Eco Biod Area

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Ecologia aplicada

e gestão da
biodiversidade
Ecologia aplicada
e gestão da
biodiversidade

Willian Luiz da Cunha


Andrea de Freitas Zômpero
© 2011 by Pearson Education do Brasil e Unopar
© 2011 by Pearson Education do Brasil e Unopar
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Editor: Equipe Casa de Ideias
Revisão: Evandro Lisboa
Capa: Rafael Mazzo
Diagramação: Casa de Ideias

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Cunha, Willian Luiz da


Ecologia aplicada e gestão da biodiversidade / Willian Luiz da
Cunha, Andrea de Freitas Zômpero. -- São Paulo : Pearson Prentice Hall,
2011.

Bibliografia
ISBN 978-85-7605-898-4

1. Ecologia - Estudo e ensino 2. Educação ambiental 3. Meio


ambiente 4. Política ambiental I. Zômpero, Andréia de Freitas. II. Título.

10-13315 CDD-304.207

Índices para catálogo sistemático:


1. Ecologia : Educação ambiental : Estudo e ensino 304.207

2010
Direitos exclusivos para língua portuguesa cedidos à
2013
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Sumário

Unidade 1 — Fundamentos da Ecologia............................... 1


Introdução ao estudo .................................................................................. 3
Seção 1 Ecologia: conceito e áreas de estudo ................................... 4
Seção 2 Histórico da Ecologia................................................................. 7
2.1 Alguns princípios da seleção natural ...................................................... 10
2.2 Abordagem holística da Ecologia ........................................................... 11
2.3 As Ciências Ambientais........................................................................... 13
Seção 3 Conceitos básicos utilizados em Ecologia ............................ 25
3.1 O que são recursos? ............................................................................... 44
3.2 A hipótese Gaia ...................................................................................... 46
Seção 4 As condições necessárias para a existência de vida na Terra.....48

Unidade 2 — Matéria e energia nos ecossistemas.............. 53


Introdução ao estudo ................................................................................ 54
Seção 1 Conhecendo os caminhos da energia e suas formas de
utilização pelas espécies .................................................... 54
1.1 O fluxo de energia nos ecossistemas ...................................................... 54
1.2 A importância da fotossíntese no equilíbrio biológico ............................ 56
Seção 2 Conhecendo o mecanismo da cadeia alimentar .................. 61
2.1 Cadeias alimentares ou tróficas .............................................................. 61
2.2 Tipos de pirâmides ecológicas ................................................................ 61
2.3 Relação entre a produtividade primária e a secundária .......................... 64
2.4 Elementos limitantes para produtividade primária .................................. 64
2.5 Fluxo de energia através das comunidades............................................. 65
2.6 Nutrientes na biosfera ............................................................................ 67
2.7 Os radioisótopos .................................................................................... 68
2.8 O fluxo da matéria no ecossistema ........................................................ 68
vi ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

2.9 Ciclo da água ou ciclo hidrológico ........................................................ 69


2.10 Ciclo do nitrogênio .............................................................................. 70
2.11 Reserva de nitrogênio .......................................................................... 71
2.12 Ciclo do carbono ................................................................................. 72
2.13 Ciclo do oxigênio ................................................................................ 73
2.14 Ciclo do fósforo ................................................................................... 73
2.15 Ciclo do enxofre .................................................................................. 74

Unidade 3 — Relações ecológicas entre os seres vivos ...... 77


Introdução ao estudo ................................................................................ 78
Seção 1 Relações ecológicas ................................................................ 78
1.1 As colônias ............................................................................................. 79
1.2 Sociedades............................................................................................. 79
1.3 A protocooperação ................................................................................ 80
1.4 O inquilinismo....................................................................................... 81
1.5 Comensalismo ....................................................................................... 81
1.6 Mutualismo............................................................................................ 82
1.7 Antibiose ou amensalismo ..................................................................... 83
1.8 Predação, herbivoria e parasitismo......................................................... 84
1.9 Adaptações para viver mais.................................................................... 85
1.10 Competição .......................................................................................... 88
Seção 2 Conhecendo o processo de aparecimento das espécies
na colonização de ambientes. ............................................... 93
2.1 Sucessão ecológica e comunidades clímax ............................................ 93

Unidade 4 — As populações e comunidades biológicas ..... 98


Introdução ao estudo ................................................................................ 99
Seção 1 Entendendo a organização das populações,
ecossistemas e comunidades ................................................. 99
1.1 Níveis de organização em ecologia, populações,
comunidades e ecossistemas..................................................................99
1.2 Formas de crescimento em uma população ......................................... 102
Seção 2 As formas de interação entre espécies, como tais espécies
evoluíram e se adaptaram para se manter vivas ................ 106
2.1 O processo da evolução ....................................................................... 106
2.2 Exemplos da evolução e dos processos evolutivos ................................ 110
Sumário vii

2.3 Formas de atuação da seleção natural .................................................. 112


2.4 A evolução pode levar à formação de novas espécies .......................... 114
2.5 A importância das populações e comunidades biológicas para
o homem ............................................................................................. 114
2.6 Vamos continuar com o pensamento ................................................... 115

Unidade 5 — Ecologia urbana ......................................... 122


Introdução ao estudo .............................................................................. 123
Seção 1 Entendendo o processo atual da Ecologia humana ............ 123
1.1 A relação do homem moderno com a natureza ................................... 123
1.2 Homem moderno, a evolução e cultura ............................................... 126
1.3 Ecologia urbana e sua estrutura no ecossistema ................................... 127
1.4 Os elementos e o conceito do ecossistema urbano .............................. 128
Seção 2 Aprendendo sobre o potencial de crescimento da
população humana, e os fatores de resistência a esse
crescimento .......................................................................... 131
2.1 Análise do potencial biótico humano ................................................... 131
2.2 O crescimento das populações e a densidade populacional ................ 132
2.3 Potencial biótico versus resistência ambiental ...................................... 134
2.4 Organização e estrutura urbana .......................................................... 139
2.5 As cidades e o meio ambiente ............................................................. 142
2.6 A atmosfera das cidades ....................................................................... 143
2.7 Humanidade versus desequilíbrio ecológico ....................................... 144
2.8 O crescimento da população humana é uma ameaça? ........................ 145

Unidade 6 — Gestão da biodiversidade ........................... 149


Introdução ao estudo .............................................................................. 150
Seção 1 O desafio da gestão da biodiversidade brasileira ............... 150
1.1 Afinal, o que é Gestão Ambiental? ....................................................... 150
1.2 Conhecendo o fruto da gestão, a biodiversidade brasileira ................... 151
1.3 A geografia da vida .............................................................................. 152
1.4 Riqueza da biodiversidade brasileira .................................................... 158
1.5 Conhecimento e gestão da biodiversidade: o quanto conhecemos
da biodiversidade brasileira? ................................................................ 159
1.6 Biomas brasileiros ................................................................................ 161
1.7 Os ambientes aquáticos ....................................................................... 167
viii ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Seção 2 Valoração da biodiversidade e sua importância na


manutenção da vida no planeta ..........................................171
2.1 Conservação ........................................................................................ 171
2.2 Ameaças à biodiversidade.................................................................... 171
2.3 Um pouquinho sobre a exploração ...................................................... 172
2.4 Destruição de hábitats ......................................................................... 173
2.5 Espécies introduzidas ........................................................................... 173

Referências ...................................................................... 177


Carta ao aluno

O crescimento e a convergência do potencial das tecnologias da informa-


ção e da comunicação fazem com que a educação a distância, sem dúvida,
contribua para a expansão do ensino superior no Brasil, além de favorecer
a transformação dos métodos tradicionais de ensino em uma inovadora
proposta pedagógica.
Foram exatamente essas características que possibilitaram à Unopar ser
o que é hoje: uma referência nacional em ensino superior. Além de oferecer
cursos nas áreas de humanas, exatas e da saúde em três campi localizados
no Paraná, é uma das maiores universidades de educação a distância do país,
com mais de 350 polos e um sistema de ensino diferenciado que engloba aulas
ao vivo via satélite, Internet, ambiente Web e, agora, livros-texto como este.
Elaborados com base na ideia de que os alunos precisam de instrumen-
tos didáticos que os apoiem — embora a educação a distância tenha entre
seus pilares o autodesenvolvimento —, os livros-texto da Unopar têm como
objetivo permitir que os estudantes ampliem seu conhecimento teórico, ao
mesmo tempo em que aprendem a partir de suas experiências, desenvolvendo
a capacidade de analisar o mundo a seu redor.
Para tanto, além de possuírem um alto grau de dialogicidade — caracteri-
zado por um texto claro e apoiado por elementos como “Saiba mais”, “Links”
e “Para saber mais” —, esses livros contam com a seção “Aprofundando o
conhecimento”, que proporciona acesso a materiais de jornais e revistas,
artigos e textos extraídos de livros de autores consagrados, como Philip Kotler,
Lawrence Gitman e Stephen Robbins.
E, como não deve haver limites para o aprendizado, os alunos que quise-
rem ampliar seus estudos poderão encontrar na íntegra, na Biblioteca Digital,
acessando a Biblioteca Virtual Universitária disponibilizada pela instituição, a
grande maioria dos livros indicada na seção “Aprofundando o conhecimento”.
x ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Essa biblioteca, que funciona 24 horas por dia durante os sete dias da se-
mana, conta com mais de mil títulos em português, das mais diversas áreas
do conhecimento, e pode ser acessada de qualquer computador conectado à
Internet.
Somados à experiência dos professores e coordenadores pedagógicos da
Unopar, esses recursos são uma parte do esforço da instituição para realmente
fazer diferença na vida e na carreira de seus estudantes e também — por que
não? — para contribuir com o futuro de nosso país.

Bom estudo!
Pró-reitoria
Apresentação

A cada disciplina que estudamos percebemos que a Gestão Ambiental


é, de fato, complexa. Essa complexidade se mostra na amplitude das áreas
do conhecimento envolvidas e na necessária compreensão das relações
estabelecidas entre os diversos ambientes e seres.
Vale lembrar que os estudos, as análises e a gestão ambiental requerem,
invariavelmente, que todos os elementos, aspectos e impactos sejam levados
em consideração. Assim, no decorrer do curso nosso aluno terá a oportu-
nidade de estudar os aspectos dos meios físicos, químicos e biológicos do
ambiente, além das questões socioeconômicas.
Neste livro, dedicado à disciplina Ecologia Aplicada e a Gestão da Biodi-
versidade, você terá a oportunidade de ter o contato inicial com os saberes
relacionados aos aspectos bióticos, os seres vivos e suas relações — objeto
de estudos da Ecologia.
Procuramos organizar o texto para que os conteúdos sejam apresentados
e construídos juntamente com você, de modo significativo, partindo dos
pressupostos básicos da Ecologia, chegando à compreensão dos impactos
gerados no meio biológico e nas metodologias de gestão da biodiversidade.
Na primeira unidade — Fundamentos da Ecologia — apresentamos o
conceito de Ecologia, considerando a visão de alguns dos principais autores
da área. Discutiremos ainda as concepções de natureza em diferentes épocas
e as influências dessas concepções na relação entre Homem e Natureza, até
a atualidade, enfatizando a importância da visão sistêmica e holística para
entender os problemas relacionados ao ambiente.
Em nossa segunda unidade — Matéria e energia nos ecossistemas — são
apresentados conceitos e formas de captação e transformação de energia,
e a importância dos níveis tróficos no alcance do equilíbrio de ambientes
xii ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

e comunidades biológicas. Também é apresentada a transmissão de energia


dentro dos níveis de alimentação, representados pelas cadeias alimentares.
Na terceira unidade — Relações ecológicas entre os seres vivos — conver-
saremos sobre os níveis de organização da ecologia, as relações ecológicas,
benéficas ou não aos envolvidos, bem como a definição de uma população
com suas características e formas de crescimento, fatores de regulação nas
populações, suas adaptações sofridas pelas espécies, e ainda a formação de
comunidades com suas formas de interação no ecossistema.
Na unidade quatro — As populações e comunidades biológicas — vamos
compreender os principais conceitos de população e de comunidade, bem
como as propriedades de cada uma, além de perceber as relações entre as
populações e entre as comunidades.
Já na quinta unidade — Ecologia urbana — apresentamos as características
do homem moderno e sua relação com o meio ambiente, o modelo de vida do
homem atual, com suas interações com o meio, e abordamos ainda a evolução
do homem, que, ao adquirir o conhecimento e cultura, levou sua relação com
o meio a mostrar-se um aspecto negativo. Também é discutida a questão da
ecologia urbana, um ambiente criado e devastado por nossa própria espécie.
Finalizamos essa unidade com uma abordagem ao crescimento da população
humana e a densidade populacional com os efeitos da resistência ambien-
tal humana e os desequilíbrios associados ao modelo de desenvolvimento
humano.
Por fim, na sexta unidade — Gestão da biodiversidade — abordamos aspec-
tos básicos da gestão ambiental, sua finalidade e objetividade no processo de
preservação da biodiversidade brasileira. São apresentados ainda os diferentes
biomas em escala mundial e brasileira, com seu grau de importância e sua
eminência de preservação, os biomas mais ameaçados e os critérios necessários
para sua conservação. Finalizarmos a unidade com um relato da preocupação
do conhecimento para a preservação das espécies.
Agora que já sabemos do que iremos tratar, desejamos a todos uma ótima
leitura!
Unidade 1
Fundamentos da
Ecologia
Objetivos de aprendizagem: o estudo desta unidade tem por obje-
tivo principal apresentar os fundamentos desta ciência, para que
você possa ter compreensão dos demais conteúdos que compõem
esta disciplina e que serão apresentados nas unidades posteriores.
Serão apresentados os aspectos históricos, as várias áreas de estudo
da Ecologia, as ciências ambientais que se inter-relacionam com a
Ecologia e também os principais conceitos relativos a esse assunto.
Para finalizar a unidade você vai conhecer alguns fatores necessários
para a manutenção de vida na Terra.

Seção 1: Ecologia: conceito e áreas de estudo


Nessa seção é apresentado o conceito de Ecologia,
considerando a visão de alguns autores como Odum
e Amabis. Apresenta-se também as diferentes áreas
de estudo da Ecologia.

Seção 2: Histórico da Ecologia


Essa seção apresenta uma trajetória histórica da Ecolo-
gia. Discute as concepções de natureza em diferentes
épocas e as influências dessas concepções na relação
entre Homem e Natureza, até a atualidade. Enfatiza a
importância da visão sistêmica e holística para enten-
der os problemas relacionados ao ambiente.
Seção 3: Conceitos básicos utilizados em Ecologia
Apresenta alguns conceitos básicos que fazem parte
da Ecologia, que são necessários para a compreensão
das relações que se estabelecem na natureza.

Seção 4: As condições necessárias para a existência de


vida na Terra
Nessa seção serão apresentadas algumas das condi-
ções necessárias para a existência e manutenção da
vida em nosso planeta.
Fundamentos da ecologia 3


A preocupação com as questões ambientais tem se intensificado nas últi-
mas décadas. Os agravos causados ao ambiente pela poluição atmosférica e
pelos poluentes lançados nos rios e no solo provocaram o desequilíbrio em
diversos ecossistemas. Soma-se a isso a retirada indiscriminada de árvores
das matas, como também a morte de animais, pondo em risco a vida de di-
versas espécies, e a produção excessiva de lixo nas cidades, com produtos
não biodegradáveis, que dificultam a ação dos decompositores. Presenciamos
na mídia assuntos constantes, como a destruição da camada de ozônio e o
aquecimento global.
Todos esses fatores e muitos outros nos obrigam a pensar na busca urgente
de soluções para esses problemas gerados pela industrialização e progresso. Há
necessidade de pensar em medidas que garantam o desenvolvimento sustentável
para a manutenção equilibrada dos ecossistemas do planeta.
Para que se desenvolva a conscientização a respeito da preservação ambien-
tal, é preciso compreender como ocorrem as complexas relações nos ecossis-
temas. Para isso é necessário o conhecimento dos fundamentos da Ecologia,
como também dos conceitos mais elementares relativos a essa ciência. Portanto,
nesta primeira unidade serão abordados principalmente conhecimentos básicos
sobre Ecologia, visando ao entendimento de questões, que serão aprofundadas
nas unidades seguintes.
Para iniciarmos o estudo desta unidade convido você a refletir sobre os
seguintes aspectos: Qual é a importância de se estudar Ecologia? Como surgiu
essa ciência? O conhecimento pelas pessoas de questões relativas à Ecologia
pode ajudar na conservação e preservação do planeta? De que modo? Que
relação pode existir para você entre o estudo desta ciência com sua formação
de Tecnólogo em Gestão Ambiental?
Essas questões serão discutidas principalmente nesta unidade. Além do
estudo dos fundamentos que envolvem a Ecologia, nesta unidade será abor-
dado também o histórico sobre Ecologia, as diversas áreas de estudo relativas
à Ecologia, as quais compõem as Ciências Ambientais.
4 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Seção 1   


Vamos iniciar este tópico comentando o conceito de Ecologia na perspectiva
de diferentes autores, depois as áreas de estudo dessa ciência.
A palavra ecologia significa, ao pé da letra, “estudo da casa”. Em grego Oikos
significa “casa” e logos quer dizer “estudo”. De acordo com o médico alemão
Ernest Haeckel (1834-1919 apud MAC, 2010, p. 1), a palavra ecologia designa
o conjunto de conhecimentos relacionados com a natureza, a investigação de
todas as relações entre o ser vivo e seu ambiente orgânico ou inorgânico, in-
cluindo as relações favoráveis ou não. Para o ecólogo Odum (1998), a ecologia
é o estudo da “estrutura e função da natureza”.
De acordo com Amabis e Martho (2004), a ecologia é uma ciência que
designa as relações entre os seres vivos e o ambiente em que vivem. Para a
compreensão da complexidade dessas relações, a Ecologia engloba diversas
áreas do conhecimento, como a Biologia, por envolver a fisiologia dos seres
vivos, sua genética e sua evolução biológica; a Física e a Química, para a com-
preensão da influência dos fatores abióticos como a luminosidade, o solo, a
água e o ar, além das Ciências Econômicas e Sociais; é, portanto, uma ciência
multidisciplinar.
A popularização da ecologia tem levado ao uso equivocado desse termo,
tanto pelos meios de comunicação como pela maioria das pessoas. Comenta-
-se, por exemplo, que a fumaça das fábricas pode afetar a “ecologia da região”.
Nesse caso, o que se pretende dizer é que a fumaça das fábricas pode prejudi-
car o equilíbrio natural do ambiente e não a ecologia, pois esta é uma ciência
(BRANCO, 1997).
Assim como toda ciência, a Ecologia também apresenta suas áreas mais espe-
cíficas de estudo. Vou abordar um pouco sobre essas diferentes áreas de estudo.
Conforme Sariego (1994), a Ecologia pode ser estuda sob vários enfoques:
Autoecologia: estuda as espécies de modo individual. Como cada espécie
se adapta ao ambiente, e como cada espécie reage a fatores bióticos e abióticos
do meio. O conceito termo autoecologia foi utilizado por Schroter, em 1896.
Ecologia descritiva: preocupa-se em relacionar e descrever os tipos de
vegetais e animais de cada ambiente e classificar os tipos de interações que se
estabelecem entre eles. Sendo assim, um dos objetivos dessa área é descrever
a variedade encontrada em diferentes ambientes.
Fundamentos da ecologia 5

Ecologia de populações: estuda as relações entre as populações e suas va-


riações numéricas. Essa área descreve as variações da população, as diversas
espécies e estuda as diferentes causas de variações da população.
Sinicologia: estuda as comunidades biológicas, isto é, as espécies que fazem
parte de uma determinada região.
Ecologia vegetal ou fitoecologia: tem por finalidade o estudo especifico dos
vegetais e suas inter-relações com o meio.
Ecologia animal: tem por objetivo estudar um grupo de animais que vivem
em determinado ambiente e as relações que eles estabelecem com o meio.
Ecologia ecossistêmica: estuda os ecossistemas individualmente e em con-
junto, constituintes da biosfera.
Ecologia urbana: é uma área recente de estudos ambientais que visa en-
tender as interações entre os sistemas naturais dentro de um ambiente urbano.
Ecologia urbana é uma área nova da ecologia que estuda os sistemas naturais
dentro das áreas urbanas, envolvendo as interações entre plantas, animais e
seres humanos, como também os efeitos da poluição e da urbanização nos am-
bientes das cidades. O conjunto de fatores essenciais à vida, à saúde e também
a relação entre ser humano e ambiente urbano é o que se chama de Ecologia
da cidade. No entanto, as cidades não são ecossistemas verdadeiros, por não
serem ambientes naturais autossuficientes (BRANCO, 2003). Nos ecossistemas
naturais, há produção de tudo o que necessitam para seu consumo. A base dos
ecossistemas são as plantas, ou algas nos ambientes aquáticos, que produzem
o oxigênio e a matéria orgânica que será aproveitada pelos consumidores que
constituem os níveis tróficos das cadeias alimentares. Os decompositores atuam
transformando a matéria orgânica em inorgânica, que será novamente utilizada
pelos seres autótrofos e heterótrofos. Há, portanto, uma troca constante de
matéria dentro do ecossistema, sendo, por isso, considerado autossuficiente.
Isso não ocorre nas cidades. Por isso, na visão de Branco (2003), as cidades
não são autossuficientes, necessitando de matérias-primas que são introduzidas
na cidade, as quais acabam por gerar produtos que precisam ser eliminados e
que muitas vezes, causam a poluição nos ambientes urbanos.
O homem não tem um hábitat especifico como as demais espécies na na-
tureza. Há seres humanos que vivem em florestas, nas savanas da África e nos
polos, como os esquimós. Onde vive, o ser humano adapta o ambiente às suas
necessidades, provocando, assim, alterações nesses ecossistemas.
6 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Com a Revolução Industrial ocorrida nas


Links últimas décadas do século XVIII, houve uma
profunda mudança no papel das cidades. As
Para complementar seu estudo so-
cidades representam a mais profunda modi-
bre as áreas da Ecologia, acesse o
ficação humana na natureza. O impacto da
link <http://www.interciencia.org/
v18_03/art01/>, onde você encon- construção de superfícies urbanas industriais
trará o artigo “Ecologia humana: atinge os ecossistemas e interfere no ciclo
um enfoque das relações homem- das águas, temperatura, ventos, vegetação e
-ambiente”, no qual o autor apre- relevo (BRANCO, 1997).
senta também as áreas de estudo No tópico seguinte abordaremos alguns
da Ecologia. aspectos históricos da Ecologia, traçando uma
rápida trajetória até os dias atuais.
Fundamentos da ecologia 7

Seção 2 
Desde a antiguidade o homem observava a natureza e procurava compre-
ender os fenômenos da natureza. Na história da humanidade, a Ecologia tinha
interesse prático, pois para sobreviver o homem precisava conhecer o ambiente
ao seu redor, como os animais, as plantas, clima, estações de chuva etc. Muitos
dos fenômenos naturais eram entendidos como prenúncio de catástrofes, como
enchentes, tempestades e epidemias, dentre outras.
Na Grécia e no Egito antigo ocorreram as primeiras observações mais
integradas do ambiente, as quais eram úteis para o planejamento do plantio,
condução de rebanhos e viagens, entre outras aplicações.
No século XVII o pensamento científico da época era o antropocentrismo,
isto é, o homem era considerado centro do universo. Daí surgiu o pensamento
de que o homem deveria dominar a natureza e podia utilizá-la como julgasse
necessário. Nesse mesmo século, a descoberta de Galileu de que a Terra não
era o centro do universo fez com que os cientistas desenvolvessem a ideia de
que era possível explicar o funcionamento do universo como se fosse uma
máquina. Daí surge o que se denomina de paradigma mecanicista. Nesse
mesmo período o matemático e filósofo Descartes, em seu livro O discurso do
método, propunha que a natureza poderia ser explicada pela razão e por isso
o homem poderia dominar a natureza pela ciência. Essa visão de Descartes,
chamada racionalista, levou ao pensamento de que a natureza deve servir às
necessidades do homem.
No final do século XVIII e inicio do século
XIX acontece a Revolução Industrial. Esse
acontecimento revela novamente o problema
Saiba mais
da relação do homem com a natureza, sem a A ideia de paradigma é do filósofo
preocupação da destruição dos recursos natu- Thomas Kuhn. Para conhecer um
rais. Sendo assim, a natureza estava destinada pouco mais sobre o que é um pa-
radigma procure ler o livro “A es-
a sustentar a produção. Por isso, enormes
trutura das revoluções científicas”,
quantidades de madeira eram retiradas para
no qual este filósofo expõe o que
gerar energia nos maquinários. Com essas
são paradigmas.
considerações, você deve ter percebido que
KUHN, T. S. A estrutura das re-
a relação do homem com a natureza é uma
voluções cientificas. São Paulo:
construção social, influenciada pelo pensa-
Perspectiva, 2001.
mento de cada época. Atualmente, em função
8 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

dos agravos ambientais e retirada indiscriminada dos recursos da natureza


percebeu-se que sérios problemas haviam se instalado, por isso, sabemos que
hoje há uma grande preocupação com os recursos naturais e muitas leis foram
elaboradas para proteção e preservação de seus recursos. Hoje a relação do
homem com a natureza deve ser harmônica, respeitando seus limites e o mo-
delo econômico caminha para a sustentabilidade, isto é, utilizar os recursos
da natureza, porém, de modo que seja possível sua reposição.
Voltando ao século XIX, um cientista alemão chamado Alexander Von Hum-
boldt iniciou uma expedição científica pela região do Peru e Venezuela, estu-
dando as matas tropicais. A partir de suas observações metódicas, esse naturalista,
sugeriu haver uma relação estática entre os seres vivos e o ambiente, sendo esse
o primeiro grande passo para a compreensão dos fenômenos ecológicos.
No entanto, o meio não é estático, conforme o próprio Humbolt começou
a perceber com o passar do tempo, mas sofre modificações por influência do
clima e dos próprios seres vivos. O meio apresenta uma relação dinâmica e
em contínua mudança. Essa ideia surgiu com os estudos do naturalista inglês
Charles Darwin.
Charles Darwin viajou como naturalista do navio inglês H. S. S. Beagle. A
viagem teve início no ano de 1831 e durou cinco anos. Visitou o Brasil e diver-
sos lugares da América do Sul. Ao estudar a fauna e flora das ilhas Galápagos,
um arquipélago formado por pequenas ilhas situadas no Oceano Pacífico, a
800 km da costa do Equador, o naturalista encontrou uma diversidade de seres
vivos que o levaram a refletir sobre a evolução das espécies.
Como já comentado anteriormente, a palavra ecologia foi proposta pelo
biólogo Ernest Haeckel em 1869, que, como Darwin, também percebeu que
as espécies não são imutáveis, mas mantém uma tendência contínua às mo-
dificações (BRANCO, 1997). A Ecologia nasceu como uma disciplina das
Ciências Biológicas, propondo estudo das relações entre os seres vivos e, ainda,
das relações desses seres com o seu meio. Essa visão ainda não acontecia no
campo científico.
Somente a partir de 1900 a Ecologia foi reconhecida como um campo
distinto de conhecimento (ODUM; BARRET, 2007). O campo de estudo dessa
ciência era dividido em Ecologia animal e Ecologia vegetal. O estabelecimento
de novos conceitos, como comunidade biológica, cadeia alimentar e ciclagem
da matéria, contribuíram para o estabelecimento de uma Ecologia geral. Com
a expansão dos conhecimentos sobre Ecologia intensificou-se o estudo sobre a
Fundamentos da ecologia 9

maneira como indivíduos e espécies interagem e utilizam os recursos do meio


(ODUM, 1998).
Ainda no início do século XX, por volta de 1935, surge o conceito de ecos-
sistema, considerado unidade básica da Ecologia. O conceito de ecossistema
ganhou popularidade entre as décadas de 1950 a 1970. Nesse período surge
também o conceito de biosfera enfatizando que todos os ecossistemas estão
interligados.
Foi na década de 1960 que a palavra ecologia ficou mais difundida na
sociedade. Foram identificados os efeitos da contaminação do DDT difundido
pela cadeia alimentar nos EUA. Na década de 1970, com o incentivo a indus-
trialização acelerada em todo mundo, acentuaram-se os problemas ambientais.
O homem passou a usar muito mais recursos da natureza do que esta era ca-
paz de fornecer. Houve, então, a necessidade de medidas globais para a crise
ambiental instalada, e a administração dos recursos naturais.
A partir da década de 1980, a preocupação do Brasil com a utilização de
seus recursos naturais aumentou. A Constituição Federal de 1988 criou con-
dições para a descentralização de formulações políticas, possibilitando aos
municípios assumirem uma posição mais ativa nas questões ambientais locais
e regionais (LOPES et al., 2005).
A Ecologia, atualmente, integra-se a outras áreas do conhecimento, como
a Sociologia, Economia, Geografia e Medicina, dentre outras. Não é vista
apenas como uma ciência que estuda espécies em um ecossistema. Diante
de determinados problema ambientais, vários profissionais de diferentes áreas
trabalhando em conjunto vão possibilitar que a situação seja entendida como
um todo entre homem e natureza, e não em aspectos isolados. Essa visão do
todo denomina-se visão holística. A seguir vou dar um exemplo para você ter
melhor clareza sobre a importância da abordagem holística.

Para saber mais


Darwin foi um naturalista inglês que viveu no século XIX. As ideias de Darwin foram influenciadas
pelos trabalhos do geólogo e amigo chamado Charles Lyell. Em sua viagem no navio Beagle, o
naturalista levou o livro desse geólogo, intitulado Princípios de geologia. As primeiras obser-
vações de Darwin foram sobre Geologia. A teoria de Darwin recebeu influência também das
ideias de Thomas R. Malthus, o qual sugeriu que a principal causa da miséria humana estava
10 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

relacionada com o crescimento das populações e a produção de alimentos. Segundo Malthus, as


populações, quando não encontram resistência, crescem em progressão geométrica e os meios
de subsistência crescem em progressão aritmética. Isso significa que o aumento da população
é superior em relação à produção de alimentos.
De acordo com a Teoria da Seleção Natural, todos os organismos como as plantas, animais e
bactérias lutam pela sobrevivência em todo momento da vida. O ambiente proporciona desafios
constantes aos seres vivos. Os mais aptos a enfrentar esses desafios é que irão sobreviver, portanto,
a própria natureza seleciona os mais adaptados (AMABIS; MARTHO, 2004).

Questões para reflexão


O pensamento mecanicista a respeito da concepção de natureza permaneceu
por muitos anos. Quais os reflexos desse pensamento na atualidade?


Como você já sabe, as ideias de Darwin influenciaram muito o pensamento
de sua época, o que ocorre até os dias atuais. Para você compreender melhor
as ideias desse pesquisador apresentaremos neste item alguns aspectos que
envolvem a Seleção Natural.
A partir das observações feitas por Darwin, ele pôde considerar que certas
características que os seres vivos apresentavam poderiam contribuir para sua
sobrevivência e reprodução no ambiente. Esses seres teriam, então, condições
favoráveis para viver em determinado ambiente. Os indivíduos que eram porta-
dores de uma variação desfavorável teriam grande dificuldade para sobreviver
e, por isso, poderiam morrer. Sendo assim, as diferenças individuais já existen-
tes entre os indivíduos de mesma espécie seriam selecionados naturalmente
pelo ambiente. Para entender melhor como isso ocorre, veja um exemplo que
ocorre com frequência entre insetos.
Alguns poucos insetos possuem geneticamente a capacidade de resistir à
ação de alguns inseticidas. Nesse caso, essa é uma variação favorável. Quando
se aplica inseticida em uma população de insetos, a maioria morre pela ação
Fundamentos da ecologia 11

do veneno. Os poucos insetos que apresentavam geneticamente resistência ao


veneno conseguem sobreviver e ainda se reproduzem, gerando mais insetos
resistentes. Esse fato faz com que após algum tempo existam muitos insetos
resistentes e a aplicação desse veneno não produz mais a morte de grande parte
dos insetos. Sendo assim, a população adaptou-se à presença do inseticida.
Nesse caso, é possível afirmar que a seleção natural fixou a variação favorável
aos insetos com capacidade de resistir ao agente químico que compõe o ve-
neno determinado.
Esse mesmo exemplo pode ser aplicado à ação dos antibióticos. É comum
as pessoas dizerem que os microrganismos desenvolvem resistência aos an-
tibióticos. Essa concepção não é correta. A ideia é de que o antibiótico teria
induzido algumas bactérias a desenvolverem resistência. Esse pensamento é
considerado Lamarckista. Segundo Darwin, algumas bactérias já possuíam essas
características devido a presença de alguns genes. Essa capacidade poderia ter
surgido por mutações. Assim como no caso dos inseticidas, algumas bactérias
não morrem na presença de certos antibióticos; sobrevivem, reproduzem-se e,
desse modo, são selecionadas. Nesse caso, o antibiótico não produz mais o feito
desejado. Essa situação acaba produzindo o que se denomina de superbactérias.
Como você pôde perceber, essas variações que podem ser causadas, por
exemplo, por mutações, permitem aos seres adaptarem-se no ambiente. Por
isso, adaptação, de acordo com Paulino (2006), é a capacidade de sobrevivên-
cia e também de reprodução de uma determinada espécie em um ambiente.
Para que essas espécies estejam adaptadas, elas precisam ter um conjunto de
características que possam estar associadas com a capacidade de reprodução
e sobrevivência. Por exemplo, para viver em determinadas regiões geladas do
planeta os animais devem ter o corpo coberto por uma espessa camada de
pelos e uma grossa camada de gordura sob a pele, que constitui a hipoderme.
Na natureza os seres vivos encontram-se bem adaptados aos ambientes em que
vivem, caso contrário, a espécie não sobrevive.


Vamos supor que em determinada região de uma cidade em que não há
redes de esgoto e água tratada haja também um alto índice de doenças parasitá-
rias, como verminoses. Não adianta tratar a população com vermífugos. Nesse
caso, há necessidade de um entendimento mais abrangente sobre os problemas
para tomada de decisões mais precisas. Assim, por exemplo, o problema não é
12 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

apenas de saúde, mas social, econômico e também envolve a Ecologia urbana.


Por isso, para solucioná-lo deve-se tomar providências relativas ao saneamento e
também no que diz respeito à educação, para que as pessoas possam conhecer
e saber como se prevenir dessas doenças. Outro exemplo pode ser a transmissão
de uma doença por um mosquito silvestre. Suponha que essa doença esteja
se alastrando na região. Para identificar as causas dessa situação, não adianta
apenas a participação dos médicos, mas também dos biólogos, ecólogos e
talvez geógrafos, para estudar as condições do ambiente, os desequilíbrios
ambientais que possam existir para que os mosquito estejam se proliferando,
e dos antropólogos, por exemplo, para identificar alguma modificação nas
atitudes das pessoas daquela comunidade. Veja que esses problemas não são
restritos a determinada área do conhecimento. Os profissionais trabalhando em
conjunto possibilitam que o problema seja entendido e tratado como um todo.
A visão holística busca compreender como os elementos interagem em seus
ambientes. Esses organismos interagem com o ambiente físico e promovem
a constante movimentação dos elementos necessários à existência de todos.
Quando nos conscientizamos dessa abordagem integrada é possível identificar
e perceber que os problemas não podem ser tratados somente sob um deter-
minado aspecto.

Questões para reflexão


Sabemos que a abordagem holística para os problemas ambientais é necessária
porque promove a integração entre as áreas permitindo melhor entendimento
e resolução dos problemas. Quais as consequências da visão cartesiana, pro-
posta por René Descartes, para a compreensão dos problemas ambientais?

Para saber mais


René Descartes foi um filósofo e matemático francês. Era conhecido também pelo nome de
Cartesis. Ele propôs a visão analítica, na qual os problemas e o pensamento, assim como a na-
tureza, poderiam ser decompostos em partes. Essa visão gerou o que se denomina atualmente
de pensamento cartesiano. Isso leva, por exemplo, à divisão do conhecimento em partes.
Fundamentos da ecologia 13


As Ciências Ambientais surgiram há pouco mais de dez anos. Essas ciências
se firmaram devido à crise ambiental que atualmente vivemos. Em função dos
agravos ambientais houve necessidade de uma visão mais integrada e inter-
disciplinar para abordar os problemas. Nessa interdisciplinaridade participam
diferentes áreas do saber, como a Ecologia, Economia, Antropologia, Biologia,
Sociologia, Geologia, Zoologia, Botânica e Geografia, dentre outras. Essa inter-
disciplinaridade para enfrentar os problemas ambientais possibilita um caráter
mais dinâmico às Ciências Ambientais.
É importante que você tenha clareza de que a visão interdisciplinar é dife-
rente de multidisciplinar. A perspectiva multidisciplinar diz respeito às várias
áreas do conhecimento. Sendo assim, a Geografia, Sociologia, Biologia e
Antropologia. A interdisciplinaridade propõe uma abordagem integrada entre
as diferentes áreas do conhecimento e não de modo estanque, como a visão
multidisciplinar.
Diante de problemas ambientais como desmatamentos, destruição da ca-
mada de ozônio, mudanças climáticas, ou até mesmo para o planejamento de
obras que poderão causar impactos no Meio Ambiente como a construção de
hidrelétricas e demais problemas causados pela ação antrópica, deve haver
participação de representantes dessas diversas ciências tanto para o estudo
como para a tomada de decisões para minimizar os possíveis impactos causa-
dos ao ambiente.

Aprofundando o conhecimento
Para você enriquecer seus conhecimentos leia no artigo a seguir
(NUCCI, 2007, p. 77-99) um pouco mais sobre a trajetória histórica da
Ecologia. Nesse artigo o autor aborda com mais detalhes essa ciência e
introduz a visão de sistemas que origina a visão holística dessa ciência.
É importante que você observe que a ideia de sistema aplica-se também
a várias áreas do conhecimento.
14 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE



No início do século XX, a Ecologia continuava seu caminho para a cons-
tituição de uma teoria capaz de fornecer um modelo sistêmico que indicasse
uma via de aplicação científica para seus propósitos investigativos. Entretanto,
a construção de um novo paradigma, como meio de visualizar a natureza
da ciência, não é algo fácil de executar e pode levar anos até que um novo
modelo passe a ser aceito pela comunidade científica.
O conceito de sistema não era novo e já fora utilizado por Newton (sis-
tema solar), por Lavoisier (sistemas respiratório, digestivo, circulatório etc.)
entre outros, porém, permaneceu à margem do interesse científico até que o
biólogo Ludwig von Bertalanffy, em 1928, ao ampliar a teoria do holismo de
Smuts (1926), segundo a qual o universo estaria edificado em estruturas de
complexidade crescente — átomos, moléculas, células, indivíduos, sociedades
e ecossistemas, abriu uma porta para a utilização do conceito para diferentes
disciplinas e campos de atividade humana, como uma teoria geral de sistemas.
Para Bertalanffy (1993), a necessidade de uma visão sistêmica resultou do
fato de que o esquema mecanicista mostrava-se insuficiente para tratar os
problemas cada vez mais complexos, especialmente nas ciências biológicas e
sociais. No início dos anos 20, ele se preocupou com essa lacuna na pesquisa
e teoria biológicas e defendeu uma concepção organísmica na biologia cuja
ênfase era dada na consideração do organismo como um todo ou sistema.
Pode-se dizer que, mesmo em seus primórdios, a teoria dos sistemas con-
seguiu influenciar a Ecologia inspirando o surgimento do termo “ecossistema”
sugerido por Tansley.
O ecólogo Arthur Tansley, que em 1913 fundou a primeira sociedade de
ecologia a British Ecological Society, sugeriu, em 1935, o termo ecossistema
como um modelo teórico, salientando-se além da importância do estudo
conjunto dos organismos e dos fatores inorgânicos como sistemas, que os
ecossistemas, para os ecólogos, seriam as unidades fundamentais da natureza
na face da Terra.
Tansley estava ciente e deixou claro que propunha um modelo abstrato
e não uma realidade ecológica, identificável na natureza; entretanto, para
aquele momento, foi a visão menos radical e reducionista da organização
das comunidades.
Fundamentos da ecologia 15

Das ideias de Darwin, que propunham que a unidade de sobrevivência


seria a espécie, passa-se, agora, para um conceito mais sistêmico no qual a
unidade de sobrevivência seria o organismo em seu meio ambiente.
Porém, apesar dos avanços em busca de uma Ecologia com visão sistêmica,
o que se constatava era uma forte influência de pesquisadores especializados
e distribuídos em subáreas da Ecologia e com procedimentos muito mais de
análise do que de síntese.
Sobre a Ecologia do início do século XX, Clements e Shelford (1939 apud
ÁVILA-PIRES, 1999) afirmavam que:
[...] sua natureza sintética é muito frequentemente obscu-
recida por divisões, tais como autoecologia, sinecologia,
ecologia de insetos, e ecologia humana.

[...] Esta situação dificilmente pode ser remediada, exceto


substituindo o treinamento atual altamente especializado
por um ensino sintético em profundidade. [...] Esta condição
perdurará enquanto pesquisadores forem especialistas [...] a
verdadeira essência da ecologia é a síntese.

Em 1949 a preocupação com a visão analítica continua em questão, fato


constatado pela observação feita por um grupo de quatro cientistas, incluindo
um engenheiro, um sociólogo, um matemático e um biólogo que reclamavam
por um método simples e mais unificador para os problemas científicos e por
cientistas generalistas (Bode et al., 1949 apud BERTALANFFY, 1993).
Na segunda metade do século XX a Ecologia continuou a lapidação de
seus conceitos, princípios e leis com o objetivo de se construir uma teoria.
Em 1957, Margalef introduziu o modelo cibernético, para calcular as
transferências tróficas de energia associadas a uma interação reguladora, no
estudo dos ecossistemas.
A cibernética está fundamentada na teoria do controle dos sistemas basea-
da na comunicação (transferência de informação) entre sistema e ambiente
e, também, dentro do sistema por mecanismos de feedback (BERTALANFFY,
1993).
Em 1968, após 40 anos de estudos, Bertalanffy apresentou sua Teoria
Geral dos Sistemas que, apesar de ter suas raízes na concepção organísmica
da Biologia, mostrou-se com amplas possibilidades de aplicação em vários
campos do conhecimento.
16 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Bertalanffy acreditava que a Biologia seria capaz de substituir a abordagem


analítica e mecanicista por uma visão sistêmica, pois sendo essa uma ciência do
todo e do organicismo por excelência estaria fadada a desempenhar um papel
na nossa visão do mundo que jamais desempenhara antes (BRANCO, 1989).
O sentido fundamental a ser conservado no conceito de sistema seria o de
síntese (palavra que tem exatamente a mesma origem), conjunto unificado,
constituído de partes solidárias, de alguma forma articuladas entre si e não
reunidas ao acaso; sua dimensão mínima é a de uma organização capaz de
funcionar por si só (BRANCO, 1989).
A teoria dos sistemas ressaltou os riscos da visão reducionista na tentativa
de se explicar o todo pelo comportamento de uma de suas partes consti-
tuintes. Segundo a Teoria Geral dos Sistemas, existem propriedades que só
podem ser encontradas na complexidade e que, portanto, não devem ser
identificadas por meio de análises ou fragmentação do todo, ou seja, uma
organização só pode ser estudada como um sistema, pois o todo é maior do
que a soma das partes.
O axioma holístico, “o conjunto é mais do que a soma das
partes”, proposto primeiramente por Smuts (1926, 1971) e
introduzido na ecologia por Egler (1942) como o conceito de
organização hierárquica da natureza, tem se tornado a pre-
sunção filosófica básica da Teoria Geral dos Sistemas (NAVEH
e LIEBERMAN, 1984).

