Gabaritos Casos Concretos 04 e 05
Gabaritos Casos Concretos 04 e 05
Gabaritos Casos Concretos 04 e 05
1ª QUESTÃO:
José, promitente vendedor, celebrou com Marcos, promitente comprador, contrato preliminar de
compra e venda de imóvel situado em Niterói, por instrumento particular não averbado no registro
imobiliário, sem qualquer cláusula de arrependimento. Pergunta-se:
a) Cumpridas todas as prestações por parte de Marcos, esclareça se é cabível, no caso em tela, pedido
de adjudicação compulsória do imóvel em face de José, considerando o que estabelecem os artigos
1417 e 1418 do Código Civil.
b) Supondo que na hipótese acima José, na pendência do contrato preliminar, alienou o referido
imóvel para Caio, esclareça se Marcos, cumprindo todas as prestações decorrentes do pré-contrato,
poderá legitimamente requerer a adjudicação compulsória do imóvel em face do adquirente do
aludido bem (Caio).
RESPOSTA:
Existem três entendimentos sobre a questão. Um primeiro, sustentando a literalidade do art. 1.418,
afirma que o C.C./02 resgatou antiga jurisprudência do STF, exigindo o registro do contrato
preliminar para a adjudicação compulsória, pois o dispositivo disponibiliza essa demanda apenas ao
promitente comprador que seja titular de direito real, ou seja, o promitente que registrou o seu
contrato preliminar, de acordo com o art. 1.417.
Um segundo entendimento diz prevalecer a Súmula 239 do STJ ("o direito à adjudicação compulsória
não se condiciona ao registro do compromisso de compra e venda no cartório de imóveis"). É a
posição majoritária da doutrina e a conclusão do Enunciado 95 do Conselho de Justiça federal:
Um terceiro entendimento, defendido pelo Prof. Fábio Azevedo (in Direito Contratual - Temas Atuais
- Ed. Método - Organizado pelos Professores Giselda Hironaka (USP) e Flavio Tartuce, Pag. 399 a
425), entende, assim como a primeira posição, que a adjudicação compulsória depende sim do
registro do contrato preliminar. No entanto, caso não tenha sido realizado o registro, não será a
questão resolvida através de perdas e danos, como defendia o STF, mas sim por uma sentença
substitutiva da vontade, proferida com base no art. 466-B, do CPC. Em síntese, quando o contrato
tiver sido registrado, caberá a adjudicação compulsória, de natureza real e que transfere a
propriedade. No entanto, não havendo registro, caberá a demanda de outorga de escritura definitiva,
de natureza obrigacional (obrigação de fazer) e que não transfere a propriedade, equiparando-se ao
contrato que deveria ter sido celebrado, o que significa que a sentença não poderá ser oposta contra o
terceiro que adquiriu o imóvel e registrou o seu contrato, diferentemente da adjudicação compulsória,
que é oponível contra terceiros.
O professor Francisco Eduardo Loureiro, afirma que admitir interpretação literal do art. 1418 do CC,
ou seja, o registro como requisito para a adjudicação compulsória, criaria manifesta contradição em
termos. Os demais contratos preliminares admitiriam execução específica, à exceção do mais
relevante deles, que é o compromisso de compra e venda. Além disso, geraria situação de manifesta
injustiça. Colocaria o promitente comprador, cujo contrato não obteve registro por falha meramente
formal, por exemplo, nas mãos do promitente vendedor, que poderia exigir vantagem indevida para
outorgar a escritura devida.
Para contornar a exigência absurda da lei, segundo o mencionado autor, necessária se faz uma
interpretação construtiva, com saída técnica e razoável para a questão. Basta entender que
adjudicação compulsória é espécie do gênero execução de obrigação de fazer, de prestar declaração
para concluir contrato (art. 461 do CPC). Logo, o promitente comprador com título registrado usa a
espécie adjudicação compulsória (art. 1.418 do CC), enquanto o promitente comprador sem título
registrado usa o gênero do art. 461 do CPC, que alberga todos os contratos preliminares. O resultado
prático é rigorosamente o mesmo e produzirá a sentença judicial todos os efeitos do contrato ou
declaração não emitida. (LOUREIRO, Francisco
Eduardo.Código Civil Comentado. Cesar Peluso (Org.). 7ed. São Paulo: Manole. 2013. P. 1504)
E.Superior Tribunal de Justiça, verbis: entre os modos de aquisição de posse, encontra-se o ex lege, visto
que, não obstante a caracterização da posse como poder fático sobre a coisa, o ordenamento jurídico
reconhece, também, a obtenção desse direito pela ocorrência de fato jurídico - a morte do autor da
herança -, em virtude do princípio da saisine, que confere a transmissão da posse, ainda que indireta, aos
herdeiros independentemente de qualquer outra circunstânciaDOU PROVIMENTO AOS APELOS, NA
FORMA DO ART. 557, §1º-A, DO CPC, PARA ANULAR A SENTENÇA E DETERMINAR O
REGULAR PROSSEGUIMENTO, COM A DEVOLUÇÃO DOS AUTOS AO JUÍZO A QUO.
