Manual Culturas Emergentes Figo India Digital

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Pensar Global,

pela Competitividade,
Ambiente e Clima

MANUAL
BOAS PRÁTICAS
PARA CULTURAS EMERGENTES

A CULTURA DO FIGO-DA-ÍNDIA
Cofinanciado por:
A CULTURA DO FIGO-DA-ÍNDIA
Ficha técnica
Título: Manual Boas Práticas para Culturas Emergentes
A Cultura do Figo-da-Índia

Autor: Associação dos Jovens Agricultores de Portugal

Lisboa | 2017

Grafismo e Paginação: Miguel Inácio


Impressão: GMT Gráficos
Tiragem: 250 ex.
Depósito Legal: 436271/18
ISBN: 978-989-8319-25-8

Distribuição Gratuita
Pensar Global, pela Competitividade, Ambiente e Clima

Índice
Introdução 7
1 - Origem 9
2 - Taxonomia e Morfologia 11
3 - Requisitos Edafoclimáticos 15
3.1 - Clima 16
3.1.1 - Temperatura 16
3.1.2 - Precipitação 16
3.1.3 - Exposição Solar 17
3.1.4 - Vento 17
3.2 - Solos 17
4 - Ciclo Biológico 19
4.1 - Floração 20
4.2 - Frutificação 20
5 - Tecnologias de Produção 23
5.1 - Scozzolatura 24
6 - Sistemas de Produção 27
7 - Material Vegetal 29
7.1 - Variedades 30
8 - Particularidades do Cultivo 31
8.1- Escolha da parcela 32
8.2 - Preparação do terreno 32
8.3 - Plantação 32
8.4 - Desenho de plantação 33
8.5 - Fertilização 34
8.6 - Rega 35
8.7 - Poda 36
9 - Pragas e Doenças 39
9.1 - Pragas 40
9.2 - Doenças 40
10 - Colheita 43
11 - Produção Integrada e Agricultura Biológica 45
Bibliografia 47

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Manual Boas Práticas para Culturas Emergentes A Cultura do Figo-da-Índia

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Introdução
Manual Boas Práticas para Culturas Emergentes A Cultura do Figo-da-Índia

Introdução
No âmbito da candidatura “Pensar Global A cultura do figo-da-índia insere-se no
pela Competitividade, Ambiente e Clima”, referido conjunto de culturas consideradas
inserida na operação 2.1.4 – Ações de emergentes, o qual foi aferido através da
informação, com o objetivo de reunir, realização de inquéritos a nível nacional, por
divulgar e disseminar informação técnica, parte dos técnicos da AJAP, junto de
organizacional e de mercados, valorizando organismos e instituições de referência do
o ambiente e o clima, foi definido como setor, tendo em conta a atual conjuntura,
meta a elaboração de um conjunto de ou seja, considerando as culturas que se
elementos nos quais se inclui o presente destacam pela componente de inovação
“Manual de Boas Práticas para Culturas aliada à rentabilidade da exploração agrícola,
Emergentes”. aumentando assim a competitividade do
setor.
Este manual, a par dos outros elementos
previstos neste projeto, visa dotar os Para a elaboração deste manual, foram
agentes do setor agrícola, em particular os consultadas diferentes fontes bibliográficas,
associados da AJAP, de um conhecimento bem como produtores e especialistas que
mais aprofundado sobre 15 culturas contribuíram de forma determinante para
emergentes aliadas às boas práticas a valorização da cultura do figo-da-índia.
agrícolas.

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1 - Origem
Manual Boas Práticas para Culturas Emergentes A Cultura do Figo-da-Índia

1 - Origem frutos é para o consumo em fresco, embora


também possam ser utilizados para a
produção de gelados, doces, licores e vina-
As variedades de figueira-da-índia são gretes.
originárias das zonas tropicais da América,
sendo a variedade Mill a mais utilizada na Em Portugal, a cultura da figueira-da-índia
produção de frutos, originária do México. apresenta um interesse crescente, existindo
Esta planta foi introduzida na Europa por atualmente mais de 800 hectares cultivados
Cristóvão Colombo e difundiu-se sobretudo com dois a quatro anos de idade. A cultura
nas regiões mediterrâneas. tem tido uma aposta elevada face à sua
enorme potencialidade, devido às condições
Atualmente existe uma grande dispersão de cultivo, produtividade e interesse
da cultura, sendo cultivada em todos os industrial.
continentes, exceto na Antártica, contudo
existe em pouco mais de 30 países. Esta é
considerada uma cultura multifacetada, por
apresentar interesse agronómico para a
produção de frutos, e vegetais (cladódios),
especialmente para forragem.

A figueira-da-índia tem crescido a nível


comercial, sobretudo enquanto cultura
frutícola, encontrando-se mais de 100.000
hectares distribuídos pelo México, Chile,
Itália, África do Sul, Norte de África e Estados
Unidos da América. A cultura tem um eleva-
do potencial de exploração em zonas áridas
e semiáridas, por ser resistente à seca e com
uma eficiência de uso de água elevada, de-
vido ao seu metabolismo CAM (metabo-
lismo ácido das crassuláceas).

Na Europa o maior produtor de figo-da-índia


é a Itália onde existem cerca de 7.000 hec-
tares de plantações intensivas, com produti-
vidades anuais entre 15 a 25 toneladas de
fruta por hectare. O principal destino dos

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2 - Taxonomia e Morfologia
Manual Boas Práticas para Culturas Emergentes A Cultura do Figo-da-Índia

2 - Taxonomia e Morfologia atingir, lateralmente, até 10 a 15 m da base


da planta. O tamanho das raízes está
relacionado com a disponibilidade de água
A figueira-da-índia é uma planta pertencente e práticas culturais, principalmente rega e
à família Cacteacea, da ordem Caryophyllales fertilização. As folhas desenvolvem-se nas
e ao género Opuntia. Esta planta apresenta aréolas dos caules e são rudimentares,
uma grande variedade de espécies que se efémeras e cilíndricas.
dividem em dois grandes grupos: o grupo
da figueira-da-índia, onde se inserem Folha da Figueira-da-índia
espécies como a Opuntia amyclaea Tenore,
Opuntia ficus-indica (L.) Mill. e Opuntia
streptacantha Lemaire; e o grupo Xoconos-
tles, onde se inserem espécies como a
Opuntia joconostle Weber, Opuntia matudae
Sheinvar, Opuntia oligacantha, cujos frutos
são mais pequenos, de sabor ácido e com
coloração exterior verde-púrpura e de polpa
rosada.

