Filologia Romanica
Filologia Romanica
Filologia Romanica
São Cristóvão/SE
2009
Filologia Românica
Elaboração de Conteúdo
José Raimundo Galvão
Diagramação
Lucílio do Nascimento Freitas
Neverton Correia da Silva
Nycolas Menezes Melo
Reimpressão
CDU 801
Presidente da República Chefe de Gabinete
Luiz Inácio Lula da Silva Ednalva Freire Caetano
Vice-Reitor
Angelo Roberto Antoniolli
AULA 2
Filologia Românica ........................................................................... 19
AULA 3
Método em Filologia Românica I: o método histórico-comparativo .... 31
AULA 4
Método em Filologia Românica II: o método idealista ....................... 41
AULA 5
Origem das línguas românicas ......................................................... 53
AULA 6
Fatores da romanização ................................................................... 67
AULA 7
O latim e suas evoluções .................................................................. 79
AULA 8
O latim, o cristianismo e as línguas românicas ................................ 93
AULA 9
Línguas românicas na atualidade .................................................... 105
AULA 10
Leis fonéticas, metaplasmos e alomorfias ....................................... 117
Aula
OBJETIVOS
Ao final desta aula o aluno deverá:
definir a filologia no contexto dos discursos produzidos pelo ser humano;
reconhecer a correlação entre filologia e lingüística;
discutir as principais teorias em que se baseia a ciência filológica;
conhecer o percurso histórico em que a ciência filológica vai-se definindo.
PRERREQUISITOS
Os prerrequisitos desta aula referem-se à compreensão da terminologia que serve de base à
ciência filológica.
Muitas dessas expressões se fundamentam na língua grega e já fazem parte de um contexto
em que são empregadas para fazer referência a conceitos específicos.
O certo conhecimento da língua latina vai sendo aos poucos necessário sobretudo a fim de bem
compreender o processo pelo qual a língua falada em Roma é levada juntos com os conquistadores
nas suas expedições que resultaram na conquista de territórios longínquos e deram origem aos
idiomas atualmente denominados de neolatinos, novilatinos, romances ou romanços.
Tal conhecimento diz respeito ao latim básico que lida com elementos estruturais da língua e as
transformações que sofreram – de ordem gráfica, fonética, sintática e semântica – no contato
com as línguas dos povos conquistados.
A filologia requer que se faça um percurso por elementos da história geral, das culturas diversas,
da geografia e das outras línguas sobretudo o grego e aquelas oriundas da evolução do latim.
Filologia Românica
INTRODUÇÃO
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Noções básicas de Filologia
Aula
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Filologia Românica
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Noções básicas de Filologia
Aula
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Filologia Românica
mente para que não ocorra que se esteja invadindo o território próprio de
outras ciências, ainda que afeitas ao trato com a língua.
É preciso que fique bem claro que a filologia somente adquire status
de ciência se ela mostrar sua especificidade, sua originalidade e de que
forma pode contribuir para o conhecimento das línguas naquilo que não
repete o que as abordagens de outras ciências já vêm fazendo com serie-
dade e mediante os instrumentos com que pode trabalhar.
Em um curso de letras verdadeiramente respeitável, o estudo da
Filologia, sobretudo da Filologia Românica, no caso das culturas lingüís-
ticas oriundas do latim, merece especial destaque, pois abre perspectivas
de percepção da própria língua portuguesa e das articulações que as lín-
guas românicas estabelecem entre si, graças às marcas latinas jamais apa-
gadas e, por extensão, à contribuição do grego e de suas heranças cultu-
rais ainda tão visíveis na atualidade.
CONCLUSÃO
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Noções básicas de Filologia
Aula
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Filologia Românica
RESUMO
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Noções básicas de Filologia
Aula
ATIVIDADES
As questões para avaliação desta aula são muito mais de ordem subjetiva,
haja vista a necessidade de reflexão e assimilação dos conceitos que este
tipo de conteúdo requer.
Fique sempre atento a que você pode realizar as avaliações consultando
os módulos, não só os desta disciplina, mas, igualmente, os de Funda-
mentos da Língua Latina, pois muitos conteúdos de Filologia vão reque-
rer que se retomem os conhecimentos do latim e até mesmo de outras
áreas do saber humano: história, geografia, língua grega, línguas latinas
modernas, cultura geral, filosofia, religião, edótica, exegese etc.
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Filologia Românica
BOA SORTE!
16
Noções básicas de Filologia
Aula
REFERÊNCIAS 1
BASSETO, Bruno Fregni. Elementos de filologia românica. São Pau-
lo: EDUSP, 2005.
ILARI, Rodolfo. Lingüística Românica. São Paulo: Ática, 2004.
IORDAN, Iorgu. Introdução à lingüística românica. Tradução de Júlia
Dias Ferreira. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1962.
LAUSBERG, Heinrich. Lingüística românica. Tradução de Marion
Ehrardt e Maria Luísa Schemann. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1963.
VIDOS, Benedek Elemér. Manual de lingüística românica. Tradução
de José Pereira da Silva. Rio de Janeiro: EDUERJ, 1996.
17
Aula
FILOLOGIA ROMÂNICA
2
META
Compreender a filologia românica no âmbito geral dos estudos filológicos e nas
particularidades que lhe são próprias.
OBJETIVOS
Ao final desta aula o aluno deverá:
definir a filologia românica no contexto dos discursos filológicos;
reconhecer a correlação entre a filologia românica e a linguística em geral;
discutir as principais teorias que sevem de base para os estudos da filologia românica;
conhecer o percurso histórico em que a filologia românica se definiu ao longo dos tempos;
situar a língua portuguesa no contexto das outras línguas românicas.
PRERREQUISITOS
A compreensão do fenômeno linguístico é o primeiro pré-requisito desta aula, daí ser
necessário retomar, reler, revisar tudo quanto se disse na aula anterior.
Por fazer referência especificamente à filologia românica, esta aula também requer um vasto
conhecimento da cultura romana, ou melhor, greco-romana, na qual a língua latina e a língua
grega tornam-se elementos indispensáveis para o bom conhecimento do ponto aqui abordado.
É Aqui não se trata, é claro, de um conhecimento seguro dessas duas línguas, mas algo que
sirva de base não só para assimilar conceitos, mas também para perceber o processo de
variação ocorrido dentro do próprio latim.
Outro requisito básico diz respeito ao domínio de elementos básicos da cultura greco-latina e da
cultura geral, aliado às abordagens de cunho histórico, geográfico, político, social, religioso e
econômico, a fim de bem perceber o que se encontra nas entrelinhas do processo de domínio e
colonização que Roma exerceu sobre os povos mais fracos.
Leia, portanto, com muito cuidado, a aula anterior. Faça também uma séria revisão dos
elementos sócio-culturais condutores de todo o processo de domínio e civilização.
latim. Nada, porém, que espante; pelo contrário, prepare-se para viver agradáveis surpresas e
realizar viagens por demais interessantes.
Filologia Românica
INTRODUÇÃO
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Filologia Românica
Aula
FILOLOGIA ROMÂNICA
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Filologia Românica
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Filologia Românica
Aula
A todos nós pareceu necessário que cada bispo faça Homilias, que con-
tenham os ensinamentos indispensáveis, com os quais os fiéis sejam
2
instruídos...E cada um procure traduzir para a rústica romana língua ou
teodística, de modo que todos possam compreender facilmente o que se diz.
Esta preocupação em fazer os sermões na língua que melhor os fiéis
entendessem já se encontra em São Paulo e mais tarde em Santo Agosti-
nho. Melius est reprehendant nos grammatici quam non intelligant populi / É
melhor que os intelectuais nos critiquem, do que não nos entendam às pessoas sim-
ples. (Agostinho, Enarratio in psalmum 138, 20).
Ao que se percebe, existe uma atitude de dupla face no trato do
latim pela Igreja: por um lado, ela insiste no uso da língua popular de cada
região para facilitar a compreensão da mensagem; por outro, incentiva a
valorização do latim como língua culta, que vai ganhar espaços nos gran-
des centros intelectuais desde a Idade Média até os tempos modernos,
fazendo-se presente sobretudo nos mosteiros, nas bibliotecas, nas uni-
versidades, nos documentos oficiais, nas obras literárias.
