Estratificacao Socioeconomica Uma Proposta Partir Consumo

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 23

ESTRATIFICAO SOCIOECONMICA: UMA PROPOSTA A PARTIR DO

CONSUMO

Thiago Mendes Rosa (UFPR)


Flvio de Oliveira Gonalves (UFPR)
Adriana Sbicca Fernandes (UFPR)

Resumo: A estratificao socioeconmica de interesse para diversas reas do


conhecimento, como a demografia, a sociologia, as cincias polticas e, como no poderia
deixar de ser, a economia. No Brasil existem diversos critrios para classificar a populao,
mas nenhum deles consegue incorporar completamente os padres de consumo. Com isso, o
objetivo deste trabalho propor um novo critrio de estratificao baseado nos padres de
consumo, o Critrio Consumo. Foi aplicada uma anlise multivariada cluster aos dados da
POF 2008/2009, perfazendo uma base com 55.970 domiclios e mais de 9.000 alternativas de
produtos para formar as cestas de consumo. Os resultados mostram que o Critrio Consumo
est de acordo com o comportamento esperado entre estratos socioeconmicos segundo a
renda. A estratificao atravs do consumo revela que mesmo com uma renda mais elevada,
alguns domiclios se sentem relativamente mais pobres (insatisfeitos), fato no verificado nos
demais critrios. Enquanto nas classes baixas o critrio proposto se assemelha aos critrios da
literatura, nas classes mais altas ele agrupa sob o mesmo padro de consumo quase 30% dos
domiclios.
Palavras-chave: estratificao, consumo, classes.
Classificao JEL: E21, Z13, N36

Abstract: The socioeconomic stratification is important to several knowledge fields, like


demography, sociology, political science and, of course, economics. In Brazil there are
several criteria in order to classify population, but none of them is able to embody
consumption patterns completely. Therewith, the goal of this paper is to propose a new
stratification criteria based on the consumption patterns, the Consumption Criteria. It was
applied a multivariate analysis cluster to the POF 2008/2009 data base, amounting
55,970 households and over 9,000 products to compose the consumption bundle. The results
show that Consumption Criteria is congruent with the behavior expected between
socioeconomic strata measured by income. The stratification through consumption reveals
that, despite a higher level of income, some households feel relatively poorer (unsatisfied),
what do not happen in the others criteria. While in the lower strata the new criteria resembles
the other criteria, in the higher strata it clusters under the same consumption pattern almost
30% of households.
Key-words: stratification, consumption, class.
JEL: E21, Z13, N36
Introduo

A estratificao social sempre esteve presente nas sociedades humanas. Atualmente,


ela ainda de grande importncia para diversas reas do conhecimento, com diversas
maneiras de se estratificar a populao. A estratificao social e econmica importante na
tentativa de capturar o comportamento heterogneo dos agentes atravs de uma viso mais
homogeneizada.
O objetivo deste trabalho propor um novo critrio de estratificao baseado nos
padres de consumo, o Critrio Consumo. Tambm sero comparadas quais so as
semelhanas e diferenas entre esse novo critrio e os demais critrios j existentes.
No Brasil so utilizadas diversas classificaes, como o Critrio Brasil, o critrio da
SAE Secretaria de Assuntos Estratgicos do Governo Federal, o critrio do Centro de
Polticas Sociais da Fundao Getlio Vargas e o critrio do IBGE Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatstica. Todos estes so critrios objetivos de estratificao social e
econmica, variando entre critrios multidimensionais (Critrio Brasil) e unidimensionais
(SAE, FGV e IBGE). Recentemente, Kamakura e Mazzon (2013) desenvolveram um novo
critrio, que procurou ampliar as dimenses utilizadas pelo Critrio Brasil, utilizando um
conjunto maior de variveis sociais e econmicas no seu critrio.
Todavia, de todos os critrios existentes, nenhum deles consegue verificar como a
populao seria estratificada baseada nos padres de consumo. A partir dos hbitos de
consumo, possvel desenvolver uma nova maneira de classificar a populao brasileira.
Analisando as cestas de consumo dos domiclios possvel identificar semelhanas e
diferenas que apenas a anlise da renda no consegue captar. Alm disso, a anlise das cestas
de consumo permite que a sociedade seja estratificada baseada em suas preferncias
reveladas, a partir da suposio da renda permanente, la Friedman (1956). Dessa maneira, a
anlise dos padres de consumo seria mais adequada que a renda corrente para realizar a
estratificao da sociedade, por no ser sensvel a choques transitrios.
Com isso, foi aplicada uma anlise multivariada cluster aos dados de consumo da
POF 2008/2009, perfazendo uma base com 55.970 domiclios (que representam os 58 milhes
de domiclios brasileiros) e mais de 9.000 alternativas de produtos para formar as cestas de
consumo.
Os resultados mostram que o Critrio Consumo est de acordo com o
comportamento esperado entre estratos socioeconmicos segundo a renda. A estratificao
atravs do consumo revela que, mesmo com uma renda mais elevada, alguns domiclios se
sentem relativamente mais pobres (insatisfeitos), fato no verificado nos demais critrios.
Enquanto para as classes baixas o critrio proposto se assemelha aos critrios da literatura,
para as classes mais altas ele agrupa sob o mesmo padro de consumo quase 30% dos
domiclios.
Este trabalho conta com quatro sees, alm desta introduo. A primeira seo
dedicada reviso da literatura acerca da estratificao social e econmica e apresentao
dos critrios de estratificao utilizados no Brasil. A segunda seo apresenta a metodologia
proposta e criao do Critrio Consumo. A terceira seo dedicada a uma anlise
comparativa entre o novo critrio e os demais critrios, ao verificar como so distribudas
variveis econmicas e sociais entre eles. A ltima seo apresenta as consideraes finais.

1. A importncia e as formas de estratificao social

A diviso de populaes em classes tem interesses diretos para diversas reas do


conhecimento, como a demografia, a sociologia, as cincias polticas e, como no poderia
deixar de ser, a economia.
No geral, so utilizadas cinco classificaes para separar as sociedades humanas:
classe alta, classe mdia alta, classe mdia, classe baixa e classe mais baixa (Beeghley, 2004;
Eichar, 1989; Gilbert, 2002; Thompson & Hickey, 2005; Vanneman, 1988 apud Kamakura e
Mazzon, 2013), geralmente baseadas nos nveis de rendimento observados da populao.
A classificao da sociedade, ou estratificao, pode ser realizada de duas maneiras:
subjetivamente e objetivamente. A maneira subjetiva considera a opinio dos prprios
indivduos, sendo estes a determinar em que posio do estrato eles consideram pertencer
dentro da sociedade. A abordagem objetiva advm de resultado de pesquisas quantitativas por
amostragem. A mais utilizada e objeto deste estudo so aquelas de cunho objetivas (Feijo et.
al., 2013).
Os critrios objetivos podem ser unidimensionais ou multidimensionais. Os critrios
unidimensionais levam em considerao apenas uma varivel, como, por exemplo, a renda ou
o tipo de ocupao. Os critrios multidimensionais levam em considerao um conjunto de
variveis para classificar a sociedade, como renda, educao, ocupao, bens disponveis no
domiclio, dentre outras.
Informalmente, classes podem ser criadas de acordo com o prestgio social, o acesso
a bens pblicos, influncia poltica, oportunidades educacionais e trajetria de carreiras. A
distribuio de poder existente ao longo da sociedade, seja ele a partir da posse de recursos
fsicos-geogrficos at aqueles oriundos de relacionamentos e habilidades, outro fator
relevante na diviso social das classes (Kamakura e Mazzon, 2013).
O nvel socioeconmico ainda utilizado para explicar a maneira como os
indivduos aproveitam as oportunidades e enfrentam os desafios da vida contempornea
(consumo, sade, educao, alimentao, habitao, emprego, etc.). O nvel socioeconmico
mais elevado do indivduo, sendo este medido, por exemplo, atravs do nvel de rendimento e
do nvel educacional, ir fazer com que ele tenha comportamentos e preferncias distintos
daqueles com um nvel mais baixo. As oportunidades de emprego sero diferentes, assim
como as relaes de consumo, com atribuio de importncias diferenciadas para temas como
sade e educao.

