Ricupero, Rodrigo. A Formação Da Elite Colonial
Ricupero, Rodrigo. A Formação Da Elite Colonial
Ricupero, Rodrigo. A Formação Da Elite Colonial
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Copynghr O 2008 Rodrlgo tucupero
Ricupero, Rodrigo
Ä iormação da eÌite colonial: Brasil, c.1530 c.t630 / Rodrigo Ricupe-
ro. São PâLìlo : A1ameda,2009.
Incluì bibliografia
tsBN 973-85-9E125 34-2
CDD:981.01
CDU:9418i)"
A¡rres entaçáo
Íntrcduçáo
Considetacóes finais
Agradecimentos 391
Não sei por que prìncíPia, oa que îtxzá.o Pode ltaucr entre as conqui;tas destas duøs ixdi¿s
Orietxtait e Ocid,e tulis, que o prêmio que sc d.eu aas conqaìstddotes de umas
Frei An¡ónio de Sanra Malia.la6oatão. Notn Orbe Senifu (1761),2'ed ' 2 panes em 3
r-ols. Rio deJaneiro: Insntuto Histórico e Geográñco Brasilerro, 1858, vol. I, p 134.
Apresentação
J-\ esde que pensado¡es da década de 1930 ¡efleti¡am sobre as diferenças da inser-
L) cao das regióes d.a Améri.a no p¡ocesso capitalista, tornou-se Praxe Pensar es
colonizaçóes inglesa e ibérica a partir dos modelos de exploraçáo e de povoamentor.
No caso do B¡asil, a fo¡ma dominante, baseada na grande lavoura de exportaçáo
e no esc¡avismo, fez com que o foco da exploraçáo fosse o mais usual, permitindo,
sem dúvida, entender as linhas mais gerais da economia, nos primeiros trezentos
anos de nossa histó¡ia-
O papel proeminen¡e de uma elite colonial residente, porém, semPre esteve
presence nas conside¡acóes dos auto¡es. Funçáo patriarcal, pala Gilberro Freyre, em
parte endossada por Caio Prado Jr.r. Ca¡acterís¡icas feudais da colonizacão, antes
apontadas por Varnhagen e Capisrranoi, foram realçadas por Nesror Duarce que
destacou esse papel do privado na articulaçáo dos colonos com a Co¡oaa.
Raymundo Faoro, ao Ênal da década de 1950, a partir de uma análise weberia-
na, tomou o patrimonialismo como elemento fundance da reiacáo entre as elites e a
Coroa portuguesat. Mais tarde, com Evaldo Cab¡al de Melo, a açuca¡ocracie Pern¿m-
bucana saiu do complexo da Casa G¡ande 6¿ Senzala e exerceu papel preponderante
9
Rodrigo Ricupero
i-- Ë""ì¿" C^¡r"f æ ¡'¿.f"rc /ìn¿!a rest¿.tnad¿. Rio de Janeiro: Forense, l97j; R.rúro
ueí1,3o ed. Sáo Paulo: Alamed¿, 2008.
7 Floresran Fe¡nandes. Cirørito fechado. Sáo Paulo: HLrcirec, 1978. Para o auror, cra-
rava-se de "Coroa pobre, mas ambiciosa em seus empreendimentos, (e que) procura
apoio nos vassalos, r,inculando-os aos seus obierivos e enquadrando-os às malhas das
estruturas de poder e à bir¡ocracia do esrado pa¡¡imonial", assim "sem ess¿ associacäo
(entre a Coroa e os colonos) náo haveria nem império colonìal porcuguês nem econo,
mia de plantaçáo no Brasil (...) O colono de ¡¡¿¡øs senho¡ial náo só e¡a o vassalo e o
represenranre da Co¡oa na Colônia: ele era, simultaneamenre, a base mareriai visível
e a máo a¡mada invisível da existência do Império Colonial" ( p. 34 e 44).
8 Joáo Fragoso, Ma¡ia Fe¡nanda Bicalho e Ma¡ia de Fárìma Gov'êa. O Antìgo Regime
nos Trópitos. Rio de Janeiro: Civilizaçáo Brasileira, 2001; Ma¡ia Fe¡nanda Bicalho,
"Elires coloniais: a nobreza da rerre e o governo das conquistas. Hisró¡ia e hisro,
riografia" in: Nuno Monrei¡o, Ped¡o Ca¡dim e Mafalda Soares da Cunha (orgs.).
Optima, Prrs, elites Ibero-Atneriunas d,o Antigo Regime. Lisboa: Insti¡uto de Ciéncias
Sociais,200j.
A formaçáo da elire colonial 11
Ve ¡a Ferlini
Vera Lucia Amaral F erljnt. Tcn¡, tabø/ha e poder. Sáo Pauio: B¡asiliense' 1988 '
Introdução
I3
14 Rodrigo Ricupero
Nas ter¡as da Amé¡ica, a política de troca de serviços por mercés ocorreu, em con-
texros diversosi, desde a época das Capitanias Heredirárias até o período do Reino Uni-
do, quando detento¡es de posros esrarais consrruíram grandes fortunasi. Já no primeiro
século, tal arranjo evidenciou-se na procura pelos vassalos de recompensas por seus servi-
ços, as chamadas "honras e me¡cês", ráo freqüentes nos documentos da época.
A lógica da .roca de serviços por mercês foi utÌlizada pela Monarquia desde a
reconquista no próprio Reino e depois po¡ ¡odas as larirudes e longitudes de seu Impé-
rio, porém, graças às especiâcidades de cada local, esra lógica conrribuiu para moldar
sociedades dife¡en¡es-
Exemplo disso é o caso da capitania de Sáo Paulo, analisado por Ilana Blaj, que
observou como "por meio da discribuiçáo de mercês e honrarias, cargos e rerras, bas€
para o presrígio e o poder da elire, a Coroa consegulu os présrimos de seus leais vassa-
los, reforçando a sua própria auroridade e forralecendo, igualmente, a dominaçáo, em
âmbi¡o local, das principais Famílias pauliscanas"i.
Àssim, chama a.encáo, rÌa hisró¡ia coloniaÌ b¡asiÌei¡a, o imbricamento entre as
esfe¡asdo público e do privado, refìetindo-se na relaçáo, confusa muita vezes, eût¡e o
Estado e os parricularest'. Para Fernando Novais, rais inscâncias "já náo esráo indistin-
ras, mas ainda náo esráo separadas"i, deforma que podemos corÌsrarat po¡ um Ìado, a
Coroa repassar tarefas, que arualmenre sáo iminentemente públicas, a particulares (por
exemplo, adminisrraçáo de rerrirórios ou cobrança de imposros) e, por ourro, as pessoas
Ci Roberro C. Srmonsen, Hitóïi,z EQ ónìtz1 do llr¡:ít.8" eà. Sâo Peuìo: Companhia Editora
Nacional. 1978, p. 372.
Em 1796, o hábito da Ordem de Cr;sro loi prometido como prêmio, peìa Raìnha D Marìa
I.aos ve¡cadores das Cârna¡as qLre aponrassem as meihores soluçóes para a substiruiçáo do
imposro do salsen comprometer as receiras do erário régio' anos depois os vereadores de Sáo
Paulo reclamavam o prémìo de seìs hábitos da Ordem de Cristo ao secre¡ário dc Fs¡ado D'
Rodrigo de SoLLza Coutinho. Cl. M1rìam Ellis, O Monopólio do Sal no Eca¿lo ¡t-o B¡as;Ì Sio
Paulo: USP, 1955, p. 17i e 188.
16 Rodrigo Ricupero
Cl. Pt'¿Io P rado, Pat¿li¡tica. Sáo Paulo: Ed;rora Monteiro Lobaro, 1925, p. 98.
A formacáo da elite colonial 17
pos Moreno no Liuro que dá razáo ¿o Estuda do Brasil, espéc\e de relató¡io de 1612,
rratando das possibilidades de desenvolvimento da capirania da Bahia, aû¡mou "ram-
bém para isto se¡viráo muito as hon¡as e mercês de Sua Majesrade que nåo cusrarem
fazenda, para dar ànimo aos mo¡ado¡es ¡icos a faze¡em muiros" engenhos de açúcarre.
Os governadores e outros funcionários náo só solicitavam ao rei benesses para si
próprios ou para dete¡minados indivíduos2o, mas, como represemanres régios, distribu,
íam eles próprios, de aco¡do com suas possibilidades, diferenres ripos de recompensas,
posteriormente confi¡madas pela Coroarì, Exemplo disso era a ve¡ba, esripuiada em
regimento22, de que os governado¡es dispunham para agraciar lir.remente os servido¡es
que achassem por bem, contudo nem essa verba nem as demais possibilidades eram su-
ficientes para atender a todos, daí o lamenro de Diogo Borelho, numa carta ao capitáo
do Rio G¡ande: "folgara muito de ter poder de Sua Majestade para poder fazer muitas
mercês e mais larguezas a todos seus vassalos morado¡es neste Esrado, mas náo me deu
(o rei) mais de mil cruzados para poder despender em me¡cês e assim reparro"2i.
Diogo de Campos Mareno. Líura 4ue dá razão da Estado do Brasr¿ (1612). Recife: UFPE,
l955, p. 139. Boxer destacaessa opiniáo ao chamar atençáo para o fato de que os governadores
"fazíam lembrar a Coroa que ... a distribuic,ão le hlis rercmpertas lc?rerentaria a melhor c mais
barato meio de garantb... "a duvidosa lealdade dos poderosos do senáo. CharlesBoxer. Idad¿
dc Oaro do BrasiÌ (taàucáo), 3" ed. Rìo deJaneiro: Nova Fronterra, 2000, p.327.
Ver os pedidos de mercês ferros por Mem de Sá, em seu testamento, em falor dos 6lhos, do
sobrinho Saivador Corrêa de Sá e dos criados. "Tescamen¡o de Mem de Sá" de 1569, publica-
do em Documentos para a Históli¿ ¿o Açúcar, Op. cit.,vol.lII. p.12.
Difíci1 oáo lembrar que o primeìro pedido de uma ".nercê" de "nosse história" veio no finâl
da cana de Caminha em 1500. Ver Jaìme Corrcsâo, A C¿rta r/e Pero V¿z àe Caminh¿. Rio de
Janeiro: Livros de Portuga,l, 1943, p. 241.
"Regimenco de Tomé de Sousa" de 17 de de¿embro de 1548, publicado por Carlos Malheiro
Dias (D1r.), Históri1t ¿a Colonizacáo ?orø'.guesa do Br¿sí|,3 vols. Pono: LitograÂa Nacional,
1922, vol. IlI, p. 345 (Citada daqui em diante apenas como lllst¡jria da Colanlzar;¡ Pn,t*-
gue:a da Brasil); em Mârcos Cerneì¡o Mendonca (org.), R¿'?es da Formaç,ão Alministratiua
do Brasil, 2 vols. Rio de Janeiro: Instituto Histórico e GeográGco Brasilerro, 1972, I, p- 3i
e, cnrrc our¡as ediçóes, destaqÙe-se a mais recenre leirura do documenro por Susana Münch
Miranda. prbììcada na já cnad,a revisra, Mare Liberum, lt-, p. 13. Ou, ainda, no de F¡ancisco
Gi¡aldes, Ci "Regimenro do Governador-geral do Brasil" de 8 de março de 1588, publicado
nos Doa-mentos para a Hi*ória do Açúcar, Ap. dt..wL1,376.
"Relaçáo de AmbrósÌo de Siqueira da Receira e Despesa do Ðstado do B¡asil" de 1605,
pÃ1iczð;t nz Reùsta da In*ituto Arqueclógico, Histririca e Geagrlífco Peruanb cano, vol. 49,
1977. p. 174. As ca as de D. Joáo de Casrro. qu¿rro vice-rei d¿ india. mosr¡¿m rambém as
dì6culdades dos goverrìanres em conrenrar a todos, ávidos por honras e riquezas, ranto que clc
se.é "perseguido pelos homens, dos quais uns the pedem dinheiro, out¡os ofícios e e
'iagens,
eJeainda náo tem 5 pâes c 2 peixes pâra 5000 homens, nem merecimen[o pâra Nosso Senhor
fazer miìagres por ele"- Este mesmo governador organizou um livro pârâ reg;s
pensas feiras após o segundo cerco de Diu, "Liwro das mercés que fez (D. Joáo de CastrQ aos
18 Rodrigo RicuPe¡o
homens que serviram el-rei Nosso Senhor no cerco de Diu", pubhcado ûa Hist¡i'ri¿| Q inhen-
îìtt,z (itú¿¡tu) ¿o seg do cerco tu Diu, prelaciada por Ànrónro Baiáo, Coinbra: imprensa da
Universìdade, t92Z p. 296 e seguintes.
Após conquisra do Rio deJaneìro, Mem de Sá concedeu o título de cavaÌeiro para o piÌoro
a
Manoel Gonçalves, que seria conÊrmado posieriormenre por D- Sebâsriáo, mesmo Procedì-
menro revc Crisróváo Barro após a conquista de Sergipe. CL "Cana régia de D. Sebastiáo"
de 16de julho de 1561. Cf. Joaquim Veríssimo Ser¡áo, O Rio y'.eJaneirc uséc oXVI,2rcIs.
Ljsboa: Comissáo do IV Centenárro do Rio de Janeiro, 1965, vol. Il, p 48 e Frei Vicente do
Sa.l"-zdor, Hi:¡ória do Bra:íl 't627).5" ed. Sáo Paulo: Melhoramentos, 1965, p. 302 Para o
século XVII, ve¡ os Lnúme¡os casos de títu1o e hábi¡os concedidos aos combatenres nas guerras
conr¡a os holandes.s, reunidos por Francisco de Àssis Carvalho Fral'co. Nobilítíria Coloùdl'
2'ed. Sáo ?aùÌo, Inriruro Genealógico Brasilei¡o, sem data.
Simáo de Vasconcelos, Crôniu da Cotnpaahía de Jesu:, 2 ':oIs. Petópolis: Vozes, 1972 vol. II,
P.45.
Ver "Cana Régia para Matias de,{ibuquerque" de 14 de maio de 1633 em que o rei dizr "Hei
por bem de the lazer mt¡cê do hábiro da Ordem de Cristo com quarenra mil réis de rend¿s e
que se lhe passe parenre de capitáo-mor dos índìos potiguares com oulros quaren¡a ñil réiç .le
soldo ... c se ihe dé Lrm brasáo de armai', publicado porJosé Ànronio Consalves de trIeÌlo. numa
brochura in¡i¡r¡lada "D. rtnrôrro Filipe Camaráo", p. 6, clue lor reunida posreriormente com
ourras biografias, mantendo, conrudo, a paginaçáo original de cada uma deLas. José Anronio
Gonsalues de Melio, R¿stau¿lore¡ ¿le Pern¿¡,'b'az. ReciÍè: lmprensa Unìve¡sitária, L9ó7
Florcs¡an Fe¡nandes. Op. ùt-, p.34. Para uma visáo geraÌ das sesmariâs,
CosaPorrc, Enr¿io sobre o:í¡tern¿ se¡ma¡i¿l. ReciÊ: UFPE, 1965.
Ra,"mundo Faoro rambém desracou o papel que a terra e os cargos váo desempenhar na
translerênc¡a da ordem esramenral portuguesa para o BrasiÌ. Raymundo Fao,o, Os Dono¡ lo
Po¿l¿r,2 vols., 9' ed. Sâo Paulo: Globo, 1991, ?¡tsshn.
A formaçáo da elite colonial
seguinres.
30 Daisl'Âbreu. Op cit., p.47.
31 Ver Cleonir .{lbuqucrqc, Op. rir., pas:ím e Ê"aldo Cabral áe l'lello, Rubra 1t"¡¿.3" eê..
Sáo Paulo: Ahmeda, 2008, p. 120. Já em 1633. os cargos do F-stado do Brasiì eram, por
decisáo régia, proridos apcnas ¿os "qr.e na dìta gacrra (conrra a Hoianda) asrlrdrm efzeren
n¿r¿cime¡t¡as". Contudo, os prêmios, no caso cârgos, podìam ser em áreas distaDres. 2\çinl
várìas figuras imporranics da guerra holandesa tarnbém loram agraciadas com postos im'
portanres na Álrica portugucsa, corno Joáo Fc¡nandes Vìeira e André \¡rdaì de Negreiros,
goleroadores dc Ângola, rer José Antonio Gonsal"es de L4ello, Jo,lo Fern¿n/e: Vieìra,2
vols. Recife: Imprensa Universi¡á¡ia, 1967,II. p.165 e 194 e Lurz Fehpe de Alencastro, O¡.
tit., p.271-3.
A Igireja na colô¡iâ pode ser considcrada um ¡amo da adr¡ìnis¡¡acáo réeia, tema que rctoma-
rcmos adjan.e- Àssim, o Bispo rambém vai te. um papel rele.ante no pror imento de cargos,
particularmenre em Sahador, ¡á que a consrìruiçáo do Cabido da Sé em Salvador prcr ia a no-
meaçáo de váríos postos eclesiásticos, amplìando cm muito a es¡rutìr¡a eclesiástica å¡E cntáo
70 Rodriso Ricuoe¡o
açóes feiras di¡etamente na colônia, mas, dadas as dificuldades das comunicaçóes, tal
con\uìrã poderi¿ lev¿r ano. para obter um¿ resPosra .
Às rendas, como as famosas tenças, tinham importância maior em Porrugal, mas
eram pouco comuns para os vassalos aqui estabelecidos nos primeiros tempos Muiros,
porém, já as haviam ¡ecebido em Portugal e acabavam por receber no Brasil, havendo
para ranro insrruçóes para o registro des¡as nos livros do provedor-mor, Para seu pos-
rerior pagamenro. Por our¡o lado, como.já apontado, os Governadores-gerais possuíam
verba em dinheiro para dist¡ibuir como recomPensas.
Pedidos de mercês e rencas e¡am comurts nas ca¡tas enviadas ao rei, como, por
exemplo, as de Afonso Gonçalves de 1548 e a do licenciado Manuel de 1550i4, em que
esre lembra ao ¡ei da "mercê que me prometeu fazer (pelo bispo de Sáo Tomé) pedindo-
Ihe eu uma terça dos dízimos desta igreja (...)" entre outros pedidos. Além das tenças,
eram freqüentes os pedidos de oficios, dignidades eclesiásticas, ajudas de custo, isençáo
de impostos, ent¡e outras coisas-
No periodo filipino, o acordo ent¡e a Co¡oa e Gab¡iel Soa¡es de Sousa é exem-
plo interessante dessa política, por reunir uma sé¡ie de prêmios. Por ele, o moqarca
concedia uma sé¡ie de di¡eitos e privilégios a serem Postos em prática após a con-
quista da regiáo do Sáo F¡ancisco, onde se espe¡ava encontrar metais preciosos. Caso
a expediçáo houvesse sido bem sucedida, Gab¡iel Soa¡es de Sousa poderia nomear
funcionários, disr¡ibuir determioado núme¡o de cítulos nobiliárquicos entre oûtras
vanragensit-
Os exemplos podem ser mukiplicados para todas as áreas e para todo o período
colonial e mosr¡am como a Co¡oa se urilizou da distribuiçáo de: cerras, títulos nobili-
árquicos, cargos, lencas e ourras me¡cês, como insrrumentos para vincula¡ os vassalos
aos seus projetos- Com a criaçáo do Governo-geral, como vimos, esses ins¡rumenros
passaram a ser merejados também a parrir da própria colônia, pelo represenrance do
sobe¡ano, embo¡a, ao iìm e ao cabo, as concessóes dependessem de posterior confir-
maçáo régia.
Os vassalos, é claro, procuravam meios de merecerem ¡ais "hon¡as e mercês"-
Assim, é comum enconrra¡mos moradores, por exemplo, armando, por sua própria
conta, caravelas conc¡a os f¡anceses no Rio de Janeiro ou, ainda, no início do XV]I,
Raymundo Faoro diz que'Ìodos os cargos elevados - que davam nobreza ou quaÌificavam
origem aristocrática-, como os cargos modesros hauriam a vida e o calor do tesouro, direta-
menre vinculado a vigilância do soberano'l Raymundo Faoro, Op. cít., p. 84.
"Car¡a de ÂÊonso Gonçalves" de 10 de maio de 1548 e "Carra do licenci:do ManueÌ a el-¡ei"
de 3 de agosro de 1550, prblicadas na História àa Colanizaç,io Portuguesa do Brasil,voI.lIl, p.
317 e 3i9.
Ver docnmenros publicados porJaime Corresão em Pauhce¿e Lustuna Monum¿nta Hl¡torlca,
2 romos em 3 vols. Rio de Janeiro: ReaÌ Gabinere Ponuguês de Lei¡ura, 1956-61, romo I,
p.407 e seguinres.
A formação da elite colonial
baixo escaláo, favorecia a integraçáo desses homens na eltle que se estara fò¡mando O
caso de Garcia Dávila exemplifica a ¡¡oca de serviços variados prestados à Coroa por
rerrasr cargos e títulos. Primei¡o feito¡ do A¡mazém Real de Salvado¡, Ga¡cia D'Ávila
recebeu terras na capicania da Bahia, dando início ao maio¡ latifúndio de nossa histó-
ria colonial, posteriormente conhecido como Casa da To¡re!]
A proximidade com o poder permiria ao funcionário maior lacilidade para ob-
tençáo de te¡¡as, escravos e outras vantagens. Além disso, a maioria dos funcioná¡ios
recebia o¡denados, nem semPre Pagos em dinhei¡o, mas que Permitiam a obtençáo de
c¡édito ou mesmo o escambo com os índios, conseguindo força de trabalho, manti-
"proes
menros e mercado¡ias, Our¡os cargos cinham seus emolûmentos, os chamados
e precalços". O juiz da balança da alfândega recebia um real por quiotal de pau-brasil
pesado; os provedores, 29o das rendas da capitania; os escriváes das provedorias, 190, o
que permitia, segundo Frei Gaspar da Madre de I)eus, que esses concentrassem a m¿ior
42 Como nos lembra Ilana B1aj, a elire coLonial Pã¡ticiPou "âtivrìt¡enre da empresa colonial,
inregrando-se nurna vâsca rede de fa.'ores e deveres na qual preponderava ¿ comrr¡h¡o de
ìnrcresses conÌ a Coroa. ConjunruraÌmente as relaçóes poderiam ser ¡ensas . - mas' eslrucu-
ralmenre, náo existiam dìvergências, pois o qu. preponderava eram os ideais dc un unn erso
esramen¡al-cscravista", Cl ILana Blaj, Op ctt., p.342
Vera Lúcia Cosra Àcrolì, Jurt:r'içäo e confíras. Recrte: Ed. UFPE e lvlaceió: Ed UFÄL' l99Z
p. l Cabe desracar ainda que por ''elire" enrendcr¡os Lrma minoria derentora do poder econô-
mìco e polirico, ou seja, o setor dominanre, no caso, da sociedade colonral Sobre o assun¡o,
veja+e Maria Ferna-nda Brcalho, "Elites colouiais: a nobreze da rer¡a e o governo das conqu is-
ras. Hisróriâ e hisroriogralìa", in: Nuno \{onrei¡o, Pedro Ca¡dim e Maíalda Soa¡es d¡ Cr¡ nha
(orgs.). Optína Pars, ¿t¡¡¿s lbero-Aneríc¿¡tøs do Anriga Regime Lisboa: Insri¡tto de Ciéncias
Sociais, 2005, p. 73 e scguìnres- Para a discussáo mars ge¡alsob¡e o tema' ver Norberto Bo-
bbio: "F-li¡es, reori¡ das", in: Idem et aIIi. Dícion¿río ¿lè Palític¿ 7 ed. Brasília: Ed. t-'NB,
r99i.
Ver Pedro Calmon, ,Éy'¡ sróùt da Cø¡ø ¿la Torre. Rio de laneìro: José Ol¡'mpio, l9i8 ou o re-
cenrc livro de Luiz .{lbeno Moniz Bandei¡a, O Feùo. F.io de lneiro: Civilizaçáo BrasÌleira'
2000. À chamada Casa da Poore, consrdcrada como o segundo maior latilúnciio, também tem
uma origem semelhante, começando com as terras recebidas por Ântôûio Cuedes' ¡aheliáo de
Salvador, logo nos primciros rempos da crdade
A formaçáo da elire colonial 23
parte do escasso nume¡á¡io que circuleva oessas partes do Brasilat e nas capìcanias
mais desenvolvidas, como Pernambuco e chegassern em alguns momenro\ e a aringir
o¡denados altíssimos, comparár,ris aos dos cargos mais importantes da adminiscraçáo.
A isro, acrescenre-se que todos os cargos conravam com ce¡.os privilégios e liberdades,
o que numa sociedede marcada por valores estamentais e¡a de suma imporcância.
A participaçáo na administraçáo facilitar.a, sem dúvida, a inserçáo nas atividades
econômicas, lais como comé¡cio de pau-brasil, exploraçáo agrícola e construçáo de
engenhos, e permiria assim a formação de grandes parrimônios, como, por exemplo,
os de Mem de Sá e C¡istóváo de Bar¡os que se tornaram senhores de engenhos e de
esc¡avos.
No século XVI e início do XVII, uma parcela imporrance da elite colonial foì fo¡-
mada em virtude de sua participaçáo no governo da conquisra, o que reria permitido
a consolidaçáo de um parrimônio, que, por sua vez. garanriria a execuçáo das rarefas
exigidas no processo de colonizaçáo. Em períodos posteriores, te¡íamos uma ln\€rsáo,
com a elite colonial já constituída fornecendo os quadros para a administraçáo.
O período de constituiçáo da elite colonial, a partir da pa¡ticipaçáo na admi-
nrstraçáo, re¡ia ocorrido, grosso modo, de 1530 - inicio da colonizaçáo de fato - até
meados do século XVII. Nesse período de conquis¡a e consolidação da costa atlântica,
entre Sáo Vìcente e Belém do Pará, cada erapa de avanço serviu para o fo¡ralecimento
da elite colonial em formacáo, que se firmou ao aproveitar a possibilidade de ocupar
novas terrasr de obte¡ esc¡avos indígenas ou de ocupar novos cergos.
Tal processo de formaçáo da elite, que combina acesso a cargos, obtençáo de
me¡cês e consolidaçáo de patrimônio, já se delineava a pa¡rir de 1530, mantendo-se
nessa dinâmica aré 1630, ou seja, coincidindo com o processo de conquisr¿ e ocup¿çáo
"O dinhciro vinha do Rei¡o, e pouco: quase todo ia parar nas raáos dos ministros, Párocos e
o6cìais de justiça, e po¡ esra razáo e¡am ofícios cáo estimados, que muìtos Fidalgos e pessoas
nob¡es da ¡erra serviam de escriváes e tabeliáes". Frei Gaspar áa Madre àe Deus. M¿¡ntjrias
p,7/ã a hi\tóri¿ ¿â üpítania àe S,1o Vicente. (1797), 4" ed. Sáo Paulo: Edusp e Bclo Horiz-onre:
Iraria.ia.1975, p.87.
Caio Prado Júnior nos lembra que a idéìa de povoar eleti.-amente as novas áreas dcscobertas
não es¡ava nas inrerìçóes dos po!'os curopeus, contudo, dada a ìmpossibilidade de Lrm co-
mércìo signi6catiro com os nativos das te¡ras americanas, diferenremente do que ocorreu no
Orienre, o povoamenro e, em seguida, a organizaçáo de esrruturas produrivas foram a soluçao
enconrrada para garanrir a posse das no.as áreas, que acabariam se inserindo no comércio
europeu, dentro do contexto da colonrzaçáo mode¡na. Cl Caio Prado Júnlor, Forn¿úo do
Bmsil Cantcmporánea. Sáo Paulo: Ma¡¡ins, 1942, p. 17 e seguinrcs.
24 Rodrigo Ricupero
47 lbi¿e 7, p.25.
4S Ëxemplos disso sáo: a disrrjbuiçáo de rerras sobre es quâis aPenås incidia o dízimo; a ampÌa ii-
berdade de escravizâçáo dos indígenas: a pequenacarga rributária, incluindo mesmo ¿ isencáo
do dízimo por l0 anos para os novos engenhos, a liberdade de comércìo com os estr¿ngeiro5
e a possibilidade de beneÊciamenro dos produtos coioniais na própria colônia. !'eja-se, por
exemplo, MariaJosé M- B. Choráo (Ed.). D¿øçóu eforais àas capitanias do Brusì|, 1534 - 1536
Lisboa: A.rquivo Nacional da To¡re do Tombo, 1999.
49 Sobre o rema, vela-se Fernando Novais, P¿z¡zqal e Brasíl na cri:e do Antigo Sístema Colanial
(17771808), 6" ed. Sio Paulo: Hucitec, 1995, especialmenre a parce I do capirulo II, 'Estru-
rura e dinâmica do Srscema', p. 57 e seguintes. Também Luiz Felipe de Alencasrro, O2 rrr,
parricularmente o primeiro capírulo "O aprendizado da colonizaçáo", p. 11 e scguinces.
iO As resrricóes à liberdade de comé¡cio iniciam-se com a ler de 3 de novembro de liTi de D.
Sebasriáo em lavor dos nâvios porrugueses, mas ganha maior conrundência no periodo lìli
pino com lei de 9 de fer.ereiro de 1591, que vedava a ida de navios escrangeiros sem licença
a
especial aos domínios porrugueses. Em seguida, em 5 de janeiro de 1605, outra lei vrsava
especialmenre ao comércio hoLandês e, por fim, em t8 de março de 1605, Fìlipe ll ordena.a
que nenhum navio esrrangeiro poderia ir à Índia, Brasil, Guiné e Ilhas de Sáo Tomé e Cabo
Verde, bem como todas as ourrãs possessóes, com exceçáo das Ilhas dos Äcores e da Madeirå.
A primeira ea úlrima lei po¿€m ser vistâs em Marcos Carneiro de Mendonça (Org.), ,Rø1zar
A formacão da eliie colonial 15
vizacáo dos índiostr, com o incenrivo paralelo ao r¡áfico de esc¡avos afrìcanos, acabou
por permitir a consolidacão da exploracáo colonialt2.
A exploraçâo, nesses moldes, permitiu que os ganhos gerados no novo mundo fos-
sem, em maio¡ ou meno¡ medida, drenados para o velho mundo, transformando as
novas áreas em colônias, náo no sentido clássico do ¡ermo, mas no mode¡no: do Ancigo
Sistema Colonial, ou seja, o sistema colonial do me¡canrilismo que pressupunha que as
colônias consciruíam um fato¡ essencial do desenvolvimento econômico da meuópolet..
Neste sentido, o período en¡¡e c. 1530 e c. 1630 é o momenro-chave para com-
preendermos estes dois processos combinados de gênese da eiire colonial e de conquis-
ta rer¡i¡o¡ial na fachada atlântica, ambos inrimamen¡e ligados à formaçáo do -Anrigo
Sistema Colonìa1.
Dessa forma, o marco inicial da pesquisa, c. 1530, é o momento em que a política
da Coroa portuguesa de defesa das te¡¡as americanas, que lhe cabiam pelo tacado de
Tordesilhas, dá um sal¡o de qualidade, com a iniciariva do por.oamenro das ¡e¡¡as da
cos¡a do Brasil. Seus passos iniciais fo¡am a expediçáo de Ma¡rim Afonso de Sousa,
da Formaçáo A¿ninit dtiuado Br¿sil.2 vols. Rio deJaneiro: Instiruto Histórico e Geográfico
B¡asilei¡o e Conselho Fede¡al de Cuku¡a, 1972, respecrivamenre, vol.l, p.203 e 367; a lci
de 1591 vem publicada nos Documentos para a Hìstória do Açúcar. Op. cit., rcl1, p. 379 e a
lei de 5 de janeiro de 1605 pode ser consultada no chamado Livro das Leis, .-ol. II, fl. 80 no
Arqurvo Nacronal da Tor¡e do Tonbo. Sobre o assun¡o, r,e¡ ¡ambém Arrhur Cézar Ferreira
Reis, "O comé¡cio colonial e as companhias privilegiadas", in: Sérgio Buarque dc Holanda
(Dir.). A época colonial, ào descobriøento à expllns,io ærritorial,4" ed. S:o Paulo: Difel, 1972,
p. 312 (Tomo I, vol. 1 da coleçáo História Geral da Civiiizaçáo Brasileira, 11 vols.) c Fernan
do Novais, Op. rir, capículo II.
A primeira medida conc¡eta vem com a lei de D. Sebastiáo de 1570 proibindo o caciveiro
dos índios, exceto os tomâdos em guerra jústa. Depois, aré 1630, seguem pelo menos mais 7
leis ou alva¡ás sobre o remå. A lei de D. Sebasriáo de 1570 pode ser visra, entre ourros locais,
na ob¡a ci¡ada de Marcos Ca¡neì¡o de Mendonça,, Op. cit.,vd.I, p. 33t. Pere o assunto, ver,
por exemplo, John Hen;.lr,ing, Red Gold. Czmbridge: Harvard Uni.'ersity Press, i978, p. 15i
e segLrinces e 3i2 e seguinres e José Osca¡ Beozzo, Le* e reginentos das mls¡á¿¡. Sáo Paulo,
Loyola, 1983, que inclui a "c¡onoloeia da esc¡avidâo de índios no Brasil", de Décio Freitas,
em quc csre lisre as leis e alverás sobre o.ema. Além desres, no sérimo capítuio deste trabalho
desenvoh'e¡emos esre assunro.
Náo cabe aqui uma discussáo sobre se as decisóes referen[es à adocáo do monopólio metro-
polirano ou à resrriçáo da escravidâo indigena fo¡am romadas como conseqüência de fatores
e\rr¿-econòmicos, - polirico e rcligio'o ou n:o. m¿. ¿pen¿s ¡€sisrr¿r suâ5 conJeqüérci¡5
para o processo de colonizaçáo.
Ta1 idéia. con¡udo, só âpareceriâ expliciramenre fc¡mulada no século XVIII, como, por
exemplo, no anônimo "Roreiro do Ma¡anháo a Goiás" (século XVIII): ',4s colôníat (..) úo
estabelccida¡ em atilidade d,a netúpole", p'tbllLcado De Reuista ¿o Insttuto Histtînco e Geogruífco
Brasílelro, rcnoLXII. p. 102. Ver ainda, além do livro cirado de Fernando Novais, E1i Hecks-
cher, La Epoca Mercantilísta (.'raàt:.çâo). México: Fondo de Culrura Económica, 1943.
?.6 Rodrigo Ricupero
Sobre a ocupaçáo dessa regiáo, r-er o capiculo "No íntimo dos se¡¡óes" do livro de Pedro
Pu¡rcnt, A Guen¿ dos Bnrk'.ros, pouos indígenas e a ølonização do sett¿lo aordest¿ da Brasll,
1650-t720. Sâo Pa¿lo: Edusp e Hucirec, 2002.
Anronii analisando a ocupaçâo do serráo aponta essa inc¡ível concenrracáo de rerr?s nâ máo
de poucos proprierános, faro que levou Capìsr¡ano de Abreu a dizer que rais terras trnham
sido obridas mais com o papel e a rinta dos pedidos de sesmarias do que com um eslorço real
por parre dos grandes proprierários, como os D'Ñrla da Casa da Torre, comentárìo que Mo-
niz Bandeira qualilìcou de inconsisrenre na sua hjsrória desra casa. A reaiidade, porèm. e que
já na épocase chamava arençáo pa¡a a vìolência dos grandes senhores em se assenhorar das ¡er
Maia da Gama, governador-geral do Esrado
ras conqursradas por orìrros, pois, como Joáo da
do Maranháo enrre 1722 e 1728, que na voka ao Reino passou pela regiáo, relara: "indo vários
descobndores com despesas de suas fazendas e com evidente perigo de vida... descob¡iram
sírios e porrcaram-nos e defenderam-nos do genrio com perigo e morre de muiros e depois de
estabeiecidos vinham os procuradores da Casa da Torre, e por forma, ou os faziam despejar,
A formacáo da elire co oni¿l l;
a de Sáo Vicen¡e.
Dessa forma, após 1630, a chamada "guer¡a do acúca¡" mobìlizou as atençóes da
Coroa. Os serviços mais imporrances nas partes do Brasil passârâm a ser a participação
ou o financiamento da guerra. Pa¡alelamence aos combares, ocor¡€u um profundo re-
arranjo das elires nas áreas ocupadas ou próximas: com o deslocamento de parte da eii-
re pernambucana pa¡a a Bahia, associando-se aos grLLpos do Recôncavo e o surgimento
mais poderosos, mais facínoras, e mais tcmidos que s€mprc até hoje em dia usa¡am e usam
desras violéncias'. Cf. ¡espectivamente André Joáo Antonì1, C t-"'ra e opulôncía tlo BrasìÌ par
:aas drcga: e rninas 11711), introduçáo e comenrário crírico por Andrée Mansuy Diniz Siha.
Lisboa: Comissáo Nacional para as Comemoraçóes dos Dcscobrimenros Portugueses' 2001'
p. 324; Capistrano de,{L'rcù, CãPitulas de Histtirìd ColoníaÌ,3" eà. Rio deJaneiro: Sociedade
Capistrano de Abreu, 1934, p. 140; Luiz Alberto Monjz Bandeìra, OP .iî , P. 199 e Joáo l'Á^ia
da Gama, "Diário de viagem de regrcsso ao Reìno ..." (ì728), rn: F. Ä. OÌì¡'eìra Manins' Llz
Heróí Esquecido (Jona àa Mdi¿ da Ga.ma),2'¡oIs. Lisboa: Agência Geral d¿s Colônias, i944.
vot. It, p. 27.
56 E"aldo CabraÌ de lr4clla, Ollndd Re:t¿ltra.d¿. Rio de Janeiro Forense e Sáo Paulo: Edusp'
1975.
Ver Eric Hobsbawm, 'A C¡ìse Geral da Economia Européia do Século XVII"' in:,4s arzþz:
da Rez,obcáo Inrlucritl (traduçâo). S:o Paulo: Global, 1979 e Immanuel -Valle¡stein, O Sls¡¿-
m1lMun¿rrl Mo¿,ema (rraduçáo),2 vols., Porro: Afronramento, s/d.,Ainda Peter C Emme¡.
"The Du¡ch and making of the second Arlantic System", in: Barba¡a L. Solo'" (edited bi'
Sløuery ønd the rise afthe Atlantic Syste,n- Cambridgc: Cambrìdge Unìversity Press. 1991, p.
76 e seguinres e Ruggiero Romano, "Ber.r-een the sixreenrh and scvcnreenrh centr¡¡;es: rhe
28 Rodrigo Ricupero
cconorric c¡isis of 1619-21", in: Ceoi¡rev Parker and i.eslci M. Snirh ie¿iÊ¿b\),7"¿ Gerì¿r¿l
Ctisn afthe Sexetnh Ceztt1,, )' ea., Lan{on and \erv York: Rourlc<Jgc, 199,-r
t8 Eric Hobsbarvm. Ap. cit., p. )3.
t9 Eûrner, Op. ci., p.76. \¡eja-se aìnda Airce Car'at>rara.. O nçtl,:ar nn: Ánilh¿: 11697
Pcrer
.1õt. Sáo laulo: i¡ìsriruto dc Pcs<luisas Èconômicas, 1981, p. 24í c 246.
A formaçáo da elire colonial 19
Dessa maneira, essa nova fase, simbolizada pela ocupaçáo de Olinda em 1630,
marca¡ia a passagers das novas porôncias coloniais de uma fase de mera pJrataria para
ou.ra mais sisremá¡ica, de ocupaçáo e exploraçáo. O confli¡o global entre portugueses
e holandeses se¡ia rarrbém o conflito de diferentes lógicas de exploraçáo colonial e se-
ria, em síntese, nas palavras de Cha¡ies R. Boxer: "Essa grande guerra colonial tomou
a lo¡ma de uma luta pelo comércio de especiarias da Ásia, peìo rráfico de esc¡avos do
oesre da Áfrico e pelo comé¡cio de açúcar do B¡asil. Ao mesmo rempo, pode-se dizer
que o resultado Ênal foi a vitó¡ia da HoÌanda na Ásia, o ¡esenho do oesre da Áf¡ica e
avi¡ó¡ia dos porrugueses no B¡asì1"- O resultado, ltaturalmen.e, dependeu do grau de
pârticjpaçáo dos portugueses nos processos de produçáo, pois, ainda, pa¡a este autor
"os porrugueses. cnquanto colonìzado¡es, com todâs as suas falhas, haviam c¡iado ¡a-
ízes no Brasil; por isso eies náo podiam, como ¡egra do jogo seren-r ¡eri¡ados de cena
simpÌesmente poi uin ou vários ataques navais ou milira.¡es''6!-
Quanto ao recorte espacial, ¡rabalhanos co¡n rodas as áreas ocupadas pelos por-
¡ugueses) a1'a¡Ìcardo das capitanias originais às nor.as conquistas, acompanhando a
expansão terriror;al, i¡do, assim, aré urn pouco depois da ocupaçáo da foz do Rio
Ar¡azonas e da formaçáo da capìtanìa do Parâ em 7616. Não lemos, também, incon-
venientes na inclusáo da região do \4aranhão e do Pa¡á, pois a criaçáo cio Estado do
Ma¡anháo é de 1621, e a eferivacáo -só oco¡Íe em 1626. Dessa forma, dur¿nte p¡¿tic¿-
mente rodo periodo proposro, o conjunto <ia costa, iocluindo a náo-ocupada, estele
dentro da alçada do Estado do B¡asil..A.lém disso, a conquista dessa regiáo se fez sob a
supervisáo do Governo-geral e a maioi pat.e dos co-baten¡es e conquistado¡es, bem
como a dos primeiros ocupanies de cargo na área, e¡am oriundos das antigas áreas de
coionizaçáo, como, poi exemplo, Pernambuco, Pa¡aíba e Bahia.
Poitanio, para se compreende¡ a formaçáo dos mecanismos do Antigo Sisrema
Colonial nas partes do BrasiÌ, é indispensá..'eÌ entende¡ o papel que a elire colonial resi-
dente desempenhou, por ourro lado, só é possíl.el compreender a génese dessa elite por
sua insercáo dentro dos quadros do Antigo Sistema ColoniaÌ.
A justiça distributiva
Um dos grandes nomes da cultura portuguesa do século X\'-1, F¡eì Hcitor Prnto exerceu
grande inÊuéncia em Ponugal, rendo lecionado TeoÌogia em Coimbra e pubJicado, enrre
ortras obras, Irnagen t/a l4da Crìstá., qte rerc tárias edjçóes aindâ no século XVI. Po¡ seu
apoìo ao Prior do C¡ato, acabou silenciado por Filipe II que o conEnou nurn mosrciro,
onde faleceu poucos anos depois- F¡ei Heilor Pinto, lmgen da Vida Ct-¡i¡á. 4 vols. Lisboa:
Sá da Cosca, 1940.
jj
3+ Rodrigo RicuPero
como mais nos servimos e Prezamos do direito do que do esquerdo, assim é cnise m:is
gloriosa favorecer vinudes que castigar vícios, porque na primeira resplandece o amor e
ûa segunda o remor".
E, em segLrida, dirigindo-se aojurista, que valoriza mais o castigo do que o prê-
mio, conclui:
claro csrá que se o príncipc não far-orecesse as virtudes, que hareria Poucos que as
fìzessem, ainda que casdgasse os vícios. Mais se movem os homens com amor que
com lerror, e måis se aninam a coisas grandes, e se abalizam na excelente virrudc
com esperanca de futuro prêmio, que com medo do cascigo- (.'-) E com este amot,
clue rem a seu rei, pelo que ele lhe ten a eles, se prczam de ser seus, € se cx'irrm c
riça, que com rigor do casrigo a alimpa dos vícios, como de perniciosos hunores, senåo
que é rambém necessária à outra parre que com prêmios proPorcionados ao merecimento
esforce, sustet¡e e anime a esPerança dos homens'!, para o jesuíca eram táo necessárias,
para o susrento da monarquia, ajustiça puniriva Para os castigos, como ajustiça distribu-
tiva para os prêmiost. Apesar do brilho do sermáo, Vei¡a náo inovata: apenas retomava'
de forma expressiva, uma idéia que vinha de longe e que continuaria em voga ainda por
muicos anos.
Tal concepçáo, nascida na Antigüidade clíssìca' man¡ive¡a-se no Pensamento
crisráo e rinha na dicotomia encre céu e infe¡no a melhor expressáo do castigo e do
3 Frei Heiror Pinro, O¡. cir, foram extraidas respectivamente das págrnas 142 149 e
as citaçóes
151 do l" r.olume. interessanre que Tomás Àntônio Gonzaga' jr.rrisra, exPressâ na conrìnuâcio
da passaeern citada em epigrafe a opiniáo opos¡a, r'alonzando assim r.rais o castigo do que o
prêmio. Ct Cririlo (Tomás Ànrônio Gonzaga) , Op cb., p. ?4)
4 No conrex¡o da guerra concra os holandcses, Vieira ProcurÀva ìncennvar os soldados por-
rngucscs, Ìouvrnrio seus sacrificios. Pad¡e Antônio Vieira, S¿rrtú¿s da P¿drc Antônio Viein.
reproduçáo ircsimìlada àa edítia p,nceps, organizada por Padre -A.ugusto Magne, l6 voÌs. Sáo
PauÌo: Ânchietana, i943'45, r'ol. 3, p 397
I Para o padre ,{ntônio Vieira, "Prêmio € cas¡igo sáo os dois pólos em que se re".lue s,rsrenlr
"
a conservaçáo de qualquer monarquia" "an,bos esres (prêmro e casrigo) lalraran sempre ao
e
Brasil, por isso se arruinou e câiu", no caso o jesuÍta se refere à invasáo holandesr "Sermáo d¿
r.isitaçáo de Nossa Senhora" de junho de 1640, pLrbLicado em Padre Anrônio Vreira' 02. rlr''
vol. 8, p. 193.
\ torm¿cáo d¿ eli¡e . olonial ì5
p.êmio divinos. Cabiaaos reis, como representantes de Deus na ter¡al aplicáJos a seu
modo, conforme se explicava nas Ordenac,óes Afonsind-s:
Quando Nosso Senho¡ Deus fez as c¡iaru¡as assim razoáveis, como aque-
las que carecem de razáo, náo quis que rodas fossem iguais, raais esrebeÌeceu e
O próprio Vieira iemb¡ava a D. Afonso VI que "os reis sáo vassalos de Deus, e,
se os reis não castigam seus vassalos, castiga Deus os seus"7, po¡ isso náo se estranha
que as t¡agédias dos ¡einos fossem vistas como casrigos divinos às fairas humanas náo
punidas pelos monarcas ou ainda que a iusriça fosse considerada como a p¡incipal
:z.rcfà dã realezas. Joáo de Barros, po¡ exemplo, explicava qre "encre as vi¡tudes de
que príncipes e governado¡es das repúblicas rêm maio¡ necessidade, para o desceDso
e conservação de seus Estados, semp¡e o primeiro Ìugar foi dado à justiça; e isto com
muita razão, po¡que s€ndo Deus perfeita justica, os reis, que por ele são o¡denados e
cujo poder ¡ep¡esentam, a ele só em tudo devem seguir"e.
Ordenacões Afonsinas.5 vols. Lisboa: Calousre GuÌbenkian, 1988. O conjunro de leis compi-
lâdas a mândo do rei D. Duarte e publìcadas a parcir de 1446, duranre o reinâdo de D. Afonso
V recebeu o nome de Aàenaçóes ,4fonsinas em homenagr A cir¿cáo enconrrà-
se no Lir.ro II, tírLrlo Xl-, p. 293.
Vieira, na seqùência, tenrå mosrrar conlo a perda de D. Sebasrjáo no Ma¡¡ocos e o conse-
<1üente "caciveiro" de Porrugai serram o castreo dos "cativeiros que na cosrâ da mesma Áfrjcâ
começaram a fazer os nossos p¡imeiros conquisradores, com ráo pouca jusr;çi'. "Carta ao rei
D. Afonso Vf de 20 d€ abril de 16iZ publicada em Anrônio Yicira, Cartas, coo¡denadas e
anorâdas por Joáo Lúcio dc Azelcdo, 3 ¡'ols. Lisboa: Imprensa Nacional - Câsa da Moeda,
1992 vol. L p.449.
T¡ mbim cr¿ . omum o di' uno dc que Dcu. rcLomp€n'a ria , enos.cr !'(os. p, À os qLrr is o rei
'
injusramente náo tinha feiro nenhuma mercé,.eja-se, po¡ exemplo, a descriçáo da mor.e de
Duartc Coelho fcita po¡ F¡cì Vicenre do Salvador. Htstória do Brasil(1627), 5" ed., Sao Paulo,
Melhoramentos, 1965, p. 134 (Sobre este câso, vejâ-se o segúndo capírulo deste trabalho).
A parte ìnìcial do "Panegírico do rei D. lll"
(1533), de Joáo de Barros, é dedìcada à
Joáo
questáo da justiça. Joáo d,eBarros, Panegir;cos (Século XVI), rexro resrirìrí¿o, prefácio e nor¿s
pelo prot M. Rodrigues Lapa. Lisboa: Sá da Cosra, 1943, p. 3. Sobre o papel da jusriça e a
idéia dcla como pr;meira rarefa da Coroa, veja-se para a Idade Médja em lo¡tueal: Eduardo
d'Oliveira França, O Poàt Real em Portusal e as orisens do Absolurr7z¿. Sáo PalÌlo: FFCL-
36 Rodrigo Ricupero
O discu¡so era reco¡rente por rodo Império, como se Pe¡cebe, Por ex€mPlo,
numa carre de 1613, endereçada ao donatário da capitania de Sáo Vicente pelos
oÊciais da Câmara da vila de Sáo PauÌo, na qual aÊrmavam: "que nos mandem o
que for justo, e ûos favorecam no bem e casaiguem no mal quando o melece¡mos,
que rudo é necessário"r0; ou em outra carrai escrita Pouco mais de cem anos depois,
enviada ao governador de Pernambuco, Feiix Machado, na qual um inte¡locutor
desconhecido explicava "sempre entendi que nenhuma república se podia conservar
fahando nela prêmìo para os bons e castigos Para os maus"rr ou ainda numa ca¡ta
esc¡ira rle Goa, pelo governador do Estado da Índia,,A.n¡ônio Paes de Sande, em que
este lembrava a necessidade de os homens servirem "com a esPeranca de prêmio e
cemor de castigo"ll.
Pouco mais de cento e ciûqüenta ânos depois do citado se¡máo de Vieira' já em
Êns do século XVIII, D. Rodrigo de Souza Coutinho, entáo ministro e sec¡etá¡io de
Es¡ado da Ma¡inha e Domínios Ult¡amarinos, em ca¡ra pala D. Fernando José de Por-
rugal, governador da Bahia, em que discute a sediçáo de 1798 em Salvado¡, châmava a
atercáo para o fato de que "piêmio e casrigo sáo os dois pólos sobre que esrriba toda a
máquina política", pra[icamenre repe¡indo a f¡ase do Padre Vieira, atesrando toda força
que r¿l !oncePcåo,ind¿ ma nt inha
Nos mamrais do bom governante, em moda du¡ante ¡oda a Idade Mode¡na, nas
mais variadas formasrl, o rópico escava presente, como se vê, Por exemplo, ta Suma Polí'
4 da coleçâo Hisrório tlr Porngø.l dnigìe:L por losé Mat¡oso, respec¡ivamente; José N{artoso' I
LÍonarquia Feudat.Lisboa: Escampa, s/d., p, 516 e segs., Joaquim Romero de Magalháes, À¡o
Alua¡ne¡ ¿La luladeraid¿la Lisboa: Esrampa, s/d., p. 61 e segs. e Anrónio ìvfanucl Hespanha,
O Artigo Regime. Lisbaâ: Esrampe, s/d., P. li7 e segs
"Car¡a da Câma¡a de Sáo Paulo" de Ì3 de ianeiro de Ì613, q te conxa d¡s Ata'¡ d¿ Cà.¡d¿r¡ ¿1¿
Sno Pauto- Sâo Paulo: Arquivo Municìpel, 1914. vol. Il, p. 497, publicada também por Paulo
Praë.o, ?¿,ulisnca. Sao Paulo: Edirora Monreiro Lobato, 1925, p. 2i
Ct. Evaldo Cabral dc Meilo, I þ-ran/.¡. dt's Mt'z¿¡nbas. Sáo Paulo: Cornpanhia das Letras,
1995, p.403.
''Cana ao ¡ei" de 20 de janeiro de 1680, pubLicada por A¡tônio Pacs dc Sande e Casrro, l;;-
tônia Pae: d¿ S¡'¡tde, o g,antlz go,ernador. Lisboa: .Agência Geral do Liltramar, l9iìr, p l27
"Carta de D. Rodrigo de Souza Courinho para D. Fernando José de Ponugal ' de 4 ,le orrnr
bro de 1793, pubÌìca<.ia por inácio Äccioli de Cerqueira e Sìlva-, Ìy'e;zlrnzs Hístóric¿¡ ¿ Polític¿¡
da Babia, moraàas por B¡az do ,{ma¡aÌ, 6 vols. Bahia lmprensa Oficial, 1919 1940, voÌ. IIi.
p.95.
Em roda a Europa, surgiu um ripo especial dc literarura desrined¿ à educaçáo de reis, PrinciPc\ t
nobres em geral, manrenclo uma rradrçáo que vinha da anrigüidade, da <¡ual Xenolonre poderia
ser rrm bom exemplo, e que acabaria por clar alguns subripos, como os voLtados para educaçáo
dos príncipes ou como os destìnados a preparar os nobres para a vida na Corre. Joaqurm Ferreira
Gomes lisra 56 obras do gênero relacionadas com Ponugal, do Spec tm Regun (Espelho dos
A formaçâo da elite colonial 37
¡lcø, de Sebastiáo César de Menezes, teólogo que chegou a ser Arcebispo de Lisboa e foi
uma das figuras mais proeminentes da politica porruguesa do período pós-Restauracáo-
A ob¡a ofe¡ecida ao tlho de D. João IV D. Teodósio, falecido an¡es de chegar ao rrono,
procurava insrrui¡ o futu¡o ¡ei sob¡e o bom governo, dedicando um capírulo à justiça
disrribu¡iva, no qual explicava ser esra encarregada de repartir "o útil, disr¡ibui¡ as hon-
ras epropo¡ciorâr os cargos", Em seguida, expunha também que a desigualdade na sua
execucáo será "reputado por tirania en tempos pacíiìcos, e nos turbulentos será força que
arruíne" a repúbÌica, pois sentencia\.a: "é naru¡al em todos os humanos, e muico mais nos
poatugueses, senrirem, sob¡erudo, a ofensa da honra, e como esta nasce do valo¡, cuidam
que quando lhes falra o prêmio, também lhes faha a opinião de valorosos"r''.
Na ob¡a de F¡ancisco .Ancónio de Novaes Campos, Príncipe Perfeito, oferecida ao
príncipe D. João, futuro D. Joáo VI, em 1790r', são apresen¡ados cem emblemas que
versam sobre as regras adequadas ao bom gove¡nanre. Den¡¡e os vá¡ios remas apresen-
tados, o que nos inreressa particularmente aqui é o da distribuiçáo da jusriça. recor-
¡enre em diversos emblemas que aconselham a distribuiçáo igual da justiça a todos, o
socorro âos pobres, o ouvi¡ as queixas dos vassalos, a moderação nos castigos e ¿ pie-
dade nas penas'-. Mas o auto¡ tambén-r se preocupa com o outro lado da justiça, o lado
positivo, em que um rei que foge do vício da ava¡eza, sabe ¡ecompensa¡ os vassalos, e,
enfim, como enla¡iza em outro emblema: "O rei deve premiar e dar castigo"rs, síntese
perfeira de uma lógica que rorteava a relaçáo da coroa com seus vassalosil.
Reis). de F¡ei Álva¡o Pais. do século XIV aé lp onnmentot Vara eàra.ç.ia d¿ tn menino nobrc. de
Martìnho dc Mendonça. publìcada en 1734. Sob¡e o rema, .'e¡ Joaquim Ferreira Gooes..4larrl-
n de Modtrça e :",a- abra- ped'zgógtca cam a eáiçÁo crítica dos Apontamntos para a ùuøçãa de
øt nnino nobr¿ (1734). Coimbra: Unn'e¡sidade de Coimbra. 1964.
Sebasriáo César de Menczcs, Stn,z Poli¡icd (1649). l'orto: Garrl¿, 194i. A primeira ediçáo
porrugucsa dc 1649, sendo seguìda de ou¡ra latrna, no ano seguinre. publicada na HoLanda
é
Âs ciraçóes es.áo resp€crivamente nas p. 123 e i24.
 ob¡a fòi ole¡ecida em um exemplar único, que se encon¡¡a na Biblio¡eca NacjonaL do Rio de
Janeiro e foi leira a partir dos emblemas de D. Joáo de 5olórzano, jurìsta c grande personagem
do sócu1o XVll espanhol, os quais consram de um ritulo cm latrm, uma iìustr:.çáo e versos
também em larim. que loram desenrrclvidos num soneto, em porruguês, oor lrancisco Campos.
F¡a ncisco ,A.n¡ó nio de N otaes Canpos. Prhcípc Pefetto. (1790). Lkboa: Insrrturo de Culru¡a c
Líagua Porrugr.resa, 1985.
Ve¡ em larricuiar os seguinres emblemas: XlX, XLJ. LX. LXIV, LXXIll, LXXiY I XXIÌX e
Nas c¡ônicas dos reis porrugueses, o rema aParece com freqüência, não mais
como um modelo teó¡ico a ser seguido, mas como exemplos históricos concretos Ä
disrribuiçáo de hon¡as e mercês, aliás, é um dos rrês principais temas encont¡ados
nas c¡ônicas, ao lado dos grandes aconrecimentos Políticos e bélicos do Reino e do
ulrramar e das quesróes dinás¡icas aliancas, casame[tos, nascimentos etc. _, o que se
-
entende, poís a disrribuiçáo das recompensas era vista como uma das grandes rarefas
da Coroa e uma obrigaçáo do monarca.
