Ciberterrorismo

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9 de Abril de 2024

Ciberterrorismo e o Direito
Penal do Inimigo
Publicado por Nieissa Pereira há 14 minutos

Com o avanço exponencial da tecnologia, a Sociedade da Infor-


mação se consolidou como o paradigma dominante dos tempos
atuais, permeando todos os aspectos da vida humana.

Essa era da evolução tecnológica é caracterizada pelo uso inten-


sivo da informação e do conhecimento como fundamento para o
desenvolvimento social, econômico e cultural, tendo o seu início
na segunda metade do século XX, com o surgimento da infor-
mática e das telecomunicações.

Como principais características da Sociedade da Informação,


tem-se a informação como um bem essencial para o desenvolvi-
mento individual e coletivo, as tecnologias digitais como ferra-
mentas a exemplo dos computadores, da internet e dos
smartphones facilitando o acesso, o processamento e o compar-
tilhamento de informações; a globalização que permite a troca
instantânea de informações e a interação entre pessoas de dife-
rentes localidades e culturas; e as mudanças na organização so-
cial através de novas formas de trabalho, educação, lazer e
comunicação.

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MAIS
Em contrapartida a todas essas características que também po-
dem ser vistas como vantagens dessa nova era, existem os pon-
tos negativos como os riscos à privacidade e à segurança dos da-
dos pessoais dos usuários, bem como os cibercrimes.

Pinto (2011, p. VII) assim conceitua cibercrime:

Acto baseado ou que tem como alvo os sistemas infor-


máticos. Pode envolver o roubo de propriedade intelec-
tual, violação de patentes, roubo de segredos de comér-
cio, violação das leis de direito de autor e a usurpação
de identidade. Inclui o ataque a sistemas informáticos
com o objectivo de disruptir o processamento, a espio-
nagem industrial, etc.

Ou seja, os sistemas informáticos, quais sejam os hardwares e


softwares, são considerados as principais armas utilizadas para
o cometimento de atividades ilícitas no ciberespaço, o que pode
ocasionar em uma guerra da informação.

Vale ressaltar que, essas atividades ilícitas não apenas existem


no mundo virtual, pois as atividades no ciberespaço que auxi-
liam a prática de crimes no mundo real também podem se confi-
gurar como cibercrime, sendo assim considerado como gênero
que tem como espécies atividades criminosas que acontecem no
mundo virtual, mas que causam impactos nocivos no mundo
real.

Como uma das espécies de cibercrime, tem-se o ciberterrorismo


que, por sua vez, consiste em ataques a dispositivos tecnológicos
informacionais com o objetivo específico de intimidar ou cons-
tranger um governo e seus integrantes. Tal conduta pode acabar
ocasionando em violência contra indivíduos visando gerar o
sentimento de temor geral.
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Os ciberterroristas (como são chamados aqueles que praticam
este tipo de crime) são verdadeiros hackers que agem com um
propósito definido de perturbar o governo e causar terror na po-
pulação, por meio de mecanismos de criptografia para trocar in-
formações e se comunicar online para planejar atos terroristas.

É de fundamental importância que os ataques ciberterroristas


tenham um alvo específico, porém não necessariamente precisa
ser uma só pessoa, podendo ser um prédio ou algum funcioná-
rio que faça parte das forças armadas militares ou governamen-
tais, presentes no ciberespaço.

Além do alvo, o motivo também deve ser levado em considera-


ção, pois é a partir de sua análise que será possível dizer que o
ciberterrorismo pertence ao gênero do terrorismo, ou seja, ter
motivações políticas, sociais, ideológicas, sociais e/ou culturais.

No ciberespaço, o ciberterrorismo se manifesta através de diver-


sos meios, principalmente por meio de sistemas tecnológicos in-
formacionais, como computadores e dispositivos de comunica-
ção e tem como efeitos a destruição em parte ou total dos siste-
mas operacionais e informacionais dos alvos, bem como as re-
percussões no mundo real.

A partir da análise sobre a complexa natureza do crime de ciber-


terrorismo, uma questão crucial surge: como o Direito Penal do
Inimigo, com sua abordagem singular para a criminalidade,
concebe e classifica o indivíduo que comete tal crime?

O Direito Penal do Inimigo nada mais é do que um modelo teó-


rico de política criminal desenvolvido pelo alemão Günther Ja-
kobs, que defende a separação entre àqueles que o Estado consi-
dera como inimigos, daqueles considerados como cidadãos.

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Ou seja, tal teoria propõe uma abordagem diferente para lidar
com aqueles indivíduos considerados inimigos do Estado, de-
vido à sua natureza irrecuperável e periculosidade extrema e
que, portanto, não merecem as mesmas garantias e direitos dos
cidadãos comuns:

O doutrinador Günter Jakobs distingue os indivíduos em duas


categorias: cidadão e inimigo. Por essa razão, há o Direito Penal
do Cidadão e o Direito Penal do Inimigo. Afirma, ainda, que o
primeiro é o Direito de todos, onde se mantém a vigência da
norma, já o segundo combate perigos, é o Direito daqueles que o
constituem contra inimigo: frente ao inimigo, é só coação física,
até chegar à guerra (LACERDA et. al, 2018, p. 230).

