A Parábola Do Semeador

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1º Edição

2020

“Escutai! Eis que o semeador saiu a semear. Enquanto lançava a


semente, parte dela caiu à beira do caminho, e chegaram as aves e a
devoraram. Outra parte caiu em solo pedregoso e, não havendo terra
suficiente, nasceu rapidamente, pois a terra não era profunda. Contudo,
ao raiar do sol, as plantas se queimaram; e porque não tinham raiz,
secaram. Outra parte ainda caiu entre os espinhos; estes espinhos
cresceram e sufocaram as plantas, e por isso não pôde dar frutos.
Finalmente, outras partes caíram em terra boa, germinaram, cresceram e
ofereceram grande colheita, a trinta, sessenta e até cem por um”. E
alertou: “Aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça”!

Marcos 4.3-9
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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO...............................................................................................4

CAPÍTULO 1: A PARÁBOLA DO SEMEADOR: OS QUATRO TIPOS DE


SOLOS.................................................................................................................5

CAPÍTULO 2: A BEIRA DO CAMINHO – CORAÇÃO DURO E


INCRÉDULO......................................................................................................15

CAPÍTULO 3: SOLO ROCHOSO – CORAÇÃO SUPERFICIAL........................45

CAPÍTULO 4: ENTRE ESPINHOS – CORAÇÃO SUFOCADO.........................66

CAPÍTULO 5: BOA TERRA – CORAÇÃO FRUTÍFERO...................................92

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................119
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APRESENTAÇÃO

Alguma vez você já se perguntou por que o mesmo livro, ou o mesmo sermão,
produz resultados tão diversos em pessoas diferentes? Por que algumas
pessoas respondem tão positivamente ao Evangelho enquanto outras não?
Como é que a mesma Palavra produz resultados tão diferentes no coração
humano? Como pode haver seguidores devotos e inimigos odiosos?

Creio que este humilde e-book pode iluminar nossas mentes para as respostas
desses questionamentos. Digo isso, pois esta obra está fielmente embasada na
Bíblia Sagrada, que é o único livro que pode responder nossos
questionamentos mais profundos (Hebreus 4.12; 2 Timóteo 3.16). Ler esse e-
book pode te trazer autoconhecimento, por mais simples que ele seja. Nosso
objetivo é que no final desta leitura, você possa entender como está o terreno
do seu coração. Saiba que esse entendimento pode mudar a sua vida (João
8.32).

Esse simples livro tem um caráter francamente universal, ou seja, foi escrito
com o objetivo de ser proveitoso a todo tipo de leitor, independentemente de
sua crença. A principal versão da Bíblia utilizada foi a King James Atualizada
(KJA).

Minha oração é para que este humilde texto, possa de alguma forma abençoar
a sua vida. Já te agradeço, de todo o meu coração, por dedicar um pouco de
seu preciso tempo para ler este singelo e-book. Em louvor a Deus, faço das
palavras de Jeremias, as minhas: “Não existe ninguém semelhante a ti, ó
SENHOR; és Grande, e magnífico é o poder do teu Nome. (Jeremias 10.6)”.

Pablo Augusto Moura


[email protected]
@pabloaugustomoura
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CAPÍTULO 1

A PARÁBOLA DO SEMEADOR: OS QUATRO TIPOS DE SOLOS

Vamos retomar as questões citadas na apresentação: por que o mesmo livro,


ou o mesmo sermão, produz resultados tão diversos em pessoas diferentes?
Por que algumas pessoas respondem tão positivamente ao Evangelho
enquanto outras não? Como é que a mesma Palavra produz resultados tão
diferentes no coração humano? Como pode haver seguidores devotos e
inimigos odiosos?

Jesus explica! A fim de ajudar os discípulos a compreenderem a causa da


crescente rejeição dos líderes judeus, Jesus utilizou uma parábola explicativa,
tirada diretamente do mundo agrícola do primeiro século.

E a primeira parábola que Ele compartilha é a parábola do semeador. Esta é


uma das parábolas mais famosas de Jesus. Aparece em Mateus (13.1-23),
Marcos (4.1-23) e Lucas (8.4-15). Como a maioria das parábolas1, é uma
história aparentemente simples, mas, com lições profundas acerca do reino de
Deus.

PARA QUEM É ESSA MENSAGEM?

“Retornou Jesus à beira-mar para ensinar. E a multidão que se


juntou ao seu redor era tão numerosa que o forçou a entrar

1
Segundo Vine, Unger e White (1996) A palavra “parábola” (parabole, em grego)
refere-se a uma comparação, semelhança ou similitude. O termo grego parabole
(parábola) vem de duas palavras gregas – para (ao lado de) e ballo (lançar) com o
objetivo de comparar ou encontrar alguma semelhança. Uma parábola no sentido mais
simples refere-se a uma metáfora extraída da natureza ou da vida cotidiana. Parábolas
são histórias da vida real, geralmente com um significado claro, uma verdade
fundamental. Ainda segundo os autores, isso não era novidade para a multidão - os
rabinos costumavam usar parábolas ou histórias paralelas em seus ensinamentos.
Elienai Cabral (2005, p.12) acerca das parábolas, escreveu que essa era uma forma
de comunicação típica do povo do Oriente Médio, em especial na Palestina. O Mestre
usava muitas figuras de linguagem para transmitir seus ensinos. Porém, o método
mais utilizado foi a linguagem por parábolas.
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num barco, onde assentou-se. O barco estava no mar e todo o


povo agrupava-se na praia.”

Marcos 4.1

O pastor Elienai Cabral (2005, p.12) em seu livro “Parábolas de Jesus:


advertências para os dias de hoje” explica que geralmente, Jesus subia na
popa de algum barquinho; outras vezes, em terra, colocava-se em algum ponto
mais alto, tendo diante de si a planície de Genesaré, e então ministrava ao
povo que afluía para ouvi-lo. Jesus entrou em um barco e o utilizou como um
púlpito para ensinar as pessoas que se reuniram à beira-mar. Isso mostra que
essa parábola é de cunho universal. É útil para cristãos e não-cristãos.

A PARÁBOLA

“Escutai! Eis que o semeador saiu a semear.” Marcos 4.3

O Senhor escolheu uma cena bem conhecida. Seus ouvintes sabiam o que era
um semeador e o que ele fazia. Todos estavam bem familiarizados com a
analogia que Jesus utilizou. Segundo MacArthur (2015) os campos de grãos
cobriam a paisagem da Galileia (onde Jesus estava). Um homem que levava
um saco de sementes sobre os ombros e espalhava as sementes enquanto
atravessava lentamente seu campo era uma visão familiar. Esse fato ainda é
confirmado por Pestana (2010) em seu livro “As parábolas de Jesus”:

“Na Palestina, na época de Jesus, a semente era lançada no


solo antes de arar a terra. O semeador saia pelo campo com
uma "bolsa" de sementes e as espalhava pelo campo.”

(PESTANA, 2010, p.11)

Para nós hoje, esta parábola não é tão familiar, porque temos métodos
agrícolas diferentes associados com grande uso de maquinário (ANDREOLI E
BENETTI, 1979). Mas os semeadores na época de Jesus não tinham trator
para puxar o arado, nem lançadores de sementes. Um semeador lançava as
sementes com suas mãos. Às vezes ele colocava o saco de sementes sobre
um animal e conduzia o animal até o campo enquanto as sementes caíam
sobre a terra.
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O comentarista da Bíblia King James de Estudo, o Pr. Carlos Alberto Bezerra


(2018) explica que o fato de lançar sementes à mão significava que algumas
das inevitavelmente caíam em vários tipos de terreno, alguns dos quais
improdutivos.

É por isso que Degmas Ribas Júnior (2015), comentarista da Bíblia


Cronológica de Estudo escreve:

“A semente era semeada manualmente. À medida que o


agricultor caminhava pelo campo, lançava punhados de
sementes ao solo, tirando-as de uma grande bolsa presa aos
ombros. As plantas não cresciam em fileiras organizadas,
como acontece hoje, com a plantação por máquinas. Não
importa quão habilidoso fosse, nenhum agricultor conseguia
evitar que parte de suas sementes caísse junto ao caminho,
que se espalhasse entre pedras e espinhos, ou que fosse
levada pelo vento. Por isso, o agricultor lançava as sementes
livremente, e uma quantidade suficiente delas cairia em solo
bom, para garantir a colheita.”

(JÚNIOR, 2015, p.1348-1349)

E devido a isso, a semente cai em diferentes locais. Então a parábola consiste


no seguinte: Um semeador saiu a semear, e enquanto lançava as sementes, as
mesmas caíram em diferentes locais. Jesus explica que a semente caiu em
quatro diferentes locais:

a) À beira do caminho: “Enquanto lançava a semente, parte dela caiu à beira


do caminho, e chegaram as aves e a devoraram” (Marcos 4.4).
b) Solo pedregoso: “Outra parte caiu em solo pedregoso e, não havendo terra
suficiente, nasceu rapidamente, pois a terra não era profunda. Contudo, ao
raiar do sol, as plantas se queimaram; e porque não tinham raiz, secaram.”
(Marcos 4.5-6).
c) Entre os espinhos: “Outra parte ainda caiu entre os espinhos; estes
espinhos cresceram e sufocaram as plantas, e por isso não pôde dar frutos.”
(Marcos 4.7).
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d) Em terra boa: “Finalmente, outras partes caíram em terra boa, germinaram,


cresceram e ofereceram grande colheita, a trinta, sessenta e até cem por um”.
(Marcos 4.8).

Elienai Cabral (2005, p.17) explica que Jesus apresentou sua parábola com
muita criatividade, pois destacou quatro tipos distintos de terrenos nos quais a
semente podia ser semeada. Figurativamente, o terreno onde cai a semente
é o coração das pessoas e a receptividade à semente se apresenta de
maneiras diversas.

Ainda segundo o grande mestre, o que aprendemos nesta parábola é que o


coração humano é como um terreno que pode receber uma semente e
produzir fruto, como também poderá desenvolver dureza e rejeição a
qualquer tipo de semente. No plano espiritual, o terreno do coração das
pessoas é também espiritual, todavia pode desenvolver disposições favoráveis
ou contrárias à recepção das coisas espirituais.

Por causa da natureza pecaminosa e rebelde adquirida pelo homem,


disposição do seu coração tornou-se rebelde e endurecida (Gênesis 8.21;
Romanos 3.23; 6.23). O que Jesus nos mostra na Parábola do Semeador é
que a semente é lançada em quatro tipos de terrenos, mas nem todos serão
receptivos à “boa semente”. E o que exatamente é essa semente? Quem é
esse semeador?

SEMENTE

Mas que semente é essa que Jesus está falando? Essa semente é a Palavra
de Deus! Jesus disse:

"Eis, portanto, o esclarecimento desta parábola: A semente é a


Palavra de Deus.” Lucas 8.11

Earnhart (2017) escreveu:

“Esta parábola está nos dizendo, em linguagem simples, que a


própria palavra de Deus é a semente germinante da vida
(Filipenses 2.16). É por esta própria palavra viva, que transmite
energia, que o Espírito Santo não somente nos leva ao
renascimento espiritual (Efésios 1.13; 1 Pedro 1.23-25), mas
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nos transforma na imagem do Filho de Deus. E tudo isto é


possível porque em suas palavras Deus nos abriu seu coração
e derramou as profundezas de sua verdade e graça (1
Coríntios 2.10-13). No evangelho, ele nos fez olhar na face de
nosso crucificado Salvador (2 Coríntios 3.18). E isso tem
poder!”

(EARNHART, 2017, p.1)

Wagner Gaby (2018, p.14) escreveu: “Quanto à semente, esta é a Palavra de


Deus ou “a palavra do Reino” (Mateus 13.19a) que, como sabemos, era o tema
da pregação de Jesus (Mateus 4.23) e da pregação apostólica (Atos 8.12;
28.30,31).”

Pedro, discípulo de Jesus, ouvinte dessa Parábola do Semeador e, certamente,


um daqueles que pediu ao Mestre a explicação, disse que essa semente é
incorruptível e regeneradora: “Vocês foram regenerados, não de uma semente
perecível, mas imperecível, por meio da palavra de Deus, viva e permanente”
(1 Pedro 1.23). Essa semente é muito poderosa! Se cair em um solo frutífero
pode dar muitos frutos (Marcos 4.8). É como já escreveu Cabral (2005):

“A lição básica dessa parábola é que é preciso semear toda a


semente. Toda a semente refere-se, essencialmente, à
plenitude da mensagem do evangelho da graça de Deus que é
Jesus Cristo (At 20.24,25). O evangelho é a semente viva,
poderosa, que ultrapassa qualquer elemento físico porque “é
poder de Deus para salvação de todo aquele que crê” (Rm
1.16). A Bíblia diz que esta “semente” é “viva e incorruptível” (1
Pe 22-25); tem poder e produz fé (Rm 1.16;10.17); é celestial e
divina (Is 55.10,11); imutável e eterna (Is 40.8); pode ser
enxertada e salvar (Tg 1.18,21).”

(CABRAL, 2005, p.16)

Outro aspecto importante notado pelo mestre citado acima que se percebe é
que no campo das similitudes tanto o semeador quanto a semente significam o
mesmo elemento, que é “a palavra de Deus”. Ora, a Bíblia é a Palavra de Deus
tanto quanto Cristo é a própria Palavra divina. Se a Bíblia é a Palavra viva de
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Deus, portanto, está cheia de Cristo, que é o Verbo de Deus enviado para
salvar o mundo (João 1.1). Jesus é o logos de Deus - o Verbo divino que
estava com Deus que se fez carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória
(João 1.14).

Ele mesmo é a semente. A Palavra escrita dá testemunho de que veio como a


Palavra viva (João 5.39). Os que recebem “a semente” (a Palavra, Cristo),
recebem a vida, porque têm vida em seu nome (João 20.30,31). Portanto, a
semente que semeamos na terra dos corações humanos não só é a “semente
de Cristo ”, como também é o próprio Cristo. A semente do Reino dos céus é
Ele mesmo, o Rei.

SEMEADOR

Quem é o semeador nessa parábola? É o Senhor Jesus Cristo! Em Mateus 13,


ao explicar a parábola do joio e do trigo, Jesus disse: “O que semeia a boa
semente é o Filho do Homem2” (Mateus 13.37). A missão de Jesus era pregar
“o Evangelho de Deus” (Marcos 1.14), proclamando a mensagem da salvação

2
“Filho do Homem” é uma expressão que nesse versículo se refere claramente a
Jesus. Em Mateus 26.64, o próprio Jesus diz: “Eu, porém, lhes digo, que desde agora
verão o Filho do Homem sentado à mão direita do Poderoso, e vindo com as nuvens
do céu”. Quando Estêvão estava sendo martirizado, ele entendeu perfeitamente o
significado desse título, e prontamente declarou: “Eis que vejo os céus abertos; e o
Filho do Homem, que está em pé à mão direita de Deus” (Atos 7.56).
No capítulo 7 de seu livro, o profeta Daniel fala sobre suas visões à noite. Ele escreve
que viu, vindo com as nuvens do céu, “um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao
Ancião de dias, e o fizeram chegar até ele” (Daniel 7.13).
O profeta Daniel ainda continua dizendo que foi dado ao Filho do Homem “domínio, e
glória, e o reino; para que os povos, nações e homens de todas as línguas o
servissem. Seu domínio é eterno, e não passará, e o seu reino jamais será destruído”
(Daniel 7.14).
A semelhança entre todos esses textos é inegável, e, obviamente, a expressão é
utilizada para se referir a mesma pessoa – Jesus Cristo. Claudionor de Andrade (2014,
p.78) registrou: “Durante seu ministério terreno, o Senhor Jesus apresentava-se como
Filho do Homem, a fim de identificar-se plenamente com a humanidade”.
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(Marcos 1.38). Para tal, o semeador (Jesus Cristo) semeava a boa semente
(Palavra de Deus) nos corações dos ouvintes.

O pastor Wagner Gaby (2018) ao comentar a lição bíblica “Parábolas de Jesus”


escreveu:

“O Mestre apresenta-se como o semeador (Mt 13.36-43). Daí,


ainda que não especificamente mencionado, é possível inferir
que o Semeador é Jesus, pois se compararmos o texto dessa
parábola com o de Mateus 13.37, podemos concluir que há
uma referência imediata com o Senhor. Contudo, por extensão,
podemos igualmente entender que o semeador também pode
ser qualquer pessoa que fielmente proclama a mensagem do
Evangelho nos nossos dias.”

(GABY, 2018, p.13)

Como dito acima pelo mestre Gaby, em nosso contexto atual, o semeador pode
se aplicar a qualquer pessoa que compartilha com os outros o Evangelho, as
boas novas de que Deus enviou seu Filho Jesus ao mundo para ser nosso
Salvador (João 3.16; Marcos 16.15). É o que confirma Cabral (2005), pois diz:

“O ponto de partida da interpretação acerca de quem era o


semeador tem um caráter particular, porque indica
subjetivamente o próprio Cristo como o semeador. Todavia,
essa característica particular da interpretação não impede que
se dê um sentido genérico aos cristãos como “semeadores”.

(CABRAL, 2005, p.13)

Ainda segundo o mestre, o Espírito Santo também é um semeador da boa


semente. Ele é o que inspira os semeadores ao serviço da semeadura e quem
rega a semente lançada, É Ele quem convence o mundo do pecado, da justiça
e do juízo (João 16.8) Essa passagem implica, metaforicamente, uma ação do
Espírito semeando a Palavra de Deus3.

3
Isso não significa que o Espírito faça o nosso papel de “semeadores”, ou seja,
evangelizadores. Entretanto, é Ele quem toca o nosso espirito e nos desperta para
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Os cristãos autênticos são os semeadores na dispensação da graça. A missão


evangelizadora dos discípulos de Cristo é identificada em dois textos dos
Evangelhos (Mateus 28.19,20 e Marcos 16.20). A missão de Cristo foi a de um
semeador e Ele a passou aos seus discípulos, os quais semeiam em toda a
terra desde então. O que Jesus começou a ensinar, seus discípulos deram
continuidade (Atos 1.1). Na história inicial da igreja, surgiram outros grandes
semeadores, entre os quais Paulo, que se declarava representante de Cristo (2
Coríntios 13.3). Paulo considerava seu ministério como uma semeadura de
coisas espirituais (1 Coríntios 9.11). Paulo, portanto, tornou-se um autêntico
semeador da “boa semente” do evangelho de Cristo.

OS SOLOS

De acordo com o relato de Mateus, o solo representa os corações daqueles


que ouviram o Evangelho pregado (Mateus 13.19). É o que Wagner Gaby
(2018) confirma: “As pessoas que ouvem a Jesus são comparadas com vários
tipos de solo (Lucas 8.5-8).”

Luciano Subirá (2005) em seu livro “O conhecimento revelado” escreveu:

“Considerando que a semente é a Palavra de Deus,


consideramos que o solo é o coração daqueles que ouvem a
Palavra.”

(SUBIRÁ, 2005, p.22)

A mensagem de salvação é recebida de forma diferente por pessoas


diferentes. Inclusive, um dos propósitos desta parábola é encorajar os
seguidores de Jesus a semear a semente fielmente apesar das respostas
decepcionantes (Mateus 10.7).

O Senhor estava preparando Seus discípulos para esperarem quatro respostas


básicas diante da pregação do Evangelho: O solo a beira do caminho -
representa um coração duro e indiferente, o solo rochoso - representa um

espalhar a semente da Palavra de Deus nos corações, nos instruindo acerca de como
fazer isso da melhor forma.
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coração superficial e impulsivo, o solo entre espinhos – representa um coração


dividido e o solo bom – representa um coração aberto e frutífero.

O Pr. Elienai Cabral (2005, p.20) ensina que o terreno onde cai a semente é o
coração das pessoas e a receptividade à semente se apresenta de maneiras
diversas. Segundo o mesmo, o que aprendemos nesta parábola é que o
coração humano é como um terreno que pode receber a semente da Palavra
de Deus e produzir fruto, como também poderá desenvolver dureza e rejeição
a essa semente sagrada.

O QUE FAZ DOS NOSSOS CORAÇÕES DIFERENTES TIPOS DE SOLOS

A grande lição dessa parábola é: o que diferencia cada solo é a maneira como
recebe a boa semente (a Palavra de Deus). Deus não favoreceu mais a um do
que o outro para frutificação da sua Palavra (Atos 10.34; SUBIRÁ, 2005).

Quem escolhe o solo que quer ser somos nós! É a nossa resposta as Boas
Novas de Jesus Cristo que vai nos informar que tipo de solo nós somos.
Pestana (2010) acerca disto registrou:

“Tudo vai da decisão pessoal com relação a Jesus Cristo.


Cada um decide por si mesmo que tipo de pessoa será. Tal
decisão é tomada pelas próprias reações da pessoa à palavra
pregada por Jesus.”

(PESTANA, 2010, p.12)

Ainda nesse mesmo sentido, Wagner Gaby (2018) registrou:

“Para ilustrar verdades espirituais, Jesus frequentemente


contava, por parábolas, histórias sobre os acontecimentos do
dia a dia. A parábola do semeador é uma das narrativas de
Jesus encontrada nos três Evangelhos sinóticos (Mt 13.1-9, Mc
4.3-9 e Lc 8.4-8) e relata de que forma a mensagem de
salvação será recebida no mundo. Um dos seus propósitos é
prevenir os discípulos com relação ao triste fato de a pregação
da Palavra de Deus não produzir “colheita de cem por cento”
em todos os ouvintes. Além disso, a parábola do semeador
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pode ser interpretada como “a parábola do coração”, pois


mostra como é o interior de cada pessoa.”

(GABY, 2018, p.13)

A semente é muito poderosa, o semeador é extremamente eficaz, no entanto,


tudo vai depender do solo que recebe a semente! É como Ribas Júnior (2015)
escreve:

“O fato de que algumas sementes não produzissem colheita


não era culpa do fiel agricultor nem da semente. A produção
dependia das condições do terreno onde a semente
caísse.”

(RIBAS JÚNIOR, 2015, p.1349)

Cabral (2005, p.18) explica que na ótica de Cristo não deveria haver inibição
quanto ao ato de semear a boa semente, porque o que interessava mesmo era
que a semente fosse semeada, a tempo e fora de tempo, em qualquer solo que
estivesse disponível para se lançar a semente, no sentido de encontrar alguma
terra capaz de recebê-la e romper com as dificuldades de sua frutificação. Tudo
o que o semeador tem de fazer é semear, fazer que cresça a semente é algo
que vai além de sua capacidade. É trabalho misterioso, sem a intervenção
humana (1 Coríntios 3.7).

Meu objetivo em Deus é que ao final desta leitura, eu e você possamos


fazer uma autoavaliação, no sentido de entender que tipo de solos nós
somos, de entender como está o nosso coração ao acolhimento da
Palavra de Deus. Para tal, vamos aos próximos capítulos, refletir acerca com
mais atenção em cada um dos quatro tipos de solos, com exemplos
embasados nas Escrituras.

Vamos entender primeiramente o primeiro tipo de solo: O solo a beira do


caminho, que é a representação de um ouvinte de coração duro, cheio de
incredulidade.
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CAPÍTULO 2

A BEIRA DO CAMINHO – CORAÇÃO DURO E INCRÉDULO

“Enquanto lançava a semente, parte dela caiu à beira do


caminho, e chegaram as aves e a devoraram” (Marcos 4.4).

O primeiro lugar onde as sementes caíram foi à beira do caminho. Novamente,


precisamos ter em mente que neste exemplo o agricultor não era um
irresponsável, que lançava suas sementes ao acaso. Ele estava usando o
método recomendável da época para semear um grande campo – lançar as
sementes em punhados, ao caminhar pelo seu campo.

Seu objetivo era conseguir que a maior quantidade possível de sementes


criasse raízes em solo bom, mas o desperdício era inevitável, uma vez que
algumas caiam ou eram sopradas pelo vento para áreas menos produtivas
(RIBAS JÚNIOR, 2015, p.1349).

Desse modo, algumas sementes caíam, ou eram levadas pelo vento à beira do
caminho, a estrada, que era o lugar por onde as pessoas passavam. O solo
duro e compactado da estrada impediu que as sementes penetrassem,
permitindo que ficassem na superfície, expostas às aves que vieram e as
comeram. O mestre Elienai Cabral (2005) explica:

“Em suas viagens, Jesus passava por muitos lugares, nas


montanhas, nos desertos, às margens do mar da Galiléia, junto
aos rios e, especialmente, nos caminhos poeirentos entre as
plantações de trigo, cevada, aveia e outros grãos. O povo
israelita aproveitava todo o espaço de terra cultivável, porque
era pouco para cultivá-lo. Da experiência vivida por aquelas
terras, Ele sabia tirar proveito para ensinar verdades profundas
com ilustrações da vida cotidiana. Por isso. Cristo tirava lições
da vida pesqueira, da agricultura e até da pecuária. Nesta
parábola, em especial, suas andanças pelas terras
agricultáveis lhe deram uma visão dos vários tipos de terras
que podem receber sementes e frutificarem ou não. Na sua
percepção, Ele notou um tipo de terreno que não era
acessível à semente: era a terra “ao pé do caminho”. As
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sementes lançadas objetivam ente ou as que caíam


naquela terra batida “por acaso” não penetravam a terra.
Então os pássaros as comiam, porque estavam expostas
sobre aquela terra dura ao pé do caminho”.

(CABRAL, 2005, p.21)

Então perceba: a grande questão desse terreno é que possui um solo


extremamente duro. Devido a isso, as sementes não conseguem penetrar no
solo, e ficam expostas as aves. Que classe de ouvintes é comparada a esse
tipo de terreno?

É a classe de pessoas que ouve a Palavra de Deus e não a entende, sobretudo


porque nem se esforça para entendê-la. É a classe de ouvintes-terra-dura,
conforme explica Cabral (2005, p.21). O terreno “ao pé do caminho” é batido e
pisado pelos transeuntes da vida. E, portanto, terreno duro, impenetrável e
inacessível. São muitas as influências exteriores que alcançam o coração
humano e influenciam sua vida. O próprio Cristo definiu em Marcos 4.15:

“Algumas pessoas são como a semente à beira do caminho,


onde a Palavra foi semeada. Mas assim que a ouvem, Satanás
vem e toma a Palavra nelas semeada.”

Desse modo, devido à dureza do coração dessas pessoas, acontece


exatamente segundo descreveu Jesus (Marcos 4.4): “e chegaram as aves e a
devoraram”. Quem são essas aves aqui representadas? A resposta está
justamente no versículo destacado acima. O Mestre interpreta essas aves
como sendo “o maligno”.

E quem é o tal? Em toda a Bíblia a palavra “maligno” refere-se ao Diabo e aos


demônios sob seu domínio (CABRAL, 2005, p.22). Em Marcos 4.15, o próprio
Jesus denuncia Satanás como o ladrão da semente da Palavra de Deus para
que a pessoa não a receba (João 10.1,10). Wagner Gaby (2018) escreveu:

“As aves representam Satanás (Mc 4.15), que arrebata a


Palavra dessas pessoas, cujos corações estão endurecidos.”

(GABY, 2018, p.14)


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Pois bem, como Satanás age para endurecer os corações e roubar a semente
da vida eterna nesses corações? Explico isso no capítulo 5 (p.48-83) do meu
singelo e-book (2020a) “Dois caminhos e uma escolha: uma questão de vida ou
morte”.

COMO AS AVES DEVORAM AS SEMENTES/COMO SATANÁS AGE PARA


ENDURECER OS CORAÇÕES A PALAVRA DE DEUS

Primeiramente explico, segundo a Palavra de Deus e citando Esdras Savioli


(2018) e o Professor Charles Ryrie (1925) que Satanás tem um objetivo:

“Após Satanás ter sido expulso dos céus4, condenado ao lago


de fogo e lançado a terra, Deus criou um ser, que não somente
o glorificaria, mas que também seria a própria imagem de sua
glória (2 Coríntios 3.18). Deus criou o homem, à sua imagem e
semelhança (Gênesis 1.26-27), o que se constitui uma razão
mais do que suficiente para que Satanás odeie o ser humano,
e faça de tudo para destruí-lo, principalmente através de
estratégias sutis (Jó 1.6-11). Por Satanás ser homicida,
maligno, perverso ele odeia o ser humano (João 10.10; 1 João
5.19) e tem prazer em nos causar sofrimento (Lucas 13.16).
Ele já está condenado e lhe resta pouco tempo (Apocalipse
12.12). Sendo assim, todo seu esforço está em levar o homem
para a mesma condenação: a eternidade no inferno
(Apocalipse 20.10).”

(MOURA, 2020a, p.47)

A Bíblia conta que Satanás é sagaz e astuto. Ele tenta agir da forma mais
sorrateira possível, no intuito de não ser identificado. Podemos ver isso através
da primeira maneira que Satanás escolheu para se mostrar à humanidade: que
foi através de uma serpente (Gênesis 3.1). Essa caracterização está de acordo
com o Satanás apresentado no Novo Testamento (2 Coríntios 11.3; Apocalipse

4
Caso o leitor queira entender um pouco acerca da origem do mal que vemos no
mundo, acerca de como foi essa rebelião no céu, recomendo a leitura do meu humilde
e-book já citado acima.
P á g i n a | 18

12.9), pois indica sua sagacidade e astúcia. Ryrie (1925) apud Moura (2020a)
acerca desse acontecimento escreveu:

“Com astúcia, Satanás usou uma criatura que Eva conhecia,


em vez de apresentar-se em sua verdadeira aparência. Isso
provavelmente teria chamado sua atenção, pois seria algo fora
do comum, o que a deixaria em estado de alerta. Satanás usou
um a serpente real, uma vez que esse animal foi amaldiçoado
após a queda juntamente com o diabo. Por algum motivo, Eva
não ficou assustada quando a serpente falou com ela. “O
tentador dirigiu-se à mulher, provavelmente [porque] [...] ela
não recebera pessoalmente a proibição de Deus, como ocorreu
com Adão (v.16,17).”