Apesar da Teoria dos Sistemas ter fornecido uma abrangência com um


enfoque interdisciplinar e, portanto, com uma possibilidade de se relacionar
teoria social e econômica às teorias física e biológica, a abordagem empregada
na Ecologia durante a segunda metade do século XX, foi a de utilização de
sistemas capazes de especificação, análise e manipulação de maneira rigorosa
e quantitativa, com modelos matemáticos prometendo transformar a ecologia
em uma ciência exata. Um dos textos didáticos mais famosos no campo da
Ecologia, o de Eugene Odum (1953, 1959, 1971), encarregou-se de difundir
a concepção do ecossistema passível de modelização e análise matemática,
ao adotar a metodologia reducionista dos modelos cibernéticos de Margalef
(ÁVILA-PIRES, 1999).
No 1º Congresso Internacional de Ecologia em Haia ocorrido em 1974,
ficou estabelecido que o verdadeiro escopo da Ecologia seria o estudo das
comunidades ou sinecologia, porém, Ávila-Pires (1999) afirma que, até esse
momento, o que se podia evidenciar é que muitos estudos ditos ecológicos
Fundamentos da ecologia 17

não passavam de uma simples justaposição de dados colhidos sobre vegeta-


ção, fauna, clima e substrato, de forma independente, o que não permitia
conhecer o ecossistema, nem sua estrutura nem seu funcionamento.
Para Naveh (2000), a Teoria Geral dos Sistemas, que deveria prover uma
visão transdisciplinar do mundo que rompesse as barreiras culturais e ideoló-
gicas, nunca teve suas metas alcançadas, apesar de ter aberto um caminho
para os atuais conceitos de complexidade.
A Teoria Geral dos Sistemas tem um ponto de vista holístico, mas a análise
sistêmica é mais estudada do que a síntese (NAVEH & LIEBERMAN, 1984).
Até mesmo Bertalanffy reconheceu os perigos de um uso discriminado de
sua teoria, já que o seu uso inadequado poderia, por exemplo, ao colaborar
com uma ideia de um Estado ou Nação como um superorganismo, constituir
a fundamentação para um estado totalitarista, no qual o indivíduo humano
apareceria como uma insignificante célula de um organismo ou um trabalha-
dor sem importância (BERTALANFFY, 1993).2
Bertalanffy postulou essa nova teoria chamada Teoria Geral dos Sistemas
com o objetivo principal de formulação de princípios válidos para todos os
sistemas em geral, sejam eles de natureza física, biológica ou social.
Se definirmos convenientemente o conceito de sistema nós
encontraremos os modelos, princípios e leis que podem ser
aplicáveis aos sistemas em geral [...], por exemplo, a lei de
crescimento exponencial pode ser aplicada para células de
bactérias até populações de bactérias, de animais ou de hu-
manos. [...] O mesmo tipo de equação, que descreve a com-
petição de animais e plantas na natureza, pode ser aplicado
para descrever a competição no campo da economia. Esta
correspondência é devida ao fato dessas entidades poderem
ser consideradas como sistemas, isto é, um complexo de
elementos em interação (BERTALANFFY, 1993).

Mas para Leff (2001),


[...] o propósito de unificação dos discursos científicos, de ho-
mogeneização de suas estruturas conceituais, conformou uma

2 Veja Brave new world (O admirável mundo novo — Aldous Huxley, 1932) que nos dá uma projeção do
que poderá vir a ser a vida na terra, dentro de 500 anos. Nessa obra Huxley mostra a humanidade classifi-
cada em um sistema de castas, alcançado por meio do controle genético e condicionamentos (tratamento
nutricional, choques elétricos, sirenes ruidosas e tratamentos durante o sono), que garantiria à sociedade
um número suficiente de pessoas subdesenvolvidas, para executarem as tarefas menos agradáveis. Nessa
sociedade, organizada como um sistema, o ser humano perde sua individualidade e sua liberdade. Veja,
também, Huxley, A. (1959). Regresso ao admirável mundo novo.
18 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

prática interdisciplinar fundada numa Teoria Geral dos Siste-


mas. Seu objetivo unificador e reducionista, compartilhado
com o positivismo lógico, reaparece em certas explicações
fisicalistas e biologistas dos processos históricos, surgidos do
desejo de encontrar um mesmo e único princípio organizador
da matéria [...] estes sistemas desconhecem a integridade
conceitual de cada ciência.

Na Teoria Geral dos Sistemas os seres humanos não passam de peças de


uma engrenagem e são considerados todos como simples elementos com
uma mesma responsabilidade. Isso, segundo Leff (2001), encobre as relações
de poder e de exploração, fonte de desigualdades entre os companheiros de
viagem.
A sistematização do saber, a normalização das ações sociais, a uniformi-
zação dos estilos culturais surgem como o signo unitário do regime totali-
tário do valor de troca que tende a estabelecer seu regime de equivalência
recodificando e reduzindo o mundo a objetos similares, equiparáveis. Essa
mistificação do mundo, objetivado e coisificado pela intervenção da ciência,
reaparece na Teoria Geral dos Sistemas que pretende englobar os diferentes
campos do conhecimento sob um signo analógico de identidade, ocultando
a especificidade teórica que produz a organização e a integridade conceitual
das ciências (LEFF, 2001).
Além de todos esses problemas levantados, uma outra característica
notável na construção da Ecologia como ciência seria a não consideração do
ser humano nos estudos dos ecossistemas.
Heinrich Walter, um dos críticos da escola Clementsiana e dos dogmas
de Braun-Blanquet, é considerado o pai da moderna Ecologia na Alemanha,
podendo ser considerado, também, uma exceção já que introduziu métodos
ecofisiológicos nos estudos de geobotânica e, nestes, enfatizou a necessidade
de um tratamento holístico para os fatores ecológicos, incluindo os antropo-
gênicos (Walter, 1960 apud NAVEH & LIEBERMAN, 1984).
Essa exclusão do ser humano dos assuntos da Ecologia pode ser esclarecida
pelos dizeres de Branco (1989) ao considerar que
[...] o ser humano desenvolve comportamentos por vezes
incompatíveis com os ecossistemas, destruindo-os, porém
sem destruir-se. O homem, embora tenha sido originado pelos
mesmos princípios da seleção natural, não mais se submete
a ela, não pertencendo a qualquer ecossistema em particular
(grifo nosso).
Fundamentos da ecologia 19

Ainda para Branco (1989):


O caráter finalista, que não é reconhecido em relação à
evolução natural das espécies e dos ecossistemas, passa a
constituir principal agente da evolução ou das transformações
ambientais, caracterizando o chamado Meio Ambiente (um
ambiente antrópico) como significativamente diferente do
Ecossistema natural e o estudo do meio ambiente como algo
sensivelmente diverso da Ecologia”.

Portanto, para Branco, meio ambiente não é sinônimo de ecossistema.


O meio ambiente inclui o elemento antrópico e tecnológico enquanto que
o ecossistema, tal como definido, com suas características homeostáticas,
de controle e de evolução natural não comporta o homem, a não ser em
seus estágios primitivos, pois é incompatível com o finalismo e a deliberação
característica desta espécie.
Todavia, outros cientistas apresentam visão diferenciada da questão, fato
que pode ser exemplificado nos estudos ecológicos em áreas urbanizadas.
Para muitos cidade e natureza devem ser considerados conceitos opostos.
A cidade representaria um meio adaptado às necessidades da espécie humana,
sendo que a urbanização se caracterizaria pela substituição dos ecossistemas
naturais por centros de grande densidade criados pelo homem, onde a espécie
dominante seria a humana e o meio estaria organizado para permitir a sua
sobrevivência (NUCCI et al., 2003).
Branco (1989) afirma que as cidades, em se tratando de um sistema de
base essencialmente (necessariamente) cultural e, por conseguinte, de ori-
gem antropogênica e não originado pelas forças seletivas da natureza, não
se constitui em um ecossistema, mas para Delpoux (1974) a cidade poderia
ser considerada como um ecossistema desequilibrado.
Tratando-se da paisagem urbanizada, o professor Dr. Felisberto Cavalheiro
enfatiza que as cidades têm que ser enfocadas tanto nos estudos sociais e de
engenharia como nos de ecologia de forma integrada, evitando-se entender
somente as partes de uma forma cartesiana absoluta (NUCCI, 2001).
Para Sukopp e Werner (1991), expoentes no reconhecimento da impor-
tância da conservação da natureza nos assentamentos humanos, a cidade
deve mostrar as condições ideais para a conservação da natureza e da paisa-
gem, porém, a descrição do ecossistema urbano, feita por Sukopp (1973), é
criticada por representar a cidade ecologicamente ideal, destituída de quais-
quer relações e realizações humanas. “Como no final do século XIX, alguns
20 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

ecólogos do final do século XX viram as grandes cidades como elementos de


destruição para aquilo que eles consideravam natureza” (GROENING, 2001).
Se introduzir o ser humano nos estudos dos ecossistemas parece ser
complicado, o contrário também trouxe sérios problemas. Nas décadas de
20 e 30, sociólogos norte-americanos propuseram uma Ecologia Humana.
Essa disciplina surgiu impulsionada por autores como Robert E. Park, Ernest
W. Burgess e R. D. Mackenzie, pertencentes à chamada Escola de Chicago,
a cidade na qual se desenvolvia a maioria das investigações.
Essa Escola aplicou os conceitos ecológicos e biológicos — sucessão,
invasão, simbiose etc., na análise de questões socioeconômicas. Burguess e
Park tinham a opinião de que era preciso aplicar ao estudo das comunidades
humanas o esquema teórico da ecologia vegetal e animal. Essas teorias foram
criticadas pelo seu abuso de analogias biológicas, que poderiam servir como
justificativa de uma determinada ordem social ao “naturalizar” os problemas
urbanos (CAPEL & URTEGA, 1984).
Para Morin (2000),
Em um certo sentido, tudo é físico, mas, ao mesmo tempo,
tudo é humano. O grande problema, pois, é encontrar a
difícil via da interarticulação entre as ciências, que têm, cada
uma delas, não apenas sua linguagem própria, mas também
conceitos fundamentais que não podem ser transferidos de
uma linguagem à outra.


Como uma esperança de estudos que pudessem considerar o ser hu-
mano, a sociedade e o meio físico como um conjunto, surge, em meados do
século XX, a Ecologia da Paisagem, com raízes na Europa Central e Ocidental,
sendo a Alemanha e a Holanda os primeiros países com a maior quantidade
de trabalhos produzidos nessa área. Com o primeiro trabalho sobre o tema
escrito em inglês por Naveh e Lieberman (1984), a Ecologia da Paisagem foi
introduzida nos EUA e em outros países de língua inglesa.
O termo Ecologia da Paisagem, como uma disciplina científica emergente,
foi cunhado por Troll em 1939, ao estudar questões relacionadas ao uso da
terra por meio de fotografias aéreas e interpretação das paisagens.
Com a sugestão desse termo Troll teve a intenção de incentivar uma co-
laboração entre a Geografia e a Ecologia, combinando, assim, na prática, a
aproximação “horizontal” do geógrafo examinando a interação espacial dos
Fundamentos da ecologia 21

fenômenos, com a aproximação “vertical” dos ecólogos, no estudo das intera-


ções funcionais de um dado lugar, ou “ecótopo” (NAVEH & LIEBERMAN, 1984).
Segundo Zonneveld (1990), a Ecologia da Paisagem de Troll foi uma
tentativa de casamento entre a Geografia (paisagem) e a Biologia (Ecologia).
“Paisagem” foi introduzido como termo científico-geográfico no início do
século XIX por A. von Humboldt, o grande pioneiro da moderna geobotânica
e geografia física. Na língua alemã, o termo paisagem (Landschaft) contém
uma conotação geográfico-espacial no prefixo “land”, diferentemente da
paisagem com significado de cenário encontrado nas artes e na literatura. Os
biogeógrafos europeus viram a paisagem não apenas como uma visão estética
(como a maioria dos arquitetos da paisagem), ou como parte do ambiente
físico (como a maioria dos geógrafos), mas como uma entidade espacial e
visual da totalidade do espaço de vida humano, integrando geosfera, biosfera
e noosfera (grego “noos” — mente).3*
Entre os anos de 1945 e 1975, surgiram várias pesquisas nessa área, como,
por exemplo, os trabalhos de Neef (1956, 1967 apud LESER, 1992) que salien-
tavam o caráter interdisciplinar dessa abordagem. Geógrafos e Ecólogos na
Europa Central, após a II Guerra Mundial, procuravam construir uma noção
de Ecologia da Paisagem como uma ciência interdisciplinar que conduzisse
a um inter-relacionamento entre a sociedade humana e seu espaço de vida
— suas paisagens construídas ou não. Profissionais das mais diversas áreas
se uniram com a intenção de se criar uma ponte entre o sistema natural, o
rural e o urbano.
Em 1981 realizou-se em Wageningen (Holanda) o 1º Congresso Interna-
cional de Ecologia da Paisagem, organizado pela The Netherlands Society of
Landscape Ecology, que conduziu a criação da Internacional Association of
Landscape Ecology (IALE) em 1984.

3 A Noosfera pode ser vista como a “esfera do pensamento humano”, sendo uma definição derivada da
palavra grega ȞȠȣȢ (noos, “mente”) em um sentido semelhante à atmosfera e biosfera. Na teoria original
de Vernadsky, a noosfera seria a terceira etapa no desenvolvimento da Terra, depois da geosfera (matéria
inanimada) e da biosfera (vida biológica). O conceito da noosfera é atribuído ao filósofo francês Teilhard de
Chardin. Segundo ele, assim como há a atmosfera, a geosfera e biosfera, existe também o mundo ou esfera
das ideias, formado por produtos culturais, pelo espírito, linguagens, teorias e conhecimentos. Seguindo
esta linha de pensamento, alimentamos a noosfera quando pensamos e nos comunicamos. A partir de então,
o conceito de noosfera foi revisto e consequentemente sendo previsto como o próximo degrau evolutivo
de nosso mundo, após sua passagem pelas posteriores transformações de geosfera, biosfera, “tecnosfera”
(temporária e em andamento) e, então, a noosfera (Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Noosfe-
ra>. Acesso em: abr. 2007).
22 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Durante o congresso, entre as várias definições para a Ecologia da Pai-


sagem, a mais ampla e compreensível definição foi apresentada por Isaak S.
Zonneveld, o primeiro presidente da IALE: a Ecologia da Paisagem deveria
ser considerada como uma ciência Bio-Geo-Humana e com abordagem,
atitude e pensamento holísticos, (Zonneveld, 1982 apud NAVEH, 2000);
considerando-se o termo “holístico” como uma total integração do natural
com o elaborado pelo homem.
Uma importante contribuição para esse campo foi o estabelecimento de
áreas especiais para a Ecologia da Paisagem nas principais universidades da
Alemanha com o objetivo de se considerar o complexo inter-relacionamento
entre o homem e suas paisagens naturais, culturais e industriais, com a inclu-
são das demandas naturais, culturais e socioeconômicas e, ao mesmo tempo,
o enriquecimento do ambiente biótico natural.
Naveh e Liebernam (1984) afirmam que, com a Ecologia da Paisagem,
novas fronteiras foram traçadas em relação à Teoria Geral dos Sistemas; esses
autores sugeriram um novo conceito o Total Human Ecosystem (THE) — como
um supersistema físico-geosférico, mental e espiritual, no qual os homens
seriam integrados com seu ambiente total, e que este deveria ser considerado
o maior paradigma holístico da Ecologia da Paisagem. O THE seria considerado
o mais alto nível de integração ecológica.
A Ecologia da Paisagem é vista na Europa como uma base científica para
o planejamento, manejo, conservação, desenvolvimento e melhoria da paisa-
gem. Ela sobrepujou os objetivos puramente naturais da bioecologia clássica e
tem tentado incluir as áreas nas quais o ser humano é o centro da questão —
sociopsicologia, economia, geografia e cultura (NAVEH & LIEBERMAN, 1984).
Entretanto, constata-se uma insatisfação com a atual Ecologia da Paisagem
quando Naveh (2000) coloca a necessidade, ainda em questão, da inclusão do
ser humano e sua dimensão cultural-social e econômica como parte integral
de uma ecologia global e que, perante os desafios de salvaguardar e criar sus-
tentabilidade, saúde, paisagens produtivas e atrativas para o próximo milênio,
a Ecologia da Paisagem necessitaria de uma concepção bem mais holística.
Afirma também, que há ainda um considerável número de ecologistas da
paisagem que se agarra em um paradigma mecanicista e reducionista, acredi-
tando que a Ecologia da Paisagem somente poderá alcançar uma “maturidade
científica” se for capaz de fazer predições exatas dentro de uma visão mecani-
cista, como a Física (NAVEH, 2000).
Fundamentos da ecologia 23

Para Morin (2000), prender-se ao axioma de Galileu no qual os fenômenos


só devem ser descritos com a ajuda de quantidades mensuráveis, é condenar
todo conceito que não seja traduzido por uma medida: “Ora, nem o ser, nem
a existência, nem o sujeito podem ser expressos matematicamente ou por
meio de fórmulas”.
Até mesmo Bertalanffy concorda com uma certa incongruência entre
modelo e realidade.
Existem modelos matematicamente muito sofisticados, mas
que são dúbios quando são aplicados em casos concretos;
existem problemas fundamentais para os quais técnicas não
matemáticas são mais adequadas [...] seria melhor um mo-
delo não matemático (verbal) do que iniciar com um modelo
matemático e, assim, possivelmente, restringir o campo de
visão (BERTALANFFY, 1993).

A Ecologia da Paisagem muitas vezes, principalmente na escola americana,


exclui propositadamente o ser humano de suas pesquisas.
Forman (1995), em um trabalho de 632 páginas sobre Ecologia da Pai-
sagem, afirma logo de início que a ênfase será dada nos processos naturais
(relevo, solo, clima, água, fogo, planta e animal) e não nos aspectos das
ciências sociais e das humanidades.
Pearson (2002), em um capítulo de livro que se propõe a ensinar conceitos
e técnicas em Ecologia da Paisagem, justifica sua escolha por modelos de pai-
sagens utilizando mapas de cobertura da terra, interpretados sob a perspectiva
de diferentes espécies (excluindo a humana), pois, sendo os mapas produtos
humanos estes apresentam uma perspectiva antropocêntrica, tendendo a se
reportarem às necessidades humanas e aos sistemas econômicos, como, por
exemplo, ao uso da terra, ao arruamento, às cidades, aos limites políticos e,
portanto, não refletem as características importantes da vida selvagem.

Nesse artigo o autor abordou também alguns aspectos sobre as áreas de


estudo da Ecologia em especial uma área mais recente considerada Ecologia
das Paisagens.
Conforme você pôde perceber no estudo desta seção, é muito importante
para a humanidade compreender como a natureza funciona. A Ecologia é,
por isso, uma ciência fundamental porque através de seus estudos sobre as
24 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

interações que se estabelecem entre os seres vivos e o ambiente físico, pode


proporcionar a compreensão às pessoas sobre como ocorre o equilíbrio na
natureza. Algumas áreas da Ecologia não têm aplicação tão direta no ambiente
como outras, mas são igualmente importantes por fornecerem bases teóricas
para as demais áreas de estudo.
Alguns aspectos práticos da Ecologia que por sua vez se relacionam mais
diretamente com as pessoas são o estudo das relações entre os seres vivos; o
estudo das populações, para que haja compreensão sobre em que condições
ocorre o desenvolvimento das populações, quais os fatores que controlam seu
crescimento, o que ocorre com as populações e comunidades em situações
de desequilíbrio ambiental; o estudo das relações entre nossa espécie com as
demais e com o meio físico, para se seja possível a compreensão dos impactos
causados ao ambiente. Em relação aos impactos ambientais, a Ecologia fornece
aspectos necessários para a compreensão do equilíbrio que se estabelece entre
os ecossistemas e as consequências do desequilíbrio para a humanidade.
Assim como é importante às pessoas conhecerem o funcionamento do
corpo humano, o ciclo de determinadas doenças e sua prevenção, é do mesmo
modo necessário conhecer e compreender os aspectos básicos da Ecologia, para
que seja possível uma nova visão de mundo que permita considerar plantas,
animais, microrganismos e seres humanos como seres que são interdependentes.
Por isso, para que se obtenha a valorização do meio ambiente é preciso que
se estabeleça uma relação harmônica entre homem e natureza.
Na seção seguinte você vai conhecer alguns dos conceitos básicos neces-
sários para compreender a Ecologia.
Fundamentos da ecologia 25

Seção 3 
    

O conhecimento de determinados conceitos em Ecologia é fundamental
para o entendimento das relações entre seres vivos entre si e destes com o am-
biente. Sendo assim, para compreender a dinâmica do ambiente como também
os problemas acarretados pela quebra da manutenção do equilíbrio natural, é
necessário o entendimento de alguns conceitos básicos. Alguns desses principais
conceitos encontram-se relacionados a seguir.
Organismo: é qualquer forma de vida, tanto unicelular como pluricelular.
A célula é a unidade básica da vida dos seres vivos. No caso dos microrganis-
mos como bactérias, protozoários e alguns fungos, o organismos é composto
apenas por uma única célula. Os organismos são classificados em espécies. Os
indivíduos de mesma espécie são assim classificados devido às semelhanças
físicas, fisiológicas, embrionárias, bioquímicas e genéticas que apresentam.
Para os organismos que se reproduzem sexualmente há também um critério
para identificá-los como sendo de mesma espécie. Quando eles se reproduzem,
em condições normais, e resultarem em indivíduos férteis, os genitores são,
então, considerados da mesma espécie. De acordo com Miller Jr. (2006) não
se sabe quantas espécies existem na Terra, mas estima-se que existam entre 3,6
milhões a 100 milhões.
Espécie: a espécie é uma unidade ecológica, que tem suas características
próprias. A espécie é também uma unidade genética porque tem um patrimônio
genético bem característico. Em condições naturais esse patrimônio genético
não se mistura com o de outras espécies. É também uma unidade reprodutiva,
isto é, seus membros cruzam-se entre si, mas não cruzam com indivíduos de
outras espécies. Além disso, seres de mesma espécie têm condições de se
adaptarem ao ambiente e de se desenvolverem, por isso, a espécie é também
considerada uma unidade evolutiva.
Subespécies ou raças: são seres de mesma espécie que diferem entre si
devido a algumas características. É uma divisão dentro da espécie. Por exem-
plo, todos os cachorros pertencem à mesma espécie, apresentando o mesmo
número de cromossomos em suas células. Apesar de terem o mesmo número de
cromossomos, as diferenças ocorrem porque existem variações na frequência
de alguns genes. Isso determina as diferenças entre as raças.
26 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Populações: conjunto de indivíduos pertencentes à mesma espécie que


vivem em determinada área. De acordo com Adolfo, Crozetta e Lago (2005),
espécie é o conjunto de populações naturais semelhantes, estruturalmente,
funcionalmente e bioquimicamente, que quando se cruzam produzem des-
cendentes férteis.
São exemplos de população: formigas de um formigueiro, ratos que vivem
na cidade, árvores de mesma espécie de uma floresta, população humana etc.
O crescimento de uma população é determinado por dois fatores principais:
natalidade e mortalidade. A imigração e emigração também afetam o cresci-
mento de uma população.
Taxa de natalidade: indica a proporção de novos indivíduos adicionados à
população já existente.
Taxa de mortalidade: indica a proporção de perda de indivíduos em função
das mortes ocorridas.
Taxa de emigração e imigração: a imigração é a quantidade de novos in-
divíduos que chegaram à população, vindos de outras áreas. A emigração é
a quantidade de indivíduos que saíram daquela população para outras áreas.
Comunidade, biota ou biocenose: é o conjunto de populações que vivem
em uma mesma área geográfica. Ex.: animais, plantas, fungos, microrganismos
interagindo dentro de um ecossistema. As comunidades podem apresentar
algumas características que serão apresentadas a seguir.
Comunidade pioneira: é a comunidade que primeiramente se instala
numa área despovoada. O número de espécies é bem reduzido. São seres
pouco exigentes e tolerantes às adversidades do meio. As espécies pioneiras,
em geral, são: cianofíceas, líquens, gramíneas, insetos e aranhas. As plantas
dessa comunidade apresentam taxa fotossintética superior à taxa de respi-
ração (produção primária líquida). Isso permite o aumento de biomassa na
comunidade.
Comunidades intermediárias: com o desenvolvimento das comunidades
pioneiras, o ambiente vai se tornando favorável ao surgimento de novas espécies
como plantas herbáceas, que vão sendo substituídas pelas arbustivas, animais
diversos que vão sendo atraídos pelas novas espécies de plantas que ali habi-
tam. Espécies arbóreas começam a surgir depois de um certo tempo. Com isso
a comunidade sofre várias modificações que são chamadas seres ou séries. O
momento em que essas transições ocorrem não são claramente identificados,
por serem graduais.
Fundamentos da ecologia 27

Comunidade de clímax: ocorre quando a comunidade atinge a maturidade,


com estabilidade e em equilíbrio com o ambiente. É a etapa final de uma su-
cessão ecológica. Nessas condições a taxa de fotossíntese é consumida no
processo respiratório das plantas. A produção primária líquida é bem menor
em relação às comunidades pioneiras. No clímax a biomassa torna-se constante.
Cadeia alimentar: é uma série de organismos em que a energia flui para
dos produtores para os níveis tróficos seguintes. Cada elo da cadeia alimentar
é composto por um determinado organismo que serve de alimento a outro
seguinte, que por sua vez servirá de alimento a um organismo posterior. É
importante compreender que as cadeias ali-
mentares começam sempre com plantas no
ambiente terrestre ou por algas planctônicas, Links
nos ambientes aquáticos. Isso quer dizer que Os fitoplâncton são algas que vi-
os seres que iniciam as cadeias alimentares vem na superfície dos rios e ma-
são, em geral, seres fotossintestizantes. Esses res que produzem grande parte
seres são os produtores de matéria orgânica. do oxigênio para a atmosfera. O
Essa matéria orgânica é repassada aos demais zooplâncton, também chamado
seres que compõem a cadeia alimentar para de plâncton não fotossintetizante,
fornecer-lhes energia. Quando morrem, todos é composto por pequenos vermes,
os seres que fazem parte da cadeia alimentar larvas de crustáceos e de diversas
outras espécies que se alimentam
são decompostos e os produtos resultantes da
do fitoplâncton.
decomposição voltam a fazer parte da matéria
inorgânica.
Matéria: o conceito de matéria na Física é qualquer coisa que ocupe lugar
no espaço e tenha massa. A matéria é formada por átomos e moléculas. A
matéria pode ser classificada como orgânica e inorgânica. Nos processos de
decomposição biológica realizada pelos microrganismos, a matéria orgânica
é transformada em matéria inorgânica.
De acordo com a lei de conservação da matéria, quando há alguma reação
física ou química nenhum átomo é destruído ou criado. Isso quer dizer que na
natureza a matéria é sempre transformada e nunca destruída. Essa descoberta,
chamada de conservação da matéria foi feita pelo químico Antoine Lavoisier.
Esse cientista ficou conhecido pela frase “Na natureza nada se perde, nada se
cria, tudo se transforma”. Lavoisier foi um químico francês que viveu no século
XVIII. Outro aspecto importante do trabalho de Lavoisier foi a identificação do
oxigênio.
28 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Energia: um aspecto importante sobre a cadeia alimentar é entender que


a energia tem um sentido unilateral, inicia-se com os produtores e vai sendo
transferida aos demais elos da cadeia. Mas o que é a energia?
Como nós aprendemos na Educação Básica, energia é a capacidade de
realizar trabalho e de transferir calor. Entendemos que a energia é utilizada
para realizar as atividades diárias como movimentar-se, movimentar carros,
cozinhar alimentos, iluminar. Sendo assim, é possível perceber que existem
várias formas de energia.
Em nosso planeta o sol é considerado fonte primária de energia, fornece às
plantas luz e calor. As plantas utilizam a energia luminosa do sol e realizam
a fotossíntese. Para realizar a fotossíntese a energia luminosa é convertida em
energia química. A energia utilizada pelos animais provém da energia química
armazenada nas plantas que se armazenam nos tecidos animais. Quando se
alimentam, o corpo transforma energia armazenada nos alimentos em energia
para fazer as atividades para se manterem vivos.
Algumas formas de energia podem ser: elétrica, mecânica, luz ou energia
radiante, energia química armazenada em ligações químicas no núcleo dos
átomos. Esses e outros tipos de energia podem ser classificados em dois tipos:
energia do movimento denominada energia cinética e energia armazenada,
denominada energia potencial.
O calor é também outro tipo de energia. Quando dois objetos se tocam a
energia cinética na forma de calor flui de um corpo ou objeto mais quente para
outro mais frio. Para você conhecer um pouco mais sobre a energia, vamos
lembrar as duas leis da termodinâmica.
A primeira lei da termodinâmica diz: em uma alteração física ou química
pode-se transformar uma forma de energia em outra, mas não é possível criar
ou destruir qualquer energia. A energia é convertida de uma forma em outra.
A segunda lei da termodinâmica diz que a energia muda de uma forma
para outra, sendo assim, terminamos com menos energia do que tínhamos no
início. Isso quer dizer que de uma forma para outra a quantidade de energia
sempre se degrada em outra forma de energia.
Fotossíntese: é o processo pela qual os seres clorofilados, como as algas
planctônicas e os vegetais convertem a energia luminosa em energia química.
Para realizar a fotossíntese é necessária a absorção da energia do sol pela clo-
rofila, o gás carbônico e a água. Por meio de reações químicas são produzidos
Fundamentos da ecologia 29

glicose, que é matéria orgânica que será transferida aos animais pela cadeia
alimentar, e o oxigênio que é liberado para atmosfera.
A glicose será fonte de energia tanto para os seres fotossintéticos como
para os animais e microrganismos. Os seres que fazem fotossíntese e por isso
conseguem produzir a matéria orgânica pra sua própria sobrevivência, são cha-
mados seres autótrofos. Outro processo utilizado por bactérias para produção
de compostos que serão utilizados como fonte de energia é a quimiossíntese.
A quimiossíntese é um processo de produção de substâncias orgânicas a
partir de reações com o hidrogênio e gás carbônico, produzindo gás metano.
Essas bactérias quimiossintetizantes vivem em ambientes com pouco oxigê-
nio disponível, como depósitos de lixo, pântanos, dentro do tubo digestivo
de animais. Esses ambientes são considerados anaeróbicos, devido à falta de
oxigênio disponível.
Outro exemplo de bactérias quimiossintetizantes são as nitrossômonas
nitrobacter que participam do ciclo do nitrogênio. Você vai conhecer melhor
o trabalho dessas bactérias quando estudar o ciclo do nitrogênio. As nitrossô-
monas obtêm energia pela oxidação de alguns íons de amônia que existem no
solo. Diferente dos seres fotossintetizantes, as bactérias quimiossintetizantes
não precisam de luminosidade. Utilizam um composto que será oxidado,
gás carbônico e água e como resultado produzem compostos orgânicos que
utilizam para liberação de energia para suas reações vitais. Por isso, são seres
considerados autótrofos, como os fotossintetizantes.
Teias alimentares: são redes que se estabelecem entre as cadeias alimentares.
São, portanto, diversas cadeias alimentares interligadas que unem os diversos
componentes de uma comunidade entre si.
Componentes bióticos: são os seres vivos que habitam determinado ecos-
sistema. São animais, plantas, seres humanos, microrganismos.
A Ecologia preocupa-se com as relações que ocorrem em formas de or-
ganização que vão além do organismo. Por isso, de acordo com a maneira
de organização entre os seres vivos e suas relações, surgem as populações,
comunidades e ecossistema. Os componentes bióticos dos ecossistemas são
produtores, consumidores e decompositores. Vamos conhecer um pouco sobre
cada um. No capítulo sobre cadeia alimentar você estudará esses componentes
com mais detalhes.
Os produtores: são os que ocupam o primeiro nível trófico em qualquer
ecossistema. São os organismos autótrofos, que realizam a fotossíntese ou a
30 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

quimiossíntese. Dentre os compostos orgânicos produzidos pelos seres auto-


tróficos o principal composto é a glicose, que servirá como fonte de energia
para os seres vivos.
Nos ecossistemas terrestres, os produtores são os vegetais clorofilados que
realizam a fotossíntese. Nos aquáticos, os organismos produtores são as algas
unicelulares que compõem o fitoplâncton e as plantas aquáticas. Os produto-
res são seres autótrofos. Os seres heterótrofos, alimentam-se de outros seres,
isto é, obtêm energia e nutrientes alimentando-se de plantas e animais ou de
restos orgânicos. Podem ser herbívoros e carnívoros. Os seres que se alimen-
tam de plantas e de animais são considerados onívoros, os quais também são
heterótrofos. São exemplos de animais onívoros seres humanos, porcos, ratos,
barata, ursos. Os heterótrofos são classificados em consumidores (herbívoros,
carnívoros e onívoros) e decompositores.
Os consumidores: os consumidores são organismos heterotróficos. Com-
preendem uma imensa variedade de organismos na biosfera, como as bactérias
sem clorofila, protozoários, fungos e animais.
Consumidores primários: alimentam-se diretamente dos produtores. For-
mam o segundo nível trófico. Nos ecossistemas aquáticos são formados
pelo zooplâncton, que são pequenos crustáceos, vermes, moluscos de
diversas espécies.
Consumidores secundários: formam o terceiro nível trófico. Alimentam-se
dos consumidores primários, e assim por diante. Nos ambientes aquáticos
os consumidores secundários são principalmente os peixes.
Em alguns casos há seres que se portam como consumidores primários,
alimentando-se de vegetais, e em outros momentos como consumidores secun-
dários alimentando-se de animais. Nesse caso são considerados seres onívoros.
Ex.: espécie humana.
Denominações dos consumidores de acordo com o tipo de alimentação
Planctófagos Æ alimentam-se de plâncton
Herbívoros ou fitófagos Æ alimentam-se de plantas
Carnívoros Æ alimentam-se de carne
Onívoros Æ alimentam-se de plantas e animais
Hematófagos Æ alimentam-se de sangue
Coprófagos Æ alimentam-se de fezes
Insetívoros Æ alimentam-se de insetos
Detritívoros Æ alimentam-se de detritos orgânicos.
Fundamentos da ecologia 31

Os decompositores ou saprótrofos: produtores e consumidores de diferen-


tes níveis tróficos, quando morrem servem de alimento a fungos e bactérias.
Esses microrganismos, decompositores ou saprótrofos, nutrem-se dessa ma-
téria orgânica morta. As atividades decompositoras dos saprótrofos liberam
nutrientes inorgânicos em forma disponível aos consumidores (ODUM, 1998).
Tal processo é fundamental para o equilíbrio da natureza e a manutenção da
vida na Terra, devido à reciclagem de nutrientes. Os decompositores atuam
em todos os níveis da cadeia alimentar. Todos os seres vivos sofrem a ação
dos decompositores.
Componentes abióticos: compreende aspectos físicos, como a lumino-
sidade, temperatura e geoquímicos como o solo, água, ar, que em conjunto
interagem com os componentes bióticos. Esses componentes constituem o
biótopo, termo que significa região onde vive a biocenose (comunidade).
Exemplo: Em uma floresta o biótopo é a área que contém o solo com mi-
nerais e água, atmosfera com seus gases, umidade, temperatura, luminosidade
etc. (AMABIS; MARTHO, 2004).
O solo é formado pelo desgaste da rocha matriz, devido à ação do vento,
chuvas, sol. A rocha começa a fragmentar-se originando o solo. Pode ter alguns
centímetros de profundidade ou alguns metros.
O solo é composto por partículas de rochas, que compõem a parte inorgâ-
nica e restos de plantas e animais que compõem a parte orgânica.
As camadas que formam o solo são:
Rocha matriz: camada inferior, pode ser também chamada rocha-mãe.
Formou-se a partir do resfriamento da parte superficial do manto. A rocha
matriz origina as camadas mais superficiais do solo.
Subsolo: camada situada entre a rocha matriz e o solo. Do subsolo são
extraídos diversos recursos naturais que utilizamos, como, por exemplo,
o carvão, os diversos minérios como ferro, alumínio, cobre, prata etc.
Solo: camada mais superficial da crosta terrestre. Sua composição mine-
ral varia de acordo com a composição da rocha matriz que o originou.
O solo fornece os nutrientes necessários para o crescimento das plantas.
Funciona também como filtro, pois purifica a água que passa por ele.
Auxilia na decomposição e reciclagem dos resíduos, por ele circulam os
minerais durante o ciclo da matéria, que serão apresentados na próxima
unidade, em que serão abordados os ciclos biogeoquímicos.
32 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

A camada superior do solo é chamada


Para saber mais serapilheira ou folheto superficial, formada
principalmente de folhas, resíduos de plantas
De acordo com a teoria mais aceita
e animais e outros materiais orgânicos em
sobre a formação do planeta, a
decomposição.
Terra no início era muito quente.
Com o seu resfriamento, a super-
A camada gasosa que envolve a Terra é
fície foi endurecendo, e formou-se chamada atmosfera. O ar, conforme já comen-
então, a crosta terrestre. O manto tado acima, é um dos componentes abióticos
é uma região situada abaixo da dos ecossistemas.
crosta terrestre, formado pelo A atmosfera tem uma dimensão aproximada
magma, com temperatura aproxi- de 1.000 km. No entanto, o ar que está contido
mada de 3.500oC. nela não está distribuído de modo homogêneo
em toda sua extensão. A quantidade de ar,
como também de oxigênio contido no ar, é maior na parte mais próxima do solo,
isto é, na troposfera. A quantidade de oxigênio torna-se mais rarefeita à medida
que nos distanciamos da superfície em direção às camadas superiores.
A atmosfera desempenha um importante papel na manutenção da temperatura
no planeta. O gás carbônico que nela existe permite que a Terra mantenha-se
aquecida durante a noite, quando não há radiação solar. Nesse caso, ocorre o
que se denomina de Efeito Estufa natural. O problema é que esse gás vem aumen-
tando muito sua concentração na atmosfera, causando o aquecimento global.

Aprofundando o conhecimento
Para você enriquecer seus conhecimentos, leia no texto de Braga et al.
(2005, p. 125-132), algumas outras informações sobre solo. O autor explica
sobre a formação dos solo, os tipos de solo e alguns critérios de classificação.

 
 

O conceito de solo pode ser diferente de acordo com o objetivo mais
imediato de sua utilização. Para o agricultor e o agrônomo, esse conceito
Fundamentos da ecologia 33

destacará suas características de suporte da produção agrícola. Para o enge-


nheiro civil, o solo é importante por sua capacidade de suportar cargas ou
de se transformar em material de construção. Para o engenheiro de minas, o
solo é importante como jazida mineral ou como o material solto que cobre e
dificulta a exploração dessa jazida. Para o economista, o solo é um fator de
produção. Já o ecologista vê o solo como o componente da biosfera no qual
se dão os processos de produção e decomposição que reciclam a matéria,
mantendo o ecossistema em equilíbrio.
De um modo geral, o solo pode ser conceituado como um manto super-
ficial formado por rocha desagregada e, eventualmente, cinzas vulcânicas,
em mistura com matéria orgânica em decomposição, contendo, ainda, água
e ar em proporções variáveis e organismos vivos.


A proporção de cada um dos componentes pode variar de um solo para
outro. Mesmo em um solo de determinado local, as proporções de água e ar
variam sazonalmente, com os períodos de maior ou menor precipitação. Em
termos médios de ordem de grandeza, os componentes podem ser encon-
trados na seguinte proporção:

45% de elementos minerais


25% de ar
25% de água
5% de matéria orgânica

A matéria sólida mineral é, preponderantemente, proveniente de rochas


desagregadas no próprio local ou em locais distantes, trazidas pela água e
pelo ar. A desagregação das rochas se dá por ações físicas, químicas e, em
menor proporção, biológicas, as quais constituem o que se denomina de
intemperismo. Em proporções relativamente pequenas na escala de tempo
geológica, essa parte sólida pode provir de cinzas vulcânicas.
As principais ações físicas que provocam a desagregação do solo são
a erosão pela água e pelo vento, variações bruscas de temperatura, com
formação de tensões residuais nas rochas, e o congelamento de água em
fissuras, com ação de cunha decorrente da sua dilatação entre 4oC e 0oC
etc. As ações químicas mais comuns ocorrem sobre as rochas calcárias ata-
cadas pelas águas que contenham gás carbônico dissolvido e, em situações
34 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

específicas de poluição atmosférica, que contenham também outros íons


ácidos (chuvas ácidas).
A parte líquida é fundamentalmente constituída por água proveniente de
precipitações, tais como: chuvas, sereno, neblina, orvalho e degelo de neve
e geleiras, que contenham em solução (destacando-se pela importância a
coloidal) substâncias originalmente presentes nas fases sólida e gasosa. A
parte gasosa é proveniente do ar existente na superfície e, em proporções
variáveis, dos gases da biodegradação de matéria orgânica nos quais predo-
mina o dióxido de carbono (biodegradação aeróbia) e outros como o me-
tano (biodegradação anaeróbia). A parte orgânica é proveniente da queda
de folhas, frutos, galhos e ramos, além de restos de animais, excrementos e
outros resíduos, em diferentes estágios de decomposição, em fase sólida ou
líquida. É da biodegradação dessa matéria orgânica que resulta o húmus do
solo, responsável, em boa parte, pelas suas características agrícolas (produção
primária) e várias de suas propriedades físicas.
Em termos de produção primária, porém, mais importante do que a pro-
porção dos componentes é a maneira pela qual os elementos minerais e or-
gânicos apresentam-se diluídos na água. Por exemplo, a parcela que constitui
as soluções coloidais tem, como destacaremos adiante, papel fundamental,
tanto para a coesão e resistência à erosão quanto para a fertilidade do solo
(retenção de nutrientes) e para outras propriedades relativas à produtividade
dos solos.


Como parte integrante de um ecossistema, é possível, em uma escala de
tempo geológico, identificar em um solo o que se denomina de ‘sucessão’, ou
seja, o conjunto de estágios de equilíbrio pelos quais passa esse ecossistema
até atingir o ‘clímax’.
A formação dos solos é resultante da ação combinada de cinco fatores:
clima (pluviosidade, umidade, temperatura etc.), natureza dos organismos
(vegetação, microrganismos decompositores, animais), material de origem,
relevo e idade.
Na sua atuação, os quatro primeiros fatores imprimem, ao longo do tempo
(idade), características que definem os estágios de sucessão por meio de sua
profundidade, composição e propriedades e do que se denomina ‘horizontes
do solo’. A Figura 9.1 esquematiza a forma pela qual ocorre esse processo.
Fundamentos da ecologia 35

Para determinadas condições de relevo, organismos presentes e material de


origem, o intemperismo aumenta continuamente a profundidade do solo a
velocidades crescentes com a pluviosidade, a umidade e a temperatura. No
solo formado à superfície, começam a se estabelecer os vegetais e os micror-
ganismos. A lixiviação (transporte por meio da água que infiltra e percola no
solo) faz a translocação das frações mais finas do solo (argilas, especialmente)
e a remoção de sais minerais. As frações mais grossas (arenosas) permane-
cem na parte superior. Em consequência, formam-se estratos com aparência
diferente, constituindo os horizontes.

Figura 9.1 Formação de um solo e diferenciação de horizontes

Esses horizontes podem ser identificados por letras, de acordo com suas
características. Em um perfil hipotético, eles podem se apresentar como os da
Figura 9.2. Na realidade, nem sempre todos estão presentes e são facilmente
identificáveis. Quando o solo atinge seu clímax é que esses horizontes se
apresentam de forma mais evidente e são identificáveis em maior número.
O estágio de formação do solo tem implicações bastante diversas e mar-
cantes, por exemplo, sobre o ciclo hidrológico e sobre o regime dos cursos
de água em uma região.
Nas regiões áridas, em que o intemperismo é menos intenso, os solos
tendem a ser menos profundos. Quando ocorre uma precipitação sobre um
desses solos, os poros são rapidamente preenchidos por água (ele ‘tem seus
36 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

poros saturados de água’) e o escoamento na superfície passa a ser o único


caminho das águas precipitadas. Como o escoamento é rápido, as águas
logo se acumulam em grandes volumes nos fundos dos vales, provocando
as grandes enchentes (e/ou inundações). Cessada a chuva, o curso de água
passa a ser alimentado apenas pela água acumulada nos poros do solo.
Como o volume de poros é pequeno (solo pouco profundo), após algum
tempo de estiagem essa água se esgota e o rio deixa de correr, tornando-se
intermitente.