Bons exemplos disto sáo as c¡ônicas de D. Pedro e de D. Joáo II. Na obra Vid¿ts e
Feitos d'e!-rei DomJo,io Segundo de Garcia de Resende, esc¡i¡a duranre o reinado de D Joáo
III, que náo só resgatava os principais acontecimencos do reinado, mas também desracava
as caracte¡ísdcas pessoais do mona¡cato. Ga¡cia de Resende ressaltava a preocupaçáo do
rei com a distribuiçáo dos prêmios e casrigos, tendo sido "mui¡o nob¡e e grã liberal em
faze¡ me¡cês e dádivas a quem devia, e como devia, e da maneira que devia por sua própria
vonmde e náo por importunaçóes de ninguém"2r, procurando semPre rccomPensar mesmo
ântes que os merecedores ¡ivessem feito seus pedidos, tendo, para tanto, organizado, em
segredo, um li.,ro para regisuar os nomes das pessoas que haviam prestado servìços. para
posteriormente serem recompensadas, chegando ìnclusive a ponto de ensinar como estas
deviam fazer seus pedidos.
Fernáo Lopes, ¡a Crônica de D. Ped,ro, cognominado "cru" ou "cruel" por sua
dererminaçáo €m exercer a jusriça, o que lhe valeu fica¡ conhecido mais comôjusti-
ceiro do que jusro, embora nem por isso impopular, conta-nos que "O rei D. Pedro
e¡a em da¡ muico ledo, em ranto que muitas vezes dizia que ihe afrouxassem a cinra
que ertonces usavam nâo muito apertada, por que se lhe aÌargasse o corpo, por mais
espaçosamente poder dar: dizendo que o dia que o rei náo dava, náo devia se¡ havido
por rei"r:.
aos vassalos que parriciparam na jornada de recuperaçáo da Bahia em 1625. Respectir amcnte,
Duarre Nunes ào Leâo, Descriçá.o do Rrlna tu ?onagal (16ì0). Lisboa: Cencro de Hisrória da
Unive¡sidade de Lisboa,2002, p.277 e Padre Banolomeu Cue¡rejro, Jornada tlc,s Vassalas da
Coroa de Ponrgal. (1625). Rìo deJaneiro: Biblioteca Nacional, 1966, p.96.
O auror foì c¡iado desde pequeno junro ao monarca, rendo se¡vido depois em tarelas de maior
peso, ocupando oficios nos reinados de D. Jo:o II, D. Manuel e D. Joâo III, quando chegou a
ser escriváo da Fazenda e guarda da Câmara Real. Ga¡cia de Resende, Lilro das Obra: de Gar-
cia dz R¿:end¿ (sécliloXVI) ediçáo crírica de Evelina Ve¡delho. Lisboa: Calouste Gulbenkian,
\994.
2l Garcia de Resende, Oþ. cit., p. 140.
22 Fernáo Lopes, G'inica le D. P¿l¡¿ (Século XV). Lìsboa: Academia Real das Ciências, 1816,
p. 8, romo V da CoÌeçáo de Inéditos da Hisrória de Portugai (Exisre reediçâo mode¡na da
edirora Cìvilizaçáo do Porro). No prólogo, o cronìsta lembra que 'é por serem os m¿us c¿sri-
gados e os bons viverem em paz" uma das razóes para que o poder real ¡enha se esrabclccìdo,
dìscorrendo em seguida sobre a jusriçr e o comporramento do rei.
A fo¡macão da elite coloniai 39
um fidalgo de muita marca e conrinuando a corte, náo the fazia el-rei mercê, e
um dia, pedindo a e1-rei umâ coisa, disseJhc ele que bem sabia que a merccìa,
mas que era moÊno (azarado, mal afortuoado) ... (ao que o 6dalgo) respondeu-
lhc: senhor, dê-me vossa alreza a máo pela mercê que me faz em me dizer que
ihe mereco a mercê que lhe peço, mas vossa alreza é o moÊno (mcsquinho) que
eu náo, porque eu tenho-o muiro bem servjdo, que é o meu ofício; e vossa alreza
23 ,{ liberalidade sena uma das quaLdades próprras dos reis, louvada em rodos os ¡i iscrr rsos sobre
o bom governo. evocando sempre, di¡cra ou indi¡etamenre, os ensinamenros rle A¡;sróreles
C[ A¡istóteies, ;11¿¡¿1 ø Nrcónaco (vaduçâo) Buenos Aires: Ðspasa-Calpe' 1952, particular-
menre Lir-ro I! cap. 1', "De la liberalidad".
24 Rocha Pira lcmbra, para Ìouvar D. Joáo Y que a gencrosidade é um dos etributos dos PrincìPcs
e, no seu estrlo, conra "o poder dar maìs do que se recebe, é a maior riqueza de que os huma-
nos poclcm jarar-se, como dizia Túlio; e em ser credor a todos e a nenhum deverlor consis¡e o
ser príncipe, como senre Anaxilau". RochaPiø, Hisairia d¿ Amérícø Portugacsø (1730), Bclo
Horizonte: ltatiaìa, 1976, p.239.
25 Dítos Portague:es Drgns àe Manöia (SécuLo XVI), editada e comentada por José Hermano
Saraiva, 2" ed. Ljsboa: Europa-.A.nérica, s/d
26 lbidetn, p.2A8. Eracomum os agraciados beijarem a máo do rei €m sinaì de agradecinenro,
direramenre ou indi¡etamence, por mcio de familiares. Pa¡a o sentido de "mo6no"' ver Änrô-
nio de Moraes Silva. D tciannrio /'a Lrngua Partu'gu'eza' (fac-sími|e ða 2" ed- de 18i3)' 2 vols'
Rio deJaneiro: Fìuminense, 1922, I, p. 31-
40 Rodrigo Ricupero
A lalta de prëmios e de castigos, por outro lado, era sempre lembrada nos crabalhos
que denuncialam a "degradaçáo da mo¡al e dos cos¡umes". Nesse sentido, duas ob¡as
impressionam pela crueza dos rel¿tor: um¿ -el¿¡iv¡ à india Portugue\a. outrâ m¿i) e\Pe-
ciÊcamente vokada pa¡a o Reino.
-A primeira delas é O SoJda/,o Pr'ítica de Diogo do Couto:i, obra cuia versáo
ânaÌ é de 1610, mas da qual já co¡¡ia uma versáo preliminar manuscriia, cujo
original Foi fu¡tado do auco¡rS. Esc¡ita na forma de diálogos, a obra apresenca trés
pe¡sonagens: um soldado vere¡ano da Índia, de volta ao Reino para ¡eque¡er Por
seus servicos, um fidalgo e um ofìcial eocarregado de despachar os pedidos. O sol-
dado no "vai-e-vem" da luta pela obtençáo da paga por seus serviços, vá¡ios deles
"o¡namentados e esmaltados muitas vezes com o (próprio) sangue", vai desc¡even-
do as mazelas da índia porcuguesa pelo artor in loco ao longo de guase roda
"'istas
segunda metade do século XVI e também nos primeiros anos do XVII, quando
mor¡euJ rnomento prévio do desmoronamenro do Império Oriencal, que Para mui-
tos seria conseqüência dos fatos descricos por Coutore.
Diogo do Couro, criado lunto ao iolante D. Luis, filho do ¡ei D. Manuel, ¡endo se¡r'ido de-
pois no Paço como moco de câmara do rei 3cabå po. jr aind¿ jorem para a úrdla, en 1559,
onde serviu diversos cargos, rendo chegado a gu¿rda-mo¡ do-Iòmbo de Goa. Drogo do CoLr-
rc, O Saldado Prátìca. (1610). 3" €.i. Lisboa, Sá da Costa, 1980.
O auror, conrinuador das Déca/¡; da iq¿. inici¿das por Jo:o de Barros, reve, em
fa.¡¡.osas
momenros divcrsos, parte de suas ob¡as roubadas. Tal fãro pode ser explcado, em parte,
por serem os escritos sob¡e os grandes aconrecimen¡os tes¡emunho d¿ pârticipâçáo oL. n:o
dos vassalos, Ìogo, erarn usados também como prova para pedidos de recompensas, além de
sen'irem às estrarégias larniliares de pror.roçáo, pois sempre se podia alegar os ser"rços dos an-
Ìivro do filho do grandeÂlonso deAlbuquerque, 2'governador
tepassados- Exemplo dìsso é o
do Evado da Índia, hornônimo do pai, em que Lembra ao rei D. Sebasriáo, a quem dedica a
obra, que seu objecirrc erâ mosr¡ar ao r€i os ríabalhos e solrimenros do pai e "a obugaçáo (do
ret qûem ¡em aos neros e parenres daqueLes que n€stas conqurstas acaba¡anr seu dìas". A.fonso
de Àlbuquerque, Come¡¡tdrio: do Graxde Aþn:o tu Albuquerque (t557), prelacìada . revisra
por Anronio Baiáo, 2 vols., 4" ed., Coimbra: lmprensa da Universidade, 1922, voi. I, p. X.
Dessa fo¡ma, os cronisras sempre acabavam acusados de lavorcccr ou de deslavorecer ccr¡os
indivíduos ou famílias. Âinda sobre a questáo, vale lembrar o caso de Damiáo de Góis, que
afirmava, no prólogo d¡ Crônm do Febcis¡t',ro rei D. Manu¿l: "¡o esc¡ever das crônic¿s se ¡e-
quer, que é com verdade dar a cada um o louvor ou r€preensáo que mcrecem', o que, al;ás, lhe
causor..L sérios problemas com os defenso¡es da Casa de Bragança, que o acusatam de lembra¡
do reìnado anterior apenas para desmerecéJa. Darñâa áe Góis, Cr'ôníca da
F¿llcissina rci D. ,¡ulanuel (1566),4 vols.,Col,mbra: Unire¡sidade de Coimbra, 1949.
Que ûáo se p€nse, conrudo, que os probiemas aponrados por Couto lossem exclusn'idade cios
iores à grande queda da Índia porruguesa em meados do século XVil; muiro
cempo antes, D. Joáo de Castro, vice-rei da Índia, avisava: "mas vejo claramenre qu< s< vaì
esta terra a perder por falca de uma justiça breve e rigorosa, que dê castigo aos maus e ponha
espanto nos bons", numa ca¡la ao rei, escrira em Coa, provavelmenre em 1547 D. Joáo de
A formaçáo da elire colonial
Ca.svo Cartas dt D. Jo,io de Ca*ro a. D. Jo,áo 111, com comentárros de Luís de Albuqucrque.
Lisboa: Alfa, 1,989. p.127.
30 As passaeens ¡eferidas estáo em Diogo do Couto, OP. ri¿, p. 138 e 139.
3l Obra do século XVII, conhecida pela polêmica em torno da autoria, para Roger Bismut, rcs-
ponsável pela ediçáo crírica, seguindo outros autores, o autor scria o Padre Manuel da Cosra,
jesuíra, sem, conrndo, dirimìr as duviðas. Arte de þutøl: ediçáo crítica, com int¡oduçáo e
noras de Roger Bismur. Lisboa: Imprensa Nacional Casa da Moeda, s/d. leja*e mmbém
ourra hipórese Antônro de Sousa de Macedo.lunsta e diplomara - em Afonso Pena Júnior,
AArte de Furtar e seu ¿zroz Rìo deJaneiro: José Oli'mpio, 1)46,2vo|s.
CF.Art? ¿e Falatr, OP. cir.. p. 168. O "pagamenro" correto dos serviços, "os falsos serviços"
apresentados, o uso dos cargos e ofícios e a c¡írica da.'enalidade dos ofícios praticada no pe-
riodo filipino sáo outros dos tópicos rratados na obra.
41 Rodrigo Ricupero
A monarquia patrimonialista
que, Para os gfuPos baixos, o grande problema e¡a como conseguir as condi-
Esca discussáo é apresenrada por Fernanda Olival num dos maìs importantes trabalhos sobre
o rcrea, As Ordens Mil¡tares ¿ o Esta¿lo Moàerno: honr¿, mer¿ê ¿ t enahztalt em Pottugal (1641-
t789). Lìsboa: Esrar,1.001, p. 23 c segs.
Afonso Luiz Piloro & B enß Teixei:r:., i'"laLlJï¿;gio & Prosopopeø.. (1601). Recife: UFPE, 1969,
P- 128.
lcrn¿nda Olrral. Op. ct!..p. l< e )l-e\p<.( \¿menre.
-A fo¡macáo da elite colonial
Dois dos mais in¡eressantes exemplos dessa relaçáo encre serviços e recursos fi-
nenceiros podem ser enconrrados em carcas enviadas por proeminentes personalidades
da Índia portuguesa da primeira metade do século XVI. O primeiro é o de Àfonso
de A.lbuquerque, que governou a Índia nos primeiros tempos do domínio pomuguês,
sendo responsável pelas grandes conquistas do período (O¡muz, Goa e Malaca), que
aÊrmava, com toda desenvoltura, numa carta para D- Manuel,
O segundo é da pena de Manim Afonso de Sousa, que em carra para D. Joáo III,
escrira ao largo da costa da Áf¡ica a caminho do O¡ienre - onde ia ocupar o posto de
capitáo-mor do Mar da Índia, após s,r. passagem pelo Brasil , lembrava ao ¡ei, na beleza
do porruguês quinhentista, "náo pode ser mor onzene que a fazerdes-me mercê, que eu
quanto mais tiver mais rerei que gastar em vosso serviço, que nos homens como eu as
17.
me¡cês do seu ¡ei é depósito que o rei rem neles para quando lhes fo¡ necessário"
As recompensas, ou mesmo apenas a exp€c¡ativa delas, transformava os màis
va¡iados vassalos em p€¡manentes servidores da Co¡oa, que assim potencializava seus
¡ecu¡sos, porque, como dizia D. Joáo de Cast¡o, vice-¡ei da Índia, "tudo o que os ho-
mens ganham cá (índia) o tornam a gasta¡ na mesma terra, ou em Portugal, em serviço
de Vossa Alteza"is.
A monarquia lusitata era assim, nas palavras de António Sérgio, "o dispensador
de rodos os bens, o centro de aspiraçóes das ene¡gias nacionais"le, pois, ao concent¡a¡
grande parte da riqueza do Reino, podia repassar parce dessa aos seus servidores, na
fo¡ma de benefícios diversos, prendendo-os ao poder, de tal forma que ia
do, pois, a afluência de fidalgos à corte, Pa¡a sugarem ao rei o produto da exportaçáo
comercial, em tencasJ morgadios, reguengos, jurisdiçóes, 'de maneira que' (diz um
esc¡ito¡ do século XVI) 'mais parecia ser pai, ou almoxarife, que rei nem senhor"'10.
O processo de dependência c¡escen¡e da nob¡eza diante da Coroa ocorreu por
toda Europa Ocidental por
e reve ponto culminante as Corces absolu¡iscas. Em Po¡¡u-
gal, ral processo iniciou-se já no fìnal da Idade Média e obrigou que os privilegiados,
com as rendas em dec¡éscimo e forçados a gascar altas somas Para rí îrer o |tllttts
nob¡e, no dizer de Edua¡do d'Olivei¡a Franca, fossem "compelidos a mendigar do rei
'cótijas' e préstamos, acostando-se ao trono e ostentando requintada fidelidade para
atrair a benevolência da Co¡oa dadivosa"l!.
Com a expansáo ultramarina, a Coroa reve condiçóes ainda maiores para agraciar a
nob¡eza em uoca da cada vez mais completa submissáo polírica e dependência econòmica,
ranto que, Joáo Lúcio deAzevedo, ao comentar uma poesia palaciana que enaltecia a mag-
nifìcência da Co¡ce e a liberalidade régia, aûrmava: "à ¡oda do soberano cinco mil apani-
guados desfrutavam moradias, dotes de casameoto, renças e as demais verbas, por onde se
exau¡ia o meiho¡ dos resouros ¡ecolhidos'lt para concluir em oucro momenro que o rei D
Manuel, ideando as empresas, distribuindo cargos e recompensas, acabara submetendo as
vonrades, fo¡ralecendo cada vez mais a sua auco¡idade, poderia cer dito muitos anos affes
de Luís XIV, ' que o Esado e¡a ele"13 .
Não contudo, que tal situaçáo fosse exclusivìdade da nobreza, para am-
se pense,
plos serores da populaçáo a Coroa e seus órgáos eram vistos como um "repositório de
recu¡sos do qual os vassalos podiam retirar algum proveico"la, gerando redes de liga-
çóes urilizadas para angariar favores, fosse dire¡amenre do morarca ou indireramenre,
por meio de pessoas próximas a ele. A proximidade com o rei era fundamental, pois
"cumpre náo esquece¡ que o palácio rcaI era entáo o espaço de proximidade física do
rei'!t, dessa maneira) qr¡ar¡o mais próximo estivesse o vassalo, meis facilmente seus
serviços poderiam ser visros e recompensados, por isso a pena de degredo, ou seja, a
expulsáo ou exílio da Co¡¡e significava o fim da possibilidade de obter ¡ecompensas
daqueles que passavam a ficar longe do olha¡ do ¡ei.
Tal idéia já era percebida na época, pois, como dizia o dito recoihido na tradiçáo
o¡al, "bem afo¡tunados sáo os homens que com os Reis de Porrugal têm valia 16, e os
que em Castela têm dinheiro e os que em França têm poder"at, afinal era, nas palavras
lapidares de f¡ei Luís de Sousa, junto "ao bafo do rei"1s que se obtinham as dive¡sas
recompensas e prêmios pelos serviços prestados !t.
Mesmo com a expansão para terras cada vez maís longínquas, o "olhar do rei"
nem por isso deixava de cer importância, po¡quanto o rei, mesmo dìsrante, conti-
nuava a ser a fonte de onde emanavam todas as mercês e honras, reais ou imaginá-
rìasi0. As ca¡tas t¡ocadas en¡¡e o mona¡ca e seus agentes são exemplo disso. Afonso
43 Joáo Lúcio dc,A.zer.edo, Op. àt.. p.291. O autor, ao longo do seu clássico cstudo, mosrra
como a expansáo ulrramarina veì scrvrt, em sua opìnìáo, apenas para o larorecimento da Co
roa, da nobreza c dos grandes mercadores em det¡ìmento do desenvolvimcnro dc Portugal.
44 I'edro Cardim, Coït¿\ tC harn Po//t¡c,r. no Portaga,l r/o Antigo Rag,zze. Lisboa: Cosmos, 1993.
P 44.
45 lbiden, p.6Ct.
46 "\àlia' de valinento: "o sraça, p¡i\-ânçe, que se rem com alguém, em ri¡rudc
da qual se conscgue dele o desejado" coûo nos ensina Anrônio de Moraes Sih.a, O¡. rzr-, Il
p.828.
47 Ditoi Portagr.eses Dignos de Mernória, Op. cit . p. 460.
48 Freì Luís de Sousa.lznh dc D. Joií¿t III (c.1631). 2 vols. Iisboa: Sá da Cost¿. 1938, p. 157
49 Pe¡cebe-se ao longo da documentaçáo uma c¡í¡ica cons¡an¡e ao fato de os va.."ì". ¡"'em de
r.oìrar ao Reino para requerer por seus s€rv!ços, sLrbmetendo_se a enorrnes Yiasens' como âs
de rerorno do O¡rence. Por isso, como.'rmos acima, Dìogo do CoLrto lour-ava os tempos de D.
Joáo II, en que as mercés scrjam leitas anres r¡esmo do rctorno do lavo¡ecido
i0 l-ilhena, na dcdica¡óra de sLra conhecida obra, expressa essa ìdéia do ¡ci "como o chefe da
Naçáo roda, como lai
da Pár¡ìa, como fonte donde emanam rodos os beoelicios de que csta
goza". Luiz dos Sanros Vilhcna, Rrrap ilaçáo de Notícias Soteropolztanas e Brasilicas (18Q2).2
vois. Saìvacior: imprensa O6ciaì, 1921, I. p.6.
46 Rodrigo RicuPero
de Albuquerque avisava a D. ManLrel que "ainda que seia longe donde Vossa Alteza
esrá, mLliro se sente cá vosso favo¡ e desfavor"t', e Ma¡tim Afonso de Sousa lem-
brava a D. Joáo III a importância das me¡cês e das Promessas reais para animar os
vassalos a ptestarem os serviços exigidos, assim, numa Passagem, diz: "é necessá¡io
toca¡ Vossa Alteza com sue máo a uns com mercê, a outros com esPe¡anca, a outros
com favor, por que de out¡a maneira é rudo perdido"tt
Todavía, para dist¡ibuir benefícios e rendas, era necessá¡io anres possuir ri-
quezas que suportassem tal polírica. A Co¡oa, desde os Primeiros rempos, possuía
imenso patrimônio te¡ri¡orial, o ¡ei e¡a o maio¡ lavrador da naçáo, ninguém ti-
nha "mais ter¡as, mais gados, mais foros, mais ¡endas"tr do que ele, pois. com o
avanço da reconquista contre os mouros, a Coroa soube ampliar seu parrìmônio'
apoderando-se da parte essencial das novas conquistas As cidades e os grandes
povoados foram organizados em concelhos, "mas o sis¡ema de impostos e adminis-
traçáo superior, bem como vasra proporçáo de casas, fornos, lagares e ou¡ros meios
de produção perrenciam ao monarca"5l- Quanto às terras, imensas á¡eas fo¡am
doadas às o¡dens milita¡es, cada vez mais vinculadas à Coroa, que passou a dispor
dos ¡ecu¡sos delas para retribuir a seus vassalosit-
Regisue-se que a relação da Co¡oa com o conjutto da nobreza, pa rricrr la rmenre
no que loca às concessóes do patrimônio régio (rerras, jurisdiçóes erc.) feiras aos nobres,
aqui é apenas esboçada em grossas linhas, pois o forraiecimento régio diante da nobreza
''Ca¡ra de -dfonso de Älbuquerque para D. Manuel" de 1' de ab¡il de 1512, publicada ern
Afonso de Älbuquerqúe, O?. üt., p. 65. Vejam+e também as recomendaçóes de D. Joáo
de Casrro ao monarca para que enviasse carras a determinadas cidades como Goa e Chaul,
em geral, e a determinadas pessoas, em particular, com "mLrìros agradecimenros e concen_
ramenros do que fìzeram, que seja grandc causa de ourras vezes fòlgarcm de gastar s,ras
lazendas e pôr em risco suas pessoas por seu serviço ... porque nenhuma coisa dá c.i <sprriro
aos homens e os aviventa tanto como as carras e favo¡es de V ,A..", Ci D. Joáo de Casrro,
O?. cít., p. 87.
i2 'Carra para o reì, darada de Cochim, 24 de dezembro de 1536", pubiicada por Luís de Albu'
qterqte (.Org.), Martim l,þnso de Sousa, Op. cít., p. 50.
i3 Joáo Lúcio de Azevedo, Op. cít., p.31.
54 Ä. H. de Oli"eira Marql'es, HL'tõrtu ¿¿ Poøgtl, 3 r'ols., 9'ed. Lrsboa: Palas, 1982, I vol., p.
141.
Os mexrados das O¡dens Milrtares de A.vis, Cristo e Sanriego foram anexados à Co¡oa em
1551, sendo anres con6ados a pessoas próximas do monarca, filhos bas¡ardos ou pârenres
próximos. Seu parrimônio econômico e simbólico, como nos lemb¡a Fernanda Olival, loi
urilizado amplamcnre peÌa Coroa para recompensar seus por meio, por exemplo, de
'assalos,
comendas ou de hábicos de cavaleiros. Fern an d,a Oli.val, Op. cit., pa:si.a. Regisrr€-se åqui que
os hábi¡os eram ves¡imenras especiåis que caracrerizavam as ordens milirares; com o rempo
foram se reduzindo a uma simples insígnia ou disrinrivo, mant:ndo, conrudo, a denominacão
original.
A formacão da elite coÌonial 41
j6 Oln'eira Martins, se¡luindo seu cstìlo, rraça o seguinte perÊl de D. Manuel: "ocupado a cal-
cular os lucros da sua fazenda da Índia, me'cador e apaixonado pclas ricas aLfaìas preciosas,
como um N{édicis", Oliveìra Marrins, H;rtorí/1 ¿e PottxgaL Lisboz: Guimaráes, l97Z 17"
ed., p. 315. Virorìno Magalhaes Godinho vai lalar em "Estado-Mercador" e Manuel Nunes
Dras em "Capìralismo ìvlonárquico", cf. Virorino Magalháes Godinho. A E\trutara ¿a Ant¡91
Socledade Partu,gaesa. LLsboa Arcádia, 1971, p. 75 e ManuelNúr\esDj^s. O CãPiîalisml Mo-
ntírquico Português,2 tols., Coimb¡a: Unìr'ersidade de Coìmbra, 1963.
57 Ped¡o Ca¡dim, Op. cit., p.60.
58 Fe¡nanda Olival, Op. clr-, p. 31. Embora djscurivel, exrs¡ia â impressáo de que as honras
esravam sendo disr¡ibuídas em exccsso, assim Diogo do Couto dizia: "Eu náo peço a Sua
Majesrade que me faça 6dalgo nem qLre me dê o hábi¡o de Cristo, porque o mundo está táo
cheio deles, que ainda hei de ser conhecido por homem que náo rcm hábito", Diogo do Couto,
O?. cit , p. 1.
Rodrigo Ricupero
náo ser nova coise no mundo aos grandes príncipes ... fazerem
nhorios grandes os 6dalgos e cãvâl€i¡os que fâzem servicos assinalados, e Póem suas
vidas em Pe¡igo por receberem galardáo e me¡cê, se lhe Deus dá vida; e alguns desra
Raymundo Faoro, porém, náo foi o primeiro e rnzet pata a análise do passado
b¡asilei¡o o concei¡o de \Øebe¡ót. Em 1936, Sérgio Buarque de Holanda inr¡oduzia a
idéia, dedicandolhe, contudo, tão somente dois parágrafos, que, talvez, por antecede-
¡em imediaramente ao famoso debace sob¡e o homem cordial, âcaram esquecidos66-
Foi, contudo, Flo¡estan Fe¡nandes quem melhor soube adaprar o conceito webe¡iano
à nossa histó¡ia. No ensaio'A Sociedade Esc¡avisca no Brasil", de i97661, dedicou um
tópico às funçóes do patrimonialismo nas relaçóes da Co¡oa com os vassalos no pro-
cesso de colonizaçáo.
Pa¡a FIo¡es¡an Fe¡nandes, Portugal organizava-se como complexo Estado pa-
trimonial, €m que "a concentraçáo de poder e de riqueza nas máos do sobe¡ano
representa a contraPa¡te da associaçáo deste com a nobreza, o clero, os'homens de
fo¡runa', do país e do exterior, em uma grande empresa militar' econômica, política
e religiosa comum"6s.
Lembre-se que a 1'ediçâo do trabalho é 1958. Raymundo Faoro, Os Danas do Podu Rio àe
Janelro: GÌobo, 1958. Embo¡a o livro, Posteriormente, ¡enha sido muito
ampliado' a parte
dedicada ao rema aqui discutido náo sofreu profundas alreraçóes, assim citaremos sempre o
concepçáo patrimonial para explicar a forma como a Monårquia conseguiu rmPedir o desen-
r.olvìmento do feudaÌismo em Portugal. Edua¡do d'Oliveira Franca, Op rit'' p 96 e segs
Max Vebe¡, Op. cit. e GinzZ. Kuper, Op. cit , p.21 e sqs.
Rìco-homem era o grau mais elevado da nobreza nos Primeiros sécùlos e o termo se ¡ssociou
à idéia de autoridade p¡oveniente do exercício de algum cargo CL Maria Teresa Campos Ro-
drigLres, "Rico'Homem rn: Joel Serráo (Coorà\' Dícion¿r;o d¿ Hist'iria le Porngal,6'oß '
lorro: liguei-inl-as. llo). romo V. P. J45
75 Eduardo d'Oln'eira Fr^nca, OP. c¡¡., p.101
76 Fernan,la OÌival, Op. cìt., 44. Bom exem¡ln ãi*o er: " "so das comendas das Ordcns M;li-
rares para a remuneraçáo dos vassaìos. Também ver sob¡e o assunto António ManueL Hespa-
nl,a, As ué:pera,s do Leuiathan, Coim!:ra.: ttlmedina. 1994, p 402'
Raymundo Faaro. Op. ctt , p- 20 8 ainda na mesma obra' para Faoro, "a açáo re"l " f"í
por meio dc pacros. acordos c negocìaçóes" e "a rroca de benefícìos é a base da:rìvidade
pública, dissociada em inre¡csses rcunidos numa únìca convergência: o poder e o tesouro
do reì", p.50.
Essâ rese náo nos parece cont¡adi¡ória com a monarquia absolutxta "é apcnas
visáo de que a
(aqui
uma nova Forma polírica necessária à maturenção da dominaçáo e da exploraçáo feudais
no sentido marxisra), no período de desen'oL'imento de uma cconomia mercan¡il"' como
nos diz Ahhusse¡ idéia posreriormenre dcsenvolvida por ?erry Änderson' pois a monarquia
portugt'esa defcnsora dos inte¡esses da nobreza, já dependente do poder real' encaixa-se no
modelo europeu de estado absolutista, embo¡a o acenruado carárer patrimonialista lhe con
52 Rodrigo Ricupero
esfera de favores ourorgados pelo soberano possâ converre¡-se num luga¡ de exploracáo
para a formaçáo de fo¡tunas, e a via liv¡e (.,.) ao enriquecimenro do sobe¡ano mesmo,
de seus funcioná¡ios da Co¡re, favoritos, governadores"Te-
O acesso aos cargos régios ocupava, dessa forma, papel imporranre na remu-
neraçáo dos se¡viços e, com o desenvolvimento do Império Ulrramarino, ganhou
maiores dimensóes. Para a nob¡eza do Reino, exercer cargos nas á¡ees mais impor-
rantes do Império e¡a fo¡ma náo só de obte¡ hon¡as e mercês, mas rambém de con-
seguir boas forrunasso; para ourros seto¡es da sociedade, servir em variada gama de
ca¡gos e posros médios e inferiores era a possibilidade de ascensáo social e ¡ambém
a de enriquecimen¡o. Ässim, a divisão dos cargos e das ¡ecompensas, e a fo¡ma de
acesso a ambos, podem indicar a discinção feita por Alencasrro ent¡e o "homem
uftramarino" e o "homem colonial"sl, e enrre es¡es e vassalos corn ambiçóes mais
limiradas que recebìam pequenas parcelas desses benefícios e atuavam numa área
bem mais ¡estrita,
Essa política de troca de serviços por recompensas permiriu, nas palav¡as de Flo,
restan Fernandes, qlre uma "Co¡oa pobre mas ambiciosa em seus empreendimentos,
(e que) procura apoio nos vassalos, vinculando-os aos seus objetivos e enquadrando-os
às malhas das es.rurùras de poder e à burocracia do estado parrimonial"sr cons¡¡uísse
seu império colonial. Para esse auror, "sem essa associaçáo (entre a Coroa e os colonos)
náo haveria nem império colonial portugués nem economia de planraçáo no Brasil"Bs.
O vassalo era "em úkima insrância, o ve¡dadeiro susrenráculo do império no Brasil",
e a aÊnidade de inte¡esses ent¡e a Co¡oa e os vassalos se¡ia ráo grande que a riqueza e
o poder de embos c¡esciam num ûesmo settido. "O colono de s¡¿¡z¡ senho¡ial náo só
era o vassalo e o representante da Coroa na Colônia: ele era, simultateamente, a base
material visível ea mão a¡mada invisível da exis¡ência do lmpério Colonial ...". "T¡ata-
se", enfim, para Florestan Fernandes, "de uma montagem polírica perfeita, que ainda
hoje aparece como uma pequena obra-prima"sr.
Po¡ tudo isso, a temune¡acáo dos serviços náo pode ser vista apenas corno
dom ou me¡cê do mona¡ca, fru¡o de sua maior ou menor libe¡alidade A troca de
serviços por me¡cês foi um componente cen¡ral da política adotada pela monar-
quia portuguesa, que lhe permitiu náo só a consti¡uiçáo do Reino independente
na península, mas também a montagem do vasto Império. Nesse sentido, ac¡edi-
tamos que o uso do conceico weberiano de patrimoniaiismo, aplicado à monarquia
porruguesa, p€rmite umâ melhor compreensáo da ¡ealidede em sua ¡otalidade, ao
conc¡á¡io de "economia das me¡cês" de Fe¡nanda Olival ou "economia do dom" de
-Anrónio ManueÌ Hespanha, que, embora exP¡essem a importância da polírica de
troca de serviços por honras e mercês, rendem a isolála dent¡o do con¡ex¡o mais
geral da monarquia, como uma política, entre outras, adorada de forma indepen-
r]enre or náosi.
As promessas e as negociações
55
56 Rodrigo Ricupero
Pouco menos de dois anos depois, o rei Filipe III de Portugal nomeava, em res-
peiro aos serviços feicos, Domingos da Veiga para o posto de capiráo da capirania do
Ceará no lugar de Martim Soa¡es Mo¡ero, que, por sua vez, seria deslocado para lutar
contra os Holandeses em Pernembucoa- Mas quais te¡iam sido os serviços feitos? A
carta de provimenro para a capirania do Cea¡á ráo informa, porém, em ouiro provì-
menro, dessa vez para capkâo da ca¡avela e das tropas que levava para a capitania no
momenro em que ia roma¡ posse do cargo, descob¡imos que esses serviços erem os
feiros na costa do B¡asil, principalmenre no Rio Grande (atual do Norre) e Cea¡á, onde
lutou murtas r.ezes com inimigos, e, além disso, descacava o documenro, possl!ía our¡o
importante atributo para o cargo, conhecia bem os índios da regiáot.
O episódio relatado em si mesmo é banal, mas exemplifica um dos aspectos cen-
rrais da relaçáo enrre a Co¡oa e seus vassalos, a troca de serviços por mercês, largamente
utilizâda no processo de colonízação das parres do B¡asil6. Porém, apesar da impor-
tância da questáo, a historiografia sobre o período colonial rratou pouco do assunro. A
única obra que trata diretamente da questáo das recompensas recebidas pelos morado-
res das parres do Brasil é o estudo A Remuneraçáo de Seruiços da Guerrd, Holandesa de
Cleonir Xavier de Albuquerque editado em 1968'.
A aurora esruda o p¡ocesso de obtençáo das dive¡sas mercês desde os pedidos
feiros, as consulras ao Conselho Ulr¡ama¡ino, as mercês requeridas, os serviços que
eram apresenrados aré os ¡esuftados dos pleiros. Mosrra-nos, ainda, os pedidos feitos
por familiares, as heranças, as réplicas às decisóes da Coroa e, inclusive, a falsidade de
alguns documenros..A pesquisa, porém, ao enfocar apenas o conrexro pernambucano
posrerior à expulsão holandesa, e, principalmenre, por fica¡ res¡ri¡a à descriçáo do pro-
FortaLeza: Minerva, 1909, rrcl. I1, p. 221. Esre documenro rambém pode ser enconrrado no
?rojero Resgare, Ceará, documento 8.
A carra de nomeacáo conclui dispensando Domingos da Veiqa de romar posse nas máos do
governador-geral em virrude da guerra com os holandeses. Cf. "Carra Régia nomeando Do-
mingos da Verga para capiráo-mor do Ceârá por seis anos em subs¡i¡uiçáo de Marrim Soares
Moreno" de 19 de serembro de 1630, Arquivo Nacional da 1'or¡e do Tombo, Ch¿ncela¡ia de
Filipe III, Doacóes, Ofícios e Me¡cês, Livro 25, fl. 112, publicada ern Baráo de Srudarr, O¡.
cit.,rcl.II, p.).54-
Ver "Carra régia nomeando Domingos da Veiga para capnáo da genre de inlanraria que vai
ao Ceará e para capiráo da Caravela" de 15 de novembro de 1630,,{rquivo Nacional da Torre
dolbmbo, Chaûcelâ¡iâ de FiÌipe lII, Doaçóes, Ofícìos c Mercês, Livro 26, fl. 2Z publicada
em Ba¡áo de Srudarr, Op- cít.,'vol.II, p.2.56.
Para os aspecros de fundo da rroca de serviços por mercés, veja-se o capirulo anrerior.
Cleonir Xavìe¡ de.Llbugrerqte, A remaneraç,io de,;eruiços da guerrø hol¿tàesa. Reafe: IJFPE,
1968.
A fo¡macáo da elite colonial 57
cesso de solicitação e ¡ecebimen¡o das "hon¡as e mercês", náo permrte maìor compre-
ensáo das relaçóes da Coroa com os vassaioss.
Tal aspecro, contudo, particularmente no que toca a compreensáo que os grupos
dominances da capitania de Pernambuco const¡uí¡am de suas relaçóes com a Co¡oa
pode ser encontrada no conjunto da ob¡a de Evaldo Cab¡al de Mello..Aflnai, o "ima-
ginário nativisra" pernambucano construiu-se a partir da idéia que a restauraçáo lora
sustentada pela gente da ¡e¡¡a e exp¡essa na máxima "à custa de nosso sangue, vidas
e fàzendas"!. Tal tema, contudo, como veremos adiante, surgiu nas partes do Brasil
mui¡o artes da invasáo holandesa e se¡viu como mote das queixas e cobranças feitas
pelos vassalos fren¡e à Co¡oa.
A historiograâa portuguesa mais recenre cem abo¡dado e questáo, t¿nto nos
aspectos mais gerais da rroca de serviços por mercês como com relaçáo aos P¡ocessos
bu¡oc¡áticos para obtenção das recompensas. Bom exemplo destas preocupaçóes é o
¡¡abalho de Fe¡nanda Olival, l¡ Ordens Militø,res e o Esrado .l¡t[oderno: honrø. mercê
e ue¡¡alidø.de en Portu,gal (1641-1789), que t¡ata cent¡almente da, como ela chama,
"economia da me¡cê", a partir da análise das o¡dens mili¡ares Portúguesas, que,
graçâs ao seu ¡ico patrimônio, permiriram à Coroa a ¡emune¡acáo dos vassalos, por
meio da disiribuição de comendas e de há5itos de cavalei¡oi0.
Retomando o episódio ¡elatado acima, en¡¡e Mattim Soares Moreao e Filipe III.
Outro aspecto importante é a naturalidade com que os agettes, no caso, o capitáo do
Ceará e o ¡ei, solicitavam e concediam as mais va¡iadas me¡cês. Afinal, a expeccativa
geral era a de que os serviços realizados se¡iam ¡emune¡ados e de que os prêmios alcan-
cados, ranto mate¡iais como simbólicos, permitiriam a realizaçâo de no' os e m¿iores
serviços que, po¡ sua vez. possibilìrariam outfas recomPe¡Ìsas ainda maiores numa es-
piral ascendenie. Essa, pelo menos, e¡a a dinâmica esperada, mas nem sempre efetiva-
da, pois, entre o serviço terminado e a sua efetiva ¡emuneraçáo, o caminho, com seus
diversos procedimentos, poderia ser bem lonqo e nem sempre concluído a bom te¡mo
pelo vassalo, o que gerava uma série de queixas e reclamaçóes.
De qualquei forma, servir à Co¡oa e¡a uma das mais imporiantes formas de
ascensáo social e econômica, porquanto, como já vimos, o cofre de mercês gerido pelo
monarca era amplo e as mercês va¡iadas, o que Pe¡mitia âg¡acia¡ os se¡vicos ¡ealizados
pelos grandes e humildes, tanco na metrópole como por todo o Império
8 Evaldo C¿b¡al de \4ello. Rrbro Wla,3" ed. Sáo ?aulo: .A.lameda' 2006; Evaldo Cabral de
ll.el\o. A Frondd do: Mozambas. Sâa P¿ulo: Companhia <ias Letras, 1995 e Evaldo Cabral de
Mello, O nome e o sangza. Sáo PaLrlo: Companhia das Ler¡as. 1989
9 Er-aldo Cab¡al deMello, Rubro Wia, 01. rit, P. i3 e seguiÐtes.
10 Fe¡nanda OlÀ'al,As Ordcns Mìlit¿res e o Est'¿do l':toderno' honra, nercë e ¡tenalidade cm Portu-
gat lotÌ-l'8o Ii bo¿: F.r¿r.200ì.
j8 Rodrigo Ricupero
Cl. 'Carra de mercé, que o Senho¡ Governado¡ Mem de Sá fez a Vasco Rodrigues de Caldas e
a Ì00 homens que váo com ele a descob¡il' dc 24 de dezembro de 1560, p'tl>Iiczdanos Anais da
Bibliatec¿ Nacion¿l.Rto deJaneiro: Biblioreca Nacional, 1876, vol.2l p.2)l enos Dacumeutos
Hí:ttiricos, 110 vols. Rio de Janeiro: Biblioreca Nacional, 1928-55, vol. 36, p. 144. Ou ainda a
opiniáo da junta sobre Marrim Carraiho, que assumra certa t.reL "rambém pela esperança de
Sua Ma;esrade lhe fazer mercé conlo¡me:ro serviço que nisro lhe fizer". Cl "Cópia do parecer
da junra sobre coisas do Brasil que loi a Sua Majestadc" de 1' de dezembro de 1j90. Bìbliorec.r
rr*acional de Lisboa, Reservados, Coleçáo Pombalina, códice 644, fl. I l3 v - 1li \.
Cf. "Cópia de alguns capírulos de carras de Manuel Teles Barrero, governador do Brasì1,
do ouvidor geral de Pernambuco Ma¡rim Leitáo, e do provedor-mor C¡istóváo de B¿rros
para el-rei, sobre o es¡ado daqueLas ierras, seus rendimenros", de 18 de agosro de 1584,
.{r<1un'o Nacional da To¡¡e do Tombo, Corpo Cronológico, parre ll1, maço 20, docu-
menro i4.
Cf. "Carra do rei para Mem de Sá" de 20 de abril de 1566, publicada por Mello Mo¡aes,
Choragraphia Hi*,irica, chronographica, genedlógica, nobílitíria e Volíúca da Inpérìo do Brasil,
2 r'ols., Rio de Janeiro: Pinheiro, 1866, vol. iI, p. 244.
"Cårra de el-rei pâra Gaspar de Sousa" de 8 de novembro de 1612, pubhcada em Canas para
Áh'aro d¿ Saus¿ e Gaspar le Sou:a. Lisboa: Comissáo Nacional para as Comemoraçóes dos
A formaçáo da elire colonial 59
gurar de minha parre a todos os que estiverem, e de novo mc forem servir â dita
conquista, que se há de ter muito respcito aos serviços que oela me 6zerem para
lhos mandar por eles diferir as suas pretensóes com hon¡as
me¡cés; e Perâ esle
e
efeiro vos encarrego muito que renhas particular cuidado de saber o que cada
um âzer em sua obrigaçáo, de que lhes passareis suas (do governador) cer¡idóes
em que especialmenre se decla¡a o procedimento a quem locerem Para eu me
r5.
inrei¡a¡ de tudo com toda a particulariedade
engajemenro dos vassalos, no caso, em sue maio¡ parte, ¡ecru¡ados nas Pertes do
Brasil já ocupadas pelos portugueses, Perticularmente em Pernambuco. Pa¡a tan-
ro, era preciso que o monerca refo¡çasse as P¡omessas-
E por isso, em 1617, já com o Maranháo conquistado, mas ainda Pouco povoado,
o anrigo go,,ernador-geral Gaspar de Sousa, de volta ao Reino, escrevia uma lembrança
ao ¡ei cobrando o pagamento das antigas promessas e sugerindo a necessidade de novas,
como forma de arrair colonos, pois
de Pe¡nambuco e seu dìstrito irá muita gente (povoar o Maranháo) .. com pro-
messas de se lhe reparti¡em ter¡es nâ dita conquista' a cuje gente não ¡e¡n Vossa
Majcsrade até hoje feiro mercê alguma como the mandou prometer Por Prov;(;o e
carta sua que tenho cm neu poder e isto é o que mais os desconsoìa e des¿njma a
povoarem aquela nova conquista sendo os primeiros que nela trabalharamr6
'ol.I, p.53.
"Carta de el-rei para Gaspar de Sousa" de 27 de outub¡o de 1615, publicada em Cartas para
Átz,aro de Sou:a e Gasp¿r de Sousa. Op. dt., p.276.
Ver "Lembrancas quc fcz Gaspar de Sousa que foì governador do Brasil do que convinha a
conquista do Maranháo', escrito provavelmente em l6t7 e Publicado pelo Baráo de Srudart'
Op. cìt.,rc|.1, p. 124.
60 Rodrigo Ricupero
Parrìcipor-r da maìor parce das companhas mrlita¡es ao norrc de Pernambuco enrre o Ên.rl do
XVI e início do X\¡II, ñi nomeado capiráo do Rio Grande pelo reì em 1606, cargo que cle já
servia, lìlho Àlonso de -{lbuquergue fòì nomeado capiráo do Rio de laneiro em 1605, em
e seu
respeito âos se¡viços próprios c rambém pelos do par. Cl. respccrivamenre -,\rquivo \*åcionai
d¿ Torre do Tombo, Charcelaria de Fiiipe III, Doaçóes, Olicios e \,le¡cés, Lrr.ros 6, fì. 379 c
17, fr,. 67 v.
Parece quë Gasp?.r dc Sousa exagera ù¡¡ pouco nerse ponro, pors o iì1ho de Jerônìmo de Àl-
buquer<¡ue, Âncônio dc Àlbuquerque, numa periçáo ao monarc¿ náo lala na vcnda de ¡oda a
lazenda parerna, mas dìz que o pai, para podcr làzer a conquisra do Meranháo, gascou muiro,
empenhando urn engcnho, que por ainda esrar empenhado, acaba pedindo para receber os
ordenados devidos ao pai, o que o rei concede. CL "Consul¡a sobre a petrçáo de.{nrônio de
Albuquerque, que reqLrer a satislaçáo ¡lu¡na cin-ida conrraida para corn seu pai, Jcrônimo de
iLlbuquerquc o quaÌ rrabalha¡a no descobrimenro c conqursra do Ma¡anháo", darada de 2 de
m¡.io de 1620, ArchÌvo Ceneral de Simancas, Sec. ProvinciaÌes, códLce 1474, Livro de Con-
sulras do ConscLho de Fazcndp. do ano de 1620, 11. 183 a i84 v.
Todas as crraçócs desse parágrafu sáo do docunen¡o inrirulado Lembranças que lez Gasp.rr
de Sousa que for govcrnador do Brasil do que convinha a conquisra do lfaranháo", cirrdo
A formacáo da elite colonial
10 Gaspar de Sousa lemb¡a a Alexand¡e de Mor.rra que "vz íny'.ios ná.0 sc pode fazt guerra e
que seln Jerôniml ¿¿ Atbuqxerque ¿o temos íi1¿io'". Cf. "Car¡as de instruçóes secrctas do
Governador Gaspar de Sousa ao capiráo-mor Alexandrc de \foura' para de6n itn a conqu is
ra do Maranháo", da¡ada da Bahia. 15 de iunho de 1615. que consta do Ziu'/o Prineirl ¿o
Gouerno do Br¿:iJ,Rio deJaneìro: Ministério das Reiacóes Exte¡ìo¡es' 1958' p' 121 Repu-
blicado reccntementc pela Comissáo Nacional para as Comemoraçóes dos Descobrimcntos
Porrugucses.
21 Ci "Doaçáo da capirania do Cairé Álvaro de Sousa , de 13 de lcve¡eiro de i634 Àrqu;vo
a
NacionaLdzTor¡e do fümbo, ChanceLaria de Fllipe Ill' Doaçóes, Olícios e Mercês' Livro 27'
S. 32r publrcado por Lucinda Saragoca - Da "feliz lu:ítå;ai¿" io: confns da -Anérìcn Lìsboz:
Cosmos,2000. p.326.
)2 Àntónio Albuquerque. conlorme explica a carra de nomeaçáo, recebeu as mcrcéc cìr:'las'
de
em resÞeìto ao serviços do felccido pai, Jeròoimo de Àìbuquerque Maranhao, que agora lhe
perr€ncjam, e ¡ambém em resPeiro aos seus próprios seriços naquela conqrrìsra-
"Carta de
nomeaçáo dc .A.nrônio de Albuquerque' de 9 de agosto de 1622' Ârquivo Nacional da Torre
do Tombo, Chancela¡ia de FiLpe IIl. Doaçóes. Oßcjos e Mercés. Ln ro 3 0. ?40 L Ver råm-
bém a "Car¡a de conFrmaçáo de scsmaria de Anrônio dc Aìbuquerque' de 14 de agosto de
1630, da mesma chancelaria, Livro 22, fl 330-
23 Cf os documenros pubiicados no 6nal do primcrro capítulo de Augusto Meira Fìlho, Ez¿lz-
ção Hi:tóríca dt Brlém do Gr¡io-P¿rá Belêm' 1976
62 Rodrigo Ricupero
governador do Esrado do Maranháo, quando ence¡rou sem honra sua carreira, ao enregar
a capitania sem luta aos invaso¡esrl-
Se os principais responsáveis pela conquisra foram recompensados, os vassa-
los mais humildes, que rambém estavam contemplados nas promessas feicas pelo
monarca, também foram, de maneire geral, recompensados- Nos liv¡os das Chan-
cela¡ias de Filipe II e Filipe III, encont¡amos mais de 50 p¡ovimenros de cargos em
que a participaçáo na conquisra do Maranháo e região é expressamenre cirada:t. Sáo
casos como o de Ped¡o Fernandes Godinho, cavaìeìro fidalgo, que obteve a mercê
do cargo de provedor da fazenda dos defun¡os e ausenres do Ma¡anháo:6 ou ainda
de gente mais simples como Manuel da Silveira, barbeiro, que recebeu o mesmo
posto no Maranháor7, mas também de genre como João Machado Fagundes que foi
concemplado com o posro de meirinho da ouvido¡ia da Pa¡aíba, onde era moradot'3,
ou de Belchio¡ Rangel, nomeado alfe¡es da fo¡raleza da ba¡ra do Rio de Janeiro, de
onde era naruraFe.
Se¡iam estes mais de 50 casos signiÊcativos? Acreditamos que sim, pois' embora a
quantificaçáo seja difícil e muitas vezes teme¡á¡ia em casos como esse, é possír'el inferìr
que ertre o início e o te¡mino da conquista, digamos entre 161'2 e 7616 oÌr um Pouco
depois, algo em corno de mil portugueses tenham passado pela regiáo - o governador
acredirava, a princípio, que 150 a 200 soldados se¡iam su6cientes; mas depois ral número
c¡esceu) e a expediçáo comandada por Alexandre de Mou¡a, a maio¡ de todas, rinha
declarados 600 homens b¡ancos logo, numa primeira aproximaçáo' I homem em cada
20 te¡ia obtido a mercê de algum posro na administraçáo ou na milícia-
Deve-se leva¡ em conta) ainda, outros asPectos, qu€ seráo explorados adiante'
como, por exemplo, as dificuldades de se requerer diretamenre na merrópole ou a fal-
¡a de ouc¡os se¡vicos para complementar a folha que possivelmence fariam que Par te
significativa dos homens envolvidos acabasse sem qualquer tipo de retribrLiçáo pelo
se¡.,iço realizado ou que somente muico tempo depois, após Prestar outros servicos'
conseguisse algum tipo de remuneraçáo Também náo se deve esquecer que muitos
dos vassalos mais contentassem ¿pen¿s com mercès menores, dadas di¡e-
humildes se
'Carra de el-rei para Gaspar de Sousa" de 30 de agosro de 1613, publicada em Cartøs para
Álaaro de Sousa e Gøspar d¿ Sous¿. Lis6oa: CNCDP e Rio deJaneiro: Minisrério das Relaçóes
Exceriores,200I, p. 211.
O mesmo procedimenro era adorado para o ìúaranhão: "para se moverem homens nob¡es e
de cabedal a ir se¡vir nesrâ conqursra por serem os de mais importância e poderem em pouco
rempo labricar engenhos e comercia¡ devo obrigáJos com algumas honras e mercês para se
ole¡ece¡em e i¡em com vonüde". Cf. 'lnsrruçóes para Gaspar de Sousa, governador do Brasil,
sobre a conquista do Ma¡anhao" de 9 de ourubro de 1612, pubìica<12 em Cartas para Áluaro
de Sausa e Gaspar de Sausa. Op. ctt., p. 160.
Gab¡iel Soares de Sousa diz que haveria muito mais engenho do que os quarenra cxisrentcs
na Bahia, "se os moradores (fossem) favorecidos como convinha". Gabriel Soares de Sousa,
Ttatado desrùrit,a do Bra¡il em 1587. Sio Parlo: Companhia Edirora Nacional, 1987, p. 132.
"Relató¡io de Alexandre de Moura sobre a expediçáo à llha do Maranháo e a expulsão dos
F¡anceseí', esc¡iro em Lisbo¡, 24 de ourubro de 1616, publicado em Dacl,mentot pala a H¡stó-
ría dø Conquista da costa leste oeste do Brøsil,Rìo de Janeiro: Biblioreca Nacional, l90i (sepa-
rara àos Anais da Bibliote':a Natlana[¡, p.49.
"Memo¡ial sob¡e as terras e genres do Maranháo, G¡áo-Pará, e rio Âmazonas que o enviou
IIl" <1e 1632 publicados por Lucìnda Saragoça. Da "F¿/íz Lu'iùini¿." aos confns àa
a Filìpe
Améñra. Lis5oa Cosmos, 2000, p. 351
D. F¡ancisco de Sousa disco¡da dessâs proposras, pois achava, por exemplo, que os hábicos
deve¡iam ser ¡ese¡vados aos serviços maiores. Cf "Consulca sobre as minas de S. Vicenre do
A fo¡macáo da eli¡e colonial 65
O escímulo exe¡cido nos vassalos pelas promessas náo passava despercebido aos
funcionários régios ou ao clero, que, em carras ou ¡elatórios enviados à Coroa, indica-
1.am como as Promessas de dádivas va¡iadas se¡vi¡iam pa¡a anga¡iar ¡ecußos humanos
e maleriais.
Até aqui, contudo, vimos exemplos de promessas mais ou menos coletivas, mas
estas ambém podiam se¡ individuais, siruação que dava, muiras vezes, lugar a nego-
ciaçóes formais de maio¡ ou meno¡ vuito entre a Coroa e os vassalos-
-A situaçáo mais simples pode ser exempiificada pelo caso de Äfonso de F¡anca,
fidalgo, natural de Tânger, que, em respeito aos servicos feitos e à promessa feita em
1602 de que, indo se¡vi¡ no B¡asil, ¡ecebe¡ia uma mercê, foi nomeado capitáo-mor da
Paraíba em i61816.
Out¡os casos, porém, Ievavam a negociaçóes mais complexas como a de Gab¡iel
Soa¡es de Sousa com a Co¡oa, du¡ante o ¡einado de Filipe I de PorrugaL, para o des-
cob¡imento de minas no inte¡io¡ do contiûente, que duraram, pelo menos de meados
de 1586 a¡é o fim de 1590 e início de 1591, quando, concluída a negociaçáo, foram
emiridos diversos alvarás37.
A negociação entre Gab¡iel Soa¡es de Sousa ea Co¡oa apresentâ certos ûacos cüac-
terísticos desse tipo de acordo prévio de rroca de serviços por mercês. A Coroa promeria
uma sé¡ie de benefícios, mas quase rodos condicionados ao sucesso do empreendimen¡o
e, muicas vezes, vinculados aos ¡endimenros daí provenientes- Ao vassalo, cabia a toali-
dade ou pelo menos a maior parte dos cuscos e praticamente todos os ¡iscosis.
No caso de Gab¡iel Soa¡es de Sousa, os alvarás mais significativos só teriam efeito
com o sucesso da expediçáo, que, como sabemos, malogrou, terminando com a morce
do aventu¡eiro- Caso tivesse alcançado êxito, Gabriel Soa¡es de Sousa ¡eceberia, como
me¡cê, o fo¡o de ûdalgo da Casa real para quatro cunhados e dois primos, já agraciados
com o hábiro da O¡dem de C¡isto com 50.000 réis de cenca. Faria ius, ainda, a ourros
doze hábitos da mesma o.dem com 20.000 réis de tença para os capiráes do empreendi-
menro, con¡udo todas as tetcas seriam Pagas com o rendimenco da conquis¡a Poderia
designar aré 100 pessoas que o dvessem acompanhado na expediçáo pa¡a receberem a
me¡cê do fo¡o de cavaleiro frdalgo; e, ainda por três anos, proveria os oficios de Justiça
e de Fazenda que se criassem nas Povoacóes a se¡em fundadas, além de nomea¡ seu
sucesso¡ no empreendimenco, que poderia usa¡ todas as provisóes e mercês, exceco
uma provisáo "ce¡¡ada e selada", que não cons¡a da documentaçáo conhecida sobre o
episódioit.
O rei, além das me¡cês acordadas, favo¡eceu o empreendimenro mandando
anunciar anres da iornada que seriam dadas honras e me¡cês aos P¡imeiros p¿rticiP¿n-
tes da expediçáo de acordo com seus mé¡i¡os e feitos confo¡me o que Gabriel Soares
relarasse posceriormenreao. Concedia, ainda, outras facilidades de pouco ou nenhum
custo, como, por exemplo: de se¡em ¡ed¡ados degredados das galés, cujos ofícios fos-
sem necessários à expediçáo, com perdáo Pare esses; que os capitáes das caPiraûias náo
se inlrometessem no caso; que D. Francisco de Sousa, governador-geral, rerirasse das
aldeias da Bahia duzentos índios "f¡echeiros" para participarem da jornada; que o mes-
mo governador entregasse 50 quintais de aigodáo para se fazerem corpos d'armas e,
por fim, que em Lisboa se desse passagem e mantimento ¿s Pesso¿s que iam embarcar
com Gabriei Soa¡es de Sousaa'.