(RYRIE, 1925, p.233)

Savioli (2018) apud Moura (2020a) explica que Satanás agiu assim, pois caso
se apresentasse com sua real aparência provavelmente teria espantado Eva.
Citando Davis W. Huckabee (2018), podemos elencar algumas estratégias que
Satanás usou para causar a queda do homem e que continuam vigentes até os
dias atuais (MOURA, 2020a, p.52-83):

1 – Dúvida: Insinuou-se dúvida acerca do que Deus queria dizer: “É assim que
Deus disse: Não comereis de toda a árvore do jardim?” (Gênesis 3.1). Essa é
uma forma bem comum de tentação, pois se o diabo puder fazer com que o
homem questione o sentido ou aplicação de um dos mandamentos de Deus,
ele fez muito progresso em induzir o homem a desobedecer a esse
mandamento.

2 – Mudar o foco: A serpente dirigiu atenção a uma limitação, em vez da


permissividade ampla e quase sem limite. Só uma coisa Deus havia negado ao
homem no Jardim - tudo demais lhe era livremente dado, e não havia falta de
nada que o homem pudesse precisar ou desejar (Gênesis 2.16). No entanto,
ele esqueceu tudo isso, e a serpente dirigiu atenção a única coisa que seria
pecado se o homem tivesse participação – comer do fruto dá arvore do
conhecimento do bem e do mal (Gênesis 3.5).
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Huckabee (2018) ainda explica que não daria para incitar rebelião se a atenção
do homem fosse direcionada somente para o que era lícito ao homem, para
que seja levado a se rebelar contra a vontade de Deus, o homem tem
primeiramente de ser induzido a desejar o que é proibido e ilícito.

3 – Acréscimo à Palavra: A serpente fez um acréscimo à Palavra, e assim


reverteu seu sentido: “A serpente então alegou à mulher: “Com toda a certeza
não morrereis!” (Gênesis 3.4). Com uma pequena alteração, mudou
completamente o sentido do mandamento. Precisamos considerar como o
diabo ainda está usando esse mesmo modo de corromper a Palavra ao
conduzir homens negligentes a corromper gradualmente a Bíblia com suas
paráfrases inadequadas e traduções livres (2 Pedro 2.1).

4 – Contestar os motivos das ordenanças de Deus: Satanás através da


serpente contestou os motivos de Deus por negar o fruto dessa única árvore ao
homem: Ora, Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se
abrirão, e vós, como Deus, sereis conhecedores do bem e do mal!” (Gênesis
3.5). O próprio nome “Diabo” significa “difamador”, e é isso o que o diabo faz;
ele difama Deus ao homem, conforme ele fez aqui, então ele difama os
homens salvos a Deus, conforme fez em Jó 1.9-11 e em 2.4-5.

Para Eva, Satanás difamou Deus, e afirmou que o único motivo de Deus ao
negar a eles o fruto dessa árvore era impedi-los de se tornarem como Ele:
“Deus sabe que… sereis como Deus” (palavra hebraica Elohim = o Deus
Triúno).

Huckabee (2018) explica que ele fez com que os motivos de Deus para negar
essa única coisa a eles fossem totalmente egoístas, pois se ele puder fazer
Deus parecer egoísta, ele poderá dar alguma desculpa aparente ao homem
para agir de modo egoísta.

5 – Soberba: Essa tentação que a serpente apresentou para Eva era de


natureza muito semelhante à natureza mediante a qual o próprio Lúcifer havia
caído - ele incitou rebelião através de uma ambição profana de ser como o
próprio Deus (Gênesis 3.5) - e ele expressou sua própria ambição profana
desse mesmo jeito: “E tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu, acima das
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estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me


assentarei, aos lados do norte. Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei
semelhante ao Altíssimo” (Isaías 14.13-14).

Pois bem, quando Eva viu que o fruto parecia agradável ao paladar, atraente
aos olhos e desejável para dar entendimento, comeu (Gênesis 3.6). Afinal, se
ela seria como Deus, já não haveria mais motivo para dar satisfação ao seu
Criador (1 Timóteo 2.14). Deu do fruto para Adão, que também comeu. É como
Savioli (2018) diz: O homem preferiu acreditar na promessa do Diabo, ao invés
de confiar em Deus (Romanos 6.16).

6 – Consequências da queda: Explico essas consequências


pormenorizadamente no e-book já citado anteriormente. De maneira resumida,
a queda, a desobediência a Deus motivada por Satanás no Éden (Gênesis 3)
trouxe aos seres humanos algumas consequências. Algumas que podemos
citar foram:

a) Sujeição à morte: o homem, que tinha sido criado para ser eterno,
passou a sofrer a morte física (Gênesis 3.19b), a morte espiritual
(Efésios 2.1) e a morte eterna (Apocalipse 20.14-15).
b) Escravidão ao pecado: com a queda o homem se tornou uma criatura
caída e pecadora, escravizado a própria corrupção, tendo o mal
profundamente enraizado dentro de si (Gênesis 8.21). O pecado possui
uma natureza escravizadora natural, e escraviza gradualmente de tal
maneira que poucos percebem sua verdadeira natureza até que se torne
tão firmemente estabelecido e tão tirânico que não haja nenhuma
esperança humana de escapar (Tiago 1.14-15).
c) Cegueira espiritual: O próprio fato da condição caída e perdida do
homem o torna incapaz de entender as verdades espirituais do
evangelho, pois Satanás – com a queda do homem - ganhou legalidade
para cegar as mentes de modo que as verdades espirituais pareçam
ilógicas, irracionais e completamente tolas para o homem que não foi
renovado (1 Coríntios 3.19; 2 Coríntios 4.3-4). Essa cegueira está sujeita
à intensificação à medida que o indivíduo ouve e rejeita a verdade do
Evangelho, pois tal descrença dá ao diabo uma vantagem por meio da
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qual ele pode escurecer ainda mais a mente, e endurecê-la contra a


verdade (Efésios 4.17-19).
7 – Promover ordem falsificada: Ryrie (1925) explica que o objetivo de
Satanás é criar um sistema que se opõe ao reino de Deus, mas que
exclui o Senhor. A ideia é promover uma ordem falsificada.
Basicamente, o mundo é mau porque busca ser independente de Deus.
Pode conter aspectos bons e, também, alguns totalmente maus, mas
seu mal inerente está em ser independente de Deus e em opor-se a ele
(Tiago 1.27; 1 João 2.16). Para alcançar seu objetivo, Satanás procura
fazer com que os valores desse sistema sem Deus pareçam atrativos.
Assim, ele age de modo que as pessoas deem total prioridade a si
mesmas e vejam o “aqui” e o “agora” como os aspectos mais
importantes da vida (1 João 2.15-17). Um meio que ele costuma operar
para tal alcançar esse objetivo é através de falsas religiões.
A fim de competir com Deus pelo domínio do mundo, Satanás, a quem
Cristo chamava "o príncipe deste mundo", viu-se forçado a entrar no
"mundo" da religião (João 14.30; Josué 24.2). Embora expulso do
Jardim, o homem trazia ainda uma consciência de Deus em seu coração
e a estratégia de Satanás era desviar essa fome inata, afastando-a do
Senhor Deus. Assim teve lugar o aparecimento do que chamamos
religião falsa, falsificada ou naturalista – e sua história é comprida e
trágica. Satanás tem influenciado homens e mulheres ao longo dos anos
para criarem falsas religiões (Ryrie, 1925). Essas religiões ensinam que
o sacrifício do Salvador não valeu nada, que a salvação é por obras e
ensinam uma ética libertina, contrariando os ensinamentos bíblicos (1
João 4.1-4; 1 Timóteo 3.16-4.3; Apocalipse 2.20-24). Toda a falsificação
dá testemunho da realidade e existência daquilo que se tenta igualar e
assim, em meio a todos os planos e programas que os homens
imaginaram para satisfazer seu impulso religioso, a religião verdadeira
existe e está ao alcance de todos que desejem vir a Deus, mas sob
as condições dele (João 3.16; Mateus 7.13-14).

MAS ASSIM QUE A OUVEM, SATANÁS VEM E TOMA A PALAVRA NELAS


SEMEADA:
P á g i n a | 22

Pois bem, através de todas essas estratégias faladas acima, Satanás vem e
toma a Palavra que foi semeada no coração dessas pessoas que tem um
coração duro e insensível a semente do Evangelho. Como já dito
anteriormente, devido à dureza do solo, a semente não penetra, sendo assim
fica exposta às aves, que vem e devoram essas sementes.

Cabral (2005, p.22) explica que o ouvinte representado pelo terreno ao pé do


caminho é, na verdade, o de coração fechado. É uma classe de pessoas que
recebem a semente com o ouvido, mas não permitem descer ao coração. A
semente não pode penetrar nem germinar, e então fica exposta para que “as
aves do céu”, que representam os agentes do mal, a arrebatem. A Palavra não
surte efeito.

Essas “aves” podem representar homens ou mulheres usados por Satanás


para pisarem a terra do coração das pessoas, influenciando suas mentes com
artifícios intelectuais e ateístas, ou com idolatria, para lhes fechar e endurecer o
coração.

Será que na Bíblia vemos exemplos de pessoas assim?

EXEMPLO 1: CAIM

Antes, deixa eu te contextualizar...

Adão e Eva tiveram filhos após serem expulsos do Éden5. Primeiramente, Eva
concebeu Caim e depois Abel (Gênesis 4.1-2a). Abel era pastor de ovelhas e
Caim era agricultor (Gênesis 4.2b). Certa feita, os dois resolveram oferecer
sacrifícios em louvor a Deus. Abel, que era pastor de ovelhas, trouxe o
primogênito de seu rebanho como oferta ao Senhor Deus. Ofereceu-o com
amor, adoração, humildade e reverência, e a Bíblia nos diz que o Senhor se
agradou de Abel e de sua oferta:

5
Esse famoso episódio recebe o nome de “a queda”, o qual retrata a desobediência do
primeiro homem e da primeira mulher ao Senhor. Caso o leitor queira se aprofundar
recomendo estudar Gênesis 1-4, e posteriormente ler meu singelo e-book (2020) “Dois
caminhos e uma escolha: uma questão de vida ou morte”, pois nessa obra trato com
mais profundidade esse episódio.
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“Abel, por sua vez, ofereceu as primícias e a gordura de seu


rebanho. Ora, o SENHOR aceitou com alegria a Abel e sua
oferta.”

Gênesis 4.4

Ora, Abel agradava a Deus com seu proceder correto e fez seu sacrifício
humilde e reverentemente, com espírito de sacrifício, trazendo a Deus o que de
melhor possuía, as primícias e a gordura de seu rebanho (MOURA, 2020a,
p.77). Desse modo, Deus recebeu a ele e sua oferta (Hebreus 11.4).

O irmão mais velho, Caim, que era agricultor, ofereceu “alguns produtos do
solo” e a Bíblia nos diz que de Caim e de sua oferta Deus não se agradou:

“Passado o tempo, Caim apresentou alguns produtos do solo,


em oferenda ao SENHOR. Todavia, não se agradou de Caim e
de sua oferenda; e, por esse motivo, Caim ficou muito irado e
seu semblante assumiu uma expressão maligna.”

Gênesis 4.3,5

Agora por que o Senhor não aceitou a Caim e sua oferta? Afinal de contas,
Caim não estava igualmente tentando agradar a Deus, e não se apresentava
com sinceridade perfeita? Ora, Caim tinha um proceder que desagradava a
Deus, era maligno/malvado (1 João 3.12) e fez seu sacrifício de má vontade,
com egoísmo e de modo superficial. Desse modo, não tinha como Deus se
agradar dele e receber sua oferta (1 João 3.15).

Entretanto, a Bíblia conta que Caim ficou muito irado e seu semblante assumiu
uma expressão maligna (Gênesis 4.5). O Senhor Deus ao ver essa ira no
coração de Caim e essa mudança de semblante, decidiu advertir Caim,
dizendo:

“Então o SENHOR abordou Caim: “Por que estás furioso? E


por qual motivo teu rosto está transtornado? Se procederes
bem, não é certo que serás aceito? Entretanto, se assim não
fizeres, sabe que o pecado espreita à tua porta e deseja
destruir-te; cabe a ti vencê-lo!”

Gênesis 4.6-7
P á g i n a | 24

Pronto, agora vem à relação com a Parábola...

Veja, nesse momento o Senhor estava semeando uma semente no coração de


Caim. Ele, como o semeador da parábola, estava lançando uma semente ao
terreno, que era Caim. Entretanto, Caim era como o “terreno a beira do
caminho”, pois tinha um coração muito maligno e endurecido. O que
aconteceu?

Justamente o que vimos que ocorre com esse tipo de solo/pessoa. Recebem a
semente com o ouvido, mas não permitem descer ao coração. A semente não
pode penetrar nem germinar, e então fica exposta para que “as aves do céu”,
que representam os agentes do mal, a arrebatem. E foi o que aconteceu. A
semente lançada por Deus não entrou no coração de Caim, então veio o
maligno, ainda que sorrateiramente, e devorou a semente incitando ira e
maldade no coração duro de Caim. Em seguida, está a prova cabal de que isso
tudo aconteceu:

“Contudo, propôs Caim a seu irmão Abel: “Saiamos, vamos ao


campo!” E, quando estavam no campo, aconteceu que Caim se
levantou contra Abel, seu irmão, e o matou.”

Gênesis 4.8

Então o primeiro exemplo de um terreno que era “a beira do caminho”, de uma


pessoa de coração insensível e duro foi Caim, filho de Adão e Eva.

EXEMPLO 2: FARAÓ DO ÊXODO

Antes, deixa eu te contextualizar...

Degmas Ribas Júnior (2015) explica que após o dilúvio, as gerações após Noé
se afastavam cada vez mais de Deus (Gênesis 7-11). Deus, em sua sabedoria,
decide criar um povo para si através de um homem chamado Abrão, que mais
tarde passou a se chamar Abraão (Gênesis 12, 17.5). Deus acabaria por
abençoar toda a humanidade através deste povo escolhido (Gênesis 22.18).

Deus disse a Abrão que deixasse sua família e seu país de origem e fosse para
uma nova terra que Deus lhe mostraria (Gênesis 12.1). Deus prometeu
abençoar Abraão e fazer uma grande nação a partir de seus descendentes
P á g i n a | 25

(Gênesis 12.2). Em obediência e fé, Abraão deixou sua casa e viajou para a
terra de Canaã (Gênesis 12-25). Ele e sua esposa Sara já tinham uma idade
avançada e ela era estéril (Gênesis 11.30; 18.11). Entretanto, Deus agiu
milagrosamente, e eles com 100 e 91 anos respectivamente tiveram um filho, e
colocaram o nome desse filho Isaque (Gênesis 21.1-5). Falaremos
posteriormente sobre Abraão.

Isaque viveu de forma muito semelhante a seu pai, peregrinando por vários
lugares de Canaã (Gênesis 25-27). Rebeca, sua esposa, deu à luz gêmeos:
Esaú e Jacó (Gênesis 25.23-24). Ele teve doze filhos, conforme descrito em
Gênesis 35:

“Jacó teve doze filhos: Estes foram seus filhos com Lia: Rúben,
o filho mais velho de Jacó, Simeão, Levi, Judá, Issacar e
Zebulom. Estes foram seus filhos com Raquel: José e
Benjamim. Estes foram seus filhos com Bila, serva de Raquel:
Dã e Naftali. Estes foram seus filhos com Zilpa, serva de Lia:
Gade e Aser. Foram esses os filhos de Jacó, nascidos em
Padã-Arã”.

Gênesis 35.22b-26, NVI

Como destacado acima, um dos doze filhos de Jacó foi José, claramente filho
favorito de seu pai (Gênesis 37.3). Era um menino temente a Deus, e o Senhor
o concedeu sonhos nos quais ele um dia tornava-se senhor de seus irmãos
(Gênesis 37.5). Seus irmãos ficaram muito irritados com ele por causa disso e
venderam-no a comerciantes de escravos que estavam a caminho do Egito
(Gênesis 37.28). No entanto, Deus abençoou José (Gênesis 39.2). Mesmo
durante o período em que viveu com um escravo no Egito. Vale lembrar que
Deus o tinha concedido a capacidade de interpretar sonhos (Gênesis 40.8-22).

Através de uma complexa interação de circunstâncias, José foi finalmente


levado à presença do Faraó para interpretar o sonho daquele homem (Gênesis
41.14). Deus deu a José sabedoria para entender que o sonho predizia uma
grande fome que estava por vir e atingiria o mundo inteiro (Gênesis 41.17-36).
Como resultado, Faraó o colocou na segunda posição mais importante de
P á g i n a | 26

comando de todo o Egito, a fim de se preparar para enfrentar tal situação


(Gênesis 41.40-44).

Durante a fome, os irmãos de José foram forçados a viajar para o Egito a fim
de comprar trigo de José, embora não soubessem que aquele homem era seu
irmão, com quem não tinham contato há muito tempo (Gênesis 42.3). No final,
José revelou a eles sua identidade, e houve uma reconciliação. José
convenceu toda sua família, incluindo seu pai – Jacó – a mudar-se para o
Egito. E lá os descendentes de Jacó floresceram e se multiplicaram, e se
tornaram um grande povo dentro do Egito (Gênesis 45-47; Êxodo 1.7).

Cerca de 4 séculos depois surgiu um novo Faraó no Egito. Este líder, que não
conhecia tudo o que José havia feito, começou a oprimir os israelitas por temer
que eles pudessem se rebelar contra ele:

“Levantou-se sobre o Egito um novo rei, que não conhecia


nada sobre a vida de José. Então proclamou ele ao seu povo:
“Eis que o povo dos filhos de Israel tornou-se mais numeroso e
mais poderoso do que nós. Vinde, tomemos sábias medidas a
fim de impedir que ele cresça ainda mais; pois do contrário, em
caso de guerra, aumentará o número dos nossos adversários e
combaterá contra nós, para depois deixar nosso país
assolado!” Sendo assim, impuseram a Israel inspetores de
obras para tornar-lhes dura a vida com os trabalhos que
exigiam. Foi assim que construíram para o Faraó as cidades
armazéns de Pitom e de Ramessés”.

Êxodo 1.8-11

Os israelitas foram feitos escravos e, eventualmente, Faraó até mesmo


ordenou que todos os meninos israelitas fossem lançados no rio Nilo (Êxodo
1.22). Um casal israelita, no entanto, escondeu se bebê em um cesto, e o
lançou no rio para que ele não fosse morto (Êxodo 2.3). A filha do Faraó
encontrou o bebê e o adotou, chamando-o de Moisés (Êxodo 2.10). Moisés
cresceu na corte real egípcia (Êxodo 2.11).

Um dia, Moisés viu um egípcio agredindo um israelita (Êxodo 2.11). Ele então
matou o egípcio e escondeu o corpo na areia (Êxodo 2.12). Quando o Faraó
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soube disto, Moisés fugiu para a terra de Midiã (Êxodo 2.15). Ali Moisés casou,
teve filhos, e passou cerca de quarenta anos6 pastoreando o rebanho de seu
sogro (Êxodo 2.16-23). Ali Deus falou com Moisés em meio a uma sarça
ardente, revelando seu nome – o Senhor – e dizendo-lhe para voltar ao Egito e
liderar a libertação de seu povo da escravidão, seguindo em direção à terra que
Deus estava lhes dando (Êxodo 3.2-10).

Moisés relutou em ir, mas o Senhor lhe assegurou que estaria com ele e lhe
daria poder para operar milagres surpreendentes diante do Faraó7 (Êxodo
3.11-15; 4.1-17). Deus também enviou o irmão de Moisés, Arão, junto com ele
para o Egito (Êxodo 3.14).

Pronto, agora vem à relação com a parábola...

Quando Moisés chegou ao Egito, prontamente semeou no coração do


Faraó, contando-lhe a Palavra do Senhor:

“Mais tarde, Moisés e Arão foram falar com o rei do Egito e lhe
anunciaram: “Assim diz Yahweh, o SENHOR, Deus de Israel:
‘Deixa meu povo partir, para que possam celebrar uma festa
em meu louvor, no deserto!”

Êxodo 5.1

O que aconteceu? Esse faraó era um terreno a beira do caminho. Tinha o


coração duro e insensível a Palavra de Deus. Aconteceu que a semente
nem entrou no coração, e Satanás rapidamente devorou a semente com
soberba, veja:

6
Nesse período, o faraó que queria matar Moisés faleceu. Segundo o Pr. Carlos
Alberto Bezerra (2018, p.112), esse faraó era provavelmente Tutmés III.
7
Acerca desse faraó, ainda conforme o autor citado acima (2018, p.112): “Segundo o
texto bíblico de 1 Reis 6.1, o êxodo do povo de Israel aconteceu 480 anos antes do
quarto ano do reinado de Salomão. Como essa data deve ser o ano 966 a.C., é
tradicional e mais correto afirmar que o êxodo ocorreu por volta de 1446 no reinado de
Amunotepe II; o que inclui os chamados “treze anos do Juízes” (Juízes 11.26).
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“Replicou o Faraó: “Quem é Yahweh para que ouça a sua voz


e deixe Israel partir? Não conheço Yahweh, tampouco
permitirei que os israelitas saiam de minhas terras!”

Êxodo 5.2

Possivelmente o maligno incitou a faraó com a soberba, pois essa era a


maneira mais fácil de endurecer o faraó, visto que segundo Sousa (2020) o
faraó era considerado um deus pelos egípcios. Após a réplica do faraó, Moisés
e Arão respondem com uma tréplica, explicando o porquê daquela Palavra do
Senhor:

“Então eles explicaram: “O Deus dos hebreus veio ao nosso


encontro. Deixa-nos ir pelo caminho de três dias de marcha no
deserto, a fim de oferecermos sacrifícios a Yahweh, o
SENHOR, caso contrário Ele nos atingirá com pragas, pestes
ou espada!”

Êxodo 5.3

Veja, eles semearam novamente a boa semente no coração do faraó, e


ainda alertaram das consequências que haveriam da continuação da
recusa de faraó. Novamente, a semente não entrou no coração do rei e foi
assim devorada pelo maligno. Ele em vez de receber a Palavra, recusou
sistematicamente, e com maldade, ainda tratou de aumentar o sofrimento e o
trabalho dos hebreus:

“No entanto, questionou-lhes o rei do Egito: “Por que, Moisés e


Arão, quereis dispersar o povo dos seus trabalhos? Ide às
vossas tarefas!” E disse mais o Faraó: “Eis que agora a
população desta terra é numerosa, e vós a fazeis interromper
seus serviços!” E, no mesmo dia, o Faraó deu a seguinte
ordem aos feitores e capatazes responsáveis pelo povo: “Não
deis mais palha ao povo, para fazer tijolos, como ontem e
anteontem. Eles mesmos que vão e ajuntem para si a palha de
que necessitam. Todavia, exigireis deles a mesma quantia de
tijolos que faziam ontem e anteontem. Não abatereis nada,
porque são preguiçosos. É por isso que clamam: ‘Vamos
P á g i n a | 29

sacrificar ao nosso Deus!’ Torne-se pesado o serviço desses


homens, a fim de que se dediquem a ele e não prestem
atenção a palavras mentirosas!”

Êxodo 5.4-9

Nos versículos seguintes vemos que as coisas ficaram muito difíceis para os
Israelitas (Êxodo 5.10-23). Com isso, o povo reclamou com Moisés, que levou
a Deus em oração essa situação (Êxodo 5.20-23). Deus o respondeu que o
coração do faraó era extremamente duro e insensível a semente da Palavra de
Deus, e Ele usaria isso para demonstrar seu grande poder de forma
miraculosa, para libertar o Seu povo da escravidão e fazer com que essa
história fosse contada até os dias de hoje, para a Sua glória (Êxodo 6.1-7.5;
10.2).

Então, após isso, Moisés e Arão voltam ao palácio e semeiam a Palavra do


Senhor no coração do faraó novamente, e lá deram uma pequena amostra
do poder de Deus (Êxodo 7.10-12): “Lançou Arão o seu cajado diante do Faraó
e perante seus conselheiros, e o cajado virou uma serpente. O Faraó, contudo,
mandou chamar os sábios e feiticeiros da corte; e também os magos do Egito
reproduziram o mesmo fenômeno, por meio das suas ciências ocultas. Cada
um deles jogou ao chão um bordão, e estes se transformaram em cobras. Mas
o cajado de Arão devorou os bordões deles”. A resposta de Faraó foi à
mesma, ele era um terreno a beira do caminho, a semente da Palavra
simplesmente não entrava no coração dele:

“Apesar disso, o coração do Faraó se endureceu ainda mais, e


ele não quis dar ouvidos ao pleito de Moisés e Arão, como o
SENHOR tinha predito.”

Êxodo 7.13

Desse modo, da próxima vez que Moisés e Arão forem semear no coração do
Faraó, e o mesmo endurecer o coração para a semente, vai começar a se
cumprir o versículo de Êxodo 5.3, que diz que caso Faraó não deixe o povo ir
adorar a Deus no deserto, pragas e pestes viriam sobre a terra do Egito. E
Moisés e Arão foram ao palácio novamente, e semearam a semente da
P á g i n a | 30

Palavra de Deus. Faraó novamente endureceu o coração, e então veio a


primeira praga – a água do rio Nilo se converteram em sangue (Êxodo 7.15-
21). Você já sabe o que aconteceu:

“o coração do Faraó se endureceu e não deu ouvido a Moisés


e Arão, como o SENHOR havia predito. Ao contrário, deu-lhes
as costas e retornou a seu palácio. Nem mesmo esse prodígio
seu coração considerou”.

Êxodo 7.22b-23

Depois disso, sempre seguindo a mesma ordem: semente lançada por


Moisés e Arão, endurecimento do coração do Faraó e praga/peste
afligindo a terra do Egito e seus nativos8. Assim, vieram dez pragas na terra
do Egito:

1 – Água do rio Nilo se converteu em sangue (Êxodo 7.15-21);

2 – Infestações de rãs em todo o Egito (Êxodo 8.2-14);

3 – Infestações de piolhos em todo o Egito (Êxodo 8.16-19);

4 – Infestações de moscas em todo o Egito (Êxodo 8.20-32);

5 – Peste sobre bois e vacas dos egípcios (Êxodo 9.1-7);

6 – Tumores/feridas purulentas nos egípcios e seus animais (Êxodo 9.8-12);

7 - Chuva de pedras (Êxodo 9.13-35);

8 – Infestações de gafanhotos em todo o Egito (Êxodo 10.1-20);

9 – Densas trevas sobre o Egito/escuridão total (Êxodo 10.1-20);

10 – Morte dos primogênitos dos egípcios (Êxodo 11-12);

Depois da execução da última praga, com a morte do filho primogênito do


Faraó, provável sucessor ao trono, Faraó finalmente deixou o povo ir para o
deserto adorar a Deus (Êxodo 12.31-35). Talvez o leitor pense que o coração

8
As pragas só afetavam os egípcios, os hebreus eram protegidos por Deus das
pragas, e assim permaneciam intactos (Êxodo 9.6; 9.26; 10.23; 12.23).
P á g i n a | 31

do Faraó amoleceu e finalmente recebeu a semente depois de pelo menos 13


sementes semeadas e pelo menos 12 milagres presenciados. Mas na verdade
não.

Apesar de tudo que presenciou o Faraó ainda estava com o coração


endurecido. A prova disso foi que logo após a saída dos hebreus do Egito, o
Faraó rapidamente mandou aprontar sua carruagem e tomou consigo seu
exército, levando consigo todos os carros do Egito, inclusive seiscentos dos
melhores carros de combate, cada um com um oficial no comando, no intuito
de perseguir os israelitas, ou para mata-los ou para escraviza-los novamente
(Êxodo 14.6-9). Sabemos o que aconteceu. O povo ficou encurralado no mar
Vermelho (Êxodo 13.18). Então, para salvar seu povo, Deus operou um grande
milagre, e abriu o mar para o povo passar:

“Então Moisés estendeu a mão sobre o mar. E Yahweh, por


meio de um forte vento oriental que soprou toda aquela noite,
fez o mar se afastar. Este tornou-se em terra seca, e as águas
foram divididas. Os filhos de Israel entraram pelo meio do mar
em seco; e as águas formaram como um muro de água à
direita e à esquerda. Os egípcios que os perseguiram
entraram atrás deles até o meio do mar cujas águas formaram
muralhas de água dos dois lados do caminho seco, com todos
os cavalos do Faraó, seus carros de guerra e seus
cavaleiros. Pouco antes da alvorada, do alto da coluna de fogo
e de nuvem, Yahweh olhou para o exército dos egípcios e
lançou grande confusão e temor entre todos os homens do
Faraó. O SENHOR emperrou as rodas dos carros de guerra
dos egípcios, e fê-los andar com muita dificuldade em meio à
coluna de água que se mantinha erguida. Então os egípcios
começaram a gritar: “Fujamos da presença de Israel,
porque Yahweh combate a favor deles contra o Egito!”
Então Yahweh ordenou a Moisés: “Estende a mão sobre o mar,
para que as águas se voltem contra os egípcios, sobre todos
os seus carros de guerra e sobre seus exércitos de
cavaleiros!” Moisés estendeu a mão sobre o mar e este, ao
romper da manhã, voltou para seu leito. Todos os egípcios, ao
tentarem fugir do meio do mar, correram de encontro às águas
P á g i n a | 32

que se fechavam por sobre o caminho, e o SENHOR os


precipitou para dentro do mar. As águas voltaram-se e
cobriram os carros e cavaleiros de todo o exército do Faraó,
que havia perseguido os filhos de Israel mar adentro. Nenhum
egípcio que entrou no mar conseguiu sobreviver. Os
israelitas, entretanto, atravessaram o mar pisando sobre
terra seca, tendo uma parede de água à direita e outra à
esquerda.”

