Behl, R. M
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VIDEOCLIPES DE MÚSICA
Resumo: A mídia possui um importante papel nas sociedades modernas, especialmente na produção de discurso
em grande escala, conforme os estudos de Michel Foucault e Thompson que enfatizam a relação do discurso e o
poder. Entre os estilos de estações midiáticas pode-se considerar a Internet uma das maiores estações virtuais de
livre acesso e compartilhamento de informações no mundo, onde os espectadores são ao mesmo tempo
produtores de conteúdo. As redes sociais exemplificam esse processo em que indivíduos de vários lugares
distintos podem interagir, expondo suas experiências profissionais ou cotidianas através de postagens de
conteúdos áudio visuais. No website Youtube, anuncia-se clipes de diversos tipos de assuntos e demandas,
como música, filmes, conteúdo jornalístico, cursos e palestras. Com recordes de audiência, é considerado um dos
canais que mais reflete as mudanças sociais e culturais que vem acontecendo. Nesse viés, Tânia Ferrarim Ollivati
salienta a importância de investigar conteúdos exibidos pelo YouTube devido ao nível de sentidos e valores
socioculturais ali contidos. Complementando a ideia de Norman Fairclough, sobre textos multimodais e seus
recursos semióticos, cujas várias dimensões da comunicação estão carregadas de significados a serem analisados.
Baseando-se também no conceito de que as obras de arte possuem caráter histórico, presente no enunciado,
resultante de uma análise apurada, proposta por Michel Foucault. Portanto, afirma-se que os videoclipes de
música exibidos nas grandes plataformas digitais de stream, possuem notável valor histórico-cultural por
representarem práticas da sociedade e suas subjetividades de acordo com Tiago Soares.
Introdução
1
Mestrando em Música pela Universidade Estadual do Paraná - UNESPAR, campus de Curitiba, Paraná - Br.
Email: [email protected].
constituída por música, imagem e montagem, formando assim o que Tiago Soares chama de
paisagem sonora. A relação entre indústria cultural e mídia será considerada para justificativa
da escolha do objeto de análise, o videoclipe Bum Bum Tam Tam. O qual é o mais acessado,
da história da música brasileira, pelo mundo todo, no web site Youtube. Será exemplificado,
assim, como os clipes musicais podem conter significações que documentam a historicidade e
os valores socioculturais exibidos pelos novos meios de produção e divulgação da arte.
Para Michel Foucault2, “O poder produz saber (...), não há relação de poder sem
constituição correlata de um campo de saber, nem saber que não suponha e não constitua ao
mesmo tempo relações de poder”. Assim, pode-se afirmar que o poder é definido na
legitimação de um saber, sendo que o indivíduo que detém conhecimentos também dispõe de
poderes. O autor entende por saber “aquilo de que podemos falar em uma prática discursiva
que se encontra assim especificada: o domínio constituído pelos diferentes objetos que irão
adquirir ou não um status científico”3.
Segundo Jhon B. Thompson4, o desenvolvimento tecnológico trouxe para as
sociedades modernas mudanças e avanços em muitas áreas do saber e da interatividade
humana. Conforme as novas tecnologias e os equipamentos foram aprimorados, os meios de
comunicação se modificaram e a cultura tornou-se cada vez mais midiatizada. Assim, ele
defende que os meios técnicos de produção e divulgação de significados foram desenvolvidos
pelas instituições orientadas para acumulação capitalista. Nessa perspectiva, Thompson
afirma que as instituições midiáticas, detentoras de grande parte da produção e divulgação de
conteúdo, exercem uma assimetria de poder, identificando nos processos de operação do
discurso moderno como a mídia é capaz de manipular os saberes, excluindo a possibilidade de
intervenção dos espectadores no sentido do discurso midiatizado ofertado a grande escala.
Sob tais afirmações pode-se concluir que a internet é, hoje, um ambiente virtual onde
as instituições podem exercer grande poder sobre a produção e divulgação de conteúdos
2
FOUCAULT, M. A ordem do discurso. São Paulo: Editora Loyola, 2010. p. 30.
3
FOUCAULT, M. A Arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2013. p. 220.
4
THOMPSON, J. Ideologia e Cultura Moderna: teoria social crítica na era da comunicação de massa.