1.1. Estratificaes sociais e econmicas no mundo

Antes de passarmos para as classificaes socioeconmicas j existentes no Brasil,


apresentaremos alguns dos critrios existentes ao redor do mundo.
O quadro 1 mostra uma comparao entre as principais formas existente de
classificar a populao internacionalmente. possvel notar que h muitas variveis e
maneiras de se classificar a populao. O quadro 1 apresenta 18 tipos de variveis. Ressalta-se
que a varivel posse de bens durveis pode se transformar em tantas variveis quanto o
nmero de bens a serem considerados (desde dois no Peru at quinze bens durveis na
Venezuela).
Pelo quadro, possvel notar quatro grandes grupos de variveis: aquelas que
mensuram o nvel educacional e profissional das famlias, aquelas que mensuram as
caractersticas das residncias, aquelas que mensuram o poder de compra (bens durveis) e
aquelas que mensuram o nvel de rendimento.
De maneira geral, em todos os pases, pode-se considerar que as variveis chaves so
ocupao e nvel educacional do chefe da famlia. Para os pases europeus, a ocupao parece
ser a principal varivel relevante para segmentar a sociedade.
Como a renda destes pases mais elevada, o poder de consumo mensurado pela
posse de bens durveis perde sentido como varivel discriminante da populao, uma vez que,
dado o nvel de rendimento de suas populaes, o acesso a estes bens no to restritivo
quanto em pases de menor rendimento.
Quadro 1 - Comparao internacional das variveis utilizadas para estratificao social
Atividade Posse de Existncia N de
Ocupao Educao Nvel de Tipo da Nmero Varivel N de
exercida bens de Renda pessoas Nmero Nmero
do Chefe do Chefe escolaridad Perfil da fonte de de subjetiva Local da Tipo de lmpadas Tipo de
Pas / Variveis pelo chefe durveis empregad corrente que de de
da da e do famlia renda da membros "padro residncia residncia na piso
da selecionado a familiar contribui quartos banheiros
Famlia Famlia cnjuge famlia na famlia de vida" residncia
habitao s domstica na renda
Argentina x x x
Chile x x x x x x x
Venezuela x x x x x x x x
Peru x x x x x
Uruguai x x x x
Costa Rica x x x x x x
El Salvador x x x x x x
Honduras x x x x x x
Guatemala x x x x x x
Nicargua x x x x x x
Porto Rico x x x
Mxico x x x x x x
Portugal x x
Itlia x x x x x x
Reino Unido x
Alemanha x
Frana x
Rssia x
Japo x
Fonte: Elaborao prpria baseada nas informaes disponveis em Kamakura e Mazzon (2013).
Para a Amrica Latina, o nvel de renda, a posse de bens durveis, a renda familiar
corrente e o tipo de residncia parecem ser muito mais relevantes.
Alguns autores apontam que a importncia da estratificao em pases em
desenvolvimento vis-a-vis pases desenvolvidos se deve a maior desigualdade destes pases,
com maior separao em classes (Burgess e Steenkamp, 2006 apud Kamakura e Mazzon,
2013). Esta pode ser uma explicao para a maior complexidade na diviso das classes, com
anlises multidimensionais mais amplas.

1.2. Estratificao social e econmica no Brasil

Frana (2010) apud Feijo et.al. (2013) aponta que no existe consenso em tcnicas
de estratificao. No Brasil, existem diversos critrios disponveis para classificar a
sociedade, como o Critrio Brasil da ABEP Associao Brasileira de Empresas de Pesquisa,
o critrio da SAE Secretaria de Assuntos Estratgicos, do governo federal, o critrio do
Centro de Polticas Sociais, da FGV, e o critrio do IBGE. Existe ainda um critrio criado
recentemente por Kamakura e Mazzon (2013)1.
A seguir, ser detalhado como cada critrio, apresentando suas principais
caractersticas e suas principais limitaes.

1.2.1. Critrio Brasil

Neste critrio existem oito grupos, classificados de acordo com o acesso a uma srie
de bens e servios, com algumas variveis sociais sendo consideradas. Os pesos atribudos s
variveis so estimados atravs de uma equao clssica Minceriana de renda, usando
caractersticas mais permanentes da renda corrente (Neri, 2010). Em 2008, as variveis
incluam a posse e quantidade de itens tomados como variveis artificiais binrias (dummies)
e a renda tomada como o logaritmo da renda corrente familiar declarada. Os itens utilizados
englobavam o nmero de automveis, de aparelhos de TV em cores, de rdios, de banheiros,
de mquina de lavar roupa, de geladeira e freezer, de videocassete/DVD, de empregados
domsticos, alm do nvel de instruo do chefe de famlia.
A principal funo do Critrio Brasil classificar a populao segundo seu poder de
compra, sem ter pretenso de classificao em classes sociais. Tendo em mente este fato, dois
objetivos centrais podem ser destacados: a) criao de um sistema padronizado que seja um
estimador eficiente da capacidade de consumo da populao; e b) discriminar grandes grupos
de acordo com a capacidade de consumo de bens e servios (Feijo et. al., 2013).
O quadro 2 apresenta a atual classificao do Critrio Brasil.
Para 2015, j est prevista a incorporao de acesso a outros dois itens, ligados a
servios pblicos (gua encanada e rua pavimentada), a adio de novos bens de consumo
durveis (microcomputador, lava loua, micro-ondas, motocicleta e secadora de roupas),
excluso da televiso em cores, alm da unio das classes D e E, para uma nica classe DE,
diminuindo o total de 8 para 7 classes.
Apesar da ampla utilizao do Critrio Brasil, ele sofre algumas crticas. Mattar
(1994) apud Kamakura e Mazzon (2013) aponta as limitaes deste critrio, destacando a
constante mudana das variveis discriminantes, alm da ausncia de muitas outras que
seriam relevantes. Januzzi e Baeninger (1996) apud Kamakura e Mazzon (2013) colocam que
a massificao dos produtos faz com que o poder de discriminao da posse de bens diminua
com o tempo. Essa uma das razes pela qual o critrio tenha de passar por atualizaes

1
A proposta do critrio KM ser explicada nesta seo, porm no ser utilizada para fins de comparao nas
demais sees deste trabalho.
periodicamente, com novas variveis passando a fazer parte do critrio, enquanto outras
passam a ser descartadas (caso da atualizao prevista para 2015).

Quadro 2 - Critrio Brasil - Classificao atual


Sistema de pontos do Critrio Brasil
Quantidade
Posse dos Itens
0 1 2 3 4 ou +
Televiso em cores 0 1 2 3 4
Rdio 0 1 2 3 4
Banheiro 0 4 5 6 7
Automvel 0 4 7 9 9
Empregada mensalista 0 3 4 4 4
Mquina de lavar 0 2 2 2 2
Videocassete e/ou DVD 0 2 2 2 2
Geladeira 0 4 4 4 4
Freezer (aparelho independente ou parte da geladeira duplex) 0 2 2 2 2
Grau de Instruo do chefe da famlia Cortes do Critrio Brasil
Analfabeto / Fundamental 1 Incompleto 0 Classes Pontos
Fundamental 1 completo / Fundamental 2 Incompleto 1 A1 42 - 46
Fundamental 2 completo / Mdio Incompleto 2 A2 35 - 41
Mdio Completo / Superior Incompleto 4 B1 29 - 34
Superior Completo 8 B2 23 - 28
C1 18 - 22
C2 14 - 17
D 8 - 13
E 0-7
Fonte: Abep

Outra crtica relevante diz respeito quantidade possuda dos bens. Por se tratar de
durveis, de alto valor unitrio e de uso compartilhado nos domiclios, a quantidade
predominante nas residncias tende a ser de uma unidade. Alm disso, para alguns itens,
maiores quantidades de bens durveis presentes nas residncias esto correlacionadas com o
nmero de moradores. Domiclios com estruturas unipessoais dificilmente possuiro mais de
uma unidade dos bens durveis, entretanto isso no faz com que o poder aquisitivo do
domiclio seja diminudo.
A diferenciao via qualidade tambm fica ausente neste critrio. Muitas vezes, as
diferenas de qualidade so muito mais relevantes que as diferenas de quantidades. Uma
famlia rica e uma famlia pobre podem possuir, por exemplo, o bem durvel geladeira.
Porm, provvel que esta ltima possua um modelo maior e com mais tecnolgia embutida
e, portanto, de maior valor agregado, que a primeira. No Critrio Brasil, ambas as famlias
recebero o mesmo peso, porm o poder aquisitivo da segunda famlia muito maior que o
poder aquisitivo da primeira famlia.

1.2.2. O critrio da SAE

O objetivo da SAE Secretaria de Assuntos Estratgicos, do governo federal do


Brasil, era definir a classe mdia brasileira, tendo como motivao os seguintes
questionamentos: quais as principais consequncias do surgimento da nova classe mdia
para o desenvolvimento do pas? Qual o impacto sobre o consumo e a poupana e, por
consequncia, sobre a inflao? Qual a viso dessa classe sobre o papel do Estado? Como
expandir as oportunidades para essa nova classe mdia com maior segurana social? (PAES
DE BARROS et. al., 2012).
Segundo PAES DE BARROS et. al. (2012), em relatrio apresentado pela SAE, no
existe uma diviso a priori que determine quem pertence ou no classe mdia, sendo o
objetivo caracterizar a heterogeneidade das famlias brasileiras de modo a identificar um
grupo do meio da pirmide social.
A SAE optou por utilizar um mtodo unidimensional por considerar a simplicidade e
praticidade de interpretao. A varivel escolhida foi a renda bruta mensal domiciliar per
capita normalmente recebida (geralmente disponvel nas pesquisas realizadas pelo IBGE),
aplicada ao critrio de vulnerabilidade.
Segundo o critrio de vulnerabilidade, as classes baixas, mdia e alta so
determinadas por diferenas na probabilidade de as pessoas virem a ser pobre no futuro, o
denominado grau de vulnerabilidade.
Destes grupos, subdividiu-se a classe baixa em trs grupos, a classe mdia tambm
em trs grupos e a classe alta em dois grupos.
O quadro 3 apresenta o resumo do agrupamento da SAE.

Quadro 3 - Classificao da SAE - em R$ de 2012


Classe Renda Familiar Mdia (R$/ms)
Extremamente Pobres 227
Pobres, mas no extremamente pobres 648
Vulnervel 1.030
Baixa classe mdia 1.540
Mdia classe mdia 1.925
Alta classe mdia 2.813
Baixa classe alta 4.845
Alta classe alta 12.988
Fonte: PAES DE BARROS et. al. (2012)

As limitaes do critrio da SAE, como os prprios autores colocam, a adoo de


um critrio unidimensional para realizar a anlise, alm das arbitrariedades de escolhas de
alguns limites (a linha de pobreza adotada, por exemplo). Sendo baseado apenas na renda, o
acesso a bens de consumo e servios privados, a servios pblicos e as caractersticas sociais
acabam ficando ausentes da anlise.