As características da figueira-da-índia são


muito variadas em termos da forma,
tamanho e presença de espinhos nos cladó-
dios, assim como no tamanho e cor dos
frutos e da polpa. Esta espécie possui modi-
ficações morfológicas, como baixa densida-
de estomática, cutículas espessas e suculên-
cia e um metabolismo fotossintético especí-
fico das crassuláceas, CAM (metabolismo
ácido das crassuláceas), que permitem a
sua adaptação a zonas áridas.

A figueira-da-índia é um arbusto que pode


atingir até 5 m de altura, com um sistema
radicular muito extenso, carnudo e densa- Fonte: Ferreira et al., 2016
mente ramificado, com raízes superficiais
finas e absorventes. O sistema radicular
desenvolve-se na horizontal podendo

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Os caules, denominados normalmente de dos cladódios, de um ou dois e, ocasional-


cladódios, são carnudos e apresentam mente, de três anos. Estas são grandes e
características de adaptação a ambientes vistosas, com 6 a 8 cm de diâmetro e 3 a 4
desérticos, armazenando água no período cm de largura, a sua cor é variável entre o
das chuvas. Estes são constituídos pelo amarelo, vermelho ou branco. A floração
parênquima ou tecido central, pelo pode ocorrer em dois períodos em condi-
clorênquima, parte verde do caule, e pela ções ambientais e práticas culturais especí-
epiderme que é coberta por uma cutícula ficas. Em Portugal ocorre, normalmente, de
cerosa e espessa com poucos e profundos março a junho e, após a fecundação, é
estomas. É nas células do parênquima, o possível observar a mudança de cor das
qual corresponde a cerca de 50 a 70% do flores em algumas variedades.
cladódio, que é armazenada cerca de 85 a
90% da água, para além dos ácidos Os frutos são botanicamente denominados
orgânicos. de falsas bagas, com ovário ínfero simples
e carnudo. São frutos ovoides, globosos ou
Os cladódios apresentam aréolas e gloquí- cilíndricos, com 6 a 8 cm de comprimento,
dios (tufos de pequenas ceras em forma de umbilicados na superfície, a cor é original-
arpão), podem ser espinhosos ou inermes, mente verde evoluindo com a maturação
apresentam uma forma variável, que pode para branco-esverdeada, amarelada, alaran-
ser circular, elíptica, oboval ou rômbica, com- jada ou arroxeada. A polpa é gelatinosa e
primento entre 30 a 50 cm, largura entre 20 doce, com cor correspondente ao exterior
a 30 cm e 2 a 4 cm de espessura. e com muitas sementes de tegumento duro.
A maturação está finalizada cerca de 110 a
O aparecimento de novos caules e flores 120 dias após a floração, e o seu peso final
ocorre a partir da diferenciação do meris- pode variar entre 80 e 200 g.
tema das aréolas, que pode manter-se ativo
durante vários anos. Com o envelhecimento
da planta os cladódios da base lenhificam e
formam uma estrutura semelhante a um
tronco.

As flores da figueira-da-índia são hermafro-


ditas e actinomorfas, têm numerosas
sépalas e pétalas agrupadas num tubo
polínico e desenvolvem-se no bordo superior

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Manual Boas Práticas para Culturas Emergentes A Cultura do Figo-da-Índia

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3 - Requisitos Edafoclimáticos
Manual Boas Práticas para Culturas Emergentes A Cultura do Figo-da-Índia

3 - Requisitos Edafoclimáticos Temperaturas superiores a 30°C podem levar


a reduções da atividade fotossintética até
70%, afetando o formato da fruta. Se ocorrer
3.1 - Clima nas fases iniciais de desenvolvimento irá
encurtar a terceira fase de desenvolvimento
A distribuição global da figueira-da-índia é do crescimento do fruto, quando ocorre a
um indicativo da sua grande adaptabilidade formação das partes comestíveis, levando
a vários climas e solos. Contudo, zonas com a uma maturação precoce com redução do
climas áridos e semiáridos apresentam con- tamanho, firmeza e teor de açúcar dos fru-
dições como baixa pluviosidade e tempera- tos. Temperaturas elevadas durante o de-
turas elevadas, que levam a uma diminuição senvolvimento do fruto aumentam a sensibi-
da produtividade da cultura. lidade dos frutos quando armazenados a
temperaturas inferiores a 8°C durante o
Os principais requisitos climáticos que armazenamento pós-colheita.
afetam o rendimento e a qualidade desta
cultura são a temperatura, precipitação, Por outro lado, temperaturas diurnas infe-
exposição solar e vento. riores a 15°C abrandam o crescimento dos
frutos, atrasam a data de colheita e promo-
3.1.1 - Temperatura vem a criação de peles mais espessas e
menos coloridas, e a diminuição do teor de
A temperatura média anual para a cultura sólidos solúveis. Temperaturas inferiores a
da figueira-da-índia situa-se entre 15 e 18°C, 0°C, por períodos superiores a 4 horas,
sendo que durante o período de diferen- causam danos irreversíveis nos frutos.
ciação dos gomos florais são necessárias
temperaturas médias entre 15 a 25°C. 3.1.2 - Precipitação
Temperaturas inferiores a 4°C são prejudi-
ciais à cultura e durante o abrolhamento Devido ao metabolismo CAM da figueira-
não devem ocorrer geadas. -da-índia, a taxa de utilização de água é muito
eficiente, necessitando para o seu cresci-
Para temperaturas diurnas de 25°C e mento e desenvolvimento saudável de uma
noturnas de 15°C a planta atinge o pico de precipitação anual mínima de 400 mm.
produtividade fotossintética, sendo que Durante o verão é necessário uma quanti-
com temperaturas diurnas superiores ou dade de água entre 300 e 600 mm, de modo
noturnas inferiores existe um decréscimo a garantir o desenvolvimento regular do
acentuado na assimilação de carbono, fruto e rendimentos de produção elevados.
levando a um pior desenvolvimento, nível A figueira-da-índia é uma planta sensível a
de produção e valor da cultura.