Êxodo 14.21-29

Deus é tremendo! Acerca desse episódio, escreveu o Dr. Severino Pedro


(1986, p.68): “O poder de Deus foi manifestado na terra do Egito de duas
maneiras focais: 1) De forma gloriosa, salvando Israel. 2) De forma punitiva,
destruindo Faraó e seus exércitos. Seja como for, em qualquer batalha Deus é
quem triunfa.”

O Faraó do Êxodo é um exemplo claro de um terreno à beira do caminho,


de um coração duro e insensível à semente divina, a Palavra de Deus.

EXEMPLO 3: JEZABEL

Antes, deixa eu te contextualizar...

De maneira bem resumida, vimos acima que Deus tirou os israelitas do Egito
com mão forte. Depois de 40 anos peregrinando no deserto, eles começam o
processo de conquista da Terra Prometida. Abençoados por Deus e liderados
por Josué, os israelitas se dedicam na conquista da terra que ocorreu ao longo
de muitos anos, mas os israelitas nunca concluíram totalmente. Deus havia
ordenado que os israelitas expulsassem completamente os cananeus9, e eles
não obedeceram totalmente essa ordem.

9
Por que os cananeus deveriam ser mortos? Para explicar, Savioli (2019) nos conduz
ao seguinte dilema: “Imagine que um avião foi sequestrado e tem como alvo um prédio
com 1000 pessoas, e você é o comandante responsável pela decisão de derrubar ou
não esse avião, o que você faria? Mataria 100 pessoas para evitar a morte de 1000?
Ou permitiria a morte de todos, inclusive dos passageiros do avião”. Apesar de parecer
óbvia qual a atitude correta, a decisão resultará na morte de pessoas, o que dificulta
P á g i n a | 33

Diversas áreas dentro da terra continuaram a ser controladas por cananeus,


mesmo após o período da conquista, e a idolatria deste povo foi uma armadilha
para os israelitas durante os séculos por vir.

Esse foi o período que antecedeu ao surgimento da monarquia em Israel,


período esse no qual os juízes foram os intermediários na expressão da
teocracia. Vale dizer que Deus governava o seu povo através daqueles
representantes, e esses eram conhecidos como os juízes de Israel. Alguns dos
notáveis foram: Débora (Juízes 4.1-5.31); Gideão (Juízes 6.1-8.32); Jefté
(Juízes 10.6-12.7); Sansão (Juízes 13.1-16.31) e Samuel (1 Samuel 3.1-8.7).

enxergar essa ação sob um valor moral bom. A ordem de Deus para extermínios de
nações cananeias segue o mesmo princípio. Se considerarmos que o pecado é um
vírus que gera morte (Romanos 6.23), podemos compreender perfeitamente a ação
preventiva de Deus (Deuteronômio 7.1-4). Os povos dessas nações cometiam todo
tipo de depravação que podemos imaginar: pais praticavam sexo com seus filhos,
irmãos com irmãos, havia orgias entre familiares, adultérios, estupros coletivos,
pedofilia, zoofilia, tudo de forma generalizadas (Gênesis 19.4-5; Levítico 18). Além de
perversos, esses povos eram extremamente idólatras, ao ponto de queimarem vivos
seus próprios filhos em sacrifícios aos demônios (Gênesis 13.13; Levítico 20). A ordem
de Deus tinha como objetivo evitar que seu povo, chamado para viver longe do
pecado, fosse contaminado pelas práticas desses povos (Deuteronômio 20.16-18).
Qualquer sobrevivente seria um risco para toda a nação. Homens e mulheres
poderiam influenciar suas práticas religiosas e sexuais, crianças poupadas poderiam
vingar seus pais no futuro, e animais poderiam profanar o culto a Deus, pois eram
utilizados em práticas sexuais e rituais pagãos. A prova de que isso poderia acontecer,
foi que realmente aconteceu. O povo não foi totalmente obediente a Deus, e com o
tempo os remanescentes contaminaram o povo de Deus com suas práticas, se
multiplicaram e oprimiram a nação de Israel (Juízes 2; 3.1-8). Como consequência a
nação foi se afastando dos caminhos de Deus aos passos que os povos ao redor se
multiplicaram, séculos mais tarde, toda a nação foi destruída (2 Reis 25). Com toda a
certeza, os povos exterminados tiveram a oportunidade de abandonar suas práticas,
como de fato alguns fizeram e foram poupados (Malaquias 1.11; Josué 6.25). A
grande maioria decidiu pelo pecado, ou seja, decidiu pela própria morte (Gênesis
18.20-33).
P á g i n a | 34

Acerca desse período, no meu singelo e-book (2020c, p.8-9) “O bom pastor”
explico que nós, seres humanos, somos muito influenciáveis, e o livro dos
Juízes é uma amostra disso. Quando o povo tinha um líder como Josué
(temente a Deus), os israelitas igualmente obedeciam a Deus (Josué 24.16-
18). Quando esse líder morria, o povo ficava sem referencial, e se desviava dos
caminhos do Senhor (Juízes 2.11). Com isso, vieram nações e subjugaram
Israel (Juízes 2.14).

Então o povo clamava a Deus, e o Senhor em sua misericórdia levantava um


homem/mulher e o/a usava para liderar o povo – os Juízes. Enquanto esse
líder estava vivo, o povo vivia nos caminhos do Senhor. Quando esse líder
morria, o povo voltava a se desviar dos caminhos do Senhor:

“Quando Yahweh lhes suscitava juízes, o SENHOR estava com


estes líderes e os salvava das mãos dos seus inimigos durante
todo o tempo em que vivia o juiz escolhido, porquanto o
SENHOR se comovia por causa dos clamores dos israelitas
diante da opressão causada por seus perseguidores e
dominadores. Mas, assim que morria o juiz, os israelitas
reincidiam em seus erros e se tornavam ainda piores do
que os seus pais. Seguiam a outros deuses, serviam-nos e se
prostituíam perante eles, e em nada renunciavam às más obras
praticadas e o caminho obstinado que trilhavam.”

Juízes 2.18-19

Em um dado momento, o povo ao ver que todas as nações a sua volta eram
monarquias, quis se igualar a essas nações e assim pediram um rei a Samuel
(1 Samuel 8.5). Isso desagradou muito o profeta Samuel, veja:

“No entanto, esta expressão: “constitui sobre nós um rei, o qual


exerça a justiça sobre nós”, causou um profundo desgosto ao
coração de Samuel, e então ele invocou o Nome de Yahweh e
orou ao SENHOR”.

1 Samuel 8.6

Deus, por sua vez, respondeu o profeta dizendo o seguinte (1 Samuel 8.7-9):
“Atende, pois, a tudo o que este povo te pede, porquanto não é a ti que eles
P á g i n a | 35

rejeitam, mas sim a minha própria pessoa, porque não desejam mais que Eu
reine sobre eles! Tudo o que têm feito comigo desde o dia em que os libertei e
fiz subir do Egito, até este momento, abandonando-me e prestando culto e
adoração a outros deuses, assim também estão fazendo contigo. Agora,
portanto, atende ao que eles pleiteiam. Contudo, solenemente, lembra-lhes e
explica-lhes todos os direitos do rei que reinará sobre eles!”

O Senhor, no entanto alertou ao povo das consequências dessa escolha (1


Samuel 8). Os reis iriam:

1) Convocar os filhos do povo para o exército (v.11-12);


2) Tomaria as filhas para serem perfumistas, cozinheiras e padeiras (v.13);
3) Tomaria os campos, as vinhas, os melhores olivais, e os daria aos seus
oficiais (v.14);
4) Cobraria impostos ao povo (v.15);
5) Tomaria os melhores jovens, gado e jumentos do povo conforme sua
vontade, para uso particular (v.16);

Mesmo com esse alerta da parte de Deus, o povo simplesmente desconsiderou


isso e falou (1 Samuel 19b): “Não! Queremos ter um rei!”. Desse modo,
começou a monarquia com o primeiro rei de Israel10 – Saul (1 Samuel 10.24-1
Samuel 31.4). Saul até teve um bom começo em seu reinado, mas depois
permitiu que seu coração fosse se desviando do Senhor (1 Samuel 11-15;
21,28). Falaremos de Saul com mais detalhe posteriormente nesta obra.

Com isso Deus decide escolher um novo rei, um rapaz chamado Davi (1
Samuel 16.12-13). Foi ungido a rei ainda jovem, mas só veio assumir o trono
mais tarde em sua vida, anos após a morte do rei Saul (2 Samuel 5). Ele,

10
Alguns autores acreditam que antes de Saul, já estava nos planos de Deus conceder
um rei a Israel (Gênesis 17.16; 49.10). Por esse motivo a Lei de Moisés já trazia a
regulamentação da futura monarquia em Israel (Deuteronômio 17.14-20). Tudo isso
significa que a presença de um rei em Israel não era algo incompatível com a
liderança divina. No entanto, o rei deveria ser um co-regente de Deus diante do povo.
Todo o problema, no entanto, se deu porque os israelitas não quiseram esperar que
Deus instituísse a monarquia em seu devido tempo. Eles queriam um rei que
satisfizesse suas expectativas humanas por não confiarem na providência do Senhor.
P á g i n a | 36

apesar de seus erros (2 Samuel 11; 24), foi um rei excelente, sobretudo por
seu amor a Deus (2 Samuel 6; Atos 13.22). Falaremos mais dele
posteriormente.

Com sua morte, o trono de Israel foi seguido pela sua descendência. Desse
modo, seu sucessor foi seu filho Salomão, que fez um reinado incrível devido à
grande sabedoria que recebeu da parte de Deus (2 Crônicas 1-9). Entretanto,
após a primeira metade de seu governo, seu coração foi continuamente se
afastando do Senhor, até que apostatou completamente e começou a adorar a
outros deuses (1 Reis 11.5-8). Deus o alertou duas vezes (1 Reis 11.9-10), e
como ele persistiu em práticas erradas, foi inevitável o veredito:

“E, por isso, o SENHOR sentenciou a Salomão, determinando:


“Considerando que este é o teu coração e a tua atitude, visto
que não guardaste a minha aliança e os meus decretos que te
ordenei, certamente tirarei de ti este reino e o darei a teu
servo. Porém, unicamente por amor a Davi, teu pai, não o farei
enquanto viveres. Eu o tirarei da mão do teu filho. Mesmo
assim, não lhe tomarei o reino todo, mas deixarei ao teu filho
uma tribo, por amor e consideração a Davi, meu servo, e por
amor a Jerusalém, a Cidade que escolhi!”

1 Reis 11.11-13

E aconteceu. Quando Salomão morreu, seu filho Roboão quis aumentar o jugo
imposto por seu pai: taxas e trabalhos para suprir a mesa do rei, a corte e o
exército às tribos, através dos seus prefeitos ou intendentes (1 Reis 4,21-28;
12.1-15). As dez tribos do Norte sob a liderança de Jeroboão se rebelam contra
isso e se unem constituindo um novo reinado – o do Norte, com a denominação
de Israel. No Sul ficam apenas duas tribos apoiando o filho de Salomão,
Roboão, a de Benjamim e a de Judá, constituindo o Reino do Sul sob a
denominação de Judá (1 Reis 12.16-33).

Pronto, chegamos! Em um desses reinados no reino do norte, se levantou um


rei chamado Acabe, que se casou com uma mulher chamada Jezabel (1 Reis
16.28). Ela era uma mulher muito má, que abertamente perseguia os profetas
de Deus:
P á g i n a | 37

“Jezabel estava exterminando os profetas de Yahweh. Por


isso Obadias reuniu cem profetas e os refugiou em duas
grutas, cinquenta profetas em cada uma, e lhes proveu água e
comida”.

1 Reis 18.4

Pronto, agora vem à relação com a parábola...

Certa feita, um profeta do Senhor que se chamava Elias, chamou o rei Acabe e
todo o povo israelita para um desafio no alto do monte Carmelo. Vale lembrar
que o rei e o povo estavam afundados na idolatria, sobretudo cultuando os
deuses cananeus Aserá e Baal (1 Reis 18.18-21). Elias mandou que
trouxessem dois novilhos (bois) e lançou um desafio (1 Reis 18.22-24):

Os 450 profetas de Baal que estavam presentes deveriam matar um dos bois,
montar um altar e depois clamar para que Baal mandasse fogo para consumir o
boi. Elias faria a mesma coisa com o outro boi, mas clamaria ao Senhor Deus
para mandar fogo. Os profetas de Baal e o povo concordaram. Então os
profetas de Baal mataram o boi e o colocaram em cima do altar (1 Reis 18.24).

Ao amanhecer o profetas de Baal começaram a clamar a Baal. Além de clamar


dançavam rituais em torno do altar, gritavam, se cortavam, se retalhavam com
facas (1 Reis 18.26-28). Na iminência de serem respondidos por seu deus, eles
continuam nesse processo até a hora do sacrifício da tarde (15h), e a Bíblia diz:
"Não aconteceu nada, nenhuma voz, nenhuma resposta, ninguém atendeu
àquela invocação11 (1 Reis 18.29)".

11
Cuidado com os falsos deuses! Eles podem ser qualquer coisa que colocamos no
lugar de Jesus em nossas vidas: qualquer deus que não seja Jesus Cristo, a busca
pelo poder, por posição social, por posses materiais, o trabalho, a militância política, a
militância acadêmica, a aparência, os relacionamentos, as drogas, as festas, o sexo
ilícito, a pornografia...
Cuidado! Quando você mais precisar esses falsos deuses podem te deixar na mão,
assim como aconteceu na história que acabamos de ver! Quando chegamos a
momentos de crise, e clamamos desesperadamente a esses deuses, só há silêncio!
Cuidado! Nenhuma coisa e nenhum deus a não ser Jesus Cristo pode te oferecer
P á g i n a | 38

E então o profeta Elias entra em cena, começa a arrumar o altar (que estava
destruído), e antes de orar ao Senhor, ordena que seja jogado muita água
sobre o altar, para dificultar um pouquinho as coisas (1 Reis 18.33-35). E
então, com a chegada do pôr-do-sol, o profeta faz uma oração a Deus de
aproximadamente 60 palavras (1 Reis 18.36-37). Veja, enquanto os profetas
de Baal clamaram por horas, a oração de Elias foi de alguns segundos! O que
aconteceu? A Bíblia diz (1 Reis 18.38):

"Então, no mesmo instante, caiu o fogo de Yahweh sobre o


sacrifício e o queimou completamente, bem como toda a lenha
armada, as pedras e todo o chão em volta, e ainda secou toda
a água que enchia a valeta."

Só o Senhor é Deus! O que os falsos deuses não podem fazer em horas de


clamor, o Deus verdadeiro pode realizar em uma singela oração de alguns
segundos! Que semente maravilhosa que foi plantada no coração de
Acabe e de todo o povo, tanto que todos reconheceram que só o Senhor é
Deus:

“Assim que o povo testemunhou todo esse acontecimento,


diante de seus olhos, imediatamente todos se prostraram com
o rosto em terra e exclamaram a uma voz: “Só Yahweh, o
Eterno, é Deus! Só o SENHOR, é Deus!”

1 Reis 18.39

Então ao chegar ao palácio, Acabe contou tudo para Jezabel, e sem saber
estava semeando essa maravilhosa semente no coração de Jezabel (1
Reis 19.1). O que aconteceu?

Ela era um terreno a beira do caminho, a semente nem entrou no coração,


e o Maligno veio e devorou a semente com idolatria e ira, tanto que a
reação dela a semente foi querer matar o profeta Elias:

respostas verdadeiras, orientação, sabedoria, amparo, ajuda, consolo, proteção. Só


quem pode te oferecer essas coisas é o Senhor (Salmos 120.1)! Ele nunca vai te
deixar na mão! Quando você mais precisar, Ele sempre estará lá para te ajudar
(Salmos 46.1)!
P á g i n a | 39

“Diante disso, Jezabel mandou um mensageiro a Elias com o


seguinte recado: “Que os deuses me façam sofrer as piores
desgraças, se até amanhã a esta hora eu não fizer com a tua
vida o que fizeste com os profetas!”

1 Reis 19.2

Elias, por sua vez, fugiu de Jezabel (1 Reis 19.3). No capítulo 21 de 1 Reis a
Bíblia explica que passados estes acontecimentos, Nabote, o jezreelita, tinha
conseguido formar uma boa plantação de uvas em Jezreel, ao lado do palácio
de Acabe, rei de Samaria (v.1). Certo dia Acabe ordenou a Nabote: “Cede-me
tua vinha, para que eu a transforme em horta, já que ela está situada junto ao
meu palácio; em troca te darei uma vinha ainda melhor, ou, se preferires,
pagarei em dinheiro o seu valor” (v.2). Todavia, Nabote replicou ao rei:
“Yahweh me livre de te entregar a herança de meus pais!” (v.3). Com isso o rei
voltou para seu palácio triste (v.4). Jezabel o questionou pelo motivo de sua
tristeza (v.5). Quando ele explicou, ela se encarregou de tramar um plano para
matar Nabote e dar a vinha do falecido a Acabe (v.6-14).

Diante desse ato maligno, Deus mandou que Elias fosse ao encontro de Acabe
e Jezabel com uma mensagem de juízo divino (v.21-24). A mensagem
endereçada a Jezabel teve o seguinte conteúdo:

“Quanto a Jezabel, assim fala Yahweh, o SENHOR: ‘Os cães


devorarão Jezabel junto ao muro de Jezreel!”

1 Reis 21.23

Jezabel, devido toda a maldade que fez, não iria ter um sepultamento digno,
teria os restos mortais devorados pelos cães. Veja, essa foi uma semente
plantada no coração de Jezabel. Lendo as Sagradas Escrituras, percebemos
que uma mensagem de juízo é claramente uma semente lançada por Deus
através de seus profetas. A mensagem de juízo é dada visando o
arrependimento. Tendo o arrependimento, geralmente o juízo é revogado ou
adiado. Vejamos alguns exemplos:

1) Ninivitas: A cidade de Nínive, capital da Assíria, na época do profeta


Jonas (aproximadamente 760 a.C., BEZERRA, 2018) era uma cidade
P á g i n a | 40

que se destacava pela malignidade de seus habitantes. O próprio Jonas


relata sua violência maligna (Jonas 3.8). Lendo o livro do profeta Naum,
vemos que os pecados dos habitantes dessa cidade eram:
incredulidade, crueldade, saques, a prostituição, esoterismo, bruxaria e
a exploração comercial (Naum 2.12,13; 3.1,4,16,19). A mensagem de
Jonas foi a seguinte (3.4):
“Jonas entrou na cidade e caminhou por ela por um dia inteiro
proclamando: “Eis que daqui a quarenta dias Nínive será
destruída!”
E aconteceu que os ninivitas receberam a mensagem profundamente, e
se arrependeram de seus pecados (3.5-9):
“Então os ninivitas creram em Deus. Combinaram um jejum
geral, e todo o povo, dos mais importantes e ricos aos mais
simples e pobres, se vestiram com uma roupa feita de pano
grosseiro a fim de demonstrar publicamente que reconheciam
seus pecados e estavam arrependidos. Quando o rei de Nínive
tomou conhecimento da pregação e de tudo que ocorria na
cidade, ele se levantou do trono, tirou o manto real, vestiu-se
também de pano de saco e sentou-se sobre cinzas. E então
proclamou em Nínive: “Eis que por decreto do rei e de seus
nobres; fica proibido a todo homem ou animal, bois ou ovelhas,
provar de qualquer alimento! Portanto, não havereis de comer
nem beber nada! Cobri-vos de vestes de arrependimento e
lamento, tanto as pessoas como os animais. E todos os
cidadãos orem a Deus com todas as suas forças. Cada
pessoa abandone seu mau caminho e toda atitude
violenta. Talvez Deus volte sua face para nós, se arrependa, e
acalme o furor da sua ira, de modo que não sejamos
destruídos!”
Com o arrependimento do povo, Deus revogou seu juízo (3.10-11):
“Deus observou tudo quanto fizeram: como se converteram do seu mau
caminho e abandonaram a violência. E atendeu as orações do povo, voltou
atrás e não destruiu a cidade como havia ameaçado”.
2) Ezequias: Certa feita, o rei Ezequias ficou muito enfermo e esteve à
beira da morte (Isaías 38.1). O profeta Isaías foi visita-lo e lhe transmitiu
P á g i n a | 41

uma mensagem da parte do Senhor com o seguinte conteúdo (Isaías


38.2b):
“Assim diz Yahweh, o SENHOR: ‘Põe em ordem a tua casa,
porquanto vais morrer; não te recuperarás desta doença!”

No mesmo momento Ezequias virou o rosto para a parede e clamou a


Deus e chorou muitíssimo (Isaías 38.3). Isaías já estava saindo da
cidade (2 Reis 20.4), quando Deus lhe ordenou que voltasse e
proclamasse a seguinte mensagem a Ezequias (Isaías 38.5b-6):

“Eis a palavra de Yahweh, o Deus de teu antepassado Davi:


Ouvi, pois, a tua oração e observei teu lamento e tuas lágrimas;
acrescentarei quinze anos à sua vida. E mais, Eu livrarei a ti e
esta cidade das mãos do rei da Assíria. Eu assegurarei a
proteção desta cidade.”

3) Acabe: O leitor que regulamente lê a Bíblia pode estar se perguntando o


motivo que eu não coloquei Acabe como um terreno à beira do caminho.
Não coloquei Acabe porque nesse episódio da morte de Nabote ele
demonstrou arrependimento (alguém que é um terreno à beira do
caminho não se arrepende de jeito nenhum). Devido ao assassinato de
Nabote, Elias disse a Acabe (v.20-22):
“E, quando Acabe viu Elias lhe disse: “Então, finalmente, me
encontraste, meu inimigo!” E Elias replicou: “Sim, eu te
encontrei. Porque te vendeste para fazer o que diante
de Yahweh é abominável!” Por isso, Ele lhe afirma: ‘Eis que
trarei desgraça sobre ti! Devorarei os teus descendentes e
exterminarei da tua família todos aqueles que são capazes de
urinar na parede e que vivem em Israel, sejam escravos ou
livres. E farei com toda a tua casa como fiz com as famílias de
Jeroboão, filho de Nebate, e com a casa de Baasa, filho de
Aías, porque me provocaste à ira e induziste Israel a pecar”.
A semente foi plantada no coração de Acabe, a mensagem de juízo
foi proferida. A reação de Acabe foi de arrependimento, e diante disso
Deus revogou o juízo (27-29):
“Ao ouvir as palavras do profeta, Acabe rasgou suas vestes,
cobriu-se de pano de saco e jejuou; ele se deitava sobre panos
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grosseiros e caminhava triste e abatido, com toda a mansidão


entre as pessoas. Então a Palavra de Yahweh, o SENHOR,
veio novamente ao tesbita Elias, dizendo: “Viste como Acabe
tem se humilhado diante de mim? Considerando,pois, que ele
tem sido humilde em seu proceder diário, não mais trarei a
desgraça que prometi sobre ele, agora, durante sua vida e
reinado, mas a trarei durante o império de seu filho!”

Voltando para Jezabel

Esses são alguns exemplos de que a mensagem de juízo é uma semente que
Deus planta visando o arrependimento. Caso não haja arrependimento, vem o
juízo. Foi o que aconteceu com Jezabel. Ela recebeu a semente, a mensagem
de juízo (1 Reis 18.23). Sabe qual foi a reação dela? Nenhuma. Ela era um
terreno à beira do caminho. Ela tinha um coração duro e insensível a
semente divina. A semente não entrou no coração, logo veio o maligno e
devorou a semente com idolatria e incredulidade. Em 2 Reis 9, o juízo
divino se cumpre na vida de Jezabel:

“Em seguida Jeú partiu para Jezreel. Assim que Jezabel tomou
conhecimento disso, pintou os olhos, fez um penteado e ficou
observando de uma janela do palácio. Quando Jeú passava
pelo portão, ela gritou: “Está em paz, Zinri, assassino do seu
próprio senhor?” Ele ergueu os olhos em direção à janela e
bradou: “Quem dentre vós está do meu lado? Há alguém?”
Dois ou três eunucos se inclinaram para ele.
Então ordenou ele: “Lançai-a abaixo!” E eles, imediatamente,
a atiraram para baixo; seu sangue salpicou a parede e os
cavalos, que a pisotearam. A seguir, entrou Jeú e, depois de
ter comido e bebido, ordenou: “Ide ver aquela maldita e dai-lhe
sepultura, pois é filha de rei”. Quando chegaram para sepultá-
la, só encontraram o crânio, os pés e as mãos. Voltaram
para contar isso a Jeú, que declarou: “Esta é a palavra
que Yahweh falou por meio do seu servo Elias, o tesbita: ‘No
campo de Jezreel, os cães devorarão a carne de Jezabel; e os
seus restos mortais serão espalhados em um terreno em
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Jezreel, como esterco no campo, de modo que ninguém será


capaz de identificar: ‘Esta é Jezabel’”.

2 Reis 9.30-38

Jezabel, assim como o Faraó do Êxodo e Caim, é um exemplo claro de alguém


que é um terreno à beira do caminho. Ela é o terceiro exemplo de alguém que
tem o coração duro e insensível à semente divina da Palavra de Deus.

Existem outros exemplos

Claro que existem outros exemplos nas Sagradas Escrituras de pessoas ou


grupo de pessoas que eram terrenos à beira do caminho. Os fariseus são um
grande exemplo também que poderíamos citar. Eles viram Jesus ensinar ao
vivo e em cores, as palavras que hoje lemos eles ouviram diretamente do
Mestre (Lucas 11.37-54). Viram Jesus curar, expulsar demônios, operar
milagres, e ainda assim não creram em Jesus, justamente porque eram
terrenos à beira do caminho.

Será que você é assim?

Agora, permita-me te perguntar: será que você, querido leitor, é um terreno â


beira do caminho? Muito cuidado! Não vale a pena endurecer o coração a
semente do evangelho. Jesus disse:

“As que caíram à beira do caminho representam todos os que


ouvem, mas então chega o Diabo e tira a Palavra do coração
deles, para que não venham a crer e não sejam salvos.”

Lucas 8.12

Esse é o grande objetivo de Satanás, fazer com que você não creia na Palavra
de Deus, para que você não possa ser salvo e assim padecer a eternidade
inteira em sofrimento no inferno (1 Pedro 5.8). Ele é mau mesmo, já está
condenado, e quer levar o máximo de pessoas para a mesma condenação
(João 16.11; Apocalipse 12.1-12). Como já falado anteriormente, para tal ele
usa uma diversidade de estratégias e artifícios.
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Se o querido leitor (a) é uma pessoa que odeia cristãos, pastores, igreja, e não
gosta nem que alguém fale versículos da Bíblia Sagrada do seu lado, cuidado!
Esse é um forte indício que seu coração pode ser um terreno à beira do
caminho! O fim das pessoas que tem o coração duro e insensível a Palavra de
Deus é muito, muito triste (Apocalipse 20.11-15). Deus tem uma mensagem
para você:

Assim como proclama o Espírito Santo: “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não
endureçais o vosso coração (Hebreus 3.7-8a)”.

Agora, continue comigo, vamos ver agora o próximo tipo de terreno.


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CAPÍTULO 3

SOLO ROCHOSO – CORAÇÃO SUPERFICIAL

“Outra parte caiu em solo pedregoso e, não havendo terra


suficiente, nasceu rapidamente, pois a terra não era
profunda. Contudo, ao raiar do sol, as plantas se queimaram; e
porque não tinham raiz, secaram”.

Marcos 4.5-6

No evangelho segundo escreveu Lucas, vemos que em vez de “pedregoso”, o


autor usa a palavra “rochas” (Lucas 8.6). Mateus, por sua vez, no evangelho
que escreveu, em vez de “solo pedregoso”, preferiu usar “terreno rochoso”
(Mateus 13.5). A questão aqui é só nível de detalhamento que os autores
quiseram usar, Lucas e Mateus preferiram especificar que essas pedras eram
de fato rochas.

Esses solos rochosos são usualmente denominados solos litólicos, e acerca


deles explica Jarbas et al. (2010):

“Ocorrem em toda região semiárida, principalmente nas áreas


onde são encontrados afloramentos rochosos. São muito
pouco desenvolvidos, rasos, não hidromórficos (sem a
presença de água), apresentando horizonte A diretamente
sobre a rocha ou horizonte C de pequena espessura. São
normalmente pedregosos e/ou rochosos, moderadamente a
excessivamente drenados com horizonte A pouco espesso,
cascalhento, de textura predominantemente média, podendo
também ocorrer solos de textura arenosa, siltosa ou argilosa.
Podem ser distróficos ou eutróficos, ocorrendo geralmente em
áreas de relevo suave ondulado a montanhoso”.

(JARBAS ET AL, P.1, 2010)

O especialista ainda explica que a grande limitação desse solo é a pequena


espessura do solo devido a grande a sua grande presença de rochas. E é esse
o ponto que Jesus foca. Ele disse (Mateus 13.5-6): “Outra parte caiu em
terreno rochoso, onde havia uma fina camada de terra, e logo brotou, pois o
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solo não era profundo. Porém, quando veio o sol, as plantas se queimaram; e
por não terem raiz, secaram”.

Perceba que Jesus disse: “e logo brotou”. Isso mostra que não se trata de um
ouvinte endurecido, como no exemplo anterior. Essas pessoas até recebem a
Palavra. Jesus disse que “as plantas se queimaram”, o que nos indica que até
esse solo até pode frutificar um pouco, entretanto, devido à falta de
profundidade, é fatalmente atingida pela ação do sol.

Então veja, esse é um solo superficial. Quem são essas pessoas? O próprio
Senhor explica:

“O que foi semeado em terreno rochoso, esse é o que ouve a


Palavra e logo a aceita com alegria. Contudo, visto que não
tem raiz em si mesmo, resiste por pouco tempo. E, quando
por causa da Palavra chegam os problemas e as perseguições,
logo perde o ânimo”.

