Unidade 5 - Hipersensibilidade, Tolerância e Autoimunidade
Unidade 5 - Hipersensibilidade, Tolerância e Autoimunidade
Unidade 5 - Hipersensibilidade, Tolerância e Autoimunidade
PROPÓSITO
Compreender os conceitos que envolvem os mecanismos moleculares dos diferentes tipos de
hipersensibilidades e as falhas no processo de tolerância imunológica que levam a diferentes
doenças é fundamental para possibilitar o
manejo das doenças envolvidas e para o
desenvolvimento de novas tecnologias que possibilitem o diagnóstico e tratamento adequados
aos pacientes.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
Fonte: PopTika/Shutterstock.com
INTRODUÇÃO
O sistema imune apresenta uma série de componentes, entre células e moléculas secretadas,
que apresentam como principal função, a identificação do “próprio e não-próprio” e a posterior
eliminação de agentes estranhos ao organismo.
Apesar de ser extremamente importante para
a defesa do hospedeiro ao ataque de patógenos e para o controle de doenças, nossa resposta
imunológica pode, sob algumas circunstâncias, ser responsável pela destruição e dano
aos
nossos próprios tecidos.
HIPERSENSIBILIDADES
Resposta exagerada ou inadequada da imunidade que vai levar à inflamação e/ou a dano
tecidual.
MÓDULO 1
REAÇÕES DE HIPERSENSIBILIDADE
Fonte: VectorMine/Shutterstock.com
A imunidade adaptativa desempenha uma importante função de defesa do organismo contra
patógenos, mas, eventualmente, alguns distúrbios envolvendo essas respostas podem ocorrer
(reações de hipersensibilidade).
De maneira normal, as reações imunes eliminam os
patógenos sem causar danos ou lesões ao tecido do hospedeiro. No entanto, em algumas
situações, uma resposta exacerbada (hipersensibilidade) do nosso organismo pode acontecer
de maneira inadequada a agentes ambientais inofensivos ou ainda aos próprios tecidos do
indivíduo, levando a patologias como alergias e doenças autoimunes.
Essas respostas vão envolver componentes que atuam nas respostas inatas e adaptativas,
mas, principalmente, fagócitos, linfócitos e anticorpos, além de outras células e moléculas
inflamatórias. O controle após o início da resposta é extremamente complicado, causando,
geralmente, a cronicidade dessas doenças.
Fonte: Shutterstock.com
Fonte: Shutterstock.com
Linfócito T
Fonte: Shutterstock.com
Anticorpos
Agora que fomos apresentados aos tipos diferentes de reações de hipersensibilidades, vamos
entender mais a fundo cada uma delas.
MECANISMOS ENVOLVIDOS NA
HIPERSENSIBILIDADE DO TIPO I
(IMEDIATA)
Fonte: VectorMine/Shutterstock.com
Compõem o grupo de doenças humanas que normalmente são causadas por antígenos não
microbianos, moléculas inertes derivadas do ambiente e que não induzem aparente dano ao
organismo do indivíduo. Essas respostas dependem de fatores
genéticos e ambientais para
acontecerem e, em Medicina Clínica, são chamadas de alergias. As alergias são o distúrbio de
imunidade mais comum, afetando aproximadamente 30% da população brasileira. As doenças
alérgicas que
causam maior mortalidade e morbidade são a asma, a rinite alérgica e a
anafilaxia.
MORTALIDADE
Fonte: insemar.vector.art/Shutterstock.com
Principais alimentos alergênicos.
ÁCAROS
Fonte: Crevis/Shutterstock.com
Como descrito anteriormente, além dos fatores genéticos, as respostas aos alérgenos também
são influenciadas pelo ambiente que exercerá impacto significativo sobre o desenvolvimento de
alergia e se somará aos aspectos genéticos.
FASE DE SENSIBILIZAÇÃO
A imunoglobulina responsável pelas reações alérgicas é a IgE. Os indivíduos atópicos
(alérgicos) tendem a produzir altos níveis do anticorpo IgE. No entanto, os indivíduos normais
vão produzir outros
tipos de anticorpos, como IgM e IgG, e, quando em contato com os
antígenos ambientais, a concentração de IgE sérica é a mais baixa de todas as
imunoglobulinas nesses indivíduos.
