03 Nocoes Basicas de Etica e Filosofia

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SEDUC/MT

Professor da Educação Básic

1. Fundamentos da Filosofia. 2. Filosofia moral: Ética ou filosofia moral. 3. Consciência crítica e


filosofia. ................................................................................................................................................... 1

4. A relação entre os valores éticos ou morais e a cultura. ............................................................... 19

5. Juízos de fato ou de realidade e juízos de valor. ........................................................................... 32

6. Ética e cidadania. .......................................................................................................................... 44

7. Racionalismo ético. ....................................................................................................................... 48

8. Ética e liberdade. .......................................................................................................................... 50

Candidatos ao Concurso Público,


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Bons estudos!

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1. Fundamentos da Filosofia. 2. Filosofia moral: Ética ou filosofia moral.
3. Consciência crítica e filosofia.

Caro(a) candidato(a), antes de iniciar nosso estudo, queremos nos colocar à sua disposição, durante
todo o prazo do concurso para auxiliá-lo em suas dúvidas e receber suas sugestões. Muito zelo e técnica
foram empregados na edição desta obra. No entanto, podem ocorrer erros de digitação ou dúvida
conceitual. Em qualquer situação, solicitamos a comunicação ao nosso serviço de atendimento ao cliente
para que possamos esclarecê-lo. Entre em contato conosco pelo e-mail: professores @maxieduca.com.br

Fundamentos da Filosofia. Consciência crítica e filosofia.

O que é isto: a Filosofia? Se essa pergunta continua a ser feita é porque é um desafio a tentativa de
respondê-la. Não há uma definição simples que consiga resolver a questão, pela própria extensão do
conteúdo produzido que se convencionou chamar de “filosofia” e pelas diferentes respostas que os
filósofos deram a ela no decorrer da história, muitas vezes refutando as interpretações de outros. Ou seja,
a própria questão “O que é Filosofia” é aquilo que chamamos de “problema filosófico”: problemas que só
podem ser resolvidos por meio da investigação racional, pois não podem ser constatados por meio de
uma experimentação, como faz a Matemática, através de cálculos, ou de análise de documentos, como
faz a História, por exemplo.

Vamos tomar a palavra “Justiça” como exemplo, pelo método histórico, nós podemos fazer uma
investigação de quando essa noção aparece, em qual contexto, quais foram seus antecedentes, qual o
sentido essa palavra teve em determinada época. Se dois sócios querem dividir os lucros da empresa de
forma justa, ou seja, dividindo igualmente o lucro e os custos, a Matemática pode nos ajudar a partir de
cálculos. No entanto, se tentarmos responder “O que é a justiça?” ou: “Faz parte da condição humana a
noção de justiça?”, o único recurso que teremos será a nossa razão, a nossa capacidade de pensar.

Desde a invenção da palavra “filosofia”, por Pitágoras, temos diversos problemas filosóficos e diversas
respostas a cada um deles. Para os pré-socráticos: a physis; para a Filosofia Antiga: a atividade política,
técnicas e ética do homem; para a Filosofia Medieval, o conflito entre fé e razão, os Universais, a
existência de Deus, a conciliação entre Presciência divina e Livre-arbítrio; para a Filosofia Moderna, o
empirismo e o racionalismo, para a Filosofia Contemporânea, diversos problemas a respeito da
existência, da linguagem, da arte, da ciência, entre outros.

Temos também uma diversidade de formas literárias da filosofia: Parmênides escreveu em forma de
poema; Platão escreveu diálogos; Epicuro escreveu cartas; Tomás de Aquino desenvolveu o método
“questio disputatio” em suas aulas que foram transcritas por seus alunos; Nietzsche escreveu em forma
de aforismos. Por esses exemplos, que não esgotam a pluralidade da escrita e da atividade filosófica,
podemos compreender que as formas de se fazer filosofia vão muito além dos tratados e das
dissertações.

A compreensão que temos por vezes da Filosofia como uma atividade reservada a gênios e que,
portanto, não precisa se preocupar em se fazer entendida aos demais humanos é baseada em uma
compreensão da atividade do pensamento sendo superior à atividade da linguagem, como se elas
estivessem dissociadas. Ora, não podemos ainda, por mais desenvolvidas que estejam as nossas
tecnologias, expressar o pensamento sem linguagem e nem exercitar a linguagem sem que ela seja,
antes, elaborada pelo pensamento.

Surgimento da Filosofia

A Filosofia, como conhecemos hoje, ou seja, no sentido de um conhecimento racional e sistemático,


foi uma atividade que, segundo se defende na história da filosofia, iniciou na Grécia Antiga formada por
um conjunto de cidades-Estado (pólis) independentes. Isso significa que a sociedade grega reunia
características favoráveis a essa forma de expressão pautada por uma investigação racional. Essas
características eram: poesia, religião e condições sociopolíticas.

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A partir do século VII a.C., os homens e as mulheres não se satisfazem mais com uma explicação
mítica da realidade. O pensamento mítico explica a realidade a partir de uma realidade exterior, de ordem
sobrenatural, que governa a natureza. O mito não necessita de explicação racional e, por isso, está
associado à aceitação dos indivíduos e não há espaço para questionamentos ou críticas.

É em Mileto, situado na Jônia (atual Turquia), no século VI a.C. que nasce Tales que, para a Aristóteles
é o iniciador do pensamento filosófico que se distingue do mito. No entanto, o pensamento mítico, embora
sem a função de explicar a realidade, ainda ecoa em obras filosóficas, como as de Platão, dos
neoplatônicos e dos pitagóricos.

A autoria da palavra “filosofia” foi atribuída pela tradição a Pitágoras. As duas principais fontes sobre
isso são Cícero e Diógenes Laércio. Vejamos o que escreve Cícero:

“O doutíssimo discípulo de Platão, Heráclides Pontico, narra que levaram a Fliunte alguém que
discorreu douta e extensamente com Leonte, príncipe dos fliúncios.
Como seu engenho e eloquência tivessem sido apreciados por Leonte, este lhe perguntou que arte
professasse, ao que ele respondeu que não conhecia nenhuma arte especial, mas que era filósofo.
Admirado Leonte diante da novidade daquele termo, perguntou que tipo de pessoas eram os filósofos
e o que os distinguia dos outros homens.
(...)

[Pitágoras respondeu] Outrossim, os homens (…) comparam-se com os que vão da cidade a uma festa
popular: alguns vão em busca de glória enquanto outros de ganho, restando, todavia, alguns poucos que
desconsiderando completamente as outras atividades, investigam com afinco a natureza das coisas:
estes se dizem investigadores da sabedoria - quer dizer filósofos - e como é bem mais nobre ser
espectador desinteressado, também na vida a investigação e o conhecimento da natureza das coisas
estão acima de qualquer outra atividade”.

Percebemos, por meio desse fragmento de Cícero que:

1) A fonte na qual ele se baseia para escrever sobre Pitágoras é Heráclides Pontico, discípulo de
Platão, mas que era também influenciado pelos pitagóricos. No entanto, não se sabe da veracidade a
respeito dessa informação, como nota Ferrater Mora que também observa que não é possível saber se
“filósofo” para Pitágoras significa o mesmo que significaria para Platão ou Aristóteles.

2) Pitágoras em vez de se denominar como “sábio”, prefere se denominar “filósofo”, ou seja, aquele
que tem amor pela sabedoria. Também percebemos que aparece nome “filósofo” e não “Filosofia” que,
como atividade, tem origem posterior. Como se pode ver no fragmento, não havia na época uma “arte
especial”.

O que alguns filósofos dizem sobre O que é a Filosofia:

Aristóteles (384 a.C. - 322 a.C.): “A admiração sempre foi, antes como agora, a causa pela qual os
homens começaram a filosofar: a princípio, surpreendiam-se com as dificuldades mais comuns; depois,
avançando passo a passo, tentavam explicar fenômenos maiores, como, por exemplo, as fases da lua, o
curso do sol e dos astros e, finalmente, a formação do universo. Procurar uma explicação e admirar-se é
reconhecer-se ignorante."

Epicuro (341 a. C. - 270 a. C.) - "Nunca se protele o filosofar quando se é jovem, nem o canse fazê-
lo quando se é velho, pois que ninguém é jamais pouco maduro nem demasiado maduro para conquistar
a saúde da alma. E quem diz que a hora de filosofar ainda não chegou ou já passou assemelha-se ao
que diz que ainda não chegou ou já passou a hora de ser feliz."

Edmund Husserl (1859-1938): "O que pretendo sob o título de filosofia, como fim e campo de minhas
elaborações, sei-o naturalmente. E contudo não o sei... Qual o pensador para quem, na sua vida de
filósofo, a filosofia deixou de ser um enigma?"

Friedrich Nietzsche (1844-1900): “Um filósofo: é um homem que experimenta, vê, ouve, suspeita,
espera e sonha constantemente coisas extraordinárias; que é atingido pelos próprios pensamentos como

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se eles viessem de fora, de cima e de baixo, como por uma espécie de acontecimentos e de faíscas de
que só ele pode ser alvo; que é talvez, ele próprio, uma trovoada prenhe de relâmpagos novos; um homem
fatal, em torno do qual sempre tomba e rola e rebenta e se passam coisas inquietantes”. (Para além do
bem e do mal, p. 207)

Kant (1724-1804): “Não se ensina filosofia, ensina-se a filosofar”.

Ludwig Wittgenstein (1889-1951): "Qual o seu objetivo em filosofia? - Mostrar à mosca a saída do
vidro."

Maurice Merleau-Ponty (1908-1961): "A verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo."

Gilles Deleuze (1925-1996): e Félix Guattari (1930-1993): "A filosofia é a arte de formar, de inventar,
de fabricar conceitos... O filósofo é o amigo do conceito, ele é conceito em potência... Criar conceitos
sempre novos é o objeto da filosofia."

Karl Jaspers (1883-1969): “As perguntas em filosofia são mais essenciais que as respostas e cada
resposta transforma-se numa nova pergunta” (Introdução ao pensamento filosófico, p. 140).

García Morente (1886-1942): “Para abordar a filosofia, para entrar no território da filosofia, é
absolutamente indispensável uma primeira disposição de ânimo. É absolutamente indispensável que o
aspirante a filósofo sinta a necessidade de levar seu estudo com uma disposição infantil. (…) Aquele para
quem tudo resulta muito natural, para quem tudo resulta muito fácil de entender, para quem tudo resulta
muito óbvio, nunca poderá ser filósofo”. (Fundamentos de filosofia, p. 33-34)

Consciência crítica e filosofia1

Talvez nada caracterize melhor o ser humano do que a consciência, isto é, o desenvolvimento dessa
atividade mental que nos permite estar no mundo com algum saber, “com-ciência”. Por isso, a biologia
classifica o homem atual como sapiens sapiens: o ser que sabe que sabe. Isso significa que o homem é
capaz de fazer sua inteligência debruçar sobre si mesma para tomar posse de seu próprio saber,
avaliando sua consistência, seu limite e seu valor.
“O animal sabe. Mas, certamente ele não sabe que sabe: de outro modo teria há muito multiplicado
invenções e desenvolvido um sistema de construções internas. Consequentemente, permanece fechado
para ele todo um domínio Real, no que nos movemos. Em relação a ele, por sermos reflexivos, não somos
apenas diferentes, mas outros. Não só simples mudança de grau, mas mudança de natureza, que resulta
de uma mudança de estado.” CHARDIM, Teilhard de. O fenômeno humano, p 187.

O processo contínuo de conscientização faz do homem, portanto, um sistema aberto,


fundamentalmente relacionado com o mundo e consigo mesmo. O ser humano pode voltar-se para dentro
de si, investigando seu íntimo. E projetar-separa fora, investigando o universo.

Assim, a conscientização faz do homem um ser dinâmico, eterno caminhante destinado à procura e
ao encontro da realidade. Caminhante cuja estrada é feita da harmonia e do conflito com o ser, o saber e
o fazer, dimensões essenciais da existência humana.

Despertar da consciência critica

Vimos que a consciência pode centra-se sobre o próprio sujeito, sondando a interioridade, ou sobre os
objetos exteriores, sondando a alteridade (do latim alter “outro”). Há, portanto, duas dimensões
complementares no processo de conscientização:

- Consciência de si, isto é, concentração da consciência nos estados interiores do sujeito, que exige
reflexão. Alcança-se, por intermédio dela, a dimensão da interioridade que se manifesta através do
processo de falar, criar, afirmar, propor, inovar.

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http://professorrodrigosouza.blogspot.com.br/2010/07/desenvolvimento-da-consciencia.html

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- Consciência do outro, isto é, a concentração da consciência nos objetos exteriores que exige
atenção. Alcança-se, por intermédio dela, a dimensão da alteridade, que se manifesta através do
processo de escutar, absorver, reformular, rever, renovar.

O despertar da consciência crítica (ou senso crítico) depende do crescimento dessas duas dimensões
da consciência: a reflexão sobre si e a atenção sobre o mundo. Se apensas um desses aspectos se
desenvolve, há uma deformação, um abalo no desenvolvimento da consciência crítica.

Suponhamos, por exemplo, o crescimento só da consciência do outro. Essa atenção unilateral ao


mundo, sem reflexão sobre si mesmo, conduziria à perda da identidade pessoal, à exaltação dos objetos
externos, ao alheamento.

Por outro lado, Imaginemos o crescimento só da consciência de si. Essa reflexão em trono do eu, sem
atenção sobre o mundo, conduziria ao isolamento, ao fechamento interior, ao labirinto narcisista.

O escritor alemão Wolfgang Goethe (1749-18322) dizia que o homem só conhece o mundo dentro de
si se toma consciência de si mesmo dentro do mundo. Assim, o desenvolvimento da conscientização
humana depende da superação do isolamento e do alheamento. É processo dialético, que se move do
eu ao mundo e do mundo ao eu. Do fazer ao saber. E do saber ao refazer, e assim por diante.

Modos de consciência

Geralmente relacionamos a consciência apenas à capacidade cognitiva, ou seja, à capacidade de


apreensão intelectual de uma dada realidade. No entanto, o ser humano se relaciona com a realidade
através de múltiplos sentidos e múltiplas capacidades. Por isso, podemos distinguir alguns modos da
consciência que estabelecem essa relação homem-mundo.

Consciência Mítica

O termo mito tem diversos significados. Pode significar: uma ideia falsa, como quando se diz “o mito
da superioridade racial dos germânicos difundidos pelos nazistas”; uma crença exagerada no talento de
alguém, como em “Elvis Presley foi o maior mito da música popular mundial”, ou ainda algo irreal e
supersticioso, como o “mito do saci-pererê”.

Quando falamos em mito num sentido antropológico, que é o que nos interessa aqui, queremos nos
referir às narrativas e ritos tradicionais, integrantes da cultura de um povo, principalmente entre as
populações primitivas e antigas, que utilizam elementos simbólicos para explicar a realidade e dar sentido
à vida humana. Para o especialista romeno em história das religiões Mircea Eliade (1907-1986): “O muito
conta uma história sagrada: ele relata um acontecimento ocorrido no tempo primordial (...) O mito narra
como, graças às façanhas dos entes sobrenaturais, uma realidade passou a existir”.

Através dos mitos, os homens procuravam explicar a realidade e, a partir dessa explicação, criavam
meios para, por exemplo, se proteger dos males que os ameaçavam. Por intermédio de ritos sagrados,
afirmavam e renovavam suas alianças com os seres sobrenaturais e, com isso, produziam uma sensação
de amparo diante dos perigos da vida.

Embora não fosse um conhecimento do tipo racional, conforme veremos adiante, a consciência mítica
mostrava-se operativa, isto é, trazia resultados, transmitindo valores e normas de conduta desejados
pelas sociedades. Nesse sentido, as lendas míticas de vários povos são ricas em metáforas e reflexões
sobre os homens e sua condição do mundo.

Consciência religiosa

A consciência religiosa compartilha com a consciência mítica o elemento do sobrenatural, a crença em


um poder superior inteligente, isto é, a divindade. No entanto, é uma consciência que, historicamente,
conviveu, dialogou e debateu com a razão filosófica e cientifica. Sua diferença em relação a esses saberes
está na crença em verdades revelada pela fé religiosa enquanto a filosofia e a ciência se apoiam
sobretudo na razão para alcançar o conhecimento.

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Os longos debates travados entre os defensores da fé e os da razão, durante a Idade Média, não
conseguiram conciliar satisfatoriamente esses dois termos. No período seguinte, a discussão prosseguiu
entre os filósofos. O francês René Descartes (1596-1650), por exemplo, colocava a ênfase na razão,
enquanto o também francês Pascal fazia o contraponto ao afirmar que “o coração tem razões que a razão
desconhece”, isto é, existem outras possibilidades de conhecimento das quais a razão não participa.

Consciência intuitiva

A intuição é uma forma de consciência que pode ser apontada como um saber imediato ou seja, que
ocorre como um insight. Desse modo, a intuição distingue-se do conhecimento formal, refletido, que se
constrói através de argumentos.

É possível falar na existência de uma intuição sensível e uma intuição intelectual. O filosofo grego
Aristóteles se refere à intuição intelectual como o conhecimento imediato de algo universalmente valido
e evidente, que, posteriormente, poderá ser demonstrado através de argumentos. Já a intuição sensível
seria um conhecimento imediato restrito ao contexto das experiências individuais singulares. Ou seja, são
aquelas “leituras de mundo” guiadas pelo conjunto de experiências de cada indivíduo e se que, dessa
forma, só podem ser “decifradas” a partir de suas vivencias subjetivas.

Em um e outro caso, a intuição tem caráter sincrético, isto é, representa uma aglutinação de elementos
indistintos que, posteriormente, podem ser desdobrados em uma análise. Quando isso se der, estaremos
entrando no conhecimento racional.

Consciência racional

O filosofo Hegel considera que há três grandes formas de compreensão do mundo, que seriam a
religião, a arte e a filosofia. A diferença entre elas estaria no seu modo de consciência enquanto a religião
apreende o mundo pela fé, a arte o faz predominantemente pela intuição e a filosofia, pelo conhecimento
racional.

A consciência racional busca a compressão da realidade por meio de certos princípios estabelecidos
pela razão, como, por exemplo o de causa e efeito (todo efeito deve ter sua causa). Essa busca racional
se caracteriza por pretender alcançar uma adequação entre o pensamento e a realidade, isto é, entre
explicação e aquilo que se procura explicar.

“Para o racionalismo grego, de Platão e Aristóteles e outros, conhecer significava entender as causas
(...) Para se conseguir definir o mundo em termos de causas, é essencial desenvolver a ideia de uma
cadeia unilinear (..) é necessário supor uma série de princípios: o princípio de identidade (A=A), o princípio
de não contradição (é impossível algo ser A e não ser A ao mesmo tempo) e o princípio do terceiro
excluído (ou A é verdadeiro ou A é falso e não há terceira possibilidade). A partir desses três princípios
derivamos o modelo típico do pensamento racional ocidental.” ECO, Umberto. Interpretação e
superinterpretação, p. 31 e 32.

O conhecimento racional é comum à ciência e à filosofia. Esses dois campos do saber racional se
mantiveram ligados por muitos séculos, mas, principalmente, a partir da revolução cientifica, no séc. XVII,
foram separados e hoje guardam características próprias.

A ciência desenvolve métodos científicos, baseados em experimentações, que permitem a observação


dos dados empíricos e a sua organização em teorias, para alcançar o que é universal em relação ao
fenômeno ou objeto investigado. Devido ao acumulo de conhecimento já alcançado pela humanidade, a
ciência tende cada vez mais à especialização.

A filosofia se distingue da ciência por ser mais teórica e não condicionar o objeto de sua análise a um
laboratório de experimentações. A filosofia também não pretende um saber especializado, e sim um
conhecimento que resgate a visão de conjunto. Por isso, o diálogo entre filosofia e ciência é fundamental,
pois um lado complementa o outro. Nesse dialogo, a filosofia pede valer-se dos resultados alcançados
pela ciência e questiona-los de uma forma global.
Enquanto a ciência procura, principalmente, compreender o que são as coisas, ou seja, fornece a
chave da compressão da realidade, a filosofia, através da razão crítica, e capaz de “estranhar” essa

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realidade cotidianamente e, assim, proceder à reflexão em busca de seus fundamentos, percebendo o
que ela é e propondo o que ela deveria ser. Em outras palavras, a filosofia não busca somente a descrição
objetiva da realidade, mas avalia e questiona essa realidade.

A filosofia moral - Ética ou filosofia moral2

Toda cultura e cada sociedade institui uma moral, isto é, valores concernentes ao bem e ao mal, ao
permitido e ao proibido, e à conduta correta, válidos para todos os seus membros. Culturas e sociedades
fortemente hierarquizadas e com diferenças muito profundas de castas ou de classes podem até mesmo
possuir várias morais, cada uma delas referida aos valores de uma casta ou de uma classe social.

No entanto, a simples existência da moral não significa a presença explícita de uma ética, entendida
como filosofia moral, isto é, uma reflexão que discuta, problematize e interprete o significado dos valores
morais. Podemos dizer, a partir dos textos de Platão e de Aristóteles, que, no Ocidente, a ética ou filosofia
moral inicia-se com Sócrates.

Percorrendo praças e ruas de Atenas – contam Platão e Aristóteles -, Sócrates perguntava aos
atenienses, fossem jovens ou velhos, o que eram os valores nos quais acreditavam e que respeitavam
ao agir. Que perguntas Sócrates lhes fazia?

Indagava: O que é a coragem? O que é a justiça? O que é a piedade? O que é a amizade? A elas, os
atenienses respondiam dizendo serem virtudes. Sócrates voltava a indagar: O que é a virtude?
Retrucavam os atenienses: É agir em conformidade com o bem. E Sócrates questionava: Que é o bem?
(...)

Nossos sentimentos, nossas condutas, nossas ações e nossos comportamentos são modelados pelas
condições em que vivemos (família, classe e grupo social, escola, religião, trabalho, circunstâncias
políticas, etc.). Somos formados pelos costumes de nossa sociedade, que nos educa para respeitarmos
e reproduzirmos os valores propostos por ela como bons e, portanto, como obrigações e deveres.

Dessa maneira, valores e maneiras parecem existir por si e em si mesmos, parecem ser naturais e
intemporais, fatos ou dados com os quais nos relacionamos desde o nosso nascimento: somos
recompensados quando os seguimos, punidos quando os transgredimos.

Sócrates embaraçava os atenienses porque os forçava a indagar qual a origem e essência das virtudes
(valores e obrigações) que julgavam praticar ao seguir os costumes de Atenas. Como e por que sabiam
que uma conduta era boa ou má, virtuosa ou viciosa? Por que, por exemplo, a coragem era considerada
virtude e a covardia, vício? Por que valorizavam positivamente a justiça e desvalorizavam a injustiça,
combatendo-a? Numa palavra: o que eram e o que valiam realmente os costumes que lhes haviam sido
ensinados?

Os costumes, porque são anteriores ao nosso nascimento e formam o tecido da sociedade em que
vivemos, são considerados inquestionáveis e quase sagrados (as religiões tendem a mostrá-los como
tendo sido ordenados pelos deuses, na origem dos tempos). Ora, a palavra costume se diz, em grego,
ethos – donde, ética – e, em latim, mores – donde, moral. Em outras palavras, ética e moral referem-se
ao conjunto de costumes tradicionais de uma sociedade e que, como tais, são considerados valores e
obrigações para a conduta de seus membros. Sócrates indagava o que eram, de onde vinham, o que
valiam tais costumes. No entanto, a língua grega possui uma outra palavra que, infelizmente, precisa ser
escrita, em português, com as mesmas letras que a palavra que significa costume: ethos. Em grego,
existem duas vogais para pronunciar e grafar nossa vogal e: uma vogal breve, chamada epsilon, e uma
vogal longa, chamada eta. Ethos, escrita com a vogal longa (ethos com eta), significa costume; porém,
escrita com a vogal breve (ethos com epsilon), significa caráter, índole natural, temperamento, conjunto
das disposições físicas e psíquicas de uma pessoa. Nesse segundo sentido, ethos se refere às
características pessoais de cada um que determinam quais virtudes e quais vícios cada um é capaz de
praticar. Refere-se, portanto, ao senso moral e à consciência ética individuais.

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Extraído p/ fins didáticos de Convite à Filosofia - de Marilena Chauí - Ed. Ática, São Paulo, 2000.
Disponível em:
http://www.projeto.unisinos.br/humanismo/etica/histetica.pdf.

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Dirigindo-se aos atenienses, Sócrates lhes perguntava qual o sentido dos costumes estabelecidos
(ethos com eta: os valores éticos ou morais da coletividade, transmitidos de geração a geração), mas
também indagava quais as disposições de caráter (ethos com epsilon: características pessoais,
sentimentos, atitudes, condutas individuais) que levavam alguém a respeitar ou a transgredir os valores
da cidade, e por quê.

Ao indagar o que são a virtude e o bem, Sócrates realiza na verdade duas interrogações. Por um lado,
interroga a sociedade para saber se o que ela costuma (ethos com eta) considerar virtuoso e bom
corresponde efetivamente à virtude e ao bem; e, por outro lado, interroga os indivíduos para saber se, ao
agir, possuem efetivamente consciência do significado e da finalidade de suas ações, se seu caráter ou
sua índole (ethos com epsilon) são realmente virtuosos e bons. A indagação ética socrática dirige-se,
portanto, à sociedade e ao indivíduo.

As questões socráticas inauguram a ética ou filosofia moral, porque definem o campo no qual valores
e obrigações morais podem ser estabelecidos, ao encontrar seu ponto de partida: a consciência do agente
moral. É sujeito ético moral somente aquele que sabe o que faz, conhece as causas e os fins de sua
ação, o significado de suas intenções e de suas atitudes e a essência dos valores morais. Sócrates afirma
que apenas o ignorante é vicioso ou incapaz de virtude, pois quem sabe o que é o bem não poderá deixar
de agir virtuosamente(...).

Aristóteles acrescenta à consciência moral, trazida por Sócrates, a vontade guiada pela razão como o
outro elemento fundamental da vida ética. A importância dada por Aristóteles à vontade racional, à
deliberação e à escolha o levou a considerar uma virtude como condição de todas as outras e presente
em todas elas: a prudência ou sabedoria prática. O prudente é aquele que, em todas as situações, é
capaz de julgar e avaliar qual a atitude e qual a ação que melhor realizarão a finalidade ética, ou seja,
entre as várias escolhas possíveis, qual a mais adequada para que o agente seja virtuoso e realize o que
é bom para si e para os outros.

Se examinarmos o pensamento filosófico dos antigos, veremos que nele a ética afirma três grandes
princípios da vida moral:

1. por natureza, os seres humanos aspiram ao bem e à felicidade, que só podem ser alcançados pela
conduta virtuosa;

2. a virtude é uma força interior do caráter, que consiste na consciência do bem e na conduta definida
pela vontade guiada pela razão, pois cabe a esta última o controle sobre instintos e impulsos irracionais
descontrolados que existem na natureza de todo ser humano;

3. a conduta ética é aquela na qual o agente sabe o que está e o que não está em seu poder realizar,
referindo-se, portanto, ao que é possível e desejável para um ser humano. Saber o que está em nosso
poder significa, principalmente, não se deixar arrastar pelas circunstâncias, nem pelos instintos, nem por
uma vontade alheia, mas afirmar nossa independência e nossa capacidade de autodeterminação(...).