1.2.3. O critrio do Centro de Polticas Sociais Fundao Getlio Vargas

O centro de polticas sociais, da Fundao Getlio Vargas (doravante CPS-FGV)


classifica a populao em quatro grupos, de maneira unidimensional, a partir da renda per
capita associada a um nvel de pobreza.
O primeiro passo deste critrio estimar a renda domiciliar per capita necessria para
que a pessoa possa sair da condio de misria. A linha geralmente utilizada a do prprio
CPS-FGV, no caso a de R$ 135 por ms por pessoa (Neri, 2010). Quem possui a renda per
capita at a linha de misria a classe E, a mais baixa. As demais classes utilizam a
metodologia da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE. Estabelecem-se pontos focais da
distribuio da renda domiciliar per capita do trabalho. A classe D representada pela
mediana estabelecida desta distribuio, sendo aqueles acima da linha de misria at o ponto
da mediana. A classe C vai da mediana desta distribuio at o nono decil. Finalmente, a
classe AB o ltimo decil da distribuio.
O quadro 4 resume a classificao adotada pelo CPS-FGV.

Quadro 4 - Classificao do Centro de Polticas Sociais da FGV


Centro de Polticas Sociais - FGV
Classe Critrio % da Populao
AB ltimo Decil 10%
C Mediana ao 9 Decil 40%
D Linha de pobreza at a mediana D%
E At a linha de pobreza E%
Fonte: Neri, (2010)
Em outras palavras, a metodologia do CPS-FGV utiliza uma espcie de medida
relativa e medida absoluta. Para as AB e C, considerado o critrio relativo (ltimo decil e da
mediana ao nono decil, respectivamente). Para as classes D e E, utilizada a medida absoluta
(da mediana at a linha da pobreza e da linha da pobreza para baixo, respectivamente).
Pode-se perceber que as fragilidades deste critrio esto na constncia das classes
AB e C na classificao, alm da unidimensionalidade do critrio, ao utilizar somente a renda
per capita na anlise. Alm disso, como o foco principal deste critrio verificar as
movimentaes na linha de pobreza utilizada, a prpria adoo da linha de pobreza recai em
arbitrariedade.

1.2.4. O critrio do IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

O IBGE divide a populao brasileira em cinco classes sociais de acordo com o


rendimento familiar bruto mensal, mensurado em salrios mnimos: a primeira classe
compreende aquelas famlias que recebem at dois salrios mnimos; a segunda classe vai de
mais de dois at cinco salrios; a terceira classe vai de mais de cinco at dez salrios; a quarta
classe compreende quem ganha mais de dez at vinte salrios mnimos; e a quinta classe
engloba quem recebe mais de vinte salrios mnimos. O quadro 5 sintetiza a classificao do
IBGE.

Quadro 5 - Classificao IBGE


Critrio IBGE
Classe Renda Familiar (em salrios mnimos)
A Acima de 20 salrios mnimos
B De 10 a 20 salrios mnimos
C De 4 a 10 salrios mnimos
D De 2 a 4 salrios mnimos
E At 2 salrios mnimos
Fonte: IBGE

O critrio do IBGE est mais para uma classificao econmica da populao, com
um critrio rpido e simples de separar as famlias em grupos, do que um critrio
socioeconmico de estratificao. Uma das crticas em relao separao por salrios
mnimos a de que o salrio mnimo tem seu poder de compra variado com o passar do
tempo, no refletindo mudanas no custo de vida (nacionalmente e regionalmente). Uma
prova disso, apontada por Neri (2010) que, no Censo de 2000, a linha da pobreza utilizada
pela FGV (R$ 79,00) ultrapassava a quantia de meio salrio mnimo (R$ 151,00). Em 2009,
com a linha da pobreza (R$ 140,00) corrigida pela inflao (INPC ndice Nacional de
Preos ao Consumidor), o valor equivalia a pouco mais de um quarto do salrio mnimo (R$
510,00).

1.2.5. Critrio KM

Recentemente, Kamakura e Mazzon (2013), desenvolveram uma nova maneira de


separar as classes sociais. Em seu mtodo, considerado um conjunto de 39 variveis:
Variveis obrigatrias sem admisso de dados ausentes: nmero de
adultos (maiores de 18 anos), nmero de menores (abaixo de 18 anos), tipo de local (rural,
cidade pequena do interior e rea metropolitana/capital) e regio (centro-oeste, norte/nordeste
e sul/sudeste).
Variveis opcionais admite dados ausentes:
 Sociais e domiciliares: nvel educacional, renda familiar mensal declarada,
nmero de dormitrios, nmero de banheiros, presena de gua encanada, tipo de esgoto,
acesso rua pavimentada e nmero de empregadas mensalistas;
 Posse da quantidade de bens durveis: fogo, freezer, refrigerador,
liquidificador, aspirador de p, ferro de passar, lavadora de roupa, televisor em cores,
televisor em preto e branco, aparelho de som, rdio, ar condicionado, ventilador, mquina de
costura, filtro de gua, automvel, bicicleta, motocicleta, computador, purificador de gua,
micro-ondas, antena parablica, DVD, secadora de roupas, mixer, secador de cabelo e lava-
louas.
Os autores utilizam um modelo monotonicamente restrito de classes latentes, que
admitem k-dimenses com vetores de indicadores contnuos, nominais ou ordinais para
determinar S classes sociais. O mtodo utilizado por ser considerado robusto a ausncia de
dados, o que torna o modelo de fcil aplicao e replicao para fins de comparao com
outros modelos de estratificao [Kamakura e Wedel (1997) apud Kamakura e Mazzon
(2012)]. Os principais objetivos dos autores eram: estratificar a populao de acordo com
conceitos sociais e de renda permanente; aplicar o conceito aos dados de consumo recente do
Brasil; e verificar diferenas nos padres de consumo entre os estratos definidos.
Apesar de a proposta incorporar tanto variveis sociais quanto variveis ligadas a
renda permanente (posse de diversos bens durveis) e de tratar a estratificao de maneira
multidimensional, atingindo muito mais dimenses que as classificaes anteriores, a
metodologia ainda deixa de considerar vrios aspectos de consumo. O consumo de bens
correntes e de outros bens durveis acaba ficando de fora, sendo o padro de consumo apenas
parcialmente incorporado.

2. Estratificao baseada no consumo

2.1. Por que o consumo?

A desigualdade est, em muitos casos, ligada s diferenas entre qualidade e


quantidades consumidas de bens e servios (Kamakura e Mazzon, 2013). Sendo esta uma
importante fonte de desigualdade nas sociedades contemporneas, ela ainda pouco
explorada na definio de classes sociais.
O padro de consumo apenas parcialmente incorporado em algumas classificaes
sociais, atravs da mensurao da posse de bens e servios selecionados. As possibilidades de
consumo de um agente econmico em uma sociedade moderna so muito amplas e
diversificadas. Uma utilizao mais completa dos padres de consumo poderia revelar
semelhanas e diferenas nas populaes que apenas a utilizao da renda ou de alguns bens
durveis no revela. Pessoas de mesmo nvel de rendimento podem possuir preferncias
distintas, o que as levaro a consumir produtos diferentes umas das outras. Os oramentos so
alocados conforme as necessidades e preferncias de cada famlia, o que faz com que anlise
da posse ou no de bens selecionados de maneira ad hoc no reflita necessariamente o
compartilhamento de caractersticas e/ou diferenas para agrup-las em uma mesma classe.
Analisar o padro de consumo considerando a maior possibilidade possvel de bens,
sejam estes durveis ou correntes, e de servios, sejam eles essenciais ou de luxo, nos
permitiria classificar a populao de uma nova maneira. As pessoas seriam separadas de
acordo com suas preferncias reveladas, tirando o foco do nvel de rendimento. E o nvel de
rendimento estaria indiretamente sendo considerado, uma vez que as cestas de consumo so
formadas ao se levar em considerao a restrio oramentria de cada indivduo. As cestas
somente so consumidas se esto dentro do oramento das famlias. Alm disso, tal critrio
incorporaria aspectos da renda permanente das famlias. Segundo Friedman (1956) a renda
permanente o indicador ideal para mensurar o bem estar dos indivduos. Segundo ele, a
renda das pessoas composta pela soma da renda permanente e da renda transitria. Friedman
coloca que as pessoas procuram manter um nvel homogneo de consumo ao longo de suas
vidas, sendo esse padro de consumo uma proxy para a renda permanente.
Com isso, prope-se justamente realizar um estudo mais completo dos padres de
consumo neste trabalho. Procurar-se- analisar como a sociedade seria dividida se
considerarmos apenas os padres de consumo observados pela populao, para depois
associar os nveis de renda e demais variveis sociais, observando as semelhanas e
diferenas existentes entre este critrio e os demais critrios de classificao social e
econmica j existentes no Brasil. A POF Pesquisa de Oramentos Familiares, do IBGE,
fornece informaes de como o oramento das famlias brasileiras alocado entre as vrios
bens e servios cadastrados na pesquisa, formando uma extensa possibilidade de cestas de
consumo e, portanto, de padres de consumo. Alm disso, devido ao seu fator de expanso, a
pesquisa tem representatividade para todo o Brasil.

