Relatorio Anual de Governacao Ambiental 2016 CTV
Relatorio Anual de Governacao Ambiental 2016 CTV
Relatorio Anual de Governacao Ambiental 2016 CTV
ESTUDO DE CASO:
RESERVA MARINHA PARCIAL DA PONTA DO OURO
Autores:
Cristina M. M. Louro
Raquel S. Fernandes
Marcos A. M. Pereira
Alda I. S. Salomão
Revisão:
Tânia Pereira
Edição:
Manuela Wing & Marcos A. M. Pereira
Fotografia: Dunas costeiras na Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro (Chico Carneiro).
Proposta de Citação:
Louro, C. M. M., Fernandes R.S., Pereira, M.A.M & A. I.A. Salomão (2016). Desafios e oportunidades de gestão das áreas de
conservação marinhas em Moçambique. Estudo de Caso: Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro. Relatório Anual de
Governação Ambiental. 100 pp. Maputo, Centro Terra Viva.
II
SUMÁRIO EXECUTIVO
Antecedentes
Moçambique possui uma extensa linha de costa (ca. 2 470 km) que é caracterizada por uma diversidade de
ecossistemas e espécies, oferecendo uma variedade de recursos naturais com potencial para o desenvolvimento
social e económico do país. A rede de áreas de conservação costeiras e marinhas do país inclui cinco reservas e
parques nacionais e uma área de conservação transfronteiriça. Um dos desafios constantes tem sido a harmonização
entre o estabelecimento das AMPs, a protecção dos direitos das comunidades locais e o enquadramento dos
diferentes sectores da economia, como a pesca, a agricultura, o turismo e a conservação.
A Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro (RMPPO) foi proclamada pelo Decreto 42/2009, de 21 de Agosto, com o
objectivo de “preservar e proteger as espécies marinhas, costeiras e os seus habitats”. A sua proclamação
remonta ao reconhecimento prévio, pela comunidade científica, do valor em termos de biodiversidade e endemismo
presentes na linha de costa que se estende da Ilha da Inhaca, no sul Moçambique, até ao Cabo de Santa Lúcia, na
África do Sul. Esta Reserva com uma superfície de 678 km2 possui uma miríade de ecossistemas como recifes
rochosos colonizados por corais, florestas de mangal, bancos de ervas marinhas, praias arenosas, plataformas
rochosas, dunas e lagoas costeiras. Em termos de espécies existe uma grande diversidade de peixes, invertebrados
marinhos, mamíferos marinhos, incluindo o dugongo, tartarugas marinhas e aves migratórias. Estes atributos
ecológicos fazem desta Reserva um dos principais destinos turísticos de Moçambique. Existem várias ameaças,
actuais e potenciais, aos valores ecológicos, económicos e sociais da Reserva, sendo de destacar o desenvolvimento
habitacional e turístico na orla costeira, o desenvolvimento industrial (ex. estrada KaTembe – Ponta do Ouro, Porto de
Techobanine), o uso extractivo e não-extractivo de recursos naturais (ex. pesca industrial e semi-industrial, pesca
recreativa e desportiva, mergulho, entre outros), a poluição e as mudanças climáticas. Estas ameaças, combinadas,
podem provocar impactos cumulativos aos ecossistemas costeiros e marinhos como um todo, e no futuro, afectar, a
sua conectividade, funcionamento e resiliência.
O Relatório Anual de Governação Ambiental (RGA) tem sido um dos instrumentos aplicados pela instituição para
avaliar a governação e gestão dos recursos naturais em Moçambique, como forma de propor recomendações para o
alcance dos objectivos de conservação e desenvolvimento local. O presente RGA pretende avaliar os modelos
III
adoptados, sucessos e desafios na governação e gestão das Áreas Marinhas Protegidas (AMPs) em Moçambique,
tendo como estudo de caso a RMPPO. Esta Reserva é componente integral da primeira Área de Conservação
Transfronteiriça (ACTF) marinha em África, a ACTF Ponta do Ouro – Kosi Bay, entre Moçambique e a África do Sul.
Metodologia
A avaliação da efectividade do modelo de governação da RMPPO teve com base as seguintes categorias de
indicadores:
(i) Económicos: usados para aferir até que ponto são aplicadas abordagens económicas e de direito de
propriedade para promover o cumprimento dos objectivos das áreas de conservação;
(ii) Interpretação: usados para aferir até que ponto são aplicadas acções para promover a
consciencialização para a conservação, os objectivos relacionados com a sua conservação, os
dispositivos legais e politicas para atingir esses objectivos, e promover a contribuição e o apoio para
tomada de medidas relacionadas com estes aspectos;
(iii) Conhecimento: usados para aferir até que ponto é promovido o uso de diferentes fontes de
conhecimento (tradicional e científico) para melhor informar os processos de tomada de decisão;
(iv) Legalidade: usados para aferir até que ponto as instituições responsáveis pela governação promovem o
estabelecimento e aplicação de legislação e regulamentos relevantes para garantir a conformidade com
os processos de tomada de decisão, assim como garantir com as obrigações das áreas de conservação;
e
(v) Participação: usados para aferir até que ponto é promovida a participação dos usuários, comunidades e
outros grupos de interesse para influenciar os processos de tomada de decisão que podem,
potencialmente, afectar negativamente a sua qualidade de vida, como forma de promover o seu direito
de propriedade e consequentemente o seu potencial para cooperar na implementação das decisões
tomadas.
A colecta de informação relativa aos indicadores foi efectuada essencialmente usando a literatura primária e outras
publicações, além de entrevistas direccionadas a quatro grupos de intervenientes-chave,nomeadamente: governo a
nível central e local, operadores turísticos, turistas e comunidade local.
Resultados e Recomendações
Como resultado da analise do sistema de governação da RMPPO foram identificados os principais desafios e
oportunidades enfrentados pela Reserva no cumprimento os seus objectivos de conservação, gestão e governação,
sendo de destacar os seguintes:
IV
Indicadores Económicos:
(i) Promoção da exploração sustentável dos recursos pesqueiros. Através da aplicação da legislação relevante e
rplano de maneio. A pesca de subsistência e pesca desportiva e recreativa são permitidas apenas nas zonas de uso
múltiplo. Por outro lado rém, a pesca artesanal só pode ser praticada fora dos limites da Reserva, o que pode gerar
potenciais conflitos com os Conselhos Comunitários de Pesca (CCPs) existentes. Actualmente, a Reserva possui três
santuários de protecção de biodiversidade (i.e. recifes de coral da Barreira Vermelha, Ponta Torres e Techobanine e o
estuário do Rio Bembi). Para melhorar a aplicação deste indicador, várias foram as recomendações identificadas
destacam-se as seguintes: Rever as restrições de capturas e o sistema de licenciamento da pesca recreativa e
desportiva; Consolidar a comunicação e empoderar os CCPs na co-gestão e fiscalização; Promover o pagamento de
compensações sempre que se considerar necessário; Consolidar o programa de monitoria dos recursos pesqueiros,
através da expansão da área geográfica e da sistematização da metodologia de colecta, gestão e análise de dados; e
reforçar a coordenação entre os diferentes intervenientes na gestão do sector das pescas.
(ii) Promoção de fontes alternativas de rendimento. A nível da Reserva este indicador é aplicado através da
contratação de 46 monitores comunitários de tartarugas marinhas e formação quatro membros da comunidade como
pilotos de embarcação e mergulhadores mestre. Em colaboração com a Reserva Especial de Maputo (REM) foi
estabelecido o Fundo de Desenvolvimento Comunitário para apoiar as comunidades na implementação do projecto de
criação de mel e cultivo de piri-piri e o estabelecimento do Lodge Comunitário Anvil Bay Lodge, comummente
conhecido como o lodge comunitário de Chemucane. Dentre as várias recomendações avançadas, destacam-se as
seguintes: Continuar a envidar esforços para aplicar e, tornar prioritária, a implementação dos projectos de acção para
determinar os direitos legais das comunidades, identificar conjuntamente alternativas de rendimento para garantir
benefícios equitativos para as comunidades afectadas, predispostas no Plano de Maneio (2011 – 2015).
(iii) Garantir financiamento do Estado. Embora o Estado garanta financiamento para a Reserva, o actual orçamento
para custos de operação não é suficiente para operar em condições óptimas. O valor total das multas arrecadadas,
entre 2009 – 2015, foi de 2 031 192,00 Mt. É recomendada a continuação de esforços e priorização da implementação
dos projectos de acção (e.g. a política de cobrança e retenção de receitas, e estratégia e plano de implementação de
sustentabilidade financeira) para atingir o objectivo de estabelecer mecanismos sustentáveis de financiamento,
previstos no Plano de Maneio (2011 – 2015).
(iv) Garantir financiamento de ONGs e sector privado. A Reserva possui parceiros de financiamento internacionais,
organizações da sociedade civil nacional e o sector privado. Há necessidade de incrementar, e tonrar prioritário, os
esforços de angariação de fundos e outros recursos, através da ANAC, da PPF e demais parceiros.
V
Indicadores de Interpretação
Indicadores de Conhecimento
(i) Promover o conhecimento colectivo. Isto é feito através de parcerias de investigação e monitoria com diversas
universidades nacionais e internacionais, instituições de investigação governamentais, organizações não-
governamentais e o sector privado. É recomendado o desenvolvimento e implementação de uma política de
investigação e monitoria, incluindo o estabelecimento de um comité de avaliação de investigação), previstos no Plano
de Maneio (2011 – 2015).
(ii) Maximizar o conhecimento científico. Através do estabelecimento de programas de monitoria (e.g. tartarugas
marinhas, mamíferos marinhos, recifes de coral, actividades desportivas e recreativas), outros estudos ecológicos e
sócio-económicos. Há necessidade de se estabelecer programas de investigação e monitoria socio-económicos, além
de monitoria e avaliação periódicas de efectividade e governação. Há igualmente necessidade de consolidar os
programas de monitoria e investigação existentes.
VI
Indicadores Legais
(i) Existência de quadro político, estratégico e legal. A Reserva aplica o quadro político, estratégico e legal que
rege o sector do ambiente em Moçambique, dentro obviamente, das necessárias especificidades desta área de
conservação. O quadro legal responde aos compromissos e obrigações internacionais do país e é considerado como
abrangente e progressivo. Dentre as recomendações avançadas é de destacam-se a necessidade de regulamentação
da Lei da Conservação, a revisão e harmonização do quadro jurídico-legal ambiental e o repensar dos mecanismos de
sua implementação e divulgação.
(ii) A Coordenação jurisdicional entre as diferentes instituições do Estado, a nível central, provincial e local e,
envolvidas na gestão, conservação, aplicação da lei e na resolução de conflitos na RMPPO, é um trabalho em
progresso. Esforços para uma cooperação intra-governamental mais coesa, embora evidentes, ainda apresentam
algumas fraquezas, nomeadamente a inexistência de Diplomas Ministeriais que fortalecem esta cooperação. A
consolidação de parcerias, repensando os mandatos institucionais para evitar sobreposições de atribuições e
competências.
(iii) Definições legais. A Reserva possui clareza e consistência sobre os seus objectivos legais, plano de maneio,
plano de zoneamento e respectivas restrições de uso. Contudo, requer que as mesmas sejam actualizadas pois o seu
Plano de Maneio expirou em 2015. Assim, o processo participativo de revisão e elaboração do novo Plano de Maneio
(2016 – 2020) deverá ser iniciado com urgência..
(iv) Capacidade de aplicação: a Reserva através da ANAC, Unidade ACTF e a PPF tem contribuído para a melhoria
da capacidade de administração e fiscalização, através de meios humanos, materiais e financeiros para garantir que a
aplicação do disposto na legislação e no Plano de Maneio (2011 – 2015), seja equitativo e efectivo. Embora estes
meios não sejam os ideais, têm sido suficientes para contribuir para um esforço conjunto, entre a RMPPO, a
Delegação Marítima, Polícia, comunidades locais e sector privado. Isto já é visível em vários aspectos como a drástica
redução da condução de veículos 4x4 na praia, redução no número de tartarugas marinhas mortas e maior controlo e
fiscalização de actividades na Reserva. Dentre as várias recomendações propostas destacam-se a revisão do modelo
de fiscalização e capacidade humana e material da RMPPO e das dos diferentes parceiros, como é o caso da
Delegação Marítima da Ponta do Ouro e a promoção da participação das comunidades locais, operadores turísticos e
demais usuários na denúncia de actividades ilegais.
(v) Penalidades para dissuasã. A Reserva possui um sistema efectivo de penalização de infracções cometidas. Há
necessidade de harmonização das penalidades descritas nos diferentes dispositivos legais, bem como de promover a
sua divulgação extensiva.
VII
(vi) Condições ao direito de uso e propriedade. A Reserva possui um Plano de Zoneamento que indica claramente,
para cada uma das zonas (ex. Santuário, Uso Restrito e Uso Múltiplo).
(vii) Transparência e equidade. A Reserva possui através do seu quadro legal disposições que garantem a
transparência e equidade na gestão de processos. No entanto e, pelo facto de a maioria dos usuários da RMPPO não
possuir conhecimentos sobre os mesmos, bem como pelo facto de ainda não estarem criados fóruns dos diferentes
usuários, a RMPPO tem, através dos meios e recursos existentes identificado plataformas de diálogo informais, às
autoridades locais, comunidades locais e sector privado. Há necessidade de consciencialização jurídica dos cidadãos,
incluindo o conhecimento sobre os canais adequados para a resolução de potenciais conflitos. A criação de canais
alternativos de resolução mais célere de conflitos e mais próximos das comunidades, como a formação de paralegais
comunitários, deverá ser explorada.
Indicadores de Participação,
(i) Regra de participação. O quadro legal que rege a Reserva reconhece o valor da participação dos diferentes
usuários nos processos de tomada de decisão. Contudo, os mecanismos e regras de participação, não estão claras ou
não existem. Como resultado, as comunidades locais, muitas vezes, desconhecem os seus direitos e deveres e,
desconhecem também, que podem contribuir para uma gestão participativa, influenciando os processos de tomada de
decisão. Os operadores turísticos, principalmente aqueles que possuem interesses directos assumem um papel mais
activo sobre os processos de tomada de decisão. Recomenda-se a promoção de discussões e estruturação destas
regras e mecanismos para que sejam efectivamente incorporados na gestão.
(ii) Estabelecimento de plataformas de colaboração. A Reserva possui memorandos assinados com instituições de
investigação e gestão e promove uma relação aberta de diálogo informal com os diferentes usuários. Há necessidade
de se estabelecer fóruns comunitários e de operadores, bem como aumentar o efectivo de oficiais comunitários para
promover o trabalho que a Reserva está a desenvolver, através de estratégias de ligação e comunicação para garantir
o maior envolvimento dos diferentes usuários.
(iii) Processos de participação e de tomada de decisão transparentes. A revisão aos Planos de Maneio da REM e
da RMPPO foi um processo participativo e contou com a participacão de grupos de usuários nomeadamente: governo,
organizações não-governamentais, sector privado e comunidades locais.
VIII
LISTA DE ABREVIATURAS
AC Área de Conservação
ACTF Área de Conservação Transfronteiriça
ACTFL Área de Conservação Transfronteiriça do Lubombo
ADNAP Administração Nacional de Pescas
AICM Associação para a Investigação Costeira e Marinha
AFAs Áreas Fundamentais de Acção
AMP Área Marinha Protegida
ANAC Administração Nacional das Áreas de Conservação
APA Área de Protecção Ambiental
APP Área de Protecção Privada
APITs Área Prioritárias para o Desenvolvimento do Turismo
AZC Associação Comunitária Ahi Zameni Chemucane
BioFund Fundação para a Conservação da Biodiversidade
CCP Centros Comunitários de Pesca
CDB Convenção da Diversidade Biológica
CEPF Critical Ecosystem Partnership Fund
CIA Central Intelligence Agency – Agência de Inteligência Central
CTV Centro Terra Viva
CPUE Capturas por Unidade de Esforço
DNAC Direcção Nacional de Áreas de Conservação
EAME Eastern Africa Marine Ecoregion
EBMI Estação de Biologia Maritíma da Ilha da Inhaca
FFP Fundo de Fomento Pesqueiro
FUNAB Fundo Nacional do Ambiente
GEF Global Environmental Facility – Agência Mundial para o Ambiente
IDEPA Instituto de Desenvolvimento de Pesca Artesanal
IDPPE Instituto de Desenvolvimento de Pesca de Pequena Escala
IIP Instituto Nacional de Investigação Pesqueira
INAMAR Instituto Nacional da Marinha
iSWP iSimangaliso Wetland Park – Parque Húmido de iSimangaliso
LSDI Lubombo Spatial Development Initiative – Iniciativa de Desenvolvimento Espacial do Lubombo
MADER Ministério da Agricultura e Desenvolvimento Rural
MAE Ministério de Administração Estatal
MICOA Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental
MINAG Ministério da Agricultura
MITADER Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural
MITUR Ministério do Turismo
MO Memorando de Operações
IX
MOZBIO Programa de Áreas de Conservação para a Biodiversidade e Desenvolvimento
MTC Ministério de Transportes e Comunicações
ONG Organização Não Governamental
ORI Oceanographic Research Institute – Instituto de Investigação Oceanográfico
OSC Organização da Sociedade Civil
PM Plano de Maneio
PN Parque Nacional
PNB Parque Nacional do Bazaruto
PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
PPF Peace Parks Foundation – Fundação dos Parques da Paz
RGA Relatório Anual de Governação Ambiental
REM Reserva Especial de Maputo
REPMAR Regulamento Geral de Pesca Marítima
RMPPO Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro
RN Reserva Nacional
RP Reserva Parcial
UEM Universidade Eduardo Mondlane
UICN União Internacional para a Conservação da Natureza
UNDP United Nations Development Programme – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization – Organização das Nações Unidas para a
Educação, Ciência e Cultura
WWF Fundo Mundial para a Natureza
X
TABELA DE CONTEÚDOS
XI
LISTA DE TABELAS
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE ANEXOS
XII
AGRADECIMENTOS
O Centro Terra Viva agradece a todas as pessoas e instituições que contribuíram directa ou indirectamente com o
seu valioso conhecimento para a elaboração da terceira edição do Relatório Anual de Governação Ambiental. O
CTV agradece também aos autores das fotografias gentilmente cedidas e aos seus parceiros, nomeadamente à
Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro, Administração Nacional de Áreas de Conservação, Cooperação Suiça,
Programa Agir, Embaixadas da Suécia e Dinamarca e à We Effect. Muito obrigado!
1.1 Antecedentes
O Centro Terra Viva (CTV) é uma instituição não governamental moçambicana ligada ao sector de estudos e
advocacia ambiental, cuja missão é a de contribuir para uma melhor fundamentação técnico-científica das decisões
ambientais, para que os apelos à participação pública na gestão ambiental incluídos nas políticas, estratégias e na
legislação ambiental nacional sejam respondidos positivamente por uma sociedade civil com capacidade para fazer
contribuições informadas e relevantes nesta área (CTV, 2012a).
Nos últimos anos, o Relatório Anual de Governação Ambiental (RGA), tem sido um dos principais instrumentos da
instituição para estudar e avaliar a governação e gestão dos recursos naturais e ambiente em Moçambique e, tem
como objectivo documentar os desafios e progressos do país em matéria de gestão ambiental e desenvolvimento
sustentável através da documentação e análise da realidade legal, política e social. Como resultado, o CTV
produziu dois Relatórios que focaram a sua atenção em aspectos ligados aos modelos políticos, legais e
institucionais de gestão ambiental, gestão ambiental urbana e direitos de uso e aproveitamento de terras pelas
comunidades em relação a grandes projectos de investimento.
O presente RGA, relativo ao ano de 2015, irá focar nos modelos adoptados, sucessos e desafios na governação e
gestão das Áreas de Conservação (ACs) marinhas e costeiras em Moçmabique, com principal destaque para a
Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro (RMPPO), componente integral da primeira Área de Conservação
Transfronteiriça (ACTF) marinha em África, a ACTF Ponta do Ouro – Kosi Bay.
