Prova-Modelo 2 - 2020 (Com OPÇÕES)
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PROVA-MODELO 2
A prova inclui 5 itens, devidamente identificados no enunciado, cujas respostas contribuem obrigatoriamente
para a classificação final. Dos restantes 10 itens da prova, apenas contribuem para a classificação final os 8
itens cujas respostas obtenham melhor pontuação.
Não é permitido o uso de corretor. Risque aquilo que pretende que não seja classificado.
Nas respostas aos itens de escolha múltipla, selecione a opção correta. Escreva, na folha de respostas, o
grupo, o número do item e a letra que identifica a opção escolhida.
Responde apenas aos itens dos textos da Parte A1 ou A2 ou A3, de acordo com a(s) obra(s) do 12º ano que
estudaste, e identifica, na folha de respostas, a parte correspondente ao texto que selecionaste.
Parte A1
O Ano da Morte de Ricardo Reis
Leia o texto.
Não volto aqui, dissera Lídia, e é ela quem neste momento bate à porta. Traz no bolso a chave
da casa, mas não se serve dela, tem os seus melindres, disse que não voltaria, mal parecia agora
meter a chave à porta como em casa sua, que nunca foi, hoje ainda menos, se esta palavra nunca
admite redução, admitamo-la nós, que das palavras não conhecemos o último destino. […] Lídia
5 tem os olhos vermelhos e inchados, talvez depois de grande luta com o seu nascente amor de
mãe tenha acabado por resolver fazer o desmancho […]. Ela diz, Desculpe, senhor doutor, não
tenho podido vir, mas quase sem transição emendou, Não foi por isso, pensei que já não lhe fazia
falta, tornou a emendar, Sentia-me cansada desta vida, e tendo dito ficou à espera, pela primeira
vez olhou de frente para Ricardo Reis, achou-o com um ar envelhecido, estará doente, Tens-me
10 feito falta, disse ele, e calou-se, dissera tudo o que havia para dizer. […] Por que é que não te
sentas, e depois, Conta-me o que se passa, então Lídia começa a chorar baixinho, É por causa
do menino, pergunta ele, e ela acena que não, lança-lhe mesmo, em meio das lágrimas, um olhar
repreensivo, finalmente desabafa, É por causa do meu irmão. […] É que, interrompeu-se para
enxugar os olhos e assoar-se, é que os barcos vão revoltar-se, sair para o mar, Quem to disse,
15 Foi o Daniel em grande segredo, mas eu não consigo guardar este peso para mim, tinha de
desabafar com uma pessoa de confiança, pensei no senhor doutor, em quem mais havia de
pensar, não tenho ninguém, a minha mãe não pode nem sonhar. Ricardo Reis espanta-se por não
reconhecer em si nenhum sentimento, talvez isto é que seja o destino, sabermos o que vai
acontecer, sabermos que não há nada que o possa evitar, e ficarmos quietos, olhando, como
20 puros observadores do espetáculo do mundo, ao tempo que imaginamos que este será também
o nosso último olhar, porque com o mesmo mundo acabaremos, Tens a certeza, perguntou, mas
disse-o somente porque é costume dar a nossa cobardia ao destino essa última oportunidade de
voltar atrás, de arrepender-se. Ela acenou que sim, chorosa, esperando pelas perguntas
apropriadas, aquelas a que só podem ser dadas respostas diretas, se possível um sim ou um não,
25 mas trata-se de proeza que está acima das humanas capacidades.
José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis, Editorial Caminho, Alfragide, 1984, pp. 566-567
1. Comenta o relacionamento entre Ricardo Reis e Lídia, tendo em conta a globalidade do texto.
3. Seleciona um excerto do texto em que o tom oralizante seja evidenciado pela pontuação, justificando a
tua escolha.
Parte A2
Memorial do Convento
Leia o texto.
