressurgem com Ele. Na sua morte e na sua
ressurreição, Ele rompe o círculo do nosso destino de criaturas mortais e abre o
caminho da nossa destinação à própria intimidade de Deus[17].
46. O acontecimento da Cruz, que manifesta a amor de Cristo pelo Pai e pelos seus
irmãos e irmãs (Rm 5, 5-8) até à consumação perfeita (Jo 13, 1), está no centro da boa
nova. O ingente acontecimento em que o Filho de Deus foi “foi ferido por causa dos
nossos crimes, esmagado por causa das nossas iniquidades” (Is 53, 5), permanece
para todos os séculos. Como escreveu o beato John Henry Newman: “Não foi – não
podia ser – um simples acontecimento da história do mundo [...]. Se este desmesurado
evento foi aquilo que nós cremos, o que sabemos que foi, então deve permanecer
presente, apesar do seu ser passado: deve constituir um facto que deve permanecer
actual em todas as épocas”[18].
47. A tradição da fé, sobre o fundamento da revelação feita em Jesus e confiada aos
Apóstolos, reconheceu no acontecimento da “morte de Cristo”, ao mesmo tempo, a
trágica verdade do excesso do pecado, do qual só Deus nos pode salvar, e a exaltante
verdade do excesso da graça, em virtude do qual só Deus pode ir além do abismo do
mal, sem se deixar contaminar pelo”pecado do mundo” (cf. Jo 1, 29) e sem diminuir o
seu “amor pelo mundo” (cf. Jo 3, 16-17). É necessário, para a mesma fé cristã,
entender sempre de novo, e em profundidade, a revelação desta morte (cf. 1 Cor 2, 7-
8) que o cristianismo confessa como o fundamento da redenção que subtrai o género
humano à impotência perante a sua história de perdição (cf. Fl 2, 6-11). Falamos,
naturalmente, de uma compreensão que, de algum modo, pode aclarar o mistério da
liberdade de Deus do qual provém a encarnação redentora do Filho: mas trata-se
sempre de um acontecimento cujo mistério está oculto “com Cristo” em Deus (cf. Cl 3,
3; Ef 3, 8-12). E todavia, o mistério está inscrito na história de acontecimentos que “os
nossos olhos viram, os nossos ouvidos escutaram, as nossas mãos apalparam” (cf. 1
Jo 1, 1-3).
48. Na perspectiva sintética da nossa reflexão, desejamos oferecer, antes de mais, nas
considerações que se seguem, uma chave útil de acesso à manifestação deste mistério
segundo a memória evangélica. Fazemo-lo atendendo directamente ao
aprofundamento do nexo entre revelação, religião e violência, que se deixa perceber no
gesto da auto-entrega de Jesus. No acto inaugural de tal entrega – no Jardim das
oliveiras – Jesus proíbe duramente aos discípulos análoga reacção violenta,
justamente enquanto os subtrai à forçada auto-implicação na sua condenação (“Jesus
disse a Pedro: Mete a espada na bainha. Não hei-de beber o cálice de amargura que o
Pai me ofereceu?”, Jo 18, 11). Eles próprios, quando chegar o momento de honrar a
livre obediência da fé, abandonar-se-ão às consequências do seu fiel testemunho
(“bebereis o meu cálice”, Mt 20, 23).
49. Jesus entrega-se a si mesmo e não os seus discípulos. Ao mesmo tempo, retira
espaço a uma alternativa igualmente dramática e aparentemente insuperável. Ou
redimensionar a altíssima pretensão da sua revelação, ou aceitar o conflito cruento
com a parte hostil. No primeiro caso, trata-se de renunciar à obediência da verdade
recebida do Abbá-Deus; no segundo, de aceitar a lógica da guerra religiosa. Em ambos
os casos o evangelho seria revogado. Jesus liberta-se do embaraço desta alternativa,
optando por pôr nas mãos de Deus o destino da sua revelação e confirmando a sua
irrevogável fidelidade ao evangelho da justiça de Deus: o qual “não quer a morte do
pecador, mas que se converta e viva” (Ez 18, 23-52; 33, 11). O Senhor Jesus, que
advertira os discípulos sobre aquilo que o Filho espera dos que decidem segui-Lo (“Se
alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”, Mt 16, 24),
na hora extrema do perigo põe-se no meio e afasta-os (“Jesus replicou-lhes: Já vos
disse que sou Eu. Se é a mim que buscais, então deixai estes ir embora”, Jo 18, 8). O
Filho, que tinha duramente desmascarado a parte violenta dos seus opositores
religiosos (“Agora, porém, vós pretendeis matar-me, a mim, um homem que vos
comunicou a verdade”, Jo 8, 40), no próprio momento da sua morte insta com o Pai
para suspender o juízo (“Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem”, Lc 23, 34).