“Sistema de liderança que assenta num modelo institucional responsável, que integra os cidadãos no
processo de tomada de decisões sobre as questões de ambiente e recursos naturais, que assegure a
precaução de impactos susceptíveis de causar danos ambientais e sociais, que privilegie a feitura e
correspondente implementação plena de um quadro jurídico-legal bom, adequado, justo e eficaz, dirigido
a garantir a gestão sustentável dos recursos naturais, e o acesso à justiça e à equidade na partilha de
benefícios decorrentes do uso de tais recursos naturais” (CTV, 2012b).
O conceito de governação tem vindo a evoluir gradualmente e a sua aplicação é vasta em diversos sectores e
contextos (Graham et al., 2003), incluindo as Áreas Marinhas Protegidas (AMPs) (Weigel et al., 2011; Jones et al.,
2011; 2013). Isto é, a norma de um governo com uma estrutura hierárquica de comando e controlo, tem vindo a ser
progressivamente substituída por um conceito de governação que envolve a participação preponderante dos
demais grupos da sociedade nos processos de tomada de decisão (Graham et al., 2003; Weigel et al., 2011). No
geral, a governação é um processo onde processos, indivíduos ou instituições exercem os seus mandatos para
atingir objectivos desejados, tendo como base os cinco princípios de boa governação desenvolvidos pelo
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD): Legitimidade e Voz, Direcção, Desempenho,
Prestação de Contas e Justiça (Graham et al., 2003). Reconhece-se que estes princípios se podem sobrepor e,
podem até, ser conflituosos. Reconhece-se também, que a sua aplicação pode ser complexa e, que não versando
apenas sobre os resultados obtidos, mas também sobre a forma como este poder é exercido (Graham et al., 2003).
Consequentemente, este conceito de governação aplica-se às ACs, onde existe uma necessidade de gerir uma
variedade de usuários, a diferentes níveis, que possuem vários poderes e interesses, por vezes conflituosos
(Brown et al., 2001), e cujas actividades desenvolvidas e impactos no meio ambiente são também diferentes
(Jones et al., 2011; 2013). Importante salientar que a abordagem de governação é diferente da abordagem de
gestão: a atenção não está na identificação de soluções técnicas e económicas para problemas socio-políticos,
mas sim sobre as relações de poder entre os diversos grupos alvo que determinam a aplicação de regras e normas
(Weigel et al., 2011).
Por estes motivos, Jones et al. (2011; 2013) propõe uma definição abrangente de governação ambiental:
“Direccionar o comportamento humano por meio de uma combinação de pessoas, Estado e incentivos de
mercado para atingir objectivos estratégicos”.
O conceito acima reitera a necessidade de coerência e sinergia de três grandes indicadores de governação
ambiental, que se aplicam especificamente à governação efectiva das AMPs, destacando: (i) a necessidade de
controlo pelo Estado, através de clareza de políticas, estratégias, leis e regulamentos, para garantir a conservação
da biodiversidade e a gestão dos recursos naturais; (ii) a necessidade de reconhecimento do direito costumeiro de
propriedade, acesso e uso dos recursos naturais pelas comunidades locais e, a aplicação de estratégias de
participação dos diferentes usuários, com especial destaque para as comunidades locais, nos processos de
tomada de decisão, como forma de descentralizar os processos e emponderar as mesmas; (iii) a necessidade de
3
aplicação de políticas de desenvolvimento socioeconómico (Jones et al. 2011; Weigel et al., 2011; Jones et al.
2013; Bennet & Dearden, 2014). No geral, a governação é vista como mais que um governo. A governação é um
conjunto de leis e costumes, formais e informais, de toda uma sociedade (McCay & Jones, 2011).
A definição de Jones et al. (2011; 2013), de uma forma directa ou indirecta, aplica-se às recomendações que
advieram da “Declaração de Joanesburgo”, resultante da Cimeira das Nações sobre o Desenvolvimento
Sustentável, em 2002, e no 5O Congresso Mundial de Parques, de Durban, em 2003. No geral, recomendava-se o
reconhecimento da governação nas ACs e a aplicação de factores sociais, culturais, económicos e institucionais na
conservação, com o objectivo de aumentar o envolvimento cooperativo e coordenado de redes de organizações da
sociedade civil em processos participativos de tomada de decisão (Weigel et al., 2011; Bennet & Dearden, 2014).
A governação ambiental em Moçambique é um tema novo e, que tem sido, muitas vezes, secundarizado (CTV,
2012b), embora algumas componentes da governação tenham sido reconhecidas e adquirido relevância, como é o
caso da delegação de poderes (e.g. licenciamento e fiscalização) e âmbito de implementação (e.g. central ou
local). A boa governação ambiental é um vector de melhoria da qualidade de vida e, consequentemente, um vector
de desenvolvimento (CTV, 2012b). Tal como destacado no Relatório de 2012, é urgente que a liderança
governamental, no sector do meio ambiente, integre o cidadão nos processos de aprovação e tomada de decisão.
“Qualquer área de terreno entre-marés, que juntamente com as massas de água a que se sobrepõem,
flora e fauna associada e características históricas e culturais, foi reservada por lei ou por outros meios
efectivos para proteger parte ou totalmente um ambiente fechado” Resolução 17.38 da Assembleia Geral
da União Internacional para a Conservação da Natureza - IUCN (1988) reafirmada na Resolução 19.46
(1994).
As AMPs variam de acordo com o objectivo de conservação e o nível de protecção (Lubchenco et al., 2003). Como
resultado, existem várias categorias, embora por vezes não claras, de AMPs: parques, reservas e santuários,
sendo que as mesmas podem ser classificadas como de protecção total, protecção parcial ou de uso múltiplo.
Consequentemente, o contributo das diferentes categorias de AMPs e os benefícios que advêm do seu
estabelecimento são distintos (Lester & Halpern, 2008). As AMPs são comummente advogadas com instrumentos
4
de conservação da biodiversidade e provisão sustentável de recursos naturais (Halpern, 2003; Lubchenco et al.,
2003; Roberts et al., 2003). Porém, é vasta a literatura que analisa os potenciais benefícios sociais, económicos e
ecológicos que podem advir das AMPs. Ângulo-Valdés & Hatcher (2010) identificaram um total de 99 benefícios,
que se subdividem em potenciais benefícios antropogénicos e ecológicos, directos e indirectos. Importante
salientar, que a maioria destes benefícios não foi, ainda, demonstrada por evidências empíricas, mas por análise
lógica de pensamento (Ângulo-Valdés & Hatcher, 2010).
Todavia, social e economicamente, os potenciais benefícios a destacar são a manutenção e restauração dos
mananciais de pesca de subsistência, recreativa e comercial, desenvolvimento do turismo, criação de alternativas
de rendimento económico e empoderamento das comunidades locais.Também existem vários benefícios
ecológicos largamente comprovados e demonstrados, como a redução de ameaças ou recuperação de espécies
ameaçadas e vulneráveis, recuperação de ecossistemas afectados por impactos naturais e humanos, o aumento
da abundância e diversidade de determinadas espécies (Lester et al., 2009; Selig & Bruno, 2010; Tyler et al., 2011;
Kerwath et al., 2011; da Silva et al., 2015), resultando no efeito de “spillover”1 (Buxton et al., 2014).
De acordo com Daly (2013), estes benefícios ecológicos, a longo prazo, podem potencialmente, desencadear
benefícios socioeconómicos, através do desenvolvimento do sector das pescas, do turismo e de outros sectores
que beneficiam a economia como um todo. No entanto, a nível local, estes benefícios socioeconómicos podem
variar e não serem tão directamente proporcionais, como seria de esperar. Por exemplo, no caso do turismo,
embora possa trazer benefícios sociais e económicos à larga escala, o grau de envolvimento e os consequentes
benefícios que provêm desta actividade de geração de rendimento a favor da comunidade são presumivelmente
menores (Bennet & Dearden, 2014). O estabelecimento de reservas marinhas é vista por muitos com controvérsia,
especialmente em zonas de elevado índice de pobreza, onde as comunidades costeiras dependem da pesca como
fonte de proteína (da Silva et al., 2015). O pressuposto que as AMPs podem e devem trazer benefícios
simultâneos para a conservação e para o desenvolvimento, satisfazendo assim as necessidades e prioridades dos
conservacionistas, governos, pescadores, operadores turísticos e comunidades locais, está a tornar-se num
paradigma dominante (Bennett & Dearden, 2014). No entanto, o alcance deste pressuposto é mais complexo na
realidade do que na teoria (Daly, 2013; Bennett & Dearden, 2014) pois os benefícios acima descritos podem, na
maioria dos casos, resultar em controvérsia e em conflito entre os diferentes grupos de interesse (Christie et al.,
2003; Christie, 2004). Mais concretamente, podendo excluir pescadores à custa de operadores turísticos e turistas.
Neste âmbito, as AMPs enfrentam vários desafios durante a sua concepção e estabelecimento, mas também
posteriormente, durante o seu funcionamento (Fenessy & van der Elst, 2004), levando a que a sua efectividade
para o alcance dos potenciais benefícios, acima descritos, seja questionada (Christie et al., 2003; Christie, 2004;
Weigel et al., 2011; Jones et al., 2013), especialmente em países em vias de desenvolvimento (Rosendo et al.,
1
O efeito de “spillover” refere-se ao movimento de adultos e juvenis de zonas restritas para zonas circundantes, resultando no aumento da
abundância nestas zonas.
5
2011; da Silva et al., 2015). Embora a análise da efectividade das AMPs consista em medir principalmente
resultados e impactos, estudos recentes sugerem que as AMPs podem, sim, resultar em benefícios se os inputs
certos, dentre eles o estabelecimento de uma estrutura de governação integrada, forem também tomados em
consideração (Bennet & Dearden, 2014; D´Anna et al., 2015).
Moçambique está localizado na costa oriental de África, entre as latitudes 10o20´S e 26o50´S (Hoguane, 2007). A
linha de costa tem uma extensão de aproximadamente 2470 km (CIA, 2016), tornando-a uma das mais longas
extensões de costa do este de África (Hoguane, 2007). A costa é caracterizada por ecossistemas e espécies de
diversidade e endemismo elevado (Bandeira et al., 2002; Pereira et al., 2014), oferece uma variedade de recursos
naturais que contribuem para o desenvolvimento social e económico de aproximadamente dois terços da
população (Hoguane et al., 2012) através das principais actividades de rendimento: pesca, agricultura, comércio e
turismo (Hoguane, 2007). Contudo, Moçambique é um dos países mais pobres, com aproximadamente 60% da sua
população a viver em pobreza absoluta (<US$2/dia), nas zonas rurais e dependente da agricultura de subsistência
(UNDP, 2016; Tabela 1). Embora se tenha notado um crescimento económico acentuado, este não se tem
traduzido na redução da pobreza, principalmente nas zonas costeiras (UNDP, 2016).
Indicador Número
População (est.) 26.473.000
Densidade populacional (por km2) 33.00
População rural (%) 31.9
Produto doméstico bruto (USD) 605
População abaixo da linha de pobreza (1.25 USD/dia; %) 59.58
Índice de produção agrícola 157
Taxa de desemprego (%) 8.3
Educação (m/f per 100) 73.3/80.7
Apesar da sua longa história de conflito e crise económica pós independência, Moçambique reconheceu sempre a
importância e a necessidade da conservação dos recursos naturais terrestres e marinhos. Nas décadas de 1960 e
1970, o Governo colonial declarou oficialmente parques nacionais, reservas e coutadas (Soto, 2009), sendo de
destacar para a componente marinha, as mais antigas reservas, nomeadamente, as Reservas Marinhas da Ilha da
Inhaca e dos Portugueses, e o Parque Nacional do Bazaruto (PNB; Tabela 2). Aquando da independência, em
1975, a Constituição de Moçambique foi ratificada, e adoptava com determinação de que os recursos naturais
eram directamente controlados pelo Estado. A guerra civil, reduziu a capacidade do Governo de gerir as áreas
6
protegidas, resultando no uso indiscriminado e na sua drástica redução dos recursos nela existentes (Soto, 2009).
A guerra civil trouxe também uma grande pressão sobre os recursos costeiros e marinhos, pois milhares de
pessoas tiveram de sair das suas zonas de origem, dentre outras zonas, para as zonas costeiras à procura de
maior segurança e estabilidade (Gaspar, 2008).
Em 1992, e embora o país encarasse ainda grandes desafios na sua recuperação dos efeitos de uma guerra civil
prolongada, a participação de Moçambique na Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e
Desenvolvimento, contribuiu para que o governo desse passos significativos para a reafirmação do seu
cometimento em relação a acordos internacionais na gestão sustentável dos recursos (Gaspar, 2008). Resultando
na aprovação de politicas, estratégias, leis e regulamentos como forma de fortalecer o quadro jurídico ambiental
(Gove, 2008; Salomão, in prep.; Serra, in prep.) e no fortalecimento, reabilitação, declaração de novas áreas de
conservação (Gove, 2008; Soto, 2009; Serra, in prep.). Esta última, com o propósito de contribuir para a criação e
desenvolvimento de uma rede nacional de áreas de conservação, representativas da biodiversidade do país (Gove,
2008; Salomão, in prep.; Tabela 2).
Como mencionado, os esforços do governo são evidentes para cumprir com os seus compromissos internacionais,
principalmente no alcance das resoluções estabelecidas na Convenção da Diversidade Biológica (CDB), no que
concerne ao alcance da meta de protecção de 10% da área global das áreas costeiras e marinhas até 2020 (COP
10 Target https://www.cbd.int/sp/targets/rationale/target-11/). Actualmente, em Moçambique, as AMPs cobrem uma
superfície total de 20 462 km2, dos quais 8 633 km2 constituem habitats marinhos (Pereira et al., 2014; Tabela 2).
Para além destas iniciativas a nível nacional, o governo tem envidado esforços para a conservação transfronteiriça
através da criação de ACTFs ou, como vulgarmente conhecidos, Parques da Paz, após o período da guerra civil,
com o objectivo de regenerar a biodiversidade e promover o desenvolvimento económico local (PPF, 2016). As
ACTFs são “áreas relativamente vastas, que partilham fronteiras entre dois ou mais países, e abrangem sistemas
naturais que incluem uma ou mais ACs, estabelecendo assim, ligações permanentes entre estas áreas” (PPF,
2016). No total, foram criadas três ACTFs, das quais é de destacar a Área de Conservação e de Recurso
Transfronteiriça do Lubombo (ACTFL). No ano 2000, foi assinado um protocolo de cooperação entre os três países
parceiros, nomeadamente a África do Sul, Moçambique e Swazilândia.
7
Tabela 2. Áreas marinhas protegidas em Moçambique (Fonte: Biofund, 2015).
No entanto, e apesar do trabalho assinalável e significativo, a experiência tem mostrado que ainda existem
desafios. Um dos grandes desafios é o uso da conservação como instrumento de promoção do desenvolvimento e
de combate à pobreza (Gove, 2008; Salomão, in prep.). Isto é, os desafios para a inclusão e participação efectiva
das comunidades locais na gestão e conservação dos recursos naturais, e para a partilha equitativa dos benefícios
económicos gerados pelas receitas arrecadadas. Rosendo et al. (2011) acrescenta que a participação pode
contribuir, directa ou indirectamente, para melhorar o alcance dos objectivos sociais e ecológicos das AMPs,
através do desenvolvimento do sentido de propriedade e cumprimento das normas e regulamentos de gestão e
conservação. Para superar este desafio, é importante desenvolver mecanismos de articulação entre o
estabelecimento de áreas de conservação, a protecção dos direitos das comunidades locais e o enquadramento
dos diferentes sectores da economia, como a pesca, a agricultura e o turismo, para garantir a promoção do
desenvolvimento integrado da zona costeira e marinha (Gove, 2008).
Com a recente aprovação da Lei de Conservação (Lei no 16/2014, de 20 de Junho), a criação da Administração
Nacional das Áreas de Conservação (ANAC), e o surgimento do programa MozBio que visa apoiar as áreas de
conservação, existe todo um quadro legal e institucional mais solidificado, que estabelece os pilares de
sustentabilidade, permitindo a aplicação de um sistema de governação que irá contribuir para o desenvolvimento,
fortalecimento e consolidação das áreas de conservação em Moçambique.
8
1.5 Objectivos
Objectivo Geral
O objectivo geral do presente relatório é analisar o modelo e experiências de governação e gestão
actualmente em vigor na Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro como forma de contribuir com dados
para o alcance dos objectivos de conservação e desenvolvimento local.
Objectivos Específicos
Os objectivos específicos são:
Avaliar a efectividade do modelo de governação com base em indicadores económicos, de interpretação,
de conhecimento, de legalidade e de participação; e
Propor recomendações para a melhoria do modelo de governação, onde se julgar necessário.
9
10
Capítulo 2. METODOLOGIA
A preparação do presente relatório baseou-se em três fases distintas. A primeira fase consistiu na recolha, análise
e síntese da documentação existente sobre a governação em AMPs a nível global, sobre o quadro institucional e
legal nacional, sobre os atributos ecológicos, sociais e económicos das áreas de conservação em Moçambique,
com especial enfoque para a Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro (RMPPO). A revisão documental baseou-
se em literatura publicada e não publicada. A segunda fase, consistiu na recolha de dados primários, em forma de
entrevistas. As entrevistas tiveram como base as categorias de indicadores desenvolvidos por Jones et al. (2011;
2013; Tabela 3, Anexo 1 a 5).
Tabela 3. Categoria de indicadores usados para avaliar o sistema de governação (Fonte: Jones et al., 2011; 2013).
Económicos (10)* Aplicar estratégias de direito económico e de propriedade para promover o alcance dos
objectivos da AMP.
Conhecimento (3) Promover e respeitar o uso de diferentes fontes de conhecimento (e.g. tradicional e científico)
para melhorar os processos de tomada de decisão da AMP.
Legal (10) Promover o estabelecimento e aplicação de legislação e regulamentos relevantes para garantir
a conformidade com os processos de tomada de decisão e garantir as obrigações da AMP.
Participativo (10) Promover a participação dos vários grupos de interesse (e.g. comunidades locais, sector
privado, governo, organizações da sociedade civil) e influenciar os processos de tomada de
decisão.
* (#) refere-se ao número de indicadores por categoria
(i) A recolha de dados primários não foi exaustiva devido ao factor tempo. A recolha de informação
primária foi apenas representativa dos diferentes grupos de usuários, e em determinadas áreas da
RMPPO
(ii) A falta de conhecimento, por parte das comunidades locais e também de alguns operadores
turísticos, sobre a RMPPO, não permitia abordar todas as questões e, não permitia grandes
desenvolvimentos às respostas dadas.
12
c
13
Capítulo 3. ÁREA DE ESTUDO
Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro
A RMPPO está localizada ao longo da costa Sudoeste da Província de Maputo, no Sul de Moçambique, fazendo
parte integrante do Distrito de Matutuíne e da Cidade de Maputo, mais concretamente do Distrito Municipal de
KaNyaka (Figura 1). A Reserva tem uma superfície total de 678 km2 e estende-se a Sul, desde a fronteira com a
África do Sul, passando pelo Cabo de Santa Maria, a Norte, numa distância de 86 km, até à foz do Rio Maputo, na
Baía de Maputo. A RMPPO estende-se também da linha de maré alta, seguindo o contorno da base das dunas, até
3 milhas náuticas no Oceano Índico e 1 milha náutica para o interior da Baía de Maputo, incluindo as águas
circundantes da Ilha da Inhaca e Ilha dos Portugueses (DNAC, 2011).