Fonte: Designua/Shutterstock.com
Classificação dos anticorpos.
A sensibilização ocorre quando o indivíduo entra em contato com o alérgeno pela primeira
vez. Esse contato pode se dar de inúmeras maneiras: contato com a pele, ingestão, injeção e
inalação. A entrada
do alérgeno mobiliza o sistema imune. Assim células do dendríticas
capturam esse alérgeno, indo em direção aos órgãos linfoides, onde ocorrerá a apresentação
do antígeno aos linfócitos T auxiliares (T CD4+),
induzindo respostas do tipo Th2 com
produção de IgE. Os eventos que direcionam as respostas dos linfócitos para Th2 em resposta
ao encontro de antígenos ambientais ainda não é totalmente elucidada. As células
Th2 vão
promover a troca de classe de anticorpo pelos linfócitos B de IgM para IgE a partir da produção
das citocinas interleucina-4 (IL-4) e interleucina-13 (IL-13). Essas citocinas atuam de
maneira
combinada com células como mastócitos, eosinófilos e basófilos, promovendo respostas
inflamatórias a alérgenos junto aos tecidos.
Os mastócitos são as mais importantes células efetoras responsáveis pelas reações alérgicas.
Geralmente, são encontradas ao redor dos vasos sanguíneos no tecido conjuntivo, no
revestimento do intestino
e nos pulmões. Após várias exposições ao antígeno, por meio de
repetidos contatos com a mucosa, por exemplo, ocorrerá grande produção de IgE. Esse
anticorpo rapidamente se ligará aos mastócitos
e basófilos à medida que circula próximo a
essas células, pois mastócitos e basófilos expressam um receptor FC de alta afinidade para a
cadeia pesada da imunoglobulina IgE, chamado FCƐRI (receptor).
Uma vez ligadas, as
moléculas de IgE permanecem ligadas aos receptores por semanas. A completa ocupação dos
receptores FCƐRI pelas moléculas de IgE na membrana dos mastócitos caracteriza a fase de
sensibilização.
Fonte: Sakurra/Shutterstock.com
Mastócito.
FASE DE ATIVAÇÃO
A fase de ativação das respostas de hipersensibilidade do tipo I inicia quando o mastócito é
estimulado a liberar seus grânulos e seus mediadores inflamatórios. Esse evento é
desencadeado pela ligação cruzada de
antígenos multivalentes (alérgenos) a, pelo menos,
duas moléculas de IgE/receptor FCERI. Após essa ligação, os mastócitos são ativados e tem
início uma série de eventos rápidos e complexos que culminam na degranulação
dessa célula
com secreção dos conteúdos pré-formados dos grânulos (histamina), síntese e secreção de
mediadores lipídicos (leucotrienos e prostaglandinas), e síntese e secreção de citocinas (IL-4,
IL-5, IL-13,
entre outras). Os eventos fisiológicos que se seguem após a ativação e
degranulação de mastócitos vão depender da dose do antígeno e da via de inoculação.
FASE EFETORA
Nesta fase, os sintomas das reações alérgicas irão aparecer como resultado da liberação dos
mediadores inflamatórios pela degranulação dos mastócitos ativados. Os mediadores podem
ser divididos em dois tipos: mediadores pré-formados (aqueles que se encontram prontos
dentro do grânulo como a histamina); e mediadores neoformados (que ainda vão ser
sintetizados após a ativação dos mastócitos e incluem os mediadores lipídicos
e as citocinas).
A fase efetora pode ser dividida em imediata e tardia de acordo com o tempo de liberação e
efeitos dos mediadores liberados.
A fase efetora tardia ocorre de 2 a 24 horas depois do desafio alergênico. Nesta fase, irá
ocorrer a liberação novamente de mediadores lipídicos, como leucotrienos e
prostaglandinas e de citocinas
como Fator de necrose tumoral (TNF). A reação imediata é
caracterizada por vasodilatação, congestão e edema. A reação de fase tardia é
caracterizada por um infiltrado rico em eosinófilos, neutrófilos
e células T.