50. Jesus anula radicalmente o conflito violento que ele próprio poderia encorajar, em
defesa da autêntica revelação de Deus. Confirma assim, de uma vez por todas e para
sempre, o sentido autêntico do seu testemunho relativamente à justiça do amor de
Deus. Esta justiça não se cumpre mediante a legitimação da violência homicida em
nome de Deus, mas por meio do amor crucificado do Filho a favor do homem (cf. Rm 8,
31-34)[19]. No gesto da entrega de si ao supremo sacrifício, que poupa o sangue dos
discípulos e dos opositores, refulge o poder radical do amor de Deus. “O centurião que
estava em frente dele, ao vê-lo expirar daquela maneira, disse: Verdadeiramente este
homem era Filho de Deus!”, Mc 15, 39).
51. Não há semelhança entre o poder do pecado e o da graça; não há afinidade entre a
obsessão do poder, que perverte também a religião, e a força da fé, que vence o
mundo; (1 Jo 5, 4; Jo 16, 33). Não só o poder redentor da graça supera a força
destrutiva do pecado, mas a sua eficácia opera sob um signo radicalmente diferente. O
pecado celebra o seu domínio aumentando o seu poder mundano com sacrifícios
humanos, a graça barra o caminho à multiplicação da violência: poupa o sangue do
outro, oferecendo-se a si mesma em sacrifício de amor. A verdade da revelação de
Deus é, em Jesus, subtraída ao imemorável dispositivo da represália em nome de
Deus. O evento cristológico falsifica – na raiz – todo o apelo à justificação religiosa da
violência, justamente ao querer impor a Deus que a confirme. O Filho, no seu amor
pelo Pai, atrai a violência sobre si, poupando amigos e inimigos (ou seja, todos os
homens). O Filho, que arrosta e vence a sua morte ignominiosa, preparada como
demonstração da sua impotência, aniquila num só acto o poder do pecado e a
justificação da violência. Por meio do Espírito podemos, por nossa vez, honrar o dom
recebido (cf. Ef 2, 18), realizando e completando em nós próprios “o que falta” à paixão
do Filho (Cl 1, 24).
52. A esta luz é possível compreender melhor também o sentido autêntico das fórmulas
em que a tradição da fé cristológica preservou a profundidade e o significado universal
do vínculo entre a morte do Senhor e a redenção do homem. A palavra do credo cristão
sobre o sangue do Filho que nos redime ilumina-se, na sua exactidão, mediante a
contemplação do gesto do Filho que evita o derramamento de sangue de uns contra os
outros.
53. A purificação das categorias religiosas tradicionais do sagrado, que se afirma nesta
revelação, encontra-se já inteiramente ilustrada por um dos mais antigos escritos da
sua tradição neotestamentária. A Carta aos Hebreus concentra-se no sacrifício de
Jesus, em virtude do qual Cristo se manifesta como o único e eterno Sumo-sacerdote.
Cristo entra no “Santo dos Santos” de uma vez por todas [...] com o seu próprio
sangue” (9, 12), oferece-se a si mesmo e carrega sobre si os pecados de todos (9, 28).
O sumo-sacerdote, aqui, oferece-se a si mesmo como vítima da violência dos homens.
O Cordeiro sacrificial, aqui, é o Inocente que responde à violência com a mansidão, ao
ódio com a bondade, à agressão com o perdão. Não busca vingança sobre os seus
agressores, antes oferece-se a si mesmo com “fortes gritos e lágrimas” (Heb 5, 7). O
coração trespassado do Filho vaza de si mesmo a violência que dá a morte,
transformando-a no dom total da vida (cf. Jo 19, 33-37). Estava escrito na antiga
profecia: “... Ele, o justo, justificará a muitos, porque carregou com o crime deles [...]
porque ele próprio entregou a sua vida à morte, e foi contado entre os pecadores,
tomando sobre si os pecados de muitos, e sofreu pelos culpados (Is 53, 11-12). É a
partir daqui que se há-de compreender literalmente o sentido da palavra cristã “agape”:
em nome de Deus, o verdadeiro crente oferece a Deus a sua vida (cf. Rm 12, 1).
54. O Ressuscitado, ingressado já na sua glória “à direita do Pai”, “pode agora salvar
perfeitamente os que por meio dele se aproximam de Deus” (Heb 7, 25). Mediante a
graça da adopção filial, os homens são no baptismo associados a Cristo morto e
ressuscitado (Rm 6, 1-12), incorporados em Cristo (cf. 1 Cor 12, 27) e obtêm na
esperança a herança da vida eterna (Tt 3, 7). Esta incorporação em Cristo é
conformação com Ele, na comunhão com os seus sofrimentos, para alcançar a sua
própria ressurreição (Fl 3, 10-11). As narrativas da instituição da Eucaristia põem
concordemente em evidência a passagem através da nova Páscoa do Senhor. “Fazei
isto em memória de mim” (Lc 22, 19; 1 Cor 11, 25). Jesus dá-se a si mesmo e, além
disso, torna sempre actual, para todos nós, o seu próprio dar-se. Este acontecimento
ilumina-se na perspectiva do evangelista S. João, que interpreta o realismo
sacramental da Eucaristia por meio do discurso de Jesus sobre o” pão da vida”: o pão
que Ele dá é a sua carne “para a vida do mundo” (Jo 6, 51). “Assim como o Pai que me
enviou vive e Eu vivo pelo Pai, também quem de verdade me come viverá por mim” (Jo
6, 57). O Filho encarnado recebeu do Pai, sem medida, o seu Espírito (cf. Jo 3, 34).
