Ponto de Vista em Diversidade e Inclusão
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(Organizadoras)
2018
Copyright by Associação Brasileira de Diversidade e Inclusão (ABDIn)
5
EQUIPE TÉCNICA
L732
ISBN 978-85-69879-23-7
CDU - 37.01
6
Perfil das Organizadoras
Neuza Rejane Wille Lima
7
Luciana Tavares Perdigão
8
Cristina Maria Carvalho Delou
9
Sumário
Neuza Rejane Wille Lima ....................................................................................................... 7
Luciana Tavares Perdigão ...................................................................................................... 8
Cristina Maria Carvalho Delou ............................................................................................... 9
Alfabetização e letramento de alunos surdos ..................................................................... 11
História da educação especial e os caminhos percorridos na direção da educação inclusiva
............................................................................................................................................. 17
Idosos que o tempo tornou órfãos: um ponto de vista sobre o papel da arte e do resgate
das histórias de vida para humanização no tratamento de idosos asilados ....................... 27
Transtornos, dificuldades ou problemas na aprendizagem? A intervenção psicopedagógica
no contexto educacional ..................................................................................................... 33
Por uma leitura que envolva todos os sentidos .................................................................. 39
Maquetes e mediação: uma possibilidade para o ensino de alunos cegos na educação
inclusiva ............................................................................................................................... 44
Prática docente e diversidade no Museu do Amanhã: reflexões sobre a interação entre
alunos com altas habilidades ou superdotação e da educação de jovens e adultos .......... 53
A recuperação do sentido autêntico das coisas: uma aproximação entre a experiência
artística e a fenomenologia de Merleau-Ponty ................................................................... 66
Legislação, políticas públicas de educação e contradições da educação inclusiva para
surdos .................................................................................................................................. 72
O ensino de libras como segunda língua para crianças ouvintes na escola regular: um
possível caminho para a inclusão de alunos surdos............................................................ 81
A importância dos programas de estimulação precoce para o desenvolvimento infantil . 86
Whatsapp: uma proposta pedagógica para além da sala de aula ...................................... 93
Legislação federal brasileira sobre acessibilidade: o que falta fazer? ............................... 99
10
Capítulo 1
Alfabetização e letramento de alunos surdos
1
Rosana Prado
2
Maria da Glória S. da Costa
1
Professora Doutora adjunta do Departamento de Ensino Superior do Instituto
Nacional de Educação de Surdos/INES, pedagoga bilíngue (LIBRAS/Língua
Portuguesa) e professora orientadora do Curso de Mestrado Profissional em
Diversidade e Inclusão da Universidade Federal Fluminense-CMPDI/UFF.
2
Graduanda em Pedagogia Bilíngue pelo Instituto Nacional de Educação de
Surdos/INES.
Este capítulo tem a intenção de trazer reflexões iniciais estabelecidas durante as reuniões
do grupo de pesquisa intitulado “Educação bilíngue, alfabetização e letramento de surdos”, que
aconteceram no Instituto Nacional de Educação de Surdos,em 2017. Nossa primeira provocação
foi compreender os conceitos de alfabetização e letramento. Para tal, estabeleceu-se uma
conversa com o grupo, na busca por conceitos com base nas experiências particulares de cada
um.
A partir de tais perguntas, foi interessante perceber que a maioria dos componentes do
grupo de pesquisa relacionava os termos com o ato de ler e escrever, mas todos, timidamente,
misturavam as duas ideias. Uns situavam a questão no ato de escrever, outros se lembravam da
importância da leitura e alguns conseguiam interligar as duas ações. A proposta seguinte foi
indicar leituras sobre tais conceitos, a partir de textos de Soares (2016, 2012), Rojo (2009) e
Mortatti (2004).
De acordo com Soares (2016), alfabetizar é tornar o indivíduo capaz de ler e escrever. É
possibilitar ao indivíduo a aquisição de uma tecnologia. No caso dos alunos ouvintes, essa
tecnologia está relacionada à associação entre o som da fala e sua reprodução escrita - a relação
entre fonema e grafema.
11
No entanto, para alunos surdos, a aquisição do domínio do código escrito não acontecerá
por meio da mecânica de associação entre som e fala mas por intermédio da relação entre duas
imagens diferentes. Alfabetizar um aluno surdo significa ensinar a estabelecer associação entre a
imagem da palavra escrita com a imagem do sinal representativo do significado. Ou seja, a palavra
escrita é uma imagem que o remete ao significado representado por outra imagem. Assim,
alfabetizar alunos surdos pressupõe didáticas e organizações de ensino diferentes daquelas
observadas na organização de propostas direcionadas aos alunos ouvintes.
Compreendemos que existe uma diferença entre ser alfabetizado e ser letrado. Ser
alfabetizado significa dominar o código da leitura e escrita, enquanto ser letrado é o estado da
pessoa que sabe ler, escrever e utilizar essa tecnologia envolvendo-se nas práticas sociais
competentes de leitura e escrita. Ou seja:
A pessoa que aprende a ler e escrever – que se torna alfabetizada - e que passa a
fazer uso da leitura e da escrita, a envolver-se nas práticas sociais de leitura e de
escrita – que se torna letrada – é diferente de uma pessoa que não sabe ler e
escrever – é analfabeta – ou, sabendo ler e escrever, não faz uso da leitura e da
escrita – é alfabetizada, mas não é letrada, não vive no estado ou condição de
quem sabe ler e escrever e prática a leitura e a escrita. (SOARES, 2016, P.36)
Para Soares (2016), a pessoa letrada se torna diferente daquelas que não têm acesso ao
mundo letrado. Ao se tornar letrado, o indivíduo adquire outra condição social e cultural e isso
não se refere ao nível ou classe social, mas ao lugar de participação que ocupa nas relações sociais
e sua consequente inserção na cultura.
Apropriação e uso dos saberes sociais são de grande importância para a participação e
mudança social. Para Mortatti (2004), do ponto de vista tanto do indivíduo, quanto do grupo
social, do seu estado ou condição no que se refere aos aspectos cultural, social, político,
linguístico e psíquico, o indivíduo letrado tem mais condições de atuar de maneira autônoma na
12
sociedade. No entanto, os significados e usos dos saberes adquiridos, assim como as maneiras de
utilização, também podem variar de acordo com o tempo e a situação de desenvolvimento da
sociedade.
Diante de tal definição, o que pensar sobre o letramento de alunos surdos? Se vamos
considerar o uso de uma língua na sua forma escrita, antes, precisamos definir o papel que essa
língua adquire no processo de ensino e aprendizado dos alunos em questão. O primeiro passo é
compreender que em função de um impedimento sensorial, alunos surdos não terão acesso às
informações por meio de uma língua oral e por isso, precisam de uma primeira língua visual que
ofereça conforto linguístico e acesso às informações. Para o surdo, isso só acontece por meio da
língua de sinais - no Brasil é a LIBRAS. O segundo passo é deixar claro que LIBRAS é língua ágrafa,
portanto, não possui uma forma escrita oficial.1Em uma sociedade globalizada e letrada como a
nossa, precisamos considerar que grande parte dos saberes da humanidade está registrada de
maneira escrita e se os indivíduos surdos têm acesso à esses saberes registrados, faz-se
necessário a aquisição da língua majoritária da sociedade em sua modalidade escrita. No caso do
Brasil, os surdos precisam ter acesso a uma língua gestual visual (LIBRAS) e à língua da sociedade
majoritária ouvinte na sua modalidade escrita (Português).
Sendo assim, as práticas de letramento de alunos surdos só poderão ocorrer por meio da
utilização da língua de sinais, de recursos e estratégias visuais de ensino. Por isso, consideramos
nesse capítulo, o termo letramento visual como foi definido por Lebedeff (2010)2
Letramento visual é compreendido por Oliveira (2006) como a área de estudo que
lida com o que pode ser visto e como se pode interpretar o que é visto. Segundo a
autora, o letramento visual é abordado a partir de várias disciplinas que buscam
1
É importante esclarecer que,no Brasil, ainda não temos uma proposta de escrita de sinais considerada oficial,
despontam o SignWriting e a ELiS, mas esses sistemas de escrita são pesquisas em andamento e não são reconhecidos
como oficiais. AGUIAR e CHAIBU (2015).
2
in: https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/caduc/article/view/1606/1489. Acesso em 9/03/2016.
13
estudar os processos físicos envolvidos na percepção visual; usar a tecnologia
para representar a imagem visual; desenvolver estratégias para interpretar e
entender o que é visto. Nesse sentido, letramento visual para os surdos precisa
ser compreendido, também, a partir de práticas sociais e culturais de leitura e
compreensão de imagens. Por exemplo, não basta ser surdo para “ler” uma
imagem, assim como não basta ser ouvinte para apreciar um sarau de poesias.
Assim, o processo de aprendizado de leitura e escrita por alunos surdos precisa ser
pensado, considerando uma sistematização do conhecimento de maneira visual. Dessa maneira,
as aulas deverão ser pensadas e organizadas de maneira visual. Para tal, o professor precisar
conhecer a estrutura da Língua de Sinais e pensar sua aula, imaginando cada etapa a ser ensinada,
considerando o uso dessa língua. Ao pensar em língua de sinais e imaginar uma interação visual
com os alunos, o professor terá condições de desenvolver uma didática visual e se aproximar das
necessidades dos alunos surdos.
(...) no caso da escola, a imagem carece de atributos para agir como elemento
educacional. É preciso o desenvolvimento da acuidade visual e do potencial
expressivo, incluindo outros sentidos além da visão. As características e os
atributos do visual não podem ser desconsiderados no aprendizado. Igualmente
não são habilidades que podem ser generalizadas ou atribuídas como naturais do
surdo, porque requerem técnicas e informações teórico-práticas que precisam ser
exercitadas.
14
Apesar da potencialidade que os alunos têm para o aprendizado visual, não podemos
dizer que este aprendizado aconteça de maneira espontânea, sem que haja necessidade do uso
de uma didática específica para alunos surdos. O entendimento de uma pedagogia capaz de
sistematizar o conhecimento de maneira visual é necessário para o ensino de alunos surdos.
Quando nos referimos ao letramento visual, não estamos afirmando que o simples uso de
imagens será suficiente. De acordo com Prado e Macedo (2016, p.152):
15
REFERÊNCIAS
AGUIAR, T.C. e CHAIBUE, K. Histórico das Escritas de Línguas de Sinais. Centro Virtual de Cultura
Surda.Revista Cultural de Cultura Surda. Edição nº15/março de 2015 – Arara Azul, ISSN 1982-
6842. Disponível em: http://editora-arara-
azul.com.br/site/admin/ckfinder/userfiles/files/3%C2%BA%20Artigo%20para%20REVISTA%2015%
20de%20THIAGO%20AGUIAR%20e%20KARIME%20CHAIBUE.pdf Acesso em 8/03/2018.
LEBEDEFF, T.B. Aprendendo a ler “com outros olhos”: relatos de oficinas de letramento visual com
professores surdos. Cadernos de Educação, Pelotas, 175 - 195, maio/agosto, 2010. Disponível em:
https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/caduc/article/view/1606/1489. Acesso em
9/03/2016.
MORTATI, M.R.L. Educação e Letramento. Coleção Paradidáticos. Série Educação. São Paulo,
UNESP, 2004
PRADO, R.; MACEDO, J. L. M. F. de. Aquisição de línguas por crianças surdas: a importância do
letramento visual. RevistAleph, Ano XIII - Número 26; p.140-154, 2016.
ROJO, R. Letramentos Múltiplos, escola e inclusão social. São Paulo, Parábola Editorial, 2009.
SOARES, M. Alfabetização e letramento. São Paulo. Contexto, 2012.
SOARES, M. Letramento: Um tema em três gêneros. 3 ed. 3 reimp. Belo Horizonte: Autêntica,
2016.
TAVEIRA, C.C. e ROSADO, L.A da S. O letramento visual como chave de leitura das práticas
pedagógicas e da produção de artefatos no campo da surdez. In: Letramento Visual e Surdez.
LEBEDEFF, T.B. (Org.) Rio de Janeiro, WAK, 2017.
16
Capítulo 2
História da educação especial e os caminhos
percorridos na direção da educação inclusiva
1
Glaura Cristina Oliveira Braga
2
Rosana Prado
1
Mestranda do Curso de Mestrado em Diversidade e
Inclusão/CMPDI/UFF.Pós-graduada em Psicopedagogia no Cotidiano Escolar
pela UFF. Graduada em Pedagogia- UERJ. Professora da equipe de
Coordenação de Educação Especial do Município de Niterói.
2
Professora Doutora adjunta do Departamento de Ensino Superior do Instituto Nacional de Educação de Surdos/INES,
pedagoga bilíngue (LIBRAS/Língua Portuguesa) e professora orientadora do Curso de Mestrado Profissional em
Diversidade e Inclusão da Universidade Federal Fluminense-CMPDI/UFF.
Diante das atuais demandas da Educação na perspectiva inclusiva, este capítulo se propõe
a realizar um perfil histórico da Educação Especial, procurando resgatar as diferentes ações
implementadas, compreendendo os fatos que influenciaram nas conquistas alcançadas pela
sociedade para a construção de concepções que nos levam à educação inclusiva.
De acordo com Pintor (2017) existem relatos sobre o tratamento dado às pessoas com
deficiência desde a Pré-história, quando a convivência com pessoas diferentes, causava espanto,
medo, horror ou admiração e curiosidade. Em função desse estranhamento, as pessoas com
deficiências eram afastadas do convívio ou condenadas à morte.
17
do alto dos rochedos e em Atenas eram rejeitados e abandonados nas praças
públicas ou nos campos.
Enquanto em alguns locais elas eram mortas, em outros eram consideradas “possuídas
por demônios”, precisando de purificação. Durante muito tempo, os sentimentos com relação aos
deficientes tinham valores diversificados. Havia uma mistura de piedade e compaixão, cuidados e
abandonos, perseguição e proteção. O período da Antiguidade até a Idade Moderna foi marcado
por crenças de que os indivíduos com necessidades especiais estavam sob a influência demoníaca.
Segundo Pintor (2017, p.17):
A demonologia ressurge com fortes crenças nas antigas superstições que vão se
prolongar por toda a Idade Média. Algumas modificações surgiram com o
advento do Cristianismo, mas incapazes de acabar com o horror das perseguições
e mortes aos indivíduos considerados anormais e possuídos pelos espíritos
malignos. Os retardados mentais, os loucos e os criminosos eram reunidos pela
mesma causalidade, sua possessão pelo demônio.
Durante a Idade Média, as pessoas com deficiência eram exorcizadas devido à atribuição
da deficiência como ira ou castigo de Deus. Na Idade Média, o Cristianismo propagou a ideia de
que as pessoas possuíam uma alma imortal e todos os seres humanos passaram a ser vistos como
“filhos de Deus”. Assim, abrem-se de acolhimento em conventos, igrejas e instituições de
caridade que, na verdade, contribuíam para o isolamento social dessas pessoas.