A declaração da RMPPO remonta ao reconhecimento prévio, pela comunidade científica, do valor em termos de
biodiversidade e endemismo presentes na linha de costa que se estende da Ilha da Inhaca, em Moçambique, até
ao Cabo de Santa Lúcia, na África do Sul. A diversidade de ecossistemas e espécies existentes nesta região é
elevada, sendo importante enumerar os seguintes: recifes rochosos colonizados por corais, florestas de mangal,
bancos de ervas marinhas, praias arenosas, plataformas rochosas, dunas costeiras e lagoas costeiras. Em termos
de espécies existe uma grande diversidade de peixes, invertebrados, mamíferos marinhos, tartarugas marinhas e
aves migratórias (; Pereira, 2004; Bandeira & Paula, 2014; Pereira et al., 2014). Duas áreas de conservação foram
proclamadas no período colonial, a primeira, a Reserva dos Elefantes (1936), agora denominada por Reserva
Especial de Maputo (REM), e as Reservas Marinhas da Ilha da Inhaca (1965). Por outro lado, 13 áreas de
conservação foram estabelecidas na Árica do Sul, incluindo 5 Áreas Ramsar e 1 área de Património Mundial da
Humanidade pela UNESCO, o iSimangaliso Wetland Park (Jopela, 2012).
Outro motivo foi a necessidade de cumprir e responder aos objectivos da CDB, que requerem, até certo ponto,
esforços conjuntos a nível nacional e internacional (Guerreiro et al., 2011). Uma destas iniciativas, resultou, em
2004, no reconhecimento do Complexo Baía de Maputo-Machangulo, como sendo um hotspot de biodiversidade
de importância global pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF), dentro da Ecoregião Marinha da África Oriental
(Eastern Africa Marine Ecoregion – EAME)( Gove, 2008; Guerreiro et al., 2011; Pereira et al., 2014). Isto poderá ter
contribuído para o estabelecimento da ACTF Ponta do Ouro – Kosi Bay, entre Moçambique e a África do Sul. Esta
ACTF interliga a linha costeira de Moçambique, entre a Ilha da Inhaca e a Ponta do Ouro, e a linha costeira da
África do Sul, que inclui o iSimangaliso Wetland Park (iSWP) (Jopela, 2012).
O Conselho de Ministros proclamou a RMPPO nos termos da Lei das Pescas (Decreto 3/90, Artigos 35 e 69, de 26
de Setembro 1990), em conjunção com o Regulamento Geral da Pesca Marítima (Decreto 43/2003, Artigo 114, de
10 de Dezembro de 2003) e suportados pela Lei do Ambiente (Decreto 20/97, Artigo 11, de 1 de Outubro 1997;
DNAC, 2011). O Decreto 42/2009 de 21 de Agosto, no seu Artigo 1.1 cria a Reserva Marinha Parcial da Ponta do
Ouro (RMPPO) com o objectivo legal “preservar e proteger as espécies marinhas, costeiras e os seus
habitats”.
Várias são as actuais e potenciais fontes de ameaça aos valores ecológicos, económicos e sociais da RMPPO. As
fontes identificadas são de origem natural, sendo de destacar as mudanças climáticas, ou antropogénica, internas
ou externas à RMPPO. Estas ameaças, combinadas, podem provocar impactos cumulativos aos ecossistemas
costeiros e marinhos como um todo, e afectar, no futuro, a sua conectividade, funcionamento e resiliência (UNEP,
2006). Ademais, existe ainda uma combinação de factores de governação, discutidos no Capítulo 6, que podem
contribuir, directa ou indirectamente, para o seu agravamento. São de salientar, embora os esforços por parte do
governo sejam já evidentes, ameaças e conflitos derivados do fraco planeamento e coordenação para a gestão
integrada do desenvolvimento costeiro, do uso limitado de medidas de avaliação de impacto ambiental para a
tomada de decisões, existência de recursos humanos limitados e da falta de incentivos suficientes para a gestão e
conservação efectiva do ambiente costeiro e marinho (Louro, 2005).
15
Figura 1. Localização Geográfica da RMPPO (Adaptado de DNAC, 2011).
16
O presente relatório não irá desenvolver a temática sobre as ameaças e impactos de forma exaustiva dada a
complexidade da avaliação de cada caso. As principais ameaças antropogénicas antropogénicas que colocam em
constante ameaça os recursos da RMPPO se não forem devidamente consideradas e geridas. Estas fontes de
ameaça são: (i) Desenvolvimento habitacional e turístico na orla costeira; (ii) Desenvolvimento industrial; e (iii) Uso
extractivo e não-extractivo de recursos naturais. Outras fontes de ameaça transversais e, de importância
reconhecida, aos ambientes costeiros e marinhos, são a poluição (Scarlet & Bandeira, 2014) e mudanças
climáticas (Mavume et al., 2014). O impacto das demais actividades sobre os ambientes costeiros e marinhos são
a erosão sobre dunas costeiras Louro, 2005; Martinez et al., 2008; Lucrezi et al., 2014; Massuanganhe, 2014),
degradação das florestas de mangal (Paula et al., 2014), dos tapetes de ervas marinhas (Bandeira 2014) e dos
recifes de coral (Pereira, 2003; Schleyer & Pereira, 2014). Por sua vez, os impactos sobre estes ecossistemas,
desencadeiam ameaças à sobrevivência de determinadas espécies de flora e fauna com estatuto de conservação,
sendo de destacar os mamíferos marinhos (e.g. dugongos) (Guissamulo, 1993; Fernando et al., 2014; Guissamulo,
2014), tartarugas marinhas (Louro et al., 2006; Louro, 2014) e aves aquáticas (Bento, 2014). Ainda, ao alterar a
produtividade e a ecologia destes ecossistemas poderá afectar outras espécies migratórias de valor comercial para
as pescas, como por exemplo o camarão branco (Fennerpenaeus indicus) e o camarão castanho (Metapenaus
monceros) (Ronnback et al., 2002).
A RMPPO engloba duas Áreas Prioritárias para o Desenvolvimento do Turismo (APITs), identificadas pela
Estratégia para o Desenvolvimento do Turismo (2004 – 2013), nomeadamente a Zona do Grande Maputo, que
inclui a Ilha da Inhaca, e Zona da Costa dos Elefantes, que inclui a Ponta do Ouro (MITUR, 2004). Nos finais dos
anos 1990 era já evidente o desenvolvimento de infra-estruturas habitacionais e turísticas ilegais sobre as dunas
costeiras na linha de costa entre a Ponta do Ouro e a Ponta Abril, era já evidente (Massinga & Hatton, 1997).
Embora a RMPPO tenha como limite de jurisdição o contorno da base das dunas primárias (DNAC, 2011), este tipo
de desenvolvimento, virado para o turismo costeiro, na sua maioria desregrado e sem um plano de ordenamento
territorial, possui uma miríade de impactos adversos. Um exemplo comprovado e, associado às mudanças
climáticas e à subida do nível do mar, é a mudança da estrutura da comunidade de vegetação dunar, resultando na
intensificação do movimento de areias, na erosão e na perda de serviços ecológicos (Martinéz et al., 2008; Lucrezi
et al., 2014).
Desde os anos 60, que a construção de um porto de águas profundas tem sido uma constante e potencial ameaça
de avultadas proporções. Apesar de ter havido sempre indícios, pouco transparentes, do seu início processual, o
Conselho de Ministros declarou, através Decreto no 57/2010, de 1 de Dezembro, no seu artigo 1, “(...) a Zona de
Protecção Parcial dedicada ao desenvolvimento do Projecto Integrado do Porto de Techobanine”. O futuro mega-
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projecto será, potencialmente, implantado entre os limites da RMPPO, mais especificamente, entre Ponta Mamoli e
Ponta Dobela, a zona sul da Reserva Especial de Maputo (REM) e atravessará o Corredor de Fúti, ocupando uma
área de 30 000 hectares (Manuel & César, 2014). O mega-projecto, no valor de aproximadamente US$ 7 billiões,
inclui a construção, manutenção e operação de um porto de águas profundas, estruturas marítimas, rede de linha
férrea, estradas extensivas e desenvolvimento de projectos satélite. Este decreto, segundo Manuel & César (2014),
deixa clara a sobreposição de interesses e a possibilidade de ocorrência de conflitos intersectoriais, com
implicações a nível nacional e internacional. O impacto de um porto de águas profundas nesta região irá ameaçar
negativa e directamente a complexidade dos ecossistemas terrestres e marinhos que compõem a ACTF Ponta do
Ouro – Kosi Bay, sendo de destacar o santuário de Techobanine, a complexa extensão de recifes de coral,
incrementado à problemática da erosão costeira que porventura pode destruir uma importante área de nidificação
de tartarugas cabeçudas e gigantes.
A necessidade do desenvolvimento sustentado de toda a região do Sul da Província de Maputo levou à assinatura
de um acordo para a implementação do Projecto Maputo/KaTembe/Ponta do Ouro que prevê, entre várias
actividades, a construção da ponte Maputo/KaTembe, numa extensão de 2 919 m e, a construção de um eixo
rodoviário, entre a Cidade de Maputo e a fronteira com a África do Sul. Este último, está dividido em três troços
principais, sendo de destacar, o Troço 2 (KaTembe/Ponta do Ouro), com uma extensão aproximada de 102 km,
ligando Bela Vista, Boane, Salamanga, Zitundo, Ponta do Ouro e fronteira (EDMS & Betar, 2011). Aquando da
realização das entrevistas aos diferentes usuários da RMPPO foram apontados vários potenciais impactos sociais,
ecológicos e económicos são vários e respectivas percepções (ver Capítulo 5.2.).
Várias são as publicações (Robertson et al., 1996; Bjerner & Johansson, 2001; Abrantes & Pereira, 2003; Pereira,
2003; 2004), que fazem referência ao grande potencial natural, que o Sul de Moçambique, especialmente a
RMPPO, oferece para o desenvolvimento de uma indústria turística com limitado uso extractivo. O uso extractivo
dos recursos naturais à menor escala inclui a pesca de subsistência, recreativa e desportiva, enquanto o uso não
extractivo compreende o mergulho recreativo, observação de megafauna marinha, desportos náuticos e
investigação científica. Estas actividades se não forem devidamente reguladas e monitoradas podem ter impactos
adversos para os valores sociais, ecológicos e económicos da RMPPO.
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19
Capítulo 4. SISTEMA DE GOVERNAÇÃO NA RMPPO
O Decreto 42/09 (Artigo 4º) da declaração da RMPPO atribui a responsabilidade de gestão, o plano de maneio e
plano de zoneamento à Direcção Nacional de Áreas de Conservação (DNAC), do Ministério do Turismo (MITUR).
Actualmente, a DNAC denomina-se por Administração Nacional de Áreas de Conservação (ANAC) e é
subordinada ao Ministério da Terra Ambiente e Desenvolvimento Rural (MITADER). O MITADER deverá
estabelecer mecanismos estratégicos externos e internos de co-gestão e cooperação intra-governamental para a
coordenação de projectos e a operacionalização das acções de gestão (DNAC, 2011). Estes mecanismos
traduzem-se no estabelecimento de um Comité Directivo e de Memorandos de Operações (MOs) com os demais
ministérios e instituições de tutela (DNAC, 2011; Figura 2).
Figura 2. Estrutura do quadro institucional externo de governação da RMPPO (Adaptado: DNAC, 2011).
Figura 3. Estrutura do quadro institucional interno de governação da RMPPO (Adaptado: DNAC, 2011).
O quadro político, estratégico e legal ambiental que se aplica ao estabelecimento, protecção, governação e gestão
da RMPPO, é o mesmo quadro legal aplicado a nível nacional e tem como base os acordos e convenções
internacionais ratificados por Moçambique. O quadro legal ambiental nacional integra, de forma abrangente, os
diferentes sectores ambientais, contendo instrumentos legais, políticos e estratégicos necessários para a gestão
sustentável dos recursos naturais, incluindo, a conservação da biodiversidade (Anexo x). Este mesmo quadro legal
será analisado, com mais detalhe, no Capítulo 5.
21
4.4 Plano de Maneio
O Plano de Maneio (2011 – 2015) foi desenhado com base nas directrizes internacionais da União Internacional
para a Conservação da Natureza (UICN), incorporando os dispositivos legais do quadro ambiental nacional (DNAC,
2011). O mesmo plano de maneio é um dispositivo de gestão que serve para divulgar informação relevante sobre
os valores ecológicos, sociais e económicos, sobre a sua finalidade, bem como sobre os mecanismos de operação,
gestão e governação da RMPPO, a todas as partes interessadas e afectadas, incluindo comunidades locais e
instituições de gestão. O Plano de Maneio (2011 – 2015) possui Áreas Fundamentais de Acção (AFAs), com
objectivos específicos, que constituem a base para a implementação de acções de gestão (DNAC, 2011; Tabela
4). Integrado ao Plano de Maneio (2011 – 2015) está o plano de zoneamento que visa apoiar o controlo espacial
das actividades praticadas na RMPPO, listando as actividades permitidas e não permitidas em três áreas, com as
seguintes categorias: (i) Zona de Santuário, (ii) Zona de Uso Restrito, e (iii) Zona de Uso Múltiplo (DNAC, 2011).
Tabela 4. Objectivos das Áreas Fundamentais de Acção (AFAs) (Fonte: DNAC, 2011).
22
23
Capítulo 5. ANÁLISE DO SISTEMA DE GOVERNAÇÃO
O presente capítulo apresenta uma análise ao sistema de governação da RMPPO com base nas categorias dos
cinco indicadores adoptados e descritos no Capítulo 3. A análise destes indicadores baseia-se nas seguintes
questões, por cada categoria de indicadores:
(i) Quais são os indicadores aplicados e como é que são aplicados?
(ii) Quais os indicadores aplicados que requerem melhorias realísticas na sua aplicação?
(iii) Quais os indicadores não aplicados e que necessitam de ser introduzidos prioritariamente?
Propósito do Indicador
A categoria de indicadores económicos pretende aferir até que ponto são aplicadas abordagens económicas e de direito de propriedade para
promover o cumprimento dos objectivos da Área Marinha Protegida (AMP).
Tal como descrito no Capítulo 3, a categoria de indicadores económicos possui 10 indicadores (Anexo 1). Destes
10 indicadores, os seguintes indicadores são aplicados na Reserva:
A RMPPO é uma reserva que permite o desenvolvimento de uma variedade de actividades económicas
sustentáveis (e.g pesca de subsistência, pesca desportiva e recreativa, mergulho, observação de baleias e
golfinhos, entre outras; DNAC, 2011) Estas actividades são devidamente reguladas pelo Plano de Maneio (2011-
2015) e suportadas pela legislação aplicável.
Em relação à actividade de pesca é importante, clarificar os tipos de pesca que são permitidos dentro dos limites
da RMPPO. O artigo 112, ponto 3, do Regulamento Geral de Pesca Marítima (REPMAR, Decreto no43/2003, de 10
de Dezembro) menciona que “Nas reservas marinhas de carácter parcial podem ser exercidas a pesca de
subsistência, a pesca artesanal e a pesca recreativa e desportiva, desde que não prejudiquem as espécies a
proteger”. Por sua vez, o Decreto no 42/2009, no no2, alínea a, estabelece a proibição da pesca semi-industrial e
industrial. Porém, o Plano de Maneio (2011 – 2015) acresce ainda a proibição da pesca comercial (DNAC, 2011).
O que claramente implica que, a pesca artesanal, definida pelo Regulamento Geral de Pesca Marítima (Decreto
no43/2003, de 10 de Dezembro), no artigo 101, como sendo “(…) efectuada na área sob jurisdição da
Administração Marítima em que se realiza as operações de pesca, com carácter local, produzindo excedentes
No entanto, um aspecto primordial que se deve ter em consideração, é que antes do estabelecimento desta
reserva, a pesca artesanal era já uma práctica comum das comunidades pesqueiras que vivem adjacentes aos
limites da região da RMPPO e, que dependem integralmente dos recursos pesqueiros, principalmente dos recursos
pesqueiros da Baía de Maputo, para o seu desenvolvimento social e económico (Ernebrand, 2012; Inácio et al.,
2014). Actualmente, nos limites da RMPPO existem 13 Centros de Pesca Comunitários (CCPs), distribuídos entre
três grandes áreas: (i) Ponta do Ouro (1); (ii) Península de Machangulo (4); e (iii) Ilha da Inhaca (8) (IDPPE, 2013;
Tabela 5). Book (2012) procedeu à avaliação do impacto do estabelecimento da RMPPO sobre os pescadores
artesanais da Ilha da Inhaca e identificou que 48% dos principais locais de pesca encontram-se dentro dos limites
e 24% encontram-se sobre os limites da reserva. Como resultado, as comunidades de pescadores que dependem
destes locais de pesca serão grandemente afectados, principalmente os pescadores que não possuem barcos de
pesca para se poderem deslocar para fora dos limites de pesca, bem como as mulheres que colectam
invertebrados nas zonas entre-marés (Book, 2012).
Conforme reportado, os pescadores artesanais reconhecem que os recursos pesqueiros estão em declínio e que
medidas de gestão devem ser aplicadas (Rosendo et al., 2011; Ernebrand, 2012; Book, 2012). Porém, por vezes,
os pescadores artesanais sentem-se excluídos devido ao tipo de restrições impostas aquando da criação das
AMPs, o que cria a percepção que estas mesmas restrições tendem a favorecer apenas os operadores turísticos e
os turistas (Christie, 2004). As comunidades de pescadores artesanais de Ndelane, na Península de Machangulo,
aquando do processo de planeamento da criação da RMPPO não apoiavam o estabelecimento da reserva pelos
problemas que enfrentam nas reservas marinhas das Ilhas da Inhaca e Portugueses (Rosendo et al., 2011).
Algumas comunidades pesqueiras afirmam que determinadas restrições para o estabelecimento das AMPs têm
como propósito resolver problemas pelas quais não são directamente responsáveis (Rosendo et al., 2011). De
acordo com estes mesmos pescadores, a pressão sobre os recursos pesqueiros advém principalmente da pesca
de arrasto de camarão que opera consistentemente, após a abertura da época de defeso, longe da costa (Rosendo
et al., 2011). Comunidades de pescadores artesanais de Mabuluco afirmam que arrastões da pesca semi-industrial
operam próximo ao santuário do Estuário do Rio Bembi (R. Fernandes, com. pess.) Isto poderá resultar,
inevitavelmente, em potenciais desacordos entre estas comunidades pesqueiras (e.g comunidades da Península
de Machangulo e Ilha da Inhaca) e as autoridades de gestão e conservação, conforme descrito abaixo no Indicador
Legal 8 – Transparência e Equidade. Os potenciais motivos que poderam impulsionar a geração destes conflitos
são: (i) potencial necessidade de compra de novo equipamento de pesca/artes de pesca pelos pescadores; (ii)
restrições nas espécies capturadas (e.g espécies demersais); e (iii) redução do seu rendimento (Ernebrand, 2012).
25
Se estes conflitos não forem devidamente abordados, podem levar à sua agudização e, consequentemente à
marginalização e aumento da vulnerabilidade das comunidades pesqueiras artesanais (Gove, 2008; Rosendo et
al., 2011).
Matutuíne Ndelane 6 13
Ngomene 2 15
Mabuluco 3 5
Santa Maria 23 32
Ponta do Ouro 13 26
Total 13 87 157
Todavia, a RMPPO reconhece o valor da pesca artesanal para os membros das comunidades pesqueiras
adjacentes e, está, de forma gradual, a identificar, junto ao sector das pescas (e.g IIP e ADNAP) e organizações
não-governamentais (e.g CTV, RARE), mecanismos para garantir a aplicação de uma pesca sustentável. O
Administrador da Reserva explica:
“Vamos iniciar um projecto para perceber qual é o tamanho da comunidade de pescadores, quando eu
falo de pescadores não é só pescadores de peixes, tem também as senhoras que colectam bivalves e
caranguejos. Temos de ter noção de qual é o uso do recurso natural naquela área para estabelecermos
limites e regras e, temos que encontrar formas de compensar, caso essas regras levem a uma diminuição
das capturas para preservação. Aquela área, é uma área de uso múltiplo. Portanto, em nenhum momento
as pessoas vão ser proibidas a ter acesso ao recurso. O que vai acontecer é que temos que regular esse
acesso e, numa fase inicial poderá conduzir à perda de ganhos por parte desses pescadores. Então é
preciso encontrar alternativas. Neste momento temos um consultor a preparar um estudo de viabilidade.