Petrópolis: Vozes, 1995.
informativos. Saberes que são acessados por uma grande escala de indivíduos de diferentes
partes do mundo. Na perspectiva dessa nova forma de rede de compartilhamento, Henry
Jenkins5 elucida sobre uma espécie de protagonismo, onde os espectadores agora são
produtores de conteúdo e a relação entre mídia e consumidor acontece de maneira
imprevisível. Nesse novo ambiente, onde os indivíduos de várias classes econômicas e sociais
exercem poderes sobre o discurso, Venício Artur de Lima 6 afirma que agora “a mídia destaca-
se pela sua capacidade de produção de sentido social, respaldada pelo desenvolvimento
tecnológico que permitiu que a sociedade contemporânea se tornasse quase totalmente
midiatizada”. São as redes sociais virtuais que melhor definem essa ideia de mídias
colaborativas, onde os participantes produzem e consomem conteúdos digitais. Por isso,
destaca-se o website YouTube devido sua popularidade no envolvimento com a divulgação de
videoclipes de música, que além das grandes marcas do mercado fonográfico promoverem
seus produtos, encontramos trabalhos de artistas independentes.
(...) É canal de divulgações dos mais variados tipos de conteúdo audiovisual, como
palestras, materiais jornalísticos, vídeos de clipes, celebridades instantâneas e ações
publicitárias que vêm obtendo recorde de público em uma das mídias sociais que mais
reflete as transformações midiáticas e culturais que estamos vivenciando7.
5
JENKINS, Henry. Cultura da convergência. Tradução de Susana Alexandria. São Paulo: Aleph, 2008.
6
LIMA, V. A. Regulação das comunicações. São Paulo: Paulus, 2011. p. 33.
7
ROCHA, E., & ALVES, L. M. (2010). Publicidade Online: O poder das mídias e redes sociais. Fragmentos
de Cultura, 221-230. p. 225.
8
OLIVATTI, Tânia Ferrarim. Youtube: Novas Práticas dos usuários em uma nova cultura digital. Lecotec,
São Paulo. ago/out. 2008. Disponível
em:<http://www2.faac.unesp.br/pesquisa/lecotec/eventos/simposio/anais/2008_Lecotec_256-267.pdf>. Acesso
em: 24 abr. 2020. p. 260.
os clipes de música. Considerando as noções de Norman Fairclough, encontra-se uma
exemplificação de como constituem-se esses novos gêneros textuais modernos:
Nós podemos usar o termo ‘texto’ para o momento discursivo de eventos sociais,
significando não apenas textos escritos (senso comum de ‘texto’), mas também a fala
como um elemento de eventos, e os complexos textos ‘multimodais’ da televisão e
internet, onde a língua é combinada com outros recursos semióticos (imagens de
filmes e fotografias, efeitos sonoros, linguagem corporal, incluindo expressões faciais
e gestos)9.
O ethos pode ser considerado como parte de um processo mais amplo de ‘modelagem’
em que o lugar e o tempo de uma interação e seu conjunto de participantes, bem como
o ethos dos participantes, são constituídos pela projeção de ligações em determinadas
direções intertextuais de preferência a outras 10.
9
FAIRCLOUGH, Norman. Language and Globalization. London: Routledege, 2006. p. 30.
10
FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2008
[1992].
11
KRESS, Gunther & Van LEEUWEN, Theo. Reading images. 2ª ed. London: Routledge, 2006.
Voltando a atenção para o recurso discursivo da canção (letra da música), Fairclough12
orienta sobre as metáforas, que são os artifícios de linguagem onde significações podem ser
impressas no sentido figurado, mas exprime uma realidade a ser descoberta. Dispondo de
diferentes gírias e formas de representar a linguagem nas pluralidades culturais do mundo,
esse recurso pode evidenciar as diferentes formas coletivas e individuais das identidades
culturais se comunicarem. Partindo desse pressuposto, Fairclough13 considera que a
intertextualidade é a forma de extrair do discurso suas origens e possíveis procedências,
verificando qual discurso dá origem a outro e como essa relação pode acontecer de forma
indireta, sem uma intenção consciente do produtor desse conteúdo, mas evidente a quem se
dispõe a tentar interpretar, atribuindo um significado às palavras.
12
FAIRCLOUGH, Norman. Discurso e mudança social. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2008
[1992].
13
Ibidem.
14
Ibidem, p. 230.
15
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
16
NASSIF, S. C., & SCHOROEDER, J. L. (2016). A Escuta Musical: Um Processo Dialógico. Educação, 143-
161.
