Analisedo Sistemade Exploracaodos Recursos Naturaisem Moambique
Analisedo Sistemade Exploracaodos Recursos Naturaisem Moambique
Analisedo Sistemade Exploracaodos Recursos Naturaisem Moambique
net/publication/275650290
CITATION READS
1 18,161
1 author:
SEE PROFILE
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
Estimating Biomass and Carbon in Natural and Planted Forests View project
Agroforestry in Southern Africa - new Pathways of innovative land use systems under a changing climate (ASAP) View project
All content following this page was uploaded by Tarquinio Mateus Magalhães on 30 April 2015.
Distribuição gratuita
Maputo, Novembro de 2014
O conteúdo desta publicação é de inteira responsabilidade da
Justiça Ambiental e de nenhuma maneira reflecte a posicão ou
opinião dos financiadores.
Análise do Sistema de Exploração dos
Recursos Florestais em Moçambique
4 Resumo
RESUMO
Resumo
O objectivo desde estudo é analisar os principais componentes para
assegurar a sustentabilidade das lorestas, identi icar as lacunas no
sistema lorestal e analisar criticamente os fundamentos e argumen-
tos utilizados na justi icação das lacunas do sistema lorestal em Mo-
çambique. Moçambique é um país rico em recursos lorestais: as lo-
restas produtivas cobrem aproximadamente 26,9 milhões de hectares
e 13 milhões de hectares são de inidos como áreas não adequadas
para a produção de madeira, principalmente onde estão localizados
os Parques Nacionais e as Reservas Florestais.
O elevado nível de pobreza em Moçambique constitui o principal
constrangimento para a gestão sustentável dos recursos naturais por
isso, o Governo de Moçambique, de iniu em 1997, na sua Política e
Estratégia de Florestas e Fauna Bravia, o objectivo social referente
ao envolvimento das comunidades locais no maneio e conservação
dos recursos lorestais, tendo em consideração a dependência das
comunidades pelos recursos naturais. No entanto, ainda não estão
alcançados os resultados desejados, pois as comunidades continuam
sendo prejudicadas e a fome e a urgência de satisfação das necessida-
des básicas não permitem que a comunidade tenha um horizonte de
plani icação e uso dos recursos a longo prazo. Ademais, os bene ícios
previstos para a comunidade, no âmbito da exploração dos recursos
lorestais na sua área, ainda não se traduzem em acções concretas,
pois não existem mecanismos claros para fazer chegar este fundo às
comunidades.
Por sua vez, o processo de iscalização dos recursos lorestais e
faunísticos ainda não traz resultados satisfatórios, pois existem vá-
rios constrangimentos que fragilizam o processo.
Os instrumentos de inidos para a avaliação e gestão dos recursos
lorestais - inventário lorestal e plano de maneio - da forma como
vêm sendo feitos em Moçambique não permitem uma determinação
exacta dos recursos que existem assim como o seu ritmo de cresci-
mento. Este facto deriva principalmente destes documentos serem
elaborados à base de estimativas estatísticamente não recomendadas
e que não consideram a variação das condições ecológicas do país o
que compromete os resultados inais obtidos. 5
Análise do Sistema de Exploração dos
Recursos Florestais em Moçambique
Índice
1. INTRODUÇÃO 9
2. METODOLOGIA 13
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 15
3.1. Sustentabilidade das Florestas Moçambicanas 15
3.2. Definição do volume de madeira permitido relativamente
ao ritmo de crescimento das florestas 18
3.3. Diâmetro Mínimo de Corte 24
3.4. Características do corte ilegal em Moçambique 26
3.5. Inventários Florestais e Planos de Maneio 28
3.5.1. Inventários Florestais Nacionais e Provinciais 28
3.5.2. Plano de Maneio 33
3.6. Processo de Fiscalização Florestal em Moçambique 37
3.6.1 Principais Constrangimentos da Fiscalização
Florestal em Moçambique 39
3.7. Investimentos do Sector Florestal 40
3.8. Participação das Comunidades locais na gestão dos
Recursos naturais 41
4. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 47
4.1. Conclusões 47
4.2. Recomendações 49
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 53 7
Análise do Sistema de Exploração dos
Recursos Florestais em Moçambique
8 Introdução
1. INTRODUÇÃO
1. Introdução
Moçambique é um país rico em recursos lorestais, com uma área
lorestal de aproximadamente 40,6 milhões de hectares e 14,7
milhões de hectares de outras áreas arborizadas (DNTF, 2007).