Figura 9.2 Horizontes de um perfil hipotético de solo

A mesma precipitação, caindo sobre um solo profundo, poderá não cau-


sar a enchente (e/ou inundações) e ser suficiente para manter a alimentação
do curso de água durante todo o período de estiagem em razão do maior
volume de água acumulado nos poros desse solo. Nesse caso, o curso de
água é perene.
Observamos que os poros do solo são um grande reservatório de água
doce, capazes de assegurar muitas vezes sua disponibilidade, mesmo durante
longos períodos de estiagem. Por outro lado, a ausência desse reservatório nas
regiões áridas de solos rasos agrava a escassez de água nas estiagens, sendo,
ainda, uma das causas das grandes amplitudes do regime hídrico: grandes
secas podem ser sucedidas por grandes enchentes e inundações.
Fundamentos da ecologia 37

Outra implicação importante das características dos horizontes do solo é


de natureza agrícola. O manejo dos solos e, em particular, a aração devem
levar os horizontes em conta sob pena de reduzir ou eliminar o potencial de
produção primária. Na literatura técnica e de ficção são conhecidos e regis-
trados muitos exemplos de solos que se tornaram estéreis por uma prática
de manejo imprópria. Em As vinhas da ira, por exemplo, John Steinbeck
relata o progressivo empobrecimento das populações de emigrantes da
Europa Setentrional quando assentados no Meio-Oeste norte-americano.
De suas regiões de origem, essas populações trouxeram a prática da aração
profunda em solos de horizontes espessos. Trazida para os Estados Unidos,
essa prática passou a acelerar a desertificação em virtude do revolvimento
e do afloramento de horizontes de solo sem fertilidade e sem capacidade
de resistir à erosão. O resultado foi o empobrecimento progressivo e o sur-
gimento das cidades abandonadas, açoitadas pelas tempestades de areia
provocadas pela erosão eólica atuante sobre um novo horizonte de solo
sem coesão e sem fertilidade.
Outro exemplo é relatado por Monteiro Lobato em Cidades mortas, em
que a agricultura cafeeira em um solo frágil como o do Vale do Paraíba, des-
nudado de sua mata primitiva, permitiu a remoção, por erosão hídrica, dos
horizontes superficiais que lhe asseguravam fertilidade e coesão equilibradas.
Mais recentemente, na exploração do território amazônico, foram os
engenheiros civis rodoviários que tiveram de aprender com os insucessos. A
terraplenagem profunda removia a única camada protetora do solo — a laterita —,
abrindo caminho para uma erosão incontrolável das vias implantadas. Essa
camada, criada pela natureza ao longo de milênios, obrigou os profissionais
a repensar e a reformular métodos construtivos trazidos de regiões com solos
de formação diferente do amazônico.
Por fim, é importante destacar alguns aspectos que diferenciam os solos
de regiões climáticas distintas. Os climas equatoriais e tropicais, por causa da
temperatura, umidade e pluviosidade que os caracterizam, favorecem não só
o intemperismo acelerado (e os solos mais profundos e mais ‘velhos’), mas
também intensificam a fotossíntese. Em comparação com as áreas de maior
latitude e clima temperado, as regiões equatoriais têm uma densidade total de
matéria orgânica similar. A diferença reside na sua distribuição, pois, enquanto
nas regiões equatoriais a vegetação luxuriante contém boa parte da matéria
orgânica, nas temperadas, grande parte da matéria orgânica está no solo.
38 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Consequentemente, é mais provável que os horizontes orgânicos (hori-


zonte A) sejam mais espessos em climas temperados. É, portanto, diverso o
impacto ecológico da remoção da cobertura vegetal nativa em uma região
tropical e em uma região temperada. No caso da primeira, o empobrecimento
decorrente da exportação da matéria orgânica na forma de vegetação é bem
maior. Esta última conclusão obriga a repensar e a aculturar procedimentos
agrícolas e extrativos vegetais de outras procedências para serem aplicados,
por exemplo, nas novas fronteiras agrícolas equatoriais e tropicais úmidas que
vêm se abrindo em nosso país.

 
Há certas características do solo que podem ser vistas a olho nu ou
facilmente percebidas pelo tato que são frequentemente utilizadas para a
descrição de sua aparência no ambiente natural. Dentre as principais dessas
características, estão cor, textura (ou granulometria), estrutura, consistência e
espessura dos horizontes (esta última já referida anteriormente). Além delas
são também importantes, do ponto de vista ecológico, o grau de acidez, a
composição e a capacidade de troca de íons.
A cor, como característica mais prontamente perceptível, é, em muitos
casos, utilizada popularmente e mesmo em classificações científicas, como
veremos adiante, para denominar e identificar os solos, sendo a ‘terra roxa’
e a ‘terra preta’ os dois exemplos mais conhecidos. Em termos técnicos, a cor
é descrita por comparação com escalas padronizadas.
Porém, mesmo sem recorrer a procedimentos padronizados, por simples
inspeção é possível associar algumas propriedades do solo à sua coloração. Os
solos escuros, tendendo para o marrom, por exemplo, quase sempre podem
ser associados à presença de matéria orgânica em decomposição em teor
elevado; a cor vermelha é indicativa da presença de óxidos de ferro e de solos
bem drenados; as tonalidades acinzentadas, mais comumente encontradas
junto às baixadas, são indício de solos frequentemente encharcados.
A textura ou granulometria descreve a proporção de partículas de dimen-
sões distintas componentes do solo. Um exame mais atento de um solo mostra
que ele é constituído de partículas de tamanhos diversos, frequentemente
agrupadas na forma de torrões ou grumos.
Tecnicamente, podemos quantificar a granulometria, passando o solo por
um conjunto padronizado de peneiras com malhas de diferentes dimensões
e determinando o peso das parcelas retidas em cada uma delas. Esses pesos
Fundamentos da ecologia 39

parciais, acumulados em porcentagens do total, são apresentados na forma de


curvas granulométricas, como mostra a Figura 9.3. A textura ou granulometria
é a base de classificação mais conhecida dos solos (areia, argila etc.), como
veremos mais adiante, e explica, também, algumas das principais propriedades
físicas e químicas dos solos. Assim, por exemplo, a drenabilidade, a permea-
bilidade e a aeração de um solo serão mais acentuadas se as dimensões das
partículas que o formam forem maiores. Já os solos com partículas menores
favorecem a resistência à erosão, a retenção de água e de nutrientes, pelas
propriedades coloidais que lhes estão associadas.
A estrutura é o modo pelo qual as partículas do solo se arranjam em
agregados ou torrões. Produtos da decomposição de matéria orgânica, jun-
tamente com alguns componentes minerais, como o óxido de ferro e frações
argilosas, promovem a agregação das partículas. A presença de umidade e
ressecamento, com consequente inchamento e encolhimento, acaba por dar
origem aos torrões do solo, com tamanho e forma variados e característicos,
os quais podem ser granular (esféricos ou arredondados), angular (com faces
planas e dimensões aproximadamente iguais), laminar (faces planas e dimen-
são horizontal bem maior) e prismático (faces planas e dimensão vertical bem
maior). A estrutura de um solo explica, em boa parte, seu comportamento
mecânico (capacidade de suporte de cargas, resistência ao cisalhamento ou
escorregamento), conferindo-lhe o que se denomina consistência, ou seja,
a capacidade de resistir a um esforço destinado a rompê-lo e que podemos
avaliar a consistência pressionando os torrões entre os dedos.

Figura 9.3 Curvas granulométricas


40 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Os macroporos presentes em um solo determinam se ele será mais ou


menos permeável, drenável e aerado.
A composição do solo, referida anteriormente em termos médios de ordem
de grandeza das porcentagens, sendo bastante variável na sua composição
mineral e extremamente variável na proporção água-ar, pode apresentar
também teores variáveis de matéria orgânica.
A argila é considerada a parcela ‘ativa’ da fração mineral por sediar os
fenômenos de troca de íons determinantes da fertilidade do solo (existência
de nutrientes em quantidade adequada) e da boa nutrição vegetal (capacidade
de ceder os nutrientes à planta). Por sua vez, as frações minerais mais grossas
presentes no solo são também essenciais para assegurar a drenabilidade, a
permeabilidade e a aeração indispensáveis para o equilíbrio água-ar exigido
para a realização da fotossíntese (captação dos nutrientes em solução por
meio de pressão osmótica nas raízes) e da respiração dos organismos exis-
tentes no solo.
A porção orgânica — e particularmente sua parcela em decomposição —
é importante por dar origem ao húmus. Ao húmus cabe a função de agente
granulador (formação de torrões) dos solos produtivos. A matéria orgânica
tem a elevadíssima capacidade de reter nutrientes e água, muito superior, por
exemplo, à existente na caulinita, a argila predominante em nossos solos. Pes-
quisas (Coelho e Verlengia, 1976) estimam que mais de 70% da capacidade de
retenção de nutrientes dos solos do Estado de São Paulo seja devida à matéria
orgânica. Além disso, a matéria orgânica pode ter um efeito atenuador da
nocividade de alguns elementos minerais sobre as plantas, como o alumínio
e o manganês, por vezes presentes em teores indesejáveis nos solos tropicais.
As partículas de menores dimensões presentes na fração argilosa dos
solos, bem como a matéria orgânica e alguns óxidos, podem apresentar
cargas elétricas. Essas cargas elétricas desempenham importante papel nas
trocas químicas entre as partículas sólidas e a solução aquosa que as envolve,
repelindo ou absorvendo íons e radicais, configurando o que se denomina
capacidade de troca iônica do solo. Se houver excesso de cargas negativas,
o solo é trocador de cátions, propriedade essa que pode ser medida (capaci-
dade de troca catiônica (CTC)). Se o excesso for de cargas positivas, mede-se
a sua capacidade de troca aniônica (CTA). Os solos com CTC mais elevada
retêm nutrientes essenciais às plantas, tais como cálcio, potássio, magnésio
etc.; não retêm, entretanto, ânions como os nitratos e cloretos, que podem
Fundamentos da ecologia 41

passar livremente para as águas do lençol subterrâneo, contaminando-as


(águas com mais de 10 mg/l de nitrato podem provocar a metemoglobinemia
ou doença azul).
Solos de zonas de alta pluviosidade tendem a apresentar valores mais
baixos do pH em consequência do processo de lixiviação das bases dos ho-
rizontes superiores, pela infiltração e percolação das águas. As condições
climáticas predominantes em nosso país fazem com que quase a totalidade
dos solos apresente pH inferior a sete, como é o caso do Estado de São Paulo.
Há, ainda, outras causas de acidez progressiva, como o cultivo intensivo com
retirada, sem reposição de nutrientes essenciais, a erosão que remove as
camadas superficiais que contêm maiores teores de bases e a adubação com
compostos de amônio (sulfato e nitrato).
A acidez do solo atua sobre a produção primária de várias formas. Sobre os
solos com pH inferior a 5,5, ela favorece a solubilização do alumínio, do man-
ganês e do ferro, em detrimento do fósforo, que precipita, ficando reduzida a
disponibilidade desse nutriente essencial para as plantas. Além disso, a acidez
reduz a atividade de bactérias decompositoras da matéria orgânica, diminuindo
a quantidade do nitrogênio, fósforo e enxofre contidos no solo. A deficiência
desses nutrientes essenciais prejudica o desenvolvimento das plantas e pode
aumentar sua sensibilidade à toxidez do alumínio e do manganês. Por fim, o
pH baixo pode afetar a atividade microbiana de decomposição e produção de
húmus ao reduzir a ação desse último na estruturação dos solos. Os valores de
pH mais elevados (acima de 6,5) reduzem a disponibilidade de vários nutrientes
(Zn, Cu, Fe, Mn, B), podendo provocar sua deficiência nas plantas.
De um modo geral, a faixa de pH em que ocorre maior disponibilidade de
nutrientes situa-se entre 6,0 e 6,5. A título de ilustração, levantamento feito no
Estado de São Paulo indica a seguinte distribuição de pH em áreas cultivadas:
4,8% com pH menor do que 5; 42,5% entre 5,0 e 5,5; 40% entre 5,5 e 6,0;
e os restantes, cerca de 13%, com pH acima de 6,0. Esses números mostram
por que é comum, entre nós, a prática da calagem (adição de calcário para
elevar o pH a um valor adequado).

 
Dentre as muitas classificações existentes para os solos, destacam-se aqui
duas com base, respectivamente, na granulometria e na pedologia (origem
e evolução).
42 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE


A classificação granulométrica mais conhecida e internacionalmente aceita
estabelece as frações para os componentes minerais dos solos, conforme
mostra a Tabela 9.1.

Tabela 9.1 Classificação granulométrica


Fração Diâmetro (mm)
Pedra Maior que 20
Cascalho Entre 20 e 2
Areia Entre 2 e 0,02
Silte (ou limo) Entre 0,02 e 0,002

Raramente um solo ou um horizonte é constituído de uma só das frações


anteriormente definidas, mas sim de uma combinação com diferentes pro-
porções. Para facilitar a identificação de solos com propriedades próximas,
é possível utilizar diagramas triangulares, como mostramos na Figura 9.4.
Definida a granulometria de um solo, ele pode ser classificado com base
na Figura 9.4 em argiloso, quando possui mais do que 35% de argila; are-
noso, quando possui mais do que 65% de areia e menos do que 15% de
argila, siltoso (ou limoso), quando possui mais do que 60% de silte (limo) e
menos do que 20% de argila; e barrento, quando não estiver enquadrado em
nenhum dos anteriores, tendo, portanto, uma composição mais equilibrada.

Figura 9.4 Diagrama triangular simplificado para determinação


da classe granulométrica do solo (Lepsch, 1977)
Fundamentos da ecologia 43

Na linguagem técnica corrente, é comum encontrarmos as referências ‘so-


los finos ou pesados’ para indicar solos argilosos; ‘solos grosseiros’ para solos
arenosos; e ‘solos médios’ para os solos barrentos. Nas práticas de campo,
esses solos, quando úmidos, podem ser reconhecidos pelo tato: são arenosos
quando ásperos e pouco pegajosos; são argilosos quando a impressão é de
suavidade e pegajosidade; são siltosos quando se apresentam sedosos.

Conforme você pôde verificar existem vários fatores que influenciam na


formação do solo. Dependendo do tipo de rocha matriz, isto é, as rochas que
os originam, os solos podem ser classificados em diferentes tipos o que permite
suas diferenças ecológicas.
Vamos continuar a estudar os fatores abióticos que compõem os ecossiste-
mas. Um fator importante para a manutenção da vida é a temperatura. Sabe-
mos que a temperatura é fundamental para o metabolismo dos seres vivos. Isso
ocorre, por exemplo, com a atividade das enzimas. O limite para a atividade da
ação das enzimas é variável nos seres vivos. Em geral a atividade das enzimas
limita-se a 40ºC. Acima desse valor, em geral, ocorrem alterações na estrutura
química das enzimas, ocorrendo o que se chama de desnaturação enzimática.

Para saber mais


Alguns animais para viverem em regiões muito frias fazem hibernação. No estado de hibernação
a temperatura do corpo desses animais diminui drasticamente em até 2ºC. Com isso baixa a
frequência cardíaca e respiratória. Em função dessas mudanças fisiológicas, o animal entra em
um estado letárgico, o que permite a ele sobreviver extraindo energia de suas próprias reservas
alimentares. A hibernação favorece esses animais, porque durante o inverno, para manter a
temperatura do corpo eles gastariam muita energia, sendo assim, quando hibernam o gasto
energético é menor, favorecendo a sobrevivência.
Alguns exemplos de animais que hibernam durante o inverno são marmotas e esquilos. Os ursos
não são considerados hibernantes verdadeiros porque a temperatura do corpo desses animais
não se mantém baixa e por isso, a taxa metabólica se mantém alta.

Em geral, a vida se desenvolve em temperaturas que variam entre 0ºC a


50ºC, mas algumas bactérias conseguem se desenvolver em temperaturas de
até 90ºC.
44 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

A água é a substância que existe em maior quantidade no corpo dos seres


vivos. A água é fundamental para a ocorrência de algumas reações químicas
nos seres vivos. A água é também um veiculo de transporte de nutrientes. Outro
aspecto importante é que a evaporação da água na superfície do corpo dos
seres vivos homeotérmicos auxilia a manter constante a temperatura.
Vamos passar agora a outros conceitos importantes relativos à Ecologia.
Ecossistema: é o conjunto de interações estabelecidas entre o ambiente físico
(componentes abióticos) e a comunidade (componentes bióticos). Dentre os
seres bióticos, o ecossistema deve apresentar três níveis básicos: os produtores,
os consumidores e os decompositores.
Essa interação entre seres bióticos e abióticos forma um sistema estável. Os
princípios que definem um ecossistema aplicam-se para ambientes diversos
desde um pequeno lago, até uma grande floresta.
De acordo com Amabis e Martho (2004), 0 termo ecossistema foi utilizado
pela primeira vez em 1935 pelo ecólogo inglês Arthur George Tansley.
São exemplos de ecossistema: um lago, um aquário, uma floresta, um jardim
etc. Os ecossistemas podem ser aquáticos e terrestres. Nas unidades seguintes será
os ecossistemas serão abordados com mais detalhes. Para manutenção em equilí-
brio dos ecossistemas, é importante conhecer o conceito de recursos. Veja abaixo.

 
De acordo com Miller Jr. (2006), recurso é qualquer coisa obtida do meio
ambiente para atender as necessidades e desejos. São considerados recursos:
alimentos, água, produtos manufaturados, dentre outros.
Os recursos podem ser classificados em renováveis e não renováveis. Os
renováveis, segundo o autor, estão diretamente disponíveis para uso. São exem-
plos a energia solar, solo, água doce de superfície, plantas.
Alguns recursos como o petróleo, ferro, água subterrânea, tornam-se dis-
poníveis somente após passarem por determinados processos tecnológicos. O
petróleo, por exemplo, após passar por alguns processos nas refinarias converte-
-se em gasolina, óleo diesel e demais derivados.
Os combustíveis fósseis como petróleo e carvão, os minérios, a areia, são
recursos naturais não renováveis.
Há também uma outra classificação para os recursos: perenes e renováveis.
Os recursos perenes são renovados continuamente. São exemplos: a energia
solar, formas indiretas de energia como o vento e a água corrente.
Fundamentos da ecologia 45

Os recursos renováveis podem ser repostos em um período que pode variar


de meses até alguns anos. São exemplos: florestas, campos, solo, ar limpo. Os
recursos renováveis podem ser degradados. Denomina-se produção sustentável
a taxa mais elevada em que u recurso renovável pode ser utilizado sem reduzir
seu suprimento disponível (MILLER JR., 2006).
Biosfera: é toda a área do planeta habitada por seres vivos, sendo, portanto,
o conjunto de todos os ecossistemas. A biosfera estende-se desde as profundezas
dos oceanos até o topo mais alto das montanhas onde possam ser encontrados
seres vivos.
Hábitat: o hábitat de um organismo, população ou comunidade é caracte-
rizado por suas propriedades físicas e bióticas. É o local onde determinado ser
vivo pode ser encontrado. Ex.: na lagoa o hábitat de uma determinada espécie
de alga pode ser a superfície da água; para uma determinada espécie de peixe
o hábitat é a região próxima à margem. Uma bactéria decompositora pode ter
como hábitat a lama do fundo da lagoa (SILVA JR.; SASSON, 2006).
Nicho ecológico: são as relações e atividades características da espécie
no seu hábitat, desde os tipos de alimentos consumidos, tipos de moradia,
condições de reprodução, seus predadores naturais, estratégias de sobrevi-
vência etc.
Espécies diferentes podem ocupar o mesmo hábitat, mas terem nichos ecoló-
gicos diferentes. Ex.: as algas (fitoplâncton) e os microcrustáceos (zooplâncton),
que vivem num lago e possuem nichos diferentes. As algas são produtoras (pro-
duzem a fotossíntese), e os microcrustáceos são consumidores. Alguns insetos
têm o mesmo hábitat, mas nichos ecológicos diferentes.
No entanto, duas espécies podem ter o mesmo nicho ecológico, mas não
por muito tempo, pois elas competem entre si em todos os níveis, como, por
exemplo, a alimentação. Isso leva à competição entre ambas, fazendo com
que uma delas desapareça. Para você entender como ocorre essa disputa em
um nicho ecológico leia abaixo sobre o principio de Gause.

Biomas
Um importante conceito em Ecologia é bioma. Entende-se por bioma um
conjunto de ecossistemas com vegetação e clima característicos. Tanto a
vegetação como o clima depende das diferentes latitudes. Os grandes bio-
mas da Terra são: taiga, tundra, floresta temperada, floresta tropical, savanas,
46 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

pradarias, desertos. Alguns biomas brasilei-


Para saber mais ros são: floresta amazônica, mata atlântica,
Duas espécies de animais ou plan- cerrado, caatinga, mata de cocais, pantanal,
tas não podem ocupar por muito pampa. Nos biomas a biodiversidade é muito
tempo o mesmo nicho ecológico. rica e variada. Nas unidades seguintes você
Quando isso ocorre, as duas espé- vai estudar com mais detalhes os biomas e os
cies competem em todos os níveis animais e vegetais característicos de cada um.
levando uma delas a desapare- Agora para finalizar esta seção você vai
cer. Essa ideia foi formulada pelo conhecer uma hipótese que envolve alguns
biólogo russo chamado Georgyi conceitos aqui apresentados como biosfera.
Gause e ficou conhecida como É a hipótese Gaia. Leia abaixo.
principio de Gause. Um exemplo
de competição interspecífica pode
ser o tico-tico e o pardal. Os dois 
pássaros têm hábitos alimenta-
res semelhantes, utilizam locais Essa hipótese foi elaborada por um cien-
similares para fazer ninho e são tista inglês, chamado James Lovelock em
tolerantes a diversas condições 1970. Segundo essa hipótese, a Terra se com-
físicas e químicas (AVANCINI; FA- porta como um só organismo vivo. De acordo
VORETTO, 1997). com Lovelock, esse superorganismo tem a
capacidade de regular seu clima e sua tempe-
ratura, de eliminar seus detritos e de combater suas próprias doenças. A biosfera
conseguiria, assim, autorregular-se e manter-se saudável por meio do controle
do ambiente físico e químico.
Nessa visão, a Terra seria um superecossistema, com muitos mecanismos
de regulação e homeostase, sendo que os microrganismos teriam um papel
importante, que moderaria as temperaturas extremas e manteria constante a
composição da atmosfera e dos oceanos.
Homeostase é a manutenção do equilíbrio ou estabilidade geral de um sis-
tema quando sofre modificações causadas por fatores externos. Esse equilíbrio
não é sempre o mesmo, ela pode alterar-se muitas vezes ao longo do ano ou de
muitos anos. Por isso, são necessárias adaptações dos seres vivos, ajustando-se
a novas situações.
A vida, logo depois de ter surgido, mais de 3 bilhões de anos atrás, teria em
seguida começado a controlar as condições do planeta. Um dos argumentos
favoráveis à hipótese Gaia diz respeito à composição da atmosfera, hoje, pois
parece depender principalmente dos seres vivos. De acordo com Branco (1997),
Fundamentos da ecologia 47

é interessante abordar didaticamente o planeta como uma unidade integrada,


isto é, um sistema integrado, ao invés de entendê-lo como entidades dispersas:
geológicas, geográficas, atmosféricas, hidrológicas e biológicas.
No entanto, a maioria dos ecólogos não aceita a hipótese Gaia, pois de-
fendem que existem vários argumentos contrários, como, por exemplo, os
eventos geológicos, erupções vulcânicas, glaciações. Esses fenômenos causa-
ram profundas modificações na Terra, não estando, em acordo com a ideia de
homeostase realizada pelos seres vivos.
<fim seção 3>
48 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Seção 4  
 

Agora que você já estudou aspectos relevantes da Ecologia, para finalizar
o estudo deste capitulo, apresentaremos algumas das condições necessárias
para a sobrevivência em nosso planeta. Esperamos que você tenha percebido
e se conscientizado sobre a necessidade de mantermos as situações naturais
do planeta em equilíbrio para a manutenção da vida. Além disso, você precisa
compreender porque a Terra reúne essas condições favoráveis.
São muitos os fatores que determinam a presença de vida no planeta em que
vivemos, no entanto, existem três que são essenciais de acordo com Miller Jr.
(2006). São elas: o fluxo unidirecional de energia, ciclo da matéria e a gravidade.
Vamos começar pelo fluxo unidirecional da energia. O sol é fonte de energia
para os seres produtores. Sem o sol não existiria vida na Terra. A energia lumi-
nosa captada pelas plantas e pelas algas é utilizada na realização da fotossíntese
e produção de substâncias orgânicas. Ao comerem os seres fotossintetizantes,
os consumidores adquirem a energia contida nas moléculas dessas substâncias
orgâncias. Essa energia é utilizada para realização de processos vitais.
Cada componente da cadeia, em suas atividades, consome energia ad-
quirida dos alimentos. Desse modo, cada consumidor transfere para o nível
trófico seguinte, apenas parte da energia recebida. Por isso, a energia tem um
fluxo decrescente ao longo da cadeia alimentar. A outra parte dessa energia é
transformada em calor e liberada para o ambiente.
Além do fluxo de energia ser decrescente ao logo da cadeia, ele também é
unidirecional, isto é, tem início com a captação da energia luminosa e termina
com a ação dos decompositores.
Na cadeia alimentar, a quantidade de energia presente em um nível trófico é
sempre maior que a energia transferida para o nível seguinte. Isso ocorre porque
todos os seres vivos consomem parte da energia do alimento para a manutenção
de sua própria vida e não transferem essa parcela para o nível trófico seguinte
(AMABIS, MARTHO, 2004). A energia tem um fluxo acíclico no ecossistema,
porque penetra no mundo vivo na forma de luz e dele sai na forma de calor,
não sendo mais reaproveitada na cadeia (PAULINO, 2006).
Para você entender melhor os tipos de energia que foram apresentados na
seção 3, veja este exemplo de como a energia pode ser transformada.
Fundamentos da ecologia 49

Atualmente muitos estudos têm sido realizados para a utilização de fontes


alternativas de energia. Vou comentar um pouco sobre as transformações da
energia para gerar energia elétrica. Vou utilizar o exemplo do ciclo da água.
A energia do sol aquece as águas dos rios e mares. A água, então, evapora
e vai para a atmosfera no estado gasoso. Quando ganha altura adquire energia
potencial. O vapor ao entrar em contato com temperaturas mais frias da tro-
posfera, que é a primeira camada da atmosfera, condensa-se e cai no estado
líquido. Nessa queda a energia potencial transforma-se em energia cinética,
que é a energia do movimento. Quando está em forma líquida nos rios e mares,
a água acumula energia potencial novamente. Para gerar energia nas usinas
hidrelétricas, essa água com energia cinética é convertida pelos geradores em
energia elétrica.
O ciclo da matéria. O conceito de matéria já foi apresentado na seção 3.
A matéria é formada por átomos e moléculas. Você lembra também como foi
comentado no conceito sobre matéria, que na natureza nada se perde, tudo
se transforma, por isso, a matéria não é perdida, mas sempre reciclada. Os
microrganismos são fundamentais para fazer essa reciclagem, transformando a
matéria orgânica em matéria inorgânica. Por isso, há sempre manutenção dos
nutrientes que as plantas devem aproveitar e depois repassar aos consumidores
pela cadeia alimentar. Nas unidades seguintes você estudará com mais detalhes
e perceberá as diferenças que existem no fluxo da matéria e da energia nos
ecossistemas.
A matéria penetra no mundo vivo por meio dos produtores, na forma de
substâncias como o CO2, água e sais minerais. Depois de processada é incor-
porada à matéria viva, decomposta e transformada novamente em substâncias
inorgânicas. Desse modo a matéria pode ser reutilizada pelo seres vivos, dife-
rente do que ocorre com a energia.
Por ser constantemente reciclada, as substâncias químicas circulam pela
natureza envolvendo componentes biológicos e geológicos. A matéria pode
passar por seres bióticos e seres abióticos no ecossistema.
A gravidade permite que a Terra retenha sua atmosfera. Isso é necessário para
que exista um constante movimento entre os elementos químicos que existem
no ar, como hidrogênio, carbono que se encontra na forma de dióxido de car-
bono, oxigênio, nitrogênio com a água, o solo e os organismos. Além disso, a
atmosfera ajuda manter a temperatura em nosso planeta. A presença do dióxido
de carbono, que conhecemos por gás carbônico, ajuda a manter o calor na Terra.
50 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

O que está ocorrendo hoje é um aumento exagerado do dióxido de carbono.


Isso faz com que aumente muito o efeito estufa. Em planetas sem atmosfera,
como Mercúrio, a temperatura é muito alta durante o dia e muito baixa durante
a noite. Isso ocorre porque sem atmosfera não há manutenção do calor.
Além desses três fatores citados, existem outros igualmente importantes.
A presença de água no estado líquido é fundamental. Todos os seres vivos
possuem água em sua constituição. A água tem funções importantes para os
seres vivos, como:
Transporta substâncias indispensáveis para vida;
Compõe os líquidos orgânicos;
Ajuda a regular a temperatura do corpo;
Participa das reações químicas que ocorrem nos organismos vivos;
Ajuda a eliminar impurezas;
Participa nos processos fisiológicos de digestão e absorção de nutrientes.
Outro fator importante é a distância do sol em relação a Terra. Essa distância
em que a Terra se encontra permite que exista no planeta a temperatura neces-
sária para a manutenção da vida. A luz do sol que chega na Terra atravessa toda
a biosfera, evapora e ajuda a produzir o ciclo da água. A presença do ciclo da
água, assim como dos ciclos biogeoquímicos é também condição necessária
à presença de vida.
Nem toda a energia do sol chega à superfície da Terra; parte dessa energia
solar é refletida de volta para o espaço. A parte que atravessa a atmosfera e
chega à Terra é irradiada e forma o que chamamos de radiação infravermelha.
Essa radiação encontra alguns gases na atmosfera como o metano, gás carbô-
nico, óxido nitroso e aumenta o Efeito Estufa.
<fim seção 4>

Para concluir o estudo da unidade


Conforme você pôde perceber no estudo desta unidade, o homem
observa a natureza e procura entender seus fenômenos desde a antigui-
dade. Assim como toda ciência, a Ecologia também tem uma trajetória
histórica, pela qual é possivel perceber através dos estudos, que as di-
ferentes concepções de natureza, ou ainda a relação do homem com a
Fundamentos da ecologia 51

natureza recebeu influências de cada época, principalmente devido ao


pensamento filosófico dominante. A visão atual de sistemas permitiu o
entendimento da natureza de modo integrado proporcionando a compre-
ensão dos fenômenos naturais e a abordagem dos problemas ambientais
no que se denomina de visão holística. Para entender essa integração é
preciso conhecer seus componentes básicos e suas relações entre si. Por
isso, é fundamental o entendimento de conceitos fundamentais dessa
ciência que foram aqui apresentados.
Alguns dos conceitos aqui apresentados, serão desenvolvidos na
próximas unidades com mais detalhes como cadeia alimentar e o pa-
pel de cada nível trófico, a transferência de energia nos ecossistemas
iniciando-se pela fotossíntese, as relações entre os seres vivos, e outros
assuntos como a sucessão ecológica e a Ecologia urbana, dentre outros.
Além de conhecer alguns conceitos de Ecologia para a compreensão da
dinâmica que ocorre nos ecossistemas é importante que você também
saiba que a Terra reúne várias condições para a existência de vida, como
foi apresentado na última seção.

Resumo
Nesta unidade foram apresentados os fundamentos da Ecologia,
para que você possa compreender os assuntos das próximas unidades.
Aqui foram discutidos inicialmente o conceito de Ecologia, bem como
a origem desse termo; as áreas de estudo da Ecologia; o histórico dessa
ciência, além da concepção de natureza e sua relação com o homem
em alguns períodos da historia, iniciando pela visão mecanicista de
Galileu e Descartes até a visão sistêmica e holística da atualidade. Essas
diferentes visões filosóficas tiveram impactos significativos na natureza.
Assim como toda área de conhecimento a Ecologia também tem seus
conceitos básicos, os quais foram apresentados nesta unidade de estudo.
52 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Atividades de aprendizagem
1. Atualmente os problemas relativos ao meio ambiente devem ser tra-
tados de modo integrado a outras áreas do conhecimento dentro de
uma visão holística. Quais as contribuições dessa visão integrada para
abordagem dos problemas ambientais?
2. Conforme foi apresentado no item sobre o histórico da Ecologia, o pa-
radigma mecanicista, baseado na ideia de Descartes, resultou na visão
cartesiana do conhecimento. Quais as implicações do pensamento
mecanicista para a relação entre homem e natureza?
3. Após acessar o link indicado para a leitura do artigo “Ecologia humana:
um enfoque das relações homem ambiente”, indique e comente as
áreas de estudo da Ecologia apresentadas pelo autor.
4. Um dos fundamentos da hipótese Gaia é o conceito de Homeostase.
Qual a importância da homeostase para a manutenção do equilíbrio
na natureza?
5. A Terra reúne algumas condições necessárias para a manutenção da
vida. Quais são esses fatores? Quais as implicações que podem existir
para a presença de vida na ausência de cada um deles?
Unidade 2
Matéria e energia
nos ecossistemas

Objetivos de aprendizagem: esta unidade tem como objetivo


apresentar de maneira clara e objetiva as diferenças entre o fluxo
da matéria e energia nos ecossistemas. O fluxo de matéria ocorre
pela reciclagem, sendo, assim, cíclica; já a energia é considerada
acíclica, porque ocorre através da penetração de luz que se trans-
forma em energia e é liberada através de calor. Outro objetivo é a
compreensão do ciclo biogeoquímico.

Seção 1: Conhecendo os caminhos da energia e


suas formas de utilização pelas especies
Nesta seção iremos conhecer as formas de obtenção
de energia e seu processo produtivo, desde sua absor-
ção e transformação a partir da energia solar.

Seção 2: Conhecendo o mecanismo da cadeia


alimentar
Nesta seção você irá conhecer de que forma a energia
absorvida como relatamos na seção anterior será dis-
tribuída nos níveis tróficos ou níveis de alimentação,
bem como outros componentes importantes na cadeia
alimentar.
54 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE


Nesta unidade você irá aprender os fatores de integração entre produção e
a transferência pelos consumidores, bem como a decomposição, que resulta
num dos mais admiráveis fenômenos da natureza: a reciclagem da matéria.
Com as ideias que serão expostas na unidade e com o estudo detalhado
das figuras, você certamente terá formado uma boa visão sobre como os seres
vivos se integram com o meio abiótico, garantindo a renovação (reciclagem)
dos recursos de que necessitam. Os processos ecológicos normais, em geral,
são suficientes para reciclar os materiais essenciais aos seres vivos; assim, não
precisaríamos nos preocupar com esses materiais. Mas, e os outros recursos
que passaram a ser importantes para nós? Eles são naturalmente reciclados?
Se forem, quanto tempo isso leva para ocorrer? Veremos no decorrer desta
unidade.

Seção 1   



Nesta seção iremos conhecer as formas de obtenção de energia e seu pro-
cesso produtivo, desde sua absorção e transformação a partir da emergia solar.


O sol é fonte de luz e energia para todos os seres vivos; sua radiação está
ligada diretamente com a vida do planeta Terra.
Podemos definir a energia como a capacidade de realizar trabalhos e ativi-
dades. Com isso, todos os seres vivos necessitam da energia para a realização
de atividades e da matéria para construção.
A energia atinge a superficie terrestre em forma de luz e sai como forma
de radiação térmica.
A energia está descrita nas seguintes leis: a primeira lei da termodinâmica,
ou, lei da conservação da energia, que diz que a energia pode se transfor-
mar em outro tipo de energia, porém, não pode ser criada ou destruída; a
segunda lei da termodinâmica, ou, lei da entropia, está descrita de diversas
Matéria e energia nos ecossistemas 55

formas, sendo estas: a energia sempre irá se dispersar em forma de energia


térmica não disponível, a transformação da energia espôntanea em energia
potencial não é considerada 100% eficiente, ou seja, a energia flui entre
os níveis tróficos e apenas algumas partes da energia são absorvidas; veja a
figura abaixo.
Absorção e transformação da energia pelos vegetais
Ilustração das leis da termodinâmica (Figura 2.1): conversão da energia
solar para energia alimentar através da fotossíntese. A é igual a B + C, repre-
sentando a primeira lei; (A) representa a energia luminosa gerada pelo sol
sobre uma planta (energia diluída); (B) o calor liberado pela planta (energia
diluída); e (C) glicose forma concentrada de energia convertida, que repre-
senta a segunda lei.

(B)
(B)Calor
Calor SOL
SOL

(A)Energia
(A) Energia luminosa
Luminosa

(C)
(C)Glicose
Glicose

Figura 2.1 Leis da termodinâmica: conversão da energia solar para energia


alimentar através da fotossíntese

A energia luminosa é captada através das plantas e algas, é atráves dela que
ocorre a fotossíntese e a produção de matéria orgânica.
A transferência dos níveis de energia e matéria, a partir da energia repre-
sentada pelo produtor, e do consumo dos organismos consumidores primários
e secundários é denominada cadeia alimentar ou cadeia trófica.
A energia é considerada no ecossistema como um fluido acíclico, devido
ao fato de penetrar no planeta Terra em forma de luz e sair em forma de calor,
não sendo mais utilizada na cadeia.
As plantas, atráves da fotossíntese, utilizam 15% da matéria orgânica no
processo de respiração, gerando energia. Já os herbívoros, após consumir
56 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

seus alimentos, armazenam apenas 85% da energia inicial produzida pela


fotossíntese. E o carnívoro absorve aproximadamente 50% da energia do seu
alimento. Com isso podemos observar como a energia diminui em cada nível
trófico (Figura 2.2).

Figura 2.2 Níveis tróficos

 
A fotossíntese é fundamental para a manutenção e equilíbrio biológico, é
através da matéria orgânica sintetizada pelo fenômeno fotobiológico que ocorre
a nutrição de forma direta e indireta dos organismos.
A fotossíntese também é responsável pelo consumo de gás carbônico, água
e energia luminosa e pela produção de gás oxigênio e glicose, ao contrário
da respiração aeróbica, que consome o gás oxigênio e libera o gás carbônico.
Sendo assim, podemos considerar que a fotossíntese é responsável pelo equi-
líbrio das taxas desse gases em nosso planeta.
Na natureza encontramos diversos fatos curiosos, como, por exemplo,
nos vegetais, que funcionam como verdadeiros “laboratórios ao ar livre” sin-
tetizando e transformando a energia de que precisam para se manter, como
veremos a seguir algumas considerações importantes sobre esse fenomeno tão
importante, a fotossíntese.
Matéria e energia nos ecossistemas 57

Aprofundando o conhecimento
Para saber um pouco mais sobre o inicio desse processo de absorção
e transformação de energia leia o texto a seguir sobre cadeia alimentar,
extraído de Braga et al. (2005, p. 14-16).


 
Podemos definir cadeia alimentar como o caminho seguido pela energia
no ecossistema, desde os vegetais fotossintetizantes até diversos organismos
que deles se alimentam e servem de alimento para outros. As cadeias ali-
mentares podem ser divididas em dois tipos: as que começam pelos vegetais
vivos e passam pelos herbívoros e carnívoros e as que se iniciam pelos detritos
vegetais e animais e passam pelos detritívoros (Figura 3.4).
Nas cadeias que se iniciam pelos vegetais, definimos como produtores
aqueles capazes de sintetizar matéria orgânica. Os herbívoros, que se ali-
mentam dos produtores, são os consumidores primários; os carnívoros, que
se alimentam dos herbívoros, são os consumidores secundários, e assim por
diante. Teremos, então, os consumidores terciários, que se alimentam dos
secundários; os consumidores quaternários etc., até os decompositores.
Podemos ainda dividir esse grupo em cadeias de predadores e de parasitas.
Para as cadeias que se iniciam pela matéria orgânica morta, os consumidores
primários são denominados detritívoros e podem ser os invertebrados de
pequeno tamanho ou as bactérias e os fungos.

Figura 3.4 Cadeia alimentar e fluxo energético


58 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Seguindo os preceitos das leis básicas da termodinâmica, à medida que


se avança na cadeia alimentar, há uma redução na qualidade de energia dis-
ponível aos próximos organismos da cadeia. Isso explica por que as cadeias
alimentares não apresentam sequência muito longa, raramente passando dos
consumidores de quinta ordem. Esse fenômeno e suas consequências serão
estudados adiante, quando trataremos da produtividade.
As cadeias alimentares não podem ser vistas como sequências isoladas,
mas sim fortemente interligadas, formando as redes ou teias alimentares.
Isso porque um determinado produtor pode ser consumido por vários tipos
de herbívoros que, por sua vez, podem ser presa de outros tantos carnívoros
diferentes. Nesse ponto, torna-se importante a definição de nível trófico,
que é a posição ocupada por todos os organismos que estão em um mesmo
patamar da cadeia. Isto é, os produtores ocupam o primeiro nível trófico,
os consumidores primários, o segundo nível trófico e assim sucessivamente.
Entretanto, esse conceito não é absoluto, pois os indivíduos podem ocupar
mais de um nível trófico em uma rede alimentar, conforme a origem do seu
alimento, podendo um mesmo organismo alimentar-se tanto de vegetais como
de outros animais. Assim, eles ocupam o segundo nível trófico no primeiro
caso e o terceiro ou quarto no segundo caso.
É muito importante conhecer o mecanismo e as sequências das cadeias
alimentares, uma vez que fazemos parte de uma rede alimentar na qual
ocupamos diversos níveis tróficos. Diante disso, e uma vez que a energia útil
decresce ao longo da cadeia alimentar, quanto mais se afasta do primeiro
nível trófico, mais limitado e menor será o número de consumidores que po-
dem ser sustentados por um dado número de produtores. Isso implica uma
maior eficiência na cadeia produtor-homem do que na cadeia produtor-boi-
-homem. Por essa razão, uma dieta vegetariana balanceada é uma prática de
preservação do meio ambiente, pois permite alimentar um maior contingente
populacional.
Além disso, o conhecimento das cadeias alimentares permitirá aos seres
humanos agir sobre elas em seu benefício, de forma ordenada. Isso possibi-
litaria, por exemplo, o aumento da produtividade agrícola, com um combate
mais eficiente às pragas por meio da incorporação à cadeia alimentar de
predadores naturais, o que evitaria o risco de se gerar uma praga pior pela
eliminação de seu predador natural. No Capítulo 9, item 9.6, apresentamos
esse conceito aplicado ao chamado manejo integrado de pragas, no qual
o uso de defensivos agrícolas é minimizado pela utilização simultânea de
predadores naturais.
Matéria e energia nos ecossistemas 59

Contiuamos nosso entendimento sobre os caminhos da energia.


A fotossíntese
Fotossíntese é um processo pelo qual as plantas verdes transformam energia
radiante ou eletromágnética em energia química (FERRI, 1985). O processo visa
basicamente fornecer energia (ATP) e poder redutor (NADPH) para que a planta
possa sintetizar carboidratos a partir do dióxido de carbono (CO2). Ao realizar
a fotossíntese, a maioria dos organismos libera um importante subproduto na
atmosfera, o oxigênio (O2).
Radiação utilizada na fotossíntese
A luz visível corresponde a uma diminuta faixa do espectro das radiações
eletromagnéticas emitidas pelo sol: 380 nm (azul) a 750 nm (vermelho). Os
seres vivos provavelmente se especializaram em utilizar essa banda espectral
devido às seguintes razões:
a) a maior quantidade de radiação que atinge a Terra encontra-se dentro
dessa faixa;
b) radiações de comprimento de onda menor do que 380 nm (ultravioleta)
são muito energéticas e destroem a maioria das ligações químicas im-
portantes em substâncias orgânicas, tais como as pontes de hidrogênio;
c) radiações de comprimento de onda superior a 750 nm (infravermelho)
provocam um aumento excessivo de sua energia cinética, ao calor.
Organismos fotossintetizantes
As plantas verdes não são os únicos organismos capacitados a realizar
fotossíntese. Organismos procariontes e eucariontes unicelulares e coloniais
são também capazes de fixar carbono pela via fotossintética. Várias algas, tais
como as diatomáceas (Chrysophyta), algas verdes (Chlrophyta), algas marrons
(Chryptophyta), euglenas (Euglenophyta), podem realizar a fotossíntese. Mais
da metade da produção anual global de carbono da biosfera terrestre deve-se
a tais microrganismos fotossintetizantes. Além disto, outros microganismos
procariontes, como as cianobactérias e várias famílias de bactérias (as bactérias
sulfurosas purpúreas), podem também realizar a fotossíntese.
Pigmentos fotossintetizantes
Pigmento é qualquer substância que absorve a luz. Pigmentos diferentes
absorvem a energia luminosa em diferentes comprimentos de onda. Os princi-
pais pigmentos da fotossíntese são as clorofilas, que desempenham um papel
fundamental no processo, sendo, por isso mesmo, indispensáveis. As clorofilas
a e b possuem dois máximos de absorção: um na região do azul violeta (430
nm) e outro na região do vermelho (664-665 nm).
60 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Bioquímica da fotossíntese
O objetivo da fotossíntese é a redução do carbono encontrado no CO2. A
reação geral da fotossíntese pode ser descrita da seguinte maneira:
(n) CO2 + (n) H2O + PAR A (n) CH2O + (n) O2 + A G
onde: b G = energia ganha no processo; PAR = radiação ativa em termos
de fotossíntese [photosynthetic active radiation].
Fase clara (hidrólise da água)
Nessa fase, a energia luminosa absorvida pelos pigmentos é transferida para
outros compostos por meio de um complexo sistema de transporte de elétrons,
no qual o doador de elétrons torna-se oxidado e o receptor, reduzido. Tudo
começa quando a energia transferida dos pigmentos à cadeia de transporte de
elétrons chega a uma molécula de água, causando a sua hidrólise:
2H2O + 2e- A 2O2 + 4e- + 4H+
A hidrólise da água confere o poder redutor ao processo da fotossíntese.
Nessa reação, há produção de oxigênio molecular livre e quatro elétrons são
transferidos para o NADP, formando, assim, NADPH+. O receptor final desses
prótons (agente oxidante principal da fotossíntese) será o CO2. [...]
Fase escura (carboxilização)
Nessa fase, não é necessária a presença de luz e por isso ela é também cha-
mada de fase escura da fotossíntese. No ciclo de Calvin, uma molécula de CO2 é
incorporada a uma pentose com dois átomos de fósforo (açúcar de 5 átomos de
carbono), a ribulose-1-5-difosfato, ou simplesmente RuDP. Uma enzima funda-
mental nesse processo, a RuDP-carboxilase. Essa pentose fragmenta-se ao ligar-
-se com o CO2, formando duas moléculas de 3-fosfoglicerato, ou simplesmente
PGA (3 átomos de carbono), razão pela qual essa via é também conhecida como
a via C3. A reação geral desse processo pode ser descrita da seguinte maneira:
6 CO2 + 18 ATP + 12 NADPH A P hexose + 18 ADP + 17 Pi + 12 NADP
A fim de que se produza uma molécula de hexose (seis átomos de carbono)
são necessárias seis moléculas de CO2.
Com os conhecimentos a você apresenta-
dos do fantástico mecanismo da fotossíntese,
Saiba mais podemos evidenciar a forma como as plantas
Níveis tróficos, representa o con- absorvem a luz do sol e começam um rápido
junto biótico de um mesmo ecossis- e delicado processo de transformações, que
tema. Pode ser conhecido também resultará de uma energia elaborada, para que
como nível alimentar. o vegetal possa se manter vivo com todas as
suas atividades vitais.
Matéria e energia nos ecossistemas 61

Seção 2  


Nesta seção você irá conhecer de que forma a energia absorvida como
relatamos na seção anterior será distribuída nos níveis tróficos ou níveis de
alimentação, bem como outros componentes importantes na cadeia alimentar.

