Ricupero, Rodrigo. A Formação Da Elite Colonial

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A form ação da elite colonial

Brasil c. 1530 - c. 1630

Roozuco Rrcuppno

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larueda
Copynghr O 2008 Rodrlgo tucupero

Eciicáor Joana \f onteÌeone


Assìsrente cdi¡o¡ial: MariLia Ch¿r-es
Projero grá1ìco e diagramaçã-o: Pedro Henrique de Oliveira
Revìsáo: Gab¡rcia Chetri tic Freiras e Joaua \llorreÌeonc
Capa: ntpø. y'o Esrddo lo Bru¡íl \1631) in.,,LBER\AZ, Joáo'I:ixcir¿ E¡tay'o rlo Br¿si!
coligido c/a: unls ærøs :tatícìi. qt!¿ ?o//¿ tta?),¿r D. Jerônìtno /'e Aøirle (16i1). tuc
tìe Janeìro: No"a Frontcir:., 1997.

Ricupero, Rodrigo
Ä iormação da eÌite colonial: Brasil, c.1530 c.t630 / Rodrigo Ricupe-
ro. São PâLìlo : A1ameda,2009.

Incluì bibliografia
tsBN 973-85-9E125 34-2

1- B¡asil - Histó¡ia Pe¡íodo ColoniaÌ, 1500-1822.2. Brasil - Con-


ciiçoes econômicas- L Titulo.

CDD:981.01
CDU:9418i)"

Todos os direiros dessa eciiçáo rcser"ados à


AL\'\IEDA CASÀ EDI:I-ORIAL
Rua lperoig, 3i I - Perdizes
CEP 0i016-{J00 - Sáo Paulo - SP
1èÌ. (l r) 3862,08t0
*rrrl'.alamedaediro¡ial.com. b¡
bUMARIO

A¡rres entaçáo

Íntrcduçáo

Parte I F{oNÀqs E rlreRcÊs


1. P¡ênio e castigo
2, Sen'icos e iecompensas

Farte II Coxqr,,rsrA È col€Rlio


3. Conquista e fixacâo 93
4- A administraçáo colonial 127
5- Os agentes da Coroa 1i1

Parte III T¡ruu, rnq¡aruo E PoDER


ó. Governo e patrimônio t7j
7. A máo-de-obra indígena 207
8- O patrimônio fundiário (i) 243
9. O patrimônio fundiário (II) 281

Considetacóes finais

Referências bibliogrrífi cas 323

Agradecimentos 391
Não sei por que prìncíPia, oa que îtxzá.o Pode ltaucr entre as conqui;tas destas duøs ixdi¿s

Orietxtait e Ocid,e tulis, que o prêmio que sc d.eu aas conqaìstddotes de umas

foì o trabalho de conqaistd.r as luttu'.s.


Frei Jaboatáoì

Frei An¡ónio de Sanra Malia.la6oatão. Notn Orbe Senifu (1761),2'ed ' 2 panes em 3
r-ols. Rio deJaneiro: Insntuto Histórico e Geográñco Brasilerro, 1858, vol. I, p 134.
Apresentação

J-\ esde que pensado¡es da década de 1930 ¡efleti¡am sobre as diferenças da inser-
L) cao das regióes d.a Améri.a no p¡ocesso capitalista, tornou-se Praxe Pensar es
colonizaçóes inglesa e ibérica a partir dos modelos de exploraçáo e de povoamentor.
No caso do B¡asil, a fo¡ma dominante, baseada na grande lavoura de exportaçáo
e no esc¡avismo, fez com que o foco da exploraçáo fosse o mais usual, permitindo,
sem dúvida, entender as linhas mais gerais da economia, nos primeiros trezentos
anos de nossa histó¡ia-
O papel proeminen¡e de uma elite colonial residente, porém, semPre esteve
presence nas conside¡acóes dos auto¡es. Funçáo patriarcal, pala Gilberro Freyre, em
parte endossada por Caio Prado Jr.r. Ca¡acterís¡icas feudais da colonizacão, antes
apontadas por Varnhagen e Capisrranoi, foram realçadas por Nesror Duarce que
destacou esse papel do privado na articulaçáo dos colonos com a Co¡oaa.
Raymundo Faoro, ao Ênal da década de 1950, a partir de uma análise weberia-
na, tomou o patrimonialismo como elemento fundance da reiacáo entre as elites e a
Coroa portuguesat. Mais tarde, com Evaldo Cab¡al de Melo, a açuca¡ocracie Pern¿m-
bucana saiu do complexo da Casa G¡ande 6¿ Senzala e exerceu papel preponderante

Essas categorias basearam-se nas formulaçóes de P Leroy-Bealieu. De k colonï


zatian chez les perples modetnes. Paris, i874 e fo¡am urilizadas por Caío Prado
lí.nior. Euoluçáo Polític¿ do Brasì|. São Paulo: Brasiiiense, i933; Gilberro Freyre,
Cas¿ Grandt ei Scnzala- Rio de Janeiro: Maia & Schmidt, 1933; Sé¡gio Buarque
delJolanàa- Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1936 ,\ ótica foi ¡e-
tomada em Celso Furtado. Formaçao Econômica do Brasil. Rio de Janeiro: Fundo
de Cultu¡a, 1958; Fernando Ant onio No'tais- Portugal e Brasil na Crise do Antigo
Sistema Coloni¿|. Sáo Paulo, Hucitec, 1979
Gilberro Freyre, Op.ci..; C^io Prado Júnior' Formaç,io do Brasil ContemPor';n'o'
Sáo Paulo: Martins, i942.
F¡ancisco Adolfo de Yartltagen. Histtíria geral do Brasil (1854), 5' ed Sáo P'llÌ"'
Melho¡amen¡os, 1956. Capistrano de Al:,reu- Capítulos de h*tóri¿ colonial (7907),
2' ed. Rio de Janeiro: Sociedade Capistrano de Abreu, 1934.
Nestor Dua¡¡e.l ¿¡l¿ m priuada e a arganizaçiio polítìca nacìonal 2" ed Sáo Pâu-
lo: Companhia Editora Nacional, 1966 (l^ ed. 1939).
Raymundo Faoro. Os d.onos do poder, 2 vo7s.,9' ed. Sáo Paulo: Globo, 1991 (1"'
ed- 1958).

9
Rodrigo Ricupero

na ûegociaçáo de espaços políricos com a Coroa Portuguesa6. Florestan Fernandes, em


t¡abalho de sínrese, apontou, além dessa relaçáo polírica, a arriculaçáo genética entre a

Monarquia Portuguesa e seus vassalos, na cons.ruçáo do Império. No caso do Brasil, o


manejo da dominaçáo, nos planos econômico e poÌítico-milira¡ dependeu da presença
de vassalos ¡esidenres, face visível da Metrópole, que em troca de benefícios, no jogo pa-
¡¡imonialism de honras e mercês, levaram a cabo a empreirada coloniali.
Nos anos 1990, na ótica da desconsrruçáo do papel do Esrado, estudos que re-
novaram a hisrória política incidiram sua ateûcáo para o papel das elires coloniais,
sublìnhando o espaço de autonomia e quase independência desses grupos nos espaços
imperiâis porrugueses. Essa aromizaçáo da análise desracou os mecanismos locais de
exploraçáo, a formaçáo de redes mercancis e de poder que se movimenravam dent¡o das
diversas parces do Impé¡io, deixando de lado os escudos sisrêmicos da colonizaçáos.
Tomando os primeiros cem anos de ocupacáo efetiva do Brasil, ent¡e 1530 e
1630, Rodrigo Ricupero mostra, em minuciosa pesquisa empírica, os mecanismos de
montagem da exploracáo, que, embora náo planejada pela Coroa Porruguesa, efelivou,
a partir de meados século XVII, as esrruturas e dinâmicas de um verdadeiro Sìsrema
Colonial. Ao mesmo rempo em que sobreleva o papel dos colonos, desvenda a ¡elacáo
ín¡ima e tensa enrre a Coroa e esses vassalos..A análise da ocupacáo dos domínios de
Portugal da América ganha complexidade e especifrcidade através da articulaçáo entre
povoamenro, defesa, produçáo e administracáo, na origem do poder dos primeiros
colonizado¡es. Ulcrapassando a rígida caregorização povoamenro /exploraçáo, o estudo
destaca o papel da Iìxacáo de populaçóes desde o século XVI, indicando, nessa especi-
ficidade, os elementos de formaçáo dos grupos dominanres- Aocorados na rríade rerra,
c¡abalho e poder, os colonos colonizado¡es constirui¡am-se em agen.es da dominaçáo
por¡uguesa: ocupando cargos, parricipando da conquisra e da defesa do re¡¡iró¡io, usu-

i-- Ë""ì¿" C^¡r"f æ ¡'¿.f"rc /ìn¿!a rest¿.tnad¿. Rio de Janeiro: Forense, l97j; R.rúro
ueí1,3o ed. Sáo Paulo: Alamed¿, 2008.
7 Floresran Fe¡nandes. Cirørito fechado. Sáo Paulo: HLrcirec, 1978. Para o auror, cra-
rava-se de "Coroa pobre, mas ambiciosa em seus empreendimentos, (e que) procura
apoio nos vassalos, r,inculando-os aos seus obierivos e enquadrando-os às malhas das
estruturas de poder e à bir¡ocracia do esrado pa¡¡imonial", assim "sem ess¿ associacäo
(entre a Coroa e os colonos) náo haveria nem império colonìal porcuguês nem econo,
mia de plantaçáo no Brasil (...) O colono de ¡¡¿¡øs senho¡ial náo só e¡a o vassalo e o
represenranre da Co¡oa na Colônia: ele era, simultaneamenre, a base mareriai visível
e a máo a¡mada invisível da existência do Império Colonial" ( p. 34 e 44).
8 Joáo Fragoso, Ma¡ia Fe¡nanda Bicalho e Ma¡ia de Fárìma Gov'êa. O Antìgo Regime
nos Trópitos. Rio de Janeiro: Civilizaçáo Brasileira, 2001; Ma¡ia Fe¡nanda Bicalho,
"Elires coloniais: a nobreza da rerre e o governo das conquistas. Hisró¡ia e hisro,
riografia" in: Nuno Monrei¡o, Ped¡o Ca¡dim e Mafalda Soares da Cunha (orgs.).
Optima, Prrs, elites Ibero-Atneriunas d,o Antigo Regime. Lisboa: Insti¡uto de Ciéncias
Sociais,200j.
A formaçáo da elire colonial 11

f¡uindo, em troca, da concessáo de te¡ras, do t¡abalho do indígena e da interlocuçáo


privilegiada com a Monarquìae. Essa "acumulaçáo primitiva colonial"' ba-
"e¡dadei¡a
seada na obtençáo de sesma¡ias, na esc¡a.'idáo dos índios, na ¡esisrência e negociacáo
com a Coroa, construiu, na prática, um sistema de colonizacáo, cujas possibilidades de
luc¡o comercial atraíram os inreresses de outras potências européias.
Neste livro, avançando na perspectiva do Antigo Sistema Colonial' o autor disse-
ca seus processos de montagem e consolidaçáo, desvendando seus agentes e indicando
temporaÌidades e espaciaÌìdades da colonìzação. O amplo e diversificado corpo docu-
mental, que inclui arquivos europeus e brasileiros, cronistas' legislaçáo, correspondên-
cias, regimentos, ¡evela em minúcias a formaçáo e consolidacáo da elite colonial e os
nexos. no caso do B¡asil, entre a necessidade de estabelecimento de colonos, a defesa e
a exploraçáo mercantil. O diálogo erudito e aprofundado com a historiografia' por sua
vez, conduziu a longa pesquisa, pautada na discussáo e revisáo de conceitos e permiriu
a fluidez do ¡elato, dentro de perspectivas ¡eóricas sólidas e fundamentadas- Apresenta,
assim, uma análise de conjunto, nuançando as visóes dogmáticas que reduzem o pro
cesso de colonizaçáo à exploraçáo, ao papel do Estado mercantilista ou à subjetividade
dos agentes coloniais.
Desraque-se na elaboraçáo deste trabalho o diálogo com os pesquisadores da Cá-
tedra Jaime Cortesáo, junto ao Projeto Temá¡ico FAPESP Dimensões do Império Por'
zgzás. Nestes anos de orientaçáo e de convír'io intelectual, benefrcieì-me da pesquisa e
re{ìexáo de Rodrigo Ricupero, retomando airtigas perspectivas de pesquìsa, avançando
em novas ânálises, rer,endo conceiros, incorporando abordagens-

Sáo Paulo. novemb¡o de 2008

Ve ¡a Ferlini

Vera Lucia Amaral F erljnt. Tcn¡, tabø/ha e poder. Sáo Pauio: B¡asiliense' 1988 '
Introdução

\ Jo processo de colonizaçáo do B¡asilj, a Coroa utilizou-se da iniciativa par-


I\ ,i.ulrr. rr.l, se apoiou. buscando, porém, sempre seu controle- Se, na pers-
pectiva do Esrado conremporâneo, essa situacáo pode servista como fragilidade,
à época, no processo de formaçáo do Estador, tai política constituiu hábil recùrso:
a Co¡oa utilizava ¡ecursos humanos e financeiros partìculares para viabilizar seus
projetos, sem que lhe coubesse nenhum ônus, cedendo, em troca desse apoio,
terras, ca¡gosl ¡endas e ¡ítulos nobiliárquicos.

Aqui cabe um esciarecimento sobre a urrlizaçâo do rermo B¡asil empregado em rodo o


rrabalho. Na rotal;dade da documentaçáo compulsada, as terras que os Porrugueses Po-
voâram no continente, depoìs conhecido como América, e que posteriormente form¿¡i¿m
no século XIX Lrm Esrado Nacional, chamado BrasìÌ, eram designadas, no período por ncis
esrudado, como, a cosra do Brasil, as terras do Brasìl, as partes do Brasil, ou simplesmenre
Brasil, o que indìcava o reconhec;menro de uma unidade geográ6ca, que, depois, num
plano polirico-admrnist¡atir-o receberia a designacáo de Estado do Brasil,
América ou Américâ porruguesa, etcecáo, sålvo engano, feìra a algumas passagens do
Padre Vieira, em que este se refere à,A.mé¡ica no sentido de parte do mundo, nas demais,
por ourro lado, utilizava na maio¡ia das \¡ezes o rermo BrasìI. Nesse sentido, parece-nos
adequada a utilizaçáo do termo Brasil, sempre le'ando em conta que náo se deve confun-
di¡ o "B¡asil" dos documentos do período, ou seja, o "Brasil' da colonizaçáo Portuguesa,
como o ''Brasil" do século XX e que, aiém disso, a cìrada u¡idade geográfica, por um
lado. e polírico âdminisr¡ativâ, Por ourro, náo implica necessariamente qLre ral área de'-e-
ria rornar se conseqùentemente um Esrado nacional. Assim, embora concordcmos com as
obse¡vacóes de Fernando Novåis, optamos Po¡ náo adotar o termo 'América Porruguesa'
Sob¡e o assunro, r'er Fie¡nando Novais, "Condiçóes da Prì.acidade na Colónia", ìn: Lau¡a
de Mello e Souza (Org.), Coti¿ia a e uì¿11 Prrr)al¿' lr Améiú Poûuga¿¡¿. Sáo Paulo:Com-
panhia das Letras, 1992 p- 17 (1'Volume da coleçáo História da Vida P¡ivada no R¡asil
dirigida por lernando Novais).
Iernando Novaìs destaca esse aspecto de o Esrado moderno encontrar-se em Processo
de formaçáo no periodo. "Condiçóes de Prìvacidade na Colônia", in: Lau¡a de Mello
e Souza, Htcóri¿ da Vid¿ P¡a,aì¿ no Brasí1. Sao Paulo: ComPanhia das Letras' 1992
p. 15. Ver também Ântónio M. Hespanha, As uésperas do Letiathan' Op ¿?t, em que
qLresriona a ráo falada cenrralizaçáo do Esrado, mosr¡ando, na verdade, as di6culdedes
da cenrralizaçáo do poder e da conversáo dos funcronárìos régios em
poder real.

I3
14 Rodrigo Ricupero

Nas ter¡as da Amé¡ica, a política de troca de serviços por mercés ocorreu, em con-
texros diversosi, desde a época das Capitanias Heredirárias até o período do Reino Uni-
do, quando detento¡es de posros esrarais consrruíram grandes fortunasi. Já no primeiro
século, tal arranjo evidenciou-se na procura pelos vassalos de recompensas por seus servi-
ços, as chamadas "honras e me¡cês", ráo freqüentes nos documentos da época.
A lógica da .roca de serviços por mercês foi utÌlizada pela Monarquia desde a
reconquista no próprio Reino e depois po¡ ¡odas as larirudes e longitudes de seu Impé-
rio, porém, graças às especiâcidades de cada local, esra lógica conrribuiu para moldar
sociedades dife¡en¡es-
Exemplo disso é o caso da capitania de Sáo Paulo, analisado por Ilana Blaj, que
observou como "por meio da discribuiçáo de mercês e honrarias, cargos e rerras, bas€
para o presrígio e o poder da elire, a Coroa consegulu os présrimos de seus leais vassa-
los, reforçando a sua própria auroridade e forralecendo, igualmente, a dominaçáo, em
âmbi¡o local, das principais Famílias pauliscanas"i.
Àssim, chama a.encáo, rÌa hisró¡ia coloniaÌ b¡asiÌei¡a, o imbricamento entre as
esfe¡asdo público e do privado, refìetindo-se na relaçáo, confusa muita vezes, eût¡e o
Estado e os parricularest'. Para Fernando Novais, rais inscâncias "já náo esráo indistin-
ras, mas ainda náo esráo separadas"i, deforma que podemos corÌsrarat po¡ um Ìado, a
Coroa repassar tarefas, que arualmenre sáo iminentemente públicas, a particulares (por
exemplo, adminisrraçáo de rerrirórios ou cobrança de imposros) e, por ourro, as pessoas

Vários hrsrorì?.dorcs já ale¡¡aram sobre o perigo de se ¡rabalhar a colônia como um grande


bloco, aoulando drle¡enças espaciais e r€mporais, corno veremos abaixo; em cada momenro,
essa polirica reve suas especificidades e drlerenas objerivos.
Ve¡ Ma¡ra Odila Leire da Silva Dias, I 1¡¡¿¡¡¿ rizaç,io tla Metrtlpole e o¿ttros e:tados. Sâo Paúo:
Alameda, 2005, p. 27 e.A.lcir I-enha¡o, Iqa: da Moderaçãa. Sáo PaLrlo: Símbolo, 1979. Esse
auror na página 68, quelì6ca essa política de execuçáo dc serviços públicos por parriculares
em ¡¡oca de bencficros de polírica da barganha".
llanaB\a1, A trnnn dds 77¡só¿s. Sáo Paulor Hunanitas, 2002, p. 342.
Ve¡ :s consideracóes sobrc os rermos pzíl1lco e priuatlo apontadas por Sheila Ëari¿: -Cor,
trapor somenre prir'ado ao público, encendcndo poL público o que se rcíèrc só ao Esrado é,
creio, basranre complicado. Se pensarmos que a palavra pirblico' rambém, e pri,rcipalnence,
reÌnere ao espâco coñum, de rodos...". Sheila Fa¡ia, C¿lôù¿ e¡t Mouinten¡o Rio de Janeìro:
Nora F¡onrei¡a, 1999, p. 337. Ver na mesma obra o irem O PúbÌico e o Prir-ado sem Limires"
a parrir da página 385.
Fernan<lo Novaìs, Op. ùt., p. 16. Esæ debate pode ser enconuado a¡nda nos lir-¡os dc trIa¡co
An¡ônio Silvei¡a, O Uniuer:o do Indistin ¿. Sáo Paùlo: Hrcirec, 1997
Júnia Ferreira Fur-
e de
raào, Op. tít. Como exemplo dessa indisnnçáo, veja-se o caso do uso do parrimônjo d¿ Co¡oa
pclo rei para gasros pessoais e o uso de recursos próprios do monerca para gasros do Reino.
Joaquìm Romero de Magalháes, Op cír.. p.90.
A formaçáo da elire colonial 15

que ocupavam cargos na estrutura administrariva os utilizarem em benefício próprio8,


esse aliás e¡aum comportamento esperado. Por out¡o lado, a Coroa, por sua vez, es-
pe¡ava que, por exemplo, os detento¡es dos cargos dessem conta das tarefas exigidas,
inclusive a¡cando com a própria fazenda, ou que a concessão de determinado posto
estivesse vinculado a alguma obrigaçáo que exigia gastos de recursos pessoaise.
Conseqüentemente a aruaçáo direta da Co¡oa só oco¡¡ia em situacóes exrremas
ou na perspectiva de benefícios seguros, como no caso, já no início do processo de
colonizaçáo, de a Coroa ¡esetvar para si o pau-brasil, riqueza concreta, com o a¡ren-
damento de sua exploraçáo- A exploraçáo de me¡ais, ainda desconhecidos, poderia ser
concedida, mas reservava-se ao tesou¡o régio a possibilidade de cobrança do quinto-
Somenre quando a concinuidade da presença de Sáo Vcente a Pernamhtrco esteve
ameaçada, na década de 1540, a Co¡oa se fez presente na criaçáo do Governo-geral
Tanto ances como depois da criaçâo do Governo-geral, dificilmente algum pro-
jero régio deixava de conter promessas de honras e me¡cês, desde grandes empreen-
dimencos. como expediçóes de busca de metais ou campanhas bélicasr0, até questóes
mais específicas, como o incentivo da produçáo de certos gêneros agrícolasrr ou a busca
de soluçóes para certos problemas fiscaisi2.

Um alto funcìonário qLre prerendia enriquecido para a metrópole só reria problemas se


"oltar
mexesse no dinhei¡o da Co¡oa ou se enr¡assc em choque coro o conjunro dos moradores mais
importantes. Ver o capítulo "O Agosto do Xumbergas", que discute a dcposiçáo do governa-
dor Jcrônimo de Mendonça Furtado em Etaldo Cabral de Mello' A Fronla do: Mozanbos
Sáo Pauìo: Companhia das Let¡as, 1995. Uma discussáo sot're a idéia de corrupçâo po¿e ser
enconrrada. em particular, na páglna 146 de S ruanSchvalv. Buronacia e Sotied-¿dc na Brasil
Colaaia/. Sâo Pa:ulo Perspecriva: 1979
\.jr 'e pôr e\emp.o. q l ll dc lor rug; l quer;a q.le o eon'elho d¿ inl; ' '"u-
ndo o rei Fil;pe
besse de Ântônio Ca¡doso de Bar¡os, 6lho de Cristóváo de Barros' qüe PL€iteava a nom€àç'o
para a capitanìa dc Scrgìpe. o gue cle se olcrecra para lazer em beneficio dessa e que se rnfor-
masse ainda se ele tinha fazenda suficiente Cl "Cana para o Bispo D. Ped¡o de CasriÌho'
vice-reÌ de Portugal" de 31 de ourub¡o 160i. Biblioteca de Ajuda de Lisboa. códice 5t-VIII-
0Z "Cartas de Sua Majesrade para o Bispo Pedro de Cas¡ilho". fl. t9i vol
Por exemplo. a conquista do Ma¡anháo e o acordo com Gabriel Soares de Sousa, rcmas que
seráo desenl.oh,idos adiânte.
exploraçáo da bauniÌha foi estìmulada por meio de carras régias' escrins em 1680 e 1684
,A.

Ci Roberro C. Srmonsen, Hitóïi,z EQ ónìtz1 do llr¡:ít.8" eà. Sâo Peuìo: Companhia Editora
Nacional. 1978, p. 372.
Em 1796, o hábito da Ordem de Cr;sro loi prometido como prêmio, peìa Raìnha D Marìa
I.aos ve¡cadores das Cârna¡as qLre aponrassem as meihores soluçóes para a substiruiçáo do
imposro do salsen comprometer as receiras do erário régio' anos depois os vereadores de Sáo
Paulo reclamavam o prémìo de seìs hábitos da Ordem de Cristo ao secre¡ário dc Fs¡ado D'
Rodrigo de SoLLza Coutinho. Cl. M1rìam Ellis, O Monopólio do Sal no Eca¿lo ¡t-o B¡as;Ì Sio
Paulo: USP, 1955, p. 17i e 188.
16 Rodrigo Ricupero

Os monarcas, em sua co.respondência ou instruçóes, incentivavam tal po-


lírica, solicirando informaçóes para possíveis me¡cês e orien¡ando, ainda, os go-
vernado¡es a info¡ma¡em os vassàlos do con¡encamen¡o da Co¡oa com os servicos
prescados'j.
Muitas vezes, o rei enviava cartas de agradecimento ou de soliciração de servi-
cos diretamerte aos moradoresr4. Em carta a Lourenço Castanho Taques, o mona¡ca,
após referir-se à lealdade desre como hon¡ado vassalo, afirmou: "me pareceu por esra
mandar-vos agradecet e segu¡ar-vos que ¡udo o que nesre particular (as expediçóes de
descob¡imenro de metais) ob¡asre me fica em lembrança para folga¡ de vos faze¡ toda
mercê quando rrateis dos vossos requeriaenros"rt. Coincidenremenle, alguns poucos
anos depois, as minas táo ambicionadas fo¡am encontradas pelos paulisras.
Outro aspecto dessa polícica, de que a Coroa náo deirava de lançaÌ mão, era o uso po-
lítico dos prêmios distribuídos, como, por exemplo, no sécu1o XVIII, quando numa carta
enviada ao governador da capitania de Minas, D- Lourenço deAlmeida, o monarca conce-
dia ao seu represenranre a "faculdade para faze¡es promessas de algumas mercès e tenç¿s em
meu real nome (...) quando vos for preciso para conseguirdes a quietaçáo dos povos"ì6.
O funcionalismo, dos dois lados do oceano, também percebia a imporrância
dessa prárica. Na mecrópole, o Conselho lJlt¡ama¡ino procumva atende¡, na medida
do possível, âs promessas e os pedidos, evitando que os requeren¡es yohassem ao B¡a-
sil "sem se¡ hon¡ados", mesmo que parcialmente, o que poderia se¡ um deses¡ímulo,
como, por exemplo, durante a guerra com a Holanda'7.
Na colônia, para ficarmos aqui em poucos exemplos, podemos citar a opiniáo do
governador de Sáo Paulo, Anrônio Paes de Sande, em 1692, que qualificava os paulisras
de "ambiciosos de honra"'s. Our¡o funcioná¡io régio, o sargento-mor Diogo de Cam-

Ver, por exemplo, o seguince trecho do "Regìmenro de 1588 do governador-geral Francisco


GnaIàes": "para que os moradorcs e maís pesoas q"-e me senem nas ditas p¿ies falgae? de o fazeî
nn n-ilado e mtifquex rye com as infonnaçóe: Erc ne
diligencia que conaén hei por ben que lhe
enuiardes los que ne ben semlrern ot manlarei despachar como houuer por meu sentço ....".Pu.bli,
cado em Documentos para ã ht,¡óúa ¿a a7,raL 3 vols. Rio de Janerro: IÀ{,1956, voL l, p.376.
Veja as várias carras de D. Pedro II de Ponugal aos paulistas, reproduzidas por Pedro Taques.
Notluas das Minas de Sáo Paula. (Século XYIII). Sáo Pâuio: Marrins, 1954.
"Carta d'el-rei para Lourenco Casranho Taques" de 20 de ourubro de 1698, publicada por
Pedro Taques, Op. cit., p.85.
Cf. Reuista do Arquiro Públîo Mineiro, i979, ano 30, p. 129-30. Em
manda que se reguÌasse na o¡dem dos hábitos e na quanria das tenças segundo os merecimen-
ros e graduaçóes dos conremplados.
Cleonì¡Xavìe¡ de Albu q)eryue, A ïemu11¿raçào zle seruiços da guerru hol¿rulesa. RecÍe tJFPE,
1968,p 15. RessaÌre-se aqui que esre uabalho pioûeiro éo único esrudo b¡asilei¡o dedicado

Cl. Pt'¿Io P rado, Pat¿li¡tica. Sáo Paulo: Ed;rora Monteiro Lobaro, 1925, p. 98.
A formacáo da elite colonial 17

pos Moreno no Liuro que dá razáo ¿o Estuda do Brasil, espéc\e de relató¡io de 1612,
rratando das possibilidades de desenvolvimento da capirania da Bahia, aû¡mou "ram-
bém para isto se¡viráo muito as hon¡as e mercês de Sua Majesrade que nåo cusrarem
fazenda, para dar ànimo aos mo¡ado¡es ¡icos a faze¡em muiros" engenhos de açúcarre.
Os governadores e outros funcionários náo só solicitavam ao rei benesses para si
próprios ou para dete¡minados indivíduos2o, mas, como represemanres régios, distribu,
íam eles próprios, de aco¡do com suas possibilidades, diferenres ripos de recompensas,
posteriormente confi¡madas pela Coroarì, Exemplo disso era a ve¡ba, esripuiada em
regimento22, de que os governado¡es dispunham para agraciar lir.remente os servido¡es
que achassem por bem, contudo nem essa verba nem as demais possibilidades eram su-
ficientes para atender a todos, daí o lamenro de Diogo Borelho, numa carta ao capitáo
do Rio G¡ande: "folgara muito de ter poder de Sua Majestade para poder fazer muitas
mercês e mais larguezas a todos seus vassalos morado¡es neste Esrado, mas náo me deu
(o rei) mais de mil cruzados para poder despender em me¡cês e assim reparro"2i.

Diogo de Campos Mareno. Líura 4ue dá razão da Estado do Brasr¿ (1612). Recife: UFPE,
l955, p. 139. Boxer destacaessa opiniáo ao chamar atençáo para o fato de que os governadores
"fazíam lembrar a Coroa que ... a distribuic,ão le hlis rercmpertas lc?rerentaria a melhor c mais
barato meio de garantb... "a duvidosa lealdade dos poderosos do senáo. CharlesBoxer. Idad¿
dc Oaro do BrasiÌ (taàucáo), 3" ed. Rìo deJaneiro: Nova Fronterra, 2000, p.327.
Ver os pedidos de mercês ferros por Mem de Sá, em seu testamento, em falor dos 6lhos, do
sobrinho Saivador Corrêa de Sá e dos criados. "Tescamen¡o de Mem de Sá" de 1569, publica-
do em Documentos para a Históli¿ ¿o Açúcar, Op. cit.,vol.lII. p.12.
Difíci1 oáo lembrar que o primeìro pedido de uma ".nercê" de "nosse história" veio no finâl
da cana de Caminha em 1500. Ver Jaìme Corrcsâo, A C¿rta r/e Pero V¿z àe Caminh¿. Rio de
Janeiro: Livros de Portuga,l, 1943, p. 241.
"Regimenco de Tomé de Sousa" de 17 de de¿embro de 1548, publicado por Carlos Malheiro
Dias (D1r.), Históri1t ¿a Colonizacáo ?orø'.guesa do Br¿sí|,3 vols. Pono: LitograÂa Nacional,
1922, vol. IlI, p. 345 (Citada daqui em diante apenas como lllst¡jria da Colanlzar;¡ Pn,t*-
gue:a da Brasil); em Mârcos Cerneì¡o Mendonca (org.), R¿'?es da Formaç,ão Alministratiua
do Brasil, 2 vols. Rio de Janeiro: Instituto Histórico e GeográGco Brasilerro, 1972, I, p- 3i
e, cnrrc our¡as ediçóes, destaqÙe-se a mais recenre leirura do documenro por Susana Münch
Miranda. prbììcada na já cnad,a revisra, Mare Liberum, lt-, p. 13. Ou, ainda, no de F¡ancisco
Gi¡aldes, Ci "Regimenro do Governador-geral do Brasil" de 8 de março de 1588, publicado
nos Doa-mentos para a Hi*ória do Açúcar, Ap. dt..wL1,376.
"Relaçáo de AmbrósÌo de Siqueira da Receira e Despesa do Ðstado do B¡asil" de 1605,
pÃ1iczð;t nz Reùsta da In*ituto Arqueclógico, Histririca e Geagrlífco Peruanb cano, vol. 49,
1977. p. 174. As ca as de D. Joáo de Casrro. qu¿rro vice-rei d¿ india. mosr¡¿m rambém as
dì6culdades dos goverrìanres em conrenrar a todos, ávidos por honras e riquezas, ranto que clc
se.é "perseguido pelos homens, dos quais uns the pedem dinheiro, out¡os ofícios e e
'iagens,
eJeainda náo tem 5 pâes c 2 peixes pâra 5000 homens, nem merecimen[o pâra Nosso Senhor
fazer miìagres por ele"- Este mesmo governador organizou um livro pârâ reg;s
pensas feiras após o segundo cerco de Diu, "Liwro das mercés que fez (D. Joáo de CastrQ aos
18 Rodrigo RicuPe¡o

Po¡ our¡o lado, os vassalos Portugueses, ao desembarcârem na Amé¡ica, náo


abandonavam seus quadros mentais, oriundos de uma sociedade esramental: se nobres,
buscavam garanrir seus privilégios, se plebeus P¡ocuravam se enob¡ecer' Os hábi¡os
das o¡dens milita¡es do Reino, em parricular o da O¡dem de Cristo, e out¡os títulos,
como de cavalei¡os ou fo¡o de frdalgo eram amplamenre ambicionados e Ìargamente
dist¡ibuídos como recompensa pelos mais variados serviçost¡- Mesmo índios recebe-
ram o hábiro da O¡dem de Cristo, por auxiliarem os portugûeses, como, por exemplo,
o índio batizado Mar¡im Àfonso, premiado por Mem de Sá em 1560rt ou. Posrerior-
menre, o lamoso D. Äntônio Fiìipe Camaráo, capitáo-mor dos índios nas guerras com
os holandesesro.
Denrre as concessóes possír'eis, sem dúvida, a terra ocupava o papel cen¡ral No
dizer de Floresran Fe¡nandes, "as concessóes de sesmarias demarcavam as estrururas
de poder que não podiam nem deviam ser desrruídas, como condiçáo histórica para
manrer â esrrarilìceçáo esramental que se¡via de base social à existência e ao fo¡taleci-
menro do Escado patrimonial"rT, concrerizando a aspiraçáo senhorial dos vassalos que
emigravam para o BrasiFs.

homens que serviram el-rei Nosso Senhor no cerco de Diu", pubhcado ûa Hist¡i'ri¿| Q inhen-
îìtt,z (itú¿¡tu) ¿o seg do cerco tu Diu, prelaciada por Ànrónro Baiáo, Coinbra: imprensa da
Universìdade, t92Z p. 296 e seguintes.

Após conquisra do Rio deJaneìro, Mem de Sá concedeu o título de cavaÌeiro para o piÌoro
a
Manoel Gonçalves, que seria conÊrmado posieriormenre por D- Sebâsriáo, mesmo Procedì-
menro revc Crisróváo Barro após a conquista de Sergipe. CL "Cana régia de D. Sebastiáo"
de 16de julho de 1561. Cf. Joaquim Veríssimo Ser¡áo, O Rio y'.eJaneirc uséc oXVI,2rcIs.
Ljsboa: Comissáo do IV Centenárro do Rio de Janeiro, 1965, vol. Il, p 48 e Frei Vicente do
Sa.l"-zdor, Hi:¡ória do Bra:íl 't627).5" ed. Sáo Paulo: Melhoramentos, 1965, p. 302 Para o
século XVII, ve¡ os Lnúme¡os casos de títu1o e hábi¡os concedidos aos combatenres nas guerras
conr¡a os holandes.s, reunidos por Francisco de Àssis Carvalho Fral'co. Nobilítíria Coloùdl'
2'ed. Sáo ?aùÌo, Inriruro Genealógico Brasilei¡o, sem data.
Simáo de Vasconcelos, Crôniu da Cotnpaahía de Jesu:, 2 ':oIs. Petópolis: Vozes, 1972 vol. II,
P.45.
Ver "Cana Régia para Matias de,{ibuquerque" de 14 de maio de 1633 em que o rei dizr "Hei
por bem de the lazer mt¡cê do hábiro da Ordem de Cristo com quarenra mil réis de rend¿s e
que se lhe passe parenre de capitáo-mor dos índìos potiguares com oulros quaren¡a ñil réiç .le
soldo ... c se ihe dé Lrm brasáo de armai', publicado porJosé Ànronio Consalves de trIeÌlo. numa
brochura in¡i¡r¡lada "D. rtnrôrro Filipe Camaráo", p. 6, clue lor reunida posreriormente com
ourras biografias, mantendo, conrudo, a paginaçáo original de cada uma deLas. José Anronio
Gonsalues de Melio, R¿stau¿lore¡ ¿le Pern¿¡,'b'az. ReciÍè: lmprensa Unìve¡sitária, L9ó7
Florcs¡an Fe¡nandes. Op. ùt-, p.34. Para uma visáo geraÌ das sesmariâs,
CosaPorrc, Enr¿io sobre o:í¡tern¿ se¡ma¡i¿l. ReciÊ: UFPE, 1965.
Ra,"mundo Faoro rambém desracou o papel que a terra e os cargos váo desempenhar na
translerênc¡a da ordem esramenral portuguesa para o BrasiÌ. Raymundo Fao,o, Os Dono¡ lo
Po¿l¿r,2 vols., 9' ed. Sâo Paulo: Globo, 1991, ?¡tsshn.
A formaçáo da elite colonial

Os pedidos de sesma¡ias aponram a relaçáo entre a corcessáo das te¡¡as e se¡-


vìcos, .já presrados ou futuros: a participaçáo na conquista da regiáo, o comba¡e aos
índios e a outros povos eu¡opeus ou a ¡ealizaçáo de obras públicas eram iembrados nos
pedidosre. Por ourro lado, a posse da terra poderia permitir posrerior acesso a ca¡gos
municipâis ea outros posros do funcionalismoìû.
Desde o período inicial da colonizaçáo, os ca¡gos no funcioralismo eram pedidos
ou dados como ¡ecompensa a se¡vicos p.esrados. Bom exemplo disso foi após a expul-
sâo dos holandeses em 1654, a ¡ese¡va dos cargos da área ¡estaurada como prêmio para
os resrauradoreslr . AIém disso, a grande dive¡sidade de oficios, inclusive os da lereja, de
rendimento e importância vâ¡iados, permitia contemplar indivíduos de todos os níveis,
pror.ocando muìtas vezes dispuras por esses postos.
Os cargos e¡am dist¡ibuídos pelo rei, em particular os mais importantes, em
geral pelo período de ¡¡ês anos, mas também peÌo governador-geral ou pelo bispoi:,
por orlr¡os funcioná¡ios régios, como o p¡o\redor-mor e o ouvidor-geral, ainda pelos
capitáes-mores das capitanias ou outros fúrcionários meno¡es. Nestes casos, a provisåo
e¡a tempo¡á¡ra e o ¡ei deve¡ja ser consultado, para que confrrmasse, ou náo, às nome-

29 Ve¡ erempios en Daisy Abreu, I


Terr¿ e ¿ Lci. Sáo Paulo: Rosni¡a Kempf, 1983, p. 45. Os
combarentcs quc destruíram o quilombo de Palmares rambém de.-eriam ¡eccbcr ter¡as co¡no
recompensa. \¡er Luiz Felipe de Alencastro, O ¡r¿to dos uírentes. São laulo: Companhia das
Lerras, 2000, p. 239. Para uma descricáo das negocraçócs antes e depois da conquista dc Pal-
mares enrre os bandeiranres e o govcrno coloniai, ver Cosra Pono, Op cít.,p.144 e Ldison
Carneiro, O Qtilotnbo dos ?almarcs. Rio de Janeiro: Ci\'ilizaçáo Brasileira, J966, p. 121 c

seguinres.
30 Daisl'Âbreu. Op cit., p.47.
31 Ver Cleonir .{lbuqucrqc, Op. rir., pas:ím e Ê"aldo Cabral áe l'lello, Rubra 1t"¡¿.3" eê..
Sáo Paulo: Ahmeda, 2008, p. 120. Já em 1633. os cargos do F-stado do Brasiì eram, por
decisáo régia, proridos apcnas ¿os "qr.e na dìta gacrra (conrra a Hoianda) asrlrdrm efzeren
n¿r¿cime¡t¡as". Contudo, os prêmios, no caso cârgos, podìam ser em áreas distaDres. 2\çinl
várìas figuras imporranics da guerra holandesa tarnbém loram agraciadas com postos im'
portanres na Álrica portugucsa, corno Joáo Fc¡nandes Vìeira e André \¡rdaì de Negreiros,
goleroadores dc Ângola, rer José Antonio Gonsal"es de L4ello, Jo,lo Fern¿n/e: Vieìra,2
vols. Recife: Imprensa Universi¡á¡ia, 1967,II. p.165 e 194 e Lurz Fehpe de Alencastro, O¡.
tit., p.271-3.
A Igireja na colô¡iâ pode ser considcrada um ¡amo da adr¡ìnis¡¡acáo réeia, tema que rctoma-
rcmos adjan.e- Àssim, o Bispo rambém vai te. um papel rele.ante no pror imento de cargos,
particularmenre em Sahador, ¡á que a consrìruiçáo do Cabido da Sé em Salvador prcr ia a no-
meaçáo de váríos postos eclesiásticos, amplìando cm muito a es¡rutìr¡a eclesiástica å¡E cntáo
70 Rodriso Ricuoe¡o

açóes feiras di¡etamente na colônia, mas, dadas as dificuldades das comunicaçóes, tal
con\uìrã poderi¿ lev¿r ano. para obter um¿ resPosra .
Às rendas, como as famosas tenças, tinham importância maior em Porrugal, mas
eram pouco comuns para os vassalos aqui estabelecidos nos primeiros tempos Muiros,
porém, já as haviam ¡ecebido em Portugal e acabavam por receber no Brasil, havendo
para ranro insrruçóes para o registro des¡as nos livros do provedor-mor, Para seu pos-
rerior pagamenro. Por our¡o lado, como.já apontado, os Governadores-gerais possuíam
verba em dinheiro para dist¡ibuir como recomPensas.
Pedidos de mercês e rencas e¡am comurts nas ca¡tas enviadas ao rei, como, por
exemplo, as de Afonso Gonçalves de 1548 e a do licenciado Manuel de 1550i4, em que
esre lembra ao ¡ei da "mercê que me prometeu fazer (pelo bispo de Sáo Tomé) pedindo-
Ihe eu uma terça dos dízimos desta igreja (...)" entre outros pedidos. Além das tenças,
eram freqüentes os pedidos de oficios, dignidades eclesiásticas, ajudas de custo, isençáo
de impostos, ent¡e outras coisas-
No periodo filipino, o acordo ent¡e a Co¡oa e Gab¡iel Soa¡es de Sousa é exem-
plo interessante dessa política, por reunir uma sé¡ie de prêmios. Por ele, o moqarca
concedia uma sé¡ie de di¡eitos e privilégios a serem Postos em prática após a con-
quista da regiáo do Sáo F¡ancisco, onde se espe¡ava encontrar metais preciosos. Caso
a expediçáo houvesse sido bem sucedida, Gab¡iel Soa¡es de Sousa poderia nomear
funcionários, disr¡ibuir determioado núme¡o de cítulos nobiliárquicos entre oûtras
vanragensit-
Os exemplos podem ser mukiplicados para todas as áreas e para todo o período
colonial e mosr¡am como a Co¡oa se urilizou da distribuiçáo de: cerras, títulos nobili-
árquicos, cargos, lencas e ourras me¡cês, como insrrumentos para vincula¡ os vassalos
aos seus projetos- Com a criaçáo do Governo-geral, como vimos, esses ins¡rumenros
passaram a ser merejados também a parrir da própria colônia, pelo represenrance do
sobe¡ano, embo¡a, ao iìm e ao cabo, as concessóes dependessem de posterior confir-
maçáo régia.
Os vassalos, é claro, procuravam meios de merecerem ¡ais "hon¡as e mercês"-
Assim, é comum enconrra¡mos moradores, por exemplo, armando, por sua própria
conta, caravelas conc¡a os f¡anceses no Rio de Janeiro ou, ainda, no início do XV]I,

Raymundo Faoro diz que'Ìodos os cargos elevados - que davam nobreza ou quaÌificavam
origem aristocrática-, como os cargos modesros hauriam a vida e o calor do tesouro, direta-
menre vinculado a vigilância do soberano'l Raymundo Faoro, Op. cít., p. 84.
"Car¡a de ÂÊonso Gonçalves" de 10 de maio de 1548 e "Carra do licenci:do ManueÌ a el-¡ei"
de 3 de agosro de 1550, prblicadas na História àa Colanizaç,io Portuguesa do Brasil,voI.lIl, p.
317 e 3i9.
Ver docnmenros publicados porJaime Corresão em Pauhce¿e Lustuna Monum¿nta Hl¡torlca,
2 romos em 3 vols. Rio de Janeiro: ReaÌ Gabinere Ponuguês de Lei¡ura, 1956-61, romo I,
p.407 e seguinres.
A formação da elite colonial

o¡ganizando e financiando expedicóes de exploracáo ou de combare a quilombos,


com objerir.o de possíveis ¡ecomperlsas, embo¡a também p¡ocu¡assem obte¡ vanra-
gens mais imediaras.
É evidente que rem semp¡e as promessas e¡am mantidas: a distância e o acesso
à co¡re, afalta de conratos influenres, a r¡oca do sobe¡ano poderiam signiÊcar a perda
das recompensas prometidas. Â documentação do período é pródiga em solicitacóes
de cumprimento efetivo de promessasiG. Me¡cês concedidas foram, por vezes, perdidas
e reconquisradas, como aresra a vida de Ped¡o Taques, auror da famosa Nobilìarquia
Paulitt¿ a Histórìcl1. e Genealógica, marcada por essas lurasiT.
A colonizacáo do Brasil pode ser analisada por meio da divisáo de ¡a¡efas enrre
a Coroa e os vassalos. Num primeiro momenro - com as capitanias hereditárias , a
Coroa esteve quase ausente do processo de ocupacáo. Com a ins¡alacáo do Governo-
Geral em i549, com a c¡iacáo das capitanias da Co¡oa em fins do século XVI e início
do XVII, com a ¡eromada das capitanias privadas enrre os sécuÌos XVII e XVIII, a
Co¡oa foi assumindo, gradativamente, papel cada vez maior. sem, rodavia, abandonar
o importante auxílio dos dive¡sos yassalos.
As tarefas ¡ecessá¡ias para a colonizaçáo das novas terras, porém, só podiam ser
assumidas por vassalos com recursos. Já no início, denr¡e os donatários, descacavam-se
homens enriquecidos no Orienre, como Duarre Coelho ou Francisco Pe¡eira Couti-
nhois. Os se¡vicos a serem prestados exigiam recursos, mas os prêmios ¡ecompensa,
do¡es estimulavam novos empenhos em escala crescenre. A lógica era que o dinhei¡o
gasto r.oltaria mukiplicado em dive¡sas me¡cêsle. No Brasil, a disrribuiçáo de sesma-
riâs, ao reforca¡ o poder econômico, rambém pe¡miri¡ia ou faciliraria a presraçáo de
novos se¡\'iços. E¡a a forma de constiruir uma eli¡e detentora de recursos, proprietária
de te¡¡as e de escravos, engajada e comprometida com o processo de ocupacáo e que
fornecesse os quadros para adminisrraçáo colonial¿o.
Assim os chamados homens-bons eram agentes da dominaçâo e membros do
grupo dominante colonìal'i. Esse processo, eo âssoclar a elite ao governo, além de

"Carta de Fiìipe Guilhem" de 20 de julho de 1550, publicada na Hî¡óría da Colonizaç,4o


Pornquesa, do Bra:í|. tol. III, p. 359.
37 Ver a inrroducáo de Afonso Taunay na cirada obra dc Pedro'Iãques.
3B Pcd¡o de Azer-edo, "Os primeiros donarários", in: Hì'îóríã da Colonizøçáo Portuguesø do
Bra:tl, val. III, p. l94 e214.
39 Joáo Lúcio de,{zevedo, Op. cít., p.105.
40 Os capitáes-mores das ordenancas deveriam ser escolhidos cnrrc os principais da terra e pos-
suirem "grossos cabedais". Ve¡ Nanci Leonzo, 'As Companhias de Ordcnanças na capitania
de São Paulo". ìn: Colecáo MuseLr Paulisra Série Hisrória vol. 6. Sáo Paulo: Universidade de
Sáo Pâulo. 1977
Vera Lúcìa Ama¡al Ferlìnt,,4çicar e Colonizaç,to (D¿ Am¿rlca poÍuguesa ao Br¿sil: Enst¿ios d,e
inttrpretzçi:o). SáoPaulo: FFLCH-USP, 2000. (T€sc de Livre-Docência), p. L
22 Rodrigo RicuPero

dividi¡ entre a Coroa e os vassalos, relorçeva os laços de so-


as ta¡efas da colonizaçáo
lida¡iedade, garantindo a Êdelidade desses à merrópolear. Enfim, "a eli¡e econômica'
loÍûava-se, desse modo, a elire social e governamental'{j
Em meados do século XVI, ent¡etanro' ainda náo havia eli¡e econômica impor-
tanre a se¡ associada ao Governo-geral recém-criado. Nesse momento de montagem do
processo <ie colonizaçáo, o acesso a cargos e benefícios foi a base de consolidaçáo do
parrimônio econômico, possibilirando constiruiçáo dessa elite. Um cargo, mesmo do
a

baixo escaláo, favorecia a integraçáo desses homens na eltle que se estara fò¡mando O
caso de Garcia Dávila exemplifica a ¡¡oca de serviços variados prestados à Coroa por
rerrasr cargos e títulos. Primei¡o feito¡ do A¡mazém Real de Salvado¡, Ga¡cia D'Ávila
recebeu terras na capicania da Bahia, dando início ao maio¡ latifúndio de nossa histó-
ria colonial, posteriormente conhecido como Casa da To¡re!]
A proximidade com o poder permiria ao funcionário maior lacilidade para ob-
tençáo de te¡¡as, escravos e outras vantagens. Além disso, a maioria dos funcioná¡ios
recebia o¡denados, nem semPre Pagos em dinhei¡o, mas que Permitiam a obtençáo de
c¡édito ou mesmo o escambo com os índios, conseguindo força de trabalho, manti-
"proes
menros e mercado¡ias, Our¡os cargos cinham seus emolûmentos, os chamados
e precalços". O juiz da balança da alfândega recebia um real por quiotal de pau-brasil
pesado; os provedores, 29o das rendas da capitania; os escriváes das provedorias, 190, o
que permitia, segundo Frei Gaspar da Madre de I)eus, que esses concentrassem a m¿ior

42 Como nos lembra Ilana B1aj, a elire coLonial Pã¡ticiPou "âtivrìt¡enre da empresa colonial,
inregrando-se nurna vâsca rede de fa.'ores e deveres na qual preponderava ¿ comrr¡h¡o de
ìnrcresses conÌ a Coroa. ConjunruraÌmente as relaçóes poderiam ser ¡ensas . - mas' eslrucu-
ralmenre, náo existiam dìvergências, pois o qu. preponderava eram os ideais dc un unn erso
esramen¡al-cscravista", Cl ILana Blaj, Op ctt., p.342
Vera Lúcia Cosra Àcrolì, Jurt:r'içäo e confíras. Recrte: Ed. UFPE e lvlaceió: Ed UFÄL' l99Z
p. l Cabe desracar ainda que por ''elire" enrendcr¡os Lrma minoria derentora do poder econô-
mìco e polirico, ou seja, o setor dominanre, no caso, da sociedade colonral Sobre o assun¡o,
veja+e Maria Ferna-nda Brcalho, "Elites colouiais: a nobreze da rer¡a e o governo das conqu is-
ras. Hisróriâ e hisroriogralìa", in: Nuno \{onrei¡o, Pedro Ca¡dim e Maíalda Soa¡es d¡ Cr¡ nha
(orgs.). Optína Pars, ¿t¡¡¿s lbero-Aneríc¿¡tøs do Anriga Regime Lisboa: Insri¡tto de Ciéncias

Sociais, 2005, p. 73 e scguìnres- Para a discussáo mars ge¡alsob¡e o tema' ver Norberto Bo-
bbio: "F-li¡es, reori¡ das", in: Idem et aIIi. Dícion¿río ¿lè Palític¿ 7 ed. Brasília: Ed. t-'NB,
r99i.
Ver Pedro Calmon, ,Éy'¡ sróùt da Cø¡ø ¿la Torre. Rio de laneìro: José Ol¡'mpio, l9i8 ou o re-
cenrc livro de Luiz .{lbeno Moniz Bandei¡a, O Feùo. F.io de lneiro: Civilizaçáo BrasÌleira'
2000. À chamada Casa da Poore, consrdcrada como o segundo maior latilúnciio, também tem
uma origem semelhante, começando com as terras recebidas por Ântôûio Cuedes' ¡aheliáo de
Salvador, logo nos primciros rempos da crdade
A formaçáo da elire colonial 23

parte do escasso nume¡á¡io que circuleva oessas partes do Brasilat e nas capìcanias
mais desenvolvidas, como Pernambuco e chegassern em alguns momenro\ e a aringir
o¡denados altíssimos, comparár,ris aos dos cargos mais importantes da adminiscraçáo.
A isro, acrescenre-se que todos os cargos conravam com ce¡.os privilégios e liberdades,
o que numa sociedede marcada por valores estamentais e¡a de suma imporcância.
A participaçáo na administraçáo facilitar.a, sem dúvida, a inserçáo nas atividades
econômicas, lais como comé¡cio de pau-brasil, exploraçáo agrícola e construçáo de
engenhos, e permiria assim a formação de grandes parrimônios, como, por exemplo,
os de Mem de Sá e C¡istóváo de Bar¡os que se tornaram senhores de engenhos e de
esc¡avos.
No século XVI e início do XVII, uma parcela imporrance da elite colonial foì fo¡-
mada em virtude de sua participaçáo no governo da conquisra, o que reria permitido
a consolidaçáo de um parrimônio, que, por sua vez. garanriria a execuçáo das rarefas
exigidas no processo de colonizaçáo. Em períodos posteriores, te¡íamos uma ln\€rsáo,
com a elite colonial já constituída fornecendo os quadros para a administraçáo.
O período de constituiçáo da elite colonial, a partir da pa¡ticipaçáo na admi-
nrstraçáo, re¡ia ocorrido, grosso modo, de 1530 - inicio da colonizaçáo de fato - até
meados do século XVII. Nesse período de conquis¡a e consolidação da costa atlântica,
entre Sáo Vìcente e Belém do Pará, cada erapa de avanço serviu para o fo¡ralecimento
da elite colonial em formacáo, que se firmou ao aproveitar a possibilidade de ocupar
novas terrasr de obte¡ esc¡avos indígenas ou de ocupar novos cergos.
Tal processo de formaçáo da elite, que combina acesso a cargos, obtençáo de
me¡cês e consolidaçáo de patrimônio, já se delineava a pa¡rir de 1530, mantendo-se
nessa dinâmica aré 1630, ou seja, coincidindo com o processo de conquisr¿ e ocup¿çáo

da fachada arlân¡ica. Náo se trata, porém, de me¡a coincidênciâ, se levarmos em conta


que a colonizaçáo por¡uguesa na Amé¡ica se iniciou pela necessidade de efetiva ocu-
paçáo e defesa do território que coube à Co¡oa de -Avis pelo Tratado de Tordesilhasrr'.
Dessa forrna, as próprias soluçóes administrâtivas adoradas (indiretas, pelas Capitanias

"O dinhciro vinha do Rei¡o, e pouco: quase todo ia parar nas raáos dos ministros, Párocos e
o6cìais de justiça, e po¡ esra razáo e¡am ofícios cáo estimados, que muìtos Fidalgos e pessoas
nob¡es da ¡erra serviam de escriváes e tabeliáes". Frei Gaspar áa Madre àe Deus. M¿¡ntjrias
p,7/ã a hi\tóri¿ ¿â üpítania àe S,1o Vicente. (1797), 4" ed. Sáo Paulo: Edusp e Bclo Horiz-onre:
Iraria.ia.1975, p.87.
Caio Prado Júnior nos lembra que a idéìa de povoar eleti.-amente as novas áreas dcscobertas
não es¡ava nas inrerìçóes dos po!'os curopeus, contudo, dada a ìmpossibilidade de Lrm co-
mércìo signi6catiro com os nativos das te¡ras americanas, diferenremente do que ocorreu no
Orienre, o povoamenro e, em seguida, a organizaçáo de esrruturas produrivas foram a soluçao
enconrrada para garanrir a posse das no.as áreas, que acabariam se inserindo no comércio
europeu, dentro do contexto da colonrzaçáo mode¡na. Cl Caio Prado Júnlor, Forn¿úo do
Bmsil Cantcmporánea. Sáo Paulo: Ma¡¡ins, 1942, p. 17 e seguinrcs.
24 Rodrigo Ricupero

He¡editárias, ou di¡etas, pelo Governo-geral) bem como o P¡ocesso produtivo que se


consolidou foram ge¡ados no conrexro inicial de ocupaçáo e defesa
Os dois movimen¡os - de formação da eli¡e colonial e de conquisra e consoli-
daçáo da fachada atlântica - fo¡am paralelos e complementa¡es. E, dado que a neces-
sidade de defesa do ¡er¡iró¡io recém-conquistado exigia o povoamenco e a instalaçáo
de uma esrrutura produtiva, pode-se apontar que a dinâmica colonial, nos moldes do
chamado Antigo Sistema Colonial, es¡rlttutou-se nessa etaPa
ÀÊnal, ao contrário de ouc¡as á¡eas, a colonizaçáo nas Partes do Brasil inicia-
se a parrir de inrenções políricas, ou seja, a defesa da posse do re¡¡itório, ¡endo nas
arividades econômicas o meio Para garantir este fim. Rapidamente, o meio to¡nou-se
o fim, dando ao processo o que Caio Prado Júnior chamou de "sentido da coloni-
zação", ov, em out¡as palavras, a exploraçáo dos ¡ecu¡sos nacu¡ais em proveito do
1t.
comércio europeu
Tal exploraçáo de recu¡sos e¡a comandada in loco pelos vassalos, que assumi-
¡am os maio¡es ônus da empresa, gozando, nos mom€ncos iniciais, de uma ampla
gama de liberdades e facilidades oferecidas pela Coroa para at¡ai-los43. O crescimen-
to da imporrância dos negócios do açúcar encaminhou uma série de medidas de
concrole por parte da Coroa que gradativamente transfo¡maram o domínio colonial
em exploraçáo colonialae.
Esra situaçáo - de maio¡ liberdade - foi se alterando ao longo da segunda mecade
do XVI e inicio do XVII, quando uma sé¡ie de decisóes da Coroa, particularmente no
que toca à implementaçáo do "exclusivo" come¡cialto e às ¡estriçóes crescentes à escra-

47 lbi¿e 7, p.25.
4S Ëxemplos disso sáo: a disrrjbuiçáo de rerras sobre es quâis aPenås incidia o dízimo; a ampÌa ii-
berdade de escravizâçáo dos indígenas: a pequenacarga rributária, incluindo mesmo ¿ isencáo
do dízimo por l0 anos para os novos engenhos, a liberdade de comércìo com os estr¿ngeiro5
e a possibilidade de beneÊciamenro dos produtos coioniais na própria colônia. !'eja-se, por
exemplo, MariaJosé M- B. Choráo (Ed.). D¿øçóu eforais àas capitanias do Brusì|, 1534 - 1536
Lisboa: A.rquivo Nacional da To¡re do Tombo, 1999.
49 Sobre o rema, vela-se Fernando Novais, P¿z¡zqal e Brasíl na cri:e do Antigo Sístema Colanial
(17771808), 6" ed. Sio Paulo: Hucitec, 1995, especialmenre a parce I do capirulo II, 'Estru-
rura e dinâmica do Srscema', p. 57 e seguintes. Também Luiz Felipe de Alencasrro, O2 rrr,
parricularmente o primeiro capírulo "O aprendizado da colonizaçáo", p. 11 e scguinces.
iO As resrricóes à liberdade de comé¡cio iniciam-se com a ler de 3 de novembro de liTi de D.
Sebasriáo em lavor dos nâvios porrugueses, mas ganha maior conrundência no periodo lìli
pino com lei de 9 de fer.ereiro de 1591, que vedava a ida de navios escrangeiros sem licença
a
especial aos domínios porrugueses. Em seguida, em 5 de janeiro de 1605, outra lei vrsava
especialmenre ao comércio hoLandês e, por fim, em t8 de março de 1605, Fìlipe ll ordena.a
que nenhum navio esrrangeiro poderia ir à Índia, Brasil, Guiné e Ilhas de Sáo Tomé e Cabo
Verde, bem como todas as ourrãs possessóes, com exceçáo das Ilhas dos Äcores e da Madeirå.
A primeira ea úlrima lei po¿€m ser vistâs em Marcos Carneiro de Mendonça (Org.), ,Rø1zar
A formacão da eliie colonial 15

vizacáo dos índiostr, com o incenrivo paralelo ao r¡áfico de esc¡avos afrìcanos, acabou
por permitir a consolidacão da exploracáo colonialt2.
A exploraçâo, nesses moldes, permitiu que os ganhos gerados no novo mundo fos-
sem, em maio¡ ou meno¡ medida, drenados para o velho mundo, transformando as
novas áreas em colônias, náo no sentido clássico do ¡ermo, mas no mode¡no: do Ancigo
Sistema Colonial, ou seja, o sistema colonial do me¡canrilismo que pressupunha que as
colônias consciruíam um fato¡ essencial do desenvolvimento econômico da meuópolet..
Neste sentido, o período en¡¡e c. 1530 e c. 1630 é o momenro-chave para com-
preendermos estes dois processos combinados de gênese da eiire colonial e de conquis-
ta rer¡i¡o¡ial na fachada atlântica, ambos inrimamen¡e ligados à formaçáo do -Anrigo
Sistema Colonìa1.
Dessa forma, o marco inicial da pesquisa, c. 1530, é o momento em que a política
da Coroa portuguesa de defesa das te¡¡as americanas, que lhe cabiam pelo tacado de
Tordesilhas, dá um sal¡o de qualidade, com a iniciariva do por.oamenro das ¡e¡¡as da
cos¡a do Brasil. Seus passos iniciais fo¡am a expediçáo de Ma¡rim Afonso de Sousa,

da Formaçáo A¿ninit dtiuado Br¿sil.2 vols. Rio deJaneiro: Instiruto Histórico e Geográfico
B¡asilei¡o e Conselho Fede¡al de Cuku¡a, 1972, respecrivamenre, vol.l, p.203 e 367; a lci
de 1591 vem publicada nos Documentos para a Hìstória do Açúcar. Op. cit., rcl1, p. 379 e a
lei de 5 de janeiro de 1605 pode ser consultada no chamado Livro das Leis, .-ol. II, fl. 80 no
Arqurvo Nacronal da Tor¡e do Tonbo. Sobre o assun¡o, r,e¡ ¡ambém Arrhur Cézar Ferreira
Reis, "O comé¡cio colonial e as companhias privilegiadas", in: Sérgio Buarque dc Holanda
(Dir.). A época colonial, ào descobriøento à expllns,io ærritorial,4" ed. S:o Paulo: Difel, 1972,
p. 312 (Tomo I, vol. 1 da coleçáo História Geral da Civiiizaçáo Brasileira, 11 vols.) c Fernan
do Novais, Op. rir, capículo II.
A primeira medida conc¡eta vem com a lei de D. Sebastiáo de 1570 proibindo o caciveiro
dos índios, exceto os tomâdos em guerra jústa. Depois, aré 1630, seguem pelo menos mais 7
leis ou alva¡ás sobre o remå. A lei de D. Sebasriáo de 1570 pode ser visra, entre ourros locais,
na ob¡a ci¡ada de Marcos Ca¡neì¡o de Mendonça,, Op. cit.,vd.I, p. 33t. Pere o assunto, ver,
por exemplo, John Hen;.lr,ing, Red Gold. Czmbridge: Harvard Uni.'ersity Press, i978, p. 15i
e segLrinces e 3i2 e seguinres e José Osca¡ Beozzo, Le* e reginentos das mls¡á¿¡. Sáo Paulo,
Loyola, 1983, que inclui a "c¡onoloeia da esc¡avidâo de índios no Brasil", de Décio Freitas,
em quc csre lisre as leis e alverás sobre o.ema. Além desres, no sérimo capítuio deste trabalho
desenvoh'e¡emos esre assunro.
Náo cabe aqui uma discussáo sobre se as decisóes referen[es à adocáo do monopólio metro-
polirano ou à resrriçáo da escravidâo indigena fo¡am romadas como conseqüência de fatores
e\rr¿-econòmicos, - polirico e rcligio'o ou n:o. m¿. ¿pen¿s ¡€sisrr¿r suâ5 conJeqüérci¡5
para o processo de colonizaçáo.
Ta1 idéia. con¡udo, só âpareceriâ expliciramenre fc¡mulada no século XVIII, como, por
exemplo, no anônimo "Roreiro do Ma¡anháo a Goiás" (século XVIII): ',4s colôníat (..) úo
estabelccida¡ em atilidade d,a netúpole", p'tbllLcado De Reuista ¿o Insttuto Histtînco e Geogruífco
Brasílelro, rcnoLXII. p. 102. Ver ainda, além do livro cirado de Fernando Novais, E1i Hecks-
cher, La Epoca Mercantilísta (.'raàt:.çâo). México: Fondo de Culrura Económica, 1943.
?.6 Rodrigo Ricupero

a fundaçáo da vila de Sâo Vicen¡e em 7532 e a concessáo das chamadas capiranias


hereditárias..A posterior criaçáo do Governo-geral não suprimiu o regime donatarial,
sendo-lhe mui¡o mais uma sobreposição. Além disso, nas primeiras capitanias, já tinha
começado a se forma¡ uma elire local, associada, mesmo anres da criaçáo do Gove¡no-
geral, aos objecivos da Co¡oa e a uma emb¡ionária adminis¡raçáo colonial, lembrando-
se qlle ao rei cabia a nomeecâo nas capitanias de vários cargos' particularmenre os
ligados à Fazenda.
O marco final da pesquisa, 1630 aproximadamente, justi6ca-se por duas ques-
tóes básicas. A primeira, já indicada acima, é que, por volta desta data, a fa ixa Iitorânea
ent¡e Sáo Vicenre e Belém do Pará está, em sua maior parte, incorporada ao processo
colonial porruguês, com a cotseqüente formaçáo de elites locais em cada capitania,
com menor ou maio¡ desenvolvimento, dependendo das condiçóes econômicas, da
importância estratégica ou do tempo de ocupaçáo da regiáo.
Vale lembra¡ que, após 1630, a expansão te¡¡iro¡ial teve outro caráter, pois, já
ocupada a faixa cosceira, di¡ecionou-se rumo ao interiot avançando lentamente ao
iongo de quase coda a segunda metade do sécuio XVII, com a ocupaçáo do sertáo da
arual regiáo Nordesre pelo gadota. A diferença mais importante eûr¡e est¿ exPansáo
para o interior e â qùe ocupou a faixa costeira é que, enquanro a primeira implicou
um povoamento mais denso, com engenhos, vilas e cidades e leve um substrato eco-
nômico mais poderoso, gerando uma eiite residente, a segunda, feita peio currais de
gado, com densidade populacional muito inferio¡ à do lito¡al, realizada pot vaqueiros
e desb¡avado¡es, não ge¡ou nas novas á¡eas uma elite ¡esidente signifrcarìva, já que, na
maio¡ parre dos casos, os que ocupavam as novas ter¡as er¿m Posseiros ou prePosros
de grandes p¡oprierários, como os D'Ávilas da Casa da Torre ou Guedes de B¡ito, da
Casa da Ponre, que conseguiram acumular grandes extensóes de terra, que arrendam
em seguidatt. Só com a descobe¡ta das minas, no flnal do século XVII e nas p¡imeiras

Sobre a ocupaçáo dessa regiáo, r-er o capiculo "No íntimo dos se¡¡óes" do livro de Pedro
Pu¡rcnt, A Guen¿ dos Bnrk'.ros, pouos indígenas e a ølonização do sett¿lo aordest¿ da Brasll,
1650-t720. Sâo Pa¿lo: Edusp e Hucirec, 2002.
Anronii analisando a ocupaçâo do serráo aponta essa inc¡ível concenrracáo de rerr?s nâ máo
de poucos proprierános, faro que levou Capìsr¡ano de Abreu a dizer que rais terras trnham
sido obridas mais com o papel e a rinta dos pedidos de sesmarias do que com um eslorço real
por parre dos grandes proprierários, como os D'Ñrla da Casa da Torre, comentárìo que Mo-
niz Bandeira qualilìcou de inconsisrenre na sua hjsrória desra casa. A reaiidade, porèm. e que
já na épocase chamava arençáo pa¡a a vìolência dos grandes senhores em se assenhorar das ¡er
Maia da Gama, governador-geral do Esrado
ras conqursradas por orìrros, pois, como Joáo da
do Maranháo enrre 1722 e 1728, que na voka ao Reino passou pela regiáo, relara: "indo vários
descobndores com despesas de suas fazendas e com evidente perigo de vida... descob¡iram
sírios e porrcaram-nos e defenderam-nos do genrio com perigo e morre de muiros e depois de
estabeiecidos vinham os procuradores da Casa da Torre, e por forma, ou os faziam despejar,
A formacáo da elire co oni¿l l;

décadas do século seguinte, a expansáo re¡rirorial voltou a associa¡ a conquista de no-


vas áreas a um denso povo¿mento, ao surgimento de núcleos urbanos e à formaçáo de
elites locais importantes.
Um segundo ponto a fundamentar a escolha de 1630 é a invasáo holandesa de
Pe¡nambuco - a da Bahia, para a questáo aqui discutida, pouco representou. Nesse
momento, o clima de guerra tomou conta de toda colônia. A regiáo cosreira entre o
Rìo Sáo Francìsco e o Maranhão foi ocupada pelos holandeses, mas as conseqùências
da guerra espraiaram-se para as ourras capiranias: os combates chegaram até o Espí-
¡ito Sanro; açóes de pirataria por roda costa; deslocamentos de tropas e requisiçáo de
manrimenros en'olve¡am até as capitarias mais dis¡an¡es, como a do Rio de Janeiro e

a de Sáo Vicen¡e.
Dessa forma, após 1630, a chamada "guer¡a do acúca¡" mobìlizou as atençóes da
Coroa. Os serviços mais imporrances nas partes do Brasil passârâm a ser a participação
ou o financiamento da guerra. Pa¡alelamence aos combares, ocor¡€u um profundo re-
arranjo das elires nas áreas ocupadas ou próximas: com o deslocamento de parte da eii-
re pernambucana pa¡a a Bahia, associando-se aos grLLpos do Recôncavo e o surgimento

de uma nova camada em Pe¡nambuco- Esta, aproveitando-se da ocupação holandesa,


inseriu-se na elire local e, ao participar da guerra de resrauraçáo, acabou por consolidar
sua posiçáo com a exprLlsáo definitiva dos holandeses em 16541¡.
Tais elementos, somados à nova conjuntura inte¡nacional de meados do século
XVII, com a enr¡ada em cena de novas potências coloniais e à crise geral do século,
indicam ¡ambém que o período posteríor a 1630 corresponde a uma no.a fase, tanto
no plano interno d¡ Colóni¿ como no ertetno-.

ou os laziam pâssa¡ escriros de ar¡endamento para o que fizeram sempre procuradores os

mais poderosos, mais facínoras, e mais tcmidos que s€mprc até hoje em dia usa¡am e usam
desras violéncias'. Cf. ¡espectivamente André Joáo Antonì1, C t-"'ra e opulôncía tlo BrasìÌ par
:aas drcga: e rninas 11711), introduçáo e comenrário crírico por Andrée Mansuy Diniz Siha.
Lisboa: Comissáo Nacional para as Comemoraçóes dos Dcscobrimenros Portugueses' 2001'
p. 324; Capistrano de,{L'rcù, CãPitulas de Histtirìd ColoníaÌ,3" eà. Rio deJaneiro: Sociedade
Capistrano de Abreu, 1934, p. 140; Luiz Alberto Monjz Bandeìra, OP .iî , P. 199 e Joáo l'Á^ia
da Gama, "Diário de viagem de regrcsso ao Reìno ..." (ì728), rn: F. Ä. OÌì¡'eìra Manins' Llz
Heróí Esquecido (Jona àa Mdi¿ da Ga.ma),2'¡oIs. Lisboa: Agência Geral d¿s Colônias, i944.
vot. It, p. 27.

56 E"aldo CabraÌ de lr4clla, Ollndd Re:t¿ltra.d¿. Rio de Janeiro Forense e Sáo Paulo: Edusp'
1975.
Ver Eric Hobsbawm, 'A C¡ìse Geral da Economia Européia do Século XVII"' in:,4s arzþz:
da Rez,obcáo Inrlucritl (traduçâo). S:o Paulo: Global, 1979 e Immanuel -Valle¡stein, O Sls¡¿-
m1lMun¿rrl Mo¿,ema (rraduçáo),2 vols., Porro: Afronramento, s/d.,Ainda Peter C Emme¡.
"The Du¡ch and making of the second Arlantic System", in: Barba¡a L. Solo'" (edited bi'
Sløuery ønd the rise afthe Atlantic Syste,n- Cambridgc: Cambrìdge Unìversity Press. 1991, p.
76 e seguinres e Ruggiero Romano, "Ber.r-een the sixreenrh and scvcnreenrh centr¡¡;es: rhe
28 Rodrigo Ricupero

E¡ic Hobsbaq'n aponcava que as relaçóes enr¡e a Europa e as oLlt¡as regióes do


globo, dentro do Antigo Sisrema Colonial, reriam passado por rrês fases, "a dos be-
neficios iáceis, a da crise e, com sorte, a da prosperidade mais moderna e estár'el",
a primeira iase baseada no monopólio da ¡est¡ira produção de especia¡ias e ouuos
produios ou de merais, gerou uma comperiçáo crescente enrte ¿s Potèncias euroPéies,
que, arìmeû¡ândo o custo de proreçáo do siste¡na, acebou por lazer que o velho modelo
entrasse em crise, su¡g;ndo uma nova modalidade de exploraçáo coloûial ts.
Tal idéia foi depois desenvolvida por Peter Emmeç apontando a existência de
dois siscemas, o prtrneiro - fm Atlanric Slsten (Primeiro Siscema -Arlântico) - criado
pelos ibéricos e o se gtodo -:econy', Atlau rl..'6t¿72r (Segundo Sister:ra -Arlântico) cria-
do pelos hoiandeses, inglescs e franceses, cujas diferencas, resumidâs pelo ¡uror, seriam
perre¡cenres aos locais de imporcância, relarivos à suâs composiçóes raciais e demográ-
Êcas e ¡anbém <ie org¡tizaçáo cìo comé¡cio e da sociedadet'-
Às colônias, ailda seguncio Emmei criadas pelo segundo sisteÌÌ1a, em pa¡riculâ¡,
nas Anrilhas, orienracias ao máximo para o m€¡cèdo exte¡no) co!¡l baixa prociuçáo
de artigos pa¡â corsumo inrel¡o e com grande parie da populaçáo constituída por
esc¡âvos, se¡iârn resuirados do ca¡áre¡ capiralist¿ desse sistemâ. Enlìm, scgui;m ourr:,
1ógica, doninada pelo comé¡cio, dìfè¡enre da Ìógica imperial, no velho seotido, seguida
pelos ibéricos, que subordinara os irre¡esses comerciais aos da Coroa.
Nesre trabalhc, procLr¡a¡nos acomp¿nhaç ao longo do primeiro século de elèriva
colonizaçáo porruguesa na Amé¡ica, a rnonragem de ur¡ sisrema de exploração, que
nas primeiras décadas do século XVì1, ¿ponrava sua porencialid¿de de luc¡o come¡cial
e, por isso, atiçava a cobiça das porências emergentes. Náo se ¡.a¡ava-. assim, apenas de
um p¡iùei¡o sisrema colonial, n-tas dâ esr¡u¡u¡açáo de um me¡cado m.¡ndial e dos seus
mecanisrnos de produçáo e apropriaçáo de riquezas.
As lòrmas de exploraçáo desenvolvidas pelas ro\'âs potências náo consri¡ui¡iam
um nor.o sisrema colonial, mas represenrariam a elevacáo, ao máximo do sisrena mon-
tado pela expansáo ibérica, f¡uto de especificidades das dinâmicas ,oróprias de cada
merrópole e dos períodos Cjsrinros de monragem dos seus respectivos impérios co-
loniais. Nesse sen¡ido, o sistema colonial monrado pelos po¡rugueses náo pode ser
conside¡ado arcaico, pois iòi a parcir dele que se iniciou o processo de drenagern dos
recursos produzidos no espaço colonial, embo¡a, no caso de Portugal, os ganhos do
sisrema, por uma sé¡ie de morivos, renham escoados, em grande medida, para ou¡¡as
merrópoles.

cconorric c¡isis of 1619-21", in: Ceoi¡rev Parker and i.eslci M. Snirh ie¿iÊ¿b\),7"¿ Gerì¿r¿l
Ctisn afthe Sexetnh Ceztt1,, )' ea., Lan{on and \erv York: Rourlc<Jgc, 199,-r
t8 Eric Hobsbarvm. Ap. cit., p. )3.
t9 Eûrner, Op. ci., p.76. \¡eja-se aìnda Airce Car'at>rara.. O nçtl,:ar nn: Ánilh¿: 11697
Pcrer
.1õt. Sáo laulo: i¡ìsriruto dc Pcs<luisas Èconômicas, 1981, p. 24í c 246.
A formaçáo da elire colonial 19

Dessa maneira, essa nova fase, simbolizada pela ocupaçáo de Olinda em 1630,
marca¡ia a passagers das novas porôncias coloniais de uma fase de mera pJrataria para
ou.ra mais sisremá¡ica, de ocupaçáo e exploraçáo. O confli¡o global entre portugueses
e holandeses se¡ia rarrbém o conflito de diferentes lógicas de exploraçáo colonial e se-
ria, em síntese, nas palavras de Cha¡ies R. Boxer: "Essa grande guerra colonial tomou
a lo¡ma de uma luta pelo comércio de especiarias da Ásia, peìo rráfico de esc¡avos do
oesre da Áfrico e pelo comé¡cio de açúcar do B¡asil. Ao mesmo rempo, pode-se dizer
que o resultado Ênal foi a vitó¡ia da HoÌanda na Ásia, o ¡esenho do oesre da Áf¡ica e
avi¡ó¡ia dos porrugueses no B¡asì1"- O resultado, ltaturalmen.e, dependeu do grau de
pârticjpaçáo dos portugueses nos processos de produçáo, pois, ainda, pa¡a este autor
"os porrugueses. cnquanto colonìzado¡es, com todâs as suas falhas, haviam c¡iado ¡a-
ízes no Brasil; por isso eies náo podiam, como ¡egra do jogo seren-r ¡eri¡ados de cena
simpÌesmente poi uin ou vários ataques navais ou milira.¡es''6!-
Quanto ao recorte espacial, ¡rabalhanos co¡n rodas as áreas ocupadas pelos por-
¡ugueses) a1'a¡Ìcardo das capitanias originais às nor.as conquistas, acompanhando a
expansão terriror;al, i¡do, assim, aré urn pouco depois da ocupaçáo da foz do Rio
Ar¡azonas e da formaçáo da capìtanìa do Parâ em 7616. Não lemos, também, incon-
venientes na inclusáo da região do \4aranhão e do Pa¡á, pois a criaçáo cio Estado do
Ma¡anháo é de 1621, e a eferivacáo -só oco¡Íe em 1626. Dessa forma, dur¿nte p¡¿tic¿-
mente rodo periodo proposro, o conjunto <ia costa, iocluindo a náo-ocupada, estele
dentro da alçada do Estado do B¡asil..A.lém disso, a conquista dessa regiáo se fez sob a
supervisáo do Governo-geral e a maioi pat.e dos co-baten¡es e conquistado¡es, bem
como a dos primeiros ocupanies de cargo na área, e¡am oriundos das antigas áreas de
coionizaçáo, como, poi exemplo, Pernambuco, Pa¡aíba e Bahia.
Poitanio, para se compreende¡ a formaçáo dos mecanismos do Antigo Sisrema
Colonial nas partes do BrasiÌ, é indispensá..'eÌ entende¡ o papel que a elire colonial resi-
dente desempenhou, por ourro lado, só é possíl.el compreender a génese dessa elite por
sua insercáo dentro dos quadros do Antigo Sistema ColoniaÌ.

60 Charlcs R. Boxe¡. F¿¡¡r Centnri,:s afPotttgaese Expansíon


Prcss, 1969. p. 49 e 54.
HoNnns E N,tEncÊs
1" Prêmio e castigo

O meio, Dororeu, o fo¡te meio

Que os chefes descobriram para terem


Os corpos que governam, em sossego:

Con.i.le em rep"rrìrem com m;o rcte.


Os prémios e os casrigos ...,

Critilo (Tomás Antônio Gonzaga)L

A justiça distributiva

(( [ juscica consisre principalmente em galardoar bons e castigar maus", definia o


fXueólogo. personagem do livro Imagem da Vdd Cristã1, de Frei Heito¡ Pinto.
PubÌicado em 1563, na fo¡ma de diálogos, um dos quais sobre aJustiça, intitulado "do
Prêmio e Castigo, e de qual deles se há o príncipe mais de prezar", no qual apresenta,
por meio de seus personagens, várias idéias sobre o tema, reco¡¡endo em muitos casos
a pensadores gregos e ¡omanos ou às esc¡iruras sagradas. Â questáo proposta no título
do diáiogo é esclarecida pelo teólogo, que, ao responder à pergunta do cidadáo sob¡e
qual dos dois deve se¡ mais prezado pelos gove¡nant€s, evoca o impetador romano
Tito, que dizia "que faze¡ me¡cês e¡a o b¡aço direico e punir culpas o esquerdo. E assim

Cririlo (Tomás,{ntônio Gonzaga), C¿rtas Chilena:, \troâuçáo e notas de Afonso Arinos


de Mclo l¡anco. Rìo de Janeiro: Imprensa Nacional.1940. p.243.

Um dos grandes nomes da cultura portuguesa do século X\'-1, F¡eì Hcitor Prnto exerceu
grande inÊuéncia em Ponugal, rendo lecionado TeoÌogia em Coimbra e pubJicado, enrre
ortras obras, Irnagen t/a l4da Crìstá., qte rerc tárias edjçóes aindâ no século XVI. Po¡ seu
apoìo ao Prior do C¡ato, acabou silenciado por Filipe II que o conEnou nurn mosrciro,
onde faleceu poucos anos depois- F¡ei Heilor Pinto, lmgen da Vida Ct-¡i¡á. 4 vols. Lisboa:
Sá da Cosca, 1940.

jj
3+ Rodrigo RicuPero

como mais nos servimos e Prezamos do direito do que do esquerdo, assim é cnise m:is
gloriosa favorecer vinudes que castigar vícios, porque na primeira resplandece o amor e
ûa segunda o remor".
E, em segLrida, dirigindo-se aojurista, que valoriza mais o castigo do que o prê-
mio, conclui:

claro csrá que se o príncipc não far-orecesse as virtudes, que hareria Poucos que as
fìzessem, ainda que casdgasse os vícios. Mais se movem os homens com amor que
com lerror, e måis se aninam a coisas grandes, e se abalizam na excelente virrudc
com esperanca de futuro prêmio, que com medo do cascigo- (.'-) E com este amot,
clue rem a seu rei, pelo que ele lhe ten a eles, se prczam de ser seus, € se cx'irrm c

a\-enturâm a corsãs grândes e duvidosaf.

No século seguince, Anrônio Vieira, pregando no Hospiral da ìvlisericórdia da

Bahia em 1640, por ocasiáo da chegada do Marquês de Montalváo, vice-¡ei do B¡asil,


a Saivador, enfätizava que da mesma forma que a medicina Pu¡ga os humores nocivos €
um exército ou república não basrava "aquela parte dajus-
alimenta o sr-rjeiro debili¡ado, a

riça, que com rigor do casrigo a alimpa dos vícios, como de perniciosos hunores, senåo
que é rambém necessária à outra parre que com prêmios proPorcionados ao merecimento
esforce, sustet¡e e anime a esPerança dos homens'!, para o jesuíca eram táo necessárias,
para o susrento da monarquia, ajustiça puniriva Para os castigos, como ajustiça distribu-
tiva para os prêmiost. Apesar do brilho do sermáo, Vei¡a náo inovata: apenas retomava'
de forma expressiva, uma idéia que vinha de longe e que continuaria em voga ainda por
muicos anos.
Tal concepçáo, nascida na Antigüidade clíssìca' man¡ive¡a-se no Pensamento
crisráo e rinha na dicotomia encre céu e infe¡no a melhor expressáo do castigo e do

3 Frei Heiror Pinro, O¡. cir, foram extraidas respectivamente das págrnas 142 149 e
as citaçóes

151 do l" r.olume. interessanre que Tomás Àntônio Gonzaga' jr.rrisra, exPressâ na conrìnuâcio
da passaeern citada em epigrafe a opiniáo opos¡a, r'alonzando assim r.rais o castigo do que o
prêmio. Ct Cririlo (Tomás Ànrônio Gonzaga) , Op cb., p. ?4)
4 No conrex¡o da guerra concra os holandcses, Vieira ProcurÀva ìncennvar os soldados por-
rngucscs, Ìouvrnrio seus sacrificios. Pad¡e Antônio Vieira, S¿rrtú¿s da P¿drc Antônio Viein.
reproduçáo ircsimìlada àa edítia p,nceps, organizada por Padre -A.ugusto Magne, l6 voÌs. Sáo
PauÌo: Ânchietana, i943'45, r'ol. 3, p 397
I Para o padre ,{ntônio Vieira, "Prêmio € cas¡igo sáo os dois pólos em que se re".lue s,rsrenlr
"
a conservaçáo de qualquer monarquia" "an,bos esres (prêmro e casrigo) lalraran sempre ao
e

Brasil, por isso se arruinou e câiu", no caso o jesuÍta se refere à invasáo holandesr "Sermáo d¿
r.isitaçáo de Nossa Senhora" de junho de 1640, pLrbLicado em Padre Anrônio Vreira' 02. rlr''
vol. 8, p. 193.
\ torm¿cáo d¿ eli¡e . olonial ì5

p.êmio divinos. Cabiaaos reis, como representantes de Deus na ter¡al aplicáJos a seu
modo, conforme se explicava nas Ordenac,óes Afonsind-s:

Quando Nosso Senho¡ Deus fez as c¡iaru¡as assim razoáveis, como aque-
las que carecem de razáo, náo quis que rodas fossem iguais, raais esrebeÌeceu e

ordenou cedâ uma em sua virrude e poderio departidas (reparrìdas), segundo


o grau, em que as pôs: bem assim os reis, quc cm logo (lugar) de Deus na rerra
sáo postos para reger e governer o pol'o nâs obras que háo de fazet assim da
jusrica, como de graças e mercês, devem seguir o exemplo daquele, que ele fez
e o¡denou, dando e disr¡ibuindo náo a ¡odos por uma guisa, mâis e cede um
apa¡râdamenre, segu¡rdo o grau 6.
e condicáo e esrado de que for

O próprio Vieira iemb¡ava a D. Afonso VI que "os reis sáo vassalos de Deus, e,
se os reis não castigam seus vassalos, castiga Deus os seus"7, po¡ isso náo se estranha
que as t¡agédias dos ¡einos fossem vistas como casrigos divinos às fairas humanas náo
punidas pelos monarcas ou ainda que a iusriça fosse considerada como a p¡incipal
:z.rcfà dã realezas. Joáo de Barros, po¡ exemplo, explicava qre "encre as vi¡tudes de
que príncipes e governado¡es das repúblicas rêm maio¡ necessidade, para o desceDso
e conservação de seus Estados, semp¡e o primeiro Ìugar foi dado à justiça; e isto com
muita razão, po¡que s€ndo Deus perfeita justica, os reis, que por ele são o¡denados e
cujo poder ¡ep¡esentam, a ele só em tudo devem seguir"e.

Ordenacões Afonsinas.5 vols. Lisboa: Calousre GuÌbenkian, 1988. O conjunro de leis compi-
lâdas a mândo do rei D. Duarte e publìcadas a parcir de 1446, duranre o reinâdo de D. Afonso
V recebeu o nome de Aàenaçóes ,4fonsinas em homenagr A cir¿cáo enconrrà-
se no Lir.ro II, tírLrlo Xl-, p. 293.
Vieira, na seqùência, tenrå mosrrar conlo a perda de D. Sebasrjáo no Ma¡¡ocos e o conse-
<1üente "caciveiro" de Porrugai serram o castreo dos "cativeiros que na cosrâ da mesma Áfrjcâ
começaram a fazer os nossos p¡imeiros conquisradores, com ráo pouca jusr;çi'. "Carta ao rei
D. Afonso Vf de 20 d€ abril de 16iZ publicada em Anrônio Yicira, Cartas, coo¡denadas e
anorâdas por Joáo Lúcio dc Azelcdo, 3 ¡'ols. Lisboa: Imprensa Nacional - Câsa da Moeda,
1992 vol. L p.449.
T¡ mbim cr¿ . omum o di' uno dc que Dcu. rcLomp€n'a ria , enos.cr !'(os. p, À os qLrr is o rei
'
injusramente náo tinha feiro nenhuma mercé,.eja-se, po¡ exemplo, a descriçáo da mor.e de
Duartc Coelho fcita po¡ F¡cì Vicenre do Salvador. Htstória do Brasil(1627), 5" ed., Sao Paulo,
Melhoramentos, 1965, p. 134 (Sobre este câso, vejâ-se o segúndo capírulo deste trabalho).
A parte ìnìcial do "Panegírico do rei D. lll"
(1533), de Joáo de Barros, é dedìcada à
Joáo
questáo da justiça. Joáo d,eBarros, Panegir;cos (Século XVI), rexro resrirìrí¿o, prefácio e nor¿s
pelo prot M. Rodrigues Lapa. Lisboa: Sá da Cosra, 1943, p. 3. Sobre o papel da jusriça e a
idéia dcla como pr;meira rarefa da Coroa, veja-se para a Idade Médja em lo¡tueal: Eduardo
d'Oliveira França, O Poàt Real em Portusal e as orisens do Absolurr7z¿. Sáo PalÌlo: FFCL-
36 Rodrigo Ricupero

O discu¡so era reco¡rente por rodo Império, como se Pe¡cebe, Por ex€mPlo,
numa carre de 1613, endereçada ao donatário da capitania de Sáo Vicente pelos
oÊciais da Câmara da vila de Sáo PauÌo, na qual aÊrmavam: "que nos mandem o
que for justo, e ûos favorecam no bem e casaiguem no mal quando o melece¡mos,
que rudo é necessário"r0; ou em outra carrai escrita Pouco mais de cem anos depois,
enviada ao governador de Pernambuco, Feiix Machado, na qual um inte¡locutor
desconhecido explicava "sempre entendi que nenhuma república se podia conservar
fahando nela prêmìo para os bons e castigos Para os maus"rr ou ainda numa ca¡ta
esc¡ira rle Goa, pelo governador do Estado da Índia,,A.n¡ônio Paes de Sande, em que
este lembrava a necessidade de os homens servirem "com a esPeranca de prêmio e
cemor de castigo"ll.
Pouco mais de cento e ciûqüenta ânos depois do citado se¡máo de Vieira' já em
Êns do século XVIII, D. Rodrigo de Souza Coutinho, entáo ministro e sec¡etá¡io de
Es¡ado da Ma¡inha e Domínios Ult¡amarinos, em ca¡ra pala D. Fernando José de Por-
rugal, governador da Bahia, em que discute a sediçáo de 1798 em Salvado¡, châmava a
atercáo para o fato de que "piêmio e casrigo sáo os dois pólos sobre que esrriba toda a
máquina política", pra[icamenre repe¡indo a f¡ase do Padre Vieira, atesrando toda força
que r¿l !oncePcåo,ind¿ ma nt inha
Nos mamrais do bom governante, em moda du¡ante ¡oda a Idade Mode¡na, nas
mais variadas formasrl, o rópico escava presente, como se vê, Por exemplo, ta Suma Polí'

L-SP, 1946, p. t28 conjunro da história por tuguesa veiam-se os volumes 2, 3 e


e segs. Ð pâ¡a o

4 da coleçâo Hisrório tlr Porngø.l dnigìe:L por losé Mat¡oso, respec¡ivamente; José N{artoso' I
LÍonarquia Feudat.Lisboa: Escampa, s/d., p, 516 e segs., Joaquim Romero de Magalháes, À¡o
Alua¡ne¡ ¿La luladeraid¿la Lisboa: Esrampa, s/d., p. 61 e segs. e Anrónio ìvfanucl Hespanha,
O Artigo Regime. Lisbaâ: Esrampe, s/d., P. li7 e segs
"Car¡a da Câma¡a de Sáo Paulo" de Ì3 de ianeiro de Ì613, q te conxa d¡s Ata'¡ d¿ Cà.¡d¿r¡ ¿1¿
Sno Pauto- Sâo Paulo: Arquivo Municìpel, 1914. vol. Il, p. 497, publicada também por Paulo
Praë.o, ?¿,ulisnca. Sao Paulo: Edirora Monreiro Lobato, 1925, p. 2i

Ct. Evaldo Cabral dc Meilo, I þ-ran/.¡. dt's Mt'z¿¡nbas. Sáo Paulo: Cornpanhia das Letras,
1995, p.403.
''Cana ao ¡ei" de 20 de janeiro de 1680, pubLicada por A¡tônio Pacs dc Sande e Casrro, l;;-
tônia Pae: d¿ S¡'¡tde, o g,antlz go,ernador. Lisboa: .Agência Geral do Liltramar, l9iìr, p l27
"Carta de D. Rodrigo de Souza Courinho para D. Fernando José de Ponugal ' de 4 ,le orrnr
bro de 1793, pubÌìca<.ia por inácio Äccioli de Cerqueira e Sìlva-, Ìy'e;zlrnzs Hístóric¿¡ ¿ Polític¿¡
da Babia, moraàas por B¡az do ,{ma¡aÌ, 6 vols. Bahia lmprensa Oficial, 1919 1940, voÌ. IIi.
p.95.
Em roda a Europa, surgiu um ripo especial dc literarura desrined¿ à educaçáo de reis, PrinciPc\ t
nobres em geral, manrenclo uma rradrçáo que vinha da anrigüidade, da <¡ual Xenolonre poderia
ser rrm bom exemplo, e que acabaria por clar alguns subripos, como os voLtados para educaçáo
dos príncipes ou como os destìnados a preparar os nobres para a vida na Corre. Joaqurm Ferreira
Gomes lisra 56 obras do gênero relacionadas com Ponugal, do Spec tm Regun (Espelho dos
A formaçâo da elite colonial 37

¡lcø, de Sebastiáo César de Menezes, teólogo que chegou a ser Arcebispo de Lisboa e foi
uma das figuras mais proeminentes da politica porruguesa do período pós-Restauracáo-
A ob¡a ofe¡ecida ao tlho de D. João IV D. Teodósio, falecido an¡es de chegar ao rrono,
procurava insrrui¡ o futu¡o ¡ei sob¡e o bom governo, dedicando um capírulo à justiça
disrribu¡iva, no qual explicava ser esra encarregada de repartir "o útil, disr¡ibui¡ as hon-
ras epropo¡ciorâr os cargos", Em seguida, expunha também que a desigualdade na sua
execucáo será "reputado por tirania en tempos pacíiìcos, e nos turbulentos será força que
arruíne" a repúbÌica, pois sentencia\.a: "é naru¡al em todos os humanos, e muico mais nos
poatugueses, senrirem, sob¡erudo, a ofensa da honra, e como esta nasce do valo¡, cuidam
que quando lhes falra o prêmio, também lhes faha a opinião de valorosos"r''.
Na ob¡a de F¡ancisco .Ancónio de Novaes Campos, Príncipe Perfeito, oferecida ao
príncipe D. João, futuro D. Joáo VI, em 1790r', são apresen¡ados cem emblemas que
versam sobre as regras adequadas ao bom gove¡nanre. Den¡¡e os vá¡ios remas apresen-
tados, o que nos inreressa particularmente aqui é o da distribuiçáo da jusriça. recor-
¡enre em diversos emblemas que aconselham a distribuiçáo igual da justiça a todos, o
socorro âos pobres, o ouvi¡ as queixas dos vassalos, a moderação nos castigos e ¿ pie-
dade nas penas'-. Mas o auto¡ tambén-r se preocupa com o outro lado da justiça, o lado
positivo, em que um rei que foge do vício da ava¡eza, sabe ¡ecompensa¡ os vassalos, e,
enfim, como enla¡iza em outro emblema: "O rei deve premiar e dar castigo"rs, síntese
perfeira de uma lógica que rorteava a relaçáo da coroa com seus vassalosil.

Reis). de F¡ei Álva¡o Pais. do século XIV aé lp onnmentot Vara eàra.ç.ia d¿ tn menino nobrc. de
Martìnho dc Mendonça. publìcada en 1734. Sob¡e o rema, .'e¡ Joaquim Ferreira Gooes..4larrl-
n de Modtrça e :",a- abra- ped'zgógtca cam a eáiçÁo crítica dos Apontamntos para a ùuøçãa de
øt nnino nobr¿ (1734). Coimbra: Unn'e¡sidade de Coimbra. 1964.

Sebasriáo César de Menczcs, Stn,z Poli¡icd (1649). l'orto: Garrl¿, 194i. A primeira ediçáo
porrugucsa dc 1649, sendo seguìda de ou¡ra latrna, no ano seguinre. publicada na HoLanda
é
Âs ciraçóes es.áo resp€crivamente nas p. 123 e i24.
 ob¡a fòi ole¡ecida em um exemplar único, que se encon¡¡a na Biblio¡eca NacjonaL do Rio de
Janeiro e foi leira a partir dos emblemas de D. Joáo de 5olórzano, jurìsta c grande personagem
do sócu1o XVll espanhol, os quais consram de um ritulo cm latrm, uma iìustr:.çáo e versos
também em larim. que loram desenrrclvidos num soneto, em porruguês, oor lrancisco Campos.
F¡a ncisco ,A.n¡ó nio de N otaes Canpos. Prhcípc Pefetto. (1790). Lkboa: Insrrturo de Culru¡a c
Líagua Porrugr.resa, 1985.
Ve¡ em larricuiar os seguinres emblemas: XlX, XLJ. LX. LXIV, LXXIll, LXXiY I XXIÌX e

XXXIX (Å nuneração ¡omana aqui s€guc o padráo ibérico).


Cl emblcma LXXVI.
Francisco Campos rambén, rcroma ou¡¡as ìmagens comùmente âssociadas à 1ìeura régia: a do
pastor ou a do pai, esra, por oremplo, é usada por Duarte Nunes do Leáo. que nos lembra quc
"os poriugueses senem com amor de fiìhos a seu rei. e como tars sáo trarados", após dcsrac.rr
a Lealdade desres ao scu ¡ei ou por Bartolomcu Gucrrciro, quando añrma que'Aquclcs Rcis
sereníssimos (os Frl;pes) táo verdadeìros pais de seus vassalos', após disctL¡i¡ o ¡¡a¡amcn¡o dado
38 Rodrigo Ricupero

Nas c¡ônicas dos reis porrugueses, o rema aParece com freqüência, não mais
como um modelo teó¡ico a ser seguido, mas como exemplos históricos concretos Ä
disrribuiçáo de hon¡as e mercês, aliás, é um dos rrês principais temas encont¡ados
nas c¡ônicas, ao lado dos grandes aconrecimentos Políticos e bélicos do Reino e do
ulrramar e das quesróes dinás¡icas aliancas, casame[tos, nascimentos etc. _, o que se
-
entende, poís a disrribuiçáo das recompensas era vista como uma das grandes rarefas
da Coroa e uma obrigaçáo do monarca.
Bons exemplos disto sáo as c¡ônicas de D. Pedro e de D. Joáo II. Na obra Vid¿ts e

Feitos d'e!-rei DomJo,io Segundo de Garcia de Resende, esc¡i¡a duranre o reinado de D Joáo
III, que náo só resgatava os principais acontecimencos do reinado, mas também desracava
as caracte¡ísdcas pessoais do mona¡cato. Ga¡cia de Resende ressaltava a preocupaçáo do
rei com a distribuiçáo dos prêmios e casrigos, tendo sido "mui¡o nob¡e e grã liberal em
faze¡ me¡cês e dádivas a quem devia, e como devia, e da maneira que devia por sua própria
vonmde e náo por importunaçóes de ninguém"2r, procurando semPre rccomPensar mesmo
ântes que os merecedores ¡ivessem feito seus pedidos, tendo, para tanto, organizado, em
segredo, um li.,ro para regisuar os nomes das pessoas que haviam prestado servìços. para
posteriormente serem recompensadas, chegando ìnclusive a ponto de ensinar como estas
deviam fazer seus pedidos.
Fernáo Lopes, ¡a Crônica de D. Ped,ro, cognominado "cru" ou "cruel" por sua
dererminaçáo €m exercer a jusriça, o que lhe valeu fica¡ conhecido mais comôjusti-
ceiro do que jusro, embora nem por isso impopular, conta-nos que "O rei D. Pedro
e¡a em da¡ muico ledo, em ranto que muitas vezes dizia que ihe afrouxassem a cinra
que ertonces usavam nâo muito apertada, por que se lhe aÌargasse o corpo, por mais
espaçosamente poder dar: dizendo que o dia que o rei náo dava, náo devia se¡ havido
por rei"r:.

aos vassalos que parriciparam na jornada de recuperaçáo da Bahia em 1625. Respectir amcnte,
Duarre Nunes ào Leâo, Descriçá.o do Rrlna tu ?onagal (16ì0). Lisboa: Cencro de Hisrória da
Unive¡sidade de Lisboa,2002, p.277 e Padre Banolomeu Cue¡rejro, Jornada tlc,s Vassalas da
Coroa de Ponrgal. (1625). Rìo deJaneiro: Biblioteca Nacional, 1966, p.96.

O auror foì c¡iado desde pequeno junro ao monarca, rendo se¡vido depois em tarelas de maior
peso, ocupando oficios nos reinados de D. Jo:o II, D. Manuel e D. Joâo III, quando chegou a
ser escriváo da Fazenda e guarda da Câmara Real. Ga¡cia de Resende, Lilro das Obra: de Gar-
cia dz R¿:end¿ (sécliloXVI) ediçáo crírica de Evelina Ve¡delho. Lisboa: Calouste Gulbenkian,
\994.
2l Garcia de Resende, Oþ. cit., p. 140.
22 Fernáo Lopes, G'inica le D. P¿l¡¿ (Século XV). Lìsboa: Academia Real das Ciências, 1816,
p. 8, romo V da CoÌeçáo de Inéditos da Hisrória de Portugai (Exisre reediçâo mode¡na da
edirora Cìvilizaçáo do Porro). No prólogo, o cronìsta lembra que 'é por serem os m¿us c¿sri-
gados e os bons viverem em paz" uma das razóes para que o poder real ¡enha se esrabclccìdo,
dìscorrendo em seguida sobre a jusriçr e o comporramento do rei.
A fo¡macão da elite coloniai 39

Contudo, ao mesmo tempo que se loùvavam os reis que, com liberalidade:i ou


generosidadeto, como D. Joáo lI, sabiam ¡ecompensar os serviços dos vassalos, corrìa
o¡almenre uma rmensa variedade de chistes e ¡eiaros anedóticos sob¡e o oposro, ou
seja, a nâo retribuiçáo dos serviços. Pa¡te desse material foi recolhida por um autor
anônimo e ¡ecebeu o título de Ditos Portuguetet Dignos de Memória. Compilados, ao
que tudo indica, por um funcionário régio com grande trânsíto dent¡o da Co¡te e
parricularmente próximo ao Conde da Castanheira, tgura proeminente do reinado
de D. Joáo IIIri, constitui-se numa coletânea náo só de f¡ases signilìcativas, histórias
pitorescas e epìsódios célebres, mas também de boatos e acontecimentos cotidianos que
circulavam na Co¡¡e portuguesa de meados do XVI.
Tal obra permite o acesso direto a determinados aspectos da mentalidade da so-
ciedade da época que diÊcilmente apareceriam táo explícitos em outros ¡iPos de fonres;
significarivos aqui sáo os aspectos ligados às hon¡as e mercês, particularmente à idéia
vigence do dever de remuneracáo po¡ pa¡te do sobe¡ano ou de outros grandes senhores
aos vassaÌosou c¡íados que presravam serviços. Llm tema recor¡ente da obra e que deu
motil'o a uma série de histo¡ìetas é a luta dos vassalos para receberem as ¡ecomPerÌsas
esperadas ou prometidas, como no seguinte relato:

um fidalgo de muita marca e conrinuando a corte, náo the fazia el-rei mercê, e

um dia, pedindo a e1-rei umâ coisa, disseJhc ele que bem sabia que a merccìa,
mas que era moÊno (azarado, mal afortuoado) ... (ao que o 6dalgo) respondeu-
lhc: senhor, dê-me vossa alreza a máo pela mercê que me faz em me dizer que
ihe mereco a mercê que lhe peço, mas vossa alreza é o moÊno (mcsquinho) que
eu náo, porque eu tenho-o muiro bem servjdo, que é o meu ofício; e vossa alreza

não faz o seu. pois náo me fez mercé nenhumâ:6

23 ,{ liberalidade sena uma das quaLdades próprras dos reis, louvada em rodos os ¡i iscrr rsos sobre
o bom governo. evocando sempre, di¡cra ou indi¡etamenre, os ensinamenros rle A¡;sróreles
C[ A¡istóteies, ;11¿¡¿1 ø Nrcónaco (vaduçâo) Buenos Aires: Ðspasa-Calpe' 1952, particular-
menre Lir-ro I! cap. 1', "De la liberalidad".
24 Rocha Pira lcmbra, para Ìouvar D. Joáo Y que a gencrosidade é um dos etributos dos PrincìPcs
e, no seu estrlo, conra "o poder dar maìs do que se recebe, é a maior riqueza de que os huma-
nos poclcm jarar-se, como dizia Túlio; e em ser credor a todos e a nenhum deverlor consis¡e o
ser príncipe, como senre Anaxilau". RochaPiø, Hisairia d¿ Amérícø Portugacsø (1730), Bclo
Horizonte: ltatiaìa, 1976, p.239.
25 Dítos Portague:es Drgns àe Manöia (SécuLo XVI), editada e comentada por José Hermano
Saraiva, 2" ed. Ljsboa: Europa-.A.nérica, s/d
26 lbidetn, p.2A8. Eracomum os agraciados beijarem a máo do rei €m sinaì de agradecinenro,
direramenre ou indi¡etamence, por mcio de familiares. Pa¡a o sentido de "mo6no"' ver Änrô-
nio de Moraes Silva. D tciannrio /'a Lrngua Partu'gu'eza' (fac-sími|e ða 2" ed- de 18i3)' 2 vols'
Rio deJaneiro: Fìuminense, 1922, I, p. 31-
40 Rodrigo Ricupero

A lalta de prëmios e de castigos, por outro lado, era sempre lembrada nos crabalhos
que denuncialam a "degradaçáo da mo¡al e dos cos¡umes". Nesse sentido, duas ob¡as
impressionam pela crueza dos rel¿tor: um¿ -el¿¡iv¡ à india Portugue\a. outrâ m¿i) e\Pe-
ciÊcamente vokada pa¡a o Reino.
-A primeira delas é O SoJda/,o Pr'ítica de Diogo do Couto:i, obra cuia versáo
ânaÌ é de 1610, mas da qual já co¡¡ia uma versáo preliminar manuscriia, cujo
original Foi fu¡tado do auco¡rS. Esc¡ita na forma de diálogos, a obra apresenca trés
pe¡sonagens: um soldado vere¡ano da Índia, de volta ao Reino para ¡eque¡er Por
seus servicos, um fidalgo e um ofìcial eocarregado de despachar os pedidos. O sol-
dado no "vai-e-vem" da luta pela obtençáo da paga por seus serviços, vá¡ios deles
"o¡namentados e esmaltados muitas vezes com o (próprio) sangue", vai desc¡even-
do as mazelas da índia porcuguesa pelo artor in loco ao longo de guase roda
"'istas
segunda metade do século XVI e também nos primeiros anos do XVII, quando
mor¡euJ rnomento prévio do desmoronamenro do Império Oriencal, que Para mui-
tos seria conseqüência dos fatos descricos por Coutore.

Diogo do Couro, criado lunto ao iolante D. Luis, filho do ¡ei D. Manuel, ¡endo se¡r'ido de-
pois no Paço como moco de câmara do rei 3cabå po. jr aind¿ jorem para a úrdla, en 1559,
onde serviu diversos cargos, rendo chegado a gu¿rda-mo¡ do-Iòmbo de Goa. Drogo do CoLr-
rc, O Saldado Prátìca. (1610). 3" €.i. Lisboa, Sá da Costa, 1980.
O auror, conrinuador das Déca/¡; da iq¿. inici¿das por Jo:o de Barros, reve, em
fa.¡¡.osas
momenros divcrsos, parte de suas ob¡as roubadas. Tal fãro pode ser explcado, em parte,
por serem os escritos sob¡e os grandes aconrecimen¡os tes¡emunho d¿ pârticipâçáo oL. n:o
dos vassalos, Ìogo, erarn usados também como prova para pedidos de recompensas, além de
sen'irem às estrarégias larniliares de pror.roçáo, pois sempre se podia alegar os ser"rços dos an-
Ìivro do filho do grandeÂlonso deAlbuquerque, 2'governador
tepassados- Exemplo dìsso é o
do Evado da Índia, hornônimo do pai, em que Lembra ao rei D. Sebasriáo, a quem dedica a
obra, que seu objecirrc erâ mosr¡ar ao r€i os ríabalhos e solrimenros do pai e "a obugaçáo (do
ret qûem ¡em aos neros e parenres daqueLes que n€stas conqurstas acaba¡anr seu dìas". A.fonso
de Àlbuquerque, Come¡¡tdrio: do Graxde Aþn:o tu Albuquerque (t557), prelacìada . revisra
por Anronio Baiáo, 2 vols., 4" ed., Coimbra: lmprensa da Universidade, 1922, voi. I, p. X.
Dessa fo¡ma, os cronisras sempre acabavam acusados de lavorcccr ou de deslavorecer ccr¡os
indivíduos ou famílias. Âinda sobre a questáo, vale lembrar o caso de Damiáo de Góis, que
afirmava, no prólogo d¡ Crônm do Febcis¡t',ro rei D. Manu¿l: "¡o esc¡ever das crônic¿s se ¡e-
quer, que é com verdade dar a cada um o louvor ou r€preensáo que mcrecem', o que, al;ás, lhe
causor..L sérios problemas com os defenso¡es da Casa de Bragança, que o acusatam de lembra¡
do reìnado anterior apenas para desmerecéJa. Darñâa áe Góis, Cr'ôníca da
F¿llcissina rci D. ,¡ulanuel (1566),4 vols.,Col,mbra: Unire¡sidade de Coimbra, 1949.

Que ûáo se p€nse, conrudo, que os probiemas aponrados por Couto lossem exclusn'idade cios
iores à grande queda da Índia porruguesa em meados do século XVil; muiro
cempo antes, D. Joáo de Castro, vice-rei da Índia, avisava: "mas vejo claramenre qu< s< vaì
esta terra a perder por falca de uma justiça breve e rigorosa, que dê castigo aos maus e ponha
espanto nos bons", numa ca¡la ao rei, escrira em Coa, provavelmenre em 1547 D. Joáo de
A formaçáo da elire colonial

Numa passagem de expressiva eloqüência, o soldado, ao responder sobre o que


soiicita¡a em sua petição, aÊlmava: "já agora ráo há na Índia que pedir, que tudo é
dado por trezenros anosJ eu náo tenho idade pâra espe¡a¡ ranto: dêem-me o que qui-
se¡em", pa¡a em seguida lemb¡ar os "bons tempos" de D. Joáo III, quando os cargos e
comendas eram dados para logo serem empossados, "e com isso folgavam os homens
de servirem, e punham por isso a vida" e, muitas vezes, aûres mesmo que fossem ao
Reino a requerer, ¡ecebiam do ¡ei mercês de cargos imporrantes para posse imediara,
"que esras são as mercês de es¡ima¡ mas hoje que tudo es¡á ¡âo entupido, confesso a
Vossas Mercês que náo têm os homens gosco de servi¡em; e se o fazem, é porque nâo
têm outro ¡emédio"io.
A segunda obra é lfte dr furtãl de 1652, cujo enorme e expressivo subdrulo: "es-
pelho de enganos, teatro de mostrado¡ de ho¡as minguadas, gazua geral dos
'e¡dades,
Reinos de Porrugal"î mos¡ra bem o cunho mo¡alista dado pelo auto¡, de identidade
incerte, que procu¡a mosr¡ar que a "decadência" de Portugal é deco¡¡ência da imora-
lidade que domina a sociedade portuguesa de alto a baixo, e vai inclusive apresent¿r
possíveis "remédios" para essa situaçáo. A ob¡a foi dedicada a D. Joáo IV e ao príncipe
D. Teodósio, na espe¡ança que pudessem aplicar os conselhos sugeridos.
Destaca ainda a obra e idéia dâ jusriça como tarefa primordial do rei, a quem
aconselha: "que náo dissimule nenhuma desobediência, por leve que seja, sem casri-
go pesado; e far-se-á temido .-. que náo deixe passar nenhum servico sem prêmio; e
será bem servido"rt.
Embo¡a houvesse cer¡o consenso sobre o deve¡ régio de remunerar os vas-
salos, a questáo ge¡ou dife¡entes interpretaçóes no meio jurídico. AIguns juristas
viem, e com razáo, na obrigaçáo do ¡ei em ¡emune¡a¡ seus vassalos, uma limitaçáo
ao próprio poder real. Domingos Ancunes Portugal acrediteva que náo se podia
obrigar o rei a remunerar os servicos, porquanto apenas a justiça e a libe¡alidade
é que o levavam a isso. Já para António de Sousa de Macedo, os vassalos tinham

Ca.svo Cartas dt D. Jo,io de Ca*ro a. D. Jo,áo 111, com comentárros de Luís de Albuqucrque.
Lisboa: Alfa, 1,989. p.127.
30 As passaeens ¡eferidas estáo em Diogo do Couto, OP. ri¿, p. 138 e 139.
3l Obra do século XVII, conhecida pela polêmica em torno da autoria, para Roger Bismut, rcs-
ponsável pela ediçáo crírica, seguindo outros autores, o autor scria o Padre Manuel da Cosra,
jesuíra, sem, conrndo, dirimìr as duviðas. Arte de þutøl: ediçáo crítica, com int¡oduçáo e
noras de Roger Bismur. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, s/d. leja*e mmbém
ourra hipórese Antônro de Sousa de Macedo.lunsta e diplomara - em Afonso Pena Júnior,
AArte de Furtar e seu ¿zroz Rìo deJaneiro: José Oli'mpio, 1)46,2vo|s.
CF.Art? ¿e Falatr, OP. cir.. p. 168. O "pagamenro" correto dos serviços, "os falsos serviços"
apresentados, o uso dos cargos e ofícios e a c¡írica da.'enalidade dos ofícios praticada no pe-
riodo filipino sáo outros dos tópicos rratados na obra.
41 Rodrigo Ricupero

direiros adquiridos, seûdo a ¡emuneraçáo dos serviços uma espécie de contra¡o


oneroso que o rei devia respeitatsj.
Independeotemente, contudo, da obrigatotiedade ou náo do Pagamento, o certo
é que, para o senso comum da época, a falta de prêmios desesrimulava os serviços; idéia
que foi sinretizada por Bento Teixeira na seguinre passagem da. Prosopopiìa:

mâs quem por seus serviços boos náo herda,

Dcsgosta de fazer coisa lustrosa,

Que; condicáo do rei que náo i franco


Vassalo faz se¡ nas obras manco tr,

A monarquia patrimonialista

A quantidade de pregadores, homens de estado, ceólogos, mo¡alisras, cronisras,


olìciais régios e juristas que uataram da qr.restáo ao longo da ldade Moderna, de que se
apresentam aqui alguns exemplos, atesta a importância da prática de lemrÌnerar os se!-
viços em Portugal. Fe¡nanda Olival afirma t¡aca¡-se de "um ¡ei e um Reino que viviam
da me¡cê", e aponta que "servir a Coroa, com ob.jerivo de Pedir em troca recomPensas,
rornara-se quase um modo de vida, para dife¡entes se¡o¡es do espaço social português"it,
constituía do mesmo modo uma esrrarégia de sob¡evivência e ¡ambém de promoçáo, e

que, Para os gfuPos baixos, o grande problema e¡a como conseguir as condi-

çóes financeiras necessárias para poder servir.


,À lógica era simples: os mais variados serviços e a conseqtenre obtençáo de
me¡cês dive¡sas possibilitarìam novos empreendimen[os e novas recomPensas, em
espiral crescenre de status social e de condiçóes econômicas, a envolve¡ Pequenas
e grandes personalidades. O processo er¿ cempre o mesmo: partiam apenas de
patamares dife¡en¡es, já que todos os serviços, dos meno¡es aos maiores, exigiam
¡ecu¡sos frnancei¡os próprios de maio¡ ou meno¡ monta e chegavam a ponros
dife¡entes, pois a remuneraçáo e¡a feira de aco¡do com a importância da carefa e a
qualidade da pessoa.

Esca discussáo é apresenrada por Fernanda Olival num dos maìs importantes trabalhos sobre
o rcrea, As Ordens Mil¡tares ¿ o Esta¿lo Moàerno: honr¿, mer¿ê ¿ t enahztalt em Pottugal (1641-
t789). Lìsboa: Esrar,1.001, p. 23 c segs.
Afonso Luiz Piloro & B enß Teixei:r:., i'"laLlJï¿;gio & Prosopopeø.. (1601). Recife: UFPE, 1969,
P- 128.
lcrn¿nda Olrral. Op. ct!..p. l< e )l-e\p<.( \¿menre.
-A fo¡macáo da elite colonial

Dois dos mais in¡eressantes exemplos dessa relaçáo encre serviços e recursos fi-
nenceiros podem ser enconrrados em carcas enviadas por proeminentes personalidades
da Índia portuguesa da primeira metade do século XVI. O primeiro é o de Àfonso
de A.lbuquerque, que governou a Índia nos primeiros tempos do domínio pomuguês,
sendo responsável pelas grandes conquistas do período (O¡muz, Goa e Malaca), que
aÊrmava, com toda desenvoltura, numa carta para D- Manuel,

Lembro-vos, Senhor, que se f¿zeis Fund¿menro da Índia. e minha pe'soa aca-


bar nela, que me deveis de fazer muiro grande mercé e muito rico, porque, quando
as vezes me de lá náo vir socorrido, e me cá em alguma necessidade, possa abrir
'ir
meu cofre, e achar nele cinqüenra ou cem mil cruzados, com que consene as coisas

de vosso estado e de vosso serr'iço e minha obrigaFoì6.

O segundo é da pena de Manim Afonso de Sousa, que em carra para D. Joáo III,
escrira ao largo da costa da Áf¡ica a caminho do O¡ienre - onde ia ocupar o posto de
capitáo-mor do Mar da Índia, após s,r. passagem pelo Brasil , lembrava ao ¡ei, na beleza
do porruguês quinhentista, "náo pode ser mor onzene que a fazerdes-me mercê, que eu
quanto mais tiver mais rerei que gastar em vosso serviço, que nos homens como eu as
17.
me¡cês do seu ¡ei é depósito que o rei rem neles para quando lhes fo¡ necessário"
As recompensas, ou mesmo apenas a exp€c¡ativa delas, transformava os màis
va¡iados vassalos em p€¡manentes servidores da Co¡oa, que assim potencializava seus
¡ecu¡sos, porque, como dizia D. Joáo de Cast¡o, vice-¡ei da Índia, "tudo o que os ho-
mens ganham cá (índia) o tornam a gasta¡ na mesma terra, ou em Portugal, em serviço
de Vossa Alteza"is.

"Carra para el-rei" de il de dezemb¡o dc 1i14, escrita em Cochim e publicada em Al?rnso


de Albuquerque. Cørtas para el-rei D. Mø.nucl I seleçâo, prefácio e notas de,A.nrónio Baiáo.
Lisboa: Sá da Cos¡a. 1942, p. 237 . lnte¡essa n te rambém é sua afirmaçao após a tomada de
Ormuz: "náo mo pode eÌ-rei pagar este servìço', cirada por Maria Cìara Junqueira' AÊonso
de Âlbuquerque" in: Luis de Albuquerque, Diciantlno dos Descobrimentos Portugucses,2 '.ols.
Lisboa: Caminho, 1984, vol. I, p.34 e segs.
Ma¡rim,{fonso de Sousa, "Carta para o rei, escrira de bo¡do, ao largo da cosra da Guiné' a
caminho da Índia, i2 dc abnl de 1534', publicada por Luís de .Á.lbuqr:erque (Org)' Martínt
Alfa, 1989, p. tl-
Afonso de Sousa,. Lisboa:
O rrecho enconrra-se em cerra ao rei datada de DÌu, 16 de dezembro de 1546 D. Joáo de
Caswo, Op. elr., p. 66. As carras de D. Joáo de Castro, publcadas por Luís de Albuquerque
nessa colerànea,lo¡am escritas entre 1545 e 1548, enquento governava a Íttdla, exr.r-..t¡.
em seguida a Martim,Á.fonso de Sousa, ¡endo sido o 4' governador a receber o tírulo cle vice-
reì. Personalidade bem diferenre do antecessot D. Joáo de Cast¡o, membro da aha nob¡eza
da época, foi uma das grandes Êguras portuguesas do século XVI, destacando-se por seus
44 Rodrigo Ricupero

A monarquia lusitata era assim, nas palavras de António Sérgio, "o dispensador
de rodos os bens, o centro de aspiraçóes das ene¡gias nacionais"le, pois, ao concent¡a¡
grande parte da riqueza do Reino, podia repassar parce dessa aos seus servidores, na
fo¡ma de benefícios diversos, prendendo-os ao poder, de tal forma que ia
do, pois, a afluência de fidalgos à corte, Pa¡a sugarem ao rei o produto da exportaçáo
comercial, em tencasJ morgadios, reguengos, jurisdiçóes, 'de maneira que' (diz um
esc¡ito¡ do século XVI) 'mais parecia ser pai, ou almoxarife, que rei nem senhor"'10.
O processo de dependência c¡escen¡e da nob¡eza diante da Coroa ocorreu por
toda Europa Ocidental por
e reve ponto culminante as Corces absolu¡iscas. Em Po¡¡u-
gal, ral processo iniciou-se já no fìnal da Idade Média e obrigou que os privilegiados,
com as rendas em dec¡éscimo e forçados a gascar altas somas Para rí îrer o |tllttts
nob¡e, no dizer de Edua¡do d'Olivei¡a Franca, fossem "compelidos a mendigar do rei
'cótijas' e préstamos, acostando-se ao trono e ostentando requintada fidelidade para
atrair a benevolência da Co¡oa dadivosa"l!.
Com a expansáo ultramarina, a Coroa reve condiçóes ainda maiores para agraciar a

nob¡eza em uoca da cada vez mais completa submissáo polírica e dependência econòmica,
ranto que, Joáo Lúcio deAzevedo, ao comentar uma poesia palaciana que enaltecia a mag-
nifìcência da Co¡ce e a liberalidade régia, aûrmava: "à ¡oda do soberano cinco mil apani-
guados desfrutavam moradias, dotes de casameoto, renças e as demais verbas, por onde se
exau¡ia o meiho¡ dos resouros ¡ecolhidos'lt para concluir em oucro momenro que o rei D
Manuel, ideando as empresas, distribuindo cargos e recompensas, acabara submetendo as

conhec¡menros da asrronomia náurica e peLa conlecçáo de roteiros maritrmos, em que alieva


areoriaeapr¡.rica.
Ànrónio Sérgio, Breaa hterpreta.ç'io àa Hrstóia le Porngal, )' eà.l,tsboa: Sá da Cosra, 1974,
P.)5
Ibidera, p.95.
4r Edua¡do d'Oliveira França, Op. cit., p.289."Córi1as" ou 'contia" corresponde, segun<lo N'fo
raes, a'cerra porçáo, que os rcrs pagâvam aos cavaleiros, que os scrvran no Paço, ou n:-
campenha, maìor ou mcnor segundo a nobreza do vassalo. que este ríru1o recebia quando era
aconriado", e "préscamo" ou "aprésramo" rem aqui o seniido de "consignacáo de cerros fruros
e dinheiros para susrento, manrcnça ou obras pias, assentadas ern alguma herdade", Äntônro
de Mo¡acs Silva, 02 cù., respeccivamen rc p. 457 e p. 164 do primeiro "olume.
Joáo Lúcio de Àzer-edo , Epocas le PoraLgal EcazLóuno. 4' ed.Lis\ox Cìássica. 1988, p. t I0. O
refèrido poema enconrra-se na chamada \{iscelâneadeGarcradeResende"(ii4i):'.,{Corte
de Porrugal/ vimos bem pequena ser/ depois tanro enobrecer/ que náo há ourra igual/ na cns
¡a¡dade, a meu ver;/ rem cinco mil mo¡adores/ em que enrram murtos senhores/ a que el-reì
dá assenramencos/ moradias, casan,enros/ renças, mercês e honorei'. \¡er Ga¡cia de Resende,
OV. cit., p. 588.
A fo¡macáo da elite colonial

vonrades, fo¡ralecendo cada vez mais a sua auco¡idade, poderia cer dito muitos anos affes
de Luís XIV, ' que o Esado e¡a ele"13 .

Não contudo, que tal situaçáo fosse exclusivìdade da nobreza, para am-
se pense,
plos serores da populaçáo a Coroa e seus órgáos eram vistos como um "repositório de
recu¡sos do qual os vassalos podiam retirar algum proveico"la, gerando redes de liga-
çóes urilizadas para angariar favores, fosse dire¡amenre do morarca ou indireramenre,
por meio de pessoas próximas a ele. A proximidade com o rei era fundamental, pois
"cumpre náo esquece¡ que o palácio rcaI era entáo o espaço de proximidade física do
rei'!t, dessa maneira) qr¡ar¡o mais próximo estivesse o vassalo, meis facilmente seus
serviços poderiam ser visros e recompensados, por isso a pena de degredo, ou seja, a
expulsáo ou exílio da Co¡¡e significava o fim da possibilidade de obter ¡ecompensas
daqueles que passavam a ficar longe do olha¡ do ¡ei.
Tal idéia já era percebida na época, pois, como dizia o dito recoihido na tradiçáo
o¡al, "bem afo¡tunados sáo os homens que com os Reis de Porrugal têm valia 16, e os
que em Castela têm dinheiro e os que em França têm poder"at, afinal era, nas palavras
lapidares de f¡ei Luís de Sousa, junto "ao bafo do rei"1s que se obtinham as dive¡sas
recompensas e prêmios pelos serviços prestados !t.
Mesmo com a expansão para terras cada vez maís longínquas, o "olhar do rei"
nem por isso deixava de cer importância, po¡quanto o rei, mesmo dìsrante, conti-
nuava a ser a fonte de onde emanavam todas as mercês e honras, reais ou imaginá-
rìasi0. As ca¡tas t¡ocadas en¡¡e o mona¡ca e seus agentes são exemplo disso. Afonso

43 Joáo Lúcio dc,A.zer.edo, Op. àt.. p.291. O autor, ao longo do seu clássico cstudo, mosrra
como a expansáo ulrramarina veì scrvrt, em sua opìnìáo, apenas para o larorecimento da Co
roa, da nobreza c dos grandes mercadores em det¡ìmento do desenvolvimcnro dc Portugal.
44 I'edro Cardim, Coït¿\ tC harn Po//t¡c,r. no Portaga,l r/o Antigo Rag,zze. Lisboa: Cosmos, 1993.
P 44.
45 lbiden, p.6Ct.
46 "\àlia' de valinento: "o sraça, p¡i\-ânçe, que se rem com alguém, em ri¡rudc
da qual se conscgue dele o desejado" coûo nos ensina Anrônio de Moraes Sih.a, O¡. rzr-, Il
p.828.
47 Ditoi Portagr.eses Dignos de Mernória, Op. cit . p. 460.
48 Freì Luís de Sousa.lznh dc D. Joií¿t III (c.1631). 2 vols. Iisboa: Sá da Cost¿. 1938, p. 157
49 Pe¡cebe-se ao longo da documentaçáo uma c¡í¡ica cons¡an¡e ao fato de os va.."ì". ¡"'em de
r.oìrar ao Reino para requerer por seus s€rv!ços, sLrbmetendo_se a enorrnes Yiasens' como âs
de rerorno do O¡rence. Por isso, como.'rmos acima, Dìogo do CoLrto lour-ava os tempos de D.

Joáo II, en que as mercés scrjam leitas anres r¡esmo do rctorno do lavo¡ecido
i0 l-ilhena, na dcdica¡óra de sLra conhecida obra, expressa essa ìdéia do ¡ci "como o chefe da
Naçáo roda, como lai
da Pár¡ìa, como fonte donde emanam rodos os beoelicios de que csta
goza". Luiz dos Sanros Vilhcna, Rrrap ilaçáo de Notícias Soteropolztanas e Brasilicas (18Q2).2
vois. Saìvacior: imprensa O6ciaì, 1921, I. p.6.
46 Rodrigo RicuPero

de Albuquerque avisava a D. ManLrel que "ainda que seia longe donde Vossa Alteza
esrá, mLliro se sente cá vosso favo¡ e desfavor"t', e Ma¡tim Afonso de Sousa lem-
brava a D. Joáo III a importância das me¡cês e das Promessas reais para animar os
vassalos a ptestarem os serviços exigidos, assim, numa Passagem, diz: "é necessá¡io
toca¡ Vossa Alteza com sue máo a uns com mercê, a outros com esPe¡anca, a outros
com favor, por que de out¡a maneira é rudo perdido"tt
Todavía, para dist¡ibuir benefícios e rendas, era necessá¡io anres possuir ri-
quezas que suportassem tal polírica. A Co¡oa, desde os Primeiros rempos, possuía
imenso patrimônio te¡ri¡orial, o ¡ei e¡a o maio¡ lavrador da naçáo, ninguém ti-
nha "mais ter¡as, mais gados, mais foros, mais ¡endas"tr do que ele, pois. com o
avanço da reconquista contre os mouros, a Coroa soube ampliar seu parrìmônio'
apoderando-se da parte essencial das novas conquistas As cidades e os grandes
povoados foram organizados em concelhos, "mas o sis¡ema de impostos e adminis-
traçáo superior, bem como vasra proporçáo de casas, fornos, lagares e ou¡ros meios
de produção perrenciam ao monarca"5l- Quanto às terras, imensas á¡eas fo¡am
doadas às o¡dens milita¡es, cada vez mais vinculadas à Coroa, que passou a dispor
dos ¡ecu¡sos delas para retribuir a seus vassalosit-
Regisue-se que a relação da Co¡oa com o conjutto da nobreza, pa rricrr la rmenre
no que loca às concessóes do patrimônio régio (rerras, jurisdiçóes erc.) feiras aos nobres,
aqui é apenas esboçada em grossas linhas, pois o forraiecimento régio diante da nobreza

''Ca¡ra de -dfonso de Älbuquerque para D. Manuel" de 1' de ab¡il de 1512, publicada ern
Afonso de Älbuquerqúe, O?. üt., p. 65. Vejam+e também as recomendaçóes de D. Joáo
de Casrro ao monarca para que enviasse carras a determinadas cidades como Goa e Chaul,
em geral, e a determinadas pessoas, em particular, com "mLrìros agradecimenros e concen_
ramenros do que fìzeram, que seja grandc causa de ourras vezes fòlgarcm de gastar s,ras
lazendas e pôr em risco suas pessoas por seu serviço ... porque nenhuma coisa dá c.i <sprriro
aos homens e os aviventa tanto como as carras e favo¡es de V ,A..", Ci D. Joáo de Casrro,
O?. cít., p. 87.
i2 'Carra para o reì, darada de Cochim, 24 de dezembro de 1536", pubiicada por Luís de Albu'
qterqte (.Org.), Martim l,þnso de Sousa, Op. cít., p. 50.
i3 Joáo Lúcio de Azevedo, Op. cít., p.31.
54 Ä. H. de Oli"eira Marql'es, HL'tõrtu ¿¿ Poøgtl, 3 r'ols., 9'ed. Lrsboa: Palas, 1982, I vol., p.
141.
Os mexrados das O¡dens Milrtares de A.vis, Cristo e Sanriego foram anexados à Co¡oa em
1551, sendo anres con6ados a pessoas próximas do monarca, filhos bas¡ardos ou pârenres
próximos. Seu parrimônio econômico e simbólico, como nos lemb¡a Fernanda Olival, loi
urilizado amplamcnre peÌa Coroa para recompensar seus por meio, por exemplo, de
'assalos,
comendas ou de hábicos de cavaleiros. Fern an d,a Oli.val, Op. cit., pa:si.a. Regisrr€-se åqui que
os hábi¡os eram ves¡imenras especiåis que caracrerizavam as ordens milirares; com o rempo
foram se reduzindo a uma simples insígnia ou disrinrivo, mant:ndo, conrudo, a denominacão
original.
A formacão da elite coÌonial 41

é um processo longo, cheio de avancos e recuos, principalmente no período ante¡io¡ à


expansáo ultramarina, em que as mudanças dinásticas, a sucessáo dos reis, os problemas
internos e externos, a relaçáo com a Iereja, en¡re out¡os fatores, condicionam as polícicas
ado¡adas, fazendo que em determinados períodos o par¡imônio régio diminuísse e em
outros aumenrâsse, bons exemplos disso se¡iam as conjunturas de 1383-1385, época da
Revoluçáo de -Avis, e os ¡einados de D. -Afonso V e de D. Joáo II.
À aventura ultramarina, parricularmente após a chegada à Índia, ¡ransfo¡mou a
Corte numa grande casa de negócio. O rei, antes o maior lavrador, passou a ser o maior
come¡ciante) como se percebe pelo fato de a própria Casa da Índia. órgao encarregado
de gerir o comércio com o O¡iente controlado pela Coroa, funciona¡ no cé¡¡eo do Pa-
lácio da Ribei¡a, embaixo dos aposentos de D. Manuel, o rei mercador por excelência
e assim chamado com desdém pelo rei Francisco I da Françat6-
O vasto Império que se formou, se po¡ um lado aumenta as exigências de re-
cu.sos, por our.o ofe¡ece à Co¡oa maio¡es possibilidades de ofertar recompensas. As
conquìstas ult¡ama¡inas passaram a fazer parte do patrimônio régio, ampliando o
leque de recursos a se¡em concedidos em retribuiçáo dos serviços prestados: gover-
nos, cargos e postos militares; comandos de navios e de expediçóes; possibilidades
come¡ciais e terras entae outras coisas.
Conrudo, náo só de me¡cês materiais viviam os súdiros, e o mona¡ca, no dize¡ de
Ped¡o Ca¡dim, "surgia como detentor exclusivo daquele que era, talt'ez, o bem mais
ambicionado e valorizado pela sensibilidade coetânea: a capacidade, quase 'mágica', de
nobilitaçáo"ti, ou seja, a capacidade de da¡ nova configuraçáo às hierarquias soci¿is, o
que permiria que importanres servicos, muitas vezes feitos com grande dispêndio de
recursos por parte dos vassalos, fossem recompensadod com titulos nobiliárquicos va-
riados ou distinçóes nobili¡antests, pois, como lembrava Afonso de Äibuquerque numa
carta a D. Manuel,

j6 Oln'eira Martins, se¡luindo seu cstìlo, rraça o seguinte perÊl de D. Manuel: "ocupado a cal-
cular os lucros da sua fazenda da Índia, me'cador e apaixonado pclas ricas aLfaìas preciosas,
como um N{édicis", Oliveìra Marrins, H;rtorí/1 ¿e PottxgaL Lisboz: Guimaráes, l97Z 17"
ed., p. 315. Virorìno Magalhaes Godinho vai lalar em "Estado-Mercador" e Manuel Nunes
Dras em "Capìralismo ìvlonárquico", cf. Virorino Magalháes Godinho. A E\trutara ¿a Ant¡91
Socledade Partu,gaesa. LLsboa Arcádia, 1971, p. 75 e ManuelNúr\esDj^s. O CãPiîalisml Mo-
ntírquico Português,2 tols., Coimb¡a: Unìr'ersidade de Coìmbra, 1963.
57 Ped¡o Ca¡dim, Op. cit., p.60.
58 Fe¡nanda Olival, Op. clr-, p. 31. Embora djscurivel, exrs¡ia â impressáo de que as honras
esravam sendo disr¡ibuídas em exccsso, assim Diogo do Couto dizia: "Eu náo peço a Sua
Majesrade que me faça 6dalgo nem qLre me dê o hábi¡o de Cristo, porque o mundo está táo
cheio deles, que ainda hei de ser conhecido por homem que náo rcm hábito", Diogo do Couto,
O?. cit , p. 1.
Rodrigo Ricupero

náo ser nova coise no mundo aos grandes príncipes ... fazerem

nhorios grandes os 6dalgos e cãvâl€i¡os que fâzem servicos assinalados, e Póem suas

vidas em Pe¡igo por receberem galardáo e me¡cê, se lhe Deus dá vida; e alguns desra

obrigaçáo, carecidos de linhagem, lhe dáo novas armas e nota linhagem5t

E mesmo homens ligados aos setores me¡cantis ambicionavam essâs concessóes,


como um dos maio¡es comerciattes de Goa no século XVII, Manoel de Mo¡aes Su-
pico, cujo sucesso come¡cial foi co¡oado com honmrias e ca¡gos, tais como, fidalgo da
casa ¡eal, cevaleiro do Hábito da O¡dem de C¡isto, conselhei¡o da Câma¡a de Goa,
60; ou
presidenre da Misericó¡dia e diretor da Companhia de Comércio para o Oriente
ainda, como, no século seguinte, o comerciânre F¡ancisco Pinhei¡o, que, além de ser
agraciado com o Hábi¡o da Ordem de C¡is¡o, desfrutava de graode prestígio junto ao
mona¡ca6ì,
Po¡ rudo isso, o rei, dispensador de hon¡as e mercês vá¡ias, conforme Raymundo
Fao¡o, "se ele'a sob¡e todos os súdiros, sethor da riqueza cerlirorial, dono do comé¡cio
(..), capaz de gerir as maiores propriedades do país, dirigir o comé¡cio, condûzi¡ a econo-
mia como se fosse empresa sua"6r, para conclui¡ ca¡acre¡izando a monarquia porruguesa
como patrimonial, conceito fundado em Max \lebe¡, Para qúem existi¡ia um "Estado
Parrimonial quando o príncipe organiza seu Pode¡ Político sobre áreas extrapacrimoniais
e súdiros políticos poder que não é discricioná¡io nem mantido pela coerçáo física -
exaramente como exerce seu poder patriarcal".i. Ainda para \flebe¡ a maioria de rodos
os grandes impérios conrinentais, inclusive os da Época Moderna possuíram üaços Pa-
t¡imoniais basranre destecedos64.

"Carra para el-rei" de Il de dezembro de lí14, publicada em Afonso de Àlbuquerque, Op.


cít., p.234.
60 A. R.DLsney, A Decalincia do Impérío da Pimenø (uaduçáo). Lisboa: Edicóes 70, 1981, p 122.

61 lúniaFvtado, Hamen: de Negócio. Sâo Pa:cJo: Hucirec, 1999, p 38


62 Raymundo Faoro, O¡ Danos do Poder,2vols., 9'ed. Sao PauÌo, Globo. 1991, P. 20.
63 MaxWeber, Economi¿.1 Sociedad (vaducio). México: Fondo de Cultura Económica, 1992, p.
759. Ver rambém Simon Schrvaruman. Sáo P¿alo e o Es¡aìo Nadonal- Sáo Paulo: Difel, 1975,
p. 39. Essa idéia da gexáo do Reino pelo rei como se fosse a própria casa - é ressalrada por
Norber Ëlias, quando desraca ser a "casa do ¡ei ', ou seja, a Cone, o órgáo central da monarquia
pacrrmonialisra. r\orbenElias, A Socie¿/¿¿Je de Ca¡t¿ kr¡ðoçto). Lisboa: Esrampa, 1995, P. 19.
O conceiro de pa.nmonìalismo pode ser encontrado em do's trechos d: obra de llebe¡ nos
capirulos "os ripos de domrnaçáo" e'tociologia da dominaçáo". C[ Max 1i7eber, 02. rø.,
respecn\-amenre, eû¡re as páginas 180-193 e 753-847
A fo¡maçáo da elite colonial 49

Raymundo Faoro, porém, náo foi o primeiro e rnzet pata a análise do passado
b¡asilei¡o o concei¡o de \Øebe¡ót. Em 1936, Sérgio Buarque de Holanda inr¡oduzia a
idéia, dedicandolhe, contudo, tão somente dois parágrafos, que, talvez, por antecede-
¡em imediaramente ao famoso debace sob¡e o homem cordial, âcaram esquecidos66-

Foi, contudo, Flo¡estan Fe¡nandes quem melhor soube adaprar o conceito webe¡iano
à nossa histó¡ia. No ensaio'A Sociedade Esc¡avisca no Brasil", de i97661, dedicou um
tópico às funçóes do patrimonialismo nas relaçóes da Co¡oa com os vassalos no pro-
cesso de colonizaçáo.
Pa¡a FIo¡es¡an Fe¡nandes, Portugal organizava-se como complexo Estado pa-
trimonial, €m que "a concentraçáo de poder e de riqueza nas máos do sobe¡ano
representa a contraPa¡te da associaçáo deste com a nobreza, o clero, os'homens de
fo¡runa', do país e do exterior, em uma grande empresa militar' econômica, política
e religiosa comum"6s.

Lembre-se que a 1'ediçâo do trabalho é 1958. Raymundo Faoro, Os Danas do Podu Rio àe
Janelro: GÌobo, 1958. Embo¡a o livro, Posteriormente, ¡enha sido muito
ampliado' a parte
dedicada ao rema aqui discutido náo sofreu profundas alreraçóes, assim citaremos sempre o

rerro da cdiçio deÊnitiv¿ de lo-j. i¡ cir¡d: :rin¿.


Sérgio Buarque de Holanda, R¿ízes do Brasil Rio de Janciro: José Oli'mpio' 1936' P 99
Posreriormenre, dirersos autores Pâssaram a u[ilizar, cm sùas obrês, esse conceito, nem semPre
da mesma maneira. \¡eja, por exemplo, além das obras citadas, St¡:art Schtvartz' Butocncì¿
c Sorieàale no Brasíl Calonial (rradtçio)- São Paulo: Perspecriva, 1979, p XlV ou F^ernando
(rI?¿uçio)
Uricoechea, 'A Gênese do Contex¡o Pat¡imonial" in: Id,em. O ll¡notau'o ImPeTiãl
Sáo PaLrlo: Difel, 1978, p. 21 e segs.
Flo¡esran Fe¡nandes, Circùto Fech¿lo.2" ed Sao Paulo: Httcnec' 1977 O ¡elerido ensaio
é o primeiro capitulo do liv¡o. C[ Ana Crisrina Verga de Castro' lzterpretaçócs da Colónìa
no pen:amento brøsìl.eilr. Sáo PauLo: Unn'ersìdade de Sáo Paulo' 2001 (tcse inédita)' p 30 e
seguinres.
Ìbidcn, p. 34.
50 Rodrigo Ricupero

Nesra perspecriva, do patrimonialismo, a monarquia náo era feudal6e, mas,


sim, parrimonialTo, e isso desde as origens de Portugall, pois, como explica Eduardo
d'Olivei¡a França, ao cont¡ário do que aconrece no feudalismo, a ar¡to¡idade do ¡ei
esrendia-se por todo o Reino e os amplos privilégios da nobreza náo a eximiam do po-
de¡ real, e, de fo¡ma oposta ao caso francês, havia a separaçáo das funçóes públicas, em
outras palavras, a soberania da propriedade da terra, o que, no caso português, pode ser
explicado pelo pequeno ramanho do Reino e peÌa necessidade de unidade de comando
na Reconquisra dianre dos muculmanos72,

elementos, nas paÌavras de Ganshol "um parceiamento do poder público,


criendo em cada região uma hierarquia de insrâncias aurônomas, que ere¡cem, no seu proprio
rnteresse, pode.es no.malmen¡e a¡ribuídos ao esrado" ou, nas de Marc BÌoch, "a fragmenraçao
da sobe¡ania enrre uma mulridáo de pcquenos príncìpcs, ou aré de senhores de aldera, era a
singulariedade mais impressronanre da Idade Médii'. F. L. Ganshol Qzt ! o rQudallsmo? (redv
çáo). Lisboa: Europa-Arnérica, 1968, p. 9 e M zrc BIoch, A Sociedal¿ Feadal fuaàryâo). Lßboa,:
Ediçóes 70, p, 12. Lembre+e também que, para os marxisras, o modo de produçáo feudaì É algo
complemmcnte dife.enre dessa delìniçáo, veja-se, por exemplo, enrre ourros, Chrisropher Hill,
,1 Retolucáo Ingle:a àe 1640 (vadrçâo),3" ed. Lisboa: Presenca, 198i, p. 8 e Perr,r' Anderson,
Par'ltgens ¿a A tigit¡¿'z¿€ ao Feulalisma (¡raduçâo). Sáo Paulo: Brasiliense, 1987: p. 143 e scgs.
Pa¡a \lebe¡, Èudalìsmo e parrimonìalismo sáo subripos da domìnacáo rradicìooal e o que
diferencia ambos é, como explica Simon Schrvanzman, "um elemenro de poder, consubstan-
ci¿do nâ exisrência ou náo de um conrra¡o de Gdelidade e relaçóes recíprocas enrre superiores
e inferìores, líderes e liderados, senho¡es e vassalos"- Veja se rambém, sobre a quesrão, o rm-
porrante estudo de Gina Kuper que descreve po¡menorizadamenre as dìlerenças enrre ambos
os conceìros e que inclui Lrm inreressante capírulo sobre o parrimonialismo no México. Simon
Schrvanzman, Op. rit., p. 39 e Gina Zabludovsky Kuper, La Domìnación lÌatrímaní¿l en /a
obra de Møt \'Yleber (uaduçáo), México: Fondo de Cuftu¡a Económica, 1989.
,4. polêmica sobre o leudalismo em Porrugal cem uma longa hisrória e rem como ponro de
partida o debate enrre Alexandre HercuÌano e o auror espanhol Francisco de Cárdenas,
no final do século XIX. For¡unaco de Almeida apresenra um bom resumo do debare, que
ainda perdura. ,A.lexandre HercuÌano, "Da Exisrênciâ ou da náo-cxìs¡éncia do feudaÌismo
nos Reinos de Leáo, Casrela e Porrugal" (1875-77) in: Opí,sculos, :rmo V, 5' ed. l,rsboa:
Be¡c¡and, s/d,, p. 187 e Forrunaro de Alnerda, Históri,z de Portugal,6 vols., Coimbra:
ediçáo do auror, 1922, vo| l, p. 332. Uma órima exposicáo da linha que defende a náo
exis¡ência do leudalismo em Porcugal enconrra-se em Eduardo d'Olneira Franca, 07.
rlt, 96 e segs.r posiçáo oposra, pode ser visra em José Vlarroso, 'O Feudalismo Porru-
grès" in: Fragtnettos de u-rnø Canposição ¡{edieaal. Lisboa: Esrampa, 1993, p. 115 e segs.;
por Êm, para a visáo marxisrâ, que segue ourra deÂniçáo do conceiro, veja,se Armando
Casrro, T¿o a ¿la Sistema Feudal e Transiçrio para o Capitalismo em Porntgal. Lishoa:
Camirho, 1987 e Álv¿ro Cunhal, As lutas de Classe: em Portugal nos fns da llade Média.
Lisboa: Presença, 1980.
Regisrre-se que Edua¡dod'Oln'eira França, embora náo use o conceiro de pa¡¡imonialis¡ro
de \r/eber, nem mesmo cire csse autor, uriliza os termos propriedade, patrimoniaÌidade ou
A formaçáo da elite colonial

Duas out¡as caracce¡ísticas da monarquia patrimonial, conseqüências di¡etas do


bloqueio ao fracionamento da sobe¡ania, que a diferenciam da feudal, foram a cent¡a-
lizaçáo administrativa e a forma de remune¡acáo de seus se¡vidores Quanto a esta, vaÌe
lembrar que no feudalismo, para tùfeber, a forma mais importante era a terra, possuída
como direito próprio - o feudo -, e no patrimonialismo, por ourro lado, era a remune-
raçáo vitalícìa, náo he¡editária, em fo¡ma de ¡endat'-
Comparando novament€ com o ceso francês, no qual a entrega de terras,
com amplos poderes, permitiu a ìndependência da nob¡eza em face do poder real,
como explica Edua¡do d'Olivei¡a F¡ança, "tornando-se feudais cont¡a o poder real
e por deficiência dele", no caso português, o ¡ei concedeu senhorios para satisfazer
nobres, que o ajudassem conrra os inimigos exte¡nos; "os rico-homenst-'o eram por
consentimetto do rei e por delegaçáo dele; náo havia vassalos cont¡a o rei. mas gra-
cas ao ¡ei. Essa constante dependência obrigava-os a se aconchegarem ao t¡ono"'-5
Assim, em Porcugal, as doaçóes de bens da Co¡oa cinham um caráter precárìo,
porquanro num Reino que "se sustentava da me¡cê", conclui Fe¡nanda Olival, "garan-
rir reto¡nos era essencial; a arca das doaçóes seria grande, mas náo infrnita"-6-
Passolr a se¡ a fon¡e de se¡vido¡es do monarca, sem
A nob¡eza, po¡tantoi os di_
reitos e privilégios lìxamenre dete¡minados do feudalismo. O que permiriu à Coroa
prender esses servido¡es numa ¡ede de favores, ¡olnando-os dependentes do poder e do
tùlebe¡, "o Estado Pat¡imonial faz com que toda a
tesoúro ¡égioi7'is, pois, para Max

concepçáo patrimonial para explicar a forma como a Monårquia conseguiu rmPedir o desen-
r.olvìmento do feudaÌismo em Portugal. Edua¡do d'Oliveira Franca, Op rit'' p 96 e segs

Max Vebe¡, Op. cit. e GinzZ. Kuper, Op. cit , p.21 e sqs.
Rìco-homem era o grau mais elevado da nobreza nos Primeiros sécùlos e o termo se ¡ssociou
à idéia de autoridade p¡oveniente do exercício de algum cargo CL Maria Teresa Campos Ro-
drigLres, "Rico'Homem rn: Joel Serráo (Coorà\' Dícion¿r;o d¿ Hist'iria le Porngal,6'oß '
lorro: liguei-inl-as. llo). romo V. P. J45
75 Eduardo d'Oln'eira Fr^nca, OP. c¡¡., p.101
76 Fernan,la OÌival, Op. cìt., 44. Bom exem¡ln ãi*o er: " "so das comendas das Ordcns M;li-
rares para a remuneraçáo dos vassaìos. Também ver sob¡e o assunto António ManueL Hespa-
nl,a, As ué:pera,s do Leuiathan, Coim!:ra.: ttlmedina. 1994, p 402'
Raymundo Faaro. Op. ctt , p- 20 8 ainda na mesma obra' para Faoro, "a açáo re"l " f"í
por meio dc pacros. acordos c negocìaçóes" e "a rroca de benefícìos é a base da:rìvidade
pública, dissociada em inre¡csses rcunidos numa únìca convergência: o poder e o tesouro
do reì", p.50.
Essâ rese náo nos parece cont¡adi¡ória com a monarquia absolutxta "é apcnas
visáo de que a
(aqui
uma nova Forma polírica necessária à maturenção da dominaçáo e da exploraçáo feudais
no sentido marxisra), no período de desen'oL'imento de uma cconomia mercan¡il"' como
nos diz Ahhusse¡ idéia posreriormenre dcsenvolvida por ?erry Änderson' pois a monarquia
portugt'esa defcnsora dos inte¡esses da nobreza, já dependente do poder real' encaixa-se no
modelo europeu de estado absolutista, embo¡a o acenruado carárer patrimonialista lhe con
52 Rodrigo Ricupero

esfera de favores ourorgados pelo soberano possâ converre¡-se num luga¡ de exploracáo
para a formaçáo de fo¡tunas, e a via liv¡e (.,.) ao enriquecimenro do sobe¡ano mesmo,
de seus funcioná¡ios da Co¡re, favoritos, governadores"Te-
O acesso aos cargos régios ocupava, dessa forma, papel imporranre na remu-
neraçáo dos se¡viços e, com o desenvolvimento do Império Ulrramarino, ganhou
maiores dimensóes. Para a nob¡eza do Reino, exercer cargos nas á¡ees mais impor-
rantes do Império e¡a fo¡ma náo só de obte¡ hon¡as e mercês, mas rambém de con-
seguir boas forrunasso; para ourros seto¡es da sociedade, servir em variada gama de
ca¡gos e posros médios e inferiores era a possibilidade de ascensáo social e ¡ambém
a de enriquecimen¡o. Ässim, a divisão dos cargos e das ¡ecompensas, e a fo¡ma de
acesso a ambos, podem indicar a discinção feita por Alencasrro ent¡e o "homem
uftramarino" e o "homem colonial"sl, e enrre es¡es e vassalos corn ambiçóes mais
limiradas que recebìam pequenas parcelas desses benefícios e atuavam numa área
bem mais ¡estrita,
Essa política de troca de serviços por recompensas permiriu, nas palav¡as de Flo,
restan Fernandes, qlre uma "Co¡oa pobre mas ambiciosa em seus empreendimentos,
(e que) procura apoio nos vassalos, vinculando-os aos seus objetivos e enquadrando-os
às malhas das es.rurùras de poder e à burocracia do estado parrimonial"sr cons¡¡uísse
seu império colonial. Para esse auror, "sem essa associaçáo (entre a Coroa e os colonos)
náo haveria nem império colonial portugués nem economia de planraçáo no Brasil"Bs.
O vassalo era "em úkima insrância, o ve¡dadeiro susrenráculo do império no Brasil",
e a aÊnidade de inte¡esses ent¡e a Co¡oa e os vassalos se¡ia ráo grande que a riqueza e

1ìra cerra parcicularidade. CÊ Louìs AthLrsse r, Montesquieu, a polnica e a Hixririø ltraduçâoi:).


