Crimes Virtuais Lucchesi e Hernandez
Crimes Virtuais Lucchesi e Hernandez
Crimes Virtuais Lucchesi e Hernandez
Crimes Virtuais 1
Abstract: The advance of technology grows in a striking way, however, such growth is
accompanied by consequences, and hence also of responsibilities. Currently, internet
use is present in the lives of more than 116 million Brazilians, according to IBGE, that
is, Brazil is the 4th country in number of users. With this, new forms of attacks on the
honor of others arise, and the creation of new crimes, or updating of those already
existing in the real world. However, the biggest problem is that the right does not follow
this evolution, and no new laws are created or updated existing ones in order to protect
the users of the Internet. And another relevant fact concerns the scope or limits of this
protection, after all in virtual environment there are no borders or barriers. Thus, the
present study shows the dangers of criminal minds, who use technology to either
embarrass or humiliate others, or to obtain financial benefits, and the need to create laws
or update existing ones, to protect these users.
Keywords: technology, internet, crimes, protection, virtual environment, laws
1 INTRODUÇÃO
2 CRIMES VIRTUAIS
penal incriminadora” (CARVALHO, s/d, online). No sentido material, é uma “(...) ação
ou omissão que se proíbe” (CARVALHO, s/d, online), e seu descumprimento é passível
de sanção penal, tendo em vista se tratar de ofensa ou dano a um bem jurídico tutelado,
seja individual ou coletivo. Já em um sentido popular, diz respeito a um “(...) ato que
viola uma norma moral” (CARVALHO, s/d, online).
Um tipo de crime, que tem sido bem comum, é o digital, também conhecido
como crime cibernético, digital, eletrônico, cybercrimes, fraudes eletrônicas, delitos
computacionais ou de alta tecnologia. Extremamente nocivo, pois uma vez que não
existe o contato físico com a vítima e seu algoz, ocorre em um ambiente virtual, onde
aparentemente não existem regras, limites morais, éticos (CARVALHO, s/d, online). É
cometido por meio de uso de tecnologias de informação e comunicação, com a
disseminação de vírus, invasões em sistemas, não possui previsão legal, provoca danos
materiais e emocionais, difícil de identificar seus autores. Segundo Carvalho (s/d,
online), para a repressão aos crimes digitais, tanto a lei penal como os acordos
internacionais devem ser revistos, de modo que os órgãos integrantes do sistema de
controle formal possa dar pronta resposta ao delito cometido.
De acordo com Lima (2012, online), os crimes digitais são:
Podem ser classificados como próprios, pois em sua maioria, não possuem
tipificação na legislação penal brasileira; e impróprios, pois são crimes comuns que
utilizam a internet para potencializar o dano a um bem jurídico tutelado, seja por
auxiliar a ocultar o autor ou impedindo que seja aplicada a lei. Portanto, considera-se
condutas delituosas contra ou utilizando-se um sistema de informática (LIMA, 2012,
online).
Pinheiro (2016, p. 172) conceitua esta modalidade de crime como “(...) um
crime de meio, ou seja, utiliza-se de um meio virtual.” Para Rocha (2000, p. 93), a
criminalidade virtual é um “(...) instrumento ou por objeto sistema de processamento
eletrônico de dados, apresentando-se em múltiplas modalidades de execução e de lesão
de bens jurídicos”.
Revista Officium: estudos de direito – v.1, n.1, 2. semestre de 2018
LUCCHESI, Ângela Tereza; HERNANDEZ, Erika Fernanda Tangerino. Crimes Virtuais 4
Com a década de 80, o termo “internet” foi ampliado, e foi possível sua
utilização comercial, e com isso propagou-se diferentes tipos de crime, entre os quais a
pirataria, pedofilia, invasão de sistemas, vírus virtuais, surgindo a necessidade de
preocupação com segurança, bem como identificação e preocupação de criminosos
digitais.
Com o advento da Constituição Federal de 1988 e de leis relacionadas a
questões de informática, o Brasil passa a se preocupar com segurança virtual, tendo em
vista o crescimento deste recurso tecnológico, que alcançou seu auge na década de 90,
abrangendo todos os meios de comunicação (BRASIL, 1988).
O termo “hacker” passou a ter subdivisões: a) hacker é aquele quem invade
sistemas, furta senhas, propaga vírus e cavalos de tróia; b) cracker, sabota e pirateia
programas de computador; c) “lammer”, conhecimentos limitados de informática, sem
potencial ofensivo; d) “spammer” invade a privacidade de outrem por meio de
mensagens eletrônicas, entre outros não relevantes a este artigo.
Com a evolução tecnológica, passa a ser possível a criação, armazenamento,
transferência de dados, e acesso irrestrito a informação, desenvolvimento de programas.
De acordo com Queiroz (2008, p. 171)
Claro que surgiriam indivíduos que utilizariam tal tecnologia, para ganhos
pessoais, utilizando dados pessoais de terceiros, destruição e invasão de dados por meio
de vírus, e outras formas de provocar danos, as vezes apenas pelo prazer de demonstrar
habilidades na informática para destruir, inutilizar programas ou dados alheios.
