Resinas Alquídicas
Resinas Alquídicas
Resinas Alquídicas
INSTITUTO DE QUÍMICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM QUÍMICA
Comissão Examinadora:
2
Parte desta dissertação foi apresentada/ publicada nos seguintes congressos:
Future Coat 2008 – Globally Responsible Coatings – Getting There from Here
Federation of Societies for Coatings Technology International Conference
Outubro de 2008
Título: Enzymatic Catalysed Transesterification in the Manufacturing of Alkyd Resins
Pedido de depósito de patente do processo descrito neste trabalho foi protocolado junto
ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) em 19 de dezembro de 2008
Título: Processo para Preparação de Resinas Alquídicas
Titulares: UFRGS e Killing S/A Tintas e Adesivos
3
"É muito melhor
Arriscar coisas grandiosas
Alcançar triunfos e glórias, mesmo expondo-se à derrota
Do que formar fila com os pobres de espírito
Que nem gozam muito, nem sofrem muito,
Porque vivem em uma penumbra cinzenta
Que não conhecem vitória nem derrota".
Teodore Roosevelt
4
AGRADECIMENTOS
À “analítica” Angelita.
Ao pessoal do K215.
À Illen Canani.
À Killing.
À banca.
5
SUMÁRIO
6
3.3.10 Lipases .......................................................................................................................................... 81
3.3.10.1 Seletividade das Lipases........................................................................................................ 84
3.3.10.2 Modelo Cinético.................................................................................................................... 88
3.3.10.3 Aplicações das Lipases.......................................................................................................... 89
3.3.10.3.1 Interesterificação .............................................................................................................. 89
3.3.10.3.2 Produção de Monoacilgliceróis e Diacilgliceróis ............................................................. 91
3.3.10.3.3 Síntese de Biodiesel.......................................................................................................... 94
3.3.10.3.4 Usos das lipases na modificação de óleos para produção de resinas alquídicas ............... 96
4 MATERIAIS E MÉTODOS .............................................................................................99
4.1 REAGENTES........................................................................................................................ 99
4.2 PROTOCOLOS DE REAÇÃO ........................................................................................... 99
4.2.1 Alcóolises com lipase PPL ............................................................................................................ 99
4.2.2 Alcóolises com lipases PS, A, AY e Novozym 435...................................................................... 99
4.2.3 Análise fatorial com Lipase PS ..................................................................................................... 99
4.2.4 Síntese da resina alquídica .......................................................................................................... 100
4.2.5 Reator contínuo ........................................................................................................................... 100
4.3 MÉTODOS ANALÍTICOS................................................................................................ 102
4.3.1 Solubilidade em Metanol ............................................................................................................ 102
4.3.2 Índice de acidez........................................................................................................................... 102
4.3.3 Cromatografia em camada delgada ............................................................................................. 103
4.3.4 Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE) .................................................................... 103
4.3.5 Cromatografia de Permeação em Gel (GPC) .............................................................................. 105
4.3.6 Espectroscopia em Infravermelho ............................................................................................... 105
4.4 ENSAIOS EM RESINA E TINTA .................................................................................... 105
4.4.1 Desempenho da tinta e resina...................................................................................................... 105
4.4.2 “Gel Time” .................................................................................................................................. 106
4.4.3 Imersão em água ......................................................................................................................... 106
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO .....................................................................................108
5.1 PROCESSO ALCALINO .................................................................................................. 108
5.2 Glicerólise com lipase PPL................................................................................................. 109
5.3 Glicerólise com Enzimas Amano ....................................................................................... 114
5.3.1 Otimização do processo com lipase PS ....................................................................................... 118
5.3.2 Reutilização................................................................................................................................. 120
5.3.3 Efeito da Adição de Solvente ...................................................................................................... 121
5.3.4 Testes com outros óleos e álcoois polifuncionais........................................................................ 123
5.4 Glicerólise com Novozym 435 ............................................................................................ 125
5.4.1 Processo contínuo........................................................................................................................ 127
5.5 Síntese da resina alquídica ................................................................................................. 131
5.6 Resultados em Esmalte Poliuretânico Branco.................................................................. 135
6 CONCLUSÕES ..............................................................................................................140
Referências Bibliográficas.................................................................................................143
ANEXOS ...........................................................................................................................151
7
LISTA DE ABREVIATURAS E GLOSSÁRIO
8
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 – Esquema de formação de ozônio através de reação fotoquímica dos solventes.1 _____________ 17
Figura 1.2 – Comparativo de venda de resinas (em milhões de quilos) nos Estados Unidos nos anos de 1982 e
2004.1,51 ________________________________________________________________________________ 18
Figura 1.3 – Estrutura idealizada de uma resina alquídica, onde R corresponde à cadeia de ácido graxo
correspondente, que, dependendo do tipo de óleo utilizado, pode ser saturada ou insaturada. ____________ 19
Figura 1.4 – Reação idealizada de transesterificação (ou alcóolise) entre um óleo vegetal e glicerol. ______ 20
Figura 1.5 – Esquema simplificado da etapa de policondensação de síntese de resina alquídica. __________ 21
Figura 1.6 – Rotas sintéticas livres de benzeno para vários produtos químicos industriais.71______________ 22
Figura 1.7 – Processo de produção de biodiesel através da transesterificação com catalisador básico. São
necessárias várias etapas de purificação dos produtos e subprodutos para possibilitar a comercialização.186 24
Figura 1.8 – Processo de produção de biodiesel através de transesterificação com catálise enzimática. Processo
mais simplificado, devido à alta pureza dos produtos e subprodutos.186 ______________________________ 24
Figura 3.1 – Carro do início do século 20 pintado com tinta a base de resina nitrocelulósica.21 ___________ 33
Figura 3.2 – Reação de policondensação e estrutura idealizada de resina alquídica de glicerol e anidrido
ftálico. R corresponde à cadeia de carbonos correspondente ao ácido graxo.__________________________ 34
Figura 3.3– Representação da reação de alcoólise.______________________________________________ 37
Figura 3.4 – Formação de anel na reação de policondensação. ____________________________________ 40
Figura 3.5– Mecanismos de degradação de polióis. _____________________________________________ 40
Figura 3.6 – W. H. Carothers em seu laboratório em 1930.25 ______________________________________ 41
Figura 3.7 – Representação da reação de policondensação.35 ______________________________________ 42
Figura 3.8 – Principais ácidos graxos utilizados na formulação de resinas alquídicas. __________________ 45
Figura 3.9 – Esquema da reação de crosslinking durante a secagem de alquídica baseada em óleo linoléico. R =
polímero.1,39_____________________________________________________________________________ 47
Figura 3.10 – Formação de cetonas durante a secagem de resinas alquídicas.39 _______________________ 48
Figura 3.11 – Principais ácidos polifuncionais utilizados na síntese de resinas alquídicas. _______________ 50
Figura 3.12 – Comparativo de tempo de secagem (eixo Y, em minutos) de resinas alquídicas formuladas com
diversos anidridos (MA=Maleico, PA=Ftálico, SA=Succínico, GA=Glutárico) em diversos teores (eixo X,
quantidade molar de anidrido para 1 g de óleo). Conventional resin = resina convencional, formulação não
informada. 41 ____________________________________________________________________________ 51
Figura 3.13 – Esquema genérico de fotodegradação de polímeros.1 _________________________________ 52
Figura 3.14 – Representação esquemática da formação de ácidos pela degradação de polímeros alquídicos.42 53
Figura 3.15 – Representação idealizada de resinas alquídicas diluíveis com água, adequadas para
neutralização com aminas devido à acidez residual do polímero. (a) Modificação com Anidrido Trimelítico. (b)
Modificação com anidrido maleico. __________________________________________________________ 55
Figura 3.16 – Gráfico comparativo de teor de COV e secagem de formulações de resinas alquídicas base-
solvente e base-água (tecnologia de emulsificante polimérico).45 ___________________________________ 56
Figura 3.17 – Diluentes reativos para formulação de resinas alquídicas de alto teor de sólidos. e (a) = 2,7-
octadienil fumarato, (b) = 2,7-octadienil maleato e (c) = (2,7-octadieniloxi)-2-succinato. ______________ 57
9
Figura 3.18 – Modificação de resina alquídica com monômero acrílico-silicone.49 _____________________ 59
Figura 3.19 – Reação entre monoacilglicerol e heximetileno diisocianato (HDI), formando uma resina alquídica
uretanizada. ____________________________________________________________________________ 60
Figura 3.20 – Representação da reação de crosslinking de uma resina alquídica com endurecedor melamínico.
______________________________________________________________________________________ 62
Figura 3.21 – Esquema teórico de formação de ligação peptídica entre dois aminoácidos. 54 _____________ 63
Figura 3.22 – Estrutura de α-hélice de uma enzima. Em detalhe (pontilhado) as ligações de hidrogênio que
influenciam a estabilidade da estrutura.54,55 ____________________________________________________ 65
Figura 3.23 – Estrutura de folha β-pregueada de uma enzima. Em detalhe (pontilhado) as ligações de
hidrogênio.54,55 __________________________________________________________________________ 66
Figura 3.24 - Representação da estrutura tiária de uma enzima.58 __________________________________ 66
Figura 3.25 – Representação do modelo de chave e fechadura. A molécula de sacarose não é quebrada pela
Maltase, pois não se “encaixa” no sítio ativo. 57 ________________________________________________ 69
Figura 3.26 – Representação do modelo dinâmico do encaixe substrato-enzima. 59 _____________________ 69
Figura 3.27 - Representação gráfica da equação de Michaelis-Menten.54_____________________________ 70
Figura 3.28 – Esquema simplificado de produção de enzimas.58 ____________________________________ 76
Figura 3.29 – Esquema de imobilização da estrutura aberta de lipase através de adição de surfactante,
imobilização em suporte aminado, fixação com glutaraldeído e posterior lavagem para remoção do
surfactante.76 ____________________________________________________________________________ 79
Figura 3.30 – Reações de hidrólise (sentido direto) e esterificação (sentido inverso) catalisadas por lipases _ 81
Figura 3.31 - Artigos publicados na revista Journal of American Oil Chemistry Society, referentes à pesquisa
com a palavra LIPASE.84 __________________________________________________________________ 81
Figura 3.32 - A estrutura de uma lipase pancreática humana. Acima a estrutura ativa (aberta, E*) devido à
aproximação com o substrato. Embaixo a estrutura inativa (fechada, E). O sítio ativo da lipase é demonstrado,
ficando próximo a estrutura da folha β5, embaixo de uma estrutura que funciona como uma tampa (Lid
domain).85 ______________________________________________________________________________ 83
Figura 3.33 – Reações catalisadas por lipases. _________________________________________________ 84
Figura 3.34 - Randomização da estrutura do triacilglicerol na reação de interesterificação de óleos vegetais.67
______________________________________________________________________________________ 85
Figura 3.35 - Estrutura do triacilglicerol na reação de interesterificação de óleos vegetais via catalise
enzimática com lipases 1,3 específicas. 67 ______________________________________________________ 85
Figura 3.36 – Mecanismo da migração de grupamentos acila gerando produtos aleatorizados durante a
interesterificação enzimática. X e Y representam grupamentos graxos.123 _____________________________ 86
Figura 3.37 – Mecanismo de reação genérico das lipases _________________________________________ 88
Figura 3.38 – Reação em processo contínuo (reator de leito fluidizado com membrana de separação) do óleo de
palma com glicerol a 30ºC; 300 rpm; relação glicerol/óleo 2,7; 4% de água (m/m); enzima não imobilizada.
Organismos originais das lipases: LP (Chromobacterium viscosum), OF (Candida rugosa), D (Rhizopus
delemar), AK (Pseudomonas fluorescens), PS (Pseudomonas sp.), F (Rhizopus oryzae), AY (Candida rugosa), M
(Mucor javanicus) e PL (Alcaligenes sp.).161 ___________________________________________________ 92
10
Figura 3.39 – Reação em processo contínuo (reator de leito fluidizado com membrana de separação) do óleo de
palma com glicerol a 45ºC; 300 rpm; relação glicerol/óleo 2,7; 4% de água (m/m); enzima não imobilizada.
Organismos originais das lipases: LP (Chromobacterium viscosum), D (Rhizopus delemar), PS (Pseudomonas
sp.), F (Rhizopus oryzae) e PL (Alcaligenes sp.). 161 _____________________________________________ 92
Figura 3.40 – Estabilidade das lipases na reação do óleo de palma com glicerol a 45ºC; 300 rpm; relação
glicerol/óleo 2,7; 4% de água (m/m); enzima não imobilizada. Organismos originais das lipases: LP
(Chromobacterium viscosum), D (Rhizopus delemar), PS (Pseudomonas sp.), F (Rhizopus oryzae) e PL
(Alcaligenes sp.).161 _______________________________________________________________________ 93
Figura 3.41 – Reator contínuo de leito fixo. 161 _________________________________________________ 93
Figura 3.42 – Transesterificação de óleo vegetal por enzimas suportada em líquidos iônicos com concomitante
captura do glicerol formado.178 _____________________________________________________________ 95
Figura 4.1 – Esquema do reator contínuo de Damstrup.151 _______________________________________ 101
Figura 4.2 – Foto do reator contínuo de leito fixo preenchido com a enzima Novozym 435, já inchada devido ao
solvente. ______________________________________________________________________________ 101
Figura 4.3 – Exemplo de cromatograma de CLAE . Os picos referentes às diversas frações de acilgliceróis estão
indicados, inclusive o pico dos padrões internos naftaleno e linoleato de metila. ______________________ 104
Figura 4.4 – Foto ilustrativa do teste de imersão em água. _______________________________________ 107
Figura 5.1 – Resultados da análise de CLAE semi-quantitativa da alcoólise alcalina do óleo de soja e glicerol
(desconsiderado o glicerol não reagido). _____________________________________________________ 109
Figura 5.2 – Cromatograma de CLAE do óleo de mamona. ______________________________________ 112
Figura 5.3 – Cromatograma de CLAE da reação do óleo de mamona com CHDM, relação OH/ éster 2,4, THF
como solvente, temperatura 32°C e tempo 72 horas (reação 2 da Tabela XVII). ______________________ 113
Figura 5.4 – Cromatograma de CLAE da reação do óleo de mamona com TMP, relação OH/ éster 2,4, THF e
água como solventes, temperatura 32°C e tempo 48 horas (reação 4 da Tabela XVII). _________________ 113
Figura 5.5 – Comparação processo de alcóolise alcalina e enzimático por cromatografia em camada delgada.
Em ambos os casos, relação glicerol/ óleo de soja=2,4:1; Processo Lipase PS: 1% de enzima/ óleo, 96 horas de
reação, temperatura 40ºC. Processo Alcalino: 1% de octoato de lítio, 2 horas de reação, temperatura 40ºC.
Eluentes hexano/acetato etila/ácido acético na proporção 89/9/1. Revelação em vanilina/ácido sulfúrico. __ 116
Figura 5.6 – Resultados da análise de CLAE semi-quantitativa da alcoólise com óleo de soja e glicerol
(desconsiderado o glicerol não reagido). Alcóolise alcalina: 220ºC em 2 horas, 1% de octoato de lítio sobre
óleo (m/m). Alcóolise enzimática: 40ºC em 8 horas (mínimo), 1% de lipase PS sobre óleo (m/m), teor de água
indicado corresponde a percentual em massa sobre glicerol. _____________________________________ 117
Figura 5.7 – Gráfico da variação do índice de acidez versus tempo de reação da reutilização da lipase Amano
PS no sistema glicerol/óleo de soja, relação molar 2,4:1, teor de água de 50% (m/m de glicerol), temperatura de
40ºC. Padrão = enzima “nova”; R1,R2,R3=primeira, segunda e terceira reutilização. _________________ 121
Figura 5.8 - Resultados da análise de CLAE semi-quantitativa da alcoólise com óleo de soja e glicerol em
presença de lipase PS em reação em batelada (desconsiderado o glicerol não reagido), temperatura de 40ºC,
tempo de reação de 8 horas. Teores de água e t-butanol contados sobre massa de glicerol. _____________ 123
Figura 5.9 – Gráfico índice de acidez versus tempo de reação da reação de vários óleos com glicerol, relação
molar 2,4:1, temperatura de 40ºC, teor de água 3,5%. __________________________________________ 124
11
Figura 5.10 – Análise de cromatografia em camada delgada (CCD) da reação de diversos óleos com glicerol na
presença da lipase Amano PS. A esquerda de cada placa corresponde ao cromatograma do óleo puro, a direita
o produto da reação. Eluentes hexano/acetato etila/ácido acético na proporção 89/9/1. Revelação em
vanilina/ácido sulfúrico. __________________________________________________________________ 124
Figura 5.11 – Cromatograma de CLAE da reação de TMP e óleo de soja, relação molar 2,4:1, temperatura de
40ºC, por oito horas. Teor de água de 69% sobre TMP, padrão interno linoleato de metila. _____________ 125
Figura 5.12 – Resultados da análise de CLAE semi-quantitativa da alcoólise com óleo de soja e glicerol
(desconsiderado o glicerol não reagido) das experiências realizadas por processo enzimático (temperatura de
40ºC, tempo de reação até equilíbrio) com Lipase PS, Novozym 435 e processo alcalino (temperatura de 220ºC,
tempo de reação de 2 horas). Relação glicerol/óleo = 2,4, teor de água de 3,5% sobre glicerol, teor de
catalisador de 1% sobre óleo.______________________________________________________________ 126
Figura 5.13 – Reator contínuo de leito fixo utilizado no trabalho sendo alimentado pela parte inferior. A direita
o detalhe dos espaços vazios formados. ______________________________________________________ 128
Figura 5.14 - Resultados da análise de CLAE semi-quantitativa da alcoólise com óleo de soja e glicerol em
presença de lipase Novozym 435 e t-butanol, em processo batelada e contínuo (desconsiderado o glicerol não
reagido), temperatura de 40ºC, tempo de reação de 20 minutos (conforme definição de Damstrup para o
processo contínuo) e tempo de 8 horas para o processo batelada. _________________________________ 129
Figura 5.15 – Comparação visual dos processos de alcóolise enzimática (com lipase Novozym 435 em processo
contínuo a 40ºC) e alcalina (com octoato de lítio a 220ºC)._______________________________________ 130
Figura 5.16 – Resultados semi-quantitativos das análises de CLAE dos produtos de alcóolise utilizados para
síntese das resinas (desconsiderada fração de glicerol). _________________________________________ 133
Figura 5.17 – Cromatograma de GPC da Resina AP (3,5% de água). ______________________________ 134
Figura 5.18 – Tempos de gel dos esmaltes poliuretânicos brancos feitos com as resinas sintetizadas indicadas.