Lisboa: Preserca, 1972, p.151 e Perry, Änderson, Linhagens cta Est¿do Àbsoltttistd (trad¡câí), 3.
.d. s:o l.ulo: Brr,ili.n'e loo< p. lr.-j.
Registre-se tlue \lax Veber co¡side¡ara ¡ambém como uma ca¡ac¡erís¡ica do Esrado
Pa¡¡imonialis¡a a busca desce em legirimar-se como prorecor do 'bem es¡a¡" dos súdiros,
assim "o ìdeai dos Esrados par¡imoniâis é o pai do povo", Cl Max \f'eber, Op. clr., p. 837
e B4t.
Cl Vi¡gínra Rau, "lo¡ru¡as Ul¡¡amarinase a Nooreza Portuguesa no Século XVIi" in: 1/rr¿.
Estu¡los Sobre Hlstória EconônîaSori¿l do Aøigo Regizne. Lisboa: Presença, 1984, p. 27.
¿
António N'fanueì Hespanha, As uésperas do Let,iatha-'t, Op. cit., p. 496.
"O primeiro lazia sua car¡ei¡a no ut¡amar buscando iucros, recompensas e rírulos <iesf¡u-
ráveis na co¡re. O segundo circula em dive¡sas regióes do Império, mas joga todas as suas
lìchas na promocáo socjal e econômica acumulada numa dererminacia praça". Luìz FeLrpe dc
.{lencasrro, O Tj'ato do¡ Viuntes. Sáo Paulo: Companhia das Lerras, 2000, p. 103.
Floresran Fe¡nandes, Op. ch., p.34.
83 Ibidem, p.34.
A formaçáo da elire colonial 53

o poder de embos c¡esciam num ûesmo settido. "O colono de s¡¿¡z¡ senho¡ial náo só
era o vassalo e o representante da Coroa na Colônia: ele era, simultateamente, a base
material visível ea mão a¡mada invisível da exis¡ência do lmpério Colonial ...". "T¡ata-
se", enfim, para Florestan Fernandes, "de uma montagem polírica perfeita, que ainda
hoje aparece como uma pequena obra-prima"sr.
Po¡ tudo isso, a temune¡acáo dos serviços náo pode ser vista apenas corno
dom ou me¡cê do mona¡ca, fru¡o de sua maior ou menor libe¡alidade A troca de
serviços por me¡cês foi um componente cen¡ral da política adotada pela monar-
quia portuguesa, que lhe permitiu náo só a consti¡uiçáo do Reino independente
na península, mas também a montagem do vasto Império. Nesse sentido, ac¡edi-
tamos que o uso do conceico weberiano de patrimoniaiismo, aplicado à monarquia
porruguesa, p€rmite umâ melhor compreensáo da ¡ealidede em sua ¡otalidade, ao
conc¡á¡io de "economia das me¡cês" de Fe¡nanda Olival ou "economia do dom" de
-Anrónio ManueÌ Hespanha, que, embora exP¡essem a importância da polírica de
troca de serviços por honras e mercês, rendem a isolála dent¡o do con¡ex¡o mais
geral da monarquia, como uma política, entre outras, adorada de forma indepen-
r]enre or náosi.

34 Ibiden, p.44. Ao àesracar o papeì do colono na montagem da Colónia. Flores¡an Fern:ndcs


superou un dos maìores probÌemas da obra dc Ra,vmundo Faoro, pois cs¡e. ao descnvolver a
idéia da existôncia de un cstamcnio bu¡ocrático aurónomo. náo Pc¡cebeu que nos P¡imejrc's
rernpos da Colônìa os quadros admrnisc¡arìvos e os setores economicamen¡e domin¡¡tes lor-
mevam um mesmo qr'ùPo.
Fernanda Oln 02. rl¡., 18 e 14, nota 39. António Mauueì Hcspanha, A ''i.ntigo Rcgìtne, Op
a1,
rh, p. 332 Velc icmbrar, arnda, que Joáo Fragoso. a pa¡ti¡ do estudo sobre a eli¡e do
e segs.
Rio dc Janeiro no século XVli, dcsenvolveu o conceiio dc 'eco¡omra do bem comum" para
desrgna. o uso dos cargos locais e da Câmara e das mcrcês rég;ias pcìa elne senhorial da capi-
rania. No lundo. mlsituaçáo correspondcrìa à apropriaçáo peìos grLlpos dominantes iocan da
polírìca mais geral de troca de serriços Por recomPensas. Ct Joáo Fragoso' 'A formac:o da
economia colonial no Rio de Jancrro e de sua primeìra elite scnho¡;al (séculos XVI e XVII)"
in: ioáo Frasoso, Ma¡ia Fcrnanda Bicalho c Maria de Fárim¿ Gou"-êa, O Antíga Regime no:
77d¡rrai. Rio de Janeiro: Civìlizaçáo Brasìleira. 2001, p. 29.
2. Serviços e recompensas

Para isso (ocupaç,10 tla margem esquerda do Prata) se


Podìt Sua Majest¿dc u¿le, dos

bonens ¿úe Sáo P¿ulo, þzendo-lhes hotzras e mercè::

que as honras e os interesses fatilitam os homens a' todo o perìgo.

Auror desconhecido do frnal do século XVIIi

As promessas e as negociações

/\ c¿oirão-mo¡ da capit¿ni¿ do Ceará, Martim Soares Mo¡eno' uma das mais


\J d..,"."d", Êe,,r", io início do século XVII nas partes do BrasiF, em carta ao
rei esc¡ita em 1628, em que relarat'a a situaçâo da capitania, lembrat'a a ajuda de seu
sobrinho Domingos da Veiga, que reria feito "muitos e grandes serviços" e conciuía
pedindo "que Vossa Majestade lhe faça muica honra e me¡cê"'.

1 "lnfornaçáo do Estado do Brasil e de suas necessidades", documenro anônimo' escrito


em 6ns do século XVII e publcado na Raazsrz do lnstltuto Hìstórica e Gcognlfco Bn'nleit'a,
rcrr,o 25, p. 465.
2 Resumidamenre, Martim Soares Moreno' sobrinho do sargento_mor Diogo de Campos
Moreno, é considerado o fundador do Ceará, parricipou ati'amentc da iuta conc¡a os
lranceses no Maranháo e da conquista do Pará e ¡erminou sua carreira co'o '-Lm dos
comandan¡es da luta cont¡a os holandeses em Pernambuco !eja-se, en¡re out¡os Afrânio
Pcixoû, M¿úim SoÍre: Morcno,Lisbaa: A.gència Geral das Colônias, l9'10'
3 Cl "Ca¡m de Ma¡tim Soares Moreno a eì-rcr pedindo providências coû"a os governa-
dores do B¡asil náo complementarem o número dos soldados do presídìo nem faze¡cm os
pagamentos devidos aos existentes nele", darada dc 17 dc outubro de i628, publicada em
Ba¡áo de Studan, D¿cz'nentos ?ára ¿ Hitó'li1l ¿o Brøsil e espcciaLment a do Cear'í,4 vals '

55
56 Rodrigo Ricupero

Pouco menos de dois anos depois, o rei Filipe III de Portugal nomeava, em res-
peiro aos serviços feicos, Domingos da Veiga para o posto de capiráo da capirania do
Ceará no lugar de Martim Soa¡es Mo¡ero, que, por sua vez, seria deslocado para lutar
contra os Holandeses em Pernembucoa- Mas quais te¡iam sido os serviços feitos? A
carta de provimenro para a capirania do Cea¡á ráo informa, porém, em ouiro provì-
menro, dessa vez para capkâo da ca¡avela e das tropas que levava para a capitania no
momenro em que ia roma¡ posse do cargo, descob¡imos que esses serviços erem os
feiros na costa do B¡asil, principalmenre no Rio Grande (atual do Norre) e Cea¡á, onde
lutou murtas r.ezes com inimigos, e, além disso, descacava o documenro, possl!ía our¡o
importante atributo para o cargo, conhecia bem os índios da regiáot.
O episódio relatado em si mesmo é banal, mas exemplifica um dos aspectos cen-
rrais da relaçáo enrre a Co¡oa e seus vassalos, a troca de serviços por mercês, largamente
utilizâda no processo de colonízação das parres do B¡asil6. Porém, apesar da impor-
tância da questáo, a historiografia sobre o período colonial rratou pouco do assunro. A
única obra que trata diretamente da questáo das recompensas recebidas pelos morado-
res das parres do Brasil é o estudo A Remuneraçáo de Seruiços da Guerrd, Holandesa de
Cleonir Xavier de Albuquerque editado em 1968'.
A aurora esruda o p¡ocesso de obtençáo das dive¡sas mercês desde os pedidos
feiros, as consulras ao Conselho Ulr¡ama¡ino, as mercês requeridas, os serviços que
eram apresenrados aré os ¡esuftados dos pleiros. Mosrra-nos, ainda, os pedidos feitos
por familiares, as heranças, as réplicas às decisóes da Coroa e, inclusive, a falsidade de
alguns documenros..A pesquisa, porém, ao enfocar apenas o conrexro pernambucano
posrerior à expulsão holandesa, e, principalmenre, por fica¡ res¡ri¡a à descriçáo do pro-

FortaLeza: Minerva, 1909, rrcl. I1, p. 221. Esre documenro rambém pode ser enconrrado no
?rojero Resgare, Ceará, documento 8.

A carra de nomeacáo conclui dispensando Domingos da Veiqa de romar posse nas máos do
governador-geral em virrude da guerra com os holandeses. Cf. "Carra Régia nomeando Do-
mingos da Verga para capiráo-mor do Ceârá por seis anos em subs¡i¡uiçáo de Marrim Soares
Moreno" de 19 de serembro de 1630, Arquivo Nacional da 1'or¡e do Tombo, Ch¿ncela¡ia de
Filipe III, Doacóes, Ofícios e Me¡cês, Livro 25, fl. 112, publicada ern Baráo de Srudarr, O¡.
cit.,rcl.II, p.).54-
Ver "Carra régia nomeando Domingos da Veiga para capnáo da genre de inlanraria que vai
ao Ceará e para capiráo da Caravela" de 15 de novembro de 1630,,{rquivo Nacional da Torre
dolbmbo, Chaûcelâ¡iâ de FiÌipe lII, Doaçóes, Ofícìos c Mercês, Livro 26, fl. 2Z publicada
em Ba¡áo de Srudarr, Op- cít.,'vol.II, p.2.56.
Para os aspecros de fundo da rroca de serviços por mercés, veja-se o capirulo anrerior.
Cleonir Xavìe¡ de.Llbugrerqte, A remaneraç,io de,;eruiços da guerrø hol¿tàesa. Reafe: IJFPE,
1968.
A fo¡macáo da elite colonial 57

cesso de solicitação e ¡ecebimen¡o das "hon¡as e mercês", náo permrte maìor compre-
ensáo das relaçóes da Coroa com os vassaioss.
Tal aspecro, contudo, particularmente no que toca a compreensáo que os grupos
dominances da capitania de Pernambuco const¡uí¡am de suas relaçóes com a Co¡oa
pode ser encontrada no conjunto da ob¡a de Evaldo Cab¡al de Mello..Aflnai, o "ima-
ginário nativisra" pernambucano construiu-se a partir da idéia que a restauraçáo lora
sustentada pela gente da ¡e¡¡a e exp¡essa na máxima "à custa de nosso sangue, vidas
e fàzendas"!. Tal tema, contudo, como veremos adiante, surgiu nas partes do Brasil
mui¡o artes da invasáo holandesa e se¡viu como mote das queixas e cobranças feitas
pelos vassalos fren¡e à Co¡oa.
A historiograâa portuguesa mais recenre cem abo¡dado e questáo, t¿nto nos
aspectos mais gerais da rroca de serviços por mercês como com relaçáo aos P¡ocessos
bu¡oc¡áticos para obtenção das recompensas. Bom exemplo destas preocupaçóes é o
¡¡abalho de Fe¡nanda Olival, l¡ Ordens Militø,res e o Esrado .l¡t[oderno: honrø. mercê
e ue¡¡alidø.de en Portu,gal (1641-1789), que t¡ata cent¡almente da, como ela chama,
"economia da me¡cê", a partir da análise das o¡dens mili¡ares Portúguesas, que,
graçâs ao seu ¡ico patrimônio, permiriram à Coroa a ¡emune¡acáo dos vassalos, por
meio da disiribuição de comendas e de há5itos de cavalei¡oi0.
Retomando o episódio ¡elatado acima, en¡¡e Mattim Soares Moreao e Filipe III.
Outro aspecto importante é a naturalidade com que os agettes, no caso, o capitáo do
Ceará e o ¡ei, solicitavam e concediam as mais va¡iadas me¡cês. Afinal, a expeccativa
geral era a de que os serviços realizados se¡iam ¡emune¡ados e de que os prêmios alcan-
cados, ranto mate¡iais como simbólicos, permitiriam a realizaçâo de no' os e m¿iores
serviços que, po¡ sua vez. possibilìrariam outfas recomPe¡Ìsas ainda maiores numa es-
piral ascendenie. Essa, pelo menos, e¡a a dinâmica esperada, mas nem sempre efetiva-
da, pois, entre o serviço terminado e a sua efetiva ¡emuneraçáo, o caminho, com seus
diversos procedimentos, poderia ser bem lonqo e nem sempre concluído a bom te¡mo
pelo vassalo, o que gerava uma série de queixas e reclamaçóes.
De qualquei forma, servir à Co¡oa e¡a uma das mais imporiantes formas de
ascensáo social e econômica, porquanto, como já vimos, o cofre de mercês gerido pelo
monarca era amplo e as mercês va¡iadas, o que Pe¡mitia âg¡acia¡ os se¡vicos ¡ealizados
pelos grandes e humildes, tanco na metrópole como por todo o Império

8 Evaldo C¿b¡al de \4ello. Rrbro Wla,3" ed. Sáo ?aulo: .A.lameda' 2006; Evaldo Cabral de
ll.el\o. A Frondd do: Mozambas. Sâa P¿ulo: Companhia <ias Letras, 1995 e Evaldo Cabral de
Mello, O nome e o sangza. Sáo PaLrlo: Companhia das Ler¡as. 1989
9 Er-aldo Cab¡al deMello, Rubro Wia, 01. rit, P. i3 e seguiÐtes.
10 Fe¡nanda OlÀ'al,As Ordcns Mìlit¿res e o Est'¿do l':toderno' honra, nercë e ¡tenalidade cm Portu-
gat lotÌ-l'8o Ii bo¿: F.r¿r.200ì.
j8 Rodrigo Ricupero

A expectariva geral de que os serviços seriem recomPensados era explorada por


codos, desde os mais simples vassalos, passando pelos funcionários régios na metró-
pole ou nas conquistas aré acingir o próprio monarca, Para, confo¡me o caso, obte-
¡em os Pagamenaos ou os se¡vicos pretendidos. Daí que muiros vassalos ¿ssumissem
ta¡efas sem nenhuma contraparcida régia acordada previamenre na esperança de que,
nas palavras de Mem de Sá, "Sua Al¡eza lhes fa¡á as mercês e honras, segundo o ne-
gócio lhes suceder"tt. Ou, por vezes, ievava os funcionários régios a cerras tareÊas mal
remuneradas apenas "por esperanças de mercês e hon¡as"rr, como escrevia o também
governador.geraì M¿nueì Tele' B¡rreto ao ¡ei.
Os reis, por sua vez, teforcavam a esperança geral, utilizando-se de promessas
ran¡o para at¡air como para manter os vassalos a seu serf ico. D. Joáo IlI, por exemplo,
orien¡ava Mem de Sá, rercei¡o governador-geral, "e vos ihes direis ... que me hei por
bem se¡vido deles, e que seus servicos terei lembrança, e no que se oferece, os favorece-
rei sempre, e havendo ... alguns o{ìcios .-. que lhe possa fazer mercê me escrevereis"rj.
.A Co¡oa valia-sedo expedienre nas mais variadas situaçóes, daí que quese todos
os empreendimenlos ou inicia¡ivas ¡égias contassem com Promessas de recompensas,
feiras diremmente pelo monarca ou po¡ meio de seus rep¡eseûtantes.
Bom exemplo disso é o caso da conquista do Maranháo, empresa que por seu
vulto exigiu esforço considerável. Para ranto, o rei Filipe ll de Portugal ins¡ruía o
governador-geral Gaspar de Sousa como, para melhor atingir os objetivos e âûimâr os
vassalos a i¡em se¡vir nela "com mais vontade", este deve¡ia avisa¡ a todos que ele, o
rei, haveria-se "por bem se¡vido de rodas as pessoas que forem nesra jornada, para lhes
faze¡ as me¡cês e honras, que conforme seus serviços e qualidades me¡ecerem"''i.

Cl. 'Carra de mercé, que o Senho¡ Governado¡ Mem de Sá fez a Vasco Rodrigues de Caldas e

a Ì00 homens que váo com ele a descob¡il' dc 24 de dezembro de 1560, p'tl>Iiczdanos Anais da
Bibliatec¿ Nacion¿l.Rto deJaneiro: Biblioreca Nacional, 1876, vol.2l p.2)l enos Dacumeutos
Hí:ttiricos, 110 vols. Rio de Janeiro: Biblioreca Nacional, 1928-55, vol. 36, p. 144. Ou ainda a
opiniáo da junta sobre Marrim Carraiho, que assumra certa t.reL "rambém pela esperança de
Sua Ma;esrade lhe fazer mercé conlo¡me:ro serviço que nisro lhe fizer". Cl "Cópia do parecer
da junra sobre coisas do Brasil que loi a Sua Majestadc" de 1' de dezembro de 1j90. Bìbliorec.r
rr*acional de Lisboa, Reservados, Coleçáo Pombalina, códice 644, fl. I l3 v - 1li \.
Cf. "Cópia de alguns capírulos de carras de Manuel Teles Barrero, governador do Brasì1,
do ouvidor geral de Pernambuco Ma¡rim Leitáo, e do provedor-mor C¡istóváo de B¿rros
para el-rei, sobre o es¡ado daqueLas ierras, seus rendimenros", de 18 de agosro de 1584,
.{r<1un'o Nacional da To¡¡e do Tombo, Corpo Cronológico, parre ll1, maço 20, docu-
menro i4.
Cf. "Carra do rei para Mem de Sá" de 20 de abril de 1566, publicada por Mello Mo¡aes,
Choragraphia Hi*,irica, chronographica, genedlógica, nobílitíria e Volíúca da Inpérìo do Brasil,
2 r'ols., Rio de Janeiro: Pinheiro, 1866, vol. iI, p. 244.
"Cårra de el-rei pâra Gaspar de Sousa" de 8 de novembro de 1612, pubhcada em Canas para
Áh'aro d¿ Saus¿ e Gaspar le Sou:a. Lisboa: Comissáo Nacional para as Comemoraçóes dos
A formaçáo da elire colonial 59

No curso da jornada do Maranhão, o ¡ei volta¡ia ao assunto em outra carra en-


dereçada ao mesmo governador, explicando, com mais detalhes, os procedimentos a
serem tomados no que tocava aos se¡r.icos dos vassalos,

E porque rambém é râzáo que os que nesr¿ empreså me s€rvi¡em saibam


a conca que se há de lazer do serviço que nela me âzerem, fareis publica¡ e asse-

gurar de minha parre a todos os que estiverem, e de novo mc forem servir â dita
conquista, que se há de ter muito respcito aos serviços que oela me 6zerem para
lhos mandar por eles diferir as suas pretensóes com hon¡as
me¡cés; e Perâ esle
e

efeiro vos encarrego muito que renhas particular cuidado de saber o que cada
um âzer em sua obrigaçáo, de que lhes passareis suas (do governador) cer¡idóes
em que especialmenre se decla¡a o procedimento a quem locerem Para eu me
r5.
inrei¡a¡ de tudo com toda a particulariedade

Afinal, para o sucesso do empreendimento, e¡a fundamental contar com o

engajemenro dos vassalos, no caso, em sue maio¡ parte, ¡ecru¡ados nas Pertes do
Brasil já ocupadas pelos portugueses, Perticularmente em Pernambuco. Pa¡a tan-
ro, era preciso que o monerca refo¡çasse as P¡omessas-
E por isso, em 1617, já com o Maranháo conquistado, mas ainda Pouco povoado,
o anrigo go,,ernador-geral Gaspar de Sousa, de volta ao Reino, escrevia uma lembrança
ao ¡ei cobrando o pagamento das antigas promessas e sugerindo a necessidade de novas,
como forma de arrair colonos, pois

de Pe¡nambuco e seu dìstrito irá muita gente (povoar o Maranháo) .. com pro-
messas de se lhe reparti¡em ter¡es nâ dita conquista' a cuje gente não ¡e¡n Vossa
Majcsrade até hoje feiro mercê alguma como the mandou prometer Por Prov;(;o e

carta sua que tenho cm neu poder e isto é o que mais os desconsoìa e des¿njma a
povoarem aquela nova conquista sendo os primeiros que nela trabalharamr6

Descob¡jme¡ros PortLrgueses (CNCDP) e Rio deJaneiro: Ministério das Relaçóes Exteriores'


2001, p. 168. Esta carra rambém foi publicada anreriormente pelo Baráo de Studart, O¿. rh'

'ol.I, p.53.
"Carta de el-rei para Gaspar de Sousa" de 27 de outub¡o de 1615, publicada em Cartas para
Átz,aro de Sou:a e Gasp¿r de Sousa. Op. dt., p.276.
Ver "Lembrancas quc fcz Gaspar de Sousa que foì governador do Brasil do que convinha a
conquista do Maranháo', escrito provavelmente em l6t7 e Publicado pelo Baráo de Srudart'
Op. cìt.,rc|.1, p. 124.
60 Rodrigo Ricupero

.A falta de pagamento provavelmenre incomodava o antigo governador, Gaspar de


Sousa, porta-voz das promessas reais, pois em ourros pontos do documento ¡etoma a
questáo, destacando parricularmente o caso deJerônimo de-Aibuquerque, comandante
da conquisra, a quaÌ lhe rendeu, no melho¡ estilo romano, um novo apelido, lìcando
assim conhecido como Jerônimo de Albuquerque Maranhâo.
Jerônimo de Albuquerque possuía uma longa folha co¡¡ida de servicos, o que
lhe teria permirido obrer algumas mercêsr7. Contudo, depois do sucesso da jornada
do Maranhão, nas palavras de Gaspar de Sousa, o monarca, teria "obrigaçáo de fazer
me¡cê e honra por ser o primeiro capitio (da nova capirania)" e por ter dado a pri-
mei¡a baralha aos franceses, em que esreve a pique de perder a vida e em que seu fìlho
ficou ferido, além disso, ainda segundo o antigo governador-geral, ter vendido "roda
sua fazendats pare com o procedido dela i¡ como foì por ordem minha servi¡ a Vossa
Majesrade nesta conqüista da qual Vossa Majesrade promereu por carta sua que seria
servido concede¡ muiras me¡cês e hon¡as aos que nela se achassem" e a ele em particu-
la¡ pois sua assisréncia era essencial para cont¡olar os índios aliados; um pouco adiante
no mesmo documento, insiste ou¡¡a vez flo casoJ "coném que \¡ossa Majestade honre
a ele (Jerônimo de Àlbuquerque Maranháo) e a seus dois filhos que lá iem e the faça
mercê de alguma comenda quando fo¡ servido nomear-lhe sucessor no gor'erno" e,
em seguida, ainda ¡¡ais uma vez relembra ao monarca "antes todas as coisas deve ser
o capicáo-mor Jerônimo de Àlbuquerque ¡emunerado e conrenre, e seus filhos como
atrás aponro"re.
À insisiência de Gaspar de Sousa com a quesráo da remrìrerâcáo dos servicos,
para aiém da evidente importância de Jerônimo de ,{lbuquerque e de seus filhos na

Parrìcipor-r da maìor parce das companhas mrlita¡es ao norrc de Pernambuco enrre o Ên.rl do
XVI e início do X\¡II, ñi nomeado capiráo do Rio Grande pelo reì em 1606, cargo que cle já
servia, lìlho Àlonso de -{lbuquergue fòì nomeado capiráo do Rio de laneiro em 1605, em
e seu

respeito âos se¡viços próprios c rambém pelos do par. Cl. respccrivamenre -,\rquivo \*åcionai
d¿ Torre do Tombo, Charcelaria de Fiiipe III, Doaçóes, Olicios e \,le¡cés, Lrr.ros 6, fì. 379 c
17, fr,. 67 v.

Parece quë Gasp?.r dc Sousa exagera ù¡¡ pouco nerse ponro, pors o iì1ho de Jerônìmo de Àl-
buquer<¡ue, Âncônio dc Àlbuquerque, numa periçáo ao monarc¿ náo lala na vcnda de ¡oda a
lazenda parerna, mas dìz que o pai, para podcr làzer a conquisra do Meranháo, gascou muiro,
empenhando urn engcnho, que por ainda esrar empenhado, acaba pedindo para receber os
ordenados devidos ao pai, o que o rei concede. CL "Consul¡a sobre a petrçáo de.{nrônio de
Albuquerque, que reqLrer a satislaçáo ¡lu¡na cin-ida conrraida para corn seu pai, Jcrônimo de
iLlbuquerquc o quaÌ rrabalha¡a no descobrimenro c conqursra do Ma¡anháo", darada de 2 de
m¡.io de 1620, ArchÌvo Ceneral de Simancas, Sec. ProvinciaÌes, códLce 1474, Livro de Con-
sulras do ConscLho de Fazcndp. do ano de 1620, 11. 183 a i84 v.
Todas as crraçócs desse parágrafu sáo do docunen¡o inrirulado Lembranças que lez Gasp.rr
de Sousa que for govcrnador do Brasil do que convinha a conquisra do lfaranháo", cirrdo
A formacáo da elite colonial

conquis¡a do Ma¡anhão:o, aponta a lógica estabelecida na ¡elaçáo entre a Coroa e seus


vassalos. Se as promessas feitas animavam, as náo cumpridas desencorajavam, difi-
culrando a realizagão de novos empreendimentos, daí a preocupação do governador,
sabedo¡ das dificuldades de ocupaçáo de uma á¡ea táo vasta como a que abarcava o
Ma¡anháo e o Pará sem o apoio dos vassalos.
Gaspar de Sousa efetivamente foi recompensado, ¡ecebendo em 1622, entre ou-
tras mercês, uma capitania nas te¡ras do Maranhão ou Pará, realmente efetivada al-
guns anos depois, em 1634. para A\va¡o de Sousa, filho do antigo governador-geral''
A morte deJerônimo de Âlbuquerque Maranháo, em 1618, ainda no Ma¡anháo,
pouco tempo depois da conquista, ímpediu que ele próprio fosse agraciado. Seu filho
e herdei¡o de seus serviços, Àntônio de Albuquerque, porém, recebeu em 1622, em
bloco, a me¡cê da capirania da Paraíba, ou seja, o posto de capitáo-mor da Paraíba, o
hábiro da O¡dem de Cristo e cinco léguas de rerra no Maranháorr.
Outras figuras de desraque na conquista da regiáo como os polêmicos Francisco
Caldeira de Castelo B¡anco ou Bento Maciel Pa¡en¡e receberam imPorrarÌles Prêmios O
primeiro recebeu te¡¡as e foi nomeado capitão-mo¡ do Pa¡á, tendo sido Poste¡io¡mente
destituído por um motim:'. O segundo, com eno¡me frcha de sen'iços e de desmandos,
além da nomea{o de capiiâo-mor do Pa¡á, onde ¡ecebeu uma sesmaria, foi agraciado.
posteriormente, com uma capitania no Pará a capitania do Cabo Norte , em negociacåo
qtre enolvia sua ida a Pernambuco para lu¡a¡ contra os holandeses. En¡¡e 1637 e 1640' foi

10 Gaspar de Sousa lemb¡a a Alexand¡e de Mor.rra que "vz íny'.ios ná.0 sc pode fazt guerra e

que seln Jerôniml ¿¿ Atbuqxerque ¿o temos íi1¿io'". Cf. "Car¡as de instruçóes secrctas do
Governador Gaspar de Sousa ao capiráo-mor Alexandrc de \foura' para de6n itn a conqu is
ra do Maranháo", da¡ada da Bahia. 15 de iunho de 1615. que consta do Ziu'/o Prineirl ¿o
Gouerno do Br¿:iJ,Rio deJaneìro: Ministério das Reiacóes Exte¡ìo¡es' 1958' p' 121 Repu-
blicado reccntementc pela Comissáo Nacional para as Comemoraçóes dos Descobrimcntos
Porrugucses.
21 Ci "Doaçáo da capirania do Cairé Álvaro de Sousa , de 13 de lcve¡eiro de i634 Àrqu;vo
a

NacionaLdzTor¡e do fümbo, ChanceLaria de Fllipe Ill' Doaçóes, Olícios e Mercês' Livro 27'
S. 32r publrcado por Lucinda Saragoca - Da "feliz lu:ítå;ai¿" io: confns da -Anérìcn Lìsboz:
Cosmos,2000. p.326.
)2 Àntónio Albuquerque. conlorme explica a carra de nomeaçáo, recebeu as mcrcéc cìr:'las'
de
em resÞeìto ao serviços do felccido pai, Jeròoimo de Àìbuquerque Maranhao, que agora lhe
perr€ncjam, e ¡ambém em resPeiro aos seus próprios seriços naquela conqrrìsra-
"Carta de
nomeaçáo dc .A.nrônio de Albuquerque' de 9 de agosto de 1622' Ârquivo Nacional da Torre
do Tombo, Chancela¡ia de FiLpe IIl. Doaçóes. Oßcjos e Mercés. Ln ro 3 0. ?40 L Ver råm-
bém a "Car¡a de conFrmaçáo de scsmaria de Anrônio dc Aìbuquerque' de 14 de agosto de
1630, da mesma chancelaria, Livro 22, fl 330-
23 Cf os documenros pubiicados no 6nal do primcrro capítulo de Augusto Meira Fìlho, Ez¿lz-
ção Hi:tóríca dt Brlém do Gr¡io-P¿rá Belêm' 1976
62 Rodrigo Ricupero

governador do Esrado do Maranháo, quando ence¡rou sem honra sua carreira, ao enregar
a capitania sem luta aos invaso¡esrl-
Se os principais responsáveis pela conquisra foram recompensados, os vassa-
los mais humildes, que rambém estavam contemplados nas promessas feicas pelo
monarca, também foram, de maneire geral, recompensados- Nos liv¡os das Chan-
cela¡ias de Filipe II e Filipe III, encont¡amos mais de 50 p¡ovimenros de cargos em
que a participaçáo na conquisra do Maranháo e região é expressamenre cirada:t. Sáo
casos como o de Ped¡o Fernandes Godinho, cavaìeìro fidalgo, que obteve a mercê
do cargo de provedor da fazenda dos defun¡os e ausenres do Ma¡anháo:6 ou ainda
de gente mais simples como Manuel da Silveira, barbeiro, que recebeu o mesmo
posto no Maranháor7, mas também de genre como João Machado Fagundes que foi
concemplado com o posro de meirinho da ouvido¡ia da Pa¡aíba, onde era moradot'3,
ou de Belchio¡ Rangel, nomeado alfe¡es da fo¡raleza da ba¡ra do Rio de Janeiro, de
onde era naruraFe.

"Sesmana de Benco Maciel Parenre" de 16 de março de 1624, ,{rquivo r'l*acional da Torre do


Tombo, Chancelarìa de Filipe III, Doaçóes, Olicios e Mercés, Lilro 18 lì. 173 v.
Ci,{r<¡uivo \acional da To¡¡e do Tombo, Chancelaria de Frlipe II, Doacóes, Ofícios e Mercês,
Llvros:21, fl. i6:23, fi. 182; 26. fl. 66; 31, fl. 32t;31, fl. )22:35, fl. 143; 35, 1ì. 148 v;35,11. 149
v;35,fl. 1j1;3ó,fl. 118v;36,fl. 128: 36, F,. 261: 36, F,. 26r y; 37, fl. 1t-2 r:40, F.266 v:42,
8.44 !; 42, F,.217 v: 43, 1ì. 88; 43, fl. 90 v; 43, fl.92 v: 43, A. 94 v:43, fl.208; 44, fl. 4.¡:44,
fr,.I75 e 44, Ê,. 192. Chancelaria de Filipe IlI, Doacócs, Ofícios e Me¡cês, Livros: l, fl. ISii 3,
8.21.3;3, fl.240 v;4, A.2v;9, fl. t2;11, {1. 79 v; li, H. 126 vt Ii, fl.295t 1Z fl. 9 v; 1Z fl. 70 v:
18, lì. 80 v; 18, fl. 105 v; 18, 11. 114; 18, Â. 173 v; 18, fl. 178 v; lB, fl. 3t0j 22, Il. 330j 26, 11, 13;
30, fl. 4; 30, 1ì. 16 v; 30, Ê. 19; 30, fl. 19 vj 31, n. i7 vj 31, fl. 277 v; 31, F,. 334;38, A. 1.57:38,
n. 196 v e i8, fl. 310. Chancelaria de FiÌipe ill, Perdóes: Lìvro 16, fl. 37 \'.
'Provimen¡o de Pedro Fernandes Godinho para provedor da fazenda dos delu
do Marânháo" de 22 de ourubro de 1623, Arqurvo NacionaÌ daTo¡re do Tombo, Chancelarìa
de Filipe IlI, Doaçóes, Ofícios e Mercês, Livro 30, fl. 19.
"Manuel da Silveira reccbe me¡cê do ordenado de 30$000 anuais" em li de ab¡il de 1618.
Arqulo Nacional da Tor¡e do Tombo, Chancelarìa de Filipe II, Doaçóes, Ofícios e Mercés,
Livro it, fr.. 322.
Por estar vago o diro olicio na Paraíba e porJoáo Machado Iagundes, morado¡ na Paraíba, ¡er
se¡r,ido em muiras ocasióes, sendo mcsrre e piloro e indo na jornada do Maranháo, re¡ esrado
no combare com os franceses e re¡ sido escolhido para levar noricias ao governador geral em
Pernambuco, ¡er ido mLriras vezes ao Rio Grande do No¡re e à outras parres sem levar nada
por isso, e rambém pela promessa leita para quem fosse na dìrajornada, assim o ¡ei, rendo re-
cebido informaçáo de Ambrósio de Siqueìra, que foi oLrvidorgeral, fezlhe me¡cê do olício e¡n
9 dejulho de 1616, Arquirrc Nacionalda To¡¡e do Tombo, ChanceJaria de Filipe II, Doaçóes,
Ofícios e Mercês, Liv¡o 37, F,. 1.72
'¡.
Narural do Rio deJanci¡o, filho deJuliáo Rangel, em respeiro aos serviços Èiros no diro Esra-
do do Brasil e na conquista do Maranháo, na primeira jornada e baralha que se deu aos fran-
ceses, servindo de soldado, alleres e capiráo, recebe o posro de alferes da fo¡r¿ìeza e também
A formaçáo da elire colonial 63

Se¡iam estes mais de 50 casos signiÊcativos? Acreditamos que sim, pois' embora a
quantificaçáo seja difícil e muitas vezes teme¡á¡ia em casos como esse, é possír'el inferìr
que ertre o início e o te¡mino da conquista, digamos entre 161'2 e 7616 oÌr um Pouco
depois, algo em corno de mil portugueses tenham passado pela regiáo - o governador
acredirava, a princípio, que 150 a 200 soldados se¡iam su6cientes; mas depois ral número
c¡esceu) e a expediçáo comandada por Alexandre de Mou¡a, a maio¡ de todas, rinha
declarados 600 homens b¡ancos logo, numa primeira aproximaçáo' I homem em cada
20 te¡ia obtido a mercê de algum posro na administraçáo ou na milícia-
Deve-se leva¡ em conta) ainda, outros asPectos, qu€ seráo explorados adiante'
como, por exemplo, as dificuldades de se requerer diretamenre na merrópole ou a fal-
¡a de ouc¡os se¡vicos para complementar a folha que possivelmence fariam que Par te
significativa dos homens envolvidos acabasse sem qualquer tipo de retribrLiçáo pelo
se¡.,iço realizado ou que somente muico tempo depois, após Prestar outros servicos'
conseguisse algum tipo de remuneraçáo Também náo se deve esquecer que muitos
dos vassalos mais contentassem ¿pen¿s com mercès menores, dadas di¡e-
humildes se

ramenre na colônia pelo governador-geral ou pelo capitáo da capitania, para as quais'


na maior parrc dos.aso.. nåo remot mais registros.
De qualquer forma, analisando o caso em ques¡áo' pode-se concluir que as mer-
cês feitas para t homem em cada 20, aproximadamenre, seriam suficientes Pâra que o
conjunto dos vassalos acreditasse que a promessa real fora cumprida' mesmo que com
algumas injustiças. No mesmo sentido, os agraciados funciona¡iam como modelos
para os demais e a distribuição das nomeaçóes dos vere¡anos da conquisra do Ma¡a-
nháo entre as capitanias do Pa¡á, Maranháo, Cea¡á, Rìo Grande' Paraíba, Pernambu-
co, Bahia e Rio de Janeiro acabaria por cspraiar os exemplos por praticamente todas as
partes do Brasil entáo ocuPadas.
As promessas, eût¡eranto, náo eram feitas apenas para os empreendimentos mili-
¡ares. Prometiam-se honras e mercês para todos os típos de inicìa¡ivas orr de demandas
da Co¡oa, como, por exemplo, emP¡eendimentos de ocupaçáo de novas á¡eas' exPedi-
reconhecimento, ou de busca de metais e pedras precíosas, ou aínda no fomen-
çóes de
to de atividades econômicas variadas.
Filipe II, em carta ao governador-geral Gaspar de Sousa' tratando da capi-
cania da Pa¡aíba, con¡ar'â que o caPitáo-mor Joáo Rabelo de Lima acredi¡ava sel
possír.el aumenrar o núme¡o de engenho de açúcar e, conseqüentemente' a arre-
cadação da fazenda ¡eal. Para tanto, cabia ao ¡ei animar as Pessoas que possuíam

de guarda dos navros. "Pror'ìmento de Belchror Rangel como alferes da fo¡¡aleza da


bar¡a do

Rlo de Janeiro'em 20 de agosro de 1620, ArqLrivo Nacionalda To¡rc do Tombo' Ch¡ncelaria


de FrLipe lll, Doaçóes, Olicios e Me¡cés, l.ivro 1, ll i3i'
64 Rodrigo Ricupero

os recL!rsos para construir engenhos com "p¡omessas de novas hon¡as e mercês"50;


por isso, o próprio monarca, insr¡uía o gove¡nador a escrever aos moradores sobre
a questáoiL.
Tal conselho e¡a ¡ecorrente, Gab¡iel Soa¡es de Sousa, to Ti't¿t/z¿o De¡critiuo
do Brasìl de 1587, e Diogo de Campos Moreno, no seu ¡elató¡io conhecido como
Liaro que dti razão do Estø¿lo ¿a BrasiJ de 1612, já apontavam como as honras e
me¡cês se¡vi¡iam para incentivar a montagem de novos engenhos de açúcar'r. O
mesmo expediente e¡a aconselhado com relaçáo ao Maranháo por Alexandre de
Moura e pelo Padre Luís Figueira. O primeiro indicava que "parecendo a Vossa
Majesrade conveniente faze¡-se nas dicas províncias engenhos sem prejudicarem
os feiros no B¡asil.-. com a genre rica dele (Brasil) se devem fab¡ica¡, obrigada por
Vossa Majesrade com favo¡es e me¡cês"ii e o segundo ponderava que "far-se-áo
muicos facilmenre se Sua Majestade puser os olhos naquela conquista, fazendo
mercê aos homens que 1á quiserem fazer engenhos3!.
Náo mui¡o dife¡enres e¡am as p¡opostas de Diogo de Quadros, provedor das
minas de Sáo Vicenre, que sugeria a Filipe II de Portugal que a Coroa concedesse
a me¡cê do hábito de uma das r¡ês ordens milita¡es às pessoas que fizessem os ca-
minhos para as minas a sua cusra e, po¡ ser necessá¡io uma vila próxima às ditas
minas, a mercê do foro de moço de câma¡a e cavaleiro Êdalgo aos primeiros povo-
adores da regiáoit.

'Carra de el-rei para Gaspar de Sousa" de 30 de agosro de 1613, publicada em Cartøs para
Álaaro de Sousa e Gøspar d¿ Sous¿. Lis6oa: CNCDP e Rio deJaneiro: Minisrério das Relaçóes
Exceriores,200I, p. 211.
O mesmo procedimenro era adorado para o ìúaranhão: "para se moverem homens nob¡es e
de cabedal a ir se¡vir nesrâ conqursra por serem os de mais importância e poderem em pouco
rempo labricar engenhos e comercia¡ devo obrigáJos com algumas honras e mercês para se
ole¡ece¡em e i¡em com vonüde". Cf. 'lnsrruçóes para Gaspar de Sousa, governador do Brasil,
sobre a conquista do Ma¡anhao" de 9 de ourubro de 1612, pubìica<12 em Cartas para Áluaro
de Sausa e Gaspar de Sausa. Op. ctt., p. 160.
Gab¡iel Soares de Sousa diz que haveria muito mais engenho do que os quarenra cxisrentcs
na Bahia, "se os moradores (fossem) favorecidos como convinha". Gabriel Soares de Sousa,
Ttatado desrùrit,a do Bra¡il em 1587. Sio Parlo: Companhia Edirora Nacional, 1987, p. 132.
"Relató¡io de Alexandre de Moura sobre a expediçáo à llha do Maranháo e a expulsão dos
F¡anceseí', esc¡iro em Lisbo¡, 24 de ourubro de 1616, publicado em Dacl,mentot pala a H¡stó-
ría dø Conquista da costa leste oeste do Brøsil,Rìo de Janeiro: Biblioreca Nacional, l90i (sepa-
rara àos Anais da Bibliote':a Natlana[¡, p.49.
"Memo¡ial sob¡e as terras e genres do Maranháo, G¡áo-Pará, e rio Âmazonas que o enviou
IIl" <1e 1632 publicados por Lucìnda Saragoça. Da "F¿/íz Lu'iùini¿." aos confns àa
a Filìpe
Améñra. Lis5oa Cosmos, 2000, p. 351
D. F¡ancisco de Sousa disco¡da dessâs proposras, pois achava, por exemplo, que os hábicos
deve¡iam ser ¡ese¡vados aos serviços maiores. Cf "Consulca sobre as minas de S. Vicenre do
A fo¡macáo da eli¡e colonial 65

O escímulo exe¡cido nos vassalos pelas promessas náo passava despercebido aos
funcionários régios ou ao clero, que, em carras ou ¡elatórios enviados à Coroa, indica-
1.am como as Promessas de dádivas va¡iadas se¡vi¡iam pa¡a anga¡iar ¡ecußos humanos
e maleriais.
Até aqui, contudo, vimos exemplos de promessas mais ou menos coletivas, mas
estas ambém podiam se¡ individuais, siruação que dava, muiras vezes, lugar a nego-
ciaçóes formais de maio¡ ou meno¡ vuito entre a Coroa e os vassalos-
-A situaçáo mais simples pode ser exempiificada pelo caso de Äfonso de F¡anca,
fidalgo, natural de Tânger, que, em respeito aos servicos feitos e à promessa feita em
1602 de que, indo se¡vi¡ no B¡asil, ¡ecebe¡ia uma mercê, foi nomeado capitáo-mor da
Paraíba em i61816.
Out¡os casos, porém, Ievavam a negociaçóes mais complexas como a de Gab¡iel
Soa¡es de Sousa com a Co¡oa, du¡ante o ¡einado de Filipe I de PorrugaL, para o des-
cob¡imento de minas no inte¡io¡ do contiûente, que duraram, pelo menos de meados
de 1586 a¡é o fim de 1590 e início de 1591, quando, concluída a negociaçáo, foram
emiridos diversos alvarás37.
A negociação entre Gab¡iel Soa¡es de Sousa ea Co¡oa apresentâ certos ûacos cüac-
terísticos desse tipo de acordo prévio de rroca de serviços por mercês. A Coroa promeria
uma sé¡ie de benefícios, mas quase rodos condicionados ao sucesso do empreendimen¡o
e, muicas vezes, vinculados aos ¡endimenros daí provenientes- Ao vassalo, cabia a toali-
dade ou pelo menos a maior parte dos cuscos e praticamente todos os ¡iscosis.
No caso de Gab¡iel Soa¡es de Sousa, os alvarás mais significativos só teriam efeito
com o sucesso da expediçáo, que, como sabemos, malogrou, terminando com a morce
do aventu¡eiro- Caso tivesse alcançado êxito, Gabriel Soa¡es de Sousa ¡eceberia, como
me¡cê, o fo¡o de ûdalgo da Casa real para quatro cunhados e dois primos, já agraciados
com o hábiro da O¡dem de C¡isto com 50.000 réis de cenca. Faria ius, ainda, a ourros

Brasil exploraçâo" de 5 de junho de i606, Archivo General de Simancas, Sec Provin-


e a sua
Livro de consultas de Álrica e conquistas, de 1605 a 1602 fl i66, publi-
ciales, códice 1476,
cado por Roseli Sanrae)laSrclla, Documen¡os sobrc Sáo Vic¿nte. SâoPaulo: Academia Lusíada'
1999, p. t17.
36 "?rovimento de Afonso de Franca" de 17 de serembro de 1618, Arquivo Nacional da Tor¡e do
Tombo, ChanceÌaria de fìlipe II, Doaçóes, Ofícios e Me¡cês, Livro 44, f. 20 v.
Gabriel Soa¡es de Sousa partiu para o Reìno em meados de 1584, mås com certeza em 1586
as negociaçóes já rinham começado, como ateste ca¡ca do ca¡deal arquiduque Alher¡o de
Áusrria, em que sobre as minas, diz ao rei que se deve romar informaçóes de Gabricl Soares
de Sousa "que a esre reino veio com licença do governador" c qr-re já tinha ìdo a Madrid Cl
"Carta do cardeal arquiduquc, para el-rei", esc¡ìta em Lisboa, 12 julho de 1586. Archiro Ge-
ne¡al de Simancas, Sec. Provinciales, códice 1550 - Cânes origìnais do cardeal arquiduqr.re,
vìce-rei de Portugal para el-rei, sobrc dive¡sos assunros de 1586, lìs. 320 e seguintes.

Em casos excepcionaìs, a mcrcé poderiâ ïir anres a 6m dc lacilica¡ o servico.


66 Rodrigo Ricupero

doze hábitos da mesma o.dem com 20.000 réis de tença para os capiráes do empreendi-
menro, con¡udo todas as tetcas seriam Pagas com o rendimenco da conquis¡a Poderia
designar aré 100 pessoas que o dvessem acompanhado na expediçáo pa¡a receberem a
me¡cê do fo¡o de cavaleiro frdalgo; e, ainda por três anos, proveria os oficios de Justiça
e de Fazenda que se criassem nas Povoacóes a se¡em fundadas, além de nomea¡ seu
sucesso¡ no empreendimenco, que poderia usa¡ todas as provisóes e mercês, exceco
uma provisáo "ce¡¡ada e selada", que não cons¡a da documentaçáo conhecida sobre o
episódioit.
O rei, além das me¡cês acordadas, favo¡eceu o empreendimenro mandando
anunciar anres da iornada que seriam dadas honras e me¡cês aos P¡imeiros p¿rticiP¿n-
tes da expediçáo de acordo com seus mé¡i¡os e feitos confo¡me o que Gabriel Soares
relarasse posceriormenreao. Concedia, ainda, outras facilidades de pouco ou nenhum
custo, como, por exemplo: de se¡em ¡ed¡ados degredados das galés, cujos ofícios fos-
sem necessários à expediçáo, com perdáo Pare esses; que os capitáes das caPiraûias náo
se inlrometessem no caso; que D. Francisco de Sousa, governador-geral, rerirasse das
aldeias da Bahia duzentos índios "f¡echeiros" para participarem da jornada; que o mes-
mo governador entregasse 50 quintais de aigodáo para se fazerem corpos d'armas e,
por fim, que em Lisboa se desse passagem e mantimento ¿s Pesso¿s que iam embarcar
com Gabriei Soa¡es de Sousaa'.
O acordo final ent¡e Gab¡iel Soa¡es de Sousa ea Coroa deve ter imp¡essionado
os conremporâneos e acabou se ¡o¡nando um ma¡co no assunto' As negociaçóes Posre-
riores com relaçáo às expediçóes que procu¡aram descob¡ir minas Passalam a ser feitas
com base naquele acordo, inclusive para expediçóes feitas em Angola¡2.

Os dive¡sos alvarás cirados encont¡am se em Jaime Cortesáo (Eà-), Paul;cøe Lusnana lulo-
nrmnt¿ Historic¿,2 tomos em 3 vols. Lisboa: Real Gabinete Porrugal de Leitura do Rio de

faneiro, 1956, romo I, p.407 e seguinres,

"Aiva¡á de mcrcê e honras às primerras pessoas que acompanharem a Gab¡iel Soares de Sou-
sa, na jornada -.. S. Francisco" de t4 de dezembrc ¿e 1i90, I¿en, P. 416
"Carca régia para D. Francisco de Sousa inFormando <1ue as duas urcas qLre ler-aram Cabriel
Soa¡es de Sousa loram lreradas peLa lazenda real, e que na volta de"em rrazer açúcar e pau-
brasil, cob¡ando os l¡eres, sem embargo da prorbìçáo de comércro com navios estrangeiroí' de
27 dc m¿rco de 1591. Instituro Hisrórico c Geográ6co B¡asrlei¡o, Documen¡os m2nr!s'riros
do Instiruro Hisró¡ico e GeográÂco Brasileiro copiados no sécuio XIX por ordem de D Pedro
II, Códice Àrq. 1.2.15 - Regrscros - Tomo I Conselho Uh¡amarrno Porruguês
Cl Proposras e pedidos de me¡cê a eL-reì, Fei¡os em Lisboa, por Gonçalo Vaz Coutinho
sobre o descob¡imen¡o dc minas, invocando as concessóes oucorgadas a Gabricl Soares de
Sousa, â seu jrmáo Joáo Rodrigues Courinho pelo descobrimenro em A.ngola. Lisboa, Ì4 de
julho de 1611. Vireinìa Rau e Ma¡ia Fe¡nanda Gomes da Silva, Os ndnxßc't¡to\ ¿o ar.lì!j1a
da Casa de Cadaual respeitu t¿s ão Bï¿sí1, 2 lols. Coimbra: Universidade de Coimb¡a, 19i6,
ircm 29, p. 15.
A formaçáo da elire colonial 61

D. F¡ancisco de Sousa, nomeado governador-geral no mesmo momento em


que Gabriel Soares de Sousa ¡ecebia seus ah'arás4r, pôde acompanhar de perto os
preparativos e o fracasso da expedicáo e, ao rermìno de seu governo, quando vohou
a Porrugal, iniciou negociaçóes pâra re¡o¡na¡ ao B¡asil a fim de busca¡ as almejadas
minas¿¡, porém, desra \¡ez, mais ao sul, no interior das capitanias de São Vicente, Rio
de Janeiro e Espírito Santo.
lnt'ocando o acordo precedente, mas aproveirendo-se de sua maio¡ distincáo,
D- Francisco de Sousa conseguiu ampliar ainda mais âs concessóes. Dois pontos
merecem desraque: o p¡imeiro foi escapar da jurisdicáo do gor.ernador-geral, eferi-
vando-se, dessa forma, a divisáo do Estado do Brasil, com a separaçáo das capitanias
do sul (Espírito Santo, Rio de Janeiro e Sáo Vicente) num gol'e¡ro aurônomori. O
segundo ponro foi r¡ma maio¡ premiaçáo, no caso de as miûas se¡em descobertas e
efètivamente exploradas, pois além das mercês promeridas a Gabriei Soares de Sousa,
D. Francisco de Sousa poderia 6car com a vintena do ¡endimento delas aré aringi¡
30 mil c¡uzados, e, mais ume condicional, se essas rendas superassem ce¡lo valo¡,
receberia o título de Marquês das Minas, enr¡e our¡as mercês¡6.
Dife¡entemenre do que ocorreu com Gab¡iel Soares de Sousa, D. F¡ancisco
de Sousa propôs que a Coroa assumisse certos gastos ou. caso isso náo fosse acei¡o,
que estes co¡¡essem por sua conta em t¡oca do ¡endimen¡o integral das minas por
doze anos. A Coroa náo aceirou nem um¿r nem outra propostà, orientando que os

"lrovime¡¡o de D. Francisco de SoLrsa para Goverro-geral do Brasil" de l'de dezemb¡o de


1590,,{rquivo Nacional da To¡re do Tonlbo, Chancelaria de Filipe Ill, Doaçóes, Ofícios e
Mercés, Liv¡o 23. fl. 30.
"Carra Régia para Diogo BoteLho" de 19 de março de 1605, publicada na "Corrcspondôn-
cia dc Diogo Bo¡elho'. Rer.isra do 1ns¡iruro Hisró¡ico e Geográfico BrasÌlei¡o, romo 73,
parre I, p. 5.
D. l¡ancisco dc Sousa ¡cccbeu o (Espirito Sanro, Rio deJaneiro
das capitanias do sul
-qoverno
e Sáo Vicenre), rndependente do governador do Esrado do Brasii, com o ti¡ulo de caprtao
gerai e governador". Sob¡e o assunro, ve¡ os documenros relacronados na "Consuha da Junra
da Fazenda de Portugal" de 17 de Seremb¡o de 1602 Archn'o General de Simancas, Sec.
P¡ovinciales. códice 1466 - Ln'ro de Consukas do ano de 160,-,, fìs.298-336 v. Parcialmenrc
publicados por Roseli Santaella Srclla, Docv.¡nentos sobre Sáo Wcente. Sâo Paulo: Âcademja
Lusíada, 1999, p. 148 e segurntes. Inreressanre ¡ambém é o comenrário do Conde de Salinas,
a margem dos apontamen¡os de D. F¡ancisco de Sousa. "Þârece que o tempo que o diro D.
Francisco de Sousa deve governar as diras capiranias e administ¡ar as dìtas minas, der.em ser
quatro anos, e mais do que sobre cles for a real vontade de Vossa Majesrade; porquanro ìsro é
náo se pode regular pelas provisóes g¡aciosas de ofícios que ordinariamenre
sc lazcm naquclc rcino de Porrugal". Iden, p. 265.
"Traslado da carta de gor.ernanca do senhor D. F¡ancisco de Sousa'de 2 de janeiro de 1608 e

ourros alvarás, que consram do Regl*tr Ge¡øl d¿ Cámara Ì¡[¡,,¡ttcipa/ le Sáo ?a o. Sâo Pat:),o:
\rguiro Vunicip:ì. lol . rol. L p. lSS c.ceuin¡e,.
68 Rodrigo Ricupero

gasros saíssem do rendimento das minas, mas acabou rendo de arcar com parre dos
gasros posreriormenteiT. O mais inte¡essante em rudo isso, con6¡mando o Peso que
a expecrativa das recompensas exercia, é que D. F¡ancisco de Sousa acredirava que,

pa¡a o sucesso da expediçáo, a Co¡oa e ele próprio deveriam despende¡ um valo¡


¡elarivamente pequeno, "pela muita gente que me acudirá por respeito das honras e
mercês que esperarn de Vossa Majestade pelo tempo em dianre"as.
Também nesse caso, o agraciado mor¡eu antes de poder conseguir aringir seris
obierivos4e, e, conseqüentementeJ novos Postuiantes se ofe¡eceram à Co¡oa em busca
dos ambicionados metais como o velho Salvado¡ Co¡¡eia de Sáto ou Belchio¡ Dias Mo-
reia, que promeria revelar o segredo das minas de prata.
Esse último caso permite abordarmos outro aspecro da quesrão, o das negocia-

çóes feiras com os govertâdores-gerais, que tinham autoridade para


fazer Promessas
e conceder mercês em nome do rei, denrro de ce¡tos limites.
-A.s negociaçóes ense Belchio¡ Dias Mo¡eia ¡ico mo¡adot com terlas entle
as

capitanias da Bahia e de Sergipe e descendenre do famoso Diogo Álvares Caramuru - e


o governador-geral D. LuÍs de Sousa foram longas e tensas; marcadas por exigéncias'
aco¡dos e mais exigêtcias que culminaram com a Prisáo de Belchio¡ Dias Mo¡eia,
acusado pelo governador de o enganartt.
As exigências erâm enormes: um morgado de 30 léguas, na forma das capitanias
hereditárias, com ampla autonomia; fo¡o de Êdalgo; o posto de adminisrra'-lor das mi-
nas e dos índios das capitanias do no¡tq hábi¡os da Ordem de Cristo para dis¡ribui¡;
comendas; direito de apresentar os párocos nas igrejas que erigisse, entre outras mercês
e privilégios.

47 CL Carta de Constantìno Menelau, esc¡rra do Rio deJaneiro, de I'de ourubro de I625, em


que esre inlorma ".,.que a lazenda de Sua Majesrade está imPossibìlinda de fazer gasros, poìs
ainda paga as dcspesas do tcmpo de D. F¡ancisco de Sousa e novamenre c¡escerem outras
assim com a vìnda de Sal.'ador Correia de Sá ... e com a jornada do Maranháo para onde se
embarcaram larinhas da Fazenda de Vossa Majestade que o gor-ernador-geral pciìu". Ârquivo
Nacional da Tor¡e do Tombo, Corpo Cronológìco, pane I, maço llZ documenro 74
'Apooramenros de D. F¡ancisco de Sousa" de julho dc 1607 Archivo Gene¡aÌ de Simanc¿s'
Sec. Provinciales, códice 1466 Lìvro de Consultas do ano de 160Z fi 331 e Roseli Sanraella
Stella, Op. rb., p.214.
É ccnhecida a passagem em que Freì Vìcenre do Salvador contasob¡e a morte de D Francisco
de Sousa, "esrando ráo pobre que me aÊrmou um padre da Caprrania -.. que nem uma veìa
rinha para lhe meterem na máo, se a náo mandara leva¡ do seu convento" Frei Vicenre do
Szlvaê.or. Históri¿t ào Bzsll (1627).5" e¿. Sâo Paulo, Melho¡amcn¡os, 1965. p.36.
Salvador Cor¡eia de Sá é o avö de Salvado¡ Co¡rera de Sá e Benevides, ìmPortânre Persona
gem do século XVII. Cl Charlcs R. Boxer, S¿hddor Correia /¿ Sá ¿ n huapelo Brasil eAngola,
ßA2-ß86 Graàqao). Sáo Paulo: Companhia Edi¡ora NacionaÌ e EdusP, 1973.
Sobre o assunro, ver Ped¡o Calmon, O Segreda das minas tle prara. Rio de Janeiro, 1950 e o
Liuroprineiralo Gouer-'to do B¡a:i/, Op. cx., p.16l e seguintes e 22i e seguinres.
A formaçáo da elite colooial

Belchior Dias Mo¡eia cla¡amente não confiava que suas pretensóes fossem aten-
didas, nem mesmo as que tinha aco¡dado com o governador-geral em nome do ¡ei.
Dessa forma, exigiu que chegassem os alvarás régios confirmando as mercês promeri-
das. A tensáo subiu e o governador forçou a partida da expediçáo, que terminou sem
localizar nenhuma mina, o que levou à prisáo de Belchior Dias Mo¡eia, obrigado a
pagar enorme multa, cendo mor¡ido depois sem revelar mais nada, pror,'ocando, dessa
forma, o surgimento da lenda das mìnas de prata no interio¡ da Bahiat'?.
Embora este seja um caso limite, dada sua ìmporrância e a magnitude das mercês,
indica que os governadores-gerais e evenrualmenre outros funcioná¡ios régios também
geriam o cofre da me¡cês: prometendo, negociando e concedendo prêmios, posto que
merores e semp¡e em nome do reits- Para tanto, além da disrribuição de te¡ras ou do
provimento de cargos, os regimentos dos governadores-gerais previam uma cota em di-
nheiro, num montante que foi se ampliando com o tempo, para faze¡ me¡cêstl e ¡ambém
a possibilidade de os governadores armarem cavalei¡os os vassalos que se destacassem no
serviço da Coroait.
Tal uso, correro ou náo, da faculdade de gerir esta arca de me¡cês di¡etamen¡e na
colônia, era apurado nas residências dos governadores, como se constata pela de Diogo
de Meneses, quando o rei orientava que se perguttasse às testemunhas "se (o governa-
dor) fez algumas me¡cês de dinhei¡o ou fazenda em (seu) tome, e por que resPejto, e
em quanta quanridade, e se para isso tinha licença ou ordem"t6.

Pos¡eriormenre, cândidarar-se-ia Francisco Dias De Ávila, herdeiro da Casa da Tor¡e, a des-

cobn¡ as minas. Pcdro CaImoo, Op. rit., p.71.


53 Podemos conclurr, conrudo, que, quando as mercês concedidas peLos rePresentante( resios
eram de vulto, o agraciado procura.a con6rmâçáo régia Paú mâior segurança-
No ¡cgimenro de Francisco Giraldes, talvalor cstava estipulado em mil cruzados anuais "Re-
gìmcnto do Governador geraLdo Brasil" de 8 de março de i588, publicado nos Documcntos
para a Hì:tóríz do Aç¿¿¿¿ 3 vols. Rio deJaneìro: lÀÂ, 1956, vol. I, 356
O rei a6¡mava "hei por bcm e por meu servìço que as Pessoas que se¡vi¡em dc m¿neira
quc vos pareca que merecem se¡ fci¡os cavaleiros vos o possais fazer e encomendo vos que os
que assim Êzerdes sejam tais que o mereçam assim pela qualidade de suas pessoas como pela
qualidade de seu serviço porque quanro maìs exame nisto Êze¡des ¡anro majs se esrjm¡¡2o os
que o forem e os que náo foram procuraráo de lazer por onde o mcrcçam". "Regimenro de
Gaspar de Sousa" de 3l de agosto de 1612. publicado nas Cartas parø til,,aro de Sousa e Ga:'
par de Saxsa. Op. .it, p. 110 e em Ma¡cos Carneì¡o de Men donça \org-), Raizes da Fornaçáo
A¿mìnisttzttilt¿ ¿a Bï¿l 2 rols. Rìo de Janeiro: Insrirrto Histór1co e Geográfico Brasileiro,
1972, p.419.
"Regimenro para o licenciado Manuel Pinro da Rocha, ouvidor geralda Relaçáo do B¡asil.
toma¡ resìdéncia a D. Dìogo de Meneses, governador daq'rele estado , pub|cado nas Carrz:'
pata Áluarc d,c So^a Gaspar de Sousa. Op. ctt., p. r35.
"
70 Rodrigo Ricupero

Os trabalhos e os pedidos

As promessas régias de honras e me¡cês Ëitas pelos monarcas c,¡í,¡m em solo


fé¡¡il, os vassalos das partes do Brasii, nascidos no Reino ou na colônia, ávidos pelas
¡ecompensas, procu¡avam de rodas as fo¡mas fazerem jus a elas, assumindo os mais
variados encargos do processo de colonizaçáo.
Os r¡abalhos ¡ealizados e, evenlualmet¡e, a serem realizados, justificavam os

mais diversos cipos de pedidos. Esses, num cerco senrido, eram como o ourro lado da
moeda das promessas. Nelas, a Coroa que se aproveira da expectativa geraì de remune-
raçáo; nos pedidos, sáo os vassalos que cob¡am a fatura
Os pedidos e¡am fei¡os por meio de cartas, requerimencos, Petiçóes ou mesmo
oralmente, nos quais eram apresentados os serviços realizados e requeridas as mercês
esperadas- lnfelizmente, para o período aqui esrudado, sáo ra¡os os pedidos originais
que se conservâram, conrudo é possível recuperar parte de seu conteúdo, pois, fìeqüen-
remente, nas consukas elaboradas sobre esses ou nos despachos finais, eram ¡esumidos
os pedidos.
As carras de sesma¡ia e os provimentos de ofícios exemplifìcam o caso. pois. nas
parces do Brasil, tanto as ¡eÍas como os cargos eram, na maio¡ia das vezes, concedidos
aos vassalos como ¡emuneraçáo dos seus rrabalhosti. A. partir desses documencos pode_
mos invesrigar a lógica da t¡oca de serviços por mercês, tan¡o na questáo dos ripos de
trabalhos que eram ¡ealizados como nas recompensas recebidas.
Em 1602, Diogo Lopes Velho obrinha uma sesma¡ia em Sergipe, concedida
pelo capiráo Manuel Mi¡anda Barbosa. Na justificava do pedido, elencav¿ os mui-
ros servicos que rinha feiro a Sua Majestade, "com sua pessoa e faze¡da, assim em
gue¡¡as como na paz, acudindo com seus esc¡avos e muitos homens b¡ancos a sua
cusra a rodos os rebates que se deram" há 20 anos até agora, e na tomada de Sergipe
"mandou sua genre e homens b¡ancos e cavalo a sua cusra em ajuda do governador
C¡isróvão de Bar¡os" e, concluía, prometendo um novo serviço, queria as terras Parâ
ajudar a povoar Sergipets.
No mesmo ano, mas no Rio de Janeiro, Manuel de Salinos, ¡ambém obdnha uma
sesmaria, alegando para o capiráo Martim de Sá que seus parentes "foram enquanro vive-

t7 Numa espécie de relarório sobre a capirania do Rro Grande (do Norre), Domingos da Veig.:
Cabral, já nosso conhecido, apresenta, em dado momento, a lista dos capitáes-mores que
â¡é en¡áo hâviâm se¡vido no Rio Grande e, ao lado de cada nome, cira os serviços por eles
¡ealizados, aresr¿ndo que rodos haviam sido providos enr sarisleçáo dos crabalhos já leiros.
''Descriçáo do Rio Grande por Domingos da Veiga" de 1617, publicado em Ba¡áo de Srudarr,
Op. cir., vol.l, p. 124.
58 "Ca¡ra de Sesmaria de Drogo Lopes Velho" de 20 de laneiro de 1602, publicada por Felisbelo
Freire, Hi:tóin le Sergipe. 2. ed., Perrópoiis: Vozes, 1977. p.374.
A formaçáo da elite colonial

ram leais cavalei¡os e servidores d'el-rei Nosso Senhor e em seu se¡viço nâ conquista desta
dita cidade e suas terras gastaram toda sua fazenda e seu sangue e vidas"te.
Filipe III de Portuga,I, em 1627, concedia a me¡cê do ofício de esc¡iváo dos Con-
¡os da Bahia a Ped¡o de Moura, em respeico aos serviços que fize¡a a¡é aquele momento
no Estado do B¡asil e por "servit nele em alguns ofícios com satisfaçáo por provimento
dos governadores"60.
Em 1625, F¡ancisco Gomes Muniz, morador na capitania da Pa¡aíba, e¡a nome-
ado, pelo rei, pa¡a o posto de provedor da Fazenda da capitania por seus servìcos por
muìros anos nas ocasióes de guerra, com "mui¡o gasto de sua fazenda e ¡isco de vida
servindo de capitáo do campo com soldados pagos a sua custa e susten¡ando a out¡os
pobres para náo desampararem as f¡ontei¡as e fazendo muiras obras públicas em au-
mento da nova povoacáo"6t.
Qualquer atividade podia ser recompensada, embora as mtlttares, evìdentemen-
te, fossem as mais importantes, pois sem elas nâo have¡ia colônia, e o período aqui
¡etratado é marcado por um con!ínuo de guerras, e, por isso, eÌas envolviam maio¡
número de pessoas. AJém disso, os serviços milicares dependiam mais da valencia pes-
soal e menos de recursos próprios do que outros tipos de tarefas, o que favorecia que
quaisquer vassalos, mesmo os mais humildes, pudessem servir à Coroa e, conseqüenre-
mente, requerer algum tipo de recompensa.
Nesse sentido, participar de uma campanha mili¡a¡, luta¡ contra piratas. con-
quistar novos territórios permitiria reque¡er hon¡as e mercês da mesma forma que exer-
ce¡ co¡retamenre um oficio da burocracia, financiar ce¡ros gastos miiitares, socorrer
as finanças da administraçáo colonial, descobri¡ uma mina' montar um engenho de
açúcar, desenuolver uma nove técnica de produçáo, fazer uma benfeito¡ia ou simples-
mente:judar no povoâmenLo de uma regijo.
Além do ripo de serviço prestado, a obtençâo de recomPensas maiores ou mèno-
res estava condicionada a ou¡tos fa¡o¡es. como a distinçáo en¡¡e nob¡es e plebeus ou
ainda o papel de cada um den¡¡o de uma mesma ta¡efa. No caso de uma jornada mili-
rar, a gradacáo das me¡cês variava do comandante supremo ao simpies soldado, ou, no
caso da administraçáo, do governador-geral ao esc¡ir'áo de uma Pequena càPitania'

59 "Carra de sesmaria dos sobejos de terra que pediu Manuel de SaLino" de 29 de julho de 1602'
Tontbo das c¿rtas de :¿smariø do Rio de Jønein (1594-1595 e ßa2't605) Rlo de Janeiro: Àr-
quiro Nacional, 1967, p.121.
"Regìstro da carra patente de Ped¡o de Mou¡a" de 17 de no.'embro de 1621, que consta do
Lìtro Segundo de Proulnentos, púliczào nos Daczmciúot Hìstóriros, Op clt.rc| 14,p 481'
"Registro da P¡ovisáo de Francisco Gomes Mìrnìz Pâra serlir dc Provedor áz Fazenl'a na
Paraíba" de 16 de maio de 1625, que consra do Zluru Segund'o le Prot:itn¿z¡¿-', Publjce'lo nos
Do.arnenlo' HiJlóricos, Op. c;t.. rcL 15, p )27.
7Z Rodrigo Ricupero

Os serviços, porém, náo eram realizados apenas na exPectativa das recomPensas


régias; inreresses imediacos também mo¡ivavam os vassalos, sem eliminac a esperança
de hon¡as e mercês futu¡as, como fica claro pela informaçáo dada por Diogo Botelho
que conta ce¡ enviado duas "jornadas" ao sercáo, uma Pa¡a descob¡i¡ o Am¡zonas e o
Maranháo e oùr¡a cont¡a os negros da Guiné levanrados, sem cusros para a fazenða
real, pois "os capirães a fizeram a sua custa, náo só pelas mercês que esperam de Sua
Majesrade, como por aigum resgare iícito dos escravos"6?.
Domingos de Abreu e Briro, em Êns do século XVII, denunciava uma situação
oposta, uma espécie de abuso da lógica da troca de serviços por mercês nas parres do
BrasíI. Para ele, os ouvidores gerais e provedores-mo¡es da fazendaGi laziam guerras
com eûorme gasro e pouca justiça contrâ os índios e os acompanham nessas "lodos
os pequeros e os poderosos váo as suas cus[as com seus cavaios e a¡mas e c¡iados
e ¡iráo cer¡idóes para lhe Vossa Majesrade faze¡ me¡cês por elas ao que se devia de
atalha¡"64.
Os casos aré aqui relatados apontam paÉ um aspecro fundamenral: os vassalos,
que desejassem servi¡ à Co¡oa deve¡iam dispor de recursos pa¡a a¡car com os gas.os ne-
cessá¡ios a dererminadas tarefas, particularmenre as mais importantes e que poderiam
gerar maiores recompensas. que poderiam permirir novos e maiores serviços e Prëmios
ainda mais compensadores.
Tal situaçáo e¡a lembrada por Joáo ,A.fonso Pamplona, em 1586, num pedido de
sesma¡ia na Paraíba, quando, depois de elencar os serviços já prestados, indicava que
numa capicania recém-conquistada era necessário morado¡es ricos "que a possam povo-
ar, e ele por ser rico e afo¡runado, e tem cabedal com que muito bem possa sustentar a
povoaçáo desse forte com seus escravos e criaçóes com que possa fazer muiros serviços a
Sua Majesade"6t.
Contudo, servir a Coroa era apenas o primeiro pesso pa¡a se obce¡ as cáo alme-
jadas honras e me¡cês. O segundo, náo necessariameme mais simples, era requerê-las
junto ao monarca où aos seus ¡ep¡esen¡anres. Para tanto, devia-se seguir uma sé¡ie de
procedimentos e t¡àmi¡es bu¡oc¡áricos, que impiica.,am gasros e tempo, daí o padre

"lnsrrumenros de Diogo Bocelho" de 6 de serembro de 1603, publicado na Retistt¿ ¿lo [i?stitt'-to


Hisúrlco e Geográfco Brasileìro, rcmo 73, parel, p. 58.
No caso, Martim Leitáo, ouvidor geral e conquisrador da Paraíba e Crisróvão de Barros,
provedor-mor e conquisrado¡ de Sergìpe.
Domingos de Abreu e Briro, "Sumário e descriçáo do Reino de AngoÌa e do descobrimen¡o
da iiha de Luanda" (c. 1591), publicado por AÌfredo de Albuquerqu,e FeIner. Un inqtúrito à
ui¿a admí istrati"a e ¿coaôrnica le Angola e do Bra¡il. Cotmbra: Imprensa da Universidade,
1933, p.78.
Carra de Sesmariade Joáo Afonso Pamplona" de I0 de janeiro de 1586, publicada porJoáo de
LyraTavzres. Apontarnento' para ã Hi:tória Territorial da Par¿íba.2 vols. Paraiba: Imprensa
O6cial, 1910, vol. I, p.29.
.4. formaçáo da elite colonial 73

Antônio Vieira, 6el ao seu estilo, em sermâo pregado em 16 47, afrrmar "para as mercês
dos ¡eis da rer¡a, que náo imporram nada, tantas papeladas e tantos ministros: para
as graças do ¡ei do Céu, que importam tudo, uma só folha de papel e um só minis¡¡o,
uma bula e um sacerdote"ó6.
Vaie lemb¡ar, aqui, que o diálogo entre os pe¡sonagens de Diogo do Couto, em
O Soldødo Prtítico, oco¡re na casa de um "despachador", ou seja, o funcionário enca¡-
regado do processo burocrático para se obter as me¡cês e que umas das reclamaçóes
do soldado, personagem da obra, e¡a exatamente sob¡e a demo¡a dos despachos dos
pedidos6T.
Os caminhos pa¡a as ¡ecoñPensas eram dive¡sos e dependiam muito do starus

social de quem requeria e da importância do serviço. Pa¡a os mais importantes vassalos


era possírel o diálogo direto com o monarca ou com funcioná¡ios próximos a ele. Já
os vassalos comuns dependiam fundamentalmente das negociaçóes com funcioná¡ios
subalternos, memb¡os muitas vezes de conselhos, como o da Índia ou de Portugal, ou
juntas, como a da Fazenda, gastando assim muito tempo e também recu¡sos Foi o caso
de Antônio Carvalho, cavaleiro fidalgo, que, após ter servido nas Panes do Brasil por
vinte aros em muitas ocasióes de guerra, permaneceu três anos em Lisboa para requerer
em vão o ofício de Gua¡da-mo¡ de Pernambuco, tendo sido despachado aPenas com os
ofícios de esc¡iváo da fazenda e da alfändega de Itamaracá, que, como se dizia na época,
era "coisa de pouca sustância", e isto ainda somenre depois de se desloca¡ a¡é Valladolid'
onde o ¡ei se encon¡¡ava6s. Po¡ outro lado, uma figLrra de destaque' como D Francisco de
Sousa, escapava da morosidade bu¡ocrática nos despachos, conseguindo que seus reque-
¡ìmentos fossem analisados mais rapidamente gracas a intervençáo do monarca-
Muitas recompensas, contudo, podiam ser obtidas di¡e¡amente na colônia, ¡e-
queridas aos governadores gerais ou aos caPitães-mo¡es, pessoalmente ou por meio
de requerimentos, em processo muito mais simples do que os enfrentados no Reino
Implicando, quando muito, viagens pela Costa, como a que fez Jordáo Rodrigues, em

"Sermáo da Sanra Bula da Santa Cruzada" pregado pelo Padre,{.ntônio Vieira na CaredraÌ
<leLisboa em 1647, publicado em Se rrnóes do Padra Antónío Vieirlx, KPro¿'rçâo lacsimilada
da cditío princeps, organizada pelo Padre A.ugusro Magne, t6 rols Sáo Paulo: Anchierana'
1943-45,rci..I, p. 969 Os pleiteantes também esperatam contar com a a;uda divìna' daí o
cuho de Nossa Senho¡a do Bom Despacho, como, por exemplo. em Tararipe' no Recóncaro
de Saivado¡. procurada pelos fìéis para "conseguirem os seus bons despachos nas Petiçóes
"
Ver Frci Agostinho de Santa Ma¡ia Santuá.rio Mdríano e hìstória das ìmagcns Milagrosas de
Noss¿ Senhora ... aparecitlas em o arcebíspa¿o ¿a Bãhía (172I) Salvador: Insriruto Geográ6co
e Histórìco da Bahia, 1949 (Cor¡esponde ao 9'rolume da obra ìnregral)' p 142

Dìogo do Couto, O So/dado Prático. (1610) 3" ed. Lisboa, Sá da Costa, 1980, especìaìmente'
p.31 e seguinres.
"Consuha sob¡e An¡ônio Carvalho", Valladolid' 4 de dezemb¡o de i602 A¡chivo GeneraÌ de
Simancas, Sec. l¡ovinciales, códice 1463, Ln-ro de Consultas' originais do ano de 1602, Ê' 123
74 Rodrigo RicLrpero

1554, indo de Olinda até Salvado¡ para pedir ao governador geral D. Duarte da Costa
os ofícios de porreiro da Alfândega e aicaide do ma¡ de Pe¡nambuco6e.
lndependentemente do caminho, cabia ao ¡ei em úlrima instància, conceder ou
náo, concordando, ¡efo¡mulando ou negando os pedidos e também os pareceres da
burocracia régia, como se pode perceber pela correspondência trocada entre os Reis
com o vice-reis em Portugal ou entre os primeiros e o Conselho de Portugal, durante
o período filipino. Era comum rambém que o mona¡ca devolvesse as consultas com
insrruçóes em que solicicava mais informaçóes dos procedimenros do requerente,
sobre a qualidade dos se¡vicos ou ainda sob¡e as mercês já recebidas. Po¡ our¡o lado,
mui¡as das me¡cês de meno¡ vulto concedidas na colônia por funcionários régios,
como, por exemplo, pequenas sesmarias ou cargos da administraçáo pouco rendosos
acabassem sem confirmaçáo real, até porque esras náo justificavam o aito custo para
obter a conco¡dância do mona¡ca.
Com o co¡rer do rempo, o p¡ocesso foi ganhando maior formalidade e, poste-
¡iormente à Rescauraçáo em 1640, a maioria dos pedidos oriundos das colônias e¡a
enviada para o Conselho Ult¡ama¡ino. Náo precendemos, porém, abordar aqui com
mais deralhe o processo bu¡oc¡ático de obtençáo de recompensas, o que exigiria
aprofundar o estudo sob¡e a administraçáo régia metropolirana, fugindo assim aos
nossos objetivosTo-
Os pedidos podiam ser feitos em nome próprio ou em benefício de rerceiros,
como ¡ro caso do pedido de Ma¡tim de Sá de um hábiro de uma o¡dem milirar para
o filho, o famoso Salvado¡ Co¡¡eia de Sá e Benevides, ou ainda do jesuíra Damiáo
Botelho que, por seus servicos no B¡asil, pedia mercês para os sobrinhos. Na prárica
os serviços funcionavam como üm bem transmissível, sendo comum que um filho
solici¡asse as ¡ecompensas pelos ser','iços do pai ou que a esposa, pelos do marido fale-
cido. A Co¡oa acei¡ar.a ral prática sem maiores problemas, afioal era importante que os
vassaios soubessem que, em caso de morre, suas esposas e filhos poderiam conseguir
algum tipo benefícioi'.

"Traslado e regìsrro da provisáo por quc o gor-crnador proreu ..- a Jord:o Rodrigues" de 5 de mar

ço de 1554, que consra do "LÀ,ro primeiro do rcgistro de provimcnros seculares e eclesiásiicos da


cidade da Bahia e rerras do Brasil", publicado na coleçia Docltmentas Históàcos, Op cit.,val.a5,p.
2.04.

70 Cleoni¡ \¿r i<, d< { buqu.rque. Op. "i,.. p"*¡^.


71 À Condessa de Lình¿res, por exempio, explicava, numa demanda com os herderros do fale-
cido marido, que o Conde "fez muiros e norár'eis serviços a Sua Majesrade em rodo o rempo
que foi casada com ela. merecedores de grandes sarisfaçóes, rodos a cusra do dore dela, por
nesre rempo ele náo rcr ourra" renda, daí ela rer drreito à merade desses se¡vrcos, por serenr
feiros no rempo do casamento. lembrando ainda que na escrirura do dore se decìarou quc as
mercês que el-reì lhe lìzesse "sc repuraria por adquiridos e seriam comuns enr¡e ambos". C[
A fo¡macão da elite colonial 15

Nos pedidos os diversos agentes do processo de coionizaçáo procuravam mostrar


os serviços feitos num momento singula¡ como, por exemplo, na conquista do Mara-
nháo ou na restau¡açáo de Saivador. Na fal¡a de uma acáo mais nocár'el, reuniam em
bloco os feitos em vários anos, como a luta co¡idiana pela defesa de uma capirania ou
a participaçáo na administraçáo coJonial, valorìzando, neste caso, a con¡inuidade dos
serviços- O já cirado Antônio Carvalho justificava seu pedido por ter servido nas partes
do Brasil por vinre aûos em muitas ocasióes de guerra, somados aos serviços do pai que
servira por t¡inta e seis anos.
Os vassalos procuravam ¡ambém destacar os elemenros que "'alo¡izassem o servi-
co, como prejuízos materiais ou gastos da própria fazenda Estes qualificavam o esfor-
co, servindo sempre como úm argumento a mais na luta pelas recompensas, como no
caso de Antônio da Rocha Beze¡¡a, escri¡'áo da alfândega e aÌmoxarifado da capitania
de Pernambuco, que mrma petjçáo de mercês "aleea que tem passado muitos trabalhos
e gasto mais de 10 mil c¡uzados no serviço de Sua Majesrade"::.
Da mesma maneira os "fejtos he¡óicos" com custo de "sangr.re" próprio e da
"vida" de parentes eram sempre apresentedos, como, Por exemPlo, nos casos de Amaro
de Queirós, fe¡ido e cati.rc dos holandeses, provido como capiráo do forre do Recife'i
ou no Amador de Àguiar de Altero, nomeado, por D. Dua¡te da Costa, capitáo de um
berganrim, pelo fato de ter sido fe¡ido na luta con¡¡a índios e f¡anceses:''
Ma¡rim Soa¡es Mo¡eno é um caso exemPla¡ pois' em um pedido de mercês ao rei,
relarava que, saindo do Maranháo, foi ar¡iba¡ às indias Ocidenrais de Castela e daí partiu

'A¡rendamen¡os do Engenho de Sergipe", sem data, mas do inícro do século X\''II Atquivo
NacionaldaTor¡e do TomEo, Cartório dosJesuí¡as, maco l5' documento 3'
An¡ônio allândega c almoxarifado da capiianìa de Pern' -ì'"'"
cla Rocha Bczcrra, escrir'áo da

Consta de seus papéis que. em 1595, durante o ar:.que dos lngleses a Pe¡narnbuco' An¡ònìo cia
Rocha o¡denou una companhia de 200 homens a sua custa' lazendo ¡anbém uma rr¡nchcìra

com cusro de 16.j00 cruzados, com ariilharia e dando mes¿ a muìta geote Ofcrecendo-sc em

ourras ocasióes de inimigos e acompanhando por muiros dias o Capìráo Manuel Marcarenhas
Homem, o governador Crisróváo de Ba¡ros e a I¡u¡uoso Ba¡bosa' a sua custa e fazendo muita
dcspesa. Fora ainda encarreeado pelo go"ernador para abrir o caminho de Pe¡namhuco até
a Bahia, quando fez muira despesa a sua cusra, e, por firn, que indo Francisco de trloralcs'
capiráo da inlanraria espanhola para passar a Pataíba, náo ¡endo man¡imcntos ne'' '"1'1os
ele o soco¡reu de sua fazenda com mais de 3 mil cruzados. "Consulta de Antônio da Rocha
Beze¡ra".,A.¡chiro Gcneral de Simancas, Sec. l¡ovinciales, códice 146l' Lir'¡o de Consuhas'
origìnais do ano de 1601. fìs.44'45.
"Carta de provimenlo de.Á.maro de Queirós como capìtáo do forte do Reofe" de 3 de marco
dc 1629. Arquivo Nacionaì da Tor¡e do Tombo' Chancelaria de filioe lll, Doaçóes, Ot-ícios
e l\4ercês, Lrvro 22, fl. 215.
"T¡aslado ,la pro.'rsáo do scnhor governador D. Duarre da Cosra que passou a '{mador de
Aguiar de caprrâo do berp¡antim Sáo Tomé ' dc 26 de ab¡il de 155.r' publicado ¡os Docuncntos
Históticos, Op. rh, r.oL. 35, p. 385.
76 Rodrigo Ricupero

para o Reino sendo capturado pelos franceses que mataram toda a gente, "ficando só t¡ês
homens com ele suplicante ¡odos feridos donde ele suplicante escepou com vinte e três
fe¡idas, uma máo menos e uma cucilada no rosro e logo o levaram a Franca dando-lhe
muito mau ûatâmeûo"7t, onde ficou por sele meser preso, gasrando muito para conseguir
se livrar e, em outro documento da mesma época, concluía, numa espécie de resumo dasua
vida aré enráo, que "rodos estes trabalhos e gastos lhe sobrevieram, por haver bem servido
a Sua Majesrade assim no descob¡imenco do Ma¡anháo e sua conquista, como em Ceará,
onde gasrou toda sua vida em conrinuas guerras com o genrio, atravessando muicas terras
do se¡ráo e f¿zendo outros muitos servicos, que sáo notórios"76.
Marrim Soa¡es Moreno expressava à sua maneira uma idéia cor¡ence nas parres
do Brasil, para os vassalos aqui ¡esidenres a conquista, colonização e manurenção das
partes do Brasil pela Coroa portuguese eram fruto, acima de tudo, do esforço dos
vassalos, com seu sangue, vidas e fazendas, cabendo assim ao rei a obrigaçáo de recom-
pensar ral esforço.
Ta1 concepçáo, freqüente em quase todos os tipos de pedidos de mercês, era a adap-
taçáo perâ o espaço colonial das idéias mais gerais sobre troca de sewiços por recompen-
sas régias, vigente no Império Português, e que nas pa¡res do Brasil acabou sinre¡izada
numa formulaçáo básica: "a cusra do sangue, vidas e fazendas" e suas va¡ian¡ef7. Fo¡mu-
laçáo que, inclusive, seria assimilada, posceriormenre, pelo próprio Conselho Ultramari-
no, pois este, ao aprovar o pagamenro para Diogo Gomes Carneiro, nomeado c¡onista do
Brasil, argumentava que "as heróicas açóes, que os vassalos de Vossa Alteza obraram
no Brasil, tanto à cusra do seu rrabalho, suas vidas, hon¡as e fazendas merece¡am o nome
de grandes em todo mundo, como a lama pública, ¡âo hâ nzio para que Vossa Alteza
deixe de as manda¡ esrampa¡"7s.
Essa justificaciva, co¡¡ente no Brasil e que legitimava as p¡e.ensóes dos vassalos
nelas residences, manifesrou-se desde os primeiros tempos da colonizacáo, como se ve,

Documenro de 1618, publicado na Revisra do Insri¡u¡o Hìsrórico do Ceará. Fo¡raleza: Insri-


ruto Histó¡ico do Ceará, XIX, 1905, voL. I, p. 65.
"Requerimenro de Marrim Soares Moreno a el-rei para que lhe laça alguma mercê com a qual
desempenhe das dívidas qúe conrraiu no seruiços da páuia (sic)" de 1618, publicado na Revisra
do Insciruro Hisrórico do Ceará, XIX, 1905, parte I, p. 64.
77 Como, por exemplo, "espero o galardáo porque sem custo da lazenda de Vossa Majescade
nem de sangue de seus vassalos b¡ancos e índios fiz esra jornada" de auroria de Sebasriáo de
Lucena de Âzevedo. "Três ca¡ras de Sebas¡iáo de Lucena de Azevedo dirigidas a D. Joáo IV
dando conhecimenro do que se passa no Pará", publicado por Lucrnda Saragoça, 02. rtr.,
P.37t.
"Consuka do Conselho Ultramarino" de 22 de novemb¡o de 1672, publicada por Eduardo
de Casrro e Âlmeìda, Inr¿nuírio dos ¿locumentas r¿latiuos ao Brusil exisrentes no Arquilo de
Marinlta e Ubr¿n¿r ¿le Li¡boa,9 vols. Rio de laneiro: Biblioteca Nacional, t9l3 - 19j1, vol.
VI, p. 123 (Separatas dos Anat d/z Biblìotecd N¿cionzù.
A formaçáo da elite colonial 77

¡ifica, po¡ exemplo, em ca¡ta escrita Por dois oficiais da Fazenda ao monarca em 1562,
na qual, a princípio, defendem os moradores, alegando que foi "a custa de seu sangue
e seu t¡âbalho" que eles ganharam e sustentaram a te¡ra7t-
Esse discu¡so se¡á sempre evocado nas negociaçóes, individuais ou coletivas, com
a Coroa. Em carra da Câmara da Pa¡aíba, os principais mo¡ado¡es da capitania. in-
dignados com a lei que restringia a escravização dos índios, diziam sem ¡odeios ao
monarce que:

Temos razão de lemb¡a¡ a Vossa Majesrade a grande obrigaçáo em que


está com os morado¡es desra sua caPilânie na conquista da qual sendo como
foi rão larga se deixa bem enrender o muiro sangue que der¡amamos e o muito
que nos há custado de nossas fazendas sem ajuda alguma da de Vossa Majesrade
e náo foram poucas as ocesióes €m que se tem !islo ser este ¿ cePirania, onde
houve mais poderosos inimigos. assim n¿tu¡¿is como estrangeiros. contra os
quais se acreditaram tanto as bandei¡as de Vossa Majesrade como é notórìo e ¿rè
hoje náo há nela morador que renha sarisfaçáo alguma sendo tâis seus ser!'jços
que quando Vossa Majesrade os queira mândar examinar achará que se igualam
com quaisquer deÁfrica (Marrocos) e da fndia pois não somente nos há cus¡ado
sangue mas fazendaso.

À franqueza da carta revela como os mo¡adores' no papel de conqrListadotes das


terras americanas, colocavam_se na ofensiva, exigindo do rei o mesmo t¡atamento dado
aos que se¡\'iam rto O¡iente ou no no¡¡e da Áf¡ica' cujos serviços náo seriam superio-
res aos feitos na América, pois os primeiros e¡am feitos a custa de sangue aPenasst, ao
contrário dos últimos feitos com sangue e fazendas-
A elite pernambucana, durante cont¡a os holandeses, insistiu nessa concep-
a guerra
Êcassem rcservados aos "filhos e mo¡adores
ção, como jusaificativa para que os cargos locais
da terra", pois nas palavras dela era "à custa de nosso sangue) vidas e despesas de nossas

79 "Car¡a dos Oficiaìs da lazenda do Salvadoi' de 24 de julho de 1562, publicada nos Anais da
Biblioreca Nacional. Op. cit , ro1. 2Z p 239 No mesmo sentido, Irei Vicente 'J" S'l'ador afi¡-
maria que "os moradores erem os que co scenra,-am (a terra) com seu ¡rabalho
e haviam conqnistado à cusra de seu sangue". Frei Vicente do Sa|'ador ' Op cit ' p 297'
"Ca¡ta da Câmara da Paraíba para el-rei sobre ordem do mesmo que mandou aquela capirania
para que se tirassem os gentios do poder das pessoas que rivessem' e lhe deu uma largainformaçáo
a respeito do mesmo" de i9 de abril de 1610 Ârquivo Nacional da Torre do Tombo, Corpo
Cro-
nológico, paÍ€ l, maço 115, documento 108.
O que náo é verdade, diga-se de passagem
78 Rodrigo Ricupero

fazendas, pugnamos há mais de cinco anos por as (capitanias) libertar da possessão injusta
do holandês"sr.
Foi após a expulsão dos holandeses de Pe¡nambuco em 16í4, que, conrudo,
essa idéia, adaptada ao cená¡io da ¡esreuraçáo da capirania, encontrou na eiire pernam-
bucana sua mais fina expressáo, manrendo seu vigor aré, pelo meûos, o fìm do período
colonial, e se¡vindo de base para formar o que Evaldo Cab¡al de Melo chamou de
primeiro nativismo pernambucano, ou seja, a represeûtaçáo ideoiógica elaborada para
desc¡erer as relaçóes da açucarocracia com a Co¡oa, jusrilìcando assim uma série de
prerensóes desse grupo sr.
Cons¡¡uía-se também, pa¡alelamenre a esra ¡ep¡esenraçáo ideológica, uma memó-
ria sob¡e a guerra da ¡esrar.rraçáo, que se esrendeu sobre o período aûrerior, abarcando
desde a chegada de Dua¡te Coelho acé a invasáo holandesa, cujos fru¡os mais conhecidos
são o conjunro de relaros das campanhas miÌitares. Mesmo antes de 1630, pode-se cons-
tarar, por rodas as pa¡¡es do Brasil, a consrrucão de úma memória, local ou náo, sobre a
conquista de certas áreas ou sob¡e outros acon¡ecimenros impo¡ranres, náo só em relaros
mais elabo¡ados, mas ¡ambém em documenros redigidos com Ênalidades mais limiradas.
T¿l memó¡ia náo é de somenos impo¡rância, pois era preciso comprovâr e par¡icipacão e

os serviços fèitos para se reque¡e¡ os devidos prêmios, daí que relaros, crônìcas ou memó-
rias, mas rambém carras, depoimentos e ce¡rificados lossem essenciais.
Os ¡ela¡os mais exrensos, impressos ou manuscriros, que divulgavam para um
público mais amplo os grandes âconreciñerros e seus prìncipais aror€s, e¡am o poûro
alro dessa memória consr¡uída. Po¡ baixo deles, porém, uma imensa gama documen-
tal, composca por carras, queixas, certidóes, depoimencos e pedidos, contribuía para
cons!ruir a memória dos acontecimentos coloniaiss¡.
Ä ob¡a do Pad¡e Ba¡tolomeu Guerreiro, Jornada dos Vøssalos ¿la- Coroø de Portu-
l¿Å sob¡e a reconqujs.a de Salvador, na qual os relaros sob¡e os vá¡ios momentos da
campanha caminhavam paralelamenre com a preocupaçáo em ar¡ibui¡ a real partici-
paçáo de cada um nos acoDrecimenros, nomea\¡a) com cuidado, os parricipantes e seus
fèitos, ressaltando que "assim colhi o que na empresa houve, das fonres da verdade, que

''Car¡a da Cânrara cie Pernembuco a D- Joáo IV" de l0 dc março de t651, ,zpu.d E..aldo Ca-
b¡al dc Mello, Rzlz¿ Wio. Op. cìt., p 92.
Veja'sc Ë.vaÌdo Cabralde Meìlo, Op. rzr., especialrncntc o capituÌo 3, intìrulado'À cusra dc
nosso sangue, vidas e fazcndas".
Sobre o assunro, veja-se arnda lris Kamar. Esquecilos e renascitlos, htstoriagraf,z aaiêrtita
Luso ¿n¿ri¡:¿r¿ (1724-1759). Sáo Paulo: Hucirec e Salvador: Cenr¡o de esrudos Baianos ,
UFBA,20O4.
A formaçáo da elice colonial ?9

a ráo g¡andes seûhores se devia, ¡ejeitando popula¡ìdades, afeitos, respeitos e encareci-


menros, que muitos seguem com grande dano da cerceza dos sucessos" st.
Outro bom exemplo éa c¡ônica sob¡e a conquista cía Paraíba arribuída ao jesuira
Simáo T¡avassos- Nela, Ma¡tim Leitáo, ouvidor geral e comandante da conquìsra. nas
palavras do jesuíta, "é o todo e a principal figura deste meu compêndio", tendo seus
feitos louvados pelo autor, preocupado, com "o mal que nestas partes lhe tem feito a
s6
inveja, se (Marrim Leiráo) ocupara em assoalha¡ no Reino suas ob¡as como o fazem
(seusinimigos) publicar dele e o infama¡ de muitas, que claramente, nele náo há, lora
o mais diroso homem do mundo".st '
t"

.As c¡ônicas e relatos, ao destaca¡ os feitos, ou, pelo menos, ao ates¡ar a p¿rticiPaçáo
em dado evento, poderiam ser úteis num pedido de me¡cês, mas náo e¡am sua única fo¡ma.
A Coroa, em muitos casos, dava instrucóes aos governadores-gerais, em seus regimenros.
para que enr.iassem os nomes dos vassalos que tivessem prestados serviços relevantesse
O expediente mais comum, porém, era anexa., aos pedidos, certidóes que atestas-
sem os serviçosi como fez Belchior Vaz, que incluiu um ce¡tificado de Jerônìmo de Albu-
querque Maranháo, atestando seus r'á¡ios serviços na regiáo do Maranháo e que concluía
a6rmando ao ¡ei "é merecedo¡ de que o dito senhor lhe faça muitas hon¡as e me¡cês"eo

Pad¡e Barrolomeu Gvrreno. Janada dos \tassalos d¿ Coroa de Portagal. (1625) R\o de la'
nciro: BibÌio¡eca Nacronal, 1966, p. i5. AIguns capítu1os sáo quase inteiramente dedicados a
lisrar os nomes dos presentes.
Assoalha¡ lj¡eralmenre "colocar ao sol", em senrido Âgurado "pLrbÌicar ou divuLgal, ct Pedro
José dâ Fo¡seca, ,rrto n,rrio partugús c latino. Lisboa: Régia O6cina Trpográfica,
lT9l Mar-
rim Afonso de Sousa utilìzaya-se dâ mesma expressáo numa carta escrira' do Orrenre para o
rei, em quc afirmava: "eu sou mau assoalhador das minhas coìsas e riro Poucos insrrumÕntos
dclas ... porque há mur poucos que drqam o bem que o homem faz' e nunca faka quem diga o
mal". Cl "Ca¡¡a de Marrìm,A.fonso de Sousa' de i" de novembro de 1i35' Publicada Por Luis
de Albuquerque (Org.) . Matim Ajàttso de Saa¡¿. Lisboa: Alía, 1989. p 23.
"Sumário das,{rmadas que se Ezcram e guerras que se deram na conquista do ¡io Pa¡aíba",
publicado la Rer-isca do 1ns¡ituto His¡ó¡ico e GeográÂco Brasileiro. romo 36. p- 87 e 83' cuja
aLrrorìa é arribuida ao jesuita Simáo Travassos !èr sobrc o tema Josó Honório Rodrigues, '4rirl-
riã /-!1 Hist,iïin ¿o Br¿sil.3 vols. Sao Paulo: ComPanhiâ Edirora NacionaÌ, 1979' voÌ. I, P 4i0'
Merrim Leìtáo também loi agraciado com poesìas em latim e em espanhol pela conquista

da Paraíba. As duas poesìas em espanhol. de pouca qualidade' faLam da 'rtó¡ia sobre os Po-
riguarcs, compåra o ouvidor geral com gregos c ronanos' "que a todos sobrepuja en paz 1' en
guerra/ no emborando su pluma, lanca,v cspada". Biblìoreca Nacional de Lisboa' Reservados'
Códices (Ex Fundo Ge¡al),302.
"Regimento do gor.ernador-geraldo Brasil" de 8 de março de 1588, ptl>lìcaðo nos Datum¿n'
to,; para a Hístória lo Açúcatvol-I, p.156.
"Cerri6cado pasado porJerônimo de Albuquerque em favor de Belchior Vaz' companheiro
qLre loi de Marrìm Soares Moreno'' de l0 de junho de 1617, publicado pelo Baráo de Srudart'
O¡. rlr., II, p. 182.
"ol.
80 Rodrigo Ricupero

Ou ainda, o caso de Esteváo Soa¡es de-Albergaria, que apresentou as ce¡cidóes dos oficiais
da Câma¡a do Rio Grande, e dos governadores-gerais Gaspar de Sousa e D, Luís de Sou-
sa, e, por já ter servido como capitáo da capiania do Rio G¡ande, apresentou também
uma cerridáo de Manuel Fagundes, escriváo da Câma¡a do Rio G¡ande, sob¡e a ¡esidên-
cia tomada pelo ouvidor geral Manuel Pinto da Rocha que abonou seu governott.
O poder de emirir certidóes reconhecidas pela Coroa náo era desprezível, parti
cularmente para consegui¡ arregimentar pessoas dispostas a enfrenrar riscos em algum
empreendimento, como a exploraçáo do inte¡io¡ do contioente. Assim, Filipe II deter-
minou que seriam dadas hon¡as Primei¡os Participantes da expediçáo de
e me¡cês aos
aco¡do com seus mé¡i¡os e feitos, confo¡me o que Gabriel Soa¡es ¡elataria posrerior-
mentee2, possibilidade a que Belchior Dias rambém aspirava, propondo fo¡malmenre
que "todas as ce¡tidóes qu€ eu nesras paftes pâssâr de serviços e de descob¡imenros,
que se lìzerem de minas sejam válidas e aceitas no tribunal e os despachem por elas
confo¡me seus se¡vicos tr".
A6nal, num império espraiado por rodos os cantos do globo, a luta pelo concrole
da palavra, contida nos relaros, nas ce¡ridóes e na correspondência em ge¡al enviada ao
Reino, era chave pa¡a ab¡i¡ a a¡ca das mercês e alcançar as graças do rei- Daí a eno¡me
dispura pela memória, cûÌes armas urilizadas por todos os lados e¡am valo¡izar as pró-
prias açóes ou as de aliados, diminui¡ ou apagar as dos rivais, elogiar ou difamar,.iusta
ou injus¡âmente, enr¡e outras.
Veja-se, por exemplo, o caso da conquista do Maranháo, quando o sargento-
mor Diogo de Campos Moreno escreveu um ¡elaco valo¡izando seu papel e criri-
cando o comandante Jerônimo de Albuquerque Ma¡anháo. Este, por sua vez, seria
defendido pelo governador-geral, Gaspar de Sousa, que o isentava, ern sues cartes,
do equivocado aco¡do de trégua com os franceses, re.jeitado pela Co¡oa, c¡editando
a responsabilidade ao primeiroe¡.
A Coroa utilizava-se habilmenre das informaçóes recebidas, paralel
respondência oficial, para fiscalizar seus represen¡anres, assim, orrenrava-se ao gover-
oador-geral que não devia impedir que as Câma¡as e demais oficiais escrevessem ao

"Consuka e despacho sob¡e Esceváo Soares deAibergarii'em <¡ue consram dois documenros
datados de Lisboa em t4 de Julho de 1626 e Mad¡id em 26 de Novemb¡o de 1626. A¡chivo
General de Simancas, Sec. Provrnciales, códice 1468, Livro de ConsuÌras, originais do àûo de
1626, Âs. 575 e seguinres.
'Alvará de mercê e hon¡as às primei¡ås pessoas que acompanharem a Gabriel Soares de Sou-
sa, na þrnada ... S. F¡ancisco" de 14 de dezemb¡o de 1590, publicado por Jaime Corresáo,
P¿ulireae Lu,¡baza Monanenta Historica, romo I, p- 416.
'Apontamentos para o Senho¡ D. Luís de Sousa", escrito por Belchìor Dias Moreia em 1618
e pt$Iicado no Liaro prinei¡o do Gor¿rno do Brasll, Op. cít., p. 227.
Diogo dc Campos Moreno,Jornada do Maranbáo (1614)- Rio ¿,eJ^neiro: Alhambra, 1984.
A formação da elite colonial 8i

rei, "ainda que sejam queixas, porque a meu se¡vico convém have¡ nisto a libe¡dade
necessária" 9i.
Nas chamadas ¡esidênciase6, procrÌmva-se colher informaçóes sobre o cumpri-
menro oL¡ náo, pelo governador ou pelos capitáes-mo¡es, das o¡dens enviadas e sobre
sua co¡reçáo no governo da capitania ou do Esrado do B¡asil. Isro levava os o6ciais a
procu¡a¡em ga¡anti¡ que os escolhidos parâ prestârem depoimentos lhes fossem favo-
¡áveis. Daí, por exemplo, o recurso de D. Luís de Sousa, quando deixou o posro de
governador-geral, pa¡a que na sua residência náo fossem romados depoimentos em
Pernambuco, capitania controlada entáo po¡ Matias de Albuquerque, seu desafeto, o
que, para o andgo governante, viciaria as informaçóes recolhidaseT.
Os governadores e our¡os oficiais, por sua vez, providenciavam documencos fa-
voráveis ao seu gove¡no, utilizando muilas vezes seu poder ou influência, o que näo
passava despercebido dos c¡íticoses. Tais documentos podiam se¡, por exemplo, cartas
de Câmaras elogiando a açáo do representante régio ou os chamados "insrrumentos",
dos quais conhecemos o de Mem de Sá e o de Diogo Borelho- Esses nada maìs e¡am
do que uma série de itens esc¡icos pelo representante régio, que justi6cam suà gestáo,
enviados enráo a um oficial da Justiça, que recolhia depoimentos de mo¡adores ou de
memb¡os da administraçáo coloniai sob¡e cada um des¡es i¡ens, que assim aÊançavam
as informaçóesee.

"Regimento de Gaspar de Sousf', publicado em Cartas pa-,a Áh,aro de Sousa e Gaspar de


p.13I e em Ma¡cos Carneiro de Mendonça (org;¡, Ap. cit.. p. 436. O granàe
Sousa, Op. cít.,
Afonso de Albuquerque, eo"ernado¡ da Índia no inicio do XVI, propôs que o go'€rnado¡
daquele Estado controlasse a correspondência, Para evitar que seus inimigos a u¡ilizassem
cont¡a ele, mas a Co¡oa náo conco¡dot¡ com a proposra. Cf. Afonso de Albuquerque Cørra.t
para el-rei D. Mantel I, seleçáo, prefácio e notas de Antóûio Baiáo- Lisboa: Sá da Cosra. 1942,
P.96.
As resrdências eram "exame ou informaçáo que se tira do procedìmento do jurz oLr gover-
nador, a respeìro de como procedeu nas coisas de seu ofício, durante o tcmpo que resìdia na
¡erra onde exerceu" e e¡am feiras ro¡ineiramente. Cl Anrônio dc Moraes Sil'¡a'. Diccíonaría da
Lingua Portugueza (fac-símile da 2" ed. de 1813), 2 vols. Rio de Janeìro: Fluminense, 1922,
vol. II, p.612.
"ReqLrerimento de D. Luís de Sousa sob¡e a residência que de seu Soverno sena ¡irada na
Bahia e Pernambuco", ptrblicr.ðo io Lí1'ro Prìmeiro do Gotttrno da Brasil, Op cb .'p.335.
Veja a acusaçáo leita por Lourenço de Brito Freire contra o governador-geral Diogo Luís de
Oljvei¡a, de que este int€rveio nas eleiçóes da Câmarâ, como ameaçâs e suborno, para que
esta enviasse cartas a Sua Majestade de aprovacáo de seu governo, que ele mesmo orienrav¿-
"Qùeixas que Lourenço de B¡ito Co¡reia laz a Sua Majestade das vexaçóes e opressóes pú-
blicas e roubos que Diogo Luís de Oliveira, governador do Brasil comere naqLrele Estado",
Biblioreca daAjuda, Códice 49-X-10, fl. 320.
"lnsr¡umentos de Mem de Sá". inicìado em 7 de setemb¡o de 1570 e publìcado nos lzazi
cit.,.o\. 27, p. 729 e "Insr¡umenros de Diogo Botelho" de 6 de
dã Blblioteca Naciondl, Op.
82 Rodrigo Ricupero

Po¡ out¡o lado, nenhurn governador-geral ficou isento de críticas e queixas envia-
das para a Coroa, que iam desde acusaçóes sé¡ias aré outras pouco críveis, como aquela,
deorre outras quarenta, feita por Lourenço de Brito Correia concra o governador-geral
Diogo Luís de Oliveira, que teria comemorado a invasáo de Pernambuco pelos holan-
deses com "jantares e banquetes".
Conrudo, denrro desse sistema de informaçáo, papel destacado cabia às princi-
pais autoridades coloniais, que, no exe¡cício de seus cargos ou mesmo depois de retor-
narem ao Reino, eram consultadas pela Coroa, particularmente sobre os provimenros
de cargos e as concessóes de mercêsl00.
,tpreocupaçáo com as informaçóes, favo¡áveis ou náo, que chegavam ao mo-
narca, náo eram desprovidas de ¡azáo, afinal com base nelas a Coroa se pautava para
concede¡ ou náo as desejadas recompensas

As retribuições e as queixas

Teoricamente ¡odos os vassalos poderiam se¡vi¡ à Coroa, mas os servicos m¿is


imporranres exigiam muitas vezes ¡ecursos e relaçóes sociais inacessíveis para a maio-
¡ia. Somente colonos ¡icos, como Gab¡iel Soa¡es de Sousa, ou importanres funcioná-
rios régios, como D. F¡ancisco de Sousa, podiam negociar diretamente com a Coroa
empreendimenros de alto custo, como o do descob¡imento das minas; pata os vassalos
mais humildes, pouco lesrava além de se engajar como soldado em uma campanha
qualquer ou ir povoar aiguma região recém-incorporada à colonização lusitana, com
os ¡iscos inerenres de tais açóes.
Entre uns e our¡os, contudo, exisria uma mi¡íade de variantes possíveis, tanto de
servico como de mercês. Daí a plasticidade da a¡ca das me¡cés, que, na expressáo de Fi-
lipe II, permitia fazer as hon¡as e mercês confo¡me os "serviços e qualidades merecerem"

serembro de 1603 e pubLcado na Revisca do Insrituro His¡órico e Ceográlico Brasìleìro, romo


73, pane I, p. 58.
100 "Vereis €m segredo o papel que se uos envìâ com est.r ca¡ra e trara de coisâs locantes âo Brasilj
e pela notícia que teldes das daquele Esrado, vos encomendo me aviseis do que na marcria
vos parecer ... romando para o làzerdes as informaçóes que rivercies por necessárias, assim dos
Brasil como de oucras pessoas ...". "Carte do rei para Gaspar de
Sorrsa" de 23 de fevereiro de 1626, pubiicada nas Carras panAluaro le Sotrst e Gaspa.r de Sau-
ø. Op. cir., p.307. Ot ainda Pareceres de Alexand¡e de I'toura sobre dì'ersos precendentes",
escriro provaveimente na scgunda metacie da década 1610 e publicado pelo Baráo de Srudarr,
Op. dr., vol. II, p. 184.
4. formaçáo da elite coloniaÌ 8l

rrrr,
ou seja, praricamen¡e rodos os vassalos podiam ser contemplados, cada um com sua
a parte, de acordo com seu servico ou qualidade-
Tal situaçáo fez que Luiz Felipe de Alencasrro apresenrasse a distinçäo encre o
que ele chamou de o "homem ulc¡amarino" e o "homem colonial" para diferenciar os
membros de uma elite ul¡¡ama¡ina'02, enquanto o primeiro aruava pelo Império para
aproveicar as recompensas na metrópole, o segundo ci¡cula¡'a po¡ vá¡ias aegjoes, m¿s
apostâve srra promocáo social e econômica em uma dere¡minada região do império.
Contudo, quando pensamos no conjunto da sociedade, é necessário inclui¡ our¡as cate-
gorias de vassalos, com pretensóes bem mais limitadas, que atuavam em ge¡al em áreas
mais restritas e que recebiam pequenas pa¡celas da arca das me¡cés.
Estas mercês, ranto as ma.eriais como as simbólicas, ocupa¡am um lugar fun-
damenral na r¡ansfe¡éncia dos valo¡es estamenteis da metrópole para a colônia, afinal
num re¡ri¡ó¡io ainda "sem dono" e onde eram ¡a¡os os nobres de média ou alta catego-
ria, era necessário recriar as hierarquias sociais vigenrcs em Porrugal com a promoçåo
de se¡o¡es da baixa nob¡eza ou mesmo plebeus, que passa¡am a formar o topo da so-
ciedade colonial, embasados nas hor¡a¡ias e nas propriedades confe¡idas pela Coroa.
Além disso, as mercês mate¡iais e¡am €ssenciais para garantir o subsr¡a[o econömico
pa¡a que essâ elire em formação pudesse desempenhar as ta¡efas que lhe cabiam na
empresa, r.inculados à administração di¡era ou indirera das partes do BrasiJ.
Para o conjunto de vassaios os "homens coloniais" e os serores logo abaixo
destes - engajados no processo de colonizaçáo das partes do B¡asil, as me¡cês mais
importantes, do ponro de visra mare¡ial, eram as terras e os cargos, e, do ponto de vista
simbólico, os hábiros da O¡dem de C¡is¡o e os foros de cavaleiro. Já para os "homens
ult¡ama¡inos", tais mercês tìrham pouca relevância, pois já eram tobres e buscavam
principalmente benefícios materiais no Reino, particularmente as rendosas comendas
das o¡dens milirares, praticamente inacessíveis aos primeiros-
Os "homens uh¡amarinos", contudo, inte¡essam-nos menos, pois, dado o escopo
desre rrabalho, pouco contiibuíram paraa elite colonial nascente, a1ìnal ao concluírem

suas ta¡efas na colônia, eram enviedos para outras áreas ou ¡e¡ornevam ao Reino- As-
1'homens
slm, maior irreresse apresentam os coloniais", parte fundamental dos gruPos
que formariam a elite colonial das partes do Brasil.
Àdianre vamos mos¡¡a¡ a importância das me¡cês para, direta ou indi¡etamente, a
mon¡agem do patrimônio da nascente elite colonial. Dessa maneira, neste momento pre-
terdemos desracar outros aspectos das rerribuiçóes, particula¡menre certa delasagem ent¡e
os pedidos e as concessóes-

101 "Carta de el-rei para Gaspar de Sousa" dc 3 de novembro de 1612, publicad'a em Cartas pzra
Álz,aro ,/e Soasa e Gasp¿r dc Sousa. Ap. dt., p. 168 eBarîo de Smda¡t, Op. cít..rcL1. p.53.
102 Luiz lelipc dc Àlcncas¡o, O Tr¡tc' ào: i/n¡¿z¡r¡. Sáo laulo: Companhia das Lerras, 2000. p.
r03.
84 Rodrígo Ricupero

O processo de concessáo começeva com a verificaçáo da papelada apresencada e o


levantamenro de possíveis mercês já feitas Para que a Pafiir desses dados, apresencados ao
monarcai este dere¡minasse o despacho ûnal. Eventualmente, pedidos de mercês específi-
casi como cargos e terras, eram menos detalhados, com o requereme aP¡esentando a área
ou o (argo prerendido e tuas iustificariv¿s.
Evidenremenre nem codos os pedidos e¡am atendidos, náo sendo incomum que
o ¡ei o¡ienrasse o vassalo, como no caso de F¡ancisco Zonlha, morador na Bahia, que
teve seu pedido negado, para que fosse servi¡ mais temPo ou em determinada regiáo a
frm de poder volcar a pleitear as recompensast03.
Conrudo, o mais comum é que os vassalos fossem pelo menos parcialmente
atendidos, especialmente quando o vassalo estivesse apoiado nas promessas régias,
pois, como ale¡rava Salvado¡ Cor¡eia de Sá e Benavides, numa ¡euniáo do Con-
selho Ulc¡amarino em 1652, "semelhantes promessas, se deve da¡ cumprimento,
\aa.
para náo virem em desestimaçáo as me¡cês que Vossa Majestade faz"
Veja-se, por exemplo, o requerimento de Paulo Barbosa, que, agós apresenrar seus
papéis, incluindo várias ce¡cidóes, com serviços ¡elevantes, pedia o hábito da O¡dem de
C¡is¡o com 40 mil de tença e a primeira capitania que vagar no Brasil. Para o governador de
Porrugal, Diogo da Silva, e também para o Conselho de Portugal, deveria receher somente
a me¡cê de um ofício de justiça ou fazenda para o qual fosse apro, e apenas um conselheiro
propôs que ele recebesse o posro de capitáo de uma capirania, no caso a da Pa¡aíbatot.
Ou, ainda, a consulca sobre petiçáo do capiráo Gonçalo Maciel da Guarda que,
por lutar na Bahia cont¡a os holandeses e ourros servicos, pedia o hábito da O¡dem de
C¡isto e uma comenda, tendo recebido parecer favorável apenas do hábito com a cença
de 25 mil réis'06.
Assim, ve¡iÊca-se que quase todos os pedidos apresenrados requerem mais prê-
mios ou maio¡es concessóes do que as realmente a¡¡ibuídas, situaçáo que pode ser
explicada hiporericamenre de várias fo¡mas: desde uma compreensáo dos vassalos que

r03 "Despacho de Filipe II para o marquês deAlenquer, D. Diogo da Silva e Mendonça'. Àrchivo
Gene¡al de Simancas, Sec. Provinciaies, códice 1515, Registro de despachos de D. Filipe III de
Espanha, II de PorcugaI, F,s.42-42v.
104 CL Luís Norron,l Dlnastia do¡ S¿í¡ no Brusil, Lisboa: -A.gência Geral das Colônias, 1943, p.
296 e Cleonir Xa.ier de Albuquerque, AP. cit., p. 18.
'Consuha sobre periçáo de Pauio Ba¡bosa", com dois documentos dacados de Mad¡id, 5 de
Seremb¡o de 16?6 e de Lisboa, t4 de Julho de 1626. Archivo Gene¡al de Simancas, Sec. P¡o-
vinciales, códice 1468 Livro de Consultas, originais do ano de 1626, fìs. 163, 163 r-., 164 v.,
\65 a. t66 v.

"Consulra sobre petiçáo do capiráo Gonçalo Maciel da Guarda", com dois documenros daca-
dos de Madrid, 26 de seremb¡o de 1626, e de Lisboa, 20 de junho de 1626. -Archivo Gene¡al
de Simancas, Sec. P¡ovinciales, códice 1468 - Livro de Consultas, originais do ano de 1626,
ßs. 289, 289v., 290v., 291 a 292v.
A formacáo da elite colonial 85

seria necessá¡io "infla¡" os pedidos pa¡a poder barganhar com a Co¡oa ou, simples-
men¡e, que o desejo de grandes honras e mercês levasse a tais pedidos, conside¡ados
pelos requerentes como plenamenre jusriÊcados.
Para outros, tais pedidos e¡am muiras vezes excessivos, o que levou ao surgimento
de um discu¡so de cunho moralisra con¡¡a os ¡equerimentos imoderados, presen¡e em
auto¡es do século XVIll, como Rocha Pira, qúe, ia sua Histtiria dø América Portuguesa
de 1730, ao conrat com pouca precisáo, a histó¡ia da busca pelas minas de prata na
Bahia, concluía que "náo é justo que mereça conseguir prémios quem nos requerimen-
tos pede mais do que se lhe deve concede¡"ror.
Tal situaçáo seria motivada pela ânsia por ¡ecompensas que perpassava roda a
sociedade colonial, fato regisrrado com preocupação por Loreto Couto, pois, para ele,
até o 'vulgo de cor pardl'
náo escapava do "imoderado desejo das honras ..."'08, ou
novamente por Rocha Pita, que afirmava 'nos inferio¡es rambém cego o desejo das
riquezas e honras", para criticar as pretensóes de Belchio¡ Dias, o personagem chave do
episódio das minas de prara na Bahiar0e.
Para o periodo anrerio¡ não se percebe tal discu¡so, ao conrrário, a preocupaçåo
é valo¡izar o aspecco positivo, mosr¡ando como a ânsia de hon¡as e mercês cont¡ibuía
com os objetivos da Coroa, pois, como senrenciava o padre Simáo T¡avassos, iudo
nos homens hon¡ados o desejo da honra faz possível"1ro, para explicar o sucesso da
conquista da Paraíba com táo poucas fo¡ças.
Po¡ ou¡¡o lado, o anseio por prêmios era táo forte, que pâra velorizar certes acões,
próprias ou alheias, ceftos aulo¡es destacam a falta de perspectiva de remuneracáo, como
Manuel Seve¡im de Faria, que, conrando sob¡e a jornada de recupe¡açáo de Salvado¡,
diz-nos que 'assim quiseram most¡ar neste ocasiáo os fidalgos portugueses que nåo por
sua culpa sucedia a perda da república, pois sem obrigaçáo precisa e sem algum prémio se
dispunham todos a ofe¡ece¡ as fazendas e vidas pela consewaçáo da Co¡oa deste ¡eino"t",
da mesma forma, que Loreto Couto, postedo¡mentq perguntava_se "a que gente náo
alterou o animo, nem a falta de soco¡¡o, nem o desprezo do serviço, nem a desesperaçáo

107 Rocha Pi¡a. Htstjri¿ ¿a América ?ortagu*a (1730). Belo Horizonte: Itatieia e Sáo Pâulo:
Edusp, 1976, p.98.
108 D. Domingos do Lore o Covo. Desagrauos da Bras e gÌ,iria: àe Pananbuco. (1757 ). Recile:
Prefeirura MunìcipåI, 1981, p. 227.
Rochr.Pira, Op. cir., p.182. Sobre esse ponro, Rocha Pira faz Lrma eno¡me confusáo, chaman-
do Belchior Dìas de Robério Dias.
"Sumá¡io das,A.¡madas que se fizeram e guerras que se deram na conquista do rio Paraiba",
Op. cít., p.63 e 64.Tal passagem é repetida z2 sî lìtr€rii por FrciVicente do Salvado¡ conÊr-
mando se¡ o "Sumá¡io" a principal fonre deste sobre a conquista da Paraíba. F¡ei Vicente do
Salvador, Op. cír., p.284.
Manuel Severim de Farie, Hlstliria Poïtugtesã e dz outtds proúncias do ocidente desrle o ano d¿
o de 1640 /-¿Jiliz acknaçáo de el-rei D. Joáo IV Fort3],ez.a'.Tip. Scudart, 1903, p. 29.
16t0 até
86 Rodrigo Ricupero

de prêmio para abrir... o mínimo pensamento de infidelidade?", para enfariz-ar ainda


mais o valo¡ da vi¡ó¡ia dos pernambucanosr!r. Conrudo, ao cott¡á¡io do que estes auro¡es
pr€rendem, a ¡econquista da Bahia, bem como a guerra cont¡a os hoÌandeses em Pe¡nam-
buco, náo foram ¡ealizadas sem a ambiçáo de remuneraçóes régias
À quesráo aqui colocada é que ral ambiçáo e¡a muito maio¡ do que a "ontade ou
a possibilidade, conforme o caso, de ¡e¡ribuir da Coroa, gerando uma defasagem entre

as expecrativas presentes nos pedidos e os resultados alcançados nos despachos conclu-

'ivos. provoc¿ndo rod¿ uma.ërie de queixas e renegocia.öes.


Bom exemplo dessa siruaçáo é o caso de Manuel Pinheiro de -Azu¡a¡a, que' após
se¡ nomeado minei¡o-mo¡ das minas de Sáo Vicente com â "esperança que sucedendo
bem o negócio das minas se the da¡ia o hábito com 20 mil réis de tença", o que náo
lhe sa¡isfez, assim ele, nas palavras da consulta do Conselho de Portugal, "se queixa a
Vossa Majesrade dizendo que se lhe fez agral'o em seu despacho por seus servicos serem
de quaiidade que mereciam dife¡ente ¡emune¡açáo""', pedindo, assim, o hábico ime-
diaramenre. Os conselhei¡os se dividem, dois deles favo¡áveis e out¡os dois cont¡á¡ìos
ao pedido, o ¡€i conco¡da com os últimos, náo alterando o despacho.
Esra diferença enrre o reivindicado e o obddo pode ser a explicaçáo para o surgimen-
to nas paftes do B¡asil de um recorren.e discu¡so sob¡e a fale do adequado Pagamenlo
aos serviços presrados. À constante ¡eclamaçáo dos vassaios envoh'idos na colonìzaçáo do
Brasìl expressava-se na formulaçáo de que os serviços feitos no Brasil nunca eram pagosrr'].
Tal dìscu¡so já estava preseirteto Tiatado De¡critiuo do Brusil, quando Gabrtel
Soares de Sousa, após narrar a participaçáo dos mo¡ado¡es da Bahia no combate aos
índios ao redor de Saivador, na ajuda às capitanias de llhéus, Porco Segulo e Espírito
Sanro e por duas vezes na conquista do Rio deJaneiro, ressaltando que nesses episódios
mo¡¡e¡am muitos desces moradores, apontava que "acé hoje ser dada nenhrima satisfa-
çáo a seus lìlhos". Explicava ainda que estes tendo fei¡o es¡es serviços e muitos ourros à
própria custa, sem recebe¡em soldo ou man¡imen¡os, ao cont¡á¡io do que se costuma
fazer na Índia, para conclui¡: "e a t¡oco desses serviços e despesas dos morado¡es desra
cidade náo se fez acé hoje nenhuma honra nem mercé a nenhum deles, do que vivem
mui escandalizados e descontentes"l:i.

ll2 D. Domingos do Lorero Couro, Op ut.,p.).29.


lì3 "Pa¡ece¡ cìo Consclho de Portugal e desp.Lcho régio sobre a peciçáo de I'{anuel Pinhei¡o dc
,{zurara sobre as me¡cês recebidas no olicio de mi nei ro mor das minas de Sáo Vicenrc" dc 20 de
agosro de 1602. Archivo General de Simancas, 5ec. P¡ovinciales, códice 1463, Livro de ConsLrl-
ras, orìginais do ano de 1602, fl. 41. Poblicado por RoseÌi San¡aella Srella, Op. cx., p. 1A5.

ll4 "Só para servìr el-rei sem por isso rcceber mercé aiguma, porque serviços do Brasil raramente
se pagam". Frci Vrcente do Salvador, no caso, refere-se ao r¡aramenro dispensado por Sebas-
riáo de Farir, senhor de engcnho no Recôncavo de Salvado¡ ao comandanre Diogo Flores e
seus homcns, mas generahza sua conclusáo. Frei Vicenre do Sah,ador, O¿. r;t., p. 255.
lli Gabriel Soares de Soust Op. ch., p- 1.32.
A fo¡macáo da elite colonial 8?

Se Gab¡iel Soa¡es de Sousa ¡eclamava da falta de mercês em geral pa¡a os mora-


dores da Bahia, o padre Simáo T¡avassos reclamava por sua vez do t¡aramento dado ao
conquistador da Paraíba, o ouvidor geral, N4artim Leitáo.
Numa passagem do Sumtírio das Armadal o jesuíra lamenrava a so¡re do con-
quisrado¡

Eu pelo quc vi e sci, digo que mais lhe sinro a má paga do reino a rantos c ráo
bons sen-iços, que todos os trabalhos de cá, por quejá hoje rmporta de renda a el-rei
cada ano a Paraíba. 40 mil cruzados só de contrato do pau-brasil, e assjm lhe ouvi
dizer muìras vezes, que os rrabalhos pelo servico de Deus e de el-rei e¡am seus ver-
dadeiros gostos, mas que os maus galardóes e ingraridóes secavam os ossos, e não er¿

muiro aconrecer isro, assiû pois que nesre Reino o hospiral é o verdadeiro regisrro
dos homens de merecimento e mais deste quc scmpre foi rão invejadorr6.

O melhor exemplo dessa discussáo, porém, é o caso de Duar¡e Coelho, primeiro


donará¡io de Pe¡nambuco, visto por três autores diferentes; reconhecido por todos por
seu trabalho na conquista de Pe¡nambuco, onde gastou muito de sua fazenda e que,
por tudo isso, deveria, segundo a lógica vigenre, se¡ recompensado-
Gabriel Soares de Sousa em 1587 conta que rodas as tentativas de exploraçáo do
rio Sáo Francisco até entáo haviam f¡acassado e "com esre desengano (das exploraçóes)
e sobre esta p¡etensáo (de o explorar) veio Duar¡e Coeiho a Portugal ... mas desconcer-
tou-se com Sua Alteze pelo náo fartar das honras que pedii' 'r7.

Já Bento Teixeira, no seu poema dedicado ao 6lho de Dua¡te Coelho, Jorge de


Albuquerque Coelho, esc¡ito pouco mais de dez anos depois da obra de Gab¡iel Soares
de Sousa, lembrava o episódio

Mas quando r i em que do rei potente.


O pai por seus serviços. náo alcança,
O galardáo devido, e glória dina (digna),
Ficaráo nos alpendres da Picinnaris

Li6 "Sumário das Armadas que se fizeram e guerras que se deram na conquista do rio laraíba",
Op. cit., p. 86.
Í7 Gabriel Soares de Sousa. Ap. ch., p. 65.
118 Picinna ou piscina. no caso, a que exis¡ia próxima ao templo deJcrusalém, na qualmilagro-
samenre os doenres saravam ao entrar. A Prosopopca àe Bento Terxeira foi esc¡ira em 1601.
Cf. Afonso Luiz Piloro E¿ Benro Teixeira. Naufia.gio ò ?rcsopops¿. (1601) Reci|e: UFPE,
)969. p. 133.
88 Rodrigo RicuPero

Chegando à fo¡ma mais elabo¡ada na História do Brasll de F¡ei Vicenre do Sal-


vador, escrita em 1624. Na parte dedicada a mo¡te de Dua¡¡e Coelho, o auto¡ inicial-
menre conca como o donará¡io de Pe¡nambuco volta¡a ao reino 'þara requerer seus
serviços", que embo¡a fossem feitos em seu proveiro e no de seus descendentes, "mui¡o
mais eram para el-rei". Para em seguida, relatar o encontro do donatário com o mona¡-
ca: "quando the foi beijar a máo iho (o rei) remocourre e o recebeu com cáo pouca graça
que (Duarre Coelho), indo-se para casa, enfermou de nojo'2o, e morreu daí há poucos
dias", concluindo a descriçáo com a observação de que "esta foi a paga de seus serviços,
mas mui dife¡enre a que de Deus receberia, que é só o que paga dignamente, e ainda
ultra condignum, aos que o servem"t2t-
.A origem do discu¡so da falta de Pegamento para o primeiro donatá¡io de Pe¡-
nambuco pode ser o próprio Duarte Coelho, Âfinal, este provavelmente ac¡editasse
que sua obra à f¡enie de Pernambuco não tinha sido recomPensade como merecta,
pois, na sua última carta conhecida, após agradecer a confirmaçáo dos di¡ei¡os e
privilégios con¡idos na carta de doaçáo da capitania pelo rei D. João III, afirmava
"porque outras mercês e hon¡as ainda espero, mas pare o (rempo) de dianre para com
seus filhos (do re1)" trr.
De qualquer forma, a persisrência do episódio do desenrendimenro de Dua¡te Co-
elho com D. Joáo IIl,
nos textos esc¡itos décadas depois do oco¡rido, demostra que,
independenremenre da ve¡acidade ou náo do episódio, a possível ausência de retribuiçáo
digna a um vassalo com rantos serviços deve¡ìa mesmo ter marcado as consciências, per-
manecendo como exemplo maior da ingratidáo régia aos vassalos que nas partes do Brasil
prestavam os mais diversos serviços.
É falsa, contudo, a idéia de que os serviços feitos no Brasil nunca recebiam paga-
menro, embora nem semp¡e as remuneraçóes fossem as que os vassalos ¡eivindicassem
ou ainda que sua efetivacáo nem sempre fosse tranqüila. O mais provável é que a po-
siçáo secundária ocupada aré meados do século XVII peìas partes do Brasil dentro do
Império português - situâçáo qûe começaria a mudar a parri¡ do início da guerra com
os holandeses em Pe¡nambuco frente ao O¡iente ou mesmo ao Ma¡¡ocos, áreas que
inclusive arraíam a quase totalidade dos nob¡es de maior estirpe, fez que os scrviços

L19 De "remoque", ou seja, como nos diz Mo¡aes, "palavras, que com agudeza de senrido enco-
berco picam alguém, e Ìhe dáo a enrender o que queremos". VerAnrônio de Moraes Silva. O¡.
rlr., r'ol. 11, p. i96.
120 "Nojo", no caso, no senrido de desgosro. Ve¡ Anrônio de Moraes Silva. Op. dt., t'ol. II, p.
34i.
t2l Frei Vicenre do ralt"dor. Op. crr.. p. Ij4.
t22 "Carta dc Duarre Coelho" de 24 de no.'embro de 1550, pubhcada por Carlos Malheiro Dìas
lDìì¡, na Hlstórla. dø. Coloruzaç,io Porruguesa da Brasì|,3 vols. Pono: Lirogra6a Nacional,
1922, vol. III, p. 320 e porJosé Ànrônio Gonsalves de Melio e Cleoni¡ Xavier de Albuquerque
nas Carras de Dy,¿r¡e Coelho ¿ El rei". Recife: imprensa Universitária, 1967, p. 102.
A formaçáo da elire coloniai 89

¡ealizados nestas úftimas recebesse um destaque muiro maior que os prestados nas
demais e, conseqüentemente, maiores recompensasi em g¡ande medida desfru¡áveis no
Reino. Nas pa.tes do Brasil, ao cortrá¡io, os prêmios mais comuns - terras e cargos
- favo¡eciam o en¡aizamenlor mesmo que momentâneo, na colônia.
CoxeursrA E GovERNo
3. Conquista e fixação

Qttand,o lí (nas terras do Brasil) houuer sete ou- oìto pouo¿çóet estas etuia bdstørlte Pltla
/,qfentlerenz (impedirem) aos dø terra que n'10 uendam (par) brasil a ninguëm e nào o

uendendo øs naus (frar\cesài) 11ã,o h,io de qrerer Lí ir para ttirem de z'azio

Diogo de Gouveia para D- Joáo IIi I.

A ocupação inicial

/-\ con¡¿to inicial dos portugueses com as te¡¡as americanas foi frrrstr¡ nte
L.l.- p.lo -..to, ,-r,n'"r0..,o, o comercial, como se percebe nas pala*ras
de Pe¡o Vaz de Caminha, escriváo da feito¡ia que se ia monta¡ em Calecute' "nela'
r, tampouco indicava
até agora, náo pudemos saber que haja ouro, nem ptata"
ourros produtos passíveis de comércio na sua famosa ca¡¡a Para homens que iam
em breve atingir um dos maio¡es centros comerciais da Ásia' com inúmeras me¡-
cado¡ias e dive¡sos circuitos come¡ciais es¡abelecidos, as te¡¡as ¡ecém-descobe¡tas
oáo passavam de escala aproveitável em táo longa viagem -Aliás' esta Parece ser'
para Caminha, a maio¡ utilidade da terra, "e que aí não houvesse maìs que ter
¡'
pousada para esta navegaçáo para Calicute, isto basta¡ia" além da conversáo dos

"Carra de Diogo de Gou*eia Para D Joáo II1" de 29 de março de 1532' pubiicada por
Jaimc Corresáo na Pøxtre¿e Lu:iuna Monumcnal Histaliz' 2 tomos em 3 ¡'ols Lisboa:
Real Gabinete PortLrguês de Leiura do Rio deJaneiro' 1956' rcrno I' p. 149.
Jaime Cortesáo. A C¿rta ¿le Pen Vøz d¿ C¿tninha Rio de Janeiro: Lir''ros de Porrugal'
1943, p.24A.

93
94 Rodrigo Ricupero

gen¡ios, pois, como diziam os homens de Vasco da Gama na Índia, a¡é lá rinham ido
procura¡ crisráos e especiarias'.
Dessa maneira, náo espânrâ o relativo descaso com as le¡ras dessa margem do
Atlân¡ico nos anos seguinres, quando apenas a exrraçáo do pau-brasil atraiu ce¡r¿ acen-
ção. A viragem òi o envio, em fins de 1530, da a¡mada de Martim Afonso de Sousa,
que buscava resolver duas questóes.
A primeira foi a c¡escenre rivalidade entre portugueses e espanhóis, nas décadas
iniciais do sécLrlo XVI, pela posse das á¡eas recém-descoberras, cuja localizaçáo frenre
ao T¡a¡ado de To¡desilhas, dadas as condiçóes récnicas da época, náo podiam ser se-
guramente esrabelecidast.
principal ponco de controvérsia a posse das
Essa acirrada dispure, que re1¡e como
Ilhas Molucas no Oriente e do Rio da P¡ara no Ociden¡e, áreas que fìcariam mais ou
menos próximâs à linha demarcarória de To¡desilhas, acabou gerando intensas nego-
ciaçóes diplomáricas enr¡e as duas coroas, ameaças de guerra, expediçóes de descob¡i-
menro6 e aré uma confe¡ência enrre ast¡ônomos, piloros e sábios. Contudo, a soluçáo da
posse das áreas em disputa só viria parcialmenre por meio do T¡atado de Saragoça de
1529, que apenas resolvia a questio rocante às Molucas, já que, pelo rrarado, a Espanha
abria máo de seus possíveis di¡eitos sob¡e elas medianre uma indenizaçáo-.
Se o problema do Oriente esrava ¡esolvido, o do Ocidente conrinuala em aberto, e,
para aumenrar a cobiça de ambas es parres, ao longo das viagens de exploracáo ao sul do
continenre, os naveganres fo¡am ¡ecolhendo mais e mais informaçóes sob¡e a exisrência
de grandes riquezas minerais ao no¡re do Rio da Prata, na regiáo que posteriormenie seria
conhecida como Pe¡u.
Pa¡aleÌamenre à disputa com os espanhóis, uma segunda quesráo inquierava Por,
tugal. Os lranceses se a\¡enluravam cada vez mais em te¡¡as do Novo Mundo, r¡avando
conralo com os narivos e car¡egando o plecioso pau-brasil. Essa presenca constante alerrou
a Coroa Porruguesa para o risco da perda das rerras americanas, pois, no dizer de Frei Luís

Charles R. Boxe¡. A Impërio Colonial Portugaés ftradl:çâo). Lisboa: edicóes 70, 1981, p. 81.
Ver, enrre ourros, Dua tæ Leie, H^t/iiã ¿os Descobrimetuos, ?. vols. l.isboa: Cosmos. 195 3. r-.
I, p- 469.
A mais rmporranre delas for a conhecida vìagem de Fernáo de Magalháes, a qual os poLrugue,
inpcJr de rodas rs nanciras.
Resumidamente a quesráo das MoÌucas pode ser visra em Jaime Co:resâo, I:lht¡jrid ¿os det
cabrirnentos parugteses, 3 vols. Lisboa: Cí¡cuio de Leirores, 1979, vol. I, p. 62 ou, ainda, de
furma mars desenvoir.ida na obra do nesmo auar Pauliceae Lasiøna Motn¡net¡t¿ Hi:toric¿,
O¡. clr., romo I, p. LXXII, com a publìcaçáo de diversos docurnen¡os sobre â quesráo ¿ pàrrir
da p. 33 do mesmo volume.
A formacáo da elite colonial 95

de Sousa, era notório "que nos portos da Normandia se aprestavam a¡madas de f¡anceses,
s.
com voz pública de que¡erem passa¡ às terras novas do Brasil e fundar povoaçóes"
A presença francesa colocava em risco náo apeflas as ter¡as ao sul do continenre,
no¡adamente a á¡ea do Pra¡a, mas toda a regiáo que cabia a Portugal pelo Tracado de
Tordesilhas- Afinal, a1ém da perda do cada vez mais ¡endoso comércio do pau-brasil, era
necessá¡io resguardar os novos ¡e¡¡itó¡ios também pela esperanca do descob¡imen¡o de
metais preciosos e pela estratégica escala pa¡a os navios da ¡ora do cabo. Esta mesma ¡o¡a,
entáo eixo cen¡¡al do Império Porruguês, também poderia ser conada pelos rivais '), poìs,
como lembrava o pad¡e Francisco Soares, no final do século XVI, os franceses, depois de
terem povoado o Rio de Janeiro, tencioûavam "ir esperar as naus da indji' '0-
Duas fo¡am as medidas iniciais pa¡a afastar os franceses: a diplomacia e a força.
Logo no inicio de seu reinado, D. Joáo IIi enviou como embaixado¡ a Francisco I,
João da Silveira. com ¿ misqao de ¡ent¿r conrer o !orso fr¿ncés que araca\'¿ ¿ n¿vegâLâo
po¡ruguesa em várias partes e de impedir as viagens para a Amé¡ica, acabando dessa
manei¡a com a situaçáo de quase belige¡ância entre as duas nacóes no mar' o que Para
os portugueses "se evira¡ia com manda¡ el_¡eí F¡ancisco que nenhum vassalo seu nave-
gasse pa¡a as conquistas de Portugal"lr.
,As negociaçóes diplomáricas estende¡am-se Por anos e ligaram-se a qt¡estóes dâ
grande política européia de encáo, marcada pela lura pela hegemonia continental' da
qual Carlos V, imperador e rei da Espanha, e F¡ancisco I da França eram as grandes
lìguras. Nesse concexto, para a França náo era interessânte uma guerra com Portugal,
aliás, o objetivo f¡ancês e¡a o oPosro, tentavam ac¡ai¡ o Reino luso para uma aliança,

F¡eì Luk de Sousa, lz ais


'te
D. Ja,io II lc. Ì630), com prefácio e notas do ProÊ Rodrigues
Lapa, Lìsboa: Sá da Cosra, 1938, 2 vols., I vo1., p. 5í.
Na navegaçáo a lela, raramenre o melho¡ caminho é em lìnha reta, ¿ssim, dado o regime de
venros do Atlântico su1, os navios porruguescs desde a viagcm de Vasco da Gama passaram a
se afas¡ar da cosra atlântica africana. demandando o alto-mar e se aproximando mur¡as vezes
da costa b¡asiiei¡a. busc¡-odo com tsso üma rota mùito mais cômoda, dai a imporrância do
controle desta para segurança da rota. Cl ,{lfredo Pìnherro Marques, "\'enroi' e Joeo Luís
Lisboa, "Volra da Guiné'in: Luís de AÌbu<¡uergue' Díctonario dos Destobrimento: Portugtcses.
2 r,ols. Lisboa: Caminho, ! 98{, vol ll. p. 1083 e 1084. Frci Vicenre do Salvador con ¡a I irios
casos de naus quc, indo ou loÌtando da Índia, aporraram no Brasil, e peÌo tom da descriçáo'
percebc-se serem grandes acontccìmentos, exigindo cuidados dos gove¡¡adores e dem:is ¡u-
ro¡idades. F¡ei Vicente do Salrado¡. História do Bta:il (1627). 5" ed.. Sáo Paulo' Melhora-
mcnros, 196j, p. 167, 169,192 e 337 Veja-se rambém José Robeno Àmar Lapa, 'A Bnhia e
a Carre¡a da in/.¡,"., Sao Paulo: Companhia Ediro¡a Nacronal, 1968' p¿Ít,n e' em esPecial, os
"qLradros", p 330 e segs em que mos'râ 2ii ocor¡ências de escalas dc naus da Carreir¿ da
'
Índia em Sah,ador no período colooial.
F¡ancìsco Soares, Cob¿s Natnt¿is da Brusil G. 1594) Rio de Janeiro: Insrituto Nacional do
Livro,1966, p. 47.

F¡ci Luís de Sousa. Op. cit.,.',o|. I, p. 56.


96 Rodrigo Ricupero

inclusive propondo ao rei de Portugal o casamento com uma filha de F¡ancisco I. O


problema era que a Coroa f¡ancesa vivia na década de 1520 um dos seus piores mo-
mencos, inclusive com a cap¡ura de Francisco I pelos espanhóis na Baralha de Pávia em
1525; assim náo é de esrranhar que as resoluçóes francesas favo¡áveis aos in¡e¡esses de
Portugal que seus enviados conseguiram a¡¡anca¡ do ¡ei da Franca, Êcassem sem efeito.
-A verdade é que, se a Co¡oa F¡ancesa náo queria uma guerra com Portugal, campouco
tinha von¡ade ou meios para conseguir conrer o ataque de seus ,rassalos a ba¡cos Po¡tu-
r'?-
gueses ou a navegaçáo deles nas á¡eas as quais Porrugal reivindicava exclusividade
Paralelamente, a segunda medida tomada contra os f¡anceses Foi o envio de expe-
diçóes ao liroral brasilei¡o, as chamadas de "guarda-cosus", das quais a mais conhecida
éa ðe 1,526, comandada por Crisróváo Jacques, despachada após avisos do embaixador
Joáo da Silveira sob¡e o envio de 10 navios f¡anceses ao Brasil, e que, nas palavras de
F¡ei Luís de Sousa, "foi correr aquela cosu e alimpá-la de corsários, que com teima
a conrinuavam pelo proveiro que rinham do pau-brasil"il, contudo, nem a caprura
de dive¡sas embarcaçóes ou o rigor empregado em seus uipulantes conseguiu deter a
navegaçáo francesar!.
Consracado o f¡acasso das negociaçóes diplomáticas e das expediçóes de guarda-
costa para defende¡ táo larga faixa cosceira, D. Joáo III adorou, a pardr de 1J30, as
práticas que ¡ei¡eradamente vinham sido aconselhadas por Diogo de Gouveiart para
povoar as terras ame¡icanas, Há muito radicado na França, esse douro interlocuto¡ do
rei, insistia,

O melho¡ escLrdo sobre as negociaçóes entre Porrugal e França em meados do século XVI é
o de Gomes de Ca¡valho, D. João III e os Franreses, Lis6oa: Clássica, 1909. Jâime Corresáo
publicou alguns documentos sob¡e o rema na Paulireae Lusitana Monumenta Hlstórlca, Op.
r.zr., romo I, p. l17 e seguinres.

F¡ei Luis de Sousa, Op. c;t., vol,. Í, p- 267.


Ver de-A.nrónio Baiáo e Carlos Malheiro Dias, 'A expediçao de Crisrór.áo Jacques" in: Carlos
Malheì¡o Dias lDir-), H*tóia da Colonizaç,io Portt',guesa do Brcstl, 3 vols. Pono: Lirografìa
N¿cional, 1922, vol. III, p. 57 (Cìrada daqui em dianre apeîas como Hìstjria ¿la Colanizã{tio
Po*.rgresa do Brasil).
Diogo de Gouveia, humanisra e reólogo, exerceu duran¡e muiros anos o ca¡go de ¡eiro¡ do
Colégio de Sanra Bárbara em Paris, para onde fo¡am enviados dive¡sos esrudances p.','g'.-
ses e do quai foram alunos lnácio de Loiola e Francisco Xavier, pouco anres da fLrndaçáo da
Companhia de Jesus. Aruava rambém como conselheiro e info¡mante da Coroa Porruguesa,
parricularmenre nos assunros que envolviam remas do além-Pirineus, cf Luís Ramalhosa
Gue¡reiro, "Diogo de Gouveia" in: Luk de Albuquerqæ, O?. cít., vol. I, p- 472. Sobre as
relaçóes enrre Portugal e França no período ver Luís de Maros, l.rr pa rn gaìs en France ar XVf
siècle, érudes et documencs. Cormbra: Unìversidade de Coimb¡a, 1952.
A formaçáo da eli¡e colonial 97

quâûdo lá (nâs rerras do Brasil) houve¡ sere ou oiro povoâcóes estes seráo bas-
tante para defenderem (impedirem) âos de rerrâ que náo vendam (pau) brasil
e ûinguém e náo o vendendo as naus (francesâs) não háo de querer lá ir para
virem de vezio, (e) depois disso aproveitaram a rerra na qual não se sabe se há
mines de meteis como pode har'er e converteráo a gente a fér6.

