Do Direito Das Coisas
Do Direito Das Coisas
Do Direito Das Coisas
CONSIDERAÇÕES GERAIS
Como os bens da vida não conseguem satisfazer todos os seres humanos, as regras
de posse e de propriedade se tornaram necessárias à vida em sociedade.
Por isso, “o direito das coisas serve a dominação dos bens terrenos, sem a qual a vida do
homem é impossível” (J. W. Hedemann).
Seu campo legislativo é marcado por normas de ordem pública, que se sobrepõem
aos interesses particulares, devido a preponderância cada vez maior do interesse público
sobre o privado.
O grande passo que o direito das coisas deu, ultimamente, se refere ao interesse
coletivo na esfera da propriedade privada (função social da propriedade).
Quando falamos em função social da propriedade, falamos também na pressão
social dos últimos tempos: habitações precárias em todos os sentidos; reivindicação de
terras por grupos politicamente organizados, para obter condições de trabalho e moradia.
Tudo isso faz surgir a chamada contracultura, que se coloca antagônica ao Direito Oficial.
Outra grande inovação no que se refere ao estudo do direito das coisas é a análise
da função social da posse que é uma questão que decorre Direitos Fundamentais nas
relações entre particulares tendo adquirido uma larga importância, pois vem efetivar os
Direitos Fundamentais ao trabalho e à moradia no contexto do Estado Democrático de
Direito, principalmente com o atual Código Civil, embora, este não possua de forma
expressa previsão em seu texto, o que determina que se socorra aos princípios
constitucionais para fundamentá-la.
A função social da posse é um instrumento recente, e veio satisfazer uma
necessidade social e econômica, por isso pode-se dizer que a função social da posse não é
limitação ao direito de posse. É sim, exteriorização do conteúdo imanente da posse,
permitindo uma visão mais ampla do instituto, de sua utilidade social e de sua autonomia
diante de outros institutos jurídicos como o do direito de propriedade. A posse possui
como valores sociais a vida, a saúde, a moradia, igualdade e justiça.
Sem embargo, cabe se fazer à distinção entre função social da propriedade e função
social da posse. Vejamos, a função social da posse é mais evidente; a posse já é dinâmica
em seu próprio conceito; e, o fundamento da função social da posse revela uma expressão
natural da necessidade. A função social da propriedade é menos evidente; sua finalidade é
instituir um conceito dinâmico de propriedade em substituição do conceito estático; e, o
fundamento da função social da propriedade é eliminar da propriedade o que há de
eliminável.
Pode-se enumerar duas grandes importâncias da função social da posse: a) Todo
homem tem direito natural ao uso dos bens e à apropriação individual desses bens através
da posse, a fim de atender a necessidade individual como também para proporcionar
vantagens para o bem comum; e, b) Essa importância vem ditada, não só pelo contato do
homem com a terra, mas pelo aproveitamento do solo pelo trabalho de acordo com as
exigências pessoais e sociais, transformando a natureza em proveito de todos.
A essa idéia de posse trabalho, traz, mais uma vez, a função social da posse. No caso
de uma ação reivindicatória proposta pelo proprietário, os ocupantes poderão alegar tal
desapropriação como matéria de defesa, desde que paguem uma indenização como se
verá mais adiante.
Outrossim, ainda a título de introdução, deve-se perceber o exercício efetivo do
direito real como ato discricionário do seu titular, mas deve-se também observar que a
inércia de seu titular também pode trazer resultados negativos.
Devemos observar, também que parte do Direito das Obrigações conduz a
formação de direitos reais, como ocorre com a compra e venda.
a) Conceitos gerais:
O termo Direito Real pode ser considerado objetiva ou subjetivamente.
Objetivamente equivale a terminologia de direito das coisas, correspondendo ao conjunto
de normas que organiza os institutos da posse, da propriedade e direitos sobre as coisas
alheias. Subjetivamente é o poder jurídico da pessoa sobre a coisa, independentemente de
intermediário, tendo a coletividade com sujeito passivo das relações.
O direito real por excelência é o direito de propriedade, pois consiste no amplo
domínio do titular da coisa, dele derivando os demais direitos reais.
Como todo direito subjetivo, o direito real se origina de um fato jurídico único, não
pode ter duas origens, p. ex.: tradição e usucapião (ou é uma, ou é outra).
Difere do obrigacional porque enquanto este promove a mobilidade do circuito
econômico, ele disciplina e estática patrimonial. Difere do direito de credito porque não
necessita da identificação do sujeito passivo. Ademais, embora haja controvérsia no campo
doutrinário, prevalece o entendimento de que o rol dos direitos reais é numerus clausus, é
o Princípio da Tipicidade ou da legalidade dos direitos reais (art. 1225, CC), o que não é o
caso dos direitos obrigacionais que tem o elenco ilimitado.
Enquanto no Direito real o poder jurídico recai imediatamente sobre uma coisa, no
direito obrigacional, o poder jurídico recai sobre uma pessoa, o sujeito passivo, obrigado a
fazer, deixar de fazer ou a dar.
• Art. 1226 CC – ‘Os direitos reais sobre coisas móveis, quando constituídos, ou
transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com a tradição.’’
• Art. 1227 CC – ‘Os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos por
ato entre vivos, só se adquirem com o registro no Cartório de Registro de Imóveis
dos referidos títulos, salvo os casos expressos neste código.’’