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Pensar Global, pela Competitividade, Ambiente e Clima

geadas durante o abrolhamento que ocorre, utilização de fotoassimilados, sendo neces-


normalmente, durante a primavera, e a sário garantir a sua produção por parte de
chuvas fortes com presença de muito vento, cladódios frutíferos.
que pode levar à quebra de cladódios.
3.1.4 - Vento
A carência hídrica leva a um decréscimo na
produtividade devido à redução na abertura Em zonas ventosas é aconselhável a
estomática e à diminuição da espessura dos instalação de quebra ventos, visando
caules, por perda de água. A presença de minimizar os efeitos negativos que este
água excessiva, superior a 1.000 mm anuais, pode causar na cultura. Entre estes estão a
determina diminuição da polinização, pre- dificuldade em realizar operações culturais
sença de doenças fúngicas e perdas de como a poda, desbaste da fruta e colheita,
qualidade nos frutos. diminuição do efeito dos sprays polinizado-
res e protetores, e ocorrência de danos nos
3.1.3 - Exposição Solar frutos devido ao contacto promovido, entre
os frutos e cladódios ou frutos, pelo vento.
A exposição solar é um fator importante na
floração e frutificação dos frutos, não exis- 3.2 - Solos
tindo frutos nos cladódios que cresçam em
zonas sombrias. Isto acontece porque em A figueira-da-índia tem uma grande adap-
condições de sombra os cladódios não acu- tabilidade a vários tipos de solos, contudo
mulam peso seco suficiente para suportar solos com teor de argila superior a 15%
o desenvolvimento reprodutivo. Se durante podem causar podridão nas raízes e limitar
os dois meses anteriores à floração a exposi- o desenvolvimento do sistema radicular e
ção solar for reduzida, ocorre a inibição de a copa do arbusto. Solos com lençol freático
pelo menos 80% da floração. Assim, é neces- muito superficial e pouca capacidade de
sário que durante o inverno seja garantida drenagem também não são indicados para
uma boa exposição solar dos cladódios. a cultura.

Se durante o período inicial de frutificação Em síntese, os melhores solos para o cultivo


existirem cladódios sombreados, mesmo de figueira-da-índia aparentam ser de origem
que por um curto período de tempo, existirá calcária, com elevado teor de cálcio e potás-
uma diminuição do peso dos frutos. A princi- sio, boa drenagem, profundidade superior
pal causa apontada para esta perda é a a 30 cm, pH entre 6,5 e 8,5 e salinidade
3
competição existente na planta entre o inferior a 50 a 70 mol/m .
crescimento vegetativo e reprodutivo na

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Manual Boas Práticas para Culturas Emergentes A Cultura do Figo-da-Índia

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4 - Ciclo Biológico
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4 - Ciclo Biológico extremas de evapotranspiração, a perdas


de 3 g de água por dia. No momento da
ântese, estas perdas podem atingir cerca
A figueira-da-índia é uma cultura perene de 15% do peso do cladódio. A ântese tem
com ciclo anual, podendo, em algumas uma duração média de 21 a 47 dias, mas
zonas do globo com condições favoráveis, pode durar, em alguns casos, até 75 dias.
ocorrer naturalmente uma segunda floração Em Portugal, o aparecimento dos botões
e consequente frutificação. florais ocorre em março ou abril e a ântese
ocorre durante os meses de maio a julho.
O crescimento vegetativo e reprodutivo da
planta ocorre durante a primavera, conso- Tal como referido anteriormente, as flores
ante a diferenciação das aréolas, para a da figueira-da-índia são hermafroditas,
formação de cladódios, raízes aéreas ou contudo pode ocorrer tanto autopolinização
flores. Para que ocorra o aparecimento das como polinização cruzada. O período fecun-
aréolas é necessária uma boa exposição dativo inicia-se 48 h após a ântese e ocorre
solar dos cladódios. durante 10 dias, com 48% da fecundação
dos óvulos nos primeiros 4 dias, podendo
O crescimento dos cladódios ocorre tipica- ocorrer poliembrionia. Após a fecundação,
mente em cladódios de segundo ano, em principalmente nas flores amarelas, verifica-
ambas as faces do cladódio e tem uma dura- -se uma mudança de cor para laranja rosado.
ção de, aproximadamente, 90 dias. Enquan-
to que o crescimento reprodutivo ocorre, Um dos fatores que caracteriza a figueira-
tipicamente, em cladódios de um ano. -da-índia é a sua capacidade de obter uma
segunda floração. Este fenómeno ocorre
4.1 - Floração naturalmente no Chile, Israel e Estados
Unidos da América, e é obtido em Itália e
A diferenciação floral das aréolas ocorre Portugal através de técnicas culturais.
num período muito curto, iniciando-se 50 a
60 dias após a ativação do meristema e 4.2 - Frutificação
finalizando com o início da ântese. Os botões
florais emergem na primavera quando as O crescimento dos frutos ocorre durante
temperaturas médias mensais ultrapassam cerca de 70 a 150 dias consoante a variedade,
os 16 °C. Esta dura cerca de 3 a 5 semanas e o ambiente e a época de produção, sendo
pode ser potenciada com fertilizações de que na produção de inverno o período de
azoto. Um cladódio em condições de desenvolvimento do fruto é maior que
elevado potencial pode produzir cerca de durante a produção de verão.
35 a 40 flores, o que leva, em condições

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Durante o desenvolvimento dos figos-da- de sólidos solúveis. No final do processo de


-índia é possível distinguir três fases: o maturação a cor da casca obteve uma
crescimento em matéria seca da casca, o mudança entre 75 a 100%, houve um
desenvolvimento em matéria seca das aumento do teor de sólidos solúveis, de
sementes e o desenvolvimento da polpa cerca de 12 a 13%, e uma diminuição na
durante a última fase. A maior parte do firmeza dos frutos.
crescimento do fruto, em termos de compri-
mento, largura, peso e volume, ocorre A maturação dos figos-da-índia não ocorre
durante os primeiros 20 a 30 dias após a de forma simultânea, uma vez que as fases
ântese. Enquanto que cerca de 59 a 90 dias do ciclo vegetativo em que ocorre o abrolha-
após a ântese o crescimento dos frutos mento e floração não são uniformes. Assim
cessa. sendo, esta ocorre num período de 20 a 40
dias, podendo, ocasionalmente, ser mais
O peso dos frutos varia consoante a varie- demorado.
dade, a quantidade de frutos por cladódio
e a ordem de formação dos botões florais,
uma vez que botões que emergem mais
cedo dão origem a frutos mais pesados.
Contudo, o tamanho dos frutos varia conso-
ante a variedade, o número de óvulos fecun-
dados e o respetivo número de sementes
abortadas, a arquitetura da planta, a densi-
dade de plantação e o número de frutos
por cladódio, sendo que cladódios com 6 a
8 frutos atingem o peso e tamanho máxi-
mos, desde que sejam fornecidos os nutrien-
tes e água, nas alturas e doses adequadas
às necessidades da planta, tendo em consi-
deração a sua idade, estado de desenvolvi-
mento e tipo de solo.