Desde o momento da sua concepção como homem no seio de Maria é o Cristo, o
Ungido do Espírito Santo (cf. Mt 1, 20: Lc 1, 35). No momento solene do Seu baptismo,
o Espírito Santo sela o seu destino como Messias e Servo[20]. E no mistério da sua
Ressurreição, a humanidade santa de Jesus Cristo, liberta de toda a violência, é
plenamente glorificada (Act. 3, 13). A plenitude de santidade, de conhecimento e de
amor de Deus que cumulam a alma humana de Jesus reflectem-se no seu corpo
ressuscitado, o qual compartilha já a glória divina para nos tornar participantes do seu
Espírito. “E se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos habita em
vós, Ele, que ressuscitou Cristo de entre os mortos, também dará vida aos vossos
corpos mortais, por meio do seu Espírito que habita em vós” (Rm 8, 11).
55. Em Jesus sentado à direita do Pai – donde nos é enviado o Espírito da vida nova –
a carne do homem mortal é transfigurada na vida bem-aventurada da Trindade. “Cristo,
ressuscitado de entre os mortos, já não morrerá; a morte não tem mais domínio sobre
Ele” (Rm 6, 9; cf. Act 13, 34). A sua vida “vive para Deus” (Rm 6, 10). Mediante a sua
Ascensão, Cristo é estabelecido “no trono celeste na sua qualidade de Deus e
Senhor... segundo Ef 4, 10”[21]. Elevado junto do Pai, na comunhão divina do Espírito
Santo, Cristo não perde a sua condição humana. Mais ainda, “ao ser o primeiro a entrar
no Reino, dá aos membros do seu Corpo a esperança de se unirem a Ele”[22]. O laço
entre Deus e o homem em Jesus Cristo – posto à prova pela violência infligida “em
nome de Deus” – permanece irrevogável e sai vitorioso da prova. Selado com sangue,
ele põe – “em nome de Deus” – um limite insuperável à violência, a favor de toda a
história humana. A contradição entre os dois sinais opostos do “nome de Deus” fica
definitivamente ligada à história. Não há filosofia que consiga remediar a nossa
milenária impotência de amor, nem religião que consiga conceber esta desmesura do
amor de Deus (cf. Ef 1, 18-21). E nós próprios, que reconhecemos este mistério oculto
em Deus desde o início da criação do mundo (cf. Ef 3, 5-12), não podemos reconhecer
a verdade desta conciliação de Deus, querer a sua realização em nós, excepto na
graça do Espírito, que nos guia e leva a compreender a sua manifestação em Jesus
crucificado e apoia a nossa comunhão com o Senhor ressuscitado.
59. No mistério trinitário de Deus há “lugar” e “duração” para a vida eterna da criatura
(“Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, como teria dito Eu que
vos vou preparar um lugar? E quando Eu tiver ido e vos tiver preparado lugar, virei
novamente e hei-de levar-vos para junto de mim, a fim de que, onde Eu estou, vós
estejais também” (Jo 14, 2-4). Na guarda da palavra e dos gestos do Senhor (Lc 2,19),
na fidelidade à entrega da sua paixão redentora (Jo 19, 25-27), na continuidade da
graça e do testemunho do Filho até ao regresso do Senhor, a comunidade dos
discípulos não pode deixar de reconhecer a presença e a acção da Mãe de Jesus.
Maria inaugurou – de um modo único e irrepetível – a forma acolhedora do Corpo de
Cristo, que é a Igreja[25]. Por meio da sua Assunção ao céu vive – alma e corpo – na
glória da Santíssima Trindade. Na oração incessante pelos membros do Corpo do Filho
sobre a terra, entre inumeráveis perigos e tentações, acompanha-os rumo à união final
na vida da Trindade. A maternidade de Maria é a própria forma do seu vínculo especial
com Deus, que a fé justa e audazmente formula com o título de “Mãe de Deus”. A
passagem do Filho Unigénito, que se fez homem, através desta geração revela um
traço da co-implicação de Deus com a forma humana do “vir ao mundo”, que deveria
inspirar ainda mais profundamente o pensamento humano da intimidade de Deus e da
sua afeição pelos filhos do homem. Desta inspiração, a Mãe do Senhor é a referência
insubstituível e a fonte inesgotável (cf. Jo 2, 1-11).