O acordo final ent¡e Gab¡iel Soa¡es de Sousa ea Coroa deve ter imp¡essionado
os conremporâneos e acabou se ¡o¡nando um ma¡co no assunto' As negociaçóes Posre-
riores com relaçáo às expediçóes que procu¡aram descob¡ir minas Passalam a ser feitas
com base naquele acordo, inclusive para expediçóes feitas em Angola¡2.
Os dive¡sos alvarás cirados encont¡am se em Jaime Cortesáo (Eà-), Paul;cøe Lusnana lulo-
nrmnt¿ Historic¿,2 tomos em 3 vols. Lisboa: Real Gabinete Porrugal de Leitura do Rio de
"Aiva¡á de mcrcê e honras às primerras pessoas que acompanharem a Gab¡iel Soares de Sou-
sa, na jornada -.. S. Francisco" de t4 de dezembrc ¿e 1i90, I¿en, P. 416
"Carca régia para D. Francisco de Sousa inFormando <1ue as duas urcas qLre ler-aram Cabriel
Soa¡es de Sousa loram lreradas peLa lazenda real, e que na volta de"em rrazer açúcar e pau-
brasil, cob¡ando os l¡eres, sem embargo da prorbìçáo de comércro com navios estrangeiroí' de
27 dc m¿rco de 1591. Instituro Hisrórico c Geográ6co B¡asrlei¡o, Documen¡os m2nr!s'riros
do Instiruro Hisró¡ico e GeográÂco Brasileiro copiados no sécuio XIX por ordem de D Pedro
II, Códice Àrq. 1.2.15 - Regrscros - Tomo I Conselho Uh¡amarrno Porruguês
Cl Proposras e pedidos de me¡cê a eL-reì, Fei¡os em Lisboa, por Gonçalo Vaz Coutinho
sobre o descob¡imen¡o dc minas, invocando as concessóes oucorgadas a Gabricl Soares de
Sousa, â seu jrmáo Joáo Rodrigues Courinho pelo descobrimenro em A.ngola. Lisboa, Ì4 de
julho de 1611. Vireinìa Rau e Ma¡ia Fe¡nanda Gomes da Silva, Os ndnxßc't¡to\ ¿o ar.lì!j1a
da Casa de Cadaual respeitu t¿s ão Bï¿sí1, 2 lols. Coimbra: Universidade de Coimb¡a, 19i6,
ircm 29, p. 15.
A formaçáo da elire colonial 61
ourros alvarás, que consram do Regl*tr Ge¡øl d¿ Cámara Ì¡[¡,,¡ttcipa/ le Sáo ?a o. Sâo Pat:),o:
\rguiro Vunicip:ì. lol . rol. L p. lSS c.ceuin¡e,.
68 Rodrigo Ricupero
gasros saíssem do rendimento das minas, mas acabou rendo de arcar com parre dos
gasros posreriormenteiT. O mais inte¡essante em rudo isso, con6¡mando o Peso que
a expecrativa das recompensas exercia, é que D. F¡ancisco de Sousa acredirava que,
Belchior Dias Mo¡eia cla¡amente não confiava que suas pretensóes fossem aten-
didas, nem mesmo as que tinha aco¡dado com o governador-geral em nome do ¡ei.
Dessa forma, exigiu que chegassem os alvarás régios confirmando as mercês promeri-
das. A tensáo subiu e o governador forçou a partida da expediçáo, que terminou sem
localizar nenhuma mina, o que levou à prisáo de Belchior Dias Mo¡eia, obrigado a
pagar enorme multa, cendo mor¡ido depois sem revelar mais nada, pror,'ocando, dessa
forma, o surgimento da lenda das mìnas de prata no interio¡ da Bahiat'?.
Embora este seja um caso limite, dada sua ìmporrância e a magnitude das mercês,
indica que os governadores-gerais e evenrualmenre outros funcioná¡ios régios também
geriam o cofre da me¡cês: prometendo, negociando e concedendo prêmios, posto que
merores e semp¡e em nome do reits- Para tanto, além da disrribuição de te¡ras ou do
provimento de cargos, os regimentos dos governadores-gerais previam uma cota em di-
nheiro, num montante que foi se ampliando com o tempo, para faze¡ me¡cêstl e ¡ambém
a possibilidade de os governadores armarem cavalei¡os os vassalos que se destacassem no
serviço da Coroait.
Tal uso, correro ou náo, da faculdade de gerir esta arca de me¡cês di¡etamen¡e na
colônia, era apurado nas residências dos governadores, como se constata pela de Diogo
de Meneses, quando o rei orientava que se perguttasse às testemunhas "se (o governa-
dor) fez algumas me¡cês de dinhei¡o ou fazenda em (seu) tome, e por que resPejto, e
em quanta quanridade, e se para isso tinha licença ou ordem"t6.
Os trabalhos e os pedidos
mais diversos cipos de pedidos. Esses, num cerco senrido, eram como o ourro lado da
moeda das promessas. Nelas, a Coroa que se aproveira da expectativa geraì de remune-
raçáo; nos pedidos, sáo os vassalos que cob¡am a fatura
Os pedidos e¡am fei¡os por meio de cartas, requerimencos, Petiçóes ou mesmo
oralmente, nos quais eram apresentados os serviços realizados e requeridas as mercês
esperadas- lnfelizmente, para o período aqui esrudado, sáo ra¡os os pedidos originais
que se conservâram, conrudo é possível recuperar parte de seu conteúdo, pois, fìeqüen-
remente, nas consukas elaboradas sobre esses ou nos despachos finais, eram ¡esumidos
os pedidos.
As carras de sesma¡ia e os provimentos de ofícios exemplifìcam o caso. pois. nas
parces do Brasil, tanto as ¡eÍas como os cargos eram, na maio¡ia das vezes, concedidos
aos vassalos como ¡emuneraçáo dos seus rrabalhosti. A. partir desses documencos pode_
mos invesrigar a lógica da t¡oca de serviços por mercês, tan¡o na questáo dos ripos de
trabalhos que eram ¡ealizados como nas recompensas recebidas.
Em 1602, Diogo Lopes Velho obrinha uma sesma¡ia em Sergipe, concedida
pelo capiráo Manuel Mi¡anda Barbosa. Na justificava do pedido, elencav¿ os mui-
ros servicos que rinha feiro a Sua Majestade, "com sua pessoa e faze¡da, assim em
gue¡¡as como na paz, acudindo com seus esc¡avos e muitos homens b¡ancos a sua
cusra a rodos os rebates que se deram" há 20 anos até agora, e na tomada de Sergipe
"mandou sua genre e homens b¡ancos e cavalo a sua cusra em ajuda do governador
C¡isróvão de Bar¡os" e, concluía, prometendo um novo serviço, queria as terras Parâ
ajudar a povoar Sergipets.
No mesmo ano, mas no Rio de Janeiro, Manuel de Salinos, ¡ambém obdnha uma
sesmaria, alegando para o capiráo Martim de Sá que seus parentes "foram enquanro vive-
t7 Numa espécie de relarório sobre a capirania do Rro Grande (do Norre), Domingos da Veig.:
Cabral, já nosso conhecido, apresenta, em dado momento, a lista dos capitáes-mores que
â¡é en¡áo hâviâm se¡vido no Rio Grande e, ao lado de cada nome, cira os serviços por eles
¡ealizados, aresr¿ndo que rodos haviam sido providos enr sarisleçáo dos crabalhos já leiros.
''Descriçáo do Rio Grande por Domingos da Veiga" de 1617, publicado em Ba¡áo de Srudarr,
Op. cir., vol.l, p. 124.
58 "Ca¡ra de Sesmaria de Drogo Lopes Velho" de 20 de laneiro de 1602, publicada por Felisbelo
Freire, Hi:tóin le Sergipe. 2. ed., Perrópoiis: Vozes, 1977. p.374.
A formaçáo da elite colonial
ram leais cavalei¡os e servidores d'el-rei Nosso Senhor e em seu se¡viço nâ conquista desta
dita cidade e suas terras gastaram toda sua fazenda e seu sangue e vidas"te.
Filipe III de Portuga,I, em 1627, concedia a me¡cê do ofício de esc¡iváo dos Con-
¡os da Bahia a Ped¡o de Moura, em respeico aos serviços que fize¡a a¡é aquele momento
no Estado do B¡asil e por "servit nele em alguns ofícios com satisfaçáo por provimento
dos governadores"60.
Em 1625, F¡ancisco Gomes Muniz, morador na capitania da Pa¡aíba, e¡a nome-
ado, pelo rei, pa¡a o posto de provedor da Fazenda da capitania por seus servìcos por
muìros anos nas ocasióes de guerra, com "mui¡o gasto de sua fazenda e ¡isco de vida
servindo de capitáo do campo com soldados pagos a sua custa e susten¡ando a out¡os
pobres para náo desampararem as f¡ontei¡as e fazendo muiras obras públicas em au-
mento da nova povoacáo"6t.
Qualquer atividade podia ser recompensada, embora as mtlttares, evìdentemen-
te, fossem as mais importantes, pois sem elas nâo have¡ia colônia, e o período aqui
¡etratado é marcado por um con!ínuo de guerras, e, por isso, eÌas envolviam maio¡
número de pessoas. AJém disso, os serviços milicares dependiam mais da valencia pes-
soal e menos de recursos próprios do que outros tipos de tarefas, o que favorecia que
quaisquer vassalos, mesmo os mais humildes, pudessem servir à Coroa e, conseqüenre-
mente, requerer algum tipo de recompensa.
Nesse sentido, participar de uma campanha mili¡a¡, luta¡ contra piratas. con-
quistar novos territórios permitiria reque¡er hon¡as e mercês da mesma forma que exer-
ce¡ co¡retamenre um oficio da burocracia, financiar ce¡ros gastos miiitares, socorrer
as finanças da administraçáo colonial, descobri¡ uma mina' montar um engenho de
açúcar, desenuolver uma nove técnica de produçáo, fazer uma benfeito¡ia ou simples-
mente:judar no povoâmenLo de uma regijo.
Além do ripo de serviço prestado, a obtençâo de recomPensas maiores ou mèno-
res estava condicionada a ou¡tos fa¡o¡es. como a distinçáo en¡¡e nob¡es e plebeus ou
ainda o papel de cada um den¡¡o de uma mesma ta¡efa. No caso de uma jornada mili-
rar, a gradacáo das me¡cês variava do comandante supremo ao simpies soldado, ou, no
caso da administraçáo, do governador-geral ao esc¡ir'áo de uma Pequena càPitania'
59 "Carra de sesmaria dos sobejos de terra que pediu Manuel de SaLino" de 29 de julho de 1602'
Tontbo das c¿rtas de :¿smariø do Rio de Jønein (1594-1595 e ßa2't605) Rlo de Janeiro: Àr-
quiro Nacional, 1967, p.121.
"Regìstro da carra patente de Ped¡o de Mou¡a" de 17 de no.'embro de 1621, que consta do
Lìtro Segundo de Proulnentos, púliczào nos Daczmciúot Hìstóriros, Op clt.rc| 14,p 481'
"Registro da P¡ovisáo de Francisco Gomes Mìrnìz Pâra serlir dc Provedor áz Fazenl'a na
Paraíba" de 16 de maio de 1625, que consra do Zluru Segund'o le Prot:itn¿z¡¿-', Publjce'lo nos
Do.arnenlo' HiJlóricos, Op. c;t.. rcL 15, p )27.
7Z Rodrigo Ricupero
Antônio Vieira, 6el ao seu estilo, em sermâo pregado em 16 47, afrrmar "para as mercês
dos ¡eis da rer¡a, que náo imporram nada, tantas papeladas e tantos ministros: para
as graças do ¡ei do Céu, que importam tudo, uma só folha de papel e um só minis¡¡o,
uma bula e um sacerdote"ó6.
Vaie lemb¡ar, aqui, que o diálogo entre os pe¡sonagens de Diogo do Couto, em
O Soldødo Prtítico, oco¡re na casa de um "despachador", ou seja, o funcionário enca¡-
regado do processo burocrático para se obter as me¡cês e que umas das reclamaçóes
do soldado, personagem da obra, e¡a exatamente sob¡e a demo¡a dos despachos dos
pedidos6T.
Os caminhos pa¡a as ¡ecoñPensas eram dive¡sos e dependiam muito do starus
"Sermáo da Sanra Bula da Santa Cruzada" pregado pelo Padre,{.ntônio Vieira na CaredraÌ
<leLisboa em 1647, publicado em Se rrnóes do Padra Antónío Vieirlx, KPro¿'rçâo lacsimilada
da cditío princeps, organizada pelo Padre A.ugusro Magne, t6 rols Sáo Paulo: Anchierana'
1943-45,rci..I, p. 969 Os pleiteantes também esperatam contar com a a;uda divìna' daí o
cuho de Nossa Senho¡a do Bom Despacho, como, por exemplo. em Tararipe' no Recóncaro
de Saivado¡. procurada pelos fìéis para "conseguirem os seus bons despachos nas Petiçóes
"
Ver Frci Agostinho de Santa Ma¡ia Santuá.rio Mdríano e hìstória das ìmagcns Milagrosas de
Noss¿ Senhora ... aparecitlas em o arcebíspa¿o ¿a Bãhía (172I) Salvador: Insriruto Geográ6co
e Histórìco da Bahia, 1949 (Cor¡esponde ao 9'rolume da obra ìnregral)' p 142
Dìogo do Couto, O So/dado Prático. (1610) 3" ed. Lisboa, Sá da Costa, 1980, especìaìmente'
p.31 e seguinres.
"Consuha sob¡e An¡ônio Carvalho", Valladolid' 4 de dezemb¡o de i602 A¡chivo GeneraÌ de
Simancas, Sec. l¡ovinciales, códice 1463, Ln-ro de Consultas' originais do ano de 1602, Ê' 123
74 Rodrigo RicLrpero
1554, indo de Olinda até Salvado¡ para pedir ao governador geral D. Duarte da Costa
os ofícios de porreiro da Alfândega e aicaide do ma¡ de Pe¡nambuco6e.
lndependentemente do caminho, cabia ao ¡ei em úlrima instància, conceder ou
náo, concordando, ¡efo¡mulando ou negando os pedidos e também os pareceres da
burocracia régia, como se pode perceber pela correspondência trocada entre os Reis
com o vice-reis em Portugal ou entre os primeiros e o Conselho de Portugal, durante
o período filipino. Era comum rambém que o mona¡ca devolvesse as consultas com
insrruçóes em que solicicava mais informaçóes dos procedimenros do requerente,
sobre a qualidade dos se¡vicos ou ainda sob¡e as mercês já recebidas. Po¡ our¡o lado,
mui¡as das me¡cês de meno¡ vulto concedidas na colônia por funcionários régios,
como, por exemplo, pequenas sesmarias ou cargos da administraçáo pouco rendosos
acabassem sem confirmaçáo real, até porque esras náo justificavam o aito custo para
obter a conco¡dância do mona¡ca.
Com o co¡rer do rempo, o p¡ocesso foi ganhando maior formalidade e, poste-
¡iormente à Rescauraçáo em 1640, a maioria dos pedidos oriundos das colônias e¡a
enviada para o Conselho Ult¡ama¡ino. Náo precendemos, porém, abordar aqui com
mais deralhe o processo bu¡oc¡ático de obtençáo de recompensas, o que exigiria
aprofundar o estudo sob¡e a administraçáo régia metropolirana, fugindo assim aos
nossos objetivosTo-
Os pedidos podiam ser feitos em nome próprio ou em benefício de rerceiros,
como ¡ro caso do pedido de Ma¡tim de Sá de um hábiro de uma o¡dem milirar para
o filho, o famoso Salvado¡ Co¡¡eia de Sá e Benevides, ou ainda do jesuíra Damiáo
Botelho que, por seus servicos no B¡asil, pedia mercês para os sobrinhos. Na prárica
os serviços funcionavam como üm bem transmissível, sendo comum que um filho
solici¡asse as ¡ecompensas pelos ser','iços do pai ou que a esposa, pelos do marido fale-
cido. A Co¡oa acei¡ar.a ral prática sem maiores problemas, afioal era importante que os
vassaios soubessem que, em caso de morre, suas esposas e filhos poderiam conseguir
algum tipo benefícioi'.
"Traslado e regìsrro da provisáo por quc o gor-crnador proreu ..- a Jord:o Rodrigues" de 5 de mar
'A¡rendamen¡os do Engenho de Sergipe", sem data, mas do inícro do século X\''II Atquivo
NacionaldaTor¡e do TomEo, Cartório dosJesuí¡as, maco l5' documento 3'
An¡ônio allândega c almoxarifado da capiianìa de Pern' -ì'"'"
cla Rocha Bczcrra, escrir'áo da
Consta de seus papéis que. em 1595, durante o ar:.que dos lngleses a Pe¡narnbuco' An¡ònìo cia
Rocha o¡denou una companhia de 200 homens a sua custa' lazendo ¡anbém uma rr¡nchcìra
com cusro de 16.j00 cruzados, com ariilharia e dando mes¿ a muìta geote Ofcrecendo-sc em
ourras ocasióes de inimigos e acompanhando por muiros dias o Capìráo Manuel Marcarenhas
Homem, o governador Crisróváo de Ba¡ros e a I¡u¡uoso Ba¡bosa' a sua custa e fazendo muita
dcspesa. Fora ainda encarreeado pelo go"ernador para abrir o caminho de Pe¡namhuco até
a Bahia, quando fez muira despesa a sua cusra, e, por firn, que indo Francisco de trloralcs'
capiráo da inlanraria espanhola para passar a Pataíba, náo ¡endo man¡imcntos ne'' '"1'1os
ele o soco¡reu de sua fazenda com mais de 3 mil cruzados. "Consulta de Antônio da Rocha
Beze¡ra".,A.¡chiro Gcneral de Simancas, Sec. l¡ovinciales, códice 146l' Lir'¡o de Consuhas'
origìnais do ano de 1601. fìs.44'45.
"Carta de provimenlo de.Á.maro de Queirós como capìtáo do forte do Reofe" de 3 de marco
dc 1629. Arquivo Nacionaì da Tor¡e do Tombo' Chancelaria de filioe lll, Doaçóes, Ot-ícios
e l\4ercês, Lrvro 22, fl. 215.
"T¡aslado ,la pro.'rsáo do scnhor governador D. Duarre da Cosra que passou a '{mador de
Aguiar de caprrâo do berp¡antim Sáo Tomé ' dc 26 de ab¡il de 155.r' publicado ¡os Docuncntos
Históticos, Op. rh, r.oL. 35, p. 385.
76 Rodrigo Ricupero
para o Reino sendo capturado pelos franceses que mataram toda a gente, "ficando só t¡ês
homens com ele suplicante ¡odos feridos donde ele suplicante escepou com vinte e três
fe¡idas, uma máo menos e uma cucilada no rosro e logo o levaram a Franca dando-lhe
muito mau ûatâmeûo"7t, onde ficou por sele meser preso, gasrando muito para conseguir
se livrar e, em outro documento da mesma época, concluía, numa espécie de resumo dasua
vida aré enráo, que "rodos estes trabalhos e gastos lhe sobrevieram, por haver bem servido
a Sua Majesrade assim no descob¡imenco do Ma¡anháo e sua conquista, como em Ceará,
onde gasrou toda sua vida em conrinuas guerras com o genrio, atravessando muicas terras
do se¡ráo e f¿zendo outros muitos servicos, que sáo notórios"76.
Marrim Soa¡es Moreno expressava à sua maneira uma idéia cor¡ence nas parres
do Brasil, para os vassalos aqui ¡esidenres a conquista, colonização e manurenção das
partes do Brasil pela Coroa portuguese eram fruto, acima de tudo, do esforço dos
vassalos, com seu sangue, vidas e fazendas, cabendo assim ao rei a obrigaçáo de recom-
pensar ral esforço.
Ta1 concepçáo, freqüente em quase todos os tipos de pedidos de mercês, era a adap-
taçáo perâ o espaço colonial das idéias mais gerais sobre troca de sewiços por recompen-
sas régias, vigente no Império Português, e que nas pa¡res do Brasil acabou sinre¡izada
numa formulaçáo básica: "a cusra do sangue, vidas e fazendas" e suas va¡ian¡ef7. Fo¡mu-
laçáo que, inclusive, seria assimilada, posceriormenre, pelo próprio Conselho Ultramari-
no, pois este, ao aprovar o pagamenro para Diogo Gomes Carneiro, nomeado c¡onista do
Brasil, argumentava que "as heróicas açóes, que os vassalos de Vossa Alteza obraram
no Brasil, tanto à cusra do seu rrabalho, suas vidas, hon¡as e fazendas merece¡am o nome
de grandes em todo mundo, como a lama pública, ¡âo hâ nzio para que Vossa Alteza
deixe de as manda¡ esrampa¡"7s.
Essa justificaciva, co¡¡ente no Brasil e que legitimava as p¡e.ensóes dos vassalos
nelas residences, manifesrou-se desde os primeiros tempos da colonizacáo, como se ve,
¡ifica, po¡ exemplo, em ca¡ta escrita Por dois oficiais da Fazenda ao monarca em 1562,
na qual, a princípio, defendem os moradores, alegando que foi "a custa de seu sangue
e seu t¡âbalho" que eles ganharam e sustentaram a te¡ra7t-
Esse discu¡so se¡á sempre evocado nas negociaçóes, individuais ou coletivas, com
a Coroa. Em carra da Câmara da Pa¡aíba, os principais mo¡ado¡es da capitania. in-
dignados com a lei que restringia a escravização dos índios, diziam sem ¡odeios ao
monarce que:
79 "Car¡a dos Oficiaìs da lazenda do Salvadoi' de 24 de julho de 1562, publicada nos Anais da
Biblioreca Nacional. Op. cit , ro1. 2Z p 239 No mesmo sentido, Irei Vicente 'J" S'l'ador afi¡-
maria que "os moradores erem os que co scenra,-am (a terra) com seu ¡rabalho
e haviam conqnistado à cusra de seu sangue". Frei Vicente do Sa|'ador ' Op cit ' p 297'
"Ca¡ta da Câmara da Paraíba para el-rei sobre ordem do mesmo que mandou aquela capirania
para que se tirassem os gentios do poder das pessoas que rivessem' e lhe deu uma largainformaçáo
a respeito do mesmo" de i9 de abril de 1610 Ârquivo Nacional da Torre do Tombo, Corpo
Cro-
nológico, paÍ€ l, maço 115, documento 108.
O que náo é verdade, diga-se de passagem
78 Rodrigo Ricupero
fazendas, pugnamos há mais de cinco anos por as (capitanias) libertar da possessão injusta
do holandês"sr.
Foi após a expulsão dos holandeses de Pe¡nambuco em 16í4, que, conrudo,
essa idéia, adaptada ao cená¡io da ¡esreuraçáo da capirania, encontrou na eiire pernam-
bucana sua mais fina expressáo, manrendo seu vigor aré, pelo meûos, o fìm do período
colonial, e se¡vindo de base para formar o que Evaldo Cab¡al de Melo chamou de
primeiro nativismo pernambucano, ou seja, a represeûtaçáo ideoiógica elaborada para
desc¡erer as relaçóes da açucarocracia com a Co¡oa, jusrilìcando assim uma série de
prerensóes desse grupo sr.
Cons¡¡uía-se também, pa¡alelamenre a esra ¡ep¡esenraçáo ideológica, uma memó-
ria sob¡e a guerra da ¡esrar.rraçáo, que se esrendeu sobre o período aûrerior, abarcando
desde a chegada de Dua¡te Coelho acé a invasáo holandesa, cujos fru¡os mais conhecidos
são o conjunro de relaros das campanhas miÌitares. Mesmo antes de 1630, pode-se cons-
tarar, por rodas as pa¡¡es do Brasil, a consrrucão de úma memória, local ou náo, sobre a
conquista de certas áreas ou sob¡e outros acon¡ecimenros impo¡ranres, náo só em relaros
mais elabo¡ados, mas ¡ambém em documenros redigidos com Ênalidades mais limiradas.
T¿l memó¡ia náo é de somenos impo¡rância, pois era preciso comprovâr e par¡icipacão e
os serviços fèitos para se reque¡e¡ os devidos prêmios, daí que relaros, crônìcas ou memó-
rias, mas rambém carras, depoimentos e ce¡rificados lossem essenciais.
Os ¡ela¡os mais exrensos, impressos ou manuscriros, que divulgavam para um
público mais amplo os grandes âconreciñerros e seus prìncipais aror€s, e¡am o poûro
alro dessa memória consr¡uída. Po¡ baixo deles, porém, uma imensa gama documen-
tal, composca por carras, queixas, certidóes, depoimencos e pedidos, contribuía para
cons!ruir a memória dos acontecimentos coloniaiss¡.
Ä ob¡a do Pad¡e Ba¡tolomeu Guerreiro, Jornada dos Vøssalos ¿la- Coroø de Portu-
l¿Å sob¡e a reconqujs.a de Salvador, na qual os relaros sob¡e os vá¡ios momentos da
campanha caminhavam paralelamenre com a preocupaçáo em ar¡ibui¡ a real partici-
paçáo de cada um nos acoDrecimenros, nomea\¡a) com cuidado, os parricipantes e seus
fèitos, ressaltando que "assim colhi o que na empresa houve, das fonres da verdade, que
''Car¡a da Cânrara cie Pernembuco a D- Joáo IV" de l0 dc março de t651, ,zpu.d E..aldo Ca-
b¡al dc Mello, Rzlz¿ Wio. Op. cìt., p 92.
Veja'sc Ë.vaÌdo Cabralde Meìlo, Op. rzr., especialrncntc o capituÌo 3, intìrulado'À cusra dc
nosso sangue, vidas e fazcndas".
Sobre o assunro, veja-se arnda lris Kamar. Esquecilos e renascitlos, htstoriagraf,z aaiêrtita
Luso ¿n¿ri¡:¿r¿ (1724-1759). Sáo Paulo: Hucirec e Salvador: Cenr¡o de esrudos Baianos ,
UFBA,20O4.
A formaçáo da elice colonial ?9
.As c¡ônicas e relatos, ao destaca¡ os feitos, ou, pelo menos, ao ates¡ar a p¿rticiPaçáo
em dado evento, poderiam ser úteis num pedido de me¡cês, mas náo e¡am sua única fo¡ma.
A Coroa, em muitos casos, dava instrucóes aos governadores-gerais, em seus regimenros.
para que enr.iassem os nomes dos vassalos que tivessem prestados serviços relevantesse
O expediente mais comum, porém, era anexa., aos pedidos, certidóes que atestas-
sem os serviçosi como fez Belchior Vaz, que incluiu um ce¡tificado de Jerônìmo de Albu-
querque Maranháo, atestando seus r'á¡ios serviços na regiáo do Maranháo e que concluía
a6rmando ao ¡ei "é merecedo¡ de que o dito senhor lhe faça muitas hon¡as e me¡cês"eo
Pad¡e Barrolomeu Gvrreno. Janada dos \tassalos d¿ Coroa de Portagal. (1625) R\o de la'
nciro: BibÌio¡eca Nacronal, 1966, p. i5. AIguns capítu1os sáo quase inteiramente dedicados a
lisrar os nomes dos presentes.
Assoalha¡ lj¡eralmenre "colocar ao sol", em senrido Âgurado "pLrbÌicar ou divuLgal, ct Pedro
José dâ Fo¡seca, ,rrto n,rrio partugús c latino. Lisboa: Régia O6cina Trpográfica,
lT9l Mar-
rim Afonso de Sousa utilìzaya-se dâ mesma expressáo numa carta escrira' do Orrenre para o
rei, em quc afirmava: "eu sou mau assoalhador das minhas coìsas e riro Poucos insrrumÕntos
dclas ... porque há mur poucos que drqam o bem que o homem faz' e nunca faka quem diga o
mal". Cl "Ca¡¡a de Marrìm,A.fonso de Sousa' de i" de novembro de 1i35' Publicada Por Luis
de Albuquerque (Org.) . Matim Ajàttso de Saa¡¿. Lisboa: Alía, 1989. p 23.
"Sumário das,{rmadas que se Ezcram e guerras que se deram na conquista do ¡io Pa¡aíba",
publicado la Rer-isca do 1ns¡ituto His¡ó¡ico e GeográÂco Brasileiro. romo 36. p- 87 e 83' cuja
aLrrorìa é arribuida ao jesuita Simáo Travassos !èr sobrc o tema Josó Honório Rodrigues, '4rirl-
riã /-!1 Hist,iïin ¿o Br¿sil.3 vols. Sao Paulo: ComPanhiâ Edirora NacionaÌ, 1979' voÌ. I, P 4i0'
Merrim Leìtáo também loi agraciado com poesìas em latim e em espanhol pela conquista
da Paraíba. As duas poesìas em espanhol. de pouca qualidade' faLam da 'rtó¡ia sobre os Po-
riguarcs, compåra o ouvidor geral com gregos c ronanos' "que a todos sobrepuja en paz 1' en
guerra/ no emborando su pluma, lanca,v cspada". Biblìoreca Nacional de Lisboa' Reservados'
Códices (Ex Fundo Ge¡al),302.
"Regimento do gor.ernador-geraldo Brasil" de 8 de março de 1588, ptl>lìcaðo nos Datum¿n'
to,; para a Hístória lo Açúcatvol-I, p.156.
"Cerri6cado pasado porJerônimo de Albuquerque em favor de Belchior Vaz' companheiro
qLre loi de Marrìm Soares Moreno'' de l0 de junho de 1617, publicado pelo Baráo de Srudart'
O¡. rlr., II, p. 182.
"ol.
80 Rodrigo Ricupero
Ou ainda, o caso de Esteváo Soa¡es de-Albergaria, que apresentou as ce¡cidóes dos oficiais
da Câma¡a do Rio Grande, e dos governadores-gerais Gaspar de Sousa e D, Luís de Sou-
sa, e, por já ter servido como capitáo da capiania do Rio G¡ande, apresentou também
uma cerridáo de Manuel Fagundes, escriváo da Câma¡a do Rio G¡ande, sob¡e a ¡esidên-
cia tomada pelo ouvidor geral Manuel Pinto da Rocha que abonou seu governott.
O poder de emirir certidóes reconhecidas pela Coroa náo era desprezível, parti
cularmente para consegui¡ arregimentar pessoas dispostas a enfrenrar riscos em algum
empreendimento, como a exploraçáo do inte¡io¡ do contioente. Assim, Filipe II deter-
minou que seriam dadas hon¡as Primei¡os Participantes da expediçáo de
e me¡cês aos
aco¡do com seus mé¡i¡os e feitos, confo¡me o que Gabriel Soa¡es ¡elataria posrerior-
mentee2, possibilidade a que Belchior Dias rambém aspirava, propondo fo¡malmenre
que "todas as ce¡tidóes qu€ eu nesras paftes pâssâr de serviços e de descob¡imenros,
que se lìzerem de minas sejam válidas e aceitas no tribunal e os despachem por elas
confo¡me seus se¡vicos tr".
A6nal, num império espraiado por rodos os cantos do globo, a luta pelo concrole
da palavra, contida nos relaros, nas ce¡ridóes e na correspondência em ge¡al enviada ao
Reino, era chave pa¡a ab¡i¡ a a¡ca das mercês e alcançar as graças do rei- Daí a eno¡me
dispura pela memória, cûÌes armas urilizadas por todos os lados e¡am valo¡izar as pró-
prias açóes ou as de aliados, diminui¡ ou apagar as dos rivais, elogiar ou difamar,.iusta
ou injus¡âmente, enr¡e outras.
Veja-se, por exemplo, o caso da conquista do Maranháo, quando o sargento-
mor Diogo de Campos Moreno escreveu um ¡elaco valo¡izando seu papel e criri-
cando o comandante Jerônimo de Albuquerque Ma¡anháo. Este, por sua vez, seria
defendido pelo governador-geral, Gaspar de Sousa, que o isentava, ern sues cartes,
do equivocado aco¡do de trégua com os franceses, re.jeitado pela Co¡oa, c¡editando
a responsabilidade ao primeiroe¡.
A Coroa utilizava-se habilmenre das informaçóes recebidas, paralel
respondência oficial, para fiscalizar seus represen¡anres, assim, orrenrava-se ao gover-
oador-geral que não devia impedir que as Câma¡as e demais oficiais escrevessem ao
"Consuka e despacho sob¡e Esceváo Soares deAibergarii'em <¡ue consram dois documenros
datados de Lisboa em t4 de Julho de 1626 e Mad¡id em 26 de Novemb¡o de 1626. A¡chivo
General de Simancas, Sec. Provrnciales, códice 1468, Livro de ConsuÌras, originais do àûo de
1626, Âs. 575 e seguinres.
'Alvará de mercê e hon¡as às primei¡ås pessoas que acompanharem a Gabriel Soares de Sou-
sa, na þrnada ... S. F¡ancisco" de 14 de dezemb¡o de 1590, publicado por Jaime Corresáo,
P¿ulireae Lu,¡baza Monanenta Historica, romo I, p- 416.
'Apontamentos para o Senho¡ D. Luís de Sousa", escrito por Belchìor Dias Moreia em 1618
e pt$Iicado no Liaro prinei¡o do Gor¿rno do Brasll, Op. cít., p. 227.
Diogo dc Campos Moreno,Jornada do Maranbáo (1614)- Rio ¿,eJ^neiro: Alhambra, 1984.
A formação da elite colonial 8i
rei, "ainda que sejam queixas, porque a meu se¡vico convém have¡ nisto a libe¡dade
necessária" 9i.
Nas chamadas ¡esidênciase6, procrÌmva-se colher informaçóes sobre o cumpri-
menro oL¡ náo, pelo governador ou pelos capitáes-mo¡es, das o¡dens enviadas e sobre
sua co¡reçáo no governo da capitania ou do Esrado do B¡asil. Isro levava os o6ciais a
procu¡a¡em ga¡anti¡ que os escolhidos parâ prestârem depoimentos lhes fossem favo-
¡áveis. Daí, por exemplo, o recurso de D. Luís de Sousa, quando deixou o posro de
governador-geral, pa¡a que na sua residência náo fossem romados depoimentos em
Pernambuco, capitania controlada entáo po¡ Matias de Albuquerque, seu desafeto, o
que, para o andgo governante, viciaria as informaçóes recolhidaseT.
Os governadores e our¡os oficiais, por sua vez, providenciavam documencos fa-
voráveis ao seu gove¡no, utilizando muilas vezes seu poder ou influência, o que näo
passava despercebido dos c¡íticoses. Tais documentos podiam se¡, por exemplo, cartas
de Câmaras elogiando a açáo do representante régio ou os chamados "insrrumentos",
dos quais conhecemos o de Mem de Sá e o de Diogo Borelho- Esses nada maìs e¡am
do que uma série de itens esc¡icos pelo representante régio, que justi6cam suà gestáo,
enviados enráo a um oficial da Justiça, que recolhia depoimentos de mo¡adores ou de
memb¡os da administraçáo coloniai sob¡e cada um des¡es i¡ens, que assim aÊançavam
as informaçóesee.
Po¡ out¡o lado, nenhurn governador-geral ficou isento de críticas e queixas envia-
das para a Coroa, que iam desde acusaçóes sé¡ias aré outras pouco críveis, como aquela,
deorre outras quarenta, feita por Lourenço de Brito Correia concra o governador-geral
Diogo Luís de Oliveira, que teria comemorado a invasáo de Pernambuco pelos holan-
deses com "jantares e banquetes".
Conrudo, denrro desse sistema de informaçáo, papel destacado cabia às princi-
pais autoridades coloniais, que, no exe¡cício de seus cargos ou mesmo depois de retor-
narem ao Reino, eram consultadas pela Coroa, particularmente sobre os provimenros
de cargos e as concessóes de mercêsl00.
,tpreocupaçáo com as informaçóes, favo¡áveis ou náo, que chegavam ao mo-
narca, náo eram desprovidas de ¡azáo, afinal com base nelas a Coroa se pautava para
concede¡ ou náo as desejadas recompensas
As retribuições e as queixas
rrrr,
ou seja, praricamen¡e rodos os vassalos podiam ser contemplados, cada um com sua
a parte, de acordo com seu servico ou qualidade-
Tal situaçáo fez que Luiz Felipe de Alencasrro apresenrasse a distinçäo encre o
que ele chamou de o "homem ulc¡amarino" e o "homem colonial" para diferenciar os
membros de uma elite ul¡¡ama¡ina'02, enquanto o primeiro aruava pelo Império para
aproveicar as recompensas na metrópole, o segundo ci¡cula¡'a po¡ vá¡ias aegjoes, m¿s
apostâve srra promocáo social e econômica em uma dere¡minada região do império.
Contudo, quando pensamos no conjunto da sociedade, é necessário inclui¡ our¡as cate-
gorias de vassalos, com pretensóes bem mais limitadas, que atuavam em ge¡al em áreas
mais restritas e que recebiam pequenas pa¡celas da arca das me¡cés.
Estas mercês, ranto as ma.eriais como as simbólicas, ocupa¡am um lugar fun-
damenral na r¡ansfe¡éncia dos valo¡es estamenteis da metrópole para a colônia, afinal
num re¡ri¡ó¡io ainda "sem dono" e onde eram ¡a¡os os nobres de média ou alta catego-
ria, era necessário recriar as hierarquias sociais vigenrcs em Porrugal com a promoçåo
de se¡o¡es da baixa nob¡eza ou mesmo plebeus, que passa¡am a formar o topo da so-
ciedade colonial, embasados nas hor¡a¡ias e nas propriedades confe¡idas pela Coroa.
Além disso, as mercês mate¡iais e¡am €ssenciais para garantir o subsr¡a[o econömico
pa¡a que essâ elire em formação pudesse desempenhar as ta¡efas que lhe cabiam na
empresa, r.inculados à administração di¡era ou indirera das partes do BrasiJ.
Para o conjunto de vassaios os "homens coloniais" e os serores logo abaixo
destes - engajados no processo de colonizaçáo das partes do B¡asil, as me¡cês mais
importantes, do ponro de visra mare¡ial, eram as terras e os cargos, e, do ponto de vista
simbólico, os hábiros da O¡dem de C¡is¡o e os foros de cavaleiro. Já para os "homens
ult¡ama¡inos", tais mercês tìrham pouca relevância, pois já eram tobres e buscavam
principalmente benefícios materiais no Reino, particularmente as rendosas comendas
das o¡dens milirares, praticamente inacessíveis aos primeiros-
Os "homens uh¡amarinos", contudo, inte¡essam-nos menos, pois, dado o escopo
desre rrabalho, pouco contiibuíram paraa elite colonial nascente, a1ìnal ao concluírem
suas ta¡efas na colônia, eram enviedos para outras áreas ou ¡e¡ornevam ao Reino- As-
1'homens
slm, maior irreresse apresentam os coloniais", parte fundamental dos gruPos
que formariam a elite colonial das partes do Brasil.
Àdianre vamos mos¡¡a¡ a importância das me¡cês para, direta ou indi¡etamente, a
mon¡agem do patrimônio da nascente elite colonial. Dessa maneira, neste momento pre-
terdemos desracar outros aspectos das rerribuiçóes, particula¡menre certa delasagem ent¡e
os pedidos e as concessóes-
101 "Carta de el-rei para Gaspar de Sousa" dc 3 de novembro de 1612, publicad'a em Cartas pzra
Álz,aro ,/e Soasa e Gasp¿r dc Sousa. Ap. dt., p. 168 eBarîo de Smda¡t, Op. cít..rcL1. p.53.
102 Luiz lelipc dc Àlcncas¡o, O Tr¡tc' ào: i/n¡¿z¡r¡. Sáo laulo: Companhia das Lerras, 2000. p.
r03.
84 Rodrígo Ricupero
r03 "Despacho de Filipe II para o marquês deAlenquer, D. Diogo da Silva e Mendonça'. Àrchivo
Gene¡al de Simancas, Sec. Provinciaies, códice 1515, Registro de despachos de D. Filipe III de
Espanha, II de PorcugaI, F,s.42-42v.
104 CL Luís Norron,l Dlnastia do¡ S¿í¡ no Brusil, Lisboa: -A.gência Geral das Colônias, 1943, p.
296 e Cleonir Xa.ier de Albuquerque, AP. cit., p. 18.
'Consuha sobre periçáo de Pauio Ba¡bosa", com dois documentos dacados de Mad¡id, 5 de
Seremb¡o de 16?6 e de Lisboa, t4 de Julho de 1626. Archivo Gene¡al de Simancas, Sec. P¡o-
vinciales, códice 1468 Livro de Consultas, originais do ano de 1626, fìs. 163, 163 r-., 164 v.,
\65 a. t66 v.
"Consulra sobre petiçáo do capiráo Gonçalo Maciel da Guarda", com dois documenros daca-
dos de Madrid, 26 de seremb¡o de 1626, e de Lisboa, 20 de junho de 1626. -Archivo Gene¡al
de Simancas, Sec. P¡ovinciales, códice 1468 - Livro de Consultas, originais do ano de 1626,
ßs. 289, 289v., 290v., 291 a 292v.
A formacáo da elite colonial 85
seria necessá¡io "infla¡" os pedidos pa¡a poder barganhar com a Co¡oa ou, simples-
men¡e, que o desejo de grandes honras e mercês levasse a tais pedidos, conside¡ados
pelos requerentes como plenamenre jusriÊcados.
Para outros, tais pedidos e¡am muiras vezes excessivos, o que levou ao surgimento
de um discu¡so de cunho moralisra con¡¡a os ¡equerimentos imoderados, presen¡e em
auto¡es do século XVIll, como Rocha Pira, qúe, ia sua Histtiria dø América Portuguesa
de 1730, ao conrat com pouca precisáo, a histó¡ia da busca pelas minas de prata na
Bahia, concluía que "náo é justo que mereça conseguir prémios quem nos requerimen-
tos pede mais do que se lhe deve concede¡"ror.
Tal situaçáo seria motivada pela ânsia por ¡ecompensas que perpassava roda a
sociedade colonial, fato regisrrado com preocupação por Loreto Couto, pois, para ele,
até o 'vulgo de cor pardl'
náo escapava do "imoderado desejo das honras ..."'08, ou
novamente por Rocha Pita, que afirmava 'nos inferio¡es rambém cego o desejo das
riquezas e honras", para criticar as pretensóes de Belchio¡ Dias, o personagem chave do
episódio das minas de prara na Bahiar0e.
Para o periodo anrerio¡ não se percebe tal discu¡so, ao conrrário, a preocupaçåo
é valo¡izar o aspecco positivo, mosr¡ando como a ânsia de hon¡as e mercês cont¡ibuía
com os objetivos da Coroa, pois, como senrenciava o padre Simáo T¡avassos, iudo
nos homens hon¡ados o desejo da honra faz possível"1ro, para explicar o sucesso da
conquista da Paraíba com táo poucas fo¡ças.
Po¡ ou¡¡o lado, o anseio por prêmios era táo forte, que pâra velorizar certes acões,
próprias ou alheias, ceftos aulo¡es destacam a falta de perspectiva de remuneracáo, como
Manuel Seve¡im de Faria, que, conrando sob¡e a jornada de recupe¡açáo de Salvado¡,
diz-nos que 'assim quiseram most¡ar neste ocasiáo os fidalgos portugueses que nåo por
sua culpa sucedia a perda da república, pois sem obrigaçáo precisa e sem algum prémio se
dispunham todos a ofe¡ece¡ as fazendas e vidas pela consewaçáo da Co¡oa deste ¡eino"t",
da mesma forma, que Loreto Couto, postedo¡mentq perguntava_se "a que gente náo
alterou o animo, nem a falta de soco¡¡o, nem o desprezo do serviço, nem a desesperaçáo
107 Rocha Pi¡a. Htstjri¿ ¿a América ?ortagu*a (1730). Belo Horizonte: Itatieia e Sáo Pâulo:
Edusp, 1976, p.98.
108 D. Domingos do Lore o Covo. Desagrauos da Bras e gÌ,iria: àe Pananbuco. (1757 ). Recile:
Prefeirura MunìcipåI, 1981, p. 227.
Rochr.Pira, Op. cir., p.182. Sobre esse ponro, Rocha Pira faz Lrma eno¡me confusáo, chaman-
do Belchior Dìas de Robério Dias.
"Sumá¡io das,A.¡madas que se fizeram e guerras que se deram na conquista do rio Paraiba",
Op. cít., p.63 e 64.Tal passagem é repetida z2 sî lìtr€rii por FrciVicente do Salvado¡ conÊr-
mando se¡ o "Sumá¡io" a principal fonre deste sobre a conquista da Paraíba. F¡ei Vicente do
Salvador, Op. cír., p.284.
Manuel Severim de Farie, Hlstliria Poïtugtesã e dz outtds proúncias do ocidente desrle o ano d¿
o de 1640 /-¿Jiliz acknaçáo de el-rei D. Joáo IV Fort3],ez.a'.Tip. Scudart, 1903, p. 29.
16t0 até
86 Rodrigo Ricupero
ll4 "Só para servìr el-rei sem por isso rcceber mercé aiguma, porque serviços do Brasil raramente
se pagam". Frci Vrcente do Salvador, no caso, refere-se ao r¡aramenro dispensado por Sebas-
riáo de Farir, senhor de engcnho no Recôncavo de Salvado¡ ao comandanre Diogo Flores e
seus homcns, mas generahza sua conclusáo. Frei Vicenre do Sah,ador, O¿. r;t., p. 255.
lli Gabriel Soares de Soust Op. ch., p- 1.32.
A fo¡macáo da elite colonial 8?
Eu pelo quc vi e sci, digo que mais lhe sinro a má paga do reino a rantos c ráo
bons sen-iços, que todos os trabalhos de cá, por quejá hoje rmporta de renda a el-rei
cada ano a Paraíba. 40 mil cruzados só de contrato do pau-brasil, e assjm lhe ouvi
dizer muìras vezes, que os rrabalhos pelo servico de Deus e de el-rei e¡am seus ver-
dadeiros gostos, mas que os maus galardóes e ingraridóes secavam os ossos, e não er¿
muiro aconrecer isro, assiû pois que nesre Reino o hospiral é o verdadeiro regisrro
dos homens de merecimento e mais deste quc scmpre foi rão invejadorr6.
Li6 "Sumário das Armadas que se fizeram e guerras que se deram na conquista do rio laraíba",
Op. cit., p. 86.
Í7 Gabriel Soares de Sousa. Ap. ch., p. 65.
118 Picinna ou piscina. no caso, a que exis¡ia próxima ao templo deJcrusalém, na qualmilagro-
samenre os doenres saravam ao entrar. A Prosopopca àe Bento Terxeira foi esc¡ira em 1601.
Cf. Afonso Luiz Piloro E¿ Benro Teixeira. Naufia.gio ò ?rcsopops¿. (1601) Reci|e: UFPE,
)969. p. 133.
88 Rodrigo RicuPero
L19 De "remoque", ou seja, como nos diz Mo¡aes, "palavras, que com agudeza de senrido enco-
berco picam alguém, e Ìhe dáo a enrender o que queremos". VerAnrônio de Moraes Silva. O¡.
rlr., r'ol. 11, p. i96.
120 "Nojo", no caso, no senrido de desgosro. Ve¡ Anrônio de Moraes Silva. Op. dt., t'ol. II, p.
34i.
t2l Frei Vicenre do ralt"dor. Op. crr.. p. Ij4.
t22 "Carta dc Duarre Coelho" de 24 de no.'embro de 1550, pubhcada por Carlos Malheiro Dìas
lDìì¡, na Hlstórla. dø. Coloruzaç,io Porruguesa da Brasì|,3 vols. Pono: Lirogra6a Nacional,
1922, vol. III, p. 320 e porJosé Ànrônio Gonsalves de Melio e Cleoni¡ Xavier de Albuquerque
nas Carras de Dy,¿r¡e Coelho ¿ El rei". Recife: imprensa Universitária, 1967, p. 102.
A formaçáo da elire coloniai 89
¡ealizados nestas úftimas recebesse um destaque muiro maior que os prestados nas
demais e, conseqüentemente, maiores recompensasi em g¡ande medida desfru¡áveis no
Reino. Nas pa.tes do Brasil, ao cortrá¡io, os prêmios mais comuns - terras e cargos
- favo¡eciam o en¡aizamenlor mesmo que momentâneo, na colônia.
CoxeursrA E GovERNo
3. Conquista e fixação
Qttand,o lí (nas terras do Brasil) houuer sete ou- oìto pouo¿çóet estas etuia bdstørlte Pltla
/,qfentlerenz (impedirem) aos dø terra que n'10 uendam (par) brasil a ninguëm e nào o
A ocupação inicial
/-\ con¡¿to inicial dos portugueses com as te¡¡as americanas foi frrrstr¡ nte
L.l.- p.lo -..to, ,-r,n'"r0..,o, o comercial, como se percebe nas pala*ras
de Pe¡o Vaz de Caminha, escriváo da feito¡ia que se ia monta¡ em Calecute' "nela'
r, tampouco indicava
até agora, náo pudemos saber que haja ouro, nem ptata"
ourros produtos passíveis de comércio na sua famosa ca¡¡a Para homens que iam
em breve atingir um dos maio¡es centros comerciais da Ásia' com inúmeras me¡-
cado¡ias e dive¡sos circuitos come¡ciais es¡abelecidos, as te¡¡as ¡ecém-descobe¡tas
oáo passavam de escala aproveitável em táo longa viagem -Aliás' esta Parece ser'
para Caminha, a maio¡ utilidade da terra, "e que aí não houvesse maìs que ter
¡'
pousada para esta navegaçáo para Calicute, isto basta¡ia" além da conversáo dos
"Carra de Diogo de Gou*eia Para D Joáo II1" de 29 de março de 1532' pubiicada por
Jaimc Corresáo na Pøxtre¿e Lu:iuna Monumcnal Histaliz' 2 tomos em 3 ¡'ols Lisboa:
Real Gabinete PortLrguês de Leiura do Rio deJaneiro' 1956' rcrno I' p. 149.
Jaime Cortesáo. A C¿rta ¿le Pen Vøz d¿ C¿tninha Rio de Janeiro: Lir''ros de Porrugal'
1943, p.24A.
93
94 Rodrigo Ricupero
gen¡ios, pois, como diziam os homens de Vasco da Gama na Índia, a¡é lá rinham ido
procura¡ crisráos e especiarias'.
Dessa maneira, náo espânrâ o relativo descaso com as le¡ras dessa margem do
Atlân¡ico nos anos seguinres, quando apenas a exrraçáo do pau-brasil atraiu ce¡r¿ acen-
ção. A viragem òi o envio, em fins de 1530, da a¡mada de Martim Afonso de Sousa,
que buscava resolver duas questóes.
A primeira foi a c¡escenre rivalidade entre portugueses e espanhóis, nas décadas
iniciais do sécLrlo XVI, pela posse das á¡eas recém-descoberras, cuja localizaçáo frenre
ao T¡a¡ado de To¡desilhas, dadas as condiçóes récnicas da época, náo podiam ser se-
guramente esrabelecidast.
principal ponco de controvérsia a posse das
Essa acirrada dispure, que re1¡e como
Ilhas Molucas no Oriente e do Rio da P¡ara no Ociden¡e, áreas que fìcariam mais ou
menos próximâs à linha demarcarória de To¡desilhas, acabou gerando intensas nego-
ciaçóes diplomáricas enr¡e as duas coroas, ameaças de guerra, expediçóes de descob¡i-
menro6 e aré uma confe¡ência enrre ast¡ônomos, piloros e sábios. Contudo, a soluçáo da
posse das áreas em disputa só viria parcialmenre por meio do T¡atado de Saragoça de
1529, que apenas resolvia a questio rocante às Molucas, já que, pelo rrarado, a Espanha
abria máo de seus possíveis di¡eitos sob¡e elas medianre uma indenizaçáo-.
Se o problema do Oriente esrava ¡esolvido, o do Ocidente conrinuala em aberto, e,
para aumenrar a cobiça de ambas es parres, ao longo das viagens de exploracáo ao sul do
continenre, os naveganres fo¡am ¡ecolhendo mais e mais informaçóes sob¡e a exisrência
de grandes riquezas minerais ao no¡re do Rio da Prata, na regiáo que posteriormenie seria
conhecida como Pe¡u.
Pa¡aleÌamenre à disputa com os espanhóis, uma segunda quesráo inquierava Por,
tugal. Os lranceses se a\¡enluravam cada vez mais em te¡¡as do Novo Mundo, r¡avando
conralo com os narivos e car¡egando o plecioso pau-brasil. Essa presenca constante alerrou
a Coroa Porruguesa para o risco da perda das rerras americanas, pois, no dizer de Frei Luís
Charles R. Boxe¡. A Impërio Colonial Portugaés ftradl:çâo). Lisboa: edicóes 70, 1981, p. 81.
Ver, enrre ourros, Dua tæ Leie, H^t/iiã ¿os Descobrimetuos, ?. vols. l.isboa: Cosmos. 195 3. r-.
I, p- 469.
A mais rmporranre delas for a conhecida vìagem de Fernáo de Magalháes, a qual os poLrugue,
inpcJr de rodas rs nanciras.
Resumidamente a quesráo das MoÌucas pode ser visra em Jaime Co:resâo, I:lht¡jrid ¿os det
cabrirnentos parugteses, 3 vols. Lisboa: Cí¡cuio de Leirores, 1979, vol. I, p. 62 ou, ainda, de
furma mars desenvoir.ida na obra do nesmo auar Pauliceae Lasiøna Motn¡net¡t¿ Hi:toric¿,
O¡. clr., romo I, p. LXXII, com a publìcaçáo de diversos docurnen¡os sobre â quesráo ¿ pàrrir
da p. 33 do mesmo volume.
A formacáo da elite colonial 95
de Sousa, era notório "que nos portos da Normandia se aprestavam a¡madas de f¡anceses,
s.
com voz pública de que¡erem passa¡ às terras novas do Brasil e fundar povoaçóes"
A presença francesa colocava em risco náo apeflas as ter¡as ao sul do continenre,
no¡adamente a á¡ea do Pra¡a, mas toda a regiáo que cabia a Portugal pelo Tracado de
Tordesilhas- Afinal, a1ém da perda do cada vez mais ¡endoso comércio do pau-brasil, era
necessá¡io resguardar os novos ¡e¡¡itó¡ios também pela esperanca do descob¡imen¡o de
metais preciosos e pela estratégica escala pa¡a os navios da ¡ora do cabo. Esta mesma ¡o¡a,
entáo eixo cen¡¡al do Império Porruguês, também poderia ser conada pelos rivais '), poìs,
como lembrava o pad¡e Francisco Soares, no final do século XVI, os franceses, depois de
terem povoado o Rio de Janeiro, tencioûavam "ir esperar as naus da indji' '0-
Duas fo¡am as medidas iniciais pa¡a afastar os franceses: a diplomacia e a força.
Logo no inicio de seu reinado, D. Joáo IIi enviou como embaixado¡ a Francisco I,
João da Silveira. com ¿ misqao de ¡ent¿r conrer o !orso fr¿ncés que araca\'¿ ¿ n¿vegâLâo
po¡ruguesa em várias partes e de impedir as viagens para a Amé¡ica, acabando dessa
manei¡a com a situaçáo de quase belige¡ância entre as duas nacóes no mar' o que Para
os portugueses "se evira¡ia com manda¡ el_¡eí F¡ancisco que nenhum vassalo seu nave-
gasse pa¡a as conquistas de Portugal"lr.
,As negociaçóes diplomáricas estende¡am-se Por anos e ligaram-se a qt¡estóes dâ
grande política européia de encáo, marcada pela lura pela hegemonia continental' da
qual Carlos V, imperador e rei da Espanha, e F¡ancisco I da França eram as grandes
lìguras. Nesse concexto, para a França náo era interessânte uma guerra com Portugal,
aliás, o objetivo f¡ancês e¡a o oPosro, tentavam ac¡ai¡ o Reino luso para uma aliança,
O melho¡ escLrdo sobre as negociaçóes entre Porrugal e França em meados do século XVI é
o de Gomes de Ca¡valho, D. João III e os Franreses, Lis6oa: Clássica, 1909. Jâime Corresáo
publicou alguns documentos sob¡e o rema na Paulireae Lusitana Monumenta Hlstórlca, Op.
r.zr., romo I, p. l17 e seguinres.
quâûdo lá (nâs rerras do Brasil) houve¡ sere ou oiro povoâcóes estes seráo bas-
tante para defenderem (impedirem) âos de rerrâ que náo vendam (pau) brasil
e ûinguém e náo o vendendo as naus (francesâs) não háo de querer lá ir para
virem de vezio, (e) depois disso aproveitaram a rerra na qual não se sabe se há
mines de meteis como pode har'er e converteráo a gente a fér6.
Dessa fo¡ma, a viagem de Marrim Afonso de Sousa. em fins de 1530, te¡ia como
objerìr.os: a defesa daquelas costas contra os franceses, que "iam tomando nelas muito
pé"r7, a posse eferiva ou, pelo menos, a exploração do Rio da Prata e a fundacáo de ao
menos uma povoaçáo permanente no lito¡al, sendo assim, ao mesmo tempo, a resposta à
ameaca francesa e às pretensóes espanholas, como se pode co¡rstatar pelos seus resultados
práricos: diversas naus francesas aprendidas ao longo da costa, colocaçáo de padróes por-
tugueses no Rio da Prata e por ûm a fundaçáo da vila de Sáo Vicenters.