Durante o processo de maturação ocorrem


mudanças na cor da casca e na textura do
fruto. É nesta fase que ocorre, também, a
queda dos gloquídios e o aumento do teor

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5 - Tecnologias de Produção
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5 - Tecnologias de Produção será 50 a 80% inferior à inicial. Esta técnica


só é utilizada em zonas onde as tempera-
turas de inverno são suficientemente altas
As tecnologias de produção na cultura do para o desenvolvimento dos frutos.
figo-da-índia têm evoluído de modo a
responder às necessidades de mercado, 5.1 - Scozzolatura
durante o maior tempo possível, e a compe-
tir com países como o Chile e Israel onde a A Scozzolatura é uma técnica, que pode ser
figueira-da-índia produz uma segunda aplicada em plantas adultas, e que tem
floração natural promovida pelas condições como objetivo promover uma produção
edafoclimáticas, e consequente época de tardia de frutos. Esta prática cultural consiste
frutificação. na remoção dos gomos florais e vegetativos
durante a primavera, o que irá provocar
Em Portugal, têm sido implementadas práti- uma segunda floração na planta, cerca de
cas que permitem deslocar as épocas de 30 a 40 dias mais tarde, obtendo-se a matu-
produção através do recurso a técnicas ração dos frutos durante os meses de ou-
agronómicas que alteram o ciclo biológico tubro e novembro.
das plantas, nomeadamente, o prolonga-
mento da época de floração da plantação A remoção floral pode ser realizada antes
promovendo uma floração tardia de algu- da floração, no momento da floração ou
mas zonas da cultura. Esta técnica denomi- após a floração, contudo a intensidade de
nada de Scozzolatura surgiu em Itália. refloração, o desenvolvimento dos frutos
e a época de colheita são dependentes da
Para além da Scozzolatura, existe outra época de remoção. A remoção dos gomos
técnica que permite a produção de frutos pré-floração permite uma maior intensidade
fora de época, denominada de produção de refloração, sendo 50 a 70% superior que
de inverno que consiste na produção de a remoção na pós-floração, sendo o tempo
uma segunda floração através da irrigação, que decorre entre a remoção floral até à
com 100 mm de água, e fertilização, com refloração de apenas 12 a 16 dias. Por outro
120 kg de azoto por hectare, imediatamente lado, permite igualmente um período de
após a colheita principal de verão. Esta desenvolvimento frutífero mais curto
técnica permite uma segunda floração, decorrendo entre 6 a 8 semanas, o que
entre outubro e novembro, nos cladódios equivale a menos 15 a 20 dias que na
formados durante esse ano, resultando remoção durante a floração e a menos 30
numa segunda colheita entre dezembro e a 40 dias que na remoção pós-floração.
março. Os frutos provenientes desta colhei-
ta terão uma percentagem de polpa inferior
à anterior e a produtividade da plantação

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Pensar Global, pela Competitividade, Ambiente e Clima

O QUE DIZEM OS PRODUTORES:

A Scozzolatura é uma técnica muito inte-


ressante, na medida em que possibilita
ter fruta numa altura onde existe menos
oferta, não só de figos-da-índia como de
outros frutos, e consequentemente per-
mite uma rentabilidade/kg superior
comparativamente com a colheita princi-
pal de verão. (Nuno Pires, 2017)

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6 - Sistemas de Produção
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6 - Sistemas de Produção Apesar de ainda não ser uma cultura


muito difundida a nível mundial, tem tido
um interesse crescente em vários países,
Como já foi referido anteriormente os como a Inglaterra, França e Japão, exis-
sistemas de produção adotados na cultura tindo a forte possibilidade de um aumen-
da figueira-da-índia em Portugal têm como to da procura destes frutos por parte
principal objetivo o prolongamento da dos países europeus. Assim, a utilização
época de colheita, de modo a conseguir de diferentes sistemas de produção que
satisfazer as necessidades do mercado e promovam a colheita de frutos, durante
competir com os países exportadores de o maior tempo possível, constitui uma
figo-da-índia. vantagem para a cultura de figo-da-índia
em Portugal.

Quadro síntese dos períodos de oferta de figo-da-índia no mercado mundial

jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
Itália
Portugal
Chile
EUA
Israel
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

Fonte: Adaptado de FAO, 2011

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7 - Material Vegetal
Manual Boas Práticas para Culturas Emergentes A Cultura do Figo-da-Índia

7 - Material Vegetal evitar o aparecimento de putrefações. O


tempo de cicatrização do corte pode ser
bastante inferior, nomeadamente se for
O método mais utilizado de propagação da realizado numa altura mais quente. Neste
figueira-da-índia é através de estacas de caso 5 dias são normalmente suficientes.
cladódios que podem ser retiradas de cla-
dódios com 1 ou 2 anos, contudo os cladó- Relativamente à altura de plantação
dios com um ano têm uma maior capacidade ocorrerá um maior desenvolvimento se a
de enraizar produzindo raízes mais longas. plantação for efetuada na altura da
A escolha de cladódios deve incidir em primavera comparativamente com, por
cladódios singulares, maduros, com exemplo, a realização no outono onde terá
aparência uniforme e sem defeitos visíveis pouco tempo para se desenvolver, antes
de danos causados por doenças ou insetos. das plantas “hibernarem”.