O primeiro caso muito favorece o avanço dos diferentes romances,
sendo o ambiente eclesial e pastoral um excelente lugar para a sua ampli-
ação e consistência.
O segundo caso leva a encarar o latim como língua de grande impor-
tância para a compreensão da cultura em geral, chegando-se, pouco a
pouco, a considerá-lo como uma espécie de língua sacra e de pleno direito
divino. É assim que a recomendação original de usar os diferentes romanços
visando à plena compreensão da mensagem, vai perdendo a sua força e
cedendo espaço até chegar-se à imposição do latim como única língua
oficial da Igreja, tornando-se obrigatório o seu uso no cultos, nos docu-
mentos, nos cânticos etc.
Esta postura exagerada consegue manter-se até a década de 1960
quando, finalmente, e não sem muita polêmica, se volta à posição inicial
de poder articular a divulgação da mensagem na língua de qualquer povo.
Não há como negar que esta imposição tenha sido responsável pala anti-
patia e rejeição que se criou em relação ao estudo do latim. No Brasil, a língua
latina foi inteiramente retirada dos currículos do ensino fundamental e o que
restou do ensino de latim nos cursos superiores de Letras vai sendo reduzido,
pouco a pouco, com tendência, lamentavelmente, à extinção total.
A compreensão da filologia românica, o avanço dos estudos nesta
área, a pesquisa documental, o estudo aprofundado sobre o significado
das palavras, a aplicação do método histórico-comparativo e outros afins
nunca serão satisfatoriamente conseguidos sem o recurso ao latim e ao
grego. É por isso que os conhecimentos de língua latina são considerados
prerrequisitos para os estudos de filologia românica.
Esta disciplina, portanto, é para ser estudada tendo às mãos os módulos
1 e 2 de Fundamentos da Língua Latina. Você vai perceber que os assun-
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Filologia Românica
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Filologia Românica
Aula
bom que se diga que os limites dificilmente podem ser traçados e há muitos
casos em que os problemas básicos da linguística românica só podem ser
2
resolvidos na compreensão das linguísticas particulares de cada língua.
A formação das línguas românicas tanto se deve à relaxação dos laços
exteriores e à debilitação da vitalidade cultural do Império Romano, quanto
se deve à formação de novas comunidades linguísticas nacionais que resta-
belecem e vivificam, de forma independente, a tradição cultural antiga.
A formação e a história das línguas românicas representam causas e
razões étnicas, geográfico-econômicas, sociológicas, políticas, religiosas,
dinásticas, culturais. Você percebe com isso que o aspecto puramente
linguístico não existe. Você consegue imaginar os romanos querendo con-
quistar os povos de regiões longínquas com a única finalidade de ensinar-
lhes o latim?
Você consegue imaginar o poder romano enviando aos territórios
conquistados professores de latim em vez de soldados, comerciantes, fun-
cionários públicos?
Não é sem razão que a linguística recebe o nome de nobilis ancilla,
serva nobre, ou seja, uma proveitosíssima ciência auxiliar da história.
A filologia românica muito se firmou com o advento do método his-
tórico-comparativo. A sua aplicação no domínio das línguas neolatinas e
o nome filologia românica com que a disciplina surgiu são dados significati-
vos no contexto intelectual de uma época, haja vista o interesse de estu-
diosos por textos e temas dos estudos clássicos, uma tarefa que exigia
conhecimentos técnicos com vistas a restabelecer o texto em sua forma
original e a capacidade de manipular informações extremamente variadas
a respeito da época alusiva aos textos, exigindo, paralelamente, um domí-
nio muito seguro das línguas antigas, donde o emprego mais antigo do
termo filologia clássica.
A proposta de estudar filologia românica se prende à demonstração
de como se deu a multiplicidade das línguas oriundas do latim. A trans-
formação decisiva da România em grandes territórios linguísticos com
características nacionais definidas começa, portanto, no momento em que
um dialeto formado a partir do latim vulgar já não é mais sentido pelos
seus falantes como uma espécie de latim modificado, mas sim como lín-
gua nova tendo condições de cumprir suas tarefas individualmente. Para
isso, tinha-se um ponto de comparação naquele latim que vai continuar
empregado normalmente como língua litúrgica pela Igreja Católica.
Observe a seguir as línguas românicas em suas diferentes denomina-
ções e distribuições territoriais:
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Filologia Românica
III. Sardenha
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Filologia Românica
Aula
CONCLUSÃO
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Filologia Românica
RESUMO
ATIVIDADES
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Filologia Românica
Aula
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Filologia Românica
REFERÊNCIAS
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Aula
META
Compreender a proposta do método histórico-comparativo e sua aplicação aos estudos da
filologia românica.
OBJETIVOS
Ao final desta aula o aluno deverá:
situar a filologia românica no espírito científico de uma época;
abordar a questão do método como recurso para o desenvolvimento de trabalhos científicos;
compreender a proposta do método histórico-comparativo e sua aplicação às pesquisas em
filologia românica.
PRERREQUISITOS
As aulas anteriores deste módulo e os módulos I e II de Fundamentos da Língua Latina são o
primeiro prerrequisito para esta e outras aulas desta série, tendo em vista uma proposta de
trabalho em que se busca o encadeamento dos saberes abordados e a visão do conhecimento
como um todo articulado.
No material acima referido, sempre se falou dos recursos auxiliares e das ciências afins. Para
abordar o método histórico-comparativo, como se propõe esta aula, é preciso estar atento aos
conhecimentos de história, geografia e cultura geral, entre outros. Além do seguro domínio do
português, que se espera de qualquer estudante de Letras, o trato com os estudos de filologia
românica vai exigindo um certo trânsito pela área de outras línguas românicas (espanhol,
francês, italiano etc.) sob pena de se reduzir este trabalho ao plano da superficialidade. O grego
também não pode ser negligenciado em muitos momentos das abordagens filológicas.
Assimile, portanto, com muito empenho, todos os conteúdos apresentados e, em se tratando do
estudo de um método, não se esqueça de que você vai seguir um caminho a fim de alcançar
objetivos bastante definidos, você vai realizar um trabalho científico ainda que seja no amplo e
imprevisível terreno da linguagem.
Nada, porém, deve assustar ou desanimar. É preciso tão somente cultivar uma atitude de
abertura às propostas e de plena confiança na capacidade pessoal de vencer todas as etapas.
VÁ EM FRENTE!
Filologia Românica
INTRODUÇÃO
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Métodos em Filologia Românica I: o método histórico-comparativo
Aula
O MÉTODO HISTÓRICO-COMPARATIVO 3
O método histórico-comparativo aplicado ao latim e às línguas
neolatinas deve-se aos trabalhos do alemão Friedrich Diez (1794 – 1876),
considerado o pai da Linguística ou Filologia Românica.
Trata-se, na verdade, da retomada dos estudos de Franz Bopp e Jakob
Grimm tendo, agora, o enfoque centrado sobre a trajetória do latim vulgar
até as línguas românicas. É verdade que os principais mentores da Escola
Comparatista, Max Muller, Curtius e Friedrich Schleicher, por lidarem com
línguas muito antigas, nem sempre dispunham de bons elementos que le-
vassem a resultados satisfatórios o trabalho de comparação.
Com as línguas românicas, no entanto, a situação de pesquisa e com-
paração torna-se bem mais facilitada, pois se trata de lidar com o latim e
com as línguas que gerou, cujos documentos de apoio são numerosos.
Daí ter sido muito grande o sucesso que logo se pôde verificar, dada a
facilidade com que se pode trabalhar no contexto destas línguas, permi-
tindo fortes possibilidades de determinar, no processo de evolução do
latim, aquilo que se denominou de terminus a quo e terminus ad quem, ou
seja, a forma que a palavra possuía no latim e a forma em que, finalmen-
te, se mostra no momento da análise em qualquer das línguas novilatinas.