Mateus 13.20-21

Elienai Cabral (2005, p.20) explica que esse é o tipo de ouvinte que recebe
inicialmente bem a Palavra de Deus, mas tem pouca duração. A semente é
recebida, contudo não cria raízes. A pergunta é: por que essa pessoa não cria
raízes? A resposta é porque não busca o Senhor o suficiente. O pastor
Banning Liebscher (2017) em seu livro “Enraizado” explica:

“É no secreto que Deus nos encontra e desenvolve nosso


sistema de raízes, os elementos fundamentais para frutos que
durem.”

(LIEBSCHER, 2017, P.143)

É o que pensa também Josh McDowell (1989). Ele usa o termo “receita
espiritual” para nos mostrar a importância de passarmos tempo em particular
com Deus. E esse tempo com Deus deve ser usado como? Billy Graham
(1984) em seu livro “Paz com Deus” explica que essa receita espiritual consiste
em:
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1) Leitura da Bíblia: Devemos ler a Bíblia diariamente. É um de nossos


maiores privilégios. Nossa vida espiritual necessita de alimento. Que tipo
de alimento? Alimento espiritual. Onde encontrar esse alimento
espiritual? Na Bíblia, a Palavra de Deus (Hebreus 4.12). A Bíblia revela
Cristo, que é o Pão da Vida de nossa alma faminta e a Água da Vida ao
seu coração sedento (João 6.35). Se não nos servirmos do alimento
espiritual diário, morreremos de fome e perderemos a vitalidade
espiritual (1 Pedro 2.2). Noventa e cinco por cento das dificuldades que
experimentamos como cristãos podem ser atribuídas à falta do estudo e
da leitura da Bíblia (GRAHAM, 1984, p.157). À medida que ler, o Espírito
Santo esclarecerá as passagens para nós, Ele elucidará as palavras
difíceis e tornará claros os sentidos obscuros (1 João 2.20,27). Mesmo
que não nos lembremos de tudo que lemos, nem compreendamos tudo,
temos que continuar lendo. A própria prática da leitura exercerá um
efeito purificador em nossa mente e em nosso coração (Efésios 5.26;
João 15.3). Não deixe que nada substitua esta prática diária. As
Escrituras decoradas podem lhe ocorrer quando não estiver de posse da
Bíblia — em noites de insônia, ao dirigir o carro, viajar, quando tiver que
tomar em um instante uma importante decisão (Salmos 119.11,105). A
Bíblia consola, orienta, corrige, encoraja — tudo que precisamos está lá
(2 Timóteo 3.16)
2) Oração: Orar é conversar com Deus. Nossas orações podem ser
vacilantes a princípio, talvez sejamos desajeitados e confusos, mas o
Espírito Santo irá nos ajudar e instruir (Romanos 8.26). Todas as
orações que fizermos serão respondidas (Jeremias 33.3). Algumas
vezes a resposta será "Sim", outras vezes "Não", e às vezes
"Espere", mas nós sempre obteremos uma resposta (1 Samuel
23.2,5,9; 2 Samuel 7.1-17). Nós podemos orar a qualquer hora, em
qualquer lugar: Lavando louça, trabalhando no escritório, na loja, no
carro e até na prisão (Atos 16.25-26; 1 Timóteo 2.8)! Tanto Graham
(1984) quanto McDowell (1989) nos recomendam a separar um
momento específico do dia, todos os dias, para orar e meditar na
Palavra de Deus, o que está em conformidade com o ensinamento
P á g i n a | 48

de Jesus (Mateus 6.11) É como McDowell (1989) disse, um


relacionamento se desenvolve quando dedicamos tempo para ele.
3) Jejum: Mahesh Chavda (1998) em seu livro “O poder secreto do
jejum e da oração” explica que o jejum, que é a abstenção total ou
parcial de alimentos por um período específico com propósitos
espirituais, pode nos ajudar a vencer as tentações, a nos
purificarmos do pecado, a nos fortalecermos em Deus, a crescermos
no entendimento espiritual e na revelação divina (Lucas 4.1-13;
Daniel 9.3-5; Jonas 3.5-10; Salmos 109.24-28; 2 Coríntios 12.9-10;
Esdras 8.21-23; Jeremias 36.6). O jejum é algo muito precioso na
caminhada com Deus, e aliado com oração e leitura da Palavra de
Deus... É uma receita espiritual infalível.

Então para que nossas raízes cresçam precisamos ser diligentes na prática
dessa receita espiritual. Nossa perseverança em dedicar tempo a sós com
Deus com oração, palavra e jejum vai aprofundar as nossas raízes. As
pessoas que são solos rochosos, podem até ir para a igreja, mas quando em
casa, não dedicam tempo a sós com Deus, e perdem a oportunidade de
aprofundar suas raízes em Deus. Desse modo, quando vêm as provações e as
perseguições, essas pessoas não suportam e apostatam da fé. Sem raiz, o sol
queima completamente a planta.

Não obstante, preciso que você repare uma coisa:

“O que foi semeado em terreno rochoso, esse é o que ouve a


Palavra e logo a aceita com alegria. Contudo, visto que não
tem raiz em si mesmo, resiste por pouco tempo. E, quando por
causa da Palavra chegam os problemas e as perseguições,
logo perde o ânimo”.

Mateus 13.20-21

“Entretanto, visto que não têm raízes em si mesmas, são de


pouca perseverança. Ao surgir alguma tribulação ou
perseguição por causa da Palavra, rapidamente sucumbem”.

Marcos 4.17
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Percebeu o grifo? Jesus disse que por causa da Palavra vêm perseguições e
problemas! Por que isso acontece?

1 – Acontecerá de qualquer jeito. Com a entrada do pecado na humanidade


(Gênesis 3), toda criação é prejudicada, e o mal toma forma de maneira
generalizada na terra12. Devido a isso, todas as pessoas vão enfrentar
problemas, independente de sua fé em Cristo. Todo mundo passa por
problemas, quem crê em Jesus e quem não crê. Uma amostra disso foi um
ensino de Jesus, que diz o seguinte:

“Assim, todo aquele que ouve estas minhas palavras e as


pratica será comparado a um homem sábio, que construiu a
sua casa sobre a rocha. E caiu a chuva, vieram as
enchentes, sopraram os ventos e bateram com violência
contra aquela casa, mas ela não caiu, pois tinha seus
alicerces na rocha. Pois, todo aquele que ouve estas minhas
palavras e não as pratica é como um insensato que construiu a
sua casa sobre a areia. E caiu a chuva, vieram as enchentes,
sopraram os ventos e bateram com violência contra aquela
casa, e ela desabou. E grande foi a sua ruína”.

Mateus 7.24-27

Nesse ensino, a chuva/enchentes/ventos são símbolos de problemas, aflições,


e dificuldades. Perceba que a casa de quem obedece Jesus (sobre a rocha) e
a casa de quem não obedece Jesus (sobre a areia) foi atingida por esses
males. Entretanto, diante das aflições da vida, os que obedecem a Jesus
permanecem firmes, enquanto que os que não obedecem não suportam, e
“desabam”.

12
Caso o leitor tenha curiosidade nessa questão do mal no mundo de hoje, abordo
isso no e-book (2020, p.83-94) “Dois caminhos e uma escolha: uma questão de vida
ou morte”. Lá explico o porquê de todo o mal que vemos no mundo hoje. Muitas
pessoas ao se deparar com a maldade nesse mundo, culpam a Deus. Será que isso é
certo? Caso o leitor se interesse, fica o convite.
P á g i n a | 50

Vale ressaltar também que quando alguém entrega sua vida a Jesus e vive em
comunhão com Ele, o Senhor permite que essa pessoa passe por provações,
com propósitos positivos e divinos por trás (Provérbios 16.4). Está escrito:

“Estamos certos de que Deus age em todas as coisas com o


fim de beneficiar todos os que o amam, dos que foram
chamados conforme seu plano”.

Romanos 8.28

Na vida de quem ama a Deus, todas as coisas cooperam para seu benefício.
Todas! Até as provações. As provações na vida de José foram permitidas por
Deus no intuito de capacitá-lo para ser o governador do Egito (Gênesis 37-47).
As provações na vida de Davi foram permitidas pro Deus no intuito de capacitá-
lo para ter sido o grande rei que foi (1 Samuel 17 – 2 Samuel 10). Salomão
disse:

“As provações e os açoites purificam as profundezas da alma”.

Provérbios 20.30b

Existem falhas e impurezas em nosso caráter que só podem ser purificadas


mediante provações, logo, é necessário que alguém temente a Deus passe por
algumas provações ocasionalmente, no sentido de ser purificado e
aperfeiçoado pelo Senhor. Então se você recebeu a semente divina de bom
grado, e logo aconteceu o que Jesus falou: “Ao surgir alguma tribulação ou
perseguição por causa da Palavra”. Mantenha a calma, não desista, essa
tribulação tem propósito divino por trás. Quando a tribulação por causa da
Palavra não vem desse modo, vem através de outro, que vou falar logo a
seguir.

2 – Inimigos da semente. Segundo Charles Ryrie (1925, p.238-239), quando


nós nos comprometemos a obedecer a semente do evangelho, três inimigos se
levantam para nos abater e fazer a semente morrer dentro de nós: o mundo, a
carne e o diabo.

2.1 – Mundo: Eliezer Silva (2009) explica que mundo é o sistema constituído de
pessoas, ideias, leis, instituições, comportamentos e atividades conduzidos por
P á g i n a | 51

Satanás. O “sistema do mundo”, conforme denominado pela Bíblia, além de


manipular, subjugar e manter os seres humanos sob o domínio de Satanás,
também objetiva desviar, por todos os meios, os crentes dos caminhos do
Senhor (1 João 5.4,5). No princípio, Deus criou o mundo perfeito e bom
(Gênesis 1.31). Todavia, lá no Éden, Satanás, em forma de serpente, induziu
Eva a desejar ser igual a Deus (Gênesis 2.15-17; 3.1-6; 2 Coríntios 11.3; 1
Timóteo 2.14). Foi a partir desta infeliz circunstância que todos os
descendentes de Adão tornaram-se internamente portadores de uma natureza
pecaminosa, e externamente opositores de Deus (Romanos 5.12; Tiago
1.14,15).

Com a contaminação do pecado, o mundo (1 João 5.19) tornou-se um sistema


maligno (Efésios 2.2; Gálatas 1.4; 2 Coríntios 4.4), controlado por Satanás, o
príncipe deste mundo (Mateus 4.8; João 14.30; 16.11; 2 Timóteo 2.26; 1 João
5.19). Ele exerce autoridade sobre grande parte das atividades típicas deste
mundo e chefia um sistema invisível de maldade e destruição, no qual anjos
malignos e homens ao seu serviço fazem direta oposição a Deus (Atos 8.4), à
sua Palavra e ao seu povo (1 Pedro 1.18,19; Atos 26.18). Isto pode ser
claramente visto na mentalidade mundana dos nossos dias, expressa pelas
ideias, opiniões, posicionamentos, leis, objetivos e metas do povo, dos
governos, das nações e até mesmo de "certas igrejas" semelhantes à
Laodicéia (Apocalipse 3.14-18; 2 Coríntios 4.4; 2 Timóteo 3.1-5).

2.2 – Carne: Osiel Gomes (2017) explica que carne é a palavra utilizada para
designar a natureza adâmica e pecadora que domina o velho homem e o leva a
praticar as obras da carne relacionadas em Gálatas 5.19-2113. A palavra carne,
no aspecto teológico, denota a fragilidade humana e a sua tendência ao
pecado. Ela é a sede dos apetites carnais (Mateus 26.41). Existe um conflito
espiritual interior que envolve a totalidade da pessoa que quer obedecer a

13
“Ora, as obras da carne são manifestas: imoralidade sexual, impureza e
libertinagem; idolatrias e feitiçarias; ódio, discórdia, ciúmes, ira, egoísmo, dissensões,
facções e inveja; embriaguez, orgias e tudo quanto se pareça com essas
perversidades, contra as quais vos advirto, como já vos preveni antes: os que as
praticam não herdarão o Reino de Deus”!
P á g i n a | 52

Deus, que recebe a semente divina. Nossa carne quer nos levar a completa
submissão às más inclinações da ‘carne’, o que significa voltar ao domínio do
pecado; nosso espírito quer nos levar a uma plena submissão à vontade e a
pessoa do Espírito Santo (Romanos 8.4-14). O campo de batalha está na
própria pessoa, e o conflito continuará por toda a vida terrena. A carne quer
pecar, e o espírito quer se santificar (Romanos 7.7-25; 2 Timóteo 2.12;
Apocalipse 12.11).”

2.3 – Diabo: no livro “Teologia Sistemática Pentecostal” (2008, p.449) Wagner


Gaby explica que o termo “diabo” é oriundo de diabolos (gr.), denota
“acusador”, “caluniador”. Este termo encontra-se somente no Novo Testamento
por 36 vezes. Segundo a Bíblia Sagrada, o Diabo é a personificação do mal e
inimigo de Deus. Ele é descrito como o Tentador (Mateus 4.3), o grande
mentiroso (João 8.44) o deus deste século (2 Coríntios 4.4), que tem permissão
condicionada por Deus para reinar até ao Juízo Final quando será lançado no
Lago de Fogo (Apocalipse 20.7-10). Ele é chamado de Dragão em Apocalipse
12.3, em comparação à sua astúcia, malignidade e voracidade. Em Apocalipse
12.9, o Dragão é referido como a antiga serpente, por causa da sua astúcia,
aliada à sua natureza destruidora. Ele é o tentador14. Satanás também é
chamado de Príncipe deste mundo (João 12.31; 14.30; 16.11), Príncipe das
potestades do ar (Efésios 2.2), Maligno (Mateus 13.19; 1 João 2.13), deus
deste século (2 Coríntios 4.4), Anjo de luz (2 Coríntios 11.14), Apolíon
(“destruidor”, Apocalipse 9.11).

Inimigos da semente

Esses são os inimigos da semente. Então quando Jesus diz que por causa da
Palavra, viriam problemas e perseguições são em boa parte devido a esses
três inimigos. A perseguição por causa da Palavra é viabilizada pelo mundo,
pois o mundo jaz no maligno, e por isso, odeia aqueles que amam a Deus (1
João 5.19; João 15.15-20). Paulo disse:

14
Tentar significa literalmente incitar à prática do pecado, provar ou testar (Mateus 4.3;
1 Tessalonicenses 3.5).
P á g i n a | 53

“De fato, todos os que desejam viver piedosamente em Cristo


Jesus serão perseguidos”.

2 Timóteo 3.12

Alguns problemas por causa da Palavra são viabilizados pelo Diabo e pela
carne, os quais a todo o momento vão tentar te prender ao pecado e te afastar
de Deus, com inúmeras táticas e estratégias (1 Pedro 5.8; Gálatas 5.17).

“O que foi semeado em terreno rochoso, esse é o que ouve a


Palavra e logo a aceita com alegria. Contudo, visto que não
tem raiz em si mesmo, resiste por pouco tempo. E, quando por
causa da Palavra chegam os problemas e as perseguições,
logo perde o ânimo”.

Mateus 13.20-21

Bom, agora que você já sabe o porquê de problemas e perseguições “por


causa” da Palavra, vamos aos exemplos de pessoas nas Escrituras Sagradas
que foram terrenos rochosos, corações superficiais, que até receberam e
aceitaram com alegria a Palavra, mas quando vieram os problemas, desistiram:

EXEMPLO 1: ASA

Antes, deixa eu te contextualizar...

O primeiro exemplo de alguém que tinha o coração superficial à semente divina


é o rei Asa. Israel após o período dos juízes se torna uma monarquia. O país
de Israel teve 4 reis: Saul, Davi, Salomão e Roboão (p.35-36). No reinado de
Roboão, as dez tribos do Norte sob a liderança de Jeroboão se rebelam contra
o rei e se unem constituindo um novo reinado – o do Norte, com a
denominação de Israel. No Sul ficam apenas duas tribos apoiando o filho de
Salomão, Roboão, a de Benjamim e a de Judá, constituindo o Reino do Sul sob
a denominação de Judá (1 Reis 12.16-33, p.36).

Lembra que trabalhamos anteriormente com Acabe e Jezabel? Eles eram um


rei e uma rainha de um dado período do reinado do Norte – Israel. O indivíduo
que vamos trabalhar agora foi um rei também, assim como Acabe, só que do
reinado do Sul – Judá.
P á g i n a | 54

Asa era filho do rei Abias. Quando seu pai morreu, ele assumiu o trono de Judá
(2 Crônicas 14.1).

Pronto, agora vem à relação com a parábola...

Lembra que o terreno a beira do caminho representa alguém de coração duro e


insensível? O terreno rochoso já é diferente, representa um coração que até
recebe a palavra e dá frutos, entretanto é superficial, e quando vem as
provações e perseguições, a semente divina morre no coração, e a pessoa
deixa de seguir a Deus.

Não sabemos como foi que a semente foi plantada no coração do rei Asa,
especulo que pode ter sido através de alguém próximo que temia a Deus, mas
a Palavra de Deus não nos dá essa informação. Entretanto, pelos frutos que o
rei Asa deu, fica subtendido que houve uma semeadura. Veja:

“Asa agiu com bondade e justiça diante de Yahweh, de


modo que agradou ao SENHOR, seu Deus. Porque aboliu os
altares dos deuses estrangeiros e os cultos idólatras que
normalmente ocorriam nos montes. Também despedaçou as
colunas de adoração pagã chamadas de Asherá, postes-ídolos
consagrados a Astarote. Determinou ao povo de Judá que
buscasse a Yahweh, o SENHOR Deus de seus pais, e que
obedecesse a Torá, Lei, e os mandamentos. Da mesma forma
proibiu os cultos pagãos que costumavam ser realizados nos
lugares altos e os altares do incenso; e houve grande paz
durante seu reinado. Construiu cidades fortes em Judá, pois
havia paz da terra, e não houve guerra contra ele naqueles
anos, porquanto Yahweh o abençoara com descanso.

Ordenou, pois, a Judá: “Edifiquemos estas cidades, cerquemo-


las de muros e torres, grossos portais e ferrolhos, enquanto a
região ainda está em paz diante de nós, pois temos procurado
obedecer a Yahweh, o SENHOR, nosso Deus. Ora, nós o
buscamos, e ele nos concedeu paz de todos os lados. Então
eles construíram e muito prosperaram naquela época”.

2 Crônicas 14.2-7
P á g i n a | 55

Viu quantos frutos Asa deu? Aboliu os altares dos deuses estrangeiros e os
cultos idólatras que normalmente ocorriam nos montes (1), despedaçou as
colunas de adoração pagã (2), determinou ao povo de Judá que buscasse ao
Senhor e obedecesse seus mandamentos escritos (3), proibiu os cultos pagãos
que costumavam ser realizados nos lugares altos e os altares do incenso (4) e
construiu cidades fortes em Judá (5). É como Jesus disse:

“Outra parte caiu em solo pedregoso e, não havendo terra


suficiente, nasceu rapidamente...”

Marcos 4.5

A semente frutificou rapidamente. Asa deu frutos rapidamente. E não parou


por aí. Zerá, o etíope, decidiu atacar as cidades de Judá com um exército de
um milhão de soldados e trezentos carros de guerra (2 Crônicas 14.9). Então, o
rei Asa partiu contra Zerá; e ordenaram aos seus exércitos que se
preparassem para a batalha (2 Crônicas 14.10). Em seguida, Asa clamou ao
Senhor, dizendo:

“Ó SENHOR, tu és nosso Deus; que o homem não prevaleça


contra a tua vontade!”

2 Crônicas 14.11

O que aconteceu?

“E Yahweh, o SENHOR, derrotou os cuchitas diante dos


olhos de Asa e perante todo Judá, e assim, se pôs a fugir em
desespero toda aquela multidão de etíopes. Asa e as tropas
que o acompanhavam perseguiram os desgarrados cuchitas
até Guerar, Gerar. Então a mortandade foi enorme, tombaram
todos os etíopes que faziam parte daquele grande exército;
porquanto foram perseguidos e destruídos pelo próprio
SENHOR, diante do seu exército. E os homens de Judá
levaram dali muitas e valiosas riquezas como despojo de
guerra. Depois atacaram e invadiram todas as cidades que
ficavam perto de Gerar, porquanto todos os moradores desses
lugares estavam com um terrível medo de Yahweh. E os
soldados de Asa simplesmente recolheram todas as riquezas
P á g i n a | 56

que havia nessas cidades. Atacaram ainda as tendas dos que


cuidavam do gado e levaram grande número de cabeças de
ovelhas e camelos, e retornaram a Jerusalém”.

2 Crônicas 14.12-15

Pois bem, depois desse episódio, o Senhor usou um profeta para semear no
coração de Asa e do povo de Judá (2 Crônicas 15.1-7). Deus usou o profeta
Azarias para dizer ao povo (v.2): “Eis que Yahweh, o SENHOR está convosco
sempre que estais com ele; portanto, se o buscardes, ele se permitirá
encontrar; no entanto, se o abandonardes, de igual modo ele vos deixará”.
Outra palavra que também foi dada foi (v.7): “Todavia, sede fortes e confiantes,
e não desfaleçam as vossas mãos, porque a vossa obra terá recompensa”!

Perceba, Asa era um solo rochoso. Então ele até recebe a palavra e
frutifica. A Bíblia diz que quando Asa ouve essa mensagem, ele toma um
novo ânimo (2 Crônicas 15.8), e então reúne o povo em Jerusalém, oferece
sacrifícios a Deus, estabelece uma aliança com o povo de fidelidade a Deus e
ainda exonera sua avó Maaca da posição de rainha-mãe, pois ela era
extremamente idólatra (2 Crônicas 15.9-16).

Mas o leitor lembra qual é o problema da pessoa que é um solo rochoso?


Jesus disse:

“Contudo, ao raiar do sol, as plantas se queimaram; e


porque não tinham raiz, secaram”.

Marcos 4.6

“O que foi semeado em terreno rochoso, esse é o que ouve a


Palavra e logo a aceita com alegria. Contudo, visto que não
tem raiz em si mesmo, resiste por pouco tempo. E, quando
por causa da Palavra chegam os problemas e as perseguições,
logo perde o ânimo”.

Mateus 13.20-21

O problema vem agora. Por causa de sua obediência a Palavra, chegam os


problemas e perseguições. Certo dia, Baasa, rei das tribos do Norte, invadiu
P á g i n a | 57

Judá e começou a cercar de muralhas a cidade de Ramá, para assim controlar


todo o movimento que passava pela estrada que ia até Jerusalém (2 Crônicas
16.1). Isso foi demais para o coração superficial de Asa. Em vez de confiar em
Deus, como fez contra os etíopes, Asa decide recorrer a Ben-Hadade:

“Por esse motivo, Asa ajuntou o ouro e a prata do tesouro da


Casa de Yahweh e do seu próprio palácio e os enviou a Ben-
Hadade, rei de Aram, Síria, que exercia sua soberania a partir
da cidade de Damasco, com uma mensagem nos seguintes
termos: “Celebremos um pacto entre mim e ti, como houve
entre meu pai e teu pai. Eis que te mando ouro e prata como
gesto de boa vontade; vai e anula a tua aliança com Baasa,
rei de Israel, para que se retire das minhas terras!” Bem-
Hadade aceitou a proposta do rei Asa e enviou os capitães dos
seus exércitos contra as cidades de Israel; e feriu a Ion,
Ijom, Dan, Dã, Avel-Máim, Abel-Maim e todas as cidades-
armazéns de Naftali, Lutador. Assim que Baasa ouviu essas
notícias, desistiu de fortificar Ramá e interrompeu sua
obra”.

2 Crônicas 16.2-5

Ele conseguiu livrar Judá da invasão de Israel? Conseguiu, mas não do jeito
apropriado. Como rei de uma nação consagrada ao Senhor, ele deveria ter
recorrido a Deus, como já havia feito contra os etíopes. Essa falta de confiança
em Deus é uma amostra da superficialidade do coração de Asa à semente
divina. Quando o sol raiou, a semente secou, devido à falta de profundidade do
solo.

“Contudo, ao raiar do sol, as plantas se queimaram; e porque


não tinham raiz, secaram”.

Marcos 4.6

Não tinha raízes profundas em Deus, provavelmente devido à falta de uma vida
no secreto com Deus (LIEBSCHER, 2017).

“O que foi semeado em terreno rochoso, esse é o que ouve a


Palavra e logo a aceita com alegria. Contudo, visto que não
P á g i n a | 58

tem raiz em si mesmo, resiste por pouco tempo. E, quando por


causa da Palavra chegam os problemas e as perseguições,
logo perde o ânimo”.

Mateus 13.20-21

Resistiu por pouco tempo, quando vieram os problemas e perseguições por


causa da Palavra rapidamente ele perdeu o ânimo. O resto da história de Asa é
só uma evidência de que a semente divina já tinha secado no coração. Deus
envia um profeta para repreender Asa, pois deveria ter confiado em Deus (2
Crônicas 16.7-9). Asa respondeu da seguinte maneira:

“Entretanto, o rei Asa se indignou contra o vidente e suas


profecias e o lançou no cárcere, no tronco, porque se
enfurecera contra a pessoa de Hanani por causa do que havia
profetizado; na mesma ocasião, castigou brutalmente
algumas pessoas do seu próprio povo.”

2 Crônicas 16.10

Aquele homem bom e temente a Deus simplesmente desapareceu. No final de


seu reinado ele acabou contraindo uma enfermidade muito grave nos pés, e
diante da possibilidade de buscar a Deus pedindo por cura, não o fez, porque
era um solo rochoso, superficial, com o raiar do sol a semente que havia
sido plantada já havia secado.

“No trigésimo nono ano do seu reinado, caiu Asa doente dos
pés; a sua enfermidade era em extremo grave; contudo, ainda
que estivesse passando muito mal e fosse mortal seu
estado, não buscou socorro em Yahweh, o SENHOR, mas
tão somente nos médicos de sua confiança”.

2 Crônicas 16.12

Desse modo, o primeiro exemplo de um coração superficial foi Asa, rei de


Judá.

EXEMPLO 2: JOÁS

Antes, deixa eu te contextualizar...


P á g i n a | 59

Nesse exemplo, continuamos no reinado do sul – Judá. Assim como Asa, Joás
foi um rei. Depois de Asa, vieram alguns reis, e entre esses reis preciso falar do
rei Jeorão (2 Crônicas 21). Esse rei se casou com a filha de Acabe (Atalia), e
com isso se perpetuou na prática do mal.

“Ele seguiu o caminho dos reis de Israel, como fazia a família


de Acabe, porque que era casado com a filha de Acabe e fazia
o que era mau diante de Yahweh, o SENHOR”.

2 Crônicas 21.6

Em alguns anos Jeorão contraiu uma enfermidade incurável e faleceu (2


Crônicas 21.18-19). Seu filho Acazias passou a reinar, e reinou apenas um
ano, pois foi assassinado por Jeú (2 Crônicas 22.9). Quando Atalia, mãe de
Acazias, foi informada que seu filho havia sido assassinado, decidiu usurpar o
trono de Judá e assassinar toda a família real de Judá15, o que implicaria na
morte dos filhos de Acazias - seus próprios netos (2 Crônicas 22.10-11). Mas
nem tudo estava acabado, a Bíblia nos relata:

“Entretanto, Iehoshaveat, Jeosabeate ou Jeoseba, filha do rei


Jeorão, tomou um dos filhos do rei Acazias que iam ser
assassinados, e o refugiou num quarto, junto com sua ama.
Assim Jeoseba, filha do rei Jeorão, esposa do sacerdote
Joiada e irmã de Acazias, protegeu Joás de Atalia, de forma
que ela não conseguiu matá-lo. Assim, Joás passou seis
anos escondido com elas na Casa de Deus, enquanto Atalia
governava a nação”.

2 Crônicas 22,10-12

15
Jeú assassinou muitos familiares de Acabe, e Atalia era filha de Acabe, ou seja,
seus familiares estavam sendo mortos (2 Crônicas 22.7). Ela não aceitou a execução
de toda a Casa Real de Acabe, seu pai, no norte do país e então mandou assassinar
todos os membros da Casa Real de Davi ao Sul, o que implicou na morte dos próprios
netos e acabou assumindo o trono de Judá. Ela era uma mulher má (2 Crônicas 24.7).
Provavelmente fez isso motivada pela vingança e talvez pela ambição de usurpar o
trono do reino do Sul.
P á g i n a | 60

Um filho de Acazias chamado Joás sobreviveu, e ficou seis anos escondido na


Casa de Deus enquanto Atalia governava. No sétimo ano, o sacerdote Joiada,
apoiado por outras pessoas fiéis a Deus, coroou o menino Joás e executou a
mulher má e ambiciosa que havia usurpado o trono16 (2 Crônicas 23.1-15).

Com isso, Joás começou a reinar com sete anos de idade, e reinou quarenta
anos em Jerusalém (2 Crônicas 24.1).

Pronto, agora vem à relação com a parábola...

Vamos ver que Joás era um solo rochoso, ele recebia a Palavra e
frutificava, entretanto, como não tinha raízes, na chegada das provações
ele desistiria. Como o pai de Joás tinha morrido, o sacerdote Joiada assumiu
essa figura paterna na vida de Joás. Partindo da premissa que Joiada era
temente a Deus (2 Crônicas 23.1), podemos inferir que foi ele quem semeou
a semente divina no coração de Joás. E a Bíblia diz:

“Joás agiu e viveu de modo agradável ao SENHOR durante


todos os dias do sacerdote Joiada”.

2 Crônicas 24.2

As provas de que a semente plantada no coração de Joás havia sido recebida


está nesse versículo destacado acima e nos posteriores. Joás decidiu fazer
uma reforma na casa de Deus, e foi dedicado nessa questão (2 Crônicas 24.4).