A colheita das estacas poderá ocorrer todo 7.1 - Variedades


o ano, no caso dos viveiros específicos para
produção de material de propagação. Caso Existem diversas espécies de figueiras-da-
seja realizada pelo produtor na própria -índia comestíveis, no entanto, a mais utili-
exploração, deve ocorrer entre a colheita zada comercialmente, em todo o mundo é
e a brotação dos gomos, podendo ocorrer, a Opuntia ficus-indica. Em Portugal, existem
em Portugal, entre março a abril ou entre algumas espécies subespontâneas no
agosto e setembro. Após remoção, os Alentejo e Algarve, sendo as espécies mais
cladódios devem ser colocados num difundidas a O. dillenii e a O. tuna. A espécie
ambiente semi-sombrio durante 15 a 30 O. ficus-indica é atualmente cultivada em
dias, de modo a que ocorra a cicatrização Portugal para a produção de figos-da-índia.
do corte, a promover o enraizamento e a

Algumas das variedades mais utilizadas mundialmente

Cultivar País Espécie Espinhos Cor Pele/Polpa


Gymno carpo África do Sul O. ficus-indica Sem Amarelo/ Laranja
Meyers África do Sul O. ficus-indica Sem Vermelho/ rosa escuro
Morado África do Sul O. ficus-indica Sem Verde/ Branco
Reeyna México O. albicarpa Espinhosa Verde claro/ Verde claro
Burrona México O. Amyclaea Espinhosa Verde claro/ Verde claro
Dellahia Marrocos O. Robusta Sem Verde claro/ Verde claro
Aissa Marrocos O. ficus-indica Sem Amarelo/ Laranja
Amarilla sin Espinas Argentina O. ficus-indica Sem Amarelo/ Verde
Ofer Israel O. ficus-indica Sem Amarelo/ Laranja
Verde (criolla) Chile O. ficus-indica Espinhosa Verde/ Verde
Fonte: FAO, 2011

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8 - Particularidades do Cultivo
Manual Boas Práticas para Culturas Emergentes A Cultura do Figo-da-Índia

8 - Particularidades do Cultivo Nesta fase poderá igualmente proceder-se


à instalação do sistema de rega, pois,
embora a figueira-da-índia seja uma planta
8.1 - Escolha da parcela bastante resistente à seca, para que se atinja
o máximo de potencial de produção, é ne-
A escolha da parcela deve ter em cessário um adequado fornecimento de
consideração as condições de clima da água à cultura.
região, principalmente a exposição solar,
precipitação, a presença de ventos fortes 8.3 - Plantação
e a temperatura média durante os meses
de produção. Deve ainda ter em conta as A data de plantação deve ter em consi-
condições de solo da parcela, devendo deração a disponibilidade de água, a
apresentar um baixo teor de argila, boa temperatura e a precipitação, devendo o
capacidade de drenagem, ausência de solo estar húmido para que haja o melhor
lençol freático elevado e um baixo teor de desenvolvimento das raízes e do cladódio.
salinidade. Em Portugal a melhor época para plantar
é o início da primavera. O outono é também
8.2 - Preparação do terreno uma boa altura para plantar, sendo igual-
mente possível durante o inverno, desde
A preparação do terreno deve iniciar-se que se tenham cuidados redobrados com
com a limpeza do mesmo, no sentido de a cicatrização do corte e drenagem da água
eliminar infestantes, e análise ao solo, de da chuva no sentido de se evitarem perdas
modo a definir-se um esquema de cor- por apodrecimento. Durante o verão e
reções e fertilizações, com vista a disponi- sobretudo nos meses mais quentes é desa-
bilizar à cultura as melhores condições de conselhado efetuar-se a plantação.
desenvolvimento.
Os cladódios podem ser plantados de três
Uma vez que o sistema radicular destas formas diferentes consoante os custos de
plantas é muito superficial, raramente instalação e o objetivo da exploração. Para
ultrapassando 50 cm de profundidade, as a produção de figos-da-índia o tipo de
necessidades de mobilização resumem-se plantação mais eficaz é a colocação dos
na maior parte dos casos a uma gradagem, cladódios na vertical enterrando 50% do
de modo a preparar o terreno para a cladódio, de modo a que a superfície
plantação. No caso de solos muito fotossintética seja suficiente para que o
compactos que dificultem a drenagem, cladódio se desenvolva e que não caia
poderá ser necessário uma ripagem prévia facilmente.
do terreno.

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Pensar Global, pela Competitividade, Ambiente e Clima

O segundo método é sobretudo utilizado generalizada. O espaçamento, quando


para a produção de palma forrageira (utili- se recorre ao método em sebe é de 2 a
zação dos cladódios para alimentação ani- 3 m na linha, sendo que na entrelinha
mal). Neste método os cladódios são enter- deverá ter-se em conta que uma planta
rados até um terço com um ângulo de 30°. de figueira-da-índia, quando adulta, irá
crescer facilmente 1,5 m para cada lado.
O último método é apenas utilizado para Dessa forma, o espaço a deixar na entre-
que haja uma diminuição dos custos da linha deverá contabilizar os cerca de 3
plantação, não sendo muito aconselhado. metros que uma planta adulta irá ocupar,
Este método consiste na colocação dos em adição à distância necessária para
cladódios deitados, colocando uma pedra que os meios mecânicos necessários
no cimo de modo a impedir que sejam leva- para a realização das diferentes opera-
dos pelo vento e a promover o contacto ções na plantação possam operar. Neste
do cladódio com o solo, para facilitar o sistema de condução é recomendável a
enraizamento. utilização de 2 cladódios por cova, colo-
cados paralelamente a cerca de 40 cm
Se durante a plantação o solo encontrar-se de distância.
muito seco deve proceder-se a uma rega
de modo a promover o desenvolvimento No caso de se utilizar o método em qua-
do sistema radicular. drícula, as plantas são conduzidas em
forma de vaso, arbusto tipo globo ou de
8.4 - Desenho de plantação forma ereta. Os espaçamentos utilizados
variam entre 4 a 6 m na linha, com as dis-
O desenho de plantação deve ter em tâncias na entrelinha tendo por base o
consideração a área útil de plantação, fundamento descrito acima para o método
as condições ambientais, como a intensi- em sebe. Neste caso, devem ser colocados
dade da luz, declive do terreno e a expo- 3 a 4 cladódios por covacho, dispostos em
sição solar dos cladódios, o hábito de formato triangular ou quadricular, distan-
crescimento, o sistema de condução, o ciados entre 40 a 50 cm.
controlo de pragas, a capacidade produ-
tiva do solo e o tipo de nutrição a imple- As densidades médias de plantação em
mentar. pomares organizados de figueiras-da-
-índia, quer sejam em quadrícula ou em
O desenho da plantação pode ser feito sebe, rondam as 800 a 1.000 plantas por
em quadrícula ou em sebe, sendo este hectare. Devem ser evitados espaçamen-
último o que tem uma utilização mais tos curtos por favorecerem o desenvolvi-