Não vamos tomar medidas sem ter a certeza que podemos compensar”.
Conforme discutido no Capítulo 4, a pesca recreativa e desportiva é o segundo maior atrativo turístico na RMPPO
e pode ser dividida em três principais tipos de pesca: (i) pesca de alto mar; (ii) pesca de margem; e (iii) pesca
26
submarina (Pereira & van der Elst, 2014). No seu artigo 1, o Regulamento de Pesca Recreativa e Desportiva
(Decreto no51/99, de 31 de Agosto) define a pesca desportiva como sendo “a actividade de pesca exercida sem
fins lucrativos por um pescador amador de acordo com regulamentos internacionais e regulamentos específicos de
concursos de pesca desportiva”; e pesca recreativa como sendo “a actividade de pesca sem fins lucrativos, por um
pescador amador, fora de concursos de pesca desportiva”. Por último, a pesca submarina é aquela praticada por
pessoas em flutuação na água ou em imersão, em apneia ou dotadas de meios de respiração artificial, com ou
sem auxílio de embarcação”. O artigo 5, alínea 2, acresce que “É interdita a pesca submarina com uso de
aparelhos de respiração artificial, à excepção do tubo de respiração à superfície”. De acordo com o artigo 11, “É
permitida a prática da pesca recreativa e desportiva nas águas jurisdicionais (...) ”. Porém, o seu artigo 3 prevê o
estabelecimento de “(...) outras áreas de restrição (...), por motivos de conservação dos recursos (...)”.
Na Baía de Maputo, esta práctica de pesca possui uma longa tradição, que remonta aos anos de 1940 (Pereira &
van der Elst, 2014). Os mesmos autores, recomendam uma maior atenção por parte de investigadores e gestores,
pois o conhecimento dos dispositivos legais que contribuem para o controle e gestão das pescarias são pouco
conhecidos e, consequentemente os limites diários de captura (e.g 10 exemplares/espécie/dia/pescador), bem
como os limites diários de captura de espécies com restrições não são cumpridos. Por outro lado, na linha de costa
da RMPPO, banhada pelo Oceano Índico, existe uma fiscalização e monitoria diária da pesca desportiva e
recreativa. Dados de 2010 a 2014, da pesca de alto – mar, apontam para um decréscimo de capturas por unidade
de esforço (CPUE) (Pereira et al., 2015). Isto suporta algumas preocupações levantadas por operadores turísticos
sobre o aumento de pescadores desportivos e recreativos na Reserva e o seu impacto negativo. Um dos
entrevistados explica:
“(...) existe um aumento no número de barcos de pesca recreativa e desportiva. Não que capturam
grandes quantidades de pescado, mas parece-me inapropriado para uma Reserva, especialmente quando
não podemos pescar, nós não temos peixe. Esta é uma comunidade dependente do Oceano. Não nos é
permitido pescar para vender ou um restaurante não está autorizado a comprar peixe. Mas um Sul-
Africano pode vir e pescar grandes quantidades. Parece-nos uma grande contradição (...) ”.
“Os pescadores recreativos e desportivos podem retirar grandes quantidades de peixe porque pagam uma
licença, mas não pagam por todo esse peixe. Muito deste peixe é vendido ilegalmente. Os mergulhadores
também pagam taxas e nós ensinamos que não podem retirar nada dos recifes. Mas os pescadores
recreativos e desportivos pescam por cima dos recifes e consequentemente estão a destrui-los. Este é um
assunto muito sensível”.
27
Apesar das preocupações levantadas e, como forma de responder ao Indicador Económico 1, a RMPPO promove
a prática da pesca sustentável através das actividades de pesca permitidas e não-permitidas estabelecidas no
Plano de Zoneamento inserido no Plano de Maneio (2011 – 2015), bem como através dos dispositivos legais de
gestão das pescas (Anexo 10). Para além destas medidas de gestão, foram estabelecidas na RMPPO três zonas
de santuário, onde o uso extractivo é totalmente proíbido:
(i) Santuário de Techobanine: recifes de coral de valor de biodiversidade único, localizado na linha de
costa entre a Ponta Techobanine e a Ponta Dobela (Pereira et al., 2014);
(ii) Santuário do Estuário do Rio Bembi: localizado na Península de Manchangulo (DNAC, 2011);
(iii) Santuário da Barreira Vermelha de Coral e Ponta Torres: localizado na linha de costa oeste da Ilha da
Inhaca. Este recife localiza-se numa área com condições ambientais adversas de salinidade e
turbidez que afectam por regra o crescimento dos corais e possui uma riqueza em termos de
biodiversidade de corais (Schleyer & Pereira, 2014).
Porém, a monitoria do estado de conservação destes santuários e o seu impacto, deste o seu estabelecimento,
nas actividades pesqueiras necessitam de ser realizados periodicamente para avaliar os benefícios do efeito de
“spillover”. Para além destes santuários, existem áreas adicionais que merecem o estatuto de santuário. Um
exemplo, é o recife de coral do Baixo de São João que possui uma comunidade de coral rica e uniforme e uma
comunidade de peixes de recife composta por espécies de interesse comercial e espécies predadoras, como a
garoupa batata, tubarões e raias (Schleyer et al., 2015). Este recife está localizado numa área remota de águas
profundas, protegendo-o dos potenciais efeitos adversos das mudanças climáticas, tornando-o num potencial
refúgio para a reprodução de corais e, consequente “spillover” para comunidade de recifes adjacentes (Schleyer et
al., 2015). Outro aspecto que deverá merecer atenção, tal como salientado pelo Administrador da RMPPO é a
necessidade de identificação e estabelecimento de santuários de pesca na Península de Machangulo. Gove (2008)
e Rosendo et al., (2011) destacam a necessidade de respeitar e avaliar cuidadosamente os aspectos sociais e
económicos que advêm da planificação e estabelecimento das áreas de conservação e santuários, bem como para
a identificação de mecanismos concretos de integração das comunidades pesqueiras e do sector das pescas.
5.1.2 Indicador Económico 2: Promover a Partilha Equitativa dos Custos e Benefícios Económicos
Garantir que uma proporção equitativa dos benefícios económicos resultantes do uso extrativo (e.g pesca) e não –
extractivo (e.g turismo, investigação, entre outros) da AMP seja canalizada para as comunidades locais, incluindo a
redução da “fuga” de tais benefícios.
Aquando da revisão do primeiro esboço do Plano de Maneio, as comunidades locais solicitaram esclarecimentos
sobre a partilha de benefícios gerados através da cobrança de taxas e licenças (DNAC, 2010). O Plano de Maneio
(2011 – 2015) através do seu Quadro Estratégico de Actividades, na componente da Gestão de Fluxo de
Benefícios, tem como objectivo assegurar o uso e partilha de benefícios equitativos para as comunidades
afectadas. Para além do disposto no Plano de Maneio (2011-2015), a Lei de Florestas e Fauna Bravia e o seu
28
respectivo Regulamento, bem como a Lei de Conservação advogam a partilha dos benefícios resultantes do uso
dos recursos para as comunidades, nomeadamente:
(i) Lei de Florestas e Fauna Bravia (Lei no10/99, de 7 de Julho), artigo 35, no 1: “São devidas ao Estado
taxas pelo acesso e utilização dos recursos florestais e faunísticos, bem como pelo exercício do
turismo contemplativo nos parques e reservas nacionais”. O no 5, do mesmo artigo, acrescenta que “
(...) são fixadas as percentagens dos valores provenientes das taxas de exploração florestal e
faunística, destinadas ao benefício das comunidades locais residentes (...)”. O artigo 102, no 1 do
Regulamento de Florestas e Fauna Bravia (Decreto no12/2002, de 6 de Junho) estabelece, que: “
Vinte por cento de qualquer taxa de exploração florestal ou faunística, destina-se ao benefício das
comunidades locais da área (...) ”.O artigo 102, no 2, acrescenta ainda que “ (...) serão definidos
mecanismos de canalização e utilização do valor (...) ”. Mecanismos esses que foram posteriormente
definidos através do Diploma Ministerial no 93/2005, de 4 de Maio e do Decreto no 15/2009, de 14 de
Abril, que vem acrescentar a estes mecanismos.
(ii) Lei de Conservação (Lei no 16/2014, de 20 de Junho), no seu artigo 49, no 4 prevê: “O Conselho de
Ministros fixa as percentagens dos valores provenientes das taxas de acesso e utilização de recursos
para o benefício das comunidades locais”. O seu no 5 adiciona que “as percentagens referidas (...)
não podem ser inferiores a 20%”. O artigo 67, salienta que “O Conselho de Ministros fixa os valores
provenientes das multas destinados ao benefício dos diversos intervenientes no processo de
fiscalização e controlo dos recursos”. Contudo, os mecanismos de canalização destas percentagens
de uso e multas não foram ainda estabelecidos.
O valor total das licenças de uso e multas, ou percentagens significativas destas, aplicadas pelos restantes
dispositivos legais, dos sectores do ambiente, florestas e fauna bravia, pescas e administração marítima, têm como
destino, o Orçamento do Estado e os demais fundos criados, como o Fundo Nacional do Ambiente (FUNAB),
Fundo de Fomento Pesqueiro (FFP) (Moye & Sean, 2010; CTV, 2012b). Estes valores dificilmente retornarão para
o sector das áreas de conservação ou para a própria RMPPO, para a fiscalização e a favor das comunidades
locais (Moye & Sean, 2010; CTV, 2012b). Por exemplo, o Regulamento de Pesca Recreativa e Desportiva (Decreto
no 51/1999, de 31 de Agosto), nos seus artigos 20 e 33, estabelece claramente que os valores resultantes da
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cobrança das taxas de licenciamento e multas, deverão ser entregues na Recebedoria de Fazenda da Repartição
de Finanças. Ao abrigo do artigo 38, da Resolução no 9/2012 sobre o Estatuto Orgânico do Instituto Nacional da
Marinha (INAMAR), determinadas percentagens, referente às licenças e multas cobradas, revertem a seu favor.
Assim sendo, e embora a partilha de benefícios equitativa com as comunidades locais esteja claramente exposto
nos demais dispositivos de gestão e legais, este indicador não é ainda aplicado. O Administrador da Reserva
suporta:
“A RMPPO não está a produzir receitas e por isso não tem ainda um mecanismo de canalização da
partilha dos 20% dos benefícios para as comunidades, bem como para a conservação”.
30
5.1.3 Indicador Económico 3: Promover Fontes Alternativas de Rendimento
Procura e promoção de alternativas de rendimento e oportunidades de desenvolvimento económico que são
compatíveis com o alcance dos objectivos da conservação da biodiversidade e que possam gerar rendimentos
sustentáveis para as comunidades locais.
O Plano de Maneio (2011 – 2015), através do seu Quadro Estratégico de Actividades, componente de Gestão de
Fluxo de Benefícios indica a necessidade de apoiar as comunidades na identificação de fontes alternativas de
rendimento, bem como de apoiar na implementação destas iniciativas através de programas de formação e trocas
de experiência e monitorar o impacto destas iniciativas no desenvolvimento da comunidade.
Uma das principais fontes alternativas de rendimento identificadas como sendo relativamente seguras pelas
comunidades locais é o turismo, seguindo-se pelo comércio informal (Come, 2014). O Administrador da Reserva
acrescenta:
“ (...) Embora a conservação seja o objectivo primário da Reserva, está estabelecido no Plano de Maneio
que a Reserva deve contribuir para o crescimento económico da área (...) garantido a conservação do
ambiente em que estamos envolvidos, em princípio, podemos melhorar o nível de turismo e,
indirectamente as comunidades poderão beneficiar de empregos”.
O turismo oferece emprego em estabelecimentos de acomodação (e.g hotéis, “lodges”, casas de férias,
acampamentos, entre outros), estabelecimentos de restauração (e.g restaurantes, bares e discotecas) e
actividades recreativas e de lazer (e.g centros de mergulho, pesca recreativa e desportiva, observação de golfinhos
e baleias, entre outros). Outras formas de criação de renda alternativa é através do comércio informal (e.g
artesanato, óculos de sol e bijutarias, roupa em segunda-mão, aluguer de sombrinhas, entre outros). O comércio
informal depende da procura pelos locais mas também dos turistas domésticos e internacionais (Come, 2014).
Embora não haja ainda estatísticas exactas sobre o nível de contribuição do turismo para o desenvolvimento social
e económico das comunidades locais, acredita-se que este seja consideravelmente elevado (Moye & Sean, 2010).
A RMPPO, dentro das suas capacidades e possibilidades, e em colaboração com o sector privado e ONGs, tem
vindo a apoiar as comunidades locais na identificação de fontes de rendimento alternativas. Uma das principais
actividades de rendimento alternativo identificado é a contratação de monitores comunitários para o Programa de
Monitoria e Conservação de Tartarugas Marinhas. Este programa teve o seu início em 2007, antes da declaração
da RMPPO e, tem contado com uma média de cerca de 46 monitores comunitários, contratados por um período
máximo de 6 meses, de Outubro a Março, período que corresponde à época de desova de tartarugas marinhas
(Tabela 6).
31
Tabela 6. Monitores comunitários e parceiros do Programa de Monitoria e Conservação de Tartarugas Marinhas
(2011-2016) (Fonte: RMPPO, 2016).
Recentemente, como forma de promover maior capacidade no seio das comunidades locais em termos de
alternativas de geração de rendimentos, a RMPPO, com o apoio da PPF (Peace Parks Foundation) e do CTV,
desenvolveu um programa de treino de fiscais e membros das comunidades para pilotos de embarcação (quatro
fiscais da RMPPO e quatro trabalhadores de operadores de mergulho), mergulhadores com o nível Advanced Diver
(dois fiscais da RMPPO e dois trabalhadores de operadores de mergulho), mergulhadores com o nível de Dive
Masters (dois fiscais da RMPPO e dois trabalhadores de operadores de mergulho) (RMPPO, 2015). Ainda com
este propósito, a RMPPO no seu Plano Estratégico de Comercialização (DNAC, 2012), prevê o desenvolvimento
de uma actividade comercial conhecida como Turismo Guiado para Observação de Tartarugas Marinhas. O
Administrador da Reserva, explica:
“A Reserva está envolvida e tem projectos específicos para desenvolver junto com a comunidade.
Estamos a trabalhar para estabelecer um acampamento em Dobela, onde membros da comunidade de
Mvukuza, que vivem nos arredores de Dobela serão treinados para se tornarem guias turísticos, mais
especificamente para levar pessoas a verem a nidificação de tartarugas. Muitos deles já são nossos
monitores de tartarugas e serão treinados em Inglês e Português e, quem vai gerir esse acampamento,
em princípio, é a comunidade de Mvukuza”.
No âmbito do Programa das ACTFs, existe uma estrita relação de colaboração entre a RMPPO e REM. Desta
colaboração, foi criado o Fundo de Desenvolvimento Comunitário com o propósito de apoiar as comunidades
“afectadas” pela criação das duas reservas, a REM e a RMPPO. Várias são as actividades de fontes alternativas
de rendimento sendo de destacar, a produção local de mel e de piri-piri (Banco Mundial, 2015). Esta última,
denominada como o projecto Matchia Chili, contribuiu para formação organizacional e apoio técnico para a
produção de piri-piri, criando opções diversificadas de geração de rendimentos (Banco Mundial, 2015). Outro
32
grande e inovador projecto é o Anvil Bay Lodge, localizado na Ponta Chemucane, dentro dos limites da REM e
adjacente à RMPPO. Esta é uma parceria entre o sector privado, a Bell Foundation, a African Safari Lodge e as
comunidades locais, representadas pela Associação Comunitária Ahi Zameni Chemucane (AZC). O Governo
apoiou na identificação de investimentos, criando uma empresa consociada, das quais a AZC possui 40% das
acções. A construção, manutenção e funcionamento corrente do lodge é feito com o envolvimento das
comunidades locais contribuindo para a criação de benefícios e para o desenvolvimento local da comunidade
(Banco Mundial, 2015).
O Plano de Maneio (2011 – 2015) não prevê mecanismos para investir fundos da RMPPO para apoiar na
prestação de serviços ou construção de infra-estruturas locais (e.g escolas, hospitais, estradas, electricidade, entre
outros). Segundo o Administrador da RMPPO, esta não é uma responsabilidade da RMPPO. No entanto, a
RMPPO, dentro das suas possibilidades e capacidades, oferece apoio ao sector da saúde e da educação. O
Administrador da Reserva, esclarece:
“A relação da Reserva com as comunidades não é estritamente ligada a questões financeiras: ganhos,
perdas. Há outro tipo de apoio que temos estado a prestar. Por exemplo, o Centro de Saúde da Ponta do
Ouro não tem os meios suficientes para atingir todas as pessoas que deveriam atingir e, nós pomos à
disposição do Centro o transporte, sempre que necessário. Uma vez por mês é garantido, mas se houver
alguma necessidade ou emergência, eles vêm connosco para assistir as comunidades ao longo da costa.
Durante 4 anos estivemos a dar aulas às crianças da comunidade de Mvukuza”.
Segundo Moye & Sean (2010) existem três fontes de financiamento para a actividade do sector público no
ambiente em Moçambique: (i) orçamento geral do Estado proveniente de receitas e de apoio pelos parceiros de
desenvolvimento; (ii) receitas geradas pelo sector ambiental (e.g licenças, taxas, impostos e multas pela utilização
e gestão dos recursos naturais); e (iii) fundos reservados pelos doadores. No que concerne à atribuição de um
orçamento destinado ao sector ambiental, mais concretamente às áreas de conservação e à RMPPO, o
levantamento bibliográfico não permitiu a obtenção de dados estatísticos relevantes. Contudo, a Administração da
Reserva disponibilizou informação sobre o apoio financeiro do Estado à governação (Tabela 7).
33
Tabela 7. Fundos atribuídos à RMPPO provenientes do orçamento do Estado (Fonte: RMPPO, 2016)
Outro aspecto relacionado com a comparticipação do Estado e, que tem gerado alguma preocupação e,
necessidade de esclarecimento por parte de alguns entrevistados é sobre o processo de canalização e destino das
licenças de concessão e de pesca, taxas de mergulho e de entrada na Reserva, bem como sobre as multas
aplicadas. Muitos entrevistados consideram que estes valores deveriam ser aplicados directamente na melhoria do
sistema de governação e fiscalização. Dando continuidade ao explicado no Indicador Económico 2 e, com base
nos dispositivos legais, uma grande proporção das receitas geradas pelo sector ambiental são mensalmente
revertidos para nível central. Estas receitas acabam por ser desviadas para outras aplicações e, revertendo muito
pouco, para o fortalecimento dos serviços de fiscalização e para outras actividades de governação ambiental (CTV,
2012b).
As taxas e licenças referentes ao licenciamento de actividades marinhas são emitidas pelo INAMAR, enquanto que
as taxas e licenças referentes à actividade de pesca recreativa e desportiva são emitidas pela RMPPO, por
delegação do Ministério do Mar, Águas Interiores e Pescas. No período entre 2009-2015 e, com base no sistema
de penalização judicial, descrito no Indicador Legal 5, foram aplicadas, na RMPPO, multas no valor de
2,031,192.00 Meticais (Tabela 8) que reverteram, conforme o preconizado na legislação, a favor do Estado
(RMPPO, 2016). É de salientar que este valor não cobre o valor das multas emitidas pela Delegação Marítima da
Ponta do Ouro.
34
Tabela 8. Valor total de multas aplicadas na RMPPO, no período entre 2009 – 2015 (Fonte: RMPPO, 2016).
Dada a dificuldade que as Áreas de Conservação enfrentam na angariação de fundos, a Lei de Conservação e o
Plano de Maneio (2011 – 2015) preconizam como um dos objectivos de governação, o estabelecimento de
mecanismos sustentáveis de financiamento para gerar receitas suficientes para apoiar iniciativas de conservação
específicas sem depender do orçamento geral do Estado. Exemplos destes mecanismos são a política de retenção
de receitas, e estratégia e plano de implementação de sustentabilidade financeira.