Dorme Baltasar no lado direito da enxerga, desde a primeira noite aí dorme, porque é desse
lado o seu braço inteiro, e ao voltar-se para Blimunda pode, com ele, cingi-la contra si, correr-lhe
os dedos desde a nuca até à cintura, mais abaixo ainda se os sentidos de um e do outro
5 despertaram no calor do sono e na representação do sonho, ou já acordadíssimos iam quando se
deitaram, que este casal, ilegítimo por sua própria vontade, não sacramentado na igreja, cuida
pouco de regras e respeitos, e se a ele apeteceu, a ela apetecerá, e se ela quis, quererá ele.
Talvez ande por aqui obra de outro mais secreto sacramento, a cruz e o sinal feitos e traçados
com o sangue da virgindade rasgada, quando, à luz amarela do candil, estando ambos deitados
10 de costas, repousando, e, por primeira infração aos usos, nus como suas mães os tinham parido,
Blimunda recolheu da enxerga, entre as pernas, o vivíssimo sangue, e nessa espécie
comungaram, se não é heresia dizê-lo ou, maior ainda, tê-lo feito. Meses inteiros se passaram
desde então, o ano é já outro, ouve-se cair a chuva no telhado, há grandes ventos sobre o rio e a
barra, e, apesar de tão próxima a madrugada, parece escura noite. Outro se enganaria, mas não
15 Baltasar, que sempre acorda à mesma hora, muito antes de nascer o sol, hábito inquieto de
soldado, […] até que um leve rumor acorda Blimunda e outro som começa e se prolonga, infalível,
é Blimunda a comer o seu pão, e depois que o comeu abre os olhos, vira-se para Baltasar e
descansa a cabeça sobre o ombro dele, ao mesmo tempo que pousa a mão esquerda no lugar da
mão ausente, braço sobre braço, pulso sobre pulso, é a vida, quanto pode, emendando a morte.
20 Mas hoje não será assim. […]
Quando Blimunda acorda, estende a mão para o saquitel onde costuma guardar o pão,
pendurado à cabeceira, e acha apenas o lugar. Tateia o chão, a enxerga, mete as mãos por baixo
da travesseira, e então ouve Baltasar dizer, Não procures mais, não encontrarás, e ela, cobrindo
os olhos com os punhos cerrados, implora, Dá-me o pão, Baltasar, dá-me o pão, por alma de
25 quem lá tenhas, Primeiro me terás de dizer que segredos são estes, Não posso, gritou ela, e
bruscamente tentou rolar para fora da enxerga, mas Sete-Sóis deitou-lhe o braço são, prendeu-a
pela cintura, ela debateu-se brava, depois passou-lhe a perna direita por cima, e assim libertada
a mão, quis afastar-lhe os punhos dos olhos, mas ela tornou a gritar, espavorida, Não me faças
isso, e foi o grito tal que Baltasar a largou, assustado, quase arrependido da violência, Eu não te
30 quero fazer mal, só queria saber que mistérios são, Dá-me o pão, e eu digo-te tudo, Juras, Para
que serviriam juras se não bastassem o sim e o não, Aí tens, come, e Baltasar tirou o taleigo de
dentro do alforge que lhe servia de travesseira.
José Saramago, Memorial do Convento, Editorial Caminho, Alfragide, 2013, pp. 99-101.
2. Considerando a excecionalidade de Blimunda, clarifica o significado de «só queria saber que mistérios
são» (linha 29).
3. Seleciona um excerto do texto em que o tom oralizante seja evidenciado pela pontuação, justificando a
tua escolha.
Parte A3
Ricardo Reis
Não tristezas
Nem alegrias
Na nossa vida.
Assim saibamos,
Sábios incautos.(1)
Não a viver,
Mas decorrê-la,
Tranquilos, plácidos,
Tendo as crianças
Por nossas mestras,
E os olhos cheios
De Natureza…
À beira-rio,
À beira-estrada,
Conforme calha,
Sempre no mesmo
Leve descanso
De estar vivendo.
O tempo passa,
Colhamos flores.
Molhemos leves
As nossas mãos
Nos rios calmos,
Para aprendermos
Calma também.
Girassóis sempre
Fitando o sol,
Da vida iremos
Tranquilos, tendo
Nem o remorso
De ter vivido.
Ricardo Reis, Poesia, Lisboa, Assírio & Alvim, 2000, s/p.