2.2. A metodologia

Para realizar a anlise do padro de consumo, oportuno verificar como este ocorre
dentro de grupos especficos. A utilizao de uma anlise multivariada, atravs da anlise de
cluster, foi escolhida para a separao de grupos homogneos. O objetivo da anlise de
cluster dividir um conjunto de dados em grupos de modo que as observaes pertencentes a
um mesmo grupo sejam o mais parecido possvel entre si, mas que igualmente sejam
diferentes das observaes pertencentes aos demais grupos. Dentre os vrios mtodos
existentes para agrupar dados, o escolhido para este trabalho foi o k-means.
Segundo Linden (2009) o k-means uma heurstica de agrupamento no hierrquico
que busca minimizar a distncia dos elementos a um conjunto de k centros dado por  
 ,  
de forma iterativa. A distncia entre um ponto pi e um conjunto de clusters,
dada por  , , definida como sendo a distncia do ponto ao centro mais prximo dele. A
funo a ser minimizada dada por:

1
1 ,     , 


O algoritmo depende de um parmetro (k = nmero de clusters) definido de forma ad
hoc pelo usurio. Este costuma ser um problema, tendo em vista que o nmero de clusters
desconhecido priori.
Existem algumas maneiras para definir o nmero ideal de clusters, como a regra de
bolso (Mardia et. al. 1979), a abordagem do critrio de informao (Goutte et. al. 2001) e a
abordagem da informao terica (Sugar e James, 2003).
A regra de bolso prope que o k seja selecionado atravs de uma simples regra:
2   2
Onde n o nmero de observaes (data points).
Utilizando essa simples regra, dado o volume de dados que a POF disponibiliza, o
nmero ideal de grupos seria extremamente elevado, o que inviabilizaria uma anlise objetiva
dos dados.
Pela regra do critrio de informao, seria necessrio testar vrios valores para k e
verificar qual deles apresenta o valor mais elevado do critrio de informao. Porm, muito
provvel que o valor do k a ser obtido atravs dos critrios de informao seja to elevado
quanto o k indicado pela regra de bolso, o que tambm inviabilizaria qualquer anlise objetiva
dos dados. A mesma lgica vale para o critrio da informao terica.
Sendo assim, optou-se por selecionar o nmero de grupos de maneira ad hoc,
utilizando, a exemplo das classificaes atuais da SAE e do Critrio Brasi, o valor de oito
para o k.
O algoritmo do k-means pode ser descrito da seguinte maneira (Linden, 2009): (i)
escolher k distintos valores para centros dos grupos; (ii) associar cada ponto ao centro mais
prximo; (iii) recalcular o centro de cada grupo; (iv) repetir os passos ii e iii at nenhum
elemento mudar de grupo.
No primeiro passo, existem varias maneiras de selecionar os k distintos valores para
serem o centro do grupo, como a aleatria, as k primeiras observaes ou as k ltimas
observaes. O mais utilizado e escolhido para esta anlise foi o aleatrio.
O mtodo de mensurao entre a distncia entre um ponto e o centro do grupo
tambm pode variar (a chamada medida de dissimilaridade) de acordo com o tipo de varivel
adotado. As medidas de dissimilaridade podem considerar dimenses contnuas, como a
renda, binrias, como o sexo (masculino ou feminino), alm de combinaes dos dois tipos de
variveis. Para cada uma delas existem diferentes maneiras de calcular a dissimilaridade entre
as variveis.
Para este trabalho, onde a proposta definir oito grupos a partir do consumo
realizado pelos domiclios, foi adotada a medida aplicada a dados binrios. A base de dados
utilizada, a partir dos quadros de consumo da POF, contou com pouco mais de 9000 produtos,
assumindo o valor 1 para os domiclios que realizaram o consumo do produto e 0 em caso
contrrio.

Tabela 1 - Tabela de contingncia para variveis binrias


Domiclio i
1 0 Totais
1 a b a+b
Domiclio j
0 c d c+d
Totais a+c b+d pij = a + b + c + d

A tabela 1 mostra a lgica de comparao entre dois domiclios quaisquer. O


parmetro a considera quando os dois domiclios realizam o consumo do produto. O
parmetro b considera quando apenas o domiclio j realiza o consumo do produto. O
parmetro c considera o caso inverso ao parmetro b, quando apenas o domiclio i quem
consome. O parmetro d considera o caso em que nenhum dos domiclios consome.
Sendo assim, as medidas de dissimilaridade de dados binrios podem apresentar duas
propriedades em seus clculos: considerao ou no considerao de ausncia conjunta (o
parmetro d). Ao considerar a ausncia conjunta, a medida de dissimilariade est
considerando que, no caso de ausncia de determinada carctersticas, ambos os indivduos so
semelhantes. Caso no seja considerada a ausncia conjunta, caractersticas ausentes em dois
indivduos no so consideradas como semelhanas (Meyer, 2002).
No caso da biologia, por exemplo, o fato de dois animais no possurem asas no os
tornam mais semelhantes. Pela natureza dos dados utilizados neste trabalho, com um elevado
nmero de variveis, onde a grande maioria apresenta ausncias, mais adequado utilizar
uma medida que no considere ausncia conjunta. Como existem milhares de produtos
disponveis para formar a cesta de consumo das famlias, em geral, apenas algumas dezenas
de produtos acabam sendo selecionados. Sendo assim, a utilizao de uma medida que
considere ausncia conjunta dos dados faria com que quase todos os domiclios pertencessem
ao mesmo grupo. De fato, utilizando a medida simple macthing2, que considera a ausncia

2 
O simple matching calculado pelo coeficiente .
 !
conjunta no clculo na dissiminaridade, quase todas as famlias acabam caindo no mesmo
grupo.
A mdida de dissimilaridade selecionada, portanto, foi a de Jaccard (1908), que
desconsidera a ausncia conjunta de caracterstica.
+
3 #$%&'('%)% % *+((+, 
+-.-(
Pela equao (3) possvel perceber que o parmetro d, apresentado na tabela 1, fica
ausente no clculo. Com isso, espera-se chegar a uma estratificao que considere os padres
de consumo a partir das preferncias reveladas, ou seja, do consumo efetivamente realizado.

2.3 Resultado

Aplicando a anlise multivariada aos dados da POF 2008/2009, a tabela 2 apresenta


o Critrio Consumo, mostrando a estratifico da populao a partir dos padres de consumo.

Tabela 2 - Critrio Consumo - em R$ de 2009


Domiclios em Milhes Renda Mdia Desvio Padro % Domiclios Classe
13,73 5.927 6.477 23,81% Alto consumo alto
3,10 3.724 4.484 5,37% Baixo consumo alto
6,44 2.338 2.260 11,16% Alto consumo mdio
10,53 2.023 1.706 18,25% Mdio consumo mdio
5,33 1.492 1.858 9,24% Baixo consumo mdio
11,39 1.320 1.551 19,73% Alto consumo baixo
2,89 1.048 1.129 5,01% Mdio consumo baixo
4,28 1.043 919 7,42% Baixo consumo baixo

Nesta estratificao, verifica-se que a classe mais alta, com renda domiciliar total
mdia prxima a R$ 6.000,00, mas com uma grande amplitude entre o limite inferior e
superior, concentra 24% dos domiclios. Este um resultado bastante interessante, pois,
apenas ao considerar o nvel de renda, espera-se que a classe mais alta seja a menor de todas.
Tal resultado ainda mais esperado para o Brasil, um pas com uma marcada e histrica
desigualdade de renda3. Os padres de consumo, todavia, parecem aproximar pessoas em
grupos semelhantes, a despeito no nvel de rendimento.

3. Comparao dos mtodos de estratificao no Brasil

O grfico 1 mostra a separao da populao brasileira, pelos dados da POF, segundo


os critrios de estratificao da SAE, do IBGE, do CPS-FGV do Critrio Brasil, alm do
critrio criado neste trabalho, o Critrio Consumo.
Como possvel perceber, dependendo do critrio de classificao escolhido, tem-se
vrios Brasils. No Critrio Brasil, a classe mais rica, composta pelos dois primeiros grupos
desse critrio, abrange uma parcela reduzida da populao, no atingindo 2% dos domiclios.
O critrio utilizado pelo IBGE tambm coloca a classe mais rica com um percentual reduzido,
no chegando a 5% dos domiccios. O critrio do CPS-FGV j estipula previamente como
sendo o ltimo decil a classe mais alta. A SAE, por seu turno, apresenta uma classe alta muito
mais ampla, atingindo um pouco mais de 15% dos domiclios. O Critrio Consumo coloca a
classe alta como sendo muito mais ampla, atingindo com a soma dos dois primeiros grupos
quase 30% dos domiclios.

3
Gini de 0,543 em 2009 segundo o Ipeadata.
Grfico 1 - Distribuio da populao por critrio de estratificao - POF 2008/2009

Apesar das grandes diferenas existentes no topo das classificaes, o final delas ,
em geral, bastante semelhante, com uma mdia de 7% dos domiclios sendo classificados
como a classe mais baixa. A excesso fica por conta da classificao do IBGE que, ao adotar
como critrio de classificao o nmero de salrios mnimos, coloca mais de 25% dos
domiclios no ltimo estrato.
As classes do meio, ou a famosa classe mdia, um pouco mais complicada de se
definir conforme o critrio adotado. dificil determinar onde deveria iniciar e terminar a
classe mdia em cada um dos critrios de estratificao. O nico critrio que possui uma
classe mdia bem definida a SAE, uma vez que o objetivo deste critrio era exatamente este.
Pela SAE, a classe mdia representava pouco mais de 46% dos domiclios. Pelo Critrio
Brasil, se considerarmos que a classe mdia corresponde aos domiclios que pertencem a
classe C deste critrio, teria-se
se uma classe mdia de 42%. Pelo CPS-FGV, se considerarmos a
classe C deste critrio como sendo a mdia, temos sempre o nmero de 40%. No caso de
considerarmos a classe D, o nmero prximo a 43% dos domiclios. Pelo IBGE, se
considerarmos somente a classe
class C temos perto de 30% dos domiclios e se considerarmos
somente a classe D, tem-se 31%. Finalmente, pelo critrio consumo, temos uma classe mdia
de aproximadamente 39% dos domiclios.
Como possvel perceber, determinar o tamalho da classe mdia no uma tarefa
fcil. Dependendo do critrio de estratificao e de quais grupos so considerados, a classe
mdia pode variar de 30% a 46%, ficando em uma mdia prxima a 40% dos domiclios
brasileiros.