63. Pela vitalidade e transparência da verdade de Deus, que é Pai de todos, a missão
cristã que aponta para a qualidade evangélica da forma eclesial, em que todas as
gentes estão persuasivamente representadas na comunhão da fé, é um verdadeiro
kairòs do Espírito, ou seja, o momento favorável para a proximidade de Deus em Jesus
Cristo. Nesta fase histórica, o cristianismo é posto – e exposto – como um ponto de
referência global e inequívoco para a denúncia da radical contradição de uma violência
entre os homens, exercida em nome de Deus. Enquanto tal, é chamado a purificar e a
fortalecer o seu ministério de reconciliação entre os homens: sejam eles religiosos ou
também não religiosos. Isto comporta verosimilmente algumas prioridades de
empenhamento, reflexivo e prático.
65. Semelhante despedida da Igreja da violência religiosa tem a força de uma semente
destinada a produzir especiais frutos na nossa época, ameaçada pelo refluxo de uma
concepção arcaico-sacral do ódio étnico-político. Destes frutos, com a assistência do
Espírito, devemos partilhar o entusiasmo e aprender a suportar os riscos. A superação
de toda a ambígua justificação religiosa da violência deverá elaborar com a máxima
determinação também a crítica da violência anti-religiosa. O apoio cultural e político
que a intimidação e a repressão anti-religiosa receberam, na época da modernidade
findada, assinalou um dos pontos de mais dolorosa contradição da época moderna. Há,
de resto, também excessos destruidores da razão secularizada, económica e política,
que os poderes do domínio financeiro e a potência da tecnocracia mediática podem
tornar devastadores.
CAPÍTULO IV
A FÉ EM FACE DA AMPLITUDE DA RAZÃO
72. O Concílio Vaticano II intima o apuramento do Vaticano I [31], e atribui aos próprios
crentes uma especial responsabilidade pela origem do declínio do desejo de Deus que
alimenta também o ateísmo. «Nesta génese do ateísmo, os crentes podem ter uma
parte não irrelevante, na medida em que pelo descuido da sua educação na fé, ou por
causa de enganadoras apresentações da doutrina, como também por causa das
debilidades da sua vida religiosa, moral e social, acabam realmente por velar – mais do
que revelar – o autêntico rosto de Deus e da religião»[32]. Um dos grandes obstáculos
à credibilidade da fé – sobretudo após as «guerras de religião» – é justamente a
violência religiosa: “Se quiserdes assemelhar-vos a Jesus Cristo, sede mártires e não
carniceiros”[33]. A reacção ao grave equívoco que se seguiu a este género de conflitos
(embora não exclusivamente ligados ao dissídio religioso) foi formulada com nitidez na
Declaração sobre a liberdade religiosa [34]. Neste documento, o Concílio denuncia a
contradição inscrita na relação da verdade com a violência, que a crítica filosófica
vigorosamente realçou e reencontra no próprio núcleo do ensinamento evangélico o
motivo de um nítido distanciamento relativamente a toda a contaminação equívoca da
lógica da fé com a do domínio. «Cristo, de facto, nosso Mestre e Senhor, doce e
humilde de coração, convidou e atraiu os seus discípulos com paciência [...]. Deu
testemunho da verdade, mas não a impôs pela força àqueles que o contradiziam. O
seu Reino, na verdade, não se guarda com a espada, mas afirma-se com a escuta da
verdade e por meio do testemunho»[35]. O papa João Paulo II completou esta
Declaração na celebração de 12 de Março de 2000, quando pediu perdão por todas as
culpas com que os cristãos se mancharam na qualidade de membros da Igreja[36].
73. O debate acerca da existência de Deus é hoje fortemente estimulado pelo êxito de
publicações de explícita propaganda do ateísmo. Os filósofos teístas – e, naturalmente,
os filósofos cristãos – contrapõem muitos argumentos. Em primeiro lugar, a própria
existência do mundo que não pode encontrar em si mesmo a razão da sua existência.
Em seguida, a evidência da organização que torna possível a existência e a vida do
mundo reclama inegavelmente o pensamento de uma inteligência ordenadora. A
evidência da ordem, na verdade, deve argumentar-se de modo não ideológico e
determinista, para não entrar em contradição com a compreensão da liberdade e da
casualidade dos acontecimentos; e também – ao invés – a fim de evitar a construção
de um sistema da fatalidade e da necessidade do mal. Neste âmbito, importa sobretudo
ter todo o cuidado de seleccionar e escolher os inumeráveis equívocos que brotam –
em ambas as frentes – da pura e simples confusão dos métodos e das linguagens:
entre o plano da análise científica do dado e o da elaboração filosófica da experiência.
Mas não existe, com tudo isto, nenhuma razão que obrigue a renunciar à experiência
da admiração e do assombro que a própria existência das coisas e a maravilhosa
organização da natureza suscitam na mente do homem. Logo que a questão ideológica
– seja ela constrição da ciência, seja constrição da filosofia – cede o lugar à
honestidade intelectual do saber, esta admiração surge como uma constante da
experiência do cientista e do filósofo. Esta admiração é também sempre o efeito
repetido do conhecimento: que se aprofunda, em ambos os domínios da razão,
encontrando sempre novas correspondências na realidade. A inteligibilidade do mundo
surge verdadeiramente como inesgotável: e a experiência desta inteligibilidade
confirma que a nossa espontânea confiança na capacidade do mundo de corresponder
à racionalidade do homem é bem fundada.