NOTA
(1) incautos – sem cautelas, despreocupados;
(2) deus atroz / Que os próprios filhos / Devora sempre – referência a Cronos, deus grego cujo nome significa “tempo”, e
que devorava os filhos ao nascer.
2. Explicite dois efeitos de sentido produzidos pelas formas verbais «saibamos» (vv. 10 e 28), «Colhamos»
(verso 37) e «Molhemos (verso 38).
ATENÇÃO
A partir desta página, NÃO EXISTEM mais opções para a Parte A do Grupo I.
Verifica se identificaste corretamente, na folha de respostas, a parte correspondente ao texto que selecionaste.
154
Mas eu que falo, humilde, baxo e rudo (1),
De vós não conhecido nem sonhado?
Da boca dos pequenos (2) sei, contudo,
Que o louvor sai às vezes acabado.
Nem me falta na vida honesto estudo,
Com longa esperiencia misturado,
Nem engenho, que aqui vereis presente,
Cousas que juntas se acham raramente3.
155
Pera servir-vos, braço às armas feito;
Pera cantar-vos, mente às Musas dada;
Só me falece (4) ser a (5) vós aceito (6),
De (7) quem virtude (8) deve ser prezada.
Se me isto (9) o Céu concede, e o vosso peito
Dina empresa tomar de ser cantada (10),
Como a pressaga mente vaticina
Olhando a vossa inclinação divina (11),
156
Ou fazendo que, mais que a de Medusa,
A vista vossa tema o monte Atlante (12),
Ou rompendo nos campos de Ampelusa
Os muros de Marrocos e Trudante (13).
A minha já estimada e leda Musa
Fico que em todo o mundo de vós cante (14),
De sorte que Alexandro em vós se veja,
Sem à dita de Aquiles ter enveja (15).
.
Luís de Camões, Os Lusíadas, edição de Emanuel Paulo Ramos, Canto X, estâncias 154-156,
Porto, Porto Editora, 1987, p. 266.
NOTA
(1) Camões exibe a sua origem social, o povo;
(2) de pessoas do povo;
(3) vv. 5-8: Camões apresenta várias qualidades suas – o conhecimento baseado nos livros, o «estudo», o conhecimento
facultado pela «experiência» da vida, o «engenho», isto é, a capacidade poética, «aqui» – em Os Lusíadas –
concretizada;
(4) só me falta;
(5) por;
(6) conhecido;
(7) por;
(8) a capacidade engenhosa que lhe permitiu construir Os Lusíadas;
(9) ser reconhecido pelo rei;
(10) vv. 5-6: e o rei decidir empreender façanhas dignas de serem epicamente cantadas;
(11) vv. 7-8: como se adivinha que sucederá, dada a intenção do rei;
(12) Atlas ficou petrificado ao ver a Medusa, ser horripilante; o sentido destes dois primeiros versos é que o Norte de África,
isto é, os Mouros, fiquem ainda mais petrificados ao verem D. Sebastião do que ficou Atlas ao ver a Medusa; o Monte
Atlante fica em Marrocos;
(13) Ampelusa e Trudante são terras de Marrocos; por estes versos e pelos dois últimos da estância anterior se verifica
que a intenção de atacar Marrocos era do conhecimento geral no reinado de D. Sebastião; a tentativa levará pouco
depois ao desastre de Alcácer Quibir;
(14) Camões oferece-se para cantar epicamente os futuros feitos de D. Sebastião;
(15) Alexandre Magno foi o maior general da Antiguidade Clássica; dizia lamentar não ter um Homero que lhe cantasse os
feitos – como Aquiles teve; tinha inveja de Aquiles por isso; Camões promete, jura, («Fico») que cantará epicamente
os feitos de D. Sebastião.
5. Explicita três dos projetos apresentados por Camões nas duas últimas estrofes.
6. Relaciona, justificadamente, os dois últimos versos da terceira estrofe com a Proposição de Os Lusíadas.
Responde apenas ao item da Parte C1 ou C2, de acordo com as obras que estudaste, e identifica, na folha de
respostas, a parte que selecionaste. Caso respondas ao item da Parte C1, não respondas ao item da Parte C2.
