Santillana P10 Unidade 5 BQ
Santillana P10 Unidade 5 BQ
Santillana P10 Unidade 5 BQ
1. Leia o excerto do Canto I d’«Os Lusíadas» que se apresenta. Em caso de necessidade, consulte as notas.
Depois, apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.
105
O recado que trazem é de amigos,
Mas debaxo o veneno (1) vem coberto,
Que os pensamentos eram de inimigos,
Segundo foi o engano descoberto (2).
Ó grandes e gravíssimos perigos,
Ó caminho de vida nunca certo (3),
Que aonde a gente põe sua esperança
Tenha a vida tão pouca segurança!
106
No mar tanta tormenta e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercebida (4)!
Na terra tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade avorrecida (5)!
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme e se indigne o Céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno?
Luís de Camões, Os Lusíadas (ed. Costa Pimpão), Lisboa, Ministério dos Negócios Estrangeiros, Instituto
Camões, 2003.
NOTAS:
(1) veneno: traição.
(2) engano descoberto: a armadilha foi descoberta.
(3) nunca certo: inseguro.
(4) apercebida: próxima de nós.
(5) avorrecida: ocasiões difíceis.
A. Os quatro primeiros versos da estância 105 aludem a um evento do Plano da Viagem. Identifique-o.
B. O episódio que o Poeta recorda nos primeiros versos permite que se inicie uma breve reflexão na estância
105. Explique em que consiste essa reflexão, referindo-se à expressividade da interjeição, da adjetivação e da
exclamação.
C. A estância 106 enumera alguns dos riscos a que o ser humano se sujeita. Mostre de que forma se confere
um tom emotivo aos versos 1-4 dessa estância, indicando os recursos expressivos aí presentes.
D. A metáfora «um bicho da terra tão pequeno» indica que a visão do Poeta acerca do destino humano é
claramente pessimista. Mostre o seu acordo ou desacordo em relação à afirmação, citando as expressões
que melhor ilustram a sua perspetiva.
2. Leia o excerto do Canto VIII d’«Os Lusíadas» que se apresenta. Em caso de necessidade, consulte as notas.
Depois, apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.
96
Nas naus estar se deixa, vagaroso,
Até ver o que o tempo lhe descobre (1);
Que não se fia já do cobiçoso
Regedor, corrompido e pouco nobre.
Veja agora o juízo curioso
Quanto no rico, assi como no pobre,
Pode o vil interesse e sede imiga
Do dinheiro (2) que a tudo nos obriga.
[…]
98
Este rende munidas fortalezas (3);
Faz trédoros (4) e falsos os amigos;
Este a mais nobres faz fazer vilezas,
Eentrega Capitães aos inimigos;
Este corrompe virginais purezas,
Sem temer de honra ou fama alguns perigos;
Este deprava às vezes as ciências,
Os juízos cegando e as consciências.
99
Este interpreta mais que sutilmente
Os textos; este faz e desfaz leis;
Este causa os perjúrios entre a gente
E mil vezes tiranos torna os Reis.
Até os que só a Deus omnipotente
Se dedicam (5), mil vezes ouvireis
Que corrompe este encantador, e ilude;
Mas não sem cor (6), contudo, de virtude!
Luís de Camões, Os Lusíadas (ed. Costa Pimpão), Lisboa, Ministério dos Negócios Estrangeiros, Instituto
Camões, 2003.
NOTAS:
(1) Vasco da Gama prefere ficar na nau pois já não confia no Catual.
(2) A sede por ter dinheiro tem consequências negativas nos ricos e nos pobres.
(3) O dinheiro permite a existência de fortalezas bem fornecidas de armas.
(4) trédoros: traidores.
(5) Elementos do clero.
(6) cor: aparência, aspeto.
A. A reflexão apresentada nas estâncias acima segue a narração do episódio do resgate que Vasco da Gama
teve de pagar ao Catual de Calecute para poder regressar às naus. Explicite o tema desta consideração,
justificando a sua resposta com uma transcrição textual retirada da estância 96.
B. Indique o recurso expressivo que divulga o carácter negativo do objeto criticado e especifique as suas
consequências na vida humana.
3. Leia o excerto do Canto IX d’«Os Lusíadas» que se apresenta. Em caso de necessidade, consulte as notas.
Depois, apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.
66
Mas os fortes mancebos, que na praia
Punham os pés, de terra cobiçosos
(Que não há nenhum deles que não saia),
De acharem caça agreste desejosos,
Não cuidam que, sem laço ou redes, caia
Caça naqueles montes deleitosos,
Tão suave, doméstica e benina,
Qual ferida lha tinha já Ericina (1).
67
Alguns, que em espingardas e nas bestas (2)
Pera ferir os cervos (3), se fiavam,
Pelos sombrios matos e florestas
Determinadamente se lançavam;
Outros, nas sombras, que de as altas sestas (4)
Defendem a verdura, passeavam
Ao longo da água, que, suave e queda (5),
Por alvas pedras corre à praia leda (6).
68
Começam de enxergar subitamente,
Por entre verdes ramos, várias cores,
Cores de quem a vista julga e sente
Que não eram das rosas ou das flores,
Mas da lã fina e seda diferente,
Que mais incita a força dos amores,
De que se vestem as humanas rosas (7),
Fazendo-se por arte mais fermosas.
69
Dá Veloso (8), espantado, um grande grito:
— «Senhores, caça estranha (disse) é esta!
Se inda dura o Gentio antigo rito,
A Deusas é sagrada esta floresta.
Mais descobrimos do que humano esprito
Desejou nunca, e bem se manifesta
Que são grandes as cousas e excelentes
Que o mundo encobre aos homens imprudentes (9).
70
«Sigamos estas Deusas e vejamos
Se fantásticas são, se verdadeiras.»
Isto dito, veloces mais que gamos (10),
Se lançam a correr pelas ribeiras.
Fugindo as Ninfas vão por entre os ramos,
Mas, mais industriosas (11) que ligeiras,
Pouco e pouco, sorrindo e gritos dando,
Se deixam ir dos galgos (12) alcançando.
Luís de Camões, Os Lusíadas (ed. Costa Pimpão), Lisboa, Ministério dos Negócios Estrangeiros, Instituto
Camões, 2003.
NOTAS:
(1) Ericina: Vénus, deusa do Amor e da Beleza.
(2) bestas: arma antiga com que se atiram setas.
(3) cervos: veados.
(4) altas sestas: altura do dia em que se faz sentir mais calor.
(5) queda: quieta, calma.
