Eco Biod Area
Eco Biod Area
Eco Biod Area
e gestão da
biodiversidade
Ecologia aplicada
e gestão da
biodiversidade
Bibliografia
ISBN 978-85-7605-898-4
10-13315 CDD-304.207
2010
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Sumário
Essa biblioteca, que funciona 24 horas por dia durante os sete dias da se-
mana, conta com mais de mil títulos em português, das mais diversas áreas
do conhecimento, e pode ser acessada de qualquer computador conectado à
Internet.
Somados à experiência dos professores e coordenadores pedagógicos da
Unopar, esses recursos são uma parte do esforço da instituição para realmente
fazer diferença na vida e na carreira de seus estudantes e também — por que
não? — para contribuir com o futuro de nosso país.
Bom estudo!
Pró-reitoria
Apresentação
A preocupação com as questões ambientais tem se intensificado nas últi-
mas décadas. Os agravos causados ao ambiente pela poluição atmosférica e
pelos poluentes lançados nos rios e no solo provocaram o desequilíbrio em
diversos ecossistemas. Soma-se a isso a retirada indiscriminada de árvores
das matas, como também a morte de animais, pondo em risco a vida de di-
versas espécies, e a produção excessiva de lixo nas cidades, com produtos
não biodegradáveis, que dificultam a ação dos decompositores. Presenciamos
na mídia assuntos constantes, como a destruição da camada de ozônio e o
aquecimento global.
Todos esses fatores e muitos outros nos obrigam a pensar na busca urgente
de soluções para esses problemas gerados pela industrialização e progresso. Há
necessidade de pensar em medidas que garantam o desenvolvimento sustentável
para a manutenção equilibrada dos ecossistemas do planeta.
Para que se desenvolva a conscientização a respeito da preservação ambien-
tal, é preciso compreender como ocorrem as complexas relações nos ecossis-
temas. Para isso é necessário o conhecimento dos fundamentos da Ecologia,
como também dos conceitos mais elementares relativos a essa ciência. Portanto,
nesta primeira unidade serão abordados principalmente conhecimentos básicos
sobre Ecologia, visando ao entendimento de questões, que serão aprofundadas
nas unidades seguintes.
Para iniciarmos o estudo desta unidade convido você a refletir sobre os
seguintes aspectos: Qual é a importância de se estudar Ecologia? Como surgiu
essa ciência? O conhecimento pelas pessoas de questões relativas à Ecologia
pode ajudar na conservação e preservação do planeta? De que modo? Que
relação pode existir para você entre o estudo desta ciência com sua formação
de Tecnólogo em Gestão Ambiental?
Essas questões serão discutidas principalmente nesta unidade. Além do
estudo dos fundamentos que envolvem a Ecologia, nesta unidade será abor-
dado também o histórico sobre Ecologia, as diversas áreas de estudo relativas
à Ecologia, as quais compõem as Ciências Ambientais.
4 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Seção 1
Vamos iniciar este tópico comentando o conceito de Ecologia na perspectiva
de diferentes autores, depois as áreas de estudo dessa ciência.
A palavra ecologia significa, ao pé da letra, “estudo da casa”. Em grego Oikos
significa “casa” e logos quer dizer “estudo”. De acordo com o médico alemão
Ernest Haeckel (1834-1919 apud MAC, 2010, p. 1), a palavra ecologia designa
o conjunto de conhecimentos relacionados com a natureza, a investigação de
todas as relações entre o ser vivo e seu ambiente orgânico ou inorgânico, in-
cluindo as relações favoráveis ou não. Para o ecólogo Odum (1998), a ecologia
é o estudo da “estrutura e função da natureza”.
De acordo com Amabis e Martho (2004), a ecologia é uma ciência que
designa as relações entre os seres vivos e o ambiente em que vivem. Para a
compreensão da complexidade dessas relações, a Ecologia engloba diversas
áreas do conhecimento, como a Biologia, por envolver a fisiologia dos seres
vivos, sua genética e sua evolução biológica; a Física e a Química, para a com-
preensão da influência dos fatores abióticos como a luminosidade, o solo, a
água e o ar, além das Ciências Econômicas e Sociais; é, portanto, uma ciência
multidisciplinar.
A popularização da ecologia tem levado ao uso equivocado desse termo,
tanto pelos meios de comunicação como pela maioria das pessoas. Comenta-
-se, por exemplo, que a fumaça das fábricas pode afetar a “ecologia da região”.
Nesse caso, o que se pretende dizer é que a fumaça das fábricas pode prejudi-
car o equilíbrio natural do ambiente e não a ecologia, pois esta é uma ciência
(BRANCO, 1997).
Assim como toda ciência, a Ecologia também apresenta suas áreas mais espe-
cíficas de estudo. Vou abordar um pouco sobre essas diferentes áreas de estudo.
Conforme Sariego (1994), a Ecologia pode ser estuda sob vários enfoques:
Autoecologia: estuda as espécies de modo individual. Como cada espécie
se adapta ao ambiente, e como cada espécie reage a fatores bióticos e abióticos
do meio. O conceito termo autoecologia foi utilizado por Schroter, em 1896.
Ecologia descritiva: preocupa-se em relacionar e descrever os tipos de
vegetais e animais de cada ambiente e classificar os tipos de interações que se
estabelecem entre eles. Sendo assim, um dos objetivos dessa área é descrever
a variedade encontrada em diferentes ambientes.
Fundamentos da ecologia 5
Seção 2
Desde a antiguidade o homem observava a natureza e procurava compre-
ender os fenômenos da natureza. Na história da humanidade, a Ecologia tinha
interesse prático, pois para sobreviver o homem precisava conhecer o ambiente
ao seu redor, como os animais, as plantas, clima, estações de chuva etc. Muitos
dos fenômenos naturais eram entendidos como prenúncio de catástrofes, como
enchentes, tempestades e epidemias, dentre outras.
Na Grécia e no Egito antigo ocorreram as primeiras observações mais
integradas do ambiente, as quais eram úteis para o planejamento do plantio,
condução de rebanhos e viagens, entre outras aplicações.
No século XVII o pensamento científico da época era o antropocentrismo,
isto é, o homem era considerado centro do universo. Daí surgiu o pensamento
de que o homem deveria dominar a natureza e podia utilizá-la como julgasse
necessário. Nesse mesmo século, a descoberta de Galileu de que a Terra não
era o centro do universo fez com que os cientistas desenvolvessem a ideia de
que era possível explicar o funcionamento do universo como se fosse uma
máquina. Daí surge o que se denomina de paradigma mecanicista. Nesse
mesmo período o matemático e filósofo Descartes, em seu livro O discurso do
método, propunha que a natureza poderia ser explicada pela razão e por isso
o homem poderia dominar a natureza pela ciência. Essa visão de Descartes,
chamada racionalista, levou ao pensamento de que a natureza deve servir às
necessidades do homem.
No final do século XVIII e inicio do século
XIX acontece a Revolução Industrial. Esse
acontecimento revela novamente o problema
Saiba mais
da relação do homem com a natureza, sem a A ideia de paradigma é do filósofo
preocupação da destruição dos recursos natu- Thomas Kuhn. Para conhecer um
rais. Sendo assim, a natureza estava destinada pouco mais sobre o que é um pa-
radigma procure ler o livro “A es-
a sustentar a produção. Por isso, enormes
trutura das revoluções científicas”,
quantidades de madeira eram retiradas para
no qual este filósofo expõe o que
gerar energia nos maquinários. Com essas
são paradigmas.
considerações, você deve ter percebido que
KUHN, T. S. A estrutura das re-
a relação do homem com a natureza é uma
voluções cientificas. São Paulo:
construção social, influenciada pelo pensa-
Perspectiva, 2001.
mento de cada época. Atualmente, em função
8 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Como você já sabe, as ideias de Darwin influenciaram muito o pensamento
de sua época, o que ocorre até os dias atuais. Para você compreender melhor
as ideias desse pesquisador apresentaremos neste item alguns aspectos que
envolvem a Seleção Natural.
A partir das observações feitas por Darwin, ele pôde considerar que certas
características que os seres vivos apresentavam poderiam contribuir para sua
sobrevivência e reprodução no ambiente. Esses seres teriam, então, condições
favoráveis para viver em determinado ambiente. Os indivíduos que eram porta-
dores de uma variação desfavorável teriam grande dificuldade para sobreviver
e, por isso, poderiam morrer. Sendo assim, as diferenças individuais já existen-
tes entre os indivíduos de mesma espécie seriam selecionados naturalmente
pelo ambiente. Para entender melhor como isso ocorre, veja um exemplo que
ocorre com frequência entre insetos.
Alguns poucos insetos possuem geneticamente a capacidade de resistir à
ação de alguns inseticidas. Nesse caso, essa é uma variação favorável. Quando
se aplica inseticida em uma população de insetos, a maioria morre pela ação
Fundamentos da ecologia 11
Vamos supor que em determinada região de uma cidade em que não há
redes de esgoto e água tratada haja também um alto índice de doenças parasitá-
rias, como verminoses. Não adianta tratar a população com vermífugos. Nesse
caso, há necessidade de um entendimento mais abrangente sobre os problemas
para tomada de decisões mais precisas. Assim, por exemplo, o problema não é
12 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
As Ciências Ambientais surgiram há pouco mais de dez anos. Essas ciências
se firmaram devido à crise ambiental que atualmente vivemos. Em função dos
agravos ambientais houve necessidade de uma visão mais integrada e inter-
disciplinar para abordar os problemas. Nessa interdisciplinaridade participam
diferentes áreas do saber, como a Ecologia, Economia, Antropologia, Biologia,
Sociologia, Geologia, Zoologia, Botânica e Geografia, dentre outras. Essa inter-
disciplinaridade para enfrentar os problemas ambientais possibilita um caráter
mais dinâmico às Ciências Ambientais.
É importante que você tenha clareza de que a visão interdisciplinar é dife-
rente de multidisciplinar. A perspectiva multidisciplinar diz respeito às várias
áreas do conhecimento. Sendo assim, a Geografia, Sociologia, Biologia e
Antropologia. A interdisciplinaridade propõe uma abordagem integrada entre
as diferentes áreas do conhecimento e não de modo estanque, como a visão
multidisciplinar.
Diante de problemas ambientais como desmatamentos, destruição da ca-
mada de ozônio, mudanças climáticas, ou até mesmo para o planejamento de
obras que poderão causar impactos no Meio Ambiente como a construção de
hidrelétricas e demais problemas causados pela ação antrópica, deve haver
participação de representantes dessas diversas ciências tanto para o estudo
como para a tomada de decisões para minimizar os possíveis impactos causa-
dos ao ambiente.
Aprofundando o conhecimento
Para você enriquecer seus conhecimentos leia no artigo a seguir
(NUCCI, 2007, p. 77-99) um pouco mais sobre a trajetória histórica da
Ecologia. Nesse artigo o autor aborda com mais detalhes essa ciência e
introduz a visão de sistemas que origina a visão holística dessa ciência.
É importante que você observe que a ideia de sistema aplica-se também
a várias áreas do conhecimento.
14 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
No início do século XX, a Ecologia continuava seu caminho para a cons-
tituição de uma teoria capaz de fornecer um modelo sistêmico que indicasse
uma via de aplicação científica para seus propósitos investigativos. Entretanto,
a construção de um novo paradigma, como meio de visualizar a natureza
da ciência, não é algo fácil de executar e pode levar anos até que um novo
modelo passe a ser aceito pela comunidade científica.
O conceito de sistema não era novo e já fora utilizado por Newton (sis-
tema solar), por Lavoisier (sistemas respiratório, digestivo, circulatório etc.)
entre outros, porém, permaneceu à margem do interesse científico até que o
biólogo Ludwig von Bertalanffy, em 1928, ao ampliar a teoria do holismo de
Smuts (1926), segundo a qual o universo estaria edificado em estruturas de
complexidade crescente — átomos, moléculas, células, indivíduos, sociedades
e ecossistemas, abriu uma porta para a utilização do conceito para diferentes
disciplinas e campos de atividade humana, como uma teoria geral de sistemas.
Para Bertalanffy (1993), a necessidade de uma visão sistêmica resultou do
fato de que o esquema mecanicista mostrava-se insuficiente para tratar os
problemas cada vez mais complexos, especialmente nas ciências biológicas e
sociais. No início dos anos 20, ele se preocupou com essa lacuna na pesquisa
e teoria biológicas e defendeu uma concepção organísmica na biologia cuja
ênfase era dada na consideração do organismo como um todo ou sistema.
Pode-se dizer que, mesmo em seus primórdios, a teoria dos sistemas con-
seguiu influenciar a Ecologia inspirando o surgimento do termo “ecossistema”
sugerido por Tansley.
O ecólogo Arthur Tansley, que em 1913 fundou a primeira sociedade de
ecologia a British Ecological Society, sugeriu, em 1935, o termo ecossistema
como um modelo teórico, salientando-se além da importância do estudo
conjunto dos organismos e dos fatores inorgânicos como sistemas, que os
ecossistemas, para os ecólogos, seriam as unidades fundamentais da natureza
na face da Terra.
Tansley estava ciente e deixou claro que propunha um modelo abstrato
e não uma realidade ecológica, identificável na natureza; entretanto, para
aquele momento, foi a visão menos radical e reducionista da organização
das comunidades.
Fundamentos da ecologia 15
2 Veja Brave new world (O admirável mundo novo — Aldous Huxley, 1932) que nos dá uma projeção do
que poderá vir a ser a vida na terra, dentro de 500 anos. Nessa obra Huxley mostra a humanidade classifi-
cada em um sistema de castas, alcançado por meio do controle genético e condicionamentos (tratamento
nutricional, choques elétricos, sirenes ruidosas e tratamentos durante o sono), que garantiria à sociedade
um número suficiente de pessoas subdesenvolvidas, para executarem as tarefas menos agradáveis. Nessa
sociedade, organizada como um sistema, o ser humano perde sua individualidade e sua liberdade. Veja,
também, Huxley, A. (1959). Regresso ao admirável mundo novo.
18 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Como uma esperança de estudos que pudessem considerar o ser hu-
mano, a sociedade e o meio físico como um conjunto, surge, em meados do
século XX, a Ecologia da Paisagem, com raízes na Europa Central e Ocidental,
sendo a Alemanha e a Holanda os primeiros países com a maior quantidade
de trabalhos produzidos nessa área. Com o primeiro trabalho sobre o tema
escrito em inglês por Naveh e Lieberman (1984), a Ecologia da Paisagem foi
introduzida nos EUA e em outros países de língua inglesa.
O termo Ecologia da Paisagem, como uma disciplina científica emergente,
foi cunhado por Troll em 1939, ao estudar questões relacionadas ao uso da
terra por meio de fotografias aéreas e interpretação das paisagens.
Com a sugestão desse termo Troll teve a intenção de incentivar uma co-
laboração entre a Geografia e a Ecologia, combinando, assim, na prática, a
aproximação “horizontal” do geógrafo examinando a interação espacial dos
Fundamentos da ecologia 21
3 A Noosfera pode ser vista como a “esfera do pensamento humano”, sendo uma definição derivada da
palavra grega ȞȠȣȢ (noos, “mente”) em um sentido semelhante à atmosfera e biosfera. Na teoria original
de Vernadsky, a noosfera seria a terceira etapa no desenvolvimento da Terra, depois da geosfera (matéria
inanimada) e da biosfera (vida biológica). O conceito da noosfera é atribuído ao filósofo francês Teilhard de
Chardin. Segundo ele, assim como há a atmosfera, a geosfera e biosfera, existe também o mundo ou esfera
das ideias, formado por produtos culturais, pelo espírito, linguagens, teorias e conhecimentos. Seguindo
esta linha de pensamento, alimentamos a noosfera quando pensamos e nos comunicamos. A partir de então,
o conceito de noosfera foi revisto e consequentemente sendo previsto como o próximo degrau evolutivo
de nosso mundo, após sua passagem pelas posteriores transformações de geosfera, biosfera, “tecnosfera”
(temporária e em andamento) e, então, a noosfera (Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Noosfe-
ra>. Acesso em: abr. 2007).
22 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Seção 3
O conhecimento de determinados conceitos em Ecologia é fundamental
para o entendimento das relações entre seres vivos entre si e destes com o am-
biente. Sendo assim, para compreender a dinâmica do ambiente como também
os problemas acarretados pela quebra da manutenção do equilíbrio natural, é
necessário o entendimento de alguns conceitos básicos. Alguns desses principais
conceitos encontram-se relacionados a seguir.
Organismo: é qualquer forma de vida, tanto unicelular como pluricelular.
A célula é a unidade básica da vida dos seres vivos. No caso dos microrganis-
mos como bactérias, protozoários e alguns fungos, o organismos é composto
apenas por uma única célula. Os organismos são classificados em espécies. Os
indivíduos de mesma espécie são assim classificados devido às semelhanças
físicas, fisiológicas, embrionárias, bioquímicas e genéticas que apresentam.
Para os organismos que se reproduzem sexualmente há também um critério
para identificá-los como sendo de mesma espécie. Quando eles se reproduzem,
em condições normais, e resultarem em indivíduos férteis, os genitores são,
então, considerados da mesma espécie. De acordo com Miller Jr. (2006) não
se sabe quantas espécies existem na Terra, mas estima-se que existam entre 3,6
milhões a 100 milhões.
Espécie: a espécie é uma unidade ecológica, que tem suas características
próprias. A espécie é também uma unidade genética porque tem um patrimônio
genético bem característico. Em condições naturais esse patrimônio genético
não se mistura com o de outras espécies. É também uma unidade reprodutiva,
isto é, seus membros cruzam-se entre si, mas não cruzam com indivíduos de
outras espécies. Além disso, seres de mesma espécie têm condições de se
adaptarem ao ambiente e de se desenvolverem, por isso, a espécie é também
considerada uma unidade evolutiva.
Subespécies ou raças: são seres de mesma espécie que diferem entre si
devido a algumas características. É uma divisão dentro da espécie. Por exem-
plo, todos os cachorros pertencem à mesma espécie, apresentando o mesmo
número de cromossomos em suas células. Apesar de terem o mesmo número de
cromossomos, as diferenças ocorrem porque existem variações na frequência
de alguns genes. Isso determina as diferenças entre as raças.
26 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
glicose, que é matéria orgânica que será transferida aos animais pela cadeia
alimentar, e o oxigênio que é liberado para atmosfera.
A glicose será fonte de energia tanto para os seres fotossintéticos como
para os animais e microrganismos. Os seres que fazem fotossíntese e por isso
conseguem produzir a matéria orgânica pra sua própria sobrevivência, são cha-
mados seres autótrofos. Outro processo utilizado por bactérias para produção
de compostos que serão utilizados como fonte de energia é a quimiossíntese.
A quimiossíntese é um processo de produção de substâncias orgânicas a
partir de reações com o hidrogênio e gás carbônico, produzindo gás metano.
Essas bactérias quimiossintetizantes vivem em ambientes com pouco oxigê-
nio disponível, como depósitos de lixo, pântanos, dentro do tubo digestivo
de animais. Esses ambientes são considerados anaeróbicos, devido à falta de
oxigênio disponível.