As lorestas produtivas cobrem aproximadamente 26,9 milhões
de hectares, enquanto 13 milhões de hectares são de inidos como
áreas não adequadas para a produção de madeira, principalmente
onde estão localizados os Parques Nacionais e as Reservas Flores-
tais. As lorestas que têm algum tipo de protecção legal ou estado
de conservação cobrem cerca de 22% da extensão lorestal total
de Moçambique (WRM Bulletin, 2009).
A maioria dos moçambicanos vive em áreas rurais e depen-
de dos recursos naturais para a sua subsistência diária. Segundo
Nhabanga e Ribeiro (2009), apenas 7 a 9% da população total de
Moçambique tem acesso à electricidade, cabendo à restante popu-
lação fazer o uso da lenha, do carvão, petróleo e do gás. No entan-
to, o baixo acesso à electricidade, não se deve à baixa produção de
energia no país, mas à priorização desta para exportação e indus-
trialização. Consequentemente, a colecta de lenha e a produção de
carvão vegetal para efeitos de cozinha e aquecimento representa
mais de 85% do consumo total de energia no país. Para além de
usos com ins energéticos, a madeira comum e a madeira preciosa
também são usadas pelas comunidades na construção de casas e
nas artes e o ícios. Madeiras de todo tipo, incluindo as de alto va-
lor são usadas pelas comunidades para a construção de moradias
e para artesanato, especialmente entalhes e esculturas.
Segundo Marzoli (2007), uma das principais causas do desma-
tamento no país é a pressão humana que provoca as queimadas
das áreas lorestais para abrir áreas de cultivo, colecta de lenha
e produção de carvão. O índice de desmatamento anual no país
está na casa dos 219.000 ha/ano, equivalente a uma mudança de
0,58% ao ano (DNTF, 2007).
Apesar de Marzoli (2007) sugerir que os índices de desma-
tamento estão directamente relacionados com a densidade de-
mográ ica por província, há vários estudos que indicam que as
principais causas de desmatamento são a extracção ilegal e insus- 9
Análise do Sistema de Exploração dos
Recursos Florestais em Moçambique
11
Análise do Sistema de Exploração dos
Recursos Florestais em Moçambique
12 Metodologia
2. METODOLOGIA
2. Metodologia
A realização deste estudo foi baseada na revisão de literatura, que
consistiu num apanhado sobre os principais trabalhos cientí icos já
realizados sobre o tema em estudo e que são revestidos de impor-
tância por serem capazes de fornecer dados actuais e relevantes.
Abrangeu publicações avulsas, livros, jornais, revistas, relatórios de
inventários lorestais provínciais, nacionais, de concessões lorestais
e respectivos planos de maneio.
13
Análise do Sistema de Exploração dos
Recursos Florestais em Moçambique
14 Resultados e Discussão
3. RESULTADOS E
3. Resultados e Discussão DISCUSSÃO
21
Análise do Sistema de Exploração dos
Recursos Florestais em Moçambique
obrigações com as comunidades são nulas. Este facto levou com que
a Madeiraarte abandonasse, por um tempo, o contracto da concessão,
passando a comprar a madeira de Cimbiri aos operadores de licença
simples, o que, no ponto de vista económico foi mais proveitoso.
Portanto, a exploração lorestal sob contracto (concessão lores-
tal) tem custos e obrigações mais elevados do que as licenças simples,
à medida que às concessões lorestais são exigidos inventários lo-
restais e planos de maneio detalhados, obrigações sociais, ecológicas
e ambientais, avultando os seus custos. Como consequência disso,
muitos empresários preferem candidatar-se a licenças simples, que
embora competindo com as mesmas lorestas com as concessões
não demanda tantos custos e exigências. A consequência, disso é a
degradação das lorestas e do ambiente e a marginalização das comu-
nidades locais, uma vez que as licenças simples não têm obrigações
sociais, ecológicas e ambientais.