(6) leda: alegre.
(7) humanas rosas: mulheres.
(8) Veloso: marinheiro que, em alguns cantos da epopeia, no plano da viagem, tem a função de narrador.
(9) imprudentes: ignorantes.
(10) gamos: animal semelhante ao veado.
(11) industriosas: ardilosas, astutas.
(12) galgos: cão muito esguio, utilizado na caça de coelhos e lebres.
A. Indique a intenção dos marinheiros no momento do desembarque na ilha. Justifique a sua resposta com
uma citação do texto.
a) Predicativo do sujeito.
b) Modificador apositivo do nome.
c) Complemento oblíquo.
B. Os marinheiros acabam por encontrar outra caça «suave, doméstica e benina» (estância 66, v. 7). Mostre
que o Poeta joga com a adjetivação e o campo semântico do vocábulo «caça», de maneira a antecipar os
eventos do episódio.
C. Os momentos a que as estâncias se referem são descritos com particular minúcia. Apresente a
caracterização que é feita dos marinheiros portugueses, comprovando a sua resposta com citações das
estâncias.
D. Demonstre que a descrição que é feita da ilha remete para o universo sensorial. Transcreva três versos
exemplificativos.
4. Leia o excerto do Canto X d’«Os Lusíadas». Em caso de necessidade, consulte as notas. Depois, apresente,
de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.
145
Nô mais (1), Musa, nô mais, que a Lira tenho
Destemperada (2) e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida (3).
O favor com que mais se acende o engenho (4)
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Dũa austera, apagada e vil tristeza.
146
E não sei por que influxo de Destino
Não tem um ledo (5) orgulho e geral gosto,
Que os ânimos levanta de contino
A ter pera trabalhos ledo o rosto.
Por isso vós, ó Rei, que por divino
Conselho (6) estais no régio sólio (7) posto,
Olhai que sois (e vede as outras gentes)
Senhor só (8) de vassalos excelentes.
[...]
154
Mas eu que falo, humilde, baxo e rudo, (9)
De vós não conhecido nem sonhado?
Da boca dos pequenos sei, contudo,
Que o louvor sai às vezes acabado.
Nem me falta na vida honesto estudo,
Com longa experiência misturado,
Nem engenho, que aqui vereis presente,
Cousas que juntas se acham raramente.
155
Pera servir-vos, braço às armas feito,
Pera cantar-vos, mente às Musas dada; (10)
Só me falece (11) ser a vós aceito,
De quem virtude deve ser prezada. (12)
Se me isto o Céu concede, e o vosso peito
Dina empresa tomar de ser cantada,
Como a pressaga mente vaticina (13)
Olhando a vossa inclinação divina,
156
Ou fazendo que, mais que a de Medusa, (14)
A vista vossa tema o monte Atlante (15),
Ou rompendo nos campos de Ampelusa (16)
Os muros de Marrocos e Trudante (17),
A minha já estimada e leda Musa
Fico (18) que em todo o mundo de vós cante,
De sorte que Alexandro (19) em vós se veja,
Sem à dita de Aquiles ter enveja. (20)
Luís de Camões, Os Lusíadas (ed. Costa Pimpão), Lisboa, Ministério dos Negócios Estrangeiros, Instituto
Camões, 2003.
NOTAS:
(1) Não mais, ou seja, basta, não continuarei a cantar.
(2) Desafinada.
(3) Indiferente, insensível.
(4) O apoio que inspira o génio do Poeta.
(5) Alegre.
(6) Providência (de Deus).
(7) Trono.
(8) Único.
(9) Mas que digo eu, homem humilde, plebeu e ignorante.
(10) A minha imaginação está entregue às musas.
(11) Só me falta.
(12) Que merece ter a vossa estima.
(13) Como adivinha a minha mente, que antecipa o futuro («pressaga»).
(14) Criatura monstruosa que tinha o poder de converter em pedra todos os que a olhassem.
(15) Monte Atlas, no norte de África.
(16) Cabo a oeste de Tânger (Marrocos).
(17) Cidade importante de Marrocos.
(18) Tenho a certeza de.
(19) Alexandre Magno.
(20) Sem invejar a glória de Aquiles, herói grego que combateu em Troia.
A. Localize o excerto apresentado na estrutura interna d'«Os Lusíadas».
B. Atente na estância 145. Caracterize o estado de espírito do Poeta e explique o que está na origem deste
sentimento.
E. Explicite o sentido da interrogação retórica que abre a estância 154 e comente o uso do conector no início
do primeiro verso, depois de o Poeta, nas estâncias 149-153, ter formulado vários conselhos.
F. Nas estâncias 154 e 155, o Poeta procura justificar os conselhos que dirige ao rei. Refira os argumentos que
para tal apresenta.
G. Relacione os argumentos apresentados nas estâncias 154 e 155 com o ideal do homem renascentista.
H. Atente nas estâncias 155 e 156, as duas últimas do poema. Explicite o pedido que o Poeta dirige a D.
Sebastião e a tarefa que se propõe fazer.
I. Identifique os recursos estilísticos presentes nos dois primeiros versos da estância 145 e comente a sua
expressividade.
J. Analise a estância 145 quanto à estrutura estrófica, à métrica e à rima.
5. Leia o excerto do Canto I d’«Os Lusíadas». Em caso de necessidade, consulte as notas. Depois, apresente,
de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.
4
E vós, Tágides (1) minhas, pois criado
Tendes em mi um novo engenho ardente (2),
Se sempre em verso humilde (3) celebrado
Foi de mi vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado (4),
Um estilo grandíloco (5) e corrente (6),
Por que de vossas águas Febo (7) ordene
Que não tenham enveja às de Hipocrene (8).
5
Dai-me ũa fúria grande e sonorosa (9),
E não de agreste avena ou frauta ruda (10),
Mas de tuba canora e belicosa (11),
Que o peito acende e a cor ao gesto muda (12);
Dai-me igual canto aos feitos da famosa
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;
Que se espalhe e se cante no universo,
Se tão sublime preço cabe em verso.
Luís de Camões, Os Lusíadas (ed. Costa Pimpão), Lisboa, Ministério dos Negócios Estrangeiros, Instituto
Camões, 2003.
NOTAS:
(1) Ninfas do Tejo, que aqui servem de musas inspiradoras.
(2) Génio inspirado para compor (uma epopeia).
(3) Referência à poesia lírica: Camões já antes escrevera poemas sobre o Tejo.
(4) Um estilo elevado e sublime, próprio da poesia épica.