No século XVIII, o Iluminismo desperta a busca pelo aperfeiçoamento das pessoas e sua
capacidade de aprendizagem. A intenção de habilitar as pessoas com deficiência para as mesmas
se aproximarem do padrão de normalidade valorizado socialmente, leva a educação a ser
considerada como uma possibilidade de “recuperação” daqueles sujeitos considerados anormais.
De acordo com Meireles (2010), o desenvolvimento científico e as pesquisas avançam levando a
Medicina a ter credibilidade na avaliação e determinação do tratamento dado às pessoas com
18
deficiência. Surgem as instituições médicas e a Medicina passa a ter o poder de avaliar, julgar e
determinar o direcionamento dado às vidas dessas pessoas.
Segundo Mantoan (2003), em 1887, na Escola do México, no Rio de Janeiro, foi feito o
atendimento a pessoas com deficiência no ensino regular. Os serviços dedicados a esse segmento
de nossa população foram trazidos por alguns brasileiros que se dispunham a
organizar,implementar ações isoladas e particulares para atender pessoas com deficiências físicas,
mentais e sensoriais. Somente a partir de 1950, iniciou-se um movimento defendendo a ideia de
integração, que no olhar de Sassaki (1997, p. 27):
[...] é uma forma condicional de inserção em que vai depender do aluno- ou seja,
do nível de sua capacidade de adaptação às opções do sistema escolar- a sua
integração, seja em sala regular em uma classe especial ou mesmo em
instituições especializadas- trata-se de uma opção em que tudo se mantém, nada
se questiona do esquema em vigor.
19
se adaptar ao meio social, esforçando-se para acompanhar o desenvolvimento escolar
equivalente aos alunos sem deficiência. De acordo com Sassaki (1997, p.28):
Uma das razões pelas quais as pessoas estão expostas à discriminação é que os
diferentes são frequentemente declarados doentes. Esse modelo médico da
deficiência nos designa o papel desamparado e passivo de pacientes, no qual
somos considerados dependentes do cuidado de outras pessoas, incapazes de
trabalhar, isentos dos deveres normais, levando vida de inúteis, como está
evidenciado na palavra ainda comum “inválido” (sem valor, em latim).
A deficiência sempre foi vista como um problema do indivíduo, por isso a necessidade do
ser habilitado ou curado com ajuda de profissionais. Na proposta da integração, a sociedade não
precisa ser modificada, mas sim o indivíduo. Sassaki (1997) destaca que o modelo de integração
tem sido responsável, em parte, pela resistência da sociedade em promover mudanças em suas
estruturas e atitudes para o recebimento de pessoas com necessidades especiais, afastando da
sociedade e da escola o compromisso de tornar acessível a participação do indivíduo em suas
diversas instancias.
Em 1961,o governo federal estabelece o direito dos excepcionais3 à educação pela Lei
4024/61. De acordo com Mazzota (2005, p. 68), esta lei:“*...+ reafirmando o direito dos
excepcionais à educação, indica em seu art. 88 que, para inteirá-lo na comunidade, sua educação
deverá, dentro do possível, enquadrar-se no sistema geral de educação”. Segundo o próprio
autor, o direito à educação está garantido aos excepcionais entendendo-se que, para contribuir
3
Termo utilizado à época para se referir às pessoas com deficiência.
20
para sua integração na comunidade, seu processo educativo deve enquadrar-se no sistema geral
de educação. Outra questão está na expressão "no que for possível", deixando margem para o
entendimento de que não há obrigatoriedade de um direcionamento para mudanças no
recebimento do alunado.
Em 1971, foi promulgada a Lei de Diretrizes e Bases - LDB nº 5692/71(BRASIL, 1971) que
contemplou a Educação Especial apenas no Art. 9: “Os alunos com deficiência físicas e mentais, os
que se encontram em atraso considerável quanto à idade regular da matrícula e os superdotados
deverão receber tratamento especial, de acordo com as normas fixadas pelos competentes
Conselhos de Educação. ”Desse modo, reafirmou o direito das pessoas com deficiência à
educação, mas não esclareceu onde deveria ser o atendimento. Outro ponto importante a ser
destacado é que ao se referir, apenas, aos alunos com deficiências físicas e mentais, omitiu os
direitos das pessoas com deficiências visuais e auditivas, assim como dos indivíduos com condutas
típicas das síndromes neurológicas e psicológicas.
21
Outro marco importante na afirmação da educação inclusiva, foi a Conferência Mundial
de Educação para Todos (1990)4, que enfatizou propostas de democratização da educação,
independente das diferenças entre os alunos. Esta conferência afirmou que a qualidade na
educação necessita do envolvimento da escola, de novas dimensões para torná-la acessível, da
valorização das diferenças e de reconhecimento de cada diferença como um bem cultural.
Esses documentos reforçaram a filosofia de inclusão escolar das pessoas NEEs e tiveram a
participação do Brasil com a firmação de acordos junto à Organização das Nações Unidas - ONU e,
também, com o Banco Mundial. Os acordos foram incorporados à legislação brasileira, dando
sustentação às ações inclusivas do governo federal na área da Educação.
A Educação Especial trilhou caminhos para construir o conceito de educação inclusiva que
não a substitui, mas trabalha para a inclusão de todos de modo democrático no processo
educacional. De acordo, com Mendes (2006), na proposta da inclusão são as instituições e
demais espaços sociais que devem se adaptar e buscar atender as pessoas com deficiência. Desse
modo, será preciso repensar o papel da escola e do professor, na direção de alternativas que
viabilizem as condições para o recebimento do aluno. Diferentemente da integração, onde o
aluno precisava se adaptar ao meio, na proposta de inclusão, o ambiente busca se modificar para
atender as particularidades e necessidades de todas as crianças.
Segundo afirmação de Sassaki, (1997, p. 41) “A inclusão pode ser conceituada como o
processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em seus sistemas sociais gerais,
pessoas com deficiências e, simultaneamente estas se preparam para assumir seus papéis na
sociedade.” Então, a inclusão se constitui a partir de mudanças na sociedade e nos seus sistemas.
4
Nome genérico dado à conferência realizada na cidade de Jomtien, na Tailândia, em 1990, denominada Conferência
Mundial sobre Educação para Todos, cujo objetivo era estabelecer compromissos mundiais para garantir a todas as
pessoas os conhecimentos básicos necessários a uma vida digna, condição insubstituível para o advento de uma
sociedade mais humana e mais justa.
22
Em um processo de modificações, tanto as pessoas ainda excluídas, como a sociedade, buscam
em parceria, equacionar problemas, decidir sobre soluções e efetivar a equiparação de
oportunidades para todos.
Assim, entende-se a educação inclusiva como um processo que inclui todas as pessoas,
independentemente, de suas diferenças, na rede regular de ensino em todos os níveis e
modalidades. Para tanto, a Educação Especial tem hoje a missão de perpassar por todos os níveis
e modalidades de ensino, de forma a proporcionar acessibilidade e aproveitamento escolar aos
alunos com deficiências e/ou necessidades educacionais especiais. Para tanto, são necessárias
mudanças na estrutura do ensino, tornando a escola um espaço democrático de modo a garantir
a todos os alunos, sua permanência e apropriação do conhecimento.
A educação inclusiva propõe uma escola aberta para as diferenças. Nesse contexto, não
há como ser estruturada de maneira homogeneizadora. As diferenças contribuem para a
formação do ser humano. Por isso, há necessidade de que as políticas públicas voltadas para
inclusão estabeleçam custos adicionais para suprir as demandas necessárias, contratar e prover
formação continuada dos profissionais, oferecer condições estruturais, além de garantir os
materiais fundamentais para o aprendizado. O trabalho pedagógico deve basear-se na
aprendizagem em interação com a diversidade e com foco no potencial dos indivíduos.
23
Nesse contexto, foi publicado, em 2008, o documento: Política Nacional de Educação
Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva - PNEE-EI (BRASIL, 2008a), do Ministério da
Educação (MEC). Essa política objetiva subsidiar um trabalho escolar que leve em conta os
processos de inclusão. Ainda, em 2008, é promulgado o Decreto nº 6.571, que dispõe sobre o
Atendimento Educacional Especializado - AEE (BRASIL, 2008b), definindo “o conjunto de
atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos organizados institucionalmente, prestado de
forma complementar ou suplementar à formação dos alunos no ensino regular” (BRASIL, 2008b,
§1). O AEE passa a ser a principal orientação na proposta de educação inclusiva em escolas
regulares. A respeito dessa Política, Mantoan (Apud, MEIRELES, 2014, p.88) considera:
É importante salientar que esses planos não são ações que possam acontecer de maneira
isolada feitas pela escola. Seria ingenuidade pensar que a escola poderia resolver questões
culturais e pragmáticas quanto à inclusão/exclusão. Porém, como diz Meireles (2014, p.88):
“Torna-se um desafio vencer os temores que ainda existem no sistema de ensino e na cultura
escolar, assim como, encontrar mecanismos de efetivação dos direitos de todos os indivíduos no
que se refere a uma educação democrática cada vez mais presente.” O incentivo das políticas
públicas e os investimentos na organização dos AEEs têm oportunizado aos ambientes escolares,
maior possibilidade de concretizam os ideais norteadores de uma política pública de inclusão.
A educação inclusiva é uma prática recente em nossa sociedade. Os desafios postos à falta
de experiência com a diversidade, ainda provocam reflexões para construção de uma escola
inclusiva como caminho para modificação de um ensino com herança tradicional e
homogeneizadora.
24
Assim, o que nos move é uma prática pedagógica que está aprendendo a respeitar as
diferenças e fazendo delas uma riqueza de cultura e conhecimento, a fim de tornar as
experiências mais ricas e possibilitar com equidade a inclusão das pessoas com necessidades
especiais no cotidiano escolar.
REFERÊNCIAS
25
MEIRELES, R.M.P.L. Políticas de inclusão e práticas pedagógicas na educação de alunos surdos:
Programa de Bilinguismo de Niterói/RJ. Rosana Maria do Prado Luz Meireles. 2014.
___________________. Educação Bilíngue de alunos surdos: experiências inclusivas na Escola
Municipal Paulo Freire, Niterói (RJ). Dissertação de Mestrado em Educação, Universidade Federal
Fluminense, Niterói, 2010.
MENDES, E. G. Deficiência mental: a construção científica de um conceito e a realidade
educacional.1995. Tese de Doutorado em Psicologia, Universidade de São Paulo, SP, 1995.
_______. A radicalização do debate sobre inclusão escolar no Brasil.Revista Brasileira de Educação
v. 11 n. 33 set./dez. 2006.
PINTOR, N.A.M.Educação inclusiva. Nelma Alves Marques Pinto. Rio de Janeiro: SESES, 2017.
RODRIGUES, O. M. P. R. Educação especial: história, etiologia, conceitos e legislação vigente In:
Práticas em educação especial e inclusiva na área da deficiência mental. CAPELLINI.V.L. M.F.(org.).
Bauru: MEC/FC/SEE, 2008.
SASSAKI, R. K. Inclusão, construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1997.
26
Capítulo 3
Idosos que o tempo tornou órfãos: um ponto
de vista sobre o papel da arte e do resgate
das histórias de vida para humanização no
tratamento de idosos asilados
¹ Professora do Ensino Fundamental I, da Secretaria de Educação de Nova Friburgo, RJ, Psicopedagoga. Mestranda pelo
Curso de Mestrado Profissionalizante de Diversidade e Inclusão da Universidade Federal Fluminense.
2
Professor do Instituto de Biologia da Universidade Federal Fluminense. Orientador do Curso de Mestrado
Profissionalizante de Diversidade e Inclusão da Universidade Federal Fluminense.
“Viver é conhecer”
(Maturana, Árvore do Conhecimento)
27
No Brasil, assim como em vários outros países do Terceiro Mundo - ou aqueles ainda mais
periféricos nesta “ordem” global -, grande parte dos cidadãos envelhece na pobreza.Para outra
parte da população, envelhecer é sinônimo de conhecer a pobreza, não somente pela falta de
recursos financeiros,mas pela escassez de amigos, afetividade, lazer, autonomia, sociabilidade,
reconhecimento e participação social (ZIMERMAN, 2000).
É com este olhar diferenciado de quem vê com preocupação as questões da terceira idade
que gostaríamos de relatar nossa práxis educativa junto a uma parte deste extrato social que vive
em asilos. Iniciamos diálogo e parceria com o Lar Abrigo Amor a Jesus- LAJE, uma Instituição de
Longa Permanência para Idosos - ILPI, de utilidade pública municipal e estadual, fundada em
1929, de cunho filantrópico, situada no município de Nova Friburgo, no Estado do Rio de Janeiro.
Esta Instituição abriga 85 idosos de baixa renda. Para tanto, priorizamos o resgate das histórias de
vida, educação permanente e apoio ao exercício pleno da cidadania.
Pensando em uma educação mais humana, alicerçada nos direitos humanos, que preza
pela justiça social e inclusão em sua diversidade, declaramos que sendo um bem público e direito
fundamental a qualquer pessoa, a educação permanente é essencial e imprescindível para o
alcance de paz e convivência social. Contudo, para compreensão da educação permanente que
defendemos, é necessário rompermos com a cultura de que educação acontece apenas na
escolarização e nos bancos escolares. Devemos abrir nossos horizontes para a compreensão
proposta por Maturana, (1987), de que “educar é abrir um espaço de convivência com o outro”, e
isto pode acontecer a qualquer tempo e lugar. Desse modo, permanentemente estamos
produzindo conhecimento por meio de relações interpessoais, seja com os pares escolares ou
elaboradas no meio familiar, comunitária, social, onde não necessariamente a escola estará
presente.
28
os participantes das atividades -moradores da Instituição - e seus interlocutores. Assim, combate
a letargia, depressão e aceleração do estado de demência. Tais momentos favorecem a conversa
e a interatividade. Na companhia de um com o outro, se aprende a ouvir e a compartilhar
histórias e lembranças, promovendo a integração do idoso. Este é um ambiente riquíssimo de
aprendizagem e experiências! É durante esses momentos que as histórias são resgatadas e
ressignificadas.
Maturana, 1987, em seu livro A Árvore do Conhecimento, afirma: “tudo o que é dito é dito
por alguém”. Isto significa dizer que todo o nosso conhecimento se dá com e na linguagem e que
as nossas ações estão impregnadas de nós mesmos, evidenciando nossos vínculos afetivos e as
nossas relações com os objetos e objetivos por nós criados e estabelecidos. Ocupamos no mundo
um lugar nosso, e é por isso que o que de nós ecoa tem sentido e valor.
