Santillana P10 Unidade 5 BQ

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Unidade 5

Português, 10.º Ano


Ficha de Avaliação

1. Leia o excerto do Canto I d’«Os Lusíadas» que se apresenta. Em caso de necessidade, consulte as notas.
Depois, apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.

105
O recado que trazem é de amigos,
Mas debaxo o veneno (1) vem coberto,
Que os pensamentos eram de inimigos,
Segundo foi o engano descoberto (2).
Ó grandes e gravíssimos perigos,
Ó caminho de vida nunca certo (3),
Que aonde a gente põe sua esperança
Tenha a vida tão pouca segurança!

106
No mar tanta tormenta e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercebida (4)!
Na terra tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade avorrecida (5)!
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme e se indigne o Céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno?
Luís de Camões, Os Lusíadas (ed. Costa Pimpão), Lisboa, Ministério dos Negócios Estrangeiros, Instituto
Camões, 2003.

NOTAS:
(1) veneno: traição.
(2) engano descoberto: a armadilha foi descoberta.
(3) nunca certo: inseguro.
(4) apercebida: próxima de nós.
(5) avorrecida: ocasiões difíceis.
A. Os quatro primeiros versos da estância 105 aludem a um evento do Plano da Viagem. Identifique-o.

B. O episódio que o Poeta recorda nos primeiros versos permite que se inicie uma breve reflexão na estância
105. Explique em que consiste essa reflexão, referindo-se à expressividade da interjeição, da adjetivação e da
exclamação.
C. A estância 106 enumera alguns dos riscos a que o ser humano se sujeita. Mostre de que forma se confere
um tom emotivo aos versos 1-4 dessa estância, indicando os recursos expressivos aí presentes.
D. A metáfora «um bicho da terra tão pequeno» indica que a visão do Poeta acerca do destino humano é
claramente pessimista. Mostre o seu acordo ou desacordo em relação à afirmação, citando as expressões
que melhor ilustram a sua perspetiva.

2. Leia o excerto do Canto VIII d’«Os Lusíadas» que se apresenta. Em caso de necessidade, consulte as notas.
Depois, apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.

96
Nas naus estar se deixa, vagaroso,
Até ver o que o tempo lhe descobre (1);
Que não se fia já do cobiçoso
Regedor, corrompido e pouco nobre.
Veja agora o juízo curioso
Quanto no rico, assi como no pobre,
Pode o vil interesse e sede imiga
Do dinheiro (2) que a tudo nos obriga.

[…]

98
Este rende munidas fortalezas (3);
Faz trédoros (4) e falsos os amigos;
Este a mais nobres faz fazer vilezas,
Eentrega Capitães aos inimigos;
Este corrompe virginais purezas,
Sem temer de honra ou fama alguns perigos;
Este deprava às vezes as ciências,
Os juízos cegando e as consciências.

99
Este interpreta mais que sutilmente
Os textos; este faz e desfaz leis;
Este causa os perjúrios entre a gente
E mil vezes tiranos torna os Reis.
Até os que só a Deus omnipotente
Se dedicam (5), mil vezes ouvireis
Que corrompe este encantador, e ilude;
Mas não sem cor (6), contudo, de virtude!
Luís de Camões, Os Lusíadas (ed. Costa Pimpão), Lisboa, Ministério dos Negócios Estrangeiros, Instituto
Camões, 2003.

NOTAS:
(1) Vasco da Gama prefere ficar na nau pois já não confia no Catual.
(2) A sede por ter dinheiro tem consequências negativas nos ricos e nos pobres.
(3) O dinheiro permite a existência de fortalezas bem fornecidas de armas.
(4) trédoros: traidores.
(5) Elementos do clero.
(6) cor: aparência, aspeto.
A. A reflexão apresentada nas estâncias acima segue a narração do episódio do resgate que Vasco da Gama
teve de pagar ao Catual de Calecute para poder regressar às naus. Explicite o tema desta consideração,
justificando a sua resposta com uma transcrição textual retirada da estância 96.
B. Indique o recurso expressivo que divulga o carácter negativo do objeto criticado e especifique as suas
consequências na vida humana.

3. Leia o excerto do Canto IX d’«Os Lusíadas» que se apresenta. Em caso de necessidade, consulte as notas.
Depois, apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.

66
Mas os fortes mancebos, que na praia
Punham os pés, de terra cobiçosos
(Que não há nenhum deles que não saia),
De acharem caça agreste desejosos,
Não cuidam que, sem laço ou redes, caia
Caça naqueles montes deleitosos,
Tão suave, doméstica e benina,
Qual ferida lha tinha já Ericina (1).
67
Alguns, que em espingardas e nas bestas (2)
Pera ferir os cervos (3), se fiavam,
Pelos sombrios matos e florestas
Determinadamente se lançavam;
Outros, nas sombras, que de as altas sestas (4)
Defendem a verdura, passeavam
Ao longo da água, que, suave e queda (5),
Por alvas pedras corre à praia leda (6).

68
Começam de enxergar subitamente,
Por entre verdes ramos, várias cores,
Cores de quem a vista julga e sente
Que não eram das rosas ou das flores,
Mas da lã fina e seda diferente,
Que mais incita a força dos amores,
De que se vestem as humanas rosas (7),
Fazendo-se por arte mais fermosas.

69
Dá Veloso (8), espantado, um grande grito:
— «Senhores, caça estranha (disse) é esta!
Se inda dura o Gentio antigo rito,
A Deusas é sagrada esta floresta.
Mais descobrimos do que humano esprito
Desejou nunca, e bem se manifesta
Que são grandes as cousas e excelentes
Que o mundo encobre aos homens imprudentes (9).

70
«Sigamos estas Deusas e vejamos
Se fantásticas são, se verdadeiras.»
Isto dito, veloces mais que gamos (10),
Se lançam a correr pelas ribeiras.
Fugindo as Ninfas vão por entre os ramos,
Mas, mais industriosas (11) que ligeiras,
Pouco e pouco, sorrindo e gritos dando,
Se deixam ir dos galgos (12) alcançando.
Luís de Camões, Os Lusíadas (ed. Costa Pimpão), Lisboa, Ministério dos Negócios Estrangeiros, Instituto
Camões, 2003.

NOTAS:
(1) Ericina: Vénus, deusa do Amor e da Beleza.
(2) bestas: arma antiga com que se atiram setas.
(3) cervos: veados.
(4) altas sestas: altura do dia em que se faz sentir mais calor.
(5) queda: quieta, calma.
(6) leda: alegre.
(7) humanas rosas: mulheres.
(8) Veloso: marinheiro que, em alguns cantos da epopeia, no plano da viagem, tem a função de narrador.
(9) imprudentes: ignorantes.
(10) gamos: animal semelhante ao veado.
(11) industriosas: ardilosas, astutas.
(12) galgos: cão muito esguio, utilizado na caça de coelhos e lebres.

A. Indique a intenção dos marinheiros no momento do desembarque na ilha. Justifique a sua resposta com
uma citação do texto.

a) Predicativo do sujeito.
b) Modificador apositivo do nome.
c) Complemento oblíquo.
B. Os marinheiros acabam por encontrar outra caça «suave, doméstica e benina» (estância 66, v. 7). Mostre
que o Poeta joga com a adjetivação e o campo semântico do vocábulo «caça», de maneira a antecipar os
eventos do episódio.
C. Os momentos a que as estâncias se referem são descritos com particular minúcia. Apresente a
caracterização que é feita dos marinheiros portugueses, comprovando a sua resposta com citações das
estâncias.
D. Demonstre que a descrição que é feita da ilha remete para o universo sensorial. Transcreva três versos
exemplificativos.
4. Leia o excerto do Canto X d’«Os Lusíadas». Em caso de necessidade, consulte as notas. Depois, apresente,
de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.

145
Nô mais (1), Musa, nô mais, que a Lira tenho
Destemperada (2) e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida (3).
O favor com que mais se acende o engenho (4)
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Dũa austera, apagada e vil tristeza.

146
E não sei por que influxo de Destino
Não tem um ledo (5) orgulho e geral gosto,
Que os ânimos levanta de contino
A ter pera trabalhos ledo o rosto.
Por isso vós, ó Rei, que por divino
Conselho (6) estais no régio sólio (7) posto,
Olhai que sois (e vede as outras gentes)
Senhor só (8) de vassalos excelentes.

[...]

154
Mas eu que falo, humilde, baxo e rudo, (9)
De vós não conhecido nem sonhado?
Da boca dos pequenos sei, contudo,
Que o louvor sai às vezes acabado.
Nem me falta na vida honesto estudo,
Com longa experiência misturado,
Nem engenho, que aqui vereis presente,
Cousas que juntas se acham raramente.

155
Pera servir-vos, braço às armas feito,
Pera cantar-vos, mente às Musas dada; (10)
Só me falece (11) ser a vós aceito,
De quem virtude deve ser prezada. (12)
Se me isto o Céu concede, e o vosso peito
Dina empresa tomar de ser cantada,
Como a pressaga mente vaticina (13)
Olhando a vossa inclinação divina,

156
Ou fazendo que, mais que a de Medusa, (14)
A vista vossa tema o monte Atlante (15),
Ou rompendo nos campos de Ampelusa (16)
Os muros de Marrocos e Trudante (17),
A minha já estimada e leda Musa
Fico (18) que em todo o mundo de vós cante,
De sorte que Alexandro (19) em vós se veja,
Sem à dita de Aquiles ter enveja. (20)

Luís de Camões, Os Lusíadas (ed. Costa Pimpão), Lisboa, Ministério dos Negócios Estrangeiros, Instituto
Camões, 2003.

NOTAS:
(1) Não mais, ou seja, basta, não continuarei a cantar.
(2) Desafinada.
(3) Indiferente, insensível.
(4) O apoio que inspira o génio do Poeta.
(5) Alegre.
(6) Providência (de Deus).
(7) Trono.
(8) Único.
(9) Mas que digo eu, homem humilde, plebeu e ignorante.
(10) A minha imaginação está entregue às musas.
(11) Só me falta.
(12) Que merece ter a vossa estima.
(13) Como adivinha a minha mente, que antecipa o futuro («pressaga»).
(14) Criatura monstruosa que tinha o poder de converter em pedra todos os que a olhassem.
(15) Monte Atlas, no norte de África.
(16) Cabo a oeste de Tânger (Marrocos).
(17) Cidade importante de Marrocos.
(18) Tenho a certeza de.
(19) Alexandre Magno.
(20) Sem invejar a glória de Aquiles, herói grego que combateu em Troia.
A. Localize o excerto apresentado na estrutura interna d'«Os Lusíadas».

B. Atente na estância 145. Caracterize o estado de espírito do Poeta e explique o que está na origem deste
sentimento.

C. Identifique os recursos expressivos presentes na estância 145 e comente a sua expressividade.


D. Justifique o pedido que o Poeta dirige a D. Sebastião na estância 146, estabelecendo uma relação com o
que é dito na estância anterior.

E. Explicite o sentido da interrogação retórica que abre a estância 154 e comente o uso do conector no início
do primeiro verso, depois de o Poeta, nas estâncias 149-153, ter formulado vários conselhos.

F. Nas estâncias 154 e 155, o Poeta procura justificar os conselhos que dirige ao rei. Refira os argumentos que
para tal apresenta.
G. Relacione os argumentos apresentados nas estâncias 154 e 155 com o ideal do homem renascentista.

H. Atente nas estâncias 155 e 156, as duas últimas do poema. Explicite o pedido que o Poeta dirige a D.
Sebastião e a tarefa que se propõe fazer.