“Depois disso, Joás decidiu reformar a Casa de Yahweh, o


SENHOR. Ele reuniu os sacerdotes e os levitas, e lhes
ordenou: “Saí pelas cidades de Judá e recebei a prata, o
dinheiro de imposto que o povo deve pagar para os consertos
que são feitos todos os anos nas dependências do templo do
vosso Deus. E fazei isto ligeiro!” Todavia, os levitas ficaram

16
Ela não tinha direito de reinar em Judá, por isso é visto o termo “usurpou”. Foi dito
por Deus que o reino do Sul, Judá, seria reinado pela descendência de Davi, e Atalia
não era descendente de Davi (1 Reis 11.13; 2 Crônicas 21.7). Ela assassinou os
descendentes de Davi. O que Atalia não sabia é que um dos seus netos, da
descendência real, escapou da matança. Um menino de um ano de idade foi
escondido por sua tia e um sacerdote.
P á g i n a | 61

pensativos e não se apressaram em cumprir as ordens do


rei. Então o rei chamou Joiada, o chefe, e lhe indagou: “Por
que não obrigaste os levitas a trazerem de Judá e de
Jerusalém o imposto ordenado por Moisés, servo de Yahweh, à
comunidade de Israel, para Tenda da Arca da Aliança, a Casa
da Presença de Deus e do Testemunho? 7De fato, Atalia,
aquela mulher malvada e pagã e seus filhos haviam arruinado
a Casa de Yahweh, chegando a utilizar todos os objetos
sagrados do templo do SENHOR em seus próprios cultos e
rituais aos baalins. Assim, por ordem do rei, construíram uma
espécie de arca e a colocaram do lado de fora, à entrada da
Casa de Yahweh, o SENHOR. Fez-se a seguir uma
convocação geral em Judá e em Jerusalém para que
trouxessem ao SENHOR o imposto que Moisés, servo de
Deus, havia instituído e exigido de todo Israel no
deserto. Todos os líderes e todo o povo obedeceram com
alegria as ordens do rei e trouxeram as suas contribuições,
colocando-as na caixa até que a mesma ficou lotada. Sempre
que os levitas levavam a tal arca até os supervisores do rei e
estes observavam que havia muito dinheiro, o secretário real e
o oficial do sumo sacerdote tinham a responsabilidade de
esvaziar a caixa e a reconduziam ao ponto de partida.
Procedendo assim regularmente, todos os dias, ajuntaram
grande soma de dinheiro. O rei e Joiada entregavam a prata
acumulada aos encarregados da obra do templo do SENHOR e
estes tinham o dever de pagar todos os salários dos pedreiros
e carpinteiros que se dedicavam aos trabalhos de reforma da
Casa de Yahweh, como também os obreiros que eram
especialistas em trabalhar em ferro e bronze nas obras do
templo do SENHOR. Os homens encarregados do trabalho
eram leais e diligentes, o que garantiu o progresso da obra de
reforma. Eles reconstruíram o templo de Deus de acordo
com o modelo original e ainda o reforçaram. Assim que
concluíram, trouxeram o restante de toda a prata arrecadada e
apresentaram diante do rei e de Joiada, e com ela foram feitos
utensílios para a Casa de Yahweh, o SENHOR; objetos para o
serviço religioso e para os holocaustos, além de tigelas e
P á g i n a | 62

outros utensílios de ouro e de prata. Enquanto Joiada viveu,


sacrifícios e holocaustos foram oferecidos continuamente na
Casa de Yahweh, o SENHOR”.

2 Crônicas 14.4-14

Olha quanta coisa boa ele fez para Deus. Entretanto, Joás era um solo
rochoso. Provavelmente, o rei não tinha uma vida no secreto com Deus.
Provavelmente não se dedicava na oração, no jejum e na leitura da Palavra.
Assim, ele não deu as condições para o Senhor aprofundar suas raízes,
permanecendo superficial. Banning Liesbcher (2017), comentando Mateus 6.6
escreveu:

“Permita que o Senhor o encontre em seu lugar secreto e crie


suas raízes no oculto. É muito importante ter uma história
sozinho com Deus, uma que ninguém mais saiba”.

(LIESBCHER, 2017, p.148)

O autor ainda explica que a negligência nessa vida íntima com Deus pode ser
fatal, o que se confirma quando analisamos pessoas que foram solos rochosos.
Como Joás não era desenvolvido com Deus era muito dependente de Joiada.
O tempo passou, e algo aconteceu:

“Mas, o tempo passou, e Joiada envelheceu e morreu em idade


avançada. Ele tinha cento e trinta anos quando
faleceu. Sepultaram-no na Cidade de Davi com os grandes
reis, porquanto havia realizado o bem para todo o povo de
Israel, especialmente para com Deus e sua Casa”.

2 Crônicas 24.15-16

Essa foi a grande provação da vida de Joás, ter que governar sem o sumo
sacerdote Joiada guiando-o.

“Outra parte caiu em solo pedregoso e, não havendo terra


suficiente, nasceu rapidamente, pois a terra não era
profunda. Contudo, ao raiar do sol, as plantas se queimaram; e
porque não tinham raiz, secaram”.
P á g i n a | 63

Marcos 4.5-6

Esse foi o sol que raiou na planta que era Joás. A morte do sacerdote
Joiada. O coração de Joás era um terreno superficial. Como não tinha
raiz, esse pequeno “problema” foi o suficiente para secar a semente no
coração de Joás. O rei e consequentemente todo o povo então abandonaram
a Casa de Deus, e voltaram a prestar culto e adoração aos totens pagãos e
aos ídolos de todas as formas (2 Crônicas 24.18). Deus, por sua vez, usou
Zacarias, filho do sacerdote Joiada para repreender o rei e o povo:

“Então o Espírito de Deus apoderou-se de Zehariá ben


Iehoiadá, Zacarias filho de Joiada, o sacerdote, o conduziu à
frente do povo e disse: “Assim diz Deus: ‘Por que transgredis
os mandamentos de Yahweh, o SENHOR, de tal maneira que
vos é impossível prosperar? Portanto, já que abandonastes o
Eterno, ele também vos fará experimentar o seu afastamento
de vós!”

2 Crônicas 24.20

Joás responde com um ato que só evidencia que a semente divina em seu
coração havia secado. Joás e o povo não quiseram ouvir a verdade e
conspiraram contra o profeta e o apedrejaram no pátio da Casa de Deus, por
ordem do próprio rei. Assim o rei Joás não se lembrou com gratidão de toda a
bondade que Joiada, pai de Zacarias, lhe havia dedicado, e mandou executar
sumariamente seu filho, o qual exclamou pouco antes de morrer: “Que Deus
contemple a tua injustiça e te retribua (2 Crônicas 24.21-22)!”

Algum tempo depois Joás se envolveu em uma guerra contra a Síria. Quando
os sírios partiram de volta para suas terras, largaram Joás gravemente ferido;
então seus servos conspiraram contra ele por causa do sangue do filho do
sacerdote Joiada, e o assassinaram em seu próprio leito. Assim morreu o rei
Joás e foi sepultado na Cidade de Davi, todavia, não nos túmulos dos grandes
reis da nação (2 Crônicas 24.25).

Joás é um exemplo claro de um solo rochoso, alguém de coração superficial,


que até recebe a Palavra, entretanto diante dos problemas e perseguições,
desiste.
P á g i n a | 64

EXISTEM OUTROS EXEMPLOS

Claro que podem existir outros exemplos dentro das Sagradas Escrituras de
pessoas que são solos rochosos. Acredito que Joás e Asa são os exemplos
mais claros, entretanto é plausível pensar que podem existir outros exemplos, e
o leitor com a leitura da Bíblia Sagrada pode identificar exemplos fora os
citados aqui.

Será que você é assim?

Agora, permita-me te perguntar: será que você, querido leitor, é um terreno


rochoso? O Dr. Pommerening (A Obra da Salvação — Jesus Cristo é o
caminho, a verdade e a vida, 2017) explica que é comum na vida com Deus
passarmos por tentação, aflição, angústia, provação e perseguição. Foi o
Senhor Jesus que nos disse que no mundo teríamos aflições (João 16.33).
Entretanto, essas coisas não podem nos fazer desistir da caminhada, porque
Jesus foi claro:

“E sereis odiados de todos por causa do meu nome, mas


aquele que perseverar até o fim, esse será salvo”.

Mateus 10.22, JFA Atualizada

E perseverar segundo Pommerening (2017) é justamente permanecer, resistir,


não desistir da vida com Jesus Cristo em tempos de tentação, aflição, angústia,
provação e perseguição. O grande mestre Antônio Gilberto (2005, O Fruto do
Espírito — A plenitude de Cristo na vida do crente) explica que ninguém chega
ao fim desta vida sem uma boa dose de sofrimento. Isto faz parte de nossa
aprendizagem (Salmos 119.71). As provações funcionam como disciplina do
Pai divino e amoroso em prol de nossa santidade (Hebreus 12.7-11). Ainda
segundo o mestre, duas ilustrações nos mostram a importância das provações:

a) O exemplo da planta. Uma planta nova, submetida a intensos ventos,


desenvolve raízes fortes e profundas. Os vendavais desta vida
contribuem para a pessoa fundamentar-se em Cristo como estas raízes
e ter um espírito submisso.
b) O exemplo da cruz. Muitos textos bíblicos nos revelam que o caminho
rumo ao céu inclui uma cruz. O apóstolo Pedro afirma: “Porque para isto
P á g i n a | 65

sois chamados, pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o


exemplo, para que sigais as suas pisadas” (1 Pedro 2.21).

Por isso se você é uma pessoa que desiste facilmente da caminhada com
Deus quando provações ou perseguições vêm sobre sua vida, cuidado! A
mensagem de Deus para você hoje é:

“Vocês precisam perseverar, de modo que, quando tiverem


feito a vontade de Deus, recebam o que ele prometeu”.

Hebreus 10.36

“Feliz é o homem que persevera na provação, porque depois


de aprovado receberá a coroa da vida que Deus prometeu aos
que o amam”.

Tiago 1.12

Persevere! Só quem perseverar até o fim nos caminhos do Senhor será salvo
(Mateus 10.22). Busque a Deus mediante a receita espiritual (oração, jejum e
estudo da Palavra – p.46-47), pois assim você estará aprofundando suas
raízes em Deus. A recompensa para quem persevera até o final é muito
grande, fica firme (2 Timóteo 4.8; 2 Crônicas 15.7)! Não desiste da caminhada
não! Não vale a pena desistir da caminhada com Deus!
P á g i n a | 66

CAPÍTULO 4

ENTRE ESPINHOS – CORAÇÃO SUFOCADO

“Outra parte caiu entre os espinhos. Estes, ao crescer,


sufocaram as plantas.”

Mateus 13.7

Segundo Cabral (2005, p.24), na língua grega a palavra “espinho” é akantha,


que se refere a “planta espinhosa”, típica das terras do Oriente Médio. É o que
confirma Timothy A. Rowe (2018) em um de seus artigos:

“Israel nos tempos bíblicos tinha uma grande variedade dessas


plantas espinhosas por toda a sua terra. Na verdade, os
viajantes chamavam a Terra Santa de "terra dos espinhos".
Rosas espinhosas abundam nas encostas mais baixas de
Hermon, enquanto os vales subtropicais da Judéia são
sufocados em muitos lugares pelo lícium espinhoso. Existem
mais de 125 espécies de espinhos e cardos que são
encontrados em toda Israel e algumas são lindas aos olhos,
escondendo suas qualidades perigosas e invasivas”.

(ROWE, 2018, p.1)

Os dois autores concordam que esse tipo de planta espinhosa se espalha e se


dimensiona sobre a terra de tal forma, que outras plantas não subsistem
naquele terreno. Rowe (2018, p.1) ainda diz que essas plantas espinhosas
roubam das boas plantas: umidade, luz, nutriente e espaço. Essas plantas
espinhosas são muito agressivas no crescimento e se reproduzem
rapidamente. O autor da carta aos Hebreus escreveu:

“Porquanto a terra que absorve a chuva que cai de tempo em


tempo, e dá colheita proveitosa àqueles que a cultivam, recebe
a bênção de Deus. Todavia, a terra que produz espinhos e
ervas daninhas é inútil, e logo será amaldiçoada. Seu fim é ser
lançada ao fogo”.

Hebreus 6.7-8
P á g i n a | 67

Entende-se, portanto, que esse tipo de terreno torna inútil o trabalho do


semeador. Nesse terreno, a semente lançada ali até encontrou possibilidade de
germinar ou até chegou a crescer, mas logo foi sufocada pelos espinhos, e
assim ficou infrutífera.

E como uma pessoa é um terreno espinhoso? Jesus explicou:

“As que caíram entre os espinhos, significam os que ouvem;


todavia, ao seguirem seu caminho, são sufocados pelas
muitas ansiedades, pelas riquezas e pelos prazeres desta
vida, e não conseguem amadurecer”.

Lucas 8.14

Então, aqui se trata de um coração sufocado. A semente não consegue


frutificar porque os espinhos sufocam a planta. Rowe (2018) explica como é o
processo em que os espinhos sufocam a planta:

“A Palavra de Deus começou a crescer neste solo do coração e


uma bela e terna planta estava surgindo e alcançando os céus.
No entanto, as plantas espinhosas estavam brotando
rapidamente ao lado desta planta macia. As picadas de plantas
se multiplicaram e começaram a lotar a pequena planta
invadindo agressivamente seu espaço. Os espinhos se
enroscaram ao redor da planta e cresceram acima e ao seu
redor, bloqueando os raios de sol do céu e tomando nutrientes
vitais do solo e umidade da nova planta. Os espinhos
continuam a pressionar rapidamente contra a planta e logo ela
não pode tomar a luz do sol, umidade, oxigênio e nutrientes
essenciais para sua sobrevivência. Engolfada na sombra dos
espinhos, a planta começa a engasgar à medida que o lento
processo de sufocamento começa. O crescimento de repente
para e a planta está lutando por sua própria vida. Os espinhos
estrangulam a planta fortalece, e a planta é sufocada de
forma mais agressiva, pois é sufocante pela compressão
das plantas espinhosas. A nova planta está ofegante por
oxigênio. Ele está lutando para receber o sol do céu, e está
morrendo de sede como ele é roubado de água que dá vida
P á g i n a | 68

do solo. Os espinhos estão se multiplicando a uma taxa


impressionante, e a planta macia está sendo
sobrecarregada e lentamente morta por sufocamento, falta
de cuidado e fome. Finalmente, a planta é esmagada sob o
peso dos espinhos e todo o potencial para frutas
desaparece à medida que murcha e morre. É morto por
estrangulamento e uma invasão agressiva de seu sistema
de suporte de vida. Que Deus nos ajude a nunca permitir que
esses espinhos sufoquem a Palavra de Deus de nossos
corações”!

(ROWE, 2018, P.1)

É assim que acontece. Agora, o que exatamente podem ser esses espinhos
em nossas vidas?

No texto de Lucas 8.14 vemos que podem ser três coisas: “são sufocados
pelas muitas ansiedades, pelas riquezas e pelos prazeres desta vida”. Então
são as muitas ansiedades, as riquezas e os prazeres desta vida. Vamos ver
cada uma (Cabral, 2005, p.25-26):

1 – Muitas ansiedades: aqui estão incluídas aquelas preocupações secundárias


que acabam dominando a mente e o coração das pessoas, sem deixar espaço
para a prioridade maior que é o “reino de Deus”. Essas preocupações,
entretanto, sufocam a floração e a frutificação da Palavra de Deus, que é a
fonte de toda a vida e de toda fecundidade (Lucas 8.11; Hebreus 4.12). Muitas
pessoas não frutificam na vida com Deus porque vivem sufocados pelas
preocupações da vida. Não têm tempo para as coisas de Deus. Não têm tempo
para Deus, pois o casamento, o trabalho, e outras coisas são mais
“importantes” (Lucas 14.16-20).

Jesus nos ensina que a nossa maior prioridade deve ser o reino de Deus, deve
ser nosso relacionamento com o pai. Jesus deve estar em primeiro lugar em
nossas vidas, a comunhão com Ele deve ser prioridade para nós:

“Buscai, assim, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua


justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas”.
P á g i n a | 69

Mateus 6.33

Caso venham sobre nós ansiedades que venham a nos trazer preocupação,
problemas que venham tirar nossa paz, o Senhor já nos ensinou o que fazer:

“Não andeis ansiosos por motivo algum; pelo contrário,


sejam todas as vossas solicitações declaradas na presença de
Deus por meio de oração e súplicas com ações de graça. E a
paz de Deus, que ultrapassa todo entendimento, guardará o
vosso coração e os vossos pensamentos em Cristo Jesus”.

Filipenses 4.6-7

“Sendo assim, humilhai-vos sob a poderosa mão de Deus, para


que Ele vos exalte no tempo certo, lançando sobre Ele toda a
vossa ansiedade, porque Ele tem cuidado de vós”!

1 Pedro 5.6-7

As ansiedades devem ser entregues a Deus em oração, e a vida com Deus


deve ser nossa prioridade. As muitas ansiedades não podem tomar o lugar do
Senhor em nossas vidas.

2- As riquezas: Esse é um espinho muito perigoso! Mateus inteligentemente


usa o termo “a sedução das riquezas”. No meu singelo e-book (2020b) “Em
busca de sabedoria” explico o perigo das riquezas segundo a Palavra de Deus
(p.74-78):

“Porquanto, o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males; e


por causa dessa cobiça, alguns se desviaram da fé e se
atormentaram em meio a muitos sofrimentos.”

1 Timóteo 6.10

O amor ao dinheiro, não o dinheiro em si, é o que causa é a raiz de todos os


males. Por amor ao dinheiro as pessoas se desviam da fé, matam, roubam, e
fazem muitas outras coisas. Salomão identificou pelo menos três coisas
prejudiciais que muitas vezes podem acontecer com pessoas que amam o
dinheiro.
P á g i n a | 70

a) Ansiedade: “O rico farto nem ao menos consegue adormecer em paz


(Eclesiastes 5.12)”.
b) Frustração: “Quem ama o dinheiro jamais terá o suficiente; quem ama
as riquezas nunca se sentirá em paz e feliz com seus rendimentos.
Certamente, isso também é ilusão, vaidade (Eclesiastes 5.10)”. “Quem
deposita confiança em suas riquezas certamente se decepcionará, mas
os justos florescerão como a folhagem verdejante (Provérbios 11.28)”.
c) Tentação para violar a lei, se corromper: “Aquele que se precipita para
enriquecer não ficará inocente (Provérbios 28.20)”.

O amor ao dinheiro pode dar-nos atitudes erradas sobre as coisas materiais. É


disseminado no mundo de hoje que somos o que temos. A ilusão de que o
dinheiro compra felicidade e segurança é parte do “poder enganoso das
riquezas” (Marcos 4.19). Quanto mais dinheiro uma pessoa tem, mais bem-
sucedida ela é considerada. Mas Jesus disse:

“Em seguida lhes advertiu: Tende cautela e guardai-vos de


toda e qualquer avareza; porquanto a vida de uma pessoa não
se constitui do acúmulo de bens que possa conseguir.”

Lucas 12.15

O valor de uma pessoa não está em quanto ela tem, prova disso é que a Bíblia
diz:

“Tenho visto servos cavalgando, e príncipes andando a pé,


como se fosses servos.”

Eclesiastes 10.7

Além disso, o apóstolo Paulo disse que o contentamento, a felicidade,


independe da situação financeira:

“Sei bem o que é passar necessidade e sei o que é andar com


fartura. Aprendi o mistério de viver feliz em todo lugar e em
qualquer situação, esteja bem alimentado, ou mesmo com
fome, possuindo fartura, ou passando privações. Tudo posso
naquele que me fortalece.”
P á g i n a | 71

Filipenses 4.12-13

Por isso, o dinheiro não pode nos dar a verdadeira felicidade, só quem nos
pode essa felicidade é Jesus (João 7.38). Por isso está escrito:

“Quem obedece à Palavra de Deus é feliz!”

Provérbios 29.18b

Desse modo, precisamos tomar cuidado em relação ao nosso amor pelo


dinheiro, no sentido de buscarmos excessivamente as riquezas. A Bíblia diz:

“Não chegues à exaustão na tentativa de conquistar a riqueza;


tem bom senso!”

Provérbios 23.4

“No entanto, os que ambicionam ficar ricos caem em


tentação, em armadilhas e em muitas vontades loucas e
nocivas, que atolam muitas pessoas na ruína e na completa
desgraça.”

1 Timóteo 6.9

É perfeitamente possível encontrar na posse de bens materiais, um grande mal


para nós mesmos. Existem pessoas que pensam que porque são ricas podem:
comprar tudo e livrar-se de qualquer situação. A riqueza pode transformar-se,
para essas pessoas, na medida de todas as coisas, em seu único prazer, na
única arma para enfrentar a vida (Provérbios 10.15).

Se desejarmos a riqueza somente para desfrutar de prazeres e luxos, se a


riqueza se transformou no objetivo principal de nossas vidas, a razão pela qual
vivemos, podemos afirmar que os bens materiais deixaram de ser um bem
subordinado, para usurpar na vida o lugar que corresponde a Deus em nossas
vidas. Por isso Jesus disse:

“Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar a


um e amar o outro, ou há de dedicar-se a um e desprezar o
outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas.”

Mateus 6.24
P á g i n a | 72

A palavra servir nesse versículo é chave, ou servirmos às riquezas ou a Deus.


Jesus ainda disse: “Pois onde estiver o seu tesouro, aí também estará o seu
coração” (Mateus 6.21). Nós corremos atrás do que amamos. Corremos atrás
de Deus, ou corremos atrás do dinheiro?

Não tem problema em ser rico, o problema é amar o dinheiro. Com isso, quero
dizer que a posse de riquezas, de dinheiro ou de objetos materiais não é
pecado. A Bíblia não é contra ter riquezas. A Bíblia é contra amar o dinheiro.

Abraão era rico (Gênesis 24.35), Isaque era rico (Gênesis 26.13), Jacó era rico
(Gênesis 30.43), Boaz era rico (Rute 2.1), Salomão era rico (1 Reis 10.23), e
outros homens e mulheres da Bíblia também tinham riquezas. É Deus quem dá
bênçãos materiais a nós (Deuteronômio 8.18). Ele é a origem das bênçãos
financeiras (1 Samuel 2.7; Provérbios 10.22) e nos lembra de que ser diligente
também leva à riqueza (Provérbios 10.4).

O dinheiro é uma benção quando não colocado como nossa prioridade máxima
(Eclesiastes 10.19). Precisamos de dinheiro, para comprar nosso sustento
como alimento e remédios (2 Tessalonicenses 3.12) e cuidar de nossas
famílias (1 Timóteo 5.8). Mas se a grande prioridade de nossa vida for
enriquecer, certamente temos um grande espinho no terreno de nosso coração
que pode com certeza estrangular a semente divina em nós.

3- Prazeres desta vida: Alguns dos prazeres deste mundo podem parecer
inocentes e inofensivos, mas um exame mais atento revelará que segui-los é o
início de uma caminhada que leva o homem para longe de Deus (1 Reis 11;
Juízes 13-16). Servir aos prazeres do mundo é tentar gratificar a carne. Esses
prazeres podem ser: sexo17, festas, bebidas (Gálatas 5.19-21)... Entretanto,

17
Claro que aqui não estou me referindo ao sexo saudável e santo, criado por Deus
exclusivamente para o casamento monogâmico e heterossexual (Gênesis 2.22). As
relações sexuais consumam o casamento e somente são aprovadas e abençoadas
por Deus dentro do casamento (Gênesis 2.24; Cantares 2.1-4). Aqui é uma referência
ao sexo ilícito de maneira geral, aqueles reprovados por Deus: fora ou/e antes do
casamento, relações homossexuais... (Levítico 18.22; Êxodo 20.14; Romanos 1.21-27;
Gênesis 19.5-7; Juízes 19.22-23; 1 Coríntios 6.9-11). Caso o leitor se interesse por
esse assunto, recomendo as p.42-45 do e-book (2020) “em busca da sabedoria”.
P á g i n a | 73

nossa natureza pecaminosa nunca se satisfaz na indulgência, ela


simplesmente quererá mais e mais e isso acaba afundando a pessoa em
pecados cada vez maiores (João 8.34; Romanos 8.5-8).

Pois bem, vamos aos exemplos bíblicos de pessoas que foram terrenos
espinhosos? Vamos ver como algumas pessoas foram sufocadas por esses
espinhos:

EXEMPLO 1: SAUL

Antes, deixa eu te contextualizar...

Na página 35 escrevi: “Falaremos de Saul com mais detalhe posteriormente


nesta obra”. Essa hora chegou! Após o período dos juízes, Israel se tornou
uma monarquia, e o primeiro rei dessa monarquia foi o rei Saul (1 Samuel 9-
31). Nesse cenário de mudança de governo surge Saul, que foi ao encontro do
profeta Samuel à procura das jumentas de seu pai. Antes da sua chegada, o
Senhor revelou ao profeta que Saul iria visitá-lo:

“Amanhã, por volta desta hora, enviar-te-ei um homem da terra


de Benjamim! Unge-o como líder sobre Israel, o meu povo. Ele
libertará o meu povo do domínio dos filisteus, porque tenho
observado o sofrimento do meu povo e ouvido os seus pedidos
de socorro”!

1 Samuel 9.16

Saul era um jovem de boa aparência, sem igual entre os israelitas; os mais
altos batiam nos seus ombros. E seu pai era um homem rico e influente na tribo
de Benjamim (1 Samuel 9.1-2). Depois de ungi-lo, o profeta deu uma série de
orientações sobre o que sucederia e o que deveria fazer. Disse também que ao
encontrar um agrupamento de profetas, ele seria apossado pelo Espírito do
Senhor, profetizaria e se tornaria um novo homem (1 Samuel 10.6).

Depois de suceder todas essas coisas, Samuel ajuntou as tribos de Israel em


Mispá para anunciar Saul como o rei. Sua aclamação foi fruto de alegria entre
as tribos (1 Samuel 10.24). Mas a Bíblia registra que algumas pessoas
desprezaram sua nomeação (1 Samuel 10.27).
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Pronto, agora vem à relação com a parábola...

Saul era um terreno espinhoso. Os espinhos na vida dele eram as “muitas


ansiedades”. A preciosa semente foi semeada no coração dele através de
Samuel, algumas vezes (1 Samuel 10.7-8, 25). Uma semente que podemos
destacar foi essa:

Se temerdes ao SENHOR, e o servirdes, e atenderdes às suas


ordens, e se tanto vós como o rei que governa sobre vós
seguirdes a Yahweh vosso Deus, então tudo vos irá
bem! Todavia, se não obedecerdes a Yahweh, se vos
revoltardes contra a sua vontade, então a mão do SENHOR
pesará sobre vós e sobre o vosso rei.

1 Samuel 12.14-15

Saul a partir desse momento sabia que seu reino seria abençoado enquanto
ele seguisse fielmente a Deus. Caso fosse rebelde e desobediente a Deus, aí
as coisas seriam um pouco diferentes. O rei Saul teve um bom começo como
rei. Dirigido por Deus (1 Samuel 11.6), venceu de maneira implacável os
amonitas, que queriam humilhar os israelitas (1 Samuel 11.2,11). Ainda agiu de
misericórdia com aqueles que o haviam desprezado (1 Samuel 11.12-13).

Entretanto, as amostras que ele era um terreno espinhoso logo começariam a


aparecer. No final desse episódio da vitória contra os amonitas, Saul foi
referendado pelo povo como rei de Israel, o que provavelmente o agradou
muito (1 Samuel 11.15). Com os anos, Saul prosseguiu vitorioso e seu filho
Jônatas tinha importante relevância no comando das batalhas. Lutas contra os
inimigos do povo de Deus foram permanentes durante todo seu reinado e não
houve descanso. Em uma destas incursões, Jônatas atacou um destacamento
filisteu em Gibeá, atraindo o ódio dos filisteus sobre Israel (1 Samuel 13.3-4).

A ira dos filisteus gerou desespero e medo aos soldados de Saul e todos se
refugiaram em cavernas. Nesta ocasião surge o primeiro grande erro de Saul:
uma desobediência. Samuel havia mandado que Saul o esperasse sete dias
para realizar um sacrifício.
P á g i n a | 75

“Ide, todavia, na minha frente para Guilgal. Mais tarde eu irei


ter contigo, a fim de oferecer holocaustos e sacrifícios de paz e
comunhão. Contudo, aguardarás sete dias até que eu
chegue e te oriente sobre o que fazer”.

1 Samuel 10.8

Entretanto, o terreno do coração de Saul era espinhoso nas “muitas


ansiedades”. Umas dessas muitas ansiedades era a de querer ter o favor
do povo. Ele não queria perder o apoio e a honra do povo. Saul esperou
sete dias, conforme Samuel havia orientado; mas quando viu que Samuel não
chegava a Guilgal, o exército abandonou Saul e se dispersou (1 Samuel 13.8).
Veja, quando ele viu que ia perder parte do povo, ele desobedeceu à palavra
de Samuel:

“Diante disso, Saul ordenou: “Trazei-me aqui os animais para o


holocausto e as ofertas de paz e comunhão. E ele mesmo
ofereceu o holocausto”.

1 Samuel 13.9

Para entender o que acontece neste relato, devemos lembrar que Deus fez
uma separação no Antigo Testamento entre sacerdotes e outros. O trabalho de
oferecer sacrifícios pertencia aos sacerdotes (Levítico 6.6-7; Números
15.25,28). Saul tinha um papel importante, mas ele era rei, e não sacerdote.
Respeitando esta diferença de papéis, Samuel havia instruído Saul a esperar
sete dias em Gilgal, onde este sacerdote faria o sacrifício e lhe daria
orientações (1 Samuel 10.8). Desse modo, Saul desobedece a Deus, pois fez
algo que não era de sua jurisprudência. E então veio a palavra de juízo:

“Assim que terminou de oferecê-lo, Samuel chegou, e Saul


correu ao seu encontro para saudá-lo. Entretanto, Samuel lhe
indagou: “Que fizeste Saul?” Ao que Saul lhe respondeu
prontamente: “Eu vi que os soldados me deixavam e
debandavam, e doutra parte que tu não chegaste no dia
estabelecido, e ainda que os filisteus estavam reunidos em
Micmás. E refleti: ‘Agora os filisteus vão cair sobre mim em
Guilgal, e eu nem sequer tentei buscar a face de Yahweh e
P á g i n a | 76

alcançar a sua ajuda. Assim, premido pela necessidade, ofereci


o holocausto.” Ao que replicou-lhe Samuel: “Agiste como
um insensato! Tu não obedeceste à ordem que Yahweh teu
Deus de dera. Se tivesses obedecido, Yahweh teria
estabelecido o teu reino para sempre sobre todo o Israel, mas
agora, o teu reino não subsistirá e tu não seguirás governando;
o SENHOR já escolheu um homem segundo o seu coração, e
o designou líder do seu povo, porquanto tu não observaste o
que Yahweh te havia determinado!”