(5) Grandioso, nobre.
(6) Fluente.
(7) Febo é Apolo, deus da poesia e da música.
(8) Fonte da Grécia, cuja água dava inspiração a quem a bebesse.
(9) Inspiração elevada.
(10) Duas referências às flautas dos pastores, que representam aqui a poesia bucólica e lírica.
(11) Trombeta sonora e guerreira, que simboliza a poesia épica.
(12) Um estilo que inspire a alma.
B. O Poeta alude, no texto, a dois tipos de poesia. Identifique-os e faça um levantamento das expressões que
os caracterizam.
F. Interprete as três ocorrências de «Dai-me» nas duas estâncias (est. 4, v. 5; est. 5, v. 1 e v. 5).
G. Justifique a utilização, nestas estâncias como em todo o poema, de uma linguagem fortemente marcada
por latinismos e construções frásicas latinizantes.
H. Analise a estância 4 quanto à estrutura estrófica, à métrica e à rima.
I. Refira outros momentos d'«Os Lusíadas» em que o Poeta volta a fazer invocações.
6. Construa uma síntese do seguinte texto de António José Saraiva, com um mínimo de cento e noventa e um
máximo de duzentas e dez palavras.
«O objetivo do poema é menos contar uma história do que ensinar um povo: mostrar-lhe em que consiste o
heroísmo e o que deve ser um homem. Como humanista, compete-lhe ainda fazer justiça (emendando a tão
falível justiça dos grandes): premiar, dar fama, imortalizar os que são dignos de ser salvos do esquecimento; e
também censurar aqueles que, apesar de altamente colocados, não estiveram à altura do ideal proposto. E,
por fim, dar sentido às realidades que o cercam e de que se faz testemunha. Perceber o significado dos
acontecimentos e através deste significado selecionar e ordenar os elementos. Os Lusíadas são uma tentativa
de compreender a história de Portugal num mesmo movimento (a luta contra o maometano) e de interpretar
o seu papel na história universal (defesa da Cristandade; missão evangelizadora; descobrimentos).»
Maria Vitalina Leal de Matos, Introdução à Poesia de Luís de Camões, Maia, Instituto de Cultura e Língua
Portuguesa, 1992, p. 41.
11. Fazendo alusão à sua experiência de leitura da lírica trovadoresca e da epopeia camoniana, desenvolva
uma exposição sobre a inspiração marítima na nossa literatura e as diferentes representações do mar.
Construa um texto bem estruturado, com um mínimo de cento e vinte e um máximo de cento e cinquenta
palavras.
12. Leia o texto seguinte de Viriato Soromenho-Marques. Depois, para cada item, selecione a opção correta.
A pilhagem de África
Korinna Horta é uma economista que há muitos anos se especializou no estudo dos impactos ambientais e
sociais dos investimentos das agências multilaterais de desenvolvimento. A partir da sua sede em
Washington, numa das mais importantes organizações não governamentais dos EUA, o Environmental
Defense Fund, Korinna Horta tem percorrido o mundo na pista dos sulcos de destruição deixados pela
marcha de algumas das maiores deslocações de recursos financeiros, mobilizados pela, aparentemente
saudável, necessidade de dar combate ao subdesenvolvimento.
Aproveitando a reunião anual em Washington da direção do Banco Mundial (BM) e do Fundo Monetário
Internacional, Korinna e uma colega do Chade, Delphine Djiraibe, publicaram um artigo (no Boston Globe,
27.09.2002) sobre um dos mais negativos projetos a que o BM deu assentimento nos últimos anos. Trata-se
do apoio em cerca de 3,7 mil milhões de dólares concedido pelo BM a um consórcio liderado pela
Exxon/Mobil, que pretende construir um enorme campo de exploração petrolífera e o correspondente
pipeline, atingindo áreas vastíssimas do Chade e dos Camarões. As vozes mais prudentes alertaram o BM —
tanto mais que este tem dado provas de alguma crescente sensibilidade ambiental — para a tragédia que
poderia estar a germinar. Não só esse projeto iria funcionar como um terramoto social, pelo efeito
destruidor sobre as comunidades locais, como a destruição de largas manchas de floresta virgem ganharia
uma dimensão de autêntico ecocídio. Acresce ainda, que na rota do projeto se encontram comunidades,
conhecidas localmente por «Pigmeus», devido à sua baixa estatura, para quem este projeto constitui um
desafio de vida ou de morte. A possibilidade de um genocídio está em aberto, para usarmos as palavras
corretas.
Outro motivo para prudência, que foi ignorado pelo BM, reside no caos político reinante nos dois países. O
Chade vive há muito mergulhado numa guerra civil e os Camarões encontram-se no cimo do ranking dos
países com administrações públicas mais corruptas do mundo. Contra todas as advertências, o BM avançou,
tendo como único escudo contra a desgraça anunciada um conjunto de requisitos minimizadores, visando
garantir uma justa distribuição dos lucros do projeto, assim como a diminuição dos impactos sociais e
ambientais.
Todos os relatórios independentes, e mesmo os relatórios do BM sobre a evolução do projeto indicam,
contudo, que o frágil escudo de boas intenções se partiu ao primeiro golpe da espada, isto é, da voragem
gananciosa que mobilizou o projeto. O presidente do Chade foi surpreendido a usar parte do dinheiro do BM
para suportar o seu esforço de guerra. As instituições necessárias para a justa distribuição dos lucros do
projeto continuam no papel, enquanto ao longo dos mais de mil quilómetros de pipeline desaparece a
floresta, são exterminadas espécies raras, são desalojadas as populações locais que dependiam da floresta,
as escolas ficam sem professores e alunos, aspirados pelas promessas de ganhos temporários e fáceis no
projeto, aumenta a prostituição infantil e amplia-se a infeção com HIV num ritmo de expansão geométrica.
Esta é uma estória, mais uma, sem moral. Como sempre não haverá responsáveis, e aqueles que puseram a
sua assinatura nesta extensão do inferno ao coração da África Central, continuarão a dormir descansados na
expectativa de lucrativas carreiras. O que não podemos é ignorar a forma como, até entre os que se
consideram «amigos» de África, se encontram aqueles que tudo têm feito para pilhar e para a tornar um
Continente irremediavelmente perdido.
Viriato Soromenho-Marques, «A Pilhagem de África», in Jornal de Letras, Artes e Ideias, n.º 836, Lisboa, ACJ-
Edipresse, 16 a 29 de outubro de 2002.