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Manual Boas Práticas para Culturas Emergentes A Cultura do Figo-da-Índia

mento de copas densas, que por aumen- fatores limitantes da produção em solos
tarem o sombreamento dos cladódios e com deficiências nutricionais.
diminuírem a eficácia do controlo de pragas
e doenças, exigem podas mais frequentes O azoto é o nutriente mais limitante desta
e intensas para que não exista uma diminui- cultura estando principalmente presente
ção da produtividade da exploração. nos cladódios mais novos e férteis. Contudo,
se este existir em excesso em cladódios de
Por último, as linhas de plantação devem 2 e 3 anos promove o crescimento vegetati-
estar de preferência, orientadas de Norte vo em excesso, levando a um aumento de
para Sul, devendo os cladódios ser planta- custos, diminuição da fertilidade, baixo
dos com as faces das plantas orientadas desenvolvimento da cor da fruta, e a um
para a entrelinha, no caso da sebe. Esta ori- amadurecimento desequilibrado dos frutos.
entação permitirá que a exposição solar do
cladódio durante o dia seja máxima. A concentração de nutrientes nos cladódios
varia em função da densidade de frutos e
8.5 - Fertilização da posição e idade dos cladódios. A carência
de nutrientes afeta o metabolismo da planta
Os elementos nutricionais influenciam a provocando um efeito negativo da produ-
fenologia vegetativa e reprodutiva da tividade e da qualidade dos frutos. Antes
figueira-da-índia, a produtividade e a de se realizar a fertilização da cultura é ne-
qualidade dos frutos. De entre os vários cessário ter em consideração as análises ao
elementos nutricionais o azoto, fósforo, solo e ao cladódio terminal. Na tabela abaixo
potássio, cálcio e magnésio são os principais estão apresentados os valores normalizados
para as análises ao solo e ao cladódio terminal.

Valores normalizados para as análises ao solo e cladódio terminal

Parâmetro Solo Norma Cladódio Terminal Norma (% MS)


0-2 anos - 0,6-0,8
pH 6,7-7,5 Azoto (N)
> 3 anos - 0,9-1,3
Fósforo (mg/kg) 20-30 Fósforo (P) 0,1-0,3
Potássio (mg/kg) 80-100 Potássio (K) 30-70
Cálcio (mg/kg) > 400 Cálcio (Ca) 2,0-4,5
Magnésio (mg/kg) 100-150 Magnésio (Mg) 1,0-1,5
Sódio (mg/kg) < 200 Sódio (Na) 0,02-0,03
Manganês (mg/kg) 30-70
Ca/N 4,0
K/N 3,4
N/P 4,5
Ca/Mg 3
Fonte: FAO, 2017

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Pensar Global, pela Competitividade, Ambiente e Clima

As aplicações de nutrientes sob a forma entre 300 a 600 mm. Assim sendo, é
orgânica são preferíveis às formulações aconselhável que em zonas com verões
químicas, por estas serem mais solúveis e secos, a cultura seja regada duas a três
perderem-se com maior facilidade por lixivi- vezes, com cerca de 30 a 50 mm de água,
ação, quer pelas chuvas como pela água de ou diariamente com 1 a 2 mm de água. Estas
rega. quantidades de água são necessárias para
garantir grandes produtividades, obtendo
Para uma fertilização mais equilibrada deve frutos mais pesados e volumosos.
optar-se pela aplicação de estrume, de
preferência incorporado numa faixa próxi- Em zonas onde a precipitação anual é
ma das plantas. Os estrumes com níveis inferior a 300 mm são necessárias regas
elevados de potássio são favoráveis à invernais, de modo a que não ocorra uma
cultura, contudo a aplicação contínua deste diminuição da fertilidade dos cladódios e o
tipo de estrumes diminui o pH do solo, atraso no abrolhamento primaveril.
efeito que pode ser controlado com a aplica-
ção de cálcio. Para além dos aspetos relacionados com
os quantitativos de precipitação anual e
A aplicação de fertilizantes deve realizar-se durante o verão, outros fatores a ter em
no final do inverno, quando ocorre o início consideração para definir as necessidades
do desenvolvimento ativo da planta. As de rega na cultura da figueira-da-índia são
aplicações efetuadas, fora desta época, são a tecnologia de produção e o sistema de
realizadas para atingir outros objetivos, rega. De modo a obter as produtividades
como por exemplo, a aplicação de azoto esperadas durante a segunda época de
após a colheita de verão permite a obtenção produção, são necessárias duas irrigações,
de uma segunda colheita, no outono. de 50 a 80 mm, durante o período de
desenvolvimento do fruto, em plantas em
8.6 - Rega scozzolatura.

Como mencionado anteriormente, a Os métodos de rega mais indicados para a


figueira-da-índia é uma cultura muito cultura do figo-da-índia são a microas-
resistente à seca, contudo para que exista persão, que permite atingir uma ampla área
um desenvolvimento ótimo do fruto é de rega utilizando baixos volumes de água
necessário que a quantidade de água e custos, e a rega gota-a-gota, que deve ser
durante o período de desenvolvimento do muito bem monitorizada para que não ocor-
fruto, proveniente de chuva ou rega, seja ra lixiviação de nutrientes e o aparecimento

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de putrefações nas raízes. A utilização de 8.7 - Poda


sistemas de rega por alagamento deve ser
evitada, por promoverem a lixiviação dos A poda da figueira-da-índia tem como
nutrientes do solo e a putrefação das raízes. principais objetivos aumentar a área de
exposição solar, facilitar operações cultu-
Para além dos fatores referidos, é neces- rais e controlar o tamanho da planta.
sário ter em atenção ao teor de sal da Consoante a idade da plantação ou a
água de rega, devendo este ser inferior época produtiva, podemos ter diferentes
a 25 mol/m3. Caso isto não se verifique, técnicas de poda: poda de formação, de
existirá uma acumulação de sódio e cloro frutificação, de manutenção e de rejuve-
nas raízes e de cloro nos cladódios. nescimento.