3.1. Comparao de variveis socioeconmicas

Para entender melhor as caractersticas de estratificao de cada critrio,


interessante analisar as semelhanas e as diferenas de algumas variveis dentre os critrios e
entre os estratos. As variveis analisadas so:
Renda domiciliar total mensal mdia: rendimento obtido atravs do somatrio dos
rendimentos brutos monetrios mensais de todos os moradores do domiclio, obtidos atravs
do trabalho, transferncias e outras rendas, mais a parcela relativa aos rendimentos no
monetrios mensais do domiclio, acrescido da variao patrimonial, que compreende vendas
de imveis, recebimentos de heranas e o saldo positivo da movimentao financeira;
Renda mnima necessria:
necessria identifica a opinio do informante sobre o valor da renda
mensal familiar mnima necessria
necessr para chegar at o fim do ms;
Renda mnima para alimentao: identifica a opinio do informante sobre o valor
mnimo mensal de recursos para cobrir os gastos com alimentao de toda sua famlia;
Condio da renda: identifica a avaliao do domiclio sobre como seu rendimento
total permite levar a vida at o fim do ms. Categorias: (1) Muita dificuldade, (2) Dificuldade,
(3) Alguma dificuldade, (4) Alguma facilidade, (5) Facilidade e (6) Muita facilidade;
Transporte coletivo: identifica a opinio do informante sobre as condies de
moradia de sua famlia em relao ao transporte coletivo. Categorias: (1) Bom, (2) Ruim e (3)
No tem.
Servio de educao: identifica a opinio do informante sobre as condies de
moradia de seu domiclio em relao ao servio de educao. Categorias: (1) Bom, (2) Ruim e
(3) No tem.
Servio de sade: identifica a opinio do informante sobre as condies de moradia
de seu domiclio em relao sade. Categorias: (1) Bom, (2) Ruim e (3) No tem.
Servio de Lazer e Esporte: identifica a opinio do informante sobre as condies de
moradia de seu domiclio em relao ao servio de lazer e esporte. Categorias: (1) Bom, (2)
Ruim e (3) No tem.
Anos de estudo: identifica o total de anos de estudo da pessoa de referncia do
domiclio.
Pessoas que contribuem no oramento: identifica a quantidade de moradores do
domiclio que contribuem para a composio do oramento domiciliar.
Pela renda domiciliar total mensal mdia, pode-se verificar importantes diferenas
entre os critrios. O estrato mais rico de cada critrio vai desde R$ 5.927,00, pelo Critrio
Consumo, at R$ 20.570,00, pelo Critrio Brasil (tabela 3).
Os estratos mais pobres vo desde R$ 369,00, pela SAE, at R$ 1.043,00, pelo
Critrio Consumo. Uma das explicaes para diferenas to grandes no rendimento entre os
estratos se deve ao fato de os critrios utilizarem como principal fator discriminante a prpria
renda. Uma vez que a desigualdade de renda ainda muito grande no Brasil, natural que tal
desigualdade se reflita entre os estratos criados pelos critrios que utilizam a renda como
nica ou principal dimenso. O Critrio Consumo, por seu turno, mostra uma distribuio de
renda muito mais balanceada, uma vez que a desigualdade do consumo tende a ser menor que
a desigualdade de renda. Pessoas de nveis de rendimento diferentes podem ter padres de
consumo semelhantes, o que as aproxima quando os estratos sociais so criados a partir dos
padres de consumo. Outra questo relevante que o acesso ao crdito possibilita que
padres de consumo de domiclios de maior renda sejam imitados pelos domiclios de
rendimento mais baixo.

Tabela 3 - Renda domiciliar total mensal e Renda mnima necessria - valores mdios
Critrio Varivel 1 2 3 4 5 6 7 8 Brasil
Critrio Brasil 20.570 15.768 8.709 4.899 2.920 1.822 1.215 769
SAE 13.884 5.440 3.016 2.091 1.532 1.138 728 369
Critrio Consumo Renda 5.927 3.724 2.338 2.023 1.492 1.320 1.048 1.043 2.770
FGV 10.519 2.928 1.205 440
IBGE 16.525 6.386 2.877 1.336 599
Critrio Brasil 12.784 9.548 6.307 3.722 2.528 1.737 1.270 869
SAE 7.395 3.990 2.648 2.047 1.668 1.373 1.110 875
Critrio Consumo Renda Mnima Necessria 4.167 2.915 1.993 1.992 1.755 1.406 1.143 1.104 2.310
FGV 6.137 2.561 1.432 906
IBGE 8.567 4.609 2.597 1.539 985

Comparando a renda domiciliar total mdia mensal com a renda mnima mensal
necessria, na percepo dos domiclios, para levarem a vida por um ms (tabela 3), tem-se
diferentes parcelas de domiclios vivendo com um rendimento inferior ao necessrio
conforme o critrio utilizado. Pelo Critrio Brasil, apenas as classes D e E estariam vivendo
com uma renda inferior a necessria, o que representa cerca de 40% dos domiclios. Pela
SAE, toda a classe baixa e um pedao da classe mdia, a baixa classe mdia, estariam
vivendo com um rendimento inferior ao necessrio, chegando a quase metade dos domiclios.
Pelo Critrio Consumo, a exemplo da SAE, quatro classes recaem na condio de possuir
renda inferior a necessria, o que representa pouco mais de 40% dos domiclios. Pelo critrio
CPS-FGV, as classes D e E recaem no caso de insuficincia de renda, tambm chegando a
metade dos domiclios. Finalmente, segundo o IBGE, a insuficincia de renda verificada nas
classes D e E, chegando a mais de 56% dos domiclios.

Tabela 4 Razo entre a Renda domiciliar total mensal e Renda mnima necessria
Critrio Varivel 1 2 3 4 5 6 7 8 Brasil
Critrio Brasil 1,61 1,65 1,38 1,32 1,16 1,05 0,96 0,88
SAE Gap entre a Renda 1,88 1,36 1,14 1,02 0,92 0,83 0,66 0,42
Critrio Consumo recebida e a Renda Mnima 1,42 1,28 1,17 1,02 0,85 0,94 0,92 0,94 1,20
FGV Necessria 1,71 1,14 0,84 0,49
IBGE 1,93 1,39 1,11 0,87 0,61

interessante notar que o gap de renda entre os critrios varia bastante (tabela 4). Os
critrios da SAE e FGV, que focam na vulnerabilidade da populao ao considerar a pobreza,
conseguem identificar bem as famlias em condies de risco, colocando-as nos ltimos
estratos de suas classificaes, ou seja, os vulnerveis e a classe E, respectivamente segundo
cada critrio. Somente nesses dois critrios a renda mdia menos da metade daquela
considerada necessria. interessante notar que o gap vai diminuindo em todos os critrios
analisados conforme a renda vai aumentando, com exceo do Critrio Consumo. Em todos
os outros critrios, conforme se avana para as classes mais altas, a diferena entre a renda
possuda e a renda necessria diminui, at o ponto em que ela superada. J pelo critrio
consumo, a classe mdio consumo baixo, com quase 10% dos domiclios, a que se
considera relativamente mais pobre (no sentido de maior necessidade de renda), apesar de
ter uma renda 43% superior ao ltimo estrato. Esta uma primeira evidncia que temos que,
considerados os padres de consumo, apesar de alguns domiclios fazerem parte de uma
classe mdia, sua percepo no a de estarem se sentindo relativamente mais ricos. O
Critrio Consumo mostra que, no geral, apenas a anlise da renda pode levar a concluses
equivocadas acerca do bem estar domiciliar brasileiro. Aumentar a renda da populao para
tir-la de situaes de risco apenas um passo. Conforme a renda se eleva, os padres de
consumo tambm se modificam. E isso faz com que, apesar de o nvel de rendimento ser mais
alto, as exigncias de consumo aumentem e faam as pessoas se sentirem, na realidade,
relativamente mais pobres.

Tabela 5 - Renda mnima necessria para alimentao valores mdios


Critrio Varivel 1 2 3 4 5 6 7 8 Brasil
Critrio Brasil 1.696 1.683 1.118 804 649 530 450 366
SAE 1.203 812 654 580 524 495 438 375
Critrio Consumo Renda Mnima Alimentao 862 723 623 571 464 441 451 432 602
FGV 1.064 641 495 386
IBGE 1.442 945 673 500 373
Com relao renda mnima necessria para alimentao na percepo dos
domiclios (tabela 5), verifica-se que, para todos os critrios e estratos, a renda mensal mdia
suficiente, com exceo do estrato extremamente pobre da SAE. Na mdia, ainda
faltariam R$ 6,00 para suprir as necessidades de alimentao dessa classe.
O indicador da condio da renda refora o que foi dito em relao ao diferencial
entre a renda possuda e a renda necessria (tabela 6), para o qual, quanto mais prximo de
um este indicador, maior a dificuldade do domiclio levar a vida durante o ms. Verifica-se
que os critrios da SAE e FGV conseguem capturar nos seus ltimos estratos os domiclios
com maiores dificuldades. Em todos os critrios, este indicador monotonicamente crescente
com a renda, porm, no critrio consumo, o crescimento menor. Este praticamente o nico
critrio em que, na mdia, mesmo as classes mais altas declaram levar a vida com alguma
dificuldade. No Brasil como um todo, em mdia, os domiclios declaram levar a vida com
alguma dificuldade em relao ao rendimento mensal total.