_____________________________________________________________________________________ 136
Figura 5.19 – Evolução de dureza dos filmes formados pelas tintas produzidas com as resinas sintetizadas
indicadas. _____________________________________________________________________________ 137
Figura 5.20 – Resultados de retenção de brilho (inicial/final) de filmes de tinta aplicados sobre aço carbono
lixado submetidos à imersão em água por 300 horas. ___________________________________________ 139
Figura 6.1 – Comparativo de produtividade das resinas sintetizadas. AA=alcóolise alcalina; AG=processo
ácido graxo; AP3 e AP50= alcóolise com lipase Amano PS em batelada, com 3,5% e 50% de água adicionada
em massa sobre glicerol respectivamente, sem considerar tempo de filtragem; AN=alcóolise com lipase
Novozym 435 em processo contínuo, sem considerar tempo de destilação. ___________________________ 141
Figura 6.2 – Comparação da energia consumida nos processos alcalino e enzimático de síntese de resinas
alquídicas. Considerou-se a produção de 5 toneladas de resina tendo como parâmetro a produção atual real de
uma indústria. __________________________________________________________________________ 142
12
LISTA DE TABELAS
Tabela I – Dados do mercado de tintas brasileiro do ano de 2007, segundo ABRAFATI.7 ________________ 16
Tabela II – Comparativo de impacto ambiental no ciclo de fabricação de 5 toneladas de miristato mirístico por
rota alcalina e enzimática.93 ________________________________________________________________ 25
Tabela III - Alcoólise do óleo de linhaça com glicerol. Quantidades percentuais em massa. 3 _____________ 37
Tabela IV – Comparativo de formação de glicerol oligomérico em diversas situações. 32 ________________ 39
Tabela V - Composição dos principais óleos utilizados em resinas alquídicas no Brasil [fontes diversas]. ___ 45
Tabela VI – Resultados obtidos de resina alquídica de alto teor de sólidos. Teor de óleo: 60% (Soja).48 _____ 58
Tabela VII - Aminoácidos que formam as enzimas.54 _____________________________________________ 64
Tabela VIII – Classificação das enzimas.54_____________________________________________________ 68
Tabela IX – Custo comparativo de enzima hidrolases EC 3.1.1.3 (lipases).201 _________________________ 80
Tabela X– Principais fontes das lipases.85 _____________________________________________________ 82
Tabela XI – Especificidades de diferentes lipases frente à reação com triacilgliceróis.140 ________________ 87
Tabela XII – Obtenção da manteiga de cacau através da interesterificação enzimática do óleo de palma.
P=palmitato, O=oleato, St=estearato.141 ______________________________________________________ 90
Tabela XIII – Condições reacionais utilizadas no trabalho de Kumar.190 ____________________________ 96
Tabela XIV – Resultados obtidos no trabalho de Kumar com a síntese de resinas alquídicas. Formulações não
fornecidas. 190 ___________________________________________________________________________ 98
Tabela XV – Metodologias empregadas para teste de desempenho da tinta final ______________________ 106
Tabela XVI – Testes realizados com óleo de soja, coco e mamona e glicerol, utilizando a enzima PPL.(a) ___ 110
Tabela XVII – Resultados dos testes realizados com óleo de mamona, utilizando a enzima PPL como
catalisador. ____________________________________________________________________________ 111
Tabela XVIII – Resultados comparativos das Lipases PS, AY e A na reação do óleo de soja e glicerol. Condições
reacionais: temperatura 40ºC, 30% de água sobre glicerol, relação molar glicerol/óleo de 2,4:1. ________ 114
Tabela XIX – Comparação de atividades das enzimas testadas. 63__________________________________ 115
Tabela XX – Variáveis e níveis utilizados no planejamento fatorial com Lipase PS no sistema glicerol e óleo de
soja.__________________________________________________________________________________ 118
Tabela XXI – Descrição das experiências e composição semi-quantitativa molar dos produtos através de CLAE
(para MG, DG e TG) e por índice de acidez (AGL)._____________________________________________ 119
Tabela XXII - Efeitos principais e erros padrão das variáveis testadas. _____________________________ 119
Tabela XXIII – Correlação do logaritmo do coeficiente de partição (log P) com o teor de MG obtido na
glicerólise do óleo de girassol catalisada com lipase Novozym 435.(a) ______________________________ 122
Tabela XXIV – Composição da resina escolhida para teste. O teor de não-voláteis final é de 51%, ajustado com
solvente (xileno). ________________________________________________________________________ 131
Tabela XXV – Parâmetros teóricos calculados para a resina alquídica utilizada no trabalho. ___________ 131
Tabela XXVI – Resultados dos ensaios realizados nas resinas alquídicas sintetizadas (a). _______________ 132
Tabela XXVII – Formulação do Esmalte Poliuretano Branco. ____________________________________ 136
Tabela XXVIII – Resultados de testes físicos feitos com os esmaltes poliuretânicos aplicados sobre painéis de
aço carbono lixados. Testes realizados após 7 dias de secagem. ___________________________________ 138
13
RESUMO
14
ABSTRACT
15
1 INTRODUÇÃO
A catálise enzimática é uma área que cada vez mais recebe atenção no meio
acadêmico e industrial. Condições amenas de reação e uma surpreendente especificidade
possibilitam a revisão dos processos químicos atuais, além de abrir horizonte para novas
tecnologias. As enzimas podem ser utilizadas na preparação dos mais diversos produtos, tais
como medicamentos, cosméticos, detergentes, alimentos, compostos orgânicos, polímeros,
dentre muitos outros.
16
(presentes principalmente nos pigmentos amarelos e laranjas e alguns aditivos) também é
imposta naqueles países. A realização de eventos sobre “química verde” e eficiência
energética na produção/aplicação de tintas é freqüente, evidenciando uma preocupação geral
do segmento com relação ao problema ambiental.
Figura 1.1 – Esquema de formação de ozônio através de reação fotoquímica dos solventes.1
17
futuro) na formulação de tintas é garantir não somente a sustentabilidade, mas também o
desempenho e lucratividade aos produtos.
Na sua maioria derivadas de insumos de petróleo, que alcançou preço recorde nos
últimos anos, as resinas vêm recebendo forte pressão de custos. Apesar disso, observa-se uma
migração cada vez mais acentuada para polímeros que utilizam essa fonte. Como exemplo, é
apresentado na Figura 1.2 o desempenho de vendas de resinas dos Estados Unidos nos anos
de 1982 e 2004.
450
400
350
300 1982
250 2004
106 Kg
200
150
100
50
0
s
s
no
ra
ut
ta
O
re
U
Figura 1.2 – Comparativo de venda de resinas (em milhões de quilos) nos Estados Unidos
nos anos de 1982 e 2004.1,11
18
Analisando o gráfico, nota-se uma mudança do portfólio consumido, onde há uma
substituição de polímeros derivados parcialmente de fontes renováveis (alquídicos e
celulósicos), para polímeros derivados exclusivamente do petróleo (acrílicos, epóxi, vinílicos,
etc.).
Este movimento foi causado, dentre outros fatores, pela exigência do mercado
consumidor por produtos de melhor desempenho. Um acabamento automotivo acrílico, por
exemplo, tem durabilidade às intempéries de três a quatro vezes superiores a um acabamento
baseado em resinas alquídicas. Desta forma, como se pode notar nitidamente na Figura 1.2,
entre 1982 e 2004 houve uma retração das vendas de resinas alquídicas nos Estados Unidos,
ao passo que as resinas acrílicas, por exemplo, dobraram de consumo. Apesar de não haverem
dados precisos, o mercado brasileiro também acompanha tal movimento, porém com menor
velocidade, liderado principalmente pelo setor automotivo.
O O O
R O R O R O
O O O O
O O O O OH
OH
n
Resina Alquídica
Figura 1.3 – Estrutura idealizada de uma resina alquídica, onde R corresponde à cadeia de
ácido graxo correspondente, que, dependendo do tipo de óleo utilizado, pode ser saturada ou
insaturada.
19
geralmente derivados do ácido ftálico. O processo global envolve grande consumo de energia,
devido à necessidade de emprego de temperaturas relativamente altas (acima de 200ºC).
O
OH OH
R O O
O
OH O Base O
2 + 3 R
O R
∆
HO R O HO
Glicerol Óleo Monoacilglicerol
Vegetal
Figura 1.4 – Reação idealizada de transesterificação (ou alcóolise) entre um óleo vegetal e
glicerol.
20
através da viscosidade e acidez do sistema. O processo encerra-se quando se atinge um
resultado pré-determinado desses dois parâmetros (Figura 1.5).
O O O
R O R O R O
O
O O
OH O -H2O
O O O
R + OH O
O OH
∆ OH O O O
HO
n
Monoacilglicerol Anidrido
ftálico
Resina Alquídica
R = cadeia de ácido graxo
O declínio da venda de resinas alquídicas pode ser explicado, então, pelas dificuldades
de processo demonstradas acima, aliada ao crescimento de outras tecnologias. Entretanto,
devido principalmente ao apelo ambiental, é imprescindível que novos conceitos sejam
incorporados, além de melhorar a competitividade desses polímeros no mercado.
1.4 A BIOTECNOLOGIA
Para alcançar esse objetivo, a biotecnologia tem se mostrado uma ferramenta bastante
promissora. A natureza é responsável pela síntese de uma diversidade de compostos nos
21
sistemas biológicos, com sofisticado controle estrutural e condições amenas de temperatura e
pressão. As células e as enzimas responsáveis pelas rotas bioquímicas podem ser isoladas e
utilizadas “in vitro”, tanto em meio aquoso como em meio solvente. 12-19
Figura 1.6 – Rotas sintéticas livres de benzeno para vários produtos químicos industriais.19
22
de maior aplicação de enzimas industriais, as quais conferem propriedades especiais aos
produtos para remoção de manchas específicas. Outro exemplo é a conversão enzimática do
amido em açúcares, um processo bem conhecido, e a obtenção de álcool a partir do milho. Na
indústria têxtil, novas rotas enzimáticas têm sido introduzidas, diminuindo o consumo de
energia e rejeitos. Como exemplo pode-se citar a substituição, no processamento do algodão,
do processo de limpeza da fibra, que é realizado em altas temperaturas e condições
extremamente alcalinas, com alto consumo de água e geração de rejeitos, por uma rota
enzimática limpa.21 Esses são apenas alguns exemplos de processos atuais, que demonstram o
potencial de uso da tecnologia enzimática em processos químicos.
1.5 LIPASES
A função natural dessas enzimas é catalisar a hidrólise de triacilgliceróis (óleos
vegetais), produzindo misturas de ácidos graxos livres e glicerol, podendo ser encontradas em
plantas, animais e microrganismos. Os campos de aplicação são os mais variados, indo da
indústria de detergentes à alimentícia.23-27A utilização de lipases nas reações de
interesterificação de óleos vegetais e transesterificação com álcoois mono e polifuncionais foi
muito estudada, tanto para obtenção de óleos com novas propriedades,28-55 obtenção de mono
e diacilgliceróis56-74 (emulsificantes largamente utilizados na indústria alimentícia), e também
na síntese de biodiesel.75-80 Menor consumo de energia, alta seletividade, maior controle de
produtos e ausência de necessidade de purificação posterior foram alguns dos resultados
alcançados.
23
Figura 1.7 – Processo de produção de biodiesel através da transesterificação com catalisador
básico. São necessárias várias etapas de purificação dos produtos e subprodutos para
possibilitar a comercialização.79
24
pioneira ao implementar a catálise enzimática para fabricação de margarinas isentas de
gordura trans.24 O processo para obtenção desse tipo de margarina consiste em uma
interesterificação de óleos, que substitui a hidrogenação e pode tanto ser catalisada via
processo químico como pelo processo enzimático, sendo este último escolhido, pois o produto
final não precisa de purificações e branqueamentos posteriores. Além disso, o sabor do
produto fica mais agradável. Outro exemplo é o apresentado por uma empresa alemã, do ramo
de cosméticos, que utiliza processo semelhante há mais de dez anos para fabricação de uma
linha de ésteres emolientes com menor impacto ambiental (ver estudo comparativo da
produção de miristato mirístico na Tabela II).27 Ambos os processos utilizam reatores de leito
fixo, podendo ser considerados processos modelos, inclusive para outras aplicações, como,
por exemplo, para transesterificação de óleos no processo de fabricação de resinas alquídicas.
O processo contínuo utilizado por essas empresas tem como objetivo principal
viabilizar economicamente o processo, devido ao alto custo das enzimas, principalmente em
razão dos suportes empregados, que pode inviabilizar muitas vezes sua implementação em
processos industriais de larga escala, limitando a usos em química fina.
25
Além disso, as enzimas podem ser utilizadas na síntese de solventes, pigmentos,
aditivos e resinas. Reações de polimerização via catálise enzimática já foram bastante
estudadas.82-105 Porém, poucos trabalhos relacionados especificamente à obtenção de resinas
para tintas foram publicados. Entre eles, em 1990, Geresh e Gilboa106 demonstraram a síntese
de um poliéster insaturado a partir do ácido fumárico e 1,4 butanodiol utilizando enzimas do
tipo lipase. Em 1997, Bhabhe e Athawale107 sintetizaram monômeros acrílicos modificados
com óleo através de uma rota quimio-enzimática para uso como diluentes reativos em tintas.
Um dos motivos para a ausência de trabalhos na literatura é o alto custo das enzimas.
Porém, a possibilidade de reutilização desses catalisadores, aliada ao fato de existirem novas
pesquisas para simplificação do processo de produção desses materiais biológicos, faz com
que a viabilidade econômica seja possível.
Portanto, muitos fatores contribuem para que o uso da catálise enzimática na etapa da
alcoólise na síntese de resinas alquídicas:
26
Além disso, em razão da característica do processo, é possível que a utilização de
outros materiais renováveis (por exemplo, derivados de sementes oleaginosas, polímeros
naturais, etc.) torne-se viável, o que não ocorre através dos processos hoje utilizados.
27
2 OBJETIVOS
O principal objetivo deste trabalho foi estudar a viabilidade técnica da substituição do
processo de alcóolise alcalina atualmente utilizada em uma das etapas da síntese/fabricação de
resinas alquídicas por um processo enzimático com lipases, alcançando menor consumo de
energia e melhor sustentabilidade ambiental no processo.
Uma formulaçãoi de resina utilizando óleo de soja e glicerol na fase de alcóolise foi
escolhida como alvo, sendo comumente utilizada na formulação de lacas e esmaltes
poliuretânicos. O óleo de soja foi escolhido em razão de sua importância econômica local
(custo competitivo), bem como o glicerol (glicerina), que ganha cada vez mais destaque como
plataforma sintética o qual, sendo subproduto da produção de biodiesel, leva a um importante
excedente da produção atual.
Como premissa, o desempenho da resina e conseqüentemente da tinta, pelo processo
enzimático deve ser igual ou superior à condição atual (processo alcalino). Esta melhoria de
desempenho estaria relacionada à alta seletividade das lipases, que produzem altos teores de
monoacilgliceróis, além de garantir condições amenas de reação.
O processo enzimático encontrado deveria então ser otimizado para comparação com
processo alcalino em termos de produtividade, verificando-se a possibilidade futura de
implementação em escala industrial.