Outro exemplo de bactérias quimiossintetizantes são as nitrossômonas
nitrobacter que participam do ciclo do nitrogênio. Você vai conhecer melhor
o trabalho dessas bactérias quando estudar o ciclo do nitrogênio. As nitrossô-
monas obtêm energia pela oxidação de alguns íons de amônia que existem no
solo. Diferente dos seres fotossintetizantes, as bactérias quimiossintetizantes
não precisam de luminosidade. Utilizam um composto que será oxidado,
gás carbônico e água e como resultado produzem compostos orgânicos que
utilizam para liberação de energia para suas reações vitais. Por isso, são seres
considerados autótrofos, como os fotossintetizantes.
Teias alimentares: são redes que se estabelecem entre as cadeias alimentares.
São, portanto, diversas cadeias alimentares interligadas que unem os diversos
componentes de uma comunidade entre si.
Componentes bióticos: são os seres vivos que habitam determinado ecos-
sistema. São animais, plantas, seres humanos, microrganismos.
A Ecologia preocupa-se com as relações que ocorrem em formas de or-
ganização que vão além do organismo. Por isso, de acordo com a maneira
de organização entre os seres vivos e suas relações, surgem as populações,
comunidades e ecossistema. Os componentes bióticos dos ecossistemas são
produtores, consumidores e decompositores. Vamos conhecer um pouco sobre
cada um. No capítulo sobre cadeia alimentar você estudará esses componentes
com mais detalhes.
Os produtores: são os que ocupam o primeiro nível trófico em qualquer
ecossistema. São os organismos autótrofos, que realizam a fotossíntese ou a
30 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Aprofundando o conhecimento
Para você enriquecer seus conhecimentos, leia no texto de Braga et al.
(2005, p. 125-132), algumas outras informações sobre solo. O autor explica
sobre a formação dos solo, os tipos de solo e alguns critérios de classificação.
O conceito de solo pode ser diferente de acordo com o objetivo mais
imediato de sua utilização. Para o agricultor e o agrônomo, esse conceito
Fundamentos da ecologia 33
A proporção de cada um dos componentes pode variar de um solo para
outro. Mesmo em um solo de determinado local, as proporções de água e ar
variam sazonalmente, com os períodos de maior ou menor precipitação. Em
termos médios de ordem de grandeza, os componentes podem ser encon-
trados na seguinte proporção:
Como parte integrante de um ecossistema, é possível, em uma escala de
tempo geológico, identificar em um solo o que se denomina de ‘sucessão’, ou
seja, o conjunto de estágios de equilíbrio pelos quais passa esse ecossistema
até atingir o ‘clímax’.
A formação dos solos é resultante da ação combinada de cinco fatores:
clima (pluviosidade, umidade, temperatura etc.), natureza dos organismos
(vegetação, microrganismos decompositores, animais), material de origem,
relevo e idade.
Na sua atuação, os quatro primeiros fatores imprimem, ao longo do tempo
(idade), características que definem os estágios de sucessão por meio de sua
profundidade, composição e propriedades e do que se denomina ‘horizontes
do solo’. A Figura 9.1 esquematiza a forma pela qual ocorre esse processo.
Fundamentos da ecologia 35
Esses horizontes podem ser identificados por letras, de acordo com suas
características. Em um perfil hipotético, eles podem se apresentar como os da
Figura 9.2. Na realidade, nem sempre todos estão presentes e são facilmente
identificáveis. Quando o solo atinge seu clímax é que esses horizontes se
apresentam de forma mais evidente e são identificáveis em maior número.
O estágio de formação do solo tem implicações bastante diversas e mar-
cantes, por exemplo, sobre o ciclo hidrológico e sobre o regime dos cursos
de água em uma região.
Nas regiões áridas, em que o intemperismo é menos intenso, os solos
tendem a ser menos profundos. Quando ocorre uma precipitação sobre um
desses solos, os poros são rapidamente preenchidos por água (ele ‘tem seus
36 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Há certas características do solo que podem ser vistas a olho nu ou
facilmente percebidas pelo tato que são frequentemente utilizadas para a
descrição de sua aparência no ambiente natural. Dentre as principais dessas
características, estão cor, textura (ou granulometria), estrutura, consistência e
espessura dos horizontes (esta última já referida anteriormente). Além delas
são também importantes, do ponto de vista ecológico, o grau de acidez, a
composição e a capacidade de troca de íons.
A cor, como característica mais prontamente perceptível, é, em muitos
casos, utilizada popularmente e mesmo em classificações científicas, como
veremos adiante, para denominar e identificar os solos, sendo a ‘terra roxa’
e a ‘terra preta’ os dois exemplos mais conhecidos. Em termos técnicos, a cor
é descrita por comparação com escalas padronizadas.
Porém, mesmo sem recorrer a procedimentos padronizados, por simples
inspeção é possível associar algumas propriedades do solo à sua coloração. Os
solos escuros, tendendo para o marrom, por exemplo, quase sempre podem
ser associados à presença de matéria orgânica em decomposição em teor
elevado; a cor vermelha é indicativa da presença de óxidos de ferro e de solos
bem drenados; as tonalidades acinzentadas, mais comumente encontradas
junto às baixadas, são indício de solos frequentemente encharcados.
A textura ou granulometria descreve a proporção de partículas de dimen-
sões distintas componentes do solo. Um exame mais atento de um solo mostra
que ele é constituído de partículas de tamanhos diversos, frequentemente
agrupadas na forma de torrões ou grumos.
Tecnicamente, podemos quantificar a granulometria, passando o solo por
um conjunto padronizado de peneiras com malhas de diferentes dimensões
e determinando o peso das parcelas retidas em cada uma delas. Esses pesos
Fundamentos da ecologia 39
Dentre as muitas classificações existentes para os solos, destacam-se aqui
duas com base, respectivamente, na granulometria e na pedologia (origem
e evolução).
42 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
A classificação granulométrica mais conhecida e internacionalmente aceita
estabelece as frações para os componentes minerais dos solos, conforme
mostra a Tabela 9.1.
De acordo com Miller Jr. (2006), recurso é qualquer coisa obtida do meio
ambiente para atender as necessidades e desejos. São considerados recursos:
alimentos, água, produtos manufaturados, dentre outros.
Os recursos podem ser classificados em renováveis e não renováveis. Os
renováveis, segundo o autor, estão diretamente disponíveis para uso. São exem-
plos a energia solar, solo, água doce de superfície, plantas.
Alguns recursos como o petróleo, ferro, água subterrânea, tornam-se dis-
poníveis somente após passarem por determinados processos tecnológicos. O
petróleo, por exemplo, após passar por alguns processos nas refinarias converte-
-se em gasolina, óleo diesel e demais derivados.
Os combustíveis fósseis como petróleo e carvão, os minérios, a areia, são
recursos naturais não renováveis.
Há também uma outra classificação para os recursos: perenes e renováveis.
Os recursos perenes são renovados continuamente. São exemplos: a energia
solar, formas indiretas de energia como o vento e a água corrente.
Fundamentos da ecologia 45
Biomas
Um importante conceito em Ecologia é bioma. Entende-se por bioma um
conjunto de ecossistemas com vegetação e clima característicos. Tanto a
vegetação como o clima depende das diferentes latitudes. Os grandes bio-
mas da Terra são: taiga, tundra, floresta temperada, floresta tropical, savanas,
46 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Seção 4
Agora que você já estudou aspectos relevantes da Ecologia, para finalizar
o estudo deste capitulo, apresentaremos algumas das condições necessárias
para a sobrevivência em nosso planeta. Esperamos que você tenha percebido
e se conscientizado sobre a necessidade de mantermos as situações naturais
do planeta em equilíbrio para a manutenção da vida. Além disso, você precisa
compreender porque a Terra reúne essas condições favoráveis.
São muitos os fatores que determinam a presença de vida no planeta em que
vivemos, no entanto, existem três que são essenciais de acordo com Miller Jr.
(2006). São elas: o fluxo unidirecional de energia, ciclo da matéria e a gravidade.
Vamos começar pelo fluxo unidirecional da energia. O sol é fonte de energia
para os seres produtores. Sem o sol não existiria vida na Terra. A energia lumi-
nosa captada pelas plantas e pelas algas é utilizada na realização da fotossíntese
e produção de substâncias orgânicas. Ao comerem os seres fotossintetizantes,
os consumidores adquirem a energia contida nas moléculas dessas substâncias
orgâncias. Essa energia é utilizada para realização de processos vitais.
Cada componente da cadeia, em suas atividades, consome energia ad-
quirida dos alimentos. Desse modo, cada consumidor transfere para o nível
trófico seguinte, apenas parte da energia recebida. Por isso, a energia tem um
fluxo decrescente ao longo da cadeia alimentar. A outra parte dessa energia é
transformada em calor e liberada para o ambiente.
Além do fluxo de energia ser decrescente ao logo da cadeia, ele também é
unidirecional, isto é, tem início com a captação da energia luminosa e termina
com a ação dos decompositores.
Na cadeia alimentar, a quantidade de energia presente em um nível trófico é
sempre maior que a energia transferida para o nível seguinte. Isso ocorre porque
todos os seres vivos consomem parte da energia do alimento para a manutenção
de sua própria vida e não transferem essa parcela para o nível trófico seguinte
(AMABIS, MARTHO, 2004). A energia tem um fluxo acíclico no ecossistema,
porque penetra no mundo vivo na forma de luz e dele sai na forma de calor,
não sendo mais reaproveitada na cadeia (PAULINO, 2006).
Para você entender melhor os tipos de energia que foram apresentados na
seção 3, veja este exemplo de como a energia pode ser transformada.
Fundamentos da ecologia 49
Resumo
Nesta unidade foram apresentados os fundamentos da Ecologia,
para que você possa compreender os assuntos das próximas unidades.
Aqui foram discutidos inicialmente o conceito de Ecologia, bem como
a origem desse termo; as áreas de estudo da Ecologia; o histórico dessa
ciência, além da concepção de natureza e sua relação com o homem
em alguns períodos da historia, iniciando pela visão mecanicista de
Galileu e Descartes até a visão sistêmica e holística da atualidade. Essas
diferentes visões filosóficas tiveram impactos significativos na natureza.
Assim como toda área de conhecimento a Ecologia também tem seus
conceitos básicos, os quais foram apresentados nesta unidade de estudo.
52 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Atividades de aprendizagem
1. Atualmente os problemas relativos ao meio ambiente devem ser tra-
tados de modo integrado a outras áreas do conhecimento dentro de
uma visão holística. Quais as contribuições dessa visão integrada para
abordagem dos problemas ambientais?
2. Conforme foi apresentado no item sobre o histórico da Ecologia, o pa-
radigma mecanicista, baseado na ideia de Descartes, resultou na visão
cartesiana do conhecimento. Quais as implicações do pensamento
mecanicista para a relação entre homem e natureza?
3. Após acessar o link indicado para a leitura do artigo “Ecologia humana:
um enfoque das relações homem ambiente”, indique e comente as
áreas de estudo da Ecologia apresentadas pelo autor.
4. Um dos fundamentos da hipótese Gaia é o conceito de Homeostase.
Qual a importância da homeostase para a manutenção do equilíbrio
na natureza?
5. A Terra reúne algumas condições necessárias para a manutenção da
vida. Quais são esses fatores? Quais as implicações que podem existir
para a presença de vida na ausência de cada um deles?
Unidade 2
Matéria e energia
nos ecossistemas
Nesta unidade você irá aprender os fatores de integração entre produção e
a transferência pelos consumidores, bem como a decomposição, que resulta
num dos mais admiráveis fenômenos da natureza: a reciclagem da matéria.
Com as ideias que serão expostas na unidade e com o estudo detalhado
das figuras, você certamente terá formado uma boa visão sobre como os seres
vivos se integram com o meio abiótico, garantindo a renovação (reciclagem)
dos recursos de que necessitam. Os processos ecológicos normais, em geral,
são suficientes para reciclar os materiais essenciais aos seres vivos; assim, não
precisaríamos nos preocupar com esses materiais. Mas, e os outros recursos
que passaram a ser importantes para nós? Eles são naturalmente reciclados?
Se forem, quanto tempo isso leva para ocorrer? Veremos no decorrer desta
unidade.
Seção 1
Nesta seção iremos conhecer as formas de obtenção de energia e seu pro-
cesso produtivo, desde sua absorção e transformação a partir da emergia solar.
O sol é fonte de luz e energia para todos os seres vivos; sua radiação está
ligada diretamente com a vida do planeta Terra.
Podemos definir a energia como a capacidade de realizar trabalhos e ativi-
dades. Com isso, todos os seres vivos necessitam da energia para a realização
de atividades e da matéria para construção.
A energia atinge a superficie terrestre em forma de luz e sai como forma
de radiação térmica.
A energia está descrita nas seguintes leis: a primeira lei da termodinâmica,
ou, lei da conservação da energia, que diz que a energia pode se transfor-
mar em outro tipo de energia, porém, não pode ser criada ou destruída; a
segunda lei da termodinâmica, ou, lei da entropia, está descrita de diversas
Matéria e energia nos ecossistemas 55
(B)
(B)Calor
Calor SOL
SOL
(A)Energia
(A) Energia luminosa
Luminosa
(C)
(C)Glicose
Glicose
A energia luminosa é captada através das plantas e algas, é atráves dela que
ocorre a fotossíntese e a produção de matéria orgânica.
A transferência dos níveis de energia e matéria, a partir da energia repre-
sentada pelo produtor, e do consumo dos organismos consumidores primários
e secundários é denominada cadeia alimentar ou cadeia trófica.
A energia é considerada no ecossistema como um fluido acíclico, devido
ao fato de penetrar no planeta Terra em forma de luz e sair em forma de calor,
não sendo mais utilizada na cadeia.
As plantas, atráves da fotossíntese, utilizam 15% da matéria orgânica no
processo de respiração, gerando energia. Já os herbívoros, após consumir
56 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
A fotossíntese é fundamental para a manutenção e equilíbrio biológico, é
através da matéria orgânica sintetizada pelo fenômeno fotobiológico que ocorre
a nutrição de forma direta e indireta dos organismos.
A fotossíntese também é responsável pelo consumo de gás carbônico, água
e energia luminosa e pela produção de gás oxigênio e glicose, ao contrário
da respiração aeróbica, que consome o gás oxigênio e libera o gás carbônico.
Sendo assim, podemos considerar que a fotossíntese é responsável pelo equi-
líbrio das taxas desse gases em nosso planeta.
Na natureza encontramos diversos fatos curiosos, como, por exemplo,
nos vegetais, que funcionam como verdadeiros “laboratórios ao ar livre” sin-
tetizando e transformando a energia de que precisam para se manter, como
veremos a seguir algumas considerações importantes sobre esse fenomeno tão
importante, a fotossíntese.
Matéria e energia nos ecossistemas 57
Aprofundando o conhecimento
Para saber um pouco mais sobre o inicio desse processo de absorção
e transformação de energia leia o texto a seguir sobre cadeia alimentar,
extraído de Braga et al. (2005, p. 14-16).
Podemos definir cadeia alimentar como o caminho seguido pela energia
no ecossistema, desde os vegetais fotossintetizantes até diversos organismos
que deles se alimentam e servem de alimento para outros. As cadeias ali-
mentares podem ser divididas em dois tipos: as que começam pelos vegetais
vivos e passam pelos herbívoros e carnívoros e as que se iniciam pelos detritos
vegetais e animais e passam pelos detritívoros (Figura 3.4).
Nas cadeias que se iniciam pelos vegetais, definimos como produtores
aqueles capazes de sintetizar matéria orgânica. Os herbívoros, que se ali-
mentam dos produtores, são os consumidores primários; os carnívoros, que
se alimentam dos herbívoros, são os consumidores secundários, e assim por
diante. Teremos, então, os consumidores terciários, que se alimentam dos
secundários; os consumidores quaternários etc., até os decompositores.
Podemos ainda dividir esse grupo em cadeias de predadores e de parasitas.
Para as cadeias que se iniciam pela matéria orgânica morta, os consumidores
primários são denominados detritívoros e podem ser os invertebrados de
pequeno tamanho ou as bactérias e os fungos.
Bioquímica da fotossíntese
O objetivo da fotossíntese é a redução do carbono encontrado no CO2. A
reação geral da fotossíntese pode ser descrita da seguinte maneira:
(n) CO2 + (n) H2O + PAR A (n) CH2O + (n) O2 + A G
onde: b G = energia ganha no processo; PAR = radiação ativa em termos
de fotossíntese [photosynthetic active radiation].
Fase clara (hidrólise da água)
Nessa fase, a energia luminosa absorvida pelos pigmentos é transferida para
outros compostos por meio de um complexo sistema de transporte de elétrons,
no qual o doador de elétrons torna-se oxidado e o receptor, reduzido. Tudo
começa quando a energia transferida dos pigmentos à cadeia de transporte de
elétrons chega a uma molécula de água, causando a sua hidrólise:
2H2O + 2e- A 2O2 + 4e- + 4H+
A hidrólise da água confere o poder redutor ao processo da fotossíntese.
Nessa reação, há produção de oxigênio molecular livre e quatro elétrons são
transferidos para o NADP, formando, assim, NADPH+. O receptor final desses
prótons (agente oxidante principal da fotossíntese) será o CO2. [...]
Fase escura (carboxilização)
Nessa fase, não é necessária a presença de luz e por isso ela é também cha-
mada de fase escura da fotossíntese. No ciclo de Calvin, uma molécula de CO2 é
incorporada a uma pentose com dois átomos de fósforo (açúcar de 5 átomos de
carbono), a ribulose-1-5-difosfato, ou simplesmente RuDP. Uma enzima funda-
mental nesse processo, a RuDP-carboxilase. Essa pentose fragmenta-se ao ligar-
-se com o CO2, formando duas moléculas de 3-fosfoglicerato, ou simplesmente
PGA (3 átomos de carbono), razão pela qual essa via é também conhecida como
a via C3. A reação geral desse processo pode ser descrita da seguinte maneira:
6 CO2 + 18 ATP + 12 NADPH A P hexose + 18 ADP + 17 Pi + 12 NADP
A fim de que se produza uma molécula de hexose (seis átomos de carbono)
são necessárias seis moléculas de CO2.
Com os conhecimentos a você apresenta-
dos do fantástico mecanismo da fotossíntese,
Saiba mais podemos evidenciar a forma como as plantas
Níveis tróficos, representa o con- absorvem a luz do sol e começam um rápido
junto biótico de um mesmo ecossis- e delicado processo de transformações, que
tema. Pode ser conhecido também resultará de uma energia elaborada, para que
como nível alimentar. o vegetal possa se manter vivo com todas as
suas atividades vitais.
Matéria e energia nos ecossistemas 61
Seção 2
Nesta seção você irá conhecer de que forma a energia absorvida como
relatamos na seção anterior será distribuída nos níveis tróficos ou níveis de
alimentação, bem como outros componentes importantes na cadeia alimentar.