Os filósofos antigos (gregos e romanos) consideravam a vida ética transcorrendo como um embate
contínuo entre nossos apetites e desejos – as paixões – e nossa razão. Por natureza, somos passionais
e a tarefa primeira da ética é a educação de nosso caráter ou de nossa natureza, para seguirmos a
orientação da razão. A vontade possuía um lugar fundamental nessa educação, pois era ela que deveria
ser fortalecida para permitir que a razão controlasse e dominasse as paixões. O passional é aquele que
se deixa arrastar por tudo quanto satisfaça imediatamente seus apetites e desejos, tornando-se escravo
deles. Desconhece a moderação, busca tudo imoderadamente, acabando vítima de si mesmo.

Podemos resumir a ética dos antigos em três aspectos principais:

1. o racionalismo: a vida virtuosa é agir em conformidade com a razão, que conhece o bem, o deseja
e guia nossa vontade até ele;

2. o naturalismo: a vida virtuosa é agir em conformidade com a Natureza (o cosmos) e com nossa
natureza (nosso ethos), que é uma parte do todo natural;

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3. a inseparabilidade entre ética e política: isto é, entre a conduta do indivíduo e os valores da
sociedade, pois somente na existência compartilhada com outros encontramos liberdade, justiça e
felicidade.

A ética, portanto, era concebida como educação do caráter do sujeito moral para dominar
racionalmente impulsos, apetites e desejos, para orientar a vontade rumo ao bem e à felicidade, e para
formá-lo como membro da coletividade sociopolítica.

Sua finalidade era a harmonia entre o caráter do sujeito virtuoso e os valores coletivos, que também
deveriam ser virtuosos.

O cristianismo: interioridade e dever


Diferentemente de outras religiões da Antiguidade, que eram nacionais e políticas, o cristianismo nasce
como religião de indivíduos que não se definem por seu pertencimento a uma nação ou a um Estado,
mas por sua fé num mesmo e único Deus. Em outras palavras, enquanto nas demais religiões antigas a
divindade se relacionava com a comunidade social e politicamente organizada, o Deus cristão relaciona-
se diretamente com os indivíduos que nele creem. Isso significa, antes de qualquer coisa, que a vida ética
do cristão não será definida por sua relação com a sociedade, mas por sua relação espiritual e interior
com Deus. Dessa maneira, o cristianismo introduz duas diferenças primordiais na antiga concepção ética:
em primeiro lugar, a ideia de que a virtude se define por nossa relação com Deus e não com a cidade (a
polis) nem com os outros. Nossa relação com o outros depende da qualidade de nossa relação com Deus,
único mediador entre cada indivíduo e os demais. Por esse motivo, as duas virtudes cristãs primeiras e
condições de todas as outras são a fé (qualidade da relação de nossa alma com Deus) e a caridade (o
amor aos outros e a responsabilidade pela salvação dos outros, conforme exige a fé). As duas virtudes
são privadas, isto é, são relações do indivíduo com Deus e com os outros, a partir da intimidade e da
interioridade de cada um; em segundo lugar, a afirmação de que somos dotados de vontade livre – ou
livre-arbítrio – e que o primeiro impulso de nossa liberdade dirige-se para o mal e para o pecado, isto é,
para a transgressão das leis divinas. Somos seres fracos, pecadores, divididos entre o bem (obediência
a Deus) e o mal (submissão à tentação demoníaca). Em outras palavras, enquanto para os filósofos
antigos a vontade era uma faculdade racional capaz de dominar e controlar a desmesura passional de
nossos apetites e desejos, havendo, portanto, uma força interior (a vontade consciente) que nos tornava
morais, para o cristianismo, a própria vontade está pervertida pelo pecado e precisamos do auxílio divino
para nos tornarmos morais.

Qual o auxílio divino sem o qual a vida ética seria impossível? A lei divina revelada, que devemos
obedecer obrigatoriamente e sem exceção. O cristianismo, portanto, passa a considerar que o ser
humano é, em si mesmo e por si mesmo, incapaz de realizar o bem e as virtudes. Tal concepção leva a
introduzir uma nova ideia na moral: a ideia do dever.

Por meio da revelação aos profetas (Antigo Testamento) e de Jesus Cristo (Novo Testamento), Deus
tornou sua vontade e sua lei manifestas aos seres humanos, definindo eternamente o bem e o mal, a
virtude e o vício, a felicidade e a infelicidade, a salvação e o castigo. Aos humanos, cabe reconhecer a
vontade e a lei de Deus, cumprindo-as obrigatoriamente, isto é, por atos de dever. Estes tornam morais
um sentimento, uma intenção, uma conduta ou uma ação.

Mesmo quando, a partir do Renascimento, a filosofia moral distancia-se dos princípios teológicos e da
fundamentação religiosa da ética, a ideia do dever permanecerá como uma das marcas principais da
concepção ética ocidental. Com isso, a filosofia moral passou a distinguir três tipos fundamentais de
conduta:

1. a conduta moral ou ética, que se realiza de acordo com as normas e as regras impostas pelo dever;

2. a conduta imoral ou antiética, que se realiza contrariando as normas e as regras fixadas pelo dever;

3. a conduta indiferente à moral, quando agimos em situações que não são definidas pelo bem e pelo
mal, e nas quais não se impõem as normas e as regras do dever.

Juntamente com a ideia do dever, a moral cristã introduziu uma outra, também decisiva na constituição
da moralidade ocidental: a ideia de intenção. Até o cristianismo, a filosofia moral localizava a conduta

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ética nas ações e nas atitudes visíveis do agente moral, ainda que tivessem como pressuposto algo que
se realizava no interior do agente, em sua vontade racional ou consciente. Eram as condutas visíveis que
eram julgadas virtuosas ou viciosas. O cristianismo, porém, é uma religião da interioridade, afirmando que
a vontade e a lei divinas não estão escritas nas pedras nem nos pergaminhos, mas inscritas no coração
dos seres humanos. A primeira relação ética, portanto, se estabelece entre o coração do indivíduo e Deus,
entre a alma invisível e a divindade. Como consequência, passou-se a considerar como submetido ao
julgamento ético tudo quanto, invisível aos olhos humanos, é visível ao espírito de Deus, portanto, tudo
quanto acontecem nosso interior. O dever não se refere apenas às ações visíveis, mas também às
intenções invisíveis, que passam a ser julgadas eticamente. Eis por que um cristão, quando se confessa,
obriga-se a confessar pecados cometidos por atos, palavras e intenções. Sua alma, invisível, tem o
testemunho do olhar de Deus, que a julga.

Natureza humana e dever

O cristianismo introduz a ideia do dever para resolver um problema ético, qual seja, oferecer um
caminho seguro para nossa vontade, que, sendo livre, mas fraca, sente-se dividida entre o bem e o mal.
No entanto, essa ideia cria um problema novo. Se o sujeito moral é aquele que encontra em sua
consciência (vontade, razão, coração) as normas da conduta virtuosa, submetendo-se apenas ao bem,
jamais submetendo-se a poderes externos à consciência, como falar em comportamento ético por dever?
Este não seria o poder externo de uma vontade externa (Deus), que nos domina e nos impõe suas leis,
forçando-nos a agir em conformidade com regras vindas de fora de nossa consciência?

Em outras palavras, se a ética exige um sujeito autônomo, a ideia de dever não introduziria a
heteronomia, isto é, o domínio de nossa vontade e de nossa consciência por um poder estranho a nós?

Um dos filósofos que procuraram resolver essa dificuldade foi Rousseau, no século XVIII. Para ele, a
consciência moral e o sentimento do dever são inatos, são “a voz da Natureza” e o “dedo de Deus” em
nossos corações. Nascemos puros e bons, dotados de generosidade e de benevolência para com os
outros. Se o dever parece ser uma imposição e uma obrigação externa, imposta por Deus aos humanos,
é porque nossa bondade natural foi pervertida pela sociedade, quando esta criou a propriedade privada
e os interesses privados, tornando-nos egoístas, mentirosos e destrutivos.

O dever simplesmente nos força a recordar nossa natureza originária e, portanto, só em aparência é
imposição exterior. Obedecendo ao dever (à lei divina inscrita em nosso coração), estamos obedecendo
a nós mesmos, aos nossos sentimentos e às nossas emoções e não à nossa razão, pois esta é
responsável pela sociedade egoísta e perversa.

Uma outra resposta, também no final do século XVIII, foi trazida por Kant.

Opondo-se à “moral do coração” de Rousseau, Kant volta a afirmar o papel da razão na ética. Não
existe bondade natural. Por natureza, diz Kant, somos egoístas, ambiciosos, destrutivos, agressivos,
cruéis, ávidos de prazeres que nunca nos saciam e pelos quais matamos, mentimos, roubamos. É
justamente por isso que precisamos do dever para nos tornarmos seres morais.

A exposição kantiana parte de duas distinções:

1. a distinção entre razão pura teórica ou especulativa e razão pura prática;

2. a distinção entre ação por causalidade ou necessidade e ação por finalidade ou liberdade.

Razão pura teórica e prática são universais, isto é, as mesmas para todos os homens em todos os
tempos e lugares – podem variar no tempo e no espaço os conteúdos dos conhecimentos e das ações,
mas as formas da atividade racional de conhecimento e da ação são universais. Em outras palavras, o
sujeito, em ambas, é sujeito transcendental, como vimos na teoria do conhecimento. A diferença entre
razão teórica e prática encontra-se em seus objetos. A razão teórica ou especulativa tem como matéria
ou conteúdo a realidade exterior a nós, um sistema de objetos que opera segundo leis necessárias de
causa e efeito, independentes de nossa intervenção; a razão prática não contempla uma causalidade
externa necessária, mas cria sua própria realidade, na qual se exerce. Essa diferença decorre da distinção
entre necessidade e finalidade/liberdade.

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A Natureza é o reino da necessidade, isto é, de acontecimentos regidos por sequências necessárias
de causa e efeito – é o reino da física, da astronomia, da química, da psicologia. Diferentemente do reino
da Natureza, há o reino humano da práxis, no qual as ações são realizadas racionalmente não por
necessidade causal, mas por finalidade e liberdade.

A razão prática é a liberdade como instauração de normas e fins éticos. Se a razão prática tem o poder
para criar normas e fins morais, tem também o poder para impô-los a si mesma. Essa imposição que a
razão prática faz a si mesma daquilo que ela própria criou é o dever. Este, portanto, longe de ser uma
imposição externa feita à nossa vontade e à nossa consciência, é a expressão da lei moral em nós,
manifestação mais alta da humanidade em nós. Obedecê-lo é obedecer a si mesmo. Por dever, damos a
nós mesmos os valores, os fins e as leis de nossa ação moral e por isso somos autônomos.

Resta, porém, uma questão: se somos racionais e livres, por que valores, fins e leis morais não são
espontâneos em nós, mas precisam assumir a forma do dever?

Responde Kant: porque não somos seres morais apenas. Também somos seres naturais, submetidos
à causalidade necessária da Natureza. Nosso corpo e nossa psique são feitos de apetites, impulsos,
desejos e paixões. Nossos sentimentos, nossas emoções e nossos comportamentos são a parte da
Natureza em nós, exercendo domínio sobre nós, submetendo-se à causalidade natural inexorável.

Quem se submete a eles não pode possuir a autonomia ética. A Natureza nos impele a agir por
interesse. Este é a forma natural do egoísmo que nos leva a usar coisas e pessoas como meios e
instrumentos para o que desejamos. Além disso, o interesse nos faz viver na ilusão de que somos livres
e racionais por realizarmos ações que julgamos terem sido decididas livremente por nós, quando, na
verdade, são um impulso cego determinado pela causalidade natural. Agir por interesse é agir
determinado por motivações físicas, psíquicas, vitais, à maneira dos animais.

Visto que apetites, impulsos, desejos, tendências, comportamentos naturais costumam ser muito mais
fortes do que a razão, a razão prática e a verdadeira liberdade precisam dobrar nossa parte natural e
impor-nos nosso ser moral. Elas o fazem obrigando-nos a passar das motivações do interesse para o
dever. Para sermos livres, precisamos ser obrigados pelo dever de sermos livres.

Assim, à pergunta que fizemos no capítulo anterior sobre o perigo da educação ética ser violência
contra nossa natureza espontaneamente passional, Kant responderá que, pelo contrário, a violência
estará em não compreendermos nossa destinação racional e em confundirmos nossa liberdade com a
satisfação irracional de todos os nossos apetites e impulsos. O dever revela nossa verdadeira natureza.

O dever, afirma Kant, não se apresenta através de um conjunto de conteúdos fixos, que definiriam a
essência de cada virtude e diriam que atos deveriam ser praticados e evitados em cada circunstância de
nossas vidas. O dever não é um catálogo de virtudes nem uma lista de “faça isto” e “não faça aquilo”. O
dever é uma forma que deve valer para toda e qualquer ação moral.

Essa forma não é indicativa, mas imperativa. O imperativo não admite hipóteses (“se… então”) nem
condições que o fariam valer em certas situações e não valer em outras, mas vale incondicionalmente e
sem exceções para todas as circunstâncias de todas as ações morais. Por isso, o dever é um imperativo
categórico. Ordena incondicionalmente. Não é uma motivação psicológica, mas a lei moral interior. O
imperativo categórico exprime-se numa fórmula geral: Age em conformidade apenas com a máxima que
possas querer que se torne uma lei universal. Em outras palavras, o ato moral é aquele que se realiza
como acordo entre a vontade e as leis universais que ela dá a si mesma.

Essa fórmula permite a Kant deduzir as três máximas morais que exprimem a incondicionalidade dos
atos realizados por dever. São elas:

1. Age como se a máxima de tua ação devesse ser erigida por tua vontade em lei universal da
Natureza;

2. Age de tal maneira que trates a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de outrem,
sempre como um fim e nunca como um meio;

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3. Age como se a máxima de tua ação devesse servir de lei universal para todos os seres racionais(...).

As respostas de Rousseau e Kant, embora diferentes, procuram resolver a mesma dificuldade, qual
seja, explicar por que o dever e a liberdade da consciência moral são inseparáveis e compatíveis. A
solução de ambos consiste em colocar o dever em nosso interior, desfazendo a impressão de que ele
nos seria imposto de fora por uma vontade estranha à nossa.

Cultura e dever

Rousseau e Kant procuraram conciliar o dever e a ideia de uma natureza humana que precisa ser
obrigada à moral. No entanto, ao enfatizarem a questão da natureza (Natureza e natureza humana),
tenderam a perder de vista o problema da relação entre o dever e a Cultura, pois poderíamos repetir,
agora, a pergunta que fizemos antes: Se a ética exige um sujeito consciente e autônomo, como explicar
que a moral exija o cumprimento do dever, definido como um conjunto de valores, normas, fins e leis
estabelecidos pela Cultura? Não estaríamos de volta ao problema da exterioridade entre o sujeito e o
dever? A resposta a essa questão foi trazida, no século XIX, por Hegel. Hegel critica Rousseau e Kant
por dois motivos. Em primeiro lugar, por terem dado atenção à relação sujeito humano-Natureza (a
relação entre razão e paixões), esquecendo a relação sujeito humano-Cultura e História. Em segundo
lugar, por terem admitido a relação entre a ética e a sociabilidade dos seres humanos, mas tratando-a a
partir de laços muito frágeis, isto é, como relações pessoais diretas entre indivíduos isolados ou
independentes, quando deveriam tê-la tomado a partir dos laços fortes das relações sociais, fixadas pelas
instituições sociais (família, sociedade civil, Estado). As relações pessoais entre indivíduos são
determinadas e mediadas por suas relações sociais. São estas últimas que determinam a vida ética ou
moral dos indivíduos.

Somos, diz Hegel, seres históricos e culturais. Isso significa que, além de nossa vontade individual
subjetiva (que Rousseau chamou de coração e Kant de razão prática), existe uma outra vontade, muito
mais poderosa, que determina a nossa: a vontade objetiva, inscrita nas instituições ou na Cultura.

A vontade objetiva – impessoal, coletiva, social, pública – cria as instituições e a moralidade como
sistema regulador da vida coletiva por meio de mores, isto é, dos costumes e dos valores de uma
sociedade, numa época determinada. A moralidade é uma totalidade formada pelas instituições (família,
religião, artes, técnicas, ciências, relações de trabalho, organização política, etc.), que obedecem, todas,
aos mesmos valores e aos mesmos costumes, educando os indivíduos para interiorizarem a vontade
objetiva de sua sociedade e de sua cultura.

A vida ética é o acordo e a harmonia entre a vontade subjetiva individual e a vontade objetiva cultural.
Realiza-se plenamente quando interiorizamos nossa Cultura, de tal maneira que praticamos espontânea
e livremente seus costumes e valores, sem neles pensarmos, sem os discutirmos, sem deles duvidarmos,
porque são como nossa própria vontade os deseja. O que é, então, o dever? O acordo pleno entre nossa
vontade subjetiva individual e a totalidade ética ou moralidade.

Como consequência, o imperativo categórico não poderá ser uma forma universal desprovida de
conteúdo determinado, como afirmara Kant, mas terá, em cada época, em cada sociedade e para cada
Cultura, conteúdos determinados, válidos apenas para aquela formação histórica e cultural. Assim cada
sociedade, em cada época de sua História, define os valores positivos e negativos, os atos permitidos e
os proibidos para seus membros, o conteúdo dos deveres e do imperativo moral.

Ser ético e livre será, portanto, pôr-se de acordo com as regras morais de nossa sociedade,
interiorizando-as.

Hegel afirma que podemos perceber ou reconhecer o momento em que uma sociedade e uma Cultura
entram em declínio, perdem força para conservar-se e abrem-se às crises internas que anunciam seu
término e sua passagem a uma outra formação sociocultural. Esse momento é aquele no qual os
membros daquela sociedade e daquela Cultura contestam os valores vigentes, sentem-se oprimidos e
esmagados por eles, agem de modo a transgredi-los. É o momento no qual o antigo acordo entre as
vontades subjetivas e a vontade objetiva rompem-se inexoravelmente, anunciando um novo período
histórico.

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Numa perspectiva algo semelhante à hegeliana encontra-se, no século XX, o filósofo francês Henri
Bergson. Como Hegel, Bergson procura compreender a relação dever-Cultura ou dever-História e,
portanto, as mudanças nas formas e no conteúdo da moralidade. Distingue ele duas morais: a moral
fechada e a aberta. A moral fechada é o acordo entre os valores e os costumes de uma sociedade e os
sentimentos e as ações dos indivíduos que nela vivem. É a moral repetitiva, habitual, respeitada quase
automaticamente por nós. Em contrapartida, a moral aberta é uma criação de novos valores e de novas
condutas que rompem a moral fechada, instaurando uma ética nova. Os criadores éticos são, para
Bergson, indivíduos excepcionais – heróis, santos, profetas, artistas -, que colocam suas vidas a serviço
de um tempo novo, inaugurado por eles, graças a ações exemplares, que contrariam a moral fechada
vigente.

Hegel diria que a moral aberta bergsoniana só pode acontecer quando a moralidade vigente está em
crise, prestes a terminar, porque um novo período histórico-cultural está para começar. A moral fechada
quando sentida como repressora e opressora, e a totalidade ética, quando percebida como contrária à
subjetividade individual, indicam aquele momento em que as normas e os valores morais são
experimentados como violência e não mais como realização ética.

História e Virtudes(...)

Para Espinosa, somos seres naturalmente passionais, porque sofremos a ação de causas exteriores
a nós. Em outras palavras, ser passional é ser passivo, deixando-se dominar e conduzir por forças
exteriores ao nosso corpo e à nossa alma. Ora, por natureza, vivemos rodeados por outros seres, mais
fortes do que nós, que agem sobre nós. Por isso, as paixões não são boas nem más: são naturais. Três
são as paixões originais: alegria, tristeza e desejo. As demais derivam-se destas. Assim, da alegria
nascem o amor, a devoção, a esperança, a segurança, o contentamento, a misericórdia, a glória; da
tristeza surgem o ódio, a inveja, o orgulho, o arrependimento, a modéstia, o medo, o desespero, o pudor;
do desejo provém a gratidão, a cólera, a crueldade, a ambição, o temor, a ousadia, a luxúria, a avareza.

Uma paixão triste é aquela que diminui a capacidade de ser e agir de nosso corpo e de nossa alma;
ao contrário, uma paixão alegre aumenta a capacidade de existir e agir de nosso corpo e de nossa alma.
No caso do desejo, podemos ter paixões tristes (como a crueldade, a ambição, a avareza) ou alegres
(como a gratidão e a ousadia).

Que é o vício? Submeter-se às paixões, deixando-se governar pelas causas externas. Que é a virtude?
Ser causa interna de nossos sentimentos, atos e pensamentos. Ou seja, passar da passividade
(submissão a causas externas) à atividade (ser causa interna). A virtude é, pois, passar da paixão à ação,
tornar-se causa ativa interna de nossa existência, atos e pensamentos. As paixões e os desejos tristes
nos enfraquecem e nos tornam cada vez mais passivos. As paixões e os desejos alegres nos fortalecem
e nos preparam para passar da passividade à atividade.

Como sucumbimos ao vício? Deixando-nos dominar pelas paixões tristes e pelas desejantes nascidas
da tristeza. O vício não é um mal: é fraqueza para existir, agir e pensar. Como passamos da paixão à
ação ou à virtude? Transformando as paixões alegres e as desejantes nascidas da alegria em atividades
de que somos a causa. A virtude não é um bem: é a força para ser e agir autonomamente.

Observamos, assim, que a ética espinosista evita oferecer um quadro de valores ou de vícios e
virtudes, distanciando-se de Aristóteles e da moral cristã, para buscar na ideia moderna de indivíduo livre
o núcleo da ação moral. Em sua obra, Ética, Espinosa jamais fala em pecado e em dever; fala em fraqueza
e em força para ser, pensar e agir.

As virtudes aristotélicas inserem-se numa sociedade que valorizava as relações sociopolíticas entre
os seres humanos, donde a proeminência da amizade e da justiça. As virtudes cristãs inserem-se numa
sociedade voltada para a relação dos humanos com Deus e com a lei divina. A virtude espinosista toma
a relação do indivíduo com a Natureza e a sociedade, centrando-se nas ideias de integridade individual
e de força interna para relacionar-se livremente com ambas. Como, porém, vivemos numa cultura cristã,
a perspectiva do cristianismo, embora historicamente datada, tende a ser dominante, ainda que se altere
periodicamente para adaptar-se a novas exigências históricas. Assim, no século XVII, Espinosa abandona
as noções cristãs de pecado e dever que, no século XVIII, reaparecem com Kant.

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Razão, desejo e vontade

A tradição filosófica que examinamos até aqui constitui o racionalismo ético, pois atribui à razão
humana o lugar central na vida ética. Duas correntes principais formam a tradição racionalista: aquela
que identifica razão com inteligência, ou intelecto – corrente intelectualista – e aquela que considera que,
na moral, a razão identifica-se com a vontade – corrente voluntarista.

Para a concepção intelectualista, a vida ética ou vida virtuosa depende do conhecimento, pois é
somente por ignorância que fazemos o mal e nos deixamos arrastar por impulsos e paixões contrários à
virtude e ao bem. O ser humano, sendo essencialmente racional, deve fazer com que sua razão ou
inteligência (o intelecto) conheça os fins morais, os meios morais e a diferença entre bem e mal, de modo
a conduzir a vontade no momento da deliberação e da decisão. A vida ética depende do desenvolvimento
da inteligência ou razão, sem a qual a vontade não poderá atuar.

Para a concepção voluntarista, a vida ética ou moral depende essencialmente da nossa vontade,
porque dela depende nosso agir e porque ela pode querer ou não querer o que a inteligência lhe ordena.
Se a vontade for boa, seremos virtuosos, se for má, seremos viciosos. A vontade boa orienta nossa
inteligência no momento da escolha de uma ação, enquanto a vontade má desvia nossa razão da boa
escolha, no momento de deliberar e de agir. A vida ética depende da qualidade de nossa vontade e da
disciplina para forçá-la rumo ao bem. O dever educa a vontade para que se torne reta e boa.

Nas duas correntes, porém, há concordância quanto à ideia de que, por natureza, somos seres
passionais, cheios de apetites, impulsos e desejos cegos, desenfreados e desmedidos, cabendo à razão
(seja como inteligência, no intelectualismo, seja como vontade, no voluntarismo) estabelecer limites e
controles para paixões e desejos. Egoísmo, agressividade, avareza, busca ilimitada de prazeres
corporais, sexualidade sem freios, mentira, hipocrisia, má-fé, desejo de posse (tanto de coisas como de
pessoas), ambição desmedida, crueldade, medo, covardia, preguiça, ódio, impulsos assassinos,
desprezo pela vida e pelos sentimentos alheios são algumas das muitas paixões que nos tornam imorais
e incapazes de relações decentes e dignas com os outros e conosco mesmos.

Quando cedemos a elas, somos viciosos e culpados. A ética apresenta-se, assim, como trabalho da
inteligência e/ou da vontade para dominar e controlar essas paixões.
Uma paixão – amor, ódio, inveja, ambição, orgulho, medo – coloca-nos à mercê de coisas e pessoas
que desejamos possuir ou destruir. O racionalismo ético define a tarefa da educação moral e da conduta
ética como poderio da razão para impedir- nos de perder a liberdade sob os efeitos de paixões
desmedidas e incontroláveis.

Para tanto, a ética racionalista distingue necessidade, desejo e vontade.

A necessidade diz respeito a tudo quanto necessitamos para conservar nossa existência: alimentação,
bebida, habitação, agasalho no frio, proteção contra as intempéries, relações sexuais para a procriação,
descanso para desfazer o cansaço, etc.

Para os seres humanos, satisfazer às necessidades é fonte de satisfação. O desejo parte da satisfação
de necessidades, mas acrescenta a elas o sentimento do prazer, dando às coisas, às pessoas e às
situações novas qualidades e sentidos.

No desejo, nossa imaginação busca o prazer e foge da dor pelo significado atribuído ao que é desejado
ou indesejado. A maneira como imaginamos a satisfação, o prazer, o contentamento que alguma coisa
ou alguém nos dão transforma esta coisa ou este alguém em objeto de desejo e o procuramos sempre,
mesmo quando não conseguimos possuí-lo ou alcançá-lo. O desejo é, pois, a busca da fruição daquilo
que é desejado, porque o objeto do desejo dá sentido à nossa vida, determina nossos sentimentos e
nossas ações. Se, como os animais, temos necessidades, somente como humanos temos desejos. Por
isso, muitos filósofos afirmam que a essência dos seres humanos é desejar e que somos seres
desejantes: não apenas desejamos, mas sobretudo desejamos ser desejados por outros.

A vontade difere do desejo por possuir três características que este não possui:

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1. o ato voluntário implica um esforço para vencer obstáculos. Estes podem ser materiais (uma
montanha surge no meio do caminho), físicos (fadiga, dor) ou psíquicos (desgosto, fracasso, frustração).
A tenacidade e a perseverança, a resistência e a continuação do esforço são marcas da vontade e por
isso falamos em força de vontade;

2. o ato voluntário exige discernimento e reflexão antes de agir, isto é, exige deliberação, avaliação e
tomada de decisão. A vontade pesa, compara, avalia, discute, julga antes da ação;

3. a vontade refere-se ao possível, isto é, ao que pode ser ou deixar de ser e que se torna real ou
acontece graças ao ato voluntário, que atua em vista de fins e da previsão das consequências. Por isso,
a vontade é inseparável da responsabilidade.