25
Análise do Sistema de Exploração dos
Recursos Florestais em Moçambique
estudo (Philip, 1984). Ademais, a grelha usada não foi uniforme para
todos estratos administrativos, uma vez que nalgumas províncias foi
usada a grelha de 4 km x 4 km e noutras uma grelha de 2 km x 2 km.
Esta modi icação implica também uma modi icação nos estimadores
a serem usados, o que não foi o caso.
Lê-se da metodologia do inventário lorestal nacional por Marzo-
li (2007) a seguinte frase: “A selecção das amostras foi levada a cabo
através de uma amostragem aleatória restritiva/modiϔicada, onde
uma grelha de pontos de 4 km por 4 km (grelha de 2 km por 2 km para
os inventários provinciais de Manica e Maputo) foi imposta e levada
como base de amostragem.” No entanto, fazendo tal imposição, o de-
senho amostral dentro dos estratos deixa de ser aleatório e objectivo,
passando a ser subjectivo. Alguns estaticistas podem defender que
este desenho amostral é sistemático, no entanto, não pode ser con-
siderado assim, uma vez que na amostragem sistemática a primeira
unidade amostral é sempre seleccionada aleatoriamente (Jayaraman,
2000 e Husch et al., 2003). Seja como for a amostragem subjectiva
e sistemática, compartilham do facto de que as medidas de precisão
do estudo não poderem ser calculadas, uma vez que o cálculo deles
requer a existência de, pelo menos, duas unidades aleatórias (Philip,
1984 e Husch et al., 2003).
Aquando do lançamento do concurso para os inventários provín-
cias de Gaza, Inhambane, Sofala, Nampula, Cabo Delgado e Tete, as
empresas que ganharam os concursos para as províncias de Gaza,
Inhambane, Nampula e Sofala, haviam sugerido a amostragem alea-
tória estrati icada, com a alocação proporcional das unidades amos-
trais e estrati icação tipológica. Mais tarde estas empresas viriam a
ser impostas pelos técnicos do Departamento de Inventário de Recur-
sos Naturais, provavelmente inspirados por Marzoli (2007), a usarem
uma grelha regular de 14 km x 14 km para a distribuição das unida-
des amostrais, ou seja, uma parcela em cada 14 km ou em cada área
de 196 km2.
Ora, a distribuição regular das unidades amostrais é claramente a
amostragem sistemática. No entanto, este desenho amostral é o me-
nos recomendado para inventários lorestais e quaisquer pesquisas
lorestais. Cientistas lorestais, estaticistas e vários autores tais como
30 Husch et al (2003), Philip (1984), Freese (1984), Stellingwerf (1993),
de Vries (1986), Jayaraman (2000), FAO (1981), etc, desencorajam o 3. RESULTADOS E
DISCUSSÃO
uso de amostragem sistemática por razões estatísticas.
O uso de amostragem sistemática não permite que se calculem,
que se estimem as medidas de precisão do inventário lorestal (tais
como: variância, desvio padrão, variância da média, erro padrão, co-
e iciente de variação, erros de amostragem, intervalos de con iança),
como já foi referido, isso porque este desenho amostral viola o pres-
suposto básico de amostragem: a selecção aleatória e, portanto, in-
dependente das unidades amostrais da população. Isto é: o cálculo da
variância e por conseguinte, do erro padrão e de outras medidas de
precisão, requer que sejam, no mínimo, seleccionadas aleatoriamente
duas unidades amostrais da população (Husch et al.,2003; FAO, 1981
e Jayaraman, 2003.), é por isto que este desenho amostral não produz
medidas de precisão válidas. Portanto, já que na amostragem siste-
mática só a primeira unidade amostral é seleccionada aleatoriamente
ou, neste caso especí ico, o ponto inicial da grelha (grid) é o único
ponto aleatório, então este desenho amostral é considerado como
tendo o tamanho de amostra igual a unidade (n=1) (Khol, 1993), não
permitindo a estimativa da medidas de precisão.