I. Identifique os recursos estilísticos presentes nos dois primeiros versos da estância 145 e comente a sua
expressividade.
J. Analise a estância 145 quanto à estrutura estrófica, à métrica e à rima.

5. Leia o excerto do Canto I d’«Os Lusíadas». Em caso de necessidade, consulte as notas. Depois, apresente,
de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.

4
E vós, Tágides (1) minhas, pois criado
Tendes em mi um novo engenho ardente (2),
Se sempre em verso humilde (3) celebrado
Foi de mi vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado (4),
Um estilo grandíloco (5) e corrente (6),
Por que de vossas águas Febo (7) ordene
Que não tenham enveja às de Hipocrene (8).

5
Dai-me ũa fúria grande e sonorosa (9),
E não de agreste avena ou frauta ruda (10),
Mas de tuba canora e belicosa (11),
Que o peito acende e a cor ao gesto muda (12);
Dai-me igual canto aos feitos da famosa
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;
Que se espalhe e se cante no universo,
Se tão sublime preço cabe em verso.
Luís de Camões, Os Lusíadas (ed. Costa Pimpão), Lisboa, Ministério dos Negócios Estrangeiros, Instituto
Camões, 2003.

NOTAS:
(1) Ninfas do Tejo, que aqui servem de musas inspiradoras.
(2) Génio inspirado para compor (uma epopeia).
(3) Referência à poesia lírica: Camões já antes escrevera poemas sobre o Tejo.
(4) Um estilo elevado e sublime, próprio da poesia épica.
(5) Grandioso, nobre.
(6) Fluente.
(7) Febo é Apolo, deus da poesia e da música.
(8) Fonte da Grécia, cuja água dava inspiração a quem a bebesse.
(9) Inspiração elevada.
(10) Duas referências às flautas dos pastores, que representam aqui a poesia bucólica e lírica.
(11) Trombeta sonora e guerreira, que simboliza a poesia épica.
(12) Um estilo que inspire a alma.

A. Localize o excerto apresentado na estrutura interna d'Os Lusíadas.

B. O Poeta alude, no texto, a dois tipos de poesia. Identifique-os e faça um levantamento das expressões que
os caracterizam.

C. Sintetize o conteúdo das duas estâncias.


D. Identifique os recursos estilísticos presentes em «Que o peito acende [...]» (est. 5, v. 4), comentando a sua
expressividade.

E. Interprete o facto de o Poeta pedir inspiração às Tágides e não a musas gregas.

F. Interprete as três ocorrências de «Dai-me» nas duas estâncias (est. 4, v. 5; est. 5, v. 1 e v. 5).

G. Justifique a utilização, nestas estâncias como em todo o poema, de uma linguagem fortemente marcada
por latinismos e construções frásicas latinizantes.
H. Analise a estância 4 quanto à estrutura estrófica, à métrica e à rima.

I. Refira outros momentos d'«Os Lusíadas» em que o Poeta volta a fazer invocações.
6. Construa uma síntese do seguinte texto de António José Saraiva, com um mínimo de cento e noventa e um
máximo de duzentas e dez palavras.

Os temas humanísticos e a ideologia cavaleiresca


É fácil demonstrar que Os Lusíadas são um produto erudito do humanismo, e não a florescência de uma
planta de raízes populares. Desde logo é evidente que Camões tem os olhos postos, constantemente, na
Antiguidade. Para cada herói português encontra ele um paralelo grego ou latino, ou ainda dos povos
perpetuados pelos historiadores latinos ou gregos. É a luz que vem da Antiguidade que doura e enobrece os
feitos dos Portugueses.
[A] impermeabilidade do Poeta às civilizações do Oriente, tem, decerto, algo que ver com a sua cultura
aristocratizante e livresca de humanista, que o fazia sentir-se num degrau de onde via o mundo de maneira
preconcebida e armado de um sentimento de superioridade.
A voz do humanista faz-se ouvir também sob a forma de conselhos e ensinamentos ao rei e seus ministros.
Camões desempenha aí a função pública e percetiva que a si próprios se atribuem os vates do Renascimento,
e com força e autoridades especiais o Dr. António Ferreira. O fundo dos conselhos camonianos não excede a
doutrina social e política mais corrente nos humanistas e fica mesmo aquém de certos atrevimentos de Sá de
Miranda e de [António] Ferreira. O pensamento político essencial dos humanistas é o da existência de um
bem público que ao rei compete garantir, subordinando-se-lhe. Na segunda metade do poema (Cantos VI a
X), Camões não poupa as censuras àqueles que antepõem a esse bem público o seu interesse particular.
Entre as coisas que o desgostam no mundo, o deus Cupido vê principalmente os que aplicam e fazem as leis
contra o bem público.
Mas há certamente um tom, nestas digressões camonianas, sobre questões sociais e políticas, que parece
faltar nos humanistas seus contemporâneos, e especialmente em Sá e Ferreira. Estes dirigem-se
normalmente ao rei, ou a quem exerce os seus poderes, para que faça aplicar a lei do bem público. Camões
parece falar não só ao rei, mas também aos nobres, que considera corresponsáveis nessas leis e sua
aplicação. Dir-se-ia que, para Camões, contrariamente ao que sucede com outros humanistas, não cabe ao
rei a responsabilidade única pelo bem público, antes a partilha, como um rei Artur com aqueles outros a
quem compete na paz dar leis iguais e constantes e na guerra vestir as armas contra a lei dos Sarracenos. E,
por outro lado, o tom em que o Poeta se dirige ou alude ao jovem rei é o de um velho e experimentado
fidalgo em funções de aio que pretende prevenir e doutrinar o pupilo, praticando aquela operação a que ele
próprio chama «Mondar-se o novo trigo florescente».
Certamente a juvenilidade do rei D. Sebastião, a sua dependência em relação aos tutores, consente esta
atitude e fortifica o sentimento de uma responsabilidade coletiva da nobreza pelo destino do país. Mas não
há dúvida — e isso mesmo o confirma — de que Camões (embora simples escudeiro) se sente solidário com
as responsabilidades da nobreza, à qual coletivamente se dirige, lembrando-as. E fá-lo também para
defender um ideal de vida, que não é, longe disso, o da tranquilidade horaciana, na companhia dos livros e
das árvores, que Sá de Miranda louva no seu refúgio de Cabeceira de Basto, que Ferreira contrapõe à
brutalidade da guerra e a que o próprio Camões aspira, como vimos nas «Oitavas ao Desconcerto do
Mundo». É de armas, e não de livros que agora fala.
Camões dirige-se aqui aos guerreiros, propondo-lhes um ideal heroico de vida que está fora do horizonte dos
humanistas. E é também de guerreiros que fala nas últimas recomendações a D. Sebastião, ao fechar o
poema.
António José Saraiva, Luís de Camões — Estudo e Antologia, 3.ª ed. revista, Amadora, Livraria Bertrand, 1980
(com adaptações).
7. A partir da afirmação de Jorge de Sena abaixo apresentada, que diz respeito à simbologia da Ilha
Namorada d’«Os Lusíadas», construa um texto expositivo bem estruturado sobre a importância do Amor
enquanto recompensa n’«Os Lusíadas». O seu texto deve ter entre cento e vinte e cento e cinquenta palavras
e obedecer à tipologia do texto expositivo.

«Trata-se sobretudo de sublinhar, quando a intolerância e a crueldade se instalaram oficialmente como


formas sociais, como o Amor é conquista e rendição, mas acima de tudo posse e dádiva, e prazer que
nenhuma moral tem direito de limitar; os atos do Amor são a divinização dos heróis […]»
Jorge de Sena, «Aspetos do Pensamento de Camões através da estrutura linguística de Os Lusíadas», in Actas
da I Reunião Internacional de Camonistas, Lisboa, Comissão Executiva do IV Centenário da publicação de Os
Lusíadas, 1973, p. 30.
8. Recorde os excertos d’«Os Lusíadas» subordinados às reflexões do Poeta e construa um texto de
apreciação crítica em que analise o tratamento que é dado aos vários tópicos focados nesses excertos.
Construa um texto entre cento e vinte e cento e cinquenta palavras.
9. Partindo da sua experiência de leitura d'«Os Lusíadas», desenvolva uma exposição em que demonstre que
Camões, além da glorificação do passado, faz também uma crítica ao presente e olha para o futuro. Construa
um texto bem estruturado, com um mínimo de cento e vinte e um máximo de cento e cinquenta palavras.
10. Com base na sua experiência de leitura da epopeia camoniana, desenvolva uma exposição em que
comente a afirmação abaixo transcrita. Construa um texto bem estruturado, com um mínimo de cento e
vinte e um máximo de cento e cinquenta palavras.

«O objetivo do poema é menos contar uma história do que ensinar um povo: mostrar-lhe em que consiste o
heroísmo e o que deve ser um homem. Como humanista, compete-lhe ainda fazer justiça (emendando a tão
falível justiça dos grandes): premiar, dar fama, imortalizar os que são dignos de ser salvos do esquecimento; e
também censurar aqueles que, apesar de altamente colocados, não estiveram à altura do ideal proposto. E,
por fim, dar sentido às realidades que o cercam e de que se faz testemunha. Perceber o significado dos
acontecimentos e através deste significado selecionar e ordenar os elementos. Os Lusíadas são uma tentativa
de compreender a história de Portugal num mesmo movimento (a luta contra o maometano) e de interpretar
o seu papel na história universal (defesa da Cristandade; missão evangelizadora; descobrimentos).»
Maria Vitalina Leal de Matos, Introdução à Poesia de Luís de Camões, Maia, Instituto de Cultura e Língua
Portuguesa, 1992, p. 41.
11. Fazendo alusão à sua experiência de leitura da lírica trovadoresca e da epopeia camoniana, desenvolva
uma exposição sobre a inspiração marítima na nossa literatura e as diferentes representações do mar.
Construa um texto bem estruturado, com um mínimo de cento e vinte e um máximo de cento e cinquenta
palavras.
12. Leia o texto seguinte de Viriato Soromenho-Marques. Depois, para cada item, selecione a opção correta.