Foucault orienta sobre a formulação dos enunciados e o caráter histórico que podem
evidenciar em obras, formações discursivas ou performances verbais. Também afirma que o
enunciado se exclui do que não é dito no discurso e mesmo que não se identifique de forma
instantânea, é preciso delinear processos de modelagens entre as ações discursivas que se
direcionam para uma certa informação que não poderia ser ocupada por outra ideia 17.
Complementando a ideia dos recursos semióticos além da arte visual e sonora, Tiago 19
Soares apresenta uma terceira dimensão a ser considerada, nomeada processo de montagem.
Esse aspecto seria a integração entre o som e a imagem da música que, relacionadas, originam
a ‘paisagem sonora’ “gerando um efeito virtual de ouvir algo e ‘estar’ na música” e “ou
‘estar’ no som[...], dentro de uma ótica naturalmente imbricada com a própria origem da
canção”.
Sob tais apontamentos e metodologias justifica-se o potencial de significações nos
âmbitos sociais, culturais e históricos que se encontram em disposições de enunciados
discursivos que percorrem as semioses do texto multimodal como o videoclipe. Esses
significados são evidentes por estarem ligados geralmente a certa intenção ou representação
de ações e tendências que acontecem em campos da coexistência, ou seja, coletividades.
Nesse viés, as coletividades e pluralidades tangem assuntos ligados as identidades culturais
que, de acordo com Stuart Hall20, abrangem “aqueles aspectos de nossas identidades que
surgem do nosso “pertencimento” à culturas étnicas, raciais, linguísticas, religiosas, e, acima
de tudo, nacionais”.
17
FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Tradução de Luiz Felipe Baeta Neves. 7ªedição. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, (2008) a.
18
Ibidem.
19
SOARES, Thiago. Videoclipe: o elogio da desarmonia. João Pessoa: Marca da Fantasia, 2012. p. 43.
20
HALL, S. (2006). A identidade cultural na pós-modernidade (11ª. Edição). São Paulo: DP&A. p. 8.
Apesar da atuação do participante representado e a relevância social que possa existir
21
nas suas expressões incorporadas no vídeo clipe, Teodoro W. Adorno & Max Horkheimer
elucidam sobre o impacto da mídia moderna sobre as produções artísticas, cujos compositores
das obras são condicionados a seguir parâmetros das corporações que se utilizam da arte para
fins de obtenção de lucros e rendimentos econômicos. Realizam, assim, uma produção em
série de produtos artísticos comerciais que direcionados para demandas predeterminadas
apresentam, cada vez mais, níveis de similaridades em seus conteúdos definindo o
funcionamento e objetivos da Industria Cultural.
[...] Sob o poder do monopólio, toda cultura de massas é idêntica, e seu esqueleto, a
ossatura conceitual fabricada por aquele, começa a se delinear. [...] O cinema e o rádio
não precisam mais se apresentar como arte. [...] Eles se definem a si mesmos como
indústrias, e as cifras publicadas dos rendimentos de seus diretores gerais suprimem
toda dúvida quanto à necessidade social de seus produtos22.
Fernando Fidelix Nunes23 utilizou alguns autores da Análise crítica do Discurso para
descobrir como a indústria cultural se utiliza de vetores audiovisuais para integrar uma
identidade social que recebe grande destaque e admiração pelo público e por isso passa a ser
um grande influenciador de massas sociais em videoclipes de música, especialmente dos
estilos pop e hip hop. Estilos de destaque na música popular internacional.
A cultura pop está atrelada ao advento das mídias, conforme afirma Jeder Janotti
Junior:
A compreensão inicial desses fenômenos como pop já atestava uma das contradições
adensadas dessas vivencias culturais: de um lado seu aspecto serial, a produção
massiva, de outro, o modo como os produtos pops servem para demarcar experiências
diferenciadas através de produtos midiáticos, que nem por isso deixam de ser
“populares”24.
21
HORKHEIMER, Max; ADORNO, Theodor W. (1944/1947) Dialética do esclarecimento: fragmentos
filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.
22
lbidem, p. 57.
23
NUNES, Fernando Fidelix. O uso de recursos semióticos em videoclipes: novas perspectivas para a
análise de discurso crítica. 2013. 117 f. Dissertação (Mestrado em Linguística) —Universidade de Brasília,
Brasília, 2013.