Alguns autores, tais como Husch (1963), Husch et al. (1982) e
Husch et al. (2003) sugerem, no entanto, que se a população em es-
tudo (a loresta) tiver seus elementos totalmente distribuídos aleato-
riamente, sem exibir nenhum padrão de variação, a amostragem sis-
temática será equivalente a amostragem aleatória simples e portanto,
as fórmulas desta última podem ser usadas sem bias. No entanto, não
existem populações biológicas, tais como lorestas, em que, os seus
elementos são aleatoriamente distribuídos (Husch et al., 1982, Hus-
ch, 1963). No caso, do nosso país, ocorrem subpopulações agregadas
(aglomeradas), tal é o caso de populações de Mecrusse e Mopane, su-
gerindo assim, que os elementos não são aleatoriamente distribuídos
na população e descartando a possibilidade do uso de fórmulas de
amostragem aleatória simples para a amostragem sistemática.
Normalmente, antes da estrati icação e da alocação das unidades
amostrais na população, descartam-se os usos e cobertura de terra
que não são objecto de estudo num inventário lorestal, tais como
áreas habitacionais, corpos de água natural, áreas descobertas. No
entanto, a grelha de unidades amostrais sugerida pelo Departamento 31
Análise do Sistema de Exploração dos
Recursos Florestais em Moçambique
45
Análise do Sistema de Exploração dos
Recursos Florestais em Moçambique
46 Conclusões e Recomendações
4. CONCLUSÕES E
4. Conclusões e RECOMENDAÇÕES
Recomendações
4.1. Conclusões
A situação do sector lorestal tem vindo a agravar-se, a exploração
ilegal permanece na sua maioria impune, a corrupção é generaliza-
da, a iscalização é insu iciente e ine iciente e terá de passar por uma
análise integrada e discussões sérias e inclusivas a vários níveis, abor-
dando entre outras questões as graves lacunas no conhecimento da
dinâmica das lorestas nativas, a ausência de compromisso político, a
incoerência e falta de clareza nas demais políticas de desenvolvimen-
to que tem sido promovidas e que contrariam os princípios básicos da
conservação de lorestas nativas. Nos últimos 10 anos, foram vários
os estudos e análises elaborados relativamente à situação das lores-
tas moçambicanas, os problemas retratados tem sido recorrentes e
permanecem por resolver. Na sua maioria os referidos estudos não
parecem ter reconhecimento por parte do governo e tendem a ser
desconsiderados. De uma análise a estes e outros estudos e documen-
tação conclui-se o seguinte:
As comunidades rurais continuam com acesso limitado aos bene-
ícios da exploração lorestal, e com pouca participação na gestão dos
recursos naturais contrariamente ao que o Regulamento da Lei de
Florestas e Fauna Bravia prevê.
A gestão de recursos lorestais em Moçambique não se rege pela
dinâmica do ecossistema, sendo esta demasiado centrado nos seus
bene ícios económicos, colocando assim em risco a sua sustentabi-
lidade.
Moçambique não dispõe de dados consistentes sobre a taxa de
crescimento das espécies nativas, fazendo uso de dados esporádicos
da região com condições ecológicas comparáveis para a estimativa de
taxa de crescimento e corte anual admissível. Este método desconsi-
dera as condições ecológicas especí icas de determinada área resul-
tando em estimativas que poderão não constituir a realidade levando
a erro na determinação do volume de corte anual admissível. 47
Análise do Sistema de Exploração dos
Recursos Florestais em Moçambique
4.2. Recomendações
É urgente que sejam devidamente reconhecidos e analisados os vários
documentos e estudos produzidos sobre a loresta nativa moçambica-
49
Análise do Sistema de Exploração dos
Recursos Florestais em Moçambique
51
Análise do Sistema de Exploração dos
Recursos Florestais em Moçambique
52 Referências Bibliográficas
5. REFERÊNCIAS
5. Referências Bibliográficas BIBLIOGRÁFICAS
53
Análise do Sistema de Exploração dos
Recursos Florestais em Moçambique