Um exemplo:
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Filologia Românica
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Métodos em Filologia Românica I: o método histórico-comparativo
Aula
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Filologia Românica
CONCLUSÃO
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Métodos em Filologia Românica I: o método histórico-comparativo
Aula
RESUMO 3
A questão do método em filologia românica se insere no contexto
geral das ciências para as quais se busca um caminho que possa surtir
resultados satisfatórios segundo os objetivos anteriormente definidos.
O método histórico-comparativo é o primeiro de uma série de pro-
postas metodológicas e ele procura responde às exigências dos cientificistas
do século XIX, para os quais o status de ciência só seria devido às áreas
do saber que demonstrassem precisão, continuidade e comprovação ex-
perimental de suas teorias.
Os especialistas em linguística românica, ajudados pela Escola dos
Neogramáticos, tentaram demonstrar a pertinência de leis fonéticas que
funcionam regularmente sempre que as circunstâncias são idênticas.
Nesta perspectiva, buscou-se comparar as diferentes línguas români-
cas tendo como ponto de partida o latim falado, o latim vulgar. Um mes-
mo vocábulo dito nas diversas línguas revela semelhanças e diferenças
que vão ser o objeto de análise.
Um trabalho desta natureza não pode restringir-se a um número limi-
tado de palavras como geralmente fazem crer os manuais ao repetirem
quase sempre os mesmos exemplos. Importante é motivar a criatividade
do aluno e a sua persistência para aplicar o método a muitas e muitas
palavras. Tal procedimento, porém, somente se mostra eficaz com o apoio
de bons dicionários de cada língua românica que fizer parte do trabalho
de investigação.
Aos poucos, porém, você, caro aluno, vai-se familiarizando com o mé-
todo e vai conseguindo ampliar os horizontes dos seus conhecimentos.
Para começar, importa conhecer a essência do método e visualizar a
sua aplicação em um certo número de palavras. O restante vai-se firman-
do aos poucos.
VÁ EM FRENTE! CORAGEM!
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Filologia Românica
ATIVIDADES
As questões para avaliação desta aula têm muita relação com o en-
tendimento que você assimilou dos conteúdos aqui expostos. Não se pode,
por isso, esperar respostas formalmente idênticas de aluno para aluno.
Desde que o pano de fundo das respostas seja o mesmo, a formulação das
respostas pode divergir entre alunos sem que isso seja indicativo de uma
resposta errado.
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Métodos em Filologia Românica I: o método histórico-comparativo
Aula
REFERÊNCIAS
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Aula
META
Compreender a proposta do método idealista e sua aplicação aos estudos da filologia
românica.
OBJETIVOS
Ao final desta aula o aluno deverá:
situar a filologia românica no espírito filosófico e no caráter geral da linguística;
abordar a questão do método idealista como aplicação de hipóteses filosóficas sobre a
natureza da língua e os mecanismos de sua evolução;
compreender os elementos de oposição do método idealista ao método histórico-comparativo.
PRERREQUISITOS
As aulas anteriores deste módulo e os módulos I e II de Fundamentos da Língua Latina
continuam sendo pré-requisitos até porque será necessário dominar bem o assunto da aula
anterior haja vista o confronto que se deve fazer entre esses dois métodos, vistos como as
grandes linhas teórico-metodológicas na abordagem da filologia românica.
Na aula anterior, falou-se dos recursos auxiliares e das ciências afins. Para abordar o método
idealista, é preciso sempre se estar referindo à filosofia, à poesia, à criatividade e ao livre curso
que o homem imprime à linguagem, sobretudo no âmbito da fala, sem muita cobrança de
rigidez formal ou normativa.
De certa forma, o método idealista se opõe ao histórico-comparativo, por isso importa ter bem
claro o conteúdo da lição anterior para identificar os elementos divergentes entre os métodos.
Filologia Românica
INTRODUÇÃO
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Métodos em Filologia Românica II: o método idealista
Aula
DIACRONIA E SINCRONIA 4
Para bem compreender estes dois métodos fundamentais, importa
considerar as duas grandes tendências da linguística:
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Filologia Românica
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Métodos em Filologia Românica II: o método idealista
Aula
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Filologia Românica
CONCLUSÃO
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Métodos em Filologia Românica II: o método idealista
Aula
RESUMO 4
O idealismo tem metodologicamente um significado importante en-
quanto associa língua e cultura, filologia e filosofia, linguagem e
espiritualidade, mas o método requer uma maneira positiva de operar sob
pena de conduzir a resultados totalmente inexatos e infundados.
O contato direto com os fatos linguísticos evitaria conclusões equi-
vocadas, o que, muitas vezes, procede de dados tomados de segunda mão
ou sem o rígido controle necessário. Também não se pode negligenciar o
contato com outras línguas românicas pelo qual muitos problemas se so-
lucionam e, não raras vezes, com o apoio dos resultados positivistas.
O método idealista, no entanto, possui o grande mérito de ter alertado
para o lado individual e criativo da vida da linguagem, dando ênfase espe-
cial aos fatores artísticos, estétiticos e espirituais na constituição da lín-
gua. O idealismo também reage ao excesso de fonética característico do
método histórico-comparatista ou do positivismo fonetizante em cuja
ótica a analogia na fonética foi vista como fator de perturbação na exati-
dão das leis e não - como realmente parece ser - uma força diretriz de
ordem espiritual.
Insistindo sobre puros valores de ordem estética e espiritual, o Idealismo
afastou a língua de tudo o que ela tem de objetivo, tradicional e coletivo.
Insista-se sempre no grande mérito do idealismo: alertar para a essên-
cia social da linguagem e para o caráter sociológico da linguística.
ATIVIDADES
As questões para avaliação desta aula continuam tendo forte ligação rela-
ção com o entendimento que você assimilou dos conteúdos aqui expos-
tos. Não se pode, como se disse na aula anterior, querer respostas formal-
mente idênticas de aluno para aluno. O questionário suscita uma discus-
são em torno do assunto, devendo o aluno desenvolver uma linha própria
de raciocínio dando conta da plena compreensão que assimilou do con-
teúdo exposto.
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Filologia Românica
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Métodos em Filologia Românica II: o método idealista
Aula
PROPOSTA DE TRABALHO
4
Os dois métodos básicos, exaustivamente explanados nas aulas 3 e
4, servem de base para a compreensão de outros métodos
secundários, mas igualmente importante para o domínio das
diferentes faces metodológicas com que, comumente, se trabalha a
filologia românica.
Para complementação deste conteúdo, sugere-se que você, caro
aluno, realize uma pesquisa definindo e exemplificando os seguintes
métodos:
- da geografia linguistica;
- “Palavras e coisas”
- Onomasiológico;
- Neolíguistico ou espacial;
- da Teoria das ondas;
- Métodos afins.
Procure, enfim, relacioná-los entre si (semelhanças e diferenças) e
evidenciar em que mais se aproximam dos métodos Histórico-
comparativo e Idealista.
Lulu Santos
(Composição: Lulu Santos / Nelson Motta)
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Filologia Românica
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Métodos em Filologia Românica II: o método idealista
Aula
REFERÊNCIAS 4
BASSETO, Bruno Fregni. Elementos de filologia românica. São Pau-
lo: EDUSP, 2005.
ELIA, Sílvio. Preparação à linguística românica. Rio de Janeiro: Ao
Livro Técnico, 1979.
ILARI, Rodolfo. Linguística Românica. São Paulo: Ática, 2004.
IORDAN, Iorgu. Introdução à linguística românica. Tradução de Júlia
Dias Ferreira. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1962.
LAUSBERG, Heinrich. Linguística românica. Tradução de Marion
Ehrardt e Maria Luísa Schemann. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1963.
VIDOS, Benedek Elemér. Manual de linguística românica. Tradução
de José Pereira da Silva. Rio de Janeiro: EDUERJ, 1996.
WEEDWOOD, Bárbara. História concisa da linguística. Tradução de
Marcos Bagno. São Paulo: Parábola, 2002.
51
Aula
5
ORIGEM DAS LÍNGUAS ROMÂNICAS
META
Entender a trajetória das conquistas romanas e a consequente repercussão deste processo na
transformação linguística.