A poda deve ser realizada no início da


O QUE DIZEM OS PRODUTORES: primavera ou no final do verão, evitando
períodos frios e chuvosos, que promo-
Apesar de serem plantas com uma
vem o aparecimento de putrefações e
capacidade extraordinária de sobre-
escamação dos cladódios. A poda ape-
viverem em condições difíceis e impos-
nas deve ser realizada no verão quando
síveis para outras plantas, nomeada-
o objetivo é estimular o crescimento de
mente em termos de altas temperaturas,
verão ou para a eliminação de cladódios
poucos nutrientes e carência de água,
que estejam sobre cladódios férteis, de
para se desenvolverem adequadamente
modo a aumentar a exposição solar
e produzirem fruta de qualidade na quan-
destes.
tidade esperada, necessitam de nutrien-
tes em conformidade e água na altura e
Poda de formação
na dose certa.
Assim o uso correto da fertilização e rega
A poda de formação realiza-se durante
são determinantes para se atingirem os
o primeiro ano após a plantação e tem
níveis de produção esperados e deseja-
como objetivo direcionar o crescimento
dos para esta cultura, que em Portugal
vegetativo, de modo a que a figueira-
andam na ordem das 20 – 30 ton /ha. No
-da-índia cresça da forma desejada, atra-
sentido de se maximizar a capacidade
vés da eliminação dos cladódios que se
instalada é recomendável fertilizar, pelo
desenvolveram virados para baixo,
menos uma vez por ano, devendo o(s)
horizontalmente ou na base da planta,
tipo(s) de fertilizante e respetiva(s) quan-
e através da condução das plantas em
tidades serem fundamentadas nos resul-
sebe ou em vaso.
tados das análises de solo, que devem
ser realizadas anualmente.
(Nuno Pires, 2017)

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Pensar Global, pela Competitividade, Ambiente e Clima

Se cultura for conduzida em vaso, devem Poda de manutenção


ser deixados 2 a 3 cladódios por planta de
maneira a obter uma forma arbórea. Os Os principais objetivos da poda de manu-
cladódios que se desenvolvam lateralmente tenção são permitir a penetração de luz no
junto ao solo devem ser eliminados. interior da copa, expondo o máximo núme-
ro de cladódios à luz solar, facilitar opera-
Na condução da cultura em sebe devem ções culturais, como a poda de frutificação,
manter-se 3 a 4 cladódios por planta. Os scozzolatura e colheita, e otimizar a quali-
cladódios que cresçam no interior da copa dade dos frutos.
devem ser retirados.
É nesta poda que são eliminados anual-
Poda de frutificação mente os cladódios virados para o interior
da copa, para baixo ou os que cresceram
A poda de frutificação ou monda, tem como junto ao solo, permitindo, apenas, o cres-
objetivo diminuir a carga frutífera dos cimento de dois cladódios filho por cladódio
cladódios para que os frutos produzidos mãe, em cladódios que não estejam em
obtenham o peso, tamanho e qualidade frutificação. Deve ser mantida uma relação
impostos pelo mercado. Nos primeiros dois entre o crescimento vegetativo e repro-
anos da exploração, deve ser favorecido o dutivo em que o número de novos cladódi-
crescimento vegetativo das plantas. Assim, os terminais seja adequado para a produção
a poda de frutificação deve ser realizada do ano seguinte. Os cladódios com 2 ou
com vista à eliminação de todos os gomos mais anos, onde já não se verifique atividade
florais ou frutíferos. vegetativa e que já tenha havido produção
de frutos devem ser eliminados de modo
Nos restantes anos da cultura, através desta a promover a renovação da planta.
poda devem manter-se entre 6 a 8 frutos
por cladódio, sendo a quantidade ótima de Para além disso, deve realizar-se uma poda
frutos por cladódio encontrada em função de manutenção com vista a manter a altura
do histórico da plantação em causa, que é das plantas adequada à realização da
determinada fundamentalmente pelo clima apanha da fruta de uma forma rápida e
da região, exposição solar, tipo de solo, nu- confortável, sem que exista necessidade
trientes e água. Esta poda pode ser realizada de recorrer, por exemplo, a escadotes.
através da eliminação dos gomos florais,
sendo que a altura mais aconselhável é des-
de a floração até à segunda semana após
o aparecimento dos primeiros frutos.

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Manual Boas Práticas para Culturas Emergentes A Cultura do Figo-da-Índia

Poda de rejuvenescimento

A poda de rejuvenescimento é feita em


plantações envelhecidas ou fracas onde
existe senescência da copa com diminuição
ou oscilações no rendimento. A poda de
rejuvenescimento é realizada através do
corte a 50 cm de altura deixando entre 3 a
4 cladódios de suporte bem espaçados.
Após a poda de rejuvenescimento a planta
demora cerca de 2 a 3 anos até nova
frutificação.

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9 - Pragas e Doenças
Manual Boas Práticas para Culturas Emergentes A Cultura do Figo-da-Índia

9 - Pragas e Doenças

9.1 - Pragas

As principais pragas que afetam a cultura do figo-da-índia são:

Inimigos (Nome vulgar) Nome científico Código OEPP (Bayer)


Pragas
tripes Neohydatothrips opuntiae 1NHDTG
percevejos Chelinidea tabulata CHEETA
Dactylopius coccus DACLCC
cochonilha Dactylopius ceylonicus
Dactylopius opuntiae DACLOP
escamas blindadas Diapsis echinocacti DIASEC
Cactoblastis cactorum CACTA
polias
Laniifera cyclades
Archlagocheirus funestus LAGOFU
escaravelhos Metamasius spinolae SPPHSI
Cylindrocopturus biradiatus 1CYLPG
moscas Ceratitis capitata CERTCA
formigas Hymenoptera formicidaeTenuipalpus pu 1FORMF
Fonte: FAO, 2011

9.2 - Doenças

As principais doenças que afetam a cultura do figo-da-índia são:

Inimigos (Nome vulgar) Nome científico Código OEPP (Bayer)


Doenças
mancha bateriana Erwinia carotovora sp. Carotovora ERWICA
esfoladura da coroa da palma forrageira Agrobacterium tumefaciens AGRBTU
podridão moderada Candida boidimi 1CANDG
podridão dos caules Armillaria mellea ARMIME
gomose Botryosphaeria ribis BOTSRI
Phytophthora cactorum PHYTCC
podridão do colo
Phytophthora nicotianae PHYTNN
mancha dourada Alternaria sp. ALTESP
murcha Fusarium oxiporum f. sp. opuntarium FUSAOP
Phyllosticta opuntiae
escamas ferruginosas 1PHYSC
Phyllosticta concava
podridão algodoeira Sclerotinia sclerotorium SCLESC
mofo cinza Botryotinia fuckeliana BOTRCI
Fonte: FAO, 2011

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Pensar Global, pela Competitividade, Ambiente e Clima

Para cada uma destas pragas e doenças


tanto o diagnóstico como os tratamentos
deverão ser elaborados por técnicos especi-
alizados na cultura, dado que consoante as
características climáticas e edáficas das
explorações, as recomendações de trata-
mento poderão variar.