A pilhagem de África
Korinna Horta é uma economista que há muitos anos se especializou no estudo dos impactos ambientais e
sociais dos investimentos das agências multilaterais de desenvolvimento. A partir da sua sede em
Washington, numa das mais importantes organizações não governamentais dos EUA, o Environmental
Defense Fund, Korinna Horta tem percorrido o mundo na pista dos sulcos de destruição deixados pela
marcha de algumas das maiores deslocações de recursos financeiros, mobilizados pela, aparentemente
saudável, necessidade de dar combate ao subdesenvolvimento.
Aproveitando a reunião anual em Washington da direção do Banco Mundial (BM) e do Fundo Monetário
Internacional, Korinna e uma colega do Chade, Delphine Djiraibe, publicaram um artigo (no Boston Globe,
27.09.2002) sobre um dos mais negativos projetos a que o BM deu assentimento nos últimos anos. Trata-se
do apoio em cerca de 3,7 mil milhões de dólares concedido pelo BM a um consórcio liderado pela
Exxon/Mobil, que pretende construir um enorme campo de exploração petrolífera e o correspondente
pipeline, atingindo áreas vastíssimas do Chade e dos Camarões. As vozes mais prudentes alertaram o BM —
tanto mais que este tem dado provas de alguma crescente sensibilidade ambiental — para a tragédia que
poderia estar a germinar. Não só esse projeto iria funcionar como um terramoto social, pelo efeito
destruidor sobre as comunidades locais, como a destruição de largas manchas de floresta virgem ganharia
uma dimensão de autêntico ecocídio. Acresce ainda, que na rota do projeto se encontram comunidades,
conhecidas localmente por «Pigmeus», devido à sua baixa estatura, para quem este projeto constitui um
desafio de vida ou de morte. A possibilidade de um genocídio está em aberto, para usarmos as palavras
corretas.
Outro motivo para prudência, que foi ignorado pelo BM, reside no caos político reinante nos dois países. O
Chade vive há muito mergulhado numa guerra civil e os Camarões encontram-se no cimo do ranking dos
países com administrações públicas mais corruptas do mundo. Contra todas as advertências, o BM avançou,
tendo como único escudo contra a desgraça anunciada um conjunto de requisitos minimizadores, visando
garantir uma justa distribuição dos lucros do projeto, assim como a diminuição dos impactos sociais e
ambientais.
Todos os relatórios independentes, e mesmo os relatórios do BM sobre a evolução do projeto indicam,
contudo, que o frágil escudo de boas intenções se partiu ao primeiro golpe da espada, isto é, da voragem
gananciosa que mobilizou o projeto. O presidente do Chade foi surpreendido a usar parte do dinheiro do BM
para suportar o seu esforço de guerra. As instituições necessárias para a justa distribuição dos lucros do
projeto continuam no papel, enquanto ao longo dos mais de mil quilómetros de pipeline desaparece a
floresta, são exterminadas espécies raras, são desalojadas as populações locais que dependiam da floresta,
as escolas ficam sem professores e alunos, aspirados pelas promessas de ganhos temporários e fáceis no
projeto, aumenta a prostituição infantil e amplia-se a infeção com HIV num ritmo de expansão geométrica.
Esta é uma estória, mais uma, sem moral. Como sempre não haverá responsáveis, e aqueles que puseram a
sua assinatura nesta extensão do inferno ao coração da África Central, continuarão a dormir descansados na
expectativa de lucrativas carreiras. O que não podemos é ignorar a forma como, até entre os que se
consideram «amigos» de África, se encontram aqueles que tudo têm feito para pilhar e para a tornar um
Continente irremediavelmente perdido.
Viriato Soromenho-Marques, «A Pilhagem de África», in Jornal de Letras, Artes e Ideias, n.º 836, Lisboa, ACJ-
Edipresse, 16 a 29 de outubro de 2002.
A. Pode afirmar-se que o objetivo principal do texto é

____ (A) recomendar a leitura do artigo publicado em 2002 no «Boston Globe».

____ (B) descrever o projeto da Exxon/Mobil a que o Banco Mundial deu apoio.

____ (C) exprimir o sentimento de fúria do autor em relação à corrupção política.

____ (D) apelar à consciência da opinião pública, apresentando um mau exemplo de apoio financeiro.

B. O «Environmental Defense Fund» é

____ (A) uma organização financeira fundada por Korinna Horta.

____ (B) uma organização que se dedica a avaliar os efeitos dos investimentos, a nível ambiental e social.

____ (C) uma organização não governamental que se dedica ao investimento em países africanos.

____ (D) uma organização não governamental que supervisiona as transferências de recursos financeiros
com origem no Banco Mundial.

C. A expressão «(no «Boston Globe», 27.09.2002)» (linhas 8-9) surge entre parênteses porque

____ (A) se refere a informação supérflua.

____ (B) se refere a informação de cariz jornalístico.

____ (C) se refere à identificação da fonte da informação mencionada anteriormente.

____ (D) se refere a informação adicional.

D. Segundo o autor, os motivos pelos quais o BM não deveria apoiar o projeto da Exxon/Mobil são

____ (A) dois: o tumulto social e a devastação ecológica causada pelo «pipeline».

____ (B) três: o tumulto social, a devastação ecológica e a destruição do habitat dos Pigmeus.

____ (C) três: o tumulto social, a devastação ecológica e a corrupção na Administração Pública dos países
envolvidos.

____ (D) dois: o tumulto social e a corrupção nos governos africanos envolvidos, que resultarão num
processo de devastação ecológica.

13. Leia o texto seguinte. Depois, para cada item, selecione a opção correta.
A ilha que não se chamava assim
Utopia ou lugar alegórico, a Ilha dos Amores nunca existiu. Não apenas neste sentido imediato, de não haver
na geografia real uma porção de terra rodeada de mar por todos os lados que lhe corresponda, não obstante
as várias tentativas para localizá-la, mas também porque Camões nunca falou em «Ilha dos Amores»…
Se percorrermos os Cantos pertinentes de Os Lusíadas, o IX e o X, veremos que nunca esse topónimo é
usado. O que mais se aproxima do sentido correspondente é a designação «Ilha namorada» (IX, 51), repetida
em X, 143. Vale a pena recapitular essas passagens. A primeira refere o avistamento da ilha ao romper da
manhã. O segundo trecho abre com a despedida de Tétis.
Basta uma rápida leitura destas estâncias para nela podermos encontrar várias simetrias. Desde logo a rima
em «ada», na primeira inscrita nas palavras «amada», «prolongada» e «namorada» e, na segunda, repetida
pelas palavras «amada», «namorada» e «desejada». Nos dois casos, «amada» refere-se a pátria e
«namorada» à Ilha. E se o «prolongada» da primeira estância intensifica a perspetiva da «grande viagem», o
«desejada», aplicado na segunda à companhia das Ninfas, envolve uma ideia que é de prolongamento ou
duração ainda maiores: para além do tempo da viagem, a existência dessa companhia «gloriosa» das Ninfas
eternamente projetada na viagem.
Por outro lado, nos dois casos há um imperativo prático ligado à navegação a correlacionar também as duas
passagens: na primeira estância, os nautas precisavam de fazer aguada; na segunda, seguem viagem,
devidamente aprovisionados. A transfiguração mítica operada pelo episódio da Ilha ocorre pois a partir de
uma situação de necessidade concreta ligada à preparação logística da jornada que assim arrancava. E diga-
se, de passagem, que Camões localiza a Ilha pouco depois da partida das naus, ao iniciarem o seu regresso a
Portugal: os navegadores desejam prover-se de água para um tão longo trajeto, o que não arredaria a
hipótese das Seychelles, onde se encontra a «Ilha do Almirante», para quem se obstinasse a procurar uma
correspondência efetiva entre a sede do episódio mítico e a geografia do mundo.
Em terceiro lugar, temos que a expressão «Ilha namorada» é usada duas únicas vezes, exatamente no início e
no fim do respetivo subepisódio, entre a chegada à Ilha e a partida dela, e portanto a abri-lo e a fechá-lo com
essa referência qualificada, o que se estende por nada menos de 188 estâncias, 45 no Canto IX e 143 no
Canto X. Ao longo dele, a adjetivação das propriedades da Ilha vai toda no sentido do prazer: «fresca e bela»
(IX, 52), «fermosa, alegre e deleitosa» (IX, 54), «angélica» (IX, 89), sendo-lhe também referidos «os deleites»
(IX, 89) e «os gostos» (X, 73).
Porei de lado a sequência mais do que conhecida e interpretada: avistamento da Ilha, desembarque,
encontro da natureza luxuriante, perseguição das Ninfas, banquete, ascese e contemplação da máquina do
mundo, profecias de Tétis, partida para Portugal, limitando-me a apontar o trajeto articulado do amor físico
ao amor cósmico que permite o conhecimento do Universo e move o sol e as mais estrelas, para usar a
formulação de Dante.
É que me parece muito duvidoso que D. Sebastião tenha jamais ouvido ler Os Lusíadas. Se isso aconteceu,
com certeza houve o cuidado de lhe escamotearem os Cantos IX e X no que à Ilha Namorada diz respeito. O
rei tinha profunda aversão às mulheres, em parte, decerto, pelo fanatismo da educação que recebera, em
parte, talvez, por maleitas físicas de que sofria e que os físicos e diplomatas da época reportavam.
Enfim, dessa ilha que nunca existiu, nem mesmo no texto literário, sob o nome que gerações sucessivas lhe
vêm dando até aos nossos dias, pode dizer-se que tinha pontos de contacto com o célebre banquete de
trovas mandado servir por Camões a alguns dos seus amigos na Índia. Limitava-se a uma existência pela
palavra, suprema iguaria, no largo oceano do estro do Poeta. Mas, enquanto no banquete de trovas se
tratava de um mero chiste gracioso e bem-humorado, neste caso, a palavra modelou profundamente o nosso
imaginário.
Vasco Graça Moura, «A ilha que não se chamava assim», Oceanos, n.º 46, CNCDP, abril/junho 2001, pp. 125-
127 (com adaptações).

A. O título do texto de Vasco Graça Moura chama a atenção para o facto de a ilha referida nos Cantos IX e X
d’«Os Lusíadas»