OBJETIVOS
Ao final desta aula o aluno deverá:
identificar as intenções reais das expedições romanas em direção às diferentes províncias;
analisar a interferência de elementos de cunho histórico, geográfico, cultural e social nas
transformações linguísticas ocorridas na România;
compreender o processo de evolução do latim e a implantação progressiva das diversas
línguas românicas.
PRÉ-REQUISITOS
Para bem assimilar o conteúdo desta aula, importa lançar um olhar sobre um período bem
preciso da história universal; importa visualizar certas áreas geográficas e compreender
elementos de cultura que determinam a postura de um povo em determinados momentos da
história. Em suma, é preciso ter em mente a pequena porção territorial onde se situa a cidade
de Roma, de onde realmente tudo teve início.
É bom reler o conteúdo da aula 2, do livro 1 de Fundamentos de Língua Latina, que trata
especificamente da ORIGEM E EXPANSÃO DO LATIM, algo que não se pode entender sem a
contextualização que o assunto requer. Lá você vai encontrar mapas, cronologias e outras
noções básicas para fundamentar o conteúdo da presente aula.
Não se esqueça: você está estudando FILOLOGIA ROMÂNICA, cujo enfoque é a evolução do
latim até às chamadas línguas românicas, entre as quais se situa a nossa língua portuguesa.
Muitos assuntos tratados nos módulos de Fundamentos de Língua Latina vão ser
obrigatoriamente necessários para a plena assimilação da matéria que estamos estudando,
sem contar com a viabilidade de estar sempre recorrendo às informações contidas nas aulas
anteriores deste próprio módulo.
Filologia Românica
INTRODUÇÃO
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Origem das línguas românicas
Aula
O LATIM
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Filologia Românica
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Origem das línguas românicas
Aula
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Filologia Românica
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Origem das línguas românicas
Aula
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Filologia Românica
ASPECTOS LINGUÍSTICOS
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Origem das línguas românicas
Aula
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Filologia Românica
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Origem das línguas românicas
Aula
Não há como evitar este contágio e ele vai minando por dentro as
línguas vivas, sem contar as dificuldades naturais na realização de certos
5
fonemas, o que já vai dando novas feições a certas palavras.
Até hoje é assim. O trabalho de filologia românica torna-se muito
mais interessante na medida em que se percebe que fenômenos antigos
ainda se repetem e que, tal como ocorreu com o latim, as línguas não
param de variar, num processo dinâmico gerador de novos fatos. Tornam-
se os estudos ainda mais produtivos quando se consegue entender um
certo percurso que vai direcionando as ocorrências variacionais e a
pertinência com que os fatos se verificam.
CONCLUSÃO
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Filologia Românica
RESUMO
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Origem das línguas românicas
Aula
ATIVIDADES 5
Esta aula é muito densa devido à grande quantidade de nomes, datas,
fatos e lugares sem os quais fica muito difícil compreender o verdadeiro
conteúdo aqui exposto. Procure, portanto, somente responder às ques-
tões quando tiver pleno domínio dessas informações.
Questão 1.
a) Explique como e a partir de onde se inicia a expansão do latim pelo
mundo.
b) Por que se diz que a questão linguística não era de fundamental impor-
tância para as conquistas romanas?
c) Qual a função desempenhada pelo exército no processo de romanização?
d) Defina e exemplifique SUPERESTRATO, SUBSTRATO e
ADSTRATO.
e) Que importância tem o grego para os estudos de filologia românica?
f) Explique as modalidades que a língua latina já apresentava no próprio
território italiano.
g) Que causas são apontadas para a decadência do Império Romano no V
século?
Questão 2.
a) Com o auxílio dos mapas, relacione as grandes áreas conquistadas pelo
império romano.
b) Assinale alguma região em que o aspecto linguístico não obteve êxito.
Por quê?
Aponte nos mapas, por ordem cronológica, as diferentes etapas das expe-
dições romanas.
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Filologia Românica
REFERÊNCIAS
66
Aula
6
FATORES DA ROMANIZAÇÃO
META
Compreender a política de Roma para com os povos conquistados e a consequente adoção da
cultura latina pela população das diversas províncias.
OBJETIVOS
Ao final desta aula o aluno deverá:
conhecer os diferentes fatores implicados no processo de latinização;
analisar a expansão da língua latina no contexto de relativa tolerância com que a administração
romana tratava os valores religiosos e culturais de cada província;
evidenciar as reações das províncias perante o invasor romano e as suas consequências no
âmbito linguístico.
PRÉ-REQUISITOS
Como sempre vem sendo dito, vale reconhecer, no âmbito dos estudos aqui propostos, o
caráter acumulativo com que os assuntos estudados vão-se fazendo necessários na
compreensão de novos conteúdos. As aulas se sucedem em cadeia e cada nova exposição
implica, certamente, a referência aos dados anteriormente discutidos.
Continuam valendo também os conhecimentos fundamentais do latim, pois, na verdade, é de
sua evolução que estamos aqui tratando e este processo evolutivo durou séculos, implicou
diversas culturas, reuniu diferentes falares.
Adotando uma postura eclética, você estará abrindo os caminhos para adquirir bons
conhecimentos da filologia românica, preparando, quem sabe, novos rumos de continuidade
dos estudos nesta área logo após a graduação.
Filologia Românica
INTRODUÇÃO
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Fatores da romanização
Aula
ROMANIZAÇÃO 6
Já se disse anteriormente que Roma não tinha objetivos linguísticos
em suas expedições de conquista. Quando se evidencia a tolerância da
administração romana para com os povos dominados, não se pense que
esta postura envolvia todos os aspectos da vida. Roma tolerava as religi-
ões e culturas e até contribuía para a sua manutenção desde que não se
opusessem aos princípios do direito e da justiça por ela concebidos, o
célebre Direito Romano. Nunca, porém, abriu mão da parte econômica e
sempre cobrou religiosamente os impostos que lhe considerava devidos.
Temos, nos evangelhos, um excelente demonstrativo da postura ro-
mana numa terra dominada. A Palestina da época de Jesus era adminis-
trada pelos romanos, que cobravam os impostos deste povo, mas enfren-
tavam sérios questionamentos da população: É justo pagar tributo a César
ou não? (Mateus 22, 15-22).
A pergunta era capciosa e desafiadora, Jesus, aparentemente, não te-
ria saída. Se recomendasse pagar o imposto, viria a reação violenta dos
compatriotas que ali estavam: Então estás contra o teu povo e a favor destes
invasores? Se dissesse o contrário, haveria, imediatamente, a acusação de
que Jesus era contra o poder de Roma na sua terra, o que, certamente, o
faria prisioneiro dos romanos como sendo um agitador. E a resposta veio
com profunda sabedoria: De quem é esta moeda? De quem é o rosto que ela
estampa? ...Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.
Sabe-se da existência de bajuladores e aproveitadores, que congrega-
vam simpatizantes sob a denominação de herodianos, declarando apoio aberto
às forças dominadoras, o que, com certeza, não se fazia sem a negociação
de cargos, posições e privilégios. Coisas da política de ontem e de hoje...
A terra bíblica, no entanto, é também um demonstrativo da antipatia
e da aversão que a presença dos romanos suscitava, havendo, inclusive,
um grupo de resistência política, uma espécie de guerrilheiros intitulada
de Zelotas, recorrendo, não raras vezes, ao poder das armas contra a domi-
nação romana. Os judeus possuíam, como nenhum outro povo, a consci-
ência de ser o povo eleito de Deus, daí ser mais difícil aceitar ser domina-
do por uma nação de cultura essencialmente politeísta e de práticas mo-
rais permissivas e levianas.
O termo remete a zelo, sentimento de ciúme amoroso, pelo fato de ver
alguém desejar a pessoa amada e dela querer apropriar-se sexualmente.
O termo na sua origem designa um movimento político judaico do
século I com a finalidade de incitar o povo da Judéia a rebelar-se contra o
Império Romano. O resultado foi a rebelião judaica ocorrida entre 66 e
70, levando outras facções (fariseus, saduceus e essênios) a também rea-
girem contra o poder de Roma, o que teve por desfecho a destruição de
Jerusalém e do Templo de Salomão pelos romanos, temerosos de que os
protestos na Judéia tivessem efeitos semelhantes em outras províncias.