Ainda de acordo com o autor, o Direito Penal do Inimigo possui


três principais características: prevenção através do amplo adi-
antamento da punição; penalização severa com penas previstas
desproporcionadamente altas; e a relativização de garantias
procedimentais ou a supressão de algumas garantias
fundamentais.

Em regra, o Código Penal Brasileiro adota a teoria do Direito


Penal do fato, a qual determina que o agente responde pelo de-
lito cometido, e não pelo que ele é. Diferente do que defende o
Direito Penal do Inimigo regido pelo Direito Penal do Autor, pu-
nindo o agente pelo seu caráter criminoso, pelo perigo que ele é
para a sociedade, e não pelo crime cometido (JAKOBS; CANCIO
MELIÁ, 2007).

Em suma, a teoria criada por Jakobs, visa coibir os crimes con-


siderados mais graves e que colocam toda uma sociedade em
risco como, por exemplo, atos terroristas que através do seu cas-
tigo, pretende-se combater o terrorismo em seu conjunto, quer
dizer, a pena é um instrumento para um fim policial, um passo
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Jurisprudência, pela esegurança.
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Assim aduz Larizzatti:

O direito penal do cidadão tem por finalidade manter a


vigilância da norma; o direito penal do inimigo, o com-
bate de perigos. O direito penal do cidadão trabalha
com um direito penal do fato; o direito penal do ini-
migo, com um direito penal do autor. O direito penal
do cidadão pune fatos criminosos; o direito penal do
inimigo, a periculosidade do agente. O direito penal do
cidadão é essencialmente repressivo; o direito penal do
inimigo, essencialmente preventivo. O direito penal do
cidadão deve se ocupar, como regra, de condutas con-
sumadas ou tentadas (direito penal do dano), ao passo
que o direito penal do inimigo deve antecipar a tutela
penal, para punir atos preparatórios (direito penal do
perigo). Enfim, o direito penal do cidadão é um direito
de garantias; o direito penal do inimigo, um direito.

Correlacionando o crime de ciberterrorismo com o Direito Penal


do Inimigo, é possível verificar que essa teoria pode ser usada
para justificar a aplicação de medidas mais severas, como a pri-
são preventiva sem prazo determinado, a interceptação de co-
municações e a infiltração em redes online. Argumenta-se que
tais medidas são necessárias para proteger a sociedade de um
perigo real e iminente.

O ciberterrorismo, se caracteriza pelos ataques cibernéticos que


tem como objetivo causar terror ou danos em larga escala, tor-
nando esse tipo de crime um verdadeiro desafio para a socie-
dade e para o Direito Penal. A sua natureza complexa e que ul-
trapassa as fronteiras, exige uma resposta jurídica estatal eficaz,
sem comprometer as garantias e princípios fundamentais do Es-
tado Democrático de Direito.

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Ao analisar o ciberterrorismo e o Direito Penal do Inimigo, resta
demonstrado a necessidade de um debate profundo e crítico so-
bre a aplicação dessa teoria nesse contexto específico. Ainda que
esse debate esteja em seus estágios iniciais, já se faz premente a
busca por um equilíbrio entre a segurança pública e a proteção
dos direitos fundamentais, além de fortalecer a capacidade do
Estado de investigar e punir os crimes cibernéticos, sem o com-
prometimento das garantias processuais e dos princípios funda-
mentais do Direito Penal.

REFERÊNCIAS

JAKOBS, Günter; CANCIO MELIÁ, Manuel. Direito Penal do


Inimigo – Noções e Críticas. 2. ed. Tradução de André Luís Cal-
legari e Nereu José Giacomolli. Porto Alegre: Livraria do Advo-
gado, 2007.

LACERDA, Nathália Polyana C.; LACERDA, Murilo Couto; GUI-


MARÃES, Rejaine Silva. A Lei Antiterrorismo Brasileira à Luz
da Teoria do Direito Penal do Inimigo. Revista Internacional
Consinter de Direito, p. 227-238, 2018.

LARIZZATTI, Rodrigo. As organizações criminosas e o direito


penal do inimigo. Disponível em: <
http://direitopenaldoinimigo.blogspot.com.br/p/bibliografia.ht
ml>. Acesso em: 01 abr. 2024.

PINTO, Marco Aurélio Gonçalves. Teoria relativista do ciberter-


rorismo. 2011. 115 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Mes-
trado em Guerra da Informação, Departamento de Estudos Pós-
graduados, Academia Militar, Lisboa, 2011. Disponível em: <
https://bit.ly/36aFRij>. Acesso em: 01 abr. 2024. P. VII

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Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/ciberterrorismo-e-o-direito-penal-do-
inimigo/2315770853

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