____ (A) não ter existência geográfica.

____ (B) não se denominar «ilha».

____ (C) não possuir a denominação atribuída tradicionalmente.

____ (D) possuir uma denominação mais acertada.

B. No segmento «Nos dois casos, «amada» refere-se a pátria e «namorada» à Ilha» (linhas 10-11)

____ (A) destaca os adjetivos que caracterizam a ilha.

____ (B) aponta para uma referência adjetival.

____ (C) introduz uma comparação entre «pátria» e «ilha».

____ (D) utiliza uma elipse da forma verbal.

C. Segundo o texto, o «imperativo prático» (linha 15) que obrigou os marinheiros a aportar à ilha namorada
corresponde

____ (A) à necessidade de abastecimento de água potável.

____ (B) à necessidade de encontrar água.

____ (C) à obrigação de parar antes de iniciar a longa navegação até Portugal.

____ (D) à necessidade de caçar.

D. O referente «-lo» (linha 24) é

____ (A) «início» (linha 23).

____ (B) «fim» (linha 24).

____ (C) «subepisódio» (linha 24).

____ (D) «do respetivo subepisódio» (linha 24).


E. O texto apresentado pode enquadrar-se na tipologia

____ (A) narrativa.

____ (B) expositiva.

____ (C) demonstrativa.

____ (D) descritiva.

14. Leia o texto seguinte. Depois, para cada item, selecione a opção correta.

A beleza, como fim em si


Mário Jorge Torres
04.05.2006
O mínimo que se pode dizer de Terrence Malick é que é um cineasta bissexto: apenas quatro filmes em mais
de trinta anos, mas uma aura de cineasta maldito, cultivada com o estilo blasé (1) de quem filma por impulso
incontrolável, criando obra e evidenciando um estilo. Quando Noivos Sangrentos/Badlands estreou, em
1973, a crítica embandeirou em arco e falou-se de Orson Welles (2) (o eterno complexo da personalidade
genial, que Hollywood nunca digeriu) e de Nicholas Ray (3).
Quando regressou, em 1998, depois de vinte anos de ausência, durante os quais «se fez esperar», com o
estranhíssimo filme de guerra, The Thin Red Line/A Barreira Invisível, cumpriu-se uma espécie de retorno
messiânico. A relação entre paisagem e violência continuava a ser conflituosa. A obsessão pelo «belo»
dominava a ação, desde o prelúdio quase etnográfico, ao grafismo abstrato da guerra que se não vê, mas se
sente, se ouve, se respira. O gosto pelo monólogo, pelo tratamento alegórico dos materiais, o narcisismo do
olhar sobre o real (e sobre o filme como reflexo) mantêm a mesma noção de «estilo próprio» e unificam os
filmes, para além das suas dissemelhanças.
O Novo Mundo afina pelo mesmo diapasão, reincide nas características próprias do olhar de Malick, atento
ao esplendor da paisagem, ao fulgor de cada reflexo na água ou nas árvores, com uma fragilidade narrativa
que contrasta com a intensidade da intervenção sobre um corte na História ilustrada, com a precisão de um
metrónomo e a assimetria de um espelho convexo.
O objetivo principal passa por uma ambiciosa saga dos primórdios da América, debruçando-se sobre os
amores primitivos de Pocahontas e do capitão John Smith, com extraordinário cuidado na reconstituição,
desde os trajes ou pinturas de guerras, das condições de vida à fotografia pictórica dos locais onde tudo
«parece» ter decorrido. Como poema visual, o filme cumpre, na perfeição, o seu programa, com um
«pastiche » wagneriano a dar o tom semiépico a um documentário que oscila (bem à maneira de Malick)
entre o National Geographic de luxo e a grandiloquência de uma epopeia histórica. A voz off duplica a
imagem, explica o já visto e resiste, como sempre, a uma narrativa factual, preferindo acumular sinais,
indícios mínimos, preciosas notações de pormenor.
A violência e a morte inscrevem-se, assim, numa espécie de vazio psicológico e referencial, que o
realizador escolhe como pano de fundo para os amores vagos e trágicos do par heroico. Tudo passa pelo
crivo do belo artístico com uma proficiência desmedida: a belíssima estreante Q’Orianka Kilcher (Pocahontas)
exibe os seus dotes físicos e mostra uma assinalável fotogenia, Colin Farrell passa pelo filme com uma
discrição que não justifica o estrelato, Christopher Plummer e Christian Bale «estão», num estatismo
consentâneo com a lentidão de um processo de descoberta da História, au ralenti. A mesma rarefação
abstratizante de A Barreira Invisível apossa-se dos momentos de ação, espoletando qualquer emoção digna
de menção. O olhar é neutro, límpido, perfeito, mas, em última análise, «inútil».
A reverência pela figura mítica de Pocahontas resulta numa serenidade olímpica, num panteísmo por
encomenda, numa simbiose entre a animalidade e a adaptação ao meio, com um inglês (demasiado)
impecável e uma pureza, digna de uma sombra, de um arquétipo. As revoltas, a fome, o confronto com a
natureza hostil, tudo decorre numa plácida paleta de meios tons de poema tonal, construído sobre uma vaga
reminiscência da História. Cada plano é estudado, recomposto, retocado, cada movimento de câmara revela
horas de solene (e pomposa) atenção à multiplicidade de símbolos e de significados ocultos: as penas de
amor aparecem entrosadas num complexo enquadramento a refazer primitivos americanos, quadros de uma
densidade de composição requintadíssima. As imagens de Inglaterra têm o cuidado de citar quadros
de época, com um rigor maníaco. A beleza entra pelo filme dentro, como fim em si, anulando toda e
qualquer mácula, toda e qualquer imperfeição, num maneirismo desesperado, pronto a atingir o ponto em
que arte se alimenta canibalisticamente de si própria. O filme dura pouco mais de duas horas, poderia durar
vinte. O tempo não conta para um mundo em que a contemplação se esgota no ato de contemplar.
Retiramos prazer deste exercício de cinema? Sem dúvida, mas lembramo-nos, como nunca, da frase famosa
de Samuel Fuller (4), no filme de Godard, Pedro, o Louco: «Cinema é emoção.» E este O Novo Mundo é frio,
letal, mais-que-perfeito, embora belo como uma estampa.
http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/a-beleza-como-fim-em-si-1653566, consultado a 25 de
novembro de 2014 (com adaptações).

NOTAS:
(1) blasé: do francês, cansado, entediado.
(2) Orson Welles: (1915-1985) realizador, encenador e ator norte-americano conhecido pelas suas inovações
técnicas e narrativas.
(3) Nicholas Ray: (1911-1979) realizador norte-americano cujos filmes se centravam em temáticas polémicas.

(4) Samuel Fuller: (1912-1997) cineasta e escritor norte-americano que centrou a sua obra em temas
controversos e provocadores.

A. O artigo de Mário Jorge Torres intitula-se «A beleza, como fim em si», porque

____ (A) constitui um ensaio filosófico sobre a importância da estética no cinema atual.

____ (B) se refere à beleza e à fotogenia da atriz Q’Orianka Kilcher.

____ (C) considera o filme «O Novo Mundo» como um exemplo de trabalho centrado na beleza dos
cenários.

____ (D) considera o filme «O Novo Mundo» como um exemplo de trabalho artístico centrado nos
pormenores estéticos.
B. O objetivo central do artigo é

____ (A) divulgar as características do cinema de Terrence Malick.

____ (B) recomendar o visionamento do filme «O Novo Mundo».

____ (C) descrever as características específicas do filme «O Novo Mundo».

____ (D) comparar o estilo de Terrence Malick com o estilo de vários realizadores norte-americanos.

C. Na estrutura apresentada pelo texto, podemos identificar os seguintes momentos:

____ (A) apresentação do realizador; referência à obra; análise do filme; conclusão.

____ (B) apresentação do crítico; descrição do filme; referência aos atores; síntese final.

____ (C) descrição do filme; referência à obra; apresentação do realizador; síntese final.

____ (D) apresentação do realizador; referência à obra; descrição do filme; conclusão.

D. Com a expressão «é um cineasta bissexto» (linha 1), o crítico pretende caracterizar Terrence Malick como

____ (A) um realizador que apenas lança um filme de quatro em quatro anos.

____ (B) um realizador que produz com pouca frequência.

____ (C) um realizador que produz obras complexas e difíceis de compreender.

____ (D) um realizador que produz obras impulsivas e extravagantes.

E. A expressão «estilo blasé» (linha 2), corresponde à imagem que Terrence Malick criou junto do público,
correspondente a uma forma

____ (A) enigmática de filmar.

____ (B) comprometida de filmar.

____ (C) arrogante de filmar.

____ (D) empenhada de filmar.


F. Ao citar os nomes dos realizadores Orson Welles e Nicholas Ray, o autor pretende

____ (A) mostrar que Terrence Malick é tão genial quanto estes cineastas.

____ (B) comparar o estilo de Malick com estes cineastas norte-americanos.

____ (C) enumerar os cineastas norte-americanos em quem Terrence Malick se inspirou.

____ (D) indicar os cineastas a quem Terrence Malick foi comparado no início da carreira.

G. Quando o crítico afirma que o filme «O Novo Mundo» «afina pelo mesmo diapasão» (linha 13), pretende

____ (A) indicar que a banda sonora é a mesma do seu filme «A Barreira Invisível».

____ (B) evidenciar a semelhança no estilo dos filmes que Malick realiza.

____ (C) indicar que a narrativa é semelhante à do seu filme «A Barreira Invisível».

____ (D) evidenciar que o realizador prefere que os atores reproduzam monólogos.

H. No quarto parágrafo, o autor reflete sobre os aspetos técnicos do filme, como

____ (A) a escolha dos cenários, a iluminação, a banda sonora e a caracterização das personagens.

____ (B) a adequação do guarda-roupa e dos cenários, a banda sonora, a narração e os diálogos.

____ (C) a adequação do guarda-roupa e dos cenários, a banda sonora e a narração.

____ (D) a seleção dos locais, a adequação do guarda-roupa e dos cenários e o som.

I. O filme «O Novo Mundo» é

____ (A) um documentário sobre a colonização dos territórios da América do Norte.

____ (B) um filme que segue uma intriga factual sobre a conquista da América do Norte.

____ (C) um documentário sobre Pocahontas semelhante aos da série «National Geographic».

____ (D) um filme histórico que retrata o romance entre Pocahontas e o capitão Jon Smith.
J. Na frase «Cada plano é estudado, recomposto, retocado» (linha 37) encontramos

____ (A) uma metáfora.

____ (B) uma enumeração.

____ (C) uma gradação.

____ (D) uma repetição.

K. O último parágrafo apresenta

____ (A) uma conclusão positiva em relação ao filme.

____ (B) uma conclusão que problematiza a noção de cinema e a avaliação do filme.

____ (C) um argumento favorável à defesa do cinema enquanto expressão da beleza.

____ (D) uma fundamentação sobre os aspetos negativos do filme.

15. Leia o texto seguinte. Depois, para cada item, selecione a opção correta.

360º — Ciência Descoberta, uma exposição sobre a História da Ciência


Manuscritos e artefactos revelam a Ciência por detrás dos Descobrimentos
Sara Pelicano
07.02.2013
A 2 de março é inaugurada a exposição 360º — Ciência Descoberta, uma iniciativa coordenada pelo
investigador Henrique Leitão, do Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia da
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Até junho, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa,
será possível ver mapas, animais embalsamados, manuscritos e artefactos que contam a história da Ciência
na Península Ibérica.
A exposição «mostra a importância da ciência portuguesa e espanhola no período dos descobrimentos, a sua
importância para a formação da ciência moderna no século XVII», explica Henrique Leitão, curador da
exposição. Nesta viagem aos desenvolvimentos científicos e técnicos associados às grandes viagens oceânicas
de portugueses e espanhóis nos séculos XV e XVI, procuram mostrar-se os diversos fatores que modelaram as
ideias e as práticas dos ibéricos nesse período.
Foi com as descobertas ibéricas, por exemplo, que a matemática se disseminou por camadas da sociedade
mais baixas. Até então estava restrita a classes sociais privilegiadas. «Para navegar no oceano é preciso
utilizar técnicas astronómicas, isto é uma novidade completa, porque ninguém navegava com técnicas
astronómicas. Navegava-se em mares pequenos e junto das costas e isso não era preciso. Os primeiros a
utilizar técnicas de astronomia para navegar foram os portugueses, e isto é uma revolução porque não só
permitiu navegações de longa distância nos oceanos como também obrigou a introduzir instrumentos nos
barcos astronómicos. Assim, obrigou a que gente muito simples começasse a fazer observações de astros e a
fazer cálculos. De repente deu-se um fenómeno espantoso de disseminação da matemática por níveis baixos
da sociedade», explica o curador da exposição 360º — Ciência Descoberta.
A exposição é acompanhada por um ciclo de conferências que trazem a Portugal especialistas nestes
assuntos: «Há muita gente no mundo que defende esta importância dos portugueses e espanhóis.» As
conferências decorrem igualmente na Fundação Gulbenkian, uma por mês, até 15 de Maio. «Natural History
as a Meeting Point: Portuguese-Dutch Global Encounters ande the Study of Nature 1500-1650» (dia 13 de
fevereiro), «Secretos y Longitudes» (15 de março) e «La Materia Medicinal: Invenciones Ibéricas en torno a la
flora e la fauna exóticas» (17 de abril) são algumas das conferências a realizar.
Henrique Leitão comenta que «fomos inovadores naquele tempo. Todos os países aprenderam com os
nossos conhecimentos. Livros portugueses e espanhóis foram traduzidos». O especialista em História da
Ciência sublinha por isso que «há uma ideia por detrás da cabeça das pessoas que diz mais ou menos isto: a
ciência não é para nós, outros que façam. Nós fazemos outras coisas, cantamos bem, somos bons no futebol.
Esta visão é errada mas explicada com uma componente histórica porque se diz que nunca se fez nada em
ciência.»
O curador da exposição sublinha que por isso é importante contar a história científica portuguesa por que
«se aceitarmos que nunca fizemos nada em ciência durante sete ou oito séculos é difícil acreditar que agora
se esteja a fazer. Enquanto o problema histórico não for solucionado, enquanto não soubermos olhar para o
nosso passado científico com serenidade, é muito difícil implantar uma cultura científica hoje».
http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=56930&op=all, consultado a 15 de novembro de 2014 (com
adaptações).