A. Pode afirmar-se que o objetivo principal do texto é
____ (B) descrever o projeto da Exxon/Mobil a que o Banco Mundial deu apoio.
____ (D) apelar à consciência da opinião pública, apresentando um mau exemplo de apoio financeiro.
____ (B) uma organização que se dedica a avaliar os efeitos dos investimentos, a nível ambiental e social.
____ (C) uma organização não governamental que se dedica ao investimento em países africanos.
____ (D) uma organização não governamental que supervisiona as transferências de recursos financeiros
com origem no Banco Mundial.
C. A expressão «(no «Boston Globe», 27.09.2002)» (linhas 8-9) surge entre parênteses porque
D. Segundo o autor, os motivos pelos quais o BM não deveria apoiar o projeto da Exxon/Mobil são
____ (A) dois: o tumulto social e a devastação ecológica causada pelo «pipeline».
____ (B) três: o tumulto social, a devastação ecológica e a destruição do habitat dos Pigmeus.
____ (C) três: o tumulto social, a devastação ecológica e a corrupção na Administração Pública dos países
envolvidos.
____ (D) dois: o tumulto social e a corrupção nos governos africanos envolvidos, que resultarão num
processo de devastação ecológica.
13. Leia o texto seguinte. Depois, para cada item, selecione a opção correta.
A ilha que não se chamava assim
Utopia ou lugar alegórico, a Ilha dos Amores nunca existiu. Não apenas neste sentido imediato, de não haver
na geografia real uma porção de terra rodeada de mar por todos os lados que lhe corresponda, não obstante
as várias tentativas para localizá-la, mas também porque Camões nunca falou em «Ilha dos Amores»…
Se percorrermos os Cantos pertinentes de Os Lusíadas, o IX e o X, veremos que nunca esse topónimo é
usado. O que mais se aproxima do sentido correspondente é a designação «Ilha namorada» (IX, 51), repetida
em X, 143. Vale a pena recapitular essas passagens. A primeira refere o avistamento da ilha ao romper da
manhã. O segundo trecho abre com a despedida de Tétis.
Basta uma rápida leitura destas estâncias para nela podermos encontrar várias simetrias. Desde logo a rima
em «ada», na primeira inscrita nas palavras «amada», «prolongada» e «namorada» e, na segunda, repetida
pelas palavras «amada», «namorada» e «desejada». Nos dois casos, «amada» refere-se a pátria e
«namorada» à Ilha. E se o «prolongada» da primeira estância intensifica a perspetiva da «grande viagem», o
«desejada», aplicado na segunda à companhia das Ninfas, envolve uma ideia que é de prolongamento ou
duração ainda maiores: para além do tempo da viagem, a existência dessa companhia «gloriosa» das Ninfas
eternamente projetada na viagem.
Por outro lado, nos dois casos há um imperativo prático ligado à navegação a correlacionar também as duas
passagens: na primeira estância, os nautas precisavam de fazer aguada; na segunda, seguem viagem,
devidamente aprovisionados. A transfiguração mítica operada pelo episódio da Ilha ocorre pois a partir de
uma situação de necessidade concreta ligada à preparação logística da jornada que assim arrancava. E diga-
se, de passagem, que Camões localiza a Ilha pouco depois da partida das naus, ao iniciarem o seu regresso a
Portugal: os navegadores desejam prover-se de água para um tão longo trajeto, o que não arredaria a
hipótese das Seychelles, onde se encontra a «Ilha do Almirante», para quem se obstinasse a procurar uma
correspondência efetiva entre a sede do episódio mítico e a geografia do mundo.
Em terceiro lugar, temos que a expressão «Ilha namorada» é usada duas únicas vezes, exatamente no início e
no fim do respetivo subepisódio, entre a chegada à Ilha e a partida dela, e portanto a abri-lo e a fechá-lo com
essa referência qualificada, o que se estende por nada menos de 188 estâncias, 45 no Canto IX e 143 no
Canto X. Ao longo dele, a adjetivação das propriedades da Ilha vai toda no sentido do prazer: «fresca e bela»
(IX, 52), «fermosa, alegre e deleitosa» (IX, 54), «angélica» (IX, 89), sendo-lhe também referidos «os deleites»
(IX, 89) e «os gostos» (X, 73).
Porei de lado a sequência mais do que conhecida e interpretada: avistamento da Ilha, desembarque,
encontro da natureza luxuriante, perseguição das Ninfas, banquete, ascese e contemplação da máquina do
mundo, profecias de Tétis, partida para Portugal, limitando-me a apontar o trajeto articulado do amor físico
ao amor cósmico que permite o conhecimento do Universo e move o sol e as mais estrelas, para usar a
formulação de Dante.
É que me parece muito duvidoso que D. Sebastião tenha jamais ouvido ler Os Lusíadas. Se isso aconteceu,
com certeza houve o cuidado de lhe escamotearem os Cantos IX e X no que à Ilha Namorada diz respeito. O
rei tinha profunda aversão às mulheres, em parte, decerto, pelo fanatismo da educação que recebera, em
parte, talvez, por maleitas físicas de que sofria e que os físicos e diplomatas da época reportavam.
Enfim, dessa ilha que nunca existiu, nem mesmo no texto literário, sob o nome que gerações sucessivas lhe
vêm dando até aos nossos dias, pode dizer-se que tinha pontos de contacto com o célebre banquete de
trovas mandado servir por Camões a alguns dos seus amigos na Índia. Limitava-se a uma existência pela
palavra, suprema iguaria, no largo oceano do estro do Poeta. Mas, enquanto no banquete de trovas se
tratava de um mero chiste gracioso e bem-humorado, neste caso, a palavra modelou profundamente o nosso
imaginário.
Vasco Graça Moura, «A ilha que não se chamava assim», Oceanos, n.º 46, CNCDP, abril/junho 2001, pp. 125-
127 (com adaptações).
A. O título do texto de Vasco Graça Moura chama a atenção para o facto de a ilha referida nos Cantos IX e X
d’«Os Lusíadas»
B. No segmento «Nos dois casos, «amada» refere-se a pátria e «namorada» à Ilha» (linhas 10-11)
C. Segundo o texto, o «imperativo prático» (linha 15) que obrigou os marinheiros a aportar à ilha namorada
corresponde
____ (C) à obrigação de parar antes de iniciar a longa navegação até Portugal.
14. Leia o texto seguinte. Depois, para cada item, selecione a opção correta.
NOTAS:
(1) blasé: do francês, cansado, entediado.
(2) Orson Welles: (1915-1985) realizador, encenador e ator norte-americano conhecido pelas suas inovações
técnicas e narrativas.