A fase efetora tardia pode ocorrer sem nenhuma resposta de hipersensibilidade imediata
anteriormente identificada.
EXEMPLO
A asma brônquica é uma doença em que podem ocorrer eventos repetidos de inflamação com
acúmulos de eosinófilos e células Th2, característicos da reação de fase tardia da hiper 1 e que
vão levar a uma hiper-reatividade
das vias aéreas característica dessa doença.
Além das manifestações já citadas, há ainda uma forma sistêmica de hipersensibilidade do tipo
I, chamada anafilaxia. Ela se caracteriza por uma reação de hipersensibilidade do tipo
imediata sistêmica que induz edema em diferentes tecidos, levando ao edema de laringe e a
uma diminuição da pressão arterial secundária à vasodilatação e ao extravasamento vascular,
causando o choque anafilático, que frequentemente é fatal.
Fonte: Designua/Shutterstock.com
Sinais da anafilaxia.
O diagnóstico adequado das hipersensibilidades do tipo I conta sempre com a avaliação clínica
e o apoio de técnicas como os testes cutâneos, que verificam visualmente as reações de
hipersensibilidade após a inoculação dos principais
alérgenos no antebraço, e testes
imunológicos e moleculares para a detecção de IgE total e específica no soro dos pacientes.
Fonte: Shutterstock.com
Diagnóstico das alergias pela detecção cutânea (esquerda) ou pela detecção da presença
de anticorpos no soro do paciente (direita).
MECANISMOS ENVOLVIDOS NA
HIPERSENSIBILIDADE DO TIPO II
(CITOTÓXICA)
Em grande parte das vezes, essas reações serão resultado de eventos de autoimunidade do
indivíduo, com a ligação de anticorpos a antígenos próprios normais ou modificados (como
moléculas que surgem após a ligação de fármacos
a substâncias próprias).
OPSONIZAÇÃO
Fonte: Shidlovski/Shutterstock.com
Além dos danos gerados ao tecido, que já foram citados, algumas vezes essas respostas de
hipersensibilidade II, após o reconhecimento de anticorpos a antígenos celulares, podem
interferir nas funções da célula e gerar danos
a receptores ou proteínas celulares sem causar
destruição ou inflamação.
Veja a seguir como funcionam os mecanismos dos efetores da hipersensibilidade do tipo II:
Opsonização e fagocitose.
DOENÇA DE GRAVES
Fonte: Designua/Shutterstock.com
MIASTENIA GRAVE
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Veja a seguir como funcionam os mecanismos dos efetores da hipersensibilidade do tipo III:
Complexos imunes que se depositaram nas paredes dos vasos sanguíneos são capazes
de desencadear uma grande variedade de processos inflamatórios. Vamos conhecê-los?
Nos tecidos que ativam leucócitos, como monócitos, e mastócitos que secretam citocinas e
mediadores ativadores do endotélio, como as aminas vasoativas (histamina e serotonina),
macrófagos são estimulados a liberar citocinas,
particularmente fator de necrose tumoral-α
(TNF-α) e interleucina-1 (IL-1), as quais desempenham importantes papéis na inflamação.
Esses mesmos mediadores induzem um aumento da permeabilidade vascular e do fluxo
sanguíneo,
o que pode gerar um aumento da deposição dos complexos imunes. A partir
desses eventos, ocorre a inflamação no interior das paredes dos vasos sanguíneos, com
ativação da cascata do sistema complemento e dano ao tecido afetado.
Diversas doenças dos seres humanos são mediadas por respostas de hipersensibilidade do
tipo III como lúpus eritematoso sistêmico, poliarterite nodosa, glomerulonefrite pós
estreptococócica, doença do soro, entre outras.
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Síntomas do lúpus eritematoso sistêmico.
ATENÇÃO
As reações de hipersensibilidade tipo II e tipo III são semelhantes quanto aos mecanismos
inflamatórios e uma não exclui a outra. Ambos os tipos de reações podem ser vistos nas
desordens reumáticas autoimunes, tais
como o lúpus eritematoso sistêmico, em que podem
ocorrer a anemia hemolítica autoimune e a púrpura trombocitopênica imune.