Furlaneto Neto & Guimarães (2003, p. 67-73) explicam:
2.2.1 Ciberbullying
2.1.1 Vítima
Geralmente são pessoas tímidas, pouco sociáveis, que fogem do padrão físico,
tem melhor desempenho escolar, divergência religiosa, inseguras, retraídas, e quando
agredidas demonstram seu sofrimento, acabam sendo alvo fácil para os agressores.
De acordo com a médica Ana Beatriz Barbosa Silva (apud SANTOMAURO,
2010, online), algumas doenças podem surgir em decorrência deste tipo de agressão,
como: “(...) angústia, ataques de ansiedade, transtorno do pânico, depressão, anorexia e
bulimia, além de fobia escolar e problemas de socialização” podendo levar ao suicídio.
Segundo a médica:
2.1.2 Agressor
2.1.3 Espectador
Desta forma, frisa-se que parte da doutrina entende que a tradução para o
português do termo Revenge Porn, não é adequada, pois indica a possibilidade de
condenação moral ou sexual, pois acaba por associar o comportamento da vítima
feminina a pornografia.
Revenge Porn e Sexting são práticas que não se confundem, pois o primeiro
diz respeito a divulgação de imagens e vídeos de nudez ou sexo, com intuito específico
de promover danos contra uma parceira, ou ex, o segundo trata do compartilhamento de
imagens sensuais de si mesmo para outras pessoas.
Segundo Crespo (2015, online), o termo é um neologismo gerado na contração
das palavras sex (sexo) + texting (envio de mensagens de texto), e significa “sexo por
mensagens”, comum entre jovens e adultos, que se utilizam smartphones e outras
tecnologias na produção e envio de fotos sensuais, também denominado de nude selfie.
Acredita-se que se iniciou em 2004, quando os jornais canadenses The Globe e
Mail noticiaram que David Beckhan enviou para sua assistente, Rebeca Loos,
mensagens de sexo explícito, denominando como sext-messaging. Mas somente em
2008 o termo começou a ser utilizado, quando o site cosmogirl.com divulgou uma
matéria que dizia que uma em cada cinco adolescentes enviavam este tipo de material.
Crespo (2015, online), explica:
Embora tal prática ocorra por iniciativa da pessoa, ou seja, tira uma selfie e
envia para amigos, namorados, redes sociais, este material pode-se perder, a ser
divulgado em larga escala, provocando constrangimentos e situações prejudiciais em
suas relações profissionais, pessoais, acadêmicas, e com isso, a vítima é afetada em sua
esfera emocional e psicológica. Dito isso, frisa-se que a prática da Revenge Porn é uma
"(...) forma de violência moral”, feita por meio de publicação virtual, utilizando-se a
tecnologia, “sem consentimento, de imagens e/ou vídeos de conteúdo sexual explícito
ou com nudez” (CRESPO, 2015, online).
2.2.3 Sextortion
3 LEGISLAÇÃO APLICÁVEL
3.1 No Mundo
3.2 No Brasil
perde com o uso inadequado das redes sociais, ao se compartilhar dados pessoais e
alheios, que deveria ser privados, tudo em nome de uma necessidade de ser notado
(MECABÔ & COLUCCI, 2015, online).
Neste sentido Podestá (2001, p. 159)
É possível verificar que, boa parte dos crimes citados, ocorre em consequência
da constante busca em aparecer, a qualquer custo, seja atacando a honra de outrem por
meio de exposição da intimidade deste, ou por exposição de sua própria nudez, ato
sexual ou poses sensuais.
Assim, a responsabilidade civil é aplicável a situações onde a privacidade do
indivíduo foi atacada, provocando danos morais, e materiais, podendo-se citar neste
caso, os arts. 186 e 927 do Código Civil (BRASIL, 2002).
Para Venosa (2011, p. 939), a responsabilidade civil é ampla, visto que o termo
“(...) é utilizado em qualquer situação na qual alguma pessoa, natural ou jurídica, deva
arcar com as consequências de um ato, fato ou negócio danoso. Sob essa noção, toda
atividade humana, portanto, pode acarretar o dever de indenizar”. De acordo com o
exposto, uma conduta que provoque danos a outrem, é passível de fazer com que o
agente seja responsabilizado, quando ocorrer divulgação não autorizada de imagens
íntimas, dada a ofensa a privacidade, intimidade, honra e imagem, dado que o material
divulgado fica “ecoando” na internet.
Entende-se, portanto, que em seara cível, é cabível a condenação por danos
morais, mesmo que não exista legislação específica que trate da matéria, quando se trata
de violação à intimidade, privacidade, honra e imagem por meio da internet. Silva &
Santos (2012, p. 33 e 41) discorrem que:
provocados à vítima.