69
Filologia Românica
O EXÉRCITO ROMANO
70
Fatores da romanização
Aula
AS COLÔNIAS CIVIS
A ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
71
Filologia Românica
AS OBRAS PÚBLICAS
O COMÉRCIO
72
Fatores da romanização
Aula
73
Filologia Românica
CONCLUSÃO
74
Fatores da romanização
Aula
RESUMO
75
Filologia Românica
ATIVIDADES
76
Fatores da romanização
Aula
REFERÊNCIAS 6
BASSETO, Bruno Fregni. Elementos de filologia românica. São Pau-
lo: EDUSP, 2005.
ELIA, Sílvio. Preparação à linguística românica. Rio de Janeiro: Ao
Livro Técnico, 1979.
GALVÃO, José Raimundo. Alomorfias do léxico português. São Cris-
tóvão: EDUFS, 2008.
_______. Fundamentos da língua latina. Universidade Federal de
Sergipe. São Cristóvão - CESAD : EDUFS, 2008. 2 v.
ILARI, Rodolfo. Linguística Românica. São Paulo: Ática, 2004.
IORDAN, Iorgu. Introdução à linguística românica. Tradução de Júlia
Dias Ferreira. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1962.
LAUSBERG, Heinrich. Linguística românica. Tradução de Marion
Ehrardt e Maria Luísa Schemann. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1963.
VIDOS, Benedek Elemér. Manual de linguística românica. Tradução
de José Pereira da Silva. Rio de Janeiro: EDUERJ, 1996.
WEEDWOOD, Bárbara. História concisa da linguística. Tradução de Mar-
cos Bagno. São Paulo: Parábola, 2002.
77
Aula
7
O LATIM E SUAS EVOLUÇÕES
META
Compreender as transformações havidas no latim vulgar e sua relação com o surgimento dos
diferentes romances.
OBJETIVOS
Ao final desta aula o aluno deverá:
Conhecer as diferentes modalidades do latim.
identificar as fontes documentais do latim vulgar;
compreender as transformações que deram origem às diferentes línguas românicas;
acompanhar o percurso do latim vulgar em suas diversas transformações ocasionadas pelo
contato com outras línguas e culturas;
identificar as características do latim vulgar em seus aspectos variados: fonológicos,
morfológicos, sintáticos e semânticos;
compreender a relação entre a evolução do latim vulgar e a expansão do cristianismo.
PRÉ-REQUISITOS
Os estudos de filologia românica estão intrinsecamente ligados aos conhecimentos
fundamentais de língua latina. Muito da terminologia usada nesta disciplina assim como outros
dados necessários para o conhecimento histórico da transformação das línguas só podem ser
verdadeiramente assimilados mediante um certo conhecimento do latim, de sua estrutura e de
sua configuração como língua. Daí ser indispensável estar sempre recorrendo aos estudos
anteriores do latim.
Outro prerrequisito refere-se aos conhecimentos de cunho histórico visando à compreensão
das relações entre romanização e cristianização. Sabe-se do grande impulso dado pelo
cristianismo à divulgação e expansão da língua latina, mas também é indispensável perceber o
quanto a Igreja Cristã foi de fundamental importância para o desenvolvimento e a concretização
das línguas românicas.
Filologia Românica
INTRODUÇÃO
80
O latim e sua evolução
Aula
rava as modalidades do latim não eram tão fortes, mas elas já se podem
notar desde o século IV a. C. Sendo o vocabulário praticamente o mesmo,
7
as modalidades de emprego da língua nunca foram realidades tão isolada-
mente que não permitissem entendimento entre elas. Ademais, as classe
sociais, apesar de possuírem características próprias, mantinham certos
contatos em que o uso da língua era elemento comum: comércio, escola,
teatro, circo etc.
Importa reconhecer que, antes mesmo de ser levado às províncias, o
latim já conhecia variações internas denotando a existências de falares
diversos num mesmo âmbito linguístico. O assunto desta aula vai tratar
de todas essas variações, as quais foram assimiladas, desta ou daquela
forma, pelos novos falares provenientes dos contatos externos ao territó-
rio do Lácio e de toda a Itália.
É preciso visualizar nos mapas o percurso da língua latina desde o
território limitado do Lácio, de onde se partiu para conquistas de
imprevisíveis dimensões.
81
Filologia Românica
O LATIM
Admiror, paries, te non cecidesse ruinis, qui tot scriptorum taedia sustineas.
Traduzindo:
82
O latim e sua evolução
Aula
83
Filologia Românica
CARACTERÍSTICAS MARCANTES
Apesar das modalidades diferentes, não se deve pensar em duas línguas latinas.
Sempre houve um convívio entre as modalidades, algo que o teatro fez ainda
mais visível. O latim urbano e culto transformou-se lentamente entre a época de
Cícero até São Jerônimo e Santo Agostinho e, com a queda o império, foi alojar-
se nos mosteiros perdendo ainda mais o contato com a sociedade e reduzindo-se
aos espaços escolares, tornando-se língua cristalizada, praticamente morta.
A língua literária continuou no discurso eclesiástico e também no
sermo profanus e o sermo urbanus desapareceu no século VI. O que conti-
nuou vigente foi a rustica romana lingua, o latim pobre e humilde das popu-
lações rurais e este latim vai evoluir em cada língua românica.
Alguns aspectos merecem destaque:
1. MUDANÇAS FONOLÓGICAS – As diferenças neste aspecto não se
dão tanto nas posições acentuais, mas na irrelevância da quantidade silá-
bica na modalidade popular (REVER – Fundamentos da Língua Latina –
módulo 1, p. 37-45).
A primeira diferença acontece quando a vogal da penúltima sílaba é
seguida de um grupo consonântico constituído de oclusiva + r. Neste caso
84
O latim e sua evolução
Aula
85
Filologia Românica
86
O latim e sua evolução
Aula
87
Filologia Românica
plo, migra para a primeira conjugação estudar. O verbo fluere ganha forma de
quarta conjugação fluir, cuja terminação em ir no português torna-se carac-
terística de terceira conjugação. O verbo obedire trorna-se obedecer etc.
O passo inicial no português é o desaparecimento da última vogal e, a
exemplo de cantare, amare, habere, dicere, partire e outros.
(Para melhor compreensão do fenômeno, reveja o assunto de verbos
nos módulos I e II de Fundamentos da Língua Latina.)
Das palavras invariáveis, não há muito o que dizer. Com relação aos
advérbios, parece que o latim vulgar perdeu os recursos morfológicos que
permitiam criar advérbios de modo a partir dos adjetivos, o que acontece
nas línguas românicas com a formação de advérbios de modo com o acrés-
cimo de mente, parece ser algo mais recente.
3. MUDANÇAS SINTÁTICAS - Na sintaxe latina, predomina o costu-
me de colocar o verbo no fim da frase, se bem que em quase todas as suas
modalidades, o latim apresenta-se como de ordem muito livre, o que era
facilitado pelo emprego dos casos.
Uma característica do sermo urbanus, porém, é bem vista na constru-
ção de frases e períodos curtos. A progressiva eliminação dos casos vai de
par com o surgimento dos artigos e o emprego cada vez maior das prepo-
sições. O latim vulgar também vai optando pelo discurso direto por ser
mais facilitador da compreensão do enunciado. Não são muito marcantes
as modificações de regência, mas elas também se verificam aqui e ali nas
românicas.
As MUDANÇAS SEMÂNTICAS também ocorreram, mas elas serão
comentadas na aula seguinte ao ser abordada a questão do latim e a evolu-
ção do cristianismo, pois a Igreja Cristã, no desejo de constituir uma termi-
nologia própria, realiza uma verdadeira transformação em certos termos
latinos que passaram a ter nova concepção na nova fé.
88
O latim e sua evolução
Aula
CONCLUSÃO 7
O contato com outros povos e culturas impõe ao latim falado pelos
conquistadores romanos a obrigação de adaptar-se, no entanto o dina-
mismo que leva à modificação dos falares é algo comum a todas as lín-
guas e estas quando mais se misturam mais adquirem novas feições.