5
Utilizamos nesse contexto a definição de Atividades Básicas Diárias - ABVDs, adotada por Duarte Yao, no Projeto SABE,
do município de São Paulo: Desempenho funcional e demandas assistenciais, que são realizadas diariamente e estão
diretamente relacionadas ao autocuidado, como alimentar-se, banhar-se, vestir-se, arrumar-se, mobilizar-se, manter
controle sobre suas eliminações e deambular.
29
Oswaldo utiliza papel A4, lápis de cor, borracha, régua e apontador, o suficiente para
criar suas obras de arte todos os dias na sala de arte e lazer da instituição, na companhia de
outros moradores. Sob o olhar cuidadoso de Renata Mendonça e demais profissionais, sua arte foi
transformada em exposição no dia de seu aniversário, como forma de homenagem ao seu
talento. A exposição foi visitada por seus amigos (demais idosos da instituição onde mora), por
cidadãos friburguenses e elogiada por diversos artistas plásticos de Friburgo.
Oswaldo conta que suas “construções” ganham formato todas as vezes que ele se dedica
à arte, que algumas são criações de suas memórias e outras surgem a partir de conversas ou
músicas ouvidas no espaço de arte e lazer. Ao findar suas atividades, costuma dizer: “Hoje,
trabalhei muito. Construí casas lindas!”. Daí o nome da exposição: Pastor Construtor.
A exclusão, vivida por muitos idosos deve nos convocar para uma transformação cultural e
ampliação da nossa compreensão de que estamos em constante processo de aprendizagem,
executando, desta forma, o vir a ser humano. Assim, a humanização dos espaços asilares
30
possibilita aos idosos exercerem sua cidadania, fazendo-os sentir a necessidade de mudanças,
união e criação de espaços para tornarem-se visíveis enquanto pessoas.Sentem também a
necessidade de expor desejos e propostas, posicionando-os como sujeitos capazes de provocar
mudanças.
REFERÊNCIAS
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32
Capítulo 4
Transtornos, dificuldades ou problemas na
aprendizagem? A intervenção psicopedagógica no
contexto educacional
1
Flaviane Felisberto dos Reis ,
2
Neuza Rejane Wille Lima
3
Leandra de Souza Vieira
4
Edicleia Mascarenhas Fernandes
1
Mestranda do Curso de Mestrado Profissional em Diversidade e Inclusão– CMPDI/ UFF. [email protected].
2
Docente/pesquisador/colaborador do Depto de Biologia Celular e Molecular – CMPDI/UFF. [email protected]
3Mestranda do Curso de Mestrado Profissional em Diversidade e Inclusão - CMPDI/UFF
[email protected]
4
Doutora. Professora colaboradora do Depto de Educação [email protected]
33
Refletindo no desenvolvimento dos alunos nas básicas; nas disciplinas de português e
matemática, há que se considerar: os professores enfrentam uma série de dificuldades e
obstáculos que os fazem desistir facilmente. Contudo, observam-se ganhos ao realizar algumas
atividades propostas com apoio do profissional especializado. Acredita-se que o Psicopedagogo
Institucional pode criar possibilidades de mudanças, pois a presença desse profissional abre as
portas para o Sucesso Pedagógico, quando leva os professores a adquirem o Movimento de
Reavaliação de sua práxis pedagógica. Essa abertura a um profissional especializado na Instituição
pode trazer possibilidades de reorganização de métodos que visam abordar a criança como centro
da aprendizagem, partindo de suas potencialidades, onde todos ganham no processo de ensino,
em seu ritmo e tempo. Ressalta-se, diante de inúmeros desafios e entraves previstos para a
escolarização das crianças com dificuldades de aprendizagem, que os aspectos humanos devem
ser considerados, ressaltando-se, na essência do processo, os ¨profissionais¨ - o psicopedagogo
enquanto mediador e peça-chave ao início da organização. A ideia é fundamentar os princípios
norteadores para uma proposta escolar que pretenda focar para aprendizagem centrada no aluno
e nas adaptações curriculares necessárias. Cabe frizar que desta forma pode-se quebrar as
barreiras atitudinais e pedagógicas que criam obstáculos para aprendizagem. Esse trabalho, feito
em parceria entre os profissionais, e o psicopedagogo como agente facilitador, compreende olhar
para orientação às famílias dos alunos com particularidades específicas numa perspectiva
relacional. Nas investigações das práticas pedagógicas docentes - enquanto mestrandas do CMPDI
e psicopedagogas em salas de recursos multifuncionais, por meio da convivência na rotina das
equipes multidisciplinares nos municípios e do acompanhamento nos encontros voltados aos
professores do ciclo de alfabetização (Fundamental I) e aqueles do Fundamental II-,percebe-se a
necessidade de foco preventivo em estratégias relacionadas às necessidades educacionais dos
alunos com TDAH e dificuldades de aprendizagens específicas.Os relatos de professores e as
observações das práticas pedagógicas revelam a ânsia da avaliação: no ambiente escolar, nas
propostas pedagógicas, nos recursos, no currículo escolar, adaptações em todo o falta algo
processo de ensino aprendizagem que envolve esses alunos em suas classes regulares. Nesses
aspectos, as indagações levam em consideração as necessidades específicas dos alunos,
repensando os diferentes paradigmas que cercam a Educação Inclusiva. È necessário, pensar em
ajustes no acolhimento de todos os alunos, em se tratando de todas as instâncias político-
administrativas representadas pelas secretarias estaduais, municipais, pelas direções das escolas
e equipes técnicas. Para que desse modo seja possível reconhecer os problemas sob diferentes
aspectos - legais, históricos e sociais - em consonância com o Regimento Educacional Municipal;
tendo em vista que os “problemas” da prática docente não estão alicerçados somente nos
conhecimentos teóricos do professor. Para a construção desse novo caminho educacional, as
ideias defendidas giram em torno das estratégias para otimizar as necessidades educacionais por
meio das experiências adquiridas por todos, uma vez que a prática docente comporta também
questões de grande complexidade articulada ao macrocontexto, e não apenas ao contexto
escola/aluno. Conforme relatado no desfecho, é preciso frisar que as mudanças devem estar
34
baseadas numa proposta pedagógica curricular, pautada no aluno como centro da aprendizagem,
assim como o planejamento do dia a dia oferecido às turmas nas quais os alunos estão inseridos
que deve ser flexível e repensado em sua estrutura dinâmica. Para isso, a escola volta-se para a
diversidade e a compreensão das singularidades dos envolvidos, valorizando as potencialidades
de cada um, promovendo algumas modificações na dinâmica escolar, nas dimensões organizativas
e no desenvolvimento profissional e curricular que envolva toda a comunidade escolar no
processo ensino e aprendizagem dos alunos. Partindo desses pressupostos para atender a
diversidade, algumas questões que envolvem escola não podem ficar esquecidas, pois
comprometem a reavaliação das ações no contexto cultural onde esses alunos estão inseridos.
Desse modo, os ganhos podem ser significativos, ainda que para isso alguns servissem de
“cobaias” para que ocorressem tais mudanças. Sacristan e Pérez Gomez ressaltam que “qualquer
aprendizado nas escolas acontece num meio organizativo. [...], sendo assim, enxergando a escola
como uma organização que precisa de regras de funcionamento geral, há que se levar em conta
as experiências adquiridas por todos (professores e alunos). González Monjón aponta algumas
características que podemos servir de parâmetros para favorecer o atendimento a todos os
alunos: flexibilidade; funcionalidade; participação no planejamento educativo; currículo (que
engloba estratégias de caráter geral como horários das aulas, projetos, programas etc, além de
estratégias internas - reforço educativo, adaptações...); estratégias específicas para atender as
necessidades educativas(decorrentes do ambiente social, como os déficits físicos, psicológicos e
sensoriais); comunicação objetiva ( canais da escola que promovam a inter-relação entre todos os
profissionais que atuam na instituição). Nesse ponto de vista, é essencial, como em qualquer
processo de mudança, explicitar seus princípios norteadores, as novas alternativas de ação, tendo
em vista “as práticas adaptativas” (BATISTA e MONTOAN, 2005, p.16).Explicitar também o
“conjunto de recursos educacionais especiais, organizados institucionalmente para apoiar,
complementar, suplementar e em alguns casos, substituir os serviços educacionais comuns”
(DNEEEB, 2001p.27) - bem como captar os olhares de outras ciências como a Psicopedagogia. A
instituição, no papel da gestão escolar, tem essa atribuição fundamental na condução da prática
educacional - deve estar fundamentada nos princípios, objetivos e metas estabelecidos no projeto
político pedagógico, promovendo a mobilização dos professores e funcionários e a constituição
do grupo enquanto uma equipe que trabalha cooperativa e eficientemente. Os professores e
funcionários precisam desenvolver um processo permanente de aprendizado à medida que a
escola proporciona formação continuada a todos os profissionais envolvidos no contexto
educacional, precisam também de suporte técnico para refletir sua prática cotidiana. Bossa (2007,
p.89) afirma que pensar a escola à luz da Psicopedagogia implica debruçarmos especialmente
sobre “a formação do professor (...) e em uma ação preventiva encontrar novas modalidades para
tornar essa formação mais efetiva” (p.92).
35
aprendizagem, numa visão coletiva, pode-se verificar a necessidade da inserção de ações voltadas
às singularidades dos alunos no projeto pedagógico das Instituições. Sendo assim, algumas
questões podem emergir em torno das intervenções precoces e discussões sobre a possibilidade
de articulação entre os envolvidos no processo ensino aprendizagem dos alunos que apresentam
necessidades específicas na rede regular de ensino. Nessa abordagem preventiva, segundo Fagali
(1994), a ação do Psicopedagogo se dá por meio do processo de acompanhamento e supervisão
quanto ao respeito às necessidades e aos ritmos do aluno na escola. Para isso, o psicopedagogo
pode contribuir, a partir de uma leitura mais próxima da realidade intersetorial, identificando
mecanismos presentes no aprender com o outro, e desse modo desenvolver dinâmicas mais
adequadas em sala de aula para otimizar a relação entre professor e aluno, integrando o afetivo e
o cognitivo, por meio da aprendizagem dos conceitos.
36
à valorização e á formação do profissional da área de educação. Conclui-se que no espaço escolar,
o aluno com dificuldades de aprendizagem deve ser visto como ser integral, que estabelece uma
série de relações complexas durante seu processo de aprendizagem, em diferentes espaços e
tempos.
REFERÊNCIAS
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38
Capítulo 5
Por uma leitura que envolva todos os sentidos
Uma criança com cegueira necessita de outros sentidos - audição, somestesia, olfato e
gustação – para adquirir experiências, formar imagens mentais e conhecer o mundo que a cerca.
Por outro lado, a Neurociência contribui para a construção desta pesquisa uma vez que ela
compreende os impulsos elétricos de forma a obter informações de como o ser humano percebe,
pensa e aprende (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2002).
O trabalho pedagógico com a criança cega precisa ser concreto e significativo, dando a
mesma liberdade para experimentar, pesquisar e explorar o que lhe vem a mão. "A mão será o
canal principal de assimilação, apreensão e compreensão do mundo, por isso, deve adquirir muita
autonomia" (BRUNO, 1997 p.50). Não somente neste momento de pesquisa e conhecimento de
mundo, mas em todo o processo educacional o sistema motor e sensorial é fundamental e muito
atuante. A capacidade de discriminar por meio do tato advém da quantidade de células
receptoras e seu campo receptor. É a informação somatossensorial nas mãos.
Proporcionar condições de leitura para a criança cega passa pela adaptação do material e
pela construção do significado. Motivar uma criança à leitura envolve um comportamento, que é
uma expressão da atividade neural. Segundo Devonshire e Dommett (2010), a Neurociência
contribuirá com os professores na avaliação da aprendizagem dos alunos.
A literatura é vivida pela criança vidente (que possui a visão) por meio da narrativa e da
ilustração - o que ajuda a criança a representar o imaginário. No caso da criança com deficiência
visual a experiência vem por meio dos outros sentidos. Desta forma, a narração de histórias para
a criança cega deve gerar um estado motivacional em que seu comportamento seja direcionado
para o objeto da leitura.
Trabalhar as narrativas como forma de estimular o imaginário da criança cega traz prazer
ao momento de leitura e envolvimento por parte dos alunos. É importante pensar em uma leitura
que agregue o enriquecimento de experiências e vivências do concreto.
39
A criança vidente, durante a leitura, tem suas emoções e percepções provocadas por meio
do próprio texto e da estimulação visual das imagens, pois o desenho é um elemento de
comunicação. Isso se torna claro perceber que a maioria das crianças prefere literatura com
ilustrações. Para crianças cegas é preciso despertar essa curiosidade pelo livro através de
estímulos não visuais. Não se pode pensar que a capacidade "ilustrativa" está apenas nos olhos.
Existem outros sentidos e muitas possibilidades de trazer essa "ilustração" para a criança cega. A
somestesia pode ter um papel fundamental na representação lúdica.
Após a apresentação da cesta de doce que a chapeuzinho levava para a vovó, apalparam e
cheiraram a cesta, o que demonstrou uma forma de investigação e pesquisa do objeto. As
crianças gostaram da experiência e solicitaram que a história fosse recontada tanto pelo
mediador como por elas mesmas.
Foi possível observar um grande envolvimento das crianças com a história. É,por meio dos
neurônios sensoriais que as crianças recebem diversos estímulos do ambiente, e através dessa
captação transformam o momento de leitura em instante lúdico com percepções individuais. As
informações auditivas, somestésicas, olfativas e gustativas experimentadas durante a leitura
foram interpretadas de forma associativa, conectando o lido com a memória de identificação
pessoal.
Estudos apontam que a leitura ativa o córtex occipital ventral temporal - região de
processamento visual do cérebro - também envolve a representação visual de letras mesmo
quando a forma das mesmas é o conjunto de pontos. Pesquisas demonstram que a imagem no
40
cego gera uma ativação semelhante a percepção visual, além de imagens mentais no vidente
(STRIEM-AMIT et al., 2012). Sendo assim, pode-se dizer que o córtex occipital ventral temporal é
também ativado com estímulos táteis durante uma atividade de leitura em braille. Foi possível
realizar, então, uma representação com informações sensoriais interligadas a informações
preexistentes na memória.
Ilustrar um texto a partir das impressões construídas por meio dos sentidos
remanescentes contribui para que a criança construa uma trajetória particular, criativa e
prazerosa com a leitura, de forma a permitir ao deficiente visual a expressão da sua
individualidade considerável, única e relevante, procurando um significado próprio na experiência
de leitura por meio de um campo simbólico dinâmico.