 
As cadeias alimentares ou cadeias tróficas são a relação entre o alimento
e o consumidor; em todo o ecossistema ocorrem vários modelos de cadeias
alimentares. Podem ser cadeias de produtores, cadeias de parasitas e cadeias
de detritívoros.
Através da cadeia alimentar ocorre a transferência de energia que é adqui-
rida por meio da alimentação, essa energia se perde a cada nível trófico em
forma de calor.
Sendo assim, podemos dizer que quanto mais curta ou mais próxima do
indivíduo que iniciou a cadeia, mais energia será adquirida pelo indíviduo
consumidor.
As plantas verdes pertencem ao nível dos produtores ou seja, ocupam a
base do nível trófico; os herbívoros, por vez, se alimentam das plantas verdes,
ficando assim no nível dos consumidores primários, e em seguida os carnívoros
que se alimentam dos herbívoros. Como os carnívoros se alimentam tanto de
animais herbívoros como carnívoros, eles podem ocupar o nível de consumi-
dores secundários e/ou terciários.

 
Uma cadeia alimentar ou estrutura trófica aparentemente simples pode ser
muito complexa. Para que possa ser representada de maneira mais clara são
utilizada as pirâmides ecológicas.
As pirâmides ecológicas podem ser ilustradas em três tipos: pirâmide de
números, pirâmide de biomassa e a pirâmide de enérgia. As pirâmides de nú-
meros e biomassa podem ser invertidas, ou seja, normalmente uma pirâmide
apresenta a base maior, nesse caso a pirâmide pode apresentar uma base menor
que algumas camadas. Vejamos a descrição de cada tipo das pirâmides.
Pirâmide de números: representa o número de individuos, sendo levada em
conta apenas a densidade (densidade = massa/volume); nesse caso, a massa
estará representando o número de indivíduos e o volume a área ou volume.
62 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Pirâmide de biomassa: indica a biomassa, ou seja, o peso seco, valores


calóricos e a quantidade total de material vivo. Nesse tipo de pirâmide não se
considera as taxas de renovação e acúmulo de biomassa.
Pirâmide de energia: apresenta o fluxo de energia nos níveis tróficos de uma
comunidade. Com esse tipo de pirâmide torna-se possível fazer a comparação
entre diferentes tipos de ecossistema.
Para melhor compreensão análise a Figura 2.3 a seguir, nela está retratado
um exemplo da pirâmide de energia.

Fonte: Braga et. al. (2005) apud Tozato (2009)


Figura 2.3 Pirâmide de energia

Pirâmide energética
A Figura 2.4 representa um exemplo de pirâmide de energia. A cada nível tró-
fico a energia diminui, gerando calor e matéria orgânica para os decompositores.
Matéria e energia nos ecossistemas 63

Figura 2.4 Níveis tróficos

Decompositores
São bactérias e fungos que têm a finalidade de decompor excrementos,
restos vegetais e cadáveres. Os decompositores são muito importantes para
a reciclagem da matéria, pois é através da decomposição que eles devolvem
elementos químicos ao ecossistema.
Conceito de produtividade
A produtividade primária ocorre em um sistema ecológico e/ou na comu-
nidade, está definida como uma taxa de energia radiante que é transformada
por meio das atividades fotossintéticas e quimiossintéticas, produzidas pelos
organismos produtores (plantas verdes).
Sendo assim, pode ser considerada limitada através da radiação solar e
pela respiração.
Está dividida em quatro etapas sucessivas: Produtividade primária bruta,
Produtividade primária líquida, Produtividade líquida da comunidade e Pro-
dutividades secundárias. Essas etapas serão descritas a seguir.
Produtividade primária bruta (PPB): pode ser chamada de “fotossíntese total”
ou “assimilação total”; inclui também a matéria orgânica utilizada durante o
período de mediação na respiração.
Produtividade primária líquida (PPL): representa a quantidade de matéria
orgânica presente nos tecidos vegetais, pode ser chamada de “fotossíntese
aparente” ou “assimilação líquida”.
64 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Produtividade secundária bruta (PSB): essa é a taxa armazenada de matéria


orgânica que não será mais necessária para os heterótrofos. Essa etapa pode
ocorrer, por exemplo, durante a estação de crescimento.
Produtividade secundária líquida (PSL): é considerada a etapa em que to-
das as taxas de produção de biomassa que representa valores energéticos em
diferentes níveis de consumidores. Ou seja, o consumidor adquiriu através da
alimentação energia, e libera energia por meio da respiração e troca de tecidos
entre outras funções vitais.

 
A relação entre a produtividade primária e a secundária é geralmente po-
sitiva, pois a produtividade secundária depende da produtividade primária.
Um exemplo dessa relação pode ser dada através da taxa de crescimento
de caracóis (Elimia clavaeformis) em um riacho. Devido ao verão várias folhas
de árvores caíram sobre o riacho, com isso a luz dos raios solares foi reduzida
e o crescimento dos caracóis diminuiu. Esses caracóis também são grande
consumidores da biomassa gerada pela algas.
Mais uma maneira fácil de compreender essa interação pode ser o exemplo
dos fitoplânctons, que liberam células fitoplanctônicas intactas. Essas células
são consumidas pelo zooplânctons (produtividade secundária) e quando se
encontra dissolvida pode ser consumida pela bactérias heterotróficas, que são
encontrada em lagos e nos oceanos. As células fitoplanctônicas intactas ou
produzidas como resultado da “alimentação desordenada” por animais paste-
jadores (BEGON; TOWNSEND; HARPER, 2007).

 
Para que ocorra a produtividade primária na comunidade terrestre são ne-
cessários a radiação solar, o dióxido de carbono, a água, a temperatura e os
nutrientes encontrados no solo.
Existem também outros fatores que não atingem de maneira direta a fotos-
síntese.
A radiação solar é utilizada de maneira ineficiente. Podendo assim, afetar a
fotossíntese de três maneiras diferentes: inibição, saturação e limitação (PINTO-
-COELHO, 2000).
Na inibição a radiação solar pode agir no transporte de elétrons e pigmen-
tação e sobre os cloroplastos se em excesso. Nesse caso, a radiação pode estar
disponível na superfície entre 30 e 100%
Matéria e energia nos ecossistemas 65

A radiação na saturação não é considerada limitada, porém, a fotossíntese


total é limitada pelo processo enzimático, sendo a temperatura e a disponibi-
lidade de nutrientes do local fatores de grande importância.
Quando ocorre a limitação, a radiação está abaixo de 15%. Ocorre uma
eficiência fotossíntética muito alta, mas a quantidade de fótons disponíveis é
muito pequena.
A falta de água é um fator crítico, pois a água é essencial para a vida de
todos os seres vivos, sendo que é de grande importância para a fotossíntese e
faz parte da constituição celular.
Sendo assim, a água e a temperatura podem ser considerados fatores críticos
na produtividade primária.

 
Como já sabemos é necessária a presença de luz solar, do carbono, da água
e de sais minerais para o desenvolvimento de seres vivos. Todos esses fatores são
importantes também para a fotossíntese; outro fator essencial é a temperatura.
Todos esses fatores são importantes, porém, não estão distribuídos de ma-
neira igual, variando muito de um lugar para outro, por exemplo, florestas,
lagos, poças temporarias e todos os demais ambientes possuem características
diferenciadas não só da localidade, mas também da disponibilidade de recursos
nesses ambientes.
Como já sabemos é necessária a presença de luz solar, do carbono, da água
e de sais minerais para o desenvolvimento de seres vivos. Todos esses fatores são
importantes também para a fotossíntese, outro fator essencial é a temperatura.
Todos esses fatores são importantes, porém não estão distribuídos de maneira
igual, variando muito de um lugar para outro.
As florestas são consideradas os ecossistemas mais produtivos de biomassa,
isso ocorre a sua diversidade. Porém, ocorrem diferentes níveis de produção
entre as floresta tropicais sempre-verdes, florestas temperada, florestas equa-
toriais sempre-verdes e as florestas boreais.
Essas diferenças ocorrem principalmente pelas diferenças de temperatura
e tempo de reciclagem da biomassa.
Já a produtividade em águas doces aumentam de acordo com os teores
nutritivos.
Os riachos e lagos recebem nutrientes dos solos e rochas, mas a atividade
dos seres humanos (adulbações e redes de esgotos), afetam diretamente esses
níveis ocorrendo também uma grande variação de nutrientes.
66 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Falaremos agora de mais um importante conceito da ecologia tratando das


interações entre os seres vivos e o meio abiótico; estas são muito importantes
inclusive para a reciclagem da matéria. Os principais elementos que se reci-
clam na natureza vão passando alternadamente da forma química inorgânica
para a forma orgânica, e depois voltam à condição inorgânica. Os principais
elementos que sofrem reciclagem na natureza são: o carbono, o oxigênio, o
nitrogênio, o fósforo e o enxofre. Vamos analisar alguns desses elementos nos
ciclos biogeoquímicos.
Macronutrientes
Os macronutrientes são assim classificados devido os seus elementos serem
mais importantes para os processos vitais.
São classificados como macronutrientes:
Fósforo
Nitrogênio
Silício
Enxofre
Potássio
Cálcio
Magnésio
Seguem abaixo algumas das importâncias desses macronutrientes.
Fósforo (P): constituí o DNA, RNA e ATP, e é responsável pelo desenvolvi-
mento das raizes, folhas, flores e frutos;
Nitrogênio (N): encontrado nas proteínas, clorofila e em determinadas
enzimas, é responsável pelo crescimento vegetal;
Silício (Si): essencial para as algas diatomáceas, crisofíceas e clorocáceas,
e é de grande importância para o crescimento de plantas como adubo;
Enxofre (S): é essencial para vários tipos de aminoácidos e enzimas que
são responsáveis pela divisão celular, é importante também para a formação
de proteínas e por vez age no desenvolvimento da planta;
Potássio (K): fundamental para o metabolismo de muitas enzimas, quando
utilizado na adubação de plantas é responsável pelo aumento do sabor e aro-
mas dos frutos;
Cálcio (Ca): importante principalmente para plantas superiores, auxília no
desenvolvimento das flores e fixação de botões e frutos;
Magnésio (Mg): é considerado elemento fundamental no transporte do
fósforo através das membranas celulares.
Matéria e energia nos ecossistemas 67

Todos os nutrientes são importantes para o desenvolvimento, não importa


se for um macronutriente, mesonutriente ou micronutriente, todos eles são
essenciais, cada um com a sua função.
Micronutrientes
Os micronutrientes são absorvidos em menor quantidade, normalmente
esses nutrientes são encontrados na própria natureza.
São considerados micronutrientes:
Ferro
Manganês
Molibdênio
Zinco
Cobre
Cobalto
Ferro (Fe): é fundamental para o transporte de elétrons na fotossíntese, na
oxiredução e na síntese da clorofila;
Manganês (Mn): é um importante catalisador de enzimas; o Mn é imporante
na reação clara da fotossíntese (fotólise da água) (PINTO-COELHO, 2000);
Molibdênio (Mo): age junto com a nitrogenase e o nitrato redutase na fi-
xação do nitrogênio;
Zinco (Zn): auxilia na síntese do DNA e na formação das auxinas (hormônios);
Cobre (Cu): é um elemento importante, porém se absorvido em excesso
pelas plantas torna-se tóxico. Possui ligação com o metabolismo de proteínas
e carboidratos;
Cobalto (Co): como o molibdênio, o cobalto é essencial para a nutrição
da semente. Pode ser encontrado na vitamina B-12 e também possui ligação
com a fixação do nitrogênio.

 
Na biosfera temos muitos elementos químicos e conhecemos aproximada-
mente 103 deles.
Esses elementos como veremos logo a seguir nos ciclos biogeoquímicos,
estão disponíveis em quantidades diferentes e todos passam por um ciclo para
retornarem a biosfera.
Na comunidade aquática o carbono, o nitrogênio e o fosfóro são os princi-
pais nutrientes encontrados. Esses elementos químicos são geralmente classi-
ficados como macronutrientes, mesonutrientes e micronutrientes.
68 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

 
Com a Segunda Guerra Mundial, ocorreu uma grande produção de radioi-
sótopos para a fabricação de armas nucleares, e tivemos também o aumento da
produção de reatores nucleares para a geração de energia elétrica. Com isso,
aumentaram-se as preocupações com os riscos que essas substâncias podem
gerar para a saúde humana e a sociedade.
São elementos radioativos que entram nas cadeias alimentares, ocupando
o lugar de nutrientes essenciais como o carbono, o cálcio e o iodo.
Podem ser encontrados em todos os ecossistemas, podem ser gerados por
meio de processos naturais. Eles se diferenciam dos demais elementos devido
à emissão de radiação ionizantes.
Essas radiações ionizantes podem ser de três tipos: radiação alfa, beta e
gama. Todas essas radiações fazem a ionização de partículas.
Os radionuclídeos são considerados elementos instáveis, pois eles diminuem
a emissão da radiação com o passar do tempo.

 
Diferentemente do que ocorre no fluxo de energia, o fluxo de matéria é
cíclico, ou seja, está presente no ecossistema em forma de substâncias como
o CO2, sais minerais e água.
Essas substâncias são absorvidas por matérias vivas, se decompõem e
transforma-se em matéria orgânica novamente, podendo assim ser reutilizada
novamente tanto por seres bióticos como por seres abióticos.

 
Os nutrientes circulam na biosfera por meio de dois compartilhamentos ou
pools: pool reservatório é um componente maior, porém, seus movimentos são
lentos, não biológicos, e o pool de ciclagem, ocorre em parcelas menores com
movimentos mais rápido, através de organismos e meio ambiente.
Atualmente temos 103 elementos químicos conhecidos da natureza, e que
desses 30 a 40 são considerados necessários à vida.

 
Os ciclos biogeoquímicos pode ser classificados de três tipos: ciclo gasoso,
ciclo sedimentar e ciclo misto.
Matéria e energia nos ecossistemas 69

Cada um dos ciclos depende da origem do seu reservatório abiótico, ou


seja, do local onde ele é encontrado.
Segue abaixo uma breve explicação sobre cada um dos ciclos.
Ciclos gasosos: são exemplos do ciclo gasoso o ciclo do nitrogênio e do
oxigênio. É encontrado na atmosfera, e como a atmosfera apresenta uma di-
mensão bem extensa possui um mecanismo de autorregulação considerado
muito eficaz.
Ciclos sedimentares: são exemplos do ciclo sedimentar o ciclo do cálcio e
do fósforo. É encontrado na crosta terrestre e em rochas. É considerado vulne-
rável devido o tempo em que esses nutrientes demoram para voltar ao início
do seu ciclo.
Ciclos mistos: são exemplos do ciclo misto o ciclo da água, do carbono
e do enxofre. É considerado um ciclo misto pois os nutrientes nele envolvido
podem ser encontrados na atmosfera ou nos sedimentos.

 
Observe o ciclo hidrológico na Figura 2.5.

Fonte: Braga et al. (2005) apud Tozato (2009)


Figura 2.5 Ciclo hidrológico
70 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Você já sabia que a água é um bem valioso e essencial para a vida no planeta
Terra. Podemos encontrá-la em três estados diferentes: líquido, sólido ou gasoso.
A água está distribuída no planeta Terra na seguinte maneira, 97,3% de água
salgada (oceanos e mares), 2,06% em forma de gelo (calotas polares e glaciais),
0,67% de água subterrâneas e 0,01% estão distribuídos em rios e lagos.
Agora veremos a etapas pela qual a água passa, ou seja o seu ciclo hidro-
lógico. A água pode percorrer caminhos rápidos e simples ou caminhos mais
complexos e demorados.
Quando ocorre uma chuva a água cai sobre a superfície terrestre penetrando
no solo, rochas e plantas, essa água também escorre sobre o solo e vegetação.
A vegetação absorve essa água para a realização da fotossíntese, e é através
dela que a água retorna a superfície, encontrando-se no estado gasoso.
Essa água também chega aos rios, lagos, oceanos e mares. Quando a água
se acumula em regiões mais frias, com grandes altitudes e baixas latitudes se
transforma em gelo, ou seja, encontra-se no estado sólido. A água quando
congelada pode demorar milhões de anos para retornar ao ciclo.
A água que atinge as regiões das águas subterrâneas possuem um processo
lento, retorna à superfície pela infiltração, ou através de nascentes indo de
encontro de outros percursos de água.
As ações do homem como o desmatamento, provocam erosões e o dese-
quilíbrio nos recursos naturais entre outros grande problemas ambientais.

 
O nitrogênio; é essencial para a síntese de aminoácidos, vale dizer que
apenas com CO2 e H2O um vegetal até exercer suas funções, mas sem nitro-
gênio ele não pode crescer. Para os consumidores, que irão se alimentar dos
vegetais, esse não é um problema, pois já incorporam os aminoácidos de que
necessitam diretamente das proteínas que ingerem.
Certamente você já sentiu o cheiro de amoníaco (NH3) em algum local onde
alguém urinou algum tempo antes. Sabe por quê? Os aminoácidos que se en-
contram em excesso no nosso organismo são metabolizados, separando o grupo
amina, que contém o nitrogênio. O restante entra no metabolismo dos carboidra-
tos ou é estocada como gordura. O próprio fígado se encarrega de transformar
as moléculas de amônia que se formam com o metabolismo em moléculas de
ureia, que são eliminadas na urina. No meio ambiente, à medida que a ureia vai
sendo liberada como gás, surge o cheiro desagradável.
Matéria e energia nos ecossistemas 71

Os decompositores realizam processos parecidos, mas tratando proteínas de


corpos mortos. E é por isso que os decompositores são tão importantes, pois eles
liberam para o meio muitos componentes inorgânicos que são necessários para os
produtores. Não sendo por essa remineralização da matéria orgânica, os nutrien-
tes iriam ficar permanentemente estocados nos cadáveres acumulados, sem que
pudessem ser absorvidos pelos vegetais, que então deixariam de crescer.
A Figura 2.6 ilustra o ciclo do nitrogênio.

Fonte: Braga et al. (2005) apud Tozato (2009)


Figura 2.6 Ciclo do nitrogênio

 
É na atmosfera terrestre que se encontra o maior reservatório de gás nitro-
gênio (N2). A maioria dos seres vivos não é capaz de utilizar o nitrogênio na
sua forma molecular, para que ocorra a fixação do nitrogênio é necessária a
presença de bácterias fixadoras, do tipo de Vida livre: Azotobacter sp., Clostri-
dium sp., Pseudomonas sp.; Simbiontes: Rhizobium sp. e Spirillum lipoferum;
Purpúreas: Rhodospirilum sp.; e Cianobactérias: Nostoc sp. e Anabaena sp.
Essas bácterias fixadoras transformam o nitrogênio em amônia (NH3).
72 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Grande parte da amônia encontrada no solo é transformada em nitrito atra-


vés do processo de nitrificação gerado por bactérias do gênero Nitrosomonas e
Nitrosococcus. Esse nitrito é transformado em nitrato pelas bactérias Nitrobacter.
Parte desse nitrato é absorvido por vegetais que gera a produção de proteínas,
e outra parte por bactérias desnitrificantes, que o transformam em nitrogênio.
Retorna assim para a atmosfera. O nitrogênio pode retorna ao meio abiótico
por meio das excretas como a ureia, amônia e ácido úrico.
As bactérias e as algas azuis são os únicos que convertem o gás nitrogênio
para o uso dos seres vivos.
Várias plantas possuem simbiose com bactérias fixadoras. Dentre elas po-
demos citar: várias leguminosas (soja e feijão), Araucária, Casuarina e algumas
gramíneas (PINTO-COELHO, 2000).

 

Fonte: Braga et al. (2005) apud Tozato (2009)


Figura 2.7 Ciclo do carbono

O ciclo do carbono (Figura 2.7) é considerado um ciclo misto, pode ser


encontrado na forma de carbonatos nas águas de mares profundos e sedimentos
marinhos.
Matéria e energia nos ecossistemas 73

Os fitoplânctons, zooplânctons e néctons (peixes) são os responsáveis pelo


processo continuo de reciclagem desse carbono.
O carbono também está presente em grandes quantidades em rochas calcá-
rias e na atmosfera como gás carbônico (CO2) e em menores quantidades como
monóxido de carbono (CO) e gás metano (CH4). Pode ser gerado através da
queima de combustíveis fósseis (principalmente pela descarga de automóveis),
queima de florestas, processo de respiração, e por decompositores através da
decomposição de animais e vegetais.
As plantas por meio da fotossíntese absorvem o CO2 e liberam O2.
O gás carbônico representa cerca de 0,033% da composição gasosa da
atmosfera terrestre. Mesmo com essa quantidade baixa, o CO2 é responsável
pelo aumento da temperatura média do planeta, gerando o efeito estufa. Isso
ocorre devido a molécula de CO2 ter a capacidade de absorver a radiação
infravermelha.

 
A atmosfera é o principal reservatório do oxigênio, podendo ser encontra-
dos átomos de oxigênio no gás carbônico e gás oxigênio na água entre outros.
É essencial para a vida dos seres vivos por meio a respiração e água, é através
da fotossíntese que ele retorna a atmosfera.
O processo de combustão e a formação do gás ozônio (através dos raios
ultravioleta), geram a formação de óxidos metálicos, que por vez combinam
com metais presentes no solo.

 
Esse ciclo (Figura 2.8) é considerado sedimentar, seu maior reservatório
é a litosfera, principalmente as rochas fosfatadas e depósitos de sedimentos
localizados no fundo do oceano, rios, lagos e águas subterrâneas.
O fósforo inorgânico pode ser encontrado também como ortofosfato, estando
presente no solo e na água, e é absorvido pelos vegetais, que são consumidos
por herbívoros. Também é encontrado nas excretas geradas por heterótrofos
e pela mineralização de fósforo por microrganismos decompositores como
bactérias, fungos e leveduras.
As erosões liberam o fósforo novamente para o ecossistema, mas grande
parte desse fósforo escapa para o mar. Os mecanismos de devolução do fós-
foro ao ciclo podem ser insuficientes para compensar a perda (ODUM, 1998).
74 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Devido às atividades do homem o ciclo do fósforo é afetado de diversas


formas. Todos os anos ocorrem o aumento da pesca marinha que transfere o
fósforo do oceano para o continente; sendo assim, a pesca tem influência in-
direta no aumento do fósforo em águas continentais.
Os fertilizantes agrícolas e detergentes domésticos também estão ligados
ao ciclo do fósforo. E através do escoamento agrícola e dos esgotos domésticos
que o fósforo retorna ao ecossistema.
O ciclo do fósforo faz cerca de 100 percursos entre superfície e a águas
profundas, cada um durando talvez mil anos.

Fonte: Braga et al. (2005) apud Tozato (2009)


Figura 2.8 Ciclo do fósforo

 
O ciclo do enxofre (Figura 2.9) possui fases na atmosfera e na litosfera. O
seu principal reservatório é terrestre (solo e sedimentos), com um reservatório
menor encontrado na atmosfera. O seu ciclo ocorre através da interação entre
os processos geoquímicos, meteorológicos e biológicos.
Matéria e energia nos ecossistemas 75

Possui ligação com uma série de microrganismos especializados envolvidos


na redução química e oxidação do enxofre.
As erupções vulcânicas, a queima de combustíveis fósseis e as emissões
naturais e humanas liberam grandes concentrações de enxofre.
A poluição atmosférica afeta o ciclo do nitrogênio e do enxofre. O enxofre
tem influência no crescimento de plantas e animais; quando encontrado na
forma de dióxido de enxofre prejudica a fotossíntese. O dióxido de enxofre
pode gerar também a chuva ácida, causando grandes impactos ambientais.
É considerado composto letal para a maioria dos seres vivos quando está
na forma de sulfeto de hidrogênio, por exemplo.
Em reação com o ferro através de condições anaeróbicas, o enxofre forma
o sulfeto férrico e ferroso. Se passar por oxidação transforma-se em sulfato.

Fonte: Braga et al. (2005) apud Tozato (2009)


Figura 2.9 Ciclo do enxofre

Para concluir o estudo da unidade


Encerraremos esta unidade sobre como os principais elementos que
se reciclam na natureza passam alternadamente da forma química inor-
gânica para a forma orgânica, voltando depois à condição inorgânica.
Formando essa tão bela interação biológica, que mantém inúmeras
estruturas vivas sobre a Terra.
76 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Resumo
Nesta unidade foi feita a explicação sobre o fluxo de energia e matéria
nos ecossistemas e os ciclos biogeoquímicos. Lembrando que a energia
flui de modo unidirecional, ou seja, a energia diminui de acordo com
cada nível trófico da cadeia alimentar. E os microrganismos especiali-
zados quimicamente apresentam um papel importante entre os ciclos
biogeoquímicos, fundamentais para a vida do nosso planeta.

Atividades de aprendizagem
1. Diferencie a Primeira lei da termodinâmica da Segunda lei da termo-
dinâmica.
2. Por que o fluxo de energia é unidirecional?
3. Como sabemos existem três tipos de pirâmides para ilustrar os diferen-
tes tipos de cadeias alimentares e tróficas. Represente através de uma
pirâmide uma cadeia alimentar curta.
4. Descreva a importância dos ciclos biogeoquímicos para o ecossistema.
5. Durante o cultivo das plantações os agricultores fazem uso de adubos;
esses produtos, por vez, interferem no ciclo do nitrogênio. Faça uma
pesquisa sobre a “adubação verde”, seu procedimento e quais vanta-
gens ele gera.
6. Fale sobre a importância da fotossíntese.
7. O gás carbônico é um dos principais gases responsáveis pela formação
do efeito estufa na atmosferra terrestre. Isso ocorre devido o fato das
moléculas de CO2 terem a capacidade de absorver a radiação infra-
vermelha. Pesquisadores do mundo todo estão buscando uma maneira
de diminuir a quantidade desse gás, um dos recursos encontrados é
conhecido como “sequestro de carbono”. Faça uma pesquisa sobre
como ocorre esse procedimento.
8. Faça uma pesquisa sobre a chuva ácida gerada pela reação do enxofre,
levantando quais os principais impactos ambientais.
9. Faça uma ilustração representando um dos percursos do ciclo da água.
Unidade 3
Relações ecológicas
entre os seres vivos

Objetivos de aprendizagem: ao terminar o estudo desta unidade,


esperamos que a relação ocorrente entre as espécies na natureza,
que é fundamental para a manutenção das formas de vida que
habitam os diversos biomas mundiais e brasileiros, possa ser mais
bem entendida e mensurada, fixando que na natureza uma coisa
está intimamente ligada a outra, como num empilhamento de fi-
leiras de dominó, onde o menor descuido pode provocar um efeito
em cadeia.

Seção 1: Relações ecológicas


Nessa seção serão demonstradas as principais relações
ocorrentes no meio ambiente, bem como sua impor-
tância na manutenção das espécies.

Seção 2: Conhecendo o processo de aparecimento


das especies na colonização de ambientes
Nessa seção você irá aprender sobre os processos de
sucessão ecológica das espécies, desde os primeiros
seres a iniciarem a colonização até o alcance de um
estado de equilíbrio, o clímax.
78 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE


Na natureza, muitas espécies realizam interações entre si, essas interações
podem estar associadas a alguns fatores ou necessidades específicas, entre
elas podemos citar a reprodução, proteção contra predação, alimentação,
entre outros. Essas relações ecológicas entre os seres vivos está intimamente
ligada à sobrevivência das espécies no hábitat em que vivem, sendo subsídio
indispensável para o equilíbrio dos ecossistemas no planeta.
As relações ecológicas basicamente podem ser classificadas em relações
intraespecíficas, relações interespecíficas, relações harmônicas ou positivas e
relações desarmônicas ou negativas. As relações intraespecíficas, compreen-
dem as interações existentes entre indivíduos da mesma espécie, as relações
interespecíficas trata-se das relações existentes entre indivíduos de espécies
diferentes, as relações harmônicas ou positivas são as relações em que ne-
nhuma das partes envolvidas sai prejudicada com a associação, as relações
desarmônicas ou negativas, são as relações em que pelo menos uma das
espécies sai prejudicada com a associação. Todas essas relações podem ser
subdividas em vários tipos, sendo as principais: as colônias, as sociedades,
o inquilinismo, o comensalismo, o mutualismo, a antibiose, a herbivoria, o
predatismo, o parasitismo e a competição. Vejamos, a seguir, cada uma dessas
relações, abordando seus principais aspectos e variedades.

Seção 1  
Nesta seção serão demonstradas as principais relações ocorrentes no meio
ambiente, bem como sua importância na manutenção das espécies.
Para reforçar seu aprendizado as relações ecológicas, não ocorreram do dia
para a noite, essas interações são fruto de longos períodos de tempo, em que
uma espécie foi lentamente de inter-relacionando com a outra em caráter de
dependência ou não, até estarem como agora vamos conhecê-las.
Tenha atenção na leitura do quadro a seguir, e note que as relações na na-
tureza podem ser positivas ou negativas podem ainda ser positiva para ambos
os envolvidos ou penas para um como demonstra o Quadro 3.1.
Relações ecológicas entre os seres vivos 79

Relações desarmônicas Relações harmônicas


Predação (+/-) Comensalismo (+/0)
Parasitismo (+/-) Inquilinismo (+/0)
Competição intraespecífica (-/-) Protocooperação (+/+)
Competição interespecífica (-/-) Mutualismo (+/+)
Amensalismo (+/-)
Quadro 3.1 Relações ecológicas

A partir de agora iremos estudar as relações ecológicas, como elas ocorrem


e de que forma podem contribuir, positivamente ou negativamente para outras
espécies. Iniciaremos falando sobre as colônias.


As colônias compreendem espécies onde as relações existentes são intra-
específicas harmônicas, onde os indivíduos associados se encontram unidos
por um substrato ou esqueleto comum, sendo assim adquirindo uma profunda
interdependência fisiológica. As colônias apresentam dois tipos básicos: colô-
nias homomorfas e colônias heteromorfas.

 
As colônias homomorfas podem ser chamadas também de homotípicas,
nesse tipo de colônia os indivíduos envolvidos são fisiologicamente seme-
lhantes, não existe uma divisão de trabalho, pois, todos os seus componentes
exercem o mesmo papel biológico. Exemplos desse tipo de colônia são as cracas
(crustáceos), corais (celenterados) e algumas espécies de bactérias.

 
As colônias heteromorfas ou heterotípicas abrange indivíduos que são
fisiologicamente diferentes, sendo que cada um está adaptado a designar de-
terminadas funções, onde então se estabelece uma divisão de trabalho entre
seus componentes. Exemplo desse tipo de colônia, as caravelas, uma espécie
de celenterado, onde os indivíduos exercem diversas funções como: defesa,
proteção, natação, flutuação e reprodução.

 
As sociedades também são relações intraespecíficas harmônicas, mas elas
diferem das colônias por apresentarem total independência e também por se
80 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

deslocarem livremente dentro e fora da sociedade, podendo em muitos casos


abandonar sua moradia para explorar outros ambientes na busca por alimentos.
A cooperação entre os indivíduos é a principal característica das sociedades
e também das colônias, o que contribui para uma melhor sobrevivência das
espécies. Dentro das sociedades podemos observar uma organização entre os
indivíduos na qual se denomina castas, onde os indivíduos exercem determina-
das funções no grupo. Esse tipo de organização acontece nas sociedades mais
complexas como das abelhas, vespas, cupins e saúvas. A divisão de trabalho
existente configura-se então um polimorfismo, onde na mesma espécie os
grupos apresentam características morfológicas diferentes.

Para saber mais


Organização das sociedades de insetos
Na sociedade dos insetos, existe uma dominação de uma ou poucas fêmeas poedeiras, denomi-
nadas rainhas. As rainhas nas colônias de formigas, abelhas e vespas acasalam-se somente uma
vez durante a vida, e armazenam espermatozoides suficientes para produzir cerca de 1 milhão
ou mais durante 10 a 15 anos no caso de algumas formigas ceifeiras. A prole não reprodutora
de uma rainha coleta alimento e cuida dos irmãos e irmãs em desenvolvimento, nas quais al-
guns se tornam sexualmente maduros, deixando as colônias para se acasalar e estabelecerem
novas colônias. Na sociedade das abelhas existe uma organização de forma simples onde os
filhotes de uma rainha são divididos entre uma casta trabalhadora estéril, que é toda genetica-
mente feminina, e uma casta reprodutora, consistindo em um macho e fêmea, que é produzida
ocasionalmente. O que define se o indivíduo será um reprodutor estéril ou fértil é a nutrição
adquirida na fase larval. Normalmente, as castas estéreis são estimuladas por fatores ambientais
(nutricionais). As substâncias produzidas por uma rainha e fornecidas às suas larvas podem inibir
o desenvolvimento de formas reprodutoras. As abelhas, sua casta trabalhadora, representam
um estágio interrompido no desenvolvimento de fêmeas reprodutoras, que ocorre antes da
maturidade sexual. As colônias de térmitas diferem das sociedades de formigas, abelhas e vespas
por apresentarem um par acasalado, o rei e a rainha, o qual produz todos os trabalhadores por
reprodução sexuada. Os trabalhadores térmitas podem ser tanto macho quanto fêmea, mas
nenhum gênero amadurece sexualmente, a menos que o rei ou rainha morram.

 
É quando ocorre uma relação não obrigatória que envolve benefício mútuo,
ou seja, ambos os envolvidos saem ganhando com essa relação, por exemplo,
Relações ecológicas entre os seres vivos 81

se você já viu algum documentário sobre o pantanal, seguramente já deve ter


visto a protocooperação que existem entre o jacaré e o pássaro-palito, onde
o pássaro se alimenta dos restos alimentares que estão presos nos dentes do
jacaré, e enquanto faz isso deixa a boca do jacaré livre de cáries.

 
O inquilinismo é uma relação interespecífica harmônica, onde, como o pró-
prio nome diz, um inquilino de aloja em outro na busca por abrigo (proteção)
ou sustentação no corpo da espécie hospedeira, mas essa associação não traz
prejuízos para a espécie associada. Exemplos clássicos desse tipo de relação
são as orquídeas, bromélias e as arvores onde essas plantas se alojam. Ao con-
trário que muitas pessoas pensam as orquídeas e as bromélias não são plantas
parasitas, pois essas plantas não extraem nenhum tipo de fonte energética da
sua hospedeira, apenas busca se alojar em troncos altos para se protegerem
dos predadores e para obter maior luminosidade para o seu desenvolvimento.
Por isso essas plantas foram denominadas epífitas (epi, “em cima”), e no caso
do inquilinismo podem ser chamadas de epifitismo.

 
O comensalismo também é uma relação interespecífica harmônica, sendo
que apenas uma das espécies é beneficiada com a associação e que também
não prejudica a outra espécie envolvida. O que difere o comensalismo do inqui-
linismo é o objetivo da interação que ocorre,
sendo que o comensalismo como o próprio
Para saber mais
nome traz o comensal, ou seja, busca restos
O oceano é um lugar apreciável
de alimentos que os outros animais consomem
para observarmos relações comen-
para sobreviver. A espécie humana é passiva
sais entre alguns seres marinhos. O
desse tipo de relação, o exemplo é a uma
conjunto de organismo comensais
ameba, comensal que vive no intestino do ho-
como peixes bivalves poliquetas e
mem, onde se nutre dos restos da sua digestão caranguejos vive de alimento exce-
sem prejudicar o homem, outro exemplo para dente, rejeitado ou de dejetos de
que você possa fixar melhor, é a rêmora, pois seus hospedeiros. Muitos comen-
se fixa na região ventral de um tubarão através sais não são específicos do hospe-
de uma ventosa que se localiza na cabeça e deiro, mas a maioria é encontrada
assim é transportada e, com isso, se alimenta em associações com apenas uma
dos restos de presas que o tubarão consumiu. espécie de hospedeiro.
82 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

 
O mutualismo ou simbiose é uma relação interespecífica harmônica, em que
uma espécie não é beneficiada, mas as duas são beneficiadas com a associação.
Contudo, os benefícios podem estabelecer ou não um estado de interdepen-
dência fisiológicas bilateral. Então se estabelece dois tipos de mutualismo, o
obrigatório e o não obrigatório.
Mutualismo obrigatório: quando ambas as espécies necessitam umas das
outras para sobreviver, ou seja, cada uma fornece para outra, recursos essenciais
para manutenção e desenvolvimento de seu metabolismo, sendo a separação
uma forma de desequilíbrio e com isso acarretando na morte dos indivíduos
envolvidos. Podemos citar os líquens, onde ocorre uma associação entre algas
e fungos; os cupins e protozoários, ruminantes e microrganismos, bactérias e
leguminosas e micorrizas (plantas e fungos).

Para saber mais


Existe também a relação entre cupim e flagelado intestinal, sem os flagelos especializados (or-
dem Hypermastigna), muitos cupins não conseguem digerir a madeira que ingerem, visto que
eles morrem quando os flagelados são retirados experimentalmente. Nos cupins os simbiontes
vivem dentro do corpo do hospedeiro, mas se desenvolveu uma íntima interdependência fora
do animal hospedeiro que pode levar um estagio, mas avançado na evolução do mutualismo.
Outra relação de caráter obrigatório no mutualismo são as micorrizas (= fungo-raiz), que
compreendem os micélios de fungos, que vivem em associação mutualista com raízes vivas de
plantas. Como acontece com as bactérias fixadoras de nitrogênio e as plantas leguminosas, os
fungos interagem com o tecido radicular para formar “órgãos” compostos, que aumentam a
capacidade da planta de extrair minerais do solo. Em troca, os fungos recebem uma parte do
produto fotossintético da planta. Esse tipo relação que ocorre nas micorrizas é tão importante
que esta relação pode estar listada como uma cadeia alimentar principal.

Mutualismo não obrigatório: é uma relação que também pode ser chamada
de protocooperação, nesse tipo de relação, observamos que a coexistência entre
os indivíduos envolvidos pode ser dispensada, sem que a perdas das vantagens
traga um desequilíbrio metabólico nas espécies associadas. Alguns exemplos
que podemos citar dessa relação: o anu e o gado, pássaro-palito e o crocodilo,
formigas e pulgões e caranguejo paguro e actínias.
Relações ecológicas entre os seres vivos 83

Para saber mais


Como vimos sobre Mutualismo não obrigatório, as espécies envolvidas tiram proveito entre si,
porém, não precisam necessariamente umas das outras para sobreviver; seguindo alguns exem-
plos citados, temos o anu e o gado, o anu é um pássaro que retira carrapatos e outros parasitas
da pele do gado. Com essa relação ambos saem de alguma forma beneficiados, pois o gado
fica livre dos parasitas que o incomodam, e os parasitas adquirem uma fonte de alimentação,
mas lembrando que se essa relação for interrompida ambos os indivíduos não saem prejudica-
dos. Outro exemplo que podemos citar é o pássaro-palito e o crocodilo, onde o pássaro-palito
um apreciador de sanguessugas, introduz dentro da boca do crocodilo africano consumindo as
sanguessugas, na qual a interação traz benefícios para ambas as espécies. As formigas e pulgões
também realizam interações que trazem benefícios mútuos, pois os pulgões (afídeos) são insetos
parasitas de plantas, que se alimentam da seiva elabora, onde o excesso da seiva é eliminada e
acaba servindo como fonte de alimento para as formigas, que por sua vez, protegem os pulgões
contra os predadores naturais, por exemplo, as lagartas.

 
Agora vamos entrar em outro tipo de relação, na qual a interação que
ocorre é interespecífica desarmônica, em que uma espécie inibe ou bloqueia
o desenvolvimento ou reprodução da outra espécie, na qual é denominada
comensal. Isso ocorre através de substâncias tóxicas que são liberadas e com
isso acaba inibindo o desenvolvimento da outra espécie. Exemplos desse tipo
de relação é o fungo Penicillium nottum e certas bactérias, onde o fungo libera
penicilina, na qual é usada no tratamento de algumas enfermidades causadas
por determinadas bactérias, pois o antibiótico impede o desenvolvimento da
bactéria que é suscetível a essa substância.
Outro exemplo que podemos citar de amensalismo e que ocorre com
grande frequência é a maré-vermelha, esse fenômeno é caracterizado pelo
excesso dessas algas unicelulares planctônicas (dinoflageladas), que acabam
liberando toxinas que provocam a morte de muitos indivíduos de inúmeras
espécies marinhas.
84 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Para saber mais


O fenômeno da maré-vermelha é registrado no mais diversos países do mundo, no Brasil, o
primeiro episódio de maré-vermelha registrada foi em 1944, na cidade de Recife e foi chamado
de “febre de Tamandaré”. Em março de 1978 na costa sul do Brasil, foi registrada a morte de
toneladas de peixes, moluscos, crustáceos e aves marinhas. Na época o diagnóstico sobre o
acontecimento foi tardio, mas ainda foi possível contar mais de 60 mil espécies de dinoflagelados
por litro de água colhida no mar. A morte desses diversos animais marinhos é devida às toxinas
liberadas por essas algas que têm efeito neurotóxico.

 
Quando falamos de predação e parasitismo, no referimos a tipos de in-
terações entre duas populações que resultam em efeitos negativos no desen-
volvimento e sobrevivência em uma população e efeitos positivos na outra
população. A herbivoria é quando existe um predador primário (animal) e a
presa ou “hospedeiro” um produtor primário (planta).
Na relação que ocorre na predação, os predadores capturam e destroem
fisicamente as presas, de modo a se alimentarem para sobreviver. O predador
tem um papel fortemente limitante sobre a população de presas, mas quando a
interação é de origem recente, o predador normalmente atua como regulador
de densidade, sendo assim cria-se um equilíbrio populacional na população
de presas. Pensando então em populações e em excedente populacional,
os predadores tornam-se benéfico em termos de espécie, desse modo eles
atuam como reguladores no crescimento populacional das presas, uma vez
que as presas em superpopulação, também encontram dificuldades para so-
brevivência, devido à falta de alimento, espaço, doenças na população entre
outras situações. Os predadores atuam também como seletores das presas,
pois normalmente eles capturam as presas que estão menos aptas as fugas
que pode ser explicada pela idade do animal ou doenças. A importância
que observamos na interação existente na relação entre predadores e presas
é muito grande, pois forma-se um equilíbrio no ecossistema, pois as duas
populações não se extinguem nem entram em superpopulação.
Relações ecológicas entre os seres vivos 85

Para saber mais


Com a caça indiscriminada causada pelo ser humano, os prejuízos encontrados nos ecossistemas
se tornaram bem grandes. Muitos casos podem ser citados, principalmente aqueles que ficaram
famosos como os casos de extermínio de pumas, coiotes e lobo no Arizona (EUA) em 1907. Na
época a população de veados na região era de 4 mil indivíduos; com o número de predadores
reduzido, o número de veados foi para 100 mil indivíduos em um período de vinte anos. Com
esse total desequilíbrio, a população de veados entrou em declínio, pois não havia recursos na-
turais suficientes para sobrevivência da espécie. A interação predador x presa tem grande papel
na regulação populacional, por isso uma variação no numero de indivíduos pode trazer grandes
desequilíbrios nos ecossistemas.