(3) Nicholas Ray: (1911-1979) realizador norte-americano cujos filmes se centravam em temáticas polémicas.
(4) Samuel Fuller: (1912-1997) cineasta e escritor norte-americano que centrou a sua obra em temas
controversos e provocadores.
A. O artigo de Mário Jorge Torres intitula-se «A beleza, como fim em si», porque
____ (A) constitui um ensaio filosófico sobre a importância da estética no cinema atual.
____ (C) considera o filme «O Novo Mundo» como um exemplo de trabalho centrado na beleza dos
cenários.
____ (D) considera o filme «O Novo Mundo» como um exemplo de trabalho artístico centrado nos
pormenores estéticos.
B. O objetivo central do artigo é
____ (D) comparar o estilo de Terrence Malick com o estilo de vários realizadores norte-americanos.
____ (B) apresentação do crítico; descrição do filme; referência aos atores; síntese final.
____ (C) descrição do filme; referência à obra; apresentação do realizador; síntese final.
D. Com a expressão «é um cineasta bissexto» (linha 1), o crítico pretende caracterizar Terrence Malick como
____ (A) um realizador que apenas lança um filme de quatro em quatro anos.
E. A expressão «estilo blasé» (linha 2), corresponde à imagem que Terrence Malick criou junto do público,
correspondente a uma forma
____ (A) mostrar que Terrence Malick é tão genial quanto estes cineastas.
____ (D) indicar os cineastas a quem Terrence Malick foi comparado no início da carreira.
G. Quando o crítico afirma que o filme «O Novo Mundo» «afina pelo mesmo diapasão» (linha 13), pretende
____ (A) indicar que a banda sonora é a mesma do seu filme «A Barreira Invisível».
____ (B) evidenciar a semelhança no estilo dos filmes que Malick realiza.
____ (C) indicar que a narrativa é semelhante à do seu filme «A Barreira Invisível».
____ (D) evidenciar que o realizador prefere que os atores reproduzam monólogos.
____ (A) a escolha dos cenários, a iluminação, a banda sonora e a caracterização das personagens.
____ (B) a adequação do guarda-roupa e dos cenários, a banda sonora, a narração e os diálogos.
____ (D) a seleção dos locais, a adequação do guarda-roupa e dos cenários e o som.
____ (B) um filme que segue uma intriga factual sobre a conquista da América do Norte.
____ (C) um documentário sobre Pocahontas semelhante aos da série «National Geographic».
____ (D) um filme histórico que retrata o romance entre Pocahontas e o capitão Jon Smith.
J. Na frase «Cada plano é estudado, recomposto, retocado» (linha 37) encontramos
____ (B) uma conclusão que problematiza a noção de cinema e a avaliação do filme.
15. Leia o texto seguinte. Depois, para cada item, selecione a opção correta.
____ (A) evitar ambiguidades no que diz respeito aos artefactos presentes na exposição.
____ (B) lançar novas hipóteses sobre a importância das Descobertas ibéricas.
____ (B) os títulos de algumas das conferências incluídas nas atividades da exposição.
____ (D) os títulos dos artigos publicados no folheto informativo da entidade promotora.
16. Leia atentamente o texto seguinte. Depois, para cada item, selecione a opção correta.
____ (B) exaltar o individualismo, de acordo com a valorização renascentista do papel do indivíduo no
mundo.
17. Leia atentamente o texto seguinte. Depois, para cada item, selecione a opção correta.
A inspiração marítima é tão antiga como a nossa literatura. Curiosamente, foram os poetas trovadorescos e
palacianos (séculos XII-XIV) que descobriram o Mar, bem antes das Descobertas quinhentistas. Com efeito, já
nos alvores da nacionalidade o apelo do Mar se fazia sentir no lirismo amoroso galaico-português, com suas
barcarolas ou marinhas, inspiradas na temática marítima. É ainda um Mar costeiro, visto de terra. Tem as
suas ondas e marés mais ou menos ameaçadoras, por vezes até confidentes de corações saudosos. O Mar é o
cenário do encontro amoroso da mulher apaixonada com o seu amado. [...]
Consolidada virilmente a conquista da Terra pátria e voltada de costas para Castela, a nação portuguesa via
no Mar a sua porta natural — Onde a terra acaba e o mar começa. Chegara a hora de um país de marinheiros
desbravar o lendário Mar Tenebroso, a partir da ocidental praia lusitana. Portugal lançava-se, assim, na maior
aventura coletiva da sua História: a descoberta de novas terras e do grande oceano por achar. [...]
A aventura marítima dos portugueses teve o seu tempo de preparação, o seu período áureo, mas também a
fase de decadência. Depois da larga odisseia, chega o momento do retorno à casa lusitana, à Ítaca natal.
Cumprida a vocação expansionista, feito e desfeito o Império ultramarino, é a hora do regresso às areias de
Portugal e ao cais da partida. Neste movimento centrípeto de regresso, subsiste um duplo e contraditório
sentimento: de realização duma grandiosa empresa, mas também de incumprimento do sonho. É a hora de o
povo de marinheiros regressar ao retângulo pátrio, ao jardim da Europa, à beira-mar plantado. [...]
Do desbravado mar português, ficou-nos a nostalgia. Portugal é, de novo, confinado à sua dimensão
terrestre. Este regresso a casa ou ao cais é precisamente um dos simbólicos temas que têm inspirado muita
da atual Literatura portuguesa: depois do passado marítimo e colonial, Portugal interroga-se sobre o destino
ou rumo como navio-nação. [...]
Costeiro ou oceânico, o Mar faz parte do nosso devir histórico, está-nos no sangue. É um dos traços da nossa
idiossincrasia como povo de vocação atlântica ou marítima. Por isso, numa das suas últimas intervenções
públicas, Vergílio Ferreira fez esta bela afirmação: Uma língua é o lugar donde se vê o Mundo e em que se
traçam os limites do nosso pensar e sentir. Da minha língua vê-se o mar.
J. Cândido Martins (textos publicados na revista do Mensageiro, Braga, 1998), acompanhando a Exposição
Universal de Lisboa, Expo'98), in http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/letras/candid02.htm, consultado em
25 de agosto de 2015 (com adaptações e supressões).
____ (A) remete para o facto de, nas guerras da Reconquista cristã, participarem apenas os homens.
____ (B) alude ao facto de a conquista de terras aos mouros ter sido difícil e exigido força e valentia.
____ (C) refere-se à insurgência de D. Afonso Henriques contra a sua mãe, D. Teresa.
____ (C) uma vez que o País estava em guerra com Castela.
____ (D) porque a Reconquista cristã estava terminada, mas os Portugueses mantinham o espírito de
conquista e cristianização.