O contato da criança com literatura e fantasia, com o “faz de conta”, a envolve numa
atividade lúdica que acrescenta experiências a sua vivência contribuindo para sua construção de
mundo. Na perspectiva da neurociência a sensação - decodificação dos impulsos vindos do
ambiente - permite uma percepção que constitui um vínculo com o comportamento e o
pensamento. Desta forma, cada indivíduo constrói seu mundo, cada um é único, e diante da arte
cada indivíduo se relaciona de uma forma pessoal e própria. Como relata Veiga (1986):
Por isso se explica que os cegos tanto se interessem pelas descrições do belo que
não podem ver, do céu, dos arrebóis, dos arco-íris, da beleza só vista com os
olhos. Sempre gostei de ouvir falar de tudo isso, de ler descrições dessas belezas,
fazendo de tudo uma imagem metal que deve ser só minha, uma idéia por
assemelhação com as minhas imagens táteis, a meu modo, mas quanto me basta
para meu interesse, para gostar dessas descrições literárias de aspectos
puramente visuais. Ninguém logrou até hoje concluir ao certo se dois indivíduos
de olhos abertos têm a mesma impressão, a mesma sensação diante de um
mesmo pôr-do-sol, à mesma hora. Que lhe importa que seja diferente da sua a
41
minha impressão da leitura da "Queima" no Canaã de graça Aranha, que é
puramente visual?
Viver a literatura como uma atividade que envolve sensações, emoções, liberdade
imaginativa, é usar a mente no campo simbólico para experimentar psiquicamente essas
representações.
Assim como não é eficiente trabalhar com o cego o conceito de árvore, por exemplo, a
partir do recorte de papelão da representação de uma árvore, visto que o conceito de árvore se
dá e se satisfaz com a inspeção tátil da realidade. Para o cego a experiência fruitiva da leitura
precisa do aspecto conceitual, mas não se limita apenas a representação do real, pois está aberta
ao pensamento criativo e imaginativo que parte das percepções. Para Brodziak (2001), a formação
da imagem mental tem como base a percepção e o reconhecimento de objetos conhecidos.
REFERÊNCIAS
42
DEHAENE, Stanislas et al. Illiterate to literate: behavioural and cerebral changes induced by
reading acquisition.2015. Disponível em: <http://www.nature.com/nrn/
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STRIEM-AMIT, Ella et al. Reading with Sounds: Sensory Substitution Selectively Activates the Visual
Word Form Area in the Blind. 2012. Disponível em: <https://www-ncbi-nlm-
nihgov.ez24.periodicos.capes.gov.br/pubmed/23141 074.Acesso em: 15 mar. 2017.
VEIGA, J. Espínola. O que é ser cego. Rio de Janeiro: José Olympio, 1983.
43
Capítulo 6
Maquetes e mediação: uma possibilidade
para o ensino de alunos cegos na educação
inclusiva
As informações trazidas pelos órgãos dos sentidos são organizadas, ao nível do cérebro, e
podem, quando necessário, serem resgatadas. Na ausência de algum dos sentidos outros
assumem papel mais importante como no caso de pessoas cegas6, em que a ausência da visão faz
com que os sentidos do tato e da audição se tornem os principais canais de apreensão da
realidade. Nesse sentido, é possível que as experiências sensoriais táteis e auditivas adquiram
6
Aqui optamos por adotar o termo “cego” e não “deficiente visual”, pois este último conceito é um pouco mais amplo
porque também abrange o aluno com baixa visão, a esse respeito ver Gil (2000) e Nunes et al (2010). Alguns autores
também optam por utilizar o termo “não visuais” ou “invisuais”, Como exemplo utilizado por Nogueira et al (2009).
44
maior relevância para os alunos cegos, quanto aos processos de aprendizagem e desenvolvimento
cognitivo, do que para os alunos videntes (GIL, 2000).
Da mesma forma que família, escola e sociedade precisam contribuir para auxiliar crianças
sem deficiência, é necessário também auxiliar aqueles que apresentam deficiências.
Especificamente para os cegos, esta ajuda é de extrema relevância para que estes possam
enfrentar os obstáculos decorrentes de sua deficiência. Quando a cegueira ocorre desde a
infância e/ou adolescência, a escola é uma das grandes aliadas na inclusão. No momento em que
a escola abre suas portas, para os que enxergam e aqueles que não enxergam, ela não reproduz a
separação entre deficientes e não deficientes que há na sociedade. A presença de estudantes com
algum tipo de deficiência estimula a discussão de questões relacionadas aos preconceitos, mitos e
estigmas por todos os membros da comunidade escolar: professores, técnicos administrativos,
alunos e responsáveis, promovendo trocas enriquecedoras. (GIL, 2000)
Embora haja uma sensibilização e empatia por parte dos educadores, é importante
também ressaltar que existe, ainda, um grande entrave na formação dos profissionais da
educação, para lidar com alunos cegos,configurando a permanência de barreiras
atitudinais.Assim, associado aos obstáculos gerados pela falta de estrutura material, temos uma
limitação da inclusão que precisa ser solucionada(MANTOAN, 2006; NUNES et al.2009; CHAVES &
NOGUEIRA, 2011).
O que o professor pode fazer quando recebe um aluno cego na classe comum de uma
escola sem todos os recursos suficientes? Embora exista um mito entre profissionais da educação
básica de que esses alunos são menos capazes do que os demais, é preciso tomar cuidado para
não minimizar as potencialidades e a condição de ser do indivíduo uma vez que o aluno cego é
capaz de desenvolver as suas habilidades e aprender como os demais alunos.
Há uma falsa concepção de que esses alunos não podem ou não conseguem
aprender como os demais. No que diz respeito à cegueira, eles apresentam a
maioria dos requisitos necessários para acompanhar a turma. No entanto, muitas
vezes o descrédito em relação a estudantes cegos é agravado pela falta de
conhecimento em psicologia cognitiva e no que diz respeito à própria cegueira e
45
suas implicações. O reflexo desse desconhecimento da escola e dos professores
pode vir a agravar, inclusive, dificuldades metodológicas por parte dos
educadores, como dificuldades para transpor os conteúdos trabalhados em sala
de aula para linguagens acessíveis aos estudantes com algum tipo de deficiência,
como a visual. ” (CHAVES; NOGUEIRA, 2011, p.02)
A possibilidade de manejo tátil - tanto de maquetes como livros, mapas etc. adaptados - é
o que também torna possível a leitura por estudantes cegos. Os materiais estritamente visuais
como livro impresso bidimensional, fotografias, slides etc. impossibilitam a utilização autônoma
por parte destes.
46
É preciso ter sensibilidade na escolha dos materiais que servirão para a construção das
maquetes, para que estas estimulem o tato da maneira mais adequada possível. Por exemplo, os
materiais macios com texturas diferentes são os mais apropriados para que o aluno possa
identificar os diferentes aspectos que a maquete representa. Materiais muito ásperos- lixas e
vidros - não são aconselháveis, uma vez que podem machucar os cegos, prejudicando a longo
prazo sua sensibilidade do tato (CROZARA e SAMPAIO, 2008).
Partiremos das concepções de mediação propostas por Reuven Feuerstein e Lev Vigotsky.
Feuerstein entende a mediação como “um ato de interação entre mediador e mediado, esta
interação está sempre imbuída de um significado e de um caráter intencional” (NOGARO e
DALMINA, 2014, p.11). Feuerstein, a exemplo de inúmeros outros teóricos, compartilha da
perspectiva histórico-cultural proposta por Vygotsky que entende o desenvolvimento humano
num ambiente social construído historicamente (FERREIRAetal., 2012). Essa visão pode ser
entendida como sociointeracionista: o desenvolvimento não ocorre apenas com a maturação
biológica e na interação com o ambiente, mas principalmente com a interação ou, em outras
palavras na mediação com outros indivíduos. Essa mediação com o outro, para Vygotsky, se dá
47
principalmente através das zonas de desenvolvimento7: “Aquilo que é a zona de desenvolvimento
proximal hoje será o nível de desenvolvimento real amanhã - ou seja, aquilo que uma criança
pode fazer com assistência hoje, ela será capaz de fazer sozinha amanhã” (VYGOTSKY, 1984, p. 98
apud REGO, 2013, p.74). Mas, de que maneira podemos realizar com alunos cegos, através do uso
de maquetes, uma mediação que provoque a aprendizagem desses?
7
Para entender melhor as zonas de desenvolvimento ver o trabalho de Rego (2013).
8
Feurstein apresenta ao todo 12 critérios de mediação. Porém 3 desses critérios são considerados universais e
indispensáveis para que haja de fato uma mediação. Esses critérios são descritos com maior detalhamento em Turra
(2007) e Nogaro e Dalmina (2014).
48
momento, o professor deve trabalhar a mediação realizando perguntas iniciadas por “Por que” e
“Como” ao invés de “O quê”, relacionando sempre o conteúdo atual com as aprendizagens
anteriores Nogaro e Dalmina (2014).Dessa forma, a partir da reciprocidade do aluno (das suas
respostas aos estímulos e perguntas) o professor pode realizar novas perguntas provocativas
como: “Por que você chegou a esse entendimento? ”; “Como isso que você aprendeu agora se
relaciona com a matéria da aula passada? ” Se as respostas do aluno forem equivocadas, o
mediador pode reformular a pergunta ou retomar os conteúdos necessários para que os alunos
respondam-na de forma satisfatória. A partir do momento em que o aluno acerta as perguntas, o
professor deve incentivá-lo com afirmações e estímulos positivos: “Gostei do muito seu
raciocínio”; “Muito boa essa sua comparação, eu mesmo ainda não havia pensado isso!” Vale
lembrar, que esta técnica de mediação também é uma forma de se trabalhar na zona de
desenvolvimento proximal proposta por Vygotsky.
Nesse momento, o aluno deve ser capaz de enxergar o significado e o sentido dos
conteúdos trabalhados na vida real. O papel do professor- mediador, agora, esclarecer questões,
muitas vezes veladas dentro dos saberes escolares, e dar sentido aos conteúdos trabalhados. Em
Geografia, por exemplo, o aluno deve se ver pertencente ao espaço geográfico e estabelecer
relações de escalas locais e globais. Todo ser humano estabelece relações com o espaço em que
vive. A questão dos biomas brasileiros, por exemplo, tem conexões mais estreitas com aspectos
sociais, econômicos, climatológicos, geomorfológicos e ambientais, arenas de disputas territoriais,
conflitos entre grupos, e muitas outras. Relações que nem sempre se encontram visíveis nos
mapas e maquetes escolares.
Portanto, ser um professor-mediador significa ser um professor que esteja atento aos
sinais que seus alunos indicam em sala de aula. Assim, é necessário saber instigar, provocar,
desafiar e estimular os alunos a aprender. É importante fazer um esforço para que o conteúdo
trabalhado em sala se torne interessante, o conteúdo precisa ter significado para o aluno. Para
que serve o que estou ensinando? Qual a importância deste ou daquele conteúdo na vida do
aluno? O professor mediador não é apenas um mero transmissor de conhecimentos ou conteúdo,
ao contrário, ele constrói os conceitos com seus alunos e os incentiva a elaborar seus próprios
conhecimentos, a buscar a sua própria autonomia, ou seja: aprender a aprender, caminhar com as
próprias pernas, trabalhar a sua autoconfiança, melhorar a sua autoimagem para que a mediação
49
seja de fato eficiente. É preciso evitar as decorebas inúteis, as informações sem sentido, e
devemos provocar que exercitem a criticar os conteúdos, a problematizá-los, a formularem suas
próprias concepções a respeito dos conteúdos e matérias escolares, relacionando-os, fazendo
uma ponte com as situações que envolvem o seu dia a dia. Estimular metodologias ativas como
debates, seminários, trabalhos em grupo, são boas estratégias para se estabelecer diálogos
construtivos em sala de aula e descobrir quais são as visões de mundo de seus alunos, é
necessário fazer perguntas e a partir das respostas dos alunos fazer mais perguntas direcionando
o raciocínio até o ponto onde se deseja chegar.
O professor-mediador não é o detentor absoluto do saber, ele também aprende com seus
alunos, aprende cotidianamente em sala de aula, na troca de experiências, de diálogos, num
movimento sempre dialético de construção de saberes (FREIRE, 2013).
A partir das reflexões aqui expostas concluímos que as maquetes didáticas podem ser
recursos muito interessantes quando trabalhamos numa perspectiva inclusiva com alunos cegos e
videntes, pois estes materiais podem ser utilizados por ambos. Todavia, estes materiais
necessitam da presença de um professor-mediador que oriente os alunos durante o processo de
utilização. Assim, a maquete é uma ferramenta de fácil utilização e reprodução, à disposição do
professor e da mediação o trabalho fundamental para que os alunos aprendam os conteúdos
propostos.
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http://erevista.unioeste.br/index.php/educereeteducare/article/download/1671/1358. Acesso
em 09/06/2017.
52
Capítulo 7
Prática docente e diversidade no Museu
do Amanhã: reflexões sobre a interação
entre alunos com altas habilidades ou
superdotação e da educação de jovens e
adultos
Fátima Raulusaitis¹
Marcio Machado dos Santos¹
Fernanda Serpa Cardoso²
Os espaços não formais de aprendizado, ou seja, espaços fora do ambiente escolar onde
pode ocorrer ação educativa (JACOBUCCI, 2008, p. 56), podem ser utilizados para este fim, desde
9
Organização das Nações Unidas (ONU), Campanha JUNTOS, postado em 17 jan 2017. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=N7uz2DoRdnY, acesso em 20 jan 2017.
10
Museu do Amanhã: http://www.museudoamanha.org.br/pt-br/sobre-o-museu,
http://infograficos.oglobo.globo.com/rio/museu-do-amanha.html
53
que exista um planejamento capaz de oferecer aos alunos as oportunidades necessárias para o
desenvolvimento do aprendizado, aliando teoria à prática, como proposto nas aulas-passeio da
pedagogia de Freinet (ARAÚJO e PRAXEDES, 2013). É importante contribuir para que os alunos
formulem suas próprias perguntas e construam suas respostas mesmo com dificuldade. Cabe ao
professor fomentar a curiosidade e promover a reflexão, pois, como escreveu Freire (2003, p.43):
uma das melhores maneiras para a gente trabalhar como seres humanos é não
só saber que somos seres incompletos, mas também assumir essa incompletude.
(...). Temos que nos inserir em um processo permanente de busca. Sem isso
morreríamos em vida. O que significa que manter a curiosidade é absolutamente
indispensável para que continuemos a ser ou a vir a ser.