O desejo é paixão. A vontade, decisão. O desejo nasce da imaginação. A vontade se articula à reflexão.
O desejo não suporta o tempo, ou seja, desejar é querer a satisfação imediata e o prazer imediato. A
vontade, ao contrário, realiza-se no tempo; o esforço e a ponderação trabalham com a relação entre
meios e fins e aceitam a demora da satisfação. Mas é o desejo que oferece à vontade os motivos interiores
e os fins exteriores da ação. À vontade cabe a educação moral do desejo.

Na concepção intelectualista, a inteligência orienta a vontade para que esta eduque o desejo. Na
concepção voluntarista, a vontade boa tem o poder de educar o desejo, enquanto a vontade má submete-
se a ele e pode, em muitos casos, pervertê-lo.

Consciência, desejo e vontade formam o campo da vida ética: consciência e desejo referem-se às
nossas intenções e motivações; a vontade, às nossas ações e finalidades. As primeiras dizem respeito à
qualidade da atitude interior ou dos sentimentos internos ao sujeito moral; as últimas, à qualidade da
atitude externa, das condutas e dos comportamentos do sujeito moral.

Para a concepção racionalista, a filosofia moral é o conhecimento das motivações e intenções (que
movem interiormente o sujeito moral) e dos meios e fins da ação moral capazes de concretizar aquelas
motivações e intenções. Convém observar que a posição de Kant, embora racionalista, difere das demais
porque considera irrelevantes as motivações e intenções do sujeito, uma vez que a ética diz respeito à
forma universal do ato moral, como ato livre de uma vontade racional boa, que age por dever segundo as
leis universais que deu a si mesma. O imperativo categórico exclui motivos e intenções (que são sempre
particulares) porque estes o transformariam em algo condicionado por eles e, portanto, o tornariam um
imperativo hipotético, destruindo-o como fundamento universal da ação ética por dever.

Ética das emoções e do desejo(...)

Há ainda uma outra concepção ética, francamente contrária à racionalista (e, por isso, muitas vezes
chamada de irracionalista), que contesta à razão o poder e o direito de intervir sobre o desejo e as paixões,
identificando a liberdade com a plena manifestação do desejante e do passional. Essa concepção
encontra-se em Nietzsche e em vários filósofos contemporâneos.

Embora com variantes, essa concepção filosófica pode ser resumida nos seguintes pontos principais,
tendo como referência a obra nietzscheana A genealogia da moral: a moral racionalista foi erguida com
finalidade repressora e não para garantir o exercício da liberdade; a moral racionalista transformou tudo
o que é natural e espontâneo nos seres humanos em vício, falta, culpa, e impôs a eles, com os nomes de
virtude e dever, tudo o que oprime a natureza humana; paixões, desejos e vontade referem-se à vida e à
expansão de nossa força vital, portanto, não se referem, espontaneamente, ao bem e ao mal, pois estes
são uma invenção da moral racionalista; a moral racionalista foi inventada pelos fracos para controlar e
dominar os fortes, cujos desejos, paixões e vontade afirmam a vida, mesmo na crueldade e na
agressividade. Por medo da força vital dos fortes, os fracos condenaram paixões e desejos, submeteram
a vontade à razão, inventaram o dever e impuseram castigos para os transgressores; transgredir normas
e regras estabelecidas é a verdadeira expressão da liberdade e somente os fortes são capazes dessa
ousadia. Para disciplinar e dobrar a vontade dos fortes, a moral racionalista, inventada pelos fracos,
transformou a transgressão em falta, culpa e castigo; a força vital se manifesta como saúde do corpo e
da alma, como força da imaginação criadora. Por isso, os fortes desconhecem angústia, medo, remorso,
humildade, inveja. A moral dos fracos, porém, é atitude preconceituosa e covarde dos que temem a saúde
e a vida, invejam os fortes e procuram, pela mortificação do corpo e pelo sacrifício do espírito, vingar-se

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da força vital; a moral dos fracos é produto do ressentimento, que odeia e teme a vida, envenenando-a
com a culpa e o pecado, voltando contra si mesma o ódio à vida; a moral dos ressentidos, baseada no
medo e no ódio à vida (às paixões, aos desejos, à vontade forte), inventa uma outra vida, futura, eterna,
incorpórea, que será dada como recompensa aos que sacrificarem seus impulsos vitais e aceitarem os
valores dos fracos; a sociedade, governada por fracos hipócritas, impõe aos fortes modelos éticos que os
enfraqueçam e os tornem prisioneiros dóceis da hipocrisia da moral vigente; é preciso manter os fortes,
dizendo-lhes que o bem é tudo o que fortalece o desejo da vida e o mal tudo o que é contrário a esse
desejo. Para esses filósofos, que podemos chamar de anti-racionalistas, a moral racionalista ou dos
fracos e ressentidos que temem a vida, o corpo, o desejo e as paixões é a moral dos escravos, dos que
renunciam à verdadeira liberdade ética(...)

Essa concepção da ética suscita duas observações.

Em primeiro lugar, lembremos que a ética nasce como trabalho de uma sociedade para delimitar e
controlar a violência, isto é, o uso da força contra outrem. Vimos que a filosofia moral se ergue como
reflexão contra a violência, em nome de um ser humano concebido como racional, desejante, voluntário
e livre, que, sendo sujeito, não pode ser tratado como coisa. A violência era localizada tanto nas ações
contra outrem – assassinato, tortura, suplício, escravidão, crueldade, mentira, etc. – como nas ações
contra nós mesmos – passividade, covardia, ódio, medo, adulação, inveja, remorso, etc.

A ética se propunha, assim, a instituir valores, meios e fins que nos libertassem dessa dupla violência.
Os críticos da moral racionalista, porém, afirmam que a própria ética, transformada em costumes,
preconceitos cristalizados e sobretudo em confiança na capacidade apaziguadora da razão, tornou-se a
forma perfeita da violência. Contra ela, os anti-racionalistas defendem o valor de uma violência nova e
purificadora – a potência ou a força dos instintos -, considerada libertadora. O problema consiste em saber
se tal violência pode ter um papel libertador e suscitar uma nova ética.

Em segundo lugar, é curioso observar que muitos dos chamados irracionalistas contemporâneos
baseiam-se na psicanálise e na teoria freudiana da repressão do desejo (fundamentalmente, do desejo
sexual). Propõem uma ética que libere o desejo da repressão a que a sociedade o submeteu, repressão
causadora de psicoses, neuroses, angústias e desesperos. O aspecto curioso está no fato de que Freud
considerava extremamente perigoso liberar o id, as pulsões e o desejo, porque a psicanálise havia
descoberto uma ligação profunda entre o desejo de prazer e o desejo de morte, a violência incontrolável
do desejo, se não for orientado e controlado pelos valores éticos propostos pela razão e por uma
sociedade racional.

Essas duas observações não devem, porém, esconder os méritos e as dificuldades da proposta moral
anti-racionalista. É o seu grande mérito desnudar a hipocrisia e a violência da moral vigente, trazer de
volta o antigo ideal de felicidade que nossa sociedade destruiu por meio da repressão e dos preconceitos.
Porém, a dificuldade, como acabamos de assinalar acima, está em saber se o que devemos criticar e
abandonar é a razão ou a racionalidade repressora e violenta, inventada por nossa sociedade, que precisa
ser destruída por uma nova sociedade e uma nova racionalidade.

Sob esse aspecto, é interessante observar que não só Freud e Nietzsche criticaram a violência
escondida sob a moral vigente em nossa Cultura, mas a mesma crítica foi feita por Bergson (quando
descreveu a moral fechada) e por Marx, quando criticou a ideologia burguesa. Marx afirmava que os
valores da moral vigente – liberdade, felicidade, racionalidade, respeito à subjetividade e à humanidade
de cada um, etc. – eram hipócritas não em si mesmos (como julgava Nietzsche), mas porque eram
irrealizáveis e impossíveis numa sociedade violenta como a nossa, baseada na exploração do trabalho,
na desigualdade social e econômica, na exclusão de uma parte da sociedade dos direitos políticos e
culturais. A moral burguesa, dizia Marx, pretende ser um racionalismo humanista, mas as condições
materiais concretas em que vive a maioria da sociedade impedem a existência plena de um ser humano
que realize os valores éticos. Para Marx, portanto, tratava-se de mudar a sociedade para que a ética
pudesse concretizar-se.

Críticas semelhantes foram feitas por pensadores socialistas, anarquistas, utópicos, para os quais o
problema não se encontrava na razão como poderio dos fracos ressentidos contra os fortes, mas no modo
como a sociedade está organizada, pois nela o imperativo categórico kantiano, por exemplo, não pode

. 15
ser respeitado, uma vez que a organização social coloca uma parte da sociedade como coisa, instrumento
ou meio para a outra parte.

O intelecto: empirismo e criticismo.

Empirismo e criticismo3

Empirismo

O empirismo pode ser definido como a asserção de que todo conhecimento sintético é baseado na
experiência. Conceitua-se empirismo, como a corrente de pensamento que sustenta que a experiência
sensorial é a origem única ou fundamental do conhecimento.

Originário da Grécia Antiga, o empirismo foi reformulado através do tempo na Idade Média e Moderna,
assumindo várias manifestações e atitudes, tornando-se notável as distinções e divergências existentes.
Porém, é notório que existem características fundamentais, sem as quais se perde a essência do
empirismo e a qual, todos os autores conservam que é a tese de que todo e qualquer conhecimento
sintético haure sua origem na experiência e só é válido quando verificado por fatos metodicamente
observados, ou se reduz a verdades já fundadas no processo de pesquisa dos dados do real, embora,
sua validade lógica possa transcender o plano dos fatos observados.

Como já foi dito anteriormente, existe no empirismo divergência de pensamentos, e é exatamente esse
aspecto que abordaremos a seguir. São três, as linhas empíricas, sendo elas: a integral, a moderada e a
científica.

O empirismo integral reduz todos os conhecimentos à fonte empírica, aquilo que é produto de contato
direto e imediato com a experiência. Quando a redução é feita à mera experiência sensível, temos o
sensismo (ou sensualismo). É o caso de John Stuart Mill, que na obra Sistema da Lógica diz que todos
os conhecimentos científicos resultam de processos indutivos, não constituindo exceção as verdades
matemáticas, que seriam resultado de generalizações a partir de dados da experiência. Ele apresenta a
indução como único método científico e afirma que nela resolvem-se tanto o silogismo quanto os axiomas
matemáticos.

O empirismo moderado, também denominado genético-psicológico, explica que a origem temporal dos
conhecimentos parte da experiência, mas não reduz a ela a validez do conhecimento, o qual pode ser
não empiricamente valido (como nos casos dos juízos analíticos). Uma das obras baseadas nessa linha
é a de John Locke (Ensaios sobre o Entendimento Humano), na qual ele explica que as sensações são
ponto de partida de tudo aquilo que se conhece. Todas as ideias são elaborações de elementos que os
sentidos recebem em contato com a realidade.

Como já foi dito, para os moderados há verdades universalmente validas, como as matemáticas, cuja
validez não assenta na experiência, e sim no pensamento. Na doutrina de Locke, existe a admissão de
uma esfera de validade lógica a priori e, portanto não empírica, no que concerne aos juízos matemáticos.

Por fim, há o empirismo científico, que admite como válido, o conhecimento oriundo da experiência ou
verificado experimentalmente, atribuindo aos juízos analíticos significações de ordem formal enquadradas
no domínio das fórmulas lógicas. Esta tendência está longe de alcançar a almejada “unanimidade
científica”.

Criticismo

O criticismo é o estudo metódico prévio do ato de conhecer e dos modos de conhecimento, ou seja,
uma disposição metódica do espírito no sentido de situar, preliminarmente o problema do conhecimento
em função da relação sujeito-objeto, indagando as suas condições e pressupostos.

3
Texto adaptado e disponível em: http://filosofando.no.comunidades.net/index.php?pagina=1351028287_04

. 16
Ele aceita e recusa certas afirmações do empirismo e racionalismo, por isso, muitos autores acreditam
em sua autonomia. Entretanto, devemos entender tal posição como uma análise crítica e profunda dos
pressupostos do conhecimento.

Seu maior representante, Immanuel Kant, tem como marca a determinação a priori das condições
lógicas das ciências. Ele declara que o conhecimento não pode prescindir da experiência, a qual fornece
o material cognoscível e nesse ponto coincide com o empirismo. Porém, sustenta também que o
conhecimento de base empírica não pode prescindir de elementos racionais, tanto que só adquire
validade universal quando os dados sensoriais são ordenados pela razão. Segundo palavras do próprio
autor: “os conceitos sem as intuições são vazios; as intuições sem os conceitos são cegas”. Para ele, o
conhecimento é sempre uma subordinação do real à medida do humano.

Conclui-se então, que pela ótica do criticismo, o conhecimento implica sempre numa contribuição
positiva e construtora por parte do sujeito cognoscente em razão de algo que está no espírito,
anteriormente à experiência do ponto de vista gnosiológico.

Racionalismo, Empirismo e Criticismo4

Racionalismo

O Racionalismo é uma doutrina que atribui à Razão humana a capacidade exclusiva de conhecer e de
estabelecer a verdade. O racionalismo é baseado nos princípios da busca da certeza e da demonstração,
sustentados por um conhecimento a priori, ou seja, conhecimentos que não vêm da experiência e são
elaborados somente pela razão. Para o racionalismo a razão é a fonte principal do conhecimento.

Entre os filósofos que assumiram uma perspectiva racionalista do conhecimento, destaca-se René
Descartes, sua filosofia segue a mesma que Platão e Sócrates, ter a razão como instrumento fundamental
de conhecimento.

Empirismo

Para o empirismo a experiência é a fonte de todo o conhecimento, mas também o seu limite. Os
empiristas negam a existência de ideias inatas, como defendiam Platão e Descartes.

Os empiristas reservam para a razão a função de uma mera organização de dados da experiência
sensível, sendo as ideias ou conceitos da razão simples cópias ou combinações de dados provenientes
da experiência.

Entre os filósofos que assumiram uma perspectiva empirista destacam-se John Locke e David Hume.

Locke afirma que o conhecimento começa do particular para o geral, das impressões sensoriais para
a razão. A mente humana é como uma “tábua rasa” que por meio da experiência intermediada pelos
sentidos vão sendo geradas as ideias. Não há ideias nem princípios inatos. Nenhum ser humano por mais
genial que seja é capaz de construir ou inventar ideias, e nem sequer é capaz de destruir as que existem.

Para Hume as ideias são resultados de uma reflexão das impressões (sensações) recebidas das
experiências sensíveis. A imaginação permite-nos associar ideias simples entre si para formar ideias
complexas. Qualquer ideia tem assim origem em impressões sensoriais. As impressões não nos dão a
realidade, mas são a própria realidade. Por isso podemos dizer que as mesmas são verdadeiras ou falsas.
As ideias só são verdadeiras se procederam de impressões. Neste sentido, todas aquelas que não
correspondam a impressões sensíveis são falsas ou meras ficções, como é o caso das ideias de
"substância espírito", "causalidade", pois não correspondem a algo que exista.

4
Texto adaptado e disponível em: http://filosofiasociedadeeeducacao.blogspot.com.br/2012/05/racionalismo-empirismo-e-criticismo.html

. 17
Criticismo

Kant (1724-1804). Todo o conhecimento inicia-se com a experiência, mas este é organizado pelas
estruturas a priori do sujeito. Segundo Kant o conhecimento é a síntese do dado na nossa sensibilidade
(fenômeno) e daquilo que o nosso entendimento produz por si (conceitos). O conhecimento nunca é pois,
o conhecimento das coisas "em si", mas das coisas "em nós".

Para Kant, a dualidade "Racionalismo - Empirismo" é superada por uma harmonia entre os sentidos e
a razão.

Questões5

01. (Leopoldino Rocha) O sujeito ético-moral é somente aquele que preencher os seguintes
requisitos:

(A) ser consciente de si, mas não precisa reconhecer a existência dos outros como sujeitos éticos
iguais a si.
(B) saber o que faz, conhecer as causas e os fins de sua ação, o significado de suas intenções e de
suas atitudes e a essência dos valores morais.
(C) não precisa controlar interiormente seus impulsos, suas inclinações e suas paixões, deixando-as
fluir livremente
(D) dizer o que as coisas são, como são e por que são. Enunciar, pois, juízos de fato
(E) ser responsável, mas não precisa reconhecer-se como autor da sua própria ação nem avaliar os
efeitos e as consequências dela sobre si e sobre os outros.

02. O brasileiro tem noção clara dos comportamentos éticos e morais adequados, mas vive sob o
espectro da corrupção, revela pesquisa. Se o país fosse resultado dos padrões morais que as pessoas
dizem aprovar, pareceria mais com a Escandinávia do que com Bruzundanga (corrompida nação fictícia
de Lima Barreto).

O distanciamento entre “reconhecer” e “cumprir” efetivamente o que é moral constitui uma ambiguidade
inerente ao humano, porque as normas morais são:

5
DESCONVERSA. Questões. Disponível em: < https://descomplica.com.br/blog/exercicios-resolvidos/questoes-comentadas-pre-socraticos/> Acesso em 13 de
abril de 2017.

. 18
(A) decorrentes da vontade divina e, por esse motivo, utópicas.
(B) parâmetros idealizados, cujo cumprimento é destituído de obrigação.
(C) amplas e vão além da capacidade de o indivíduo conseguir cumpri-las integralmente.
(D) criadas pelo homem, que concede a si mesmo a lei à qual deve se submeter
(E) cumpridas por aqueles que se dedicam inteiramente a observar as normas jurídicas.

Respostas.

01 - B

Vamos analisar cada uma das alternativas.

a) Essa alternativa está errada, porque o sujeito moral precisa ter consciência de tudo que o cerca.
b) Essa alternativa responde perfeitamente à questão. O sujeito moral é aquele que vive em plena
consonância com sua cultura, com seus objetivos e com os outros.
c) O agir moral é o resultado de um acordo comunitário, por isso o homem precisa conter suas
paixões para que possa exercitá-lo.
d) O sujeito moral precisar ter disposição para alterar a realidade através de seus atos.
e) O sujeito moral deve responsabilizar-se inteiramente pelo que faz e abraçar as implicações de
seus atos totalmente.

02 - D
Vamos analisar cada uma das questões.

a) As normas morais são fruto do pensamento de cada comunidade.


b) A moral é um padrão de conduta coletiva que deve existir na teoria e na prática.
c) As normas morais têm um caráter restritivo, uma vez que funcionam como um conjunto de regras.
d) as normas morais foram criadas pelos homens e todos devem submeter-se a elas para que possam
ter uma convivência equilibrada.
e) O cumprimento das normas morais é um dever de todos.

4. A relação entre os valores éticos ou morais e a cultura

Ética, virtudes, valores e princípios

Se a ética é disciplina filosófica que lança esforço e olhares, de forma reflexiva e profundamente crítica,
sobre o comportamento humano, afim de valorá-lo como bom, justo (ou mau, injusto), fazendo-o através
da tentativa, perene, de compreensão do sentido da vida e da existência humana, buscando, inclusive,
fornecer elementos para correção moral da ação, de imperiosa necessidade o entendimento do que sejam
virtudes, princípios e valores.
Aristóteles, já na Grécia antiga (por volta do século V a. C.), dedicou um livro inteiro ao problema ético:
sua filosofia, em especial no plano da ética, tentou aliar o horizonte teórico-filosófico à dimensão prática
expressa no agir. Em Aristóteles, não é suficiente apenas conhecer, compreender e contemplar a verdade
sobre o bom, o justo, o correto; é necessário fazê-la atuar, agir segundo a verdade conhecida.
A ética – e toda a filosofia, deve expressar-se no agir humano. Por exemplo, de nada adianta saber
fazer fogo, se não se sabe para que e como usá-lo! Quer isto dizer que, nada adianta saber o que é bom,
justo, certo não significa que seremos, em nossas ações, bons, justos, corretos se assim não agirmos. A
ciência nos ensinou a fazer o fogo; mas é nossa consciência moral que nos orientará a como devemos
usá-lo: se para saciar adequada e dignamente a fome aquecendo o alimento, ou para causar dano a
integridade física ou patrimonial alheia incendiando deliberadamente!
O comportamento ético, já dizia Aristóteles, é o agir repetido em conformidade com as respectivas
virtudes (do grego areté). Mas o que são virtudes? Virtudes são excelências, são, no campo ético,
disposições do caráter, ou seja, a propensão (inclinação) a nos comportarmos bem relativamente
àquilo que nos afeta. Ora, as disposições do caráter podem nos levar a comportamentos bem ou mal
diante um sentimento que nos afeta, por exemplo. Mas este comportamento só será virtuoso, se for o
bem comportar-se. Assim, as disposições do caráter podem constituir virtudes ou perversões: se nos

. 19
comportarmos bem diante determinada situação, praticamos a virtude (excelência); se nos comportarmos
mal, praticamos a perversão (vício).
Apenas para melhor elucidação: quando somos magoados ou maltratados por uma pessoa, somos
tomados por um sentimento de raiva ou mesmo de ira. Imaginemos que somos um servidor público
responsável pela expedição de certidões que comprovam a existência ou inexistência de ações ajuizadas
em face dos cidadãos. Imaginemos então que aquela pessoa que nos magoou ou maltratou dias antes
vá até a repartição pública onde servimos e precise, com urgência, de uma certidão comprobatória de
inexistência de ações contra ela ajuizadas, para que consiga, rapidamente, vender um imóvel para
levantar dinheiro para fazer frente a despesas com sua saúde debilitada, diante deste quadro podemos
agir de duas formas: ou demoramos, deliberadamente, par expedir a dita certidão, como forma de causar-
lhe dor e sofrimento, e assim irmos à forra com quem nos magoou ou maltratou e neste caso nos
inclinaremos a um comportamento mau (viciado); ou atuaremos com presteza e agilidade, fornecendo-
lhe quanto antes a certidão buscada, tornado eficaz o serviço público e excelente nosso labor, inclinando-
os, assim, a um comportamento bom ,(virtuoso). Veja que nossas disposições de caráter podem pender
para a virtude ou para o vício, sendo tal a escolha ´tica que devemos fazer!
O comportamento ético é, por essência, virtuoso. A virtude, assim, é a potência moral do homem, a
realização mais perfeita de um modo de agir; e o hábito é que torna o homem virtuoso pela prática
reiterada de virtudes, de modo que a virtude é a disposição firme e constante para o que tem valor.
Em um sentido vulgar, “valor” é o preço (ou utilidade) dos bens materiais ou a dignidade (ou mérito)
das pessoas (o valor de um carro ou o mérito de um servidor público).
No campo ético, valores são objetos da escolham oral, os fins da ação ética; é o predicado, a
qualidade que torna algo estimável; é o preferível, o objeto de uma antecipação ou de uma
expectativa normativa (de um dever ser); é, enfim, possibilidade de escolha, já que nem sempre é
escolhido. Ora, a vida é um bem a que atribuímos altíssima estima; desta forma, a vida é um valor!
Ora, vimos acima que as disposições de caráter do homem podem orienta-lo para a prática do bem
(do que tem valor moral) ou para o mal (do que não tem valor moral); desta forma, de fato o valor é
preferível e uma possibilidade de escolha nem sempre escolhida, já que, como dito, o homem pode
inclinar-se para a perversão, para o vício. Portanto, o valor é objeto de uma escolha moral, de uma escolha
positivamente moral.
No exemplo anterior, do “servidor magoado”, se escolher o caminho virtuoso”, ou seja, cumprir com
presteza e agilidade seu labor ainda que em favor de quem lhe tenha magoado e maltratado, resta
evidente que escolheu o que tem valor positivo, o que deve ser moralmente estimado, já que escolheu
como valores a eficiência e excelência do serviço público em detrimento de qualquer interesse eu pessoal.
E a escolha do que tem valor, deve ser uma constante, deve orientar toda e qualquer de nossas ações,
porque só assim implementaremos o que de fato nos exige a ética.
É o habito, dessa forma, que, orientando o comportamento para a prática de virtudes, nos leva à
observância o valor.
Mas como fazer a escolha entre valores ou entre o que tem e o que não tem valor? O processo de
escolha, como todo processo, se faz por princípios. Princípios, assim, são, de forma geral, pontos de
partida ou fundamentos de um processo. Do ponto de vista filosófico, princípio é o fundamento do
ser, do devir (do vir a ser), do conhecer. Sob a perspectiva especificamente ética, princípio é a fonte, o
substrato em que se funda a ação.
Deste modo, por princípio, deve-se optar pela prática de virtudes, ou seja, inclinar-se para o que tem
valor moral, como forma de implementar o comportamento ético.
Os princípios que pomos, estabelecemos para nós mesmos, como vetores, guias do nosso
comportamento, nos são dados por nosso senso moral, ou seja, “pela maneira como avaliamos nossa
situação e a de nossos semelhantes segundo ideias como as de justiça e injustiça” e eleitos por nossa
consciência moral, ou seja, por nossa faculdade de estabelecer julgamento morais acerca de nossas
próprias escolhas.
Assim, o senso moral nos permite distinguir o justo do injusto, o certo do errado, o bom do mau; mas
é nossa consciência moral que nos torna responsável, perante nós mesmos e os outros, por nossas
escolhas. Nosso senso e nossa consciência moral nos auxiliam a definir, para nós mesmos, os valores
que iremos salvaguardar através de nosso comportamento individual e social.
Finalmente, parece desnecessário destacar que, do servidor público, espera-se a prática de virtudes,
a escolha do que vale moralmente, a orientação do comportamento segundo princípios que o dirijam ao
bem.

VIRTUDES (ARETÉ) VALORES PRINCÍPIOS


- excelências; - objeto de escolha moral; - ponto de partida;

. 20
- disposição do caráter para - o preferível - fundamento da ação
o bem

Questões

01. (MME – Nível Médio – CESPE/2013) Quando a distribuição de bens por determinado agente
público resulta em benefícios aos desfavorecidos, é correto afirmar que os princípios e valores que regem
a conduta desse agente se baseiam em uma abordagem
(A) com ênfase na garantia de oportunidades a todos.
(B) convencional da ética e do direito público.
(C) utilitária da ética e da justiça social.
(D) moralista dos direitos dos cidadãos.
(E) individualista da ética.

02. (MPOG – Atividade Técnica – FUNCAB/2015) A ética pode ser definida como:
(A) um conjunto de valores genéticos que são passados de geração em geração.
(B) um princípio fundamental para que o ser humano possa viver em família.
(C) a parte da filosofia que estuda a moral, isto é, responsável pela investigação dos princípios que
motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento humano em sociedade.
(D) um comportamento profissional a ser observado apenas no ambiente de trabalho.
(E) a boa vontade no comportamento do servidor público em quaisquer situações e em qualquer tempo
de seu cotidiano.