F. Com o fim do Império ultramarino, os Portugueses
____ (C) sentem-se felizes por regressarem ao «jardim da Europa, à beira-mar plantado».
____ (D) sentem que o sonho ficou também por cumprir, apesar dos feitos grandiosos que alcançaram.
G. Segundo o autor, a frase de Vergílio Ferreira «Da minha língua vê-se o mar.» (linha 24) refere-se
18. Considere o texto de Viriato Soromenho-Marques. Depois, responda aos itens apresentados.
A pilhagem de África
Korinna Horta é uma economista que há muitos anos se especializou no estudo dos impactos ambientais e
sociais dos investimentos das agências multilaterais de desenvolvimento. A partir da sua sede em
Washington, numa das mais importantes organizações não governamentais dos EUA, o Environmental
Defense Fund, Korinna Horta tem percorrido o mundo na pista dos sulcos de destruição deixados pela
marcha de algumas das maiores deslocações de recursos financeiros, mobilizados pela, aparentemente
saudável, necessidade de dar combate ao subdesenvolvimento.
Aproveitando a reunião anual em Washington da direção do Banco Mundial (BM) e do Fundo Monetário
Internacional, Korinna e uma colega do Chade, Delphine Djiraibe, publicaram um artigo (no Boston Globe,
27.09.2002) sobre um dos mais negativos projetos a que o BM deu assentimento nos últimos anos. Trata-se
do apoio em cerca de 3,7 mil milhões de dólares concedido pelo BM a um consórcio liderado pela
Exxon/Mobil, que pretende construir um enorme campo de exploração petrolífera e o correspondente
pipeline, atingindo áreas vastíssimas do Chade e dos Camarões. As vozes mais prudentes alertaram o BM —
tanto mais que este tem dado provas de alguma crescente sensibilidade ambiental — para a tragédia que
poderia estar a germinar. Não só esse projeto iria funcionar como um terramoto social, pelo efeito
destruidor sobre as comunidades locais, como a destruição de largas manchas de floresta virgem ganharia
uma dimensão de autêntico ecocídio. Acresce ainda, que na rota do projeto se encontram comunidades,
conhecidas localmente por «Pigmeus», devido à sua baixa estatura, para quem este projeto constitui um
desafio de vida ou de morte. A possibilidade de um genocídio está em aberto, para usarmos as palavras
corretas.
Outro motivo para prudência, que foi ignorado pelo BM, reside no caos político reinante nos dois países. O
Chade vive há muito mergulhado numa guerra civil e os Camarões encontram-se no cimo do ranking dos
países com administrações públicas mais corruptas do mundo. Contra todas as advertências, o BM avançou,
tendo como único escudo contra a desgraça anunciada um conjunto de requisitos minimizadores, visando
garantir uma justa distribuição dos lucros do projeto, assim como a diminuição dos impactos sociais e
ambientais.
Todos os relatórios independentes, e mesmo os relatórios do BM sobre a evolução do projeto indicam,
contudo, que o frágil escudo de boas intenções se partiu ao primeiro golpe da espada, isto é, da voragem
gananciosa que mobilizou o projeto. O presidente do Chade foi surpreendido a usar parte do dinheiro do BM
para suportar o seu esforço de guerra. As instituições necessárias para a justa distribuição dos lucros do
projeto continuam no papel, enquanto ao longo dos mais de mil quilómetros de pipeline desaparece a
floresta, são exterminadas espécies raras, são desalojadas as populações locais que dependiam da floresta,
as escolas ficam sem professores e alunos, aspirados pelas promessas de ganhos temporários e fáceis no
projeto, aumenta a prostituição infantil e amplia-se a infeção com HIV num ritmo de expansão geométrica.
Esta é uma estória, mais uma, sem moral. Como sempre não haverá responsáveis, e aqueles que puseram a
sua assinatura nesta extensão do inferno ao coração da África Central, continuarão a dormir descansados na
expectativa de lucrativas carreiras. O que não podemos é ignorar a forma como, até entre os que se
consideram «amigos» de África, se encontram aqueles que tudo têm feito para pilhar e para a tornar um
Continente irremediavelmente perdido.
Viriato Soromenho-Marques, «A Pilhagem de África», in Jornal de Letras, Artes e Ideias, n.º 836, Lisboa, ACJ-
Edipresse, 16 a 29 de outubro de 2002.
A. Identifique a função sintática desempenhada pelos constituintes indicados:
a) Predicativo do sujeito.
b) Modificador apositivo do nome.
c) Complemento oblíquo.
B. Atente na palavra «ranking» (linha 21). Explique como se classifica este tipo de palavra quanto ao seu
processo de formação.
C. A partir da expressão «sem professores e alunos, <aspirados> pelas promessas de ganhos temporários e
fáceis» (linha 32), explique o campo semântico que o vocábulo destacado pode ter.
D. Classifique a oração subordinada presente na frase «tanto mais que este tem dado provas de alguma
crescente sensibilidade ambiental» (linha 13).
19. Considere o texto seguinte. Depois, para cada item, selecione a opção correta.
145
Nô mais (1), Musa, nô mais, que a Lira tenho
Destemperada (2) e a voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida (3).
O favor com que mais se acende o engenho (4)
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
Dũa austera, apagada e vil tristeza.
146
E não sei por que influxo de Destino
Não tem um ledo (5) orgulho e geral gosto,
Que os ânimos levanta de contino
A ter pera trabalhos ledo o rosto.
Por isso vós, ó Rei, que por divino
Conselho (6) estais no régio sólio (7) posto,
Olhai que sois (e vede as outras gentes)
Senhor só (8) de vassalos excelentes.
[...]
154
Mas eu que falo, humilde, baxo e rudo, (9)
De vós não conhecido nem sonhado?
Da boca dos pequenos sei, contudo,
Que o louvor sai às vezes acabado.
Nem me falta na vida honesto estudo,
Com longa experiência misturado,
Nem engenho, que aqui vereis presente,
Cousas que juntas se acham raramente.
