05 Emergencias Glicemicas
05 Emergencias Glicemicas
05 Emergencias Glicemicas
UNITERMOS
HIPERGLICEMIA, HIPOGLICEMIA, DIABETES MELLITUS, EMERGÊNCIAS
KEYWORDS
HYPERGLYCEMIA, HYPOGLYCEMIA, DIABETES MELLITUS, EMERGENCIES
SUMÁRIO
Emergências glicêmicas são complicações frequentes na prática do
emergencista, constituindo importante causa de morbimortalidade. Este
capítulo objetiva abordar de forma prática o diagnóstico e o manejo das
emergências glicêmicas mais comuns em sala de emergência.
SUMMARY
Glycemic emergencies are frequent complications in the practice of the
emergencist physician, and it is an important cause of morbidity and mortality.
This chapter aims to approach in a practical way the diagnosis and management
of the most common glycemic emergencies in the emergency room.
INTRODUÇÃO
As emergências glicêmicas mais frequentes são a hiperglicemia,
decorrente da Cetoacidose Diabética (CAD) ou do Estado Hiperglicêmico
Hiperosmolar (EHH), e a hipoglicemia. Estas complicações metabólicas agudas
são mais prevalentes em pacientes com Diabetes Mellitus (DM), mas também
afetam pacientes hígidos ou sem diagnóstico prévio de DM.
HIPERGLICEMIA
Definição
As crises hiperglicêmicas mais graves na emergência são a CAD e o EHH,
sendo ambas, complicações agudas do DM que requerem pronto
reconhecimento e manejo1.
A CAD é caracterizada por redução da concentração efetiva de insulina e
liberação excessiva de hormônios contra-reguladores, tendo como critérios
diagnósticos a presença de hiperglicemia (≥ 250 mg/dL), acidose metabólica (ph
≤ 7,3), bicarbonato ≤ 15 mEq/L e graus variados de cetonemia. Os critérios
diagnósticos de EHH são glicemia > 600 mg/dl e osmolalidade sérica > 320
mOsm/kg. Nesta situação, o bicarbonato é geralmente ≥ 15 mEq/l, e pode haver
discreta cetonemia2.
Manifestações Clínicas
Os sintomas iniciais de hiperglicemia importante são poliúria, polidipsia e
perda de peso. Mais tardiamente, sintomas neurológicos como letargia, sinais
focais e obnubilação podem desenvolver-se, podendo progredir a coma em
estágios mais avançados. Os sintomas na CAD geralmente desenvolvem-se
rapidamente, ao longo de um período de 24h, ao passo que no EHH
desenvolvem-se mais insidiosamente1. A diferenciação do quadro clínico de EHH
e CAD estão detalhadas na Tabela 1 (adaptado da referência 3).
Condutas
Os principais objetivos do tratamento das emergências hiperglicêmicas são
a restauração do volume circulatório e da perfusão tecidual, a redução gradual
da glicemia e da osmolalidade plasmática e a correção dos distúrbios
hidroeletrolíticos e ácido-básicos. Deve-se determinar e tratar o fator
precipitante, sempre que possível3.
O manejo do EEH e CAD são similares, iniciando com a estabilização do
paciente (via aérea, respiração e circulação), obtenção de acesso venoso
periférico calibroso, monitorização e solicitação periódica de exames
laboratoriais (glicemia de 1 em 1 hora, osmolalidade, pH venoso e eletrólitos a
cada 2 a 4 horas até estabilização)4.
3o passo - Insulina
Administrar Insulina regular EV 0,1 UI/kg em bolus e após passar para
infusão contínua EV 0,1 UI/kg/h. Se a glicemia não reduzir pelo menos 50 a 70
mg/dL na primeira hora, dobrar a taxa de infusão de Insulina. Quando a glicemia
atingir 200 mg/dL pode-se diminuir a taxa de infusão para 0,02 a 0,05 UI/kg/h e
adicionar SG 5%. Deve-se continuar a infusão de Insulina até resolução da
cetoacidose (bicarbonato ≥ 15mEq/L e pH > 7,3) com glicemia < 200 mg/dL e
normalização do nível de consciência, e então realizar transição para Insulina
subcutânea4.
Definição
Em pacientes com DM, a hipoglicemia é definida como todo episódio de
concentração de glicose plasmática anormalmente baixa, com ou sem sintomas,
que exponha o indivíduo a dano. Recomenda-se que diabéticos estejam cientes
da possibilidade de hipoglicemia quando a glicemia capilar demonstrar valor ≤
70 mg/dL5.
Em pacientes não-diabéticos, o diagnóstico de hipoglicemia é baseado na
existência da tríade de Whipple, que consiste na presença de sintomas
consistentes com hipoglicemia, associada à baixa concentração de glicose
plasmática (< 45 mg/dL - aferida com método preciso) e alívio sintomático após
administração de glicose6.