A resoluçáo das duas questóes, a rivalidade com os espanhóis ea ameaça francesa,
tive¡am destinos disrintos. A conquista da regiáo do Peru - objerivo final das expedi-
çóes que subiam o Rio da Prara pelos espanhóis, comandados po¡ Piza¡¡o, r'indos
do norte, pelo Pacífico, em 1532-35, acabot por levar à perda de interesse pela região
platina, relegada a um quase esquecimenro e r¡ansformada numa espécie de "porta dos
fundos" dos impérios ibéricos, umâ zona de conrabando, que só voltaria a ser palco
de grandes embates a pa¡tir de 1680 com a fundaçáo pelos portugueses da Colônia do
Sac¡amento em f¡erte de Buenos Ai¡es, criendo Lrma situaçáo de beligeräncia que se
manteve ao longo do século XVIII 'e-
"Carra de Diogo de Gouveia para D. Joáo IIl" de 29 de marco de i532. publicada por Jaime
Coræsâo na Pauliceae Lasitanø. Moaumen¡a Histzricd, Op. cit., tomo I, p. 149. Regisrre-se aqui
que, embora a referida carta de Dìogo de Gouveia seja de :1i32 e e exPediçao de Manim Afonso
de Sousa de 6ns de 1530, fica claro por outras passagens da carra, como.e¡emos abaixo, que as
idéias nelâ exposras já vinham sendo proposras a D. Joáo III pelo menos desde de 1529
F¡ei Luís de Sousa, Op. cit.,ll. p. 114.
O relato maìs importante da viagem é o texro do irmáo de Marlim Alonso de Sousa, que foi
publicado em r.árias ediçóes, das quais a mâis importanre é: ?ero Lopes ¿e Soosz, Diirio ,l'á
Já a ameaça francesa perdurou ainda até o início do século seguinte. -Ao longo
desse período, os franceses aliados, em r,'á¡ios pontos da costa, a cerras tribos indíge-
nas, inscigavam estas a Iuca¡em contra os Porlugueses, rrocavam produros europeus,
muìras vezes, a¡mas, po¡ pau-brasil e outros gêneros, rompendo o monopólio que a
Coroa porruguesa tenrava imPor, e, ainda, tenraram fixar-se no Rio de Janeiro e no
Ma¡anháo. Dessa forma, rep¡esentarâm nesse momenco a major àme¿ça externa ao
domínio português das te¡¡as ame¡icanas, conrudo, em todos os momentos decisivos
fo¡am de¡¡orados e paularinamente expulsos, à medida que o avanço da cotquista
portuguesa consolidava o cont¡ole sob¡e noves áreas no continente, como ve¡emos em
our¡os momenros desre ¡rabalholo.
A expediçáo de Marcim,{fonso de Sousa, constitttiu-se como a primeira etapa da
política de conquista e povoamenro da cosra do Brasil proposra por Diogo de Gouveia,
náo só por fundar a primeira vila portuguesa em solo ame¡icano, mas também por ser
apartir dela que se eferua a divisáo das chamadas "capiranias heredirárias", pois Diogo
de Gou'eia, ao mesmo rempo que propunha o Povoamento das terras, recomendava,
ainda, que tais iniciativas coionizado¡as se Iìzessem às expensas dos vassalos, ponde-
rando que o enriquecimento desses na empreitada náo oferece¡ia ¡iscos à Coroa, pois
'quando os vassalos forem ricos os reinos náo se perdem por isso mas se ganham e
principalmente tendo a condiçáo que rem os porlugLleses, que sobre torlos os outros
povos, a sua custa servem seu rei", lemb¡ando ¡ambém ao monarca que "já por muitas
l'ezes lhe escrevi o que me parecia desse negócio (a defesa das terras) e (...) que a verdade
e¡a da¡ Senhor as ¡erras a vossos vassalos que (há) três anos" propunham colonizá-las,
levando mais de mil mo¡ado¡es "já agora houvera qua¡ro ou seis mil c¡ianças nascidas
e outros muiros da te¡¡a casados com os nossos" ll.
D. Joáo III primeiro acatou a sugesráo de povoar as novas telras, para em seguida
anui¡ em doar as lerras aos vassalos. Essa decisão foi tomada em 1532, no meio da
viagem de Martim Àfonso de Sousa, pois, como o rei explicou em carra a ele, "depois
de vossa partida se pracicou, se seria meu servico povoar-se toda esta cosca do Btasil, e
algumas pessoas me requeriam capitanìas", assim dada a impossibilidade de esperar a
vofta da expediçáo, pois "de algumas parres (França) faziam fundamento de povoar a
re¡¡a do dito B¡asil" e conside¡ando "com quanto trabalho se lançaria fora a genre, que
e Luís Fer¡and de Älmei¡le. A Colônia do Sac¡amento na lpaca da nr'cessão ttt E:pn'ahe. Coim
bra: Facuidade de Le¡ras da Unnersidade dc Coimb¡a, 1973.
Para a lura enrre porrugucses e franceses, pode-se consukar cnrre outros F¡ancrsco Adollo de
VLrnh:4en, Hlsthia gnzl do Brasil,5'eà.5 vols. Sáo Paulo: Melho¡amenros, 19i6, vols. I e
ii e, na visio f¡ancesa, o clássico PauÌ Gallarel, H^to¡re ¿ht Brésíl Fr¿nç1tß n s¿izièm¿ si¿¡-l¿.
Paris: Marsonneuve, 1878.
"Carca de Diogo de Gouveia para D. Joáotll" de 29 de março de i532, publicada porJaime
Corresio na P¿sliæa¿ Lusit¿tnø Monumnta Hì:to.¡c¿, Op. c1î., romo I, p. 149-
A formaçáo da elite coÌonial 99
a povoasse depois de estar assentada na rer¡a. e re¡ nela algumas forças. como já em
Pernambuco comecevâm a fazer", o ¡ei dere¡minou dividir a cosra ent¡e Pernambuco
e o Rio da Prata, reservando cem léguas para Martim Afonso de Sousa c cinqüenta
para o irmáo de1e, Pero Lopes de Sousa, dìsr¡ibuindo as demais a algumas pessoas com
"obrigaçáo de levarem navios e gente à sua custa em rempo certo')l:-
A singular carta de Diogo de Gouveia expressava de modo táo cabal a políti
ca seguida pela Coroa portuguesa parâ defender a posse do vasro ¡er¡irório. Fazia-se,
portenro, necessário ocupar alguns pontos da cosra, com o engajamento de vassalos
dispostos a assumir os riscos e os gastos de ral empreendimentoJ mas Dáo sem a pers-
per Lira de ,u lerir gr¿ndes vant¿gen\.
A implementaçáo de ral polírica deu-se com a distribuiçáo das diras capitanias
hereditárias, em meados da década de 1530, ¡elarada acima pelo próprio monarca,
sendo que os inst.umenros legais, as carras de doaçáo e os fo¡ais conhccidos sáo do
período enrre 1534 e 1536. Tais capiranias fo¡ma¡iam, coiûciderremenre, "as sete ou
oito povoaçóes" que Diogo de Gouveia propunha, pois se doze foram os agraciados em
quinze quinhóes, apenas em oito delas a colonizaçáo deu os primeiros passos) embora
em duas dessas malog¡assem nos anos seguinres:i.
Os primeiros donatá¡ios náo foram selecionados enr¡e os grandes do Reino, que
provâvelmente ûáo reriam inreresse pela empresa ou aos quais a Coroa náo teria plena
con6ança em delega¡ ra¡ela em á¡ea táo dis¡ante do seu cont¡ole. Os escolhidos foram
importantes funcioná¡ios da Coroa já ligados à empresa ultramarina, como o famoso
Joáo de Barros, autor da primeira pa¡re d¿s celebres Drc¿.das do Àsia, feico¡ da Casa da
Índia em Lisboa, ou Fe¡náo Áh'a¡es de And¡ade, tesou¡ei¡o-mo¡ do Reino; ou gente
que já rinha experiêncìa corc¡era no Império, como Vasco Fernandes Cou¡inho, I)u-
arte Coelho e F¡ancisco Pe¡eira Courinho, rodos com iarga folha de serviços prestados
no Império, e que, uns como out¡os, haviam amealhado ¡ecursos que permitiram fazer
"Caru de Joáo III a Manim Afonso dc Sousa. sobre o povoamento da costa do Brasil" dc 28
de serembro de 1532, publi. da ta Hirtó''in d'z Coloiùzaç,io Portuguesa da Bra:i|. wLlII. p. 16A
e em Joaquim \l Serráo, A Río de Ja.deiro do stcalo XVII,2 vols.Lisboa: Comissáo Nacional ...,
1965, no voÌume II, p. 15. -{inda é digno dc atenção o reLato cio próprio Manim,A.fonso dc Sou-
sa sobre sua vida. escriro aproxrmadamente em 1i57 e publicado com o rítulo 'Aurobiogralìi'
in: Luís dc Âlbuquerque (Org.), Martin ,4þnso y'-e
Sorsd. Ltsl¡o,1, A1Fa.1989, p. 65 e segs.
,{s informacóes gerais sobre as capitanias e os donatários podem ser obtidas lacilmenre em
F¡ancisco .{doifo dc Varnhagcn. O¡. elr., especi6camenre no vo1. I, da p. 136 e seguinres. A
discussáo clássica sob.e o rema se encoiìrra na H^hirí,1¿a Cokn;zøç'ia Portxgrcsa lo Brasil,
nos arrìgos de Paulo Meréa, 'A soÌuçáo tradicronal da colonizaçáo do Brasil" e Ca¡los ìvlalheì-
ro Dias, "O regime feudal das donaráras', rcspecu!âmenre nas p- 165 e 219 do III volume. O
esrudo mais modc¡no sobrc a questáo é o de António de Vasconcelos Salðaoha,,4: tapitonin:
Lo Br¿sì|.2' eà l.,sboa: CNCDP 2001.
iOC Rodrigo Ricupero
f¡ence aos gastos da tarefa colonizado¡arr. Daí Frei Jaboatáo lembra; que o premio
destes úlcimos, conquisradores do O¡iente, ¡enha sido um novo se¡vico. conquistar o
Ociden¡e
".
Dessa fòrma, no perícdo inicial da colonizaçáo, a Coroa estere praticamen¡e ausen¡e do
processo) apenas resguardando parasi o monopólio do pau-brasii, do qua-l cedia uma pequena
parte dos iucros aos donatários, e mantendo uma pequena esr¡uru¡a adminis¡¡ariva vol¡ada
para o cootrole Êsca1, como fo¡ma de ¡ecolher a parte que the cabia da exploraçáo econömica
das nor.as á¡eas.
A iase inicial da ocupaçáo portuguesâ, ou seja, entre a doaçáo das chamadas
"capirânias he¡edirá¡ias" e a criaçáo do Governo-geral, loi t¡adicionalme¡¡e avaiia-
da como um f¡acasso, salvo as conhecidas exceçóes de Pe¡nambuco e Sáo Vicen¡e
Pondere-se, conrudo, que dadas as condiçóes limi¡adas e o tamanho da ta¡efa, não
é de desprezar que mesmo com todas as difìcuidades, as capiranias "P¡ìmá¡iâs" con-
seguiralrr cumprir, mesmo que parcialrnente, Lrma e¡âPa inicial da luta pela posse
das terras, rornando-se assim, pa¡a usat ume exPressáo militar, 'cabeças de ponte",
\¡e1a-sc Pedro de Àzevedo, 'Os pri,n:iros donarJ.r'ras' in: Ht'ótìa ¿á Calaníztçáa Partryaestt
¿a B/oii/,\al. 1,,
p- i9t-
Frci Anrónio de Srnra Mlria .laboaráo. ìr¿,, Orbt Seúfito 1176t),2 ' ed., 2 parres em 3 vols.
Rro deJanerro; Insticuro HrstórLco e Gcográfico Brasileiro, 1853, vol. I, p. 134.
Pero de \lagaLháes G¿nd.a"-o, Hi¡t,jti¿ la Pror,íarin d¿ S¿tm Cruz & T¡at¡lo d¿ T¿rnt do
Br^il 1.1576 c c- lt70). Sáo laulo: Obcìisco, 1964, p. 81.
A formaçáo da elire colonial lC1
Duar¡e CoeLho rainbóm rcci¿ara dos a¡madores de pau-brasil scdiacios em itatnaruca quc.
par:. ourercm seu pro,i,ro com mais rapidez. esi:'am ãisposros â "pagâr o rrab"iho ¡ios
irdios com ne¡cado¡ias dc me-ior valor. irclusivc armas, prejuciicando os mo¡adores dc Pcr
nanb"co e arrapalhando a consriuçáo dos engenhos. ltr "Ca-na de Ðuarte Coelho a el-¡e;"
de 20 de dczcmbro de 1546, publicada na Hìióríã ¿i1' Colonizaçno Portttgutsa tio Brn:il.rcl
lÌ1, p. 3ì4 ou en José Àn¡onro Gonsalt'es ie tr4elLo e CLeonir Xavicr dc .ÀlbuquerqLre. Czrta'
¿/t D¡L¿rte CoeÍho ¿, e/-¡ el, ììecife: Lrprerxa Unirersi¡á¡ia. Ì967 p 35.
Ve¡ o cìássìco de.A.lexander Nfa¡chant. Do E:mmbo i¿ E:cr¿'uidn¿, 2' eci Sáo Pa"ìo, Compa
nhia Ediro¡a Nacional. 1980.
Cf. 'C:-¡¡a Ce Ped¡o dc Gócs esc¡iia da \¡ila da Ralnha a D. loáo lli de 29 de abril de 1546.
''Cerra de Pcdro do Campo Tourinho cscr¡a de Po¡to Scguro a D. Jo:o IIi dc 23 de julho
de ij46 e "Carr¿ de Duarre Coclho para D. Joáo lll de20ciedezembrodei5'16.p"hlr"'l's
nt fli:tóti¡ ¿/.a Colaniztçáo Portugacsa /.o Brnrll ro1. III, respecrn'arnenlc p. 263. 266 e 314. A
úkì,ra rambérn cm José Antôn io GonseLres dc \{eìlo e Cleonì¡ X:.vrcr cc Alb L,quer que, O¡
,:ìt., p.3i.
i02 Rodrigo Ricupero
julgado pelo r¡ibunal do Sanro Ofício, acusado de come¡e¡ c¡ìmes contra a fér'.
Também a partir de 1546, as invesridas dos índios atingem Sáo Vicente, ganhan-
do força no ano seguinre, quando o posro avançado de Bertioga, peça chave na defesa
das vilas de Sáo Vicenre e Sancos, é desrruído pelos índios, que, r.indos da regiáo do
arual Rio de Janeiro, ameacavam a capitania vicencina, obrigando os moradores, sob
comando de Brás Cubas, a engajarem-se numa guerra defensiva que se mance¡ia até a
criação do Governo-geraÌ, quando os colonizadores passariam à ofensivalr.
-d deteriorizaçáo da siruaçáo dava largos passos, ro ano seguinre, 1548, os acaques
aringem Pernambuco, Ilhéus e Espírico San¡o. Os por¡ugueses vi¡am-se acuados, as
vilas de lguaraçu e Olinda foram ce¡cadas, no Espírito Santo boa parte das benleitorias
feitas nos primeiros anos foi desr¡uída, com a morte de mui¡os moradores, siruacäo
semelhante em Ilhéus, e que perduraria ainda nos anos seguinreslj.
Os donatá¡ios deram o sinal de ala¡me nas ca¡las enviadas ao mora¡ca, em l¡ue
comunicavam náo só a perda da Bahia, mas também o fo¡¡alecimen¡o da presença
f¡ancesa e da ameaca indígena, além do clima geral de desconr¡ole ao loogo da cosra.
A Coroa, com a grira¡ia dos donarários ea ala¡mante notícia da perda da Bahia,
chegou a a¡mar um navio de soco¡¡o ao Brasil em !547, gue acabou náo parrindo
por p.rder o rempo cerro pâra à ! i¿gem. m¿5 ¿ rerposr¿ p¿r¿ ¿ gr¿ve siruacáo exigia
maiores recursos e forcas.
Frei Vicente do Salvado¡, Op. àt., p. 125 e 116 respecrivamcnre para a Bahia e para a Sáo
-Iomé,
Vela se, por exemplo, Rossana G. Briro,,4 Saga de Pero do Canpo Toulzáo, Pecrópolis: Vozes,
2000.
A ameaça à capirania de Sáo Vicence perdurou com maio¡ ìn¡ensidade aré pouco depois da
conquisra e fundacáo dr cidade do Rio de Janeìro em 1565, mas a rcsisrência indígen: obrì-
garia ainda que,{nrônio de S¿lema, governador geral do Sul, após a morte de Mem de Sá,
organizasse uma grande expediçáo conrra os índios nos anos de lí70.
Para o caso de Pernambuco, pode-se ver o ¡elaro de Hans Staden, D¿:¿¡ Viagetu aa Brusil
(traduçáo) (iii7), Belo Horizonre: kariaia, 1974, p. 46 ou a versáo do mesmo rexro publicada
em Partin¿rí deutru Hans Sta.¿/en, Sâa Paio,-lercei ro Nome, 1998, p. 24 (,{lguns rrechos sáo
bem dile¡enres nas duas rradLrçóeg. Para o Espirito Sanro e Ilhéus, r'e¡ Francisco Adolfo de
V"rnh-sen. Op , ,J.I.p. l-oe l8l
'(,pecri\¿menre.
A formaçáo da elite colonial
A criação do Governo-geral
;4 il'" ìs*,
"=.
a"*'* t"¿.'., r""-r' Go¿ é d ch¡'¡:¿ de toìa a' Ínr/ia - petft poLítico tla
capita,Ìdo Estado la in,,tid (1505-1570). Lisboa: CNCDq :,999. p 47.
35 deìegaçáo da administracáo de novas árcas diretamente aos vassalos po'1' ser entendida
,A.
como mais um aspecto da relaçâo enrrc a Coroa e scus vassalos' dentro da lóglca da polírica
de troca de senços por nc¡cês Porran!o, náo se deve conlundir o f¡acasso da primei ra com o
da segunda, logo o uso da iniciativa parricular dos vassalos loì empregado cm todo o Impório,
independentemcnre do lato de a adminìsrraçáo se¡ realzada di¡e¡amente ou náo pela Coroa
36 Avisáo tradìcionalda qucsáo nos Pa¡cce ser a que mais se aProxima da .ealidade' ao aponrar como
jusrìficativa as ameaças indigenas, a presença franccsa e as brigas entre os porugueses C[ Pedro de
Azcr-edo. 'A ìnsriruìçáo do Governo geral" ir: l1lsrdrz da C'olanìzaçáo Potttt'gu:sø' ù Brasil'vol Il.I'
p.334 e segs. Vcr alnda F¡andscoAdollo deVarnhagen' 01 .i¿' vol.I.232 c segs'
104 Rodrigo Ricupero
geral por farores geopolícicos, cais como as ameaças espanhola e francesa, que, como
vimos, já vinham desde o início do século, e à de Sérgio Buarque de Holanda, que
ac¡edirava ser e busce de me¡ais preciosos, influenciada pela descoberta das minas
peruanas, pois, tanto no regimenro de Tomé de Sousa como na sua açáo, nada jusriÊca
13.
que tal busca fosse o cencro de suas preocupaçóes
O novo sistema de governo adorado se sobrepôs ao regime anrerior das cha-
madas "capitanias he¡editárias", sem extingui-lo, porém este foi paulatinamente
perdendo a importância que tivera até entáo. A desba¡atada capitania da Bahia,
sede do Governo-geral, foi comprada pela Co¡oa aos herdei¡os de F¡ancisco Pe¡ei¡a
Coucinho, tornando-se â primeira capirania real, Portanto, a parrir de 1549, ocor-
reu uma reorganizacáo politico-administrariva, as capitanias passaram a ser de
dois tipos, particulares ou da Coroa, e acima delas a esrrurura do Governo-geral.
Dessa forma, quando a colonização porrlrguesa ¡eromoL! a ofensiva, conquis-
tando novas áreas ao longo da cosra do Brasil, essas conquistas foram organizadas
como capitanias ¡eais. No Êm do século XVI, a Coroa já contava com cinco capira-
nias contra seis privadas e, trinra anos depois, após a conquisra da Cosra les¡e-oesre,
já eram oito .eais conrra seis privadas5t,
Além disso, as capiranias reais se desenvolveram num ¡i¡mo mais acele¡ado
que as privadas, pois, como nos iemb¡a Diogo de Campos Moreno, sargen¡o-mor
do Esrado do Brasil, no seu ¡elató¡io conhecido como Liuro que drí Raz,áa do Est¿¿la
a7 Raymundo Faoro, O¡ Donos do Porler,91 ed., 2 vols. Sáo Paulo: Globo, 1991, p. 142.
38 lorge Cor.ro, A coasraçãa do Brasil, Listooa Cosmos, l99Z p. 130 e Sérgro Buarque de Ho-
landa, 'A insriruìçáo do Governo-geral" in: Iden (Dir.). A época colonìal, /.a de¡cabritnento à
expansáa terrrtorial,4u e¿. Sáo Påulo: Difel, 1972, p. 108 (Tomo I, vol. 1 da coleçâo Hiscória
Geral da Civilizaçáo BrasiJeira, 11 vols.).
39 Em meados do século XVII, as capiranias reais eram, do nor¡e ao sul: Pará, Ma¡anháo,
Ceará, Rio G¡ande, Paraíba, Sergìpe, Bahia e Rio de Janeiro e as privadas: ftama¡acá, Per-
oambuco, Ilhéus, Por¡o Seguro, Espíriro Sanro e Sáo Vicenre. Aqur esramos desconsiderando
a capirania de Sanro,Âmaro que desde o inícro se dissolveu na capicania de Sáo Vìcen¡e, näo
rendo vida independenre nem grande dcsenvolvimenro, a ponto de, alguns anos depors, quan,
do da querela entre os sucessores dos primerros donarários, náo se ter cla¡o onde Ecava a linha
dnisória enrre ¡mbas ou mesmo quais eram as vilas de cada uma- Sobre o assunro, r.eja*<
Pedro Tequcs, Hiit/ji"it' de Sáo Vícente (Sêcu\o XVIII)- Sáo Paulo: Melho¡amenros, s/d. Obra
escrita especialmence para csclarecer a qLresráo, a soido de uma das parres da quereia.
A formação da elice coloniaÌ 105
40 Diogo de Campos Moreno, Litta qae dá razáa da Eçado ¿lo Brøsil (1612)- Recife: UFPE,
ì9i5, p. 107.
4t Iden, p. 108.
42 Idem, p. 108 e tr9.
43 Nesre ponto, estamos deixando de lado as capiranias crtadas Posr€riormerìre à contrirüiçáo
do Governo-gerai, como a de D. Álva¡o da Costa, 6lho do segundo governador-geral, D'
Duarte da Cosra, no Rccôncavo de SaLvado¡ ou como as criadas no À4aranháo e Pará' por
exemplo, do Cabo NortedeBenro lr{aciel Parente, quel Por rerem te¡ri¡ório muito reduzido'
a
se comparadas às primi¡ivas, náo se desraca¡am no processo dc colonizaçáo e' Portanto, não
deuem no mesmo nrtel dr' .apit¿nir5 oriSin¿is
'er.olocad¡r
44 cf António de vasconcelos Saldanha' oP dt , P 259 e segùir*es e Francisco ca¡los Cossen-
tino. Garcrnadores-genis do Exado do Brasil (século XVI e XVII): afaa, regtmcnta'' go'?rna.,to ¿
106 Rodrigo Ricupero
O ¡ei notifìcava aos "capiráes e governado¡es das di¡as terras do Bresil, ou a quem
seus ca¡gos civerem", ou seja, os donatários ou seus ¡ep¡esencantes, e aos demais oIìciais
e moradores que:
hajam ao dito Tomé de Sousa por capitáo de ditâ povoaçáo e rer¡as da Bahia e
tî¿letljrias (rese iné¿ita ¿efendida naLlniversìdade Federal Flumincnse em 2005), p.62 e seguin,
res. Ver rambém sobre a nova siruaçáo criada: Êulália Lahmel,er Lobo, Adnínístaçäo calanial
Luso-Espnhola nas Anlrzras Rio de Janeiro: Comp. Brasileira de,A.rres Gráficas, 1952, p. 209
e seguinres.
''Carra régia de nomeação de Tomé de Sousa para governador do Brasil" de 7 de janeiro de
1549, publicada en Dacume¡ztos Hist¡j¡rr¿s, 110 vols. Rio de Janeiro: Biblioreca Nacional,
1928-ij, vol. 35, p. 3 e mais m relis:,_ M'1rc Libèlaz, 1Z Lisboa: CNCDP,
1999, p. 27.
1/¿¡2. Ä mesma lo¡mulaçáo se repere prâ(icemenre sem ake¡acóes no preâmbulo do'Regi-
-lomé
menro de de Sousa", publicådo na,L¿clria ìa Colonizaçáo Porntgrcø. do Brasìl,,tol.111,
p. )45.
A formaçáo da elite colonial t0?
Tal fato náo é de meno¡ ¡elevância, pois, como r¡e¡emos a seguir, a preocupa-
çáo com a defesa condicionou loda uma sé¡ie de medidas tomadas pela Co¡oa no
momen¡o da insrituiçáo do Gove¡no-ge¡al, bem como a açáo do mesmo por toda a
segunda metade do século XVi e pela parte iniciaÌ do XVII.
A citada preocupaçáo, já observada na carta de nomeaçáo, revela¡-ser-á em boa
parte dos itens do Regimento de Tomé de Sousa, um dos documen¡os mais impor-
tanres pa¡a â colonizacáo portuguesa no século XVI, no qual, para além das quesróes
mais imediaras, delineou-se a política que viriâ â sù seguida nos anos subseqüentes,
demonstrando o cuidado com que foi elaborado, inclusìve, tendo sido le"ada em con¡a
também, como se percebe, a experiência acumulada no período anterio¡ procurando-
se com as medidas propostas responder às queixas e aos apelos que os dooatários fa-
ziam em sua correspondência com a Co¡oa''.
Pode-se dizer que os objeti'os do Governo-eeral no pe¡íodo, denc¡o do con¡exto
de defesa das te¡¡as, e¡am der¡ota¡ a ¡esistência indígena, der¡otar os irrímjgos erternos
e acaba¡ com a insrabilidade ¡einânte ao longo da costa, Para tanto a administraçáo
colonial deve¡ia impor a jusiiça régia e ar.lmenra¡ a centralizaçáo e o controle do Pro-
cesso de colonizaçáo por pârte da metrópole, além de colaborar no desenvolvimento
das estrururas produlivas, c¡iando ou consolidando as bases para que a própria colônia
pudesse garantir sua segu¡ança.
,Às ta¡efas iniciais de Tomé de Sousa seriam, em primeiro lugar' a ocupaçáo da ca-
pitania da Bahia, apoderando-se da primitiva ce¡ca de F¡ancisco Pe¡ei¡a Coutinho, e' em
seguida, a fundaçáo da cidade do Salvador. Com a seguranca garantida, o passo sequ inre
seria castigar os índios responsár'eis peia destruicão da capitania primitiva e pela morte
do anrigo donatário.
Para ranto, era necessá¡io saber quem eram os culpados, po¡quanto pa¡te dos
índios não tinha responsabilidade direta no levan¡amento, mantendo-se em Paz e ¿ju-
dando os cris¡áos- Assim o ¡ei mandava ao governador "pelo que cumpre muito a sen i-
co de Deus e meu, os que assim se alevantaram e fizeram gue¡¡a se¡em castigados com
muito rigor", e ainda lemb¡ava a necessidade de que a puniçâo servisse de exemplo, pois
47 Embora náo com ce¡teza quem redìgiu o regimenro de Tomé de Sousa' acredjra-sc
se saiba
qLre duas imporranrcs 6euras da Corte sejam os maiores resPonsá\'cis- Esr€s scriam o Con-
de da Castanheìra, principal colaborador do rei, e lernáo Áh'ares de Andrade, itrìPortârÌr€
funcionário régio. responsável pela monragem da armada do primeiro go'erlador' o qual
Varnhagen diz ter tomado careo os negócios do Brasil: ambos também tinhan grandcs
a scu
inreresses no Brasil. o primei¡o reccbc¡ia de Tomé de Sousa ter¡as na Bahia c o segundo era
donatárìo de uma das capiranias primìrivas, que. contuclo. náo loi adiante. d:rlo o fracasso
das reo¡arivas de coloniznçáo fejras cm Parceria com Joáo de Barros e Ài¡es d'
C'rnì¡: além
dc r.r ¡nre,e".e' rra .:pir:nir de ilheu'
108 Rodrigo Ricupero
"estes que ai esráo de paz, como .odâs as ou¡ras racóes (rribos) da cosra do BrasiÌ estão
esperando para ver o casrigo que se dá aos que primeiro" !3 fize¡am os danos.
Dessa fo¡ma, os índios que permanecelam em paz na Bahia deve¡iam ser favo-
recidos pelo go.'ernador para que auxiliassem na luta cont¡a os out¡os. Aconselhava
ainda o governador a busca¡ o apoio nos índios Tupiniquins de outras capiranias. ini-
mìgos dos da Bahia, e que, segundo o rei, desejavam participar da guerra de puniçáo.
,4 estratégia seguida com os índios e¡a simples, dividir esses enrre os que aceir¿v¿m
paciÊcamenre o domínio português e os qúe ¡esìsriam a ele, ou seja, em amigos e
inimigos, aproveitando-se das divisóes e guerras anre¡iores à chegada dos porrugueses.
Essa política implementada por Tomé de Sousa se¡ia urilizada ao longo de quase rodo
o período colonial.
O procedimento tomado f¡enre aos índios da B¿hia e¡a apenas um primeiro as-
pecto de roda uma polírica com relaçáo à quesráo indígena que o regimento já deli-
neava em diversos dos seus irens. Essa polírica aponra\¡a para incorporaçáo desces ao
processo de colonizaçáo, por meio da conversáo à religiáo crisrã jusrifica.iva ceûr¡al
-
do processo de conquista de rerritórios, ranco do no\.o como do velho mundo - por
meio da escravizaçáo dos inimigos e do uso dos amjgos como combarenles nas guer-
¡as, como fo¡ca de trabalho "semi-compulsório" nas mais va¡iadas ra¡efas ou ainda
em outras atividades, como, po¡ exemplo, na expioraçáo do se¡tão. Além disso, em
um adendo ao documento,.já se aponrava a idéia de separar os índios conve¡ridos dos
demais, o que, contudo, só se¡ia colocado em prática por Mem de Sá com a monragem
dos primeiros aldeamentos.
Resolvida a sirracáo na Bahia, com a findaçáo da cidade do Salvado¡ e os índios
rebeldes casrigados, opróximo passo do governado¡ deve¡ia ser auxiliar a defesa das demais
capitanias, iniciando um processo de cenrralização polírico-adminisr¡a¡ivo, marerializada
pela açáo do governado¡ juntamenre com seus auxilia¡es imediatos, o provedor,mor e o
ouvidor geral, que deveriam reorganizar a est¡rìrura adminisr¡a¡iva da Fazenda e daJusriça
.já exisrenres nos núcleos primirivos.
No próximo capírulo, iremos aprofundar o estudo sob¡e a adminiscraçáo colo-
nial, analisando sua es¡¡uru¡a funcional, bem como as relaçóes entre as várias esferas,
canro por áreas geográâcas como po¡ ramos administ¡arivos. Conrudo, nesre ponro,
é necessá¡io discutir o papel desempenhado peio Governo-geral e sua relacáo com as
diversas capitanias.
Esta ¡eiacáo começou de imediato, pois assim que chegasse à Bahia, Tomé de
Sousa deve¡ia comunicar sua chegada aos c¿pitáes das ouc¡as capitanias, que.já ha-
viam sido insc¡uidos pelo rei a coiabora¡ com as necessidades da expedicáo, enviando
gente e manrimenros49.
Além disso, Tomé de Sousa ¡ecebeu instruçóes para chamar à capitania da Bahia
o represenrante do donarário de Ilhéus, junlamerÌte com o p¡ovedo¡ da fazenda ¡eal en-
rre outros, para que se decidisse a melho¡ maneira de de¡rotar os índios entáo ¡ebelados
naquela capirania. Em seguida, quando possível, deve¡ia visita¡ as demaìs capitanias.
panicularmente a do Espírito Santo, também em gu€¡ra com os nativos. Em cada
uma delas, o governador-geral deveria ¡eunir-se com o donatá¡io ou seu reP¡esentanae
ecom os mais importantes funcioná¡ios e mo¡edores Para decidi¡ sob¡e a maneira que
se deve¡ia ¡e¡ com a governanca e a segurança de cada uma delas-'o.
i0 I/,€m irelr, 18 .
"Carra do Ouvidor geral Doutor Pero Borges" de 7 de feve¡ei¡o de 1550, pttl>licada na Hkt;t;a
da Colonizaç,áo Portusuesa do Brasil, vol. IÍ1. p. 267
110 Rodrigo Ricupero
Pero de Magaìháes Gandava, Op cit., p.34- Candavo, contudo, esquece,se do período ance,
rior à criaçáo do Governo-geral em fins de 1148.
Exemplo dessa posicáo é Caio Prado Júnior. Fornaçáo do Bø:i1 Cozreznporáneo. São Paulo:
Brasrl¡ense, 1942, p. 3AI
Bom exemplo dessa r.isáo é uma pequena carta régìa para o governador-gerai D. Luís de Sousa
(1617 l62l) com as seguin¡es pâssagens: mercadores que já esriveram no BrasiÌ", "parr jrrm
a costa do Brasil", "uma ba¡ca do Brasi1", "que do BrasìÌ se acuda" e'ìráo poderÍo valcr no
Bnsi|". Cl. Carras para Álxara de Sorsa e Gtsp¿r d¿ Sousd, Op. cit., p. 6t)
Nas palavras de Anrónio \,lanuel Hespanha, é cerro que, a parrir de 1i49, os governadores-
gcrais eram a cabeça do governo do Ðsrado, gozando de supremacia sobre donarários e gover,
nadores das capiranias, devendo esres obedecer,lhes e da¡-lhes conra do seu govcrro"- Ànrónio
Manuel Hcspanha. 'A consriruiçáo do lmpérìo PorcugLrês. Roisáo de.rÌguas enviesamcnros
correnres" in:Joáo Fragoso, Fernanda Brcalho e Marìa de Fárima Gouvêa. O A'itigo Regtln¿ ?þ\
Il2lror. Rio de Jarreiro; Crvilização Bråsileirâ, 2001, p. 177. Sobre esre assunro, r,eja se ainda
A formaçáo da elite coloniaì
,Além disso, a proeminêncìa real do governador-geral pode ser vista, por exemplo,
na determinaçáo de que as leis ou alvarás régios, depois de regisrrados e ap¡egoados na
Bahia, fossem enviados pelo governador-geral com o t¡aslado "conce¡rado e assinado
por ele aos capitáes ou p¡ovedores de minha fazenda das outras capitanias das ditas
parres"tr; na preocupacão de Filipe I de Porrugal e de seus auxilia¡es de que fosse o
gor.ernador-geral do B¡asil o primeiro a receber as informaçóes da mudança dinásti-
cais; ou ainda que os capitáes-mores nomeados para o Rio de Janeiro fossem empossa-
dos nos seus cargos pelas máos do governador-geral, sendo ar-r¡o¡izados a toma¡ posse
diretamenre na capitania, apenas na impossibilidade de passarem em Salvadort'r.
Infelizmen¡e uma das maio¡es lacunes dâ documentaçáo do período é a co¡res-
pondéncia trocada enrre o Governo-geral e as capitanias, pois além da perda de quase
rodos os documentos guardados em Salvado¡ do período anterior à invasáo holande-
ses, a maior parte dos âtuais arquivos estaduais quase nada guarda para o periodo an-
terio¡ a 1630- Felizmente, porém, podemos contaÍ com as etas da Câma¡a da efème¡a
vila de Santo Änd¡é e com os documenros da viìa de Sáo Paulo, parricula¡menre as
atas e o regis¡ro geral da Câmara, e com os documentos ¡eunidos em códices pesso-
ais por alguns governadores-9erais, como os chamados livros primeiro e segundo do
governo do Brasil ou com a correspondência de Gaspar de Sousa, para retratar parte
de.sa rel¿çáo entre 5alr¿dor e ¿s ¡lç¡¡¿i. ç¿pi¡¿¡l¿..
Na documentaçáo apontada, v€¡i6ca-se a intervencáo, em maio¡ ou menor me-
dida, do Governo-geral na administraçáo das capitanias par¡iculares, como se Pode
perceber, por exemplo, no regimento dado em Salvador em 1556 pelo segundo go-
vernador-geral, D. Dua¡te da Costa a B¡ás Cubas, capitáo de Sáo Vicente. Com uma
série de instruçóes, que iam das posturâs a serem seguidas no que toca ao trânsito pelo
"Regimenro que há de rer Brás Cubas" de t1 de levereiro de 1556, regis¡rado no livro de Aras d¿
Câma¡a de Sanro Ândré, publìcado como apêndice a ob¡a de Afonso àeTarnay-. Joáo P,analho
e Santa Andr¿ Ca Êorda do Campl Sâo Par:lo: Revista dos rribunars, 1953, p. 261 e segs.
Ve¡, enc¡e outros, "Traslado da provisão de Joáo Pe¡eira de Soìrsa, capiráo desra capirania de
Sáo Vicente" de c. 1600, "Regirnento do Capiráo Diogo Gonçalr-es Laço que lhe deu o senhor
govern:rdorD. F¡ancisco de Sousa" de 1601 e "Traslado da provisáo do senhor governador
Dìogo de Mendonça Furtado" de 1624, publicados respecrivamenre nas pâginas74,126 e454
do Regi*ro Geral da Cânara de S¿o Paula,Yol. L Sáo Paulo: Arquivo Municipal, 1912
Yer Lit¡ro 2
do Goaemo do Br¿sil. Lisboa: CNCDP e Sao Paulo: Museu Paulisra. 2001. res-
pecrìvamenre, p- 66, 117 e 130.
A fo¡macáo da elite colonial 1i3
uma eno¡me lìJta náo para defender a autonomie, mas simplesmen¡e pa¡a garanrir sL¡as
prerrogativas básicas63.
O ponto alto luta foi na segunda rnetade da década de 16i0 e início da se-
dessa
guinte, quando Matias de Albuquerque retomou o governo da capirania para a família
donatariai, entrando em confliro com o governador-geral D- Luís de Sousa (1617-1621)
e seus .ep¡esentantes em Pe¡nambuco. o conflico chegou ao rei, que em cârta ao go-
vernador-geral avisava: "vi o que me avisastes sob¡e Matias de Albuquerque, e demais
de o mandar adve¡¡ir da obrigaçáo que ¡em de obedece¡ as ordens que lhe derdes e ter
convosco correspondência devida ao lugar que ocupais e de que náo o cumprindo as-
sim lho manda¡ei esrranhar com demonsüacâo" 64, mandando repor ao estado inicial
¡odas as inovaçóes que fossem conr¡a e jurisdiçáo real6;.
Po¡ tudo isso, mesmo Caio Prado Júnio¡ um dos auto¡es que defendem a idéia
da ampla autonomia das capitanias f¡ente ao Gove¡no-geral, afirma que náo se deve
subesrima¡ o poder e a auto¡idade dos governadores, "nem mesmo ¡eduzi¡lhes a ex-
pressão na vida adminisr¡a¡iva da colônia. Náo somence suas atribuiçóes sáo conside-
¡áveis ... como ainda o simples fato de representarem e enca¡narem a pessoa do rei, e
te¡em a faculdade de se manifes¡a¡ como se fossem o próprio monarca, é ci¡ct¡nstância
que basta, no sistema político da monarquia absoluta de Porrugal, para dar a medida
do papel de relevo que ocupam"66.
Dessa maneira, o Governo-geral, ao longo da segunda metade do século XVI
e dos primeiros anos do seguinte, passou a desempenhar um papel central na mon-
tagem do processo de colonização no B¡asil, momerrto que, como veremos, es¡avam
sendo lançadas as bases do Antigo Sistema Colonial. Nessa conjuntura, a lu¡a cont¡a
os povos indígenas e seus aliados est¡angei¡os reve um papel primordial, pois foram
esras guer¡as que possibiliraram a conqúista de novas terras e esc¡avos Pata a exPan-
sáo da agricuftura e bene6ciamento da cana-de-açúcar, alicerce econômico do pro-
cesso de colonizaçáo e fundamento de uma eli¡e nascente na colônia, em su¿ m¿io¡ia
di¡ecamente envoivida no processo de conquistao'.
Sob o aspecto da conquisra te¡rito¡ial, o período pode ser di"idido do ponto de
vista das guerras ocorridas, em dois momenros: um defensivo e out¡o ofensivo. No
primeiro, que, grosso modo, dura¡ia entre a chegada de Tomé de Sousa em 1j49 e o
Êm do governo de Mem de Sá, com morte em 1572, a preocupaçáo prioritária era
sLla
garantir a defesa das áreas ocupadas, com pequen¿s exP¿nsöes em ¡o¡no dos núcleos
esrabelecidos. .Além dessas, âpenas uma única nova conquista de vulto, que foi a do
Rio de Janeiro, que, como se sabe, loi muito mais uma resposta à presença francesa do
que uma iniciariva originariamenre lusa, lanro assim que em 1560 a fortaleza f¡ancesa
foi ar¡asada e a regiáo abandonada, só sendo ocupada deÊnicivamente em 156i, dado
o temor de que os franceses voltassem a ocupar a Baía da Guanabara.
O segundo momento, que começaria depois da mone de Mem de Sá ou um
pouco depois, seria marcado por uma ¡etomada da ofensiva por parte dos portLrgueses
e iria aproximadamence aré 1630, nesse momento os portugueses com forças e recursos
Às guerras com os indÌos errr momenros pos¡eriores riveram um caráter diferenre, assim por
exemplo, as luras da segunda meradc do século XVII no se¡ráo da atual regiáo Nordesce nâo
rinham como faror prccipuo a obtençáo de máo-de-ob¡a escrava, que já era abasrecida Ìar
gamenre pelo rráfico neg¡eiro, ncm as novas rerras cram aproveiradas para a cana de açúca¡
a¡ividade econômica cenrral do periodo, mas para a pecuária errensrva. Já em áreas periféricas
como Sáo Paulo muiro mais peÌa posse do escravo do que das rerras. Ver Pedro
e Pa¡á, a Lut.r é
Plrrlroni, A Gzt¿rra dos Bárbaral pouos índigenas e a colonizaçáo do sert,ta rcrde:te do Br¿:i/,
1650-1720. Sio Pa'¡lo: Edusp e Hucitec, 2002.
A formaçáo da elite colonial 115
o¡iental fosse seguido nas partes do Brasil, pois mante¡ ùma exrensa ¡ede de fo¡¡alezas
que doroinassem os princìpais ponros esrra¡égicos, com enorme dìspêndio mate¡ial e
humano, para defènde¡ o escambo do pau-brasil náo ce¡ia o menor senrido, nem vie-
bilidade econômica6i.
Tampouco a ocupaçáo do Ma¡¡ocos servia de modelo, pois nessa regiáo, pequena
e próxima a Portugal, as praças forres portuguesas serviam de baiua¡tes na defesa do
Reino e de suas navegaçóes. sendo, porcanto, meros enclaves, com pouca relaçáo com
a ¡e¡ra e completamente dependentes de soco¡¡o permanen¡e do Reino, orerando so-
b¡enanei¡a os cof¡es ¡égios. Enfim, um ve¡dadeiro so¡vedou¡o de recu¡sos fìnancei¡os
e huma¡ìos que náo interessa reproduzir em our¡as partes6e.
Assim, para e Coroa, o B¡asil náo poderia ¡o¡na¡-se ourro Mar¡ocos) da mesma
forma que náo poderia se¡ out¡a Índia. NaAmé¡ica, a colonizaçáo encetada pelos portu-
gueses seguiu muito mais o modelo antes utilizado nas ilhas a¡lânticas - arquipélagos dos
Açores e da Madeira - com o desenvoh,imento de uma economia agroexportadora.
Dessa fo¡ma, resumidamer.e, o domíoio das rerras âmericanas reivindicadas
pela Coroa portlÌguesa exigia, como vimos ¿nleriormente. o povoâmerrto, e es¡ei
por sua vez, exigia, por um lado, a monragem de uma estrutu., administ¡¿tit a e,
por our¡o, o desenYolvimeqto econômico necessá¡io para fornecer o supo¡ce mate_
rial para o sucesso da colonizacáoro.
Empreendimento que demandava ¡ecursos ql¡e os donatá¡ios, enca¡regados
pela Coroa, num primeiro momen¡o, pa¡a execular a ta¡efa, náo possuíam, nem
poderiam obter no pau-brasil, que em virtude do estanco régio os benefrciava pouco.
Àssim, nessa coûjunru¡a, o produto escoihido para viabilizar a empresa colonjal foi
o acúcar, apro\,eirando-se, ent¡e ourros fatores, das boas condicóes do solo apontadas
por Caminha na célebre passagem:Ì.
A escolha rìáo causa su¡p.esa, pois o açúcar passava por uma fase de grande
prosperidade, com os precos em aita e ampliação de mercados, caPazes de absorve¡ o
crescimenro da produçáo. AIém disso, a experiência acumulada peÌos portugueses, par-
Para uma lisâo geraì do Império, r'eja-se. por exempio. os clássicos de Charles R Bore¡ O
ImVório Colanial Portuguê,: (tradtçâo). Ljsboa: Edicóes 70, 1981 e de Vitorrno MagaLh:cs
Goàínho, As D¿scabriinentos e a Ec¡nomit), Mrn¿io.l,2^ ed.. 4 \ols Lisboa: Presenca, 1991 e
ainda o moderno ¡rabalho de Francisco Bcrhencourt e Kirti Chaudhuri, Históría d-a Etpansáo
Pornguasa,5 r'ols. Lrsboa: Circuio de Lci¡orcs, 1998.
CL David Lopes,I Ex¡ ansáa em Ma¡racos.Lisboa: 'Ico¡cma, s/d. e Augusto Ferreira rìo Ana-
ral, H;sttíia ¿l€ M¿ügn¿. Lisboa: ,A.llâ, i989.
70 Sobre esre aspecro fundamenral, ver Caìo Prado Júnior, O/. rlt, 21 e seguinrcs e Fernando
No:.ats. Portu,gal e Bra:il na crise do Antigo S*te¡na Colon¡¿l (1777-1808J, 6' ed. Sáô P,rtlo,
Hucirec. 1995. p. 102 e seguìntes-
Jaìme Corrcsáo. ,4 Ca,t¿ ,y'r Pero Vaz de Ca.ni'¡ha. Rio de Janerro: Livros de Ponugal, i943,
p.240.
116 Rodrigo Ricupero
72 Cf. Vera Lucia Amaral Fer|ini. Terr¿, T¡abalha e Pode¡. SãoPaulo: B¡asiliense, i988.
"Cana de Duane Coelho a €l-rei" de 27 de abril de 1542, p'ul>1íczda nz Hnairiø da Coloni
zaçâa Partugrtsa da Brasil, vo|. III, p. 313 e em José Anónio Gonsaives de Mello e Cleonir
Xavier de .A.lbuquerque, Op. cit., p.85.
'Ca¡¡a de Pedro do Campo Tourinho" escrim de Porrc Seguro em 28 de julho de 1546, pu-
blicada na História da Colonizaçio Portaguesa lo Brusil,vol-lII, p.266.
'Carra de Pedro de Góes esc¡i¡a da Vila da Rainha ao seu sócio Marrim ler¡ei¡a '' de 18 de
agosto de 1545, publicada na Hist'iria da Coloaizaç,1o Portuguesa clo Br¿sll, vo|.II p.262.
Por ourro lado, a exploracáo do pau-brasil, poderra servir para amealhar
sários ao empreendimenro açucareiro. Ver, por exemplo, a "Carra de Dua¡ce Coelho" de 22
de março de 1548, publicada na ,É1zrtória da Colonizaçáo Pornrguesa lo Brasil, vd,.lll, p.
A formaçáo da elire colonial 117
316, também em José Anrônio Gonsair.es de Mcllo e Cleonir Xavier de Albuquerque, Op.
tlt., p.93.
Além de 6scalizar a exploraçáo do pau-brasil, inclusive regulando as mercadorias que deve
¡iam ser dadas aos índios, para evirar o processo de enca¡eci¡renro do 'iesgate". Cl Alexander
Marchant, O¡- cit., ptlssin.
Parte da popuiaçáo das á¡eas abandonadas foi deslocada para Salvador. Tal abandono pro-
vocou enorme polêmica cm Portuqal, tendo seus defensorcs sido alvo de pesadas criticas
Ålgumas delas acabaram regrscradas, como, por exemplo, aquela em que 'þraticando-se entre
os fidalgos que o homem que mais insisrira em se largarem os lugares dc África (ou seja, do
ì\{arrocod lo¡a Fe¡náo Álvares de And¡ade, escrir'áo da lazenda de el rei, praguejavam dele E
um dia, dizendo Fe¡náo Á1""..s cond. (D. Joáo Coutinho, Conde de Redondo e capitáo
"o
de Arzila) que rinha erande fastio, disselhe ele: Maior seria o de Áf¡ica". Fernáo Álvares de
Andradc, diga-se de passagem, e¡a um dos maio¡es incentivadores da ocupaçáo do Brasil,
rendo ¡ecebido uma capitania que acabou náo sendo explorada, além de sócio na exploraçáo
dellhéos. Dítos Portugueses Dignos de Menória. (Século XVI), editada e comcntada por José
He¡mano Saraiva, 2" ed. Lisboa: Europa-América, s/d, p. 87 Sobre o assunto, .-er Maria Leo-
no¡ Ga¡cía da C¡uz.ls controuóñas ao tempo le D. Joáo III:obre a políticø partuguesa no Norte
de África. Lisbot, CNCDP, 1997 (Separara de Mare Liberan, n. t3).
118 Rodrigo Ricupero
abasrança, que a plante, granjeie e fará nela muito proveico e a terra se enobrecelá muiro",
oferecia "embarcaçóes e mandmentos a ¡odas as Pessoas que se quiserem tr viver nas diras
parres do Brasil e além disso lhe seráo lá dadas pelo dito Tomé de Sousa cerras que plantem
e aproveitem livremenre sem delas pagarem mais que o dízimo a Deus"so.
Assim, sem dúvida, o maior incettivo ulilizado para alrair moradores para a
América foi a ampla oferra de ce¡¡as brasileiras. Além disso, a possibilidade de obren-
çáo de escravos e a participaçáo, em maior ou meno¡ medida, na economia do açúcar
rambém deveriam se¡vir como at¡ativo.
As terras portuguesas do novo mundo foram, desde o início do processo, incor-
poradas ao patrimônio régio e doadas pelo monarca ou po¡ seus agenres, na fo¡ma de
sesmariassr, segundo as no¡mas das Ordenaçóes do Reinost e de instruçóes específicas,
cujo primeiro exemplo é a aucorizaçáo dada a Martim Àfonso de Sousasl.
A distribuiçáo e o aprovei¡amenro das cerras foi uma preocupat'o conscalte da Coroa
ao longo do período estudado- Com a c¡iaçáo das chamadas capienias herediúrias, o mo-
narca, previdente, determinou, nas cartas de doaçáo, que no máximo i0leguas das teuas da
capitania poderiam ficar direramence parao dona¡á¡io, incluindo nessas as desua mulhere de
seu herdeiro, pois as demais "daráo e poderáo dar e repartir todas as ditas rerras de sesmaria, a
Sobre o ¡ema, ve¡ Timorhy J Coares, Degtedadas e O-,jit calorizacáo dirìgil,n pela Coroa n
Inpërio ponugztês (rld.Lrcáo). Lisboa: Cr-CDP, l9!8.
"Carra régia sobre novos povoadores para o Brasil" de 11 de se¡embro dc 1550, publcada em
Doc ne tos ?1¿ft¿ a HiiTória do AçLiør, Op. cit.,I,p.97.
Para uma visáo geraÌ das sesma¡ias, r'er Cosr¿ Poro, Estu.da sobre o si¡tenn sesnñaL Recife:
Unive¡sidade Fede¡al de Pe¡nambuco, t96j; Rul.Cì¡ne Lima. Pequena Históia lerritorial tlo
ßr¿si/. j' ed. Sáo Paulo: ,{rquìr-o do Es¡ado, Ì991 e \¡irgínia Rau. Serzrr:rias tnedieuL pornt
gzrsas, Lisboa: Berrrand, 1946.
Cfl O rirulo LXVII das Odeno.çòe: Mø.nuelín¿¡ (1j14). 5 r,oÌs. Lisboa: Calousre Gulbenkian,
1984, lV, p. 164.
"Carra para o Capiráo-mo¡ (Manim Àfonso de Sousa) dar ¡er¡as de sesma¡iai' de 20 de no-
Brdsil,vol.lIl, p- 160.
vembro de 1530, publrcada na Históri¿ /-a Colonização ?orntguesø do
A formaçáo da elire colonial 119
quaisque¡ pessoas de qualquer qualidade e condiçáo que sejam e lhes bem parecer, Iivremente,
sem foro nem direiro algum, somente o dízimo de Deus"si.
Nesses primeiros momentos, as re¡¡as fo¡am dist¡ibuídas com relariva facilida-
de e nos mais va¡iados ramanhos, aos dispostos a aproveicá-las, pois como D. Joáo
III o¡denava a Tomé de Sousa: "da¡eis de sesma¡ia as terras ... às pessoas que vo-las
pedirem ... que queiram ir povoar e aprov€ira¡", de acordo com a capacidade de cada
um, pois como alertar.a o monercâ âo mesmo governador: "não dareis a cada pessoa
mais ter¡a que aquela que boamente e segundo suas possibilidades vos parece¡ que
poderá aproveirar".st
Recor¡entemente a Co¡oa volrava ao assunto, ¡elembrando ao governador e aos
capitães-mores a importârìcia de dist¡ibuir te¡ras aos novos moradores, Particuiar-
mente aos que fossem com a família, e ¡ambém qr¡e estes cobrassem dos agraciados,
"obrigando aos que rive¡em terras de sesmarias, que as cultivem e povoem"- O ¡ei erâ
taxativo, âs te¡ras náo aproveiradas deve¡iam se¡ ¡edist¡ibuídas, poìs "aos que as nåo
cumprirem (as obrigaçóes) se cira¡áo e da¡áo a quem as cultive e povoe", o que efetiva-
menre ocorreu em não poucas ocasióes s6. C¡istóvão de Ba¡ros, o tercei¡o c¿Pitáo-mor
do Rio de Janeiro e o primeiro nomeado pela Co¡oa em 1570, trazia um alvará para
¡edisr¡ìbui¡ as rerras já dadas e que táo fossem aptoveitadas no prazo de um ¿no, Pojs
o rei ¡eclamava do fa¡o de "todas as terras que esrão a ¡oda da cidade de Sebastiáo da
dita capitania (serem) dadas as pessoas que vivem e sáo moradoras em ourras capitanias
sem as rerem aproveitadas nem beneficiadas como sáo obrigadas''s:-
Em casos extremos, como no Rio Grande (arual Rio G¡ande do Norre) no
início do século XVII, a Co¡oa chegou mesmo a dere¡mina¡ uma nova redistri-
buiçáo de rer¡as de ¡oda a capitanla, por enrender que grande parte delas náo
tinha sido aproveitada e também por náo concorda¡ com a divisáo feira, pois, nas
pala\'ras do mona¡ca, "constou ser muito exo¡bitante em quantidade de te¡ras a
repartiçáo que delas fèz Jerônimo de Albuquerque a seus Êlhos e demais se näo
rerem nelas feito benfeiro¡ia"3s.
No início, as re¡¡as fo¡am disc¡ibuídas com poucas exigências, pagamento aPenas do
dízimo e aproveiramenro dessas no prazo es¡ipulado. Cabia, contudo, aos agentes da Co-
roa - donatá¡ios ou funcionários régios - dar as rerras 'tegundo as possibilidades" de cada
um em aproveitá-ies. E possibilidade aqui e¡a antes de rudo a possibilidade de conseguir
máo-de-obra para beneficiar as ¡er¡as dadas em extensóes inimagináveis em Portugal, daí,
como nos coffa Gandavo, a primeira preocupaçáo dos novos moradores era a obtençáo de
ap¡oveiÉmeffo das terras no tempo exigidos'.
escravos que permirissem o
Além dessas exigências, o regimento de Tomé de Sousa estipulava oucras que
não figuravam nas ca¡ras de doaçáo das capiranias. Dessas, as mais imPorr¿mes
eram que os agraciados náo poderiam vende¡ ou repassar de out¡a fo¡ma as te¡¡as
recebidas pelo prazo de crês anos e que deveriam ¡esidi¡ na capitania.,Além disso,
em caráter excepcionai, por cinco anos náo poderiam ser dadas rer¡as aos morado-
¡es de ou¡¡as capitanias.
A úlúma medida dnha uma 6nalidade evidenre, evira¡ um êxodo dos mo¡ado¡es
das demais capitanias para a da Bahia, a única en¡áo sob controle régio, já a anrerior pa-
rece rer sido motiveda pelo receio da Coroa de que a maior parte das terras dist¡ibuídas
acabassem nas máos de pessoas que náo se dispusessem a ir pessoalmenre para as novas
terras, pois era evidente que as pessoas que detinham de antemáo cabedais suÊcientes
para montar engenhos ou para desenvolve¡ our¡as a¡ividades econômicas de monra diÊ-
cilmente iriam para uma colônia ¡ecém-c¡iada, com rodos os perigos a serem enfrenrados,
náo colaborando, portanto, com o povoamen(o e, conseqüentemente, com a defesa.
