RESENHA - A Linguagem Do Movimento Corporal

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RESENHA

Por
Kátia Gally Calabrez

BRIKMAN, Lola, A Linguagem do Movimento Corporal (2ª. Edição). São Paulo/SP:


Summus, 1989. ISBN 85-323-0346-3.

A autora BRIKAN, nasceu em Buenos Aires, Argentina. Formou-se professora de


dança pela Escuela Nacional de Danza e pelo Instituto Universitario Nacional del Arte.
Fundadora do Instituto Superior de Formación Artística del Centro de Educación Corporal,
criou a disciplina de Expressão Corporal e as especializações em Arte, Saúde e
Educação e Arte na Diversidade. Professora e coreógrafa, apresenta espetáculos e dá
aulas em toda a América Latina, inclusive no Brasil. É ainda diretora artística da
Fundación Arte y Movimiento. 
A obra demonstra a importância do conhecimento do processo individual, e como
trabalhar partindo desse conhecimento para libertar o movimento corporal, percebendo os
aspectos físicos e psíquicos do corpo e suas interrelações.
Para ir ao encontro da linguagem do corpo é preciso desenvolver todas as
possibilidades do movimento corporal. Corpo e movimento constituem uma unidade que
opera por energia; que corpo, energia e movimento formam um todo. Através do
movimento no contexto do tempo e do espaço, a pessoa pode adquirir consciência do que
acontece com o próprio corpo; o que se vive com o próprio corpo e a consciência do que
se vive com o próprio corpo. Cada pessoa deve ser importante em si mesma. É preciso
conhecer seu processo individual e ajudar seu desenvolvimento a partir dela mesma. A
expressão corporal funcionaliza a linguagem do corpo em suas estruturações,
componentes e desenvolvimentos. Sua prática leva à manifestação da personalidade, a
um conhecimento e uma consciência mais completos, para fora e para dentro de si
mesmo e, enfim, a uma comunicação fluida, capaz de promover uma profunda
transformação da atitude básica da personalidade. A expressão corporal deve ser
entendida em seus múltiplos significados e possibilidades, ou seja, saber que se é e
sentir-se como se é; preservar a própria plenitude corporal, comunicar-se consigo mesmo
e com os outros, aceitar-se corporalmente com uma atitude sensível e criativa. Em todo
trabalho corporal, seja qual for, o corpo deve ser tratado como um todo psicobiológico. A
aptidão criadora se expressa na capacidade de transformar o próprio movimentos
corporal, isto é, na capacidade de perceber a peculiaridade de seu movimento, de suas
possibilidades pessoais, e de enriquecê-las, tudo isso devido à aptidão de sentir de forma
mais profunda, gerada por uma conexão intima consigo mesmo, por uma harmonia
interior, que gera, naturalmente, por sua vez, novas formas de movimento.
A expressão corporal se propõe a resgatar e desenvolver todas as possibilidades
humanas inerentes ao movimento corporal; é a manifestação dos sentidos através do
corpo. Temos que sensibilizar o corpo de fora para dentro significa também incorporar
elementos. Expressar tem vários significados, em relação com o corpo, mente, emoção,
sensibilidade e capacidade de dar e receber. Possibilita manifestar de forma corporal e
plenamente sua mente, emoção e ideias, relacionar-se e integrar-se criativamente com os
membros de seu grupo e a prender a desfrutar e manejar seu corpo como uma totalidade
integrada. A expressão corporal é o cumprimento, por parte do ser humano, de sua
possibilidade de manifestar-se através de seu corpo.
O desenvolvimento da linguagem corporal permitirá a manifestação d
personalidade e também conhecimento mis completo de si mesmo, para fora e para
dentro. Possibilitara uma comunicação mais fluida e uma modificação da atitude geral.
Aprender a cuidar de sua integridade, e procurar promover neles uma atitude de
autoconfiança e segurança diante do que é, do que faz e dos demais. Essa segurança
(serenidade e liberação do medo de agir) tem três apoios: saber que se é, sentir-se como
é e que o organismo funcione em plenitude fisiológica.
O movimento é o tema central da expressão corporal. O movimento é a resposta
que ativa a massa muscular, por uma reação em cadeia que percorre o corpo de um
ponto ao outro. O movimento deve ser resultante de uma atitude muscular receptiva, de
um estado de tonicidade muscular ideal. É preciso distinguir um movimento interior pouco
visível, que ativa massas musculares profundas, e um movimento exterior, que ativa a
musculatura periférica facilmente dobrável. Tanto o movimento interior como o exterior
estão intimamente relacionados quando a musculatura está bem instrumentalizada. Todo
esse processo ocorre no movimento, entendendo-se que só se manifesta quando se
respeita a integridade psicofísica. Nesse caso, trata-se de conscientizar o que se sente e
permitir o usufruto ou recusa do que se percebe.
A energia física é a capacidade que tem um corpo para produzir trabalho; é a
capacidade que tem o corpo de produzir movimento através de seu sistema muscular em
funcionamento ideal, o que lhe permite atingir um máximo de rendimento com um mínimo
de desgaste; e energia profunda é a força geradora do movimento. O motor principal é a
possibilidade que o corpo tem de realimentar-se com sua própria energia.
