Teste - Os Lusiadas - Etvieria

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Educação Literária/ Compreensão Escrita

Grupo I

PARTE A

Lê atentamente o excerto de Os Lusíadas, de Luís de Camões e apresenta as tuas


respostas de forma bem estruturada. Se necessário, consulta as notas.

105 O recado que trazem é de amigos,


Mas debaxo o veneno vem coberto,
Que os pensamentos eram de inimigos,
Segundo foi o engano descoberto.
Oh! Grandes e gravíssimos perigos,
Oh! Caminho de vida nunca certo,
Que, aonde a gente põe sua esperança,
Tenha a vida tão pouca segurança!

106 No mar, tanta tormenta e tanto dano,


Tantas vezes a morte apercebida1;
Na terra, tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade2 avorrecida3!
Onde pode acolher-se um fraco humano,
Onde terá segura a curta vida,
Que não se arme e se indigne o Céu sereno
Contra um bicho da terra tão pequeno?
CAMÕES, Luís de, 2014. Os Lusíadas. (Org. de Emanuel Paulo Ramos),
Canto I, est. 105-106. Porto: Porto Editora (p. 92)

1. apercebida: adivinhada, iminente;


2. necessidade: fatalidade;
3. avorrecida: desagradável.

Os acontecimentos vividos na costa oriental africana motivam as reflexões do poeta.

1. Explicita a estrutura do texto, delimitando os diferentes momentos da sua organização interna.

2. Justifica o recurso simultâneo à anáfora e à frase exclamativa nos versos 5 a 8 da estância


105.

3. Identifica a metáfora utilizada na estância 106 para referir o ser humano e explicita o seu valor,
tendo em conta o assunto dessa estrofe.

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Teste de Português 11º ano 1
Parte B
Lê o texto, constituído pelas estâncias 88 e 89 do Canto IX de Os Lusíadas.

88 Assi a fermosa e a forte companhia 89 Que as Ninfas do Oceano, tão fermosas,


O dia quase todo estão passando Tethys e a Ilha angélica pintada,
Nũa alma, doce, incógnita alegria, Outra cousa não é que as deleitosas
Os trabalhos tão longos compensando; Honras que a vida fazem sublimada.
Porque dos feitos grandes, da ousadia Aquelas preminencias gloriosas,
Forte e famosa, o mundo está guardando Os triunfos, a fronte coroada
O prémio lá no fim, bem merecido, De palma e louro, a glória e maravilha:
Com fama grande e nome alto e subido. Estes são os deleites desta Ilha.
CAMÕES, Luís de, 2014. Os Lusiadas
(Org. de Emanuel Paulo Ramos), Canto IX, est. 88-89.
Porto: Porto Editora (p. 309)

4. Menciona duas das características dos portugueses que, de acordo com a estância 88 os tornam
merecedores da receção na Ilha dos Amores. Fundamenta a tua resposta com elementos textuais.

5. Segundo o poeta, o «prémio lá no fim» (est. 88, v. 7) manifesta-se de diferentes formas.


Identifica duas dessas manifestações, na estância 89.

6. Explica de que modo a mitificação do herói em Os Lusíadas é ilustrada pelas estâncias transcritas.

Parte C
Lê o texto.

Camões era ativista, influenciador e político


Dizemos que Camões é o poeta português e com razão. A sua emoção lírica é
incomparável – «Erros meus, má fortuna, amor ardente» –, a sua força épica não tem par –
«canto o peito ilustre Lusitano, a quem Neptuno e Marte obedeceram». Muita gente ignora que
ele foi também um homem de intervenção social, um influenciador, um político. […]
5 Os Lusíadas são o grande poema da glória portuguesa. Mas na época foi mais que isso.
Para além de um descarado enaltecimento a el-rei D. Sebastião, a obra era também um libelo1
acusatório contra a degradação moral e política do reino. O poema procurava reerguer a
dignidade de Portugal, quando o império se mostrava já falido, perdido em guerras, enredado
nas garras de uma nobreza corrupta… […]
10 Ao cantar as glórias de outrora, mostrava as tristezas da época. Ao elevar ao estatuto de
deuses os homens de outras eras, por comparação, mostrava a pequenez dos que detinham
os poderes no seu tempo.
Mais que um poema, Os Lusíadas apresentavam-se como um verdadeiro livro ideológico.
MORGADO, João, 2020. «Camões era ativista, influenciador e político». In Observador.
https://observador.pt/opiniao/camoes-era-activista-influenciador-e-politico/ (Consult. 2020-10-08)

1. libelo: texto escrito, de natureza argumentativa.

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Teste de Português 11º ano 2
7. Considerando o conteúdo do texto e a tua experiência de leitura de Os Lusíadas, escreve uma breve
exposição sobre o modo como a epopeia camoniana confirma a perspetiva apresentada no último parágrafo
do texto de João Morgado.
A tua exposição deve incluir:
– uma introdução ao tema;
– um desenvolvimento no qual refiras dois aspetos que evidenciem o modo como, em Os
Lusíadas, Camões reflete sobre ideias, valores e princípios, fundamentando cada um desses
aspetos em, pelo menos, um exemplo pertinente;

– uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.

Grupo II

Nas respostas aos itens de escolha múltipla, seleciona a opção correta.

Lê o texto.