Dentro des¡a lógica, era preciso evitar ou pelo menos limita¡ o absenteísmo,
ar¡aindo, ao contrário, homens de va¡iados ¡ecursos oLr facili¡ando que estes obtì-
vessem as condiçóes necessá¡ias para poderem assumir es tarefas exigidas, compro-
me¡endo-os dessa manei¡a com a empresa colonial. Daí a adoçáo inicialmente de
medidas que favo¡ecessem os residentes em det¡imenro dos absen¡eístas, como, por
havendo nessa capitania (da Bahia) engenhos, em que os moradores dcla pu-
dessem desfazer suas canas, se plantariam, e fariam muiros canaviais, com qLle
até este momenro ainda náo tinha passado pelas rerras do Brasil.
r00 Cl "Senrenca conrra Jorge de Figucircdo, capiráo que lora da capirânia de Sáo Jorge do Rio
dos Ilhéus ... pela qual se julgou que deviam pagar dízima na allândega de Lisboa, das cois¿s c
mercadorras quc viessem da mesma capirania" de 5 de maio dc 1552 publicado em ''li G,zzøas
da Tarre da Tonbo, 12 vols- Lisboa: Cencro dc Estudos His¡ó¡icos Ult¡amarinos, 1960- 7Z
vo1. II, p. 582.
A formaçáo da elire colonial
A questáo percebida pela Coroa era que nenhum morador da capitania da Bahia
poderia, naquele momento, arcar com o alto investimento exigido para a const¡ução
de um engenho, e, na faka de engenhos, de nada adianta¡ia aos morado¡es plantar a
cana-de-açúcar, dificultando assim o desenvolvimento local. Para superar essa dificui-
dade, o monarca, em seguida, na citada ca¡ra, dava insrruçóes para a consr¡ucáo de um
engenho real à custa da fazer'da régia..
Tal engenho, de fa¡o, foi const¡uído, tendo sido concluído no princípio do go-
'v'e¡no de
Mem de Sá e, por ser o único engenho em funcionamento naquele momento,
deu um eno¡me impulso para a economia açuca¡eira do recôncavo de Salvador, per-
mitindo o surgimerro de outros engenhos, como veremos em outro momento desre
¡¡abalho. A Co¡oa ¡entou reperir a iniciariva nas capitanias do Rio de Janeiro e da
Paraíba, mas, ao que tudo indica, apenas o engenho real da Paraíba entrou plenamente
em funcionamento-
Ainda dentro da política de fomen¡o à economia do açúca¡ a Co¡oa determinou
por meio de sucessivos alvarás, dadosa pa¡tir de 1551, que os engenhos construídos ou
reediâcados gozassem de isençâo do pagamento do dízimo por certo prazo, que depois
acabou fìxado em 10 anosr02-
O Governo-gerai ainda impuÌsionava a refo¡ma dos engenhos dest¡uídos nas
guerras com os índios, o¡ientando, por exemplo, por meio de uma proYisáo do Prove-
do¡-morAnrônio Cardoso de Barros, os provedores de Santo Amaro e Sáo Vicente para
que garantissem o conserto dos engenhos parados da capitania, inclusive, tomando
mesmo a iniciariva dos repâros, quando os proprietários não o fizessemì0'.
Por Êm, r'ale a pena também desracar a preocupâçáo da Coroa com os lavrador€s
de cana, que tive¡am sua relaçáo com os senhores de engenho reguiamentada já no
regimenro de Tomé de Sousa de 1549, que enfaticamente presc¡eveu:
r03 "Tirulo do rcgistro das Provisócs, quc se passaram de serriço de el-¡eì Nosso Senhor, qLre
rocam a Fazenda de sua Aheza", publicado na coleçâo Docuinentos Histitñrls. OP. üt ,\ol. 14
o senhorio dela (rerras do engenho) será obrig:rdo de no dito cngenho lavrar aos
lar.¡ador¿s as cânas de suùs novidacies (saûas) ... e por Ìhas ìavrar levaráo os se-
nhorìos dos diros engenhos aqucla partc que ... \'os Parece¡ bcm de man€iià que
1ìque o parrido iàvo¡áveì aos lav¡adores Pâ.¡ elcs co¡lr melhor voarade aolgere!Þ
de aproveitar as rerras.'0"
r04 Para essa dìscussáo, r,tr especiaÌmenre \.cre l-ucia Àmar¿l Fcrini. O¿. rh, p. 16 c r:.:nbém o
já cir.rdo "Rcgimcnro dc 1oné de SoL:sa", public:Làc¡ nt Hi¡tóri¿ ¿/¿t Colottizttção Parntgue:a do
É;zsrl, vol. IIl. p.346.
L0i ¡. impo¡râûcià d¿ producáo acucarcira pâre a r.rabilizaçáo econón'ìice do ecrpreeîtlimento
coìori:i potìe se¡ consra¡ad¿ pelo fàro de que a fòÌha de pagamenro do cìoverrlo gerel er:
clsrcada pelo valor arrecadado peio dizir:ro, em particular tlo açúc:r. Pa¡a o assunto, Cl.-
'e.
orir Xavier de,{ìbuiluerquc da Graça e Cosra. Receira e Despev da Es¡¡da da Brn:jl ¡ta P¿ríala
?ìlíp;ro. Rcc\fc: Lr¡ c¡sr,.l,:de Ferier¡l <ic P¿¡¡ranbuco, 1985 tese irédira). Já o rendirnen¡o
do pau-brasil cra nuìras vezrs urìlizado p:.ra arcar com a despcsa dc ourras áreas, particular-
mcnrs o \{:rrocos Ci Ca¡ra cìe l0 Cc <iczenb¡o de 1613". Biblioccca da Âjuda, Cr¡¡as cio
bìspo D. Pcdro cic CasrilSo ao Con¡ie de S:bug¡-Ì, códice il-\¡lil'ìi, ¡ 8Ì.
106 À relaçáo cnrrc o povo:.menro das ¡crrrs, a economia açucareìra c a cieiisa mrlirer é expììcirrda
e¡n ¡¡echo de um¿ c¿rra de Jerónimo de Àlbùque.qùe plr¡a D. Joáo III, ra qual o 2rin.iro
conr¿\i¿ (Ìue "fazrztto-* an coìø zle rnìito t¿!. ido re:) teïïìça t duinenta y'o- rcra t segrríla/e
ldn qrt n;r rtat engenltu t ajrtualan'i00 psoa: ù gtenø, m¡¡any'u nlunts nnrd¿lo¡t¡ rc¡¡¿
"Ca¡ra dc J:rònir:ro Cc Àlbuquerque" de 2s de agosro de Ì5i5. pubìicad:: nr
Hísúria tla Caloníztçáo Parrdgrev la Ì)ra:i/.tol. IIl, p. i30.
t0 t- Vera Lucia Àrn¿¡al Fertìni. Op. tìr. , p. Ii.
A formacão d: elite colonial n5
108 ,{qui no senriio ciado por Ilnar Rohlolfde lr4atros, O Ttmpo Saqu.arema-Sio Par¡lo: Hucirec
t987, p. 26 e seguinres.
4. A administração colonial
(Os moradores do I?io Gtande) pediram ;nod.a de gouentança e se lhes nncal'eu no ano d-e
1611, pelo gouernddor D. Diogo de Mcneses, o qual, com parecer da- Relaçã0, ehgtu o juiz
am uercador, escîiu,i,ô d,à câméï11, Praacador do conselbo e procu-ra/'or d'os íwl,ios e assitn
O governo da colônia
/'\ Padre ,Antònio Vieira foi um dos maio¡es críticos da administraçáo colonial,
\J.o- a quaL rinha sérios atritos, particularmente com relaçáo à questáo da es-
cravidáo indígena. Vieira condenava a cobiça e a corrupçáo. e, em sermão pregado
na matriz de Belém do Pa¡á, em 1656 na ocasiáo em que chegou a nova de '"e te¡
desvanecido a csperanca das minas, que com grande esforço tinham ido descob¡ir,
ten¡ava confona¡ os moradores, desc¡evendo as conseqúências que tal descoberra' se
bem sucedida, te¡ia t¡azido:
Diogo de Campos Mo rcno. Litra qnc dtí ranão ,/-o E:t¿lo do Btø:iÌ (1612) Rccìfe: UËPE.
t955, p.209.
1l'
t28 Rodrigo Ricupero
Dessa forma, para Vieira, os moradores do Pa¡á ce¡iam melho¡ vida sem as mi-
nas, evitando que toda aquela máquina administrativa caísse sob¡e eles e que seus es-
c¡avos, animâis e canoas fossem requisirados para o serviço das mesmas, bem como os
manrimenros fossem desviados para o mesmo fim, a¡¡uinando os mo¡edores que táo
poderiam aproveitar das riquezas descobercas, r¡ansformados em feitores e náo mais
senho¡es de suas fazendas.
O padre Vieira também náo poupava palavras conrra a corrupçáo do funcionalis-
mo colonial, um ano an.es, em 1655, em out¡o sermão pregado na Mise¡icó¡dia de Lis-
boa, intitulado signitcarivamenre "do bom lad¡áo", o grande orador nos conta que:
e, ainda explicava, numa passagem antológica, que "os grømtíticos" furtam pelos vários
moclos: indicativo, imperativo, mandativo, op¡arivo, co¡riuntivo, porencial, permissivo
e infinitivo, e rambém por todas as pessoas do verbo e ainda por todos os rempos:
prerériro, p¡esenre e furu¡o.
As duas longas citaçóes do Pad¡eAnrônio Viei¡a, somadas às denúncias, devassas e
inquériros conhecidos, parecem dar razâo ao severo julgamento que nos apresenta Caio
Prado Júnior, após uma desenvolvida desc¡icáo da estrurura adminisr¡ariva colonial,
na mais conhecida análise sob¡e o tema- Para o autor de Formaç'ão do Brøsil Contempo-
râ.neo, " de alto a 6aixo da escala administrariva, com raras exceçóes, é a mais grosseira
imoralidade e corrupção que domina desbragadamenre"a. -4. seve¡idade de Caio P¡ado
Pad¡e Âncônro Yiàra, Sernóes ào Padre Antônío Vlelra,, reproduçâo fac-simllzda àa editio
princeps, organizaù pelo Padre,{ugusro Magne, 16 r.oÌs. Sio Paulo: Ànchierana, t943-45,
vol.4, p.410.
Ibíden, vol.3, p.335.
Caio Prado Júnior, Farmaçáo do Brasl Contemporúneo. Sâo PatrlLo: Brasiliense, 1942, p. 334.
A formacáo da elice colonial 129
Júnio¡ porém, náo se resrringia ao plano da moralidade, para ele a adminisrracáo colo-
nial e¡a uma "monstruosa, emperrada e ineficiente máquina bu¡ocrática"t.
A segunda parre da c¡itica de Caio Prado Júnior, conrudo, não encon¡ra o m€s-
mo eco nos c¡onistas ou na documenracáo do período aqui esrudado, inclusive nos
documentos mais conru¡rdenres sobre a adminisrracáo colonial a idéia de ineÊciência
não apa¡ece. É o caso do relarório redigido, em fins do século XVI, pelo lìcenciado
Domingos de Ab¡eu e Brito, no qual são aponradas inúmeras irregularidades, nora-
damenre no que toca aos in¡e¡esses da Fazenda Real, mas cuja idéia subjacenre ë que
tais problemas eram deco¡¡enres do mau procedimenro dos oficiais régios, salvo um ou
outro pormeno16.
A adminisr¡acáo colonial em si, contudo, ainda permerece muiro mal esrudada,
a maioria dos crabalhos inritulados "hisró¡ias administ¡arivas" ou dedicados ao rema,
na prárica, náo aprofundam o esrudo da administracáo propriarnente dira, Iimiando-
se a comentar os documentos mais conhecidos, como, por exemplo, a carta de doaçáo
de Dua¡te Coelho e o regimento de Tomé de Sousa, descrevendo leis, alvarás e oucros
documenros oficiais, sem uma análise da ¡ealidade conc¡eta, ou, ainda, apenas ¡elaren-
do os aros dos governantes em geral, tornando-se, dessa fo¡ma, mais uma "histó¡ia do
B¡asil" ent¡e tan¡as do que um estudo sob¡e a adminisr¡açáo propriamence dira.
Nesse senrido, sáo poucos os estudos específicos sobre determinados órgáos ou
¡amos da administraçáo, bem como obras de síntese que nos dêem uma visáo geral
de sua est¡utu¡a. Nesse caso, destaca-se o livro Fiscai¡ e Meirinbos, coordenado por
Graça Salgado, resultado de um projeto do Arquivo Nacional que procurava compre-
ende¡ a administ¡açáo para permitir uma melhor organizaçáo do acervo documental
da instituiçáo. Mais do que um estudo propriamente dito da adminiscraçâo colonial,
tal obra é cenr¡almente um a¡rolamenro sistemático dos cargos da administraçáo,
elencando suas atribuiçóes e o período em que existi¡am. Ao partir basicamente da
legislação porcuguesa entáo vigente e dos regimentos dos diversos cargos, acabou po¡
cair num ce¡to esquemarismo, dando aparente ¡acionalidade mode¡na à adminis-
t¡acão, como se pode perceber pelos organogramas apresettados, qìie uma ou oucra
a6rmaçáo em conr¡á¡io nos textos introducórios náo consegue apaga/.
Ibíden, p. 334.
Enviado em uma viagem de inspecáo deAngola, o autor fez escala em Pernambuco, redigin-
do dalì a parte relèrente ao Brasil. Cf. Domingos de A.breu e Brìro, "Sumário e descriçáo do
Reino de Angola e do descobrjmenro da jlha de Luanda" (c. 1591), publicado po¡ Alf¡edo de
Albuquerque Felner. Un inquérito à uida adninis¡ratiu e econômica de Angok e do Brasí|.
Coimbra: Imprensa da Univ€¡sida¿e, 1933.
Graça Salgado, Izseø:s e metrínhas, ¿1 adnínlrûIlçáo îa Bl¿lsll calonial,2' ed. Rio de Janeiro:
Nova Fronreira, 1985_
110 Rodrigo RicuPero
e de divisáo dos poderes sáo elementos que Pro\¡ocâm, muitas vezes' o choque eûtre as
diversas auto¡idades e a dificuldade na execução das ordens régias; o que nos obrigaria,
ainda seguindo as idéias do aLrco¡, a fàzeÌ ''tábua-rasa" das noçóes atualmente co¡¡entes
sobre a administraçáo pública para pode¡ entende¡ a administraçáo colonial, evitando
assim análises anacrônicas, pecado qLre ele próprio não deixou de comece¡e.
Tal posiçáo sobre a adminisuaçáo colonial náo deve, contudo, ser desprezada, pois,
deixando de lado os juízos de lzlo¡, continua sendo excelente ponto de partida. Caio
Prado Júnior indica uma sé¡ie de elementos da administraçáo colonial, que, ao destoa¡
das normas adminisrrativas contemporâneas, difrculram em muico nossa compreensão.
como, por exemplo, o faro de órgáos e Funçóes, existen¡es em cerros locais, laltarem em
ou¡¡os ou ainda a distribuiçáo de funçóes e compecências dife¡en¡es das antcrio¡menle
em vigor. Daí que Caio Prado Júnior renha râzáo, Por exemplo, quando registra que
orien¡ar-se nesse "caos imenso de leìs... é rarefà á¡dua", pois, como explica em seguida,
"os delegados do poder recebem muiras vezes inst¡ucóes esPeciais, irÌclùsive em simples
correspondência epistolar, que fazem lei e freqüentemente estabelecem normas originaìr'
como resukado, as leis náo só náo e¡am uniformemente aplicadas no tempo e no etpaco,
como freqüentemente se despreza"am irrreiramenre, havendo sempre, caso fossc teces-
sário, um ou ourro motivo justilìcado para a desobediência". Po¡ isso, a relaçáo enrre o
que lemos ¡Ìos textos legais e o que efecivamente se pratica, é muitas vezes ¡cmota e vaga,
senáo redondamenre conrradiróriaro.
Esse sis¡ema, ainda pa¡a Caio Prado Júnior, seriâ reflexo que a "atitude de des,
conûança generalizada" da Coroa "assume com relacáo a rodos seus agenres"". Toda-
via, o próprio auto¡ afirma náo "subestimar o pode¡ e a au¡oridade dos gor.ernadores"
afìnal suas arribuiçóes sáo consideráveisr2-
Essa interpretacáo de Caio Prado Júnior cosruma ser contraposta à de Raymundo
Faoro, como fez Lau¡a de Mello e Souza. no seu livro Desckssif.cados da Ouro. Para a
autora. enquanto Caio Prado Júnior destaca a jr¡acionalidade do sistema administrativo,
Faoro segue a linha oposra, descacando a ¡acionalidade L'. Se Caio Prado Júnior vé a
i¡racionaÌidade na confusáo da administraçáo colonial, faro que Faoro também aponraì4,
este vê a ¡acionalidade a parrir do uso que a mona¡quia parrimonial faz dessa adminis-
traçáo para transferir a ordem estamental porruguesa para a colônia. Portanto, ambas as
visóes podem ser proveitosamente confron¡adas.
Assim, deixando de lado o uso que a Co¡oa fez da administraçáo colonial e
as idéias deFao¡o e atendo-se parricrlla¡mente à administração propriamente dita,
podemos relativìzar as c¡íricâs feitas por Caio P¡ado Júnior e ourros autores, de
que o sisrema administrarivo fora transposco mecanic¿mente para a colônia, pois
como vimos, ele náo só sofreu consranres refo¡mas visândo a uma maior adequaçáo
à realìdade enconrrada, como rambém apresenra características próprias, das quais
a mais importante foi a criaçáo do Governo-gera1, que náo seguia nenhum modelo
metropoÌirano.
Nosso interesse, no âmbito deste trabalho, contudo, náo é pela estrutura ad-
ministra¡iva colooial propriamente di¡a, mas sim pela relaçáo entre a formaçáo
da elite colonial e a administraçáo das partes do Brasil nos primeiros tempos de
colonizaçáo- Ao cont¡á¡ìo de Cajo Prado Júnior, que analisava a adminìstraçáo a
parcir dos úhimos anos do período colonial, vamos aqui ap¡esentar um esboço do
que foi o governo da conquista no período, para, em seguida, no próximo item
deste capítuÌo, apresen¡a¡ a evoluçáo da es¡¡utu¡a adminisr¡a¡iva colonial ent¡e,
aproximadamente, 1530 e 1630, seguindo uma ordem cronológica, destacando as
mudancas ocor¡ides e os principais problemas enfren¡ados.
Iltidrn, p.299. Sol>re o poder dos governadores-geiais, vcja-se tanbém,{ntónio Manuel Hes-
panha.'A consriruição do Império Portuguôs- Revisáo de algLrns erviesamen¡os co¡ren¡cs"
in: Joáo Fragoso. Fernanda Bicalho e Maria de Fá¡ima Gouréa. O Antigo Regime nos Trópíca:.
Rro de Janeiro: Cn iìizacáo Brasileìra, 2001. p. 174 e seguintcs.
lt Caio Prado Júnior, Op. ch., p. 307-
)2 Ibiden, p. 3AB.Ycr sobre esta questáo o capitulo precedenre
r3 Laura de Mello e Souza. Duda:stfntlu do Ozra, 3' ed. Rio de Janei¡o: Graal, 1990. p. 92.
14 Ra¡-mundo Faoro, Os Dano-, lo Poder,2"ols.. 9" cd. S:o Paulo: Globo, 1991, p. 176.
137 Rodrigo Ricupero
Sobre o assunro, veja*e Mozarr Vergerri de !Ienezes. Coloni¿lisno etn açáo, fscalisno, econa-
nia e soríeìade zø cøpítaùa da Plraíba (1647-115jr. Tese in¿dira ¿efendida na LÌnivc¡sidade
de Sáo Paulo em 200i.
Sruan Schrvanz, -B¡¡¡ocr¿ci¿ e socie¿l¿de na Brasí/ coloni¿l. S:ro Paula: Perspecriva, 1979, espe
cìalmenre a primeira parre.
A formacâo da elire colonial 133
l3 "Regimenro cia Relaçáo da Casa do Brasil' de 7 de março dc 1609, publicada por Marcos
Carneiro llendonça (o t.r.:), R'zízc: la Foîmaç'io A¿mi rttõ,tìI,ã ¿o Bldsll, 2 vols. Rio de Janei-
rol I nsti¡uro H;s¡órico e Geográfico Brasileiro, 1972,1, p. 386
Ú4 Rodrigo Ricupero
A montagem da administração
Vanderle¡' Pinho, D. rØarcos -feixeíra, quinro bLpo do Bra:il. Lisboa: Ãgència Geral das Co-
lônias, 1940.
"Cana de poder a Marri¡r Alònso de Sousa, capìr5.o mor da :.rmada que vai ao Brasil..." de
20 de se¡emb¡o de 1j30, publicada por Carlos Malheìro Dias (Dìr.), Htstõria da Coloùzaçtia
Pornguesa ào Bnsil,3 vols. Po¡ro: Licografia Nacional, 1922, voi. Ill. p. 377 (Cicâda daqui
em diantc apenas como Høória. d¿ Coloaizaçáo PornLgue do Bra ).
A fo¡macáo da eli¡e colonial 1t5
aos capiráes da dita armada (de Marrim Afonso de Sousa) e 6daigos, cavaleiros,
da armada e capitão-mo¡ das ter¡as do B rasi), no Ditírio /tt N¿uegaçá0, escrito pelo trmâo.
Pero Lopes de Sousa, e principal relato de sua expediçáo, Ma¡cim Afonso de Sousa é
designado como "capitáo de uma a¡mada e governador da te¡¡a do B¡asjl"ri- Essa du-
pia designaçáo, o¡a capitáo-mo¡, ora governado¡ recorrente em rodo o período, expressa
a duplicidade das atribuiçóes de Manim Afonso de Sousa. Capitão-mor e gove¡nador
erâm, na verdade, as duas faces inseparár'eis do governo, que, utilizando uma linguagem
atual, poderíamos designar de militar e civil:i.
2I
22 "Carta de poder para o CePìtáo-mor criâr tabeliáes e mais oÊcìais da jusriça e "Carra para
o Capitáo mor dar terras de sesmarias', ambas de 20 de novembro de 1530 e pubJ;cadas na
Ht,/jría ¿a Colanízr¿!áo Porrttguesa d'o BøsÌ/, vol lll' p. 160.
Cf. Pero Lopes de Sou sz, Ditirìo àa Nauegaçá¿ (1530-1532), comentado por Eugênio de Cav
tro, com prefácio de Capistrano de Abreu. 2 vok. Rio de Janeìro: Leuzin-qer' l92Z I' p 87
Os termos governador € caPi¡áo ou câPitáo-mor de tal capitania aparecem' ern eeral' na
documenraçáo sem muito rigor, ora designado por ambos os rcrmos. ora Por Llm ou oÌrt¡o-
Conrudo. Tomé de Sousa era ao mesmo tcmpo governador
as ca¡tas de nomeaçáo sáo claras,
e câpìtáo da captania da Bahia, além de goternador-geraÌ das demais capìtanias e Salvador
Correia de Sá, por exenplo, era nomeado, em 10 de serembro de l57Z capitáo e governador
do Rio de Janeiro, ocorendo o mesmo com os donatários, assÌm D Brites de Albuquerque.
r.rúva de Duar¡e Coeiho, cra "capiroa" e governadora de Pe¡nambLrco. Dcssa forma, esses
136 Rodrigo Ricupero
cermos indicam uma cerÉ divisáo eûrre âs rârefas civìs (governador) e milicares (capirão), náo
podendo ser exercidas separadamenre- Posreriormenre, a parrìr de Gaspar de Sousa (t6t2-
1617), os governadores-gerais pâssâ¡em a s€r capiráes gerais de toda a cosra, náo mais apenas
capiráes da Bahia, ampliando ainda mais seu poder. Assim, nesce rabalho, o rermo go\¡er-
nador e capiráo-mor seráo urilizados, respecrivamenre, para designar o governador-geral e os
capiráes das diversas capiranias. Cl os verbeces "capiráo" e "governador" em Ancônro de Mo-
r^es e Silve, Diccion¿io da Lingaa Porngu,eza. Rio de Janeiro: Fluminense, 1!22. (fac-símìIe
da 2" ed. de 1813). Para uma visáo geral, ,{nrónio Saldanha de Vasconcelos, O?. cit., p. t9I e
segs. e a carra de nomeaçáo do governador-geral Gaspar de Sousa, prbltcada em Carras para
Áluaro àe Sousa e Gagar de Sousa. Lishot: CNCDP e Rio deJaneiro: Minisrério das Relaçóes
Exteriores, 2001, p. 7Z Cl ainda Joaquim Veríssimo Ser¡áo, O Rio de Janeiro na século XVL
Op. rn.,I|,p.119 e Pereira da Cosra, Anau Pernambucanas, 10 vols. Recife:,{rquivo Púbtico
Escadual, 1951, l, p. 91.
A formação da elice colonial 137
lanto conl¡a os natu¡ais da rc¡¡a como contra outres naçóes estrangeiras, bem como serem
"sesmeiros de suas terras", repartindo-as pelos moradores.
the municípat rouncil: of Goa, Møcao, Bahia anl Luanda Madison: University of\lisconsin
lress, 1965; Afonso Ruy', Históïill ¿a Câmara Munícipal da cid¿de do Salndor S '¡aà'ot:
Câmara ì\4unicipal, 1953; Edmundo Zenha. O
u117c1Pio o Bias¡7 (1532-1700) S;o Paulo:
Cl Os rÍrulos XLIIII, XLY eXLYI das Ordenaçõ¿s Mã u¿in¿s (15t4). 5 r,ols. Lisboa: Calous-
re Gulbenkjan, 1984, respecrivamence, p. 286, 314 e 322 do p¡imeiro volume.
Sob¡e o assunto, ver Monsenhor Dr Eugênio de Andrade Veiga, 02. ¿¡¡ c \laldema¡ M¡rcins
Ferrena, Históri.¿ rla Díreito Btußil¿irc,.4 vols. Sáo Paulo: Frer¡as Bas¡os e Max Limonad, 1951-
56, Il, p. 160.
J2 Veja-se o irem: 'À criacáo do Governo,geral" no 3. capírulo desre rrebalho.
Frci Vicenre do Sai"ador, Op. dt., p.160. ,{ mesmâ rdéìa em Gabriel Soa¡es de Sousa, i?¿¡¿l¿
destrirlu ¿lo Brasi/ etn 1j8l Sáo Paulo: Companhìa Editora Nacional, 1982 p. t2S.
Sobre o assunto, r-eja-se Francisco Ca¡los Cossenúno. Gauenndores-gerai¡ do Exado do ba:il
(sénlo XVI e XVII): ofcio, regim¿rúot goreftt.tçáa e tî/jjetóîi.ß tñé¿,ra delendida na Unì-
Gese
versidade Federal Fluminense em 2005).
A fo¡macáo da elire coLonÌal i39
pulaçáo mesculina para uma espécie de serviço militar permanenre, que incluía tam-
bém exercícios regula¡es e atividades de vigilância nas áreas costei¡as¡3.
O regimenco instruía que os capitáes-mores deveriam, de maneira geral, ser elei-
tos pela Câmara e "mais gente da governança" entre as Pessoas principais e teriam a
arefa de fazer o levan¡amento do núme¡o de pessoas etiscences no lugar e dividi-Ias
em esquadras de 25 pessoas, em número de dez, indicando também o cabo responsável
por cada esquadra. Assim cada companhia deve¡ia te¡ 250 homens, contando ainda
com um alfe¡es encarregado de leva¡ a bandei¡a, um sa¡gento, um meirinho, um es-
c¡iváo e dez cabos, além de um tambor, escolhido dent¡e os criados do capicáo-mor. Já
os mo¡ado¡es mais ¡icos, possuidores de pelo menos um cavalo, organizariam-se em
companhias própriasaa.
Tais tropas teriam grande ¡ele"'o na o¡ganizaçáo militar da colônia, pois, na
ausência de cropas regulares de maio¡ vulto até meados do século XVII, e¡am os
mo¡ado¡es que cumpriam a quase totalidade das ta¡efas bélicas.,As otdenancas, na
¡ealidade, deram, no caso das partes do Brasil, organicidade a uma siruaçáo que
na prática já existia, mas acaba¡am também legicimando o cont¡ole dos poderosos
locais sob¡e o conjunto dos moradores, graças ao conjunro de poderes conferidos
aos seus oficiais, inclusive de puniçáo aos mo¡adores que náo cumprissem as ta¡ef¿s
exigidas.
Varnhagen atribuiu a Mem de Sá, Falecido pouco depois, em 7572' aimplemema-
çáo do regimento, contudo sem da¡ maiores detalhesat. De qualquer maneira,
sabemos
vgunda metade do século XVIII: RJ, SP e MG. Tese inédìta defendida na Uni'ersidade Federal
Flumineûse em 2002.
43 O "Regimento dos capitáes-mores e majs cåPitáes e ofrciais das companhias da genre de
cavalo e de pé e da ordem que te¡áo em se exercitarem" de l0 de dezembro de 1570, complc-
(Ed )'
menrado em l5 de maro de 1574, foi publicado, enrre outros locais' porJaime Conesáo
Pauliceat Lasitana Monume t¿ H^torícø,2 partes em 3 vols. Rio de Janeiro: Real Cabinete
PortugLrês de LeìtLrra, 1956'61, rcmo I, p. 373.
44 Ibiden.
45 Francisco Adolfo de Varnhagen. História geral do B¡âsil, 5a ed. Sáo PaLrlo: Melhoramenros'
1956,1, p.346.
Cf "Sumário das Armadas que se 6zeram deram na conquista do rio Paraí'
e guerras que se
ba", publicado na Razlsta do Inltituîo Hrstózia e Geogtáfco Btasileiro' tomo XXXVI' 1873' p
33, cuja autoria atribuída ao jesuíta Simáo Travassos, ver sob¡e o remaJosé Honório Rodri
é
g'es. Hi't¡jria ¿a Histórí¿ do Brasil. 3 .¡ols. Sáo Paulo: Companhia Edito¡a Nacional, 1979,
117 Rodrigo Ricupero
p. 450. Ou ainda cm F¡ei Vicen¡e do Sal'-ado¡, Op. rìt., p.266. Regisrre-se, conrudo, tluc
praricemenre todas as rnlormaçóes de Freì Vrcenre do Salvador sobre a conquisra da Paraiba
sáo retiradas do "Sumário das Armadas'-
''E para que os caprtáes das companhias c os alfires e sargentos delas lolguem mais dc scnir os
ditos cargos, e por lhes fazer mercê: hei por bem, que cada unì deles goze e use do privilégio
de cavaleiro, posro que náo seja". Cl 'Regimenro dos cap;ráes mores e mais capiráes e oÂciais
das companhias da gcnre dc cavalo e de pé e da ordcm qu€ reráo em sc exercira¡em" de 10 de
dezembro de l>70, cornplemenrado cm 15 de maio de 1574, pubÌicado po¡ Jaine Corresáo
(Ed.). Pauliceøe Lu:itan¡ Motnznento. Histori¡¿. ap. cir., rcmo I, p. 392..
"Provìsáo de.{nrônio de Magalháes de sargenro-mor e capiráo do B¡:sil" de 19 de marco
de 1588. Ârquivo Nacional da Tor¡e do Tombo, Chancelaria de Filipc I, Doacóes, oticìos e
me¡cês, Lir'¡o lZ ll. 165.
( r. \rLrr t 5. lrsan/. Up.,r .. c,pe( ial ìec(< ¿ prinreir. pJr'..
A forrnação da elite colonial r43
Contudo, a exiscência do c¡ibunal na Bahia náo era ponto pacífico. F¡ei Vcenre
do Salvador relara a polêmica enrre a populaçáo, afinal uns diziam "que fossem bem
vindos os desembargadores, outros que nunca eles cá (viessem)"t6. F¡ei Vcenre do
Salvado¡ ac¡edirava que a maior rapidez nos negócios "que danres um só náo podia
ter" e¡a morivo suficienre para aplacar as queixas, salvo os eclesiás¡icos que sofriam
com o exc!'sso de zelo na defesa da jurisdiçáo real frente à da lgreja. No que se enga-
nou, pois, nas palavras de Diogo de Campos Moreno, "nesta cidade (do Salvador) se
rem a Relaçáo po¡ coisa pesada e náo muito conveniente, pela narureza dos pleitos,
pelo pouco que háo de faze¡ neles"t7. Para o sargenro-mor Diogo de Campos Moreno,
o excesso de magistrados, somados ao corpo do cabido da Sé de Salvador, seria dis-
pensável numa "terra nova, remota e f¡onreira, que até o ano de 1604 foi acomerida
quat¡o vezes de a¡madas inimigas". B¡andônio, personagem cenual dos Ditíkgos das
Grandezø¡ do Brøsil de Ambrósio Fe¡nandes B¡andáo, senho¡ de engenho na Paraíba,
reforça as c¡íricas, apresenlando argumenros variados, como a faka de pleiros e a maior
facilidade de se acompanharem os processos em Lisboa, inclusive com menos custos,
pois basraria mandar um "caixáo de açúcar", ao conr¡ário de Salvador, onde se¡ia ne-
cessário dinheì¡ci3.
Tais c¡íricas su¡ri¡am efeiro e alguns anos depois, em 1626, a Relação do Brasil
foi abolida, sob justiÊcariva de qlre os recrìrsos gastos com o ¡¡ibunal eram neces-
a
sários para a defesa da colônia, siruaçáo que perduro:uaté 1652.
Nos últimos anos do século XVI, a expansão te¡¡irorial em ¡irmo acele¡ado fez
que as novas áreas incorporadas ao te¡¡itório sob con¡¡ole português fossem organiza,
das em capitanias régias, seguindo a estrulu.a adminisr¡a¡iva das demaís- Tai soluçáo,
no caso da Pa¡aíba, é compreensível, afinal a Co¡oa náo rinha nenhum inreresse em
ceder o novo .e¡rirório, conquistado por uma expediçáo comandada pelo ouvidor geral
Ma¡rim Leiráo, aos donatá¡ios da vizinha capirania de I err\eracâ, entáo a úl.ima área
ocupada pelo. porrugueses em direcäo ao norre.
Já no caso de Sergipe e do Rio G¡ande, a explicacáo náo é táo simples. Sergipe,
por exemplo, Êcava denrro da área original da capitania da Bahia, já incorporada ao
parrimônio régio, po¡tanro náo corretia o mesmo risco de set teivindicada por algum
donatá¡io- Assim, possivelmenre, os goverDos responsáveis pela conquista, tanro de
Sergipe como do Rio G¡ande, opraram pela consriauiçáo de novas capiranias reais,
cessos quanro sáo norórios que lará náo har.endo", afìnaÌ para os autores o "governador-geral e
ouvidor geral sáo como reis" com poder absoluro. "Razáo dos mo¡adores da Bahia para que sc
conserve a Reiaçáo". Biblio¡eca Nacional de Lisboa, Reservados, Coleçáo Pombalina, códice
647, fl.69.
i6 Frei Vicenre do Salvador, Op. cit., p.361.
57 Dìogo de Campos Moreno. Op. crt., p.147.
i8 Diákgos àas Grandezas do Brasil, Op. rir., p.32.
A formação da eiite colonial 145
como fo¡ma de exe¡cerem um con¡role maio¡ sobre as mesmas. Sergipe teve seu
capitáo-mor e demais funcioná¡ios nomeados di.etamente pelo governador-geral até
por volta de 1610, quando enrão comecaram a ser p¡ovidos direramente pelo monar-
ca. Embora tal fato náo tenha ocor¡ido com o Rio Grande, sua situaçâo de f¡oncei¡a
conferiulhe excepcional ¡elevo milira¡ até, pelo menos, a conquisaa do Ma¡anháo
em 1612-14, obrigando que ali fosse alocado um expressivo contingenre de soldados,
bem como erguida uma das mais importantes fortificaçóes da coÌônia, o que obri-
gava constante assisrência do governador-geral, enviando suprimen(os e ¡efo¡ços, o
que poderia justificar a constituiçáo de uma capitania independente, impedindo sua
incorporacão na capitania da Paraíba, entáo em franco desenvolvimenro.
Nos primeiros anos do século XVII, duas inovaçóes administrarivas, posro que
eême¡as, merecem ser lembradas. A primei¡a foi a nova tentativa de divisáo do Estado do
Brasil, entre 1608 e 16i2, com a criaçáo do chamado "dist¡iro das minas" (São Vcente,
Rio deJaneiro e Espírito Santo), entregue a D- Francisco de Sousa. O antigo governador-
geral, agora go"'ernador independente da parte sul da colônia, com a ta¡efa de des-
"'inha
cob¡i¡ os ambicionados metais preciosos, porém enconlrou a mo¡te anles de enconlra¡ as
minas, cabendo a seu filho o governo do disuito por breve período até a reincorporaçáo
desse ao Estado do B¡asilte. Tal expediente, poste¡iormenre, serìa aplicado alguns anos
depois, com Salvado¡ Cor¡eia de Sá, sem que os anseios da Co¡oa fossem alcançados, o
que acabou le.'ando, após curto período, a uma nova reunìficacáo6o.
A. segunda inovação, também de curta duração, foi a consricuição da Junta da
Fazenda enviada à colônia, em 1613, com objecivo precípuo de cobrar as dívidas com
a Fazenda Régia. A amplitude de seus pode¡es levou ao conflito com Gaspar de Sousa,
sob¡e os gastos efetuados pelo governador, e ¡ambém com os oficiais da Câmara de
Olinda, sob¡e o controle da imposiçáo dos vinhos. Para o governador, tal Junta seria
um empecilho ao governo, pois seu excessivo cottrole sob¡e as finanças impedia a re-
demais capiranias, com seus cargos de governo, fazenda e iustiça, além dos militares.
Po¡ fl¡n, a úl¡ima alceraçáo significativa, dentro do período aqui estudado, foi a
criaçáo do Es¡ado do Ma¡anháo, diretamente subo¡dinado a l,isboa, dividindo-se o
espaço colonial em duas á¡eas em 1621, efecivada em 1625, que, porém, náo alterou
o esquema adminis¡rativo adotado, pois o novo gove¡no simplesmente se estruru¡ou
de fo¡ma simila¡ ao sediado em Salvado16r.
O papel da Coroa
Sob¡e o rerna, veja*e Guida Marques, O Esrado do Brasil na Uniáo Ibé¡ica. Dinâmicas
poliricas no Brasil no rempo de Filrpe II de PorrugaL" (Texto em lase de pubÌìcaçáo na Reztra
Pe ¿lape, geûtìIñer\te cedido pelo prof- Pedro Cardim).
Cl. Lucinda Saragoça. Dø "f¿liz /tß¡tá4í/t" ãos confns cla Anërita. Lisl>oa:
Cosmos,2000, p. i9.
A formaçáo da elire coionial 147
Francisco Adolfu de \¡arnhagen, Hisaíriø gera,l tlo Btnsil,5' ed. Sáo Paulo: Melhoramentos,
19i6, vol. I, p. 138.
64 Capìsrrano de ,{breu, Caphalos dc Lîtóia colonial. )" ed. Rio àe laneiro: Socredade Capisrra-
no de Abreu, 1934.p.4ô.
Oliveira Vianna. Euohrç,io do poz,o bra:ileìro, 4^ ed. Rio de Jâneiro: José Ollmpio, 1956 ou
Olilcira Vra¡na. Poprlaçóes meridionais do Brasil, 5" ed, 2 vols. Rio de Jtneiro: José Olylt
pio, 19i2.
66 Cf. Históïiã.la Czloniztrção Patugztesa da Brasí|, r,ol. III. p. 165 c 219.
61 Roberro C. SLmonsen, Hl;¡ôria Etonôníc¿ lo Bra:í/,8" ed. Sáo Paulo: Companhia Edirora
Nacìonal, 1978, p. 81.
Vèr rambÉm a delesa da. idéia do caráter capitalsra da colonizaçáo no famoso arugo de Àle-
xandc¡ Marchanr, "Feudal and Caprtalistic elements in the Ponuguese Settlement of BrazìÌ".
ptblicað.o oa 7hc Hìspanic Amencan Hi:tory Review 1942. vol. 22-3, p. 493
CC Caio Prado Júnior. O¡. Cz Ern panicular. o capíruio "O Sentìdo da Colonìzaçáo" Cabe
icmbr.r que, em 1933. Caio Prado Júnior em ourra obra, ainda de1ìnia o rqime das capita-
nias como leudal, embora ressakasse que "este ensaio de feudalìsmo náo vingou". Caio Prado
Ii:,nior, Eølq'10 ?olititd do Bra,sil.l5'ed., Sáo Paulo: Braslliense. 1986. p. 15.
70 Tal interpreracáo rerá um amplo desen"oìr'imenro, em especial na obra dc Fe¡nando Novais,
Portugale o Brasil na Crkc tlo Antigo Sistena Co/o221 6'ed. Sáo Paulo: Hücirec, 19q5
148 Rodrigo Ricupero
Ouuo auror que reromará a idéia do feudalismo será Nelson \Verneck Sodré, porém de forma
bem diferenciada. Para ele, o Brasil se inicia sob o modo de produçáo escravista, regredìndo
para Lrm "quadro feudal". Yer Forma9ãa H*óira do Brasil. 11" ed. Sáo Peulo: Dìfel, 1982. p.
82 e 132 Em obra recente com o sugestivo tírúo de A feuda, Moniz Bandeira reroma a ques-
ráo e conclui que o regìme fundiário colonial epresentou caracrerísticas nitidamente feudais
e senhoriais 'dado que as concessóes de sesmarias implicavam também obrigaçóes miÌirares
e ourras modalidades de servicos, que consubsranciaram o contrato de vassalagem, duranre a
feudalidade clássica". Cf. Luiz Aibe¡ro Moniz Ba¡deira, O Feudo- Rio áe laneiro: CiviLizaçáo
BrasiÌeira, 2000, p. 542.
Para uma avaliaçáo mais ampla desse debare, incluindo suas implicâçóes poliricas no pos.
guer¡a, \€r o irem 5 do primeiro capiculo do liv¡o de Vera Lúcia.A.marzlFerl¡n¡. Terra, Traba-
lho ¿ Pad¿r. S^o Pa¿|o: Brasiliense, 1988.
O liv¡o é de 1939, porcanco escriro em pleno Esrado Novo. Coincidenremente a segunda edì-
çáo é de 1966. Sobre a ob¡a, ve¡ Luiz Guilhe¡rrLeP:va. Ladtílhadorcs e:em¿artates. Seo Paulo:
Editora 34, 2000, p. 227
Nesror Duane, I ¿¡l¿rn prìuada e a organizøçáo ?olltica nacíaftal.2" ed. Sáo Paulo: Compa-
nhia Editora Nacional,1966. p. 12.
75 Ibi¿e?n, P. 1.
76 "O solo do país é conquìstado, ocupado e povoedo pelo proprietário ptN:'¿o". lbi¿en, p.24.
A formação da elite colonial 149
77 lbíden, p.24.
78 Sobre o rema, r'eja-se o primeiro capitulo deste trabalho
79 Raymundo Faoro, Op. ch., p.20.
80 Ibiden, p. 20 e2l.
8r Ibiàem, p.57.
82 Ibiàem, p.50.
15C Rodrigo Ricupero
Dados os limires do rexro, deiramos de lado o debare de algumas id¿ias mars dìscutjvers
defendrdas por Raym,rndo Faoro, como, por exempÌo, a idéia da indepcndéncia do Esrado, o
papel do esramenro burocrárico e o capiralismo de Estado.
primeiro capitulo do livro de Floresrao Fernandes. Crrcuita F¿ch¿do,2' eà. Sâo
Ësse ensaio é o
P¡ulo: Hucirec, l97Z
8i lbidem, p- )5 e 34.
86 Ibiden, p. 44.
5. Os agentes da Coroa
Pdra esta guerra, (conz os índios do Recóncøuo de SaÌ.uadnr) fz seis cltPitànitls ¿a ge'nte
d¿sta cidade, (...) de uinte bomens c¿-dø atnø, e os capitáes são: Joáo de Aruújo, que :eruìu
de tesourairo, Crìsttíuáo C¿br¿| Fernáo V¿z d,¿ Costa; Antônio d"o Rego, ntoço da catnara
da Rainha, que agora serue de tesoureiro e Seb¿,stiio Farreira, qae þi moço da câtnara do
infante Dom Fernando e q e ,eil como eîl.i áo da arm¿d¿ c seruiu de tasoureiro (...).
Ì
D. Dua¡re da Cos¡a, governador-geral
Os provimentos
Regisrre-se que loáo de Araújo era moço dc câmara do Rei e que tanto Cris¡óváo Cabral
como Fernáo \ãz da Cosra, sobrinho de D. Duarte da Cosra, ocuparam posros na admi-
nisr¡acáo colonial. Ct "Carra de D, Duarre da Costa a El-Rei" de 10 de junho de lí55,
pubìicada por CarÌos llalhei¡o Dìas (Du.). Hi¡ttíri¿ da Colonizaçáo Porw.g''taa. do Brasil,
3 vols. lorro: Lirogra6a Nacional, 1922, vol. III, p. 377 (Cirada daquì em diante apenas
como História da Coloi.izaç,to ?o/t&g era, ¿o 8tu1!ì/).
Arno \ùTchiing c Maria rñrehìing. "O Funcionário Colonial entre a Sociedade e o rei"
José
rn: Mar¡, del Priore (org.). Reùs,io do Paraiso. Rio de Janeiro: Campus, 2000, p. 143
151
152 Rodrigo Ricupero
Ibi¿¿n, p- 159- Em ourra obra dos aurores, esta preocupaçáo rambém está presence, e esses
inclusive desracam o enrrelaçanenro do funcionário com as eli¡es locais. Àrno e Maria José
WehIing, Formaçáo do Brasil colonial,2 ed. Rio de Janeiro: Nova Froûceira, 1999. Pera Porcu-
gal no século XVII, Hespanha acredira que os funcionários se¡iam "nais entrares do poder real
do q* seus sen idores incondicíonais". Änrónio Manuel Hespanha- A: aésperas do Leùathan,
Coimbra, Almedina, 1994, p. 498 e seguintes.
Sruar¡ Schwarrz, .Bz¡¿rz¿ cia e Socie¿lad¿ no Brasil Colonial. Sâo Patlo: Perspecríva: 1979, p. 295-
A formacáo da elite colonial t53
"Relaçáo de todos os Oficios da Fazenda e Jusriça que há neste Esrado do Brasil, e quais
pertencem do provimento de Vossa Majestade e aos dos Donatários. em.'ida ou Por rempo
limitado para cuja inteligência se háo de supor as prcmissas seguìnres", documento anònimo
escrito no 6nal da segunda década do século XVII. Biblioreca Nacional de Medrì, Ms. 31015,
fl- i5, publicado na coleçâo Dacumentaçao Ubamarina Potnguesa, 5 vols. Lisboa: Ccnt¡o de
Esrudos Históncos Ultramarìnos, i962, vol. Il, p. 18.
6
7 lbídem.
8
9 Precisar o número dos cargos náo é uma tarefâ fácil, Pois a lista é um ranro confusa. Muiros
cargos, por exemplo, sáo exercidos em conjunto, sem que ml fato seja explicitado, outros, em
sep:r:do. såo ¡rrol¿do' iunro.. {lem d..o ¡. '¿pir¿n:¡\ menore' muitrs \c7e'niô rê- o'
cargos discriminados, remecendo-se ao modeÌo seguido em oucras-
Cl Chancelarias Régias de D. Joáo IIl, D. Sebastiáo e D. Henrique, FìÌipe i, Iilipe II e Filipe
III de Porrugal no Arquivo Nacional da Torre do Tombo.
154 Rodrigo Ricupero
Os cargos, é claro, náo e¡am todos equivalentes, devendo ser consideratla ¡anro
a funçáo a que se destinavam como o local onde eram exercidos. Assim, por exemplo,
os cargos da Fazenda das caPitatias com maior comé¡cio tinham salários e emolu-
mentos exr¡ao¡dine¡iamence mals altos do que seus equivalenres nas caPit¿n i¿s me-
nos desenvolvidas ecotomicamerlte- Tal va¡iedade permitia que fossem agraciadas
pessoas de origens sociais mui¡o diversas, bem como ¡ecomPensar os m2ìs diferentes
serviços.
Nas partes do B¡asiì, os donatá¡ios recebiam em suas cartas de doaçáo o direito
de prover alguns ofícios, como os oficìais da Justica, tabeliáes e alcaide-mor da res-
pectivâ capitaniarr; porém, a nomeaçáo para os demais cargos, Particúlârmenre os da
Fazenda, cabia ao monarca.
O rei, mesmo depois da criaçáo do Governo-geral, matreve a Prerrogetiva do
provimenro dos ofícios de nomeaçáo régia, concedendo, porém, a seus reP¡esettaûres
na colônia o poder de nomear ¡empora¡iamente, quando estes vagassem por qualquer
morivo, "para que si¡vam até eu deles p.over"rr. No regìmento de Francisco Giraldes,
governador que náo chegou a assumir o posto, o rei explicava que "havendo aiguns ofí-
cios vagos (...) encarregareis da serven¡ia de tais ofícios criados meLis, se os houver que
tiverem pa¡res para os servir, em falta deles a outras pessoas e isro até se aPresenra¡em
outras pessoas que tenham provisóes minhas"ri.
Tanro no regimento de Francisco Gi¡aldes de 1588 como no de Gaspar de Sou-
sa de 1612r¡, o ca¡ácer provisório das indicaçóes feitas pelos governadores é destacado
pelo uso do termo "servenlia" que, segundo Moraes, "o¡dina¡iamente se diz do se¡-
viço de ofício, em lugar do proprietário"ìt, aqui no sentido de ¡icula¡ ou efe¡ivo, ou
seja, os que recebiam o ofício para servirem por toda a vidaÌ6 por decisáo do monarca
ou de quem derinha o direito de nomeaçáo por concessáo régia, como, por exemplo,
"Regimenro dc Gaspar de Sousa" de J1 de agosro de 1612, publicado nas Cart,zs palt ,i/un;o
cle Soasa e Gaspar tle S¿r¿. Lisboa: CNCDP e Rio de Janeiro: \'llinistérro das Relaçóes Exre-
riores, 200 t, p. 110 e em \fa¡cos Carneiro de Mendonça (Org;). Raízø tla Fc,rnaçáo Alnìdn-
natin ¿lo Brusil,2 voIs. Rio de Janeìro: lnxiruro Hisrórico e Geográlìco Brasrleiro, 1972, p.
4r9.
Cl. ,A.nrônio de \'loraes e Silla, Diccionaria da Lbrgu,a Parnrgreza (fac-símile da 2" ed. de
lSli). Rio de Janeiro: Flumine¡se, 1922, p. 693.
O rei rambém poderia prove¡ por um rempo estipulado, em geral três anos.
A formaçáo da elire colonial L55
náo há cá notícia que os ledores da lazenda provejam por seus mandado cargos
nele. e náo parece razáo que quem vem governar táo longe, com tanto trabalho
e perigo se lhe tire aincia a dada das se¡r,enrias de olícios nem que tenha ne¡hum
ourro superior senáo Sua Majestadero.
O termo "proprietário" é u¡ilizado muitas vezes como sinônimo dc ¡itular ou eferivo em opo
sicáo e ìnrerino, como se pode ver cm documento citado por Marcìa Berbel: "os depurados
subsrituros para que concorram em ìugar dos proprictárìos". Cf. MarciaBerbel. A Naçaa rcrna
Artefato. Sâo Paulo: Hucitec, 1999, p. 104. Ou ainda em José de Sousa Àzevedo Piza¡ro e
Araojo, Menórías Htstórica: /,o Rio deJaneLro.l0 vols. Rio deJaneìro. INL, 1945, vol. III, 152
ecm Balraza¡ da SiLra L ishoa, Anøis clo Ria àe Jarrlra S vols. Rio de Janeiro: Leìtu¡a' s/d vol
1lt, P. r79.
"TrasLado da provisáo do porrciro da fazenda e contos e elfândega (para guarda) dos ìnros
que proveu o senhor governadoi de 20 de maìo dc 1549, que consta do "Lil'ro Prim.iro do
regìstro de pror.imentos seculares e ecLesiásticos da cidade da Bahra e te¡rås do B¡asil" (1i49
e seguintes). publicado nos Doatmentos Ht:tórìcos, vol. 35, P 29 (Citado daqui em rlianre
apenas por "Livro primciro do regisrro de provimen¡os ...'').
"Regimenro para o capitáo Manuel Macicl" de 1619, que consta do Liuro 2'lo Gomno da
Frci Vicenre do SaÌvador. Htstóìa do Brasíl1.1627), 5" ed., Sáo Paulo: MeÌhoramen¡os, 196i,
P. 416
Ct Ë.duardo Hoo¡naerr er alii. Hi'tória dø lgteVt no Brusil, 2 vols.3" ed. Perrópolìs: Vozes,
Sáo PaLtlo: lauìinas, 1983, p. 160; Francisco Âdolfò ¿c Varnhagen. Hístória geral do Brøsil,
j:. ed. Sáo Ì'auìo: Melho¡amenros: 1956, voÌ. I, p. 2j4 e Dom Osc¡r de OIiyeira. O¡ dizino¡
ecle:íá¡ì¡:a¡ ¿lo Brt¡il. BeLo Ho¡izonre. UF\4G, 1964, p. 39-
CU "T¡adado de umâ provisáo em îo¡ma de carca que Sua,{lteza gor-ernador
Tomé de Sousa soore a ernbarcaçáo que se há de dar ao bispo D. Pedro, e assim ouLros pro-
vimentos quando lor corrcr as capiranias" de 10 de dezembro ¡ie liil, qùe consrâ do "Livro
primeiro do regisuo cie provimencos ...", pubhcado nos Docunen¡as H^úi,:os, vol.3i, p.
151.
''-l.raslado da procuracáo qLre el-rer Nosso Senhor lez ao provedor mor de sua fazenda para por
-Após a escolha, lavrava-se uma provisáo, cujo original, entregue ao novo funcio-
nário, era endereçado aos ofìciais responsáveis por darJhe posse do ofício. A provisáo
era regisrrada, no caso dos escolhidos em Porrugal, nos lir.¡os da Chancelaria Régia
e, posreriormente, nos livros de registro do Governo-geral; no caso dos nomeados em
Salvado¡, os documentos e¡am imediatamente registrados nos chamados livros de pro-
vimentos e, quando emitidas em outras capitanias, durante as viagens do governador-
geral ou do provedor-mor, eram registrados na volta dos mesmos a Salvado¡.
Para o período abarcado por este estudo, a maior parte dos registros efetuados
em Salvado¡ se perdeu, provavelmente, na invasáo holandesa áe L624'16. Escapando
apenas o Liuro Prim.eìro do registro de prouìmentos secul¿res e eclesi¿íçicos da cida/'e da
Babia e terras do Brasil que chegou até nossos dias, graças a uma cópia feita, no flnal
do século XVIII, por ordem do governador da Bahia, Fernando José de Portugal O
Iiv¡o, iniciado no gor.erno Tomé de Sousa, contém dados de ij48 até 1563, cob¡indo,
po¡ranto, os dois primeiros governos-gerais e quase metade do governo de Mem de 5á
e reúne mais de 350 documentos-
Pa¡a os últimos 37 anos do século XVI e para o primeiro quarcel do XVII, náo
existe nada comparár'el, saÌvo um pequeno códice com provimentos dados por Diogo
Botelho, duranre o período em que esteve em Olinda, ent¡e 1602 e 160321. Apos 1625,
concudo, l'oltamos a contar com os regist¡os feitos em Sah'ador, porém, neste caso, sem
os provimentos eclesiásticos, que passaram a ser registrados em livro próprio2s
A consul¡a dos liv¡os de registros conhecidos Pe¡mite ¡ecomPor o quadro ad-
minist¡arivo colonial para o período proposto aPenas entre 1549 e 1563 e ent¡e 1625
e 1630, Êcando uma lacuna de 62 anos, que parcialmente pode ser lechada com a
consulra dos provimeltos registrados nos lívros das Chancelarias Régias guardados no
Arquivo Nacional da To¡¡e do Tombo em Portugal. Tai soluçáo, contudo' náo resolve
inteiramente o problema, pois nem todos os providos em Portugal tomaram posse efc-
riva no B¡asil, seja pela "incerteza da.'iagem do ma¡", como se dizia na época' ou por
desistirem, ou por serem providos em algum outro cargo em outras Partes do Império
ou ainda por outro motivo qualqúe¡
notório, o qual se vivera mais dez anos deixara nele edificadas muitas cidades, viias e
fortalezas mui populosas, o que nâo se efetuou depois do seu falecimento"!e'30. Fato
que explicaria também o longo período de Mem de Sá, nomeado por D. Joáo III, à
resta do Governo-gera|t.
Com reÌaçáo às nomeaçóes feitas nas partes do B¡asil, a comPa¡àcão ettre os
rrês primeìros governos indica que, enquan¡o o governo Tomé de Sousa proveu di-
retamente 67 .¡ezes (29 por Tomé de Sousa e 38 por ,Antônio Cardoso de Bar¡os,
provedor-mor), o governo D. Dua¡¡e da Costa foi responsável por 43 (42 pelo ptó'
prio governador e 1 pelo provedor-mor), e o got'erno Mem de Sá, nos seis Primeiros
anos, por 32 (31 por Mem de Sá e 1 pelo ouvidor geral e provedor-mor Pero Borges)-
A montagem da máquina governamental é o fator responsável pela desigualdade no
número de provimentos dos três governos, destacando-se a ParticiPaçáo do primeiro
provedor-mor, Antônio Ca¡doso de Barros, que realizou uma viagem - que pode ser
acompanhada pela data e local dos documentos - pela cosca do B¡asil' especialmen-
¡e parâ o¡ganizar a esttuturâ de fiscalizaçáo e cobrança dos di¡eitos régios em cada
capirania.