03. (MPOG – Atividade Técnica – FUNCAB/2015) A ética pode ser definida como:
(A) a parte da filosofia que estuda a moral, isto é, responsável pela investigação dos princípios que
motivam, distorcem, disciplinam ou orientam o comportamento humano em sociedade.
(B) um comportamento profissional a ser observado apenas no ambiente de trabalho.
(C) um princípio fundamental para que o ser humano possa viver em família.
(D) um conjunto de valores genéticos que são passados de geração em geração.
(E) a boa vontade no comportamento do servidor público em quaisquer situações e em qualquer tempo
de seu cotidiano.
Respostas

01. Resposta: C.
As decisões éticas podem ser guiadas usando uma abordagem normativa, isto é, usando um conjunto
de normas e valores explícitos ou implícitos. Diante de um problema, a decisão ética pode ser tomada
sob uma abordagem utilitarista, individualista, dos direitos morais e da justiça:
a) Utilitarismo: Basicamente, significa tomar a decisão que traga o maior bem para o maior número de
pessoas, ou seja, para a coletividade. b) Individualismo: considera que as ações são morais quando
promovem os interesses individuais a longo tempo e, em última instância, o maior bem. c) Direitos Morais:
Os indivíduos têm direitos e liberdades fundamentais, que não podem ser retiradas por uma decisão: livre
consentimento, privacidade, liberdade de consciência, liberdade de expressão, direito a tratamento
imparcial e justo e direito à vida e segurança. d) Justiça: pauta-se estritamente por princípios de justiça,
sendo um conceito ético de que as decisões morais são pautadas pela verdade e pela lei, com integridade,
equidade, impessoalidade e imparcialidade.
Fonte: Ética no Serviço Público p/ Policial (2014/2015) da PRF. Teoria e exercícios comentados Prof.
Daniel Mesquita Aula 01.

02. Resposta: C.
A ética é a parte da filosofia que estuda a moral, (filosofia moral ou de costumes), reflete sobre os
valores em sociedade na busca da moralidade e consciência para alcançar esses valores morais, porém
a ética inicialmente não estabelece regras.
A ética, portanto, é um termo grego “ETHIKÓS” que significa “modo de ser”, que em aspectos
filosóficos traduz-se o estudo dos juízos na conduta do ser, que é passível do bem e o mal, presente
neste único ser ou em grupo e/ ou sociedade. Está presente em todas as ordens vigentes no mundo, na
escola, na política, no esporte, nas empresas e é de vital importância nas profissões, principalmente nos
dias atuais.6

6
Fonte: http://www.acervosaber.com.br/trabalhos/chs1/etica_2.php

. 21
03. Resposta: A.
"Ética é parte da filosofia responsável pela investigação dos princípios que motivam, distorcem,
disciplinam ou orientam o comportamento humano, refletindo especialmente a respeito da essência das
normas, valores, prescrições e exortações presentes em qualquer realidade social."7

A Crise de valores na sociedade e a ética

CRISE DE VALORES8

Quando éramos pequenos, nossos pais sabiam muito bem quais valores deveriam nos ensinar: ser
honestos, verdadeiros, procurar fazer sempre o bem etc. O que era o bem ou o mal pareciam estar bem
definidos e ninguém tinha dúvida sobre os valores morais. Hoje, contudo, nós que crescemos e somos
pais e mães, nos sentimos por vezes perdidos. Vivemos, sem dúvida, um momento de crise ética.
O que significa dizer que vivemos um momento de crise de valores? Em primeiro lugar, refere-se a
uma mudança cultural que está redefinindo os valores de nossa sociedade.
A crise de valores se expressa na confusão entre o bem e o mal, o certo e o errado, o justo e injusto.
Em outras palavras, é a confusão entre valor e contra valor. Os valores são produtos culturais, sujeitos
às variações do tempo e do espaço. Sempre que uma determinada cultura decide eleger alguma atitude
(porque o campo da ética é o campo das atitudes) como valor, estabelece-se o contra ponto com a atitude
oposta. Assim, à atitude positiva de respeito à vida, por exemplo, contrapõem-se a morte e a violência.
Quanto mais clara fica a oposição entre os dois pontos, mais força tem o valor ético estabelecido. Onde
reside, então, a confusão de valores? Parece-nos que ela nasce da aproximação dos polos antagônicos:
em nosso tempo, por exemplo, vida e morte convivem numa quase perfeita harmonia. (OLIVEIRA, 2005)
Para muitos, essa redefinição pode parecer um fato comum e, talvez, sem grandes consequências.
Porém, creio que se trata de algo muito grave a que devemos dar atenção. Em nossa opinião, trata-se de
uma crise profunda, ou seja, de uma crise que muda o nosso modo de ser e de se posicionar diante da
vida. Em termos gerais, pode-se dizer que a crise ética de nosso tempo corresponde a uma inversão de
valores e não a uma ausência de valores.
Pensemos um pouco: se antes os interesses comuns e coletivos eram mais importantes do que os
interesses privados, a sociedade mostra que hoje o que realmente importa é a vida de cada um. Houve
não a eliminação de um valor, mas sua substituição por outro: o interesse público deu lugar aos interesses
pessoais que, não raras vezes, se deixam levar pelo egoísmo. Houve, portanto, uma inversão de valores.

Vejamos outros exemplos concretos.

a) A violência passou a ser vista como algo normal e aceitável. De fato, se pensarmos bem,
convivemos, diariamente, com índices cada vez mais elevados de violência. No cinema e na televisão,
as cenas de violência são cada vez mais explícitas. Convivemos tanto com essas imagens que nos
tornamos, aos poucos, indiferentes. Quem de nós se assusta ao ver um corpo humano destruído por uma
bomba? Quem fica chocado com cenas de violência urbana, assaltos, assassinatos, crimes passionais?
Quem deixa de dormir por causa dos frequentes sequestros que ocorrem todos dias nas grandes cidades?
Nós nos acostumamos com a violência: ela parece normal. Até mesmo os desenhos animados
(aparentemente inofensivos e inocentes) trazem uma carga elevada de mensagem em favor da violência.
Também os jogos eletrônicos trazem diversas opções para brincar de matar, brincar de fazer guerra etc.
b) Outro exemplo da inversão de valores: a corrupção parece ter virado moda em nosso país. A
injustiça tornou-se regra comum em muitos setores da sociedade. O cenário político do país, os
escândalos que derrubam deputados e ministros, a generalização da corrupção mostram que as pessoas
passaram a dar mais valor aos seus interesses pessoais do que à honra, à dignidade e ao respeito pela
população. O individualismo e o egoísmo parecem imprimir profundamente suas marcas em cada um de
nós: cada um por si e Deus por todos parece ser a regra de ouro, o princípio moral que orienta, nesses
tempos de crise, as nossas escolhas.
c) Ainda outro exemplo concreto desse quadro de inversão de valores é a busca do prazer.
Isso parece ser a única coisa que de fato interessa. Assim, os relacionamentos tornaram-se
descartáveis: ficar passou a ser uma forma de relação na qual se tem direito a tudo e não se tem dever
de nada. Interessa apenas curtir. Não há respeito nem responsabilidade.

7
Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/rev_64/artigos/Art_Francisco.htm#II.
8
OLIVEIRA, Paulo Eduardo de. Crise de Valores: DESAFIO À SUSTENTABILIDADE. Disponível em: http://www.agrinho.com.br/site/wp-
content/uploads/2014/09/26_Crise-de-valores.pdf.

. 22
E quem fala desses valores é taxado de antiquado e careta. Vivemos na cultura do hedonismo, isto é,
do culto do prazer e da satisfação imediata de nossos desejos. Nada mais interessa senão o conforto
(temos controle remoto para tudo) e o que exige menos esforço (tudo o que é dever ou obrigação passou
a ser visto com maus olhos). Para alguns, jogar o lixo na rua é mais fácil do que procurar o lugar adequado!
Isso é um exemplo típico de atitude hedonista.
d) Quanto à questão da sustentabilidade, veja-se também que ocorrem muitas situações de inversão
de valores: no que diz respeito à sustentabilidade social, por exemplo, percebe-se que a acumulação de
renda e de patrimônio nas mãos de poucos é um falso valor, que vai na contramão da equidade na
distribuição de renda e no esforço de diminuição das diferenças sociais.
e) Há muitos outros exemplos a serem analisados: a impunidade prevalece em quase todos os âmbitos
da vida social; ser esperto passou a ser mais importante do que ser honesto; a palavra dada pouco
significa; ser uma pessoa de bem é coisa do passado; pensar nos outros é coisa antiquada; o bem
individual está acima do bem comum; matamos crianças inocentes antes de nascerem; matamos de fome
milhões de pessoas por ano enquanto fortunas são gastas na indústria da guerra e da corrupção política.
Esses exemplos evidenciam a crise ética na qual estamos mergulhados. Nós estamos vivendo um
período de crítica dos valores estabelecidos e de busca de novas referências.
A crise de valores está, então, na banalização da contradição entre os valores e os contra valores.
Tudo parece conviver numa harmonia que mascara a contradição. O bem e o mal parecem próximos,
como se fosse o mesmo fazer o bem ou fazer o mal (as telenovelas, por exemplo, sempre apresentam
personagens que personificam o mal, mostrando que isso é um caminho possível a ser escolhido. Por
vezes, tais personagens são aquelas que tudo conseguem e que, ao final, acabam se saindo bem). Da
mesma forma, a confusão entre os valores aparece no campo da justiça: a injustiça convive de modo
quase trivial com a justiça, de modo a minimizar as diferenças (agir de modo justo ou injusto parece fazer
pouca diferença, sobretudo quando vemos a impunidade reinar e as saídas oficiosas serem soluções
aceitáveis em mil e uma situações). (OLIVEIRA, 2005)
A crise de valores mostra que os padrões de moralidade são relativos a um determinado tempo e lugar.
Não são regras absolutas, válidas para sempre, mas escolhas provisórias que nos ajudam a vivermos as
especificidades de nossas circunstâncias.

RELATIVISMO ÉTICO: TUDO É MESMO RELATIVO?


A marca mais clara dessa crise pode ser expressa no relativismo ético, isto é, na concepção de que
os valores são todos relativos e dependem da consciência de cada um. Ora, o relativismo ético é um mal
que precisa ser combatido, pois ele pode nos levar a desvios e a tomar atitudes que, ao invés de respeitar
a liberdade do homem, nos aprisionam em nossas próprias escolhas egoístas.
A falsa concepção de que os valores são todos relativos enfraquece a noção de que a ética é um
compromisso social, um valor comunitário. Não somos nós os únicos seres do planeta, e em nosso
umbigo não está o centro de gravidade do universo. Somos pessoas que convivemos com outras, com
iguais direitos de vida e de realização plena como seres humanos. O relativismo torna- nos, ao contrário,
seres em competição, homens em guerra contra nós mesmos, confirmando aquilo que dizia Thomas
Hobbes: “o homem é lobo do próprio homem”. Por isso, o relativismo deve ser combatido, pois
corresponde a uma visão ética deformada.
Lutar contra o relativismo ético não significa optar por modelos autoritários e por condutas moralistas
e repressoras. Ao contrário, significa compreender a justa medida da liberdade e, ao lado dela, colocar o
valor da responsabilidade social. Somos homens livres, mas convivemos com outros homens igualmente
livres. Não podemos fazer tudo o que queremos, mas podemos escolher meios de vida mais digna para
todos. Não podemos nos guiar pelo simples desejo de auto realização, mas podemos nos realizar
enquanto trabalhamos para que outras pessoas também se realizem.
Quando vemos o grande número de voluntários envolvidos em causas humanitárias, percebemos que,
aos poucos, estamos redescobrindo os valores que nos tornam realmente humanos. Do mesmo modo, a
grande preocupação mundial com a preservação do meio ambiente é um sinal de que estamos acordando
para uma nova ética. Some-se a isso a consciência cada vez mais clara de que precisamos nos empenhar
em programas de responsabilidade social e em projetos globais de sustentabilidade. Tudo isso parece
um sinal de que a crise ética não é, necessariamente, algo ruim. Contudo ela está, ao contrário, nos
conduzindo a uma postura cada vez mais crítica, responsável e sustentável.

Ética:

Ética é uma palavra de origem grega – ethos – que significa caráter.

. 23
Diferentes filósofos tentaram conceituar o termo ética:

Sócrates ligava-o à felicidade de tal sorte que afirmava que a ética conduzia à felicidade, uma vez que
o seu objetivo era preparar o homem para o autoconhecimento, conhecimento esse que constitui a base
do agir ético.
A ética socrática prevê a submissão do homem e da sua ética individual à ética coletiva que pode ser
traduzida como a obediência às leis.

Para Platão a ética está intimamente ligada ao conhecimento dado que somente se pode agir com
ética quando se conhece todos os elementos que caracterizam determinada situação posto que somente
assim, poderá o homem alcançar a justiça.

Para José Renato Nalini9 “ética é a ciência do comportamento moral dos homens em sociedade.10 É
uma ciência, pois tem objeto próprio, leis próprias e método próprio, na singela identificação do caráter
científico de um determinado ramo do conhecimento.11 O objeto da Ética é a moral. A moral é um dos
aspectos do comportamento humano. A expressão moral deriva da palavra romana mores, com o sentido
de costumes, conjunto de normas adquiridas pelo hábito reiterado de sua prática.

Com exatidão maior, o objeto da ética é a moralidade positiva, ou seja, "o conjunto de regras de
comportamento e formas de vida através das quais tende o homem a realizar o valor do bem".12 A
distinção conceitual não elimina o uso corrente das duas expressões como intercambiáveis. A origem
etimológica de Ética é o vocábulo grego "ethos", a significar "morada", "lugar onde se habita". Mas
também quer dizer "modo de ser" ou "caráter". Esse "modo de ser" é a aquisição de características
resultantes da nossa forma de vida. A reiteração de certos hábitos nos faz virtuosos ou viciados. Dessa
forma, "o ethos é o caráter impresso na alma por hábito".13”
Perla Müller14 explica vários aspectos da ética, quais sejam: ética especulativa que é aquela que busca
responder, de forma não definitiva, indagações acerca da moral e de seus princípios de sorte que,
utilizando-se de investigação teórica é possível à ética explicar algumas realidades sociais.
Para a mesma, a ética é ainda pedagogia do espírito, posto que é o estudo dos ideais da educação
moral. A ética pode ser vista também como a medida que o indivíduo toma de si, portanto, é pessoal e
voluntária.

Em suma: “ser ético significa conhecer e cumprir o dever; a ética é a condição que possibilita o
conhecimento do dever. O ‘dever’ repousa, antes de qualquer coisa, no reconhecimento da necessidade
de respeitar a todos como fins em si mesmos e não como meios para qualquer outro objetivo”.
A ética guarda estreita relação com a moral e os princípios, porém com esses não se confunde.
A ética é a ciência que busca estudar a melhor forma de convívio humano. No convívio social se faz
necessário a obediência de certas normas que visam impedir conflitos e promover a paz social, essas
são as normas éticas.
Toda sociedade possui preceitos éticos e esses baseiam-se nos valores e princípios dessa mesma
sociedade e influenciam a formação do caráter individual do ser humano que nessa convive.
Os valores de uma sociedade são baseados no chamado senso comum, ou seja, nos conceitos aceitos
e sentidos por um número indeterminado de pessoas.
Quando se fala em valores, necessariamente deve-se tratar de juízo de aprovação ou reprovação, ou
seja, para determinada sociedade um comportamento pode ser tido como bom e, portanto, aprovado,
enquanto outro é reprovado por ser considerado ruim.
O ser humano é influenciado por esses valores estabelecidos no meio social em que convive de sorte
que passa a adotá-los ainda que inconscientemente. Contudo, para agir com ética é preciso que o homem
reflita sobre seus passos, de forma a adotar determinado comportamento porque, após a devida reflexão,
considerou-o justo. Não existe ética onde há ausência de pensamento.

9
NALINI, José Renato. Conceito de Ética. Disponível em: www.aureliano.com.br/downloads/conceito_etica_nalini.doc.
10
ADOLFO SÁNCHEZ V ÁZQUEZ, Ética, p. 12. Para o autor, Ética seria a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade.
11
Ciência, recorda MIGUEL REALE, é termo que "pode ser tomado em duas acepções fundamentais distintas: a) como 'todo conjunto de conhecimentos
ordenados coerentemente segundo princípios'; b) como 'todo conjunto de conhecimentos dotados de certeza por se fundar em relações objetivas, confirmadas por
métodos de verificação definida, suscetível de levar quantos os cultivam a conclusões ou resultados concordantes'" (Fílosofia do direito, p. 73, ao citar o Vocabulaire
de Ia phílosophie, de LALANDE).
12
EDUARDO GARCÍA MÁYNEZ, Ética - Ética empírica. Ética de bens. Ética formal. Ética valorativa, p. 12.
13
ADELA CORTINA, Ética aplicada y democracia radical, p. 162.
14
MÜLLER, Perla. Noções de Ética no Serviço Público. Salvador: Jus Podivm, 2014.

. 24
Tem-se como valores éticos aqueles sobre os quais o homem exerceu atividade intelectual. Ao
estabelecer juízo de valores sobre determinadas situações ou coisas o homem está atribuindo a essas
conceitos morais.
A moral, portanto, é o fator que determina se algo é bom ou ruim. Pertence à ética mas, com essa não
se confunde, haja vista que a ética tem como objeto de estudo o comportamento humano em sua forma
mais abrangente e a moral é uma expressão dos valores humanos, ou seja, quando o homem classifica
algo como bom ou como ruim, está expressando seus valores. São esses valores que vão pautar seu
comportamento.
Os atos morais possuem dois aspectos, quais sejam: o aspecto normativo que se traduz nas normas
e imperativos que revelam o dever ser e o aspecto factual que é a aplicação dessas normas no convívio
social.
Os princípios são as regras de boa conduta, ou seja, são os conceitos estabelecidos que regem o
comportamento humano por serem aceitos como bons, portanto, refletem a moral social.

Características da Ética:

. Imutabilidade: a mesma ética de séculos atrás está vigente hoje;

. Validade universal: no sentido de delimitar a diretriz do agir humano para todos os que vivem no
mundo. Não há uma ética conforme cada época, cultura ou civilização. A ética é uma só, válida para todos
eternamente, de forma imutável e definitiva, por mais que possam surgir novas perspectivas a respeito
de sua aplicação prática.

Para melhor compreensão, elencamos demais definições de Ética:

- Ciência do comportamento adequado dos homens em sociedade, em consonância com a virtude.


- Disciplina normativa, não por criar normas, mas por descobri-las e elucidá-las. Seu conteúdo mostra
às pessoas os valores e princípios que devem nortear sua existência.
- Doutrina do valor do bem e da conduta humana que tem por objetivo realizar este valor.
- Saber discernir entre o devido e o indevido, o bom e o mau, o bem e o mal, o correto e o incorreto, o
certo e o errado.
- Fornece as regras fundamentais da conduta humana. Delimita o exercício da atividade livre. Fixa os
usos e abusos da liberdade.
- Doutrina do valor do bem e da conduta humana que o visa realizar.

“Em seu sentido de maior amplitude, a Ética tem sido entendida como a ciência da conduta humana
perante o ser e seus semelhantes. Envolve, pois, os estudos de aprovação ou desaprovação da ação dos
homens e a consideração de valor como equivalente de uma medição do que é real e voluntarioso no
campo das ações virtuosas”15.
Podemos dizer, de um modo geral, que ética é o conhecimento que oferta ao homem critérios para
a eleição da melhor conduta, tendo em conta o interesse de toda a comunidade humana.16

Perla Müller disponibilizou um quadro – resumo sobre Ética:17

ÉTICA
Ethos (grego): caráter, morada do ser;
Disciplina filosófica (parte da filosofia);
Os fundamentos da moralidade e princípios ideais da ação humana;
Ponderação da ação, intenção e circunstâncias sob o manto da liberdade;
Teórica, universal (geral), especulativa, investigativa;
Fornece os critérios para eleição da melhor conduta.

Ética e Moral:
Entre os elementos que compõem a Ética, destacam-se a Moral e o Direito. Assim, a Moral não é a
Ética, mas apenas parte dela. Neste sentido, Moral vem do grego Mos ou Morus, referindo-se
exclusivamente ao regramento que determina a ação do indivíduo.
15
SÁ, Antônio Lopes de. Ética profissional. 9ª. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
16
ALMEIDA, Guilherme de Assis; CHRISTMANN, Martha Ochsenhofer. Ética e direito: uma perspectiva integrada. 3ª edição, São Paulo: Atlas, 2009, p.4.
17
BORTOLETO, Leandro; e MÜLLER, Perla. Noções de Ética no Serviço Público. Salvador: Editora Jus Podivm, 2014, p. 15.

. 25
Assim, Moral e Ética não são sinônimos, não apenas pela Moral ser apenas uma parte da Ética,
mas principalmente porque enquanto a Moral é entendida como a prática, como a realização efetiva e
cotidiana dos valores; a Ética é entendida como uma “filosofia moral”, ou seja, como a reflexão sobre a
moral. Moral é ação, Ética é reflexão.
Em resumo:
- Ética - mais ampla - filosofia moral – reflexão;
- Moral - parte da Ética - realização efetiva e cotidiana dos valores – ação.

No início do pensamento filosófico não prevalecia real distinção entre Direito e Moral, as discussões
sobre o agir ético envolviam essencialmente as noções de virtude e de justiça, constituindo esta uma das
dimensões da virtude. Por exemplo, na Grécia antiga, berço do pensamento filosófico, embora com
variações de abordagem, o conceito de ética aparece sempre ligado ao de virtude.
O descumprimento das diretivas morais gera sanção, e caso ele se encontre transposto para uma
norma jurídica, gera coação (espécie de sanção aplicada pelo Estado). Assim, violar uma lei ética não
significa excluir a sua validade. Por exemplo, matar alguém não torna matar uma ação correta, apenas
gera a punição daquele que cometeu a violação. Neste sentido, explica Reale 18: “No plano das normas
éticas, a contradição dos fatos não anula a validez dos preceitos: ao contrário, exatamente porque a
normatividade não se compreende sem fins de validez objetiva e estes têm sua fonte na liberdade
espiritual, os insucessos e as violações das normas conduzem à responsabilidade e à sanção, ou seja, à
concreta afirmação da ordenação normativa”.
Como se percebe, Ética e Moral são conceitos interligados, mas a primeira é mais abrangente que a
segunda, porque pode abarcar outros elementos, como o Direito e os costumes. Todas as regras éticas
são passíveis de alguma sanção, sendo que as incorporadas pelo Direito aceitam a coação, que é a
sanção aplicada pelo Estado. Sob o aspecto do conteúdo, muitas das regras jurídicas são compostas por
postulados morais, isto é, envolvem os mesmos valores e exteriorizam os mesmos princípios.

Sobre o tema Ética e Moral concordamos com Perla Müller:19


Enquanto a ética está contida na reflexão, a moral está contida na ação. A moral, verificada na
ação reiterada no tempo e espaço (costume, hábito), é tida como particular. A ética, de cunho
filosófico, é tida como universal.20
A palavra ‘moral’ vem do latim mos (cujo plural é mores) e significa costume, ou seja, uma longa e
inveterada repetição de atos consagrados como necessários ao bom conviver, como muito bem lembrado
por Elcias Ferreira da Costa ao citar Ulpiano.21
Enquanto a ética, como disciplina filosófica, é especulativa, a moral, seu objeto de estudo, é
normativa.
A moral, portanto, é influenciada por fatores sociais e históricos (espaço – temporais), havendo
diferenças entre os conceitos morais de um grupo para outro (relativismo), diferentemente da ética que,
como dito linhas acima, pauta-se pela universalidade (absolutismo), valendo seus princípios e valores
para todo e qualquer local, em todo e qualquer tempo.
A moral constitui-se como conjunto de normas de conduta que se apresentam como boas,
corretas, ou seja, como expressão do ‘bem’.
A experiência humana cotidiana, responsável pela construção do hábito e do costume, é fonte das
normas morais. A moral é, portanto, pragmática. As normas morais são fórmulas elaboradas pelo
homem para ordenar, regular seu comportamento.
Moral é a característica do comportamento que é conforme as normas morais, assim como legal é
p comportamento que é conforme as normas legais jurídicas.
Observe que a simples existência da moral não significa a presença explícita de uma ética (...), isto é,
uma reflexão que discuta, problematize e interprete o significado dos valores morais.22

E assim Müller conclui:23


Quer isto dizer que a ética, enquanto disciplina filosófica, pode modificar, refinar ou aprimorar valores
morais, ou seja, pode incidir para alterar as regras morais enraizadas na sociedade através da avaliação
que faz de princípios e valores morais até então estabelecidos.
18
REALE, Miguel. Filosofia do direito. 19ª. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
19
BORTOLETO, Leandro; e MÜLLER, Perla. Noções de Ética no Serviço Público. Salvador: Editora Jus Podivm, 2014, páginas 16 – 17.
20
A ética tem a pretensão de ser universal, já que quer estabelecer valores e princípios que possam ser considerados universais. Mas sua universalidade não
ultrapassa esta pretensão de encontro de valores e princípios universais, ou seja, válidos e obrigatórios para todo ser racional. Isto porque, como fonte perene,
incessante de investigação e indagação, a ética transforma-se a cada crítica e reflexão posta a si mesmo.
21
In Deontologia Jurídica: ética das profissões jurídicas. Rio de Janeiro: Forense, 2013, p. 04.
22
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2012, p. 386.
23
BORTOLETO, Leandro; e MÜLLER, Perla. Noções de Ética no Serviço Público. Salvador: Editora Jus Podivm, 2014, p. 17.

. 26
A moral, no serviço público, aplica-se às relações de comando e obediência, já que é normativa.
E finaliza com o quadro – resumo de Moral:

MORAL
Mos (latim, plural mores): costume;
Regulação (normatização), comportamentos considerados como adequados a determinado grupo
social;
Prática (pragmática), particular;
Dependência espaço – temporal (relativa); caráter histórico e social.

Ética e Cultura24

Ethos e Cultura
A dupla significação da palavra ethos, vale dizer, o éthos-costume e o éthos-morada, abre um espaço,
no qual o ser humano, para tornar seu mundo mais habitável, cria as formas simbólicas, através das quais
as “coisas materiais”, ou as realidades da natureza, são integradas ao sistema simbólico da cultura. A
realidade material (res) transforma-se, então, em uma verdadeira “obra” cultural (opus). E quando as
coisas da natureza transformam-se em obras humanas, a Natureza se faz Cultura, da qual o homem é,
ao mesmo tempo, a causa e o efeito. Causa porque é ele quem transforma a Natureza em Cultura, e, ao
mesmo tempo, efeito, porque todo homem é homem de seu tempo e traz as marcas da cultura em que
se insere e da qual recebe as influências.
Pois bem, na medida em que o homem, como criador de símbolos, revela o significado dos objetos
materiais que transforma em objetos de cultura, ele diz, ao mesmo tempo, o que esses objetos são, o que
significam e o que devem ser para atingir sua finalidade no mundo simbólico da cultura. Neste mundo, o
indivíduo não encontra apenas o que precisa para sua sobrevivência, mas também descobre um sistema
de normas e de valores de que precisa para sua realização, tanto individual quanto comunitária. Por isso,
o éthos é co-extensivo à cultura e a cultura, por sua vez, adquire uma dimensão axiológica, vale dizer,
uma dimensão ética e valorativa, que é constitutiva daquilo que a define como cultura. Esta a razão pela
qual se diz que não existe cultura sem ética, da mesma forma que não pode existir ética sem cultura.