155
Pera servir-vos, braço às armas feito,
Pera cantar-vos, mente às Musas dada; (10)
Só me falece (11) ser a vós aceito,
De quem virtude deve ser prezada. (12)
Se me isto o Céu concede, e o vosso peito
Dina empresa tomar de ser cantada,
Como a pressaga mente vaticina (13)
Olhando a vossa inclinação divina,
156
Ou fazendo que, mais que a de Medusa, (14)
A vista vossa tema o monte Atlante (15),
Ou rompendo nos campos de Ampelusa (16)
Os muros de Marrocos e Trudante (17),
A minha já estimada e leda Musa
Fico (18) que em todo o mundo de vós cante,
De sorte que Alexandro (19) em vós se veja,
Sem à dita de Aquiles ter enveja. (20)
Luís de Camões, Os Lusíadas (ed. Costa Pimpão), Lisboa, Ministério dos Negócios Estrangeiros, Instituto
Camões, 2003.
NOTAS:
(1) Não mais, ou seja, basta, não continuarei a cantar.
(2) Desafinada.
(3) Indiferente, insensível.
(4) O apoio que inspira o génio do Poeta.
(5) Alegre.
(6) Providência (de Deus).
(7) Trono.
(8) Único.
(9) Mas que digo eu, homem humilde, plebeu e ignorante.
(10) A minha imaginação está entregue às musas.
(11) Só me falta.
(12) Que merece ter a vossa estima.
(13) Como adivinha a minha mente, que antecipa o futuro («pressaga»).
(14) Criatura monstruosa que tinha o poder de converter em pedra todos os que a olhassem.
(15) Monte Atlas, no norte de África.
(16) Cabo a oeste de Tânger (Marrocos).
(17) Cidade importante de Marrocos.
(18) Tenho a certeza de.
(19) Alexandre Magno.
(20) Sem invejar a glória de Aquiles, herói grego que combateu em Troia.
«Nô mais, Musa, nô mais, que a Lira tenho / Destemperada e a voz enrouquecida,» (est. 145. vv. 1-2).
C. Delimite e classifique cada uma das orações que compõem os versos seguintes:
«Olhai que sois (e vede as outras gentes) / Senhor só de vassalos excelentes.» (est. 146. vv. 7-8).
4
E vós, Tágides (1) minhas, pois criado
Tendes em mi um novo engenho ardente (2),
Se sempre em verso humilde (3) celebrado
Foi de mi vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado (4),
Um estilo grandíloco (5) e corrente (6),
Por que de vossas águas Febo (7) ordene
Que não tenham enveja às de Hipocrene (8).
5
Dai-me ũa fúria grande e sonorosa (9),
E não de agreste avena ou frauta ruda (10),
Mas de tuba canora e belicosa (11),
Que o peito acende e a cor ao gesto muda (12);
Dai-me igual canto aos feitos da famosa
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;
Que se espalhe e se cante no universo,
Se tão sublime preço cabe em verso.
Luís de Camões, Os Lusíadas (ed. Costa Pimpão), Lisboa, Ministério dos Negócios Estrangeiros, Instituto
Camões, 2003.
NOTAS:
(1) Ninfas do Tejo, que aqui servem de musas inspiradoras.
(2) Génio inspirado para compor (uma epopeia).
(3) Referência à poesia lírica: Camões já antes escrevera poemas sobre o Tejo.
(4) Um estilo elevado e sublime, próprio da poesia épica.
(5) Grandioso, nobre.
(6) Fluente.
(7) Febo é Apolo, deus da poesia e da música.
(8) Fonte da Grécia, cuja água dava inspiração a quem a bebesse.
(9) Inspiração elevada.
(10) Duas referências às flautas dos pastores, que representam aqui a poesia bucólica e lírica.
(11) Trombeta sonora e guerreira, que simboliza a poesia épica.
(12) Um estilo que inspire a alma.
A. Reescreva a oração que constitui os versos 3-4 da estância 4 de acordo com a sintaxe do português atual.
22. Considere o texto seguinte. Depois, para cada item, selecione a opção correta.
D. O constituinte «menos contar uma história do que ensinar um povo» (linha 20) desempenha a função
sintática de
E. O constituinte «uma teoria do heroísmo e uma interpretação da história de Portugal» (linha 33)
desempenha a função sintática de
23. Considere o texto seguinte. Depois, para cada item, selecione a opção correta.
A inspiração marítima é tão antiga como a nossa literatura. Curiosamente, foram os poetas trovadorescos e
palacianos (séculos XII-XIV) que descobriram o Mar, bem antes das Descobertas quinhentistas. Com efeito, já
nos alvores da nacionalidade o apelo do Mar se fazia sentir no lirismo amoroso galaico-português, com suas
barcarolas ou marinhas, inspiradas na temática marítima. É ainda um Mar costeiro, visto de terra. Tem as
suas ondas e marés mais ou menos ameaçadoras, por vezes até confidentes de corações saudosos. O Mar é o
cenário do encontro amoroso da mulher apaixonada com o seu amado. [...]
Consolidada virilmente a conquista da Terra pátria e voltada de costas para Castela, a nação portuguesa via
no Mar a sua porta natural — Onde a terra acaba e o mar começa. Chegara a hora de um país de marinheiros
desbravar o lendário Mar Tenebroso, a partir da ocidental praia lusitana. Portugal lançava-se, assim, na maior
aventura coletiva da sua História: a descoberta de novas terras e do grande oceano por achar. [...]
A aventura marítima dos portugueses teve o seu tempo de preparação, o seu período áureo, mas também a
fase de decadência. Depois da larga odisseia, chega o momento do retorno à casa lusitana, à Ítaca natal.
Cumprida a vocação expansionista, feito e desfeito o Império ultramarino, é a hora do regresso às areias de
Portugal e ao cais da partida. Neste movimento centrípeto de regresso, subsiste um duplo e contraditório
sentimento: de realização duma grandiosa empresa, mas também de incumprimento do sonho. É a hora de o
povo de marinheiros regressar ao retângulo pátrio, ao jardim da Europa, à beira-mar plantado. [...]
Do desbravado mar português, ficou-nos a nostalgia. Portugal é, de novo, confinado à sua dimensão
terrestre. Este regresso a casa ou ao cais é precisamente um dos simbólicos temas que têm inspirado muita
da atual Literatura portuguesa: depois do passado marítimo e colonial, Portugal interroga-se sobre o destino
ou rumo como navio-nação. [...]
Costeiro ou oceânico, o Mar faz parte do nosso devir histórico, está-nos no sangue. É um dos traços da nossa
idiossincrasia como povo de vocação atlântica ou marítima. Por isso, numa das suas últimas intervenções
públicas, Vergílio Ferreira fez esta bela afirmação: Uma língua é o lugar donde se vê o Mundo e em que se
traçam os limites do nosso pensar e sentir. Da minha língua vê-se o mar.