OBS: Com relação aos imóveis cujo valor não ultrapasse a 30 vezes o maior salário-
mínimo vigente do país, dispensa-se a escritura pública. O contrato pode, assim,
formalizar-se por instrumento público particular; todavia, o registro desse instrumento é
necessário para o surgimento do direito real de propriedade. A ausência do registro não
torna o ato nulo ou anulável, apenas deixa as partes sem eficácia real perante
terceiros. → Ex: uma hipoteca não registrada vigora entre as partes, mas não gera
efeito erga omnes; assim, quem adquirir o bem não o adquira hipotecado.
a) Tipicidade: a enumeração dos direitos reais é numerus clausus (art. 1.225,CC). Observe-
se que nada impede a criação de novos direitos reais por legislação, o que se impede é que
os particulares criem direito real com fundamento em sua autonomia de vontade. A ideia
fundamental é a de que somente podem existir direitos reais se decorrentes de previsão
legal correspondente. Ou seja, há uma reserva legal, que não admite flexibilização pela
autonomia da vontade, para a criação de direitos reais. Essa característica merece ser
levada a princípio, pois é uma ideia estruturante de todo o sistema brasileiro de direitos
reais. Como ocorre no Art.1225 do CC. Um equívoco comum é considerar que este
dispositivo é numerus clausus, taxativo, ou seja, esgota todos os diretos reais. Para que
haja um direito real, é preciso que ele seja previsto em lei, não necessariamente no Código
Civil ou neste importante dispositivo transcrito. Em síntese, os direitos reais são típicos,
pois derivam da lei, mas não se pode dizer que o rol do art. 1.225 é taxativo, esgotando
todos os direitos reais, pois poderá haver outros previstos em normas legais diversas do
nosso ordenamento.
b) Oponibilidade Erga Omnes: apresentam caráter absoluto. Valem contra todas as
pessoas.
c) Direito de Seqüela: o direito real acompanha a coisa, independentemente de onde se
encontre e de quem a possua. Isto é o caráter de aderência ou de ambulatoriedade do
direito real. O direito de seqüela é o direito que tem o titular do direito real fazer valer seu
direito onde quer que o bem esteja, através dele o titular do direito tem o jus persequendi,
somente pode ser viabilizada por força da publicidade que os direitos reais possuem.
d) Publicidade: tratando-se de coisas imóveis, a regra geral é que o direito se adquire
mediante registro em Cartório de Registro de Imóveis. No que se refere aos móveis, a
aquisição se opera com a tradição, mas em favor do possuidor existe a presunção iuris
tantum de domínio. Com efeito, não se admite, por princípio, a constituição de um direito
real secreto ou sigiloso, não havendo espaço para seu estabelecimento apenas inter partes,
devendo existir, sempre, para segurança do próprio sistema, a publicização das relações
jurídicas reais.
e) Preferência: no que se refere aos direitos reais de garantia, o seu titular tem o direito de
preferência em relação aos credores simples ou quirografários, para o recebimento do
crédito, com os recursos gerados pela coisa gravada.
f) Princípios da Elasticidade e da Consolidação: o primeiro se refere à possibilidade de
desmembramento dos poderes contidos no direito de propriedade (uso e gozo). O segundo
se refere à possibilidade da reunião na pessoa do proprietário dos poderes desmembrados.
g) Princípio da Função Social: A função social de um instituto jurídico somente pode ser
compreendida a partir da relação com a sociedade e o meio em que está inserida. Quando
alguém se torna proprietário ou possuidor de uma joia ou de um terreno, este fato, por si
só, não permite visualizar a função social. A propriedade deixou de ser o direito subjetivo
do indivíduo e tende a se tornar a função social do detentor da riqueza mobiliária e
imobiliária; a propriedade implica para todo detentor de uma riqueza a obrigação de
empregá-la para o crescimento da riqueza social e para a interdependência social. Só o
proprietário pode executar uma certa tarefa social. Só ele pode aumentar a riqueza geral
utilizando a sua própria; a propriedade não é, de modo algum, um direito intangível e
sagrado, mas um direito em contínua mudança que se deve modelar sobre as necessidades
sociais às quais deve responder.
h) Abuso de Direito: A norma que trata do abuso do direto de propriedade (art. 1.228, §
2.º), eis que esta última exige o dolo específico para a sua configuração (“intenção de
prejudicar outrem”). Com efeito, a concepção tradicional da propriedade – e que consta do
caput do art. 1.228, CC/2002 – é de que o “proprietário tem a faculdade de usar, gozar e
dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua
ou detenha”. Nesse ponto uma importante reflexão deve ser feita. O § 2.º do art. 1.228
trata, especificamente, do abuso do direito de propriedade, vedando os denominados atos
emulativos: “são defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer comodidade, ou
utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar outrem”. Para Stolze, defende que,
em caso de abuso da propriedade, a parte final do art. 1.228, § 2.º, no que tange à
exigência do dolo específico de prejudicar, deve ser desconsiderada, a teor de uma
interpretação sistemática amparada na cláusula geral do art. 187 do Código Civil.
PARALELO ENTRE OS DIREITOS REAIS E OBRIGACIONAIS:
AÇÕES REAIS