Um objetivo secundário foi avaliar a possibilidade de utilizar o processo enzimático
também para outros óleos vegetais, como coco, mamona, linhaça e DCO, e outros álcoois
polifuncionais, como Trimetilolpropano (TMP) e Pentaeritritol, de forma a verificar a
viabilidade de utilização do novo processo na maioria das formulações do mercado brasileiro.
i
Formulação obtida de Killing S/A Tintas e Adesivos;
28
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 TINTAS
3.1.1 Definição
Tintas são formadas pela dispersão física de pigmentos, em um veículo constituído por
1,7-10
solventes e polímeros. Essa mistura tem a propriedade de formar filmes aderentes sobre
as mais variadas superfícies. Podem ser descritas pelo seu tipo, por exemplo, base-solvente,
base-água, pó e pela sua função, por exemplo, anticorrosiva, decorativa, foto-sensível.1
3.1.2 Composição
A resina é responsável pela formação de filme aderente de uma tinta, conferindo suas
principais propriedades como flexibilidade, durabilidade, dureza, etc. Quimicamente são
polímeros de diferentes massas moleculares e identidades químicas.
29
3.1.3 Processo de fabricação
O produto então passa pelo controle de qualidade para ajustes finos de viscosidade e
cor, além de outras propriedades que porventura sejam necessárias.
30
110
um ácido polifuncional e um álcool polifuncional, incluindo as resinas alquídicas. Já
Bjorksten, em 1956, excluiu as resinas alquídicas dessa definição.111
31
reações de cura olefínicas adicionais, que naquele tempo era chamada
de ‘secatividade’ (McINTYRE,124 páginas 4 e 5, tradução nossa).
32
Figura 3.1 – Carro do início do século 20 pintado com tinta a base de resina
nitrocelulósica.125
Era necessário, no entanto, que essas lacas fossem modificadas com algum material
que garantisse melhor adesão. As resinas alquídicas começaram, então, a serem utilizadas
com este propósito, pois tinham boa compatibilidade com a resina nitrocelulósica. Em 1928,
cerca de duzentas toneladas de resina alquídica já eram produzidas anualmente.112
Nas duas décadas que se seguiram, houve grande avanço na manufatura, através da
incorporação de novos processos e introdução de novas matérias-primas. Na década de
quarenta, outros álcoois polifuncionais foram incorporados, como trimetilolpropano e
pentaeritritol, permitindo alcançar propriedades únicas, ampliando o uso dessas resinas.
Durante a Segunda Guerra Mundial, houve grande aumento da produção de anidrido ftálico,
devido à produção de explosivos e repelentes, o que impulsionou, no pós-guerra, a produção
de resinas alquídicas. Foi nessa época também que apareceram as primeiras especificações de
sistemas de pintura. Em 1946, Moore126 descreveu as principais matérias-primas utilizadas em
resinas alquídicas. Basicamente as mesmas utilizadas ainda hoje.
33
como base resinas alquídicas, atingindo o patamar de produção de 240 mil toneladas por ano.
129
Em 1952 foi depositada a primeira patente de uma resina alquídica que podia ser
diluída com água,130 o que já previa o início das restrições ambientais com relação à emissão
de COV nos Estados Unidos na década de 60. Pesquisas começaram a serem feitas de forma a
reduzir a quantidade de solvente das tintas.131 Muitas estratégias começaram a serem
utilizadas, principalmente na Europa e Estados Unidos, no desenvolvimento de novas classes
de resinas. Em 1959 e 1962, Kraft132,133 relatou os avanços no desenvolvimento de resinas
alquídicas base-água e o surgimento da idéia de tintas de alto teor de sólidos. Essas duas
linhas de pesquisa foram, nas décadas seguintes, os principais focos de desenvolvimento tanto
na indústria quanto no meio acadêmico.
O O O
OH O R O R O R O
O
O O
R O
OH O -4H2O
+ 2
2 O O
+ O
O
R
O O
OH
∆ OH O O O O
HO R O
n
Glicerol Óleo Anidrido
Vegetal ftálico
Resina Alquídica
R = cadeia de ácido graxo
34
A reação processa-se em atmosfera inerte, a temperaturas que variam de 180 a 280ºC,
dependendo dos reagentes utilizados.134 Há remoção de água do sistema, para deslocamento
da reação no sentido dos produtos. A polimerização é interrompida quando um valor pré-
determinado de viscosidade e índice de acidez é alcançado. Nas fases iniciais da reação, a
diminuição do índice de acidez é rápida enquanto que o aumento de viscosidade é lento. No
final da reação, o inverso é verdadeiro. Muitas vezes, dependendo da composição da
formulação, o aumento de viscosidade é tão intenso que necessita de certa habilidade do
operador, que deve encerrar o processo de polimerização no momento exato, sob o risco de
formação de gel.
A reação pode ser transcorrida sem adição de solventes, num processo denominado de
método fusão, ou pela adição de pequena quantidade de solvente que formará um azeótropo
com a água gerada, facilitando sua remoção. O processo é denominado, então, de método
solvente. 131
Além disso, na incorporação da fração graxa, tanto o triacilglicerol (TG) quanto o ácido
graxo livre (AGL) poderão ser utilizados. No primeiro caso, o óleo é inicialmente reagido
com uma parte do poliálcool, num processo chamado de alcóolise, e o método será designado
então de método monoglicérido (ou monoacilglicerol). O segundo caso é simplesmente
chamado de método ácido graxo, e processa-se na própria policondensação.
35
formará um azeótropo, que facilitará a remoção de água do meio através do aumento da
pressão de vapor. O vapor de solvente-água é condensado em uma coluna, a água é separada e
o destilado orgânico retorna ao reator.
- São capazes de dissolver todo o anidrido ftálico que fica aderido às paredes do reator;
- Particularmente no caso do xileno, não é necessário sua remoção posterior, pois pode
fazer parte de praticamente todos os sistemas de solventes da resina final e também da tinta.
36
OH
O H2O O
O HO
R R
OH
OH
HO ÁCIDO GRAXO
HO
MONOACILGLICEROL LIVRE
O
R O O OH R
O
O
O OH O
O
R
O R O
R O
HO
OH
R O OH
TRIACILGLICEROL HO
OH
O
O H2O O
R HO
H2O O R
R O
ÁCIDO GRAXO
O DIACILGLICEROL LIVRE
HO
R
Sal de Óxido de
lítio chumbo
Glicerol 6 21
Monoacilglicerol 44 27
Diacilglicerol 42 27
Triacilglicerol 8 25
37
No processo ácido graxo, a reação é realizada em apenas uma etapa, pois não há
problema de reatividade e de compatibilidade com anidrido ftálico. Além de uma maior
versatilidade na formulação, normalmente menores tempos de reação são necessários. Um
inconveniente do processo é o fato que em temperaturas baixas os ácidos graxos se
solidificam, sendo necessário aquecimento prévio das embalagens para manuseio. Além disso,
em termos econômicos, os ácidos graxos são normalmente mais caros que os óleos.
Por exemplo, no processo ácido graxo há uma competição entre os grupos acila dos
ácidos graxos (menos reativo) e anidrido ftálico (mais reativo). O anidrido ftálico irá
preferencialmente reagir com as hidroxilas primárias do glicerol, também mais reativas. Os
ácidos graxos irão então se inserir na posição relativa à hidroxila secundária. Neste caso,
portanto, o aumento da cadeia do polímero se dará pelas posições relativas às hidroxilas
primárias do glicerol. Já no processo monoglicérido, a fração graxa estará inserida
preferencialmente na posição das hidroxilas primárias, e o crescimento da cadeia do polímero
será realizado pela posição relativa à hidroxila secundária do glicerol, diminuindo a
velocidade da polimerização além de deixar o polímero mais suscetível a ataques alcalinos.
A seguir é apresentada a descrição das principais reações paralelas que podem ocorrer
na preparação de resinas alquídicas.
38
3.2.2.3.1 Eterificação
A reação de eterificação também pode ser catalisada por bases, e nesse caso os
catalisadores utilizados na alcoólise também poderão favorecer a formação de éteres.
39
O O
O R O
O R O
O O
A ciclização pode ser encarada como uma reação de terminação de cadeia, prejudicando
o crescimento da massa molecular do polímero.
Degradação térmica de polióis pode levar a produtos diferentes dos éteres. Glicóis
vicinais são particularmente suscetíveis a este tipo de reação, podendo levar a aldeídos,
cetonas e outros produtos mais complexos, conforme mostrado na Figura 3.5.
OH OH O
-H2O
H3C H3C H3C
(a)
OH
OH OH
(b)
OH
OH
OH O OH
H3C
O O
OH OH
OH
O OH HO
H2C
O
Acroleína HO OH
OH OH
Diglicerol
OH
O
HO CH2
O
40
3.2.2.4 Teoria da Policondensação (Equação de Carothers)
41
Figura 3.7 – Representação da reação de policondensação.134
E considerando ainda que a funcionalidade inicial média por molécula (fm) pode ser
calculada da seguinte forma:
TotaldeEquivalentes
fm =
m0 (2)
k ( m 0 − mp )
P= (3)
m 0 fm
k mp k
P= − × (Equação de Carothers) (4)
m 0 m 0 fm
42
Assumindo que a massa molecular torna-se infinita no ponto de gel e, portanto, mp→0,
pode-se rearranjar a Equação 4, obtendo:
k
Pgel = (Ponto de Gel) (5)
f
Flory foi outro pesquisador que estudou as reações de policondensação, com vários
trabalhos publicados. Em um dos seus estudos, mostrou que o ponto de gel da reação de
glicerol com anidrido ftálico ocorre com um grau esterificação de aproximadamente 79,5%,137
muito próximo do valor teórico obtido pela equação de Carothers.
43
Considerando-se que um reagente trifuncional (por exemplo, glicerol) está presente no
meio reacional, definiu-se como sendo ρ o excesso desse reagente com relação aos
monômeros de mesma funcionalidade. Sendo f, a funcionalidade desse monômero e r, a razão
entre a quantidade de equivalentes dos grupos funcionais (sendo sempre igual ou maior que a
unidade), teremos que:
1
Pgel = (7)
[r + rρ ( f − 2)]1/2
Outros modelos foram propostos para explicar cada sistema particular.9,131 Contudo,
todos os modelos necessitam de ajustes, pois não prevêem todas as condições não-ideais da
síntese dos polímeros alquídicos. Sendo assim, o modelo de Carothers, por ser um modelo
mais simples, ainda é um dos mais utilizados na indústria.
3.2.3 Composição
As resinas alquídicas podem ser utilizadas nas mais diversas formulações de tintas.
Suas características de secatividade favorecem seu uso em esmaltes imobiliários e primers e
acabamentos econômicos para a indústria. Além disso, as hidroxilas livres da sua composição
tornam possível a reação com isocianatos, gerando tintas poliuretânicas, e também permitem a
reação com resinas amínicas, em tintas de secagem em estufa.
Para selecionar uma resina alquídica para uma aplicação em particular, é necessário
conhecer o comprimento e tipo de óleo (soja, mamona, por exemplo), álcool e ácidos
polifuncionais utilizados (glicerol ou pentaeritritol, anidrido ftálico ou ácido p-ftálico, por
exemplo) e a existência de modificações especiais da estrutura (resina fenólica, por exemplo).
44
- Promover a secatividade da resina (secagem por oxidação com oxigênio do ar);
- Plastificar o polímero (óleos não secativos);
- Reduzir custo;
O O
H3C H3C
OH 4 7
14 OH
Ácido Palmítico Ácido Linolêico
O O
H3C H3C
OH 7
16 OH
Ácido Linolênico
Ácido Esteárico
HO
O O
H3C
H3C 7
7 7 5
OH OH
Ácido Olêico Ácido Ricinolêico
45
Comprimento de óleo é a quantidade de óleo (% em massa) da formulação da resina,
apresentado sobre o teor de sólidos. Dessa forma:
- Longas em óleo: acima de 60%;
- Médias em óleo: de 40 a 60%;
- Curtas em óleo: abaixo de 40%;
Esta classificação não é rígida e cada fabricante tem sua forma de classificar. As resinas
longas em óleo são normalmente utilizadas em esmaltes imobiliários de aplicação a pincel. As
resinas médias e curtas são utilizadas industrialmente em diversos segmentos, como
automóveis (repintura), implementos agrícolas e rodoviários, estruturas metálicas, entre
outros, onde não se requer alta resistência às intempéries.
Muitos óleos são utilizados na formulação de resinas alquídicas e são classificados
segundo sua secatividade, a qual pode ser medida pelo índice de iodo (quantidade de iodo em
gramas necessária para saturar as ligações duplas de 100g de óleo). Alguns autores
classificam como óleos secativos os que apresentam índice de iodo maior que 140, semi-
secativos entre 125 e 140, e não secativos abaixo de 125.1 Embora o índice de iodo possa ser
utilizado como especificação para controle de qualidade, ele é apenas um indicativo da
reatividade do óleo, pois a posição das ligações duplas terá papel fundamental nessa
característica, o que não é medido pelo índice.
A secatividade do óleo provém da presença de 1,4-dienos (grupos dialílicos) ou 1,3-
dienos (duplas conjugadas). Uma relação empírica foi formulada de forma a indicar a
secatividade de óleo com duplas não conjugadas, que é o índice de secatividade (equação
14).1
Um óleo secativo terá então um índice de secatividade maior que 70. Observando a
Tabela V, observa-se que o óleo de linhaça tem índice de 120, portanto é um óleo secativo. Já
o óleo de soja tem um índice de secatividade de 68, sendo considerado semi-secativo.
A secatividade está relacionada ao número médio de grupamentos dialílicos na
molécula. Os grupamentos metilênicos dialílicos são muito mais reativos que os grupamentos
alílicos. Esse fato reflete-se nas taxas relativas de autooxidação do trioleato, trilinoleato e
trilinolêniato de glicerol, que são 1:120:330, respectivamente.1
As reações que acontecem durante a secagem de óleos são complexas. A Figura 3.9
ilustra algumas das muitas reações que ocorrem durante a secagem.
46
Iniciação
. .
R-O-OH R-O + OH
(1)
Propagação
+
.
R-O (ou OH)
. . + R-OH (ou H 2 O)
H H R H R
R R
(2)
O
.- O
. + O2 (3a)
R R R R
O
.- O
+
R (3b)
R
+
(3c)
R O R
O
.-
.-
O O R + . +
HO O R
R R R R
R R
(4) (5)
O
.- R .-
HO O R + HO
R R
(6)
Cross-linking R
R
R
R . R (7a)
+
.-
O R R
R
O R
O R
O R (7c)
R
(7b)
R R
47
Inicialmente, hidroperóxidos naturalmente presentes decompõe-se formando radicais
livres (1).1 Esses radicais reagem com outros compostos, e os hidrogênios metilênicos
dialílicos são bastante suscetíveis ao ataque, formando um novo radical estabilizado por
ressonância (2). Este radical reage, então, com o oxigênio do ar, gerando predominantemente
um radical livre peróxido conjugado (3a-c). Foi demonstrado139 através de FTIR que as
estruturas conjugadas 3a e 3b são favorecidas. Estes radicais podem atacar hidrogênios de
outro grupo dialílico e gerar outros radicais livres e hidroperóxidos ligados à cadeia do
polímero, propagando a reação (4 e 5). O hidroperóxido formado (5) pode ainda gerar um
radical alcóxido (6). Parte da reação de crosslinking (reticulação) irá ocorrer então pela junção
de dois radicais livres formados, principalmente grupos alcóxido, gerando as estruturas 7a-c.
13
Estudos de C RMN indicam que as ligações cruzadas predominantes são aquelas que
contêm grupamentos éteres e peróxido.1
Os grupamentos peróxido podem, posteriormente, gerar cetonas e enolatos, entre outros
produtos.139
OH
HO O
O H O H
R2 + H2O
R2 R2 R1
R1 R1
OH
O O
O H H
H2O
R2 +
R2 R2 R1
R1 R1
48
3.2.3.2 Álcoois Polifuncionais (Polióis)
Sua estrutura contém duas hidroxilas primárias e uma secundária, o que acarreta em
uma esterificação mais lenta e um polímero menos ramificado, conseqüentemente com dureza
mais baixa. Além disso, a presença de β-hidróxi-ésteres na estrutura final irá aumentar a
suscetibilidade à hidrólise do polímero. 141
Além disso, devido à alta temperatura de processo, ocorrem reações paralelas, como a
eterificação, que prejudicam o controle da polimerização e as propriedades do polímero final.
O TMP pode substituir o glicerol, com a vantagem de ter três hidroxilas primárias, o
que torna o polímero com uma estrutura mais ramificada, conseqüentemente com maior
resistência química e menores tempos de secagem.
Resinas mais duras e com maior resistência química podem ser feitas com
pentaeritritol.10 Suas quatro hidroxilas primárias conferem ao polímero uma estrutura
tridimensional, mais ramificada. Esta tetra-funcionalidade deve ser levada em consideração
quando glicerol é substituído em formulações de resina, devido ao risco de gelificação.1 Além
disso, seu alto ponto de fusão e baixa solubilidade tornam o processamento possível somente
a temperaturas próximas de 200ºC. O processo de fabricação de pentaeritritol leva à formação
de estruturas dimerizadas como co-produtos. Os produtos comercializados são então, na
verdade, misturas de mono, di e até tripentaeritritol.
49
Etilenoglicol pode entrar em formulações com pentaeritritol para redução de custo.