J. Cândido Martins (textos publicados na revista do Mensageiro, Braga, 1998), acompanhando a Exposição
Universal de Lisboa, Expo'98), in http://alfarrabio.di.uminho.pt/vercial/letras/candid02.htm, consultado em
25 de agosto de 2015 (com adaptações e supressões).
A. O constituinte «do encontro amoroso» (linha 6) desempenha a função sintática de
C. O constituinte «um duplo e contraditório sentimento» (linhas 14-15) desempenha a função sintática de
A pilhagem de África
Korinna Horta é uma economista que há muitos anos se especializou no estudo dos impactos ambientais e
sociais dos investimentos das agências multilaterais de desenvolvimento. A partir da sua sede em
Washington, numa das mais importantes organizações não governamentais dos EUA, o Environmental
Defense Fund, Korinna Horta tem percorrido o mundo na pista dos sulcos de destruição deixados pela
marcha de algumas das maiores deslocações de recursos financeiros, mobilizados pela, aparentemente
saudável, necessidade de dar combate ao subdesenvolvimento.
Aproveitando a reunião anual em Washington da direção do Banco Mundial (BM) e do Fundo Monetário
Internacional, Korinna e uma colega do Chade, Delphine Djiraibe, publicaram um artigo (no Boston Globe,
27.09.2002) sobre um dos mais negativos projetos a que o BM deu assentimento nos últimos anos. Trata-se
do apoio em cerca de 3,7 mil milhões de dólares concedido pelo BM a um consórcio liderado pela
Exxon/Mobil, que pretende construir um enorme campo de exploração petrolífera e o correspondente
pipeline, atingindo áreas vastíssimas do Chade e dos Camarões. As vozes mais prudentes alertaram o BM —
tanto mais que este tem dado provas de alguma crescente sensibilidade ambiental — para a tragédia que
poderia estar a germinar. Não só esse projeto iria funcionar como um terramoto social, pelo efeito
destruidor sobre as comunidades locais, como a destruição de largas manchas de floresta virgem ganharia
uma dimensão de autêntico ecocídio. Acresce ainda, que na rota do projeto se encontram comunidades,
conhecidas localmente por «Pigmeus», devido à sua baixa estatura, para quem este projeto constitui um
desafio de vida ou de morte. A possibilidade de um genocídio está em aberto, para usarmos as palavras
corretas.
Outro motivo para prudência, que foi ignorado pelo BM, reside no caos político reinante nos dois países. O
Chade vive há muito mergulhado numa guerra civil e os Camarões encontram-se no cimo do ranking dos
países com administrações públicas mais corruptas do mundo. Contra todas as advertências, o BM avançou,
tendo como único escudo contra a desgraça anunciada um conjunto de requisitos minimizadores, visando
garantir uma justa distribuição dos lucros do projeto, assim como a diminuição dos impactos sociais e
ambientais.
Todos os relatórios independentes, e mesmo os relatórios do BM sobre a evolução do projeto indicam,
contudo, que o frágil escudo de boas intenções se partiu ao primeiro golpe da espada, isto é, da voragem
gananciosa que mobilizou o projeto. O presidente do Chade foi surpreendido a usar parte do dinheiro do BM
para suportar o seu esforço de guerra. As instituições necessárias para a justa distribuição dos lucros do
projeto continuam no papel, enquanto ao longo dos mais de mil quilómetros de pipeline desaparece a
floresta, são exterminadas espécies raras, são desalojadas as populações locais que dependiam da floresta,
as escolas ficam sem professores e alunos, aspirados pelas promessas de ganhos temporários e fáceis no
projeto, aumenta a prostituição infantil e amplia-se a infeção com HIV num ritmo de expansão geométrica.
Esta é uma estória, mais uma, sem moral. Como sempre não haverá responsáveis, e aqueles que puseram a
sua assinatura nesta extensão do inferno ao coração da África Central, continuarão a dormir descansados na
expectativa de lucrativas carreiras. O que não podemos é ignorar a forma como, até entre os que se
consideram «amigos» de África, se encontram aqueles que tudo têm feito para pilhar e para a tornar um
Continente irremediavelmente perdido.
Viriato Soromenho-Marques, «A Pilhagem de África», in Jornal de Letras, Artes e Ideias, n.º 836, Lisboa, ACJ-
Edipresse, 16 a 29 de outubro de 2002.
A. Os vocábulos «BM» (linha 7), «pipeline» (linha 12) e «ecocídio» (linha 16) correspondem, respetivamente,
a
25. Proceda ao visionamento do anúncio publicitário utilizado na Campanha da Vodafone «Efémera — Viva o
Momento» (2006), que pode encontrar aqui: https://www.youtube.com/watch?v=BXuHTYqWPew. Depois,
responda às perguntas que se seguem.
A. O anúncio centra-se no ciclo de vida de um inseto. Que inseto é esse e qual a sua esperança média de
vida?
B. Identifique o meio físico em que se dá a metamorfose da efémera, de larva a inseto.
C. Descreva o «habitat» apresentado nos primeiros segundos do anúncio. Refira-se às imagens e aos sons da
floresta.
G. A partir das atividades enumeradas acima, indique a figura de estilo utilizada para conseguir mostrar que
este inseto está a aproveitar o seu único dia de vida para fazer o que lhe dá prazer.
H. Explique por que motivo se utiliza essa figura de estilo.
L. Por que motivo não terá sido o slogan traduzido para língua portuguesa?
M. Esta campanha é de natureza
____ (C) comercial, porque leva o espectador a identificar-se com a marca do produto.
____ (D) institucional, porque divulga uma ideia com um objetivo social e comunitário.
26. Proceda ao visionamento da primeira parte do documentário «Portugueses pelo mundo — Sydney», que
pode encontrar aqui: https://www.youtube.com/watch?v=QyyXaAUMXhQ. Depois, selecione, para cada
item, a única opção que permite obter uma afirmação correta.
A. A finalidade do documentário é
____ (B) informar sobre as possibilidades de trabalho dos jovens portugueses em Sydney.
____ (A) leva-nos ao Mercado de Paddy, onde mostra artefactos aborígenes e produtos em pele de
canguru.
____ (D) considera que as Uggs australianas são úteis, dada a temperatura habitual em Sydney.
D. Depois do Mercado de Paddy, Roland Martins leva-nos
____ (C) diz que os coalas não bebem, sendo-lhes suficientes o líquido das folhas de eucalipto.