Dessa fo¡ma, a viagem de Marrim Afonso de Sousa. em fins de 1530, te¡ia como
objerìr.os: a defesa daquelas costas contra os franceses, que "iam tomando nelas muito
pé"r7, a posse eferiva ou, pelo menos, a exploração do Rio da Prata e a fundacáo de ao
menos uma povoaçáo permanente no lito¡al, sendo assim, ao mesmo tempo, a resposta à
ameaca francesa e às pretensóes espanholas, como se pode co¡rstatar pelos seus resultados
práricos: diversas naus francesas aprendidas ao longo da costa, colocaçáo de padróes por-
tugueses no Rio da Prata e por ûm a fundaçáo da vila de Sáo Vicenters.
A resoluçáo das duas questóes, a rivalidade com os espanhóis ea ameaça francesa,
tive¡am destinos disrintos. A conquista da regiáo do Peru - objerivo final das expedi-
çóes que subiam o Rio da Prara pelos espanhóis, comandados po¡ Piza¡¡o, r'indos
do norte, pelo Pacífico, em 1532-35, acabot por levar à perda de interesse pela região
platina, relegada a um quase esquecimenro e r¡ansformada numa espécie de "porta dos
fundos" dos impérios ibéricos, umâ zona de conrabando, que só voltaria a ser palco
de grandes embates a pa¡tir de 1680 com a fundaçáo pelos portugueses da Colônia do
Sac¡amento em f¡erte de Buenos Ai¡es, criendo Lrma situaçáo de beligeräncia que se
manteve ao longo do século XVIII 'e-

"Carra de Diogo de Gouveia para D. Joáo IIl" de 29 de marco de i532. publicada por Jaime
Coræsâo na Pauliceae Lasitanø. Moaumen¡a Histzricd, Op. cit., tomo I, p. 149. Regisrre-se aqui
que, embora a referida carta de Dìogo de Gouveia seja de :1i32 e e exPediçao de Manim Afonso
de Sousa de 6ns de 1530, fica claro por outras passagens da carra, como.e¡emos abaixo, que as
idéias nelâ exposras já vinham sendo proposras a D. Joáo III pelo menos desde de 1529
F¡ei Luís de Sousa, Op. cit.,ll. p. 114.
O relato maìs importante da viagem é o texro do irmáo de Marlim Alonso de Sousa, que foi
publicado em r.árias ediçóes, das quais a mâis importanre é: ?ero Lopes ¿e Soosz, Diirio ,l'á

Nauegaçáa (1530-1532), comentado por Eugênio de Castro, com prefácio de Capistrano de


Abreu. 2 ro1s. Rìo de Janeiro: Typographia Leuzrnger, 1927- Ainda pode-se recorrer à ediçáo
de Jaime Corteseo na Pø alíceae Lasi¡ana Monumenta Httoríca, Op cit , tomo I, p. 431. Para
o conrexto mais geral da expedìcáo, verJaime Corresio, S,1o Paulo capltal geogrrífca do Brasíl.
Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1955 e também, pelo lado espanhol, Enrique de Gandia,
Antecedentes Diplatnaricos d,e las expediciones lx Jøn Dlaz dz Solis, Sebastian Caboto 1 Don
Pedro de Menàoz¿. Buenos A.i¡es: Cabaut, 1935.
Alice P. Canabrava, O clin¿rào portugu.ês iio Ria d-a Pra.tø, (158A-1670J, Sáo Paulo: FFLCH'
LiSP, 1944; Heloísa Bellotto, Aatoridad¡ e Confito no Brasíl Colonìal: o Goacrno do Morgado
de Mateus em S¿o ?aulo (1765 1775). 2. ed. re\.is¡â. Sáo Paulo: Alameda Casa Edìtorìai, 2007
98 Rodrigo Ricupero

Já a ameaça francesa perdurou ainda até o início do século seguinte. -Ao longo
desse período, os franceses aliados, em r,'á¡ios pontos da costa, a cerras tribos indíge-
nas, inscigavam estas a Iuca¡em contra os Porlugueses, rrocavam produros europeus,
muìras vezes, a¡mas, po¡ pau-brasil e outros gêneros, rompendo o monopólio que a
Coroa porruguesa tenrava imPor, e, ainda, tenraram fixar-se no Rio de Janeiro e no
Ma¡anháo. Dessa forma, rep¡esentarâm nesse momenco a major àme¿ça externa ao
domínio português das te¡¡as ame¡icanas, conrudo, em todos os momentos decisivos
fo¡am de¡¡orados e paularinamente expulsos, à medida que o avanço da cotquista
portuguesa consolidava o cont¡ole sob¡e noves áreas no continente, como ve¡emos em
our¡os momenros desre ¡rabalholo.
A expediçáo de Marcim,{fonso de Sousa, constitttiu-se como a primeira etapa da
política de conquista e povoamenro da cosra do Brasil proposra por Diogo de Gouveia,
náo só por fundar a primeira vila portuguesa em solo ame¡icano, mas também por ser
apartir dela que se eferua a divisáo das chamadas "capiranias heredirárias", pois Diogo
de Gou'eia, ao mesmo rempo que propunha o Povoamento das terras, recomendava,
ainda, que tais iniciativas coionizado¡as se Iìzessem às expensas dos vassalos, ponde-
rando que o enriquecimento desses na empreitada náo oferece¡ia ¡iscos à Coroa, pois
'quando os vassalos forem ricos os reinos náo se perdem por isso mas se ganham e
principalmente tendo a condiçáo que rem os porlugLleses, que sobre torlos os outros
povos, a sua custa servem seu rei", lemb¡ando ¡ambém ao monarca que "já por muitas
l'ezes lhe escrevi o que me parecia desse negócio (a defesa das terras) e (...) que a verdade
e¡a da¡ Senhor as ¡erras a vossos vassalos que (há) três anos" propunham colonizá-las,
levando mais de mil mo¡ado¡es "já agora houvera qua¡ro ou seis mil c¡ianças nascidas
e outros muiros da te¡¡a casados com os nossos" ll.
D. Joáo III primeiro acatou a sugesráo de povoar as novas telras, para em seguida
anui¡ em doar as lerras aos vassalos. Essa decisão foi tomada em 1532, no meio da
viagem de Martim Àfonso de Sousa, pois, como o rei explicou em carra a ele, "depois
de vossa partida se pracicou, se seria meu servico povoar-se toda esta cosca do Btasil, e
algumas pessoas me requeriam capitanìas", assim dada a impossibilidade de esperar a
vofta da expediçáo, pois "de algumas parres (França) faziam fundamento de povoar a
re¡¡a do dito B¡asil" e conside¡ando "com quanto trabalho se lançaria fora a genre, que

e Luís Fer¡and de Älmei¡le. A Colônia do Sac¡amento na lpaca da nr'cessão ttt E:pn'ahe. Coim
bra: Facuidade de Le¡ras da Unnersidade dc Coimb¡a, 1973.
Para a lura enrre porrugucses e franceses, pode-se consukar cnrre outros F¡ancrsco Adollo de
VLrnh:4en, Hlsthia gnzl do Brasil,5'eà.5 vols. Sáo Paulo: Melho¡amenros, 19i6, vols. I e
ii e, na visio f¡ancesa, o clássico PauÌ Gallarel, H^to¡re ¿ht Brésíl Fr¿nç1tß n s¿izièm¿ si¿¡-l¿.
Paris: Marsonneuve, 1878.
"Carca de Diogo de Gouveia para D. Joáotll" de 29 de março de i532, publicada porJaime
Corresio na P¿sliæa¿ Lusit¿tnø Monumnta Hì:to.¡c¿, Op. c1î., romo I, p. 149-
A formaçáo da elite coÌonial 99

a povoasse depois de estar assentada na rer¡a. e re¡ nela algumas forças. como já em
Pernambuco comecevâm a fazer", o ¡ei dere¡minou dividir a cosra ent¡e Pernambuco
e o Rio da Prata, reservando cem léguas para Martim Afonso de Sousa c cinqüenta
para o irmáo de1e, Pero Lopes de Sousa, dìsr¡ibuindo as demais a algumas pessoas com
"obrigaçáo de levarem navios e gente à sua custa em rempo certo')l:-
A singular carta de Diogo de Gouveia expressava de modo táo cabal a políti
ca seguida pela Coroa portuguesa parâ defender a posse do vasro ¡er¡irório. Fazia-se,
portenro, necessário ocupar alguns pontos da cosra, com o engajamento de vassalos
dispostos a assumir os riscos e os gastos de ral empreendimentoJ mas Dáo sem a pers-
per Lira de ,u lerir gr¿ndes vant¿gen\.
A implementaçáo de ral polírica deu-se com a distribuiçáo das diras capitanias
hereditárias, em meados da década de 1530, ¡elarada acima pelo próprio monarca,
sendo que os inst.umenros legais, as carras de doaçáo e os fo¡ais conhccidos sáo do
período enrre 1534 e 1536. Tais capiranias fo¡ma¡iam, coiûciderremenre, "as sete ou
oito povoaçóes" que Diogo de Gouveia propunha, pois se doze foram os agraciados em
quinze quinhóes, apenas em oito delas a colonizaçáo deu os primeiros passos) embora
em duas dessas malog¡assem nos anos seguinres:i.
Os primeiros donatá¡ios náo foram selecionados enr¡e os grandes do Reino, que
provâvelmente ûáo reriam inreresse pela empresa ou aos quais a Coroa náo teria plena
con6ança em delega¡ ra¡ela em á¡ea táo dis¡ante do seu cont¡ole. Os escolhidos foram
importantes funcioná¡ios da Coroa já ligados à empresa ultramarina, como o famoso
Joáo de Barros, autor da primeira pa¡re d¿s celebres Drc¿.das do Àsia, feico¡ da Casa da
Índia em Lisboa, ou Fe¡náo Áh'a¡es de And¡ade, tesou¡ei¡o-mo¡ do Reino; ou gente
que já rinha experiêncìa corc¡era no Império, como Vasco Fernandes Cou¡inho, I)u-
arte Coelho e F¡ancisco Pe¡eira Courinho, rodos com iarga folha de serviços prestados
no Império, e que, uns como out¡os, haviam amealhado ¡ecursos que permitiram fazer

"Caru de Joáo III a Manim Afonso dc Sousa. sobre o povoamento da costa do Brasil" dc 28
de serembro de 1532, publi. da ta Hirtó''in d'z Coloiùzaç,io Portuguesa da Bra:i|. wLlII. p. 16A
e em Joaquim \l Serráo, A Río de Ja.deiro do stcalo XVII,2 vols.Lisboa: Comissáo Nacional ...,

1965, no voÌume II, p. 15. -{inda é digno dc atenção o reLato cio próprio Manim,A.fonso dc Sou-
sa sobre sua vida. escriro aproxrmadamente em 1i57 e publicado com o rítulo 'Aurobiogralìi'
in: Luís dc Âlbuquerque (Org.), Martin ,4þnso y'-e
Sorsd. Ltsl¡o,1, A1Fa.1989, p. 65 e segs.
,{s informacóes gerais sobre as capitanias e os donatários podem ser obtidas lacilmenre em
F¡ancisco .{doifo dc Varnhagcn. O¡. elr., especi6camenre no vo1. I, da p. 136 e seguinres. A
discussáo clássica sob.e o rema se encoiìrra na H^hirí,1¿a Cokn;zøç'ia Portxgrcsa lo Brasil,
nos arrìgos de Paulo Meréa, 'A soÌuçáo tradicronal da colonizaçáo do Brasil" e Ca¡los ìvlalheì-
ro Dias, "O regime feudal das donaráras', rcspecu!âmenre nas p- 165 e 219 do III volume. O
esrudo mais modc¡no sobrc a questáo é o de António de Vasconcelos Salðaoha,,4: tapitonin:
Lo Br¿sì|.2' eà l.,sboa: CNCDP 2001.
iOC Rodrigo Ricupero

f¡ence aos gastos da tarefa colonizado¡arr. Daí Frei Jaboatáo lembra; que o premio
destes úlcimos, conquisradores do O¡iente, ¡enha sido um novo se¡vico. conquistar o
Ociden¡e
".
Dessa fòrma, no perícdo inicial da colonizaçáo, a Coroa estere praticamen¡e ausen¡e do
processo) apenas resguardando parasi o monopólio do pau-brasii, do qua-l cedia uma pequena
parte dos iucros aos donatários, e mantendo uma pequena esr¡uru¡a adminis¡¡ariva vol¡ada
para o cootrole Êsca1, como fo¡ma de ¡ecolher a parte que the cabia da exploraçáo econömica
das nor.as á¡eas.
A iase inicial da ocupaçáo portuguesâ, ou seja, entre a doaçáo das chamadas
"capirânias he¡edirá¡ias" e a criaçáo do Governo-geral, loi t¡adicionalme¡¡e avaiia-
da como um f¡acasso, salvo as conhecidas exceçóes de Pe¡nambuco e Sáo Vicen¡e
Pondere-se, conrudo, que dadas as condiçóes limi¡adas e o tamanho da ta¡efa, não
é de desprezar que mesmo com todas as difìcuidades, as capiranias "P¡ìmá¡iâs" con-
seguiralrr cumprir, mesmo que parcialrnente, Lrma e¡âPa inicial da luta pela posse
das terras, rornando-se assim, pa¡a usat ume exPressáo militar, 'cabeças de ponte",

se¡vindo de apoio a novas i¡rvestidas e amplianCo o conhecimento sobre as te¡ras e

suas possibiÌidades de aproveitameoto.


A ta¡ela de ocupaçáo e defesa das novas te¡ras exigia também a montagem de
ra prociutiva, para além <io ert¡arivismo do pau-brasil, que viabilizasse
economicamen¡e o empreendimenro, pârâ tanto se buscou ocupa¡ as terras e expiorar
a iorça de rrabalho indígena, inais ou ¡¡enos compulsoriameore. Assim, nas palavras
de Gandavo, "os mo¡ado¡es desca cosra do B¡asil todos tenr te¡¡ãs de sesma¡ia dadas
e reparcidas pelos capitães cia terra, e a primeira coísa que pretendem aicâncar sáo es-
crevos" r6, e foi exararnenre esra busca desenf¡eada que rapidameDte turvou as relacóes
estabelecidas com gran<1e parte dos índios que inicialmente haviam aceitado pacilìca-
menre a Presença dos Porrugueses.
O acr¡ramenro do confìiro com os índios, causado pela ¡ecusa destes em trâbà-
lha¡em em rroca do "pagamento costrimeiro", acabou levando à grterra aberra, pois,
corlo ale¡rava Duâ¡re Coelho,

qrLando estavam os índios la¡nintos e descjosos de fer¡amentas pelo que ìhe


dár,amos nos vinhar¡ ¡ l¿zer as levadas e ¡oda as obras grosses c nos viûham

\¡e1a-sc Pedro de Àzevedo, 'Os pri,n:iros donarJ.r'ras' in: Ht'ótìa ¿á Calaníztçáa Partryaestt
¿a B/oii/,\al. 1,,
p- i9t-
Frci Anrónio de Srnra Mlria .laboaráo. ìr¿,, Orbt Seúfito 1176t),2 ' ed., 2 parres em 3 vols.
Rro deJanerro; Insticuro HrstórLco e Gcográfico Brasileiro, 1853, vol. I, p. 134.
Pero de \lagaLháes G¿nd.a"-o, Hi¡t,jti¿ la Pror,íarin d¿ S¿tm Cruz & T¡at¡lo d¿ T¿rnt do
Br^il 1.1576 c c- lt70). Sáo laulo: Obcìisco, 1964, p. 81.
A formaçáo da elire colonial lC1

1'ender os mantimenros de que remos assaz necessidede e como csráo ierros de


ler¡amenras fazem-se mais ruìns do que sáo e alvorocâm-se e ensoberbecen-se
e Ler,-anrarn-se r'.

A reaçáo porruguesa à ¡esis¡éncia indígena agrar,ou o conflito, pois a sâida e¡-


coû¡râda à recúsa dos natìvos ao escambo, oir seja, e¡l r¡ebalharem em iroca de
produros de forma permanente ou a sua e)iigélìcia de produtos de maio¡ r,alo¡ foi
amplia¡ e esc¡aÍidáols, ciestacando-se nesse processo a af.racáo de portugucses que
com seus b?.rcos "¡.ssaÌtavam" a cosla. Esses catir'avaa índios de ce¡ras capiranias
e refugiavain-se, em seguida, em ourras. particula¡menie onde os donará¡ios náo
estavam presenres, lugincio assim da r'ìngarça <ios índios, r,inganca essa que acabavã
por aringir os rúcleos estabelecidos próxìmos ao local clo sao.ue, gerando um clima
cieanarquia ao longo da costâ e con¡ínuos confli¡os caáa l'ez r:rais duros, co¡no revelâ
Pe¡o de Góes, nlima carta âo rei, em que ale¡¡a "¡e¡ a tea¡â ao preseñte em condiçáo
ihe não acodem, o que tudo lasce da pouca justjça e pouco iemo¡ de
cie sc perder se
Deus c de Vossa Àlie7-a" Dâ¡a conclLÌir "se, de \ôssa Älteza náo é provìda, perder-se-á
¡odo o B¡asii ai¡es de dois anos":t.
Ä conseqüência disso é que a crescente ¡esis¡ência indíg;ena à colonizaçáo. apoia-
da ou não na aiiança francesa, pa.sscr.L à a¡neàcxr as conquist¿s por¡LrsLiesâs de fo¡ma
cada vez ¡nais r-iso¡osa, aié que ¡a década de 40 do século XVI ester,-e possi.'elmente
perro de eliminar a p¡esealca iusa enrre Pernambuco e São Vlcente, sendo os Portugue-
lorrcmcnre ¿i¿.¡do' em qu¡ e ¡oc..
'e' "s."pit¿ni¿'.
Os casos mais gra.r'es foram em 1546, na Bahia, onde os poitugueses de Fran-
.iscc Pe¡eira Cou¡inho foiam obrigados a se refugìar em Porto Seguro e. posieLior-
ñeûre, acabaaam desba¡a¡ados, inclusive com a mo¡te do donará¡ìo: Duma lenc¿ti\ a

Duar¡e CoeLho rainbóm rcci¿ara dos a¡madores de pau-brasil scdiacios em itatnaruca quc.
par:. ourercm seu pro,i,ro com mais rapidez. esi:'am ãisposros â "pagâr o rrab"iho ¡ios
irdios com ne¡cado¡ias dc me-ior valor. irclusivc armas, prejuciicando os mo¡adores dc Pcr
nanb"co e arrapalhando a consriuçáo dos engenhos. ltr "Ca-na de Ðuarte Coelho a el-¡e;"
de 20 de dczcmbro de 1546, publicada na Hìióríã ¿i1' Colonizaçno Portttgutsa tio Brn:il.rcl
lÌ1, p. 3ì4 ou en José Àn¡onro Gonsalt'es ie tr4elLo e CLeonir Xavicr dc .ÀlbuquerqLre. Czrta'
¿/t D¡L¿rte CoeÍho ¿, e/-¡ el, ììecife: Lrprerxa Unirersi¡á¡ia. Ì967 p 35.

Ve¡ o cìássìco de.A.lexander Nfa¡chant. Do E:mmbo i¿ E:cr¿'uidn¿, 2' eci Sáo Pa"ìo, Compa
nhia Ediro¡a Nacional. 1980.
Cf. 'C:-¡¡a Ce Ped¡o dc Gócs esc¡iia da \¡ila da Ralnha a D. loáo lli de 29 de abril de 1546.
''Cerra de Pcdro do Campo Tourinho cscr¡a de Po¡to Scguro a D. Jo:o IIi dc 23 de julho
de ij46 e "Carr¿ de Duarre Coclho para D. Joáo lll de20ciedezembrodei5'16.p"hlr"'l's
nt fli:tóti¡ ¿/.a Colaniztçáo Portugacsa /.o Brnrll ro1. III, respecrn'arnenlc p. 263. 266 e 314. A
úkì,ra rambérn cm José Antôn io GonseLres dc \{eìlo e Cleonì¡ X:.vrcr cc Alb L,quer que, O¡
,:ìt., p.3i.
i02 Rodrigo Ricupero

de rerorno; e em Sáo Tomé ou Paraiba do Sul, no arual norte fluminense, onde os

índios dest¡uíram a povoacáo barìzada como Vila da Rainha, levando os mo¡ado¡es


à fuga para o Espírito Santoro.
No final do mesmo ano, sinroma da desagregaçáo que aringia os primeiros nú-
cleos, o donará¡io de Porto Seguro, Pero do Campo Tourinho, é preso por um movi-
menro que envol,.eu boa parte dos moradores da capitania e remecido a Lisboa para ser

julgado pelo r¡ibunal do Sanro Ofício, acusado de come¡e¡ c¡ìmes contra a fér'.
Também a partir de 1546, as invesridas dos índios atingem Sáo Vicente, ganhan-
do força no ano seguinre, quando o posro avançado de Bertioga, peça chave na defesa
das vilas de Sáo Vicenre e Sancos, é desrruído pelos índios, que, r.indos da regiáo do
arual Rio de Janeiro, ameacavam a capitania vicencina, obrigando os moradores, sob
comando de Brás Cubas, a engajarem-se numa guerra defensiva que se mance¡ia até a
criação do Governo-geraÌ, quando os colonizadores passariam à ofensivalr.
-d deteriorizaçáo da siruaçáo dava largos passos, ro ano seguinre, 1548, os acaques
aringem Pernambuco, Ilhéus e Espírico San¡o. Os por¡ugueses vi¡am-se acuados, as

vilas de lguaraçu e Olinda foram ce¡cadas, no Espírito Santo boa parte das benleitorias
feitas nos primeiros anos foi desr¡uída, com a morte de mui¡os moradores, siruacäo
semelhante em Ilhéus, e que perduraria ainda nos anos seguinreslj.
Os donatá¡ios deram o sinal de ala¡me nas ca¡las enviadas ao mora¡ca, em l¡ue
comunicavam náo só a perda da Bahia, mas também o fo¡¡alecimen¡o da presença
f¡ancesa e da ameaca indígena, além do clima geral de desconr¡ole ao loogo da cosra.
A Coroa, com a grira¡ia dos donarários ea ala¡mante notícia da perda da Bahia,
chegou a a¡mar um navio de soco¡¡o ao Brasil em !547, gue acabou náo parrindo
por p.rder o rempo cerro pâra à ! i¿gem. m¿5 ¿ rerposr¿ p¿r¿ ¿ gr¿ve siruacáo exigia
maiores recursos e forcas.

Frei Vicente do Salvado¡, Op. àt., p. 125 e 116 respecrivamcnre para a Bahia e para a Sáo
-Iomé,

Vela se, por exemplo, Rossana G. Briro,,4 Saga de Pero do Canpo Toulzáo, Pecrópolis: Vozes,
2000.
A ameaça à capirania de Sáo Vicence perdurou com maio¡ ìn¡ensidade aré pouco depois da
conquisra e fundacáo dr cidade do Rio de Janeìro em 1565, mas a rcsisrência indígen: obrì-
garia ainda que,{nrônio de S¿lema, governador geral do Sul, após a morte de Mem de Sá,
organizasse uma grande expediçáo conrra os índios nos anos de lí70.
Para o caso de Pernambuco, pode-se ver o ¡elaro de Hans Staden, D¿:¿¡ Viagetu aa Brusil
(traduçáo) (iii7), Belo Horizonre: kariaia, 1974, p. 46 ou a versáo do mesmo rexro publicada
em Partin¿rí deutru Hans Sta.¿/en, Sâa Paio,-lercei ro Nome, 1998, p. 24 (,{lguns rrechos sáo
bem dile¡enres nas duas rradLrçóeg. Para o Espirito Sanro e Ilhéus, r'e¡ Francisco Adolfo de
V"rnh-sen. Op , ,J.I.p. l-oe l8l
'(,pecri\¿menre.
A formaçáo da elite colonial

A criação do Governo-geral

.ACoroa portuguesa náo possuía um modelo único de administraçáo para seus


te¡¡itó¡ios ulcramarinos, que foram sendo organizados segundo modelos próprios e
adaptando-se às realidades encont¡adas. As opçóes administrarivas adotadas devem"
porranto, ser entendidas a partir da análise de ce¡tos lato¡es como, po¡ um lado, a
realidade local das diversas áreas, e, por out¡o, a distância em relaçáo à Metrópoie
e as difìculdades de comunìcaçáo, como se percebe pela comparação entre as r'á¡ias
partes do Império.
Assim, por exemplo, no Mar¡ocos as \'árias praças permaneceram por todo o pe-
ríodo governadas de forma independente, sem que surgisse um governo-geral comum;
o mesmo aconteceu com as áreas ocidentais d. Áf¡ica Negra, que se organizaram,
contudo, em áreas adminis¡rativas mais arnplas, como o Reino de Angola ou o arqui-
pélago do Cabo Verde. Ao con¡¡á¡io, no Oriente, é criado, praricamente desde o início
da conquisra, um governo único para !odas as possessões situadas ent¡e o Cabo da Boa
Esperança e o Extremo O¡iente3a.
As soluçóes administ¡ativas adotadas náo eram ìmutáveis, sof¡endo alte¡a-
çóes, de maior ou menor vulto, que, em face das dificuldades encontradas, tenta-
vam da¡ conta das ¡ecessidades da empresa de conquista, garanrindo a dominaçáo
de largas áreas para a Coroa portuguesa- Dessa maneira, as t€ntatives de delegar à
administraçáo dos novos territórios para os vassalos, isentando a Coroa da respon-
sabilidade di¡eta, f¡acassa¡am tanto no Brasil como, posteriormente, em Angola,
sendo substituídas por tovas formas de gestáo:t.
Na América, a Coroa foi obrigada pelos aconlecìmentos a assumir um papel maior
do que até entáo tinha desempenhado na colonizaçáo do Brasil, c¡iando, em fins de 1548,
o chamado Gol'erno-geral, com um objetivo imediato: defende¡ a Presença Portuguesa
nas ce¡¡as americanas frente à reaçáo indígena, ajudada ou náo pelo franceses36-

;4 il'" ìs*,
"=.
a"*'* t"¿.'., r""-r' Go¿ é d ch¡'¡:¿ de toìa a' Ínr/ia - petft poLítico tla
capita,Ìdo Estado la in,,tid (1505-1570). Lisboa: CNCDq :,999. p 47.

35 deìegaçáo da administracáo de novas árcas diretamente aos vassalos po'1' ser entendida
,A.

como mais um aspecto da relaçâo enrrc a Coroa e scus vassalos' dentro da lóglca da polírica
de troca de senços por nc¡cês Porran!o, náo se deve conlundir o f¡acasso da primei ra com o

da segunda, logo o uso da iniciativa parricular dos vassalos loì empregado cm todo o Impório,
independentemcnre do lato de a adminìsrraçáo se¡ realzada di¡e¡amente ou náo pela Coroa

36 Avisáo tradìcionalda qucsáo nos Pa¡cce ser a que mais se aProxima da .ealidade' ao aponrar como
jusrìficativa as ameaças indigenas, a presença franccsa e as brigas entre os porugueses C[ Pedro de

Azcr-edo. 'A ìnsriruìçáo do Governo geral" ir: l1lsrdrz da C'olanìzaçáo Potttt'gu:sø' ù Brasil'vol Il.I'
p.334 e segs. Vcr alnda F¡andscoAdollo deVarnhagen' 01 .i¿' vol.I.232 c segs'
104 Rodrigo Ricupero

Nesse sentido, discordamos de Raymundo Faoro, quando, discutindo a c¡iacáo


do Governo-geral, aponra que, mais do que com índios e co¡sários, a preocupaçáo da
Co¡oa e¡a com o fo¡¡aÌecimen¡o dos dona¡á¡ios, qualificando-os de "inimigo podero-
so" da Co¡re, pois no contexro de meados do sécuÌo os dona¡á¡ios es¡abelecidos nas
37.
parres do Brasil lutavam simplesmente para sobreviver Regiscre-se rambém nossa
disco¡dância com ¡elaçáo opiniáo de Jorge Couto, que justifica a criação do Governo-
à

geral por farores geopolícicos, cais como as ameaças espanhola e francesa, que, como
vimos, já vinham desde o início do século, e à de Sérgio Buarque de Holanda, que
ac¡edirava ser e busce de me¡ais preciosos, influenciada pela descoberta das minas
peruanas, pois, tanto no regimenro de Tomé de Sousa como na sua açáo, nada jusriÊca
13.
que tal busca fosse o cencro de suas preocupaçóes
O novo sistema de governo adorado se sobrepôs ao regime anrerior das cha-
madas "capitanias he¡editárias", sem extingui-lo, porém este foi paulatinamente
perdendo a importância que tivera até entáo. A desba¡atada capitania da Bahia,
sede do Governo-geral, foi comprada pela Co¡oa aos herdei¡os de F¡ancisco Pe¡ei¡a
Coucinho, tornando-se â primeira capirania real, Portanto, a parrir de 1549, ocor-
reu uma reorganizacáo politico-administrariva, as capitanias passaram a ser de
dois tipos, particulares ou da Coroa, e acima delas a esrrurura do Governo-geral.
Dessa forma, quando a colonização porrlrguesa ¡eromoL! a ofensiva, conquis-
tando novas áreas ao longo da cosra do Brasil, essas conquistas foram organizadas
como capitanias ¡eais. No Êm do século XVI, a Coroa já contava com cinco capira-
nias contra seis privadas e, trinra anos depois, após a conquisra da Cosra les¡e-oesre,
já eram oito .eais conrra seis privadas5t,
Além disso, as capiranias reais se desenvolveram num ¡i¡mo mais acele¡ado
que as privadas, pois, como nos iemb¡a Diogo de Campos Moreno, sargen¡o-mor
do Esrado do Brasil, no seu ¡elató¡io conhecido como Liuro que drí Raz,áa do Est¿¿la

a7 Raymundo Faoro, O¡ Donos do Porler,91 ed., 2 vols. Sáo Paulo: Globo, 1991, p. 142.
38 lorge Cor.ro, A coasraçãa do Brasil, Listooa Cosmos, l99Z p. 130 e Sérgro Buarque de Ho-
landa, 'A insriruìçáo do Governo-geral" in: Iden (Dir.). A época colonìal, /.a de¡cabritnento à
expansáa terrrtorial,4u e¿. Sáo Påulo: Difel, 1972, p. 108 (Tomo I, vol. 1 da coleçâo Hiscória
Geral da Civilizaçáo BrasiJeira, 11 vols.).
39 Em meados do século XVII, as capiranias reais eram, do nor¡e ao sul: Pará, Ma¡anháo,
Ceará, Rio G¡ande, Paraíba, Sergìpe, Bahia e Rio de Janeiro e as privadas: ftama¡acá, Per-
oambuco, Ilhéus, Por¡o Seguro, Espíriro Sanro e Sáo Vicenre. Aqur esramos desconsiderando
a capirania de Sanro,Âmaro que desde o inícro se dissolveu na capicania de Sáo Vìcen¡e, näo
rendo vida independenre nem grande dcsenvolvimenro, a ponto de, alguns anos depors, quan,
do da querela entre os sucessores dos primerros donarários, náo se ter cla¡o onde Ecava a linha
dnisória enrre ¡mbas ou mesmo quais eram as vilas de cada uma- Sobre o assunro, r.eja*<
Pedro Tequcs, Hiit/ji"it' de Sáo Vícente (Sêcu\o XVIII)- Sáo Paulo: Melho¡amenros, s/d. Obra
escrita especialmence para csclarecer a qLresráo, a soido de uma das parres da quereia.
A formação da elice coloniaÌ 105

do Brusil de 1612, "todas essas capitanias (...) sustentaram-se de violências, e nesta


conformidade goza¡am de mais aumento aquelas que o braço real tomou mais a sua
conta, quando no povoar e conquis¡a¡ faka¡am seus dona¡á¡ios" "0, assim, no início
do século XVII, enquanto Bahia, Paraíba e Rio de Janei¡o iam em franco desenvolvi-
mento, as câpitanias particulares, com exceçáo de Pernambuco e Itamaracá, estavam
estagnadas, como 5áo Vicenre ou Espíriro Santo, ou em f¡anca decadência, como
Ilhéus e Porto Seguro.
Sobre as exceçóes, adverte-nos, Diogo de Campos Moreno, poderiam en¡¡a¡ na conta
das reais, pois, embo¡a Pe¡nambuco e ltama¡acá fossem de donatá¡ios. iuas maiores neces-
sidades acudiu Sua Majesade com capitais, presídios e fortificaçóes, que até hoje sustenta
de sua real fazenda" it, a1ém disso essas capitanias tinham já há aiguns anos seus capitáes
nomeados pela Coroa, assunro que retoma¡emos à f¡ente.
Diogo de Campos Mo¡eno lembreva rambém, que além dos maio¡es ¡ecu¡sos da
Coroa, nas capitanias parriculares 'îunca se encont¡a pessoa respeitável no governo,
o que náo sucede onde servem capitáes do dito Senho¡ (o rei) que sem dúvida fazem
muiro ¡o aumenro dos lugares pela espe.ança de serem reputadot dignos de maiores
cargos""z, or seja. em oulras palavras, a lógica da ¡¡oca de serviços por mercês. Con-
cluindo, assim, por defender que todas as capiranias fossem ¡eais ou que, pelo menos,
seus capiráes fossem nomeados pelo mona¡ca. Tal conselho foi sendo posro em prática
lentamenre, desse modo após a expulsáo dos holandeses em 1654 as capicanias privadas
rnais importantes, Pe¡nambuco e ltamaracá, foram incorporadas a Coroa, mas o golpe
4l
Ênal no sisrema só vi¡ia no século XVIII quando foram completamente extintas
A criação do Governo-geral dete¡minou algumas adaptaçóes ¡ecessárias no
regime das capitanies privadas; as maiores alteraçóes foram partictrlarmente no
tocante à limicaçáo da alçada da justiça nomeada pelo donatário, a possibilidade da
enrrada de corregedor da Co¡oa nas capitanias, antes vedada, e a nova relaçáo dos
dona¡á¡ios e moradores em geral com a Coroa, agora mediada, em grande parte,
pela presença Âas partes do B¡asil do governador-geralaa.

40 Diogo de Campos Moreno, Litta qae dá razáa da Eçado ¿lo Brøsil (1612)- Recife: UFPE,
ì9i5, p. 107.
4t Iden, p. 108.
42 Idem, p. 108 e tr9.
43 Nesre ponto, estamos deixando de lado as capiranias crtadas Posr€riormerìre à contrirüiçáo
do Governo-gerai, como a de D. Álva¡o da Costa, 6lho do segundo governador-geral, D'
Duarte da Cosra, no Rccôncavo de SaLvado¡ ou como as criadas no À4aranháo e Pará' por
exemplo, do Cabo NortedeBenro lr{aciel Parente, quel Por rerem te¡ri¡ório muito reduzido'
a
se comparadas às primi¡ivas, náo se desraca¡am no processo dc colonizaçáo e' Portanto, não
deuem no mesmo nrtel dr' .apit¿nir5 oriSin¿is
'er.olocad¡r
44 cf António de vasconcelos Saldanha' oP dt , P 259 e segùir*es e Francisco ca¡los Cossen-
tino. Garcrnadores-genis do Exado do Brasil (século XVI e XVII): afaa, regtmcnta'' go'?rna.,to ¿
106 Rodrigo Ricupero

O ¡ei notifìcava aos "capiráes e governado¡es das di¡as terras do Bresil, ou a quem
seus ca¡gos civerem", ou seja, os donatários ou seus ¡ep¡esencantes, e aos demais oIìciais
e moradores que:

hajam ao dito Tomé de Sousa por capitáo de ditâ povoaçáo e rer¡as da Bahia e

governador-geral da dita capitania e das ourras capitanias e te¡ras da dira cosra


como di¡o é e lhes obedeçam e cumpram e laçam o que lhes o dito Tomé de Sousa
de minha pane requerer e mandar segundo forma dos regimencos e provisócs
minhas que para isso leva:t.

No preâmbulo do mesmo documento, o rei explicava que, para "conserva¡ € eno-

brecer as capiranias e povoaçóes" exisrentes na ter¡a do Brasil e garancir o alargamento


da fé cristá, cinha mandado consr¡ui¡ uma fo¡raleza e povoaçáo na Bahia de Todos os
Sanros par: dai dar faror e ¿ìuda * ourras povoa.ões. e se m in istrar iusli(a e pro!er
'e
16.
nas coisas, que cumprem a meu servico e dos negócios de minha Fazenda"
A quesráo central para a Coroa ainda era a garantia da posse das rer¡às àmerica-
nas descoberras em 1500 e que, quase 50 anos depois, continuava ameacada. Depois
do malogro das expediçóes de guarda-costa, do pouco resultado prárico da viagem de
Ma¡rim Afonso de Sousa, era necessário refo¡çar o ¡egime das capitanias com o braço
real, de que nos falava Diogo de Campos Mo¡eno, a fim de evirar seu fracasso complero
e a desrruiçáo dos núcleos já exisrenres.
Ä colonizaçáo das ter¡as americanas pelos porrugueses seguiu uma dinâmi-
ca diferen¡e da de outras á¡eas. No caso, a p¡eocupação primeira e¡e ¿ garanrja
da posse do território, o que se veritcou só ¡er sido possível, como vimos àcima,
com o povoamento efecivo..Apenas como deco¡¡ência disso, e visando dar supotte
econômico a esra ocupacáo, é que se estruturou uma produçáo de gêneros para o
comé¡cio erì¡opeu.

tî¿letljrias (rese iné¿ita ¿efendida naLlniversìdade Federal Flumincnse em 2005), p.62 e seguin,
res. Ver rambém sobre a nova siruaçáo criada: Êulália Lahmel,er Lobo, Adnínístaçäo calanial
Luso-Espnhola nas Anlrzras Rio de Janeiro: Comp. Brasileira de,A.rres Gráficas, 1952, p. 209
e seguinres.
''Carra régia de nomeação de Tomé de Sousa para governador do Brasil" de 7 de janeiro de
1549, publicada en Dacume¡ztos Hist¡j¡rr¿s, 110 vols. Rio de Janeiro: Biblioreca Nacional,
1928-ij, vol. 35, p. 3 e mais m relis:,_ M'1rc Libèlaz, 1Z Lisboa: CNCDP,
1999, p. 27.
1/¿¡2. Ä mesma lo¡mulaçáo se repere prâ(icemenre sem ake¡acóes no preâmbulo do'Regi-
-lomé
menro de de Sousa", publicådo na,L¿clria ìa Colonizaçáo Porntgrcø. do Brasìl,,tol.111,
p. )45.
A formaçáo da elite colonial t0?

Tal fato náo é de meno¡ ¡elevância, pois, como r¡e¡emos a seguir, a preocupa-
çáo com a defesa condicionou loda uma sé¡ie de medidas tomadas pela Co¡oa no
momen¡o da insrituiçáo do Gove¡no-ge¡al, bem como a açáo do mesmo por toda a
segunda metade do século XVi e pela parte iniciaÌ do XVII.
A citada preocupaçáo, já observada na carta de nomeaçáo, revela¡-ser-á em boa
parte dos itens do Regimento de Tomé de Sousa, um dos documen¡os mais impor-
tanres pa¡a â colonizacáo portuguesa no século XVI, no qual, para além das quesróes
mais imediaras, delineou-se a política que viriâ â sù seguida nos anos subseqüentes,
demonstrando o cuidado com que foi elaborado, inclusìve, tendo sido le"ada em con¡a
também, como se percebe, a experiência acumulada no período anterio¡ procurando-
se com as medidas propostas responder às queixas e aos apelos que os dooatários fa-
ziam em sua correspondência com a Co¡oa''.
Pode-se dizer que os objeti'os do Governo-eeral no pe¡íodo, denc¡o do con¡exto
de defesa das te¡¡as, e¡am der¡ota¡ a ¡esistência indígena, der¡otar os irrímjgos erternos
e acaba¡ com a insrabilidade ¡einânte ao longo da costa, Para tanto a administraçáo
colonial deve¡ia impor a jusiiça régia e ar.lmenra¡ a centralizaçáo e o controle do Pro-
cesso de colonizaçáo por pârte da metrópole, além de colaborar no desenvolvimento
das estrururas produlivas, c¡iando ou consolidando as bases para que a própria colônia
pudesse garantir sua segu¡ança.
,Às ta¡efas iniciais de Tomé de Sousa seriam, em primeiro lugar' a ocupaçáo da ca-
pitania da Bahia, apoderando-se da primitiva ce¡ca de F¡ancisco Pe¡ei¡a Coutinho, e' em
seguida, a fundaçáo da cidade do Salvador. Com a seguranca garantida, o passo sequ inre
seria castigar os índios responsár'eis peia destruicão da capitania primitiva e pela morte
do anrigo donatário.
Para ranto, era necessá¡io saber quem eram os culpados, po¡quanto pa¡te dos
índios não tinha responsabilidade direta no levan¡amento, mantendo-se em Paz e ¿ju-
dando os cris¡áos- Assim o ¡ei mandava ao governador "pelo que cumpre muito a sen i-
co de Deus e meu, os que assim se alevantaram e fizeram gue¡¡a se¡em castigados com
muito rigor", e ainda lemb¡ava a necessidade de que a puniçâo servisse de exemplo, pois

47 Embora náo com ce¡teza quem redìgiu o regimenro de Tomé de Sousa' acredjra-sc
se saiba

qLre duas imporranrcs 6euras da Corte sejam os maiores resPonsá\'cis- Esr€s scriam o Con-
de da Castanheìra, principal colaborador do rei, e lernáo Áh'ares de Andrade, itrìPortârÌr€
funcionário régio. responsável pela monragem da armada do primeiro go'erlador' o qual
Varnhagen diz ter tomado careo os negócios do Brasil: ambos também tinhan grandcs
a scu

inreresses no Brasil. o primei¡o reccbc¡ia de Tomé de Sousa ter¡as na Bahia c o segundo era
donatárìo de uma das capiranias primìrivas, que. contuclo. náo loi adiante. d:rlo o fracasso
das reo¡arivas de coloniznçáo fejras cm Parceria com Joáo de Barros e Ài¡es d'
C'rnì¡: além
dc r.r ¡nre,e".e' rra .:pir:nir de ilheu'
108 Rodrigo Ricupero

"estes que ai esráo de paz, como .odâs as ou¡ras racóes (rribos) da cosra do BrasiÌ estão

esperando para ver o casrigo que se dá aos que primeiro" !3 fize¡am os danos.
Dessa fo¡ma, os índios que permanecelam em paz na Bahia deve¡iam ser favo-
recidos pelo go.'ernador para que auxiliassem na luta cont¡a os out¡os. Aconselhava
ainda o governador a busca¡ o apoio nos índios Tupiniquins de outras capiranias. ini-
mìgos dos da Bahia, e que, segundo o rei, desejavam participar da guerra de puniçáo.
,4 estratégia seguida com os índios e¡a simples, dividir esses enrre os que aceir¿v¿m
paciÊcamenre o domínio português e os qúe ¡esìsriam a ele, ou seja, em amigos e
inimigos, aproveitando-se das divisóes e guerras anre¡iores à chegada dos porrugueses.
Essa política implementada por Tomé de Sousa se¡ia urilizada ao longo de quase rodo
o período colonial.
O procedimento tomado f¡enre aos índios da B¿hia e¡a apenas um primeiro as-
pecto de roda uma polírica com relaçáo à quesráo indígena que o regimento já deli-
neava em diversos dos seus irens. Essa polírica aponra\¡a para incorporaçáo desces ao
processo de colonizaçáo, por meio da conversáo à religiáo crisrã jusrifica.iva ceûr¡al
-
do processo de conquista de rerritórios, ranco do no\.o como do velho mundo - por
meio da escravizaçáo dos inimigos e do uso dos amjgos como combarenles nas guer-
¡as, como fo¡ca de trabalho "semi-compulsório" nas mais va¡iadas ra¡efas ou ainda
em outras atividades, como, po¡ exemplo, na expioraçáo do se¡tão. Além disso, em
um adendo ao documento,.já se aponrava a idéia de separar os índios conve¡ridos dos
demais, o que, contudo, só se¡ia colocado em prática por Mem de Sá com a monragem
dos primeiros aldeamentos.
Resolvida a sirracáo na Bahia, com a findaçáo da cidade do Salvado¡ e os índios
rebeldes casrigados, opróximo passo do governado¡ deve¡ia ser auxiliar a defesa das demais
capitanias, iniciando um processo de cenrralização polírico-adminisr¡a¡ivo, marerializada
pela açáo do governado¡ juntamenre com seus auxilia¡es imediatos, o provedor,mor e o
ouvidor geral, que deveriam reorganizar a est¡rìrura adminisr¡a¡iva da Fazenda e daJusriça
.já exisrenres nos núcleos primirivos.
No próximo capírulo, iremos aprofundar o estudo sob¡e a adminiscraçáo colo-
nial, analisando sua es¡¡uru¡a funcional, bem como as relaçóes entre as várias esferas,
canro por áreas geográâcas como po¡ ramos administ¡arivos. Conrudo, nesre ponro,
é necessá¡io discutir o papel desempenhado peio Governo-geral e sua relacáo com as
diversas capitanias.
Esta ¡eiacáo começou de imediato, pois assim que chegasse à Bahia, Tomé de
Sousa deve¡ia comunicar sua chegada aos c¿pitáes das ouc¡as capitanias, que.já ha-
viam sido insc¡uidos pelo rei a coiabora¡ com as necessidades da expedicáo, enviando
gente e manrimenros49.

48 Ver o já cirado "Regimenro de Tomé de Sousa", irem 5.


49 ldenirem4.
A formaçáo da eÌite coionial 109

Além disso, Tomé de Sousa ¡ecebeu instruçóes para chamar à capitania da Bahia
o represenrante do donarário de Ilhéus, junlamerÌte com o p¡ovedo¡ da fazenda ¡eal en-
rre outros, para que se decidisse a melho¡ maneira de de¡rotar os índios entáo ¡ebelados
naquela capirania. Em seguida, quando possível, deve¡ia visita¡ as demaìs capitanias.
panicularmente a do Espírito Santo, também em gu€¡ra com os nativos. Em cada
uma delas, o governador-geral deveria ¡eunir-se com o donatá¡io ou seu reP¡esentanae
ecom os mais importantes funcioná¡ios e mo¡edores Para decidi¡ sob¡e a maneira que
se deve¡ia ¡e¡ com a governanca e a segurança de cada uma delas-'o.

As primeìras visitas foram feitas já no primei¡o ano do Governo-geral, entre agos-


¡o e setemb¡o de 1549; o p¡ovedor-mor Antônio Cardoso de Ba¡¡os esceve em Pernam-
buco e I¡ama¡acá, nomeando vários funcionários da administração da fazenda real e,
no ano seguinre, este fez uma viagem pelas capitanias ao sul da Bahia, tendo passado
por Porto Seguro, Espírito Sanro e Sáo Vicente, onde ficou alguns meses, reorganizan-
do em toda a Fazenda régia, provendo os cargos necessários e dando i¡st.uçóes Para
seu bom firncionamentoii. O ouvidor geral Pero Borges também se deslocou, embo¡a
¡enhamos menos informaçóes, sabe-se que esteve, no começo do ano de 1550, t¡atando
da lura contra os índios e da organizaçáo da justiça em Ilhéus e Po¡to Seguro de onde
enviou uma carta ao rei, em que clamava: "achei tantas cousas de que lançar máo' o
que bem parecia terra desamparada da vossa justiça"i2.
O governador Tomé de Sousa também ¡ealizou uma viagem pela costa ao sul
da Bahia, em fins de 1552 e \nício de 1553, com ce¡¡eza ¡endo estado em Ilhéus' Es-
píriro Santo e Sáo Vicente. Tomando uma sé¡ie de medidas, direta ou indi¡etamente
¡elacionadas com a defesa, como cercar de taipa as vilas e os engenhos e prover a
artilha¡ia necessá¡ia nas diversas capitanias, ou ainda o¡dena¡ a vila de Santo And¡é
na bo¡da do campo, a fim de agrupar os Portugueses que viviam no planalto, e des-
tituir o capiráo de Ilhéus. -Além disso, mandou endireitar as ruas de algumas vilas e,
ainda, que se fizessem casas de audiência e cadeia em todas elas, demonstrando que
sua autoridade se estendia inclusive sob¡e assuntos locais.
O gor.ernador-geral como rePresentante dire¡o do ¡ei na Colônia, passou a exercer
um controÌe real sobre as açóes dos diversos agences coloniais: donatários, funcioná¡ios
e mo¡ado¡es em geral- Assim os caPitáes-mores das dive¡sas capitanias e as Câma¡as
passaram dessa fo¡ma a funciona¡ como instâncias inferio¡es do Governo-geral ou,
como explicava Pero de Magalháes Gandavo, "depois que esta província (de) Santa

i0 I/,€m irelr, 18 .

5l "Lìvro primeiro do registro de Provimencos seculares e eclesiásticos da cidade da Bahia e ter-


ras do B¡asil", iniciado em 1549 e publicado na coleçâo Docu'mcntot Históticos, Op cit.'vols'
35 e 36.

"Carra do Ouvidor geral Doutor Pero Borges" de 7 de feve¡ei¡o de 1550, pttl>licada na Hkt;t;a
da Colonizaç,áo Portusuesa do Brasil, vol. IÍ1. p. 267
110 Rodrigo Ricupero

Cruz se começou a povoar de ponugueses, sempre esteve insriiuída em uma governan-


ça na qual assisria governador-geraÌ por el-rei, nosso senhor, com alçada sobre os outros
capitães que residem em cada capirania"tj.
Parece-nos, por isso, pe¡.inen¡e refurar aqui a idéia que se apresenra difusa na hìsto-
riograÊa de que as capi¡anias se¡iam colônias aurônomas ou que formariam uma espécie de
"arquipélago" e, conseqüen¡emenre ou náo disso, que o governador-geral náo seria mais do
que o governadot ou melhor, o capiráo-mo¡ da Bahia ou uma espécie de fìgura simbólica,
sem poder realil.
Em primeiro lugar, tanro para os morado¡es como para os funcionários dos dois
Iados do Arlânrico, as diversas capiranias criadas pelos por.ugueses no conrinenre, de-
pois conhecido como Amé¡ica, faziam parte de uma á¡ea conhecida como: a cosra do
Brasil, as ter¡as do Brasil, as partes do Brasil, ou simplesmente BrasiÌ, o que indicava o
¡econhecimento de uma unidade geográfica, que, depois, nun plano polírico-adminis-
t¡arivo ¡ecebe¡ia a designaçáo de Estado do B¡asiltt.
Tal unidade náo era me¡amenre reórica, pois o desÌocamenro intracapiranias e
muiro maio¡ do que cosruma ser imaginado, funcioná¡ios de várias categorias. mrr-
cado¡es, soldados e os mais simples mo¡ado¡es se deslocavam ao longo da costa, cum-
prindo rarefas do serviço régio, ou, simplesmenre, arrás de melholes oportunidades.
Além disso, em momeùros imporranres ¿J capitani¿s exisrenres somavam esforços em
prol de dererminadas ra¡efas, como, por exemplo, a conquisra do Rio de Janeiro ou da
chamada Cosca Lesre-Oes¡e, ambas dirigidas pelo Gorerno-geral.
Esse governo de lorma alguma pode ser compreendido como meràmenre sim-
bólico, pois, como \¡eremos em seguida com mais \¡agar, o governo,ge¡al sediado em
Salvador desempenhou papel ¡elevanre nos mais di,'e¡sos assurros da vida colonial,
atuando ranro em quesróes mais amplas como em assunros inrernos de cada capitania,
real ou privadat6.

Pero de Magaìháes Gandava, Op cit., p.34- Candavo, contudo, esquece,se do período ance,
rior à criaçáo do Governo-geral em fins de 1148.
Exemplo dessa posicáo é Caio Prado Júnior. Fornaçáo do Bø:i1 Cozreznporáneo. São Paulo:
Brasrl¡ense, 1942, p. 3AI
Bom exemplo dessa r.isáo é uma pequena carta régìa para o governador-gerai D. Luís de Sousa
(1617 l62l) com as seguin¡es pâssagens: mercadores que já esriveram no BrasiÌ", "parr jrrm
a costa do Brasil", "uma ba¡ca do Brasi1", "que do BrasìÌ se acuda" e'ìráo poderÍo valcr no
Bnsi|". Cl. Carras para Álxara de Sorsa e Gtsp¿r d¿ Sousd, Op. cit., p. 6t)
Nas palavras de Anrónio \,lanuel Hespanha, é cerro que, a parrir de 1i49, os governadores-
gcrais eram a cabeça do governo do Ðsrado, gozando de supremacia sobre donarários e gover,
nadores das capiranias, devendo esres obedecer,lhes e da¡-lhes conra do seu govcrro"- Ànrónio
Manuel Hcspanha. 'A consriruiçáo do lmpérìo PorcugLrês. Roisáo de.rÌguas enviesamcnros
correnres" in:Joáo Fragoso, Fernanda Brcalho e Marìa de Fárima Gouvêa. O A'itigo Regtln¿ ?þ\
Il2lror. Rio de Jarreiro; Crvilização Bråsileirâ, 2001, p. 177. Sobre esre assunro, r,eja se ainda
A formaçáo da elite coloniaì

,Além disso, a proeminêncìa real do governador-geral pode ser vista, por exemplo,
na determinaçáo de que as leis ou alvarás régios, depois de regisrrados e ap¡egoados na
Bahia, fossem enviados pelo governador-geral com o t¡aslado "conce¡rado e assinado
por ele aos capitáes ou p¡ovedores de minha fazenda das outras capitanias das ditas
parres"tr; na preocupacão de Filipe I de Porrugal e de seus auxilia¡es de que fosse o
gor.ernador-geral do B¡asil o primeiro a receber as informaçóes da mudança dinásti-
cais; ou ainda que os capitáes-mores nomeados para o Rio de Janeiro fossem empossa-
dos nos seus cargos pelas máos do governador-geral, sendo ar-r¡o¡izados a toma¡ posse
diretamenre na capitania, apenas na impossibilidade de passarem em Salvadort'r.
Infelizmen¡e uma das maio¡es lacunes dâ documentaçáo do período é a co¡res-
pondéncia trocada enrre o Governo-geral e as capitanias, pois além da perda de quase
rodos os documentos guardados em Salvado¡ do período anterior à invasáo holande-
ses, a maior parte dos âtuais arquivos estaduais quase nada guarda para o periodo an-
terio¡ a 1630- Felizmente, porém, podemos contaÍ com as etas da Câma¡a da efème¡a
vila de Santo Änd¡é e com os documenros da viìa de Sáo Paulo, parricula¡menre as
atas e o regis¡ro geral da Câmara, e com os documentos ¡eunidos em códices pesso-
ais por alguns governadores-9erais, como os chamados livros primeiro e segundo do
governo do Brasil ou com a correspondência de Gaspar de Sousa, para retratar parte
de.sa rel¿çáo entre 5alr¿dor e ¿s ¡lç¡¡¿i. ç¿pi¡¿¡l¿..
Na documentaçáo apontada, v€¡i6ca-se a intervencáo, em maio¡ ou menor me-
dida, do Governo-geral na administraçáo das capitanias par¡iculares, como se Pode
perceber, por exemplo, no regimento dado em Salvador em 1556 pelo segundo go-
vernador-geral, D. Dua¡te da Costa a B¡ás Cubas, capitáo de Sáo Vicente. Com uma
série de instruçóes, que iam das posturâs a serem seguidas no que toca ao trânsito pelo

os comcnrá¡ios de Fernando José de Portugal ao Regimento do governador Roque da Cosra


Barreto. "Regìmenro de Roquc da Cosra Ba¡¡eto" de 23 de janeiro de 1672 pubJicado por
Marcos Carnei¡o Men d.onça., Op. cit.,II, p.805 c scguintes. Para alguns casos concretos, além
dos ¡rabalhos cirados abaìxo na nota 63, vcr Heloísa BeLlotro, Op rlr. . Dnrìl Alden Royal go-
z,¿rnne¡tt í¡t calontd! Brazll Berkeley: Universiry ofCaliÊornia P¡ess, i968' p. 447 e seguintcs.
"Carta régia de 11 de scremb¡o de 1550 sobre novos povoadorcs para o Brasìl', publ'cada em
Dacumenios p,zra a Hìstória lo Açúcar,3 wIs. Rìo de Janeiro: L{4, Ì956. I, p. 9Z
Numa consul¡a sobre o assunro, o parecer 6nal do monarca era dc q,.re se deve¡ia mandar as
cartas sobre a aclamaçáo ao governador-gcraL e qre este, Por sua vez, mandaria essas
j¡ orr¡r:s
capiranìas. Cl "Lcmbrança para cl-rei, sobre a reduçáo das capitanias da costa do Brasrl" de
25 dc serembro de 1580. Bìblìorece da Ajuda, códice 49'X-02 i 23¡ 402 e 404 n e também
Joaquìm VerÍssìmo Serrâa. Da Bra:il Fiþitto ¿o Brasll le 1610 Sáo Paulo: Companhia Edi-
ro¡a Nacjonal. 1968, p. 9 c segs.
Ver, por exemplo. a "Carra de nomeaçáo para capitáo do Rio dcJaneiro de Ma¡rin de Sá" de l3
dc dczembro de 1601 e a "Carta dc nomeaçáo de Afonso de,{lbuqLrerque" de 12 de fevereiro dc
1605. Arquivo NacioLral da To¡re do Tombo, Chancelana de Filipe I, Doaçóes, ¡especrivamer-
¡e, lirro 6,
11. 291 r'. e ìivro 1Z 11. 67 r:
112 Rodrigo Ricupero

interior da capitania e ordens sob¡e as obras da alfândega, casas do Conselho e ponces

que deviam ser concluídas em Santos60.


No Regisrro Ge¡al da Câma¡a de Sáo Paulo, rambém podemos encontlar inú-
meros exemplos do con¡role exercido pelo governador-geral sobre a capitania de São
Vicenre, por meio de regimenros e instruçóes sob¡e os mais dive¡sos assuntos ou do
provimentos de cargos, até, inclusive, com a suspensáo do capitáo-mor nomeado pelo
donará¡io e a nomeação de um subsriturodÌ-
Vale a pena ainda lemb¡a¡ os regimentos aos capiráes-mores do Espírito Santo,
Ma¡anháo e Cea¡á emiridos pelo governador-geral D. Luís de Sousa, enrre 1617 e 1619,
por meio dos quais pâssa inscnlçóes pormenorizadas aos fir¡u¡os capitáes-mores sobre a
administraçáo das respectivas capiranias6:.
Ouuo aspecto do controle exercido pelo Governo-geral é, pelo menos esse é o obje-
tivo, sobre o movimen¡o dos mo¡adores, que, desde as en¡¡adas ao serráo até as possibili
dades de in¡ercâmbio com os indígenas no lito¡al, deve¡iam contar com a autorizaçáo do
governador-geral ou do capiráo-mor da capitania, medidas que visavam impedir que açóes
isoladas acabassem provocando maio¡es conflicos com os nativos e, ainda, acabar com o
descontrole que reinava ao longo da costa.
Âlém disso, ape¡rou-se o controle sob¡e os direitos reais e ¡ambém sobre os funcio-
ná¡ios subal¡ernos da faze¡da, que agora deveriam ir até Salvador presrar cotta do que
dnham ar¡ecadado em cada capitania, acabando com a liberdade quase que irrestrita de
que esses funcionários gozavam.
Po¡ tudo isso, a visâo de que capitanias como a de Pe¡nambuco gozavam de
au¡onomia em face do Governo-geral náo corresponde à ¡ealidade.,À capitania de
Duarre Coelho conseguiu manrer cerra auronomia apenas enquanto viveu o primeiro
donará¡io, possivelmenre, por deferéncìa da Co¡oa à ob¡a desre. Depois cada vez mais
a Coroa, por via Governo-geral, passou a interferir na adminisrraçáo local, inclusive
nomeando vá¡ios capiráes-mores du¡anre a meno¡idade do donatário, entre, pelo me-
nos, 1593 e 1614, ou com a permanência por largos anos dos governadores-gerais na
capirania no início do século XVII, fazendo que a família donata¡iai empreendesse

"Regimenro que há de rer Brás Cubas" de t1 de levereiro de 1556, regis¡rado no livro de Aras d¿
Câma¡a de Sanro Ândré, publìcado como apêndice a ob¡a de Afonso àeTarnay-. Joáo P,analho
e Santa Andr¿ Ca Êorda do Campl Sâo Par:lo: Revista dos rribunars, 1953, p. 261 e segs.
Ve¡, enc¡e outros, "Traslado da provisão de Joáo Pe¡eira de Soìrsa, capiráo desra capirania de
Sáo Vicente" de c. 1600, "Regirnento do Capiráo Diogo Gonçalr-es Laço que lhe deu o senhor
govern:rdorD. F¡ancisco de Sousa" de 1601 e "Traslado da provisáo do senhor governador
Dìogo de Mendonça Furtado" de 1624, publicados respecrivamenre nas pâginas74,126 e454
do Regi*ro Geral da Cânara de S¿o Paula,Yol. L Sáo Paulo: Arquivo Municipal, 1912
Yer Lit¡ro 2
do Goaemo do Br¿sil. Lisboa: CNCDP e Sao Paulo: Museu Paulisra. 2001. res-
pecrìvamenre, p- 66, 117 e 130.
A fo¡macáo da elite colonial 1i3

uma eno¡me lìJta náo para defender a autonomie, mas simplesmen¡e pa¡a garanrir sL¡as

prerrogativas básicas63.
O ponto alto luta foi na segunda rnetade da década de 16i0 e início da se-
dessa
guinte, quando Matias de Albuquerque retomou o governo da capirania para a família
donatariai, entrando em confliro com o governador-geral D- Luís de Sousa (1617-1621)
e seus .ep¡esentantes em Pe¡nambuco. o conflico chegou ao rei, que em cârta ao go-
vernador-geral avisava: "vi o que me avisastes sob¡e Matias de Albuquerque, e demais
de o mandar adve¡¡ir da obrigaçáo que ¡em de obedece¡ as ordens que lhe derdes e ter
convosco correspondência devida ao lugar que ocupais e de que náo o cumprindo as-
sim lho manda¡ei esrranhar com demonsüacâo" 64, mandando repor ao estado inicial
¡odas as inovaçóes que fossem conr¡a e jurisdiçáo real6;.
Po¡ tudo isso, mesmo Caio Prado Júnio¡ um dos auto¡es que defendem a idéia
da ampla autonomia das capitanias f¡ente ao Gove¡no-geral, afirma que náo se deve
subesrima¡ o poder e a auto¡idade dos governadores, "nem mesmo ¡eduzi¡lhes a ex-
pressão na vida adminisr¡a¡iva da colônia. Náo somence suas atribuiçóes sáo conside-
¡áveis ... como ainda o simples fato de representarem e enca¡narem a pessoa do rei, e
te¡em a faculdade de se manifes¡a¡ como se fossem o próprio monarca, é ci¡ct¡nstância
que basta, no sistema político da monarquia absoluta de Porrugal, para dar a medida
do papel de relevo que ocupam"66.
Dessa maneira, o Governo-geral, ao longo da segunda metade do século XVI
e dos primeiros anos do seguinte, passou a desempenhar um papel central na mon-
tagem do processo de colonização no B¡asil, momerrto que, como veremos, es¡avam
sendo lançadas as bases do Antigo Sistema Colonial. Nessa conjuntura, a lu¡a cont¡a

Ä relaçáo enrre o governo-geral e a capiranja de ?e¡nambuco foì objero dc alguns estudos'


lara o período dos donatá¡ios, F¡ancis Dutra, "Centralizarion vs Donatarìal Privilege: Per-
nambuco, 16021630" in: Dauril Alden, Colonial Roox afMadern Brazil. Berkeley: Unfiersi-
já sob controle ré3io, Vera Lúcia
ry ofCaiilornia ?ress, 1973- Para o período pós-rescauracáo,
Acìo|i, Jurhdição e nnfi¡¿¡. Recife: Ed. UFPE e Macció: Ed. UFAL, 1997
"Carta do rei para D. Luís de Sousi', escrita em Madrid em 10 de fevereìro àe 7612 CF. Lturo
2" ào Goterna do Brasit. OP. cir, p.160 e t6t. Na continuaçáo da carta ao governador-geral,
enconrra-se cópia da enviada a Matias de Albuquerque. em que o rei aârrna, þosro que 1ìo de
vos que confurme obrigaçáo guardareis nessa caPirania es ordens que vos dcr o governa-
'ossa
dor desse Estado, como de vosso superior que é, me pareceu adverti_lo de novo por esra carta
que assim o façais, rendo com o governador a correspondência devida ao lt gar que ocupa"
Essa ten¡ariva de ¡efortalecer o poder donatarial em Pe¡nambuco teve como áPice o momento
posrerìorà invasáo deSal.ador pelos holandeses em i624, pois com a prisáo do governador-geral

Diogo de Mendonça Fu¡rado, acabou assumindo o posto o próprìo Marias de Albuquerque'


enráo no goverro de ?ernambuco. Coatudo, poucos anos depois, a conquista de Pern:mbuco
pelos mesmos holandeses pôs frm a essas pretensóes. Sobre o confliro jurisdicionaì enrre Matias
deAlbuquerque e Diogo de Mendonça furtado, r,er F¡ei Vcente do 5alødor, Op. cit.,p.426
66 Caio Prado Júnìor, O?. cit., p. 308.
114 Rodrigo Ricupero

os povos indígenas e seus aliados est¡angei¡os reve um papel primordial, pois foram
esras guer¡as que possibiliraram a conqúista de novas terras e esc¡avos Pata a exPan-
sáo da agricuftura e bene6ciamento da cana-de-açúcar, alicerce econômico do pro-
cesso de colonizaçáo e fundamento de uma eli¡e nascente na colônia, em su¿ m¿io¡ia
di¡ecamente envoivida no processo de conquistao'.
Sob o aspecto da conquisra te¡rito¡ial, o período pode ser di"idido do ponto de
vista das guerras ocorridas, em dois momenros: um defensivo e out¡o ofensivo. No
primeiro, que, grosso modo, dura¡ia entre a chegada de Tomé de Sousa em 1j49 e o
Êm do governo de Mem de Sá, com morte em 1572, a preocupaçáo prioritária era
sLla

garantir a defesa das áreas ocupadas, com pequen¿s exP¿nsöes em ¡o¡no dos núcleos
esrabelecidos. .Além dessas, âpenas uma única nova conquista de vulto, que foi a do
Rio de Janeiro, que, como se sabe, loi muito mais uma resposta à presença francesa do
que uma iniciariva originariamenre lusa, lanro assim que em 1560 a fortaleza f¡ancesa
foi ar¡asada e a regiáo abandonada, só sendo ocupada deÊnicivamente em 156i, dado
o temor de que os franceses voltassem a ocupar a Baía da Guanabara.
O segundo momento, que começaria depois da mone de Mem de Sá ou um
pouco depois, seria marcado por uma ¡etomada da ofensiva por parte dos portLrgueses
e iria aproximadamence aré 1630, nesse momento os portugueses com forças e recursos

¡eti¡ados das capiranias primitivas, particularmence das de Pernambuco e da Bahia,


iriciaram uma erapa de conquistas: Paraiba em 1584, Sergipe em 1581 Rio Grande em
1598, Cea¡á en¡re 1603 e 1613, Ma¡anháo entre 1612 e 1615 e Pa¡á em 1616, consoli-
dando assim a fachada ,A.dânrica e ampliando em muito a área ocupada.

Defesa, povoâmento e economia

A ausência na Amé¡ica de ci¡cuitos come¡ciais es¡abelecidos, ao contrário do que


ocor¡ia no Orienre, impediu que os po¡lugueses Êcassem ¡est¡itos à esfe¡a da circula-
çáo, obrigando-os a assumir a responsabilidade direta pela produçáo dos géneros de
inreresse ao comércio europeu. Essa siruaçáo nâo permiriu que o modelo do Império

Às guerras com os indÌos errr momenros pos¡eriores riveram um caráter diferenre, assim por
exemplo, as luras da segunda meradc do século XVII no se¡ráo da atual regiáo Nordesce nâo
rinham como faror prccipuo a obtençáo de máo-de-ob¡a escrava, que já era abasrecida Ìar
gamenre pelo rráfico neg¡eiro, ncm as novas rerras cram aproveiradas para a cana de açúca¡
a¡ividade econômica cenrral do periodo, mas para a pecuária errensrva. Já em áreas periféricas
como Sáo Paulo muiro mais peÌa posse do escravo do que das rerras. Ver Pedro
e Pa¡á, a Lut.r é
Plrrlroni, A Gzt¿rra dos Bárbaral pouos índigenas e a colonizaçáo do sert,ta rcrde:te do Br¿:i/,
1650-1720. Sio Pa'¡lo: Edusp e Hucitec, 2002.
A formaçáo da elite colonial 115

o¡iental fosse seguido nas partes do Brasil, pois mante¡ ùma exrensa ¡ede de fo¡¡alezas
que doroinassem os princìpais ponros esrra¡égicos, com enorme dìspêndio mate¡ial e
humano, para defènde¡ o escambo do pau-brasil náo ce¡ia o menor senrido, nem vie-
bilidade econômica6i.
Tampouco a ocupaçáo do Ma¡¡ocos servia de modelo, pois nessa regiáo, pequena
e próxima a Portugal, as praças forres portuguesas serviam de baiua¡tes na defesa do
Reino e de suas navegaçóes. sendo, porcanto, meros enclaves, com pouca relaçáo com
a ¡e¡ra e completamente dependentes de soco¡¡o permanen¡e do Reino, orerando so-
b¡enanei¡a os cof¡es ¡égios. Enfim, um ve¡dadeiro so¡vedou¡o de recu¡sos fìnancei¡os
e huma¡ìos que náo interessa reproduzir em our¡as partes6e.
Assim, para e Coroa, o B¡asil náo poderia ¡o¡na¡-se ourro Mar¡ocos) da mesma
forma que náo poderia se¡ out¡a Índia. NaAmé¡ica, a colonizaçáo encetada pelos portu-
gueses seguiu muito mais o modelo antes utilizado nas ilhas a¡lânticas - arquipélagos dos
Açores e da Madeira - com o desenvoh,imento de uma economia agroexportadora.
Dessa fo¡ma, resumidamer.e, o domíoio das rerras âmericanas reivindicadas
pela Coroa portlÌguesa exigia, como vimos ¿nleriormente. o povoâmerrto, e es¡ei
por sua vez, exigia, por um lado, a monragem de uma estrutu., administ¡¿tit a e,
por our¡o, o desenYolvimeqto econômico necessá¡io para fornecer o supo¡ce mate_
rial para o sucesso da colonizacáoro.
Empreendimento que demandava ¡ecursos ql¡e os donatá¡ios, enca¡regados
pela Coroa, num primeiro momen¡o, pa¡a execular a ta¡efa, náo possuíam, nem
poderiam obter no pau-brasil, que em virtude do estanco régio os benefrciava pouco.
Àssim, nessa coûjunru¡a, o produto escoihido para viabilizar a empresa colonjal foi
o acúcar, apro\,eirando-se, ent¡e ourros fatores, das boas condicóes do solo apontadas
por Caminha na célebre passagem:Ì.
A escolha rìáo causa su¡p.esa, pois o açúcar passava por uma fase de grande
prosperidade, com os precos em aita e ampliação de mercados, caPazes de absorve¡ o
crescimenro da produçáo. AIém disso, a experiência acumulada peÌos portugueses, par-

Para uma lisâo geraì do Império, r'eja-se. por exempio. os clássicos de Charles R Bore¡ O
ImVório Colanial Portuguê,: (tradtçâo). Ljsboa: Edicóes 70, 1981 e de Vitorrno MagaLh:cs
Goàínho, As D¿scabriinentos e a Ec¡nomit), Mrn¿io.l,2^ ed.. 4 \ols Lisboa: Presenca, 1991 e
ainda o moderno ¡rabalho de Francisco Bcrhencourt e Kirti Chaudhuri, Históría d-a Etpansáo
Pornguasa,5 r'ols. Lrsboa: Circuio de Lci¡orcs, 1998.
CL David Lopes,I Ex¡ ansáa em Ma¡racos.Lisboa: 'Ico¡cma, s/d. e Augusto Ferreira rìo Ana-
ral, H;sttíia ¿l€ M¿ügn¿. Lisboa: ,A.llâ, i989.
70 Sobre esre aspecro fundamenral, ver Caìo Prado Júnior, O/. rlt, 21 e seguinrcs e Fernando
No:.ats. Portu,gal e Bra:il na crise do Antigo S*te¡na Colon¡¿l (1777-1808J, 6' ed. Sáô P,rtlo,
Hucirec. 1995. p. 102 e seguìntes-

Jaìme Corrcsáo. ,4 Ca,t¿ ,y'r Pero Vaz de Ca.ni'¡ha. Rio de Janerro: Livros de Ponugal, i943,
p.240.
116 Rodrigo Ricupero

ticula¡men¡e na lÌha da Madei¡a, desde o século XV


facilitava a rransposiçáo dos co-
nhecimen¡os técnicos r€cessários e o acesso aos circuicos comerciais já estabelecidosT:.
Conseqüentemente as inicia¡ivas colooizado¡as empreendidas pelos donatá¡ios na
segunda mecade da década de 1í30.já se est¡Lltu¡aram centralmence na produçáo açu-
careira, relegando para segundo plano o exrrarivismo do pau-brasil, que vinha sendo
explorado desde as primeiras expediçóes de reconhecimento no inicio do século XVl.
As ca¡ras dos primeiros donatários deixam cla¡a essa associaçáo ent¡e o açúca¡
e a colonizaçáo das no'as á¡eas. De Pe¡nambuco, Duarte Coelho contava ao rei que
depois de pacificar a rerra, deu "ordem a se fazerem eûgenhos de açúcar que de lá (Por-
rugal) trouxe conrrarados"il; de Porto Seguro, Pero do Campo Tourinho promeria ao
monarca, após pedir a real ajuda, 'tanto que os engenhos se acabarem... Vossa -Alteza
terá aqui um novo Reino e muita ¡enda"7a e, num último exemplo, da f¡acassada ca-
pitania de Sáo Tomé, no ârual norre fluminense, Pe¡o de Góes explicava ao sócio que
os índios, sob as o¡dens de seus feitores, plantavam roças "pa¡a que quando vier gente
ache já que comer e canas e o mais necessário para os engenhos ... entrecanto ..- faço eu
cá no mar dois engenhos de cavalos que moía um deles para os moradores e ourro para
nós somente, e isto para o presenre os enr¡ete¡":i.
Em outro senrido, a capìtania de Iramaracá, praticamenre abandonada pelos do-
nos, sem recu¡sos para iniciar a produçáo de açúca¡ pouco se desenvolveu nesse mo-
menro, rransformando-se no cen¡¡o do resgate de pau-brasil e sendo dominada pelos
feitores dos a¡mado¡es que, segundo Dua¡¡e Coelho, tumukuavam a costa, aIém de
oferecerem refúgio aos criminosos que fugiam de Pernambuco.
-Assim o conrraponto brasileiro do açúcar e do pau-brasil revela uma série de opçóes
adocadas no início do processo colonizado¡- O ext¡ativismo do pau-brasil náo conrribuía
para a fixaçáo de núcleos populacionais, levando a um cerro nomadismo, sempre à pro-
cu¡a de á¡eas ainda náo exploradas- Além disso, por constituir-se num esranco régio. sua
exploraçáo e¡a ar¡endada a comerciantes, cujos feitores sem maiores preocupaçóes ou
vínculos com a ocupaçáo das rerras próximas às áreas de co¡re da madei¡a, acabam por
provocar inúmeros confliros com os íodios, como visco anterio¡menrd6.

72 Cf. Vera Lucia Amaral Fer|ini. Terr¿, T¡abalha e Pode¡. SãoPaulo: B¡asiliense, i988.
"Cana de Duane Coelho a €l-rei" de 27 de abril de 1542, p'ul>1íczda nz Hnairiø da Coloni
zaçâa Partugrtsa da Brasil, vo|. III, p. 313 e em José Anónio Gonsaives de Mello e Cleonir
Xavier de .A.lbuquerque, Op. cit., p.85.
'Ca¡¡a de Pedro do Campo Tourinho" escrim de Porrc Seguro em 28 de julho de 1546, pu-
blicada na História da Colonizaçio Portaguesa lo Brusil,vol-lII, p.266.
'Carra de Pedro de Góes esc¡i¡a da Vila da Rainha ao seu sócio Marrim ler¡ei¡a '' de 18 de
agosto de 1545, publicada na Hist'iria da Coloaizaç,1o Portuguesa clo Br¿sll, vo|.II p.262.
Por ourro lado, a exploracáo do pau-brasil, poderra servir para amealhar
sários ao empreendimenro açucareiro. Ver, por exemplo, a "Carra de Dua¡ce Coelho" de 22
de março de 1548, publicada na ,É1zrtória da Colonizaçáo Pornrguesa lo Brasil, vd,.lll, p.
A formaçáo da elire colonial 117

Já o açúca¡ sedentário, exigia náo só o plantio da cana de acúcar, como ram,


bém o seu beneficìamento, gerando a consrauçâo de engenhos. Esses, como r.eremos
adiante, transformaram-se em importantes focos de ocupação e de defesa do re¡¡iró¡io.
Dessa fo¡ma, pode-se dizer que o sucesso do empreendimento colonial nas partes do
Brasil dependia do ,u.crso d¿ cconomi¿ ¿cLrcâre;r¿ e vice-vers¿.
Conrudo, a economia acucarei¡a, apos um comeco promissor. sofreu um du¡o ¡e,
r,és; a ¡esistência índígena praticamente desrruiu os esfo¡cos iniciais na maioria das capi,
ranias em meados da década de 1540. Po¡tan¡o, coube ao Governo-geral, c¡iado em fins
de 1548, com a finalidade de deÊnde¡ os núcleos porcugueses já instalados e garanrir o
processo de colonizaçáo, a ra¡efa de ¡ecomecar a mon¡agem da economia açuca¡eira7r,
base de sus¡en¡acáo econômica da nascerte colônia, pois mesmo com a maior paÍricip¿-
çáo da Coroa, a necessìdade de viabilidade interna se manrinha.
A Coroa, já extremamenre sobrecarregada, náo poderia arca¡ com ro¿os os custos
do Império, por isso, no mesmo momeûro em que Tomé de Sousa e¡a enviado para
funda¡ a cidade do Sah.ado¡ D- Joáo III ordenara que parre das fortalezas na costa do
Ma¡¡ocos fossem abandonadasis. O Brasil de lato náo poderia se torner outro Marro-
cos. Era necessá¡io que um setor dos moradores pudesse presrar os serviços exigidos,
sem dependência da fazenda régia, na esperança de que tais se¡viços revertessem em
hon¡as e me¡cês diversas.
Logo, a política de envolr.er os vassalos no empreendimento continuou a ser es-
sencial efoi implementada pela Coroa, particularmente por meio de instruçóes di-
rigidas ao Governo-geral, as quais acabaram favo¡ecendo o su¡gimento de uma elite
coloni¡l ¡esidenre e ¡ambém de serores médios.

316, também em José Anrônio Gonsair.es de Mcllo e Cleonir Xavier de Albuquerque, Op.
tlt., p.93.
Além de 6scalizar a exploraçáo do pau-brasil, inclusive regulando as mercadorias que deve
¡iam ser dadas aos índios, para evirar o processo de enca¡eci¡renro do 'iesgate". Cl Alexander
Marchant, O¡- cit., ptlssin.
Parte da popuiaçáo das á¡eas abandonadas foi deslocada para Salvador. Tal abandono pro-
vocou enorme polêmica cm Portuqal, tendo seus defensorcs sido alvo de pesadas criticas
Ålgumas delas acabaram regrscradas, como, por exemplo, aquela em que 'þraticando-se entre
os fidalgos que o homem que mais insisrira em se largarem os lugares dc África (ou seja, do
ì\{arrocod lo¡a Fe¡náo Álvares de And¡ade, escrir'áo da lazenda de el rei, praguejavam dele E
um dia, dizendo Fe¡náo Á1""..s cond. (D. Joáo Coutinho, Conde de Redondo e capitáo
"o
de Arzila) que rinha erande fastio, disselhe ele: Maior seria o de Áf¡ica". Fernáo Álvares de
Andradc, diga-se de passagem, e¡a um dos maio¡es incentivadores da ocupaçáo do Brasil,
rendo ¡ecebido uma capitania que acabou náo sendo explorada, além de sócio na exploraçáo
dellhéos. Dítos Portugueses Dignos de Menória. (Século XVI), editada e comcntada por José
He¡mano Saraiva, 2" ed. Lisboa: Europa-América, s/d, p. 87 Sobre o assunto, .-er Maria Leo-
no¡ Ga¡cía da C¡uz.ls controuóñas ao tempo le D. Joáo III:obre a políticø partuguesa no Norte
de África. Lisbot, CNCDP, 1997 (Separara de Mare Liberan, n. t3).
118 Rodrigo Ricupero

O primeiro problema era como a¡râir moradores disposros a cot¡e¡ os riscos da


enorme tarefai repleta de desaÊos. A prárica de enviar degredados náo bastava, era
preciso oferecer contrapartidas que incentivassem a vinda de moradoresTe, como Por
exempÌo, a disrribuiçáo de terras, as isençóes de t¡iburos e o apoio à construçáo de
engenhos e aos lavradores de cana.
À carta régia enviada a Pedro Anes do Can¡o em Angra, nos Açores, é um bom exem-
plo dessa política de incen¡ivo, nela o rei, após relarar que a cidade do Salvador já estava
"muiro forte e defensáveJ" e que a ærra era "grossa e fertil", alìrmara "que havendo gente em

abasrança, que a plante, granjeie e fará nela muito proveico e a terra se enobrecelá muiro",
oferecia "embarcaçóes e mandmentos a ¡odas as Pessoas que se quiserem tr viver nas diras
parres do Brasil e além disso lhe seráo lá dadas pelo dito Tomé de Sousa cerras que plantem
e aproveitem livremenre sem delas pagarem mais que o dízimo a Deus"so.

Assim, sem dúvida, o maior incettivo ulilizado para alrair moradores para a

América foi a ampla oferra de ce¡¡as brasileiras. Além disso, a possibilidade de obren-
çáo de escravos e a participaçáo, em maior ou meno¡ medida, na economia do açúcar
rambém deveriam se¡vir como at¡ativo.
As terras portuguesas do novo mundo foram, desde o início do processo, incor-
poradas ao patrimônio régio e doadas pelo monarca ou po¡ seus agenres, na fo¡ma de
sesmariassr, segundo as no¡mas das Ordenaçóes do Reinost e de instruçóes específicas,
cujo primeiro exemplo é a aucorizaçáo dada a Martim Àfonso de Sousasl.
A distribuiçáo e o aprovei¡amenro das cerras foi uma preocupat'o conscalte da Coroa
ao longo do período estudado- Com a c¡iaçáo das chamadas capienias herediúrias, o mo-
narca, previdente, determinou, nas cartas de doaçáo, que no máximo i0leguas das teuas da
capitania poderiam ficar direramence parao dona¡á¡io, incluindo nessas as desua mulhere de
seu herdeiro, pois as demais "daráo e poderáo dar e repartir todas as ditas rerras de sesmaria, a

Sobre o ¡ema, ve¡ Timorhy J Coares, Degtedadas e O-,jit calorizacáo dirìgil,n pela Coroa n
Inpërio ponugztês (rld.Lrcáo). Lisboa: Cr-CDP, l9!8.
"Carra régia sobre novos povoadores para o Brasil" de 11 de se¡embro dc 1550, publcada em
Doc ne tos ?1¿ft¿ a HiiTória do AçLiør, Op. cit.,I,p.97.
Para uma visáo geraÌ das sesma¡ias, r'er Cosr¿ Poro, Estu.da sobre o si¡tenn sesnñaL Recife:
Unive¡sidade Fede¡al de Pe¡nambuco, t96j; Rul.Cì¡ne Lima. Pequena Históia lerritorial tlo
ßr¿si/. j' ed. Sáo Paulo: ,{rquìr-o do Es¡ado, Ì991 e \¡irgínia Rau. Serzrr:rias tnedieuL pornt
gzrsas, Lisboa: Berrrand, 1946.
Cfl O rirulo LXVII das Odeno.çòe: Mø.nuelín¿¡ (1j14). 5 r,oÌs. Lisboa: Calousre Gulbenkian,
1984, lV, p. 164.
"Carra para o Capiráo-mo¡ (Manim Àfonso de Sousa) dar ¡er¡as de sesma¡iai' de 20 de no-
Brdsil,vol.lIl, p- 160.
vembro de 1530, publrcada na Históri¿ /-a Colonização ?orntguesø do
A formaçáo da elire colonial 119

quaisque¡ pessoas de qualquer qualidade e condiçáo que sejam e lhes bem parecer, Iivremente,
sem foro nem direiro algum, somente o dízimo de Deus"si.
Nesses primeiros momentos, as re¡¡as fo¡am dist¡ibuídas com relariva facilida-
de e nos mais va¡iados ramanhos, aos dispostos a aproveicá-las, pois como D. Joáo
III o¡denava a Tomé de Sousa: "da¡eis de sesma¡ia as terras ... às pessoas que vo-las
pedirem ... que queiram ir povoar e aprov€ira¡", de acordo com a capacidade de cada
um, pois como alertar.a o monercâ âo mesmo governador: "não dareis a cada pessoa
mais ter¡a que aquela que boamente e segundo suas possibilidades vos parece¡ que
poderá aproveirar".st
Recor¡entemente a Co¡oa volrava ao assunto, ¡elembrando ao governador e aos
capitães-mores a importârìcia de dist¡ibuir te¡ras aos novos moradores, Particuiar-
mente aos que fossem com a família, e ¡ambém qr¡e estes cobrassem dos agraciados,
"obrigando aos que rive¡em terras de sesmarias, que as cultivem e povoem"- O ¡ei erâ
taxativo, âs te¡ras náo aproveiradas deve¡iam se¡ ¡edist¡ibuídas, poìs "aos que as nåo
cumprirem (as obrigaçóes) se cira¡áo e da¡áo a quem as cultive e povoe", o que efetiva-

menre ocorreu em não poucas ocasióes s6. C¡istóvão de Ba¡ros, o tercei¡o c¿Pitáo-mor
do Rio de Janeiro e o primeiro nomeado pela Co¡oa em 1570, trazia um alvará para
¡edisr¡ìbui¡ as rerras já dadas e que táo fossem aptoveitadas no prazo de um ¿no, Pojs
o rei ¡eclamava do fa¡o de "todas as terras que esrão a ¡oda da cidade de Sebastiáo da
dita capitania (serem) dadas as pessoas que vivem e sáo moradoras em ourras capitanias
sem as rerem aproveitadas nem beneficiadas como sáo obrigadas''s:-
Em casos extremos, como no Rio Grande (arual Rio G¡ande do Norre) no
início do século XVII, a Co¡oa chegou mesmo a dere¡mina¡ uma nova redistri-
buiçáo de rer¡as de ¡oda a capitanla, por enrender que grande parte delas náo
tinha sido aproveitada e também por náo concorda¡ com a divisáo feira, pois, nas
pala\'ras do mona¡ca, "constou ser muito exo¡bitante em quantidade de te¡ras a

Vcla-se, por exemplo. a "Doaçáo da Capitanìa de Pernambuco' dc 10 de março de 1i34' pu-


blicaàa em Doaçóes e Forais da-s Capitø.nias da Brasíl (1534-1536). Apresenraçáo, rrânscrição c
noras de Mana José Choráo. Lisboa: Arquivo Nacional da Tor¡e do
'lbmbo, 1999' p I l
8i Cf. "Regimento de Tomé de Sousa", já citado
86 Âs ciraçóes sáo do "Regimenro de Gaspar de Sousa" de 3i de agosto de 1612, publicado nas
Caxa: para Áludro tlz Sousa e Ga:par dt Sorsa. Lisboa: CNCDP e Rio de Janeko: Minìvério
das Relaçóes Exteriores,2001, p. 117 Ver também'À1.-ará sob¡e doaçáo de sesmarìas a todos
os no.os povoado¡es com farnília" de I de dezembro de 1590, publicado nos Docu'nratos para a
Hktória do Acúrar,I, p.377.
Cf- "T¡aslado dc um Âlva¡á em fa.or de Cris¡óváo de Barros, para conceder as terras de
sesma¡ia aos r¡oradores de Sáo Sebastiâo, do Rio de Janeiro" dc 27 de ou¡ubro de 1571.
Joaquim \¡erissìmo Serio, O Río le Jancito no séu,.la XVI. Op ctt , vol.II. p- 8).
120 Rodrigo Ricupero

repartiçáo que delas fèz Jerônimo de Albuquerque a seus Êlhos e demais se näo
rerem nelas feito benfeiro¡ia"3s.
No início, as re¡¡as fo¡am disc¡ibuídas com poucas exigências, pagamento aPenas do
dízimo e aproveiramenro dessas no prazo es¡ipulado. Cabia, contudo, aos agentes da Co-
roa - donatá¡ios ou funcionários régios - dar as rerras 'tegundo as possibilidades" de cada
um em aproveitá-ies. E possibilidade aqui e¡a antes de rudo a possibilidade de conseguir
máo-de-obra para beneficiar as ¡er¡as dadas em extensóes inimagináveis em Portugal, daí,
como nos coffa Gandavo, a primeira preocupaçáo dos novos moradores era a obtençáo de
ap¡oveiÉmeffo das terras no tempo exigidos'.
escravos que permirissem o
Além dessas exigências, o regimento de Tomé de Sousa estipulava oucras que
não figuravam nas ca¡ras de doaçáo das capiranias. Dessas, as mais imPorr¿mes
eram que os agraciados náo poderiam vende¡ ou repassar de out¡a fo¡ma as te¡¡as
recebidas pelo prazo de crês anos e que deveriam ¡esidi¡ na capitania.,Além disso,
em caráter excepcionai, por cinco anos náo poderiam ser dadas rer¡as aos morado-
¡es de ou¡¡as capitanias.
A úlúma medida dnha uma 6nalidade evidenre, evira¡ um êxodo dos mo¡ado¡es
das demais capitanias para a da Bahia, a única en¡áo sob controle régio, já a anrerior pa-
rece rer sido motiveda pelo receio da Coroa de que a maior parte das terras dist¡ibuídas
acabassem nas máos de pessoas que náo se dispusessem a ir pessoalmenre para as novas
terras, pois era evidente que as pessoas que detinham de antemáo cabedais suÊcientes
para montar engenhos ou para desenvolve¡ our¡as a¡ividades econômicas de monra diÊ-
cilmente iriam para uma colônia ¡ecém-c¡iada, com rodos os perigos a serem enfrenrados,
náo colaborando, portanto, com o povoamen(o e, conseqüentemente, com a defesa.
Dentro des¡a lógica, era preciso evitar ou pelo menos limita¡ o absenteísmo,
ar¡aindo, ao contrário, homens de va¡iados ¡ecursos oLr facili¡ando que estes obtì-
vessem as condiçóes necessá¡ias para poderem assumir es tarefas exigidas, compro-
me¡endo-os dessa manei¡a com a empresa colonial. Daí a adoçáo inicialmente de
medidas que favo¡ecessem os residentes em det¡imenro dos absen¡eístas, como, por

"T¡adado do auro que mandaram Alexandre de Moura, capiráo-mor de Pernambuco, e o de-


sembargador Manuel Pin¡o da Rocha, ouvido¡ geral desre Esrado para se fazerem as diligências
nele declaradas", publicado na Revis¡a do Instiruto Hisrórico do Ceaú, XXIII, 1909, p. 112. Em
delesa de Jerônimo de,Albuquerque, diga-se que parre das rerras já estavam sendo aproveiradas.
Âparentemenre o mesmo procedimenro re¡ia sido adorado, ou, pelo menos, planejado para a
capirania da Paraíba, porém náo remos indicaçóes se realmenre foi eferivado ou náo. Cf.'Ah,a¡á
por que Vossa Majestade manda lazer reparriçáo das ceras da capirania da Paraíba no Esudo do
Brasil, que esavam dadas a pessoas que ås náo beneÂciaram no rempo que lhes foi limitado" de
29 de agosro de 1613, publicado nas Cartøs para Áluan ¿e Sav,lrt e Gaspar tle Sousa, p.203.
?ero de Magalháes Ganáa.to, Op- cit., p.81.
À lormaçåo da elice colonial

exemplo, a ¡estriçáo ûas doaçóes de re¡¡a ou a isençáo de r¡iburos sob¡e os produros


coloniais ler.ados ao Reino di¡e¡amenre pelos moradores das novas le¡¡as e0.
Eviden¡emente que ranro a limitaçáo do ramanho das rer¡as dadas segundo as
possibilidades de cada um, como a exigência de ¡esidi¡ na capitania náo foram segui,
das à risca. A própria Coroa era a primeira a desrespeitar as regras, fazendo concessóes
gigentescas a importantes 6guras do Reino, como, por exemplo, a Miguel de Moura,
sec¡erá¡io do rei, que por provisão de 1573 recebia a me¡cê de doze léguas de terras,
.juntas ou "aparadas" na Bahia. Tamanha doação causou dificuldades, pois, como
a¡es¡ou o esc¡iváo da alfândega Francisco de Araújo a C¡isróváo Brandâo, procurador
de Miguel de Mou¡a, "as te¡ras todas da costa desta Bahia e ¡ios, e recôncavos dela
eram.já dadas", o que obrigou a uma busca de áreas dadas mas náo aproveiradas, per-
mitindo assim que pelo menos parte da doaçáo fosse efetjvadaeì.
Os governadores-ge¡ais também náo se fu¡ravam de fazer largas concessóes a
náo ¡esidentes na colônia. Tomé de Sousa, por exemplo, segundo Gabrìel Soares de
Sousa, concedeu as terras das ilhas ltapa¡ica e I¡ama¡andira ao Conde da Castanheira,
de quem era procegido, que, aìiás, já possuía ou viria a possui¡ our¡a sesmaria ao no¡re
da cidade do Salrador t':- A doaçáo das ilhas seria depois confirmada pelo rei na fo¡ma
de uma minicapitania em 1558e', "ao que r.eio com embargos a Câmara da cidade do
Salvador, sobre o que conrendem há mais de t¡inta anos, e the impediu sempre a juris-
diçáo, sem aré agora se averiguar essa causa"94-

Vcr, por exemplo, o "Foral da Capirania de Pernambuco" de 24 de serenbro de 1i34, publi


cado em Doações e Fora,L ¿as Cipitãili¿: ¿o Br¿:il (15341536), OP. cít.. p.22.
Ver "Regisrro da Cama dc Migucl de Moura" e a¡exos em Doctrncntas Históicos, OP. c¡t.,vol.
14, p. 455.
Å documencaçáo relariva às ¡er¡as do Conde da Casranheira pode ser visra em bloco num pe-
dido de con6rmaçáo Êìto pelo neto, D. Joáo de.draíde, ao rei Filipe Ill de Portugal, em que,
além das ca¡tas de sesmarias, es.áo regisrradas as sucessir-as con6¡maçóes dadas pelos reìs D.
Sebastiáo, FiJipe I e FilipeII de Ponugal. "Carta con6rmaçáo da doaçáo de terras na costa do
B¡asil" de 9 de maio de 1623. Àrqui.'o Nâcional da To¡re do lombo. Chancelaria de Filìpe
Ill, Doaçóes, Livro 14, fl. 10 e seguinres. As te¡ras ao no¡re de Salvador posreriormente loram
arrendadas a Gonçalo Pi¡es, que as repassou âos padres de Sáo Bearo- Lit¡ro Wlbo da Tonbo
¿o Mlttc¡ïl ¿a Sáo Bento y'-¿ cidade do S¿.luødor (1536-1732). Saìvador: Beneditìna, 1945. p.
315-6.
Ve¡ 'Doaçáo de Dom Anrônio de Araíde Conde da Cas¡anhei¡a das ilhas de Itaparica e
'Iãmarandrra" e "Foral do Conde da Castanhei¡a das ilhas dc Itaparica e Tamarandìva de
12 e 15 de março de 1553, publicados ¡os Docu.nentos Históricor, OP. cít., tolr. 13, p. 192 e
seguinres.
Gab¡iel Soares de Sousa, Tratado descntíuo do Brastl,:n t587. Sio Paulo: Companhia Edrtora
Nac;onal, 19BZ p. 142. la¡a uma ve¡sáo um pouco diferentc do c¡.so, vc¡ F¡ancisco Adolfo de
\¡arnhagen. Op. cit.,l, p 242.
l)) Rodriqo Ricuoero

Ourro aspecco do incen¡ivo foi a ampla isençáo de ¡¡ibutos e taxas concedidas


aos povoadores e moradores já nos forais dados às chamadas capitanias hereditárias ao
longo da década de 1530. Durante muito tempo, o único triburo cobrado nas partes do
B¡asil e¡a o dízimo, além disso os produtos enviados pelos mo¡ado¡es di¡ecamenre ao
Reino apenas pagartam a sisa, ao contrário dos enf iados por mercadores que pagariam
rambém a dízima nas alfândegas de Portugalet
Tal isençáo de t¡ibutos, con¡udo, náo e¡a válida aos proprietários de fazendas ou
engenhos que residissem em Portugal ou no estrangeiro. Este incentivo especial aos mo¡a-
dores, em detrimento dos absenreístas, foi, a princípìo, respeitado, como atesla a sentença'
proferida em 155J da querelajudicial que declarou que importantes flguras como Jorge de
Figueiredo'6, Fernáo Álvares de.A.nd¡adee7, Lucas Gi¡aldeses e Mem de Sáee, não podiam
se¡ conside¡ados "morado¡es, nem povoadores do B¡asil, nem pode(ria)m gozar do foral
dele'roo, ou seja, náo podiam se beneÊcia¡ das isençóes. Contudo, pouco tempo depois,
em 1560, as isençóes dadas aos mo¡adores fo¡am estendidas também aos que possuíssem
engenhos no Brasil, embo¡a continuassem a mora¡ no Reino.
AIém das medidas de fomento à colonizaçáo em ge¡al, a Co¡oa buscou também
impulsionar especificamente a economia açucareire, com incentivos € isençóes. Nesse
sentido, r¡ês medidas se destacam: a construção de engenhos reais nas capitanias da
Coroa, a isençáo do dízimo por 10 anos para os engenhos que fossem consr¡uídos ou
¡eedificados e a in¡ervencão pam que os engenhos destruídos fossem ¡earivados
.Atestando a compreensáo da Co¡oa da imporcância do açúcar para o desenvolvi-
menro da colônia, o rei informava ao governador-geral, D. Duarre da Costa, que

havendo nessa capitania (da Bahia) engenhos, em que os moradores dcla pu-
dessem desfazer suas canas, se plantariam, e fariam muiros canaviais, com qLle

9i Ver o cirado "Foral da Capirania de Pernambuco".


96 Jorge de Fìgueiredo, donatário de Ilhéus no início do proc ador em Lrsboa e

escriráo da lazenda real, com muiras propricdades no Reino.


Fe¡náo Álvares deAndrade, importante figur.r d¿ Corre e escriráo da Casa da Índia. (Ver nora
47 acima).
98 Lucas Gi¡aldes era um imporranre me¡cado¡, residen¡e em Portugal, e que posteriormente
compraria a capirania de Ilhéus.
O Ìicenoado Mem de Sá, fururo governador-geral do Brasil, era desembargador na Corre e

até este momenro ainda náo tinha passado pelas rerras do Brasil.
r00 Cl "Senrenca conrra Jorge de Figucircdo, capiráo que lora da capirânia de Sáo Jorge do Rio
dos Ilhéus ... pela qual se julgou que deviam pagar dízima na allândega de Lisboa, das cois¿s c
mercadorras quc viessem da mesma capirania" de 5 de maio dc 1552 publicado em ''li G,zzøas
da Tarre da Tonbo, 12 vols- Lisboa: Cencro dc Estudos His¡ó¡icos Ult¡amarinos, 1960- 7Z
vo1. II, p. 582.
A formaçáo da elire colonial

a g€Dte s€ aPro\¡eitasse) e a rer¡a se enob¡ecesse; e querendo nisso prover pelo


muiro, que imporra ao bem comum, pro'eiro do povo.ì0'

A questáo percebida pela Coroa era que nenhum morador da capitania da Bahia
poderia, naquele momento, arcar com o alto investimento exigido para a const¡ução
de um engenho, e, na faka de engenhos, de nada adianta¡ia aos morado¡es plantar a
cana-de-açúcar, dificultando assim o desenvolvimento local. Para superar essa dificui-
dade, o monarca, em seguida, na citada ca¡ra, dava insrruçóes para a consr¡ucáo de um
engenho real à custa da fazer'da régia..
Tal engenho, de fa¡o, foi const¡uído, tendo sido concluído no princípio do go-
'v'e¡no de
Mem de Sá e, por ser o único engenho em funcionamento naquele momento,
deu um eno¡me impulso para a economia açuca¡eira do recôncavo de Salvador, per-
mitindo o surgimerro de outros engenhos, como veremos em outro momento desre
¡¡abalho. A Co¡oa ¡entou reperir a iniciariva nas capitanias do Rio de Janeiro e da
Paraíba, mas, ao que tudo indica, apenas o engenho real da Paraíba entrou plenamente
em funcionamento-
Ainda dentro da política de fomen¡o à economia do açúca¡ a Co¡oa determinou
por meio de sucessivos alvarás, dadosa pa¡tir de 1551, que os engenhos construídos ou

reediâcados gozassem de isençâo do pagamento do dízimo por certo prazo, que depois
acabou fìxado em 10 anosr02-
O Governo-gerai ainda impuÌsionava a refo¡ma dos engenhos dest¡uídos nas
guerras com os índios, o¡ientando, por exemplo, por meio de uma proYisáo do Prove-
do¡-morAnrônio Cardoso de Barros, os provedores de Santo Amaro e Sáo Vicente para
que garantissem o conserto dos engenhos parados da capitania, inclusive, tomando
mesmo a iniciariva dos repâros, quando os proprietários não o fizessemì0'.
Por Êm, r'ale a pena também desracar a preocupâçáo da Coroa com os lavrador€s
de cana, que tive¡am sua relaçáo com os senhores de engenho reguiamentada já no
regimenro de Tomé de Sousa de 1549, que enfaticamente presc¡eveu:

'Alvará sobre a construcáo de um engenho de açúcar peJa real fazenda" de 5 de outubro de


1555, publicacio nos Documentos para a Hìsttirìa do Açü'rar, OP. cit ,I' P I2l
i02 Veja-se sobre o tema os documentos publicados no primciro volume àos Docutnantas para a'
Hist¡jrii ¿o Açú¿11t. como, por exemplo, o ',{h'ará de isençáo dos triburos sobre açúcar'' de 23
de julho de 1554, quc se encont¡a na página 111.

r03 "Tirulo do rcgistro das Provisócs, quc se passaram de serriço de el-¡eì Nosso Senhor, qLre
rocam a Fazenda de sua Aheza", publicado na coleçâo Docuinentos Histitñrls. OP. üt ,\ol. 14

O clocurnenro aqui rele¡ido é o rítulo de núme¡o 28 e datzdo de 23 de julho de 1550


121 Rodrigo Ricupero

o senhorio dela (rerras do engenho) será obrig:rdo de no dito cngenho lavrar aos
lar.¡ador¿s as cânas de suùs novidacies (saûas) ... e por Ìhas ìavrar levaráo os se-
nhorìos dos diros engenhos aqucla partc que ... \'os Parece¡ bcm de man€iià que
1ìque o parrido iàvo¡áveì aos lav¡adores Pâ.¡ elcs co¡lr melhor voarade aolgere!Þ
de aproveitar as rerras.'0"

O favo¡ecime¡lto dos lav¡ado¡es de cana preconìzado pela Coroa é m¡-is um


bom exemplo da preocuoaçáo com o povoameû¡o efetìvo das terras' pois do por-rro
de visra econôcrico pouco importaria para a Coroa se a produçáo do açúcar esti-
vess€ conce4¡¡ada n¿ ¡náo de poucos grandes proprierários ou fiagmentada entre
pequenos, médios e grairdes proorierários, porérn, do Ponto de Yisiâ d¿- detèsa das
ûovas rerras, a consolidaçáo de setores r¡édios, erempliâcàdos nesse momento Pe-
los iavrado¡es de cana, cornpronetrdos com a empresa, ampliaria a pcssibilìdade
locaÌ de ¡ec¡ura¡:rento de quadros para-s as arividades ¡¡rilitares e adminisl¡lri\ i15.
A compreensáo de ral dinämica é fundamental para enrende¡mos rodo o pro-
cesso de colonizaçaìo subseqüente, pois a produçáo de açúcar- toroou-se o principal
meio paia Ênancia¡ a dcfesa das te¡Ìas:0í, deiesa essa que) cont-Lrdo, exjgiâ Poio¿-
meûro comp¡ornerìcio com a emp¡esa colonial:0r'.
Rapidainente, "o sen¡ido dominan¡e da ocupâçáo tor¡âr-se-ia a exploraçáo eco-
nômica, enr¡eranro, a ê¡rlase iniciai à fixação cie povo:.dores deixaria suas mâtcas na
esriutura sócio-jurídic¡--econômica da Colôni¡"'-, favo¡ecendo a criaçáo dc uma elite

r04 Para essa dìscussáo, r,tr especiaÌmenre \.cre l-ucia Àmar¿l Fcrini. O¿. rh, p. 16 c r:.:nbém o
já cir.rdo "Rcgimcnro dc 1oné de SoL:sa", public:Làc¡ nt Hi¡tóri¿ ¿/¿t Colottizttção Parntgue:a do
É;zsrl, vol. IIl. p.346.
L0i ¡. impo¡râûcià d¿ producáo acucarcira pâre a r.rabilizaçáo econón'ìice do ecrpreeîtlimento
coìori:i potìe se¡ consra¡ad¿ pelo fàro de que a fòÌha de pagamenro do cìoverrlo gerel er:
clsrcada pelo valor arrecadado peio dizir:ro, em particular tlo açúc:r. Pa¡a o assunto, Cl.-
'e.
orir Xavier de,{ìbuiluerquc da Graça e Cosra. Receira e Despev da Es¡¡da da Brn:jl ¡ta P¿ríala
?ìlíp;ro. Rcc\fc: Lr¡ c¡sr,.l,:de Ferier¡l <ic P¿¡¡ranbuco, 1985 tese irédira). Já o rendirnen¡o
do pau-brasil cra nuìras vezrs urìlizado p:.ra arcar com a despcsa dc ourras áreas, particular-
mcnrs o \{:rrocos Ci Ca¡ra cìe l0 Cc <iczenb¡o de 1613". Biblioccca da Âjuda, Cr¡¡as cio
bìspo D. Pcdro cic CasrilSo ao Con¡ie de S:bug¡-Ì, códice il-\¡lil'ìi, ¡ 8Ì.
106 À relaçáo cnrrc o povo:.menro das ¡crrrs, a economia açucareìra c a cieiisa mrlirer é expììcirrda
e¡n ¡¡echo de um¿ c¿rra de Jerónimo de Àlbùque.qùe plr¡a D. Joáo III, ra qual o 2rin.iro
conr¿\i¿ (Ìue "fazrztto-* an coìø zle rnìito t¿!. ido re:) teïïìça t duinenta y'o- rcra t segrríla/e
ldn qrt n;r rtat engenltu t ajrtualan'i00 psoa: ù gtenø, m¡¡any'u nlunts nnrd¿lo¡t¡ rc¡¡¿
"Ca¡ra dc J:rònir:ro Cc Àlbuquerque" de 2s de agosro de Ì5i5. pubìicad:: nr
Hísúria tla Caloníztçáo Parrdgrev la Ì)ra:i/.tol. IIl, p. i30.
t0 t- Vera Lucia Àrn¿¡al Fertìni. Op. tìr. , p. Ii.
A formacão d: elite colonial n5

colonial residente associada à Co¡oa, Êaro que condicionará o desenvoh,imen¡o poste-


rio¡ da colônia.
Assim, nesse processo que combinou a monaagem da esrruru¡a produtiva e a
gênese da eljre colonial, a administraçáo régia das partes do Brasil ocupou um papel
des¡acado, com seus memb¡os atuando, muiras 1-ezes ao mesmo tempo, no papel de
"colonizadores" e de "colonos" r0s, situacáo magJstralmente exempliÊcada e¡n Mem de
Sá que era simultaneamenre a maio¡ auto¡idade e, provavelmente, o maio¡ senho¡ de
engenho da Colônia. fato que náo causa espanto, pois a parricìpacáo na administração
colonial foi, nesse período, uma das formas mais irnportantes de inserção nâ tascente
eli¡e colonial. graças às amplas possibilidades de consriruicáo de patrimônio que ela
oferecia aos seus memb¡os.

108 ,{qui no senriio ciado por Ilnar Rohlolfde lr4atros, O Ttmpo Saqu.arema-Sio Par¡lo: Hucirec
t987, p. 26 e seguinres.
4. A administração colonial
(Os moradores do I?io Gtande) pediram ;nod.a de gouentança e se lhes nncal'eu no ano d-e

1611, pelo gouernddor D. Diogo de Mcneses, o qual, com parecer da- Relaçã0, ehgtu o juiz
am uercador, escîiu,i,ô d,à câméï11, Praacador do conselbo e procu-ra/'or d'os íwl,ios e assitn

t,íue¡n hoje, de que se tein dad.o auiso a Su-a Majestade.

Diogo de Campos Morenor

O governo da colônia

/'\ Padre ,Antònio Vieira foi um dos maio¡es críticos da administraçáo colonial,
\J.o- a quaL rinha sérios atritos, particularmente com relaçáo à questáo da es-
cravidáo indígena. Vieira condenava a cobiça e a corrupçáo. e, em sermão pregado
na matriz de Belém do Pa¡á, em 1656 na ocasiáo em que chegou a nova de '"e te¡
desvanecido a csperanca das minas, que com grande esforço tinham ido descob¡ir,
ten¡ava confona¡ os moradores, desc¡evendo as conseqúências que tal descoberra' se
bem sucedida, te¡ia t¡azido:

Quanros ministros reais e quanros oÊciais de iustiça' lazcnda' de gucr


¡a, r,os parece que haviam de se¡ mandados cá para a extraçáo, segurança c
remessa destc ouro e prataÌ Se um só destes poderosos tendes experimentado
râr1tâs vezesl que bastou assoiar o Estado, que fa¡iam rantos? Náo sabeis o
nome do serrico real (contra a intenção dos mesmos Reis) qùâLrto se esten-
de cá ao longe e quáo violento é e insuporrável? Quantos administradores,

Diogo de Campos Mo rcno. Litra qnc dtí ranão ,/-o E:t¿lo do Btø:iÌ (1612) Rccìfe: UËPE.
t955, p.209.

1l'
t28 Rodrigo Ricupero

quanros provedoresr quanros resoûreiros¡ quanros elmoxa¡ifes, quanros escri-


váes, quanros conradores, quânros gue¡des no mâr e na te¡¡a e quanros outros
ofícios de nomes e jurisdiçóes noves se hâviem de c¡ia¡ ou fundi¡ com estas
minas pâ¡e vos confundir e sepulrar nelas?:

Dessa forma, para Vieira, os moradores do Pa¡á ce¡iam melho¡ vida sem as mi-
nas, evitando que toda aquela máquina administrativa caísse sob¡e eles e que seus es-
c¡avos, animâis e canoas fossem requisirados para o serviço das mesmas, bem como os
manrimenros fossem desviados para o mesmo fim, a¡¡uinando os mo¡edores que táo
poderiam aproveitar das riquezas descobercas, r¡ansformados em feitores e náo mais
senho¡es de suas fazendas.
O padre Vieira também náo poupava palavras conrra a corrupçáo do funcionalis-
mo colonial, um ano an.es, em 1655, em out¡o sermão pregado na Mise¡icó¡dia de Lis-
boa, intitulado signitcarivamenre "do bom lad¡áo", o grande orador nos conta que:

encomeodou el-¡ei D-Joáo, o rerceiro, â Sáo Frencisco Xevi€r o informasse do Es-


tado da Índia (...) e o que o San¡o escreveu de lá sem nomear ofício, nem pessoas,
foi que o verbo rapio na Índia se conjugavapor rodos os modos (...) o que eu posso
acrescenrar, pela experiência que cenho, é, que náo só do Cabo da Boa Esperança
para lá, mas cambém das parres daquém se usa igualmente a mesma conjugaçáor

e, ainda explicava, numa passagem antológica, que "os grømtíticos" furtam pelos vários
moclos: indicativo, imperativo, mandativo, op¡arivo, co¡riuntivo, porencial, permissivo
e infinitivo, e rambém por todas as pessoas do verbo e ainda por todos os rempos:
prerériro, p¡esenre e furu¡o.
As duas longas citaçóes do Pad¡eAnrônio Viei¡a, somadas às denúncias, devassas e
inquériros conhecidos, parecem dar razâo ao severo julgamento que nos apresenta Caio
Prado Júnior, após uma desenvolvida desc¡icáo da estrurura adminisr¡ariva colonial,
na mais conhecida análise sob¡e o tema- Para o autor de Formaç'ão do Brøsil Contempo-
râ.neo, " de alto a 6aixo da escala administrariva, com raras exceçóes, é a mais grosseira
imoralidade e corrupção que domina desbragadamenre"a. -4. seve¡idade de Caio P¡ado

Pad¡e Âncônro Yiàra, Sernóes ào Padre Antônío Vlelra,, reproduçâo fac-simllzda àa editio
princeps, organizaù pelo Padre,{ugusro Magne, 16 r.oÌs. Sio Paulo: Ànchierana, t943-45,
vol.4, p.410.
Ibíden, vol.3, p.335.
Caio Prado Júnior, Farmaçáo do Brasl Contemporúneo. Sâo PatrlLo: Brasiliense, 1942, p. 334.
A formacáo da elice colonial 129

Júnio¡ porém, náo se resrringia ao plano da moralidade, para ele a adminisrracáo colo-
nial e¡a uma "monstruosa, emperrada e ineficiente máquina bu¡ocrática"t.
A segunda parre da c¡itica de Caio Prado Júnior, conrudo, não encon¡ra o m€s-
mo eco nos c¡onistas ou na documenracáo do período aqui esrudado, inclusive nos
documentos mais conru¡rdenres sobre a adminisrracáo colonial a idéia de ineÊciência
não apa¡ece. É o caso do relarório redigido, em fins do século XVI, pelo lìcenciado
Domingos de Ab¡eu e Brito, no qual são aponradas inúmeras irregularidades, nora-
damenre no que toca aos in¡e¡esses da Fazenda Real, mas cuja idéia subjacenre ë que
tais problemas eram deco¡¡enres do mau procedimenro dos oficiais régios, salvo um ou
outro pormeno16.
A adminisr¡acáo colonial em si, contudo, ainda permerece muiro mal esrudada,
a maioria dos crabalhos inritulados "hisró¡ias administ¡arivas" ou dedicados ao rema,
na prárica, náo aprofundam o esrudo da administracáo propriarnente dira, Iimiando-
se a comentar os documentos mais conhecidos, como, por exemplo, a carta de doaçáo
de Dua¡te Coelho e o regimento de Tomé de Sousa, descrevendo leis, alvarás e oucros
documenros oficiais, sem uma análise da ¡ealidade conc¡eta, ou, ainda, apenas ¡elaren-
do os aros dos governantes em geral, tornando-se, dessa fo¡ma, mais uma "histó¡ia do
B¡asil" ent¡e tan¡as do que um estudo sob¡e a adminisr¡açáo propriamence dira.
Nesse senrido, sáo poucos os estudos específicos sobre determinados órgáos ou
¡amos da administraçáo, bem como obras de síntese que nos dêem uma visáo geral
de sua est¡utu¡a. Nesse caso, destaca-se o livro Fiscai¡ e Meirinbos, coordenado por
Graça Salgado, resultado de um projeto do Arquivo Nacional que procurava compre-
ende¡ a administ¡açáo para permitir uma melhor organizaçáo do acervo documental
da instituiçáo. Mais do que um estudo propriamente dito da adminiscraçâo colonial,
tal obra é cenr¡almente um a¡rolamenro sistemático dos cargos da administraçáo,
elencando suas atribuiçóes e o período em que existi¡am. Ao partir basicamente da
legislação porcuguesa entáo vigente e dos regimentos dos diversos cargos, acabou po¡
cair num ce¡to esquemarismo, dando aparente ¡acionalidade mode¡na à adminis-
t¡acão, como se pode perceber pelos organogramas apresettados, qìie uma ou oucra
a6rmaçáo em conr¡á¡io nos textos introducórios náo consegue apaga/.

Ibíden, p. 334.
Enviado em uma viagem de inspecáo deAngola, o autor fez escala em Pernambuco, redigin-
do dalì a parte relèrente ao Brasil. Cf. Domingos de A.breu e Brìro, "Sumário e descriçáo do
Reino de Angola e do descobrjmenro da jlha de Luanda" (c. 1591), publicado po¡ Alf¡edo de
Albuquerque Felner. Un inquérito à uida adninis¡ratiu e econômica de Angok e do Brasí|.
Coimbra: Imprensa da Univ€¡sida¿e, 1933.
Graça Salgado, Izseø:s e metrínhas, ¿1 adnínlrûIlçáo îa Bl¿lsll calonial,2' ed. Rio de Janeiro:
Nova Fronreira, 1985_
110 Rodrigo RicuPero

A difrculdade em se aprofundar os escudos sobre a administ¡açáo colonial


decorre, parcicularmerÌre para o período anterio¡ à segunda metade do XVII, da
faka de documenraçáo apropriada, já que grande parte dos documentos elabo¡ados
pelos diversos níveis da administraçáo simPlesmente se Perdeu por morivos os mais
variados, impedindo maior comPreensáo de seu fl¡ncionametro, em esPecial no
que toca à relaçáo enrre as várias instâncias administ¡acivas, râûto Por ¡amos como
por áreas, bem como do funcionamen¡o interno dos diversos órgáos dos variados
níveis de governo,
A anáiise apresentadaem Fornøção do Brasil Contemporâneo continrrâ sendo uma
¡etèrência. Caio Prado Júnior tem razáo quando apotra, aos olhos de hoje, a confusáo
do sisrem¿ administ¡a¡ivo português, afinal, como ele próprio diz: "a adminisrraçáo
coÌonial nada ou muiro pouco apresenra daquela uniformidade e simerria que estamos
hoje habituados a ve¡ nas administ¡açóes contemporåneas... encontrar-se-á (ao con-
trário) um amoncoado que nos parecerá intei¡amente desconexo, de determinaçóes
pârticulares e casuísticas, de regras que se acrescentam umas às outras sem obedece¡em
a plano algum de conjunto"s.
Competências, jurisdiçóes hierarquias mal delìnidas, ausência de especialização
e

e de divisáo dos poderes sáo elementos que Pro\¡ocâm, muitas vezes' o choque eûtre as
diversas auto¡idades e a dificuldade na execução das ordens régias; o que nos obrigaria,
ainda seguindo as idéias do aLrco¡, a fàzeÌ ''tábua-rasa" das noçóes atualmente co¡¡entes
sobre a administraçáo pública para pode¡ entende¡ a administraçáo colonial, evitando
assim análises anacrônicas, pecado qLre ele próprio não deixou de comece¡e.
Tal posiçáo sobre a adminisuaçáo colonial náo deve, contudo, ser desprezada, pois,
deixando de lado os juízos de lzlo¡, continua sendo excelente ponto de partida. Caio
Prado Júnior indica uma sé¡ie de elementos da administraçáo colonial, que, ao destoa¡
das normas adminisrrativas contemporâneas, difrculram em muico nossa compreensão.
como, por exemplo, o faro de órgáos e Funçóes, existen¡es em cerros locais, laltarem em
ou¡¡os ou ainda a distribuiçáo de funçóes e compecências dife¡en¡es das antcrio¡menle
em vigor. Daí que Caio Prado Júnior renha râzáo, Por exemplo, quando registra que
orien¡ar-se nesse "caos imenso de leìs... é rarefà á¡dua", pois, como explica em seguida,
"os delegados do poder recebem muiras vezes inst¡ucóes esPeciais, irÌclùsive em simples
correspondência epistolar, que fazem lei e freqüentemente estabelecem normas originaìr'
como resukado, as leis náo só náo e¡am uniformemente aplicadas no tempo e no etpaco,
como freqüentemente se despreza"am irrreiramenre, havendo sempre, caso fossc teces-
sário, um ou ourro motivo justilìcado para a desobediência". Po¡ isso, a relaçáo enrre o

Caio Prado Júnior, Op. ch., p.299


Ibidetn, p.297.
A formaçáo da elite colonial

que lemos ¡Ìos textos legais e o que efecivamente se pratica, é muitas vezes ¡cmota e vaga,
senáo redondamenre conrradiróriaro.
Esse sis¡ema, ainda pa¡a Caio Prado Júnior, seriâ reflexo que a "atitude de des,
conûança generalizada" da Coroa "assume com relacáo a rodos seus agenres"". Toda-
via, o próprio auto¡ afirma náo "subestimar o pode¡ e a au¡oridade dos gor.ernadores"
afìnal suas arribuiçóes sáo consideráveisr2-
Essa interpretacáo de Caio Prado Júnior cosruma ser contraposta à de Raymundo
Faoro, como fez Lau¡a de Mello e Souza. no seu livro Desckssif.cados da Ouro. Para a
autora. enquanto Caio Prado Júnior destaca a jr¡acionalidade do sistema administrativo,
Faoro segue a linha oposra, descacando a ¡acionalidade L'. Se Caio Prado Júnior vé a
i¡racionaÌidade na confusáo da administraçáo colonial, faro que Faoro também aponraì4,
este vê a ¡acionalidade a parrir do uso que a mona¡quia parrimonial faz dessa adminis-
traçáo para transferir a ordem estamental porruguesa para a colônia. Portanto, ambas as
visóes podem ser proveitosamente confron¡adas.
Assim, deixando de lado o uso que a Co¡oa fez da administraçáo colonial e
as idéias deFao¡o e atendo-se parricrlla¡mente à administração propriamente dita,
podemos relativìzar as c¡íricâs feitas por Caio P¡ado Júnior e ourros autores, de
que o sisrema administrarivo fora transposco mecanic¿mente para a colônia, pois
como vimos, ele náo só sofreu consranres refo¡mas visândo a uma maior adequaçáo
à realìdade enconrrada, como rambém apresenra características próprias, das quais
a mais importante foi a criaçáo do Governo-gera1, que náo seguia nenhum modelo
metropoÌirano.
Nosso interesse, no âmbito deste trabalho, contudo, náo é pela estrutura ad-
ministra¡iva colooial propriamente di¡a, mas sim pela relaçáo entre a formaçáo
da elite colonial e a administraçáo das partes do Brasil nos primeiros tempos de
colonizaçáo- Ao cont¡á¡ìo de Cajo Prado Júnior, que analisava a adminìstraçáo a
parcir dos úhimos anos do período colonial, vamos aqui ap¡esentar um esboço do
que foi o governo da conquista no período, para, em seguida, no próximo item
deste capítuÌo, apresen¡a¡ a evoluçáo da es¡¡utu¡a adminisr¡a¡iva colonial ent¡e,
aproximadamente, 1530 e 1630, seguindo uma ordem cronológica, destacando as
mudancas ocor¡ides e os principais problemas enfren¡ados.

Iltidrn, p.299. Sol>re o poder dos governadores-geiais, vcja-se tanbém,{ntónio Manuel Hes-
panha.'A consriruição do Império Portuguôs- Revisáo de algLrns erviesamen¡os co¡ren¡cs"
in: Joáo Fragoso. Fernanda Bicalho e Maria de Fá¡ima Gouréa. O Antigo Regime nos Trópíca:.
Rro de Janeiro: Cn iìizacáo Brasileìra, 2001. p. 174 e seguintcs.
lt Caio Prado Júnior, Op. ch., p. 307-
)2 Ibiden, p. 3AB.Ycr sobre esta questáo o capitulo precedenre
r3 Laura de Mello e Souza. Duda:stfntlu do Ozra, 3' ed. Rio de Janei¡o: Graal, 1990. p. 92.
14 Ra¡-mundo Faoro, Os Dano-, lo Poder,2"ols.. 9" cd. S:o Paulo: Globo, 1991, p. 176.
137 Rodrigo Ricupero

Siscemarizando a esc¡ucu¡a administrativa colonial, podemos dividi-la, do ponro de


vise espacial, em uês níveis ou esfe¡as de atuaçáo, a inferior ou local nas vilas e cidades, a

incermediária nas capitanias e uma superior abarcando as partes do B¡asil unic¿¡iamente ou


divididas. Täl esquema na prática náo era rígido, náo impedindo, por exempio, que muiras
vezes a câma¡a da principal cidade ou vila de cerra capitania acabasse por interferi¡ no
governo de áreas muiro superiores ao seu próprio terrno, inclusive sobre áreas de capiranias
vizinhas, ou que as capiranias mais imporrances, como a de Peroambuco ou posceriormente
a do Rio deJaneiro, rcnmssem subo¡dina¡ as capitanias vizinhas
Já do ponto de visia funcional, podemos dividir a esrruru¡a administativ¿ em
grandes ramos ou á¡eas básicas da administ¡açáo, a sabe¡ o governo propriamente dito,
oucomodiríamoshojeoexecutivo,aFazenda,aJusdça,amilíciaouadefesaealgreja.
-A esrrutu¡a adminisr¡ativa responsável pela Fazenda era cotrrolada, ranro no
nível das capiranias como em seu conjunto, pela Coroa, Para ranto foi mon¡ado todo
um âpa¡a¡o) que conrava com o provedor-mor no topo, aÌixiliado pelo tesoureiro e pelo
contador e seus esc¡iváes, aré os provedores, feitores e almoxa¡ifes e seus subo¡dinados
nas diversas capicaniasit-
para a1ém das atribuiçóes das Câmaras com seus juízes o¡dinários,
A. Jusriça,
conreva com um ouvido¡ em cada capitania, indicado pelo donatário ou pela Coroa,
conlorme o caso, e, acima de todos, o ouvidor ge¡al. Com o desenvoivimen¡o da co-
lônia, o monarca ampliou crian,-lo o -fribunal da Relacáo. instância
superior que, funcionando nas partes do B¡asil, deveria dispensar os ¡ecursos à Lisboa
na maior parte dos casos, mas que no período náo conseguiu se afi¡ma¡t6.
Pa¡alelamente, o desenvolvimenro da colônia € seu incremento populacional
levaram, seguindo as normas expressas nas ordenaçóes do Reino a criaçáo em al-
gumas ou cidades da colônia de juizes de Órfáos e de provedores da Fazenda
'ilas
dos Defunros e Ausentes, esres encarregados de zelar pelos bens dos mortos e peÌa
execuçáo dos testamentos.
O ¡amo milita¡ da adminiscraçáo só surgiu como corpo autônomo em fins do sé-
culo XVl, ganhando destaque no XVII, com as gue¡las conrra os holandeses. Até entáo,
a defesa eraum ta¡efa confìada a rodos os moradores apros e comandada peÌos próprios
gove¡nan.es. Com a criação das ordenanças, a defesa ganha mais organicidade, mas ain-
da náo se cons¡irui enquanro ramo especializado. O aparato miÌitar começa a se delinear
na vi¡ada do século, quando os primeiros contingentes de soldados pagos pela Coroa sáo
enviados para guarnecer pontos mais impo¡tâtres da colônia e com eles se forma um

Sobre o assunro, veja*e Mozarr Vergerri de !Ienezes. Coloni¿lisno etn açáo, fscalisno, econa-
nia e soríeìade zø cøpítaùa da Plraíba (1647-115jr. Tese in¿dira ¿efendida na LÌnivc¡sidade
de Sáo Paulo em 200i.
Sruan Schrvanz, -B¡¡¡ocr¿ci¿ e socie¿l¿de na Brasí/ coloni¿l. S:ro Paula: Perspecriva, 1979, espe
cìalmenre a primeira parre.
A formacâo da elire colonial 133

co.po de oficiais das mais variadas patentes, mantendo-se, conrudo, a dependência do


auxílio dos mo¡ado¡es e dos indígenas aliados nas guerras coloniais.
A Igreja no ultramar porcuguês, graças ao regime do padroado régio por meio da
O¡dem de Cristo, tornou-se na prárica um setor da administraçáo, nomeado, dirigido
e pago pela Coroa, a quem devia satisfação pelos seus atos. inciusive sob ameaça de san-
çóes. Isso valia tanto para o clero secula¡ como, em pa¡re, para o regular, que também
¡ecebia subvencóes ¡égias e se associava em muitos câsos aos projetos da CoroalT.
Desnecessário aqui destacar o peso da Igreja e da vida religiosa nos séculos XVI
e XVII e sua importância para a sociedade da época. A Igreja ocupava um papel de
controle das popuiaçóes em geral, em especial com â Inquisiçáo. No ultramat a con-
ve¡sáo dos povos era o maior fundamento ideoiógico para legitimaçáo da conquista e
dominaçâo. A lgreja, na colônia, também possuía sua hierarquia: no topo o bispo da
Bahia, e, abaixo, os vigários nas diversas.'ilas e cidades. Poste¡io¡mente foram criadas
duas prelazias, uma pam o no¡teJ com sede na Pa¡aíba, e ourra para o sul, no Rio de
Janeiro- Sendo seus responsáveis designados administ¡ado¡es eclesiásricos, tais instân-
cias gozavam de ce¡ta autoûomia fienre ao bispo de Sah'ador, mas não possuíam todas
as prerrogarivas deste, mantendo um J/¿t J subalrerno.
Na ¡ealidade, o funcionamenro das diversas instâncias de poder, na colônia, e¡a
mais complexo que estes esquemâs) pois, em primeiro lugar, não havia uma sePârâçáo
dos poderes, como enrendemos hoje. Assim, o gor,ernador-geral, po¡ exemPlo, como
representânre do ¡ei e¡a o responsável em última insrância pelo que chamaríamos de
execurivo como pelo judiciário. O ouvidor geral, embora tivesse ce¡ta au[onomia, era-
lhe subordinado. Com a criação do tribunal da Relaçáo, embora o governador-geral
náo vo¡asse nem assinasse as sentenças, cabialhe o papel de regedor do tribunal, o que
lhe dar.a considerár,el poderrs.
Tampouco havia uma especializaçáo ou uma formaçáo especifica para cada um
dos ramos da administração, salvo. a lgreja. Dessa maneira, as Pessoâs podiam ser
empregadas em qualquer dos ¡amos e. muit¿s vezes, ao mesmo temPo, como, Por
exemplo, o capitáo de uma capitania pouco desenvolvida podia acumula¡ as funcóes de
ouvido¡, e o ouvidor geral serviu também durante vários períodos o posto de provedor-
mo¡. Até mesmo os membros da Igreja podiam se¡ chamados, em certos momenlos) a

- ;.br" *, ,t-r.*ft", Dr. Eugênio <le Andrade Yeiga. O: I'irotos no Brds,l no


" """.-,
Pcr;ado Calon¡¿1. Sakado¡: UCSAL, 1977 e ¡ambérn Caio Boschi. "Esr¡uru¡as eclesiásrìcas e
inquisiçáo" rn: Francisco Bethencou¡t e Kìrci ChaÁhur| H¡sttj¡í¿ da E4,ansio Poi'tuguesa.5
vols. Lisboa; CírcLrlo de Leiiorcs, 1993. vol. II, p.429 e seeurnrcs

l3 "Regimenro cia Relaçáo da Casa do Brasil' de 7 de março dc 1609, publicada por Marcos
Carneiro llendonça (o t.r.:), R'zízc: la Foîmaç'io A¿mi rttõ,tìI,ã ¿o Bldsll, 2 vols. Rio de Janei-
rol I nsti¡uro H;s¡órico e Geográfico Brasileiro, 1972,1, p. 386
Ú4 Rodrigo Ricupero

desempenhar outros papéis na adminisrraçáo, como, por exemplo, o bispo de Saivador


quc er¿ pre\enc¿ consr¿nre nos governos-gerai\ inrerinos.
No caso das funçóes milirares, a ausência de um corpo militar åutönomo no
período, rransformava todo os morado¡es em soldados, siruaçáo enráo reco¡renre
dado os enÊrenramenlos inerentes a uma regiáo de conquisra recente, cercada de
inimigos e sujeita a acaques exrernos. Para as mais variadas missóes de defesa ou de
novas conquisras, podíam ser designados quaisquer dos membros da administraçáo,
como p¡ovedores-mores, ouvidores gerais, bispos enrre ou[ros, exemplo disso sáo os
conhecidos casos de Cristóváo de Ba¡¡os, pro,'edor-mor, conquiscador de Sergipe,
deMa¡¡im Leiráo, ouvidor geral, responsável pela ocupaçáo da Pa¡aíba, ou do bispo
D. Ma¡cos Teixeira, que foi o grande comandanre da ¡esistência aos holandeses em
1624 na Bahiar'-
Outro aspecto impor¡anre éa falra de uniformidade adminisrra¡iva: cerros cârgos
são encontrados em algumas capiranias e náo em outras, sem qualquer lógica aparen-
re, ou ainda no caso das capitanias, com sedes muiro próximas, como Pe¡nambuco e
l¡ama¡acá ou Sáo Vicenre e San¡o Amaro, onde podemos encontrar pessoas servindo o
mesmo cargo em ambas as capiranias ao mesmo rempo.

A montagem da administração

À colonizaçáo das chamadas partes do Brasil, por Portugal, sob a égide da


monarquia colocou para a Coroa portuguesa, desde o início, o problema de como
organizar o governo da conquista.
Nesse sencido, antes mesmo da partida, em fìns de 1530, da expediçáo de
Martim Afonso de Sousa, primeira etapa do povoamento das novas Lcrras, o pro-
blema da adminis¡raçáo das novas ¡erras ¡ecebia sua primeira resposta. O rírulo de
capicáo-mor das terras, recebido pelo capitáo,mor da a¡mada náo e¡a meramenre
simbólico. Ma¡tim Afonso de Sousa era conremplado, confo¡me as palavras de D.
Joáo III, com "todo poder alçada me¡o misro império assim no c¡ime como no cível
sob¡e ¡odas as pessoas"lo.

Vanderle¡' Pinho, D. rØarcos -feixeíra, quinro bLpo do Bra:il. Lisboa: Ãgència Geral das Co-
lônias, 1940.
"Cana de poder a Marri¡r Alònso de Sousa, capìr5.o mor da :.rmada que vai ao Brasil..." de
20 de se¡emb¡o de 1j30, publicada por Carlos Malheìro Dias (Dìr.), Htstõria da Coloùzaçtia
Pornguesa ào Bnsil,3 vols. Po¡ro: Licografia Nacional, 1922, voi. Ill. p. 377 (Cicâda daqui
em diantc apenas como Høória. d¿ Coloaizaçáo PornLgue do Bra ).
A fo¡macáo da eli¡e colonial 1t5

Dessa forma, o monarca. no mesmo documento, mandava:

aos capiráes da dita armada (de Marrim Afonso de Sousa) e 6daigos, cavaleiros,

escudeiros... e todas es ourras pessoas... dc qr-ralquer qualidade que sejam que


nas diras rerras (do Brasil es¡ive¡em)... (que tenham) o diro Manim Alonso de
Sousa por capitáo-mor da dita a¡mada e terras e lhe obedeçam em tudo e por
rudo o que thes mandar e cumpram e guardem seus mandados... sob penas que
ele puser as quais com efeito da¡á derida execução nos corpos e fazendas daque-
les que o náo quiserem cumprirr!.

¡eti¡ada da chamada carta de poderes de Martim Afonso de


.A citacáo acima
Sousa dá bem a medida da amplitude do poder conferido ao rePtesentat¡e régio, que
podia, ao mesmo rempo, emirir ordens e julear possíveis desobediências. A Coroa deÌe-
gava ao caPitáo-mo¡ imenso conr¡ole sobre os t'assalos que aporrassem oâs novas rer¡as,
pois, além de ser o comandante das ope¡açóes militares, Mar¡im Afonso de Sorrsa era
o ¡espotsável pela justiça, sendo-lhe Pe¡mitido, rambém, segundo outros documentos
outorgados no mesmo momenlo, criar e prover ofícios e distribuir sesmarjas, corÌcen_
trando assim em suas máos o gove¡no complero da conquista
li
Se na documentaçáo olìcìal, Ma¡tim Afonso de Sousa é intitulado capìtåo-mor

da armada e capitão-mo¡ das ter¡as do B rasi), no Ditírio /tt N¿uegaçá0, escrito pelo trmâo.
Pero Lopes de Sousa, e principal relato de sua expediçáo, Ma¡cim Afonso de Sousa é
designado como "capitáo de uma a¡mada e governador da te¡¡a do B¡asjl"ri- Essa du-
pia designaçáo, o¡a capitáo-mo¡, ora governado¡ recorrente em rodo o período, expressa
a duplicidade das atribuiçóes de Manim Afonso de Sousa. Capitão-mor e gove¡nador
erâm, na verdade, as duas faces inseparár'eis do governo, que, utilizando uma linguagem
atual, poderíamos designar de militar e civil:i.

2I
22 "Carta de poder para o CePìtáo-mor criâr tabeliáes e mais oÊcìais da jusriça e "Carra para
o Capitáo mor dar terras de sesmarias', ambas de 20 de novembro de 1530 e pubJ;cadas na
Ht,/jría ¿a Colanízr¿!áo Porrttguesa d'o BøsÌ/, vol lll' p. 160.
Cf. Pero Lopes de Sou sz, Ditirìo àa Nauegaçá¿ (1530-1532), comentado por Eugênio de Cav
tro, com prefácio de Capistrano de Abreu. 2 vok. Rio de Janeìro: Leuzin-qer' l92Z I' p 87
Os termos governador € caPi¡áo ou câPitáo-mor de tal capitania aparecem' ern eeral' na
documenraçáo sem muito rigor, ora designado por ambos os rcrmos. ora Por Llm ou oÌrt¡o-
Conrudo. Tomé de Sousa era ao mesmo tcmpo governador
as ca¡tas de nomeaçáo sáo claras,
e câpìtáo da captania da Bahia, além de goternador-geraÌ das demais capìtanias e Salvador
Correia de Sá, por exenplo, era nomeado, em 10 de serembro de l57Z capitáo e governador
do Rio de Janeiro, ocorendo o mesmo com os donatários, assÌm D Brites de Albuquerque.
r.rúva de Duar¡e Coeiho, cra "capiroa" e governadora de Pe¡nambLrco. Dcssa forma, esses
136 Rodrigo Ricupero

Ambas as atribuiçóes e¡am essenciais e indissociáveis. O rículo de capiráo-mor


dava ao representanre do pode¡ ¡eal o comando supremo das atividades milita¡es de
conquis¡a e defesa do ¡e¡¡icó¡io, f¡ence às vá¡ias ameaças à soberania portuguesa. Já o
posro de governado¡, confe¡ia o exe¡cício das funçóes civis, ou em ourras palavms, a
administraçáo num sentido formâI, cujos aspectos cenlrais nesse período eram o exe¡-
cício da Justiça e o incentivo à produçáo e o conrrole das arividades econômicas.
Para ranto, essas ¿uas esferas do governo da conquisra exigiram, desde o início, a
mon¡agem de esüurura burocrárica para a primeira e, na falra de ¡ropas regulares, o en-
gajamenro dos moradores, sob a direçáo da adminisrração colonial, para a segunda.
O governo da conquisra ûáo se ¡esumia aos de¡ento¡es dos cargos administrari-
vos, nele devendo se¡ incluídos, por exemplo, os principais responsáveis pela execuçáo
das ta¡efas milira¡es e mesmo os responsáveis pelas missóes de exploraçáo re¡¡i¡o¡ial,
desigtados ad boc; o que náo impedia que pudessem exerce¡ ou náo, cargos formais da
adminisrraçáo, inclusive simul¡aneamente.
Dessa forma, podemos pensar a administraçáo colonial, ou seja, a escrurura
burocrática que ia dos governadores-gereis aos funcioná¡ios subafte¡nos da jusriça e
da fazenda espalhados pelas diversas capitanias, como o núcleo formal do governo da
conquista. Esce, por sua vez, abrangeria ¡ambém ourras esferas formais, por exemplo,
os memb¡os das câma¡as municipais, ou informais, os responsáveis pelas rarefas bé,
licas que surgiam a codo momento, feiras, porém, sob o conr¡ole e com manda¡o da
própria administraçáo colonial.
O desenvolvimento subseqüenre da colônia náo alteraria essa realidade, contudo
lhe da¡ia maio¡ complexidade, Se, no período logo posrerior a chegada de Ma¡rim
Afonso de Sousa, o governo da conquista era pouco maior do que a própria figura do

cermos indicam uma cerÉ divisáo eûrre âs rârefas civìs (governador) e milicares (capirão), náo
podendo ser exercidas separadamenre- Posreriormenre, a parrìr de Gaspar de Sousa (t6t2-
1617), os governadores-gerais pâssâ¡em a s€r capiráes gerais de toda a cosra, náo mais apenas
capiráes da Bahia, ampliando ainda mais seu poder. Assim, nesce rabalho, o rermo go\¡er-
nador e capiráo-mor seráo urilizados, respecrivamenre, para designar o governador-geral e os
capiráes das diversas capiranias. Cl os verbeces "capiráo" e "governador" em Ancônro de Mo-
r^es e Silve, Diccion¿io da Lingaa Porngu,eza. Rio de Janeiro: Fluminense, 1!22. (fac-símìIe
da 2" ed. de 1813). Para uma visáo geral, ,{nrónio Saldanha de Vasconcelos, O?. cit., p. t9I e
segs. e a carra de nomeaçáo do governador-geral Gaspar de Sousa, prbltcada em Carras para
Áluaro àe Sousa e Gagar de Sousa. Lishot: CNCDP e Rio deJaneiro: Minisrério das Relaçóes
Exteriores, 2001, p. 7Z Cl ainda Joaquim Veríssimo Ser¡áo, O Rio de Janeiro na século XVL
Op. rn.,I|,p.119 e Pereira da Cosra, Anau Pernambucanas, 10 vols. Recife:,{rquivo Púbtico
Escadual, 1951, l, p. 91.
A formação da elice colonial 137

capitáo-mor, com a criaçáo, pouco dePois, das chamadas capitanias heredi¡á¡ias, a


adminisrraçáo começou a ganhar maio¡ vultort.
Por delegaçáo régia, compeda ao donatá¡io, incitulado também de "capitäo e gover-
nador", ou ao seu aepresentaffe, o gove¡no da capitania de maneira geral, com destaque
para a execuçâo da justiça diretamenre ou po¡ meio de um ouvidor, dando lhe o rei jurisdi-
ção, como nos diz Frei Vicence do Salvador, 'ho c¡ime de ba¡aço e pregão, açoìtes e morte,
sendo o criminoso peão, e sendo nob¡e até dez anos de degredo; e no cível cem mil ¡éis de
¿lcada"r6. Além do ouvidot o dona¡á¡io poderia criar e prover oÍïcios como o de abeliáo
ou de alcaide-mo¡, cabendo-lhe ainda papel destacado na eleiçáo dos oficiais das câmaras
das vilas que fossem fundadaii- Cabia ainda aos donacá¡ios a ¡esponsabilidade pela defesa,

lanto conl¡a os natu¡ais da rc¡¡a como contra outres naçóes estrangeiras, bem como serem
"sesmeiros de suas terras", repartindo-as pelos moradores.