As cadeias alimentares ou cadeias tróficas são a relação entre o alimento
e o consumidor; em todo o ecossistema ocorrem vários modelos de cadeias
alimentares. Podem ser cadeias de produtores, cadeias de parasitas e cadeias
de detritívoros.
Através da cadeia alimentar ocorre a transferência de energia que é adqui-
rida por meio da alimentação, essa energia se perde a cada nível trófico em
forma de calor.
Sendo assim, podemos dizer que quanto mais curta ou mais próxima do
indivíduo que iniciou a cadeia, mais energia será adquirida pelo indíviduo
consumidor.
As plantas verdes pertencem ao nível dos produtores ou seja, ocupam a
base do nível trófico; os herbívoros, por vez, se alimentam das plantas verdes,
ficando assim no nível dos consumidores primários, e em seguida os carnívoros
que se alimentam dos herbívoros. Como os carnívoros se alimentam tanto de
animais herbívoros como carnívoros, eles podem ocupar o nível de consumi-
dores secundários e/ou terciários.
Uma cadeia alimentar ou estrutura trófica aparentemente simples pode ser
muito complexa. Para que possa ser representada de maneira mais clara são
utilizada as pirâmides ecológicas.
As pirâmides ecológicas podem ser ilustradas em três tipos: pirâmide de
números, pirâmide de biomassa e a pirâmide de enérgia. As pirâmides de nú-
meros e biomassa podem ser invertidas, ou seja, normalmente uma pirâmide
apresenta a base maior, nesse caso a pirâmide pode apresentar uma base menor
que algumas camadas. Vejamos a descrição de cada tipo das pirâmides.
Pirâmide de números: representa o número de individuos, sendo levada em
conta apenas a densidade (densidade = massa/volume); nesse caso, a massa
estará representando o número de indivíduos e o volume a área ou volume.
62 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Pirâmide energética
A Figura 2.4 representa um exemplo de pirâmide de energia. A cada nível tró-
fico a energia diminui, gerando calor e matéria orgânica para os decompositores.
Matéria e energia nos ecossistemas 63
Decompositores
São bactérias e fungos que têm a finalidade de decompor excrementos,
restos vegetais e cadáveres. Os decompositores são muito importantes para
a reciclagem da matéria, pois é através da decomposição que eles devolvem
elementos químicos ao ecossistema.
Conceito de produtividade
A produtividade primária ocorre em um sistema ecológico e/ou na comu-
nidade, está definida como uma taxa de energia radiante que é transformada
por meio das atividades fotossintéticas e quimiossintéticas, produzidas pelos
organismos produtores (plantas verdes).
Sendo assim, pode ser considerada limitada através da radiação solar e
pela respiração.
Está dividida em quatro etapas sucessivas: Produtividade primária bruta,
Produtividade primária líquida, Produtividade líquida da comunidade e Pro-
dutividades secundárias. Essas etapas serão descritas a seguir.
Produtividade primária bruta (PPB): pode ser chamada de “fotossíntese total”
ou “assimilação total”; inclui também a matéria orgânica utilizada durante o
período de mediação na respiração.
Produtividade primária líquida (PPL): representa a quantidade de matéria
orgânica presente nos tecidos vegetais, pode ser chamada de “fotossíntese
aparente” ou “assimilação líquida”.
64 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
A relação entre a produtividade primária e a secundária é geralmente po-
sitiva, pois a produtividade secundária depende da produtividade primária.
Um exemplo dessa relação pode ser dada através da taxa de crescimento
de caracóis (Elimia clavaeformis) em um riacho. Devido ao verão várias folhas
de árvores caíram sobre o riacho, com isso a luz dos raios solares foi reduzida
e o crescimento dos caracóis diminuiu. Esses caracóis também são grande
consumidores da biomassa gerada pela algas.
Mais uma maneira fácil de compreender essa interação pode ser o exemplo
dos fitoplânctons, que liberam células fitoplanctônicas intactas. Essas células
são consumidas pelo zooplânctons (produtividade secundária) e quando se
encontra dissolvida pode ser consumida pela bactérias heterotróficas, que são
encontrada em lagos e nos oceanos. As células fitoplanctônicas intactas ou
produzidas como resultado da “alimentação desordenada” por animais paste-
jadores (BEGON; TOWNSEND; HARPER, 2007).
Para que ocorra a produtividade primária na comunidade terrestre são ne-
cessários a radiação solar, o dióxido de carbono, a água, a temperatura e os
nutrientes encontrados no solo.
Existem também outros fatores que não atingem de maneira direta a fotos-
síntese.
A radiação solar é utilizada de maneira ineficiente. Podendo assim, afetar a
fotossíntese de três maneiras diferentes: inibição, saturação e limitação (PINTO-
-COELHO, 2000).
Na inibição a radiação solar pode agir no transporte de elétrons e pigmen-
tação e sobre os cloroplastos se em excesso. Nesse caso, a radiação pode estar
disponível na superfície entre 30 e 100%
Matéria e energia nos ecossistemas 65
Como já sabemos é necessária a presença de luz solar, do carbono, da água
e de sais minerais para o desenvolvimento de seres vivos. Todos esses fatores são
importantes também para a fotossíntese; outro fator essencial é a temperatura.
Todos esses fatores são importantes, porém, não estão distribuídos de ma-
neira igual, variando muito de um lugar para outro, por exemplo, florestas,
lagos, poças temporarias e todos os demais ambientes possuem características
diferenciadas não só da localidade, mas também da disponibilidade de recursos
nesses ambientes.
Como já sabemos é necessária a presença de luz solar, do carbono, da água
e de sais minerais para o desenvolvimento de seres vivos. Todos esses fatores são
importantes também para a fotossíntese, outro fator essencial é a temperatura.
Todos esses fatores são importantes, porém não estão distribuídos de maneira
igual, variando muito de um lugar para outro.
As florestas são consideradas os ecossistemas mais produtivos de biomassa,
isso ocorre a sua diversidade. Porém, ocorrem diferentes níveis de produção
entre as floresta tropicais sempre-verdes, florestas temperada, florestas equa-
toriais sempre-verdes e as florestas boreais.
Essas diferenças ocorrem principalmente pelas diferenças de temperatura
e tempo de reciclagem da biomassa.
Já a produtividade em águas doces aumentam de acordo com os teores
nutritivos.
Os riachos e lagos recebem nutrientes dos solos e rochas, mas a atividade
dos seres humanos (adulbações e redes de esgotos), afetam diretamente esses
níveis ocorrendo também uma grande variação de nutrientes.
66 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Na biosfera temos muitos elementos químicos e conhecemos aproximada-
mente 103 deles.
Esses elementos como veremos logo a seguir nos ciclos biogeoquímicos,
estão disponíveis em quantidades diferentes e todos passam por um ciclo para
retornarem a biosfera.
Na comunidade aquática o carbono, o nitrogênio e o fosfóro são os princi-
pais nutrientes encontrados. Esses elementos químicos são geralmente classi-
ficados como macronutrientes, mesonutrientes e micronutrientes.
68 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Com a Segunda Guerra Mundial, ocorreu uma grande produção de radioi-
sótopos para a fabricação de armas nucleares, e tivemos também o aumento da
produção de reatores nucleares para a geração de energia elétrica. Com isso,
aumentaram-se as preocupações com os riscos que essas substâncias podem
gerar para a saúde humana e a sociedade.
São elementos radioativos que entram nas cadeias alimentares, ocupando
o lugar de nutrientes essenciais como o carbono, o cálcio e o iodo.
Podem ser encontrados em todos os ecossistemas, podem ser gerados por
meio de processos naturais. Eles se diferenciam dos demais elementos devido
à emissão de radiação ionizantes.
Essas radiações ionizantes podem ser de três tipos: radiação alfa, beta e
gama. Todas essas radiações fazem a ionização de partículas.
Os radionuclídeos são considerados elementos instáveis, pois eles diminuem
a emissão da radiação com o passar do tempo.
Diferentemente do que ocorre no fluxo de energia, o fluxo de matéria é
cíclico, ou seja, está presente no ecossistema em forma de substâncias como
o CO2, sais minerais e água.
Essas substâncias são absorvidas por matérias vivas, se decompõem e
transforma-se em matéria orgânica novamente, podendo assim ser reutilizada
novamente tanto por seres bióticos como por seres abióticos.
Os nutrientes circulam na biosfera por meio de dois compartilhamentos ou
pools: pool reservatório é um componente maior, porém, seus movimentos são
lentos, não biológicos, e o pool de ciclagem, ocorre em parcelas menores com
movimentos mais rápido, através de organismos e meio ambiente.
Atualmente temos 103 elementos químicos conhecidos da natureza, e que
desses 30 a 40 são considerados necessários à vida.
Os ciclos biogeoquímicos pode ser classificados de três tipos: ciclo gasoso,
ciclo sedimentar e ciclo misto.
Matéria e energia nos ecossistemas 69
Observe o ciclo hidrológico na Figura 2.5.
Você já sabia que a água é um bem valioso e essencial para a vida no planeta
Terra. Podemos encontrá-la em três estados diferentes: líquido, sólido ou gasoso.
A água está distribuída no planeta Terra na seguinte maneira, 97,3% de água
salgada (oceanos e mares), 2,06% em forma de gelo (calotas polares e glaciais),
0,67% de água subterrâneas e 0,01% estão distribuídos em rios e lagos.
Agora veremos a etapas pela qual a água passa, ou seja o seu ciclo hidro-
lógico. A água pode percorrer caminhos rápidos e simples ou caminhos mais
complexos e demorados.
Quando ocorre uma chuva a água cai sobre a superfície terrestre penetrando
no solo, rochas e plantas, essa água também escorre sobre o solo e vegetação.
A vegetação absorve essa água para a realização da fotossíntese, e é através
dela que a água retorna a superfície, encontrando-se no estado gasoso.
Essa água também chega aos rios, lagos, oceanos e mares. Quando a água
se acumula em regiões mais frias, com grandes altitudes e baixas latitudes se
transforma em gelo, ou seja, encontra-se no estado sólido. A água quando
congelada pode demorar milhões de anos para retornar ao ciclo.
A água que atinge as regiões das águas subterrâneas possuem um processo
lento, retorna à superfície pela infiltração, ou através de nascentes indo de
encontro de outros percursos de água.
As ações do homem como o desmatamento, provocam erosões e o dese-
quilíbrio nos recursos naturais entre outros grande problemas ambientais.
O nitrogênio; é essencial para a síntese de aminoácidos, vale dizer que
apenas com CO2 e H2O um vegetal até exercer suas funções, mas sem nitro-
gênio ele não pode crescer. Para os consumidores, que irão se alimentar dos
vegetais, esse não é um problema, pois já incorporam os aminoácidos de que
necessitam diretamente das proteínas que ingerem.
Certamente você já sentiu o cheiro de amoníaco (NH3) em algum local onde
alguém urinou algum tempo antes. Sabe por quê? Os aminoácidos que se en-
contram em excesso no nosso organismo são metabolizados, separando o grupo
amina, que contém o nitrogênio. O restante entra no metabolismo dos carboidra-
tos ou é estocada como gordura. O próprio fígado se encarrega de transformar
as moléculas de amônia que se formam com o metabolismo em moléculas de
ureia, que são eliminadas na urina. No meio ambiente, à medida que a ureia vai
sendo liberada como gás, surge o cheiro desagradável.
Matéria e energia nos ecossistemas 71
É na atmosfera terrestre que se encontra o maior reservatório de gás nitro-
gênio (N2). A maioria dos seres vivos não é capaz de utilizar o nitrogênio na
sua forma molecular, para que ocorra a fixação do nitrogênio é necessária a
presença de bácterias fixadoras, do tipo de Vida livre: Azotobacter sp., Clostri-
dium sp., Pseudomonas sp.; Simbiontes: Rhizobium sp. e Spirillum lipoferum;
Purpúreas: Rhodospirilum sp.; e Cianobactérias: Nostoc sp. e Anabaena sp.
Essas bácterias fixadoras transformam o nitrogênio em amônia (NH3).
72 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
A atmosfera é o principal reservatório do oxigênio, podendo ser encontra-
dos átomos de oxigênio no gás carbônico e gás oxigênio na água entre outros.
É essencial para a vida dos seres vivos por meio a respiração e água, é através
da fotossíntese que ele retorna a atmosfera.
O processo de combustão e a formação do gás ozônio (através dos raios
ultravioleta), geram a formação de óxidos metálicos, que por vez combinam
com metais presentes no solo.
Esse ciclo (Figura 2.8) é considerado sedimentar, seu maior reservatório
é a litosfera, principalmente as rochas fosfatadas e depósitos de sedimentos
localizados no fundo do oceano, rios, lagos e águas subterrâneas.
O fósforo inorgânico pode ser encontrado também como ortofosfato, estando
presente no solo e na água, e é absorvido pelos vegetais, que são consumidos
por herbívoros. Também é encontrado nas excretas geradas por heterótrofos
e pela mineralização de fósforo por microrganismos decompositores como
bactérias, fungos e leveduras.
As erosões liberam o fósforo novamente para o ecossistema, mas grande
parte desse fósforo escapa para o mar. Os mecanismos de devolução do fós-
foro ao ciclo podem ser insuficientes para compensar a perda (ODUM, 1998).
74 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
O ciclo do enxofre (Figura 2.9) possui fases na atmosfera e na litosfera. O
seu principal reservatório é terrestre (solo e sedimentos), com um reservatório
menor encontrado na atmosfera. O seu ciclo ocorre através da interação entre
os processos geoquímicos, meteorológicos e biológicos.
Matéria e energia nos ecossistemas 75
Resumo
Nesta unidade foi feita a explicação sobre o fluxo de energia e matéria
nos ecossistemas e os ciclos biogeoquímicos. Lembrando que a energia
flui de modo unidirecional, ou seja, a energia diminui de acordo com
cada nível trófico da cadeia alimentar. E os microrganismos especiali-
zados quimicamente apresentam um papel importante entre os ciclos
biogeoquímicos, fundamentais para a vida do nosso planeta.
Atividades de aprendizagem
1. Diferencie a Primeira lei da termodinâmica da Segunda lei da termo-
dinâmica.
2. Por que o fluxo de energia é unidirecional?
3. Como sabemos existem três tipos de pirâmides para ilustrar os diferen-
tes tipos de cadeias alimentares e tróficas. Represente através de uma
pirâmide uma cadeia alimentar curta.
4. Descreva a importância dos ciclos biogeoquímicos para o ecossistema.
5. Durante o cultivo das plantações os agricultores fazem uso de adubos;
esses produtos, por vez, interferem no ciclo do nitrogênio. Faça uma
pesquisa sobre a “adubação verde”, seu procedimento e quais vanta-
gens ele gera.
6. Fale sobre a importância da fotossíntese.
7. O gás carbônico é um dos principais gases responsáveis pela formação
do efeito estufa na atmosferra terrestre. Isso ocorre devido o fato das
moléculas de CO2 terem a capacidade de absorver a radiação infra-
vermelha. Pesquisadores do mundo todo estão buscando uma maneira
de diminuir a quantidade desse gás, um dos recursos encontrados é
conhecido como “sequestro de carbono”. Faça uma pesquisa sobre
como ocorre esse procedimento.
8. Faça uma pesquisa sobre a chuva ácida gerada pela reação do enxofre,
levantando quais os principais impactos ambientais.
9. Faça uma ilustração representando um dos percursos do ciclo da água.
Unidade 3
Relações ecológicas
entre os seres vivos
Na natureza, muitas espécies realizam interações entre si, essas interações
podem estar associadas a alguns fatores ou necessidades específicas, entre
elas podemos citar a reprodução, proteção contra predação, alimentação,
entre outros. Essas relações ecológicas entre os seres vivos está intimamente
ligada à sobrevivência das espécies no hábitat em que vivem, sendo subsídio
indispensável para o equilíbrio dos ecossistemas no planeta.
As relações ecológicas basicamente podem ser classificadas em relações
intraespecíficas, relações interespecíficas, relações harmônicas ou positivas e
relações desarmônicas ou negativas. As relações intraespecíficas, compreen-
dem as interações existentes entre indivíduos da mesma espécie, as relações
interespecíficas trata-se das relações existentes entre indivíduos de espécies
diferentes, as relações harmônicas ou positivas são as relações em que ne-
nhuma das partes envolvidas sai prejudicada com a associação, as relações
desarmônicas ou negativas, são as relações em que pelo menos uma das
espécies sai prejudicada com a associação. Todas essas relações podem ser
subdividas em vários tipos, sendo as principais: as colônias, as sociedades,
o inquilinismo, o comensalismo, o mutualismo, a antibiose, a herbivoria, o
predatismo, o parasitismo e a competição. Vejamos, a seguir, cada uma dessas
relações, abordando seus principais aspectos e variedades.
Seção 1
Nesta seção serão demonstradas as principais relações ocorrentes no meio
ambiente, bem como sua importância na manutenção das espécies.
Para reforçar seu aprendizado as relações ecológicas, não ocorreram do dia
para a noite, essas interações são fruto de longos períodos de tempo, em que
uma espécie foi lentamente de inter-relacionando com a outra em caráter de
dependência ou não, até estarem como agora vamos conhecê-las.
Tenha atenção na leitura do quadro a seguir, e note que as relações na na-
tureza podem ser positivas ou negativas podem ainda ser positiva para ambos
os envolvidos ou penas para um como demonstra o Quadro 3.1.
Relações ecológicas entre os seres vivos 79
As colônias compreendem espécies onde as relações existentes são intra-
específicas harmônicas, onde os indivíduos associados se encontram unidos
por um substrato ou esqueleto comum, sendo assim adquirindo uma profunda
interdependência fisiológica. As colônias apresentam dois tipos básicos: colô-
nias homomorfas e colônias heteromorfas.
As colônias homomorfas podem ser chamadas também de homotípicas,
nesse tipo de colônia os indivíduos envolvidos são fisiologicamente seme-
lhantes, não existe uma divisão de trabalho, pois, todos os seus componentes
exercem o mesmo papel biológico. Exemplos desse tipo de colônia são as cracas
(crustáceos), corais (celenterados) e algumas espécies de bactérias.
As colônias heteromorfas ou heterotípicas abrange indivíduos que são
fisiologicamente diferentes, sendo que cada um está adaptado a designar de-
terminadas funções, onde então se estabelece uma divisão de trabalho entre
seus componentes. Exemplo desse tipo de colônia, as caravelas, uma espécie
de celenterado, onde os indivíduos exercem diversas funções como: defesa,
proteção, natação, flutuação e reprodução.
As sociedades também são relações intraespecíficas harmônicas, mas elas
diferem das colônias por apresentarem total independência e também por se
80 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
É quando ocorre uma relação não obrigatória que envolve benefício mútuo,
ou seja, ambos os envolvidos saem ganhando com essa relação, por exemplo,
Relações ecológicas entre os seres vivos 81
O inquilinismo é uma relação interespecífica harmônica, onde, como o pró-
prio nome diz, um inquilino de aloja em outro na busca por abrigo (proteção)
ou sustentação no corpo da espécie hospedeira, mas essa associação não traz
prejuízos para a espécie associada. Exemplos clássicos desse tipo de relação
são as orquídeas, bromélias e as arvores onde essas plantas se alojam. Ao con-
trário que muitas pessoas pensam as orquídeas e as bromélias não são plantas
parasitas, pois essas plantas não extraem nenhum tipo de fonte energética da
sua hospedeira, apenas busca se alojar em troncos altos para se protegerem
dos predadores e para obter maior luminosidade para o seu desenvolvimento.