O Museu do Amanhã já carrega em seu nome uma proposta que desconstrói a ideia que
trazemos comumente associada a esses espaços: de resgate e conservação do passado. Dentro de
uma nova proposta museal (CANDIDO, 2015), o Museu busca provocar experiências significativas
em seus visitantes antes mesmo da entrada, aqui considerado experiência como “o que nos
passa, o que nos acontece e o que nos toca” (LARROSA BONDÍA, 2002, p. 21). Idealizado pelo
arquiteto espanhol Santiago Calatrava, construído sobre o píer Mauá e com ampla vista para a
Baía da Guanabara, o museu apresenta forma orgânica e longilínea, inspirada nas bromélias do
Jardim Botânico do Rio de Janeiro e no Churinga, objeto aborígene australiano. Além disso, o
museu externamente dá uma aula de sustentabilidade, com células coletoras de energia solar,
espelhos d’água com água reutilizada, aproveitamento máximo da luz natural em seu interior e
acesso por ciclovia. Recursos que levam os visitantes a crer que um futuro sustentável é possível.
54
Terra, Antropoceno, Amanhã e Nós. Cada uma das áreas corresponde a uma das questões: De
onde viemos? Para onde vamos? Quem somos? Onde estamos? Como queremos ir?
A primeira área do museu a ser explorada é Cosmos, representada pelo Domo Negro, uma
sala de cinema 360º onde é exibido um filme sobre a origem da vida. As imagens nos levam a
perceber a grandiosidade de todo o processo de formação do Universo, as transformações, a
interdependência entre os seres vivos e a evolução das espécies, a fragilidade da vida e também a
força do coletivo. A forma de projeção e o seu conteúdo, com imagens belíssimas em realidade
aumentada e sons envolventes, induz a um trajeto tempo x espaço, fazendo-nos sensorialmente
participantes do processo, sensibilizando para a beleza e magia da vida, abrindo caminho para
novos conhecimentos e reflexões sobre nossa responsabilidade perante o mundo, uns com os
outros.
E como temos interagido com nosso planeta? A área seguinte, Antropoceno, é composta
por seis pilares de dez metros de altura cada um, exibindo em imensas telas, em tempo real,
dados sobre as interferências humanas sofridas pelo planeta como superpopulação, emissões de
gás carbônico, poluição dos mares e rios, consumismo e também fenômenos naturais
exacerbados pelo desequilíbrio ambiental, como inundações, raios e tempestades. Gigante,
assombroso, impactante, buscando abalar e conscientizar a todos e cada um da responsabilidade
sobre o consumo da água, na participação da poluição ambiental, diante do crescimento
populacional mundial. Sete bilhões de pessoas… E crescendo a cada segundo.
O Amanhã é a área que apresenta painéis de jogos interativos, analisando sua “pegada
ecológica”, fazendo o visitante refletir de forma lúdica sobre o consumismo e a necessária
economia de recursos do planeta. Também há projeções de como será o planeta em um futuro
próximo, cinquenta anos, de acordo com os rumos do presente.
A última parte do museu, “Nós”, onde a Oca, uma estrutura esférica irregular de madeira
que representa o acolhimento, reserva em seu interior o Churinga, que simboliza a passagem do
conhecimento de geração para geração. E esta é a proposta inicial para reflexão na interação
entre os alunos da EJA e com Altas Habilidades ou Superdotação: como representantes de
gerações distintas, de que forma suas vivências e conhecimentos podem ser compartilhados,
55
colaborando para o aprendizado de todo o grupo? A facilidade em lidar com a tecnologia pode
influenciar positivamente o desenvolvimento daqueles que não são “nativos digitais”? De que
forma o professor pode organizar sua prática para favorecer a sensibilização e a interação com
conteúdos e pessoas diversas?
É importante definirmos o que aqui está sendo considerado como educar. Bohadana
(2003, p.18) esclarece que o verbo educar é oriundo do termo latino composto, educere, que
indica movimento para fora - e, em conjunto com a partícula duc, que significa guiar, conduzir.
Então, educar seria a ação que induz o movimento em um sentido estipulado, com objetivo de
guiar para o mundo. Dessa forma, o educador não seria apenas um provocador, mas também um
guia.
Mas para que esse novo paradigma se efetive são necessárias mudanças nas práticas
pedagógicas, redimensionando o papel do professor. O modelo de formação docente, de acordo
com esse novo referencial, deveria “considerar a aprendizagem de forma contínua, numa visão de
processo, não buscando um produto completamente acabado e pronto, mas algo que está num
permanente ‘vir a ser’” (MORAES, 1996). Entretanto, as instituições responsáveis por essa
formação, ainda calcadas no modelo positivista de ensino-aprendizagem, colaboram para que os
professores percebam prática e teoria separadas, atuando junto a uma massa de estudantes
homogêneos. Então, seria necessário auxiliar o professor para uma ruptura com esse processo, a
fim de que através da reflexão, haja tomada de consciência sobre essa nova prática, requerida
56
pela educação inclusiva, não apenas numa perspectiva instrumental, mas com compromisso ético
e social.
Larrosa Bondía (2002) nos fala da importância das experiências vividas, tratando esse
experienciar como singular, heterogêneo e irrepetível. Apresentando o par teoria/prática
associado a uma perspectiva política e crítica, nos conduz por um caminho diverso do modelo
positivista de ensino-aprendizagem. Assim, considerando as diferentes vivências (ou a falta delas),
as habilidades (e grandes dificuldades) e o contexto social no qual alunos e professores estão
inseridos, é essencial uma prática docente que busque atender a essa complexidade. Tendo em
vista que o número de variáveis é considerável, não há um caminho único a seguir.
Acreditamos que, nos dias atuais, o volume crescente de informações e a velocidade com
a qual as mesmas trafegam exijam dos professores cada vez mais dinamismo na tarefa de ensinar,
pois, para administrar este quadro em constante evolução o professor precisa fazer uso das
tecnologias em seu favor e do aprendizado de seus alunos, mas como descrito por Assmann
(2005, p.15), “O passo da informação ao conhecimento é um processo relacional humano, e não
mera operação tecnológica.” Sobre essa questão, Moraes (1996, p.8) ainda afirma que:
Não é proposta deste ensaio tratar da necessária reorientação curricular para efetivação
de um novo paradigma educacional, mas sim destacar a importância da aprendizagem da
convivência, das relações humanas, no processo de inclusão e no respeito à diversidade.
57
acesso e a permanência dos alunos, buscando favorecer o aprendizado, considerando as
características individuais. Para isso, como tratado por Alves e Barbosa (2006, p. 15):
De acordo com Lopes, Lenharo e Capellini (2014) os professores precisam receber uma
formação que corresponda à proposta de educação inclusiva, além da formação na perspectiva
teórico/prática, onde espera-se de um docente o convívio e a realização de trabalho que atenda
a todos os alunos, exaltando a diversidade e as diferenças.
Os alunos com Altas Habilidades/Superdotação estão em nosso dia-a-dia nas escolas, mas
nem sempre estamos preparados para identificá-los. Apesar dos vários mitos que cercam o
assunto, quando falamos de estudantes que se destacam do restante da turma, que são muito
criativos e incansáveis quando tratando de assuntos que os interessa, não há docente que não
tenha ao menos um nome a citar.
Na Resolução CNE/CEB nº 4 (Brasil, 2009, Art. 4º, III), que institui as Diretrizes
Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade
Educação Especial, caracteriza que os alunos com Altas Habilidades/Superdotação “são aqueles
que apresentam um potencial elevado e grande envolvimento com as áreas do conhecimento
humano, isoladas ou combinadas: intelectual, liderança, psicomotora, artes e criatividade”.
Dentre os teóricos que tratam do tema, destacamos Renzulli (2004), que idealizou a
Teoria dos Três Anéis, definindo a superdotação como a mesclagem de três grupos de habilidades
que envolvem: capacidade acima da média, criatividade e envolvimento (motivação) com as
tarefas. Essas habilidades são interligadas e influenciadas por fatores sociais. Em seus estudos
ressalta a importância de que sejam oferecidas oportunidades para o desenvolvimento do
potencial desses alunos mediante alternativas educacionais adequadas. Tratando de questões
relacionadas à conceituação de superdotação e o propósito dessa definição, Renzulli (2014,
p.223), afirma que:
58
Para alcançar o segundo propósito, entende-se que é preciso trabalhar atributos como
solidariedade, ética e compaixão, promovendo a humanização do olhar, que facilitam o respeito à
diversidade existente na sociedade, com necessidades, vivências e aspirações diversas,
ultrapassando, assim, a necessidade do debate futuro quanto a inclusão, posto que a exclusão
seria cada vez mais restrita.
59
passaram por períodos de interrupções nos estudos ou reprovações sucessivas. Grande parte dos
alunos busca o ingresso, a manutenção ou o progresso no mercado de trabalho por meio da
qualificação. Logo, é possível observar a grande importância da escola no processo formativo dos
alunos deste segmento.
Não é incomum que alunos relatem episódios de exclusão ou se encontrem até mesmo
em situação de vulnerabilidade social, fatos que afetam sua autoestima, tendo como
consequências o desinteresse, o baixo rendimento do aprendizado, a repetência e a evasão
escolar. Tal problemática requer uma reflexão sobre a prática docente adotada pelos professores
do segmento, como cita Oliveira (2005, p.63):
Para que seja possível combater a problemática citada são necessárias mudanças na
prática docente, pois, tendo em vista que existe uma carência histórica de formação específica
para que os professores atuem neste segmento, muitos apresentam dificuldades em lidar com um
público tão diverso. Não é possível lecionar para os alunos da EJA da mesma forma como se
leciona para os alunos do ensino regular. Há muita diversidade e especificidade no segmento,
sendo necessário considerar as vivências de cada aluno e integrá-las no processo de ensino
aprendizagem. Cabe ao professor criar vínculos de afetividade e de confiança com os alunos para
que seja possível resgatar sua autoestima de forma a encorajá-los a aprender e conquistar a
autonomia necessária que lhes garanta a participação no desenvolvimento do próprio
aprendizado.
Algumas práticas são muito bem-vindas no sentido de “quebrar” a rotina da sala de aula,
como por exemplo, o uso de jornais de grande circulação como fonte das informações da sala de
aula, do laboratório de ciências, da sala de recursos audiovisuais, do laboratório de informática e
de espaços não formais de aprendizado, como teatros, cinemas, parques, zoológicos e museus.
60
Os espaços não formais de aprendizado, ou seja, espaços fora do ambiente escolar onde
pode ocorrer ação educativa (JACOBUCCI, 2008, p. 56), oferecem, de acordo com a pedagogia de
Freinet (ARAÚJO e PRAXEDES, 2013), uma condição diferenciada no que concerne ao processo de
ensino-aprendizagem. Esses espaços tendem a despertar o interesse e a curiosidade dos alunos e
sua utilização, quando feita de forma planejada e intencional, inclina-se a apresentar resultados
bastante promissores no que diz respeito ao aprendizado efetivo e no desenvolvimento da
autonomia por meio da construção do próprio conhecimento.
O Museu do Amanhã é um espaço não formal de aprendizado que apresenta uma gama
de possibilidades de aprender de acordo com os conhecimentos prévios e com as orientações
recebidas por cada visitante. O Museu torna a experiência do aprendizado inesquecível, tendo em
vista que é um espaço único e interativo capaz de provocar as mais diversas sensações em cada
um dos visitantes.
A interatividade é um dos pontos mais fortes do Museu. Por meio dela os alunos podem
selecionar os conteúdos de seu interesse e até mesmo participar de jogos que os levem a refletir
sobre suas formas de consumo e as respectivas consequências ao planeta de forma a aumentar
sua consciência ambiental, seu sentimento de pertencimento ao conjunto e também sua
autoestima.
Qual o amanhã que nós queremos? A pergunta que é visualizada no átrio do Museu
precisa ser respondida. Além das situações humanas e ambientais apresentadas nos vários
setores do Museu, o que nos mobiliza nestas reflexões são as questões de relação - dialógicas, de
diversidade - e em como a atuação docente pode colaborar com elas.
61
De que forma uma experiência museal pode contribuir para a integração entre alunos
com perfis tão diversos? Ambos os grupos apresentam grande diversidade entre si e entre os
próprios componentes, ou seja, inter e intragrupal. Logo, para respondermos a essa pergunta
temos que considerar em quê eles podem se complementar.
É preciso considerar que os alunos da EJA têm muitas vivências quanto a vários dos
assuntos tratados: como foram percebidas as mudanças climáticas? Quais as alterações na vida?
Quais são as causas da falta de água? Como a falta d’água tem sido resolvida? Quais as situações
restritivas vivenciadas hoje já faziam parte da cultura familiar? Os alunos com AH, por serem mais
jovens, só terão tido acesso a algumas destas informações através de registros.
Para que seja possível essa interação, esse diálogo, valorizando o que cada grupo e cada
um individualmente traz de contribuição para a discussão sobre o futuro, será necessário
contarmos com professores que se proponham a novas práticas, acreditando na união da teoria e
da prática, seja no fazer docente, seja na junção de grupos tão distintos. Em um novo processo,
construindo e reconstruindo o conhecimento juntos, onde professor e alunos ensinam e
aprendem, estabelecem-se novas relações e possibilidades, mas sem questionar o papel diretivo
do educador, que promoverá o despertar do interesse do aluno, muitas vezes direcionando o seu
olhar. Como apontado por Freire (2003, p. 85)
Vivemos em uma sociedade cada vez mais heterogênea e é preciso considerar e valorizar
a condição sociocultural dos alunos, não considerando a realidade como universal e única, mas
buscando nas vivências, nas experiências, no que nos toca, a linha mestra para proporcionar a
aprendizagem, para além do ensino, puro e simples. Sendo capazes de ir além de simplesmente
respeitar as diferenças, mas utilizá-las para promover o aprendizado por meio do respeito à
diversidade de sujeitos e saberes.
62
Assim, através do Museu que nos informa os sinais vitais do planeta, além de ampliar
nosso conhecimento, também podemos (e precisamos) transformar nosso modo de pensar e agir.
Em comunidade, uns com os outros. Porque queremos um amanhã onde o planeta seja habitado
por seres mais humanizados, sensibilizados, unificados e ao mesmo tempo respeitando as
singularidades. Isso requer empenho, vivência e persistência. Pois o futuro começa aqui, agora.
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65
Capítulo 8
A recuperação do sentido autêntico das coisas: uma
aproximação entre a experiência artística e a
fenomenologia de Merleau-Ponty
1
Rosália Alvim Côrtes
2
Luiz Antonio Botelho Andrade
1
Arte-educadora do Centro de Atendimento Educacional Especializado - CAEE. Mestranda do CMPDI, Instituto de
Biologia/UFF.