Surgia também nesse momento urna es!¡utu¡a administ¡ativa, vinculada di¡etamente à


Coroa, responsável pela Fazenda, panicularmente encarregada da cobrartça e arrecadat'o da
raxas e t¡ibu¡os e fisc¿lizaþo da exploraçáo dos monopólios régios- TaI estrutu¡a e¡a fo¡mada
basicamente pelos cargos de pro*'edor da Fazenda, de feior e almoxarife e por seus auiliares,
rodos indicados diretamenre pelo monarca, que deveriarn Prestar contas de suas arribuiçóes
em Lisboa, ma¡¡endo em ese autonomia com relaçáo ao donatário; porém' este r¿Jno teve,
nesse período, na maioria das capitanias, um funcionamento muito precá-rio2s.
Pa¡alelamente à constituiçáo das capitanias, a fundaçáo das primeiras vilas levou à
constituição das câmaraste, responsáveis pelo governo local, incluindo uma primeira ins-

Sobre as chamadas capitanias hereditárias, veja-se António de Vasconcelos Saldanha' ls raPl-


tanias do Bra¡i|.1' eå. Lisboa: CNCDP, 2001.
Frei Vicenre do Saitador. Histórza do Brasíl(1627), 5" ed. Sáo Paulo, Melhoramenros, i965' p'
lt2.
Veja-se, por exemplo, a "Doaçáo da Capitania de Pe¡nambuco-' publicada, enrre outros lu-
garcs, em Doaçõer e Forais das Cøpitanìa: do B,aríl (1534-1536), aPresertaçáo' transcriçáo e

noras de MariaJosé Choráo. Lisboa: Arquivo NacionaldaTorre do Tombo, 1999,p 11'


Sob¡e o funcionamento desse ¡amo, anres da criaçáo do Governo_geral, conhecemos
muito
pouco, salvo aLgLrns provimenros queencontram na Chancela¡ia de D Joáo III no 'Arquivo
se

NacionaldaTorre do Tombo. Veja-se, contudo, o "Regimento dos Provcdores das Capitanias


de rodo o Esrado do Brasil de como háo de se¡'¡i¡" de 17 de dezembro de i548 e publcado,
por exemplo, na colecá o Dacr'mentos Hìstljricas, 110 vols Rio de Janeiro: Biblioteca Nacionâl'
1928-55,vo|. 13, p.39.
Sobre o tema, vejam-se os trabalhos clássicos: C. R. Boxer' Portuguese socí€ty in
)e ttoPics'

the municípat rouncil: of Goa, Møcao, Bahia anl Luanda Madison: University of\lisconsin
lress, 1965; Afonso Ruy', Históïill ¿a Câmara Munícipal da cid¿de do Salndor S '¡aà'ot:
Câmara ì\4unicipal, 1953; Edmundo Zenha. O
u117c1Pio o Bias¡7 (1532-1700) S;o Paulo:

Progresso Edirorial, 1948 e Russell-\lood, "O governo local na Amé¡ica Portuguese: um


esrudo de divergência c \tlür21" i^: RelJisrd d€ H;sajri¿' vol- 55- Sâo Pauìo: USP, 1977, p 25
118 Rodrigo Ricupero

tância da justica, as quais se organizaram segundo as ordenaçóes do Reino, rendo seus


membros eleiros enue os principais moradores do rermo, os chamados "homens bons"io.
Po¡ Êm, vale lembrar que nesse momenro ainda náo exisria na coiônia um
seto¡ miiira¡ aurônomo, cabendo aos mo¡ado¡es em ge¡al as rarefas militares, e que
a es¡¡utu¡a eclesìástica ainda e¡a exrÍemamenre limirada, contando apenas com
vigários e coadjutores, e e¡a subo¡dinada reo¡icamente ao bispado do Funchal na
Madeira, mas que deveria gozar, na prárica, de ampla auronomiarr.
As dificuldades enf¡erradas e as ameacas à continuidade da presenca lusa nâs rer¡es
americanas leva¡am, como vimos anreriormente, a criaçáo do Governo-geral em 1548. A
Coroa, com essa medida, procurava assumir um papel de maior desaque no processo de
colonizaçáo, tarefa antes legada quase que exclusivamente à parricuÌares3r.
O entendimento, pela Coroa, de que as diversas capicanias espalhadas ao
iongo da cosra possuíam uma unjdade ¡e¡¡iro¡ial e que era necessárìo cent¡aliza¡ e
coo¡dena¡ o esforço coloniz-ador pa¡a superar os obstáculos encontrados, ievou ao
estabelecimenro do Governo-geral e, pouco depois, à criaçáo do bispado de Salva-
do¡ em I5jt, ambos aba¡cando todas as chamadas partes do Brasil.
Intirulado governador-geral, o represenranre régio recebeu, como con¡a Frei
Vicenre do Salvador, "grande alcada de poderes e regim€nro em que (o rei) quebrou
os que rinha concedido a ¡odos os ourros capiráes proprietários, por no cível e crime
lhes te¡ dado demasiada alcada", além disso, permiria que o ouvidor geÉl enrrasse
nas rerras dos donarários em correiçáo, siruacão ante¡io¡menre vedadai3.
Do ponro de vista adminisrrarivo, a constituicão do Governo-geral acarrerou
duas conseqüências imporranres.,{ primeira foi a alteraçáo da forma descentralizada
vigente nos prìmeiros anos da colonizaçáo, e a segunda, em parre decorrenre da pri-
meira, um substancial desenvolvimento da adminis¡¡acáo colonial, que ganhou maior
complexidade com o surgimenro de diversos órgãos e cargosjl.
O novo sisrema náo alte¡ou a an¡e¡io¡ es¡ru¡u¡a funcional das capiranias, cons-
riruindo instância ince¡mediária enlre Coroa, sem que, com isso, o conaaro
essas e a
direto enrre as capiranias e o ¡ei ñsse impedido. -4. criaçáo do Governo,geral, conrudo,

Cl Os rÍrulos XLIIII, XLY eXLYI das Ordenaçõ¿s Mã u¿in¿s (15t4). 5 r,ols. Lisboa: Calous-
re Gulbenkjan, 1984, respecrivamence, p. 286, 314 e 322 do p¡imeiro volume.
Sob¡e o assunto, ver Monsenhor Dr Eugênio de Andrade Veiga, 02. ¿¡¡ c \laldema¡ M¡rcins
Ferrena, Históri.¿ rla Díreito Btußil¿irc,.4 vols. Sáo Paulo: Frer¡as Bas¡os e Max Limonad, 1951-
56, Il, p. 160.
J2 Veja-se o irem: 'À criacáo do Governo,geral" no 3. capírulo desre rrebalho.
Frci Vicenre do Sai"ador, Op. dt., p.160. ,{ mesmâ rdéìa em Gabriel Soa¡es de Sousa, i?¿¡¿l¿
destrirlu ¿lo Brasi/ etn 1j8l Sáo Paulo: Companhìa Editora Nacional, 1982 p. t2S.
Sobre o assunto, r-eja-se Francisco Ca¡los Cossenúno. Gauenndores-gerai¡ do Exado do ba:il
(sénlo XVI e XVII): ofcio, regim¿rúot goreftt.tçáa e tî/jjetóîi.ß tñé¿,ra delendida na Unì-
Gese
versidade Federal Fluminense em 2005).
A fo¡macáo da elire coLonÌal i39

deu unidade polírico-administratìva às capiranias anres dispersas, unidade que viria


a se¡ conhecida posreriormente como Esrado do Brasil, no qual o governador-geral,
¡epresen[anre direto do monarca e auro¡idade máxrma, era a figura central, a quem
todos os vassalos deve¡iam obedece¡ nos termos do seu regimentoit.
Cent¡aliza¡am-se também as outras esferas da admìnistraçáo. Para tanco, o go-
vernador-geral trazia, como auxiliares, o provedor-mor e o ouvidor geral, que Passaram
a coordenar e a supervisionat ¡espectivameûte, as atividades da Fazenda e da Justiça,
conr¡olando e fiscalizando, em maio¡ ou menor medida, a atuação dos provedores,
ouvido¡es e de out¡os oflciais estabelecidos nas diversas capitanias; com uma varìedade
de auxilia¡es de maiot ou menor ¡eÌevo fixados em Salvador'6.
O governador-geral também trazìa, como auxiliat o capitáo-mor da cosca, que
por enrrar na área de aruaçáo Por excelência do governador, ou seja, a guerra. nao ga-
nhou a ¡elevância dos dois out¡osii, Completando tal arranjo, a criaçáo do bispado do
B¡asil cen¡¡alizou a hierarquia eclesiásrica, ampliada com a criaçáo do Cabido da Sé de
Salvado¡i8. Parte importante das carefas administrativas, como, Por exemplo, o con-
t¡ole dos funcionários da fazenda, passaram a se¡ realizadas no próprio espaço colonìal
e náo mais na Merrópolelq.
O modelo inaugurado por Tomé de Sousa sof¡e¡ia constantes adaptaçóes e re-
formas, sem contudo alterar os aspectos centrais da construçáo. Tais mudanças foram
ditadas pela ampliaçáo da área ocupada, pelo aumenco populacìonal e pela crescente
ameaca estrangeira, bem como por tentativas de dota¡ a máquina admínisrrariva de
melhor desempenho, e podem, em grande medida, ser percebidas pela anjlise dos do-
cumentos encont¡ados nas chancela¡ias ¡égias do período
,Após a montagem inicial da administ¡açáo, entre 1548 e 1549' a estrutura fun-
cional foi constantemente aherâda; cargos foram criados ou extintos ou seu exe¡cício
¡efo¡mulado, muitas vezes com uma tova divisáo de jurisdìçáo temática ou regional,
na tenrativa de adequar-se ao desenvolvimeoto da coÌônia-
O próprio Tomé de Sousa, responsár'el pela monragem da máquina adminis-
t¡ative, em carta ao rei, esc¡ita no período final de seu governo, recomendar'a uma

35 "Regimenro de Tomé de Sousa" de Ì7 de dezembro de 1548' publicado na 'rlz


¡t/'t;n l¿ Colo'
nizaçáa Porngtesd do Êrastl,rcL III. p.345.
36 'Regimenro do Provedor-Mo¡ da Fazenda dc ei-rei Nosso Senhor desras partes do Brasil" de
I7 de dezeml¡ro dc 1548, publicado na cit ada coleçâo Dacu-neittos Hittóricos' OP rl¿' vol l3,
p. 179. Náo se conhece o regrmenro do ouvidor gcral'
37 Cf. "Ca¡ta de Pe¡o de Góes, caPitâo mor do Ma¡ e Costa do Brasil" de 9 de j""ei'o de 1549'
publrcado na coleçáo Documentos Histó¡icos, ap c;t 'sol 3i, p 5
38 Ver !7ãldcma¡ Fer¡eira, O? c¡t.,P.16C
39 O já citado "Regimento do pro.-cdor-mor" instruía, por excmplo, que os provedores das capira-
nras deveriam ir após cinco anos no exe¡cício do cargo presrar contas dianre do provedor-mor'
140 Rodrigo Ricupero

série de medidas de ajusre. Para o primeiro governador, os cargos de ouvidor geral


e de provedor-mor e os de tesou¡ei¡o geral e de almoxarife do armazém e manri-
mentos deve¡iam se¡ exe¡cidos pela mesma pessoa, mantendo-se, porém, a separa-
çáo funcional, pois ainda náo havia r¡abalho suficiente que.juscificasse o ere¡cício
separado. Tomé de Sousa também sugeriu a exrinçáo do cargo de capiráo-mor da
cosra, provavelmente por achar que tal tarefa lhe cabia. ,4.1ém do pouco rrabalho,
argumenrava, em defesa de suas proposr¿s. que os ajustes permitiriam uma econo-
mia nos salá¡ios pagos. Os argumenros fo¡am suficientes para que rais sugesröes
fossem acatadas pelo monarca. Após um período, em que foram exercidos pela
mesma pessoa, os ca¡gos, por exemplo, de ouvidor geral e p¡ovedor-mor vokaram
a ser separados4o.
Nos anos subseqüentes, .iá no governo de Mem de Sá, our¡as inovaçóes foram
sendo in¡¡oduzidas, com o surgimenro de novos cargos: como, por exemplo, o de
mamposreiro-mor da rendÍção dos carivos, responsáveis pela arrecadaçáo de uma
conrribuiçáo, como o próprio nome indica, para o resgare dos carivos, ou o de
lesou¡ei¡o dos defuntos, indicando que o desenvolvimento das capitanias, encåo
exisrerres, já exigia uma melho¡ divisão de ra¡efas.
Por ourro lado, a expansão da colonizaçáo portuguesa pela cosra atiânrica para
além das capiranias primitivas limitou-se, nesse momento, à conquisra do Rio deJanei-
ro, com a expulsáo dos franceses e a der¡oca dos índios que os apoiavam. A consolidaçáo
da conquisra exigiu a crìaçio de uma nova câpilania régia, sendo necessá¡io também
c¡ia¡ esr¡uru¡a adminisrrariva, ou, nas palavras de F¡ei Vcen¡e do Salvador "Fundada,
pois, a cidade (do Rio de Janeiro) pelo governador Mem de Sá em o diro oureiro, or-
denou logo que houvesse nela oficiais e minisr¡os da milícia, justiça e fazenda"',r. Esra
esrrurLrra, porém, seguiu, sem maiores inovaçóes, o modelo já adocado nas demais
capiranias.
De maio¡ importância, contudo, foi a implementacáo, nas parres do Brasil, do
regimento das Ordenancas, instiruído na parce 6nal do reinado de D. Sebâsriáo (15i7-
1578) e válido ranro no Reino de Porrugal como em todo Impérioar- Esre regimenco
regulamentava a organizacáo das rropas auxiliares, arregimenrando o conjunro da po-

40 "Car¡a de ilomé de Sousa" de 18 de julho de 1551, publìcada ia Hbùtth da Colonizaç,io


lII, p. 315. Exemplo dessa consrante adapração é o regimento do
Partuguesa do Bra¡il, vol.
governador-geral Lourenço da Veiga dedicado exclusivamenre à ¡eforma do aparelho gover-
namenral. Cl "Regimenro que levou Lourenço da Veiga" de 6 de maio de 1572 pubLicado na
Reui'ta ¿/o l stiîuto Hisaírico e Geográfro Bra:ileíro, rcno LXYII, p.204.
4l Frei Vicenre do Salvador. Op. crt., p. 190.
42 Sobre o cema, ver Nanci Leonzo, 'As Companhias de Ordenanças na epiraoia de Sáo paulo',
in: Coleçáo Museu Paulisra - Série Hrs¡ória vol. 6. Sáo Par o: Unir-ersidade de Sáo paulo,
l97Z Joaquim Romero de Magalhaes, Na I lurete¡ da Modernidale. Lisboa: Esrampa, s/d.,
l1l e Chrisriaoe Figueiredo Pagano de Mello. Os corpos auiliares e dz ordenønca¡ na
p- 110 e
A formaçáo da elire colonial 141

pulaçáo mesculina para uma espécie de serviço militar permanenre, que incluía tam-
bém exercícios regula¡es e atividades de vigilância nas áreas costei¡as¡3.
O regimenco instruía que os capitáes-mores deveriam, de maneira geral, ser elei-
tos pela Câmara e "mais gente da governança" entre as Pessoas principais e teriam a
arefa de fazer o levan¡amento do núme¡o de pessoas etiscences no lugar e dividi-Ias
em esquadras de 25 pessoas, em número de dez, indicando também o cabo responsável
por cada esquadra. Assim cada companhia deve¡ia te¡ 250 homens, contando ainda
com um alfe¡es encarregado de leva¡ a bandei¡a, um sa¡gento, um meirinho, um es-
c¡iváo e dez cabos, além de um tambor, escolhido dent¡e os criados do capicáo-mor. Já
os mo¡ado¡es mais ¡icos, possuidores de pelo menos um cavalo, organizariam-se em
companhias própriasaa.
Tais tropas teriam grande ¡ele"'o na o¡ganizaçáo militar da colônia, pois, na
ausência de cropas regulares de maio¡ vulto até meados do século XVII, e¡am os
mo¡ado¡es que cumpriam a quase totalidade das ta¡efas bélicas.,As otdenancas, na
¡ealidade, deram, no caso das partes do Brasil, organicidade a uma siruaçáo que
na prática já existia, mas acaba¡am também legicimando o cont¡ole dos poderosos
locais sob¡e o conjunto dos moradores, graças ao conjunro de poderes conferidos
aos seus oficiais, inclusive de puniçáo aos mo¡adores que náo cumprissem as ta¡ef¿s
exigidas.
Varnhagen atribuiu a Mem de Sá, Falecido pouco depois, em 7572' aimplemema-
çáo do regimento, contudo sem da¡ maiores detalhesat. De qualquer maneira,
sabemos

que, na década seguinte, as forças Portuguesas envolvidas na conquista da Pataíba já


se organizavam segundo o regimento e contavam com duas companhias para Olìnda,
uma para o Cabo de Santo A.gostinho, uma para Iguaraçu e duas de me¡cadores, além
da "boa gente de cavalos" que ia em out¡as t¡ês e dos reforços de Itamaracá também
organizado numa companhiaaG.

vgunda metade do século XVIII: RJ, SP e MG. Tese inédìta defendida na Uni'ersidade Federal
Flumineûse em 2002.
43 O "Regimento dos capitáes-mores e majs cåPitáes e ofrciais das companhias da genre de
cavalo e de pé e da ordem que te¡áo em se exercitarem" de l0 de dezembro de 1570, complc-
(Ed )'
menrado em l5 de maro de 1574, foi publicado, enrre outros locais' porJaime Conesáo
Pauliceat Lasitana Monume t¿ H^torícø,2 partes em 3 vols. Rio de Janeiro: Real Cabinete
PortugLrês de LeìtLrra, 1956'61, rcmo I, p. 373.
44 Ibiden.
45 Francisco Adolfo de Varnhagen. História geral do B¡âsil, 5a ed. Sáo PaLrlo: Melhoramenros'
1956,1, p.346.
Cf "Sumário das Armadas que se 6zeram deram na conquista do rio Paraí'
e guerras que se

ba", publicado na Razlsta do Inltituîo Hrstózia e Geogtáfco Btasileiro' tomo XXXVI' 1873' p
33, cuja autoria atribuída ao jesuíta Simáo Travassos, ver sob¡e o remaJosé Honório Rodri
é

g'es. Hi't¡jria ¿a Histórí¿ do Brasil. 3 .¡ols. Sáo Paulo: Companhia Edito¡a Nacional, 1979,
117 Rodrigo Ricupero

.{s o¡denancas e¡am uma fonce de discinçóes e de consolidaçáo do poder local,


pois eram chamados a ocupar os mais ìmporranres posros nas companhias formadas
os mais descacados moradores; cabendo na colônia a rarefa particula¡menre aos senho-
¡es de engenho, que, além de legirimarem seu poder sobre a populaçáo local, ainda se
aproveitavam dos incencivos conferidos pelo regimento, compensando, âssim, o consi-
derável gasro qùe tinhanÌ de a¡car com a própria fazenda em a¡mas ou em unifo¡mes
e bandei¡asli.
Outra inovaçáo imporcanre, mas efêmela, por sua cur¡a duraçáo, foi a divisáo
do Coverno-gerai em dois, após a mo¡re de Mem de Sá, emre 7572 e 157l, com os
governadores Luís de Brico de Almeida para o No¡re e An¡ônio de Salema para o Sul,
respectivamence sediados em Sahado¡ e no Rio de Janeiro. Regisrre-se, porem. que a
divisáo náo apresenrou mudanças significarivas na esr¡uti¡¡a admiristrativa, apenas
se c¡iou no Rio de Janeiro uma esrruru¡a análoga a erráo exisien¡e em Salvado¡
posto que de menor vulto-
Após 1580, já sob a Llnião Ibérica, a administ¡acáo colonial ganhou maior com-
pÌexidade, fruto principalmenre do desenvolvimento das capiranias exisren¡es, inclusive
populacional, da ampliaçáo do re¡¡i¡ó¡io e da crescente ameaça bélica das poréncjâ5 ri,
vais, com holandeses e ingleses .juntando-se aos franceses, aré enráo os mâio¡es inimigos
exre¡nos ao domínio porruguês das partes do Brasil.
Esca complexidade maior da adminisrração pode ser veriÊcada na ampliaçáo gra-
da¡iva dos vá¡ios ¡amos da adminisrraçáo coloniai durante o reinado de Filipe I de
Portugal (1580-1598), particularmenre no surgimento de um ¡amo miiita¡ da admi-
nistracáo, com r¡opas regulares e oficiais providos pela Coroa e com a c¡iacáo de novos
postos, como, por exemplo, o de sargenro,mor do Esrado do B¡asil4s.
As diÊculdades, resse momenror em adminisrrar adequadamenre a justica no espaço
colonial, em vinude do aumenro da populacão e do desenolvimento do comércio, levaram
à tentativa de insalaçáo do T¡ibunal da Relaçáo do Brasile. O inrenro contudo f¡acassa¡ia

p. 450. Ou ainda cm F¡ei Vicen¡e do Sal'-ado¡, Op. rìt., p.266. Regisrre-se, conrudo, tluc
praricemenre todas as rnlormaçóes de Freì Vrcenre do Salvador sobre a conquisra da Paraiba
sáo retiradas do "Sumário das Armadas'-
''E para que os caprtáes das companhias c os alfires e sargentos delas lolguem mais dc scnir os
ditos cargos, e por lhes fazer mercê: hei por bem, que cada unì deles goze e use do privilégio
de cavaleiro, posro que náo seja". Cl 'Regimenro dos cap;ráes mores e mais capiráes e oÂciais
das companhias da gcnre dc cavalo e de pé e da ordcm qu€ reráo em sc exercira¡em" de 10 de
dezembro de l>70, cornplemenrado cm 15 de maio de 1574, pubÌicado po¡ Jaine Corresáo
(Ed.). Pauliceøe Lu:itan¡ Motnznento. Histori¡¿. ap. cir., rcmo I, p. 392..
"Provìsáo de.{nrônio de Magalháes de sargenro-mor e capiráo do B¡:sil" de 19 de marco
de 1588. Ârquivo Nacional da Tor¡e do Tombo, Chancelaria de Filipc I, Doacóes, oticìos e
me¡cês, Lir'¡o lZ ll. 165.
( r. \rLrr t 5. lrsan/. Up.,r .. c,pe( ial ìec(< ¿ prinreir. pJr'..
A forrnação da elite colonial r43

após a p¡omulgaéo de seu ¡egimento em 1587 e o provimento de vários de seus memb¡os,


pois, como conta F¡ei Vicenre do Salrado¡, "por náo vir o chanceler e meis colegas se náo
a¡mou o uìbunal nem e.l-rei se cu¡ou entáo disso, senáo só de mandar governadoi'io. Assim,
o insùcesso da viagem da frora que trazia o novo governado¡-ge¡aÌ Francisco Gi¡aldes e os
magisuados, impedindo que a maioria desses aportasse nas te¡¡as da colônia, acabou por
posrergar a instalaçáo da Relaçáot'.
A idéia náo foi completamente abandonada em 1609, a Re-
e alguns anos depois,
Iaçáo do Brasil começou a funciona¡ em Salvado¡ "com muitos desembargadores:r (..)
os quais determinam e decidem causas de todo o Escado do Brasil, com alçada em bens
móveis aré três mil, porque passando da dita quantia dâo apelaçáo para a Relaçáo da
cidade de Lisboa", na explicaçáo de Brandônio para Alvianoij-
A Relaçáo da Bahia teria surgido, ainda segundo as palavras de B¡andônio, como
resposra dos "mo¡ado¡es de todo este Estado (que) se achavam molestados e agravados
das insolências de que usavam os ouvidores gerais, que antes da Casa tìnham à admi-
nisrraçáo da justiça em suâ máoJ (assim) por se livrarem de táo pesada carga" acabaram
por pedir ao rci cúaçeo do r¡ibunalt¡. Essa e¡a também a opiniáo dos oficiais que
^
serviam na Câma¡a de Salvador em 1610, que, em certa ao rei, agradeciam a efetiva
instalaçáo do tribunai, dado que, para eles, "a principal causa da miséria que este
Estado chegou (-..) foi a suma licença com que os governadores usaram de seu poder,
confede¡ando-se com os ouvidores gerais", dai, concluíssem pedindo eo monarca que
os governadores fossem privados de Possibilidade "de nomear ofícios da Casa (da Re-
laçáo) e os mais da justiça e fazenda em seus criados" porque dessa forma admitia-se
novamenre os mesmos tnconvenientes que se pretendia remediar¡t

i0 Frei Vrcenre do Salvadot, OP. cit., p.310.


i1 CÊ "Consuha do Desembargo do ?aço, sobre a formaçáo da Relação do Brasrl e nomeaçáo de
le¡rados" dc l5 de fevereiro de 1i90. Biblioteca da Aiuda' Consultas do Dcsembargo do Paço.
códice 44 XIV'04 t 043 v
i2 Precisamente com 10 descmbargadores- sendo que um deles ocupava o posr" 'ì"h"nceler'
além de outros funcioná¡ìos mcnores' como escri\'áes, Porteiros, meirinhos entre ou¡ros
i3 Diálogos ¿¿r Gr'/1rut¿zâ' ¿o Blø'sit061'8| 1' ediçáo inregral segundo o apógrafo de Leiden por
José ,A.ntonio Gonsalves de Mello Recife: ImPrensa Universitária, \962, p' 31 4 obra é arrj
buid.¡ " Âmb,ó'io fcrn¿nd"' Br"ndio.
54 lb;den. p. 3r e 32
55 "Car¡a da Camara da Bahia agradecendo a cl-rei a mercê que lhc Êze¡a em f"'ma¡ Casa de
Relaçáo naqLrela cidade" de 27 de janeìro de 1610 Arquivo Nacional da Torre do Toml¡o'
Corpo Cronológico. I'a¡te I, Maco 115. documento 104 O mesmo tom cscÂria Preseûte num
documcnto anônimo. posterio¡ à recuPerâçáo de Salvador em 1624' que, na rlcfcsa da Rela-
jusriça portlue no
çáo. clamava: "Sua \4ajesrade rem obrìgacáo de mânre¡ a seLrs vassalos cm
Êsrado do B¡asil náo havia, náo podia haver havendo um só ouvidor gera1"' pooderando que
"sc os governadorcs, seus sec¡ctários e criados havendo relaçáo a lisra dela comerem tantos er-
144 Rodrigo Ricupero

Contudo, a exiscência do c¡ibunal na Bahia náo era ponto pacífico. F¡ei Vcenre
do Salvador relara a polêmica enrre a populaçáo, afinal uns diziam "que fossem bem
vindos os desembargadores, outros que nunca eles cá (viessem)"t6. F¡ei Vcenre do
Salvado¡ ac¡edirava que a maior rapidez nos negócios "que danres um só náo podia
ter" e¡a morivo suficienre para aplacar as queixas, salvo os eclesiás¡icos que sofriam
com o exc!'sso de zelo na defesa da jurisdiçáo real frente à da lgreja. No que se enga-
nou, pois, nas palavras de Diogo de Campos Moreno, "nesta cidade (do Salvador) se
rem a Relaçáo po¡ coisa pesada e náo muito conveniente, pela narureza dos pleitos,
pelo pouco que háo de faze¡ neles"t7. Para o sargenro-mor Diogo de Campos Moreno,
o excesso de magistrados, somados ao corpo do cabido da Sé de Salvador, seria dis-
pensável numa "terra nova, remota e f¡onreira, que até o ano de 1604 foi acomerida
quat¡o vezes de a¡madas inimigas". B¡andônio, personagem cenual dos Ditíkgos das
Grandezø¡ do Brøsil de Ambrósio Fe¡nandes B¡andáo, senho¡ de engenho na Paraíba,
reforça as c¡íricas, apresenlando argumenros variados, como a faka de pleiros e a maior
facilidade de se acompanharem os processos em Lisboa, inclusive com menos custos,
pois basraria mandar um "caixáo de açúcar", ao conr¡ário de Salvador, onde se¡ia ne-
cessário dinheì¡ci3.
Tais c¡íricas su¡ri¡am efeiro e alguns anos depois, em 1626, a Relação do Brasil
foi abolida, sob justiÊcariva de qlre os recrìrsos gastos com o ¡¡ibunal eram neces-
a
sários para a defesa da colônia, siruaçáo que perduro:uaté 1652.
Nos últimos anos do século XVI, a expansão te¡¡irorial em ¡irmo acele¡ado fez
que as novas áreas incorporadas ao te¡¡itório sob con¡¡ole português fossem organiza,
das em capitanias régias, seguindo a estrulu.a adminisr¡a¡iva das demaís- Tai soluçáo,
no caso da Pa¡aíba, é compreensível, afinal a Co¡oa náo rinha nenhum inreresse em
ceder o novo .e¡rirório, conquistado por uma expediçáo comandada pelo ouvidor geral
Ma¡rim Leiráo, aos donatá¡ios da vizinha capirania de I err\eracâ, entáo a úl.ima área
ocupada pelo. porrugueses em direcäo ao norre.
Já no caso de Sergipe e do Rio G¡ande, a explicacáo náo é táo simples. Sergipe,
por exemplo, Êcava denrro da área original da capitania da Bahia, já incorporada ao
parrimônio régio, po¡tanro náo corretia o mesmo risco de set teivindicada por algum
donatá¡io- Assim, possivelmenre, os goverDos responsáveis pela conquista, tanro de
Sergipe como do Rio G¡ande, opraram pela consriauiçáo de novas capiranias reais,

cessos quanro sáo norórios que lará náo har.endo", afìnaÌ para os autores o "governador-geral e
ouvidor geral sáo como reis" com poder absoluro. "Razáo dos mo¡adores da Bahia para que sc
conserve a Reiaçáo". Biblio¡eca Nacional de Lisboa, Reservados, Coleçáo Pombalina, códice
647, fl.69.
i6 Frei Vicenre do Salvador, Op. cit., p.361.
57 Dìogo de Campos Moreno. Op. crt., p.147.
i8 Diákgos àas Grandezas do Brasil, Op. rir., p.32.
A formação da eiite colonial 145

como fo¡ma de exe¡cerem um con¡role maio¡ sobre as mesmas. Sergipe teve seu
capitáo-mor e demais funcioná¡ios nomeados di.etamente pelo governador-geral até
por volta de 1610, quando enrão comecaram a ser p¡ovidos direramente pelo monar-
ca. Embora tal fato náo tenha ocor¡ido com o Rio Grande, sua situaçâo de f¡oncei¡a
conferiulhe excepcional ¡elevo milira¡ até, pelo menos, a conquisaa do Ma¡anháo
em 1612-14, obrigando que ali fosse alocado um expressivo contingenre de soldados,
bem como erguida uma das mais importantes fortificaçóes da coÌônia, o que obri-
gava constante assisrência do governador-geral, enviando suprimen(os e ¡efo¡ços, o
que poderia justificar a constituiçáo de uma capitania independente, impedindo sua
incorporacão na capitania da Paraíba, entáo em franco desenvolvimenro.
Nos primeiros anos do século XVII, duas inovaçóes administrarivas, posro que
eême¡as, merecem ser lembradas. A primei¡a foi a nova tentativa de divisáo do Estado do

Brasil, entre 1608 e 16i2, com a criaçáo do chamado "dist¡iro das minas" (São Vcente,
Rio deJaneiro e Espírito Santo), entregue a D- Francisco de Sousa. O antigo governador-
geral, agora go"'ernador independente da parte sul da colônia, com a ta¡efa de des-
"'inha
cob¡i¡ os ambicionados metais preciosos, porém enconlrou a mo¡te anles de enconlra¡ as
minas, cabendo a seu filho o governo do disuito por breve período até a reincorporaçáo
desse ao Estado do B¡asilte. Tal expediente, poste¡iormenre, serìa aplicado alguns anos
depois, com Salvado¡ Cor¡eia de Sá, sem que os anseios da Co¡oa fossem alcançados, o
que acabou le.'ando, após curto período, a uma nova reunìficacáo6o.
A. segunda inovação, também de curta duração, foi a consricuição da Junta da
Fazenda enviada à colônia, em 1613, com objecivo precípuo de cobrar as dívidas com
a Fazenda Régia. A amplitude de seus pode¡es levou ao conflito com Gaspar de Sousa,
sob¡e os gastos efetuados pelo governador, e ¡ambém com os oficiais da Câmara de
Olinda, sob¡e o controle da imposiçáo dos vinhos. Para o governador, tal Junta seria
um empecilho ao governo, pois seu excessivo cottrole sob¡e as finanças impedia a re-

Cf. "laslado da carta de governança do senho¡ D. F¡ancisco de Sousi' de 2 de janeiro de


1608 e "Traslado do alvará da administraçáo do Estado do B¡asil do senhor D. francisco de
Sousa" de 28 de março de 1608, pr:blicados no Rrgzirza Geral d¿ Cân¿ra Municipdl ¿e Sna
Paula. Sâo PauJto: Arqtivo MLrnicipal, 1912 vol. I, p. 188 e 190.
Salvador Correia de Sá, contudo, náo parece ter recebìdo os mesmos poderes qre D Fmn-
cjsco de Sousa. Cf, "lnstruçáo e Regimenro tminutâl de que há de usa¡ Salvado¡ Co¡reia de
Sá que Sua Ma¡estade tem encarregado da averìguação e beneficìo das minas da capirania de
Sáo Vicenre" de 2 de oLrrubro de 1613, publicada porJaime Cortesão (ed.). Pauliceae Lusitana
Monumenta Histor¡¡a, tomo II, p. 78 e "Regimento que trouxe SaÌr,ado¡ Correia de Sá sobre as
minas das partes do sul" de 4 de novcmbro de 1611. Biblioreca Públjcå de Évorâ, Cód. CXV
/ 2 3 'Livro Dourado da Relaçáo da Bahia, Â. 308 r:
146 Rodrigo RicuPero

alizaçâo de rarefas, como, no caso, a conquista do Ma¡anháo, fato que provavelmenre


foi decisivo para sua extinçáo em 16166'-
Nesse período, a expansáo ¡e¡¡iro¡ial em direçáo ao norte ganhou novo ímpero- Ins-
rigados pela presença francesa, os portugueses mobiliza¡am suas forças e depois de derrota-
rem os dvais, ocuparâm o Maranháo e, logo em seguida, o Pará, encerrando a conquista da
chamada Cosra Lesre-Oeste, ou seja, da ¡egião enrre Natal e Belém do Pa¡á.
Po¡ meio dos p¡ovimentos de cargos enconcrados nas chancela¡ias régias do pe-
ríodo, podemos ,.erificar a organizaçâo adminis¡rariva das novas á¡eas Surgem as ca-
pitanias do Ma¡anháo do Pará, mantendo-se, como de praxe, a es¡¡utura vigenre nas
e

demais capiranias, com seus cargos de governo, fazenda e iustiça, além dos militares.
Po¡ fl¡n, a úl¡ima alceraçáo significativa, dentro do período aqui estudado, foi a
criaçáo do Es¡ado do Ma¡anháo, diretamente subo¡dinado a l,isboa, dividindo-se o
espaço colonial em duas á¡eas em 1621, efecivada em 1625, que, porém, náo alterou
o esquema adminis¡rativo adotado, pois o novo gove¡no simplesmente se estruru¡ou
de fo¡ma simila¡ ao sediado em Salvado16r.

O papel da Coroa

Na falta de esrudos monográficos sobre a administraçáo, ganharam destaque


os grandes temas. Assim, a relaçáo entre o Estado e a população local na colonizaçáo
do Brasil sempre esteve p¡esente na historiografia, parricularmente a ¡elacionada ao
debate sob¡e o carácer feudal, ou náo, da colonizaçáo, pois os defensores da primeira
hipótese organizavam seus esquemas inrerpretativos a partir dos grandes senhores
rurais, do latifúndio ou da família pacriarcal, minimizando a açáo da Co¡oa e da
adminiscraçáo colonial; ao passo que parce dos que rejeitaram a idéia feudal procura-
ram destacar a imporrância da açáo do Estado no p¡ocesso de colonizaç.io.
Vejamos um pouco mais de perto esse debate, an¡es, contudo, regisrre-se que
dados os limires desre tópico, náo pretendemos entrar aqui na discussáo sob¡e a
definiçáo de feudalismo ou de capiralismo, em parte já abordada ante¡iormence.
Ressalte-se apenas que, dentro do grupo dos que defendem a idéia de feudalismo ou

Sob¡e o rerna, veja*e Guida Marques, O Esrado do Brasil na Uniáo Ibé¡ica. Dinâmicas
poliricas no Brasil no rempo de Filrpe II de PorrugaL" (Texto em lase de pubÌìcaçáo na Reztra
Pe ¿lape, geûtìIñer\te cedido pelo prof- Pedro Cardim).
Cl. Lucinda Saragoça. Dø "f¿liz /tß¡tá4í/t" ãos confns cla Anërita. Lisl>oa:
Cosmos,2000, p. i9.
A formaçáo da elire coionial 147

de capitalismo, enconrramos opinióes absolutamente divergenres sobre o signi6cado


de tais conceitos.
A idéie de que a constiruiçáo do regime de capiranias heredirárias significou a
ins¡alacáo do feudalismo no B¡asil dominou, por muiro tempo, nossa hisroriogra-
fia- Podemos encont¡a¡ essa idéia em Varnhagen que já qualificava os donará¡ios
como "uma espécie de novos senhores feudais"6i ou em Capistrano de Abreu que,
em 1902 na sua ob ra Capítttlos /,e História Coloùal, definia o regime de capitanias
como uma "organizaçáo feudal"6!, u¡ilizando como principais a¡gumentos os am-
plos poderes ¡ecebidos pelos donatários, com destaque para a proibiçáo da entrada
da justiça ¡eal e do controle sobre imensos te¡¡itó¡ios. Outros exemplos dessa ver-
teote sâo Eztohtção do Pouo Bra-sileiro, de Olivei¡a Viana6i e a obta cole¡i'¡a Hisnirìa
da Colonizøçáo Portugaesd do Brusil. editada no cen¡enário da independência do
Brasil, especialmenÌe os artigos de Paulo Me¡ea, 'A soluçáo r¡adicional da coloni-
zaçáo do Brasil", e de Malhei¡o Dias, "O regime feudal das donarárias".
A reaçáo à idéia de leudalismo b¡asiÌei¡o é formulada explicitamenre por Ro-
be¡to Simonseo, em 1932 em Históri¿- Econónzita do Brusil!:. Ressaltando aspectos
econômicos e a busca do lucro, o âutor vei cârâcterizar a política de colonizaçáo
como capitalisraG'. Caio Prado Júnior, em 1942, com a obra Fornta,ç,ã-o do Brasil
Contetnporâneo6', ¡ambém vai abo¡dar o problema a pertir da erpansáo comercial
dos países europeusi'r.

Francisco Adolfu de \¡arnhagen, Hisaíriø gera,l tlo Btnsil,5' ed. Sáo Paulo: Melhoramentos,
19i6, vol. I, p. 138.
64 Capìsrrano de ,{breu, Caphalos dc Lîtóia colonial. )" ed. Rio àe laneiro: Socredade Capisrra-
no de Abreu, 1934.p.4ô.
Oliveira Vianna. Euohrç,io do poz,o bra:ileìro, 4^ ed. Rio de Jâneiro: José Ollmpio, 1956 ou
Olilcira Vra¡na. Poprlaçóes meridionais do Brasil, 5" ed, 2 vols. Rio de Jtneiro: José Olylt
pio, 19i2.
66 Cf. Históïiã.la Czloniztrção Patugztesa da Brasí|, r,ol. III. p. 165 c 219.
61 Roberro C. SLmonsen, Hl;¡ôria Etonôníc¿ lo Bra:í/,8" ed. Sáo Paulo: Companhia Edirora
Nacìonal, 1978, p. 81.
Vèr rambÉm a delesa da. idéia do caráter capitalsra da colonizaçáo no famoso arugo de Àle-
xandc¡ Marchanr, "Feudal and Caprtalistic elements in the Ponuguese Settlement of BrazìÌ".
ptblicað.o oa 7hc Hìspanic Amencan Hi:tory Review 1942. vol. 22-3, p. 493
CC Caio Prado Júnior. O¡. Cz Ern panicular. o capíruio "O Sentìdo da Colonìzaçáo" Cabe
icmbr.r que, em 1933. Caio Prado Júnior em ourra obra, ainda de1ìnia o rqime das capita-
nias como leudal, embora ressakasse que "este ensaio de feudalìsmo náo vingou". Caio Prado
Ii:,nior, Eølq'10 ?olititd do Bra,sil.l5'ed., Sáo Paulo: Braslliense. 1986. p. 15.
70 Tal interpreracáo rerá um amplo desen"oìr'imenro, em especial na obra dc Fe¡nando Novais,
Portugale o Brasil na Crkc tlo Antigo Sistena Co/o221 6'ed. Sáo Paulo: Hücirec, 19q5
148 Rodrigo Ricupero

No enranto, ent¡e a ob¡a de Robe¡to Simonsen e a de Caio Prado Júnio¡ surgitt,


em 1939, o livro A Ordem Priuada e a Organizaçáo Nacion¿l de Nesto¡ Duarte, que
vai reroma¡ a idéia do feudalismo brasilei¡o7t- Vejamos mais de perro os a¡gumentos
de Nes¡o¡ Duarte e as contribuiçóes posteriores de Raymundo Fao¡o e de Flo¡es¡an
Fernandest2.
Nescor Duarte, preocupado com a resistência à cenralizaçáo política implemen-
tada por Vargas73, procurou analisar o B¡asil a Partir dos ancecedentes Portugueses,
em que se enconr¡a¡iam as raízes privatisras da o¡dem nacional. A.ssim, es comunas
seriam o elemento de ¡esistência ao Estado, personiÊcado na figura do rei. As comunas
esra¡iam fundamenradas na família, elemenco hostil ao Estado, o que, em conseqüén-
cia, levava o aL!!o¡ a ver o homem português como mais privado do que público- Por
conseguinre, "o porruguês é um homem privado porque é, antes de tudo, his¡ó¡ica e
socialmenre municipalista e comunal"Tj ou esre "seria melho¡ definido como tipo so-
cial denrro da organizaçáo privada'7t.
Passando ao B¡asil, Nes¡o¡ Duarte não só vai qualiÊcar as capitanias como orga-
nizaçáo feudal, como também estende essa definição para praticamente codo o periodo
colonial, mas, cont¡adi¡oriamenreJ com um regime de propriedade privada plena da
te¡ra. Dessa maneira, o próprio processo de colonizaçáo por meio da apropriaçáo pri-
vada do solot6 faria que os colonos con¡inuassem "a desenvolve¡ longe e indiferentes,
ou ¡ef¡acá¡ios a um poder de Esrado ¡ão disranre, a índole feudaÌ ou feudalizante da

Ouuo auror que reromará a idéia do feudalismo será Nelson \Verneck Sodré, porém de forma
bem diferenciada. Para ele, o Brasil se inicia sob o modo de produçáo escravista, regredìndo
para Lrm "quadro feudal". Yer Forma9ãa H*óira do Brasil. 11" ed. Sáo Peulo: Dìfel, 1982. p.
82 e 132 Em obra recente com o sugestivo tírúo de A feuda, Moniz Bandeira reroma a ques-
ráo e conclui que o regìme fundiário colonial epresentou caracrerísticas nitidamente feudais
e senhoriais 'dado que as concessóes de sesmarias implicavam também obrigaçóes miÌirares
e ourras modalidades de servicos, que consubsranciaram o contrato de vassalagem, duranre a
feudalidade clássica". Cf. Luiz Aibe¡ro Moniz Ba¡deira, O Feudo- Rio áe laneiro: CiviLizaçáo
BrasiÌeira, 2000, p. 542.
Para uma avaliaçáo mais ampla desse debare, incluindo suas implicâçóes poliricas no pos.
guer¡a, \€r o irem 5 do primeiro capiculo do liv¡o de Vera Lúcia.A.marzlFerl¡n¡. Terra, Traba-
lho ¿ Pad¿r. S^o Pa¿|o: Brasiliense, 1988.
O liv¡o é de 1939, porcanco escriro em pleno Esrado Novo. Coincidenremente a segunda edì-
çáo é de 1966. Sobre a ob¡a, ve¡ Luiz Guilhe¡rrLeP:va. Ladtílhadorcs e:em¿artates. Seo Paulo:
Editora 34, 2000, p. 227
Nesror Duane, I ¿¡l¿rn prìuada e a organizøçáo ?olltica nacíaftal.2" ed. Sáo Paulo: Compa-
nhia Editora Nacional,1966. p. 12.
75 Ibi¿e?n, P. 1.
76 "O solo do país é conquìstado, ocupado e povoedo pelo proprietário ptN:'¿o". lbi¿en, p.24.
A formação da elite colonial 149

sociedade"tT. As bandei¡as, a ausência de cidades, o patriarcalismo seriam our¡os ele-


mentos para qLLe o poder deixe de ser "funçáo política" para ser "funcáo privada".
A grande contraposiçáo à obra de Nesto¡ Dua¡re veio com
Os Donos do Poder
de Raymundo Fao¡o, edirado em 1958, e com uma segunda ediçáo bem ampliada e
modificada em 1973. Fao¡o, ao escuda¡ a formaçáo do patronaro político brasileiro,
passou em revista a hiscó¡ia b¡asilei¡a, das origens da colônia aré o pe.íodo Vargas, sem
esquecer-se dos antecedentes portugueses.
Faoro defende, a partir do conceito de patrimonialismo, desenvoìr'ido por Max
Weberts, que a monarquia portuguesa náo e¡a feudal, mas, sim, pacrimonial. Desse
modo, em grandes traços, podemos dizer que a Coroal a partir da reconquisra, conse-
gue formar um imenso patrimônio te¡¡iro¡ial, maior do que o do clero e do que o da
nobreza- Dessa maneira, ao con¡rário do qr¡e acontece no feudalismo, temos a separa-
çáo das funçóes públicas da posse da terra. -4. nob¡eza passa a se¡ a fonre dos servidores
do monarca, sem os di¡ei¡os e privilégios âxamenre dere¡minados no feudalismo, e
a Coroa prende esses se¡vido¡es numa ¡ede patricarcal, dependentes do poder e do
tesouro régio7t-
Assim, "o ¡ei se eleva sob¡e todos os súditos, senhor da riqueza te¡¡ito¡ial, dono
do comé¡cio", conduzindo a "economia como se fosse emp¡esa sua", o próprio "Es-
cado ¡orna-se uma emp¡esa do príncipe". Inclusive a nascente burguesia é atraída
para órbita da Co¡oa, que lhe impede o desenvolvimenro e o surgimento de uma
consciência própria3o.
Esse con¡¡ole exe¡cido pelo monarca se estende às descobertas e conquistas ult¡a-
marinas, que pessam a fazer parre do patrimônio régio. Isso permite à Coroa delegar
o di¡eito de exploraçáo do comércio sem abri¡ mão do monopólio, da mesma fo¡ma
que a delegaçáo do governo das capitanias náo implicava delegaçáo da soberania, po-
dendo a Co¡oa ¡etoma¡ o governo quando quisessesì. Conseqüentemence, a criaçáo do
Governo-geral seria um simples ajustamento e náo uma queb¡a do sistema.
Nesse sentido, "a açáo real se fará por meio de pactos, acordos e negociaçóes (...)
a rroca de benefícios é a base da a¡ividade públicâ, dissociada em ìn¡e¡ess€s reunidos
numa única convergência: o poder e o lesouro do rei"s:, o que possibilita a utilizaçáo
da iniciariva particular nas iniciarivas da Co¡oa, embora sempre sob vigilância- Cabe

77 lbíden, p.24.
78 Sobre o rema, r'eja-se o primeiro capitulo deste trabalho
79 Raymundo Faoro, Op. ch., p.20.
80 Ibiden, p. 20 e2l.
8r Ibiàem, p.57.
82 Ibiàem, p.50.
15C Rodrigo Ricupero

ainda ¡essal¡a¡ o papel que a te¡ra e os cargos vão desempenhar na t¡ansferência da


ordem estamenral portuguesa para o Brasilsj.
Ourro autor que lançou máo do conceito webe¡iano de patrimonialismo para ex-
plicar a colônia é Florestan Fe¡nandes. No ensajo 'A Sociedade Esc¡avista no B¡asil",
de 1976sr, Flo¡estan dedicou um rópico às funçóes do patrimonialismo nas relaçóes da
Co¡oa com os "vassalos" no p¡ocesso de colonizaçáo. Destacando o papel do colono,
"parceiro válido da Coroa", na conscrucão da colônia. Es¡e a¡cando, por sua conta e rtsco,
embo¡a com alguns privilégios e vantagens, vai simplificar, dessa maneira, a rarefa da
construção do império.
Para Flo¡esran, "sem essa associaçáo (entre a Coroa e os colonos) náo haveria
nem império colonial português nem economia de planraçáo no Brasil"st O senhor
colonial e¡a "em úlcima instância, o verdadei¡o sustentáculo do império no B¡asil", e
aafinidade de inre¡esses entre a Co¡oa e os colotos seria ¡áo grande que a riqueza e o
poder de ambos c¡esciam num mesmo sentidos6.
A f'ormulaçáo de Flo¡esran Fernandes rem o grande mérito de relacionar os gru-
pos dominantes coloniais com a Coroa, não mais contrapondo-os, Nesse sentido, ga-
nha imporrância o papei desempenhado pela administraçáo colonial e por seus luncìo-
ná¡ios, muiros, simultaneamenre, membros dos grupos dominan¡es locais.

Dados os limires do rexro, deiramos de lado o debare de algumas id¿ias mars dìscutjvers
defendrdas por Raym,rndo Faoro, como, por exempÌo, a idéia da indepcndéncia do Esrado, o
papel do esramenro burocrárico e o capiralismo de Estado.
primeiro capitulo do livro de Floresrao Fernandes. Crrcuita F¿ch¿do,2' eà. Sâo
Ësse ensaio é o
P¡ulo: Hucirec, l97Z
8i lbidem, p- )5 e 34.
86 Ibiden, p. 44.
5. Os agentes da Coroa
Pdra esta guerra, (conz os índios do Recóncøuo de SaÌ.uadnr) fz seis cltPitànitls ¿a ge'nte

d¿sta cidade, (...) de uinte bomens c¿-dø atnø, e os capitáes são: Joáo de Aruújo, que :eruìu
de tesourairo, Crìsttíuáo C¿br¿| Fernáo V¿z d,¿ Costa; Antônio d"o Rego, ntoço da catnara

da Rainha, que agora serue de tesoureiro e Seb¿,stiio Farreira, qae þi moço da câtnara do

infante Dom Fernando e q e ,eil como eîl.i áo da arm¿d¿ c seruiu de tasoureiro (...).
Ì
D. Dua¡re da Cos¡a, governador-geral

Os provimentos

/\ funcion¿lismo colonial continua ex¡¡emamente mal conhecido, tanto em seus


\Jr,o",'o. lormais rnomcacóe.. instrucöes. ordenado, ecc.J como em su¡ oti-
gem social ou em suas relaçóes com a sociedade em geral. Para uma primeira abor-
dagem, podemos pariir da opiniáo de A¡no e Maria José 1X/ehling. Segundo estes,
os cargos públìcos pertenciam ao rei como at¡iburo de sua soberania, dando aos
seus ocupantes uma "concreta pteeminência na sua comunidade"2, além de se¡em
acompanhados de presrígios, honras e privilégios, constituindo-se, inclusive, como
meio de ascensáo social.

Regisrre-se que loáo de Araújo era moço dc câmara do Rei e que tanto Cris¡óváo Cabral
como Fernáo \ãz da Cosra, sobrinho de D. Duarte da Cosra, ocuparam posros na admi-
nisr¡acáo colonial. Ct "Carra de D, Duarre da Costa a El-Rei" de 10 de junho de lí55,
pubìicada por CarÌos llalhei¡o Dìas (Du.). Hi¡ttíri¿ da Colonizaçáo Porw.g''taa. do Brasil,
3 vols. lorro: Lirogra6a Nacional, 1922, vol. III, p. 377 (Cirada daquì em diante apenas
como História da Coloi.izaç,to ?o/t&g era, ¿o 8tu1!ì/).
Arno \ùTchiing c Maria rñrehìing. "O Funcionário Colonial entre a Sociedade e o rei"
José
rn: Mar¡, del Priore (org.). Reùs,io do Paraiso. Rio de Janeiro: Campus, 2000, p. 143

151
152 Rodrigo Ricupero

Podemos ressalta¡ a preocupaçáo dos auto¡es em saber se os funcioná¡ios se¡iam


apenas um instrumenro de centralizaçáo ou se leriam se PreocuPado somente com seus
próprios interesses. A conclusáo a que chegam é que o funciooário "e¡a um súdiro âel,
embora com interesses pessoais e de grupo de natureza privada que mllitas vezes Predo-
minava sob¡e o inreresse comum e as intençó€s dos governanles"i
De¡enco¡es de interesses pessoais variados, os funcioná¡ios ¡elacionaram-se de
múkiplas maneiras com a sociedade colonial. Exemplo conhecido é o caso dos de-
sembargadores do t¡ibunal da Relação esrudado por Stua¡t Schwa¡a na sua obra
Burocrøciø e Sociedade no Brasil Colonial, que ao caserem em famílias da elite local,
no¡adamente senhores de engenho, levaram, nas palavras do autot "a integraçáo da
magisrratura e da sociedade" Iigando "a elite econômica à elite governamental, numa
uniáo de forruna e poder"a.
O casa¡nenro dos funcionários régios com as filhas dos grupos dominantes colo-
niais náo era, conrr.rdo, a única a fo¡ma de ìnreraçáo. Na verdade, para o período inicial
da colonizaçáo, pode-se dizer que grande parre dos membros do governo da conquisra
p¡ocuraram se inse¡ir direramenre nas atividades produti.'as e, inclusive, comerciais,
fo¡mando grandes parrimônios fundiários e possuindo conside¡ável esc¡ava¡ia-
Nesse sentido, como veremos adíante, o funcionário colonial, com poucas
exceçóes, náo represercava uma camada autônoma na colônia, ances confundia-se
com os grupos poderosos locais, sendo, muitas vezes, ao mesmo tempo, funcioná-
rio régio, senhor de engenho ou proprierário de terras, soldado e ainda, evencu-
almente, rambém envolvendo-se em atividades me¡cantis- Assunto que desenvol-
ve¡emos mais detalhadamenre ao longo deste t¡abalho. Contudo, vejamos agora
os mecanismos básicos do processo de provimentos dos cargos e algumas de suas
implicaçóes-
Na segunda década do século XVII, um documen¡o intirulado "Relação de
rodos os Olícios da Fazenda e Justiça que há nes¡e Esrado do B¡asil, e quais per-
rencem do provimenro de Vossa Majestade e aos dos Donatá¡ios", descinado ao
morarca e escrito por um afto funcionarìo, apresentava ume exreûsa lista, presu-
mivelmenre comple¡a, de rodos os cargos de Justiça e Fazenda do Escado do B¡asil,
incluindo seus respectivos o¡denados e precalços, encont¡ados en¡¡e a cidade de

Ibi¿¿n, p- 159- Em ourra obra dos aurores, esta preocupaçáo rambém está presence, e esses
inclusive desracam o enrrelaçanenro do funcionário com as eli¡es locais. Àrno e Maria José
WehIing, Formaçáo do Brasil colonial,2 ed. Rio de Janeiro: Nova Froûceira, 1999. Pera Porcu-
gal no século XVII, Hespanha acredira que os funcionários se¡iam "nais entrares do poder real
do q* seus sen idores incondicíonais". Änrónio Manuel Hespanha- A: aésperas do Leùathan,
Coimbra, Almedina, 1994, p. 498 e seguintes.

Sruar¡ Schwarrz, .Bz¡¿rz¿ cia e Socie¿lad¿ no Brasil Colonial. Sâo Patlo: Perspecríva: 1979, p. 295-
A formacáo da elite colonial t53

Natal ao No¡te e a vila de I¡anhaém da capitania de Sáo Vicente ao Sul, embora


nåo seguisse ess¿ o¡dem geogrâ6ca .
Em seu preâmbulo, sáo apresentadas algumas premissas que, na visáo do autor,
ajudariam a entender o crabalho e serri¡iam também de orientaçáo para fucuras refor-
mas- AÊ¡mava que todos os ofícios da Fazenda no Estado do B¡asil sáo de provimenro
do monarca, mesmo os localìzados nas capitanias dos donatários, cabendo rambém ao
rei as nomeaçóes dos ofícios daJusriça, "nas cidades que lhe pertencem, a sabe¡ Bahia,
Rio deJaneiro, cidade de Sáo Crisróváo chamada comumente Sergipe del-rei, Paraíba e
Rio Grande'{. Jáos provimentos de todos os cargos daJustiça, de Ó¡fáos e das Câma¡as
nas capitanias dos donatários €¡am de nomeação dos mesmos, em razão das doaçóes,
"na confo¡midade das quais somenre podem prover em vida po¡quanto as vagantes e
s€¡venrias pe¡rencem aos governadores-gerais do Esrado em nome de Vossa Majestade
acé os donatários proverem de propriedade"T.
Recordava ainda ao monerca que existiam muiros ofícios de Justiça e Fazenda
nas diversas capitanias "que se foram criando de novo que sáo de Vossa Majesrade;
os quais prove¡am os governadores que naquele tempo servi¡am e até agora náo
estão providos de propriedade, nem os da Fazenda em algumas capitanias dos
donará¡ios"s.
O poder de prove¡ tantos cargos náo era desprezível, afinal, ao todo, nesse mo-
menro, seriam mais de duzenros cargos, incluindo os nomeados pelos donatários, mas
e.
sem conter os militares, os da Relação, os capitães-mores das cepitanias ent¡e ouc¡os
Out¡a estimativa, levando em conca apenas os registrados oos livros das chancela¡ias
régias, ou seja, os indicados dire¡amence pelo monarca, aponta mais de 1.000 provi-
menros para o período ent¡e 1530 e 1630, aproximadamentero.

"Relaçáo de todos os Oficios da Fazenda e Jusriça que há neste Esrado do Brasil, e quais
pertencem do provimento de Vossa Majestade e aos dos Donatários. em.'ida ou Por rempo
limitado para cuja inteligência se háo de supor as prcmissas seguìnres", documento anònimo
escrito no 6nal da segunda década do século XVII. Biblioreca Nacional de Medrì, Ms. 31015,
fl- i5, publicado na coleçâo Dacumentaçao Ubamarina Potnguesa, 5 vols. Lisboa: Ccnt¡o de
Esrudos Históncos Ultramarìnos, i962, vol. Il, p. 18.

6
7 lbídem.
8

9 Precisar o número dos cargos náo é uma tarefâ fácil, Pois a lista é um ranro confusa. Muiros
cargos, por exemplo, sáo exercidos em conjunto, sem que ml fato seja explicitado, outros, em
sep:r:do. såo ¡rrol¿do' iunro.. {lem d..o ¡. '¿pir¿n:¡\ menore' muitrs \c7e'niô rê- o'
cargos discriminados, remecendo-se ao modeÌo seguido em oucras-
Cl Chancelarias Régias de D. Joáo IIl, D. Sebastiáo e D. Henrique, FìÌipe i, Iilipe II e Filipe
III de Porrugal no Arquivo Nacional da Torre do Tombo.
154 Rodrigo Ricupero

Os cargos, é claro, náo e¡am todos equivalentes, devendo ser consideratla ¡anro
a funçáo a que se destinavam como o local onde eram exercidos. Assim, por exemplo,

os cargos da Fazenda das caPitatias com maior comé¡cio tinham salários e emolu-
mentos exr¡ao¡dine¡iamence mals altos do que seus equivalenres nas caPit¿n i¿s me-
nos desenvolvidas ecotomicamerlte- Tal va¡iedade permitia que fossem agraciadas
pessoas de origens sociais mui¡o diversas, bem como ¡ecomPensar os m2ìs diferentes
serviços.
Nas partes do B¡asiì, os donatá¡ios recebiam em suas cartas de doaçáo o direito
de prover alguns ofícios, como os oficìais da Justica, tabeliáes e alcaide-mor da res-
pectivâ capitaniarr; porém, a nomeaçáo para os demais cargos, Particúlârmenre os da
Fazenda, cabia ao monarca.
O rei, mesmo depois da criaçáo do Governo-geral, matreve a Prerrogetiva do
provimenro dos ofícios de nomeaçáo régia, concedendo, porém, a seus reP¡esettaûres
na colônia o poder de nomear ¡empora¡iamente, quando estes vagassem por qualquer
morivo, "para que si¡vam até eu deles p.over"rr. No regìmento de Francisco Giraldes,
governador que náo chegou a assumir o posto, o rei explicava que "havendo aiguns ofí-
cios vagos (...) encarregareis da serven¡ia de tais ofícios criados meLis, se os houver que
tiverem pa¡res para os servir, em falta deles a outras pessoas e isro até se aPresenra¡em
outras pessoas que tenham provisóes minhas"ri.
Tanro no regimento de Francisco Gi¡aldes de 1588 como no de Gaspar de Sou-
sa de 1612r¡, o ca¡ácer provisório das indicaçóes feitas pelos governadores é destacado
pelo uso do termo "servenlia" que, segundo Moraes, "o¡dina¡iamente se diz do se¡-
viço de ofício, em lugar do proprietário"ìt, aqui no sentido de ¡icula¡ ou efe¡ivo, ou
seja, os que recebiam o ofício para servirem por toda a vidaÌ6 por decisáo do monarca
ou de quem derinha o direito de nomeaçáo por concessáo régia, como, por exemplo,

Cl. "Doaçáo da Capirania de Pernambuco" de l0 de março de \534, publicada, em Doaçóes


e Forats las Cnpitaùas ¿o Btásil (lti4-I536), apresenraçáo, rranscrìcáo e noras de Maria José

Choráo. Lisboa: Arquivo Nacional da To¡re do Tombo, 1999, p. l3-


''Regìmcnro de Tomé de Sousa" de 17 de dezemb¡o de i548, publicado na,ÉI:st¡ji¿ d¿ Colo'
nizaçúo Ponagu¿st1 lto Brasí1, vol.I1l, p.346.
''Regìmenro do Governador-geral do Brasil" de I de março de l5 88, p'tblicado los Dotz'tne'¡-
to' ?'1ra a Hiitó i Ac¡,¡¿l, 3 r'ols. Rio de Janeiro: i.AA, 19t6,1.356.
¿o

"Regimenro dc Gaspar de Sousa" de J1 de agosro de 1612, publicado nas Cart,zs palt ,i/un;o
cle Soasa e Gaspar tle S¿r¿. Lisboa: CNCDP e Rio de Janeiro: \'llinistérro das Relaçóes Exre-
riores, 200 t, p. 110 e em \fa¡cos Carneiro de Mendonça (Org;). Raízø tla Fc,rnaçáo Alnìdn-
natin ¿lo Brusil,2 voIs. Rio de Janeìro: lnxiruro Hisrórico e Geográlìco Brasrleiro, 1972, p.
4r9.
Cl. ,A.nrônio de \'loraes e Silla, Diccionaria da Lbrgu,a Parnrgreza (fac-símile da 2" ed. de
lSli). Rio de Janeiro: Flumine¡se, 1922, p. 693.
O rei rambém poderia prove¡ por um rempo estipulado, em geral três anos.
A formaçáo da elire colonial L55

os donarários para os ca¡gos da Justiçat-. Dessa forma, é comum enconr¡armos a


expressáo "servirá enquanto Sua Majestade náo p¡ove¡ ou manda¡ em contrá¡io"rs
nos provimentos passados por governadores ou por outros importanres funcionários
régios, como o ouvidor geral ou o provedor-mor.
Essa prerrogativa acabou esrendida também aos capìrães-mores das diversas capira-
nias, como explicava o eovernador-geral D. Luís de Sousa, no ¡egimenco por ele dado ao
capiráo-mor do Espírito Santo, "os ofícios que esci'erem vagos ou vagarem poderá pro.'er
e passará provisóes até me avisa¡ e assim se declarará nelas". Tais nomeaçóes, porém,
r.aleriam âpenâs até a chegada de novas inst¡ucóes do governador-geral ou do próprio
monarca:9.
Os governadores-gerais, concudo, nâo aceiravam ingerências de tercei¡os- É o
caso)por exemplo, da ¡entativa do Conde de Linhares, ,'edor da Fazenda Real, em
nomear Manuel de Sá de Soto Maior como provedor-mor do Es¡ado do Brasil. O go-
vernador Diogo Botelho, pessoalmente ligado ao Conde, acatou a indicaçåo, mas nåo
o procedimento, e, assim, explicava, em cartâ Pessoal,

passei Lrme provisáo minha em que provia do diro ofício de provedor-mor ao


di¡o Manuel de Sá de Soto Maìor pelo qual se cumpriu o que V S. queria e

mandara sem se jurisdiçáo dos governadores deste Estâdo Pois não


prejudicar a

ó razáo que esrando eu governando a náo conservassem e a perdessem) Porque

náo há cá notícia que os ledores da lazenda provejam por seus mandado cargos
nele. e náo parece razáo que quem vem governar táo longe, com tanto trabalho
e perigo se lhe tire aincia a dada das se¡r,enrias de olícios nem que tenha ne¡hum
ourro superior senáo Sua Majestadero.

O termo "proprietário" é u¡ilizado muitas vezes como sinônimo dc ¡itular ou eferivo em opo
sicáo e ìnrerino, como se pode ver cm documento citado por Marcìa Berbel: "os depurados
subsrituros para que concorram em ìugar dos proprictárìos". Cf. MarciaBerbel. A Naçaa rcrna
Artefato. Sâo Paulo: Hucitec, 1999, p. 104. Ou ainda em José de Sousa Àzevedo Piza¡ro e

Araojo, Menórías Htstórica: /,o Rio deJaneLro.l0 vols. Rio deJaneìro. INL, 1945, vol. III, 152

ecm Balraza¡ da SiLra L ishoa, Anøis clo Ria àe Jarrlra S vols. Rio de Janeiro: Leìtu¡a' s/d vol
1lt, P. r79.
"TrasLado da provisáo do porrciro da fazenda e contos e elfândega (para guarda) dos ìnros
que proveu o senhor governadoi de 20 de maìo dc 1549, que consta do "Lil'ro Prim.iro do
regìstro de pror.imentos seculares e ecLesiásticos da cidade da Bahra e te¡rås do B¡asil" (1i49
e seguintes). publicado nos Doatmentos Ht:tórìcos, vol. 35, P 29 (Citado daqui em rlianre
apenas por "Livro primciro do regisrro de provimen¡os ...'').
"Regimenro para o capitáo Manuel Macicl" de 1619, que consta do Liuro 2'lo Gomno da

B;z¡¡l Lisboa: CNCDP e Sáo Pauìo: À4useu Paulisra, 2001, p. l2l.


"Carta de Diogo Botelho ao Conde de Linha¡es", esc¡ita em Olinda, :os 23 de agosro de
1602. Arqujvo NåcionaL cia 'lorre do Tombo, Canório dos Jesuítas, maço 71, docurnenro 3
156 Rodrigo Ricupero

Os conllitos ju¡isdicionais náo e¡am irrcomuns, como, por exemplo, entre o


governador-geral Diogo de Mendonça Fu¡rado e o capitáo de Pe¡nambuco Macias
de Älbuquerque, ¡ep¡esentando o dona¡ário. Frei Vicente do Salvador cotta que
"Mandou o governador (...) um criado chamado Gregório da Silva, provido na capi-
cania do Recife, que es¡ava \¡aga 1..), po..o que Matias de Albuquerque o admitiu só
na capirania da fo¡¡aleza del-rei, separandoJhe a do lugar oú povoaçáo que ali está,
dando-a a um seu criado"r'.
Quanto aos provimenros eclesiásticos, estes competiam, nas terras ult¡ama¡i-
nas, ao rei, mas como governador e perpétuo administ¡ado¡ da O¡dem de C¡isto,
pois, em virtude do Padroado, cabialhe o di¡eito de tomeacáo dos sacerdotes para
as paróquias, a auto¡izacáo para o esrabelecimen¡o das o¡dens religiosas e a apresen-
taçáo dos bispos para nomeaçáo ponrifíciarr. O ¡ei apresenrava o nome do bìspo por
ele escolhido ao Papa, que conñrmava a nomeaçáo; para os demais postos da lgreja, o
rei apresentava as pessoas por ele escolhidas a Êm de serem empossadas pelo bispo.
Com a criaçáo da Sé de Salvado¡ em 1550, concudo, o rei delegou tal poder
ao bispo, que passou a conceûtra¡ a maio¡ia das nomeaçóes eclesiásricas de codas as
parres do Brasil, criando, para tanto, um inrricado processo de nomeaçáotr. Äfinal,
era necessário seguir com o procedimento legal, dessa forma, o bispo comr¡nicava
ao provedor-mor que esrava nomeando aiguém para determinado posto, o provedor-
mor enrão, como procurador do rei21, fazia a âpresentâcáo dessa pessoa para o pró-
prio bispo, e este, Ênalmenre, conÊrmava o escolhido, procedendo a ce¡imônia de
posse e juramenrott.

Frci Vicenre do SaÌvador. Htstóìa do Brasíl1.1627), 5" ed., Sáo Paulo: MeÌhoramen¡os, 196i,
P. 416
Ct Ë.duardo Hoo¡naerr er alii. Hi'tória dø lgteVt no Brusil, 2 vols.3" ed. Perrópolìs: Vozes,
Sáo PaLtlo: lauìinas, 1983, p. 160; Francisco Âdolfò ¿c Varnhagen. Hístória geral do Brøsil,
j:. ed. Sáo Ì'auìo: Melho¡amenros: 1956, voÌ. I, p. 2j4 e Dom Osc¡r de OIiyeira. O¡ dizino¡
ecle:íá¡ì¡:a¡ ¿lo Brt¡il. BeLo Ho¡izonre. UF\4G, 1964, p. 39-
CU "T¡adado de umâ provisáo em îo¡ma de carca que Sua,{lteza gor-ernador
Tomé de Sousa soore a ernbarcaçáo que se há de dar ao bispo D. Pedro, e assim ouLros pro-
vimentos quando lor corrcr as capiranias" de 10 de dezembro ¡ie liil, qùe consrâ do "Livro
primeiro do regisuo cie provimencos ...", pubhcado nos Docunen¡as H^úi,:os, vol.3i, p.
151.
''-l.raslado da procuracáo qLre el-rer Nosso Senhor lez ao provedor mor de sua fazenda para por

si apresentaras dignidades, cônegos, capelâes da Sé, e vrgános e capeláes de rodas;rs oucras


capiranias" de 7 de dezenbro de 155i, que cons¡a do 'Lrvro pnmeiro de P¡ovìrnenros, DH,
a5, p.296.
Para um excmplo de todo o processo, ver' Traslado da nonreaçáo, aprcsÈnracáo e coniìrnìâçáo
de Gaspar Pìnheiro capcláo da Sé desra cidâde do Salvador" de 29 de ourubro de Ì55i, que
consta do "Lir.ro primeiro do regisrro de provimenros (...)", publca¿a nos Docul entas Hirti,
rur'as, vol.35, p.306.
A formaçáo da elite colonial 157

-Após a escolha, lavrava-se uma provisáo, cujo original, entregue ao novo funcio-
nário, era endereçado aos ofìciais responsáveis por darJhe posse do ofício. A provisáo
era regisrrada, no caso dos escolhidos em Porrugal, nos lir.¡os da Chancelaria Régia
e, posreriormente, nos livros de registro do Governo-geral; no caso dos nomeados em
Salvado¡, os documentos e¡am imediatamente registrados nos chamados livros de pro-
vimentos e, quando emitidas em outras capitanias, durante as viagens do governador-
geral ou do provedor-mor, eram registrados na volta dos mesmos a Salvado¡.
Para o período abarcado por este estudo, a maior parte dos registros efetuados
em Salvado¡ se perdeu, provavelmente, na invasáo holandesa áe L624'16. Escapando
apenas o Liuro Prim.eìro do registro de prouìmentos secul¿res e eclesi¿íçicos da cida/'e da
Babia e terras do Brasil que chegou até nossos dias, graças a uma cópia feita, no flnal
do século XVIII, por ordem do governador da Bahia, Fernando José de Portugal O
Iiv¡o, iniciado no gor.erno Tomé de Sousa, contém dados de ij48 até 1563, cob¡indo,
po¡ranto, os dois primeiros governos-gerais e quase metade do governo de Mem de 5á
e reúne mais de 350 documentos-
Pa¡a os últimos 37 anos do século XVI e para o primeiro quarcel do XVII, náo
existe nada comparár'el, saÌvo um pequeno códice com provimentos dados por Diogo
Botelho, duranre o período em que esteve em Olinda, ent¡e 1602 e 160321. Apos 1625,
concudo, l'oltamos a contar com os regist¡os feitos em Sah'ador, porém, neste caso, sem
os provimentos eclesiásticos, que passaram a ser registrados em livro próprio2s
A consul¡a dos liv¡os de registros conhecidos Pe¡mite ¡ecomPor o quadro ad-
minist¡arivo colonial para o período proposto aPenas entre 1549 e 1563 e ent¡e 1625
e 1630, Êcando uma lacuna de 62 anos, que parcialmente pode ser lechada com a
consulra dos provimeltos registrados nos lívros das Chancelarias Régias guardados no
Arquivo Nacional da To¡¡e do Tombo em Portugal. Tai soluçáo, contudo' náo resolve
inteiramente o problema, pois nem todos os providos em Portugal tomaram posse efc-
riva no B¡asil, seja pela "incerteza da.'iagem do ma¡", como se dizia na época' ou por
desistirem, ou por serem providos em algum outro cargo em outras Partes do Império
ou ainda por outro motivo qualqúe¡

Os incéndios de Salvador e Oiinda, os dois prìncipais cenrros coloniais' durante as guerras


contra os holanc{eses, causaram uma perda irreparávei na documenraçáo do período a<1uì
trarado. Exempio sìgnilìcarìvo é a perda das atas da Câmara de Salvador an¡e¡iores a 162'1'
27 Códicc 8i da Coicçáo l-amego. Instiruro de Estudos B¡asiieiros da USP'
28 Os docLLmentos passaram a ser copiados rro Littra nauo que se fcz pan serztù àe registras de
prautõx stcatare: ty'c afcìo:, ordns de Sua Majestatu t /o: gouerna'dores-gcr¿t: deste Eça¿/o c
protelores nores da Fazcnla, caneçau a seruir de ¡eu le autu'bro rl¿ (m1I) sebænîot e úl1t' ¿ ri to
en día¡tte."Li.ro2' ðe provimentos seculares'. iniciado em i625 e publicað,o ¡os Documentos
Htstóricos, vcil. 14 e 15 (O trecho cì¡ado encont¡a-sc no vol. 14, p 471). Regisrre-se aqui que
a denominaçáo de livro primeiro ou livro segundo de provimentos ou de pro'isóes não é da
época, mas tem sido adorada pelos hisrorìadores-
158 Rodrigo Ricupero

Além disso, inúmeros cargos eram providos em serveûtiar ou seja. remporlria-


menre preenchidos pelo governador-geral ou por out¡os funcioná¡ios régios aré que
a Coroa ¡omasse uma decisáo, confi¡mando ou náo, situaçáo que, conrudo, poderia
demorar anos, devido às dificuldades de comunicaçáo e aos rrâmì¡es bu¡ocráticos. A
maior parte dos cargos das capitanias menos desent'olvidas e os cargos inferio¡es das
capitanias mais importantes, ou seja, os ofícios menos cobiçados, dificilmenre e¡am
requeridos ou conlìrmados no Reino, pois, no caso dos vassalos residences no B¡asil,
esses ofícios náo valiam os cusros da viagem para requerê-los, sendo, portanto, nome-
ados quase que exclusivamenre pelos governadores, o que explica a ausência de certas
capiranias nos provimentos registrados nas chancela¡ias.
Outra informaçáo que diÊcilmenre pode ser recomposra sáo as nomeacöes
para os ofícios feiras pelos capitáes-mores das dive¡sas capiranias, nos casos de mo¡-
re ou ausência dos funcionários que os serviam, enquanro aguardavarn insrruçóe:
do governo de Salvado¡- Além disso, as Chancela¡ias não permirem recuperar os
p¡ovimeûros eclesiásticos rambém fèiros no Brasil pelo Bispo de Salvador ou pelos
administ¡adores eclesiásticos do Norre e do Sul, sediados na Pa¡aiba e no Rio de
Janeiro.
O LiL,ro prime¡ft) do regutro de prouimentas ofeÍece, porém, imporranres subsídios
para a questáo. Contém ele documenros para diversos ofícios em todas as capiranias
existences no periodo, com especial ênfase, para a Capitania da Bahia, sede do Governo-
geral. .Alguns cargos ali registrados, porém, rinham jurisdicáo por roda a cosra do Brasil,
náo sendo, porÉnto, especílìcos de nenhuma capirania, como, por exemplo, os car.gos de
provedor-mor e de capitáo-mor da cosca.
A anáÌise dos provimentos regisrrados ro Liuro prineiro de registro de proaìmentos
e nas chancelarias régias, em que pesem as lacunas, pe¡mire reconstirrlir o processo
de formaçáo do quadro adminisr¡ativo colonial, tanto pelos escolhidos como pelos
responsáveis direros pelas nomeacóes e os morivos que as jus¡iflca¡am-
Em primeiro luga¡ do ponro de vista quanrirarivo, os dados do primeiro livro
indicam que, ent¡e 1548 e 1563, fo¡am nomeados em Portugal ce¡ca de um terco dos
pouco mais de 200 provimentos para cargos náo,religiosos. É fì"gt"lt,", porém, a des-
p¡oporcáo enr¡e os 56 documentos emiridos du¡ante os últimos oito anos do ¡einado
de D. Joáo III em reÌaçáo aos 11 dos seis anos iniciais do reinado de D. Sebasriáo. Tal
siruacáo, contudo, náo pode ser explicada unicarnenre pelo fato de o Governo-geral ter
sido c¡iado no governo de D. Joáo lll, pois a maioria dos provimentos enráo emiridos
previam o exercício do cargo por períodos de 3 ou 4 anos.
,A desproporcáo nas nomeacóes pode ser explicada, em grande medida, pela
perda da atençáo que o Brasil vinha sof¡endo, pois, como Gab¡iel Soares de Sousa
relarava, "esrá muiro desamparado" depois da mo¡re de D. Joáo lll, "o qual prin-
cipou com rarro zeloJ que pa¡a o engrandecer me¡eu nis¡o tanto cabedal, como é
A formação da elire colonial r59

notório, o qual se vivera mais dez anos deixara nele edificadas muitas cidades, viias e
fortalezas mui populosas, o que nâo se efetuou depois do seu falecimento"!e'30. Fato
que explicaria também o longo período de Mem de Sá, nomeado por D. Joáo III, à
resta do Governo-gera|t.
Com reÌaçáo às nomeaçóes feitas nas partes do B¡asil, a comPa¡àcão ettre os
rrês primeìros governos indica que, enquan¡o o governo Tomé de Sousa proveu di-
retamente 67 .¡ezes (29 por Tomé de Sousa e 38 por ,Antônio Cardoso de Bar¡os,
provedor-mor), o governo D. Dua¡¡e da Costa foi responsável por 43 (42 pelo ptó'
prio governador e 1 pelo provedor-mor), e o got'erno Mem de Sá, nos seis Primeiros
anos, por 32 (31 por Mem de Sá e 1 pelo ouvidor geral e provedor-mor Pero Borges)-
A montagem da máquina governamental é o fator responsável pela desigualdade no
número de provimentos dos três governos, destacando-se a ParticiPaçáo do primeiro
provedor-mor, Antônio Ca¡doso de Barros, que realizou uma viagem - que pode ser
acompanhada pela data e local dos documentos - pela cosca do B¡asil' especialmen-
¡e parâ o¡ganizar a esttuturâ de fiscalizaçáo e cobrança dos di¡eitos régios em cada
capirania.
Os provimentos eclesiásticos seguem o mesmo encaminhamento, pois o primeiro
Bispo, D- Pero Fernandes, ao monta¡ a est¡utu¡a da Sé de Salvador, com rodas suas
"dignidades e benefícios"r:, foi responsávelpelo dobro dos provimentos realizados pelo
segundo bispo, D. Pedro Leitáo-
figuras
Quanto aos ocupantes dos diversos cargos, pode-se apontar a ausência de

desracadas da nob¡eza, dado o caráter secundário das partes do Brasil dentro do Impé-
rio ao longo do período aqui estudado. Dessa maneira, mesmo o posto de governado¡-
geral era ocupado, salvo uma outra exceçáo, por membros de ¡amos secundá¡ios da
nobreza, como Tomé de Sousa, ou por letrados' como Mem de Sá A situaçáo mudaria
em meados do século XVII, em plena guerra com os holandeses, quando o Coverno-
geral passou a ser ocupado por nobres de mais alta estirpe, particularmenre depois
do

Gab¡;el Soares dc Sou de:crítiuo do Brasil cm 1587 5" ed Sao Paulo: Companhia
sa. Tr¿tado

Edirora Nacional. 1987, p 39. Frei Vìcen¡e do Salvador "Mas ro¿a €sra rePuraçáo e esrime
do B¡asil se acabou com eì-rei D. Joáo (III)' que o estimata c reputava" Cl Frci Vicenre do
Salvador, O¡. tit., p. 162.
período inicial do reinado de D Sebasriáo' sob a regência de D
l0 Sobre o conrexto político <1o

Catarina, vcr Joaquim Romcro de Magalháes No Aluarecer


y'-¿
Mo/'ernldadc' p' 543' rcft me
3 tla Histriria de Partugal organizada por José Mattoso Lisboa: Lstampa' s/d'
Enquanco 1-omé de Sous¿ e D. Duarre da Costa governarâm menos de 4 anos cada um' tr4em
de Sá governou pouco maìs de 14 a¡os-
"ofício eclesi'<¡ico ;
Dignidade: "cargo, olicio honorrfico cìvrl ou eclcsiásrico" e benelício:
que anda anexa renda-. Ântônio de Moraes c Silvâ, O/ .,¡-, vol l' P 617 e 272 rcspecliç¿-
160 Rodrigo Ricupero

governo de Pedro da Silva, i'Conde de Sáo Lourenço, tírulo que ¡ecebe¡ia, conrudo,
após voltar ao Reinojr.
Os demais cargos da administraçáo colonial e¡am ocupados por indivíduos das
mais variadas origens e estaturos sociais, indo de fidalgos até plebeus. A prioridade dos
provimenros, conludo, e¡a para os c¡iados do rei3a. No regimenco de Gaspar de Sousa,
essa prioridade é afi¡mada clammente: "encarregais das serventias de ¡ais ofícios a c¡ia-

dos meus (do rei), se os houver (..-) e em falta deles, ourras pessoas"rt.
Atestando ral prioridade, é comum enconrramos nos p.ovimenros ourorgados
pelo rei, as expressóes: "fidalgo da casa ¡eal", "meu moço de Câma¡a", "da minha
casa", "cavaleiro Êdalgo", "escudeiro", "meu escriváo da Câmara" enrre outras que
arestâm o vínculo com o monarca. -Aparecem, igualmente, criados da Casa da Rai-
nha e da dos infanres, ou ainda pessoas ligadas a membros destacados da nob¡eza
ou a se¡vidores lerrados do mona¡ca. Dessa forma, a maio¡ia dos providos no Reino
fazia parte dos esrraros infe¡io¡es da nob¡eza-
No caso dos documenros outorgados nas partes do B¡asil pelos governadores-ge-
rais ou provedores-mo¡es, o nível social dos escolhidos é, em geral, infe¡io¡. É nomeada
grande quantidade de plebeus, incluindo c¡iados dos oficiais régios mais imporranres,
embora também apareçam membros das camadas inferiores da nob¡eza, posro qu€
em meno¡ núme¡o. Em princípio, náo €xiste distinção de ca¡gos, ranro robres como
plebeus podiam ser nomeados para os mesmos ofícios, conrudo, os ofícios mais impor-
tantes das capiranias mais desenvolvidas rendem ¿ ser ocupados por nobres com maior
freqùência do que por plebeus,
Por meio da documen¡ação, nora-se rambém uma espécie de carreira: o esc¡ivåo
da provedoria pode se tornar provedor ou aré capiráo de algum navio, além de um
deslocamenro espacial pela colônia; o gove¡nado¡ do Rio deJaneiro torna-se Provedor-
mor do Es¡ado do B¡asil, ou um esc¡iváo da Bahia assume um cargo mais elevado em
outra capirania, fo¡mando assim uma espécì,e ð,e cursus bonoram colonial.
Com relacáo às jusriÊcativas para as nome¿cöes, nos primeiros momenros, como
náo poderia deixa¡ de se¡, as pessoas ¡eceberam cargos pelos serviços prestados no
Reino ou em outras áreas do lmpério ou por me¡cês feicas a outras pessoas, em gerel
grandes Êguras da nob¡eza ou importantes servidores do monarca que pediam os ofí-

Cf. Mafalda Soa¡es da Cunha, "Governo e governantes do Império português do Adânrico


(século XVID" in: Maria Fernanda Bicalho e Vera Lucra.A.ma¡al Ferlini (Orgs.\. Modos de
Governar. Sâo Pa¡Io: Alameda, 2005, p. 69.
"Criado", na época, sìgni6cava quem 'tecebeu criaçáo ou educaçáo", mas pode ser enrendido
rambém, segundo Calmon, como "protegido ou clience". Cf. Moraes, Op. cit., vol. I, p. 494
e Pedro CaÌmon, .L1l¡¡lria da Ca¡a da Tarrc. 2" ed. Rio deJaneiro: José Olympio, t9i8, p. ti,
nora 1.

"Regimenro de Gaspa¡ de Sousa" de 31 de agosro de 1612, publicado nas Cartas para Álaaro
d? \ou,a e Caspat rlc 50u'a, U?. ,it., p. I l-.
A fo¡macâo da elìre colonial 161

cios para seus p¡otegidos. Posrerio.meme, a parrir do governo de D. Duarre da Cosre,


iniciou-se o fluxo de provimentos em ¡ecompensa a servicos prestados no B¡asil, ¡anro
para os nomeados no Reino. como para os nomeados em Saivador.
À prática de recompensa¡ os se¡vicos feitos em dere¡minadas partes do Brasil com
cergos nesras ou eûì out¡as á¡eas da colônia manre!€-se por rodo período estudado,
continuando em erapas posteriores- Dessa fo¡ma, cada grande atividade ¡ealizada orL
incentivada pela Coroa, como a conquisra do Ma¡anhâo ou a reconquisa de Salvador,
gerava uma série de pedidos, que se t¡ansformavam em provimenros de cargos.

As redes clientelares e familiares

Cona-se, num códice que reúne pequenas histó¡ias das cortes quinhentistas por-
ruguesas, que ceno Êdalgo pediu ao rei D. Joáo III que lhe fizesse me¡cê de aceita¡ um
c¡iado seu po¡ moço de câmara, obtendo uma resposca negariva. O fidalgo, contudo,
insistiu, alegando que o diro criado só servia a ele na esperança de poder vir a ser criado
do rei e que, no caso de recusa da mercê pedida, te¡ia dificuldade de acha¡, daí em diante,
quem lhe sewisse. O ¡ei en¡ão concordou, mas com a condiçáo de ser sem moradia, ou
seja, sem vencimentos5ó, no que o fidalgo respondeu: "dessa manei¡a ¡oma¡ei eu a Vossa
.Alreza quantos tem, riu-se el-rei da resposta e fez lhe a me¡cê que pedia'37.
A his¡ó¡ia acima, verídica ou náo, ¡e.rata um aspecto das redes clientelares do
período, cujo cenrro final e¡a, evidentemente, o mona¡ca. Não era, porém, apenas jun-
ro "ao bafo do rei", para usarmos a expressáo de frei Luís de Sousais, que se obtinham
mercês e vantagens diversas. Os poderosos e¡am "cen¡¡os de distribuiçáo de pode. e
riqueza" e em seu redo¡ cons¡ituíam-se "grupos de parentelas e clientelas"je.
Dessa maneira, um considerávei núme¡o de pessoas girava em to¡no do ¡ei, da
Rainha, dos infantes e das grandes figuras da nobreza. Sob¡inhos, primos ou mesmo
indivíduos sem parenrescoi cresciam à sombra destas personalidades, que, em troca de
serviços e de lealdade, procu¡avam garanti¡ benefícios diversos para os protegidos.
Uma das opçóes possíveis, os cargos no ui¡¡ama¡, foram cons¡antemente con-
cedidos pelo rei em favor de c¡iados próprios ou alheios- D. João III, por exempio,

Segundo Moraes, moradia é o "o¡denado que se dá aos Gdalgos assen¡acios nos liv¡os d'el-¡eì
morado¡es de sLra casa e Co¡te. Cf -An¡ônio de Moraes e Srlva, O?. cit.,'¡ol- II, P 3I7
Aneàotas ?ortagrcsas c memórtas bíográfcas da corte quiithentist¿- Coimb¡a: Almeciina, 1980.

38 frei L,.,ís de So,,sa.l, ais /,e D. Jo,I.o lll.2.ols. Ljsboa: Sá da Costa, 1938, vol. II- P. liz
39 VerJoaquìm Romero de Magalháes, Op. dt.. p. 494.
161 Rodrigo RicuPero

acendendo pedido do infante D. Luís, seu i¡máo, fez mercê aJoáo d€ Casr¡o do ofício
de almoxa¡ife da Àlfändega de Porco Seguro, da mesma forma qne por intervençáo
de Be¡na¡dim Esteves, do Desembargo do Paço, nomeou o sob¡inho deste, Nuno
Álrr"r.s, coroo esc¡iváo da a¡mada que ia ao Brasil¡o.
Tais pedidos, conrudo, náo se limi¡avam aos cargos inferiores da adminiscraçáo.
O bispo D. Jorge de.Araíde, capeláo-mor de Filipe II de Portugal, obteve a mercê de
"três cargos para pessoas de sua obrigaçáo", conseguindo assim nomear Sebastiáo Bo¡-
ges como provedor-mor da Fazenda Realli. Já o Conde da Casranheira' valido de D.

Joáo III, obteve para Tomé de Sousa, seu protegido, o cargo de governador-geral das
partes do Brasil.
Os favores recebidos náo eram, ou pelo menos náo deve¡iam ser, esquecidos, em-
bora episódios de ingraridáo ou de inte¡esses cont¡a¡iados nâo fossem incomuns. De
qualquer forma, mantinha-se por toda avida uma relaçáo de dependência simbólica ou
material, que variava confo¡me o caso. Diogo Bo¡eiho, numa carta pessoal ao Conde
de Linhares, explicitava tais questóes:

que (por) obrigaçáo de consciência e do se¡r'iço de Sua Majesrade hei de negar


minha própria vontadc e o que â ca¡ne e o sangue me pede, deixando dc laze¡
a vonrade a quem eu renho muira obrigaçáo e amor e se em alguma coisa eu
Êz isto que me muiro mais doesse loi em alguma pessoa chcgada a casa de V
S. (Conde de Linhares) (-..) pois eu me hei por mais obrigado ao serviço de \¡.
S. que nenhum oucro servidor ncm criado que V S. reoha assim por benelícios
rccebidos como por amor e rodas as mais coisas que no mundo podem ser'r.

Por ouc¡o lado, os antigos c¡iados ou protegidos, ao etingirem posiçóes de des-


raque, passavam a beneficiar seus próprios criados, fo¡mando assim uma espécie de
correflte de lealdades e favorecimentos que, com o tempoJ ia se ampliando. Nesse sen-
t-Ldo, Tomé de Sousa, ao mesmo rempo que náo esquecia de fàr.o¡ece¡ seu protetor,
concedendo, por exemplo, ¡erras na capitania da Bahia ao Conde da Castanheira,

Cl. "Livro primeiro do registro de pror.imenros ..-", publicado nos Dacur't ltos Hìsr'i'tìL'ot,\'oI.
3t. P,lstirr.
"Provimento de Gaspar Correia de Buihóes, fei¡or e almoxarifè de Olinda" de 24 de nove¡n-
bro de ló97. ,A.rquivo Nacional da To¡re do Tombo, ChanceÌaria de Fììipe lI, Doacóes, Livro
pnmeiro, fl. 252 v.
O assunro da carra sáo os proccdrmenros de Manuel de Si. de So¡o Maior. outro prorcgido do
Conde de Linhares. Cl 'Cana de Dìogo Borelho ao Conde de Linha¡es", escrira em Oiinda,
aos 23 de agosro de 1602. Àrquìvo Nacional daTor¡e do Tombo, Cartório dosJesuiras, maço
71. documenro 3,
A formacáo da elire colonial r63

rambém ben€ficiava os seus, nomeando Garcia DAvila feiro¡ e almoxarife da cidade e


da Alfândega de Salvador- Daí não causa¡ su¡presa que Ga¡cia D'Ávìla tenha a¡¡enda-
do grande pa¡te das terras do Conde da Casranhei¡a ou que os jesuítas, ao entrarem
em choque com Ga¡cia l)'Ávila, tenham reclamado com Tomé de Sousa, entáo já de
volta ao Reino'i.
As ¡edes clien¡ela¡es das grandes Casas estende¡am-se, dessa forma, por rodo
Impérioi¿, misru¡ando-se e confundindo-se com pequenas redes formadas em ¡o¡no
dos principais luncionários régios. Esres, ao embarcarem para o ulrramari náo deixa-
vam de levar parentes e criados, aos quais se somavam, nos locaìs de descino, out¡os
indi\.íduos, que os auxiliavam nes mais diversas ta¡efas, beneficiando-se, direramen-
te, dos favores recebidos ou, indiretamente, des mercês concedidas pelo monarca aos
seus Proreto¡es.
Enrre os primeiros governadores-gerais do Brasil, tal procedimento rambém e¡a
usual. Formava-se, assim, em ro¡no de cada governador, um g¡upo maio¡ ou meno¡ de
familiares, criados e protegidos, que seriam chamados a ocupar cargos administrativos
ea desempenhar importanres missóes.
D. Dua¡re da Cosca, por exemplo, etcarregou o filho, D. Ál.'a¡o dt Cos¡a, da
ra¡efa de combare¡ a resistência indígena no Recôncavo de Sah'ado¡, o que lhe permi-
riria, após a viró¡ia, obre¡ mercês e o reconhecimento régio. Por outro lado, Francisco
Porlocarrero, capitáo-mor do Mar da Costa do B¡asil, rompido com o gove¡nadori era
mantido em i¡atividade, daí a reclamaçáo com o monarca, que "r'indo para serr-ir no
cargo de capitáo mor (...) até ago¡a náo saíra nunca desta cidade (Salvador)", apesar
da presenca francesa cotstante e do equìpamento adequado existente, pois náo cinha
obcido permissâo do governador, que o impedia dizendo, segundo Portocarrero, "que
pois seu filho náo era capitáo-mo¡ náo havia de mandar a armada a co¡¡er a cos¡a'ai.
Mem de Sá também delegou imporranies setviços ¿os pârentes mais próximos. No
início de seu governo, em fins 1552 enviou o filho, Fe¡não de Sá, ao Espírito Santo, com
o objerivo de der¡ora¡ os índios que combatiam os Portugueses, porém este náo contou

"Ca¡ra do Padrc lvlanuel da Nóbrcga a Tomé de Sousa" de 5 de julho de 1559' publìcada por
Scraâm Lei¡e (Sl). Cartas clo: prlmeircs jcsnhas dt &asil, 3 vols Sáo PauLo: Comissao do I\¡
ce¡rená¡io de crdade de S:o Paulo, 19i4, vol. III, p. 79.
Êxemplo inreressante dessa si¡uaçáo é a conhecida passagem da ob:n Peregríndçáo deFernio
\'lendes Pìnro, cm que esse conta que, cstando em Pequim, com outros oiro comPânheìros,
surgiu ral discussáo enrre dois dcles sobre "qualgeraçáo trnha melho¡ mo¡adia na casa ,l cl-rcr
Nosso Senho¡ se os lVfadureìras ¡c os Folsecas" quc rapidamenre rransformou-se numa bnga'
derxando os con¡endo¡cs gra\¡cm€nte fe¡idos. Fernão Mendes Pinto. Pneghøt,io (161'4),4
lols. Lisboa: Lir.¡aria Fcrreira. 1908, vol. II, p. 173.

F¡ancìsco Portocarre¡o dì2, em duas cartas que chegaram aré nós, que as cârtas são dc 11
dc agosro de 1i56 e 20 de ab¡il de J556 e estáo publìcadas, resPectivamenle. n^ História da
Callnizãa¿o Poïlugltcs.1 do Brasi|. wLIII. p. 37 7 c Joaquim \l Serráo. Op. cit..lI. p. 32
lo,i Rod rigo R i. up.ro

com a mesma forrura de D. Álva¡o da Cos¡e, pois âcabou morto nos combares. Mem de
Sá, porém, conrinuou se valetdo dos familiares e, após a vitória sob¡e os f¡anceses no Rio
de Janeiro em 1i60, enviou o sob¡inho Es¡ácio de Sá ao Reino, encarregado de le"a¡ as

norícias. Tarefa de presiÍgio, que renderia ao sob¡inho o comando de uma pequena lrota
com ro\'os recursos para povoa¡ a Baía da Guanabara, serviço que lhe valeu a me¡cê do
hábi¡o cia Orcie¡¡ de C¡is¡o;6. Estácio de Sá, primeiro capitáo-inoi do Rio de Janeiro,
conrudo, morreu pouco menos de dois anos depois da fundaçáo da ciciaCe, levando Mem
de Sá a nomea¡ out¡o pa¡ence, Saivador Correia de Sá, para substitui-lo.
llem <le Sá, porérn, náo deixou de favo¡ece¡ matertal¡ente seus familia¡es. Tan
co Fe¡náo de Sá co¡¡o Escácio de Sá, ao mo¡re¡em, cieixa¡am renas na caDitâniâ dâ
Bahia. O governador, coniudo, ¡ambém zelou pelos parenres e criados que sobrevi-
verarn. E¡n seu resaa¡Ì-ìenro, Me¡n ,je Sá pedia ao monarca que "ro¡ne meu sob¡inho
Salvado¡ Co¡¡eia de 5á que está por capitáo do Rio de Janeiro po¡ Ì¡oço fidalgc com
mil ¡éis de oo¡adia pelos ser-r-iços que lhe rear ièitos, e rome meus c¡iados em io¡o de
cr.valeiros fidalgos por quáo berlr o ¡em servido resras pâ.rtes nas guelras e paz, o quai
e.l náo posso sa¡isiàze¡" .

O governador, ao con¡¡áiio do que disse, oáo ieìxou de sa¡isfazé-los. O sobrinho


Diogo da RocÌra de Sá ro¡nou-se se¡rho¡ cie engenho, tendo ¡ecebido de \{em de Sá,
pâ¡â ¡arro, cobre e gacÍo, alé¡n <ias re¡¡as e seu irmão, lfanuel de Sá de So¡o llaior,
tornou-se provedor <ia Fazenda da c:-pirania's. O c¡iado \¡icente !lonreiro iòi nomeado
¡esou¡ciro gerai da Fazelda Régia e possuía uma ilha oo Recôlcavo, onde planrava
cana-de-acúca¡. And¡é \{onreiro, lèito¡ do engenho gol'ernador, roinou-se proprierário
de uma iazenda na regiáo"t.
Os iìlhos dos go.,ernadcres-gerais ccntinuarara, por todo período es¡udado, sc¡vildo
como i¡r-ÌDorlanres auxilia¡es dos pais- Luís de B¡ito de Almeiria, por exemplo, ao sair clc
Salvador para uroa exoediçáo à Paraíba, deixou o fìiho, João de Brito de -A-lneid:., no gor-er-
no Ca capitania da Bahi¿ e Àn¡ônio de \'lendonça, filho de Díogo de Mendorça Furraclo,
loi um dos poucos que ficou com o pai, quando esre fòi preso peLos holandeses.
Os ûlhos, con¡udo, rar¡bém criavain probleinas, pois aìéo-r cÌa làrnosa biiga do
1ìlho de D. I)ua¡¡e da Cos¡a com o bispo l). Pe¡o Fe¡oandes, ou!ros ral;tbém caûsâ¡¿m

"Carra régia manciando lançrr o háblto ci¿ Orcle'¡ de C.;sio â Esrácic de Sá, ¡¡o¡¡dor
nrs pa¡res do Br¿sll oc 8 cc março de 1i66. public:Co po: joaqui:rì \''. Se:ráo. O¡. rir.,
il. p. 54.
O ics¡anren¡o ic \lc:r de Sá" ce lj69 iioi oublilczda ¡as Do¡t¡¡¡e¡t¡o: 9tt 't
Ílistórìt tÌo Å¡)
rzl 3 r'cls. Rio de Jancl¡o: L{À, i9j6, r'oi lll, ¡ ì 2.
Extnpìo do cm¡rerhan¡io.! sirurçóes crirdas ptlo esprâienerro cias ¡eics clicn¡eiares é o
caso dos c¡irdos Cc Ifcm cic Sá, quc acabaram ro¡nardo-se crì;dos rlo Condc <1e I-ình¿rcs.
alìnal cas,:¡a-se con a iìlha do governador.
Cf. Gab¡ici Soares de S o;:,sa, Ap. dt., p. 150 c 1i2
A formaçáo da eli¡e coloniai 165

confusóes, como os Êlhos de Dìogo de Meneses, afinal o mais lelho deles, "{oi achado
na câma¡a de uma dama porruguesa e surpreendido peio ma¡icio" e fe¡ido levemente''".
Alé¡n disso, fora¡r acusados. entre ourros casos, de manda¡, nas palar-ras de Filipe Il de
Porrugal, "acutilar por seus c¡jados um Francisco do Couto por acudir por sua honra",
piocedimenros que leva¡arr o iroraica a o¡dena¡ que o sucessor, Gaspar de Sousa. p¡o-
cedesse aume de.'assati. O compoitamerro dos Êlhos cle Diogo de \4eneses. somacio
provaveime¡Ìre a ourros casos, fez que o mesmo iei baixasse proYisáo oroibindo que "as
pessoas qüe me Ío¡em se¡f ir 11os qovernos fora do Reino náo possarn levar consigo seus
lìlhos"; ¡al <liretriz, por:ém, láo vingour:.
A corsiitriìçáo cìe grupos clienrela¡es ei¡ iorûo de i:uttcio¡á¡ios ¡égios náo ficoLl
res¡rire aos governadores-.9erais. P¡ovedo¡es_mores. our'idores gerais, capi!äes-moies e
outros iambéi¡ se cercevatl de seus "ho¡¡ens cíe o'brigaçáo". O ouvido¡ gerai \4artim
Leitáo, ao partii para a conquista da Paraíba, além das tropas rec¡u.ades etlr PerÌìâm-
buco e Itama¡acá, levou "quare:-ita e tallios holirens branccs. escolhidos e de opìniác.
e os ¡¡ais cj-eÌes de süe. obrigaçáo"-']. Á¡tônio Ca¡doso cle Ba¡¡os, o primeiro provedor-
lr-rci, ¡anbéin iiûhâ os serls, qiÌe, aproreiiatdo-se do cargo. consegLi;u nome^r, Pelo
¡nenos dois deies, para cargos da Fazenda Reai.
O p¡or.ii¡e¡r¡o de caigos ¡o
foi sercpre irtiÌiz?.do pelos gor.ernantcs eir far.or
Bra.sìl
ie seus protegidos, contrariando. mr:itas'v€zes, a priotìia<ie es¡¿belecicla oelo lìonaica,
ei¡ favor de seus próprios criados. O que poC,ia ser morivo de queixas. como no caso do
gcr,enador-geral D. Luís de Sousa, gorrcinan¡e e¡r¡e i617 e 162i, que la sua "iesidêacii't'
foi acusacio oelo esc¡iváo cia Câm¡-ra, Rrii Ca¡r'aiho Pi¡heiro, de que arìies "dc Pro\-ef as
ser\-entias cue vagal?m em c¡iacios cie Sua \{ajestacie, altes.'ira prover neles aseos ciiados",
fato que loi conâimaco por ourras testenunhas e lncluído ¡a lisra de irregularidades a que
o gove¡iìador ieve dc iesponder em sua defesâ-'i.

Fra¡cisco I,ra¡d
dc ¡...aLal. t,iagen¡ l¿ P¡,¡tctto ,,t: P.yni Ln 'ti 1161i ) (¡¡aiucác). 2 r.ok.
Por:o: Cn.ilizaçáo. 1944,.o1 2. p. 133.
'lJ,Ì.'a¡á por que \rossa \{ajesrade marda r-o oLr"idor gcral da Reracáo tio Brasli ¡ìtc Cc"¡ss¡ dos
1ì1hos do gorcrnador D. Dìo.eo.ic \leneses de 24 de ¡ovenb¡o c1e 1612. pubìica<io ras Caria-'
para Áharo àt Soz:a e Gnspor rit Sou:a, OP cil . P. l7).
"Àìr.ará pelo c;r'ai hou.'c cl-rci por bcn dar Iicença ao scnhor Gaspar cc Sousa paia poCer Lelar
consigo ao Brasil ao senior Á1,'a¡o de So.Lsa' dc 2l de junio <ic i612. purlicaCo rrs Caztar
¡ara Åhnro d: Sov'o. e (;,is?ai ¿e ScL\tí. A]). c¡r'. P.8a No caso. c rigumenro uriiizaCo por
sou, " .u . 5 L. .i,.ci.' cr" c ,r..:.
' ,:.."r d.
Ci "Sumá¡ìo cl¡s A¡rnadas que se Êzeram g,rerias que se dciam na conqu;stâ do rjo P'râíb'"'
"
pLrblicado ¡a .tl¡a;¡¿¿ ¿17 iitillno Hì'nóîí.o e Geagr.nfco Br't;leiro, t:mct ltXX\¡I. i873. 1 29
E:¡n:. ou ì¡¡{¡.t¡t¡t¡tâa qæ:e ti La i,raccl-inzenta d'a Juiz ot Ga¡,c¡t¡¿dot ¿ rt:¡tùto /'o caxtct
procd.n rd: mi:rs tlc sa'r o[ttìa, luttnte o te;t+a. qrc rcr;a. \'fciaes
O¡. rh. voi. li, p. 611.
Lìura ¡ttt,:xa 1o Goue¡na ¡j¿ Bt¡¡ìi. O¡:. c;t . p.369.
166 Rodrigo Ricupero

Tal sicuaçáo era morivo de reco¡¡en¡es queixas, dessa fo¡ma Sebasriáo da Silva
alegava que por provisáo do ¡ei, este lhe tinha feito "me¡cê da se¡ven¡ia do oÊício de
escriváo do tesouro por cempo de rrês anos e porque os governadores passados irem
provendo pessoas de sua obrigaçáo na servenria do dito ofício e outros impedimenros
de i¡ ao Reino náo houve lugar de servir seu rempo" t6-
Essa prárica obrigaria o rei a baixar um alvará em que tentava regulamentar o
assunro, no qual explicavd que os governadores "náo dáo execuçáo as provisóes dos
provimentos que eu faço nas tais serventias por ¡espeito de proverem nelas pessoas de
sua obrigaçáo", exigindo assim que as pessoas providas por ele fossem imedia¡amente
empossadasji.
Percebe-se essim que se po¡ um lado a proximidade com os governantes crazia
vanragens, o afastamerÌto, por ourÍo, poderia significar a perda de importanres be
nefícios, inclusive os cargos ocupados na administraçáo. Este foi o caso na briga do
segundo governador-geral D. Duarre da Costa com o bispo Pero Fernandes, motivada,
a princípio, pelo comporramenco do filho do governador.
Ä disputa praticamenre dividiu a cidade do Salvado¡ em dois partidos. Do lado
do governador-geraÌ D. Dua¡¡e da Cos¡a e de seu filho, lìcaram, segundo seus adve¡-
sários, o ouvido¡ geral Pero Borges, o tesoureiro Joáo de.Araújo, o concador Gaspar
Lamego, o aimoxarife do Ârmazém C¡istóváo de Aguiar, o esc¡iváo da Fazenda Sebas-
tiáo Álva¡es, o resourei¡o Antônio do Rego, o provedor Anrônio Ribeiro, o alcaide-mo¡
de Salvador Diogo Muniz Barrero, o esc¡ivão do A¡mazém Be¡na¡do de,Àvelar e o
mestre-de-ob¡as Lopo Machado.
Os partidários do Bispo e do P¡ovedo¡-mor, que assinam a carta, säo os cama-
¡isras de 15j6: Simáo da Gama de Andrade, capitáo da frotâ de 1550 que veio para a
Bahia; Vicente Dias, cavalei¡o da casa do rei; Francisco Portocarrero, capiráo-mor do
ma¡ que acabou tendo seu o¡denado ¡iscado por entrar em confliro com o governador-
geral, Joáo Velho Galváo, que cinha sido provido do ofício de escriváo do A¡mazém
por D. Duarte da Cos¡a, mas depois foi impedido de se¡vi¡ enc¡ando em seu lugar
Berna¡do de Avelar; Damiáo Lopes de Mesquica e Pero Teixei¡a. Estes dois últimos só
conseguiriam participar da administraçáo coÌonial no governo de Mem de Sá quando
foram providos, respecrivamenre, ros cargos de contador das parres do B¡asil e de
escriváo da Provedo¡ia da Fazenda e Alfândega- Dessa forma, percebe-se que todos os

í6 "Traslado dâ periçáo do diro Sebasriáo da Sih-a, que fez ao capiráo,mor D. F¡ancisco de


Moura" de dezembro de 162i, que consta do "Livro 2" de provimenros secula¡es", iniciado
em 1625 e publicado nas DocLlneùor Hstórícos, vol.15, p. 49a.
j7 'AÌvará sobre a forma porque os governadores do ulr¡amar poderão prover os oficios que
vag¿rem nos sÉus go\-ernoi' de j de dezembro dc 762L Aryùto Naciazøl ¿la Torre do Totnbo,
Livro das Leis, vol. IIl, 11. 120
A formaçáo da elite colonial t67

memb¡os da adminiscraçáo que se perfilaram ao lado do bispo.já tinham perdido ou


perderiam os cargos que ocupevam.
Os dados apresentados indicam que, na divisáo entre o go!'ernedo¡-gepl e o ouvi-
dor geral contra o Bispo e o provedor-mo¡ os primeiros ficaram com a ampla maioria da
administraçáo, enquanto os segundos ficarem com a Câmara. Os memb¡os da adminis-
treçáo qt¡e optaram pelo segundo grupo sofreram retaliaçóes, mas, posteriormente, parte
dos camarisras de i556 foi incorporada ao governo de Mem de Sá. Assim, ainda que toda
a divergência renha sido motivada pelo compo¡tamenro do Êlho do governador-geral,
uma parcela importante da administraçáo colonial preferiu manter-se do lado do gover-
nador, possivelmente para garanti¡ as vantagens oferecidas por essa alianca-
Os dados biográfìcos colhidos indicam out¡o comPonente importante: as re-
laçóes familiares. O fato de a elice colonial de meados do XVI casa¡ encre si e que
tais casamentos pudessem ser ucilizados como estratégia de ascensão ou consolida-
çáo social náo causa nenhuma surpresa, o contrário é que seria
excepcionalts' Sáo
relevantes, porém, três conseqüências: a trânsmissáo e o controle de determinados
cargos por ce¡ras Famílìas; o aumenro do poder e presrígio que isso acarreta para
dere¡minadas famílias e o parentesco com detento¡es de cargos e as possibilida-
des que isso ofe¡ece. Indireramente, no caso dos descendentes dos detentores de
cargos, cambém rtos intetessa como forma de ve¡ificar a formação e consolidaçáo
patrimonial administração colonial
e possíveis ascerrsóes na
Exemplo dessa situaçáo é a trajetória de Diogo da Rocha de Sá, sobrinho de
Mem de Sá, com quem veio para Bahia. Segundo o testamento do governador-geral
a

recebeu cobres e gado para o engenho que montou em Pirajá, como pagamento pelos
serviços prestados, além do emprésrimo de escra"os e equìpamentosse- O engenho
é descrito por Gabriel Soa¡es de So,¡sa como "muito o¡nado de edifícios com uma
igreja de Sáo Sebastião, muito bem conce¡tada"60 Casou com Inês Bar¡eto. tendo
como frlhos Mem de Sá (lI), Filipa de Sá e Diogo da Rocha de Sá (ll). Tnês Barre¡o
e¡a irmá de Dua¡te Muniz Ba¡reto, alcaide-mor de Salvado¡, ofício que recebeu por
¡enúncia do tio Diogo Muniz Barreto, primeiro aicaide-mor de Salvador, em seu
favo16Ì. Duarte e¡a casado com Helena de Melo, fi1ha do alcaide-mo¡ de Vila Velha'
Antônio de Olivei¡a Ca¡valhal.
da Bahia'
]á o irmáo de MamLel de Sá Soto Maior e¡a provedor da alfândega
tendo depois, em vi¡tude do casamento com Helena de 'Argolo, sido promovido a

provedor da Bahia e, ainda posteriormente' assumido o cargo de prol'edor-mor das

58 Ver Mu¡ìel Nazzarini. O Daaparecinento da Darr. 5áo laulo: Companhia das Let¡as, 2001'
59 y/andc¡tel. pinho. Op. rrr., p. 6Z 88, 89 e 90.
60 Gab¡ielSoarcs de Sousa, Op cit.,p 146.
6r Po<le-se vcr a imporrâncra de Diogo Moniz Barrero pelo lato de c1e ter assumido o governo da
Bahia du¡¿nre a auséncla de Mem de Sá em l5ó0
ió8 Rodrigo Ricupero

paries do B¡asil, g¡aças ao apoio do Conde de Linha¡es. Sua esposa, Helena de Argolo,
e¡a filhade,{ntônio Ribeiro, anrigo capirão de llhéus e resou¡ei¡o da Bahia- Anrônio
Ribeiro, por sua vez, recebeu o ofício de provedor por casar com Maria de Argolo, que
era filha do primeiro provedor da Bahia, Rodrigo Argolo.
Dessa forma, os irmáos Diogo da Rocha de Sá e Manuel de Sá So¡o Maior, sob¡i-
nhos de Mem de Sá, Iigaram-se por meio do casamento com as famílias que controlavam
a A.lcaida¡ia-mo¡ de Salvado¡ e a P¡ovedoria da Baïia. A r¡ansmissáo dos cargos, conordo,
e¡a fei¡a mediance aurorizacáo régia, A.ssim a alcaidaria-mor de Salvador ficou muiro tempo
vinculada àfamília Muniz Barreto, e a Provedoriada Fazenda da Bahia era controlada pelos
descendenres de Rodrigo Argolo, tanto que este cargo de provedor passou na prática como
uma espécie de dore pelo menos para a filha, a nerae a bisnera do primeiro ocupanre.

Rodrigo Argolo veio parâ a Bahia em 1549, provido do Reino no cargo de pro-
vedor da Fazenda da Bahia por D. Joáo IIL Com sua morte, a viúva conseguiu que o
cargo ficasse para quem casasse com sua filha, nesse meio rempo o posco foi exercido em
"se¡venria" por Rodrigo de Frei¡as, casado com uma sobrinha de Rodrigo Argolo, com
a condiçáo de susrenta¡ a viúva e as Êlhas. Em 1556, Anrônio Ribei¡o casa com Ma¡ia
de Argolo e recebe o cargo, posre¡iormente, Manuel de Sá Soto Maior também o recebe,
ao casa¡ com Helena de Argolo, Êlha de Antônio Ribei¡o. No início do XVI, o provedor
da Fazenda e¡a Sebastiáo Pa¡vi de B¡ito, casado com -Ana de Argolo, filha de Manuel de
Sá Soro Maio¡, complerando assim pelo menos quase um século de posse do cargo na
descendência de Rodrigo de Argolo, já que paramos a investigaçáo nesse ponro,
É i-po.r"nt" destacar aqui que a transmissáo dos cargos era negociada caso a
caso com a Co¡oa. No exemplo visco acima, é possível verificar, pelos documen¡os
Iocalizados, a autorizaçáo para que Antônio Ribei¡o e Sebasriáo Parvi de Briro pudes-
sem ocupar o cargo, semp¡e com o argumenro da necessidade da família do ocupance
anre¡io¡. Nesse caso, ressake-se que esse p¡ocesso náo pode ser confundido com a ve-
nalidade de cargos, que só passou a rer uma cerra imporrância ern Portugal muito pos-
teriormenre e que "servencia", como vimos, era o exercício do cargo por um subsrituco,
dada a impossibiiidade do titular, mas rambém com aucorizaçáo superiorGr.
Outro exemplo in¡e¡essanre é o de Sebasrião Faria, que, como r.imos, e¡a fiiho
de Sebastiáo Álva¡es, anrigo esc¡ivão da Fazenda enrre ourros cargos. Sebastião Faria
casou com Bear¡iz ,A.nrunes, filha de Heitor Anrunes, rendeiro do acúcar e companhei-

62 Para Hespanha'A parrimonìaÌização dos ofícios exisriå, mas anr€s sob a lorma de arrìbuiçáo
de direi.os succssórios aos 6Ìhos dos oficiais que ¡ivessem se¡vido bem; e era jusrarncnte o
reconhecìmen¡o desses direiros que, provavelmenre, impedia, de fo¡ma dccrsiva a venalida-
de,.já que a Coroa n:o podia r.ender os ofícìos vecânres sem viola¡ esres direicos sucessáo,
ao conrrá¡io do que aconcecia com a co¡1cessáo de hábitos ou foros de 6dalguia,,. ,{nrónio
Vanuel H.rprnh:. \ con..i¡uicåodo lmperio Porruguè,. Reri,ro rJc:lgunsenriesrrenLos
correnres" in: Joáo Fragoso, Fernanda Bicalho e Maria de Fárima G o,;*èa. O Antigo Regíme
nas Trópicas. Rìo de laneiro: Civilizacáo Brasileìra, 2001, p. 183.
A fo¡macão da elite coloniaì 169

ro de Mem de Sá na conqusica do Rio de Janeiro, da qual também Sebastiáo Álva¡es


participou. Beat¡iz Antunes e¡a i¡má do senho¡ de engenho Jorge Antunes, de Nuno
Fe¡nandes e de Leonor Antunes, casada com Henrique Muniz Teles ou Henrique Mu-
niz Bar¡eto (ele utilizou os dois nomes), i¡mão de Dua¡¡e Muniz Ba¡¡e¡o que, como
vimos, e¡a alcaide-mo¡ de Salvado¡. Já a irmá de Sebastìáo Fa¡ia, Cus¡ódia de Fa¡ia,
casou com Pe¡o D'Aguiar DAltero, i¡mão do almoxa¡ife do A¡mazém e Mantimentos
da Bahia. Â filha de Sebasriáo AntunesJ que recebeu o mesmo nome da irmá, Custó-
dia de Fa¡ia, casou com o fidalgo Be¡nardo Pimentel de Almeide, sobrirrho do quarto
governador-geral Luís de B¡ito de -Almeida.
O casamenro do filho de Sebasrião Álva¡es com a Êlha de Heitor Anrunes per-
mitiu a consolidaçáo de um poder local na região do recôncavo, e as familias fica¡am
conhecidas como a "gente de Matuim"63, já que passaram a dominar a maior pârte dâ
regiáo- É significativa, ainda, a aliança envolvendo senho¡es de engenho - Sebastião
Faria, Jorge Anrunes e C¡istóváo DAguiar DAlcero , funcioná¡ios - esc¡iváo da Fa-
zenda, almoxarife e alcaide-mo¡ - e um ¡endeiro do açúcet e, coroando esse p¡ocesso,
remos a ligaçáo dire¡a com o governador-geral po¡ meio do casamenlo do sob¡inho
desse com a neta de Sebastiáo Álva¡es e Hei¡o¡ Antunes-

A.lamília foi denunciada por murtas pessoas durante a.isicaçáo da inquisiçáo em 1591 De-
nunctações la Bahia. Op. cit., ?assin e Lipiner. Os Jxidaizantes nas CaPìtarxi1s ¿e Cimâ Sáo
Paulo: Brasiliense. 1969.
TeRna, TRABAI-Ho E PoDER
6" Governo e patrimônio

Os almaxarifes e tesoureiì.os cntT'am nos cargos sem leretn na-da-

e com cles fazetn engetzhos e grossas føzcizd-as.

Padre Luís da Fonsecar

As exigências e as vantagens do cârgo

¡ñ rei e¡a, em ùltima instänci¿, o responsável pela totalidade das mercês conce-
\J d,¿"., ¿fin¿L essas eram sempre feitas, di¡eta ou indire¡amente, em seu nome
e sujeitas, pelo menos em teo¡ia, a sua aprovaçáo ou náo. Contudo, para os t'assalos
p¡esentes nes partes do Brasil, o acesso ao Monarca, embo¡a não fosse impossível,
era difícil, demandando tempo e dinheiro, e, salvo para grandes personalidades,
exigia uma série de intermediários.
AIém disso, os prêmios mais importantes, ¡anto simbólicos como mare-
riais, exigiam disrinçóes, se¡viços e relaçóes prévias inacessír'eis ao conjunto
dos vassalos engajados no Processo de conquista das partes do B¡asil nesses
primeiros rempos- Exceçáo feita a um seleto grupo' consticuído pelas principais
au¡oridades da colônia, as me¡cês mais comuns concedidas pelo Monarca eram
basicamente ter¡as, cargos e alguns títulos hono¡íficos Po¡ém, mesmo essas, na

"Representaçáo de Luís da Fonseca a el-reì" de 13 dc janeiro de 1585, publicada por Serr-


EmLeire (Sl). Hist.tri,z da Conpanhia de Jesu: í,o Br11si/, lO \ds. Lishoa: Porrugá1ia e Rio
deJaneiro: Civilizaçâo Brasileira, 1938-50, vol. II, p. 619.

173
171 Rodrìgo Ricupero

maior parre dos casos, e¡am confirmacóes de mercês feicas anceriormenre pelos
governadores-gerais.
Nesse sen¡ido, nos primórdios do B¡asil, a figura-chave ra execuçáo da poÌícìca
de r¡oca de serviços por mercês era o governador-geral, situaçáo que lhe conferia um
enorme poder, pois, além dos poderes que ral cargo the conferia, o principal repre-
sentanre régio dispunha também de um¿ sé¡ie de possibilidades pâra recompeisa¡ os
sen iços fèitos.
Serviços, que podiam gerar prêmios, que, por sua vez, permitiam a realizaçáo de
novos serviços e a obtençáo de novas remunetaçóes, numa escala crescente, se bem su-
cedidos- Daí Frei Jaboaráo lembrar-nos com cerro espanro de "que o prémio que se deu
aos conquistadores de umas (Índias Orienrais) lòi o trabalho de conquisrar as oucras
(ÍndiasOcidentais)"equerambém,continuaoreligioso,'náodeixadesermorivopara
o reparo, que excero um ou our¡o dos que vieram ao B¡asiÌ fundar capiranias, depois
que o mereceram por sen iços na Índia, quase rodos, vindo de lá cáo abasrados de bens
e haveres, acabaram nas conquistas de cá (Brasil) objetos da pobreza"r.
Servir à Coroa, mesmo nos cargos da administraçáo colonial, implicava custos
de maior ou meno¡ monta e rambém a¡car com os possír'eis prejuízos. Mem de 5á, por
exemplo. ao pedir.ubtLiruro, expli.ata ao rei.

alìrmo a Vossa Alteza que náo sou para esra rerra, eu nela gasto muiro mais do que
tcnho de ordcnado; o que me pagam é em mercadorias que náo me serl'en, , e eu fui
senìpre rer guer-ras e rrabalhos onde hei de dar de comer aos homens que váo pclejar
e mor¡e¡ sem soldo nem manrimenro porque náo há para lho dar. t

À idéia cor¡ente pressupunha que o encarregado da ra¡efa ou o ocupan¡e do


posro, na faka de ve¡bas reais, a¡casse com os cusros ou, pelo menos, viabilizasse
os lecLlrsos necessá¡ios, sempre, é claro, na expectariva que a Coroa compensasse
os gasros, ¡esricuindo o valor despendido ou concedendo me¡cês, muiras \ezes
simbóiicas.

Frcì Ànrônìo de Sanra Marìâ Jâboaráo. Nouo Orbe Seráfco (U6Ì), 2" eC, 2 parres em 3 vols.
Rio deJaneìro: Insriruto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1858, I, p. 134. Tal idéia rambérn
está prescnre cm ourros aLrtores que rraram da doaçáo das capiranias, como Gabriel Soares dc
Sousa ou Simáo de Vasconcelos.
"Car¡a de Mem de 5á, govcrnador do BrasiÌ pare el,rei em que lhe da conta do <1uc pussou c
passa lá e lhe pede em prga dos seus scrviços o mande vir para o Reino" de 3i de março de
1560, publicada nos ,.1 dais d¿ Biblio¡¿m Naríozal. Rio de Janeiro: Biblio¡eca Naciolel, 1876,
vol. 27, p.229.
A formaçáo da elite colonial t75

Exemplo dessa situaçáo é o famoso episódio em que D. Joáo de Castro, quarto


vice-¡ei da Índia, premido pela necessidade lrrgente de ¡econst¡ui¡ a fo¡taleza de
Diu, destruida após o chamado "segundo cerco de Diu" em 1546, apelou à Câmara
de Goa, evocando o "antigo costume e grande vircude, que é acudirdes sempre às
extremas nec€ssidades de Sua Alteza", solicitando em seu nome o empréscimo dos
recursos necessários pa¡e a obra, Pa¡a o que mandou desette¡rar D. Fernando, seu
filho, "qr-re os mouros matârâm nes¡a fortaleza, pelejando por serviço de Deus e de
ei-¡ei nosso senho¡ para vos mandar empenhar os seus ossos, mas acharam_no de
tal maneira, que náo foi Ìíciro ainda agora de o ti¡ar dâ te¡ra; pelo que me náo Êcou
outro penhor, salvo as minhas próprias barbas", por, continua o vice-tei. náo possuir
nem ou¡o, nem P¡ata ou out¡os bens com que pudesse "segurar vossas faze.tdas, so-
mente uma verdede seca e breve"4-
As dificuldades da fazenda régia náo eram, porém. privìLégio da Índia porrugue-
sa; Das pânes do Brasil também escasseavam cons¡anremente os recursos, obrigando,
particula¡menre nos momentos de maior necessidade, que os membros da ¡dministra-
çáo viabilizassem recursos, próprios ou alheios.
B¡ás Cubas, por exemplo, durante um dos períodos em que ocuPou o cargo de
capìráo-mor da capitania de São Vicente, enc¡e 1545 e 1549, te¡ia gas¡o de sua fazenda
nâ grerra coûtra os índios mais de 200 mil réis, valor que na época equivaleria ao or-
denado anual do provedor-mo¡ ou do ouvidor geral ou ainda metade do valor pago ao
governador-geralj.
No século seguinte, em 1624, Ma¡tim de Sá, capitão-mor da capitania do Rio de
Janeiro pela terceìra vez, também ¡elatava ao Monarca, que, dada a falta de ¡ecursos
da Fazenda Real, os reparos necessários nas fo¡¡alezas da barra da Baía da Guanaba¡a'
"por ser (negócio) de tanta importância ... , como posso, a minha própria cusca, as vou
reparando", afirmando ainda ao rei, "que estimala (que) eu fora mui grande para todo

4 "Carra que o qovernador D. Joáo de Cascro escrevcu de Diu à cidade de Goa" de 23 de no-
vemb¡o de 1546, publicada por Jacìnro F¡eire de Ändrade Vida àe D. Jo'io le C¿stra (1651)'
Lisboa, Agência Geral das Colônias, 1940, p.220
Brás Cubas pediria ao rei a resriruiçáo dos elâsros' sendo arendrdo, desde que Tomé ric Sousa
comprorasse esses. Cf.'Âl.ará Para Tomé de Sousa (..-) acerca das despesas feìras por Brás
Cubas, anrigo capìráo e ouvidor na capirania de i\4a¡¡im Alonso de Sousa- de 13 de dczembro
de 1551, pLrblicado por Jâime Cortesáo na 2¿ rce¿e Lusit¿na l¡Ionuaænta Hìltoriz l roños
em 3 r,ols. Lisboa: Real Gabinere Português de Leitu¡a do Rio de Janeiro' 1956, tomo I' p
334. Os ordenados podcm ser listos no "Livro pnmciro do registro de provimentos seculares
c cclesiásrìcos da cidade da Bahia c te¡ras do Brasil", publicado na coleçâo Docuneatas Hntó-
¡tr¿¡, il0 vols. R;o de Janeiro: Biblioteca Nacronal, t928-j5, vols. 35 e 36' p 8' 13 e 172 do
.-oì. 35 (Citado daquì crn diante corno "Liv¡o primeiro do regisrro de provimenros')
176 Rodrigo Ricupero

gasra¡ em seu real serviço"6. Mencionava que sobre tais despesas "tenho papéis mui
jusrificados de que contará quando Vossa Majestade seja servido mandar que (eu) possa
rratar da sacisfaçáo" delasT. Gastos e trabalhos que a Câmara da cidade atestava ouma
carta, na qual os oficiais afi¡mam ao rei que Martim de Sá depois que chegou à cidade
vai "gastando nisso (na defesa dela) mui¡o da sua fazenda com seus criados, escravos e
embarcaçóes, a sua custa e despesa, mostrando o grande zelo que tem do serviço de V-
s
Majestade" 'e.
D. Joáo de Casuo, porém, era um caso ra¡o denr¡e os homens que iam para as con-
quisras, em geral, ávidos por riquezas. Talvez por isso te¡ìa conseguido o empréscimo
empenhando apenas "as barbas", como garanria da própria palav¡a. Brás Cubas e Martim
de Sá sáo apenas dois exemplos da ampla maioria, daqueles que nâo desperdiçavam opor-
tunidades de faze¡ forruna, ranro no Orienre como no Ocidente.
Assim, dadas as di6cr¡ldades da fazenda ¡égia em arcar com os cusros elevados de ma-
nurençáo do e<tenso Império, contar com os ¡ecursos dos vassalos, decentores de cargos ou
não, era fundamental para a Coroa- Daí que, em alguns momenlos, a Coroa negoci¿sse ex-
plicitamente o provimeno de dete¡minados cargos mediante o coropromisso do agraciado
em fazer algum serviço ou benfeitoria '0. Estabelecia-se uma espécie de parceria, servir o rei
implicava gastos, mas rambém possibilidades de ganhos, ranto econômicos como soci¿is.

Diga-se de passagem que o sucessor de Marrim de Sá, Consranrino de MeneÌau, urilizou


t€rmos mui¡o parecidos em sua correspondência com o ¡ei, afirmando Êcar "desamparado
do remédìo (da fazenda real), sem embargo do que, seguirei o inrenro que digo até acabar de
gasrar o que possuo, pesaroso de nâo ser muito". "Ca¡ra de Consranrino Menelau" de l' de
outubro de 162i. Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Corpo Cronoìógico, parre I, maço
112 documenro 74.
CI. 'Ca¡ca de Marrim de Sá a Filipe III" de 5 de março de 1624, publicada por Gilberto
Ferrez, O Rio de Jateiro e a dlfesa do seu porto 1555 1800,2 vols. Rio de Janeiro: Serviço de
Documentaçáo Geral da Ma¡inha, 1972, p. 117.
Apossibilidade de que ralcarta renhasido escrìra a pedido do próprio Marrim de Sá náo pode
ser deixada de lado. "Ca¡ra da Câmara do Rio de Janeiro, dirìgìda ao rei Filipe III, na quaÌ
lhe relae os relevanres serviços prestados pelo Capitáo-mor Marrim de Sá" de 2l de feverei¡o
de 1623, publicada po¡ Eduardo de Casr¡o e AImeìàa, Inuentdno clos documentos relatitos ao
Brasil exístentes noArqùuo de Marinha e Ubranar ¿le Lisboa,9 vols. F.io deJaneiro: Biblioreca
Nacional, l9t3 - 195I, vol. VI, p. 4 (Separaras dos Ana^ da Bibl¡oteca Nacional).
Inre¡essanre também sobre esse rema é uma passagem do panegírico fúnebre do gorrrnador
D- Afonso Funado, em qùe o âuror conra, em evidenre exagero, que "gasrou nosso he¡oi mais
fazenda sua em servico de seu príncipe e obras pias do que gasraram junros cinco anrecessores
seus". Srua¡r Schrvarz e Alcir Pécora (org,). I s exctlências do gotrrnalor. Sáo Paulo: Compa-
nhìa das Lerras, 2002. p. 281.
Cf. "Nombramienro para la capirania de Sergipe en eÌ esrado del Brazì1" de 8 de março de
1606. A¡chivo Gene¡aÌ de Sìmancas, Sec. Provinciaies, códice 1476 - Liv¡o de consuiras de
África e conquisras, ð,e 1605 a 1607, H. 6l e "Resposra de Pedro Cadena sobre preços de
A lormacåo da elice coionial l,;
Exemplo dessa prática é o episódio ¡eiarado por Ga¡cia de Resende, em que D.
Joáo II
aconselhava ce¡to vassalo: "eu vos mando a Mina (Sáo Jorge da Mina), nâo sejas
táo peco (néscio) que venhas de lá pobie", e Garcia de Resende explicava em seguida:
"folgava el-rei que seus oficiais não lhe ¡oubassem sua fazenda e soubessem fazer seu
proveito"rL. Tal equaçáo, porém, nem sempre era seguida, como se pode constarar peles
dive¡sas devassas e denúncias sob¡e o compo¡tamento dos funcioná¡ios régios. Nem
todos os p¡ocedimentos adotados eram ilegais, alguns seriam, em alguma medida,
questionáveis; ou¡ros que hoje seriam condenáveis, e¡am, naquele momenro, aceiros
plenamente.
Existiam, é cla¡o, Iimires que náo podìam se¡ uh¡apassados, sob o risco para
qùem o 6zesse de se¡ por um lado, preso por ordem régia ou, pelo ourro, deposro
pelos moradores. ,Aproveitar as possibilidades legais de enriquecimenro, náo abusa¡
das ilegais, garantir o cumprimento das ca¡efas exigidas e manrer boas relaçóes com
os superiores poderiam se¡ os itens de uma receite para um membro da administraçáo
se¡ bem sucedido.
Nem rodos conseguiam. O governador-geral Diogo Botelho) numâ ce¡ta pessoal
ao Conde de Linha¡es, então vedor da fazenda ¡eal, ¡eclamava que Francisco de Sousa
Pereira, capirão da Pataíba etavm misertum senatorem, pois era "homem de pouca pru-
dência e sustância e está pobre e no cabo de seu tempo deve el-rei de mandar ir porque
nem se sabe aproveitar e governâ de maneira que pós agora em risco a capitania e codo
esce estado". F¡ancisco de Sousa Pereire ordenara guer¡a pa¡a ca¡iva¡ íßdios contra um
acordo de paz e contra o regimenlo real, que mandava que nenhum capitão Êzesse en-
r¡ada, nem mandasse faze¡, ao sertáo sem o¡dem e licença do go'ernador-geral, sendo
inclusive por isso preso e suspenso por certo tempo de suas funçóestr.
Mem de Sá, por exemplo, foi mais um dos que soube "fazer seu proveito", pois
no final das conras, do ponto de vista material, náo poderia se queixar, afinal mesmo
gastando no serviço do rei mais, segundo ele, do que seu o¡denado, nem por isso dei-
xou de amealha¡ conside¡ável fo¡tuna, náo lìcando, contudo, isento de c¡íticas sob¡e
seu comPortamenro.
Seus críricos conhecidos foram Gaspar de Ba¡¡os Magaihães e Sebasrião Ál-
va¡es. Os dois, oficiais da fazenda que, em 1562, rambém faziam parte da Câmara

obras mandadas fazer por conta da Fazenda Reaì, seus serviços no Brasil, pcdido de mercês"
de 1630. que consra do Liura pnmeíro do Goterno do Br¿s;l. Rio de Janeiro: Ministério das
Relaçóes Exteriorcs, 1958, p. 417.
Garcia de Resende, Zturo das Obrus de Garciø. de Resende (sécrl|oXVl), ediçao crítica de Eve-
lrna Verdelho. Lìsboa: Calouste Gulbenkian, 1994, p.416-
O ìnreressanre Diogo Bocelho utilìze-se do mesmo termo empregado por Garcia de Rc
é que
sende. "Cana deDiogo Botelho ao Conde de Linhares", escrita em Olinda. aos 23 de agosto de
1602. Arquivo Nacional da Tor¡e do Tombo, Cartório dos Jesuíras, maço 71, documento 3.
178 Rodrigo Ricupero

de Salvador, enviaram à Coroa uma carta com sugestóes sob¡e o funcionametio


da adminisr¡acáo colonial e com pesadas c¡i¡icas ao governador-geral Mem de
Sá e ao ouvido¡ geral Brás Fragosorr- Ambos pediram ao rei que mandasse como
governador "homem fìdalgo vir¡uoso e que não seja cobiçoso" e que es¡e só Poss¿.
nas palavras da época, resgatar, ou seja, uocar com os índios, Para sûa casa, man'
timenros e náo âmbar e escravos, porque se náo vem com essa condiçáo "somos
perdidos, como estamos porque toma¡am todos os resgâtes de âmba¡ e escravos
e para adquirirem assim rudo náo pode ser senáo com mùitas sem justiças e dis-
soluçóes, sendo cobiçosos" e dessa fo¡ma perdem o proveito os moradotes que "e
cusra do seu sangue e seu t¡abalho", ganharam e susren¡am "a te¡¡a e que (hao) de
morrer por ela (.-.) e parecia justiça e razão have¡em os moradores este proveìro que
¡ìáo quem o náo ganhou nem m€receu e que as máos lavadas leve o suor de quem
o ganhou".
Na mesma carta, soliciraram também, que se pague o salário do governador e
do ouvido¡ no reino, "por que há cá muito pouca fazenda de Vossa Alteza para se
pagarem e a que há levam eles e há muitas pessoas e oIìciais que sen'em vossa alteza
que padecem muiras misérias por isso", e concluem, enfatizando o pedido para o rei,
"nos mande governador e ouvido¡ mais domésticos, mise¡icordiosos e que seus in-
tenros sejam servir a Deus e a Vossa Al¡eza e Iibe¡ra¡ suas consciências e náo cobicas
e resgaces"'4.
As acusaçóes endereçadas a Mem de Sá, à primeira vista, surpreendem, afinal este
governador-geral é dos mais bem visros, tanto pela hisroriografia como pelos cronistas
do período, isso sem conrar os jesuíras, com os quais manrinha relaçóes muiro estreitas,
e a carta dos oficiais da fazenda é provavelmenre o único documento conhecido que
cortém crí¡icas relacivas ao carárer do gove¡nador.

real,6i nomeado escrnáo da làzenda por D. Joáo III,


Sebasriáo Álvares, car-aleiro da casa
servindo a parrir de 1554; acompanhou Mcm de Sá na conqursra do Rio de Janei¡o; seniu
ainda como capiráo de uma ca¡a"cla, for escriváo do tesouro a partìr de 1560, além de vere-
ado¡ da Bahia em 1562, se¡r¿nisra e ouvidor em 1576. Ele ou o Êlho ergueram, na sesmåril
recebìda pelo paÌ, o lamoso engenho Freguesia, esrudado por \\'anderiey Pinho. ,4r\-rárz /r
nn engenho do recôncau¿, 2" ed. Sáo Paulo: Companhia Edrrora Nacional, 1982"Tradado da
e
carra de Sebas¡iáo Alves, esc¡iváo da fazenda" de 21 de agosro de 1554, que consra do "Livro
primeiro do regisrro de provimenros", pubìictð.o nos Doctmentas Hisróricos, Op. rit., vol. 35,
p. 231. Gaspar de Barros Magalháes, 1ìdalgo, casado com Cara¡rna Lobo de Barbosa Almerda,
uma das rrês ó¡ãs mand:das pela Raìnha D. Ca¡arìna para câsâr com pessoas princip¿i\.
se¡viu na admìnÌsrraçáo e loì oâcial da Câmara de Salvador. Cl F¡ei Anrônio de Sanra M:rria
Jaboatáo, "Carálogo genealógico das principais lamílias (...)", publicado na Reuíst¿. do lt¡stíttt¡o
Hlstórlto e Geagráfca Brøsileìro, rcno LII, p.103.
''Ca¡¡a dos Oâciais da Fazendå da cidade do Sairador (...)" de 24 de julho de 1562, pubhcada
nos AnaL ¿ã Biblioteclt Nacional, vol- 27, p- 239.
4. lormaçáo da elire colonial 179

Surpreende também pelo fato de os c¡íticos serem pessoas próximas ao gove¡na-


dor-gerai. Aûnal, Sebastiáo ÁIva¡es o acompanhou na expulsáo dos franceses do Rio
de Janeiro em 1560, sendo um dos homens que comia à sua mesa'i e que, alguns anos
depois de rer escrito a cì.ada carla, se¡ia escolhido pelo próprio governador para depor
nos chamados "lns¡¡umentos de Mem de Sá", documento far.orável ao seu gore¡to;
Gaspar de Barros Magalháes rambém parecia gozar de boas relaçóes com Mem de Sá,
pois fora por esre nomeado contado¡ da fazenda e, na ausência dele, juiz dos feitos da
fazenda, tendo servido ainda como tesou¡ei¡o da fazendar6. \landerley Pinho especula
que Sebasriáo Álva¡es ¡e¡ia se indisposto com o governador por ter perdido o cargo,
cujo mandaro teria sido prorrogado por D. Dua¡te da Cosra'r, de quem era aliado, para
só posre¡iormenre, ao receber uma sesmaria, passar a manter boas relaçóes com o novo
governador. Tal explicaçáo poderia ser estendida para Gaspar de Barros Magalháes que
perdeu o posto de tesoureiro, que seruia interinamente, quando Mem de Sá deu para
out¡o o ofíciois.
Contudo, independenremen¡e dos motivos, tais acusaçóes náo podem ser descar-
tadas, seg;uindo a velha máxima jurídica, testis u721ß t¿stis n?-lhß, afìnal podem nos ajudar
muiro a en¡ender como Mem de Sá to¡nou-se um dos mais ¡icos ProP¡ietários e, prova-
velmence, o maior senhor de engenho das partes do Brasil ao longo de seu governo. Esse
amealhou invejár.el parimônio, composto por dois engenhos, o que ficaria conhecido por
engenho de Sergipe do Conde, no recôncavo de Sah'ador, que era provavelmen¡e o maior
e maìs importante engenho da colônia e out¡o em llhéus, em terras doadas pelo donatário
anres mesmo de Mem de Sá chegar nas parres do Brasil'e.

"Processo ricJoáo de Boléi' publicado nos lrnis ¿,1 Bibliotec,l N,lc;onal,ø1 25 p-27A
Cir a "Prolisáo do govcrnacior para Gaspar dc Barros serljr de Contador" de 3 dc jancìro de
i560 e o 'AhaLá por que foram providos Gaspar de Barros c Diogo Lopcs de I'{eira de juizes
dos feitos da laze¡da na auséncra do governador Mem de Sá para o Rro de Janeiro" de l0 de
Janeiro de 1í60, porém náo temos o Pro\'ìmento pa.a o posro de teso,rreiro, mas cle
rem assim
nomeado ¡os'l4sscn¡amentos das dignrdades, cônegos, meios cônegos, capel:es e moços de
coro" quc consia'n do "Lilro primeiro de provimenros", publicado nos Dact¿¡ne¡ttos Hìst'jrlco:.
Op c't.. tot. J(,. p ir a-elJ..cguir(e|espL.'it¿mcnt..
\¡er "T¡aslado e regìstro da provisáo do scnhor governador D Duarrc da Costa que passou
a Sebastiáo Álvares de escrir.áo da fazcnda" em 21 de agosto de 1552 sem prazo 6xado' que
consta do "Livro primeiro de provimenros". publica.do em Documentos Hktóritos, Ap. dt .rcl
35, p. 398. Entre o primeiro p¡ovimento e o segundo, Sebastiáo Á|'a¡es foi cnvrado ao Rcino
por D. Duarte da Cosra como capitáo dc una caravela.
"Car¡a de Nlem dc Sá afrei Bartolomeu, religioso de Sanro,{gostinho em Nossa Senhora da
Graça de Lisboa, sobre o pror.ìmento dos ofícios da cìdade do Sah,ador que cl-rei tìnha man-
dado aplicar a dotes pa¡a casamento das órfás que do Reino ìhe enviaram" ÀrqLrivo Nrcional
da To¡¡e do Tombo, Cartas Mìssivas, Maço 1, Documento 397
Cl. "senrença conrra Jorgc de FìgLreiredo, capitâo qtre fora da caPr¡ania de Sáo Jo¡gc do Rio
dos IIhéus (...) pela qual se lulgou que de.'iam pag:rr dizima na a1lândega de Lisboa, das coi'
180 Rodrigo Ricupero

O rescamen¡o do governador nos dá mais informaçóes sob¡e a dimensáo de seu


patrimônio- Consta que era proprierário do que deve.ia ser o maior rebânho da Bahia,
com quase 500 cabeças de gado, pârte num cur¡al rro ¡io Joannes ao norte de Saivado¡
e o ¡esrante em Sergipe (do Conde) e qlre mantinha diversas transaçóes comerciais,
pois como ele mesmo escreve "¡enho mandado muito açúcar ao Reino"ro por Salvador
e Ilhéus. Para ranro, mantirrha represencantes comerciais no Reino, provavelmente em
Lisboa, os quais deveriam ser os responsáveis pela maior parre dos seus negócios. mas
rambém possuía relacóes comerciais com Viana e co¡n Flandres, para onde tinha man-
dado, pouco antes de sua morre, quase quatrocentas arrobas de açúcar para a primeira
cidade e mais de mil arrobas para a última. Além do açúcar, Mem de Sá também en-
viava pau-brasil para o Reino, ¡ecebendo, po¡ sua vez, tarnbém uma quantidade mui¡o
grande de me¡cadorias, que iam de roda so¡ce de fe¡¡amentas em grande quantidade
a¡é alimenros, roupas entre outras coisasrl.
Tal produçáo exigiria grande quantidade de máo-de-ob¡a, dai náo causar surpre-
sa enconrra¡mos no invenrá¡io feito no engenho de Sergipe, 303 esc¡avos, desconside-
rando a afrrmaçáo do sobrinho Simâo de Sá, de que ainda havia 98 escravos náo lança-
dos em receita, por rer o go,'ernador mandado Domingos Ribei¡o':r leválos embo¡a do
engenho e ourros 2I escravos, que embora estivessem no engenho, eram do sob¡inho,
que os herdara de Esrácio de Sá, lalecido alguns anos anres. A escravaria do engenho de
Santana em Ilhéus, embora menor, rambém era signiÊcativa, toralizando no inven¡á¡io
pouco mais de 130 esc¡avos.
V¿le lemb¡a¡ que dencre os esc¡avos de Sergipe, com cerrezâ, 18 e¡am africanos
e, em Santana, em Ilhéus, ourros nove, denominados gere¡icamen¡e como negros da
Guiné, em conrrapartida aos negros da te¡¡a, Esses deveriam ter origem variada, pois

sas e mercadorias que viessen da mesma capirania", dada em Lisboa em 5 de maio de 1552
publcada em.4s Gauetas d¿ Torre do Tomba, 72 vols. Lisl>oa: Cenr¡o de Esrudos Hisró¡icos
Ulrramarinos, 1960- 77,11, p. i82.
20 Wanderley Pinho, Testamento de Mem de Sl, Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1941, p.
86.
O'resramento de Mem de Sá", diversos invenrários e o "conrraro de dore e arras de D. Filipa
de Sá e D, Ëe¡nando de Noronha" foram publicað,os nos Docamentos p¿lã a Hi'rórit' ¿o Açú-
.¿r J rols. Rio deJ¿neiro: IÀÀ lîiô. fll.
Domingos Ribeiro, morado¡ de uma iiha em Sergipe do Conde e criado de Mem de Sá, foi
deoLrnciado na chamada prìmeira visiracáo do Sanco Ofício às parces do Brasil, por rer enrre-
gue, por voka de vinre anos anres, uma arma de logo a um índio para obrer uma escrava. No
invenrário de Mem de Sá, além da cirada passagem em que ele reria levado escravos para fora
do engenho, seu nome aparece como responsável peÌa enrrada de 26 escravas índias. Cf- ?¡¡,,
mexrø Wsitaçáo do trnto Ofício às ?artes da Brasil - Denunciações la Bahia, Sáo Paulo, 1925, p,
296 e "Invenrário do engenho de Sergipe por Morre de Mem de Sá" de 1572, publicado nos
Documento' p.ll,d.1Histtii,a do Açúcar, Op. cit.,IIf, p.48 e 62.
A formaçáo da eli¡e colonial 181

rânto num como noutro engenho existiam esc¡avos rrazidos de Pe¡na¡nbuco e no de


Ilhéus havia um conside¡ável números de esc¡avos tamoios, p¡ovavelmente trazidos do
Rio de Janeiror-'.
No inveorário, rambém é a¡¡olada uma grande quancidade de açúcar encontra-
da nos engenhos, parte ainda em processo de produçâo, que rotalizariam, segundo o
contraro de casamen¡o da filha, Filipa de Sá, mais de 1300 arrobas, algumas peças de
artilharia e out¡as armas e quantidade significatil'a de equipamen¡os de cob¡e, além
disso, o lalecido governador ainda envia¡a uma quanridade de cob¡e a um caldei¡ei-
¡o na Ilha da Madeira:]- Mem de Sá possuía, ainda, seis mil quintais de pau-brasil
¡ecolhidos no Rio de Janeiro que seriam eoviados ao Reino e grande quantidade de
fazendas em Salvado¡, ¡emeridas do Reino e avaliadas em r¡ês mil c¡uzados.
Tal parrimônio nos parecerá ainda mais grandioso se lemb¡a¡mos que Mem de
Sá ¡euniu a maior pa¡te dele em apenas 14 anos, período em que esteve à f¡ente do
Governo-geral, e qu€, graças a sua fortuna, sua filha pôde casar com um dos grandes
do Reino, o futu¡o Conde de Linha¡es. Contudo, o caso de Mem de Sá náo é único,
embora possivelmenre seja o mais grandioso, afinal out¡os t'assaios envolvidos di¡e-
ta ou indi¡etamente com a administraçáo colonial no período também conseguir¿m
amealhar grandes fortunas.
Tais fo¡¡unas no B¡asil, como se percebe pela lei¡¡a do testamento e dos inven¡ários
de Mem de Sá, e¡am es.mcuradas a pani¡ das atir.idades produtivas, ao contrário das fei¡as
no O¡ien¡e, originadas no comé¡cio ou no saque. A diferença entre as bases econômicas
dos dois lados do Impérìo reriam implicaçóes profundas, embora náo impedissem que, no
período aqui estudado, as gue¡¡as ocupassem um pape.l cental em ambas as partes. No
Oriente, as guerras visavam ao controle sobre me¡cadorias e sob¡e ci¡cui¡os comerci¿is esm-
belecidos, além de permitir uma acumulaçáo fâcil graças a rapina disseminada. No Brasil,
es gue¡¡as visar?m ao controie sobre as ¡effas da faixa costeira, nas quais se esüuturar¿m
particula¡mente a produçáo açucareira e o extrativismo do pau-b¡asil, além de fornece¡em
os trabalhado¡es necessá¡ios, g¡aças ao caciveìro das populaçóes de¡¡o¡adas2t.
Daí que, nas parres do B¡asil, os vassalos ricos fossem essencialmente os grandes
proprietários de terras, muitos deles rambém senhores de engenho; porém. ne<ses pri-
meiros rempos, tais fortunas precisavam ser criadas praticameÂte do nada Para tanto,

23 Cl os in.'entários publicados r,oi DocumentosPdrd a HístóríI¿ do Acicd'r, O?. cít ,IIl


24 "Conrraro de dote e arras de D. Filipa de Sá e D. Fe¡nando de Noronha" de 1573 pr'rblicado
nos Donunentos para a Hisnjriã d0 Açtícar, OP. cit..lll, p- 319.

Sobre a importância das guerras nos dois p¡incipais esPeços do Impérìo ponuguês, 'eja-se a
opiniáo de dois governadores, Diogo Botelho, na ciuda cana ao Conde de Linha¡es, e Martim
Afonso de Sousa, na 'Cana para o rei, datada de Cochim, de 24 de dezembro de 1536", publi-
cada por Luís de Albuq,:er1ue (Org.), Martin Aþn:o dz Saus¿. Li,sl>oa: Alfa, 1989, p. 50.
lR? Rod¡iso Ricuoe¡o

a participaçáo ro governo da conquista consriruiu-se num dos caminhos possíveis, e,


provavelmenre, nesse momenlo, no mais simples e rápido.
Äfinal a administ¡açáo colonial oferecia â seus membros ou a pessoas a eles Ìi-
gadas, uma série de possibiiidades de auxílio à formaçáo de patrimônios, tan¡o lícitos
como ilíciros, fosse pelo uso dos recùrsos da pequena arca de mercês manejadas dire-
ramenre na colônia, da qual a terra era o principal item, fosse por outros expedientes.
Além disso, e¡a ainda a adminiscraçáo colonial que mediava, por via cartas e certidóes,
o acesso à grande arca de me¡cés, materiais e simbólicas, concrolada pelo rei.
Os go,.ernadores-gerais, ao comandarem a administraçáo colonial, controla-
vam rambém amplas possibilidades para o enriquecimen¡o dos vassalos envolvidos
no governo da conquisra, possibilidades que náo guardavam apenas para si- Conru-
do, os mais impo¡¡arres represenrantes régios eram "homens ul¡rama¡inos", na fór-
mula de Àlencasc¡o, que almejavam sua promoçáo social e financeira na Metrópole,
para onde ¡etorna¡iam após o rérmino do governo, daí que náo ¡enham se inserido
na eli¡e colonial, embora, por out¡o lado, tenham cumprido um papel cen¡¡al na
criaçáo desra, parricularmente favo¡ecendo as Pessoas mais próximas a eles
Os treze governadores-gerais que romaram posse e¡:ue 7549 e 1630, desconsi-
derando os substitutos, apresenraram ral perfil. Desconsiderando Lourenço da Veiga
e Manuel Teles Barreto, que falece¡am no exercício do cargo, e Diogo de Mendonça
Furtado, aprisionado pelos holandeses após a queda de Salvador, sobre os qu¿is remos
poucas informaçóes, rodos os oLrt¡os náo deixaram de aproveitar o período de governo
para obterem vanragens materiais, benefrciando-se do posto que ocupevam-
Conrudo, nenhum governador que concluiu seu mandato com vida deixou de
voica¡ ao Reino; dos que faleceram exercendo o posro, o caso mais inreressante é o de
Mem de Sá, que provavelmente ¡eto¡naria a Portugal, pois o casamenro de sua filha
com um dos grandes do Reino, o Conde de Linhares, arescou sua condiçáo de "homem
ulrrama¡ino".
Vários destes governado¡es deixa¡am, ao rerornar ao Reino, um considerável pa-
trimônio na colônia, próprio ou de parenres próximos, como irmáos ou Êlhos, mas
com cer¡eza absolu¡a o único filho de um governador-geral que permaneceu nâs partes
do B¡asil, foi D- Luís de Sousa Henrìques, 6lho de D. F¡ancisco de Sousa, que casou
em Pe¡nambuco com a filha de Joáo Paes Barrero, um dos mo¡adores mais ricos da
colônia, que chegou a possuir enr¡e oiro ou dez engenhos de açúcartó.
No que poderíamos chama¡ de segundo escaláo da administraçáo colonial, a
siruaçáo era dilèrente, pois podemos encontra¡ tanto os chamados homens "coloniais"
como os ''ul¡¡ama¡inos"- Manuel de Masca¡enhas Homem após servir como capiräo-
mo¡ de Pernambuco por indicaçáo régia, tendo inclusive comandado a conquista do

Frei Vrcente do Salvador, His¡ória da Brasil (1627). 5" ed. Sáo l'aulo: Velhoramenros, t96j
p- 364.
A fo¡macáo da elite colonial 183

Rio G¡ande, to¡nou-se senhor de mais de um engenho2T. Acabou por retornar ao Reino
e seguiu, numa.jornada de soco¡¡o a Maiaca, como "general duma das esquadras da
Armada com que se há de fazer guerra aos holandeses", o que lhe valeu uma sé¡ie de
mercês, rais como nomeacáo para o Conselho do reì, promessa de uma comenda de
400 mil réis e a capitania-mo¡ de uma viagem das naus da Índiat*. Náo ¡etornou mais
ao B¡asil, desfazendo-se dos seus engenhos em Pe¡nambuco- Out¡os, porém, acesrando
sua condiçáo de "homens coloniais" acabaram por enraiza¡-se na colônia, onde deixa-
ram descendência. como, por exemplo, C¡is¡óváo de Ba¡¡os, provedor-mor da fazenda,
ou Salvado¡ Cor¡eia de Sá, capitáo-mor do Rio de Janeiro.
,4. permanência ras partes do B¡asil foi a opçáo principal dos funcionários ìn-

re¡mediá¡ios que conseguiram acumular propriedades. Nesse caso, mais do que nos
outros, a volta ao Reino poderia signifìcar regressão social, pois o prestigio alcançado e
o patrimônio reunido na colônia diâcilmente poderiam ser desfrutados na metrópole-
As ¡eferências, no parrimônio de Mem de Sá, a âmba¡ pau-brasii, acucar, armas,
gado, terras e escravos nos dáo importantes pistas para podermos enrender náo só
como Mem de Sá ¡euniu sua foÍuna, mas também como se estruturou a parcela mais
importanre da elice colonial-
Tais irens podem se¡ divididos em dois grupos. O primeiro, formado pela terra
e pelo acesso à máo-de-ob¡a indígena, é decisìvo para a consticuiçáo do patrimônio da
parcela da nascente elite colonial vinculada ao governo da conquista e, por isso, merecerá
um destaque especial adiante, neste e nos capírulos finais desre trabalho. O segundo

"Carta do bispo D. Ped¡o de Casrìlho a el rei sobre a consulta da Mesa de Consciência reFeren¡e
ao dinheiro que por ordem de Manuel Mascarenhas Homem se despcndeu nas obras da [orrj6-
cacáo do Rio G¡ande" de 13 de agosro de l605 Biblioreca da A1uda, códice 5t-V'84' "Cópia de
Carras do vice-rei a Sua Majesrade ', 1ì 12. Manuel Masca¡enhas Homcm, por tomar o drnhciro
do cofre dos defuntos por mandado do governador do Brasil para os gasros com a fonaleza do
Rio Grande, ¡eve uma série de problemas, tendo os frutos dos engenhos e de uma comenda q're
já possuía seqüestrados. "Documento enviado pela Mesa da Consciéncja sob¡e Manuel M:sce
¡enh:s" de 17 de ourubro de 1605. A¡chìro General de Simancas, Sec. Provinciales, códice 1476
- Liv¡o de consuhas deÁfrica e conquistas, de Ì605 e 1602 ffs. 92 c 921..
"Carra de el-rci ao Bìspo D. Pedro de Castìlho" de 27 de dezembro de 1604 c "Cana de el-rei ao
Bispo D. Pedro de Castìlho sobre as periçóes deÁlva¡o de Carvalho" de 22 de janerro de 1605
Bibliorcca daAiuda, códice 51-VIII-06, "Cartas de Filipe II para o Bispo D. Pedro de Casrilho",
Â. 5 r'. e 26 t, ¡espec¡ivamenre. Por outro documenro, sáo leì¡as ainda as mercês do imponante
posto de capìráo da forcaleza de Malaca, com drreito àcâPitanìa de umaviagem à China: conru-
do. náo sabemos se tais me¡cês eram somadas às anreriores ou no lugar delas, registre-se, ainda'
que embora Manuel Mascarenhas Homem tenha ido eletivamenre à Maiaca. ao que parece, náo
chegou a assumir o gove¡no da fortaleza. "Despacho de Filipe II Para o arcebispo de I 'rshor' l)
Ìvfiguel de Casrro, r'ìce-rci de Porrugal" de 28 de Março de 1617.{rchivo General de Simanc¡s.
Sec. Provinciales, códìce 1515 - Regisrro de despachos de D. Fllipe Ill de Espanha, ll de Portu-

gal, lls 23 r e 29.