Questões

01. (SEGEP/MA – Agente Penitenciário – FUNCAB/2016) A Moral:


(A) no sentido prático, tem finalidade divergente da ética, mas ambas são responsáveis por construir
as bases que vão guiar a conduta do homem.
(B) determina o caráter da sociedade e valores como altruísmo e virtudes, ensina a melhor forma de
agir e de se comportar em sociedade, e capacita o ser humano a competir com os antiéticos, utilizando
os mesmos meios destes.
(C) diferencia-se da ética no sentido de que esta tende a julgar o comportamento moral de cada
indivíduo no seu meio. No entanto, ambas buscam o bem-estar social.
(D) é o conjunto de regras aplicadas no cotidiano, usadas eventualmente por cada cidadão, que
orientam cada indivíduo, norteando as suas ações e os seus julgamentos sobre o que é moral ou imoral,
certo ou errado, bom ou mau.
(E) é um conjunto de conhecimentos extraídos da investigação do comportamento humano ao tentar
explicar as regras morais de forma racional, fundamentada, científica e teórica.

02. (FUNPRESP/EXE – Conhecimentos Básicos – CESPE/2016) Acerca da ética e da função pública


e da ética e da moral, julgue o item que se segue.
Os termos moral e ética têm sentidos distintos, embora sejam frequente e erroneamente empregados
como sinônimos.
(....) Certo (....) Errado

03. (SEDUC/PI – Professor de Filosofia – NUCEPE/2015) Sobre as éticas deontológicas, marque a


alternativa INCORRETA.
(A) Para uma ética deontológica, o conceito central é o de Dever.
(B) Em sua formulação contemporânea, uma ética deontológica assume a prioridade do justo sobre o
bem.

24
Disponível em: http://www.unicap.br/neal/artigos/ProfZeferinoRocha.pdf.

. 27
(C) Em Kant, a ética deontológica preconiza uma razão prática autônoma em relação às inclinações
naturais, de caráter universal.
(D) Para uma ética deontológica, o único sentimento apropriado é o de respeito à lei moral, dada a
precedência das normas sobre os desejos.
(E) Para uma ética deontológica, o conteúdo do dever universal é configurado a partir das
consequências do curso de ação escolhido.

04. (TCE/RN – Conhecimentos Básicos – CESPE/2015) Com relação à ética e à moral, julgue o item
seguinte.
A ética é um conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa e moral de um indivíduo, de um grupo
social ou de uma sociedade.
(....) Certo (....) Errado

05. (TCE/RN – Conhecimentos Básicos – CESPE/2015) Com relação à ética e à moral, julgue o item
seguinte.
A efetivação da cidadania e a consciência coletiva da cidadania são indicadores do desenvolvimento
moral e ético de uma sociedade.
(....) Certo (....) Errado

06. (MPU – Técnico do MPU – CESPE/2015) Com relação a moral e ética, julgue o item a seguir.
A ética é um ramo da filosofia que estuda a moral, os diferentes sistemas públicos de regras, seus
fundamentos e suas características
(....) Certo (....) Errado

07. (DEPEN – Agente e Técnico – CESPE/2015) Acerca da ética e da moralidade no serviço público,
julgue o item subsecutivo.
Ética e moral são termos que têm raízes históricas semelhantes e são considerados sinônimos, uma
vez que ambos se referem a aspectos legais da conduta do cidadão.
(....) Certo (....) Errado

08. (ASPERH – Professor auxiliar ética profissional – ASPERH/Adaptada) Sobre moral e ética é
incorreto afirmar:
(A) A moral é a regulação dos valores e comportamentos considerados legítimos por uma determinada
sociedade, um povo, uma religião, uma certa tradição cultural etc.
(B) Uma moral é um fenômeno social particular, que tem compromisso com a universalidade, isto é,
com o que é válido e de direito para todos os homens. Exceto quando atacada: justifica-se se dizendo
universal, supostamente válida para todos.
(C) A ética a uma reflexão crítica sobre a moralidade. Mas ela não é puramente teoria. A ética é um
conjunto de princípios e disposições voltados para a ação, historicamente produzidos, cujo objetivo é
balizar as ações humanas.
(D) A moral é um conjunto de regras de conduta adotadas pelos indivíduos de um grupo social e tem
a finalidade de organizar as relações interpessoais segundo os valores do bem e do mal.
(E) A moral é a aplicação da ética no cotidiano, é a prática concreta.

09. (ASPERH – Professor auxiliar ética profissional – ASPERH/Adaptada) Sobre a ética, moral e
direito é incorreto afirmar:
(A) Tanto a moral como o direito baseiam-se em regras que visam estabelecer uma certa
previsibilidade para as ações humanas. Ambas, porém, se diferenciam.
(B) O direito busca estabelecer o regramento de uma sociedade delimitada pelas fronteiras do Estado.
(C) As leis têm uma base territorial, elas valem apenas para aquela área geográfica onde uma
determinada população ou seus delegados vivem.
(D) Alguns autores afirmam que o direito é um subconjunto da ética. Esta perspectiva pode gerar a
conclusão de que toda a lei é moralmente aceitável. Inúmeras situações demonstram a existência de
conflitos entre a ética e o direito.
(E) A desobediência civil ocorre quando argumentos morais impedem que uma pessoa acate uma
determinada lei. Este é um exemplo de que a moral e o direito, apesar de referirem-se a uma mesma
sociedade, podem ter perspectivas discordantes.

. 28
10. (CRN/3R/SP e MS – Assistente Administrativo – Quadrix/2014) O ramo da filosofia que trata
dos costumes ou dos deveres do homem para com seus semelhantes e para consigo, sobre como se
deve viver e, portanto, sobre a natureza de certo e errado, bem e mal, dever e obrigação, faz parte dos
conceitos da:
(A) dialética
(B) estética.
(C) essência.
(D) ética.
(E) teologia.

11. (CNEN – Assistente Administrativo – IDECAN/2014) “A ética é o campo do conhecimento que


trata da definição e avaliação do comportamento das pessoas e organizações. A ética lida com a
aprovação ou reprovação do comportamento observado em relação ao comportamento ideal, sendo este
definido por meio de um código de conduta, implícito ou explícito.” Segundo o conceito de Maximiano, a
afirmativa anterior é
(A) verdadeira.
(B) falsa, pois o código de conduta é sempre explícito.
(C) falsa, pois a ética limita-se ao comportamento das pessoas.
(D) falsa, pois a ética restringe-se à reprovação do comportamento.
(E) falsa, pois a ética limita-se ao comportamento das organizações.

12. (SEDS/TO – Assistente Socioeducativo – FUNCB/2014) Em busca do comprometimento com o


cidadão usuário e com a eficiência, a Administração Pública vem realizando esforços para que seus
agentes conheçam a ciência que teoriza sobre as condutas humanas e sobre o conjunto de valores que
devem orientar o comportamento dos homens em relação aos seus semelhantes. Tal ciência denomina-
se:
(A) moral
(B) ética
(C) reflexologia.
(D) principiologia.

13. (SEDS/TO – Assistente Socioeducativo – FUNCB/2014) A ética se apresenta como uma reflexão
crítica sobre:
(A) política.
(B) moralidade.
(C) ação.
(D) trabalho.

14. (ANTAQ – Conhecimentos Básicos – CESPE/2014) Considerando os conceitos de ética e moral,


julgue o item abaixo.
A ética é a ciência do comportamento moral dos homens em sociedade.
(....) Certo (....) Errado

15. (Prefeitura de Paranaguá/PR – Economista – FAFIPA/2016) Sobre a ética, assinale a alternativa


INCORRETA.
(A) O objeto principal da ética, como ramo da filosofia, é a reflexão do comportamento humano através
da análise dos valores e normas sociais vigentes em determinado lugar.
(B) Ética e moral nem sempre são sinônimos; a moral seria um conjunto de normas que podem variar
com o momento histórico e cultural de cada sociedade, sendo, na verdade, o objeto de estudo da ética.
(C) Ética vem da palavra romana ethos, que vem de mos ou mores do grego, que significa moral,
caráter ou costumes.
(D) Muitos dividem a ética didaticamente em dois campos: o primeiro cuida dos problemas gerais e
fundamentais relacionados aos valores e normas da sociedade e o segundo, de áreas específicas, como
a ética profissional etc.

Respostas
01. Resposta: C.
Moral - é o conjunto de regras que orientam o comportamento humano dentro de uma sociedade. As
regras definidas pela moral regulam o modo de agir das pessoas. Está associada aos valores e

. 29
convenções estabelecidos coletivamente por cada cultura ou por cada sociedade a partir da consciência
individual, que distingue o bem do mal, ou a violência dos atos de paz e harmonia. A moral orienta o
comportamento do homem diante das normas instituídas pela sociedade ou por determinado grupo social.
Diferencia-se da ética no sentido de que esta tende a julgar o comportamento moral de cada indivíduo no
seu meio. No entanto, ambas buscam o bem-estar social.

02. Resposta: Certo.


A moral incorpora as regras que temos de seguir para vivermos em sociedade, regras estas
determinadas pela própria sociedade. Quem segue as regras é uma pessoa moral; quem as desobedece,
uma pessoa imoral.
A ética, por sua vez, é a parte da filosofia que estuda a moral, isto é, que reflete sobre as regras morais.
A reflexão ética pode inclusive contestar as regras morais vigentes, entendendo-as, por exemplo,
ultrapassadas.

03. Resposta: E.
A deontologia também se refere ao conjunto de princípios e regras de conduta — os deveres —
inerentes a uma determinada profissão. Assim, cada profissional está sujeito a uma deontologia própria
a regular o exercício de sua profissão, conforme o Código de Ética de sua categoria.

04. Resposta: Certo.


A ética é a parte da filosofia que se ocupa do comportamento moral do homem. Ela engloba um
conjunto de regras e preceitos de ordem valorativa, que estão ligados à prática do bem e da justiça,
aprovando ou desaprovando a ação do homem, de um grupo social ou de uma sociedade.
Para Aurélio Buarque de Holanda, ética é "o estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta
humana susceptível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à determinada
sociedade, seja de modo absoluto”. Enquanto a ética trata o comportamento humano como objeto de
estudo, procurando tomá-lo o mais abrangente possível, a moral se ocupa de atribuir um valor à ação.
Esse valor tem como referências o bem e o mal, baseados no senso comum.

05. Resposta: Certo.


"A cidadania nem sempre é uma realidade efetiva, nem para todos. A efetivação da cidadania e a
consciência coletiva dessa condição são indicadores do desenvolvimento moral e ético de uma
sociedade. Para a ética não basta que exista um elenco de princípios fundamentais e direitos definidos
nas Constituições. O desafio ético para uma nação é o de universalizar os direitos reais, permitindo a
todos as cidadanias plenas, cotidianas e ativas".
(http://professorbacchelli.spaceblog.com.br/186516/Etica-Profissional-Aula-02/).

06. Resposta: Certo.


A ética é uma ciência de estudo da filosofia. A ética serve para que haja um equilíbrio e bom
funcionamento social, possibilitando que ninguém saia prejudicado. Neste sentido, a ética, embora não
possa ser confundida com as leis, está relacionada com o sentimento de justiça social.
A ética é construída por uma sociedade com base nos valores históricos e culturais,ou seja, antecede
qualquer lei ou código. Do ponto de vista da Filosofia, Ética é a parte da filosofia que estuda os
fundamentos da moral e os princípios ideais da conduta humana, ou seja, tem como objeto de estudo o
estímulo que guia a ação: os motivos, as causas, os princípios, as máximas, as circunstâncias.
Sócrates, considerado o pai da filosofia, dizia que a obediência à lei era o divisor entre a civilização e
a barbárie. Segundo ele, as ideias de ordem e coesão garantem a promoção da ordem política. A ética
deve respeitar às leis, portanto, à coletividade.
A ética refere-se a um conjunto de conhecimentos advindos da análise do comportamento humano e
dos valores morais, enquanto a moral tem por base as regras, a cultura e os costumes seguidos
ordinariamente pelo homem. Assim, podemos concluir que a ética é uma ciência sobre o comportamento
moral dos homens em sociedade e está relacionada a filosofia. Além disso, A ética pode levar a
modificações na moral, com aplicação universal, guiando e orientando racionalmente e do melhor modo
a vida humana.
Podemos concluir que a ética pode ser normativa, em uma tentativa de alcançar padrões morais que
guiam as nossas atuações da vida. Estuda o certo e o errado, os deveres e assim, propõe códigos morais
ou regras de comportamento.

. 30
07. Resposta: Errado.
Da análise do discurso das pessoas participantes da enquete e de alguns formadores de opinião no
Brasil, depreende-se que as palavras ética e moral frequentemente são usadas como sinônimos. Esse
fato igualmente se comprova na revisão bibliográfica.
GOLDIM, J.R., citando Robert Veatch, diz que esse dá uma boa definição operacional da ética ao
propor que ela é a “realização de uma reflexão disciplinada das intuições morais e das escolhas morais
que as pessoas fazem”.
Em realidade, Ética e Moral são duas posturas do pensamento metafórico (LAKOFF & JONHSON)
humano. Ambas são geradoras de comportamentos, os quais em determinados momentos se sobrepõem
e que, em outros, atuam em campos opostos.
A Ética está a serviço do pensamento metafórico (predominantemente inconsciente) e do
comportamento de todos os humanos; desde o ateu ou agnóstico até o mais convicto religioso. A laicidade
confere para a Ética um caráter de unicidade.
Por outro lado, a Moral é uma escala dinâmica de valores psicossociais (costumes) interligados e
fundamentados em raízes psicológicas e religiosas. Prova desse fato está na inexistência de uma moral
dos ateus ou dos agnósticos, pois esses devem se orientar por parâmetros éticos.
http://www.ecodebate.com.br/2013/02/01/valores-eticos-do-brasil-artigo-de-millos-augusto-stringuini.

08. Resposta: B.
A Moral, embora seja mais subjetiva que a Ética, reflete o seu conteúdo, logo, também possui
universalidade. O sentimento moral é uno e repousa no seio social, sendo assim universal. Logo, a Moral
é válida para todos, não supostamente válida.

09. Resposta: D.
O Direito é um subconjunto da Ética e, por isso mesmo, suas normas devem refletir o conteúdo ético
sempre que possível, o que ocorre pela presença do valor do justo. Tomar como correta a afirmativa d
seria entender que o Direito pode não ser justo e ainda assim ser válido, premissa positivista refutada no
contexto pós-guerra.

10. Resposta: D.
Dialética - Dialética é uma palavra com origem no termo em grego dialektiké e significa a arte do
diálogo, a arte de debater, de persuadir ou raciocinar.
Estética - Estética é uma palavra com origem no termo grego aisthetiké, que significa “aquele que nota,
que percebe”. Estética é conhecida como a filosofia da arte, ou estudo do que é belo nas manifestações
artísticas e naturais.]
Essência - Essência é o substantivo feminino com origem no latim essentia e que indica a natureza,
substância ou característica essencial de uma pessoa ou coisa. Também pode se referir a um aroma ou
perfume.
CORRETA - ÉTICA - Ética é o nome dado ao ramo da filosofia dedicado aos assuntos morais. A
palavra ética é derivada do grego, e significa aquilo que pertence ao caráter.
Teologia - Teologia é o estudo da existência de Deus, das questões referentes ao conhecimento da
divindade, assim como de sua relação com o mundo e com os homens. Do grego “theos” (deus, termo
usado no mundo antigo para nominar seres com poderes além da capacidade humana) + “logos” (palavra
que revela), por extensão “logia” (estudo).

11. Resposta: A.
O dicionário de Sérgio Ximenes (2002, pg. 409), define ética como ciência que estuda os juízos moral
referente à conduta humana, virtude caracterizada pela orientação dos atos pessoais segundo os valores
do bem e da decência pública, e a moral conjunto de regras de conduta baseadas nas noções de bem e
de mal, Os estudos de Maximiano (1974, p.294) demonstram que a ética tem sido entendida sob várias
concepções. Assim, a concepção de ética tratada pelo autor afirma que.
“A ética é como a disciplina ou campo do conhecimento que trata da definição e avaliação de pessoas
e organização, e a disciplina que dispõe sobre o comportamento adequado e os meios de implementá-lo
levando-se em consideração os entendimentos presentes na sociedade ou em agrupamentos sociais
particulares”.
Na interpretação de Maximiano (1974, p.371) os valores éticos podem ser absolutos, baseia-se na
premissa de que as normas de conduta são válidas em todas as situações, ou relativa, que as normas
dependem da situação.

. 31
Para melhor entender, fez-se um estudo mais aprofundado onde os orientais entendem a ética relativa
de forma que os indivíduos devem dedicar-se inteiramente à empresa, que constitui uma família à qual
pertence à vida dos trabalhadores. Já, para os ocidentais, o entendimento é de que há diferença entre a
vida pessoal e a vida profissional. Assim, encerrado o horário normal do trabalho, o restante do tempo é
do trabalhador e não do patrão. Em relação à ética absoluta, parte-se do princípio de que determinadas
condutas são intrinsecamente erradas ou certas, qualquer que seja a situação, e, dessa maneira, devem
ser apresentadas e difundidas como tal.25

12. Resposta: B.
A ética está associada ao estudo fundamentado dos valores morais que orientam o comportamento
humano em sociedade, enquanto a moral são os costumes, regras, tabus e convenções estabelecidas
por cada sociedade.
Moral é o conjunto de regras aplicadas no cotidiano e usadas continuamente por cada cidadão. Essas
regras orientam cada indivíduo, norteando as suas ações e os seus julgamentos sobre o que é moral ou
imoral, certo ou errado, bom ou mau.
No sentido prático, a finalidade da ética e da moral é muito semelhante. São ambas responsáveis por
construir as bases que vão guiar a conduta do homem, determinando o seu caráter, altruísmo e virtudes,
e por ensinar a melhor forma de agir e de se comportar em sociedade.
Fonte: http://www.significados.com.br/etica-e-moral/.

13. Resposta: B.
Ética é um conjunto de conhecimentos extraídos da investigação do comportamento humano ao tentar
explicar as regras morais de forma racional, fundamentada, científica e teórica.
A Ética é a parte da filosofia que estuda a moralidade das ações humanas, isto é, se são boas ou más.
É uma reflexão crítica sobre a moralidade.

14. Resposta: Certo.


A Ética é um ramo de estudo que tem por objetivo o estudo do comportamento humano dentro de cada
sociedade.
Ética - é uma ciência sobre o comportamento moral dos homens em sociedade e está relacionada à
filosofia.
Moral - um conjunto de normas, aceitas livre e conscientemente, que regulam o comportamento
individual do homem.

15. Resposta: C.
Ética é uma palavra de origem grega – ethos – que significa caráter.

5. Juízos de fato ou de realidade e juízos de valor

Juízos de fato e juízos de valor26

Juízos
Comecemos por esclarecer o que significa dizer que alguém formulou um juízo sobre determinado
assunto. Fazer um juízo significa geralmente que alguém formou ou deu uma opinião. Esta opinião é
comunicada oralmente ou por escrito através de uma frase declarativa, que exprime o juízo formulado.
Se a frase pôde expressar a opinião ou juízo de alguém é porque há um significado associado à frase.
Quando, depois de refletir sobre o assunto, concluo que a pena de morte é injusta, estou a formar um
juízo. E quando uso a frase “A pena de morte é injusta” para comunicar a alguém a opinião que acabei
de formar, estou a comunicar o meu juízo. A frase que permite comunicar o juízo tem, portanto, o mesmo
conteúdo que o juízo.
Mas, se ao falar em conteúdo de uma frase declarativa nos referimos ao significado linguístico – a uma
proposição – quando falamos no conteúdo de um juízo referimo-nos a um ato mental ao qual está
associado um significado. Assim, o termo juízo é geralmente utilizado numa acepção psicológica, para
referir o ato mental que nos conduz a formar (ou captar) uma certa proposição, ou seja, a formar ou captar

25
MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Teoria Geral da Administração. São Paulo: Atlas, 1974, p. 371; MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Teoria geral da
administração. São Paulo: Atlas, 1974, p. 294. Disponível em: http://www.webartigos.com/artigos/etica-etica-empresarial-moral-e-responsabilidade-social/1700/.
26
Disponível em:
http://srec.azores.gov.pt/dre/sd/115152010600/depart/dcsh/filososia/apontamentos/Ju%C3%ADzos%20de%20Facto%20e%20Ju%C3%ADzos%20de%20Valor.pdf.

. 32
um certo pensamento. É isto que acontece quando afirmamos: “Já percebi” ou “Já apanhei a ideia”.
Estamos a indicar que compreendemos a proposição que a pessoa tinha em mente – aquilo que a pessoa
tentava comunicar.

Fatos e valores
Em geral, distinguimos dois tipos de juízos: juízos de fato e juízos de valor. Um exemplo do primeiro
tipo seria: o sol é uma estrela; um exemplo do segundo tipo seria: o aborto – em certas circunstâncias –
é moralmente permissível. Estes exemplos permitem compreender facilmente a razão de ser da distinção.
No primeiro caso, referimo-nos a um fato, não estando presente qualquer noção de certo ou errado; no
segundo caso, o nosso juízo envolve valores, estando por vezes em causa avaliar o que é moralmente
certo ou moralmente errado.
Mas o que são valores? Os valores intervêm e influenciam as nossas decisões nos mais variados
campos. Os valores morais orientam as nossas ações quando está em causa o bem e o mal, o certo e o
errado. A amizade, o respeito pelos outros, a honestidade e a generosidade são exemplos de valores
éticos (morais). Mas os valores estéticos e os valores religiosos são também importantes na vida de
muitas pessoas, basta pensarmos no papel central que a arte e a religião têm nas sociedades humanas.
Como exemplos de valores estéticos, que orientam a criação artística na música, na pintura, etc.,
encontramos a beleza e a harmonia. A fé e o sagrado são exemplos de valores religiosos, decisivos na
vida de muitas pessoas.
Podemos então dizer que os valores – morais, estéticos e religiosos – são critérios de ação. Refletem
aquilo a que damos importância e orientam o nosso comportamento: são eles que nos fazem preferir
certas ações e excluir outras. (Se valorizamos o respeito pelos outros, há ações que não praticamos –
por exemplo, ferir intencionalmente os seus sentimentos.)

Juízos de fato
Retomemos um dos exemplos referidos acima. Ao dizer que o sol é uma estrela estou a expressar um
juízo de fato. Na verdade, a frase “O sol é uma estrela” descreve um certo aspecto da realidade. Os juízos
de fato são, portanto, descritivos: informam-nos sobre o que se passa na realidade – dizem-nos, em suma,
de que modo as coisas são. O mesmo acontece com as frases “Há mais chineses que portugueses” ou
“A atmosfera terrestre contém oxigénio”.
Estes exemplos permitem-nos compreender que os juízos de fato têm valor de verdade: são
verdadeiros ou falsos. Esta característica deve-se a serem descritivos: são verdadeiros se descreverem
corretamente a realidade, falsos caso a descrevam de forma incorreta. Além disso, são objetivos: a
realidade que descrevem, quer nos agrade quer não, é como é. Não depende do que possamos pensar
ou sentir, dos nossos desejos ou aversões. Estes sentimentos, desejos, aversões, etc., são estados
psicológicos subjetivos, e não algo independente do sujeito. O filme que vi ontem na televisão, por
exemplo, tem uma duração de 93 minutos: eis algo de objetivo, que em nada depende de mim (como
existirem nove planetas no sistema solar também não depende de mim: mesmo que eu pensasse ou
desejasse o contrário, a realidade não deixaria de ser a que é). Mas gostar ou não do filme é algo de
subjetivo: depende da experiência agradável ou desagradável que o filme me proporcionou. Um juízo
deste tipo pode variar de sujeito para sujeito (de pessoa para pessoa), e depende claramente do género
de experiência que cada tem ou possa ter acerca de algo.
Os juízos de fato serem objetivos tem uma consequência importante: podemos estar errados quando
os formulamos. Se alguém pensar que a Terra ocupa o centro do universo, o seu juízo está objetivamente
errado. O mesmo seria se todos pensássemos dessa maneira. Não é por todos estarmos de acordo sobre
um certo assunto que nos faz estar na verdade.
Em síntese: os juízos de fato são descritivos, têm valor de verdade (exprimem proposições) e são
objetivos.

Juízos de valor
Vejamos agora os juízos de valor. Exemplo: “A pena de morte é injusta.” Parece claro que este juízo
exprime uma atitude desfavorável em relação à pena de morte: alguém que acredite nele sinceramente
não está apenas a dizer-nos como as coisas se passam na realidade; não está apenas a descrevê-las.
Está a dizer-nos como as coisas deviam ser, isto é, está a avaliá-las. Dizer que a pena de morte é injusta
significa fazer uma avaliação negativa desta prática. E fazer uma avaliação negativa implica uma atitude
de reprovação: estamos a dizer que a pena de morte não devia existir, que devia ser abolida. Não nos
limitamos, portanto, a descrever um fato; estamos a propor a adopção de uma norma de comportamento
– neste caso, a ser aplicada pelos tribunais. Ora, as normas servem para indicar a maneira como devemos
agir. É devido a esta característica que os juízos de valor são normativos.

. 33
Esta análise permite-nos concluir que os juízos de fato são descritivos e os juízos de valor têm uma
função normativa. É costume indicar esta diferença da seguinte maneira: os juízos de fato tratam daquilo
que as coisas são, os juízos de valor tratam daquilo que as coisas devem ser.
Isto é consensual. Mas será que é tudo o que há a dizer sobre as diferenças entre estes dois tipos de
juízos? Ou é possível ir mais longe?

A fronteira segundo o emotivismo


Façamos uma breve revisão. Um juízo como “A relva é verde” é verdadeiro porque descreve
corretamente a realidade; por outro lado, o juízo “Camões é zulu” é falso porque descreve incorretamente
a realidade. Para um juízo ter valor de verdade é, portanto, necessário ser descritivo.
Isto leva-nos naturalmente a perguntar: será que os juízos de valor também têm valor de verdade (ou
seja, além de normativos, serão também parcialmente descritivos), ou, ao contrário dos juízos de fato,
não são nem verdadeiros nem falsos? Será que dizer que a pena de morte é injusta, além de exprimir
uma atitude desfavorável a respeito da pena de morte, estamos também a dizer uma verdade? Ou
limitamo-nos a fazer uma avaliação negativa desta prática sem, contudo, estarmos a dizer algo de
verdadeiro ou de falso a seu respeito?
Ao colocarmos esta segunda pergunta, o consenso anterior desaparece. Alguns filósofos pensam que
os juízos de valor nada têm de descritivo; são, portanto, puramente normativos. Assim, não são nem
verdadeiros nem falsos. Não haveria, segundo esta teoria, verdades nem falsidades morais, estéticas ou
religiosas. Haveria apenas atitudes: atitudes que refletem os nossos sentimentos – favoráveis ou
desfavoráveis – a respeito de certos assuntos. Em consequência, os juízos de valor, sendo
exclusivamente normativos, também não expressariam proposições. Chamam-se emotivistas aos
filósofos que defendem esta perspectiva.
De acordo com os emotivistas, um juízo de valor como “António é honesto” reflete apenas uma atitude
favorável em relação ao comportamento do António, isto é, exprime a respeito do António, um sentimento
de aprovação. Dizer “António é honesto” significa algo como “Viva o António!”. Os juízos de valor situar-
se-iam num plano puramente emotivo, servindo exclusivamente para exprimir sentimentos de aprovação
ou desaprovação sobre ações ou coisas.
Para se perceber melhor este ponto, convém considerar o seguinte exemplo. Os esquimós, tal como
os antigos romanos, aceitavam o infanticídio, não vendo nesta prática nada de condenável. Pelo contrário,
nós tendemos a considerar o infanticídio como algo de inaceitável. Segundo o emotivismo, no entanto,
não podemos dizer que os romanos ou os esquimós estivessem errados. Isto implicaria supor que os
esquimós e ou romanos tinham uma crença moral falsa. Ora, se os juízos de valor apenas exprimem
atitudes, não são nem verdadeiros nem falsos; logo, nem os romanos nem os esquimós podem, de acordo
com o emotivismo, estar errados. Tudo o que se pode dizer é que entre eles e nós há uma nítida diferença
de atitudes.
Assim, para os emotivistas, a fronteira entre juízos de valor e juízos de fato não podia ser mais clara.
Enquanto os juízos de fato são descritivos, têm valor de verdade e exprimem proposições, os juízos de
valor, pelo contrário, são normativos, não têm valor de verdade e não exprimem proposições, mas
atitudes. A fronteira entre estes juízos não pode ser mais vincada.