Uma vez, vivenciadas as sensações do movimento, deve-se centralizar a atenção
sobre os músculos e ossos que intervém sobre a reação respiratória, ritmo circulatório,
etc. quando trabalhamos exclusivamente o corpo, olhamos para dentro. Conhecer-se
implica outro nível de sensibilidade e inteligência. Aqui descobrimos apenas o nosso
espaço interior, e a partir daí nos relacionamos com nós mesmos, com os demais e com o
entorno.
O homem ora no espaço, com seu próprio tempo e num particular momento do
processo histórico. Cada presente temporal é um momento que contém um passado e
que se projeta para o futuro.
Incorporando o mundo sonoro ao movimento corporal, de alguma forma o mundo
sonoro plasma certa modulação do tempo, e através do som ou do silêncio o corpo se
vincula com o tempo. O som modifica, condiciona, transforma o ser humano. Existem
sons interiores (lembranças auditivas), sons especiais, sons da natureza, sons de nosso
corpo (respiração, voz, articulações, pulsação, ossos). Para o ouvido sensível e capaz de
conscientização, todo tipo de som pode refletir-se no movimento corporal. Quando
falamos de mundo sonoro não aludimos apenas à música, mas também ao universo de
sons do entorno, à realidade sonora circundante. Devemos valorizar esse importante
fenômeno sonoro que é o silencio. O silencio nos sensibiliza para a música e para o
mundo sonoro ambiental.
A sensibilidade auditiva permite receber, discriminar e integrar sons para elaborar
uma resposta – que pode não ser visível de fora e só provocar um movimento interior. A
analise para discriminar o fenômeno sonoro implica em perceber tudo que a música e o
som significam para o ser humano. A música modifica, condiciona e transforma, ou seja,
suscita importantes respostas sensoriais, emocionais e intelectuais. Discriminar tudo o
que a musica constitui objetivamente, em sua composição, qualidades, energia, tempo,
velocidade, fraseado, etc. dispomos de duas vias para estimular a relação entre a musica
e o movimento: a via representativa, de ajuste (representando corporalmente elementos
da música pulsação, acentuação, ritmo, fraseado, timbre, altura, intensidade) é um tipo de
trabalho de ajuste rítmico que contribui para que o movimento adquira precisão. A via
impressionista, aonde o movimento corporal responde ao estimulo sonoro de diferentes
maneiras, movimentos autônomos, de forma independente ao estimulo sonoro. O
movimento corporal autônomo é muito importante, para uma boa integração e essa
autonomia se consegue com um bom controle do corpo com um ouvido muito sensível à
estrutura musical e a seus elementos.
Entre as qualidades do movimento deve-se mencionar a quantidade de energia que
o corpo deve empregar para realizar um certo esforço.
A expressão corporal exige que não se caia na automutilação; a criatividade é
inerente à sua essência. É importante que possamos avaliar em que medida somos
capazes de expressar (verbalizar ou atuar) conteúdos que aflorem de níveis profundos de
nossa sensibilidade e de nossa intimidade. A atitude criativa depende fundamentalmente
da capacidade humana de mobilizar o mundo interno dos desejos e fantasias. A finalidade
da expressão corporal é precisamente tornar possível a existência desse mundo
imaginário. A expressão corporal se propõe, precisamente, a abrir caminhos e possibilitar
a representação desse mundo imaginário. Por isso, além do desenvolvimento do corpo,
devemos cuidar do desenvolvimento do imaginário. Assim poderemos sentir e
compreender as situações que nos sã dadas na experiencia e criar novas situações.
Pensar e sentir fazer é criativo; tudo o que se faz sentir e pensar ajuda a pensar a
realidade. A imaginação colocada na realidade mobiliza uma atitude de busca criativa. O
teatro, a música e a poesia são caminhos para sentir e pensar. O imaginário impulsiona
um movimento que permite representar algo, hoje ausente, que foi percebido alguma vez,
resgatar algo do passado, recriar uma velha imagem. A ação se nutre do imaginário;
podendo ser a ação imaginária, revolucionária. Submergir-se numa atitude contemplativa
ou meramente espontaneística são caminhos que, em vez de mobilizar a pessoa,
dissociam-na e a afastam de sua própria realidade. Isso pode ser evitado fazendo com
que o inconsciente aflore ao consciente.
Visamos a autonomia para que numa situação determinada se possa optar por
uma ação coerente consigo mesmo e com os demais. Essa atitude unifica sensibilidade
E pensamento na ação e preserva a unidade na diversidade. É inevitável refletir a
realidade na expressão corporal; sempre se refletirá uma realidade abstrata ou concreta;
e para levar a fantasia à realidade tomamos do muno (imaginário ou real) aquilo que nos
agrada e que nos move.
O ser humano é constituído por uma mente que pensa, uma alma que sente e um
corpo que expressa esse todo. O corpo constitui o principal modo de percepção e
expressão. A expressão corporal permite projetar a essência criadora do corpo.
Consideramos a linguagem do movimento corporal como uma articulação
harmônica dos movimentos que possibilitam o desenvolvimento de uma imagem, ideia ou
sentimento.

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