O fenômeno românico é algo especial na história da humanidade e atin-
giu proporções jamais vistas em relação a outros povos que, assim como os
romanos, exerceram o costume de conquistar e dominar povos mais fracos.
A marca que o latim deixou no mundo é algo impressionante, daí dever-
se ter um certo cuidado ao falar do latim como língua morta, pois a sua pre-
sença é algo bem mais forte do que se imagina, haja vista serem as línguas
românicas o melhor testemunho de como o latim ainda hoje se deixa ver.
Cabe ao estudante de letras buscar entender o processo de transfor-
mação e proceder à comparação criteriosa de todos os aspectos do latim,
assumidos ou modificados segundo a conveniência de cada povo e seus
idiomas anteriores ao latim.
RESUMO
89
Filologia Românica
ATIVIDADES
90
O latim e sua evolução
Aula
REFERÊNCIAS 7
BASSETO, Bruno Fregni. Elementos de filologia românica. São Pau-
lo: EDUSP, 2005.
BOUET, Pierre et alii. Initiation au système de la langue latine. Paris:
Nathan, 1975.
CARDOSO, Zélia de Almeida. Iniciação ao latim. São Paulo: Ática, 1993.
COUTINHO, Ismael de Lima. Gramática histórica. Rio de Janeiro: Ao
livro técnico, 1976.
DANGEL, Jacqueline. Histoire de la langue latine. Paris: 1995.
ELIA, Sílvio. Preparação à linguística românica. Rio de Janeiro: Ao
Livro Técnico, 1979.
GALVÃO, José Raimundo. Alomorfias do léxico português. São Cris-
tóvão: EDUFS, 2008.
_____ Fundamentos da língua latina. Universidade Federal de Sergipe.
São Cristóvão - CESAD : EDUFS, 2008. 2 v.
HECKLER, Evando et alii. Dicionário morfológico da língua portu-
guesa. São Leopoldo: EDUNISINOS, 1984, 5 v.
______. Estrutura das palavras. São Leopoldo: EDUNISINOS, 1994.
______. História e estória das palavras. São Leopoldo: EDUNISINOS,
v. I-XX, 1988-1997.
ILARI, Rodolfo. Linguística Românica. São Paulo: Ática, 2004.
IORDAN, Iorgu. Introdução à linguística românica. Tradução de Júlia
Dias Ferreira. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1962.
LAUSBERG, Heinrich. Linguística românica. Tradução de Marion
Ehrardt e Maria Luísa Schemann. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1963.
NUNES, José Joaquim. Compêndio de gramática histórica portugue-
sa. Lisboa: Livraria Clássica, 1956.
PALMER, L. R. Introducción al latin. Tradução de Juan José Moralejo e
José Luis Moralejo. Barcelona: Ariel, 1984.
VÄÄNÄNEM, Veikko. Introducción al latín vulgar. Tradução de Ma-
nuel Carrión. Madrid: Gredos, 1968.
TARALLO, Fernando. Tempos linguísticos. São Paulo: Ática, 1994.
VIDOS, Benedek Elemér. Manual de linguística românica. Tradução
de José Pereira da Silva. Rio de Janeiro: EDUERJ, 1996.
WEEDWOOD, Bárbara. História concisa da linguística. Tradução de
Marcos Bagno. São Paulo: Parábola, 2002.
91
Aula
8
O LATIM, O CRISTIANISMO E AS
LÍNGUAS ROMÂNICAS
META
Compreender as relações entre o latim, o cristianismo e as línguas românicas.
OBJETIVOS
Ao final desta aula o aluno deverá:
conhecer o processo de evolução do latim depois do surgimento do cristianismo;
compreender a importância do cristianismo na preservação e divulgação da língua latina;
reconhecer o papel da ação missionária da Igreja no surgimento e afirmação dos diferentes
romances;
analisar os aspectos lingüísticos do latim que se associam à construção de uma terminologia
eminentemente cristã.
PRÉ-REQUISITOS
Todas as informações anteriores são de suma necessidade para a compreensão do fato
linguístico e da análise filológica que se pretende fazer das línguas neolatinas.
Esta aula, por tratar daquilo que o latim representou para o cristianismo nascente, exige alguns
conhecimentos ligados à mensagem do evangelho como proposta de salvação destinada a
todos os povos.
Nos primórdios da pregação cristã, era antes o grego a língua de maior influência e isso fez
com que todo o novo testamento fosse escrito nesta língua.
Importa, pois, conhecer alguns aspectos da história e da geografia deste tempo; fixar alguns
períodos de maior relevância e buscar entender o que, na sua essência, caracteriza o anúncio
do evangelho. Ademais, não se pode negligenciar a cultura desta época em que o cristianismo
teve de conviver com costumes assaz contrários à sua proposta em termos de moral e
costumes, reagindo fortemente contra certas práticas pagãs.
Compreender todo esse contexto é condição sine qua non para conduzir reflexões e discussões
nas quais a presença do latim é um elemento de valor incontestável.
Não se pode negligenciar a importância da língua grega e, para bem compreender o nosso
campo de estudos, algumas noções do grego e da cultura helênica tornam-se prerrequisitos
indispensáveis.
Pelo menos a leitura das palavras gregas vai ser uma exigência necessária para a
compreensão mais ampla de certas colocações filológicas.
Filologia Românica
INTRODUÇÃO
94
O latim, o cristianismo e as línguas românicas
Aula
O LATIM E A IGREJA 8
O latim vulgar teve em todas as províncias o poderoso apoio da Igre-
ja Cristã ao adotá-lo como língua oficial. A tendência era desprezar o
latim clássico nas pregações e usar o latim popular como forma de fazer a
mensagem mais clara e mais vivida. Santo Agostinho dirá: Mellius est
reprehendant nos grammatici quam non intelligant populi (Cf. VIDOS, p. 164).
Dizem que Santo Agostinho, ao converter-se, leva consigo uma conver-
são linguística e ele próprio já se refere a ecclesiastica loquendi consuetudo.
Este costume se reflete na liturgia, nas escrituras, na administração a
tal ponto de se ter afirmado que nos primeiros séculos os cristãos eram
uma sociedade fechada sobretudo em se considerando o aspecto linguístico.
Mas o latim vulgar não existe como língua; existem textos latinos em
que aparecem vulgarismos revelando a modalidade do latim falado pela
população menos letrada. Se existiram dialetos do latim falado, as inscri-
ções até hoje não confirmaram isso.
Os primeiros documentos cristãos são produzidos por homens de grande
cultura na maioria deles e usavam elementos populares em suas obras, visto
que se dirigem às grandes massas e o objetivo de proselitismo não é o culto.
Nada mais errado do que insistir na oposição entre dois latins como se
fossem dois mundos linguísticos estranhos um ao outro. O latim vulgar, aju-
dado pelo poder da Igreja, não é senão uma modalidade popular do latim
clássico, com toda a sua força e poder transformador de tornar-se, pouco a
pouco, os diversos romances. Existem constatações da existência de um la-
tim homogêneo e popular de onde aparecem as línguas românicas e, para essa
homogeneidade, muito contribuiu a propagação do cristianismo, dada a ne-
cessidade de fazer chegar ao povo a mensagem, que, aos poucos, foi adotan-
do uma linguagem unificada até, finalmente, dogmatizar-se. Os documentos
vão assumindo fórmulas de dogmatização como credo, anathema sit etc.
A força do latim foi-se perdendo dentro da própria Igreja quando se
chegou a um estado tão deplorável de compreensão e uso desta língua que
o papa Zacarias (714-752), por exemplo, se viu obrigado a tolerar a admi-
nistração de certos atos em latim contendo erros considerados graves na
configuração da língua: sacerdotes e fiéis já não mais entendem o que di-
zem ou lêem (Cf. Vidos, p. 203) e os atos litúrgicos passam a ter um caráter
maquinal de pura repetição de fórmulas já decoradas. Coisas como In nomine
da Patria, et Filia et Spiritua Sancta denotam o descaso para com as declina-
ções já nesta época. Aboliam, assim, o exclusivismo e o normativismo do
latim clássico e literário. A preocupação maior é o kerigma, a mensagem
muito mais que a forma literária com que é transmitida.