A fronteira segundo o objetivismo e o subjetivismo


Outros filósofos, pelo contrário, embora admitam que os juízos de valor refletem as nossas atitudes,
pensam que isso não é tudo. Os juízos de valor seriam parcialmente descritivos, além de normativos.
Assim, tornar-se-ia possível admitir que os juízos de valor são verdadeiros ou falsos. Mas, neste caso, é
inevitável colocar outra questão: exprimirão os juízos de valor verdades (ou falsidades) objetivas, isto é,
serão verdadeiros ou falsos independentemente da perspectiva, sentimentos, aversões, desejos, etc.,
dos sujeitos que os formulam? Ou limitar-se-ão a descrever os sentimentos, desejos, emoções, etc. das
pessoas que os fazem?
Voltemos ao caso do infanticídio e admitamos, por hipótese, que os emotivistas não têm razão – que
o juízo de valor “O infanticídio é um mal” possui valor de verdade. A questão é saber se este juízo exprime
uma verdade objetiva como, por exemplo, “A Terra tem um único satélite natural”, ou se exprime algo de
puramente subjetivo como “Gosto de gelado de chocolate”.
Se optarmos pela primeira hipótese, o infanticídio ser um mal era tão verdadeiro na Roma Antiga como
o é hoje, nas nossas sociedades, se estivermos certos e os romanos errados; simplesmente, os romanos
não o sabiam, como não sabiam, por exemplo, que as espécies evoluem por seleção natural (o que
Darwin descobriu no século XIX). Assim, as verdades morais seriam algo que descobrimos como
descobrimos as verdades científicas, embora não do mesmo modo. Se uma pessoa afirmar que o
infanticídio é um mal e outra pessoa afirmar que o infanticídio não é um mal, não apenas há uma

. 34
discordância real entre elas, como uma tem de estar errada. O infanticídio ser – ou não – um mal não
depende do ponto de vista de cada um: é algo objetivo. Será, portanto, possível mostrar racionalmente
que os romanos e os esquimós estavam enganados, i. e., que a sua crença era falsa. Os filósofos que
defendem que os valores (morais, estéticos, etc.) são objetivos chamam-se realistas ou objetivistas.
Para os objetivistas, a distinção entre juízos de valor e juízos de fato não é muito significativa. Os juízos
de valor apenas se distinguem dos juízos de fato pelo seu carácter parcialmente normativo, sendo no
mais idênticos. Esta maneira de traçar a fronteira é, de todas, a menos vincada.
Se optarmos pela segunda hipótese, o juízo “O infanticídio é um mal” é verdadeiro consoante descreva
corretamente os sentimentos de quem o formula. Este juízo será verdadeiro se a pessoa que o formula
de fato tiver um sentimento de reprovação acerca do infanticídio, e falso no caso inverso. Assim, se uma
pessoa afirmar que o infanticídio é um mal e outra afirmar que o infanticídio não é um mal, a discordância
entre elas é apenas aparente, se estiverem a ser sinceras, mas não real. Uma dirá que tem um sentimento
de aprovação em relação ao infanticídio, o que é verdade se estiver a ser sincera; a outra dirá que tem
um sentimento de desaprovação em relação ao infanticídio, o que é verdade se estiver a ser sincera.
Logo, como ambas estão a dizer a verdade, não há realmente uma contradição entre elas. Além disso,
como um juízo de valor ser verdadeiro depende apenas de quem o formula estar a ser sincero (de ter o
sentimento que diz ter), ninguém pode estar errado nos juízos de valor que formula. As verdades morais
seriam verdades acerca dos nossos sentimentos, não acerca de algo independente de nós. Estes
filósofos chamam-se subjetivistas.
A fronteira, de acordo com os subjetivistas, entre juízos de valor e juízos de fato é então a seguinte:
os juízos de fato são descritivos, possuem valor de verdade (exprimem proposições), e a sua verdade ou
falsidade é objetiva; os juízos de valor são parcialmente normativos, têm valor de verdade mas a sua
verdade é subjetiva (pode variar consoante o sujeito que os formula).

A evolução do juízo moral e o agir adulto

De Piaget a Gilligan: retrospectiva do desenvolvimento moral em psicologia um caminho para


o estudo das virtudes27

Juízo Moral na Criança Segundo Jean Piaget

Na obra “O Juízo Moral na Criança”, publicada pela primeira vez em 1932, Piaget traz a proposta de
tentar compreender o juízo moral do ponto de vista da criança, e descreve as regras morais que se
estabelecem durante seu desenvolvimento.
O estudo da moralidade é uma parte da obra piagetiana na qual o autor não aprofundou suas
pesquisas. As razões podem ser várias: tempo e objetivo despendido pelo pesquisador com o problema
epistemológico, preferência pessoal, ou até razões políticas, ligadas à delicada posição que ocupava no
Instituto Jean Jacques Rousseau.
Estudiosos piagetianos reconhecem que as ideias presentes em “Juízo Moral na Criança” permearam
toda a obra de Piaget e já existiam desde 1916 ou 1917, quando escreveu Recherche: “um livro em parte
autobiográfico, em parte um ensaio de elaboração de suas leituras (...) sob a forma de romance filosófico
(...) para não se comprometer no campo da ciência” (Freitas, 1997, pp. 66-67). Em “Juízo Moral na
Criança”, traçou estratégias para estudar o jogo de bolinhas de gude, comum entre os meninos da região
pesquisada, e os jogos de pique e amarelinha com as meninas, procurando comprovar a relação entre
respeito e moralidade. Formulou às crianças de 6 a 12 anos questões morais em forma de dilemas ou
perguntando-lhes livremente sobre o tema. É fundamental esclarecer que Piaget achava importantíssimo
o inquérito que se seguia ao teste.
Para demonstrar como observou e comprovou a construção dessa moralidade, vamos seguir os
passos de Piaget em “Juízo Moral na Criança”.

Os Estágios e Regras na Prática do Jogo de Bolinhas de Gude


Quanto ao estudo das regras do jogo de bolinhas de gude, variação do quadrado (“traça-se no chão
um quadrado, dentro do qual se colocam algumas bolinhas; o jogo consiste em atingi-las de longe e fazê-
las sair desse quadrado” (Piaget, 1932/1994, p. 5), Piaget chegou à conclusão de que há quatro estágios,
do ponto de vista da prática das regras.

27
LIMA, Vanessa Aparecida Alves de. Desenvolvimento moral em psicologia um caminho para o estudo das virtudes. Print version ISSN 1414-9893. Psicol. cienc.
prof. vol.24 no.3 Brasília Sept. 2004. http://dx.doi.org/10.1590/S141498932004000300003. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932004000300003.

. 35
1° estágio (até os 2 anos): motor e individual, quando a criança simplesmente manipula as bolinhas
para sua própria exploração e utiliza-as como objetos diversos para estabelecer alguma ritualização,
processo de adaptação efetiva.
2° estágio (entre 2 e 5, 6 anos): caracterizado pelo egocentrismo infantil. A criança aceita as regras
que recebe do exterior, dos adultos ou dos meninos mais velhos (no caso do jogo). Considera as regras
sagradas e imutáveis e é completamente avessa à sua alteração. Há uma característica que deve ser
detalhada: é o fato de haver uma desorganização da memória da criança aproximadamente até os 7 anos
de idade, quando ela crê que sempre soube o que acabou de aprender. Assim, quando Piaget joga com
as crianças, logo que modifica as regras, elas não aceitam, para, em seguida, concordar. Segundo Piaget,
elas não se apercebem da mudança. Jogam com os outros, imitando-os. Creem que estejam em interação
com os demais, enquanto jogam só para si e modificam as regras sem perceber.
3° estágio (entre 7, 8 anos e 11, 12 anos): caracterizado por uma cooperação que começa a surgir; a
criança já conhece as regras e já aceita suas mudanças, desde que o grupo esteja de acordo com elas.
No entanto, o que o observador das crianças pôde coletar a respeito é que, na verdade, elas jogam juntas,
mas com uma infinidade de regras concomitantes.
4° estágio (11, 12 anos): finalmente, a organização do pensamento e a autonomia. As crianças jogam
pelo prazer da disputa, mas procuram interagir quanto às regras, que jamais são fixas e dispõem de
possibilidade de mudanças, decididas pelo grupo. Somente a partir destas os procedimentos do grupo
podem ser julgados.
Piaget surpreende-se com a organização que os meninos desenvolvem para compreender e praticar
as regras do jogo, a ponto de assinalar esta como uma diferença básica entre meninos e meninas.
Ao estudar o pique com o grupo de meninas, percebeu basicamente o mesmo desenvolvimento na
estruturação das regras, evoluindo de um estágio egocêntrico, por tomar as regras como imutáveis, ao
momento de discutir as regras com o grupo e decidir os procedimentos da situação. Faz a ressalva de
que as meninas têm um “espírito jurídico” menos desenvolvido que os meninos.
À parte qualquer reclamação do gênero feminista que se possa bradar, na verdade, Piaget julgou que
todos os brinquedos das meninas eram muito simples e não possibilitavam as codificações da
jurisprudência que construíram os meninos em seu jogo de bolinhas.
Relacionando a questão moral com o estudo do jogo de bolinhas, pôde chegar à conclusão da
existência de três regras:
• regra motora: faz parte da fase pré-verbal, quando a criança ritualiza sua ação sobre os objetos e
os elabora;
• regra coercitiva: caracterizada por ser uma fase na qual a criança compreende as regras como
sagradas e imutáveis, porque considera aquele que as informa, o adulto, como superior e inatingível.
• regra racional: em que, quase adolescente, as regras não são mais aceitas como dadas, a menos
que atendam às necessidades e/ou desejos do outro. Podem ser modificadas, desde que haja uma
decisão e aceitação grupal.
Provavelmente, partindo das observações de que, principalmente nos 2° e 3° estágios, a criança
verbaliza um juízo, mas comporta-se de outra forma, Piaget questiona a oposição do juízo moral teórico
e o juízo moral da experiência.
Anna E. B. Costa e Angela M. B. Biaggio (1996) procuram, de certa forma, abordar esses aspectos
contraditórios entre o julgamento moral e as ações morais de cada indivíduo, colocando a afetividade
como um tema determinante de atos (a)morais.

Noção de responsabilidade objetiva e subjetiva


Para Piaget, essa noção distingue-se pelo fato de que, em seus julgamentos morais, a criança mais
nova aplica uma responsabilidade objetiva, e a criança mais velha aplica uma responsabilidade subjetiva.
A primeira é fruto da coação moral (adulta) e a segunda, fruto da cooperação (entre pares).

A Responsabilidade Objetiva é o Momento em que:


• O indivíduo julga os atos pelas suas consequências, e não por sua intenção; quanto maior o resultado,
o “estrago” da ação, tanto mais a criança responsabiliza o agente, embora possa distinguir se ele tinha
intenção ou não de praticá-lo.
• Prevalece na criança a questão da obediência ou não às regras estabelecidas pelo adulto: “a criança
não dissocia o elemento de responsabilidade civil, por assim dizer, e o elemento penal” (Piaget,
1932/1994, p.106). O mais importante é obedecer aos mais velhos, ser agradável e aceita por eles.
• A consciência da regra e da moral, por extensão, dá-se exteriormente ao indivíduo, como que “colada”
a ele, mas não dentro, introjetada. Ele “assume” essas regras e se culpa, em sua ausência, por considerar

. 36
seu estrito dever segui-las, pois são dadas por um adulto a quem a criança atribui autoridade (por ser
“maior” e prover-lhe as necessidades).
A responsabilidade subjetiva é o momento em que:
• Descentrada de seu egocentrismo, a criança começa a perceber a intencionalidade dos atos. Dá-se
conta das consequências distintas que as ações possuem.
• Surge o sentimento do dever preciso de não mentir, mas não porque as regras (adultas) sejam
“sagradas” e a coação mais forte que a autonomia, mas pela necessidade de cooperação.
• Acontece a relação estreita de interdependência entre o desenvolvimento da inteligência psicológica
e uma crescente cooperação. Fatos como a mentira e outros atos de enganar são proscritos da relação
entre as crianças pela própria necessidade de cooperação.
A noção objetiva e a noção subjetiva da responsabilidade não caracterizam dois estágios, mas o
segundo é decorrência do primeiro, num processo de desenvolvimento do juízo moral, já que a criança
se desvencilha da coação adulta e penetra, cada vez mais, na cooperação.
A existência do realismo moral, um verbalismo do julgamento moral que a criança faz completamente
condicionada à coação (influência da autoridade) adulta, irá dando passagem a um julgamento moral
mais autônomo.
Quanto à Noção de Justiça, Piaget Percebeu Três Tipos:
• justiça retributiva: completamente ligada à ideia de sanção. O ato deve ser corrigido com uma punição
correspondente da mesma monta.
• justiça distributiva: ligada à ideia contrária à da sanção. O importante é repor, ao ofendido ou
prejudicado, a perda. Levam-se em conta as condições e intenções.
• justiça imanente: novamente em presença da coação adulta, a criança acredita haver, na justiça
declarada por este, algo de sagrado e imutável. É atribuída à natureza como um todo, inclusive ao adulto,
o poder de tudo saber.
Essas três noções de justiça estão presentes no desenvolvimento do juízo moral da criança e
diferenciam-se, hierárquica e cronologicamente, nas crianças mais novas e nas mais velhas, podendo
ser definidas como as “duas morais”.

As duas morais
Embora o “Juízo Moral na Criança” só viesse a ser editado em 1932, a ideia das “duas morais” da
criança já era divulgada por Piaget em 1930, como no “V Congresso Internacional de Educação Moral”,
em Paris, quando falou sobre “Os Procedimentos da Educação Moral”.
A pesquisa de Piaget em “Juízo Moral na Criança” definiu a existência de dois períodos da experiência
do indivíduo com a moralidade.
Inicialmente, o adulto exerce um controle externo sobre o juízo moral da criança. São as coisas
exteriores, a ordem dada pelo adulto, os exemplos dos mais velhos nas brincadeiras, as cópias, os
modelos, que “obrigam” o indivíduo a selecionar seus comportamentos em face de sua
aceitação/participação no grupo. É a moral heterônoma.
À medida que uma série de condições psicológicas se estabelece, como a capacidade de raciocínio
lógico e reversível, as estruturas do indivíduo possibilitam uma tomada de consciência sobre a forma
como as regras são construídas e sobre a possibilidade de mudá-las. É chegada a moral autônoma.
“Cremos que podemos afirmar que existem entre as crianças, senão no geral, duas “morais” (...) Essas
duas morais que se combinam entre si mais ou menos intimamente, ao menos em nossas sociedades
civilizadas, são muito distintas durante a infância e reconciliam-se, mais tarde, no curso da adolescência”
(Piaget, 1930/1996, pp. 03-04).
Por si só, o indivíduo não é capaz dessa tomada de consciência e também não estabelece normas
sem um parâmetro. Estas se darão, com segurança, na convivência entre os indivíduos, na discussão
que fazem da validade das normas existentes, do que levam em conta para estabelecer novas regras.
É devido a esse encadeamento que a moral para sua realização (normativa e factual) depende da
coletividade, e esta, do desenvolvimento da inteligência. “O ato moral, como ato de um sujeito real que
pertence a uma comunidade humana, historicamente determinada, não pode ser qualificado senão em
relação com o código moral que nela vigora” (Sánchez Vázquez, 1998, p. 63).
O que leva o indivíduo, inicialmente, a acatar as regras de seu grupo social é a heteronomia, fruto da
coação do adulto sobre a criança e dos aspectos externos sobre os internos.
O desenvolvimento da inteligência dá-lhe uma condição de socialização que, na cooperação, ao
discutir a moral de seu grupo, desenvolve certa autonomia, uma consciência, e passa a regular-se
livremente (conforme seus motivos).
É a cooperação entre os indivíduos que nos leva a um tipo de regulamentação moral, que colabora
para o progresso moral dos grupos sociais e dos indivíduos e, em seu desenvolvimento, caracteriza-se,

. 37
entre outras coisas, por um aumento do grau de consciência e de liberdade, a tal ponto que o indivíduo,
para chegar a isso, precisa do grupo e da cooperação. Se abandonados à heteronomia, ao egocentrismo,
os indivíduos jamais chegam à autonomia e a uma consciência de seu papel na moral do seu grupo. “Ora,
a crítica nasce da discussão, e a discussão só é possível entre iguais: portanto, só a cooperação realizará
o que a coação intelectual é incapaz de realizar” (Piaget, 1932/1994, pp. 298-299).
O objetivo é que o indivíduo, ao agir moralmente, o faça pela consciência e liberdade; este, sim, será
um “homem moral”, homem, aqui, referenciado pela consciência de sua moralidade.
Para definir a consciência que deve ter um indivíduo para atingir a moralidade plenamente, citaremos
Puig (1996): “Portanto, entendemos a consciência moral como a faculdade de julgar a retidão de juízos
ou ações morais. (...) Dizemos, portanto, que um sujeito é autônomo quando é capaz de agir de acordo
com sua própria vontade (...) No entanto, isso não impede que se possa agir como juiz de si mesmo, mas
por delegação de uma instância alheia: pode-se usar a consciência moral de modo heteronômico” (p. 80).
Obviamente, o desejo a que nos impelem os sentimentos mais dignos de solidariedade é de que todos
atinjam essa autonomia, mas muitos indivíduos comportam-se heteronomamente até mesmo na fase
adulta.

O Juízo Moral Segundo Lawrence Kohlberg


“Essays on Moral Development” (1981), com suas raízes na experiência de L. Kohlberg, nasce como
teoria em sua tese de doutorado, em 1955.
A teoria kohlberiana é uma busca da definição científica e filosófica da moralidade, onde qualquer
descrição da forma ou modelo de estrutura social é necessariamente dependente de estruturas
cognitivas, assim como os afetos e as atitudes dos indivíduos também não podem ser distinguidos dessa
estrutura. Os motivos de uma ação moral têm também um elemento cognitivo formal.
As descobertas na área da moral, para Kohlberg, estruturam-se em estágios e são construções
tipológicas ideais que delimitam diferenças qualitativas nas organizações psicológicas da evolução do
indivíduo, sendo sequencialmente previsíveis em uma escala ordinal.
Kohlberg acreditava que uma parte essencial da estrutura de cada estágio era sua perspectiva
sociomoral, pois isso confrontava a perspectiva cognitivo-evolutiva com a perspectiva da socialização no
desenvolvimento moral.
A estrutura madura e elaborada de sua teoria são os três níveis de desenvolvimento sociomoral,
divididos em seis estágios:

Nível pré-convencional
• moralidade heterônoma;
• individualismo, intenção instrumental e troca;

Nível convencional
• expectativas interpessoais, mútuas relações e conformidade interpessoal;
• sistema social e consciência;

Nível pós-convencional
• contrato social ou utilidade e direitos Individuais;
• princípios éticos universais.

Seus estudos apontavam para o fato de que, em todas as culturas, classes sociais, grupos de sexo e
subculturas estudados:
• com a idade, aumenta a discriminação da intencionalidade;
• essa tendência relaciona-se com o desenvolvimento mental da inteligência;
• o desenvolvimento mental, nessas culturas, diferencia-se pela quantidade de estimulação cognitiva.

Essas afirmações só se tornaram possíveis porque os estudos kohlberianos, além de estudos


transversais, usando os dilemas morais, também implicaram estudos longitudinais durante 12 anos, com
um grupo de 70 sujeitos, entrevistados a cada três anos, além dos estudos interculturais desenvolvidos
em várias partes do mundo por sua equipe, como México, Israel, Turquia, Taiwan, Canadá.
A teoria da moral de Kohlberg é a teoria da justiça moral. Ao aplicar seus dilemas nas pesquisas,
considerava que há, certamente, uma relação entre as perspectivas de nível social e as perspectivas de
nível moral: “Os estágios do juízo moral são estruturas de pensamento sobre a prescrição das regras e

. 38
dos princípios que obrigam os indivíduos a agir por formas consideradas moralmente corretas” (Kohlberg,
1981/1992, p. 571).
Ao descrever os estágios do juízo moral em Kohlberg, também iremos detalhar sua análise quanto ao
raciocínio da moralidade.

Estágios Morais

Nível pré-convencional
O nível pré-convencional é aquele em que se localiza a maioria das crianças abaixo de 9 anos, alguns
adolescentes e muitos adolescentes e adultos delinquentes.
O indivíduo ainda não compreende as regras e normas de seu grupo social e, portanto, não pode
colaborar com sua manutenção. As normas e expectativas sociais são exteriores ao indivíduo.
Subdividem-se em:
• Moralidade heterônoma;
• Individualismo, intenção instrumental e troca.
• Moralidade heterônoma
O ponto de vista egocêntrico do indivíduo não considera os interesses dos outros, nem reconhece que
sejam diferentes dos seus, não relacionando os dois pontos de vista. Considera os fatos pelas suas
consequências, e não por suas intenções. Evita romper as normas, não por reconhecê-las, mas para
evitar ser castigado.
Quanto ao raciocínio moral, ocorre um realismo moral ingênuo, ou seja, no significado moral de uma
ação, a sua qualidade é vista como “boa” ou “má”, inerente e imutável; a aplicação das regras é literal.
Não existem, ainda, os conceitos de intenção e merecimento.

Individualismo, Intenção Instrumental e Troca


A perspectiva é individualista e concreta. O sujeito tem consciência de que todos possuem objetivos a
alcançar, e isso o leva a um conflito entre o correto e o relativo.
Segue as normas somente quando há um interesse imediato próprio. Cada um deve seguir seus
interesses e necessidades e deixar que os outros façam o mesmo. O correto é o que é justo, o que é uma
troca, um trato. Procura atender suas próprias necessidades enquanto convive com o grupo e
compreende que os outros também têm seus interesses.
Quanto ao raciocínio moral, com a compreensão de que diferentes pessoas têm diferentes interesses
pelas mesmas questões, ainda que igualmente válidas na sua reclamação de justiça, passa a desenvolver
uma relatividade moral, embora o indivíduo não tenha meios de solucionar satisfatoriamente o problema.

Nível moral convencional


É o nível em que se localiza a maioria dos adolescentes e adultos de nossa sociedade e de outras. O
termo convencional designa conformidade e manutenção das regras sociais, é baseado na autoridade.
Há expectativas ou acordos da sociedade. Nesse nível, o indivíduo identifica-se com as regras e
expectativas dos outros, principalmente das autoridades. O nível acha-se subdividido em:
• Expectativas interpessoais mútuas, relações e conformidade interpessoal;
• Sistema social e consciência.
• Expectativas interpessoais mútuas, relações e conformidade interpessoal
A perspectiva do indivíduo está nos outros à sua volta. Compreende agora que muitos sentimentos e
expectativas coletivas têm, além dos interesses individuais, interesses e, às vezes, até preferências de
partilha com os demais. Embora ainda não haja uma perspectiva generalizada do sistema, já regula seus
pontos de vista através dos pontos de vista do outro, ou o que se denominou regra de ouro: “Faça aos
outros o que você desejaria que lhe fizessem”.
Quanto ao raciocínio moral, as diferentes perspectivas do indivíduo coordenam-se com as perspectivas
de terceiros, representadas pelo grupo e pelas normas morais, desde que se suponha sejam
compartilhadas entre os seus. Essas normas morais são discutíveis e transcendentes diante das
situações particulares, como a “intenção”, os “bons” e “maus” motivos.

Sistema Social e Consciência


Nesse ponto, o indivíduo já é capaz de fazer distinção entre o ponto de vista da sociedade e dos
acordos ou motivos interpessoais. Assume o ponto de vista da sociedade, que define as normas e os
papéis, e considera as relações individuais conforme o lugar que ocupam no sistema.

. 39
O objetivo desse comportamento é manter o funcionamento do sistema. Há um imperativo da
consciência para que se cumpram todas as obrigações, assim como para cumprir as regras acordadas.
É correto dedicar-se ao grupo, instituição e sociedade.
Quanto ao raciocínio moral, o indivíduo agora considera-se um membro da sociedade, que se baseia
em um sistema social, o conjunto consistente de códigos e procedimentos, aplicados imparcialmente a
todos os membros. Perseguir interesses individuais só é legítimo quando beneficiar todo o grupo e a
manutenção do sistema sociomoral.

Nível Pós-Convencional
Nele, localiza-se, somente depois dos 20 anos, uma minoria de adultos.
O indivíduo, baseado em sua própria elaboração sobre os princípios morais, sobre as regras e normas
da sociedade, aceita-as e não distingue entre o eu e as normas ou expectativas do outro, porque define
seus valores segundo princípios auto-escolhidos. Esse nível subdivide-se em:
• Contrato social ou utilidade e direitos individuais;
• Princípios éticos universais.
• Contrato social ou utilidade e direitos individuais
A perspectiva do indivíduo já não dá mais tanta preponderância ao social. O individual começa a ser
consideravelmente respeitado, portanto, nas questões que envolvem a legalidade e a moralidade, e suas
perspectivas são reguladas por contratos e outros mecanismos formais.
Como continua considerando a razão para agir moralmente, na obrigação à lei há uma preocupação
em compreendê-la: no princípio: “o maior bem para o maior número de pessoas” estão regulados os
sentimentos de compromisso contratual ao qual se aderiu espontaneamente.
Quanto ao raciocínio moral, é a ação do agente humano, moral e racional, que, embora consciente
dos direitos universalizantes, considera as leis válidas somente na medida em que preservam e protegem
os direitos humanos fundamentais. O “bem- estar” de todos os membros é o resultado de um contrato
social livremente aceito pelos indivíduos.

Princípios Éticos Universais


Nesse estágio, a que só chega uma minoria de pessoas, a natureza da moralidade está assentada no
fato de que as pessoas são fins em si mesmas e precisam ser tratadas como tal. Isso é dado pela crença
de que há princípios morais universais e que os indivíduos estabelecem compromissos com esses
princípios.
Busca-se seguir princípios éticos universais, como a justiça, a igualdade, a dignidade dos seres
humanos; portanto, mesmo os princípios auto-selecionados, leis particulares e acordos sociais estão
baseados nesses princípios. Até mesmo quando as leis são violadas, seguem-se esses princípios.
Quanto ao raciocínio moral, é uma forma ideal que, nas relações entre os seres humanos, devem os
indivíduos considerar a si mesmo e aos outros pessoas livres e autônomas, ou seja, respeitar
consideravelmente os interesses e pontos de vista do outro ou de todo aquele que sofrerá consequências
a partir da decisão de uma ação moral. Governam essa fase a justiça, a imparcialidade e a reversibilidade.
Os múltiplos princípios de justiça, nessa fase, incluem o máximo de qualidade de vida para cada um,
a liberdade compatível entre os indivíduos, a equidade na distribuição de bens e o respeito entre “irmãos
e irmãs”.
A universalidade está implícita em toda a característica do estágio. É o reconhecimento dos indivíduos
enquanto seres humanos e de seus direitos; pode ser resumido em uma questão: “Eu gostaria que
alguém, em meu lugar, escolhesse a forma que escolhi?”