A. O texto apresenta a exposição «360º — Ciência Descoberta», que confirma a importância

____ (A) da carreira da Índia para o desenvolvimento científico no século XVI.

____ (B) das ciências ibéricas no período das Descobertas.

____ (C) da influência de Portugal na formação de uma nova geração de cientistas.

____ (D) das ciências ibéricas durante o século XVII.

B. A referência aos 360º no título desta exposição remete para

____ (A) a ideia de circum-navegação.

____ (B) a noção de mapa-mundo.

____ (C) o conceito de circunferência.

____ (D) a descoberta da curvatura do planeta Terra.


C. O primeiro parágrafo do artigo fornece-nos informações básicas sobre a exposição, tais como

____ (A) data, instituições patrocinadoras, duração, local, artigos expostos.

____ (B) data, instituições patrocinadoras, duração, instituição financiadora, cidade.

____ (C) data, instituições promotoras, duração, local, artigos expostos.

____ (D) data, instituições financiadoras, duração, artigos expostos, cidade.

D. O investigador Henrique Leitão é

____ (A) o responsável pela conservação dos artigos expostos.

____ (B) o curador da exposição.

____ (C) um especialista em História dos Descobrimentos.

____ (D) um especialista em História da Astronomia.

E. A integração do discurso de Henrique leitão no corpo do artigo tem o objetivo de

____ (A) evitar ambiguidades no que diz respeito aos artefactos presentes na exposição.

____ (B) lançar novas hipóteses sobre a importância das Descobertas ibéricas.

____ (C) confirmar a veracidade das informações transmitidas.

____ (D) facilitar a identificação do responsável pela exposição.

F. O pronome relativo «que» (linha 9) tem como antecedente

____ (A) «os diversos fatores» (linha 9).

____ (B) «fatores» (linha 9).

____ (C) «grandes viagens oceânicas» (linhas 8-9).

____ (D) «portugueses e espanhóis» (linha 9).


G. Segundo o texto, a expressão «isto é uma revolução» (linha 20) indica que os Portugueses foram os
primeiros a

____ (A) utilizar técnicas de astronomia na navegação.

____ (B) navegar a longa distância.

____ (C) fazer observações de astros.

____ (D) disseminar o ensino da matemática.

H. Tendo em conta o texto, o pronome pessoal «nós» (linha 29) refere-se

____ (A) aos marinheiros portugueses.

____ (B) aos cientistas portugueses.

____ (C) aos portugueses e aos espanhóis.

____ (D) aos cientistas espanhóis.

I. Nas linhas 20 a 25 enumeram-se

____ (A) os títulos das conferências sobre História da Ciência.

____ (B) os títulos de algumas das conferências incluídas nas atividades da exposição.

____ (C) o programa das conferências programadas para acompanhar a exposição.

____ (D) os títulos dos artigos publicados no folheto informativo da entidade promotora.

J. Pode afirmar-se que o objetivo principal do artigo é

____ (A) apelar à visita à exposição.

____ (B) descrever a exposição.

____ (C) recomendar uma visita à exposição.

____ (D) explicar a importância da temática da exposição.

16. Leia atentamente o texto seguinte. Depois, para cada item, selecione a opção correta.

Podemos agora retomar o problema que deixámos em suspenso: a unidade do poema.


A comparação d'Os Lusíadas com as obras de Homero ou com a Chanson de Rolland, fortemente narrativas e
exaltantes de um herói individual através das suas proezas, não é a melhor forma de entender o poema. Esta
epopeia situa-se num outro contexto: a imitação do modelo virgiliano, onde o conceito de heroísmo e a
função da epopeia se alternam profundamente. Trata-se agora não tanto de exaltar um indivíduo e de contar
uma história extraordinária como de estabelecer um sistema de valores, ao serviço dos quais o herói está.
Simultaneamente, trata-se de compreender o significado grandioso da ação humana, coletivamente
considerada, mesmo que esta ação não se exprima sempre por façanhas fora do comum.
Sendo assim, compreende-se que neste tipo de epopeia a narrativa passe a um plano subalterno e que avulte
o discurso que a envolve: um discurso teorizante (definindo normas morais, determinando o tipo ideal, os
valores a servir, censurando os vícios que afligem a sociedade); um discurso também oratório e didático.
E compreende-se, ainda, que o herói reflita simultaneamente uma conceção individualista (influenciada pelo
relevo que esta tónica assume no Renascimento) mas que não se individualize numa personagem, antes
permaneça no plano da teoria, como modelo abstrato.
E compreende-se, por fim, que não seja a verdade histórica (ainda que respeitada) o elemento substancial,
mas aqueles episódios ou quadros através dos quais ela ganha determinada significação universal: cultural ou
religiosa.
[...]
O objetivo do poema é menos contar uma história do que ensinar um povo: mostrar-lhe em que consiste o
heroísmo e o que deve ser um homem. Como humanista, compete-lhe ainda fazer justiça (emendando a tão
falível justiça dos grandes): premiar, dar fama, imortalizar os que são dignos de ser salvos do esquecimento; e
também censurar aqueles que, apesar de altamente colocados, não estiveram à altura do ideal proposto. E,
por fim, dar sentido às realidades que o cercam e de que se faz testemunha. Perceber o significado dos
acontecimentos e através deste significado selecionar e ordenar os elementos. Os Lusíadas são uma tentativa
de compreender a história de Portugal num mesmo movimento (a luta contra o maometano) e de interpretar
o seu papel na história universal (defesa da Cristandade; missão evangelizadora; descobrimentos).
Isto no plano da ação coletiva. No plano dos valores pessoais, intenta perceber e teorizar o papel da ação
humana face à adversidade, aos obstáculos e às desgraças; afirmar que é possível ao homem vencer isso a
que os antigos chamavam destino, suplantando todas as suas seduções e vergando a sua força inexorável.
Em resumo: se Os Lusíadas carecem de unidade narrativa, ganham unidade no plano pedagógico e oratório:
ilustram uma teoria do heroísmo e uma interpretação da história de Portugal.
Maria Vitalina Leal de Matos, Introdução à Poesia de Luís de Camões, Maia, Instituto de Cultura e Língua
Portuguesa, 1992, pp. 39-41.

A. Segundo o texto, «Os Lusíadas» devem ser comparados

____ (A) aos poemas homéricos, pelo seu carácter narrativo.

____ (B) aos poemas homéricos, pela exaltação de um herói individual.

____ (C) aos poemas homéricos, pela narração de histórias extraordinárias.

____ (D) à epopeia virgiliana.


B. O modelo virgiliano

____ (A) visa exaltar um indivíduo.

____ (B) pretende contar uma história fora do comum.

____ (C) exalta o herói da narrativa e estabelece um sistema de valores.

____ (D) intercala as façanhas extraordinárias com as ações vulgares.

C. A expressão «(ainda que respeitada)» (linha 16) apresenta

____ (A) uma conclusão.

____ (B) uma consequência.

____ (C) uma alternativa.

____ (D) uma concessão.

D. Segundo o texto, o grande objetivo de Camões é

____ (A) narrar as façanhas extraordinárias do povo português.

____ (B) exaltar o individualismo, de acordo com a valorização renascentista do papel do indivíduo no
mundo.

____ (C) de ordem cultural e religiosa.

____ (D) de ordem moral e didática.

E. O texto apresentado pode enquadrar-se no género

____ (A) narrativo.

____ (B) descritivo.

____ (C) expositivo.

____ (D) argumentativo.

17. Leia atentamente o texto seguinte. Depois, para cada item, selecione a opção correta.

A inspiração marítima é tão antiga como a nossa literatura. Curiosamente, foram os poetas trovadorescos e
palacianos (séculos XII-XIV) que descobriram o Mar, bem antes das Descobertas quinhentistas. Com efeito, já
nos alvores da nacionalidade o apelo do Mar se fazia sentir no lirismo amoroso galaico-português, com suas
barcarolas ou marinhas, inspiradas na temática marítima. É ainda um Mar costeiro, visto de terra. Tem as
suas ondas e marés mais ou menos ameaçadoras, por vezes até confidentes de corações saudosos. O Mar é o
cenário do encontro amoroso da mulher apaixonada com o seu amado. [...]
Consolidada virilmente a conquista da Terra pátria e voltada de costas para Castela, a nação portuguesa via
no Mar a sua porta natural — Onde a terra acaba e o mar começa. Chegara a hora de um país de marinheiros
desbravar o lendário Mar Tenebroso, a partir da ocidental praia lusitana. Portugal lançava-se, assim, na maior
aventura coletiva da sua História: a descoberta de novas terras e do grande oceano por achar. [...]
A aventura marítima dos portugueses teve o seu tempo de preparação, o seu período áureo, mas também a
fase de decadência. Depois da larga odisseia, chega o momento do retorno à casa lusitana, à Ítaca natal.
Cumprida a vocação expansionista, feito e desfeito o Império ultramarino, é a hora do regresso às areias de
Portugal e ao cais da partida. Neste movimento centrípeto de regresso, subsiste um duplo e contraditório
sentimento: de realização duma grandiosa empresa, mas também de incumprimento do sonho. É a hora de o
povo de marinheiros regressar ao retângulo pátrio, ao jardim da Europa, à beira-mar plantado. [...]
Do desbravado mar português, ficou-nos a nostalgia. Portugal é, de novo, confinado à sua dimensão
terrestre. Este regresso a casa ou ao cais é precisamente um dos simbólicos temas que têm inspirado muita
da atual Literatura portuguesa: depois do passado marítimo e colonial, Portugal interroga-se sobre o destino
ou rumo como navio-nação. [...]
Costeiro ou oceânico, o Mar faz parte do nosso devir histórico, está-nos no sangue. É um dos traços da nossa
idiossincrasia como povo de vocação atlântica ou marítima. Por isso, numa das suas últimas intervenções
públicas, Vergílio Ferreira fez esta bela afirmação: Uma língua é o lugar donde se vê o Mundo e em que se
traçam os limites do nosso pensar e sentir. Da minha língua vê-se o mar.
J. Cândido Martins (textos publicados na revista do Mensageiro, Braga, 1998), acompanhando a Exposição
Universal de Lisboa, Expo'98), in http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/letras/candid02.htm, consultado em
25 de agosto de 2015 (com adaptações e supressões).