Nesta concepção, a língua deveria estar servindo aos objetivos do
cristianismo. A Itala ou Vetus Latina é um exemplo da versão da bíblia
repleta de expressões populares e de elementos gregos e semíticos.
95
Filologia Românica
Por volta do século IV, nota-se um certo retorno à antiga tradição ro-
mana e helenística, o que confere um caráter mais douto às obras cristãs e
este fato é mais uma prova de incontestável contribuição do cristianismo
para a manutenção do latim e para a formação das línguas românicas.
Até se questionou se o latim vulgar e o latim cristão não seriam a mesma
exatamente a mesma coisa. Na verdade, o latim vulgar desenvolve tendênci-
as ancestrais de configuração indoeuropeia, o que tem pouco a ver com o
latim cristão com suas tendências popularizantes com vistas aos objetivos da
evangelização dos povos. Este latim cristão também se difere do próprio
latim eclesiástico, tendo este configuração mais culta, literária e técnica.
A língua técnica do cristianismo é toda calcada no grego, haja vista
ser costume do próprio latim realizar empréstimos da língua e cultura
helênica e não dispor o cristianismo de uma terminologia própria para
expressar conceitos cristãos. O grego, por excelência, é uma língua técni-
ca, muito apropriada para transmitir com mais exatidão os conceitos de
qualquer área do saber humano. E foi assim também utilizado para fixar
conceitos teológicos. Este dado é muito importante nos estudos da
filologia, porquanto será possível perceber a carga semântica contida em
muitas palavras e como, sabiamente, a Igreja soube associar palavras e
coisas na elaboração de toda a fundamentação de sua doutrina.
De início, os convertidos ao cristianismo faziam parte das classes
menos favorecidas, que, como já se disse, assimilavam facilmente o gre-
go. Aos poucos, porém, filhos e filhas da nobreza também começam a
aderir à fé cristã (a exemplo de Perpétua e Felicidade, Inês, Cecília, Luzia,
Apolônia, Sebastião) gerando certas necessidades de ordem linguística,
pois era o latim a língua das classes nobres de Roma e dos domínios do
império, incluindo o norte da África. Por muito tempo acreditou-se que a
latinização da Igreja tenha começado pelo norte da África, mas, na verda-
de, esta fato é contemporâneo ao processo de latinização da Igreja de
Roma, que já estava em curso no século II.
Realmente dois antigos documentos - Acta Martyrum Scillitanorum e
Passio Fellicitatis et Perpetuae – foram gerados em meios africanos, mostran-
do a importância deste território para os primórdios do cristianismo. Na
verdade, duas versões das escrituras já circulam desde os tempos remo-
tos: uma, denominada Afra, atende às necessidades do norte da África;
outra, a Vetus Latina, destina-se às comunidades europeias. Em ambas já
se percebe uma certa erudição fugindo um pouco ao estilo vulgarizante.
Dois nomes merecem destaque: Santo Agostinho (africano de Tagaste e
bispo de Hipona / 354-430) e São Jerônimo (Dalmácia, hoje, Croácia /
340- 420). Contemporâneos, ao primeiro se devem grandes obras de dou-
trinação, mostrando os passos da afirmação da fé cristã; ao segundo atri-
bui-se a primeira versão da bíblia em latim, denominada Vulgata.
Após a queda do império romano (em 476 d. C.), a Igreja, que já
vinha gozando de certas vantagens desde Constantino pelo famoso Edito
96
O latim, o cristianismo e as línguas românicas
Aula
CARACTERÍSTICAS MARCANTES
NO VOCABULÁRIO
97
Filologia Românica
NA MORFOLOGIA
98
O latim, o cristianismo e as línguas românicas
Aula
NA SINTAXE 8
- É muito freqüente o uso do adjetivo substituindo o genitivo restritivo:
domus aurea / turris eburnea / apostolica verba / misericordia divina / disciplina
ecclesiastica.
- As orações subordinadas substantivas objetivas diretas reduzidas de
infinitivo ou não reduzidas funcionam da seguinte forma:
No latim clássico: verbo no infinitivo, sujeito no acusativo e ausência
do conectivo (forma reduzida):
Dico Deum esse bonum (Digo Deus ser bom).
No latim vulgar: sujeito e predicativo do sujeito no nominativo, ver-
bo no tempo requerido pelo contexto e presença do conectivo:
Dico quia Deus bonus est (Digo que Deus é bom).
Dois exemplos da própria liturgia da Igreja:
Clássico: Memento, homo, te esse pulverem et in pulverem reversurum.(Lembra-
te, homem, tu seres pó e ao pó haverás de voltar!).
Vulgar: Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris (Lembra-te,
homem, que tu és pó e ao pó voltarás!).
- Conforme se disse, a ausência dos casos força o aparecimento dos arti-
gos e intensifica o uso das preposições.
- O artigo indefinido provém da forma no numeral unus, una.
- O desaparecimento do dativo obriga o emprego de preposições: dixit ad
Ioseph (também porque muitos nomes próprios não se decinam).
- Usa-se o modo indicativo no discurso indireto e a forma do gerúndio-
ablativo em lugar do particípio presente: amando por amante.
- Nos aspectos linguísticos, costume-se diferenciar os cristianismos lexicais
(apokalypsis = revelatio) dos cristianismos semânticos (‘omologein = confiteri).
Outras mudanças semânticas a partir do grego: dioikesis; sínodos;
paroikia.
São chamados cristianismos indiretos aqueles que, por natureza, não estão
associados à religião cristã. Atestam uma diferenciação linguística e soci-
al dos cristãos. Essas inovações não especificamente cristãs podem ter
origem na língua comum.
- Outro dado interessante diz respeito à predileção por certos sufixos:
opperator, redemptor, salvator, redemptio, illuminatio, purificatio.
Também se observa a predileção por verbos em ficare: beatificare,
sacrificare, sanctificare, glorificare.
Os missionários imprimem à língua o mesmo dinamismo que os sol-
dados durante o império e a forma característica de correspondência es-
crita são as epístolas.
99
Filologia Românica
CONCLUSÃO
RESUMO
100
O latim, o cristianismo e as línguas românicas
Aula
101
Filologia Românica
ATIVIDADES
102
O latim, o cristianismo e as línguas românicas
Aula
REFERÊNCIAS 8
BASSETO, Bruno Fregni. Elementos de filologia românica. São Pau-
lo: EDUSP, 2005.
BOUET, Pierre et alii. Initiation au système de la langue latine. Paris:
Nathan, 1975.
CARDOSO, Zélia de Almeida. Iniciação ao latim. São Paulo: Ática, 1993.
COUTINHO, Ismael de Lima. Gramática histórica. Rio de Janeiro: Ao
livro técnico, 1976.
DANGEL, Jacqueline. Histoire de la langue latine. Paris: 1995.
ELIA, Sílvio. Preparação à lingüística românica. Rio de Janeiro: Ao
Livro Técnico, 1979.
GALVÃO, José Raimundo. Alomorfias do léxico português. São Cris-
tóvão: EDUFS, 2008.
_____. Fundamentos da língua latina. Universidade Federal de Sergipe.
São Cristóvão - CESAD : EDUFS, 2008. 2 v.
HECKLER, Evando et alii. Dicionário morfológico da língua portu-
guesa. São Leopoldo: EDUNISINOS, 1984, 5 v.
______. Estrutura das palavras. São Leopoldo: EDUNISINOS, 1994.
______. História e estória das palavras. São Leopoldo: EDUNISINOS,
v. I-XX, 1988-1997.
ILARI, Rodolfo. Lingüística Românica. São Paulo: Ática, 2004.
IORDAN, Iorgu. Introdução à lingüística românica. Tradução de Júlia
Dias Ferreira. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1962.
LAUSBERG, Heinrich. Lingüística românica. Tradução de Marion
Ehrardt e Maria Luísa Schemann. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1963.
NUNES, José Joaquim. Compêndio de gramática histórica portugue-
sa. Lisboa: Livraria Clássica, 1956.
PALMER, L. R. Introducción al latin. Tradução de Juan José Moralejo e
José Luis Moralejo. Barcelona: Ariel, 1984.