184 Rodrigo Ricupero

grupo compóe-se de our¡as van¡agens que, sob o conrrole da administraçáo, podiam ser
¡eve¡tidas em favo¡ de certas pessoas, auxiliando no processo de formação do parrimônio
destes, como veremos no último irem desre capírulo. Afinal, naquele momenroJ em que
o público e o privado ainda náo estavam compleramenre dis¡inros, os recursos públicos
eram urilizados freqüenremenre em benefício privado sem maiores problemas, embora o
cont¡á¡io ta¡nbém oco¡¡esse.

A distribuiçào das sesmarias

O primeiro aspecco que merece ser abordado é o da disuibuiçáo das terras ameri-
canas controladas por Porcugal, pois, como analisado no primeiro capírulo, essas foram
incorporadas ao patrimônio régio e doadas em sesma¡ias aos vassalosre. O poder de con-
ceder as re¡¡as era em última instância do ¡ei, que o delegava aos seus represer¡arLres na
colônia, conrudo, ele próprio raÍemenre as concedia di¡e¡amen¡e e, quando fazia, era,
em geral, para grandes 6guras do Reino ou para imporranres membros da administraçáo
coloniaì e seus parentes, que na maioria dos casos recebiam largas porçóes de terrasio-
Algumas das mais entigas ca¡tas de sesma¡ias que conhecemos atesram ral
situaçáo. Nelas sáo igualmente beneficiados com 12 léguas de rerras Dua¡re Dias e
Miguel de Moura, secretários do ¡ei D. Sebasrião ou ainda Tomé de Sousa e Luís
de B¡ito de Almeida, governadores-gerais, o primeiro ¡ecebeu seis léguas depois
de.já ter servido o cargo e o segundo 12 léguas momenros anres de embarcar para
tomar posse do cargoit-

29 "Das Sesmarias", drulo LXVII do <¡uarto livro ð,as Ordenaçóu Manuelinas (1514). j yols.
Lisboa: calousre Gulbenkian, 1984, p. 164.
Para uma visáo geral das sesmarias, ver Cosra Poro, Esrudo sobre o sistema sesmarial. F.ecife:
Universidade Federâlde Pe¡nambuco, 1965; Ruy Cirne Lìma. Pequena H;stôria Tenttorial¿to
Br'zsil. 5' eà. Sâo Pau,Io: Arquivo do Estado, 1991 e Vrrgínia Rau. Srsmarias medietau paau,
gursas. Lìsboz: Benranð' 1946.
"Registro de Doze Léguas de re¡ra de Duarre Dias" de 2 de janeiro de Ì573, 'Regisrro da
carra de Miguel de Moura" de 27 de fevereiro de 1573 e "Regisrro da carra de sesmaria de
doze léguas de terra de Luis de B¡ìro de Almeida Governador, que foì desras parres" de 23 de
janeiro de 1573, rodos publicados nos Docamentos Hís¡óricos, Op. cìt., !d,. 14, p. 441, 455 e
450 respecrivamenre. Já a "Doaçáo de seis léguas de Te¡ra no B¡asil a Tomé de Sousa" de 10
de dezembro de 1563 e a ourra "Doacáo a Tomé de Sousa de seis léguas de Te¡ra no Brasil em
lugar das que lhe deram já" de 20 de outubro de 1565 foram publicadas pelo Coronei Ignácio
Accioli de Cerqueire e Silva, Memóias Htajriøs e Politic¿s da Bah¡¿, 6 vols. Salvador: Im-
prensa O1ìcial, r9r9 - 4),wol.I, p.275 e 276.
A. fo¡macão da eiire colonial 185

Coube, portanro, aos deiegados régios a maior parte da distribuiçáo das ter-
ras das parces do B¡asil, o que lhes confe¡ia imenso poder. No primeiro momenro,
tal prerrogativa foi confe¡ida aos donatários, para em seguida, após a criacáo do
Governo-gera1, se¡ es¡endìda ao governadorjr. Daí acabou rambém delegada aos
capitáes-mores das capicanias régias.
No ¡esimento de Tomé de Sousa, contudo, a possibilidade de distribuiçáo de
sesma¡ias era limitada às ¡e¡¡as no rermo de Salvado¡, ou seja. à área de 6léguas em
torno da cidade, pois, para as demais terras da capirania, entáo a única régia, o rei
deve¡ia se¡ consulcado antes5i.
Posterìormente, com a conquista do Rio de Janeiro, Mem de Sá concedeu ao
sobrinho Salvado¡ Correia de Sá, segundo capitáo-mor do Rio de Janeiro, "poder para
dar de sesma¡ias te¡¡as e cháos conforme o regimeûro e capítulo del-rei Nosso Senho¡
por onde as ele dava na Bahia"i{. C¡isróváo de Ba¡¡os, re¡ceiro capiráo-mor, nomeado
pelo rei, deveria servir, conforire instruçóes régìas, com "poderes e alçada que reve e de
que usou Salvador Co¡¡eia de Sá"rt, o que lhe permitiu dist¡ibui¡ te¡¡as.
Além disso, C¡is¡óváo de Ba¡ros levou um alvará, no qual o ¡ei aurorizava expres-
samerte o novo capitáo-mor a redist¡ibuir as terras já dadas, que náo fossem aproveira-
das nc prazo de um ano. Contudo, tal alva¡á só e¡a invocado nos casos de redistiibui
çáo, pois as terras até entáo náo corcedidas e¡am doadas com base apenas nos poderes
confiados po¡ Mem de Sá a Salvado¡ Co¡¡eia de Sáj6.
Com a divisáo do Governo-geral em 6ns de 1572, foì concedido pela Coroa ao
novo gove¡nado¡ do Rio deJaneiro, Antônio de SaÌema, a faculdade de dis¡ribui¡ ¡e¡¡as
no termo da ciciade do Rio de Janeiro, fato que seria invocado nas concessóes de ter¡as

Cf. "Doaçáo da Capitania de Pernambuco', publicada, entre ourros lugares, em Doaçócs e

Foraís das Capìtanias do Brasíl (1534-1536). Apreseûraçáo, rranscriçáo e roras de Mâriâ José
Choráo. Lisboa: .{rquivo Nacional da Tor¡e do Tombo, 1999, p. 15 e "Rcgimenro de Tomé
de Sousa" de Ì7 de dezemb¡o de Ìí48, pubìicado por Ca¡los Maiheiro Dias (Dtí), Hlttótl¿¿
da Colonizdç,áo Potu,guesø do Bra:il,3 vols. Porto: Licograña NacioDal, 1922.. \o1.IlI, p.346
(Cirada daquj em dianre epeù s como Hittória da Colonizac,lo Portuguesa do Brasil).
Sobre o poder de concede¡ rais rer¡as, não existem outros reqrstros. assim náo sabemos se o rei
ampliou os poderes do sor-ernador ou se esses foram ampiiados sem expressa auroriz¿cáo.
"Car¡a Ce sesma¡ia das rer¡as e cháos de Pero Colaço e Martim da Costa" de 6 de serembro
de 1573, que consra da Tonbo døs Ca,tas ¿le Sesnarias ào Ria /-e Jaiteito (1573-4 e 1578-9),
publicado na coleçâo Doc?.mentc,i Hirtói i.or, vol, 111 (nova sé¡ie). Rio dc Janeiro: Biblioreca
Nacional. 1992 p.35.
3i Iden, p.34.
36 "Ca¡ta <ic Sesma¡ia d¿s ærras de Francisco de Sousa'de 27 de ouubro de 1573. Idern, p.49.Yer
.Tradado
rambeL¡r de um Ahará em faro¡ de C¡istóváo de Barros, para conceder as terras de
sesmaria aos morado¡cs de Sáo Scbasciáo, do Rio deJaneìro" de 27 de oLrrubro de i571. Joaquim
\trissimo Serráo, O Río ùJaneiro no séca1a )llr{ 2 vols. Lìsboa: Comìssáo do IV Cenrenário do
Rio deJaneiro, 1965. vol. Ir, p. 85.
18ó Rodrigo Ricupero

após o término de seu governo e o fim da dita divisáort ,{ssim, Salvador Co¡¡eia de

Sá, em seu segundo mandato à f¡ence da capirania, distribuir sesmari¿s com


passou a
base no regimento de Antônio de Salema e náo mais, como tinha feiro no seu primeiro
governo, com base nos poderes conferidos por Mem de Sárs'
Para as demais capiranias régias, remos muiro menos informaçóes Tomé da
Rocha, capitáo-mor de Sergipe, concedeu sesmarias em 1594 "por bem do regimerto
que para isso tem"ie e Feiiciano Coelho de Carvalho' capicáo-mor da Paraíba, doou
cerras aos padres da Ordem de Sáo Benro em 1599, confo¡me "minha provisáo e
ordem que de Sua Majestade renho"i0, porém, em ambos os casos, rais tlocumentos
náo foram registrados. De qualquer forma, os beneditinos, aParentemente Por náo
rerem registrado a ca¡ta no liv¡o da fazenda no tempo fixado, obriveram confirmaçáo
da doação de dois governadores-gerais, primeiro de Diogo Botelho e depois de Diogo
de Meneses".
Pelo regimento de Tomé de Sousa, as sesmarias concedidas' nos mais variados
camanhos, não precisavam de confìrmaçáo régia Tal garantia eta procttrada no caso
das grandes concessóes e em doaçóes que pudessem ser colocadas em dúvidas, por
náo atenderem parce das exigéncias estabelecidas ou Por serem doadas por funcioná-
rios cuja auroridade, no caso, pudesse ser con¡esrada- Esse foi o provár'el morivo que
levou Paulo Dias, cavaleiro da O¡dem de São Tiago e mo¡ado¡ em Salvadot a busca¡
a confirmaçáo de D. Sebasriáo para sua sesmaria, concedida por Diogo Muniz Barre-
to, alcaide-mor, que servia como caPi¡âo na ausência de Mem de Sá, enráo no Rio de
Janeiro'r. Ou ainda o caso de Joáo de Àguiar, mo¡ador em Salvador, que após receber

i7 Náo se conhece a ínlegra do regimento dado a Ântônro de Salema' mas o capítulo relèrenre
à concessáo de ter¡as é rranscrrto em algumas cartas de sesmarìa e Prericamenre rePetÉ os
termos do regimento de Tomé de Sousa, Cl ''Ca¡ta de sesma¡ìa da ilha de André de l-eáo" de
21 de outubro de 1578. Idem, p. ll7.
38 As ca¡ras de sesm¡rìa dadas nos governos pos¡eriores conrinuaram baseadas no regimento de
Ânrônio de Salema. CL "Ca¡ra de sesmaria de um cháo para casas de Joáo Carvalho" de l1
de março de 1593, que consta do Tombo ¿/a: Ca.tø.s das Ses, ãria' ¿o Rí0 ¿e J¿nàra (1594 - 5 e

1602 - 5). Rio àelaneiro: Ârquivo Nacional, 1962 p. 2.


39 'Ca¡ra (de Sesmaria) de Tomé Fernandes" de 23 de juiho de 1594, pubircada por Felisbelo
Ereire, Htttti,z rlè SergiPa. 2' ed., Perrópolis: Vozes,1977, p.328.
40 "Daca de rer¡a de Meriri" de t8 de 1599, quc consta do Zrt'ta r/a ¡ombo do masteu'a
de agosco
de S,to B¿nro ì¿ ci¡lade dd Pardíbø. Recife: Imprensa OÊcial, 1947 - 1951 (formado por 4
separaras da revisra do Arqurvo Público Estadual de Pernambuco), f. 99 (,{ nLrmeracáo da
publicaçáo segue a do manuscriro).
41 Iden. f- 99 v.
42 "Carra de conlìrmaçáo de sesma¡ia concedida por Dìogo tr4uniz Ba¡reto" de 12 de agosro
de t560.,A.rquivo Nacional da Tor¡e do Tombo, Chancela¡ia D. Sebasrião e D. Henriquc,
Doaçóes, I-nro 15, 11,94 v. (Ao contrá¡io dos dcmais ¡einados, os documentos relativos eos
reìnados de D. Sebaxiáo e D. Hennque sáo organìzados numa só Chancelaria).
A formacâo da elì¡e colonial i87

uma sesmeria de duas léguas de frenre por quatro de fundo, no Rio de Janeiro, de
Estácio de Sá, entáo capitáo da nova capitania, pediu a Mem de Sá confirmacáo do
benefício. Náo podendo aproveitá-la repassou a Duarte de Sá, que obteve, por sua vez,
a confirmaçáo de D. Sebas¡iáo$.
Dessa forma, as sesmarias e¡am concedidas tanto pelo governador-geral como
pelo seu subsriruco, quando aquele se ausenrava da Bahia, bem como pelos capitáes-
mores das capiunias reâis, como a do Rio de Janeiror em nome do ¡ei e com base no
regimento dado a Tomé de Sousa, enquanro, nas chamadas "capiranias he¡ediiá¡ias",
como Sáo Vicente, era o capitáo-mor quem concedia, mas em nome do donarário,
seguindo o esrabelecido na carta de doaçáo e no forai.
No Ma¡anháo, contudo, a parcir da década de 16i0, a reparciçáo de re¡ras foi
desde o inicio objeto de disputa entre as vá¡ias auto¡idades; Gaspar de Sousa foi o
primeiro a distribuir terras na regiáo, pois como ele mesmo explicava ao ¡ei "das rer-
ras do Ma¡anháo estáo muiras repa¡tidas já assìm por mim com ord€m que par¿ isso
tive de Vossa Majestade, como peÌo capitáo-mor Alexandre de Moura que 1á mandei
com os mesmos pode¡es"rr.
Alexandre de Mou¡a, que acabara de deixa¡ o governo de Pe¡nambuco, foi o
responsável direto pela conquisra do Ma¡anháo du¡ante a fase final da luta cont¡a
os franceses, dis¡¡ibuindo terßs in lon. mas, ao se ¡etira¡, deixou um regimemo ao

primeiro capitáo-mor do Maranhâo, Jerônimo de Albuquerque Ma¡anbáo, em qLre o

oriertava pa¡a que não distribuísse oút¡as, sem o¡dens do rei ou do governador-geral
Gaspar de Sousaat.
Inte¡essanre lembrar que Alexand¡e de Moura, pouco rempo antes, rinha sido
incumbido peÌo rei de i¡ ao Rio G¡ande redist¡ibui¡ as terras dadas ah exatamen¡e
por Jerônimo de .dlbuqrierque, que, ao doar uma área táo grande aos frlhos, tinha
causado espanto ao próprio Mona¡ca. Este fato talvez possa ajudar a explicar a de-

43 "Carra Régia confirmando a Sesmaria na Ter¡a de Magipc no Rio de Janeiro, em fa.or de Du-

arre de Sá, parente de Simáo de Sá" de Ì4 de outubro de 1574. Arquivo Nacional da Torre ,lo
Iombo, Chanceiaria de D. Sebas¡iáo e D. HcnriqLre. Doacóes, Livro 35, ff. 6i v e pubiicacia
porJoaquim V Scrráo, O Ria de Janeiro no sécalo XVII. 2 rcls Lisl¡oa: Comissáo NacronaL.,
1965, no volume II, p. 99.
"Lembranças que fcz Gaspar de Sousa quc for governador do Brasrldo que convìnha a conquisra
do Ma¡anháo' de 161¿ porém as instruçóes conhecìdas de Gaspar de Sousa para Aiexandre de
Moura náo rccam no assunto das ¡e¡¡as. As "Lembranças ( .)" íòram publìcadas pelo Baráo dc
Srráart, Docutnentos ptt'nl ã Htùi'tia dþ 4tu1:iJ e $?ectahnentc a lo Ceará,4 vols . Fonaleza: Miner-
va, 1909,I, p. i24.
"Regimento que o capitáo-mo r ,A.lexandrc dc Moura deixa ao Capiráo-mor Jerònimo dc Al-
buquerque por serviço de Sua Majestade para bem do governo desta províncìa do Ma¡anháo".
Documentas pon a Histriia la Conquista da costa l¿xe-oexe do Brasll. Rio de Janeiro: Brblio-
¡eca Nacional. 1905, p. 79 (Scparara dos Anaii ¿tr Bibliotedt N¿ciana[ vol.26).
188 Rodrigo Ricupero

cisão de náo permirir que Jerônimo de Albuquerque Vla¡anl:áo pudesse dividir as

cerras por conia própriar'.


Corn a criaçáo do Estado cio Ìt'la¡anháo e a conseqüenre indep<ndência admi-
nisr¡â¡iva arenre ¡-o Es¡¿do cio Brasil, as lerrâs passa!ârn a se¡ repa-rtidâs pelos gover-
nadores da nova jurisdiçáo, mas es¡âvat1 srrjeiras à conÊrmaçáo régia. Alé¡n clisso'
o goveroador deveria con¡a¡ cor¡ o Þa¡ecet favorável do provedor-mor do Es¡ado,
medidas que ûáo e¡a¡n seg.ridâs no Es¡ado do B¡asil. Pa¡¿ Bento Vaciei Pa¡er¡e' ¡al
situaçáo aiugentaria os possir.eis pretenienres, assim, nuro docu¡lenro escrito pou-
co anres de roma¡ posse naquele goverlo, ele peciia oue os governadores pudessen
reparcir as re¡râs ccrno ro B¡¿sii, "pelo melos <ie u¡r-ra or.r duas léguas ¿le ¡erras seri
obrigaçáo Ca dira. ccnlirmaçáo""-, o que náo Íòi ¡¡encjido No regiinento de And¡é
Vidal cie Negreiics. ce ':6ji,
o ¡ei e¡a tax¡¡iio: as terras "poCereis da¡ n¿ ib¡rnr e
nodo orre se reparri¡a¡.l as denais e é uso e¡n iocio o Es¡:do do B¡asil, co¡n cláusulas
de have¡enr conÊrn:-çác nilha"'¡. Äs poucas coniìrr:raçóes de sesn:rriâ do Es¡ado
clo Ma¡¿nháo ercon¡radas qas chancel¿¡r¡s régìas pcden indica¡ cue os propr:et-i-
rio':.,,. .. ?rio-r'Ð.r '.:::ìì'riu.o1 s ¿.1:...:o.
Posrerio¡n-lelre, ¡al i:¡cLrld:de se¡ia cc¡c¡¿cia rambéi! 1Ìo Est¡Co do Brasiì, peÌo
govenaior-gerari D. \àsco \{asca¡enhas, Ccnde de Óbidcs, que, no chanado Reer-
me¡r¡o i{os Capir:res-nrores, ¡e¡irou ¡. iiberdatje ciesses para concecier ¡e¡¡as. sob ¿ ale-
geçáo de pão terern jLuisciiçáo Pe¡a i'¡o. o çu¡, -c¡¡o \ r1¡o. ¡cii¡.-. nio e¡a vc¡dide-'".
Para o Conde oe Óbi,:lcs, ¡¡-l prerrogariva cabia uricame¡r¡e ao governarlor oLr '' icc-rei.
_'Fr':-gmenros
Esse entendi¡¡enro está preselre nos de uma r¡remó¡ia sob¡. ¿s sesm¡¡ies
da Bahi¿". ros grais os capiiáes-mores das ca.piranìas "passalan lcaitas Ce sesmaria),
mas (que) e¡a¡l Cepois conlìroa<ias pelo governadoi caÐâci¡ando-l:le que âs dev?-r.r! a
imitaçáo do qrie eûtes,Da¿licavâ¡¡l os capiráes riolatários. e iáo poique tìr--s'c-m jurìr-
dição para isso"'¡.

Ci. frasl:do tlo aL:¡o c mais dilìgêncirs que se Ê2.:,r,. so5¡. as d:¡rs ,l: rerras da c:rpir.rnir ,:ic
Rìo Grandc, quc s: rirh¿r.¡ cl¡do' de 21 de tìr'ereiro de Ì614. publicrao n¡L Ret¡i¡t¿ y'a l¡¡¡it¡t¡o
Hi¡¡õ¡ìro ¿to (¿¡mi,\..\,11l. Ì909, p. 1i2.
''lìeìação clo F,s¡:Lic do \,1¿ircháo lèiiâ por Bc:rro \{aclel Parrn!e". escrl!r eûrre 1636 e l6i7
e ¡ubiicacr ros D¿¡u zttrr,:: p,trt t Hiúrh t/.a Codqrisre ú Cas* Le:r Ot:te, Op úr..191.
''lìcgin:crro d< tndrJ 1¡ic¿l i¡ \ce.ci¡os, d'rdo c'rt Llsbo,r, err 14 cie ab¡il d. 165i ,
ilbl:-
cado por l{:rrcos Carnci:o \'fcndonç:r lOrg.l. I?t!ze: ìt Íonnçno Ay'xrinis¡¡¿rjr¿ la lJr¿:í1. ).
vols. Rio cit Jrrtiro: Ì¡s¡i¡u¡c ljì¡órico t Ccogrilico Brasilciro. 1971, li, ?. r'03.
''RegirÌt!ìro cur s¡ n¡¡<lor: aos.apiraìcs-cìor.-s d:s czpirarias rtes:c Es¡:Lio Ì'd¿ ou¡Lrb¡o J¿
1ó63, pubiicaclo en Dautit!"'or hir'¿ti.or, Op. út.. rc}. i, p.379.
Ci "Fragnentos de unla ¡¡rcnó¡ia sobrc rs sesna¡ias da B:.hia"- liab:lho csc¡iro cnr¡c o :rr¿Ì
do séc'¡loX\'IÌI c i:rÍcio do XIX pcr:uror rresconhcci¡lo, ¡nas.:1o qìr. ruCo ìniica. é de aLr-
roria ac D. ÈeLnendo José <le i']orrugri.l:.1 ioi publicaclo porJosé \,larcciuo lìtrcìrr
'r:'-balho
A forrnaçáo da elite coloniai t89

Nos últimos anos do século XVII e nos primeiros do XVIII, a Co¡oa deu
grande atencão à questão fundiá¡ia, baixando em pouco lempo dive¡sas ¡esoiu-
çóes, para norr,-iarizar a distribuiçáo e coibi¡ abusos, notâdamenre no que se refere
âo tamanho das concessóes € a cobranca de foros, conforme a grandeza e bondade
cias re¡¡astr.
Contudo, a hisró¡ia da ocupação fundiá¡ia ra cosra do Brasìl no período
ante¡ior às iutas cont¡a os hoiandeses só pode ser esc¡ita em linhâs .eler¿is. pojs a
maio¡ì¿ dos lir'¡os de ¡egist¡os de ter¡as se perdeu, sah'ando-se. ainda que parcial-
menre. os registros das capitanias de São \¡icenre e do Rio de Janeiro, no sul. e de
Seigipe e Rio G¡ancie, no norte. P¿¡a ¿( capiiâniâs mâi5 imporLantes. como Per-
naûrbuco. Bahia c Pa¡aíba, náo sobrou quase nada pâra a p¡irceiie e iûui¡o pouco
para as úliimas. Para as demais capiianias náo citadas, e siiuaçáo é praiicamente
a mesme.
Tarto pelas car¡as de doacão das chamadas capitanias he¡editárìas conto peic
regimento de Tomé de Sousa. as re¡¡as der.e¡ian se¡ doadas seù g¡endes restiiçóes. A
falta de cli¡é¡ios mais ¡esi¡i.ivos, bem como o incentivo a vinda de ¡ovos po.'oado¡es,
nem rocios com posses, pode erplic?.¡ o l:a¡o de cue, ¡esses Drimei¡cs ¡1oi¡eoros, aauao
grandes coi:ro humildes tenham sido agraciados com ierrâs, porém, essâs náo erâm dâ
nesma quaiidade. nem cio mesÌno tamanho.
,A. exigêlcia básica. con,o vimos. e¡a se'r apioveiremeriio dent¡o cio Prazo esii_

oulacio. Po¡ isso, a orientacáo <io ¡ei a To¡ré de Sousa, "náo dareis a cada pessoa m:-is
rei¡a qlrc equele que boan-rente, e segundo sua possibiliciade, \ros parecer que poderá
aproveiia¡", criava unÌ prjr¡eiro critério de disrinçáot:- O regimento tarnbém estipuia-
va um segundo critério de ciistinçáo, ao <ieterminar que as "ág;uas cias ribeiras" cepaT,es
paia engenhos de açircar, fossem dadas ¿fe¡as äs Ðe5so¿\ que tenham possìbiliciades
pr-r o.'er lerho" podeie'r' Lzer
Ä possibilidade de co¡ceder sesr¡a¡ia-s. deie¡¡¡i¡ando o .âmaiìho e a quâlidâde
das te¡¡as doadas. ildependeirtcarente ou náo da conûrinaçáo leal. conlrcria àc goier_
¡ador-ge¡al e às o¡i¡cìpaìs autoiidacìes de cada capirania, dotâiáiios ou caPitiles-mores.
u,¡ insÌiumenro de pocier efetivo. ÀÊnal a proprJedade f.rndiá¡ia eia nesse mol¡eiÌto

de\¡asco¡cclos. Zj¡,¡¿ /¿-¡ a¿''l¿r.2'cd. Riodeiâncjro: l-aemne¡i, 1360'p 307erarnbómna


R¿r ìsra do lns¡iiuro HÌstónco c Ceogáfìco iìrasileiro. ro;rc ll1, p. 373-

Sobre o iema, r'cr cs co¡ne¡¡ários cie Fcr¡ando icsé dc Portugal ao Regimenro do qolernador
lìoquc da Cosra Ba:rc¡o or ¿inda os iá cìrados "l'*ragmcnros de uma mcmó¡ìa sob¡e as scs-
marias da Bahia'. p. 318. Regìncnto de Roquc da Cos¡a B:¡¡e¡o dc 23 de;areìro rie 1672
pubiicrdo poi \,!a¡cos Ca¡nciro Mendonça. Op cn .ll p 780. \/eja-se arnda Cos¡¡ f)o¡ro.
Op. c¡î , p. 8i c scguinres.

''Regimenro de lìmé c1c Sousa dc 17 dc dezcmb¡o de 1543. publicado i H^t/jrié in Colo'


nìzaçno Portugrtsa tlo Bi'.¡-.tllol III, t.346.
190 Rodrigo Ricupero

a base das principaìs fo¡tunas coloniais. Daí náo se estranhar que os govertedores e
capitáes-mores se urilizassem de ral poder em benefício próp¡io, de suas famílias ou dos
grupos próximos a eles, com grandes doaçóes das meihores áreas de cada capitania.
O primeiro governador-geral Tomé de Sousa, ao doù .er¡as ao Conde da Castanhei-
ra, de quem era procegido, náo pode ser acusado de se beneûciar diretamente das próprias
doaçóes, pois, como informava ao rei, que muito gado aaar'm ¡as ærras daBahia em ¡erra
aiheia, por não ter terra própria e por náo querer romar Para si no tempo que foi governa-
dortt, para só enrâo, já de volta ao Reino, obter uma sesma¡ia.
O segundo governador-geral, D. Dua¡¡e da Costa, inaugurou a prãrica rìe <Joar
filhos, concedendo ao Êlho, D. Álva¡o da Costa, uma significariva sesmaria na
rerras aos
Baía de Todos os Sanros, transformada posreriormente, por decisão de D. Sebastião, em
uma peqùera capiraniatt; mesmo procedimenro teve o quarto governador-geral, Luís de
Brito deAlmeida, que embo¡a rivesse recebido ¡e¡¡as ¡lo ¡ei, náo deixou de doa¡ out¡as ao
Êlho, Joáo de Brito de ÀlmeidatG.
Mem de Sá foi a¡di1oso, dando um sesmaria em 1559 ao amigo Fe¡náo Rodri-
gues de Casrelo B¡anco, do Conselho do rei e almotacel-mo¡J que, po¡ sua vez, no
ano seguinre, doou-as ao 6lho de Mem de Sá, Francisco de Sá, as quais. por morrer
sem descendenres, acaba¡am revertendo ao pai. Curioso é que Mem de Sá rambém
concederì uma sesmaria, pegada às rerras doadas a Fernáo Rodrigues de CasteÌo
Branco, a Francisco Toscano, que runca veio ao B¡asil, mas que as doaria pouco
rempo depois ao irmáo, ninguém mais nem meoos do que o ouvldor geral, Brás
Fragosoti. Daí náo se esrranhar que os dois, Mem de Sá e Brás Fragoso, fossem
qualificados de cobiçosos em carra crrada anteriormente.
Oucro governador que se aproveitou do cargo para doar rerras a parentes foi Felicia-
no Coelho de Ca¡valho, do Maranháo, que, des vasres árees recém-ocupadas na regiáo,

"Doaçáo de se¡ léguas de Terra no B¡asil r Tomé de SoLrsa" de 10 dc dczenbro <le ij6i e
"Doacáo r Tomé de Sousa de seis léguas de Terra no Brasil em lug.rr das que lhe deram já" de
20 cle ou¡ubro dc 1i6i. Ignácio Âccioli de Cerqueira e Siiva, Op. cit., I. p.275 e 276-
"Doaçáo da CapÌrania de PeroaçLr de Dom ì lr -ro d" Cosr¿" de Ì J d. março d< Ìi71, publi
caàa em Danznentos Históricos, O?. cit.,voI- 13, p. 224 (A doaçáo ìnicial leira pelo pai É de t6
de janeìro de 15j7).
''Regìstro da carra de sesmaria de doze légu:.s de re¡ra de Luis de Brito governador, que loi
destas parres" de 4 deabril de 1577 (,4. carca original era de 1573). Danntedtos Históricos, Ap.
cir., !ol. 14, p. 450. A doaçáo para o Âlho é comprovada peÌa seguinre passagem do relerido
documen¡o: 'corre¡¡. (as rerras do governador) para cima da rerlâ, que rem dada a Joáo de
Briro de,{lmeida, seu 6lho, aré o Rio de Sergipe (...)".
"Doaçáo das Terras de Brás Fragoso de Peroaçu" de 12 de julho de 1561 e "Doaçáo e Con-
lìrmaçáo das Terras de F¡ancisco Toscrno" de 20 de maio de tj64, ambos os documenros
pnblicados em Doczzz e tor His¡óîi.os, ap. dt., ,'ol. 14, p. 430 e vol. 13. p. 210.
A fo¡macáo da elite colonial I91

doou uma capitania ao irmáo An¡ônio Coelho de Ca¡valho, do Desembargo do Paço, e

outra ao fiÌho Felicano Coelho de Ca¡valho, ambas confi¡madas pela Coroais.


No caso dos capitáes-mores, não se pode deixa¡ de lemb¡a¡ os casos de Jerônirno de
Albuquerque e Salvado¡ Co¡¡eia de Sá; o prìmeiro doou, como já foi dito, tanta terra aos
frlhos, quando era capitáo-mor do Rio Grande, que causou espanto ao reite, além do que as
terras doadas por ele a seus filhos e¡am as melhores da capitania e praticamenre as únicas
60.
onde era possivel cultivar a cana de açúcar Já Salvador Correia de Sá, quando governador
do Río de Janeiro, deu ter¡as aos frlhos, Martim de Sá e Gonçalo Correia de Sá, na regiáo da
Tijuca, onde entáo esta¡iam concluindo a construcáo de um engenho de açúcar6r.
Os governadores e os capitáes-mores, incluindo os parentes destes, evidentemen-
re, náo podiam monopolizar toda a terra. Porém, por controla¡em a concessáo de terras
puderam beneflciar as pessoas próximas. Daí náo causar su¡presa encoorrarmos grande
parte das tetras concedidas aos vassalos que participavam do governo da conquista,
como ve¡emos adiante.

Uso e abuso do poder

A re¡ra e o crabalho eram, evidentemente,os fa¡ores centrais Pa¡a o erguimenio


dos grandes patrimônios coloniais; contudo, nos primeiros momentos do processo de
colonizaçáo, ourras peqúenâs vantagens ou beneÍícios podiam ser imporrantes auxilia-
res para a viabilizaçáo das acividades produrivas.
Nesse senrido, ce¡¡os p¡odutos naturais de alto valor, como pau-brasil ou âmbaq
podiam servir para alavanca¡ ou¡¡as a¡ividades que exigiam maiores inves¡imentos. O

i8 "Carra de doacáo da capitanìa do Camurá no Ma¡anháo a Feliciano Coelho rle Can'alho'


de 26 de ourub¡o dc 1637 e "Carta de doaçáo da capiranìa do Cumá no Marañháô ' A ¡rôniô
Coelho de Ca¡r.alho" de 15 de março de 1639, Arquivo Naclonal da Torre do lbmbo, Chan-
ceiaria de FìLipe lll, Doacóes, respecti\'âmente, irv¡o 35, 11. 95 e livro 34' 11 73 (As doaçóes
originais sáo ante¡iores às datas dos documentos).

59 Signi6catito também Jerônimo de Albuquerque doou, além das rerras, uma salina em
é quc

ourra área. ler o já cirado "Traslado <io auro e mars diLìgências que se Âzc¡am soL¡¡e as datas de
rerras da capirania do Rio Grande, que se rinham dado" dc 21 de levereiro de 1614' pLrblicado
Httórico l¡t Ceari' tomoXXIII, 1909' p. 112.
n^ Ilezßt1! ¿o Ineitt',to
60 Vejam*e as rcciamaçóes sob.e ral laro no "Êstado das coisas no Rio Grande", documenro
de ¿u¡orra ¡áo iden¡iÊcada. esc¡ito no inicio do século XVII Biblio¡eca NacionaÌ de Lisboa,
Reservados, Coleçáo Pombalina, códice 647, fls. 106 - 107v
61 "Carta de Sesmaria das terras e águas de Marrim de Sá e Gonçalo Correia de Sá que estáo onde

sc chama a Tiguga (sic) ' de 9 de setembro de 1594, publicaàa no Tonbo d¿s c¿'rtas ¿le s¿snaria da
Rio àc Janeiro (1594-1595 e 1602-1605).Rio delaneiro: Arqul'o Nacional' 196' p- 38.
\97 Rodrigo Ricupero

pau-brasil, como se sabe, foi desde o ínício monopólio régio, porém sua exploraçáo que
durou por rodo período colonial oco¡¡eu sob¡e va¡iadas forrnas: a exploraçáo foi ar-
rendada a parricula¡es, libe¡ada aos moradores mediante pagamento de taxas ou ainda
impiementada direcamence pela administraçáo colonial6'].
A Coroa podia conceder licenças de exploraçáo, isenca de di¡eitos, para ¡ecom-
pensar servtços prestados ou auxilia¡ ce¡tos vassalos em novos empreendimentos.
Dua¡te Coelho, por exemplo, esc¡eveu ao ¡ei inte¡cedendo em favor de Vasco Fe¡-
nandes, feito¡ e almoxa¡ife de Pe¡na¡nbuco, que "até o presente rem gascado do seu e
nâo aproveitando nada por até o presente tudo se¡ t¡abalhos e gastos e náo proveito
algum", o donarário explicava que por a terra.'

ir agora para bem (...) querem os homens fazer fundamenro dela e faze¡em fazen-
das para reren alguma coisa de seu com que se susrenrem para o qLral é necessá¡io
a mercê e ajuda de Deus e de Vossa Aheza e por ele querer ora fazer um engenho
em uma ribeirae num pedaço de rerra que the dei pede a Vossa AÌteza porajudade
o fazer lhe faça mercê de the dar licença para poder mandar algum brasilo;.

Náo sabemos, contudo, qual foi a ¡esposra do Monarca, porém, posceriormen-


re, ral recurso seria concedido a ourras pessoas, como Pero de Góes, capirão-mor da
Costa do B¡asil ou a C¡istóváo de Ba¡¡os, capitáo-mor do Rio de Janeiro. que, coiû-
cidentemente, ¡ecebe¡am a licença de ¡emessa de pau-brasil no mesmo dia em que
eram nomeados para os respectivos cargos6!. Outro agraciado foi F¡u¡uoso Ba¡bosa,

62 Sobre o pau-brasii, a brbliografia ainda é muiro limimda, para uma visáo geral, veja-se o clás-
sico rrabalho de Be¡nardinoJosé de Sousa. O pau-brasil na hisairia nárional,2'e¿. Sâo P tlo:
Companhia Editora NacìonaÌ, 1978.
63 "Cana de Duane Coelho : el-rei" de 22 de março de 1548, pt:tlicada na História da Colo-
nizaçáo Pornguesa do Brasil, vo|- IlI, p.316 e em José Anronio GonsaÌves de Mello e Cleo-
nir Xavier de Àlbuquergoe. Cartas de Duarte Coelha a el-rei, Recife: Imprensa Universirária,
19Ç, p.93.
64 Cf. "taslado da Cana de Pero de Góes, capiráo-mor do Ma¡ e Cosra do Brasil" de 9 dejanei-
ro de 1549, que consm do "Livro primeiro do registro de provimenros", publicado nos Darz-
mentas Históricos, Op- cìr., r'o1. 35, p. 5; "Licença para Pero de Góes cirar livre de di¡eitos 2 mii
quintais de pau-brasil" de 9 de janeiro de 1i49, Ins¡ìruro His¡ó¡ico e Geográ6co Brasileiro,
Documen¡os manusc¡itos copiados no século XIX por ordem de D. Pedro II, Códice 1.2,15,
Regisrros, Tomo I, Conselho Lllc¡ama¡ino Porruguês; 'Alvará de D- Sebasciáo, nomeando
Cristóváo de Ba¡ros, capicáo e governador da Capirania e cidade de Sáo Sebasriáo do Rio de

Janeiro" de 3l de ourubro de 1571 e'Aivará Régio, da mesma dara, parâ que Crisróváo de
Barros, sirva rambém o cargo de provedor da fazendl' e 'Alvará Régìo concedendo a Crisró-
váo de Barros poder rirar da capitania do Rio deJaneiro, seiscenros qùrntais de Pau B¡asil" de
l7 de dezembro de 1571, rodos publicados porJoa<¡uim Veríssimo S errio, O Rlo dz Janeìro no
A fo¡macáo da eli¡e colonial I93

nesse caso a concessão erafeita com o propósiro de facilita¡ a conquisra da Pa¡aíba,


tarefa que acaba¡a de negocia¡ com a Coroa, daí que a licenca fosse condicionada à
rcalizacáo da expedicáo de conquista6t. No caso de Mem de Sá, náo se sabe em que
condiçóes explorou o pau-brasil mas, dada a quanridade envolvida, deve¡i¿ ser com
autorizaçáo régia.
Mem de Sá fui acusado de ¡omar rodos os resgates de âmbar. Uma das riquezas
natu¡ais que mais ar¡aiu a atencáo dos portugueses, dado seu ako valo¡ e o pouco ou
quase nenhum trabalho para obtêla, desde que se ri\,'esse sorre de encontrala pelas
praias. Nenhum dos cronistas do período deixou de mencioná-lo em suas ob¡as. No
Ditílogos das Grandezas do Brasil, o persotagem central Brandônio conra, com pesa!
como deixou de aproveitar grande soma do produto por ignorar enráo o que rinha
em máos; Fe¡náo Ca¡dim, po¡ sua vez, conta que um homem que náo nomei¿, mas
que sem dúvida seria Ga¡cia D'Ávila, o "segundo em ¡iquezas (na Bahia) por rer sere
ou oito léguas de terra por costai em a qual se acha o melho¡ âmbar que por cá há",
colheu em ùm aro oiro mil cruzados dele, sem custos66.
Pero de Magalháes Gandavo nos fo¡nece out¡os detalhes sobre como o âmbar era
obúdo, contando que os senhores mandavam seus esc¡a"'os ¡ecoihêlo pelas praìas, o que
teria permitido "enriquecerem alguns assim do que acham seus escravos, como do que ¡es-
gatam aos índios for¡os"67. Posreriormente, Gaspar de Sousa, governador-geral do começo
do XVII, numa discussáo sobre o or¿enado que deveria ser dado ao capitáo-mor do Ceaú,
Ma¡¡im Soa¡es Mo¡eno, explicava que a capitania era de pouco p¡oveito para. a. Fazer'da.,
por se¡ nova e não estar ainda culdvada, po¡ém "deita nela o mar algumas vezes âmbar que
o gentio colhe, de que o capitáo tem algum proveito comprandolho". F¡ei Vicente do Sal-
r,'ador, por sua vez, conta que Manim Soares Moreno, po¡ seus inúmeros serviços, recebeu

çéculo XVl, 2 vols. Lisboa: Comissáo Nacional das Comemo¡açócs ... , 196i, vo1. II, p. 86,
87 e 93.
65 "Licença para Frutuoso Barbosa trazer pau-brasil" de 30 de ourub¡o de 1i81, Arquivo Nâcio-
nal da To¡rc cio Tombo, Chancelaria de Filipe II, Doaçóes, livro 3, {- 34 v
Dìálogos da: Gr¿ndezøs /,o Brøsil (1618), l" edicáo integrai segundo o apógrafo de Leiden
por José Àntonio Gonsal.-es de Mello. Recife: lmprensa Unrve¡sirária, I962, p. 100 (À obra
é arcibuída a,{mb¡ósio Fe¡nandes Brandáo) e le¡náo Ca¡dim. Trat¿dos /'a Terrø e Gente do
Br¿s¿l (século XVI). Sâo laulo: Companhia Edito¡a Nacional, 1978, p. 188. Indicador do
aho valo¡ do âmbar é o faro de que Diogo Botelho renha se vangloriado de rer ¡ecusado uma

proposra de suborno feite por Ântônio Cardoso de Bar¡os, que lhe oÊrecia "muito âmbar".
Cf. "lns¡rumentos de Diogo BoreJho" de 6 de setemb¡o de 1603 e publicado na Reuista lo
Intlituta Hitói'ic7 ê Geagtífco Brasileira, rcmo 73, parre I, p. 58.
Pero de Magalháes Ganàavo, Históri¿ d.a ?rouíncla d¿ Saatø Cruz 8< Tt¿t¿do da Ttrn do
Br¿:il (c. 1570 e 1576), Sáo Pauio: Obelisco, 1964, p. El.
I94 Rodrigo RicuPero

do rei o "hábico, (porém) se lhe deu com ele pouca rença; por isso lhe dá Deus muiro âmba¡
por aquela praia, com que pode rnuito bem ma.ar k ltømbre"63.
lsso posto, náo é difícil de conclui¡ que mesmo uma liqueza, em tese de acesso
livre, podia ser apropriada em grande medida pelos PrinciPais membros do governo,
como Mem de Sá, Ga¡cia D'Ávila e Mar[im Soa¡es Mo¡eno A realidade é que a Co-
roa, ao delegar uma série de poderes à administraçáo colonial no que toca ao contalo
e às r¡ocas com os indígenas, acabou por favorecer seus membros, Particulârmenre os
funcionários superiores. Po¡ isso, os mesmos que acusaram Mem de Sá de monopolizar
o resgare de âmbar e de esc¡avos rambém o acusa¡am, e ao ouvidor geral Brás Fragoso,
de se apoderar das fazendas enviadas pela Coroa para Pagamenlo dos funcioná¡ios
Dado que boa parte dessas me¡cado¡ias se emP¡egava rra ¡roca com os índios, o aceso
privilegiado a tais produtos permitiria, com mais facilidade, obter trabalho, escravos
ou produtos fornecidos pelos índios amigosGt.
O conrrole sobre os suprimenros enviados pela Coroa era ourra das vanugens que
os membros da administraçáo colonial dispunham. Exemplo disso é o acesso às primei-
¡as cabecas de gado enviadas pela Coroa para Salvador' Ra¡as nos primeiros rempos,
e¡am fundamen¡ais para o desenvolvimento das a¡ividades produdvas' sendo, nas pala-
vras de Domingos de Abreu e B¡ito, muito necessá¡ias "para fábrica, usança e lavrança'
dos engenhos, e que fosse consumida grande quanddade de gado a cada anoio
O gado enviado pela Coroa para Salvador provavelmenre deveria ser vendido aos
morado¡es, reservando-se parte dele pa¡a as atividades da administraçáo' mormente
para as obras de construçáo da cidade. Sabe-se, contudo, que parte do gado também foi
utilizada para pagamen¡o dos oficiais régios. Neste gênero, consta' em 1550, os paga-
menros feiros para -A.n¡ônio de F¡ei¡as, c¡iado do provedor-mor; Diogo Muniz Barrero,

68 "Parece¡ do Conselho da Fazenda para que se dê de o¡denado a Mar¡im Soarcs Moreno qua-
r¡ocenros cruzados a r.ista das informaçóes de Gaspar de Sousa e D. Diogo de Meneses" de 4
de ianeiro de 1621, publicado na,Re itt,1¿o l7ßtitlûo Hisúrìco lo Ce¿r¡i Forraleza: lnsticuco
Ilisrórico ¡io Cea¡á, XIX, i90i, pane I, p. 86 e Frei Vicentc <1o Salva àor, Op cit , p 5IA.
69 Sobrc o assunco, veja-se o clássico de Àlexande¡ Marchant. Do Escúmbo "i Ercrtn)i¿áo 2' e¿.
Sáo Paulo: Companhia Edirora Nacional, 1980, p. 9 e seguinces.
Domingos de Âbreu e Brito, 'Sumário e descriçáo do Reino de Àngola e do descohrìmcn¡o
da ilha de Luanda" (c. 1591), publicado por ÀLlredo de AÌbuquergue Felßet Urn inq"¿rita à
L,i¿/1 ãdt inistrtzitu¿ e ecanôrnica de Angola t do Brasil. Coim6ra: Imprensa da Unive¡sid¿de,
1933, p. 59 e Diogo de Campos Moreno, Lino qae dâ raz,io do E¡¿do do Brzril. (1612).
Recife: UFPE, 1955, p. 112. Ver ainda André Joáo Anroniì, Culøra e oprlêttcia da Brasil pot
ninas, imroduçáo e comencário crírico por Àndrée Mansuy Diniz Silva. Lisboa:
suas drogas e
Comissáo \-åcional para as Comemoraçóes dos Dcscobnmentos Porruguescs, 2001, P. 117
A formaçáo da elite colonial 195

alcaide-mo¡; Garcia D'Ávila, criado do governado¡ e feitor e almoxarife da capitanìa e


.Amador de Âguiar, capitáo de uma emba¡cacâo da Co¡oatr.
Daí náo ca¡.rsa¡ surp¡esa que. pouco mais de dez anos depois da fundacáo da
cidade do Salvado¡. Tomé de Sousa, já de volta ao Reino, pedisse terras ao rei alegando
possnir "muito ga¿o uacum nas .e¡¡as da Bahia"ir, ou que, posre¡iormente, os dois
m¿io¡es rebanhos da Bahia fossem de propriedade de Mem de Sá e de Ga¡cia D'Ávila,
que, seeundo Fe¡náo Cardim, nem sabia ao cerro o número de cabeças que possuíati-
As armas eram outro gênero importance em que o cont¡ole dos suprimentos
podia ser urilizado para o favorecimenro das pessoas próximas à admin isrração co-
lonial. Afinal, pelos regìmenros baixados no momento de criaçáo do Governo-geral
obrigavam-se os senhores de engenho a possuir certa quarridade de armas, inclusive
peças de artilharia. Obrigaçáo que nos prìmeiros rempos era, antes de tudo, neces-
sidade, dadas as cons¡antes guer¡as com os índios hos¡is. Nesse sentido, o provedor-
mo¡ Âncônio Ca¡doso de Ba¡¡os dava o¡ientacáo aos provedores da Fazenda das ca-
pìtanias do Espírito Santo, Ilhéus e Po¡to Seguro, para que vissem quáo desprovidos
esta\¡am os engenhos da a¡tilha¡ia necessária para sua defesa e que ela fosse eûrregue
aos donos ou feito¡es dos di¡os engenhos, fiadas por um ano, pelo preço que "r,ieram
do a¡mazém do Reino". Po¡ém, ele próprio, anteriormenre, já rinha ¡ecebido como
parte de seu ordenado boa soma de peças de a¡tilharia e muniçóes, p¡ovavelmerre,
para emprega¡ em seu engenho, um dos primeiros da capitania da Bahia-4.
Po¡ fim, dent¡e as l¡anlagens manejadas pelo governador-ge¡al, náo deve ser es-
quecido o conrrole sobre o engenho real, cuja construção foi concluída por Mem de
Sá e tinha como objetivo impulsionar a produçáo de açúcar na capitaoia- 'lai enge-
nho ocupou papel cent¡al no desenvolvimenro da produçáo açuca¡ei¡a na capi¡ania da
Bahia, pois nas palav¡as de Mesrre.Afonso, cirurgiáo dtl-rei, "os mo¡adores des¡a te¡ra
fazem suas canas de açúcâr no dito engenho que foi grande ajuda para eles", ou nas
de Heito¡ Antunes, que afirmou que esse engenho "enriqueceu 'muitot fiora¿orel desse

7l "Títu1o do registro dos mandados de pagamentos e dc ourras despesas" iniciado Pelo Prineiro
provedor-mor em 1549 e publicado na colcçáo Doa,.¡nentos Históricos, O¿. rlr., voìs. 13 e 14, a

cìraçáo encontra-se no volume 13, mandado de número 347


72 "Doaçáo dc seis léguas de Terra no B¡asil a lomé de Sousa" de l0 de dezembro de 1563 e
"Doaçáo Tomé de Sousa de seis léguas de Terra no Brasil em lugar das que the deram já" de
a
20 de ourubro de 1i65. l-qnácio .A.ccioli de Cerqueira e Sìlva, Op. cìt., l, p. 175 e 276.
73 Fernáo Cardjm, O?. cit.,p.188.
74 "Tíruio do regisrro dos mandados de pagamenros e dc outras despesas" rnrciado pelo prìmeiro
provedor-mor em 1549 e publicado na coleçáo Docanentos Hí:t¡jricos, OP. ùt.. rols. 13 e 14, a

citaçáo enconrrassc, respccri.-amente, no r'olume I4, mandacio de número 1263 e lolume 13,
nimetos 426 e 427.
196 Rodrigo Ricupero

capirania"Tt. Não é difícil concluir o poder que o controle desse engenho real oferecia,
nesse momenco, ao govertado¡ ou a quem o a¡¡endasse.
As vantagens e benefícios que o concrole sobre o patrimônio régio permitia aos
principais funcioná¡ios coloniais náo se resrringiam à capitania da Bahia, exis¡indo
tanro nas demais capiranias régias como nas dos donatá¡ios, e eram manejados espe-
cialmente pelos capitáes-morese provedo¡es da Fazenda

Exemplo disso sáo as acusaçóes concra Jerônimo de A.lbuquerque, capitáo-mor do


Rio G¡ande nos primeiros anos do sécu1o XVII, que cons¡am de documento anônimo
enviado ao Reino- Em primeiro lugar, denunciava-se que as várias acusaçóes rocam n¿
questáo do controle sobre o aparato régio; a primeira era que as a¡mas dos soldados da fo¡-
raleza esravam em péssimo estado de convelsaéo em razáo, como diz o auto¡ da denúncia,
de que "o capitáo sempre havia ocupado o se¡¡alhei¡o (pago pela Fazenda Real) em fazer
seus ¡€sgares", ou seja, produzindo artigos para a troca com os índios Deiatava-se rambém
que das juntas de bois que "o rei tinha (...) para bem da po.'oação", o capitão vendera uma
e usara ouuas em seu engenho, levando assim, segundo o documen¡o, que a ettáo pequena

populaçáo da cidade diminuísse ainda mais, completa o autor anônimo, 'þorque o câPiráo
aplica a si udo o que tem nome dþl-¡ei sem dar ajuda nenhuma aos mo¡adores"76.
Qual o fundamenro de tais denúncias? É sabido que muiras das informaçoes con-
ridas em ca¡ras e, inciusive, nas devassas ofìciais e¡am forjadas segundo os inte¡esses
dos autores, c¡iando menci¡as ou dis¡orcendo aconlecimetros reais, para implicarem
seus desaferos, visando, mui¡as vezes, a tira¡ um ¡ival do caminho ou apoderar-se para
si or para algum aliado do cargo ocupado pelo acusadoTT. Nesse sentido, é necessá-
rio sempre muira cautela comas informaçóes colhidas nesse ripo de documento, mas
essas, independentemente da ver¿cidade, podem ser enrendidas como possibilidades

"lnsrrunenros de Mem de Sá" iniciado em 7 de setembro de 1570 e publicado em An¿is d¿


Bìblioteca N¿ciotal, ¡o1.27, p. 166 e 146.
''F-s¡ado das coìsas no Rio Grande". documenro de autona náo iden¡iÂcada, esc¡i¡o lo inicio
do século XVll. Biblioteca Nacional de Lisboa, Reservados, Coleçáo Pombalina, códice 647,
fls 106 - 107v.

77 Bom exemplo desse ripo de srruaçáo loi a prisáo de ìvfarri:¡ Carvalho pelo ouvidor geral
Marrim Leiráo, impedindo, assim, que o réu âssumisse o cargo de provedor mor' Àcusa-
do de praticar o 'pecado nefando", Ma¡tim Ca¡r,alho foi enviado ao Reino; posterLormenrc
descobriu-se que lora o próprio ouvidor geral que induziu alguns jovens a levanta¡em falso
resremunho. CL "Consulra do Desembargo do Paço, sobre r'ários moços que vieràm do B¡3sil,
oode ¡es¡emunha¡am conrra N'far¡im Carvalho, cio pecado nefando" de ií de março de 1590
Biblìoreca da Ajuda, códice 44-XlÉ04, "ConsuÌcas do Desembargo do Paço", fl. 51. 74 v.
Ou ainda a intòrmaçáo dacia pelo vice-rei de Ponugal, D. Pedro de Castilho ao re, de que o
bìspo do Brasil, D. Consranrino Barradas, subornava testemunhas para jurarem corrra Brás
de ÀLmeida que servrra de provedor da Fazenda dos Defunros. Ci "Carta do bispo D. Pedro
de Casrilho a el'rei" de I0 ce seremb¡o de 1605. Biblioreca da Aluda, códice 5I-V'84, "Cópia
de Ca¡ras do vice-¡ei a Sua Majesrade", Il. 26.
A formaçáo da elire colonial 19?

concretas, afinal uma acusaçáo falsa muito extravagante dificilmente daria os f¡utos
esperados, podendo inclusive gerar punicóes para os autores-
No caso específrco de Jerônimo de Albuque¡que, conrudo, as acusacóes conrre seu
governo no Rio Grande sáo muito parecidas com outras feiras, alguns anos depois, con-
tra seu governo no Ma¡anhão, recém-conquistado. Nesse caso, o autor dos "capítulos"
contra Jerônimo de Albuquerque e seus Êlhos, ,{.nrônio e Marias de .Albuquerque, foi o
capitão Bento Maciel Parente- Este foi preso e remerido para Pernambuco, onde se en-
contrava o governador-geral do Estado do Brasil, porAntônio deA.lbuquerque, que entåo
Maranháo no lugar do pai, falecidoTs.
era capitáo-mor do
Bento Maciel Parente, entre outres múitas acusaçóes, denunciava ter o capitäo-
mo¡ do Ma¡anháo utilizado os oficiais da construçáo do forte para suas obras, nâo lhes
pagando ou pagando com índios, que "valiam muito menos"; que mandou buscar sal
numa salina com a lancha de Sua Majestade e vendia para os soldados e, ainda, que dos
escravos tapuias comprados pela Fazenda ReaÌ, para fazerem mentimentos pam os sol-
dados, tomou "para si boa parte" e vendeu a outra por preço elevado, desconside¡ando
a provisáo do governador de que os diros escmvos se ¡epattissem pelos oficiais e pessoas
de me¡ecimenro da conquistatt.
Ben¡o Maciel Pa¡ente concluía seus "capítulos", apresentando ettensa lis¡a de
testemunhas que pocieriam ser inquiridas, bem como, algo comum nesse tipo de do-
cumenro, decla¡ando que dava "fiança" de 2 mil c¡uzados em Pernambuco, "onde
morava", como garantia da ve¡acidade das acusaçóes. Embo¡a o acusador, pelas cir-
crlnstâncias e pelo que se conhece de sua trajetória, seja suspeito, as acusaçóes aqui
destacadas -
sìmila¡es às feita ainda anres da conquista do Ma¡anhão com relaçáo ao
governo do Rio Grande podem indicar práticas comuns que oco¡¡iam em r'árias das
parres do Brasil-
As vanragens ou benefícios que os membros destacados da administraçåo co-
lonial podiam usufruir, apresentadas acima, embora náo Possam, aos olhos de hoje,
parecer signifrcativas, tos momentos iniciais da ocupaçáo das terras podiam significar
imporranre auxílio na montagem de empreendimentos que exigiam maìores recursos'
como no caso dos engenhos de açúcar montados por Jerônimo de Albuquerque nas
capitanias do Rio Grande e da Paraíba.

Sobrc o episódio, r'er Bernardo Pereira Ber¡edo. Ànnae: Hi:torico: ¿lo Est¿11'o Maru:ûháo (1749)
'lo
Iquiros (Peru): Abya Yala, i988, p. 196 c seguinres (Ediçáo iâc-similar àz ediçâo príncep:)

"Capirulos que o câpiráo Bemo ìr'faciel Parente apresenta conira o capìráo Jcrônimo de,{l-
buquerque e scus 1ì1hos e saber,A.n¡ónro de Albuquerque c Marias de Aìbuquerque" cie 12 de
no.'embro de 1618. pubÌìcado anexo à ob¡a cie Manucl Seve rim àe Faria, História Porx''guua
e de ottras d-o ocidcnt¿ y'e:l¡ a ¿na dt 1610 atë a de 1640 clafelíz aclanaçaa ìr el-re;
Vrauíncias
D. Jo,io IV Fortaleza:-Iip. Srudan, 1903, p. It2.
198 Rodrigo RicLrpero

O usuf¡uco de vantagens pelos membros da adminiscraçáo colonial náo se Ii-


miravam a te¡ras, índios, pau-brasil, âmba¡, bois entre outras, pois, particularmen-
te nas capiranias em que o povoamen¡o e o comé¡cio ganharam maiores dimen-
sóes, a partir de fins do século XVI, surgiram outros tipos de "ganhos" possír'eis,
embora, nesse caso, em sua maio¡ia ilícì¡os.
Dai que as melhores fontes para apreendermos rais práricas sejam as devassas ou
denúncias, como as que o licenciado Domingos de Abreu e Brito apresentou à Coroa,
que r¡aravem particularmenre de desvios na Fazenda Real em Pernambucoso.
Em primeiro lugar, Dorningos de Ab¡eu e Brito apresenta um levantamento da
produçáo da capitania para mostrar âo rei o tamanho da perda da Fezenda com o
conr¡aro do dizimo, já que, em sua avaliaçáo, só o dízimo do açúcar de,'eria render
ce¡ca de serenra e cinco mil c¡uzados, mas esrava naquele momento "arrendado pelos
oficiaìs de Vossa Majestade Joáo Nunes em vinte e oito mil e quinhentos c¡uzados",
a

incluindo nesse valo¡ rodos os out¡os "dízimos como sáo man¡imentos, gados e rodas
as outras mais miunças"sr-
Em seguida, Domingos de Ab¡eu e B¡iro mosc¡ava como, Por conivência dos
ofìciais da Fazenda, os donos de engenhos sonegavam "os direiros dos açucares que das
rais capiranias a este Reino vem que per[encem as Alfândegas de Vossa Majestade",
aproveitando-se indefrnidamenre das libe¡dades que os Reis lhes concederam de náo
pagarem po¡ certo ¡empo os di¡eiros dos açúcares, em respeito ao enorme gasro que
faziam na construçáo ou reediñcaçâo dos engenhossr- Para o licenciado, os senho¡es de
engenho "se apegaram a dira mercê que sempre lhe corre o tempo do privilégio no que
náo ñcam sem culpa os oficiais da fazenda de Vossa Ma.jestade"ti.
Os donos dos engenhos e lavradores, aproveirando-se rambém da menor ca¡-
ga de direiros para remessa do próprio açúcar de que gozavam com relacáo aos
mercadores, vendiam o açúcar para estes "em segredo, fazendo concetto com os
tais me¡cado¡es que lhe compram os ditos açucares, e lhos dáo fo¡¡os dos direi¡os

Domingos de ,{breu e B¡iro, "Sumário e dcscriçáo do Reino de Ângola e do descobrimenro


da iÌha de Luanda" (c. 1591), pubLcado por Alfredo de Àlbuquerque Felner, Op. cít., p. 56 e
s,jguinres.
8Ì Ibid¿lt1, p.53
82 IniciaLmenie lo¡am concedidos 5 anos de isencáo, pos¡eriormenre, ampliados para t0 anos.
Cf, Älvrrá de isençáo dos rriburos sobre açúcai' de 23 de julho de 15i4, publicado em
Dacum¿ tas !¿rã ¿ Hiitória d-o Açúcar, Op. dt.,.tol.I, p. 111. A prárica de hudar a Fazenda,

ampliando o prazo de isençáo era ráo comum que loi renrada inclusirr pelo Conde de Linha
res, vedor da Fazenda Real, no engenho que possuia no Recôncavo de Salvador. Cf. 'Arrenda-
mencos do Engcnho de Sergipe". .{rquirrc \acional daTo¡re do Tombo, C:rrório dosJesuíras,
maco ti, documenro 3.
Domingos de,A.breu e Brìro, "Sumário e descricáo do Reìno deÂngola e do descobrimenco d¡
iiha de Luanda" (c. 1591), publicado porÀlfredo de.A.lbuquerque Felner, O¿. rrr., p. 60.
A formaçáo da eliie colonial t99

pelo preço ser maior ordenando que os me¡cado¡es que os tais acúceres comp¡am
os despâchem em nome dos díros donos dos engenhos" pagando menos tributos,
em prejuízo da Fazenda Realsa.
Com reÌat'o ao trato do pau-brasil, diz Domingos de Abreu e Brito "achei e vi se¡
cosrume geral em a dita capitania e partes dela tirarem todos os oficiais da faze¡da de
Vossa Majesrade todo o pau (pau-brasil) que por suas indústrias podem fazendo vendas
dele as u¡cas" escrangeiras e portuguesas e, em sua opiniáo, a causa de tanta "devassidâo
em um conrreto táo vedado" era que os ofrciais daJusciça e Fazenda "sáo aqueles que por
suas próprias pessoas devassam o dito cont¡ato que Vossa Majestade tinha táo vedado,
mas como o costume é ent¡e eles ¡áo velho náo deve de cus¡ar pouco a Vossa Majescade
mandar que se guarde como a vossa fazenda convém"3t.
O licenciado indicava, ainda, ao rei que "se devia de atalhar que nenhum prove-
do¡ quer seja mor, que¡ pequeno, ou esctiváo de vossa fazenda, ou minisrro dela, que
náo tomem escravos com poder de seus ofícios aos passageiros armadores", tomando-as
pelos preços que querem e vendendo-as em seguida por dinheíio, açúcar ou letras por
mais do "dobro do que lhe custam com as quais sem justiças enricam em breve tempo
e as pa¡tes pouco poderosas perecem". Apomava também outros procedimentos iJíciros

utilizados peJos oficiais de todos os ofícios e pelos vereadores para obterem escravos por
menores preçosr graças ao poder que desf¡uravam e motivados pelo faro de que tinham
"todos engenhos de açucares"36.
Domingos de Abreu e B¡ito, além disso, cri¡icava o sistema adorado para cobran-
ça dos direitos do açúcar carregados em Pe¡nambuco, o qual permitia que os lespon-
sáveis por tais carregamen¡os os desviassem dos portos Portugueses, escaPando assim
dos pagamentos dos tributos cobrados nas alfândegas do Reino, pois as fianças, dadas
como garanria de que tais di¡eiros se¡iam pagos em Porcugaì, ra¡amenre eram cob¡adas
"donde nascem enricare¡n os oficiais de vossa fazenda com náo pedirem conta aos fìa-
s-.
do¡cs e ¿ lazend¿ real contumir-se
O licenciado aconselhava ao rei "de manda¡ devassar das Peitas que os mercadores
riram entre si, por cabeça, para taparem os olhos ao provedor-mor e Pequeno, e ao olrvido¡
geral", bem como dere¡ia manda¡ os almoxarifes que "as pagas que fizerem aos soldados,
assim na cidade da Paraíba como nas parres donde houver presídios" sejam feiras em di-
nheiro e náo em fazendas, "por quanro há hoje muita cópia de dinhei¡o amoedado em as
tais capitanias por descer de Tircumá", pois assim evitaria as grandes rantagens auferidas

84 Ibiden, p. 60.
85 Ibiden, p.67 e 68.
Ibiy',cm, p.72.
87 Ibiàem, p.74.Yer embém sobre esre assunto o "Livro das saidas dos navios e urcas" de 1605'
pubiicado, com ìnrroduçáo de José Äntônio Gonsalles de Mella, na Reuísta do Ins¡ìt¡tto At'
qurolágno, Histórico a Gngnifn Ponanbucano, vol. 58, p' 2l
200 Rodrigo Ricupero

pelos oficiais em deuimen¡o dos soldados, enviando mercado¡ias que náo lhes interessavàm
ou ainda avaliadas acima do valor rea1, o que permiriria que os próprios oficiais comprassem
os produros peia "merade dos preços em que lhe fo¡am dados em pagamenros"ss.
As acusaçóes, concudo, náo atingiam apenas os funcioná¡ios infe¡io¡es da ad-
minisrraçáo, ranto que, pouco depois do início da década de 1630, Lourenço de Brito
Co¡¡eiase enviou ao Morarca uma longa carra dedicada unicameûre às "vexaçóes e
opressóes públicas e roubos que Diogo Luís de Olivei¡a, (entáo) governador do Brasil
comete naquele Esrado"to.
A lista é imensa, pe¡fazendo 40 itens, tais como favo¡ece¡ as regateiras e vendedo-
res que sáo de sua obrigação e que opeitam; fazer demasiadas condenaçóes e ficar com
muiros mil c¡uzados para si; dar os ofícios da república a seus c¡iados, cont¡a provisáo
de Sua Majestade; vender os ofícios para pagarem a ele ou a seu 6lho e a pessoas de sua
obrigaçáo; fazer vexaçóes aos mesr¡es do navios, para benefício dele e de certas pessoas
nos car¡€gamerros; mandar nos navios seu açúcar e madeira sem pagar ou pagando
menos do que deve; ar¡avessa¡ as me¡cadorias que vêm nos navios; náo pagar ou pagar
po¡ meros coisas que pega dos donos, ainda que para revender e também utiliza¡ os
índios trazidos da Pa¡aíba por Joáo Barbosa de Melo para lhe faze¡em cousel¡aset e
jacaranda que embarcou depois para o Reiuo.

Domiagos de Abreu e Briro, "Suná¡io e desc¡icáo do Reino deAngola e do descob¡imen¡o da


iiha de Luanda" (c. r591), publicado por Àlfredo de Albuquerque EeIner, Op. ãt., p.78.
Lourenço de Brito Co¡¡eia loi em meados do século XVII uma das mais importanres 6guras
da Bahia. Resumìdamenre, foi capi¡áo duran¡e a lura com os holandeses, provedor-mor da
Fazenda Real, cendo assumindo inclusive o governo inrerino âpós ¿ prisáo do Marquès de
Monralváo em 1641, e provedor da Mise¡icó¡dia em duas ocasióes. Êra bisnero de Diogo Ál-
vares Caramuru, seu pai, Sebasriáo de Bri¡o Correia, foi capicáo do fo¡te de Sanro.{nrônio e
era irmáo de Filipa de Briro, cujo casamenro com,A.ntônìo Guedes deu origem à lamosa Casa
da Ponre, o segundo maior larifúndio do período colonial. Possuiu rerras em Sergipe d'el-rei
e aparece assinando um abaixo-assinado de senhores de engenho, lavndo¡es e me¡cadores da
Bahia em 1619. Ci Frei Anrônio de San¡a MariaJaboatáo, "Catálogo genealógico das prìnci-
pais famílias ...", publica¿a îa ReL,^td ¿o hrstitltto Hhtótíco e GeogTáfca Brasileiro, tomo Lll,
p. l2I; Frei Vicenre do Sa!,ador, O¡. dr., p. 437 e seguintes e Francisco Àdolfo de Varnhagen,
Hí:tória geral do Brasil,5" ed. 5 vois. Sáo Paulo: Melho¡amenros, 1956,V, p.246.
90 "Queixas que Lourenço de Briro Cor¡eia iaz a Sua Majcstade das veraçóes e opressöes pú,
blicas e roubos que Diogo Luís de Oliveira, go.,ernador do Brasil cometc naquele Esrado",
sem dara, mas escrito enrre 1627 e 163t. Biblioteca da,tjuda, códice 49-X,10, "Enviaru¡a em
França de Cristór-áo Soa¡es de Abreu,
5'Tomo", 11. 320. Crisróváo Soares de Abreu é 6lho do
provedor-mor Ërancisco Soares de Abreu, que serviu o cargo de 1629 aré 1633 ou i4, assim, é
quase cerro que os documen¡os desre códice renham sido herdados do pai.
"Pranchas de raboado grosso pâra po¡ras, que vem do BrasìI". Ch ,{nrônio de Moraes Silva.
Diccionaio da Lìngua Portuguez,z (îac-símìle da 2"ed. de l8l3), 2 vols. Rio de Janeiro: Flu-
minense, 1922, I, p. 487-
A formaçáo da elite colonial 201

Lourenço de Brito Correia prosseguia, entre outras acusaçóes, denunciando o uso


que o governador fazia das frnras, das quais cita vários exemplos, como a que arrecadou
um c¡uzado de cada mo¡ador para mandar um capitáo ao seatáo corn gente e que,
mesmo não tendo efeiro, náo devolveu o dinheiro; ou outra pera os gastos de Afonso
Rodrigues que foi ao se¡¡áo busca¡ índios, dando cada morado¡ 4 mil réis, e que, no
rerorno, o governador vendeu os ditos índios a Diogo Lopes Ulhoa e a outras pessoas
por muiro dinhei¡o, sem devolve¡ o dinheiro e os vendeu como cativos, sendo fo¡ros;
ou ainda outra que tomando a muitos moradores esc¡avos, acabou ¡euni¡rdo 600 deles,
os quais usou por três anos em ob¡as de seu gosto e coisas particule¡es, só conseguindo
r€ave¡ os escrevos os donos que the deram caixas de açúcar, entre out¡os casos.
Como avalia¡ cal quantidade de acusaçóesì Sabemos que pelo menos duas delas se

¡efe¡em a acontecimentos que de fato ocorreram, como a ida à Paraíba de Joáo Barbosa de
Melo para trazer índios e a enrrega da pane do governador, relativa ao quinto das presas dos
índios cativos por Afonso Rodrigues, para Diogo Lopes Ulhoa. Ccntudo, mesmo nesses
casos náopodemos te¡ maio¡es certezas. Ou!¡as acusaçóes Pa¡ecem no mínimo discutíveis,
como a que vindo Diogo Luis de Oliveira, de Pe¡na¡nbuco para a Bahia, poderia este ter
capturado um pirata, o que náo fez dizendo, segundo Brito Correia, "que náo vinha aBalia
busca¡ balas e sim cruzados". Já a denúncia de'tomo festejou a tomada de Pernambuco,
obrigando que se lhe dessem jantares e banquetes" náo Parece que deva ser levada a sério.
Po¡ ouuo lado, Lou¡enço de Brito Correia náo foi o único a ¡eclamar do governador
Diogo Luis de Olivei¡a. F¡ancisco Soares de Abreu, provedor-mor no início do governo de
Diogo Luís de Oliveira, fez iosistentes pedidos para que o rei lhe dispensasse do ofício, pelos
"achaques que padece" e, sob¡etudo, pelas "moléstias e vexaçóes" que lhe fazia o governa-
dor-geral Diogo Luís de Oliveira, a ql¡em acusava de náo seguir os regimenros e esrilos,
mandando "despende¡ absolutamen¡e como lhe parece", pagando as partes por mandados
ou sem eles. Queixava-se ainda que o tesoureiro geral e o almoxarife sáo favorecidos pelo
governado¡ e náo cumpriam suas ordens, relarando em seguida uma série de problemastr'
Reclamaçóes que seriam reforçadas por Diogo de Sáo Miguel Garcês, provedor
dos Defuntos e desembargador da Reiaçáo da Bahia, suspenso pelo governador "por
ser seu inimigo, (por) respeiro de algumas diligências que ele suplicanre fez por especial
mandado de Vossa Majestade", acusando ainda Diogo Luís de Olivei¡a de náo lhe da¡
Iicença para se emba¡ca. para o Reino, nem mandar pagar seu ordenado, e' depois de
cer conseguido a licença para se embarcar, o governador te¡ o¡denado que fossem ao

92 "Car¡a de Francisco Soa¡es de Âbreu a Sua Maiestade pedindo para o dispensar de exercer
o seu oficio de provedor-mor da fazenda" de 20 de novembro de 1629 Bibliotecâ dâ 'Ajuda,
códrce 49-X-10, Enviarura em França de Cristóváo Soares de Abreu, 5" Tomo' fl 144'
202 Rodrigo Ricupero

ravio roma¡em seu faro "com intento de lhe tomar papéis e devassas que ele suplicanre
havia tirado por mandado de Vossa Ma.jestade"ej.
Tal quantidade de queiras e reclamaçóes, que ainda poderiam ser acrescidas com
as da Câmara de Saivado¡'r, contribuem para que muiras das denúncias feitas por
Lourenço de Brito Correia possam se¡ conside¡adas ve¡dadei¡as.
Acusaçóes similares rambém já rinham aparecido na devassa procedida em
Porcugal por Belchio¡ do Ama¡a1 com relaçáo ao gove¡no de Diogo Bocelho, gover-
nador-geral enrre 1602 e 1607". As queixas começar am ¿ntes mesmo de o governa-
dor chegar ao Brasil, poìs era acusado de náo re¡ dado os mantimentos devidos aos
soldados na viagem, o que Ìhe reria permirido vender as sobras em Pernambuco como
suas, inclusive para duas caravelas que foram buscar a gente da nau de Ancônio de
Melo em Fe¡nando de Norooha, pagas pelo aimoxa¡ife de Pe¡nambuco, esre por "o
est¡anha¡" reria perdido o ofício, enrregue pelo go,.ernador a "um pajem seu".
Diogo Bocelho era acusado de mandar que os tabernei¡os do Recife the dessem
300 cruzados. Além disso, havendo no Recife mui¡as ba¡cas com que seus donos
ganhavam a vida, o governador te¡ia o¡denado "que um só homem as rivesse e que
este parrisse com ele o ganho"- Havia ainda a denúncia de que comprava os vinhos
que do Reino iam pelo preço que queria e de mandá-los para as tavernas, obrigando
os taberneiros depois a lhe pagarem 20 mil réis por cada pipa, com grande queixume
dos donos dos vinhos. As acusaçóes prosseguem, teria feito "um pajem seu resoureiro
da imposiçáo que se pagava para o forte e deu lhe o¡denado que segundo se dizia
recebia para si".
Ainda re¡ia feito estanco da palha que, em Pe¡nambuco, comp¡a-se para os
navios e de que "a¡rendou isro de meias a um homem". Nos leilóes das fazendas dos
defuntos, o gouernador comprava escravos e as mais coisas por menos do que valiam.
Mandou ¡oma¡ ainda aos donos, papagaios, bugios etc., alguns sem pagat para mar-
da¡ à Co¡ce e mandoú rambérn romar muiros negros dos mo¡ado¡es por menos do
que valiam, assim como dos navios de Angola mardava roma¡ esc¡a,ros escolhidos
pelo preço que queria.
Com relaçáo àjustica, era acusado de mandar que o our.ido¡ geral náo despa-
chasse alguns feitos de importância, rrazendo-os para si, "dizia-se que por tirar deles

"Consuka do Desembargo do Paço" de 8 de Fevereiro de 1629. ,{rchn'o Gene¡al de Sim¿nca',


147j - Consulras do Desembargo do Paço, fl 69.
Sec. Provinciales, códice
'Ara da Câmara" de 26 de agosro de 1628, publicada cm Àtas da Câmara da cidade do Salva,
dor (162i - 1700), ó vols. SaÌvado¡: Preferrura Municipal do Salvador, 1949,50, vol. L
''lnformacáo do procedimenro ìlegal do governador Diogo Borelho do Brasìl por Belchior do
Àmaral" (sem data, mas de fìns de 1602 ou do rnício de 1603). Biblioteca.r*acionalde Lisboa,
Reservados, Colecáo PombaLna, cóàice 249, fl. 204. ,{s inform¡cóes dadas nos próximos
parágraíòs, salvo indicacáo em coû(rário, loram ¡erir¿das desrc documenro.
A fo¡macáo da elite colonial 203

proveito". Algumas pessoas que linham crimes antigos mandor.r notificar que se livras-
sem e alguns lhe davam presentes. Tirou o ofícjo de carcerei¡o de Francisco Gonçalt'es
e o deu a ûm seu criado. Tomou o¡denado de alguns ofícios como foi o de tesou¡eiro
da cruzada e ainda consentiu ao piloto da barra levar mais de seu regimento e "se dizia
que levava a metade".
A conclusão do responsár'el da der.assa, Belchio¡ do -Ama¡al, era de "que se de-
viam mandar out¡o governador, porque Diogo Botelho estava com pouca autoridade,
e pouco amado da gente e poderia ser que fosse mai obedecido, se se oferecesse ocasiáo
de inimigos".
Diogo Botelho, por sua vez, sabedo¡ da devassa em curso, organizou sua defe-
sa, primeiro alegando ao rei qù.e as testemuohas ouvidas e¡am "partes" e, portanro,
pedia que "para se apurar a ve¡dade se tìrem out¡as testemunhas", particr I la rmenre as
pessoas que retornâvam do B¡asil para Portugale6- E, em segundo lugar, preparou um
documento em sua defesa, redigido em Pernambuco, incluindo várias ¡estemunhas fa-
voráveis ao seu procedimen¡o. Tal documen¡o contém 42 Ìtens, ¡ebatendo as acusaçóes
apresenradas por Belchior do Amaral, além de concluir afi¡mando "que tinha êmulos
nesra capirania (Pe¡nambuco), com ódio e paixáo, sem ele dar causa para lhos rerem,
disseram e escreve¡am, induzi¡am, far'orece¡am, de¡am do seu e embarcaram para o
Reino algumas pessoas para o irem caluniar e desac¡edita¡ falsa e indevidamenre"'--
Recoloca-se a questáo, acreditar nas acusacóes ou na defesa do governador-
geral? Diogo Botelho taivez náo fosse culpado de todas as acusaçóes, mas inegavel-
mence e¡a mais um dos que vinham "fazer seu proveito"- Provavelmente, pretendia
também pagar as dívidas que tinha no Reinoes, no que deve ter sido parciaimente
bem-sucedido, pois se tornou proprietárìo de um engenho em Pernambuco, embo-
¡a náo tenha conseguido comp¡ar a capitania de Ilhéus como embicio¡¿r-a, nem'

Cl. "Carta de Filipc II de Portugal" de 30 dc agosro de 1603. ,A.rchivo Gene¡al de 5im: nos'
Sec. Provinciales, códice 1437 - Ln'ro de registro das cartas que Sua Maiesrade mar'ìr à Por
tugal para os governadores vice-reis c oritros personagens dc Porrugal àe 1603'1604, ß 24 '

9l "lnsrrumentos Diogo Borelho" de 6 de setembro de 1603' publicado na Reuista do lastínta


Htstórico e Geagnlfco Brãsil€¡ro, romo 77, I parte, p 68. Essc trpo de reciamaçáo e¡a ¡ecor-
¡cnre, D. Luis de Sousa. por exemplo, soìicita.'a que na sua "¡esidéncta" náo fossem rìradas
tesremunhas em Pe¡nambuco. pois todos os moradores aL eram, de alguma forma, dependen-
res dc Duarte de Àlb'¡querque Coeiho e de Marìas dc,{lbuquerque, seus inìmigos Cl "Re-
querimenro dc D. l-uís de Sousa sob¡e a residência que de seu governo se¡ia ti¡ada ne B¡hia
e Pernambuco", sem dara, mâs Posrerior a i621, que consta do lluro pr;neiro do G'*'"" '1'
Brøsil, Op. cit., p.335.
98 "Carra de cL-rei ao Bispo D. Pedro dc Casrilho" de 26 de outub¡o de 1605. Biblroteca da
,{juda, códìce 51-VIII'07, Cartas de Sua Majestade para o Bispo Pedro dc Casrilho, fl 218v'
704 Rodrigo Ricupero

do ponro de vis¡a simbólico, renha recebido o ¡írulo de vice-rei do Brasil como


pretendiate,
As acusaçóes fo¡muladas conr¡a os funcioná¡ios da Justiça e da Fazenda de Pe¡-
nambuco ou contra Diogo Luís de Oliveira e Diogo Borelho náo e¡am novidade, nem
ráo pouco desconhecidas da Coroa. Podendo, aliás, se¡ conside¡adas ¡ecorrenres conlra
o conjunro da administraçáo colonial por todo Império portuguêsr00.
Daí que a Coroa, no regimenro da ¡esidência do go..ernador-geral D- Luís de
Sousa, inst¡uísse o responsável pelo inquériro, provavelmenre seguindo um modelo
prévio, que perguntasse às testemunhas sobre quesróes, como se o governador "ro-
mou mântimenros ou outras coisas sem as pagar, ou fiadas conr¡a a von¡ade de seus
donos ou por menos do que valiam"; se mandou que náo se vendessem cerras me¡-
cado¡ias, "a¡é ele vende¡ as suas"; se mandou "pagar pracas mo¡ras, apropriando-se
para si" dos respecrivos ordenados, encre ourras ranras quesrões que versavam sobre o
procedimenco do mesmo em questóes relativas à Jusriça e à Fazenda Reall0r.
De qualquer forma, o procedimento adorado no caso de Diogo Botelho pode ser
um bom indicado¡ de como a Co¡oa enca¡ava tais acuseçóes- O vice-rei de Portugal,
D. Ped¡o de Casri-lho, em carta ao Monarca, explicava que "não convém pror¡ogar o
rempo de seu governo", negando assim o pedido do governador para que conrinuasse
no posro a fim de continua¡ o descob¡imento do Ma¡anháo, por ele iniciado. .A.final,
para o vice-rei, "indo out¡a pessoa folgará de ganhar honras nesre d€scob¡imenro e a
tí¡ulo das devassas que se tiraram de Diogo Botelho, se poderá simula¡ e deixar ele
esrar naquele governo, sem o prorrogar"Ìo2, râo pouco consra qì.re esre tenha sof¡ido
qualquer sancáo após voltar ao Reino.

99 Sobre a compra da capiranìa de Ilhéus, Ct "Carra de Diogo Borelho ao Conde de Linharei'


de 23 de agosro de 1602. Arquivo Nacional da To¡¡e do Tombo, Cartório dos Jesuíras, maço
71, documenro 3. Para o pedido do rírulo de vrce-rei, ve¡ "Carra do rei aos governadores de
Porrugal", sem dara. Arquìvo Nacionai da Torre do Tombo, respecrivamence, Corpo Crono-
lógico, parce I, maço 116, documenro 104.
100 No Oriente, por exemplo, o soidado, personagem de Diogo do Couto, rei
tentos casos, que os ouvidores das lortalezas iam a essas, "como quem vai a vindimar suas
vinhas, e a qualquer que chegam com a r.ara na máo sáo os compadres ranros, os empresrimos
para a China, as pecas e os presônres, que náo cabem em casas; e mal polo que náo rem que
dar, qLre esse é <¡ue paga o paro!" ou, ainda, que aré mesmo a ve¡ba dada pelo rei para os vice-
¡eis recompensarem os vassalos somem "por mercês parre lanrásricas e em homens quc nuuca
nasce¡am ao mundo". Diogo áo Couto, O Soldazlo Prâtico. ,1610).3. eð..Lisboa: Sá da Costa,
1980, p.60 e 162
"Regimenro da residência do governador D. Luis de Sousa" de 4 de
lulho de 1623, que consta
ð,o Líuro príneiro lo Gouerno do Brasil, ap. cít., p. 361e seguinres.

"Carra do bispo D. ?edro de Casrilho a el-rei" de 2l de maio de 1605- Biblioceca da Ajuda,


códice jl-VIII-19, Ca¡ras do bispo D. Pedro de Casrilho, fì. 140 v.
A formaçáo da elite colonial 205

Na prática, o enriquecimento líci¡o ou ilícito dos funcioná¡ios coloniais era um


elemento estrutural e inevi¡ável do lmpério'or; afinal, de que out¡a manei¡a a Co¡oa
poderia atrair vassalos dispostos a enfrentar longas viagens e inúmeros perigos? Dessa
forma, a política de troca de sen iços por mercês, náo deixava de ser um inst¡umento
útil para que os ganhos dos vassalos, incluindo os ¡ecu¡sos desviados da P¡óP¡ia Co¡oa,
fossem, em alguma medida, drenados para os interesses da Monarquia.

103 Vejam-se os comentários, sobre o rema, de Charles R- Boxer' O Inpórío Colonial Portugués
(rraduçáo). Lisboa: ediçóes 70, 1981, p. 307 e seguintes e ainda George Davison Vinius l
lenda negra la india portupesa (rra.ðucão). L:Lsboa: Antigona, 1994
7 " A mão-de-obra índigena
O Brasil niio se podc sustetzt¿r nem h¿-uer nelt comércio scm o geittio da terra, dssim Par/,' o

nerrcio e benefcio das fazendas, como para conseraação da paz.

Resoluçáo sobre o cativei¡o dos índios comada pelo Bispo e

pelo ouvidor geralr.

A exploração do trabalho indígena

I exigéncia bisic¿, no momenro d¿ distribuicao de sesm¿ri¿. er¿ .eu aproreita-


-fL-"n,o, condiçáo que. se náo cumprida, t¡ansformava as tel¡as em devolutas,
justificando a perda dessas, que poderiam se¡ doadas novamente. As ter¡as, dist¡i-
buídas em quantidade inimaginável em Portugal, tanto para grandes como para hu-
mildes, exigiam, para seu aproveitamento, a obtençáo de máo-de-obra compatível
Daí um dos morivos para a ambiçáo, nunca saciada, por cativos referida por Pero de
Magalháes Gandavo'.

"Resoìuçáo que o bispo e o ouridor geral do Brasil toma¡am sobre os iniustos carivei¡os dos
indios do BrasiÌ e do rcmédìo para aumcnro da conversáo e da conservaçáo daquele Estado",
documenro da década de 1570. publicado na Revista do Instiruto Hjsró¡ico e GeográÊco
Brasileìro, rcrr,o LYII, parre I, p. 92.
"Os mais dos morado¡es que por esras cåprtanias esráo espalhados, ou quase rodos' tem
suas ter¡as de sesmaria dadas e reparridas pclos câPitáes e go'ernadores da terra e a primei-
ra coÌsa que prctcndcm âdquirir sáo escravos'', Pero de MagaLháes Gandaro, Históia,1¿
Pntí¡tcí¡ de Santa Cru,z t¡ fratø.do ¿la T¿rrd ¿lo Brasíl (1576 e c. 1570), Sáo Paulo: ObeLjs-
co,1964, p. 34.

7C7
2.08 Rodrigo Ricupero

A exploraçáo desenfreada, somada a outras causas (doenças, guerras etc.), exi-


gia permanente abasrecimenro de escravos, que até o momet¡o em que Gandavo
esc¡evia sua História dø Prouíncia de S¿nta Cruz, pouco depois da mo¡te de Mem
de Sá em 1572, e¡am fundamenralmenre indígenas. Os indígenas, conrudo, mesmo
depois da inrroducáo de af¡icanos, não deixaram de representar um papel desracado
na composiçáo da força de rrabalho empregada por todas as partes do Brasil ao longo
de rodo período aqui escudado. E, diga-se de passagem, foi a riqueza produzida pelos
chamados negros da terra que 6nanciou a ent¡ada dos negros da Guiné.
Po¡ volta de 1570, Gandavo, ¡o
Trøtado da terra do Brasì|, contava que, em tro-
ca dos produtos trazidos pelos porlugueses, os índios "se vendiam uns aos outros e
os po¡rugueses lesgatavam muicos deles e salteavam quettos que¡iam sem ninguém
lhes ir a máo", porém, com a chegada dos jesuítas em 1549, tais p¡áricas tinham sido
eliminadas ou pelo menos arenuadas, pois os padres da Companhia "proveram neste
negócio e veda¡am muitos saltos que faziam os portugl¡eses por esta costa. os quais
ercarregavam muito suas consciências com cariva¡em muitos índios contra o di¡ei¡o e
moverem-lhes guerras iniustas"i,
Os jesuítas e os capitães da terra, ainda segundo Gandavo, procuraram impedir
os resgaces{ e nem consentiam que os portugueses fossem às aldeias sem licença dos
capiráes e assim "quantos escravos agora vêem novamente do se¡táo ou das ou¡¡as
capiranias rodos levam primeiro a alåndega e ali os examinam .., porque ninguém
os pode vender se não seus pais ou aqueles que em justa guerra os cativam"; assim, os
mal adquiridos eram posros em liberdade e, desta maneira, os índios comprados e¡am
repurados por "bem resgacados e os moradores náo deixam po¡ isso de i¡ muiro ¿vanre
com suas fazendas"t.
O relato apresenrado por Gandavo, mesmo que não compleramente exaco6, sin-
cetiza, em linhas gerais, a quescáo da esctavizaçâo indíçna nos anos que medeiam a
fundaçáo das primeiras capitanias na década ðe 1530 e a adoçáo da primeira lei sobre o

Pero de Magalháes Gandavo, Op. cit., p.9I e92.


O cermo "resgatar" e¡a urilizado no senrido de "comprar ou permurar" os mais diversos gê-
ne¡os, inclusive escravos. Nas partes do Brasil, rambém se¡ia urilizado para designar os pro-
duros des¡inados a rais rrocas, como, Do¡ exemplo, em um mandado do provedor-mor para o
"lesourei¡o pagar em resgares a Esreváo Fernandes, ma¡inhei¡o dois mil e serecen¡os reis". Cl
Ancônio de Mo¡aes e Silva, Dírtionaio da L¡ngua Portrgu€za. Rio de Janeiro: Fluminense,
1922 (fac-símile da 2" ed. de 1Bl3) e "Título do regisrro dos mandados de pagamentos e de
ourras despesas" iniciado pelo primeiro provedor-mor em 1549 e publicado na coleçáo Da,
cumntos Históriros, 110 vols- Rio de Janeiro: Biblioreca Nacional, 1928 55, vols. 13 e 14, a
ci¡açáo encontra-se no volume 13, p. 273.
Pero de Nfagalháes Ganàavo, Op. cit., p.9I e92.
O relaro sobrevaloriza a disposiçáo dos membros da go'ernanç
miza a resistência dos mo¡ado¡cs às novas dererminacóes da Co¡oa
A formacão da elite colonial 749

cariveiro iûdigena, a de D. Sebastiáo de 1570, sem esquecer as mudancas oco¡¡idas com


insralaçâo do Governo-geral e a chegada dos jesuítas em 1549.
A política indígena da Coroa portuguesa oscilou f¡ente à pressáo jesuítica
pró-liberdade e à dos mo¡ado¡es pró-escravidáo7. A conversâo dos índios ao c¡is-
tianismo, conrudo, foi sempre evocada pelo rei como a maior justiÊcativa da ocu-
paçáo das terras americanas; a Co¡oa inicialme¡te, porém, náo aPontou nenhuma
perspectiva para efetivar tal pretensáo, nem p¡esc¡eveu uma política clara a se¡
seguida com os narivos. Bom exemplo disso sáo as cartas de doaçáo das chamadas
capitanias heredirá¡ias, emitidas na década de 1530, nas quais os índios são citados
em apenas dois momentos; a primeira vez, no preâmbulo, quando o rei enuflcia o
projero de ocupar a costa e ce¡¡a do B¡asil para celebrar o culto divino e exalta¡ a
fé católica, conve¡tendo "os naturais da dita te¡ra, infréis e idólat¡as", e, a segunda,
na perte em que enume¡a as concessóes, quando os donacá¡ios ¡ecebe¡em o di¡eito
de envia¡em ao Reino dete¡minado núme¡o de esc¡avos isen¡os de t¡ibutoss.
A ausência completa de um plano ou de pelo menos uma orientaçáo sobre o tra-
ramento a ser dìspensado aos nativos do Novo Mundo du¡ou até a criaçáo do Governo-

geral, que, como vimos, era, em especial, uma ¡esposte às dificuldades geradas pela
¡esistência indígena. Foi nesse momento que a Coroa, com base na experiência dos
primeiros anos de ocupação das te¡¡as americanas, começou a elaborar uma política
pere a quesráo indígena, porém ainda tateante no que toca à escravidáo. A conve¡sáo
ainda era o proclamado objetivo final, daí o envio de;-esuítas juntamente com Tomé de
Sousa, que deveria impor aos índios a autoridade da Co¡oa e a da lgreja.
A diret¡iz básica delineada no regimento do primeiro governador e¡a dividi¡ os

índios em amigos e inimigos, aproveitando-se das divisóes anre¡io¡es enlre os necivos,


u¡ilizando os primeiros con¡¡a os últimose. Nesse momento, no apoio à obra da cate-

Sobre o assunto, .'er Georg Thomas, Polirícã ín¿ígenn dos porngueses no Brasíl (taduçâo)
Sáo Paulo: Loi.ola, i982, John Hemming, Red Gold, the conquest of the b¡az;lian inài¿r'
Cambrigde: Han'ard L,niversity Press, 1978, Manuela Ca¡nei rc ãz Cunha (or9.:), Hítîór¡a ¿os
ínàio: no Braslt,2'ed.Sáo Paulo: Companhia das Let¡as, 1998 e Sruart Schwanz, "T¡abalho
indígena e grande lavoura', publicado na reuniáo de artigos do autor. i¡tnuìaàa D¿ Amétíca
portugaesa ao Brasil.Lisboa: Difel, 2003.
"Doaçáo da Capiunia de Pernambuco" de i0 de março de 1534, pubiicada em Daaçóes e
forais das Capitanias da Braril (1534-1536), APreseÂtaçáo, transcriçáo e notas de Maria José
Choráo. Lisboa: ,Arquivo Nacional da Torre do Tombo, 1999, p. 11.
Bea¡riz Pe¡rone-Moisés chama arencáo para o faro que "à dilerença irredurível enrre'índios
amigos'e'genrio bravo' corresponde um corte na legìslaçáo e poiíticâ indigenis[es quc, enca_
radas sob esse prìsma, já náo aParecem como uma linha to¡tuosa crivada dc contradiçóes, e
sim duas, com oscìlaçóes menos fundamentais", dessa manei¡a reríamos duas linhas políticas'
uma para cada grupo, que se mantêm ao loogo do processo de colonizaçáo, mas que nas
"grandes ìeis de liberdade" (as de 1609, 1680 e 1755) , sob¡ePóem-se, anulando a distinção
entre aliados e inimigos. Bearriz Per¡one-Moisés, "Índios livres e índios escravos, os PrincrPios
210 Rodrigo Ricupero

quese, surgia também a proposta de constituiçáo de g¡andes aldeamentosr0 para maior


facilidade da ob¡a missioná¡ia, porém quanto à esc¡avidáo, nenhuma oriencaçáo geral,
apenas a instruçáo do ¡ei para que parre dos índios ¡ebeldes na capitania da Bahìa fosse
carivada, como exemplo aos demaisr'.
Ao conr¡á¡io dos af¡icanos, que foram sìmpÌesmente escravizados, várias foram as
lormas de exploraçáo dos índios, que iam da escravidáo piena aré, no ex.remo oposto,
a obrigaroriedade, em maior ou meno¡ medida, ao t¡abalho em t¡oca de uma ¡emu-
neracáo, na maioria das vezes i¡¡isória, mantendo, contudo, certa autonomia. A forma
inre¡mediá¡ia se¡ia uma espécie de dependência pessoal, na prática um regime de es-
c¡avidáo sem o correspondente arcabouço legal, que Êcaria conhecida como "adminis-
tração" dos índios'r.
Assim, podemos dividir a exploraçáo dos indígenas em rrês fo¡mas elementares
de rrabalho, a sabe¡: o t¡abalho, obrigatório ou náo, medianre ¡emuneracåo, a escravi-
dáo e o regime de "administraçáo"ri. Essas três fo¡mas coexistiram ao longo do perío-
do, va¡iando, ro rempo e no espaço, conforme a correlação de forças entre po¡tugueses
e índios, bem como moldando-se e conrornando muitas.'ezes as disposiçóes da Coroa,
promulgadas em leis e alvarás, principalmente a pa¡tir de 1570.
Do ponro de vista cronológico, a primeira forma de exploraçáo foi a r¡oca ou
escambo de produros europeus com os índios amigos, dessa forma os portugueses
obrive¡am r¡abalho, alimen¡os e outros gêneros, lnclusive escravosì4. A exploração do
pau-brasil, por exemplo, viabilizou-se graças a ral arranjo, que rambém seria funda-

da legislacáo indigenisra do período colonial" in: Manuela Carneiro da Cunha (Org.). ,4zirã-
ria do: Índios no Brasi/,2' ed. Sáo Paulo: Companhia das Lerras, 199S, p. I17-
Nes¡e rrabalho, o rermo "aldeamen¡o" deve ser enrendrdo no sentìdo de povoaçáo de indios,
criada ou dirigida peÌos porrugueses, eÌn conrraposiçáo a "aldeia", rese¡vada às po\o¿ções
indígenas autônomas. Deve+e levar em conra, porém, que nos documenros da época ral dis-
rinçáo náo exisriå.
"Regimenro de Tomé dc Sousa" de 17 de dezemb¡o de 1548, publ;cado por Ca¡los Malheiro
Dias (Dir-), Hi¡¡ória dd Colottizacáo Potuguesa do Brasí1,3 ¡o|s. Porro: LirograÊ: Nacional,
1922, vol. lll, p. 346 (Cirada daqui em dianre a penãs como Hìstória dt'. Colodizaçáo Pornrgue-

Sobre o assunro, ver John Manuel \4anteirct, Negros da tena. Sâo Paa\o: Companhìa das
Letras, 1994, p. 129 e seguinrcs e Bearriz Perrone-Moìsés, Op. cir., p.119.
Para S¡uar¡ Schrve.rrz, os "porrugueses renraram uma variedade de sisrema laborais", cujor cris
ripos prìncìp s serixm a "cscravatura compulsórìa" empregada pelos colonos, a "criaçáo de um
'campesinâro' in<1ígena por via de processos de acuhuraçáo e desrribalizacáo" implemencado
pelos Iesuíras e depois por ourras ordens religiosas e o úÌrimo, aplicado por leigos e eclesi.rsricos,
que 'consisria na lenta inregraçáo dos índios num mercado capiralisra auro,regulado e na sur
c¡ansfo¡macáo em r¡abâLhadores in¿ivìduais remune¡adoi'. Srua¡r Sch',varq Ap. crt., p. ?7.
Cl o clássico rrabalho de Alexander Marcl,at. Do Esunba ì¿ Esclauí¿áo (rraducáo). 2. cd.
Sáo Paulo: Companhia Edìro¡a Nacional, 1980.
A formacáo da elite colonial 111

mertal ros primei¡os rempos da colônia, como se pode perceber pelo papel dos índios
amigos ra consrrucáo da cidade de Salvador, quando fo¡nece¡am alimentos, marerial
de construçáo e t¡abalhoLí.
A ampliaçáo da presença porruguesa, com a crescen¡e necessidade de t¡abalho,
náo apenas circunstancial, mas cotidiana, fez que os índios passassem a exìgir pro-
du¡os mais caros, inclusive a¡masr ou que simplesmente se recusassem a Servir ¿os
recém-chegados, o que acabou inviabilizando tal arranjo. As fo¡mas voluntá¡ias fo¡am
subsrituídas cada vez mais por formas compulsórias de trabalho; conrudo, mesmo que
marginalmenre, a rroca de produtos po¡ t¡abalho continuaria sendo utilizada, particu-
larmente com os índios amigos que conseguiram manter aÌgum tiPo de autonomie ou
com os que fica¡am sob rutela dos jesuítas"'.
O esgotamento das possibilidades da r¡oca de trabalho por merc¿dorias va¡iou
de capirania para capirania, de acordo com o ritmo do desenvolvimento das a¡ividades
produrivas, notadamen¡e da agromanufatura acucarei¡a, porém podemos considerar
que a partir da década de 1560 tal mecanismo passou a ocuPâr um papel lìmitado nas
á¡eas cent¡ais da colônia.
Anres mesmo que ta1 fato se verificasse, a escravidáo já era praricada. Duarte
Coelho, na década de 1540, clamava, em suas cartas ao rei. conrra os portugueses que
na ânsia de cativar índios acabavam por rumultuar ¡oda a Costa. Estes utilizavam os
mais va¡iados expedienres, que iam do engano à violência, atacando índìos amigos e
inimigos indis¡intarnente, fugindo depois para outras áreas com os ca¡ivosrt Contri-
buíam assim para aumenta¡ o clima de desgoverno entáo vigente nas partes do B¡asil,
provocando o recrudescimento das guerras com os índios, que acabavam Por 5e vingar,
muicas vezes, atacando os estabelecimen¡os porrugueses mais próximosLs. Esses os ata-

15 .Tí¡ulo do regisiro dos mandados de pagamenros e dc ourras dcspcsas" iniciado pelo pri-
meiro proÌcdor-mor e pubiicado nos "oiumes 13 c 14 da série D¿r 7't1311tos HiJt¡ti'or' OP
ti1., pa.rsin-
16 Duarte CoeLho descreve bcm, nurna c¿rta ¿o r€i' csse Pro.essonuma passagem citada an-
¡eriormcnrc. "Ca¡ra de Duarre Coclho a ei-reì" de 20 de dezemb¡o de 1546. pubLrcada em
H;'¡ótia y'n Calonizaçáo Portugtrcsa do Brasil' .rcl.III' p 3i4 ou cm José Àn¡onro Gonsal'es
dc MeÌlo e Cieonir Xavicr dc Albuquerque. Cotas dc Du¿rte Coelho ¿ ¿lr¡rl ReciÍè: ImPrensa
Unir.e¡sitá¡ta, 1967. p. 15.
i7 O padre Leonardo Nunes, jcsuita, conta que "nesra tcrra enrre ouxos males h"
cnstáos r¡uiro arraigado e mau de arrancar por suas cobiças c rnteresses o qual era ter mutros
indios injustamenre carivos Porque os i2m saltcar a our¡as rer.as e com manhas c enganos os
ca¡ivavam". 'Carra do Pad¡e Leonardo Nunes" de 1550' pubJicada por Sera6m Leice (SJ)'
Carta: /,o: primciro: jtsúta: da Br¿:i\.3 ¡o1s. Sáo Paulo: Comissáo do IV cen¡ená¡ìo <la cidade
de S:o Paulo, 1954, vol. I, p.200.
Cl a crtada "Ca¡ta dc Duane Coelho a eL-¡ei dc 20 de dezembro cie 1546' publicada em
Hlstóri,z ¿a Colonizaçáo Portuguesa da Bøsil. vol.III, p 314 e rambém pubiicada em José
T?. Rodrigo Ricupero

ques ou "saltos", como enráo e¡am chamados, foram reprimidos peio Governo-geral
e pelos jesuíras, conforme o relaco de Gandavo. No caso, Tomé de Sousa seguiu as
insrruçóes recebidas em seu ¡egimetro, a Coroa, estava mais preocuPada em evirar as
conseqùências dos ataques do que coibir o câtivei¡o em si.
Nos anos seguintes à criaçáo do Governo-geral, os portugueses ¡etomaram a
ofensiva em vá¡ias das parces do Brasil, procu¡ando garentir o conrrole das áreas próxi-
mas aos núcieos primirivos e, conseqùenremente, aP¡oveitá-las ecotomicamente, com
a montagem de fazendas e engenhos. .A resistência indígena à iniciativa, provocou uma
série de guerras, que duraram praticamente até o Ênal do século XVI e início do XVII,
variando de região pa.ra. regiâo.
Em meados do século XVl, os portugùeses e os índios aliados de¡¡ot¿r¿m a ¡esis-
cência, garantindo o conrrole do re¡¡iró¡io litorâneo das capiranias de Pernambuco, Bahia,
Rio de Janeiro e Sáo Vicente'e e impondo pesadas perdas humanas aos vencidos, além do
cativeiro em larga escala. Com isso, o problema de máo'de-obra foi resolvido momenane-
amenre e a esc¡avidáo passou a ser a forma preferencial de exploraçáo da máo-de-obra.
Neste momenro, as guerras de conquisca e as expediçóes punirívas contra os índios
que resisdarn à ocupaçáo po¡ruguesâ, somadas ao "resgate" dos prisioneiros capturados pe-
los índios amigos em suas guefias rornaram-se as princþais fontes de obrençáo de trabalha-
do¡es. Consolidou-se também a polírica de divisáo dos índios. Para os inimþs, náo havia
dúvidas, a ¡esistência ao processo de ocupaçáo do rer¡i¡ório e de conve¡sáo ao cris¡ianis-
mo seria punida violentamente: individualmente, com os chefes indios colocados na boca
de c¿¡rhóes como exemplo, ou coletivamenre, com a mofte e o cariveilo dqs prisioneìros.
Exemplo disso foi a campanha contra os indios da regiáo do rio Paraguaçu no Recôncavo,
no final da década de 1550, cuja violência foi regisuada com aprovaçáo pelos jesuítas. O
padre Manuel da Nóbrega nos conta como esses índios fo¡am aracados por crês vezes pelos
poraugueses e seus aliados, que "malaram muitos e caliyaram grande soma, queirnando-
lhes suas casas e tomando-lhes seus ba¡cos, pelo qual pediram pal'20; o padre José de An-
chieta, por sua vez, registra os acoruecimenros no poema em que homenageou Mem de Sá,
glorificaldo a virória dos "esquadróes de Cristo":

QLrem poderá contar os gestos heróicos do Chefe


à f¡enre dos soldados, na imensa maral Cen.o e sessenra

Ànrônio Gonsalves de Mello e Cleoni¡ Xavier de Albuquerque, Op. cir., p. 87. Vel rarrúém o
capirulo 3 deste trabalho.
por outro lado, que nesse período, a resisrência dos aimorés provocou e quase
Regìsrre-se,
complera desrruiçáo das capitanias de Porro Seguro e Ilhéus.
'Carra do padre Manuel da Nóbrega ao padre Miguel de Torres e pad¡es e irmãos de Porru-
ga1" de 5 de julho de 1559, pubiicada por Serafim Leite (SJ). Cartas tl.os przmeiros jesuítas da
Brusi/, Op. cit-,vol.Ill, p- 57.
A formacáo da elite colonial 7r3

aldeias incendiadas, mil casas a¡ruinadas


pela chama devorado¡e, essoiedos os campos,
com suas riquezâs, pâssâdo tudo eo 60 da espadelri

Quanto aos ind ios que se ma ntiveram em p¿7 corn 05 Por I ugueses. o rei orienr¿vr
Tomé de Sousa, "os favo¡eceis de maneim que sendo vos necessário sua a.juda a tenhais
ce¡ta"rr. A direrriz, aplicada perticula¡menre aos índios que aceitaram se conveffer
ao c¡ìstianismo e a colabo¡a¡ com a colonizaçáo po¡luguesa, surtia efeìro, Pois como
explicave o padre,Anrônio Pires, "grande é cá a inveja que estes gentios tem a estes
novamente convertidos, Porque vem quão favorecidos sáo do governador e de outras
principais pessoas"2i.
O favo¡ecimento dos índios amigos ganharia contornos mais cla¡os du¡ante o
governo de Mem de Sá, pois, ao consolidar o domínio português sobre o Recôncavo, o
governador pôde implemetta¡ o projeto já apontado no ¡egimenro de Tomé de Sousa
de constituição de grandes aldeamen¡os, que tinham como finalidade, por um lado,
facilkar a. ob¡a de conve¡sáo e, Por out¡o, garantir ñáo-de-ob¡a e aPoio milita¡, em
¡¡oca, os índios receberiam terras e ouc¡os fa\¡ores materiais e simbólicos.
Os índios amigos, com isso, ficaram cada vez mais dependentes dos portugue-
ses, que passa¡âm a dererminar, segundo seus próprios inceresses, o local onde eles
deve¡iam se instalar. Instruçóes a esse ¡esPeiro eram periodicamente enviadas pela
Coroa, como num aivará de 1582 no qual o rei, ao mesmo rempo que determinava
que o governador e o provedor-mor deviam da¡ ¡e¡ras de sesma¡ia aos índios descidos
do se¡ráo, orientava que estes rePartissem os índios em aldeias junto às fazendas e
engenhost{.
O modelo, posceriormente, serìa transposto para as demais parres do Brasil, e
os índios passaram a se¡ deslocados de aco¡do com as necessidades dos portugueses,
tanro de combatenres como de t¡abalhadores. Diogo Borelho' por exemplo, enviou

O longo pocma narra a suc€ssáo de combates do período, sendo, portanto, marcado pela
carniÊcina pratìcada, na maioria das vezes, pelas forças porruguesas José de Anchieta (SJ)'
De ge*is Menli de Søa / Dos feitos de Men lz Sl, edìcáo bilingüe Rio de Janeiro: Arquivo
Nacional, 1958, p. 129.
O já cirado "Regimento de Tomé de Sousa" de 17 de dezemb¡o de 15 48, publícado na Histriria
da Coknizaçáo Portu.guesa do Brasil,Ill, p. 346.
"Carra do padre Antônio lires aos padres e i¡mâos de Coimbra" escri¡a de Pernambuco em
2 dc agosto de 155t e publicada por Sera6m Leire (SJ) Cartas dts primeiros jesuitas do Brasil.
Op. cit., vol I, p.254.
24 'Alvará para que aos índios que descem do serráo se dessem rerras para suas aldeias junro as
fazendas e scsmaria para suas la'ouras" de 21 de agosto de 1587, pt5lcaào nos Dacum¿ntos
para a hístótta dn açúca¿ 3 .oÌs. Rio de Janeiro: IAA, 1956, vol. I, p. 32i.
214 Rodrigo Ricupero

"mil e quinhenros fecheiros potiguares" das capiranias do Norte, provavelmente do


Rio Grande e da Pa¡aíba, para as capitanias de Ilhéus e Porto Seguro, para a guerra
cont¡a os aimo¡ésri e, alguns anos depois, o próprio rei orientava Martim de Sá para
"descer do ser¡áo os índios que the parecer necessários para povoa¡em aldeias no Cabo
Frio"rr'. Este, pouco depois, dava conta ao mona¡ca da tarefa, ¡ela¡ando como levar-a
índios do Espírito Sanro e da regiáo da Lagoa dos Patos para o Rio de Janeiro' erguen-
do aldeamenros na Ilha G¡ande e em Cabo Frio, visando, assim, impedir a Presença
esrrangerra na áreari.
Mem de Sá, porém, foi o primeiro a implementar tai prática. Inicialmente, em
1552 quando juntou os indios de quarro aldeias, que já estavam sendo doutrinados pe-
Ios jesuítas, em um grande aldeamento, próximo de Sairador; out¡os foram montados
em seguida, fo¡mando um verdadei¡o escudo em ¡o¡no da cidaders.
Dessamaneira, como conseqüência da política de divisáo dos índios, relamos nesse
momenro, os índios amigos agrupados em grandes aldeamentos sob responsabilidade dos
jesuíras e os inimigos, no caso dos capturados, escravizados nas fazendas dos mo¡adores.
A sìruaçâo, conrudo, estava longe de resolver os problemas e os aldeamentos pâssâram a
ser alvo de grandes dispuras, que se estenderiam pelas décadas seguintes, particularmenre
em torno de duas quesróes, o conrrole dos índios ali ¡esiden¡es e o refúgio dado nesses
aldeamentos aos escravos, legítimos ou náo, dos mo¡ado¡es.
Os índios reunidos em aldeias deveriam se¡ colocados à disposiçáo dos mora-
dores, para rrabalharem em suas fazendas por c€rto tempo em t¡oca de uma peqûenà
remure¡acáo, numa espécie de "me¡cado de rrabaÌho" emb¡ioná¡io:e. Os morado¡es,
contudo, acusavam os jesuítas de difìcultar o acesso a esses, pois, como relatou Gabriel

"Servicos do governador-gcral Diogo Boceiho" de 8 de feverei¡o de 1608, pr.rblìcado na Realrra


¿o I stit to Lli'tór¡ca e Geogzífro Brusileiro, omo 73, parre I, p. 184.
'A\,ará de Sua Majesrade para que Marrim de Sá desça do sertáo os indios necessarios para
povoar Cabo Frio e outras parres" de 22 de março de 1618, que consa ào Procesa relatit¡o à:
despesas q* se lizerun no Río Jaaein por or¿/en
de y'¿ M¿rtirn de Sá, para rleþa dos tatnz;gas

'¿a¿"?o?ono¿c )0 J. d.z.mbrod. 16.., '. p.rbli.aJo ro: Å ¿aì: J,


Biblioteca Nacional,yo| 59, p.33.
)7 Por ourro lado, a cenrariva de Marrim de Sá de trazer índìos do inrerior da capirania de Sáo
Vicenre para o liroral acabou frustrada, pois esses foram aracados por "certos ponbeiros da:
btancos". "Carn ð,e tr'farrim de Sá para Filipe II de Portugai" dc 20 de ourubro de 1619 c
"Traslado da devassa que se tirou nesra vila de Sáo Paulo sob¡e a morre do Principal Tima-
cauna" de 5 de junho de 1623, documenros publicados por Jairne Corrcsâa em P¿ulic¿¿¿
Lusit¿n¿ Monrmenta Historica,2 ør,as em3 vols. Rìo de Janeiro: Real Gabirere Porruguês
dc Leirura, 1956 6i, romo II, p. 364 e 453, respecrir.amenre.
"Cana do padre Anrônio Pires ao P¡ovincìai dc Porrugal" de 19 de julho de 1558, publicada
Serafim Leire (SJ). Cartas dos prímeíro: lsuí¡as da Brusil. Ap. cit., vo|.II, p. 463.
?erto do final, o padre Francisco Soares escrevia que "rodos os meses saem 400 a 500 indios
na Bahia das aldeias a ¡rabalhar aos porrugueses por seu prêmio (...) urn mÊs por um cruzado
A formaçáo da elite colonial 215

Soares de Sousa, os oficìais da Câmara queixa¡am-se a D. Sebasriáo e aos governadores


"que aqueles índios náo ajudavam os morado¡es em suas fazendas como esteva assenta-
do (.-.) por os padres impedirem"i0.
Essa acusacáo encontraria apoio em importantes membros daadministraçáo colonial.
O governador-geral Diogo Botelho, por exemplo, reclamava, no início do século XVII, de
um jesuíra que se "esc¡-rsava de os (índios) dar dizendo que tinha provisóes d'el-rei para os
náo dar ainda que o governador-geral lhos pedisse se não quando a eles lhe parecesse" o que
teriamocivado uma ¡esposta enérgica. Diogo Boteiho, conta que "mansamence", respondeu
ao jesuíta que se "algum padre da Companhiaaquilo me tornasse a dize¡ havìa de emba¡ca¡
logo para o Reino porque Sua Majesrade me fizera seu governador-gera1 desrc Estado e me
nâo de¡a nenhum coadjuror nem aio e mandava que todos os que no dito Estado ¡esidissem
me obedecessem". O governador acreditava estar assim defendendo a jurìsdi@o real, "por-
que estavam estes padres mui apoderados deste gentio e tinham-se persuadido que eram
Reis deste gendo e que el-¡ei náo e¡a senho¡ deles"ir.
A outra questáo é que os aldeamenros acabavam funcionando como refúgio para os
escravos dos motadores, que buscavam a proteçáo dos jesuítas, dando motivo para uma
série de confliros e disputas em torno do problema de se sabe¡ se ¡ais esc¡avos eram legíti
mos ou náo, pois, como nos conta novamente Gabriel Soa¡es de Sousa, os jesuítas "têm por
costume ¡ecolhe¡em todos os esc¡avos alheios e índios forros que fugiram a seus senhores e
se foram para seus pareotes que tem nestas aìdeias", o que os fazia muito odiados pelos mo-

¡ado¡es, lìrncionários régios e clero secular Em sua defesa, os jesuítas alegavam que apenas
seguiam uma "lei" de Mem de Sá. que instruía que os fugitivos só seriam entregues após a
conÊrmaçáo da sua condicáo de esc¡avosì2-
Exemplo concreto desse problema foi a dispuca que envolveu Fe¡náo Cabral de
Ataíde- Este senho¡ de engenho, famoso por ter abrigado em suas ce¡¡as o movimento
he¡ético conhecido como san¡idade'i, foi acusado pelos jesuítas de toma¡ seis índios
morado¡es no aldeamento de Sáo Joáo, em retaliaçáo aos iesuítas náo det'olve¡em uma

pouco mais ou menos e comum é que nunca lhe pagáo". Francisco Soa.res, Coisas Natárck do
Brasit (c. 1594). Rto àeJaneiro: Insriruto Nacional do Li-ro' 1966' p.77.
"CapítuLos que Gabriel So¿res de Sousa deu em Madri ao Senhor C¡isróváo dc Moura contra os
padres da Companhia de Jesus que residem no Brasil ' de l58Z publicad o r,os A ,rís ¿,1 Bìblioteca
NaciozøL. rcL 62, p. 374.
"Carra de Diogo Botelho ao Condc de Linhares", esc¡ì¡a em Olinda' aos 23 de agosro de
1602. Arqrlivo Nacional da To¡re do Tombo, Cartório dos Jesuíras, maço 71, docLrmento 3
"Capírulos quc Gabriel Soares de Sousa deu em Madri ao Senho¡ Crisróváo de Moura cont¡a
os padres da Companhia de Jcsus qLre residem no Brasil" dc l58Z publicado ¡os Anats da
B¡bÌioterø N¿c ional, vol. 62, p. 37 i.
Ao atrair para sua terra os Índios envolvidos com a chamada "santidade", Fe¡náo Cab¡al de
,{uíde tencìonara amplia¡ o número de índios sob seu conrrole. Sobre o assunto, r'er RonaÌdo
\ai¡fa.s. A heresi¿ y'.o: ínáas. Sáo Paulo: Companhia das Ler¡as, 1995.
21,6 Rodrigo Ricupero

índia, escrava segundo ele, que fugira para junco dos padres. Os jesuítas, po¡ sua vez,
apeìaram para a jusriça, ameaçando abandonar os aldeamen.os, conseguindo dessa
forma que os índios fossem ¡es¡iruídosra.
Tais questóes ganharam dimensáo explosìva no início da década de 1560, quando os
jesuítas passaram a conr¡ola¡ 10 aldeamentos em to¡no da cidade do Salvador, provocando
a cobiça dos moradores. Nesse contexro, a decisáo deMem de Sá de punir os caetés. respon-
sáveis pelamorte do primeiro bispo, com a esc¡avidáo, provocou uma verdadeira co¡rida
po¡ escravos. Os mo¡ado¡es, aproveirando-se da b¡echa, apoderaram-se indisc¡iminada-
mente dos índios, para, nas palavras dosjesuítas, "farar sua sede e encher-se de peças", náo
respeirando amigos ou inimigos, nem se imporrando se eram ou náo caetés, aprisionaram
inclusive os índios ¡eunidos nos aldeamentos dos jesuícas, provocando eno¡me confusáo e
fugas para o serráo. Mem de Sá, vendo o dano causado, revogou a s€n¡enca e juntamenre
com os jesuíras rentou conter a ação dos moradores, conseguindo recuperar parre dos índios
escravizados, sendo que apenas um morador teria entregue "30 ou 40 peças"it-
Nesse momenro, pestes e fomes assola¡am a cosra do Brasil provocando enorme
mo¡calidade, dizimando a populaçáo indígena, exigindo, assim, que novos conringen-
res fossem "descidos" do serrão, sicuaçâo que acirrou mais uma vez a luta pelo conrrole
dos índios ¡eunidos nos aldeamenros. Es¡es sofre¡am pesadas perdas humanas. Mem
de Sá ¡enrou conre¡ sua desrruiçáo nomeando capitáes para que ¡omassem conra dos
aldeiamenros, auxiliando o rrabalho dos.jesuítas, além de nomear um procurador dos
índios, com a missão de defendêlos das ameaças dos moradores, que, além do inceresse
em cativar os índios, cobiçavam também as rerras que lhes haviam sido dadas.
Por seu rurno, os padres da Companhia de Jesus, que num primeiro momenro
haviam ficado indecisos f¡ence ao cativeiroi6, vendo a violência empregada pelos brancos
na obcençáo de escravos e a opressáo dispensada no rraramenro coridiano, bem como

Náo sabemos, conrudo, se a índia rerornou ao co¡rrole do senhor de engenho. Cl'lnfor-


maçáo dos primeiros aldeamencos", documento de meados da década de 1580, publicada em
José de,A.nchieta. Cartas, inþrnaçóes, fragrnentos hirtórlcos e rû?nõ¿¡. 2'ed. Belo Horizonte
e Sáo Pâulo: IÉriâia e Edusp, 1988, p. 271 e seguinres (Colerânea, publicada originalmente
pela Àcademia Brasileira de Ler¡as em 1913, era o volume III da coleçáo Carras Jesuiricas). A
auro¡ia de Anchie¡a, embora provável, é duvidosa, sobre o rema, veja-se a longa nota 456, p.
390. ,{inda, vale regisrrar que o úrulo do documento foi dado por Capisrrano de Abreu.
Sobre o episódio, além da acima cirada "Informaçáo dos primeiros aldeamenros", veja-se:
'Carra do padre Leonardo do Vale por comissáo do padre Luís da G¡á aos padres e irmáos de
Sáo Roque de Lisboa" de 26 de junho de 1562, pubLicada por Se¡aÊm Leire (Sl). Cartas da:
primeilos jee,ítat do Bftßil, Op. cit.,voI.IIl, p.489 e seguinres.
Nóbrega, por exemplo, era da opinìáo de que 'esre genrio é de qualidade que náo se quer por
bem, senâo por temor e sujeiçáo, como se rem experimenrado; e por isso se SuaAkeza os <1ucr
ve¡ rodos converridos mande-os sujeirar e deve faze¡ esrender os c¡is¡áos pela terra adentro e
reparti-lhes o servico dos índios àqueles que os ajudarem a conquisrar e senhorear, como se
faz em outras partes de re¡ras novas". "Carra do padre Manuel da Nóbrega ao padre Miguel
A formacáo d¿ elite colonial 21?

a resisténcia em coope¡ar com os padres ne obra de conve¡sáo, passa¡am a lucar conúa


a esc¡avidáo dos índios, náo por se oporem à instituiçáo, mas por considerarcm que a
maior parte dos índios era cativada por métodos ilícitos. Já que com relaçáo aos lícitos, os
iesuítes náo se opùnham, daí que náo tivessem problemas em manter excelentes relaçóes
com Mem de Sá, que, como sabemos, era um grande senhor de escravos indígenas.
Resultado direto dessa ação dos padres da Companhia de Jesus foi, em primeiro
lugar, a cana de D. Sebastiáo de 1566, na qual o rei explicava que era informado de que
no Brasil oco¡¡iam cativeiros injusros e resgates feitos com má-fé, assim o¡ientara Mem
de Sá sobre 'b modo que se pode e deve se ter para atalhar aos tais resgates e cativeiros e
udamente como oco¡¡em e as deso¡dens que neles há e o remédio (para)
que haja gente com que se granjeiem as fazendas e se cultir.e a rerra" para que o reì. com
base nestas info¡maçóes, tomasse posterio¡ decisáort. Embora náo conheçamos a resposta
dada a essa carta, é provável que as informaçóes enviadas tenham provocado a promulga-
ção, por D. Sebastiáo, da leì de 1570, a primeira a restringir o cativeiro dos índios3s.
Na prática, a lei náo alte¡ou o quadro geral, os índios continua¡am sendo es-

cravizados, graças às brechas aberras, particularmente pela possibilidade da chamada


"guerra jusrd"e. Mas, como nem todos índios podiam ser enquadrados nas caregorias
permitidas, consolidou-se uma forma de cativeiro disfarçado, chamada "adminisr¡a-
çáo" dos índios.
Os índios "administ¡ados" se¡iam liv¡es ou fo¡¡os fo¡malmente, mas na ¡ealidade
eram escravos. Dai porexemplo, rlo testamento de Gab¡iel Soa¡es de Sousa, redigido em
1584, ele declarar possuir um liv¡o "de minha ¡azáo, (onde) tenho escrito o que tenho de
meu, assim de fazenda de raiz, como escravos, bois de carros e éguas e ou¡ros móveis, índios
fo¡¡os'lo entre outras coisas- Ou ainda o discurso de que os índtos se¡iam fo¡¡os' mas o se¡-
viço por eles prestados poderia ser negociado segundo os "usos e cos¡umes da ter¡í!'

dc Torres" de 8 de maìo de 1558, publicada por Seraâm Leìte (SJ) Calrt' ¿ot ?'limeirosjesuítas
do Braul, Op. c;r., r.ol. II, p. 448.
"Carta régia para Mem de Sá" de 1566, que consta da "lnformaçáo dos primeiros aldeamen-
ros", doc'rmenro dc meados da década de 1580, publicada em José de Anchiera. O¡ clr'' p
367 e em Francrsco Adolfo dc Varnhagen, I1lrrária geraL dn Brasil,5'ed 5 vols. S;" P"ulo'
Melhoramentos, 1956, rc|. I, p. 334.
"Lei sobre a liberdade dos Índios" de 20 de março de 1570, pLrblicada em Do&mentos Pllnj
a blstória ¿l-a øçúcar, Op. cit., rol.I, p 225 e Marcos Carneiro Mendonça (Org)' P'¿íz¿s d-¿
fatru1ç,ão a¿ñ;nistrãl;uø. d¡ Brasil,2.ols. Rio de Janeìro: Instiruto Hisrórico e GeográÂco
Brasileìro, 1972,.o1. I, p. 335.
39 Cl Bearriz Per¡one-Moisés, Op. cit., p l23
40 "Tesramenro de GebrieLsoares de Sousa" de l0 de agosro de 1584, que consra ðo Liro Velho

do tombo do ¡nosteira ¿ie Sáo Benta da cid¿de do Salua'dor. Saivað,or: Benedirina' 1945, p. 395.

F¡ei Viccnrc do SaLvador. Hi¡t¡i'na do Br¿siL (1627), 5" ed-. Sáo PauÌo: Melhoramenros, 1965'
p. 456 eJohn Manuel ìvlonteìro, Ap. cit.,p. t36-
Rodrigo Ricupero

Morado¡es e imporranres membros da administraçáo colonial, como os gover-


nadores Diogo Borelho e Diogo de Meneses ou o sargetro-mo¡ Diogo de Campos
Moreno tenta¡am em vá¡ios monettos convencer a Co¡oa a utiliza¡-se dos métodos
praticados na América espanhola, particularmente a encomienda, o que legicimaria o
domínio exercido na prática sobre os índios "adminis¡¡ados"'r, sem, contudo, obcerem
resposra favorável. Pouco depois, porém, a Coroa, contndito¡iamenr€, orientava Gas-
par de Sousa, governador-geral do Estado do Brasil, numa carra com insrruçóes sobre
a conquista do Maranháo,

para se conseguir o proveiro e Êm que se deseja será conveniente dividirem-se


todos os indios daquele grande rio depois de conquisrados e quietos por al-
deias, dando-se e reparrindo-se em encomendas entre os povoadores n¿ fo¡m¿
e modo dos do Peru, 6cando a ca¡go dos donos das aldeias doutrina¡ os dc
sua encomendarJ,

Posrerio¡men¡e ral medida seria revogada, o que, conrudo, náo impediu que con-
tinuasse sendo aplicada na regiáo do Maranháo, já independente do Estado do B¡asil.
Exemplo disso foi a concessáo pelo governador Bento Maciel Pa¡en¡e de "índios de
adminiscraçáo encomendados"a' aos soldados, visando ¡emediar a faka de pagamento,
pois como alegava em our¡o documenro "Sua Ma.jestade foi servido mandar ... que

''Cana de Dìogo Borelho ao Conde de Linha¡es", esc¡ira em Olìnda, aos 23 de agosro de 1602,
Àrquivo Nacional da Torre do Tombo, Carrório dos Jesuiras, maço 71, documenro 3; "Carta de
Diogo de Meneses para el-rei", de I' de serembro de 1610. A4uivo Nacional da Torre do Tombo,
Fr:gmenros: Caixa l, documenro 6 ou "Carra de Dìogo de Meneses a el-rei'de 23 de agosto de
i608, publicada nos,4zais rt¿ Bibliote t Niîíonzl vol. 5Z p. 3Z Diogo de Campos trloreno, Zlaro
que ái razia do F,statu ìt Bra:ll. (.1612). Recife: UFPË, 19ii, p. 109 e Simáo Es¡ácio da Silvein,
Rzlaçiío suntiria y'ts coisa: da iukrlhh,ão ¡624), pú'Iicaào nos A¿at ¿a Biblì,:teca Ntúon4rcL 94, p.
1lj. Também náo deixa de ser sintomárico que o primeiro documenro do códice Lhro prineirc 1o
Gourrao do Brasil se¡a "De la mica de Pocosi y reduciones dei reino. Cf Lz,ra primeira do Gou:rto da
B/¿/. Rio de Janeiro: Minisrcrio das Relaçóes Exreriores, 1958, p. Z
"lnsrrucóes para Gaspar de Sousa, governado¡ do B¡asil, sob¡e a conquisra do Maranháo" de
9 de ourubro de 1612, publicada em Cartas para Áluaro tu Sot'o c Gntper Jc íu:a. Lis6oa:
Comissáo Nacional para as Comemoraçóes dos Descobrimenros Porrugueses (CNCDP) e
Rro deJaneiro: Minisrério das Relaçóes Exreriores, 2001, p. 160.
"Provisáo em que Benro Maciel Parence, governador-geral do Esrado do Maranháo e Cráo
Pará, em nome de D. Joáo IV, dá ao capiráo Pedro Teixei¡a crezenros casais de indios de ad,
minisrraçáo" de 29 de janeiro de 1640, pubiicada por Lucinda Saragoçà. D¿ "fèliz h6¡tâniø"
aos canfns da América. Lisboa: Cosmos, 2000, p. 318.
A fo¡macáo da elite colonial 119

os índios do Ma¡anháo e Rio Amazonas se encomendassem na fo¡ma e maneira das


Índias de Cas¡ela'"t.
No Estado do Brasil, a Coroa jamais aceitou a proposta de adota¡ as encomiandas,
mantendo o carivei¡o disfarçado na "administraçáo" dos índios. sempre à margem da lei,
embo¡a fosse, na prática, conivente com ele.

Legislação e prâricl- até fins do século XVI

O cont¡ole das ¡elacóes com os índios, e, conseqüentemente, o acesso à máo-de-


obra indígena em todas as suas formas, foi delegado à administraçáo colonial desde a
criaçáo do Governo-geral, con¡inuando, dessa manei¡a ao Ìongo do período estudado.
No regimenro de Tomé de Sousa, de 1548, a Coroa delegava a seu representante
um eno¡me poder nessa maté¡ia. Visando Proteger os indios amigos, frrndamentais
para a defesa da colônia, e comba¡et os inimigos, diversos artigos do regimento do
governador-geral versavam sobre a relaçáo com os índios, dando o cont¡ole de tais rela-
(öes ro governadol que podi; ou náo ¿utori¿¿r o contlro e ar tro(as com os nativos.
Dessa forma, o regimento instruía que "pela rerra firme a dentro, náo poderá ir
trara¡ pessoa alguma sem lìcença vossa (do governador-geral) ou do provedor-mor de
minha fazenda, náo sendo vós presente, ou dos capiráes" das capiranias e, continua\ a,
em oucro item, "daqui em diante, pessoa alguma' de qualquer qualidade e condiçáo
que seja, náo vá saltear, nem fazer guerra aos gentios por terre nem Por mat em seus
navios, nem em outros alguns, sem vossa licença ou do capitáo da capitania'!6'
Tal cont¡ole se¡ia, em grande medida, implementado com os primeiros governa-
dores-gerais, parricularmente coibindo a ação dos portugueses que assaltavam as al-
deias ao longo do litoral, capturando índios que posteriorment€ seriam vendidos como
escravos em out¡as partes. Encerrada, ou pelo menos cerceada, essa prática, a obtençáo
da máo-de-ob¡a índigena dependeria fundamen¡almente das guerras, expediçóes ao
inre¡io¡ ou do chamado resgate. Essas possibilidades eram, em grande medida' con-
troladas pela administraçáo colonial, o que impediria ou' pelo menos, cli6culta¡ia em
muito náo só a obtençáo de escravos índios' mas também de rrabalho ou g;êneros locais

"Rclaçáo do Esrado do Maranhao leita por Bento Maciel Parenre'. esc¡ita entre 1636 e 1637
ptbllcada cm Doamentoi Páïll ,1 Hstóù¿ ¿¿ Conquista da rcsta le*e-oa:tt do BrasíL, Op ctt ,
p.195.
''Regimenro dc Tomé de Sousa" de 17 de dezemb¡o de 1548. publicado na 'È1ôtória l¿ Colo'
niz¿cáo Portuqres¿ do Brasll,l\, p.346.
22A Rodrigo Ricupero

em rroca de me¡cadorias, sem a anuência do governador-geral ou do capitáo-mor de


cada capirania.
Nesse senddo, o gove¡nado¡ D. Dua¡re da Costa dava a B¡ás Cubas, capiráo-mor de Sáo
Vcenre, instru{es para dar "licençâ aos moradores dessa capirania para irem resgarar pelo
campo denro de maneira que o proveirc seja igual assim aos pob¡es como aos ricos", além de
repaÌti-los pa¡a não i¡em ¡odos no mesmo momenro, limira¡do rambém o tempo "que hâo
de ¡nda¡ no diro resgare" po¡ documenco escrito, para que pudesse conûolar â-s enûadas e
casrigâr os que náo cumprissem os p¡azos. B¡ás Cubas ainda deveria avisar a Joáo Ramalho
"alcaide e guarda mor do campo que náo deire passar nenhuma pessoa por ele se náo moslrar
vossa licmca, nem os próprios moradores de Sanro.And¡é'!7.
O faro de tais insrrucóes serem seguidas à ¡isca ou náo na regiáo do campo de
Pirarininga, náo anula o imenso poder confe¡ido ao capitão-mor de São Vicente no
conrrole do acesso aos resgares. Em Salvador, por ourro lado, sede do Go"erno-geral,
tai conr¡ole deve¡ia ser mais rigoroso, o que permitiria que o governador pudesse favo-
recel ou ráo os moradores, corforme seu interesse. Francisco Porto Carrero, capitáo-
mor do mat no rempo de D- Duarte da Costa, denunciava ao rei, que o governador lhe
impedia de cumprir seu oficio, retendo os navios da Coroa na Baía de Todos os Sanros,
sem deixálo sai¡ pa¡a correr o liro¡al e combarer os f¡anceses. Ao conr¡á¡io disso, D.
Dua¡te da Costa utilizava tais embarcaçóes pa¡a resgare de escravos "para quatro ou
cinco pessoas somente'as.
No mesmo sentido, alguns anos depois, Gaspar de Barros e Sebastiáo Álvares,
também ¡eclamavam com o ¡ei que os dois mais importanres membros da adminis-
- o gor.ernadcr-geral Mem de Sá e o ouvidor geral Brás Fragoso, que
traçáo coloniai
na época acumula rambém o cargo de provedor-mo¡ - esra¡iam monopolizando os
escrar.os resgaradosa'.
ponro, os memb¡os da adminisrraçáo colonial conra¡iam com outra vanta-
Nesse
gem em reiaçáo aos demais mo¡ado¡es: a fo¡ma de pagamenro dos ordenados. Afinal,
estas ao recebe¡em em mercadorias, parricularmente, gêneros destinados à !¡oca com os
índios, como, por exemplo, fe¡¡amenras e urensílios de baixa qualidade, acabavam com

"Regimenco que há de rer B¡ás Cubas" clc 11 de feverej¡o de 1556, regisrrado no livro de Aras
da Câma¡a de Sanro,André, livro que seria publLcado posreriormenre como âpéndicc à obrâ
de Àlonso de 'ì"au nav. /a,io Raaallta ¿ San¡o A'¡¿lré )a Borda d-o Caznpo. Sáo Paulo: Revisra dos
rribunais, 19i3, p. 289 e segs.
"Car¡a de Francisco Porro Car¡e¡o a el,rci" dc 20 de abril dc 1555, pr,\iicada na Hi:tóría d,z
Colonìzeçáo Pantgnsz do Bø.;i/,.tol. II!, p. 3 i-7.

"Ca¡ra dos O6ciais cia lazenda da cidadc do Salvador ..." de 24 de jLrìho dc 1562 publicada nos
An¿i¡ d¿ Bib/iar¿ca Nacìorø.l, vol.27, p.239.
A formaçáo da elite coloniaì 721

melhores possibilidades para obtençáo, po¡ meio de escambo, dos gêneros produzidos
pelos indígenasto.
Out¡a fonre de t¡abalho indígena, que Mem de Sá procu¡ou cont¡ola¡, foram os
aldeamentos dirigidos pelos jesuítas. O governador-geral nomeou para cada um deles
um capitáo, qùe em tese deve¡iam defende¡ os índios dos moradores, impedindo que
indeûnidamen¡e dos aldeamentostl.
estes os reri¡assem
Os escolhidos fo¡am Sebas¡iáo Luís, F¡ancisco de Mo¡aes, F¡ancisco de Bar-
buda, Gomes Ma¡tins, B¡ás Afonso, Ped¡o de Seab¡a, .Antônio Ribeiro, Gaspar
Folgado e Joáo de Araújo. Mas, afinal, qúem eram esses homens?
Sebas¡iáo Luís e¡a cavaieiro, chegou a Salvador pouco depois da fundacáo da cidade'
Servindo como "homem d'a¡mas", casou-se, durânte o governo de D. Duane da Cos¡a com
Ca¡arina de Almeida, criada da Rainha, uma das ó¡fãs enviadas ao Brasil, recebendo por isso
o oficio de escriráo do Armazém e Mandmento de Salvador' poste¡io¡mente, em 1561 ¡ece-
beu a propriedade do olicio, ou seja, por toda vida, pelos serviços fei¡os no B¡asil, além disso,
possuía uma fazenda perto de Impoáu-
F¡ancisco de Mo¡aes, e¡a cavaleiro da casa do rei, ¡ecebeu de lvlem de Sá o ofício
escriváo dos Defuntos e Alfândega de Salvador, por casar com Cata¡ina F¡óes, uma das
órfãs enviadas ao B¡asil. Posterio¡mente ¡ambém foi provido peÌo mesmo governador
como esc¡iváo da provedoria da Bahia, cargo que servia quando foi escolhido para ser
capiráo de um dos aldeamentosii.

Essa forma de pagamento, em espécie, reprcsentava, segundo Marchant' pouco mais 'Je dois
terços dos paeamentos eleruados peìo pror.edor-mor e regisrrados no primeiro li"ro de man-
dados de pagamento, que abarca o período enrre 1549 e 1551. Alexander Marchan'
D' F-
c¿mbo à F,s¡¿uid-tio. ?' ed. Sáo PauÌo: Companhra Edirora Nacional, 19 80, p 9'
"lnlormaçáo dos prìmeiros aldeamenros-, documento de meados da década de i580' publica-
ci. em Jo.i de {n' hiet:. O¡. ,lr'. P. 36i c <eguintcs
52 "Tíruio do regisrro dos mandados de pagamentos e de ou¡ras despesas" (1549 e seguintes)'
publicado na calecâo Docamen¡os Históticos. OP. cit. vol 13' p 450r "Carta de Sebasriáo
Luís e Rainha" de 3 de maio de 1558 e "P¡or'ìmenro dc Sebasrìáo Luís" dc 6 de maio de 1561'
Arqui"o Naclonal da Torre do Tombo, respectivamente' Corpo Cronológico, parte III' maço
102, documenro 92 e Chancelaria de D. Scbastiáo e D Henrique' Doaçóes, Livro Z Ê 156r"
Ver rambóm Gabriel soares de Sousa, Tr''ta¿o -.' OP. cil ' P.f2.
53 "Carta do ofício de F¡ancjsco de Moraes de escriváo dos defun¡os e alfândega" de 27 de ia-
neiro de 1558 e "P¡o.isáo de Salvado¡ da Fonseca de esc¡iváo dianre o proredor da cidade do
Salvador" de 26 dc iunho dc 1559, que consram do "Ln'ro primelro do registro dc provimcn-
rossecula¡eseeclesiásricosdacidadcdaBahiaeterrasdoBrasiì'(1549ese¡¡uinres).publicado
nos Docamentos Histtjricos, Op. cit. respecrivamente, vo1. 3i, P 43l € vol' 36' P- 161
722 Rodrigo Ricupero

F¡ancisco de Ba¡buda ¡ecebera o ofício de escriváo da Fazenda por casa¡ com a


filha de Simáo de Rabelo, que fora almoxa¡ife de A¡zila. Possuía uma fazenda em Ma-
ruim, recebeu também uma sesma¡ia no Rio de Janeiro que náo aproveitoutl.
Brás Afonso possuía rerras na Bahia ao lado das de Francisco Afonso e F¡urlroso
Afonso, provav'elmente seus irmáos. Es¡e úhimo esteve na conquista do Rio de Janeiro
com Mem de Sá, sendo das pessoas que comia à mesa do goyernadorji.
Ped¡o de Seabra se¡viu como feiro¡ e almoxarife da capicania de Sáo Vcente na pri-
mei¡a metade da década de 1550, parricipou na conquista do Rio deJaneiro, onde também
comia à mesa do governadort6.
Anrônio Ribei¡o foi provido por D. Duarre da Cosra como pro,.edor da ca-
pitania da Bahia, por esrar con¡racado para cesar com Marie de Àrgolo, filha de
Rodrigo de Àrgolo, primeiro que ocupou o dito cargo- Ficou do lado do governa-
do¡ durante a briga com o bispo D. Pe¡o Fe¡na¡des. Poste¡io¡menre Mem de Sá
o confi¡mou como provedor. Parricipou arivâmenre na guerra conrra os índios do
Paraguaçu, quando comandou um dos ataques. Acompanhou Mem de Sá ao Rio
de Janeiro, tendo sido, na volra para a Bahia, empossado como capiráo de llhéus,
¡lporque
o fez muito bem em o Rio de Janeiro, o deixou aqui (Ilhéus) o governador
por capitáo quando de lá veio"5t.