Inauguração de Goa
Conta-se a seguinte história de Einstein. Quando se refugiou nos Estados Unidos,
escapando das perseguições nazis, teve de preencher um formulário na migração. Entre
outras perguntas, devia indicar a raça a que pertencia. Respondeu, com sentido de humor,
precisamente, genial: «Raça humana». […]
5 Mas mesmo que cautelosamente escrevesse «caucasiana», que é o nome que nestes
formulários serve para indicar a origem europeia, o meu coração está com Einstein. Por
solidariedade com todas as raças. E por simplificação – «humana» serve para todas.
Antigamente era fácil preencher estes formulários, porque as raças eram poucas. Mas os
portugueses baralharam tudo quando chegaram à Índia. É óbvio que não fomos os
10 primeiros a misturar sangues, mas provavelmente foi connosco, em Goa, que essa mistura
fez parte de uma política oficial, de um desígnio superior: o de Afonso de Albuquerque.
Difícil julgar este homem, e de qualquer forma injusto. Os tempos eram o que eram, as
convicções também. Quando Afonso de Albuquerque chegou pela primeira vez à Índia, em
1503, tinha já 50 anos e passara parte da vida em cruzada contra os mouros de Marrocos.
15 Com essa idade, e com um temperamento decidido, não é fácil mudar. Nem D. Manuel
queria que ele mudasse quando o escolheu para novo governador do Estado da Índia.
Albuquerque chegou, pois, para continuar a sua guerra santa itinerante. […]
Passeio por Goa quando a monção o permite, entre dois aguaceiros, e vou-me
cuidadosamente deliciando com essa raça que é também a minha, não apenas por ser 50
20 por cento portuguesa, mas também por ser 100 por cento humana. O espaço físico onde
se desenrola esta passerelle racial não é o mesmo idealizado por Albuquerque e
inaugurado pela geração de Magalhães. Esse espaço fundador foi abandonado pela
História, é hoje um museu ao ar livre do tamanho de uma cidade-fantasma e chama-se Old
Goa. A vida mudou-se, dois séculos mais tarde, duas dezenas de quilómetros mais a
25 oeste, para a nova Goa, que se chama Panjim. A cidade antiga não acompanhou o
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Teste de Português 11º ano 3
retrocesso do mar, sucumbiu a epidemias e à malária, não resistiu às ondas de assalto da
marinha holandesa. Não é, pois,
30 nos vultos espectrais das igrejas da velha Goa, mas nos
sorrisos nostálgicos dos antigos portugueses da nova Goa que reencontro a herança
quinhentista de uma capital portuguesa no Oriente. Quando converso com os vários
Souza, Cruz, Dias, Antunes que aqui permanecem, de dentes ofuscantes, olhos redondos,
cabelo cor de azeitona e pele canela, não posso deixar de me interrogar de que raça
somos realmente feitos nós, os
35 portugueses.
Para aqueles que nasceram há quatro séculos em Malaca e continuam portugueses no
sangue dos tetranetos de hoje, ou para os que residem há 300 anos no Recife, para os
que nasceram há 50 anos em Panjim, há 40 anos na ilha de Moçambique ou há 20 anos
em Macau, para todos estes portugueses, Lisboa não terá o mesmo valor que para mim. É
fácil imaginar que necessitam
40 de uma capital menos exclusiva, menos oficial, menos
europeia. Precisam, e nós também, de uma capital menos branca, menos «caucasiana»,
mais «humana», mais universal. Tal como esta capital inaugurada por Albuquerque e pela
geração de Magalhães, entre delírios de sangue e sonhos de cruzada.
CADILHE, Gonçalo, 2018. Nos passos de Magalhães. Lisboa: Clube do Autor (pp. 57-61)

1. Através da história de Einstein, o autor pretende


(A) denunciar o racismo.
(B) introduzir a temática da miscigenação.
(C) comparar o físico com Afonso de Albuquerque.
(D) manifestar a sua perspetiva sobre a discriminação racial.

2. De acordo com o conteúdo dos parágrafos das linhas 18 a 32, a presença portuguesa em Goa
manifesta-se, atualmente,
(A) na arquitetura de Old Goa.
(B) nos espaços da nova Goa criados no tempo de Afonso de Albuquerque.
(C) na fisionomia e nos apelidos dos habitantes de Panjim.
(D) no museu ao ar livre criado por Fernão de Magalhães.

3. As referências numéricas usadas no último parágrafo sugerem


(A) a duração e a extensão da presença portuguesa no mundo.
(B) a diversidade das comunidades lusófonas existentes em Lisboa.
(C) a longevidade da ocupação portuguesa do Oriente.
(D) o predomínio da população caucasiana em Goa.

4. O texto apresenta marcas de género específicas do relato de viagem, nomeadamente,


(A) o carácter demonstrativo.
(B) a dimensão expositiva, conjugada com passagens valorativas.
(C) o tom humorístico e a multiplicidade de intervenientes.
(D) o discurso pessoal e a dimensão narrativa.

5. As expressões «pela História» (l. 22) e «do mar» (l. 25) desempenham as funções sintáticas
(A) de complemento do adjetivo e de complemento do nome, respetivamente.
(B) de complemento agente da passiva e de complemento oblíquo, respetivamente.
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Teste de Português 11º ano 4
(C) de complemento oblíquo e de complemento do adjetivo, respetivamente.
D) de complemento agente da passiva e de complemento do nome, respetivamente.

6. Repara na expressão introduzida por «que», na linha 9. Classifica a oração que esse “que” introduz.

7. Refere a função sintática que desempenha a referida oração.

Grupo III
Atenta no cartoon.

AFONSO, Luís, 2020. Bartoon. Público, 3 de julho de 2020

Escreve uma exposição, de duzentas a trezentas palavras, sobre a perspetiva abordada no


cartoon.
A tua exposição deve incluir:
– uma introdução ao tema;
– um desenvolvimento no qual explicites a dimensão crítica e humorística do cartoon e
identifiques um momento da nossa História nacional que fundamente a crítica produzida;
– uma conclusão adequada ao desenvolvimento do tema.

Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando esta
integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente do
número de algarismos que o constituam (ex.: /2021/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados, há que atender ao seguinte:
− um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial do texto produzido;
− um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.

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