Segundo Pinheiro (2016, p. 87), “(...) o anonimato associado a impunidade faz
aumentar a agressividade e a violência entre as pessoas dentro da Internet,
especialmente no que diz respeito aos crimes contra a honra”. Quem divulga imagens
íntimas com intuito de ofender e atacar a reputação de outrem, incorre no crime de
difamação, tipificado no art. 139, do Código Penal, como no caso do “Revenge Porn”.
Já no crime de injúria, previsto no art. 140 do mesmo diploma legal, o objetivo é atacar
a honra subjetiva, por meio de atribuição de qualidades negativas aos atributos físicos,
morais e intelectuais, como no “Ciberbullying” (CAPEZ, 2016).
O crime de sextorsão tem o objetivo de obter vantagem econômica, por meio
de chantagem, por meio de constrangimento, pela ameaça de divulgar imagens ou
vídeos íntimos da vítima, na internet, e pode ser enquadrado no art. 158 do Código
Penal, entretanto, se a vantagem for eminentemente sexual, aplica-se também o art. 213
do mesmo dispositivo legal (BRASIL, 1940), já que no estupro virtual, embora não
ocorra conjunção carnal, o agente constrange a vítima a se masturbar, enquanto ele
assiste, utilizando chantagem e ameaças. E como já citado, existe o entendimento no
STJ de que não há necessidade de contato físico para a configuração do estupro, e tal
entendimento se fez possível com a alteração deste dispositivo legal, pela Lei
12.015/2009 (BRASIL, 2009) que ampliou seu alcance, impondo que qualquer conduta
que caracterize atos libidinosos, configure, também, o crime de estupro.
Segundo Caramigo (2016, online), a ocorrência e tipicidade do estupro virtual
não pode ser ignorada, pois “(...) a dignidade sexual do ser humano é uma só, ainda que
figurando em dois mundos diferentes (o real e o virtual)”.
Pode-se adequar tais crimes ainda como “assédio sexual”, art. 216-A
(BRASIL, 1940), visto possuir corrupção e sexo, mas somente quando envolver
superioridade hierárquica. Explicam Camargo & Sydow (2016, s/p, online) que o
assédio sexual envolve a conduta de constranger alguém com a intenção de obter
vantagem ou favor de cunho sexual “(...) prevalecendo-se da condição de superior
hierárquico ou ascendência inerente ao exercício de emprego, cargo ou função (...)”.
Subsidiariamente, pode-se enquadrar o crime de Sextorsão no art. 146 do
Código Penal, que prevê o crime de constrangimento ilegal, como leciona Cunha (2017)
Ressalta-se que a prática da sextorsão pode se adequar ainda aos crimes contra
a honra, tais como injúria e difamação.
Salvo exceções previstas no art. 213, § 1º, do Código Penal, tais infrações são
tratadas nos Juizados Especiais Criminais (JECRIMs), com aplicação da Lei 9.099/95,
que proporciona a possibilidade de penas alternativas, inclusive por meio de prestação
de serviços à comunidade (GONÇALVES; ALVES, 2017, online). Entretanto, se tais
crimes forem associados à Lei 11.340/2006, denominada “Lei Maria da Penha”, a
competência dos Juizados Especiais Criminais é afastada, pois crimes caracterizados
por “(...) violência doméstica e familiar contra a mulher não serão crimes de menor
potencial ofensivo”, não sendo possível a aplicação de transação penal e composição
civil (GONÇALVES; ALVES, 2017, online). Os autores explicam:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
crimes adequadas a esta nova realidade, ou até mesmo para a criação de novas
modalidades.
Jovens e adultos, ou por inocência, excesso de confiança, pela necessidade de
se exibir, utilizam estas ferramentas para trocar imagens e vídeos de caráter íntimo ou
sexual, criando assim a prática do “Sexting”.
Com estes compartilhamentos surgem outras práticas nada positivas, como o
“Ciberbullying” onde indivíduos reiteradamente atacam verbalmente outros, denegrindo
sua imagem, atributos físicos ou psicológicos, provocando danos irreversíveis. Mas não
para por aí, porque outros indivíduos, apenas por vingança, divulgam imagens e vídeos
de natureza sexual, íntima de suas ex-parceiras (os), nascendo assim o “Reveng Porn”.
Assim, o mundo virtual tornou-se também um ambiente propício para a
criminalidade, que começam assim, “Sexting”, “Ciberbullying” e “Reveng Porn”.
Depois são as invasões de computadores, celulares para acesso a contas, senhas,
imagens, vídeos, inúmeros golpes que sempre surgem com nuances diferentes e
inovadores. Finalmente, “sextortion”, e o “estupro virtual”.
Não importam os motivos, importa que o criminoso virtual conta com a
sensação de impunidade, em decorrência do anonimato que o ambiente virtual
proporciona. Em maior ou menor grau as vítimas sofrerão danos emocionais
irreversíveis, além dos materiais.
Urge o fim da inércia, da impunidade. Urge a conscientização social a respeito
dos direitos alheios. Enquanto isso não acontecer, a internet vai ser considerada terra de
ninguém, propiciando a prática de crimes.
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