Tabela 6 - Condio da renda - valores mdios


Critrio Varivel 1 2 3 4 5 6 7 8 Brasil
Critrio Brasil 4,28 4,10 3,75 3,40 3,05 2,71 2,40 2,01
SAE Condio da renda (1- 4,06 3,54 3,13 2,87 2,65 2,41 2,07 1,80
Critrio Consumo Muita Dificuldade; 6 - 3,41 3,02 2,71 2,75 2,62 2,54 2,25 2,18 2,79
FGV Muita facilidade) 3,90 3,08 2,43 1,85
IBGE 4,02 3,56 3,06 2,64 2,18
Passando para a anlise da percepo do acesso aos servios pblicos, a opinio varia
bastante entre os critrios e entre os estratos. Pelo Critrio Brasil, o estrato mais pobre o que
pior avalia o servio de transporte pblico, onde, na mdia, a maioria dos domiclios acha o
servio ruim ou no tem acesso, seguido do estrato mais rico, que considera o servio ruim
(tabela 7). A classe B1 deste critrio a que melhor considera este servio. No geral, pelo
Critrio Brasil, conforme o nvel de renda aumenta a avaliao do transporte pblico vai se
tornando mais positiva, exceto para a classe A. Pela SAE, os estratos considerados pobres so
aqueles que pior avaliam o transporte pblico, onde os dois ltimos, na mdia, ou acham o
servio ruim ou no possuem acesso ao servio. No geral, quanto maior o rendimento, melhor
a avaliao do transporte coletivo, exceto para a baixa classe mdia. A mesma tendncia de
o indicador melhorar com a renda, verificada para o critrio do IBGE e do CPS-FGV. Pelo
Critrio Consumo, os dois ltimos estratos so os que pior avaliam ou no tm acesso ao
transporte pblico, enquanto o estrato mais rico o que melhor avalia este servio. No geral,
considerando todos os critrios, a tendncia de que quanto maior a renda, mais bem avaliado
o transporte pblico, sendo que as piores avaliaes ou restries esto nos estratos mais
pobres de todos os critrios.

Tabela 7 - Percepo em relao ao servio de transporte coletivo - valores mdios


Critrio Varivel 1 2 3 4 5 6 7 8 Brasil
Critrio Brasil 1,99 1,48 1,46 1,50 1,59 1,86 1,90 2,34
SAE 1,43 1,53 1,60 1,66 1,77 1,38 2,04 2,21
Transporte coletivo (1-
Critrio Consumo 1,54 1,62 1,86 1,62 1,60 1,85 2,19 2,25 1,75
Bom;2-Ruim;3-No tem)
FGV 1,47 1,62 1,86 2,19
IBGE 1,48 1,51 1,61 1,77 2,01
Uma explicao para isso que, quanto maior o nvel de rendimento, menor a
necessidade de utilizao do servio de transporte pblico. Alm disso, quanto maior a renda,
melhores so as condies de moradia, que podem refletir em um melhor acesso ao transporte
pblico. Com isso, para estas classes, o transporte pblico acaba sendo mais bem avaliado. As
classes mais baixas, que provavelmente dependem mais do transporte pblico como meio de
locomoo, ou no possuem o acesso ou consideram o servio ruim. Dado o peso das classes
mais baixas na populao brasileira, na mdia, a populao brasileira considera o servio de
transporte pblico ruim.
No que se refere percepo dos domiclios em relao ao servio de educao, na
mdia, os critrios no apresentam resultados muito distintos (tabela 8). Pelo Critrio Brasil,
conforme a renda se eleva, a avaliao do servio de educao tambm aumenta, com exceo
do estrato mais rico, que avalia o servio de educao pior que os demais estratos do critrio.
Nos critrios da SAE e IBGE, a educao mais mal avaliada nos estratos inferiores,
melhorando a avaliao conforme a renda vai aumentando. A tendncia a mesma no critrio
do CPS-FGV, com a ressalva de que a classe D tem uma percepo ligeiramente pior que a
classe E. O Critrio Consumo o nico a apresentar variaes na avaliao, com alguns
estratos mais ricos avaliando pior a educao que os estratos mais pobres. O fato de o servio
de educao ser mais bem avaliado com o aumento da renda provavelmente est ligado ao
fato de que os domiclios mais ricos so capazes de ter acesso a servios privados de ensino.
Alm disso, quanto maior o nvel de rendimento, mais afastado esse domiclio deve estar da
periferia, o que contribui para que o indicador seja mais positivo para os estratos superiores
(restries de acesso se tornam menos relevante, somado ao fato de que escolas da periferia
em geral apresentam estruturas mais precrias que escolas melhores localizadas). Na mdia do
Brasil, os domiclios possuem acesso educao e consideram o servio bom.

Tabela 8 - Percepo em relao ao servio de educao - valores mdios


Critrio Varivel 1 2 3 4 5 6 7 8 Brasil
Critrio Brasil 1,42 1,28 1,31 1,34 1,34 1,37 1,37 1,46
SAE 1,30 1,35 1,38 1,35 1,37 1,38 1,37 1,37
Servio de Educao (1-
Critrio Consumo 1,31 1,32 1,37 1,39 1,35 1,40 1,40 1,38 1,36
Bom;2-Ruim;3-No tem)
FGV 1,32 1,36 1,37 1,36
IBGE 1,30 1,31 1,36 1,37 1,39
Dos indicadores sociais, a percepo em relao ao lazer e ao esporte o que
apresenta pior resultado (tabela 9). Novamente, no geral, os indicadores melhoram conforme
o nvel de renda se eleva. Apenas para o Critrio Brasil, o estrato mais rico o mais crtico
em relao ao servio de esporte e lazer aps o estrato mais pobre. O Critrio Consumo
novamente aquele que apresenta variaes de percepes entre os estratos, onde o indicador
no monotonicamente crescente com a renda (no sentido de melhorar a avaliao). Pelo
critrio da SAE, do CPS-FGV e pelo IBGE, o indicador sempre melhora com o aumento de
renda. Uma explicao para este fato de que o aumento da renda permite que as opes de
esporte e lazer, principalmente aquelas que no dependem do setor pblico, se ampliem.
Todavia, o indicador, independentemente do critrio, mostra que at mesmo as classes mdias
de cada critrio, de um modo geral, ou no possuem acesso ao servio de esporte e lazer, ou
os considera ruins. Nem mesmo para os estratos mais ricos a avaliao mais prxima de ser
positiva. A mdia do Brasil mostra justamente uma restrio de acesso e uma avaliao ruim
deste servio.

Tabela 9 - Percepo em relao ao servio de lazer e esporte - valores mdios


Critrio Varivel 1 2 3 4 5 6 7 8 Brasil
Critrio Brasil 1,73 1,57 1,67 1,89 2,00 2,14 2,25 2,48
SAE Servio de Lazer e Esporte 1,61 1,83 2,02 2,07 2,16 2,25 2,34 2,39
Critrio Consumo (1-Bom;2-Ruim;3-No 1,84 1,97 2,18 2,15 2,04 2,21 2,41 2,41 2,10
FGV tem) 1,68 2,01 2,24 2,38
IBGE 1,63 1,80 2,03 2,17 2,31
Com relao aos anos de estudo (tabela 10), este indicador monotonicamente
crescente com a renda para todos os critrios e estratos, excluindo o Critrio Consumo. Pelo
Critrio Brasil, os anos de estudos so os mais baixos para o ltimo estrato dentre todos os
critrios, com mdia de 2,23 e os mais altos para o primeiro estrato, onde ele consegue isolar
os domiclios onde todos os chefes de famlia possuem o ensino superior completo. Por todos
os critrios, os estratos mais pobres de renda no chegam a 4 srie completa (exceto IBGE).
No critrio consumo, interessante notar que a classe mdio consumo baixo (9%) possui
mais anos de estudo que as duas classes imediatamente superiores (30% somadas). Isso pode
ser um sinal de que, apesar no nvel mdio de rendimento ser menor, tal classe tem uma
preferncia maior pelo estudo.
Tabela 10 - Anos de estudo - valores mdios
Critrio Varivel 1 2 3 4 5 6 7 8 Brasil
Critrio Brasil 15,00 14,69 13,45 10,93 8,32 6,77 3,83 2,23
SAE 12,96 10,37 7,84 6,59 5,67 5,23 4,46 3,75
Critrio Consumo Anos de Estudo 9,99 7,83 6,74 6,75 7,26 4,59 3,54 3,82 6,82
FGV 12,06 7,71 5,25 3,84
IBGE 12,73 10,77 7,95 5,63 4,47
Analisando a quantidade de moradores por domiclios, verificam-se alguns
resultados interessantes (tabela 11). Conforme apontado nas crticas para o Critrio Brasil,
este o nico critrio para o qual o estrato mais rico aquele que apresenta uma quantidade
maior de moradores no domiclio. Para todos os demais critrios, tirando o do IBGE, o estrato
mais pobre o que apresenta a maior quantidade de moradores nos domiclios. Uma vez que
o Critrio Brasil utiliza a quantidade de bens durveis para estratificar a populao, natural
que as famlias mais ricas e com mais membros fiquem nos estratos superiores. Quanto maior
o nmero de moradores e maior a condio de renda do domiclio, espera-se que exista uma
presena maior de bens durveis. Por esta razo, a quantidade de moradores acaba
influenciando a estratificao realizada pelo Critrio Brasil, sendo o nmero de moradores por
domiclio mais elevado, em mdia, em todos os estratos na comparao com os demais
critrios. O critrio do IBGE no consegue criar uma relao lgica entre renda e quantidade
de moradores. Por este critrio, o estrato mais pobre o que apresenta a menor quantidade
mdia de morador por domiclio.