Um mistura 1:1 de pentaeritritol e dietilenoglicol, por exemplo, resulta numa funcionalidade
média de 3, similar ao glicerol.
O OH O
O OH O
O
O O
O
OH
O O OH O OH
Anidrido Ftálico Ácido Isoftálico Ácido Tereftálico Anidrido Trimelítico
O
O O O O O O
O O
50
Figura 3.12 – Comparativo de tempo de secagem (eixo Y, em minutos) de resinas alquídicas
formuladas com diversos anidridos (MA=Maleico, PA=Ftálico, SA=Succínico,
GA=Glutárico) em diversos teores (eixo X, quantidade molar de anidrido para 1 g de óleo).
Conventional resin = resina convencional, formulação não informada. 142
3.2.4 Limitações
51
extremamente reativos na reação de abstração de hidrogênio, gerando novamente radicais
livres de polímero (P·), que entrarão no estágio de propagação da degradação do polímero.
Radicais alcóxi terciários gerarão cetonas e um radical livre de polímero de baixa massa
molar, resultando na cisão do polímero.
Iniciação
hν
Polímero (P) P*
.
P* Radicais Livres (P )
Propagação
. .
P + O2 POO
. .
POO + Polímero (P-H) POOH + P
Terminação de Cadeia
.
2POO POOP + O2
. .
POO + P POOP ou produtos de desproporcionamento
.
2POO cetonas (aldeídos) + álcoois
Autocatálise
hν . . .
POOH(P) PO + OH( OP)
. . .
PO ( OH) + Polímero (P-H) POH (H2O) + P
Cisão do Polímero
. .
PO cetonas + P
52
Outros mecanismos foram propostos para explicar a degradação dos polímeros
alquídicos. Mallégol e colaboradores143 constataram a formação de ácidos, que prejudicam
propriedades protetoras, como resistência anticorrosiva. O mecanismo proposto está
demonstrado na Figura 3.14.
hν
R R R C + H2C
R
O O2 O
HX
O
R OH
O2 XH
O CO + H2C
R
OH
R
O2 XH
O O2
HX
hν OH
H2O R O R O
53
por grupos vizinhos. Por exemplo, os ésteres de anidrido ftálico (posição orto) são mais
suscetíveis à hidrólise ácida que os ésteres de ácido isoftálico (posição meta).
Umas das primeiras patentes depositadas com relação ao assunto, relacionadas à tinta
alquídica base-água, data do ano de 1968 e correspondia a um esmalte para cura em estufa.144
Basicamente, a linha utilizada para resinas deste tipo faz uso de monômeros ácidos especiais,
como o anidrido trimelítico. Tendo sua acidez “preservada” mesmo após polimerização, ficam
livres para reação de neutralização com uma base amínica, por exemplo, promovendo a
solubilidade parcial do polímero em água, e possibilitando a formação de micro-emulsões
(Figura 3.15).
54
O O O
R O R O R O
O O O O
OH O O O O OH (a)
n
OH OH
O O
O O
O
O
H3C
7 O
4 O (b)
R O
O O O O
O O O O OH
OH
n
R O
O
Figura 3.15 – Representação idealizada de resinas alquídicas diluíveis com água, adequadas
para neutralização com aminas devido à acidez residual do polímero. (a) Modificação com
Anidrido Trimelítico. (b) Modificação com anidrido maleico.
55
350 20
18
300
100 6
4
50
2
0 0
Resina Alquídica Base Solvente Resina Alquídica Base-Água
(Convencional) (Emulsionante Polimérico)
56
O O O
R R R
O O O
O O O R
R R R O
O O O
R=
Figura 3.17 – Diluentes reativos para formulação de resinas alquídicas de alto teor de sólidos.
e (a) = 2,7-octadienil fumarato, (b) = 2,7-octadienil maleato e (c) = (2,7-octadieniloxi)-2-
succinato.
57
Tabela VI – Resultados obtidos de resina alquídica de alto teor de sólidos. Teor de óleo: 60%
(Soja).149
Índice de Acidez 8 10
Dureza (oscilações 28 26
Swarda/ 150 horas de
secagem)
a)
Medição de dureza baseada na resistência ao afundamento do filme. Quanto maior o resultado, maior a dureza.
Muitos esforços já foram realizados para tentar melhorar as propriedades das resinas
alquídicas. De forma geral, duas estratégias são adotadas: modificação interna ou externa. Na
modificação interna, a estrutura do polímero é modificada através da inserção de monômeros
que melhorem certas propriedades. Na modificação externa, a mistura física e reações de
crosslinking com outras resinas são realizadas, como o mesmo objetivo.
58
Monômeros vinílicos são largamente utilizados para modificação de resinas
alquídicas. Os mais utilizados são o estireno, vinil-tolueno e metacrilato de metila,1 que
melhoram significativamente a foto e termoestabilidade do polímero, além de propriedades
físicas, como secagem. Essencialmente, quaisquer monômeros vinílicos podem ser utilizados.
A incorporação é feita posteriormente à síntese normal da resina. O monômero vinílico é
então adicionado, juntamente com um iniciador de radicais livres (por exemplo, peróxido),
que favorecem a incorporação dos monômeros às insaturações do óleo.
59
A uretanização de resinas alquídicas durante o processo de síntese, através da
incorporação de poliisocianatos é largamente utilizada no mercado de tintas (móveis, piso de
ginásio e manutenção industrial, entre outros).1 A resistência à abrasão e à hidrólise são muito
superiores, além de secagem mais rápida. A incorporação pode ser feita tanto internamente
como externamente. Polímeros mais duros são obtidos pela incorporação de isocianatos
aromáticos, como o tolueno diisocianato (TDI). Quando é necessária maior resistência à
radiação ultravioleta, isocianatos alifáticos são preferidos, como o hexametileno diisocianato
(HDI).
O
OH O
O C
N N
C C + O HO O NH 6 N
O 6 O R n
O
HDI HO R
O Resina Alquídica Uretanizada
Monoacilglicerol
Outro tipo de modificação interna que pode ser utilizada com resinas alquídicas é o
uso de PET reciclado, sendo uma alternativa para uso desse material. O PET é incorporado ao
polímero durante o processo.151
60
secagem e resistência química do sistema. Uso deste tipo de composição é bastante comum
em tintas para móveis, e ainda tem sido utilizada em repintura automotiva, como uma linha
mais econômica.
Além disso, as hidroxilas livres existentes na cadeia do polímero alquídico permitem
que seja possível uso de diversos agentes de crosslinking, como poliisocianatos, formando
tintas poliuretânicas (PU) de baixo custo, e melaminas, para tintas de cura em alta
temperatura.
Tintas PU são normalmente formadas por dois componentes. No primeiro componente
(A) está contida a resina (alquídica), pigmentos, aditivos e parte dos solventes. No segundo
componente (B, chamado tradicionalmente de “catalisador”) está o isocianato e o restante dos
solventes. A mistura somente é feita antes da aplicação, sendo utilizada normalmente até 4
horas após incorporação dos dois componentes. Após isso, uma massa gelificada é formada,
sem uso prático. O tempo de mistura pode ser aumentado através da diminuição do teor de
isocianato, com impacto na dureza do polímero final, ou pela adição de álcoois terciários, que
bloqueiam a ação do isocianato, mas volatilizam-se no processo de secagem. O dibutil-
dilaurato de estanho (DBTDL) é largamente utilizado como acelerador da reação. Em
poliuretanos alquídicos, podem-se utilizar tanto óleos não secativos (coco, mamona), para
aplicações mais nobres, como também óleos secativos e semi-secativos (linhaça, soja). Neste
caso, pode-se ainda adicionar secantes para promoção da secagem por oxidação, aumentando
ainda mais a dureza final.
Resinas alquídicas modificadas com resinas amínicas (melaminas) são utilizadas em
esmaltes e primers de cura em estufa. A reação processa-se em temperaturas altas e meio
ácido, conforme Figura 3.20. O meio ácido é provido pela própria acidez da resina.
61
H H
N OR N O R1
N N H+ N N
+ 3 HO R1 + 3 HO R
H H 120 - 180 °C H H
N N N N N N
Resina Álcool
RO OR OR1
+ Alquídica R1O
Resina
Resina Alquídica / Melamina
Melamínica (cross-linking)
R= grupamento alquila
R1= polímero alquídico
Por reagirem a temperaturas altas, estas tintas não necessitam ser fornecidas em
componentes diferentes. São utilizadas principalmente no segmento metal-mecânico, para
pintura de implementos agrícolas, móveis metálicos, entre outros.
62
3.3 CATÁLISE ENZIMÁTICA
Ligação Peptídica
O R1
R O R1 O
+ -
+ + -
R
NH
O
+ H2O
H3N O H3N O +
NH3 O
-
Figura 3.21 – Esquema teórico de formação de ligação peptídica entre dois aminoácidos. 20
63
Tabela VII - Aminoácidos que formam as enzimas.20
R - Abreviatura R R - Abreviatura R
+ O + O
H3N H3N
O O
-
Fenilalanina Phe Aspartato Asp O
CH2 C
O CH2
+
Glicina Gly H Arginina Arg NH2
CH2
N
H
64
Cada ligação peptídica da seqüência oferece os elementos para a formação de ligações
de hidrogênio, o que vai estabilizar a estrutura secundária da enzima. Essa estrutura pode estar
organizada em forma de uma hélice ou de folha pregueada, conforme Figura 3.22 e Figura
3.23.
65
Figura 3.23 – Estrutura de folha β-pregueada de uma enzima. Em detalhe (pontilhado) as
ligações de hidrogênio.20,153
66
Algumas enzimas têm sua atividade apenas dependente de sua própria cadeia
peptídica, outras necessitam de estruturas não peptídicas, chamadas de cofatores, que podem
ser tanto íons metálicos (Fe+2, por exemplo), ou uma molécula orgânica chamada de
coenzima.152
Alguns compostos têm a propriedade de ligar-se com alta especificidade a certa região
de determinadas enzimas, modificando sua estrutura tiária e, por conseqüência, sua atividade
catalítica. Essa região é designada sítio alostérico, e os compostos de efetuadores
alostéricos.20
Além dos cofatores e efetuadores alostéricos, outros grupos podem estar ligados às
enzimas, como sacarídeos, nucleotídeos, fosfatos ou lipídios. Esses grupos têm o papel de
estabilização da estrutura, ficando covalentemente ligados à enzima.
67
Tabela VIII – Classificação das enzimas.20
EC 1 Oxidorredutases Oxi-redução
EC 3 Hidrolases Hidrólise
A EC 3.1.1.3, por exemplo, é uma hidrolase (EC 3), que age em ligações éster (EC
3.1) de ácidos carboxílicos (EC 3.1.1), hidrolisando triacilgliceróis em diacilgliceróis,
monoacilgliceróis, glicerol e ácidos graxos (EC 3.1.1.3). Chama-se na nomenclatura usual de
triacilglicerol lipase, ou apenas de lipase.
68
Figura 3.25 – Representação do modelo de chave e fechadura. A molécula de sacarose não é
quebrada pela Maltase, pois não se “encaixa” no sítio ativo. 155
69
3.3.3.1 Equação de Michaelis-Menten
A clássica equação de Michaelis-Menten, que rege a maioria das reações enzimáticas,
pode ser encontrada virtualmente em qualquer livro de bioquímica, sendo representada como:
rs ,max C s
rs = (9)
K M + Cs
rs , max
rs (mol/m3*h)
rs , max
2
3
KM Cs(mol/m )
A cinética das reações enzimáticas está bastante ligada à cinética das reações
químicas. Numa reação onde um composto A é transformado em um composto B, a
transformação continua até que, depois de certo tempo, as concentrações de A e B alcancem
valores independentes do tempo, numa situação de equilíbrio termodinâmico.
70
Nas reações enzimáticas, assume-se a formação um complexo ativado enzima-
substrato entre reagentes e produtos, e vice-versa, resultando em uma barreira de energia de
ativação. O formalismo leva aos seguintes resultados básicos quando se considera uma
reação química de um composto A para um composto B, a qual é reversível.
k1
A B
k-1
(10)
As constantes k1 e k-1 são as constantes de velocidade que podem ser definidas pela lei
da ação das massas (equações 11 e 12).
rf = k1CA (11)
rb = k-1CB (12)
Onde rf é a velocidade de reação de A para B, e rb é a velocidade de reação de B para
A. As equações 11 e 12 podem ser generalizadas para o caso onde mais do que um substrato
ou produto aparece.
k1
A + B C + D
k-1
(13)
rf = k1CACB (14)
rb = k-1CCCD (15)
− ∆h * R
k i = Ai e RT
(16)
Onde Ai é uma constante e ∆H*R é a entalpia de ativação da reação química. É claro
pela equação 16 que as constantes de velocidade e as velocidades das reações aumentam com
o aumento de temperatura. Porém, como será visto na seção seguinte, para as reações
enzimáticas há sempre uma temperatura limite que, acima dela, a enzima perde suas
propriedades catalíticas (temperatura de desnaturação).
71
3.3.4 Desenvolvimento de enzimas
Outra estratégia de desenvolvimento que atualmente ganha cada vez mais atenção é
através do seqüenciamento genético. Uma vez desvendada a seqüência genética, a clonagem
dos genes codificadores é diretamente feita por técnicas especializadas, ou pela introdução de
mutações em seqüências já conhecidas.
72
métodos computacionais avançados permite que essa técnica seja viável, com muitos casos de
sucesso.157
Porém, é estimado que somente uma pequena fração (menos de 1%) da biodiversidade
pode ser cultivada diretamente, trazendo grandes perspectivas para os desenvolvimentos
futuros, pois a expressão genética pode possibilitar o seu cultivo.159
K k
N D I (17)
73
a relação experimental entre as constantes K e k é definida pela constante real observada
(kobs), dada pela equação:
Foi demonstrado ainda que este meio propicia novas propriedades para as enzimas
como, por exemplo, maior seletividade, além de maior resistência à desnaturação em
temperaturas mais altas.
74
3.3.7 Processo de Fabricação de Enzimas
A primeira etapa da produção de uma enzima consiste na identificação e aquisição do
microorganismo produtor, que pode ser uma linhagem selvagem ou modificada geneticamente
pelos processos já mencionados. Preferencialmente, o organismo deve atender às seguintes
exigências:154
- Ser tolerante à presença de substâncias tóxicas, que podem ser geradas no processo
de tratamento da matéria-prima ou pelo próprio metabolismo celular.
75
Figura 3.28 – Esquema simplificado de produção de enzimas.154
76
A fermentação no estado sólido é definida como um processo em que o crescimento
microbiano e a formação de produto ocorrem na superfície de substratos sólidos na ausência
de água livre. Tais substratos são de origem agrícola, podendo ser arroz, cevada, soja, entre
outros, e o processo pode seguir com ou sem agitação, com a vantagem de simplicidade do
processo e menor consumo de energia.
Os suportes mais utilizados para quimio e adsorção são , por exemplo, agarose, vidro,
zeólitas, resinas epóxi e acrílicas, entre outros. Como principais características desejáveis dos
suportes pode-se citar:
77
- larga superfície interna, de forma a permitir a alocação da enzima com facilidade;
- alta densidade superficial e mínimo impedimento estéreo de grupos reativos que irão
reagir com a enzima na imobilização e
78
Figura 3.29 – Esquema de imobilização da estrutura aberta de lipase através de adição de
surfactante, imobilização em suporte aminado, fixação com glutaraldeído e posterior lavagem
para remoção do surfactante.162
79
Tabela IX – Custo comparativo de enzima hidrolases EC 3.1.1.3 (lipases).168
De todos os fatores que influenciam o custo das enzimas, a imobilização é com certeza
o de maior impacto. A redução de custo dessas técnicas vem sendo o principal desafio para a
viabilização em larga escala dos processos enzimáticos. Já existem hoje alternativas de
mercado mais baratas de enzimas suportadas, além de pesquisas para diminuição do custo
desses materiais.169 Outros exemplos que devem ser citados correspondem a duas patentes da
80
empresa Novozymes, cuja finalidade principal foi a redução do custo do processo e aumento
da atividade por grama de suporte.171,172 Mesmo assim, pesquisas futuras devem garantir
custos ainda mais atrativos para os processos de imobilização.
3.3.10 Lipases
Lipases são enzimas que, originariamente nos organismos vivos, catalisam a reação de
hidrólise de triacilgliceróis (Figura 3.30), sendo sua habilidade de sintetizar ésteres
reconhecida a aproximadamente 70 anos. 173
O O
Lipase H + HO
R2 + H2O R2
R1 O R1 O
Em 1856, Claude Bernard descobriu que uma lipase de suco pancreático hidrolisava
gotas de óleo tornando-as solúveis. Entretanto, somente em 1981 a seqüência genética de uma
lipase do pâncreas de porco foi elucidada, o que coincide com o grande aumento do número
de trabalhos relacionados a estas enzimas na modificação de óleos e gorduras nas décadas que
se seguiram (Figura 3.31).