1 Samuel 13.10-14

Diante dessa palavra de juízo, não houve arrependimento nenhum de Saul (1


Samuel 13.15-23).

“As que caíram entre os espinhos, significam os que ouvem;


todavia, ao seguirem seu caminho, são sufocados pelas
muitas ansiedades, pelas riquezas e pelos prazeres desta
vida, e não conseguem amadurecer”.

Lucas 8.14

Veja, a semente já estava começando a ser sufocada pelos espinhos das


muitas ansiedades, do desejo de ter a glória do povo. Manter o reinado
era mais importante que obedecer a Deus para ele. Em 1 Samuel 14 já
vemos outro erro de Saul. Jonatas agindo com muita fé em Deus, venceu
corajosamente muitos filisteus (v.1-14), mas no intuito de se vingar com as
próprias mãos dos inimigos e ser glorificado por isso, Saul fez um juramento
impensado que quase prejudicou tudo depois (v. 24,45).

Em 1 Samuel 15, Deus dá uma ordem a Saul de ir atacar os amalequitas:

“Assim diz o SENHOR dos Exércitos: ‘Resolvi castigar os


amalequitas pelo mal que fizeram a Israel, atacando-o quando
saia do Egito. Vai, pois, agora e investe contra Amaleque,
condena-o ao anátema, consagrando-o ao SENHOR para
destruição de tudo quanto houver na terra em que habitam; não
tenhas piedade dele e de seu povo, mata homens e mulheres,
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crianças e recém-nascidos, bois e ovelhas, camelos e


jumentos!”

1 Samuel 15.2-3

Ele, novamente, desobedece a Deus. Saul e o seu exército pouparam a vida de


Agague (rei amalequita) e tudo o que havia de melhor nos despojos de guerra,
do gado miúdo ao graúdo, os animais gordos e as ovelhas, enfim, tudo o que
havia de “lucrativo” não quiseram incluí-lo no anátema; e as outras demais
coisas o destinaram à destruição completa (1 Samuel 15.9). Saul era um
terreno espinhoso, e o espinho já estava sufocando a semente divina. A prova
disso foi que depois disso Saul foi ao Carmelo construir um monumento em sua
própria honra (1 Samuel 15.12). Isso mostra como os espinhos estavam
sufocando a semente divina no coração de Saul. Era mais importante para
ele ser honrado e glorificado pelo povo do que obedecer a Deus.

Então veio novamente uma palavra de juízo a Saul. Então ele nos dá outra
amostra de quão grande era o espinho das “muitas ansiedades” na vida
dele, especificamente no desejo de ter o apoio do povo, olha o que ele
faz:

“Então Saul confessou: “Eu pequei, contudo, eu te suplico,


honra-me diante dos anciãos do meu povo e diante de
Israel e volta comigo para que eu também adore a Yahweh teu
Deus”!

1 Samuel 15.30

Perceba, ele reconhece o pecado, mas não pede perdão! O que ele pede é
que Samuel o honre diante dos anciãos do povo, para que ele não perca o
apoio do povo. Viu como Saul é um terreno espinhoso? Ele até recebeu a
semente divina, entretanto o espinho de querer agradar o povo era tão
intenso que sufocou a semente divina da obediência.

Devido a essa desobediência, Deus retirou o seu Espírito de Saul e permitiu


que um espírito mau o atormentasse (1 Samuel 16.14). Então os oficiais do
exército de Saul recomendaram que o rei recrutasse um tocador de harpa, para
que quando Saul se sentisse atormentado, o harpista tocasse uma música e
P á g i n a | 78

assim acalmasse Saul (1 Samuel 16.16-17). Acharam um menino chamado


Davi18, e todas as vezes que o espírito mal tomava conta de Saul,
imediatamente Davi apanhava sua harpa e a dedilhava; então Saul conseguia
se acalmar, sentia grande alívio e bem-estar, porquanto aquele espírito maligno
se afastava dele, deixando-o em paz (1 Samuel 16.23).

Em 1 Samuel 17, os filisteus ficaram muitos dias afrontando o exército de


Israel. Os filisteus tinham um soldado chamado Golias, que tinha 2,90m de
altura (v.4), e constantemente desafiava os israelitas a escolherem um homem
para batalhar contra ele. Se o filisteu vencesse, Israel seria escravo da Fílistia.
Se o israelita vencesse, a Filístia seria escrava de Israel (v.9).

O israelita que se propôs a lutar contra esse gigante foi justamente o harpista
de Saul – o menino Davi (v.32-40). Deus era com o menino, e mostrou muita fé
em Deus, e assim venceu e matou o gigante filisteu (v.50). Quando os
soldados retornavam para casa, depois que Davi venceu e matou o grande
filisteu, as mulheres saíram de todas as cidades de Israel ao encontro do rei
Saul com cânticos e danças, com tamborins, com músicas festivas e
instrumentos de três cordas. E as mulheres dançavam e cantavam: “Saul
matou milhares, e Davi, dezenas de milhares! (1 Samuel 18.6-7)”.

Você lembra que Saul é um terreno espinhoso? O espinho característico


da vida dele era o espinhos das “muitas ansiedades”, traduzido no desejo
de agradar o povo, de ter a admiração e apoio do povo. Quando as
mulheres de Israel começam a cantar essa música, a reação de Saul foi:

“Então Saul se indignou e ficou muito irritado ao ouvir esse


refrão, e exclamou: “Ora, a Davi atribuíram a morte de dezenas
de milhares, mas a mim somente milhares. A continuar assim,
só lhe faltará conquistar o meu reino!” E desse dia em diante,
Saul começou a nutrir um forte sentimento de inveja de
Davi”.

1 Samuel 18.8-9

18
Esse era o futuro rei de Israel escolhido por Deus (1 Samuel 16.13).
P á g i n a | 79

Ele queria ser o “vangloriado do povo”, então quando surge alguém mais
aclamado pelo povo, com feitos mais “brilhantes” que ele, foi o suficiente
para seu coração se encher de inveja. O que sucede são inúmeras tentativas
de Saul de matar Davi (1 Samuel 19, 24, 26). Finalmente Saul dá uma última
amostra de que a semente divina em seu coração já havia sido sufocada pelos
espinhos, e em 1 Samuel 28 vai consultar uma feiticeira19 para obter uma
resposta acerca de sua ida à guerra contra os filisteus.

Posteriormente Saul se engaja em uma ferrenha batalha com os filisteus (1


Samuel 30-31). Além de perder seus filhos na batalha (v.2), foi gravemente
ferido. E então olha o que aconteceu:

“Então Saul ordenou ao seu escudeiro: “Desembainha a tua


espada e transpassa-me, para que não venham esses
incircuncisos e antes de me matar me humilhem ainda mais!”
Mas o seu escudeiro não conseguiu obedecê-lo. Então,
imediatamente, Saul puxou sua própria espada e atirou-se
sobre ela”.

1 Samuel 31.4

Saul, o primeiro rei de Israel, é um exemplo claro de um coração espinhoso.


Ele até recebeu a semente divina, no entanto, os espinhos sufocaram a
semente. O espinho das muitas ansiedades, do desejo de ser admirado pelo
povo, sufocou a semente da obediência a Deus.

EXEMPLO 2: SALOMÃO

Antes, deixa eu te contextualizar...

Salomão foi uma das pessoas promissoras da Bíblia Sagrada, no que tange ao
seu legado como homem de Deus. Falo bastante sobre ele no meu e-book
(2020b) “Em busca da sabedoria”, pois quando o assunto é sabedoria bíblica,
acho difícil não falar de Salomão. Salomão era um dos filhos de Davi, a saber,

19
Esse ato de consultar feiticeira era proibido na lei de Deus (Êxodo 22.18; Levítico.
19.31; 20.6-7; Deuteronômio 18.10-12).
P á g i n a | 80

filho de Davi com Bate-Seba (2 Samuel 12.24). Salomão foi o sucessor de Davi
no trono de Israel (1 Reis 2.12; 2 Crônicas 1.1).

Um dos primeiros atos de Salomão como rei foi realizar um grande sacrifício a
Deus em Gibeom, onde estava o Tabernáculo (2 Crônicas 1.5-6). Nesse
mesmo dia em que ele ofereceu o sacrifício, no período da noite, aprouve ao
Senhor fazer algo a Salomão.

“Em Gibeom, Yahweh apareceu em sonho a Salomão durante


a noite. Deus disse: “Pede o que desejares e Eu te darei”!

1 Reis 3.5

Bom, Salomão tinha um pedido a fazer. Antes de pedir, ele expõe ao Senhor o
motivo do seu pedido:

“Agora, pois, Yahweh, SENHOR meu Deus, constituíste rei a


teu servo em lugar de meu pai Davi, mas eu não passo de um
jovem, que não sabe liderar. Teu servo se encontra no meio
do povo que tu mesmo escolheste, uma população tão grande
que nem se pode contar”.

1 Reis 3.7-8

Partindo da premissa que um líder precisa de sabedoria para governar


(Provérbios 8.15), em outras palavras, o que Salomão estava dizendo para
Deus era: eu não tenho sabedoria! Eu não sei liderar. Preciso que o Senhor me
ajude. E então ele pede:

“Dá, portanto, a teu servo um coração sábio, que possa


discernir entre o bem e o mal, a fim de que eu possa governar
o teu povo com justiça e equidade, pois sem a sabedoria que
vem de ti quem pode governar este teu grande povo”?

1 Reis 3.9

Ele pediu sabedoria a Deus! Esse foi um desejo que agradou muito a Deus.
Como o próprio Deus disse: ele poderia ter pedido vida longa, morte dos
inimigos, riqueza, mas escolheu pedir sabedoria para julgar o povo justiça. Veja
a reação de Deus nos versículos:
P á g i n a | 81

‘’O desejo de Salomão muito agradou ao Senhor. Por este


motivo Deus lhe declarou: Porque foi este o teu pedido, e já
que não rogaste para ti vida longa, nem riqueza, nem a vida,
mas solicitaste para ti discernimento para ouvir e julgar com
justiça, farei o que pediste. Eu te concederei um coração
sábio e capaz de discernir com inteligência, como jamais
houve antes de ti e depois de ti nunca haverá’’.

1 Reis 3.10-12

Deus concedeu a Salomão generosa porção de sabedoria e entendimento;


uma capacidade de discernimento muito além do normal, e conhecimentos tão
abrangentes e profundos que não podiam ser medidos. A sabedoria divina
outorgada a Salomão era maior do que a de todos os homens do Oriente, e
maior do que toda a sabedoria do Egito. Salomão era mais sábio do que
qualquer ser humano. Sua fama espalhou-se por todas as nações em redor.
Ele criou três mil provérbios e compôs mil e cinco cânticos. Dissertou a respeito
das plantas, desde o cedro do Líbano até o hissopo que brota da parede. De
igual modo discorreu sobre os quadrúpedes, as aves, os animais que se
movem rente ao chão e os peixes. Sábios de todos os povos vinham ouvir a
sabedoria de Salomão; eram missionários enviados por todos os reis da terra
que haviam sido informados sobre o saber deste rei (1 Reis 4.29-34). Em 1
Reis 3.16-28 e 1 Reis 10.1-13 vemos histórias em que a sabedoria de Salomão
é praticada com maestria pelo próprio.

Usando essa sabedoria dada por Deus, Salomão elevou Israel à condição de
uma potência mundial, haja vista que se tornou o homem mais rico de todos os
reis sobre a terra (1 Reis 10.25).

Pronto, agora vem à relação com a parábola...

Entretanto, quando Deus concede sabedoria a uma pessoa, isso não faz dela
uma pessoa sábia e não uma pessoa perfeita! Escrevi no e-book (2020b) já
citado acima:

“Ter sabedoria, nos ajuda, mas não faz de ninguém perfeito. O


fato de termos sabedoria não significa que nunca mais iremos
errar. Mesmo tendo sabedoria continuamos sendo seres
P á g i n a | 82

humanos falhos e pecadores (Romanos 3.23; Eclesiastes


7.20). É como disse: a sabedoria tem que ser praticada”.

(MOURA, 2020b, P.33)

Salomão, mesmo tendo recebido sabedoria da parte de Deus, era um terreno


espinhoso. Sabe qual era o grande espinho na vida de Salomão? Os
prazeres dessa vida – a saber, as mulheres. Tudo indica que ele amava as
carícias, os beijos, as relações sexuais. Salomão amava mulheres. E esse
espinho dos prazeres da vida sufocou a semente divina no coração de
Salomão.

“Ele teve setecentas esposas, princesas, e trezentas


concubinas; e suas mulheres o levaram a afastar seu coração
do caminho de Deus”.

1 Reis 11.3

Percebe como isso era claramente um espinho no terreno do coração


dele? Ele tinha 1000 mulheres! E essas mulheres o levaram a afastar seu
coração do caminho de Deus (espinhos sufocaram a semente).

“Outra parte ainda caiu entre os espinhos; estes espinhos


cresceram e sufocaram as plantas, e por isso não pôde dar
frutos”.

Marcos 4.7

Percebe como os espinhos foram crescendo cada vez mais na vida de


Salomão, a ponto de sufocar a planta da obediência a Deus na vida dele?
Ele foi cada vez mais ajuntando mais mulheres para si, e cada vez mais se
afastando de Deus. Salomão, por ser extremamente sábio, conhecia a Lei do
Senhor, a Palavra de Deus. Posso inferir com isso que ele conhecia uma
passagem que diz:

“Que o rei não tome para si muitas mulheres, para que seu
coração não se desvie da sabedoria”.

Deuteronômio 17.17a
P á g i n a | 83

Como o espinho sufocou a semente no coração de Salomão, ele


simplesmente ignorou esse versículo! Salomão claramente desobedeceu à
lei quando, teve 700 mulheres, princesas e 300 concubinas (1 Reis 11.3). Além
do que, muitas de suas mulheres eram das nações com cujas mulheres o
Senhor havia especificamente proibido os judeus de se casarem
(Deuteronômio 7.1-4).

“As que caíram entre os espinhos, significam os que ouvem;


todavia, ao seguirem seu caminho, são sufocados pelas
muitas ansiedades, pelas riquezas e pelos prazeres desta
vida, e não conseguem amadurecer”.

Lucas 8.14

A semente no coração de Salomão foi sufocada pelos prazeres desta


vida. A prova disso é que:

“E à medida que Salomão ia se tornando idoso, suas


mulheres o influenciaram decisivamente a seguir seus
deuses e divindades, e o coração de Salomão já não era
totalmente dedicado a Yahweh, o SENHOR, o seu Deus,
como fora o coração do seu pai Davi. Então Salomão deixou-se
seduzir e seguiu a Ashtoret, Astarote, deusa dos sidônios, e a
Moleh, Moloque, o abominável e repugnante deus dos
amonitas. Assim, Salomão praticou o que era mau perante
o SENHOR e não procurou seguir as orientações de Deus
de todo o coração, como procedeu Davi, seu pai. Nessa
época, Salomão construiu um altar em homenagem a Kemosh,
Camos, o odioso e nefasto deus dos moabitas, sobre o monte
ao lado de Jerusalém, e a Moloque, abominação dos amonitas.
Fez o mesmo para todas as suas mulheres estrangeiras, que
ofereciam incenso e sacrifícios aos seus deuses e divindades”.

1 Reis 11.4-8

Deus, em sua misericórdia, não desiste de Salomão, e decide semear no


coração de Salomão.
P á g i n a | 84

“Então Yahweh se indignou contra as atitudes de Salomão,


porquanto o seu coração se desviara do SENHOR Deus de
Israel, que lhe aparecera e advertira duas vezes, e lhe
ordenara terminantemente que não cultuasse e seguisse a
qualquer outra divindade”.

1 Reis 11.9-10a

Salomão, contudo, acabou não obedecendo ao que o SENHOR lhe havia


mandado. Mais uma amostra que a semente no coração de Salomão havia
sido sufocada pelos espinhos dos prazeres desta vida. Deus então lança
uma mensagem de juízo a Salomão (1 Reis 11.11-13). Houve arrependimento
por parte de Salomão? Provavelmente não, visto que a Bíblia não relata
nenhum ato de arrependimento por parte de Salomão (1 Reis 11.41-43).
Salomão foi um claro exemplo de terreno espinhoso, terreno no qual a
semente divina é sufocada pelos espinhos da vida, representada pelos
espinhos dos “prazeres da vida”.

EXEMPLO 3: JOVEM RICO

Diferentemente dos outros exemplos, nesse exemplo não sabemos o nome do


rapaz. Na versão que uso – King James Atualizada – a epígrafe da seção diz
que ele era um “rico que amava seus bens” (Lucas 18.17-18). Em outras
versões a epígrafe diz que ele era um “jovem rico”. Segundo Gois, Alves e
Cabral (2020):

“O jovem rico era um judeu de classe alta, um homem


importante em sua sociedade. Ele procurava viver de acordo
com os mandamentos de Deus e queria saber como receber a
salvação. Por isso, ele foi para Jesus. Mas a resposta de Jesus
mostrou um grande problema na vida do jovem rico: seu amor
à riqueza”.

(GOIS, ALVES E CABRAL, 2020, p.1)

Como dito pelos autores, este rapaz tinha um grande problema. Estamos
tratando aqui de alguém que é um solo espinhoso. Lembram quais são os
espinhos (p.66-70)? Muitas ansiedades, riquezas e prazeres da vida. O
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espinho que abafou a semente no coração de Saul foram as muitas


ansiedades. O coração de Salomão foi sufocado pelos prazeres da vida. Nesse
caso do jovem rico, o espinho que vai sufocar as sementes é as riquezas.
Essa história pode ser encontrada nos três evangelhos sinópticos (Mateus
19.16-30, Marcos 10.17-31 e Lucas 18.18-30).

Certa vez, durante o ministério de Jesus, um jovem rico veio falar com ele. Ele
se pôs de joelhos diante de Jesus e lhe perguntou o que precisava fazer para
herdar a vida eterna (Marcos 10.17). A resposta de Jesus foi simples: “Se
queres entrar na vida eterna, obedeça aos mandamentos (Mateus 19.17b)”. Ao
que ele perguntou: “Quais?” E Jesus lhe respondeu: “Não matarás, não
adulterarás, não furtarás, não darás falso testemunho, honra a teu pai e a tua
mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo (Mateus 19.18-19)”. Ele
basicamente lembrou os Dez Mandamentos ao homem. O rapaz respondeu:

Ao que o homem declarou: “Mestre, tudo isso tenho obedecido


desde minha adolescência”.

Marcos 10.20

Replicou-lhe o jovem: “A tudo isso tenho obedecido desde a


minha adolescência”!

Lucas 18.21

Acontece que talvez o jovem não contasse com um detalhe: Jesus é


onisciente. Esequias Soares (2010) em sua obra “O ministério profético na
Bíblia” escreveu:

“Ele sabia que no mar havia um peixe com uma moeda e que
Pedro ao lançar o anzol o pescaria, e com o dinheiro pagaria o
imposto, tanto por ele como por seu Mestre (Mateus 17.27).
Em João 2.24,25, está escrito que não havia necessidade de
ninguém falar algo sobre o que há no interior do homem,
porque Jesus já sabia de tudo. A Bíblia afirma que só Deus
conhece o coração dos homens (1 Reis 8.39). Então, Jesus é
onisciente, porque ele é Deus. Ele sabia que a mulher
samaritana já havia possuído cinco maridos, e que o de então
não era o seu esposo (João 4.17,18). Encontramos em João
P á g i n a | 86

16.30; 21.17 que Jesus sabe tudo; e Colossenses 2.2,3 nos


diz que em Cristo "estão escondidos todos os tesouros da
sabedoria e da ciência". O Senhor Jesus ouvia a oração de
Saulo de Tarso enquanto falava com Ananias, em Damasco
(Atos 9.11). Não há nada no universo que Jesus não saiba e
tudo porque ele é onisciente e é Deus”.

(SOARES, 2010, p.203-204)

Jesus sabia do coração do rapaz, Ele é onisciente, Ele sabe tudo (João 16.30;
21.17). Jesus sabia que aquele rapaz era, no seu coração, um terreno
espinhoso. Jesus sabia que no coração daquele rapaz havia um grande
espinho: o amor pelas riquezas. O jovem não estava mentindo quando disse:
“Mestre, tudo isso tenho obedecido desde minha adolescência”. Se ele estivesse
mentindo, Jesus o teria repreendido. E Jesus não o repreendeu. Entretanto,
Jesus sabia que havia um grande espinho das riquezas no coração daquele
rapaz, e então disse:

“Então Jesus o olhou com compaixão e lhe revelou: “Contudo,


te falta algo mais importante. Vai, vende tudo o que tens,
entrega-o aos pobres e receberás um tesouro no céu; então,
vem e segue-me”!

Marcos 10.21

Aqui temos dois possíveis desdobramentos:

1 – Iria acontecer a mesma coisa que aconteceu com Abraão: Só existiu uma
pessoa em toda a Bíblia Sagrada que Jesus mandou vender tudo o que tinha –
esse jovem rico. Jesus não fez isso com mais ninguém. Lembra-me justamente
do episódio de Gênesis 2220. Deus ordenou que Abraão tomasse Isaque, seu
único filho com sua esposa Sara, e o oferecesse em holocausto (o sacrificasse)

20
Gênesis 22 inicia dizendo que num determinado tempo Deus pôs Abraão à prova. A
Bíblia mostra em várias passagens que Deus submete seu povo a testes que muitas
vezes envolvem situações de adversidade (Gênesis 26; 37-42; Salmos 23.4; 1 Samuel
17.37...). Mas o objetivo das provações enviadas por Deus é pedagógico. As
provações servem para aperfeiçoar a fé e a obediência dos santos (Jó 1-42;
Provérbios 20.30; Romanos 8.28; Zacarias 13.9...).
P á g i n a | 87

em um dos montes da terra de Moriá (Gênesis 22.2). Ele simplesmente ouviu a


ordem divina e a obedeceu imediatamente. Ele se levantou de madrugada,
preparou o seu jumento e a lenha, tomou Isaque e dois de seus servos, e partiu
para Moriá (Gênesis 22.3).

Ao terceiro dia Abraão conseguiu avistar o lugar que Deus havia lhe falado. A
partir dali ele seguiu o caminho apenas com Isaque. Inclusive, Isaque foi o
responsável por carregar a lenha do holocausto. Isso significa que apesar de a
Bíblia não dizer qual era a idade de Isaque naquela ocasião, ele já tinha
tamanho suficiente para tal tarefa (Gênesis 22.4-6).

Em determinado momento Isaque questionou Abraão sobre onde estava o


cordeiro para o holocausto, já que eles estavam carregando somente a lenha, o
fogo e o cutelo. A resposta de Abraão foi uma profunda declaração de fé:
“Deus proverá para si, meu filho, o cordeiro para o holocausto” (Gênesis 22.8).

Quando Abraão e Isaque chegaram ao lugar indicado por Deus, o patriarca


edificou um altar, dispôs a lenha sobre ele e deitou Isaque amarrado sobre a
lenha (Gênesis 22.9). Também é interessante notar a obediência de Isaque.
Em nenhum momento Gênesis 22 registra qualquer lamentação ou revolta por
parte do rapaz.

Quando Abraão tomou o cutelo para imolar Isaque, o Anjo do Senhor bradou
do céu e lhe interrompeu. Foi nesse momento que Abraão escutou as
maravilhosas palavras:

“Não estendas a tua mão contra o rapaz!” − ordenou o Anjo


“Não lhe faças nada! Agora bem sei que temes a Deus,
porquanto não me negaste teu amado filho, teu único filho!”

Gênesis 22.12

Foi apenas um teste! Isso significa que a fé de Abraão havia sido confirmada
através da obediência (Gálatas 5.6; Hebreus 11.17; Tiago 2.21). Imediatamente
Abraão ergueu os olhos e contemplou um carneiro preso entre os arbustos.
Abraão tomou o carneiro e ofereceu em holocausto, e chamou aquele lugar de
“O SENHOR Proverá” (Gênesis 22.13,14). Depois disso, mais uma vez o Anjo
P á g i n a | 88

do Senhor bradou do céu e confirmou a aliança com Abraão (Gênesis 22.15-


19).

Veja, pelo caráter único do pedido, poderia acontecer com o jovem rico a
mesma coisa que aconteceu com Abraão. Ele poderia dar tudo o que tinha, e
após isso receber de Deus multiplicado muito mais do que deu (Lucas 6.38).
Poderia ser apenas um teste, como foi com Abraão. Ou:

2 – Iria acontecer a mesma coisa que aconteceu com os discípulos: Quando


Jesus chamou os discípulos, o chamado foi parecido. Era deixar tudo para trás
e seguir Jesus:

“E, caminhando junto ao mar da Galiléia, viu Jesus dois irmãos:


Simão, chamado Pedro e André que lançavam a rede ao mar,
pois eram pescadores. Então, disse-lhes Jesus: “Vinde após
mim, e Eu vos farei pescadores de homens”. Eles,
imediatamente deixaram suas redes e seguiram
Jesus. Seguindo adiante, viu Jesus outros dois irmãos: Tiago,
filho de Zebedeu e João, seu irmão, que estavam no barco com
Zebedeu, seu pai, consertando as redes; e chamou-os. Eles
imediatamente deixaram o barco e seu pai para seguirem a
Jesus”.

Mateus 4.18-22

Com Mateus foi a mesma situação:

“Saindo, viu Jesus um homem chamado Mateus, sentado na


coletoria, e disse-lhe: “Segue-me!” Ele se levantou e o
seguiu”.

Mateus 9.9

Então o convite que Jesus estava dando ao jovem rico foi o mesmo que Ele
deu aos seus discípulos. Essa mensagem de largar tudo para trás21 e seguir a

21
Explicando o sentido dessa expressão, o mestre Ciro Zibordi (2009, p.18) explica:
“Em Mateus 16.24, o mestre disse: “Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si
mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me”. Renunciar não é, necessariamente,
abandonar, largar, mas pôr em segundo plano ou, vendo de outro ângulo, entregar a
P á g i n a | 89

Jesus vai encontro ao coração espinhoso, visto que, um coração espinhoso


até “gosta” de Jesus, mas existem coisas para essa pessoa que estão
acima de uma vida com Deus, que estão acima de uma vida eterna.

Vale a pena largar tudo e seguir a Jesus. Depois da resposta do jovem rico a
essa ordem de Jesus, Pedro disse:

“Então Pedro começou a declarar para Jesus: “Eis que nós


tudo abandonamos para te seguir”.

Marcos 10.28

E Jesus lhe respondeu:

“Garantiu-lhes Jesus: “Com toda a certeza vos asseguro que


ninguém há que tenha deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai,
filhos ou bens, por causa de mim e do Evangelho, que não
receba, já no presente, cem vezes mais, em casas, irmãos,
irmãs, mães, filhos e propriedades, e com eles perseguições;
mas no mundo futuro, a vida eterna”.

Marcos 10.29-30

Vale a pena priorizar o reino de Deus (Mateus 6.33).

Voltando ao jovem rico

O que aconteceu depois da ordem de Jesus do jovem dar todos os seus bens e
seguir a Ele?

“Diante disso, o homem abateu-se profundamente e retirou-


se entristecido, pois possuía muitos bens”.

Marcos 10.22

Jesus. Renunciar implica deixar de priorizar. Isso significa que, ao entregarmos a


nossa vida a Jesus, somos dele, e tudo se torna secundário. Não há necessidade de
largar a família, o emprego, etc, para seguir Jesus! Precisamos, antes, considerar
essas coisas secundárias ante a relevância de priorizar a comunhão com Jesus
(Mateus 10.27). Não confundamos, pois, renúncia com abandono. Não precisamos
largar tudo para seguir a Cristo, e sim entregar-lhe tudo”.
P á g i n a | 90

Quando Jesus disse para o jovem dar todos os seus bens e seguir a Jesus, Ele
estava semeando no coração do rapaz. Contudo, o jovem era um terreno
espinhoso.

“Outra parte ainda, caiu entre os espinhos, que com ela


cresceram e sufocaram suas plantas”.

Lucas 8.7

“As que caíram entre os espinhos, significam os que ouvem;


todavia, ao seguirem seu caminho, são sufocados pelas
muitas ansiedades, pelas riquezas e pelos prazeres desta
vida, e não conseguem amadurecer”.

Lucas 8.14

As riquezas sufocaram a semente divina no coração do rapaz, e este não


pode amadurecer e frutificar. Ser rico para este jovem era mais importante
do que ser salvo. Ser rico nesta vida terrena e passageira era mais
importante para o rapaz do que ser rico na eternidade. Ele praticava os
mandamentos, queria obedecer a Deus, mas para isso ele precisava lidar
com seu espinho, mas não o fez, e o espinho da riqueza sufocou a
semente. Este jovem poderia ter sido um discípulo e posteriormente um
apóstolo, poderia ter sido usado por Deus como um profeta, um pastor, ou
doutor, poderia ter uma parte linda da Bíblia sobre ele. Mas por escolha dele, a
história dele acabou aí. O jovem rico é mais um exemplo de um terreno
espinhoso.

Será que você é assim?