Tabela 11 Nmero de pessoas que contribuem no oramento e quantidade de


moradores por domiclio valores mdios
Critrio Varivel 1 2 3 4 5 7 6 8 Brasil
Critrio Brasil 2,60 2,01 1,99 1,96 1,94 1,771,85 1,77
SAE 1,61 1,83 1,88 1,91 1,94 1,821,89 1,72
Pessoas Contribuem no
Critrio Consumo 2,00 2,02 2,32 1,85 1,59 1,861,48 1,94 1,86
Oramento
FGV 1,68 1,89 1,89 1,75
IBGE 2,07 2,23 2,10 1,83 1,45
Critrio Brasil 4,19 3,54 3,30 3,23 3,26 3,31 3,29 3,48
SAE 2,25 2,62 2,74 2,95 3,23 3,80 4,42 5,02
Critrio Consumo Quantidade de Moradores 3,23 3,50 4,25 3,29 2,84 2,59 3,62 4,26 3,30
FGV 2,39 2,82 3,71 4,90
IBGE 3,32 3,49 3,44 3,28 3,10
Os demais critrios conseguem capturar melhor a realidade, de que, alm de possuir
uma renda mdia inferior, os estratos mais baixos de renda ainda precisam sustentar um
nmero mais de pessoas. O critrio da SAE e do CPS-FGV capturam uma relao inversa
entre o nvel de renda e a quantidade mdia de moradores no domiclio. J o critrio consumo
consegue colocar os domiclios com maior quantidade mdia de moradores no estrato mais
pobre, mas apresenta algumas variaes importantes, onde a classe alto consumo mdio
(11% dos domiclios) apresenta uma quantidade elevada de moradores por domiclio (muito
parecida com a quantidade mdia de moradores do estrato mais baixo - 7% dos domiclios).
Isso mostra que os critrios que utilizam a renda per capita como critrio unidimensional
(CPS-FGV e SAE) tendem a refletir a quantidade mdia de moradores nas suas
estratificaes, onde os estratos mais ricos so compostos de famlias de menor tamanho, ao
passo que o critrio que utiliza a quantidade de bens durveis para estratificar a populao
(Critrio Brasil) tambm reflete a quantidade de moradores, porm na direo oposta (estratos
mais ricos compostos de famlias maiores).
Ao fazer a relao entre o nmero de pessoas que contribuem no oramento e a
quantidade de moradores do domiclio, verifica-se que todos os critrios conseguem capturar
o fato de que, nos estratos mais pobres, existe um nmero menor de unidades de oramento
para quantidade de moradores.
3.2. Comparao das variveis de consumo

Realizada a anlise das variveis socioeconmicas, interessante analisar como as


variveis de consumo se alteram entre estratos e entre critrios. Ser analisada tanto a posse
quanto as despesas de alguns bens durveis selecionados.

3.2.1. Posse dos bens durveis

A tabela 12 apresenta a posse de alguns bens durveis selecionados.


O televisor um bem praticamente universalizado no Brasil, com presena em 93%
dos domiclios. O Critrio Brasil o critrio que melhor consegue isolar a posse desse bem,
onde a presena sempre monotonicamente crescente com a renda. O Critrio Brasil, em
especial, consegue separar a parcela dos domiclios sem acesso a este bem, onde apenas
pouco mais da metade da classe E deste critrio possui acesso ao televisor em cores. Os
critrios CPS-FGV e IBGE identificam uma relao monotonicamente crescente entre renda e
posse de televisor. J a SAE e o Critrio Consumo conseguem identificar nuances, onde
alguns dos estratos mais ricos apresentam percentuais menores de domiclios com acesso ao
televisor em relao aos estratos mais pobres.

Tabela 12 - Posse de bens durveis selecionados por critrio de estratificao


Critrio Produto 1 2 3 4 5 6 7 8 Brasil
Critrio Brasil 100% 100% 99% 99% 99% 97% 92% 55%
SAE 97% 98% 97% 94% 92% 93% 90% 78%
Televisor em
Critrio Consumo 98% 97% 95% 97% 94% 89% 85% 82% 93%
Cores
FGV 97% 96% 92% 81%
IBGE 98% 98% 97% 94% 85%
Critrio Brasil 100% 100% 96% 87% 59% 17% 1% 0%
SAE 78% 69% 48% 34% 24% 15% 7% 4%
Critrio Consumo Automvel 83% 50% 17% 18% 13% 17% 7% 9% 33%
FGV 76% 45% 17% 5%
IBGE 87% 80% 49% 19% 6%
Critrio Brasil 55% 26% 32% 44% 61% 77% 89% 15%
SAE 40% 49% 61% 69% 74% 77% 74% 59%
Geladeira 1
Critrio Consumo 52% 63% 74% 70% 73% 72% 69% 66% 66%
Porta
FGV 42% 62% 76% 63%
IBGE 37% 44% 61% 77% 72%
Critrio Brasil 76% 82% 72% 58% 39% 23% 4% 0%
SAE 61% 52% 38% 27% 20% 13% 7% 4%
Geladeira 2
Critrio Consumo 49% 37% 19% 27% 19% 16% 6% 6% 26%
Porta
FGV 60% 35% 14% 4%
IBGE 67% 57% 38% 17% 6%
Com relao ao automvel, todos os critrios capturam uma relao
monotonicamente crescente entre renda e presena do automvel nos domiclios, exceto o
Critrio Consumo. Por este critrio, a classe baixo consumo mdio (9% do total de
domiclios) apresenta maior presena de automveis (17%) que seu estrato imediatamente
superior (18% dos domiclios totais e apenas 13% de posse), com nmero parecido para os
estratos de mdio consumo mdio (18% de domiclios e 18% de posse) e alto consumo
mdio (11% de domiclios e 17% de posse). O Critrio Consumo parece conseguir
justamente o que se espera dele: identificar diferentes preferncias independentemente do
nvel de renda. A despeito de o nvel de rendimento ser mais baixo, o automvel parece ser
uma preferncia para algumas classes mais baixas. interessante notar que, pelo Critrio
Brasil, para a classe E o automvel inacessvel. Estes resultados tm importantes
implicaes para estratgias de venda das empresas do setor automobilstico. Enquanto por
um critrio a demanda de uma parcela da populao totalmente irrelevante, por outro ela
pode ser muito mais relevante do que se pensa.
A geladeira um item interessante de se analisar. Como este o nico bem para o
qual possvel verificar diretamente diferenciao de modelo (uma e duas portas), possvel
verificar que no s a posse de bens durveis aumenta com a renda, mas que tambm a
qualidade dos bens tambm aumenta. A posse de modelos com uma porta decai nos estratos
de renda mais elevados em todos os critrios, enquanto os modelos de duas portas aumentam.
Este um fato importante no capturado pelo Critrio Brasil. Este critrio estratifica a
populao com base na quantidade possuda de bens, tendo a limitao de no considerar
diferenas de valores. O Critrio Consumo tambm limitado ao considerar os padres de
consumo apenas pelas cestas adquiridas, sem considerar os valores dispendidos em cada uma
delas.
De maneira geral, pode-se concluir que, dependendo do critrio de estratificao
utilizado para analisar a demanda brasileira, possvel chegar a diferentes. Pelo Critrio
Brasil, a classe E, e em alguns casos a classe D2, se mostra com um poder de consumo
bastante reduzido, uma vez que seu acesso restrito para a maioria dos bens. Alm disso, as
classes mais altas do Critrio Brasil contam com um percentual muito reduzido dos
domiclios, o que dificulta a identificao de mercados consumidores para as empresas por
este critrio. J os critrios da SAE e Consumo mostram novas possibilidades de segmentar
mercados para diversos bens, onde as classes mais baixas e mais altas conseguem formar
mercados consumidores, tanto pelo maior acesso aos bens durveis quanto pelo maior
tamanho destes estratos.

3.2.2. Despesas com bens durveis

Para completar a anlise de consumo, a tabela 13 apresenta o valor mdio das


despesas realizadas com os bens durveis selecionados. Como no so todas as famlias que
realizam os gatos com estes bens no perodo da pesquisa, a mdia corresponde somente s
famlias que realizaram o consumo.