O QUE DIZEM OS PRODUTORES:

Se for efetuada uma correta manutenção


do pomar o risco de doenças ou pragas,
atualmente em Portugal, é muito re-
duzido.
Como tal é uma planta que, em Portugal,
se adequa perfeitamente ao modo de
produção biológico. O grande perigo
poderá vir efetivamente de plantas im-
portadas. Contudo, dada a grande oferta
nacional de vários viveiristas autorizados,
este risco poderá ser reduzido ou mesmo
eliminado.
(Nuno Pires, 2017)

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Manual Boas Práticas para Culturas Emergentes A Cultura do Figo-da-Índia

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10 - Colheita
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10 - Colheita após a colheita, os frutos devem per-


manecer à temperatura ambiente, numa
A colheita dos frutos é realizada manu- zona ventilada, durante um ou dois dias
almente durante o período noturno até para que o tecido do cladódio retirado
ao início da manhã, altura em que há uma na colheita seque e caia durante a opera-
maior facilidade do corte, maior resis- ção de seleção. Durante a colheita os
tência a danos, maior manutenção da operadores devem utilizar luvas grossas,
turgência dos tecidos do fruto e em que óculos de proteção e roupa adequada.
os gloquídios apresentam-se mais húmi-
dos e presos ao fruto. Após a colheita, independentemente da
técnica, é realizada uma operação de
Um dos parâmetros que permite aferir eliminação dos gloquídios, normalmente
do estado de maturação dos frutos para com recurso a escovadoras e uma sele-
a colheita comercial é a mudança da cor ção com base no calibre dos frutos princi-
da casca entre 80 e 90%. Se a colheita for palmente aos que se destinam ao consu-
realizada no estado de maturação com- mo em fresco. Os frutos devem ser arma-
pleto dos frutos, estes estão mais susce- zenados entre 6 a 8°C e com humidade
tíveis a danos de manuseamento, o que relativa entre 85 a 95%. Nestas condições
irá reduzir drasticamente o tempo para o tempo de conservação dos frutos varia
ser comercializado. entre 3 a 8 semanas.

A colheita pode ser realizada com recurso Como a maturação dos frutos não é
a diferentes técnicas. Através de giro ou simultânea, por estar dependente do
torção, técnica que causa danos ao fruto momento em que ocorre o abrolhamen-
e que é sobretudo utilizada quando o to e a floração, a colheita pode ocorrer
produto se destina a transformação. Por durante 60 a 90 dias, ou mais e nesse
corte rente à inserção, através do qual período deve ser realizada todos os dias,
se obtém frutos com baixo tempo de no sentido de se apanharem os frutos
conservação só devendo ser utilizada no estado correto de maturação. Em
para consumo ou venda imediata. Portugal, a colheita dos figos-da-índia
Finalmente, por corte de um pequeno ocorre entre os meses de julho a outubro.
pedaço do cladódio ligado ao fruto. Esta
técnica é a mais utilizada para a comer-
cialização de figos-da-índia por proteger
a porção basal do fruto, aumentando o
tempo de conservação. Nesta técnica,

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11 - Produção Integrada e Agricultura Biológica
Manual Boas Práticas para Culturas Emergentes A Cultura do Figo-da-Índia

11 - Produção Integrada muito sensíveis, impondo por vezes a


certificação como condição de entrada
e Agricultura Biológica
dos produtos.
As questões relacionadas com a preser-
vação ambiental, manutenção da biodi-
versidade, sustentabilidade no uso dos
recursos naturais e responsabilidade so-
cial, impulsionadas por uma cada vez
maior consciencialização/exigência por
parte dos consumidores, têm sido os
grandes motores do crescimento da
agricultura biológica e da produção
integrada.

Em Portugal, a produção de figo-da-índia


tem ainda uma fraca expressão, sendo
de 830 hectares a área dedicada a esta
cultura, segundo dados de 2017 da Visão.
Dadas as características da planta, é uma
cultura que se adapta bem ao Modo de
Produção Biológico, sendo um método
que está a ser utilizado pela maior parte
dos produtores de figo-da-índia em
Portugal.

Sendo notório o crescente interesse por


parte dos consumidores, em que ao
aumento do consumo de figo-da-índia
se associa um estilo de vida saudável, a
opção por sistemas de agricultura mais
sustentáveis, como o Modo de Produção
Biológico podem ser opções cada vez
mais interessantes.

Por outro lado, a obtenção de certifica-


ção em Modo de Produção Biológico,
permite acrescentar valor, uma vez que
os mercados do Norte da Europa são

46
Bibliografia
Manual Boas Práticas para Culturas Emergentes A Cultura do Figo-da-Índia

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Pensar Global, pela Competitividade, Ambiente e Clima

Bibliografia

Alves, José C. R., (2011). Perspetivas de utilização da figueira-da-índia no Alentejo:


caracterização de Opuntia sp. no Litoral Alentejano e na Tapada da Ajuda e estudo da
instalação de um pomar, Dissertação para a obtenção do grau de Mestre em Engenharia
Agronómica, Universidade Técnica de Lisboa – Instituto Superior de Agronomia, 110 pp.

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Fruto. Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), 101 pp.

Fole, Francisco J. A., (2014). A Cultura da Figueira-da-índia (Opuntia ficus-indica (L.) Mill)
no Alentejo – Estudo de dois compassos de plantação. Dissertação para a obtenção do
grau de Mestre em Agronomia. Instituto Politécnico de Beja – Escola Superior Agrária
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Inglese, P.; Basile, F.; Schira, M., Chapter 10: Cactus Pear Fruit Production, em: Cacti -
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Oliveira, Francisco T. (2008). Crescimento do Sistema Radicular da Opuntia ficus-indica


(L) Mill (Palma Forrageira) em Função de Arranjos Populacionais e Adubação Fosfatada.
Dissertação para a obtenção do grau de Mestre em Zootecnia, Universidade Federal
de Campina Grande – Centro de Saúde e Tecnologia Rural. 91 pp.

Oliveira, L. (2017). Portugal por dentro – O Alentejo onde tudo se mexe. Revista Visão,
ed. 1269, junho.

49
Associação dos Jovens Agricultores de Portugal
Rua D. Pedro V, 108, 2º | 1269-128 Lisboa
Tel. 213 24 49 70 | [email protected]
www.ajap.pt

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