MECANISMOS ENVOLVIDOS NA
HIPERSENSIBILIDADE DO TIPO IV
(MEDIADA POR CÉLULAS OU TARDIA)
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DTH
TH1 E TH17
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ESCLEROSE MÚLTIPLA
Fonte: Tefi/Shutterstock.com
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PSORÍASE
Agentes sensibilizantes para humanos incluem íons metais, tais como níquel e cromo, muitas
substâncias químicas industriais presentes em corantes, drogas, fragrâncias e plantas. Essas
substâncias
(haptenos) apresentam natureza não proteica, baixo peso molecular, geralmente
não imunogênicos. Os haptenos apresentam em comum a capacidade de penetrar na pele e
formar conjugados com as proteínas
normais, dando origem a neoantígenos que ativarão as
respostas imunes. Nesse caso, o órgão-alvo é a pele e a resposta inflamatória é produzida
como resultado do contato com substâncias sensibilizantes
na sua superfície. Essa reação é
caracterizada por erupções cutâneas eczematosas no local de contato com o antígeno
(alérgeno), ocorrendo entre 24 e 48 horas após o reencontro do indivíduo sensibilizado
com a
substância alergênica.
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ENDURAÇÃO
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Esquema representando os aspectos histológicos dos granulomas.
A aparência histológica das reações granulomatosas é bastante diferente das reações do tipo
tuberculina, apesar de ambos os tipos de reações serem causados por linfócitos T
sensibilizados por antígenos microbianos
semelhantes, como, por exemplo, aqueles de M.
tuberculosis e M. leprae.
Granulomas ocorrem nas infecções crônicas associadas predominantemente a respostas de
linfócito T tipo Th1, como na tuberculose, hanseníase e leishmaniose, e de linfócitos T tipo Th2,
como na esquistossomose. O
tempo máximo de reação para o desenvolvimento de um
granuloma é de 21 a 28 dias. Assim, a hipersensibilidade granulomatosa pode ser atribuída
mais à tentativa persistente do hospedeiro em isolar
e conter o patógeno do que aos efeitos
dos microrganismos propriamente ditos.
GABARITO
1. Uma criança de oito anos de idade realiza um lanche com leite, castanhas e bolo.
Após alguns minutos, começa a apresentar um quadro de desconforto com aperto no
peito, respiração rápida e ofegante. Além disso, apresenta pálpebras e lábios inchados,
sendo encaminhada urgentemente ao pronto-socorro. No caminho, sente frio e desmaia.
Ao chegar ao hospital, é detectada uma resposta de anafilaxia sistêmica. A substância
epinefrina foi rapidamente administrada. Sobre a anafilaxia, marque a alternativa correta.
A hipersensibilidade do tipo tardia é a única que envolve lesões teciduais dependentes da ação
de citocinas liberadas pelos linfócitos T.
MÓDULO 2
MECANISMOS DE TOLERÂNCIA
IMUNOLÓGICA CENTRAL E PERIFÉRICA
O sistema imune apresenta como função a proteção do hospedeiro às invasões por agentes
estranhos. Contudo, a imunidade, ao invés de benéfica, pode causar danos ao hospedeiro se
for elaborada contra os próprios antígenos do
indivíduo, chamados de antígenos próprios ou
autoantígenos.
Para entender melhor isso, é necessário lembrar que os receptores clonais de linfócitos para
antígenos (TCR e BCR) são gerados por recombinação somática aleatória dos diversos
genes que codificam as regiões de ligação aos antígenos. Isso cria a necessidade de eliminar
células que apresentem receptores que podem reconhecer e destruir os próprios tecidos. Os
erros e falhas da tolerância
imunológica contra os próprios antígenos são as causas das
doenças autoimunes.
Fonte: Nerthuz/Shutterstock.com
Tolerância central
É aquela que ocorre nos órgãos linfoides primários, como o timo e a medula óssea durante o
desenvolvimento dos linfócitos T e B. Ela é responsável por eliminar linfócitos imaturos
autorreativos, impedindo a sua maturação.
Fonte: sciencepics/Shutterstock.com
Tolerância periférica
É aquela que ocorre nos órgãos linfoides periféricos, como os linfonodos e o baço durante a
ativação de linfócitos T e B maduros, que têm como objetivo impedir a ativação dos linfócitos
autorreativos.