450
400
350
300
250
200
150
100
50
0
19
19
19
19
19
19
20
4
0
0
0
-1
-1
-1
-1
-1
-1
-2
94
95
96
97
98
99
00
9
Figura 3.31 - Artigos publicados na revista Journal of American Oil Chemistry Society,
referentes à pesquisa com a palavra LIPASE.174
81
Lipases originalmente são obtidas de pâncreas de mamíferos. Elas desempenham
papel fundamental na absorção de óleos e gorduras no organismo e regulagem de colesterol175
desses animais. Porém, devido aos avanços nas técnicas de expressão genética, fungos e
bactérias são as fontes preferenciais devido à sua alta produtividade (Tabela X).
Fonte Nomea
Na Figura 3.32 são demonstradas as formas ativa e inativa de uma lipase pancreática,
bem como as estruturas das α-hélices e folhas β-pregueadas. O centro ativo formado pelos
aminoácidos serina, ácido aspártico e histidina estão localizados na superfície da molécula,
numa estrutura protegida por espécie de tampa (na figura lid domain), que se abre, num
mecanismo complexo, quando ocorre a aproximação com o substrato. A geometria e o
tamanho deste centro podem variar bastante e irão responder pela especificidade da enzima.176
82
Figura 3.32 - A estrutura de uma lipase pancreática humana. Acima a estrutura ativa (aberta,
E*) devido à aproximação com o substrato. Embaixo a estrutura inativa (fechada, E). O sítio
ativo da lipase é demonstrado, ficando próximo a estrutura da folha β5, embaixo de uma
estrutura que funciona como uma tampa (Lid domain).176
As lipases, bem como todas as enzimas, terão sua estrutura sempre dependente do
organismo que as gerou, diferindo bastante em alguns casos. Porém, a estrutura mostrada na
Figura 3.32 tem se mostrado como esqueleto básico de diversas lipases de organismos
diferentes, diferindo na estrutura tiária e na presença de cofatores.
83
a) Acidólise
O O O O
Lipase R2 +
R2 +
R1 O R3 OH R3 O R1 OH
b) Alcoólise
O O
Lipase R3 + R2 OH
R2 + R3 OH
R1 O R1 O
c) Troca de Éster
O O O O
Lipase R4 + R2
R2 + R4
R1 O R3 O R1 O R3 O
d) Aminólise
O O
Lipase R3 + R2 OH
R2 + R3 NH2
R1 O R1 NH
e) Policondensação
O O
O O
X X Lipase
+ HO R2 OH
X O R1 O R2 OH
O R1 O -XOH
n
Rn=alquila
X=H, alquila, halogenetos de alquila, vinila, etc.
84
Figura 3.34 - Randomização da estrutura do triacilglicerol na reação de interesterificação de
óleos vegetais.15
85
Figura 3.36 – Mecanismo da migração de grupamentos acila gerando produtos aleatorizados
durante a interesterificação enzimática. X e Y representam grupamentos graxos.29
86
Tabela XI – Especificidades de diferentes lipases frente à reação com triacilgliceróis.46
87
única, ou pela reação competitiva para formação do intermediário enzima-substrato por
doadores ou receptores quirais.33,37,176
Foi demonstrado que a adição de aminas e sais inorgânicos no meio reacional, além de
utilização de solventes adequados e controle da atividade da água podem melhorar a
enantiosseletividade através de mecanismos ainda não muito bem entendidos.33,34
O modelo cinético que foi proposto para as reações catalisadas por lipases35-37,176 é
baseado no mecanismo de hidrólise. O sítio ativo composto pelos aminoácidos serina (Ser),
ácido aspártico (Asp) e histidina (His) catalisa a reação através da transferência de prótons
durante o curso da reação (Figura 3.37).
O Nu
- - R1OH
R2
His Ser
His Ser
O
O CH2
....O
CH2
....N ....O
O H ....N N H
Asp
O H N H
-
Asp O
-
Nu O Nu
R2
R2
88
37
(CMC). Este comportamento é devido ao mecanismo de ativação interfacial associado a
mudanças conformacionais da enzima.
3.3.10.3.1 Interesterificação
A interesterificação enzimática de óleos para obtenção de triacilgliceróis
especificamente estruturados (TEE) tem sido uma das principais aplicações das lipases,
29-31,40-47
principalmente na indústria alimentícia. Obtêm-se diversas vantagens frente ao
processo químico, como ausência de problemas de saponificação causadas pelos catalisadores
metálicos utilizados, oxidação do produto final e não-aleatorização da distribuição dos ácidos
graxos na molécula do triacilglicerol.45
Sabe-se que as funções nutricionais e funcionais de óleos e gorduras dependem não só
do tipo de ácido graxo presente, mas também de sua posição relativa na molécula. Um
exemplo típico é a manteiga de cacau, principal constituinte das formulações de chocolate.46
A manteiga de cacau é composta predominantemente de triacilgliceróis simétricos
com ácido oléico na posição 2 da molécula do glicerol, e grande percentual de ácido esteárico
nas posições 1 e 3 (Tabela ).
A obtenção de equivalentes da manteiga de cacau (EMC) através de reações químicas
convencionais é muito difícil devido à randomização da estrutura, o que não acontece por rota
enzimática. Por exemplo, ótimos resultados foram obtidos interesterificando óleos vegetais
relativamente baratos (palma, piqui) com triestearina ou ácido esteárico na presença de lipases
(Tabela XII). 47,140
O enriquecimento de margarinas com frações de ácido graxo insaturado é de grande
importância nutricional. Com esse objetivo, a reação de margarinas com ácido oléico em
presença de lipases foi estudada, sendo obtido um enriquecimento de 27% no teor de ácido
89
oléico, além de uma diminuição do teor de cadeias longas saturadas.41,42 Processo semelhante
foi utilizado para modificação da gordura do leite. 43
O processo de interesterificação enzimática já é uma realidade em diversas indústrias,
48
sendo utilizado para fabricação de EMCs industrialmente pela empresa Fuji Oil Europe,
26,49
Nestlé Chile e Flora Danica, na Argentina, para fabricação de margarinas, e na produção
de substitutos da gordura do leite materno pela Unilever, na Alemanha.46
90
3.3.10.3.2 Produção de Monoacilgliceróis e Diacilgliceróis
Monoacilgliceróis (MG), emulsificantes largamente utilizados em alimentos, remédios
e cosméticos, são fabricados por glicerólise de óleos e gorduras em processos tipo batelada ou
contínuos. Altas temperaturas (220-250ºC) e catalisadores alcalinos são utilizados, em
processo muito parecido com a reação utilizada em resinas alquídicas. As limitações do
processo químico incluem a indesejável cor escura e o gosto queimado do produto, além de
baixo rendimento da reação (40 a 60%) e perda de propriedades nutricionais.69
Por esses motivos, vários trabalhos já foram publicados160,56-74,183-185 de forma a se
conseguir um processo mais adequado e a catálise enzimática é uma das alternativas mais
promissoras para se alcançar esse objetivo.
A obtenção de MG pela hidrólise parcial de óleos, em presença de lipases 1,3
específicas, foi uma das primeiras estratégias utilizadas. Porém teores muito baixos (menores
que 30%) foram encontrados.59,60
Altos teores podem ser obtidos pela reação de transesterificação de glicerol e óleos
vegetais em temperaturas abaixo da temperatura crítica de cristalização do MG formado, em
um meio heterogêneo sem adição de solventes, na qual há deslocamento da reação no sentido
dos produtos.56-58 Teores acima de 90% podem ser obtidos através da diminuição da
temperatura a 5ºC, após a reação.61,65 Porém tempos de reação longos são normalmente
necessários (de 20 horas a alguns dias, dependendo do teor desejado), e o controle da reação é
prejudicado em razão da heterogeneidade do sistema.
A reutilização de lipases não imobilizadas foi testada por Kaewthong e
colaboradores64 na reação do óleo de palma com glicerol. Foi utilizado um reator com
membrana de separação. Um aumento da atividade foi observado quando a temperatura é
aumentada de 30 para 45ºC,conforme pode ser observado na Figura 3.38 e na Figura 3.39 .
Em contraste, porém, foi observado que nessa temperatura as lipases perdem estabilidade, em
razão da desnaturação térmica das enzimas (conforme Figura 3.40). Em outro trabalho foi
determinada uma temperatura máxima de 40ºC para a lipase Pseudomonas sp de forma a
manter sua máxima estabilidade.160
91
Figura 3.38 – Reação em processo contínuo (reator de leito fluidizado com membrana de
separação) do óleo de palma com glicerol a 30ºC; 300 rpm; relação glicerol/óleo 2,7; 4% de
água (m/m); enzima não imobilizada. Organismos originais das lipases: LP
(Chromobacterium viscosum), OF (Candida rugosa), D (Rhizopus delemar), AK
(Pseudomonas fluorescens), PS (Pseudomonas sp.), F (Rhizopus oryzae), AY (Candida
rugosa), M (Mucor javanicus) e PL (Alcaligenes sp.).64
Figura 3.39 – Reação em processo contínuo (reator de leito fluidizado com membrana de
separação) do óleo de palma com glicerol a 45ºC; 300 rpm; relação glicerol/óleo 2,7; 4% de
água (m/m); enzima não imobilizada. Organismos originais das lipases: LP
(Chromobacterium viscosum), D (Rhizopus delemar), PS (Pseudomonas sp.), F (Rhizopus
oryzae) e PL (Alcaligenes sp.). 64
92
Figura 3.40 – Estabilidade das lipases na reação do óleo de palma com glicerol a 45ºC; 300
rpm; relação glicerol/óleo 2,7; 4% de água (m/m); enzima não imobilizada. Organismos
originais das lipases: LP (Chromobacterium viscosum), D (Rhizopus delemar), PS
(Pseudomonas sp.), F (Rhizopus oryzae) e PL (Alcaligenes sp.).64
93
160
Outro trabalho que merece destaque é o de Noureddini e Harmeier, que estudaram
a glicerólise do óleo de soja com nove enzimas comercialmente disponíveis, através de reação
em batelada. A atividade de cada enzima foi determinada. A lipase PS (Pseudomonas
cepacia) foi a de maior atividade, sendo utilizada posteriormente em um planejamento fatorial
para análise das principais variáveis reacionais. Os parâmetros otimizados, em função da
atividade glicerolítica, foram temperatura de 40ºC, relação glicerol/óleo de 2:1 e relação
enzima/óleo de 0,1: 10, respectivamente.
Todas as lipases podem ser obtidas no mercado com informações sobre sua atividade
hidrolítica. Porém essa medida muitas vezes não condiz com a atividade observada na reação
com glicerol, conforme foi demonstrado por Noureddini e comprovado nesta dissertação
(Seção 5.3).
94
Um dos problemas encontrados no processo enzimático é a inativação das lipases com
metanol, um dos principais álcoois utilizados para síntese de biodiesel. Alternativas foram
propostas, como uso de outros solventes e líquidos iônicos.
Foi sugerido79 que a ação inibidora é parcialmente devida ao glicerol que é formado
durante a reação, sendo necessário sua remoção. Membranas de separação e líquidos iônicos
tem sido utilizados para este fim (Figura 3.42).
Figura 3.42 – Transesterificação de óleo vegetal por enzimas suportada em líquidos iônicos
com concomitante captura do glicerol formado.80
A enzima Novozym 435 foi explorada em outro trabalho.78 A eficiência da reação com
diversos líquidos iônicos foi comparada com o processo com solvente t-butanol, sabidamente
um dos solventes mais adequados para reações de transesterificação enzimáticas. Maiores
conversões foram obtidas com o meio iônico.
95
3.3.10.3.4 Usos das lipases na modificação de óleos para produção de resinas alquídicas
A síntese de resinas alquídicas com incorporação da fração graxa através da utilização
de catálise enzimática foi muito pouco explorada na literatura. Os principais registros são
referentes à utilização para produção de poliésteres através da reação de policondensação.82-
105
Temperatura 32ºC
96
O progresso da reação de transesterificação foi monitorado pela solubilidade em meio
reacional em metanol. Os autores consideraram uma solubilidade de 200% como sendo
indicativo de total desaparecimento da fração óleo. Porém, como será visto neste trabalho,
mesmo com teores altos de TG na composição de produtos pode-se obter alta solubilidade em
metanol, em razão do efeito compatibilizante do solvente, do álcool utilizado na reação e da
próprio MG formado durante a reação.
O CHDM foi testado frente a outros óleos, como mamona, saffola e tobacco. A maior
conversão foi obtida com mamona, o que deve ser questionado, em razão da solubilidade do
óleo de mamona, que pode mascarar o resultado. A baixa atividade frente aos outros óleos foi
atribuída a existência de insaturações na cadeia.
O produto da reação com óleo de coco e CHDM foi então utilizado para síntese da
resina alquídica, através de 2 métodos: reação com anidrido ftálico a temperatura de 220ºC, e
através de uretanização com tolueno diisocianato (TDI) a temperatura ambiente. Os resultados
são mostrados na Tabela XIV.
97
Tabela XIV – Resultados obtidos no trabalho de Kumar com a síntese de resinas alquídicas.
Formulações não fornecidas. 108
98
4 MATERIAIS E MÉTODOS
4.1 REAGENTES
As lipases PPL, PS, A e AY e os solventes utilizados foram obtidos comercialmente
(Aldrich). A enzima Novozym 435 foi gentilmente cedida por Novozymes Latin América.
Todos os óleos, polióis, poliácidos, poliisocianatos e solventes de diluição foram
cedidos por Tintas Killing S/A (grau comercial).
Essa mistura foi, então, colocada em um balão de fundo redondo, juntamente com o
poliol correspondente (comercial). Acoplou-se o termopar e o misturador mecânico. O
sistema foi mantido em temperatura (tipicamente 40ºC) controlada em um banho-maria.
A escala padrão utilizou cerca de 10g de óleo de soja, 1% (m/m) de enzima sobre óleo,
relação molar glicerol/óleo de 2,4/1, temperatura de 40ºC e tempo mínimo 8 horas (exceto
para a análise fatorial, onde foi utilizado um tempo de 3 horas).
99
análise de índice de acidez, cromatografia em camada delgada (CCD) e cromatografia líquida
de alta eficiência (CLAE).
Um reator tubular, de leito fixo foi utilizado para alcóolise enzimática com a enzima
suportada Novozym 435 em processo contínuo. Ele foi construído em estrutura de vidro de
100
21
acordo com trabalho realizado por Damstrup. Nesse trabalho foram otimizadas as
dimensões do reator, bem como fluxo e tempo de residência.
Figura 4.2 – Foto do reator contínuo de leito fixo preenchido com a enzima Novozym 435, já
inchada devido ao solvente.
101
Um fato que foi observado nesse processo é que a enzima sofre uma expansão devido
ao inchamento do suporte de resina acrílica da enzima Novozym 435 quando em contato com
solvente, podendo chegar até quase o dobro do seu volume original. Por isso, o
preenchimento do reator deve deixar certo volume vazio (no máximo 52%), que servirá para
impedir problemas de deformação do suporte devido ao aumento da pressão dentro da câmara
de reação. Foram utilizadas 6 g de enzima para preenchimento do volume de 52% da câmara.
Os reagentes (52g de glicerina e 250g de óleo de soja) e 315g de t-butanol foram
colocados em um balão de vidro em contato com banho termostatizado a 40ºC e
homogeneizados antes da entrada no reator por um agitador mecânico RW20 (500 rpm).
Bombas peristálticas (FMI “Q”, modelo QG400) foram utilizadas para passar os reagentes no
interior do reator e para manutenção do fluxo contínuo. A temperatura no interior do reator foi
mantida constante (40ºC) por uma camisa de vidro, com fluxo de água termostatizada por um
banho SE-100AG. O produto foi recolhido em uma proveta graduada para melhor controle do
fluxo.
Após o término da reação, o t-butanol foi destilado através de um destilador a vácuo.
O produto da reação então era submetido à policondensação conforme descrito acima.
102
indicador usado foi a fenolftaleína. O resultado foi expresso como uma média de 3
determinações.
O naftaleno foi utilizado inicialmente como padrão interno para quantificação dos
constituintes do produto. A construção de curva de calibração foi feita com soluções do
padrão e óleo de soja em isopropanol/hexano (grau CLAE).
103
NAFTALENO
LINOLEATO DE
METILA
Intensidade Relativa
AGL MG DG TG
0 5 10 15 20 25 30 35
MG
Área MG MassaMolarMG
= (20)
ÁreaDG DG
MassaMolarDG
Onde AMOSTRA é a massa de amostra injetada do equipamento de CLAE, TG, AGL,
MG e DG são as quantidades em massa dos constituintes. ÁreaMG e ÁreaDG são as áreas
calculadas dos respectivos sinais no cromatograma de CLAE. MassaMolarMG e
104
MassaMolarDG são as massas molares aproximadas de MG e DG (355 e 618 g/mol
respectivamente).
A quantificação de MG e DG constituem no método as maiores fontes de erro, pois
não foram utilizados padrões para quantificação. Em razão disso, a análise foi considerada
semi-quantitativa. Porém, para os objetivos do trabalho, esse erro pode ser considerado
aceitável, e não ultrapassa 3 pontos percentuais.
105
Tabela XV – Metodologias empregadas para teste de desempenho da tinta final
106
Figura 4.4 – Foto ilustrativa do teste de imersão em água.