Apesar das dificuldades, espera-se que a RMPPO possa a vir ter fundos suficientes do Estado para desenvolver a
capacidade de gestão e governação, principalmente em relação à aplicação dos dispositivos legais existentes e na
promoção dos incentivos económicos acima listados (e.g partilha de benefícios, compensações económicas,
direitos de uso, entre outros). Um dos principais mecanismos de financiamento do Estado é o Programa das Áreas
de Conservação para a Biodiversidade e Desenvolvimento (MOZBIO), pelo Banco Mundial e, estimado em cerca
de $40 milhões de dólares americanos. Porém, não foi possível obter informação sobre o valor a ser alocado à
RMPPO. Resultados das entrevistas acrescem que estes fundos garantem a aquisição de equipamentos e infra-
estruturas, para além de custos operacionais, bem como uma componente específica para projectos comunitários,
segundo o Administrador da RMPPO.
“(...) o programa MOZBIO pretende acelerar o desenvolvimento das áreas de conservação, torná-las parte
integrante do desenvolvimento do país, oferecendo a componente de sustentabilidade porque a
conservação da natureza joga esse papel de fornecer bens e serviços para o desenvolvimento do homem.
E em geral, também garantir que actividades como o turismo sejam o motor económico para o
desenvolvimento das zonas onde as áreas de conservação, bem como trazer as comunidades a jogar um
papel cada vez mais importante, devolvendo a responsabilidade dessas comunidades de fazer a gestão
desses recursos naturais”.
35
Este projecto contribui também para a consolidação e operacionalização da Fundação para a Conservação da
Biodiversidade (BioFund), criada em 2011, que tem como propósito promover mecanismos inovadores para
garantir o financiamento sustentável das áreas de conservação, incluindo o desenho e capitalização de um fundo
para atrair financiamento público e privado (Biofund, 2016).
A Lei de Conservação, no artigo 8, estabelece mecanismos de financiamento das áreas de conservação, como
forma de “ (...) minimizar os prejuízos e aumentar os benefícios aos níveis local, nacional e internacional, através
do estabelecimento de parcerias público-privadas e comunitárias, criação de instituições para apoio às actividades
de conservação (...) ”. Mais especificamente o artigo 9 acrescenta “O Estado pode estabelecer parcerias com o
sector privado comunidades locais, organizações da sociedade civil nacionais e estrangeiras mediante o contrato e
sob financiamento (...) ”.
A nível central, a ANAC e a PPF estabeleceram uma parceria a longo prazo para o financiamento das ACTFs, que
abrange a ACTF Ponta do Ouro – Kosi Bay, incluindo a angariação de fundos para as actividades de conservação,
gestão e apoio às comunidades locais na promoção de geração de fontes de rendimento alternativo (PPF, 2016).
Para além dos fundos anuais desembolsados pela PPF (Tabela 9), os esforços para a angariação de fundos
resultaram no apoio de doadores como a Fundação Príncipe Alberto II de Mónaco, Principiado de Mónaco
(Principality of Monaco), Fundação Turing (Turing Foundation) e recentemente a Fondation Ensemble (PPF, 2016).
A RMPPO possui outras fontes de financiamento e apoios, como organizações da sociedade civil (OCSs) e do
sector privado. Por parte deste último, é de destacar o apoio da Petromoc Moçambique (no valor de MZN 318.096,
27/ ano por um período de três anos) essencialmente cobrindo as necessidades de combustível e da Toyota de
Moçambique (U$ 4.000.00/ ano por um período de três anos) cobrindo despesas de manutenção das viaturas da
Reserva. Recentemente, a Ford Moçambique disponibilizou uma viatura para o programa de monitoria de
tartarugas marinhas (Gonçalves, M., com. pess.). Outros parceiros como operadores turísticos (e.g Dolphin
Encountours, Machangulo SA, White Pearl Resort) e OSC (e.g CTV, AICM) têm contribuído, ao longo dos anos,
com o pagamento de salários aos monitores comunitários de tartarugas marinhas e pequenos fundos para
actividades de investigação.
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Tabela 9. Orçamento da RMPPO proveniente da PPF (Fonte: RMPPO, 2016)
37
38
5.2 Indicadores de Interpretação
Propósito do Indicador
A categoria de indicadores de interpretação pretende aferir até que ponto são aplicadas acções para promover a consciencialização para a
conservação, os objectivos relacionados com a sua conservação, os dispositivos legais e politicas para atingir esses objectivos, e promover
a contribuição e o apoio para tomada de medidas relacionadas com estes aspectos.
Tal como descrito no Capítulo 3, a categoria de indicadores de interpretação possui 3 indicadores (Anexo 2).
Destes 3 indicadores, os seguintes indicadores são aplicados na Reserva:
O Plano de Maneio (2011 – 2015) através do seu Quadro Estratégico de Actividades, na sua componente da
Gestão de Fluxo de Benefícios, tem como objectivo a Comunicação, criação de capacidade e consciencialização,
mais concretamente tem como accões: (i) desenvolver e implementar o programa de comunicação; (ii) criar
capacidade e consciencialização; (ii) monitorar o impacto e eficácia do programa e adaptar onde necessário.
Contudo, a RMPPO não possui ainda um programa de educação e consciencialização ambiental contínuo. A
educação e sensibilização ambiental é feita de forma ad-hoc sendo desenvolvidas quando existe capacidade por
parte dos parceiros e operadores turísticos. No âmbito, da implementação do programa de conservação e
monitoria de tartarugas marinhas, foram desenvolvidos 2 programas de educação e sensibilização, financiados por
diferentes parceiros, nomeadamente: (1) o programa Global Environmental Facility (GEF) do Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), e implementado pela LUPA, em 2010; (2) o programa do Critical
Ecosystem Partnership Fund (CEPF), implementado pelo CTV, entre 2012 e 2013. Este programa cobriu 11
escolas no Distrito de Matutuíne, envolvendo 673 alunos e 24 professores. Para além de palestras, o programa
produziu cartazes, camisetas e panfletos (CTV, 2013). Por outro lado, no âmbito da limpeza na praia, campanhas
têm sido feitas, envolvendo membros da comunidade e organizadas por operadores turísticos e organizações
parceiras.
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Alunos da Escola Primária de Mvukuza, Reserva Especial de Maputo.
(Fotografia gentilmente cedida pela Green Reinassance)
acima, não exista um programa contínuo de educação e sensibilização, a Administração da RMPPO, tem
desenvolvido estratégias para divulgar os benefícios e a mais valia da existência da reserva. Nas entrevistas aos
membros do governo local foi possível perceber que existe um conhecimento básico sobre os benefícios da
criação da Reserva e a associação da conservação de espécies protegidas, como as tartarugas marinhas, e a
geração de rendas, que advém do turismo, para beneficio das comunidades locais.
Por outro lado, os membros das comunidades locais, bem como os naturais de outras regiões do país, que vivem
na Ponta do Ouro, possuem um conhecimento um tanto ou quanto mais limitado, sobre os motivos de criação, os
limites e os benefícios da reserva. Alguns dos entrevistados sabem que a RMPPO foi criada para proteger
espécies marinhas, como as tartarugas marinhas e golfinhos. A grande maioria reconhece os benefícios que
advém do turismo para a criação de emprego e alternativas de geração de rendimentos. Outro aspecto
interessante foi o facto de alguns membros da comunidade, e embora não sejam nativos e vivam na Ponta do Ouro
há alguns anos, não terem conhecimento da existência da RMPPO, principalmente mulheres, pois as suas
actividades de geração de renda não se baseiam em recursos costeiros ou marinhos. Estas mulheres referem que
apenas os homens trabalham na praia. O contrário foi identificado para as mulheres da comunidade de Mvukuza,
que colectam invertebrados para consumo e venda. Apesar de não ser muito alta, a renda trazida pelos monitores
de tartarugas marinhas, constitui um atributo valioso para as familias, o que é atestado atestado pelo alto índice de
retorno anual dos monitores (cerca de 80%; Pereira, M. com. pess.). As mulheres afirmaram que possuiam
capacidade de trabalhar como monitoras de tartarugas marinhas. Suportando com exemplos claros de mulheres
que trabalham como seguranças nocturnas.
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As percepções dos entrevistados à construção da estrada KaTembe – Ponta do Ouro foram variadas. Muitos
reconhecem as vantagens que esta mesma estrada poderá trazer para o desenvolvimento social e económico da
região. Porém, reconhecem que a estrada poderá também trazer impactos adversos, como por exemplo o maior
fluxo de turistas nacionais e estrangeiros, colocando em risco a estabilidade ecológica da Reserva e ameaçando a
segurança actualmente existente.
As percepções dos entrevistados à construção da estrada foram variadas. Muitos reconhecem as vantagens que
esta mesma estrada poderá trazer para o desenvolvimento social e económico da região. Porém, reconhecem os
impactos adversos que a estrada poderá também trazer, como por exemplo maior fluxo de turistas nacionais e
estrangeiros, ameaçando a estabilidade ecológica da Reserva e ameaçando a segurança actualmente existente.
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“(...) em relação à pesca há determinadas espécies que são proibidas de ser pescadas e quando apanho
uma dessas espécies devolvo ao mar (...) vendo o peixe que pesco enquanto aguardo por emprego
melhor. Vendo para as pessoas no mercado na Ponta do Ouro”.
Os vendedores ambulantes na praia também possuem conhecimentos limitados sobre algumas regras, como a
proibição de conduzir na praia, uso de motas-de-água (jetskis) para recreio, presença de cães na praia. Por outro
lado, os operadores turísticos, principalmente os operadores estrangeiros, cujas actividades estão directamente
ligadas à exploração e ao uso dos recursos da Reserva (e.g pesca desportiva e recreativa, mergulho, observação
de golfinhos e baleias), já possuem um conhecimento diferente e, de alguma forma, aprofundado. Os operadores
turísticos nacionais, por outro lado, têm um conhecimento sobre os regulamentos e restrições também diferente.
Estes operadores são, na sua maioria, operadores na área de restauração e hotelaria.
Os mecanismos adoptados pela Reserva para promover o reconhecimento e cumprimento dos regulamentos e
restrições incluem:
(i) produção de panfletos, em português e inglês, sobre as actividades permitidas e não permitidas;
(ii) colocação de placas e/ou painéis nos principais pontos de acesso à praia, principalmente nos pontos
de lançamento de barcos e motas-de-água apetrechadas para a pesca e, nos limites das zonas de
santuário. Porém, de acordo com o Administrador da Reserva a manutenção destas placas e/ou
painéis tende a ser dispendioso;
(iii) uso das redes sociais (e.g Facebook);
(iv) advertência diária pelos fiscais, monitores de tartarugas e Administrador da Reserva. Os membros da
comunidade, incluindo vendedores ambulantes e pescadores de margem, acrescentam que
obtiveram informação, tanto sobre os limites, propósito, regras e restriçõe da Reserva, através da
comunicação oral com os fiscais.
Os operadores turísticos são também outro mecanismo de divulgação das normas e procedimentos que regem a
RMPPO. Muitos possuem este tipo de informação afixada nas suas instalações, e advertem os seus clientes antes
da realização de determinada actividade. Outro mecanismo, embora não directamente ligado à RMPPO, é a
advertência aos turistas sul-africanos, através da rádio (e.g LM Radio). Os Parceiros, como ONGs, desenvolvem
panfletos de advertência, como é o caso de panfletos sobre a protecção de tartarugas marinhas e que práticas
devem ser respeitadas.
Com base nos esforços conjuntos de divulgação e na diminuição de infracções, ao longo dos anos, poder-se-ia
assumir que os usuários conhecem e respeitam os regulamentos e restrições da Reserva. Porém, eventos
recentes de violações à lei sugerem que alguns grupos de usuários não possuem ainda um conhecimento sólido
sobre estes mesmos regulamentos e restrições. O que claramente indica que este esforço de divulgação deve ser
contínuo e mais abrangente.
42
43
5.3 Indicadores de Conhecimento
Propósito do Indicador
A categoria de indicadores de conhecimento pretende aferir até que ponto é promovido o uso de diferentes fontes de conhecimento
(tradicional e científico) para melhor informar os processos de tomada de decisão da AMP.
O Plano de Maneio (2011 – 2015) através do seu Quadro Estratégico de Actividades, na componente de Gestão
de Recursos Naturais tem como objectivo: (iii) Realizar e gerir projectos e programas de investigação e monitoria
(e.g recifes de coral, perfis costeiros e actividades humanas e impactos).
Antes do estabelecimento da RMPPO, que várias iniciativas de investigação científica envolvendo Universidades
nacionais e estrangeiras instituições governamentais, ONGs e o sector privado têm vindo a ter lugar. Desde 1951,
aquando da construção da Estação de Biologia Maritíma da Ilha da Inhaca (EBMI), instituição ligada à
Universidade Eduardo Mondlane (UEM), que investigação na área das ciências marinhas tem vindo a ser
realizada. Vários parceiros internacionais têm contribuído no apetrechamento e funcionamento da EBMI. De entre
estes, é de destacar o apoio Holandês e Sueco (Bandeira et al., 2014; Pereira et al., 2014). Universidades e
instituições de investigação sul-africanas mostraram sempre interesse de colaboração em programas de monitoria
e investigação, principalmente nos programas de monitoria e investigação de recifes de coral, tartarugas marinhas
e mamíferos marinhos.
Parcerias de investigação e monitoria com o sector privado, mais precisamente com os operadores turísticos, são
um exemplo de destacar na RMPPO. Em 1994, Pierre Lombard, agricultor do Botswana, com apoio do Dr. Greorge
Hughes, supervisor do programa de monitoria de tartarugas marinhas na África do Sul, iniciou com fundos e
recursos prórprios a monitoria de tartarugas marinhas. Angie Gullan, operadora do Dolphin Encountours Research
Centre, iniciou, por volta de 1994, a monitoria de golfinhos residentes na Ponta do Ouro. Como resultado, existe
uma parceria sólida, entre a Reserva e o sector privado, na recolha de dados, monitoria e conservação. Um
exemplo desta parceria tem sido o programa anual de monitoria de tartarugas marinhas, através da contratação e
supervisão de monitores comunitários e material de monitoria, conforme descrito no Indicador Económico 3 (Tabela
6) (Pereira et al., 2014a; 2014b).
44
Monitoria de tartaruga gigante, Dermochelys coriacea.
(Fotografia gentilmente cedida por Barry Skinstad)
Parcerias com ONGs nacionais ligadas à investigação, monitoria, conservação e advocacia são também sólidas,
de entre estas, é de destacar, a parceria com a Associação para a Investigação Costeira e Marinha (AICM) e com
o CTV. Embora esta parceria tenha sido oficializada em 2013, a mesma já ocorre antes da declaração da Reserva.
Em relação a parcerias com organizações não governamentais internacionais envolvidas no trabalho com a
RMPPO, é de realçar a PPF, organização com reconhecimento e credibilidade internacional. Esta última, para além
de apoiar a Reserva na angariação de fundos, tem contribuído para o estabelecimento de bases de dados de
monitorias de recursos (Pereira et al., 2014a).
O Plano de Maneio (2011 – 2015) através do seu Quadro Estratégico de Actividades, na componente de Gestão
de Recursos Naturais através dos seus objectivos: (i) Proteger e conservar os habitats marinhos; e (ii) Proteger e
conservar as espécies marinhas os quais são aplicados através do estabelecimento de quatro grandes programas
de monitoria e outros estudos:
45
santuário e medidas de remoção da estrela-do-mar coroa de espinhos (Acanthaster planci), voraz
predadora de corais e outros organismos bentónicos.
46
47
5.4 Indicadores Legais
Propósito do Indicador
A categoria de indicadores legais prentede aferir até que ponto as instituições responsáveis pela governação da RMPPO promovem o
estabelecimento e aplicação de legislação e regulamentos relevantes para garantir a conformidade com os processos de tomada de decisão,
assim como garantir com as obrigações da AMP.
Conforme descrito no Capítulo 3, a categoria de indicadores legais possui 10 indicadores (Anexo 4). Destes 10
indicadores, a RMPPO aplica os seguintes:
O quadro político, estratégico e legal que rege a governação da RMPPO é o mesmo quadro que rege o sector
ambiental em Moçambique. Este quadro possui um conjunto significativo e diversificado de políticas, estratégias,
planos de acção, leis e regulamentos em resposta às obrigações e compromissos assumidos a nível internacional,
bem como em resposta às obrigações e necessidades a nível nacional para a gestão dos diferentes sectores do
ambiente (CTV 2012b; Salomão, in prep.). O quadro político, estratégico e legal moçambicano no sector ambiental
é considerado apropriado e progressivo e integra, de forma abrangente, os diferentes sub-sectores ambientais (e.g
ordenamento do território, terras, florestas, pescas, turismo, minas, entre outros). Este quadro ambiental contém as
bases necessárias para a gestão sustentável dos recursos naturais (Lamarque & Magane, 2007; CTV, 2012b;
Salomão, in prep.; Serra, in prep.) incluindo, a conservação da biodiversidade, com a mais recente aprovação, em
2014, da Lei de Conservação (Lei n.o16/2014, de 20 de Junho).
No entanto, ao longo dos anos e, como acima mencionado, este quadro tem enfrentado, várias limitações e
desafios, o que, consequentemente, tem impactos directos sobre os mecanismos de governação, gestão e
conservação das AMPs. Estes desafios e limitações incluem:
(i) Níveis de abordagem diferenciados dos dispositivos legais que regem os diferentes sectores do
ambiente mediante as prioridades destes mesmos sectores ambientais. Isto é, os dispositivos não
tinham como prioridade ou objecto directo, a protecção e a conservação da biodiversidade, mas sim,
o uso e aproveitamento sustentável dos recursos naturais (CTV, 2012b; Serra, em prep.);
(ii) Dispersão dos dispositivos legais que se aplicam à conservação da biodiversidade e às áreas de
conservação por falta de coordenação dos diferentes órgãos de tutela da conservação da
biodiversidade e das áreas de conservação, o então Ministério do Turismo (MITUR), o Ministério da
Agricultura e o Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental (MICOA) (Lamarque & Magane,
2007; Serra, em prep.);
(iii) Clarificação sobre os principais intervenientes e suas responsabilidades (Salomão, em prep.);
48
Fiscais da Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro.
(Fotografia gentilmente cedida por Barry Skinstad)
(iv) Não reflexão, nos dispositivos legais, do actual estado de conservação da biodiversidade, não
oferecendo, consequentemente, garantias da protecção da biodiversidade (Salomão, em prep.);
(v) Necessidade de reavaliação e redefinição das categorias de áreas de conservação à realidade social
e cultural, bem como às necessidades actuais de conservação (Salomão, em prep.);
(vi) Necessidade de tratamento jurídico dos programas de Maneio Comunitário dos Recursos Naturais
(MCRN) nas áreas de conservação resultante do fraco impacto da participação das comunidades em
actividades de conservação e do acesso das comunidades aos benefícios resultantes da exploração
dos recursos (Lamarque & Magane, 2007; CTV, 2012b; Salomão, em prep.);
(vii) Recursos humanos e financeiros necessários para a operacionalização e auto-sustentabilidade das
áreas de conservação (CTV, 2012b; Salomão, em prep.).
A Lei de Conservação procurou responder a algumas destas recomendações que advêm da necessidade da
harmonização dos dispositivos legais para uma lei única e especifica da conservação da biodiversidade e
ecossistemas, incluindo as áreas de conservação (Lamarque & Magane, 2007; CTV; 2012b; Salomão, em prep.;
Serra, em prep.), bem como da Política da Conservação e a Estratégia para a sua Implementação (Resolução
n.o64/2009, de 2 de Novembro). Embora a Lei de Conservação careça de uma avaliação cuidada por quem de
direito, a mesma responde, às limitações legais que o quadro enfrentava. Todavia, para a efectiva implementação
da Política e da Lei de Conservação existe ainda a necessidade de regulamentação complementar, um plano de
acções prioritárias e angariação de recursos para o efeito (Sal & Caldeira Advogados, 2014).