Por isso essas plantas foram denominadas epífitas (epi, “em cima”), e no caso
do inquilinismo podem ser chamadas de epifitismo.
O comensalismo também é uma relação interespecífica harmônica, sendo
que apenas uma das espécies é beneficiada com a associação e que também
não prejudica a outra espécie envolvida. O que difere o comensalismo do inqui-
linismo é o objetivo da interação que ocorre,
sendo que o comensalismo como o próprio
Para saber mais
nome traz o comensal, ou seja, busca restos
O oceano é um lugar apreciável
de alimentos que os outros animais consomem
para observarmos relações comen-
para sobreviver. A espécie humana é passiva
sais entre alguns seres marinhos. O
desse tipo de relação, o exemplo é a uma
conjunto de organismo comensais
ameba, comensal que vive no intestino do ho-
como peixes bivalves poliquetas e
mem, onde se nutre dos restos da sua digestão caranguejos vive de alimento exce-
sem prejudicar o homem, outro exemplo para dente, rejeitado ou de dejetos de
que você possa fixar melhor, é a rêmora, pois seus hospedeiros. Muitos comen-
se fixa na região ventral de um tubarão através sais não são específicos do hospe-
de uma ventosa que se localiza na cabeça e deiro, mas a maioria é encontrada
assim é transportada e, com isso, se alimenta em associações com apenas uma
dos restos de presas que o tubarão consumiu. espécie de hospedeiro.
82 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
O mutualismo ou simbiose é uma relação interespecífica harmônica, em que
uma espécie não é beneficiada, mas as duas são beneficiadas com a associação.
Contudo, os benefícios podem estabelecer ou não um estado de interdepen-
dência fisiológicas bilateral. Então se estabelece dois tipos de mutualismo, o
obrigatório e o não obrigatório.
Mutualismo obrigatório: quando ambas as espécies necessitam umas das
outras para sobreviver, ou seja, cada uma fornece para outra, recursos essenciais
para manutenção e desenvolvimento de seu metabolismo, sendo a separação
uma forma de desequilíbrio e com isso acarretando na morte dos indivíduos
envolvidos. Podemos citar os líquens, onde ocorre uma associação entre algas
e fungos; os cupins e protozoários, ruminantes e microrganismos, bactérias e
leguminosas e micorrizas (plantas e fungos).
Mutualismo não obrigatório: é uma relação que também pode ser chamada
de protocooperação, nesse tipo de relação, observamos que a coexistência entre
os indivíduos envolvidos pode ser dispensada, sem que a perdas das vantagens
traga um desequilíbrio metabólico nas espécies associadas. Alguns exemplos
que podemos citar dessa relação: o anu e o gado, pássaro-palito e o crocodilo,
formigas e pulgões e caranguejo paguro e actínias.
Relações ecológicas entre os seres vivos 83
Agora vamos entrar em outro tipo de relação, na qual a interação que
ocorre é interespecífica desarmônica, em que uma espécie inibe ou bloqueia
o desenvolvimento ou reprodução da outra espécie, na qual é denominada
comensal. Isso ocorre através de substâncias tóxicas que são liberadas e com
isso acaba inibindo o desenvolvimento da outra espécie. Exemplos desse tipo
de relação é o fungo Penicillium nottum e certas bactérias, onde o fungo libera
penicilina, na qual é usada no tratamento de algumas enfermidades causadas
por determinadas bactérias, pois o antibiótico impede o desenvolvimento da
bactéria que é suscetível a essa substância.
Outro exemplo que podemos citar de amensalismo e que ocorre com
grande frequência é a maré-vermelha, esse fenômeno é caracterizado pelo
excesso dessas algas unicelulares planctônicas (dinoflageladas), que acabam
liberando toxinas que provocam a morte de muitos indivíduos de inúmeras
espécies marinhas.
84 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Quando falamos de predação e parasitismo, no referimos a tipos de in-
terações entre duas populações que resultam em efeitos negativos no desen-
volvimento e sobrevivência em uma população e efeitos positivos na outra
população. A herbivoria é quando existe um predador primário (animal) e a
presa ou “hospedeiro” um produtor primário (planta).
Na relação que ocorre na predação, os predadores capturam e destroem
fisicamente as presas, de modo a se alimentarem para sobreviver. O predador
tem um papel fortemente limitante sobre a população de presas, mas quando a
interação é de origem recente, o predador normalmente atua como regulador
de densidade, sendo assim cria-se um equilíbrio populacional na população
de presas. Pensando então em populações e em excedente populacional,
os predadores tornam-se benéfico em termos de espécie, desse modo eles
atuam como reguladores no crescimento populacional das presas, uma vez
que as presas em superpopulação, também encontram dificuldades para so-
brevivência, devido à falta de alimento, espaço, doenças na população entre
outras situações. Os predadores atuam também como seletores das presas,
pois normalmente eles capturam as presas que estão menos aptas as fugas
que pode ser explicada pela idade do animal ou doenças. A importância
que observamos na interação existente na relação entre predadores e presas
é muito grande, pois forma-se um equilíbrio no ecossistema, pois as duas
populações não se extinguem nem entram em superpopulação.
Relações ecológicas entre os seres vivos 85
Algumas adaptações usadas por algumas espécies possibilitaram a algumas
populações aumentarem suas chances de sobrevivência. Para as presas, criar
meios para se camuflar, o que as ajuda a passar muitas vezes despercebidas
no ambiente. Para os predadores, rapidez, faro aguçado, dentes caninos,
produção de teias, entre outras adaptações, possibilitam um maior desempe-
nho na hora de capturar a presa. Podemos observar algumas diferenças im-
portantes entre predadores e presas, por exemplo, o número de predadores
sempre é menor do que das presas, já em relação à longevidade, os preda-
dores têm maior habilidade do que as presas e também o porte dos predado-
res é maior do que o das presas.
No parasitismo, a interação ecológica que
ocorre é estabelecida por um parasita e por
um hospedeiro. O parasita é um indivíduo Para saber mais
que necessita se alojar em outro para obter Por mais injusta que pareça uma
fonte de sobrevivência, com isso prejudica interação dessas aqui menciona-
a espécie na qual se alojou, causando le- das, é importante que você saiba
sões, deformações, intoxicações e muitas que, vantajosa ou não as relações
vezes até a morte do hospedeiro. Existem ecológicas são fruto de um longo
várias diferenças entre parasitismo e preda- tempo de estabelecimento, sendo,
portanto, um fator fundamental na
ção, os parasitas geralmente são bastante
coexistência das espécies.
especialistas em relação a seus hospedeiros,
86 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Saiba mais
A relação parasita x parasitado
Begon, Townsend e Harper (2007) apresentam inúmeras particularidades sobre parasitas, parti-
cularidades estas muito importantes para que a relação parasita x parasitado seja compreendida.
Os autores explicam que há divergências entre os grupos de parasitas, pois se diferenciam de
acordo com: (1) sua especificidade; (2) modo de ação de cada indivíduo; e (3) a forma de relação
com o indivíduo parasitado.
Begon, Townsend e Harper (2007) esclarecem ainda que, de acordo com o ambiente em que
vivem, os parasitas podem ser chamados ‘ectoparasitas’, ‘endoparasitas’, ‘hemoparasitas’, ‘ho-
loparasitas’, ‘hemiparasitas’ ou ‘parasitos estenoxenos’.
Para entender melhor a classificação dos autores, veja o quadro a seguir:
Assim como os parasitas, os hospedeiros (espécies que abrigam parasitas), também podem ser
classificados de acordo com algumas características — Begon, Townsend e Harper (2007) apon-
tam que eles podem ser classificados em três grupos: hospedeiros definitivos, intermediários ou
paratênicos (de transporte).
Veja as características de cada um desses grupos de acordo com os autores:
Por fim, a interação parasita x parasitado também sofre variações e, consequentemente, têm
diferentes classificações, uma vez que, para sobreviver nos hospedeiros, os parasitas agem de
diferentes formas a fim de conseguir os nutrientes de que precisam para se alimentar. Begon,
Townsend e Harper (2007) explicam essas diferentes formas de interação:
Tipo de interação parasita
Característica
x parasitado
Os parasitas consomem o oxigênio presente nas
Anóxia
hemoglobinas, podendo causar anemias.
Por meio da produção de enzimas, os parasitas
Enzimática acabam furando ou dissolvendo partes do corpo
do hospedeiro.
Os parasitas absorvem nutrientes e sangue de seus
Espoliativa
hospedeiros.
Os parasitas provocam irritação no local parasitado
Irritativa e prejudicam o hospedeiro, mas sem causar lesões
traumáticas.
Os parasitas podem interferir o fluxo alimentar e a
Mecânica
absorção de alimentos do hospedeiro.
Os parasitas produzem substâncias (como enzimas
Tóxica ou metabólitos) que podem ser tóxicas e causar
lesões no hospedeiro.
Os parasitas provocam, geralmente por meio de
Traumática vermes, formas larvárias e protozoários, lesões no
corpo do hospedeiro.
Fonte: Begon, Townsend e Harper (2007)
88 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Percebemos então que as interações parasitas x parasitados são as mais diversas possíveis,
cada uma trazendo malefícios ou benefícios a ambas as partes.
A competição é a interação em que indivíduos da mesma espécie ou espé-
cies diferentes competem pelos mesmos recursos, como exemplo, alimento,
território, luminosidade entre outros. No caso da competição a relação pode
ser tanto intraespecífica quando interespecífica, em ambos os casos a sele-
tividade que ocorre é através das formas mais bem adaptadas ao ambiente,
que permite a eliminação dos indivíduos menos adaptados. Assim como a
predação e o parasitismo, a competição também contribui na regulação da
densidade populacional, sendo assim contribuindo para evitar a superpopu-
lação das espécies.
Saiba mais
Predação e competição
Precisamos refletir um pouco mais sobre a predação e a competição, relações que, embora pa-
reçam desleais, são de suma importância para que haja o equilíbrio na natureza.
Odum e Barret (2007) ajudam-nos a entender a competição, dividindo-a em dois subtipos: (1)
as relações intraespecíficas e (2) as interespecíficas.
O primeiro subtipo (relações intraespecíficas) ocorre quando a competição se dá entre membros
de uma mesma espécie ou entre membros de determinada população que vive em uma área
definida, enquanto o segundo subtipo (as relações interespecíficas) acontece entre organismos
de espécies diferentes (ODUM e BARRET, 2007).
Relações ecológicas entre os seres vivos 89
Os mesmos autores também explicam melhor a predação, além de diferenciar os cinco tipos dessa
relação. Eles definem predação como o ato em que um animal se alimenta de outro organismo,
geralmente levando este à morte (ODUM e BARRET, 2007).
O quadro a seguir apresenta os cinco tipos de predação apresentados pelos autores:
Tipo de predação Característica
São os consumidores de herbívoros, predadores
Carnívoros de primeira ordem
típicos.
Carnívoros de segunda ordem
São os predadores de carnívoros.
(de topo de cadeia)
São aqueles que consomem plantas inteiras ou
Herbívoros
apenas parte delas.
São aqueles que depositam seus ovos próximos ao
Insetos parasitoides hospedeiro que acabará sendo consumido pelas
larvas.
São aqueles que consomem seres de sua própria
Canibais
espécie.
Fonte: Odum e Barret (2007)
Os autores complementam explicando a importância da predação como uma das relações mais
importantes. Essa importância se deve ao fato de os reflexos dessa relação não afetarem somente
as populações, mas toda a comunidade.
Por fim, para compreender melhor a relação de competição, Odum e Barret (2007) apresentam
alguns indícios que demonstram quando duas espécies estão em competição:
Padrão biogeográfico como um ‘tabuleiro de xadrez’
A presença de uma espécie garante a ausência de outra, pois as duas precisam dos mesmos
recursos para viver e, por isso, não é possível que ocupem o mesmo local. Assim, acaba
sendo necessária a eliminação de uma delas.
Sobreposição de recurso potencialmente relevante
Como exemplo, se duas espécies se alimentam de uma mesma presa, há a sobreposição
de um recurso que, potencialmente, ficará limitado.
Indivíduos de uma mesma espécie competindo por determinada área
Caso dois indivíduos de uma mesma espécie compitam por uma mesma área de vida, dá-se
a competição intraespecífica.
Uso de um mesmo recurso por mais de uma espécie
O uso de um recurso por uma espécie dificulta o uso desse mesmo recurso por outra. Isso
ocorre, por exemplo, quando diferentes espécies de aves botam ovos em uma mesma época
do ano, e utilizam os mesmos recursos (as mesmas fendas de rochedos, por exemplo).
90 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Aprofundando o conhecimento
A fim de consolidar seu conhecimento sobre relações interespecíficas,
aproveite o texto a seguir (BRAGA et al., 2005, p. 43), pois ele sumariza
de forma bastante sucinta essas relações.
Duas ou mais espécies que convivem em um mesmo hábitat podem
desenvolver relações mútuas favoráveis ou desfavoráveis para uma ou para
todas as participantes da relação. Os tipos possíveis de indivíduos podem ser
divididos em associações neutras, benéficas (ou positivas) e maléficas (ou
negativas), conforme veremos a seguir.
O neutralismo é uma associação neutra na qual as duas espécies são
independentes e uma não influi na outra.
O comensalismo é uma associação positiva entre uma espécie comensal,
que se beneficia da união, e uma espécie hospedeira, que não se bene-
ficia nem se prejudica com a relação. Esse tipo de relação verifica-se, por
exemplo, entre os humanos (espécie hospedeira) e as bactérias que vivem
em seus intestinos (espécie comensal) e alimentam-se do material retirado
pelo organismo.
Cooperação é a associação positiva, na qual ambas as espécies levam
vantagem, mas que não é indispensável à união, permitindo que os indivíduos
levem vida independente uns dos outros. Um exemplo desse tipo de associa-
ção é a nidificação coletiva, empreendida por algumas espécies de pássaros,
visando à maior segurança e proteção contra seus predadores.
O mutualismo é uma união positiva na qual os indivíduos são intima-
mente ligados, não podendo um sobreviver sem o outro. Como exemplo
desse tipo de associação, citamos a relação entre os cupins e os microrga-
nismos que vivem em seu estômago, que são os responsáveis pela digestão
da celulose da madeira que os cupins comem. A relação mutualística entre
certos fungos e raízes de vegetais é de grande importância econômica para
os humanos.
92 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Seção 2
Nesta seção você irá aprender sobre os processos de sucessão ecológica
das espécies, desde os primeiros seres a iniciarem a colonização ate o alcance
de um estado de equilíbrio, o clímax.
Existem regiões na terra que em que o clima e as condições do solo, não são
muito favoráveis ao desenvolvimento de seres vivos, por exemplo: em alguns
desertos a composição predominante do solo é composta por areia, pobre em
nutrientes minerais, poucas chuvas, as chuvas que caem não são retidas pela
areia na superfície do solo, rapidamente escoando para regiões mais profundas
ou evaporando. As variações de temperatura são muitas, podendo alcançar
altas temperaturas durante o dia e temperaturas muito baixas durante a noite.
Para que você possa entender melhor o que é uma sucessão ecológica, vou
contar-lhe uma história, imagine que você receba de herança de um de suas
avós que você nem sabia que possuía terras, 30 alqueires de terras com mata
virgem, intocada.
Para exemplificar a vocês o que é uma sucessão ecológica imaginaremos
hipoteticamente que desses 30 alqueires eu separe apenas um e derrube toda a
vegetação que ocorre nessa minha pequena área. Depois de derrubada arranco
tocos e galhos deixando a terra limpa, utilizando-se de maquinários nivelo o
terreno e aplico uma camada significativa de asfalto.
Terminado esse processo eu abandono essa terra em que modifiquei com a
derrubada da mata e com o asfalto ali colocado. Com o passar do tempo e com
os ciclos naturais, como chuvas, ventos e temperatura, você irá perceber que
dia após dia uma fina camada de poeira irá se acumular por sobre esse asfalto,
preenchendo as falhas, fendas e pequenas brechas que possam ter ficado nesse
asfalto. Além das ações natais, como já mencionamos, imagine que pássaros
agora passam sobrevoando essa área e acabam defecando, acumulando matéria
orgânica no solo também, juntamente com as fezes algumas sementes que fazem
parte da dieta alimentar desses animais encontram-se no solo agora também, e
iniciam um lento processo de germinação. Como esse ambiente é bastante rude,
94 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
grande parte das espécies que conseguem germinar não tem adaptações para
prosseguir com a vida, morre acumulam ainda mais matéria orgânica no solo,
aumentando a camada de matéria orgânica, e finalmente as espécies que alem
de terem conseguido germinar, permaneceram vivas mesmo neste ambiente
hostil, agora crescem promovendo condições para que espécies mais exigentes
quanto a solo e sombreamento agora comecem a se estabelecer também, e assim
sucessivamente até que uma diversificada flora e fauna se estabeleça nesse novo
ambiente agora já transformado pela colonização realizada durante esse processo.
Mesmo em ambientes hostis, como acabamos de citar, a vida ainda assim
pode se estabelecer. Algumas espécies chamadas de espécies pioneiras são
assim chamadas por que são as primeiras espécies a iniciar um processo de
colonização do ambiente, e conseguem se instalar em ambientes inóspitos e
suportar suas terríveis condições.
Algumas dunas, por exemplo podem ser colonizadas por algumas espécies
de gramíneas. Mas como essas espécies chegam a esses ambientes? As espé-
cies pioneiras são normalmente anemócoras, isto é, podem ser dispersas pelo
vento por grandes distâncias. Essas espécies têm um poder adaptativo enorme
podendo suportar extremo calor a falta d’água e solos inconsistentes, plantas
muito bem adaptadas as adversidades.
Como já explicamos no inicio quando falamos da sucessão, a colonização
do ambiente pelas espécies pioneiras, vai modificando lentamente o ambiente,
com o acúmulo de materiais orgânicos provenientes da decomposição de
plantas mortas, que se acumulam no solo, aumentando a disponibilidade de
nutrientes no solo que aumenta o potencial de retenção de água no solo. a
sombra da vegetação pioneira então reduz as bruscas variações de temperatura
do solo, as raízes conseguem se fixar melhor e o vento já não mais consegue
mover tão facilmente as partículas do solo.
Agora sob essas novas condições, outras plantas e animais conseguem se
estabelecer ali. As novas espécies que se achegam no ambiente irão competir
com as espécies pioneiras e gradativamente irão substituí-las. As sucessivas gera-
ções de plantas e animais que nascem, crescem e morrem vão tornando o solo
cada vez mais rico em matéria orgânica e umidade. Esse processo complexo
das comunidades ao longo de tempos é então chamado sucessão ecológica.