Marco Aurélio Bezerra de Melo sustenta que efetivamente, a relação entre promitente comprador e
vendedor é obrigacional e não real. O registro e a sua inafastável oponibilidade erga omnes serve para
que se crie o chamado direito real de aquisição exercido em face de terceiros, mas não pode ser
condicionante do cumprimento de uma obrigação contratual em que ao comprador incumbe o pagamento
do preço e ao vendedor, um vez adimplida a obrigação, a outorga da escritura definitiva. Essas obrigações
não podem estar condicionadas ao direito real criado pelo registro, sob pena de transformar o ônus do
registro em obrigação propriamente dita. Em que pese a infeliz redação do Código sugerir que o registro é
requisito para a adjudicação compúlsoria, somos do entendimento de que continua em plena
aplicabilidade o verbete de jurisprudência nº 239 do STJ.
Melo, Marco Aurélio Bezerra de. Direito das Coisas. São Paulo: Atlas, 2015. p.434
2ª QUESTÃO:
A partir do contrato com pessoa a nomear, estabeleça as principais diferenças entre este e a
estipulação em favor de terceiros e a cessão de contratos.
RESPOSTA:
Ensina o Professor Marco Aurélio Bezerra de Melo que o instituto mais próximo do contrato com
pessoa a declarar ou nomear é inegavelmente a estipulação em favor de terceiro, sendo inclusive
tratada no mesmo capítulo no direito civil italiano, pois em ambos o direito decorrente do contrato
básico é transferido pelo estipulante para um terceiro, que assumirá os direitos e deveres decorrentes
do contrato, ainda que não tenha participado do pacto no momento de criação do vínculo. Contudo, na
estipulação em favor de terceiro há sempre uma vantagem para o terceiro. O beneficiário pode exigir
o cumprimento daquilo que foi estipulado em seu favor, na forma do parágrafo único do artigo 436 do
Código Civil. Sem embargo dessa possibilidade jurídica, o beneficiário jamais fará parte da relação
contratual, enquanto no contrato com pessoa a declarar, se o nomeado aceitar a designação feita,
assumirá, ipso facto, os direitos e obrigações daí decorrentes, exonerando, em regra, o estipulante que
o nomeou. No contrato com pessoa a nomear, o terceiro assume, querendo, a posição contratual, ao
passo que não se inclui na estrutura ou função da estipulação em favor de terceiro o projeto de o
beneficiário figurar como parte no contrato celebrado entre os contratantes originários. Repise-se que
o comparecimento do beneficiário no contrato em favor de terceiro encerra sempre uma liberalidade
que, no máximo, poderá contar com a presença de um encargo.
Com o instituto da representação já tivemos oportunidade de divisar as diferenças, uma vez que o
estipulante que se reservou contratualmente o direito potestativo de nomear um terceiro para realizar
o contrato não é representante do outro contratante, mas age em nome próprio. Tanto assim que se o
nomeado não quiser assumir o contrato, ficará ele vinculado com o promitente. Preocupando-se com a
confusão dos institutos, o anteprojeto de obrigações elaborado por Caio Mário da Silva Pereira em
1963 previa no artigo 314 que “o terceiro, pelo qual alguém contratou fora dos casos de
representação, não é obrigado enquanto não dá o seu assentimento”.
A designação do terceiro tem, em regra, força extintiva da relação jurídica entre o estipulante e
promitente, mas não há, por assim dizer, uma novação subjetiva ou objetiva e nem se cria um novo
contrato. Primeiro, porque a novação é modalidade de extinção das obrigações diversas do pagamento
direto e encerra o ingresso de alguém no polo ativo (novação subjetiva ativa - art. 360, III, CC) ou no
polo passivo (novação subjetiva passiva - art. 360, II, CC), enquanto no contrato com pessoa a
declarar o mesmo contrato é assumido em sua inteireza pelo contratante nomeado. Segundo, porque a
novação exige consentimento posterior entre os contratantes no sentido de criarem outra obrigação
com força extintiva da anterior e no contrato com pessoa a declarar essa circunstância é previamente
estabelecida entre os contratantes originários.
Também não se confunde com a cessão do contrato, em que o contrato é cedido a um terceiro com
efeitos ex nunc. No contrato com pessoa a nomear, não há sucessão contratual, pois o contrato é feito
em atenção à pessoa designada que, ao aceitar a
nomeação,produzirá efeitos ex tunc (art. 469, CC) como se o estipulante não tivesse existido naquela
relação negocial. Nesse sentido, aduz Luiz Roldão de Freitas Gomes17 que não há que se falar em
sucessão, sequer cronológica, tendo em vista a retroatividade da aquisição do direito por parte do
electus e por ser o cessionário do contrato parte do contrato, diferentemente do terceiro designado.
Ademais, a nomeação é feita no momento da conclusão do contrato, ao passo que somente se saberá o
cessionário da posição contratual na fase eficacial do contrato e não na sua formação.