"Traslado da ca¡¡a de oÊcìo de escriváo da lazencia de Manuel de Oliveira Mendonça" de


17 de rgosro de lii9, que consta clo "Livro primeiro do resisrro de provimenros ... " (1549
e seguintesJ, publicado nos Dontmentos Hi¡óríco:, 02. cit., vol. 36, p. 32. Gab¡iel Soa¡es de
Sotts:1, Trat¿¿:lo ..., Ol. ,tr., p. 148 e ì\.{onsenhor José Pizarro de SouzaÀzevedo e Araújo. "Re-
laçáo das sesmarias do Rio deJaneiro", Revisca do Insriruro Hisrórico e Geográlìco Brasileiro,
r. 63, parre I, 1901, p. 99.
"Traslado dr doaçáo de quc o insrrumen!o de posse :.dianre faz mençáo do Condesrável Fran-
cisco Àfonso" de 16 de junho de ti80, que consra do Lluro uetha do tomba do mosrein ¿¿ S,io
B¿tuo d¿ ci¿larle do S¿lxador. S vador: Bercàirina, 1941, p.4O4. "Processo deJoáo de Bolés"
de 28 de dezemb¡o de 1560, publicado nos I liii ¿/¿ Biblior¿ra N¿clonø\,rc|.2i, p.270.
"1ìasÌado da provisáo de Pero de Seabra, quc se¡ve de fei¡o¡ c almoxarile da capìranra de Sáo
Vicenre, em ausência de Anrônìo de Olivei¡a, cujos ofícios sáo" de 20 de maìo de 1i50, que
cons.â do "Livro primeiro do regisrro de pro\,-imenros ... " (1j49 e següinces), publicado nos
Dan¡n¿rto: H*óricos, Ap. cit., vol 35, p.77 e "Processo de Joáo de Bolés" de 28 de dezembro
de 1560, publicado nos Anai: d¿ Bibllot¿t¿ Nacional, voI.2.i, p.270.
"Traslado da provisáo do senhor gor-ernador por que proveu a Anrônìo Ribeiro de provedor
desra capirania" de 11 de novembro dc 1556. que consra do "Livro prìmeiro do ¡€gisrro de
provimenros ..." (1549 e seguinres), publicado nos Docurnentos Hbtótitos, Op. ùr., rcL3i,
p. 365r "Provimenro de Anrônio Rrbei¡o" de 17 de ourub¡o de 1j60, Âro,uivo Nrcìonal da
To¡re do Tombo, Chanceiaria de D. Sebâsriáo e D. Henrique, Doaçóes, Liv¡o 20, fl.69 v¡
''Ca¡ta dos oÊcìais da Câmara da cidade do Saivador" de t8 de dezembro de ii56,
publi-
ceàa n¿ Históri¿ ¿/a CoLtnlzøçio Porng,.nia do Brtsil, OV. ùt.,.tol.lII, p. 381j "InFormaçâo
dos primeiros aldeamencos", documenro de meados da década de 1580, publicada em
José
de .A.nchiera. Op. ch., p. 387 e "Ca¡ra do P¿d¡e Rui Pereira aos Padres c Irmáos de por¡u-
A formaçáo da elite colonial 213

João de Araújo, era cavaleiro fidalgo da casa d'el-rei, que lhe fez mercê do offcio de
esc¡ivão do resouro em 1548, sendo, Portan.o, um dos mais antigos moradores da cidade
Foi promovido por Tomé de Sousapara o oficio de tesourei¡o em 1551, seis meses depois era
nomeado para servir como provedor da fazenda da capitania da Bahia, enquanto o tirular
estivesse doe e- Devia se¡ dos melhores quadros do funcionalismo, Pois foi nomeado por
D. Dua¡te da Cos¡a e Mem de Sá seguidamente para divetsos ofícios' Ocupou ainda, na
Câmara da cidade, o posto de juiz ordínário em 1551 e 1554, alêm de fazer parte do grupo
do governador D. Duane da Costa na briga conua o bispots.
Gaspar Folgado, já estava em Salvado¡ em 1551, onde tinha terras ao lado da
sesma¡ia dos jesuítas, servia como juiz dos Ó¡fáos em 1573te. Para Gomes Martins'
porém, náo remos informaçóes suficientemente segu¡as sob¡e sua vida'
.A atuaçáo destes capitáes náo deu o resultado esperado pois, como relara o au¡o¡
da "informaçáo dos primeiros aldeamentos", "nem os capitáes tiûham P¡oveito, Dem os
índios o favor e ajuda que se esperava"60- Cottudo, em uma des ¡esPostas dadas pelos
jesuítas às acusacóes de Gab¡iel Soa¡es de Sousa, os padres deram maio¡es escla¡eci-
mentos para o f¡acasso da iniciativa. Esses explicaram que tais capitáes "procederam de
maneira que os índios se escandalizar¿m Por os ocuParem muito em seus servicos e de
seus amigos e lhes tocarem nas frlhas e mulheres e os out¡os moradores se queixar¿m
por lhos náo darem"6r. Assim as reclamacóes dos morado¡es excluídos do âcesso aos

gal'de6deabrìl de 1í61, publicada por Seralìm Leitc (SJ) Cartøs clos primcxosjrsuhd: do
Êrasil, Op. ,:it.,';oI.lll, P 326
En¡re out¡as. ver "Traslado da ca¡ta de escriváo do resouro" de 15 de dezembro dc i548 e
"Traslado da carta por que o governador 1bmé de Sousa fez mercê a Joáo de Araújo escri\áo
do tesoureìro cio ofício de resoureiro " de 6 dc dezemb¡o de 1551 que constam do "Livro
I (1549
pnn,eiro do regisrro de Provrmeltos seguintcs), publ\caðo nos Doatme¡¡tas Histó-
e

riro,, Op. ctt., rcspectivamente, r'o1 35, p. I2 e 102: "Carra dos o6cìais da Cânara
cl: crd¿de
do
do Sal'ador" de 18 dc dezembro de 1556. publìcada na lllstória da Colonízaçáo Portuguesa
iniciado cm seremhro de
Brasít, Op. cit., rc..Ilt, p. 381 e "lnstrumentos de Mem de Sá" 7 de

1570 e publicado em ,4 n¿ì5 ¿a Bìbliotec,T NAcional' vol 27


' p 137

"Tírulo do registro dos mandados de pagamentos e de ourras despesas" (1549 e seguinte$'


pubLjcado na coleçáo D ocumentos Hìst,jrico¡, Op. cít ' vol 14, p- 112:
"sesnarìa de Áeua dos
rle 2l de
Meninos' dada pelo Governador Tomé de Sousa ao Pad'e Manuel da Nóbrega"
ourubro de 1550, publicada por SeraÊm Leite (Sl)' Ca'tas dos p'ineiro: jesuitas do Branl' Ap

rl;, vol. I, p. 199 "lnventárìo quc se fez da fazcnda que reio do Reino do governador Mem
e
da açúcar'
de Sá def¡¡nro ..." de 2t de junho de 1572, publicaðo em Daatmentos para a história
Op. cit., ,tol. III, p. \74
"lnlormaçáo dos primeiros aldeamentos", doct,men¡o de meados da década de i580' publica-
da cm José de Anchiera. Op cit,p 365 e366.
A resposra dos jesuítas é assinada pela cúpula da Companhra de Jesus no Brasil: Marçal Be-
liarte, Inácio Tolosa, Rodrigo de Freitas' Luís da Fonscca' Quirício Caxa e Fernáo Cardìm'
CL "Capitulos que Gabricl Soares de Sousa deu em Madri ao Senhor C¡is¡óváo de Mou¡a
))/, Rodrigo RicLrpero

indios, somadas às dos.jesuícas e às dos próprios índios devem ter sido decisivas para
que or capiráes deix¿scem as aldeias.
De qualquer forma e independentemente de tal renrativa náo re¡ dado ce¡co, a
nomeaçáo por Mem de Sá de capitáes para os aldeamenros permiriu ao governador
¡ecompensar pessoas próximas a eles, que aproveiraram-se do ¡rabaiho dos índios ali
reúnidos, comprovando, mais um vez. ¿ esr¡eira associacáo encre a participacáo no
governo da conquista e a oportunidade de montagem de um patrimônio pessoal.
Os índios aldeados, porém, continuaram sofrendo agravos, morivando a ca¡ta de
D. Sebasriáo de 1566, na qual o rei, como vimos, pedia informaçóes sobre o cariveiro
eordenava que o governador protegesse os índios conve¡ddos62. Mem de Sá reuniu em
Salvador uma.junta para rralar do assunro, que contou com a presença do bispo D.
Ped¡o Leiráo, do ou.'idor geral Brás Fragoso e dos Ìesuíras, cujas resoluçóes reforçavam
o poder da administraçáo colonial na maté¡ia. As decisões mais imporrances foram que
os índios que se acolhessem nos aldeamenros nao seriam enrregues aos que os reivindi-
cavam sem ordem escrira do governador ou do ouvidor geral, salvo se.já rivessem sido
.julgados por escravos; que o ouvidor geral i¡ia visira¡ as aldeias regularmente. Decidiu-
se, âinda, c¡iar o cargo de procurador dos íodios, com a nomeacáo de Diogo de Zorilha
pelo governador e o con¡role das ¡¡ocas dos mo¡adores com os índios, que deveriam ser
examiûadas pa¡a evirar abusos6i.
Pouco depois, em 1570, D- Sebastiáo promulgou a primeira lei restringindo o ca-
tiveiro dos índios6r. A lei náo era cootrá¡ia à escravidáo em si, mas visava coibir os cha,
mados cariveiros injusros; dessa maneira somenre poderiam ser esc¡avizados os índios
capru¡ados em "guffras justas", mediante licença do rei ou do governador, além dos que
atacavam os po¡rugueses, como os aimo¡és e os índios que comessem ca¡ne humana..A

contra os padres da Companhia de Jesus que residem no B¡asiÌ" de 1j87, publicad.o nos Anais
la Biblio¡eca Nacíonal, yol. 62, p.374.
"Carta régia para Mem de Sá" de 1566, que consra da "lnlo¡macâo dos primeiros aideamen-
ros", documenco de meados da década de 1580, publicada em José de Aîchierâ. Op. p.
'la,
367 e em Francisco ,A.dolfo de Varnhagen, ,4zi;a'ria geral do Brasil,5" ed. 5 vols. Sao Paulo:
Melhoramenros, 1956, vol- l, p. 334.
As decìsóes encon¡¡am-se em "lnformaçáo dos primeiros aldeamenros", documen¡o de mea-
dos da década de 1580, publicada em José de Anchie¡a. 02. rh, p. 368 e seguìnres.
"Defendo e mando que daqui em dianre se náo use nas drtas parres do Brasil dos modos que
fazer carivos os diros genrios, nem se possâm cativar por modo nem manei-
ra alguma, salvo aqueles que lorem romados em guerra jusrâ que os porrugueses ñzerem aos
diros genrios, com aucoridade e licença minha ou do meu governador nas diras parres". "Lei
sobre a liberdade dos Índios" de 20 de março de 1570, publìcada em Documentas para a htstó-
ria do açú.ca: Ap. ctt., vo|.l, p.2.25 e Marcos Carneiro Mendo.r'gz (Org.), Raízø daJàrmação
adminístratiu¿ lo Br¿stl, 2 vols. Rio de Janeiro: Insriruro Hìsrórico e Geográ6co Brasìleiro,
1972, vo|. I , p. 335 .
A formaçáo da elite colonial 225

lei dere¡minava também que os cativos deveriam ser registrados nos livros da provedoria
da fazenda ¡eal num p¡azo de até dois meses, quando se verificaria quais esctavos eram
iegítimos ou não; caso essa úi¡ima determinaçáo não fosse cumprida os índios frca¡iam,
pela lei, automaticamence fo¡¡os e liv¡es.
De qualquer maneira, o aumento da populaçáo branca, com a chegada constante de
novos moradores, aumentava a lua por te¡¡a e índios; a violência, a fome e as pestes pro-
vocavaro pesadas perdas na populaçâo indígena, obrigancio a que tanto os jesuíras como
os mo¡ado¡es "descessem", como se dizia, índios do se¡táo para o litoral Pa¡a ocuPa¡ o
lugar dos mortos, tanto nos aldeamentos jesuiticos como nas fazendas e engenhos.
A Co¡oa rentava acomodar a siruaçáo, Pois, como o explicava o ¡ei D Sebasrião
numâ ca¡ra para o governador da repartiçáo do Sul, An¡ônio Salema, "no qì.le roca ao
resgate dos esc¡avos de.'e ter tal mode¡acáo que táo se impeça de todo o diro resgate
pela necessidade que as fazendas dele tem, nem se permilam resgates manifescadamence
injusros e a devassidáo que até agora nisso houve"61. Tais instruçóes Gzeram que os go-
ve¡nadores do No¡te e do Sul, Luis de B¡ito de Almeida e Antônio Salema e o ouvido¡
geral e provedor-mor, Fe¡náo da Siha, com parecer dos jesuítas, baixassem um assento
que rentava regular o assunto, delibe¡ando que todos os resgates deve¡iam ser leitos com
autorizaçáo dos governadores ou dos capitáes-mores e que os índios t¡azidos se¡iam exa-
minados pelo provedor da capitania com mais dois homens escolhidos para ral, a fim de
dece¡mina¡ se esses índios poderiam ser conside¡ados cacivos ou náo. No caso de se¡em
fo¡¡os, cabia aos examinadores ¡eparti¡em os índios pelos mo¡adores, o que demonstra
que de nenhuma forma os índios conseguiriam escapar do ca¡ivei¡o, em questáo estava
apenas o estatuto de escravo.
Ab¡iu-se na década de 1i70, particularmente após a morte de Mem de Sá, uma
fase de eno¡me cativeiro dos índios descidos do se¡tão, "aberto" nesse momento aos mo-
radores pelo novo governador-geral Luís de Brito de Àlmeida, que náo foi táo favorável à
Companhia de Jesus como seu antecessor' Os jesuítas, ao responderem a das críticas de
Gab¡iel Soa¡es de Sousa, explicaram que o governador após manter boas relaçóes com
eles no início do governo, acabou por se afastar, e, com ironia, "questionam" Gabriel
Soa¡es de Sousa: "pode ser que o informante saiba parte de quem tulvou (a relaçáo dos
a

jesuítas com Luís de Brito de Almeida), pois era tanco seu intimo e prirado" Essa quebra,
contudo, estara relacionada à política seguida pelo governador no que toca à quescáo in-
dígena, pois, como eles próprios explicaram, o 'þovernador abriu o sercáo do gentio com
que ambos (o governador e Gabriel Soares de Sousa) fizeram engenhos, cada um o seu,

"Informaçáo dos prìmeiros aldeamentos', doc,rmento de meados da década de 1580, publica


da enrJosé dc Anchrera. Op. cit., p.375.
276 Rodrigo Ricupero

além das muiras ba¡cadas de índios que o informante (Gabriel Soares de Sousa) mandou
vender pelas capitanias"66.
O governador Luís de B¡ito de Almeida au¡otizou inúmeras expediçóes ao
se¡ráo, inceritivando ourras pessoalmenre. -A in¡ensidade do movimen¡o fez in-
clusive a que o procurado¡ do donatário de Pe¡nambuco, Joáo Fernandes Coelho,
protescasse "contra o governado¡ Luís de B¡i¡o de Almeida, porque (este) mandava
caravelóes com genre e seus capitães a resgatâr getcio ao sertáo da câPirânia de Pe¡-
nambuco", explicando ainda que "o capiráo que mandavam a este entrada se cha-
mava Sebastiáo Álvares", que fo¡a memb¡o da administraçáo colonial e Possuidor
de uma sesma¡ia no Recôncavo de Salvador, onde se ergueria o famoso engenho
Freguesia6t.
O carivei¡o e¡a inrenso, organizaram-se seguìdas expediçóes de mo¡adores da
Bahia, Ilhéus e Pe¡nambuco em busca de índios, objetivo muitas vezes disfarçado sob
a justiÊcativa da busca de minas ou da conquis¡a de ¡e¡¡as. Dessas expediçóes, algu-
mas foram bem sucedidas, como a de Antônio Dias Adorno, importante senhor de
engenho, que, segundo Frei Vicenre do Salvador, te¡ia descido sete mil almas6s; outras
¡e¡minaram com a mo¡te da maio¡ia dos brancos, como a organizada por Francisco de
Caldas, provedor da fazenda de Pe¡nambuco, e Gaspar Dias de Acaide6e.
F¡ei Vicenre do Salvador, fo¡nece-nos mais detalhes: os mo¡ado¡es alegando que
as guerras tinham afugentado os índios para o ince¡io¡, obtinham licença do gover-
nador Luís de Briro de Almeida þara mandarem ao se¡¡ão desce¡ índios por meio de
mamelucos", que iam com soldados b¡ancos e índios amigos e arravés de enganos, pro-
messas e "algumas dádivas de roupas e ferramenras que davam aos principais e resgares

que lhes davam pelos que rinham presos em cordas para comerem, abaÌaram aldeias
inreiras e em chegando à visra do ma¡" dividiam os índios,

levando uns o capiráo mameluco, ourros os soldados, ourros os a¡madores,


ourros os que imperraram a licença, ourros quem lhe concedeu, e rodos se ser-
tiam deÌes em suas fazendas e alguns os vendiam, porém com declaração que

Cf, "Capirulos que Gab¡iel Soares de Sousa deu em Mad¡id ao Senho¡ C¡isróváo de Moura
contra os padres da Companhia de Jesus que residem no B¡asil" de i587, publìcado noslzrars
d¿ Bibboteca Narional, vol. 62, p. 357.

Docum,:nro cìrado por Ped¡o de.{zevedo em seu arrigo "Os primeiros donarários', publìcado
ne Htstóti¡ ¿la Colaùzacáo Potaguesa /,o Bra:il, Op. cit.,rcl.I\1, p. 197.
Mesmo desconran¿o ùm possivel cxage
Pequeûo.
F¡ei Vicenre do Salv:rdo\ Op. c¡t., p. 2 Ì 1 e "Sumário das Armadas que se fizeram c Sucrras
que se deram na conquisra do rio Pa¡aíba", publicado na Revìsra do Insri¡uro His¡órico e
Geográ1ìco Brasileiro, tomo 36, p. 37
A formacão da elire colonial /17

eram índios de consciôncia e que Ìhes náo vendiam senáo o servico, e quem
os comprava, pela primeira culpa ou fugida que faziam. os fer¡ata na face,
dizendo que Jhe custaram seu dinheiro e erem seus câtivosto.

O próprio governador Luís de B¡iro de Almeida, sócio de Rodrigo Martins num


engenho na Bahia, deve ter aproveitado em muiro das licenças que concedìa. Afinal
seu sócio e¡a um dos maiores ap¡esedores de índios, o que atesta a acusaçáo feita pelos
jesuítas de que teria monrado seu engeflho nesse momento. Outros também se benefi-
ciaram. pois o número de engenhos sal¡ou de 18 em 1570 para36 em i585:r, daí que
Frei Vicenre do Salvador nos lembre: "Só sei que ouvi dìzer a um dali a mLriios ànos
que aquele fora o rempo dourâdo para esta Bahia pelo mui¡o dinheiro que ettáo nela
co¡¡ia e muitos índios que desceram do se¡ráo":r.
Alguns anos depois, em i584, o governador Manuel Teles Ba¡¡eto ale¡tava o ¡ei
sob¡e como os morado¡es iam ao ser¡áo busca¡ os índios, com licença dos governadores
e capitães das capitanias e que todo o gentìo que descia do se¡cáo e¡a com engano e
promessas que lhe fazem que viveriam em libe¡dade em aldeias e que depois faziam
"ao cont¡á¡io do que lhes prome¡e¡am e rePartem os (índios) entre si os da Ìicenca,
aparrando os maridos das mulhe¡es, os pais dos frlhos os i¡mãos das irmás" e que os
gove¡nedores náo podem impedir isso salvo se "Sua Majestade mandar que de náo
de licença alguma sem ir nela um padre da companhia para que dê razáo de cudo" e,
con¡inua o gor¡ernador, que por isso até agora náo deu licença alguma, havendo muita
necessidade dissoii.
Além disso, Manuel Teles Barreto sugeria que o monarca deve¡ia Passa¡ Pro-
visão para que em todos anos "renha correiçáo por todos os que tive¡em indios
forros que os táo fer¡em nem t:endam e dêem conta deles . - (pois) esta é uma das

7() Frei Vicenre do Saìvadar. Op. cit , p.109.


71 As esrimarivas sáo de Pero de MagaÌháes Gandavo, A?. tit.?.75 cFernâo CaÀim T¡atalos
¿!¿'ïetra e Gcnte do B¡¿sl Géculo X\¡i) Sáo Paulo: Companhia Edìrora Nacional. 1978' p.
201.
71 O dinhei¡o, no caso, F¡cì \icen¡e atribuiu ao recolhido de uma nau que ruma''a para a Índia,
que naufragoLr já na costa, a poucas iégLras de Salvado¡. F¡ci Vicen¡e do Saitadoa Op rir'' p
2.,4.
73 "Cópia de aÌguns capírulos de ca¡ras de ManuelTeles Barreto, govemado¡ do B¡asil, do ouvidor
geral de Pernambuco Marrlm Leiráo, e do P¡ovedo¡-mo¡ Cris¡ót'áo de Barros para el-rei' sobre
o cstado daquelas ¡er¡as, seus ¡endimentos que contém a "Carta do governador Manuel lelcs
Barrero' de 07 de agosto de 1583, 08 de maio de 1584 ou de 27 de março (apare-
e a resposta de

ccm as duas daras).,{rquìr'o Nacional daTor¡e do Tombo, Corpo CronoLógico' parte IIl, maço
20. documcnto 54.
228 Rodrigo Ricupero

causa po¡ onde há falta deles e se compram negros de Guiné por excessivos precos
aos mercadores, com que os que tem engenhos estáo endividados"Tl.
Siruaçáo que fez Filipe I de Pormgal promulgar em 1587 uma nova lei, reforçando
a an¡erìor de D. Sebasriáo, paÉ evitar os excessos que os moradores praticavam com os
índios, r¡azendo-os do serráo, como diz no preâmbulo da leì, por força e com engatos,
maftrarando-os e vendendo-os como cativos, embo¡a fossem liv¡es, e servindo-se deles sem
lhes pagarem seus serviços, além de ourras extorsóes e iniustiças. Po¡ cudo isso, o ¡ei decidiu
que "nenhuma pessoa de qualquer qualidade vá ao sertáo em armaçáo a buscar índios", sem
licença do governador ou, nas capitanias demais, do capitáo-mor. Além disso, deve¡iam
ir âo serráo sempre "com dois ou três jesuíras que pelo crédito que tem efire os genrios
os persuadiráo mais facilmenre a virem se¡vir aos diros meus vassalos em seus engenhos e
fazendas sem força nem enganos, declarando que lhes pagarão seus serviços" e que náo se
repartissem os índios enr¡e os mo¡ado¡es sem a presença do governador-geral ou do ouvidor

geral e dos padres da Companhia de Jesus, e "que se façam tal repartiçáo mais a gosto dos
índios do que dos mo¡adores"-i.
As instruçóes, ainda, explicavam que competia ao governador e ao ouvidor
geral fazer que os índios fossem pagos e que fosse feiro um livro oa Câma¡a de cada
capitania para saber quais os indios que se¡viam nas fazendas e engenhos. Cabia
ainda ao ouvidor geral e ao procurado¡ dos indios visirá-los para saber se eram mal
t¡atados ou vendidos e se ¡ecebiam seus pagamenros e os ensinamenros religiosos-
E, concluía, que no Brasil "náo haja índios cativos", exceçáo dos que fossem cati-
vados em guerras iustas por mandado do ¡ei ou do governador ou dos que forem
comprados para náo se¡em comidos por out¡os índios, mas, nesse caso, apeûas
enquen¡o nio rerriburssem o que fora g¿sro na compra.
A lei, embora tentasse impedir o carivei¡o disfarçado, proclamando que os índios
deve¡iam se¡ livres e que o ¡¡abalho por eles prescado recebesse pagamentoJ apreserta\¡e
rantos subrerfúgios, que náo fez mais que legaÌizar o sisrema de "adminisrraçáo" dos índios,
regulamenrando a fo¡ma como os índios deve¡iam se¡ "descidos" do sertáo para o litorale
colocados à disposiçáo dos donos de engenhos e fazendas,
,L siruaçâo seria reforçada pela Coroa n-ùm alvará que, ao mesmo rempo que
dete¡minava que o governador e o provedor-mor deviam da¡ rer¡as de sesm¿¡i¿ aos

74
75 "Ca¡ra de lci derer¡ninando as condiçóes em que os donos <le engenhos e íàzendas no Brasil
podem ir ao serráo buscar genrios para rrabalharem oos mesmos, bem como a maneira porquc
lìcam obrigados a rrara Los" de 22 de agosco de i587. ,{rquivo Nacional da To¡¡e do -fombo,
Livros das Leis. Ln ro 1 I1 168
A formaçáo <ia elite colonial 7?9

índios descidos do sertão, o¡iencava-os para repartissem os índios em aldeias junto às

fazendas e engenhosT6.

As novas leis e a "administração" dos índios

Os índios que na Bahia, ?ernambuco e oulras caPiÌânias se repartiram pelos


portu¡¡ueses no princípio de suas lundaçóes náo chegaram a netos.
documenro anônimo de mcados do século XVIIi'-

A ocupaçáo porruguesa das te¡¡as ame¡icanas foi, do ponto de vis¡a dernog¡áfico.


uma verdadeira tragédia para a populaçáo indígena- O jesuíta Jacome Monteiro' em
1610, contava que os porrugueses do Rio deJaneiro, comaodados porAntônio Salema'
Crisróváo de Bar¡os e Salvador Correia de Sá, "de ¡al sorce assola¡am o genrio tamoio
que hoje náo há já nome dele"i^. Da mesma manei¡a. em todas as partes do Brasil, os
índios que náo se curvaram aos recém-chegados foram sendo paulattnamente mortos,
e.craviz¿dos ou obrigado. a fugir para o interior.
Os índios amigos, bem como os escravos, contudo, náo ¡ive¡am desrino mais
Vítimas de pestes, fomes ou simplesmente dos maus-r¡atos infligidos pelos senho-
'relì2.
res, o enorme contingette indígena rapidamente se extinguiatJ- O auto¡ da chamada

",A.h'ará para que aos índios que descem do serráo se dessem rerras para suas aldeìas junro a*
fazendas e sesmaria pa¡a suas lavouns" de 21 de agosro de 1587. pttblicado rcs Dacumentos

¡,aø a História- do Açúca.r, Op. cit ,'./o\.1, p.321


"Consìderaçóes sobre a 1ei e provisáo rcais sobre admrnisrraçáo e cariveiro dos indios no Ma-
ranháo e Pa¡á", doc¡rmento anônimo do sécu1o XVII, publicado por Lucìnda Saragoça' O¡.
cìt.,p.4t5.
78 ladreJacoine Monterio. 'Relaçáo da província do Brasil" de 1610, publicada por Serafrm Lci-
Ê lsl). Hktórí.1 ¿.¿ Coinpanhia de Jcsu no B*sll' l0 r'ols Lisboa: Portugália e Rio deJaneiro:
Crvilizaçáo Brasìleira. 1938-50, vol. \¡111, P.393.
"Quasc todos (os genrìos da cosra do Brasiì) estáo exrintos' pane por doenças ( ) e principaì-
mente pclos grandes agra.os, ìnjusriçes, crueldades que em castigos lhe dáo, c por rristcza que
¡eccbem de se¡em cativos e ferrado;.o nojo que tem de os aparrarcm de suas mulbe¡cs, ûlhos e
pa,enres. que por todos esres rcspeiros de pura melancoha se consomem c acabam"'De quáo
ìmportante seja a contìnuaçáo da resìdéncia dos padres da Companhia de Jcsr'rs da Província do
Brasil das aideias dos índìos narurais da ¡e¡¡a. assrm para o bem de suas alnas e serviço de Dcus
e de Sua \4aiesiade, como o bem temporal de o Esrado e dos morado¡es delc" {sen, data' mas
prova.clmenre da primeira ou segunda década do sécu1o X\''II). Arquivo \acionald¡ Torrc do
ilombo. Canório dosJesuíras, maço 88, docur¡ento 222 f. l.
z-l0 Rodrigo Ricupero

"lnformaçáo dos primei¡os aldeamentos", possivelmente o padreJosé de Anchiera, des-


c¡eveu, em meados da década de 1580, a situaçáo com espanro, 'A genre que de vinre
anos a este momento é gasrada nesra Bahia, parece coisa, que se náo pode crer; porque
nunca ninguém -uid.-,u, que tanta gente se ga)ta)\e nuncr. quã nro m¿is em ¡åo po.rao
tempo"8o, pois nas 14 aldeias que os jesuíras rivelam, se juntaram 40 mil pessoas e
"agora" nos t¡ês aldeamenros que exisrem, se "cive¡em 3.500 almas será muiro". Além
desres, eram trazidos do serráo 20 mil índios que foram levados para as fazendas dos
po¡rugueses e nos úl¡imos seis anos "sempre os porrugùeses desceràm gerre pâra suas
fazendas, quem ¡razia 2 mil almas, quem 3 mil, ou¡ros mais, outros menosr', que reu-
nidos somariam mais de 80 mil índios, mas, ainda segundo o auror, "váo ver agora os
engenhos e fazendas da Bahia, achálos-áo cheios de negros da Guiné, e muito poucos
da terra e se pergunrarem por ranta genre, diráo que morreu"s! ' sl.
A fuga para o ser¡áo e a inc¡íveÌ mor¡e de índios no liroral obrigava os morado¡es
a descerem conriruamente novos conr:ingen¡es para suprir os mortos. inclusive nas ca-
pitanias do sul, como Sáo Vicente, como nos conra, com ce!!o exageroJ o auror de um
documen¡o ¿ nón imo do século XVII:

os índios dos morado¡es foram sempre ranros os que lhe morreram como os
qu€ rrolrxerâm e desceram dos serróes donde r.em que Êazem

enrràd¡\ e nåo h¿ lim ire em rrazerem m¿i, e r¿'. indio. porque codor m.:ram

"lnlormacáo dos pr;meìros aldeamencos", documenco de meados da década de 1580, publica-


da em José de Ànchiera, O¿. rlr., p. 385. Segundo os jesuíras, Tomé de Sousa reria dito, para
aresrar o grande conrrngente populacional indígena, que "ainda que os corrassem (os índios)
no açougue que nuncå os acabariam". 'De quáo ìmporranre sejâ a continuacáo ...", documen,
ro ci¡¿do na no¡a anrerior.
"lnlbrmaçáo dos primer¡os aldeamenros", documenro de meados da décâda de 1i80, publica-
da em José de Änchieta, O?. üt., p.38i.
"Esre genrio que é úo ìmporranre é quase gasrado e consumido sendo ranto que parccia coisa
impoxír.el haver a lalra qre hâ aa longo tlo ma.r e a/guna cà h,i esra l.uz¿nt.is au ttëzentt légk1s
pelo sett,io t/entro donrle se n,lo pode ajuy'.ar dela. os mo¡adores da re¡ra e quando trazem algum
para o mar no caminho mo¡re a metade, o que pela maìor parte sc faz por enganos . isro é
norório. À causa desra falta, e perda ráo grande loi o mau rra¡amenro" dado aos índios pelos
porrugues€s. Cf. 'Resoluçáo que o Bispo e Ou',,rdor Geral do B¡asil ro¡ra¡am sobre os injus,
ros caciveìros dos índios do Brasil e do ¡emédìo para aumenro da coß,e¡sáo e da conservåcåo
daquele Esrado", documen¡o da década de 1570, pubÌicado R Relt^ta ¿o I'¿ttttuto Hi't/jtico,,
G¿ogruífco Bftßikin,rcmo LVII. parre I, p. 92. OLr ainda our¡o rcsremunho de orìgem ;esuitica,
do início do século XVII, que relarava que na capirania do Rio Grande exrsriam, 'quando os
da Companhia enrraram neLa, 164 aldeias, mas como esre gentio do Brasil lacilmenre se some
entre os porrugneses, agora (menos de 10 anos depois da conquista) te¡á como seis mil almas",
cl "Relaçáo das coisas do Rio Grande, do sírio e disposicáo da rerra" de 1607, publicado por
SeraÊm Leite (SJ), ,?lsrála da Companhia deJenu no Brasít, Op. clr., vol. l, p. 557
A formaçáo da elite colonial 231

em suas casas com trâbalho", (comprova-se) "esta verdade com náo haver hoje já
índios quinhentas e seiscentas 1éguas ao redo¡ des cePiranias do sul, Sáo Paulo e

Sáo Vicente, obrig¡ando, a falra e a cobiça, aqueles moradores a os ir buscar aos


confins das cabeceiras do grande rio das Amazonassi

A fal¡a de índios também e¡a sentida nas demais capiranias, dai que, ao se orga-

niza¡ uma campanha cont¡a os índios ¡ebelados na capitanìa da Bahia, que deman-
dava grande núme¡o de indios, "os quais náo havia nessa capitania e (ao contrário)
nas capitanias da Pa¡aiba e Rio G¡ande havia muìtas aldeias com muitos índios", o
governador-geral Diogo Luís de Oliveira tenha auto¡ìzado que João Barbosa, "língua",
pudesse traze¡ os índios deses últimas Pa¡a a guerra ta Bahia, onde depois poderiam
ficar para trabalhar nas ob¡as das fortificaçóes "as quais por falta de ínrlios se faziam
com muita despesa da fazenda de Sua Majescade"sa.
Contudo, se a presenca de escravos alricanos aumen¡ava' a importância dos ín-
dios ainda e¡a eno¡me, pois, minimizando a f¡ase citada do autor da "Informaçáo dos
st' o
primeiros aldeamencos" sob¡e a preponderância de escravos af¡icanos na Bahia
também.jesuíta Fe¡náo Cardim, esc¡even¿o Poùco dePois, em 1585, estimala que a
cidade de Salvado¡ e seu termo tinham 3 mil vizinhos portugueses, 8 mil índios cris-
râos e 3 ou 4 mil esc¡avos da Gu.inés6. Stuarr Schwartz, analisando a questáo, aveliou
que, ro final do século XVI, a PoPulaçáo indígena representava três quartos da força
de trabalho na capitania da Bahiast.
A ve¡dade é que o manancial de índios ainda era grande e os moradoles continua-

¡am trazendo-os pa¡a suas fazendas, aproveitando-se da conquis¡a de novas á¡eas no litoral'
como, no c.Ìso da conquista de Sergipe ou da Paraíba, ou por meio de expediçóes enviadas ao
jesuítas'
in¡e¡io¡ do continente, udlizando-se muitas l'ezes de exPedietres condenados pelos

"Consideracóes sob¡e a Lei e provisáo reais sobre adminisüaçáo e cadveiro dos indios no Mar¿ nhao e

Pará", documenro anônimo do século XVII, pLrblicado por Luonda Saragoça, Ap


ùr''p'415'
Capitanias da la¡aíba e Rio Cran-
'Assento que sc tomou sob¡e vi¡ os índios das Aldeias das

de" de 9 de;aneìro dc 1628, qlre consra do "Livro 2'de provrmentos seculares"' injciado em
1625 e pubLicado nos D ocu.mentos Hlsairiros, Op. cit , vol 15, p' 174'
a exploracáo da populaçáo indígena, deve-se le¡ com resenas ¿' info¡-
Dadaaviva poìêmica sobre
maçóes fornecrdas pelas parres, muìüsYezes em documenros queprocuram
condicionar âPolítica
jesuítas aumentarem aiá enorme destruiçáo da popuìaçáo
adotada pela Coroa. Âssim, é comum os
Po¡ outro lado os morado¡es e seus defenso-
narìr,a, bem como sobrevalorizar a presença africana.
res rambém exage zar os mâus-uatos e a morcandade da populaçáo ind ígena

86 Fernáo Ca¡dim, OP. ut., p.175.


87 Stua¡r S t h. , P 7l Ver ¿inda do mesmo auror 5e3' edts intctnos' engathos e es tra'
chrl,arrz, O?.
(esPecial
to: n¿ socielade coloníal 1' reimptessáo Sáo Paulo: Companhia das Letras, 1995
menre o capítuio "Uma geraçáo exaurida: ag¡icultura comercial e máo-de-obra indigena )
232 Rodrigo Ricupero

A disputa entorno da quesúo indígena, pafticula¡menrc sobre o cont¡ole dos índios


descidos do serráo, proragonizada pelos moradores e jesuítas, faria que o governador-geral
Diogo de Meneses, favorável aos primeiros, solicitasse insistenremen¡e que a Co¡oa regu-
lamentasse a questáo, pois, para ele, "no que toca as aldeias desre genrio renho escriro a V.
S. em chegado aqui e por que me parece coisa imporrantíssima ... pedir com brevidade
mande rrara¡ desr€ pafticular e avisa¡-me do que devo fazer nele"s3, sem conrudo deixar
de sugerir que o rei deveria mandar repartir as aldeias por toda a costa segundo a necessi'
dade dos sítios e engenhos, e nelas "por um sace¡dore .-. e um homem branco que sirva de
cepiáo, e um escriváo e LÌm meirinho e e esres rodos, eles mesmos dêem por cada cabeça
Llma cer¡a porcáo para seu manrimen[o e is¡o mesmo tem Vossa Majestade no Pe¡u"89,
cabendo a estes oficiais controla¡em a aldeia e o ¡¡abalho dos índios, proregendo-os. As-
sim, para Diogo de Meûeses, com ral proposta "recebem dois grandes bens o Es¡ado e a
fazenda de Vossa Majestade, o primeiro, o serviço dos engenhos ser mais fácil e menos
cuscoso (..-) e a outa é náo ser necessá¡io a esre Es¡ado ¡anro negro de guiné", que sáo a
causa da maior parte da pobreza dos homens, pois gasram ÍÌuito na compra destes.
Os jesuítas, como vimos acima, já conhecedores do papel dos capiráes secuiares
nos aldeamentos, a¡gr¡menravam que:

bem se entende que esres capitáes seculares não âceiraráo esres cargos purameÌÌre
por amor de Deus e serviço de Sua Majestade e bem dos indios, senáo com olho
no proveiro e interesse próprio. Àssim, por todas as vias que puderem, riraráo
os índios destas eÌdeias e os poróes em suas fazendas próprias e de seus parenres
e de amigos; e que, depoìs que se encherem à custa do sangue e liberdade dos
índios, vi¡áo seLrs slrcessores e farão o mesmo,0,

afirmavam, ainda, que os aldeamentos que há tantos a¡os e¡am conrrolados pela Companhia
de Jesus, "com ráo notável proveito de rodo esre Estado, se acabaráo em breve tempo nas máos

dos capiráes seculares; como de lato se acaba-ram todas, ou quase todas as (aldeias) governadas

"Carra de Diogo de Meneses a el-¡ei" de 23 dc agosro de I608, publicaè,a nos Anau ¿l¿ Biblio
teca Nacíonø|, vol. 57, p. 37 Todas as ciraçóes desre parágrafo sáo rirad¿s desta carra.
89 Diogo deMeneses repeliaassim aproposÉ leita anccriormenre por Dìogo Boreiho dirccamen,
Cl "Cana do ¡ei Para Dìogo Borelho" de 19 de março de 1605, publicado na
te ao mona¡ca.
Retxt¡ da Ins¡itun H*órico e Geogáfto Brasilelro, romo LXXIII, parre I, p. 5.
"De quão imporraote scja a conrinuaçáo da residêncra dos padres da Companhia de Jcsus da
P¡ovíncia do Brasil das aldeias dos índios narurais da rer¡â, assim pa¡a o bem de suas almas
e serviço de Deus e de Sua Majestade, como o bem remporal de o Esrado e dos mo¡ado¡es
dele" (sem dara, mas provavelmente da primeira ou segunda década do século XVII). Arquivo
Nacional da Tor¡e do Tombo, Carrório dos lesuirâs, maço 88, documenro 222 f. 6 ç
A formaçáo da elite colonial 733

po¡ capirães ou serhores seculares", apresentando, em seguida, paÌa comProvar o que afirma-
lam, uma lise de aldeamentos cotüolados por capìtáes seculares (quase codos senhores de
engenho e membros da administra{.o colonial) em diversas capitanias'r.
Dessa fo¡ma, os jesuítas devem ter conseguido influenciar a resposta da Coroa
aos apelos do governador Diogo de Meneses. Essa, contudo, náo se¡ia favo¡ár'el a suas
proposras, pois viria na forma da lei de 30 de julho de 1609e':. A mais notávei lei em
favo¡ da libe¡dade dos índios promulgada no período aqui esludado e que P¡ovocaria
uma r,'erdadeira onda de protestos na colônia. Na Bahia, seguodo nos conta o Padre
Henrique Gomes, os mo¡adores "alevanta¡am o maio¡ motim, que vi depoìs que estou
no B¡asil; ao qual deram princípio os juizes e ve¡eado¡es com uns repiques a som de
gr¡er¡a, com que a 28 de junho à tarde convoca¡am o povo à Câmara", quando in-
clusive se propôs que embarcassem os jesuítas para Porrugal "como inimigos do bem
comum eda república", mas acabaram indo ¡eclama¡ da lei junto ao governador-geral
e promovendo uma manilesucáo na f¡ente do Colégio, onde alguns oficiais da Câmara

foram ¡ecebidosei.
Nos dias seguintes, Êrmou-se um aco¡do entte os moradores, representados pela
Câmara, e os jesuítas em torno de três quesróes propostas pelos primeiros:

1" que por esta nova Ìei se lhes náo tirem os índios iegírima e ve¡dadeìramente
cacivos conforme as leis e Prof isóes dos reis Passados; 2' que se lhes náo tirem os

índios ìiv¡es. que em suas casas e fazendas tem. a que chamam de adminisrra-
çáo;3" dáo a enrender que sob capa desra lei lhe queremos chupa¡ os indios
de

suas casas para nossas aldeias94-

O padre provincial Henrique Gomes, entáo a maio¡ auto¡idade dos jesuitas no


B¡asil e auco¡ do ¡elato, concordou com a proposta, passando certidóes sob¡e o assunto,
f¡isando em particular sobre o segundo item, que este só vale¡ia caso os índios "ad-

Náo tal documento (citado na nota anrerior) foi esc¡ito com o frm de responder às
se sabe se
proposras do governador Diogo de Meneses, mas os srgumentos urilizados Pelos jes'ritås não
deviam se¡ muilo diferenres. Ver ainda Sera6 û Leirc (Sl). Hb nia ¿4 Cotnpanhìa dc Jesu: na
Brasil,Op. cít., rcl.II, p. 71. O capitulo IV- "O governo dasaldeìas" desse volume da obra
de Se¡aGm Leire é dedicado inreiramence à questáo aquì discurida.

92 "Lei sobre a liberdadc do gentìo" de 30 de;ulho de 1609, publicada em José Oscar Beozzo'
Leís e regimentos /-as missóes, ?01ítíc11 i ¿igentt1l o Brasil. Sáo laulo: Loyola, 1983, p 179
Sobre as leis dc 1609 e 1611, ver rambém Georg Thomas, 02. clr, p 150 eseguintes
"Ca¡ra do Pad¡e P¡ovincral Henrique Gomes ao Padre Geral da Companhia deJesus" de 5 dc
julho de i610, publìcada por Serafim Leite (SJ )- Históïia d'a ComPanhìz deJesu: ao Brasil, Op
rl¿, vol. ï p. 5-8-
234 Rodriso Ricupero

ministredos" fossem pagos, rratados como livres e que fossem conrentes. -Além disso,
em outra cerridáo, esc¡eveu "pa¡a que nem em nossas fazendas nem em nossas aldeias
se corsenrisse índio algum esc¡avo ou lìv¡e dos que nas casas e fazendas dos mo¡ado-
¡es desre Es¡ado ¡esidem". Tal aco¡do, mo¡ivado possivelmenre apenas pelo temo¡ dos
jesuítas de serem expulsos, náo impediu que esres protestassem contrâ a atuaçáo do
governador-geral, acusando-o de "dissimulação" e que pedissem que os responsáveis
fossem castigados, pa¡ricula¡menre o p¡ocurado¡ do Conselho, Gaspar Gonçal"estt.
A ¡eacáo dos moradores ráo pa¡ou por aí. A. Câmara da Paraíba, por exemplo,
enviou ao morârca Lrma carta reclamando da nova lei, num ve¡dadei¡o manifesro em
favor da exploraçáo dos índios. Os oficiais procuralam mostrar a enorme importância
do r¡abalho indígena para a capitania e também para a fazenda real, alegando que
todas as pessoas que tinham gentio escravizado, rinham-os confo¡me as leis e provi-
sóes de Sua Majestade e que os índios livres que esavam com os mo¡ado¡es esra¡iam
contenles e que

se no modo da conve¡sáo e carir.eiro de alguns gentio houve excessos, coisa bem


notórie é não serem culpados neles os moradores do Brasil, pois o Âze¡am a
exemplo do que viram lazer há alguns governadores e capiráes de Vossa Majes-
rade que são os que tem obrigaçáo de guardar e mandar cumprir suas leistd,

conciuindo, por defender a manutencáo do conr¡ole dos mo¡adores sobre os índios,


bem como que aqueles fossem os responsáveis .junrameûre com os capiráes-mores pela
escolha do lugar onde os índios se¡iam es¡abelecidos, e não os religiosos c o gove¡na-
dor-geral.
Os mo¡ado¡es, contudo, encontraram no governador-gerai Diogo de Meneses
seu melho¡ defenso¡. O governador, em lorga câfia dedicada unicamenre à questáo
indigena, conrou ao mona¡ca que "esre povo (da Bahia) rem romado cáo mal e assim
¡odo o do B¡asil a iei que Vossa Ma.jesrade mandou passar sob¡e a libe¡dade dos índios,
peio pouco remédio que ihe fica de se pode¡ valer em suas lavouras e necessidades" que
"vie¡am a mim -,. juntos cho¡ando e grirando que lhe valesse com Vossa Majescade

95
96 "Ca¡ra da Câmara da Paraíba para el rei sobre ordem do mesmo que mandou aquela capirania
para que se ri¡assem os genrios do poder das pessoas que rivessem, e lhe deu uma larga ìnfor
maçáo a respeiro do mesmo" de 19 de ab¡il de 1610. .{rquivo Nacional da Torre do Tombo,
Corpo Cronológico, parre I, maco 11i, documenro 108.
A formaçáo da elire colonial

nesre pa¡tict¡lar, e lhe pedir que quisesse mode¡a¡ a lei" de maneira a fica¡ sa¡isfeita a
consciência do rei e rambém a sua fazenda e as rendas e p¡oveitos dos vassaloset.
Diogo de Meneses explicava que no B¡asil náo havia ou¡¡a gente de serviço "se
não eles (os índios) e os negros que vem da Guiné e esces cus¡am muito aos mo¡ado¡es e
duram ponco, náo tem os pobres moradores cabedal e andam endividados e cansados e
assim se náo podem estende¡ em suas lavou¡as"e3 Do mesmo modo, além de se¡vi¡em
ao Es¡ado e aos mo¡adores em suâs ¡ocas e pescarias, Êcam também os indios mais
domésticos e mais seguros de náo se ¡ebelarem.
Para o governado¡ também parecia grande inconve¡iente o rei mandar que náo se
possa descer o gentio do sertáo, nem com licença do governador, porque "o remédio desce

Estado e a fábrica dele" é "haver muito gen¡io e sem ele se náo pode remediar nem aumen-
tar por não haver quem nele t¡abalhe" e, indo apenas os jesuíras buscar os índios' como
inst¡uía a lei, era para o governador-geral Diogo de Meneses "a total desuuiçáo do estado
er'
porque os índios que descem eles os ¡ecebem deles o benefício e os demais ¡enhum"
Ainda defendendo a libe¡dade das en¡radas no sertáo, o governador-geral expli-
cava ao rei que, em todas essas que se fize¡am, nunca aconteceu coisa que Êosse contra
o serviço ¡eal e os poucos inconvenien¡es foram serem cativos ou náo os índios e, desta
forma, esras fo¡am "mais serviço de Vossa Majestade que seu deserviço pelo benefício
que disso resukou ao aumen¡o des¡e Estado", assim, se os governadores puderem con-
ceder a licença para as entradas, "sempre viráo muiros (índios) e assim Êcará da descida
deles dois grandes p¡oveitos: o P¡imei¡o para as suas almas' o segundo para o benefício
do Estado e dos mo¡adores dele'' e tranqüilizava o ret "desengane-se Vossa Majesrade
que há cá gente particular que sabe negociar com os índios táo bem como os padres",
pois os moradores fazem:

mimos aos índios como a seus Êlhos' e a razáo esrá mui clara, porque como esra
gente náo tem nenhum discurso no que fazem, náo julgam o que lhe está bem se
náo pelo presente ador lhe laz bem, estáo com ele. e senáo váo se

para o naro, onde lhe náo faka nadar0ô

Para Diogo de Meneses, a política adequada corn relaçáo aos índios deveria ga-
os moradores pudes-
rantir qûe esses fossem Pelos seus se¡vicos a cada ano e que
Pagos
"as
sem fazer enr¡adas no sertáo com o¡dem do governado¡ castigando_se' con¡udo'

"Carra para cì-reì de D. Diogo de Meneses" escrita da Bahja em l" de se¡cmbro de 16i0'
Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Fragmentos, caixa 1, documento 6'
98
99
100
136 Rodrigo Ricupero

desordens que se ûze¡em conc¡a a liberdade dos diros índios" e, no caso de os índios se
rebela¡em, deve o governador poder "fazer guerra, e os que assim se lel?nrarem sejam
carivos, porque assim ficaráo sujeiros e reráo os capitáes domínio sobre eles", como con-
vém ao serviço da Coroa e à quieração do estado. E concluía se a todas estas propostas
houvesse inconvenienres, pode¡ia o rei ordenar que no Brasil se seguisse o mesmo "que
¡em o¡denado no Peru com ranta sarisfacáo (...) e ráo aprovado de todos, sendo rudo
LLma costa e Llm senhorio e (assim) náo pode parecer aqui desgoverno o que lá o nâo é,
nem ser conrra a consciência de Vossa Ma.jestade o que lá náo é"'0t.
O resultado das pressóes foi a promulgaçáo de uma nova lei pouco mais de dois anos
depois, em 10 de serembro de 1611, que viria a subs¡iuir a de 1609. Pode-se evalia¡ bem seu
significado da nova lei, pelas palavras do governador Diogo de Meneses, ' que todo este Estado
a recebeu por grande mercê, eu da minha parre beijo a máo a Vossa Majestade por ela, ainda
no que ¡ocâ a quem rem as aldeias náo lhe pa¡eceu bem, rendo assim que foi a maìs jusra e
bem feira que neste negócio podia sei"o'.
A lei de 1611 anulou a maio¡ pa¡te dos avanços favoráveis aos indios conridos na
legislaçáo precedente, resrabelecendo grande parte das prerrogativas dos governadores-
gerais com relação às guerras jusras. T¡azia como novidade a autorização régia para
que os moradores pudessem parricipar da administraçáo dos aldeamenros, nomeados
como capitães seculales dos mesmos. AIém disso, com ela, o uátco de escravos âcou,
na prática, reservado às pessoas escolhidas pelo gove¡nador'0j.
Em te¡mos práticos, as Ìeis nunca fo¡am seguidas esrriramenre, voltando,se à si-
tuaçáo criada após a lei de D. Sebasriáo de 1570. Os jesuítas conrinua¡am con¡¡olando
ce¡to número de aldeamentos que forneciam, em maior ou menor medida, rrabalha-
dores para os moradores, particularmente pam os meis pobres- Os morado¡es conti-
nua¡am de posse de um grande número de índios, escravos ou "administrados", que
desciam do se¡ráo ou caprrravam nas guerras legitimadas pelos governanres.
Os mais poderosos, por sua vez, organizavam expedicóes próprias para descer os
índios, sendo que muiras vezes aldeias inrei¡as e¡am deslocadas pa¡a serem insraladas
em suas propriedades. Essas expediçóes e¡am feì¡as sob a supervisão di¡era do Gove¡-
no-geral, com freqüência sob a iusrificaiiva de combare¡ índios rebelados, contando
em alguns casos com a auto¡izacáo di¡eta da Coroa. Filipe II, por exemplo, atendeu,
em 1603, a uma períçáo do Duque de Aveiro, na qual esre alegando os prejuízos que
tinha na sua capirania de Porro Seguro, "por náo haver nela genrio qLre a povoe e

Ì01
102 "Carra de Diogo de Meneses a el-rei" de 1" de março de 1612, publicada noslzais ¿a Biblio-
teca N¿cion¿|, vo|. 57, p.78.
103 Georg Thomas, 02. rø., p. 154. Cf "Lei sobre
a liberdade do gentio da rerra e da guerrajusra que
se lhe pode fazer" de 10 de serembro de 161t, publicada em José Oscar B eozza, Op. cit., p. 183.
A fo¡macáo da eli¡e colonial 13?

a defenda"roj, pedia que, sem embargo da provisáo dos padres da Companhia para
somente eles poderem desce¡ os índios, "possa ele também mandar-pelo seu capitáo e
moradores das suas povoaçóes descer o que for para defesa daquela capitania", obtendo
assim do ¡ei a me¡cê apenas para duas expediçóes.
Ourro exemplo in¡e¡essante é o episódio em que o governador-geral Diogo Luis
de Olivei¡a, em 1628, alegando ameaças e ataques dos índios "chamados da Santidade"
à capitania da Bahia, convocou para comandar a resposta Afonso Rodrigues da Ca-
choeira, por ser filho da terra, rer experiência do sertáo e da gue¡ra e "te¡ muitos índios
tapuias e índios de sua administração e (assim) o frzera capitáo-mor da dita guerra"i05.
O resultado pode ser comprovado num documen¡o ¡¡ansc¡ito no Liuro segundo do re-
gitt'lo de tos, no qual são registrados os índios que Afonso Rodrigues trouxerà
proaime
do Sertáo, "os quais o Senhor Governador-geral Diogo Luís de Oliveira manda da¡ de
administraçáo as pessoas que {è,ram na dica.jornada aré Sua Majesrade mandar o que
fo¡ se¡vido"ro6. Dessa fo¡ma, o comandante da guerra recebeu 32 índios e o go!'erna-
dor-geral outros 24, graças ao quinto das presas que Por Provisáo régia passada sobre
a matéria competìa aogovernado¡ que, neste caso, fo¡am imedia¡amente repassados a
um importanre senhor de engenho da Bahia, Diogo Lopes Ulhoa.
Sobre a questáo do quinto das presas, conhece-se uma carta régia concedendo
o quinto das presas, salvo algumas exceçóes, ao gove¡nado. Gaspar de Sousa e a
seus sucesso¡es'07-Diogo Botelho alegava anteriormente que "possuindo o quinto
dos índios" não tinha utilizado tal direito no caso dos índios capcurados pela ex-
pediçáo de Pero Coelho, porém a Câmara da vila de São Paulo reclamava que o
mesmo governador mandara "provisão Parâ romarem o terço para ele, depois veio
ordem para o quinto" dos índios descidos por uma bandeira enviada pelo capitáo-

"Carta de Filipell de Portugal", escrira de Vaiadoli em 8 de setembro de 1603 Archivo


General de Simancas, Sec. P¡ovincìaies, códice 1487 - Livro de reeisro das cartas que Sua
Majesrade manda a Portugal para os go.'ernado¡es vrce-¡cis e ourros personagens de Portugal
de 16031604. Âs.33-33v
t05 "A.ssenro que se tomou sobre vi¡ os Índios das Aldeias das Capiranias da ParaÍba e Rìo Cran-
de" de 9 de ianeiro de 1628, que consra do "Livro 2' de provimentos secularei', publicado nos
Doc lne tos Históricas, Op. at., wL 75, p- 174
106 "Regisrro dos Índios, que Afonso Rodrigues, troLrxe do Sercáo, os quais o Senhor Governado¡-
geralDiogo LLrís de Olivei¡a manda dar de administraçáo as pessoâs, que loram na dita jornada
aré Sua Majesrade mandar o que ior senido na forma dos autos, que esráo, em poder do Tabe-
liáo lâscoâÌ Leiúo, oficio deJoáo de Freitas" de 22 de março de 1629, que consca do "I-ir-ro 2'
de provimeoros secularei', publicado nos Darflnentos Hisaíricos, OP' cit ' 'ol 15, p 25I '
r01 "Ca¡ra d'el-¡ei para Gaspar de Sousi'de 27 de agosro de 1613, publicada em Cartas para
Áh'aro de Sou:a e Gaspar 1¿ Sov.sø, Op. àt., p 227. Po¡ ou¡ro lado, "a provisáo por onde os
governadores do Brasil rem os quìnros das presas registrou Pedro Viegas Giraldes por erro no
livro dos registros de provisóes eclesiástices .. ", que se perdeu. Cf. "Livro 2'de provimenros
sectrlares", publicado em Doc mentos Históricos, Op ctt, vo| 14'p.471
218 Rodrigo Ricupero

mo¡ de São Vicenre, Roque Bar¡e¡o'0s. AÌguns anos depois, o governador-geral


Diogo de Mendonça Fu¡rado enviava ourra provisáo para a vila de Sáo Paulo,
dando orientaçáo para que do quinto dos índios r¡azidos pelos moradores, metade
seurilizasse para recompor os aldeamentos da vila e a outra fosse enviada para Sal-
vador, "em um navio quc se romará po¡ conra áa fazenda de Sua N4ajesrade, para
aqui se siruar uma aldeia" onde fo¡ necessá¡iol0e.
O controle exercido pelos governadores sobre as enrradas ao se¡tão era motivo
de queixas; assim o feiro¡ do Conde de Linha¡es no engenho de Sergipe do Conde,
Gaspar da Cunha, explicava ao par¡áo, numa ca¡ra de i581, que ele devia valer-se
da provisáo do rei, mas isenra dos governadores, para poder mandar descer os índios
"para ter aldeias assim para defesa da fronreira que o engenho está, como para o
meneio e proveito dele" e, enfarizava, "encenda V S. que é o mais necessário de rudo
por que havendo-os (...) se pode deirar a dormir sobre o meneio e proveito dele", mas,
para isso, reforçava o feitor, "torno lemb¡a¡ a V S. que venha isenta a provisão dos
governadores porque há que cá mandou no tempo de Lourenço da Veiga ainda no de
Manuel Teles Ba¡¡e¡o náo teve efeito a¡é agora por vir cometida anres com cláusulas"
que pe¡mitiam a irgerência dos governadores e "porque sempre cá se dáo companhia
de oucros (nas expedicóes, e assim) se nåo rira mais proveiro que gascar (...) o cabedal
que ûisto se mete"lì0.
Tal situaçáo ainda seria motivo de queixas, dessa vez con¡ra os jesuítas, numa car-
ra posre¡ior ao mesmo senhor, escrira po¡ ourro feiror, Rui Teìxei¡a, em 1i89, em que
esre explicava que o engenho ia moendo os mais dos dias, mas estava fàlto de cob¡es e
de gente e que ele trabalhava "assaz com os governadores (para) que me dêem licença
para mandar ao serráo (descer índios), aré agora ma impediram por respeito dos padres
da Companhia mas rem me p¡omerido de mandar ranro que esres navios forem pa¡ri-
dos", assim as reclamaçóes e queixas dos pad¡es demo¡a¡iam mais cempo para poderem
chegar até o Reino, e concluía,

ainda arreceio que com novâs pro\,isóes que vieram dos diros padres aja algum
inrervalo, o bom fora a largarJhes a fazenda e a rcrra... poìs eles sáo scnho¡es
dela e dos indios qrìe com nome de lo¡ros os servem e sáo n,ais seus carivos

-Serviços
108 do governador-gerai Diogo Botelho" de 8 de ler-crei¡o de 1603, pubiicado na Rrrtsra
do I H*îó/tcò ,: Geogruífco Brasileiro, romo 73, parte I, p. Ì84 À carra da Câmara da
'ti¡uto
vila de S:o Paulo dc t3 de janeiro de 1606 loi publicada por Ãzered.o Marques. ?rorhria lL
Sáo Paula (1878),2 vols. BeLo Horizonte e Sáo P¿ulo: ftariaia e Edusp, 1988, vol. ll, p. 352.
109 "Trasiado da provisáo sobre o quinro das presas" de 25 de maio de 1624, que consra do Rrg:i-
tro Geral da C,âmaru rle São Paulo, Yol. L Sâo Paulo: Arqun'o Municipal, 1917,
"Cà¡râ de Gaspar da Cunha ao Conde de Linha¡es", escrira do Brasil em 28 de agosto de
1581, Arquivo Nacional da fàrre do Tombo, Carrório dos Jesuicas, maco 8, documenro 9.
A formacáo da elite colonial 239

que €scra1.os da Guiné e assim náo há quem possa haver por seu resgate um só
escravo, não falo mâis nisso po¡que sáo coisas que náo tem ¡emédìo, Dcus o dê
pa¡a sua misericórdiâ.irr

Sabemos ainda que o Conde requereu, no comeco do século XVII,junco ao rei


mais uma licença para pode fazer rir da Pa¡aíba ou de Pernambuco 500 ou 600 índios
com suas famílias para instalar em suas fazendas na Bahia e em llhéus, mas, ao con¡¡á-
¡io das ouuas. essa náo foi aceita- O rei náo explicou os motivos, mas mandoú avisal
ao governador que se os índios, contudo, qt¡isessem ir por livre vontade e sem violência
para as rerras do Conde, ele náo deveria impedi¡ mas sim favorece¡"2.
As dificuldades, porém, não eram insuperáveis, e o Conde de Linhares, por
meìo de seus feitores conseguiu em mais de uma ocasiáo t¡azer novas levas de ín-
dios para seu engenho, pois este orientava, numa espécime de regimento, Cristóváo
Barroso, quando este ia asstrmir o posro de feitor, para que saiba "dos índios que
mandou vi¡ F¡ancisco de Negreìros (ancigo feitor), em sua vida, para (o engenho de)
Sergipe (do Condel"rr: ou ainda, já depois da mo¡ce do Conde, no meio da dispura
pela posse do engenho, o padre Sebastião Vaz esc¡evia em 1628 a Diogo Cardim'
provincial do colégio de Santo Antão em Lisboa, con¡ando como o Conde com
muita despesa de sua fazenda t¡ouxera índios para junco do engenho, onde fez uma
aldeia, que aí se conservou por muiros anos e depois, continua, quando os padres
¡rouxeram os indios da aldeia de Sáo Sebastiáo, coloca¡am-nos no "mesmo sitio ou
ali perto onde estavam os índios que pe¡tenciam ao engenho"'r{.
Mesmo com a grande quantidade de índìos deslocados para o litoral, a dispura
pelo controle dos "administ¡ados" continuou, Porque tanto o aliciamento de índios
dos aldeamentos pelos moradores, como, em sentido inverso, a fuga de índios para
o con¡role jesuíta provocava grandes embates, obrigando a administraçâo colonial

"Carra de Rui 'Ieixeira para o Conde de Linhares', cscrira da Bahia em i' dc março de 1589'
Àr<1uno Nacional da lorre do Tombo, Carrório dos Jesuítas' maco 8, documento 28
"Carta de e1-rei respondendo dLras consultas do ConseLbo da Índìa" de 10 de abril de 1607
Biblioreca daÂjuda. Códìce 51-VII-15, Consultas de Governo' I 139

',{ponramentos que levou C¡istóváo Ba¡roso quando fui para feitor do Engenho Sergipe" de
23 de março de 1607. Àrquivo Nacional da Tor¡e do Tombo, Canório dos Jesuíras, maço 13,
documenro Ì4. Num proccsso da Inquisrçáo' Gonçalo Álvares, mameluco, na¡u¡al de Pono
Sesuro, morado¡ em Sergipe do Conde, conta sobre casos que ¡es de 1593, no

"sertáo onde loi por capiráo de uma licença do Conde de l,inha¡es com brancos, mamelucos e
negros ßecheiros para desccr e rrazer gentìo do diro ser.áo Para o mar" Cl "Processo de Ro-
drigo ìvfarrins" (1593), ArclLrn'o Nacìonal da Torre do Tombo. Inquisiçáo de Lìsboa, 12229'
114 "scbasriáo Vaz a Diogo Cârdim, Provinciaì do coiégio de Santo Anráo" dc 5 de junho de i623'
Àrquìvo Nacronal da Torre do Tombo, Car¡ório dos Jesuitas' maço 69' documenro 74'
Rodrigo Ricupero

a intervi¡. A realidade é que os moradores viam nos jesuítas um empecilho à livre


exploração dos índios, como vimos na ca¡ca do feiro¡ do Conde de Linha¡es, além de
cobiçarem os contingentes agrupados nos aldeamenros da Companhia de Jesus-
À situação é ¡elatada nos chamados "capítulos de Gab¡iel Soa¡es de Sousa", do-
cumento enrregue à Co¡oa, em que este senhor de engenho apresenta uma série de
ataques à Cornpanhia de Jesus e que, por nossa sorte, conhecemos g¡aças a uma cópia
dos jesuíras, naqual estes respondem um a um aos 44 itens apresentados.
Signiñcativa aqui é a resposca dada pelos padres à c¡ítica de que eles só tinham
inre¡esse em seu próprio proveito, graças parricularmenre às cinco aldeias de índios
forros que possuíam e que eram cobiçadas pelos moradores. Para os jesuítas:

as aldeias, que (os jesuíras) rem, sáo de el-¡ei e do povo, e dos índios nos
se¡vimos, como os mais da re¡¡a, por seu esripêndio, e náo ¡em os Padres
escas aldeias como eles (os moradores) rem as suas, em Jaguaripe, e ourros
parcicuiares em sues rerras) das quais eles só se¡vem, e ninguém se arre.r'e a
buli¡ nelas, nem sáo mâis que querro aldeias, as qlrais se váo consumindo,
pelos conrínuos serviços em que os rrazem, de guerras, rebares de Ingleses,
forres, baluartes, i¡ âs miûes com o informan¡e (Gabriel Soares de Sousa) e

coisas semelhances-'
j j

Os .jesuíras rebaceram a acusacáoJ quesdonando, por sua vez, a legitimidade das


aldeias conrroladas pelos senhores de engenho, fato que, como vimos, e¡a comum nas
mais partes do Brasil. A importância de tais aideamenros conrrolados pelos senho¡es de
ergenho era, por sua vez, explicitada numa expressiva ca¡ra de Anrônio Muniz Bar¡ei¡os,
capitáo-mor do Maranháo, esc¡ira em 1624, em que este avisava ao monarca que:

esta conquista está muiro falta de gencìo, pela razão que já tenho avisado a Vos-
sa Majestade e o pouco que remos é necessário consenalo por rodas as vi¿s e
importa ao serviço de Vossa Majesrade que a pessoa nenhuma se dê aldeias dele
de adminiscração, sah'o a quem fizer engenhos, por quanro rendo-as alguns se

náo ajudará o povo nem haverá lugar quando pessoas de posse quei¡am f¿zer os
diros engenhos de lhe darem uma aldeia para sua guarda, como foi uso em mui-
cas partes do Brasil, no seu princípio, e com eu re¡ em minha fazenda uma casa
de armas, como digo acima, e meus criados, me não ârre\-erã sem muiro risco
a principia-la se náo passara para junto a ela um pouco de genrio amìgo nosso

115 "Capiculos de Gabriel Soa¡es de Sousa" de 1582 publicado nos An¿is da Biblìateca Nacional,
vol.62, p.350.
A formaçáo da elire colonial

po¡ uma provisáo que o governador (do Estado do Brasii) de Vossa Majestade
pâssou â meu pâi (Antônio Bar¡eiros, provedo¡-mo¡ do Esrado do Brasil) que eu
pudesse passar duas junto as diras fazendasl6.

A. importância dos índios para a defesa dos engenhos e também pa¡a o forneci-
mento de máo-de-obra indígena, contudo, náo e¡a ¡estrita aos primeiros tempos da
conquista- Os índios e¡am ainda, na primeira parte do século XVII, utilizados em
larga escala por roda a costa do B¡asil, como atesta, em outro relatório, Diogo de Cam-
pos Moreno, quando trara da Bahia em 16i2, ao explicar que 'butros momdores rem
aldeias pequenas (comparadas as dos jesuítas) arrimadas a seus engenhos"Ì17. Fato ates-
cado também pelos jesuíras que, em documento do começo do século XVII, enumera-
vam dive¡sos senhores de engenhos possuido¡es de aldeamentos em suas terraslrs-
A Coroa, contudo, r\âo o con¡role dos senho¡es de engenho sobre seus
^ceitava
aldeamentos, nesse sentido, o ¡ei Filipe II de Portugal informara ao governador Gaspar
de Sousa que recebera informaçóes que Diogo de Meneses, an¡ecesso¡ dele, "tratava de
dar as aldeias dos gentios a senhores de engenho", o que era conrra as dererminaçóes da
Co¡oarre. Adorando o mesmo procedimento úmbém com relação ao Estado do Mara-
nháo, onde a Co¡oa rinha anleriormente aceitedo tel domínio, o mona¡ca voltava aarás
de sua decisáo, como ele próprio explicava: "fui informado que as pessoas a que fiz
mercê da capirania de aldeias nas partes do Ma¡anháo aveixam os índios por diversos
modos obrigando-os a r¡abalha¡ com excesso e demasia (...) (sem) os remediarem nem
p¡evenirem suas ûecessidades", impedindo-os de faze¡ suas ¡oças de mantimentos, des-

116 "Carta que o capiráo-mor do Maranháo, ,{nrônio Moniz Ba¡rei¡os, dá conta do que se passa
naquela conquìsra". de 6 de feve¡ei¡o de 1624, publicada nos Documentos P'tra a Histórí1l ¿,1
Conquìsta da costa leste-ocste do Braril. F.io ¿e Janeiro: Bibiìoteca Nacional, 1905, P. 25i.
Diogo de Campos Moreno, Líaro que ùi ruøao do E¡ado ¿o B,'lsxÌ. (1612). Recife: UFPE,
1955, p. i55. Ourro exemplo interessanre é relatado por lreì Agosrinho de Sanra Ì\4arìa, que
ao descrevcr a crmrda de Nossa Senho¡a do Rosário de Pirajá, no Recôncavo de Salvador,
conta que Baltasar Aranha, senhor de engenho, pelos anos de 1620 'Ìinha também a adrni-
nisrraçáo de uma aldeia de eenrios e assim vinha ser como cåcìque ou o principal deics" Ci
Frei Agosrinho de SânlaMa¡ia.. Santutbø M¿liano € h^tóîía das ímagens Milagrosas dz Nossa
Senhora (..). aparecidas em a arcebíspado dd Bahlø (1722)). Salvador: Insritu¡o GeográÊco e
His¡órico da Bahia, 1949 (Co¡responde ao 9'.'olume da obra integral), p. tl9.
"De quáo impo¡reûre seja a continuaçáo da residência dos padres da Companhia de Jesus da
P¡ovincia do B¡asil das aldeias dos índios narurais da terra, assim pa¡a o bem de suas almas
e servico de Deus c de Sua Majesrade, como o bem temporal de o Esrado e dos mo¡adores
dele" (sem data, mas p¡or.avelmente da p¡imeira ou segunda década do século XVII). A¡quìvo
Nacional da Torre do Tombo, Cartório dos JesLríras, maço 88, documento 222 f. 6 v.
lr9 "Carra de el-rei para Gaspar de Sousa" de 28 de março de 1613, publicada em Cartas para
Áh,aro /-c Sousa e Gaspzr de Soasa, Op. cit., p.186.
)41 Rodriqo Ricuoe¡o

sa forma Filipe III decidiu "que as capitanias de aldeias que estiverem dadas nas ditas
partes do Ma¡anháo a pessoas seculares se lhes ti¡em assim roda administraçáo"r20.
.A Coroa, porém, rráo conseguiu imPedir que tal domínio fosse mantido ou mes-
mo sancionado pela prática e pelo costume. Bons exemplos disso sâo, em primeiro
luga¡ a doaçáo feira por Bento Maciel Pa¡en¡e ao capitáo Ped¡o Teixei¡a. em resPeiio
aos se¡viçosno descobrimento de QuìIo e outros feitos em 25 anos, "em nome de Sua
Majestade, 300 casais de índios de administraçáo encomendados pela manei¡¿ ¿cima
decla¡ada e do mesmo modo que no ¡eino dos Qualios se encomendam com todos os
privilégios mercês concedidos aos ditos ercomendeiros", por três vidas, enrrando neste
e

número a aldeia de Faustino que o diro capitáo "desceu a sua custa"rrr- E, em segundo
Iugar, a inqniriçáo feiø. errL 1657 pela Câmara de Sáo Paulo a mando do Conde do
P¡ado, neto do anrigo governador-geral D. F¡ancisco de Sousa, visando provar que
a aldeia de Ba¡ue¡i de Nossa Senho¡a da Escada era fundada por este, que, segundo
restemunhas, "manda¡a baixar o gentio (...) a sua custa e os gove¡nou e administ¡ou
e deles teve e houve enquanto vir'eu como coisa sua própria e os (trouxe) a sLre custa e
com seu resgate e depois de sua morte romara a Câmara posse da dita aldeia"'tt, daí a
reclamaçáo do Conde, que procurava ¡etomar a posse da dita aldeia, encampada pela
Câma¡a da vila de Sáo Paulo.
Dessa maneira, convém ¡efo¡ça¡ duas idéias fundamentais, a primeira é que, in-
dependentemence das leis sobre a questáo indígena, os índios fo¡am ao longo do pe-
ríodo esrudado e em ¡odas as partes do Brasil o componenre cenr¡al da máo-de-ob¡a
utilizada. Outro aspecto que merece destaque é que, em praticamenre rodas as leis ou
alvarás que regulamentaram a maréria, o papel preponderan¡e cabia à administraçáo
colonial, que se rornava assim a chave para obtençáo ran¡o de esc¡avos como de "ad-
ministrados"-

120 'Alvará para se exrìnguirem as capiranias das aÌdeias do Maranháo" de 15 de março de 1624.
Arquivo r-acional da To¡re do Tombo, Chancelaria de Fì1ipe II1, Doaçóes, Livro 39, fl. 77
"Provìsáo em que Benro Maciel Parenre, governadorge¡al do Esrado do Ma¡anháo e Gráo
Pará, em nome de D. Joáo iV dá ao capìtáo Ped¡o Teixeìra r¡ezenros casais de índios de ad-
minisrracáo" de 29 de janeiro de 1640, publicado por Lucinda Saragoça. Op. cit., p.318.
122 "Insrrumenro de inquìriçáo de resremunhas que provam que aAldeia de MarLii'ri loi lundada
pelo Senhor D. Franc;sco de Sousa, governador-g€ral, que foi do Estado do Brasil. A inqui-
riçáo loi rirada a requerìmenro de D. Francisco de Sousa, Conde do Prado, neto daquele, e
por despacho da Câmara de Sáo Paulo, na capirania de Sáo Viceûre" de 25 de agosro de 1652
Bibliorece Pública de Ér'ora, Cód. CXVI / 2 13,n"17,p.21-
8" O patrimônio fundiário(tr)

Nest¿, tcrr¿ /,o Brasil (..) hi senhores Erc porsuent gra-n¿es teîritórios e

aeles muitos engenhos de açticar, os quais te-lntórlzs lhes há ¿,r'.¿o el-rei de Espadha-

ent recompensa dt algam seruzco.

Francisco Pyrard de Laval'

A conquista daterra

s re..as da Àmerica foram incorporadas ao patrimônio da Co¡oa] e dis-


I
I \t¡ibuidas aos
'assalos,
conrudo, antes de serem doadas, precisavam ser
conquisradas. O
processo de ocupaçáo das te¡¡as do que temos chamado de
fachada arlânrica foi ma¡cado por prolongado período de guerras contra os ín-
dios e demais rivais europeus, que culminou na luta cont¡a os holandeses, em
meados do século XVII.
Esse período inicial da colonizaçáo pode ser dividido em duas etapas. Na pri-
meira, a preocupacáo cent¡al foi a defesa dos núcleos estabelecidos e o controle das

 obra de Laval fòi escrìra durante a chamada "Llniáo lbérica", época cm que o rci da Êspa-
nha rambém c¡a o dc Porrugal. Francísco de P¡"rard Laval. Viagem de Fr¿nci:co dc PInrl
L¿¡t¿l (1615) (Traduç:o), 2 vols. Porro: Civìlìzaçáo, 1944,w).2. p.230
"Assim como rÌesres Rcinos de Portugal traz€m a c¡uz no peìro por insígnia da Ordcm e
Cavalaria de C¡is¡o, assim prouve a ele (D. Manuel) que esta terra se descobrisse a tempo
que o ral nornc (Te¡.a de Sanra Cruz) pudesse se¡ dado nestc santo dìa, pois havia de
ser possuída po¡ po¡ruguescs e fica. por herança de patrimônio ao mes¡rado da mesma
Ordem", I'ero de Magalh:es Gandavo, l1;¡lría da Pro¡tinci¿- dc S¡.nt¿ Cr¿z 3t Trø¿rlo d¿
Tcr¡ø do Br'zsjl (c. 1570 c 1576), Sáo Paulo: Obelisco, 1964, p. 26.

143
Rodrigo Ricupero

áreas próximas a esres, exc€çáo feita à conquista do Rio de Janeiro. Na segunda, ini-
ciada em meados da década de 1570, os porrugueses inicia¡am uma rápida expansáo
rerritorial que duraria até meados da década de 1610, quando a ocupaçâo da foz do Rio
.Amazonas, praricamen¡e encerrou a ocupaçáo da Faixa litorânea enr¡e o Pará no No¡¡e
e Sáo Vicente no Sulj.
As oito capiranias originais, ou seja, as consti¡uídas na década de 1530, nas quais
a colonizaçáo deu os primeiros passos, foram os pontos de apoio iniciais para a tarefa
de conquista. Es¡as, con¡udo, sofreram, como vimos, duro golpe na década seguinte,
obrigando a Co¡oa a reforçar sua participaçáo no ptocesso de ocupação do te¡¡itó¡io
com a criaçáo do Governo-geral e a fundaçáo da cidade do Salvador.
De qualquer fo¡ma, náo bastava ocupar os ponros chave da cosra com vilas e
cidades, era necessário criar rìma est¡rltura produriva que susrenrasse o esforço coloni-
zador, ou seja, era necessário que cada vila ou cidade dominasse o ¡er¡i¡ó¡io ci¡cunvizi-
nho e o aproveitasse, notadamente com a agriculrura da cana de açúcar1.
Essa ocupaçáo das re¡ras vizinhas e¡a fundamental, ume vez que, ao permitir
o surgimenro das pÌantaçóes e os primeiros engenhos, incenrivava a vinda de novos
povoadores, ávidos, como os primeiros, por terr¿s e e5cravos, pressionando por novas
conquistas; do conrrá¡io, a incapacidade de mante¡ sob conr¡ole as terras próximas,
afugentava os moradores, que entáo se mudavam para outras capiranias- Dessa manei-
ra, os núcleos urbanos coloniais que náo conseguiram domina¡ plenamenre a regiáo
ci¡cunvizinha e náo desenvolve¡am sua acividade açucareira vegeraram, exemplo disso
sáo as vilas das capitanias de Porro Seguro e Ilhéus, que, depois de um começo dos
mais promisso¡es, náo consegui¡am vence¡ a ¡esistência indígena, acabaram perdendo
o domínio do campo e ¡iye¡am seus ergenhos destruídos, enrrando em completa deca-
déncia e com sua populaçao em declrnio.
Daí a preocupaçáo, ranro an¡es como depois da criaçáo do Goveroo-geral, com a
defesa na escolha do local onde se¡iam erguidos os núcleos urbanos. Optou-se sempre
por fundálos em elevaçóes como, por exemplo, Olinda, Salvador, Sáo Paulo e Rio
de Janeiro - ou em ilhas - como Sáo Vicenre, Santos, Vitória, Irama¡acá -, medidas
defensivas básicas, e sempre que possír,el próximas a bons porros, g¿ranria pe¡manenre
da possibiiidade de ¡eceber a.juda e suprimenros do Reino ou de our¡as parrest.

À conquisra da regiáo dos Campos dos Goìracazes, arual norre flûminense, iniciada por vofta
de 1627 e concluída na década seguinre, pode ser consrde¡ada a úlrima erapa desse morimen
ro. C[ Alberro Lamego. A terra Gaytacá,8 vols. P¿ris e Bmxel¿s: LÉdition d'a¡r e Ni¡e¡ói:
Di¡,ro OÊ<i¿|. I.)lJ. 1i. vol. l. p. J+ (
'.guiaLe\.
Para uma visáo geral das vilas e cidades coloniais, consulre+e Aroldo ð.e Aze.ieëo. Vilas e Ci-
larles do Bru¡il Coloni¡t¿ Sáo Pâulo: FFLCH/USP, 1956 e Nestor GouIartRelsFi|l,o, Euoluçãa
Urban¿ do Brasil. SâoPaLrlo: Pioneira e Edusp, 1968.
Sobre a consrrução em Ìocais elevados, cf. Nesror Goular¡ Reis Fì1ho, O?. cit., p.114.
A formaçáo da elite colonial 245

O caso da cidade do Sah'ado¡ é exempÌar dessa siruaçáo. Após o f¡acasso da


tenta¡iva de colonizaçáo da capirania da Bahia de Todos os Sanros sob conr¡ole do
donatário, F¡ancisco Perei¡a Cou¡inho, e a quase ccmplera aniquilaçáo da presença
portuguesa na regiáo, a Co¡oa, com a criacáo do Governo geral, assumiu a ta¡efa de
ocupacáo, enviando Tomé de Sousa com a missáo de funda¡ uma nova cidade6.
As inst¡ucóes dadas pelo monarca no regimento do governador-geral eram pre,
cisas e demonsr¡avâm com clarezâ a percepçáo que a Coroa tinha da relaçáo entre
ocupaçáo da terra e seu ap¡ov€ìramen.o produtir.'o, em especial com a cana de açúcar.
Sob¡e o iocal a se¡ escolhido, o rei explicava que, dada a conhecida incapacidade
de defesa do local onde ficava a primiriva cerca dos portugueses, þa¡a se faze¡ e assen,
ra¡ a forraleze e povoaçáo que ora ordeno que se faça, (.-.) será necessárìo faze¡-se em
out¡a parte mais para dertro da dira Bahia", e o¡ientava ainda o governador para que
"quando tiverdes pacífica a terra, vejais (...) o lugar que será mais aparelhado para se
fazer a dita fortaleza forte, e que se possa bem defende¡", concluindo com inscrucóes
pormenorizadas sobre as fortificaçóes a serem erguidas;.
Em seguida, no mesmo regimento, o rei o¡ienrava Tomé de Sousa pa¡a "tanto
que tiverdes assenrada a terra para seguramenre se poder aproveirar, dareis de sesmaria
as re¡ras" e, Iogo no item seguinre, "as águas das rìbei¡as que esriverem den¡¡o do diro
re¡mo em que houver disposição para se poderem fazer engenho de açúcar (...) dareis
de sesmaria"s.
O local escolhido foi uma elevaçáo, que seria murada e protegida com baluarres e
peças de artilharia, porém o aproveitamento do entorno náo se efetivou imedia¡amen-
¡e, a resisrêncìa indígena provocou uma série de conflitos que preticemente impediu o
ap¡oveirameûro da regiáo acé o início do gorrcrno de Mem de Sá-
-A falta de informaçóes dos primeiros momentos impede uma maior compreen-
sáo sobre as relaçóes dos portugueses com os índios em torno de Salvador, no tempo
de Tomé de Sousa. Pe¡cebe-se, contudo, uma desconlìança com relaçáo à reaçáo
indígena, daí, nesse momento, praticamente nenhum apror.eitamento des ¡erras em
volta da cidade.
Pouco depois, no governo de D. Dua¡te da Cos¡a, uma maio¡ ocupaçáo das
re¡ras levou ao confliro aberto. Esse governado! numa ca¡ta ao monalca, descreve os
acontecimenros: os índios começaram a guerra com um ataque ao engenho de Antônio

Vèr. entre out¡os, Jheo¿.ora S^mp^io. Históri1z da Fundaç,io d-a Cidade do Salualor. Salvaàor
Benedirina. 1949.
Ver o "Regimento de Tomé de Sousa- de 17 de dezembro de 1548, publicado por Carlos
Malhei¡o Dias (Dir.), Hí'îóia ¿i. Coloníl,¿,ç,to Poútgu.eia ¿lo Brusil,3 rcls. Porto: Litografia
Nacionel, 1922, voi. IIi, p. 345 (Cirada daqui em diante apcnas como H*ória da Colonizaçáo
Portrguesa do Brasil).
Ibidem.
246 Rodrigo Ricupero

Cardoso, pro,.edor-mo¡ da fazenda real, argumentando "que a terra era sua e que lhe
despejassem o engenho"', en¡áo o único na capìrania e queJ ao que parece, reria sido
desr¡uído ou frcado muito arruinado após o ataque, Atacaram ainda out¡os mo¡ado¡es
e assakaram o gado de Garcia D'Ávila, criado de Tomé de Sousa. A ¡esPosra veio com
D. Ál"a.o da Cosra, filho do governador-geral, que após algumas virórias, obrigou os

índios a negociarem um acordo de paz.


Na mesma carra, D. Duarte da Costa aʡmava a utiiidade do conflito, pois "Que-
re¡á Nosso Senhor que (a guerra com os índios) será para os mo¡adores desta cidade
ficarem mais desabafados da sujeiçáo que linham de estarem estes gencios tão pegados
conosco, e lhes ficarem mais cerras para suas roças e criaçóes"t0-
Tal situaçáo, contudo, ainda náo seria completamente resolvida, as guerras pelo
conc¡ole do Recôncavo prosseguiriam até o início do governo de Mem de Sá Este,
posreriormenre, declarou, ¡elembrando a situaçáo ao assumi¡ o governo em i55Z
"achei roda a ce¡¡a de guerrâ, sem os homens ousa¡em fazet suas fazendas senáo
ao redo¡ da cidade, pelo qual viviam aperrados e necessitados Por náo te¡em Peças
(escravos) e desconcen¡es da terra (...), e por o gentio náo querer paz"rros combates
prosseguiram âté a der¡ora dos índios da regiáo. Ab¡iu-se, assim, a possibilidade
de aproveiramento do Recôncavo de Salvador, fato que era comunicado ao lei pelo
governador'r-
O con¡role do inre¡io¡ da Baía de Todos os Santos acabou cc:n a incômoda situ-
ação dos moradores, praricamenre aré enrâo conÊnados dent¡o dos mu¡os da cidade, e
permitiu o inicio da exploraçáo efe¡iva do território, conforme atesta¡am, alguns anos
depois, num documento em favo¡ de Mem de Sá, os vários depoentes. Joáo de Araújo,
cavaleiro 1ìdalgo da casa do rei, afi¡mou que "as rendas (reais) rendiam muito pouco
em r.irtude das guerras e por náo haver engenhos nem ourras lavouras- E que depois se
fizeram muitos engenhos de água e de trapiche, e se lav¡a¡am muiro aÌgodão e outras
novidades", informaçáo que Francisco de Moa¡es, também cavalei¡o da Casa dtl-rei
e antigo escriváo, complementava, ao afirmar que as rendas eram baixas porque "náo
havia (engenhos e fazendas) por náo ousarem de fazer e agora os moradores estáo longe
da cidade c fazem muiras f¿zend¿' ''.

"Cana de D. Duarre da Cos¡a a el-rer" de 10 de junho dc 1555, publicada ¡a Hís¡óti¿¿ d¿


Colonizaçno Portug,.esa do Br¡vl, vol.III, o- 377.

'lnsrrumenros de Mem dc Sá" de 7 de sercmbro de 1570, publicados nos Anøí: d¿ Bíbliotcca


Nacional, rcL27, p. 129 e p. t3t.
"Carra de Mem de Sá para el-rei" de 31 de março de 1560, publicadas oos Ar¿i¡ da Bibliatna
Naùonal, vol- 27, p.227.
Veja-se o ciudo "lnscrumencos dc Mem de Sá", p. 129 e p. lii.
A formacão d,¡ elire coloni,¡l t+t

As vitórias obtidas po¡ D. Duarre da Costa e Mem de Sá náo conseguiram abalar


definitivamen¡e a resistência indígena, apenas empu¡ra¡em a fronteira militar um pou-
co adiante, manrendo o estado la¡ente de beligerância ainda por muito tempo- Con-
tudo, fo¡am suficientes para permitir que as terras do Recôncarrc fossem eferivamenre
doadas e, em grande medida, ocupadas.
Analisando as cafias de sesmarias conhecidas, Felisbelo Freire apontava as á¡eas
do Recôncavo que foram sendo paulatinamenre incorporadas ao domínio porcuguês,
começando pela regiáo do Rio Paraguaçu. ¡Wanderley Pinho, seguindo a mesma linha,
apontaria três áreas de conquista sucessivas, a primeira do Rio Paraguaçu até o Rio
Jaguaripe, a segunda do Paraguaçu até o Rio Sergipe e a terceira a regiáo enrre Pirajá
e Ma¡uim- Para este autor, contudo, náo foram as peculiaridades geográficas ou as ba-
cias hidrográficas que "determinaram, ou melhor, permitiram a penetrâçáo; foram os
sucessos polícico-milica¡es na luta ou convivência com o gentio (...) onde este cedeu, e

quando cedeu, enr¡ou o colono, concedeu-se a sesmaria que estabilizou a propriedade


e disciplinou o desbravamento", enfrm foi a guerra "que rracou as primeiras linhas da
ocupaçáo"rr, permitindo que Mem de Sá decla¡asse ao ¡ei: 'A cidade (de Salvador) vai
em mr¡ito crescimenro e com esras terras que se agora sujeìtaram se podia fazer um
Reino só ao ¡edo¡ da baía"rt.
Assrm, menos de 30 anos depois da fundaçáo da cidade do Salvado¡, o esc¡iváo
Francisco de Araújo deu, ao procurador de Miguel de Mou¡a, "fé que as rer¡as codas
da Costa desta Bahia e rios e recôncavos dela eram já dadas"'6. Obrigando que o pro-
cu¡ado¡ Cristór'áo B¡andáo só conseguisse eferivar a doaçáo de 12 léguas ao aceit¿¡
dividi-la em três pa¡tes, duas em áreâs devolutas por não te¡em sido aproveitadas pelos
seus proprietárìos um deles, aliás era o falecido Esrácio de Sá, que havia recebido as
suas do tio Mem de Sá; o out¡o e¡a Luís dA¡mas, mais um dos companheiros de Mem
de Sá na conquista do Rio de JaneirorT - e outra para os lados da furura Sergipe d'el-rei,
á¡ea ainda nâo incorporada completamente ao domínio porcuguês.

Felisf,elo Flejre, Histórid ll'erritorl¿l do Brazil (1906),2" ed. fac¡ìmilar. Sal.'ador, Gove¡no
do Esrado, 1998, p. 16 e seguinres e Vand er\e1. Pinho. Hisairia dc an engcnho do recòncaw
2'ed. acrescida de um apêndice. Sáo PauLo: Companhia Editora Nacional, 1982, p 42.
"Carra de Mem de Sá para ei-rei' de 3l de março de 1560, pubiicada nos ln¿is ¿n Bibliotcc¿1
Na r ío n a /, rcI. 27, p. 227.
"Registro da carta de Mìguel de Mou¡a" de 1578 que consta do "Título onde se resgìstrm
rodas âs cerridóes em forma, que o provedor-mor passa. e outras do senlco d'el_reì Nosso
Senhoi', publicado na coleçáo Daatmentos Hi\ttilicos, 1Ì0 vols Rio de Janeiro: Brblroteca
Nacronal, 1928-55, vol. 14, p. 455.
Luís d,{rmas, serviu por quer¡o ânos e meio como tcsoureiro da Fazenda ¡eal cm Salvador e
foi rambém ouvjdor no Rio de Janeiro nos primciros anos da cidade. ¡e¡ornando no início da
década seguinre para a Bahia, mas, ao que parece, náo apror
cìrado "Insrrumenros de Mem de Sá", p. 172 e "Sentenca dada na Bahia, em 1576. pelo Go'
248 Rodrigo Ricupero

A. Capitania daBahia

O ¡esul¡ado concreto da ocupaçáo porruguesa no ¡ecôncavo da Bahiâ de Todos


os Sanros pode ser vis¡o no T¡atado Descritìao dø Brasil de 1587'3, no qual Gabriel So-
ares de Sousa apresenta uma descriçáo pormenorizada da Capirania da Bahia, em par-
¡icula¡ do Recôncavo. Desc¡evendo o esrado de ocupaçáo da regiáo, desde o no¡te da
cidade de Salvado¡, dando a volra pelo recôncavo, até o norte da Capicania de llhéus,
incluindo ainda as dive¡sas ilhas da baía.
Gabriel Soa¡es de Sousa ofe¡eceu mui¡o mais do que uma mera descriçáo geográ-
fica, pois apresentou uma aprofundada descriçâo do Recôncavo, com o regìsrro das ati-
vidades econômicas instaladas, rais como: engenhos, casas de meles, fazendas, cu¡rais,
olarias etc. .A.lém disso, indicou as possibilidades furu¡as e as dificuldades encont¡adas,
como a ausência de interesse de grande propriecários em permirir a exploraçáo de suas
terras, a cobrança de foros pelo uso da água das ribeiras¡e, os conticos provocados por
de¡erminadas concessóes de ¡e¡¡a20 ou mesmo a luta pela posse de uma ribeira que
permiriria a construçáo de um engenho reaFr.
Des¡aca-se o detalhamenro que os 36 engenhos baianos recebem, pois, mais do
que uma árida lista de engenhos, o euror nos oferece detalhes preciosos que váo desde
a força-motriz utilizada - água ou bois até a solidez das consrruçóes.
Tais dados, somados aos 62 nomes de proprietários ou antigos proprierários, ain-
da vivos ou falecidos, incluindo ai 35 donos de engenhos, alguns com mais de uma
propriedade ou engenho, fo¡necem-nos valioso ¡et¡ato da ocupaçáo fundiária do Re-
côncavo de Salvador, quase quarenta anos após a chegada de Tomé de Sousa e menos
de rrinra depois da conquisca da regiåo.
Mesmo sem levar em conta o Conde da Castanhei¡a e o Conde de Linha¡es,
grandes do Reino, que nunca coloca¡am os pés em solo baiano, os dados biográficos

vernado¡ Luís de B¡iro de -A.lmeida e pelo Ouvidor Geral Sebasriáo Alvcs, em recurso n¿ açáo
criminal movida conrra Jorge da Mota" de ti de novembro de 1583, publicado por Anrônio
Prado (Ed.). Ardens e Ill, p. 122
Proaizoens Rea1s. Rro deJaneìro: Jornal do Brasil, 1928,
Gabriel Soa¡es de Sous^. Tratd¿o l¿sctiti"o da Brusil ¿n 1587 j" ed. S:o Paulo, Companhia
Ëdirora \¿cional. lq8-. p. l4J e seguinre,.
O caso do Conde de Linhares que por "náo a querer vender ou aforar" certa parcela de rerra
impedìa a consrrucáo de até dois engenhos ou a exigência do pagamento de 29o de foro pelo
uso de dererminados de D. Álvaro da Cosra, o que impedia, pâra o auror, â

construçáo de outros ranrcs er'genhas. Ibiden, p. 153 e 157.


Como a Ìura da Câma¡a de Salvador conrra a doacáo da ilha de kaparica ao Conde de Casta,
nhetra. Ibíden, p. r42.
Nesse caso, o autor fala no lirígio pela posse de uma rìbeira, mas náo nomeia os envolvidos.
lbi¿¿n, P. r50.
A fo¡¡nacão da elire colonial 249

dos principals prop¡ietários do Recôncavo aponrados por Gabriel Soa¡es de Sousa ex-
póem a ligacáo ent¡e te¡ r¡m cargo na adminisrracáo colonial ou esrar inrimàm€nre
ligado a algum decento¡ de um cârgo e a consriruicáo de um patrimônio, como nos
revela, seguindo o trajero do autor, uma voha pelo Recôncavo, por r.olta de 1587rr.
Acompanhando o trajero deste aurot parrindo pela regiáo ao norte da cidade
e seguindo o sen¡ido anri-horário enconrramos em primeiro luear as propriedades
Cristóváo .Aguiar de Ahe¡o e de Ga¡cia D'Âila. O primeiro era proprietário de uma
fazenda na regiáo entre Paripe e Maruim e esrava const¡uindo um engenho de água
em Tapagipe, que, por ser próximo à cidade, Gabriel Soa¡es de Sousa ac¡edirava não
ser proveitoso. Capitáo-mor de Sáo Vcenre ent¡e 1543 e 1545. Crìstóvão Aguiar
de Alte¡o ¡e¡o¡nou ao Reino e de lá voliou com Tomé de Sousa em 1548, sendo o
primeiro a ocupar o posro de almoxarife dos a¡mazéns e man¡imenros da Bahia,j,
foi ainda muito ligado ao grupo do 2' Gove¡nado¡-geral, D. Duarre da Cos¡a e seu
filho Áh'a¡o da Cosrarl.
Garcia D'Ávila, o fundado¡ da Casa da To¡¡e, maior lacifúndio do período co,
lonial, quase dispensa apreserracóes- Na descriçáo do Recôncavo. apa¡ece como p¡o,
prierário de olarias e de um curral em Tapagipe; conrudo, ourras propriedades suas sáo
ciradas em momentos dirersos da ob¡a de Gab¡iel Soa¡es de Sousa. C¡iado de Tomé de
Sousa, Garcìa D'Ávila foi o primeiro feito¡ e aimoxa¡ife de Salvado¡rt.
Avançando para o Norre, na regiáo de Pìrajá, enconrramos o engenho de água
de Diog;o da Rocha de Sá, que, segundo nosso guia, e¡a "muito o¡nado de edifícios".

Nos próximos parágrafos, sahrc ourra indìcaçáo, as jnformâçóes sáo ft¡necìdas por Gabriel
Soares de Sousa. 1óll-¿m, p. 143 - 16\.

Ci F¡ancìsco cie,{ssis Ca¡valho F¡anco, Os Capìtães-nares uiæzrnzas. Sáo Paulo: Departa-


mento de Cul¡u¡a, 1940 (Separara da Revìsra do Arqunrc Municrpal), p. 33 e "Pro.imcnco
de Crisróváo de Âguia¡" de 10 de dezembro de 1t48. Arquivo Nâcional da To¡¡e do Tombo,
Chancelaria de D. Joáo I1I, Doacóes, Ofícios e Me¡cês, Ln'¡o 55, fr,. 1,17.

É eÌog;ado numa carra de D. Duarre da Costa ao rei, mâs já numa escrira pelo grupo hosril ao
qo"ernador-geral, or: seja, o grupo ligado ao Bispo lero Fernandes era cirado como não me-
rececio¡ de crédiro. Cl
"Ca¡ra de D. Duane da Cos¡a a el-¡ei, dando lhe conta da gt'erra, que
o genrio fazia a cidade do salrador" de 10 de junho de 1555 e "Car¡a dos o6ciais da Câma¡a
da cìdade do Salvadoi' ¿e 18 de dezemb¡o de 1556, pubiicadas îa Hist/jriá ¿ã Colonízaçáo
?ortugu.esa da Brasil,.o1. III. p. 377 e p. 381.
"Traslado da provisáo de fe;¡o¡ e almoxarìle desra cidade do Salvador e da alfancÌega dela, que
proveu o senhor gover¡ador (Tomé de Sousa)" de 1' de junho de 1549. que consra do "Ln ro
1'do regisrro de provimenros seculares e eclesìás¡icos da cidade da Bahra e terras do Brasil",
jniciado em 1549 e publicado na colecâo Docurnentos Hi¡t,jritos, Op. rít., rcls 35 e 36. O
documento ci¡¿do ercolrra+e no vol. 35, p. 34. Ve¡ também Ped¡o Ca.lmon, Hist¡jria da Cøsø
da Torre. Rio de laneiro: José Oli'mpio, 1958 ou Luiz AÌber¡o Moniz Bendejra, O Feu/0. Ria
de Janeìro: Cn'ilizacáo Brasileira, 2000.
?i0 Rodrieo Ricuoero

Es¡e era sob¡inho de Mem de 5á'6 e casado com a i¡má do alcaide-mor de Salvador,
Henrique Muniz Barreto:i; seu i¡máo, Maouel de Sá de Soto Maior, era provedor da
lazenda da Bahiars. Na mesma região, Joáo de Barros Cardoso, parenre, ou muito
provavelmente {ìlho, do provedor-mor Cristóváo de Barros, tinha um engenho de água
muito bem montado29.
Ainda em Pira.já, o mercador e lav¡ado¡ -Antônio Nunes Reimáo' possivelmente
flamengo, era proprietário de uma casa de meles. P¡óximo dele, Simáo rla Cama de
Andrade, que veio para a Bahia como capitáo da a¡mada real de 1550 e acabou frcando,
era proprietário de um engenho de águaio. Na regiáo encre Pirajá e Macuim, Antônio
de Oliveira Ca¡valhal, cavaleiro fidalgo, possuía uma fazenda, onde Posreriotmenle
ergueria um engenho. Este rambém veio para o Brasil como capitáo da armada real que
aporrou em 1551. Segundo Gab¡iel Soares de Sousa, era Aicaide-mor de Vila Velha e
sua Êlha casou com Duarte Muniz Barreto, Alcaide-mo¡ de Sal,'ado¡ir.
Seguindo agora para o norte, em Paripe, Francisco de Äguilar, "homem prin-
cipai", que fora rendeiro do açúcar em 1560, juntamente com Heito¡ Antunes, cinha
um engenho de bois "muito bem acabado"i2- Na mesma ¡egiáo, o desconhecido Vasco
Rodrigues Lobato era proprietário de ourro engenho de bois

26 É designado rambém como criado de Men de Sá, quando serviu como testemunha na doaçáo
de cerras do governador para a Companhia de Jesus. Cf. "Sesma¡ia do Camamu doada pelo
Gove¡nador Mem de Sá ao Colégio da Bahia" de 27 dejaneiro de 1563, publicada por SeraÂn
Leite (Sl). Cartat do: pritLeirosjesuitas zla Brasl, 3 vols. Sáo Paulo: Comissâo do 1V cen.enârio
da cidade de Sáo Pauio, 1954, r,ol. lII, p. 522
V/anderley Prnho, Testamen¡o de þlern /r Sl. Rio de Janeiro: Imprensa NâcionaÌ, 1941, P.
68, 88 e 90 e Frei ,\n¡ônro de Sanra Maria Jaboatáo, "Catálogo genealógico das principais
famílias ..." (Século XVIII), pubÌicado na Reazita do Inçìnoa Histô¡ica e Geogrtífco Bru:ikiro,
tomo 52, p.38/+.
28 Posceriormen¡e \fanuel de Sá de Soro Maio¡ também serviu como Provedor-mo¡
29 Essa rambém é r opiniáo Caimon (Eà.), Catálogo genealógíco ¿4t Prin,:iPã^ f,1mi/iã',
de Pedro
2 vols. Salvador: Emprcsa Grálìca da Bahia, 198i, p. 121 (Trata-se de uma reediçâo áo Cattl'
logo g'neal,igico de ket la6oatâa).

Simáo da Gama de Andrade ainda serviu como vereador em 1556 e ioi um grande apoiador
do cr¡baÌho de convcrsáo dos índios, desenvolvido pelos jesuítas. F¡ei \¡ìcenre do Salvador,
Hîtóría do Brasil(1627). 5" ed. Sáo Paulo: Melhoramentos, 1965, p. 163 e Àffonso Ruy, .llgd-
rtu ¿i Cånara Manícip¡.lda cídaìe do Saluador Salvador: Câma¡a Municipal, 1953, p. 342
"Con6rmaçáo de Duane Muniz Ba¡rero como alcarde-mo¡" de 16 de janeiro de 1573, .A.r<¡ui'
vo Nacional da'lbrre do Tombo, Chancelaria de D. Sebas¡ìáo e D. Hcnnque, Doaçóes, Livro
29, fl. 14j. Ver rambém Frei Jaboaráo, Op. ctt., p. 199 e EreìYicenre do Salvado¡ O2. rh, p.
),63.
'Àssenramenros das dignidades, cônegos, meios cônegos, capeláes e moços de coro" de 14 de
serembro de 1559, que consra do cirado 'Liv¡o 1' do regisrro de provinenros ...", pubhcado na
coleçâo Documento: Histórico', Op. cít., !o1.36, p. 93 em ûoÉ mârginal de 1j60. Era casado
A fo¡macáo da elire colonia] 2.51

Avancando para Maruim, Bakasa¡ Pe¡ei¡a, moco de Câmara de Sua Majesrade


e mercador, possuía um engenho de água, comprado de Afonso Torres, mercador de
grosso trato de Lisboail; Bal¡asa¡ Pe¡ei¡a e¡a casado com ou¡ra ñlha do Alcaide-mor
Antônio Oliveira Ca¡valhal. Bahasa¡ Pereirâ, posreriormenre, vendeu o engenho para
Àntônio Vaz, que foi propriecário dos ofícios de porreiro da Alfändega, Fazenda e
Contos e "guarda dos liv¡os deles"ia.
Em Matuim, Francìsco de Barbuda, antigo esc¡iváo dos feiros da Fazenda Real,
possuía uma fazenda em Maruim¡t e Gaspar Dias Barbosa era dono de um engenho de
bois dc duas moendas, "peca de muiro preço", segundo Gab¡iel Soa¡es de Sousa, além
de uma ilha na regiáo do rio Paraguaçui6. Este engenho seria comp¡ado posreriormenre
por Baltasar Ferraz, desembargador na Relacáo que, naquele momen¡o, rambém ocu-
pa\a o posto de provedor-mor da Fazendaji.
Avancando um pouco mais, encon¡ramos Sebastião da Pon¡e, cunhado de Simáo
da Gama de A.nd¡ade e possuidor de dois engenhos, um em Cotegipe, "muito adorna-
do de edifícios mui aperfeiçoados", e outro no ¡io Una. além de um cu¡¡al no mesmo
¡io- Sebastiáo da Ponre fica¡ia conhecido em vi¡cude de te¡ sido mandado preso para
l,isboa por ter mandado fe¡¡a¡ um homem b¡ancois-

DAr'ìla. Ct Frei Jaboaúo, Op. cit.,87.


Ansclmo de Braamcamp Freire. Brcsóes da sala de Stn¡ra.3 .lrcls. L:¡,sboa: lmprensa NacionaL
. C¿.: d¿ Voed¿. lolú !ol. I p. 482 e.eguinre..

Ibiàern, p.l,9I c220."P¡ovimcnto de Luís Cabral como porreìro da Aìfândega" de 1t de maio


de ì609, Arquivo Nacionalda Tor¡e do Tombo, Chancelaria de Filipe II, Doaçócs, Livro 26.
fl. 54 r'. Anrônio Vaz arnda serriu como ju;z ordinário em 159j e a¡rcndou o contraro do
dízimo da capitania de Sergipe em i602, ano cm quc obtc'e uma sesmaria ali. "Posse de uns
cháos do colégìo junro a fonre do Pe¡ei¡a ..." de 7 de fevereiro de 159i, que consta do "Livro do
Tombo das Terras perrencentes à Igreja de Santo Antáo da Companhia de Jesus", publicado
nos Docamentos Histtíricos, Op. cít., l,c.ls.62,63 e 64. O documenro citado cncon¡ra-sc no vol.
64, p. 42 e seguinres e "Car¡a de Sesma¡ia de Antônio Vaz" de 6 de julho de 1602, publìcada
por Felisbelo Freire, ,421tóría de Sngìpz 2^ eå., Perrópolis: Vozes, 1977, P. 374.
"T¡aslado d¿ ca¡ra de olícìo dc cscriváo da fazenda de Manuel de Oli.cira llendonça" de 17
de agosio de 1559, que consra do "Livro 1'do regisrro dc pror-rmentos ... ", publicado nos
Doc¡tmcnto¡ Históricos, Ap. crt., rcL36. p.32. Frei laboatáo. O?. cir., P. 12i.
Regisrre-se rambém qLre o enreado de Gaspar Dias Barbosa e¡a Onofre Pìnheiro, que foì
escriváo das sesmarias da Bahia.
37 "Nomeaçáo de Bakasar Ferraz como desembargador ext¡avasante do Brasil" de 10 de de-
zembro de 1i37 e "ConÊrmaçâo de compra de um engcnho por Baltasar Ferraz" de 28 dc
setemb¡o de 1613, Arquivo Nacionaì da To¡¡e do Tombo, respectn'amenrc, Chancelaria de
FiÌipe I. Doaçóes, Livro 16, fl. 153 v e Chancelaria de Filipe II. Doaçóes, Livro 29, fl. 243 r'
Vcr entre ontros, Si1r,a Campos, Crônîa d-a Capítania de Sâo Jorge àas llhlzs. Rio de Janeiro:
MEC, i981, p.71.
)11 Kôdflso KrcrrDero

P¡óximo dali, pelo rio Cotegipe abaixo, Jorge de MagaÌhães, fìdalgo, que fora
ouvido¡ da Bahja e oûciai da Câma¡a em 1589, e¡a dono de uma IIha "mui fò¡mosa
por estar roda lavrada de canaviais", onde cons¡¡uí¡a "nob¡es casas ce¡cadas de la-
ranjeiras arruadas e ourras árvores, coisa muito para se ver", nas palavras de Cab¡iel
Soares de Sousar'.
Rero¡nando Maruim, enconcramos Sebastiáo de Faria, dono de dois engenhos.
a

O primeiro deles é o fàmoso engenho Freguesia, estudado por \landerley Pinho, e


que, Gabriel Soa¡es de Sousa, qualifrcava como um "soberbo engenho de água"'r. O
ourro, próximo dali, era, segundo nosso guia, "de duas moendas que lavram com bois",
com uma 'formosa lgreja de Nossa Senho¡a da Piedade". O pai, Sebastião Álvares,
cavaleiro da casa real, foi esc¡iváo da Fazenda na maior parte da década de 1i50, ¡endo
sido nomeado depois escriváo do Tesouro, no fìnaÌ de 1i60, por Mem de Sá, como re-
compensa dos serviços prescados na conquista do Rio de Janei¡oat "
tr. O filho ¡ambém
desempenhou dive¡sas ta¡efas milicares e de conquisra: capiráo-mor de uma f¡ota de
cinco barcos que defenderam o recôncavo contrâ piraras ingleses ern 1i87 e chefe da
retaguarda da expediçáo de conquisra de Sergipe dirigida por C¡isróráo de Ba¡¡os em
Ì589ir. Sebasriáo de Faria e¡a casado com Bea¡riz Àntunes, filha de Heico¡ Antunes,
cavaleiro da casa real, ligado a Mem de Sá e rendeilo do açúcar- A Êlha deles casou
com Berna¡do Pimen¡el de.A.lmeida, sob¡inho do 4" Gove¡nador-ge¡al, Luís de B¡i¡o
de Almeidarì-

"Servrços <io govemador-geral Dìogo Borelho" de 8 de lèverei¡o de i608, publcado na Raalsrø


do lasrixuo Hi:tórno e Geognlfco Brasileiro, tomo 73, p. 190 e Åffonso Ruy', Op. ø. p. 3t-8.
40 \X/anderley Prnho, 1/lrtória ìe ur,z eqetha do recôncauo, Op. cìr., p. 42.
4r Foi ainda enr,iado ao Reìno como capiráo de uma ca¡avela em I5j5 e se¡r.iu como r.e¡eador
em 1562. Cl. "Traslado da carra de Sebasriáo Álva¡es esc¡ìváo da Fezenda" de 21 de agosro de
1j54 e "P¡ovisáo de Seb¡sriao Álvarcs cie escriváo do tesouro" de 04 de ourubro de 1160 que
consram do "Lrvro primeiro dc registro de provimencos ...", pubìicado coleçio DacuTn./trar
^^
Hislóttcoi, rcspe.i\-amerLrc, Ap. dt., \ol. ai, p. 231 e vo1. 36, p. t 32; "lnsr¡umenros de N'Iem
de Sá" de 7 de sercnrbro de 1í70, pu['Lcados los An¿ts d¿ Bibliateca N¿cíaaal, rol. 27, p. I48
c ÀFonso Ru¡ Ol, .it., p. 347.

Possivelmen¡e ¡ambén ¡e¡rha servido como ouvidor geraÌ em lìns da década de i570. Cl.
"Scnrença dada na Bahia. em 1576. pelo Gove¡nador Luiz de Bruo de.{Lmeicla e pclo Ouvi-
dor Ge¡al Seb¿srráo Ái1'âres, em ¡ecri.so na acáo crìminal movida conrraJorge da trfora" de 13
de novemb¡o de 1583, prblicada por Ân ô^io P:aáo Jr., em A¿en: r Pnrizoens Real:. Rto à<
Janetro: Jornal do Brasii, 1928. III, p. 127 e "Processo de Gaspar Rodrigucs" (159.3). À¡qu!\rc
Nacional da To¡rc do l'ombo, lnquisiçáo de Lisboa, 11061.
43 Frei \¡ìcenre do Salvador , Op. cit., p. 30t) e 301.
44 Frei Jaboaráo, Op. ot., p. 1A7. Este foi capitáo de uma f¡ora de socor¡o a Paraíb¿ c¡¡ li73 e
vereador en ii92. CL
F¡ancisco Adollò de \¡arnhagen. Hírtória g,:ral do tsru:í|,5'ed. 5 vols.
Sáo Paulo: \lclho¡amentos: 1956, vol. l, p. 362 e Àffonso Ruy, Op. cí'., p. a43.
A formacáo da elire colonial 253

Na mesma ¡egiáo, Nuno Fernandes possuía uma ilha e Jorge Anrunes um enge-
nho de bois "mui pet¡echado de edifícios de casas", Os dois, filhos de Heitor Antunes,
eram irmãos da esposa de Sebastiáo de Faria, o que conferia a ambas as família imenso
pode¡ na ¡egiáo,ponto de se¡em conhecidos como a "gente de Matuim"lt.
a
Adian¡e, em Mataripe, Gab¡iel Soa¡es de Sousa cita dois antigos prcpriecários,
sem, contrido, nomear os no\as. O primeiro e¡a Deáo da Sé, possivelmenre Pero do
Campo, descendente do primeiro donatá¡io de Porto Seguro, que rinha sido dono de
uma fazenda em Mataripe. O out¡o era Ped¡o Fernandes, anrigo proprietário de uma
ilha com roças e canaviais, esre lora escrir'áo dos Con¡os em Salvador após 1555, rendo
provavelmente exe¡cido cargos diversos em outms capiranias{6.
Avançando mais um pouco, enconr¡amos o "formoso engenho de bois" de C¡is-
tóvâo de Ba¡¡os em Jacarecanga, "onde esrá tudo povoado de fazendas e lar'¡ado de
canaviais". Uma das mais imporrantes figuras do período, fìlho de Antônio Ca¡doso
de Barros, donatá¡io de cinqüenta léguas na chamada Cosra lesre-oeste e primeiro
provedor-mo¡. Veio como soldado para a Bahia nos primeiros anos da cidade, posre-
¡io¡men¡e foi capitáo-mor da frota gue veio do Reino em 1566 em auxílio dos funda-
do¡es do Rio de Janeiro, go*'ernador do Rio de Janeiro de 1572 até pelo menos 1575,
provedor-moi, como o pai, a pa¡dr de 1578, comandou a conquista de Sergipe em
1589, participou do Governo-geral interino ent¡e i587 e i591. Gab¡iel Soa¡es de Sousa
¡efe¡e-se somente ao seu engenho, mas tinha out¡as p¡opriedadesa:.
Ainda em Jacarecanga, o desconhecido Tristáo Rodrigues era dono de um en-
genho de bois e Luís Gonçalves Varejáo era dono de outro, também de traçáo animal,

Prímeira Visítaçtia do Santo Ofítio às Partes lo Brasil- Canfs:,is da BnLtû (\i91 92),2' e¿.
Rìo deJaneiro: Sociedade Capistrano de,Abreu. i935, p. 132 (daqul cm diante apenas Ca;rþ-
sóes d¿ Bahir).
Possivelmenre rambém renha enercido os olícios de escrir-áo no Rio dc Janeiro e cie escrii áo
da a¡mada em meados da década de 1560. Dado que o esctn-áo do Rio cie Janeiro rambém
seinriruLâra escri\'áo da armada e, como esse posto deve.ia ser Prorido em Salvador. e ¡ruiro
possír.el que seja a mesma pessoa. "TrasÌado da ca¡ta de Pero Fernandcs esc¡iváo dos con¡os"
de l5 de ourubro dc 1554, que consra do "Livro 1'do registro dc provinrentos ". pubÌicado
n^ colecáo Dacariento: Hi:t,trins. O?. cit., wl. 35, p 233 e Elvsio de Oliveira Belchior. C¿z-
qnistadorcs e Poroadares do Rio deJanen'o.Rrc àeJanciro: l-ìvraria Brasiliana, 1965, p. 201.
Ocu¡o.r ainda o posto de provedor da Santa Casa de Nlisericórdia da Bahìa e possuiu ourras
propriedades na Bahia, em Sergìpe e no Rro de Janeiro, onde te.-e tm engenho, além de ter
recebido aurorizaçáo pâre enviâr ce¡¡a quantidade de pau-brasil para o Rcino. Frei Vìcenie do
Salvador, O¡. ctt., passin. El,"-sto deOliveira Belchior. OP. .l¿. p. 77 FeLisbelo Frcirc, OP. cìt ,
p. 84- Joaquim Veríssimo Scrráo, a Ria le Janeìro no século XVI,2 vols. Lisboa: Comrssáo
N¡cjonal das Comemor?.çóes l.:).1965, Passìn Russel-'Vood, F:7algas e Filartropas. Brasilia:
1,N8, i981. p.295.
254 Rodrigo Ricupero

esre foi vereador em Salvado¡¡s. Rumando ao norte, Tomás Alegre era proprietário de
um "fo¡moso" engenho de água no rio Pitanga. Änrigo feico¡ de Lucas Gi¡aldes em
Ilhéusi', e¡a velho conhecido de Mem de Sá, ¡endo sido ¡estemunha de um processo
em que o governado¡, ainda no Reino, advogava em favo¡ de Lucas Giraldes5o.
No mesmo rio Pitanga, Ma¡cos da Cosca, que viria a ser juiz ordinário em 1614
e 1621, possuía uma casa de melestr, perto dali, enconrramos o eogenho "mui o¡nados
de edifícios" de Miguel Baris¡a, este, provavelmente, ¡ambém me¡cado¡, mantinha
relaçóes comerciais com Mem de Sá, inclusive no tempo em que o governador esreve
no Rio de Janeiro'i.
Seguido para Mataripe, André Mon¡ei¡o, antigo feiror do engenho de Mem de
Sá, possuía uma "fo¡mosa" fazenda e o desconhecido João Adriáo era proprietário de
uma casa de meles. P¡óximo dali, no Caípe, Marrim de Carvalho e¡a dono de um
engenho de bois "de duas moendas, peça de muira esrima", nas palavras de Gabriei
Soa¡es de Sousa. Esre loi se¡canis¡a em Porro Seguro por volta de 1567, depois, por
casar com a filha de Fe¡náo Vaz da Cos¡al1 e de Luísa Do¡ia, c¡iada da Rainha, foi no-
meado resou¡eiro em i572, depois disso pa(sou â ocupar imporrances cargos: provedor
da Bahia em 1584, provedor em Pe¡nambuco em 158i, provedor da Armada de Diego
Flores que foi à Paraíba em 1j84, além de encarregado de our¡as rarefas ¡elacionadas
à Fazenda Realir.

FreìJabo:.ráo, O¿. rlr., p.478. Segundo Pedro Calnon, chamava-se Diniz Goncaives \¡arejáo.
Ct. Pedro Calmon (Eð,.), Catálogo genealógico las prinàpais þníliaJ, O?. cìt., p.772.
Frei Vicente conra que Lucas Giraldes, cansado de o feitor mandar pouco açúcar, escrer-eu a esse
"-Ihomazo, quicre que te diga, manda la asuc¡e deixa ìa parolle, e assinou sem escrever
mais lerra" (man¡ida aquì a gralìa original). F¡ei Viccnre do Salvador, Op. ùt., p. t23.
"Cana do Pad¡e Rui Pe¡eira aos Padres e I¡máos de Porrugal" de 6 de abul de 1561, publicada
por Sereiìm Lcitc (SJ). Cattas dos primeira: je:uhas do Bra:í/, Op. ch.,voi. Iil, p. 328; "ln\ en!.Ìrio
do engenho de Sergipe para enrrega pelo rendeiro judicial ao procurado¡ dos he¡deiros'' dc i576
e "Cc¡ridáo de díridas que se pagarrm por nìorre de Mem de Sá", ptblìc:Låos em Docu¡nentos
parø a Hisúria r:1o Açúmr, J vols. Rio de Janerro: iAÀ, 1956, vol. III, rcspecrivamenre, p. 360 e
446 e "Ca¡ra de conlì¡maçáo de sesmaria de Lucas Giraldei' de 19 de setembro de 1556. Àrqui-
vo NacionaÌ da Torre do Tombo, ChanceLa¡ia de D. Joáo IIl, Doaçócs, Liv¡o 65, fl. 176.

S.lluzdoL (1536'\732). Sat-ador: Benedìrina, t945. p. r08 Lito prìneirc y'o Goueno do Ùrc,-

rl1 Rio de Janeiro: Minisrério das Relaçócs Exrcrìores, 1958, p. 374 e Líuro 2 do Gouerno do
B¡¿rt¿ Lisboe: CNCDP e S:o Paulo: \{useu PauLsta,2001, p. 176.
Ct "lnvenrário que se fez da fazenda quc veio do Reino do governador Mem de Sá ..," de 1578,
pt$Iicado em Docunentos para a Hisúría lo Açzicar, Ap cit., .tol IIL, p. 296 en¡¡e ou¡ras.
53 Ësre, além de exercer diversos cargos, era sobrrnho do governador-ge¡al D. Duar¡e da Cosra.
54 Pero de Magalhães Ga ndavo, Ap. clt., p. 94; " P¡ovimen¡o de Mar¡im de Carvalho" de t5 de
novemb¡o de 1í72, Arquivo Nacional da To¡¡e do Tombo, Chancelaria de D. Sebasciáo e D.
Henrrque, Doaçóes, Livro 30, fl. lt6t Irineu FerreinPinto. D¿¡z¡ ¿ Notas pø.ø. a Hísróritt la
A formaçáo da elite colonial 255

P¡óximo daii, And¡é Fernandes Margalho possuía uma ilha e um engenho de


bois, "fazenda muito grossa de escravos e canaviais", herdada de seu pai. Sabemos ape-
nas que comandou um barco no combace contra os ingleses na Bahia em 1587tt-
Deslocando-se para oeste, erconrramos na regiáo do Paranamerim o engenho de
bois "mui¡o bem acabado" de,Ancônio da Cosra. Cavaleiro fidalgo. Este foi capitáo, a
partir de i550, de um bergarim que corria a cosra do B¡asil sob as ordens de Tomé de
Sousa, também foi capiráo de um navio nas expediçóes de Mem de Sá em 1560 e de
Esrácio de Sá em 1563, ambas para o Rio de Janeiro i¡- Embo¡a também tenha ¡ece-
bido uma das primeiras sesmarias no Rio de Janeiro, que parece náo ter aproveitado,
voltou para Salvado¡, onde ainda se¡ia ve¡eado¡ em 1580, era proprierá¡io ainda de
duas ilhast7.
Na mesma regiáo, Belchior Dias Po¡calho era dono de um engenho de bois. A
con6ssáo da esposa perante a visitaçáo de 1591, con¡udo, náo nos ajuda a obter maiores
informaçóesis. P¡óximo dalì, Vicente Monteiro, era proprietário de uma ilha "toda Ia-
vrada com uma fo¡mosa fazenda". Criado de Mem de Sá, de quem foi o testamenteiro
no B¡asil, ¡ecebeu do governador cem mil ¡eis peios serviços prestadoste, além disso,
ocupou postos na administraçáo colonial, ¡endo sido tesoureiro e esc¡iváo diante do
governador-geral6o.
Continuando nossa volta, clregamos do rio Sergipe, já nesse mornento
às te¡¡as
propriedade do Conde de Linhares, que, por casa¡ com a Êlha de Mem de Sá, acabou
he¡dando-as, dai a regiáo ce¡ ficado conhecida como Sergipe do Conde. Ali se encon-
trava o famoso engenho, que depois passaria para as máos dos jesuítas- Além do enge-
nho, o Conde de Línhares possuía ¡er¡as e ilhas no Recôncavo e ourras propriedades
fora da regiáo6'.
-Ainda na regiáo, Antônio Dias Adorno, neto de Diogo Ál.r"t"t. o Catamuru,
e filho de Paulo Dias Adorno- Este, que teve de deixar os irmáos em Sáo Vicente,

Parøiba,2 vd,s. Joâo Pessoa: Univ€rsitáriâ, 1977, vol I, P. 17; e Pereua ða Cosra, A¡zai¡ P¿¡'
nambudnos,l0 vols. Recile:ÀrqLrivo Público Es¡aduaÌ, 1951, vol. I' p. 560.
55 F¡ei Vicence do Salvador, O¿. cít., P 300.
56 Cl "Tiruìo do regisrro dos mandados dc Pegamenros, c de ourras despesas" iniciado peLo
prìmeiro provedor-mor em 1549 e pubìicado nos volumes li e 14 da série Datzqn¿ntoJ Hîtó-
rico:. Op. Cit. Neste caso, ver o mandado dc número S4 Oliveira Belchìor' Conquistadores t
potoaàares do Rio de Jaze;ra. Rio deJaneiro: Brasiliana, 1965 p. i30

57 Afl:onso Ru¡ OV. cít., p.347.

58 Conf':sóø àa Baltia, OP. ci.., P- 64


59 rVanderiey Pinh o, Testlrlne¡lto ¿e Mein dc Sn. Op. àt., p 89 e "Ins¡¡umenros de Mem de Sá"
dc 7 de se¡embro de 1570, publicados nos,4r¿is da Êúlíotaca Nacional'vol- 21, p 194
60 "Livro 1'do regisrro de provimenros ...", publicado na coleçâo Dacunle tos Histórícos, OP. cit
'
rcI.36. pasint.
61 rVanderÌe¡' ?inho, Te¡a¡nento de Me¡n de Sà, Op. cit., p 35
256 Rodrigo Ricupero

estabeleceu-se na Bahia, prescou relevanres serviços militares na Bahia, no Espí¡iro


San¡o e no Rio de Janeiro, sendo imporcance auxilia¡ de Mem de 5á6:. Ânrônio Dias
Adorno foi capiráo de uma expediçáo enniada ao sertáo por Luís de B¡i¡o de Àlmeida,
em 1574, em busca de me¡ais, ¡ero¡nando com 400 escravos "repartidos pelo capiráo
e soldados"si. Era proprietário de dois engenhos de água, um que se despovoou pelo
rompimento de um açude e ouüo no rio Igaraçu, além de uma ilha na região do rio
Paraguaçu. Foi casado com a frlha de Diogo Zor¡illa, alcaide do mar, guarda-mor dos
navíos e procurador dos índios¿¡.
Ourro proprietário na regiáo de Sergipe era Gonçalo Anes, cendo chegado nos
primeiros anos de Salvador, foi em 1551 bomba¡dei¡o e depois condescável de uma
ca¡a-rela que co¡¡eu a cosca do B¡asil; no ûnal da vida to¡nou-se frade do Mos¡ei¡o de
Sáo Bento, sua fazenda passou para a O¡dem.
Já adentrando a região do rio Paraguaçu, encon!¡amos as rerras que Brás Fra-
goso, ouvidor geral, havia ¡ecebido. Esras se¡iam vendidas, provavelmente quando
voltou ao Reino, para Francisco de Araújo, que cinha ¡ecebido o ofício escriváo da
Alfândega e P¡ovedo¡ia dos Defuncos em 15756t. Francisco de Araújo fez nas te¡¡as
do Recôncavo, segundo Gabriel Soa¡es de Sousa, algumas fazendas, tendo recebido
posteriormenre ourras em Sergipe d'el-rei66, ao lado das do cunhado, Belchio¡ Dias

F¡ei Vicen¡e do Sah'ador, Op. cir., p. 173 e 181; Frei Jaboaráo, Ap. .¡t., p. Ij9 e seguinles e
F¡ancisco de Ässis Ca¡'¡a|ho Franco, Dícian¿íria de Bandeìrante: e Ser¡az¡s¡¿s. Sáo Paulo: Co-
missáo do lV cen¡ená¡io, 1954, p. 12.
63 "Caria de Quirício Caxa" de 22 de dezembro ð,e 1575, apuà Pad,re SerañmLeiæ. Hlstória dd.
Co'apanhia deJesus no B¡¿¡ll. 10 vols. Lisboa: Portugália e Rio deJaneiro: CiviÌizaçáo Brasi-
leira, 1938, vol, II, p- 175 e seguinres e Gabriel Soares de Sousa, O?. cít., p.86.
Francisco Ädolfo de Varnhagen. O¡. cir., vol.I, p- 335,342 e 346. 'Livro primeiro do registro
de provinrenros ,..", publicado na coÌeçáo Datumentot Hittólicot, Op. cù., vol.36, p. 196.
Ao que parece, depois de alguns anos, deixou de se¡vir o cargo pessoaimenre, conseguindo
que um dos subsrituros fusse seu cunhado Beichio¡ Dias. Posreriormenre o ¡ei desmembra¡ia
o cargo, nomeando ourras pessoas, com a perda da propriedade de Francisco de Àraújo, con-
rudo, este ainda conseguiria que seu 6lho Domingos de.A.raújo fosse provido no cargo. "Pro-
vimenro de F¡ancisco de,{raújo, escriváo da Àlfândega e Provedoria dos Defunros" de l8 de
dezembro de 1i75, Arqui!'o Nacional da Torre do Tombo, Chanceiaria de D. Sebasriáo e D.
Henrique, Doaçóes, Livro 34, fl. 182; "Provimenro de Belchior Dìas Câ¡amuru, escriváo da
Alfândega" de 6 de fevereiro de 1592 "Provimenro de Diogo Baracho, escriváo daÀlfândega"
de 4 de maio de 1603 e "Provimen¡o de Domingos de.A.raújo, escriváo da Alfândega" de 7 de
junho de 1617, ,A.rquivo Nacional da Tor¡e do Tombo, Chancela¡ia de Filipe II de Porrugal,
Doaçóes, respecrivamen¡e, Liv¡o 2, ll. 73 r-, Livro 10, t. 256 e Livro 41, Â. t2i.
"Ca¡ra de sesmarìa de Ba¡rolomeu Fernandes" de 10 de março de 1600, publicada por Felis,
belo Freire, AV. rit., p.346.
A formaçáo da eiite coloniai 151

Caramuru, que, aliás, iria ocupar o mesmo ofício quase no final do século6t. Fran-
cisco de Araújo possuía barcos, negociava pau-brasil e tencou a¡¡enda¡ o cont¡ato do
dízimo e "mais di¡eitos" nas capitanias da Bahia, Pe¡nambuco e ltam¿racá- É co-
nhecido ainda por te¡ incirado a defesa de Salvado¡ em 1582 quando barcos ingieses
enr¡a¡am na Baía de Todos os Santosó
Na regiáo do Paraguaçu, Antônio de Paiva possuía uma ilha "aproveitada com
canaf iais". Frei Jaboatáo no Catálogo Geneahgico o intitula capitão, casou ne descen-
dência de Diogo Álva¡es Ca¡amuru6e. P¡óximo dali, An¡ônio Peneda (ou Penella) era
proprietário de uma casa de meles, junto do rio Paraguaçu, esre seria o avaliado¡ dos
bens de Mem de Sá no espólio, tendo sido também juiz e alcaide na década de 158070.
Outro proprietário na regiáo, eraAnrônio Lopes Ulhoa, dono de um engenho de água
no rio Paraguaçu "de muiros canaviais e fo¡mosas fazendas"- O irmáo, Diogo Lopes
Ulhoa, foi encarregado de busca¡ os ¡emanescenres da expediçáo de Gab¡iel Soa¡es de
Sousa, além de ter participado da conquista de Sergipe. Os Ulhoa e¡am uma åmília
rica, envolvidos no contrato dos dízimos, e, no mapa do ¡ecôncavo ð,o Liuro que ziá
røzáo do Eçødo /,o Brasil, aparecen dois engenhos com a designaçáo "do Ulhoa"T'-
Ainda no Rio Paraguaçu, Antônio Rodrigues, provavelmente, antigo feitor de
Mem de Sá era dono de uma casa de meles- Ali também Joáo B¡iro de Almeida, tlho
do 4' governador-geral Luís de B¡i¡o de Almeida, que assumiu o governo inrerìno da
capitania da Bahia, quando o pai foi à Paraíba:2, e¡a dono de 'um notável e bem as-
sentado engenho" de água no rio Paraguaçu, que pela descriçáo de Gabriel Soa¡es de
Sousa devia se¡ um dos melhores engenhos da Bahia.
Pe¡¡o dali, o pai Luís de B¡ìto de Almeida, possuía metade de um engenho de
água "mui bem acabado", em parceria com Rodrigo Martins, que antes moía suas ca-
nas no engenho de Mem de Sá7'. Neto de Diogo Álr'ares Caramu¡u e filho de Afonso
Rodrigues, Rodrigo Marrins fè'i feito cavalei¡o Êdalgo em 1607, juntamente com o

A Êlha casou com Bahasar dc Âragáo, que posrerio¡mente seria um imporrante senhor de
engcnho na regiáo. CÊ Frei Jaboatáo, Op. ci'., p. 93 e segþir\tes.
F¡ei Vcente do Salvador, Ap. cit., p. 299 e "Cana Régìa para o governador-geral Lourcnço
da Veiga. sobre o cont¡ato dos dízimos" de 29 de dezcmbro de Ì579, Instituto Histórico e
Geográ6co Brasileiro, Documentos manusc¡itos copiados no século XIX por ordem de l-;
?edro II, Códice 1.2-1í - Registros - Tomo I - Conselho UÌtrama¡ino Porrugués
69 Frei Jaboatáo, Op. cit., p. 115.
70 Wanderley Pinho, Teçamento de Mem de Sá, AP. cit., p. 93.
Frei Jaboaráo, Op. cit., p. 303. Diogo de Campos Mo reno. Lìuro quc dá razio do Eçado
y'-a
71
Bra:i/. (1612). Rìo de Janeiro: lNL, 1968 (edicáo fac-sìmilar com os mapas).
72 Confssíes da Bahia, Op. rit., p. 1.68.
73 "lnlenrário do engenho de Sergipe por morte de Mcm dc Sá" de 1572, publicaào em Dacu'
tneittos paru a Ht:t,jria ào Açica.r, Op. rlr., vol. III, p. 56-
258 Rodrigo Ricupero

i¡máo Álva¡o Rod¡iguesi¡. Participou da conquista de Sergipe com Cristóváo de Bar-


¡os em 1589 e esreve ervolvido em dive¡sas expediçóes de caciveiro de indígenas7t.
Conrinuando ûosso pe¡curso, chegamos às te¡¡as de D. Álvaro da Costa, our¡a
pe¡sonagem famosa, filho do 2' governador-geral, D. Duarte da Costa e protagonista
da briga com o bispo D. Pero Fernandes, que praticamente dividiu a Bahia em dois
parridosiG. Desenvolveu importantes serviços mili¡ares no combate aos índios nos pri-
meiros rempos de Salvador, ¡ecebendo em 1557 uma imporranre sesmaria dada pelo
pai, a qual ia da barra do rio Paragaçu à barra do Jaguaripe e até o Igaraçu, poscerior-
mente o ¡ei confi¡mou a doaçáo, ¡¡ansfo¡mando-a numa minicapiraniat-.
No rio lgaraçu, encontramos Lopo Fernandes, proprietário de um engenho de água
"ob¡a mui forte, e de pedra e cal assim o engenho como os mais edificios". Te¡ia a¡¡endado
o engenho de Mem de Sá, após a morte des¡e em 1572i3. Além dele, Fe¡náo Vaz da Costa,
sob¡inho do 2" governador-geral, D. Duarte da Cosra, possuiu uma ilha na regiáo do rio
Paraguaçu com mais de uma légua de comprimento. Participou ativamente da briga enrre
o governador e o bispo D- Pe¡o Fe¡nandes, sendo acusado por esre pelos "desarranjos e dis-
soiuçóes" praticados jun¡amente com D. Álva¡o da Cos¡ai'. Desempenhou diversas tarefas:
em 1550, no governo de Tomé de Sousa, era capitáo de um bergacim; em 1555, já no gover-
no de D. Duar¡e da Cosca, era um dos seis capiráes da gente da cidade; em 1551 era capitáo
de uma ga1é; em 1j59, apa¡ece como ¡esou¡ei¡o e em 1560, e¡a nomeado contadofo-

i xJi*t"t" c"i,.iìii,"i t",n"t"o. ,omo capicÁo. cf. Frei J úoaáa. op. ctt., r40 e F¡¡ncis'
co Adolfo de Varnhagen, Op. cit.,'toI.lI, p.33.
75 Gabriel Soares de Sousa, Ol. rll, p. 63; Frer Vicente do SaLvado¡ Op. cìt., 304. Yer aind,a,
"lnvenrárìo do cngenho de Sergipe para enrrega pelo rendeiro jLrdicial ao procurador dos
herdei¡os" de 1576, publicado em D oc'lmentos ?,ztu ¿ Hi"óría do Açúcar, Op. cn., vol. III, p.
363 e "Ca¡ra de el rer ao Bispo D- Pedro de Cascrlho ordenando que mande no Conselho
'e.
da Índìa os despachos de se¡r,iços pres¡ados dis¡riro <la Brhia do Salvador, por ilraro
¡o
Rodrigues e seus irmáoi' de l8 de dezembro de 1606, Biblioreca da.A.jLrda. códicc t1 vll-15,
Consultas dc Governo, f. 103.
76 Enrre ou¡ros, ve¡ Francisco Àdollo de Varnhager. Op. ch, vo1. I, secçáo XVll.
.Doaçáo
77 da Capirania de Peroaçu de Dom Áh ¿ro d¡ Cos¡¡ d< IJ de ma¡co dc 1t71, pììbli-
ca.ð.a em Docun¿n¡os Httóricos, Op. rit., vol. 13, p. 224 (A doaçáo irricial feira pelo pai é de l6

de janerro de 1557).

l8 \landerlev Pinho, T¿¡anenta d¿ M¿m rl¿ Sá, Op. ctt., p. IlI.


79 Ct Frer Jaboareo, Ol,. îit.,p.263t Carra do Bispo da cidade do Salvado¡'de 11 deabril de
1554 e "Carc¡ de D. Duar¡e da Cosra a el rei, dando lhe con¡a da guerra, que o genrro lazia a
crdadc do Salvadoi de l0 de junho de lí55, pt$llcað,as na Ht¡úria r/a Colonizaçno Portugtesa
do Brasil, vol.III, p.368 e 377.
"Traslado da provisáo do senhor governador D. Duane da Cosra que passou a Ama¡io¡ de
Agurar de capiúo do berganrim Sáo Tomé" de 26 de abrÌl de 1557 e "Traslado de uma pro
visáo, que el-rei Nosso Senhor lez a Fernáo Vaz da Cos¡a de conrador desras parces do Brasil"
de 12 dc maio dc 15í9, que consram do'Lìvro 1'do registro de provimenros ...", publicado
A formaçáo da elìte colonial 259

Perto dali, no rio Jaguarþe, encontramos Fernáo Cabral de A¡aíde, famoso por abrigar
a "heresia" dos índios, chamada Santidade, em seu engenho de água, "obra mui formosa e
ornada de nob¡es edifícios"sr- Próximo dali, no rio Irajuí, Gaspar de Freitas de Magalhâes
possuía uma casa de meles "de muita fábrica"- Segundo FreiJaboarão, era fidalgo e veio para a
Bahia como pro.'edor da Alfândega, conudo, o ceÍo é que foi nomeado escriváo da alånde-
'1572
ga da Bahia em e que comandou um barco conûa os ingleses na Bahia em 158T:.
Adianre, no lrajuí, Diogo Correia de Sande possuía um engenho, avaÌiado por
Gab¡iel Soa¡es de Sousa como "uma das melhores peças da Bahia, porque está mui
bem acabado, com grandes aposentos e outras oIìcinas"; pouco além, "na ribeira que
se diz Jaceru" erconr¡amos seu segundo engenho, também muito bem montado. No
tempo do governado¡ ManueÌ Teles Barreto, Diogo Cor¡eia de 5a¡de e Fernáo Cabral
de Ataíde, "que possuíam muitos escravos e tinham aldeias de índios fo¡¡os" foram in-
cLrmbidos pelo gove¡nado¡ de combater os aimorés em ilhéus. Era natural de Porrugal
e, segundo Jaboatáo, "da casa dos Co¡reias de Sá, tronco dos viscond€s de -Asseca"si.
Na mesma regiáo, Gabriel Soa¡es de Sousa, nosso famoso guia pelo recôncavo náo
deixou de inclui¡ seu engenho de água no rio lrajui, o qual descrele sem modéstia como "um
soberbo engenho", com uma "grande e formosa igreja de S. Lourenço, onde vìvem muitos
vizinhos numa poroaçáo que se diza Graciosa. Estaé mui¡o fé¡til e abas¡adade todos os men-
rimenros e de muitos canaviais". AIém desse engenho, Gabriel Soa¡es de Sousa eslava come-
çando a construçáo de um segundo. Ele foi rereado¡ de Salvado¡ em 1580 e acabou 1àlecendo
du¡ante sua malsucedida expedição em busca de riqueza minerais pelo interioC'.

na coleçia Doa,Lnento! Hìltóïícas. 07. rlr., respccrir-amenre, vol. 35. p 385 e vol 36, p 152
A 6lha casou com o já citado Ma¡tim dc Ca¡vaLho. Cl Frei Jaboatáo. OP. .it., P.264
Canf:sóe: da. Bahia, A7 rlr., p. 28 e Ronaldo \ãinfas. A htr¿si¿ dos hdias Sáo Paulo: Compa
nhia das Lerras. 1995-
Frer Jaboatáo, OP.rit.,p.241, F¡ei Vicen¡e, Ol cít., P 300 e "Provrmento de Gaspar dc
Freiras. €scrìváo da Âliândega da Bahia" de 19 de janeiro dc 1572. Arquìr'o Naclonal da
Torre do Tombo, Chancelaria de D. Sebas¡iáo e D. Hcnrique, Doaçóes, Ln ro 2Z fl. 372. Seu
1ìlho casou em seg'.rndas núpcias com D- Brites de Meneses. Êlha dc DLrarre Munjz R:rre¡o
alcaidc-mor de Sah ador. Cl Frei Jaboaráo, Op. ctt.. p. 146.
Era casado com Joana Ba¡bosa, 6lha do provedor da capirania da Ilahia,{nrônio Riber¡o e
afilhada do scgundo gor.ernador gcral D. Duar¡e da Costa. Cl F¡ej \¡icente do Salvador' O¡
,rr..¡. lo6.l-e l¿bo¿r¿o.OP.¡r. F. l8:.
Foi casado com .A.na de Argolo. fi1ha do primeiro provcdor da Bahia, Rodrigo de Argolo. Cf
"Juramenco feiro pela cìdadc da Bahia a el-¡ei D. Fllpe" de 19 maio de 1582, publicado cm
A¡ Gat'et¿s d¿ Tone d.o Tornbo.l2 rrcls. Lrboa: Cen¡ro de Estudos Histó¡icos Lllr¡amarinos,
1960- 77. lII. p. >6: F rei Vicenre do Salvador, AI rit., p. 312 e "P tocesso de Berna¡do Ribei-
ro' (1591), Arquno Nacional da Torre do Tombo, Inquisiçáo de Lisboa. 13957
260 Rodrigo Ricupero

Descendo mais ao Sui, encontrâmos Fernáo Rodrigues de Sousa st. Esre possuía
um engenho de água "mui bem acabado e aperfeiçoado" no ¡io Tai¡i¡i com "uma po-
pulosa fazenda", onde havia "mui¡os homens de soldo para se delenderem da praga dos
aimorés"; era ligado às famílias Ado¡no eZorrrtlla, foi aindajuiz ordinário no rempo
do governador Diogo BorelhosG-
Avançando pa¡a a enrrada da Baía de Todos os San¡os, Domingos Saraiva da
Fonseca, mercador, possuía uma ilha, com gnndes criaçóes por se¡ terra "frøcø" para
canassi. Perro dall, Lopo de Rabelo possuía uma ilha na frenre da barra do Jaguaripe
"de onde se rira muita madeira". Moço fidalgo da Câma¡a d'el-¡ei, foi escriváo da alça-
da "des¡e Brasil", ofício que lhe deu o rei pelo que perdeu em A¡zila no Mar¡ocos¡s.
Con¡inuando a descriçáo do Recôncavose, chegamos às ilhas da Baía de Todos os
imporrante, ltaparica, foi dada em sesma¡ia, juntamenre com a de I¡a-
Sancos. -4. mais
maratiba, por Tomé de Sousa ao Conde da Castanheira, "ao que veio com embargos a
Câma¡a da cidade de Salvado¡". O Conde, contudo, possuiu uma gigantesc¿ sesmarie na
Bahia, ao no¡te da cidade do Salvado¡ que posreriormente seria aforada a Gonçalo Piresec

Em ourros documenros do periodo, aparcce como Fernáo Ribeiro de Sousa, como, por exempLo,
em Diogo de Campos Ìvloreno, mas ran¡o Gabriel Soares de Sousa como Diogo de Campos Mo-
reno se rele¡em ao dono de um engenho localizado no mesmo ponto. Diogo de Campos Moreno,
"Relaçáo das praças forres, povoacóes e coisas de imporrância quc Sua Majesrade rem na cosn do
Brasil, lazendo princípio dos baixos ou ponta de Sáo Roque para o sul do esrado e Celensáo delas,
de seus i¡u¡os e rendimentos, leira pelo sargeno mo¡ desra cosra..." de 1609, Arquivo Nacional da
Torre do Tombo, \,liniscério do Reino, Coleçáo de Planras, mapas e outros documenros, Docu-
menro 68. Esre documenro foì publicado na Rrz lsta da hsrinto A:.qzealóg1co, Histório e Gngrlfco
P¿mar,tktc¿no, LYII, 1984, p. 216.
8ó Ci. Pi'¡¡tein Witaçáo y'o Santo Aflc¡o às Partes do Brasil - Dettuncia.çáes da
ßaLia. Sao l>atlo,
192i, p. 280 (daqui em dìanie, apenas Denuntíagõu lø Baht¿) e "Periçáo ¿o golernado¡ Dio-
go Botelho" de 4 de novembro de 1604, publicad.a na Reuisra da Instiana Httritito e Gagrifca
Bra:lleira, rorno 73, p. 18.
''Inrenrário do engenho de Sergipe para entrega ao rendeiro judicial Gaspar da Cunha e por
este a dntônio da Ser¡a, procurador dos herdcrros" dc 1574, pubiìcaào zm Doernuuos pan rt
História do Àçicar, ôp. tit.,rcl.III, p.112 e 135.

Recebeu o cargo por roda a vida, Cf. Canf:sae: la. Bahia, Op. d.r., p. 56; "Provimenro rìc
Lopo de Rebelo, escriváo diance do ouvidor geral" de 8 de junho de lii4, Insrirùro His!órìco
e Geográlìco Brasilciro, Documenros manuscriros copiados no sécuio XIX por ordern de D.
Ped¡o il,Códice 1.2.15 - Rcgisrros - Tomo I Conselho Llcramarino Porruguês. Recebeu
uma granile sesmaria no Rio deJaneiro, que náo loi aproveirada. Cl \lonsenhorJosé Pizarro
de SoLrza Azevcdo e Àraújo. 'Relaçáo das sesr¡a¡jas do Rio de Jancrro", Rcutt¿ ¿o I sitt'.'a
I:ltstóríco e GngrnJìco Brasìleiru, t 63, paræI190Ì, p. Ì08. Sua irmá casou con un 1ìlho de
Diogo Áivares Câ¡amu¡u. Cf Frei Jaboaráo, Op. ctt., p. ?65
89 Neste ponto, saimos um pouco da ordem dada por Gabriel Soares de Sousa.
90 "Seis lógua.s de rerra com seus ma¡os no serráo da Taruapa¡e nâs cabcceiras da rerr¿ do dìto
Ga¡cia D'Ávila que ele rem afo¡ada ao Conde da Casianheira e para o senáo quarorze lJguas
A forrnaçáo da clirc colonial 161

ea García D'Ávila, que) em seu res¡amenro, decla¡ava re¡ "de prazo em farioratì do Con-
de da Casranhei¡a seis léguas de rerra que começam de Jacoipe para o Sul na fo¡ma do
aforamenco", te¡ras onde, inclusive, consrruiu a famosa Casa da To¡re e, dessa maneim,
cabia ao he¡dei¡o F¡ancisco Dias D'Ávila pagar o foro ao senhorioet.
Junto da Ilha de ltaparica, Joáo Fidalgo, Iocotenente do Conde da Castanhei¡a,
possuiu uma ilheta e, na própria ilha. Gaspar Pacheco e¡a dono de um engenho de
bois. Na ex¡¡emidade da ilha, Cosme Garçáo, procurador do Conde de Castanhei¡a,
era proprierário de um cu¡rale3,
Concluindo, nossa vokai Gab¡iel Soa¡es de Sousa. ainda anoca que João Noguei-
.a era proprietário de duas ilhas, a dos F¡ades e a que ficou conhecida pelo seu nome;
e¡a soldado no governo de Tomé de Sousata e que Bârtolomeu Pires possuía um enge-
nho de bois na Ilha da Maré, era mesrre de capeJa da Sé de Salvado¡ desde 1559'qi-
Do ponro de vista quantitarivo, podem-se reunir estes dados em 6 grupos, a
sabe¡: A. G¡andes do Reino; B. Deten¡ores de cargos na administraçáo colonial;
C. Familiares e criados dos detento¡es de cargosi D. Pessoas que participaram do
governo da conquisra, sem possuírem cargos formais na administraçáo colonial e
seus familiarese¡; E. Pessoas que não participârâm do governo e sem ligaçáo familiar
com as pessoas da governança e F. Pessoas sobre as qúais náo conseguimos nenhum

que corre por rírulo de aforamcnco de Cosme Garçáo por procurador do Condc . .". CL "T¡es-
passo que faz Gonçaio Prres aos padres dc Sáo Benro de seis léguas dc terra ..." de 17 de janerro
de 1606, que coasla do Líura Wlho /.0 TomÌ¡o do Mo¡ciro dc S,i,t Bento t/¡ cíd¿de à'a Sal¡'adar.
(t536-\732), Op. cìt., p. 31t e 316.
"Prazo-. no cz:o.:igniJîm "proprìel,ade h ruiz, àc E-e o lona nncel'e a ot¡¡en o senhorio ú'tì1,

Var t;tri, ou t;r',as, or cnt fa;ìo:ím


(fatìora, ou nelhor enñreuse). impondolhe ce¡i2 Pen\áo .
CL Ànrônio de Morae s Sìí¿. Diccioæria /.a Lìngaa Poratgueza (fac'símile da 2" cd. de 1813).
2 vois. Rio dc Janeiro: Flurnincnsc. 1922, voì. II, p 485.
Ci ''Tcs¡ame¡io de Garcia DÁila de 13 de ¡raio de 1609, publicado por Pcdro Calmon,
"Doacáo
-fcrra
Hist¡h ia rla Casn dr, Tar,'c, Op. cít., p. 22? e a Tomé de Sousa de seìs léguas rìc

no Brasil en lugar das que lhe c{eram já" de 20 dc outubro de i565. publìcada por Ierácio Àc-
cìoli dc Cerqueìra e Sil¡a, Me¡nóri¿s Hi:tó¡ica: ¿ PoÌític¡'¡ r!¿ Ê¡hia,6 ¡ols. Salvador: Imprcnsa
OÊcial, 19i9'40, vol i. p.276.
93 \'c¡ nota 86.
jniciado
94 Ci "Tírulo do regisrro dos rnandados de pagamenros, e de ouiras desPcsas" Pelo Pri-
meiro provedor-mor cm 1549 e publicado nos 13 e 14 da série Dorun¡entas Hi:tóríros,
''oLumcs
Op. Or. \þa-se o mandado de núme¡o 727.
"Nomeaçáo e aprcscntaçáo da conezia para Rui ?imen¡a" de tl de dezemb¡o de 1559. que
consra <io 'l-ir'¡o l" do registro de provimcntos . .'. publicado na coleç^o Do.utlctttor Htt¿;';
ca:, AV. tit., rc| 36. p. 46.
Excmpìos dessa siruaçâo sáo os comandanres dc expediçóes mìlirarcs, os capiráes das tropas
lornadas pelos rnorado¡cs, se¡tânis¡as â mando do governo, rendeiros de impostos' membros
da Câ¡r¡a¡a, en6m, a¡ividades ligacas à governanca da re¡ra.
26? Rodrigo Ricupero

ripo de informaçáo, fato que provavelmenre indica a náo exisrêocia de vínculos com
a adminisr¡açáo colonialet.
Dessa forma, os 62 nomes, citados por Gab¡iel Soares de Sousa, divididos nos 6
grupos já discriminados, apresentariam os seguintes resultados: grandes do reino com 2
nomes; derentores de cargos com 22; familiares e pessoas direramente ligadas a deten-
rores com outros 11; pessoas que exerceram ou¡¡as arividades ligadas à administraçåo
rarefas milirares, rendeiros de imposros, senanisras, memb¡os da câmara erc. - com 13
nomes; pessoas que aparenremente ráo mantiûham felaçóes diretas com os derento¡es de
cargos com 10 e, por fim, 4 nomes sob¡e os quais náo consegtimos nenhùma informa-
çáo. Porranro, mais da metade das pessoas citadas estaliam nos glupos B e C, somando aí
os membros do grupo D, reríamos três quarros das pessoas citadas ligadas à governança
da rerra, contra menos de um qua¡lo apa¡enremen¡e sem reiaçáo, incluindo aqui rodos
aqueles para os quais náo obrivemos informaçáo (ver Tabela 1 abaixo).

Tabela 1:
Proprietários no recôncavo de Saivador (c. 1587)

Legenda

À- G.¡ndes do Reino

B ' Membros da adninisrraçáo colo¡ial

r I¿miti. r ., r¿dos Jo; n<¡bros d.. ¿dnro-,uac-o

D \feDbros dã gole r¿ c¡ da rerra

Ê - sem relacão con o gole¡no

F SeD informacáo

Regisrre-se que cada pessoa só sc¡á ìncluída em un grupo, dando,se, no caso de unra pessoa
poder ser arrolada em mars de um grupo, sempre preferência para o primeiro grupo possír,el.
Assim, por exempLo, uma pessoa que pudesse ser arrolada no grupos B, C ou D foi arrola<l¡
apenas no B; ourra no C ou D,lài no C.
A formaçáo da elite colooial 763

Nome A B c D E F

And¡¿ Fcrnandes Margalho

A n¡ônio Diâs Adorno


Anrônio Lopcs Ulhoa
Anrôûìô Nuncs Re;niáo

Anrôn;o de Olncira de CarraihaL

Belch¡o¡ Dias Po¡calho

Co¡de de CasunheÌ
Co¡de de Linhares

C.is¡óráÕ Asui¡r de Àìrerc

C¡istóváo de Ba¡ros
D. Álra¡o da Cosra

Dioso Correìa dc Sande


Dioso da Rochâ de Sá

F.rnáô Cabrâl de Atâide

Fcrn¡o Rodrigues de Sousa

F¡ancisco de Åeuìl¿¡

Fr¿ncis.o de Àr¿ujo

G¿l¡ricì Soares <ìe Sousa

Carcia DÀvila

Gaspar Dias Barbos¡


Rodrigo Rìcr.rpero

Joáo de B¡tro de Ålneid?

Tabela 2: Senhores de engenho no recôncavo de Salvador (c. L587)

Legenda

A ' Crandes do Reìno

B - ì,,lembros da adminìs,¡âçáo colo ial


r Lmil;¿,<< e. ¡i¡do' do, m.mbro. då aJminiv i.c¡o

D Memb¡os da gôvcr¡rança da rerrè

E - Sem.eìacáo com o governo

F - Sem irfo.maçáo
A formação da elite colonial 265

B C D E F

Åndré rcrnandes Margalho

Ân!ôn'o Di,sAdorno
Antonio Lopes Ulhoa

Belch¡o¡ Dias Porc¡lho

Crisro'io \su,årdc Àlt€ro

Diogo Correia de Sande

Diogo da Rocha de Sá

Fc ìáo Ceb¡ãldeAraíd€

Fc¡¡áo Rodrigues de Sousâ

Frâncisco de.{suilâr

G¿b¡¡cl Soares ¿e Sousa

Gaspãr Diãs Bãrbos¿

loáô ¿e B¡rro. Crdolo


loãÒ dc B¡ilo d€,q.lneida

Lùís ¿e Briro de Almeìda

Luís GoDçâìves Verejáo

Ma¡tim de Ce¡r¿lho

Mem d€ Sá

Sìñáo da Game de.Andrade

Vàsco Rodrigues LobaIo

I 6 9 3
?66 Rodrigo Ricupero

Quanros aos engenhos, remos 35 indivíduos citados como proprietários ou an-


tigos proprietários dos 36 engenhos exiscenres ra regiáo do recôncavo, incluindo aí
o engenho real, Seguindo o mesmo p¡ocesso, essas pessoas agrupadas nos mesmos
seis grupos nos da¡iam o seguinte resultado: no primeiro grupo, reríamos 1 nome;
no seguodo,9 nomes, dos quais crês pessoas com dois engenhos; no rerceiro grupo, 6
nomes; no qua¡ro grupo 9 pessoas; no quinro grupo, T nomes e, no sexro grupo 3 no-
mes. Nesse caso, quase me¡ade dos senhores de engenho esrariam nos grupos B e C e,
somando a esres os agrupados no grupo D, reríamos dois terços do donos de engenhos
ligados ao governo da terra, enquanro menos de um re¡co nos E e F náo ¡e¡ia vínculos
com o gove¡no (Ver Tabela 3 acima).

Tabela 3:
Resumo das tabelas 1 e 2
Legerda:

À'Gra¡des do Reino

B - Membros dã âdminisrracáo colonial

C f¿,, zr. , e. "do\ J", memb¡o dâ Jd Íini,urc¿o


D Mcmbros dagovernança de rera
E - Sem relacáo com os detenrores de cargo

F Sem lnformaçáo

A B c D B+C+D E F E+F Total

P.op.ietários em ge¡àl 2 t9 8 t6 62

Serhores dc Engcnho 8 I 2l 9 !3 3;

Dessa forma, a parricipaçáo no governo da conquista ou a proximidade dele foi


um faror imporranre para a consrituicáo de parte significativa da elire colonial em for-
maçáo. Nas capitanias ao Sul da Bahia, quase rodas de donatários, o processo, rambém
se reperiria, como veremos a seguir.