Manifestações Clínicas
Os sinais e sintomas da hipoglicemia são inespecíficos. Podem ser
caracterizados como sintomas neurogênicos/autonômicos (tremores,
palpitações, sudorese, fome, parestesia) e neuroglicopênicos (alteração do
sensório, distúrbios do comportamento, anormalidades psicomotoras,
convulsão e coma). Em pacientes saudáveis os sintomas ocorrem com níveis
glicêmicos de aproximadamente 55 mg/dL. Pacientes com DM mal controlada
podem apresentar sintomas com glicemias mais elevadas, ao passo que
pacientes com controle intensivo da DM podem apresentar hipoglicemias
assintomáticas7.
Investigação na Emergência
Fármacos (sobretudo a insulina) representam a etiologia mais comum de
hipoglicemia7. Frequentemente ocorre em decorrência da insulinoterapia no
DM1, e mais raramente, do uso de insulina e secretagogos de insulina
(sulfoniluréias e metiglinidas) na DM2. Metformina, inibidores da alfa-
glucosidase (acarbose), tiazolidinedionas (rosiglitazona) e agonistas do receptor
do GLP-1 (exenatide, liraglutida) não são causadoras de hipoglicemia, porém o
risco aumenta quando usadas em conjunto com insulina ou secretagogos.
Outras drogas potencialmente causadoras de hipoglicemia são álcool,
quinolonas, beta-bloqueadores e inibidores da enzima conversora de
angiotensina6. Hipoglicemia também pode ocorrer em decorrência de doenças
graves, como sepse, insuficiência renal, cardíaca e hepática, inanição, e mais
raramente em neoplasias como insulinoma e tumores de células não-beta7.
Em pacientes diabéticos que se apresentam com hipoglicemia na
emergência o principal enfoque é o manejo da mesma e, após estabilização do
quadro, ajuste ambulatorial da terapêutica de forma a prevenir recorrência.
Caso o paciente não seja diabético deve-se investigar a etiologia da hipoglicemia
tendo em mente as possíveis causas. Os seguintes exames laboratoriais podem
ser úteis na investigação: glicemia, insulina, peptídeo-C, beta-hidroxibutirato,
pró-insulina, dosagem sérica de sulfoniluréia e meglitinida. Mais exames podem
ser indicados conforme a suspeita diagnóstica8.
Condutas
O tratamento da hipoglicemia na emergência visa restaurar os níveis de
glicose sérica, aliviando os sintomas clínicos e prevenindo complicações.
O paciente diabético, principalmente em insulinoterapia ou em uso de
sulfoniluréia, deve ser orientado sobre o risco de hipoglicemia, como
reconhecer os sintomas e como proceder na crise. Ao perceber os primeiros
sintomas de hipoglicemia o paciente deverá ingerir um carboidrato de ação
rápida (tablete de 15-20g de glicose, balas ou suco de frutas açucarado). Caso o
paciente esteja assintomático, mas com HGT ≤70 mg/dL ele deverá considerar
repetir o teste em curto período e ingerir carboidratos9.
O paciente em hipoglicemia grave costuma estar inconsciente ou sem
condições de ingerir carboidratos, necessitando auxílio para sua recuperação 9.
Na emergência, as opções de tratamento incluem:
- Glucagon 0,5 a 1mg em injeção subcutânea ou intramuscular, geralmente
levando a recuperação da consciência em cerca de quinze minutos.
- Solução EV de glicose hipertônica: 25g de glicose (dextrose) a 50%,
seguida de uma infusão contínua de SG 5% 9.
No paciente não-diabético, além de restaurar os níveis glicêmicos, deve-se
investigar e tratar a doença de base. Dependendo da etiologia, o tratamento
consiste em suspensão do fármaco indutor da hipoglicemia, mudanças
alimentares e tratamento medicamentoso e/ou cirúrgico7.
CONCLUSÃO
O diagnóstico preciso e o tratamento adequado das emergências
glicêmicas são fundamentais na diminuição da morbidade e da mortalidade por
elas geradas. Desta forma o médico emergencista deve estar apto ao manejo
rápido e eficaz dessas complicações tão frequentes na prática clínica.
REFERÊNCIAS
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2. Milech A, Perez A, Golbert AA et al. Diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes (2015-2016). São
Paulo: A.C. Farmacêutica; 2016.
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adults: Treatment. [Database on Internet]. Aug 2016. [updated Dec 07, 2015; cited 2016 Sept 15].
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hyperosmolar-hyperglycemic-state-in-adults-treatment Topic 1795 Version 26.0.
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Internet]. Aug 2016. [updated Aug 04, 2015; cited 2016 Sept 15]. In: Uptodate. Available:
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approach. Topic 1798 Version 17.0.
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