Como mencionamos no início dessa seção sobre sucessão ecológica,
o exemplo de uma pequena área desmatada onde as condições eram ex-
Relações ecológicas entre os seres vivos 95
Uma comunidade clímax, após determinado tempo de evolução, irá atingir
um estado de estabilidade, compatível com a as condições regionais. Em outras
palavras o que ocorre é que há um perfeito equilíbrio nesse ambiente.
Em alguns locais é possível prever qual o tipo de sucessão irá ocorrer, um
campo de cultivo abandonado, por exemplo, onde antes de sua alteração para
a agricultura existiam florestas, a sucessão provavelmente seria a seguinte: cam-
pos, arbustos, vegetação intermediária seguida por mata semelhante a original.
Esses eventos que se sucedem são denominados seres ou séries.
Durante a sucessão há uma gradativa substituição de espécies de plantas e de
animais que constituirão as séries. Uma espécie pioneira exerce um papel fun-
96 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Resumo
Aprendemos nesta unidade que as relações ocorrentes na natureza,
podem ser harmônicas ou desarmônicas, ou ainda podem ocorrer en-
tre indivíduos de uma mesma espécie, ou entre indivíduos de espécies
diferentes, podendo ser positiva para ambos, para apenas um dos en-
volvidos, ou mesmo terem caráter nulo, onde mesmo que uma espécie
apenas ganhe, a outra necessariamente não perde. Vimos ainda que
essas relações são bastante antigas e que aos poucos foram se fixando
em termos adaptativos, a ponto de algumas dessas relações ocorrerem
hoje em caráter de dependência.
Atividades de aprendizagem
Agora com o conhecimento que lhe foi divulgado nesta unidade, é o
seu momento de identificar os tipos de relações em situações diversas. Leia
atentamente as passagens abaixo, reconhecendo qual seria a relação envol-
vida e justifique. Não esqueça: pense em que resultado gera essa interação
Relações ecológicas entre os seres vivos 97
Esta unidade compõe-se de uma parte introdutória destinada à recordação
de conceitos básicos, seguida de duas seções. Você vai notar que os temas são
tratados numa ordem um pouco diferente à da maioria dos livros didáticos, e
esses mesmos conceitos deverão ser aplicados quando, na Unidade 5, falarmos
sobre a ecologia urbana, pois os conceitos e processos ecológicos são desen-
volvidos a partir de experiências e observações do nosso cotidiano, no próprio
ecossistema urbano em que vivemos. Acreditamos, assim, que essa abordagem
torne os assuntos mais familiares, facilitando a sua assimilação.
Poderemos definir uma população como o conjunto de organismos de uma
mesma espécie que estejam ocupando uma determinada região e conseguem
se reproduzir entre si. Para que você entenda melhor, uma população possui
algumas características, que são propriedades exclusivas do grupo como um
todo, sendo o resultado da junção das diferentes características individuais de
seus membros, e não separadamente.
Algumas dessas propriedades são: a densidade, a natalidade, a mortalidade,
a distribuição etária, o potencial biótico, a dispersão e a forma de crescimento.
Seção 1
Nesta seção iremos apresentar conceitos básicos de como se organizam as
populações formando comunidades nos ecossistemas.
Preste atenção nos contextos que agora serão apresentados, começaremos
recapitulando alguns conceitos da Unidade 1, sobre a ecologia, para, em se-
guida, perceber qual é a importância de se entender os processos ecológicos.
100 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
A palavra “ecologia” foi usada pela primeira vez em 1869 sendo esse
conceito de outrora aprimorado ao longo do tempo. Hoje, podemos dizer
que Ecologia é o estudo científico das interações existentes que determinam a
distribuição e a abundância das espécies.
A forma como os organismos espalham-se por uma determinada área ou
mesmo quais os fatores que determinam a quantidade de indivíduos de uma
espécie, faz-se necessário antes de tudo conhecer as condições do meio, onde
essas espécies vivem, bem como as interações de relação que esses indivíduos
fazem dentro da população. Devem também ser verificadas as relações entre
indivíduos da espécie em questão e também das demais espécies com os quais
convivem na comunidade.
Vamos agora compreender alguns termos reguladores em populações:
Densidade: é o tamanho da população em relação à área ocupada, ou
seja, é o número de indivíduos por área. Geralmente, é avaliada e expressa
como o número de indivíduos ou a biomassa da população, por unidade
de área ou de volume.
Natalidade: é a capacidade de uma população aumentar, é o índice de
nascimentos num dado período, sendo um termo amplo que engloba
qualquer organismo, seja qual for o processo: nascimento, eclosão, ger-
minação ou divisão.
Mortalidade: refere-se ao índice de mortes na população. A mortalidade
é equivalente à taxa de óbitos na demografia humana. A mortalidade
pode ser definida como o número de indivíduos que morreram em um
determinado período (óbitos por unidade de tempo), ou como uma taxa
específica em termos de unidades da população total ou qualquer parte
desta.
Distribuição etária: é uma importante característica das populações, uma
vez que influencia tanto na natalidade, ou seja, número de indivíduos
que nascem, como a mortalidade (número de indivíduos que morrem).
A proporção encontrada entre os vários grupos etários da população irão
determinar o estado reprodutivo atual da população e também indica o
que poderá ser encontrado no futuro. Por exemplo, uma população em
crescimento rápido conterá uma grande proporção de indivíduos jovens;
uma população estacionária demonstrará uma distribuição mais uniforme
das classes de idade; e uma população em declínio apresentará uma
proporção maior de indivíduos velhos.
As populações e comunidades biológicas 101
Forma de crescimento: as formas de crescimento são padrões característicos
de aumento da população.
E podem haver dois padrões básicos: as formas de crescimento em forma
de J, onde a densidade aumenta rapidamente de forma exponencial parando
abruptamente quando a resistência ambiental se torna efetivo mais repen-
tinamente; e a curva de crescimento Sigmoidal ou em forma de S, onde a
população aumenta lentamente no início, depois mais rapidamente, mas logo
a taxa de aumento vai diminuindo aos poucos, à medida que a porcentagem
de resistência ambiental vai aumentando, até o equilíbrio ser alcançado e
mantido.
Essas informações proporcionam um retrato da população em um deter-
minado tempo, tendo importância para gestão e conservação do ambiente e
servindo de base para compreender os fatores que fazem o tamanho da popu-
lação variar, e os processos que regulam seu crescimento.
O Gráfico 4.1 expressa o crescimento de uma população humana, é um
comportamento de crescimento populacional diferenciado em relação às de-
mais populações naturais, apresenta uma curva de crescimento em “J”, o que
mostra um crescimento populacional acelerado.
Número de
indivíduos
Tempo
Saiba mais
Charles Elton estudou no Liverpool College e na Universidade de Oxford, onde se graduou em
1922, e também onde subsequentemente desenvolveu sua carreira acadêmica. Profissionalmente,
Elton dedicou-se à história natural, especialmente em Ecologia, aplicando o método científico para
estudar a vida dos animais em seus hábitat natural, e suas interações com o ambiente. Antes de
sua graduação, em 1921, trabalhou como assistente de Julian Huxley em uma expedição ecológica
dos vertebrados do Ártico, um projeto que continuaria com três expedições posteriores à região
cumpridas em 1923, 1924 e 1930. Suas experiências levaram-no a associar-se com a Hudson’s
Bay Company, entre os períodos de 1926 a 1931, a qual lhe permitiu estudar as flutuações nas
populações das espécies animais que sofriam a caça. Mais tarde, desenvolveu estudos similares
nas populações britânicas de ratos.
106 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Seção 2
Nesta seção você irá conhecer alguns mecanismos utilizados no processo
evolutivo e adaptativo das espécies na natureza, e a forma de atuação da se-
leção natural.
As espécies de uma comunidade estabelecem inúmeras interações entre si,
que nem sempre são fáceis de ser estabelecidas, mas servem para entender o
comportamento e a estrutura de uma comunidade como um todo. Essas intera-
ções não são somente uma de suas propriedades, mas constituem um de seus
pilares conceituais. Muitas vezes, os organismos de uma comunidade estão
interligados de tal modo que a extinção de uma espécie pode causar sérias e
irreversíveis manifestações de desequilíbrio ecológico.
Um dos aspectos ecológicos mais interessantes em relação à dinâmica das
comunidades refere-se aos ciclos temporais observados em praticamente todas
as comunidades. Por exemplo: as florestas exibem ciclos fenológicos muito
nítidos, que vão regular a ocorrência de inúmeros insetos e mamíferos. Esses
ciclos fenológicos são simultâneos e recorrentes quanto maior for a latitude.
Saber como agrupamentos de espécies estão distribuídos e as maneiras pelas
quais podem ser influenciados tanto por fatores abióticos quanto bióticos, pos-
suem fundamental importância para compreensão da ecologia do ambiente e
desenvolvimento de possíveis estratégias para sua conservação.
Todos os seres vivos possuem alguns ajustes biológicos que os ajudam com
as variações do ambiente; para que você possa entender melhor, vamos falar
de uma característica básica ocorrente em nossa própria espécie. Cito como
exemplo a pele do ser humano, que, quando exposta a luz solar, é induzida
a produzir mais melanina, que nos dá a proteção contra os raios ultravioletas.
Outro exemplo: quando praticamos alguma atividade física por vários dias
consecutivos, nosso organismo aumenta a produção de glóbulos vermelhos,
que aumentam a eficiência de transporte do oxigênio. Veja um outro exemplo
bem clássico e que certamente já fez ou faz parte do cotidiano de muitos de
nós: é bastante comum o aparecimento de calos nas mãos quando fazemos o
As populações e comunidades biológicas 107
Para fixar melhor seu entendimento sobre esse processo evolutivo de que
falamos imagine que um casal de peixes tenha sido colocado em uma lagoa,
podendo então se reproduzir e gerar muitos descendentes, que, se permanece-
rem vivos, irão se reproduzir e formar novos descendentes (Figura 4.1). Nesse
modelo, se isso ocorrer, a população pode aumentar de tamanho indefinida-
mente, a ponto de não haver alimento suficiente para toda essa população,
que, como você se lembra, teve início com um único casal de peixes colo-
cado em uma lagoa. Bem, isso só não ocorre porque assim como as espécies,
o meio ambiente também tem suas ferramentas com potencial para corrigir
esses “detalhes” que acompanham essa e outras populações. Vamos ver como
isso ocorre: embora todos os descendentes gerados nessa lagoa, a partir de
apenas um casal, sejam aparentados, eles não são idênticos, ou seja possuem
diferenças, que chamaremos de diferenças intraespecíficas, por exemplo, os
peixes que forem menos ágeis para nadar serão facilmente devorados por outros
predadores, como mencionamos na Unidade 3, se os peixes dessa população
tiverem algum problema com a visão terão sérias dificuldades para buscar
alimento, os indivíduos que apresentarem alguma deficiência imunológica
fatalmente serão acometidos de doenças e certamente morrerão, se houverem
nesse grupo indivíduos que apresentarem uma coloração mais chamativa, por
exemplo a cor vermelha, poderão mais facilmente chamar a atenção de pre-
dadores, tornando-se presas fáceis.
Os animais que sobreviverem a todos esses processos que mencionamos
são considerados os mais adaptados, pois conseguiram alimento, escaparam
dos predadores, têm tolerância às variações químicas e físicas da água, além de
terem resistido ao ataque de microrganismos, e finalmente chegaram à idade
adulta, se reproduzirem e transmitirem suas características, e falamos agora das
características genéticas, para seus dependentes. Notem que, como mencionado
na Unidade 1, existe uma batalha intensa pela vida, uma luta para estabelecer
a sobrevivência. A adaptação é, então, o ajustamento de uma espécie ao seu
ambiente, que é possibilitada por uma série de características que são capazes
de proporcionar a sobrevivência e a reprodução de uma espécie.
Na Figura 4.1 poderemos notar a batalha de uma espécie para manter-se
viva, em quantidade de indivíduos suficiente para que haja a manutenção da
espécie e que muito terá que lutar para chegar à idade adulta e continuar o
processo iniciado por seus ancestrais.
As populações e comunidades biológicas 109
adaptados, ou seja, que não passarão pelos processos a que o meio ambiente
os imporá, a “seleção natural” não te leva a pensar que esse processo é uma
grande perda de tempo e energia? Um desperdício a que as espécies são aco-
metidas? Na verdade é parte de toda a luta pela sobrevivência já mencionada
a vocês, os indivíduos que permanecerem vivos depois de toda essa batalha
são para aquele momento os mais adaptados. Mas, preste atenção, as coisas
podem se inverter se as condições do ambiente se alterarem os indivíduos mais
bem adaptados poderão não ser mais os mesmos, por exemplo, imagine que
próximo a essa lagoa que mencionamos uma indústria se instale, e dentre os
resíduos por ela gerados uma substância de cor avermelhada e não tóxica seja
lançada diretamente nessa lagoa; a água se tornará então avermelhada. Nessas
novas condições o peixe vermelho que poderia ser fruto da prole do casal que
soltamos na lagoa, que antes por ser vermelho poderia ser mais facilmente
devorado por um predador que os demais, agora encontrar-se-ia em vantagens
em relação aos demais, podendo mais facilmente chegar à idade adulta, se
reproduzir e gerar mais descendentes com a coloração avermelhada, que com o
passar do tempo essa característica de cor fosse a predominante na população.
Resta somente uma curiosidade: o peixe ficou vermelho porque a água da
lagoa tornou-se vermelha? É claro que não, o peixe vermelho recebeu de herança
genética um alelo mutante, que o deixa com a coloração das escamas vermelhas,
e a mudança da cor da água, que assim ficou por conta da indústria que se instalou
nas margens da lagoa, apenas selecionou o indivíduo mais adaptado a viver nela.
Concluímos dessa maneira que as espécies podem evoluir, adaptando-se às
circunstâncias ambientais, se isso não ocorrer e não restarem indivíduos que
suportaram as mudanças, os chamados mais bem adaptados, essas espécies
podem desaparecer, se extinguirem.
Certamente você já ouviu falar do DDT; se não ouviu pergunte a seus fa-
miliares mais velhos, que inevitavelmente lhe contarão alguma história sobre
esse inseticida. O DDT foi muito utilizado na Segunda Guerra Mundial para
combater piolhos transmissores de tifo, uma doença que já matou no passado
milhões de pessoas. A utilização do DDT foi bastante satisfatória, conseguiu
controlar os piolhos transmissores de tifo, e posteriormente o DDT passou
também a ser utilizado na lavoura, para combater pragas, mas mostrou -se
As populações e comunidades biológicas 111
Você, em algum momento de sua vida, já deve ter feito uso de um antibiótico
para combater uma bactéria que pode ter lhe causado uma doença; um antibi-
ótico pode perder sua eficiência no combate de determinado tipo de bactéria,
ainda mais se não for tomado de maneira correta, ou seja, se não for seguido
corretamente o intervalo entre as doses ou mesmo o tempo total de tratamento
com o antibiótico. É muito comum você ouvir por aí que as bactérias se tornaram
resistentes ao antibiótico, o que não está correto; o que na verdade acontece é
que as bactérias que são resistentes, ou seja, que possuem em seu plantel genético
algum alelo que lhes confira a habilidade de manterem-se vivas mesmo com a
ação do antibiótico fruto de alguma mutação, surgida em uma ou algumas das
112 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
bactérias, o que faz com que consigam mesmo na presença de ação do antibi-
ótico se multipliquem e passem a predominar no grupo.
O correto procedimento para combater as bactérias resistentes, então, é
a substituição do antibiótico, utilizando-o antibiótico corretamente quanto a
dosagem a o tempo de uso.
Um exemplo que podemos citar sobre o que já foi exposto é o caso da tu-
berculose no final da década de 1980, onde notadamente o número de casos
aumentou em diversos países, e um dos motivos foi o aumento de pessoas con-
taminadas com o vírus HIV, o vírus causador da Aids, uma síndrome que afeta
o sistema imunológico e deixa o indivíduo debilitado, permitindo que diversas
doenças possam se instalar no organismo, não só a tuberculose, mas uma série
de outras doenças.
Os indivíduos pertencentes a uma população que se reproduzem sexua-
damente, isso é a reprodução que depende do envolvimento do individuo do
sexo masculino com indivíduo do sexo feminino, como já vimos anteriormente;
são indivíduos diferentes uns dos outros, com características divergentes, das
mais variadas possível, como exemplo da espécie humana, com indivíduos
com peso, altura e pigmentação da pele diferentes uns dos outros, por isso,
você não é idêntico aos seus companheiros de sala, embora todos nós sejamos
pertencentes a mesma espécie; apresentamos divergências entre nós, o que de
certa forma nos torna únicos, como podemos visualizar no Gráfico 4.2, que
apresenta divergências entre os indivíduos com seu respectivo peso.
Número de indivíduos
Peso
Entenda por espécie o conjunto de semelhantes indivíduos que podem se
cruzar naturalmente e gerar descendentes férteis.
Os seres de espécie diferentes normalmente não podem, do ponto de vista
reprodutivo, cruzar. Muito excepcionalmente indivíduos de espécies diferentes
podem se cruzar, um dos casos mais conhecidos envolvem dois animais de
espécies diferentes, sendo eles a égua e o jumento. Desse cruzamento ocorre a
geração de um indivíduo estéril, ou seja, incapaz de gerar um descendente fértil.
O burro e a mula não são ambos membros de uma mesma espécie, mas
híbridos interespecíficos; existem outros animais que são resultado de cruza-
mentos envolvendo indivíduos de espécie diferentes:
o pintagol, que é o resultado do cruzamento do pássaro pintassilgo com
o canário fêmea, o tigão, que é resultante do cruzamento entre o tigre e
a leoa.
Resumidamente do relacionamento interespecífico, sempre apresentam
algo chamado de isolamento reprodutivo: não se cruzam, e se assim o fizerem,
seus descendentes serão estéreis, ou seja, incapazes de deixar descendentes
com fertilidade.
O homem, como todos os demais seres vivos, está também inserido em
diversas condições ambientais, interagindo densamente com o ambiente e com
as demais espécies, não importando se essas espécies são microrganismos, ve-
getais ou mesmo outros animais. Finalizaremos nosso estudo sobre a ecologia
e as comunidades entendendo a maneira como interagimos com o meio físico
e com outras espécies.
Primeiro, estabeleçamos uma área ou um espaço urbano, pode ser inclusive
onde você mora, ou ainda seu local de trabalho, onde passa a maior parte do
dia. Lembre-se, você é um indivíduo que pertence à comunidade que está ins-
talada nessa área onde você se estabeleceu. Memorize, se for o caso marque
em um rascunho todos os organismos que você pode ter observado nos dias
anteriores ou mesmo nos dias em que se propuser a fazer essa atividade; não
importa se forem espécies de animais, vegetais ou insetos.
As populações e comunidades biológicas 115
Se já refletiu sobre os pontos mencionados, vamos à pergunta. Você concorda
que os organismos serão mais bem-sucedidos na natureza quando conseguirem
o mais adequadamente possível resolver as dificuldades existentes do processo
de sua interação com o seu mundo abiótico e biótico em que se relacionam?