24
JANOTTI JR, Jeder. Cultura Pop: entre o popular e a distinção. In: SÁ, Simone Pereira de; CARREIRO,
Rodrigo; FERRAZ, Rogerio (Orgs.). Cultura Pop. Salvador/Brasília; EDUFBA/Compós, 2015, p. 45-56. p. 45.
A respeito da relação entre a cultura pop e visibilidade de mídia, Jonathan Teixeira
Aires25, demonstrou que as quantidades de acessos nos produtos áudio visuais em plataformas
digitais definem o nível de popularidade e influência que um artista pode exercer através do
alcance de públicos que acompanham redes sociais virtuais.
Segundo dados do site G126 o videoclipe de música brasileira mais acessado fora do
país é o clipe da música Bum Bum Tam Tam, interpretada por MC Fioti. Ele é
simultaneamente o mais acessado da história dos videoclipes brasileiros de música, com cerca
de 1,5 bilhões de acessos e uma ampla vantagem em relação ao segundo colocado do Brasil.
Diante de tais dados é possível afirmar que esse clipe, por ter atingido grande repercussão e
alcance de público, contém discursos e significados possíveis de representar a música da
cultura de massa brasileira atual, exemplificando como hoje o estilo funk domina o cenário
nacional de produção e divulgação musical em plataformas online de stream. Desse modo o
clipe Bum Bum Tam Tam será submetido a uma análise, utilizando alguns pressupostos que
se aplicam em textos multimodais.
25
AIRES, Jonathan Teixeira. A visibilidade de Pabllo Vittar na mídia. 2019. Monografia (Graduação em
Publicidade e Propaganda) - Faculdade de Tecnologia e Ciências Sociais Aplicadas, Centro Universitário de
Brasília, Brasília, 2019.
26
Disponível em https://g1.globo.com/pop-arte/musica/noticia/2018/09/15/como-bum-bum-tam-tam-de-mc-
fioti-se-tornou-o-1o-clipe-brasileiro-a-alcancar-1-bilhao-de-views-no-youtube.ghtml Acessado em 06. junho.
2021.
27
KRESS, Gunther & Van LEEUWEN, Theo. Reading images. 2ª ed. London: Routledge, 2006.
conversação direta com o espectador, evidenciando como a indústria cultural utiliza-se do
destaque que o artista recebe, para comunicar discursos através da dimensão imagética. Além
disso, o foco de olhar, do MC Fioti. também se direciona as dançarinas, especialmente para o
bumbum que rebola enquanto o cantor canta “bum bum tam tam” (visível nas figuras 3 e 4),
como se pode observar nas imagens a seguir:
Figura 1- Mc Fioti ao centro sentado, acompanhado de três Figura 2- Mc Fioti ao centro, exibindo suas
dançarinas e um flautista28: jóias de ouro, com o foco do olhar em ângulo
direto com a câmera29:
Figura 3- Mc Fioti ao centro sentado, com o foco de olhar Figura 4- Mc Fioti desloca-se do centro, e
direcionado para a dançarina do lado direito no vetor30: divide a posição com o bumbum da dançarina,
para o qual ele mantém o foco do olhar31:
Já o funk ostentação, que ganhou maior visibilidade no Brasil a partir de 2011, surgiu
na Baixada Santista em Santos, São Paulo, com canções que se referem e valorizam o
28
FIOTI, Mc. Bum Bum Tam Tam. Youtube. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=_P7S2lKif-A.
Acesso em 10 de Jun. 2021. 2:50.
29
Ibidem.
30
Ibidem.
31
Ibidem.
consumo e a cultura material, principalmente carros, motos, mansões, cordões de ouro
e roupas de marca32.
Essa ideia do funkeiro como artista possuidor de riquezas, status e poder, nem sempre
foi a característica principal do artista funk. Pelas afirmações de Hermano Vianna 33 e Micael
Herschmann34 em suas pesquisas sobre a história do funk, afirma-se que o funk passou por
algumas fases distintas que identificaram o funkeiro de diferentes formas. Os autores afirmam
que quando o funk surgiu no Rio de Janeiro, sofreu demonização por parte da mídia, por ser
considerado uma cultura das favelas e classes menos abastadas. Nessa época os seguidores do
funk eram marginalizados e vistos até como integrantes de facções criminosas, quando as
letras retratavam sobre as injustiças e problemas sociais existentes na periferia. foi nesse
momento, quando a mídia começou a retratar o estilo de modo pejorativo e marginal que ele
ascende as TVs e estações de rádios, com grandes sucessos de venda, chamando a atenção da
indústria cultural, que, posteriormente se apropriará do estilo.