Agora, permita-me te perguntar: será que você, querido leitor, é um terreno


espinhoso? Muito cuidado! Não vale a pena priorizar outras coisas na vida
acima de Deus. Jesus disse:

“As que caíram entre os espinhos, significam os que ouvem;


todavia, ao seguirem seu caminho, são sufocados pelas muitas
ansiedades, pelas riquezas e pelos prazeres desta vida, e não
conseguem amadurecer”.
P á g i n a | 91

Lucas 8.14

Se existem coisas para você que são muito mais importantes do que Deus, do
que uma vida com Deus, do que a vida eterna, muito dificilmente você vai
amadurecer em Cristo e ainda corre o risco da semente divina no seu coração
secar completamente. Esse é um dos objetivos de Satanás, que você não
amadureça na fé em Jesus (1 Pedro 5.8). Ele sabe que na medida em que
você alcança maturidade na vida com Deus, mais difícil será para ele conseguir
te atingir de alguma forma.

Se o querido leitor (a) é uma pessoa que tem tempo para os estudos, o
trabalho, lazer, esporte, relacionamentos, mas não tem tempo para Deus,
cuidado! Esse é um forte indício que seu coração pode ser um terreno
espinhoso, que prioriza outras coisas acima de Deus! Claro que precisamos
estudar, trabalhar, se divertir, se exercitar e se relacionar. Entretanto, essas
coisas devem vir em segundo plano, frente a nossa vida com Deus, a nossa
vida particular com o Eterno.

Colocar Deus em primeiro lugar é a melhor escolha que podemos tomar. A


mensagem de Deus para você é:

“Buscai, assim, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas


essas coisas vos serão acrescentadas (Mateus 6.33)”.

Agora, continue comigo, vamos ver agora o próximo tipo de terreno.


P á g i n a | 92

CAPÍTULO 5

BOA TERRA – CORAÇÃO FRUTÍFERO

“Contudo, uma parte caiu em boa terra, produzindo generosa


colheita, a cem, sessenta e trinta por um”.

Mateus 13.8

A quarta classe destacada por Jesus é o que Elienai Cabral (2005, p.23)
chama de ouvintes-boa-terra porque são aqueles que ouvem e compreendem a
Palavra de Deus e dão frutos. A “boa terra” recebe a semente porque é
profunda e fértil. É propícia à sua germinação e desenvolvimento. Ainda
segundo o mestre, pelo menos três características são manifestadas nesse tipo
de terreno.

1 - As pessoas ouvem e entendem a Palavra. Isso é algo que percebemos na


explicação do próprio Senhor Jesus:

“Mas, enfim, o que foi semeado em boa terra é aquele que


ouve a Palavra e a entende; este frutifica e produz grande
colheita: alguns, cem; outros, sessenta; e ainda outros trinta
vezes mais do que foi semeado”.

Mateus 13.23

Geralmente, tais pessoas são sensíveis às coisas espirituais. São


desejosas de conhecer e aprender a Palavra de Deus, e mediante a receita
espiritual (oração, jejum e estudo da Palavra – p.46-47) vão entendendo cada
vez mais as Escrituras Sagradas, e assim vão aprofundando suas raízes em
Deus (LIESBCHER, 2017).

2 – As pessoas tornam-se frutíferas. Essa atividade frutífera é demonstrada por


uma dinâmica interior da semente plantada e pela qualidade da terra. Jesus
destaca essa dinâmica quando diz (Mateus 13.8):

“... e deu fruto: um, a cem, outro, a sessenta, e outro, a trinta”.

Quando a Palavra (a semente) penetra fundo na terra do coração, ela produz


bons frutos, que é o resultado das convicções firmes no poder da Palavra,
P á g i n a | 93

do entendimento e recebimento da mesma, e das práticas espirituais da


oração, do jejum, da adoração e etc. (João 15.8).

3 - As pessoas tornam -se frutíferas independente da quantidade ou proporção.


Não importa quem produz mais ou menos. O que importa é que produzamos o
suficiente para alcançar muitas pessoas (SaImos 1.3). Porém, há um detalhe
que indica que certos grãos rendem mais que outros. Isto não significa
qualquer privilégio propiciado ou discriminativo. No mundo em que vivemos,
algum as pessoas produzem mais que as outras, e no Reino de Deus é a
mesma coisa. O importante é que todos produzam, independentemente da
quantidade. A proporção é equivalente à capacidade individual de cada “grão”
(semente) produzir ou não.

Os estudiosos têm procurado entender o texto de Mateus 13.8, que destaca as


proporções de produtividade das sementes semeadas. Cabral (2005, p.24)
citando um grande teólogo interpreta esse texto da seguinte forma:

a) “trinta por um” designa o nível menor de frutificação;


b) “sessenta por um”, o nível intermediário de frutificação;
c) “cem por um”, o mais elevado nível.

Um outro teólogo comentou esse texto da seguinte maneira: “Assim como os


níveis dos ouvintes sem fruto eram três (beira do caminho, solo rochoso, entre
espinhos), também é tríplice a abundância de frutos nos ouvintes frutíferos
(terra boa – 30 por 1, 60 por 1 e 100 por 1)”.

O que é dar frutos?

A principal característica desse solo é que ele frutifica, diferentemente dos


outros. Trazendo para as nossas vidas, o que significa frutificar no nosso dia-a-
dia com Deus? Segundo Ribas Júnior (2015), frutificar é:

“Dar frutos significa produzir ações e atitudes que honrem


a Deus”.

(JÚNIOR, 2015, p.863)

Eu gosto muito da definição acima porque Jesus disse (João 15.8): “o que
glorifica meu Pai é que deis fruto em abundância; e assim sereis
P á g i n a | 94

verdadeiramente meus discípulos”. Veja, dar fruto em abundância glorifica o


pai. Como frutos são ações que honram a Deus, naturalmente dá muito
fruto quem faz muitas ações que honram a Deus. Então ser fiel a Deus,
adorar a Ele, obedecer a Ele e sua Palavra, agir com bom caráter, agir
com amor, são bons frutos que podemos dar no dia-a-dia. O maior fruto
que podemos dar é buscar obedecer a esses dois mandamentos:

“Esclareceu Jesus: “O mais importante de todos os


mandamentos é este: ‘Ouve, ó Israel, o Senhor, o nosso Deus
é o único Senhor. Amarás, portanto, o Senhor, teu Deus, de
todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu
entendimento e de toda a tua força’. E o segundo é:
‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’. Não existe
qualquer outro mandamento maior do que estes”.

Marcos 12.29-31

A semente plantada em nossos corações germinará e frutificará mediante


a nossa disposição para receber, internalizar e permitir que Deus nos use
da forma que o aprouver. Cada um tem um chamado específico e único no
Reino de Deus (Efésios 4.11-12). Não há espaço para ciúmes ou invejas,
desde que cada um produza à proporção de seu chamado (1 Coríntios 13.4;
Gálatas 5.26). Segundo Cabral (2005, p.28) a lição maior desta parábola não é
simplesmente frutificar, o que está relacionado com a disposição para querer
aprender, entender e obedecer a Palavra de Deus (João 14.15; Tiago 1.22).

Então, trataremos a seguir de pessoas que foram solos frutíferos. Estudaremos


pessoas que receberam sementes divinas e frutificaram grandemente. Então
os atos de adoração e obediência que veremos serão tratados como frutos.
Vamos aos exemplos:

EXEMPLO 1: ABRAÃO

Antes, deixa eu te contextualizar...

O patriarca Abraão é uma das grandes referências bíblicas que temos acerca
de alguém que o terreno do coração era um solo frutífero. No momento ele se
chamava Abrão. Ele foi filho de Terá, e sua família era natural da cidade de Ur
P á g i n a | 95

dos Caldeus, localizada na Mesopotâmia. Após a morte do irmão de Abrão, a


família saiu de Ur em direção à terra de Canaã. Eles foram até Harã, e
habitaram ali (Gênesis 11.31). Segundo o professor Conegero (2020) tanto Ur
quanto Harã, eram cidades e centros de adoração pagãos. Mal sabia Abrão o
que Deus tinha reservado para ele...

Pronto, agora vem à relação com a parábola...

No capítulo 12 de Gênesis, Deus, através de uma ordem seguida por


promessa, semeia uma semente no coração de Abrão:

“Então o SENHOR veio a Abrão e lhe ordenou: “Sai da tua


terra, da tua parentela e da casa de teu pai, e dirige-te à terra
que te indicarei! Eis que farei de ti um grande povo: Eu te
abençoarei, engrandecerei teu nome; serás tu uma bênção!
Abençoarei os que te abençoarem, amaldiçoarei aquele que te
amaldiçoar. Por teu intermédio abençoarei todos os povos
sobre a face da terra!”

Gênesis 12.1-3

Abrão era um solo frutífero, portanto, respondeu a semente divina com


recebimento total, com obediência total e imediata (Gênesis 12.4): “Então
partiu Abrão como o orientara o SENHOR, e Ló o acompanhou. Abrão tinha
setenta e cinco anos de idade quando saiu das terras de Harã”.

Quando Abrão chega a Siquém, o Senhor diz para ele (Gênesis 12.6-7): “É à
tua descendência que darei esta terra”! Vemos aí mais uma semente sendo
plantada no coração de Abrão. O que Abrão faz? Em um ato de gratidão e
adoração, ele constrói um altar22 ao Senhor naquele local (Gênesis 12.7). O
ato em si de construir um altar para cultivar uma comunhão com o Senhor
já em si um ato de frutificação (João 15.5).

22
“O altar, de acordo com as Escrituras, era um lugar construído para nele se
oferecerem sacrifícios e holocaustos de animais. Era um testemunho perpétuo, um
favor; sentia-se nele a manifestação divina, significava a presença de Deus,
santificava as ofertas, e era o lugar onde se realizava a comunhão dos fiéis com o
Senhor” (CONDE, 1983, p.45-46).
P á g i n a | 96

Entretanto, sobreveio grande escassez e fome sobre as terras de Canaã


(Gênesis 12.10). O doutor Donald C. Stamps (1995, p.51), editor-geral da Bíblia
Pentecostal de Estudo, ensina que desse fato podemos extrair 2 lições:

1) A obediência a Deus não significa que nunca enfrentaremos problemas


e duras provações. Mal Abrão chegou ao seu destino, enfrentou coisas
desagradáveis. Seus problemas incluíam uma esposa estéril (11.30), a
separação de sua parentela (12.1) e uma fome que estava levando-o à
privações e forçando-o a sair do país.
2) A pessoa que está procurando servir a Deus e obedecer à sua palavra,
não deve estranhar ao se deparar com grandes obstáculos,
adversidades e problemas. Costuma essa ser a maneira de Deus treinar
aqueles que Ele tem chamado para obedecer-lhe. Nesses casos
devemos prosseguir com obediência, e confiantes de que Deus
continuará agindo em nosso favor e pelo bem dos seus propósitos
(Mateus 2.13).

Chegando no Egito, Abrão faz algo que nos mostra o seguinte fato: pessoas
frutíferas continuam sendo seres humanos imperfeitos, suscetíveis ao erro.
Abrão disse a Sara:

“Quando estavam chegando ao Egito, ocorreu a Abrão propor a


Sarai, sua esposa: “Escuta com atenção! Tu és uma mulher
muito bonita; portanto, quando os egípcios contemplarem tua
formosura se alegarão: ‘É a mulher dele!’ e me matarão,
preservando a tua vida. Sendo assim, suplico-te, dize que és
minha irmã, para que me tratem bem por consideração a ti e,
por tua causa, conservem também a minha vida!”

Gênesis 12.11-13

Durante sua permanência no Egito, Abrão apesar de ser um solo frutífero, deu
uma prova de que não estava livre de fraqueza e imperfeição humana. Ao
ocultar o fato de que Sara era sua esposa, evidenciou desconfiança no cuidado
divino. Sarai era uma mulher muito bonita, e ele não duvidou de que os
egípcios cobiçariam a bela estrangeira, e que, a fim de consegui-la, não teriam
escrúpulo de matar a seu marido (v.13-14). Raciocinou que não seria culpado
P á g i n a | 97

de falsidade ao apresentar Sara como sua irmã; pois que era filha de seu pai,
posto que não de sua mãe. Mas esta ocultação da verdadeira relação entre
eles era um engano. Nenhum desvio da estrita integridade pode encontrar a
aprovação de Deus (Provérbios 12.22; João 8.44).

Devido à falta de fé por parte de Abraão, Sara foi posta em grande perigo. O rei
do Egito, sendo informado de sua beleza, fez com que ela fosse levada ao seu
palácio, tencionando fazer dela sua esposa. Mas o Senhor, em Sua grande
misericórdia, protegeu a Sarai, enviando juízos sobre a casa real (v.15-17). Por
este meio o rei soube a verdade a tal respeito; e, indignado pelo engano
praticado para com ele, reprovou Abraão, e restituiu-lhe a esposa, dizendo:

“Que é isto que me fizeste? Por que não me declaraste que


ela era tua mulher? Por que alegaste: ‘Ela é minha irmã!’, de
modo que eu a tomasse como minha mulher? Agora, portanto,
eis a tua mulher de volta: toma-a e vai-te!” Em seguida, Faraó
deu ordens expressas para que todo o necessário fosse
providenciado a fim de que Abrão deixasse imediatamente o
Egito, levando consigo sua mulher e tudo o que possuía”.

Gênesis 12.18b-20

O fato de Abraão ter sido um solo extremamente frutífero não implica dizer que
ele nunca errou na vida. As Escrituras falam que o único que não pecou foi
Jesus (1 Pedro 2.22). Em Hebreus 11 vemos que quase todos os heróis da fé
relatados ali foram homens que tiveram pecados relatados na Bíblia.

Após isso, Abrão volta do Egito para Canaã (Gênesis 13.1-3). Ele e seu
sobrinho Ló se separam (Gênesis 13.7-17). Ló seguiu para a campina do
Jordão, Abrão rumou para os carvalhais de Manre, próximo a Hebrom. E
adivinha? Ali Abrão construiu mais um altar para adorar e estabelecer
comunhão com Deus (Gênesis 13.11,18). A vida do homem é respaldada
em atos de frutificação.

No capítulo 14 do livro de Gênesis, quatro reis (Anrafel, Arioque, Quedorlaomer


e Tidal) se juntam para enfrentar cinco reis (Bera, Birsa, Sinabe, Semeber e
Zoar). Os quatro reis vencem a batalha, e fizeram o seguinte:
P á g i n a | 98

“Apossaram-se também de Ló, filho do irmão de Abrão, que


morava em Sodoma, e dos seus bens, e partiram”.

Gênesis 14.12

Alguém que escapou da matança dos quatro reis partiu e avisou a Abrão do
ocorrido (v.13). Quando soube, Abrão fez um ato de extrema fé e confiança
em Deus. Com 318 homens foi resgatar Ló da posse dos quatro reis:

“Quando Abrão ouviu que seu parente fora levado prisioneiro,


mandou convocar os melhores trezentos e dezoito homens
treinados para a guerra, nascidos em sua propriedade, e partiu
em perseguição aos inimigos de Dã. Atacou-os durante a
noite em grupos, e assim os venceu, perseguindo-os até
Hobá, ao norte de Damasco. Conseguiu recuperar todos os
bens e trouxe de volta seu parente Ló com tudo o que
possuía, juntamente com as mulheres e todos os demais
prisioneiros”.

Gênesis 14.14-16

E venceu! Que fé que Abrão tinha em Deus! Então Melquisedeque, rei de


Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, trouxe pão e vinho e abençoou Abrão,
dizendo: “Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, que criou os céus e a terra!
Seja louvado o Deus Altíssimo, que entregou teus inimigos nas tuas mãos!”
Então Abrão lhe entregou o dízimo de tudo (v.18-20). Esse ato mostra que
Abrão reconhecia que o Eterno é o dono de tudo e que aquilo que eram e
tinham se devia a sua bondade (Salmos 24.1). Mais tarde, o rei de Sodoma
fez uma proposta a Abrão, e o mesmo respondeu:

“Mais tarde, o rei de Sodoma propôs a Abrão: “Dá-me as


pessoas, e os bens poderão ficar todos contigo!” Mas Abrão
declarou ao rei de Sodoma: “Ergo minhas mãos em adoração
ao SENHOR, o Deus Altíssimo, Criador dos céus e da
terra, e juro que não ficarei com nada do que é teu, nem um
fio de linha ou uma tira de sandália, para que jamais
venhas a reclamar: “Abrão ficou rico à minha custa!” Nada
quero para mim, senão o que os meus servos comeram e a
P á g i n a | 99

porção pertencente a Aner, Escol e Manre, os quais me


acompanharam. Que eles recebam seu devido quinhão”!

Gênesis 14.21-24

Abrão, ao se recusar a participar das riquezas recuperadas dos cananeus,


revela sua dependência exclusiva de Deus e da sua bênção (v.19; Mateus
14.19). No capítulo 15 (v.1-5) Deus semeia mais uma semente no coração
de Abrão, e como este era um solo frutífero, o resultado não poderia ser
outro:

“Abrão creu no SENHOR, e isso lhe foi creditado como justiça”.

Gênesis 15.6

Mas como já dito, essa condição do coração de receber a Palavra de Deus não
impede as pessoas de errarem. No capítulo 16 de Gênesis, Abrão influenciado
por sua mulher Sarai, tentam “ajudar” o Senhor em cumprir sua promessa da
grande descendência23, eles têm um filho por intermédio da serva Agar (v.4).
Esse filho recebe o nome de Ismael. Os descendentes de Ismael são os povos
árabes (Gênesis 25.12-18).

Passados 13 anos deste evento, aos noventa e nove anos, novamente Deus
aparece a Abrão e semeia uma semente no coração dele, confirmando-lhe a
sua promessa (Gênesis 17.2). Nesse momento, Deus muda o nome de Abrão
para Abraão:

“Quanto a mim, eis a minha Aliança contigo: serás pai de uma


multidão de nações. E não mais te chamarás Abrão, mas
doravante teu nome será Abraão, pois Eu te faço ‘pai de
muitas nações”.

Gênesis 17.4-5

Essa mudança também ocorre com Sarai, sua esposa:

23
Provavelmente todo impasse que tem hoje no oriente médio entre judeus e árabes
tem sua origem nesse ato de Abrão (DUTRA, 2020).
P á g i n a | 100

“E determinou Deus a Abraão: “A tua mulher Sarai, não mais a


chamarás de Sarai, mas seu nome passa a ser Sara. Eu a
abençoarei, e também por intermédio dela te darei um filho. Em
verdade eu a abençoarei, e dela procederão muitas nações e
grandes reis”!

Gênesis 17.15-16

Deus ordena que a Abraão e todos os homens de sua casa fossem


circuncidados e que toda criança do sexo masculino que nascesse receberia
esse sinal ao oitavo dia (Gênesis 17.11-12). Esse seria a marca da aliança de
Deus com Abraão e seus descendentes. O que Abraão faz? O mesmo de
sempre, já que era um solo frutífero – obedece.

“Naquele mesmo dia, Abraão tomou seu filho Ismael, todos os


nascidos em sua casa e os que foram comprados, todos do
sexo masculino de sua casa, e os circuncidou, como Deus lhe
ordenara. Abraão tinha exatamente noventa e nove anos de
idade quando foi circuncidado; e seu filho Ismael tinha treze
anos; Abraão e seu filho foram circuncidados naquele mesmo
dia”.

Gênesis 17.23-26

Gênesis 18, por sua vez, começa narrando mais um episódio em que Deus
aparece a Abraão. O texto bíblico diz que o Senhor apareceu a Abraão nos
carvalhais de Manre, quando ele estava assentado à entrada de sua tenda,
durante a hora mais quente do dia24 (Gênesis 18.1). Então Abraão levantou os
olhos e enxergou três homens em pé em sua frente. Rapidamente ele se dirigiu
aos três homens demonstrando muito cordialidade e hospitalidade. Acerca
deste episódio, escreveu Stamps (1995):

“Um dos três homens era, sem dúvida, uma manifestação de


Deus em forma humana, e os outros dois eram anjos que

24
Essa informação que o texto nos traz é interessante quando observamos a luz da
cultura da época. Durante o período de maior calor do dia, era comum que os
viajantes procurassem algum abrigo do sol quente. Por isso que Abraão, ao ver os
homens, rapidamente se mobilizou para recebê-los (CONEGERO, 2020).
P á g i n a | 101

apareceram como homens. É possível que Abraão não tenha


reconhecido, logo de início, que os visitantes eram Deus e dois
anjos”.

(STAMPS, 1995, p.58)

Em certas regiões do antigo Oriente Médio havia o costume de um anfitrião


receber com hospitalidade os viajantes que cruzavam aquelas terras (RIBAS
JÚNIOR, 2015, p.39-40). Abraão ofereceu água para que os viajantes
pudessem lavar os pés, repouso debaixo de uma árvore e uma refeição
completa, com pão assado, novilho e leite (Gênesis 18.4-8).

Humildemente Abraão saudou, hospedou, alimentou e despediu o próprio Deus


e dois de seus anjos manifestados em aparência humana. Talvez o escritor de
Hebreus tivesse em mente a história de Gênesis 18 quando falou que, sem
saber, alguns hospedaram anjos (Hebreus 13.2). Os visitantes perguntaram a
Abraão sobre onde estava Sara. Abraão lhes respondeu que ela estava dentro
da tenda. Então um dos ilustres visitantes disse que muito em breve Sara
haveria de dar à luz a um filho. Sara, entretanto, estava à porta da tenda e
escutou aquelas palavras. O escritor bíblico ainda faz questão de enfatizar que
Abraão e Sara já eram muito idosos, e que o corpo de Sara já não tinha mais
qualquer possibilidade de conceber um filho (Gênesis 18.9-11; Romanos 4.19;
Hebreus 11.11,12).

Ao escutar aquelas palavras, Sara riu-se no seu intimo, e consigo mesma


desconfiou sobre como aquilo poderia se tornar possível. Então Deus
perguntou a Abraão:

“Por que se ri Sara, conjeturando: ‘Será possível que vou dar à


luz, agora que sou velha?”

Gênesis 18.13

Neste ponto da visita fica evidente a natureza divina daquele viajante. Ele não
apenas prometeu algo naturalmente impossível, mas também se mostrou ser
onisciente ao revelar o que Sara havia pensado em seu íntimo. Na sequência,
o Senhor ainda foi muito específico quanto ao cumprimento de Sua promessa.
P á g i n a | 102

Ele disse: “Daqui a um ano, neste mesmo tempo, voltarei a ti, e Sara terá um
filho” (Gênesis 18.14).

O texto de Gênesis 18 mostra que rapidamente Sara converteu o ceticismo


inicial em temor (Gênesis 18.15). Depois disso a história bíblica revela que
Sara creu fielmente na promessa do Senhor juntamente com seu marido, a
ponto de mais tarde ser citada entre os heróis da fé (Hebreus 11.11; Romanos
4.13-25). Três capítulos depois o Senhor cumpre sua promessa:

“O SENHOR Deus visitou Sara, como dissera, e fez por ela


como prometera. Sara concebeu e deu um filho a Abraão, já
idoso, no tempo que Deus tinha marcado. Ao filho que lhe
nasceu, gerado por Sara, Abraão deu o nome de Isaque”.

Gênesis 21.1-3

Em obediência a Deus, Abraão circuncida Isaque (v.4). Algumas coisas


acontecem no capítulo 21, e então no capítulo 22 vemos uma das maiores
provas que Abraão era um solo frutífero. Abordamos este episódio no capítulo
anterior (p.83-84):

Deus ordenou que Abraão tomasse Isaque, seu único filho com sua esposa
Sara, e o oferecesse em holocausto (o sacrificasse) em um dos montes da
terra de Moriá (Gênesis 22.2). Ele simplesmente ouviu a ordem divina e a
obedeceu imediatamente. Ele se levantou de madrugada, preparou o seu
jumento e a lenha, tomou Isaque e dois de seus servos, e partiu para Moriá
(Gênesis 22.3).

Ao terceiro dia Abraão conseguiu avistar o lugar que Deus havia lhe falado. A
partir dali ele seguiu o caminho apenas com Isaque. Inclusive, Isaque foi o
responsável por carregar a lenha do holocausto. Isso significa que apesar de a
Bíblia não dizer qual era a idade de Isaque naquela ocasião, ele já tinha
tamanho suficiente para tal tarefa (Gênesis 22.4-6).

Em determinado momento Isaque questionou Abraão sobre onde estava o


cordeiro para o holocausto, já que eles estavam carregando somente a lenha, o
fogo e o cutelo. A resposta de Abraão foi uma profunda declaração de fé:
“Deus proverá para si, meu filho, o cordeiro para o holocausto” (Gênesis 22.8).
P á g i n a | 103

Quando Abraão e Isaque chegaram ao lugar indicado por Deus, o patriarca


edificou um altar, dispôs a lenha sobre ele e deitou Isaque amarrado sobre a
lenha (Gênesis 22.9). Também é interessante notar a obediência de Isaque.
Em nenhum momento Gênesis 22 registra qualquer lamentação ou revolta por
parte do rapaz.

Quando Abraão tomou o cutelo para imolar Isaque, o Anjo do Senhor bradou
do céu e lhe interrompeu. Foi nesse momento que Abraão escutou as
maravilhosas palavras:

“Não estendas a tua mão contra o rapaz!” − ordenou o Anjo


“Não lhe faças nada! Agora bem sei que temes a Deus,
porquanto não me negaste teu amado filho, teu único filho!”

Gênesis 22.12

Foi apenas um teste! Isso significa que a fé de Abraão havia sido confirmada
através da obediência (Gálatas 5.6; Hebreus 11.17; Tiago 2.21). Imediatamente
Abraão ergueu os olhos e contemplou um carneiro preso entre os arbustos.
Abraão tomou o carneiro e ofereceu em holocausto, e chamou aquele lugar de
“O SENHOR Proverá” (Gênesis 22.13,14). Depois disso, mais uma vez o Anjo
do Senhor bradou do céu e confirmou a aliança com Abraão (Gênesis 22.15-
19). Acerca deste episódio, afirma Conegero (2020):

“Foi exatamente nesse ponto que a o exemplo maior de fé do


patriarca foi revelado. Conforme o escritor da Epístola aos
Hebreus, Abraão confiou fielmente que Deus, para cumprir Sua
promessa, poderia fazer com que Isaque ressuscitasse dos
mortos. Abraão estava sofrendo, porém ele sabia que de uma
forma ou de outra os planos de Deus não seriam frustrados”.

(CONEGERO, 2020, p.1)

Depois de bastante tempo o patriarca Abraão morreu, numa velhice feliz, idoso
e repleto de bons anos (Gênesis 25.8). Ele foi um claro exemplo de um solo
frutífero a semente divina. Sempre que recebia a semente divina
frutificava, seja obedecendo ao Senhor, seja edificando um altar de
adoração ou seja através de seu caráter.
P á g i n a | 104

EXEMPLO 2: DAVI

Antes, deixa eu te contextualizar...

Lembra que tratamos aqui acerca do rei Saul, o primeiro rei de Israel (p.71-77)?
Lembra que, devido à desobediência de Saul, Deus escolhe outro rei (1
Samuel 16.1)? Então, esse outro rei escolhido foi justamente Davi. Ele ainda
menino recebeu a semente divina em seu coração da parte de Deus
através de Samuel. Deus mandou o profeta ir até a casa da família de Davi,
porque Deus o próximo rei de Israel estaria lá (1 Samuel 16.1-3). Nessa época,
Davi pastoreava as ovelhas de seu pai.

Ainda que aos olhos humanos, os melhores candidatos ao ofício fossem os


irmãos de Davi, que talvez fossem mais imponentes fisicamente, o escolhido
por Deus foi Davi. O Senhor tem seus critérios:

“Eis que Deus enxerga não como o ser humano vê, porquanto
o homem julga e toma em elevada consideração a aparência,
mas o SENHOR sonda o coração.”

1 Samuel 16.7b

Por ordem de Deus, Samuel ungiu Davi como o próximo rei de Israel. Essa
unção em si (acompanhada ou não de palavras – o texto não expõe palavras
de Samuel, o que provavelmente indica que ele não falou nada, apenas ungiu)
já é uma forma de semeadura25.

Pronto, agora vem à relação com a parábola...

Davi era um solo frutífero, logo essa semente achou guarida em seu
coração. Prontamente vemos indícios de que Davi era um filho obediente, um
servidor dedicado e um homem de fé (1 Samuel 17.15-19). Obedecendo a
ordem do pai, ele vai ao acampamento israelita servir o pai (1 Samuel 17.20).

25
Isso se dá porque a unção no Antigo Testamento destinava-se a sacerdotes, reis e
profetas, para que estes exercessem com êxito suas funções e ministérios (Êxodo
40.13-15; 1 Samuel 9.16; 1 Reis 19.16). A unção do rei Davi, por intermédio de
Samuel, é uma declaração da escolha divina para cumprir seus propósitos.
P á g i n a | 105

Chegando lá o gigante Golias, representando o exército filisteu, estava


afrontando o povo de Israel (1 Samuel 17.23-24). Em uma grande
demonstração de fé, mesmo se tratando de um jovem, ele decide enfrentar o
gigante para a glória de Deus (1 Samuel 17.31-47). Resultado:

“Então logo que o filisteu partiu e avançou em direção a Davi,


este saiu das suas linhas e correu ao encontro do grande
filisteu. Davi levou a mão ao seu alforje, apanhou rapidamente
uma pedra que lançou por meio de sua atiradeira e atingiu o
filisteu na testa, de tal modo que ela ficou encravada, e ele
tombou, dando com o rosto no chão. Desse modo Davi venceu
o temido guerreiro filisteu com uma atiradeira e uma pedra de
riacho; sem espada na mão derrubou o grande filisteu e o
matou. Então Davi correu, pôs o pé sobre o filisteu, apanhou-
lhe a espada, tirou-a da bainha e a cravou no filisteu e, com
ela, decepou-lhe a cabeça. Assim que os filisteus se deram
conta do que havia acontecido e confirmaram que a morte de
seu grande guerreiro, fugiram em disparada”.