Como vimos anteriormente as estruturas corporais e as ações que estão envol-
vidas na solução de problemas que comumente são impostos pelo ambiente são o
que chamamos de adaptações. Por esse motivo que já foi trabalhado inclusive com
o exemplo anteriormente é que podemos afirmar que, os organismos melhores ou
mais bem adaptados a um ambiente conseguem encontrar soluções eficientes para
garantir sua sobrevivência. Bem, para fixarmos esse conhecimento fecharemos essa
ideia concluindo que: se as adaptações que podem ser transferidas, são conferidas
por genes, então logo serão passadas de uma a outra geração, de pai para filho e
de uma ninhada a outra, tornando-se características hereditárias. Então, é bastante
interessante para a espécie que as soluções eficientes possam ser passadas para
outros indivíduos dentro da população, o que seguramente aumentaria a chance
de sobrevivência individual e também da população.
116 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Links
Para facilitar o entendimento acesse os links relacionados a seguir; eles irão auxiliar no enten-
dimento da temática anteriormente abordada.
<http://www.ajudaalunos.com/cn/capi15.htm>
<http://www.mesologia.hpg.ig.com.br/ecologia_de_populacao.htm>
<www.fontedosaber.com/biologia>
<http://www.biomania.com.br/bio/conteudo.asp?cod=1266>
Aprofundando o conhecimento
Vamos agora conhecer um pouco sobre a sucessão ecológica. Leia o
trecho de Braga et al. (2005, p. 18-20).
Sucessão ecológica é o desenvolvimento de um ecossistema desde sua
fase inicial até a obtenção de sua estabilidade e do equilíbrio entre seus com-
ponentes. É um processo que envolve alterações na composição das espécies
com o tempo, levando sempre a uma maior diversidade, sendo razoavelmente
dirigido e, portanto, previsível. Resulta da ação da comunidade sobre o meio
físico, que cria condições ao desenvolvimento de novas espécies e culmina
em uma estrutura estável e equilibrada. Durante o processo de sucessão, as
cadeias alimentares tornam-se mais longas e passam a constituir complexas
redes alimentares; já os nichos tornam-se mais estreitos, levando a uma
maior especialização. A biomassa também aumenta ao longo da sucessão,
do mesmo modo que o ecossistema adquire autossuficiência, tornando-se um
sistema fechado por meio do desenvolvimento de processos de reciclagem
de matéria orgânica.
À sequência de comunidades que substituem umas às outras dá-se o
nome de série, e a essas comunidades transitórias dá-se o nome de estágios.
A primeira comunidade que se instala é denominada comunidade pioneira, e
118 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Há um aumento de concentração de determinados elementos e compos-
tos químicos, notadamente os poluentes da água, à medida que se avança
na cadeia alimentar. Essa concentração crescente deve-se à assimilação, pelo
organismo, desses compostos, quando da síntese dos tecidos ou gorduras.
A esse aumento de concentração de poluentes ao longo da cadeia alimentar
dá-se o nome de amplificação biológica, magnificação biológica ou, ainda,
ampliação biológica.
As populações e comunidades biológicas 119
Resumo
Nesta unidade foi apresentado os principais conceitos de popula-
ção e de comunidade, seus conceitos e propriedades, além de vermos
como as relações entre as populações e entre as comunidades ocorrem
e de que maneira interferem e são influenciadas pelo meio ambiente,
além de termos identificado a importância do estudo das relações entre
população e a comunidade biológica.
Atividades de aprendizagem
Analisando a Figura 4.2 responda às questões propostas.
Figura 4.2 Representatividade de diferentes populações
Nesta unidade vamos aprender que a o estudo da Ecologia não se restringe
somente a problemas relacionados com espécies animal e vegetal em seus
respectivos espaços de vida. A espécie humana, como todas as demais, deve
ser mais bem entendida, com seu modelo de vida, ações e reações, a fim de
que possamos modificar hábitos destrutivos a nossa própria coexistência.
Seção 1
Nesta seção serão abordados alguns conceitos atuais sobre a Ecologia ur-
bana e de que forma os conceitos abordados podem interferir no modelo de
vida da atual e futura geração.
Nosso modelo de desenvolvimento adotado já produziu e continua produ-
zindo, agressões severas, que levam inevitavelmente a alterações na biosfera
e cruéis desigualdades sociais, como desemprego, fome e miséria, trazendo
consequências que vão além de nossa compreensão.
Para que você possa entender melhor, imagine dentro dessas alterações an-
teriormente mencionadas as cidades, uma das maiores criações do ser humano,
e as maiores responsáveis por mudanças enormes, capazes de modificar as
paisagens naturais, gerando um crescente consumo, produzindo uma pressão
nunca vista anteriormente sobre o meio ambiente.
Vamos pensar ainda sobre o ritmo de crescimento que vimos neste século,
as cidade cresceram de um modo acelerado principalmente nos países em
desenvolvimento. Pense agora nos resultados obtidos juntamente com esse
acelerado crescimento, em vez de bons frutos o que essa onda tem nos deixado
é: uma grande falta de ordem na economia, colapsos ambientais, corrupção,
pressão populacional e uma enorme quantidade de pessoas migrando para as
cidades, chamadas zonas urbanas.
Podemos citar um exemplo bastante claro, ocorrido em nossa capital federal
(Brasília), uma cidade projetada para abrigar cerca de 500 mil habitantes; por
124 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Você e eu somos extremamente jovens em nosso planeta; os registros
fósseis encontrados datam esse nosso recente episódio entre 500 a 100 mil
Ecologia urbana 125
Se você e eu formos avaliados hoje do ponto de vista externo e genético,
como homens e mulheres atuais não nos diferenciamos muito dos homens e
mulheres de 50 mil anos atrás.
Os primeiros grumos pertencentes à nossa raça viviam como nômades,
dependiam da caça, da pesca e da coleta de alimentos para viver, pelo modo
de vida era conhecido como caçador-coletor. Esse modo de vida durou
bastante tempo e perdurou até cerca de 10 a 15 mil anos atrás, quando o
homem desenvolveu habilidades na agricultura, podendo cultivar o solo.
A partir desse evento o homem pode se fixar em um local, pois com a
agricultura havia sido garantida maior regularidade na obtenção de alimento,
fato bem diferente de quando o homem vivia como caçador e coletor, nô-
made. Mas não parou por aí, depois da conquista na agricultura o homem
logo começou também a criar e domesticar animais, o mais ousado empreen-
dimento para o homem daquela época. Como se não bastasse, mais um em-
preendimento fabuloso, o desenvolvimento da cultura, e com ela adquirimos
um traço que definitivamente nos diferencia de qualquer outra espécie viva.
A cultura é o processo pelo qual cada homem individualmente e a co-
munidade como um todo absorvem e acumulam conhecimentos a partir de
experiências vivenciadas, e da reflexão que fazem sobre elas.
O desenvolvimento da cultura está diretamente ligado ao desenvolvimento
da linguagem. Pois foi por meio da linguagem que os conhecimentos puderam
ser absorvidos e, principalmente, transmitidos às gerações seguintes.
O desenvolvimento da escrita talvez tenha sido o salto mais perigoso rumo
ao conhecimento, que ocorreu por volta de 10 mil anos atrás; desde então as
gerações humanas passaram a deixar registros, como documentos que anun-
ciavam seu modo de vida e suas realizações. Foi notável a quantidade de con-
quistas e possibilidades que a escrita trouxe a humanidade; foi possível a partir
dela a construção da civilização diversificada como a vemos hoje, inúmeras
cidades, monumentos, obras de arte, religião, filosofia e ciência.
Os impactos gerados pela cultura na civilização humana, foi mais sentido
depois da Revolução Industrial, que ocorreu há cerca de pouco mais de um
século. A partir daí aumentou significativamente, o ritmo de evolução cultural,
o que levou o homem a enfrentar seus maiores desafios: alimentar uma enorme
população, e ainda preservar o ambiente para as gerações futuras, desafio este
Ecologia urbana 127
que nos dias de hoje, como veremos mais adiante intriga e questiona mesmo
com toda tecnologia que hoje possuímos. No fim da década de 1980, a Terra
já contava com uma população de mais de 5 bilhões habitantes, e possui uma
tendência de aumento acelerado e frenético.
Resta-nos uma pergunta: e o futuro? É impossível fazer qualquer previsão,
pois a humanidade dispõe de uma capacidade incrível de lidar e resolver
problemas e continuar sua história, não podemos esquecer que essa é uma
possibilidade que talvez não aconteça, poderemos resolver nossos problemas
com eficiência e responsabilidade e viver por muitos anos ou não passarmos
de alguns séculos por sobre a Terra.
A Ecologia urbana é um campo da Ecologia voltado ao entendimento dos
sistemas naturais dentro das áreas urbanas, lidando com as interações de
plantas, animais e de seres humanos nas áreas urbanas, tendo como objetivo
entender até que ponto, a vegetação, os rios e a vida selvagem são afetados
pela poluição, urbanização e outras formas de pressão comumente causadas
pelo homem.
Ao estudarmos a ecologia urbana pode-
remos ajudar as pessoas a verem as cidades
como parte de um ecossistema vivo, sendo Links
então necessária a aplicação de métodos
Para que você possa complementar
eficientes, capazes de criar a conscientiza- o estudo sobre a ecologia urbana,
ção das pessoas de que a sustentabilidade acesse o material apresentado no
precisa fazer parte da ecologia urbana, nas link abaixo, onde você encontrará
populações de todas as faixas dando a estas o artigo “Bases ecológicas para o
a oportunidade de entender que a utilização desenvolvimento sustentável”, no
de meios sustentáveis pode ser muito mais qual o autor apresenta a ecologia
do que uma mera ação “ecologicamente dentro de um sistema urbano.
correta”, mas sim que a sustentabilidade JACOBI, Claudia Maria. Bases eco-
urbana consiste um dos grandes desafios da lógicas para o desenvolvimento
sustentável: ecologia urbana. Dis-
sociedade atual e, consequentemente, de
ponível em: <http://www.icb.ufmg.
nossos governantes.
br/big/beds/arquivos/ecourbana.
No tópico seguinte vamos estudar alguns pdf>. Acesso em: 18 nov. 2010.
aspectos do ecossistema urbano atual.
128 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Para podermos entender os elementos e o conceito do ecossistema urbano,
no intuito de formar uma base mais sólida para a gestão dos socioecossistemas
urbanos, iremos nos basear em quatro variáveis, que nos servirão de referência:
população;
organização (ou seja, a estrutura do sistema social);
meio ambiente (sistemas sociais + ambiente físico).
População: entenderemos como população, assim como já mencionado
na Unidade 1, um determinado número de indivíduos da espécie humana,
especificamente pessoas comuns como você, ou ainda um grupo composto
por 10 mil pessoas vivendo em determinada cidade.
Analisando nossa população vamos levar em conta alguns fatores bastante
importantes que analogicamente faremos comparações, como, por exemplo:
densidade populacional;
análise do potencial biótico humano;
capacidade suporte.
Dentro dessa análise vamos refazer uma organização de pensamentos,
em alguns problemas que se relacionam com a população. Como mencio-
namos há pouco, é grandioso e acelerado o crescimento das cidades, isso
significa que, se as cidades estão crescendo é fruto também de um aumento
no número de indivíduos dessa população. Dessa maneira entenderemos
densidade populacional, como uma medida expressa através de uma relação
estabelecida entre população x superfície de território, ou seja, o número de
habitantes por km2.
Com relação à densidade populacional partiremos para um raciocínio ló-
gico: se as cidades aumentam aceleradamente, fruto do aumento do número
de habitantes em busca de um local para viver, então teremos que continuar a
ocupar novas áreas, o que implica diretamente a diminuição de áreas reservadas
para produção de alimento, as chamadas áreas agrícolas, ou a derrubada de
florestas. Se esse crescimento utilizar-se das áreas agrícolas, corremos riscos de
em um futuro muito próximo, termos problemas relacionados ao modelo socio-
econômico ambiental e ainda a falta de alimentos decorrente da diminuição
dessas áreas de plantio. Por outro lado, se crescermos criando novas cidades ou
expandindo as cidades já existentes utilizando-se de áreas de florestas também
criaremos sérios problemas, tais como:
Ecologia urbana 129
Seção 2
Nesta seção iremos abordar um problema mencionado já no início do
século XIX por Thomas Malthus, onde uma estimativa foi feita em relação ao
crescimento da população humana; aprenderemos também de que forma po-
deria atuar a resistência ambiental em nossa espécie.
Como já estudamos na Unidade 1, o potencial biótico de uma espécie está
relacionado com a capacidade que essa espécie tem para aumentar de tamanho
em condições ambientais favoráveis, ou condições ótimas. Logo o potencial
biótico de uma população, será a capacidade potencial de aumentar seu nú-
mero de indivíduos em condições ótimas; em outras palavras, é a capacidade
de crescimento sem que nenhum problema possa negativar esse crescimento
ou aumento.
Alguns fatores naturais têm o potencial de inibir as condições ótimas de
crescimento de uma população, podemos citar entre eles, por exemplo, a falta
de alimento, espaço vital ou área de vida, baixas condições socioeconômicas
dentre outros.
Na natureza verificamos, entretanto, que o tamanho das populações em
comunidades equilibradas ou estáveis não aumenta indefinidamente, antes,
permanece em relativa constante. Esse evento se deve a um conjunto de fatores
que vão contra o potencial biótico. A esse conjunto de fatores chamamos de
resistência ambiental, visto que eles regulam, então, o tamanho das populações
(veja Gráfico 5.1).
132 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Número de indivíduos
Potencial
Biótico
Resistência
Ambiental
Tempo
É importante que você note que de acordo com a figura, a resistência ambien-
tal é o fator responsável, para que o número de indivíduos de uma população
não aumente indefinidamente, mesmo com a capacidade potencial da espécie.
A densidade de uma população, ou a densidade populacional, irá nos ofe-
rece mais informações que simplesmente o tamanho de uma população, ou
Ecologia urbana 133
seja, o número de indivíduos. Podemos dizer então que uma área é povoada
excessivamente ou superpovoada quando o número de pessoas por unidade de
área seja grande a ponto de que consideremos maior que a capacidade suporte,
ou seja, maior que o espaço disponível possa comportar; se isso ocorrer teremos
então uma densidade populacional elevada. Quatro fatores podem contribuir
para aumentar ou diminuir a densidade de uma população:
A taxa de natalidade: representada pelo número de nascimento de indiví-
duos. Devemos, portanto, considerar a capacidade reprodutiva de algumas
espécies, uma vez que na espécie humana teremos uma capacidade re-
produtiva baixa, se comparada com a de outros pequenos mamíferos, que
podem gerar mais de um indivíduo por ninhada, a nossa espécie, salvo
em casos especiais, apenas um filho é gerado. Que demanda o investi-
mento de muito tempo para cuidar da prole, ou o chamado investimento
de tempo no cuidado parental, para garantir a sobrevivência do filhote.
Além do tempo de gestação e amamentação, que normalmente é longo.
Duas forças que funcionam como um verdadeiro cabo de guerra são con-
sideradas pelos ecólogos como responsáveis por regular o crescimento das
populações: o potencial biótico, que seria a capacidade potencial de uma
espécie em aumentar o número de indivíduos em condições ótimas, e a resis-
tência ambiental, que podemos considerar como fatores que vão inibir esse
crescimento.
Vamos, tente imaginar ambientes iguais onde as condições de temperatura,
espaço e alimento abundante, sejam favoráveis em ambos ambinetes. Em um
desses ambientes colocamos um casal de seres humanos saudáveis; e no outro
um casal de coelhos. Após seis meses qual dos dois ambientes irá apresentar
a maior quantidade de indivíduos, o ambiente onde estão os humanos ou os
coelhos?
É claro que você deverá se lembrar que, como já dito anteriormente, a
espécie humana possui uma taxa reprodutiva baixa; isso significa que vai rea-
lizar em média uma gestação completa (nove meses) por ano, e vai dar origem
geralmente a um descendente por geração. Já uma única fêmea de coelho pode
gerar até 5 filhotes de uma só. Se essa mesma fêmea produzir cinco gerações
por ano, e dois terços dos descendentes forem fêmeas, teríamos, ao fim de um
ano, cerca de 160 indivíduos, você pode imaginar isso?
Porém, para nossa felicidade, em situações normais na natureza, as popu-
lações não crescem livremente dessa forma, pois se assim fosse, o mundo seria
dominado por moscas ou por organismos com uma capacidade biótica ainda
maior, como as bactérias, por exemplo, capazes de se reproduzir a cada 20
minutos — teríamos um caos.
Portanto, o crescimento de uma população não depende somente do seu
potencial reprodutivo, mas também da maneira como se relaciona com o
ecossistema. Podemos então concluir que, nesse sentido, o ecossistema vai
Ecologia urbana 135
sempre exercer um duplo papel, ao mesmo tempo que serve como um pro-
vedor de recursos, como água, alimento, abrigo etc. servirá também como
opositor ao desenvolvimento da população, pois apresenta fatores que freiam
esse crescimento. O que devemos pensar na prática é ainda mais preocupante
se pensarmos no futuro da espécie humana na terra, pois o que muitas vezes
podemos ver é que quanto menor o nível socioeconômico e informativo maior
também o número de indivíduos compondo essas famílias, futuros competi-
dores, enfrentando condições adversas de clima, escassez de alimentos dentre
outros fatores. Pense ainda, que, nossa espécie produz resíduos que, se não
forem reciclados ou tratados adequadamente, irão gerar inúmeros problemas
de sobrevivência aos mesmos.
A esse conjunto de fatores é dado o nome de resistência ambiental. Podemos
dividir os componentes da resistência ambiental em dois tipos, comparando a
população humana com populações de outras espécies na natureza.
Nos quadros 5.1 e 5.2, faremos uma comparação de interferências de fatores
bióticos e abióticos em populações em hábitats distintos.
Predação Clima
Fatores bióticos Competição Abióticos Espaço
Parasitismo Alimento
Clima Conflitos
Fatores bióticos Competição Abióticos Espaço
Doenças Alimento
Aprofundando o conhecimento
Vamos agora ler um bom exemplo de como pode-se buscar a har-
monização entre o espaço urbano e aspectos naturais, como no caso
das áreas verdes urbanas e os chamados telhados verdes. Trata-se de um
artigo publicado na Folha de S.Paulo (GODOY, 2007).
Nova York começa a aderir ao “green roof”, projeto ecológico que trans-
forma o topo dos prédios em área verde.
Quando se mudou para a cobertura de um charmoso prédio no Upper
West Side, em setembro de 2005, o empresário do mercado financeiro Scott
Johnson decidiu construir um jardim na laje de concreto. Em pouco tempo,
floreiras com arbustos e tulipas sobrepuseram-se ao cinza, o espaço ganhou
cadeiras, mesas e esculturas de metal que balançam ao sabor do vento. Virou
o lugar favorito da casa.
“Meu e dela”, diz ele, apontando para a cachorra Shiva, que adora brin-
car com as flores. “Aqui descanso, aproveito o sol da manhã, recebo meus
amigos. É tão bonito que frequentamos mesmo quando está frio”.