As capitanias do Centro-Sul

Em meados do século XVI, as guerras conr¡a os indios náo Êca¡am ¡esr¡i¡as à


regiáo do Recôncavo de Salvador, ao conrrário, reflexo da tentariva de maior ocupação
A formação da elire colonial 1.67

do re¡¡i¡ório, espalharam-se por todas as partes do Brasil em que os portugueses estâ-


vam estabelecidos.
A criação do Governo-geral ea construcáo de Salvado¡. com o aporre de recursos
conside¡áveis pela Coroa, visavam c¡ia¡ um Ponto de apoio, "para daí se da¡ lavor e
ajuda as outras povoacóes"es. Conseqüentemente, os governadores-ge¡ais deveriam au-
xiliar as outras capitanias que, enláo, sof¡iam com a resisténcia indígena.
As vitórias obtidas permitiam a ocuPeçáo do inte¡ior' surgjem os engenhos de
açúcar, ma¡cos da conquista e ponros de aPoio Para novâs itves¡idas' Por ou¡ro lado, às
de¡¡oras e à perda do controle do território seguia-se a desrruiçáo dos engenhos, bem
como abandono da regiáo.
Na capitania de llhéus, imediatamenre ao Sul da Bahia' os rupinambás da regiáo
estavam levantados e que.já har'iam entrado em guerra contra os portugtleses enrerior-
menre, daí a orientaçáo, para que o governador_geral que monarca Paaa que o governa-
do¡, com auxíÌio dos tuPiniquins, expulsasse os inimigos daquelas terrasee
A vìró¡ia sob¡e os tupinambás, em meados da década de 1550' t¡aria, contudo'
graves conseqüências, porqlranto, ao fugirem Para o sertáo esses índios deixa¡am o
caminho livre para os aimorés, inimigos muito mais temír'eis, que por muito pouco
não acaba¡am completamente com a Presenca Portuguesà nas capiranias de Ilhéus e
Porro Seguro.
Os aimo¡és manrive¡am guerra aberta com os Po¡tugueses por quase toda se-
gunda metade do século XVI Nóbrega conta que' em 1559, os quatro engenhos da
capitania estavam "despovoados e roubados", sendo necessá¡io o soco¡ro de Mem de
SáÌ00. Ä vitó¡ia do governador, con¡udo, náo encerrou a guerra Pouco anos depois' o
jesuíra Antônio Gonçalves narra as dificuldades dos mo¡adores de Pono Seguro, impe-
didos pelos aimorés de i¡em 'ãos matos a faze¡ suas ¡ocas' nem a cacar"' o que rrouxe
a fome e "com estes trabalhos que com este ge¡tio tem, esteve já esta capìtanìa para
se

despovoar"'01. Gabriel Soares de Sousa' na década de 1580, era ¡axarìvo:

Ci o cirado "Regìmento de Tomé dc Sousa de i7 dc dezembro de 1548' publìcado na Flsrd-


iø. da Colonlzaçno Porttgaaa lt Bro:il, sol III' p 345

99
100 "Carca do Pa<l¡e Manuel da Nóbrega ao ?adre Miguel dc Torres c Padrcs e irmáos de Por-
jauíturs ¿o
tugal" de 5 julho de 1559. publicada por Se.a6m Leìrc (Sl)' Cartas tlos pïlneùos
Bø:i/, Op. cit.,salL.IIl, p 58.
"Carra do padre AnrônÌo Gonçahes, da casa de S:o Pcdro do Porro ScgLrro do Brasrl para o
em Padre
padre Diolo Mrrón, ?¡o.-rnciaÌ de Po¡tugal de 15 de levereiro de 1>66, publicada
r\rprcu.l." Natr..o e o¿tos. Cart¿'s At uÌsa¡ Belo Horrzonre: ltarìaja e Sáo Paulo: Ëdusp'

1988, p. 502 ('frata-se da reedìcáo do II lolume da coleçáo Carras Jesuícicas publìcada pela
Academia B¡asrleÌ¡a de Leuas na década de 1930)
268 Rodrigo Ricupero

a capitania de Porro Seguro e a dos Ilhéus esráo desrruidas e quase despo\.oedâs


com o remo¡ destes bár'baros, cujos engenhos náo lav¡am acúca¡ por Ìhes teren
morro codos os escrâvos e genre deles, e a das mais fazendas e os qLre escaparam

das suas mãos ihes tomaram ramanho medo que em se dizendo aimorés despe-
jam as lazendas e cada um r.abalhe para se por em sah,oior.

Dessa forma, a resisrência bem sucedida dos aimo¡és ao avaûco da ocupaçáo dos
po¡rugr¡eses seria registrada em pra¡icamenre rodos os c¡onisras do período. Gabriel
Soa¡es de Sousa conra que a capirania de Ilhéus, após rim período de florescimenco,
com irvesrimeûtos feitos por homens ¡icos de Lisboa e pelo novo donarário, Lucas
Giraldes, chegou a possui! oro ou rove engenhos, e que depois da pra,ga ttos dimoré¡
náo havia mais que seis engenhos que.¡á náo faziam acúca¡, conrudo, fornece apenas o
nome de dois senhores de engenho- O primeiro era Luís Álvares de Espinha, que pos-
suía um engenho pe¡ro do rio de Taipe e o segundo era Henrique Luís, dono de dois
engenhos onde esra\¡am as duas únicas aldeias de rupiniquirs da capirania, as "quais
tem já muito pouca genre"r0i- Sabemos, contudo, que um dos outros engerhos - o
Santana, construído por Mem de Sá era dos padres da Companhia de Jesus e, prova-
-
veÌmenre, os ourros dois e¡am dos herdei¡os de Lucas Gi¡aldesr0a.
Ao que rudo indica, râi núme¡o de eûgenhos náo se ahera.ia nos aros seguinres.
As descriçóes que apreserram esrimarivas sobre o número de engenho, na capirania
I engenhos, sem precisar se esravam em arividade ou náo. No ânal de
oscilam ent¡e 4 e
1626, Anrônio Simóes, procurador do donatá¡io, ofe¡ece um quadro mais de¡alhado
dos eogenhos aii insralados- Ao todo, seriam i4 engenhos, 5 no norte da capitania,
próximos da Bahia, construídos, provavelmence, ro século XVIi. Na regiáo próxima
da Vila de SãoJorge, seriam 9, sendo que 3 despovoados. Esrariem em funcionamen!o:
o de Santana dos padres da companhia; o Esperança de Filipe Cavalcance; o de Taipe
de António de Araújo de Sousa; o Sanriago de Baltasa¡ Peixoto da Silva; o da llha de
Afonso Goncalves e o Tabuna da viúva de Manuel do Couro, Iernbrando que o dona-
rário D. Joáo de Cas¡ro seria dono de mecade do engenho de Taipe e do da Cachoeira,
esre um dos inarivosrot.
Os dados biográÊcos dos proprietários indicam suas ligacóes com o gove¡no
da conquisra. O primeiro senhor de engenho citado, Luís Áiva¡es de Espinha, era

102 Gabriel Soa¡es de Sousa, Op. cit., p.79.


103 lbidern, p.76 e seguimel
104 'Ca¡ra do Padre Rui Pereir¿ aos Padres e Irmáos de Porrugai', de 6 de abril t1e 156t, pubLcada
por por Sera6m Leire (Sl). Canøs dos prin¿iros jesuiras do Brasit, Op. cit., vol.IlI, p_ 323.
105 "Info¡macáo da capirania de Ilhéus dada por.Ancônio Simóes, procurador do senhor D.
Joáo
de Casrro, senho¡ dela" de 6 de dezembro de 1626, Bibliorece da Aiuda, Documen¡os Avul_
sos, 54 Xl-26, n" 3 a,
A formaçáo da elite colonial ?.69

6lho de Henrique Luís de Espinha, que foi feicor em um dos engenhos de Lucas
Giraldes e depois capirão-mo¡ de llhéus'o¿. Foi responsável Po¡ uma entreda no
sertáo, que, segundo Frei Vicente do Salvado¡, sob p¡etexto de fazer guerra "a
ce¡ras aldeias daí a rrinta léguas, por have¡em em elâs mo¡ros alguns brancos, po-
rém ¡áo se contentou com lha faze¡ e cativa¡ todos aqueles aldeãos, senáo P¿ssou
¿di¿nrc c desceu intniio gentio .
r'
Luís Álvares de Espinha era casedo com D. Inês de Eçar03, seu primeiro fiìho,
Manuel de Sousa de Eça, era cavaleiro do hábito de Santiago, e teve uma das mais in-
teressanres carreiras do funcionalismo colonial, pois' além de parricipar ativamente da
conquista do Ma¡anháo e da reconquista de Salvado¡, foi nomeâdo, en¡re oùt¡os car-
gos, provedor da Fazenda dos Defuntos em Pernambuco, provedor da Fazenda Real na
Paraíba, provedor da Fazenda Real no Maranháo, capitáo-mor do Pará'0e- O segundo
Êlho, Ba¡tolomeu de Sousa de Eça, foi provedor dos Defuntos de llhéus e o terceiro'
homònimo do pai, Henrique Luís de Espinha é provavelmente o segundo senhor de
engenho citado por Gab¡iel Soares de Sousar'o.

106 Ver a acima citada "Carta do Pad¡e Rur lerei¡a aos Padres e I¡máos de Porrugal" Henrique
Luis de Espinha também é rcstemunha, ao lado de Tomás,{legrc' cm 1548, num negócio
en'oh,endo Lucas Giraldes e o en¡áo donatário de Ilhéus' Jorge de FÌgueiredo Correra, que
nessc momenro era rePresentado por Mem de Sá Cl "Ca¡ta de con6rmaçáo de sesmarìa de
Lucas Gi¡aldes em llhéus" de 19 de sete¡rbto de 1556, Ârquiro Nacronai da To¡re do Tombo,
Chancelarìa de D. Joáo III, Doaçóes, Ofíc1os e Mercês, Li'rc 65, fl i76- Fica a dúr;da con-
tudo, se Henrique Luis de Espinha serìa a mesma pessoa citada por Pe¡o de Góes' donatá¡io
da capiranìa cie Sáo lomé, simplesmenre como Henrìque Luís' que loi com um caraveláo ¡cs

gatâr nå costa, náo satisfeito prendou o indio P¡incipal eliado dos crrstáos, exigindo resgâte'
mesmo esse sendo pago preferiu entregar o dito índio aos conr¡á¡ios dele, os quais o comeram'
o que protocoLr um letantamento geral que culminou na morte de mui[os Porrugueses' inclu-
sìve em fe¡imentcs no donarário, c¿.usando ainda perda das lazendas e gueima dos
canaliais
Cf. "Car¡a de ?edro de Góes escrita da Vila da Rainha a D Joáo III'
de 29 de ab¡r L de 1j46'

pl*:Iicado na. Hístóia /.a Coloniz¿çáo Porhquesa d-o Brdsil, vol III, p 263'

107 Frei \,'icente do SaÌvador, OP. cít., P.2L1


108 Para a genealogìa de Luís Ál.'ares de Espinha e seus descendentes, ve r Freilaboatio' Op cit'
p. 321 e seguìnres.

ì09 "Provimento de Manuel de Sousa de Eça' provedo¡ dos defuntos de Pernambuco" de 28 de


março de 1613i "Provimenro de ìi'fanuel de Sousa de Eça, provedor da Fazenda Real da Para-
íba" de 26 de março de 1613 e "Provimento dc ivlanuel de Sousa de Eça' provedor da Fazenda
Real do Maranháo" de 22 de dczemb¡o de 1616, Arquivo Nacional da Torre do Tombo'
Chancelaria de Filipe II, Doaçóes, respectivamente, lir'¡o 29' f 208, li'ro 32' fl 66 v e ln'ro
(1749)
35, Â, 148 v e Be¡nardo Pcreira Berreðo. Annøes Histoicas do Est¿do ì¿ M¿tunhá'o
lquicos (Peru): Äbya-Yala, 19S8, p 246 (cdiçao fa.c-similar da edição príntep)'
"P¡ovimcnto Bartolomeu dc Sousa de Eça, provcdor dos deÊuntos de Ilhéus" de 24 de maio
<le

<Je 1611, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Chancelaria de FiliPe II,


Doaçóes, livro 32'
fl. i03 v.
270 Rodrigo Ricupero

Seguindo a relacáo dos senho¡es de engenho, fornecida por Änrônio Simóes,


remos o dono do engenho Esperança, Filipe Cavalcanre, e o dono do da lÌha, Afonso
Goncalves, no enran¡o ambos ¡êm nomes mui¡o comuns o que difrcuha a obtençáo de
maiores informaçóes sob¡e eles na escassa documenração. Já o dono do engenho de
Taipe, .dnrônio de -Araújo de Sousa foi capitáo-mor de Ilhéus e e¡a filho de Barcolomeu
Luís de Espinha e nero, porrânlo, do velho Henrique Luís de Espinhairr.
Bal¡asa¡ Peixoro da Silva, dono do engenho Santiago, provavelmence fosse filho
do homônìmo capitáo-mor de Ilhéus, casado com D. Francisca de Eça, úftima filha do
velho Henrique Luís de Espinhai!r. Po¡ fim, Manuel do Couto, ou melhor, Manuel do
Couro de Eça, anrigo dono do engenho Tabuna, enráo propriedade de sua viúva, e¡a
filho de Ba¡rolomeu de Sousa de Eçaì'i.
A capitania de Porto Seguro reve uma dinâmica muito parecida com llhéus,
depois de um começo promisso¡ foi a¡¡asada pelos aimorés- Reflexo disso é a situ,
acão dos engenhos de açúcar da capitania. Gab¡iei Soares de Sousa con¡a que, após
a venda da capirania para o Duque de.Aveiro, esta chegou a con¡ar com sere ou oiro
engenhos, mas depois os moradores da capitania "se passaram par.a as ourras, fugin-
do dos aimorés, na qual rem fèiro ¡amanho destruição que náo rem já mais do que
um engenho que faça açúcar"rrr. Alguns anos depois, já pacifìcada, a capirania ainda
náo tinha se recupe¡ado, pois, conforme relarava o sargenro,mo¡ Diogo de Campos
Moreno, apenas um engenho esrava em funcjonamento e o engenho do Duque de
Âveiro permanecia despovoadoì j. i

Sobre os engenhos, as inFo¡macóes sáo ainda mais escassas que as da capirania


de Ilhéus. Gabriel Soares de Sousa, enquanro descreve a Costa, lornece alguns da-
dos, assìm perco do Rio de Sanra Cruz ce¡ia exisrido o engenho de Joáo da Rocha;
próximo à ViÌa de San¡o Àmaro havia outro engenho "que foi" de Manuel Rodrigues
Magalháes e, adiaore, encon.ramos o engenho de Goncalo Pi¡es, náo precisando,

ln F¡er Vicen¡e do Salr'ador cita reÌ elgenho ainda cono propriedade do pai. Cf-. Frei Vrcente do
Salvaàor, Op. cir., p.124
I12 Frer Jaboaráo, Ap. cít., p. 33t.
113 Ibidern. p. 323. O i¡máo Francisco de Sousa de Eca foi casado com úr:sula da Fonseca, iì]ha
do capiráo-mor Lucas da Fonseca Sarana. qLre rambém sen-iu como ieiro¡ do engenho de
Mem dc Sá em Ilhéus. Cf. "lnvcnrário que se lez da fàzenda quc veio do Reino do governaclor
\{em de Sá delunro ..." de 2t de junho de t572, pubiicado em D orua¿n¡os p¿r¿ a hinjrin ¿to
açticar Op. dt., vol- III, p. 237.
1t4 Gab¡ìel Soa¡es de Sousa, Op. cít , p.85.
Ì15 Diogo de Campos Moreno. Liun qu¿ ¿¿ ldz,ãa do Estado do Br¿sit_ (1612). Recìlie: UFpE,
1955, p. 126 e seguintes.
A formaçáo da eli¡e coionial 2?1

porém, o local exato do engenho do Duque de Aveiro, que possivelmente deve¡ia se¡
o mais importanterr6.
Com relaçáo ao primeiro senhor de engenho citado, Joáo da Rocha, aliás, Joáo da
Rocha Vicente, sabemos que abandonou Porto Seguro, indo residir em Pirajá, ao norte
de Salvador, e que, posteriormente, mudou-se Pera a capitania de Sergipet'7- Além dis-
so. e¡a casado com Mecia Ba¡bosa, frlha. de "Gonçala Pìres. defunto' caPittio que þi de
Porto Segtra", o te¡ceiro senho¡ de engenho citado por Gab¡iel Soa¡es de Sousa'r3.
Àvançando para Sul, chegamos à capicania do Espíriro Saoto. A hisrória da ca-
pitania rambém é marcada pelo conflito com os índios, cuja vítima mais famosa é
Fernando de Sá, filho de Mem de Sáj morto em 1558. O auxílio de Salvado¡ foi' mais
de uma v'ez, tecessário para evitar a de¡¡ota dos mo¡adores, dada a falca de ¡ecu¡sos do
primeiro donarário no final de sua vida"e. Mem de Sá tentou incorporar a capitania à
Co¡oa, mas esra náo aceirou, devolvendo o con¡¡ole ao herdeiro do donacário'r0.
A ameaça indigena, conquanto meno¡ do que nas vizinhas capiranias de Porto
Seguro e Ilhéus, e a proximidade da capitania real do Rio de Janeiro, mais atr¿tiva aos
ponugueses quevinham para as patres do Brasil, podem ajudar a explicar o pouco desen-
volvimento da capitania no período. O número de engenhos de açúcar, depois de certa
oscilaçáo, f¡uto da destruiçáo causada pelos índios hostis, estabilizou-se' ent¡e tns do

Gab¡ieL Soa¡es de Sou *. OP. c¡t., P 83 e seguiÐtes. A representaçáo do engenho do Duque


de Aveiro pode ser vista no mapa da capitania contido em Diogo de Campos Moreno Ziara
qr.eùí razóa tlo Estado do Brasíl (1612) Rio de lNL, 1968, p 27 (edìcáo fec-similar
Janeiro:
com os mapas, elaborados aÌguns anos depois do texto) Poroutro lado, no maPa quinhen risla
¿¿ to¿as os
<la capitania, o único engenho represenrado é o trapiche de Goncalo Pires' Roteiro
sin¿is na. ro:¡d do B¡ail (c. 1536). Rio de laneiro: INL. i968, P 42.
que se en"olveu num cas" dc con-
Joáo da Rocha \¡icente possuiu lerras cm SergiPe Pârece
c

rrabando com Lrm navio cstrângei¡o Cf. "sesmaria de Marcos Fe'nandes" de 20 de março
de 1600, publicada po¡ FelìsbeÌo Freìre, ,¡1À¿ ótia de SergiVc, Op ãt ' p 346 e "Cons¡rlra do
Conselho da Índia sobre conrrabando' dc 1600, publìcada por Frédéricl'\au:,o' Le Br¿sil au
XVIII siecle. Coimt¿rl Imprensa da Llnilersiàaðe. 1961, p ' 227
/-a
Depoimenros de Mecia Ba¡bosa e de sua máe À4a¡ra Ba¡bosa' em 1591. nas Denunciaçóu
ßllhi¿, Ap. cít.. p- 453 e 456. Regisrre-se tambóm que Estácio dc Sá tinha em Pirajá um fèìtor

chamado GonçaLo Pires. Cf "lnr-entário que se lez da fazenda que veio do Reino do gcverna-
dor L{em de Sá ...' de 1578. publìcado em Do crmentor Para a Hi$óïía /'o 'Lçúcar. OP cíl
"¡o1
p.279.
111,

lì9 "No povoar desta capìranìa qasrou Vasco Fernandes Coutinho muiro mìl cruzados' que ad
quìnL' na india e rodo patrimônìo qLre rìnha em lonugal' que todo para rsso vendeu' o qual
acabou nela ráo pobremente, que chegou a darem-lhe de comer pelo amor de Deus e não sei

se teve um lençol seu, em que o amortalhassern". Gab¡iel Soares de Sousa. Op cit p 93 '
120 Cf. José Teixeira de Olileira., Históril ¿o En¿¿o ¿o E\Plrítn Sãnto.F.io de Janerro: IBGE' 1951'
272 Rodrigo Ricupero

séculoXVI e início do XVII, em ro¡no de oito engenhos. Diogo de Campos Moreno, na


sua "Relaçáo das praças forres (...)" nos fornece uma lisra dos propriecáriosrrr.
Dentre os proprierários a¡¡olados, chama a atençáo Marcos de,{zeredo e Miguel de
Azeredo. Esses i¡máos e¡am sob¡inhos de Belchio¡ de Aze¡edor?r, ancigo morador da ca-
pirania, onde serviu diferentes cargos, rendo já no rempo de Tomé de Sousa se des¡acado
por serviços prestados, o que lhe valeu a me¡cê de "se¡ romado" por cavaleiro fidaigo',j.
Em 1550, foi provido, por Ancônio Cardoso de Barros, como escrivâo da Fazenda Real;
pos¡eriormenre seryiu como capitáo-mor da capitania no pe¡íodo final da vida do dona-
tário e nos seguintes a sua mofie, provavelmente até meados da década de 1560; momen-
to em que foi nomeado pelo rei provedor da Fazenda, cargo que já servia por provisáo do
governador-geral'24. Teve papel desmcado na conquisra do Rio de Janeiro, pois, além de
pardcipar arivamenre dos combares, foi enviado por Estácio de Sá para o Espí¡ito Santo
para, aproveitando-se dos cargos, rrazer reforços e suprimenros para a nova cidade. Man-
rinha boas relaçóes com os jesuítas e possuía grande número de escravos, inclusìve uma
aldeia, sendo provaveimenre um dos ou o mais impo¡râme colono da capitaniarrt.
Seus sob¡inhos também ocuparam posiçóes de desraque na capitania. Ma¡cos de
Àze¡edo foi enca¡regado por D. Francisco de Sousa, em fins do século XVI, da expedi-
ção em busca de esme¡aldas, da qual voltou "c¡azendo grande cópia de pedres que no
princípio se riveram por perfeitas, mas depois se acha¡am liahas de muiras qualidades
que deviam ter pe¡a serem ve¡dadei¡as esme¡aldas"rrd, feiro que lhe valeu a me¡cê do

Diogo de Campos Moreno, "Relaçáo das pracas forres, povoacóes e coisas de imporränciaque
Sua Majesrade tem na cosra do Brasil, fazendo princípio dos baixos ou ponra de Sáo Roque
para o sul do esrado e defensáo delas, de seus fruros e ¡endimenros, fèira pelo sargenLo mor
desta cosra (...)" de 1609. puhlicado na Retista do ln*itato Arquealógica, Histórìco e Geognífco
Pe¡nambucano, LYII, 1984, p.221.
122 O 'Azeredo" é subsri¡uído com freqùência na documenraçáo por'Äzevedo".
t23 Bairhaza¡ da Silva Lisboa. Aznaes d.a Rio d-e Janeiro. (t834). Rio de Janer¡o: Insriruro Euvaldo
Lodi, 1973, p. 320 (Ediçáo fac-similar).
"Traslado da lrovisáo do escriváo diante do provedor, feiror e almoxarife, aÌfândega da capi-
tania do Espíriro Sanro" de 27 de feve¡eìro de 1550, que consra do cirado "Livro l. do regisrro
de provimenros ...", publicado na colecáo D¿atmentos Histtiicos, Op. cít., voI.35, p.62;"Provj-
menco de Belchior de.{zeredo, provedor da Fazenda do Espíriro Saoro" de 3 de março de 156J,
Arquivo Nacional da To¡re do Tombo, Chancela¡ia de D. Sebasriáo e D. Hen¡ique, Doaçó€s,
Livro 14, fl. 431 v e "Carra de Mem de Sá para os jLrízes, vereadores e porrc da capirania do Es-
pírito Sarrro" de 3 de agosro de 1560, publicada por Bahhazar da Silva Lis6oa, Op. cit., p.322.
Ci "Carta por comissáo do Pad¡e Brás Lourenço ao Padre Miguel de Tor¡cs" de t0 de junho
de 1562, publicadâ por Serafirn Leire (SJ). Cartas dos primeiros jesuitas do Bru¡í|, Op. cir.,vol.
IlI, p. 464 e Elysio de Oliveira Belchio¡ Op. cít., p.62;
t26 Diálogos das Granàezas zlo Bra:il (1618), I' edicáo inregral segundo o apógrafo de Leiden por
José Antonio Gonsalves de Mello. Recife: Imprensa Uûiversirária, 1962, p, 36. A ob¡a e arri-
buida a Ambrósio Fernandes B¡andáo.
A form¿cåo d¿ eli¡e colonial 2l)

hábi¡o da O¡dem de Cristo com quarenra mil réis de rencarrT. Segundo Carvalho Fran-
co, Marcos de Azeredo foi nomeado em 1605 capitáo-mor do Espíriro Santo por Fran-
cìsco de Aguiar Coutinho, terceiro donatário; pouco depois se¡ia rambém nomeado,
mas dessa vez pelo rei, para se¡vir como provedor da Fazenda Real na capitaniar2s.
O i¡máo de Ma¡cos de Aze¡edo, Miguel de .{zeredo, também possuía um en-
genho na capitania. Capitáo-mor do Espíriro Santo entre, pelo menos, 1592 e 1605,
Miguel de Azeredo era ligado ao padre José de Anchieca, que, no final da vida, apro,
veitaria uma viagem à Bahia para negociâr com o governador D. F¡ancisco de Sousa
dive¡sos assuntos ¡elativos à capirania, inclusive uma provisáo sobre as ent¡adas dos
mo¡ado¡es ao se¡cáor2t- Por fim, também vale enfatizar que tanto Marcos como Miguel
de Aze¡edo possuíam aldeias de índios],0.
O próximo senhor de engenho cirado é F¡ancisco Gomes Pe¡eira, moço de câma-
¡a da infanta D. Maria, ria do rei Filipe I, que, em .espeiro aos sewiços feiros nas partes
do B¡asil, foi nomeado provedor da Fazenda dos Defuntos e Ausen¡es da capitania do
Espírito Santo e, Iogo em seguida, provedor da Fazenda Real da mesma capitaniari-
Com ¡eÌacão a Manuel Teixeira, dono do ou¡ro engenho da capirania, sabemos,
II de Ponugal, que era mercado¡ e acabou se envolvendo no
por carta do rei Filipe
con¡rabando de pau-brasil com Rodrigo Pedro, holandês que viveu no Espírito Sanro,
e implicava também o dona¡á¡io F¡ancisco de Aguiar Coutinho- O monarca, em ourra
carta para governador Gaspar de Sousa, sobre os procedimentos a serem seguidos no
caso, instruía o governador para que "depusesse logo ao dito Manuel Teixeira do cargo

127 Frei Vicente do Sâh.âd or, Op. c;t., p. 65. A r';'ercê de fato foi cferivada e a renca esrava incluída
na "lolha geral da despesa ordinária que se faz em cada um ano no Estado do B¡asil (...)" de
22 de outubro de 1616, gue consa do Liuro 2 do Goueno lo Brasí|, Op. cit., p.36. Posterior-
me¡re, a Coroa renrou en..iálo nor'amenre a busca das csmcraldas, mâs, ao que parece, em
vjrtude de sua idade avançada, raljornada náo se reelizou. Cl "Ca¡ra d'el-rei para Gaspar
de Sousa" de 22 de fevereiro de 1613, publicaàa. em Cartas para Áluaro le Sousa e Gaspar dt
S¿z¡¿. Lisboa: CNCDP e Rio deJaneiro: Minrstério das Reiaçóes Exteriores, 2001, p. 180.
t28 Ci Francisco de Assis Carvalho Franco. Dlrion¿íno de Bandera.ntes e Sertanistas, Op- ctt-, p-
43r "Provimento de Ma¡cos de Aze¡edo, provedor da Fazenda do Espír;ro Santo" de 25 de
seternbro de 1607, A.rquivo Nacional da Torre do Tombo, Chancelaria de Filipe lI, Doaçóes,
Livro 18. 0. 233.
"Carta âo capiráo Miguel de Azeredo" de 1' de dezeobro de 1592, publicada ern José de An-
chiera. Cartas, ínformacõæ, fragnentos h;stó,'irot e semões.2'ed. Belo Horizonre e Sáo Paulo:
ftatiaia e Edusp, 1988, p. 290 e seguintes (Coletânea, publìcada originalmenre pelaAcademia
Brasileira dc Ler¡as em 1933, era o volumc III da coieçáo Cartas Jcsu iticas)
130 Ct Sera6m Leire (SJ), Hisørta, la Conpanhia de Jesus no Braszl, Ap. rtt., rcL11, p.71.
131 "Provimcnto de F¡ancisco Gomes Pereira, provedor dos Defun¡os do Espíriro Sanro" de 2 de
outubro de 1586 e "P¡ovimento de Francisco Gomes Perei¡a, provedor da lazenda Real do
Êspíriro Sanro" de 17 de março de 1588, Arquìvo Nacional da To¡¡e do Tombo, Chancelaria
de ¡ilipe I, Doaçóes, respectivamenre, livro 15, n. 408 y e livro 17, A. 163 \.
274 Rodrigo RicuPero

que servisse, mandando lhe notitcar que não vivesse mais na dita capitania do Espiriro
Santo, e sendo da naçáo ... que náo servisse mais na dita caPitania, nem em outro ofício
algum", porém, em nenhum momento, diz qual era o cargo exercido pelo réu'''
A denúncia do caso foi feita por out¡o senho¡ de engenho, Leonardo Fróes, do
qual náo temos outras informaçóes O holandês Rodrigo Pedro, acabou preso pelo
feito¡ de Marcos Fe¡nandes Monsanco, senho¡ do sexto engenho, que' susPeitamos.
¡esidia no Reino, da mesma maneira que Diogo Rodrigues de Évo¡a. também dono
de um engenho; por Êm, o úlcimo engenho da capitania era do desconhecido Ro-
drigo GarciaÌ3r.
Primeira região a ser eferivamente povoada pelos porcugueses' a capirania de Sâo
Vicenre teve um su¡to inicial de prosperidade, pois foi lá que se iniciou a produçáo
de açúcar. Todavia, a es¡reita faixa de terra entre o ma¡ e a Se¡¡a do Mar e a distância
maior em reiaçáo a Porrugal fizeram que nos ânos seguinres a capirania perdesse o vi-
gor inicial. De ¡al forma, Gabriel Soares de Sousa ¡egistrou que, os engenhos da regiáo
"fazem pouco açúcar, por náo irem Iá navios que o t¡agam"ri4.
Assim, enquanto o in¡e¡io¡ da capicania, com a ocuPaçáo do planalto' ganhou
uma dinâmica própria, diferente das demais partes do Brasil até et¡ão, o lito¡al se
manreve esragnado. Ao longo do século XVI, o núme¡o de engenhos de açúcar, ¡egis-
rrados pelos c¡onistas oscilou en¡re 3 ou 4 e 9 ou i0. Novamence é Gabriel Soa¡es de
Sousa é quem fornece maiores de¡aihes, dando indicaçóes sobre 7 engenhos, deixando,
porém, de esclarecer quem seriam os donos de ou¡¡os 2 ou 3tlt.
O primeiro engenho é o famoso Sáo Jorge dos Erasmos, originalmence montado
por mercadores flamengos em pârceria com Martim Afonso de Sousa, que Gabriel
Soa¡es de Sousa nomeia como o "engenho dos esquertes de frandes", ou melho¡ Scherz,
me¡cado¡es de Fland¡esr16.

132 "Carra do rei pa¡a D. Luís de Sousa" de 29 de agosto de 1618, que consra do ¿luro 2 da Go-
¡terna do Bra¡il, Op. rlr., p. 106; "Provisáo clue el-rei mandou ao senhor Gaspar de Sousa sobrc
a enrrada de uma navera na capicanra do Espiriro Santo, quc era ilglesa' de 8 de oucubro de
1612, publicada em Cartas para Áluaro le Sarsa e Gasp,zr ,1.e Sousa, AP. cít , p. 151 e "Cana
de Diogo de Meneses pera el-rei" de 3 de levereiro de 1609, publicada nos Anais d¿ Biblíatec¿
Nø.cional. Ap. cit., rcL 57,p.46.
131 A única rele¡éncia a Rodrigo Garcia na documentaçáo consultada náo fornece maiores infàr-
maçóes sobre sua vida- Cl. "Carta ao capìráo Miguel de,A.zeredo" de 1" de dezembro de 1592,
publicada em José de Än.hier:r, OP. ¡:it., p.290
Ì34 G¿bnel Soa¡es de Sousa, O¿. crr., p. 111.
135 Âlguns desres engenhos esrarian na capirania de Santo Äma¡o ou, pelo mcnos. na rcgiáo
fronteiriçe enrre essa e a de Sáo Vrcen¡e (Ver nora 39 do 3'capírulo desre rrabrLho).
136 Cf A colecânea de documenros "Os Scherz da capicania de Sáo Vicenre" in: Publicaçóes do
Arquivo NâcionåI, voì. XIV, p, 9 e seguintes. Rio de Janeiro: Arqui\rc Nacional, 1914. \¡er
A formacáo da eli¡e colonial 175

O segundo era o do genovês José Ado¡no, casado com Cararina Monteiro, des-
cendente de importantes Êguras da capitaniar'.. Mui¡o próximo dos jesuítas, Ädo¡no
teve papel de destaque na guer¡a conrra os tamoios e na conquisra do Rio de Janeiro.
onde ob¡eve sesma¡iasl's.
Con t inu¿ ndo su¿ de.cri.åo da capirania. Gabriei 5o¿res de Sou.¿ ¿presen¡¿ m¿ì.
alguûs nomes: F¡ancisco de Ba¡ros, Paulo de Proenca, Domingos Leitáo, Antônio do
Vãle e Manuel de Olivei¡a. Quanto ao primeiro, náo existem maio¡es inform¿cóes
sobre quem seria, já Paulo de Proença foi mo¡ador em Sanro André, onde foi oñcial
da Câma¡a'r"; volrou ao litoral posteriormente, casando com uma filha de B¡ás Cubas,
que aÌém de ser capitáo de São Vicente por dois períodos, ai¡da ¡inha acumulado ou-
t¡os cargos: como o imporrante posro de provedor da Fazenda na capirania e rambém
o de alcaide-mo¡, cargos que depois rambé¡n fo¡am exe¡cidos peio frlho Ped¡o Cubas.
Vale o regisrro. que ¡an.o o pai como o filho receberam impo¡tanres sesma¡ias no Rio
de Janeiro, mas, ao que pa¡ece, opraram por concerìrrâr suas arencões em Sáo Vicenre,
embora um ¡amo da família tenha permanecido no Rio deJanei¡o. Brás Cubas e¡a sem
dúr'ida a principal figura da capitania de Sáo Vicente tanto pelos cârgos que ocrlpou
como pelas rerras que possuiu, influêncía que se manteve com seus descendenres¡40.
Dencre os senhores de engenho da capitania, encontramos Domingos Leitáo,
casado com a filha de Luís de Góes, primeiro proprietário do engenho da Mad¡e de
Deus. Es¡e e¡a i¡máo de Pe¡o de Góes, donará¡io da f¡acassada capitania de 5áo Tomé
no atuâl norte flúminense e capitáo-mo¡ da Cos¡a duranre o governo de Tomé de Sousa
'''- Pa¡a os estudjosos dos primeiros tempos da capitania. náo é cerro que Domingos
Leitáo renha vivido em 5ão Vicente, porém, o que se sabe é que seu engenho era admi-
nistrado por seu irmáo Jerönimo Leitão, capitáo-mor de Sáo Vicente ent¡e 1572 e 1592.
O genro de Jerônimo Leitáo era Antônio do Vãle, o penúltimo senhor de engenho

rambém "Carta do padre José de Anchieta a Gaspar Schev (morador em Anruérpia) de 7 de


junho de I578, publicada em José de A.nchiera. Op. ctt., p.275.
Fiiha de Cris¡óváo Monreiro, anrigo feiror c almoxarife das capitanias de Sáo \¡icente e Santo

Amaro, nc¡a de Jorge Ferreira, capiráo mor de Sáo Vicenrc e bìsnete de Joáo Ramalho. Cl
Américo de Mou¡a. Os pouoal-ores lo ca,rnVo lt Pì1',1tíiling'r. SâoPàulo: Separara da Revrsra do
IHGSq 19i2, p.9.
Ì38 Eì,vsio dc Olneira Belchior, Op. cir., p. 16

119 Ibident, p. 151 .

i40 El1'slo de Oliveira Belclúo\ OP. cif., p. 142 e 1j1: Francisco de Assis Can alho Franco. Dlrl¿-
¿10 Brasll. Op. .ít., p. 129 e Lcirc Cord.ciro. Brtís Cubas e a
1l.i1io de B.ln¿/eítu tes c Scrt¿nista:
CÉl,ita,ri'1¿€ Sáo Vicerl¡¿. Sáo Paulo: S/N, Ì951.
El¡ìo de Oliveira Beichior, Op. cit.. p.228.
776 Rodrigo Ricupero

citado por Gabriel Soares de Soúsa, que, prova,.elrnente e¡a filho de ou¡ro Antônio do
Vale, anrigo rabeliáo e escriváo das sesmaria da capiraniar¡2,
Por fim, o úftimo senhor de engenho era Manuel de Oli"ei¡a Gago, ouvidor na
capirania e casâdo com Genebra Lei¡ão, filha de Diogo Rodrigues, imporcante mem-
bro da governança de Sancos e de sua mulhe¡ Isabel Leitáo, da familia de Jerônimo e
Domingos Leitáo1ii.
As guerras cont¡a os índios que resisriam à ocupaçáo do te¡ritó¡io pelos portu-
gueses também aringiram a capitania Sáo Vicence em dife¡entes momentos do século
XVI, ranto no liro¡al como no inrerior..A mais importante delas foi a gLle¡ra contra os
amoios, aliados dos franceses, que vinham da regiáo da Baía da GLranaba¡a araca¡ os
e5r abelecimenro,i da capitanìa vicenrina.
O ápice dessa iuta foi a expulsáo dos franceses e o povoamento do Rio de Janei-
ro, que, em conjunto, foram pro.'avelmente o primeiro graode empreendimento do
Governo-geral, bem como dos colonos estabelecidos nas pa¡res do Brasil, exigindo
a reuniáo das forças dispersas para, em duas etapas, derrocar os f¡anceses em 1í60 e
funda¡ a cidade em 1565-
Náo cabe aqui um ¡elato pormenorizado dos acontecimentos, por demais co-
nhecidos, sobre a expulsáo dos franceses efecuada peia expediçáo comandada por
Mem de Sá, nem sob¡e a fundaçáo da cidade por Estácio de Sá, ressalte-se apenas
que em ambos os episódios participaram mo¡ado¡es vindos, pelo menos, das se-
guintes capiranias: Bahia, Ilhéus, Porto Seguro, Espíriro Santo e Sáo Vicente, além
de reforços do reino'i¡-
O esforço, contudo, teria sua compartida..As re¡¡as e os cargos da nova capita-
nia fo¡am rapidamente disrribuídos para seus conquistadores e primeiros povoadores,
principalmente colonos de ourras capitanias que em muitos casos opt¿¡am pela nova
área, iniciando assim a formaçáo da elite locaitrt.
Bom exemplo disso é F¡ancisco Dias Pinto, cavaleiro frdalgo, antigo capitáo de
Porto Seguro, que foi provido por Mem de Sá, em respeito eos se¡viços prestados com

CL Francisco de Assis Ca¡.alho Franco. Os Capít,ies-nore: uirenti'/ros, Op. cit.,p.43 e A.m¿ti-


co de Moura, Op. cìt., p. lÙ2.Yer ambém Anrhonv Knive\ Vriria Fortura e Estanhas Fada:
/¿... (século XVII)G¡aduçáo). Sáo Paulo: Brasiliense, l94Z p. 181
143 Ibíden, p. 1,28 e 165.

144 Para uma descrição lacrual dos aconrecimentos, ver F¡ancisco Âdolfo de Varnhagen, O¿. rzr.,
vol. I, seçóes XVIII e XIX.
t45 Ver, por exemplo, a declaraçáo de \4anuei de Salinos quando requercu uma sesmaria: "Or
Geus parenred mais que todos foram enquanro viveram leais cavalejros e servidores d'el-rei,
nosso senhor, e em seu serviço na conquisra desu cidade (do Rio de Janeiro) e suas rerras
gastaram roda sua fazenda e seu sangue e vidas". "Carra de sesma¡ia dos sobejos de rerra que
pediu Mannel de Salinos" de 29 dejulho de 1602, que consta do Tarnbo das cartas de s¿:naria
do Rio de Janeiro (1594-1595 e t6A2-t605). P.lo de Janeiro: Arquivo NacionaI, 1967, p. t2I.
A lormrcio d¿ el¡r( colonial 171

Estácio de Sá na fundacáo do Rio de Janeiro, "onde gasrou mui¡o de sua fazenda, e


po¡ se. pessoa de muita experiência, e auto¡idade e sabe¡ (...)" no cargo deÀlcaide-mo¡,
posto que passou pa¡a o âlho Diogo Fe¡nandes Pinro quando foi eleito peio "povo
e seus mo¡ado¡es ... parair ao reino a requerer certas coisas que perrenciam ao bem
da República"'r¡, o que demonsrra que era um dos mais imporranres moradores da
cidade''7. Our¡o exemplo é o de Crispim da Cunha, juiz do peso do pau-brasil no Rio
de Janeiro, que. em 1574, ¡ecebeu uma sesma¡ia de Cris¡óváo de Ba¡¡os, de quem era
c¡iado:13. Posteriormente ¡eceb€ria ourra sesma¡ia de Salvador Correia de Sá e ocuparia
o posco de feito¡ e almoxa¡ife da Fazenda da capirania, além de se¡ capirão na glrerra
con os rndio" e oÊcial da Cäma¡a '
Por outro lado, o desenvolvimento da produçáo de açúcar na capirania foi lento,
possivelmence retardado pelas contínuas guerras com os índios, que, mesmo depois de
expuÌsos da regiáo da Baia da Guanaba¡a, conrinuaram resistindo ao avanco porruguês
e ameacando a cidade. Em meados da década de 1580, os engenhos cariocas náo eram,
segundo Fernáo Cardim, mais que do rrês, mesmo número apontado por Anchieta em
1585"0. Gab¡iel Soa¡es de Sousa, conrudo, só assinala dois, nomeando, porém, seus
donos: Sah'ador Cor¡eia de Sá e C¡isróváo de Ba¡¡osrt'.
Cristóvão de Barros, que como vimos era proprietário de engenho na capitania
da Bahia, exe¡ceu papel destacado na conquista da regiáo, pois foi o capitáo da frora

i46 "T¡aslado da Provisâo Francisco Dias Pìnro para senir de Alcaide mor desLa cidade" de 1j de
aeosro de 1i6l 'Apresenraçáo que fez Francisco Dìas Pinro, alcaìde mor para Diogo l-ernan-
des Pinto seu lìlho sc¡vir o dito cargo" de 2Ì de se¡embro de 1572 e "Traslado da Provisáo por
que Francisco Dias linro se¡..e de Ouvrdo¡ em esra cìdade" de 5 dc maio de 1572, publìcadas
\o Arclríi.to ¿o Distlicto F¿d,eral.Rlo de Janeiro: lreËirura do Dìsr¡iro Fede¡al, 1894 -1897,
respectìvamente, r'o1. I, p. 563 e vol. IV, p. 103 e 101.
i47 Cl. Balthaza¡ da Silva Lisboa, O?. cit., p.327 e EI\,sío de OL!.srra Bclchro¡. OP. cit., p.369.
148 "Carra das terras de Crìspim da Cunha da Lranda além da cidade velha" de 8 de janeiro de
1574 e "Cana de sesma¡ìa das re¡ras de Crisróváo de Barros que csráo em Masé" de 27 de
ju)ho de 1579, que constam ðo Ta¡nbo ¿/a: Cart"s dc Se:¡n'¿n¿¡ do Rio de Janetro (1573-4 t
7528-9), publicado na coleçâo Docunento: Hist¡jricos, .ol. il1 (nova série). Rio de Janeiro:
Biblioreca Nacional, 1992 ¡espectivâmenre, p. 90 e 209.
149 Cl El¡sio de Olivelra Belchior, Op. rh, p. 154. lnteressanre também é que for o próprio Cris-
rór.áo dc Bar¡os, como provedor rnor, que deu quitaçáo das contas de Crispim da Cunha. Cl.
"Quìraçáo ¿åda, em 1588, na Bahìa, por Crisróváo de Barros. provedor mor da Real fazenda,
a Crispim da Cunha, feiro¡ e Almoxa¡ife da mesma fazenda no Rio de Janeiro" de 30 de Iu-
nho de 1588, pubiicada por Antônio Prado Jr, en- Ordens e Proúzoens Rcøyz. Rio de la'r,eiro
Jornal do Brasil, r928. Ill, p. i25.
150 Fernáo Cardir;,, Tr¿tados da Tena c Gcnte ¿o Brasll (sêcu1o XVI)- Sáo Paulo: Companhìa
Ediro¡a Nacional, 1978, p. 210 e padre José de Anchjera, "Informacáo da Provincia do Brasil"
de 1585, publicada em Anchiera, Op. cit., p. 428.
i51 Gab¡ielSoarcs de Sousa, Op. .lt, p. 108.
278 Rodrigo RicuPero

de auxílio aos fundado¡es da cidade enviada do Reino, e, Posteriormeûrei exerceu' ao


mesmo remPo, os cargos de capitáo-mor e provedor da Fazenda, e¡r're 1572 e 7574,
quando recornou à Bahia para ocupar ouc¡os cargos de destaque'it Alé¡n nomea-
'-las
çóes, Cristóváo de Ba¡¡os rambém ¡ecebeu a mercê de
poder retirar, enquanto durasse
seu gove¡ro, seiscentos quintais de pau-brasil cada ano, o que, provavelmente' con!ri-
buiu para que ele montasse seu engenho de açúcar na regiáorji.
Salvado¡ Co¡reia de Sá, out¡o senhor de engenho citado por Gabriel Soa¡es de
Sousa, era sob¡inho de Mem de Sá e, com a morte de Estácio de Sá, acabou nomeado
pelo cio para governar o Rio de Janeiro, quando este volcou para a Bahia, iniciando
uma espécie de "d-Lnestii' que dominou a vida da capitanìa pelo menos aré meados do
século XVIIrti.
Salvado¡ Correia de Sá governou a capitania por duas vezes' a primeira de 1567
até 1572, e a segunda ent¡e 1i78 e 1598. Seus filhos Ma¡rim de Sá e Gonçalo Correia
de Sá ocuparam postos imporcanres, o primeiro foi governador do Rio de Janeiro em
lrês momentos e também de Sáo Vicente e o segundo, além de capiráo do Fo¡Ie da
Ba¡¡a do Rio de Janeiro, mais ta¡de denominado Santa Cruz, foi capitáo-mor de Sáo
Vicente e Sanro Amaro e administ¡ado¡ das Minas dessas capitanias't5. Seu ne¡o, o fa-
moso Salvado¡ Co¡¡eia de Sá e Benevides, também governou a capicania, além de servir
oLlrlos postos importantes, inclusive o governo de Angola, após ¡estau¡ar o domínio
português ali, perdido momentaneamente para os holandesesLt6
Salvador Co¡reia de Sá não deixou de aproveirar o período em que governou a
capitania para amealha¡ considerável patrimônio. Obceve muitas rerras, inclusive a
ilha que mais rarde Êca¡ia conhecida como "do Governado¡", onde montou o engenho
referido por Gr,briel Soares de Sousa; posteriormenre. cons¡ruiria outro Além dos en-
genhos, Salvador Co¡reia de Sá envolveu-se na exploraçáo do pau-brasil e em negócio

ri2 ',{Ìva¡á de D. Sebasriáo, nonleando Crisróváo de Barros, capitáo e governador da Capitania


e cidade dc Sáo Sebasriáo do Rro de Janeiro" de 3t de ourubro dc 1571, 'Alvará Régio' da
mesma dac¿, para que Cristór'áo de Ba¡ros sirva também o cargo de provedor da fàzenda" e

'Alvará Régio concedendo a Cristóváo de B¿rros poder rirar da capitania do Rio de Janeiro,
seiscentos quinrais de Pau Brasil" de l7 de dezembro de 1571, rodos publicados porJoaquim
Ve¡íssimo Serráo, Op. ctt.,vol.II, p.86,87 e93-
ti3 t\'io.-r< Ol;v.ir: Belchior. Op at. p.

t54 Ëxe é o rírulo de ume obra de Luis .'l'orron. ,4 Dìntcia dos Sás w Bra:ll Lìsboa, 1943. Vale
lembrar rambém que ouuo ramo da iamília de t'{em de Sá optou pela Bahia, abandonando as
rerras recebidas no Rìo deJaneiro como é o caso dc Diogo da Rocha dc Sá, senhor de engenho
do Recôncavo de Salvador. Êlysio <le Oliveira BeLchior, Op. cit., p. 394.
15i Ibiden, p.412 e seguimes.
1t6 Charles R. Boxer, S¿l¿,¿dor Corr¿i¿ ¿le S'í e a htta pelo Bra:il e Angala, 1602-1686 lrraàuçâo)
Sáo Paulo, Companhia Edirora Nacional e Edusp, 1973.
A formação da elite colonial 7?9

com Angola, além de ser um grande apresador de índios. Nesses empreendimenros,


contavâ com o auxílio dos Êlhos, aos quais rambém concedeu sesmariasitr.
No século seguinte, a expansáo da produçáo açucareira levou ao aumento do
número de engenhos na capitania. O jesuíta Jacome Monterio, em relarório escriro
em 1610, mencionava a existência de 14 engenhos no enro¡¡ro da cidade e oLlrros 2
mais ao Sulrts- F¡ei Vicente do Salvador, posteriormenre, avaliaria, que graças aos mé-
todos menos cus¡osos de montagem de engenhos, no "Rio de Janeiro, orde aré aquele
rempo se r¡atava mais de faze¡ farinha para Angola que açúcar, agora hâ já quarenra
engenhos"rje. Esses observadores, embo¡a at aliem o aumento da produçáo não âpon-
tam os novos senhores de engenho'60.
Dessa fo¡ma, ao longo do período estudado, o desenvolr.imento das capitanias
localizadas ao Sul da Bahia foi muito limitado, exceçáo da capitania do Rio de Janei-
¡o. Conrudo, o setor dos moradores que se destacou n€sse processo foi, em sua ampla
maio¡ia, o que conseguiu controlar o governo da capitania.

t57 Ver, enrre outros, Elysio de Oliveira Belchior, Op. cit. e o ìnteressanríssimo livro de viagens
do pirata inglês Anrhony Knivet, que foi, como ele mesmo dì2, "escravo" dos Sás. Anthonv
Kniler. Uú i1l Flrtrn¿ e E:trdnhos þados.SâoPaulo: B¡asiliense, l94Z P. 90 e 101 enrre outras-
Ve¡ ¡ambém "Carta de sesmarìa das ter¡as e águas de Marrim de Sá e Gonçalo Correia de Sá
... ', que consta do Tambo l¿s C¿rtøs à.as Sesnaria,; ào Rio de Janeiro (1594-1595 e 1602-1605).
Rro deJaneiro: Arquivo Nacional, 19/l, p. ò8.
l5E ladre Jacome ì\'forterìo. "Relaçáo da pro..Íncia do Brasil' de 1610, publicada por Seralìm
Le¡e (SJ), Hisró¡in da Companhia de Jesus no BrasíL, O?. cit., rcl.VIll, P- 393
1i9 Frei Vicenre do SaÌr,ador. Op. cít., p.366.
160 Com relacáo ao Rro dc Janeiro, os recentes estudos de Joáo lragoso mostrâm a imPortåncie
do núcleo origrnal de familias dos conquistadores, primeiros povoadores e membros da admi-
nistraçáo denrro do que ele chama de "primeira clite senhorral do Rio de Janeìro", inclusive
a utilizaçáo dos cargos como lorma de gerar p¿trimónio. lo;o Fr¿goso. -Â formacáo da eco-
nomra colonial no Rio de Janeiro e de sua prrmeira elite senhorial Géculos X\''l e XVII)" nr:
Joáo Fragoso, Maria Fernanda Bicalbo e Maria de Fá¡ima Gouvóa (Orgs.). O Anttgo Regrne
no: 'lrópico:. Rto de Janeiro: Civilizaçáo Brasileira, 2001, p. 29.
90 patrirnônio fundiário (IX)
Me constoa ser exorbitante em qaantidøda d-e terras a repartiçãa que d-elas fez Jerônima
dt Albuqu,erqu,e capitã-o que foì dø capìtazia do Rio Grand.e a seus flbos ... se partìráo
ø.s ditas terras pelo meìo ... fcando a metad.e aos f.lhos do d,ìto Jcrónimo dz Albuquerqac
Filipe II de Portugai J.

Pernambuco eltamaracâ

Os o6ciais de rodos os ofícÌos sejam nas tais parres (Pernambuco) táo pode-
rosos e assim os ve¡eadores da rerra, tenham todos engenhos de açucares...,
Domingos de Abreu e Briror.

O processo de conquisra da faixa lito¡ânea enrre a cidade do Salvado¡ e a de


Belém na foz do Rio Amazonas foi, em linhas geraìs, similar à conquisra dos te¡ri-
rórios ao sul da capi¡ania da Bahia, com a expulsáo paula¡ina dos índios inimigos e
de seus aliados f¡anceses à med-ida que os po¡tugueses avançavam-

Cf. "Traslado do Auro e mais diligêncìas que se 6zeram sob¡e as daras de te¡ras da ca-
piranìa do Rio Grande, que se ¡inham dado" de 1614, publicado na Reaista do Instbato
Htsajrtco do Cear¡í. Fo¡raleza: Ins¡icLrto Hìsrórico do Ceará, romo 19, p- 1li.
Domìngos deÂbreu e B¡iro, "Sumá¡io e desc¡içáo do Reino deAngola e do descobrimenro
cia ilha de Luanda" (c. I591), publicado por Alfredo cie Âlbuquerque Felner. Ltnt inquërita
à xilã ¿¿ninilttu1tir,a e rconótnîa de Angola c do Brasì|. Coimbrt Imprensa da Universida-
ð,e, ).933, p.72.

281
282 Rodrigo Ricr:pero

.Ao norce, contudo, a €xPansáo porluguesa contou inicialmente com um único


ponro de apoio: a capirania de Pe¡nambuco. Afinal, a capitania de ftamaracá pouco
represenrou nos primeiros temPos, e âs tencarivas de ocupaçáo das demais capìranias,
doadas por D. Joáo III
na regiáo, fracassaramr'
Dessa maneira, Pe¡nambuco foi o núcleo i¡¡adiador da conquista dos demais terri-
rórios lirorâneos aré a foz do Àmazonas. Inicialmenre, en¡¡e as décadas de 1530 e 1560,
porém, os portugueses estabelecidos em Pe¡nambuco luta¡am simplesmenre para contro-
la¡ uma á¡ea bem menor, ou seja, a regiáo en¡¡e ltama¡acá e o Rio Sáo F¡ancisco'
A capirania de Pernambuco, como já se disse, ganha em léguas foi conquiscada
em palmas, e a resistência indígena mais de uma vez colocou a Presetca Portuguesa em
sé¡ias dificuldades, como nos episódios descritos por Hans S¡aden!. Gab¡iel Soares de
Sousa, quase cinqüenta anos depois da lundaçáo da capirania, ¡elatava como l)ua¡te
Coelho, logo após chegar a Pernambuco, Fez uma torre de ped¡a e cal, 'bnde teve gran-
des trabalhos de guerra com o gentio e franceses -.. dos quais foi cercado muitas vezes,

mal fe¡ido e mui apertado ...", mas graças ao seu esforço, náo somenre "se defendeu
valerosamente, mas ofendeu e resistiu aos inimigos, de maneira que os fez afasta¡ da
povoaçáo e despejar as te¡¡as vizinhas aos moradores"t.
Nos últimos anos de vida de Duarte Coelho, contudo, o controle porruguês
sob¡e as re¡¡as da capitania ainda e¡a ¡eduzido. Em Êns de 1554, aProveitando-se de
confllro ent¡e os índios, os moradores de Pernambuco conseguiram ampliar a ocuPa-
ção da várzea do Capibaribe e dominar a regiáo entre as vilas de Olinda e de lgaraçu".
Os confliros, porém, continuaram, e Jerônimo de Albuquerque, irmáo da mulhe¡ de
Dua¡¡e Coelho, que en.áo govetnava a capitanìa, contavà, num¿ ca¡ra ao ¡ei, as difi-
culdades causadas peia guerra, com a destruiçâo total de dois engenhos e a parcial de
um terceiro, provavelmente os únicos da capitania, o que fez que os mercadores nâo
achassem "açúcares em que emp¡egar seu dinhei¡o", retornando sem carga, o que a¡¡a-
palhava o e'forco de ocupacjo do cerritório-.

Francisco Adolio de Varnh.ager', Histórit gera.ldo Bn¡¡|,5'eð'- j vols Sáo P¿uÌo: Melhora
menros, 1956, vol. I, p- 192 e seguinrcs.

Hans Srederr, Duas Viagers ao Bra:l/ (t5i7)(rraduçáo), Belo Ho¡ìzo¡te: katiaia, 1974, p. 46
oua versáo do mesmo rexro publicada em lo rtinL:i ¿etoftl Hanr St¿7l¿2, Sáo P.ìuÌo, Tcrceiro
Nome, 1998, p. 24 (Àlguns rrechos sáo bem diferentes nas duas craduçóes)'
Gabriel Soares de Sous a, Tr¿tur/o ¿le:crîiw ¿la Bì-ø,sil ¿n 1587. Sâa Pauio: Companhia Edìrora
NacionaL, 1982 p.58.
Frei Vicenrc do Sal..ador, Hi:tória rto Br¿sí/ (\627). i' ed. Sáo Paulo, Melho¡amencos, 196j, P.
t36.
''Carra Jerônimo de .A.lbuquerquc" de 28 de agosro de l5í5, publicada por Carlos tr4alheìro
de
Dirs (Djr.), Históri¿ ¿,2 Coloniza,t',io ?orrugtesa d.o Brasí|, 3 voIs. Porro: LicograÊa Nacional,
1922, vol. Ill, p. 380 (Citada daqui em diante apenzs como Hì*ória y'a Colonizaçtio ?arngue-
sa da Brusil).
A formaçáo da elite colonial 283

Os índios inimigos expulsos da várzea do Capibaribe refugiaram-se na regiáo do


Cabo de Santo Agostinho, de onde atacavam os portugueses e os índios aliados. Na
tenta¡iva de desalojá-los, porém, as forças portugueses, comandadas por Jerônimo de
Albuquerque, foram fragorosamente der¡otadas nos Gua¡a¡apes. disrantes pouco mais
de 2léguas de Olindas. A situaçáo continuaria difícil nos anos seguintes, o que ievou
a Rainha D. Cararina, entáo regente, a ordenar em 1560 a volta para Pernambuco do
sesundo donará¡io, Dua¡re Coelho de Albuquerque, acompanhado do irmáo Jorge de
Albuquerque Coelho.
O norrc donatário "vendo a muìta gente que acudia, assim de Portugal, como das
ourras capitanias, para povoarem a sua de Pe¡nambuco", nas palavras de Frej Vicente
do Salvador, "e fazerem nela engenhos e fazendas, e qr¡e as ter¡as do Cabo (de Santo
.Agosrinho), que os gentios inimigos rinham ocupadas, eram as mais férteis e melhores,
dete¡minou de lhes faze¡ despejar por guerra", organizando pa.a lanto uma grande
expediçáo, para a qual "fez resenha de gente que podia levar". Em seguida, ordenou
por capitáo para os moradores de Igaraçu, Fernão Lourenço, capicáo da vila; para os
de Pa¡atibe. Gonçalo Mendes Leitâo, i¡máo do bispo e genro de Jerônimo de Albu-
qùerque; pa¡a os da vá¡zea do Capibarìbe, Cristór'áo Lins e pa¡a os da vila de Olinda,
o¡ganizou t¡ês companhias, em que os moradores foram agrupados de acordo com sua
origem, assim os de Viana Êcaram sob as ordens de Joáo Paes Barreto; os do Porto,
com Ben¡o Dias de Santiago e os de Lisboa, com Gonçalo Mendes de Eh,as, me¡cadot
fora grande contingente de índios aliados. Além destes, recebeu reforços de Itamaracá,
enr,ìados pelo capitáo-mor da capitania Pero Lopes Lobo, que participou da conquista
na "companhia dos aventureiros, que era dos mancebos soltei¡os". No comando geral,
ia Dua¡te de Albuquerque Coelho, acompanhado por D. Filipe de Moura e Filipe
Cavalcanti, genros de Jerônimo de Albuquerquet.
Após a virória, o dona¡á¡io, ainda segundo as palavras de F¡ei Vicente do
Salvador, "repartiu as te¡ras po¡ pessoas que começatam logo a lavrar", surgindo
nesse momento os primeiros engenhos rra ¡egiáo. O sucesso dessa conquista levou,
quase que imediatamen¡e, a uma nova campanha, sob comando, dessa vez de Fi-
lipe Cavalcanti e de Jerônimo de -A.lbuquerque. A nova vitória permititr o controle
das te¡¡as do ¡io Serinhaém e o cativeiro de uma ¡¡rande quantidade de índios
aremorizados com as derrotas, ab¡indo, assim, caminho para o domínio completo
da região meridional da capirania.
Dessa fo¡ma, os portugueses, morado¡es em Olinda, que, antes da chegada de
l)uarte de -Albuquerque Coelho, "náo ousavam... sai¡ fora da vila, mais do que uma'
duas léguas pela terra a dent¡o e ao longo da costa t¡ês, quatro léguas", puderam,
segundo Afonso Luiz, depois de tais vitó¡ias, seguramette ir quinze ou vinte léguas

F¡ei Vicenre do Salvador. Ap. cit., p. 137


Ibídem,p. 137 e segúntcs.
284 Rodrigo Ricupero

pela terra a dent¡o e sessenta ao longo da costa'o. Gab¡iel Soa¡es de Sousa, ¡ambém
desc¡evendo esre processo de conquista, conta como Duarte de Albuquerque Coelho
fez guerra aos íodios ''malt¡arando e carivando neste gentio, que é o que se châme cee-
ré, que o fez despe.ja¡ a cosra toda, como está hoje em dia, e afas¡ar mais de cinqüenra
léguas pelo sertáo"Ì!.
A ocupaçáo efetiva da laixa lito¡ânea da capirania de Pernambuco, tanto ao norre,
como ao sul de Olinda, permiciu a apropriaçáo das terras e o cativeiro dos indígenas,
possibilitando, assim, o rápido flo¡escimen¡o da produçáo acucar€ira. O núme¡o de
engenhos cresceu, no início da década de 1570, das 3 unidades, citadas por Jerônimo
de Albuquerque em 15i5, para 23, incluindo nestes 3 ou 4 em construçâo, confo¡me
Pero de Magalháes Gandavo; informaçáo que o próprio ajusraria, poucos anos depois,
para quase 30 engenhosrr. Essa evoluçáo continua¡ia nas décadas seguinres, ranto que
Gab¡iel Soa¡es de Sousa, escrevendo por volta de 1582 estimava em 50 ou 53 os en-
genhos da capirania e Domingos de Äb¡eu e Brito, pouco anos depois, apontara 63
engenhos em Pe¡nambucolj. Nenhum destes autores, cor¡udo, esclarece quaìs seriam
os donos dos engenhos pernambucanos, tal informaçáo somente poderá ser encontrada
na "Relaçáo das praças fortes, povoaçóes e coisas de imPo¡tância que Sua Majestade
rem na Cosra do B¡asil, fazencio princípio dos baixos ou ponta de Sáo Roque para o

.A.lònso i.uiz Piloro & Benro Teìxcì¡a. ,\2¡tfio.gìa d- P,osapapea. (1601). Recife: UFPE, 1969.
P.i7.
Gabriel So¿rcs de Souse, Op. ct1., p. j8.
Sob¡c o cariveiro indigena er:r Pernarnbuco ieja+e,
por exenplo, "Carra do Ped¡e An¡ónro Pi¡es .ros Padres r I¡máos de Coimbra" de 2 de agosro
de 15il e "Cana do Padre Manuel da r-óbrega a Tomé de Sousa" de i ¿e julho de 1tt9,
publicadas por Seralìm Leire I,Sl)- Cartas dos prim¿ilas je't¿íl'rs ¿o Btutsll, 3 vols. Sáo Paulo:
Comìssáo clo lV cenrená:io d¿ cidade de Sáo Paulo, 19j4, respecrìvamente, voì. I, p. 261 c
voi. 1ll, p. 79 ou ainda His¡oria de ia iuodacìon del colegio (da Companhia de Jesus) ie la ca'
pirr-nla de Pernambuco" de i576, pubìrcaclo nos Ânais da Biblioreca Nacional, r'ol. 49, p. 48 e
seguintcs. Em Pernambuco, a náo-de-obra indígena loi determinanre nas prirneiras cìÉcades,
¡¡as em me¿dos da déc.rda de 1580 a subsriruiçáo do rrabalho indígera pelo alricano j.r er.r
notável. 1ã1 làro podc ser cxplicaclo, entre ourros mocivos, peìas grandes vrrórias porruguesas
na regiáo, quc 1ìzeraer quc os índios se alascassem cada vez mais da capi:ania, dilìculrando
assim o suprin:ìearo de cârivos, qùe prssaram a ser lo¡necidos em número cada vez maior pelo
rráIìco negreiro. Ci. Fe¡náo Cardin, ll¡¡¿¿lo' da Terr¿ ¿ G¿nt¿ do ßr¿:i/ Géculo XVI). Sáo
ParLìo: Companhia Editor.: ìiacion¿l, 1978, p.201.
PÈro de Mâgalhies Galråavc¡. Hi¡¡,jìa l¡r ?roz,íncì¿t de S¿r¡t Cntz Et'Ízndo l¿ Ii:n¿ 1¿ B¡asi/
(1j76 ¡ c. ij70). Sáo Paulo: Obelsco, )964,p. i-ae38.
Gabriel Soa¡es de Sousa, descrevendo a regìáo próxima à vila de lgaraçu, relar: a exisréncia de
3 cngerhos, posreriornerre, quando crara da regráo dc OLnda, csrima cm 50 o ror.rl Ce enge,
rhos da capìtania, uáo fic¿ndo claro se inciui os i ci¡ados anre¡iormen¡e ou náo. Ver ¡ambém
Domingos Ce AbreLr e B¡i¡o, "SLr:¡ário c descriçáo co Rcino de Àngola e do descobrimenro
dâ ilha d€ Luandå" {c. li9l), publicado por Alt'ìedo de Albuquerque Felner, Op. cit , p 5 t-.
A formaçáo da elire colonial 285

Sul do Esrado e defensáo delas, de seus f¡u¡os e ¡endimentos, feita pelo sargento-mo¡
desta Costa Diogo de Campos Moreno no ano de 1609"'a " '5.
 reÌaçáo de Diogo de Campos Moreno, escrita apenas três anos attes do seù
famoso Liuro que dd ra-zão do Estado do Brasil6, guarð,a munas semelhanças com esce

t¡abaiho, conrudo, não pode ser considerada como um texto prévio, pois os cex[os
sáo completamenre dis¡intos. O texto de 1609, porém, além de apresentar infor-
maçóes sobre as capitanias do Sul do Estado do Brasil, possui uma parcicularidade
muiro especial, como apontou José Ân¡ônio Gonsalves de Mello, seu primeiro di-
vulgador, "a de apresenta¡ o ¡ol dos engenhos de açúca¡ de Pernambuco, Itama¡acá,
Paraíba, Bahia e EspÍrito Santo"'7.
No caso de Pernambuco e de ltama¡acá, Diogo de Campos Mo¡eno listou os
nomes dos proprietários dos 78 engenhos existentes na primeira capitania e dos 10 da
segunda, no início do século XVII'g, No caso dos engenhos pernambucanos, o autor
os a¡¡olou segundo os "ramos ou dist¡i¡os, conforme a repartiçáo em que cobram os
dizimos os conr¡atadores", dessa fo¡ma, os 78 engenhos se dividiam em 15 dist¡iros,
apresentados pelo autor do norte para o sul de Pe¡nambuco.
O primeiro e segundo distritos, correspondentes à regiáo de Igaraçu possuíam
naquele momenro 9 engenhos. Os dois primeiros, um em Paratibe e o outro em Jagua-
ribe, eram de propriedade de Gaspar Fernandes Anjo, mercado¡ envolvido no comé¡cio

Diogo de Campos Moreno, "Relaçáo das ¡raças fortes, povoaçóes e coisas de in:ìPoriånci¿ quc
Sua Malestade rem na costa do B¡asil, fazendo princípìo dos baixos ou pona de Sáo Roque
para o sul cìo esrado e dclensáo delas, de scus fruros e rendimen¡os. leira pelo sargento-nor
desra cos¡a ..." de 1609, pLrblicado na Rezítta ¿¿ hßriutu Atqlrcológno' H;:l,jrico e Gcogtuífn
n, nanb¡,cono \ol. i l18l p iq< e.eguinic(.

,4. opçáo de iazer o ìcvantamenro dos senbo.es de engcnho de Pernambuco a parrir das dcnun-
ciaçóes e confissóes perante o San¡o Oficio em meados da úi¡ìma década do sécu1o XVi apre-
senra algunas diÂculdadcs- A mais impor:anre é quc ncn corios os senho¡es de engcnio sáo
cxpLcrtamcnre ciiados como tais, o qLre deixa uma margcm de ciúvida Problema <1ue
^mpÌa
nc arrolamcnro fetro por Diogo de Campos Moreno náo cxisre, embor2
ônus seja o fato de que o sargenro-mor escreveu seu ¡el¿¡órìo 40 ou 50 depois da monta-<em
de grandc parre dos cngenhos. o que difrculla o rastreamenro dos prinìirìvos ProP¡ie¡irios

Diogo de Campos }.{orenct, Llz¡a qte àzí rnz,;o àa E'tpào do Brasil Lloil) Recife: UFPE.
19ti.
José A.ntonio Gonsa|.es de MeLio, 'A'Relacáo das praças fortes do Brasil' (1609) de Drogo
dc Campos Morcno", publicado na Ra,ísta à'a kstituto Arqu-co\ógito. Histtírico e GcogLífco
Per¡ta¡¡brc¡dc¡. rcJ. 57, 1934. p- 178.
E aido Cab¡al de ìvlello, "Os,A.lecrins no Canavial: a açucarocracia peraambtcana ante-b¿llu¡n
(1570-i630)", publicado na Re¿,ista ¿.0 Lstituta Arqueológico, Histórico c Geogrifco ?e,na'nbta'

no. ¡oL 57, 1984, p. 156. 'lai arcìgo. ampliado, loi rePublicado com o ¡írulo cic "Os alecri¡s no
czna¡-ial" em Rub¡o Ve¡ø l"ed. Sáo PauLo: Alameda. 1992 p. 137
286 Rodrigo Ricupero

de açúcar e de pau-brasil, possuindo, inclusive, um armazém em Pernambucore. Esse,


aÌém disso, esreve envolvido com a cobrança do dízimo, tendo a¡rendado o di¡ei¡o de
cob¡á-lo em mais de r¡ma ocasiáo na primeira década do século XVIIr0.
Na mesma regiáo, Esteváo Gomes, proprierário de um engenho em Aiama,
era, já há alguns anos, esc¡iváo da Fazenda Real em Pe¡nambuco:'. P¡óximo dali,
Gonçalo Novo de Lira, possLría dois engenhos, o primeiro em Pirajuí e o segundo
em Araripe. Esse e¡a nero de Gonça1o Novo, oriundo da Iiha da Madeira. que veio
para Pernambuco nos primeiros tempos da capitania, e filho do homônimo Gonçalo
Novo de Lira. Foi casado com Ana Correia de B¡i¡o, filha de Vicente Correia, que
se¡viu de almoxa¡ife em Pernambuco e foi oÊcial da Câmara de Olinda em 1608r:.
Outro proprietário era Joáo Velho P¡ego, escriváo da Câmara e rabeliáo de Olinda,
que possuía um engenho em Muçuper-'- Po¡ fim, ainda na regiâo de Igaraçu, os
desconhecidos Vicence Fe¡nandes e Antônio Dias do Porto, possuíam três engenhos
(dois deles para o primeiro).

Cî'Auro, que mandou lazer o Senhor


-qovcrnaclor-geraL
Diogo Borelho, da tomad¿ da Urca
fr€s Reis Magos" rìe 25 de janeiro de 1603, publicado na Rzuttu ¿0 I'ìitituto Hiróìca ¿ G¿a-
grdfca Bø;ileiro, tomo 73, p. 227 e segLrintes e "Liv¡o das said¡-s dos navios e urcai' de 1605,
prllicad,o na Reùsn da Insùøuc, Arytuológico, Hnnirico e Geogúfco Perna.mbtcano, vol. 58,
p. 37 e seguintes.

cf. cana de Diogo Boretho ao conde de Linharcs", escrira e,n otinda, aos 23 de agosro de
1602- Árquivo NâcionaL da Torrc do Tombo, Crrrório dos Jesuítas, maco 71, docurnenro 3 e
"Rclaçáo de Àmbrósio de Siqueira da receira e despesa do Estado do Brasiì" de 1605, publicado
nà Reu¡sta ¿oI sî¡tu.ta Ar4ueológica, Hístórico e GerytLífco Pernanbzrcaro, vol. 49, p. 124.
"Tradado do registro de uma provisáo de Diogo Bortlho. gorernador-3<r:l do Br.rsi1, oucor-
gando a Francisco de Oliveìra o cargo de escriváo da Fazenda, da AÌlåndega e Àlmoxarifàdo
da Capiranra de Pcrnambuco" de 15 de seremb¡o de 1604, Insriruro de.Es¡udos B¡asileiros d:
USP. Coleçáo Lamego, códice 8i, documenro Ì1.
Sobre a tànrilir de Gonçaìo Novo de Lira, \€jå-se Borges da Fonseca, Nobilùlúi¿ P¿iÌan'
buc¿nn. (1,748),2 tols., publicado ¡os An¿ts da Biblioteca Naciona/,
"ol.48. Rio de Janeiro:
Biblioreca Nacional, i935, vol. l, p. t58 e, especialmenre, p.400 e seguinces. Sobre Vrcenre
Correia, cf. "Regimento que loi dado ao licenciado Balrasar Ferraz pr.ra cobrar o que se deve a
R!,ísø ¿o hßthtúo Hi'tó-
lazenda de Sua Majesrade", de I2 de flve¡eiro de 1591, publicado na
rico t GngtLífto Brasíleiro. tom<t 67,p.
i' e"Carra da Cårnara de Olinda a el-rei noticrando
23
que o dcs€mbargâdor Sebasriáo de Carvalho pôs dúvrda em leva¡ em conr:. algumas despesas
ieitas com o drnherro da imposiçáo" de t0 de dezemb¡o de 1608. Bibl¡orece Nacronai do Rio
dejaneiro, Manuscriros, Cópia, códice I'4,3,4 n" 13.
Ci 'Processo de Ál"a¡o Velho Barr¡ro" (159j), ,{rquivo Nacional da Torre do Tombo, In-
quisrçáo de Lìsboa, 3475 e "Resposta ao pedido de ¿fo¡amcnro de ,{nrônio de Álbuquerquc,
morador em Olinda, feiro para Câmara de Olinda para rercenas ..." de 6 de leve¡eiro d¡ 1601,
lnsri!ùto Htstórico c Geográ6co Brasileiro, Documenros rÌanltscriros copiados no século
XIX por ordem de D. Pedro II, Códice 1.2.16 - Regisrros - Tomo II , Conselho ULrrama¡ino
Ponuguês.
A formação da elite colonial ¿87

,{vancando para o sul, Diogo de Campos Moreno ap¡esenta os proprietários dos


21 engenhos dos ramos 3,4 e 5, ou seja, os distritos mais próximos de Olinda, incluin-
do os situados na várzea do Rio Capibaribe.
O primeìro engenho, em Camaragibe, erâ do sargento-mo¡ de Pernambuco Da-
miáo Álvares de Teìve, nomeado por Filipe II de Porcugal em 1600r¡. Em seguida,
aparece o engenho de Ämb¡ósio Fernandes Brandáo, o provável autor dos Didlogos
das Grandezds do Brasil, g:ue, como veremos adiante, além de mercador, foi um dos
comandantes da expediçáo de conquista da Paraíl>a, onde fixou residência, ergucndo
outros dois engenhos:t.
P¡óximo dali, no ¡iacho Mu¡iba¡a, alluen¡e do Capibaribe, André Gomes Pina
possuía um engenho, este, segundo Borges da Fonseca, era casado com uma neta do
velho Jerônimo de Albuquerquer6. Ainda no mesmo ramo, Inês de Góes, r'iúva de Luís
de Rego Barros, era a proprietária do engenho de invocação das "Chagas", também
conhecido como Maciape, na freguesia de Sáo Lourenço.
Adent¡ando no ramo 4, Leona¡do Fróes, que se¡viu como oficial da Câma¡a de
Olinda em 1616, era dono de um eng;enho no ¡io Bebe¡ibdi. O próximo engenho ci-
tado era de Dua¡¡e Dias Henriques, mercado¡ ¡esidente em Pernambuco e cont¡atado¡
de Angolars- Na seqüência, aparece Juliáo Paes, proprierário de três engenhos na capi-

24 CL "Provimcnto de Damjâo Áh,a¡cs dc Teive, sargento-mor de Pe¡nambuco" de 10 de juÌho


de 1600, Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Chancelaria de Fi[pc II, Doaçóes' Livro 10,
11. 14 ou a cópia da época cm "Traslado do rceistro de uma P¡ovisáo de Fiìipe III' rei da Espa-

nha, outorgando o posto de Sargentomor da Capirania de Pernambuco a Dami:oÁlva¡cs" de


6 dc leverei¡o dc 1601, I¡s¡iruro de Ðs¡udos B¡asilei¡os da USP. Coleçáo Lamego, códice 81,
documento 39.
25 Cl Caprtrano de,A.breu, 'Diálogos das Grandezas do Brasil"' publcado em Êae¿ías ¿ Esru'
/as. 4 vols. Rio dc Janeiro: Cìvilizaçáo Brasiicira, 197i, YoÌ i, P. 20i.
26 Cl Borges da Fonseca , Op. cit.. rcL ll, p 382. É citado, com o prrmeiro nome trocado' mas
sem maìores ìnformaçóes, salvo a ìnovaçáo dc seu engenho' Nossa Senhor" 'l¡ Flores no
"Livro das saídas dos navìos c urcas" de Ì60j , pnblica.do na Rettista do Instltllto Arllæolögm,
Histórie c Gcogî;,fco Per¡t't¡nbucato, ¡o1 58. p. 87 e segLrilres.
27 Cf "Ccr¡i<láo da Câmara de Olinda" de 30 dc julho de 1616' publicada em Canns para A1-
i,aro y't Sousa e Ga.spat àe Soasa Lisl>oa: CNCDP e Rio de Janeiro: Minis¡ério das Relacócs
Ex¡e¡iores, 2001, p. 303 Regìsrre-se que, na documenraçáo compulsada' aParecem ourros
dois "Leonardo F¡óes", unT senhor de engenho no EsPíriro Santo e um luncionario regio em
Porrugal, mas, embora o nome náo seja comum, os poucos dados existcntes i¡rlicam serem os
dois homônimos do senhor de engenho de Pernambuco
28 Cf. Prineira- Vísiøção lo Saato Oficio à: Partes do Bra:il - Dentaciaçi)ts e Canfssóe: /-c Pct
n¿¡nbuco (1593-1i95). ReciÊ: Fundarpe, 1934' p. 80 das denuncieçóes (,{s denunciacóe' e ¿s
conÊssóes ¡ém nur¡e¡açáo de Páginas distrn!âs); "Carta régia de Filìpe II para o arcebispo D
Miguel de Casrro, vice reì de Portuglal, sobre aÌvará para pagar no Rio de Janc;ro. ao procu-
rador dc Dua¡te Dìas Hcnriques, contratador de Angola' uma cena quantia' de 5 de março
288 Rodrigo Ricupero

rania, de quem lrararemos adiante, e Lourenço de Sousa, cujas informaçoes existenres


náo permirem maiores conclusóes:9.
Ainda, no mesmo ¡amo, encont¡âmos o engenho de Isabel Pe¡ei¡a, v.iúva de Hen-
rique Afonso Pereira, morro antes de 1584, q:ue fora þiz ordinário em Pernambuco al-
guns anos antes e cujo frlho, homônimo do pai, foi capitáo na conquista do Maranháo,
¡ero¡nando para Pernambuco em seguidajo. Vale registrar ainda que a irmâ de Isabel
de Perei¡a, Inês de B¡iro, foi casada com Vicenre Co¡¡eia, citado acima, que serviu de
almoxa¡ife de Pe¡nambucoit.
.Adiance, enconcramos o primeiro dos dois engenhos de Pero Cardigo, que foi
tesourei¡o da Fazenda dos Defuntos e Ausences de Pe¡nambuco, nomeado por D.
Sebasciáo em 1568, tendo sido ainda capitáo de uma das companhias da conquista
da Paraíba, como ve¡emos adiante'- Suas filhas casaram com Fru¡uoso Ba¡bosa,
capiráo-mor da Pa¡aíba, e com Pe¡o Coelho de Sousa, comandanre da primei-
ra expediçáo de ¡econhecimento da regiáo do Ma¡anháo, de onde trouxe grande
quantidade de carivos3i.

de t61i e 'Ca¡¡a do Vice-rei de Porrugal Marquês de Alenquer para ei-rei sobre consuftas do
Conselho da Fazenda sob¡e Duarre Dias Henriques, conrrarador de Angola" de 25 de janei-
¡o de 1620. Àrchivo General de Simancas, Sec. Provinciales, respecrivamenre, códice 1í12,
Lir.ro de regisrros de carras e despachos régios no ano de l6li, Âs. 32 v e códice 1ti2, Carrås
originaìs do vice-rci dc Porrugal e ourros personagens sobre diversos assunros a el-rei do ano
1620,4s.23.
Ver Borgcs da Fonscca, OP. cit.,vo|.l, p.429 ot ainda na Prineird Vishaç,io ào Santo Ofcío
às Partet ¿a Bra 'D¿uunuaçóes e Confxóes de Pernanbuco (1593-159i), Op. cit.,p.ltle43I
das denunciacóes.
30 Cl "Hisroria de la fundacion del colegio (da Companh;a de Jesus) de la capirania de Pernam-
buco" de 1576, publicado íos An'rís ¿ø Biblioteca Naciona/,','ol. 49, p, 5 e seguinres e Zlzza l'
lo Goueno do Bru¡il, F.io de Janeiro: Minisrério das Relacóes Exte¡iores, 1958, p. 90 e 148.
31 Borges da Fonseca, Op. cit., vol.I, p. 164 e seguinres e vol. II, p. 238.
32 Cl "Provimento de ?ero Cardigo, resoureiro dos Defunros" de 1I de maio de 1568,,{rquivo
Nacion¿l da To¡re do Tombo, ChanceLaria de D. Sebasriáo e D. Henrique, Doaçóes, Livro
23, fl. 085 v.
Borges da Fonseca, Op. cit., rcLII, p- 259. A segunda expediçáo de Pero Coelho de Sous¿ ccve
um 6nal rrágico- Para a descriçáo de ambos, veja-se F¡ei Vicen¡e do Salvador, Ap. cb., p. 339 e
356, já as insrruçóes dadas por Diogo Borelho estáo no "Regimenro que há de seguir o capìråo,
mor Pero Coelho de Sousa nesrajornada e empresa, que por servico de Sua Majesrade vai fazer",
prblicaào na Reùsta Inst¡tl.ta Histórica € Geogftífco Brasileirc, ømo73, p.44. Sobre os índlos
do
que trouxe e o debace sobre se eram jusramenre câ¡ivos ou náo, ver "Carra Régia para Diogo
Borelho" de 22 de serembro de 1605, publicada na Reui'tu ¿o i'nstitu,ta Hístirlco e Geognífco
Bntsileito, rcrr,a 73, p.9, "Cana do bispo D. Ped¡o de Casrilho a el-¡ei" de 2 de junho de 1605
e "Carra de el-reì ao bispo D. Pedro de Casdlho" de 16 de agosro de 1605, Biblìorecå daAjuda,
respecrivâ.nenre, có¿ice il-VIIll9, Carras do bispo D. Pedro de Casrilho, fl. 182 v e códice
51-VIil-02 Canas de Sua Majes.ede pera o Bispo Pedro de Casrìlho, fl. 111 v.
A formacâo da eli¡e colonial ¿89

O sentror de engenho seguinte e¡a Antônio da Rosa, cujo irmáo, Joáo da Rosa,
foi rabeliáo em Olinda 34. Depois dele, encontramos F¡ancisco de Barros Rego, que foi
capitáo-mor da armada enviada pelo governador-geral D. Francisco de Sousa em apoio
de Manuel Masca¡enhas Homem, na conquisca do Rio G¡ande 3i. Fechando o ¡amo
4, aparece Ambrósio de Abreu, que era parente de Gomes de Abreu Soares, almoxarife
de Pernambuco, e, provavelmente, também de Gregório Lopes de Ab¡eu. Esre se¡viu
como capitáo na conquista da Pa¡aíba e era o proprierário anterio¡ do engenho de
Amb¡ósio de A,b¡eu'ó.
,Avancando para o ¡amo 5, o p¡imeiro engenho é o de Maria Goncalves Raposo,
vìúva de um filho de Domingos Bezerra, que era um dos "da governanca" da terrar'-. O
engenho seguinte é o dos Apipucos de D. Jerônimo de Albuquerque, que foi governa,
dor de Angola entre 1,593 e 1594 e que acabou ficando no B¡asil3s. Adianre, enconrra-
mos o engenho do desconhecido Ped¡o da Cos¡a.
Em seguida, aìnda no ¡amo J, surge o engenho de Esteváo Velho Ba¡¡eto, filho
de ÁI,,'a¡o Velho Ba¡¡e¡o, capiráo de um barco numa das expediçóes de conquista da
Paraíba e que se intirulou perance o San¡o Ofício como "dos da governança e principais
da ¡er¡a"re. Na seqüência, ercontremos o segundo engenho de Juliáo Paes, de quem
r¡aaaremos adiante.

PTineirlz Visitaçál,:lo S¿nto Oflcio as ?ates do Brusll- Denuacìaçóes e Conf:sóes dc Pernømbuco


lljqJ.l515l. Op. cir.. p.11 d¿' denunci^oes.
35 p.320.
F¡er Vicente do Salvador, Op. cít.,
)6 Cl "?rovìme¡ro de Gomes de Abreu Soa¡es, almoxa¡ife de Pe¡nambuco" de 19 de agosto
de 1576, Institu¡o Hisrórico e GeográÊco Brasilej¡o, Documenros manuscritos copiados no
sécuÌo XIX por ordem de D. Pedro Ii, Códice 1.2.15 - Regisrros - Tomo I - Conselho Ultra-
marino Português; "Carta de Filipe II de Portugai para Gaspar de Sousa" de 4 de novemb¡o
de 1615, publicada em Ca rtas para Áb,ara de Soua e Ga:par de Sau:a, Op. cit., p.280; Primcira
V^itaçáo ¿0 Sa îa OJicio à: Pøttes da Brasìl - Denultciaçóes e Confstóet de Pern¿mbuco (1593-
1595), Op. cít.,p.273 das denunciacóes e p. 83 das confissóes e Frei Vicenre do Salvador, 02.
cit., p.257.
Borges da Fonseca, O¿. cit., \ol. f, p.35 e Prilllcira. Wstt¿ç,1o .lo S,1nto Of:ício à P¿rtes do Brasil
- Dedu.ncíaçóe: e Confssóes d¿ Pernambuca (1i93-1595), Op. àt., p.281 das denunci:çóes.
38 Sobre o gorerno de D. Jerônimo de Âlbuquerque, veja-se Alfredo de Albuquerque Felne¡ lz-
e inícío do estabeledmenn dosporttgue:es no Congo. Angola
gola, apontdmentos sobre a ocu,paçáo
e Bcnguela. Coimbra: Imprensa da Lniversidaàe, 1933, p- \84. Yer aindz Prìmeiru Vsìtaçáo
do Santo Ofno as Partes do Brz:il - Denunciações e Confssóes de Pernantbuco (1593-1595J, Op.
rit., p. 142 das conlìssóes.
C[ "Sumário das Armadas que se Êzeram e guerras que se deram na conquisra do rio ?a
raíba", publicado na Rez'istÉ ¿o hßtitato Hntórno e Geográfco Brasil€iro, romo 36, p.66 e
Púnelra Visíîaç,áo ¿o Santo Ofícla àr Partes do Btu1sll- Denunclapóes e Cotzfssóes de Pern¿mbro
rt-<oJ-t<o51. Op. (1,.. p. ñt dasdenunc:acóes.
290 Rodrigo RicuPero

Os últimos três engenhos do ¡amo i sáo de Ma¡¡im Vaz de Mou¡a, Pe¡o da


Cunha de.And¡ade e Paulo Beze¡¡a. O primeiro destes senhores de engenho, o licen-
ciado Ma¡tim Vaz de Mou¡a, foi ouvidor da capirania de Pe¡nambuco4o O segundo,
Pe¡o da Cunha de,Andrade, é signacário de uma ce¡¡idáo da Câmara de Olinda favo-
rável ao governo de Diogo Botelho, juntamente com os mais importantes moradores
da capitania, dentre os quais muitos senhores de engenho; posreriormenre, foi ainda
42.
olìcial da mesma Câma¡a em 7621ú ' O último senho¡ de engenho' Paulo Bezer¡a,
inritulava-se, com ¡azáo, Peratte o Santo Ofício' como um "dos dâ governança desta
rerra", ten.ou arrematar a cobrança dos dízimos da capitania de Pe¡nambuco e foi ofi-
cial da Câma¡a de Olinda em, pelo menos' .rês ocasióes (1603, 1611 e 1620)'r'
Rumaodo ao Sul, adentramos as terras deJaboacáo, onde se localizavam os ¡amos
6, 7 e 8 da cob¡ança do dízimo, com 16 engenhos. O proprietário do primeiro engenho
do ¡amo 6 e¡a o desconhecido Antônio de A.ndrade da Cunha, o segundo engenho era
de Diogo Botelho, governador-geral entre 1602 e 1607- Os úlrimos rrês engenhos eram
do mesmo dono, Dua¡re de Sá, outro dos membros da governança da te¡¡a Foi ofrcial
da Câmara de Olinda em vá¡ias ocasióes (1593, 1597, 16$ e 1611), tendo, inclusive,

CL 'Auro de enrrega que se fez de t¡és Âamengos :o mcstre Pero Lopcs Mareante" de 28 de
agosro de 16Ì7, quc co nstt do Lit ro 1" ¡l'o Gauerna da Bra:il, A?. cit ' P. 168 e "Prolisáo Pclâ
quaL o gor-ernador D. Lur's de Sousa nomeou Belchror Rodrìgues escriváo da devassa de ¡e-
sidéncra do our-idor da Capirania de Pernambr.rco Marcim \¡az de Moura" de 28 de lulho dc
1618, documenco a¡rolado por Eduardo de Casrro e -A.lmeìda' 1z¿¿¡t t'íria àas ¡lonttnentos re'
/¿t¡,)ot ¿o Btu'íl €x¡Jte tes no ArE4ua de Marinha t ulrr¿.mar de Li¡baa, 9 vols Rio de Janeiro:
Biblioreca Nacional, 1913 - 1951, vol. VI, p. l8 (Separatas dos lzais ¿/1 BibÌiotecø N'¿cia'Àal)'
"Ce¡ridáo da Câmara de Olinda sobre o governo de Diogo Botelho" de li de março de Ì603'
publicada na coletânea de documenros sobre o Cove¡no de Diogo Botelho' na Reù¡ta do
Instituto Htsajrico e Geogrrífca Brusileira, ¡omo 73, P. 2i e i{uro do que Êcou assenndo sobre
medidas a roma¡ contra o assal¡o dos holandeses as lortalezas de Pe¡nambuco em reunr:o
convocada por lv{atias de ,A.lbuquerque" de 16 de ourub¡o de 162l' pubLcado cm Baráo de
Srrdert, Dacumento: pztu á H^tó'/ía ¿o Btusil e especíalnezLre a do Cedrtí,4 vols , For:.aleza:
Minerva, 1909, voi. I, p.289.
Registre-se ainda que a primeira mulher de Pe¡o da Cunha de Ând¡ade, D. Àna de Vascon-
celos er: Êlha de Joáo Gomes de ìúelo e de,A.na de Holanda e, conseqüentemenre, nera dc
Arnao de Holanda, imporrantes 6guras da caPitlrniå, e seu r¡máo, Francisco Gornes rle Mclo
loì nomeado por Filipe Iil de Portugal capiráo-mor do Rio G¡ande em 1624 por seus scrr iços
presrados em Pernambuco e no Reino.
43 Cf. ?rínein Visitaçáo do Sanø Aflcío às Partes lo Brasil ' Denunàtçóes e Conf':óe; de ?er'
(,1593-li9i), Op. cit.,p.272e29 àaj ð.enùnciâçóesj "Certrdáo da Câmara Olinda
'z b co de
sobre o governo de Diogo BoteÌho" de li de março de 160i, cirada acima; "Provisáo ¿e Mâ-
nueL \¡az Pe¡eìra, médico em OÌinda" de 2 de novemb¡o de 1618, Arquivo tr-acional da Torre
do Tombo, Chanceiaria de Fìlipe II, Doaçóes, Livro 41, fl 203; "-lìaslado da periçáo que lez
o padre frei Cirilo:ro cåpiráo-mor e mâis PaPéis" dc 21 de maìo de 1621, que consr: do /.lrrz
1" do Golerna y'o Brasil, Op. cit., p.149.
A formaçáo da elice coÌonial /91

pot ser o vereador mais velho, assumido o governo da capitania em companhia do bìs,
po D. Antônio Bar¡ei¡os, na ausência de Manuel Masca¡enhas Homem, quando este
comandou a conquista do Rio G¡ande em 159V1. A imporcância de Dua¡re de Sá na
capitania de Pernambuco também pode ser aresrada pelas relaçóes familiares, sua filha
Filipa de Sá casou com Joáo de Albuquerque, filho primogênito do velho Jerônìmo de
Aibuquerque e de sua esposa Filipa de Melo. Sua neta, Marìa de ,{lbuquerciue, casou
com Francisco de Moura, filho de Alexandre de Moura, que governou a capitania de
Pe¡nambuco duranre murros anos no início do século XVIIaí.
Seguindo para o ramo /, encontramos os engenhos de Luís de Valença, Pero de
Laus e Ma¡ia Ferráo, para os quais náo pudemos obrer maio¡es info¡macóes. Além
Ca¡digo, de quem já falamos an-
desses, nesra região ficava o segundo engenho de Pe¡o
reriormeûte e o engenho de Domingos de Casrro, um dos sigrará¡ios, juntamente com
asprincipais personalidades da capirania, do documento favorável a Diogo Botelhoa('.
O último eneenho deste ¡amo e¡a o de N'fanuel Leitáo, que parricipou com des¡aque
da conquisra da Paraíba e da conquista do Rio Grander'.
No ¡amo 8, o primeiro dos proprietários arrolados por Diogo de Campos
Mo¡eno é Fernáo Rodrigues Vassalo, cuja única ¡efe¡ência na documen¡acáo do
período seria um provimenro de Filipe i para ocupa¡ o posro de escrivão diarre
do ouvidor geral do Brasil em i5961s. Em seguida, enconr¡amos os engenhos de
And¡é Soa¡es em Penanduba, de Diogo Soares em Suassuna e os dois de Fe¡náo

44 Cf. Pïit11eiø Vis¡ttlçáa da Santa Oficio às Parte: do Bnsil- Den.ncìações e Cotfs:óes de Peraan
bun (t593-t595). Op. cit., p. 3 e 228 ð,es denunciaçóesi "Resposta ao pedido de aloramenro
deAnrónio de Albuquerque, morador em OÌìnda. leno para Câmara de Olioda para rercenas
...de 6 de fcrerci¡o de 1601 e "Cer¡idáo da Câma¡a de Olinda sobre o governo de Diogo
Bo¡eiho" de 15 de março de 1603; "Pror-ìsáo de ManuelVaz Perer¡a. médrco em Olinda" de ?
de novembro de 1618, docLrmenros já cìrados
45 tsorges da Fonseca, Ol. r/;.. voì. ll. p. 23 e 365. Ëste auror rcfere que Duane de Sá, a camrnho
da Índia, ¡e¡ia naufraga¿o perto de Salvador, salvando sc com muito esforço- Na Bahia. o
governador Luís de Bri¡o de Almeida raleu¡e "de seu ralenro na guerra e possessáo do genrio,
onde em urna baraìha o a¡mou cavaÌci¡o. o L:z scu aifercs-mor c capi¡áo de uma gâlé qu€
do Brasil". passando, em seguida a lernambuco, onde se esrabeleccu.
Conrudo, ¡ais ìnformaçóes náo podem ser nem con6¡madas, nem ncgadas, com base nos

Cî "Ccr¡rdáo da Câmara dc Olinda sob'e o gorerno de Diogo Borelho'de 15 de março de 1603,


publicada na coletânea de documenros sol¡re o Golerno de Diogo Botelho, citada acima.
"Sumário das A¡madas que se 6zeram e guerras que se deram na conquìsta do rio Paraíba',
putcllcado na Reuista do Insrítutu Hittôrica € Gcográ.fu BrasiÌciro.romo 36, p. 35 e FreiVicente
do Sah'ador, Op. cb., p.320.
cl. "Provimenro de Fernáo Rodrisues \,assalo. esc¡iváo dìanre do ouvidor geral" ¿Ë 30 de
maìo de 1596..Arquivo Nacional da Tor¡e do Tombo. Chanccla¡ia de lilipe l, Doaçóes. Livro
31. 11. 123 v.
?97 Rodriso Ricuoe¡o

Soares. Fe¡náo Soa¡es da Cunha, me¡cado¡ crisráo-tovo, foi largamente citado


nas chamadas denunciaçóes do Santo Ofício em Pe¡nambuco4'. Foi capitáo, ao
lado de Ambrósio Fernandes B¡andáo, de uma das companhias de mercado¡es na
conquisra da Paraíba e juiz dos Órláos de Olinda por muiros anos, segundo Borges
da Fonseca. E¡a Fernáo Soares da Cunha casado com D Cata¡ina de Albuquer-
que, 1ìlha de Gonçalo Mendes Leitâo e neta do velho Jerônimo de -AIbuquerque, e,
segundo Diogo Soa¡es da Cunha, seu filho, e Diogo de Älbuquerque, seu genro,
foi mo¡ro pelo medico Manuel Nunes com medicamenros Pà¡a que este pudesse
casa¡, como de fato ocorreu, com D. Ca¡a¡ioa de Albuquerque com quem cinha
comerido adulté¡ioto. Diogo Soares era, com ce¡teza, i¡máo de Fe¡náo Soares, já
And¡é Soa¡es ou era irmáo ou primo. Este, além de senho¡ de engenho, Degocieva
com pau-brasil, tendo a¡¡endado o contrato de exploraçáo dessa madeira no inicio
da década de Ì590t'.
Seguindo ainda o arrolamenco feito por Diogo de Campos Moreno, chegamos ao
Cabo de Santo Ägoscinho, onde os 18 engenhos entáo existentes es¡avam divididos em
quarro ramos) os de número 9, 10, 11 e 12. No primeiro deles, encontramos o engenho
de Joáo Paes Ba¡¡eto e os quatro engenhos do pai desre, o homônimo João Paes Bar-
¡ero, olr, como rambém e¡a conhecido, Joáo Paes Veiho Ba¡¡eto. Este foi u¡n dos co-
mandantes da conquisra da regiâo do Cabo, onde se Êxou, to¡nando-se, sem dúvida, o
maior senhor de engenho das partes do B¡asil no.Ênai do século XVl, quando chegou
apossuir 8 engenhos, parre dos quais vinculou em um morgadojt Posteriormente, já
como capitáo-mor das ordenanças do Cabo de San¡o Agostinho, comandou as troPas
da regiáo na conquista da Paraíba, o qual, segundo Frei Vicen¡e do Salvado¡, "fez nesta
jornada por cima de rodos" os ourros capitáesti.

PTine¡rã V;ri 1ç,io do Sltnto Ofcío às Partes do Btu;sil - Denlîtri¿ções e CotJìssõe: /t turnattba'
to 11593-1595), Op. cit., pussìtt.
!¡¿r Vicenre do Salvadot, Op. cit., p.266; Borgcs da Fonseca, Op. cit-,rc>l ll, p. 57 e 43L e
.Cana do rei para o governador Diogo cle lleneses" dc 2l dc no.embro de 16ìÌ, publicada
em Ca,tas pan Áh,øra le SoLtsa e Gaspar de Soust'., Op. cìt.. p.290.
Cl "Despesa do esrado cio Brasil a que a lazenda de sua Majestade tem obrigaçáo' do início
d¿ década de 1590, Bibliorecâ Nâcional de Lisboa, Reservados, Códices (Ëx Fundo Ge¡al),
ó37, 11. l3 c seguintcs.
O ouvidor geràl Marrim Leitáo o considerava o "mais ¡ico homcm do B¡asil", cl. ' P¿r.ccr úo
Padre G;spar Beliarte, da Companhia dc Jesus, que foi \¡isirador oo Brasìl, para quc låo "<
câiive o genrio nâqùeie Ësrado. Ourros pareceres de Cosmo Rangel, \'{arom Lei.áo. Añiò.io
de Àguiar, quc iòi ouvrdor geral no Brasil ..," dc 1t9i, Brblioteca da Âjuda, códicc 44 Xi\¡-
06, do Desembargo do Pâço - Tomo I\a f. lB5. \¡e¡ ¡ambém Borges da Fonseca, Op. cit.,vol.
It, p. 26 e Gilbcrro Osório de,{ndrade e Rachel Caldas Lins,/ala 2aís, da Cabo'o pantrc:,
:e'ts flhos, sezø engtnhor. Recit'è: Massangana, \982, passim.
ii F¡ei \¡iccnre do SalvadoÍ, OP. ctt., p. 196 e266.
A formacáo da elire colonial 293

João Paes Barreto, filho primogêni.o e primei¡o mo¡gado, foi cavalei¡o da


O¡dem de Crìsto e capiráo-mo¡ de Pe¡nambuco enrre 1619 e 1620, nomeado pelo
governador-geral D. Luís de Sousair. No exe¡cício do cargo, entrou em choque com
a família do donará¡io, Duarte de Albuquerque Coelho, enrão no Reino, ao nomear
a se¡vencia do posto de patráo e juiz dos calafares do porto da capitania. poìs para
o ouvidor nomeado pelo donará¡io e para os o6ciais da Câma¡a ra1 provimento náo
lhe competia- Foi substituído no cargo por Matias de Âlbuquerque, irmáo de Dua¡te
de Albuquerque Coelho, que o acabou prendendo, em um episódio que a documen-
taçáo existen!e nâo fo¡nece maiores inFormaçóes5t. Regisrre-se ainda que João Paes
Ba¡¡eto foi casado com Àna Co¡re Real, filha de.Afonso de F¡anca, que chegou às
parte do Brasil com Diogo Bocelho, te¡do sido capitáo-mor do Espirito Santo por
volta de 1605 e capiráo-mor da Paraíba en¡re 1623 e 1627tG e gue sua i¡má, Ca¡a¡ina
Bar¡eto, foi casada com D. Luís de Sousa Henriques, filho do governador-geral D.
F¡ancisco de Sousa-'i.
A.'ançando pa¡a o ¡amo seguinre, o primeiro senhor de engenho citado é o des-
conhecido Gonçalo Pereira, em seguida eûcont¡amos os dois engenhos de And¡é do
Couto e os our¡os dois de .Ana de Holanda. ,And¡é do Couro era me.cador envolvido
no comércio de pau-b¡asil, foi casado com.Ad¡iana de Melo, filha de Ana de Holanda e
neta de Arnau de Holandats, já sua filhaAna do Couro casou com Joáo Paes de Castro,

Ct "Consuira cio Conselho de PorrugaL' de 2E de jtnho de 1603 e "Cana do governador


Luís de Sousa" de 30 de março de 1620, A¡chivo Gcne¡al de Simancas, Scc. P¡ovincrales.
respecrir,amenre, códice 1464, ConsuÌ¡as do Conseibo de Portugal (1601 - 1606). fr.. 53 e 54
e códice i5i2, Cartas orìginais do vicc'reì de Po.rugal e ourros personagens sobre dn'e.sos
assuntos a cl-rei do ano ¿e 1620, Ã. 312 e 313.
CL D. Luís de Sousa sobre a resiriência que de seu go.-erno sena tirada
'Requerimenro de
na Bahia e Pe¡nambuco" e "Requerimenro de D. Luis de Sousa sobrc a nomeaçáo que fez,
quando govcrnador do Brasil. deJoáo Paes Barreto. para caPiiáo mor de Pernambuco ' ambos
sem data, que corrsram ào Litro 1' do Goxrna do Bra,sì|. Op. tit.. p. 335 e 339.
56 Cf. Borges da l-onscca, Op. cit., rcLII, p. 2ó e também "P¡olimeo¡o de ,{Iànso de F¡anca
pâra capìráo entrerenido na capirania da Bahia" de 6 de maio de 1602, Arqui.'o Nacional da
Tor¡c do Tombo, Chancela:ia de FiLpe II, Doaçóes. iivro 9, 1ì. 313, "Rcgimento para o capì-
táo Manuel Maciel" dc 1619, que consra do -Llna 2' do Gotrno da B¡¿sll Lisboa: CNCDP e
Sáo Paulo: \luseu PauLista,2001, p. 121r "Serr.rços do govcrnador-geral Diogo Botelho" de l9
de deze¡¡bro cie 1606, publìcado na ReuiJî', ¿o IneílLto H^ttif ico c Gcagnífto Brasilein, ro-r'o
73, p. 213 e Frei Vicentc do Sal..ador, Ap tit.. p. 47i.
p.364. S3undo Frei Jaboaráo e Lou¡eto Couro. D. Luis dc
Frei \/icenrc do SaLvador, Op. dt.,
Sousa Henrìques reria assumido o governo de Pernambuco. Sobre o assunto, veja-se Francisco
,A.ugusro I'jcrcira da Costz. Anais Pnnambuaz¿s. 10 vols. Recrfe: ArqLrivo Púl¡Ìico Estaduai,
l9í1,.oi. ll, p.350.
Cf.'Auro, que mandou fazcr o Scnhor go"e'nador-geral Diogo Botelho. da ronada da Lrrca
Três Rcis Magos <1e 25 de janeiro de 1603, publ;cado na Rerislã ¿o Inst;tr¿îo Hi:lóriü ? Ceo'
19+ Rodrigo Ricupero

filho de Es¡eváo Bar¡e¡o, que se torneria o terceiro morgado do Cabote Ana de


Paes
Holanda era viúva de Joáo Gomes de Melo e seu filho F¡ancisco Gomes de Melo se¡ia
capiráo-mor do Rio G¡ande entre 1625 e 162764.
No ¡amo 1lo, encon.ramos quatro engenhos. O primeiro era prop¡iedade de An-
tônio de Ba¡ros, que acrediramos ser Antônio de Ba¡¡os Pimen¡el, casado com Ma¡ia
de Holanda, fi1ha de A¡nau de Holanda6'. Este foi nomeado por D' Sebastiáo provedor
da Fazenda dos Defun¡os e Ausentes de Pernambuco e I¡ama¡acá em 1572 sendo
¡econduzido em 1587 ao mesmo posÌo6r. O engenho seguinre era de Diogo Mendes
de Macedo, de quem náo possuímos maiores informaçóes, ao conctário do próximo
senhor de engenho, o conhecido cristáo-novo Joáo Nunes de Matos, mercado¡, citado
inúmeras vezes nas denunciaçóes do Santo Ofício6r. Foi um dos conquisradores da
Pa¡aíba, financiando os suprimentos e participando dos combares, lornou-se, assim,
dono de dois engenhos na nova capicania¡]. Em 1592, foi preso pela lnquisição e en-
viado a Lisboa, acabou absolvido por Falta de provas, r'oltando para Pernambuco6t. O
úhimo engenho desre ¡amo e¡a do desconhecido Luís de Olivei¡a Se¡¡áo.

gtifca Brasileìra, romo 73, p. 227 e segu Lmes: Primeha Vistøção t/o Santo O.fí,:ia às Pattes àa

ß7¿'i/ ' De/¿1t-,tc¡.1çóer e Co$ssae; de Pernankt':a (1i93-1i95), Op- crt., p. lli das denuncia-
cóes.
Borgcs da Fonseca, Op. rir., vol. II, p. 2.7 e Gilberto Osó¡io de Andrade e Rachel Caldas Lins,
Op. crt., p- 36.
Borges da Fonseca, Ap. dt., \'oI.I, p. 494; "Prorimeoro de Francisco Gomes de Melo, capi-
ráo¡nor do Rio G¡ande" de 13 de junho de 1624, Arquivo Nacionai da To¡re do Tombo,
ChanceLaria de Filipe IIl, Doaçóes, Livro 39, 1ì. 136 e Vicenre de Lemos. CøPtîú¿s-iini¿J e
gouernø.dorc: do Rio Gnnd¿ lo Norte. Rio de Janerro: Jornal do Comércio, 1912, p. 13.
6I Borge. d: l-ons<.a. Ot. r, . \ol. J. p. {08
62 Ch "Provimenro Anrônio de Barros Pimenrel, provedor da Fazenda dos Delunros das capira-
nias de Pernambuco e Itama¡acá" de 2l de jLrnho de 1577 e "Ptovimen¡o .A.ntônio de Bâr¡os
Pimenrel, provedor da Faz.nda dos Defunros das capiranias de Pcrnambuco e I¡amaracá " de
29 de janeiro de 1i87, .trquivo Nacronal da Torre do Tombo, respecrivamenre, Chancelaria
de D. Sebasriáo e D. Henrique, Doaçóes, livro 38, fl. 97 e Chåncelaria de Iilipe I, Doaçóes,
Lvro 11, I1.405 v.
Vel Pin¿irt! Vìsitaç'io da Santo Ofcio às Pørte: da Brasíl - Dexrncíaçóts z Cutfsóes de Pn-
nankrco (1593-1595), O?. clt., PtritirTt: Prin':ira Visitaçáo tlo Santo OJiào à: Parres do Brøsil
- Dnnciaçõ':: tl't Bah¿. Sáo Paulo, 1925, pa':in e "Livro àas Denunciaçóes que se fizeran
na Visiraçáo do Sanro Oficio a Crdade do Salvador ..., no ano de 1618", pLrblicado nos Anais
da Biblioreca Nacional, vol. 49. p. í3.
Cl Sumário das Ärmadas que se 1ìzeram e guerras que se deram na conquisr¿ do ¡io Pârai-
ba", publicado na Raartã ¿o Inrti'zlto H^tór¡ta e Geogrdfco Bra:ikiro, romo 36, p. 4Z 58 e 6ì
e F¡eì Vicenre do Salvaåor, Op. cit.,275 e283.

Cf "Processo de Joáo Nunes" (lj92), À¡quivo Nacional da Torre do Tombo, lnquisiçáo de


Lisboa.885 e 1491.
A lo¡maçáo da eli¡e colonial 295

Aden¡¡ando ao úl¡imo ¡amo do Cabo de Santo Agosrinho, enconr¡amos o


engenho de Esteváo Paes Barreto, Êlho de Joâo Paes Velho Barreto e irmáo de Joáo
Paes Barrero, de quem foi sucessor, tornando-se o segundo morgado do Cabo66. O
engenho seguinte e¡a de Antônio de Mendonça Furtado, que foi casado com Isabel
de Melo, irmá de Francisco Gomes de Melo e filha de Ana de Holanda, personagens
citadas acima67. Em seguida, encont¡amos o engenho de ]ulião Paes em Utinga,
provavelmente filho basta¡do de João Paes Velho Ba¡¡eto63. O último senhor de en-
genho era Belchio¡ Ga¡cia Rabelo, o qual é intitulado "angolista" nas denunciaçóes
ao San¡o Ofício em Pe¡nambuco6e.
Avançando para lpojuca, encott¡amos dois ramos, um com 6 e out¡o com 3
engenhos. No primeiro deles, o de número treze, os dois primeiros engenhos são de
Cosmo Dias da Fonseca, filho de Pedro Dìas da Fonseca, que já era senhor de engenho
na regiáo. Cosmo Dias foi casado com D. Mécia de Moura, Êlha de Filipe de Mou¡a e
de Geneb¡a de AlbuquerqLre, Iogo neta do velho Jerônimo de A.lbuquerque e de Filipe
Cavalcantir0. Foi cavalei¡o da Ordem de C¡isto, teve foro de ñdalgo cavaleiro da Casa
Real, cujo alvará saiu depois de sua morle em i638, que alcançou pelos serviços de
seu cunhado D. F¡ancisco de Mou¡a, que foi capitáo-mor da capitania da Bahia, com
poderes de governador na dita capicania entre dezemb¡o de 7624 e iateiro de 7627-\.
Pouco adian¡e, encontremos os dois engenhos de Ancônio Ribei¡o de Lace¡da-
Este e¡a tlho do homônimo Antônio Ribei¡o de Lace¡da, que fora nomeado por D.
Sebas¡iáo fei¡or e almoxarife de Pe¡nambuco em 1570, sendo reconduzido ao posto em
1575, por ter servido bem e por casar com Maria Pe¡eira, ó¡fá enviada à Pe¡nambucoit

66 Borgcs da Fonseca, OP. cir., !oI. Il. p. 26.

67 Idan, rcl..YoL I, p.495.


6B Gilberro Osóno de Andrade e Rachel Caldas Lins, Op. cit., p 32 eFetnznào Pjo, Ct¡tto do'
atmeiltos ?'tra ,z hir¡óï;a dos engenhos ,/-e ['ernanzåz¿¿ (Sécu]o XVI - X\¡lll) Recjfe: l\4r¡scu do
-Á.çúcar, 1969, p.20.
'ler Primeira. Visltl,:äo ¿o S,1nto Ofcio à: Partes da Brasil - Denunciaç,íes c Confxór rle Pet'
nanbuco (1593-159Ð, Ap rh, p. 139 das denunciaçóes e "Livro das saidas dos navios e urcas"
de 1605, publicado na Retßta do Instttu.to Arqaeokgico, Hístórìco e Geogni.fco Pernanbucana'
vol.58, p. 111.

Borges da Fonseca, Op. cìt., rc1.I, p. 71 e rrcl l1, p. 52 e 457 e ?rimeira Vintaçáo '!o Santa

Oficio às Partes do Brasit - Denunciaçóts e Conf:sóes de Pernø.mbaco (1593 1595)' OP ch , p


173 das denunciaçóes.
F¡ancisco de Moura 6i arnda gove¡nador do Cabo Virde enrre 1618 e 1622 Cl Fr¡¡cisco
Augusro Pereira da Co Dicionálio ¿'e Prln¿mbuc¿nos Cébbres ) ed. Recife: Prefein¡ ra lt"fu-
sra.
nìcìpal, 1982, p- 330 e Da.id Henige, Colon¡al Gouernors Madison: Universiry of\fisconsìn
Press, 1970, p. 236.

72 "lrovimenro de .Antônio Ribeiro, leiror e almoxarìfe de PcrnambLrco" de 10 de março de


1570,,{rquivo Nacional da Torre do Tombo, Chancela¡ia de D. Sebasrìáo e de D. Henriquc'
A¡tônio Ribeiro, leitor e almoxa¡ife de Pe¡nam-
Doaçóes, Livro 26, Ê. 34 r'. e "P¡ovimenro de
296 Rodrigo Ricupero

O Êlho e¡a meio-i¡máo de Cosmo Dias da Fonseca po¡ pa¡re de máe e foi casado com
D. Isabel de Mou¡a, irmá da mulher do meio-i¡máo. Anrônio Ribeiro de Lace¡da, se-
gundo Borges da Fonseca, "reve o foro de Fidalgo da Casa Real em 1624, por despacho
concedido a seu cunhado D. F¡ancisco de Mou¡a, quando veio governar a Bahia"73.
An¡ônio Ribeiro de Lace¡da foi mo¡to pelos holandeses no assalto ao forte de San¡o
A.nrônio, após se destacar em inúme¡as açóes, a tal Ponto que B¡ito F¡eire escreveu:
"ficar sem prêmio a morte de Antônio Ribeiro de Lacerda escandalizou o B¡asil"7a.
Ainda no mesmo ¡amo, aparece o engenho de Sebastião Coelho, meirinho da
Alfândega e do Mar no começo do século XVIITt, e o de Margarida Álvares de Casrro,
viúva de Miguel Fernandes de Távo¡a, cuja filha Catarina de Casc¡o casou com Esre-
váo Paes Barreto, o segundo morgado do Cabo, citado acima'6.
No ramo seguinte, o décimo quarto, ainda em lpojuca, estáo arrolados três enge-
nhos. O primeiro era "o que ficou" de C¡iscóváo Lins, um dos mais antigos mo¡adores
da capitania- Foi o capitáo da gente da várzea do Capibaribe na conquista da regiáo do
Cabo de Santo Ägostinho comandada por Jorge de Albuquerque Coelho, pardcipando
cambém da conquista das re¡ras do sul da capitania, o que the valeu receber o posto de
alcaide-mo¡ de Porro CaivoTr. Os dois our¡os engenhos eram do desconhecido Paulo
de Amorim Salgado e de Anrônio da Cosra Soei¡o, que serviu como ouvidor em Pe¡-
nambucoTs-

buco" de l0 de novembro de 157i, Instiruto Histórico e Geográfico Brasilei¡o, Documen¡os


manuscritos copiados no séculoXIX por ordem de D. Pedro II, Códice 1.2.1i - Regisrros -
Tomo I - Con'elho I"lrr"marino Porrugu¿s.
73 Borges da Fonseca, Op cit.,vol.II, p.52,161,205,39i e 457.
74 Francisco de Briro Freyre, Noua Lusitânia, Hísairia tla gu,erra brasílita. Recife: Governo de
Pernambnco, 1977 (Fac-simile da ediçâo ¿e 1675), p. 345. Yer rambém, enrre ourros, Rrlaçáa
ueràadeira e bteue da tana¡l¿ da úla ¿le Olin¿la Lisboâ, 1630, Biblioreca Nacional do Rio de
Janeiro, seçáo de manusc¡iros,I - 1, 2, 44, n'22.
Cl'Auro, que mandou fazer o Senhor gor.ernador-geral Diogo Bocelho, da comada da llrca
Trés Reis Magos" d€ 25 de faneiro de 1603, publicado na Raútt¿ ¿a Instittûo Hit¡jrico e Geo-
gráfco Brasileiro, rorno 73, p.227.
76 Cf. Borges da Fonseca, Ap. cít.,vol.lI, p.27.
77 Francisco ,Augusro Perein da Coxz, Anais Pernambucanos, Op. cit.,vol I, p. 573; Borges da
Fonseca, Op. cit., vd,. I, p. 100 e 363 Manuel Ca,l do, O Valeroso Lucirleno e rir'.nfa da
e F¡ei
libeùad¿ (1648),2 rols. Sáo Paulo: Ediçóes CuÌrura, 1945, vol. II, p. 109. Teria participado
também da conquisra da Paraíba Frei Vcenre do Salvado¡, Op. .t¿, p. 196 e 280 e "Sumário
das Armadas que se 1ìzeram e guer¡as que se deram na conquisra do rio Paraíba", pubÌicado
na Re ;sta ¿o In'titato Hisrórìn e Geogrrífco Brasileiro, rcmo 36, p. 63.
Ch 'Alvará para se levar em conra o rempo em que serviu como ouvidor aAnrônio Soeiro" de
29 de maio de 1584, Àrquivo Nacional da Tor¡e do Tombo, Chancelaria de Filipe I, Doacóes,
Liv¡o 9, ft. 378.
A formaçáo da elite colonial t9?

Chegando ao último ramo) em Serinhaém, encontramos o engenho de Jaques


Peres, nomeado por Fllipe I para o posto de meirinho da Correiçáo em i590, o qual
aparece exercendo o posto no juramento dado pelos meirinhos e alcaides na instalaçáo
do Sanro Ofício em Pe¡nambuco em 1593'-e. Adiante, atingimos o engenho de Filipe
de ,4.lbuquerque, filho do velho Jerônimo de Albuquerque com máe não decla¡ada.
Este Filipe de Albuquerque casou com D- Madalena Pinhei¡o, filha do feito¡-mo¡ da
A¡mada do Ma¡anháo, Antônio Pinheiro Feijó e de Leonor Gua¡des, mesmos pais da
mulher de Jerônimo de Aibuquerque Maranháo, seu meio-irmáoso.
Ainda nesre ramo, Diogo Ma¡tins Pessoa e¡a dono de um engenho. Filho de
Fe¡náo Ma¡tins Pessoa, antigo senhor de engenho na regiáo da Várzea do Capibaribe,
Diogo Marrins levanrou o engenho do Rosá¡io em Se¡inhaém nas tetras que coube-
ram da iegitima de sua mulhe¡, Filipa de Melo de Älbuquerque, Êlha de Jerônimo de
Albuquerque com D. Filipa de Meiosr. O último engenho do ramo era de D. Joana de
Albuquerque, filha natural do velho Jerônimo de,{lbuquerque, viúva do capitáo Álva-
ro Fragoso, cavaleiro lìdalgo da casa de el-rei e filho do desembargador Brás Fragoso,
aotigo ouvidor geral do Brasilsr. Os filhos de D. Joana de Albuq.rerque e de ÁLaro
Fragoso riveram participaçáo destacada nas campanhas militares do período, tanto na
conquista do Maranhão como na luta contra os holandesessj-

79 Ci "P¡ovimen¡o deJaqucs Peres, meìrìnho da correiçáo" de20 de dezembro de 1590, Arquivo


Nacional da To¡re do Tombo, Chancelaria de Filipe I, Doaçóes. Livro l'6, fL 4l8 e Prírneíra
Vishaçáo tlo Sl¿nta Ofiria a: Paræs do Brasil - Denanciacões e Confssócs de Petnanbuco (1593-
1595), Op. ,:it., p. 8 das denunciaçócs. Ver rambém a escritLrra da compra de "uma sorce de
rerras" da O¡dcm de Sáo Bento em Se¡inhaém, qr:e haviam sido doadas à Ordem por Isabel de
AlbuquerqLre, Âlha deJerônimo de Albu<¡uerque. Cf "Esc¡iru¡a devenda, qLre fizemos, como
procuradores de Dona Isabel de Albuquerque das terras que ela tinha em Serinhaém aJaques
Peres" de i2 dc se¡embro de i610, que consta êo L¡uro d¿ Tombo lL¡ Mosteiro de S¿o Benta de
Olinda, Recife.Imprensa Ofrcial, 1948, p 557
80 Borges da Fonseca, O¿. tl¿, \'ol. I, P 9 e 1'ol. ll, p 399. Registre-se também quc l-eonor Guar-
des é ì¡má de Inês Guardes, mulher de Joáo Paes Barreto, ambas 6lhas de Francisco Carvalho
de Andrade, senhor de engenho Sáo Paulo da Várzea

81 Cf. Primes¿ Visítaç,áa do Santo Ofícìo às Partcs do Br¿sil - Denanclaçóes e Coxfsõø de Ponam'
buco (.1593-1595), Op. cit., p.298 das áenunciaçóes e Borqes da Fonseca, Op. rh ' vol I, p 149
e vol. ll, p. 34, 2ti, 323 e 378.
82 Cf. Prln¿ira V:itaç,'0 lo Santo Ofîio a: f'artes do Brasil - Denuncía.çóes e Confssóes de Per-
nanbv.co (1593-1195), OP clt., P.246 ¿es ¿enunciaçóes; Borges da Fonseca, Op rlr', voÌ ll'
p. 209 e 382; "lnstrumenro público e defesa do Pad¡e Belchior Co¡deiro" de t1 de janeiro
de ií82 pubiicado por SeraÊmLeke, Nopt¿¡ CartasJesaítica:. Sâo Pariio: Companhia Editora
Nacional, 1940, p. 186.
83 da con-
Jerônirno Fragoso de Albuquerque e Gregório lragoso de Albuquerque participaram
quisca do Maranháo, sendo que o primeiro chegoLr a ocupar o posro de capháo-mor do Pará
em 1619, já Álvaro Frågoso de Àlbuquerque desracou-se na lura contra os holandescs, rendo
298 Rodrigo Ricupero

O último engenho da capicania, localizado mais ao sul, em Porco Calvo, naquele


momenro, náo fazia parte de nenhum dos ramos da cobrança do dízimo, Este engenho
era de C¡ìstóváo Lins, nero do homônimo cì¡ado acima, de quem herdou o Posto de
alcaide-mo¡ de Po¡to Calvo. Participou ativamente da guerra conr¡a os holandeses e,

posterio¡menre, das luras cont¡a os negros do quilombo dos Palma¡es3].


Concluídos os engenhos pernambucanos, vejamos agora os senhores de engenho
da capirania de hamaracá arrolados por Diogo de Campos Moreno no mesmo docu-
menro, seguindo a ordem dada por esre.
O primeiro engenho perrencia ao desconhecido Álvaro Lopes e o segundo era
de Amado¡ de Matos, que sabemos cer servido, em 1594, como almo¡acel na vila da
Conceiçáo em ftama¡acá3t. O dono do terceiro engenho era Duarte Ximenes Cami-
nha, cavaleiro fidalgo da casa de Sua Majesrade, ocupou vários postos militares de
imporrância, como o de capicáo do presídio, ou seja, da guarniçáo de Pe¡namb¡.rco em
1622, além de ser contratado¡ dos dízimos em 1619 na mesma capitaniasG.
Avançando um pouco mais, encontramos o primeiro dos dois engenhos que An-
tônio Cavalcanti possuía em Itama¡acá. Era filho de Filipe CavaÌcanri e nero do velho
Jerônimo de Albuquerql¡e e, na conquista da Paraíba, foi capitáo de uma das compa-

sido, posreriormenre, nomeado câpiráo-mor da Vila Fo¡mosa de Se¡inhaém, onde rambém


foi alcaide-mo¡. Veja+e, para os primeiros, Francisco .{ugusto Pereira da Cosra. Díciondrio
à¿ Pertømbucana: Céleb7es, Op. cit., p. 432 e, para o úi¡rmo dos 6lhos cr¡ados, F¡ei Manuel
Calado, 02. rlr., vol. II, p.76, Brno Freyre, Op rze, p. 284 e seguinres e Duarte deAlbuquer-
qte Coelío, Menórias Diárías da Guena do Brasil (1654) (rraducáo). Recife: Secreca¡ia do
Inrerio¡ 1944, p. 132 140, 1i4, 1i8 e 1i9.
Frci Manuei Calado, OP. cit., vol. II, p. t09 e seguinres e Edison Carneiro, O qu amba dos
Palma¡¿s,3' eð,. Rìo de Janeiro: Civilizaçáo Brasrleira, 1966, p. 62 e seguinres.

Cf. Prineirø Vîiruç,io rlo Sanro Ofício à: Partesdo Brasil- Denuncìø.ç,ies e Cotzfssóes de Pernatl
buca 11593-7-95), Ap. cit , p.359 àas denunciaçóes e p. 96 e 98 das con6ssóes.
Embora a assocìaçáo das lunçóes de capiráo do presídio e conrrarador dos dízimos parcça
es¡ranha, acreditamos dilícil que em anos ráo próriimos exisrissem duas pessoas chamadas
Duarre Ximenes Caminha. Cf. "Insrrumenros de Diogo Borelho" de 6 de serembro de 1603,
ptblicaào na Rnista do I- \tit .to Hlstót'ico e Gèográ.fco Brasileiro, romo 73, parre l, p. lii; '-¡.Ì-
vará de lìcença para Duarre Ximenes Caminha carregar açúcar" de 8 de ourubro de 1619, A¡-
quivo r.r-acional da Tor¡e do Tombo, Chancelarìa de Fìlipe III, Doaçóes, Livro 1, fl. 74: Auro
do t¡ue {ìcou assenrado sob¡e medidas a comar conrra o assako dos holandeses as lo¡ralezas de
?e¡n.rmbuco em reuniáo convocada por l4arias de Albuquerque" de 16 de ou¡ubro de 1621,
publicado pelo Baráo de Srudârr, Docnmentos para a História tlo Brasil e especì¿hnente a /,o
Ce¡¡¡i, 4 vols., Forr eza: Minerva, 1909, vol, I, p. 289 e "Relaçáo das visiras que o provedor-
mo¡ da lazenda do Esrado do Brasil lez nas lortaÌezas da Capitania de Pe¡nambuco e n¿s mais
do nor¡e" de 29 de dezembro dc 1623, publicada por Hélio Galváo, Hnóría ì¿ Fort¿leza da
B¿na da Rio Gr¿nle- Rio de Janeiro: Conselho Fede¡al de Cuhura, 1979, p. 2.46.
A formacáo da elite colonial 799

nhiasst- Adian¡e encontremos o engenho dos irmáos Diogo e Simâo de Paiva, filhos
de Migueì Á1.'.¡.s de Paiva que, segundo Frei Vicente do Salvador, foì levantado por
capitáo-mor da capitania de ltama¡acá. Â i¡má deles, Isabel de Paiva, e¡a casada com
Pero Lopes Lobo, que também foi capitão-mo¡ de ltama¡acá38.
Seguindo o arrolamenro de Diogo de Campos Moreno, enconrramos o desconhe-
cido Diogo Delgado e, em seguida, o engenho de Luís de Figueiredo em Goiana, que
ac¡ediramos se¡ filho ou parente próximo de Gaspar de Figueiredo Homem, ouvidor ge-
¡al do Estado do BrasjÌ na última década do século XVI, pois este casou em Pernambuco,
tornando-se proprietário de um engenho em Goiana de invocaçáo "da Santa Crul'^'. Os
últimos dois engenhos e¡am de Antônio de Holanda, Íìlho de Arnau de Holandato, e de
Jerônimo Rodrigues. cristáo-novo, que "foi mercador e ora está empob¡ecido, morado¡
na vila de ltama¡acá" e era primo de Joáo Nunes, citado acima'r.
Aplicando o mesmo critério utilizado no capítulo anterior com os senhores de
engenho da capitania da Bahia, ou seja, dividindo-os nos mesmos seis grupos (A -
G¡andes do Rejno; B - De¡enrores de cargos na administraçáo coJonial; C - Familia¡es
e criados dos deten¡ores de cargos; D - Pessoas que participaram do governo da con-
quista, sem possuírem cargos formais na administraçáo colonial e seus familiares mais
próximoser; E - Pessoas que náo participaram do go'ucrno e sem ligaçáo fämiliar com
as pessoas da governança e F - Pessoas sobre as quais náo conseguimos nenhum tipo

"Sumário das A¡madas que sc lìzcram e guerras quc sc dera'n na conquìsta do r;o Paraíba"
plùlicaáo na Reuista lo Instínta Hì:t,irico e Geogrnfco Br'zsílebo, rcmo 36. p. 34 e Borges da
Fonseca, O¡. rh, r'ol. Il, p. 392 e seguinres.
Frei Vrcen¡e do SaÌrador, O¡. dt" p. l4l; Pnmcira Visiøç,io do Santo OrÇtio à: Pa'na dø Bøtil ' De
urnctaç'es e Confssóes tu Prm¿mbuca 0593-1t95), O? cil. P. 372 ¿a.s ¿et'unciaçóes e Boges da
Fonseca, O¡. r:7, voì. I, p. 149 e vol.ll, p. 136. Pcro l-opes Lobo, por seus sen'iços' recebeu de Fìlipc
II dc Portugal o hábiro da Ordem de Cristo com uma tenca c a|'aú de lembrança paraserr Âlho ser
prolido BrasìLnumofício dejustìca ou fazenda' cl "Mc¡cè concedìdas PorSlraN{ajes-
nas panes do
tade a Pero Lopes Lobo" de 23 dc março de 1610, Àrchivo Generai de Simancas' Sec. Provinciâles'
códice 1498. Regisro de despachos e ca-nas régias para a Índia no ano de 1608' fl 78 r
F¡ei Vicen¡e do Salvad ctr. Op. cít , p 335 "Lì"ro das saídas dos navios e urcas ' de 1605' pu-
1¿licado na Reuista do Institato Aftluealógica, Htstötico e Geagrifco Peraatnbuano' "ol. i8, p.
1i3eAnthonyKnilet,Víri¿Fartu¡taeEstranhasFa,y'.os/'e.. (século XVII) (traducáo)' Sáo
Paulo: Brasiiiense. 1947. p. 166. Kniver. embora erre o nomc' nos informa que "Co¡an¿ t ur't
pequeno rio rye a ¿sse (rto) P¿raiba: (e) pertencc a Ga:par d-c S4ueira, qrc fu; thqfa da
fcalu,nto
ju*iça de toda a Brasil".
90 Borges da Fonscca, vol. I, p 324.
9t himei Visilliç,1o do Santo OJício às P¿rtes do Brnsil - Denancìaçôa da B'¿hii'. Sâo Pado'
t925. p. 557.
Exemplos dessa siruaçáo sáo os comandantes de exPediçóes militares' os caPiráes das troPâs
formadas pelos morado¡es, se¡tanistas a mando do go.erno, rendeiros de impostos' membros
da Câma¡a, en6m, arividades llgadas à governanca da re¡ra
300 Rodrigo Ricupero

de informação, faro que provavelmence indique a náo existência de vínculos com a ad-
ministraçáo colonial'j), teríamos os seguinres ¡esultados: derenrores de cargos com 17
senhores de engenho; åmiliares e pessoas diretamente ligadas a detentores com out¡as
15; pessoas que exerce¡am ourras arividades ligadas à adminisrração - tarefas militares,
¡endei¡os de impostos, sertanisras, membros da câma¡a etc. - com 19 nomes; pessoas
que náo mantinham relaçóes direras com os decen¡o¡es de ca¡gos com 17 e, por fim, l0
nomes sobre os quais náo conseguimos nenhuma info¡macáo (ver Tabela i abaixo).

Tabela 4:
Senhores de engenho em Pernambuco e ltañaracá (c. 1609)
Legenda:

A - Grandes do Reino

B - Membros d2 ãdmin¡srraçáo colonj¿l

. .F"milia¡ ¡r"do. dos " .rbros da


'c "dmini5ü¿."o
D Membros da governanca da cerua

E - Sem relaçáo com os derenrores de cargo

F'Sem informaçáo

B C D E F

Râoo de Iguâmssù 1

C,spa¡ Ë€rnandes Anjo

câsPr¡ ¡-e¡nandes,{njo

Esrcváo Gomes

GoncaLo Novo

Râno do dito ¿istriro 2

Goncxlo No\.o

An¡ônìo Dias do Porro

Registre-se que cada pessoa só será incluida em um grupo, dando,se sempre preferência para
o primeìro grupo possír'el, no caso de uma pessoa poder ser arrolada em mais de unr grupo.
Assim, por exemplo, uma pessoa que pudesse ser arrolada no grupos B, C ou D foi a¡rolada
apenas no B; ourra no C ou D, loì no C-
A formaçáo da elite coloniaÌ

tr:-'I
-i!ï:t l'::' B.andáo

F
_Leon¡do
ãrre Diâs H(

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302 Rodrigo Ricupero

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Domineos de Casuo

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941
Ànd.¿ do Cou¡o
C

André do (

Esre!áo P¡es

lul:iáo Pars
A formaçáo da elite colonial

¡.¡rônio Ribe(o de Låcerdâ I

A n,ô¡iô Riheirô d.l.i..rd, I

Margarlda Álvares de Caslro

Ramo 14 do dito dirri.o


I ✔
Pâulo de Àmo¡im sâlsa¿o

Anrô¡ìo <i¿ Cos¡a Soei.o

Ramo l5 do distito deSeri¡haém


t

Filipe de ALbuquerqúe l
Djogo Mâ¡rjns P€ssoâ l
Á1"â¡o F¡asoso l

0 t7 r5 r9 l l0

Duarr€ Ximenes

AnrônÌo Cavâlcanri I

Srmáo de l¿rra c Dioeo dc l¡iva I

Dioso Del.sado

Luís de Figueiredo

An¡ônio CaLalcanti

An¡ônio de Holandã i

Jerôn¡mo Rodrig!es

0 ). ) 2. 2

Portanto, dois quintos dos senhores de engenho citados estariam nos grupos B e C,
somando aí os membros do grupo D, teríamos dois terços destes ligados à governança
da rerra, concra menos de dois quintos aparentemette sem relação, incluindo equi todos
aqr¡eles pam os quais náo obtivemos infò¡maçáo (ver Tabela 6 abaixo)
J04 Rodrigo Ricupero

Tabela 5:
Resumo tabela 4
Legenda:

Ä - Grandes do Re,no

B - Memb¡os da admlnsr¡âçáo colonial

C - Faniiiares e c¡iados dos membros da adminisüâçáo

D - Mcmbros da governancada rerra

E Sem reLaçáo com os decentores de cargo

F Sem hformaçáo

A B c D B+C+f) E F E+F Total

Senho¡es de Êneenho Pernambuco 0 I7 Ìi L9 5t LO 78

Senho¡es d¿ EngeDho lc¿maraci 0 ) 6 1. z Ì0

Dessa fo¡ma, também rra capi.ania de Pe¡nambuco uma importat¡e parcela da


elire local aproveitou-se da participaçáo no gove¡no da conquista para consrituir um sig-
nificarivo parrimônio, especialmente marerializado nos engenhos de açúcar. Conrudo, a
capitania de Pe¡nambuco apreserra imporranres disdnçóes frente à capitania da Bahia.
Em primeiro luga¡ é necessário lembrar que a capitania de Pe¡nambuco estruturolr-se
por meio da iniciadva privada do grupo em ro¡no de Dua¡ce Coelho, enquanro a capira-
ria da Behia foi montada por iniciativa régia. Desse modo, a adminisrraçâo coloniaÌ em
Pernambuco, ¡an¡o ¡égiâ como donaca¡ial, ráo se compara em imporrância e ramanho
com a da Bahia, cabeça do Esrado do B¡asii. Além disso, o eno¡me desenvoÌvimenro da
economia açucareira em Pe¡rambuco arraiu um núme¡o muiro maio¡ de me¡cadores se
comparado com o da Bahia. Porém, mesmo com esres farores, os núme¡os de senho¡es
de engenho em Pernambuco envolvidos com o governo da capitania e corn ¿ conquisra
do ter¡i¡ó¡io é muiro significarivo.
Outro aspecto digno de menção é que o grupo formado pelas famílias dos princi-
pais comandanres da conquisra rerrirorial na décadas de 1j50 e 1560 fo¡mou o núcleo
duro do poder na capirania, gracas ao controle desres sobre importante parcela das
melhores terras da regiáo, lato que lhes permitiria, inclusive, incorporar novos ele-
menros récem-chegados, como, particularmenae, novos funcioná¡ios ¡égios ou mesmo
mercado¡es de maior vulto. Tal grupo também ocuparia papel desracado na expansáo
re¡¡iro¡ial rumo ao nor¡e, aproveitando-se das novas conquistas pa¡a obre¡em rerras,
esCra\O\ e (årgOS. ( OmO veremO\ a seguir.
A fo¡macáo da elite colonial

As novas conquistas: Paraiba e Sergipe

O movimen¡o de ocupacáo das terras da capitania de Pernambuco, ocorreu


ao mesmo tempo que o efetivo domínio das te¡¡as da capitania da Bahia, vìsto no
capítulo anrerior, ambos efe¡uados enrre a segunda metade da década de 1550 e o
final da década seguinte. Nos dois casos, as terres conquistadas, rapidamente apro-
veitadas, escimularam, pouco depois, novas invesridas sob¡e os ter¡itó¡ios ainda náo
ocupados, localizados nas proximidades das duas capitanias, ou seja, as á¡eas das
futuras capitanias da Paraíba e de Sergipe. Dessa maneira, os portugueses já sediados
na colônia, pretendiam, com a nove ofensiva, derrorar a ¡esis¡ência indígena e, ao
mesmo rempo) obte¡ ¡erras, ab¡indo uma nova frente de expansáo, e cacivos, legiti-
mados pela guerra justa, para suprir a demanda por máo-de-obra tanto nas tovas
como nas r.elhas á¡eas.
O movimento para a ocupaçáo das te¡¡as da Paraíba e de Sergipe comecou em
meados da década de 1570, durante o govêrno de Luís de B¡ito de Almeida, mas, em
ambos os casos, sem maiores conseqüências, apenas na década segu.inte os porcugueses
alcançariam o domínio dos territórios pretendidos.
No caso da Pa¡aíba, as vitórias dos portugueses em Pernambuco, embora tenham
consolidado o domínio das re¡¡as pernambucanas, não lograram der¡o¡a¡ defrniriva-
mence a ¡esis¡ência indígena, apenas a empurraram para o norte da pequena capirania
de ltama¡acá. Tal área ¡o¡nou-se, assim, uma espécie de f¡on¡ei¡a da colonizaçåo por-
tuguesa, de onde as r¡ibos hosris, reforçadas com a presença de traficances f¡anceses de
pau-brasil, continuaram a luta¡ conr¡a o a",anço dos porrugueses, atacando, inclusive,
as fazendas mais próximas, impedindo com isso um maior aproveitamento das te¡¡as
da capirania de ltamaracá ou mesmo as do norte da capitania de Pe¡nambucoer-
As tentativas de atrair pacificamente os índios inimigos para o lado português
náo deram ¡esultados, e os acordos de paz estabelecidos eram meras tréguas, quebradas
regularmente. A própria conquista da Paraiba iniciou-se em to¡no de 1574, quando os

94 Para uma descrição mais decalhada desse processo de conr¡Lrista, ver um clássico da historiogra-
fia pararbana, Irineu F erreiraPimo. D¿tas e Notãs pãîa 4 Hí'tóríã d¿ Païdíb'7.(1908) 2.ols. 2
ed. Joáo lessoa: Unn'e¡sidade Federal da Paraíba, 1977 e o trabalho ¡ecente de Regina Célìa
GonçaIves. Guerra: e Arúc¿ft¡ Polític¿ e ecz',tomi¿ nã caPit,lnnr da Palãib¿ (1585-1630) (-fese
Inédita defendida na USP em 2003). A prìncipal fonte para a conquisra da Pa¡aíba é o chamado
"Sumário das A¡madas que se 6zeram e guerras qte se deram na conquisra do rio Paraiba",
pu!\ica.ðo na Ra,ista la Ín*ituto Histórtco e Geognifco Brasilelro, rcno 36, p. 5-89 F¡ei Vicente
do Salvado¡ também dedica muì¡a a¡encáo ao tema, mas, salvo um ou ourro detalhe, repete as
infurmaçóes, múiras vezes copiando trechos rn¡eiros do "Sumárjo', cuia au¡oria é a¡¡ibuida ao
jesuíra Simáo Travassos- Sobre esta questáo, veja-sc: José Hooório Rod rìgùes. Hbtória ¿a Hrstó'
ria do B¡¿sí|.3 vols. Sâo Paulo: Companhìa Ediro¡a Nacional, 1979,p.450.
306 Rodrigo Ricupero

índios se levan¡am conlra cenos abusos praricados por alguns po¡rugreses, desrruindo
o engenho recém-levantado de Diogo Dias, "que era o derradeiro que esrava nâs fron-
teiras da capitania de ltamaracá"e5.
.{s primeiras renracivas, contudo, náo derañ ¡esulrados. Em 1575, o governedor
Luís de Brito de Almeida enviou o ouvidor geral e provedo¡-mo¡ Fernáo da Silva com
a ta¡efa de conquistar a regiáo, mas a expediçáo, após algumas pequenas vitórias, foi
obrigada a retornar a Pe¡nambuco, dada a grande resisténcia indígena. O próprio go,
vernador organizou, ainda em 1575, tma armada de 12 navios em Saivador para tentar
empreender a conqlrisra, mas o [empo náo lhe foi favorável, e apenas uma pane da
frota conseguiu atingir Pernambuco. Â expediçáo seguinte, em 1579, comandada po¡
Joáo Tavares, após monta¡ um fo¡tim numa ilha do Rio Pa¡aíba, também foi obrigada,
pela resistência indígena, a retornar a Pe¡nambuco.
O f¡acasso das expediçóes, mesmo com ¡efo¡cos vindos da Bahia e da ¡en¡ariva
de colonizaçáo, empreitada após negociaçóes diretas no Reino por Fruruoso Ba¡bosa,
fez que o Governo-ge¡al assumisse a tarefa. O ouvidor geral Martim Leitáo loi enviado
para Pernambuco e assumiu o comando de uma nova expedicáo, formada por tropas
e com oficiais da capitania de Pernambuco e ¡efo¡çada, ainda, pela presenca de uma
pequena armada cas¡elhana que retornava do est¡eito de Magalháes. Esta expedicáo
que acabaria consolidando definitivamente o domínio da regiáo, embora as guerras
ainda durassem alguns anos.
Vejamos agora quem foram os principais conquistadores e primeiros povoadores
da Pa¡aíba. O ouvidor geral Ma¡cim Leitáo foi o comandante geral da conquisra e seu
cunhado F¡ancisco Barrero era o segundo no comando, as companhias de ordenanças
eram comandadas por Simáo Falcão e Jorge Camelo pa¡a as de Olinda, Joáo Paes Bar-
rero para a do Cabo de Santo Agostinho Joáo Velho do Rego para a de lgaraçu, que
e

nas palevras expressivas de Pereira da Cos¡a e¡am "todos da principal e alentada no-
breza pernambucana"t6. ,{s companhias dos me¡cado¡es e¡am comandadas por Fernáo
Soares e Ämb¡ósio Fe¡nandes B¡andáo. ,Ainda ocupavam posros importantes, Mister
ou Micer Hipóliro e Gaspar Dias de Moraes que dirigiam duas companhias formadas
por "muitos mømelacos flhos da terrá" e que eram de confiança do otxidor geral "que
deu sempre dc comer à sua cast¿" indo na vanguarda das tropas. Os reforços de ltama-
racá eram dirigidos pelo capiráo da capitania Pero Lopes Lobo e as companhias eram
comandadas por Crisróvão Paes de Alte¡o, Baltasa¡ de Bar¡os e Antônio C avalca¡fleì.

95 Frei Vicence do Salvador, Op. tlt.,p.2I5.


96 Francisco Augusto Pereira da Cosra, Ap. dt., '"oI.I, p. 560.
97 Cf "Sumário das Armadas que se Êzeram e guerras que se deram na conquista do rio Para-
íba", publicado na Rezistl¿ ¿o In-,îituto Hbtórico e Geográfco Brasìleiro, romo 16, p.32.Frel
Vicente do Salvado¡ Op. cit., p-266.
A formaçáo da elire colonial 107

Pe¡cebe-se, assim, que embora sob o comando do ouvidor geral e com parre dos
¡ecursos pagos peJa Fazenda Real, a conquista da Paraíba foi uma grande empreicada
da elire da capirania de Pernambuco, que, em seguida, assumiu os principais posros
da nova capitania, ocupou as ¡e¡¡as conquisradas e e¡gueu engenhos de açúcar. Além
disso, a Câma¡a de Olinda procurou interferi¡ nos assuntos da nova capitania, inclu-
sive elegendo Joáo Tavares, esc¡iváo da própria Câmara de Olinda, como primeiro
capitáo-mor da Paraíbaes.
O segundo capitáo-mor, Frutuoso Ba¡bosa, foi ofìcial da Câmara de Olinda em
1572 participava do cométcio com pau-b¡asil em Pe¡nambuco e acordou com a Coroa
um projeto de colonizaçáo da Paraiba, sendo nomeado capitáo-mor por dez anos. A
ten¡ativa inicial de F¡utuoso Barbosa náo foi bem sucedida, mas, pouco tempo depoìs
da conquisra da Pa¡aíba, pelo ouvidor geral Martim i-eirão, a Co¡oa conñrmou Fru-
tuoso Ba¡bosa no car€lo, que exerceû por três anosi possil_elmente como comPensacáo
dos gastos que .eve nas guer¡as da Paraíbaoo.
Com a saída de F¡utuoso Barbosa, Àndré de Albuquerque assumìu o posto de ca-
pitão-mor interinamen¡e. Este e¡a filho do velho Jerônìmo de Albuquerquc e. em 1593,
ou seja, logo após d€ixar o go!'erno interino da Pa¡aíba, tornou-se vereâdor ¡ra Câma¡a
de Olinda, tendo ainda sido capitáo-mor de Igaracu. Posteriormente seria ¡econduzido
ao posto por provisáo de Filipe lli00. Vale a pena ainda cita¡ Antônio de Àlbuquerque

98 Êxcmplo dessa interlcréncia é a carrâ em qu€ a Câmara de Olinda pedia ao rci â sùbstituiçáo
de F¡uruoso Ba¡bosa do poslo de capitáo mor, po;s esr€, Parå os oficrais, "náo soJ¡cnrc inqu;t-
¡a a Paraíb'a mas anres a nós nos causa moléstia além dc nos have¡ ¡enro custado (a conquisra
<ia Pa'aíba) e ora nos náo cusrará pouco ...", ci "Cana dos juizcs c vereadores da Vila de
Olinda para el'rei" de 28 de agosto de 1589. Arquno Nacional da Torre do Tomb'o, Corpo
Cronoiógico, parlc I, rnaço 112, docLrmento 5T Sobre a eleicáo de Joáo Tarares, cl "Carta
do cardeal arquìduque, para el-rei'dc l3 de outubro de 1586, Archilo Gencnl r{e sim:ncas
Sec. P¡or-rnciales, códice lii0, Cartas o¡isinais do cardeal arquiduquc, vice-reì de Portugal
para el-reì. sobre dn'ersos assunros dc 1586, fls. 536 e seguintes.
99 Cll¡incu Ferreira Pìnro, O!. cir,P.14e Sum ário das Armadas que se fizcran c gue..as que
scderanr na conquìsta do rio Paraíba , publicaào na. Reuiç¿ lo I¡tçituto Hi:tórico
Geognífn e

Brasileiro. romo 36, p.17. Ve¡ ainda, entre outros, os seguintes documenrosi "RePresenraçáo

da Cânara de Olinda ao Padre Geral (dos JesLrí¡as)" de 29 de janeiro de l57Z publicada pot
Pad.e Sera6m Lene, Hìstória da. Compa.nhia de Jcszs no Brnsil Op cít , rcL l' p 550 e "Pro-
r,imen¡o de F¡u¡uoso Barbosa, capiráo-mor da Paraiba por dez anos" de 25 de novembro dc
1579. Arquivo Nacional da Tor¡e rio Tombo, Chancela¡ia de D Sebas¡ráo e D. Hcnnque'
Doaçóes, Livro 42, 11. 382 r'.
100 Cf. F¡ej Vìcen¡e do Sah.ado¡ OP. cit.,309: Borges da Fonseca, Op c;t.,rc) II'p 386: Pri
neira \risit¿ção do Sa¡tta Oficia à: Partes lo Êrasil Denuntiaçóes e Co'nfssóe: rh Penankt
co (1i93'I59il, OP. cít.. p. 3 das dcnunciaçóes e ''Provìmento de .A.ndré de AÌbuqucrque.
capiráo-mor c1a Pa¡aíba de 21 de agosto de 1603, Arquivo Nacional da Torre do To'rbo,
Chancelar;a de Filipe I, Doaçóes, LÀ.ro Z fl.3671'.
308 Rodrigo Ricupero

Maranháo, Êlho de Jerônimo de A.lbuquerque Ma¡anháo, que foi nomeado capitáo-


mo¡ da Pa¡aíba em 1622 em respeiro aos seus servicos e aos do pai na conquisca do
Ma¡anháo, onde também servira, arteriormenre, como capiráo-morroì.
Quanto aos senho¡es de engenho na capitania da Paraíba, Diogo de Campos
Moreno, na sua relaçáo de 1609, a¡¡ola 10 engenhos, fo¡necendo os nomes dos pro-
prietáriosror. O primeiro engenho arrolado era do mercador F¡ancisco Tomás no Rio
G¡amamero3. O engenho seguinre Êcava nas f¡onreiras do Tiberi e e¡a de Gaspar Car-
neiro, que, segundo um depoimenro peranre o Santo Ofício, "foi provedor-mor nesta
capitania, mo¡ador na cidade de Lisboa" e irmáo de F¡ancisco Ca¡nei¡o "contado¡
dos conros de Sua Ma.jesrade"'01. Na ve¡dade, Gaspar Carneiro se¡viu como esc¡iváo
e depois provedor da Fazenda dos Defun¡os e Ausentes de Pe¡nambuco e ftamaracá,
posteriormente serviu em Lisboa, no cargo de ¡esoureiro geral da Fazenda dos Defun-
cos e Ausenres da Guiné e B¡asi|ot. Chegou a possui¡ um ergenho no rermo de Olinda
an¡es de 1608 e provavelmenre náo vivesse mais nas pa¡tes do B¡asil na época em que
Diogo de Campos Moreno redigiu sua relacáor06.