Agora, vamos abordar os detalhes quanto aos mecanismos envolvidos nos diferentes tipos de
tolerância de linfócitos T e B (periférica e central).
Fonte: 1168group/Shutterstock.com
Linfócitos T.
DELEÇÃO (APOPTOSE)
É o mecanismo no qual os linfócitos T autorreativos com alta afinidade para antígenos próprios
são eliminados do organismo por apoptose (morte celular programada). Esse mecanismo pode
ser explicado do seguinte modo:
Linfócitos T que se ligam com alta afinidade aos antígenos próprios expressos no timo
são eliminados no evento chamado seleção negativa;
Linfócitos T que se ligam com baixa afinidade aos antígenos próprios sobrevivem e
amadurecem, no processo chamado seleção positiva.
Fonte: Visuta/Shutterstock.com
EDIÇÃO DE RECEPTORES
Acontece quando um linfócito B reconhece com alta avidez um autoantígeno multivalente na
medula óssea, gerando um sinal para a troca da cadeia leve do BCR. Assim, uma nova cadeia
leve é expressa, originando um novo receptor
de antígeno (BCR) com outra especificidade e,
provavelmente, diminuindo a chance de voltar a se ligar novamente a um antígeno próprio.
DELEÇÃO
É o mecanismo de indução de apoptose nas células B imaturas autorreativas e pode ocorrer se
a edição de receptores falhar.
ANERGIA
Ocorre quando as células B imaturas reconhecem autoantígenos fracamente ou com baixa
afinidade, se tornando não responsivas (anérgicas) e saindo da medula nesse estado. A
anergia resulta da regulação negativa do receptor
BCR, assim como de um bloqueio na sua
sinalização.
Embora, como descrito anteriormente, haja vários mecanismos para impedir as células B e T
autorreativas de amadurecerem, algumas células B e T autorreativas podem escapar da
seleção negativa e entrar na periferia, em que irão
reconhecer e responder a antígenos
próprios. Devido a isso, outros mecanismos denominados de tolerância periférica irão atuar
visando uma nova chance de evitar o desenvolvimento de doenças autoimunes.
ANERGIA DE CÉLULAS T
Fonte: ratlos/Shutterstock.com
São uma população de linfócitos T CD4+ (auxiliares) que apresentam a função de regular
negativamente as respostas imunes e manter a autotolerância. Essas células vão atuar
suprimindo a ativação e as funções efetoras
de outros linfócitos autorreativos e potencialmente
patogênicos por meio da secreção de citocinas inibidoras como, por exemplo, a interleucina-10
(IL-10) e fator de crescimento transformador beta (TGF- β).
APOPTOSE (DELEÇÃO)
Fonte: Designua/Shutterstock.com
Esquema demonstrando a interação dos linfócitos B com as células TCD4+.
COESTIMULADORES
CD3
ANERGIA
Ocorre quando os linfócitos B são estimulados repetidamente por autoantígenos entrando em
anergia e não respondendo a ativações subsequentes. Os linfócitos B anérgicos não
apresentam a capacidade de proliferação
e não produzem anticorpos em reposta à sinalização
BCR.
DELEÇÃO
É o mecanismo de ativação da morte por apoptose naqueles linfócitos B que se ligaram com
alta avidez aos autoantígenos na periferia.
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Vias de administração.
FATORES ASSOCIADOS À FALHA NA
TOLERÂNCIA IMUNOLÓGICA –
MECANISMOS DE AUTOIMUNIDADE
A autoimunidade envolve a perda da tolerância imunológica a si mesmo. Como já descrito
anteriormente, os linfócitos autorreativos surgem durante o desenvolvimento nos órgãos
linfoides centrais e durante a ativação nos órgãos
periféricos, mas, a partir dos mecanismos de
tolerância descritos, eles são mantidos sob controle e impedidos de amadurecer e se ativarem.
EXPOSIÇÃO ANORMAL DE
AUTOANTÍGENOS
Ocorre quando há um aumento na expressão e persistência de algumas moléculas, que são
normalmente removidas, ou modificações estruturais causadas por estresse ou lesão celular.