2
Professor do Instituto de Biologia/UFF. Docente e orientador do CMPDI
A Fenomenologia aparece pela primeira vez no século XVIII como uma doutrina para
evitar as ilusões. Mais tarde ela ganha um corpo teórico robusto na obra de Edmund Husserl -
uma filosofia preocupada com o ser absoluto – uma ontologia que, comparada a uma Gestalt
experiencial, funde o “o sentido do ser com o do fenômeno”. Para Husserl é possível conhecer
através de rigorosa observação, descrição e apreensão pura e ingênua do fenômeno, sem os pré-
conceitos ou pré-juízos do observador. Somente a partir da apreensão da essência do fenômeno
se abre a via de acesso ao ser - ontologia. Como método, Husserl propõe a redução
fenomenológica, expressa com a máxima “voltar às coisas mesmas”, epoché, do grego, ou seja,
voltar-se para o fenômeno, não com uma pureza de olhar utópico, mas de modo a encará-lo com
a ciência de estar inserido num mundo em busca de seu sentido originário, de seu sentido
autentico (DARTIGUES, 1992).
66
objetivo – noema. Não se limitando ao método da redução, a Fenomenologia é também uma
postura diante do objeto de conhecimento e do mundo, um paradigma que, segundo Coltro
(2000, p. 39),“*...+parte da compreensão do viver e não de definições ou conceitos, e é uma
compreensão voltada para os significados do perceber *...+”.
Quando Merleau-Ponty (2015) escreve A dúvida de Cézanne,o filósofo nos mostra como a
percepção se realiza no pintor. Na expressão silenciosa da pintura, o gesto das pinceladas e os
espaços vazios vão configurando um estilo, exprimem uma experiência que se inicia no corpo com
o ato de ver. A criação, realização da experiência, torna visível o sensível, com o surgimento da
obra.
Para chegar a essa comunicação o artista tem um longo caminho que, para Merleau-
Ponty, só acontece quando o indivíduo deixa aflorar seu estado primordial, aquele que se
encontra em unidade com o mundo, o Ser bruto, que busca na interioridade sua origem, antes
mesmo do pensamento.
Se o pintor quer exprimir o mundo, é preciso que o arranjo das cores traga em si
esse Todo indivisível; caso contrário, sua pintura será uma alusão às coisas e não
67
as mostrará na unidade imperiosa, na presença, na plenitude insuperável que é,
para todos nós, a definição do real(MERLEAU-PONTY, 2013, p. 134).
Para Merleau-Ponty, ver é mover-se num campo de possibilidades de tal forma que o
corpo pode refletir, concomitantemente, sobre as coisas do mundo e sobre si mesmo, como um
“pensamento encarnado” que, segundo Marilena Chauí (2018), é o principal ensinamento da arte
para a filosofia.
[...] a mão de Matisse hesitou, é verdade que houve escolha e que o traço foi
escolhido de maneira a observar vinte condições esparsas pelo quadro,
informuladas, informuláveis para qualquer outro que não Matisse, porque não
estavam definidas e impostas senão pela intenção de fazer aquele quadro que
ainda não existia.
A arte, para Merleau-Ponty, é a visibilidade das experiências que o artista decide expor.
Movimento interior e exterior que o corpo simultaneamente faz no mundo, revelando para nós
seus mistérios. Nesta perspectiva merleaupontyana, o olhar traz em si dimensões de tempo e
espaço que fazem com que o objeto visto não seja igual para todos e, também, não conserve as
mesmas características em momentos diferentes da visão. São experiências que devem ser
consideradas em um sentido amplo, abarcando tanto o sujeito que pinta quanto o mundo pintado
numa relação de relevância criativa do corpo. “Considero meu corpo, que é meu ponto de vista
sobre o mundo, como um dos objetos desse mundo“ (MERLEAU-PONTY,2011, p. 108).
68
Definido o espaço de encontro e a aceitação dos participantes, assumimos um olhar
merleaupontyano sobre o trabalho autoral, criativo, de pessoas que não se veem, eles próprios,
como artistas. Ao chamar de artistas os não artistas, não querem desvalorizar o fazer artístico, da
produção dos autores das grandes obras que se inscrevem e deixam suas marcas perenes no
mundo. Estamos simplesmente afirmando que, em situação de acolhimento, é possível
desenvolver a criatividade de uma artista latente, cuja “arte” potencial se encontra aprisionada
no corpo por amarras psicológicas e sociais. Além disto, estamos assumindo que esta alforria
criativa aumenta a autoestima, autonomia e o sentimento de pertencimento dos indivíduos que
se abrem para esta oportunidade de expressão e comunicação artística.
69
Figura 1. Auto-retrato, 2017. Acrílica sobre papel – 33X4 (Maria José Rosa)
A arte é uma das formas de mostrar, para si mesmo e para o mundo, criatividade,
originalidade e trabalho autoral. Haja vista que as pessoas que aceitam e se tornam participantes
deste processo criativo não são artistas e, muitas vezes, nunca experimentaram, nem nunca se
permitiram experimentar, o fazer artístico, o processo é lento, mas muito gratificante. Do ponto
de vista dos participantes, pensado inicialmente como um passa-tempo, o processo intensifica,
ganha corpo e sentido, aumentando a autoestima, o sentimento de pertencimento e a autonomia
do sujeito. Do ponto de vista dos autores, confirma-se a possibilidade de trabalhar o fazer
artístico com o outro, em espaços de convivência fraterna e dialógica, mesmo com poucos
recursos disponíveis. Cabe, no entanto, ressaltar um fator essencial para que o processo se inicie
e se desenvolva à contento – paciência histórica e epistemológica. Histórica porque esta relação
interpessoal que se estabelece entre os participantes - pessoas que se encontram, por uma
contingencia, na Sala de Espera, e nós mesmos, pesquisadores que se entregam a esta
metodologia de mediação e reflexão fenomenológica (epistemológica) -, é lenta e cheia de
avanços e retrocessos.
70
REFERÊNCIAS
CHAUÍ, Marilena (2018) Maurice Merleau-Ponty: Reflexões sobre a pintura e a literatura. Espaço
Cult. Disponível emhttps://espaçorevistacult.myedools.com/merleau-ponty-reflexoes-sobre-a-
pintura-e-a-literatura. Acesso em: 21-02-2018.
COLTRO, Alex. (2000) A fenomenologia: um enfoque metodológico para além da
modernidade.Caderno de Pesquisas em administração, São Paulo, V.1, N.11, Disponível
emhttp://pablo.deassis.net.br/wpcontent/uploads/fenomenologia_modernidade.pdf. Acesso em:
28/05/2017.
DARTIGUES, André (1992).O que é a fenomenologia?Tradução de Maria José J.G. de Almeida: São
Paulo. Ed. Moraes.
DESCARTES, René. Discurso do Método (2001). Tradução de Maria Ermantina Galvão. Revisão de
Trad.: Mônica Stahel. 3tiragem. São Paulo: Martins Fontes,. Disponível em:
http://www.josenorberto.com.br/DESCARTES_Discurso_do_m%C3%A9todo_Completo.pdf>
Acesso em: 06/10/17.
MAISONNAVE, Paulo Roberto; PINTO, Sandra Regina da Rocha (2007). Em busca da epoché: uma
pesquisa quantitativa como subsídio à fenomenologia. RAI Revista de Administração e Inovação,
São Paulo, v. 4, n. 3, p. 86-101. ISSN 1809-2039. Disponível
em:<http://www.revistas.usp.br/rai/article/viewFile/79093/83165> Acesso em: 28/05/2017.
MERLEAU-PONTY, Maurice. O olho e o espírito ( 2015) Paulo Neves e Maria Ermantina Galvão
(Trad.)São Paulo: Cosac Naify.
MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção (2011) Carlos Alberto Ribeiro de Moura
(Trad.) 4ed. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes.
71
Capítulo 9
Legislação, políticas públicas de educação e
contradições da educação inclusiva para surdos
Rosana Prado¹
Fernanda Corrêa²
1
Professora Doutora adjunta do Departamento de Ensino Superior do
Instituto Nacional de Educação de Surdos/INES.Pedagoga bilíngue
(LIBRAS/Língua Portuguesa). Professora orientadora do Curso de
Mestrado Profissional em Diversidade e Inclusão da Universidade
Federal Fluminense - CMPDI/UFF.
2
Graduanda em Pedagogia Bilíngue pelo Instituto Nacional de Educação
de Surdos/INES.
Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional/ LDB, Lei nº 9.9394 (BRASIL, 1996), no
Capítulo V, inclui à Educação Especial e determina nos artigos 58 e 59:
Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a
modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de
ensino, para educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento
e altas habilidades ou superdotação. § 1º Haverá, quando necessário, serviços de
apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da
clientela de educação especial. § 2º O atendimento educacional será feito em
classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições
específicas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de
ensino regular. § 3º A oferta de educação especial, dever constitucional do
Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil.
72
virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o
programa escolar para os superdotados; III - professores com especialização
adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem
como professores do ensino regular capacitados para a integração desses
educandos nas classes comuns(BRASIL, 1996)
Assim, fica claro, no Artigo 58, a preferência do Estado quanto à matricula dos alunos na
rede regular de ensino com suporte do Atendimento Educacional Especializado/AEE, quando
houver necessidade. Posteriormente, no Artigo 59, encontram-se orientações sobre o trabalho no
cotidiano escolar com adequação de currículos, métodos, técnicas, recursos, além da formação de
professores para atendimento aos alunos com necessidades educacionais especiais.
Em 2002, foi decretada a Lei 10.436 (BRASIL, 2002), que confere à Língua Brasileira de
Sinais - LIBRAS o status de língua, conforme abaixo apresentado:
Dessa maneira, com base na lei (BRASIL, 2002) vigente desde então, LIBRAS torna-se a
língua oficial dos surdos brasileiros, com reconhecimento de sua legitimidade e afirmação junto à
73
comunidade surda. Esse pode ser considerado um marco na educação e na afirmação dos direitos
dos indivíduos surdos nas diversas instâncias sociais. No que ser refere à educação, no Artigo 4º,
da Lei 10.436/2002 (BRASIL, 2002) fica instituído que:
Além disso, de acordo com Decreto 5.626 (BRASIL, 2005) as instituições de ensino devem
assegurar o atendimento diferenciado para alunos surdos, em todas as etapas da educação. Esse
atendimento deve se dar em escolas bilíngues, conforme determinado no capítulo VI do referido
decreto:
74
pedagógicas que possibilitem aos alunosdesfrutar, igualmente, das mesmas oportunidades. Como
afirma Carvalho (2010, p.103):
Entretanto, o que se percebe é muito pouca experiência com a educação dos indivíduos
com deficiência ou necessidades educacionais especiais no cotidiano das escolas públicas. Os
profissionais da educação e a comunidade escolar, de maneira ampla, não acumularam
experiência histórica com a diversidade. O movimento inclusivo ainda é recente em nossa
sociedade e ações pedagógicas democráticas estão em construção. Portanto, lidar com a
diversidade na escola pública, configura-se em grande desafio como verificado em Carvalho
(2010, p.105) ao considerar que: “*...+ nem todos os municípios dispõem de atendimento
educacional para alunos com deficiência e, quando dispõem não há ofertas equitativas para todas
as manifestações da deficiência *...+”.
Junta-se a essa realidade os alunos surdos com suas demandas linguísticas e culturais.
Apesar de haver legislação que afirma os direitos dos alunos surdos quanto à educação bilíngue
(LIBRAS/Português escrito), sabemos que as instituições escolares ainda não dispõem de
profissionais bilíngues e estruturação pedagógica com base em recursos e estratégias visuais para
lidar com os alunos surdos. As escolas precisam compreender que a educação de surdos, na
perspectiva bilíngue, situa-se em contexto de acesso e utilização de uma língua visual. Mas,
também na garantia de ressignificação do ambiente escolar de maneira que os alunos surdos
possam participar, não apenas, por terem acesso a uma língua de sinais, mas que sejam
considerados pertencentes a uma cultura, própria da comunidade surda.
11
Em 1857, foi criando o Imperial Instituto de Surdos Mudos, primeira escola para surdos do Brasil, hoje, o atual Instituto
Nacional de Educação de Surdos. (ROCHA, 2008)
75
sejam inseridos em classes inclusivas com o suporte do Atendimento Educacional
Especializado/AEE no contra turno. Essa orientação traz muitas contradições e inquietações para a
educação de surdos.
A primeira preocupação é com relação à participação do aluno surdo em uma turma onde
a maioria é ouvinte e se comunica por meio da Língua Portuguesa oral. Salas inclusivas nas escolas
regulares, normalmente, são compostas por alunos e professores ouvintes que não conhecem e
não utilizam a Libras. Em função desse desconhecimento, a professora planeja e organiza suas
aulas na perspectiva da língua oral, desconsiderando a organização visual do pensamento dos
alunos surdos.
Assim, a política é a que está aí definindo a forma como as crianças incluídas vão
ser formadas. Ou seja, nas escolas inclusivas, as crianças surdassão definidas
simplesmente como aquelas que estão exercendo seus direitos civis de acesso à
educação. Em contraste, na sala de aula, elas são aquelas crianças que
necessitam de atendimento específico por serem surdas concretizando, portanto,
a exclusão.
76
presença de pessoas surdas que possuem essa dimensão. O próprio currículo
precisaria refletir e constituir essa forma surda, uma vez que se caracteriza
enquanto dispositivo cultural e social e é fundamental no processo formador de
identidade (SKLIAR, apud QUADROS, 2005, p. 135).
Desta feita, na sala de aula, todo o conhecimento abordado é próprio dos sujeitos
ouvintes, construído dentro da cultura ouvinte, tendo a língua oral-auditiva como
língua de instrução, logo norteadora, de toda a perspectiva de ensino, inclusive
dos métodos e estratégias utilizadas para mediação das relações de ensino e
aprendizagem em sala de aula. (WITKOSKY, 2013, p.91)
Assim, se afirmam nossas preocupações em relação a uma proposta de ensino que diz ter
o objetivo de acolher a todos, mas organiza o ensino e as propostas escolares desconsiderando as
necessidades individuais dos sujeitos que a constituem. Não estamos negando as intenções em
realizar uma educação inclusiva para todos, mas por enquanto, estamos constando que nossas
escolas, ainda não encontraram caminhos para uma educação bilíngue de alunos surdos. Por isso,
afirmamos que as escolas públicas regulares precisam ser apoiadas no que se refere à efetivação
de uma educação norteada pela perspectiva visual de ensino e aprendizagem.
Ao pensar nesse viés, precisamos entender que o surdo é um ser possuidor de uma
identidade diferente à do ouvinte. Portanto, é necessário que o surdo se aproprie da sua
identidade por meio da sua língua, a língua de sinais, em contato com outros surdos usuários
dessa língua. Para que essa apropriação aconteça é fundamental que os alunos surdos estejam
inseridos em contexto favorável ao seu desenvolvimento. Witkosky afirma que as estratégias dos
ouvintes continuam em vigor “sem referenciar ao povo surdo, a língua de sinais e a cultura surda
em seus múltiplos aspectos culturais” (WITKOSKY, 2013, p.91).