74. A eliminação de Deus, estabelecida com base numa razão «naturalista», associa-
se hoje, amiúde, à dissolução «biológica» da liberdade humana. Nesta perspectiva, o
nosso cérebro construiu para si o pensamento de Deus por razões ligadas a um
determinado estádio evolutivo: em função do governo da complexidade, para
compensar a inevitabilidade da frustração, como dispositivo de neutralização da morte.
Com argumentos análogos é esvaziada a experiência espiritual da liberdade e a
intencionalidade ética da consciência. A refutação deste reducionismo, que pretenda
honrar a atestação universalmente difundida do homem moral – no direito e na arte,
nos afectos e na espiritualidade – não deve limitar-se a «sobrepor» ao mundo natural
um mundo «espiritual». Não existe, para a tradição cristã, um saber da realidade
“naturalmente” ateu, ao qual se pode eventualmente acrescentar a convicção de uma
realidade «espiritual» que não existe na natureza. Trata-se antes de mostrar como, ao
testemunho religioso da existência de Deus, corresponde uma experiência da realidade
do homem aliás inominável e inexplicável. A remoção desta atestação espiritual e
religiosa do mundo empobrece todo o plano de realidade em que sempre se viveu e
vive o ser humano. Neste sentido pode dizer-se que a renúncia a pensar a questão de
Deus é “uma abdicação da inteligência humana que, deste modo, renuncia
simplesmente a pensar, a buscar uma solução para os seus problemas”[37].
76. A ordem que se faz perceber e achar pela razão precede sempre aquela que a
razão tenta aplicar. E mais ainda, torna-a possível. Não há nada de mais emocionante
do que este reconhecimento, na aventura do conhecimento. No fim de contas, perante
a hodierna «crise ecológica», podemos ainda reconhecer-nos na acutilante observação
de S. Tomás de Aquino, que já considerara digna do máximo assombro a misteriosa
ordem das correspondências que estabelece afinidades reconhecíveis nos elementos
do criado. As realidades individuais do mundo criado não são capazes de fixar, apenas
com base na sua constituição interna, as compatibilidades e as congruências do
conjunto[39]. O hiato entre a limitação intrínseca e a sua auto-organização, e a lógica
unitária do todo em que se inscrevem, excede a nossa capacidade de decifrar a sua
chave derradeira. Este hiato e, respectivamente este excesso, podem interpretar-se
como um indício do mistério da criação de Deus: que não se deixa inteiramente
obscurecer ou aniquilar pela experiência da desordem e do mal. O mal leva-nos a
tomar consciência justamente da nossa incapacidade de dominar e de recompor
perfeitamente a relação do universo com os seus próprios elementos e com a nossa
existência.
78. Deus é único: não há outros deuses. E Deus é uno em si mesmo: nele não há
divisão. Nesta parte conclusiva, traçaremos as linhas da exposição cristã da absoluta
simplicidade de Deus. Justamente em referência a tal simplicidade, entendida de modo
correcto, há que ressaltar o sentido cristão da união de Deus com as criaturas a que
ele quis ligar-se. A clarificação da gramática essencial desta correlação pode ajudar
hoje, e muito, a clarificação de um certo mal-entendido, filosófico e também religioso,
devido à suspeita de que a ênfase cristã na encarnação de Deus, como também a
relação trinitária na vida de Deus, tenham lugar à custa da perda da pureza e da
transcendência, da perfeita simplicidade de Deus. A nossa afirmação fundamental é,
pois, esta: a pureza da unicidade de Deus não deve perder-se. E, todavia, a fé cristã na
criação do mundo e na encarnação do Filho pode receber-se e acolher-se como uma
confirmação e não como uma lesão do pensamento da unidade de Deus.
80. A fé trinitária não altera esta unidade de Deus, pelo contrário, manifesta a sua
impensável e insondável profundidade. O Pai, o Filho, o Espírito Santo são o Deus
“uno”, porque “são” a mesma essência (ou substância) divina. Neste sentido, a fé cristã
professa justamente uma “Trindade consubstancial”[43]. A riqueza e a profundidade da
unidade trinitária foram expressas de modo eficaz pela noção de “pericorese”, que João
Damasceno desenvolveu, indo buscar a sua perspectiva à palavra do Senhor: “Eu
estou no Pai e o Pai está em mim” (Jo 14, 10-11). A pericorese das três hipóstases, ou
seja, as pessoas divinas entendidas por Tomás de Aquino como “relações
subsistentes”, põe em relevo a sua perfeita consubstancialidade juntamente com a sua
distinção pessoal. Portanto, as três pessoas são “um só Deus” e não “três deuses”.
Uma é, de facto, a essência, uma a divindade, uma a eternidade de Deus. Sobre esta
base, é possível também definir melhor as relações que Deus entretém com o mundo:
“o Pai e o Filho amam-se a si mesmos e a nós pelo Espírito Santo”[44]. Deus não está
“fechado em si mesmo”: pelo contrário, justamente a partir do seu ser comunhão
dispõe-se à criação do mundo, ao exercício da sua providência, à intimidade da sua
presença nas criaturas. A sua criatura é o seu interlocutor por puro amor, não à força.