 
Algumas adaptações usadas por algumas espécies possibilitaram a algumas
populações aumentarem suas chances de sobrevivência. Para as presas, criar
meios para se camuflar, o que as ajuda a passar muitas vezes despercebidas
no ambiente. Para os predadores, rapidez, faro aguçado, dentes caninos,
produção de teias, entre outras adaptações, possibilitam um maior desempe-
nho na hora de capturar a presa. Podemos observar algumas diferenças im-
portantes entre predadores e presas, por exemplo, o número de predadores
sempre é menor do que das presas, já em relação à longevidade, os preda-
dores têm maior habilidade do que as presas e também o porte dos predado-
res é maior do que o das presas.
No parasitismo, a interação ecológica que
ocorre é estabelecida por um parasita e por
um hospedeiro. O parasita é um indivíduo Para saber mais
que necessita se alojar em outro para obter Por mais injusta que pareça uma
fonte de sobrevivência, com isso prejudica interação dessas aqui menciona-
a espécie na qual se alojou, causando le- das, é importante que você saiba
sões, deformações, intoxicações e muitas que, vantajosa ou não as relações
vezes até a morte do hospedeiro. Existem ecológicas são fruto de um longo
várias diferenças entre parasitismo e preda- tempo de estabelecimento, sendo,
portanto, um fator fundamental na
ção, os parasitas geralmente são bastante
coexistência das espécies.
especialistas em relação a seus hospedeiros,
86 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

normalmente parasitam uma ou duas espécies apenas, não se alojando nas


demais populações presentes no ecossistema. Os predadores ao contrário,
utilizam várias presas como alimento, mas predam apenas para obter fonte
de energia, os parasitas além de obterem fonte de energia de seu hospedeiro
também encontram um hábitat para sobreviver. Alguns parasitas causam
graves doenças em seu hospedeiro, um exemplo é o protozoário Trypanos-
soma cruzi, causador da doença de Chagas, para finalizar é importante que
o objetivo do parasita não é de levar seu hospedeiro a morte, uma vez que
se isso ocorre o parasita também irá morrer.

Saiba mais
A relação parasita x parasitado
Begon, Townsend e Harper (2007) apresentam inúmeras particularidades sobre parasitas, parti-
cularidades estas muito importantes para que a relação parasita x parasitado seja compreendida.
Os autores explicam que há divergências entre os grupos de parasitas, pois se diferenciam de
acordo com: (1) sua especificidade; (2) modo de ação de cada indivíduo; e (3) a forma de relação
com o indivíduo parasitado.
Begon, Townsend e Harper (2007) esclarecem ainda que, de acordo com o ambiente em que
vivem, os parasitas podem ser chamados ‘ectoparasitas’, ‘endoparasitas’, ‘hemoparasitas’, ‘ho-
loparasitas’, ‘hemiparasitas’ ou ‘parasitos estenoxenos’.
Para entender melhor a classificação dos autores, veja o quadro a seguir:

Classificação dos parasitas Característica


Ectoparasitas Vivem fora do corpo do hospedeiro.
Endoparasitas Vivem dentro do corpo do hospedeiro.
Hemoparasitas Vivem na corrente sanguínea do hospedeiro.
Vivem em vegetais superiores e extraem sua seiva
Holoparasitas
elaborada.
Hemiparasitas Vivem em vegetais e extraem sua seiva bruta.
Parasitos estenoxenos Abrigam espécies de vertebrados.
Parasitos eurixenos Vivem em uma variedade de hospedeiros possíveis.
Parasito facultativo Podem viver parasitando ou não um hospedeiro.
Parasito obrigatório Não podem viver fora de um hospedeiro.
Vivem por acidente em um hospedeiro que não é o
Parasito acidental
de costume.
Fonte: Begon, Townsend e Harper (2007)
Relações ecológicas entre os seres vivos 87

Assim como os parasitas, os hospedeiros (espécies que abrigam parasitas), também podem ser
classificados de acordo com algumas características — Begon, Townsend e Harper (2007) apon-
tam que eles podem ser classificados em três grupos: hospedeiros definitivos, intermediários ou
paratênicos (de transporte).
Veja as características de cada um desses grupos de acordo com os autores:

Classificação dos hospedeiros Característica


Abrigam parasitas em fase de maturidade ou de
Definitivos
atividade sexual.
Intermediários Abrigam parasitas na fase larvária ou assexuada.
Hospedeiros intermediários que não se desen-
Parênticos (de transporte) volvem, mas permanecem viáveis até atingir um
novo hospedeiro.
Fonte: Begon, Townsend e Harper (2007)

Por fim, a interação parasita x parasitado também sofre variações e, consequentemente, têm
diferentes classificações, uma vez que, para sobreviver nos hospedeiros, os parasitas agem de
diferentes formas a fim de conseguir os nutrientes de que precisam para se alimentar. Begon,
Townsend e Harper (2007) explicam essas diferentes formas de interação:
Tipo de interação parasita
Característica
x parasitado
Os parasitas consomem o oxigênio presente nas
Anóxia
hemoglobinas, podendo causar anemias.
Por meio da produção de enzimas, os parasitas
Enzimática acabam furando ou dissolvendo partes do corpo
do hospedeiro.
Os parasitas absorvem nutrientes e sangue de seus
Espoliativa
hospedeiros.
Os parasitas provocam irritação no local parasitado
Irritativa e prejudicam o hospedeiro, mas sem causar lesões
traumáticas.
Os parasitas podem interferir o fluxo alimentar e a
Mecânica
absorção de alimentos do hospedeiro.
Os parasitas produzem substâncias (como enzimas
Tóxica ou metabólitos) que podem ser tóxicas e causar
lesões no hospedeiro.
Os parasitas provocam, geralmente por meio de
Traumática vermes, formas larvárias e protozoários, lesões no
corpo do hospedeiro.
Fonte: Begon, Townsend e Harper (2007)
88 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Percebemos então que as interações parasitas x parasitados são as mais diversas possíveis,
cada uma trazendo malefícios ou benefícios a ambas as partes.


A competição é a interação em que indivíduos da mesma espécie ou espé-
cies diferentes competem pelos mesmos recursos, como exemplo, alimento,
território, luminosidade entre outros. No caso da competição a relação pode
ser tanto intraespecífica quando interespecífica, em ambos os casos a sele-
tividade que ocorre é através das formas mais bem adaptadas ao ambiente,
que permite a eliminação dos indivíduos menos adaptados. Assim como a
predação e o parasitismo, a competição também contribui na regulação da
densidade populacional, sendo assim contribuindo para evitar a superpopu-
lação das espécies.

Para saber mais


Os insetos que trazem prejuízos à agricultura (insetos daninhos) constituem um dos mais sé-
rios exemplos de competidores do ser humano. Como sabemos, para cada espécie de planta
cultivada, normalmente existem várias espécies de insetos que estabelecem uma competição
com o ser humano. Outros competidores dos seres humanos são os roedores, no caso os ratos
e preás, que normalmente danificam plantações de milho estabelecendo então um estado de
competição.

Saiba mais
Predação e competição
Precisamos refletir um pouco mais sobre a predação e a competição, relações que, embora pa-
reçam desleais, são de suma importância para que haja o equilíbrio na natureza.
Odum e Barret (2007) ajudam-nos a entender a competição, dividindo-a em dois subtipos: (1)
as relações intraespecíficas e (2) as interespecíficas.
O primeiro subtipo (relações intraespecíficas) ocorre quando a competição se dá entre membros
de uma mesma espécie ou entre membros de determinada população que vive em uma área
definida, enquanto o segundo subtipo (as relações interespecíficas) acontece entre organismos
de espécies diferentes (ODUM e BARRET, 2007).
Relações ecológicas entre os seres vivos 89

Os mesmos autores também explicam melhor a predação, além de diferenciar os cinco tipos dessa
relação. Eles definem predação como o ato em que um animal se alimenta de outro organismo,
geralmente levando este à morte (ODUM e BARRET, 2007).
O quadro a seguir apresenta os cinco tipos de predação apresentados pelos autores:
Tipo de predação Característica
São os consumidores de herbívoros, predadores
Carnívoros de primeira ordem
típicos.
Carnívoros de segunda ordem
São os predadores de carnívoros.
(de topo de cadeia)
São aqueles que consomem plantas inteiras ou
Herbívoros
apenas parte delas.
São aqueles que depositam seus ovos próximos ao
Insetos parasitoides hospedeiro que acabará sendo consumido pelas
larvas.
São aqueles que consomem seres de sua própria
Canibais
espécie.
Fonte: Odum e Barret (2007)

Os autores complementam explicando a importância da predação como uma das relações mais
importantes. Essa importância se deve ao fato de os reflexos dessa relação não afetarem somente
as populações, mas toda a comunidade.
Por fim, para compreender melhor a relação de competição, Odum e Barret (2007) apresentam
alguns indícios que demonstram quando duas espécies estão em competição:
Padrão biogeográfico como um ‘tabuleiro de xadrez’
A presença de uma espécie garante a ausência de outra, pois as duas precisam dos mesmos
recursos para viver e, por isso, não é possível que ocupem o mesmo local. Assim, acaba
sendo necessária a eliminação de uma delas.
Sobreposição de recurso potencialmente relevante
Como exemplo, se duas espécies se alimentam de uma mesma presa, há a sobreposição
de um recurso que, potencialmente, ficará limitado.
Indivíduos de uma mesma espécie competindo por determinada área
Caso dois indivíduos de uma mesma espécie compitam por uma mesma área de vida, dá-se
a competição intraespecífica.
Uso de um mesmo recurso por mais de uma espécie
O uso de um recurso por uma espécie dificulta o uso desse mesmo recurso por outra. Isso
ocorre, por exemplo, quando diferentes espécies de aves botam ovos em uma mesma época
do ano, e utilizam os mesmos recursos (as mesmas fendas de rochedos, por exemplo).
90 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Resultado negativo sobre uma ou mais espécies


Quando, devido à relação, uma ou mais espécies são afetadas de forma negativa, dá-se a
competição.

Espero que agora você possa compreender melhor a importância dessas


relações para a manutenção da vida, e o alcance do equilíbrio para as espécies.

Para saber mais


Em 1972, MacArthur sugeriu que a competição poderia ocorrer simultaneamente entre várias
espécies, o que Le definiu como competição difusa. Seria o caso de uma espécie exercer seus
efeitos sobre várias outras (PINTO-COELHO, 2000).
A natureza do recurso limitante em uma interação competitiva pode variar muito. Em vegetais
pode ser a luz, o espaço e os nutrientes. Mas pode haver competição por polinizadores ou
agentes dispersores, por exemplo. Entre os animais, o recurso limitante pode ser alimento, sítio
de oviposição ou, ainda, nidificação ou abrigo contra eventuais predadores.
Para manifestar-se, a competição não exige a presença física e simultânea dos eventuais com-
petidores. Um animal que se alimente de uma planta durante o dia pode competir com outro
que seja ativo somente à noite. Outro ponto relevante refere-se à presença da competição. A
maioria dos animais que vive ao redor de um dado organismo não é seu competidor. Assim, a
competição manifesta-se precisamente apenas nos casos assinalados acima. Em um recife de
coral, existem dezenas ou mesmo centenas de espécies de peixes vivendo lado a lado. Esses
organismos são em geral muito especializados nos recursos que exploram e a maioria deles não
está em competição entre si.
Relações ecológicas entre os seres vivos 91

Aprofundando o conhecimento
A fim de consolidar seu conhecimento sobre relações interespecíficas,
aproveite o texto a seguir (BRAGA et al., 2005, p. 43), pois ele sumariza
de forma bastante sucinta essas relações.


 
Duas ou mais espécies que convivem em um mesmo hábitat podem
desenvolver relações mútuas favoráveis ou desfavoráveis para uma ou para
todas as participantes da relação. Os tipos possíveis de indivíduos podem ser
divididos em associações neutras, benéficas (ou positivas) e maléficas (ou
negativas), conforme veremos a seguir.
O neutralismo é uma associação neutra na qual as duas espécies são
independentes e uma não influi na outra.
O comensalismo é uma associação positiva entre uma espécie comensal,
que se beneficia da união, e uma espécie hospedeira, que não se bene-
ficia nem se prejudica com a relação. Esse tipo de relação verifica-se, por
exemplo, entre os humanos (espécie hospedeira) e as bactérias que vivem
em seus intestinos (espécie comensal) e alimentam-se do material retirado
pelo organismo.
Cooperação é a associação positiva, na qual ambas as espécies levam
vantagem, mas que não é indispensável à união, permitindo que os indivíduos
levem vida independente uns dos outros. Um exemplo desse tipo de associa-
ção é a nidificação coletiva, empreendida por algumas espécies de pássaros,
visando à maior segurança e proteção contra seus predadores.
O mutualismo é uma união positiva na qual os indivíduos são intima-
mente ligados, não podendo um sobreviver sem o outro. Como exemplo
desse tipo de associação, citamos a relação entre os cupins e os microrga-
nismos que vivem em seu estômago, que são os responsáveis pela digestão
da celulose da madeira que os cupins comem. A relação mutualística entre
certos fungos e raízes de vegetais é de grande importância econômica para
os humanos.
92 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

O amensalismo é uma associação negativa em que a espécie amensal


sofre inibição em seu crescimento ou reprodução pela espécie inibidora, que
não sofre nada.
Predação é também uma associação negativa, em que a espécie predadora
ataca e devora a espécie-presa. O predador leva vida livre, independente da
presa. Nesse tipo de associação verificam-se, no início, grandes oscilações nas
populações envolvidas, mas, à medida que avançamos no tempo, os efeitos
negativos tendem quantitativamente a reduzir-se para as espécies — até que
chegamos a um ponto de equilíbrio, no qual as duas populações mantêm-se
com tamanho praticamente constante.
O parasitismo, como a predação, é uma associação negativa, em que
a espécie parasita inibe o crescimento, a reprodução ou o metabolismo
da espécie hospedeira, podendo ou não acarretar sua morte. Diferente do
predador, o parasita vive ligado ao hospedeiro e não se alimenta dele, não
havendo destruição violenta. Como no caso da predação, o parasitismo pode
alcançar um equilíbrio em longo prazo e ter seus efeitos negativos reduzidos.
No entanto, se um parasita for introduzido em um ambiente novo que seja
desprovido de elementos de defesa, pode, então, vir a se tornar uma epidemia
ou praga de grandes proporções.
Uma relação importante é a competição, outra associação negativa, na
qual as duas espécies apresentam o mesmo nicho ecológico e, portanto,
disputam alimentos, abrigo e outros recursos comuns às duas espécies com-
petidoras, causando prejuízos a ambas. Assim, espécies com necessidades
semelhantes não podem se desenvolver em um mesmo local, pois uma
forte competição surgirá, levando uma delas à dizimação. Quando ocorre
a competição, a espécie mais especializada e com nicho mais estreito é que
predomina e acaba eliminando as outras.

Conhecidas as relações interespecíficas e intraespecíficas e a importância


de cada uma delas para o equilíbrio entre as espécies, vamos agora ao tópico
seguinte, que nos apresentará como surgem as espécies na colonização de
ambientes.
Relações ecológicas entre os seres vivos 93

Seção 2  



Nesta seção você irá aprender sobre os processos de sucessão ecológica
das espécies, desde os primeiros seres a iniciarem a colonização ate o alcance
de um estado de equilíbrio, o clímax.

 
Existem regiões na terra que em que o clima e as condições do solo, não são
muito favoráveis ao desenvolvimento de seres vivos, por exemplo: em alguns
desertos a composição predominante do solo é composta por areia, pobre em
nutrientes minerais, poucas chuvas, as chuvas que caem não são retidas pela
areia na superfície do solo, rapidamente escoando para regiões mais profundas
ou evaporando. As variações de temperatura são muitas, podendo alcançar
altas temperaturas durante o dia e temperaturas muito baixas durante a noite.

 
Para que você possa entender melhor o que é uma sucessão ecológica, vou
contar-lhe uma história, imagine que você receba de herança de um de suas
avós que você nem sabia que possuía terras, 30 alqueires de terras com mata
virgem, intocada.
Para exemplificar a vocês o que é uma sucessão ecológica imaginaremos
hipoteticamente que desses 30 alqueires eu separe apenas um e derrube toda a
vegetação que ocorre nessa minha pequena área. Depois de derrubada arranco
tocos e galhos deixando a terra limpa, utilizando-se de maquinários nivelo o
terreno e aplico uma camada significativa de asfalto.
Terminado esse processo eu abandono essa terra em que modifiquei com a
derrubada da mata e com o asfalto ali colocado. Com o passar do tempo e com
os ciclos naturais, como chuvas, ventos e temperatura, você irá perceber que
dia após dia uma fina camada de poeira irá se acumular por sobre esse asfalto,
preenchendo as falhas, fendas e pequenas brechas que possam ter ficado nesse
asfalto. Além das ações natais, como já mencionamos, imagine que pássaros
agora passam sobrevoando essa área e acabam defecando, acumulando matéria
orgânica no solo também, juntamente com as fezes algumas sementes que fazem
parte da dieta alimentar desses animais encontram-se no solo agora também, e
iniciam um lento processo de germinação. Como esse ambiente é bastante rude,
94 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

grande parte das espécies que conseguem germinar não tem adaptações para
prosseguir com a vida, morre acumulam ainda mais matéria orgânica no solo,
aumentando a camada de matéria orgânica, e finalmente as espécies que alem
de terem conseguido germinar, permaneceram vivas mesmo neste ambiente
hostil, agora crescem promovendo condições para que espécies mais exigentes
quanto a solo e sombreamento agora comecem a se estabelecer também, e assim
sucessivamente até que uma diversificada flora e fauna se estabeleça nesse novo
ambiente agora já transformado pela colonização realizada durante esse processo.
Mesmo em ambientes hostis, como acabamos de citar, a vida ainda assim
pode se estabelecer. Algumas espécies chamadas de espécies pioneiras são
assim chamadas por que são as primeiras espécies a iniciar um processo de
colonização do ambiente, e conseguem se instalar em ambientes inóspitos e
suportar suas terríveis condições.
Algumas dunas, por exemplo podem ser colonizadas por algumas espécies
de gramíneas. Mas como essas espécies chegam a esses ambientes? As espé-
cies pioneiras são normalmente anemócoras, isto é, podem ser dispersas pelo
vento por grandes distâncias. Essas espécies têm um poder adaptativo enorme
podendo suportar extremo calor a falta d’água e solos inconsistentes, plantas
muito bem adaptadas as adversidades.
Como já explicamos no inicio quando falamos da sucessão, a colonização
do ambiente pelas espécies pioneiras, vai modificando lentamente o ambiente,
com o acúmulo de materiais orgânicos provenientes da decomposição de
plantas mortas, que se acumulam no solo, aumentando a disponibilidade de
nutrientes no solo que aumenta o potencial de retenção de água no solo. a
sombra da vegetação pioneira então reduz as bruscas variações de temperatura
do solo, as raízes conseguem se fixar melhor e o vento já não mais consegue
mover tão facilmente as partículas do solo.
Agora sob essas novas condições, outras plantas e animais conseguem se
estabelecer ali. As novas espécies que se achegam no ambiente irão competir
com as espécies pioneiras e gradativamente irão substituí-las. As sucessivas gera-
ções de plantas e animais que nascem, crescem e morrem vão tornando o solo
cada vez mais rico em matéria orgânica e umidade. Esse processo complexo
das comunidades ao longo de tempos é então chamado sucessão ecológica.

 
Como mencionamos no início dessa seção sobre sucessão ecológica,
o exemplo de uma pequena área desmatada onde as condições eram ex-
Relações ecológicas entre os seres vivos 95

tremamente desfavoráveis à vida, casos como esse denomina-se sucessão


primária.
Classificação dos processos de sucessão: podem ser classificados quanto
às forças que irão atuar para direcionar o processo:
Sucessão autogênica: é o tipo de sucessão onde as mudanças são oca-
sionadas por processos biológicos internos ao sistema.
Sucessão alogênica: é o tipo de sucessão onde as mudanças vêm por
forças externas, como, por exemplo, incêndios, tempestades, processos
geológicos.
Podem ainda ser classificados quanto à natureza do solo ou substrato que
irão dar origem ao processo:
Sucessão primária: irá ocorrer em substratos onde existem as, locais onde
outros organismos não puderam se instalar. Como exemplo: afloramentos
rochosos, exposição de camadas profundas de solo, depósitos de areia,
lava vulcânica recém solidificada etc.
Sucessão secundária: irá ocorrer em substratos onde anteriormente já havia
uma ocupação por uma ou mais com unidades, e como consequência disso
contém matéria orgânica viva ou morta, como detritos. Como exemplo
podemos citar clareiras, áreas desmatadas, fundos expostos de corpos de
água, áreas agricultáveis abandonadas pelo homem; é importante lembrar
que, diferente do primeiro caso, esse tipo de sucessão ocorre e é assim de-
nominado porque possuem vários atributos favoráveis a instalação da vida.

 
Uma comunidade clímax, após determinado tempo de evolução, irá atingir
um estado de estabilidade, compatível com a as condições regionais. Em outras
palavras o que ocorre é que há um perfeito equilíbrio nesse ambiente.

 
Em alguns locais é possível prever qual o tipo de sucessão irá ocorrer, um
campo de cultivo abandonado, por exemplo, onde antes de sua alteração para
a agricultura existiam florestas, a sucessão provavelmente seria a seguinte: cam-
pos, arbustos, vegetação intermediária seguida por mata semelhante a original.
Esses eventos que se sucedem são denominados seres ou séries.
Durante a sucessão há uma gradativa substituição de espécies de plantas e de
animais que constituirão as séries. Uma espécie pioneira exerce um papel fun-
96 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

damental, porém como já vimos tende a desaparecer no final do processo, essas


espécies irão servir como um suporte para que outras se instalem no ambiente.
As espécies e organismos de uma série irão promover mudanças no clima e no
ambiente inaugurando novos nichos ecológicos favorecendo, assim, a chegada de
novas espécies. Como, por exemplo, as plantas suculentas irão criar um nicho para
os pulgões e também para outros insetos herbívoros, e estes por sinal irão servir de
alimento para insetos predadores como o louva-deus, e que também servirão de
alimento para pássaros e assim, sucessivamente, seguirá o emaranhado da vida.

Para concluir o estudo da unidade


Vimos nesta unidade várias questões ecológicas fundamentais para
o entendimento das relações ecológicas existentes na natureza e de que
forma estas funcionam como uma perfeita engrenagem onde qualquer
erro, pode ser decisivo para uma grande parcela de vida.

Resumo
Aprendemos nesta unidade que as relações ocorrentes na natureza,
podem ser harmônicas ou desarmônicas, ou ainda podem ocorrer en-
tre indivíduos de uma mesma espécie, ou entre indivíduos de espécies
diferentes, podendo ser positiva para ambos, para apenas um dos en-
volvidos, ou mesmo terem caráter nulo, onde mesmo que uma espécie
apenas ganhe, a outra necessariamente não perde. Vimos ainda que
essas relações são bastante antigas e que aos poucos foram se fixando
em termos adaptativos, a ponto de algumas dessas relações ocorrerem
hoje em caráter de dependência.

Atividades de aprendizagem
Agora com o conhecimento que lhe foi divulgado nesta unidade, é o
seu momento de identificar os tipos de relações em situações diversas. Leia
atentamente as passagens abaixo, reconhecendo qual seria a relação envol-
vida e justifique. Não esqueça: pense em que resultado gera essa interação
Relações ecológicas entre os seres vivos 97

e como ela interfere para a sobrevivência das partes envolvidas, se precisar


de uma ajudinha recorra ao Quadro 3.2, a seguir.
Relações desarmônicas Relações harmônicas
Predação (+/-) Comensalismo (+/0)
Parasitismo (+/-) Inquilinismo (+/0)
Competição intraespecífica (-/-) Protocooperação (+/+)
Competição interespecífica (-/-) Mutualismo (+/+)
Amensalismo (+/-)
Quadro 3.2 Relações ecológicas

1. Em uma chácara, parte dos lucros que dela é gerado o proprietário


utiliza para manter um grupo de cães, os alimentando e protegendo-
-os das doenças. Não se trata obrigatoriamente de um desesperado
amor pelos animais — o fazendeiro se sente bem recompensado com
os resultados da presença dos cães, redução nos roubos de gado. Que
tipo de relação está ocorrendo aqui? Justifique.
2. Em uma praçinha, onde sempre encontra alguns gatos abandonados,
movido de compaixão ele os leva para casa. Nos dias atuais ele bas-
tante desesperado: o espaço tornou-se insuficiente para manter as
pessoas que moram na casa e tantos gatos, muitos já bem crescidos e
já acasalando. E o pior de tudo é que sua neta tem reclamado bastante
porque os gatos entram na cozinha e roubam os filés que estão na pia:
não sobra nada para a família. De que tipo de relação estamos falando?
Justifique.

Questões para reflexão


1. Após o estudo desta unidade, defina: relação harmônica e desarmônica,
intraespecíficas e interespecíficas.
2. Qual a importância para uma espécie a competição entre seus indi-
víduos?
3. Quais as principais características de um parasita?
4. Qual a diferença entre colônias e sociedades?
5. Qual a diferença entre mutualismo e simbiose?
Unidade 4
As populações
e comunidades
biológicas
Objetivos de aprendizagem: nesta unidade você irá compreender
os principais conceitos de população e de comunidade, bem como
as propriedades de cada uma, além de perceber as relações entre
as populações e entre as comunidades. Iremos ainda identificar a
importância de estudar as relações entre população e comunidade
biológica. Vamos então analisar os conceitos de populações e de
comunidades e como estas se relacionam entre si e com o meio.

Seção 1: Entendendo sobre a organização das


populações, ecossistemas e comunidades
Nessa seção iremos apresentar conceitos básicos de
como se organizam as populações formando comu-
nidades nos ecossistemas.

Seção 2: As formas de interação entre espécies,


como tais especies evoluiram e se
adaptaram para se manterem vivas
Nessa seção você irá conhecer alguns mecanismos uti-
lizados no processo evolutivo e adaptativo das espécies
na natureza, e a forma de atuação da seleção natural.
As populações e comunidades biológicas 99


Esta unidade compõe-se de uma parte introdutória destinada à recordação
de conceitos básicos, seguida de duas seções. Você vai notar que os temas são
tratados numa ordem um pouco diferente à da maioria dos livros didáticos, e
esses mesmos conceitos deverão ser aplicados quando, na Unidade 5, falarmos
sobre a ecologia urbana, pois os conceitos e processos ecológicos são desen-
volvidos a partir de experiências e observações do nosso cotidiano, no próprio
ecossistema urbano em que vivemos. Acreditamos, assim, que essa abordagem
torne os assuntos mais familiares, facilitando a sua assimilação.
Poderemos definir uma população como o conjunto de organismos de uma
mesma espécie que estejam ocupando uma determinada região e conseguem
se reproduzir entre si. Para que você entenda melhor, uma população possui
algumas características, que são propriedades exclusivas do grupo como um
todo, sendo o resultado da junção das diferentes características individuais de
seus membros, e não separadamente.
Algumas dessas propriedades são: a densidade, a natalidade, a mortalidade,
a distribuição etária, o potencial biótico, a dispersão e a forma de crescimento.

Seção 1  



Nesta seção iremos apresentar conceitos básicos de como se organizam as
populações formando comunidades nos ecossistemas.

 
 


 

Preste atenção nos contextos que agora serão apresentados, começaremos
recapitulando alguns conceitos da Unidade 1, sobre a ecologia, para, em se-
guida, perceber qual é a importância de se entender os processos ecológicos.
100 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

A palavra “ecologia” foi usada pela primeira vez em 1869 sendo esse
conceito de outrora aprimorado ao longo do tempo. Hoje, podemos dizer
que Ecologia é o estudo científico das interações existentes que determinam a
distribuição e a abundância das espécies.
A forma como os organismos espalham-se por uma determinada área ou
mesmo quais os fatores que determinam a quantidade de indivíduos de uma
espécie, faz-se necessário antes de tudo conhecer as condições do meio, onde
essas espécies vivem, bem como as interações de relação que esses indivíduos
fazem dentro da população. Devem também ser verificadas as relações entre
indivíduos da espécie em questão e também das demais espécies com os quais
convivem na comunidade.
Vamos agora compreender alguns termos reguladores em populações:
Densidade: é o tamanho da população em relação à área ocupada, ou
seja, é o número de indivíduos por área. Geralmente, é avaliada e expressa
como o número de indivíduos ou a biomassa da população, por unidade
de área ou de volume.
Natalidade: é a capacidade de uma população aumentar, é o índice de
nascimentos num dado período, sendo um termo amplo que engloba
qualquer organismo, seja qual for o processo: nascimento, eclosão, ger-
minação ou divisão.
Mortalidade: refere-se ao índice de mortes na população. A mortalidade
é equivalente à taxa de óbitos na demografia humana. A mortalidade
pode ser definida como o número de indivíduos que morreram em um
determinado período (óbitos por unidade de tempo), ou como uma taxa
específica em termos de unidades da população total ou qualquer parte
desta.
Distribuição etária: é uma importante característica das populações, uma
vez que influencia tanto na natalidade, ou seja, número de indivíduos
que nascem, como a mortalidade (número de indivíduos que morrem).
A proporção encontrada entre os vários grupos etários da população irão
determinar o estado reprodutivo atual da população e também indica o
que poderá ser encontrado no futuro. Por exemplo, uma população em
crescimento rápido conterá uma grande proporção de indivíduos jovens;
uma população estacionária demonstrará uma distribuição mais uniforme
das classes de idade; e uma população em declínio apresentará uma
proporção maior de indivíduos velhos.
As populações e comunidades biológicas 101

Dispersão: é movimento dos indivíduos dentro de várias populações. A


dispersão de indivíduos numa população descreve a distância relativa
entre um e outro, mas pode ser influenciada por fatores limitantes do
meio. Pode ser classificada como: a) agrupada ou agregada: quando os in-
divíduos encontram-se aninhados em grupos distintos, onde há formação
de grupos sociais e disposição de recursos; b) homogênea ou uniforme:
quando os indivíduos encontram-se uniformemente espaçados, e ocorre
uma interação direta entre eles; c) casualizada ou aleatória: os indivíduos
encontram-se dispersos sem um padrão comum.
Potencial biótico: é a capacidade de uma população aumentar seu nú-
mero de indivíduos em condições ideais, sem nenhum impedimento. Mas
você precisa saber, no entanto, que no ambiente há fatores que limitam
esse potencial biótico, chamados de resistência ambiental, que regulam
o tamanho das populações, fazendo com que permaneça relativamente
constante. Podemos então definir o potencial biótico como a propriedade
de um organismo de se reproduzir, de sobreviver, ou seja, de aumentar
quantitativamente. Sendo a soma das proles em cada ato de reprodução
em um dado período de tempo, e a capacidade geral de sobreviver sob
dadas condições físicas.
Resistência ambiental: deve ser entendida como uma combinação de
fatores bióticos e abióticos, que irão funcionar como mecanismos que
limitam ou impedem o crescimento de uma população, tais como espaço,
clima, alimento, competição, parasitismo e predação.
Equilíbrio populacional: a população será considerada em equilíbrio
quando as flutuações no número de indivíduos se alternem sutilmente,
ora estando um pouco acima, ora um pouco abaixo do limite máximo
de crescimento, devido à ação de duas forças antagônicas, são elas o
potencial biótico e a resistência ambiental.
Comunidade: a comunidade também chamada biocenose, é a junção em
totalidade de todos organismos vivos que fazem parte do mesmo ecossis-
tema e interagem entre si, não é apenas isso, representa muito mais que
apenas à reunião de indivíduos (população) ou sua organização social
(sociedade). Por exemplo, as comunidades possuem estrutura trófica,
fluxo de energia, diversidade de espécies, processos de sucessão, entre
outros componentes e propriedades, que são importantes não somente
para nós humanos, mas também para qualquer outro ser vivo.
102 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

 
Forma de crescimento: as formas de crescimento são padrões característicos
de aumento da população.
E podem haver dois padrões básicos: as formas de crescimento em forma
de J, onde a densidade aumenta rapidamente de forma exponencial parando
abruptamente quando a resistência ambiental se torna efetivo mais repen-
tinamente; e a curva de crescimento Sigmoidal ou em forma de S, onde a
população aumenta lentamente no início, depois mais rapidamente, mas logo
a taxa de aumento vai diminuindo aos poucos, à medida que a porcentagem
de resistência ambiental vai aumentando, até o equilíbrio ser alcançado e
mantido.
Essas informações proporcionam um retrato da população em um deter-
minado tempo, tendo importância para gestão e conservação do ambiente e
servindo de base para compreender os fatores que fazem o tamanho da popu-
lação variar, e os processos que regulam seu crescimento.
O Gráfico 4.1 expressa o crescimento de uma população humana, é um
comportamento de crescimento populacional diferenciado em relação às de-
mais populações naturais, apresenta uma curva de crescimento em “J”, o que
mostra um crescimento populacional acelerado.

Número de
indivíduos

Tempo

Gráfico 4.1 Crescimento populacional humano

O crescimento da populacional humano é diferente das demais populações


naturais, porque esta em contínuo crescimento, e grande parte dos mecanismos
As populações e comunidades biológicas 103

da seleção natural ativamente atuantes em populações naturais, não atuam


exercendo toda sua eficácia na população humana devido a todo aparato, fruto
de avanços tecnológicos que nossa espécie possui, como exemplo na agricul-
tura para produção de alimentos, as cirurgias, a produção de antibióticos nos
processos de doença, dentre outros.
As diversas populações de uma espécie, geralmente, não são isoladas umas
das outras. Elas se comunicam entre si e trocam genes por intermédio de in-
divíduos migratórios.
As condições ambientais atuam diretamente sobre os processos fisiológicos,
podendo ser estímulos importantes para o crescimento e desenvolvimento de
um organismo. As espécies necessitam de condições adequadas para seu de-
senvolvimento, o que explica o fato de algumas espécies serem encontradas
em determinados locais e em outros não.
A população funciona como parte de uma comunidade biológica, a qual,
por sua vez, é definida como um conjunto de populações de diferentes espé-
cies que ocupam determinada região, podendo ser composta de duas a várias
centenas de espécies, com os mais variados modos e formas de vida, sendo
consideradas unidades muito complexas na natureza. As grandes comunida-
des biológicas do planeta, por exemplo, a floresta Amazônica, são também
chamadas de biomas.
Möbius (1877 apud PINTO-COELHO, 2000) foi um dos primeiros a tentar
caracterizar uma comunidade em estudos com ostras em regiões litorâneas.
Ele percebeu que existe uma interdependência entre os organismos, no que
ele designou como biocenose. É comum o uso desse termo, biocenose, por
ecólogos europeus em lugar de comunidade.
Odum (2007) define comunidade como o conjunto de todas as popula-
ções de uma dada área geográfica, como parte viva do ecossistema (PINTO-
-COELHO, 2000).
Os organismos de uma comunidade atuam em reciprocidade com o meio
físico, sendo influenciados por ele e também o modificando de modo carac-
terístico.
As comunidades têm certas propriedades estruturais e funcionais, e quando
compreendemos esses conceitos isso facilita seu estudo e a compreensão.
Assim, a população apresenta vários atributos: composição específica, di-
versidade, formas de crescimento, estrutura espacial, associações tróficas,
dentre outros.
104 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

A composição específica de uma comunidade trata-se do catálogo de espé-


cies que a compõem. Para isso, são necessárias detalhadas investigação com a
finalidade de levantar e identificar todas as espécies presentes na comunidade,
o que pode ser muito difícil em alguns casos.
As comunidades podem ser descritas e diferenciadas entre si pelo número
de espécies que a compõem, ou seja, pela sua riqueza. No entanto, nem todas
as espécies têm importância igual nos fatores que determinam a estrutura da
comunidade. Algumas espécies podem ser mais abundantes que outras. Essa
característica se torna comum, devido às diferenças envolvendo a ecologia e
a fisiologia de uma espécie, como o tamanho, posição trófica ou atividade
metabólica desses organismos. Muitos autores dizem que espécies dominantes
são aquelas que possuem um maior sucesso ecológico. Mas alguns fatos curio-
sos ocorrem na natureza fazendo com que espécies não dominantes sejam, em
alguns casos, capazes de exercer uma força controladora dentro do ecossistema.
Essas espécies são chamadas de espécies-chave.
As formas de crescimento e características
Saiba mais estruturais nas comunidades incluem tanto
categorias maiores de crescimento, como ár-
Pesquise sobre o botânico dinamar-
vores, arbustos, ervas, epífitas, lianas e mus-
quês C. Raunkiaer, que em 1903
gos, bem como categorias detalhadas: folhas
propôs uma classificação das for-
largas, folhas estreitas, árvores perenifólias ou
mas de vida dos vegetais depen-
decíduas etc.
dendo da posição de suas partes
regenerativas, distinguindo cinco As comunidades podem ter estruturas de
formas principais cuja ocorrênciadiferentes padrões espaciais. Como exemplo,
podemos citar as comunidades aquáticas, nos
está correlacionada ao clima da re-
gião onde as plantas vivem. rios que apresentam diferentes comunidades
ao longo de sua extensão, desde as nascentes
até a foz, e os lagos com diferentes comunidades que se estabelecem ao longo
dos gradientes que ocorrem na coluna d’água.

Para saber mais


Há também as relações alimentares dentro da comunidade, que determinam o fluxo de energia
entre produtores, herbívoros e carnívoros. O estudo dessas interações tróficas em diferentes
comunidades serviu de base para os primeiros modelos conceituais de funcionamento dos
ecossistemas.
As populações e comunidades biológicas 105

Saiba mais
Charles Elton estudou no Liverpool College e na Universidade de Oxford, onde se graduou em
1922, e também onde subsequentemente desenvolveu sua carreira acadêmica. Profissionalmente,
Elton dedicou-se à história natural, especialmente em Ecologia, aplicando o método científico para
estudar a vida dos animais em seus hábitat natural, e suas interações com o ambiente. Antes de
sua graduação, em 1921, trabalhou como assistente de Julian Huxley em uma expedição ecológica
dos vertebrados do Ártico, um projeto que continuaria com três expedições posteriores à região
cumpridas em 1923, 1924 e 1930. Suas experiências levaram-no a associar-se com a Hudson’s
Bay Company, entre os períodos de 1926 a 1931, a qual lhe permitiu estudar as flutuações nas
populações das espécies animais que sofriam a caça. Mais tarde, desenvolveu estudos similares
nas populações britânicas de ratos.
106 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Seção 2  
 



Nesta seção você irá conhecer alguns mecanismos utilizados no processo
evolutivo e adaptativo das espécies na natureza, e a forma de atuação da se-
leção natural.
As espécies de uma comunidade estabelecem inúmeras interações entre si,
que nem sempre são fáceis de ser estabelecidas, mas servem para entender o
comportamento e a estrutura de uma comunidade como um todo. Essas intera-
ções não são somente uma de suas propriedades, mas constituem um de seus
pilares conceituais. Muitas vezes, os organismos de uma comunidade estão
interligados de tal modo que a extinção de uma espécie pode causar sérias e
irreversíveis manifestações de desequilíbrio ecológico.
Um dos aspectos ecológicos mais interessantes em relação à dinâmica das
comunidades refere-se aos ciclos temporais observados em praticamente todas
as comunidades. Por exemplo: as florestas exibem ciclos fenológicos muito
nítidos, que vão regular a ocorrência de inúmeros insetos e mamíferos. Esses
ciclos fenológicos são simultâneos e recorrentes quanto maior for a latitude.
Saber como agrupamentos de espécies estão distribuídos e as maneiras pelas
quais podem ser influenciados tanto por fatores abióticos quanto bióticos, pos-
suem fundamental importância para compreensão da ecologia do ambiente e
desenvolvimento de possíveis estratégias para sua conservação.


Todos os seres vivos possuem alguns ajustes biológicos que os ajudam com
as variações do ambiente; para que você possa entender melhor, vamos falar
de uma característica básica ocorrente em nossa própria espécie. Cito como
exemplo a pele do ser humano, que, quando exposta a luz solar, é induzida
a produzir mais melanina, que nos dá a proteção contra os raios ultravioletas.
Outro exemplo: quando praticamos alguma atividade física por vários dias
consecutivos, nosso organismo aumenta a produção de glóbulos vermelhos,
que aumentam a eficiência de transporte do oxigênio. Veja um outro exemplo
bem clássico e que certamente já fez ou faz parte do cotidiano de muitos de
nós: é bastante comum o aparecimento de calos nas mãos quando fazemos o
As populações e comunidades biológicas 107

uso contínuo de alguma ferramenta; isso certamente já ocorreu com você, se


os calos não apareceram, certamente a pele de suas mãos deve ter ficado mais
espessa. Todas essas modificações que acabamos de mencionar ocorrem nos
seres, em especial agora da espécie humana, como uma resposta adaptativa,
e que está diretamente ligada a algum evento em que estejamos empenhados.
O fato é que essas adaptações que acabamos de citar não são transmitidas
para nossos descendentes, isso não ocorre porque as alterações dantes men-
cionadas ocorrem como uma resposta adaptativa, ou seja uma alteração que o
organismo é capaz de projetar com o intuito de proteção, e não uma mudança
mais profunda a ponto de alterar nosso material genético, mas você verá logo
adiante que algumas espécies passam informações, ou características para seus
descendentes.
Algumas espécies possuem características já fixadas há tempos e transmitem
essa informação ou característica, por exemplo, o maior roedor de nossa fauna
e que é encontrado em diversas regiões do Brasil, a capivara, (Hydrochoerus
hydrochoeris) é detentor de algumas dessas curiosas adaptações e que são trans-
mitidas aos descendentes como veremos agora. A primeira característica que
iremos mencionar está nas patas desse roedor, que funcionam como excelentes
nadadeiras, os dedos desse animal estão unidos por membranas interdigitais;
se você já mergulhou em alguma lagoa ou mesmo no mar, já deve ter utilizado
um utensílio parecido: o pé de pato, que faz com que você consiga nadar mais
rapidamente e com menos esforço. Pois bem as patas da capivara possuem
adaptações semelhantes, que fazem com que esse animal seja um hábil nadador,
e como o animal não vive na água, apenas utiliza o ambiente aquático para
baixar a temperatura de seu corpo quando se encontra fora d’água; essas mes-
mas patas funcionam perfeitamente nas atividades que o animal desempenha.
As focas possuem adaptações bem parecidas, suas patas também funcionam
como nadadeiras, seus dentes caninos extremamente pontiagudos perfuram a
carne dos peixes, e sua densa camada de gordura funciona como um isolante
térmico, protegendo o animal das baixas temperaturas, e é ainda uma reserva
energética e ajuda o animal a flutuar. Podemos com isso, então, dizer que com
todas essas adaptações esses e outros animais, com suas habilidades adaptativas,
conseguem viver em plena harmonia com o ambiente e a seu modo de vida.
Como você já deve ter percebido a evolução da vida, deve então ser en-
tendida como o conjunto de mudanças que se acumularam ao longo de muito
tempo em uma data população, e está intimamente ligada com a maneira com
que essas espécies se adaptam ao ambiente em que vivem.
108 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Para fixar melhor seu entendimento sobre esse processo evolutivo de que
falamos imagine que um casal de peixes tenha sido colocado em uma lagoa,
podendo então se reproduzir e gerar muitos descendentes, que, se permanece-
rem vivos, irão se reproduzir e formar novos descendentes (Figura 4.1). Nesse
modelo, se isso ocorrer, a população pode aumentar de tamanho indefinida-
mente, a ponto de não haver alimento suficiente para toda essa população,
que, como você se lembra, teve início com um único casal de peixes colo-
cado em uma lagoa. Bem, isso só não ocorre porque assim como as espécies,
o meio ambiente também tem suas ferramentas com potencial para corrigir
esses “detalhes” que acompanham essa e outras populações. Vamos ver como
isso ocorre: embora todos os descendentes gerados nessa lagoa, a partir de
apenas um casal, sejam aparentados, eles não são idênticos, ou seja possuem
diferenças, que chamaremos de diferenças intraespecíficas, por exemplo, os
peixes que forem menos ágeis para nadar serão facilmente devorados por outros
predadores, como mencionamos na Unidade 3, se os peixes dessa população
tiverem algum problema com a visão terão sérias dificuldades para buscar
alimento, os indivíduos que apresentarem alguma deficiência imunológica
fatalmente serão acometidos de doenças e certamente morrerão, se houverem
nesse grupo indivíduos que apresentarem uma coloração mais chamativa, por
exemplo a cor vermelha, poderão mais facilmente chamar a atenção de pre-
dadores, tornando-se presas fáceis.
Os animais que sobreviverem a todos esses processos que mencionamos
são considerados os mais adaptados, pois conseguiram alimento, escaparam
dos predadores, têm tolerância às variações químicas e físicas da água, além de
terem resistido ao ataque de microrganismos, e finalmente chegaram à idade
adulta, se reproduzirem e transmitirem suas características, e falamos agora das
características genéticas, para seus dependentes. Notem que, como mencionado
na Unidade 1, existe uma batalha intensa pela vida, uma luta para estabelecer
a sobrevivência. A adaptação é, então, o ajustamento de uma espécie ao seu
ambiente, que é possibilitada por uma série de características que são capazes
de proporcionar a sobrevivência e a reprodução de uma espécie.
Na Figura 4.1 poderemos notar a batalha de uma espécie para manter-se
viva, em quantidade de indivíduos suficiente para que haja a manutenção da
espécie e que muito terá que lutar para chegar à idade adulta e continuar o
processo iniciado por seus ancestrais.
As populações e comunidades biológicas 109

Figura 4.1 Processo de reprodução e aumento populacional

Com base nesses exemplos citados podemos estabelecer alguns critérios


para melhor entender a evolução e adaptação das espécies, que permitem às
diversas populações e comunidades biológicas o seu estabelecimento. Como
vimos também na Unidade 1, sobre Darwin, um grande cientista que muito fez
para a elucidação dos mistérios da vida, deixou fixadas algumas teorias hoje bem
conhecidas, como a teoria sintética da evolução ou o também conhecido neodarwi-
nismo, que traz consigo as principais ideias de Darwin. Esses fundamentos são:
Os organismos de uma espécie (mesma espécie) não são idênticos entre
si; um ser humano, por exemplo, não é idêntico a outro, o mesmo ocorre
com as demais espécies como já vimos também o exemplo dos peixes,
isso é chamado de variabilidade intraespecífica; tais diferenças podem ser
relativas a acuidade visual, resistência a doenças e pragas, cor e, ainda,
o tamanho.
O ambiente irá exercer, como já mencionado, seu papel ou função, sobre
toda essa variabilidade intraespecífica, eliminando os indivíduos que estão
menos adaptados e permitindo a sobrevivência dos mais adaptados, esse
mecanismo é então chamado de seleção natural, ou seja o ambiente irá
atuar negativamente sobre as espécies menos adaptadas, seja por meio
dos predadores, das doenças ou mesmo a falta de habilidade da espécie
em buscar alimento etc.
Bem como vimos, falando agora novamente sobre o casal de peixes que
soltamos numa lagoa como exemplo, a geração de tantos descendentes pouco
110 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

adaptados, ou seja, que não passarão pelos processos a que o meio ambiente
os imporá, a “seleção natural” não te leva a pensar que esse processo é uma
grande perda de tempo e energia? Um desperdício a que as espécies são aco-
metidas? Na verdade é parte de toda a luta pela sobrevivência já mencionada
a vocês, os indivíduos que permanecerem vivos depois de toda essa batalha
são para aquele momento os mais adaptados. Mas, preste atenção, as coisas
podem se inverter se as condições do ambiente se alterarem os indivíduos mais
bem adaptados poderão não ser mais os mesmos, por exemplo, imagine que
próximo a essa lagoa que mencionamos uma indústria se instale, e dentre os
resíduos por ela gerados uma substância de cor avermelhada e não tóxica seja
lançada diretamente nessa lagoa; a água se tornará então avermelhada. Nessas
novas condições o peixe vermelho que poderia ser fruto da prole do casal que
soltamos na lagoa, que antes por ser vermelho poderia ser mais facilmente
devorado por um predador que os demais, agora encontrar-se-ia em vantagens
em relação aos demais, podendo mais facilmente chegar à idade adulta, se
reproduzir e gerar mais descendentes com a coloração avermelhada, que com o
passar do tempo essa característica de cor fosse a predominante na população.
Resta somente uma curiosidade: o peixe ficou vermelho porque a água da
lagoa tornou-se vermelha? É claro que não, o peixe vermelho recebeu de herança
genética um alelo mutante, que o deixa com a coloração das escamas vermelhas,
e a mudança da cor da água, que assim ficou por conta da indústria que se instalou
nas margens da lagoa, apenas selecionou o indivíduo mais adaptado a viver nela.
Concluímos dessa maneira que as espécies podem evoluir, adaptando-se às
circunstâncias ambientais, se isso não ocorrer e não restarem indivíduos que
suportaram as mudanças, os chamados mais bem adaptados, essas espécies
podem desaparecer, se extinguirem.