1 Samuel 17.48-51

Com essa grande vitória, Davi entra no exército israelita e após um tempo se
torna o comandante (1 Samuel 18.5). Ao acumular fama, passa a ser invejado
pelo rei Saul (1 Samuel 18.9). Essa inveja se torna tão intensa que Saul tenta
assassinar Davi algumas vezes (1 Samuel 18.11). Entretanto Davi era um
solo frutífero, logo entendemos que o natural era ele dar frutos de
benignidade (Gálatas 5.22). Davi não tenta matar Saul, pelo contrário, age
com grande respeito e misericórdia com o rei (1 Samuel 24.10).

Vale dizer que um fruto positivo recorrente na vida de Davi era o da


dependência. Ele sempre consultava a Deus em relação aos seus planos. Era
algo tipo assim:

“Passados esses acontecimentos Davi consultou a Deus, o


SENHOR: “Deverei subir a governar alguma das cidades de
Judá?”, e Yahweh lhe respondeu: “Sobe!” Então Davi indagou:
“A qual subirei?”, e a resposta foi: “A Hebrom!”
P á g i n a | 106

2 Samuel 2.1-2

Temos relato de Davi consultando a Deus em 1 Samuel 23.2; 23.4; 23.9; 2


Samuel 2.1; 5.19; 5.23. Ele consultava a Deus, ouvia as orientações do Senhor
e agia de acordo com elas. Desse modo, ele alcançava êxito em tudo o que
fazia (1 Samuel 18.5; 2 Samuel 8). Alguém que é um solo frutífero vive debaixo
do direcionamento de Deus.

Depois de um tempo Saul morre (1 Samuel 31.4). Davi é aclamado rei em


Judá, e posteriormente a promessa de Deus se cumpre, com Davi sendo
aclamado rei em todo o Israel (2 Samuel 2.4; 2 Samuel 5.3). Como Davi era
um solo frutífero, uma das primeiras coisas que fez como rei de Israel foi
se mobilizar para trazer a Arca da Aliança para Israel (2 Samuel 6). A Arca
da Aliança era uma representação da presença de Deus no meio do seu povo
(Números 7.89; Josué 3.14-17).

A preocupação de Davi em cuidar e preservar a Arca é um grande sinal da


frutificação da semente divina em seu coração. Segundo explica Valadão
em sua obra “A arca da aliança e o cristão” (2000, p.46), Davi priorizava a
presença de Deus, por isso seu coração se encheu de desejo pela busca da
arca, o símbolo da presença do Deus Todo-Poderoso (2 Samuel 6.2). Quando
a arca do Senhor chegou em Jerusalém, a Bíblia nos mostra que Davi dançava
com todas as suas forças diante do Senhor (2 Samuel 6.14). Ele não se
importava com o que podiam pensar dele, de sua adoração e, muito menos, de
seu amor a Deus (2 Samuel 6.21-22). A postura de Davi nos alerta para o que
é, de fato, importante - o que importa é nosso relacionamento com Deus
(Salmos 42.1-2; Mateus 6.33).

Após isso, Davi expressa um desejo de construir um templo para Deus (2


Samuel 7.2). Apesar disso, Deus disse que Davi não construísse, pois isso era
algo reservado que Deus tinha reservado ao filho sucessor de Davi (2 Samuel
7.8-13). Apesar disso, Davi começou a preparar a construção do templo,
providenciando os melhores materiais em abundância para a construção (1
Crônicas 22). Além disso, ele tratou de organizar a adoração em Jerusalém (1
Crônicas 23-26):
P á g i n a | 107

a) Distribuiu os levitas nos grupos corretos (23.6);


b) Certificou-se que a adoração iria acontecer todos os dias com frequência
no templo (23.30), e que as festas sagradas seriam cumpridas fielmente
(23.31);
c) Organizou os sacerdotes (24.19);
d) Organizou os músicos (25.1-31);
e) Organizou os porteiros (26.1-19);
f) Organizou os tesoureiros (26.20-28);
g) Organizou os oficiais e juízes (26.29.32);

Davi organizou a adoração em Jerusalém, o nome do Senhor estaria sendo


exaltado todos os dias de maneira dedicada e organizada. Como dito, Davi
era um solo frutífero, perceba quantos frutos positivos ele deu. O reino de
Davi foi muito próspero, e inúmeras foram as batalhas que Israel triunfou
durante esse período (2 Samuel 8).

Outro fruto positivo da vida de Davi foi seu ato de bondade para com
Mefibosete, filho de Jônatas (2 Samuel 9.1). Jonatas e Davi haviam feito uma
pacto de amizade leal na última vez que se viram (1 Samuel 20.41-42). Nesse
pacto, Davi seria benevolente com a descendência de Jonatas, e vice-versa.
Em 2 Samuel 9, Davi se lembra desse pacto26:

“Certa ocasião Davi questionou a si mesmo: “Será que alguma


pessoa da família de Saul ainda vive? Se houver, eu gostaria
muito de encontrá-la e fazer algo de bom por essa pessoa, em
memória da minha amizade por Jônatas”.

2 Samuel 9.1

26
Bom, Jonatas tinha morrido em 1 Samuel 31.2, na batalha contra os filisteus. Ele
tinha tido um filho chamado Mefibosete. Acerca dele, temos registro: “Jônatas, filho de
Saul, tinha um filho aleijado dos pés. Esse menino tinha cinco anos de idade quando
se ouviu a notícia de que Jezreel de que Saul e Jônatas haviam tombado em combate.
Sua ama o apanhou e fugiu, todavia, na pressa, ela o deixou cair, e ele ficou manco.
Seu nome era Mefibosete (2 Samuel 4.4)”.
P á g i n a | 108

Então Davi mandou trazerem Mefibosete ao seu palácio (2 Samuel 9.5). Ao


chegar, Davi age com bondade, e restitui a Mefibosete todas as terras
pertencentes a Saul e sua família e o convida para morar com ele no palácio
em Jerusalém (2 Samuel 9.7). Mefibosete humildemente aceita o favor do rei (2
Samuel 9.13).

Entretanto, já destacamos anteriormente que ser um solo frutífero não nos


torna infalíveis. Continuamos suscetíveis ao erro. Davi cometeu alguns erros
em sua vida, tais como:

a) Adulterar com uma mulher casada (Bate-Seba) e arquitetar a morte de


seu marido (Urias) no intuito de encobrir seu erro (2 Samuel 11);
b) Realizar um censo, motivado pela soberba, com todo o povo de Israel (2
Samuel 24);

Entretanto, como Davi era um solo frutífero, ele constantemente


reconhecia seus erros e se arrependia sinceramente (Salmo 51). Por causa
desses atos, sobrevieram algumas consequências negativas sobre a vida de
Davi, mas nada que fosse suficiente para abafar a semente divina em seu
coração, pois ele era alguém que tinha suas raízes aprofundadas em Deus
(2 Samuel 13-22). Seus mais de 70 salmos escritos são uma clara evidência
que ele tinha uma vida com Deus em particular, na oração, na adoração...

Davi é outro claro exemplo de uma pessoa que é um solo frutífero a


semente divina. Sempre que recebia a semente divina frutificava, seja
compondo salmos, seja através de seu caráter, seja com atos de
misericórdia, seja priorizando a Deus em sua rotina e em seu trabalho.

EXEMPLO 3: PAULO

Antes, deixa eu te contextualizar...

O período aqui retratado é logo após a primeira vinda de Jesus a essa terra,
sendo assim, encontramos nosso enredo no livro dos Atos dos Apóstolos e em
diante. Segundo conta Conegero (2020), Paulo, nome romano de Saulo27,

27
Algumas pessoas dizem que quando Paulo se converteu Deus mudou o seu nome
de Saulo para Paulo. Aqui não partimos dessa premissa. A luz das escrituras, vemos
P á g i n a | 109

nasceu em Tarso na Cilícia (Atos 16.37; 21.39; 22.25). Embora tenha nascido
um cidadão romano, Paulo era um judeu da dispersão, um israelita
circuncidado da tribo de Benjamin, e membro zeloso do partido dos fariseus
(Romanos 11.1; Filipenses 3.5; Atos 23.6).

Embora não se saiba ao certo com quantos anos Paulo saiu de Tarso, sabe-se
com certeza que ele foi educado em Jerusalém, sob o ensino do renomado
doutor da lei, Gamaliel, Paulo conhecia profundamente a cultura grega. Ele
também falava o aramaico, era herdeiro da tradição do farisaísmo, estrito
observador da Lei e mais avançado no judaísmo do que seus contemporâneos
(Gálatas 1.14; Filipenses 3.5,6).

O livro de Atos dos Apóstolos informa que quando Estêvão foi apedrejado,
suas vestes foram depositadas aos pés de Paulo de Tarso (Atos 7.58). Após
esse episódio da morte de Estêvão, Paulo de Tarso assumiu uma posição
importante na perseguição aos cristãos. Ele recebeu autoridade oficial para
liderar as perseguições. Além disso, na qualidade de membro do concílio do
Sinédrio, ele dava o seu voto a favor da morte dos cristãos (Atos 26.10).

O próprio Paulo afirma que “respirava ameaça e morte contra os discípulos do


Senhor” (Atos 9.1). Além de deflagrar a perseguição em Jerusalém, ele ainda
solicitou cartas ao sumo sacerdote para as sinagogas em Damasco. Seu
objetivo era levar preso para Jerusalém qualquer um que fosse seguidor de

que em nenhum lugar das Escrituras encontramos menção de Paulo ter mudado de
nome, no entanto, o que a Bíblia afirma é o seguinte: “Todavia, Saulo, também
chamado Paulo…” (Atos 13.9). Se repararmos cuidadosamente o versículo em pauta,
veremos que Lucas, o autor da narrativa diz que Saulo também era chamado Paulo.
Ou seja, não houve uma troca de nomes, o que de fato a Bíblia afirma claramente, era
que ele tinha dois nomes diferentes, fato considerado comum para um judeu que
também tinha cidadania romana, como era o caso de Paulo (At 16.37,38 e 22.25,26).
Enfim, Saulo era o seu nome hebraico; enquanto a Bíblia retrata a relação do apóstolo
com os judeus, este nome aparece – mesmo depois da conversão (O nome não
mudou por causa da conversão). Porém, quando enviado em sua viagem missionária
para desenvolver a sua missão entre os gentios, Lucas relata que Saulo também era
chamado Paulo, seu nome romano, ou seja, de relacionamento com os gentios. Como
ele era o “apóstolo dos gentios”, o nome Paulo era mais recorrente (Efésios 3.1-13).
P á g i n a | 110

Cristo, tanto homem como mulher (Atos 9.2). Paulo perseguia e assolava a
Igreja de Deus (Gálatas 1.13). Ele fazia isso acreditando que estava servindo a
Deus e preservando a pureza da Lei. Só que ele não contava que algo ia
acontecer com ele que iria mudar sua vida para sempre...

Pronto, agora vem à relação com a parábola...

Saulo de Tarso partiu furiosamente em direção a Damasco com o intuito de


destruir a comunidade cristã daquela cidade (Atos 9.2). De repente, algo
inesperado aconteceu. Esse algo que causou uma mudança radical, não só na
vida de Saulo, mas no curso da História. Aludindo a esse fato, o Pr. Hernandes
Dias Lopes (2009) em sua obra “Paulo: o maior líder do cristianismo” escreveu:

“Sua conversão extraordinária foi um divisor de águas não só


em sua vida, mas também na história da humanidade. Antes
dessa insólita experiência, foi o maior perseguidor do
cristianismo; depois dela, tornou-se seu maior arauto. Sua vida
foi vivida sempre com grande ardor e paixão. Antes de sua
conversão, seu zelo sem entendimento o levou a perseguir
implacavelmente os cristãos. Depois de sua conversão, seu
zelo pela glória de Deus o fez gastar-se sem reservas pelos
cristãos”.

(DIAS LOPES, 2009, p.6)

Durante sua viagem, quando se aproximava de Damasco, subitamente uma


intensa luz28, vinda do céu, resplandeceu ao seu redor (Atos 9.3-4). Então, ele
caiu por terra e ouviu uma voz que lhe afirmava (Atos 9.4b):

“Saul, Saul, por que me persegues?”

Então Saulo disse (Atos 9.5):

“Quem és, Senhor?”

A voz disse (Atos 9.5b-6):

28
Essa luz não era apenas uma luz, mas o próprio Jesus (Atos 9.17). Aquela luz era a
glória do próprio Filho de Deus ressurreto (DIAS LOPES, 2009, p.16).
P á g i n a | 111

“Eu Sou Jesus, a quem tu persegues; contudo, levanta-te e


entra na cidade, pois lá alguém te revelará o que deves
realizar”.

Veja, o Senhor Jesus lançou uma semente no solo do coração de Paulo, e


como ele era um solo frutífero, ele recebeu a semente. Essa semeadura
marca a conversão de um inimigo declarado de Cristo para um apóstolo seu. A
partir deste momento, o que segue é uma frutificação intensa e abundante
(1 Coríntios 15.9-10). Conegero (2020) aponta para as amostras iniciais do
recebimento da semente divina por parte de Paulo:

a) Respondeu ao chamado de Cristo: o primeiro aspecto da mudança na


vida do apóstolo Paulo pode ser percebido quando, imediatamente, ele
responde à voz de Cristo: “Senhor, que queres que eu faça?” (Atos
22.10). Essa pergunta marcou o começo de seu novo relacionamento
com Cristo (Gálatas 2.20).
b) De perseguidor a pregador do Evangelho: a mudança radical que atingiu
a vida do apóstolo Paulo fica evidente na mensagem que ele começou a
pregar na própria cidade de Damasco. Isso é realmente impressionante.
Ele começou a pregar o Evangelho no mesmo lugar em que pretendia
prender os seguidores de Cristo (Atos 9.1,2).
c) Mudança de vida total: antes da conversão, Paulo de Tarso não aceitava
a divindade de Jesus. Ele até acreditava que ao perseguir seus
seguidores como um animal selvagem, tentando força-los a blasfemar
contra Jesus, estaria fazendo a vontade de Deus (Atos 26.9-11; 1
Coríntios 12.3). É certo dizer que ele via Jesus como um impostor. Após
sua conversão, sua pregação não era outra senão anunciar que Jesus é
o Filho de Deus (Atos 9.20). O Paulo duro, rigoroso, ameaçador e
violento de outrora, depois de convertido passou a demonstrar ternura,
sensibilidade e amor. Essas características ficam evidentes em suas
obras.

Após o encontro que teve com Cristo, o apóstolo Paulo chegou a Damasco e
recebeu a visita de Ananias. Foi Ananias quem o batizou (Atos 9.17,18).
Também foi ali, naquela mesma cidade, que Paulo começou sua obra
P á g i n a | 112

evangelística (Atos 9.20-23). Entretanto, conforme aponta Dias Lopes (2009,


p.19), há um intervalo muito importante na vida de Paulo entre Atos 9.20,21 e
Atos 9.22. No começo, Paulo apenas pregava e afirmava que Jesus era o Filho
de Deus (At 9.20,21). Mas, depois, Paulo mais e mais se fortalecia e confundia
os judeus que moravam em Damasco, demonstrando que Jesus é o Cristo (At
9.22).

Veja, demonstrar é mais do que afirmar. Demonstrar é provar cuidadosa e


meticulosamente o que se afirma. Demanda um exame acurado, uma
investigação precisa, uma análise profunda. Onde Paulo esteve e o que
aprendeu para passar do primeiro estágio da afirmação para o segundo estágio
da demonstração? O livro de Atos não nos responde, mas encontramos a
resposta na carta aos Gálatas.

Após sua conversão, Paulo não foi para Jerusalém, onde estavam os
apóstolos, mas rumou para as regiões da Arábia, onde permaneceu três anos,
crescendo em intimidade e conhecimento com o próprio Senhor Jesus. O
próprio Paulo registra esse fato, assim:

“Caros irmãos, quero que saibais que o Evangelho por mim


ensinado não é de origem humana. Porquanto, não o recebi de
pessoa alguma nem me foi doutrinado; ao contrário, eu o
recebi diretamente de Jesus Cristo por revelação”.

Gálatas 1.11-12

Depois de passar três anos crescendo em intimidade com Jesus e examinando


cuidadosamente o Antigo Testamento, ele descobriu que Jesus era, de fato, o
Messias prometido (Gálatas 1.15-17). Depois, o apóstolo Paulo retornou a
Damasco, onde sua pregação provocou uma oposição tão grande que ele
precisou fugir para salvar sua própria vida (2 Coríntios 11.32,33).

Naquela ocasião ele parte para Jerusalém (Gálatas 1.18). Nesse tempo havia
completado cerca de três anos de sua conversão. Paulo tentou juntar-se aos
discípulos, porém estavam todos receosos com ele (Atos 9.26). Foi então que
Barnabé se dispôs a apresentá-lo aos líderes dos cristãos (Atos 9.27).
Entretanto, seu período em Jerusalém foi muito rápido, pois novamente os
P á g i n a | 113

judeus procuravam assassiná-lo (Atos 9.28-29). Por conta disso, os cristãos


decidiram despedir Paulo, uma decisão confirmada pelo Senhor numa visão
(Atos 22.17-18). Segundo o que ele próprio afirma em Gálatas 1.18, ele ficou
somente quinze dias com Pedro. Essa informação se harmoniza com o relato
de Atos 22.17-21.

Paulo acabou deixando Jerusalém antes que pudesse se encontrar com os


demais apóstolos, e também antes de se tornar conhecido pessoalmente pelas
igrejas da Judeia. Porém, os crentes de toda aquela região já ouviam as boas-
novas sobre Paulo (Gálatas 1.22-23).

Logo depois o apóstolo Paulo foi enviado à sua cidade natal, Tarso (Atos 9.30).
Ali ele passou um período de silêncio de cerca de dez anos. Embora esses
anos sejam conhecidos como o sendo o período silencioso do ministério do
apóstolo Paulo (CONEGERO, 2020). Acerca desse episódio da vida de Paulo,
Dias Lopes (2009) nos ensina algo muito interessante:

“Paulo saiu de Jerusalém e foi para Tarso, sua cidade natal. E


ali ficou não pouco tempo no anonimato, num completo
ostracismo. Nada sabemos desse longo período de sua vida.
Aquele que estava com a mente povoada de muitos sonhos, e
nutrindo na alma o ideal de pregar a Palavra em Jerusalém,
está, agora, sozinho, esquecido, fora do palco, longe das luzes.
É importante perceber que Deus ainda está tratando com ele.
Na verdade, Deus está mais interessado em quem nós
somos do que no que fazemos. Vida com Deus precede
trabalho para Deus. A nossa maior prioridade não é fazer a
obra de Deus, mas conhecer o Deus da obra. O Deus da
obra é mais importante do que a obra de Deus. Paulo
precisava aprender que o sucesso na obra não vinha dele
mesmo, mas de Deus. Ele precisava passar da antiga aliança
para a nova aliança. Na antiga aliança, tudo depende de nós e
nada, de Deus; na nova aliança, tudo depende de Deus e
nada, de nós. Se quisermos fazer a obra de Deus fiados em
nossas próprias forças, fracassaremos. Se dependermos
apenas dos nossos recursos, nos frustraremos. A nossa
suficiência vem de Deus. Tarso não foi um acidente na vida
P á g i n a | 114

de Paulo, mas uma escola de treinamento. O deserto é a


escola superior do Espírito Santo onde Deus treina seus
líderes mais importantes. Tarso foi o deserto de Paulo. O
deserto não é um acidente em nossa vida, mas uma
agenda de Deus. É Deus quem nos leva para o deserto.
Não gostamos do deserto. Ele não nos promove. Ele nos
tira do palco. Ele apaga as luzes dos holofotes e nos deixa
sem qualquer projeção. Deus nos leva para o deserto não
para nos exaltar, mas para nos humilhar. O deserto é o
lugar onde Deus treina seus líderes mais importantes.
Deus não tem pressa quando se trata de preparar os seus
líderes. Vivemos numa geração que tem muita pressa.
Gostamos de restaurantes fast-food. Mas os líderes não podem
amadurecer no carbureto. Eles não podem pular o estágio do
deserto. Deus preparou Moisés quarenta anos para usá-lo
durante quarenta anos. Deus preparou Elias três anos e meio
para usá-lo num único dia, no cume do monte Carmelo. O
Senhor Jesus só começou seu ministério com 30 anos de
idade. Paulo passou quatorze anos em Tarso antes de ser
poderosamente usado por Deus na obra missionária”.

(DIAS LOPES, 2009, p.21)

Enquanto Paulo estava em Tarso sendo preparado por Deus, recebendo29


sementes divinas para poder frutificar mais abundantemente, a
evangelização do mundo estava a todo vapor. O evangelho havia chegado a
Antioquia, a terceira maior cidade do mundo daquela época (Atos 11.20-23). A
igreja de Jerusalém enviou para lá o mesmo Barnabé que havia acolhido Paulo
em Jerusalém. Ao chegar ali, alegrou-se ao ver a obra de Deus prosperando e
lembrou-se de Paulo (Atos 11.25). Foi atrás dele e o buscou para engrossar
fileiras no ministério da evangelização e do ensino naquela cidade
metropolitana. Durante um ano, eles ensinaram a Palavra de Deus em
Antioquia (Atos 11.26).

29
O simples fato de Paulo perseverar durante esse período de preparação já é
um ato de frutificação em si. Perseverar nos caminhos do Senhor diante de períodos
difíceis é um fruto que podemos dar para Deus (Marcos 13.13; Apocalipse 14.12).
P á g i n a | 115

Fortalecida na Palavra de Deus, a igreja orava e jejuava (Atos 13.1-2). Foi


nesse tempo que o Espírito Santo separou Barnabé e Paulo para a grande
obra missionária, enviando-os para uma viagem missionária transcultural (Atos
13.3). Dias Lopes (2009, p.22) atenta para o fato que o Espírito Santo separou
Barnabé e Paulo, e não Paulo e Barnabé. O líder não era Paulo. Ele precisava
aprender a ser liderado antes de poder liderar. Ele precisava estar sob a
autoridade de alguém antes de poder exercer autoridade sobre alguém. Ele
precisava aprender a ser reserva antes de ocupar o lugar de titular.

Mais uma vez, estamos diante do fato de que Deus está trabalhando na vida de
Paulo, ensinando-o a depender totalmente do Senhor e nada de si mesmo.
Deus estava lapidando essa pedra, aparando suas arestas e moldando-o como
um oleiro faz com o vaso (Jeremias 18). Após isso, vem um período de
frutificação intensa na vida de Paulo. Essa frutificação se inicia com as
viagens missionárias30, que foram três:

30
O trabalho evangelístico do apóstolo Paulo abrangeu um período de cerca de dez
anos (CONEGERO, 2020; Atos 13-20). Paulo concentrava-se nas cidades-chave, isto
é, nos maiores centros populacionais de sua época (Atos 17.16-34). Isso fazia parte
de seu planejamento missionário. Quando alguns judeus e gentios aceitavam a
mensagem do Evangelho, logo esses convertidos tornavam-se o núcleo de uma nova
comunidade local (Efésios 2.11-18 – Os gentios e os judeus são unidos por Deus
mediante a cruz de Cristo). A estratégia missionária usada pelo apóstolo Paulo pode
ser resumida da seguinte forma:
1. Ele trabalhava nos grandes centros urbanos, para que dali a mensagem se
propagasse nas regiões circunvizinhas (Atos 17.16-34).
2. Ele pregava nas sinagogas, a fim de alcançar judeus e prosélitos gentios (Atos
13.13-31).
3. Ele focava sua pregação na comprovação de que a nova dispensação é o
cumprimento das profecias da antiga dispensação (Atos 13.16-41; 19.8).
4. Ele percebia as características culturais e as necessidades dos ouvintes. Assim
ele aplicava tais particularidades em sua mensagem evangélica (Atos 17).
5. Ele mantinha o contato com as comunidades cristãs estabelecidas. Esse
contato se dava por meio da repetição de visitas e envio de cartas e
mensageiros de sua confiança (Cartas de Paulo – Romanos, Gálatas, Efésios,
Tito...).
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1. A primeira viagem missionária de Paulo está registrada em Atos 13.1-


14.28.
2. A segunda viagem missionária de Paulo está registrada em Atos 15.36-
18.22.
3. A terceira viagem missionária de Paulo está registrada em Atos 18.23-
21.16.

Caso o leitor se interesse em saber os pormenores das viagens missionárias


de Paulo, recomendo a leitura desses capítulos e versículos citados acima e
também do livro já citado do Pr. Hernandes Dias Lopes (2009). Nessas
viagens, Paulo enfrentou muita oposição, e perseguição. Mas também, foi
usado extraordinariamente por Deus na salvação de vidas, no ensino da
Palavra de Deus, na operação de milagres e curas, na expulsão de demônios e
etc. A frutificação foi muito, mas muito, mas muito grande, para a glória
de Deus. Era esse inclusive o relato de Paulo (Atos 14.27). Existem frutos da
vida de Paulo que reverberam até os dias atuais, a saber, as cartas que
escreveu: Romanos; I Coríntios; II Coríntios; Gálatas; Efésios; Filipenses;
Colossenses; I Tessalonicenses; II Tessalonicenses; I Timóteo; II Timóteo; Tito;
Filemom.

Dessa última vez ele acabou executado pelas mãos de Nero por volta de 67 e
68 d.C. (2 Timóteo 4:6-18). Estudiosos explicam que Paulo morreu decapitado.
Acerca desse episódio, Dias Lopes (2009) escreveu:

“Posso imaginar a cena... O carrasco recebe um pedaço de


couro com o nome de um prisioneiro. Munido de uma tocha de

6. Ele estava atento as desigualdades presentes na sociedade de sua época, e


promovia a unidade entre ricos e pobres, gentios e judeus. Além disso, ele
solicitava que as igrejas mais prósperas auxiliassem os mais pobres (2
Coríntios 9).
Em Atos 14.21-23, é possível perceber que o método de Paulo para estabelecer uma
igreja local obedecia a um padrão regular. Primeiramente era feito um trabalho
dedicado ao evangelismo, com a pregação do Evangelho. Depois havia um trabalho
de edificação, onde os crentes convertidos eram fortalecidos e encorajados. Por
último, presbíteros (pastores) eram escolhidos em cada igreja, para que a organização
eclesiástica fosse estabelecida (Atos 20.17-38).
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fogo e com um pesado molho de chaves, atravessa longos


corredores escuros e gelados. Abre uma pesada porta de ferro
e grita com voz cavernosa: “Prisioneiro Paulo! Prisioneiro
Paulo! Prisioneiro Paulo!”. Do fundo da cela, o velho apóstolo,
que trazia as marcas de Cristo no corpo e uma paz
transcendente na alma, responde com firmeza: “Sou eu, estou
aqui!”. Paulo é acorrentado e sai da masmorra, atravessando o
corredor da morte. Depois de uma longa caminhada, chegam
ao lugar do patíbulo. Antes de colocar a cabeça de Paulo num
tosco cepo de madeira para decepá-la com a guilhotina
romana, o capataz da morte lhe dá a chance de proferir suas
últimas palavras. Esperando que o velho prisioneiro soltasse
algum gemido de dor ou algum grito de revolta ou desespero,
Paulo, de forma imperturbável, com alegria na alma, ergue ao
céu sua última doxologia: “A ele, [o Senhor Jesus Cristo] glória
pelos séculos dos séculos. Amém” (2 Timóteo 4.18b). A
guilhotina afiada, impiedosa e implacável faz tombar na terra
esse príncipe de Deus. Sua morte, entretanto, não calou sua
voz. Suas cartas ainda falam. Sua voz póstuma é poderosa.
Milhões de pessoas são abençoadas ainda hoje pela sua
vida e pelo seu legado. Cabe-nos, tão somente, agora, imitar
esse homem como ele imitou Cristo (1 Coríntios 11.1).

(DIAS LOPES, 2009, p.75)

O apóstolo Paulo foi um exemplo claríssimo de um solo frutífero.

EXISTEM OUTROS EXEMPLOS

Existem muitos exemplos aos quais poderíamos recorrer nesta obra. Alguns
que podemos destacar podem ser: Isaque, José, Daniel e todos os profetas
maiores e menores, Rute, Ester, Maria, os demais apóstolos de Jesus
(destaque Pedro e João), entre outros. Entretanto, por falta de espaço,
escolhemos somente três exemplos para trabalhar aqui. Mas o leitor pode ficar
a vontade, para na leitura das Escriturar, identificar homens e mulheres que
eram solos frutíferos.

Será que você é assim?


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Agora, permita-me te perguntar: será que você, querido leitor, é um terreno


frutífero? Se sim, glória a Deus! Minha oração é para que Deus te conserve
assim. Vale a pena ser fiel a Deus, vale a pena obedecer a Deus em tudo, vale
a pena dar frutos a Deus.

Sabe qual a sua recompensa por ser um solo frutífero? Aqui na terra você vai
desfrutar de uma maior intimidade com Deus (Salmos 34.15). Você vai ser
instrumento de Deus para um propósito único aqui na terra (Efésios 1.18-19).
Você vai ser feliz (Salmos 1.1-3; 34.8). Em vez de ir para o inferno sofrer para
sempre, você será salvo e passará a eternidade com gozo e alegria do lado do
Senhor Jesus (João 5.24; Romanos 6.23; 1 João 2.25). E é só isso? Não. Tem
muito mais. Mas por falta de espaço, nos atemos a simplesmente atentar para
o fato que vale a pena ser fiel a Deus! A mensagem de Deus para você é
justamente essa!

Vale a pena obedecer a Deus, vale a pena ser fiel! A recompensa de ser fiel a
Deus é muito maior e melhor do que podemos imaginar:

“No entanto, como está escrito: “Olho algum jamais viu,


ouvido algum nunca ouviu e mente nenhuma imaginou o
que Deus predispôs para aqueles que o amam”.

1 Coríntios 2.9

A recompensa de receber a semente divina e frutificar (obedecer a Deus) se


materializa não somente nessa vida, mas ecoa por toda a eternidade (Marcos
10.30). Você que escolhe qual o terreno do seu coração para o recebimento da
Palavra de Deus. Como está o terreno do seu coração?

Que Deus te abençoe!


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