101 CL "Carta de nomeaçáo de Ànrônio de Albuquerque" de 9 de agosro de t622, Arquivo Na-


cional da Torre do Tombo, Chancela¡ia de Filìpe III, Doaçóes, Oficios e \{ercês, Lìvro 3, fl.
240 v.
CL Diogo de Campos Moreno, "Relaçáo das praças fortes, povoaçóes e coìsas de imporråncir
que Sua Majesrade tem na cosra do Brasil, lazendo princípio dos baixos ou ponra de Sáo Ro-
que para o sul do esrado e delensáo delas, de seus lrutos e rendimenros, leira pelo sargcnto mor
desra cosra ..-" de 1609, publìcado na ReutÍ,i ¿o Insútuta Aftlueokgìo, Hutöríco e Geagtífco
l',,r/tdbn,at,o. rol. <-. lo8.r. p. I8i e )eôuinre<.
Prirneira Visrraçáa do Santo Ofcioàs ?artes do Bla"l - Den"ncilrcóes ¿ Co-nfs'ó€' ¿e Per.iaïnb ro

0593-159t), Op. cit., p. 394 das denunciacóes. Salvo caso de homonímia, esteve enrrclvido
na compra de açúcar do espólio de Mem de Sá, cf "Invenrário do engenho de Sergipe para
enrrega ao rendeiro judicial Gaspar da Cunha e por este a,A.nrônio da Serra, procurador dos
herdeiros" de 1574, pul>Iicado er¡ Docu.meøos pa,¿ a H^ttiïi¿ ¿o Açúrøa 3 vols. Rio de Janeì-
ro: IAÂ, 1956, rrcl. III, p. 121 enrre ourras.
104 Cf- ?rimùra Visitação do Santo Oficio às Parte: do Brusi/, Denunciações e Canfssôes de Penan-
b ú t l<qj-1ict<1, OP. (i!.. p.20a dâ\denun( ¿(oes.
10i Cf, 'Provimenro de Gaspar Carneiro, escriváo da Fazenda dos Defun¡os" de 21 de abril de
1i84, "Provimenro de Caspar Carneiro, provedo¡ da Fazcnda dos Defuntos" de 8 de março
de 1584, "Provimenro de Gaspar Carnerro, esc¡iváo dos Defunros" de 24 de fevereiro de
1t84, "Provimenro de Jorge de AÌmeida Lobo, provedor da Fazenda dos Defuntos do Espiriro
Sanro" de 8 de ourubro de 1594 e "Provimenro de Nicolau Tejxei¡a de Barros, escnváo dos
delunros de Pernambuco" de 1'de março de 1616, respecrivamenre, Arquivo Nacional da
Tor¡e do lbmbo, Chancelaria de Filipe I, Doaçóes, livro 8, fl- 44 v.;1ì. 9, p.311; liv¡o 10,11.
129 v; liv¡o 31, 11. 20 v e Chancelaria de Filipe Il, Doaçóes, livro 36, fl. 8t v.
r06 "Livro das saídas dos navios e urcas" de 1605, publicado na Rr tta ¿o Inttítuto ArqaeoÌtigica,
Histório e Geogrulfca ?ernanbucano,vol- 58, p. lI8.
A formacáo da eliie colonial

Seguindo a lista, encontramos engenho do mercador Joáo de Paz e os dois en,


genhos de Ambrósio Fe¡nandes B¡andáo- Esre foi um dos comandan¡es da conquista
da Paraíba e, como ele p¡óp¡io afirmal'a num pedido de sesmaria, fora ainda "muitas
vezes por capitáo de infanca¡ia nas gue¡¡as ao gertio potiguar e franceses" na região e

de quem já tratado atrás junto, com os senho¡es de engenho de Pernambuco'0r.


Adiante atingimos o engenbo de Dua¡te Gomes da Silveira na várzea do Rio
Pa¡aíba. Um dos mais importantes moradores da capitania, da qual foi um principais
conquìsrado¡esros. Foi denunciado pelo capitão-mor da Pa¡aíba por rentar fraudar a
Fazenda Régia, mudando o nome do engenho para se beneficia¡ de mais dez anos de
isenção do dízìmo; de qualque. forma, e¡a sempre indicado ao mona¡ca como um dos
vassalos aptos para servi-lol09.
Ainda na vá¡zea do Rio Paraíba, enconr¡amos os engenhos de Lopo do Barco,
Jorge Camelo e Alonso Nero. O primeìro e¡a m€¡cado¡ e fòi ofìcial da Câma¡a de
Filipéia em 1603'10- Jorge Camelo, que alérn de capitáo de uma das companhias de
ordenancas na conquisra da Pa¡aíba, foi;uiz em Iguaraçu e ouvido¡ da capitanìa de
Pe¡nambucor:Ì. O re¡ceiro, .Afonso Nero foi um dos conquistadores da capirania. pois,
como âlegava, num pedido de sesmaria, e¡a mo¡ado¡ desde o "princípio da povoaçáo ...

r07 Ci "Carca de Sesme¡ia de Ambrósio Fe¡nandes Brandáo" de 27 dc no.-embro de 1613. pu-


blicada por Joáo de L¡'rafavres. Apontamentos ?,1îø Hlstótl¿ T¿ritorial la Pa¡'tíb¿.2vols.
'1
laraíba: Imprensa Oficial, 1910, vol. I, p. 3i.
108 F¡ei Vicenre do Saivador Op. .tt, p. 278 e seguintes e "Sumáro das A.rmadas que se 6zeram e
guerras que se deram rra conquìsta do rio Paraíba", publicado na ReL,istã rla l7]stit to Históïìco
? tJ"og'afrc Br4'iþiro. omo.lo. p. i0 e \eguinres.
109 "Carra do capitâomor da Paraíba, Joáo Rabelo dc Lima, ao rei Filipe l1' de 6 de março de
1616, Arquì1oHisrórico Uir¡amarino, Pa¡aíba, cx. t, documento 7 (Projeto Rcsgate. Pâ¡âiba,
docLrmenro 7). "Carra de Filipe Il para Gaspar de Sousa" de 30 de agosto de 1613, pubJìcadaem
tu Soasa, A?. cir., p.2D: Dl1ílogos /'as Gr¿.nl.ezas ì'o Brasil
Ca,tas para Áluaro dz Sau:a e Gaspar
(i618), l"ediçáo rnreg¡alsegundo o apógrafo de Leiden porJosé Antonio GonsaLves de Mello.
Rccrfc Imprensa Unìr,ersirária, 1962, p. 23 (.{ ob¡a é atribuída a Ambrósio Fernandes B¡andáo)
e o manusc¡iro 2436, Bibloceca Nacional de ìvfadrr, Miscelânea (Po¡tugaì). il 105, sem rítulo
e data, mas do inícìo do século XVII (Exisce cópia na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro,
inrirulada "Parecer deJoão Rabelo de Lima , Manuscrìtos, Cópia, códiceI - 1,2.44 n' 25).
Cf. Prtmelra Vititlit,4o di Sltnto Ofcío às Partes do Brasil - Denunciaçóes da Bahta, Op cit.,
p.521 e 'Auro que mandar,:m fazer os oficiais da Câma¡a sobre a forti6caçáo da bar¡a do
Cabedelo desra capitania da Paraíba" de 26 de abril de i603, publicada na Reatstø da Jnstituto
Hisaírico e Gcogrnfco Brasileíro, romo73, p.48.
F¡er Vicenre do SaÌvador, Op. cit., p.266 e seguinres; "Sumário das Armadas que se 6zeram e
guerras que se deram na conquista do rio Paraiba", publicado na Raristá ¿o Inst;tuta Hirtólica
e Geognífco Brasileiro, romo 36, p. 33 e seguìnte$ Primeira Visitaçáo do Santo Ofítio i< Pattes
ào Bra:il - Dnunciaç,õe: e Confss,ões /"e Pernambv.,:o (1593-1595), OP. cit., p- 136 e 248 ¿es
denunciaçóes e p. 25 das con{ìssóes e "lnstrumento público e delesa do Pad¡e Belchio¡ Cor-
deiro" de 11 de jåneiro dc 1582 publicado por SeraÊm Leirc, Nous Cartøs Jcsuíaras, Op. tit.,
ll0 Rodrigo Ricupero

rendo gasro muito dirhei¡o na sua conquista (e) em codas as gue¡¡as e enco¡r¡ros com
os gentios e [ranceses"l'2.
O último engenho da capitania liscado por Diogo de Campos Moreno em 1609
e¡a de Ântônio de Valadares, que foi capiráo de uma das companhias n¿ conquista
do Rio G¡ande e de ourra no combate aos índios que apoiaram os holandeses após a
expulsáo desces de Salvado¡"j. Aparece ainda como um dos signarários de dois au¡os
sobre a fortificaçáo da capitanìa, um de 1603, quando era oficial da Câma¡a, e out¡o
de 1618; pouco tempo depois arrematou os di¡eiros daAlfândega da Paraíba colocados
em pregáo pelo provedo¡-mo/'4.
Consolidado o domínìo da capitania da Pa¡aíba, o passo seguin¡e da expansáo
portuguesa f'oi a conquista da regiáo conhecida posreriormente como Sergipe d'el-rei,
enc¡e o Rio Sáo F¡ancisco e o norte do recôncavo da Bahia, que até o Ênal da década
de 1580 permanecia sob con¡¡ole de cribos inimigas,
-As primeiras rentativas de ocupaçâo do território de Sergipe ocorreram ainda no go-
verno de Luís de B¡ito de Almeida e ¡inham como principal responsável Ga¡cia D'Ávila,
porém acabaram limirando-se ao combate conc¡a os índios inimigos. Estes, contudo, no
final do gor.erno de ManuelTêles Barreto, segundo Frei Vicente do Sal,.ado., ptoc.,¡a¡am
acerta¡ um aco¡do de paz, sendo entáo enviada uma nova expediçáo que acabou sendo des-
truída pelos mesmos índios. A conquista de Sergipe propriamenre dita, iniciou-se, enúo,
como ¡espos¡a ao que os colonos conside¡aram uma traiçáo e foi dirigida por Cristóváo de
Barros, provedor-mot que nesse momenro pefticipara da junta que goveroava incerina-
mente o Estado do B¡asil devido ao falecimenro do governador'-geralL't.

p. lB6 e "Processo de.A.lva¡o \¡elho Ba¡rero" (1595), Ârquivo N:cional da To¡re do Toml¡o,
Inquisiçáo de Lisboa, 8475.
112 Cf. "Carra de sesmaria dc A.fonso Neco" de li de janeiro de 1615, publicada por Joáo de Lyra
Tavares, O¡. ch.,vo|.I, p.37.
Iti Frei Vicenre do Salvador, Op. cit.,p.323 e495.
114 Cf. 'Auco que mandaram fazer os o6ciais da Câ,na¡a sob¡e a forrifìcaçáo da barra do Cabe-
delo desra capirania da Paraíba" de 26 de abril de 1603, publicado na R¿utsta do Jn¡títtta Hx-
tórico e Geográfco Brastlella, @Í\o 73, p. 48 e 'Auro que man{ou lazer o senhor governador
e capiráo geral desre Esrado do Brasil D, Luis de Sousa sobre o lone novo que Sua Majcscade
ordena se faça, para forrilìcaçáo do porro desta capicanla (da Paraiba)" de 23 de novembro
de 1618, que consra do Liaro 1' do Gouerna ¿ta Brøs;l, Op. ut., p.254. \¡er ainda "Relaçáo das
visiras que o provedor-mor da lazenda do Esrado do B¡asil lez nas lonaìezas da C.rpirania de
Pernambuco e nas mais do no¡re" de 29 de dezembro de 1623, publicado por Hélio Galváo,
Op. cit., p.246 e o ma,luscrrro 2436 da Brb[oceca Nacronal de \,Íadrr cirado acim¿.
115 Frei Vicen¡e do 5 vùor, Op. cir..p.29i
e3A]t Ao contrário da conquisra da l'araiba, adc
Sergìpe náo possuí nada comparável ao "Sumá¡io das Armadaí', assim Frei VLcenrc do Sal
vador é a melhor lonre de ìnlormaçáo ainda que renha escriro pouco sobre o assunto. Parp.
¡en¡arivas an¡eriores de con<¡uista, pacíGcas ou náo, ver Felìsbelo Freire. Hi:ró a de Sngipe.2'
A formacão da elite colonial 311

Conquistada e povoada basìcamente por moradores da Bahia, náo se sabem os

motivos que levaram a que a área fosse transformada em capirania independente. Dio-
go de Campos Moreno creditava tal iniciativa ao monarca, mas, em documento anôni-
mo do início do século XVII, a medida era creditada ao governador-geral D- Francisco
de Sousa, o que teria, inclusive, provocado uma demanda, sustentada pelos moradores
de Salvador, contra tal separaçãor16.
De qualquer forma, os mo¡adores viam a conquism da regiáo como mais uma pos-
sibilidade de obtençáo de esc¡avos e de ¡e¡¡as, entáo escâssas no enro¡no de Salvado¡ Daí
a facilidade com que Cristóváo de Barros conseguìu recrutar ¿s troP¿s P¿ra a emPrcsai
aÊnal, como nos conta frei Vicente do Salvado¡ 'Apelidou por isso muitos homens desca
te¡¡a (Bahia) e alguns de Pernambuco, e uns e outros o acompanha¡am com mui¡a von-
rade, porque, sendo guerra táo.justa, dada com licença de el-rei, esperavam ¡raze¡ muitos
escravos""i, náo restando dúvidas sob¡e alegitimidade dos escraros capturados. Assim, náo
causa súrprcsa que os principais companhei¡os de C¡istóváo de Ba¡¡os fossem os senhores
de engenho Sebastiáo de Faria, comandante da retaguarda da expedição, e Rodrigo Mar-
tinsrrs, que juntamente com seu irmáo Álvaro Rodrigues"e, cåPicaneavam as troPas qùe
seguiam pelo interior.
'Alcançada a vi¡ória e cu¡ados os fe¡idos", ainda segundo Frei Vicente do
Salvador, Cristóváo de Ba¡¡os arrnou cavalei¡os "como fazem .- Áfti."", pot pto-
visóes do rei que para isso tinha, e

fez reparriçáo dos cativos e das terras, 6cando-lhe de uma coisa e out¡e muir¿
boa porçáo, com quc lcz ali uma grande fazenda de currais de gador e ouúos a
seu exemplo Êzeram o mesmo, com que veio a crescer cento pela bonda.ìe dos
pasros quc daÌi se provem de bois os engenhos da Bahia e Pe¡nambuco e os
açougues de carnetlo-

ed., Petrópolis: Vozes, 1972 caPírulo I, que publica ¡ambém uma ca¡ta do jesrírr Inácio de
Tolosa de 1575 que narra essas rentativas mal sucedidas.
116 Diogo de CamposMoreno, Liuro que dá razáa da Ecada h B¡¿s¡l' 11612), Op cit, P 161 e
"Relâçáo das cePjranias do Brasil" (início do século XVII), pubÌicada na Rev;sra do lnsrituto
Hisrórico e CeográGco Brasileiro, tomo 62' parte I' p 12.
117 F¡ei Vicen¡e do SaI.zdor, Op. cit , p.3A1.
118 Sob¡e esres dois seohorcs de engenho, veja-se o capírulo anrerior.
1i9 Áivaro Rodrigucs era um importaûte serranìsta, pois, segundo o governador-geral Diogo dc
Meneses. "os índios obedeciamlhe como ao sol" Ci Pedro Calmon (Ed)' Catáloga genealó-
gi ¿'/.s ?lincipnisfanítrg, 2 r'ols. Salvador: Empresa G¡á6ca da Bahia, 1985. p. 265 (Trata-se
de uma reedìcáo do CatáÌogo genealtigíco de Frei Jaboaráo).
120 F¡eì Viccn¡c do Sahador, O¿. cít.,p.302.
Jt2 Rodrigo Ricr.rpero

A pecuária tornou-se a arividade dominan¡e, consolidando o papel auxiliar de-


sempenhado pela nova capitania, pois, como atesraria alguns anos depois Diogo de
Campos Moreno, a capitania de Sergipe "é muiro proveitosa aos engenhos e fazendas
de Pe¡nambuco e da Bahia, para as quais vai ¡odo os anos muito gado"i?r.
As ce¡ras da capitania foram rapidamente reparcidas pelos moradores da Bahia
e alguns de Pe¡nambuco rambém, numa verdadeira cor¡ida envoivendo as principaìs
personalidades da elire baiana que aproveitaram pa¡a aumentar suas propriedades fun-
diá¡iasr']?. Daí que denrre os sesmei¡os da capitania se encotr¡assem o bispo D. An-
rônio Ba¡¡ei¡ost23, diversos clérigos, os jesuíras, os beneditinos, vários funcionários da
administraçáo colonial, o alcaide-mo¡ de Salvado¡ Dua¡te Moniz Barrero, o famoso
Garcia D'Ávila'r¡, o conc¡arado¡ dos dízimos Ancônio Vaz, o desembargador Baltasar
Fe¡¡az, Äntônio Ca¡doso de Bar¡osttt e mui¡os ou¡ros.
Nem ¡odas as re¡¡as disr¡ibuídas foram realmenre aproveitadas, obrigando o go-
vernador-geral D. F¡ancisco de Sousa a ameaçat por meio de um pregáo em Salvado¡
rirar as re¡ras dos que náo as aproveirassemtt6. De qualquer forma, Sergipe rornou-se
uma grande área de pecuária com imensos larifúndios, sobre os quais o sa¡genro-mor
do Estado do Brasil, Diogo de Campos Moreno, era explícico:

cem essâ capiEenie mais de duzen¡os moradores brancos, separados uns dos oucros a

respeiro de suas criaçóes, para as quâis sáo ráo cobiçosos de ocupar terras que há mora-

dor que rem uinra léguas de sesma¡ias em dife¡enres parres (Francisco Dias Ávila, 6-
lho de Garcia DÁvila), e Anónio Ca¡doso de Barros (1ìlho do conquisrador Crisróváo

de Barros) rem de sesmarias, desde o Rio Sergipe aré o Rio São lrancisco, por cosra e

121 Diogo de CamposMoreno, Liuro Ere drí raz,io do Estado do Brasil, (1612), Op. cit., p.163.
122 As sesmarias de Sergipe foram publicadas por Felisbelo Freire, 01. .l/., p. 328 e seguinces.
t23 Esre, na época da conquisra de Sergipe, divrdia o Governo geral inrerino com Crisróváo de
Barros.
124 Sob¡e as ¡er¡as sergipanas de Garcia Dá"il", ."'."-.nro, publicado por Pedro Cal,
"". """
mon, Hí'tór;/1 ¿/1 Cãia da Torre- F.lo àe laneno: José Olympio, 1958, p. 224.
125 Filho de Cris¡óváo de Ba¡ros e neto de,A.nrônio Cardoso de Barros, possuia, pelo menos,
dors engenhos na Bahia, além das rerras em Sergipe. Chamado de "morador nobre", por Si-
máo de Vasconcelos, teve desraque na campanha pela resrauração de Salvador ocupada pelos
holandeses em 1624 e 1625, ocupando o posro de coronel, renrou ainda, scm sucesso, obrer
o posto de capìráo-mor de Sergipe. Cf. Padre Barrolomeu Greneiro. Jornada dos Vassalos àa
Coroø de ?ortugal. (1625)- Rio d€ Jan€iro: Bibliorecâ Nacional, 1966, p. 69 e Frei Agosrinho
de SanraMa¡ia. Op. cit., p. 64. Yer ainda Sirnâo de Vasconcelos. Wda do Wnetui'e/ pa¿re José
d¿Anchieta. (Séc. XVII). 2 vols. Rio deJaneiro: Insriruro Nacional do Livro, 1943.
126 "Carta (de sesmaria) de MiguelSoares de Sousa" de 16 de maio de 1596, publicada por Felis-
belo Freire, O?. cir-, p.334.
A formaçáo da elite colonial lr3

pela rerra a denrro, mais de oito léguas morado¡es desta maneira ¡cm

ocupado com qu:Ltro currais t€rra que se podem acomodâr muiÞs genÈsrr¡.

Retrato dessa siruaçáo pode ser auferido no ¡elató¡io de Domingos da Cruz Porto
Car¡ei¡o ao Conde de Nassau, durante a ocupação de Sergipe pelos holandeses, onde
sáo Iistados i01 currais de gado, sendo queAntônio Ca¡doso de Bar¡os era proprietário
de um quarto delesrzs.
A expansáo cerritorial pelas partes do Brasil, comandada pelos altos membros do
Governo-geral e sustentada pelos grupos dominantes locais das capitanias primitivas.
serviu, como nos casos da Paraíba e de Sergipe, para o reforço destes grupos, imediata-
menre, por meio do cativeiro de escravos e pela apropriaçáo firndiária e, a médio prazo,
por meio da ocupação dos principais cargos régios, Tal processo con¡inua¡ia ainda
tumo ao Norte, como veremos em seguida.

A costa leste-oeste

,A,conquista da Paraíba empurrou a fronteira da colonização mais para o Norte;


as t¡ibos hos¡is, contudo, continuarem a ser uma ameaça, e os franceses continua¡am
a freqüenrar a regiáo e a explorar o pau-brasil. -A luta pelo domínio da regiáo acabou
provocando uma nova ar¡ancada da colonizaçáo portuguesa que, em duas décadas,
ocupou toda a chamada costa les¡e-oeste, ou seja, a regiáo litorânea entre as capiranias
do Rio G¡ande (depois do Norte) e a do Parâ.
A conquista do Rio G¡ande do No¡te, segundo Frei Vicente do Sai.'ador, foi o¡-
denada pela Co¡oa, sendo responsável o capitáo-mor de Pernambuco Manuel Masca-
¡enhas Homem. Este contou com o apoio do governador-geral D. Francisco de Sousa,
que lhe passou provisóes e poderes necessá¡ios, inclusive, para gastar por conta da Fa-
zenda Reali?t, e com a ajuda de Feliciano Coelho de Ca¡valho, capitão-mor da Paraíba.

127 Diogo de Campos Moreno, Op. cit., p. 163


t28 "Relaçáo dos currais de gado de Sergipe apresenrada por Domingos da Cr¡.rz Porto Carreiro
em exposiçáo ao Conde de Nassau ..." sem dara, publìcado em Âdriaen van der Dussen. -Rrl¿
tóùa a! c/¿Píta',ìi¿' conquistadas na Brasil pelos hol¿ndeses (1639)- F.io de Janeiro: lnsriruto
'obrc
do.{çúcar e do Álcool, t947, p. 166.
t29 Pa¡a o relaro detalhado da conquista, r'er âs seguinres obras: Freì Vicenre do Salr-ador, O2-
rir,p. 320, Viccnte de Lemos. Capitá.ermores e gorcrnadore: lo Rio Gt¿nde do Norte Rio àe
Janeiro: Jornal do Comércio, 1912 e Câma¡a Casctdo História do Rio Grunle do Natte Rio
deJaneiro: Minisrério daEducaçáo c Cultura, 1956.
314 Rodrigo Ricupero

-4. açáo reuniu forças das capitanias de Pernambuco, Itamaracá e Paraíba e, dent¡e seus
principais comandanres, vindos da Capitania de Pernambuco, estavam Francisco Bar-
ros Rego, Joáo Paes Bar¡ero, Manuel da Costa Calheiros e Manuel Leitáo, senho¡es de
engenho, e Pero Lopes Camelo, proprietário de uma fazenda; da Pa¡aíba, Antônio de
e Afonso Pamplona, dono de ¡e¡¡as na capitania. Entre
Valada¡es, senho¡ de engenho,
os religiosos, descacava-se F¡ei Be¡na¡dino das Neves, fiiho do primeiro capitáo-mor da
Paraíba, João Tavares, sendo por isso muito respeitado pelos potiguares-
Sem ent¡a¡mos em deralhes sobre as merchâs e corrc¡amarchas, combates, acor-
dos, rraiçóes e doenças, podemos, resumidamen¡e, dize¡ que as forças portuguesasJ
após algumas virórias, corseguiram dominar a região, fazendo as pazes com os in-
dígenas e fundando Natai em 25 de dezembro de 1592 sob o comando Jerônimo de
Albuquerque, após o retorno de Manuel Mascarenhas Homem para Pernambuco.
Como sempre, após cada nova conquisra, as terras foram rapidamente distribu-
ídas. A partilha das
¡e¡ras coube ao primeiro capiráo-mor Jerônimo de Albuquerque,
que aproveitou para distribuir úma enorme sesma¡ia aos filhos Anrônio e Matias de
Albuquerque. Além do ramanho, Jerônimo de Albuquerque soube escolher para os
filhos uma das melhores áreas da capitania e praticamente umas das poucas áreas favo-
¡áveis ao cukivo da cana de açúcar, aÂnai as ter¡as do Rio Grande eram mais propícias
à criaçáo de gado, "por serem para isso melhores do que para engenhos de açúcar"ti0.
Tal faro acabou provocando queixas, como a de um au¡o¡ anônimo, que, enrre
oùt¡as acusaçóes, criticava Jerônimo de Alblrquerque por ¡omar uma várzea inreira,
com ter¡as suficienres para oito engenhos, Relarava ainda que o capitão-mor teria res-
pondido aos inreressados em aprovei¡a¡ esras rerras "qLre pagaráo tributos a seus filhos,
em cûjo nome ele tomou aquelas terras"riL.
A.s reciamaçóes surtiram efeito e o rei, qualificando ¡al divisáo de "exo¡bitan-
te", acabou mandando que o capitão-mor de Pernambuco .Alexand¡e de Mou¡a e o
desembargador Manuel Pinro da Rocha, ouvidor geral do Esrado do B¡asil, fossem
até Naral e 1ìzessem uma nova redisrribuiçáo, reduzindo a doaçáo pela metader'2.

130 F¡ei Vicenre do Sal!àdor, O?. cit., p.329. Um documenro de o¡igem jesuírica de 1607 dividia
as te¡¡asdo Rio G¡ande do None em campos para o gado e várzeas para a cana-de-açúcar.
"ReÌacáo das cousas do Rio G¡andc, do sírio e disposiçáo dâ Terr¿" de 1602 publicado por
SeraÊmLeire, História da Conpaahia de Jents no Bra:i/, Op. ct' , \ol.I, p. 5t7
lil 'Ë'r¿do d"s, oir¡, no R,o C-¿nde , documcnro de ¡urori¿ nio 'dcnritcad¿
do século XVIL Biblìoreca Nacional de Lisboa, Rese¡vados, Colecáo Pombalìna, códice 642
i]s. 106 ' l07q
132 Ct "lìaslado do Àuro e maìs dihgências que se Ezeram sobre as daras de rerras da capirania
do Rio G¡ande, que se rinham dado" de 1614, pubÌicado na Reuistd ¿o Instítuto Hìrîóî.¡ca
do Ceará. Fornleza: Instr¡uro Hisrórico do Ceará, romo 19- Tal códice concim inumeros
documenros e uma lis¡a dc quase 200 sesmarias concedidas ou validadas após a dilìgéncia. Â
A formacáo da elire colonìai 3t5

Além dos fiihos do governado¡, diversos mo¡adores de Pernambuco e da Paraíba,


além dos jesuítas do Colégio de Pe¡nambuco''1, recebe¡am ter¡asi o que obrigou que
anres da ¡edistribuiçáo dessas, fossem fèiros pregóes em Olinda e em Filipéia em que
se ordenar.a aos possuido¡es de ¡er¡a no Rio G¡ande do No¡te que as fossem aproveitar
sob pena de perdêJasri{-
A capirania do Rio Grande, segundo Diogo de Campos Moreno, pela im-
possibilidade do aproveitamenro para a economia acuca¡ei¡a da maior parte de
suas lerras, teve um desenvolvimenro pequeno, contando durante muito tempo
com apenas um único engenho, o const¡uído por Jerônimo de A.lbuquerqueiil
Por out¡o lado, com a const¡ucáo da for¡aÌeza da ba¡ra <io Rio Grande, a capira-
nia to¡nou-se uma importance base militar portuguesa, contando com expressiva
guarniçáorr6.
O próximo passo do avanço na conquista da costa Ìeste-oeste foi a ocupaçáo do
Ceará, cuja primeira tenrativa, empreendida duranle o governo de Diogo Botelho, foi
conduzida por Pero Coelho de Sousa. Esta expediçáo, cujo objetivo e¡a ¡econhecer a
regiáo, afastar os franceses da á¡ea, a1ém de procurar minas e sondar as barras e portos,
foi decidìda num conselho reunido nas "pousadas" do governador-geral em Olinda em
janeiro de 1603, de que participaram as maiores autoridades da regiáo, como o caPi¡áo-
mor de Pe¡nambuco Manoel Masca¡enhas Homem, Feliciano Coelho de Ca¡valho'
anrigo capitáo-mor da Pa¡aíba, o desembargador Gaspar de Pigueiredo Homem, ouvì-
dor geral, o capitáo e sa¡gento-mo¡ do Estado do Brasìl Diogo de Campos Mo¡eno e'
ainda, o capitáo Joáo Ba¡bosa de Almeida''i'.

doaçáo de terras e de uma saLna para os 6lhos de Jerônimo de -Albuquerque estáo nas p 132

e 135 ¡espectivamente.
À doaçáo para os jcsuítas era de quinze ou dezesseis léguas, c[ "Relaçáo das cousas do Rio
Grande, do síuo e disposiçáo da Terra" de 1607, publicado por Sera6m L.ire. Hi\ú/i'1 ¿¿
Conpanhía de Juus no Brasil, Op. cit., vol. L, p. 557
134 Cf. "T¡aslado do Àuto e mais dilìgéncìas que se 6zc¡a¡r sob¡e as da¡as de terras da capitania
<1o Rio Grande. que se ¡nham dado" de 1614' publicado na Ra¡ísta do Inciøto
Histó¡ica ào
Ce¿rá - F ortaleza: Itsttt uto Hìstó¡ico do Ccará. tomo 19, P. 116

t35 Drogo de Campos Moreno, "Relaçáo das pracas fortes, por.oaçóes e coìsâs de imPortância quc
Sua Majestade tem na cosca do Brasil, lazendo princípio dos baixos ou ponra de Sáo Roque
para o sul do estacio e delensáo delas, de scus fruros e rendimentos' fèìta pelo sargento-mor
desra costa ..." de 1609. publicado na Ratittu' ¿o l stit to AÍqa€akgico, Hie'j xo e G€ottifco
Pcrnanbucano. rcL17, 1934, p. i88
t36 Hélio Galváo, OP. cit., ?ãssin
137 'Auco de como pôs em conselho o go.'crnador Dìogo BoreJho a joroada do Maranháo, que
apro.-aram todos os nomeados nele e só Manuel Mascarenhas foì de contrário parecer" de 26
de janeiro de 1603 , pLrbiìcado ia Rütistá ¿o Inttltuta Histórlco a Geográfco Brasileiro rcma
73.p.41.
3L6 Rodrigo Ricupero

O conselho decidiu envia¡ Pe¡o Coelho de Sousa, homem ¡ob¡e e fidalgo,


mo¡ado¡ na Paraíbaìrs, cunhado de F¡uruoso Barbosa e anrigo capitáo de uma galé
real, com duzenros porcugueses, homens do se¡cáo e mamelucos, que náo fariam,
segundo o documento, nenhuma falca ao serviço real, e ainda oi¡ocencos fecheiros
poriguares e cabajaras, sem despesas para a fazendâ reâl, nem para os moradores,
"por ser à cus¡a dos que váo", já que prerendiam recebet mercês e bonras e permLs-
sáo para resgares líciros, inclusive carivos, que seriam examinedos poste¡iormente
pelos padres.
A expediçáo acabou fracassardo, bem como a rentariva seguinte feita pelos jesu-
ítas Francisco Pinro e Luís Figueirajje, em que o primeiro foi morco pelos índios; am-
bas, porém, serviram para prepa¡a¡ o re¡reno pa¡a a expediçáo seguinre, dessa vez bem
sucedìda, organizada pelo governador-geral Diogo de Meneses e comandada por Mar-
tim Soares Moreno!ì0, veterano da primei¡a ¡entariva e sob¡inho de Diogo de Campos
Moreno, sargenro-mor do Esrado do Brasil, o qual ocupava o posro de tenenre ûo Rio
G¡ande do No¡te, esrabelecendo as raízes da nova capitania no começo da segunda
década do séculoXVII'-'.
Ma¡rim Soa¡es llo¡eno, em ¡ecompensa pelos serviços prestados, ou como diz
a carra "havendo respeito (por) ser o primeiro povoador e fundador da cepirenie e
fortaleza do Ceará", recebeu direramenre do ¡ei o posro de capitáo-mor do Ceará por
dez anos, além de duas léguas de terras, pois esse já havia rransferido sua "casa" para
a capitania e prerendia monrar um engenho, além de criar gado e planrar algodáo. O
pedido original de Marrim Soa¡es Moreno foi de doze 1éguas e o parecer do Conselho
da Fazenda, náo aceiro pelo mona¡ca, f'oi de doa¡ seis- Este parecer foi dado por Ale,
xandre de lloura, ancigo capiráo-mor de Pernambuco, que jusrifìcava a proposta de
doar "apenas" seis léguas com base no ergumenro de que os futuros colonos deve¡iam
encontrar rerras próximas, contudo, ressalrava que o capicáo do Ceará "por ser bem
quisto dos índios e fàlar bem a língua rerá ocasião para adquirir gentio e faze¡ cuirira¡
a terra", o que lhe permiriria aproreitar uma área ráo granderjr.

t38 Foi verear:o¡ de Filipéia (arualJoão lessoa), como sc vé em Frei Manuel da.lJhl N¿r¡¡t¡ix,t r!¿
Crr'ó¿ja l¿ Snata A"tódío r/o Bra:i/ 1162l). Perrópohs: \'ozes, 19õ, p. 120.
Ì39 \'e¡ Serafi¡r Lene, Histórìa la Conpanhiã. ¿te Jeszi no B/a:.i.l. \oL III, p.3
140 "Carra de Diogo de tr{eneses para o reì de l" de março dc 16i1, pr.hlicaà.t nos Anaís ltt Ili-
bliateca Naciana/ ,sol- 57, p.7i.
i41 Para um ¡¿su¡no oa ecapa inicial da conq'.rista do Cearã., ver \ãrnhagen. Op. cn.,II. p.56 e
I ljCe¡los Srudrrr Fi)ho. e..t Anigo [*at/o t/o MaradÀäo
e c szrts Capitat¡i¿s F¿u¿!øí¡. Farraleza:
I¡rСensâ Universìrária do Ceará. 1960, p. 81.
142 I)ocumcnros ¡ele¡en¡es ¿ l{a¡rim So:r¡es tr,lorcno pubiicados na Revis¡a do Instituto Hisró,
¡ico do Cca¡á, XlX, 1909, p.334. O docLrmenco é de 28 de ¿bril de tó22, mas iá !m Ì6Ì9
ltartim Soares \lo¡cno havia sido pro.;ido ro posro de capiráo-mor, scndo dispensado num
adendo de ir aré à Bâhia para lomar posse qLrc deveria ser dada pelo governador gcral. Cl
A formação da elite colonial 317

A presença francesa no Ma¡anháo fez que a Coroa tomasse medidas efetivas


para a expulsáo dos "invasores" e para a ocupaçáo da regiáor¡'. O governador-geral
Gaspar de Sousa foi enviado a Pe¡nambuco para poder mais facilmente organìzar e
apoiar a empresa, sendo escolhido para comandáJa um dos mais importantes mem-
bros da elire pernambucana, Jerônimo de Albuquerque, o qual, depois, ¿c¡escenteria
Ma¡anháo ao nomerJ4.
Jerônimo de Albuquerque Ma¡anháo foi acompanhado por Diogo de Campos
Moreno, sargento-mor do Estado do Brasil, e ainda por outros qùatro capitáes: Antô-
nio de Àlbuquerque, seu filho, Gregório Fragoso de Albuquerque, seu sob¡inho, Ma-
nuel de Sousa Eça, provedor dos defuntos e ausentes de Pe¡nambuco, e Ma¡¡im Calado
de Beranco¡. Parte importante das tropas foi rec¡urada entre as famílias dos "homens
¡icos e afazendados" de Pe¡nambuco que tinhâm mais de um filho, obrigados a ceder
um deles para a expedição, além de grande núme¡o de índios aliadosrrt.
O capitão-mor Jerônimo de Albuquerque Ma¡anháo acabou sendo nomeado pri-
meiro capitáo-mor do Maranháo, como já tinha sido o primeiro do Rio G¡ande do
No¡re. O filho An¡ônio foi nomeado capitáo do fone de Sáo José do Irapari, outro fi-
lho, Matias, foi nomeado governador dos índios e ao sob¡inho Gregório coube a honra
de let'ar as norícias ao monarca. Depois, com a morte de Jerônimo de Albuquerque
Ma¡anhão, o frlho -A.ntônio acabou assumindo o governo do Maranháor¡6.

Ba¡áo de S¡udart. Dz¡¿ c nzctu! païa a Hiitó'tì¿ do Ccaní. (1896) 3 vols- Forraleza: Fundaç:o
'
\\àldemar Cosm, 2001,l, p.28 e 33.

i43 lara os preparativos e o desen¡oÌar dos fatos, r.er F¡ei Vicenre do Salvado¡' Op- cít ' p 403'
V-ale ainda lembrar que o grande cronisra da conquista loì Diogo de Campos À4oreno,lrra-
/,a do Maranháo po, ordan dc Sea llaje:tdy'.e felta- no ¿no /-c 1614. Rjo de Janeiro: Alhambra'
1984.
144 Paraa biograGa dcJcrónimo dc-Àlbrtquerque Maranháo' r'er Bor¡1es da Fonseca, OV cit p I
9 e Pe¡eira ria Costa. Dícionl'ría d'e Pern¿n¡buc¿'nas Cílebtes Op. rh, p 425. mas ressaite-se
o laro que csie ioi casado com D. Cararina Feijó' Âlha Anrônio Pinheiro Feijó' fcrtor-mor da
arrrada quc foi ao Maranháo.
145 Frci Vtcente do Saltador, Op. cit . p. 401
146 Marias de A.lbuquerqLrc, sLrcedendo o prlmo Jerônimo Fra¡¡oso de Aìbuquerque, foi governa-
dor do Pará. sendo <leposto cm Poucos dias. c ainda, no lìnaì da car¡eira' golernou a Paraiba'
casou no Rio de Janeiro com uma 6lha da elire local. mor¡endo no seu engenho de Cunhau
em t6S5 ìvfa¡uel dc SoLrsa de Eça taøbém foi, Post€rio¡menre. capitáo-mor do Pará Para
rodas as nomeaçóes, r'er: Berna¡do Perei¡a Berredo Ajtnaer H¡starico! do Estai"o do Matdnhao
(i7 t 8). Iquiros {Peru): .'\b1'a-Yala, 1898, p Ì 97: César Âugusto Ma rqtes Ditionírio Httóriro'
Gcagnífco da Pro!íncia ¿a M'xrcnhão.Río ¿.elanei¡o: Ediro¡a Fon-Fon, 1970' p 296; Anrônio
Ba.ena. Cornpênt/io dø.s Eras /¿ Protíacia la I'¿rtí (1838). Belém: U¡ive¡sidade Fede¡al do
Pará.. 1969, p. 25: Borges da Fonscc^. OP c¡r',I. P. Ìl e I'creira d¡. Costa. Dlclonárío de Per'
na¡nbuc¿no: Cé|,:bres. OP. cir.. P.717.
318 Rodrigo Ricupero

,{s nomeaçóes para o mais importante posro na nova capirania aresram a


grande participaçáo de mo¡ado¡es o¡iundos de Pe¡nambuco e regiáo. O quarro
capitáo-mor do Ma¡anháo, Antônio Moniz Barreiros, era morado¡ em Pe¡nambu-
co e, como seu pai, também morado¡ em Pernambuco, fo¡a nomeado provedor-
mo¡ do Estado do Brasil por seis anos com a "condiçâo ql¡e) se denrro deles (anos)
fizesse dois engenhos de açúcar no Maranháo, lhe faria mercê do ofício por toda
vida", para ¡an.o "p¡oveu o governado¡ (geral Diogo de Mendonça Furrado) na
capitania do di¡o Maranháo a An¡ônio Moniz Barreiros, para com o poder do seu
cargo rnelhor poder fazer os engenhos"rrt.
F¡ancisco Coelho de Ca¡valho, que foi o primeiro governador do Estado do
Ma¡anháo, já tinha ocupado o cargo de capitáo-mor da Paraíba, mesmo posro anres
ocupado pelo pai, Feliciano Coelho de Ca¡valhoì43. Du¡an¡e seu governo, doou as
capicanias do Caeté e do Cumaú, respecrivamenre, ao 6lho Feliciano Coelho de Car-
valho, homônimo do avô, e ao irmão, o desembargador António Coelho de Carvalho,
porém, como a capitania do Caeré já tinha sido doada ao anrigo governador do Esrado
do Brasil Gaspar de Sousa, o lìlho ¡ecebeu no lugar a capirania do Camerá'r,.
No Ma¡anháo, a parricipacáo no governo da conquista ¡ambém acabou sendo
fundamental para a monragem de importanres parrimônios, pois como explicava o
padre Luís da Figueira:

,{s rerras (do Maranháo) sáo muito férreis e se podem fazer ìn6niros crrgc-
nhos de açúcar, porque se dáo nelas mui formosas caûâs... mas lalcam homens
de posse quc facam lazendas, já no Maranháo há quarro engenhos e ourro\ prin-
cipiados e far-se-áo muiros facilmenre se Sua I,lajesrade puser os olhos naquela
conquista, fazenda mcrcé aos homens cue lá quiserem fazer engenhos, como se

lèza An¡ônio (N{uniz) Barreìros (nomeado capiráo,mor do Màrâûháo)ri0.

r47 F¡er Vicenre do Selr':do\ Op. cí1., p. 4)9.


148 César Àugusco \larques, O7. iír, p. 300 e Joáo Francisco Lìsboa. Crôniut y'o Brasil Ca/odía/,
apotztoneztro: pan a lttstóriå ¿o ùl!!r!'nh/:,). PetrópoÌis: Vozes, t976, p.348.
Sel¡asdáo da Rocha Pi¡a. Hirtóúi. ¿ø. A7 éïic¿. Pontgursa. (1730). Belo Ho¡izonce: ftariaia,
1976, p. 74. Sobre exas caoi¡anias, r,e¡ C¿rlos Srudarr Filho, O?. c¡î., p- 219.
Ì50 "ñfemorÌalsobre as ¡e¡ras e genres do Nlaranháo, Gráo Pará e ¡io,A.mazonas que o Padre Luís
Figuerr a envìou a Filìpe III ' de l63Z publicado por Lucinde Saragoça. Da 'J¿tiz l¿ßitåiiÉ" ao!
co,,f ¿/! Anéùc¿.Lisboa: Cosmos, 2000, p. iil e û¿. Reutt.l ¿a hìsrírura H^ jïic.) e Grcgi.¿t
'
fco Brasileiro, rcIume 148, p. 429. Veja-se cambém "Carra que o capiráo,¡no¡ do Lfaranháo,
Anrônio Moniz Ba¡¡eiros, dá conta do que se passa naquela conqurs¡a", de 6 de feverci¡o de
1624, pnblicada nos D acurnentos pan t Históría la Canquita da n:ta Ìeste oe¡e do Bra¡íl Rio
de Jancirc: Biblioreca \acional, 1905, p. 2ii, rratada no capírulo Z desre r¡aL.¡alho.
A formaçáo da elite colonial 3t9

Nesse sentido, oâo câusa su¡presa que os cinco engenhos da capitania. no tempo
da ¡evoka que expulsou os holandeses do N4aranhão em 164i, fossem: um de Benro
Maciel Pa¡ente, en¡igo capitáo-mor do Pará e governador-geral do Maranháo, ou¡¡o
do sargenro-mor Antònio Teixeira de N4elo e t¡ês de An¡ônio Muniz Barreiros. anrigo
capicáo-mor e, provavelmenre, a maior personalidade da capitania na p¡imeira metade
do século XVIIFT.
Fechando a conquista da costa leste-oeste e como conseqùência imediara da vi-
ró¡ia no Ma¡anháo, os porttlgueses ocuparam o Pa¡á, dominando a foz do Rio Ama-
zonasrtr. Nessa conquista, destacaram-se o capitáo-mor Francisco Caldeira de Cas¡elo
B¡anco, fundado¡ de Belém, o provedo¡ da fazenda real Manuel de Sousa de Eça, um
e

dos capitáes da conquisca do Maranháo e antigo provedor dos defuntos de Pe¡nambu-


co. Ambos Êzeram para a esposa do capitáo-mo¡ Francisco Caldeira de Castelo B¡anco
uma doaçáo de dez léguas de ¡e¡¡a, na qual, ao que Parece' teve início a produçáo
acucareira na capìcanialt¡.
Os primeiros anos da capitania do Pa¡á fo¡am tumultuados, com deposiçóes e
go.,ernos efêmeros, o que parece indicar uma disputa pelas possibilidades que a direçáo
dos negócios da capitania oferecia. Den¡re os capitáes-mores destes primeìros cempos'
aparecem alguns nomes conhecidos: Jerônimo Fragoso de Albuquerque' Matias de
.dlbuquerque, Bento Maciel Pa¡ente e Manuel de Sousa de Eça:i{'
O caso de Manuel de Sousa de Eça, que se des¡acou na capitania do Pará, onde
parece re¡ permanecido, é um inte¡essante exemplo das possibilidades oferecidas aos
"conquistadores e primeiros povoadores" das novas áreas Oriundo de llhéus' acaboLr
abandonando Pe¡nambuco, onde decinha um cargo de certa importância - provedor da
Fazenda dos Defunros e Ausentes - após participar da conquista do Maranháo' para se
to¡na¡ um dos mais importantes moradores do Pará, ocupando os principais cargos da
capitania, adquirindo grande quantidade de terras e, provavelmente, de ca¡ivosrti'

l5l Mário Marrins M etreles. Hol¿¡deses na Maïãtlh¿o Sâo Luí¡l Èà:jfma, 1991' p 1t4
lil \er lu<;rd¿ r¡ ¡go.¡. O/. cit. pr':"
153 Âugusro Meira Fllho. Ez,alryá-o Histórna de Betért da Gráo-Partí 2 rcIs Belem: Gra6sa 1976

Esre auror pubÌica ìnúme¡os documentos sobre os primeiros rempos' inclutndo


a doaçáo de

terras para a esposa do prrmeiro caPìráo-mordo Pa¡á e um documcn¡o em que M:nuelde Sousa

Eça, alegando os ioúmcros gasros que fez no servìço d'el-rer' pede ajuda de cusro para poder
de
assumir o cargo de pro'edo¡ da fazenda Os documentos estáo pubLcados' mui
pectirrcs fac-símiles, anexos, sem númeraçáo de página, no 6nal de cada capírulo
1i4 An¡ônio Bacna. 02. cn., p. 25 c,Augusto Meira Filho. O/ .1¡, caPítulos I c 2
ri5 Sobre Manuel de Sousa de Eca, r'eia+e a nota i07 do capítulo 8 deste trabalho'
Considerações finais

\ Jos prìmeiros tempos da colonizaçáo do Brasil, a consolidaçáo do domínio


I\ por,ugué, da f¿chada atlântica das partes do Brasil, pressupunha, por um
lado, a montagem de uma estrutura p¡odutiva e, por outro, o surgimento de uma
camada residente detento¡a de recursos pa¡a a¡car com grande parte dos custos do
empreendimenco colonial.
Tal grupo consrituiu ao longo do litoral, durante o século XVI e nas primeiras
se

décadas do século seguinte, em ¡icmos próprios a cada capitania, por meio da apro-
priaçáo privada de te¡ras e de homens. Daí a cent¡alidade das guerras de conquista de
novas áreas ao longo do litoral, a partir dos núcleos iniciais, pois, ao mesmo tempo em
que derrotavam a resistência indígena, possibilitavam, na ausência de tesouros mine-
rais de monta, a ocupaçáo de áreas mais amplas e o cativeiro de milhares de índios.
Foi esse processo, comandado pela administraçáo colonial, donata¡ìal orr ré-
gia, que permitiu uma espécie de "acumulaçáo primitiva coloniai", t¡ansformando
as terras em patrimônio privado e obrigando os índios, até entáo liv¡es, a t¡abalhar
para os novos donos, em cetiveiro explíciro ou náo. C¡iavam-se, assim, quase do
nada, lorrunas potenciais, que se realizariam plenamente, após a montagem de en-
genhos e a vinculaçáo da colônia ao comércio europeu.
A administraçáo colonial, ao controlar tal processo, dava aos seus memb¡os
dirigentes um enorme pode¡ pois cabia a estes a distribuiçáo das ter¡as e dos es-

321
)22 Rodrigo Ricupero

cravos capn¡rados. Esse poder seria mantido nos períodos posterìores, pois, tanto nos
momentos de guerra aberta como nos de paz, a administraçáo colonial conrinÙava
com suas prerrogarivas quanto à concessáo de rerras, bem como com ¡elacão ao acesso
à máo-de-ob¡a indígena nas variadas formas.
A administraçáo colonial forneceu a seus membros, ou a Pessoas a eles ligadas,
uma sé¡ie de possibilidades de auxílio à formaçáo de parrimônios, Iegais ou náo, for-
necidas pela peqùena a¡ca de me¡cés manejadas di¡ecamenre na colôni¿, ou mesmo
pela grande arca conrrolada pelo rei, cujo acesso era mediado em grande medida pela
adminisrraçáo colonial, por via cartas e certidóes-
No processo de formaçáo da elite colonial, o conr¡ole sobre a te¡¡a ocuPou um
papel central, pois, a partir da grande propriedade, ergueu to espaço coionial uma es-
trurura de poder, que, por um lado, buscava ¡¡ansfe¡i¡ a estracifrcaçáo estamental, ser-
vindo de base social à existência do Estado pacrimonial e) que, Por outro, cotc¡erizou
a aspiração senhorial dos vassalos. Assim, a grande propriedade, ao mesmo t€mpo que
garanria o conrrole sob¡e as principais atividades econômicas da colônia, possibilirava
rambém o conc¡ole sobre a populaçáo, tanto livre como câtiva.
O papel de ¡elevo da adminis¡¡açáo no processo de formaçáo da elite colonial
náo anula, conrudo, out¡as vias de acesso, particularmente secores mercanrìs que vin-
culados a grupos familiares espalhados por vários pontos do globo, chegavam à colô-
nia com recu¡sos que lhes permitiam ingressar na elite em construçáo, mantendo-se
alheios à produçáo ou náo- Nesse momenro, contudo, em que o patrimônio rerritorial e
principalmente humano e¡a náo só a base do poder econômico, mas também político,
a participaçáo na administraçáo era fundamental, tanro para criar fortunas como Para
desenvolvê-las.
Os dois movimentos de formaçáo da eii¡e colonial e de conquisra e consoli-
daçáo da fachada aclânrica fo¡am, portanto, paralelos e complemenrares. E, dado
que a necessidade de defesa do ter¡iró¡io recém-conquistado exigia o povoametto e a
instalaçáo de uma estrutura produriva, pode-se apontar que a dinâmica colonial, nos
moldes do chamado Anrigo Sisrema Colonial, estruturou-se tessa etapa.
Na trajetória desra pesquisa, pode-se dizer que nosso ponto de partida foi a busca
da gênese da elire colonial e que nosso ponto de chegada foi a montagem do.Antigo
Sis¡ema Colonial. A exis¡ência de uma elire coionial residente e engajada no processo
de colonizaçáo, todavia, fez que a exploraçáo que se estrururou nas partes do Brasil
acabasse romando feiçóes próprias, diferindo do que se implementou nas colônias in-
glesas, francesas e holandesas do Ca¡ibe.
Fontes e bibliografia

FoNTES MANUSCRITAS

Espanha:

Biblioteca Nacion¿l de .Madri:

Ms. 3014. 1609-1641 Cartas dc los reys Felipe II, 111, e lV que se rcâeren al gobierno de
Porrugal ¡ suas posesiones. 3014 - 4, 200/201',230, 239.

Ms. 3015. Relaçáo de todos os oficios da fazenda e jusriça que há nes¡e Estado do Brasil' fl
15 . 3015 - 23"", 24 e 53/7 5

Ms. 1S192. Fi. 11-13. (1623?). Vo¡o de Pedro de Toiedo en referencia e los negocios del Brasii-

Ms. 2436. fl. 105


ìv'Is. 938, fl. 114-Ì49 ri Cavalciros da O¡dem de C¡isto.

Archivo Gener¿l de Simancas:

Secretarias Provinciales:

I Cód. 1461 - Lir.ro de ConsuL¡as, originais do ano de 1601.


II Cód. 1462 - l-ivro dc Consultas, origìnais do ano de 1602
Ill Cód. 1463 Lir'¡o de Consultas, originais do ano de 1602.

IV Cód. ì463 Liv¡o de Consulras. originais do ano 1626.


V Cód. 1469 Lir'¡o de Consulras respondidas por Sua Ìr4ajesrade, no ano 1636 (Em
espanhol).

VII Cód. 1472 - Ln ro de Consultas do Conselho dc Fazenda do ano 1613.


Y]II Có¿,. 1473 Lìvro de Consultas do Conselho da Fazenda do ano 1620

IX Cód. 1474 - LnTo de Consuhas do Conselho dc Faz-enda do ano 1620-

323
324 Rodrigo Ricupero

X Cód. 1476 - Livro de consul¡as de África e conquisras, 1605 a 1607

XII Cód. - Livro do regisro de cartas régias do ano de 1604.


1490

XIII Cód. 1498 - Regisco de despachos e carras regìas para a Índi¿ no ¿no 1608.
XIV Cód. 1499 Livro de regisco de carras régias do ano de 1608.

Cód. 1i08 Despachos para várias enridades.


Cód. l5l1 Despacho pa¡â \,árias €olidades.
Cód. 151í Regisro de despachos de D. Filipe III de Espanha, lI de Porrugal.
Cod. 1516 - Regìsto de carras de D. Filipe IiI de Espanha, II de Portugal.

Cód. 1520 Liv¡o de r€gisro de certâs régiâs rocânres à repâr¡ição da Fazenda do ano 1626

Cód. ii60 Documen¡os references à neu Sáo Roqùe.

Cód. 1464 - Consulcas do Conselho de Porcugal Ì601 - 1606.


Cód. 146j Livro de consulras e respeccivos despachos reais, reJ 1604 - 1608.

Cód. 1466 - Livro de ConsuÌtas do ano de 1607,


Cód. 1475 - Consuhas do Desembargo do Pâço.
Cód. 1494 - Liv¡o de despachos e carras régias de 160í a 1607
Cód. 1495 - Registos de carras régias de 1607
Cód. 1512 Livro de regìsros de cartas e despachos régios no ano de 1615.

Cód. liiO Cartas originais do Cardeal arquiduque, Vice-Rei de Porrugal pârâ el-rci, sobre
diversos assuntos de 1i86-

Cód. 1487 - Livro de registo das cartas que Sua M{esrade manda a Portugal para os govcma-
do¡es, Vice-Reis e ourras personagens de Porrugal 1603 / 1604.

Cód. 1553 - Carras originais sob¡e dive¡sos assunros esc¡iros pelo governador de Porrugal Àr-
cebispo de Lisboa para el-rei D. Filipe III dos anos 1627 e 1628.

Cód. 15?6 - Lir,¡o de registo de carras sobre marérias da Companhia do Comé¡cio 1631 , 1633.
(em espanhol)

Cód. 1552 - Carcas origìnais do Vice-Rei de Porrugal e ourros personâgerls sob¡e diversos
assunros a el-rei do àno 1620.

Sccrera¡ia de Esrado:

Legajo 433

Legajo 369 1530-1532

Legajo 370 1533'1536

Legala 371 1-37-1539

Legz)o 372 1540 t54t


Legajo 379 1551
A formaçáo da elire colonial 375

Lcgajo 416 1580

Legajo 431 1588-1589

Lqajo 436 1608/1,614

Legalo 437 i618 a 1620

Portugal:

Academia de Ciências de Lisboa:

Série Azul:

Cópia da memória inrirulada "Histó¡ia da Capitanìa da Paraíba". Madri, 1 de março de 1587.


84 p. (Códice. Cópia do século XIX. 288 mm x 205 mm). Ms 133

Memória em duas rrrsões intitulada "Compêndio historiai de 1a jornada del Brazil v sucessos
deÌla. Donde se da cuenta de como gano el ¡ebelde olandez Ia ciudad del Salvador y Bahia
de rodos los sancros y de su restauración por las,{rmadas de Espaná..." porJuan de \¡alencia
y Gusman. 1626. ).25 p. + i48 p. (Códice. 315 mm x 220 mm e 212 mm x 150 mm). Ms
236 e Ms 382.1

Arquivo Nacional da Torre do Tombo:

1 - Cartório dos Jesuítas.

Maço 5
Cerrdáo. 02l\5ll57 3- Maço 5, 39. Contrato de dore do casamen¡o ent¡e D Fernando deNo-
ronha e D. Filipa de Sá. filha de Mem de Sá, e lururos Conde e Condessa dc Linha¡es'

Mago 7
Maço 7. 13. I)ocumenco sobre disputa envol.'endo o Conde e a Condessa de Linhares

Maço 7. 14. Documento sob¡e disputa envolvendo a Condessa de Linha¡es

Maço Z 15. Documen¡o sobre dispura cn'o|'endo a Condessa de I-inhares

Maço Z i6. I)ocumento sobre os bens da Condessa dc Linha¡es-

Maço Z 17 Disputa envolvcndo os Condes de Linha¡es.


326 Rodrigo Ricupero

Maço 7, 18. Documento sobre os bens dâ Condessâ de Liûhâ¡es.

Maço Z 19. Documcnto da disputa enrre â Condessa de l.inha Condes de Li-


nhar€s.

Maço 7, 20. Documenro sobre dispura por dívida na Bahia encre a Condcssa de Linha¡es e

Gomes Dias Cas¡anho,6lho de Diogo Castanho.

Maço Z 21. Documen¡o sobre a disputa enrre os dois colégios jesuiricos.

Maço 8
Carra de para Porro, 00/01/1í81, Maço 8, 4. Carra sobre quesrões do pagamento do dízimo do
açúcar na allândega do Porro.

Carra de Gaspar da Cunha ao Conde de Linhares, do B¡asil, 28/08/1581, Maço 8, 9.

Ca¡ra de Rui Teixeira para o Conde de Linhares. da Bahia, 12105/1586, Maço 8, 10.

Francisco Negreiros ao Conde de Linhares, 26107li588, Maço 8, 25.

Car¡a de Fernáo de Orra d€ Luas (sìc) para o Conde de Linhares, da Bahia, 05/08/1588, Maço
8, 26.

Carra de Rui Terxeira para o Conde de Linhares, Bahia, 01/03/1i89, Maço 8, 28.

Carta de Joáo Rodrigues Colaço ao Conde de Linhares, Salvador, 15108/1597, Maço 8, 92.

Maço 8, 163. Bilhete para o Conde de Linha¡es. Sobre o governador Diogo Borelho, de
ú10411607.

Car¡a de Bernardo Ribeiro ao Conde de Linhares, Maço 8, 164.

Car¡a de Pero B¡ás Reis ao Conde de Lìnhares, SC, 20/04/1609, Maco 8, 188.

Maço 9
Carra de Be¡nardo Ribeiro a Condessa de Liîhares, 2610911612, Maço 9, 210.

Ca¡¡a de Balrasar da Mora para a Condessa de Linha¡es, darada da Bahia, 29l04l1615,Maço


9, 234.

Carra de ìvlanuel do Couro para a Condessa de Linhares de 0X 10i11607 (?), (2' vìa), Maço 9,
24t.
Venda de terras, Maço 9, 242.

Ca¡ra de BaÌ¡asa¡ da Mora para a Condessa de Lìnhares, da Bahia, 3010711617, Maco 9, 243.

Ca¡ta de Bahasa¡ da ìr.Iora, Maco 9, 252

Maço 11
Registros de rernessas do engenho de Sergipe do Conde, Maço 11, 5. Livro das conras de Bal-
rasar dâ Mora de 1611.

Meço ¡ 2
Esc¡i¡ura de A¡¡endamenro - Maço 12, 5.
A lormaçáo da elite colonial 317

Escritura de A¡¡endamenro - Maço 12, 6.

Escri¡ura de Arrendamento - Maço 12, 7


Esc¡iru¡a de A¡rendamenro - Maço 12, 9.

Esc¡iru¡a de Venda (1614) - Maço 12,24

Eçrri¡ur¿ de \end¿ (llo<ì Ma.o 12. 25

Escritura de Venda (1í87) - Maço 12, 26

Escrirura de Venda (1588) - Maço 12, 27

Escritura de Venda (1602) - li{aço 12.28.

Escritu¡a de Venda (1602) Maço 12, 29

Escritura de Venda (1602) - Maço 12, 30.

Escritura de Venda (1617) - Maço 12, 31.

E.rri¡ur¿ de \end¿ rlol-r- M¿co 12. J4.

l- scriru r¿ dc Vend¿ (lbl -, - \¡¿L o I2 J<.

Escrirura dc Venda (1617) - Ìt4aço 12, 36

l-scrj¡ura dcVend¿ {lol8) - Veco 12. J'.


Esc¡itura de Venda (1630) - Maço 12, 38.

Esc¡itu¡a de Venda (1602) - Maço 12, 39.

Venda de Terras - Maço 12, 40.

Esquema do Engenho Piringa - Maço 12, 44.

Maço 13
l,embranças para a Coûdessa de Linhares sobre as suas fazendas de Sergipe - Maço 13' 7
2010711607.

Libelo da Condessa de Linhares; conrra Cristóváo Ba¡roso le¡ei¡a sobre a arrecadacáo da Pro-
duçáo e dívìdas de seus engenheiros - Maço 13' 8-

Libelo da condcssa de Linhares conrra cristóváo Barros Perei¡a sobre a arrccedação e dívidâs

de seus engenhos - Maço 13, 9


dívidas
Libelo da condessa de Linharcs conrrâ crisróváo Barfoso Pereira sobre a arrecadaçáo
e

de seus engenhos - Maco 13, 10.


dí\'idas
Libelo da condessa de Linhares conrra cfistó\,áo Ba¡roso Pereira sobre a arrecadãçáo
e

de seus engenhos - Maço i3, 11.


dívidas
Libelo da Condessa de Linhares cont¡a C¡isróváo Ber¡oso Pe¡eira sobre a arrecadâcáo
e

de seus engenhos - Maço 13, 12.

Réplica da Condessa sobre a demande que trazìa com C¡istór'-áo Barroso Pereira
-Maço 13'
13.
128 Rodrìgo Ricupero

Aponramenros qLre ievou C¡istóváo Ba¡¡oso quando foi para feícor do Engenho Sergipe, Maço
13,14.
Tréplica de Crisróvão Barroso sobre as conras do Engenho - Maço 13, lj.
Informaçóes para os embargos de execuçáo do Engenho Sergipe. Levanramenro de todo o
dinheiro que se arrecadou no tempo dos Condes - Maço 13, i6.

Papel sobre as mediçóes de Sergipe do Conde, de que alcançou senrençâ o padre Francisco
de Araújo, conrra a Condessa de Linhares, nâ tercei¡â Ìéguâ que se meteu - Maço 13, 17
1677.

Fundamentos da Igreja de Sanro Anráo conrra â senrençâ dada a favor da Sanra Casa ... I -
Maço 13, 18.

Traslado da senrença dada pela Relaçáo sobre o Engenho de Sergipe e dos embargos da Mìseri-
córdia às diras sen¡enças - Maço 13, 21.

Recursos de vários arrendamenros feitos - Maço 73, 32. 3111011633.

Papéis, das terras que vendeu Bahasâr dâ Mota, do Engenho de Sergipe - Maço 13, 34. Te¡¡as
vendidas em 1617

Venda que fez o procu¡ador do Conde de Linha¡es a Simáo do Vale de uma rerra c urn pcqucno
sobejo oa ilha da Boca - Maço 13, 3Z

Réplica da Condessa de Linhares; sobre cartas de um feiro¡ de eîgenho - Maço 13, 39.

Maço 14
Posse que tomou o CoÌégio de nexas ao Engenho - Maço 14, 1.

Livro de Conras (1611) Maco 14,4


Certidáo de uma medicáo de umas ter¡as em Sergipe do Conde, Maço 14,22.
Breve recopiiacáo das sesma¡ias que rem conres às te¡¡as de Sergipe do Conde e que foram
concedidas â Fernáo Castelo Branco - Maço 14, 40.

Esc¡iro sobre venda e arrendamenro do Engenho de Ilhéus, entre a Condessa de Linhares e Luís
Ramires - Maço 14, 4!.

Relacáo do esrado em que achei o engenho de Sergipe, 00/0711628, Maço 14, 52.

Receica do acúca¡ do engenho Sergipe do Conde, Maço 14, 53. 1608.


Ordem a Snperiores da Cia. sobre o Engenho do Conde e da Pi¡inga, Maço 14,54.

Lembrancas sobre o que devia fazer nos Engenhos o padre Simáo de Soro Maior, Maço 14,
t5.
Carta de Sesma¡ia não aucên¡ica a Fe¡náo de Cascelo Branco, acerca do Engenho de Sergipe,
Maco 14, 59-
A formaçáo da elite colonial i29

Maço 15
A¡¡endamentos do Engenho de Sergipe - Maço 15,3. Réplica da Condessa de Linhares a um
processo movido após a morte de seu marido.

Receitas do Açúcar do Engenho de Sergipe (1607) - Maço li, 15

Maco 17
Contas do Conde de Linhares (1586-1592) - Maço lZ 1.

Relaçáo das Conras de André de Matos - Maço 17, 2.

Conras de Vitor Mendes - Maço 1Z 3.

Livro do que se paga aos o6ciais (1596) - Maço 1l 4.

Traslado de receitas e despesas relativas à África (jnício do século XVll) - Maço 1Z 5

Conras do Conde de Linha¡es - Maco 17, 6

Traslado do liv¡o de Baltasa¡ da Mota (1607 a i611) - Maço 17, 8

Gastos de C¡isrór'áo Bâr¡oso com â Fa7-enda de llhéus - Maço lZ 9.

Rol dos açúcares que C¡isróváo de Ba¡(os vendeu no Brasil - Maço 17, 10.

Rascunho de um levantâmento feiro Po¡ Cristóváo Ba¡¡oso - Maço 1Z 11.

Lembrança do açúcar enviado por Crisróváo Barroso - Maço 1l 12.

Fechamento do período em que Cristóváo Barroso foi feiror - Maço 17, 13'

Rol de rodo o ¡endimenro do Conde de Linhares. Maço i7' 15.

Receita do dinheiro recebido do falecìmento do Conde - ìr{aço i7, 16' '

Conras do ano 1602-1609 - Maço 17, 17.

Concas do ano de 1610 - Maço 17, 18.

Livro de contas (16121613) 'Maço 1Z 19.

Con¡inuacáo do levantamento de Cristóváo Bar¡oso - Maço lZ 34

Memórias dos gastos que faz o Engenho rodos os enos - Maço 1Z 35

T¡aslado do Inven¡ário da Senhora Condessa - Maço 17, 48'

Maço 39
Decrero, 2217111558. Maco 39,26 P¡owisáo do rei Pare que náo se prejudique terceiro com

certes isencóes,

Maço 52
Ce¡tjdáo da Sesmaria dada a Francisco Toscano em 1561 0010411622'llaço 52' 12'

Maço 52, 13. Documenro da disputa entre os colégios jesuiricos da Bahia e de Lisboa e a Santa

Casa da Bahìa.
130 Rodrigo Ricupero

Maço 68
Carra do Pad¡e Simáo Souro Maior para o Pad¡e Reito¡ do Colégio de Sanro Anráo Manuel
Fagundes. Bahia. 03/0111622 - Maço 68,163.

Carra do Pad¡e F¡ancisco Siqueira, 05/03/1620 - Maço 68, 384.

Traslado de uma carra do Pad¡e Bal¡asa¡ Barreira d.c 7910317612 sobr€ a ceusa do gove¡nedor.
Maço 68,385.

Àndré de Gou¡'eia ao Colégio de Sanro Anrâo (Bahia, 1810411626) - Maço 68, 394.
Ca¡ra do Pad¡e André de Gouveia para um superior (Bahia, 0410511626) - Maço 68,395.

Carta ânua da provincia do B¡asil de 1607, escrira por Manuel Cardoso. Bahia, 09/08/1608 -
Maço 68,429.

Maço 69
Carra de Sebasriáo Yaz para o padre Bento de Siqueira, Reitor do Colégio de Santo Anráo,
0311r/1629. Meço 69, 60

Sebasriáo Vaz a Diogo Cardim, provincial do colégio de Sanro Anráo - Maço 69,74.
05106/1628 (t).

Carra para o Padre Diogo Cardim - Maço 69, 83.

Carra do Pad¡e Anrônio Gouveja ao Padre P¡ovincial (Bahia, 04/0 51t626) - Ma.ço 69,95.

Maço 70
Carra ao padre Cristóváo de Casrro (08/06/1623) - Maço70,87.

Ca¡ra sobre o estado da demanda com a Mise¡icórdìa da Bahia - Maço 70, 88, de 08/06/1623.

Ca¡ta ao Padre Esce¡,ao da Costa (Bahia, 0311011623) - Maço 70, 89.

Carra do Pad¡e Manuel Couto para Esreváo de Cas¡ro. Pernambuco, O7ll2l1624, Maco
70,91.
Ao padre Mateus Tavares da Companhia de Jesus, procurador geral da provincia do Brasil em
Lisboa. 14/0911622, sobre a liberdade dos engenhos novos ou reediGcados nåo pâgârenr
dizi:mo - Maço 70 , 232 .

Pedido de conÉorme dos sobejos da terras de Sergipe do Conde dados pelo governador Diogo de
Mendonça Furrado aos padres do Colégio de Sanro Ancáo, sem data - Maço 70,475.

Lembranca de Joáo Lopes Ribeira do que deu ao procurador do Colégio de Sanro Anráo. Bahia
em 08/06/1625 , Maço70,476.

Mzço7l
Ca¡ra de Pe¡o Cor¡eia de Sergipe do Conde, 30l\tlß04 - Maço71,2.
Carra de Diogo Botelho ao Conde de Linha¡es, de Olinda,23108/1602 - Maço 7I,3-
Carra do Pad¡e Esreváo Pereirâ de Illlll162g-Maço7I,12_
A formaçáo da elire colonial 331

Cana de 0809/1630 ao Padre Simáo de Souto Maiot Procuredor do colégio de Sanro Antáo -
Maço 71, i3.

Car¡a de 26lo9lI63Q ao ?adre Simáo de Solrto Mâiot procurador do colégio de San¡o An¡áo

- Maço 71, 14.

Carra com info¡macóes ge¡ais sobre o engenho de 09/01/16i5 - Maço 71' 80'

Maço 83
Cerridáo de Pedro Cadena de Vjlhasanri sobre os serviços do resou re iro -gerâ1 Antôn io Mendes

de Oliva. Bahia,03/06/1638 - Maço 83, 1i.

ïaslado de doaçóes reais aos jesuítas do Brasil - Maço 83' 100

Licença para os jesuítas poderem menre¡ a doâçáo que lhes fez- Miguel de Moura - Ìr4aço 83'
r01.

T¡aslado de um alvará dc Sua Majestade e regimento Pâssado eos reÌigiosos da Companhia de


Jesus sobre a administraçáo dos índios do georio
do Brasrl - Maço B3, 102

Maço 87
Duas Car¡as. Uma para Lr.rís de Briro de Almeida qùe faïorcça a construçáo do co1égio da
Companhia de Jesus com certas medidas. Outra para Mem de Sá sobre as re¡ras dadas aos
colégios da Companhia deJesus - Maço 87' 3.

Maço 88
"De quão importante seja e continuâçáo da residéncia dos Padres da ComPânhia dc Jesus da

lrovíncia do Brasil das aldeias dos índios narurais da re¡râ' assim Pa¡a o bem de suas aLmas
e servico de Deus e de Sua \4ajestade. como o bem temPoral de o Esrado e dos mo¡ado¡es
dcle" (sem daca) - Maço 88, documenro 227

Maço 90
Rcsumo das cartas, alvarás e Provisóes reais conc€didas a Província do Brasil da Companhìa de
Jesus. 1624, feito no Dcsembargo do Paco - Maço 90, 103-

2 - Chancelaria Régia:

Chancelarra de D. Joáo III - Doaçóes' ofícios e mercês Livros6'Z \O'20'21'22')4'2i'26'


11. 33. 47, 49. 53, 54, 55, 57, i8, 59. 61, 62. 63, 64. 65, 66, 61, 63, 69 e 70

Chancelaria de D. Joáo III ' Prlvilégios - Livro 5

Chancelaria de D. Sebastiáo e D. Henrique - Doaçóes, ofícios e mercês - Lir'¡o s 1' 2' 4' 5'
6'7'
8,9, 11, 12, 13,t4.t5,16,t7,18,19,20,22,23,24.25,26,27,?8,29,3A,31'12,33'34,
3i, 36,37,38,39,40. 4t, 42' 43, 44, 45, e 46-
332 Rodrigo Ricupero

Chancela¡ia de D. Sebasriáo e D. Henrique - Privilégios - Livros 4,7,8,9,10, l1 e 13.

Chancclaria de D- Filipe I - Doaçóes, ofícios e mercés - I.ir,¡os 1, 2 ,3, 4, i, 6,7, 8,9, 10, ll, 12,
13, 15, ß, 17, 'r8, t9,2r,22,23,24,26,27,2.8,29,30,3'r e 32.

Chancela¡ìa de D. Fìlipe II - Doaçóes, olícios e me¡cês - Liv¡os l, 2, 3, 5, 6, Z 8, 9, 10, 11, Ì2,


13, 14, 15, t6, 17, 18,20,21,22,23,24,26,29, 30,31,32, 33,34, 35, 36, 37,38, 39, 40,
4t, 42, 43,44, e 45.
Chancela¡ia de D. filipe III - Doacóes, ofícios e me¡cês - Livros 1,2, 3,4, 6, 8, 9, 10, 11, 14,
li, ß, 17, t8, 22, 23, 2i, 26, 30, 3 1 , 3 8, e 39.

Chancelaria de D. Filipe III - Perdóes - Livro 16.

Chancelaria de D. Joáo IV - Doaçóes, oficios e me¡cês - Livros 12, 14 e 16.

3 - Chancelarias Antigas da Ordem de Cristo:

Livros:

01, 128 v - Brasil, Cana porque se esrabelece nesrâ parte a boa arrecadaçáo e paga de manti-
menro dos cabidos c mais minisrros das suas Sés. l8/06/1568.

02, 013 - B¡asil, Alvará de man¡imenro ao provisor e vigário do diro bispado. 10/03/1570 ou
10t03t1i69.
02, 013 v - Ca¡ca ao Provedor-mor para dar embarcacáo para que ele possa visìtar o bispado e

necessá¡ios. 10103/1569

02, 013 v - B¡asil, Alvará para a dignidade de Cura e benelìciados simpÌes do diro bispado
que náo riverem obrigaçáo de pregar no sobrediro bispado serem providos por oposiçäo,
12103/t569.

02, 042 - Olinda, Carra de vigário da lgreja do Salvador de O1inda ao padre Diogo Vaz Fer-
reira.02ll0/1577.
02, 138 Pe¡nambuco, Alvará para se dar a Igreja do Salvado¡, da cidade de Olinda na dita
capirania o que dererminou ¿ Visir¿cåo.

02,'147 t - Pernambuco, Carra de apresentacáo de vigário da Igreja do Salvador da ¡,ila de


Oiinda no bispado da dita cidade ao padre A *ônio Pires.22lO5l1572.
05, 60 v - Brasil, Carra para que o bispo do bispado se informe do que diz Manuel Dias benefì-
ciado da lgreja do Salvado¡ marriz da vila de Olinda de Pernambuco do dito bispado, e de
seu parecer em carta fechað,a- 28101/I573.

06, 97 v Pernambuco, Carra de apresenraçáo da vigararia da lgreja de Sáo Salvador da capita-


nìa da dita cidade ao Pad¡e Anrônio de Sá. tgl1g/1584.

0Z 066 v- Diogo Dias Cardoso, 1584.


0Z 099 v - Licenciado Pedro da Silva, 1587.
A formaçáo da elìte colonial 333

0Z 103 v - Sebastião da Costa-


0Z 106 r'- Diogo de Sá, 1588.
0Z i83 - Sah'ado¡ Co¡¡eia de Sá, 1509.

07, 205 r.- Pe¡o Ba¡bosa, 1589.

0Z 302 v - Joane Mendes de Vâsconcelos, 1589.


03, 3 - ?e¡nambuco, Carta lacerada em que somenre se colige serem obrigados os rendeiros dos
dízimos da dira capirenia page¡em ao vigário da sua lgreje o manlimento de acresccnta-
mento. 02/03/1590.

08, 7 v - OÌinda, Carta de apresenraçáo de benefício simples na matriz do Sah'ador <la vila de
Olinda a Luís Mende s. 0710711590

09, 191 v - Consranrino de Meneleu Godinho, 1604.

09, 194 - Pe¡nambuco, Cartâ de aPresenÌaçáo da vigararia da Igrcja Matrìz de Sáo Pedro na
r.

dita capirania ao Padr€ Antônio Bezerre 10l02l1612


09, 201 r'- Irei Diogo de Campos Moreno, 1609.

09,201 v - Simâo de Barbuda, 1606.


09, 227 r,- Miguel Maldonado, 1610.

09, 228 v - Joáo de B¡i¡o de Almeida, 1610.

01. 2.r0 - Roquc d¿ 5'lve;re. lbl0-1611.

09,241 - Manuel Fer¡eira, 1608.


09. 260 - Afonso Leitão, 1610-1611

09, 261 v - Ped¡o de Liverla de Mendonça, 1608-1609.

09,273 - Frei Diogo d€ CamPos Moreno, i608-1609


10, 016 - Olinda, Ca¡ta de âPresentaçáo do benelício simples na lgreja do Sai'ador da dita vila
de Olinda ao Pad¡e Cuscódio de de Ca¡r'alho. 10104/1593

10. 024 - lernambuco, Certa de aP¡esenúçáo do benefício simples na Igreja do Saivador na


capitania da dira rerre a Roque de F.scobar' 1210311594

10, ?26 v - Pa¡aíba, Ca¡ta de apresentação do vigário da Igreja da dita terra ao padre Joáo
Barisra. 18/0íl1599.

12, 134 r.- Olinda, Carta de apresentacáo em um benefício dâ lgreja do Sah'arìor de Olinda
a

Vasco Anes Caramugetro. 07 I 021 7625.

12, 140 - Pernambuco, Certa de eP¡esenreçáo em Lrm beneficio na lgreja do Salvador na dira
cidade a Belchio¡ de Carvalho.04l02l7625

i2, 149 - Pernambuco, Alvará para se criar o lugâr de Cu¡a da Igreja de Nossa Senho¡a da
Puri6caçáo de Una dâ cePitanie sobredita 03l0T/1625.
))+ Rodrigo Ricupero

12, 149 - Pernambuco, Carra de apresenracáo no curaro da Igreja de Nossa Senho¡a da Pu¡iÊ-
cacão de Una na sob¡edira capirania a Bakasar Joáo Cor¡eia. 0310711625.

12, 162 v - Parâ. Carta de apresentaçáo na viga¡aria da di¡a cidade ¡ Sìmáo Antunes.
22t03/1624.
12, 177 v - Paraíba, Ca¡¡a de Apresenraçáo na Igreja de Sanro Ancônio do Cabo a Gonçalo
Ribei¡o.04/10/1624.
12, 182 - Pe¡nambuco, Câ¡râ de âp¡esentâcáo na vigararia de Nossa Senho¡a do Rosário da
Muribeca a Joáo de Ab¡eu Soa¡es. 14/0lll62i.
12, 188 - Rio de Janeiro, Carra de apresenrâçáo ûâ vigararia de Sáo Sebasriáo da di¡a cidade a
Manuel da Nóbrega. 11/08/162i.
12, 190 r.- Rio de Janeiro, Alvará para o governador do Esrado do Brasil ap¡esenrar as digni-
dades, benefícios e ourros cargos, por inlormaçáo do administraçáo gcral da dita cidade.
21/06/1,62i.

Ì 2, t9 L r, - Rio de Janeiro, ,{lvará para o adminisrrador geral da capirania N.lareus da Cosra Abo,
rim, prover nos beneficios e mais dignidades eclesiásricâs, â exceçáo do deão. 2110611625.
12, 197 - Bahìa, Carca dc aprcsenracáo na Igreja da Sé da dira cidade a Cosme Casranheira.
07/0211616.

12, 198 - Pe¡nambuco, Carrâ de apresenracáo da Igreja dc Nossa Senho¡a Apresenraçáo de


Porto Calvo ao Padre Ped¡o de Ca¡valho.04l02l1626.

12, 198 - Pernambuco, Carra de Apresentacáo na Marriz da dira cidade ao licenciado Salvado¡
Tavares. 19103/7626.

12, 203 - Bahia, Alvará da Igreja laroquial de Paripe da dira cìdade ao padre Sináo Rodrigues.
06/0211626.

12, 210 v - Olìnda, Carra dc apresentacáo na coadjuroria da Igreja de Nossa Senhora do Rosário
de Muribeca, rermo da dita vila a Francisco da Cosra de Abreu. 241071I62G.

12, 214 y Ba[ia, Carra do cargo de ìr4esrre de Capela da Sé da dira cidade a Francisco Bo¡ges
da Cunha. 06/07/1626.

12, 217 - Bahia, Ca¡ra de apresenraçáo na coadjucoria da igreja Paroquial de Serinhaém, bispa-
do da dira cidade a Goncalo Pereira. 29l10/1626.

12, 226 - Bahia, Carta de apresenraçáo no Curaro de Nossa Senhora da Conceicáo de,{laeoa
do SLrl, bispado da dica cidade a Gonçalo Rìl¡eíro- 2511111626.
Ì2, 229 - Bahia, Ca¡ca de apresenracáo na lgreja de Cocegipe, bispado da dìra cidade ao Padre
Jerônimo lerreira da Coxa. ?010411627.
I?, 233 - Bahja, Carca dc apresenracáo na coadjuroria da lgreja do Rosárro de Mu¡ibeca, bis
pado da dira cidade a Gaspar da Cruz Barb ose. 23/0811627.
A. formaçáo da elite colonial )))

12, 233 v - Rio G¡ande, Carrâ de apresen.ecáo do curato da lgreja de Nossa Scnhora da Pu¡ìÊ-
cação da dita capirania, bispado da Bahia a Simáo do Soveral. IJl1011627-

12, 233 r.- Oljnda, CerÞ de apres€nteçáo na vigararia da lgreja do Rosá¡io da várzea, termo de

Olinda, a Francisco da Cosra de Abreu. 20l08/1627

12. 234 - Bah\a. Carta de apresentacáo a Belchior Pereira. da coadjutoria da lgreja de Nossa
Senhora da luri6caçáo, bispado do Brasì1.

12.247 - Pernambtco, Carta de ePresenracáo na coadjutoriâ do Recife da di¡a cidadc a Faus-


tino da Si1va. 09/1211626.
12,248 - \emaracâ, \lha no bispado da Bahia Alvará para sen'ir dc cura na Igreia da Penha de
França no Abijar (?) re¡mo da sobredita ilha a Antônio Nunes Nogueira- 20110/1627'

12. 248 - Bahia, Carta de apresenracáo do Curato de lg¡eja de Sáo Lourenço do Bispado da dira
cidade ao Padrc Gaspar Amt'rósio.2417011627.

12, 251 - karnaracá,llha no bispado da Bahia- Alr'a¡á a Mar¡im Ál"ares, vigário da Igreja do
Rosário, ¡ermo da sobredita ilha que o desobriga de rer coadiutor' 17112/1627

12, 252 - le¡nanbuco, Carte de apresenlâçáo da coadiutoria da Igreja de Sáo Migtel na drta
capitania a Jorge da Mora.. 70/l0ll'627-

12, 252 - Pe¡nambuco, Ca¡râ de aPrescntaçáo nâ coadjuloria da Igreia de San¡o Amaro na


sob¡edita capirâniâ e Joáo de Arruda da Co sta. 75110116)7

12, 297 r.- Olinda, Catta de apresenÞçáo em um benefício na matriz da di¡a vìla de Olinda a

Joáo da Cosra. li/0611627.

12, 408 v - Pernambuco, Provisáo Para continuar na serventie da Igreja de Sáo Lourenço da
dira cidade a Gonçalo Rì5eiro.2910511626-

14, 28i - Pernambuco, Alvará para se regular nes P¡ocìssóes e Prcsidéncias pelo cosrume ¡rati
cado na cidade da Bahia. 03107 /1617

15. 118 - Paraíba, Alvará ao licenciado Anrônio Terxeira Cabral para administrar a iurisdiçáo
eclesiástice no dìÌo Escado do Brasil. 1910211616-

15, i43 v - Pernambuco, Alvará para dos 6 beneÊciãdos da Metriz da dita terra se tirarcm 2 para
ejudarem o administ¡ador da jurisdiçáo eclesrástica na leraíba 04l03l1616

15. I44 - Paraí6a,Ptovisáo eo administrador da jurisdiçáo ecÌesiásrica desta terra para que nos
lugares onde náo houver eliube se metam os Presos nas cedeias seclrla¡es l1/03/1616
'leixeira Cabral para apresenrar os beneficios que
15, 144 v - Paraíba, ,tlvará ao Pad¡c Anrônio
vagarem na dita terra como adminis(rador da jurisdiçáo ecl€siásrica 11lO3l1616

15, 169 - Luís Mendes de Vasconcelos, 1616

1i, 212 \.- Sebastiáo da Ct¡nha. 1615-1617


15. 220 - Ma¡tim Afonso de Mi¡anda' 1616

15, 223 - ]oane Mcndes de \¡asconcelos, i615.


336 Rodrigo Ricupero

15, 252 - Jorge de Albuquerque, 1616.


17, ll8 v - Olinda, Carta de apresentaçáo do benefício simples na Matriz de Olinda bispado de
Pe¡nambuco a F¡ancisco de Almeida. Iil05l1609.

17, I39 v - Brasil, Carra de apresentaçáo de cônego da di¡a Sé ao padre Paulo de Sousa.
291031t609.

21, 143 v - Sebasrião do Carvalhal, 1614-1616.

21, 166 v - Bahia, Alvará para o cabido da Sé desra cidade (Salvador) e ourros serem pagos de
seus mânrimencos. 19 I 07 I 1612.

21, 254 v - Frei Afonso Leiráo, 1i8Z


21, 264 v - Frei Roque da Silveira, i610-1611,

21, 288 v - Ancônio da Mora, 1613.

21, 307 r,- F¡ei Francisco Coeiho de Ca¡valho, 1608.

21, 321 - Tomé de Sá, 1614.

22, l0l - Ànrônio Mendes de Vasconcelos, 1619-1620-


22, i02 - Frei Afonso de Albuquerque, 160Z
22, 109 - Antônio Cardoso de Barros, 1619-1620.
22, 109 v - Anrônio de Alpoim de Briro, 1620.
22. liJ - F.ei Miguel Valdonado. 1610.

22, 113 - Antônio Muniz Barrero, 1620-1621.


22, 119 - Luís de Moura Rolim, 1621.
22, l2i - Frei Antônio Mendes de Vasconcelos, 1619-1620.

22, 132 - Anrônio de Àlbuquerque, 1621-1622.


22, 148 v - Anrônio Dias de !¡anca, 1i81.
22, I79 - Bahie, Carra de apresentacáo de Chantre da Sé da dira cidade ao Padre Je¡ônimo dâ
fonseca.26l08/1621-
22, 200 v - Olinda, Carra de apresentacáo da resouraria da Igreja do SaÌvador da vila de Olinda
ao padre Balrasar de Ca¡valho. 09/08/1622.

22,201 v - Olinda, Ca¡ra de apresentacáo de benefício na Igreja do Salvado¡ da dira viÌa de


Olinda ao padre Joáo de Aguiiar. 1411011622.
22,202 - OIií¿,e, Carra de apresentaçáo de benefício na Igreja do Salvado¡ da dira vila de
Olinda ao padre Goncalo ð.e Sá.22/0911622.
22,205 - Oli¡da, Carra de apresentacáo de benefício simples na Igreja do Salvador de Olinda
ao padre Vasco Anes Cerâmlrgei¡o. 1211211622.
A formaçáo da elire colonial 331

22,226 t - Pernambuco, Alvará de curato na Igreja da capitania da dica cidade ao padre Joáo
Rodrigues- 04/10/1623.

22, 228 - OLnda, Carra de apresenracáo na Igreja do Salvado¡ de Oiinda ao padre Antônio
Perei¡a Botelho. 20108/1620-

22, 314 - Rio deJaneiro, Alvará de prorrogaçáo 1-000$ réis por mais 8 anos ao colégio da Com-
panhia de Jesus da cidade. 7510511627.

22, 314 y - Bahia, Ah'ará de prorrogeçáo de 1-200$ de esmola por mais 8 anos ao colégio da
Companhia de Jesus. 1510511621.

25, 087 - Pe¡nambuco, Alvará e Aposrila para que as mercês feiras a Bernardino de Carvalho a
fl. 87 desre livro só tivessem efeiro depois de restituída a dita capitania a Coroa de Ponugal-
26l02.l 1644.

26, 164 - ?ernambuco, Ce¡re d€ epresenrâçáo de coadjutor da Igreja de Nossa Senho¡a da


Apresencação da dira capirania em Porro Celvo ao pedre Anrônio Pacheco da Silva.
08103/1628.

26, 165 - Pe¡nambuco, Cerre dc epresenração da igreja de Sáo Lourenço de Muribecâ ne dire
capitania ao Padre Gonçalo Ribeiro. 12/0211628.

26, 17i - Perna¡nbuco, Cârrâ de ep¡esenreçáo do coadjuror da lgreja de Sáo Lourenço de Mu-
ribeca, capitanìa de Pernambuco a Gaspar de Almeida Siqueira. 1,2105/1628.

26, 172 - Pernambuco, Carrâ de apreseûrâçáo de r.igário da lgreja de Nossa Senhora da Puriiì-
caçáo da dita capirania ao Padre Pedro Bo¡ ges. 02/(t6/1628.
26, 175 - Espírito Santo, Carta de apresenrâçáo do tesoureiro da lgreja de Nossa Senho¡a da
Vitória na dira capitania ao Padre Gonçalo Yaz P:.rtro.28l03/1628.
26, 186 v - Pe¡nambuco, Carta de apresentaçáo de vigário da Igreja de Santa Luzia da Lagoa do
Norte na dita capitania ao Padre B¡ás Velho. 01112/1628.
26, 192 v - Bahia, Carra de âpresenraçáo de Sac¡istáo Menor da Sé da dita cidade ao Padre
Domingos dos Reis Pinheno. \610311625.
26, L95 - Bahì2., Carra de apresenraçáo de Mestre de Capela da lgreja da Vila de Iguaraçu na
dira cldade a Simáo Fu¡râdo de Mendonça.1010411629.

26, 195 .. - Pernambuco, Carra de apr€sentaçáo de vigário na Igreja de Nossa Senhora da Puri-
6caçáo de Una, na dita capirania ao padre Pedro Borges Pe reira. 02/0417629.

26, 205 - Pe¡nambuco, Cârtâ de Âpresentaçáo do vigário da Igreja de Santo An¡ônio do


Cabo de Sanro Agosrinho da Capitania de Pernambuco ao padre Manuel Rabelo Pereira.
23108/1629.

26, 205 - Rio deJaneiro, Carta de apresentaçáo da lgreja da Vila de Sáo Paulo da dita ao Padre
ManreÌ Nunes. 2i108/1629.
318 Rodrigo Ricupero

26, 205 - Rio de Janeiro, Carta de apresentaçáo da Igreia Marriz da dita cidade :o Padre Ma-

n,rel Álva¡es. 22109/1629.

26, 208 - Maranháo, Carca de apresentacáo de Mescre de Capeia da dira cidade a Manuel da
Nlora Bo¡elho. l8l 12 I 1629.

26,2t0 - Bahia, Carra de apresenracáo de meia prebenda na Sé da dira cidade ao Padre Filipe
Batis¡a. 10/05/1620.

26, 214 v - Pe¡nambuco, Cerra de APresentaçáo de beneficio na Igreja Matriz da dita vila ao
padre Gaspar Cardoso. 07107/1630.

26, 215 v - Rio de Janeiro, Alvará de mercê de mei¡inho dos clérigos na dica cidade a Àndré
Fernandes Vieira. 20/0711620.

26, 252 - Rio de Janei¡o, Carta dc meirinho do eclesiástico da administraçáo da dita cidade a
Gonçalo Lopes de Tavora. 28/07/1629.

26, 284 v - Bahia, Carra do escriváo do vigário geral do dico Bispado a Barisra de Almeida
12103/t629.

4 - Inquisição de Lisboa:

Processos:
00,279. A¡a de Miláo.
00.789. Filipe de Moura.
00.885 e 01.49 Ì. Joáo Nunes.
01.273. Díogo Gonçalves l-aso.
01.273. Guiomar Lopes-
01.287. Catarina Morena.
02.499. Gomes Rodrigues Miláo,
Ul.)1,/. lvl¿nuel da LosLâ L¿lne¡ros
02.529. Pedro Álvares A¡anha.
02.55Í. Joáo Gonplves.
02.562.loio Dias.
03.307. Paula de Siqueira.
04.309. Heiro¡ A,'rrunes.
05-391. André Lopes Ulhoa.
06.344. Diogo Nunes,
06.345. Diogo de Mo¡im Soares,
06.3>4. Antônio Rabelo.
06.3i6- A¡cônio da Rocha.
06.358- Ancônio de Aguiar.
06.3i9. A¡tônio Mendes-
06.359. Bernardo Pimentel.
06.360. A¡tônio Casranheira.
06.362. Brás Fernandes.
A formaçáo da elire coÌonial

07.467. Filipe Tomas de Miranda.


07.951. Cristóvão da Cosu.
07.956. Belchio¡ Mendes de Azevedo.
08.475. A'a¡o Velho Barrero.
09.457. Diogo Pìres Diaman¡e-
10.101. Duarte Álva¡es Ribei¡o.
10.776. Don.ringos Fernandes Nobre (alcunha "Tomacaúnd')-
10.810. Mécia Rodrigues.
i i.035. Luís Mendes.
1 1-036- Panralcáo fubeiro.
11.037. Vicente Pi¡es.
1 1.061. Gaspar Rodrigues.

I 1-072- Manuel Branco.


I 1.080- Ma¡cos Tavares.
1 1.206. Salvado¡ de Albuquerque.

1 i.6 I 8- .A.na.A.lcofo¡ada.
1 1.632. Simáo Rodrigues.
11.634. Simão Falcão.
Ì2.222. Pedro de Albuquerque.
12.229. Rodrigo Marrins.
12.230. Rodrigo de Almeida.
12.364. Diogo Lopes.
12.754. Luís de Rego Barros.
12.967. Pedro Cardìgo.
13.092. Ped¡o Fernandes Delgado.
13.250. Manuel Gonçalves.
13.957. Berna¡do Ribei¡o.
14.326. Esteváo VeÌho Ba¡re¡o-
16.394. ÁJvaro Lopes.
i7. 762- Gonçalo Fernandes.
17.813. F¡ancisco Afonso Cepare.

5- Corpo Cronológico:

Pa¡te I
-Ieles
Maço 31. documento 48. Cópia das canas que escreveram Manuel Barre¡o, governador
do B¡asil, Crisrówáo de Barros e Martim Carvalho, provedo¡ da fazenda em Pernambuco,
sobre a promoçáo quc o gove¡nador 6ze¡a aos soidados, e outro âssunros l4l08l1524 (sic)
(Data correta 14l08/1534).

Maço 83, documenro 78. Ce¡tidáo da. con¡a. de F¡ancisco Toscano. que foi provedor dos
defunros da Índia,

Maco 86, documenro 100. Carra de Filipe GuiJhem para Sua Majesraàe. 28/0711551 .
340 Rodrigo Ricupero

Maço 86, documenro 125. Carra de padre \{anuel da Nóbrega- 14108/I5i1.

Maço 9Z documenro 21. Carta de Ca¡los V reclama do mau tratamento a seus tassalos dados

pelo o governador e olrtras justicâs tem dado nas costas do B¡asil, de seus súdi¡os que vem
do Rio da Prara. 24lll/15i5.
Maço 102, documento 92. Carta de Sebastiáo l,uís a Rainha em que lhe diz em pela nau em
que se perdeu o Bispo e ourros assuntos. Salvado¡, 08/0j/1558

Maço 106, documenro 122. Carca que Frei And¡é de Cisnei¡o esc¡eveu a Sua Maiestade em
como as órfás náo achavam casamenro no Brasìl que devia Sua Majesrade mandar que
descem os oficios a quem com elas casarem derrogando a ordem que em conrrário disro se

rinha pa".ado. 20/0-'/ I i64.

Maco 111, documen¡o 95. Ca¡ra ao Licenciado Simáo Rodrigues Cardoso, o rei diz que manda
Manuel Teles Barreco por capitáo e governador da capirania da Bahia e governador-geral
das oütrâs capitanias, erc. Lisboâ, I0/0211i82-
Mâço l1l, documento 100. Carra do ouvido¡ gerâl Cosmo Rangel para El-Rei. Saivado¡,
04/031t583.

Maço tl1, documenro 112. Carta de Jorge de Àlbuquerque Coelho ao vice-rei, escrita do
rei, em que reclâmâ que os oÊciâis ûáo lhe dáo muniçóes Pâ¡â mandar a suâ,:âPitân¡¿
121061t584.

Maço 111, documento 113. Carra de Ma¡tim de Ca¡valho dando Pârte da chegada a Pe¡ûâm-
buco, em uma nau desrroçada, de Pedro Sa¡mienro de Gamboa, goverûâdor do esrreiro de
Magalháes, encre our¡os assunros- Pernâmbuco, 00/09/1584.

Maço 111, documenro 114. Lembrança das cartas que El-Rei escreveù eo câ¡deal Arquiduque
pare se proceder nas coisas que estâvâm por concluir. Mad¡id, 20l10/1584.

Maço 112, documenro 3. Cópia de várias cartas de El-Rei para Frutuoso Ba¡bosa e Ma¡tim
Leitão sob¡e a feirura da fo¡taÌeza da Bar¡a da Pa¡aíba e como também a cópia da relaçáo
qrìe fez Lourenço Correia das diferencas que houver¿m enrre Joáo Álvares Sardinha e Joáo
Rodrigues Courinho, capitáo da Mina. 0l/10/1i85.

Maço 112, documento 49. Ca¡ra de Baltasa¡ Fe¡raz, desembargador excravagante da Relaçáo
do Brasil, dando parte a EÌ-Rei da sua chegada aquela cidade. Bahia, 22l10/1588.

Maço 112, documento 57 Carra dos juizes e vereadores da Vila de Olinda - Câmare de Oliû-
da ¡eferindo a El-Rei em que the dá parre de terern já escrico alg
capirania da Paraíba. 28/08/1i89.

Maço 115, documenro 8. Carra de Alexandre de Mou¡a dando conte e El-Rei execurar o que
lhe ordenarásobre os navios que se süspeireve fossem rome¡ carge eo Rio deJ¿n€iro e oLrrros

assunros. Olinda, 27101/1607-


A formaçáo da eiite colonial

Mâco 11i, documenro 93. Carra de El-Rei para D. Cristóvão de Moura Marques de Cas¡elo
Rodrigo, Vìce rei, fazer jusrìca a Manuel Teles Ba¡rero e aos holandeses que com ele foram
presos na llha de São Tomé. Mad¡id, lOl03l1609.
Maço 1J5, documento i04. Ca¡ta da Câmara da Bahia agradecendo a El-Rei a mercó que lhe
6ze¡a em formar Casa de Relacáo naquela cidade, e nomear por chanceler eo douror Gâspar
da Cosra, no que sentiam seus morado¡es o maio¡ benefício e ouc¡os assunros.27101/1610.

Maço 115, documento 105. Ca¡ras da Câma¡a da Bahia a El-Rei em que lhe aeradece mandara
a ReÌacáo. pelos excessos que comerìem os mìnisrros e the pediam que o¡denasse aos gover-
nâdores não provessem por si só os ofícios da Casa que vagassem. Bahia, 01/03/1610.

Maco 115, documenro 106. Car¡a da Câmara da Bahia para El-Rei em que dá conta do miserá-
vel estado em que está das forciâcaçóes e da Igreja matriz e dos minrstros náo se¡virem bem
por esta¡em sujeiros aos governadores e sobre os gêne¡os da rerra. 0410411610.

Maço ll5, documenro 107- Segunda via do documento acima.


Maço 115, documenro 108. Ca¡ra da Câma¡a da Pa¡aíba de 1610 para EÌ-Rei, sob¡e o¡dem do
mesmo que mendou equela capitania para que se rirassem os genrios do poder das pessoas
que tivessem, e lhe deu uma larga informacáo a respeiro do mesmo. ?araíba, 1910411610.

Maço 116, documenco i04. Carra do rei aos governadores virem um memorial dc Diogo Bo(e-
lho, governador do Brasil, em que pede o rirulo de Vice Rei.
Maço 117, documento 74. Cana dc Cons¡antino Menelau que escrer'_eu do Rio de Janeiro em

que pede que se mãûde as carar.elas de muniçóes para i¡ faze¡ uma forti6caçáo em Cabo
Frio donde se pode rirar muiro pau-brasil, esc¡i¡a a 01/10/1625.

Maço 118, documento 3. Cópias das carras de Antônio de Albuquerque, capìtáo


pirania da Paraíba em que da coûra a El-Rei em como os hoiande 60 naus
sobre Pe¡nambuco. 18 /02/ 1630.

Parte II
Maco 315, documenro 180. Traslado dos provimentos que fez o desembargador Sebastiáo de
Carvalho em Pernambuco, sobre a ordem que se deve te¡ na ar¡ecadaçáo dos vinhos que
desembarcarem naquele porto. 30/09/1608.

Maço 351, documento 59. Acó¡dao da Relaçáo a cerca de s€ náo romar conhecimento de pe-
riçáo de agravo do procurador da Coroe po¡ ser intimida sobre o Coletor excomungâr os
primeiros juizes. 121 02/ 1629.

Maço 352, documenro 63. Requerimento de C¡iscóváo Vaz de Betancor, para se the perdoar os
anos que faltam para cumprir seu deg¡edo pelos serviços feiros na Bahia, 3l/0511630.
3+2 Rodrigo Ricupero

Pa¡te III
Maco 20, docunento 54. Cópia de alguns capírulos de cartas de Manuel Teles Barreto, go-
.,ernador do Brasil, do ouvìdor gerai de Pernambuco Ma¡rim Leiráo, e do provedor-mor
Crisróvão de Barros para El-Rei, sob¡e o escado daquelas terras, seus rendimentos De
r8/08/1584.

Maço 30, documenro 88 - Cópia de uma consultâ sobre a idâ de Matias de Albuquerque a llha
de Fernando dc No¡onha desaiojar os inimigos e rirar negros que os hoÌandeses iançaranr
lá.07/011t630.

6 - Fragmentos:

Caixa 1, documenro 6. Carra para El-Rei do governâdor-geral do Esrado do Brasil, Diogo de


Meneses. Da Bahia, 01/09/1610.

7- Livto das Leis nas Chancelarias:

Livros:
l, fl. Oi5, l5ll2l1t78. Al.,ará determinando que seja norificada a Provisáo de 15/0311577 qtte
proibia a cultura do gengibre na llha de Sáo Tomé e no B¡asil.

1, fl, 164 v,23l01/1j88, Àlvará ¡egulando a procedência dos desembargadores da Relaçáo do


Brasil.

l, fr..168,22lOBlli87, Carta de Ìei dete¡minando ¿s condicóes em que os donos de engenhos


e lazendas no Brasil podem ir ao serrão buscar genrios para trabalharem nos mesmos, bem

porque 6cam obrigados a tratálos

l, Ã. 170,2410211588, Regimenro do provedor dos defuntos do Brasil' o licenciado André


Marrins Rolo.
l, fl. 172, 2510911i87, Regimento dos desembargadores e mais oficiais da casa da Relaçáo do
B¡asil.

I, H. 219 \', 09103/1i92. Regimenro do pror.edor-rnor do B¡asil, o bacha¡el Custódio de F!


gueiredo-

1,fl.227,0910711603, Regimento do Provedo¡dos ÓrÉáos, ¡esíduos, hospitais, capelas, conFra-


rias e albergarias do Brasil, o bacharel Lopo Sutil.

2, F.. 026 v, 11/11/159i, Lei sob¡e a esc¡avatu¡a no Brasil.

2, fr,. O3O,2610711i96, Regimenro dos padres dâ Compânhia de Jesus enviados ao Brasil para
insrruírem os genrios-
2, A. 048 v,3ll07l1601, Carra de leÌ sobre concessóes feitas aos crisráos-novos para poderem ir
livremenre as parres da Índia e do Brasjl e Ilhas.
A formação da elite coionial 343

2, fl. 051 v.0511211598, Alvará para que os navios que tragam acúcar náo possam descarregar
no porto da llha da Madeira nem nos das oulras ìlhas.

2, ß.055,2010711602, Alvará para que se ti¡em informacóes de como serviram os governadores


do Brasil etc. logo que renha rerminâdo o prazo dos seus governos.

2, fl. 080 n 0J/0i/1605, Ah.ará para pror.idencìar que os holandeses e zelândeses ráo 6zessem
fraudulentamen¡e comé¡cio com as madei¡as do Brasil.

2. fl !S4, 1S/Ot1605, Alvará sobre a navesaçáo na Índia, Brasil e ourras possessoes porrugue-

2. fl. 120 \ 02101/1606. Aiva¡á sobre administraçáo da jusriça com referência às partes do
ultrama¡.
2. fr. \71.24107/1609, Carta de lei declarando livre os genrios do B¡asil. Mad¡id, 30/0711609.

2. fl. 198 r., l\lO2/ló\2. Al¡zrâ d,etermin¿ndo que os 6lhos do vice-¡ei da lndia ou de gover-
nadores das ourras possessóes ult¡amàrin¿ç nâo visitem seus pâis. ncrn rcsidâm com eles
duranre o rempo de ser¡ gove¡no.

2, fr.. 210 v, 23l11l1612, Àlvará proibindo que andem de serl'erriâ os ofícios menores de jusriçâ
e dererminando qoe os seus p¡op¡ietá¡ios \'áo romar posse dos seus cargos sob pena de os
perde¡em.

Z, A. 222 10/09/1611, Ca¡ta de lei sobre os gcntios do Brasil, seus foros, adminisrraçáo de
",
sua jusriça, erc.

3. A. 079, 1810511617, Alvará para que o provedor-mor da fazeÐda real do Brasìl e os mais pro-
r.edores das capi¡anias de Pernâmbuco, Paraíba, Rio de Janeiro, todos os anos enviem ào
Consciho da Fazenda uma iista das avencas que ûesses per(es se 6zerem de escrevos.

3, fl. 094, 2710411618, Ah'ará concedendo po¡ queûo e¡ìos a Gonçalo da Costa e Almeida e

João Peres a exploraçáo das pérolas que tinham descoberro em certos lugares do B¡asil, no
mesmo mencionâdos, com a especificaçáo das condiçóes em que lhes e¡a concedida

3, A. 104.0510611619, Regimento para ouvidor geral das capitanias do Rio de Janeiro, Espírito
Sanro e Sáo Vlcente ao Bacha¡elAmâncio Rabelo.

3, fl. 107 v, 07ll|11619. Regimento do our.idor ge¡al do Maranháo, o bacharel Sebasriáo B¿¡-
bosa.

1, F,. 120, 03/1211621, Ah,ará sobrc a forma por que os governâdores do ultramar poderáo
proler os ofícios que vagarem nos seus gove¡nos.
3, fl. 132 r,3O/O3lle3, Ai..ará para que os almoxarifes das capitanìas do Estado do Brasil náo
possam valer-se de pror.isáo a1gùma pâssede pelos governadores na ocåsiãô ¡lc tlatem as

contas da sua gerêncía.

3, fl. I39,2110311624, Regimento do ouvidor geral do Maranháo.


344 Rodrigo Ricupero

3, F,. 154,3110311626, AÌva¡á determinando o 5' capítulo do regimenro de 05/06/1619 passado


ao bacha¡el Amâncio Rabelo, ouvidor geral das capitanias do Rio deJaneiro, EsPí¡iEo Santo
e Sáo \ icenrc seja .ubsrirurdo por ourro que mencior¿.

3, fl. 162, 1410411628, Regimenro do ouvidor geral do Brasil, o licenciado Paulo Leitão de

Abreu.

3, A. 169,0210411630, Regimenro do ouvidor geral e audiror da genre de guerra do presídio, o


bacharel jorge da \.lv¿ -Vascarenhas.

3, fl. 173,21103/1630, Regimento do ou"idor geral das capitanias do Rio de Janeiro, Espirito
Sanro e Sáo Vicente com o disrriro das minas, o bacharel Paulo Pereira'

8 - Papéis do Brasil:

Avulsos, 3, n' 6 (c. 16, e. 147, p. 6). Anotaçóes riradas dos liv¡o de mandados de pagamento
do provedor-mor Antônio Cardoso de Ba¡¡os logo após a fundaçáo de Salvador' Apresenta
uma lista em ordem alfabérica dos primeiros povoadores tiradas do diro liv¡o.

9 - Manuscritos do Brasil:

Manuscritos da Liv¡aria:

L. 1116, ll. 604- Documenro sem rítulo (Consuita da Mesa de Consciência e Ordens) Trara da
quesráo se seria Ìegitimo o cativei¡o dos índios que apoiaram os holandeses, (c I626)
L- 1116, fl. 610. Documenro sem ritulo (Consuka da Mesa de Consciência e O¡dens). Trata do
mesmo assunro do anteríor, darado ðe 2610611626.

10 - Ministério do Reino:

Coleçáo de Planras, mapas e ourros documentos.

Documenro 68. Relaçáo das praças Êortes, povoåçóes e coisâs de imporrância que Sua Majesra-
de rem na costa do Brasil, lazendo princípìo dos baíxos ou ponra de Sáo Roque para o sul
do estado e defensáo delas, de seus lrutos e rendimentos, feita pelo sargenro-mor desta costa
Diogo de Campos Moreno (1609).
-4. formaçáo da elite colonial 345

11 - Chancelaria da Ordem de Avis:

Livros:

L 05
158, Bartolomeu de Vasconceios da Cunha, 1581-

169, Diogo da Rocha, 1581.


173, Ambrósio de Aguia¡ Courìnho, 1581.
225 r., À¡rônio de Cast¡o, 1582.
L 08:
022 r-, Marias de Àlbuquerque, i591.

179 v, Diogo de Mendonça Furtado, 1595.


193, Luís Rodrigues, 1595.

L 09:
67 r., Diogo de Vasconceios, 1599.

L ÌO:
227v, Alexand¡e de Mou¡a, 1599.

308 v, Cil de Cóes da Silvei¡a, 1610.

333, Diogo de Vasconcelos, 1611.

L 11:

006, Anrônio Muniz Bar¡eto, 1617

0i4 v, Diogo de Vasconcelos, 1611.

021 r', Joane Mcndes de Vasconcelos, 1621.

Caderno:

c 16:

007, Vasco Rodrigues Bacela¡ 1581.

031, Alexand¡e de Sousa, 1589.

045, Alexandre de Moura, 1599.

12 - Ementas da Casa Real

Livros das ementas que conr¿m es mo¡edias e loros dos criados, frdalgos da Casa Real e algumas
mercês (7526-1527 e 1568-1654)
346 Rodrigo Ricupero

Livro 2
23, Simáo da Gama de Andrade, conÊrmaçáo de sesmaria dada por Tomé de Sousa,

27103/1i70.

Livro 4
204, D. Duane da Costa Êlho de D Álvaro da Costa, pagamenro do que foi acrescenrado de
escudeiro de moço de ãdaIgo. O3/07/1587.

Liv¡o 7
1Z Manuel Filipe Soares, ûlho de Álvaro Dias, possa usar o ofício de boricá¡ìo- |i10711586'

74, Francisco Zorilha,6lho de Diogo Zorilha, Pagemento do âcrescenramcnto de "escudei¡o


Êdalgo a que foi acrescentado de moço de Càmara". 1210411586

Livro 9
89, Consranrino Cadena, 6lho de Gaspar Cadena, Pagemento do âcrescenramento de "€scudci_
ro 1ìdalgo a que foi acrescentado de moço de Câmâ¡â" 0810611609

Livro 11

91, Francisco Marrins, vizinho de Caminha, Possâ usa¡ dos olicios de mestre e piloro das car_
¡eiras das Ilhas, Guiné, Sáo Tomé, Angola e Brasil. ll/08/1621'

91, Idern paraBarrclomeu de Olivei¡a, Gaspar Macieì, Anráo Vezinho de Viana, Antônio Fe¡-
nandes.

98, ,A.maro da C¡uz Porto Car¡ei¡o, âlho de Joáo Dias Porro Carreiro, Pâgâmenco do ac¡escen-
râmenro de "escudei¡o lìdalgo a que foi acrescentado de moço de Câmara" lIl08l162l-
I24,lacome Raimundo, 1ìlho de Pero Jacome Raimundo, Pegamento do
"escudeiro fidalgo a que foi acrescentâdo de moço 6dalgo" 12l12l1621

200, Que o cepitáo Pedro Cadena, possa usar dos ofícios de piÌoto des carreiras dâs Ilhâs, Gùi-
né, Cabo Verde, Angola e BrasiÌ e Índias de Castela. 12l08/1624.

241, Diogo de Ca¡camo, frÌho de D. Joáo de Carcamo, Pagamento do acrescentan,ento de


"escudeiro 6dalgo a que foi âcrescentado de moço 6da1go". bl06/162i

13 - Cartas Missivas:

Maço I
164 - Carra de Mem de Sá a Frei André, religioso de Sanro Agostinho no Mosteiro da Graça de
Lisboa. Sah'ador, 00/0ilO000.

184 - Alvará sobre âs ermâdâs de Portugal e de CasteÌa para expulsar os Holandeses de Per-
nambuco.26110/(?).
A formacáo da elite colonial 341

224 - Relaçáo dos oiícios que há em Luanda, Reino de Angola e dos seus proprietários ou das
Pessoas que os servem.

397 - Carra de Mem de Sá a F¡ei Bartoiomeu, religioso de Santo Agostinho em Nossa Senhora
da Craca de Lìsboa, sobre o provimenro dos oficios da cidade do Salr.ador que El-Rei tinha
mandado aplica. a dores par da. cirfå. que do Reino Ihe enri¿¡am. 5¿lrzdor.
01/06/(?).

485 - Parecer quc se deu a El-Rei a fim de manda¡ vir da Pa¡aíba ao capiráo Felìciano Coelho
de Car.,alho que servia este posto há 5 anos e que rinha ido por r¡ês anos, sua mulher esrava
pobre e o rec'onora e.eus 6lho. etc.

Maço 2
56 - Ca¡ta de Mem de Sá para o Secretário de Estado Pedro de Alcacova Ca¡nei¡o lembrando-
Ìhe o perigo em que esráo as capiranias pela sua má ordem e pouca jusriça, lamentando que
Sua Alreza ... es cepirânies e os ofícios a pessoas sem a competência e pedindo por úlrimo
para se ¡eti¡ar. Salvador, l0/08/(?).

60 - Lembrança cic Rodrigo de Freitas sobre os liv¡os do a¡mazém e da matrícula em que defen-
de os seus atos e se queixe dâs perseguiçócs que lhe move¡am.

182 - Apontamentos do quc sc hevie de representa¡ a El-Rei acerca da cobrança dos dízimos.

Maço 3
149 - Carta de Filipe Guilhem para El-Rei parricipandoJhe a remessa de um inst¡umen¡o de
na1'egaçáo.

Biblioteca Nacion¿l de Lisboa:

Coleção Códices (ex-Fundo Geral)

Caixa 29ri e Caixa 29'a. Amazonas, expediçáo de missionários jesuítas em 1618. com Ale-
xand¡e de Moura, ..., expulsáo dos franceses, notíciâs do gentio. Regresso a Portugal em
0210711621. Ve¡ Manuel Gomes.
Caixa 3li. Ilha da Trindadc, nora da doaçáo feira por D. Joáo III a Belchior Carvalho' registra-
da na Arquivo da Torre do Tombo.

Caixa 44 'r . Alvará para quc Gil Góes da Sih'eira posse renuociar à capitania de Sáo Tomé que
¡em no B¡asil. i605.

FG. 0255. Legislaçáo. Regimenros. prof isóes e câ¡tâs régias expcdidas em várias épocas ..., ìn:
Regimenros, provisóes e carras régìas-
348 Rodrigo Ricupero

FG. 0294. Domingos de Ab¡eu de Bri¡o, Sumário e descriçáo do reino de Angoia, 1592.

FG. 0302. Paraiba, poesias latinas em hon¡a de Mariim Leiráo, ouvidor geral.

FG. 0467 Descriçáo desre esrado (Maranhão), in: Relaçáo brevíssima-

FG.0472, R. 58. Descob¡imenros, Madeira, Aco¡es e BrasiÌ, in: Aponcamentos Breves

FG. 0472. Notícias de geografra e história com descriçáo e documentos relrentes eo Brasil

FG.0475. Descriçáo de cåpirâniâs, rios, monres, costas, Povoâçóes erc- do Brasil, in: Geogra6a
Hisrórìca.

FG. 0530. Capirania de Sáo Paulo, como PrinciPioù a Provínciâ.

FG. 0600, fl. 303, 310, ô27 No¡ícias e curiosidades Dive¡sas ¡aças de índios aborígenes Diogo
ÁÌvares Cor¡eia, o Carâmu¡ù. Animais indígenas, noras sobre a fauna do Brasil

FG,0630, fì. 043. Bahia, cidade do Salvador, motivos desta designaçáo.


FG. 0630, fl. 0i6. Criaçáo do primeiro bispado do Brasii, in: Bispado da Ordem de Crisro.

FG. 0630, n. 064. Bahia, governado¡es interinos que houve na cidade da Bahia
FG. 0630. Governadores interinos da Bahia in: Bahia, norícias acerca dos go'ernadores
FG. 0632 fl. 0t3. Despesa do Estado do Brasil a que a fazenda de Sua Majesrade tem obrigaçáo

Géculo XVI). (1í88: 17v a 25; Ii98:26 a34).

FG. 0655, fl- 144 rP, 260. Descobrimenros e conquistas, etc. Noms hisróricas com muirâs indi-
caçóes bibÌiográfi cas (sécuÌo XVIi).
FG. 0674, n. 220. Gor.e¡nado¡es e câpiráes-mo¡es nomeados por Filipe IL

FG. 1460, fl- 59 r¡. Me¡eûháo, enr¡ada dos lranceses.


FG. 1ii2, t. 153. Descriçáo do BrasiL.

FG.2t6l. liioricìas Várias, in: Coleçáo de câ¡tâs de uso de Frei Vicente do Salgado-

FG. 229S, {1. 103. Degredados da África que váo acabar a pena no Brasil, 1607

FG. 4519. Lrvro que contém âs coises norá\.eis que r-êm nas carms da Europa e B¡asil desde
1572 a 1584. Grandc parte trata da missío e marrírio do padre lnácio de Àzevedo e seus

comPanheiros.

FG.6979 e 6980. ìúinas do Brasil. Vários doclrmentos.

FG. 7626, fì. 131. G¡áo Pará e Ma¡anháo, separaçáo das duas capitanias.

FG.7627, P\. 00l. Exrensáo das capitaniâs cm qlre estâ\'â diviciido o BrasiÌ.

8G.7627, F,.003- Ouvidor geral Jorge da Sih'a Mascarenhas. Regimenro em que se revoga a
jurisdição das capirånias, doacóes e¡c, 1630.

FG.7627. F,. 024 e 26. Ouvidor do sul pretende ser equiparãdo €m aiçada e poderes aos ouvi-
dore, gvrai' de lng.l, e B: hra em po.se r crime.
FG.7627, F,.026. Espíriro Santo, ca¡ca do ouvido¡ da de Virória sobre jurisdiçáo.
"iia
A fo¡macáo da elite colonial 349

FG.7627, fl.028. Capitanlas do sui, breve norícia. Século XVIII-


FG. 7627, F,. 029. Capirania de São Vicenre, Abandono em que esteve a fortaleza principal-
F¡ancisco linhei¡o de Moraes, capiráo, pede, ao menos, doze soldados (século XVII)-
FG.7627, fr. 031- Tomé Pinheiro da Veiga, regimento pare o Rio de Janeiro e dúvidas que
houve em 1643.

FC.7627, fl.032a40. Capitanias do Sul do Brasii. Regímencos que levou o ouvidor geral Paulo
?erei¡a em 1630 e 1643- In: Regimenros que em 1630.

FG. 7622 Ê. 036. Tomé Pinheiro da Vciga, emendâs que devem ser feiÉs no regìmento qüe em
1643 se deu ao ouvido¡ geral das capitaniâs do sul do B¡asil.

FG.7627, F,.037 Tomé Pinheiro da Veiga. Sumário do regimento do ouvidor geral do Escado
do Brasil.

FG.7627, fl. 040. Donatá¡ios, capitáes-mores e governadores que têm obrigaçáo de residir na
defesa das capitanìas. (1634).

FG.7627, fl.05i- Dona¡á¡ios substituídos nas capitanias- Pa¡ece¡es e Documen¡os.

PG.7627, A.062. Bahia, câpi¡eniâs das ilhas de Itaparica e Temandariva, a D. Anrônio de


Âr¿ide, Conde d. C¿sr:nheir¿, líqJ.

FG.7627, g.064. Doaçáo da capitania de Pe¡nambuco a Duarre Coelho- Cópia aucêntica


passâda em Ì629 por GasparÁlva¡es d€ Losada.
FG.7627, Ê,.07i,,73,75. Donatários das capitanias oáo Poderáo c¡ìa¡ novo olício, etc. Limi-
tacáo jurisdiqão (i649).

lC. -b2-, R. lJl. Diri,:odedu¿scàpir¿n¡¿\edois go\ern¿dore\e..piti. do Ma-


ranháo e outro do Gráo Pará, uma de t¡inra léguas e outra também de t¡inta, 1633

FG.7627. E. 133. Maranháo. Rcgimen¡o do governedor Bento Maciel Parenre, 1649.


FG- 7627, F,. 140. Cumutá, documentos de sucessão de Antônio Aìbuquerque Coelho de Car-
va1ho.

FG.7627,F,.145. Maranháo, Resimento ¿o governador Francisco Coelho dc Ca¡.'alho.


FG.7627, fl. 149. Toné Pinhei¡o da \¡eiga. Conselho quc deu sobre o requerimenro de D- Luís
de Almeida governador do Rio deJaneiro, em que Pedia fossem nomeâdos p¿rà essâ caPire_

nia, ministros letrados por causa da boa adminisrraçáo da jusciça, 1653.

FG.7627, fl.149-l5I e 154-158. Rio deJaneiro, Adminíst¡acáo' magisrredos etc-. Consultas e

pareccres, Regimento do ouvidor geral, 1630.

FG.7627,Ê.156 a 158. Or,vidor geral dâs câPitanias do sul: sua a1çada e poderes Regimento
do ouvidor da capitaniâ do Rio de Jan€iro, Paulo Perei¡a- 1630.

FG.7627, fr. 158. Rio de Janeiro, ¡egimenro do oulidor gerel de câpirania do Rio de Janeiro.
Paulo Pereira, 1630.
350 Rodrigo Ricupero

FG. 7627 Administraçáo do Estado do Brasil. Papéis vários, apontamenros e documentos, dos
anos de 1620 c 1650, Ve¡ Douto¡ Tomé Pinheiro da Veiga.

FG. 7627 Conselho UÌtrama¡ino. Co¡sul¡as acerca da colonizaçáo no Brasil, sóculo XVII
FG.7642, f'. 185-9- Gove¡nadores e capitáes-mo¡es nomeados por Filipe il, in: Terços que se

levanra¡am -.. (Noricias que se enconr¡am num volume de apontamentos e obras inéditas
de M. Seve¡im de !a¡ia).
FG. 8397 Coleçáo dos brer-es pontilícios e leis sobre os índios do B¡asiÌ.

FG. 8504, n. 048. Bahia, capitanias das ilhas de Itaparica e Tamanda¡iva, ao Conde da Cas'
ranherra, 1i56.

FG. 8i70, fl. 103. Lrsra dos governadores aré 1619, in: Ànais e Pragmáricâs

Coleção Pombalina (PAB)

Fl. t-68, Leis, ca¡¡as... de Filipe Il (t597-1614).

Fl. 204, Informaçáo do procedìmenro ilegal do governador Diogo Borelho do Brasil por Benro
do Amaral-

F1. 239, Relaçáo das coisas que há, lhas do Pa¡á c ¡io Ama
zonas de 19 meses a esca parre,

Fl. 204 a 236, documenros do almoxa¡ifado dc PernambLrco (1593-1608).

Caderno das consultas que váo a Sua Majesrade de rodos os rrrbunais (1j89-1590). Lembrança
r:,. apir;nia. do Br¿sil.lcm rndi.c.
Documenro da Mesa de Consciéncia e Ordens (1608-1755).

Fl. 69, Razáo dos morado¡es da Bahia para que se conserv€ a relacão-

Fl. 106, Es¡ado das coisas no Rio G¡ande, Maranháo e Pa¡á.

Fl. li3. R,prcscnracao do jr., iz do por o.

Fl. 635, Cana do Conde Meirinho-mor D. Duarre de Casrelo Branco para El-Rei, propóe
bispo para Lamcgo, governador para o B¡asil e câpicáo pâra Tanger.

Biblioteca da Ajuda:

Códices:

44-XIV-03 - Do Desembargo do Paço - Tomo i.


44-XIV-04 - Do Desembargo do Paço - Tomo II.
44-XIV-0i Do Dcsembargo do Paço - Tomo IIL
44'XlV-06 - Do Desembargo do Paco - Tomo IV - 1i94 - ti96.
A formaçáo da elice colonial 351

44-XIV-07 - Consultas do Desembargo do Paço .

44-XlV-O9 - Consulras do Desemba¡go do Paço.


44 XIV-10 - Consulras do Desembargo do Paço.
49-lV-50 - ç.339. O4lO9lli6O, Bahia. Carca do Padre Manuel Álvares q.re foi para a Índia,
esc¡ira de Sah.ador onde a nau foì ar¡iba¡-

49-X-01 Embaixada e governo de D- Duarte de Castelo B¡anco - Tomo 1.

49-X-02 Embaixada e governo de D, Duarte de Cascelo B¡anco - Tomo 2.

49-X-04 Embaixada e go"erno de D. Duarte de Castelo Branco - Tomo 4.

49-X-05 Embaixada e gor-erno de D. Duar¡e de Castelo Branco - Tomo 5.

49-X-10 Enviatura em Francisco de C¡istóváo Soares de Àbreu 5" Tomo-

49-Y'-12 f.
014. 467 - Àviso de Luís da Sih'a, vedo¡, eo Provedo.-mor do Estado do B¡asiÌ,
mandando dar conrâ ao Conselho da Fazenda das 6anças que há nas capitaniâs de ?e¡oam-
buco, Itamaracá e Parâíbe, de ûavios que partiram de há 20 enos a esta Par[c e outros que
esráo ainda por desobrigar nas alfândega e dízimo das fazendas, de escrângeiros c natu¡aii-
Lisl¿aa,26103/7630.

49-X-12 f. 015. 469 - ?ona¡ia do governador da Bahia mandando eÂr¡egâr as Peçâs de f€r-
ro â ordem do almiranre D. Ancônio de Oquendo, para defesa de Pe¡nambuco. Bahia,
04/08/1630.

51-IX-02 - Do Golerno de Portugal - Pro\.imenros, Cartas e Alvarás - Tomo I


51lX-20 Gove¡no de Angola de D- Fe¡nando de Sousa.

5l lX-2i Rel¿cöes do De,cobrimento da Co'r¿ d¿ Guine e ourr¿\ inform¿cóe'.

5Ì-IX-32 Docurnenros pe¡lencentes à Casa Real e ao Governo Político.

51-V-71 Cartas enrre Filipe II de Porrugal e o Bispo D Pedro de Castilho.

5l-V:84 Cópia de Ca¡tas do Vice Rei a Sua lr{ajestade.

5l-VI-28 Miscelânea.
51-Vl-52 Mesa de Consciência _ Decretos, resoluções e assentos dela desde sua fundaçáo aré o
ano de 1726... recopilados pelo Dou¡o¡ Lázaro Leitáo A¡anha.

51'YI-54 f.121. 361 - Desenho do engenho de fâze¡ açúcar, novamente pintado ou t¡azido de
fora pelos ?adres da Companhia de Jesus do Brasil, ano de 1613' e eniado por Pedro da
Fonseca.

i1-V1-54 f.160 2166-229.2i7 - Relaçáo dos oÉícios da justiça e lazenda do Brasil' da aPresen-
râçáo de Sua Mâiestade e o que valem de rende e de comPre Bahia. 02/10/i606.

i1-VI-54 f. 169 a 180. 341 - Relaçáo das despesas do Estado do Brasil no ano de I 610
351, Rodrigo Ricupero

5l-YI-54 f.181 a 187. 340 - Traslado da lolha do que se há de pagar da fazenda de Sua Majes-
tade na ilha de e capirania de ltamaracá, neste ano que comecâ em 0l/08/1608 e acaba em
3ll07l1609, Oùr¡e dâ capitania da Paraiba.
t2-YIl-15 {. 1,89 a 222. 336 - Folha que se há de pagar nesta cìdade da Bahia e em suå caPiran ie

da fazenda de Sua Majesrade este âno que começou em 01/08/1608 e acaba em 31/07l1609.

Do rendimen¡o dos dízimos desta cePitânia e da de Sergipe e mais da banda do sul

t2-VIJ-15 L 223 a 228. 330 - Folha de despesas das capitanias de Pernambuco, lramaracá,
Paraíba e Rio Grande que mandou Diogo de Meneses, gove¡nador do B¡asil, no ano de

r618.

51-ViI-11 Regimentos, insrruçóes e resoLuçóes:obre a Índia e conquisr¿s Principâlmenre no


rempo do Vice-Rei D. Ped¡o de Cas¡ilho.

5l-VIl-15 Consultas do Governo.


51-VIII-06 Carras de Filipe Ii para o Bispo D. Ped¡o de Casrilho.

5l-VIII-07 Ca¡ras de Sua Majestade para o Bispo Pedro de Castilho.

51-VIII-08 Ca¡ras d'El-Rei.


51-VliI-09 Carras d'El-Rei.
i1-VlIi-Ì5 Ca¡ras do bispo D. Pedro de Castilho ao Conde de Sabugal.

5t-VIII-I6 Ca¡ta do bispo D. Pedro de Cascilho.

5t-VIii-17 Car¡a do bispo D. Pedro de Castilho.

51-VIII-18 Ca¡ta do bispo D. Pedro de Castilho.


51-VIII-19 Carra do bispo D. Pedro de CasriÌho.
jl-VIII-2t Liv¡o do regisrro das carras de Sua Majesrade que começou no ano de 1611.

i1-Vill-22 Livro de Carras de Sua Majesrade recebides em 1628 e 7629.

il-}{-07 f. 132.464 - Sonda e demarcaçáo que Salvador Pinheiro, capiráo-mor d€ lramaracá,


mandou fâzer nâs barras que há na dira llha ..., ano de 1630.

51-X-33 De Criscór,áo Soa¡es de Ab¡eu, ¡esidente em F¡ança - Papéis Vários

52 VIII-38 f. 059 a 61.400 - Lembrança das primeiras caravelas que forãm de socorro a Per-
nãmbüco ânres da parcida da armada e dâs pessoas que levaram por capiráes erc. Lisboa,
or/08/162i.
Documenros Avuisos:

54-VI.II-36, n" 80, Ca¡ta de Francisco Soares de Abreu (?) para o provedor da fazenda de Pe¡,
nambuco And¡éAlmeida da lonseca, com notícias de umês fazendas que vieram ao reino e

sobre carregamenros de pau-brasil feiros pelos câpitães e ofìciais da armada.

54-VIII-37 n' 1i4 e 208, i4-VIIi-38 n'290 e 370. 470 - Petiçáo que Francisco Soares de
Abreu, provedor-mo¡ laz a Sua Majestade pa¡a the manda¡ sucessor devido aos médicos
A formacão da elire colonial 353

aconselherem a ir ao Reino, e dizendo que aìnda que a saúde náo pcrigasse pedia a mesma
mercô por náo se atrever a lìcar com o governador-geral Diogo Luis de Olireira por com-
preender o risco que corria suâ honra, descrevc âs vá¡iâs laltas qüe este com€reu Bâhia,
0111011630. Ou¡¡as no mesmo senrido, Bahia 25109/1630.

54-XI-23 n' - Carta de Jaqucs da Grá-Breranha a FiJipe II de Portugal, sob¡e uma


156. 366
petiçâo de Marrim Mendes de Vasconcelos, que vive na llha de Sâo Pedro nas partes do
Brasil, para que se lhe concede as mesmas mercês que os reis ântecessores disPensaram â ele

e aos maìs dâ sua geracáo qlle vivem no Brâsil, 12108/1613.

54-Xl-26 n' 3 a. 404 - Informaçáo da capitania de Ilhéus dada por Antônlo Simóes, procurador
do senhor D. Joáo dc Cast¡o. senhor dela- 0611211616.

54-Xl-26 n'' 3 b. 07 - Relaçáo dos sítios, morâdores € do que


rendem de Presentcmenre ¿ caP;
rania de llhéus e scu conrorno eo donarário dela. 11/03/1535 (data errada).

t4-XIII-08 f. 243. 382 - Carta do procurador (provedor) da Capitania de Pe¡nambrtco l)omin-


gos da Siiveìra a Sua Majesrade tocante aos di¡eitos dcvidos à fazenda desde 1597 aré 1607'
e suâ cob.anç4. 2410511613.

Biblioteca Pública de Évora:

Caráìogo dos Govcrnado¡es c Vice-Reis da cidadc da Bahia e Brasjl Cód CXVI I 2 13 a n"

1, I pág.

Corsas mais notáveis do Brasil. Cód CXII / l-l a a f.73 ' 5 pâg

Resoluçáo que o Bispo ouvidor geral do Brasil romefâm sobre os injusros catir.ciros dos índios
e

do Brasil, e do remédio para aumenro da conversáo e da conse¡vaçáo daquele Esrado Cód'


CXVI/133a169.
Cópia do termo das homerragens dos caPìtáes-morcs das caPitantas do B¡asil Cód CIX /1I
af.
Ins¡¡umento de Inquirição de testemunhas que provam que a Aldeia de Maru,vri foi fundada

pelo Senhor D. Francisco de Sousa, governador-geral, que foi do Esrado do Brasil A


inqui
ricáo Êoi rìrada a requerimenro de D. Francisco de Sousa' Conde do Prado' nero daquele' e

Cód'
por despâcho da Câma¡a de Sao ?aulo, na capirania de Sáo Vicenre' de 25108/1657
CXVI / 2-13 a n' 17.

Cronologia dos Gove¡nadores do À4aranháo (1626-1748) Cód CXV/2-i4an'15'


Carálogo dos Capiráes-mores do Ma¡enháo (l6li-174i) Cód CX-y' I 2 14 a n" 16

Catálogo <1os Capitáes-morcs do Pará (1615 '1745)- Có¿ CXY / 2-14 a n" 17'

Ämérica Abreviada, suas noticias e de seus naturais c em particular do Maranháo, títulos, con-
rendas, e ins!¡uçóes a sua conser\¡âçáo e aumento meis úteìs Pelo PadreJoáo de Sousa Fer-
354 Rodrigo Ricupero

¡ei¡a, presbírero da Ordem de Sáo Ped¡o, natural da vila de Basro. Em Lis6oa,20l05l1693.


Cód- CXVI / 1 8 I voÌ.4'- 185 folhas.

Resposta aos capírulos que deu conrra os religiosos da Companhia (em 1662) o procurador do
Maranhao Jorge de Sáo Paio (Jorge de Sampaio). Cód. CXV / 2-Ir a f_ 152.

T¡asiado aurênrico do Livro Dou¡ado da Relaçáo da Bahia. Cód. CXV / 2-3 | yol. Fol. 647
folhas.

Biblioteca Municipal do Porto:

Cód. 126. - Razáo do Esrado do B¡asil.

Brasil:

Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro:

Annua do Provincial dos Jesuíras , 1584. T¡asiado de 27 serembro de t880. Seçáo de Manus-
c¡iros, L 31,25. 14.

-A.ponramenros que o Doutor Barrolomeu Ferreira Lagarco adminisrrado¡ que foi do Brasil
faz a um papel de advertências que chegou a suas máos acerca do soco¡ro de Pernambeico_
Mad¡id, 12109/1630. Original, I- 1,2,44¡'24.
Aucos e diligências, requ€rimencos e our¡os documentos do Conselho Ul¡rama¡ino ¡eferenres à
permanência dos franceses no Mãranháo e demais assun¡os a ¡espeiro da administracáo na
referida Capìrania. Forte de Sáo Luís, 16i5,i616. Cópias, II 32, 18,21.

B¡eve notícia hisrórica das missóes dos jesuíras no Brasil, Bahia, 1574.Cópia.l,B,J,).
Capírulo soho perrencenre a uma crônica da Companhia no Maranháo, capírulo l3 - )iorícia
dos princípios da missáo do l,{aranháo. Cópìa,Í, 6,2,24.
Carra de El-Rei por que faz mercê aAnrônio de Sousa lìdalgo de sua casa de o prover da capita-
nia do forte do Recife de Pernambuco. Ltsl¡oa, t61061I604. Cópia, I - 4, 3, 4 n" 12.

Carta régia a Diogo Luís de Oliveira ordenando-lhe para quando chegasse a pernambuco e
achasse Frencisco Coelho de Carvalho, que o mandasse imediaramente para o Maranháo.
Aranjuez, l\l\4l1625. Cópia, II - 32, 18,20.

Carta da Câmara de Olinda a El-Rei nociciando que o desembargador Sebasriáo de Carvalho


--. Olinda, 10/12l1608, Cópia, I - 4, 3, 4 n" 13.

Ca¡ra de Alexand¡e de Moura esc¡ira em Olinda para Ei-Rei de Castela ... Olinda, 27101/1607_
Cópia,I - 6,2., 48 n" 19.
A {brmação da elite colonial 355

Carra de Jorge de Albuquerque em que pede a El-Rei muniçóes e armas . Lisboa, 1210l/1630.
Cópiz.I - 6, 2. 48 n' 34-
Carra de Marias de Àlbuquerquc. S. 1., 03/04/1628. Original, I - 1,2, 44 n" 4.

Carra do gor.ernador Luís de Olivei¡a, a El-Rei, sobre náo ser verdadei¡a a informaçáo de es-
tarem 30 cara!'elas inimigas na paragem de llhéus- Bahia, 0710911628. Cópia' I - 6,2, 48
o'26.
Cartas de Matias de AÌbuquerque. Pernambuco, 181021)630 e 22102/1630- Cópias, I- 1' 2'
44, n" 3l.
Cer¡idóes de r¡aslado do liv¡o de saídas e desPachos de navios e urcas da a1fândega de Pernam-

buco de 1595 a 1605. OÌinda,0íl12l1608 Cópia, lI - 33' 6' 30


Comunicaçáo ao Conde Duque sobre a relaçáo de Matias de Albuquerque a respeiro da faha de

mântimentos. Lisboa, 0110711630 Cópia, I - 1, 2,44 n'37


Consul¡a de Estado sobre a ilha de Fe¡nando de No¡onha e informaçóes mandadas a Êl-Rei
D. Filipe II por Matias de Albuquerque sobre a mcsma ilha. Lisboa, 07/03/1630- Cópia,
I-6,2.48n'40
Cópias da correspondência de D. Iradiqr-re de Toledo Osório até a rendiçáo 'ìos holandeses
B^htà, 2810411623 e Jttl04ll623 (sic) (Ano correto 1625). CóPi^, i - 34. 33' 3

Cópias das cartas de Antônio de Albuquerque, capitão da Paraíba em que dá conra a El-Rei em
como os holandeses ... Pa¡aíba, 1710211630. Inclui ca¡ta de lernáo Gomes de Quadros e

Aorônio Cor¡eia. Cópias, I - 6, 2, 48 n' 35-39


Da província do Brasil, do número de casas e Pessoes da ComPanhia que nelas há Cópia II -
19-4 n' 15.

Declaraçáo do francés Guido Cornier, por o¡dem de D Francisco de Texada y Mendoza' sobre
a empresa do Maranhão. Sanlucar, 10/0411616- Cópia, ll - 31,28,27 n' 6

Excerro de uma ca¡ta de Manucl Gomes da Companhia de Jesus para um padre de mesmâ
companhia resÌdente em Lisboe. Behia, 27l0911597- Cópia.,II - 34' 9.2'

Holandeses na Bahia. S. I., 03/06/1638 Cópia,1- 3' 3,33.

Informaçáo dada por Bcnro Maciel Pa¡ente, que foi governador do Maranháo' acerca da cap!
raniâ de Caité, em Madri noano de 1630. S. 1, n'd Cópia,I-1,2'44¡'26-

Informaçáo de frei Crisróváo de Sáo José acerca da chegada da ermada holandes: a Pernambu-
co e do mais que se Passou. S. 1,29104/1630 Cópia' I - 1,2,44 n" 33

Informaçóes prcstadas pelo gove¡nador da Bahia sobre o seminário daquela cidade' com a
provisáo de 12 de feve¡eiro de 1569 sobre a fundaçáo do Seminá¡io, além de out¡os docu-
meoros cor¡elaros. Bahia, 1i69. 8 documentos ll - 33, 18, 5 n'2-
Pareceresdo Conselho de Estado de Porrugal sobre e Perda de Pe¡nambuco Lìsboa, 1630'
Cópia,l - 1,2, 44 n" 34
356 Rodrigo Ricupero

Petiçáo do capiráo Simáo Escácio da Silveira a Sua Majesrade sobre a vantagem da abertura de
um caminho aprovcirâûdo um dos rios do Ma¡anháo pelo qual passariam as riquezâs de
Porosi, desrinadas à Espanha. Madri, 1i10611626. Cópia, ll - 32, i9, 42.
Probança echa de pedimenro del concado¡ André de Eguìno (André Igino) ânre el gob€¡nado¡
de la capirania de San Biçenre en la cosra del Brasil sobre el suçesso que rübo con eÌ yngles
que aÌlo en esre puerto". Sanros 14102/1583. Cópia.II - 35,21, 55.
Provimen¡o da A¡mada que por ordem do Marquês de Casrelo Rodrigo sc apresenta ... Lisboa,
28lII116)0 e 241121t630. Original, I - t,2,44 n' 48.
Relaçáo apresenrada a Sua Majestade a respeiro do araque aos hoÌandeses na Bahia. S. [.,
2qloj/t624. Original. ll- Ji. jl. 1..

Relaçáo de gence, armâ, muniçóes e mâjs coisâs com quc sc prolcram as parres do Brasil e mais
conquisras ... Lisboa,2I17211630. Original, I - 1,2, 44 n' 49.
Relacáo de gente, municóes, manrimenros e mais coisâs que se embarcaram nas quar¡o ca-
ratclas que váo em soco¡ro do B¡asil, rendo por cabo Cristóváo de Mendonça. l,isboa,
0i/01/i63Ì. Original, l' 1, 2, 44 n' 51.

ReJaçáo de serviço que os povos desre reino fazem a Sua M{csrade pa¡a resrauraçáo de Pernam-
buco. S. 1., 1630/1631. Original, I - 1,2, 44 n' 97.

Relacáo de sucesso que reve Silvesr¡e Mânso piloto do paracho ... da jornada que fez da ida e

vinda de Iramaracá ... Lìsboa, t4l08/1630. Cópia, I - 6, 2, 48 n" 43.

Relaçáo verdadeira c b¡er e da romada da vila de Olinda .-. Lisboa, 1630. Orìgìnal, I - l, 2, 44
t" 22.

Relatórìo do PadreJoáo de Souro Maior ¿ ¡espeito do csrado de Pernambuco, ern quc apresenra
a Sua Vlajescade ... Bahia, 1630. Cópiâ, I - 6,2, 47 n" 9.

Resumos de documentos perrencenres ao A¡chivo Gene¡al de Indias, referenres a aconrccimcn-


ros diversos, p¡incipãlmente sobre a empresa do Ma¡anháo, Sevilha (I615). Cópia, ll - 32,
r9,39.
Traslado de uma carra do Pad¡eAnrônio de Soose que foi na armada da Bahia. S. 1., 30/05/1625.
Cópia, Il - 34, 8, 31.

Instituto de Estudos Brasilei¡os (IEB) - Universidade de São Paulo:

Coleçáo Lamego - Códice 81, documenros 1,78.


A formaçáo da elite coloniai i)t

Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro - Rio de Janeiro:

Tomo I (Arq. 1.2.15) e II (Arq. i.2.16) dos Regisr¡os do Conselho l-ilrramarino Porrugués

Tomo XIX dos Regisr¡os d. Étora.

Relaçáo das capitanias do B¡asil, s/d-, Mss. Lata 67, documento 19-

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Agradecimentos

À Profa. Dra. llana Bli¡ (in memoriam), tespoosável pela escolha do ¡ema desta
pesquisa.
À Profa- D¡a. Ve¡a LuciaAma¡al Fe¡lini, ¡¡abalhado¡a incansável, o¡ientado¡a
paciente, professora dedicada e histo¡iadora exemplar.
Ao Programa de Histó¡ia Econômica da Unive¡sidade de Sáo Paulo, onde
defendi a tese que agora é publicada.
À Fapesp eà CátedraJaime Cortesáo, que p¡opiciarem os recu¡sos necessá¡ios
para a realização deste t¡abalho.
Aos P¡ofs. D¡s. Fe¡nando Novais, Joaquim Romero de Magalháes, Caio Bos-
chi e Ma¡ia Fe¡nanda Bicalho, memb¡os da banca, e ao Prof. Dr- Pedro Puntoni,
pelas críticas e sugestóes.
Em Portugal, agradeço aos Profs. Drs- Ped¡o Ca¡dim, Nuno Monteiro, Ma-
falda Soa¡es da Cunha, Tiago dos Reis Miranda, João Carlos Garcia e aos amigos
A.ntônio Simóes do Paço, Raquel Varela, Ca¡los Caetano e, em especlal, Dona
-Alexand¡ina Pe¡ei¡a.
À Joana Monteleone e Ha¡oldo Ceravolo Se¡eza pelas sugestóes e, especial-
mente, pela amizade cotidiana.
Aos amigos e coleg"t Ált'"to Bianchi, -Ana Paula Torres Megiani, Augusto
da Silva, -Avanete Pereira Sousa, Carlos Inácio (ìn memoriøtn), Fá¡ima Toledo,
Henrique Carnei¡o, lgor Lima, I¡is Kanto¡, Joáo Ferlini, Joely Pinheiro' José
Evando Viera de Melo, José Se¡eza, Lea Marks, Luana Schnaiderman, Lelio
Luiz de Olivei¡a, Lincoln Secco, Luís Filipe Silvério Lima, Luís Otávio Tasso'
Lucas Janoni, Lúcia Rodrigues, Luciana San¡oni, Pat¡ícia Valim, Paulo Gonçal-
ves, Rafael Coelho, Rafaella Pilo, Rosângela Fer¡ei¡a Leite, Ruy Braga, Sérgio
Alcides, Silvia Miskulin e Valério Arcary-
Aos funcioná¡ios do Museu Paulista da USP, especialmente Má¡cia de Carva-
Iho Mendo, Célia Ma¡ia de SantAnna, Rosemary Gonçalves, Helton Celso \Øan-
derley e Marlene Alonso. que durante grande parte da pesquisa fo¡am ve¡dadei¡os
"colegas de trabalho".
Aos funcioná¡ios do Insti¡uto de Es¡udos B¡asilei¡os da USP' particularmente
a Ma¡ia Icália Causin, Flo¡a Pacheco e Diva Fe¡ra¡i pela atençáo- Aos funcioná¡ios

391
392 Rodrigo Ricupero

do Arquivo Nacional da To¡re do Tombo, do Archivo Gene¡al de Simancas e do Ins¡i-


tuto Histó¡ico e Geográfico Brasileiro, em especial, a José Luiz de Souza.
Aos amigos Euclides Agrela Neto, Joáo Alberto Fa¡ia, Má¡cio Funcia, Rober¡o
Cosso, Paulo Santos Lima e llagne¡ Dias da Silva.
À minha máe, Neusa Maciel Monteferranle, e ao meu pai, Raul Ricupero, pela
dedicacáo e ca¡inho em todos esses anos.

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