O Desenvolvimento do Juízo Moral Segundo Carol Gilligan


As pesquisas de Carol Gilligan, demonstradas no livro “In a Different Voice”, reúnem os resultados
obtidos com três grupos: 1° estudantes universitários; 2° mulheres encaminhadas pelo serviço de
orientação numa clínica de aborto; 3° estudo sobre direitos e responsabilidades. Os resultados
corroboram a chamada “ética do cuidado”. Essa obra é a referência teórica que usaremos para defender
a ideia da autora.
O primeiro e o terceiro grupo de estudos têm participantes homens e mulheres. O primeiro está
desigualmente distribuído entre os sexos porque trata-se de alunos inscritos num curso de moral e política
a partir do segundo ano de faculdade. Já o terceiro grupo se preocupa com essa divisão
sistematicamente, pois a amostra total de 144 indivíduos está dividida em 11 faixas etárias – entre 6 e 60
anos – 8 homens e 8 mulheres em cada faixa.
A autora justifica sua preocupação em exaustivas revisões na ausência da voz das mulheres na
bibliografia sobre o desenvolvimento psicológico do ser humano. Freud, Erikson, Kohlberg, Levinson,

. 40
Vaillant ou leituras do cinema e teatro da época demonstram-nos o quanto a voz das mulheres esteve
subordinada ao auto sacrifício e não era ouvida ou respeitada.
Por outro lado, Gilligan traz vários autores que começaram a abrir perspectivas destinadas a tentar
perceber que há uma forma diferente de raciocinar por trás das atitudes das mulheres, como Martina
Horner, Nancy Chodorow e Janet Lever, que amplia as descobertas de Chodorow, David McClelland,
Georgia Sassen (1980) e outros.
Das conclusões dos estudos de Horner com o TAT, Gilligan utilizou o raciocínio e selecionou algumas
figuras que demonstravam situações de realização e afiliação; realização, a fim de comprovar que o medo
manifestado pelas mulheres em situações de competição e de disputas pelo sucesso não se relaciona à
sua incapacidade, mas à preocupação com os relacionamentos e sua condição após; afiliação, para
demonstrar que os homens, em situações de intimidade, projetam mais violência que as mulheres, vendo
na intimidade uma ameaça pessoal, uma perda da liberdade.
Refletir e analisar uma ética do cuidado é pensar essa “voz diferente” que se inicia na concepção de
separação, na diferente visão que homens e mulheres têm dessa experiência, opondo
separação/conexão. A necessidade de separar-se é apresentada, para o homem, como a condição
necessária ao estabelecimento de sua masculinidade, enquanto a identidade feminina só se estabelece
na conexão definitiva com a figura materna.
Os homens seguem a vida associando a independência a não estabelecer conexões que os prendam
em suas atitudes. A preocupação feminina direciona-se ao cuidado e à preservação dos relacionamentos.
“A masculinidade define-se através da separação, enquanto a feminilidade define-se através do apego;
a identidade de gênero masculina é ameaçada pela intimidade, ao passo que a identidade de gênero
feminina é ameaçada pela separação” (Gilligan, 1982).
Para Gilligan, a “voz diferente” que as mulheres possuem é a voz do “cuidado”, em contraposição à
voz da “justiça” presente nos homens. Os estudos de Gilligan demonstram que, nas mulheres, o caminho
do desenvolvimento moral e a evolução do conceito de moralidade são os mesmos.
As mulheres, durante muito tempo de suas vidas, acreditam que o cuidado seja o mais importante. No
respeito pelo outro, há sempre a procura de “arrumar” as coisas para que ninguém seja magoado.
Contudo, uma crise vivenciada pela mulher deflagra a necessidade de garantir a própria sobrevivência,
de fato ou simbolicamente (pela sobrevivência da personalidade da mulher).
Os sentimentos vividos por ela, nessa fase, são de egoísmo, de estar sendo injusta com aqueles que
ama. Ela procura, incessantemente, uma solução que contemple os dois lados, para terminar por se
convencer de que essa solução não existe. As partes envolvidas estão definitivamente afetadas por
aquela experiência, seja de que extensão for. Precisa, então, procurar uma solução na qual os prejuízos
sejam menores, mas o grande peso fica sobre os resultados que a ação tende a causar nos
relacionamentos. As crises também criam o caráter, colaboram no desenvolvimento da responsabilidade
com uma sequência coerente de sentimentos e pensamentos.
A crença de que haja uma única verdade, de que o “bom” e o “certo” saltarão à sua percepção, começa
a se desanuviar. Ela precisa fazer escolhas, e isso coloca em pauta os relacionamentos e os resultados
dessas escolhas.
Claire, uma entrevistada, veterana no grupo de universitários, aos 27 anos, define a pessoa moral
como sendo alguém que, ao agir, “considera seriamente as consequências para todas as pessoas
envolvidas”, ainda que “chegue ao ponto em que penso que não posso ser boa para ninguém a menos
que eu saiba quem sou”.
Considerar seriamente as consequências que envolvem moralmente todos os indivíduos num
relacionamento é considerar mais que os direitos e deveres de cada um, é considerar o que se quer dar
a cada um pela ética do cuidado, da generosidade.
No dilema de Heinz, o direito à justiça sobrepõe-se, para os homens, ao direito à propriedade. Para as
mulheres, há uma preocupação em observar todos os lados da questão, inclusive o farmacêutico, onde
ele não tem o direito de se negar, e o do marido, que, se for preso, deixará a esposa desamparada.
Sobre Amy, 11 anos, Gilligan nos diz:
“Incapaz de perceber o dilema como um problema, em si, de lógica moral, ela não discerne a estrutura
interna da sua solução; (...) vendo o mundo constituído de relacionamentos e não de pessoas isoladas,
um mundo compatível com conexões humanas em vez de um sistema de regras (...), para ela, a solução
do dilema consiste em tornar a solução da mulher mais saliente ao farmacêutico” (p. 40).
As mulheres possuem sensibilidade para as necessidades dos outros, e a crença de que sejam
responsáveis por terceiros leva-as a incluir pontos de vista alheios em seus julgamentos. Por esses
motivos, as mulheres foram definidas como “fracas moralmente”, confusas e imaturas em seus
julgamentos. Contudo, a sua grande força moral, a força da ética do cuidado, reside nos mesmos aspectos
que foram usados para criticá-las.

. 41
Os movimentos feministas pelos direitos das mulheres, principalmente nas décadas de 60 e 70, fizeram
irromper uma crise, para muitas mulheres, semelhante àquela que viveram as universitárias ao se
formarem e começarem a disputar seu lugar no mercado de trabalho ou ao terem que considerar
seriamente a necessidade/possibilidade de um aborto, pela primeira, segunda ou terceira vez.
A defesa dos direitos das mulheres levou-as a pensar em si. A abnegação e o auto sacrifício não mais
eram valorizados pelas feministas e pelos novos direitos como necessários às suas virtudes.
Ao pensar que poderiam, então, dizer “não” aos pais ou maridos, elas inicialmente se viam como
egoístas, tentavam recuperar aquele alto senso de cuidado com o outro e justificavam-se por estarem
prejudicando ou magoando ao outro mais do que a si próprias.
As mudanças no ponto de vista de uma mulher sobre seus direitos, ou seja, que pode levar em
consideração também as próprias necessidades, e não somente as dos outros, deflagram um
desenvolvimento que pode ser relacionado aos seguintes pontos:
• Percepção da auto exclusão;
• Ampliação da obrigação de não se prejudicar ao ter responsabilidade nos relacionamentos;
• Compreensão dos relacionamentos como uma fonte de força moral;
• Ampliação do julgamento moral, incluindo o fator da verdade psicológica e tornando-se mais tolerante
e menos absoluto;
• Egoísmo e auto sacrifício são, agora, questão de interpretação.
As considerações sobre esse auto respeito não permitem ao seu agente, a mulher, voltar atrás,
abnegar-se. A conclusão é definitiva: cuidar dos outros é também cuidar de si. Não há uma única verdade,
e muitas outras modificações se sucedem, descobrindo-se, afinal, que não há uma verdade monolítica.
Ocorre a mudança final de perspectiva, através da qual ela não mais se esquiva das acusações,
identificando-se com a voz da primeira pessoa.
No desenvolvimento da moralidade entre homens e mulheres, ambos consideram a responsabilidade
e os direitos como necessários ao desenvolvimento integrado do indivíduo. Contudo, homens e mulheres
justificam essa necessidade de formas muito diferentes.
Embora as conclusões da autora durante grande parte do livro dirijam-se somente às mulheres, o
último capítulo, “Versões da Maturidade”, lembra aos leitores que essa “voz do cuidado” também está nos
homens. O que temos é uma preponderância dessa voz nas mulheres, mas, conquanto o
desenvolvimento da moralidade seja diferente num e noutro, ela também pode ser ouvida nos homens.
É por isso que, agora, podemos também ouvir diferenças nas vozes dos homens, ouvir, ao lado de
palavras de auto definição que sempre foram marca da voz masculina, como: “lógico”, “disciplina”,
“razoavelmente inteligente” e “arrogante”, ouvir palavras da voz feminina, como “conciliador”,
“compreensivo”, “interessado”, “ardente”.
A teoria gilliginiana preocupa-se, principalmente, em identificar uma ética diferenciada daquela da
justiça de Piaget e Kohlberg, a ética do cuidado, uma concepção de moralidade que centra o
desenvolvimento moral em torno da compreensão da responsabilidade e dos relacionamentos.
Seus estudos em “Uma Voz Diferente” apontam para o fato de haver, nos homens, a preponderância
de uma voz de “justiça” e, nas mulheres, uma voz de “cuidado”. O fundamental é compreender que não
há apenas uma forma de identificar as éticas que coabitam a existência humana. Gilligan, portanto, abre
a possibilidade de pensarmos sobre outras. A virtude da generosidade é uma delas.
Em escritos mais recentes, com sua teoria mais amadurecida, a autora deixa definitivamente claro que
as duas orientações estão presentes nos dois sexos. Homens e mulheres possuem as duas orientações
na resolução dos conflitos morais, tanto a orientação da justiça quanto a orientação do cuidado. “Em
essência, esta pesquisa sugere que as pessoas compreendem duas lógicas de solução dos problemas
morais, e que, analiticamente, distinguem as orientações da justiça e do cuidado, apontando diferentes
formas de perceber e resolver conflitos.” E, se a orientação de justiça ou cuidado pode ser mais expressiva
nos homens ou mulheres, respectivamente, também é fato que ambos “são capazes de mudar de
orientação considerando o conflito em questão” (Gilligan and Wiggins, 1988, pp. 118-119).

De Piaget para Além de Gilligan: Incluindo a Virtude da Generosidade nas Teorias do


Desenvolvimento Moral
A importância dos estudos de Piaget e Kohlberg não pode ser negada. Como já descrevemos, “O Juízo
Moral na Criança” tornou-se obra de referência mundial para as pesquisas em moralidade. O próprio
Kohlberg desenvolve sua teoria a partir do fundamento piagetiano de desenvolvimento psicogenético e
raciocínio moral.
Muitos autores declararam a importância da obra de Piaget, e, para não nos estendermos muito,
citaremos alguns escritores desta década, como De La Taille (1996), Freitag (1997), Araújo (1998),
Vilarrassa, Marimón, Herrero e Pavon (1998), entre outros.

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Contudo, a obra piagetiana e kolhberiana é marcada por sua base teórica e seu ponto de vista, a saber,
a influência kantiana e a ligação entre o desenvolvimento intelectual e o raciocínio moral.
Esses elementos, como era de se esperar, influenciaram muitas obras de psicologia moral, que se
desenvolveu desde então, como reforçam Vilarrassa, Marimón e Herrero: “Ambos (...) estão presentes
nos diversos trabalhos que, a partir de uma orientação piagetiana, se tem realizado nessa área do
conhecimento” (1998, p.156).
Enquanto em Piaget e Kohlberg se verifica uma “ética kantiana” (da justiça), na qual os princípios se
organizam hierarquicamente e se relativizam com a idade, em Gilligan encontra-se a “ética do cuidado”,
da importância aos relacionamentos e às consequências que as discussões ou ações morais possam
trazer.
Em Piaget e Kolhberg, vê-se a preocupação com a razão e o conhecimento, em descobrir a lógica (da
justiça) para os indivíduos pela desmistificação dos processos de raciocínio, em produzir conhecimento
e ampliar as possibilidades do ser humano.
As limitações da obra foram apontadas pelo próprio Piaget, que sempre estabeleceu certa relatividade
para os estágios do desenvolvimento cognitivo e também para os morais. Descrevia como fases a
heteronomia e a autonomia, e não as fechava rigidamente como estágios. Pode-se considerar que
Kohlberg tenha regredido, nesse aspecto da teoria piagetiana. Apesar das reservas de Piaget, L.
Kohlberg, seu primeiro continuador no campo do pensamento moral, “propõe-se justamente a estabelecer
estágios morais claramente delimitados e a analisar suas relações com os estádios do desenvolvimento
intelectual” (Vilarrassa et. al., 1998, p.157).
Por outro lado, o próprio Kohlberg reconhece que, “se o desenvolvimento lógico é uma condição
necessária do desenvolvimento moral, não é uma condição suficiente”, deixando antever caminhos que
Gilligan e outros, como R. L. Selman e E. Turiel, trilharam.
Gilligan não deixa dúvidas na relação das virtudes com a razão e o conhecimento, na medida em que
nos leva a descobrir uma forma de raciocínio que não tinha sido ainda discutida, ao sensibilizar as
pessoas para a “ética do cuidado”.
Logicamente, na “ética do cuidado”, está o exercício de muitas virtudes, certamente a do amor, mas
também a da tolerância, compaixão, fidelidade, temperança, e sem dúvida, a da generosidade.
Gilligan, definitivamente, considera importante a generosidade como elemento da ética do cuidado: “a
consciência de múltiplas verdades leva a uma relativização da igualdade no sentido da equidade e enseja
uma ética da generosidade e do cuidado” (Gilligan, 1982, p.178). Cuidar do outro quase sempre nos
convoca a dar mais do que lhe é de direito, portanto, a sermos generosos.
No questionamento de obras bem fundamentadas, como a de Piaget e Kohlberg, foi possível pensar
muitas alternativas práticas. Assim, cada vez mais, as recentes obras na linha da moralidade têm-se
questionado quanto ao distanciamento que há entre um juízo moral expresso por um indivíduo e sua ação
(moral). Esse questionamento levou os pesquisadores a indicar outros elementos que intervêm no ato
moral, em contraposição com o que expressa nos dilemas quanto aos seus juízos.
Em Puig (1996/1998), encontramos a valorização da autonomia, como em Piaget, mas também uma
grande valorização da cultura em que está inserido o indivíduo. A autonomia se dá pela consciência moral
deste, que pode ser condicionada por muitos fatores (sociais, é claro), mas que não pode ser determinada
por eles.
“Só nos cabe uma alternativa: entendê-la (a moral) como uma tarefa de construção ou reconstrução
pessoal e coletiva de formas morais valiosas (...) a moral exige um trabalho de elaboração pessoal, social,
cultural (...) é uma tarefa de cunho social, que conta também com precedentes e elementos culturais de
valor que contribuem, sem dúvida, para configurar seus resultados” (p. 73).
A crítica de Puig (1998) aos modelos até então estudados dirigem-se à sua limitação como “sistema
de formação moral democrática”, e a mais premente delas, certamente, refere-se à “dificuldade para
acomodar elementos da personalidade moral, tais como os sentimentos e as emoções” (p. 72).
As relações afetivas, apontadas por Biaggio (1996), a vergonha, apontada por Araújo (1998), a
afetividade, humilhação, honra e vergonha, apontadas por De La Taille (1991, 1992, 1996), são alguns
exemplos de autores de fácil acesso na literatura acadêmica brasileira que declaram haver outros fatores
implicados na formação de um sujeito moral. Já que a moralidade de um indivíduo não é suficiente para
seu juízo moral, é necessário observar suas ações.
“A nosso modo de ver, convém introduzir nas técnicas experimentais e, no enfoque teórico,
modificações que, de um lado, permitam aprofundar a análise das relações entre o juízo moral e os
contextos sociais e interpessoais implicados nos conflitos e que, por outro lado, permitam analisar e
explicar como as pessoas vão discernindo, desenvolvendo e coordenando aspectos que, no princípio, ou
não haviam considerado ou os mantinham indissociados de outros a que conferiam maior significação”
(Vilarrassa et. al., 1998, p.159).

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As pesquisas indicam que ligações afetivas como a amizade, o parentesco, a exposição de sua
intimidade e o sentimento de vergonha sejam fatores de grande importância na determinação da
moralidade, inclusive na diferenciação entre o juízo moral expresso e a ação correspondente realizada
em determinadas condições.
Outro fator fundamental é considerar onde se localiza tal disposição para a moralidade em cada
indivíduo. Na formação da personalidade, um indivíduo pode, conforme sua vivência, ter como central em
sua personalidade valores não exatamente considerados morais, e aqueles, os valores morais, podem
ser periféricos.
Essa proposição explica muitos questionamentos que nos fazemos acerca do porquê agirem dessa ou
daquela forma determinados indivíduos. Comportamentos (morais) que são inquestionáveis para um
determinado indivíduo podem não fazer parte dos conteúdos mais valorizados por outros.
Enquanto honestidade, fidelidade, honra e outros valores podem estar no centro da personalidade de
alguns indivíduos, em outros pode estar a necessidade de sentir-se superior aos demais, de ter tudo para
si, do consumismo a qualquer preço. Essa inversão de valores considerada por um indivíduo tem causas,
é claro, no tipo de grupo com o qual ele está convivendo.
De Freud a Piaget até os dias de hoje, nenhum autor desconsiderou a importância que tem a
autovalorização a partir do outro (como referencial). A aprovação e aceitação do comportamento do
indivíduo por seus pares é fundamental desde a infância.
Procuramos fundamentar, a partir de Piaget, Kolhberg e Gilligan, os pressupostos em evolução da
teoria sobre a moralidade, e, para reafirmar a tendência das pesquisas nessa perspectiva, encerramos
com as observações de Campbell e Christopher (1996), que ampliam criticamente os aspectos a serem
abordados pelo desenvolvimento moral. Para além do domínio da justiça, em Piaget e Kohlberg, para
além da ética do cuidado, em Gilligan, imprimem uma preocupação com os objetivos e todos os
desdobramentos dos valores dos indivíduos, expandindo sua preocupação dos valores em geral para os
valores auto-referenciados.
Sobre os valores “que são tradicionalmente considerados virtudes — dignidade, coragem, integridade,
bondade, justiça (...), produtividade, honra, prudência (...), todos têm um aspecto auto-referencial”
(Campbell e Christopher, 1996, p. 38). E, nessa perspectiva, não tememos incluir a Generosidade.

6. Ética e cidadania

Ética e Democracia: Exercício da Cidadania

Já Aristóteles, portanto já nos anos que antecederam a Cristo, não separava ética e política (como
aquilo que se refere ao poder, cuja finalidade deve ser a vida justa e feliz): vislumbrou, com perspicácia,
a indissolubilidade entre virtude moral e atividade cívica.
Cidadão é o indivíduo que, dentro de um Estado, goza de direitos (civis e políticos) e desempenha
deveres (civis e políticos). Assim, a cidadania, ou seja, a qualidade de quem é cidadão, se exerce no
campo associativo (da associação civil), pela cooperação de homens reunidos no Estado. Desta
forma, a sobrevivência e harmonia da sociedade – como grupo, associação ode homens que é – depende
da vida cooperativa de seus cidadãos.
As atribuições cívico-políticas do cidadão dependem da conformação do Estado a que pertence, ou
seja, da forma de governo por este adotada.
Sendo a democracia a forma de governo eleita pelo Estado, a cidadania retrata a qualidade dos
“sujeitos politicamente livres, ou seja, cidadãos que participam ada criação e concordam com a ordem
jurídica vigente”.
Por democracia entende-se, de forma geral, o governo do povo, como governo de todos os
cidadãos. Para que a democracia se estabeleça, necessário o respeito à pluralidade, à transparência
e à rotatividade: a democracia caracteriza-se pelo respeito à divergência (heterogeneidade), pela
publicidade do exercício do poder e pela certeza de que ninguém ou grupo nenhum tem lugar cativo no
poder, acessível a todos e exercido precária e transitoriamente.
Curioso o conceito de democracia dado por Norberto Bobbio, para quem a democracia é o poder em
público. E, de fato, a participação do povo no exercício do poder somente se viabiliza através da
transparência, da publicidade, da abertura, quando decisões são tomadas de forma clara e a todos
acessíveis. Somente desta forma, o povo, titular de todo poder, pode eficazmente intervir nas tomadas
de decisões contestando-as, pelos meios legais, quando delas discordarem.

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Sendo assim, o exercício da cidadania, como gozo de direitos e desempenho de deveres, deve
pautar-se por contornos éticos: o exercício da cidadania deve materializar-se na escolha da melhor
conduta tendo em vista o bem comum, resultando em uma ação moral como expressão do bem.
A sobrevivência e harmonia da vida associativa, como já dito, dependem do nível cooperativo dos
homens reunidos em sociedade: há uma expectativa generalizada a respeito das ações humanas e, em
especial, das ações daqueles que desempenham funções públicas.
O servidor público, antes de sê-lo, é cidadão do Estado e, como tal, tem interesse na sobrevivência e
harmonia da sociedade como qualquer outro cidadão. O bom, correto, justo, enfim, ético desempenho de
suas funções à frente da coisa pública não beneficia apenas toa a sociedade, mas antes a ele mesmo. A
conduta desvencilhada dos pilares éticos e violadoras das normas morais podem até trazer algum
benefício temporário ao seu executor, mas as consequências danosas de tal comportamento para si
mesmo se farão sentir com o desenvolver do tempo, já que nenhum Estado pode crescer, desenvolver e
aprimorar-se sob a ação corrupta de seus governantes, gestores e servidores e um Estado assim falido,
inclusive moralmente, retrata a falência mesma dos homens nele reunidos em sociedade.
Desta forma, o servidor que se desvia do comportamento ético, atenta contra si e toda a sociedade,
violando, em especial, a própria dignidade, já que o trabalho realizado com excelência é o mais caro
patrimônio humano.

Referências Bibliográficas:
BORTOLETO, Leandro; MÜLLER, Perla. Noções de Ética no Serviço Público. Editora Jus Podivm,
2014.
Questões

01. (LIQUIGÁS – Profissional Júnior – CESGRANRIO/2014) Na medida em que é editada uma lei,
regularmente votada pelo Congresso Nacional, a qual protege as pessoas com certo grau de deficiência
física, ofertando oportunidades de inserção no mercado de trabalho, está sendo realizado o princípio da
(A) cidadania
(B) organização
(C) proteção
(D) democracia
(E) república

02. (FSC – Advogado – CEPERJ/2014) Dentre os fundamentos da República Federativa do Brasil


está aquele que não está limitado por nenhum outro na ordem interna. Trata-se da:
(A) democracia
(B) cooperação
(C) dignidade
(D) cidadania
(E) soberania

03. (MPOG – Atividade Técnica – FUNCAB/2015) Sobre os direitos políticos, é correto afirmar que:
(A) são inelegíveis, de acordo com o art. 14, § 4º, da Constituição Federal, os inalistáveis e os
analfabetos.
(B) a idade mínima de vinte e um anos é requisito de elegibilidade para candidatura a vereador.
(C) o alistamento eleitoral e o voto são facultativos para os maiores de setenta anos e para os maiores
de dezesseis e menores de dezoito anos, mas não para os analfabetos.
(D) para concorrer a outro cargo, prefeitos devem renunciar ao mandato até três meses antes do pleito.
(E) não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e os brasileiros naturalizados.

04. (DEPEN – Técnico de Apoio – CESPE/2013) No que se refere à ética e ao exercício da cidadania,
julgue o próximo item.
Configura um dos elementos indispensáveis para o exercício da cidadania o efetivo conhecimento a
respeito dos direitos
(....) Certo (....) Errado

05. (INES - Assistente Social – AOCP/2013). Preencha a lacuna e assinale a alternativa correta.
“A revisão do texto de 1986 processou-se em dois níveis. Reafirmando os seus valores fundantes - a
liberdade e a justiça social -, articulou-os a partir da exigência democrática: a _______________ é tomada
como valor ético-político central, na medida em que é o único padrão de organização político-social capaz

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de assegurar a explicitação dos valores essenciais da liberdade e da equidade. É ela, ademais, que
favorece a ultrapassagem das limitações reais que a ordem burguesa impõe ao desenvolvimento pleno
da cidadania, dos direitos e garantias individuais e sociais e das tendências à autonomia e à autogestão
social."
(A) ética
(B) cidadania
(C) democracia
(D) sociedade
(E) justiça social

06. (Prefeitura de Cuiabá – Técnico em Administração Escolar – FGV/2015) Segundo os princípios


éticos e da cidadania, assinale a afirmativa correta.
(A) O servidor público deve proceder de forma diligente no exercício de sua função.
(B) O servidor público pode ausentar-se do serviço durante o expediente, sem prévia autorização.
(C) O servidor público pode recusar fé a documentos públicos.
(D) O servidor público pode opor resistência injustificada ao andamento de um documento.
(E) O servidor público pode coagir os subordinados no sentido de filiarem-se a um partido político.

Respostas
01. Resposta: A.
Cidadania é o exercício dos direitos e deveres civis, políticos e sociais estabelecidos pela CF.

02. Resposta: E.
A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos:
I - Soberania:
Na definição de Marcelo Caetano, soberania é "um poder político supremo e independente,
entendendo-se por poder supremo aquele que não está limitado por nenhum outro na ordem interna e
por poder independente aquele que, na sociedade internacional, não tem de acatar regras que não sejam
voluntariamente aceitas e está em pé de igualdade com os podres supremos dos outros povos".
É a capacidade de editar suas próprias normas, sua própria ordem jurídica (a começar pela Lei Magna),
de tal modo que qualquer regra heterônoma só possa valer nos casos e nos termos admitidos pela própria
Constituição. A Constituição traz a forma de exercício da soberania popular no art. 14.

03. Resposta: A.
a) CORRETA. Art. 14 § 4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.
b) ERRADA.
VI - a idade mínima de:
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador;
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal;
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e juiz
de paz;
d) dezoito anos para Vereador.
c) ERRADA.
II - facultativos para:
a) os analfabetos;
b) os maiores de setenta anos;
c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.
d) ERRADA
§ 6º Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do
Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito.
e) ERRADA
§ 2º Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço militar
obrigatório, os conscritos.
Brasileiro naturalizado, por óbvio, podem alistar-se como eleitores.