 
Certamente você já ouviu falar do DDT; se não ouviu pergunte a seus fa-
miliares mais velhos, que inevitavelmente lhe contarão alguma história sobre
esse inseticida. O DDT foi muito utilizado na Segunda Guerra Mundial para
combater piolhos transmissores de tifo, uma doença que já matou no passado
milhões de pessoas. A utilização do DDT foi bastante satisfatória, conseguiu
controlar os piolhos transmissores de tifo, e posteriormente o DDT passou
também a ser utilizado na lavoura, para combater pragas, mas mostrou -se
As populações e comunidades biológicas 111

prejudicial a saúde humana e também ao equilíbrio biológico. Além do que,


detectou-se que com o passar do tempo a eficiência do produto já não era mais
a mesma, e muitas populações de insetos conseguiam sobreviver à aplicação
do DDT. Muitas florestas foram pulverizadas com o produto na intenção de
eliminar o mosquito-prego, responsável por transmitir a malária.
O DDT, assim como outros inseticidas, normalmente é aplicado em grandes
áreas, um problema, pois, com essa prática, outros seres vivos são afetados, e
não apenas os insetos que se deseja controlar.
Nas primeiras décadas de aplicação o DDT conseguiu-se eliminar grande
parte dos mosquitos transmissores da malária, quase erradicando na totalidade o
mosquito, porém, um pouco mais tarde constatou-se que a quantidade de mos-
quitos voltou a aumentar. Os mosquitos que morriam, ou seja, que eram sensíveis
ao DDT, morriam; já os mosquitos resistentes conseguiam manter-se vivos, pois
possuíam alelos que lhes conferiam uma resistência ao DDT; como esse alelo era
transmitido às gerações seguintes dos mosquitos resistentes, em pouco tempo a
maior parte dos mosquitos já não morria mais com a aplicação do DDT.
Preste atenção em como a interferência humana causou modificações im-
portantes na população de mosquitos, com a aplicação do DDT, os indivíduos
sensíveis foram quase que totalmente eliminados, o que fez com que o número
de mosquitos resistentes em pouco tempo aumentassem na população, o que
inviabilizou a utilização do DDT, pois além de afetar uma série de espécies
que não deveriam ser eliminadas; em pouco tempo já não valiam nem mesmo
para as espécies que se desejava controlar.
Outro exemplo que podemos utilizar ainda nessa mesma temática seria a
respeito do uso de antibióticos.

 
Você, em algum momento de sua vida, já deve ter feito uso de um antibiótico
para combater uma bactéria que pode ter lhe causado uma doença; um antibi-
ótico pode perder sua eficiência no combate de determinado tipo de bactéria,
ainda mais se não for tomado de maneira correta, ou seja, se não for seguido
corretamente o intervalo entre as doses ou mesmo o tempo total de tratamento
com o antibiótico. É muito comum você ouvir por aí que as bactérias se tornaram
resistentes ao antibiótico, o que não está correto; o que na verdade acontece é
que as bactérias que são resistentes, ou seja, que possuem em seu plantel genético
algum alelo que lhes confira a habilidade de manterem-se vivas mesmo com a
ação do antibiótico fruto de alguma mutação, surgida em uma ou algumas das
112 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

bactérias, o que faz com que consigam mesmo na presença de ação do antibi-
ótico se multipliquem e passem a predominar no grupo.
O correto procedimento para combater as bactérias resistentes, então, é
a substituição do antibiótico, utilizando-o antibiótico corretamente quanto a
dosagem a o tempo de uso.
Um exemplo que podemos citar sobre o que já foi exposto é o caso da tu-
berculose no final da década de 1980, onde notadamente o número de casos
aumentou em diversos países, e um dos motivos foi o aumento de pessoas con-
taminadas com o vírus HIV, o vírus causador da Aids, uma síndrome que afeta
o sistema imunológico e deixa o indivíduo debilitado, permitindo que diversas
doenças possam se instalar no organismo, não só a tuberculose, mas uma série
de outras doenças.


Os indivíduos pertencentes a uma população que se reproduzem sexua-
damente, isso é a reprodução que depende do envolvimento do individuo do
sexo masculino com indivíduo do sexo feminino, como já vimos anteriormente;
são indivíduos diferentes uns dos outros, com características divergentes, das
mais variadas possível, como exemplo da espécie humana, com indivíduos
com peso, altura e pigmentação da pele diferentes uns dos outros, por isso,
você não é idêntico aos seus companheiros de sala, embora todos nós sejamos
pertencentes a mesma espécie; apresentamos divergências entre nós, o que de
certa forma nos torna únicos, como podemos visualizar no Gráfico 4.2, que
apresenta divergências entre os indivíduos com seu respectivo peso.

Curva relacionando o número de indivíduos com


o peso que apresentam

Número de indivíduos

Peso

Gráfico 4.2 Diferenças entre os seres humanos, indicação da comparação da


variação de peso e altura
As populações e comunidades biológicas 113

A seleção natural poderá agir sobre as diversidades das populações de


maneiras diferentes, selecionando alguns grupos de indivíduos que possuem
uma determinada característica e eliminando os indivíduos que não a possuem.
Fique atento a algumas formas de atuação da seleção:
Seleção estabilizadora: esse tipo de seleção irá favorecer portadores de
característica intermediária, eliminando assim os indivíduos que apresen-
tarem os extremos dessa característica, como exemplo para que você possa
entender melhor; citaremos o peso de recém-nascidos, onde a prevalência
de sobrevivência ocorre em crianças nascidas entre as faixas de 3,00 a
3,5 kg. Bebês que apresentam peso abaixo disso podem ter problemas de
sobrevivência, como problemas com a imunidade e problemas respirató-
rios dentre outros; já os bebês nascidos com peso mais elevado podem ter
problemas no parto. Portanto, se beneficiariam na luta para a sobrevivência
os bebês nascidos dentro dessa média de peso, 3,00 a 3,5 kg.
Seleção direcional: essa seleção irá beneficiar indivíduos de uma das
formas extremas de uma dada população, citamos como exemplo um
fato ocorrido na Inglaterra, em que um dos frutos da poluição ambiental,
permitiu que da população de moscas, que era composta por indivíduos
de cor clara e de cor escura, com o evento da poluição, somente sobre-
viveram as moscas com coloração escura.
Seleção disruptiva: auxilia os indivíduos portadores de qualquer das formas ex-
tremas de características. Ex.: pássaros que se alimentam de sementes, podem
desprezar as sementes pequenas e as grandes preferindo para sua alimentação
as sementes de tamanho médio, dessa forma haverá o favorecimento das
plantas com características extremas, ou seja plantas que produzem sementes
pequenas e grandes terão maiores possibilidades de que suas sementes possam
cair ao solo e germinarem, aumentando assim sua população.
São apresentadas no Gráfico 4.3 algumas formas de atuação da seleção
natural, responsável por separar os indivíduos mais bem adaptados ao meio.

a) Estabilizadora b) Direcional c) Disruptiva

Gráfico 4.3 Três tipos de seleção natural


114 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE




Entenda por espécie o conjunto de semelhantes indivíduos que podem se
cruzar naturalmente e gerar descendentes férteis.
Os seres de espécie diferentes normalmente não podem, do ponto de vista
reprodutivo, cruzar. Muito excepcionalmente indivíduos de espécies diferentes
podem se cruzar, um dos casos mais conhecidos envolvem dois animais de
espécies diferentes, sendo eles a égua e o jumento. Desse cruzamento ocorre a
geração de um indivíduo estéril, ou seja, incapaz de gerar um descendente fértil.
O burro e a mula não são ambos membros de uma mesma espécie, mas
híbridos interespecíficos; existem outros animais que são resultado de cruza-
mentos envolvendo indivíduos de espécie diferentes:
o pintagol, que é o resultado do cruzamento do pássaro pintassilgo com
o canário fêmea, o tigão, que é resultante do cruzamento entre o tigre e
a leoa.
Resumidamente do relacionamento interespecífico, sempre apresentam
algo chamado de isolamento reprodutivo: não se cruzam, e se assim o fizerem,
seus descendentes serão estéreis, ou seja, incapazes de deixar descendentes
com fertilidade.

 
 

O homem, como todos os demais seres vivos, está também inserido em
diversas condições ambientais, interagindo densamente com o ambiente e com
as demais espécies, não importando se essas espécies são microrganismos, ve-
getais ou mesmo outros animais. Finalizaremos nosso estudo sobre a ecologia
e as comunidades entendendo a maneira como interagimos com o meio físico
e com outras espécies.
Primeiro, estabeleçamos uma área ou um espaço urbano, pode ser inclusive
onde você mora, ou ainda seu local de trabalho, onde passa a maior parte do
dia. Lembre-se, você é um indivíduo que pertence à comunidade que está ins-
talada nessa área onde você se estabeleceu. Memorize, se for o caso marque
em um rascunho todos os organismos que você pode ter observado nos dias
anteriores ou mesmo nos dias em que se propuser a fazer essa atividade; não
importa se forem espécies de animais, vegetais ou insetos.
As populações e comunidades biológicas 115

Questões para reflexão


Tente se lembrar se você teve algum problema ecológico nos últimos três
dias, considere antes de mais nada sua interação com o meio abiótico, e de-
pois você irá considerar separadamente apenas sua relação com indivíduos
ou organismos de outras espécies com que você convive ou possa conviver.
Depois dessa dinâmica, pergunto. Você conseguiu resolver esses problemas?
De que forma? Os problemas ecológicos que você encontrou e pensou serem
relativos a você, seriam problemas também para um cavalo ou um cachorro?
Se sua resposta for sim, um animal teria como resolver esses problemas?
Como ele faria? Existe em sua comunidade algum problema relativo à sua
sobrevivência que você poderia resolver se estabelecer uma relação com
um indivíduo de outra espécie? E agora vejamos o outro lado, você e outras
pessoas com quem divide o espaço poderiam ser consideradas um problema
para outras espécies da comunidade? Que problema seria esse? As espécies
afetadas podem resolvê-lo? Como? Em caso negativo, que consequência você
prevê para as populações de tais espécies?

 
Se já refletiu sobre os pontos mencionados, vamos à pergunta. Você concorda
que os organismos serão mais bem-sucedidos na natureza quando conseguirem
o mais adequadamente possível resolver as dificuldades existentes do processo
de sua interação com o seu mundo abiótico e biótico em que se relacionam?
Como vimos anteriormente as estruturas corporais e as ações que estão envol-
vidas na solução de problemas que comumente são impostos pelo ambiente são o
que chamamos de adaptações. Por esse motivo que já foi trabalhado inclusive com
o exemplo anteriormente é que podemos afirmar que, os organismos melhores ou
mais bem adaptados a um ambiente conseguem encontrar soluções eficientes para
garantir sua sobrevivência. Bem, para fixarmos esse conhecimento fecharemos essa
ideia concluindo que: se as adaptações que podem ser transferidas, são conferidas
por genes, então logo serão passadas de uma a outra geração, de pai para filho e
de uma ninhada a outra, tornando-se características hereditárias. Então, é bastante
interessante para a espécie que as soluções eficientes possam ser passadas para
outros indivíduos dentro da população, o que seguramente aumentaria a chance
de sobrevivência individual e também da população.
116 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Finalizamos aqui nossas comparações esperando que você possa ter


compreendido as diferenças existentes nas entidades ecológicas (indivíduos,
populações, comunidades, ecossistemas), uma hierarquia na qual cada nível
(chamado nível de organização) possui alguns atributos de finalidades bastante
específicas.
De cada nível organizacional anteriormente mencionado existem proces-
sos ou mecanismos particulares: os indivíduos nascem, respiram, movem-se,
transportando-se de um local a outro, excretam resíduos, alcançam maturidade
adulta, ficam doentes e morrem. De igual forma populações podem “nascer” e
“crescer”, sendo originadas como no exemplo anteriormente já citado dos peixes
na lagoa a partir da reprodução de alguns indivíduos. O crescimento aí corres-
ponde ao aumento do tamanho em número de indivíduos. Porém, já sabemos que
o tamanho de uma população também pode reduzir até a completa extinção se
houverem mudanças no ambiente, por exemplo; populações também “morrem”.
Uma comunidade “nasce”, a partir de indivíduos de diferentes espécies que che-
gam em um novo ambiente ainda não habitado, aumenta em tamanho, ou seja
cresce, aumentando a diversidade, e, como já vimos, também pode desaparecer.
Vemos, portanto, que as entidades ecológicas “são funcionais”, têm uma
mecanismo próprio. Por exemplo, o tamanho das populações mantém-se ao
longo do tempo pela ação do equilíbrio entre forças opostas, que funcionam
como um cabo de guerra; citamos como negativas a morte de indivíduos e
positivas o nascimento e a imigração de novos indivíduos. As características
peculiares das comunidades geram um efeito conjunto das condições bióticas
e abióticas, além das interações entre organismos das populações que são seus
componentes.
E, por fim, um ecossistema em funcionamento pleno apresenta diversos
processos, sendo os mais importantes: o fluxo de energia, e a ciclagem de
materiais, que normalmente chamamos de ciclagem de nutrientes.
É por conta desses processos que sabemos que o meio tem a plena capa-
cidade de interferir e afetar os seres vivos, e os seres vivos também interferem
e afetam o meio. Por exemplo, hoje sabemos que nossa atmosfera contém O2
e CO2 devido à atividade de organismos que viveram no passado, sendo que
quanto mais complexa for a organização do sistema, mais energia para mantê-
-lo será necessária.
As populações e comunidades biológicas 117

Links
Para facilitar o entendimento acesse os links relacionados a seguir; eles irão auxiliar no enten-
dimento da temática anteriormente abordada.
<http://www.ajudaalunos.com/cn/capi15.htm>
<http://www.mesologia.hpg.ig.com.br/ecologia_de_populacao.htm>
<www.fontedosaber.com/biologia>
<http://www.biomania.com.br/bio/conteudo.asp?cod=1266>

Aprofundando o conhecimento
Vamos agora conhecer um pouco sobre a sucessão ecológica. Leia o
trecho de Braga et al. (2005, p. 18-20).


 
Sucessão ecológica é o desenvolvimento de um ecossistema desde sua
fase inicial até a obtenção de sua estabilidade e do equilíbrio entre seus com-
ponentes. É um processo que envolve alterações na composição das espécies
com o tempo, levando sempre a uma maior diversidade, sendo razoavelmente
dirigido e, portanto, previsível. Resulta da ação da comunidade sobre o meio
físico, que cria condições ao desenvolvimento de novas espécies e culmina
em uma estrutura estável e equilibrada. Durante o processo de sucessão, as
cadeias alimentares tornam-se mais longas e passam a constituir complexas
redes alimentares; já os nichos tornam-se mais estreitos, levando a uma
maior especialização. A biomassa também aumenta ao longo da sucessão,
do mesmo modo que o ecossistema adquire autossuficiência, tornando-se um
sistema fechado por meio do desenvolvimento de processos de reciclagem
de matéria orgânica.
À sequência de comunidades que substituem umas às outras dá-se o
nome de série, e a essas comunidades transitórias dá-se o nome de estágios.
A primeira comunidade que se instala é denominada comunidade pioneira, e
118 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

a última comunidade da sucessão é denominada comunidade clímax. Quando


a sucessão se inicia em uma área nunca antes povoada, ela é conhecida como
sucessão primária. Por sua vez, se a sucessão se inicia em área já anteriormente
povoada e cuja comunidade tenha sido quase extinta, esta é denominada
sucessão secundária e processa-se mais rápido que a anterior, pois alguns
organismos ou mesmo sementes da povoação anterior permanecem no local.
A sucessão ecológica processa-se por causa da ação de vários fatores,
tanto bióticos quanto abióticos. O clima e as alterações geológicas podem
alterar o ambiente, tornando-o desfavorável às espécies que nele habitam e
favorável a novas espécies. Por sua vez, a própria comunidade age no meio
físico, alterando-o, e o resultado da decomposição da matéria orgânica, pro-
veniente da excreção ou dos cadáveres dos indivíduos, gerará modificações
químicas no solo. O desenvolvimento de vegetação leva a alterações climáticas
próximas do solo, além de reter mais a água da chuva, modificando, assim,
as condições ambientais.
À medida que se avança na sucessão ecológica, a taxa respiratória au-
menta, levando a uma redução na produtividade líquida do ecossistema. A
produtividade bruta também aumenta, mas a ritmo menos acelerado, o que
significa dizer que, nos ecossistemas maduros, a energia fixada por meio da
fotossíntese tende a ser consumida pela respiração. Por sua vez, os ciclos de
nutrientes, como nitrogênio, fósforo e cálcio, tendem a se fechar, aumen-
tando a independência do ecossistema em relação ao meio externo, tendo os
decompositores papel de grande importância em tais comunidades.
O processo de sucessão ecológica leva o ecossistema a um crescente
desenvolvimento das relações interespecíficas, principalmente o mutualismo.
Além disso, à medida que se aproximam do clímax, os organismos tendem a
aumentar de tamanho e seus ciclos de vida tendem a se tornar mais longos.

 
Há um aumento de concentração de determinados elementos e compos-
tos químicos, notadamente os poluentes da água, à medida que se avança
na cadeia alimentar. Essa concentração crescente deve-se à assimilação, pelo
organismo, desses compostos, quando da síntese dos tecidos ou gorduras.
A esse aumento de concentração de poluentes ao longo da cadeia alimentar
dá-se o nome de amplificação biológica, magnificação biológica ou, ainda,
ampliação biológica.
As populações e comunidades biológicas 119

Esse fenômeno ocorre em função de três fatores: 1) com base na segunda


lei da termodinâmica, podemos dizer que é necessário um grande número de
elementos do nível trófico anterior para alimentar um determinado elemento
do nível trófico seguinte; 2) o poluente considerado deve ser recalcitrante ou
de difícil degradação; e 3) o poluente deve ser lipossolúvel. A primeira con-
dição é necessária para facilitar sua absorção nos primeiros níveis tróficos. A
última condição implica dissolução do poluente nos tecidos gordurosos do
organismo em vez de sua concentração na urina — caso em que seria elimi-
nado e devolvido ao ambiente.
A amplificação biológica torna-se mais séria quando tratamos de elemen-
tos tóxicos como radionuclídeos e pesticidas. Os casos mais frequentes de
amplificação, por tratar-se de compostos mais utilizados pelo ser humano,
são os referentes ao inseticida DDT e ao mercúrio. Quanto ao mercúrio, o fato
ocorrido nos anos 60, no Japão, mais precisamente na Baía de Minamata,
onde vários pescadores pereceram em razão de haverem se alimentado de
peixes contaminados com mercúrio, é uma amostra da gravidade do problema.
Nesse caso, o constante despejo ao mar de compostos de mercúrio fez com
que ele fosse fixado pelo fitoplâncton, acumulando-se, então, no zooplâncton
e nos peixes e, enfim, concentrando-se em doses elevadas e altamente tóxicas
nos pescadores que deles se alimentavam.
Outro composto que gera o mesmo fenômeno é o DDT. Quando se
utiliza tal produto, a preocupação maior é que as doses lançadas não sejam
letais à vida de vegetais e animais, mas nunca se levou em consideração, no
passado, o fato de que sua toxicidade permaneceria por longo tempo e que
ele seria absorvido junto com detritos, concentrando-se ao longo da cadeia
alimentar. Esse acúmulo (medido em ppm) pode ser observado nas gorduras
dos animais, como exemplifica a Tabela 3.2.
O resultado da amplificação é que alguns animais vão se extinguindo,
como é o caso da águia-pesqueira norte-americana. Nesse caso, o acúmulo
do DDT no organismo das fêmeas faz com que os seus ovos tenham casca
excessivamente frágil, quebrando-se antes mesmo de serem chocados. Assim
sendo, uma certa quantidade pode não ser fatal para o indivíduo, mas letal
para a espécie.
Na Tabela 3.2, apresentamos dados do fenômeno de ampliação biológica
relativa ao DDT, observado em Long Island, Estados Unidos.
O fenômeno da ampliação biológica também pode ser observado com
elementos radioativos. Em pesquisas realizadas no Rio Columbia, Estados
120 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Unidos, despejou-se certa quantidade de elementos radioativos (fósforo 32,


estrôncio 90, césio 137, iodo 131 etc.) na água de modo que se obteve, para
o fósforo, na água, concentração de 3,10 mg/g e, em cascas de ovos de patos
que viviam e se alimentavam no rio, concentração de 6 mg/g.

Tabela 3.2 Concentração de DDT na cadeia alimentar verificada em Long


Island, Estados Unidos (Odum, 1971)
Elementos Concentração de DDT (ppm) nos
tecidos
Água 0,00005
Plâncton 0,04
Silverside Minnow (peixe de pequeno 0,23
porte)
Sheephead Minnow (peixe de pequeno 0,94
porte)
Pickered (peixe predador) 1,33
Peixe-espada (peixe predador) 2,07
Heron (alimenta-se de animais menores) 3,57
Tern (alimenta-se de animais menores) 3,91
Herring Gull (gaivota) 6,00
Ovo de gavião marinho 13,8
Merganser (pato que se alimenta de 22,8
peixe)
Pelicano (que se alimenta de peixe) 26,4

Como vimos nesta unidade, diversas adaptações foram necessárias para


que as espécies sejam como hoje conhecemos, suas formas de interação e os
mecanismos da seleção natural como fator de interferência nesse processo.

Para concluir o estudo da unidade


Concluímos o estudo desta unidade chamando sua atenção para a
necessidade de entendimento dos conceitos aqui abordados, no intuito
da gestão do ambiente, bem como das espécies que o compõem, para
que o equilíbrio possa ser alcançado.
As populações e comunidades biológicas 121

Resumo
Nesta unidade foi apresentado os principais conceitos de popula-
ção e de comunidade, seus conceitos e propriedades, além de vermos
como as relações entre as populações e entre as comunidades ocorrem
e de que maneira interferem e são influenciadas pelo meio ambiente,
além de termos identificado a importância do estudo das relações entre
população e a comunidade biológica.

Atividades de aprendizagem
Analisando a Figura 4.2 responda às questões propostas.


Figura 4.2 Representatividade de diferentes populações

1. Faça uma lista relatando quantos indivíduos distintos de cada espécie


apareceram.
2. Segundo o quadro acima, qual a espécie mais abundante (dominante)?
3. Quantas são as populações representadas no quadro?
4. Como você procederia para determinar a densidade populacional de
cada espécie na área mencionada?
Unidade 5
Ecologia
urbana

Objetivos de aprendizagem: o objetivo principal desta unidade


será o de apresentar os fundamentos de estudo da ecologia urbana,
para que você possa compreender de que forma interagimos com
o ambiente natural, influenciando e sendo influenciados por ele.

Seção 1: Entendendo o processo atual da ecologia


humana
Nessa seção serão abordados alguns conceitos atuais
sobre a ecologia urbana e de que forma os conceitos
abordados podem interferir no modelo de vida da
atual e futura geração.

Seção 2: Aprendendo sobre o potencial de


crescimento da população humana, e os
fatores de resistencia a esse crescimento
Nessa seção iremos abordar sobre um problema men-
cionado já no início do século XIX por Thomas Mal-
thus, onde uma estimativa foi feita em relação ao
crescimento da população humana, aprenderemos
também de que forma poderia atuar a resistência
ambiental em nossa espécie.
Ecologia urbana 123


Nesta unidade vamos aprender que a o estudo da Ecologia não se restringe
somente a problemas relacionados com espécies animal e vegetal em seus
respectivos espaços de vida. A espécie humana, como todas as demais, deve
ser mais bem entendida, com seu modelo de vida, ações e reações, a fim de
que possamos modificar hábitos destrutivos a nossa própria coexistência.

Seção 1  


Nesta seção serão abordados alguns conceitos atuais sobre a Ecologia ur-
bana e de que forma os conceitos abordados podem interferir no modelo de
vida da atual e futura geração.

 
Nosso modelo de desenvolvimento adotado já produziu e continua produ-
zindo, agressões severas, que levam inevitavelmente a alterações na biosfera
e cruéis desigualdades sociais, como desemprego, fome e miséria, trazendo
consequências que vão além de nossa compreensão.
Para que você possa entender melhor, imagine dentro dessas alterações an-
teriormente mencionadas as cidades, uma das maiores criações do ser humano,
e as maiores responsáveis por mudanças enormes, capazes de modificar as
paisagens naturais, gerando um crescente consumo, produzindo uma pressão
nunca vista anteriormente sobre o meio ambiente.
Vamos pensar ainda sobre o ritmo de crescimento que vimos neste século,
as cidade cresceram de um modo acelerado principalmente nos países em
desenvolvimento. Pense agora nos resultados obtidos juntamente com esse
acelerado crescimento, em vez de bons frutos o que essa onda tem nos deixado
é: uma grande falta de ordem na economia, colapsos ambientais, corrupção,
pressão populacional e uma enorme quantidade de pessoas migrando para as
cidades, chamadas zonas urbanas.
Podemos citar um exemplo bastante claro, ocorrido em nossa capital federal
(Brasília), uma cidade projetada para abrigar cerca de 500 mil habitantes; por
124 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

conta da ganância eleitoral e uma busca desesperada de povos de diferentes


etnias por condições de vida melhores que as encontradas em seus estados
de origem mudaram essa projeção e hoje a cidade abriga cerca de 2 milhões,
frustrando planos urbanos, arrebentando os seus serviços e baixando os pata-
mares de qualidade de vida a níveis inimagináveis. Um grande problema que
não podemos deixar de mencionar é que esses são apenas alguns dos prin-
cipais problemas hoje encontrados, e a maior dificuldade é que antes esses
problemas concentravam-se apenas nos países em desenvolvimento, porém, a
crescente integração mundial permite que problemas surgidos em apenas uma
dada região possam espalhar-se rapidamente para outras, e, em vários casos,
atingir todo o mundo.
Esse dado que compartilho com você, foi gerado pelas Nações Unidas, que
estimam que em 2025 o número de habitantes da área rural tende a permanecer
estável, mas que a população urbana continuará a crescer e acreditamos que
mais de 5 bilhões de pessoas, o que corresponde um número bastante signifi-
cativo, estarão vivendo em cidades. Atualmente três de cada quatro cidadãos
vivem em áreas urbanas, e um grande número destes convivem com problemas
com serviços básicos e habitacionais insuficientes, condições sanitárias inade-
quadas em suas casas e no trabalho.
Essas cidades padecem de problemas graves como expansão desorganizada,
eliminação de dejetos, contaminação e poluição do ar, o que as torna vulne-
ráveis aos desastres naturais.
Nossas cidades estão doentes, hoje muito mais que do que em qualquer
outra época da história do homem. Toda essa falta de ordem de um sistema
crescente e autofágico, isto é, um modelo de vida adotado por nós, capaz de
nos destruir, com nossa própria colaboração, um verdadeiro predatismo ou
canibalismo humano, que está conduzindo 1 bilhão de pessoas à fome, e mais
de 2 bilhões a condições deploráveis (UNEP, 1995).
Precisaremos olhar novamente, e repensar nossa história, relembrando que
a fragilidade ambiental e humana precisão ser entendidas para poderem ser
respeitadas. Dentro desta unidade abordaremos os principais moldes da Eco-
logia urbana, destacando algumas ações que podem ser aplicadas.


Você e eu somos extremamente jovens em nosso planeta; os registros
fósseis encontrados datam esse nosso recente episódio entre 500 a 100 mil
Ecologia urbana 125

anos atrás, época em que começamos a nos diferenciar de nossos ancestrais


o Homo erectus. Essa espécie é por sua vez originada na África e se expandiu
por toda a Europa e Ásia. O homem pré-histórico sobrevivia exclusivamente
de caça, pesca e coleta de vegetais, ovos, mariscos e larvas. Era ótimo ca-
çador, extremamente hábil na construção de armadilhas de captura, encur-
ralava animais em fossos e precipícios para então os capturar. Era também
muito eficiente no manuseio de ferramentas e armas de caça, como o arco,
a lança e o arpão. Supõe-se que esse excelente caçador tenha exterminado
muitas espécies de animais, e há inclusive evidências que comprovam essas
suposições: foram encontrados junto aos fósseis humanos diversas ossadas
de animais.
As Américas foram povoadas por esses caçadores por cerca de 30 mil anos,
e aparentemente os estragos não param mais; essa chegada às Américas parece
ter ligação com o desaparecimento da preguiça gigante, o bisão e o mamute.
Na mesma época, a ocupação humana na Austrália foi o começo do desapa-
recimento do leão marsupial a do canguru gigante além de outras espécies
endêmicas. Na Nova Zelândia, ilha do pacífico, viviam diversas espécies de
moas, grandes animais pertencentes ao grupo das aves, mas que não voam
e que aos poucos foram desaparecendo com a chegada dos colonizadores.
Quinhentos anos depois foi a vez da ilha de Madagascar onde várias espé-
cies de primatas foram eliminadas, inclusive os lêmores, animal do tamanho
de um gorila.
Entre 8 e 10 mil anos atrás, em diferentes regiões do mundo, o homem
começa a praticar a agricultura e a criação de animais, o homem perde sua
liberdade de nômade caçador e fica preso à terra cultivando-a e cuidando de
rebanhos. Construíram casas com materiais duráveis, acumulavam riquezas
em grãos e cereais e começam a trocar mercadorias e ao redor dos mercados
as vilas começam a nascer originando em seguida cidades.
Desde então os ambientes selvagens foram aos poucos sendo ocupados
primeiro na Europa, Ásia, America até a ocupação massiva de quase toda a
parte da terra.
Com o início da industrialização nada mais deteve o avanço e a apropriação
da natureza, restando hoje poucos ambientes que ainda não foram modificados
por nossas atividades.
126 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

 
Se você e eu formos avaliados hoje do ponto de vista externo e genético,
como homens e mulheres atuais não nos diferenciamos muito dos homens e
mulheres de 50 mil anos atrás.
Os primeiros grumos pertencentes à nossa raça viviam como nômades,
dependiam da caça, da pesca e da coleta de alimentos para viver, pelo modo
de vida era conhecido como caçador-coletor. Esse modo de vida durou
bastante tempo e perdurou até cerca de 10 a 15 mil anos atrás, quando o
homem desenvolveu habilidades na agricultura, podendo cultivar o solo.
A partir desse evento o homem pode se fixar em um local, pois com a
agricultura havia sido garantida maior regularidade na obtenção de alimento,
fato bem diferente de quando o homem vivia como caçador e coletor, nô-
made. Mas não parou por aí, depois da conquista na agricultura o homem
logo começou também a criar e domesticar animais, o mais ousado empreen-
dimento para o homem daquela época. Como se não bastasse, mais um em-
preendimento fabuloso, o desenvolvimento da cultura, e com ela adquirimos
um traço que definitivamente nos diferencia de qualquer outra espécie viva.
A cultura é o processo pelo qual cada homem individualmente e a co-
munidade como um todo absorvem e acumulam conhecimentos a partir de
experiências vivenciadas, e da reflexão que fazem sobre elas.
O desenvolvimento da cultura está diretamente ligado ao desenvolvimento
da linguagem. Pois foi por meio da linguagem que os conhecimentos puderam
ser absorvidos e, principalmente, transmitidos às gerações seguintes.
O desenvolvimento da escrita talvez tenha sido o salto mais perigoso rumo
ao conhecimento, que ocorreu por volta de 10 mil anos atrás; desde então as
gerações humanas passaram a deixar registros, como documentos que anun-
ciavam seu modo de vida e suas realizações. Foi notável a quantidade de con-
quistas e possibilidades que a escrita trouxe a humanidade; foi possível a partir
dela a construção da civilização diversificada como a vemos hoje, inúmeras
cidades, monumentos, obras de arte, religião, filosofia e ciência.
Os impactos gerados pela cultura na civilização humana, foi mais sentido
depois da Revolução Industrial, que ocorreu há cerca de pouco mais de um
século. A partir daí aumentou significativamente, o ritmo de evolução cultural,
o que levou o homem a enfrentar seus maiores desafios: alimentar uma enorme
população, e ainda preservar o ambiente para as gerações futuras, desafio este
Ecologia urbana 127

que nos dias de hoje, como veremos mais adiante intriga e questiona mesmo
com toda tecnologia que hoje possuímos. No fim da década de 1980, a Terra
já contava com uma população de mais de 5 bilhões habitantes, e possui uma
tendência de aumento acelerado e frenético.
Resta-nos uma pergunta: e o futuro? É impossível fazer qualquer previsão,
pois a humanidade dispõe de uma capacidade incrível de lidar e resolver
problemas e continuar sua história, não podemos esquecer que essa é uma
possibilidade que talvez não aconteça, poderemos resolver nossos problemas
com eficiência e responsabilidade e viver por muitos anos ou não passarmos
de alguns séculos por sobre a Terra.

 
A Ecologia urbana é um campo da Ecologia voltado ao entendimento dos
sistemas naturais dentro das áreas urbanas, lidando com as interações de
plantas, animais e de seres humanos nas áreas urbanas, tendo como objetivo
entender até que ponto, a vegetação, os rios e a vida selvagem são afetados
pela poluição, urbanização e outras formas de pressão comumente causadas
pelo homem.
Ao estudarmos a ecologia urbana pode-
remos ajudar as pessoas a verem as cidades
como parte de um ecossistema vivo, sendo Links
então necessária a aplicação de métodos
Para que você possa complementar
eficientes, capazes de criar a conscientiza- o estudo sobre a ecologia urbana,
ção das pessoas de que a sustentabilidade acesse o material apresentado no
precisa fazer parte da ecologia urbana, nas link abaixo, onde você encontrará
populações de todas as faixas dando a estas o artigo “Bases ecológicas para o
a oportunidade de entender que a utilização desenvolvimento sustentável”, no
de meios sustentáveis pode ser muito mais qual o autor apresenta a ecologia
do que uma mera ação “ecologicamente dentro de um sistema urbano.

correta”, mas sim que a sustentabilidade JACOBI, Claudia Maria. Bases eco-
urbana consiste um dos grandes desafios da lógicas para o desenvolvimento
sustentável: ecologia urbana. Dis-
sociedade atual e, consequentemente, de
ponível em: <http://www.icb.ufmg.
nossos governantes.
br/big/beds/arquivos/ecourbana.
No tópico seguinte vamos estudar alguns pdf>. Acesso em: 18 nov. 2010.
aspectos do ecossistema urbano atual.
128 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

 
Para podermos entender os elementos e o conceito do ecossistema urbano,
no intuito de formar uma base mais sólida para a gestão dos socioecossistemas
urbanos, iremos nos basear em quatro variáveis, que nos servirão de referência:
população;
organização (ou seja, a estrutura do sistema social);
meio ambiente (sistemas sociais + ambiente físico).
População: entenderemos como população, assim como já mencionado
na Unidade 1, um determinado número de indivíduos da espécie humana,
especificamente pessoas comuns como você, ou ainda um grupo composto
por 10 mil pessoas vivendo em determinada cidade.
Analisando nossa população vamos levar em conta alguns fatores bastante
importantes que analogicamente faremos comparações, como, por exemplo:
densidade populacional;
análise do potencial biótico humano;
capacidade suporte.
Dentro dessa análise vamos refazer uma organização de pensamentos,
em alguns problemas que se relacionam com a população. Como mencio-
namos há pouco, é grandioso e acelerado o crescimento das cidades, isso
significa que, se as cidades estão crescendo é fruto também de um aumento
no número de indivíduos dessa população. Dessa maneira entenderemos
densidade populacional, como uma medida expressa através de uma relação
estabelecida entre população x superfície de território, ou seja, o número de
habitantes por km2.
Com relação à densidade populacional partiremos para um raciocínio ló-
gico: se as cidades aumentam aceleradamente, fruto do aumento do número
de habitantes em busca de um local para viver, então teremos que continuar a
ocupar novas áreas, o que implica diretamente a diminuição de áreas reservadas
para produção de alimento, as chamadas áreas agrícolas, ou a derrubada de
florestas. Se esse crescimento utilizar-se das áreas agrícolas, corremos riscos de
em um futuro muito próximo, termos problemas relacionados ao modelo socio-
econômico ambiental e ainda a falta de alimentos decorrente da diminuição
dessas áreas de plantio. Por outro lado, se crescermos criando novas cidades ou
expandindo as cidades já existentes utilizando-se de áreas de florestas também
criaremos sérios problemas, tais como:
Ecologia urbana 129

destruição do hábitat de diversas espécies;


contribuímos para a extinção de animais e vegetais;
promovemos o aumento da temperatura das cidades, consequentemente,
no aumento da temperatura global;
diminuímos nossa própria qualidade de vida (autofágismo).
Temos um problema demográfico?
Lester Brow desenvolveu um raciocínio em um livro chamado O vigésimo
nono dia onde resumidamente comparou o crescimento exponencial da po-
pulação á uma pequena lagoa, onde flutua uma folha. A cada dia que passa
uma nova folha cai da árvore e se acumula na lagoa.
Para que você possa entender melhor vamos exemplificar essa história de
forma diferente: imagine que você tenha construído uma piscina no fundo de
sua casa para que nos dias quentes de verão juntamente com sua família todos
possam se refrescar, mas você notou que era preciso plantar uma arvore nas
margens da piscina para que em alguns horários do dia uma pequena porção
de sombra seja projetada por sobre a piscina para que se complete o lazer da
família. Bem, agora já temos todos os elementos para pensar no problema.
Vamos imaginar que muito tempo tenha se passado, finalmente sua árvore cres-
ceu, e agora você começa a ver que suas folhas caem diretamente na água da
piscina, e se periodicamente você não as retirar, em poucos dias estas cobrem
toda a superfície da piscina. Agora pensemos juntos: uma folha representa um
indivíduo sobre a face da Terra representando nosso crescimento demográfico.
Que seguramente já ultrapassou ou já cobriu bem mais da metade dessa piscina
chamada Terra. A grande pergunta é: se dia após dia folhas estão se acumu-
lando nas margens da piscina, isso significa que nesse ritmo em pouco tempo
já teremos coberto todas as áreas possíveis passíveis de habitação. E existe um
sério risco de não percebermos que o limite de saturação do ambiente já tenha
sido alcançado, não oferecendo chances de sobrevivência à nossa espécie. Não
nos esqueçamos de que quanto mais pessoas, mais energia, maior demanda
de recursos.
Nosso problema demográfico não é assim tão simples, envolve problemas
complexos que emanam dos planos político, econômico, biológico, social e
psicológico.
O problema demográfico é um problema também dos países desenvolvidos
industrialmente, uma vez que estes juntam as raspas de alimento que conse-
guem produzir, assim como o fazem com energia e os demais recursos.
130 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Hipoteticamente, tem mais impacto um nascimento em um país indus-


trialmente desenvolvido que trinta nascimentos em países de terceiro mundo,
não faria sentido se falarmos de um problema demográfico se nossa análise não
estiver vinculada à problemática global da produção e distribuição de recursos.
Ecologia urbana 131

Seção 2 
 



Nesta seção iremos abordar um problema mencionado já no início do
século XIX por Thomas Malthus, onde uma estimativa foi feita em relação ao
crescimento da população humana; aprenderemos também de que forma po-
deria atuar a resistência ambiental em nossa espécie.

 
Como já estudamos na Unidade 1, o potencial biótico de uma espécie está
relacionado com a capacidade que essa espécie tem para aumentar de tamanho
em condições ambientais favoráveis, ou condições ótimas. Logo o potencial
biótico de uma população, será a capacidade potencial de aumentar seu nú-
mero de indivíduos em condições ótimas; em outras palavras, é a capacidade
de crescimento sem que nenhum problema possa negativar esse crescimento
ou aumento.
Alguns fatores naturais têm o potencial de inibir as condições ótimas de
crescimento de uma população, podemos citar entre eles, por exemplo, a falta
de alimento, espaço vital ou área de vida, baixas condições socioeconômicas
dentre outros.
Na natureza verificamos, entretanto, que o tamanho das populações em
comunidades equilibradas ou estáveis não aumenta indefinidamente, antes,
permanece em relativa constante. Esse evento se deve a um conjunto de fatores
que vão contra o potencial biótico. A esse conjunto de fatores chamamos de
resistência ambiental, visto que eles regulam, então, o tamanho das populações
(veja Gráfico 5.1).
132 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Número de indivíduos

Potencial

Biótico
Resistência

Ambiental

Tempo

Gráfico 5.1 Resistência ambiental na regulação do crescimento populacional

É importante que você note que de acordo com a figura, a resistência ambien-
tal é o fator responsável, para que o número de indivíduos de uma população
não aumente indefinidamente, mesmo com a capacidade potencial da espécie.

Para saber mais


Para que você possa entender melhor o porquê dos estudos com população humana, é bastante
simples, já aprendemos na Unidade 1, que na natureza as espécies precisam lutar para manter-se
vivas, competindo por alimento, área vital de vida, para se reproduzirem além de terem que lutar
contra doenças, o fato mais curioso é que a natureza utiliza essas ferramentas para selecionar
os indivíduos melhores adaptados, para que estes possam se reproduzir e deixar descendentes
férteis. Com a espécie humana também não é muito diferente, você, por exemplo, todo o dia
precisa lutar para manter sua vida em ordem, o que nos difere das demais espécies é o fato de
que a seleção natural não atua plenamente com todas as ferramentas disponíveis, por conta
de todos os aparatos tecnológicos que possuímos, sendo assim as doenças e a fome acabam
por não atuar com toda sua veracidade sobre nossa espécie. Por isso a importância de nos
conscientizarmos e planejarmos nosso desenvolvimento, a fim de que por esses motivos não
ultrapassemos a capacidade que o meio ambiente tem de nos suportar.