81. O monoteísmo bíblico é a raiz desta perspectiva, porquanto nos põe diante de um
Deus que se revela com sabedoria e amor, que fala e escuta, que envia os seus
mensageiros e os seus profetas, que se apresenta “em pessoa” na encarnação do
Filho e no envio do Espírito Santo. A tradição bíblica afirma que Deus criou todas as
coisas na sua sabedoria e no seu amor (Pr 3, 19; Sb 7, 22; 11, 24-26). Ao reconhecer
que Deus criou todas as coisas na sua Sabedoria, afirma-se que Ele não produziu o
mundo por uma necessidade da natureza. De igual modo, quando dizemos que Deus
criou por amor, pretendemos afirmar que Ele não criou o mundo e o homem por
qualquer razão estranha à sua intenção. Fê-lo, pelo contrário, para comunicar a sua
bondade: ou seja, com afecto inteiramente livre e gratuito. Poderia, este Deus, ser
hostil aos homens? A omnipotência de Deus será uma ameaça para a autonomia do
homem? A suspeita sugerida pela serpente da origem, segundo a narrativa bíblica (cf.
Gn 3, 4-5), é insidiosa, mas desprovida de fundamento. A fé na omnipotência de Deus,
que resiste ao mal, é justamente aquilo que nos protege destes fantasmas angustiantes
e persecutórios. «Tu tens compaixão de todos, pois tudo podes» (Sb 11, 21-23). Na
bela fórmula litúrgica «Abençoe-vos Deus todo-poderoso» já está tudo dito, com a
simplicidade do essencial.
82. Deus, ao criar o homem à sua imagem e semelhança, inteligente e livre, constituiu-
o como interlocutor e aliado no adimplemento e ultimação da criação. Deus instaura
uma relação em que o homem é convocado na dignidade do seu ser singular e livre.
Para este Deus pessoal pode o homem virar-se pessoalmente. A criatura humana
surge, pois, constituída na faculdade de reconhecer e amar Deus, em virtude da sua
capacidade pessoal de amar e de ser amada, e não apenas porque constrangida a
sofrer e a suportar a lei despótica do ser mais forte ou a pulsão de sujeição do ser
inferior. Não tem nada a ver com a escravidão do sagrado primordial (as forças
ingovernáveis da natureza), e a sujeição às divindades míticas (as potências
despóticas da política). Os crentes hão-de ser capazes de defender com firmeza e
ilustrar adequadamente esta diferença radical, que os acusadores pós-modernos da
unidade e da unicidade do divino ignoram com demasiada facilidade.
CAPÍTULO V
OS FILHOS DE DEUS DISPERSOS E REUNIDOS
87. De qualquer modo, na perspectiva da visão cristã, a nossa filiação adoptiva no Filho
é o sinal mais eficaz de um Deus que é a fonte da nossa liberdade: libertação no
Espírito de toda a escravidão (cf. Gl 4, 7; Jo 8, 36) e adopção de filhos no Filho.
89. Tendo presente tudo o que já se disse sobre a criação no capítulo precedente, é
bom recordar que a lógica correspondente à unidade do Deus vivo, na sua presença e
na sua acção entre os homens, é a de “agápe”. O poder divino está ordenado à
sabedoria e à bondade de um Deus que é em si mesmo amor[52]. Desde a
comunicação do ser à criatura até à oferta da amizade do Filho, a revelação de Deus
espelha e reflecte a intimidade de uma vida cuja unidade é inteiramente atravessada
pela disposição relacional do amor[53].
91. Na verdade, na sua kénosis, o Filho de Deus aceita habitar, até ao extremo, a
impotência e a debilidade do homem pecador: ao atrair sobre si o poder incontível e
destruidor do pecado, que o homem não consegue vencer (cf. Rm 8, 3; 2 Cor 5, 21). O
Filho de Deus aceita assumir e viver, até extremo, a forma dramática da condição
humana (cf. Gl 3, 13), em vez de permanecer simplesmente na glória intacta e imutável
da sua condição divina. A eficácia salvífica deste esvaziamento está justamente ligada
ao facto de que Aquele que a “incorpora” é o Unigénito de Deus, que partilha
eternamente a plenitude da vida de Deus, o poder do seu senhorio, a força da sua
infinita estranheza ao mal. A paixão do Filho feito homem, que assume até ao fundo a
debilidade humana para o nosso resgate e redenção, revela justamente assim o poder
do amor do Pai que nada impedir (“Sim, se foi crucificado na sua fraqueza, agora está
vivo pelo poder de Deus. Nós também somos fracos nele, mas viveremos com Ele pelo
poder de Deus que actua em vós”, 2 Cor 13, 4).