A. O advérbio «virilmente» (linha 7)

____ (A) remete para o facto de, nas guerras da Reconquista cristã, participarem apenas os homens.

____ (B) alude ao facto de a conquista de terras aos mouros ter sido difícil e exigido força e valentia.

____ (C) refere-se à insurgência de D. Afonso Henriques contra a sua mãe, D. Teresa.

____ (D) tem implícita uma ironia.


B. A expressão «Com efeito» (linha 2), relativamente ao conteúdo da frase anterior, corresponde à
introdução de

____ (A) uma ideia nova, oposta à anterior.

____ (B) uma justificação da ideia anterior.

____ (C) um esclarecimento da ideia anterior.

____ (D) uma conclusão.

C. O mar surge desde logo nas cantigas de amigo, onde é um mar

____ (A) familiar.

____ (B) imenso e grandioso.

____ (C) que se deseja descobrir.

____ (D) que se teme e que é, por vezes, um confidente.

D. Na expressão «corações saudosos» está presente

____ (A) uma ironia.

____ (B) uma metáfora.

____ (C) uma metonímia.

____ (D) uma alegoria.

E. O mar era a porta natural para Portugal,

____ (A) pois este sempre fora um país de marinheiros.

____ (B) dada a virilidade e valentia dos homens portugueses.

____ (C) uma vez que o País estava em guerra com Castela.

____ (D) porque a Reconquista cristã estava terminada, mas os Portugueses mantinham o espírito de
conquista e cristianização.
F. Com o fim do Império ultramarino, os Portugueses

____ (A) têm consciência de que realizaram uma grandiosa tarefa.

____ (B) sentem-se frustrados por regressarem a casa.

____ (C) sentem-se felizes por regressarem ao «jardim da Europa, à beira-mar plantado».

____ (D) sentem que o sonho ficou também por cumprir, apesar dos feitos grandiosos que alcançaram.

G. Segundo o autor, a frase de Vergílio Ferreira «Da minha língua vê-se o mar.» (linha 24) refere-se

____ (A) à posição geográfica de Portugal.

____ (B) à vocação marítima do povo português.

____ (C) à simbologia da água e do mar na literatura portuguesa.

____ (D) à simbologia da água e do mar das literaturas de todas as línguas.

H. O texto apresentado pode enquadrar-se no género

____ (A) narrativo.

____ (B) descritivo.

____ (C) expositivo.

____ (D) argumentativo.

18. Considere o texto de Viriato Soromenho-Marques. Depois, responda aos itens apresentados.

A pilhagem de África
Korinna Horta é uma economista que há muitos anos se especializou no estudo dos impactos ambientais e
sociais dos investimentos das agências multilaterais de desenvolvimento. A partir da sua sede em
Washington, numa das mais importantes organizações não governamentais dos EUA, o Environmental
Defense Fund, Korinna Horta tem percorrido o mundo na pista dos sulcos de destruição deixados pela
marcha de algumas das maiores deslocações de recursos financeiros, mobilizados pela, aparentemente
saudável, necessidade de dar combate ao subdesenvolvimento.
Aproveitando a reunião anual em Washington da direção do Banco Mundial (BM) e do Fundo Monetário
Internacional, Korinna e uma colega do Chade, Delphine Djiraibe, publicaram um artigo (no Boston Globe,
27.09.2002) sobre um dos mais negativos projetos a que o BM deu assentimento nos últimos anos. Trata-se
do apoio em cerca de 3,7 mil milhões de dólares concedido pelo BM a um consórcio liderado pela
Exxon/Mobil, que pretende construir um enorme campo de exploração petrolífera e o correspondente
pipeline, atingindo áreas vastíssimas do Chade e dos Camarões. As vozes mais prudentes alertaram o BM —
tanto mais que este tem dado provas de alguma crescente sensibilidade ambiental — para a tragédia que
poderia estar a germinar. Não só esse projeto iria funcionar como um terramoto social, pelo efeito
destruidor sobre as comunidades locais, como a destruição de largas manchas de floresta virgem ganharia
uma dimensão de autêntico ecocídio. Acresce ainda, que na rota do projeto se encontram comunidades,
conhecidas localmente por «Pigmeus», devido à sua baixa estatura, para quem este projeto constitui um
desafio de vida ou de morte. A possibilidade de um genocídio está em aberto, para usarmos as palavras
corretas.
Outro motivo para prudência, que foi ignorado pelo BM, reside no caos político reinante nos dois países. O
Chade vive há muito mergulhado numa guerra civil e os Camarões encontram-se no cimo do ranking dos
países com administrações públicas mais corruptas do mundo. Contra todas as advertências, o BM avançou,
tendo como único escudo contra a desgraça anunciada um conjunto de requisitos minimizadores, visando
garantir uma justa distribuição dos lucros do projeto, assim como a diminuição dos impactos sociais e
ambientais.
Todos os relatórios independentes, e mesmo os relatórios do BM sobre a evolução do projeto indicam,
contudo, que o frágil escudo de boas intenções se partiu ao primeiro golpe da espada, isto é, da voragem
gananciosa que mobilizou o projeto. O presidente do Chade foi surpreendido a usar parte do dinheiro do BM
para suportar o seu esforço de guerra. As instituições necessárias para a justa distribuição dos lucros do
projeto continuam no papel, enquanto ao longo dos mais de mil quilómetros de pipeline desaparece a
floresta, são exterminadas espécies raras, são desalojadas as populações locais que dependiam da floresta,
as escolas ficam sem professores e alunos, aspirados pelas promessas de ganhos temporários e fáceis no
projeto, aumenta a prostituição infantil e amplia-se a infeção com HIV num ritmo de expansão geométrica.
Esta é uma estória, mais uma, sem moral. Como sempre não haverá responsáveis, e aqueles que puseram a
sua assinatura nesta extensão do inferno ao coração da África Central, continuarão a dormir descansados na
expectativa de lucrativas carreiras. O que não podemos é ignorar a forma como, até entre os que se
consideram «amigos» de África, se encontram aqueles que tudo têm feito para pilhar e para a tornar um
Continente irremediavelmente perdido.
Viriato Soromenho-Marques, «A Pilhagem de África», in Jornal de Letras, Artes e Ideias, n.º 836, Lisboa, ACJ-
Edipresse, 16 a 29 de outubro de 2002.
A. Identifique a função sintática desempenhada pelos constituintes indicados:

a) «uma economista» (linha 1)


b) «que foi ignorado pelo BM» (linha 20)
c) «no caos político reinante» (linha 20)

a) Predicativo do sujeito.
b) Modificador apositivo do nome.
c) Complemento oblíquo.

B. Atente na palavra «ranking» (linha 21). Explique como se classifica este tipo de palavra quanto ao seu
processo de formação.

C. A partir da expressão «sem professores e alunos, <aspirados> pelas promessas de ganhos temporários e
fáceis» (linha 32), explique o campo semântico que o vocábulo destacado pode ter.
D. Classifique a oração subordinada presente na frase «tanto mais que este tem dado provas de alguma
crescente sensibilidade ambiental» (linha 13).

19. Considere o texto seguinte. Depois, para cada item, selecione a opção correta.

A ilha que não se chamava assim


Utopia ou lugar alegórico, a Ilha dos Amores nunca existiu. Não apenas neste sentido imediato, de não haver
na geografia real uma porção de terra rodeada de mar por todos os lados que lhe corresponda, não obstante
as várias tentativas para localizá-la, mas também porque Camões nunca falou em «Ilha dos Amores»…
Se percorrermos os Cantos pertinentes de Os Lusíadas, o IX e o X, veremos que nunca esse topónimo é
usado. O que mais se aproxima do sentido correspondente é a designação «Ilha namorada» (IX, 51), repetida
em X, 143. Vale a pena recapitular essas passagens. A primeira refere o avistamento da ilha ao romper da
manhã. O segundo trecho abre com a despedida de Tétis.
Basta uma rápida leitura destas estâncias para nela podermos encontrar várias simetrias. Desde logo a rima
em «ada», na primeira inscrita nas palavras «amada», «prolongada» e «namorada» e, na segunda, repetida
pelas palavras «amada», «namorada» e «desejada». Nos dois casos, «amada» refere-se a pátria e
«namorada» à Ilha. E se o «prolongada» da primeira estância intensifica a perspetiva da «grande viagem», o
«desejada», aplicado na segunda à companhia das Ninfas, envolve uma ideia que é de prolongamento ou
duração ainda maiores: para além do tempo da viagem, a existência dessa companhia «gloriosa» das Ninfas
eternamente projetada na viagem.
Por outro lado, nos dois casos há um imperativo prático ligado à navegação a correlacionar também as duas
passagens: na primeira estância, os nautas precisavam de fazer aguada; na segunda, seguem viagem,
devidamente aprovisionados. A transfiguração mítica operada pelo episódio da Ilha ocorre pois a partir de
uma situação de necessidade concreta ligada à preparação logística da jornada que assim arrancava. E diga-
se, de passagem, que Camões localiza a Ilha pouco depois da partida das naus, ao iniciarem o seu regresso a
Portugal: os navegadores desejam prover-se de água para um tão longo trajeto, o que não arredaria a
hipótese das Seychelles, onde se encontra a «Ilha do Almirante», para quem se obstinasse a procurar uma
correspondência efetiva entre a sede do episódio mítico e a geografia do mundo.
Em terceiro lugar, temos que a expressão «Ilha namorada» é usada duas únicas vezes, exatamente no início e
no fim do respetivo subepisódio, entre a chegada à Ilha e a partida dela, e portanto a abri-lo e a fechá-lo com
essa referência qualificada, o que se estende por nada menos de 188 estâncias, 45 no Canto IX e 143 no
Canto X. Ao longo dele, a adjetivação das propriedades da Ilha vai toda no sentido do prazer: «fresca e bela»
(IX, 52), «fermosa, alegre e deleitosa» (IX, 54), «angélica» (IX, 89), sendo-lhe também referidos «os deleites»
(IX, 89) e «os gostos» (X, 73).
Porei de lado a sequência mais do que conhecida e interpretada: avistamento da Ilha, desembarque,
encontro da natureza luxuriante, perseguição das Ninfas, banquete, ascese e contemplação da máquina do
mundo, profecias de Tétis, partida para Portugal, limitando-me a apontar o trajeto articulado do amor físico
ao amor cósmico que permite o conhecimento do Universo e move o sol e as mais estrelas, para usar a
formulação de Dante.
É que me parece muito duvidoso que D. Sebastião tenha jamais ouvido ler Os Lusíadas. Se isso aconteceu,
com certeza houve o cuidado de lhe escamotearem os Cantos IX e X no que à Ilha Namorada diz respeito. O
rei tinha profunda aversão às mulheres, em parte, decerto, pelo fanatismo da educação que recebera, em
parte, talvez, por maleitas físicas de que sofria e que os físicos e diplomatas da época reportavam.
Enfim, dessa ilha que nunca existiu, nem mesmo no texto literário, sob o nome que gerações sucessivas lhe
vêm dando até aos nossos dias, pode dizer-se que tinha pontos de contacto com o célebre banquete de
trovas mandado servir por Camões a alguns dos seus amigos na Índia. Limitava-se a uma existência pela
palavra, suprema iguaria, no largo oceano do estro do Poeta. Mas, enquanto no banquete de trovas se
tratava de um mero chiste gracioso e bem-humorado, neste caso, a palavra modelou profundamente o nosso
imaginário.
Vasco Graça Moura, «A ilha que não se chamava assim», Oceanos, n.º 46, CNCDP, abril/junho 2001, pp. 125-
127 (com adaptações).

A. Identifique a função sintática desempenhada pelos constituintes indicados.

a) «Ilha dos Amores» (linha 3)


b) «da ilha» (linha 6)
c) «que assim arrancava» (linha 18)
d) «é usada duas únicas vezes» (linha 23)
e) «me» (linha 34)

a) Complemento oblíquo. b) Complemento do nome. c) Modificador restritivo do nome. d) Predicado


nominal. e) Complemento indireto.
B. Repare no vocábulo «Utopia» (linha 1). Formado a partir da língua grega (advérbio de negação «-ou» e
lugar «-tópos»), foi utilizado pela primeira vez por Thomas More como título da sua obra-prima Utopia.
Tendo em conta a etimologia da palavra, explique o motivo pelo qual o texto de Vasco Graça Moura associa
este termo à ilha que os portugueses encontram no Canto IX d’«Os Lusíadas».