 

A densidade de uma população, ou a densidade populacional, irá nos ofe-
rece mais informações que simplesmente o tamanho de uma população, ou
Ecologia urbana 133

seja, o número de indivíduos. Podemos dizer então que uma área é povoada
excessivamente ou superpovoada quando o número de pessoas por unidade de
área seja grande a ponto de que consideremos maior que a capacidade suporte,
ou seja, maior que o espaço disponível possa comportar; se isso ocorrer teremos
então uma densidade populacional elevada. Quatro fatores podem contribuir
para aumentar ou diminuir a densidade de uma população:
A taxa de natalidade: representada pelo número de nascimento de indiví-
duos. Devemos, portanto, considerar a capacidade reprodutiva de algumas
espécies, uma vez que na espécie humana teremos uma capacidade re-
produtiva baixa, se comparada com a de outros pequenos mamíferos, que
podem gerar mais de um indivíduo por ninhada, a nossa espécie, salvo
em casos especiais, apenas um filho é gerado. Que demanda o investi-
mento de muito tempo para cuidar da prole, ou o chamado investimento
de tempo no cuidado parental, para garantir a sobrevivência do filhote.
Além do tempo de gestação e amamentação, que normalmente é longo.

Questões para reflexão


Para sua reflexão vamos, então, recapitular: se a taxa de nascimentos para
a espécie humana é considerada baixa, por que ao estudarmos a Ecologia
urbana nos deparamos então com o problema de cidades superpovoadas?
Nossa espécie encontra algum problema com o já analisado tema resistência
ambiental?

O outro fator a ser estudado é:


Taxa de mortalidade: a taxa de mortalidade nos diz sobre o número de
indivíduos deixam de fazer parte da população porque morrem. Levare-
mos em consideração que a taxa de mortalidade em populações natu-
rais, é geralmente alta, em função vários fatores como doenças, falta de
alimento e predação. Dessas causas citadas trocaremos apenas o evento
predação, por conflitos, o que na espécie humana pode ser a razão,
embora “infundamentada” da morte de pessoas.
Taxa de imigração e emigração: a taxa de imigração deve ser entendida
como o número de indivíduos que entram, ou passam a fazer parte de
uma dada população, vindas de outras áreas. E a taxa de emigração refere-
134 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

-se ao número de indivíduos que saem, ou vão embora da população.


Dessa forma concluímos nosso pensamento sobre esses quatro fatores que
podem interferir na densidade de uma população, que, de forma geral,
quando a natalidade e a imigração fazem com que haja o aumento da
densidade de uma população, a mortalidade e a emigração irão contribuir
para que diminua a quantidade da mesma. Não se esqueça que todas
essas taxas podem ser influenciadas pelos fatores ambientais.

 
Duas forças que funcionam como um verdadeiro cabo de guerra são con-
sideradas pelos ecólogos como responsáveis por regular o crescimento das
populações: o potencial biótico, que seria a capacidade potencial de uma
espécie em aumentar o número de indivíduos em condições ótimas, e a resis-
tência ambiental, que podemos considerar como fatores que vão inibir esse
crescimento.
Vamos, tente imaginar ambientes iguais onde as condições de temperatura,
espaço e alimento abundante, sejam favoráveis em ambos ambinetes. Em um
desses ambientes colocamos um casal de seres humanos saudáveis; e no outro
um casal de coelhos. Após seis meses qual dos dois ambientes irá apresentar
a maior quantidade de indivíduos, o ambiente onde estão os humanos ou os
coelhos?
É claro que você deverá se lembrar que, como já dito anteriormente, a
espécie humana possui uma taxa reprodutiva baixa; isso significa que vai rea-
lizar em média uma gestação completa (nove meses) por ano, e vai dar origem
geralmente a um descendente por geração. Já uma única fêmea de coelho pode
gerar até 5 filhotes de uma só. Se essa mesma fêmea produzir cinco gerações
por ano, e dois terços dos descendentes forem fêmeas, teríamos, ao fim de um
ano, cerca de 160 indivíduos, você pode imaginar isso?
Porém, para nossa felicidade, em situações normais na natureza, as popu-
lações não crescem livremente dessa forma, pois se assim fosse, o mundo seria
dominado por moscas ou por organismos com uma capacidade biótica ainda
maior, como as bactérias, por exemplo, capazes de se reproduzir a cada 20
minutos — teríamos um caos.
Portanto, o crescimento de uma população não depende somente do seu
potencial reprodutivo, mas também da maneira como se relaciona com o
ecossistema. Podemos então concluir que, nesse sentido, o ecossistema vai
Ecologia urbana 135

sempre exercer um duplo papel, ao mesmo tempo que serve como um pro-
vedor de recursos, como água, alimento, abrigo etc. servirá também como
opositor ao desenvolvimento da população, pois apresenta fatores que freiam
esse crescimento. O que devemos pensar na prática é ainda mais preocupante
se pensarmos no futuro da espécie humana na terra, pois o que muitas vezes
podemos ver é que quanto menor o nível socioeconômico e informativo maior
também o número de indivíduos compondo essas famílias, futuros competi-
dores, enfrentando condições adversas de clima, escassez de alimentos dentre
outros fatores. Pense ainda, que, nossa espécie produz resíduos que, se não
forem reciclados ou tratados adequadamente, irão gerar inúmeros problemas
de sobrevivência aos mesmos.
A esse conjunto de fatores é dado o nome de resistência ambiental. Podemos
dividir os componentes da resistência ambiental em dois tipos, comparando a
população humana com populações de outras espécies na natureza.
Nos quadros 5.1 e 5.2, faremos uma comparação de interferências de fatores
bióticos e abióticos em populações em hábitats distintos.

 
Predação Clima
Fatores bióticos Competição Abióticos Espaço
Parasitismo Alimento

Quadro 5.1 Espécies de vida livre na natureza

 
Clima Conflitos
Fatores bióticos Competição Abióticos Espaço
Doenças Alimento

Quadro 5.2 Espécie humana vivendo em cidades

Vejam que enquanto nas populações naturais os fatores limitantes do cres-


cimento estão relacionados com a necessidade de um indivíduo de utilizar-se
do outro como alimento, competição talvez até por uma mesma presa, e como
apenas um ficará com ela, o que pode levar à morte o outro indivíduo envol-
vido, ou ainda doenças que podem reduzir a expectativa de vida das espécies.
Sem mencionar, é claro, que outros fatores como o clima, área ou espaço vital
136 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

e mesmo a falta de alimento pode controlar o número de indivíduos de uma


dada população. Se compararmos essa ideia com os fatores relacionado com o
homem, a análise é um pouco mais imparcial, visto que a constituição brasileira
dá garantia aos indivíduos de direitos básicos como alimentação, tratamentos
de saúde, educação etc. o que seguramente fará com que a cada dia o número de
indivíduos da espécie humana continue a crescer. O que nos resta, então, é
gestão e planejamento, gerir os recursos naturais, no mesmo pensamento de
que estes podem acabar, levar em conta que nosso sistema ambiental é frágil,
buscar o equilíbrio (desenvolvimento sustentável), e dessa forma garantir às
futuras gerações um meio ambiente equilibrado, para uma sadia qualidade de
vida dos cidadãos.

Aprofundando o conhecimento
Vamos agora ler um bom exemplo de como pode-se buscar a har-
monização entre o espaço urbano e aspectos naturais, como no caso
das áreas verdes urbanas e os chamados telhados verdes. Trata-se de um
artigo publicado na Folha de S.Paulo (GODOY, 2007).


Nova York começa a aderir ao “green roof”, projeto ecológico que trans-
forma o topo dos prédios em área verde.
Quando se mudou para a cobertura de um charmoso prédio no Upper
West Side, em setembro de 2005, o empresário do mercado financeiro Scott
Johnson decidiu construir um jardim na laje de concreto. Em pouco tempo,
floreiras com arbustos e tulipas sobrepuseram-se ao cinza, o espaço ganhou
cadeiras, mesas e esculturas de metal que balançam ao sabor do vento. Virou
o lugar favorito da casa.
“Meu e dela”, diz ele, apontando para a cachorra Shiva, que adora brin-
car com as flores. “Aqui descanso, aproveito o sol da manhã, recebo meus
amigos. É tão bonito que frequentamos mesmo quando está frio”.
Charmoso, mas pequeno e privado, o terraço de Johnson se alinha à
tradicional visão do jardim como espaço de lazer, mas não tem envergadura
Ecologia urbana 137

para assumir o novo papel que os ambienta- 


listas vislumbram nos jardins encravados no
Ao contrário de São
topo dos edifícios o de funcionarem como
Paulo, onde o mais bonito
telhados verdes (“green roof”), capazes de
jardim suspenso, o do Ba-
reduzir problemas ecológicos urbanos.
nespinha, é fechado ao
Para ser efetivo, o telhado verde requer
público, em Nova York eles
o plantio de vegetação ao longo de toda a
são frequentes e genero-
laje. A cobertura ajuda a isolar o prédio e
sos, tanto que estão entre
retém água da chuva, proporcionando um
os passeios prediletos dos
resfriamento natural dos edifícios e ajudando
nova-iorquinos. O destaque
a economizar energia.
é o do Metropolitan Mu-
Não é pouco em uma cidade que cos- seum of Art. Todo ano, de
tuma enfrentar temperaturas de verão que maio a outubro, o museu
superam os 40ºC e sofrer apagões devido recebe exposições e mi-
ao alto consumo dos aparelhos de ar con- lhares de interessados em
dicionado. desfrutar da dobradinha
A ilha está sempre cinco ou seis graus arte+paisagem. “O jardim
acima do entorno e acredita-se que, se lar- é um ícone, e fazemos o
gamente adotados, os telhados verdes pode- melhor para que continue
riam ajudar a reduzir essa diferença. atraente”, diz a curadora
A ONG Earth Pledge mantém um projeto Anne Strauss, responsável
chamado Greening Gotham (Gotham é um pela mostra “Frank Stella
dos apelidos de NY), dedicado a incentivar a no Telhado”, em cartaz.
criação de telhados. Foi no prédio da ONG, Ao lado do jardim do
entre 1999 e 2000, que se construiu o pri- Metropolitan, existe o do
meiro, aplicando uma técnica que protege Museu de História Natural,
a alvenaria e é leve a principal dificuldade o do Museu de Arte Mo-
dos jardins suspensos é que ficam pesados derna, o do Guggenheim...
demais com terra e podem comprometer a Da mesma forma, os edi-
estrutura do edifício. fícios comerciais Trump
Mais sofisticado e eficiente, o sistema do Tower, Rockefeller Center,
“green roof” foi desenvolvido na Alemanha Paramount Plaza facultam
nos anos 1970. É formado por seis camadas. acesso aos jardins que têm
A primeira é um revestimento impermeá- na cobertura, até porque
vel colocado sobre a laje, seguido por uma sabem que é uma boa fer-
barreira de cobre ou polipropileno. Em cima ramenta de marketing.
138 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

desta, um tecido para retenção do excesso de água e outros dois que funcio-
nam como filtros de diferentes espessuras e estrutura de sustentação.
O estrato onde crescem as plantas é uma mistura especial de rochas e terra;
a irrigação é automática. Gramíneas e flores devem ser resistentes e ter raízes
curtas e superficiais. Um jardim de cerca de 200 m2 pode custar perto de US$
100 mil e demora de dois a três meses para ficar pronto. Se a estrutura do
prédio e o bolso dos moradores suportarem, é possível usar mais terra para
plantar uma horta ou até frutas.
Pelas contas do Greening Gotham, há cerca de cem telhados verdes em
Nova York. “E estamos trabalhando para ver esse número crescer bastante
nos próximos anos”, frisa Leslie Hoffmann, diretora executiva da Earth Pledge.
De olho na poluição e no elevado consumo de eletricidade, em 2005, a
administração Michael Bloomberg adotou para os edifícios do patrimônio
a classificação LEED (Liderança em Energia e Design Ambiental, na sigla em
inglês), proposto pelo Conselho de Prédios Verdes dos EUA, organização civil
dedicada ao planejamento de edifícios sustentáveis.
Os imóveis ganham pontos conforme a localização, o consumo de água
e energia e os materiais empregados. O Departamento Municipal de Edifícios
também está analisando um novo código para as construções algumas normas
do atual têm mais de cem anos e os “green roof” podem ser incluídos nessa
legislação com algum tipo de incentivo fiscal para quem os implementar.
Os telhados verdes modernos são uma onda recente, que nasceu na
Alemanha na década de 1960 e foi se espalhando por muitos lugares. A
estimativa é que, atualmente, cerca de 10% dos telhados alemães tenham
aderido à iniciativa.
No Canadá, outro adepto, a atuação mais forte é a de Toronto, que co-
meçou a discutir o assunto em 2000 e, em 2003, criou uma força tarefa para
encorajar e dar apoio à medida. Em Chicago, todos os prédios que passam
por grandes reformas são obrigados a construir telhados verdes.
“Nos EUA, chegamos a um certo ponto na questão ambiental a partir do
qual não há mais volta. Os jardins podem mudar de acordo com o humor do mer-
cado imobiliário e outras discussões, mas vão prevalecer e crescer”, acredita
o arquiteto Tom Balsley, especializado em jardins sobre lajes.
De acordo com Leslie Hoffman, do Earth Pledge, não tem sido muito difícil
convencer os nova-iorquinos das vantagens trazidas pelos telhados verdes.
“Elas são tangíveis, é fácil demonstrá-las para qualquer pessoa. Fizemos muitas
Ecologia urbana 139

simulações em computador para comprovar o poder de retenção da água da


chuva e de resfriamento do prédio”.
A maior resistência, diz, parte dos engenheiros e empreiteiros mais anti-
gos ou dos incorporadores. “Os benefícios são de longo prazo, então, quem
simplesmente constrói para vender não vai senti-los. Mas é a comunidade
que se interessa”.
Geralmente, a laje é compartilhada por todos os condôminos. Por isso,
nos prédios em que os habitantes desejam ter um jardim, primeiro é reunido um
comitê de moradores para debater o assunto. Eles passam um questionário entre
os apartamentos para saber exatamente o que os vizinhos esperam. As opini-
ões de quem mora nos últimos andares devem ser ouvidas com mais atenção,
afinal, se ocorrer mau funcionamento, eles serão os primeiros a sentir as con-
sequências. E há os transtornos das obras também. O comitê se responsabiliza
por fazer orçamentos e depois apresenta os projetos para votação de todos.
“Faça as contas. Será que conseguiremos voltar a criar espaços abertos
no coração da cidade? Construímos parques, mas é muito pouco se compa-
rarmos com o potencial que reside no topo dos prédios”, empolga-se Balsley.
Dediquei 30 anos da minha carreira a tentar reverter a fuga para
os subúrbios, onde acabamos com mais árvores e mananciais.
Acredito que os parques urbanos podem ajudar a conter esse
fluxo por proporcionarem espaços para recreação, celebrações e
interação social. O mesmo pode ser dito a respeito dos milhares
de metros quadrados de terreno disponíveis nas alturas, consi-
derando o impacto que eles podem ter em qualidade de vida.

Faça as contas. Será que conseguiremos voltar a criar espaços aber-


tos no coração da cidade?
Denyse Godoy
Folha de S.Paulo, 31 de agosto de 2007

Para compreender melhor a Ecologia urbana conheça agora como ela está
organizada e veja algumas bases que devem ser mais bem estudadas para o futuro.

 
A estrutura dos ecossistemas urbanos é fruto de um ambiente construído
pelo ser humano, suas habitações, vias, prédios residências e comercias etc.,
em conexão com e o ambiente natural (HENGEVELD; VOCHT, 1982).
140 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

O grande problema é que até então pouco se fez para entender com preci-
são alguns efeitos que podem ser gerados por esse modelo ecológico, a fim de:
medir o estado de um ecossistema urbano (indicadores, valores, percepções);
nomear mecanismos que criam mudanças nestes ecossistemas (uso cons-
ciente de recursos, educação ambiental etc.);
identificar limites (econômicos, demográficos etc.);
determinar áreas naturais sensíveis e estimular o aperfeiçoamento e/ou o
desenvolvimento de novos métodos para estudar tais sistemas.

Sociedade Ambiente Natural

Recurso

Resíduos

Figura 5.1 Benefícios do ambiente natural para as cidades

O meio ambiente naturalmente tem as funções de produção, e estas se


referem ao suprimento de matéria e energia do ambiente natural, como oxi-
gênio, água e biomassa. As funções de devolução têm a ver com as atividades
humanas e deposição de rejeitos, como ilustrado, na Figura 5.1 e representam
formas de uso do ambiente que deveriam ser evitadas a qualquer custo, outro
fator que se tornou evidente refere-se ao fato de que a capacidade de suporte
do ambiente natural
orientação (apreciação de aspectos da natureza).
Portanto, agora mais do que nunca é necessária a utilização de toda e qual-
quer ferramenta para promover a conscientização, o tão almejado equilíbrio,
entre o desenvolvimento de uma população e a manutenção dos ambientes
naturais, essenciais.
Ecologia urbana 141

Para alcançarmos tal objetivo demonstramos algumas áreas podem ser mais
bem exploradas:
educação (significado do ambiente natural para o desenvolvimento indi-
vidual);
indicação (sinalizações da natureza: o desaparecimento de espécies como
sendo a situação extrema);
disponibilidade de organismos e comunidades;
reservas (o significado para a sociedade, do patrimônio genético contido
nas áreas naturas).
Nossa colocação atual sobre o modelo e estrutura da ecologia urbana re-
úne algumas ideias bastante importantes para que você possa refletir sobre a
construção de uma nova visão sobre esse assunto.
Alguns autores como Odum (2007) fazem a definição de um sistema eco-
lógico ou ecossistema, como sendo uma interação entre seres vivos e seu am-
biente não vivo, que são inseparáveis e obrigatoriamente se inter-relacionam.
Um ecossistema urbano, por algumas características da nossa espécie, envolve
muitos outros fatores, diferenciando-o dos ecossistemas heterotróficos naturais,
uma vez que apresenta um metabolismo muito mais intenso por unidade de
área, o que exige um influxo maior de energia, e uma enorme movimentação
de entrada de materiais e de saída de resíduos.
Nossa espécie tem apenas 2.500 gerações sobre a face da Terra, porém as
aglomerações urbanas só apareceram nas últimas duzentas gerações anteriores.
E a partir daí nossos problemas não pararam mais de crescer, e nossa relação
com a natureza é cada vez mais complexa (BOYDEN et al., 1981).
Nosso rápido crescimento e urbanização ocorridos nos últimos 50 anos
mudou a fisionomia da Terra. O que mostra que, na verdade, nossas cidades
modernas agem como um parasita do ambiente rural, pois produzimos pouco
ou nenhum alimento, poluímos o ar e reciclamos pouca ou nenhuma água a
materiais inorgânicos. Produzimos e exportamos mercadorias, serviços, dinheiro
e cultura para o ambiente rural; em troca do que recebemos, prestamos, então,
imagine um serviço de relação que podemos considerar como uma simbiose.
Concluiremos nosso pensamento com uma análise real. Imagine que de
uma hora para outra a entrada energético-material (falta de energia elétrica, por
exemplo), de sua cidade seja interrompida por uma semana, certamente teríamos
um caos. Com isso podemos então entender, que os socioecossistemas urbanos
afetam e são afetados pela biosfera, e que de fato, o funcionamento de qualquer
142 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

cidade não depende apenas do ecossistema local, mas da biosfera como um


todo. Outro exemplo bastante comum é que fatores climáticos mesmo atuando
longe dos centros urbanos, como exemplo, longos períodos sem chuvas ou com
chuvas muito intensas, podem determinar mudanças profundas no dia a dia das
cidades, mostrando-nos que um ecossistema urbano não é autossuficiente.


Vamos juntos analisar agora um fenômeno muito antigo na história da hu-
manidade sobre a terra, as cidades, muito anterior ao surgimento das indústrias.
Porém, até que o modelo industrialista se firmasse como um meio fundamental de
produção de riquezas, as cidades cumpriam um papel bem diferente do que atu-
almente está cumprindo. A gigantesca população que trabalhava vivia no campo
onde as atividades rurais eram as grandes responsáveis pela produção de riquezas.
No início da história as cidades funcionavam como um grande espaço de
circulação e consumo de mercadorias produzidas no campo, além de serem
também local de moradia das classes dominantes, que exerciam já na época
o poder político e religioso, dessa forma deviam sua existência ao excedente
produzido pelo trabalho agrícola. O aumento de sua população estava condi-
cionado a disponibilidade de excedentes, ou seja, a produtividade das áreas
agrícolas que estavam sob o domínio urbano.
Tais condições aliadas a precariedade de alguns serviços como o de trans-
porte tornavam limitantes as possibilidades de crescimento das cidades e tam-
bém do seu numero de habitantes. Mesmo a civilização grega que era famosa
por sua audácia em arquitetura urbana, também não escapou dessa limitação.
Atenas, por exemplo, provavelmente não tenha atingido seus 200 mil habitantes.
Nesse caso, a contradição entre a base territorial limitada para a produção de
alimentos e a expansão populacional foi resolvida pela colonização de novas
terras, na qual novas cidades nasceram, foi assim que as civilizações gregas
ocuparam quase toda a extensão do mar Mediterrâneo.
Somente muitos séculos mais tarde é que a cidade viria a se transformar
em um espaço privilegiado da produção de riquezas, pela chamada Revolução
Industrial. A Revolução Industrial, representou um conjunto de transformações
nas técnicas produtivas que despontou da Inglaterra nas décadas finais do século
XVIII, e operou uma mudança radical no papel das cidades.
A produção em larga escala realizada pelas indústrias fez demanda a uma
enorme concentração de mão de obra e infraestrutura. As fábricas necessita-
Ecologia urbana 143

vam de muitos operários, o que promoveu a aglomeração de pessoas; além


disso essas aglomerações precisavam estar atendidas de serviços básicos como
transporte, abastecimento de água e energia. Regiões com grande disponibili-
dade de mão de obra e infraestrutura passaram a atrair um número grande de
estabelecimentos industriais, que geravam cidades cada vez maiores.
O industrialismo teve sua contrapartida geográfica na urbanização da po-
pulação, no surgimento de grandes cidades e no avanço tecnológico dos trans-
portes, encurtando distâncias e unificando mercados do mundo inteiro. Mais
que em qualquer outra época da história da humanidade, o espaço geográfico
do mundo industrial é presidido pelas cidades.
A emergência da indústria e as novas técnicas de transporte romperam os
limites que antes eram barreiras para a expansão das cidades e populações.
Com o surgimento de enormes aglomerações aumentou o consumo de energia
e alimentos produzidos cada vez mais longe.
As grandes cidades representam as mais profundas modificações humanas
da natureza, sendo nesse sentido o maior símbolo do extenso processo de do-
mínio do homem pelos limites impostos pela natureza o chamado “progresso”.
Os impactos da construção de imensas superfícies urbano-industriais atin-
giram a totalidade dos ecossistemas, e repercutem diretamente no ciclo das
águas, na temperatura, no regime dos ventos, na vegetação e no relevo.
As metrópoles atuais nos dão prova que a qualidade de vida e o progresso,
nem sempre andam de mãos dadas.


A poluição do ar é um dos mais dramáticos problemas das aglomerações
urbanas. Qualquer pessoa que já tenha caminhado pelas ruas do centro de uma
metrópole, já deve ter sentido principalmente em dias de inverno, os olhos irri-
tados, esse é um dos efeitos da poluição, em casos mais extremos os olhos co-
meçam a lacrimejar, além de ainda ser um problema da poluição doenças como
asma e bronquite, causadas pelo aumento da concentração de partículas tóxicas.
Toda essa poluição que resulta em uma série de doenças e problemas é
gerada pelos meios de transporte, o meu e o seu carro, pelas indústrias que
incineram resíduos, ou mesmo por outros mecanismos de produção.
Devido aos prédios altos e enfileirados é comum a diminuição dos ventos
nas regiões centrais, o que dificulta a dispersão dos poluentes.
144 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE


Se conseguirmos aplicar através de um modelo de gestão, um planejamento
dos elementos de Ecologia Humana juntamente com a Ecologia Urbana, te-
remos possibilidades de concertar alguns erros cometidos no passado para
enfrentamos a Ecologia Urbana com mais segurança, o que não significa que
iremos resolver todo e qualquer problema que geramos com nosso modelo de
desenvolvimento, mas podemos começar a planejar melhor nossas ações, que
refletirão para o futuro.
Pense você na forma como nossos centros urbanos se desenvolvem, desen-
freadamente tornando a biosfera uma fonte de instabilidade.
Nossa análise pode ser mais bem entendida se fizermos algumas compara-
ções entre os ecossistemas naturais e os urbanos, e através dessa comparação,
observamos que a nossas preocupações e interesses tecnológicos, podem nos
levar a duas considerações, sobre a minha e sua participação no equilíbrio
ecossistêmico global:
1. a nossa capacidade tecnológica é limitada pelos recursos materiais da
terra;
2. a terra tem limites em sua capacidade de acomodar a tecnologia humana,
sem ter com isso severas alterações nos sistemas naturais que nos asse-
guram a vida, nas condições que hoje conhecemos. Vamos comparar a
seguir:
ECOSSISTEMA NATURAL ECOSSISTEMA URBANO

Energia
Fonte de sustentação: Sol Fonte finita de energia: combustíveis fósseis
O consumo excessivo de combustíveis fósseis
Não acumula energia em excesso. libera muito calor para a biosfera e altera a sua
temperatura.
São necessárias l00 calorias de combustível fóssil
Relação nas cadeias alimentares:
para produzir 10 calorias de alimentos que pro-
l0:l cal.
duzem l cal para o ser humano (l00:l cal).
Evolução
Mantém os níveis de população Permitem o crescimento da população, de forma
de cada espécie dentro dos limites que esta consiga explorar todo seu potencial,
estabelecidos pelos controles e ba- rapidamente quanto podem aumentar a dis-
lanços naturais, incluindo fatores ponibilidade de alimentos e abrigo, e elimina
como alimento, abrigo doenças e inimigos naturais e doenças via biocidas e medi-
presença de inimigos naturais. camentos.
(continua)
Ecologia urbana 145

(continuação)
Comunidade
Apresenta uma grande diversidade Tem a tendência de eliminar a maioria das espé-
de espécies que vive nos limites cies e é sustentada por recursos provenientes de
do local dos recursos naturais. áreas além das locais.
Normalmente se concentra em locais onde exista
Tende a ser mais regularmente
proximidade de grandes corpos d’água, ou pela
dispersa nos ecossistemas.
conveniência da rede de serviços, (área urbana).
Interação
A organização das comunidades gira em
torno das interações de funções biológi- A organização das comunidades se dá de
cas e processos. A maioria dos organis- modo crescente entorno das funções e
mos interage com uma grande variedade processos tecnológicos.
de outros organismos.
Equilíbrio
São geridos por um conjunto de compe-
São administrados por processos naturais
tições de controle cultural e de equilíbrio
comuns, equilibrados, incluindo a dispo-
de ideologias, costumes, religião, leis,
nibilidade de luz, alimentos, água, oxigê-
políticas e economias. Não considera, os
nio, abrigo e a presença ou ausência de
requisitos para a sustentação da vida se
inimigos naturais e doenças.
não a humana.

 
Vamos caminhar para o final dessa unidade refletindo bem humoradamente
sobre essa indagação. A população humana cresceu e continua crescendo de
maneira assombrosa, ocupando um espaço limitado e finito: a Terra.
O aumento do número de pessoas caminha inevitavelmente de mãos dadas
com um crescente consumo de materiais, energia e alimentos como já vimos
anteriormente sem mencionar que quando crescemos ocupamos áreas que
pertenciam a outras espécies.
Aí estão os fatos, e colocados assim em apenas umas poucas linhas de maneira
direta não parecem tão preocupantes ou emergente o desafio que nos aguarda
adiante, desfio esse que mais dia menos dia a humanidade terá que enfrentar,
pois afeta a todos e individualmente a cada um de nós, por esse motivo não
poderemos varrê-lo para baixo do tapete, ou simplesmente virar as costas a ele.
Bem mais para facilitar seu entendimento vamos agora acrescentar alguns
dados para que a magnitude da problemática seja alcançada por você.
146 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Vamos agora voltar ao tempo, fazendo uso de um mágico relógio que irá
nos relatar em alguns instantes tudo o que ocorreu em muito tempo.
Na época do nascimento de cristo, o homem habitava por sobre esta Terra
há cerca de 100 mil anos, há até esse tempo a população mundial não era
muito superior a 200 milhões de pessoas. Depois de 1,5 mil anos, já na época
do descobrimento da América. Nosso ônibus terrestre já transportava cerca de
400 milhões de passageiros. A população já tinha dobrado nesse curtíssimo
período de tempo, parece pouco na história da humanidade isso jamais havia
ocorrido, um crescimento tão grande nessa magnitude.
Lá por volta de 1800, enquanto Napoleão afiava sua espada e arquitetava sua
batalha, com a Revolução Francesa ainda fresca, acabada de sair da fornalha,
a população já se aproximava de 1 bilhão de habitantes; o número ultrapassou
sua duplicata, mas agora em apenas 300 anos.
Quando em 1950 o Brasil perdeu a Copa do Mundo no Maracanã ainda
para ajudar, a terra carregava cerca de 2,5 bilhões de pessoas, e em 1970
quando ganhamos a Copa do México, que contou com uma consagrada
quantidade de craques (Pelé, Torres, Gérson, Jairzinho, Tostão, Rivelino, Ma-
zurkiewicz, Beckenbauer, Moore, Cubillas e Müller), onde com uma goleada
brasileira aplicada na Itália decidimos o tri, a população saltava juntamente
com os frenéticos torcedores: a população em números e a torcida de alegria,
quando passamos dos 3,7 bilhões de habitantes.
Quando fomos campeões em 1994 com a conquista do tetracampeonato,
a população mundial já margeava os 6,6 bilhões. Todos juntos ocupando um
imenso estádio terrestre. Estádio este fechado e sem saídas onde o número outra
vez dobrou, mas dessa vez em um espaço de tempo muito curto, apenas 40 anos.
Se resumirmos, veremos que foi necessário 1,5 mil anos para que houvesse um
crescimento populacional de 200 milhões de pessoas; somente 150 anos para au-
mentar em mais 1,5 bilhões e mais 40 anos para um inchaço de mais de 4 bilhões.
Projeções otimistas dizem que estaremos próximos de 12 bilhões em 2045.
Esses números espantosos são só detalhes de um imenso abacaxi que teremos
de descascar. Ficou mais claro o problema para você agora?
Todos nós já fomos convidados para essa festa. Convidados pelo momento,
pelas circunstâncias, pelo destino? Isso já não mais importa querendo ou não a festa
é sua, a festa é nossa, é de “quem quiser”. Cada um de nós pode escolher entre
se omitir e esperar o desconhecido ato final, ou colaborar e entrar de vez nessa
dança. De qualquer forma estamos todos no salão, participemos ou não da dança.
Ecologia urbana 147

Seja qual for a escolha, cada um de nós estará contribuindo, de alguma


forma influenciando seu futuro e de sua futura geração, está nas mãos da hu-
manidade, quem sabe nos pés, a escolha dos passos seguintes. Vamos pular
a quadrilha, correr atrás das consequências ou voltearmos em uma bela valsa
antecipando-se a ela? Decida você também.
Tenha em mente que mesmo a escolha correta certamente não é única, mas
um conjunto de medidas, vai demandar sacrifício e muito, mais muito trabalho,
mas, tenho plena certeza, valerá a pena. Esse é mais um dos maiores desafios
que a humanidade esta enfrentando ao longo de sua acidentada e, até aqui,
bem-sucedida existência na Terra.
Devemos nos preocupar? Com certeza.
Devemos nos apavorar? Absolutamente.
Teremos que enfrentar esse desafio, e de maneira certa, já que aceitamos a
dança, resta-nos perceber o tom da música, ler sua partitura por completo e,
com a humildade de um grande músico, e seguir a sábia maestrina, a natureza.
<fim seção 2>

Para concluir o estudo da unidade


Meus caros alunos, como vimos nesta unidade a Ecologia é bastante
ampla na difusão de suas ferramentas para o complexo entendimento
dos modelos de vida atualmente dispostos.
Como vimos no estudo da Ecologia urbana, temos diversos problemas
a serem resolvidos, como nossa forma de desenvolvimento e crescimento,
de forma a não alterarmos, ou se o fizermos que seja o mínimo possível
para prejudicarmos nossa própria espécie. E, é claro, também as demais
que se utilizam dos mesmos espaços e recursos que nossa espécie.
O que precisamos agora pensar é que o sistema ambiental em que nos
encontramos inseridos pode estar bem mais próximo de sua carga limite
do que pensamos, e o pior é que podemos não notar seus eminentes
avisos de saturação. É hora de ter mais atenção com o meio ambiente,
planejar ações conscientes, fazer uso de todo aparato de tecnologia, mas
dessa vez para o bem, não nos esquecendo de que a extinção é para
sempre, inclusive a da espécie humana.
148 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Resumo
Nesta unidade foram apresentados os modelos vigentes da relação do
homem com o meio ambiente, para que você possa contribuir nessa nova
linha de pensadores que devem fazer parte no planejamento de nossa
espécie sobre a Terra, a fim de utilizarmos toda e qualquer tecnologia
disponível para o reduzir os impactos de nosso próprio desenvolvimento.

Questões para reflexão


Nosso planeta contava contabilizava 1 bilhão de habitantes por volta do século
XVIII. Dois séculos depois esse número aumentou em mais de seis vezes. Isso
significa uma superpopulação? Há gente em excesso no mundo?

Atividades de aprendizagem
1. Nos dias atuais com todo o conhecimento disponível de como a natureza
se porta em relação as espécies, fica claro que no passado e mesmo hoje,
a humanidade em função do seu desenvolvimento gera uma série de
desacordos ao ambiente. Você acredita que nossa espécie tem se desen-
volvido de uma maneira natural, e que o meio ambiente tem capacidade
de suportar nosso crescimento?
2. Conforme foi apresentado no item sobre os elementos e o conceito do
ecossistema urbano se continuarmos a seguir na história com o modelo
atual de progresso, quais consequências você acredita que teremos para
as futuras gerações?
3. Após o estudo dessa unidade que conclusões você pode tirar, e que
medidas acredita ser necessárias para que possamos alcançar um equi-
líbrio, no que diz respeito a desenvolvimento versus natureza.
4. Qual a importância do estudo de densidade populacional e capacidade
suporte para espécie humana?
5. Para concluir o estudo desta unidade, vamos refletir melhor e buscar alter-
nativas para que em pouco tempo, sejamos parte positiva da estatística da
história do homem na Terra, que sejamos lembrados por termos convivido
positivamente com as demais formas de vida no planeta, com o entendi-
mento que o equilíbrio entre todos os envolvidos nas relações ecológicas
é que nos manterá vivos no planeta.
Unidade 6
Gestão da
biodiversidade

Objetivos de aprendizagem: com o estudo dessa unidade você


será apresentado às riquezas naturais do Brasil, para que você seja
capaz de entender as reais necessidades de preservação e conser-
vação da biodiversidade brasileira, afinal, para que possamos fazer
uso de ferramentas na proteção ou conservação de um determinado
sistema, é necessário antes de tudo conhecê-lo, com suas peculiari-
dades, e fragilidades, afim de tornar menos árdua a tarefa de gerir
toda essa riqueza presentes em nosso solo.

Seção 1: O desafio da gestão da biodiversidade


brasileira
Nessa seção será apresentada a realidade de nosso
conhecimento sobre a biodiversidade, e o modelo de
gestão que deve ser implantado para que possamos
preservar toda essa riqueza ameaçada.

Seção 2: Valoração da biodiversidade e sua


importância na manutenção da vida no
planeta
Nessa seção iremos analisar alguns dados reais sobre
as espécies bem como sua eminente necessidade de
preservação, para que não criemos possibilidade de
desaparecimento de espécies, bem como o entendi-
mento do processo de extinção.
150 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE


A preservação da natureza é fundamental para que a vida na Terra não se torne
um desafio ainda maior que o desafio natural das espécies, o entendimento desse
relacionamento pode facilitar a gestão e manejo da vida em sua mais diversificada
esfera de ocorrência. Para que possamos preservá-la antes de tudo conhecê-la, com
suas fragilidade e debilidades, a fim de possamos atuar como agentes de preser-
vação e não de destruição, esse é o foco desta unidade que vamos juntos estudar.

Seção 1   


Nesta seção será apresentada a realidade de nosso conhecimento sobre a
biodiversidade, e o modelo de gestão que deve ser implantado para que pos-
samos preservar toda essa riqueza ameaçada.

 
Para que você possa entender melhor a “gestão ambiental” é importante que
saiba que ela se trata de uma área de conhecimento e trabalho que naturalmente
causa bastante confusão, sendo facilmente mal interpretada. Inevitavelmente
a dúvida se inicia com a pergunta, mas afinal o que é Gestão Ambiental? Res-
ponderemos essa difícil pergunta, mas antes de tudo deve ser esclarecido que, a
Gestão Ambiental possui caráter multidisciplinar, envolvendo as mais diversas
ferramentas para que o objeto da gestão ambiental seja alcançado.
Em tempos anteriores existia uma divisão bastante clara entre os defensores
da natureza (chamados ecologistas) e os que defendiam a exploração irrestrita
(desregrada), dos recursos naturais. Com a adesão do termo “desenvolvimento
sustentável” tornou-se necessária a formação de pessoas com um diferente perfil,
profissionais que tivessem uma visão ambientalista à utilização “racional” dos re-
cursos naturais, surge então à necessidade de multiplicação de indivíduos capazes
de exercer uma gestão consciente dos recursos naturais, os gestores ambientais.
Sabendo disso, então: a Gestão Ambiental tem por principal objetivo dar
ordem às atividades do homem, para que originem o menor impacto possível
sobre o meio ambiente. Essa organização vai desde a escolha das melhores
técnicas a serem utilizadas no alcance dos objetivos ao cumprimento da
legislação e a alocação correta de recursos naturais, humanos e financeiros.
Gestão da biodiversidade 151

É de suma importância que você saiba que a origem da palavra gestão vem
do verbo latino gero, gessi, gestum, gerere, e traz o significado de levar sobre si,
carregar, chamar a si, executar, exercer e gerar. A gestão é então a geração de
um novo modo de administrar uma realidade, nesse caso a realidade ambiental.
Para esclarecer melhor, a palavra “gerir” ou “gerenciar” traz como signifi-
cado saber manejar as ferramentas existentes da melhor forma possível e não
necessariamente desenvolver a técnica ou a pesquisa ambiental em si, então
ao falarmos de gestão ambiental temos gestão + ambiente = gestão ambiental.

 

Vamos agora aprender um pouco sobre a biodiversidade, um neologismo
derivado do termo diversidade biológica; pode ser definida em sua forma mais
simples e objetiva como a variedade da vida existente no planeta, então gestão +
biodiversidade = utilizar ferramentas adequadas, de modo que possamos ga-
rantir que o fruto de toda essa diversidade não seja dizimado.
O Brasil ocupa o primeiro lugar entre os países megadiversos; isso é fruto de
sua extensão territorial e posição geográfica. Estima-se que nosso país possua
entre 15% e 20% das 1,5 milhões de espécies descritas na Terra. Para mantê-
-lo informado, um trabalho encomendado pelo Ministério do Meio Ambiente
(MMA) estimou em 1,87 milhão o número total de espécies no Brasil, com
apenas 202,5 mil conhecidas, atualmente (MANCIN, 2002), isso significa que
nosso primeiro problema está em:
Gerenciar algo não totalmente conhecido.
Preservar ambientes em que seus ciclos, Links
são ainda não completamente elucidados. Para você complementar o estudo
Que tipo de ferramentas utilizar em sobre áreas de estudo da gestão
ambientes com tamanha fragilidade. Ambiental, onde você encontrará
o artigo “Gestão ambiental”, onde
Por isso, meus amigos, a gestão do ecos-
o autor apresenta a evolução de
sistema é então um desafio para o futuro, e
algumas normas e diretrizes na ges-
estimular pessoas a preservar a riqueza é um
tão do meio ambiente.
desafio para todos aqueles que acreditam no
Gestão ambiental. Disponível
desenvolvimento sustentável (ODUM, 2007).
em: <http://w3.ualg.pt/~jmartins/
No tópico seguinte vou descrever algu- Gest%C3%A3oAmbiental.pdf>.
mas particularidades dos biomas presentes Acesso em: 18 nov. 2010.
na terra.
152 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

 

 
Como demonstrado no mapa nosso planeta (Figura 6.1) possui diversos
biomas, nos quais toda a biodiversidade encontra-se distribuída, cada bioma
abriga uma riqueza de espécies muitas vezes exclusiva desses biomas (espécies
endêmicas), ou seja, caso desapareçam ou sejam alterados toda a biodiversidade
neles contida, corre o risco de desaparecerem. Ao estudarmos os biomas, é im-
portante que você saiba antes de tudo o conceito de bioma e qual a função ou
importância da prevenção e cuidado com esses biomas, visto que prestam um
serviço indispensável a uma infinidade de espécies, sejam animais ou vegetais.