107
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Inicialmente o processo alcalino foi testado como base para comparação posterior com
o processo enzimático. Foi utilizado 1% de octoato de lítio sobre massa de óleo, tempo de
reação de 1 a 2 horas (até 300% de solubilidade em metanol) a 220ºC de temperatura.
108
50
45
40
35
30
% molar
25
20
15
10
AGL MG DG TG
109
foi verificar a validade dos resultados obtidos por Kumar em um sistema com glicerol/ óleo de
soja, bastante comum nas formulações de resina alquídicas brasileiras.
Foi testado então, nas mesmas condições, o sistema com óleo de soja/ coco/ mamona e
glicerol usando a enzima PPL como catalisador. Porém, não se obtiveram resultados positivos
devido à formação de material insolúvel que impossibilitava o prosseguimento da reação. Os
ensaios mais representativos estão descritos na Tabela XVI. As variáveis foram escolhidas de
acordo com Kumar.108
Tabela XVI – Testes realizados com óleo de soja, coco e mamona e glicerol, utilizando a
enzima PPL.(a)
Kumar relatou que a enzima PPL é inativada em temperaturas acima de 50ºC. Isto
posto, pode-se concluir pelos resultados acima que a formação do material insolúvel não
110
depende da atividade catalítica da enzima, mas de alguma interação físico-química do glicerol
com os aminoácidos presentes na molécula da enzima.
Outros ensaios foram realizados, repetindo testes descritos pelo grupo de Kumar. O
álcool (CHDM), menos hidrofílico, e óleo de mamona foram reagidos, na temperatura de
32ºC, conforme Tabela XVII.
Tabela XVII – Resultados dos testes realizados com óleo de mamona, utilizando a enzima
PPL como catalisador.
111
Na Figura 5.22, observa-se o cromatograma do óleo de mamona puro, com tempo de
retenção entre 34 e 40 minutos. Devido ao método de gradiente de solventes escolhido, as
frações menos polares são eluidas no final.
TG
112
AGL MG/ ÉSTERES DG TG
Figura 5.3 – Cromatograma de CLAE da reação do óleo de mamona com CHDM, relação
OH/ éster 2,4, THF como solvente, temperatura 32°C e tempo 72 horas (reação 2 da Tabela
XVII).
Na Figura 5.4 é mostrado o cromatograma do produto da reação com óleo de mamona
e TMP. Observa-se um nítido aumento do teor de ácido graxo livre, em razão do maior teor de
água no sistema (utilizada para dissolução do TMP). Estimativa dos picos: 2 a 10 minutos:
ácidos graxos de mamona; 14 a 16 minutos: MG e ésteres de TMP; 28 a 34 minutos: DG.
Figura 5.4 – Cromatograma de CLAE da reação do óleo de mamona com TMP, relação OH/
éster 2,4, THF e água como solventes, temperatura 32°C e tempo 48 horas (reação 4 da
Tabela XVII).
113
Não foi possível quantificar de forma exata as frações devido à falta de padrões para o
óleo de mamona.
Pelo exposto acima, vê-se que a enzima PPL além de apresentar atividade frente aos
substratos testados por Kumar, é também ativa com o ao álcool TMP em condições especiais.
Entretanto, tais substratos limitam muito a gama de formulações possíveis para a síntese da
resina alquídica. Portanto, julgou-se importante a verificação com outras enzimas que fossem
capazes de catalisar a reação com os substratos alvo.
Tabela XVIII – Resultados comparativos das Lipases PS, AY e A na reação do óleo de soja e
glicerol. Condições reacionais: temperatura 40ºC, 30% de água sobre glicerol, relação molar
glicerol/óleo de 2,4:1.
PS 1 8 75-80
AY 1 92 >5
A 1 92 >5
AY 10 92 75-80
A 10 92 20-30
114
concentrações altas, enquanto que a lipase PS apresentou-se como a mais ativa no sistema
estudado.
115
Processo
Alcalino
TG
TG
DG
MG
DG
MG
GLICEROL
GLICEROL
O processo enzimático começou então a ser explorado com a lipase PS, sendo que a
primeira variável analisada foi o teor de água adicionado ao sistema, que foi pouco explorado
por Noureddini. O resultado das principais experiências encontra-se na Figura 5.6.
116
60
50
40
30
20
10
0
Lipase PS (0% Lipase PS Lipase PS Lipase PS Lipase PS Processo
de água) (3,5% água) (10% água) (20% água) (30% água) alcalino
AGL MG DG TG
Figura 5.6 – Resultados da análise de CLAE semi-quantitativa da alcoólise com óleo de soja
e glicerol (desconsiderado o glicerol não reagido). Alcóolise alcalina: 220ºC em 2 horas, 1%
de octoato de lítio sobre óleo (m/m). Alcóolise enzimática: 40ºC em 8 horas (mínimo), 1% de
lipase PS sobre óleo (m/m), teor de água indicado corresponde ao percentual em massa sobre
glicerol.
É nítido que o processo enzimático é mais eficiente com relação à conversão do óleo
(praticamente o dobro do óleo não reagido no processo alcalino), alcançando também alto teor
de MG. Porém, a influência do teor de água na conversão do óleo é pequena. Como era
esperado, a água favorece prioritariamente a formação de ácido graxo livre (AGL) em razão
do aumento da hidrólise no sistema (processo natural). O teor de DG aumenta inicialmente, e
alcança um patamar a partir de 10 % água, ficando praticamente inalterado. Em contrapartida
observa-se uma grande diminuição do teor de MG com o aumento da quantidade de água,
indicando que o aumento do teor de AGL provém predominantemente do consumo de MG.
117
5.3.1 Otimização do processo com lipase PS
Após os testes iniciais apresentados acima se escolheu a lipase PS para realizar a
otimização do processo da alcoólise visando maior conversão do óleo de soja e aumento do
teor de MG.
118
Tabela XXI – Descrição das experiências e composição semi-quantitativa molar dos
produtos através de CLAE (para MG, DG e TG) e por índice de acidez (AGL).
P1 - - - - 18 8 44 31
P2 + - - + 51 17 20 12
P3 - + - + 33 19 30 18
P4 + + - - 19 20 38 22
P5 - - + + 56 16 18 11
P6 + - + - 26 20 34 20
P7 - + + - 16 33 33 18
P8 + + + + 61 16 15 8
119
O erro padrão do efeito foi calculado, conforme proposto por Barros,188 como a raiz
quadrada da média das variâncias das medidas das duplicatas dividida por 4 (em razão das
quatro variáveis). Para haver relevância estatística, o módulo do efeito da variável analisada
deverá ser maior que o erro padrão medido. Além disso, o efeito positivo significa que o
aumento do teor do constituinte é diretamente proporcional ao aumento da variável analisada.
O efeito negativo significa que a diminuição do teor do constituinte é inversamente
proporcional à variável respectiva. Assim, quando se aumenta a variável “temperatura”, o teor
de “Ácido Graxo Livre” aumenta na ordem de 9,0 pontos (percentual molar sobre produtos,
excetuando-se glicerol), enquanto que os teores de “diacilgliceróis” e “triacilgliceróis”
diminuem na ordem 4,5 e 4,0 pontos percentuais respectivamente. O teor de
“monoacilgliceróis” não é estatisticamente afetado por essa variável, pois o módulo do efeito
(0,8) é inferior ao erro padrão do efeito (2,33).
O aumento do teor de água no sistema leva a um aumento da hidrólise, favorecendo a
conversão do óleo e aumento do teor de ácido livre. É o efeito mais significativo. Interessante
observar que esta variável influencia negativamente nos teores de MG e TG, obviamente
também pelo favorecimento da hidrólise destes componentes, confirmando resultado anterior.
Porém, a diminuição do teor de DG pelo aumento do teor de água vai de encontro os
resultados apresentados anteriormente com testes de teor de água até 30%, indicando que a
hidrólise de DG somente é importante com altos teores de água.
Há também um aumento significativo da conversão de DG e TG a ácido e MG pelo
aumento do percentual de enzima.
Um aumento da temperatura favorece a conversão apenas para ácido. Resultado que
contradiz o trabalho feito por Noureddini.160
Como esperado, o aumento da relação glicerol/ óleo influencia positivamente a
conversão para MG.
As interações estimadasii de segunda ordem (não mostradas) mais significativas foram
as interações enzima / água. Há um efeito sinérgico que favorece a conversão para ácido livre
e prejudica a formação de MG. Isso pode ser explicado também pelo favorecimento da
atividade hidrolítica da enzima.
5.3.2 Reutilização
As lipases são catalisadores heterogêneos que permitem, depois de devida separação, a
sua reutilização. Porém, a ação de agentes químicos e a mudança de conformação em razão da
120
temperatura e do meio reacional limitam sua reutilização. De modo a verificar essa
característica, testes de reutilização da lipase PS foram realizados (Figura 5.7). O teor de água
utilizado foi de 50% (m/m) sobre glicerol para facilitar a visualização da atividade enzimática
pelo índice de acidez (ver seção experimental).
70
60
Índice de Acidez (mg KOH/g)
50
40
30
20
10
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Padrão R1 R2 R3
Figura 5.7 – Gráfico da variação do índice de acidez versus tempo de reação da reutilização
da lipase Amano PS no sistema glicerol/óleo de soja, relação molar 2,4:1, teor de água de
50% (m/m de glicerol), temperatura de 40ºC. Padrão = enzima “nova”; R1,R2,R3=primeira,
segunda e terceira reutilização.
Como pode ser visto na Figura 5.7, uma queda significativa da atividade enzimática
hidrolítica da lipase PS foi observada na primeira reutilização. Porém uma estabilização
parece ocorrer nas reutilizações subseqüentes (R2 e R3).
A queda inicial da atividade na primeira reutilização pode ser explicada pelos fatores
já mencionados de desnaturação de enzimas, como temperatura, contaminantes, etc.
ii
As interações de segunda ordem em um fatorial fracionário 24-1 estão sempre misturadas com interações
também de segunda ordem, o que dificulta sua análise, e somente servem como estimativa.
121
imiscibilidade do meio provoca baixa eficiência do processo, pois a zona de reação restringe-
se somente à interface. Além disso, para cada espécie polar formada (MG e AGL, por
exemplo), ocorre o deslocamento para a fase hidrofílica, o que acarreta impedimentos devido
a limitações de transferência de massa.
Tornar o meio miscível através de utilização de solventes adequados é uma das
maneiras mais usuais encontradas na literatura para melhorar a eficiência da reação. 50, 62,67,183-
185
Os solventes utilizados devem ser capazes de solubilizar tanto a fase lipofílica (óleo)
quanto a fase hidrofílica (glicerol). Além disso, o solvente não deve ter polaridade elevada,
pois pode ocorrer deslocamento da água essencial adsorvida na enzima, mudando sua
conformação, além de haver problemas na ativação interfacial e na formação do complexo
enzima/substrato. O parâmetro mais estudado para comparação da característica polar/apolar
dos solventes e sua eficiência em reações de transesterificação enzimáticas é o coeficiente de
partição.
Damstrup e colaboradores67 estudaram a correlação do logaritmo do coeficiente de
partição (log P) de diversos solventes na obtenção de MG na glicerólise do óleo de girassol.
O coeficiente de partição foi medido em um sistema octanol/água (Tabela XXIII).
122
Os melhores resultados foram obtidos com solventes que tinham o coeficiente do
logaritmo de partição entre 0,3 e 0,9. Com relação à função química, os solventes mais
eficientes são os álcoois terciários, principalmente o t-butanol. Na presente dissertação, o
efeito desse solvente no sistema em estudo foi testado para visualizar o efeito observado por
Damstrup com a enzima lipase PS (Figura 5.8).
60%
50%
40%
% molar
30%
20%
10%
0%
3,5% de água 3,5% água/ 90% t-butanol
AGL MG DG TG
Figura 5.8 - Resultados da análise de CLAE semi-quantitativa da alcoólise com óleo de soja e
glicerol em presença de lipase PS em reação em batelada (desconsiderado o glicerol não
reagido), temperatura de 40ºC, tempo de reação de 8 horas. Teores de água e t-butanol
contados sobre massa de glicerol.
Observando-se os resultados, confirmou-se o aumento do teor de MG, que passou de
40% para próximo de 55%. Além disso, obteve-se também maior conversão de TG. A
significativa diminuição do teor de DG e o fato de não haverem alterações significativas no
teor de AGL (reação de hidrólise), permitem concluir que o t-butanol aumenta a seletividade
na reação de glicerólise, permitindo, dessa forma, maiores teores de MG no produto final.
123
solubilização do mesmo no meio reacional. Na Figura 5.9 estão apresentados os resultados
comparativos dos diversos óleos testados, levando-se em conta o índice de acidez.
14
12
Índice de Acidez (mg KOH/g)
10
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Figura 5.9 – Gráfico índice de acidez versus tempo de reação da reação de vários óleos com
glicerol, relação molar 2,4:1, temperatura de 40ºC, teor de água 3,5%.
Como pode ser observada, uma atividade hidrolítica similar foi obtida com todos os
óleos. Esta alta atividade foi confirmada pelo teste de CCD (Figura 4.12) exceto para o óleo
de mamona, onde não foi possível uma boa separação dos produtos com os solventes de
eluição utilizados, devido à maior polaridade desse óleo (fração de ácido ricinoleico,
hidroxilado).
124
cromatograma do óleo puro, a direita o produto da reação. Eluentes hexano/acetato etila/ácido
acético na proporção 89/9/1. Revelação em vanilina/ácido sulfúrico.
A reação com TMP (trimetilolpropano) somente foi possível pela dissolução do álcool
em água antes da reação. O teor de água utilizado foi de 69% (m/m sobre TMP), o que
ocasionou grande formação de ácidos graxos livres, retratado pelo alto índice de acidez
alcançado (79,4 mg KOH/g). O produto foi analisado por CLAE (Figura 5.11), observando-se
o aparecimento de picos característicos de monoacilgliceróis (entre 10 e 15 minutos) e
diacilgliceróis (entre 20 e 25 minutos). A conversão de óleo foi calculada através de curva de
calibração, chegando a 85%, valor similar ao obtido com glicerol.
Padrão TG
AGL MG DG
Interno
Figura 5.11 – Cromatograma de CLAE da reação de TMP e óleo de soja, relação molar 2,4:1,
temperatura de 40ºC, por oito horas. Teor de água de 69% sobre TMP, padrão interno
linoleato de metila.
Os resultados acima demonstram que é possível utilizar a catálise enzimática com a
lipase PS na fase de alcóolise de resinas alquídicas, sendo observado que a enzima apresenta
atividade frente aos principais óleos e com relação ao glicerol e TMP. Problemas foram
encontrados com pentaeritritol, devido à sua baixa solubilidade.
Porém, a lipase PS sendo uma enzima não-imobilizada, poderia apresentar
dificuldades futuras de adequação a uma escala de produção, devido a problemas de
estabilidade e manuseio. A enzima comercial imobilizada Novozym 435 foi, então, escolhida
para testes. Os resultados são apresentados a seguir.
125
Ela foi inicialmente testada no mesmo protocolo reacional que a Lipase PS, em
processo batelada, com 1% de enzima sobre óleo, temperatura de 40ºC, tempo de 24 horas,
relação molar glicerol/ óleo de soja de 2,4/1, com 3,5% de água sobre glicerol. O resultado foi
uma conversão muito baixa de óleo (45%), muito menor que o processo com Lipase PS (80%)
e o próprio processo alcalino (68%).
60
50
40
% molar
30
20
10
0
Processo Alcalino Lipase PS (sem Novozym 435 (sem Lipase PS (com Novozym 435 (com
solvente) solvente) terc-butanol) terc-butanol)
AGL MG DG TG
Figura 5.12 – Resultados da análise de CLAE semi-quantitativa da alcoólise com óleo de soja
e glicerol (desconsiderado o glicerol não reagido) das experiências realizadas por processo
enzimático (temperatura de 40ºC, tempo de reação até equilíbrio) com Lipase PS, Novozym
435 e processo alcalino (temperatura de 220ºC, tempo de reação de 2 horas). Relação
glicerol/óleo = 2,4, teor de água de 3,5% sobre glicerol, teor de catalisador de 1% sobre óleo.
126
observa-se que um teor de MG semelhante ao processo similar com lipase PS, porém com
maior conversão do óleo, obtendo-se uma quantidade de DG mais alta.
Contudo, a vantagem da lipase Novozym 435 é que, sendo suportada, a enzima pode
ser utilizada nos mais diversos reatores sem comprometimento de sua estrutura. Na literatura,
o reator mais empregado é do tipo contínuo de leito fixo. A seguir são apresentados os
resultados obtidos utilizando este tipo de reator.
O processo contínuo montado para a realização da reação com a lipase Novozym 435
foi baseado no trabalho de Damstrup e colaboradores,177 onde foi utilizado um reator de leito
fixo, o qual preenchido com a enzima (Figura 5.13).