INFLAMAÇÃO
Presença de inflamação e ativação da imunidade inata inicial, disparada por infecções ou
danos nas células, ativará células apresentadoras de antígeno e contribuirá para a ativação
dos linfócitos autorreativos.
É bem descrito que muitas doenças autoimunes apresentam uma incidência maior em
mulheres do que em homens. Assim, enquanto fatores genéticos são importantes na
patogênese da autoimunidade, eles não são suficientes para causar
a doença sem influências
ambientais adicionais.
Vários mecanismos efetores estão envolvidos com o dano tecidual presentes nas diferentes
doenças autoimunes. Esses mecanismos podem envolver a presença de imunocomplexos,
autoanticorpos circulantes e linfócitos T autorreativos.
Se a localização do antígeno é em um
órgão em particular, as reações de hipersensibilidade tipo II, como no caso da hemolítica
autoimune, e hipersensibilidade do tipo IV, como na diabetes mellitus tipo I, são mais
importantes. Nas desordens sistêmicas, como o lúpus eritematoso sistêmico, a deposição de
complexos imunes característico da hipersensibilidade tipo III leva à inflamação.
UBIQUAMENTE
Alguns dos genes mais frequentemente associados às doenças autoimunes serão descritos a
seguir. Eles são organizados em genes HLA e genes não HLA.
O HLA é o nome do MHC humano, molécula de histocompatibilidade principal, que tem como
papel fisiológico a apresentação de antígenos proteicos aos linfócitos T e um papel
fundamental no reconhecimento de células
e tecidos estranhos. Os fatores genéticos nas
doenças autoimunes se originam da tendência de eles estarem associados a especificidades
particulares no HLA. Para a maioria das doenças autoimunes, a região do MHC, a qual
está
localizada no braço curto do cromossomo 6, é o componente genético mais forte para
suscetibilidade à doença. Alguns alelos do MHC estão envolvidos com a probabilidade
aumentada de indivíduos portadores apresentarem
artrite reumatoide, diabetes tipo 1, lúpus
eritematoso sistêmico e espondilite anquilosante. Contudo, a expressão de um gene particular
de HLA, não é o único fator de predição da doença, mas um dos vários fatores que vão
contribuir.
Fonte: bangoland/Shutterstock.com
Os genes não HLA também têm sido amplamente associados à autoimunidade, apesar de os
fatores de risco ligados ao HLA serem mais relevantes. Contudo, as desordens de
autoimunidade são geneticamente complexas.
Pesquisas do genoma para mapear os genes
que estão envolvidos nas doenças autoimunes também revelaram vários genes não HLA
envolvidos. Esses são principalmente aqueles relacionados a diferentes estágios das respostas
imunes:
modulação da tolerância; ativação de linfócitos (vias de sinalização de receptor e
coestimulação); genes envolvidos no reconhecimento dos patógenos; genes de citocinas e
receptores de citocinas; próprias características
do órgão-alvo.
Fonte: peterschreiber.media/Shutterstock.com
EPÍTOPO
Menor porção de antígeno com capacidade de gerar a resposta imune. Representa o sítio
de reconhecimento do antígeno.
EXEMPLO
A febre reumática pode se desenvolver após infecções estreptocócicas e tem como causa a
produção de anticorpos antiestreptococócicos, que apresentam reatividade cruzada com
proteínas do miocárdio.
Fonte: joshya/Shutterstock.com
Esquema ilustrando a liberação de acetilcolina na Junção Neuromuscular.
MIASTENIA GRAVE
Fonte: Designua/Shutterstock.com
Esquema ilustrando um neurônio normal (esquerda) e as alterações dos neurônios na
esclerose múltipla (direita).
ESCLEROSE MÚLTIPLA
Fonte: Designua/Shutterstock.com
Esquema ilustrando as células β-pancreáticas normais (esquerda) e as alterações nessas
células na diabetes melitos do tipo I (direita).
Fonte: BlueRingMedia/Shutterstock.com
Sintomas do lúpus eritematoso sistêmico.
Afeta diferentes órgãos do corpo. Os pacientes com LES sintetizam anticorpos contra vários
componentes nucleares das células, como anti-DNA, anticorpos contra ribonucleoproteínas,
histonas e antígenos dos nucléolos.