TARALLO, Fernando. Tempos lingüísticos. São Paulo: Ática, 1994.
VÄÄNÄNEM, Veikko. Introducción al latín vulgar. Tradução de Ma-
nuel Carrión. Madrid: Gredos, 1968.
VIDOS, Benedek Elemér. Manual de lingüística românica. Tradução
de José Pereira da Silva. Rio de Janeiro: EDUERJ, 1996.
WEEDWOOD, Bárbara. História concisa da lingüística. Tradução de
Marcos Bagno. São Paulo: Parábola, 2002.
103
Aula
9
LÍNGUAS ROMÂNICAS NA
ATUALIDADE
META
Visualizar a extensão geográfica e linguística das línguas românicas na atualidade.
OBJETIVOS
Ao final desta aula o aluno deverá:
classificar as línguas românicas pela sua distribuição territorial;
evidenciar as características de cada língua originada do latim;
reconhecer traços comuns entre as línguas românicas;
identificar as marcas latinas nas línguas românicas, especialmente na língua portuguesa.
PRÉ-REQUISITOS
Volta-se a exigir um certo conhecimento do latim como ponto de referência no estudo das
línguas românicas ou neolatinas.
Importa também estar atento a aspectos da história e da geografia como recursos
indispensáveis para bem situar a evolução das línguas e os diferentes territórios onde estas
línguas se firmaram.
Que também se esteja atento ao glossário que se vem formando ao longo deste módulo a fim
que a terminologia de base possa estar muito bem assimilada.
Filologia Românica
INTRODUÇÃO
106
Línguas românicas na atualidade
Aula
A ROMÂNIA 9
Segundo Heinrich Lausberg (p. 27-43), devido ao grau de parentesco,
pode-se dividir a România em três zonas:
I. România Ocidental – com as zonas parciais seguintes:
a) Galo-românia (provençal, franco-provençal e francês).
b) Reto-românia.
c) Norte da Itália.
d) Ibero-românia (catalão, espanhol, português).
II. România Oriental – com a seguintes zonas:
a) Centro e Sul da Itália.
b) Dalmácia.
c) Romênia.
III. Sardenha.
A divisão acima corresponde aproximadamente ao fim da época im-
perial e não leva em consideração a divisão atual em grandes espaços
linguísticos nacionais – traço da história medieval e moderna – criados
pelo prestígio das línguas escritas, mas apóia-se exclusivamente na averi-
guação dos dialetos.
Para estabelecer o quadro da Romênia atual, usa-se o critério das lín-
guas escritas. Assim, fazem parte deste quadro: o português, o espanhol, o
catalão, o francês, o provençal, o grisão, o italiano, o romeno. O critério de
língua escrita não é aplicado ao sardo, que hoje pertence ao domínio da
língua escrita italiana e ao dálmata. Também o reto-romano é considerado
como língua própria, apesar de somente o Grisão ter alcançado relevo como
língua escrita, ainda que seja em território unicamente Grisão.
Em resumo, podemos admitir uma série de dez línguas fazendo parte
deste conjunto denominado de línguas românicas:
Português – língua da parte ocidental da Península Ibérica, é falado
no Portugal atual e ao norte desse país, na província espanhola da Galízia.
Estendeu-se a grande parte do mundo (Brasil, África, Timor Leste) gra-
ças à colonização portuguesa.
Espanhol – também conhecido por Castelhano, compreende a
Espanha de hoje, com exceção da região em que se fala o português ou o
catalão e de um território na extremidade do Golfo de Biscaia, onde se
fala o basco, uma língua preindogermânica.
Catalão – língua falada na Catalunha, na região de Valência, nas Ba-
leares, no território francês do Pirineus Orientais e na cidade de Alghero,
no norte da Sardenha.
Provençal – também denominado de occitano ou língua d’oc é a lín-
gua do sul da França e não somente da região de Provença. Atualmente
compreende a Gasconha, o Périgord, o Limousin, uma grande parte da
Mancha, o Auvergne, o Languedoc e a Provença, mas não ultrapassa o
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Línguas românicas na atualidade
Aula
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Línguas românicas na atualidade
Aula
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Línguas românicas na atualidade
Aula
CONCLUSÃO 9
As línguas românicas são hoje a melhor demonstração daquilo que
foram o latim e as línguas de cada província. Em cada território existiam
possibilidades diferentes de transformação a que o latim esteve sujeito e,
num processo que dura séculos, novos falares foram surgindo dando pro-
vas de uma presença inigualável do latim em muitos espaços do mundo
linguístico. Este fenômeno, devido à sua extensão territorial e à variedade
das línguas que gerou, torna-se algo de muito especial na história das
línguas do mundo.
RESUMO
O critério das línguas escritas tem sido usado para estabelecer o qua-
dro atual da România. Neste quadro incluem-se as seguintes línguas: o
português, o espanhol, o catalão, o francês, o provençal, o grisão, o rome-
no. O critério de língua escrita não é aplicado ao sardo, que hoje pertence
ao domínio da língua escrita italiana e ao dálmata. Também o reto-roma-
no é apresenta características muito específicas.
As fronteiras entre as línguas não são rígidas, mas é possível reconhe-
cer a presença de cada uma delas em seu território específico.
Muitas neolatinas se tornam línguas nacionais, mas tal conceito dis-
pensa algumas interpretações que apenas evidenciam o desenvolvimento
de uma literatura ou o reconhecimento de condições políticas e jurídicas
para conferir a uma determinada língua este status. O provençal é um
exemplo de farta literatura que, no entanto, não se impôs ao francês como
língua oficial de uma nação.
ATIVIDADES
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REFERÊNCIAS
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Línguas românicas na atualidade
Aula
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Aula
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LEIS FONÉTICAS, METAPLASMOS E
ALOMORFIAS
META
Conhecer os elementos pelos quais se regem as transformações havidas do latim às línguas
românicas.
OBJETIVOS
Ao final desta aula o aluno deverá:
conceituar leis fonéticas, metaplasmos e alomorfias no contexto das variações lingüísticas;
acompanhar o processo de transformação que envolve as línguas românicas;
aplicar os diferentes recursos no processo de transformação das línguas;
reconhecer a relação de parentesco entre as línguas românicas.
PRÉ-REQUISITOS
Nesta aula são retomados os conhecimentos fundamentais de língua latina, daí a necessidade
de revisá-los na perspectiva de bem compreender o processo de evolução do latim a
transformar-se em línguas neolatinas.
Todos os conteúdos das aulas anteriores são, na verdade, indispensáveis para dar uma visão
de um todo fortemente concatenado.
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INTRODUÇÃO
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Leis fonéticas, metaplasmos e alomorfias
Aula
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Filologia Românica
1. P-B
Capio - caibo
Lupo - lobo
Sapui - soube
2. T - D
Cito-cedo
Acutu- agudo
Civiate - cidade
Maritu - marido
3. C - G
Acutu - agudo
Pacare - pagar
Amica - amiga
4. C(+e,+i) - Z
Acetu- azedo
Vicinu - vizinho
Facere – fazer
5. F - V
Profectu - proveito
Aurifice - ourives
Casos particulares:
- pode acontecer de o b virar v nesse caso ocorre um processo denomina-
do de degeneração (perde as qualidades primitivas). Ex.:
Caballu – cavalo
Faba - fava
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Leis fonéticas, metaplasmos e alomorfias
Aula
Persona - pessoa
Ipse - isse – esse
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Ipsu - issu – isso
Verlo - vello - vê-lo
3. Assimilação total (completa): ocorre quando o fonema assimilado é
igual ao fonema assimilador.
Ex.:
Mirabilia - maravilha
Per + Io - pello - pelo
Adversu - avesso – avesso
Persicu - pessicu - pêssego
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Leis fonéticas, metaplasmos e alomorfias
Aula
Exemplo: aurícula>orelha; eiclesiam> eiclesia > eicresia > eigreja > igreja..
k) Palatização - Entende-se como a transformação de um ou mais fonemas
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numa palatal (sonorização articulada na região do palato ou “céu da boca”.
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Aula
ALOMORFIA
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CONCLUSÃO
RESUMO
ATIVIDADES
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REFERÊNCIAS
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