Para responder ao segundo indicador legal é importante primeiro olhar para o quadro institucional de governação
das áreas de conservação e, de seguida olhar para o quadro institucional de governação a nível da RMPPO. Isto
porque o quadro institucional que rege a governação da RMPPO, mais especificamente as áreas de conservação
tem também como base o quadro institucional que rege o sector do ambiente em Moçambique. O quadro
institucional de governação tem vindo a sofrer mudanças positivas, progressivas e de coordenação
interinstitucional para garantir a gestão efectiva das áreas de conservação, bem como a sustentabilidade
ambiental, social e económica. De acordo com Gove (2008), o Governo tem estado a promover a coordenação
interinstitucional entre os diferentes sectores ligados à gestão e administração marítima. Contudo, para melhor
avaliar este progresso, que possui impactos directos sobre o quadro institucional da RMMPO, é importante
descrever estas mudanças:
49
Quadro Institucional das Áreas de Conservação
A Política da Conservação e a Estratégia para a sua Implementação (Resolução n.o 64/2009, de 2 de Novembro),
face às dificuldades existentes no sector das áreas de conservação propôs várias reformas e mudanças ao quadro
institucional, bem como uma estratégia para a sua implementação (CTV, 2012b; Sal & Caldeira Advogados, 2014).
As propostas de reforma e mudança ao quadro institucional eram: (i) criação de um novo órgão ministerial
responsável pela tutela da conservação, que implementa a Política de Conservação, que supervisiona os
mecanismos de financiamento sustentável; (ii) criação de um órgão técnico com autonomia administrativa,
financeira e patrimonial sob responsabilidade do Ministério que superintende as áreas de conservação,
denominado Administração Nacional das Áreas de Conservação (ANAC); (iii) criação de Conselhos de Gestão para
implementação dos planos de maneio e pela materialização de parcerias (e.g públicas, privadas, comunitárias) e
que visam assegurar a participação de todos os intervenientes (CTV, 2012b; Sal & Caldeira Advogados, 2014).
Como resultado destas recomendações, em 2011, foi criada a ANAC (Decreto n.o 11/2011, de 25 de Maio). De
acordo com a Resolução n.o 5/2015, de 25 de Junho, a gestão das áreas de conservação, mais concretamente, a
ANAC, passou para a tutela do novo Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural (MITADER). O
MITADER foi criado pelo Decreto Presidencial n.o 1/2015, de 16 de Janeiro e, as suas atribuições e competências
50
foram aprovadas pelo Decreto Presidencial n.o 13/2015, de 16 de Março, definindo a sua natureza como “órgão
central do aparelho do Estado que, de acordo com os princípios, objectivos e tarefas definidos pelo Governo,
dirige, planifica, coordena, controla e assegura a execução das políticas nos domínios de administração e gestão
de Terra e Geomática, Florestas e Fauna Bravia, Ambiente, Áreas de Conservação e Desenvolvimento Rural”. Este
Ministério comporta o mandato e responsabilidades do MICOA, terras e mapeamento do MINAG, desenvolvimento
rural do Ministério da Administração Estatal (MAE), e conservação do MITUR.
Comité Directivo
O Comité Directivo da RMPPO tem como propósito, conforme descreve o Plano de Maneio, gerir e coordenar a
Reserva (DNAC, 2011). Fazem parte deste Comité Directivo, representantes dos anteriores ministérios do Turismo,
Pescas e MICOA, o Ministério dos Transportes e Comunicações (MTC) e a PPF (Figura 2).
A Unidade de Coordenação das Áreas de Conservação Transfronteiriças (Unidade ACTF) estava sobre a tutela do
MITUR e tendo sido transferida para a tutela do MITADER também faz parte do Comité Directivo. Esta unidade tem
como propósito fortalecer a cooperação regional, fornecer oportunidades para a conservação e para o
desenvolvimento do turismo. A gestão do sector das pescas passou para a responsabilidade do Ministério do Mar,
Águas Interiores e Pescas criado pelo Decreto Presidencial n.o 1/2015, de 16 de Janeiro e, as suas atribuições e
competências foram aprovadas pelo Decreto Presidencial n.o 17/2015, de 25 de Março, definindo a sua natureza
como “órgão central do Estado que, de acordo com os princípios, objectivos, prioridades e tarefas definidos pelo
Governo, dirige, coordena, planifica e assegura a execução de políticas, estratégias e planos de actividades nas
áreas, águas interiores e pescas.” O MTC criado pelo Decreto Presidencial n.o 34/1986, de 24 de Abril e, tinha
como objectivo a racionalização dos meios humanos e materiais disponíveis, com abrangência para as seguintes
áreas: portos, caminhos-de-ferro, marinha mercante, transportes rodoviários, aeronáutica civil, correios e
telecomunicações (MTC, 2016).
A PPF foi criada, a 1 Fevereiro de 1997, para facilitar, através do estabelecimento de parcerias entre o sector
público e privado, a criacão de ACTFs na África Austral. A PPF tem como objectivos, através da colaboração de
inúmeras partes interessadas: (i) facilitar o processo de desenvolvimento das ACTFs, mais concretamente através
de lobbying político, planeamento e gestão conjunta; (ii) promover a boa governação e criar capacidade; (iii) apoiar
na angariação de fundos e gestão financeira para a implementação de projectos específicos; (iv) apoiar no
planeamento, monitoria e avaliação dos vários programas e projectos, através de tecnologias de sistemas de
informação; (v) promover a formação e contribuir para o desenvolvimento comunitário (PPF, 2016).
51
Cooperação Intra-Governamental
De acordo com o Plano de Maneio (2011 – 2015) e a estrutura de governação da RMPPO, dever-se-ia estabelecer
mecanismos estratégicos internos de co-gestão e cooperação intra-governamental para a coordenação de
projectos e a operacionalização das acções de gestão (DNAC, 2011). Estes mecanismos estratégicos deveriam ser
estabelecidos através da assinatura de Memorandos de Operações com os Ministérios que compõem o Comité
Directivo, nomeadamente: (i) o Ministério do Mar, Águas Interiores e Pescas, através da Administração Nacional de
Pescas (ADNAP) e do Instituto Nacional de Investigação Pesqueira (IIP); (ii) o MTC, através do Instituto Nacional
da Marinha (INAMAR), o Ministério da Defesa (Marinha de Guerra) e a UEM (Figura 2). Actualmente, a RMPPO
tem assinados e, em vigor, três Memorandos de Operações (MOs) (Tabela 10). O Administrador da Reserva
explica:
“O envolvimento dos diferentes Ministérios e Instituições não se limita a questões financeiras. Nós temos
vários memorandos de entendimento que garantem o funcionamento e, principalmente garantem a
manutenção da legalidade. Nós temos memorandos com a ADNAP que nos autoriza, em nome da
ADNAP, a fazer o licenciamento da pesca recreativa. Esse era um problema grave que encontramos
quando a Reserva foi criada no início. Encontrávamos muitos turistas a pescar sem estarem licenciados
porque não havia quem chegasse lá e, não havia quem o fizesse. Isso hoje já não acontece”.
No entanto, existem ainda algumas dificuldades na implementação de alguns destes Mos já que não possuem
peso legal suficiente para impor o seu cumprimento. De acordo recomendando que entre estas instituições e, para
que haja uma coordenação jurisdicional mais clara, efectiva e a longo prazo, sejam estabelecidos Diplomas
Ministeriais. Um dos exemplos da fraqueza dos MOs foi a anulação do MO entre a ANAC e o INAMAR. Esta
anulação por parte do INAMAR, deveu-se aos conflitos institucionais por sobreposição de competências e
sobreposição dos limites de jurisdição. Conforme se pode constatar na entrevista com o Delegado Marítimo da
Ponta do Ouro não existe reconhecimento dos pressupostos e medidas de gestão contidos no Plano de Maneio.
Mais concretamente estes conflitos surgiram pela falta de conhecimento e reconhecimento das atribuições de cada
instituição. Com base na entrevista ao Delegado Marítimo, um dos problemas de coordenação foi a emissão de
uma nota, por parte da Administração da RMPPO, a proíbir a emissão de licenças de motas de água para recreio,
quando licenças já tinham sido emitidas e o valor destas licenças não poderia ser devolvido.
No entanto e, embora este MO tenha sido anulado, o trabalho de coordenação entre as duas instituições está a
melhorar, havendo, sempre que possível, comunicação, a nível central e local, para evitar conflitos. Existe também
colaboração e apoio através da disponibilização de meios automóveis, por parte da RMPPO, para auxiliar o
INAMAR no cumprimento das suas responsabilidades de inspecção e fiscalização. O Delegado Marítimo afirmou
ainda que:
52
“Não há problemas. Trabalhamos em coordenação e através de uma ordem de comando conjunto para
evitar conflitos. Existe comunicação e apoio mútuo”.
Ainda neste contexto, parece haver alguma dificuldade de entendimento por parte da UEM, mais concretamente a
Faculdade de Ciências e a EBMI sobre a proclamação da RMPPO. A proclamação da RMPPO sobrepõe-se às já
declaradas componentes marinhas das Reservas da Ilha da Inhaca e Ilha dos Portugueses, e sobre o mandato
jurisdicional da ANAC na gestão das áreas de conservação, previstos no artigo 3 do Decreto n.o 9/2013 do Estatuto
Orgânico da ANAC, bem como o decreto de proclamação e o Plano de Maneio da RMPPO.
No meio desta falta de clareza, o Dr. Almeida Guissamulo, docente da UEM, explica:
“(...) parece haver separação, mas não há tanta. (...) Os aspectos que estão agora em causa são
aspectos de carácter legal. É que quando é proclamada a Reserva não é extinta outra. Esse é um dos
problemas. Não é extinta a Reserva da Inhaca quando é proclamada a RMPPO e, depois a
responsabilidade que foi delegada à UEM, desde 1965, para fazer a gestão desta reserva também não foi
ainda retirada, então, é por isso que parece estar a haver conflitos. Não está a haver conflito nenhum.
Simplesmente o problema é garantir que quando chegar o momento de se fazer esta transformação não
se tenha perdido ou não tenha havido um vazio na gestão e conservação das Reserva da Inhaca. A
Reserva da Inhaca é provavelmente o sitio que mais pressão humana sofre em toda a extensão da
RMPPO e, se houver um vazio todos os oportunistas vão tomar. Se não houver uma transição adequada
da gestão e uma explicação às comunidades sobre quem é o gestor e, uma série destes aspectos, vai
haver um momento que a população vai tomar aquilo que é uma espécie de pacto social que existe entre
a UEM e a população da Ilha da Inhaca. Isto é que parece estar a dificultar o problema. A UEM fez um
trabalho longo na Inhaca para estar a par com a comunidade e mostrar que está a acompanhar as
dificuldades da comunidade e tentar ajudar a melhorar (...) e, no meio deste acordos há também o
compromisso da comunidade de garantir que a maior parte dos recursos que tenham que ser preservados
sejam realmente preservados (...)”.
Em relação à definição dos objectivos da RMPPO, estes estão claramente definidos no Decreto n.o 42/2009, de 21
de Agosto de sua criação, bem como no Plano de Maneio (2011 – 2015) (ver Capítulo 4).
53
Tabela 10. Memorandos Operacionais Intra-Governamentais (Fonte: DNAC, 2011 & RMPPO, 2016).
As restrições de uso são claramente identificadas e descritas no Plano de Zoneamento, inserido no Plano de
Maneio (2011 – 2015) (ver Capítulo 4). Porém, este Plano de Zoneamento requer uma revisão cuidada e, segundo
afirmou o Administrador da RMPPO, requer a integração de novas áreas de protecção, principalmente com o
estatuto de protecção de santuário, conforme discutido no Indicador Económico 1.
Os limites geográficos jurisdicionais da RMPPO são claros. O Decreto da proclamação da RMPPO (Decreto no
42/2009, de 21 de Agosto) e o Plano de Maneio descrevem que o limite da zona continental inclui a linha de costa
desde a Ponta do Ouro à Ilha da Inhaca, incluindo as dunas primárias, abarcando os pontos proeminentes de
Malongane, Madejanine, Mamoli, Techobanine, Dobela, Milibangalala, Membene, Chemucane, Mucombo, Gomene
54
e Abril. Ainda no capítulo do zoneamento, é descrito que existe uma área de gestão de praia que se estende da
linha de maré baixa até 100 metros para o interior.
No entanto, existe alguma falta de clareza e reconhecimento dos limites jurisdicionais geográficos da RMPPO por
parte de algumas instituições governamentais, nomeadamente o INAMAR. Segundo o Delegado Marítimo, os
limites geográficos da RMPPO sobrepõem-se aos seus limites de jurisdição, que são toda a zona costeira, desde a
linha de maré alta até 100 metros para o interior. No entanto, o Decreto no 32/2004 de 18 de Agosto, afirma que o
INAMAR tem como atribuições o exercício da autoridade marítima nas áreas de jurisdição marítima, lacustre e
fluvial e no domínio público marítimo. O Decreto não especifica quais os limites das áreas de jurisdição marítima.
Não obstante, e como mencionado no ponto 5.4.2. Coordenação Jurisdicional, o sistema de fiscalização, do sector
do ambiente, florestas e fauna bravia, estava sobre a responsabilidade do MICOA, MITUR e MINAG. Como
resultado, este sistema funcionava de forma isolada, subordinando-se às diferentes instituições com regras e
orientações diferentes, o que conduzia a um fraco desempenho de cada um dos sectores de fiscalização (CTV,
2012b). Consequentemente, com o estabelecimento do MITADER, foi criada a Direcção de Inspecção da Terra,
Ambiente e Desenvolvimento Rural, de acordo com o artigo 7 do Estatuto Orgânico (Resolução n.o 5/2015, de 25
de Junho). Das inúmeras responsabilidades desta unidade orgânica são de destacar as seguintes: “ (i) fiscalizar e
controlar as actividades susceptíveis de causar danos ao ambiente, (ii) fiscalizar o cumprimento do disposto na
legislacão sobre terras, ambiente e ordenamento do território, e (iii) zelar pela observância das leis, normas e
regulamentos relativos à terra, ambiente, áreas de conservação, florestas e fauna bravia”.
No sistema de fiscalização do sector das actividades marítimas e pesqueiras, havendo que mencionar as duas
instituições governamentais, como mencionado no ponto 5.4.2., que complementam o exercício da actividade de
fiscalização na RMPPO, nomeadamente a Delegação Marítima da Ponta do Ouro, representante do INAMAR no
Distrito de Matutuíne e a ADNAP, representada pela própria administração da RMPPO. Em relação à Delegação
Marítima, de acordo com o artigo 29 do Estatuto Orgânico do INAMAR (Resolução n.o 9/2012, de 15 de Março),
das várias competências atribuídas, salientam-se as seguintes: “(i) fiscalizar as actividades nas áreas da sua
jurisdição, (ii) assegurar a aplicação e o cumprimento da legislação marítima nas áreas da sua jurisdição, (iii)
proceder à inscrição de marítimos, e (iv) proceder ao registo de embarcações.” Acrescida a esta coordenação
jurisdicional dos sectores de fiscalização, está um conjunto de dispositivos legais dos sectores do ambiente,
pescas e transportes (Anexo 10). Resultando, num esforço conjunto notável, e consequentemente, numa vontade
política da aplicação e cumprimento, equitativo e efectivo de regras e restrições.
Em termos de capacidade de aplicação, é importante primeiro descrever a estrutura do sistema de fiscalização
para as áreas de conservação, com especial enfoque para a RMPPO. Sabe-se, neste âmbito, que uma das
fraquezas do sistema de fiscalização, a nível nacional, é a falta de proporcionalidade entre número de fiscais e
meios e a extensão e complexidades das áreas de conservação, concorrendo, assim, para um fraco desempenho
(CTV, 2012b). Espera-se que com a aprovação do Estatuto Orgânico da ANAC (Resolução n.o 8/2014, de 13 de
Junho), seja concebido e operacionalizado o Sistema de Fiscalização das Áreas de Conservação, conforme dita o
artigo 12 do Serviço de Gestão e Protecção dos Recursos Naturais. O Plano de Maneio (2011-2015), por sua vez,
prevê também, um oficial de fiscalização. Porém, a RMPPO conta apenas com o Administrador, que acumula a
função de oficial de fiscalização e com 10 fiscais, incluindo 2 oficiais da Marinha de Guerra, para cobrir toda a sua
extensão, o que claramente não é suficiente para garantir o alcance dos objectivos de conservação, gestão e
56
governação da Reserva. Segundo o previsto no Plano de Maneio (2011 – 2015), a Reserva deveria ter no mínimo
18 fiscais, seis por cada posto de fiscalização. Por sua vez, a Delegação Marítima da Ponta do Ouro possui
apenas dois oficiais, o Delegado Marítimo e o seu adjunto. Na época alta, o corpo de fiscalização é reforçado para
mais três oficiais do INAMAR.
A Lei de Conservação, no seu artigo 50, menciona que a fiscalização deve ser exercida pelos fiscais do Estado,
agentes comunitários e fiscais ajuramentados, forças de defesa e serviços de segurança do Estado.
Recomendando também, no seu artigo 51, o envolvimento de todas as partes interessadas “(...) a colaborar no
exercício da vigilância necessária à protecção dos recursos florestais, faunísticos, pesqueiros, e outros recursos,
participando as infracções de que tiverem conhecimento às autoridades competentes mais próximas (...)”. Outro
incentivo, para promover um maior envolvimento no processo de fiscalização, conforme o disposto no artigo 12 do
Regulamento de Florestas e Fauna Bravia (Decreto n.o 12/2002, de 6 de Junho) é a comparticipação de 50% das
multas por transgressão à lei aos fiscais, agentes comunitários, comunidades locais e qualquer cidadão que tiver
denunciado a infracção. No entanto, de acordo com o mesmo artigo, precisam ainda ser estabelecidos
mecanismos para a determinação e alocação de percentagens.
No que diz respeito às tecnologias de vigilância, segundo o Administrador da Reserva, a RMPPO conta
actualmente com dois postos de fiscalização: (i) Posto da Ponta do Ouro; (ii) Posto da Ponta Milibangalala.
Estando em processo de abertura de mais um posto em Machangulo. Em termos de meios materiais e financeiros
para efectuar a fiscalização, a RMPPO tem vindo a contar com o apoio da PPF, do sector privado e, recentemente,
do Governo, através do programa MOZBIO (Tabela 11). Acredita-se que através dos fundos disponíveis do
MOZBIO, algumas destas necessidades de fiscalização, como a contratação de mais fiscais, abertura de mais um
posto de fiscalização e respectivos acampamentos, serão atendidas (RMPPO, 2016). Por outro lado, a Delegação
Marítima da Ponta do Ouro, para fiscalização, conta apenas com uma motorizada de quatro rodas.
Outro aspecto importante é a estrutura proposta do quadro institucional interno da RMPPO, proposto no Plano de
Maneio (2011-2015) (Figura 3). Neste momento a Reserva não dispõe de recursos humanos suficientes na
componente de administração.
Contudo, e a título de comparação, a capacidade de aplicação do quadro legal ambiental, a nível nacional, é
considerado baixo (Lamarque & Magane, 2007; Salomão, em prep.; Serra, em prep.). Porém, e como forma de
responder ao terceiro incentivo legal, a nível da RMPPO, o compromisso por parte do Governo e o índice de
aplicabilidade do quadro legal ambiental, ao que tudo indica, parece ser relativamente elevado. A administração da
RMPPO tem, mediante as suas capacidades humanas, materiais e financeiras, garantido que a aplicação do
disposto na legislação e no Plano de Maneio (2011-2015) seja equitativa e efectivamente aplicado. O resultado
deste esforço conjunto entre a administração da RMPPO, as demais autoridades locais (e.g Polícia e INAMAR),
comunidades locais, operadores turísticos e sector privado já se faz notar. Um dos exemplos claros e visíveis, é a
57
drástica redução dos níveis de condução ilegal de veículos 4x4 na praia, a redução da pescal ilegal (e.g pesca sem
licença, uso de artes proibidas e pesca em locais impróprios), redução drástica da caça de tartarugas marinhas e
recolha de ovos (M. Gonçalves, com. pess.).