Dessa maneira, ressaltamos que uma nova cultura escolar precisa ser inaugurada. Não se
pode mais pensar em adaptações para o ensino de surdos. Quando pensamos em adaptar,
estamos considerando que algo foi pensado para uma finalidade e precisou ser “remendado” para
servir a outro objetivo. Então, a educação de surdos, não precisa de adaptações, mas sim de aulas
e escolas pensadas e organizadas em uma perspectiva visual de ensino.
77
que essa mesma escola inclusiva precisa deixar de ser monolíngue e que o pensamento dos
alunos surdos não se organiza da mesma maneira que o pensamento dos alunos ouvintes.
Portanto, salas de aulas inclusivas não funcionam e não atendem às necessidades dos alunos
surdos.
A escola inclusiva precisa oferecer salas de aulas exclusivas para surdos onde se possa
garantir conforto linguístico e, consequentemente, aprendizagem significativa. As interações
entre surdos e ouvintes poderão acontecer, espontaneamente, nos diversos outros momentos do
cotidiano escolar, caso toda a escola tenha acesso ao aprendizado de LIBRAS. O primeiro passo
para a inclusão bilíngue é tornar as duas línguas acessíveis no ambiente escolar. Alunos ouvintes
precisam ter acesso e serem estimulados ao uso de LIBRAS, assim como os alunos surdos
precisam receber uma educação que lhe possibilite o aprendizado do português escrito como
segunda língua. Dessa maneira, poderemos pensar em uma gradativa transição da escola, que se
pretende inclusiva, mas é monolíngue, para a escola inclusiva bilíngue para todos.
REFERÊNCIAS
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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm Acesso:
23/01/2017.
__________. Estratégias para a educação de alunos com necessidades educacionaisespeciais.
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http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/serie4.pdf Acesso em 23/01/2017 Acesso em:
23/01/2017.
__________. Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n.º 9.394/1996. Brasília, DF, 1996.
Disponível em: www.mec.seesp.gov.br
__________. Ministério da Educação. Parâmetros curriculares nacionais: adaptações curriculares:
estratégias para a educação de alunos com necessidades educacionais especiais. Brasília, 1999.
78
__________. Lei n. 10436, 24 abr.2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS – e dá
providências. Diário Oficial da União. Brasília, 2002.
__________. Decreto n. 5.626. Diário Oficial da União. Brasília, 2005.
CARVALHO, R.E. Removendo Barreiras para aprendizagem: Educação Inclusiva. Porto Alegre,
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KALATAI. P. et. al. As principais metodologias utilizadas na educação dos surdos no Brasil.
Disponível em: http://anais.unicentro.br/seped/pdf/iiiv3n1/120.pdf Acesso em 23/01/2017.
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Florianópolis:Ponto de Vista. N.05. p.81-111, 2003. Disponível em
https://periodicos.ufsc.br/index.php/pontodevista/article/viewFile/1246/3850Acesso em
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_______. Inclusão de Surdos. In: BRASIL; Ensaios pedagógicos. Construindo escolas inclusivas.
Brasília: 1º ed. MEC, SEESP, p.112-139, 2005. Disponível em
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PATTO, M. H. S. A produção do fracasso escolar: história de submissão e rebeldia. São Paulo: Casa
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140.
SILVA, V. Educação de surdos: Uma Releitura da Primeira Escola Pública para Surdos em Paris e do
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SLKIAR, C. In: QUADROS. R. M. Situando as diferenças implicadas na educação de surdos: inclusão
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STROBEL K. História da Educação de Surdos. Santa Catarina, UFSC, 2009. Disponível em:
http://www.libras.ufsc.br/colecaoLetrasLibras/eixoFormacaoEspecifica/historiaDaEducacaoDeSur
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WITKOSKY. S. A. A problematização das políticas públicas educacionais na área da educação
bilíngue de surdos. Presidente Prudente, SP: Nuances de educação. v. 24. n. 2, p. 86-100. 2013.
79
80
Capítulo 10
O ensino de libras como segunda língua para crianças
ouvintes na escola regular: um possível caminho
para a inclusão de alunos surdos
Sara Rodrigues¹
Rosana Prado²
1.
Mestranda do curso em Diversidade e Inclusão da Universidade Federal
Fluminense/CMPDI/UFF, Intérprete de Libras do Magistério Superior da
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/UFRRJ.
2.
Professora Doutora adjunta do Departamento de Ensino Superior do
Instituto Nacional de Educação de Surdos/INES, pedagoga bilíngue (LIBRAS/Língua Portuguesa).Professora orientadora
do Curso de Mestrado Profissional em Diversidade e Inclusão da Universidade Federal Fluminense/CMPDI/UFF.
O presente texto tem a intenção de refletir sobre a orientação de uma educação bilíngue
para alunos surdos em conjunto com a atual proposta de educação inclusiva, assim como
fundamentar a importância do ensino de LIBRAS como segunda língua para crianças ouvintes na
escola regular inclusiva como estratégia de integração entre surdos e ouvintes.
Para o referido autor, a formação cognitiva de uma criança está diretamente relacionada
aos seus hábitos sociais e culturais, pois são essas relações que determinarão o pensamento dos
indivíduos. Para Vygotsky (2001), linguagem não é apenas uma expressão do conhecimento
adquirido pela criança, ela é a expressão da formação do pensamento.
81
surdas, “pode trazer consequências emocionais, sociais e cognitivas, mesmo que realizem
aprendizado tardio de uma língua”.
Para além das questões emocionais e sociais, como outra consequência desse atraso, as
crianças surdas também podem apresentar desenvolvimento escolar e conhecimentos defasados,
se comparados aos ouvintes de mesma faixa etária. De acordo com Goldfeld (2002, p. 56):
Portanto, refletir sobre inclusão de surdos, implica considerar a discussão sobre educação
bilíngüe e a manutenção de contextos bilíngues, a serem promovidos concomitantemente ao
movimento da educação inclusiva. De acordo com Prado e Macedo (2016):
Sendo assim, sabemos que é preciso considerar que a língua de sinais é a primeira
língua/L1 dos surdos e que, é a partir dela que o sujeito surdo entrará em contato com uma
segunda língua/L2, a língua predominantemente usada pelo grupo social ou ambiente escolar no
qual ele será inserido.
82
níveis, etapas e modalidades de educação, desde a educação infantil até à
superior.
c) professor para o ensino de Língua Portuguesa como segunda língua para pessoas
surdas;
83
Sabemos que a inclusão vem propor uma nova cultura escolar, onde muitos desafios se
impõem todos os dias. No caso da grande maioria das deficiências, devem ser consideradas as
barreiras arquitetônicas, metodológicas, atitudinais, econômicas, entre outras. No entanto, no
caso dos surdos, precisamos considerar a existência de uma barreira linguística. As línguas são o
principal elemento de constituição de um povo, sua identidade e cultura. Portanto, quando essa
barreira se perpetua, ela provoca sérios impedimentos na constituição dos surdos enquanto
sujeitos sociais. Significa que o grande desafio imposto ao modelo atual de inclusão escolar de
alunos surdos é encontrar caminhos que possibilitem romper a barreira linguística existente entre
alunos surdos e ouvintes.
Assumir que a escola precisa mudar para receber as crianças surdas, significa aceitar a
responsabilidade de que todos precisam se adequar às suas necessidades.Neste caso, seria
propor que todos os membros da comunidade escolar se tornassem usuários de língua de sinais e,
portanto, bilíngues. O uso da língua de sinais em todas as situações escolares cotidianas deve
começar pelo grupo social em que o aluno surdo está diretamente inserido. No entanto, a longo
prazo, deve-se investir em uma escola inclusiva em que todos tenham acesso e possam utilizar a
língua de sinais na interação com alunos surdos nas mais diversas experiências e
compartilhamento de saberes. Assim, Meireles (2014, p.137) afirma:
percebemos que existe uma lei que determina e orienta a educação de surdos na
perspectiva do bilinguismo. No entanto, o entendimento que se tem de educação
bilíngue para pessoas surdas, ainda, encontra-se deturpado e com
encaminhamentos que, na maioria das vezes, não atendem às necessidades dos
indivíduos surdos. Sabemos que educação na perspectiva bilíngue enfrenta
constante tensão devido às políticas educacionais de nosso país que entendem
contraditoriamente o conceito de educação bilíngue.
84
Desse modo, é possível traçar um caminho a médio e longo prazos, para uma sociedade
que aceite e saiba dialogar com as diferenças. Contribuindo, para a formação de sujeitos
bilíngues e aptos a interagir socialmente com os indivíduos surdos, sem que os entraves
linguísticos predominem e promovam isolamentos.
REFERÊNCIAS
________. Lei n. 10436, 24 abr.2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS – e dá
providências. Diário Oficial da União. Brasília, 2002.
________. Decreto 5626 de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril
de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras Diário Oficial da União. Brasília,
2005
CARVALHO, R. E. Escola inclusiva. A reorganização do trabalho pedagógico. Porto Alegre,
Mediação, 2008.
GOLDFELD, Márcia. A criança surda: linguagem e cognição numa perspectiva sociointeracionista.
São Paulo: Plexus, 1997.
LACERDA, Cristina Broglia Feitosa de. A inclusão escolar de alunos surdos: O que dizem alunos,
professores e intérpretes sobre esta experiência in: Cad. Cedes, Campinas, vol. 26, n. 69, p. 163-
184, maio/ago. 2006 163 Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v26n69/a04v2669.pdf
acesso em 02/05
MEIRELES, Rosana Maria do Prado Luz. Políticas de Inclusão e Práticas Pedagógicas na Educação
de Alunos Surdos: Programa de Bilinguismo de Niterói/RJ. Tese (Doutorado em Educação) UFF,
Niterói, 2014.
VIGOTSKI, L.S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
85
Capítulo 11
A importância dos programas de estimulação precoce para
o desenvolvimento infantil
86
Sabe-se que os primeiros anos de vida de uma criança é um período em que
ocorre o desenvolvimento de habilidades cognitivas, físicas, sociais e afetivas, as
quais podem ser afetadas positivamente, por meio de um ambiente que favoreça
a estimulação, ou negativamente, por diversos fatores de risco (BRASIL, 2016a,
p.16).
87
fonoaudiólogo; assistente social; fisioterapeuta; terapeuta ocupacional; médico (pediatra,
otorrinolaringologista, oftalmologista, neurologista, fisiatra). Entretanto, sabe-se que as reais
condições em que funcionam os programas de Estimulação Precoce, muitos, não contemplam a
junção de toda a “equipe ideal”.Vale ressaltar a importância dos profissionais envolvidos atuarem
em cooperação efetiva, atendendo às reais necessidades das crianças e sabendo orientar
adequadamente as famílias.
A realização desse serviço deve ser disponibilizada em locais que assegurem recursos,
instalações e profissionais disponíveis para o programa, tais como:
berçários;
creches;
postos de saúde;
88
Para Pieczkowski e colaboradores (2006), a estimulação que a criança recebe desde o
nascimento e perdura em seus primeiros meses de vida é indispensável, pois esse período é
considerado sensível ao desenvolvimento humano. Um atendimento de estimulação precoce com
qualidade pode minimizar interferências no desenvolvimento, sejam estas interferências de
fatores hereditários, ambientais ou sociais.
[...] todos os momentos são propícios à estimulação, acrescentando que não são
apenas [...] as crianças com atraso no desenvolvimento que necessitam ser
estimuladas. A estimulação é um processo que permite à criança atingir novas
fases de desenvolvimento, porque propicia que ela experimente e conviva com
pessoas que a cercam, gerando experiências enriquecedoras (SILVA, 1996 apud
PIECZKOWSKI et al, 2006, p. 3).
As Diretrizes de Estimulação Precoce para crianças de zero a três anos, com atraso no
desenvolvimento neuropsicomotor (2016), definem:
89
As brincadeiras permitem que a criança conheça o próprio corpo, conheça o
corpo do outro e que ela desenvolva suas noções de limites corporais. É
brincando que ela desenvolverá seus aspectos cognitivos, sociais, culturais. Ou
seja, todos esses aspectos são desenvolvidos a partir do brincar e da brincadeira
(BRAGA, 2016, p.5).
“A criança com dificuldade nos movimentos precisará ser auxiliada nas brincadeiras que
lhe proporcionarão o interagir com o mundo e descobrir o ambiente ao seu redor” (BRAGA, 2016,
p.6). Nesse processo, os pais são auxiliares para que a criança desenvolva sua autonomia e
independência, explorando ao máximo o ambiente. Para Galvão (2016), “brincando ela tem
oportunidade de exercitar suas funções, experimentar desafios, investigar e conhecer o mundo de
forma espontânea e natural”(p.8). Para a autora, o brincar possibilita a criança expressar seus
sentimentos, fantasias, auxiliando no desenvolvimento da relação com as outras pessoas.
Dessa forma, existe uma relação direta entre as crianças pequenas e seus pais,
que motivam-se naturalmente para serem cuidados e cuidarem. Estas
necessidades, tanto dos bebês, quanto dos seus cuidadores dão origem a
interação social e, com isso, firmam-se várias estratégias comportamentais dos
pais e dos filhos que originarão a formação de vínculos afetivos entre eles, o que
impulsiona o desenvolvimento infantil (HANSEL; VIEIRA, 2007, p. 1).
90
Nesse sentido, vale ressaltar a importância da equipe multiprofissional dos programas de
Estimulação Precoce, em ter um olhar mais atendo para essas famílias; realizar a escuta das
angústias, necessidades e desejos da criança atendida; oferecer suporte necessário às famílias -
orientações coerentes para a continuidade, em casa, das perspectivas desenvolvidas nos
atendimentos; fortalecer um vínculo de confiança com os pais e/ ou responsáveis para, assim,
partilharem da construção de todo trabalho desenvolvido com a criança.
REFERÊNCIAS
91
BRAGA, Liliane Pereira. O brincar e a participação familiar no desenvolvimento infantil. Ministério
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(Org.). Transtornos de aprendizagem: abordagem neurobiológica e multidisciplinar. 2ª ed. Porto
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92
Capítulo 12
Whatsapp: uma proposta pedagógica para além
da sala de aula
1
Ediclea Fernandes Mascarenhas
2
Walter Alves Sansão
1.
Doutora. Professora Adjunta na Faculdade de Educação da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Professora Orientadora
no Curso de Mestrado Profissional em Diversidade e Inclusão da
Universidade Federal Fluminense.
2.
Pedagogo, Professor de Ensino Fundamenta. Mestrando no Curso de Mestrado Profissional em Diversidade e Inclusão
da Universidade Federal Fluminense.