C. Classifique as orações presentes nas expressões seguintes.

a) «que nunca esse topónimo é usado» (linhas 4-5)


b) «para nela podermos encontrar várias simetrias» (linha 8)
c) «e move o sol e as mais estrelas» (linha 32)
d) «que os físicos e diplomatas da época reportavam» (linha 37)

20. Considere o excerto d'«Os Lusíadas» que se apresenta de seguida.

145
Nô mais (1), Musa, nô mais, que a Lira tenho
Destemperada (2) e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida (3).
O favor com que mais se acende o engenho (4)
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Dũa austera, apagada e vil tristeza.

146
E não sei por que influxo de Destino
Não tem um ledo (5) orgulho e geral gosto,
Que os ânimos levanta de contino
A ter pera trabalhos ledo o rosto.
Por isso vós, ó Rei, que por divino
Conselho (6) estais no régio sólio (7) posto,
Olhai que sois (e vede as outras gentes)
Senhor só (8) de vassalos excelentes.

[...]

154
Mas eu que falo, humilde, baxo e rudo, (9)
De vós não conhecido nem sonhado?
Da boca dos pequenos sei, contudo,
Que o louvor sai às vezes acabado.
Nem me falta na vida honesto estudo,
Com longa experiência misturado,
Nem engenho, que aqui vereis presente,
Cousas que juntas se acham raramente.

155
Pera servir-vos, braço às armas feito,
Pera cantar-vos, mente às Musas dada; (10)
Só me falece (11) ser a vós aceito,
De quem virtude deve ser prezada. (12)
Se me isto o Céu concede, e o vosso peito
Dina empresa tomar de ser cantada,
Como a pressaga mente vaticina (13)
Olhando a vossa inclinação divina,

156
Ou fazendo que, mais que a de Medusa, (14)
A vista vossa tema o monte Atlante (15),
Ou rompendo nos campos de Ampelusa (16)
Os muros de Marrocos e Trudante (17),
A minha já estimada e leda Musa
Fico (18) que em todo o mundo de vós cante,
De sorte que Alexandro (19) em vós se veja,
Sem à dita de Aquiles ter enveja. (20)
Luís de Camões, Os Lusíadas (ed. Costa Pimpão), Lisboa, Ministério dos Negócios Estrangeiros, Instituto
Camões, 2003.

NOTAS:
(1) Não mais, ou seja, basta, não continuarei a cantar.
(2) Desafinada.
(3) Indiferente, insensível.
(4) O apoio que inspira o génio do Poeta.
(5) Alegre.
(6) Providência (de Deus).
(7) Trono.
(8) Único.
(9) Mas que digo eu, homem humilde, plebeu e ignorante.
(10) A minha imaginação está entregue às musas.
(11) Só me falta.
(12) Que merece ter a vossa estima.
(13) Como adivinha a minha mente, que antecipa o futuro («pressaga»).
(14) Criatura monstruosa que tinha o poder de converter em pedra todos os que a olhassem.
(15) Monte Atlas, no norte de África.
(16) Cabo a oeste de Tânger (Marrocos).
(17) Cidade importante de Marrocos.
(18) Tenho a certeza de.
(19) Alexandre Magno.
(20) Sem invejar a glória de Aquiles, herói grego que combateu em Troia.

A. Identifique a função sintática das palavras destacadas nos versos seguintes:

a) «Nô mais, Musa, nô mais, que a Lira tenho» (est. 145, v. 1)


b) «Cantar a gente surda e endurecida.» (est. 145, v. 3)

B. Classifique a oração destacada nos versos seguintes:

«Nô mais, Musa, nô mais, que a Lira tenho / Destemperada e a voz enrouquecida,» (est. 145. vv. 1-2).
C. Delimite e classifique cada uma das orações que compõem os versos seguintes:

«Olhai que sois (e vede as outras gentes) / Senhor só de vassalos excelentes.» (est. 146. vv. 7-8).

21. Considere o excerto d'«Os Lusíadas» que se apresenta de seguida.

4
E vós, Tágides (1) minhas, pois criado
Tendes em mi um novo engenho ardente (2),
Se sempre em verso humilde (3) celebrado
Foi de mi vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado (4),
Um estilo grandíloco (5) e corrente (6),
Por que de vossas águas Febo (7) ordene
Que não tenham enveja às de Hipocrene (8).

5
Dai-me ũa fúria grande e sonorosa (9),
E não de agreste avena ou frauta ruda (10),
Mas de tuba canora e belicosa (11),
Que o peito acende e a cor ao gesto muda (12);
Dai-me igual canto aos feitos da famosa
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;
Que se espalhe e se cante no universo,
Se tão sublime preço cabe em verso.
Luís de Camões, Os Lusíadas (ed. Costa Pimpão), Lisboa, Ministério dos Negócios Estrangeiros, Instituto
Camões, 2003.

NOTAS:
(1) Ninfas do Tejo, que aqui servem de musas inspiradoras.
(2) Génio inspirado para compor (uma epopeia).
(3) Referência à poesia lírica: Camões já antes escrevera poemas sobre o Tejo.
(4) Um estilo elevado e sublime, próprio da poesia épica.
(5) Grandioso, nobre.
(6) Fluente.
(7) Febo é Apolo, deus da poesia e da música.
(8) Fonte da Grécia, cuja água dava inspiração a quem a bebesse.
(9) Inspiração elevada.
(10) Duas referências às flautas dos pastores, que representam aqui a poesia bucólica e lírica.
(11) Trombeta sonora e guerreira, que simboliza a poesia épica.
(12) Um estilo que inspire a alma.

A. Reescreva a oração que constitui os versos 3-4 da estância 4 de acordo com a sintaxe do português atual.

B. Identifique a função sintática das palavras destacadas nos versos seguintes:

a) «E vós, Tágides minhas, pois criado» (est. 4, v. 1)


b) «Foi de mi vosso rio alegremente,» (est. 4, v. 4)
c) «Dai-me ũa fúria grande e sonorosa,» (est. 5, v. 1)
d) «Se tão sublime preço cabe em verso.» (est. 5, v. 8)

C. Classifique a oração seguinte:

«Que não tenham enveja às de Hipocrene» (est. 4, v. 8).

22. Considere o texto seguinte. Depois, para cada item, selecione a opção correta.

Podemos agora retomar o problema que deixámos em suspenso: a unidade do poema.


A comparação d'Os Lusíadas com as obras de Homero ou com a Chanson de Rolland, fortemente narrativas e
exaltantes de um herói individual através das suas proezas, não é a melhor forma de entender o poema. Esta
epopeia situa-se num outro contexto: a imitação do modelo virgiliano, onde o conceito de heroísmo e a
função da epopeia se alternam profundamente. Trata-se agora não tanto de exaltar um indivíduo e de contar
uma história extraordinária como de estabelecer um sistema de valores, ao serviço dos quais o herói está.
Simultaneamente, trata-se de compreender o significado grandioso da ação humana, coletivamente
considerada, mesmo que esta ação não se exprima sempre por façanhas fora do comum.
Sendo assim, compreende-se que neste tipo de epopeia a narrativa passe a um plano subalterno e que avulte
o discurso que a envolve: um discurso teorizante (definindo normas morais, determinando o tipo ideal, os
valores a servir, censurando os vícios que afligem a sociedade); um discurso também oratório e didático.
E compreende-se, ainda, que o herói reflita simultaneamente uma conceção individualista (influenciada pelo
relevo que esta tónica assume no Renascimento) mas que não se individualize numa personagem, antes
permaneça no plano da teoria, como modelo abstrato.
E compreende-se, por fim, que não seja a verdade histórica (ainda que respeitada) o elemento substancial,
mas aqueles episódios ou quadros através dos quais ela ganha determinada significação universal: cultural ou
religiosa.
[...]
O objetivo do poema é menos contar uma história do que ensinar um povo: mostrar-lhe em que consiste o
heroísmo e o que deve ser um homem. Como humanista, compete-lhe ainda fazer justiça (emendando a tão
falível justiça dos grandes): premiar, dar fama, imortalizar os que são dignos de ser salvos do esquecimento; e
também censurar aqueles que, apesar de altamente colocados, não estiveram à altura do ideal proposto. E,
por fim, dar sentido às realidades que o cercam e de que se faz testemunha. Perceber o significado dos
acontecimentos e através deste significado selecionar e ordenar os elementos. Os Lusíadas são uma tentativa
de compreender a história de Portugal num mesmo movimento (a luta contra o maometano) e de interpretar
o seu papel na história universal (defesa da Cristandade; missão evangelizadora; descobrimentos).
Isto no plano da ação coletiva. No plano dos valores pessoais, intenta perceber e teorizar o papel da ação
humana face à adversidade, aos obstáculos e às desgraças; afirmar que é possível ao homem vencer isso a
que os antigos chamavam destino, suplantando todas as suas seduções e vergando a sua força inexorável.
Em resumo: se Os Lusíadas carecem de unidade narrativa, ganham unidade no plano pedagógico e oratório:
ilustram uma teoria do heroísmo e uma interpretação da história de Portugal.
Maria Vitalina Leal de Matos, Introdução à Poesia de Luís de Camões, Maia, Instituto de Cultura e Língua
Portuguesa, 1992, pp. 39-41.

A. O constituinte «d'"Os Lusíadas"» (linha 2) desempenha a função sintática de

____ (A) modificador restritivo do nome.

____ (B) modificador apositivo do nome.

____ (C) complemento do nome.

____ (D) predicativo do complemento direto.

B. A palavra «individual» (linha 3) desempenha a função sintática de

____ (A) modificador restritivo do nome.

____ (B) modificador apositivo do nome.

____ (C) complemento do nome.

____ (C) complemento do adjetivo.


C. A palavra «Simultaneamente» (linha 7) desempenha a função sintática de

____ (A) modificador da frase.

____ (B) modificador do grupo verbal.

____ (C) modificador apositivo do nome.

____ (D) modificador restritivo do nome.

D. O constituinte «menos contar uma história do que ensinar um povo» (linha 20) desempenha a função
sintática de

____ (A) sujeito.

____ (B) predicativo do sujeito.

____ (C) complemento direto.

____ (D) predicativo do complemento direto.

E. O constituinte «uma teoria do heroísmo e uma interpretação da história de Portugal» (linha 33)
desempenha a função sintática de