Toyota – Sector Privado manutenção de 2 viaturas 4.000,00 USD Acordo: 2013 - 2015
Petromoc – Sector Privado combustível e lubrificantes 350.000,00 MZN Acordo: 2013 - 2015
(i) Lei de Pescas (Lei n.o22/2013, de 1 de Novembro), no seu Título III – Fiscalização, infracções e
sanções;
58
(ii) Regulamento de Pesca Recreativa e Desportiva (Decreto n.o 51/1999, de 31 de Agosto), Capítulo VIII
– Fiscalização, infracções e penalidades;
(iii) Regulamento de Florestas e Fauna Bravia (Decreto n.o 12/2002, de 6 de Junho), Capítulo 8 –
Infracções e penalidades;
(iv) Regulamento Geral da Pesca Marítima (Decreto n.o 43/2003, de 10 de Dezembro), Capítulo VIII –
Fiscalização, infracções e penalidades;
(v) Regulamento para a Prevenção da Poluição e Protecção do Ambiente Marinho e Costeiro (Decreto
n.o 45/2006, de 30 de Novembro), Capítulo 7 – Infracções e sanções;
(vi) Lei de Conservação (Lei n.o 16/2014, de 20 de Junho), Capítulo 9 – Infracções e penalizações;
Embora, a penalização seja a principal estratégia para contribuir para a dissuasão de infracções, a RMPPO tem
pautado também pela estratégia de sensibilização e advertência. Os fiscais da RMPPO têm o poder discriminatório
de decisão sobre qual o curso a seguir, com base em cada caso. Apresenta-se abaixo alguns casos:
59
infractores. Os mesmos alegaram desconhecimento. A equipa de fiscalização optou, em virtude do
comportamento dos mesmos, por repreendê-los verbalmente e informaram que os mesmos poderiam
incorrer numa multa de 11 a 50 salários mínimos (cerca de 33 000,00 Mt a 165 000,00 Mt)”.
Como mencionado no Capítulo 4 – Descrição do Sistema de Governação, a RMPPO, no seu Plano de Maneio
(2011 – 2015), possui um Plano de Zoneamento, que indica claramente, para cada uma das zonas (e.g Santuário,
Uso Restrito e Uso Múltiplo), duas listagens específicas de provisão de uso. Esta listagem, clarifica quais os usos e
actividades permissíveis e não permissíveis em determinada zona. A primeira listagem de usos e actividades
permissíveis indica quais os usos e actividades que podem ocorrer por “direito” e que não necessitam de uma
licença. A segunda listagem, indica quais os usos e actividades que não podem ocorrer, em determinada zona,
excepto quando em posse da respectiva licença. No caso de determinado uso ou actividade não estar listado em
ambas as colunas, significa que é efectivamente proíbido.
Em relação aos requisitos legais para acesso público à informação estes serão discutidos em conjunto com os
incentivos de participação devido à sua complementaridade. No caso, de recursos e audiências, o quadro legal
ambiental apresenta normas para salvaguardar o acesso à justiça e equidade (CTV, 2012b). Um dos dispositivos
deste quadro legal é a Lei do Ambiente, no seu artigo 21, que suporta que “qualquer cidadão que considere terem
sido violados os direitos que lhe são conferidos por esta Lei, ou que considere que existe ameaça de violação,
pode recorrer às instâncias jurisdicionais para obter a reposição dos seus direitos ou a prevenção da sua violação”.
Um dos únicos dispositivos legais do quadro ambiental que faz menção a consultas e audiências públicas é o
Regulamento do Processo de Avaliação do Impacto Ambiental (Decreto n.o 45/2004, de 29 de Setembro, no seu
artigo 14, no 1, onde descreve: “a participação pública compreende a consulta e a audiência pública. Ela implica o
60
fornecimento de informação e auscultação a todas as partes interessadas e afectadas, directa ou indirectamente
por uma actividade, o pedido de esclarecimento, a formulação de sugestões (...)”.
Segundo (CTV, 2012b) existe no entanto, um baixo índice de procura de assistência legal e jurídica, por parte do
cidadão comum ou mesmo pelo sector privado, com vista à resolução de litígios, pelo fraco conhecimento e
consciência da existência destas normas e órgãos jurisdicionais para resolução de problemas de cariz ambiental,
bem como, pela geral percepção da morosidade destes mesmos órgãos. O cidadão, principalmente os membros
das comunidades locais, não sabem a que órgãos jurisdicionais recorrer pois, a realidade tem demonstrado que
estes órgãos dificilmente tomam uma posição justa e imparcial pelo facto de se encontrarem em posições
delicadas perante estruturas políticas (Baleira & Tanner, 2004 citado por CTV, 2012b).
Por estes motivos, o cidadão recorre às autoridades locais e lideranças comunitárias, pelo seu estatuto, mas,
infelizmente e, por vezes, tomam decisões sem fundamentos com base no quadro legal (Baleira & Tanner, 2004
2004 citado por CTV, 2012b). Contudo, no caso de resolução de conflitos a nível das comunidades locais, existem
plataformas de diálogo informal com os diferentes usuários, operadores turísticos, incluindo líderes comunitários,
com o apoio do oficial comunitário do PPF e, com o recentemente contratado oficial comunitário da RMPPO,
porque ainda não foram criados os fóruns comunitários e comités de operadores. Nestas plataformas de diálogo
informal são expostas preocupações e, junto ao Administrador, procuram-se identificar, com base no quadro legal,
soluções alternativas. Um caso recente, foi a solicitação de um encontro, pelos familiares dos infractores do caso
de tentativa de roubo de ovos de tartaruga marinha, que vinham apelar ao pagamento da multa em prestações.
Outros exemplos do estabelecimento destas plataformas de diálogo informal, podem ser retratadas em dois casos
de conflito com as comunidades, como descrito abaixo.
Logo após a proclamação da RMPPO houve conflitos entre a comunidade local de Mvukuza e a
Administração da RMPPO. Este conflito foi resolvido, aplicando uma plataforma de diálogo informal.
Actualmente, a relação é positiva. A RMPPO oferece, sempre que possível, apoio às comunidades.
Exemplos deste apoio são o transporte, estabelecimento de uma escola comunitária para crianças, envio
de técnicos de saúde, identificação de membros da comunidade para monitores de tartarugas marinhas. É
importante mencionar, que a comunidade de Mvukuza vive dentro dos limites da REM, onde o conflito
homem-animal é grande e a comunidade depara-se com a falta de acesso a serviços básicos (e.g saúde
e educação) e acesso a fontes de rendimento alternativo de curto - prazo (e.g monitoria de tartarugas,
venda de esteiras e palha). A monitoria das tartarugas é realizada apenas durante a época de desova
que corresponde a seis meses, nos períodos de Outubro a Março.
61
CASO 2. Conflito com as comunidades da Península de Machangulo
62
63
5.5 Indicadores de Participação
Propósito do Indicador
A categoria de indicadores de participação pretende aferir até que ponto é promovida a participação dos usuários, comunidades e outros
grupos de interesse para influenciar os processos de tomada de decisão que podem, potencialmente, afectar negativamente a sua qualidade
de vida, como forma de promover o seu direito de propriedade da AMP e consequentemente o seu potencial para cooperar na
implementação das decisões tomadas.
O quadro legal ambiental reconhece o valor da participação dos diferentes usuários nos processos de tomada de
decisão através da Lei do Ambiente (Lei n.o 20/1997, de 1 de Outubro), que no artigo 4, refere como princípio
fundamental “(...) a ampla participação dos cidadãos (...)” . O artigo 8, desta mesma Lei, acrescenta, ainda, que “é
obrigação do Governo criar mecanismos adequados para envolver os diversos sectores da sociedade civil,
comunidades locais (...), na elaboração de políticas e legislação (...), assim como no desenvolvimento de
actividades (...)”. Como resultado, foram posteriormente elaboradas as seguintes leis e regulamentos:
(i) A Lei de Florestas e Fauna Bravia (Lei n.o 10/1999, de 12 de Julho), artigo 3, tem como um dos seus
princípios fundamentais “as políticas de desenvolvimento económico e social e de preservação e
conservação da biodiversidade, devem envolver as comunidades locais, o sector privado e a
sociedade civil em geral (...). O Regulamento de Florestas e Fauna Bravia (Decreto n.o 12/2002, de 6
de Junho) acrescenta ainda, no artigo 2, n.o 2, alínea b, que à proposta de criação de parques e
reservas nacionais deve estar também acompanhada o “parecer do administrador do distrito ou
distritos abrangidos, baseados em consultas às comunidades locais.” A Política e Estratégia de
Desenvolvimento de Florestas e Fauna Bravia tem como objectivo a promoção da participação das
comunidades rurais na planificação e programas de gestão sustentável de recursos naturais.
(ii) O Regulamento Geral de Pesca Marítima (Decreto n.o 43/2003, de 10 de Dezembro), no artigo 15, no
1, afirma que “(...) adoptará a gestão participativa (...) para assegurar a gestão das pescarias”. O
artigo 2, dentre os seus objectivos principais, acresce ainda: “assegurar o direito de acesso às
pescarias das comunidades pesqueiras tendo em vista a proteção e a promoção do seu bem estar”,
‘a promoção da participação das comunidades pesqueiras na planificação e aplicação das medidas
de ordenamento pesqueiro”. O artigo 19, como forma de garantir a gestão participativa, cria os CCPs:
(iv) A Lei de Conservação, no artigo 4, tem também como princípio “ (...) o direito de todos os cidadãos
de serem envolvidos em processos decisórios, em toda a cadeia de valor da conservação e na
utilização sustentável dos recursos naturais.” O artigo 6, no 1, afirma “O Estado administra as áreas
de conservação de forma participativa, estabelecendo mecanismos apropriados para a participação
das entidades públicas, privadas e comunitárias”. Esta mesma Lei, no artigo 7, no 1, prevê a criação
de Conselhos de Gestão da Área de Conservação. Este artigo, afirma que este conselho é “(...)
órgão consultivo, presididos pelo Administrador da Área de Conservação, constituído por
representantes das comunidades locais, do sector privado, das associações e dos órgãos locais do
Estado que, sob a supervisão do órgão implementador da administração das áreas de conservação,
apoia a gestão e maneio da respectiva área de conservação.” O apoio consiste em: “(i)
implementação de planos de maneio; (ii) fiscalização das áreas de conservação; (iii) resposta às
necessidades de desenvolvimento das comunidades que legalmente residem nas áreas de
conservação e zonas tampão; (iv) elaboração de planos estratégicos de desenvolvimento (...); (iv)
busca de novas actividades de rendimento (...); (v) supervisão da implementação dos contratos de
concessão; (vii) tomada de medidas que fortaleçam a capacidade de conservação no contexto do
plano de maneio”.
Embora estes dispositivos legais demonstrem este reconhecimento, existe ainda muito trabalho por parte do
Governo no desenho de mecanismos e regras claras de participação. Por exemplo, a Política e Estratégia de
Desenvolvimento de Florestas e Fauna Bravia não indica quais os mecanismos a adoptar para atingir este
objectivo. O Regulamento de Florestas e Fauna Bravia também não específica quais os mecanismos a adoptar
para o processo de consultas públicas para emissão do parecer para criação de áreas de conservação. O mesmo
se aplica à Lei de Conservação. Isto é, quais os mecanismos que devem ser respeitados para garantir o
65
envolvimento dos cidadãos nos processos de tomada de decisão. Salomão (em prep.) acrescenta que esta falta de
clareza e, até morosidade, por parte do Governo levanta algumas dúvidas sobre a sua vontade política e
cometimento em relação às suas responsabilidades, conforme preconizado nestes dispositivos legais. Por outro
lado, o Regulamento de Avaliação de Impacto Ambiental, actualmente em processo de revisão, e embora com
algumas lacunas, já apresenta uma maior clareza sobre os mecanismos a adoptar.
No entanto, o que se encontra disposto na legislação não se aplica, ainda na sua totalidade, à realidade. Os
mecanismos de partilha de informação, mais concretamente os mecanismos de direito à informação e do dever de
informar, têm sido considerados como lacunas que não permitem o alcance de tomadas de decisão participativas e
efectivas. Um dos mecanismos de partilha de informação que necessita de ser construtivamente repensado é
como garantir a troca de informação com as principais partes afectadas, principalmente, as comunidades locais
que vivem adjacentes ou dependem directamente dos recursos da AMP. Muitas destas comunidades possuem
prioridades diárias básicas de geração de rendimento e, como visto na categoria de indicadores de interpretação,
não fazem da gestão e conservação dos recursos naturais sua prioridade. Estas comunidades desconhecem os
seus direitos e deveres e, desconhecem também, que podem contribuir para uma gestão participativa,
influenciando os processos de tomada de decisão. Muitas, segundo CTV (2012b) não acreditam que a sua opinião
poderá ser valorizada e consideram ser apenas uma mera formalidade do Governo. Por outro lado, existem outro
tipo de usuários, como os operadores turísticos, principalmente os operadores que possuem interesses
económicos directos sobre a RMPPO e que possuem conhecimentos sobre os objectivos de conservação, sobre o
Plano de Maneio e respectivos dispositivos legais. Consequentemente, possuem uma voz mais activa sobre os
processos de tomada de decisão.
A participação dos diferentes grupos de usuários na governação e gestão da RMPPO é crucial para o seu sucesso.
Pois este grupo, principalmente as comunidades locais e os operadores, são os que vivem directamente dos
recursos naturais e económicos que a área oferece e, como resultado são os que mais podem contribuir para a
sua sustentabilidade e conservação. Embora tenha já sido amplamente discutido nos indicadores legais acima, a
ANAC, representada pela Administração da RMPPO, reconhece a necessidade de se aplicar este terceiro
indicador participativo, o desenvolvimento da confiança e da cooperação entre os diferentes usuários, com o
propósito de contribuir para um maior sentido de uma gestão participativa, representativa e de apropriação da
AMP.
66
Como forma de retratar estes esforços, o Plano de Maneio (2011 – 2015) prevê no seu primeiro objectivo geral de
governação “o estabelecimento de arranjos institucionais apropriados, internos e externos, bem como promover
relações com os diferentes usuários”. Mais concretamente, tem como objectivos específicos de governação: (i)
“Estabelecer comités inter-ministeriais e inter-departamentais para as várias intervenções de gestão na RMPPO”;
(ii) “Estabelecer uma relação de trabalho com os operadores do sector privado, concessionários e provedores de
serviços”; (iii) “Estabelecer um comité com todas as instituições de pesquisa e investigadores” (iv) “Formalização
da relação com os fóruns comunitários que foram estabelecidos para a RMPPO”.
Em relação ao Comité de Operadores, compete aos mesmos estabelecerem estes comités com o apoio da
administração da RMPPO. Nas entrevistas aos operadores turísticos, não ficou claro se existe uma associação de
operadores. Uns afirmam que foi criada mas não está em funcionamento e, outros advertem para a necessidade
da sua criação. Porém, a grande maioria dos operadores afirmou que existe abertura para o diálogo com a
Administração da Reserva e que gostariam de contribuir para a gestão da RMPPO, recomendando a realização de
mais encontros para discussão de melhorias.
No que concerne ao quarto objectivo de governação, o Plano de Maneio (2011 – 2015) prevê a criação de pelo
menos três Fóruns Comunitários, um Fórum Comunitário de Pesca e quatro Comités de Operadores (i.e. Ponta do
Ouro e Malongane, Ponta Madejanine, Mamoli e Techobanine e Península de Machangulo; Figura 1). Mediante o
Administrador da Reserva, os Fóruns Comunitários ainda não foram criados pois não se querem criar expectativas
no seio das comunidades pelo facto de a Reserva não estar ainda produzir receitas. Um exemplo de colaboração é
o apoio das comunidades locais na fiscalização. Vários são os casos de actos ilegais cometidos e que são
reportados ou denunciados por membros da comunidade, operadores turísticos e turistas à equipe de fiscalização.
Em relação aos comités de investigação, a Reserva tem assinados vários memorandos, nomeadamente com o
CTV, Oceanographic Research Institute (ORI), Elephant Coast Company, a PPF e o iSimangaliso Wetland Park,
baseados na África do Sul (Tabela 12). Todos estes providenciam suporte técnico à RMPPO. Porém, é importante
salientar que embora não tenha sido ainda assinado o MO com a EBMI, em parceria com o DCB, tem vindo a ser,
ao longo dos anos e, antes do estabelecimento da RMPPO, um ponto de referência em estudos e trabalhos de
investigação nesta região. No entanto, Salomão (in prep.) questiona o impacto destas actividades de monitoria e
investigação, especialmente no que diz respeito à sua contribuição aos processos de tomada de decisão.
Tabela 12. Memorandos de Monitoria e Investigação com a RMPPO (Fonte: RMPPO, 2016).
67
Resumindo, a Administração da Reserva tem vido a desenvolver, dentro das suas capacidades, uma relação
aberta com os diferentes usuários através das seguintes estratégias: (i) participação e cooperação nos encontros
do Conselho Administrativo da Localidade; (ii) a abertura para diálogo com os diferentes usuários, principalmente
como os membros da comunidade e operadores turísticos; (iii) colaboração no âmbito da fiscalização, da monitoria
e investigação, bem como através de estratégias de capacitação e desenvolvimento.
Os processos participativos de planificação e de tomada de decisão são primordiais para as áreas de conservação
em Moçambique e em particular para a RMPPO. Salomão (in prep.) refere que o Governo tem envidado esforços
para estabelecer oportunidades de colaboração activa por parte dos vários grupos de usuários nos processos de
planificação e tomada de decisão na gestão dos recursos naturais. Porém, estes grupos participam de forma
diferenciada na conservação ambiental. Contudo, após extensa pesquisa bibliográfica e entrevistas com
individualidades relevantes fica a ideia de que a RMPPO foi estabelecida formalmente pelo Governo através de um
processo legislativo centralizado, solicitado também pela comunidade internacional, após, lobby feito pela
comunidade científica. A participação de outros interessados e afectados foi relativamente menor, mas
significativa.
“(...) A região entre a Ponta do Ouro e Inhaca é considerada como um centro de endemismo onde há
espécies únicas e, este centro de endemismo carecia de protecção. Em relação ao envolvimento, era do
interesse de todos que houvesse uma expansão da área de conservação”.
Dr. Bartolomeu Soto, Director Geral da ANAC, explica quais os pilares necessários para o estabelecimento de
áreas de conservação:
“A nossa abordagem para a criação de áreas de conservação inclui uma participação vasta de todos os
actores sociais, privilegiamos muito as comunidades. Tentamos trabalhar com elas para em conjunto
criarmos um entendimento comum do valor desses recursos. A título de exemplo, a RMPPO levou 4 anos
de discussão porque no meio havia desentendimentos, havia algumas incompreensões e nós tomamos a
paciência necessária até chegarmos a uma plataforma. Isto fez com que nós definíssemos os limites de
acordo com aquilo que são os limites que o sector privado e as comunidades entendem que devem ser
apropriados e, também definimos as zonas de protecção total e zonas de utilização parcial de acordo com
68
as prácticas existentes das comunidades e as necessidades de protecção de certas espécies em perigo
de extinção. E 4 anos depois, surgiu esse consenso e nós criamos a reserva marinha. Portanto aquela é
uma reserva das comunidades, na verdade, e do sector privado porque ela foi criada com base nesse
consenso”.