Processos de reação contínua, como o proposto no presente trabalho, requerem que o
sistema seja homogêneo, de forma a prevenir eventuais obstáculos à passagem do meio, como
evolução de viscosidade e mesmo entupimentos devido a mudanças de solubilidade oriundas
de microambientes formados dentro do reator, bem como diferenças de temperatura. Além
disso, inúmeros trabalhos na literatura fazem uso de solventes para garantir a completa
solubilidade em sistemas contínuos, que ajudam também a melhorar a seletividade da
enzima.177 Neste trabalho utilizamos o solvente t-butanol (Seção 5.3.3).
127
Figura 5.13 – Reator contínuo de leito fixo utilizado no trabalho sendo alimentado pela parte
inferior. A direita o detalhe dos espaços vazios formados.
O grupo de Damstrup definiu o parâmetro tempo de reação como sendo:
W
τ= (21)
ν0 × ρ
Onde τ = tempo de reação (min), W = massa da enzima (g), ν 0 = vazão (mL/min),
128
70
60
50
40
% molar
30
20
10
0
Processo batelada Processo contínuo (alimentação Processo contínuo (alimentação
parte inferior) parte superior)
AGL MG DG TG
Figura 5.14 - Resultados da análise de CLAE semi-quantitativa da alcoólise com óleo de soja
e glicerol em presença de lipase Novozym 435 e t-butanol, em processo batelada e contínuo
(desconsiderado o glicerol não reagido), temperatura de 40ºC, tempo de reação de 20 minutos
(conforme definição de Damstrup para o processo contínuo) e tempo de 8 horas para o
processo batelada.
129
Alcóolise Alcóolise
Enzimática Alcalina
Figura 5.15 – Comparação visual dos processos de alcóolise enzimática (com lipase
Novozym 435 em processo contínuo a 40ºC) e alcalina (com octoato de lítio a 220ºC).
Com base nos resultados obtidos, foram escolhidos para comparação na síntese da
resina alquídica os processos com lipase PS em batelada e Novozym 435 em reator de leito
fixo. Os resultados são apresentados a seguir.
130
5.5 Síntese da resina alquídica
A resina escolhida tem a composição básica conforme mostrado na Tabela XXIV,
sendo muito utilizada para formulação de tintas poliuretânicas (quando reticulada com
poliisocianato) para acabamento de madeira e metal. Na Tabela XXV são apresentados os
parâmetros teóricos dessa formulação de resina.
Tabela XXIV – Composição da resina escolhida para teste. O teor de não-voláteis final é de
51%, ajustado com solvente (xileno).
Alcóolise Glicerol 8
Óleo de soja 31
Xileno 4
a)
Percentual em massa da resina não diluída. Diluição feita com solvente xileno ao final da síntese.
Tabela XXV – Parâmetros teóricos calculados para a resina alquídica utilizada no trabalho.
Parâmetros Especificação
Cor Gardner ≤8
131
Os resultados da resina obtida pela alcóolise alcalina (AA) e alcóolise enzimática com
lipase PS (AP) e Novozym 435 (AN) são apresentados na Tabela XXVI. Além disso, uma
resina sintetizada pelo processo ácido graxo (AG) foi preparada para comparação, onde foram
mantidos os parâmetros de formulação.
Tabela XXVI – Resultados dos ensaios realizados nas resinas alquídicas sintetizadas (a).
Tempo de processo 10 12 4 8 5
policondensação (h)
132
Como pode ser visto, em todas as Resinas AP e AN (alcóolise enzimática) houve uma
maior reatividade na policondensação, evidenciada pelo menor tempo de reação. A maior
funcionalidade média do produto de alcóolise (maior conversão de TG) deve ser a principal
causa. (Figura 5.16).
70
60
50
40
% molar
30
20
10
0
Produto AA Produto AP0 Produto AP3 Produto AP50 Produto AN
AGL MG DG TG
Figura 5.16 – Resultados semi-quantitativos das análises de CLAE dos produtos de alcóolise
utilizados para síntese das resinas (desconsiderada fração de glicerol).
Não houve diferenças significativas entre os tempos totais de processo das resinas AA,
AG e AP3. A resina AG, apesar de não necessitar da fase da alcóolise, teve um tempo de
policondensação longo. Isso ocorre pois a reatividade do ácido graxo é baixa. Já na resina
AP50 o maior tempo de alcoólise foi compensado pela maior reatividade na policondensação
e, conseqüentemente, menor tempo. Na resina AP50, o alto teor de ácido graxo diminuiu a
reatividade, aumentando o tempo de reação na fase da policondensação.
133
O processo contínuo utilizado na síntese do produto da alcóolise da resina AN levou a
um tempo total de processo mais longo (17 horas sem contar o tempo de destilação do
solvente). Porém, esse processo pode ser otimizado através de utilização de reatores maiores,
onde o fluxo poderia ser aumentado. Por exemplo, no presente trabalho, utilizou-se um reator
com 15 cm de comprimento, o que acarretou em um fluxo de 0,7 mL/min para um tempo de
reação de 20 min. Se o reator fosse de 45 cm, poderíamos utilizar um fluxo de 2,1 mL/min, o
que acarretaria um tempo de 3 h para a alcóolise, de forma a obter o mesmo volume anterior.
A quantificação da massa molar por GPC para resinas alquídicas é relativa, uma vez
que a coluna é calibrada com padrões de poliestireno. O polímero alquídico, em razão de sua
característica ramificada, é mais compacto que o poliestireno (linear), para uma mesma massa
molar, variando muito o volume hidrodinâmico.189 Porém, algumas inferências podem ser
feitas com erros aceitáveis.
A maior polidispersão obtida para as resinas AP3, AP50 e AN, causada principalmente
pela maior funcionalidade presente, pode ser notada com mais detalhes no cromatograma de
GPC da resina (Figura 5.17). Observa-se uma a fração de alta massa molar formada, a qual
influenciará na secagem final da tinta.
Fração de alta
massa molar
134
Polidispersões altas estão de acordo com o descrito na literatura. Segundo
Canevarolo186 polímeros de condensação atingem valores maiores que 2 e ramificados de 10 a
50.
Os resultados de massa molar obtidos foram superiores aos resultados encontrados por
Kumar.108 Obviamente pode haver diferenças de formulação, e como não há outros
parâmetros para comparação, como viscosidade, é impossível chegar-se a qualquer conclusão.
Porém chama a atenção que as polidispersões obtidas por Kumar são próximas a 1, o que é
muito diferente dos obtidos neste trabalho, e do esperado para um polímero alquídico.
Outro fato interessante é que não houve diferença de cor significativa entre as resinas.
Resultado surpreendente, já que resultados iniciais tinham demonstrado que menor
desenvolvimento de cor era obtido no processo da alcoólise enzimático, devido às menores
temperaturas utilizadas e menores tempos de processo. Variações no fluxo de nitrogênio, bem
como amarelamento durante a estocagem do produto da alcóolise enzimática podem explicar
tal fato.
Análise de espectroscopia por infravermelho foi realizada, sem diferenças
significativas entre as resinas sintetizadas.
Um esmalte poliuretânico branco foi feito com as resinas obtidas, de forma a verificar
as propriedades finais em tinta. A formulação básica é apresentada na Tabela XXVII.
135
Tabela XXVII – Formulação do Esmalte Poliuretano Branco.
Componente Função Quantidades (massa)
Resina Alquídica Formador de filme 50
Dióxido de titânio Pigmento (cor e cobertura) 20
Tensoativos Agentes de dispersão e 1
nivelantes
Xileno Solvente 29
Poliisocianato alifático(a) Reticulante 15
(a)
O reticulante poliisocianato somente é adicionado logo antes da aplicação do esmalte.
6
Gel Time (horas)
0
Resina AA Resina AG Resina AP3 Resina AP50 Resina AN
Figura 5.18 – Tempos de gel dos esmaltes poliuretânicos brancos feitos com as resinas
sintetizadas indicadas.
136
- Maior fração de moléculas de alta massa molecular nas resinas sintetizadas através
de alcoólise enzimática, evidenciado pela análise de GPC.
A evolução de dureza König dos esmaltes foi determinada após aplicação em uma
superfície plana de vidro. Os resultados são apresentados na Figura 5.19.
120
Dureza König (número de oscilações)
100
80
60
40
20
0
0 100 200 300 400 500 600 700 800
Tempo após aplicação (horas)
Figura 5.19 – Evolução de dureza dos filmes formados pelas tintas produzidas com as resinas
sintetizadas indicadas.
Apesar do teor de óleo livre no produto de alcóolise alcalina, percebe-se que a dureza
da resina final é similar à resina feita com a alcóolise enzimática com lipase PS (Resinas AP3
e AP50). Esse fato é um indicativo que há incorporação de óleo na fase de policondensação
quando se parte do produto de alcóolise alcalina, devido à presença do catalisador da alcóolise
ainda no meio (octoato de lítio). Uma melhoria que poderia ser feita no processo das resinas
AP3 e AP50 (e mesmo na resina AN), poderia ser a adição do catalisador de alcóolise na fase
da policondensação, o que diminuiria ainda mais a quantidade de óleo livre.
O conteúdo de óleo livre dos produtos de alcóolise das resinas AP e AN são similares,
porém alcançou-se uma dureza mais baixa no processo enzimático AP3, indicando que podem
haver frações plastificantes no polímero devido ao maior teor de DG no produto de alcóolise.
Sendo terminador de cadeia, o DG levará a massas molares mais baixas.
A dureza inicial mais baixa da resina AN pode ser atribuída a resíduos de t-butanol na
resina, que plastificam o filme e retardam a reação com poliisocianato no início do tempo de
secagem, evaporando após certo período.
137
O desempenho das tintas sobre aço carbono lixado foi avaliado. Os principais testes de
especificação de tinta foram realizados, sem diferença significativa entre eles (Tabela
XXVIII).
Tabela XXVIII – Resultados de testes físicos feitos com os esmaltes poliuretânicos aplicados
sobre painéis de aço carbono lixados. Testes realizados após 7 dias de secagem.
Flexibilidade OK OK OK OK OK
Impacto direto OK OK OK OK OK
(30lb-in)
Impacto reverso OK OK OK OK OK
(5lb-in)
Brilho (60º) 97 95 96 94 95
138
100%
90%
80%
Retenção de brilho (60º)
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Resina AA Resina AG Resina AP3 Resina AP50 Resina AN
139
6 CONCLUSÕES
O presente trabalho demonstrou que a catálise enzimática pode substituir tecnicamente
a alcóolise alcalina do óleo de soja e glicerol na síntese de resinas alquídicas.
Os melhores resultados foram obtidos com as enzimas PS e Novozym 435. Dois
processos diferentes foram demonstrados.
No primeiro, a mistura heterogênea glicerol e óleo foi aquecida a 40 ºC e misturada
com Lipase PS, resultando em uma conversão do óleo maior que o processo alcalino em 8
horas de reação, inclusive com maior geração de monoacilgliceróis (MG). O processo foi
melhorado através de adição de solvente, no caso t-butanol, que garantiu a miscibilidade do
sistema e, conseqüentemente, melhorou a conversão do óleo, direcionando a formação de
MG. A adição de t-butanol também possibilitou o uso da enzima Novozym 435 em processo
batelada obtendo-se altos teores de MG. O resultado sem solvente com esta lipase ficou
abaixo do esperado.
A adição de água no meio reacional mostrou-se diretamente proporcional à formação
de ácido graxo livre, devido ao processo natural de hidrólise, porém tendo pouco efeito sobre
a conversão total do óleo.
O processo em batelada com lipase PS foi ainda utilizado com outros óleos e álcoois,
mostrando-se adequado para os óleos de mamona, coco e linhaça, e para o álcool
polifuncional trimetilolpropano (TMP). Não foi possível realizar a reação com pentaeritritol,
em razão de sua baixa solubilidade.
No processo em batelada não foram obtidos resultados satisfatórios com a lipase PPL
no sistema com glicerol e óleo de soja, em razão da formação de material insolúvel na reação
de transesterificação, mesmo com mudança da solubilidade e polaridade do meio. Resultados
significativos com esta enzima somente foram obtidos utilizando-se polióis menos
hidrofílicos (TMP e CHDM) e óleo de mamona, mas estes não foram utilizados para síntese
da resina. As enzimas A e AY não apresentaram atividade significativa no sistema alvo,
mesmo em combinação com a enzima PS, e também não foram utilizadas para estudo
posterior. Nenhuma dessas enzimas foi testada em processo contínuo.
O processo contínuo foi estudado somente com a lipase Novozym 435 (enzima
imobilizada), utilizando reator contínuo de leito fixo. Neste caso, o solvente t-butanol foi
utilizado em todos os testes. A melhor homogeneidade do sistema, menor viscosidade e alta
razão enzima/ substrato garantiram uma conversão quase total do óleo e um alto teor de MG.
A desvantagem é que além da filtração, a separação do solvente por destilação foi necessária.
140
Em termos práticos, esta separação poderia ser realizada antes da etapa de policondensação. O
solvente então poderia ser reaproveitado no início do processo. Apenas uma adaptação dos
reatores atuais deveria ser feita, pois atualmente já é realizada a separação de água da
policondensação por destilação.
Em ambos os processos (contínuo e batelada), a conversão do óleo foi maior que no
processo alcalino, e os teores de MG foram também superiores.
Em termos de produtividade, foram obtidos valores muito parecidos com o processo
alcalino, utilizando reator de batelada com a enzima PS. O resultado de produtividade também
foi similar ao processo utilizando ácido graxo (sem alcóolise). Num eventual aumento de
escala, é possível prever que não haveria problemas de produtividade nesse tipo de processo.
100,0
Quantidade de resina produzida por hora (mL)
90,0
80,0
70,0
60,0
50,0
40,0
30,0
20,0
10,0
0,0
Resina AA Resina AG Resina AP3 Resina AP50 Resina AN
141
obteve-se uma redução de 62% no consumo total de energia no processo enzimático (Figura
6.2).
8,00
Energia Total Consumida (MJ)
6,00
4,00
2,00
0,00
Processo Alcalino Processo Enzimático
Os resultados obtidos com este trabalho demonstram o grande potencial que esta nova
tecnologia possui. Novos materiais podem ser propostos e uma grande gama de novas
propriedades pode ser alcançada. Porém uma nova forma de pensar no design de polímeros
deve permear o meio acadêmico e industrial. Por isso, novas pesquisas são necessárias no
sentido de verificar todas as possibilidades de formulação das resinas, explorando cada vez
mais essas novas possibilidades.
142
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150
ANEXOS
PI0104107-0 - 23/08/2001
RESUMO: consiste em um processo químico que tem por objetivo modificar a estrutura
molecular do óleo vegetal (oleo de soja degomado ou aquele ja utilizado em fritura) através
do álcool etílico anidro ou hidratado transformando a em esteres etílicos (biodiesel) e por
conseqüência com propriedades físico químicas similares ao do óleo diesel convencional a
presente invenção envolve duas reações de transesterificaçao a primeira em presença do
catalisador alcoxido metálico; e a segunda em presença do catalisador acido sulfurico e
cloreto de sódio esta invenção também envolve a otimização dos fatores mais influentes no
processo (temperatura pressão tempo de reação concentração de catalisadores) com o objetivo
de propiciar menores custos e maiores rendimentos favorecendo o meio ambiente.
COMENTÁRIO: esta patente relata a modificação do óleo vegetal por processos químicos, e
não via catálise enzimática, bem como não cita a utilização para síntese de resinas alquídicas.
PI0215782-9 - 02/07/2002
151
recuperados do resíduo de destilação contendo esteres de esterois di e triglicerideos por meio
de transesterificaçao.
COMENTÁRIO: esta patente relata a modificação do óleo vegetal por processos químicos, e
não via catálise enzimática, bem como não cita a utilização para síntese de resinas alquídicas.
PI0301183-6 - 08/04/2003
RESUMO: processo para a produção de éster etílico de ácidos graxos e equipamento para a
sua realização idealizado para viabilizar técnica e economicamente a produção de biodiesel
incluindo as composições de ácidos graxos saturados e insaturados de pelo menos um dos de
origem vegetal e animal com pelo menos um álcool de cadeia de c1 a c5 preferivelmente c2h5
oh em presença de uma catalisador ou co catalisador que pode ser alcalino acido enzimatico
ou lipase preferivelmente alcalino o processo também inclui uma bomba(5) tendo as funções
de sucção agitação e injeção cujo processo de transesterificaçao da referida mistura corre
internamente a ela sendo injetada em condição de alta pressão em um bico atomizador (30)
situado internamente em um reator(3) a mistura já transesterificada internamente na bomba(5)
e injetada no bico atomizador(30) ao passar de um ambiente de alta pressão para um de mais
baixa pressão imediatamente se separa em fases uma inferior contendo glicerina e em outra
superior contendo um mono éster neste processo o álcool desempenha a função extra de
liquido atomizador dos ácidos graxos tal processo possibilita a produção de esteres com alto
índice de conversão em um tempo extremamente curto.
COMENTÁRIO: esta patente relata a modificação do óleo vegetal via catálise enzimática,
porém o objetivo é produzir um éster etílico, provavelmente para uso como biodiesel, e não
um monoacilglicerol, como no caso da patente que iremos requerer. Além disso o processo
não é utilizado para síntese de resinas alquídicas.