Chaparral mediterrâneo Tundra


Floresta tropical Deserto
Floresta temperada de folhas caducas Floresta de coníferas
Savana tropical Mistura madeira nobre
Semideserto, campo árido Campo
Floresta montanhosa,
complexo tundra alpino

Fonte: Braga et al. (2005)


Figura 6.1 Os grandes ecossistemas da terra

Biomas são considerados como sistemas onde o solo, o clima, o relevo,


a fauna e todos os demais elementos pertencentes à natureza se interagem
e formam semelhantes tipos de cobertura vegetal, como florestas tropicais e
temperadas, pradarias, desertos e tundras, dentre outros.
Gestão da biodiversidade 153

Em uma escala planetária, podemos dizer que os biomas são unidades que
evidenciam uma grande homogeneidade de seus elementos. Existem florestas
tropicais na América, África, Ásia e Oceania que, e mesmo sendo semelhantes,
possuem comunidades com os mais distintos exemplares.
Esses detalhes fazem com que algumas vegetações, embora se pareçam,
mostrem-se distintas, sendo que cada uma delas possui características muito
importantes no contexto local que influenciam diretamente as características
naturais, na vivência de moradores locais, que interagindo direta ou indireta-
mente, podem vir a causar degradação ao meio onde vivem.
Você já viu, no início da primeira unidade, o que é uma comunidade. Agora
vejamos quais os diferentes tipos de comunidades que estão presentes em
várias partes da Terra, cada um em condições abióticas muito peculiares. Essas
condições que determinam como os componentes dos grupos vegetais se es-
truturam, formam diferentes tipos de campos, florestas e desertos, ambientes
que são capazes de abrigar animais que também estão adaptados a elas. O
funcionamento de cada ecossistema também vai ser diferente quanto ao fluxo
de energia, os ciclos de matéria e relações bióticas. Podemos então denominar
como bioma, cada tipo de ambiente natural, com homogêneo padrão de es-
trutura e funcionamento, em escala continental ou mesmo regional.
Os grandes ecossistemas estão associados
a faixas climáticas, que são determinadas
Saiba mais
pela localização latitudinal no globo e que
Para saber mais sobre os biomas,
vão refletir em certas condições de disponi-
pesquisa um mapa de distribuição
bilidade de água e de energia solar. Numa
dos biomas no planeta e observe
escala continental, temos na Terra os seguin-
sua relação com as faixas climáticas.
tes biomas:
Vegetação mediterrânea ou chaparral mediterrâneo: nesse tipo de vegeta-
ção, você irá encontrar quatro estações bem definidas, o clima é quente, seco
e moderado e úmido no inverno, com temperaturas que variam entre 3 e 33°C,
a vegetação em sua forma original era caracterizada por árvores, porém com a
intervenção humana e alterações ambientais as árvores estão sendo substituídas
por arbustos, a vegetação é ainda composta por ervas aromáticas, como alecrim,
tomilho e orégano, dentre outras.
Florestas tropicais: as florestas tropicais são as maiores detentoras da bio-
diversidade na Terra, lar de árvores gigantescas, pássaros coloridos, milhões de
insetos nos mais variados tons e cores, uma variedade infinita de mamíferos
154 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

fascinantes. Uma das principais características da floresta tropical é a biodi-


versidade vegetal e animal: cerca de 60% de todas as espécies do planeta se
encontram nesse ecossistema.
As florestas tropicais são as maiores detentoras da biodiversidade na terra,
lar de árvores gigantescas, pássaros coloridos, milhões de insetos nos mais
variados tons e cores, uma variedade infinita de mamíferos fascinantes apenas,
metade da área permanece coberta, o restante já não existe há muito tempo.
Como características da floresta tropical, esta apresenta alta umidade,
recebe fortes chuvas sazonalmente ou durante todo o ano, com temperaturas
elevadas — entre 20 e 35°C. A vegetação apresenta-se bastante distinta em
relação aos demais biomas, com árvores gigantes, flores como orquídeas e
bromélias (membros da família do abacaxi), chamadas de epífitas, crescem
diretamente nos troncos e ramos das árvores maiores. Insetos e borboletas
chegam facilmente nas flores da floresta agindo como polinizadores; como a
chuva cai quase que o ano todo, as florestas encontram-se sempre verdes, e
suas árvores não perdem as folhas.
Dentre os componentes da fauna destacam-se o mico-leão dourado, oran-
gotango, macaco-aranha, onça pintada, capivara, lontra, porco do mato, paca,
tamanduá-bandeira, aves como, papagaios, cegonhas, araras, pica-pau, mutum-
-preto, garça, porém pode-se afirmar que todos os grupos de animais terrestres
estão representados nessas faunas tropicais.
Essas florestas sobressaem em número e diversidade de espécies de árvores
do que quaisquer outras florestas do mundo, apresentando maior riqueza de
espécies de plantas nas regiões de floresta da Amazônica, mas em geral todas
as florestas tropicais abrigam uma incrível variedade de árvores.
Algumas árvores da floresta, como mogno e a teca fornecem madeira va-
liosa, enquanto outros produtos da floresta são nozes, frutas, borracha e rotins
com altos valores agregados.
Preocupação de conservação: as florestas tropicais talvez sejam os hábitats
mais ameaçados do planeta, a cada ano, cerca de 140 mil km2 das florestas
tropicais são. As florestas tropicais estão sendo derrubadas por empresas ma-
deireiras, e posteriormente, essas áreas estão sendo ocupadas pela agricul-
tura. Se quisermos fazer algo para salvar essas florestas, temos pouco tempo.
Florestas temperadas: a floresta temperada também intitulada como floresta
decídua ou caducifólia, é assim intitulada porque suas árvores perdem as folhas
periodicamente (nos limites das estações outono/inverno). A queda das folhas
Gestão da biodiversidade 155

das arvores desse tipo de floresta está ligada


a uma adaptação das plantas na tentativa de
se defenderem contra a seca fisiológica, tais Para saber mais
adaptações se fizeram necessárias por que o Nas florestas temperadas ocorre
inverno, que dura cerca de três meses, é ex- uma maior biodiversidade de espé-
tremamente rigoroso e a água disponível no cies, embora a localização geográ-
solo acaba congelando. Na chegada do ou- fica, altitude, latitude influenciem
tono as folhas adquirem coloração típica, que nas chuvas, se pensarmos nessa
varia do vermelho ao castanho, passando pelo pré-disposição em ocorrência de
alaranjado, dourado, essas folhas. Caem co- uma maior biodiversidade nas flo-
restas temperadas, por sua capaci-
brindo o solo com uma espessa camada de
dade de fornecer energia e recur-
matéria orgânica, o que propicia o desenvol-
sos às espécies, vamos lembrar que
vimento de musgos. No inverno, estando sem
quanto mais espécies presentes na
folhas, a transpiração é reduzida, o que poupa
floresta, mais transpiração, conse-
ao vegetal uma significativa reserva de água, quentemente, maior a condensa-
até que as temperaturas e precipitações voltem ção e a precipitação, nas florestas
a se normalizar. Na primavera, com o aumento tropicais.
do nível de radiação solar, há o aparecimento
de novas folhas.
Semidesertos, campos áridos: as regiões de semidesertos são áreas pro-
pícias ou que tendem a se tornar desertos, seja por um processo de sucessão
ou mesmo por elevação de temperaturas, como exemplo desse tipo de bioma
temos a nível mundial o semideserto de Sahel, que divide o deserto do Saara da
Floresta Tropical Africana, e no Brasil temos como representante desse bioma
o semiárido nordestino.
Sahel, do árabe, que quer dizer, zona de transição, apresenta uma topografia
essencialmente plana, principalmente nas região compreendidas entre 200 e 400
metros de altitude, apresentam ainda vários planaltos e cordilheiras isoladas, desig-
nados ecorregiões apresentando fauna e flora distinta das planícies circundantes.
Ao longo da história da África, essa região é conhecida como uma área
bastante utilizada para transportar mercadorias, beneficiando o comércio. Flora
e fauna do sahel é coberto por pastagens e savanas, com pequenas florestas,
porém, a maior parte da cobertura do solo é feita por gramíneas, espécies como
acássias e outras espécies arbóreas dão características peculiares a esse bioma.
Florestas montanhosas: são áreas com elevações montanhosas naturais
geralmente superando 2.000 mil pés. Florestas montanhosas são floresta que
156 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Para saber mais crescem em montanhas ou áreas acima de


O sahel já abrigou no passado uma uma altitude de 3.300 metros, você também
imensa diversidade de mamíferos pode encontrar esse tipo de vegetação sendo
como gazelas, dorcas, leões e cães chamada como “floresta das nuvens”, floresta
selvagens, mas que estão sendo re- que recebe a maior parte das suas precipitação
duzidas a cada dia em função da de névoa ou nevoeiro. As árvores das florestas
caça predatória e da redução de normalmente são mais baixas resultando em
áreas, com a finalidade de implanta- uma floresta com dosséis menos desenvolvidos,
ção de pastagens. O clima no sahel
possuem ainda epífitas que florescem com a
começou a ficar seco num ritmo ex-
abundância de umidade da passagem dos ne-
tremamente rápido, causando o de-
voeiros. Esse tipo de floresta é bastante propício
saparecimento progressivo de rios e
à ocorrência de espécies endêmicas, uma vez
lagos aumentando assim o processo
que oferecem as espécies um tipo de clima e re-
de desertificação, forçando o povo
local a estabelecer um modo de vida levo encontrados somente nesse tipo de bioma.
nômade utilizando áreas mais ao sul São encontradas ainda nas florestas mon-
em épocas de seca e retornado ao tanhosas uma diversidade elevada de anfíbios
norte na estação chuvosa. anuros, como o sapo dourado e rãs, inver-
samente aos demais biomas apresentados
poucos são os mamíferos representados, uma vez que poucas são as espécies
frutíferas na floresta.
Tundras: um dos biomas mais frios da terra, regiões compostas por peque-
nos arbustos sem árvores no Ártico e nos topos das montanhas, onde o clima
é frio, ventoso e as chuvas são escassas. As tundras permanecem cobertas de
neve durante a maior parte do ano, o verão traz consigo uma explosão de
flores silvestres. Na tundra ártica, a temperatura média é de -6 a -12oC, e abriga
uma variedade de espécies animais, incluindo as raposas do Ártico, os ursos
polares, lobos cinzentos, renas, gansos e bois-almiscarados. A temporada de
verão de crescimento é apenas 50 a 60 dias, quando o sol brilha 24 horas por
dia. As poucas plantas e animais que vivem nas duras condições da tundra são
essencialmente frágeis e altamente vulneráveis a estresses ambientais, como
redução da cobertura de neve e temperaturas mais quentes causadas pelo
aquecimento global, tal fragilidade é ainda mais ameaçada pela ação antrópica.
Deserto: são regiões onde as precipitações são mínimas, como consequên-
cias, os desertos são capazes de sustentar pouca vida, porém, ainda assim apre-
senta uma representativa biodiversidade, tratam-se de espécies que ao longo dos
Gestão da biodiversidade 157

tempos desenvolveu mecanismos adaptati-


vos, capazes de lhes conferir resistência para Para saber mais
manter-se vivos nesse bioma. As paisagens do
Mamíferos típicos das tundras
deserto têm alguns elementos em comum com como o caribu e o boi-almiscarado,
diversos biomas brasileiros, o solo do deserto possuem uma ótima adaptação ao
é principalmente composto de areia, podendo clima muito frio, apresentam pela-
ainda, apresentar dunas, solos rochosos são gem espessa, camada subcutânea
também típicos o que refletem diretamente na de gordura, e mesmo com seu ta-
escassez de vegetação. manho bastante significativo, tem
uma alimentação à base de musgos
A fauna predominante no deserto é com-
e líquens.
posta por animais roedores (ratos-cangurus),
por répteis (serpentes e lagartos), e por insetos.
Os animais e plantas têm marcantes adaptações à falta de água. Muitos animais
saem das tocas somente à noite, e outros podem passar a vida inteira sem beber
água, extraindo-a do alimento que ingerem, e por mais incrível que isso possa
parecer o deserto também é bastante rico em biodiversidade.

Para saber mais


Os desertos podem podendo ser quentes ou frios. Como a umidade do ar é muito baixa, os de-
sertos apresentam grande variação de temperatura durante o dia, pra que você tenha uma noção
das variações do deserto em um dia pode superar em quantidades se comparada à variação ao
longo de um ano. Poucos desertos são secos de mais a ponto de não conseguirem suportar vida,
como o da Namíbia (África) e o de Atacama (Chile e Peru). Em geral, os desertos têm plantas
suculentas e espinhosas, como os cactos e outros arbustos, distribuídos espaçadamente, e muito
adaptadas a reter água e a evitar herbivoria.

Links
Para você compreender melhor como as espécies se adaptaram a ponto de conseguirem manter-
-se vivas nos mais diferentes ambientes, mesmo aqueles aparentemente impossíveis o autor
apresenta esse fantástico mecanismo.
UZUNIAN, Armênio; PINSETA Dan Edésio; SASSON, Sezar. A evolução biológica. Disponível
em: <http://ateus.net/ebooks/acervo/a_evolucao_biologica.pdf>. Acesso em: 18 nov. 2010.
158 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Florestas de coníferas ou taiga: nas florestas de taiga os verões são muito


quentes, atingindo até 40°C, mas o inverno é muito frio, podendo chegar até
próximo de -62°C, os animais que vivem aqui são criaturas extremamente
adaptadas, heróis da vida, de fato. As taigas possuem algumas características
importantes para esse bioma, uma extensa rede de rios fundamental dessa
ecorregião geograficamente diversificada. A vegetação dominante, os abetos
e os pinheiros formam uma densa cobertura, impedindo o solo de receber
luz, motivo pelo qual na base das florestas existe pouca vegetação baixa, o
que faz com que a vegetação rasteira seja pouco representada. O período
de crescimento dos vegetais dura, em média, 8 meses e as chuvas são pouco
frequentes.
A fauna desse bioma é bem representado, por famílias de cervos que habi-
tam o bioma de taiga, animais bastante tímidos, mas que tornam-se bastante
ativos no crepúsculo. Representa ainda a fauna desse bioma, o porco selvagem,
alguns predadores como águias, águias pescadoras, falcões peregrinos além de
répteis e roedores. As maiores preocupações com as taigas mesmo possuindo
ainda regiões intocadas, referem-se ao fato de que apenas uma pequena fração
de área está formalmente protegida, sofrendo a ação humana com incêndios
florestais, derrubada de madeira e caça ilegal.
Florestas com mistura de madeiras nobres e coníferas: possuem fragmentos
de ocorrência em quase todos os continentes, como as pradarias da América
do Norte e os pampas da América do Sul. Esses biomas possuem precipitações
anuais moderadas e temperaturas bem distintas entre verões e invernos, com
diferenças nítidas entre as estações podendo sofrer secas sazonais. A vegetação
predominante é herbácea, geralmente baixa, com diversificadas populações de
invertebrados, dentre os vertebrados herbívoros podemos destacar o bisão um
grande mamífero ruminante da família dos búfalos e os antílopes classificados
como grupos de bovídeos, um grupo que engloba diversas subfamilias, normal-
mente aparentados com as vacas ou cabras. De todos os biomas esse é o mais
utilizado e transformado por ações humanas, quantidades imensas de alimentos
são produzidas nesses biomas, como plantações de arroz e milho e criação de
bovinos para leite e corte.

 
Nosso Brasil possui riquezas naturais incomensuráveis, não apenas a fauna
e flora, mas riquezas que vão além das belezas que podem ser vistas, como,
Gestão da biodiversidade 159

por exemplo, as reservas de águas subterrâneas e outras riquezas que ainda


encontram-se desconhecidas.
O Brasil é um país que abriga em seus territórios uma das mais extensas
bacias hidrográficas do mundo, ainda possui próximo de 13% de toda a biota
do planeta como estimam conservadores como (LEWINSOHN; PRADO, 2005).
O país é considerado detentor de uma megadiversidade ao lado da Indonésia, é
considerado o território mais rico do mundo em biodiversidade (MITTERMEIER
et al., 2005).
Toda essa riqueza e singularidade representam um enorme desafio para
todos nós, o desafio da “Gestão de toda essa riqueza concentrada”. Sua gestão
vai além do alcance de uma consciência ecológica e equilibrada, envolve ainda
uma série de arranjos políticos, econômicos e sociais, fundamentais para que
o país possa plenamente beneficiar-se de sua biodiversidade levando em conta
a harmonia com seus principais paradigmas: conservação, uso sustentável e
repartição justa e equitativa dos benefícios.
Para que esses objetivos sejam alcançados com êxito é necessário fazermos
juntos uma abordagem fundamentada em três distintas dimensões, funda-
mentais ao processo de plena gestão da biodiversidade: a dimensão científica
(conhecer a biodiversidade), a dimensão política (gerir a biodiversidade) e a
dimensão social (repartir justamente os benefícios oriundos da utilização da
biodiversidade).

 
 

Precisar tamanha biodiversidade não seria uma tarefa fácil e certamente
impossível, porém não restam dúvidas de que essa tão significativa parcela de
biodiversidade encontra-se em solo brasileiro (MITTERMEIER et al., 2005). As
estimativas apontam um número próximo de 2 milhões, o mais preocupante
em relação a esses dados é que apenas 10% disso ou seja algo em torno de
200 mil espécies apenas já tenham sido identificadas, o que torna ainda maior
o desafio de gestão de toda essa biodiversidade, pois como gerir o que não se
conhece? Ou que se conhece pouco.
Na tabela a seguir são apresentadas algumas estimativas sobre as espécies já
conhecidas, mostrando que pouco conhecemos de toda essa mega diversidade
de espécies, observe:
160 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Táxon Conhecido Estimado

VÍRUS 350 55.000

BACTÉRIAS 400 136.000

FUNGOS 13.000 205.000

ALGAS 10.000 55.000

PLANTAS 47.500 52.000

PROTOZOÁRIOS 3.500 27.000

ANIMAIS 132.000 1.337.000

TOTAL 207.000 1.867.000

Fonte: Lewinsohn; Prado (2005)


Quadro 6.1 Tamanha biodiversidade brasileira

Nossa biodiversidade não esta distribuída com igualdade sobre o território


brasileiro, tampouco a gestão da biodiversidade divide o território nacional
em partes equivalentes.
O território continental brasileiro é dividido em grandes regiões naturais
conhecidos como biomas — seis biomas continentais são reconhecidos pelo
Governo Federal, sendo esses então: Amazônia, Pantanal, Cerrado, Caatinga,
Pampa e Mata Atlântica. Veja a Figura 6.2.
Gestão da biodiversidade 161

Escala:1: 5.000.000 IBGE e MMA


Fonte: IBGE (2004)
Figura 6.2 Mapa de Biomas do Brasil

 
Vamos agora apresentar os principais biomas brasileiros. É importante antes
lembrar que existem várias classificações para os biomas brasileiros, uma vez que
autores divergem nas interpretações. Por isso, você poderá encontrar algumas
diferenças em relação à classificação que aqui será apresentada.
Amazônia: o maior bioma brasileiro em extensão é o bioma amazônico, e
o de menor extensão é o Pantanal, juntos ocupam pouco mais da metade do
território brasileiro: a Amazônia, com 49,29%, e o bioma Pantanal com 1,76%
da extensão total do território brasileiro.
O bioma amazônico abriga em seus domínios mais de um terço das es-
pécies existentes no planeta, representa ainda uma gigante área tropical de
162 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

aproximadamente 4,1 milhões de Km2, porém, trata-se de uma área de extrema


fragilidade. A floresta consegue se manter e desenvolver mantida pelo seu
próprio material orgânico, em meio a um ambiente bastante úmido, com uma
exuberância de chuvas.
A floresta amazônica serve de abrigo á aproximadamente 2.500 espécies
de árvores, o que representa um terço de toda a madeira tropical do planeta,
abrigam ainda cerca de 30 mil das 100 mil espécies de plantas existentes na
América Latina, além de ser também, a principal fonte de madeira de florestas
nativas do Brasil.
Uma enorme riqueza de insetos estão presentes em todos os estratos da
floresta, répteis e anfíbios exploram os níveis baixos e médios da floresta en-
quanto beija-flores, araras, papagaios e periquitos em busca de frutas, brotos
e castanhas percorrem os locais mais altos. No extrato terrestre encontramos
jabutis, cotias, pacas e o maior dos mamíferos brasileiros a antas (Tapirus ter-
restres). Os mamíferos aproveitam da floresta a alta produtividade sazonal de
alimentos, como os frutos caídos das árvores. E esses mesmos animais, servi-
rão de alimentos para grandes felinos como a onça pintada (Panthera onca), e
cobras de grande porte.
Muito mais que uma simples floresta, a Amazônia é também o mundo
das águas, onde os cursos d’água comunicam-se e formando um sincronismo
por entre as estações do ano, (sazonalidade), e sofrendo a ação das marés. A
bacia amazônica é considerada a maior bacia hidrográfica do mundo com
cerca de 1.100 afluentes cobrindo uma extensão aproximada de 6 milhões
de km2. Seu principal rio, o Amazonas, corta toda a região amazônica para
desaguar no oceano atlântico onde derrama cerca de 175 milhões de litros
de água por segundo, o que nos ajuda a entender toda sua riqueza em re-
cursos naturais.
A floresta ainda traz consigo imensa riqueza cultural, advinda dos poucos
povos que nela habitam que inclui o conhecimento tradicional sobre os usos
e a forma de explorar esses recursos sem esgotá-los nem destruir o hábitat
natural. No entanto, a região apresenta índices socioeconômicos muito bai-
xos, enfrenta obstáculos geográficos, falta de infraestrutura e de tecnologia
que elevam o custo da exploração. Porém, toda essa estrutura é considerada
bastante frágil, e menor imprudência pode causar danos irreversíveis ao seu
delicado equilíbrio.
Gestão da biodiversidade 163

Cerrado: está localizado principalmente no


planalto central do Brasil, ocupa algo próximo Para saber mais
de 24% do território nacional, um pouco mais Se você comparar com os outros
de dois milhões de quilômetros quadrados. Po- biomas brasileiros, a Amazônia é o
rém, algumas estimativas apontam que restam que tem o maior número de áreas
apenas, 61,2% desse total, distribuídas por áreas de proteção integral, sendo 26
no Planalto Central e no Nordeste, enquanto as no total, e também o maior per-
maiores áreas ocupam a região Meio-Norte, nos centual de florestas oficialmente
estados do Maranhão e do Piauí. protegidas (3,2% da área total do
O cerrado expande-se ainda por Rondônia, bioma). Porém, apenas 0,38% da
Roraima, Amapá, Pará e também São Paulo. área dos parques e reservas hoje
O cerrado representa a segunda maior forma- existentes na Amazônia tem uma
ção vegetal brasileira depois da Amazônia, mínima proteção de fato, pelo fato
o cerrado é uma savana tropical de riquezas de não terem sido implementadas
incomparáveis em termos de biodiversidade. ou encontrarem-se muito próximos
a cidades.
Além de toda essa riqueza, o bioma Cerrado
é ainda favorecido pela presença de diferentes
paisagens e de três das maiores bacias hidrográficas da América do Sul. Abriga
cerca de 1/3 da biodiversidade nacional e 5% da flora e da fauna mundiais.
A paisagem do cerrado é extremamente biodiversa, embora o bioma de
cerrado seja menor que a mata atlântica e a floresta amazônica. Esse bioma foi
pouco afetado até a década de 1960, porém, desde então as ameaças ao cerrado
crescentemente vem aumentando, principalmente pela instalação de cidades,
rodovias e principalmente pelo crescimento das monoculturas, como o soja,
arroz, além da pecuária, carvoarias e também pelas madeireiras, responsáveis
por extensivos desmatamentos. Sem mencionar ainda que dos fatores que podem
levar ao desaparecimento desse bioma os infortúnios do descaso humano, com
frequentes queimadas, favorecidas pelas altas temperaturas e baixa umidade.
A vegetação do cerrado é semelhante à de savana africana, com predomínio de
gramíneas, arbustos e árvores espaçadas. A vegetação possui características típicas
encontradas somente nesse bioma, as árvores têm caules retorcidos e raízes longas,
proporcionando-lhes melhor absorção da água, que no cerrado está disponível
abaixo de 2 metros de profundidade, mesmo durante a estação seca do inverno.
Grande parte do bioma de cerrado já foi destruído, fruto da ação do homem,
seja para seu desenvolvimento ou mesmo por sua ganância com a exploração
desregrada de seus recursos, o que faz com que esse bioma supere em grau de
ameaça o bioma amazônico.
164 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Caatinga: o bioma caatinga, representa o principal ecossistema existente


na Região Nordeste, se estende por domínios de climas semiáridos, ocupa os
estados da BA, CE, PI, PE, RN, PB, SE, AL, MA e MG.
O termo caatinga tem origem tupi-guarani que significa mata branca. É um
bioma único, e apesar de localizar-se em área de clima semiárido, apresenta
uma enorme variedade de paisagens, com relativa riqueza biológica e ende-
mismo, (espécies que são encontradas somente nesse bioma). A ocorrência de
secas na caatinga estabelece regimes intermitentes (interrompidas por períodos),
aos rios e deixando a vegetação sem folhas, que voltam a ficar verdes nos
curtos períodos de chuvas.
A vegetação da caatinga é dominada por tipos característicos de xero-
fíticas (formações vegetais secas), que compõem uma paisagem capaz de
nos comover, porém, bastante espinhosa, apresentando estratos compostos
por gramíneas, arbustos e árvores de porte baixo ou médio (3 a 7 metros de
altura), caducifólias (folhas que caem), com
grande quantidade de plantas espinhosas,
Para saber mais misturadas a outras espécies como cactáceas
A ocupação humana na caatinga e as bromeliáceas.
ocorre desde os tempos do Brasil- Na caatinga encontramos ainda uma di-
-Colônia com o regime de sesma- versificada fauna, como lagartos, anfibenídeos
rias e sistema de capitanias here- (espécies de lagartos sem pés), serpentes, que-
ditárias, por meio de doações de lônios, crocodilos e anfíbios anuros.
terras, o que cria condições para a
Os ecossistemas do bioma caatinga se
concentração fundiária. De acordo
encontram extremamente alterados, com a
com dados do IBGE, cerca de 27
substituição de espécies vegetais nativas por
milhões de pessoas vivem atual-
cultivos e pastagens. Os desmatamentos e as
mente nesse território das secas.
queimadas infelizmente ainda são práticas
Algumas atividades econômicas
comuns nessas áreas, com a intenção de pre-
como a extração de madeira, a
parar a terra para a agropecuária que, além
monocultura da cana-de-açúcar e a
pecuária nas grandes propriedades
de destruir a cobertura vegetal, condena a
(latifúndios) deram origem à ex- manutenção de populações da fauna silvestre,
ploração econômica. Na região da a qualidade da água, e o equilíbrio do clima
caatinga, ainda é praticada a agri- e do solo. Cerca de 80% dos ecossistemas
cultura de sequeiro (cultivo em originais da caatinga já foram alterados pela
terras com baixas pluviosidades). ação humana.
Gestão da biodiversidade 165

Pantanal: é um bioma bastante extenso, em seus 250.000 km2 de ocor-


rência é considerado a maior superfície inundável do planeta, o bioma do
pantanal está dividido entre três países, Brasil com a maior parcela desse
bioma (60%), além do Paraguai e a Bolívia. A porção brasileira desse bioma
está localizada na bacia do Alto Rio Paraguai, região Centro-Oeste do país, e
por por sua proximidade ao bioma Amazônia, abriga em seus domínios uma
biodiversidade incrível.
Ano após ano a natureza repete o espetáculo das cheias, o que proporciona
ao Pantanal uma renovação de fauna e flora local. Todo esse enorme volume
de água, que cobre praticamente toda região do Pantanal, forma imensas
concentrações de água, podendo ser comparado a um mar de água doce,
proporcionando a milhares de peixes a proliferação, pequenos peixes servem
de alimento a espécies de tamanhos maiores, aves e outros animais. Quando
começa o período da vazante, uma enorme quantidade de peixes fica retida em
lagoas ou baías, proporcionando as aves e animais carnívoros como o jacaré,
ariranhas um vasto banquete por um longo período de tempo.
A fauna e flora do pantanal são abundantes e exuberantes, espécies como
o jacaré do pantanal, quase inofensivo ao homem, pode atingir até 2,5 metros
de comprimento com uma dieta alimentar concentrada em peixes, o jacaré-
-açu atingindo até 6 metros de comprimento, predadores semiterrestre como
a sucuri amarela do pantanal que mede até 4,5 m, comparada com a sucuri
amazônica, que mede até 10 m, raramente ataca pessoas, o bioma apresenta
ainda uma enorme variedade de peixes como exemplo o jaú, o maior peixe
do pantanal, podendo pesar até 120 kg e 1,5 m de comprimento (metade do
pirarucu da Amazônia, que pode atingir até 3 metros e é considerado o maior
peixe do mundo). Dentre as aves do pantanal podemos destacar o tuiuiú (ave
símbolo do Pantanal), o colhereiro e a arara azul, que infelizmente encontra-se
entre as espécies ameaçadas de extinção. Primatas, como o macaco-prego e
o bugio são abundantes nesse bioma, no grupo dos predadores do pantanal
diversos canídeos e felídeos como a onça pintada, o principal predador do
Pantanal.
O bioma Pantanal encontra-se bastante ameaçado por atividades humanas
como pesca furtiva, desmatamentos, queimadas e principalmente por ações
direcionadas, como o projeto da hidrovia Paraná-Paraguai, que pretende tor-
nar esses rios permanentemente navegáveis, interligando por via fluvial Brasil,
Argentina, Paraguai e Bolívia.
166 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Para saber mais Mata atlântica: é o terceiro maior bioma


brasileiro e se estende por cerca de 4.000 km
A vegetação desse bioma é consti-
pela costa Atlântica entre os estados do Rio
tuída por lagoas com plantas aquá-
Grande do Norte e Rio Grande do Sul. É consi-
ticas (baias), vegetação flutuante
derada ainda uma das regiões mais biodiversas
(baceiro), áreas não inundáveis com
e valiosas da Terra. Abriga em seus domínios
vegetação de cerrado e caatinga
aproximadamente 600 das 910 unidades de
(cordilheira), canais de escoamento
de água (corixo) e savanas com ipê
conservação brasileiras. Em 1992 foram de-
amarelo (paratudal), formando um
claradas Patrimônio Mundial pela Unesco, as
incrível mosaico de paisagens. Reservas de Mata Atlântica do Sudeste e da
Costa do Descobrimento.
A biodiversidade contida nos ecossistemas
da Mata Atlântica é resultado de uma complexa história geológica, grandes
variações climáticas ocorridas no passado, desníveis significativos com alturas
próximas de 3.000 m do nível do mar. Cadeias montanhosas como a Serra do
Mar e Mantiqueira são os mais altos picos da costa Atlântica das Américas.
Suas florestas pluviais costeiras são mais biodiversas comparadas com o bioma
amazônico. Esse bioma abriga ainda em seus domínios uma diversidade in-
comparável de espécies, cerca de 250 espécies de mamíferos, 340 anfíbios,
1.023 pássaros e aproximadamente 20.000 árvores. Metade das espécies de
árvores e 80% das primatas são endêmicas desse bioma. Dentre as espécies
desse bioma podemos destacar, o macaco mono carvoeiro, o papagaio de cara
roxa, o jacaré de papo amarelo são alguns exemplos da biodiversidade que
ocorre nesse tão importante bioma, sem mencionar ainda que é o refúgio dos
maiores felinos no hemisfério oeste, a onça pintada (Panthera onca), e onça
parda (Puma concolor).
A mata atlântica possui uma flora exuberante cerca de 450 espécies em
alguns lugares, apresenta biodiversidade igual ou superior a Amazônia, árvores
gigantes com até 40 m de altura, uma enorme quantidade de palmitos, como
o palmito Jussara, uma enorme diversidade de orquídeas e bromélias.
A floresta de mata atlântica abriga também uma área significativa de man-
guezais e restingas, áreas bastante importantes.
Pampa: o bioma pampa é também conhecido como Campos do Sul ou
Campos Sulinos ocupa uma área decorrespondente a cerca de 2% do território
nacional, bioma rico em diversidade biológica, é composto principalmente
por vegetação campestre. Esse bioma no Brasil pode ser encontrado apenas
Gestão da biodiversidade 167

no estado do Rio Grande do Sul, ocupando 63% do território, com extensões


de ocorrência também em territórios da Argentina e Uruguai.
O Pampa é basicamente composto de gramíneas, herbáceas e algumas árvores,
abriga ainda uma série de espécies de mamíferos raros, ou ameaçados de extin-
ção, ratos d’água, cervídeos e lobos, muitas aves também ameaçadas de extinção.
O bioma Pampa como todos os demais biomas até aqui mencionados sofre
uma enorme pressão decorrente dos avanços da monocultura, que provoca
altos desequilíbrios ambientais, o que acarreta diretamente na diminuição de
algumas espécies e aumento de outras, além de alteração nas funções ecoló-
gicas básicas do ecossistema.


Se você já analisou o mapa múndi, deve ter percebido que a coloração
predominante é a de cor azul, com pequenas manchas esparsas de cor verde.
A coloração azul representa as águas no mapa, e a coloração verde, as porções
de terra seca, ou florestas. Bem, se ainda não havia examinado esse detalhe,
você pode fazê-lo agora, você ira notar que cerca de 75% da superfície da Terra
é coberta por água, sendo que a maior parte de toda essa água é composta por
água salgada e uma pequena quantidade que resta é de água doce; nem iremos
falar sobre os porcentuais e proporções de águas doce e salgada. Temos tam-
bém além de águas doce e salgada grandes quantidades de água armazenadas
em forma de geleiras, vapor d’água e ainda os lençóis de água subterrâneas.
A influência das variações da umidade do ar, é de suma importância para
o meio terrestre, mas inexpressiva para o meio aquático, onde as variações de
temperaturas também são de pouca expressão. As variações mais relevantes
no meio aquático e que podem interferir na qualidade de vida das espécies
aquáticas, são referentes a salinidade, a disponibilidade de luz, de nutrientes,
minerais e de oxigênio. Esses fatores são diretamente influenciados pelo relevo,
pelas marés, ventos e a profundidade.
Em ambientes aquáticos, a luminosidade sempre vai variar de acordo com a
profundidade, da transparência das águas e de outros fatores, o que pode limitar
a presença dos organismos autótrofos, isto é, dos organismos que conseguem
através da luz solar, proceder transformações para a obtenção de energia e
alimento, em águas mais profundas.
Com relação a quantidade de luz disponível os ambientes são divididos da
seguinte forma:
168 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

Região fótica: nessa região a luz é abundante permitindo a realização da


fotossíntese.
Região afótica: essa região sempre se encontra em escuridão completa.
Região disfótica: região intermediária, com uma pequena quantidade de
luz.
Os organismos aquáticos se dividem em três grupos ou conjuntos: nécton,
plâncton e bentos.
O nécton contém os animais nadadores, que ativamente se dispersam na
água em busca de alimento como os golfinhos, tartarugas, peixes e baleias.
O plâncton é formado pelos organismos da superfície, possui movimentação
passiva, sendo arrastados por ondas ou correntezas, havendo duas divisões no
plâncton:
Fitoplâncton, principalmente constituídos por seres autótrofos, como
cianobactérias e muitos tipos de algas, esse tipo representa em águas
marinhas a base da cadeia alimentar.
Zooplâncton, que é formado por organismos heterotróficos, como os
protozoários larvas de diversos animais e também por crustáceos adultos.
Em águas doce poderemos encontrar também, larvas de alguns insetos,
o que não ocorre em águas salgadas.
O bentos compreendem os habitats do fundo das águas. Sendo que alguns
tipos são fixos, como as esponjas, corais, anêmonas e também certas algas
vermelhas, pardas e verdes. Outros vivem em locais temporários como buracos
na areia, como, por exemplo, alguns vermes e moluscos, e há ainda os que
caminham sobre o fundo, como as lagostas, estrelas do mar e os polvos.
Nos bentos os seres fotossintetizantes são encontrados apenas em pro-
fundidades onde a luz pode chegar. Organismos heterotróficos, diferente dos
autótrofos, independentemente da profundidade e do alcance da luz.

 
Vamos considerar como pertencentes à água doce ambientes de água paradas
ou lênticas, como lagoas e lagos. E também as águas correntes também chama-
dos de ambientes lóticos representados por rios e corredeiras. Apesar de esses
ambientes serem normalmente menores que as águas dos mares em extensão, os
ambientes de água doce têm uma grande importância, moderam as oscilações
de temperaturas nas terras vizinhas suprindo os mares de nutrientes.
Gestão da biodiversidade 169

 
Para que você possa entender essa diferença começaremos dizendo sobre
algumas peculiaridades sobre os lagos. O ambiente de lago são normalmente
mais profundos e sua área é normalmente maior que as lagoas. Os lagos nor-
malmente apresentam três regiões: litoral, limnética e profunda (Figura 6.3).

Zona litoral

Zona limnética

Zona profunda

Figura 6.3 As regiões de um lago

A zona litoral, localizada junto a margem concentra uma grande quantidade


de algas do tipo angiospermas. É considerada a área mais produtiva, isso ocorre
por que essa área possui uma elevada incidência de luz e recebe nutrientes da
orla. Podem ser encontrados nesse ambiente uma grande quantidade de ani-
mais, como anfíbios, tanto adultos como suas formas ainda juvenis, diversos
nematódes, peixes e larvas de insetos.
A zona limnética é representada na figura como a zona de água aberta do
lago, ou seja, a região mais afastada da borda, dotada de fitoplâncton, zoo-
plâncton, peixes e outros, que frequentemente visitam a região chamada de
zona litoral, para se alimentarem e se reproduzirem nesse ambiente.
Logo abaixo da zona limnética em águas mais profundas, onde a luz não
pode penetrar, fica a zona profunda. Como nessa zona não encontraremos os
seres fotossintetizantes, todos os demais organismos que aqui vivem depende-
rão de alimentos que deverão ser providos das outras zonas, nessa região se
170 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

acumula muitos nutrientes, mas pouco oxigênio encontra-se disponível, o que


favorece o desenvolvimento de bactérias anaeróbicas.

 
Os rios apresentam em seu curso grandes variações desde suas nascentes
até a foz. Em seu curso inicial as águas são mais rápidas e correm com maior
pressão, apresentam leitos normalmente razões, temperatura e oxigenação é
bastante elevada. Nesse trecho a atividade fotossintética não é suficiente para
atender a demanda das comunidades que habitam nesse ambiente, necessitando
então de detritos e outros materiais vindos de outros ambientes. No curso final
os rios serão mais largos e com maior profundidade a água já não corre com
tanta velocidade, com menor oxigenação também. A matéria orgânica é muito
abundante, e dependem de materiais vindo se fora do ambiente.

 
Ambientes estuários são os ambientes de transição, essas regiões são regiões
onde os rios encontram-se com os mares, nesses ambientes ocorrem grandes
variações de salinidade, por conta das marés e do fluxo de água dos rios, e os
habitantes desse ambiente apresentam grande tolerância a esse tipo de variação.
Os estuáros apresentam grande produtividade devido ao fornecimento de
nutrientes vindos dos rios, por terras vizinhas, e também pela movimentação
das águas provocadas por correntes e marés, essas regiões irão funcionar como
um verdadeiro berçário para muitas espécies, como crustáceos e peixes.
Junto às margens dos rios dos estuários podemos normalmente encontrar
manguezais, regiões de solo instável e rico em matéria orgânica, onde ocorre
um desenvolvimento abundante de bactérias aeróbias, que fazem a decompo-
sição da matéria orgânica e diminuem o oxigênio disponível.
<fim seção 1>
Gestão da biodiversidade 171

Seção 2 
 


Nesta seção iremos analisar alguns dados reais sobre as espécies bem como
sua eminente necessidade de preservação, para que não criemos possibilidade
de desaparecimento de espécies, bem como o entendimento do processo de
extinção.

 
Qual seria o real valor da biodiversidade?
Para a maior parte das pessoas nenhuma dúvida resta com relação ao valor
da biodiversidade, porém, já sabemos que somente esse conhecimento de umas
poucas pessoas não é o suficiente para que haja uma maior valoração do ambiente
como um todo. Um dos maiores desafios que nossa geração encontra se refere
a um novo modelo, ou seja uma nova economia ecológica, onde o real valor
de uma espécie, do ecossistema e das comunidades possa ser quantificado em
moeda monetária, para que assim possa ser comparado com grandes projetos
como indústrias e outros empreendimentos que possam vir a danificá-los.

 
Vamos pensar juntos sobre essa temática.
Um dos objetivos básicos da conservação das espécies é justamente para
evitar que estas sejam extintas, seja a nível regional ou global. Mas como você
e eu podemos definir o risco de extinção enfrentado por uma espécie?
Uma espécie pode ser descrita como:
criticamente em perigo, se o seu risco de desaparecimento ou igual ou
superior as suas chances de se manter vivo nos próximos 12 anos, ou nas
próximas 4 gerações, o que perdurar mais.
em perigo, se a possibilidade de extinção dessa espécie superar 20% nos
próximos 20 anos ou cinco gerações.
vulnerável, se houverem chances maiores que 10% em 100 anos.
quase ameaçada, se uma dada espécie estiver próxima de ser incluída
numa das modalidades anteriormente mencionadas, ou se essa possibi-
lidade ocorre num futuro próximo.
172 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

de pouca preocupação, se uma espécie não se enquadrar em nenhuma


das categorias anteriormente mencionadas.
Bem baseado então nesses conceitos que acabamos de compartilhar vamos
fazer algumas rejeições.
Se nosso critério estiver próximo de uma realidade então cerca de 12% de
espécies de aves, 20% de mamíferos e 32% dos anfíbios estão ameaçados de
extinção, inclusos entre as modalidades, criticamente ameaçados, ameaçados
ou vulneráveis.
As espécies que possuem um alto risco de desaparecer, são, na maioria,
espécies raras, porém, nem todas as espécies raras estão ameaçadas, mas agora
faz-se necessária elucidar melhor o significado da palavra rara. Uma espécie
pode ser considerada rara, por exemplo, por encontrar-se distribuída em uma
pequena área geográfica, ou por possuir hábitats incomuns, ou mesmo por sua
população local não ser tão numerosa. Se uma espécie for rara e se enquadrar
em todos os três critérios anteriormente mencionados, ela é então considerada
bastante vulnerável a extinguir-se.
Mas com apenas um critério uma espécie pode já ser considerada rara,
como exemplo vamos citar um animal bastante conhecido de todos nós, a onça
pintada, (Phantera onca), uma espécie com uma baixa densidade populacional,
que em muitos locais por conta de inúmeras pressões principalmente as pres-
sões humanas, já estão desaparecendo de algumas áreas. Entretanto, espécies
raras apenas por uma nata raridade, necessariamente não estão ameaçadas de
extinção, o que na verdade ocorre é que algumas espécies, uma grande parte
delas, já são naturalmente raras, isso significa que algumas espécies já nascem
raras, e outras sofrem pressão em decorrência de sua raridade, tenhamos em
mente a partir desses conhecimentos que não é nada difícil empurrar uma
espécie para a beira da extinção.

 
Vamos agora pensar sobre o que é na essência a exploração. Podemos dizer
que a exploração é definida pelo fato de uma população ser explorada a uma
taxa tida como insustentável, isso levando em conta a mortalidade natural das
espécies e ainda sua capacidade de crescimento, e quando dizemos aqui cres-
cimento estamos dizendo inclusive sobre reprodução também, e precisamos
agora nos lembrar que o maior responsável por esse processo de extinção como
fruto de uma sobre-exploração no passado, tem o homem como o principal
Gestão da biodiversidade 173

responsável, e ainda hoje ainda o fazemos, como, por exemplo, temos os tuba-
rões, uma das espécies mais temidas, é pescado por esporte, e uma quantidade
enorme é pescada para que uma sopa de barbatana possa ser preparada, sem
falar que uma infinita quantidade desse animal morre acidentalmente durante
a pesca comercial.
Esses dados não deveriam nos assustar se pensarmos que os tubarões tem
uma baixo sucesso reprodutivo, seu amadurecimento sexual ser bastante tardio,
e o mais preocupante, são os maiores predadores dos mares. Se desaparecerem
você acredita que teremos algum problema com populações marítimas?

 
Vamos agora pensar sobre os hábitats. A destruição de hábitats é um dos
maiores causadores do desaparecimento de espécies; precisamos lembrar que
algumas espécies são tão sensíveis que mesmo pequenas intervenções podem
ser altamente prejudiciais às espécies. Outro problema bastante comum ocor-
rente e que altera significantemente a vida das espécies diz respeito à poluição,
para muitas espécies a poluição é decisiva na manutenção ou destruição de
um hábitat. Vamos pensar ainda nas consequências indiretas, que são aquelas
que visualmente não afetam o hábitat e a vida das espécies, mas citaremos
alguns exemplos fruto da poluição, como as chuvas ácidas, que caem sobre os
vegetais, sobre lagoas, lagos rios e poças temporárias, onde vive uma infinidade
de espécies, como anfíbios, por exemplo, que são altamente influenciados
negativamente.

 
As alterações não se restringem ao simples fato de excluirmos do ambiente
determinada espécie, mas as alterações que fazemos, podem refletir com o
aparecimento de novas espécies, as chamadas espécies exóticas, que, dife-
rente das espécies nativas, possuem uma alta capacidade de reprodução, são
altamente adaptativas em diversos ambientes, e competem deslealmente com
as espécies nativas, sejam plantas ou animais.
Mudanças previstas na distribuição de biomas como fator responsável pelas
mudanças climáticas no mundo.
Como já mencionamos antes, em função das atividades da humanidade é
cada vez maior a concentração de gases, em especial o dióxido de carbono, mas
também outros como óxido nitroso, metano, ozônio, clorofluocarbonatos, os
174 ECOLOGIA APLICADA E GESTÃO DA BIODIVERSIDADE

chamados CFCs. Comumente ouvimos nos meios de comunicação que esse acú-
mulo de gases leva a mudanças na temperatura da Terra e também promovem
mudanças no clima. Bem se consideramos como já mencionado que o clima
de um determinado local tem o potencial de exercer uma força controladora
sobre a distribuição de biomas, podemos prever então que o mapa de biomas
se altere com bastante significância, cada vez maior em função do aumento das
concentrações de gases, e se nossas colocações feitas na Unidade 5 quando
falamos de ecologia urbana, estiverem coerentes essas mudanças não datam
de muito longe, algo próximo de 60 ou 70 anos.
Mas, caro amigo, prever o futuro não é uma das mais fáceis tarefas; prever
como estará o clima e quais as reais consequências para a distribuição de
biomas e espécies é ainda mais complicado. O que mencionamos aqui não é
algo tão assombroso assim, fruto de um poder paranormal, é apenas uma óbvia
estimativa: se nada for alterado no modo de vida da humanidade, é inevitável
que em 6 ou 7 décadas as transformações comecem a ocorrer.
�<fim seção 2>

Para concluir o estudo da unidade


Deixamos a vocês a preocupação que precisamos ter neste momento
da história do homem sobre a Terra. É necessário o conhecimento de
nossa biodiversidade, para que possamos dessa forma proteger todo esse
patrimônio natural que está à nossa volta, para garantirmos as futuras
gerações de toda a espécie viva, com qualidade e respeito.

Resumo
Nesta unidade conhecemos um pouco mais sobre os biomas conti-
nentais e brasileiros, e também que esses biomas formam um mosaico
de clima, tendo enorme importância para a manutenção das diversas
formas de vida do nosso planeta.
Vimos também que variações climáticas podem alterar os padrões
de distribuição dos biomas e espécies, pois cada bioma possui clima e
Gestão da biodiversidade 175

condições diferentes dependendo de sua localização geográfica, topo-


grafia, solo apresentando características distintas nas comunidades de
plantas e animais.
Vimos que os ambientes aquáticos são bem diferentes dos biomas
terrestres, comunidades existentes em riachos, lagos, estuáros e mares
abertos possuem condições baseadas em alterações e recursos locais
não dependentes de padrões climáticos em nível global. As comunida-
des podem se alterar localmente em escalas de tempo, variando desde
horas até milênios.

Questões para reflexão


A natureza tem mesmo de ser preservada?

Atividades de aprendizagem
 A história de descaso com o meio ambiente acompanha a humanidade
desde os primórdios dos tempos, porém, o homem começa tardiamente
entender que na natureza deve-se priorizar o equilíbrio. Quais as alterna-
tivas que você pode indicar para que essa visão da preservação e do uso
consciente possa atingir a todas as classes sociais da população brasileira?
 Os biomas, sejam a nível continental ou brasileiro, prestam um serviço
essencial a manutenção de uma infinita quantidade de vida, o que
acredita que acontecera, se continuarmos a destruí-los?
 Um dos fundamentos da gestão ambiental está relacionado com a ma-
neira como iremos planejar e tomar conta de todo esse patrimônio, de
que forma deveremos agir com ambiente para que este possa manter-
-se em equilíbrio?
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