Estamos vivendo uma era digital na qual a sociedade vive um grande fluxo de
informação, expressando e definindo novas maneiras de se comunicar. Tal fato se dá por
intermédio das tecnologias que nos exigem um dinamismo para nos enquadrarmos em propostas
e processos de globalização e comunicação em rede. Em nossa hipótese inicial trabalhamos com o
conceito de que estamos numa sociedade fruto de uma história. E que fomos “construídos” para
nos organizar em grupo. Construindo, por nossa vez, um perfil social que desenvolva, por diversos
motivos, mecanismos pessoais e interpessoais. Essa evolução na forma de se comunicar
influencia,ocasiona mudanças nos processos de ensino e aprendizagem em ambientes escolares.
Acreditamos que as propostas pedagógicas que se aliam aos modelos não tradicionais
oferecem novas linguagens e requerem dos professores e alunos desafios em uma nova proposta
em âmbito escolar. Incentivando a promoção de aprendizagens significativas, contextualizado
com um trabalho pedagógico em que a didática tenha como um dos objetivos permitir que o
aluno seja protagonista no processo escolar. Conforme Lemos (2003):
93
comunicação Whatsapp, aliado ao ambiente escolar, traz uma proposta de inovação. Oferecendo
aos alunos e professores desafios pedagógicos para transformar a forma de aprender.
Não podemos esquecer que o uso de tecnologia pelos professores requer a organização e
o investimento de formação inicial e continuada. Conforme Moser (2010):
Através de pesquisa bibliográfica nos sites Google Acadêmico, Capes e Scielo, podemos
obter como forma de metodologia a conclusão de experiências em diversos âmbitos de atividades
didáticas com o Whatsapp - ferramenta pedagógica apresentando vantagens e desvantagens.
Como vantagens: proporciona praticidade; facilidade na comunicação; define registros sobre o
conteúdo pedagógico de forma coletiva; permite aos alunos construir ideias/teorias sobre o
conteúdo de forma coletiva em diversas médias (audio, texto, imagem e vídeo); identificação do
desempenho dos alunos de forma dinâmica; destacar desafios/dificuldades, o efeito do Whatsapp
como forma de linguagem/escrita; oportunidade de incentivar os alunos a aprenderem;
aproveitamento com êxito dos alunos sobre os conteúdos dentro e fora da sala de aula; define
uma oportunidade nova de comunicação entre professor e aluno, e entre os próprios alunos;uma
vez que muitas vezes em sala de aula não há a mesma oportunidade para que todos se expressem
ou registrem suas ideias, conteúdos e informações. As desvantagens: o baixo poder de
processamento, bateria com pouca autonomia;necessidade e dificuldade de acesso à internet
móvel; necessidade de aparelhos modernos; o tamanho da tela; pouco espaço de
armazenamento; a possibilidade de se distrair ou desviar o foco de atenção dos alunos.
94
Em uma das atividades no mestrado do Curso de Mestrado Profissional em Diversidade e
Inclusão - CMPDI, da Universidade Federal Fluminense – UFF, atendendo todas as exigências do
nosso Comitê de Ética e Pesquisa, podemos pesquisar e elaborar o tema “Possibilidades do uso do
aplicativo de comunicação Whatsapp como ferramenta pedagógica em atendimento em classe
hospitalar”. Nesse trabalho, foi definido como objetivo principal investigar quais são as
possibilidades de desenvolver atendimento pedagógico com o aquele aplicativo nessa modalidade
de ensino. Outro objetivo também seria investigar cientificamente, de modo qualitativo e
quantitativo, como o processo didático pedagógico é realizado entre professor e aluno. A ideia
consiste em testar todas as possibilidades oferecidas pelo aplicativo: mensagens de texto, vídeos,
sons e imagens. Na primeira etapa do projeto, como processo de investigação, utilizamos o
aplicativo com crianças de diversas faixas etárias. Resultado positivo diante da facilidade de
utilização por parte dos alunos nativos digitais, que tiveram êxito em desenvolver atividades
sobre alfabetização, matemática e ciências. No trabalho percebemos o êxito do apoio
institucional fornecendo a classe hospitalar excelente formatação pedagógica. Por outro lado, nos
faltou base tecnológica- o fornecimento de aparelhos telefônicos com acesso à internet – o que
viabilizamos com recursos próprio. Trabalhamos os conceitos dos autores
Orrico(2014);Fernandes(2014); e Faccion (2010). Esse trabalho de pesquisa realiza-sena Classe
Hospitalar do Hospital Infantil Ismélia da Silveira no município de Duque de Caxias, Rio de Janeiro.
Contudo, há impossibilidade de divulgar mais dados uma vez que a pesquisa está em fase de
conclusão e com data de previsão de defesa para agosto de 2018.
Não basta formar alunos empreendedores, se não tem uma formação social, uma
preocupação com os outros e um comportamento ético. O foco da educação não
pode permanecer somente no nível pessoal, individual, na preparação
profissional. Por isso, é importante focar também o desenvolvimento social, o
engajamento numa sociedade mais justa, o compromisso do conhecimento
pessoal com os que convivem conosco, com o país, com o planeta, com o
universo. A educação precisa que cada aluno se insira na comunidade e
desenvolva sua capacidade de assumir responsabilidades e direitos.
95
preciso desenvolver novas maneiras de explorar as tecnologias no âmbito da Educação e todas as
suas potencialidades.
Essa proposta de trabalho não seria desvincular da prática pedagógica em sala de aula o
ensino tradicional, mas somar novas ideias e maneiras de relacionar ao cotidiano escolar as
didáticas que atendam às exigências de comunicação e formação social, que os alunos nativos
digitais exerçam suas habilidades e sejam protagonistas no processo de ensino-aprendizagem.
Que a escola, o professor e os conteúdos sejam seus aliados nesse desenvolvimento pedagógico,
no que se refere também, a linguagem e a comunicação. O resultado de nossos estudos oferece
informações que o aprendizado móvel contribui para o sucesso dos alunos. Definindo o Whatsapp
como uma das alternativas eficazes para o processo ensino-aprendizagem. Trazendo para o
trabalho pedagógico satisfação, motivação, desafios e criatividade para desenvolver muitos
assuntos em diversas áreas de conhecimento.
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96
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98
Capítulo 13
Legislação federal brasileira sobre acessibilidade:
o que falta fazer?
1
Ana Lafetá Cabral
2
Neuza Rejane Wille Lima
1.
Mestranda do Curso Mestrado Profissional em Diversidade e Inclusão;
Secretária da Universidade Federal Fluminense
2.
Professora Associada da Universidade Federal Fluminense e
Orientadora do Curso Mestrado Profissional em Diversidade e Inclusão
Lei No. 10.048, DE 08 DE NOVEMBRO DE 2000 - Primeira lei brasileira que efetivamente tratou
sobre acessibilidade, estabelecendo que repartições públicas e empresas concessionáris de
serviços públicos ficam obrigadas a dispensar atendimento prioritário às pessoas com deficiência,
idosos com idade igual ou superior a 60 anos, as gestantes, as lactantes, as pessoas com crianças
de colo e os obesos.
Cria normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas
portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida. Essa lei estabelece a obrigatoriedade do
Poder Público de eliminar as barreiras na comunicação, estabelecendo mecanismos e alternativas
técnicas que tornem acessíveis os sistemas de comunicação e sinalização às pessoas portadoras
de deficiência sensorial e com dificuldade de comunicação, ao trabalho, à educação, ao
transporte, à cultura, ao esporte e ao lazer, legitimando as organizações representativas das
pessoas com deficiência a acompanharem o cumprimento dos requisitos de acessibilidade
estabelecidos.
99
Regulamenta a Lei no 10.048, de 8 de novembro de 2000, que dá prioridade de
atendimento às pessoas que especifica; e a Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que
estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas com
deficiência ou com mobilidade reduzida. Dentre outras disposições, essa lei estabelece o prazo de
12 meses a contar da data de publicação deste Decreto, para que seja obrigatória a acessibilidade
nos portais e sítios eletrônicos da administração pública na rede mundial de computadores
(internet), para o uso das pessoas com deficiência visual, garantindo-lhes o acesso às informações
disponíveis.
Promulga a Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, com o
propósito de proteger e assegurar o exercício pleno e eqüitativo de todos os direitos humanos e
liberdades fundamentais por todas as pessoas com deficiência e promover o respeito pela sua
dignidade.
100
Lei de acesso à informação determina em seu art. 8º, parágrafo 3º, inciso VIII que: “Os sítios de
que trata o § 2º deverão, na forma de regulamento, atender, dentre outros, aos seguintes
requisitos: (…) adotar as medidas necessárias para garantir a acessibilidade de conteúdo para
pessoas com deficiência”.
101
As Diretrizes de Acessibilidade para Conteúdo Web (WCAG) 2.0 abrangem diversas
recomendações com a finalidade de tornar o conteúdo da Web mais acessível. Seguir estas
diretrizes irá tornar o conteúdo acessível a um maior número de pessoas com deficiência,
incluindo cegueira e baixa visão, surdez e baixa audição, dificuldades de aprendizagem, limitações
cognitivas, limitações de movimentos, incapacidade de fala, fotossensibilidade e combinações
destas características. O conteúdo da Web também ficará mais acessível aos usuários em geral ao
seguir estas diretrizes. (W3C, 2008).
Estabelece em seu artigo 8º, inciso I:acessibilidade: condição para utilização, com
segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das
edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comunicação e
informação, por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida.
Vale ressaltar que o termo “pessoa portadora de deficiência”, usado por esse decreto,
atualmente considerado inadequado, pois as pessoas com deficiência não portam deficiência, ou
seja, não é entendido como coisas que às vezes são portadas ou não.
A Convenção Internacional Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, adotada pela
ONU, em 30 de março de 2007, em Nova York, e ratificada pelo Decreto Federal n° 6.949 de 25,
de agosto de 2009, estabelece em seu artigo 9 º, item 1:
102
Acessibilidade na web significa que pessoas com deficiência podem usar a web. Mais
especificamente, a acessibilidade na web significa que pessoas com deficiência podem perceber,
entender, navegar, interagir e contribuir para a web.
E mais. Ela também beneficia outras pessoas, incluindo pessoas idosas com capacidades
em mudança devido ao envelhecimento.” (W3C Brasil, 2014).
Por ser um termo bastante complexo, alguns pontos exclusivos sobre acessibilidade na
Web devem ser examinados:
Além dessa diversidade temática, é cada vez mais importante que a Web esteja disponível
em todas as situações e ambientes, a qualquer momento, sob as mais diversas condições
técnicas. Dessa forma, considera-se fundamental a disponibilidade da mesma em casa, no
trabalho ou nas viagens, em dispositivos móveis ou computadores convencionais, seja em
ambientes internos ou externos, em meios urbanos ou rurais (W3C Brasil,2014).
Segundo Tim Berners-Lee, Diretor e inventor da World Wide Web “o poder da Web está
na sua universalidade. O Acesso por todas as pessoas, não obstante a sua deficiência, é um
aspecto essencial”. (W3C, 1997).
1. Seguir os padrões Web - Uma página desenvolvida de acordo com os padrões Web
deve estar em conformidade com as normas HTML, XML, XHTML e CSS, seguindo as
regras de formatação sintática. Além disso, é muito importante que o código seja
semanticamente correto, ou seja, que cada elemento seja utilizado de acordo com um
significado apropriado, valor e propósito.
103
3. Realizar a avaliação de acessibilidade - No caso dos padrões Web, há validadores
automáticos. Uma das ferramentas que podem ser utilizadas é o ASES, avaliador e
simulador de acessibilidade em sítios. Para uma avaliação efetiva, é necessária uma
posterior validação manual.Para a validação manual, eMAG, 2014são utilizados
checklists de validação humana (eMAG, 2014).
1. MARCAÇÃO
104
Assegurar o controle do usuário sobre as alterações temporais do conteúdo da página
via teclado.
3. CONTEÚDO/INFORMAÇÃO
4. APRESENTAÇÃO/DESIGN
5. MULTIMÍDIA
105
Oferecer áudio descrição para vídeo pré-gravado;
Fornecer controle de áudio para som;
Fornecer controle de animação.
6. FORMULÁRIOS
1. Teclas de atalho.
3. Barra de acessibilidade.
Esses elementos foram padronizados pelo governo federal brasileiro, para facilitar o
acesso aos sites, a todas as pessoas.
106
Estão de acordo com o Desenho Universal, por exemplo, os ambientes que possuem rampas de
acesso, banheiros e bebedores adaptados, fraldários, pisos podotáteis, elevadores com áudio e
painéis em Braille, etc. Outro exemplo são os filmes que possuem audiodescrição, legendas e
tradução para Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS (Cartilha W3C Brasil, 2014).
1. Equiparação nas possibilidades de uso: pode ser utilizado por qualquer usuário em
condições equivalentes.
6. Mínimo esforço físico: pode ser utilizado de forma eficiente e confortável, com um
mínimo de fadiga.
Criado em 1988, o termo Assistive Technology surge pela primeira vez na legislação
americana, conhecida como Public Law 100-407, que faz parte do American With Disabilities Act. -
ADA, um conjunto de leis reguladoras dos direitos das pessoas com deficiência nos Estados
Unidos.
12
(The Center for Universal Design: The Principles of Universal Design, Version 2.0): Compilado por defensores do
design universal, listados em ordem alfabética: Bettye Rose Connell, Mike Jones, Ron Mace, Jim Mueller, Abir Mullick,
Elaine Ostroff, Jon Sanford, Ed Steinfeld, Molly Sotry e Gregg Vanderheiden.
107
Com fundamento na legislação do ADA, Cook e Hussey definem Tecnologia Assistiva (TA)
como “uma ampla gama de equipamentos, serviços, estratégias e práticas concebidas e aplicadas
para minorar os problemas funcionais encontrados pelos indivíduos com deficiência” (COOK e
HUSSEY, 1995).
108
São objetivos da Tecnologia Assistiva: proporcionar à pessoa com deficiência maior
independência, qualidade de vida e inclusão social, através da ampliação de sua comunicação,
mobilidade, controle de seu ambiente, habilidades de seu aprendizado, trabalho e integração com
a família, amigos e sociedade (SARTORETTO, 2017).
A classificação a seguir, foi escrita originalmente em 1998, por José Tonolli e Rita Bersch.
Sua última atualização é de 2017. Ela tem uma finalidade didática e em cada tópico considera a
existência de recursos e serviços. Essa proposta de classificação foi desenhada com base nas
diretrizes gerais da American With Disabilities Act, em outras classificações utilizadas em bancos
de dados de TA e especialmente a partir da formação dos autores no Programa de Certificação em
Aplicações da Tecnologia Assistiva – ATACP da California State University Northridge, College of
Extended Learning and Center on Disabilities.
REFERÊNCIAS
109
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05/01/2018.
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