____ (A) sujeito.

____ (B) predicativo do sujeito.

____ (C) complemento direto.

____ (D) predicativo do complemento direto.

F. O constituinte «onde o conceito de heroísmo e a função da epopeia se alternam profundamente» (linhas


4-5) é uma oração subordinada

____ (A) O constituinte «onde o conceito de heroísmo e a função da epopeia se alternam


profundamente» (linha ??) é uma oração subordinada

____ (B) adverbial final.

____ (C) adjetiva relativa restritiva.

____ (D) adjetiva relativa explicativa.


G. O constituinte «se "Os Lusíadas" carecem de unidade narrativa» (linha 32) é uma oração subordinada

____ (A) adjetiva relativa restritiva.

____ (B) adjetiva relativa explicativa.

____ (C) substantiva relativa.

____ (D) substantiva completiva.

23. Considere o texto seguinte. Depois, para cada item, selecione a opção correta.

A inspiração marítima é tão antiga como a nossa literatura. Curiosamente, foram os poetas trovadorescos e
palacianos (séculos XII-XIV) que descobriram o Mar, bem antes das Descobertas quinhentistas. Com efeito, já
nos alvores da nacionalidade o apelo do Mar se fazia sentir no lirismo amoroso galaico-português, com suas
barcarolas ou marinhas, inspiradas na temática marítima. É ainda um Mar costeiro, visto de terra. Tem as
suas ondas e marés mais ou menos ameaçadoras, por vezes até confidentes de corações saudosos. O Mar é o
cenário do encontro amoroso da mulher apaixonada com o seu amado. [...]
Consolidada virilmente a conquista da Terra pátria e voltada de costas para Castela, a nação portuguesa via
no Mar a sua porta natural — Onde a terra acaba e o mar começa. Chegara a hora de um país de marinheiros
desbravar o lendário Mar Tenebroso, a partir da ocidental praia lusitana. Portugal lançava-se, assim, na maior
aventura coletiva da sua História: a descoberta de novas terras e do grande oceano por achar. [...]
A aventura marítima dos portugueses teve o seu tempo de preparação, o seu período áureo, mas também a
fase de decadência. Depois da larga odisseia, chega o momento do retorno à casa lusitana, à Ítaca natal.
Cumprida a vocação expansionista, feito e desfeito o Império ultramarino, é a hora do regresso às areias de
Portugal e ao cais da partida. Neste movimento centrípeto de regresso, subsiste um duplo e contraditório
sentimento: de realização duma grandiosa empresa, mas também de incumprimento do sonho. É a hora de o
povo de marinheiros regressar ao retângulo pátrio, ao jardim da Europa, à beira-mar plantado. [...]
Do desbravado mar português, ficou-nos a nostalgia. Portugal é, de novo, confinado à sua dimensão
terrestre. Este regresso a casa ou ao cais é precisamente um dos simbólicos temas que têm inspirado muita
da atual Literatura portuguesa: depois do passado marítimo e colonial, Portugal interroga-se sobre o destino
ou rumo como navio-nação. [...]
Costeiro ou oceânico, o Mar faz parte do nosso devir histórico, está-nos no sangue. É um dos traços da nossa
idiossincrasia como povo de vocação atlântica ou marítima. Por isso, numa das suas últimas intervenções
públicas, Vergílio Ferreira fez esta bela afirmação: Uma língua é o lugar donde se vê o Mundo e em que se
traçam os limites do nosso pensar e sentir. Da minha língua vê-se o mar.
J. Cândido Martins (textos publicados na revista do Mensageiro, Braga, 1998), acompanhando a Exposição
Universal de Lisboa, Expo'98), in http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/letras/candid02.htm, consultado em
25 de agosto de 2015 (com adaptações e supressões).
A. O constituinte «do encontro amoroso» (linha 6) desempenha a função sintática de

____ (A) modificador restritivo do nome.

____ (B) modificador apositivo do nome.

____ (C) complemento do nome.

____ (D) predicativo do complemento direto.

B. O constituinte «a terra» (linha 7) desempenha a função sintática de

____ (A) complemento direto.

____ (B) predicativo do complemento direto.

____ (C) complemento do nome.

____ (D) sujeito.

C. O constituinte «um duplo e contraditório sentimento» (linhas 14-15) desempenha a função sintática de

____ (A) sujeito.

____ (B) modificador apositivo do nome.

____ (C) predicativo do sujeito.

____ (D) complemento direto.

D. O constituinte «a hora de um país de marinheiros desbravar o lendário Mar Tenebroso, a partir da


ocidental praia lusitana» (linhas 8-9) desempenha a função sintática de

____ (A) sujeito.

____ (B) predicativo do sujeito.

____ (C) complemento direto.

____ (D) predicativo do complemento direto.


E. O constituinte «marítimo e colonial» (linha 19) desempenha a função sintática de

____ (A) modificador restritivo do nome.

____ (B) modificador apositivo do nome.

____ (C) complemento do nome.

____ (D) predicativo do complemento direto.

24. Considere o texto seguinte. Depois, selecione a opção correta.

A pilhagem de África
Korinna Horta é uma economista que há muitos anos se especializou no estudo dos impactos ambientais e
sociais dos investimentos das agências multilaterais de desenvolvimento. A partir da sua sede em
Washington, numa das mais importantes organizações não governamentais dos EUA, o Environmental
Defense Fund, Korinna Horta tem percorrido o mundo na pista dos sulcos de destruição deixados pela
marcha de algumas das maiores deslocações de recursos financeiros, mobilizados pela, aparentemente
saudável, necessidade de dar combate ao subdesenvolvimento.
Aproveitando a reunião anual em Washington da direção do Banco Mundial (BM) e do Fundo Monetário
Internacional, Korinna e uma colega do Chade, Delphine Djiraibe, publicaram um artigo (no Boston Globe,
27.09.2002) sobre um dos mais negativos projetos a que o BM deu assentimento nos últimos anos. Trata-se
do apoio em cerca de 3,7 mil milhões de dólares concedido pelo BM a um consórcio liderado pela
Exxon/Mobil, que pretende construir um enorme campo de exploração petrolífera e o correspondente
pipeline, atingindo áreas vastíssimas do Chade e dos Camarões. As vozes mais prudentes alertaram o BM —
tanto mais que este tem dado provas de alguma crescente sensibilidade ambiental — para a tragédia que
poderia estar a germinar. Não só esse projeto iria funcionar como um terramoto social, pelo efeito
destruidor sobre as comunidades locais, como a destruição de largas manchas de floresta virgem ganharia
uma dimensão de autêntico ecocídio. Acresce ainda, que na rota do projeto se encontram comunidades,
conhecidas localmente por «Pigmeus», devido à sua baixa estatura, para quem este projeto constitui um
desafio de vida ou de morte. A possibilidade de um genocídio está em aberto, para usarmos as palavras
corretas.
Outro motivo para prudência, que foi ignorado pelo BM, reside no caos político reinante nos dois países. O
Chade vive há muito mergulhado numa guerra civil e os Camarões encontram-se no cimo do ranking dos
países com administrações públicas mais corruptas do mundo. Contra todas as advertências, o BM avançou,
tendo como único escudo contra a desgraça anunciada um conjunto de requisitos minimizadores, visando
garantir uma justa distribuição dos lucros do projeto, assim como a diminuição dos impactos sociais e
ambientais.
Todos os relatórios independentes, e mesmo os relatórios do BM sobre a evolução do projeto indicam,
contudo, que o frágil escudo de boas intenções se partiu ao primeiro golpe da espada, isto é, da voragem
gananciosa que mobilizou o projeto. O presidente do Chade foi surpreendido a usar parte do dinheiro do BM
para suportar o seu esforço de guerra. As instituições necessárias para a justa distribuição dos lucros do
projeto continuam no papel, enquanto ao longo dos mais de mil quilómetros de pipeline desaparece a
floresta, são exterminadas espécies raras, são desalojadas as populações locais que dependiam da floresta,
as escolas ficam sem professores e alunos, aspirados pelas promessas de ganhos temporários e fáceis no
projeto, aumenta a prostituição infantil e amplia-se a infeção com HIV num ritmo de expansão geométrica.
Esta é uma estória, mais uma, sem moral. Como sempre não haverá responsáveis, e aqueles que puseram a
sua assinatura nesta extensão do inferno ao coração da África Central, continuarão a dormir descansados na
expectativa de lucrativas carreiras. O que não podemos é ignorar a forma como, até entre os que se
consideram «amigos» de África, se encontram aqueles que tudo têm feito para pilhar e para a tornar um
Continente irremediavelmente perdido.
Viriato Soromenho-Marques, «A Pilhagem de África», in Jornal de Letras, Artes e Ideias, n.º 836, Lisboa, ACJ-
Edipresse, 16 a 29 de outubro de 2002.

A. Os vocábulos «BM» (linha 7), «pipeline» (linha 12) e «ecocídio» (linha 16) correspondem, respetivamente,
a

____ (A) uma sigla, um empréstimo e uma amálgama.

____ (B) um neologismo, um empréstimo e uma amálgama.

____ (C) uma sigla, um estrangeirismo e um empréstimo.

____ (D) uma sigla, um empréstimo e um acrónimo.

25. Proceda ao visionamento do anúncio publicitário utilizado na Campanha da Vodafone «Efémera — Viva o
Momento» (2006), que pode encontrar aqui: https://www.youtube.com/watch?v=BXuHTYqWPew. Depois,
responda às perguntas que se seguem.

A. O anúncio centra-se no ciclo de vida de um inseto. Que inseto é esse e qual a sua esperança média de
vida?
B. Identifique o meio físico em que se dá a metamorfose da efémera, de larva a inseto.

C. Descreva o «habitat» apresentado nos primeiros segundos do anúncio. Refira-se às imagens e aos sons da
floresta.

D. Explique o que sugere a utilização de um narrador neste anúncio.


E. Procure caracterizar a melodia que acompanha o anúncio.

F. A que atividades se dedica o inseto do anúncio?

G. A partir das atividades enumeradas acima, indique a figura de estilo utilizada para conseguir mostrar que
este inseto está a aproveitar o seu único dia de vida para fazer o que lhe dá prazer.
H. Explique por que motivo se utiliza essa figura de estilo.

I. Identifique a empresa para a qual foi produzido o anúncio.

J. Que produto está a ser publicitado?

K. Qual é o «slogan» utilizado no anúncio?

L. Por que motivo não terá sido o slogan traduzido para língua portuguesa?
M. Esta campanha é de natureza

____ (A) comercial, porque persuade o espectador a adquirir um produto da marca.

____ (B) institucional, porque incita o espectador a modificar o seu comportamento.

____ (C) comercial, porque leva o espectador a identificar-se com a marca do produto.

____ (D) institucional, porque divulga uma ideia com um objetivo social e comunitário.

26. Proceda ao visionamento da primeira parte do documentário «Portugueses pelo mundo — Sydney», que
pode encontrar aqui: https://www.youtube.com/watch?v=QyyXaAUMXhQ. Depois, selecione, para cada
item, a única opção que permite obter uma afirmação correta.

A. A finalidade do documentário é

____ (A) incentivar os jovens portugueses a emigrar para a Austrália.

____ (B) informar sobre as possibilidades de trabalho dos jovens portugueses em Sydney.

____ (C) relatar experiências e visões de jovens portugueses radicados em Sydney.

____ (D) promover o turismo na Austrália.

B. Os portugueses referidos no documentário são oriundos de

____ (A) Lisboa e Coimbra.

____ (B) Lisboa e Porto.

____ (C) Lisboa, Seixal, Coimbra, Oeiras e Faro.

____ (D) Lisboa, Seixal, Coimbra, Oeiras, Faro e Porto.

C. Roland Martins, engenheiro de redes informáticas em Sydney há três anos,

____ (A) leva-nos ao Mercado de Paddy, onde mostra artefactos aborígenes e produtos em pele de
canguru.

____ (B) fala sobre a proteção aos cangurus.

____ (C) raramente vai a mercados.

____ (D) considera que as Uggs australianas são úteis, dada a temperatura habitual em Sydney.
D. Depois do Mercado de Paddy, Roland Martins leva-nos

____ (A) ao Museu de Sydney.

____ (A) ao Museu de Sydney.

____ (C) à Ópera de Sydney.

____ (D) a um mergulho num aquário, com tubarões.

E. A Filipa Ferreira, na Austrália há onze anos, no jardim zoológico,

____ (A) mostra dois tipos de animais endémicos: os cangurus e os coalas.

____ (B) aconselha a dar de comer aos cangurus.

____ (C) diz que os coalas não bebem, sendo-lhes suficientes o líquido das folhas de eucalipto.

____ (D) gosta muito de andar de barco.

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