Charmoso, mas pequeno e privado, o terraço de Johnson se alinha à
tradicional visão do jardim como espaço de lazer, mas não tem envergadura
Ecologia urbana 137
desta, um tecido para retenção do excesso de água e outros dois que funcio-
nam como filtros de diferentes espessuras e estrutura de sustentação.
O estrato onde crescem as plantas é uma mistura especial de rochas e terra;
a irrigação é automática. Gramíneas e flores devem ser resistentes e ter raízes
curtas e superficiais. Um jardim de cerca de 200 m2 pode custar perto de US$
100 mil e demora de dois a três meses para ficar pronto. Se a estrutura do
prédio e o bolso dos moradores suportarem, é possível usar mais terra para
plantar uma horta ou até frutas.
Pelas contas do Greening Gotham, há cerca de cem telhados verdes em
Nova York. “E estamos trabalhando para ver esse número crescer bastante
nos próximos anos”, frisa Leslie Hoffmann, diretora executiva da Earth Pledge.
De olho na poluição e no elevado consumo de eletricidade, em 2005, a
administração Michael Bloomberg adotou para os edifícios do patrimônio
a classificação LEED (Liderança em Energia e Design Ambiental, na sigla em
inglês), proposto pelo Conselho de Prédios Verdes dos EUA, organização civil
dedicada ao planejamento de edifícios sustentáveis.
Os imóveis ganham pontos conforme a localização, o consumo de água
e energia e os materiais empregados. O Departamento Municipal de Edifícios
também está analisando um novo código para as construções algumas normas
do atual têm mais de cem anos e os “green roof” podem ser incluídos nessa
legislação com algum tipo de incentivo fiscal para quem os implementar.
Os telhados verdes modernos são uma onda recente, que nasceu na
Alemanha na década de 1960 e foi se espalhando por muitos lugares. A
estimativa é que, atualmente, cerca de 10% dos telhados alemães tenham
aderido à iniciativa.
No Canadá, outro adepto, a atuação mais forte é a de Toronto, que co-
meçou a discutir o assunto em 2000 e, em 2003, criou uma força tarefa para
encorajar e dar apoio à medida. Em Chicago, todos os prédios que passam
por grandes reformas são obrigados a construir telhados verdes.
“Nos EUA, chegamos a um certo ponto na questão ambiental a partir do
qual não há mais volta. Os jardins podem mudar de acordo com o humor do mer-
cado imobiliário e outras discussões, mas vão prevalecer e crescer”, acredita
o arquiteto Tom Balsley, especializado em jardins sobre lajes.
De acordo com Leslie Hoffman, do Earth Pledge, não tem sido muito difícil
convencer os nova-iorquinos das vantagens trazidas pelos telhados verdes.
“Elas são tangíveis, é fácil demonstrá-las para qualquer pessoa. Fizemos muitas
Ecologia urbana 139
Para compreender melhor a Ecologia urbana conheça agora como ela está
organizada e veja algumas bases que devem ser mais bem estudadas para o futuro.
A estrutura dos ecossistemas urbanos é fruto de um ambiente construído
pelo ser humano, suas habitações, vias, prédios residências e comercias etc.,
em conexão com e o ambiente natural (HENGEVELD; VOCHT, 1982).
140 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
O grande problema é que até então pouco se fez para entender com preci-
são alguns efeitos que podem ser gerados por esse modelo ecológico, a fim de:
medir o estado de um ecossistema urbano (indicadores, valores, percepções);
nomear mecanismos que criam mudanças nestes ecossistemas (uso cons-
ciente de recursos, educação ambiental etc.);
identificar limites (econômicos, demográficos etc.);
determinar áreas naturais sensíveis e estimular o aperfeiçoamento e/ou o
desenvolvimento de novos métodos para estudar tais sistemas.
Recurso
Resíduos
Para alcançarmos tal objetivo demonstramos algumas áreas podem ser mais
bem exploradas:
educação (significado do ambiente natural para o desenvolvimento indi-
vidual);
indicação (sinalizações da natureza: o desaparecimento de espécies como
sendo a situação extrema);
disponibilidade de organismos e comunidades;
reservas (o significado para a sociedade, do patrimônio genético contido
nas áreas naturas).
Nossa colocação atual sobre o modelo e estrutura da ecologia urbana re-
úne algumas ideias bastante importantes para que você possa refletir sobre a
construção de uma nova visão sobre esse assunto.
Alguns autores como Odum (2007) fazem a definição de um sistema eco-
lógico ou ecossistema, como sendo uma interação entre seres vivos e seu am-
biente não vivo, que são inseparáveis e obrigatoriamente se inter-relacionam.
Um ecossistema urbano, por algumas características da nossa espécie, envolve
muitos outros fatores, diferenciando-o dos ecossistemas heterotróficos naturais,
uma vez que apresenta um metabolismo muito mais intenso por unidade de
área, o que exige um influxo maior de energia, e uma enorme movimentação
de entrada de materiais e de saída de resíduos.
Nossa espécie tem apenas 2.500 gerações sobre a face da Terra, porém as
aglomerações urbanas só apareceram nas últimas duzentas gerações anteriores.
E a partir daí nossos problemas não pararam mais de crescer, e nossa relação
com a natureza é cada vez mais complexa (BOYDEN et al., 1981).
Nosso rápido crescimento e urbanização ocorridos nos últimos 50 anos
mudou a fisionomia da Terra. O que mostra que, na verdade, nossas cidades
modernas agem como um parasita do ambiente rural, pois produzimos pouco
ou nenhum alimento, poluímos o ar e reciclamos pouca ou nenhuma água a
materiais inorgânicos. Produzimos e exportamos mercadorias, serviços, dinheiro
e cultura para o ambiente rural; em troca do que recebemos, prestamos, então,
imagine um serviço de relação que podemos considerar como uma simbiose.
Concluiremos nosso pensamento com uma análise real. Imagine que de
uma hora para outra a entrada energético-material (falta de energia elétrica, por
exemplo), de sua cidade seja interrompida por uma semana, certamente teríamos
um caos. Com isso podemos então entender, que os socioecossistemas urbanos
afetam e são afetados pela biosfera, e que de fato, o funcionamento de qualquer
142 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Vamos juntos analisar agora um fenômeno muito antigo na história da hu-
manidade sobre a terra, as cidades, muito anterior ao surgimento das indústrias.
Porém, até que o modelo industrialista se firmasse como um meio fundamental de
produção de riquezas, as cidades cumpriam um papel bem diferente do que atu-
almente está cumprindo. A gigantesca população que trabalhava vivia no campo
onde as atividades rurais eram as grandes responsáveis pela produção de riquezas.
No início da história as cidades funcionavam como um grande espaço de
circulação e consumo de mercadorias produzidas no campo, além de serem
também local de moradia das classes dominantes, que exerciam já na época
o poder político e religioso, dessa forma deviam sua existência ao excedente
produzido pelo trabalho agrícola. O aumento de sua população estava condi-
cionado a disponibilidade de excedentes, ou seja, a produtividade das áreas
agrícolas que estavam sob o domínio urbano.
Tais condições aliadas a precariedade de alguns serviços como o de trans-
porte tornavam limitantes as possibilidades de crescimento das cidades e tam-
bém do seu numero de habitantes. Mesmo a civilização grega que era famosa
por sua audácia em arquitetura urbana, também não escapou dessa limitação.
Atenas, por exemplo, provavelmente não tenha atingido seus 200 mil habitantes.
Nesse caso, a contradição entre a base territorial limitada para a produção de
alimentos e a expansão populacional foi resolvida pela colonização de novas
terras, na qual novas cidades nasceram, foi assim que as civilizações gregas
ocuparam quase toda a extensão do mar Mediterrâneo.
Somente muitos séculos mais tarde é que a cidade viria a se transformar
em um espaço privilegiado da produção de riquezas, pela chamada Revolução
Industrial. A Revolução Industrial, representou um conjunto de transformações
nas técnicas produtivas que despontou da Inglaterra nas décadas finais do século
XVIII, e operou uma mudança radical no papel das cidades.
A produção em larga escala realizada pelas indústrias fez demanda a uma
enorme concentração de mão de obra e infraestrutura. As fábricas necessita-
Ecologia urbana 143
A poluição do ar é um dos mais dramáticos problemas das aglomerações
urbanas. Qualquer pessoa que já tenha caminhado pelas ruas do centro de uma
metrópole, já deve ter sentido principalmente em dias de inverno, os olhos irri-
tados, esse é um dos efeitos da poluição, em casos mais extremos os olhos co-
meçam a lacrimejar, além de ainda ser um problema da poluição doenças como
asma e bronquite, causadas pelo aumento da concentração de partículas tóxicas.
Toda essa poluição que resulta em uma série de doenças e problemas é
gerada pelos meios de transporte, o meu e o seu carro, pelas indústrias que
incineram resíduos, ou mesmo por outros mecanismos de produção.
Devido aos prédios altos e enfileirados é comum a diminuição dos ventos
nas regiões centrais, o que dificulta a dispersão dos poluentes.
144 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Se conseguirmos aplicar através de um modelo de gestão, um planejamento
dos elementos de Ecologia Humana juntamente com a Ecologia Urbana, te-
remos possibilidades de concertar alguns erros cometidos no passado para
enfrentamos a Ecologia Urbana com mais segurança, o que não significa que
iremos resolver todo e qualquer problema que geramos com nosso modelo de
desenvolvimento, mas podemos começar a planejar melhor nossas ações, que
refletirão para o futuro.
Pense você na forma como nossos centros urbanos se desenvolvem, desen-
freadamente tornando a biosfera uma fonte de instabilidade.
Nossa análise pode ser mais bem entendida se fizermos algumas compara-
ções entre os ecossistemas naturais e os urbanos, e através dessa comparação,
observamos que a nossas preocupações e interesses tecnológicos, podem nos
levar a duas considerações, sobre a minha e sua participação no equilíbrio
ecossistêmico global:
1. a nossa capacidade tecnológica é limitada pelos recursos materiais da
terra;
2. a terra tem limites em sua capacidade de acomodar a tecnologia humana,
sem ter com isso severas alterações nos sistemas naturais que nos asse-
guram a vida, nas condições que hoje conhecemos. Vamos comparar a
seguir:
ECOSSISTEMA NATURAL ECOSSISTEMA URBANO
Energia
Fonte de sustentação: Sol Fonte finita de energia: combustíveis fósseis
O consumo excessivo de combustíveis fósseis
Não acumula energia em excesso. libera muito calor para a biosfera e altera a sua
temperatura.
São necessárias l00 calorias de combustível fóssil
Relação nas cadeias alimentares:
para produzir 10 calorias de alimentos que pro-
l0:l cal.
duzem l cal para o ser humano (l00:l cal).
Evolução
Mantém os níveis de população Permitem o crescimento da população, de forma
de cada espécie dentro dos limites que esta consiga explorar todo seu potencial,
estabelecidos pelos controles e ba- rapidamente quanto podem aumentar a dis-
lanços naturais, incluindo fatores ponibilidade de alimentos e abrigo, e elimina
como alimento, abrigo doenças e inimigos naturais e doenças via biocidas e medi-
presença de inimigos naturais. camentos.
(continua)
Ecologia urbana 145
(continuação)
Comunidade
Apresenta uma grande diversidade Tem a tendência de eliminar a maioria das espé-
de espécies que vive nos limites cies e é sustentada por recursos provenientes de
do local dos recursos naturais. áreas além das locais.
Normalmente se concentra em locais onde exista
Tende a ser mais regularmente
proximidade de grandes corpos d’água, ou pela
dispersa nos ecossistemas.
conveniência da rede de serviços, (área urbana).
Interação
A organização das comunidades gira em
torno das interações de funções biológi- A organização das comunidades se dá de
cas e processos. A maioria dos organis- modo crescente entorno das funções e
mos interage com uma grande variedade processos tecnológicos.
de outros organismos.
Equilíbrio
São geridos por um conjunto de compe-
São administrados por processos naturais
tições de controle cultural e de equilíbrio
comuns, equilibrados, incluindo a dispo-
de ideologias, costumes, religião, leis,
nibilidade de luz, alimentos, água, oxigê-
políticas e economias. Não considera, os
nio, abrigo e a presença ou ausência de
requisitos para a sustentação da vida se
inimigos naturais e doenças.
não a humana.
Vamos caminhar para o final dessa unidade refletindo bem humoradamente
sobre essa indagação. A população humana cresceu e continua crescendo de
maneira assombrosa, ocupando um espaço limitado e finito: a Terra.
O aumento do número de pessoas caminha inevitavelmente de mãos dadas
com um crescente consumo de materiais, energia e alimentos como já vimos
anteriormente sem mencionar que quando crescemos ocupamos áreas que
pertenciam a outras espécies.
Aí estão os fatos, e colocados assim em apenas umas poucas linhas de maneira
direta não parecem tão preocupantes ou emergente o desafio que nos aguarda
adiante, desfio esse que mais dia menos dia a humanidade terá que enfrentar,
pois afeta a todos e individualmente a cada um de nós, por esse motivo não
poderemos varrê-lo para baixo do tapete, ou simplesmente virar as costas a ele.
Bem mais para facilitar seu entendimento vamos agora acrescentar alguns
dados para que a magnitude da problemática seja alcançada por você.
146 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Vamos agora voltar ao tempo, fazendo uso de um mágico relógio que irá
nos relatar em alguns instantes tudo o que ocorreu em muito tempo.
Na época do nascimento de cristo, o homem habitava por sobre esta Terra
há cerca de 100 mil anos, há até esse tempo a população mundial não era
muito superior a 200 milhões de pessoas. Depois de 1,5 mil anos, já na época
do descobrimento da América. Nosso ônibus terrestre já transportava cerca de
400 milhões de passageiros. A população já tinha dobrado nesse curtíssimo
período de tempo, parece pouco na história da humanidade isso jamais havia
ocorrido, um crescimento tão grande nessa magnitude.
Lá por volta de 1800, enquanto Napoleão afiava sua espada e arquitetava sua
batalha, com a Revolução Francesa ainda fresca, acabada de sair da fornalha,
a população já se aproximava de 1 bilhão de habitantes; o número ultrapassou
sua duplicata, mas agora em apenas 300 anos.
Quando em 1950 o Brasil perdeu a Copa do Mundo no Maracanã ainda
para ajudar, a terra carregava cerca de 2,5 bilhões de pessoas, e em 1970
quando ganhamos a Copa do México, que contou com uma consagrada
quantidade de craques (Pelé, Torres, Gérson, Jairzinho, Tostão, Rivelino, Ma-
zurkiewicz, Beckenbauer, Moore, Cubillas e Müller), onde com uma goleada
brasileira aplicada na Itália decidimos o tri, a população saltava juntamente
com os frenéticos torcedores: a população em números e a torcida de alegria,
quando passamos dos 3,7 bilhões de habitantes.
Quando fomos campeões em 1994 com a conquista do tetracampeonato,
a população mundial já margeava os 6,6 bilhões. Todos juntos ocupando um
imenso estádio terrestre. Estádio este fechado e sem saídas onde o número outra
vez dobrou, mas dessa vez em um espaço de tempo muito curto, apenas 40 anos.
Se resumirmos, veremos que foi necessário 1,5 mil anos para que houvesse um
crescimento populacional de 200 milhões de pessoas; somente 150 anos para au-
mentar em mais 1,5 bilhões e mais 40 anos para um inchaço de mais de 4 bilhões.
Projeções otimistas dizem que estaremos próximos de 12 bilhões em 2045.
Esses números espantosos são só detalhes de um imenso abacaxi que teremos
de descascar. Ficou mais claro o problema para você agora?
Todos nós já fomos convidados para essa festa. Convidados pelo momento,
pelas circunstâncias, pelo destino? Isso já não mais importa querendo ou não a festa
é sua, a festa é nossa, é de “quem quiser”. Cada um de nós pode escolher entre
se omitir e esperar o desconhecido ato final, ou colaborar e entrar de vez nessa
dança. De qualquer forma estamos todos no salão, participemos ou não da dança.
Ecologia urbana 147
Resumo
Nesta unidade foram apresentados os modelos vigentes da relação do
homem com o meio ambiente, para que você possa contribuir nessa nova
linha de pensadores que devem fazer parte no planejamento de nossa
espécie sobre a Terra, a fim de utilizarmos toda e qualquer tecnologia
disponível para o reduzir os impactos de nosso próprio desenvolvimento.
Atividades de aprendizagem
1. Nos dias atuais com todo o conhecimento disponível de como a natureza
se porta em relação as espécies, fica claro que no passado e mesmo hoje,
a humanidade em função do seu desenvolvimento gera uma série de
desacordos ao ambiente. Você acredita que nossa espécie tem se desen-
volvido de uma maneira natural, e que o meio ambiente tem capacidade
de suportar nosso crescimento?
2. Conforme foi apresentado no item sobre os elementos e o conceito do
ecossistema urbano se continuarmos a seguir na história com o modelo
atual de progresso, quais consequências você acredita que teremos para
as futuras gerações?
3. Após o estudo dessa unidade que conclusões você pode tirar, e que
medidas acredita ser necessárias para que possamos alcançar um equi-
líbrio, no que diz respeito a desenvolvimento versus natureza.
4. Qual a importância do estudo de densidade populacional e capacidade
suporte para espécie humana?
5. Para concluir o estudo desta unidade, vamos refletir melhor e buscar alter-
nativas para que em pouco tempo, sejamos parte positiva da estatística da
história do homem na Terra, que sejamos lembrados por termos convivido
positivamente com as demais formas de vida no planeta, com o entendi-
mento que o equilíbrio entre todos os envolvidos nas relações ecológicas
é que nos manterá vivos no planeta.
Unidade 6
Gestão da
biodiversidade
A preservação da natureza é fundamental para que a vida na Terra não se torne
um desafio ainda maior que o desafio natural das espécies, o entendimento desse
relacionamento pode facilitar a gestão e manejo da vida em sua mais diversificada
esfera de ocorrência. Para que possamos preservá-la antes de tudo conhecê-la, com
suas fragilidade e debilidades, a fim de possamos atuar como agentes de preser-
vação e não de destruição, esse é o foco desta unidade que vamos juntos estudar.
Seção 1
Nesta seção será apresentada a realidade de nosso conhecimento sobre a
biodiversidade, e o modelo de gestão que deve ser implantado para que pos-
samos preservar toda essa riqueza ameaçada.
Para que você possa entender melhor a “gestão ambiental” é importante que
saiba que ela se trata de uma área de conhecimento e trabalho que naturalmente
causa bastante confusão, sendo facilmente mal interpretada. Inevitavelmente
a dúvida se inicia com a pergunta, mas afinal o que é Gestão Ambiental? Res-
ponderemos essa difícil pergunta, mas antes de tudo deve ser esclarecido que, a
Gestão Ambiental possui caráter multidisciplinar, envolvendo as mais diversas
ferramentas para que o objeto da gestão ambiental seja alcançado.