Os provimentos eclesiásticos seguem o mesmo encaminhamento, pois o primeiro
Bispo, D- Pero Fernandes, ao monta¡ a est¡utu¡a da Sé de Salvador, com rodas suas
"dignidades e benefícios"r:, foi responsávelpelo dobro dos provimentos realizados pelo
segundo bispo, D. Pedro Leitáo-
figuras
Quanto aos ocupantes dos diversos cargos, pode-se apontar a ausência de
desracadas da nob¡eza, dado o caráter secundário das partes do Brasil dentro do Impé-
rio ao longo do período aqui estudado. Dessa maneira, mesmo o posto de governado¡-
geral era ocupado, salvo uma outra exceçáo, por membros de ¡amos secundá¡ios da
nobreza, como Tomé de Sousa, ou por letrados' como Mem de Sá A situaçáo mudaria
em meados do século XVII, em plena guerra com os holandeses, quando o Coverno-
geral passou a ser ocupado por nobres de mais alta estirpe, particularmenre depois
do
Gab¡;el Soares dc Sou de:crítiuo do Brasil cm 1587 5" ed Sao Paulo: Companhia
sa. Tr¿tado
Edirora Nacional. 1987, p 39. Frei Vìcen¡e do Salvador "Mas ro¿a €sra rePuraçáo e esrime
do B¡asil se acabou com eì-rei D. Joáo (III)' que o estimata c reputava" Cl Frci Vicenre do
Salvador, O¡. tit., p. 162.
período inicial do reinado de D Sebasriáo' sob a regência de D
l0 Sobre o conrexto político <1o
governo de Pedro da Silva, i'Conde de Sáo Lourenço, tírulo que ¡ecebe¡ia, conrudo,
após voltar ao Reinojr.
Os demais cargos da administraçáo colonial e¡am ocupados por indivíduos das
mais variadas origens e estaturos sociais, indo de fidalgos até plebeus. A prioridade dos
provimenros, conludo, e¡a para os c¡iados do rei3a. No regimenco de Gaspar de Sousa,
essa prioridade é afi¡mada clammente: "encarregais das serventias de ¡ais ofícios a c¡ia-
dos meus (do rei), se os houver (..-) e em falta deles, ourras pessoas"rt.
Atestando ral prioridade, é comum enconrramos nos p.ovimenros ourorgados
pelo rei, as expressóes: "fidalgo da casa ¡eal", "meu moço de Câma¡a", "da minha
casa", "cavaleiro Êdalgo", "escudeiro", "meu escriváo da Câmara" enrre outras que
arestâm o vínculo com o monarca. -Aparecem, igualmente, criados da Casa da Rai-
nha e da dos infanres, ou ainda pessoas ligadas a membros destacados da nob¡eza
ou a se¡vidores lerrados do mona¡ca. Dessa forma, a maio¡ia dos providos no Reino
fazia parte dos esrraros infe¡io¡es da nob¡eza-
No caso dos documenros outorgados nas partes do B¡asil pelos governadores-ge-
rais ou provedores-mo¡es, o nível social dos escolhidos é, em geral, infe¡io¡. É nomeada
grande quantidade de plebeus, incluindo c¡iados dos oficiais régios mais imporranres,
embora também apareçam membros das camadas inferiores da nob¡eza, posro qu€
em meno¡ núme¡o. Em princípio, náo €xiste distinção de ca¡gos, ranro robres como
plebeus podiam ser nomeados para os mesmos ofícios, conrudo, os ofícios mais impor-
tantes das capiranias mais desenvolvidas rendem ¿ ser ocupados por nobres com maior
freqùência do que por plebeus,
Por meio da documen¡ação, nora-se rambém uma espécie de carreira: o esc¡ivåo
da provedoria pode se tornar provedor ou aré capiráo de algum navio, além de um
deslocamenro espacial pela colônia; o gove¡nado¡ do Rio deJaneiro torna-se Provedor-
mor do Es¡ado do B¡asil, ou um esc¡iváo da Bahia assume um cargo mais elevado em
outra capirania, fo¡mando assim uma espécì,e ð,e cursus bonoram colonial.
Com relacáo às jusriÊcativas para as nome¿cöes, nos primeiros momenros, como
náo poderia deixa¡ de se¡, as pessoas ¡eceberam cargos pelos serviços prestados no
Reino ou em outras áreas do lmpério ou por me¡cês feicas a outras pessoas, em gerel
grandes Êguras da nob¡eza ou importantes servidores do monarca que pediam os ofí-
"Regimenro de Gaspa¡ de Sousa" de 31 de agosro de 1612, publicado nas Cartas para Álaaro
d? \ou,a e Caspat rlc 50u'a, U?. ,it., p. I l-.
A fo¡macâo da elìre colonial 161
Cona-se, num códice que reúne pequenas histó¡ias das cortes quinhentistas por-
ruguesas, que ceno Êdalgo pediu ao rei D. Joáo III que lhe fizesse me¡cê de aceita¡ um
c¡iado seu po¡ moço de câmara, obtendo uma resposca negariva. O fidalgo, contudo,
insistiu, alegando que o diro criado só servia a ele na esperança de poder vir a ser criado
do rei e que, no caso de recusa da mercê pedida, te¡ia dificuldade de acha¡, daí em diante,
quem lhe sewisse. O ¡ei en¡ão concordou, mas com a condiçáo de ser sem moradia, ou
seja, sem vencimentos5ó, no que o fidalgo respondeu: "dessa manei¡a ¡oma¡ei eu a Vossa
.Alreza quantos tem, riu-se el-rei da resposta e fez lhe a me¡cê que pedia'37.
A his¡ó¡ia acima, verídica ou náo, ¡e.rata um aspecto das redes clientelares do
período, cujo cenrro final e¡a, evidentemente, o mona¡ca. Não era, porém, apenas jun-
ro "ao bafo do rei", para usarmos a expressáo de frei Luís de Sousais, que se obtinham
mercês e vantagens diversas. Os poderosos e¡am "cen¡¡os de distribuiçáo de pode. e
riqueza" e em seu redo¡ cons¡ituíam-se "grupos de parentelas e clientelas"je.
Dessa maneira, um considerávei núme¡o de pessoas girava em to¡no do ¡ei, da
Rainha, dos infantes e das grandes figuras da nobreza. Sob¡inhos, primos ou mesmo
indivíduos sem parenrescoi cresciam à sombra destas personalidades, que, em troca de
serviços e de lealdade, procu¡avam garanti¡ benefícios diversos para os protegidos.
Uma das opçóes possíveis, os cargos no ui¡¡ama¡, foram cons¡antemente con-
cedidos pelo rei em favor de c¡iados próprios ou alheios- D. João III, por exempio,
Segundo Moraes, moradia é o "o¡denado que se dá aos Gdalgos assen¡acios nos liv¡os d'el-¡eì
morado¡es de sLra casa e Co¡te. Cf -An¡ônio de Moraes e Srlva, O?. cit.,'¡ol- II, P 3I7
Aneàotas ?ortagrcsas c memórtas bíográfcas da corte quiithentist¿- Coimb¡a: Almeciina, 1980.
38 frei L,.,ís de So,,sa.l, ais /,e D. Jo,I.o lll.2.ols. Ljsboa: Sá da Costa, 1938, vol. II- P. liz
39 VerJoaquìm Romero de Magalháes, Op. dt.. p. 494.
161 Rodrigo RicuPero
acendendo pedido do infante D. Luís, seu i¡máo, fez mercê aJoáo d€ Casr¡o do ofício
de almoxa¡ife da Àlfändega de Porco Seguro, da mesma forma qne por intervençáo
de Be¡na¡dim Esteves, do Desembargo do Paço, nomeou o sob¡inho deste, Nuno
Álrr"r.s, coroo esc¡iváo da a¡mada que ia ao Brasil¡o.
Tais pedidos, conrudo, náo se limi¡avam aos cargos inferiores da adminiscraçáo.
O bispo D. Jorge de.Araíde, capeláo-mor de Filipe II de Portugal, obteve a mercê de
"três cargos para pessoas de sua obrigaçáo", conseguindo assim nomear Sebastiáo Bo¡-
ges como provedor-mor da Fazenda Realli. Já o Conde da Casranheira' valido de D.
Joáo III, obteve para Tomé de Sousa, seu protegido, o cargo de governador-geral das
partes do Brasil.
Os favores recebidos náo eram, ou pelo menos náo deve¡iam ser, esquecidos, em-
bora episódios de ingraridáo ou de inte¡esses cont¡a¡iados nâo fossem incomuns. De
qualquer forma, mantinha-se por toda avida uma relaçáo de dependência simbólica ou
material, que variava confo¡me o caso. Diogo Bo¡eiho, numa carta pessoal ao Conde
de Linhares, explicitava tais questóes:
Cl. "Livro primeiro do registro de pror.imenros ..-", publicado nos Dacur't ltos Hìsr'i'tìL'ot,\'oI.
3t. P,lstirr.
"Provimento de Gaspar Correia de Buihóes, fei¡or e almoxarifè de Olinda" de 24 de nove¡n-
bro de ló97. ,A.rquivo Nacional da To¡re do Tombo, ChanceÌaria de Fììipe lI, Doacóes, Livro
pnmeiro, fl. 252 v.
O assunro da carra sáo os proccdrmenros de Manuel de Si. de So¡o Maior. outro prorcgido do
Conde de Linhares. Cl 'Cana de Dìogo Borelho ao Conde de Linha¡es", escrira em Oiinda,
aos 23 de agosro de 1602. Àrquìvo Nacional daTor¡e do Tombo, Cartório dosJesuiras, maço
71. documenro 3,
A formacáo da elire colonial r63
"Ca¡ra do Padrc lvlanuel da Nóbrcga a Tomé de Sousa" de 5 de julho de 1559' publìcada por
Scraâm Lei¡e (Sl). Cartas clo: prlmeircs jcsnhas dt &asil, 3 vols Sáo PauLo: Comissao do I\¡
ce¡rená¡io de crdade de S:o Paulo, 19i4, vol. III, p. 79.
Êxemplo inreressante dessa si¡uaçáo é a conhecida passagem da ob:n Peregríndçáo deFernio
\'lendes Pìnro, cm que esse conta que, cstando em Pequim, com outros oiro comPânheìros,
surgiu ral discussáo enrre dois dcles sobre "qualgeraçáo trnha melho¡ mo¡adia na casa ,l cl-rcr
Nosso Senho¡ se os lVfadureìras ¡c os Folsecas" quc rapidamenre rransformou-se numa bnga'
derxando os con¡endo¡cs gra\¡cm€nte fe¡idos. Fernão Mendes Pinto. Pneghøt,io (161'4),4
lols. Lisboa: Lir.¡aria Fcrreira. 1908, vol. II, p. 173.
F¡ancìsco Portocarre¡o dì2, em duas cartas que chegaram aré nós, que as cârtas são dc 11
dc agosro de 1i56 e 20 de ab¡il de J556 e estáo publìcadas, resPectivamenle. n^ História da
Callnizãa¿o Poïlugltcs.1 do Brasi|. wLIII. p. 37 7 c Joaquim \l Serráo. Op. cit..lI. p. 32
lo,i Rod rigo R i. up.ro
com a mesma forrura de D. Álva¡o da Cos¡e, pois âcabou morto nos combares. Mem de
Sá, porém, conrinuou se valetdo dos familiares e, após a vitória sob¡e os f¡anceses no Rio
de Janeiro em 1i60, enviou o sob¡inho Es¡ácio de Sá ao Reino, encarregado de le"a¡ as
norícias. Tarefa de presiÍgio, que renderia ao sob¡inho o comando de uma pequena lrota
com ro\'os recursos para povoa¡ a Baía da Guanabara, serviço que lhe valeu a me¡cê do
hábi¡o cia Orcie¡¡ de C¡is¡o;6. Estácio de Sá, primeiro capitáo-inoi do Rio de Janeiro,
conrudo, morreu pouco menos de dois anos depois da fundaçáo da ciciaCe, levando Mem
de Sá a nomea¡ out¡o pa¡ence, Saivador Correia de Sá, para substitui-lo.
llem <le Sá, porérn, náo deixou de favo¡ece¡ matertal¡ente seus familia¡es. Tan
co Fe¡náo de Sá co¡¡o Escácio de Sá, ao mo¡re¡em, cieixa¡am renas na caDitâniâ dâ
Bahia. O governador, coniudo, ¡ambém zelou pelos parenres e criados que sobrevi-
verarn. E¡n seu resaa¡Ì-ìenro, Me¡n ,je Sá pedia ao monarca que "ro¡ne meu sob¡inho
Salvado¡ Co¡¡eia de 5á que está por capitáo do Rio de Janeiro po¡ Ì¡oço fidalgc com
mil ¡éis de oo¡adia pelos ser-r-iços que lhe rear ièitos, e rome meus c¡iados em io¡o de
cr.valeiros fidalgos por quáo berlr o ¡em servido resras pâ.rtes nas guelras e paz, o quai
e.l náo posso sa¡isiàze¡" .
"Carra régia manciando lançrr o háblto ci¿ Orcle'¡ de C.;sio â Esrácic de Sá, ¡¡o¡¡dor
nrs pa¡res do Br¿sll oc 8 cc março de 1i66. public:Co po: joaqui:rì \''. Se:ráo. O¡. rir.,
il. p. 54.
O ics¡anren¡o ic \lc:r de Sá" ce lj69 iioi oublilczda ¡as Do¡t¡¡¡e¡t¡o: 9tt 't
Ílistórìt tÌo Å¡)
rzl 3 r'cls. Rio de Jancl¡o: L{À, i9j6, r'oi lll, ¡ ì 2.
Extnpìo do cm¡rerhan¡io.! sirurçóes crirdas ptlo esprâienerro cias ¡eics clicn¡eiares é o
caso dos c¡irdos Cc Ifcm cic Sá, quc acabaram ro¡nardo-se crì;dos rlo Condc <1e I-ình¿rcs.
alìnal cas,:¡a-se con a iìlha do governador.
Cf. Gab¡ici Soares de S o;:,sa, Ap. dt., p. 150 c 1i2
A formaçáo da eli¡e coloniai 165
confusóes, como os Êlhos de Dìogo de Meneses, afinal o mais lelho deles, "{oi achado
na câma¡a de uma dama porruguesa e surpreendido peio ma¡icio" e fe¡ido levemente''".
Alé¡n disso, fora¡r acusados. entre ourros casos, de manda¡, nas palar-ras de Filipe Il de
Porrugal, "acutilar por seus c¡jados um Francisco do Couto por acudir por sua honra",
piocedimenros que leva¡arr o iroraica a o¡dena¡ que o sucessor, Gaspar de Sousa. p¡o-
cedesse aume de.'assati. O compoitamerro dos Êlhos cle Diogo de \4eneses. somacio
provaveime¡Ìre a ourros casos, fez que o mesmo iei baixasse proYisáo oroibindo que "as
pessoas qüe me Ío¡em se¡f ir 11os qovernos fora do Reino náo possarn levar consigo seus
lìlhos"; ¡al <liretriz, por:ém, láo vingour:.
A corsiitriìçáo cìe grupos clienrela¡es ei¡ iorûo de i:uttcio¡á¡ios ¡égios náo ficoLl
res¡rire aos governadores-.9erais. P¡ovedo¡es_mores. our'idores gerais, capi!äes-moies e
outros iambéi¡ se cercevatl de seus "ho¡¡ens cíe o'brigaçáo". O ouvido¡ gerai \4artim
Leitáo, ao partii para a conquista da Paraíba, além das tropas rec¡u.ades etlr PerÌìâm-
buco e Itama¡acá, levou "quare:-ita e tallios holirens branccs. escolhidos e de opìniác.
e os ¡¡ais cj-eÌes de süe. obrigaçáo"-']. Á¡tônio Ca¡doso cle Ba¡¡os, o primeiro provedor-
lr-rci, ¡anbéin iiûhâ os serls, qiÌe, aproreiiatdo-se do cargo. consegLi;u nome^r, Pelo
¡nenos dois deies, para cargos da Fazenda Reai.
O p¡or.ii¡e¡r¡o de caigos ¡o
foi sercpre irtiÌiz?.do pelos gor.ernantcs eir far.or
Bra.sìl
ie seus protegidos, contrariando. mr:itas'v€zes, a priotìia<ie es¡¿belecicla oelo lìonaica,
ei¡ favor de seus próprios criados. O que poC,ia ser morivo de queixas. como no caso do
gcr,enador-geral D. Luís de Sousa, gorrcinan¡e e¡r¡e i617 e 162i, que la sua "iesidêacii't'
foi acusacio oelo esc¡iváo cia Câm¡-ra, Rrii Ca¡r'aiho Pi¡heiro, de que arìies "dc Pro\-ef as
ser\-entias cue vagal?m em c¡iacios cie Sua \{ajestacie, altes.'ira prover neles aseos ciiados",
fato que loi conâimaco por ourras testenunhas e lncluído ¡a lisra de irregularidades a que
o gove¡iìador ieve dc iesponder em sua defesâ-'i.
Fra¡cisco I,ra¡d
dc ¡...aLal. t,iagen¡ l¿ P¡,¡tctto ,,t: P.yni Ln 'ti 1161i ) (¡¡aiucác). 2 r.ok.
Por:o: Cn.ilizaçáo. 1944,.o1 2. p. 133.
'lJ,Ì.'a¡á por que \rossa \{ajesrade marda r-o oLr"idor gcral da Reracáo tio Brasli ¡ìtc Cc"¡ss¡ dos
1ì1hos do gorcrnador D. Dìo.eo.ic \leneses de 24 de ¡ovenb¡o c1e 1612. pubìica<io ras Caria-'
para Áharo àt Soz:a e Gnspor rit Sou:a, OP cil . P. l7).
"Àìr.ará pelo c;r'ai hou.'c cl-rci por bcn dar Iicença ao scnhor Gaspar cc Sousa paia poCer Lelar
consigo ao Brasil ao senior Á1,'a¡o de So.Lsa' dc 2l de junio <ic i612. purlicaCo rrs Caztar
¡ara Åhnro d: Sov'o. e (;,is?ai ¿e ScL\tí. A]). c¡r'. P.8a No caso. c rigumenro uriiizaCo por
sou, " .u . 5 L. .i,.ci.' cr" c ,r..:.
' ,:.."r d.
Ci "Sumá¡ìo cl¡s A¡rnadas que se Êzeram g,rerias que se dciam na conqu;stâ do rjo P'râíb'"'
"
pLrblicado ¡a .tl¡a;¡¿¿ ¿17 iitillno Hì'nóîí.o e Geagr.nfco Br't;leiro, t:mct ltXX\¡I. i873. 1 29
E:¡n:. ou ì¡¡{¡.t¡t¡t¡tâa qæ:e ti La i,raccl-inzenta d'a Juiz ot Ga¡,c¡t¡¿dot ¿ rt:¡tùto /'o caxtct
procd.n rd: mi:rs tlc sa'r o[ttìa, luttnte o te;t+a. qrc rcr;a. \'fciaes
O¡. rh. voi. li, p. 611.
Lìura ¡ttt,:xa 1o Goue¡na ¡j¿ Bt¡¡ìi. O¡:. c;t . p.369.
166 Rodrigo Ricupero
Tal sicuaçáo era morivo de reco¡¡en¡es queixas, dessa fo¡ma Sebasriáo da Silva
alegava que por provisáo do ¡ei, este lhe tinha feito "me¡cê da se¡ven¡ia do oÊício de
escriváo do tesouro por cempo de rrês anos e porque os governadores passados irem
provendo pessoas de sua obrigaçáo na servenria do dito ofício e outros impedimenros
de i¡ ao Reino náo houve lugar de servir seu rempo" t6-
Essa prárica obrigaria o rei a baixar um alvará em que tentava regulamentar o
assunro, no qual explicavd que os governadores "náo dáo execuçáo as provisóes dos
provimentos que eu faço nas tais serventias por ¡espeito de proverem nelas pessoas de
sua obrigaçáo", exigindo assim que as pessoas providas por ele fossem imedia¡amente
empossadasji.
Percebe-se essim que se po¡ um lado a proximidade com os governantes crazia
vanragens, o afastamerÌto, por ourÍo, poderia significar a perda de importanres be
nefícios, inclusive os cargos ocupados na administraçáo. Este foi o caso na briga do
segundo governador-geral D. Duarre da Costa com o bispo Pero Fernandes, motivada,
a princípio, pelo comporramenco do filho do governador.
Ä disputa praticamenre dividiu a cidade do Salvado¡ em dois partidos. Do lado
do governador-geraÌ D. Dua¡¡e da Cos¡a e de seu filho, lìcaram, segundo seus adve¡-
sários, o ouvido¡ geral Pero Borges, o tesoureiro Joáo de.Araújo, o concador Gaspar
Lamego, o aimoxarife do Ârmazém C¡istóváo de Aguiar, o esc¡iváo da Fazenda Sebas-
tiáo Álva¡es, o resourei¡o Antônio do Rego, o provedor Anrônio Ribeiro, o alcaide-mo¡
de Salvador Diogo Muniz Barrero, o esc¡ivão do A¡mazém Be¡na¡do de,Àvelar e o
mestre-de-ob¡as Lopo Machado.
Os partidários do Bispo e do P¡ovedo¡-mor, que assinam a carta, säo os cama-
¡isras de 15j6: Simáo da Gama de Andrade, capitáo da frotâ de 1550 que veio para a
Bahia; Vicente Dias, cavalei¡o da casa do rei; Francisco Portocarrero, capiráo-mor do
ma¡ que acabou tendo seu o¡denado ¡iscado por entrar em confliro com o governador-
geral, Joáo Velho Galváo, que cinha sido provido do ofício de escriváo do A¡mazém
por D. Duarte da Cos¡a, mas depois foi impedido de se¡vi¡ enc¡ando em seu lugar
Berna¡do de Avelar; Damiáo Lopes de Mesquica e Pero Teixei¡a. Estes dois últimos só
conseguiriam participar da administraçáo coÌonial no governo de Mem de Sá quando
foram providos, respecrivamenre, ros cargos de contador das parres do B¡asil e de
escriváo da Provedo¡ia da Fazenda e Alfândega- Dessa forma, percebe-se que todos os
recebeu cobres e gado para o engenho que montou em Pirajá, como pagamento pelos
serviços prestados, além do emprésrimo de escra"os e equìpamentosse- O engenho
é descrito por Gabriel Soa¡es de So,¡sa como "muito o¡nado de edifícios com uma
igreja de Sáo Sebastião, muito bem conce¡tada"60 Casou com Inês Bar¡eto. tendo
como frlhos Mem de Sá (lI), Filipa de Sá e Diogo da Rocha de Sá (ll). Tnês Barre¡o
e¡a irmá de Dua¡te Muniz Ba¡reto, alcaide-mor de Salvado¡, ofício que recebeu por
¡enúncia do tio Diogo Muniz Barreto, primeiro aicaide-mor de Salvador, em seu
favo16Ì. Duarte e¡a casado com Helena de Melo, fi1ha do alcaide-mo¡ de Vila Velha'
Antônio de Olivei¡a Ca¡valhal.
da Bahia'
]á o irmáo de MamLel de Sá Soto Maior e¡a provedor da alfândega
tendo depois, em vi¡tude do casamento com Helena de 'Argolo, sido promovido a
58 Ver Mu¡ìel Nazzarini. O Daaparecinento da Darr. 5áo laulo: Companhia das Let¡as, 2001'
59 y/andc¡tel. pinho. Op. rrr., p. 6Z 88, 89 e 90.
60 Gab¡ielSoarcs de Sousa, Op cit.,p 146.
6r Po<le-se vcr a imporrâncra de Diogo Moniz Barrero pelo lato de c1e ter assumido o governo da
Bahia du¡¿nre a auséncla de Mem de Sá em l5ó0
ió8 Rodrigo Ricupero
paries do B¡asil, g¡aças ao apoio do Conde de Linha¡es. Sua esposa, Helena de Argolo,
e¡a filhade,{ntônio Ribeiro, anrigo capirão de llhéus e resou¡ei¡o da Bahia- Anrônio
Ribeiro, por sua vez, recebeu o ofício de provedor por casar com Maria de Argolo, que
era filha do primeiro provedor da Bahia, Rodrigo Argolo.
Dessa forma, os irmáos Diogo da Rocha de Sá e Manuel de Sá So¡o Maior, sob¡i-
nhos de Mem de Sá, Iigaram-se por meio do casamento com as famílias que controlavam
a A.lcaida¡ia-mo¡ de Salvado¡ e a P¡ovedoria da Baïia. A r¡ansmissáo dos cargos, conordo,
e¡a fei¡a mediance aurorizacáo régia, A.ssim a alcaidaria-mor de Salvador ficou muiro tempo
vinculada àfamília Muniz Barreto, e a Provedoriada Fazenda da Bahia era controlada pelos
descendenres de Rodrigo Argolo, tanto que este cargo de provedor passou na prática como
uma espécie de dore pelo menos para a filha, a nerae a bisnera do primeiro ocupanre.
Rodrigo Argolo veio parâ a Bahia em 1549, provido do Reino no cargo de pro-
vedor da Fazenda da Bahia por D. Joáo IIL Com sua morte, a viúva conseguiu que o
cargo ficasse para quem casasse com sua filha, nesse meio rempo o posco foi exercido em
"se¡venria" por Rodrigo de Frei¡as, casado com uma sobrinha de Rodrigo Argolo, com
a condiçáo de susrenta¡ a viúva e as Êlhas. Em 1556, Anrônio Ribei¡o casa com Ma¡ia
de Argolo e recebe o cargo, posre¡iormente, Manuel de Sá Soto Maior também o recebe,
ao casa¡ com Helena de Argolo, Êlha de Antônio Ribei¡o. No início do XVI, o provedor
da Fazenda e¡a Sebastiáo Pa¡vi de B¡ito, casado com -Ana de Argolo, filha de Manuel de
Sá Soro Maio¡, complerando assim pelo menos quase um século de posse do cargo na
descendência de Rodrigo de Argolo, já que paramos a investigaçáo nesse ponro,
É i-po.r"nt" destacar aqui que a transmissáo dos cargos era negociada caso a
caso com a Co¡oa. No exemplo visco acima, é possível verificar, pelos documen¡os
Iocalizados, a autorizaçáo para que Antônio Ribei¡o e Sebasriáo Parvi de Briro pudes-
sem ocupar o cargo, semp¡e com o argumenro da necessidade da família do ocupance
anre¡io¡. Nesse caso, ressake-se que esse p¡ocesso náo pode ser confundido com a ve-
nalidade de cargos, que só passou a rer uma cerra imporrância ern Portugal muito pos-
teriormenre e que "servencia", como vimos, era o exercício do cargo por um subsrituco,
dada a impossibiiidade do titular, mas rambém com aucorizaçáo superiorGr.
Outro exemplo in¡e¡essanre é o de Sebasrião Faria, que, como r.imos, e¡a fiiho
de Sebastiáo Álva¡es, anrigo esc¡ivão da Fazenda enrre ourros cargos. Sebastião Faria
casou com Bear¡iz ,A.nrunes, filha de Heitor Anrunes, rendeiro do acúcar e companhei-
62 Para Hespanha'A parrimonìaÌização dos ofícios exisriå, mas anr€s sob a lorma de arrìbuiçáo
de direi.os succssórios aos 6Ìhos dos oficiais que ¡ivessem se¡vido bem; e era jusrarncnte o
reconhecìmen¡o desses direiros que, provavelmenre, impedia, de fo¡ma dccrsiva a venalida-
de,.já que a Coroa n:o podia r.ender os ofícìos vecânres sem viola¡ esres direicos sucessáo,
ao conrrá¡io do que aconcecia com a co¡1cessáo de hábitos ou foros de 6dalguia,,. ,{nrónio
Vanuel H.rprnh:. \ con..i¡uicåodo lmperio Porruguè,. Reri,ro rJc:lgunsenriesrrenLos
correnres" in: Joáo Fragoso, Fernanda Bicalho e Maria de Fárima G o,;*èa. O Antigo Regíme
nas Trópicas. Rìo de laneiro: Civilizacáo Brasileìra, 2001, p. 183.
A fo¡macão da elite coloniaì 169
A.lamília foi denunciada por murtas pessoas durante a.isicaçáo da inquisiçáo em 1591 De-
nunctações la Bahia. Op. cit., ?assin e Lipiner. Os Jxidaizantes nas CaPìtarxi1s ¿e Cimâ Sáo
Paulo: Brasiliense. 1969.
TeRna, TRABAI-Ho E PoDER
6" Governo e patrimônio
¡ñ rei e¡a, em ùltima instänci¿, o responsável pela totalidade das mercês conce-
\J d,¿"., ¿fin¿L essas eram sempre feitas, di¡eta ou indire¡amente, em seu nome
e sujeitas, pelo menos em teo¡ia, a sua aprovaçáo ou náo. Contudo, para os t'assalos
p¡esentes nes partes do Brasil, o acesso ao Monarca, embo¡a não fosse impossível,
era difícil, demandando tempo e dinheiro, e, salvo para grandes personalidades,
exigia uma série de intermediários.
AIém disso, os prêmios mais importantes, ¡anto simbólicos como mare-
riais, exigiam disrinçóes, se¡viços e relaçóes prévias inacessír'eis ao conjunto
dos vassalos engajados no Processo de conquista das partes do B¡asil nesses
primeiros rempos- Exceçáo feita a um seleto grupo' consticuído pelas principais
au¡oridades da colônia, as me¡cês mais comuns concedidas pelo Monarca eram
basicamente ter¡as, cargos e alguns títulos hono¡íficos Po¡ém, mesmo essas, na
173
171 Rodrìgo Ricupero
maior parre dos casos, e¡am confirmacóes de mercês feicas anceriormenre pelos
governadores-gerais.
Nesse sen¡ido, nos primórdios do B¡asil, a figura-chave ra execuçáo da poÌícìca
de r¡oca de serviços por mercês era o governador-geral, situaçáo que lhe conferia um
enorme poder, pois, além dos poderes que ral cargo the conferia, o principal repre-
sentanre régio dispunha também de um¿ sé¡ie de possibilidades pâra recompeisa¡ os
sen iços fèitos.
Serviços, que podiam gerar prêmios, que, por sua vez, permitiam a realizaçáo de
novos serviços e a obtençáo de novas remunetaçóes, numa escala crescente, se bem su-
cedidos- Daí Frei Jaboaráo lembrar-nos com cerro espanro de "que o prémio que se deu
aos conquistadores de umas (Índias Orienrais) lòi o trabalho de conquisrar as oucras
(ÍndiasOcidentais)"equerambém,continuaoreligioso,'náodeixadesermorivopara
o reparo, que excero um ou our¡o dos que vieram ao B¡asiÌ fundar capiranias, depois
que o mereceram por sen iços na Índia, quase rodos, vindo de lá cáo abasrados de bens
e haveres, acabaram nas conquistas de cá (Brasil) objetos da pobreza"r.
Servir à Coroa, mesmo nos cargos da administraçáo colonial, implicava custos
de maior ou meno¡ monta e rambém a¡car com os possír'eis prejuízos. Mem de 5á, por
exemplo. ao pedir.ubtLiruro, expli.ata ao rei.
alìrmo a Vossa Alteza que náo sou para esra rerra, eu nela gasto muiro mais do que
tcnho de ordcnado; o que me pagam é em mercadorias que náo me serl'en, , e eu fui
senìpre rer guer-ras e rrabalhos onde hei de dar de comer aos homens que váo pclejar
e mor¡e¡ sem soldo nem manrimenro porque náo há para lho dar. t
Frcì Ànrônìo de Sanra Marìâ Jâboaráo. Nouo Orbe Seráfco (U6Ì), 2" eC, 2 parres em 3 vols.
Rio deJaneìro: Insriruto Histórico e Geográfico Brasileiro, 1858, I, p. 134. Tal idéia rambérn
está prescnre cm ourros aLrtores que rraram da doaçáo das capiranias, como Gabriel Soares dc
Sousa ou Simáo de Vasconcelos.
"Car¡a de Mem de 5á, govcrnador do BrasiÌ pare el,rei em que lhe da conta do <1uc pussou c
passa lá e lhe pede em prga dos seus scrviços o mande vir para o Reino" de 3i de março de
1560, publicada nos ,.1 dais d¿ Biblio¡¿m Naríozal. Rio de Janeiro: Biblio¡eca Naciolel, 1876,
vol. 27, p.229.
A formaçáo da elite colonial t75
4 "Carra que o qovernador D. Joáo de Cascro escrevcu de Diu à cidade de Goa" de 23 de no-
vemb¡o de 1546, publicada por Jacìnro F¡eire de Ändrade Vida àe D. Jo'io le C¿stra (1651)'
Lisboa, Agência Geral das Colônias, 1940, p.220
Brás Cubas pediria ao rei a resriruiçáo dos elâsros' sendo arendrdo, desde que Tomé ric Sousa
comprorasse esses. Cf.'Âl.ará Para Tomé de Sousa (..-) acerca das despesas feìras por Brás
Cubas, anrigo capìráo e ouvidor na capirania de i\4a¡¡im Alonso de Sousa- de 13 de dczembro
de 1551, pLrblicado por Jâime Cortesáo na 2¿ rce¿e Lusit¿na l¡Ionuaænta Hìltoriz l roños
em 3 r,ols. Lisboa: Real Gabinere Português de Leitu¡a do Rio de Janeiro' 1956, tomo I' p
334. Os ordenados podcm ser listos no "Livro pnmciro do registro de provimentos seculares
c cclesiásrìcos da cidade da Bahia c te¡ras do Brasil", publicado na coleçâo Docuneatas Hntó-
¡tr¿¡, il0 vols. R;o de Janeiro: Biblioteca Nacronal, t928-j5, vols. 35 e 36' p 8' 13 e 172 do
.-oì. 35 (Citado daquì crn diante corno "Liv¡o primeiro do regisrro de provimenros')
176 Rodrigo Ricupero
gasra¡ em seu real serviço"6. Mencionava que sobre tais despesas "tenho papéis mui
jusrificados de que contará quando Vossa Majestade seja servido mandar que (eu) possa
rratar da sacisfaçáo" delasT. Gastos e trabalhos que a Câmara da cidade atestava ouma
carta, na qual os oficiais afi¡mam ao rei que Martim de Sá depois que chegou à cidade
vai "gastando nisso (na defesa dela) mui¡o da sua fazenda com seus criados, escravos e
embarcaçóes, a sua custa e despesa, mostrando o grande zelo que tem do serviço de V-
s
Majestade" 'e.
D. Joáo de Casuo, porém, era um caso ra¡o denr¡e os homens que iam para as con-
quisras, em geral, ávidos por riquezas. Talvez por isso te¡ìa conseguido o empréscimo
empenhando apenas "as barbas", como garanria da própria palav¡a. Brás Cubas e Martim
de Sá sáo apenas dois exemplos da ampla maioria, daqueles que nâo desperdiçavam opor-
tunidades de faze¡ forruna, ranro no Orienre como no Ocidente.
Assim, dadas as di6cr¡ldades da fazenda ¡égia em arcar com os cusros elevados de ma-
nurençáo do e<tenso Império, contar com os ¡ecursos dos vassalos, decentores de cargos ou
não, era fundamental para a Coroa- Daí que, em alguns momenlos, a Coroa negoci¿sse ex-
plicitamente o provimeno de dete¡minados cargos mediante o coropromisso do agraciado
em fazer algum serviço ou benfeitoria '0. Estabelecia-se uma espécie de parceria, servir o rei
implicava gastos, mas rambém possibilidades de ganhos, ranto econômicos como soci¿is.
obras mandadas fazer por conta da Fazenda Reaì, seus serviços no Brasil, pcdido de mercês"
de 1630. que consra do Liura pnmeíro do Goterno do Br¿s;l. Rio de Janeiro: Ministério das
Relaçóes Exteriorcs, 1958, p. 417.
Garcia de Resende, Zturo das Obrus de Garciø. de Resende (sécrl|oXVl), ediçao crítica de Eve-
lrna Verdelho. Lìsboa: Calouste Gulbenkian, 1994, p.416-
O ìnreressanre Diogo Bocelho utilìze-se do mesmo termo empregado por Garcia de Rc
é que
sende. "Cana deDiogo Botelho ao Conde de Linhares", escrita em Olinda. aos 23 de agosto de
1602. Arquivo Nacional da Tor¡e do Tombo, Cartório dos Jesuíras, maço 71, documento 3.
178 Rodrigo Ricupero
"Processo ricJoáo de Boléi' publicado nos lrnis ¿,1 Bibliotec,l N,lc;onal,ø1 25 p-27A
Cir a "Prolisáo do govcrnacior para Gaspar dc Barros serljr de Contador" de 3 dc jancìro de
i560 e o 'AhaLá por que foram providos Gaspar de Barros c Diogo Lopcs de I'{eira de juizes
dos feitos da laze¡da na auséncra do governador Mem de Sá para o Rro de Janeiro" de l0 de
Janeiro de 1í60, porém náo temos o Pro\'ìmento pa.a o posro de teso,rreiro, mas cle
rem assim
nomeado ¡os'l4sscn¡amentos das dignrdades, cônegos, meios cônegos, capel:es e moços de
coro" quc consia'n do "Lilro primeiro de provimenros", publicado nos Dact¿¡ne¡ttos Hìst'jrlco:.
Op c't.. tot. J(,. p ir a-elJ..cguir(e|espL.'it¿mcnt..
\¡er "T¡aslado e regìstro da provisáo do scnhor governador D Duarrc da Costa que passou
a Sebastiáo Álvares de escrir.áo da fazcnda" em 21 de agosto de 1552 sem prazo 6xado' que
consta do "Livro primeiro de provimenros". publica.do em Documentos Hktóritos, Ap. dt .rcl
35, p. 398. Entre o primeiro p¡ovimento e o segundo, Sebastiáo Á|'a¡es foi cnvrado ao Rcino
por D. Duarte da Cosra como capitáo dc una caravela.
"Car¡a de Nlem dc Sá afrei Bartolomeu, religioso de Sanro,{gostinho em Nossa Senhora da
Graça de Lisboa, sobre o pror.ìmento dos ofícios da cìdade do Sah,ador que cl-rei tìnha man-
dado aplicar a dotes pa¡a casamento das órfás que do Reino ìhe enviaram" ÀrqLrivo Nrcional
da To¡¡e do Tombo, Cartas Mìssivas, Maço 1, Documento 397
Cl. "senrença conrra Jorgc de FìgLreiredo, capitâo qtre fora da caPr¡ania de Sáo Jo¡gc do Rio
dos IIhéus (...) pela qual se lulgou que de.'iam pag:rr dizima na a1lândega de Lisboa, das coi'
180 Rodrigo Ricupero
sas e mercadorias que viessen da mesma capirania", dada em Lisboa em 5 de maio de 1552
publcada em.4s Gauetas d¿ Torre do Tomba, 72 vols. Lisl>oa: Cenr¡o de Esrudos Hisró¡icos
Ulrramarinos, 1960- 77,11, p. i82.
20 Wanderley Pinho, Testamento de Mem de Sl, Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1941, p.
86.
O'resramento de Mem de Sá", diversos invenrários e o "conrraro de dore e arras de D. Filipa
de Sá e D, Ëe¡nando de Noronha" foram publicað,os nos Docamentos p¿lã a Hi'rórit' ¿o Açú-
.¿r J rols. Rio deJ¿neiro: IÀÀ lîiô. fll.
Domingos Ribeiro, morado¡ de uma iiha em Sergipe do Conde e criado de Mem de Sá, foi
deoLrnciado na chamada prìmeira visiracáo do Sanco Ofício às parces do Brasil, por rer enrre-
gue, por voka de vinre anos anres, uma arma de logo a um índio para obrer uma escrava. No
invenrário de Mem de Sá, além da cirada passagem em que ele reria levado escravos para fora
do engenho, seu nome aparece como responsável peÌa enrrada de 26 escravas índias. Cf- ?¡¡,,
mexrø Wsitaçáo do trnto Ofício às ?artes da Brasil - Denunciações la Bahia, Sáo Paulo, 1925, p,
296 e "Invenrário do engenho de Sergipe por Morre de Mem de Sá" de 1572, publicado nos
Documento' p.ll,d.1Histtii,a do Açúcar, Op. cit.,IIf, p.48 e 62.
A formaçáo da eli¡e colonial 181
Sobre a importância das guerras nos dois p¡incipais esPeços do Impérìo ponuguês, 'eja-se a
opiniáo de dois governadores, Diogo Botelho, na ciuda cana ao Conde de Linha¡es, e Martim
Afonso de Sousa, na 'Cana para o rei, datada de Cochim, de 24 de dezembro de 1536", publi-
cada por Luís de Albuq,:er1ue (Org.), Martin Aþn:o dz Saus¿. Li,sl>oa: Alfa, 1989, p. 50.
lR? Rod¡iso Ricuoe¡o
Frei Vrcente do Salvador, His¡ória da Brasil (1627). 5" ed. Sáo l'aulo: Velhoramenros, t96j
p- 364.
A fo¡macáo da elite colonial 183
Rio G¡ande, to¡nou-se senhor de mais de um engenho2T. Acabou por retornar ao Reino
e seguiu, numa.jornada de soco¡¡o a Maiaca, como "general duma das esquadras da
Armada com que se há de fazer guerra aos holandeses", o que lhe valeu uma sé¡ie de
mercês, rais como nomeacáo para o Conselho do reì, promessa de uma comenda de
400 mil réis e a capitania-mo¡ de uma viagem das naus da Índiat*. Náo ¡etornou mais
ao B¡asil, desfazendo-se dos seus engenhos em Pe¡nambuco- Out¡os, porém, acesrando
sua condiçáo de "homens coloniais" acabaram por enraiza¡-se na colônia, onde deixa-
ram descendência. como, por exemplo, C¡is¡óváo de Ba¡¡os, provedor-mor da fazenda,
ou Salvado¡ Cor¡eia de Sá, capitáo-mor do Rio de Janeiro.
,4. permanência ras partes do B¡asil foi a opçáo principal dos funcionários ìn-
re¡mediá¡ios que conseguiram acumular propriedades. Nesse caso, mais do que nos
outros, a volta ao Reino poderia signifìcar regressão social, pois o prestigio alcançado e
o patrimônio reunido na colônia diâcilmente poderiam ser desfrutados na metrópole-
As ¡eferências, no parrimônio de Mem de Sá, a âmba¡ pau-brasii, acucar, armas,
gado, terras e escravos nos dáo importantes pistas para podermos enrender náo só
como Mem de Sá ¡euniu sua foÍuna, mas também como se estruturou a parcela mais
importanre da elice colonial-
Tais irens podem se¡ divididos em dois grupos. O primeiro, formado pela terra
e pelo acesso à máo-de-ob¡a indígena, é decisìvo para a consticuiçáo do patrimônio da
parcela da nascente elite colonial vinculada ao governo da conquista e, por isso, merecerá
um destaque especial adiante, neste e nos capírulos finais desre trabalho. O segundo
"Carta do bispo D. Ped¡o de Casrìlho a el rei sobre a consulta da Mesa de Consciência reFeren¡e
ao dinheiro que por ordem de Manuel Mascarenhas Homem se despcndeu nas obras da [orrj6-
cacáo do Rio G¡ande" de 13 de agosro de l605 Biblioreca da A1uda, códice 5t-V'84' "Cópia de
Carras do vice-rei a Sua Majesrade ', 1ì 12. Manuel Masca¡enhas Homcm, por tomar o drnhciro
do cofre dos defuntos por mandado do governador do Brasil para os gasros com a fonaleza do
Rio Grande, ¡eve uma série de problemas, tendo os frutos dos engenhos e de uma comenda q're
já possuía seqüestrados. "Documento enviado pela Mesa da Consciéncja sob¡e Manuel M:sce
¡enh:s" de 17 de ourubro de 1605. A¡chìro General de Simancas, Sec. Provinciales, códice 1476
- Liv¡o de consuhas deÁfrica e conquistas, de Ì605 e 1602 ffs. 92 c 921..
"Carra de el-rci ao Bìspo D. Pedro de Castìlho" de 27 de dezembro de 1604 c "Cana de el-rei ao
Bispo D. Pedro de Castìlho sobre as periçóes deÁlva¡o de Carvalho" de 22 de janerro de 1605
Bibliorcca daAiuda, códice 51-VIII-06, "Cartas de Filipe II para o Bispo D. Pedro de Casrilho",
Â. 5 r'. e 26 t, ¡espec¡ivamenre. Por outro documenro, sáo leì¡as ainda as mercês do imponante
posto de capìráo da forcaleza de Malaca, com drreito àcâPitanìa de umaviagem à China: conru-
do. náo sabemos se tais me¡cês eram somadas às anreriores ou no lugar delas, registre-se, ainda'
que embora Manuel Mascarenhas Homem tenha ido eletivamenre à Maiaca. ao que parece, náo
chegou a assumir o gove¡no da fortaleza. "Despacho de Filipe II Para o arcebispo de I 'rshor' l)
Ìvfiguel de Casrro, r'ìce-rci de Porrugal" de 28 de Março de 1617.{rchivo General de Simanc¡s.
Sec. Provinciales, códìce 1515 - Regisrro de despachos de D. Fllipe Ill de Espanha, ll de Portu-
grupo compóe-se de our¡as van¡agens que, sob o conrrole da administraçáo, podiam ser
¡eve¡tidas em favo¡ de certas pessoas, auxiliando no processo de formação do parrimônio
destes, como veremos no último irem desre capírulo. Afinal, naquele momenroJ em que
o público e o privado ainda náo estavam compleramenre dis¡inros, os recursos públicos
eram urilizados freqüenremenre em benefício privado sem maiores problemas, embora o
cont¡á¡io ta¡nbém oco¡¡esse.
O primeiro aspecco que merece ser abordado é o da disuibuiçáo das terras ameri-
canas controladas por Porcugal, pois, como analisado no primeiro capírulo, essas foram
incorporadas ao patrimônio régio e doadas em sesma¡ias aos vassalosre. O poder de con-
ceder as re¡¡as era em última instância do ¡ei, que o delegava aos seus represer¡arLres na
colônia, conrudo, ele próprio raÍemenre as concedia di¡e¡amen¡e e, quando fazia, era,
em geral, para grandes 6guras do Reino ou para imporranres membros da administraçáo
coloniaì e seus parentes, que na maioria dos casos recebiam largas porçóes de terrasio-
Algumas das mais entigas ca¡tas de sesma¡ias que conhecemos atesram ral
situaçáo. Nelas sáo igualmente beneficiados com 12 léguas de rerras Dua¡re Dias e
Miguel de Moura, secretários do ¡ei D. Sebasrião ou ainda Tomé de Sousa e Luís
de B¡ito de Almeida, governadores-gerais, o primeiro ¡ecebeu seis léguas depois
de.já ter servido o cargo e o segundo 12 léguas momenros anres de embarcar para
tomar posse do cargoit-
29 "Das Sesmarias", drulo LXVII do <¡uarto livro ð,as Ordenaçóu Manuelinas (1514). j yols.
Lisboa: calousre Gulbenkian, 1984, p. 164.
Para uma visáo geral das sesmarias, ver Cosra Poro, Esrudo sobre o sistema sesmarial. F.ecife:
Universidade Federâlde Pe¡nambuco, 1965; Ruy Cirne Lìma. Pequena H;stôria Tenttorial¿to
Br'zsil. 5' eà. Sâo Pau,Io: Arquivo do Estado, 1991 e Vrrgínia Rau. Srsmarias medietau paau,
gursas. Lìsboz: Benranð' 1946.
"Registro de Doze Léguas de re¡ra de Duarre Dias" de 2 de janeiro de Ì573, 'Regisrro da
carra de Miguel de Moura" de 27 de fevereiro de 1573 e "Regisrro da carra de sesmaria de
doze léguas de terra de Luis de B¡ìro de Almeida Governador, que foì desras parres" de 23 de
janeiro de 1573, rodos publicados nos Docamentos Hís¡óricos, Op. cìt., !d,. 14, p. 441, 455 e
450 respecrivamenre. Já a "Doaçáo de seis léguas de Te¡ra no B¡asil a Tomé de Sousa" de 10
de dezembro de 1563 e a ourra "Doacáo a Tomé de Sousa de seis léguas de Te¡ra no Brasil em
lugar das que lhe deram já" de 20 de outubro de 1565 foram publicadas pelo Coronei Ignácio
Accioli de Cerqueire e Silva, Memóias Htajriøs e Politic¿s da Bah¡¿, 6 vols. Salvador: Im-
prensa O1ìcial, r9r9 - 4),wol.I, p.275 e 276.
A. fo¡macão da eiire colonial 185
Coube, portanro, aos deiegados régios a maior parte da distribuiçáo das ter-
ras das parces do B¡asil, o que lhes confe¡ia imenso poder. No primeiro momenro,
tal prerrogativa foi confe¡ida aos donatários, para em seguida, após a criacáo do
Governo-gera1, se¡ es¡endìda ao governadorjr. Daí acabou rambém delegada aos
capitáes-mores das capicanias régias.
No ¡esimento de Tomé de Sousa, contudo, a possibilidade de distribuiçáo de
sesma¡ias era limitada às ¡e¡¡as no rermo de Salvado¡, ou seja. à área de 6léguas em
torno da cidade, pois, para as demais terras da capirania, entáo a única régia, o rei
deve¡ia se¡ consulcado antes5i.
Posterìormente, com a conquista do Rio de Janeiro, Mem de Sá concedeu ao
sobrinho Salvado¡ Correia de Sá, segundo capitáo-mor do Rio de Janeiro, "poder para
dar de sesma¡ias te¡¡as e cháos conforme o regimeûro e capítulo del-rei Nosso Senho¡
por onde as ele dava na Bahia"i{. C¡isróváo de Ba¡¡os, re¡ceiro capiráo-mor, nomeado
pelo rei, deveria servir, conforire instruçóes régìas, com "poderes e alçada que reve e de
que usou Salvador Co¡¡eia de Sá"rt, o que lhe permitiu dist¡ibui¡ te¡¡as.
Além disso, C¡is¡óváo de Ba¡ros levou um alvará, no qual o ¡ei aurorizava expres-
samerte o novo capitáo-mor a redist¡ibuir as terras já dadas, que náo fossem aproveira-
das nc prazo de um ano. Contudo, tal alva¡á só e¡a invocado nos casos de redistiibui
çáo, pois as terras até entáo náo corcedidas e¡am doadas com base apenas nos poderes
confiados po¡ Mem de Sá a Salvado¡ Co¡¡eia de Sáj6.
Com a divisáo do Governo-geral em 6ns de 1572, foì concedido pela Coroa ao
novo gove¡nado¡ do Rio deJaneiro, Antônio de SaÌema, a faculdade de dis¡ribui¡ ¡e¡¡as
no termo da ciciade do Rio de Janeiro, fato que seria invocado nas concessóes de ter¡as
Foraís das Capìtanias do Brasíl (1534-1536). Apreseûraçáo, rranscriçáo e roras de Mâriâ José
Choráo. Lisboa: .{rquivo Nacional da Tor¡e do Tombo, 1999, p. 15 e "Rcgimenro de Tomé
de Sousa" de Ì7 de dezemb¡o de Ìí48, pubìicado por Ca¡los Maiheiro Dias (Dtí), Hlttótl¿¿
da Colonizdç,áo Potu,guesø do Bra:il,3 vols. Porto: Licograña NacioDal, 1922.. \o1.IlI, p.346
(Cirada daquj em dianre epeù s como Hittória da Colonizac,lo Portuguesa do Brasil).
Sobre o poder de concede¡ rais rer¡as, não existem outros reqrstros. assim náo sabemos se o rei
ampliou os poderes do sor-ernador ou se esses foram ampiiados sem expressa auroriz¿cáo.
"Car¡a Ce sesma¡ia das rer¡as e cháos de Pero Colaço e Martim da Costa" de 6 de serembro
de 1573, que consra da Tonbo døs Ca,tas ¿le Sesnarias ào Ria /-e Jaiteito (1573-4 e 1578-9),
publicado na coleçâo Doc?.mentc,i Hirtói i.or, vol, 111 (nova sé¡ie). Rio dc Janeiro: Biblioreca
Nacional. 1992 p.35.
3i Iden, p.34.
36 "Ca¡ta <ic Sesma¡ia d¿s ærras de Francisco de Sousa'de 27 de ouubro de 1573. Idern, p.49.Yer
.Tradado
rambeL¡r de um Ahará em faro¡ de C¡istóváo de Barros, para conceder as terras de
sesmaria aos morado¡cs de Sáo Scbasciáo, do Rio deJaneìro" de 27 de oLrrubro de i571. Joaquim
\trissimo Serráo, O Río ùJaneiro no séca1a )llr{ 2 vols. Lìsboa: Comìssáo do IV Cenrenário do
Rio deJaneiro, 1965. vol. Ir, p. 85.
18ó Rodrigo Ricupero
após o término de seu governo e o fim da dita divisáort ,{ssim, Salvador Co¡¡eia de
i7 Náo se conhece a ínlegra do regimento dado a Ântônro de Salema' mas o capítulo relèrenre
à concessáo de ter¡as é rranscrrto em algumas cartas de sesmarìa e Prericamenre rePetÉ os
termos do regimento de Tomé de Sousa, Cl ''Ca¡ta de sesma¡ìa da ilha de André de l-eáo" de
21 de outubro de 1578. Idem, p. ll7.
38 As ca¡ras de sesm¡rìa dadas nos governos pos¡eriores conrinuaram baseadas no regimento de
Ânrônio de Salema. CL "Ca¡ra de sesmaria de um cháo para casas de Joáo Carvalho" de l1
de março de 1593, que consta do Tombo ¿/a: Ca.tø.s das Ses, ãria' ¿o Rí0 ¿e J¿nàra (1594 - 5 e
uma sesmeria de duas léguas de frenre por quatro de fundo, no Rio de Janeiro, de
Estácio de Sá, entáo capitáo da nova capitania, pediu a Mem de Sá confirmacáo do
benefício. Náo podendo aproveitá-la repassou a Duarte de Sá, que obteve, por sua vez,
a confirmaçáo de D. Sebas¡iáo$.
Dessa forma, as sesmarias e¡am concedidas tanto pelo governador-geral como
pelo seu subsriruco, quando aquele se ausenrava da Bahia, bem como pelos capitáes-
mores das capiunias reâis, como a do Rio de Janeiror em nome do ¡ei e com base no
regimento dado a Tomé de Sousa, enquanro, nas chamadas "capiranias he¡ediiá¡ias",
como Sáo Vicente, era o capitáo-mor quem concedia, mas em nome do donarário,
seguindo o esrabelecido na carta de doaçáo e no forai.
No Ma¡anháo, contudo, a parcir da década de 16i0, a reparciçáo de re¡ras foi
desde o inicio objeto de disputa entre as vá¡ias auto¡idades; Gaspar de Sousa foi o
primeiro a distribuir terras na regiáo, pois como ele mesmo explicava ao ¡ei "das rer-
ras do Ma¡anháo estáo muiras repa¡tidas já assìm por mim com ord€m que par¿ isso
tive de Vossa Majestade, como peÌo capitáo-mor Alexandre de Moura que 1á mandei
com os mesmos pode¡es"rr.
Alexandre de Mou¡a, que acabara de deixa¡ o governo de Pe¡nambuco, foi o
responsável direto pela conquisra do Ma¡anháo du¡ante a fase final da luta cont¡a
os franceses, dis¡¡ibuindo terßs in lon. mas, ao se ¡etira¡, deixou um regimemo ao
oriertava pa¡a que não distribuísse oút¡as, sem o¡dens do rei ou do governador-geral
Gaspar de Sousaat.
Inte¡essanre lembrar que Alexand¡e de Moura, pouco rempo antes, rinha sido
incumbido peÌo rei de i¡ ao Rio G¡ande redist¡ibui¡ as terras dadas ah exatamen¡e
por Jerônimo de .dlbuqrierque, que, ao doar uma área táo grande aos frlhos, tinha
causado espanto ao próprio Mona¡ca. Este fato talvez possa ajudar a explicar a de-
43 "Carra Régia confirmando a Sesmaria na Ter¡a de Magipc no Rio de Janeiro, em fa.or de Du-
arre de Sá, parente de Simáo de Sá" de Ì4 de outubro de 1574. Arquivo Nacional da Torre ,lo
Iombo, Chanceiaria de D. Sebas¡iáo e D. HcnriqLre. Doacóes, Livro 35, ff. 6i v e pubiicacia
porJoaquim V Scrráo, O Ria de Janeiro no sécalo XVII. 2 rcls Lisl¡oa: Comissáo NacronaL.,
1965, no volume II, p. 99.
"Lembranças que fcz Gaspar de Sousa quc for governador do Brasrldo que convìnha a conquisra
do Ma¡anháo' de 161¿ porém as instruçóes conhecìdas de Gaspar de Sousa para Aiexandre de
Moura náo rccam no assunto das ¡e¡¡as. As "Lembranças ( .)" íòram publìcadas pelo Baráo dc
Srráart, Docutnentos ptt'nl ã Htùi'tia dþ 4tu1:iJ e $?ectahnentc a lo Ceará,4 vols . Fonaleza: Miner-
va, 1909,I, p. i24.
"Regimento que o capitáo-mo r ,A.lexandrc dc Moura deixa ao Capiráo-mor Jerònimo dc Al-
buquerque por serviço de Sua Majestade para bem do governo desta províncìa do Ma¡anháo".
Documentas pon a Histriia la Conquista da costa l¿xe-oexe do Brasll. Rio de Janeiro: Brblio-
¡eca Nacional. 1905, p. 79 (Scparara dos Anaii ¿tr Bibliotedt N¿ciana[ vol.26).
188 Rodrigo Ricupero
Ci. frasl:do tlo aL:¡o c mais dilìgêncirs que se Ê2.:,r,. so5¡. as d:¡rs ,l: rerras da c:rpir.rnir ,:ic
Rìo Grandc, quc s: rirh¿r.¡ cl¡do' de 21 de tìr'ereiro de Ì614. publicrao n¡L Ret¡i¡t¿ y'a l¡¡¡it¡t¡o
Hi¡¡õ¡ìro ¿to (¿¡mi,\..\,11l. Ì909, p. 1i2.
''lìeìação clo F,s¡:Lic do \,1¿ircháo lèiiâ por Bc:rro \{aclel Parrn!e". escrl!r eûrre 1636 e l6i7
e ¡ubiicacr ros D¿¡u zttrr,:: p,trt t Hiúrh t/.a Codqrisre ú Cas* Le:r Ot:te, Op úr..191.