Outro exemplo claro de participação nos processos de planificação, foi a revisão ao Plano de Maneio. A revisão foi
feita conjuntamente, isto é, envolveu a revisão aos Planos de Maneio da REM e da RMPPO e contou com os
grupos de usuários nomeadamente: governo, organizações não-governamentais, sector privado e comunidades
locais (DNAC, 2011). As preocupações levantadas estiveram ligadas à gestão da biodiversidade, gestão de
negócios e à governação (DNAC, 2011). Por parte das questões levantadas pelas comunidades locais importante
salientar a falta de clareza referente aos seguintes aspectos relevantes e abordados neste relatório: (i) o impacto
que as restrições propostas ao uso dos recursos naturais, teria sobre os seus meios de subsistência; (ii)
compensações sobre as potenciais restrições; (iii) partilha de benefícios gerados através da cobrança de taxas e
licenças e; (iv) treino e formação para agentes comunitários (DNAC, 2011). Porém, é necessária uma avaliação
cuidada para analisar, se as recomendações feitas no processo de consulta foram acomodadas ao Plano de
Maneio.
69
70
Capítulo 6. CONCLUSÕES & RECOMENDAÇÕES
O presente capítulo apresenta as conclusões sobre os indicadores aplicados e suas estratégias de aplicação, bem
como recomendar melhorias necessárias na aplicação destes mesmos incentivos para garantir a efectividade no
alcance dos objectivos de governação e conservação da RMPPO.
Recomendações
Em relação à pesca recreativa e desportiva:
Promover a aplicação da prática de catch-and-release e o uso de anzóis circulares;
Rever as restrições de capturas (quantidades, tamanhos mínimos e épocas de defeso);
Rever o sistema de licenciamento (limites de licenças emitidas e lançamentos);
Rever a lista de espécies protegidas actualmente em vigor; e
Consolidar a comunicação com os operadores turísticos para estabelecimento de sistema de recolha de
informação.
No geral:
Consolidar o sistema de controlo e fiscalização, através da criação de novos postos, incrementar o
número de fiscais e aquisição de meios, como barcos e motas;
Colecta de invertebrados marinhos nas plataformas rochosas, da zona inter-maré, feita essencialmente por mulheres e crianças. 71
(Fotografia gentilmente cedida por Chico Carneiro)
Consolidar o programa de monitoria dos recursos pesqueiros, através da expansão da área geográfica e
da sistematização da metodologia de colecta, gestão e análise de dados;
Reforçar a protecção dos santuários existentes e promover a criação de novos santuários, incluindo
santuários geridos pelas comunidades locais; e
Reforçar a coordenação entre os diferentes intervenientes na gestão do sector das pescas e promover a
intervenção do Instituto de Desenvolvimento da Pesca Artesanal (IDEPA).
Recomendações
Promover a formação de membros da comunidade de Mvukuza como guias turísticos para observação de
tartarugas marinhas;
Consolidar e expandir o programa de monitores comunitários de tartarugas marinhas; e
Continuar a envidar esforços para aplicar e, tornar prioritário, a implementação dos projectos de acção
para determinar os direitos legais das comunidades, identificar conjuntamente alternativas de rendimento
para atingir o objectivo de garantir benefícios equitativos para as comunidades afectadas, predispostas no
Plano de Maneio (2011 – 2015).
Recomendações
Continuar a envidar esforços e, tornar prioritário, a implementação dos projectos de acção (ex. a política
de cobrança e retenção de receitas, estratégia e plano de implementação de sustentabilidade financeira)
72
para atingir o objectivo de estabelecer mecanismos sustentáveis de financiamento, previstos no Plano de
Maneio (2011 – 2015).
Recomendações
Continuar a envidar esforços e, tornar prioritário, o processo de implementação da política de cobrança e
retenção de receitas, estratégia e plano de implementação de sustentabilidade financeira para atingir o
objectivo de estabelecer mecanismos sustentáveis de financiamento, predispostos no Plano de Maneio
(2011 – 2015); e
Continuar a envidar esforços e, tornar prioritário, o processo de angariação de fundos, através da ANAC,
da PPF e demais parceiros.
Nesta mesma categoria de indicadores económicos, os indicadores abaixo não são ainda aplicados. Contudo,
recomenda-se que a Reserva torne prioritário a aplicação dos mesmos, nomeadamente:
73
Parceiros das ONGs e sector privado, dentro das suas capacidades desenvolvem programas de
educação e sensibilização, focados na sua maioria na conservação das tartarugas marinhas e limpeza da
praia;
Recomendações
Continuar a envidar esforços e, tornar prioritário, o o programa de comunicação, formação e
sensibilização e consciencialização), previstos no Plano de Maneio (2011 – 2015), com o objectivo de
garantir a continuidade e maior envolvimento de demais usuários no programa.
Recomendações
Continuar a envidar esforços e, tornar prioritário, o desenvolvimento e implementação do programa de
comunicação, formação e sensibilização e consciencialização previsto no Plano de Maneio (2011 – 2015),
com o objectivo de que este programa seja contínuo e envolva os demais usuários; e
Continuar a envidar esforços para garantir uma divulgação de benefícios, regulamentos e restrições mais
contínuo e abrangente e através de aplicação de meios novos de divulgação (e.g. placas informativas no
pontos de entrada das vilas, encontros e palestras para os que não a capacidade de leitura e capacidade
de acesso a meios de comunicação).
Recomendações
Continuar a envidar esforços e, tornar prioritário, o desenvolvimento e implementação uma política de
investigação e monitoria, incluindo o estabelecimento de um comité de avaliação de investigação),
74
previstos no Plano de Maneio (2011 – 2015), com o objectivo de que este programa seja contínuo e
envolva os demais usuários; e
Fortalecer as parcerias estabelecidas.
Recomendações
Continuar a envidar esforços para implementação de projectos de investigação e monitoria de habitas e
espécies marinhas, previstos no Plano de Maneio (2011 – 2015);
Estabelecer programas de investigação e monitoria socio-económicos;
Estabelecer programas de monitoria e avaliação periódicos de efectividade e governação; e
Consolidar os programas de monitoria e investigação.
Recomendações1
Continuar com o processo de regulamentação da Lei do Ambiente (e.g. acesso à informação ambiental);
Iniciar o processo de regulamentação complementar à Lei da Conservação, nomeadamente:
1
Recomendações ao quadro político, estratégico e legal foram já exaustivamente identificadas no CTV (2012b). Contudo, e no que
concerne ao presente relatório, é importante sublinhar que esforços devem ser feitos para continuar com a implementação dos indicadores
legais.
75
o Regulamentar o quadro jurídico dos programas MCRN, mais precisamente os modelos de
sustentabilidade de exploração dos recursos naturais e os direitos comunitários, nas áreas de
conservação;
o Rever, harmonizar a lista de espécies sujeitas a restrições e protegidas listadas no Regulamento
de Florestas e Fauna Bravia e Regulamento de Pesca Recreativa e Desportiva;
o Rever o Regulamento de Pesca Recreativa e Desportiva, principalmente na restrição de
capturas e licenciamento;
o Rever e harmonizar o destino das taxas e multas aplicadas, reforçando o orçamento para as
áreas de conservação;
Continuar a revisão e harmonização do quadro jurídico-legal ambiental; e
Repensar os mecanismos de sua implementação e divulgação.
2. Coordenação jurisdicional
A coordenação jurisdicional, entre as diferentes instituições do Estado, a nível central, provincial e local e,
envolvidas na gestão, conservação, aplicação da lei e na resolução de conflitos na RMPPO, é um trabalho
em progresso. O governo tem vindo a envidar esforços para garantir uma coordenação jurisdicional mais
efectiva. Destes esforços, é importante ter em conta o progresso do governo na criação e estabelecimento
da ANAC e a sua transferência para o novo Ministério, o MITADER, com competências e atribuições
claras para atingir os objectivos primordiais da conservação da biodiversidade; e
Esforços para uma cooperação intra-governamental mais coesa, embora evidentes, ainda apresentam
algumas fraquezas, nomeadamente a inexistência de Diplomas Ministeriais que fortalecem esta
cooperação. Os MOs, embora relevantes, parecem ser voláteis à percepção dos responsáveis que
coordenam as respectivas Direcções e/ou Institutos, a nível central. A sobreposição de responsabilidades
e mandatos é ainda uma realidade, principalmente entre a ANAC/RMPPO, a EBMI e o INAMAR. No
entanto, a colaboração entre a RMPPO e o INAMAR, apesar das diferenças, funciona positivamente, a
nível do terreno.
Recomendações
Consolidar parcerias, repensando os mandatos institucionais para evitar sobreposições de atribuições e
competências; e
Consolidar os MOs entre as respectivas Direcções Nacionais/ Instituições de coordenação jurisdicional.
3. Definições legais
Existe clareza e consistência legal na definição dos objectivos da AMP e restrições de uso; e
Os objectivos legais, o plano de maneiro, o plano de zoneamento com as respectivas restrições de uso
estão clara e consistentemente definidas. Porém, o Plano de Maneio expirou em 2015.
76
Recomendações
Iniciar o processo participativo de elaboração e revisão do novo Plano de Maneio (2016 – 2020);
Rever as restrições de uso para inclusão de novas áreas de santuário; e
Clarificar, junto das instituições relevantes, os aspectos legais e jurisdicionais da Reserva.
4. Capacidade de aplicação
O Governo representado pela a ANAC, Unidade de ACTF e, através de parceiros como a PPF, tem
contribuído para a melhoria da capacidade de administração e fiscalização da Reserva, através de meios
humanos, materiais e financeiros para garantir que a aplicação do disposto na legislação e no Plano de
Maneio (2011 – 2015), seja equitativo e efectivo. Embora estes meios não sejam os ideais, têm sido
suficientes para contribuir para um esforço conjunto, entre a RMPPO, a Delegação Marítima, Polícia,
comunidades locais e sector privado. Isto já é visível em vários aspectos como a drástica redução da
condução de veículos 4x4 na praia, redução no número de tartarugas marinhas mortas e maior controlo e
fiscalização de actividades na Reserva.
Recomendações
Reforçar o orçamento da RMPPO e dos diferentes parceiros;
Rever e melhorar o modelo de fiscalização mediante as necessidades da RMPPO e das dos diferentes
parceiros, como é o caso da Delegação Marítima da Ponta do Ouro (e.g. aumentar e capacitar o efectivo
de fiscalização estabelecer novos postos de fiscalização, aumentar os meios de fiscalização como motas,
motas-de-água e barcos);
Criar postos e acampamentos de fiscalização adicionais, principalmente nas áreas mais remotas;
Desenvolver um plano de capacitação e fiscalização para os fiscais; e
Promover a participação das comunidades locais, operadores turísticos e demais usuários na denúncia de
actividades ilegais.
Recomendações
Clarificar e harmonizar as penalidades descritas nos diferentes dispositivos legais; e
Promover a sua divulgação extensiva aos diferentes usuários.
77
6. Condições ao direito de uso e propriedade
Plano de Zoneamento, que indica claramente, para cada uma das zonas (e.g. Santuário, Uso Restrito e
Uso Múltiplo), listagens específicas de provisão de usos e actividades permissíveis e não permissíveis em
determinada zona.
Recomendações
Rever o uso e actividades permissíveis e não permissíveis; e
Promover a sua divulgação aos diferentes usuários.
7. Transparência e equidade
Existência efectiva de disposições legais que garantem a transparência e equidade na gestão de
processos. No entanto e, pelo facto de a maioria dos usuários da RMPPO não possuir conhecimentos
sobre os mesmos, bem como pelo facto de ainda não estarem criados os fóruns dos diferentes usuários, a
RMPPO tem, através dos meios e recursos existentes identificado mecanismos alternativos. Um dos
mecanismos para a resolução de potenciais conflitos, tem sido, dependendo da gravidade da situação, o
recurso a plataformas de diálogo informais junto aos membros do Comité Directivo, às autoridades locais,
aos membros das comunidades locais e ao sector privado, para garantir, sempre que possível, a
transparência e a equidade.
Recomendações2
1. Regras de participação
O quadro legal ambiental reconhece o valor da participação dos diferentes usuários nos processos de
tomada de decisão mas os mecanismos e regras de participação não estão claras ou não existem e, o
processo de partilha de informação requer grandes melhorias; e
As comunidades locais, muitas vezes, desconhecem os seus direitos e deveres e, desconhecem também,
que podem contribuir para uma gestão participativa, influenciando os processos de tomada de decisão.
2
Recomendações foram também já exaustivamente identificadas no primeiro RBG (CTV, 2012b) e que se aplicam ao presente relatório.
78
Os operadores turísticos, principalmente aqueles que possuem interesses directos assumem um papel
mais activo sobre os processos de tomada de decisão.
Recomendações
Cometimento e vontade para formalmente discutir a estruturação destas regras e mecanismos para que
sejam efectivamente incorporados na gestão e divulgados.
Recomendações
Criação e estabelecimento de fóruns comunitários e de operadores; e
Aumentar o efectivo de oficiais comunitários para promover o trabalho que a Reserva está a desenvolver,
através de estratégias de ligação e comunicação para garantir o maior envolvimento dos diferentes
usuários.
Recomendações
Promover a transparência sobre como a participação, dos diferentes usuários, afectou os processos de
tomada de decisão e, porque é que pode ou não ter afectado determinada decisão. Este aspecto deve ser
formalizado e estruturado nos processos de tomada de decisão para garantir que os usuários possam
compreender como é que as decisões são tomadas e, como é que as suas contribuições podem ser
incorporadas.
79
Capítulo 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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87
88
Capítulo 8. ANEXOS
TOTAL 4
* Indicador, que embora não seja ainda aplicado, foi discutido neste RBG pois o Governo reconhece a relevância e a necessidade de sua aplicação. ** Indicador, que embora não
seja aplicado, o Governo, através da ANAC reconhece a relevância social de apoiar as comunidades locais.
89
Época alta de turismo na Ponta do Ouro.
(Fotografia gentilmente cedida por Chico Carneiro)
ANEXO 2. Indicadores de Interpretação e sua Aplicação
TOTAL 3
TOTAL 2
90
ANEXO 4. Indicadores Legais e sua Aplicação
2. Capacidade de Aplicação
Seguindo os princípios da descentralização, existência de vontade política e capacidade suficiente por parte do governo, tecnologias de Sim
fiscalização e recursos financeiros para garantir a aplicação equitativa e efectiva de todas as restrições de uso na AMP.
3. Penalidades de Dissuasão
Sistema judicial efectivo para penalizar proporcionalmente os usuários ilegais de recursos de forma a proporcionar um nível apropriado de Sim
dissuasão e contribuir para a resolução de conflitos que podem prejudicar os objectivos de conservação.
6. Coordenação Jurisdicional
Coordenação jurisdicional entre as diferentes instituições do Estado, a nível central, provincial e local e, envolvidas na gestão, conservação, Sim
aplicação da lei e na resolução de conflitos
TOTAL 7
91
ANEXO 5. Indicadores Participativos e sua Aplicação
6. Aplicação Participativa
Promover a aplicação participativa através dos diferentes usuários e dos fiscais comunitários, bem como promover o potencial para a Não
cooperação e aplicação através do desenvolvimento de um sentido de apropriação da AMP e respeito pelas decisões tomadas.
TOTAL 4
*** O presente indicador, embora não tenha sido descrito, foi já, directa e indirectamente, discutido nos indicadores de participação
aplicados.
92
ANEXO 6. Guião das Entrevistas: Comunidades locais e operadores turisticos
Procedimento
- Apresentação da equipe de trabalho e explicação do propósito do trabalho de investigação;
- Explicação do processo de entrevista;
1. Indicadores Económicos
Qual a sua relação com a AMP? Depende da AMP para a geração de rendimentos? Descreva.
Considera que as suas actividades têm impactos (positivos ou negativos) sobre a AMP? Descreva.
Considera que a AMP está a ter impactos/benefícios para a sua vida ? Descreva.
2. Indicadores de Conhecimento
Conhece os motivos que levaram à criação da AMP? Concorda com esses motivos? Explique.
Conhece as prioridades de gestão e conservação da AMP?
Conhece as principais espécies e ecossistemas da AMP e o seu estado de conservação?
Conhece as principais ameaças que AMP enfrenta? Quais são essas ameaças?
A criação da AMP está a contribuir para a redução das ameaças e para a conservação?
Tem conhecimentos de praticas insustentáveis ou ilegais que ameaçam a AMP? Pode dar exemplos?
3. Indicadores Legais
Conhece e compreende a lei, os regulamentos, o plano de maneio, os limites e o zoneamento da AMP?
Em relação ao plano de maneio e aos limites de zoneamento considera que existem limitações? Explique.
Se detectar algum problema dentro da AMP (ex. condução na praia, pesca ilegal) que medidas tomaria?
Qual a sua percepção sobre o nível de aplicação da lei, regulamentos e plano de maneio?
4. Indicadores de Participação
Como soube que foi criada a AMP?
Esteve envolvido no processo de criação da AMP?
Como avalia o grau de envolvimento das comunidades/sector privado na gestão da AMP?
Como gostaria de ser envolvido na gestão da AMP?
Qual a sua contribuição directa ou indirecta para atingir os objectivos da gestão?
93
Que outro tipo de contribuição poderia dar para apoiar na gestão da MPA?
5. Indicadores de Interpretação
Como é que tem conhecimento sobre as regras de gestão da reserva?
Já fez parte de alguma actividade de educação e consciencialização?
Avaliação Geral
Quais as oportunidades associa com o estabelecimento da AMP?
Que constrangimentos/desafios associa com o estabelecimento da AMP?
Procedimento
- Apresentação da equipe de trabalho e explicação do propósito do trabalho de investigação;
- Explicação do processo de entrevista;
Detalhes do Entrevistado
Nome:
Nome da Instituição/Sector:
Posição:
1. Indicadores de Conhecimento
Conhece os motivos que levaram à criação da AMP? Concorda com esses motivos? Explique.
Conhece as prioridades de gestão e conservação da AMP?
Conhece as principais espécies e ecossistemas da AMP e o seu estado de conservação?
Conhece as principais ameaças que AMP enfrenta? Quais são essas ameaças?
A criação da AMP está a contribuir para a redução das ameaças e para a conservação?
2. Indicadores Legais
Qual o papel da sua instituição na governação, gestão e conservação da AMP?
Em relação ao quadro legal, plano de maneio e limites de zoneamento, considera que estes dispositivos legais são
suficientes para a implementação dos objectivos de gestão e conservação? Explique.
Em relação à estrutura de governação e gestão da AMP, considera que são adequados? Explique.
Considera que existe uma coordenação efectiva entre os diferentes órgãos de tutela da AMP?
Qual a sua percepção sobre o nível de aplicação da lei, regulamentos e plano de maneio?
Considera que existe capacidade humana e financeira para facilitar a aplicação do quadro legal?
94
3. Indicadores de Participação
Como avalia o grau de envolvimento das comunidades/sector privado no cumprimento dos dispositivos legais da AMP?
4. Indicadores de Interpretação
Os dispositivos legais existentes foram claramente comunicados aos diferentes usuários da AMP? Explique
Existem mecanismos para promover o reconhecimento e o respeito pelos dispositivos legais, incluindo os limites da
AMP? Considera apropriados? Explique
Já fez parte de alguma actividade de educação e consciencialização? Explique
Já fez parte de algum programa de treino e capacitação? Explique
Avaliação Geral
Quais as oportunidades associa com o estabelecimento da AMP/aplicação do quadro legal?
Que constrangimentos/desafios associa com o estabelecimento da AMP/aplicação do quadro legal?
95
Anexo 8. Lista dos grupos de usuários entrevistados
96
Anexo 8. Lista dos grupos de usuários entrevistados (Cont.)
97
ANEXO 9. Convenções e protocolos internacionais aplicáveis à governação da RMPPO (Fonte: Serrra, 2010).
Protocolos da SADC
Protocolo sobre o Desenvolvimento do Turismo na Região da SADC
Resolução, no 12/2001, de 20 de Março
Protocolo relativo à Conservação da Fauna e Aplicação da Lei na SADC
Resolução, no 14/2002, de 5 de Março
Protocolo sobre as Pescas da SADC
Resolução, no 39/2002, de 30 de Abril
98
ANEXO 10. Politicas, Estratégias, Leis e Regulamentos aplicáveis à governação da RMPPO (Fonte: Serra, 2011).
99
100