Parte C1
7. O tema da reflexão existencial é uma das características típicas da poesia de Fernando Pessoa.
Escreva uma breve exposição na qual faça um contraste entre a visão do mundo de Alberto Caeiro e a de
Ricardo Reis a propósito deste tema.
• um desenvolvimento no qual explicite, para cada um dos heterónimos, uma característica que os
permita distinguir, fundamentando as características apresentadas com, pelo menos, um exemplo
significativo;
Parte C2
7. A figura do herói está presente em várias obras estudadas ao longo do Ensino Secundário, ainda que a
sua construção se diferencie consoante períodos e construções literárias.
Escreva uma breve exposição na qual se refira ao(s) herói(s) em Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, e
ao(s) herói(s) na Crónica de D. João I, de Fernão Lopes.
• um desenvolvimento no qual explique uma característica do(s) herói(s) em cada uma das obras,
fundamentando com um exemplo significativo de cada uma delas;
ATENÇÃO
A partir desta página, NÃO EXISTEM mais opções para a Parte C do Grupo I.
Verifica se identificaste corretamente, na folha de respostas, a parte que selecionaste.
«Bei der Laterne wollen wir steh’n / Wie einst Lili Marleen» (1)
Nota
(1) «Queremos ficar junto do candeeiro / Como outrora a Lili Marleen». Versos da canção «Lili Marleen», escrita por
Norbert Schultze em 1937, e popularizada durante a Segunda Guerra Mundial por Marlene Dietrich, atriz alemã
naturalizada americana;
(2) «A minha luta», obra ideológica do nazismo, da autoria de Adolf Hitler;
(3) Cônsul português em Bordéus, França, no início da Segunda Guerra Mundial. Destacou-se pela ajuda aos judeus
durante este período, concedendo-lhes vistos de entrada em Portugal contra a vontade de Salazar;
(4) Henry Kissinger, secretário de estado norte-americano entre 1973 e1977, durante as presidências de Richard Nixon e
de Gerald Ford, nascido na Alemanha em 1923;
(5) Dito espirituoso;
(6) Multikulti – multiculturais, isto é, pessoas de diversas culturas e nacionalidades;
(7) Jornal alemão (tabloide) fundado em 1952;
(8) Bento XVI, atual Papa emérito, natural da Baviera, Alemanha. Renunciou ao trono papal em 2013;
(9) Muti (mãezinha) – nome carinhoso que os alemães dão à chanceler Angela Merkl;
(10) Atual presidente da Rússia;
(11) Antigo presidente da União Soviética entre 1941e1953;
(12) Campo de concentração nazi durante a Segunda Guerra Mundial, atualmente em território polaco;
(13) Progressiva.
(C) lembrar que os verdadeiros monstros da guerra foram a Alemanha nazi e Hitler.
(D) mostrar que o papel dos soviéticos na guerra foi tão mau como o dos nazis.
4. Classifique a oração iniciada por «que» na frase «Na minha ingenuidade, eu pensava que esse era um
mal português» (ll. 29-30).
6. A frase «Agora poderia haver manchetes tipo: «Somos Muti » (ll. 33-34) exprime
7. O complexo verbal presente na frase «a Alemanha vai permitir a reedição de Mein Kampf.» (linha 2),
possui um valor temporal de
(A) imperativo.
(B) passado.
(C) futuro.
(D) presente.
Num texto de opinião bem estruturado, com um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas e cinquenta
palavras, defenda uma perspetiva pessoal sobre a fama e os famosos e o mérito (ou desmérito) que a justifica,
na sociedade atual.
No seu texto:
– explicite, de forma clara e pertinente, o seu ponto de vista, fundamentando-o em dois argumentos, cada
um deles ilustrado com um exemplo significativo;
– utilize um discurso valorativo (juízo de valor explícito ou implícito).
Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo
quando esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra,
independentemente do número de algarismos que o constituam (ex.: /2020/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – entre duzentas e trezentas e cinquenta palavras –, há
que atender ao seguinte:
− um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido;
− um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.
FIM
Cotações