Tabela 13 - Despesa com bens durveis selecionados por critrio de estratificao


Critrio Produto 1 2 3 4 5 6 7 8 Brasil
Critrio Brasil 1.038 1.962 1.457 851 619 507 405 280
SAE 1.607 989 676 555 508 439 368 373
Televisor
Critrio Consumo 1.008 717 470 564 504 466 409 402 642
em Cores
FGV 1.445 655 448 367
IBGE 1.672 1.024 637 478 384
Critrio Brasil 68.128 28.100 24.408 13.318 9.967 8.365 9.854 14.195
SAE 29.356 16.823 10.789 8.637 8.157 6.520 7.197 5.433
Critrio Consumo Automvel 16.307 15.338 10.210 9.643 7.565 9.777 9.119 8.950 14.436
FGV 25.436 11.349 7.409 6.138
IBGE 30.061 16.489 9.794 7.745 7.374
Critrio Brasil 2.426 1.813 1.530 1.248 1.032 812 612 583
SAE 1.466 1.258 1.009 843 837 719 610 523
Critrio Consumo Geladeira 1.225 976 794 877 637 769 666 649 880
FGV 1.402 978 739 552
IBGE 1.743 1.245 1.023 747 599
Como possvel perceber, o valor gasto com os bens durveis selecionados varia
entre estratos e entre critrios. Isso mostra que, no somente a posse dos bens durveis
diferencia as classes, mas tambm a qualidade destes bens (admitindo que valor mdio da
despesa funciona como uma proxy para a qualidade do bem durvel). Sendo assim, alm de os
estratos mais ricos de renda apresentarem mais domiclios com a posse dos bens durveis, a
qualidade destes bens durveis tende a ser maior. Com isso, o Critrio Brasil pode colocar em
uma mesma classe domiclios que possuem a mesma quantidade de bens durveis, mas no
consegue diferenci-los pela qualidade destes bens.
Pelo Critrio Brasil, pelo IBGE e pelo CPS-FGV, o valor mdio gasto com
televisores em cores se eleva conforme o nvel de renda aumenta. Pela SAE e pelo Critrio
Consumo, no linearidades so verificadas. Pela SAE, por exemplo, a classe extremamente
pobre dispendeu um valor mdio maior em televisores que a classe imediatamente acima.
Pelo Critrio Consumo, a classe alto consumo mdio dispendeu um valor mdio menor em
televisores que as duas classes anteriores. Assim, esses dois critrios parecem conseguir
captar melhor diferenas nas preferncias acerca do consumo de televisores. Especialmente
no critrio da SAE, que foca na anlise unidimensional da renda direcionada a
vulnerabilidade, interessante que o estrato mais baixo de renda no seja aquele que
apresenta o menor valor mdio de gastos com televisores. Esse um aspecto importante do
consumo, onde a imitao de consumo dos estratos mais altos por parte dos estratos mais
baixos, mesmo com incompatibilidade de renda, so verificados.
O automvel um bem que traz resultados interessantes para a maioria dos critrios
estudados. Tirando o critrio do CPS-FGV e do IBGE, no possvel verificar uma relao
monotonicamente crescente entre renda e despesa. Em especial, pelo Critrio Brasil,
interessante os dados apontarem um gasto mdio mais elevado da classe E em relao s
classes C e D. Isso pode ser uma evidncia de que esta classe, em face do aumento de renda e
crdito, est buscando realizar o consumo de automveis, porm em um valor muito
incompatvel com seu nvel mdio de rendimento. A classe E, ao tentar imitar o consumo das
classes superiores pela compra de automveis com maior valor agregado, pode estar
comprometendo o rendimento destes domiclios de uma maneira inadequada. O critrio da
SAE mostra que os pobres, mas no extremamente pobres gastam mais com automveis
que o estrato logo acima. O mesmo se verifica no Critrio Consumo para as classes de baixo
consumo mdio e baixo consumo alto em relao classe baixo consumo mdio. Os
dados de consumo de automveis mostra um grau de conspicuidade importante,
principalmente entre os estratos mais pobres, no Brasil.
Em suma, a anlise das variveis de consumo mostra que no s a posse dos bens
durveis varia entre os estratos, mas tambm o valor mdio dispendido com estes bens. Em
particular, uma vez que o Critrio Consumo concebido atravs dos padres de consumo dos
domiclios, ele consegue capturar melhor no linearidades nas preferncias, fato no
observado nos critrios que utilizam somente renda. Isso particularmente relevante quando
os estratos mais baixos de renda e, em teoria, com uma restrio oramentria maior, acabam
gastando mais em bens durveis (geralmente bens classificados como no essenciais) que os
estratos de renda mais elevados. Esse direcionamento precoce de renda a bens de maior valor
agregado, muitas vezes realizado via crdito, acaba comprometendo uma parcela importante
do oramento dos domiclios mais carentes.

4. Consideraes finais

O objetivo deste trabalho foi propor um novo critrio de estratificao baseado nos
padres de consumo da populao brasileira, com uma possibilidade de combinao de mais
de 9.000 produtos. Os resultados mostraram estratos sociais mais homogneos. Com esse
novo critrio, o padro de consumo da classe mais alta o mais difundido na populao,
mostrando que o consumo consegue aproximar as pessoas, a despeito do nvel de rendimento.
A anlise das variveis econmicas e sociais mostrou que a percepo da populao
pode variar significativamente conforme o critrio utilizado. O Critrio Consumo expe que,
mesmo com uma renda mais elevada, algumas famlias se sentem relativamente mais pobres
(insatisfeitas), fato no verificado nos demais critrio. Essa uma evidncia de que a renda
no tudo. O aumento de renda implica em novas oportunidades de e novos desejos de
consumo nos domiclios.
No geral, os indicadores de percepo social, acerca do servio de transporte
coletivo, lazer e esporte so monotonicamente crescentes com a renda. Porm, o Critrio
Consumo consegue identificar importantes no linearidades, principalmente nas classes do
meio.
A anlise das variveis de consumo mostra que as concluses podem divergir
consideravelmente dependendo do critrio utilizado. Segundo o Critrio Consumo, para
alguns produtos, como o automvel, os estratos mais baixos apresentam tanto posse quanto
valor mdio das despesas maiores que os estratos imediatamente superiores. Isso tem
importantes implicaes econmicas. Muito provavelmente os estratos mais baixos de renda
conseguem elevar seu consumo atravs do crdito, conseguindo imitar o consumo dos estratos
superiores, o que serve para aliviar as desigualdades existentes na renda atravs consumo.
Porm, este padro mostra um importante componente de conspicuidade no consumo, uma
vez que uma parcela relevante da renda acaba sendo dedicada precocemente para bens que
podem ser considerados de luxo. Este desejo de consumo por parte das classes mais baixas,
apesar de ter sido um dos motores do crescimento brasileiro nos ltimos anos4, mostra uma
inadequao, onde prioridades mais urgentes de consumo podem estar sendo deixadas de
lado.
Enfim, cada critrio de estratificao social e econmica tem o seu propsito. O
Critrio Consumo, criado neste trabalho, contribui para mostrar uma nova tica da
estratificao socioeconmica no Brasil. Os resultados mostram que, a depender do critrio
utilizado, concluses distintas podem ser obtidas. E que o Critrio Consumo identifica um
Brasil com classes e anseios que as anlises a partir apenas da renda no conseguem
identificar.

REFERNCIAS

ANGRISANI, M. Econometric Theory and Methods. Lecture Exercises -Engel Curve.


Disponvel em: < http://www.ucl.ac.uk/~uctpjea/SolutionEx3.pdf>. Acesso em: 14/01/2014.

ASSOCIAO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE PESQUISA. Critrio de Classificao


Econmica Brasil. Disponvel em:
<http://www.abep.org/novo/Content.aspx?SectionID=84>. Acesso em: 03/11/2013.

CONSIDERA, C. M.; PESSOA, S. A. Distribuio funcional da renda no Brasil: 1959-


2008. UFF, Texto para discusso 277, Setembro/2011.

FEIJO, C. A.; PAIVA, G. F. S.; SILVA, D. B. N. Consumo e critrios de classificao


socioeconmica: um estudo aplicado pesquisa de oramentos familiares. Center of
Studies on Inequality and Development. Texto para Discusso n 75, Abril, 2013. Disponvel
em: http://www.proac.uff.br/cede/sites/default/files/TD75.pdf>. Acesso em: 15/02/2014.

FRIEDMAN, M. The Quantity Theory of Money: A Restatement (1956).

GOUTTE, L.; HANSEN l.; LIPITROT, M.; ROSTRUP, E. Feature-Space Clustering for
fMRI Meta Analysis. Human Brasing Mapping. Volume 13, Issue 3, 2001.

4
Conforme o plano Plurianual 2004-2007.
HAMERLY, G.; ELKAN, C. Learnign the k in k-means. Disponvel em:
<http://machinelearning.wustl.edu/mlpapers/paper_files/NIPS2003_AA36.pdf>. Acesso em
18/12/2013.

HEARDING, S.; PAYNE, R. A Guide to Mutivariate Analysis in GenStat. 15th Edition.


Disponvel em: <http://www.vsni.co.uk/downloads/genstat/release15/doc/MvaGuide.pdf>.
Acesso em: 08/01/2014.

IBGE. POF Pesquisa de Oramentos Familiares. Disponvel em:


<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/pof/2008_2009/default.s
htm>.

KAMAKURA, W. A.; MAZZON, J. A. Socioeconomic status and consumption in an


emerging economy. Intern. J. of Research in Marketing. Elsevier, 2012. Disponvel em: <
http://portal.idc.ac.il/en/main/research/ijrm/documents/pdf%20of%2031%20nominated%20pa
pers.pdf>. Acesso em: 03/02/2014.

KAMAKURA, W. A.; MAZZON, J. A. Estratificao socioeconmica e consumo no


Brasil. Blucher, 2013.

LINDEN, R. Tcnicas de Agrupamento. Revista de Sistemas de Informao da FSMA. N


4, 2009, p. 18-36.

MARDIA, K.; KENT, J.; BIBBY, J. Multivariate Analysis (Probability and Mathematical
Statistics). Academic Press, 1 edition, 1976.

MEYER, A. S. Comparao de coeficientes de similaridade usados em anlises de


agrupamento com dados de marcadores moleculares dominantes. Dissertao de
mestrado, So Paulo, 2002.

MINISTRIO DO PLANEJAMENTO, ORAMENTO E GESTO. Plano Plurianual


2004-2007. Relatrio de Avaliao Caderno 1. Disponvel em:
<http://www.planejamento.gov.br/secretarias/upload/Arquivos/spi/plano_plurianual/avaliacao
_PPA/relatorio_2008/08_PPA_Aval_cad01.pdf>. Acesso em: 15/01/2014.

NERI, M. A nova classe mdia: o lado brilhante dos pobres. RJ: FGV/CPS, 2010.

NERI, M. Pobreza e a nova classe mdia no campo. Rio de Janeiro: abril, 2010.

PAES DE BARROS, R.; PORTELA, A.; JUNIOR, A. B. L.; CAILLAUX, E.; VERAS; F.;
QUIROGA, J.; FOGUEL, M.; MEIRELLES, R.; ROCHA, R. SOUZA, A.; GIANNETTI, E.;
BRITO, M. H.; CHAUI, M. S.; JANUZZI, P.; PAES, R.; MASCARENHAS, A; NINIS, A.
B.; LAMY, C.; GROSNER, D.; GABRIEL, J. J.; BUGARIN, K.; , A.; FRANCO, S.;
BRAGA, R.W. (SAE). Relatrio de definio da classe mdia (2012). Disponvel em: <
http://www.sae.gov.br/vozesdaclassemedia/wp-content/uploads/Relat%C3%B3rio-
Defini%C3%A7%C3%A3o-da-Classe-M%C3%A9dia-no-Brasil.pdf>. Acesso em:
03/11/2013.

SUGAR, C.; JAMES, G. Finding the number of clusters in a data set: An information
theoretic approach. Journal of the American Statistical Association, n 98, January 2003.

Você também pode gostar