''lìcgin:crro d< tndrJ 1¡ic¿l i¡ \ce.ci¡os, d'rdo c'rt Llsbo,r, err 14 cie ab¡il d. 165i ,
ilbl:-
cado por l{:rrcos Carnci:o \'fcndonç:r lOrg.l. I?t!ze: ìt Íonnçno Ay'xrinis¡¡¿rjr¿ la lJr¿:í1. ).
vols. Rio cit Jrrtiro: Ì¡s¡i¡u¡c ljì¡órico t Ccogrilico Brasilciro. 1971, li, ?. r'03.
''RegirÌt!ìro cur s¡ n¡¡<lor: aos.apiraìcs-cìor.-s d:s czpirarias rtes:c Es¡:Lio Ì'd¿ ou¡Lrb¡o J¿
1ó63, pubiicaclo en Dautit!"'or hir'¿ti.or, Op. út.. rc}. i, p.379.
Ci "Fragnentos de unla ¡¡rcnó¡ia sobrc rs sesna¡ias da B:.hia"- liab:lho csc¡iro cnr¡c o :rr¿Ì
do séc'¡loX\'IÌI c i:rÍcio do XIX pcr:uror rresconhcci¡lo, ¡nas.:1o qìr. ruCo ìniica. é de aLr-
roria ac D. ÈeLnendo José <le i']orrugri.l:.1 ioi publicaclo porJosé \,larcciuo lìtrcìrr
'r:'-balho
A forrnaçáo da elite coloniai t89
Nos últimos anos do século XVII e nos primeiros do XVIII, a Co¡oa deu
grande atencão à questão fundiá¡ia, baixando em pouco lempo dive¡sas ¡esoiu-
çóes, para norr,-iarizar a distribuiçáo e coibi¡ abusos, notâdamenre no que se refere
âo tamanho das concessóes € a cobranca de foros, conforme a grandeza e bondade
cias re¡¡astr.
Contudo, a hisró¡ia da ocupação fundiá¡ia ra cosra do Brasìl no período
ante¡ior às iutas cont¡a os hoiandeses só pode ser esc¡ita em linhâs .eler¿is. pojs a
maio¡ì¿ dos lir'¡os de ¡egist¡os de ter¡as se perdeu, sah'ando-se. ainda que parcial-
menre. os registros das capitanias de São \¡icenre e do Rio de Janeiro, no sul. e de
Seigipe e Rio G¡ancie, no norte. P¿¡a ¿( capiiâniâs mâi5 imporLantes. como Per-
naûrbuco. Bahia c Pa¡aíba, náo sobrou quase nada pâra a p¡irceiie e iûui¡o pouco
para as úliimas. Para as demais capiianias náo citadas, e siiuaçáo é praiicamente
a mesme.
Tarto pelas car¡as de doacão das chamadas capitanias he¡editárìas conto peic
regimento de Tomé de Sousa. as re¡¡as der.e¡ian se¡ doadas seù g¡endes restiiçóes. A
falta de cli¡é¡ios mais ¡esi¡i.ivos, bem como o incentivo a vinda de ¡ovos po.'oado¡es,
nem rocios com posses, pode erplic?.¡ o l:a¡o de cue, ¡esses Drimei¡cs ¡1oi¡eoros, aauao
grandes coi:ro humildes tenham sido agraciados com ierrâs, porém, essâs náo erâm dâ
nesma quaiidade. nem cio mesÌno tamanho.
,A. exigêlcia básica. con,o vimos. e¡a se'r apioveiremeriio dent¡o cio Prazo esii_
oulacio. Po¡ isso, a orientacáo <io ¡ei a To¡ré de Sousa, "náo dareis a cada pessoa m:-is
rei¡a qlrc equele que boan-rente, e segundo sua possibiliciade, \ros parecer que poderá
aproveiia¡", criava unÌ prjr¡eiro critério de disrinçáot:- O regimento tarnbém estipuia-
va um segundo critério de ciistinçáo, ao <ieterminar que as "ág;uas cias ribeiras" cepaT,es
paia engenhos de açircar, fossem dadas ¿fe¡as äs Ðe5so¿\ que tenham possìbiliciades
pr-r o.'er lerho" podeie'r' Lzer
Ä possibilidade de co¡ceder sesr¡a¡ia-s. deie¡¡¡i¡ando o .âmaiìho e a quâlidâde
das te¡¡as doadas. ildependeirtcarente ou náo da conûrinaçáo leal. conlrcria àc goier_
¡ador-ge¡al e às o¡i¡cìpaìs autoiidacìes de cada capirania, dotâiáiios ou caPitiles-mores.
u,¡ insÌiumenro de pocier efetivo. ÀÊnal a proprJedade f.rndiá¡ia eia nesse mol¡eiÌto
Sobre o iema, r'cr cs co¡ne¡¡ários cie Fcr¡ando icsé dc Portugal ao Regimenro do qolernador
lìoquc da Cosra Ba:rc¡o or ¿inda os iá cìrados "l'*ragmcnros de uma mcmó¡ìa sob¡e as scs-
marias da Bahia'. p. 318. Regìncnto de Roquc da Cos¡a B:¡¡e¡o dc 23 de;areìro rie 1672
pubiicrdo poi \,!a¡cos Ca¡nciro Mendonça. Op cn .ll p 780. \/eja-se arnda Cos¡¡ f)o¡ro.
Op. c¡î , p. 8i c scguinres.
a base das principaìs fo¡tunas coloniais. Daí náo se estranhar que os govertedores e
capitáes-mores se urilizassem de ral poder em benefício próp¡io, de suas famílias ou dos
grupos próximos a eles, com grandes doaçóes das meihores áreas de cada capitania.
O primeiro governador-geral Tomé de Sousa, ao doù .er¡as ao Conde da Castanhei-
ra, de quem era procegido, náo pode ser acusado de se beneûciar diretamente das próprias
doaçóes, pois, como informava ao rei, que muito gado aaar'm ¡as ærras daBahia em ¡erra
aiheia, por não ter terra própria e por náo querer romar Para si no tempo que foi governa-
dortt, para só enrâo, já de volta ao Reino, obter uma sesma¡ia.
O segundo governador-geral, D. Dua¡¡e da Costa, inaugurou a prãrica rìe <Joar
filhos, concedendo ao Êlho, D. Álva¡o da Costa, uma significariva sesmaria na
rerras aos
Baía de Todos os Sanros, transformada posreriormente, por decisão de D. Sebastião, em
uma peqùera capiraniatt; mesmo procedimenro teve o quarto governador-geral, Luís de
Brito deAlmeida, que embo¡a rivesse recebido ¡e¡¡as ¡lo ¡ei, náo deixou de doa¡ out¡as ao
Êlho, Joáo de Brito de ÀlmeidatG.
Mem de Sá foi a¡di1oso, dando um sesmaria em 1559 ao amigo Fe¡náo Rodri-
gues de Casrelo B¡anco, do Conselho do rei e almotacel-mo¡J que, po¡ sua vez, no
ano seguinre, doou-as ao 6lho de Mem de Sá, Francisco de Sá, as quais. por morrer
sem descendenres, acaba¡am revertendo ao pai. Curioso é que Mem de Sá rambém
concederì uma sesmaria, pegada às rerras doadas a Fernáo Rodrigues de CasteÌo
Branco, a Francisco Toscano, que runca veio ao B¡asil, mas que as doaria pouco
rempo depois ao irmáo, ninguém mais nem meoos do que o ouvldor geral, Brás
Fragosoti. Daí náo se esrranhar que os dois, Mem de Sá e Brás Fragoso, fossem
qualificados de cobiçosos em carra crrada anteriormente.
Oucro governador que se aproveitou do cargo para doar rerras a parentes foi Felicia-
no Coelho de Ca¡valho, do Maranháo, que, des vasres árees recém-ocupadas na regiáo,
"Doaçáo de se¡ léguas de Terra no B¡asil r Tomé de SoLrsa" de 10 dc dczenbro <le ij6i e
"Doacáo r Tomé de Sousa de seis léguas de Terra no Brasil em lug.rr das que lhe deram já" de
20 cle ou¡ubro dc 1i6i. Ignácio Âccioli de Cerqueira e Siiva, Op. cit., I. p.275 e 276-
"Doaçáo da CapÌrania de PeroaçLr de Dom ì lr -ro d" Cosr¿" de Ì J d. março d< Ìi71, publi
caàa em Danznentos Históricos, O?. cit.,voI- 13, p. 224 (A doaçáo ìnicial leira pelo pai É de t6
de janeìro de 15j7).
''Regìstro da carra de sesmaria de doze légu:.s de re¡ra de Luis de Brito governador, que loi
destas parres" de 4 deabril de 1577 (,4. carca original era de 1573). Danntedtos Históricos, Ap.
cir., !ol. 14, p. 450. A doaçáo para o Âlho é comprovada peÌa seguinre passagem do relerido
documen¡o: 'corre¡¡. (as rerras do governador) para cima da rerlâ, que rem dada a Joáo de
Briro de,{lmeida, seu 6lho, aré o Rio de Sergipe (...)".
"Doaçáo das Terras de Brás Fragoso de Peroaçu" de 12 de julho de 1561 e "Doaçáo e Con-
lìrmaçáo das Terras de F¡ancisco Toscrno" de 20 de maio de tj64, ambos os documenros
pnblicados em Doczzz e tor His¡óîi.os, ap. dt., ,'ol. 14, p. 430 e vol. 13. p. 210.
A fo¡macáo da elite colonial I91
59 Signi6catito também Jerônimo de Albuquerque doou, além das rerras, uma salina em
é quc
ourra área. ler o já cirado "Traslado <io auro e mars diLìgências que se Âzc¡am soL¡¡e as datas de
rerras da capirania do Rio Grande, que se rinham dado" dc 21 de levereiro de 1614' pLrblicado
Httórico l¡t Ceari' tomoXXIII, 1909' p. 112.
n^ Ilezßt1! ¿o Ineitt',to
60 Vejam*e as rcciamaçóes sob.e ral laro no "Êstado das coisas no Rio Grande", documenro
de ¿u¡orra ¡áo iden¡iÊcada. esc¡ito no inicio do século XVII Biblio¡eca NacionaÌ de Lisboa,
Reservados, Coleçáo Pombalina, códice 647, fls. 106 - 107v
61 "Carta de Sesmaria das terras e águas de Marrim de Sá e Gonçalo Correia de Sá que estáo onde
sc chama a Tiguga (sic) ' de 9 de setembro de 1594, publicaàa no Tonbo d¿s c¿'rtas ¿le s¿snaria da
Rio àc Janeiro (1594-1595 e 1602-1605).Rio delaneiro: Arqul'o Nacional' 196' p- 38.
\97 Rodrigo Ricupero
pau-brasil, como se sabe, foi desde o ínício monopólio régio, porém sua exploraçáo que
durou por rodo período colonial oco¡¡eu sob¡e va¡iadas forrnas: a exploraçáo foi ar-
rendada a parricula¡es, libe¡ada aos moradores mediante pagamento de taxas ou ainda
impiementada direcamence pela administraçáo colonial6'].
A Coroa podia conceder licenças de exploraçáo, isenca de di¡eitos, para ¡ecom-
pensar servtços prestados ou auxilia¡ ce¡tos vassalos em novos empreendimentos.
Dua¡te Coelho, por exemplo, esc¡eveu ao ¡ei inte¡cedendo em favor de Vasco Fe¡-
nandes, feito¡ e almoxa¡ife de Pe¡na¡nbuco, que "até o presente rem gascado do seu e
nâo aproveitando nada por até o presente tudo se¡ t¡abalhos e gastos e náo proveito
algum", o donarário explicava que por a terra.'
ir agora para bem (...) querem os homens fazer fundamenro dela e faze¡em fazen-
das para reren alguma coisa de seu com que se susrenrem para o qLral é necessá¡io
a mercê e ajuda de Deus e de Vossa Aheza e por ele querer ora fazer um engenho
em uma ribeirae num pedaço de rerra que the dei pede a Vossa AÌteza porajudade
o fazer lhe faça mercê de the dar licença para poder mandar algum brasilo;.
62 Sobre o pau-brasii, a brbliografia ainda é muiro limimda, para uma visáo geral, veja-se o clás-
sico rrabalho de Be¡nardinoJosé de Sousa. O pau-brasil na hisairia nárional,2'e¿. Sâo P tlo:
Companhia Editora NacìonaÌ, 1978.
63 "Cana de Duane Coelho : el-rei" de 22 de março de 1548, pt:tlicada na História da Colo-
nizaçáo Pornguesa do Brasil, vo|- IlI, p.316 e em José Anronio GonsaÌves de Mello e Cleo-
nir Xavier de Àlbuquergoe. Cartas de Duarte Coelha a el-rei, Recife: Imprensa Universirária,
19Ç, p.93.
64 Cf. "taslado da Cana de Pero de Góes, capiráo-mor do Ma¡ e Cosra do Brasil" de 9 dejanei-
ro de 1549, que consm do "Livro primeiro do registro de provimenros", publicado nos Darz-
mentas Históricos, Op- cìr., r'o1. 35, p. 5; "Licença para Pero de Góes cirar livre de di¡eitos 2 mii
quintais de pau-brasil" de 9 de janeiro de 1i49, Ins¡ìruro His¡ó¡ico e Geográ6co Brasileiro,
Documen¡os manusc¡itos copiados no século XIX por ordem de D. Pedro II, Códice 1.2,15,
Regisrros, Tomo I, Conselho Lllc¡ama¡ino Porruguês; 'Alvará de D- Sebasciáo, nomeando
Cristóváo de Ba¡ros, capicáo e governador da Capirania e cidade de Sáo Sebasriáo do Rio de
Janeiro" de 3l de ourubro de 1571 e'Aivará Régio, da mesma dara, parâ que Crisróváo de
Barros, sirva rambém o cargo de provedor da fazendl' e 'Alvará Régìo concedendo a Crisró-
váo de Barros poder rirar da capitania do Rio deJaneiro, seiscenros qùrntais de Pau B¡asil" de
l7 de dezembro de 1571, rodos publicados porJoa<¡uim Veríssimo S errio, O Rlo dz Janeìro no
A fo¡macáo da eli¡e colonial I93
çéculo XVl, 2 vols. Lisboa: Comissáo Nacional das Comemo¡açócs ... , 196i, vo1. II, p. 86,
87 e 93.
65 "Licença para Frutuoso Barbosa trazer pau-brasil" de 30 de ourub¡o de 1i81, Arquivo Nâcio-
nal da To¡rc cio Tombo, Chancelaria de Filipe II, Doaçóes, livro 3, {- 34 v
Dìálogos da: Gr¿ndezøs /,o Brøsil (1618), l" edicáo integrai segundo o apógrafo de Leiden
por José Àntonio Gonsal.-es de Mello. Recife: lmprensa Unrve¡sirária, I962, p. 100 (À obra
é arcibuída a,{mb¡ósio Fe¡nandes Brandáo) e le¡náo Ca¡dim. Trat¿dos /'a Terrø e Gente do
Br¿s¿l (século XVI). Sâo laulo: Companhia Edito¡a Nacional, 1978, p. 188. Indicador do
aho valo¡ do âmbar é o faro de que Diogo Botelho renha se vangloriado de rer ¡ecusado uma
proposra de suborno feite por Ântônio Cardoso de Bar¡os, que lhe oÊrecia "muito âmbar".
Cf. "lns¡rumentos de Diogo BoreJho" de 6 de setemb¡o de 1603 e publicado na Reuista lo
Intlituta Hitói'ic7 ê Geagtífco Brasileira, rcmo 73, parre I, p. 58.
Pero de Magalháes Ganàavo, Históri¿ d.a ?rouíncla d¿ Saatø Cruz 8< Tt¿t¿do da Ttrn do
Br¿:il (c. 1570 e 1576), Sáo Pauio: Obelisco, 1964, p. El.
I94 Rodrigo RicuPero
do rei o "hábico, (porém) se lhe deu com ele pouca rença; por isso lhe dá Deus muiro âmba¡
por aquela praia, com que pode rnuito bem ma.ar k ltømbre"63.
lsso posto, náo é difícil de conclui¡ que mesmo uma liqueza, em tese de acesso
livre, podia ser apropriada em grande medida pelos PrinciPais membros do governo,
como Mem de Sá, Ga¡cia D'Ávila e Mar[im Soa¡es Mo¡eno A realidade é que a Co-
roa, ao delegar uma série de poderes à administraçáo colonial no que toca ao contalo
e às r¡ocas com os indígenas, acabou por favorecer seus membros, Particulârmenre os
funcionários superiores. Po¡ isso, os mesmos que acusaram Mem de Sá de monopolizar
o resgare de âmbar e de esc¡avos rambém o acusa¡am, e ao ouvidor geral Brás Fragoso,
de se apoderar das fazendas enviadas pela Coroa para Pagamenlo dos funcioná¡ios
Dado que boa parte dessas me¡cado¡ias se emP¡egava rra ¡roca com os índios, o aceso
privilegiado a tais produtos permitiria, com mais facilidade, obter trabalho, escravos
ou produtos fornecidos pelos índios amigosGt.
O conrrole sobre os suprimenros enviados pela Coroa era ourra das vanugens que
os membros da administraçáo colonial dispunham. Exemplo disso é o acesso às primei-
¡as cabecas de gado enviadas pela Coroa para Salvador' Ra¡as nos primeiros rempos,
e¡am fundamen¡ais para o desenvolvimento das a¡ividades produdvas' sendo, nas pala-
vras de Domingos de Abreu e B¡ito, muito necessá¡ias "para fábrica, usança e lavrança'
dos engenhos, e que fosse consumida grande quanddade de gado a cada anoio
O gado enviado pela Coroa para Salvador provavelmenre deveria ser vendido aos
morado¡es, reservando-se parte dele pa¡a as atividades da administraçáo' mormente
para as obras de construçáo da cidade. Sabe-se, contudo, que parte do gado também foi
utilizada para pagamen¡o dos oficiais régios. Neste gênero, consta' em 1550, os paga-
menros feiros para -A.n¡ônio de F¡ei¡as, c¡iado do provedor-mor; Diogo Muniz Barrero,
68 "Parece¡ do Conselho da Fazenda para que se dê de o¡denado a Mar¡im Soarcs Moreno qua-
r¡ocenros cruzados a r.ista das informaçóes de Gaspar de Sousa e D. Diogo de Meneses" de 4
de ianeiro de 1621, publicado na,Re itt,1¿o l7ßtitlûo Hisúrìco lo Ce¿r¡i Forraleza: lnsticuco
Ilisrórico ¡io Cea¡á, XIX, i90i, pane I, p. 86 e Frei Vicentc <1o Salva àor, Op cit , p 5IA.
69 Sobrc o assunco, veja-se o clássico de Àlexande¡ Marchant. Do Escúmbo "i Ercrtn)i¿áo 2' e¿.
Sáo Paulo: Companhia Edirora Nacional, 1980, p. 9 e seguinces.
Domingos de Âbreu e Brito, 'Sumário e descriçáo do Reino de Àngola e do descohrìmcn¡o
da ilha de Luanda" (c. 1591), publicado por ÀLlredo de AÌbuquergue Felßet Urn inq"¿rita à
L,i¿/1 ãdt inistrtzitu¿ e ecanôrnica de Angola t do Brasil. Coim6ra: Imprensa da Unive¡sid¿de,
1933, p. 59 e Diogo de Campos Moreno, Lino qae dâ raz,io do E¡¿do do Brzril. (1612).
Recife: UFPE, 1955, p. 112. Ver ainda André Joáo Anroniì, Culøra e oprlêttcia da Brasil pot
ninas, imroduçáo e comencário crírico por Àndrée Mansuy Diniz Silva. Lisboa:
suas drogas e
Comissáo \-åcional para as Comemoraçóes dos Dcscobnmentos Porruguescs, 2001, P. 117
A formaçáo da elite colonial 195
7l "Títu1o do registro dos mandados de pagamentos e dc ourras despesas" iniciado Pelo Prineiro
provedor-mor em 1549 e publicado na colcçáo Doa,.¡nentos Históricos, O¿. rlr., voìs. 13 e 14, a
citaçáo enconrrassc, respccri.-amente, no r'olume I4, mandacio de número 1263 e lolume 13,
nimetos 426 e 427.
196 Rodrigo Ricupero
capirania"Tt. Não é difícil concluir o poder que o controle desse engenho real oferecia,
nesse momenco, ao govertado¡ ou a quem o a¡¡endasse.
As vantagens e benefícios que o concrole sobre o patrimônio régio permitia aos
principais funcioná¡ios coloniais náo se resrringiam à capitania da Bahia, exis¡indo
tanro nas demais capiranias régias como nas dos donatá¡ios, e eram manejados espe-
cialmente pelos capitáes-morese provedo¡es da Fazenda
populaçáo da cidade diminuísse ainda mais, completa o autor anônimo, 'þorque o câPiráo
aplica a si udo o que tem nome dþl-¡ei sem dar ajuda nenhuma aos mo¡adores"76.
Qual o fundamenro de tais denúncias? É sabido que muiras das informaçoes con-
ridas em ca¡ras e, inciusive, nas devassas ofìciais e¡am forjadas segundo os inte¡esses
dos autores, c¡iando menci¡as ou dis¡orcendo aconlecimetros reais, para implicarem
seus desaferos, visando, mui¡as vezes, a tira¡ um ¡ival do caminho ou apoderar-se para
si or para algum aliado do cargo ocupado pelo acusadoTT. Nesse sentido, é necessá-
rio sempre muira cautela comas informaçóes colhidas nesse ripo de documento, mas
essas, independentemente da ver¿cidade, podem ser enrendidas como possibilidades
77 Bom exemplo desse ripo de srruaçáo loi a prisáo de ìvfarri:¡ Carvalho pelo ouvidor geral
Marrim Leiráo, impedindo, assim, que o réu âssumisse o cargo de provedor mor' Àcusa-
do de praticar o 'pecado nefando", Ma¡tim Ca¡r,alho foi enviado ao Reino; posterLormenrc
descobriu-se que lora o próprio ouvidor geral que induziu alguns jovens a levanta¡em falso
resremunho. CL "Consulra do Desembargo do Paço, sobre r'ários moços que vieràm do B¡3sil,
oode ¡es¡emunha¡am conrra N'far¡im Carvalho, cio pecado nefando" de ií de março de 1590
Biblìoreca da Ajuda, códice 44-XlÉ04, "ConsuÌcas do Desembargo do Paço", fl. 51. 74 v.
Ou ainda a intòrmaçáo dacia pelo vice-rei de Ponugal, D. Pedro de Castilho ao re, de que o
bìspo do Brasil, D. Consranrino Barradas, subornava testemunhas para jurarem corrra Brás
de ÀLmeida que servrra de provedor da Fazenda dos Defunros. Ci "Carta do bispo D. Pedro
de Casrilho a el'rei" de I0 ce seremb¡o de 1605. Biblioreca da Aluda, códice 5I-V'84, "Cópia
de Ca¡ras do vice-¡ei a Sua Majesrade", Il. 26.
A formaçáo da elire colonial 19?
concretas, afinal uma acusaçáo falsa muito extravagante dificilmente daria os f¡utos
esperados, podendo inclusive gerar punicóes para os autores-
No caso específrco de Jerônimo de Albuque¡que, conrudo, as acusacóes conrre seu
governo no Rio Grande sáo muito parecidas com outras feiras, alguns anos depois, con-
tra seu governo no Ma¡anhão, recém-conquistado. Nesse caso, o autor dos "capítulos"
contra Jerônimo de Albuquerque e seus Êlhos, ,{.nrônio e Marias de .Albuquerque, foi o
capitão Bento Maciel Parente- Este foi preso e remerido para Pernambuco, onde se en-
contrava o governador-geral do Estado do Brasil, porAntônio deA.lbuquerque, que entåo
Maranháo no lugar do pai, falecidoTs.
era capitáo-mor do
Bento Maciel Parente, entre outres múitas acusaçóes, denunciava ter o capitäo-
mo¡ do Ma¡anháo utilizado os oficiais da construçáo do forte para suas obras, nâo lhes
pagando ou pagando com índios, que "valiam muito menos"; que mandou buscar sal
numa salina com a lancha de Sua Majestade e vendia para os soldados e, ainda, que dos
escravos tapuias comprados pela Fazenda ReaÌ, para fazerem mentimentos pam os sol-
dados, tomou "para si boa parte" e vendeu a outra por preço elevado, desconside¡ando
a provisáo do governador de que os diros escmvos se ¡epattissem pelos oficiais e pessoas
de me¡ecimenro da conquistatt.
Ben¡o Maciel Pa¡ente concluía seus "capítulos", apresentando ettensa lis¡a de
testemunhas que pocieriam ser inquiridas, bem como, algo comum nesse tipo de do-
cumenro, decla¡ando que dava "fiança" de 2 mil c¡uzados em Pernambuco, "onde
morava", como garantia da ve¡acidade das acusaçóes. Embo¡a o acusador, pelas cir-
crlnstâncias e pelo que se conhece de sua trajetória, seja suspeito, as acusaçóes aqui
destacadas -
sìmila¡es às feita ainda anres da conquista do Ma¡anhão com relaçáo ao
governo do Rio Grande podem indicar práticas comuns que oco¡¡iam em r'árias das
parres do Brasil-
As vanragens ou benefícios que os membros destacados da administraçåo co-
lonial podiam usufruir, apresentadas acima, embora náo Possam, aos olhos de hoje,
parecer signifrcativas, tos momentos iniciais da ocupaçáo das terras podiam significar
imporranre auxílio na montagem de empreendimentos que exigiam maìores recursos'
como no caso dos engenhos de açúcar montados por Jerônimo de Albuquerque nas
capitanias do Rio Grande e da Paraíba.
Sobrc o episódio, r'er Bernardo Pereira Ber¡edo. Ànnae: Hi:torico: ¿lo Est¿11'o Maru:ûháo (1749)
'lo
Iquiros (Peru): Abya Yala, i988, p. 196 c seguinres (Ediçáo iâc-similar àz ediçâo príncep:)
"Capirulos que o câpiráo Bemo ìr'faciel Parente apresenta conira o capìráo Jcrônimo de,{l-
buquerque e scus 1ì1hos e saber,A.n¡ónro de Albuquerque c Marias de Aìbuquerque" cie 12 de
no.'embro de 1618. pubÌìcado anexo à ob¡a cie Manucl Seve rim àe Faria, História Porx''guua
e de ottras d-o ocidcnt¿ y'e:l¡ a ¿na dt 1610 atë a de 1640 clafelíz aclanaçaa ìr el-re;
Vrauíncias
D. Jo,io IV Fortaleza:-Iip. Srudan, 1903, p. It2.
198 Rodrigo RicLrpero
incluindo nesse valo¡ rodos os out¡os "dízimos como sáo man¡imentos, gados e rodas
as outras mais miunças"sr-
Em seguida, Domingos de Ab¡eu e B¡iro mosc¡ava como, Por conivência dos
ofìciais da Fazenda, os donos de engenhos sonegavam "os direiros dos açucares que das
rais capiranias a este Reino vem que per[encem as Alfândegas de Vossa Majestade",
aproveitando-se indefrnidamenre das libe¡dades que os Reis lhes concederam de náo
pagarem po¡ certo ¡empo os di¡eiros dos açúcares, em respeito ao enorme gasro que
faziam na construçáo ou reediñcaçâo dos engenhossr- Para o licenciado, os senho¡es de
engenho "se apegaram a dira mercê que sempre lhe corre o tempo do privilégio no que
náo ñcam sem culpa os oficiais da fazenda de Vossa Ma.jestade"ti.
Os donos dos engenhos e lavradores, aproveirando-se rambém da menor ca¡-
ga de direiros para remessa do próprio açúcar de que gozavam com relacáo aos
mercadores, vendiam o açúcar para estes "em segredo, fazendo concetto com os
tais me¡cado¡es que lhe compram os ditos açucares, e lhos dáo fo¡¡os dos direi¡os
ampliando o prazo de isençáo era ráo comum que loi renrada inclusirr pelo Conde de Linha
res, vedor da Fazenda Real, no engenho que possuia no Recôncavo de Salvador. Cf. 'Arrenda-
mencos do Engcnho de Sergipe". .{rquirrc \acional daTo¡re do Tombo, C:rrório dosJesuíras,
maco ti, documenro 3.
Domingos de,A.breu e Brìro, "Sumário e descricáo do Reìno deÂngola e do descobrimenco d¡
iiha de Luanda" (c. 1591), publicado porÀlfredo de.A.lbuquerque Felner, O¿. rrr., p. 60.
A formaçáo da eliie colonial t99
pelo preço ser maior ordenando que os me¡cado¡es que os tais acúceres comp¡am
os despâchem em nome dos díros donos dos engenhos" pagando menos tributos,
em prejuízo da Fazenda Realsa.
Com reÌat'o ao trato do pau-brasil, diz Domingos de Abreu e Brito "achei e vi se¡
cosrume geral em a dita capitania e partes dela tirarem todos os oficiais da faze¡da de
Vossa Majesrade todo o pau (pau-brasil) que por suas indústrias podem fazendo vendas
dele as u¡cas" escrangeiras e portuguesas e, em sua opiniáo, a causa de tanta "devassidâo
em um conrreto táo vedado" era que os ofrciais daJusciça e Fazenda "sáo aqueles que por
suas próprias pessoas devassam o dito cont¡ato que Vossa Majestade tinha táo vedado,
mas como o costume é ent¡e eles ¡áo velho náo deve de cus¡ar pouco a Vossa Majescade
mandar que se guarde como a vossa fazenda convém"3t.
O licenciado indicava, ainda, ao rei que "se devia de atalhar que nenhum prove-
do¡ quer seja mor, que¡ pequeno, ou esctiváo de vossa fazenda, ou minisrro dela, que
náo tomem escravos com poder de seus ofícios aos passageiros armadores", tomando-as
pelos preços que querem e vendendo-as em seguida por dinheíio, açúcar ou letras por
mais do "dobro do que lhe custam com as quais sem justiças enricam em breve tempo
e as pa¡tes pouco poderosas perecem". Apomava também outros procedimentos iJíciros
utilizados peJos oficiais de todos os ofícios e pelos vereadores para obterem escravos por
menores preçosr graças ao poder que desf¡uravam e motivados pelo faro de que tinham
"todos engenhos de açucares"36.
Domingos de Abreu e B¡ito, além disso, cri¡icava o sistema adorado para cobran-
ça dos direitos do açúcar carregados em Pe¡nambuco, o qual permitia que os lespon-
sáveis por tais carregamen¡os os desviassem dos portos Portugueses, escaPando assim
dos pagamentos dos tributos cobrados nas alfândegas do Reino, pois as fianças, dadas
como garanria de que tais di¡eiros se¡iam pagos em Porcugaì, ra¡amenre eram cob¡adas
"donde nascem enricare¡n os oficiais de vossa fazenda com náo pedirem conta aos fìa-
s-.
do¡cs e ¿ lazend¿ real contumir-se
O licenciado aconselhava ao rei "de manda¡ devassar das Peitas que os mercadores
riram entre si, por cabeça, para taparem os olhos ao provedor-mor e Pequeno, e ao olrvido¡
geral", bem como dere¡ia manda¡ os almoxarifes que "as pagas que fizerem aos soldados,
assim na cidade da Paraíba como nas parres donde houver presídios" sejam feiras em di-
nheiro e náo em fazendas, "por quanro há hoje muita cópia de dinhei¡o amoedado em as
tais capitanias por descer de Tircumá", pois assim evitaria as grandes rantagens auferidas
84 Ibiden, p. 60.
85 Ibiden, p.67 e 68.
Ibiy',cm, p.72.
87 Ibiàem, p.74.Yer embém sobre esre assunto o "Livro das saidas dos navios e urcas" de 1605'
pubiicado, com ìnrroduçáo de José Äntônio Gonsalles de Mella, na Reuísta do Ins¡ìt¡tto At'
qurolágno, Histórico a Gngnifn Ponanbucano, vol. 58, p' 2l
200 Rodrigo Ricupero
pelos oficiais em deuimen¡o dos soldados, enviando mercado¡ias que náo lhes interessavàm
ou ainda avaliadas acima do valor rea1, o que permiriria que os próprios oficiais comprassem
os produros peia "merade dos preços em que lhe fo¡am dados em pagamenros"ss.
As acusaçóes, concudo, náo atingiam apenas os funcioná¡ios infe¡io¡es da ad-
minisrraçáo, ranto que, pouco depois do início da década de 1630, Lourenço de Brito
Co¡¡eiase enviou ao Morarca uma longa carra dedicada unicameûre às "vexaçóes e
opressóes públicas e roubos que Diogo Luís de Olivei¡a, (entáo) governador do Brasil
comete naquele Esrado"to.
A lista é imensa, pe¡fazendo 40 itens, tais como favo¡ece¡ as regateiras e vendedo-
res que sáo de sua obrigação e que opeitam; fazer demasiadas condenaçóes e ficar com
muiros mil c¡uzados para si; dar os ofícios da república a seus c¡iados, cont¡a provisáo
de Sua Majestade; vender os ofícios para pagarem a ele ou a seu 6lho e a pessoas de sua
obrigaçáo; fazer vexaçóes aos mesr¡es do navios, para benefício dele e de certas pessoas
nos car¡€gamerros; mandar nos navios seu açúcar e madeira sem pagar ou pagando
menos do que deve; ar¡avessa¡ as me¡cadorias que vêm nos navios; náo pagar ou pagar
po¡ meros coisas que pega dos donos, ainda que para revender e também utiliza¡ os
índios trazidos da Pa¡aíba por Joáo Barbosa de Melo para lhe faze¡em cousel¡aset e
jacaranda que embarcou depois para o Reiuo.
¡efe¡em a acontecimentos que de fato ocorreram, como a ida à Paraíba de Joáo Barbosa de
Melo para trazer índios e a enrrega da pane do governador, relativa ao quinto das presas dos
índios cativos por Afonso Rodrigues, para Diogo Lopes Ulhoa. Ccntudo, mesmo nesses
casos náopodemos te¡ maio¡es certezas. Ou!¡as acusaçóes Pa¡ecem no mínimo discutíveis,
como a que vindo Diogo Luis de Oliveira, de Pe¡na¡nbuco para a Bahia, poderia este ter
capturado um pirata, o que náo fez dizendo, segundo Brito Correia, "que náo vinha aBalia
busca¡ balas e sim cruzados". Já a denúncia de'tomo festejou a tomada de Pernambuco,
obrigando que se lhe dessem jantares e banquetes" náo Parece que deva ser levada a sério.
Po¡ ouuo lado, Lou¡enço de Brito Correia náo foi o único a ¡eclamar do governador
Diogo Luis de Olivei¡a. F¡ancisco Soares de Abreu, provedor-mor no início do governo de
Diogo Luís de Oliveira, fez iosistentes pedidos para que o rei lhe dispensasse do ofício, pelos
"achaques que padece" e, sob¡etudo, pelas "moléstias e vexaçóes" que lhe fazia o governa-
dor-geral Diogo Luís de Oliveira, a ql¡em acusava de náo seguir os regimenros e esrilos,
mandando "despende¡ absolutamen¡e como lhe parece", pagando as partes por mandados
ou sem eles. Queixava-se ainda que o tesoureiro geral e o almoxarife sáo favorecidos pelo
governado¡ e náo cumpriam suas ordens, relarando em seguida uma série de problemastr'
Reclamaçóes que seriam reforçadas por Diogo de Sáo Miguel Garcês, provedor
dos Defuntos e desembargador da Reiaçáo da Bahia, suspenso pelo governador "por
ser seu inimigo, (por) respeiro de algumas diligências que ele suplicanre fez por especial
mandado de Vossa Majestade", acusando ainda Diogo Luís de Olivei¡a de náo lhe da¡
Iicença para se emba¡ca. para o Reino, nem mandar pagar seu ordenado, e' depois de
cer conseguido a licença para se embarcar, o governador te¡ o¡denado que fossem ao
92 "Car¡a de Francisco Soa¡es de Âbreu a Sua Maiestade pedindo para o dispensar de exercer
o seu oficio de provedor-mor da fazenda" de 20 de novembro de 1629 Bibliotecâ dâ 'Ajuda,
códrce 49-X-10, Enviarura em França de Cristóváo Soares de Abreu, 5" Tomo' fl 144'
202 Rodrigo Ricupero
ravio roma¡em seu faro "com intento de lhe tomar papéis e devassas que ele suplicanre
havia tirado por mandado de Vossa Ma.jestade"ej.
Tal quantidade de queiras e reclamaçóes, que ainda poderiam ser acrescidas com
as da Câmara de Saivado¡'r, contribuem para que muiras das denúncias feitas por
Lourenço de Brito Correia possam se¡ conside¡adas ve¡dadei¡as.
Acusaçóes similares rambém já rinham aparecido na devassa procedida em
Porcugal por Belchio¡ do Ama¡a1 com relaçáo ao gove¡no de Diogo Bocelho, gover-
nador-geral enrre 1602 e 1607". As queixas começar am ¿ntes mesmo de o governa-
dor chegar ao Brasil, poìs era acusado de náo re¡ dado os mantimentos devidos aos
soldados na viagem, o que Ìhe reria permirido vender as sobras em Pernambuco como
suas, inclusive para duas caravelas que foram buscar a gente da nau de Ancônio de
Melo em Fe¡nando de Norooha, pagas pelo aimoxa¡ife de Pe¡nambuco, esre por "o
est¡anha¡" reria perdido o ofício, enrregue pelo go,.ernador a "um pajem seu".
Diogo Bocelho era acusado de mandar que os tabernei¡os do Recife the dessem
300 cruzados. Além disso, havendo no Recife mui¡as ba¡cas com que seus donos
ganhavam a vida, o governador te¡ia o¡denado "que um só homem as rivesse e que
este parrisse com ele o ganho"- Havia ainda a denúncia de que comprava os vinhos
que do Reino iam pelo preço que queria e de mandá-los para as tavernas, obrigando
os taberneiros depois a lhe pagarem 20 mil réis por cada pipa, com grande queixume
dos donos dos vinhos. As acusaçóes prosseguem, teria feito "um pajem seu resoureiro
da imposiçáo que se pagava para o forte e deu lhe o¡denado que segundo se dizia
recebia para si".
Ainda re¡ia feito estanco da palha que, em Pe¡nambuco, comp¡a-se para os
navios e de que "a¡rendou isro de meias a um homem". Nos leilóes das fazendas dos
defuntos, o gouernador comprava escravos e as mais coisas por menos do que valiam.
Mandou ¡oma¡ ainda aos donos, papagaios, bugios etc., alguns sem pagat para mar-
da¡ à Co¡ce e mandoú rambérn romar muiros negros dos mo¡ado¡es por menos do
que valiam, assim como dos navios de Angola mardava roma¡ esc¡a,ros escolhidos
pelo preço que queria.
Com relaçáo àjustica, era acusado de mandar que o our.ido¡ geral náo despa-
chasse alguns feitos de importância, rrazendo-os para si, "dizia-se que por tirar deles
proveito". Algumas pessoas que linham crimes antigos mandor.r notificar que se livras-
sem e alguns lhe davam presentes. Tirou o ofícjo de carcerei¡o de Francisco Gonçalt'es
e o deu a ûm seu criado. Tomou o¡denado de alguns ofícios como foi o de tesou¡eiro
da cruzada e ainda consentiu ao piloto da barra levar mais de seu regimento e "se dizia
que levava a metade".
A conclusão do responsár'el da der.assa, Belchio¡ do -Ama¡al, era de "que se de-
viam mandar out¡o governador, porque Diogo Botelho estava com pouca autoridade,
e pouco amado da gente e poderia ser que fosse mai obedecido, se se oferecesse ocasiáo
de inimigos".
Diogo Botelho, por sua vez, sabedo¡ da devassa em curso, organizou sua defe-
sa, primeiro alegando ao rei qù.e as testemuohas ouvidas e¡am "partes" e, portanro,
pedia que "para se apurar a ve¡dade se tìrem out¡as testemunhas", particr I la rmenre as
pessoas que retornâvam do B¡asil para Portugale6- E, em segundo lugar, preparou um
documento em sua defesa, redigido em Pernambuco, incluindo várias ¡estemunhas fa-
voráveis ao seu procedimen¡o. Tal documen¡o contém 42 Ìtens, ¡ebatendo as acusaçóes
apresenradas por Belchior do Amaral, além de concluir afi¡mando "que tinha êmulos
nesra capirania (Pe¡nambuco), com ódio e paixáo, sem ele dar causa para lhos rerem,
disseram e escreve¡am, induzi¡am, far'orece¡am, de¡am do seu e embarcaram para o
Reino algumas pessoas para o irem caluniar e desac¡edita¡ falsa e indevidamenre"'--
Recoloca-se a questáo, acreditar nas acusacóes ou na defesa do governador-
geral? Diogo Botelho taivez náo fosse culpado de todas as acusaçóes, mas inegavel-
mence e¡a mais um dos que vinham "fazer seu proveito"- Provavelmente, pretendia
também pagar as dívidas que tinha no Reinoes, no que deve ter sido parciaimente
bem-sucedido, pois se tornou proprietárìo de um engenho em Pernambuco, embo-
¡a náo tenha conseguido comp¡ar a capitania de Ilhéus como embicio¡¿r-a, nem'
Cl. "Carta de Filipc II de Portugal" de 30 dc agosro de 1603. ,A.rchivo Gene¡al de 5im: nos'
Sec. Provinciales, códice 1437 - Ln'ro de registro das cartas que Sua Maiesrade mar'ìr à Por
tugal para os governadores vice-reis c oritros personagens dc Porrugal àe 1603'1604, ß 24 '
103 Vejam-se os comentários, sobre o rema, de Charles R- Boxer' O Inpórío Colonial Portugués
(rraduçáo). Lisboa: ediçóes 70, 1981, p. 307 e seguintes e ainda George Davison Vinius l
lenda negra la india portupesa (rra.ðucão). L:Lsboa: Antigona, 1994
7 " A mão-de-obra índigena
O Brasil niio se podc sustetzt¿r nem h¿-uer nelt comércio scm o geittio da terra, dssim Par/,' o
"Resoìuçáo que o bispo e o ouridor geral do Brasil toma¡am sobre os iniustos carivei¡os dos
indios do BrasiÌ e do rcmédìo para aumcnro da conversáo e da conservaçáo daquele Estado",
documenro da década de 1570. publicado na Revista do Instiruto Hjsró¡ico e GeográÊco
Brasileìro, rcrr,o LYII, parre I, p. 92.
"Os mais dos morado¡es que por esras cåprtanias esráo espalhados, ou quase rodos' tem
suas ter¡as de sesmaria dadas e reparridas pclos câPitáes e go'ernadores da terra e a primei-
ra coÌsa que prctcndcm âdquirir sáo escravos'', Pero de MagaLháes Gandaro, Históia,1¿
Pntí¡tcí¡ de Santa Cru,z t¡ fratø.do ¿la T¿rrd ¿lo Brasíl (1576 e c. 1570), Sáo Paulo: ObeLjs-
co,1964, p. 34.
7C7
2.08 Rodrigo Ricupero
geral, que, como vimos, era, em especial, uma ¡esposte às dificuldades geradas pela
¡esistência indígena. Foi nesse momento que a Coroa, com base na experiência dos
primeiros anos de ocupação das te¡¡as americanas, começou a elaborar uma política
pere a quesráo indígena, porém ainda tateante no que toca à escravidáo. A conve¡sáo
ainda era o proclamado objetivo final, daí o envio de;-esuítas juntamente com Tomé de
Sousa, que deveria impor aos índios a autoridade da Co¡oa e a da lgreja.
A diret¡iz básica delineada no regimento do primeiro governador e¡a dividi¡ os
Sobre o assunto, .'er Georg Thomas, Polirícã ín¿ígenn dos porngueses no Brasíl (taduçâo)
Sáo Paulo: Loi.ola, i982, John Hemming, Red Gold, the conquest of the b¡az;lian inài¿r'
Cambrigde: Han'ard L,niversity Press, 1978, Manuela Ca¡nei rc ãz Cunha (or9.:), Hítîór¡a ¿os
ínàio: no Braslt,2'ed.Sáo Paulo: Companhia das Let¡as, 1998 e Sruart Schwanz, "T¡abalho
indígena e grande lavoura', publicado na reuniáo de artigos do autor. i¡tnuìaàa D¿ Amétíca
portugaesa ao Brasil.Lisboa: Difel, 2003.
"Doaçáo da Capiunia de Pernambuco" de i0 de março de 1534, pubiicada em Daaçóes e
forais das Capitanias da Braril (1534-1536), APreseÂtaçáo, transcriçáo e notas de Maria José
Choráo. Lisboa: ,Arquivo Nacional da Torre do Tombo, 1999, p. 11.
Bea¡riz Pe¡rone-Moisés chama arencáo para o faro que "à dilerença irredurível enrre'índios
amigos'e'genrio bravo' corresponde um corte na legìslaçáo e poiíticâ indigenis[es quc, enca_
radas sob esse prìsma, já náo aParecem como uma linha to¡tuosa crivada dc contradiçóes, e
sim duas, com oscìlaçóes menos fundamentais", dessa manei¡a reríamos duas linhas políticas'
uma para cada grupo, que se mantêm ao loogo do processo de colonizaçáo, mas que nas
"grandes ìeis de liberdade" (as de 1609, 1680 e 1755) , sob¡ePóem-se, anulando a distinção
entre aliados e inimigos. Bearriz Per¡one-Moisés, "Índios livres e índios escravos, os PrincrPios
210 Rodrigo Ricupero
da legislacáo indigenisra do período colonial" in: Manuela Carneiro da Cunha (Org.). ,4zirã-
ria do: Índios no Brasi/,2' ed. Sáo Paulo: Companhia das Lerras, 199S, p. I17-
Nes¡e rrabalho, o rermo "aldeamen¡o" deve ser enrendrdo no sentìdo de povoaçáo de indios,
criada ou dirigida peÌos porrugueses, eÌn conrraposiçáo a "aldeia", rese¡vada às po\o¿ções
indígenas autônomas. Deve+e levar em conra, porém, que nos documenros da época ral dis-
rinçáo náo exisriå.
"Regimenro de Tomé dc Sousa" de 17 de dezemb¡o de 1548, publ;cado por Ca¡los Malheiro
Dias (Dir-), Hi¡¡ória dd Colottizacáo Potuguesa do Brasí1,3 ¡o|s. Porro: LirograÊ: Nacional,
1922, vol. lll, p. 346 (Cirada daqui em dianre a penãs como Hìstória dt'. Colodizaçáo Pornrgue-
Sobre o assunro, ver John Manuel \4anteirct, Negros da tena. Sâo Paa\o: Companhìa das
Letras, 1994, p. 129 e seguinrcs e Bearriz Perrone-Moìsés, Op. cir., p.119.
Para S¡uar¡ Schrve.rrz, os "porrugueses renraram uma variedade de sisrema laborais", cujor cris
ripos prìncìp s serixm a "cscravatura compulsórìa" empregada pelos colonos, a "criaçáo de um
'campesinâro' in<1ígena por via de processos de acuhuraçáo e desrribalizacáo" implemencado
pelos Iesuíras e depois por ourras ordens religiosas e o úÌrimo, aplicado por leigos e eclesi.rsricos,
que 'consisria na lenta inregraçáo dos índios num mercado capiralisra auro,regulado e na sur
c¡ansfo¡macáo em r¡abâLhadores in¿ivìduais remune¡adoi'. Srua¡r Sch',varq Ap. crt., p. ?7.
Cl o clássico rrabalho de Alexander Marcl,at. Do Esunba ì¿ Esclauí¿áo (rraducáo). 2. cd.
Sáo Paulo: Companhia Edìro¡a Nacional, 1980.
A formacáo da elite colonial 111
mertal ros primei¡os rempos da colônia, como se pode perceber pelo papel dos índios
amigos ra consrrucáo da cidade de Salvador, quando fo¡nece¡am alimentos, marerial
de construçáo e t¡abalhoLí.
A ampliaçáo da presença porruguesa, com a crescen¡e necessidade de t¡abalho,
náo apenas circunstancial, mas cotidiana, fez que os índios passassem a exìgir pro-
du¡os mais caros, inclusive a¡masr ou que simplesmente se recusassem a Servir ¿os
recém-chegados, o que acabou inviabilizando tal arranjo. As fo¡mas voluntá¡ias fo¡am
subsrituídas cada vez mais por formas compulsórias de trabalho; conrudo, mesmo que
marginalmenre, a rroca de produtos po¡ t¡abalho continuaria sendo utilizada, particu-
larmente com os índios amigos que conseguiram manter aÌgum tiPo de autonomie ou
com os que fica¡am sob rutela dos jesuítas"'.
O esgotamento das possibilidades da r¡oca de trabalho por merc¿dorias va¡iou
de capirania para capirania, de acordo com o ritmo do desenvolvimento das a¡ividades
produrivas, notadamen¡e da agromanufatura acucarei¡a, porém podemos considerar
que a partir da década de 1560 tal mecanismo passou a ocuPâr um papel lìmitado nas
á¡eas cent¡ais da colônia.
Anres mesmo que ta1 fato se verificasse, a escravidáo já era praricada. Duarte
Coelho, na década de 1540, clamava, em suas cartas ao rei. conrra os portugueses que
na ânsia de cativar índios acabavam por rumultuar ¡oda a Costa. Estes utilizavam os
mais va¡iados expedienres, que iam do engano à violência, atacando índìos amigos e
inimigos indis¡intarnente, fugindo depois para outras áreas com os ca¡ivosrt Contri-
buíam assim para aumenta¡ o clima de desgoverno entáo vigente nas partes do B¡asil,
provocando o recrudescimento das guerras com os índios, que acabavam Por 5e vingar,
muicas vezes, atacando os estabelecimen¡os porrugueses mais próximosLs. Esses os ata-
15 .Tí¡ulo do regisiro dos mandados de pagamenros e dc ourras dcspcsas" iniciado pelo pri-
meiro proÌcdor-mor e pubiicado nos "oiumes 13 c 14 da série D¿r 7't1311tos HiJt¡ti'or' OP
ti1., pa.rsin-
16 Duarte CoeLho descreve bcm, nurna c¿rta ¿o r€i' csse Pro.essonuma passagem citada an-
¡eriormcnrc. "Ca¡ra de Duarre Coclho a ei-reì" de 20 de dezemb¡o de 1546. pubLrcada em
H;'¡ótia y'n Calonizaçáo Portugtrcsa do Brasil' .rcl.III' p 3i4 ou cm José Àn¡onro Gonsal'es
dc MeÌlo e Cieonir Xavicr dc Albuquerque. Cotas dc Du¿rte Coelho ¿ ¿lr¡rl ReciÍè: ImPrensa
Unir.e¡sitá¡ta, 1967. p. 15.
i7 O padre Leonardo Nunes, jcsuita, conta que "nesra tcrra enrre ouxos males h"
cnstáos r¡uiro arraigado e mau de arrancar por suas cobiças c rnteresses o qual era ter mutros
indios injustamenre carivos Porque os i2m saltcar a our¡as rer.as e com manhas c enganos os
ca¡ivavam". 'Carra do Pad¡e Leonardo Nunes" de 1550' pubJicada por Sera6m Leice (SJ)'
Carta: /,o: primciro: jtsúta: da Br¿:i\.3 ¡o1s. Sáo Paulo: Comissáo do IV cen¡ená¡ìo <la cidade
de S:o Paulo, 1954, vol. I, p.200.
Cl a crtada "Ca¡ta dc Duane Coelho a eL-¡ei dc 20 de dezembro cie 1546' publicada em
Hlstóri,z ¿a Colonizaçáo Portuguesa da Bøsil. vol.III, p 314 e rambém pubiicada em José
T?. Rodrigo Ricupero
ques ou "saltos", como enráo e¡am chamados, foram reprimidos peio Governo-geral
e pelos jesuíras, conforme o relaco de Gandavo. No caso, Tomé de Sousa seguiu as
insrruçóes recebidas em seu ¡egimetro, a Coroa, estava mais preocuPada em evirar as
conseqùências dos ataques do que coibir o câtivei¡o em si.
Nos anos seguintes à criaçáo do Governo-geral, os portugueses ¡etomaram a
ofensiva em vá¡ias das parces do Brasil, procu¡ando garentir o conrrole das áreas próxi-
mas aos núcieos primirivos e, conseqùenremente, aP¡oveitá-las ecotomicamente, com
a montagem de fazendas e engenhos. .A resistência indígena à iniciativa, provocou uma
série de guerras, que duraram praticamente até o Ênal do século XVI e início do XVII,
variando de região pa.ra. regiâo.
Em meados do século XVl, os portugùeses e os índios aliados de¡¡ot¿r¿m a ¡esis-
cência, garantindo o conrrole do re¡¡iró¡io litorâneo das capiranias de Pernambuco, Bahia,
Rio de Janeiro e Sáo Vicente'e e impondo pesadas perdas humanas aos vencidos, além do
cativeiro em larga escala. Com isso, o problema de máo'de-obra foi resolvido momenane-
amenre e a esc¡avidáo passou a ser a forma preferencial de exploraçáo da máo-de-obra.
Neste momenro, as guerras de conquisca e as expediçóes punirívas contra os índios
que resisdarn à ocupaçáo po¡ruguesâ, somadas ao "resgate" dos prisioneiros capturados pe-
los índios amigos em suas guefias rornaram-se as princþais fontes de obrençáo de trabalha-
do¡es. Consolidou-se também a polírica de divisáo dos índios. Para os inimþs, náo havia
dúvidas, a ¡esistência ao processo de ocupaçáo do rer¡i¡ório e de conve¡sáo ao cris¡ianis-
mo seria punida violentamente: individualmente, com os chefes indios colocados na boca
de c¿¡rhóes como exemplo, ou coletivamenre, com a mofte e o cariveilo dqs prisioneìros.
Exemplo disso foi a campanha contra os indios da regiáo do rio Paraguaçu no Recôncavo,
no final da década de 1550, cuja violência foi regisuada com aprovaçáo pelos jesuítas. O
padre Manuel da Nóbrega nos conta como esses índios fo¡am aracados por crês vezes pelos
poraugueses e seus aliados, que "malaram muitos e caliyaram grande soma, queirnando-
lhes suas casas e tomando-lhes seus ba¡cos, pelo qual pediram pal'20; o padre José de An-
chieta, por sua vez, registra os acoruecimenros no poema em que homenageou Mem de Sá,
glorificaldo a virória dos "esquadróes de Cristo":
Ànrônio Gonsalves de Mello e Cleoni¡ Xavier de Albuquerque, Op. cir., p. 87. Vel rarrúém o
capirulo 3 deste trabalho.
por outro lado, que nesse período, a resisrência dos aimorés provocou e quase
Regìsrre-se,
complera desrruiçáo das capitanias de Porro Seguro e Ilhéus.
'Carra do padre Manuel da Nóbrega ao padre Miguel de Torres e pad¡es e irmãos de Porru-
ga1" de 5 de julho de 1559, pubiicada por Serafim Leite (SJ). Cartas tl.os przmeiros jesuítas da
Brusi/, Op. cit-,vol.Ill, p- 57.
A formacáo da elite colonial 7r3
Quanto aos ind ios que se ma ntiveram em p¿7 corn 05 Por I ugueses. o rei orienr¿vr
Tomé de Sousa, "os favo¡eceis de maneim que sendo vos necessário sua a.juda a tenhais
ce¡ta"rr. A direrriz, aplicada perticula¡menre aos índios que aceitaram se conveffer
ao c¡ìstianismo e a colabo¡a¡ com a colonizaçáo po¡luguesa, surtia efeìro, Pois como
explicave o padre,Anrônio Pires, "grande é cá a inveja que estes gentios tem a estes
novamente convertidos, Porque vem quão favorecidos sáo do governador e de outras
principais pessoas"2i.
O favo¡ecimento dos índios amigos ganharia contornos mais cla¡os du¡ante o
governo de Mem de Sá, pois, ao consolidar o domínio português sobre o Recôncavo, o
governador pôde implemetta¡ o projeto já apontado no ¡egimenro de Tomé de Sousa
de constituição de grandes aldeamen¡os, que tinham como finalidade, por um lado,
facilkar a. ob¡a de conve¡sáo e, Por out¡o, garantir ñáo-de-ob¡a e aPoio milita¡, em
¡¡oca, os índios receberiam terras e ouc¡os fa\¡ores materiais e simbólicos.
Os índios amigos, com isso, ficaram cada vez mais dependentes dos portugue-
ses, que passa¡âm a dererminar, segundo seus próprios inceresses, o local onde eles
deve¡iam se instalar. Instruçóes a esse ¡esPeiro eram periodicamente enviadas pela
Coroa, como num aivará de 1582 no qual o rei, ao mesmo rempo que determinava
que o governador e o provedor-mor deviam da¡ ¡e¡ras de sesma¡ia aos índios descidos
do se¡ráo, orientava que estes rePartissem os índios em aldeias junto às fazendas e
engenhost{.
O modelo, posceriormente, serìa transposto para as demais parres do Brasil, e
os índios passaram a se¡ deslocados de aco¡do com as necessidades dos portugueses,
tanro de combatenres como de t¡abalhadores. Diogo Borelho' por exemplo, enviou
O longo pocma narra a suc€ssáo de combates do período, sendo, portanto, marcado pela
carniÊcina pratìcada, na maioria das vezes, pelas forças porruguesas José de Anchieta (SJ)'
De ge*is Menli de Søa / Dos feitos de Men lz Sl, edìcáo bilingüe Rio de Janeiro: Arquivo
Nacional, 1958, p. 129.
O já cirado "Regimento de Tomé de Sousa" de 17 de dezemb¡o de 15 48, publícado na Histriria
da Coknizaçáo Portu.guesa do Brasil,Ill, p. 346.