05 Tema: Elementos naturais do contrato. Vícios redibitórios. Conceito. Requisitos. Efeitos. Ações
edilícias. Prazos. Evicção. Conceito. Requisitos. Cláusula de reforço, diminuição e exclusão da
garantia. Efeitos da evicção. Evicção parcial.
1ª QUESTÃO:
João propõe demanda indenizatória em face de Pedro. Aduz, em síntese, que adquiriu do réu um bem
móvel e que veio a perdê-lo por evicção. Diante da perda, pleiteia o direito reparatório, com fulcro no
artigo 450 do Código Civil.
Em defesa, sustenta o demandado pela prescrição, uma vez que o trânsito em julgado do
reconhecimento da evicção se deu em janeiro de 2013, enquanto que a presente demanda somente foi
distribuída agora, em 2017, sendo certo que o pedido em questão se submete ao prazo prescricional
previsto no artigo 206, §3º, IV ou V do CC/02.
Em réplica, sustenta o autor que o ordenamento jurídico não prevê expressamente o prazo
prescricional da pretensão indenizatória em decorrência da evicção, e assim sendo, deve a evicção se
submeter ao prazo geral legal de 10 anos previsto no artigo 205 do mesmo diploma legal.
Decida fundamentadamente a questão.
RESPOSTA:
RECURSO ESPECIAL Nº 1.577.229 - MG (2016/0005234-0) RELATORA : MINISTRA NANCY
ANDRIGHI
EMENTA CIVIL E PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REPARATÓRIA COM
BASE NA GARANTIA DA EVICÇÃO. INTERESSE DE AGIR CONFIGURADO. PRAZO
PRESCRICIONAL TRIENAL. DEVER DE INDENIZAR. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
REVISÃO. IMPOSSIBILIDADE. 1. Ação de ressarcimento pela evicção ajuizada em 09/12/2009, da
qual foi extraído o presente recurso especial, interposto em 08/06/2015 e concluso ao Gabinete em
25/08/2016. 2. Discute-se a existência de interesse de agir do recorrido; o prazo prescricional
aplicável à pretensão de ressarcimento pela evicção; a configuração do dever de indenizar; e a
proporcionalidade dos honorários advocatícios arbitrados. 3. A análise quanto à eventual existência de
crédito a ser compensado entre as partes não prescinde do reexame do conjunto fático-probatório,
vedado pela súmula 7 do STJ, e não afasta o interesse de agir do adquirente de ter reconhecida a
evicção e o direito de reparação dela consequente. 4. Independentemente do seu nomen juris, a
natureza da pretensão deduzida em ação baseada na garantia da evicção é tipicamente de reparação
civil decorrente de inadimplemento contratual, a qual se submete ao prazo prescricional de três anos,
previsto no art. 206, § 3º, V, do CC/02. 5. Reconhecida a evicção, exsurge, nos termos dos arts. 447 e
seguintes do CC/02, o dever de indenizar, ainda que o adquirente não tenha exercido a posse do bem,
já que teve frustrada pelo alienante sua legítima expectativa de obter a transmissão plena do direito. 6.
Alterar o decidido no acórdão impugnado, no que se refere ao valor fixado para honorários
advocatícios, exige o reexame de fatos e provas, vedado em recurso especial pela Súmula 7 do STJ. 7.
Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa parte, desprovido.
2ª QUESTÃO:
Renato adquire um automóvel de João. Nos primeiros dias de uso do automóvel, um vício oculto que
já existia antes da aquisição vem a ser revelado pelo adquirente que comunica tal fato a João.
Todavia, Renato antes de optar pelas garantias previstas nos artigos 441 e 442 do Código Civil, teve o
veículo roubado por um meliante.
Apesar do caso fortuito ter gerado a perda da coisa, Renato, pretende a devolução dos valores pagos,
tendo em vista que a lei lhe conferia tal solução jurídica a partir da revelação do vício.
Restou demonstrado que Renato pagou R$ 15.000,00 (quinze mil reais) pelo veículo e que o vício
oculto depreciava a coisa em R$ 3.000,00 (três mil reais).
Diante do exposto, apresente a solução jurídica para o caso.
RESPOSTA:
Quem na doutrina melhor enfrenta a questão é o professor Marco Aurélio Bezerra de Melo, em sua
obra, aduz o autor que " para Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald, pela redação do artigo 444 do
Código Civil, haverá a elisão da responsabilidade do alienante e, ipso facto, suportará o alienatário
sozinho a perda patrimonial decorrente. Em que pese a juridicidade de tal ponto de vista, ousamos
divergir dos referidos mestres. Reconhecemos a dificuldade probatória, mas parece-nos que mais
justo será o arbitramento de um valor indenizatório, que deverá corresponder ao efeito que o vício
redibitório causava na quantificação econômica da coisa, pois nesse caso cada qual estará suportando
o risco da coisa no momento em que a mesma se encontrava nos respectivos domínios.
Exemplifiquemos. Se o bem foi comprado por R$ 1.000,00 e com o vício oculto deveria sofrer um
abatimento de R$ 300,00, fará jus o adquirente a essa importância a título de indenização, pois de fato
os R$ 700,00 foram perdidos pelo fato imputável a si, a terceiro ou ao acaso