04. Resposta: Errado.


Muito embora o exercício efetivo da cidadania seja potencializado nas pessoas que conhecem seus
próprios direitos, e que, por isso mesmo, dispõem de melhores condições para fazê-los valer, não se pode

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desprezar, por completo, a possibilidade de um indivíduo, mesmo que desconheça a existência e a
extensão de seus próprios direitos, acabar por praticar atos que configurem o exercício da cidadania.28

05. Resposta: C
A democracia é tomada como valor ético político central, na medida em que é o único padrão de
organização político-social capaz de assegurar a explicitação dos valores essenciais da liberdade e da
equidade. É ela, ademais, que favorece a ultrapassagem das limitações reais que a ordem burguesa
impõe ao desenvolvimento pleno da cidadania, dos direitos e garantias individuais e sociais e das
tendências à autonomia e à autogestão social. Em segundo lugar, cuidou-se de precisar a normatização
do exercício profissional de modo a permitir que aqueles valores sejam retraduzidos no relacionamento
entre assistentes sociais, instituições, organizações e população.

06. Resposta: A.
São um dos Principais Deveres do Servidor Público: b) exercer suas atribuições com rapidez, perfeição
e rendimento, pondo fim ou procurando prioritariamente resolver situações procrastinatórias,
principalmente diante de filas ou de qualquer outra espécie de atraso na prestação dos serviços pelo setor
em que exerça suas atribuições, com o fim de evitar dano moral ao usuário.

Práticas sociais, morais, éticas e o cidadão

IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA PARA A CIDADANIA

O homem como um ser da natureza

Segundo Rousseau29 (Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens), antes de existir no
estado social, isto é, de viver em sociedade, o homem existia no estado de natureza.
Do ponto de vista físico, esse homem primitivo, embora fosse menos forte e ágil em certos aspectos
do que muitos animais, no conjunto levava vantagem sobre todos eles; a terra, naturalmente fértil e
coberta de florestas imensas “que o machado jamais mutilou”, lhe permitia satisfazer todas as suas
necessidades naturais (alimentação, reprodução, abrigo etc.) sem grandes dificuldades; acostumado
desde a infância às intempéries da natureza, à intensidade das estações, à fadiga, a defender de mãos
vazias e nu a si mesmo e à sua prole de animais ferozes ou deles escapar correndo, valendo-se para isso
apenas de seu próprio corpo, mostrava-se fisicamente robusto e ágil, muito mais do que qualquer homem
poderia ser nos tempos atuais; graças à sua robustez, praticamente não conhecia doenças, exceto os
ferimentos naturalmente decorrentes da velhice; visto que a conservação de sua vida era praticamente
sua única preocupação, era natural que os sentidos mais desenvolvidos fossem aqueles mais diretamente
voltados para esse objetivo (subjugar a presa ou escapar de tornar-se uma), como a vista, a audição e o
olfato, ao passo que o tato e o paladar podiam permanecer rudes. Em suma, a exemplo do que ocorre
com os animais que, uma vez domesticados, perdem força, vigor e coragem, também o homem, no estado
de natureza, é muito melhor fisicamente do que no estado social.

Do ponto de vista moral, ao contrário dos animais que se limitam a seguir as regras prescritas pela
natureza, o homem se constitui como agente livre, podendo escolher ou rejeitar essas regras.
Assim, enquanto “um pombo morre de fome perto de uma vasilha cheia das melhores carnes, e um
gato sobre uma porção de frutas ou de grãos, embora ambos pudessem nutrir-se com os alimentos que
desdenham, se procurassem experimentá-los”, o homem, dotado de vontade, é capaz não apenas de
diversificar seus alimentos, como também de continuar a comer quando sua necessidade natural já foi
satisfeita, ainda que isso lhe cause prejuízo à saúde.
É justamente essa sua condição de agente livre, e a consciência que possui dessa liberdade, uma das
diferenças entre o homem e os animais, segundo Rousseau.
“A natureza manda em todo animal. O homem experimenta a mesma impressão, mas se reconhece
livre de aquiescer ou de resistir; e é sobretudo na consciência dessa liberdade que se mostra a
espiritualidade de sua alma”.
Outra característica distintiva do ser humano é a sua perfectibilidade, isto é, sua “faculdade de se
aperfeiçoar”.

28
Autor: Rafael Pereira, Juiz Federal - TRF da 2ª Região.
29
Texto adaptado de ROUSSEAU, J.-J. Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens. Disponível em:
http://www.humanidades.esy.es/desigualdade_rousseau.htm

. 47
Ao contrário do animal, que “é, no fim de alguns meses, o que será toda a vida, e sua espécie, ao
cabo de mil anos, o que era no primeiro desses mil anos”, o homem pode, com o auxílio das
circunstâncias, desenvolver suas potencialidades, as quais se encontram tanto no indivíduo quanto na
espécie. Infelizmente, diz Rousseau, é justamente essa capacidade distintiva e quase ilimitada do homem
para aperfeiçoar-se a fonte de todos os seus males, uma vez que é ela a responsável por tirá-lo do estado
de natureza no qual ele “passaria dias tranquilos e inocentes”.
Quanto aos valores morais, Rousseau considera que, no estado de natureza, os homens não eram
nem bons, nem maus, nem possuíam vícios ou virtudes, uma vez que não havia entre eles nenhum tipo
de relação moral ou de deveres recíprocos. Na realidade, a única virtude natural que possuíam era a
piedade, entendida como uma “repugnância inata de ver sofrer seu semelhante”.
Decorre daí a ideia do bom selvagem, frequentemente associada à teoria de Rousseau. Dessa virtude
natural é que resultam as virtudes sociais como a generosidade, a clemência, a humanidade, a
benquerença e a comiseração.
Essa piedade natural do homem opõe-se ao seu amor-próprio, nele gerado pela razão e pela reflexão,
típicas do estado de sociedade. É por causa da reflexão que o homem é capaz de pensar primeiro em si
e, vendo sofrer um seu semelhante, dizer: “Morre, se queres; estou em segurança”. E complementa
Rousseau: “Pode-se impunemente degolar o semelhante debaixo da janela; é só tapar os ouvidos e
argumentar um pouco, para impedir que a natureza, revoltando-se nele, o identifique com aquele que se
assassina. O homem selvagem não tem esse admirável talento, e, por falta de sabedoria e de razão,
vemo-lo sempre entregar-se, aturdido, ao primeiro sentimento de humanidade”.
A piedade é, pois, para Rousseau, um sentimento natural presente em todos os homens. Daí sua
posição, de que o homem nasce bom e a sociedade o corrompe, ser contrária a de outros pensadores,
como Hobbes, por exemplo.
“É ela que nos leva sem reflexão em socorro daqueles que vemos sofrer; é ela que, no estado de
natureza, faz às vezes de lei, de costume e de virtude, com a vantagem de que ninguém é tentado a
desobedecer à sua doce voz; é ela que impede todo selvagem robusto de arrebatar a uma criança fraca
ou a um velho enfermo sua subsistência adquirida com sacrifício, se ele mesmo espera poder encontrar
a sua alhures; é ela que, em vez desta máxima sublime de justiça raciocinada, Faze a outrem o que
queres que te façam, inspira a todos os homens esta outra máxima de bondade natural, bem menos
perfeita, porém mais útil, talvez, do que a precedente: Faze o teu bem com o menor mal possível a
outrem”. Esta era, em linhas gerais, segundo Rousseau, a situação em que vivia o homem no estado de
natureza, no qual a desigualdade praticamente não existia.

7. Racionalismo ético

Racionalismo ético

O racionalismo como padrão de conduta ética veio atender as exigências do grande processo de
racionalização da vida social e política da França no século XVII, caracterizando a época que
posteriormente foi denominada l`âge classique. Ele foi denominado pela figura emblemática de Descartes
e, nesse sentido, pode ser considerado um racionalismo de perfil cartesiano. Historicamente o
racionalismo ético moderno conheceu duas versões: a versão mais fielmente cartesiana, influenciada pelo
ideal de uma “moral da razão” e representada no século XVII pelos moralistas franceses da segunda
metade do século, e no século XVIII, pela ética da ilustração interpretada seja pelo deísmo voltairiano
seja pelo materialismo dos mentores da Enciclopédia; a segunda versão desenvolveu-se no âmbito da
chamada “escolástica racionalista” segundo o modelo da antiga filosofia practica que, sob a influência
Chr. Wolff, predominou nas universidades alemãs no século XVIII até ceder lugar à moral Kantiana. Como
a do empirismo, a influência do racionalismo ético perdura e se fortalece na Ética contemporânea,
podendo a atual “Ética da ciência” ser considerada sua legítima herdeira.
O historicismo (paradigma que faz da história, diversamente entendida, o primum movens do
pensamento filosófico) tem raízes na conjuntura histórico cultural da Alemanha, na segunda metade do
século XVII, onde a ausência de um Estado nacional capaz de auto afirmar-se na direção do futuro, como
na Inglaterra e na França, reforça o sentimento da identidade histórica e a busca de expressões culturais
que correspondam às primeiras manifestações do estado de espírito que será denominado mais tarde
“consciência histórica”. Na Alemanha da segunda metade do século XVIII essas expressões culturais se
traduzirão em movimentos de sensibilidade e de ideias como o chamado Sturm und Drang (tempestade
e ímpeto) e, mais tarde, o movimento romântico (die Romantik). Em contrapartida, a crítica Kantiana ao

. 48
utilitarismo, de um lado, ao racionalismo dogmático e à sua ética, de outro, e a preposição de uma
metafísica da Razão prática como fundamento da moral irão encaminhar os grandes herdeiros de Kant,
protagonistas do chamado Idealismo alemão, na busca de uma solução especulativo – histórica à cisão
(Entzweiung) Kantiana entre razão teórica e razão prática. O Idealismo alemão, que se estende
convencionalmente de 1770 (ano da Dissertatio de Kant e do nascimento de Hegel) levará o historicismo
à uma altitude especulativa raramente atingida na história da filosofia. Do historicismo filósofo procederão
algumas das correntes mais importantes da Ética contemporânea.
É, pois, no entrecruzamento desses grandes paradigmas e de suas diversas versões que irá
desenvolver-se o pensamento ético depois de Kant. Cada um deles dará primazia a alguma das fontes
que alimentam, na forma e no conteúdo, o agir humano, sobretudo em sua especificidade ética. Assim, o
empirismo tem como campo tem como campo privilegiado o psiquismo humano, sobretudo em sua
estrutura pulsional. O racionalismo volta-se para a natureza em cujas as leis as normas éticas deverão
encontrar, de alguma maneira, correspondência ou modelo. O historicismo vê na cultura, da qual o ethos
é uma forma fundamental, o campo privilegiado para o exercício da reflexão ética.
O espaço hermenêutico ou campo de interpretação da Ética contemporânea, entendida como Ética
pós Kantiana, fica, desse modo, suficientemente definido entre o empirismo, racionalismo e historicismo.
Se, no que diz respeito ao historicismo, ultrapassamos a idade romântica e os grandes sistemas do
Idealismo alemão, um traço comum une os três paradigmas e se apresenta, talvez, como o lugar teórico
de convergência entre eles. Podemos identificar esse lugar teórico pelo postulado imanentista no sentido
estrito de negação da transcendência do domínio da Ontologia, ou seja, pela pressuposição fundamental
de um pensamento pós metafísico. Em medida mais ou menos explícita e rigorosa, todas as correntes
mais representativas do pensamento ético contemporâneo renunciam a uma fundamentação metafísica
da Ética. A Ética como Metafísica segundo o projeto de Kant recebido e desenvolvido especulativamente
pelo idealismo alemão não teve a sequência na ética pós Kantiana. É possível, por outro lado, que
tenhamos assistido no fim do século XX a um esgotamento teórico das Éticas não metafísicas, como
testemunho um certo retorno a Aristóteles e à tradição da Ética clássica.

Referências Bibliográficas:

Disponível em:
https://books.google.com.br/books?id=UbGyFbAeJaUC&pg=PA91&lpg=PA91&dq=racionalismo+%C
3%A9tico&source=bl&ots=0pTWV5psEJ&sig=bwjvVonZnnJ3XbXl-BGpaok3HnM&hl=pt-
BR&sa=X&ved=0ahUKEwjDyqbzgs7QAhUKHJAKHchmC-
sQ6AEIOTAF#v=onepage&q=racionalismo%20%C3%A9tico&f=false.

Questões

01. (PC/MT – Investigador – FUNCAB/2014) O racionalismo ético é uma das principais concepções
filosóficas da moral. Atribui à razão humana lugar central na vida ética. É correto afirmar que essa
concepção:
(A) identifica a liberdade com a plena manifestação do lado passional do homem.
(B) não difere vontade e desejo, já que ambos tomam a forma de atitudes irrefletidas ou irracionais.
(C) considera as motivações e as intenções humanas possíveis de serem conhecidas pela razão.
(D) associa os diversos vícios humanos (egoísmo, avareza, má-fé) à própria natureza do homem,
impossível de ser domesticada.
(E) nega à razão o direito de intervir sobre o desejo e as paixões do homem.

02. (SED/SC – Professor – ACAFE/2015) A palavra empirismo vem do grego empeiria. Ela significa:
(A) racionalismo.
(B) conhecimento.
(C) inatismo.
(D) conhecimento inato.
(E) experiência.

03. (DPU – Defensor Público – CESPE/Adapta) Considerando concepções teóricas do empirismo e


do racionalismo, julgue os itens que se seguem.
Segundo o racionalismo, todo e qualquer conhecimento é embasado na experiência e só é válido
quando verificado por fatos metodicamente observados.
(....) Certo (....) Errado

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Respostas

01. Resposta: C.
O racionalismo é uma teoria filosófica que dá a prioridade à razão, como faculdade de conhecimento
relativamente aos sentidos.

02. Resposta: E.
O empirismo é uma doutrina filosófica que tem como principal teórico o inglês John Locke (1632-1704),
que defende uma corrente a qual chamou de Tabula Rasa. Esta corrente afirma que as pessoas nada
conhecem, como uma folha em branco. O conhecimento é limitado às experiências vivenciadas, e as
aprendizagens se dão por meio de tentativas e erros.

03. Resposta: Errado.


O racionalismo (do grego logos - que significa palavra, verbo, razão) assevera que o homem nasce
com características que lhe são imanentes, ou seja, já nasce com elas.
Uma palavra que pode expressar o racionalismo: a priori (do latim) - aquilo que vem ou deveria vir em
primeiro lugar (por isso, quando se diz algo ser prioridade em relação às demais coisas, esse algo deve
preceder, vir primeiro em detrimento das outras)
O empirismo (do grego empirikós - que se refere aos sentidos: tato, olfato, visão, audição e paladar)
afirma que o ser humano apreende o conhecimento progressivamente através das experiências
sensíveis.
Uma palavra que pode expressar o empirismo: a posteriori (do latim) - aquilo que vem depois,
posteriormente.

8. Ética e liberdade

Ética e liberdade

Em ética a liberdade costuma ser considerada um pressuposto para a responsabilidade do agente, o


desenvolvimento de seu ambiente, de suas estruturas, para conseguir, no final, satisfação para o meio.

Liberdade em filosofia, designa de uma maneira negativa, a ausência de submissão de servidão e


determinação, ela qualifica a independência do ser humano.

É a autonomia e a espontaneidade de um sujeito racional, ela qualifica e constitui a condição dos


comportamentos humanos voluntários.

Conceito de Liberdade para alguns Filósofos:

Para Descartes, age com mais liberdade quem melhor compreende as alternativas que precedem à
escolha. Dessa premissa decorre o silogismo lógico de que quanto mais evidente a veracidade de uma
alternativa, maiores chances dela ser escolhida pelo agente.

Para Kant ser livre é dar a si mesmo as regras a serem seguidas racionalmente. Todos entendem,
mas nenhum homem sabe explicar.

Para Spinoza ser livre é fazer o que segue necessariamente da natureza do agente. A liberdade suscita
ao homem o poder de se exprimir como tal, na sua totalidade. Esta é também a meta dos seus esforços,
a sua própria realização.

Karl Marx entende a liberdade humana como a constante criação. Para ele, não há liberdade sem o
mundo material no qual os indivíduos manifestem na prática sua liberdade junto com as outras pessoas.
A questão da liberdade entra na história na medida em que o homem, para viver em sociedade, deve
se adequar as normas sociais que atendam às necessidades da coletividade e não as particulares ou
individuais, o que implica em por limites a sua liberdade individual.

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A liberdade é, sem dúvida, um dos conceitos centrais das teorizações políticas. São poucos os autores
que não trataram essa problemática em alguma de suas obras. Entretanto, para nos adentrarmos na
problemática da liberdade, deveremos fazer referência ao tema da propriedade, já que, nos autores que
veremos, ambos os conceitos se entrecruzam. Analisaremos a visão de Immanuel Kant sobre a liberdade
e a relação desta com a propriedade a partir uma dupla perspectiva. Por um lado, a relação entre ambos
os conceitos estará dada porque um dos direitos fundamentais, para este pensador, será o direito a ter
propriedade privada e o uso quase absoluto que dela se pode fazer; haverá liberdade de ter propriedade.
Por outro lado, focaremos nossa atenção sobre a relação entre liberdade e direito. Da mesma forma em
que o conceito de liberdade está ligado a outros conceitos nos autores citados –direito em Kant e Estado
em Hegel–, para pensar a liberdade em Marx, é necessário fazer referência à categoria de alienação.
Esse conceito tomará, em A questão judaica, duas direções, que estarão, por sua vez, inter-relacionadas:
a crítica marxiana ao conceito de sociedade civil como o primado da liberdade negativa (Kant), por um
lado, e, pelo outro, a crítica ao Estado hegeliano como o reino da autêntica liberdade. Ambas as instâncias
se entrecruzarão a partir do conceito de alienação e propriedade privada. Um dos eixos teóricos mais
relevantes a tratar, esboçado nos Manuscritos, será a noção de trabalho alienado, para explicar a perda
da liberdade. O homem livre, de acordo com esta visão positiva da liberdade, será aquele que não se
encontrar alienado nem pela relação com o seu trabalho, nem pelas relações sociais nas quais se
encontra inserido. Como veremos, a ideia de liberdade política está fortemente ligada à noção de direito.
A liberdade é por si só, um dos termos mais difíceis e complicados para ser definido. Podemos dizer que
liberdade é um conceito inerente aos mais variados aspectos da vida humana. Se definirmos liberdade
na sua forma mais comum, dizemos que liberdade é a faculdade natural que possuem os seres humanos
de poder atuar de acordo com sua própria vontade. Também podemos entender como liberdade como
um estado no qual o ser humano não é obrigado a atuar de acordo com a vontade de outro; não está
escravizado por outrem. É um conceito ligado à aspectos que tem relação com a independência, onde
não é obrigatório uma licença para poder realizar qualquer ação por parte da pessoa onde o adequado e
o inconveniente não são levados em conta. O conceito de liberdade é algo que ao longo de toda a
existência do ser humano, há sido motivo de reflexão em muitos sentidos, e quando nos referimos à
liberdade na filosofia, liberdade é um dos termos fundamentais de discussão.

Liberdade e Razão
A razão no Iluminismo e a instrumentalização da razão na sociedade contemporânea, no Brasil, o
filósofo Sérgio Paulo Rouanet critica tendências que fazem prever o advento de um novo irracionalismo,
no qual a razão não é mais repudiada por negar realidades transcendentes como a pátria, a religião, a
família, o Estado e também por estar comprometida com o poder. O irracionalismo mudou de rosto, mas
não mudou de natureza. Para Rouanet, hoje como antes, só a razão é crítica. Admite que há um núcleo
de verdade no novo irracionalismo: o conceito clássico de razão deve efetivamente ser revisto. Depois de
pensadores como Marx, Freud, Weber, Adorno e Foucault, precisaram de um racionalismo novo, fundado
numa nova razão. De acordo com ele, não é a razão que oprime, mas o irracionalismo. Argumenta,
todavia, que a razão de um novo iluminismo não pode ser a do século 18, que desconhecia os limites
internos e externos da racionalidade e não sabia distinguir entre razão e ideologia. Como nos ensinam
mestres e doutores da filosofia, o Iluminismo fez da razão uma companheira da liberdade. De acordo com
o otimismo iluminista, seria através da razão que nos libertaríamos da tirania da tradição da igreja, dos
estados absolutistas… No entanto, já no século 18, as limitações da razão começaram a ser questionadas
pelos filósofos. Na atualidade, a crítica dos pós-modernos em relação à razão como legitimadora de
tiranias, ditaduras, totalitarismos, opressão, fez surgir abordagens irracionalistas que Rouanet cita e
critica. Uma das conclusões, portanto, é de que não devemos nem endeusar nem rejeitar a razão, seja
em que aspecto for, como por exemplo no processo cognitivo e afetivo, na vida individual e coletiva, etc.
Temos que compreender suas possibilidades e limites.

Liberdade na Filosofia
Liberdade, em filosofia, pode ser compreendida tanto negativa quanto positivamente. Sob a primeira
perspectiva denota a ausência de submissão, servidão e de determinação; isto é, qualifica a
independência do ser humano. Na segunda, liberdade é a autonomia e a espontaneidade de um sujeito
racional; elemento qualificador e constituidor da condição dos comportamentos humanos voluntários.
Designada de uma maneira negativa, a ausência de submissão, de servidão e de determinação, isto é,
ela qualifica a independência do ser humano.
A primeira grande teoria filosófica da liberdade é exposta por Aristóteles em sua obra Ética a Nicômaco,
Nessa concepção, a liberdade se opõe ao que é condicionado externamente (necessidade) e ao que
acontece sem escolha deliberada (contingência). Diz Aristóteles que é livre aquele que tem em si mesmo

. 51
o princípio para agir ou não agir, isto é, aquele que é causa interna de sua ação ou da decisão de não
agir. Inicialmente, desenvolvida por uma escola de Filosofia, Eles conservam a ideia aristotélica de que a
liberdade é a autodeterminação ou ser causa de si. Conservam também a ideia de que é livre aquele que
age sem ser forçado nem constrangido por nada ou por ninguém
A terceira concepção da liberdade introduz a noção de possibilidade objetiva, O possível não é apenas
alguma coisa sentida ou percebida subjetivamente por nós, mas é também, sobretudo alguma coisa
inscrita no coração da necessidade

Liberdade e Cidadania
Como pensar a verdadeira liberdade sem pensar a lei como garantia do estado para que a liberdade
de um cidadão não venha a limitar a liberdade de outro? Como pensar a lei sem a urgente exigência de
seu cumprimento? Como conceber uma genuína garantia de liberdade, enfim, sem a garantia da
propriedade mais básica de nosso próprio corpo, força de trabalho e criação intelectual? Mas no baixo
nível da cultura política brasileira não corrompemos apenas contratos e negócios. Corrompemos acima
de tudo valores. Como a cidadania mal entendida como titulação de direitos ilimitados sem a obrigatória
contrapartida de deveres políticos. A começar pelo desentendimento da lei como parâmetro da
legitimidade da própria liberdade, uma vez que esta não pode ser entendida como algo contrário àquela.
Pois toda liberdade é lícita, como direito fundamental do cidadão, até o momento em que não venha
constranger ou limitar a liberdade de outro cidadão. Mas, na miséria de nossa cultura política, é comum
um abuso sem limites de legisladores e governantes legislando sobre a limitação da liberdade dos
governados e, pelo nosso crônico déficit de cidadania, nós mesmos confundimos o valor da liberdade
com o da licenciosidade, como o direito de fazer aquilo que nos dá na veneta, tomando a liberdade como
valor antagônico à lei. Quando a boa lei é a que garante a liberdade, tratando o cidadão como senhor de
suas escolhas, responsável pleno pelos seus atos, na dignidade com que deve ser tratado pelos agentes
públicos, como cidadão adulto e livre. É, pois, fundamental se diferenciar o conceito ideal de liberty, que
são essas liberdades listadas no artigo 5º da Constituição, com a liberdade essencial, e que dá sentido e
concretude ao conceito de cidadania, que é a liberdade do freedom, enquanto domínio oposto ao do
kingdom. Liberdade política de limitar sobretudo o poder fiscal dos governantes, de um cidadão livre para
se exprimir, celebrar suas crenças, se fazer representar, produzir, empreender e se apropriar do lucro do
seu trabalho. Para que, para além de contribuinte, seja um pagador de impostos consciente, ao mesmo
tempo em que exerce controle social sobre os governantes. Vale a pena refletir sobre essa questão do
freedom como essência do liberty que foi tão bem colocado na democracia do estado moderno inglês a
partir do iluminismo do século XVIII e ainda por aportar por nossas costas.

Liberdade segundo Rousseau


Para ele, as instituições educativas corrompem o homem e tiram-lhe a liberdade. Para a criação de
um novo homem e de uma nova sociedade, seria preciso educar a criança de acordo com a Natureza,
desenvolvendo progressivamente seus sentidos e a razão com vistas à liberdade e à capacidade de
julgar.
Para Rousseau, a liberdade natural caracteriza-se por ações tomadas pelo indivíduo com o objetivo
de satisfazer seus instintos, isto é, com o objetivo de satisfazer suas necessidades. O homem neste
estado de natureza desconsidera as consequências de suas ações para com os demais, ou seja, não tem
a vontade e nem a obrigação de manter o vínculo das relações sociais. Outra característica é a sua total
liberdade, desde que tenha forças para colocá-la em prática, obtendo as satisfações de suas
necessidades, moldando a natureza. “O homem realmente livre faz tudo que lhe agrada e convém, basta
apenas deter os meios e adquirir força suficiente para realizar os seus desejos.”
Ao perder uma disputa com outros indivíduos o sujeito não consegue exercer a sua liberdade, uma
vez que a liberdade nesse estágio se estabelece a partir da correlação de forças entre os indivíduos. Não
há regras, instituições ou costumes que se sobrepõem às vontades individuais para a manutenção do
“bem coletivo”. Contudo, na concepção de Rousseau, o homem selvagem viveria isolado e por isso, não
faz sentido pensar em um bem coletivo. Também não haveria tendência ao conflito entre os indivíduos
isolados quando se encontrassem, pois seus simples necessidades seriam satisfeitas com pouco esforço,
devido à relação de comunhão com a natureza. O isolamento entre os indivíduos só era quebrado para
fins de reprodução, pois sendo autossuficientes não tinham outra necessidade para viverem em
agrupamentos humanos. Foi a partir do isolamento que o homem adquiriu qualidades como amor de si
mesmo e a piedade.
Vale ressaltar que, para Rousseau, o homem se completa com a natureza, portanto não é um estado
a ser superado, como Locke e Hobbes acreditavam. Rousseau em o Discurso sobre a Origem e os
Fundamentos da Desigualdade entre os Homens, afirma que “a maioria de nossos males é obra nossa e

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que os teríamos evitado quase todos conservando a maneira de viver simples, uniforme e solitária que
nos era prescrita pela natureza” A consciência no estado selvagem não estabelece distinção entre bem
ou mal, uma vez que tal distinção é característica do indivíduo da sociedade civil. Para Rousseau, o que
faz o indivíduo em estado de natureza parecer bom é, justamente, o fato de conseguir satisfazer suas
necessidades sem estabelecer conflitos com outros indivíduos, sem escravizar e não sentindo vontade
de impor a sua força a outros para sobreviver e ser feliz.

Assim, sendo a ética também voltada a educação, tornando a vida social impossível sem alguns
valores que permitem a vida em comum, sendo necessário receber uma formação reacional para que se
possa escolher de forma exata o justo e o injusto, e a diferença do certo e o errado, a liberdade consiste
em uma interação harmoniosa dos indivíduos com a sociedade, em verdades concretas e históricas que
se voltam para a questão em que o homem afirma que a liberdade e a realização humana é uma decisão
livre formada no pensamento do indivíduo.

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