92. A ressurreição de Jesus Cristo crucificado atesta o poder do amor de Deus, que
restitui, inclusive, a carne e o sangue à vida do Espírito (“E se o Espírito daquele que
ressuscitou Jesus de entre os mortos habita em vós, Ele, que ressuscitou Cristo de
entre os mortos, também dará vida aos vossos corpos mortais, por meio do seu
Espírito que habita em vós”, Rm 8, 11). Nenhuma força do mal e nenhum poder da
morte podem subtrair o Filho aos laços do Pai e do Espírito em que Deus vive. E nada
pode separar o homem de Deus, porque nada pode separar Deus de si mesmo (“Se
Deus está por nós, quem pode estar contra nós?”, cf. Rm 8, 31-39).
3. A purificação religiosa da tentação do domínio
94. A religião dos homens nunca pode considerar-se apenas ao abrigo da tentação de
trocar o poder divino por um poder humano, que desemboca, por fim, no caminho da
violência. Os evangelhos recordam claramente que esta foi uma tentação que Jesus
rejeitou. E que ele próprio explicitamente mandou aos seus discípulos que a
rejeitassem (cf. Mc 10, 35-45; Lc 22, 24-27). Por isso, não pode negar-se que a própria
religião sempre precisou, em si mesma, de contínua purificação[56] que permita
reconduzi-la sempre de novo à sua destinação mais própria, a saber, à adoração de
Deus em espírito e verdade, como princípio de reconciliação com Deus e de fraterna
convivência entre os homens (cf. Jo 4, 23-24).
95. A corrupção da religião, que acaba por pô-la em contradição com o seu sentido
autêntico, é decerto uma ameaça temível para a humanidade do homem. Infelizmente,
esta possibilidade permanece sempre actual, em cada época. Deve ser reconhecido
claramente, por todas as comunidades religiosas, e por todos os responsáveis da sua
custódia, que o recurso à violência e ao terror é, com toda a certeza e evidência, uma
corrupção da experiência religiosa. O reconhecimento da contradição que assim se
realiza com o espírito universal da religião, é uma possibilidade concreta no âmbito de
cada tradição histórica. A traição do espírito religioso é, por outro lado, mais facilmente
manifesta nas formas de violência inspirada por interesses económicos e políticos, que
se serve instrumentalmente da sensibilidade religiosa dos povos. Instrumentalização
análoga, de resto, à que busca a opressão do testemunho religioso, com base em
interesses económicos e políticos pretensamente revestidos, para benefício das
massas, de elevadas finalidades humanísticas.
97. No tempo da nossa história, a condição do povo cristão – e assim de cada fiel – é
caracterizada pela expectativa escatológica e, portanto, pela sua condição constitutiva
de ser um povo a caminho[57]. Contra todos os milenarismos, o cristão não tem
nenhuma pretensão de forçar os tempos do fim da história e do fim do último dia, que
só o Pai conhece (cf. Mc 13, 32). E vive o tempo como dom precioso de Deus, grande
sinal da sua benevolência e generosidade, com a consciência de que o tempo se faz
breve (cf. 1 Cor 7, 29)[58]. Paulo sente, pois, que o amor de Deus urge e constringe o
tempo perante os outros homens, para evangelizar aqueles que ainda não conhecem o
desígnio bondoso do Pai (cf. 1 Cor 9, 16; 2 Cor 5, 14ss).
[1] CONCÍLIO VATICANO I (1869-1870), Constituição dogmática Dei Filius, cap. 2 (DH
3004): “[…] Ecclesia tenet et docet, Deum, rerum omnium principium et finem, naturali
humanae rationis lumine e rebus creatis certo cognosci posse”.
[3] BENTO XVI, Discurso no Aeroporto Internacional Ben Gurion, Tel Aviv, 11 de Maio
2009: “A ordem justa das relações sociais pressupõe e exige o respeito pela liberdade
e dignidade de cada ser humano que, segundo a fé dos Cristãos, Muçulmanos e
Judeus, foi criado por um Deus amoroso e destinado à vida eterna”. E ainda BENTO
XVI, Discurso na Esplanada das Mesquitas. Jerusalém, 12 de Maio 2009: “Enquanto
Muçulmanos e Cristãos continuam o diálogo respeitoso que já iniciaram, rezo para que
eles possam indagar como a Unicidade de Deus está inextricavelmente ligada à
unidade da família humana”.
[7] S. Justino, citado por S. IRENEU, rejeita as teses marcionitas: “Et bene Justinus in
eo libro qui est ad Marcionem ait quoniam Ipsi quoque Domino non credidissem
alterum Deum annuntianti praeter
[8] Um belo exemplo de exegese tipológica de Ex 27, 8-26, sem excessos alegóricos,
encontra-se em S. JUSTINO, Diálogo com Trifão, 131, 4-5 e 111, 1-2.
[11] S. TOMÁS MORO, Carta escrita na prisão à filha Margarida, Liturgia das Horas,
Ofício de Leituras, na festa do Santo (The English Works of Sir Thomas More, London
1557, p. 1454).
[12] “Não há, não houve, nunca haverá nenhum homem pelo qual Cristo não tenha
sofrido” (CONCÍLIO DE QUIERZY (853, DH 624); cf. Catecismo da Igreja Católica,
605).