PI0300931-9 - 09/04/2003
152
RESUMO: a invençao refere se a esteres alquilicos de acidos graxos e da glicerina com
elevada pureza aplicando se um processo que compreende um conjunto de reaçoes de
transesterificaçao entre um oleo vegetal ou animal e um monoalcool alifatico que utiliza um
oleo vegetal ou animal e um monoalcool alifatico que utiliza um catalisador heterogeneo por
exemplo a base de aluminato de zinco o teor em agua no meio reacional sendo controlado
com um valor inferior a um valor limite determinado.
COMENTÁRIO: esta patente relata a modificação do óleo vegetal por processos químicos, e
não via catálise enzimática, bem como não cita a utilização para síntese de resinas alquídicas.
PI0404243-3 - 04/10/2004
RESUMO: processo continuo para produçao de biodiesel o qual foi desenvolvido para a
produçao de forma continua de mono esteres de acidos graxos (biodiesel) de qualidade
superior padrao internacional a partir de oleo vegetal semi refinado e alcool anidro por
processo de transesterificaçao em reatores caracteristicos com separaçao continua do alcool
residual atraves de evaporaçao e da glicerina (obtida como sub produto da reaçao) atraves de
centrifugas tambem usadas na lavagem e purificaçao final do biodiesel.
COMENTÁRIO: esta patente relata a modificação do óleo vegetal por processos químicos, e
não via catálise enzimática, bem como não cita a utilização para síntese de resinas alquídicas.
PI0408563-9 - 17/03/2004
RESUMO: processo e aparelho para produçao de combustivel biodiesel isto e ster alquilico a
partir de oleo vegetal e ou animal um catalisador de transesterificaçao e preparado em um
tanque de catalisador basico por pulverizaçao de alcool alquilico sob pressao atraves de jatos
em pelotas de hidroxido metalico ate que as pelotas tenham reagido completamente com o
alcool o oleo e aquecido e transesterificado na presença de alcool alquilico e catalisador de
transesterificaçao em um sistema de fluxo de transesterificaçao com recirculaçao fechado sob
153
leve cavitaçao para fornecer um produto de éster alquilico e um produto de glicerol a
cavitaçao e conseguida permitindo se que o ar entre no sistema de fluxo de transesterificaçao
atraves de uma valvula de entrada de ar ajustavel quando deixado em repouso o produto de
ester alquilico forma uma camada superior que e decantada e submetida a etapas de
purificaçao para remover particulas e alcool alquilico do produto de ester alquilico e uma
camada inferior de produto de glicerol que e drenada a purificaçao do produto de ester
alquilico inclui de preferencia a submissao do produto de ester alquilico a uma nevoa de agua
aplicada por cima em um tanque de lavagem com infusão simultanea de uma corrente de
bolhas de ar o vapor de alcool e reciclado como álcool liquido dentro de um condensador de
alcool e armazenado para reutilizaçao se o óleo contiver ácidos graxos livres antes da
transesterificaçao o óleo é aquecido e os ácidos graxos livres sao esterificados na presença de
um catalisador de esterificaçao e álcool alquilico por razoes de segurança instalam se
anteparos e barreiras amortecedoras de explosão corta fogo em locais em que vapores
inflamáveis representem um risco.
COMENTÁRIO: esta patente não relata a modificação do óleo vegetal via catálise
enzimática, bem como não é utilizada para síntese de resinas alquídicas.
PI0501601-0 - 03/05/2005
COMENTÁRIO: esta patente relata a modificação do óleo vegetal por processos químicos, e
não via catálise enzimática, bem como não cita a utilização para síntese de resinas alquídicas.
154
PI0500790-9
RESUMO: é aqui descrito um processo em uma única etapa para produzir biodiesel e
produto do mesmo empregando se fontes de óleo não comestível contendo acido graxo livre o
processo compreende a esterificaçao e transesterificaçao de fontes de óleo vegetal não
comestível contendo ácidos graxos livres em uma única etapa empregando se um removedor
de água ou um adsorvente de água ou uma mistura deles.
COMENTÁRIO: esta patente relata a modificação do óleo vegetal por processos químicos, e
não via catálise enzimática, bem como não cita a utilização para síntese de resinas alquídicas.
MD20060164 - 31/01/2008
Classificação: C08G63/49; C08G63/91; C09D5/08; C09D5/16; C09D7/02; C09D7/04;
C09D7/12; C09D131/08; C09D167/08; C08G63/00; C09D5/08; C09D5/16; C09D7/02;
C09D7/04; C09D7/12; C09D131/00; C09D167/08.
Resumo: The invention relates to the paintwork material obtaining on alkyd basis, used for
painting wood, metal and other surfaces inside and outside the rooms. Obtaining of glyptal
and pentaerythritor-modified phtalic resins is based on carrying out of the stage of
transesterification of vegetable oils with glycerine or pentaerythritol and of the stage of
polyesterification with phtalic anhydride at heating within the range of 240à260?C. The
boiled oils are obtained by thermal treatment of vegetable oils. The natural boiled oils are
prepared by heating the crude vegetable drying oil. The combined boiled oils and oxole boiled
oils are prepared on base of drying and semidrying oils, subjected to a deeper polymerization
and oxidation with subsequent introduction of siccative and dissolution with white-spirit. The
synthetic boiled oils are obtained on base of transesterified semidrying oils.
155
CA2553872 - 27/01/2008.
RESUMO: The present invention relates to a device for the small scale and portable
production of transesterified fatty acid alkyl esters for use as biodiesel or other applications.
The invention allows for the economic production in small scale and portable equipment
which transesterifies various glycerides including waste vegetable oil, animal fat s, and/or
virgin vegetable oil singly or in admixtures of various ratios. A primary vessel (1 ) which is
fitted with immersion heaters or other heating means (5) contains glycerides which are heated
to reaction temperature. A reservoir (2) which contains an alkaline solution, f or example
sodium or potassium hydroxide dissolved in an alcohol, particularly methanol , is connected
to primary vessel (1) with a piping system and in-line pump (4) in a pipe lo op which permits
the mixture of the glycerides with the strong base and alcohol mixture. Transparent piping, for
example transparent tubing (14), is installed on the side of the primary vessel (1) to permit
visual examination and act as a manometer. Once transesterification takes place, the bottom
phase, which contains glycerol and other residues, is removed through transparent tubing
fitted to a clean out pipe mounted at the bottom of the primary vessel (1). The resulting fatty
acid alkyl estersare then purified by the addition of cleaning reagents, including magnesium
silicate in one embodiment or a mild acid in another embodiment, in primary vessel (1).
<SDOCL LA=EN> CLAIMS The embodiments of the invention in which an exclusive
property or privilege is claimed are defined as follows: Claim 1: A portable device for the
transesterification of animal- and plant- derived glycerides, in small scale batches of 50-500
L, more or less, comprising a mounting frame, a main vessel used for transesterification and
washing, a circulation system , an alcohol and catalyst mixing system, a facultative cleaning
system under various combinations and a facilitative spill containment system. Claim 2: A
component of the device as according to claim 1, which includes a reaction vessel which may
be closed with a removable hatch and vented, includes heati ng elements or others source of
heat and which is the main vessel used in the transesterification reaction. Claim 3: A
component of the device as according to claim 1, which includes a circulation and piping
system including transparent pipes and/or tubing mounted vertical ly on the side of the
primary vessel for dual use in the circulation of the feedstock and/o r biodiesel as well as a
156
manometer and which permits visual assessment of phase separation which takes place during
transesterification of glycerides. Claim 4: A component of the device as according to claim 1,
which includes transparent pipes and/or tubing which are mounted below the reaction tank
which permits to discriminate between the glycerin and fatty acid alky ester phases and the
physical separation of the former and permits the elimination of the latter through gravimetry
and or with the aide of a pump. Claim 5: A component of the device as according to claim 1,
which may includ e a filtration unit which is mounted inside the main reservoir and permits
the filtration o f residues which may be contained in the feedstock. 6 Claim 6: A component
of the device as according to claim 1, which may includ e a bottom reservoir for the
containment of spilled reagents, feedstocks and/or biodiesel; Claim 7: A component of the
device as according to claim 1, which may includ e an electrical console for the control of
electrical equipment which is associat ed with subcomponents of claims 1-6; Claim 8: A
component of the device as according to claim 1, which may includ e a support stand and base
which permits to hold subcomponents of the device as accordin g to claims 1 to 7 in a single
skid with a low footprint and which may be fitted with handles for easy handling and/or
transport. 7</SDOCL>
COMENTÁRIO: esta patente relata a criação de um equipamento para modificação do óleo
vegetal por processos químicos, e não via catálise enzimática, bem como não cita a utilização
para síntese de resinas alquídicas.
WO2008010253 - 24/01/2008.
Classificação: C11C3/00; C10L1/08; C11B7/00; C11C3/00; C10L1/00; C11B7/00;
TÍTULO: INTEGRATED PROCESS FOR THE PRODUCTION OF BIOFUELS FROM
DIFFERENT TYPES OF STARTING MATERIALS AND RELATED PRODUCTS
RESUMO: Process for the production of biocombustible or biofuel mixtures suitable for
different conditions of use, starting from refined or raw vegetable oils, including those
extracted from seaweed, and/or from used food oils and animal fats, each of which is pre-
treated with specific treatments in order to yield a dried refined oil. The latter then undergoes
transesterification with an excess of lower alcohols or bioalcohols, and a subsequent
separation into a raw glycerine-based phase and a phase containing mixtures of fatty acid
alkyl esters and the excess alcohols or bioalcohols. The excess amount of lower
alcohols/bioalcohols can be partially or completely recovered from the obtained mixture, or
the mixture itself may be integrated with additional quantities of the same or different lower
alcohols/bioalcohols, thereby yielding combustible products and ecological fuels suitable for
157
various environmental conditions and 'for the types of apparatus and engines they must be
employed in. The product can either be used by itself or as the main or secondary ingredient
of a mixture with conventional fuel.
COMENTÁRIO: esta patente relata a modificação do óleo vegetal por processos químicos
para uso como combustível, e não via catálise enzimática, bem como não cita a utilização para
síntese de resinas alquídicas.
WO2008009772 - 24/01/2008
Classificação: C12P7/64; C11C 3/10; C12P 7/64; C10G 3/00; C11C 3/00;
RESUMO: The invention relates to a method for producing biodiesel, comprising the
transesterification reaction of a starting product selected from one or more oils, one or more
fats and mixtures of same in the presence of porcine pancreatic lipase as an enzymatic
biocatalyst at a pH of at least 8, preferably at least 10. The invention also relates to the use of
said method for the production of biodiesel and glycerin.
COMENTÁRIO: esta patente relata a modificação do óleo vegetal via catálise enzimática,
porém o objetivo é produzir um éster etílico para uso como biodiesel, e não um
monoacilglicerol, como no caso da patente que iremos requerer. Além disso o processo não é
utilizado para síntese de resinas alquídicas.
WO2007058636 - 24/05/2007
RESUMO: The present invention is about a fast biodiesel production process, called NOBA
process, where transesterification reaction and separation of glycerol take place concurrently
using novel reactor configurations. The NOBA process consists of reacting vegetable
oil/waste oil with methanol in the presence of a homogeneous catalyst (NaOH) in novel type
reactors in which transesterification and glycerol separation occur concurrently. The process
results in rapid production of biodiesel with high yield. The process has also a method for
purification of biodiesel using hot water.
158
COMENTÁRIO: esta patente relata a invenção de um reator para a modificação do óleo
vegetal por processos químicos, e não via catálise enzimática, bem como não cita a utilização
para síntese de resinas alquídicas.
US2007112212 - 17/05/2007
TÍTULO: Refined method for manufacturing ethyl esters from fatty substances of natural
origin
RESUMO: A method allowing, from natural fat or oils, vegetable or animal, or from other
glyceride mixtures, to obtain in a quasi-quantitative way fatty acid ethyl esters that can be
used as gas oil substitutes, comprises the succession of stages as follows: a stage (a) wherein
the oil, the fat or the glyceride mixture is transesterified by ethanol using a soluble catalyst or
a catalyst that becomes soluble during the reaction, a stage (b) wherein the glycerin formed is
decanted and removed, without requiring an excess ethanol evaporation operation, a stage (c)
wherein a second transesterification reaction is carried out so as to obtain a product whose
ester content is at least 97% by mass, a stage (d) wherein controlled neutralization of the
catalyst is carried out, a stage (e) wherein the excess ethanol is removed by distillation, a
stage (f) wherein the ester undergoes purification by means of water wash sequences, and a
stage (g) wherein the ester mixture is dried under reduced pressure.
JP2007308658 29/11/2007
159
resin substantially free of a metallic transesterification catalyst by using the transesterification
product.
SOLUTION: (1) A fat and oil is reacted with a polyhydric alcohol in the presence of a
metallic transesterification catalyst to form a transesterification product 1. (2) A fat and oil is
reacted with a polyhydric alcohol in the presence of the obtained transesterification product 1
without using any metallic transesterification catalyst to form a transesterification product 2.
COPYRIGHT: (C)2008,JPO&INPIT
JP2007077348 - 29/03/2007
Classificação: C10L 1/02; C10L 1/08; C10L 1/19; C10L 1/00; C10L 1/10....
SOLUTION: The diesel fuel is a mixture of a fatty acid ester which is obtained by the
transesterification of fats and oils with a straight or branched chain alcohol having a carbon
atom from 1 to 4, with a liquid organic compound at a normal temperature (20[deg.]C) and at
a normal pressure (101,325 Pa). The mixture comprises the fatty acid ester by a ratio not less
than 1 mass percent and not more than 99 mass percent.
COPYRIGHT: (C)2007,JPO&INPIT
COMENTÁRIO: esta patente relata a invenção de um método para a modificação do óleo
vegetal por processos químicos para uso como biodiesel, e não via catálise enzimática, bem
como não cita a utilização para síntese de resinas alquídicas.
CN1894390 - 10/01/2007
TÍTULO: Improved method for preparing fatty-acid alkyl ester used as biological diesel oil
160
RESUMO: Fatty acid alkyl esters suitable for use as biodiesel are produced by a single step
esterification of free fatty acids and transesterification of triglycerides from vegetable oils or
animal fats or combinations thereof with a lower alcohol (e.g. Methanol) in presence of alkyl
tin oxide as catalyst. The ester thus produced is purified by distillation, treatment with an
adsorbent, washing with water or combination thereof to give esters suitable for use as
biodiesel.
US2006224005 - 05/10/2006
Classificação: C07C 51/43; C07C 51/42; C07C 67/03; C07C 67/08; C11C 1/08; C11C
3/00B
RESUMO: Method and apparatus for producing biodiesel fuel, i.e., alkyl ester, from
vegetable and/or animal oil. A transesterification catalyst is prepared in a base catalyst tank by
spraying alkyl alcohol under pressure through jets at metal hydroxide pellets until the pellets
have fully reacted with the alcohol. The oil is heated and transesterified in the presence of
alkyl alcohol and the transesterification catalyst in a closed, recirculating transesterification
flow system under slight cavitation to yield product alkyl ester and product glycerol.
Cavitation is achieved by permitting air to enter the transesterification flow system through an
adjustable air inlet valve. When permitted to stand, product alkyl ester forms an upper layer
that is decanted and subjected to purification steps, to remove particulates and alkyl alcohol
from the product alkyl ester, and a lower layer of product glycerol is drained away.
Purification of the product alkyl ester preferably includes subjecting the product alkyl ester to
an overhead water mist in a wash tank with simultaneous infusion of a stream of air bubbles.
Alcohol vapor is reclaimed as liquid alcohol within an alcohol condenser and stored for reuse.
If the oil contains free fatty acids, prior to transesterification, the oil is heated and the free
fatty acids are esterified in the presence of an esterification catalyst and alkyl alcohol. For
safety, baffles and explosion damper/flame arrestors are provided in locations where
flammable vapors pose a risk.
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WO03040081 - 15/05/2003
Classificação: C07C 67/03; C10L 1/02; C11C 3/00; C11C 3/10; C07C 67/00; C10L1/00;
C11C 3/00.
RESUMO: The invention relates to a method for producing Diesel grade fuel of plant origin
by transesterifying a refined vegetable oil with a C1-C4 alkanol in the presence of a catalyst
whereupon a polar phase and an apolar phase is formed, removing the polar phase comprising
glycerol by-product, and subjecting the apolar phase comprising the fuel to a refining
procedure. According to the method of the in-vention refined vegetable oil is transesterified in
a homogeneous phase in the presence of at least 0.2 parts by volume, related to unit volume of
refined vegetable oil, of an aliphatic hydrocarbon solvent with a boiling point of 40-200<
DEG >C to form a mixture comprising a polar phase and an apolar phase, if necessary, the
apolar phase which also comprises non-transesterified vegetable oil beside aliphatic hydro-
carbon solvent and transesterified product, obtained after removing the separated polar phase
comprising glycerol by-product, is reacted in a further step with a C1-C4 alkanol in the
presence of a catalyst until a transesterification conversion of 95-98 % is attained, the
separated polar phase comprising glycerol by-product is removed, and the apolar phase
comprising the fuel is refined wherein, if desired, at least a portion of the aliphatic
hydrocarbon solvent is retained in the product.
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