Tornou-se evidente que, a partir do Funk Ostentação, as letras das músicas
começaram a apresentar um alto grau de similaridade em seus discursos sobre consumo de
marcas caras e o desejo do acúmulo de bens e riquezas. segundo Alexandre Barbosa
Pereira35nota-se a ideia de padronização do discurso funk ostentação pela indústria cultural.
Essas produções artísticas, remetem os apontamentos de Teodoro W. Adorno & Max
Horkheimer 36. Dessa forma, quando o funk foi apropriado e assumiu um aspecto comercial,
muito do seu aspecto de denúncia e representação das condições dos pobres e moradores da
periferia foram substituídos pela incitação do desejo de consumo.
Quanto a letra da música, é perceptível como o discurso está atrelado ao corpo
feminino dançante, principalmente ao bumbum que mexe e remexe no ritmo da batida,
evidente quanto MC Fioti canta Bum bum tam tam e as dançarinas requebram no clipe.
32
MORETTO, Julien. Tudo acaba em Funk: Um documentário sobre a apropriação do estilo funk. 2015.
Trabalho de conclusão de curso (graduação), Centro de Ciências Sociais e Humanas - Curso de Comunicação
Social - Relações Públicas, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2015.
33
VIANNA, Hermano. O mundo funk Carioca. Rio de Janeiro: Jorge Zahar editor, 1998.
34
HERSCHMANN, Micael. O funk e o hip-hop invadem a cena. 2ª ed. Rio de Janeiro: UFRJ, 2005
35
PEREIRA, A. B. (2014). Funk ostentação em São Paulo: imaginação, consumo e novas tecnologia da
informação e da comunicação. Revista Estudos Culturais, 1(1). Recuperado de
http://www.revistas.usp.br/revistaec/article/view/98367.
36
HORKHEIMER, Max; ADORNO, Theodor W. (1944/1947) Dialética do esclarecimento: fragmentos
filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.
Segundo o link do próprio canal de exibição do clipe oficial de MC Fioti, a letra de Bum Bum
Tam Tam, constitui-se, sem as repetições da letra, aproximadamente assim:
Apesar da letra não se referir diretamente a mulher quando convida o espectador para
requebrar ao som da batida, no clipe, observa-se como são as mulheres que mantém uma
expressão corporal dançante e sensualizada. O que dá impressão é de que a letra ordena (pelo
uso da linguagem imperativa) especialmente a ‘novinha saliente’ que ‘fica loucona e se joga’
a dançar com o bum bum tam tam. Nessa alusão da arte como objetificação e erotização do
corpo feminino, encontra-se presente, no enunciado, o apelo histórico da feminilidade sendo
representada como objeto de desejo sexual, explorado pela indústria como atrativo que
impulsiona os interesses comerciais do olhar masculino sobre a obra. Conforme Griselda
Pollock38: “Nas estratégias textuais e formações ideológicas da história da arte, o feminino é
localizado como o objeto passivo, belo ou erótico de uma criatividade exclusivamente ligada
ao masculino”.
Nos videoclipes modernos, discursos que se relacionam e fazem conexões com as
ideias de desejo de consumo e erotização do sexo feminino, podem ser identificados em
vários estilos musicais, como, também, temáticas estratégicas da indústria, que impulsionam o
consumo de obras padronizadas. A questão do porquê esses assuntos atraem tantos
consumidores e ocupam a maioria dos discursos de obras midiatizadas que atingem grandes
níveis de acessos, pode exemplificar preferências da cultura capitalista e patriarcal que ainda
vivemos nas sociedades modernas. Vale ressaltar que nem todos os vetores visuais e
expressões corporais do videoclipe foram incorporados na análise, apenas o que o autor
julgou ser mais importante para abordar enunciados que perpassam a historicidade de
diferentes vieses da cultura na sociedade, desde a cultura da música popular, com a história do
37
FIOTI, Mc. Bum Bum Tam Tam. Youtube. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=_P7S2lKif-A.
Acesso em 10 de Jun. 2021. 2:50.
38
POLLOCK, G. Visión y diferencia: Feminismo, feminidad e historias del arte. Buenos Aires: Fiordo, 2019. p.
165. (tradução do autor).
funk, a indústria cultural, a midiatização das obras artísticas, o discurso padronizado
comercial e questões de gênero.
Considerações finais