Há formação de complexos imunes na circulação e
deposição desses em diferentes tecidos. Esses complexos podem ativar a cascata do
complemento, atrair granulócitos e iniciar um processo inflamatório. À medida que
esses
eventos se tornam crônicos, linfócitos T auxiliares (CD4+) inflamatórios penetram no local e
atraem monócitos que também vão contribuir para a fisiopatologia da doença. O lúpus
eritematoso sistêmico é uma
doença com diagnóstico mais difícil devido à inespecificidade dos
sintomas, que pode ser febre, perda de peso, dor nas articulações e fadiga.
TIREOIDITE DE HASHIMOTO
ARTRITE REUMATOIDE
Doença inflamatória que induz inflamação crônica de pequenas e grandes articulações das
extremidades, como os dedos das mãos e pés, punhos, ombros, joelhos e tornozelos,
resultando em dor, inchaço e rigidez. A doença
é caracterizada por um processo inflamatório
sinovial associado à destruição da cartilagem articular e óssea. Anteriormente, se acreditava
que a inflamação era iniciada pelo autoanticorpo produzido específico para
a porção FC de
IgGs. Este anticorpo Anti-IgG é denominado fator reumatoide (FR). A ligação do fator
reumatoide à IgG resulta em complexos imunes que podem se depositar nas articulações,
recrutar complemento e induzir
inflamação. Entretanto, hoje, sabe-se que, além do papel dos
anticorpos, células TCD4+, Th1, Th17, linfócitos B ativados, plasmócitos e macrófagos, outras
células inflamatórias podem ser encontradas na articulação
inflamada. Essas células vão
secretar citocinas inflamatórias como IL-1, TNF, IL-8, IL-6, IL-17 e IFN-y. Após repetidos
processos inflamatórios, com a destruição progressiva da cartilagem e do osso, a cartilagem
é
substituída por tecido fibroso, as articulações se unem e surgem as deformidades ósseas
características dessa doença.
PRINCIPAIS DOENÇAS AUTOIMUNES
Assista ao vídeo a seguir para saber mais sobre as principais doenças autoimunes.
INSULITE
A) Tolerância periférica é o nome dado aos mecanismos existentes durante a maturação dos
linfócitos que impedem a ativação de células autorreativas e envolvem principalmente
mecanismos de seleção.
E) A tolerância periférica também é mantida por células T reguladoras que vão ativar linfócitos
específicos para antígenos próprios na periferia.
GABARITO
A seleção positiva ocorre nos órgãos linfoides geradores e envolve mecanismos de controle
para a não maturação de linfócitos T específicos para antígenos próprios. O mecanismo mais
importante é a deleção desses linfócitos através de mecanismos indutores da apoptose.
As respostas de autoimunidade não se devem ao agente infeccioso em si, mas resultam das
respostas imunes do indivíduo que podem ser desencadeadas ou desreguladas pelo
microrganismo.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O sistema imune envolve uma série de complexos mecanismos para iniciar, controlar e
terminar as respostas imunológicas. Muitas vezes, os componentes envolvidos podem falhar
ou apresentar deficiências. Nesses casos, teremos
condições que levam à imunopatologia de
diferentes doenças.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
ABBAS, A.K.; LICHTMAN, A.H.; PILLAI, S. Imunologia celular e molecular. 9. ed. Rio de
janeiro: Elsevier, 2019.
COICO, R. & SUNCHINE, G. Imunologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.
PEAKMAN, MARK, VERGANI, DIEGO. Imunologia: básica e clínica. 2. ed. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2011.
EXPLORE+
Outros pontos muito importantes e discutidos são a imunologia dos transplantes, como
acontece a resposta imune contra os tumores e as imunodeficiências. Para entender mais
sobre esses assuntos, leia o material Imunologia dos transplantes.
Para compreender mais sobre os assuntos abordados ao longo do tema, leia o artigo de
revisão Sistema imunitário – parte III: o delicado equilíbrio do sistema imunológico entre
os polos de tolerância e autoimunidade,
de Souza et al (2010).
CONTEUDISTA
Aline Cristina Brando Lima Simões
CURRÍCULO LATTES