Em tempos anteriores existia uma divisão bastante clara entre os defensores
da natureza (chamados ecologistas) e os que defendiam a exploração irrestrita
(desregrada), dos recursos naturais. Com a adesão do termo “desenvolvimento
sustentável” tornou-se necessária a formação de pessoas com um diferente perfil,
profissionais que tivessem uma visão ambientalista à utilização “racional” dos re-
cursos naturais, surge então à necessidade de multiplicação de indivíduos capazes
de exercer uma gestão consciente dos recursos naturais, os gestores ambientais.
Sabendo disso, então: a Gestão Ambiental tem por principal objetivo dar
ordem às atividades do homem, para que originem o menor impacto possível
sobre o meio ambiente. Essa organização vai desde a escolha das melhores
técnicas a serem utilizadas no alcance dos objetivos ao cumprimento da
legislação e a alocação correta de recursos naturais, humanos e financeiros.
Gestão da biodiversidade 151
É de suma importância que você saiba que a origem da palavra gestão vem
do verbo latino gero, gessi, gestum, gerere, e traz o significado de levar sobre si,
carregar, chamar a si, executar, exercer e gerar. A gestão é então a geração de
um novo modo de administrar uma realidade, nesse caso a realidade ambiental.
Para esclarecer melhor, a palavra “gerir” ou “gerenciar” traz como signifi-
cado saber manejar as ferramentas existentes da melhor forma possível e não
necessariamente desenvolver a técnica ou a pesquisa ambiental em si, então
ao falarmos de gestão ambiental temos gestão + ambiente = gestão ambiental.
Vamos agora aprender um pouco sobre a biodiversidade, um neologismo
derivado do termo diversidade biológica; pode ser definida em sua forma mais
simples e objetiva como a variedade da vida existente no planeta, então gestão +
biodiversidade = utilizar ferramentas adequadas, de modo que possamos ga-
rantir que o fruto de toda essa diversidade não seja dizimado.
O Brasil ocupa o primeiro lugar entre os países megadiversos; isso é fruto de
sua extensão territorial e posição geográfica. Estima-se que nosso país possua
entre 15% e 20% das 1,5 milhões de espécies descritas na Terra. Para mantê-
-lo informado, um trabalho encomendado pelo Ministério do Meio Ambiente
(MMA) estimou em 1,87 milhão o número total de espécies no Brasil, com
apenas 202,5 mil conhecidas, atualmente (MANCIN, 2002), isso significa que
nosso primeiro problema está em:
Gerenciar algo não totalmente conhecido.
Preservar ambientes em que seus ciclos, Links
são ainda não completamente elucidados. Para você complementar o estudo
Que tipo de ferramentas utilizar em sobre áreas de estudo da gestão
ambientes com tamanha fragilidade. Ambiental, onde você encontrará
o artigo “Gestão ambiental”, onde
Por isso, meus amigos, a gestão do ecos-
o autor apresenta a evolução de
sistema é então um desafio para o futuro, e
algumas normas e diretrizes na ges-
estimular pessoas a preservar a riqueza é um
tão do meio ambiente.
desafio para todos aqueles que acreditam no
Gestão ambiental. Disponível
desenvolvimento sustentável (ODUM, 2007).
em: <http://w3.ualg.pt/~jmartins/
No tópico seguinte vou descrever algu- Gest%C3%A3oAmbiental.pdf>.
mas particularidades dos biomas presentes Acesso em: 18 nov. 2010.
na terra.
152 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Como demonstrado no mapa nosso planeta (Figura 6.1) possui diversos
biomas, nos quais toda a biodiversidade encontra-se distribuída, cada bioma
abriga uma riqueza de espécies muitas vezes exclusiva desses biomas (espécies
endêmicas), ou seja, caso desapareçam ou sejam alterados toda a biodiversidade
neles contida, corre o risco de desaparecerem. Ao estudarmos os biomas, é im-
portante que você saiba antes de tudo o conceito de bioma e qual a função ou
importância da prevenção e cuidado com esses biomas, visto que prestam um
serviço indispensável a uma infinidade de espécies, sejam animais ou vegetais.
Em uma escala planetária, podemos dizer que os biomas são unidades que
evidenciam uma grande homogeneidade de seus elementos. Existem florestas
tropicais na América, África, Ásia e Oceania que, e mesmo sendo semelhantes,
possuem comunidades com os mais distintos exemplares.
Esses detalhes fazem com que algumas vegetações, embora se pareçam,
mostrem-se distintas, sendo que cada uma delas possui características muito
importantes no contexto local que influenciam diretamente as características
naturais, na vivência de moradores locais, que interagindo direta ou indireta-
mente, podem vir a causar degradação ao meio onde vivem.
Você já viu, no início da primeira unidade, o que é uma comunidade. Agora
vejamos quais os diferentes tipos de comunidades que estão presentes em
várias partes da Terra, cada um em condições abióticas muito peculiares. Essas
condições que determinam como os componentes dos grupos vegetais se es-
truturam, formam diferentes tipos de campos, florestas e desertos, ambientes
que são capazes de abrigar animais que também estão adaptados a elas. O
funcionamento de cada ecossistema também vai ser diferente quanto ao fluxo
de energia, os ciclos de matéria e relações bióticas. Podemos então denominar
como bioma, cada tipo de ambiente natural, com homogêneo padrão de es-
trutura e funcionamento, em escala continental ou mesmo regional.
Os grandes ecossistemas estão associados
a faixas climáticas, que são determinadas
Saiba mais
pela localização latitudinal no globo e que
Para saber mais sobre os biomas,
vão refletir em certas condições de disponi-
pesquisa um mapa de distribuição
bilidade de água e de energia solar. Numa
dos biomas no planeta e observe
escala continental, temos na Terra os seguin-
sua relação com as faixas climáticas.
tes biomas:
Vegetação mediterrânea ou chaparral mediterrâneo: nesse tipo de vegeta-
ção, você irá encontrar quatro estações bem definidas, o clima é quente, seco
e moderado e úmido no inverno, com temperaturas que variam entre 3 e 33°C,
a vegetação em sua forma original era caracterizada por árvores, porém com a
intervenção humana e alterações ambientais as árvores estão sendo substituídas
por arbustos, a vegetação é ainda composta por ervas aromáticas, como alecrim,
tomilho e orégano, dentre outras.
Florestas tropicais: as florestas tropicais são as maiores detentoras da bio-
diversidade na Terra, lar de árvores gigantescas, pássaros coloridos, milhões de
insetos nos mais variados tons e cores, uma variedade infinita de mamíferos
154 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Links
Para você compreender melhor como as espécies se adaptaram a ponto de conseguirem manter-
-se vivas nos mais diferentes ambientes, mesmo aqueles aparentemente impossíveis o autor
apresenta esse fantástico mecanismo.
UZUNIAN, Armênio; PINSETA Dan Edésio; SASSON, Sezar. A evolução biológica. Disponível
em: <http://ateus.net/ebooks/acervo/a_evolucao_biologica.pdf>. Acesso em: 18 nov. 2010.
158 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Nosso Brasil possui riquezas naturais incomensuráveis, não apenas a fauna
e flora, mas riquezas que vão além das belezas que podem ser vistas, como,
Gestão da biodiversidade 159
Precisar tamanha biodiversidade não seria uma tarefa fácil e certamente
impossível, porém não restam dúvidas de que essa tão significativa parcela de
biodiversidade encontra-se em solo brasileiro (MITTERMEIER et al., 2005). As
estimativas apontam um número próximo de 2 milhões, o mais preocupante
em relação a esses dados é que apenas 10% disso ou seja algo em torno de
200 mil espécies apenas já tenham sido identificadas, o que torna ainda maior
o desafio de gestão de toda essa biodiversidade, pois como gerir o que não se
conhece? Ou que se conhece pouco.
Na tabela a seguir são apresentadas algumas estimativas sobre as espécies já
conhecidas, mostrando que pouco conhecemos de toda essa mega diversidade
de espécies, observe:
160 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Vamos agora apresentar os principais biomas brasileiros. É importante antes
lembrar que existem várias classificações para os biomas brasileiros, uma vez que
autores divergem nas interpretações. Por isso, você poderá encontrar algumas
diferenças em relação à classificação que aqui será apresentada.
Amazônia: o maior bioma brasileiro em extensão é o bioma amazônico, e
o de menor extensão é o Pantanal, juntos ocupam pouco mais da metade do
território brasileiro: a Amazônia, com 49,29%, e o bioma Pantanal com 1,76%
da extensão total do território brasileiro.
O bioma amazônico abriga em seus domínios mais de um terço das es-
pécies existentes no planeta, representa ainda uma gigante área tropical de
162 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Se você já analisou o mapa múndi, deve ter percebido que a coloração
predominante é a de cor azul, com pequenas manchas esparsas de cor verde.
A coloração azul representa as águas no mapa, e a coloração verde, as porções
de terra seca, ou florestas. Bem, se ainda não havia examinado esse detalhe,
você pode fazê-lo agora, você ira notar que cerca de 75% da superfície da Terra
é coberta por água, sendo que a maior parte de toda essa água é composta por
água salgada e uma pequena quantidade que resta é de água doce; nem iremos
falar sobre os porcentuais e proporções de águas doce e salgada. Temos tam-
bém além de águas doce e salgada grandes quantidades de água armazenadas
em forma de geleiras, vapor d’água e ainda os lençóis de água subterrâneas.
A influência das variações da umidade do ar, é de suma importância para
o meio terrestre, mas inexpressiva para o meio aquático, onde as variações de
temperaturas também são de pouca expressão. As variações mais relevantes
no meio aquático e que podem interferir na qualidade de vida das espécies
aquáticas, são referentes a salinidade, a disponibilidade de luz, de nutrientes,
minerais e de oxigênio. Esses fatores são diretamente influenciados pelo relevo,
pelas marés, ventos e a profundidade.
Em ambientes aquáticos, a luminosidade sempre vai variar de acordo com a
profundidade, da transparência das águas e de outros fatores, o que pode limitar
a presença dos organismos autótrofos, isto é, dos organismos que conseguem
através da luz solar, proceder transformações para a obtenção de energia e
alimento, em águas mais profundas.
Com relação a quantidade de luz disponível os ambientes são divididos da
seguinte forma:
168 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Vamos considerar como pertencentes à água doce ambientes de água paradas
ou lênticas, como lagoas e lagos. E também as águas correntes também chama-
dos de ambientes lóticos representados por rios e corredeiras. Apesar de esses
ambientes serem normalmente menores que as águas dos mares em extensão, os
ambientes de água doce têm uma grande importância, moderam as oscilações
de temperaturas nas terras vizinhas suprindo os mares de nutrientes.
Gestão da biodiversidade 169
Para que você possa entender essa diferença começaremos dizendo sobre
algumas peculiaridades sobre os lagos. O ambiente de lago são normalmente
mais profundos e sua área é normalmente maior que as lagoas. Os lagos nor-
malmente apresentam três regiões: litoral, limnética e profunda (Figura 6.3).
Zona litoral
Zona limnética
Zona profunda
Os rios apresentam em seu curso grandes variações desde suas nascentes
até a foz. Em seu curso inicial as águas são mais rápidas e correm com maior
pressão, apresentam leitos normalmente razões, temperatura e oxigenação é
bastante elevada. Nesse trecho a atividade fotossintética não é suficiente para
atender a demanda das comunidades que habitam nesse ambiente, necessitando
então de detritos e outros materiais vindos de outros ambientes. No curso final
os rios serão mais largos e com maior profundidade a água já não corre com
tanta velocidade, com menor oxigenação também. A matéria orgânica é muito
abundante, e dependem de materiais vindo se fora do ambiente.
Ambientes estuários são os ambientes de transição, essas regiões são regiões
onde os rios encontram-se com os mares, nesses ambientes ocorrem grandes
variações de salinidade, por conta das marés e do fluxo de água dos rios, e os
habitantes desse ambiente apresentam grande tolerância a esse tipo de variação.
Os estuáros apresentam grande produtividade devido ao fornecimento de
nutrientes vindos dos rios, por terras vizinhas, e também pela movimentação
das águas provocadas por correntes e marés, essas regiões irão funcionar como
um verdadeiro berçário para muitas espécies, como crustáceos e peixes.
Junto às margens dos rios dos estuários podemos normalmente encontrar
manguezais, regiões de solo instável e rico em matéria orgânica, onde ocorre
um desenvolvimento abundante de bactérias aeróbias, que fazem a decompo-
sição da matéria orgânica e diminuem o oxigênio disponível.
<fim seção 1>
Gestão da biodiversidade 171
Seção 2
Nesta seção iremos analisar alguns dados reais sobre as espécies bem como
sua eminente necessidade de preservação, para que não criemos possibilidade
de desaparecimento de espécies, bem como o entendimento do processo de
extinção.
Qual seria o real valor da biodiversidade?
Para a maior parte das pessoas nenhuma dúvida resta com relação ao valor
da biodiversidade, porém, já sabemos que somente esse conhecimento de umas
poucas pessoas não é o suficiente para que haja uma maior valoração do ambiente
como um todo. Um dos maiores desafios que nossa geração encontra se refere
a um novo modelo, ou seja uma nova economia ecológica, onde o real valor
de uma espécie, do ecossistema e das comunidades possa ser quantificado em
moeda monetária, para que assim possa ser comparado com grandes projetos
como indústrias e outros empreendimentos que possam vir a danificá-los.
Vamos pensar juntos sobre essa temática.
Um dos objetivos básicos da conservação das espécies é justamente para
evitar que estas sejam extintas, seja a nível regional ou global. Mas como você
e eu podemos definir o risco de extinção enfrentado por uma espécie?
Uma espécie pode ser descrita como:
criticamente em perigo, se o seu risco de desaparecimento ou igual ou
superior as suas chances de se manter vivo nos próximos 12 anos, ou nas
próximas 4 gerações, o que perdurar mais.
em perigo, se a possibilidade de extinção dessa espécie superar 20% nos
próximos 20 anos ou cinco gerações.
vulnerável, se houverem chances maiores que 10% em 100 anos.
quase ameaçada, se uma dada espécie estiver próxima de ser incluída
numa das modalidades anteriormente mencionadas, ou se essa possibi-
lidade ocorre num futuro próximo.
172 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
Vamos agora pensar sobre o que é na essência a exploração. Podemos dizer
que a exploração é definida pelo fato de uma população ser explorada a uma
taxa tida como insustentável, isso levando em conta a mortalidade natural das
espécies e ainda sua capacidade de crescimento, e quando dizemos aqui cres-
cimento estamos dizendo inclusive sobre reprodução também, e precisamos
agora nos lembrar que o maior responsável por esse processo de extinção como
fruto de uma sobre-exploração no passado, tem o homem como o principal
Gestão da biodiversidade 173
responsável, e ainda hoje ainda o fazemos, como, por exemplo, temos os tuba-
rões, uma das espécies mais temidas, é pescado por esporte, e uma quantidade
enorme é pescada para que uma sopa de barbatana possa ser preparada, sem
falar que uma infinita quantidade desse animal morre acidentalmente durante
a pesca comercial.
Esses dados não deveriam nos assustar se pensarmos que os tubarões tem
uma baixo sucesso reprodutivo, seu amadurecimento sexual ser bastante tardio,
e o mais preocupante, são os maiores predadores dos mares. Se desaparecerem
você acredita que teremos algum problema com populações marítimas?
Vamos agora pensar sobre os hábitats. A destruição de hábitats é um dos
maiores causadores do desaparecimento de espécies; precisamos lembrar que
algumas espécies são tão sensíveis que mesmo pequenas intervenções podem
ser altamente prejudiciais às espécies. Outro problema bastante comum ocor-
rente e que altera significantemente a vida das espécies diz respeito à poluição,
para muitas espécies a poluição é decisiva na manutenção ou destruição de
um hábitat. Vamos pensar ainda nas consequências indiretas, que são aquelas
que visualmente não afetam o hábitat e a vida das espécies, mas citaremos
alguns exemplos fruto da poluição, como as chuvas ácidas, que caem sobre os
vegetais, sobre lagoas, lagos rios e poças temporárias, onde vive uma infinidade
de espécies, como anfíbios, por exemplo, que são altamente influenciados
negativamente.
As alterações não se restringem ao simples fato de excluirmos do ambiente
determinada espécie, mas as alterações que fazemos, podem refletir com o
aparecimento de novas espécies, as chamadas espécies exóticas, que, dife-
rente das espécies nativas, possuem uma alta capacidade de reprodução, são
altamente adaptativas em diversos ambientes, e competem deslealmente com
as espécies nativas, sejam plantas ou animais.
Mudanças previstas na distribuição de biomas como fator responsável pelas
mudanças climáticas no mundo.
Como já mencionamos antes, em função das atividades da humanidade é
cada vez maior a concentração de gases, em especial o dióxido de carbono, mas
também outros como óxido nitroso, metano, ozônio, clorofluocarbonatos, os
174 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE
chamados CFCs. Comumente ouvimos nos meios de comunicação que esse acú-
mulo de gases leva a mudanças na temperatura da Terra e também promovem
mudanças no clima. Bem se consideramos como já mencionado que o clima
de um determinado local tem o potencial de exercer uma força controladora
sobre a distribuição de biomas, podemos prever então que o mapa de biomas
se altere com bastante significância, cada vez maior em função do aumento das
concentrações de gases, e se nossas colocações feitas na Unidade 5 quando
falamos de ecologia urbana, estiverem coerentes essas mudanças não datam
de muito longe, algo próximo de 60 ou 70 anos.
Mas, caro amigo, prever o futuro não é uma das mais fáceis tarefas; prever
como estará o clima e quais as reais consequências para a distribuição de
biomas e espécies é ainda mais complicado. O que mencionamos aqui não é
algo tão assombroso assim, fruto de um poder paranormal, é apenas uma óbvia
estimativa: se nada for alterado no modo de vida da humanidade, é inevitável
que em 6 ou 7 décadas as transformações comecem a ocorrer.
�<fim seção 2>
Resumo
Nesta unidade conhecemos um pouco mais sobre os biomas conti-
nentais e brasileiros, e também que esses biomas formam um mosaico
de clima, tendo enorme importância para a manutenção das diversas
formas de vida do nosso planeta.
Vimos também que variações climáticas podem alterar os padrões
de distribuição dos biomas e espécies, pois cada bioma possui clima e
Gestão da biodiversidade 175
Atividades de aprendizagem
A história de descaso com o meio ambiente acompanha a humanidade
desde os primórdios dos tempos, porém, o homem começa tardiamente
entender que na natureza deve-se priorizar o equilíbrio. Quais as alterna-
tivas que você pode indicar para que essa visão da preservação e do uso
consciente possa atingir a todas as classes sociais da população brasileira?
Os biomas, sejam a nível continental ou brasileiro, prestam um serviço
essencial a manutenção de uma infinita quantidade de vida, o que
acredita que acontecera, se continuarmos a destruí-los?
Um dos fundamentos da gestão ambiental está relacionado com a ma-
neira como iremos planejar e tomar conta de todo esse patrimônio, de
que forma deveremos agir com ambiente para que este possa manter-
-se em equilíbrio?
Referências