[13] Cf. CONCÍLIO VATICANO II, Constituição dogmática Lumen gentium, 16.
[14] Cf. CONCÍLIO VATICANO II, Constituição pastoral Gaudium et spes, 22, § 5.
[15] Vejam-se entre outros: S. IRENEU DE LEÃO, Adv. Haer. IV, 34,4; S.
AGOSTINHO, Sermo 341, 9, 11; S. GREGÓRIO MAGNO, Homilia in Evangelium 19, 1;
S. JOÃO DAMASCENO, Adversus Iconocl. 11.
[17] S. AGOSTINHO, De civitate Dei, Liber XII, cap. XX, 4: “Quapropter quoniam
circuitus illi jam explosi sunt quibus ad eadem miserias necessario putabatur anima
reditura”.
[19] “Deus ama tanto o homem que, ao fazer-se Ele próprio homem, o segue até à
morte e reconcilia assim a justiça e o amor”: BENTO XVI, Encíclica Deus caritas est,
10.
[24] Cf. CONCÍLIO VATICANO II, Constituição pastoral Gaudium et spes, 22, § 2;
COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL, O Cristianismo e as religiões (1997), 46-
48.
[25] Beato JOÃO PAULO II, Encíclica Redemptoris Mater (1987), 7-24.
[26] Beato JOÃO PAULO II, Carta apostólica Novo Millennio Ineunte, 43: “Fazer da
Igreja a casa e a escola da comunhão: eis o grande desafio que se nos apresenta no
milénio que começa, se quisermos ser fiéis ao desígnio de Deus e responder também
às expectativas profundas do mundo”.
[30] PIO XII Encíclica Humani generis (1950), Introdução (DH 3875).
[31] Cf. CONCÍLIO VATICANO I, Constituição dogmática Dei Filius, cap. 2; CONCÍLIO
VATICANO II, Constituição dogmática Dei Verbum, cap.1. Cf. COMMISSÃO
TEOLÓGICA INTERNACIONAL, A Teologia hoje (2013).
[33] VOLTAIRE, Trattato sulla tolleranza (cap. XIV) Editori Riuniti, Roma, 1966. p. 99.
[36] Cf. Beato JOÃO PAULO II, Homilia e Oração universal (confissão das culpas e
pedido de perdão). Santa Missa para o dia do perdão do Ano Santo 2000 (Domingo, 12
de Março 2000); COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL, Memória e
reconciliação. A Igreja e as culpas do passado (2000).
[37] Beato JOÃO PAULO II, Audiência geral, Quarta-feira, 10 Julho 1985.
[38] Cf. Beato JOÃO PAULO II, Encíclica Fides et ratio (1998), 1, e todo o capítulo III
(24-35), sobretudo a partir do 30 em diante. S. TOMÁS DE AQUINO, Summa
Theologiae, Ia, q. 2, a. 1, ad. 1.
[39] Cf. S. JOÃO DAMASCENO, De fide orthodoxa, lib. I, cap. 3 (Sources Chrétiennes
535, p.142-149); S. TOMÁS DE AQUINO, Sententia Metaphysicae, lib. 12, lectio 12.
[40] Beato JOÃO PAULO II, Audiência geral, Quarta-feira, 10 Julho 1985.
[41] S. AGOSTINHO, De civitate Dei, XI, 10, 1 (Corpus Christianorum Series Latina 48,
330).
[49] Cf. CONCÍLIO VATICANO II, Constituição dogmática Dei Verbum, 3-4; Catecismo
da Igreja Católica, 291, 1701.
[50] Cf. Beato JOÃO PAULO II, Carta apostólica Mulieris dignitatem (1988), 6-8;
Catecismo da Igreja Católica, 1702.
[51] CONCÍLIO VATICANO II, Constituição pastoral Gaudium et spes, 22, § 1; Cf.
COMISSÃO TEOLÓGICA INTERNACIONAL, Comunhão e serviço. A pessoa humana
criada à imagem de Deus (2004).
[52] Cf. CONCÍLIO VATICANO I, Constituição dogmática Dei Filius, cap. 2 (DH 3004).
[53] Cf. CONCÍLIO VATICANO II, Constituição dogmática Dei Verbum, 2; BENTO XVI,
Encíclica Deus caritas est (2005) 9-11; ID., Encíclica Caritas in veritate (2009), 1-9.
[59] “Ele [Cristo] é sempre jovem e fonte constante de novidade. A Igreja não cessa de
se assombrar em face da «profundidade da riqueza, da sabedoria e da ciência de
Deus» (Rm 11, 33)”: FRANCISCO, Exortação apostólica Evangelii gaudium, 11.
[60] Cf. CONCÍLIO VATICANO II, Constituição pastoral Gaudium et spes, 15-17.
[61] Cf. Beato JOÃO PAULO II, Encíclica Fides et ratio, 70-72; Encíclica Veritatis
splendor (1993), 1-3.
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