"Carra do padre Antônio lires aos padres e i¡mâos de Coimbra" escri¡a de Pernambuco em
2 dc agosto de 155t e publicada por Sera6m Leire (SJ) Cartas dts primeiros jesuitas do Brasil.
Op. cit., vol I, p.254.
24 'Alvará para que aos índios que descem do serráo se dessem rerras para suas aldeias junro as
fazendas e scsmaria para suas la'ouras" de 21 de agosto de 1587, pt5lcaào nos Dacum¿ntos
para a hístótta dn açúca¿ 3 .oÌs. Rio de Janeiro: IAA, 1956, vol. I, p. 32i.
214 Rodrigo Ricupero
¡ado¡es, lìrncionários régios e clero secular Em sua defesa, os jesuítas alegavam que apenas
seguiam uma "lei" de Mem de Sá. que instruía que os fugitivos só seriam entregues após a
conÊrmaçáo da sua condicáo de esc¡avosì2-
Exemplo concreto desse problema foi a dispuca que envolveu Fe¡náo Cabral de
Ataíde- Este senho¡ de engenho, famoso por ter abrigado em suas ce¡¡as o movimento
he¡ético conhecido como san¡idade'i, foi acusado pelos jesuítas de toma¡ seis índios
morado¡es no aldeamento de Sáo Joáo, em retaliaçáo aos iesuítas náo det'olve¡em uma
pouco mais ou menos e comum é que nunca lhe pagáo". Francisco Soa.res, Coisas Natárck do
Brasit (c. 1594). Rto àeJaneiro: Insriruto Nacional do Li-ro' 1966' p.77.
"CapítuLos que Gabriel So¿res de Sousa deu em Madri ao Senhor C¡isróváo dc Moura contra os
padres da Companhia de Jesus que residem no Brasil ' de l58Z publicad o r,os A ,rís ¿,1 Bìblioteca
NaciozøL. rcL 62, p. 374.
"Carra de Diogo Botelho ao Condc de Linhares", esc¡ì¡a em Olinda' aos 23 de agosro de
1602. Arqrlivo Nacional da To¡re do Tombo, Cartório dos Jesuíras, maço 71, docLrmento 3
"Capírulos quc Gabriel Soares de Sousa deu em Madri ao Senho¡ Crisróváo de Moura cont¡a
os padres da Companhia de Jcsus qLre residem no Brasil" dc l58Z publicado ¡os Anats da
B¡bÌioterø N¿c ional, vol. 62, p. 37 i.
Ao atrair para sua terra os Índios envolvidos com a chamada "santidade", Fe¡náo Cab¡al de
,{uíde tencìonara amplia¡ o número de índios sob seu conrrole. Sobre o assunto, r'er RonaÌdo
\ai¡fa.s. A heresi¿ y'.o: ínáas. Sáo Paulo: Companhia das Ler¡as, 1995.
21,6 Rodrigo Ricupero
índia, escrava segundo ele, que fugira para junco dos padres. Os jesuítas, po¡ sua vez,
apeìaram para a jusriça, ameaçando abandonar os aldeamen.os, conseguindo dessa
forma que os índios fossem ¡es¡iruídosra.
Tais questóes ganharam dimensáo explosìva no início da década de 1560, quando os
jesuítas passaram a conr¡ola¡ 10 aldeamentos em to¡no da cidade do Salvador, provocando
a cobiça dos moradores. Nesse contexro, a decisáo deMem de Sá de punir os caetés. respon-
sáveis pelamorte do primeiro bispo, com a esc¡avidáo, provocou uma verdadeira co¡rida
po¡ escravos. Os mo¡ado¡es, aproveirando-se da b¡echa, apoderaram-se indisc¡iminada-
mente dos índios, para, nas palavras dosjesuítas, "farar sua sede e encher-se de peças", náo
respeirando amigos ou inimigos, nem se imporrando se eram ou náo caetés, aprisionaram
inclusive os índios ¡eunidos nos aldeamentos dos jesuícas, provocando eno¡me confusáo e
fugas para o serráo. Mem de Sá, vendo o dano causado, revogou a s€n¡enca e juntamenre
com os jesuíras rentou conter a ação dos moradores, conseguindo recuperar parre dos índios
escravizados, sendo que apenas um morador teria entregue "30 ou 40 peças"it-
Nesse momenro, pestes e fomes assola¡am a cosra do Brasil provocando enorme
mo¡calidade, dizimando a populaçáo indígena, exigindo, assim, que novos conringen-
res fossem "descidos" do serrão, sicuaçâo que acirrou mais uma vez a luta pelo conrrole
dos índios ¡eunidos nos aldeamenros. Es¡es sofre¡am pesadas perdas humanas. Mem
de Sá ¡enrou conre¡ sua desrruiçáo nomeando capitáes para que ¡omassem conra dos
aldeiamenros, auxiliando o rrabalho dos.jesuítas, além de nomear um procurador dos
índios, com a missão de defendêlos das ameaças dos moradores, que, além do inceresse
em cativar os índios, cobiçavam também as rerras que lhes haviam sido dadas.
Por seu rurno, os padres da Companhia de Jesus, que num primeiro momenro
haviam ficado indecisos f¡ence ao cativeiroi6, vendo a violência empregada pelos brancos
na obcençáo de escravos e a opressáo dispensada no rraramenro coridiano, bem como
dc Torres" de 8 de maìo de 1558, publicada por Seraâm Leìte (SJ) Calrt' ¿ot ?'limeirosjesuítas
do Braul, Op. c;r., r.ol. II, p. 448.
"Carta régia para Mem de Sá" de 1566, que consta da "lnformaçáo dos primeiros aldeamen-
ros", doc'rmenro dc meados da década de 1580, publicada em José de Anchiera. O¡ clr'' p
367 e em Francrsco Adolfo dc Varnhagen, I1lrrária geraL dn Brasil,5'ed 5 vols. S;" P"ulo'
Melhoramentos, 1956, rc|. I, p. 334.
"Lei sobre a liberdade dos Índios" de 20 de março de 1570, pLrblicada em Do&mentos Pllnj
a blstória ¿l-a øçúcar, Op. cit., rol.I, p 225 e Marcos Carneiro Mendonça (Org)' P'¿íz¿s d-¿
fatru1ç,ão a¿ñ;nistrãl;uø. d¡ Brasil,2.ols. Rio de Janeìro: Instiruto Hisrórico e GeográÂco
Brasileìro, 1972,.o1. I, p. 335.
39 Cl Bearriz Per¡one-Moisés, Op. cit., p l23
40 "Tesramenro de GebrieLsoares de Sousa" de l0 de agosro de 1584, que consra ðo Liro Velho
do tombo do ¡nosteira ¿ie Sáo Benta da cid¿de do Salua'dor. Saivað,or: Benedirina' 1945, p. 395.
F¡ei Viccnrc do SaLvador. Hi¡t¡i'na do Br¿siL (1627), 5" ed-. Sáo PauÌo: Melhoramenros, 1965'
p. 456 eJohn Manuel ìvlonteìro, Ap. cit.,p. t36-
Rodrigo Ricupero
Posrerio¡men¡e ral medida seria revogada, o que, conrudo, náo impediu que con-
tinuasse sendo aplicada na regiáo do Maranháo, já independente do Estado do B¡asil.
Exemplo disso foi a concessáo pelo governador Bento Maciel Pa¡en¡e de "índios de
adminiscraçáo encomendados"a' aos soldados, visando ¡emediar a faka de pagamento,
pois como alegava em our¡o documenro "Sua Ma.jestade foi servido mandar ... que
''Cana de Dìogo Borelho ao Conde de Linha¡es", esc¡ira em Olìnda, aos 23 de agosro de 1602,
Àrquivo Nacional da Torre do Tombo, Carrório dos Jesuiras, maço 71, documenro 3; "Carta de
Diogo de Meneses para el-rei", de I' de serembro de 1610. A4uivo Nacional da Torre do Tombo,
Fr:gmenros: Caixa l, documenro 6 ou "Carra de Dìogo de Meneses a el-rei'de 23 de agosto de
i608, publicada nos,4zais rt¿ Bibliote t Niîíonzl vol. 5Z p. 3Z Diogo de Campos trloreno, Zlaro
que ái razia do F,statu ìt Bra:ll. (.1612). Recife: UFPË, 19ii, p. 109 e Simáo Es¡ácio da Silvein,
Rzlaçiío suntiria y'ts coisa: da iukrlhh,ão ¡624), pú'Iicaào nos A¿at ¿a Biblì,:teca Ntúon4rcL 94, p.
1lj. Também náo deixa de ser sintomárico que o primeiro documenro do códice Lhro prineirc 1o
Gourrao do Brasil se¡a "De la mica de Pocosi y reduciones dei reino. Cf Lz,ra primeira do Gou:rto da
B/¿/. Rio de Janeiro: Minisrcrio das Relaçóes Exreriores, 1958, p. Z
"lnsrrucóes para Gaspar de Sousa, governado¡ do B¡asil, sob¡e a conquisra do Maranháo" de
9 de ourubro de 1612, publicada em Cartas para Áluaro tu Sot'o c Gntper Jc íu:a. Lis6oa:
Comissáo Nacional para as Comemoraçóes dos Descobrimenros Porrugueses (CNCDP) e
Rro deJaneiro: Minisrério das Relaçóes Exreriores, 2001, p. 160.
"Provisáo em que Benro Maciel Parence, governador-geral do Esrado do Maranháo e Cráo
Pará, em nome de D. Joáo IV, dá ao capiráo Pedro Teixei¡a crezenros casais de indios de ad,
minisrraçáo" de 29 de janeiro de 1640, pubiicada por Lucinda Saragoçà. D¿ "fèliz h6¡tâniø"
aos canfns da América. Lisboa: Cosmos, 2000, p. 318.
A fo¡macáo da elite colonial 119
"Rclaçáo do Esrado do Maranhao leita por Bento Maciel Parenre'. esc¡ita entre 1636 e 1637
ptbllcada cm Doamentoi Páïll ,1 Hstóù¿ ¿¿ Conquista da rcsta le*e-oa:tt do BrasíL, Op ctt ,
p.195.
''Regimenro dc Tomé de Sousa" de 17 de dezemb¡o de 1548. publicado na 'È1ôtória l¿ Colo'
niz¿cáo Portuqres¿ do Brasll,l\, p.346.
22A Rodrigo Ricupero
"Regimenco que há de rer B¡ás Cubas" clc 11 de feverej¡o de 1556, regisrrado no livro de Aras
da Câma¡a de Sanro,André, livro que seria publLcado posreriormenre como âpéndicc à obrâ
de Àlonso de 'ì"au nav. /a,io Raaallta ¿ San¡o A'¡¿lré )a Borda d-o Caznpo. Sáo Paulo: Revisra dos
rribunais, 19i3, p. 289 e segs.
"Car¡a de Francisco Porro Car¡e¡o a el,rci" dc 20 de abril dc 1555, pr,\iicada na Hi:tóría d,z
Colonìzeçáo Pantgnsz do Bø.;i/,.tol. II!, p. 3 i-7.
"Ca¡ra dos O6ciais cia lazenda da cidadc do Salvador ..." de 24 de jLrìho dc 1562 publicada nos
An¿i¡ d¿ Bib/iar¿ca Nacìorø.l, vol.27, p.239.
A formaçáo da elite coloniaì 721
melhores possibilidades para obtençáo, po¡ meio de escambo, dos gêneros produzidos
pelos indígenasto.
Out¡a fonre de t¡abalho indígena, que Mem de Sá procu¡ou cont¡ola¡, foram os
aldeamentos dirigidos pelos jesuítas. O governador-geral nomeou para cada um deles
um capitáo, qùe em tese deve¡iam defende¡ os índios dos moradores, impedindo que
indeûnidamen¡e dos aldeamentostl.
estes os reri¡assem
Os escolhidos fo¡am Sebas¡iáo Luís, F¡ancisco de Mo¡aes, F¡ancisco de Bar-
buda, Gomes Ma¡tins, B¡ás Afonso, Ped¡o de Seab¡a, .Antônio Ribeiro, Gaspar
Folgado e Joáo de Araújo. Mas, afinal, qúem eram esses homens?
Sebas¡iáo Luís e¡a cavaieiro, chegou a Salvador pouco depois da fundacáo da cidade'
Servindo como "homem d'a¡mas", casou-se, durânte o governo de D. Duane da Cos¡a com
Ca¡arina de Almeida, criada da Rainha, uma das ó¡fãs enviadas ao Brasil, recebendo por isso
o oficio de escriráo do Armazém e Mandmento de Salvador' poste¡io¡mente, em 1561 ¡ece-
beu a propriedade do olicio, ou seja, por toda vida, pelos serviços fei¡os no B¡asil, além disso,
possuía uma fazenda perto de Impoáu-
F¡ancisco de Mo¡aes, e¡a cavaleiro da casa do rei, ¡ecebeu de lvlem de Sá o ofício
escriváo dos Defuntos e Alfândega de Salvador, por casar com Cata¡ina F¡óes, uma das
órfãs enviadas ao B¡asil. Posterio¡mente ¡ambém foi provido peÌo mesmo governador
como esc¡iváo da provedoria da Bahia, cargo que servia quando foi escolhido para ser
capiráo de um dos aldeamentosii.
Essa forma de pagamento, em espécie, reprcsentava, segundo Marchant' pouco mais 'Je dois
terços dos paeamentos eleruados peìo pror.edor-mor e regisrrados no primeiro li"ro de man-
dados de pagamento, que abarca o período enrre 1549 e 1551. Alexander Marchan'
D' F-
c¿mbo à F,s¡¿uid-tio. ?' ed. Sáo PauÌo: Companhra Edirora Nacional, 19 80, p 9'
"lnlormaçáo dos prìmeiros aldeamenros-, documento de meados da década de i580' publica-
ci. em Jo.i de {n' hiet:. O¡. ,lr'. P. 36i c <eguintcs
52 "Tíruio do regisrro dos mandados de pagamentos e de ou¡ras despesas" (1549 e seguintes)'
publicado na calecâo Docamen¡os Históticos. OP. cit. vol 13' p 450r "Carta de Sebasriáo
Luís e Rainha" de 3 de maio de 1558 e "P¡or'ìmenro dc Sebasrìáo Luís" dc 6 de maio de 1561'
Arqui"o Naclonal da Torre do Tombo, respectivamente' Corpo Cronológico, parte III' maço
102, documenro 92 e Chancelaria de D. Scbastiáo e D Henrique' Doaçóes, Livro Z Ê 156r"
Ver rambóm Gabriel soares de Sousa, Tr''ta¿o -.' OP. cil ' P.f2.
53 "Carta do ofício de F¡ancjsco de Moraes de escriváo dos defun¡os e alfândega" de 27 de ia-
neiro de 1558 e "P¡o.isáo de Salvado¡ da Fonseca de esc¡iváo dianre o proredor da cidade do
Salvador" de 26 dc iunho dc 1559, que consram do "Ln'ro primelro do registro dc provimcn-
rossecula¡eseeclesiásricosdacidadcdaBahiaeterrasdoBrasiì'(1549ese¡¡uinres).publicado
nos Docamentos Histtjricos, Op. cit. respecrivamente, vo1. 3i, P 43l € vol' 36' P- 161
722 Rodrigo Ricupero
João de Araújo, era cavaleiro fidalgo da casa d'el-rei, que lhe fez mercê do offcio de
esc¡ivão do resouro em 1548, sendo, Portan.o, um dos mais antigos moradores da cidade
Foi promovido por Tomé de Sousapara o oficio de tesourei¡o em 1551, seis meses depois era
nomeado para servir como provedor da fazenda da capitania da Bahia, enquanto o tirular
estivesse doe e- Devia se¡ dos melhores quadros do funcionalismo, Pois foi nomeado por
D. Dua¡te da Cos¡a e Mem de Sá seguidamente para divetsos ofícios' Ocupou ainda, na
Câmara da cidade, o posto de juiz ordínário em 1551 e 1554, alêm de fazer parte do grupo
do governador D. Duane da Costa na briga conua o bispots.
Gaspar Folgado, já estava em Salvado¡ em 1551, onde tinha terras ao lado da
sesma¡ia dos jesuítas, servia como juiz dos Ó¡fáos em 1573te. Para Gomes Martins'
porém, náo remos informaçóes suficientemente segu¡as sob¡e sua vida'
.A atuaçáo destes capitáes náo deu o resultado esperado pois, como relara o au¡o¡
da "informaçáo dos primeiros aldeamentos", "nem os capitáes tiûham P¡oveito, Dem os
índios o favor e ajuda que se esperava"60- Cottudo, em uma des ¡esPostas dadas pelos
jesuítas às acusacóes de Gab¡iel Soa¡es de Sousa, os padres deram maio¡es escla¡eci-
mentos para o f¡acasso da iniciativa. Esses explicaram que tais capitáes "procederam de
maneira que os índios se escandalizar¿m Por os ocuParem muito em seus servicos e de
seus amigos e lhes tocarem nas frlhas e mulheres e os out¡os moradores se queixar¿m
por lhos náo darem"6r. Assim as reclamacóes dos morado¡es excluídos do âcesso aos
gal'de6deabrìl de 1í61, publicada por Seralìm Leitc (SJ) Cartøs clos primcxosjrsuhd: do
Êrasil, Op. ,:it.,';oI.lll, P 326
En¡re out¡as. ver "Traslado da ca¡ta de escriváo do resouro" de 15 de dezembro dc i548 e
"Traslado da carta por que o governador 1bmé de Sousa fez mercê a Joáo de Araújo escri\áo
do tesoureìro cio ofício de resoureiro " de 6 dc dezemb¡o de 1551 que constam do "Livro
I (1549
pnn,eiro do regisrro de Provrmeltos seguintcs), publ\caðo nos Doatme¡¡tas Histó-
e
riro,, Op. ctt., rcspectivamente, r'o1 35, p. I2 e 102: "Carra dos o6cìais da Cânara
cl: crd¿de
do
do Sal'ador" de 18 dc dezembro de 1556. publìcada na lllstória da Colonízaçáo Portuguesa
iniciado cm seremhro de
Brasít, Op. cit., rc..Ilt, p. 381 e "lnstrumentos de Mem de Sá" 7 de
rl;, vol. I, p. 199 "lnventárìo quc se fez da fazcnda que reio do Reino do governador Mem
e
da açúcar'
de Sá def¡¡nro ..." de 2t de junho de 1572, publicaðo em Daatmentos para a história
Op. cit., ,tol. III, p. \74
"lnlormaçáo dos primeiros aldeamentos", doct,men¡o de meados da década de i580' publica-
da cm José de Anchiera. Op cit,p 365 e366.
A resposra dos jesuítas é assinada pela cúpula da Companhra de Jesus no Brasil: Marçal Be-
liarte, Inácio Tolosa, Rodrigo de Freitas' Luís da Fonscca' Quirício Caxa e Fernáo Cardìm'
CL "Capitulos que Gabricl Soares de Sousa deu em Madri ao Senhor C¡is¡óváo de Mou¡a
))/, Rodrigo RicLrpero
indios, somadas às dos.jesuícas e às dos próprios índios devem ter sido decisivas para
que or capiráes deix¿scem as aldeias.
De qualquer forma e independentemente de tal renrativa náo re¡ dado ce¡co, a
nomeaçáo por Mem de Sá de capitáes para os aldeamenros permiriu ao governador
¡ecompensar pessoas próximas a eles, que aproveiraram-se do ¡rabaiho dos índios ali
reúnidos, comprovando, mais um vez. ¿ esr¡eira associacáo encre a participacáo no
governo da conquista e a oportunidade de montagem de um patrimônio pessoal.
Os índios aldeados, porém, continuaram sofrendo agravos, morivando a ca¡ta de
D. Sebasriáo de 1566, na qual o rei, como vimos, pedia informaçóes sobre o cariveiro
eordenava que o governador protegesse os índios conve¡ddos62. Mem de Sá reuniu em
Salvador uma.junta para rralar do assunro, que contou com a presença do bispo D.
Ped¡o Leiráo, do ou.'idor geral Brás Fragoso e dos Ìesuíras, cujas resoluçóes reforçavam
o poder da administraçáo colonial na maté¡ia. As decisões mais imporrances foram que
os índios que se acolhessem nos aldeamenros nao seriam enrregues aos que os reivindi-
cavam sem ordem escrira do governador ou do ouvidor geral, salvo se.já rivessem sido
.julgados por escravos; que o ouvidor geral i¡ia visira¡ as aldeias regularmente. Decidiu-
se, âinda, c¡iar o cargo de procurador dos íodios, com a nomeacáo de Diogo de Zorilha
pelo governador e o con¡role das ¡¡ocas dos mo¡adores com os índios, que deveriam ser
examiûadas pa¡a evirar abusos6i.
Pouco depois, em 1570, D- Sebastiáo promulgou a primeira lei restringindo o ca-
tiveiro dos índios6r. A lei náo era cootrá¡ia à escravidáo em si, mas visava coibir os cha,
mados cariveiros injusros; dessa maneira somenre poderiam ser esc¡avizados os índios
capru¡ados em "guffras justas", mediante licença do rei ou do governador, além dos que
atacavam os po¡rugueses, como os aimo¡és e os índios que comessem ca¡ne humana..A
contra os padres da Companhia de Jesus que residem no B¡asiÌ" de 1j87, publicad.o nos Anais
la Biblio¡eca Nacíonal, yol. 62, p.374.
"Carta régia para Mem de Sá" de 1566, que consra da "lnlo¡macâo dos primeiros aideamen-
ros", documenco de meados da década de 1580, publicada em José de Aîchierâ. Op. p.
'la,
367 e em Francisco ,A.dolfo de Varnhagen, ,4zi;a'ria geral do Brasil,5" ed. 5 vols. Sao Paulo:
Melhoramenros, 1956, vol- l, p. 334.
As decìsóes encon¡¡am-se em "lnformaçáo dos primeiros aldeamenros", documen¡o de mea-
dos da década de 1580, publicada em José de Anchie¡a. 02. rh, p. 368 e seguìnres.
"Defendo e mando que daqui em dianre se náo use nas drtas parres do Brasil dos modos que
fazer carivos os diros genrios, nem se possâm cativar por modo nem manei-
ra alguma, salvo aqueles que lorem romados em guerra jusrâ que os porrugueses ñzerem aos
diros genrios, com aucoridade e licença minha ou do meu governador nas diras parres". "Lei
sobre a liberdade dos Índios" de 20 de março de 1570, publìcada em Documentas para a htstó-
ria do açú.ca: Ap. ctt., vo|.l, p.2.25 e Marcos Carneiro Mendo.r'gz (Org.), Raízø daJàrmação
adminístratiu¿ lo Br¿stl, 2 vols. Rio de Janeiro: Insriruro Hìsrórico e Geográ6co Brasìleiro,
1972, vo|. I , p. 335 .
A formaçáo da elite colonial 225
lei dere¡minava também que os cativos deveriam ser registrados nos livros da provedoria
da fazenda ¡eal num p¡azo de até dois meses, quando se verificaria quais esctavos eram
iegítimos ou não; caso essa úi¡ima determinaçáo não fosse cumprida os índios frca¡iam,
pela lei, automaticamence fo¡¡os e liv¡es.
De qualquer maneira, o aumento da populaçáo branca, com a chegada constante de
novos moradores, aumentava a lua por te¡¡a e índios; a violência, a fome e as pestes pro-
vocavaro pesadas perdas na populaçâo indígena, obrigancio a que tanto os jesuíras como
os mo¡ado¡es "descessem", como se dizia, índios do se¡táo para o litoral Pa¡a ocuPa¡ o
lugar dos mortos, tanto nos aldeamentos jesuiticos como nas fazendas e engenhos.
A Co¡oa rentava acomodar a siruaçáo, Pois, como o explicava o ¡ei D Sebasrião
numâ ca¡ra para o governador da repartiçáo do Sul, An¡ônio Salema, "no qì.le roca ao
resgate dos esc¡avos de.'e ter tal mode¡acáo que táo se impeça de todo o diro resgate
pela necessidade que as fazendas dele tem, nem se permilam resgates manifescadamence
injusros e a devassidáo que até agora nisso houve"61. Tais instruçóes Gzeram que os go-
ve¡nadores do No¡te e do Sul, Luis de B¡ito de Almeida e Antônio Salema e o ouvido¡
geral e provedor-mor, Fe¡náo da Siha, com parecer dos jesuítas, baixassem um assento
que rentava regular o assunto, delibe¡ando que todos os resgates deve¡iam ser leitos com
autorizaçáo dos governadores ou dos capitáes-mores e que os índios t¡azidos se¡iam exa-
minados pelo provedor da capitania com mais dois homens escolhidos para ral, a fim de
dece¡mina¡ se esses índios poderiam ser conside¡ados cacivos ou náo. No caso de se¡em
fo¡¡os, cabia aos examinadores ¡eparti¡em os índios pelos mo¡adores, o que demonstra
que de nenhuma forma os índios conseguiriam escapar do ca¡ivei¡o, em questáo estava
apenas o estatuto de escravo.
Ab¡iu-se na década de 1i70, particularmente após a morte de Mem de Sá, uma
fase de eno¡me cativeiro dos índios descidos do se¡tão, "aberto" nesse momento aos mo-
radores pelo novo governador-geral Luís de Brito de Àlmeida, que náo foi táo favorável à
Companhia de Jesus como seu antecessor' Os jesuítas, ao responderem a das críticas de
Gab¡iel Soa¡es de Sousa, explicaram que o governador após manter boas relaçóes com
eles no início do governo, acabou por se afastar, e, com ironia, "questionam" Gabriel
Soa¡es de Sousa: "pode ser que o informante saiba parte de quem tulvou (a relaçáo dos
a
jesuítas com Luís de Brito de Almeida), pois era tanco seu intimo e prirado" Essa quebra,
contudo, estara relacionada à política seguida pelo governador no que toca à quescáo in-
dígena, pois, como eles próprios explicaram, o 'þovernador abriu o sercáo do gentio com
que ambos (o governador e Gabriel Soares de Sousa) fizeram engenhos, cada um o seu,
além das muiras ba¡cadas de índios que o informante (Gabriel Soares de Sousa) mandou
vender pelas capitanias"66.
O governador Luís de B¡ito de Almeida au¡otizou inúmeras expediçóes ao
se¡ráo, inceritivando ourras pessoalmenre. -A in¡ensidade do movimen¡o fez in-
clusive a que o procurado¡ do donatário de Pe¡nambuco, Joáo Fernandes Coelho,
protescasse "contra o governado¡ Luís de B¡i¡o de Almeida, porque (este) mandava
caravelóes com genre e seus capitães a resgatâr getcio ao sertáo da câPirânia de Pe¡-
nambuco", explicando ainda que "o capiráo que mandavam a este entrada se cha-
mava Sebastiáo Álvares", que fo¡a memb¡o da administraçáo colonial e Possuidor
de uma sesma¡ia no Recôncavo de Salvador, onde se ergueria o famoso engenho
Freguesia6t.
O carivei¡o e¡a inrenso, organizaram-se seguìdas expediçóes de mo¡adores da
Bahia, Ilhéus e Pe¡nambuco em busca de índios, objetivo muitas vezes disfarçado sob
a justiÊcativa da busca de minas ou da conquis¡a de ¡e¡¡as. Dessas expediçóes, algu-
mas foram bem sucedidas, como a de Antônio Dias Adorno, importante senhor de
engenho, que, segundo Frei Vicenre do Salvador, te¡ia descido sete mil almas6s; outras
¡e¡minaram com a mo¡te da maio¡ia dos brancos, como a organizada por Francisco de
Caldas, provedor da fazenda de Pe¡nambuco, e Gaspar Dias de Acaide6e.
F¡ei Vicenre do Salvador, fo¡nece-nos mais detalhes: os mo¡ado¡es alegando que
as guerras tinham afugentado os índios para o ince¡io¡, obtinham licença do gover-
nador Luís de Briro de Almeida þara mandarem ao se¡¡ão desce¡ índios por meio de
mamelucos", que iam com soldados b¡ancos e índios amigos e arravés de enganos, pro-
messas e "algumas dádivas de roupas e ferramenras que davam aos principais e resgares
que lhes davam pelos que rinham presos em cordas para comerem, abaÌaram aldeias
inreiras e em chegando à visra do ma¡" dividiam os índios,
Cf, "Capirulos que Gab¡iel Soares de Sousa deu em Mad¡id ao Senho¡ C¡isróváo de Moura
contra os padres da Companhia de Jesus que residem no B¡asil" de i587, publìcado noslzrars
d¿ Bibboteca Narional, vol. 62, p. 357.
Docum,:nro cìrado por Ped¡o de.{zevedo em seu arrigo "Os primeiros donarários', publìcado
ne Htstóti¡ ¿la Colaùzacáo Potaguesa /,o Bra:il, Op. cit.,rcl.I\1, p. 197.
Mesmo desconran¿o ùm possivel cxage
Pequeûo.
F¡ei Vicenre do Salv:rdo\ Op. c¡t., p. 2 Ì 1 e "Sumário das Armadas que se fizeram c Sucrras
que se deram na conquisra do rio Pa¡aíba", publicado na Revìsra do Insri¡uro His¡órico e
Geográ1ìco Brasileiro, tomo 36, p. 37
A formacão da elire colonial /17
eram índios de consciôncia e que Ìhes náo vendiam senáo o servico, e quem
os comprava, pela primeira culpa ou fugida que faziam. os fer¡ata na face,
dizendo que Jhe custaram seu dinheiro e erem seus câtivosto.
ccm as duas daras).,{rquìr'o Nacional daTor¡e do Tombo, Corpo CronoLógico' parte IIl, maço
20. documcnto 54.
228 Rodrigo Ricupero
causa po¡ onde há falta deles e se compram negros de Guiné por excessivos precos
aos mercadores, com que os que tem engenhos estáo endividados"Tl.
Siruaçáo que fez Filipe I de Pormgal promulgar em 1587 uma nova lei, reforçando
a an¡erìor de D. Sebasriáo, paÉ evitar os excessos que os moradores praticavam com os
índios, r¡azendo-os do serráo, como diz no preâmbulo da leì, por força e com engatos,
maftrarando-os e vendendo-os como cativos, embo¡a fossem liv¡es, e servindo-se deles sem
lhes pagarem seus serviços, além de ourras extorsóes e iniustiças. Po¡ cudo isso, o ¡ei decidiu
que "nenhuma pessoa de qualquer qualidade vá ao sertáo em armaçáo a buscar índios", sem
licença do governador ou, nas capitanias demais, do capitáo-mor. Além disso, deve¡iam
ir âo serráo sempre "com dois ou três jesuíras que pelo crédito que tem efire os genrios
os persuadiráo mais facilmenre a virem se¡vir aos diros meus vassalos em seus engenhos e
fazendas sem força nem enganos, declarando que lhes pagarão seus serviços" e que náo se
repartissem os índios enr¡e os mo¡ado¡es sem a presença do governador-geral ou do ouvidor
geral e dos padres da Companhia de Jesus, e "que se façam tal repartiçáo mais a gosto dos
índios do que dos mo¡adores"-i.
As instruçóes, ainda, explicavam que competia ao governador e ao ouvidor
geral fazer que os índios fossem pagos e que fosse feiro um livro oa Câma¡a de cada
capitania para saber quais os indios que se¡viam nas fazendas e engenhos. Cabia
ainda ao ouvidor geral e ao procurado¡ dos indios visirá-los para saber se eram mal
t¡atados ou vendidos e se ¡ecebiam seus pagamenros e os ensinamenros religiosos-
E, concluía, que no Brasil "náo haja índios cativos", exceçáo dos que fossem cati-
vados em guerras iustas por mandado do ¡ei ou do governador ou dos que forem
comprados para náo se¡em comidos por out¡os índios, mas, nesse caso, apeûas
enquen¡o nio rerriburssem o que fora g¿sro na compra.
A lei, embora tentasse impedir o carivei¡o disfarçado, proclamando que os índios
deve¡iam se¡ livres e que o ¡¡abalho por eles prescado recebesse pagamentoJ apreserta\¡e
rantos subrerfúgios, que náo fez mais que legaÌizar o sisrema de "adminisrraçáo" dos índios,
regulamenrando a fo¡ma como os índios deve¡iam se¡ "descidos" do sertáo para o litorale
colocados à disposiçáo dos donos de engenhos e fazendas,
,L siruaçâo seria reforçada pela Coroa n-ùm alvará que, ao mesmo rempo que
dete¡minava que o governador e o provedor-mor deviam da¡ rer¡as de sesm¿¡i¿ aos
74
75 "Ca¡ra de lci derer¡ninando as condiçóes em que os donos <le engenhos e íàzendas no Brasil
podem ir ao serráo buscar genrios para rrabalharem oos mesmos, bem como a maneira porquc
lìcam obrigados a rrara Los" de 22 de agosco de i587. ,{rquivo Nacional da To¡¡e do -fombo,
Livros das Leis. Ln ro 1 I1 168
A formaçáo <ia elite colonial 7?9
fazendas e engenhosT6.
",A.h'ará para que aos índios que descem do serráo se dessem rerras para suas aldeìas junro a*
fazendas e sesmaria pa¡a suas lavouns" de 21 de agosro de 1587. pttblicado rcs Dacumentos
os índios dos morado¡es foram sempre ranros os que lhe morreram como os
qu€ rrolrxerâm e desceram dos serróes donde r.em que Êazem
enrràd¡\ e nåo h¿ lim ire em rrazerem m¿i, e r¿'. indio. porque codor m.:ram
em suas casas com trâbalho", (comprova-se) "esta verdade com náo haver hoje já
índios quinhentas e seiscentas 1éguas ao redo¡ des cePiranias do sul, Sáo Paulo e
A fal¡a de índios também e¡a sentida nas demais capiranias, dai que, ao se orga-
niza¡ uma campanha cont¡a os índios ¡ebelados na capitanìa da Bahia, que deman-
dava grande núme¡o de indios, "os quais náo havia nessa capitania e (ao contrário)
nas capitanias da Pa¡aiba e Rio G¡ande havia muìtas aldeias com muitos índios", o
governador-geral Diogo Luís de Oliveira tenha auto¡ìzado que João Barbosa, "língua",
pudesse traze¡ os índios deses últimas Pa¡a a guerra ta Bahia, onde depois poderiam
ficar para trabalhar nas ob¡as das fortificaçóes "as quais por falta de ínrlios se faziam
com muita despesa da fazenda de Sua Majescade"sa.
Contudo, se a presenca de escravos alricanos aumen¡ava' a importância dos ín-
dios ainda e¡a eno¡me, pois, minimizando a f¡ase citada do autor da "Informaçáo dos
st' o
primeiros aldeamencos" sob¡e a preponderância de escravos af¡icanos na Bahia
também.jesuíta Fe¡náo Cardim, esc¡even¿o Poùco dePois, em 1585, estimala que a
cidade de Salvado¡ e seu termo tinham 3 mil vizinhos portugueses, 8 mil índios cris-
râos e 3 ou 4 mil esc¡avos da Gu.inés6. Stuarr Schwartz, analisando a questáo, aveliou
que, ro final do século XVI, a PoPulaçáo indígena representava três quartos da força
de trabalho na capitania da Bahiast.
A ve¡dade é que o manancial de índios ainda era grande e os moradoles continua-
¡am trazendo-os pa¡a suas fazendas, aproveitando-se da conquis¡a de novas á¡eas no litoral'
como, no c.Ìso da conquista de Sergipe ou da Paraíba, ou por meio de expediçóes enviadas ao
jesuítas'
in¡e¡io¡ do continente, udlizando-se muitas l'ezes de exPedietres condenados pelos
"Consideracóes sob¡e a Lei e provisáo reais sobre adminisüaçáo e cadveiro dos indios no Mar¿ nhao e
de" de 9 de;aneìro dc 1628, qlre consra do "Livro 2'de provrmentos seculares"' injciado em
1625 e pubLicado nos D ocu.mentos Hlsairiros, Op. cit , vol 15, p' 174'
a exploracáo da populaçáo indígena, deve-se le¡ com resenas ¿' info¡-
Dadaaviva poìêmica sobre
maçóes fornecrdas pelas parres, muìüsYezes em documenros queprocuram
condicionar âPolítica
jesuítas aumentarem aiá enorme destruiçáo da popuìaçáo
adotada pela Coroa. Âssim, é comum os
Po¡ outro lado os morado¡es e seus defenso-
narìr,a, bem como sobrevalorizar a presença africana.
res rambém exage zar os mâus-uatos e a morcandade da populaçáo ind ígena
bem se entende que esres capitáes seculares não âceiraráo esres cargos purameÌÌre
por amor de Deus e serviço de Sua Majestade e bem dos indios, senáo com olho
no proveiro e interesse próprio. Àssim, por todas as vias que puderem, riraráo
os índios destas eÌdeias e os poróes em suas fazendas próprias e de seus parenres
e de amigos; e que, depoìs que se encherem à custa do sangue e liberdade dos
índios, vi¡áo seLrs slrcessores e farão o mesmo,0,
afirmavam, ainda, que os aldeamentos que há tantos a¡os e¡am conrrolados pela Companhia
de Jesus, "com ráo notável proveito de rodo esre Estado, se acabaráo em breve tempo nas máos
dos capiráes seculares; como de lato se acaba-ram todas, ou quase todas as (aldeias) governadas
"Carra de Diogo de Meneses a el-¡ei" de 23 dc agosro de I608, publicaè,a nos Anau ¿l¿ Biblio
teca Nacíonø|, vol. 57, p. 37 Todas as ciraçóes desre parágrafo sáo rirad¿s desta carra.
89 Diogo deMeneses repeliaassim aproposÉ leita anccriormenre por Dìogo Boreiho dirccamen,
Cl "Cana do ¡ei Para Dìogo Borelho" de 19 de março de 1605, publicado na
te ao mona¡ca.
Retxt¡ da Ins¡itun H*órico e Geogáfto Brasilelro, romo LXXIII, parre I, p. 5.
"De quão imporraote scja a conrinuaçáo da residêncra dos padres da Companhia de Jcsus da
P¡ovíncia do Brasil das aldeias dos índios narurais da rer¡â, assim pa¡a o bem de suas almas
e serviço de Deus e de Sua Majestade, como o bem remporal de o Esrado e dos mo¡ado¡es
dele" (sem dara, mas provavelmente da primeira ou segunda década do século XVII). Arquivo
Nacional da Tor¡e do Tombo, Carrório dos lesuirâs, maço 88, documenro 222 f. 6 ç
A formaçáo da elite colonial 733
po¡ capirães ou serhores seculares", apresentando, em seguida, paÌa comProvar o que afirma-
lam, uma lise de aldeamentos cotüolados por capìtáes seculares (quase codos senhores de
engenho e membros da administra{.o colonial) em diversas capitanias'r.
Dessa fo¡ma, os jesuítas devem ter conseguido influenciar a resposta da Coroa
aos apelos do governador Diogo de Meneses. Essa, contudo, náo se¡ia favo¡ár'el a suas
proposras, pois viria na forma da lei de 30 de julho de 1609e':. A mais notávei lei em
favo¡ da libe¡dade dos índios promulgada no período aqui esludado e que P¡ovocaria
uma r,'erdadeira onda de protestos na colônia. Na Bahia, seguodo nos conta o Padre
Henrique Gomes, os mo¡adores "alevanta¡am o maio¡ motim, que vi depoìs que estou
no B¡asil; ao qual deram princípio os juizes e ve¡eado¡es com uns repiques a som de
gr¡er¡a, com que a 28 de junho à tarde convoca¡am o povo à Câmara", quando in-
clusive se propôs que embarcassem os jesuítas para Porrugal "como inimigos do bem
comum eda república", mas acabaram indo ¡eclama¡ da lei junto ao governador-geral
e promovendo uma manilesucáo na f¡ente do Colégio, onde alguns oficiais da Câmara
foram ¡ecebidosei.
Nos dias seguintes, Êrmou-se um aco¡do entte os moradores, representados pela
Câmara, e os jesuítas em torno de três quesróes propostas pelos primeiros:
1" que por esta nova Ìei se lhes náo tirem os índios iegírima e ve¡dadeìramente
cacivos conforme as leis e Prof isóes dos reis Passados; 2' que se lhes náo tirem os
índios ìiv¡es. que em suas casas e fazendas tem. a que chamam de adminisrra-
çáo;3" dáo a enrender que sob capa desra lei lhe queremos chupa¡ os indios
de
Náo tal documento (citado na nota anrerior) foi esc¡ito com o frm de responder às
se sabe se
proposras do governador Diogo de Meneses, mas os srgumentos urilizados Pelos jes'ritås não
deviam se¡ muilo diferenres. Ver ainda Sera6 û Leirc (Sl). Hb nia ¿4 Cotnpanhìa dc Jesu: na
Brasil,Op. cít., rcl.II, p. 71. O capitulo IV- "O governo dasaldeìas" desse volume da obra
de Se¡aGm Leire é dedicado inreiramence à questáo aquì discurida.
92 "Lei sobre a liberdadc do gentìo" de 30 de;ulho de 1609, publicada em José Oscar Beozzo'
Leís e regimentos /-as missóes, ?01ítíc11 i ¿igentt1l o Brasil. Sáo laulo: Loyola, 1983, p 179
Sobre as leis dc 1609 e 1611, ver rambém Georg Thomas, 02. clr, p 150 eseguintes
"Ca¡ra do Pad¡e P¡ovincral Henrique Gomes ao Padre Geral da Companhia deJesus" de 5 dc
julho de i610, publìcada por Serafim Leite (SJ )- Históïia d'a ComPanhìz deJesu: ao Brasil, Op
rl¿, vol. ï p. 5-8-
234 Rodriso Ricupero
ministredos" fossem pagos, rratados como livres e que fossem conrentes. -Além disso,
em outra cerridáo, esc¡eveu "pa¡a que nem em nossas fazendas nem em nossas aldeias
se corsenrisse índio algum esc¡avo ou lìv¡e dos que nas casas e fazendas dos mo¡ado-
¡es desre Es¡ado ¡esidem". Tal aco¡do, mo¡ivado possivelmenre apenas pelo temo¡ dos
jesuítas de serem expulsos, náo impediu que esres protestassem contrâ a atuaçáo do
governador-geral, acusando-o de "dissimulação" e que pedissem que os responsáveis
fossem castigados, pa¡ricula¡menre o p¡ocurado¡ do Conselho, Gaspar Gonçal"estt.
A ¡eacáo dos moradores ráo pa¡ou por aí. A. Câmara da Paraíba, por exemplo,
enviou ao morârca Lrma carta reclamando da nova lei, num ve¡dadei¡o manifesro em
favor da exploraçáo dos índios. Os oficiais procuralam mostrar a enorme importância
do r¡abalho indígena para a capitania e também para a fazenda real, alegando que
todas as pessoas que tinham gentio escravizado, rinham-os confo¡me as leis e provi-
sóes de Sua Majestade e que os índios livres que esavam com os mo¡ado¡es esra¡iam
contenles e que
95
96 "Ca¡ra da Câmara da Paraíba para el rei sobre ordem do mesmo que mandou aquela capirania
para que se ri¡assem os genrios do poder das pessoas que rivessem, e lhe deu uma larga ìnfor
maçáo a respeiro do mesmo" de 19 de ab¡il de 1610. .{rquivo Nacional da Torre do Tombo,
Corpo Cronológico, parre I, maco 11i, documenro 108.
A formaçáo da elire colonial
nesre pa¡tict¡lar, e lhe pedir que quisesse mode¡a¡ a lei" de maneira a fica¡ sa¡isfeita a
consciência do rei e rambém a sua fazenda e as rendas e p¡oveitos dos vassaloset.
Diogo de Meneses explicava que no B¡asil náo havia ou¡¡a gente de serviço "se
não eles (os índios) e os negros que vem da Guiné e esces cus¡am muito aos mo¡ado¡es e
duram ponco, náo tem os pobres moradores cabedal e andam endividados e cansados e
assim se náo podem estende¡ em suas lavou¡as"e3 Do mesmo modo, além de se¡vi¡em
ao Es¡ado e aos mo¡adores em suâs ¡ocas e pescarias, Êcam também os indios mais
domésticos e mais seguros de náo se ¡ebelarem.
Para o governado¡ também parecia grande inconve¡iente o rei mandar que náo se
possa descer o gentio do sertáo, nem com licença do governador, porque "o remédio desce
Estado e a fábrica dele" é "haver muito gen¡io e sem ele se náo pode remediar nem aumen-
tar por não haver quem nele t¡abalhe" e, indo apenas os jesuíras buscar os índios' como
inst¡uía a lei, era para o governador-geral Diogo de Meneses "a total desuuiçáo do estado
er'
porque os índios que descem eles os ¡ecebem deles o benefício e os demais ¡enhum"
Ainda defendendo a libe¡dade das en¡radas no sertáo, o governador-geral expli-
cava ao rei que, em todas essas que se fize¡am, nunca aconteceu coisa que Êosse contra
o serviço ¡eal e os poucos inconvenien¡es foram serem cativos ou náo os índios e, desta
forma, esras fo¡am "mais serviço de Vossa Majestade que seu deserviço pelo benefício
que disso resukou ao aumen¡o des¡e Estado", assim, se os governadores puderem con-
ceder a licença para as entradas, "sempre viráo muiros (índios) e assim Êcará da descida
deles dois grandes p¡oveitos: o P¡imei¡o para as suas almas' o segundo para o benefício
do Estado e dos mo¡adores dele'' e tranqüilizava o ret "desengane-se Vossa Majesrade
que há cá gente particular que sabe negociar com os índios táo bem como os padres",
pois os moradores fazem:
mimos aos índios como a seus Êlhos' e a razáo esrá mui clara, porque como esra
gente náo tem nenhum discurso no que fazem, náo julgam o que lhe está bem se
náo pelo presente ador lhe laz bem, estáo com ele. e senáo váo se
Para Diogo de Meneses, a política adequada corn relaçáo aos índios deveria ga-
os moradores pudes-
rantir qûe esses fossem Pelos seus se¡vicos a cada ano e que
Pagos
"as
sem fazer enr¡adas no sertáo com o¡dem do governado¡ castigando_se' con¡udo'
"Carra para cì-reì de D. Diogo de Meneses" escrita da Bahja em l" de se¡cmbro de 16i0'
Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Fragmentos, caixa 1, documento 6'
98
99
100
136 Rodrigo Ricupero
desordens que se ûze¡em conc¡a a liberdade dos diros índios" e, no caso de os índios se
rebela¡em, deve o governador poder "fazer guerra, e os que assim se lel?nrarem sejam
carivos, porque assim ficaráo sujeiros e reráo os capitáes domínio sobre eles", como con-
vém ao serviço da Coroa e à quieração do estado. E concluía se a todas estas propostas
houvesse inconvenienres, pode¡ia o rei ordenar que no Brasil se seguisse o mesmo "que
¡em o¡denado no Peru com ranta sarisfacáo (...) e ráo aprovado de todos, sendo rudo
LLma costa e Llm senhorio e (assim) náo pode parecer aqui desgoverno o que lá o nâo é,
nem ser conrra a consciência de Vossa Ma.jestade o que lá náo é"'0t.
O resultado das pressóes foi a promulgaçáo de uma nova lei pouco mais de dois anos
depois, em 10 de serembro de 1611, que viria a subs¡iuir a de 1609. Pode-se evalia¡ bem seu
significado da nova lei, pelas palavras do governador Diogo de Meneses, ' que todo este Estado
a recebeu por grande mercê, eu da minha parre beijo a máo a Vossa Majestade por ela, ainda
no que ¡ocâ a quem rem as aldeias náo lhe pa¡eceu bem, rendo assim que foi a maìs jusra e
bem feira que neste negócio podia sei"o'.
A lei de 1611 anulou a maio¡ pa¡te dos avanços favoráveis aos indios conridos na
legislaçáo precedente, resrabelecendo grande parte das prerrogativas dos governadores-
gerais com relação às guerras jusras. T¡azia como novidade a autorização régia para
que os moradores pudessem parricipar da administraçáo dos aldeamenros, nomeados
como capitães seculales dos mesmos. AIém disso, com ela, o uátco de escravos âcou,
na prática, reservado às pessoas escolhidas pelo gove¡nador'0j.
Em te¡mos práticos, as Ìeis nunca fo¡am seguidas esrriramenre, voltando,se à si-
tuaçáo criada após a lei de D. Sebasriáo de 1570. Os jesuítas conrinua¡am con¡¡olando
ce¡to número de aldeamentos que forneciam, em maior ou menor medida, rrabalha-
dores para os moradores, particularmente pam os meis pobres- Os morado¡es conti-
nua¡am de posse de um grande número de índios, escravos ou "administrados", que
desciam do se¡ráo ou caprrravam nas guerras legitimadas pelos governanres.
Os mais poderosos, por sua vez, organizavam expedicóes próprias para descer os
índios, sendo que muiras vezes aldeias inrei¡as e¡am deslocadas pa¡a serem insraladas
em suas propriedades. Essas expediçóes e¡am feì¡as sob a supervisão di¡era do Gove¡-
no-geral, com freqüência sob a iusrificaiiva de combare¡ índios rebelados, contando
em alguns casos com a auto¡izacáo di¡eta da Coroa. Filipe II, por exemplo, atendeu,
em 1603, a uma períçáo do Duque de Aveiro, na qual esre alegando os prejuízos que
tinha na sua capirania de Porro Seguro, "por náo haver nela genrio qLre a povoe e
Ì01
102 "Carra de Diogo de Meneses a el-rei" de 1" de março de 1612, publicada noslzais ¿a Biblio-
teca N¿cion¿|, vo|. 57, p.78.
103 Georg Thomas, 02. rø., p. 154. Cf "Lei sobre
a liberdade do gentio da rerra e da guerrajusra que
se lhe pode fazer" de 10 de serembro de 161t, publicada em José Oscar B eozza, Op. cit., p. 183.
A fo¡macáo da eli¡e colonial 13?
a defenda"roj, pedia que, sem embargo da provisáo dos padres da Companhia para
somente eles poderem desce¡ os índios, "possa ele também mandar-pelo seu capitáo e
moradores das suas povoaçóes descer o que for para defesa daquela capitania", obtendo
assim do ¡ei a me¡cê apenas para duas expediçóes.
Ourro exemplo in¡e¡essante é o episódio em que o governador-geral Diogo Luis
de Olivei¡a, em 1628, alegando ameaças e ataques dos índios "chamados da Santidade"
à capitania da Bahia, convocou para comandar a resposta Afonso Rodrigues da Ca-
choeira, por ser filho da terra, rer experiência do sertáo e da gue¡ra e "te¡ muitos índios
tapuias e índios de sua administração e (assim) o frzera capitáo-mor da dita guerra"i05.
O resultado pode ser comprovado num documen¡o ¡¡ansc¡ito no Liuro segundo do re-
gitt'lo de tos, no qual são registrados os índios que Afonso Rodrigues trouxerà
proaime
do Sertáo, "os quais o Senhor Governador-geral Diogo Luís de Oliveira manda da¡ de
administraçáo as pessoas que {è,ram na dica.jornada aré Sua Majesrade mandar o que
fo¡ se¡vido"ro6. Dessa fo¡ma, o comandante da guerra recebeu 32 índios e o go!'erna-
dor-geral outros 24, graças ao quinto das presas que Por Provisáo régia passada sobre
a matéria competìa aogovernado¡ que, neste caso, fo¡am imedia¡amente repassados a
um importanre senhor de engenho da Bahia, Diogo Lopes Ulhoa.
Sobre a questáo do quinto das presas, conhece-se uma carta régia concedendo
o quinto das presas, salvo algumas exceçóes, ao gove¡nado. Gaspar de Sousa e a
seus sucesso¡es'07-Diogo Botelho alegava anteriormente que "possuindo o quinto
dos índios" não tinha utilizado tal direito no caso dos índios capcurados pela ex-
pediçáo de Pero Coelho, porém a Câmara da vila de São Paulo reclamava que o
mesmo governador mandara "provisão Parâ romarem o terço para ele, depois veio
ordem para o quinto" dos índios descidos por uma bandeira enviada pelo capitáo-
ainda arreceio que com novâs pro\,isóes que vieram dos diros padres aja algum
inrervalo, o bom fora a largarJhes a fazenda e a rcrra... poìs eles sáo scnho¡es
dela e dos indios qrìe com nome de lo¡ros os servem e sáo n,ais seus carivos
-Serviços
108 do governador-gerai Diogo Botelho" de 8 de ler-crei¡o de 1603, pubiicado na Rrrtsra
do I H*îó/tcò ,: Geogruífco Brasileiro, romo 73, parte I, p. Ì84 À carra da Câmara da
'ti¡uto
vila de S:o Paulo dc t3 de janeiro de 1606 loi publicada por Ãzered.o Marques. ?rorhria lL
Sáo Paula (1878),2 vols. BeLo Horizonte e Sáo P¿ulo: ftariaia e Edusp, 1988, vol. ll, p. 352.
109 "Trasiado da provisáo sobre o quinro das presas" de 25 de maio de 1624, que consra do Rrg:i-
tro Geral da C,âmaru rle São Paulo, Yol. L Sâo Paulo: Arqun'o Municipal, 1917,
"Cà¡râ de Gaspar da Cunha ao Conde de Linha¡es", escrira do Brasil em 28 de agosto de
1581, Arquivo Nacional da fàrre do Tombo, Carrório dos Jesuicas, maco 8, documenro 9.
A formacáo da elite colonial 239
que €scra1.os da Guiné e assim náo há quem possa haver por seu resgate um só
escravo, não falo mâis nisso po¡que sáo coisas que náo tem ¡emédìo, Dcus o dê
pa¡a sua misericórdiâ.irr
"Carra de Rui 'Ieixeira para o Conde de Linhares', cscrira da Bahia em i' dc março de 1589'
Àr<1uno Nacional da lorre do Tombo, Carrório dos Jesuítas' maco 8, documento 28
"Carta de e1-rei respondendo dLras consultas do ConseLbo da Índìa" de 10 de abril de 1607
Biblioreca daÂjuda. Códìce 51-VII-15, Consultas de Governo' I 139
',{ponramentos que levou C¡istóváo Ba¡roso quando fui para feitor do Engenho Sergipe" de
23 de março de 1607. Àrquivo Nacional da Tor¡e do Tombo, Canório dos Jesuíras, maço 13,
documenro Ì4. Num proccsso da Inquisrçáo' Gonçalo Álvares, mameluco, na¡u¡al de Pono
Sesuro, morado¡ em Sergipe do Conde, conta sobre casos que ¡es de 1593, no
"sertáo onde loi por capiráo de uma licença do Conde de l,inha¡es com brancos, mamelucos e
negros ßecheiros para desccr e rrazer gentìo do diro ser.áo Para o mar" Cl "Processo de Ro-
drigo ìvfarrins" (1593), ArclLrn'o Nacìonal da Torre do Tombo. Inquisiçáo de Lìsboa, 12229'
114 "scbasriáo Vaz a Diogo Cârdim, Provinciaì do coiégio de Santo Anráo" dc 5 de junho de i623'
Àrquìvo Nacronal da Torre do Tombo, Car¡ório dos Jesuitas' maço 69' documenro 74'
Rodrigo Ricupero
as aldeias, que (os jesuíras) rem, sáo de el-¡ei e do povo, e dos índios nos
se¡vimos, como os mais da re¡¡a, por seu esripêndio, e náo ¡em os Padres
escas aldeias como eles (os moradores) rem as suas, em Jaguaripe, e ourros
parcicuiares em sues rerras) das quais eles só se¡vem, e ninguém se arre.r'e a
buli¡ nelas, nem sáo mâis que querro aldeias, as qlrais se váo consumindo,
pelos conrínuos serviços em que os rrazem, de guerras, rebares de Ingleses,
forres, baluartes, i¡ âs miûes com o informan¡e (Gabriel Soares de Sousa) e
coisas semelhances-'
j j
esta conquista está muiro falta de gencìo, pela razão que já tenho avisado a Vos-
sa Majestade e o pouco que remos é necessário consenalo por rodas as vi¿s e
importa ao serviço de Vossa Majesrade que a pessoa nenhuma se dê aldeias dele
de adminiscração, sah'o a quem fizer engenhos, por quanro rendo-as alguns se
náo ajudará o povo nem haverá lugar quando pessoas de posse quei¡am f¿zer os
diros engenhos de lhe darem uma aldeia para sua guarda, como foi uso em mui-
cas partes do Brasil, no seu princípio, e com eu re¡ em minha fazenda uma casa
de armas, como digo acima, e meus criados, me não ârre\-erã sem muiro risco
a principia-la se náo passara para junto a ela um pouco de genrio amìgo nosso
115 "Capiculos de Gabriel Soa¡es de Sousa" de 1582 publicado nos An¿is da Biblìateca Nacional,
vol.62, p.350.
A formaçáo da elire colonial
po¡ uma provisáo que o governador (do Estado do Brasii) de Vossa Majestade
pâssou â meu pâi (Antônio Bar¡eiros, provedo¡-mo¡ do Esrado do Brasil) que eu
pudesse passar duas junto as diras fazendasl6.
A. importância dos índios para a defesa dos engenhos e também pa¡a o forneci-
mento de máo-de-obra indígena, contudo, náo e¡a ¡estrita aos primeiros tempos da
conquista- Os índios e¡am ainda, na primeira parte do século XVII, utilizados em
larga escala por roda a costa do B¡asil, como atesta, em outro relatório, Diogo de Cam-
pos Moreno, quando trara da Bahia em 16i2, ao explicar que 'butros momdores rem
aldeias pequenas (comparadas as dos jesuítas) arrimadas a seus engenhos"Ì17. Fato ates-
cado também pelos jesuíras que, em documento do começo do século XVII, enumera-
vam dive¡sos senhores de engenhos possuido¡es de aldeamentos em suas terraslrs-
A Coroa, contudo, r\âo o con¡role dos senho¡es de engenho sobre seus
^ceitava
aldeamentos, nesse sentido, o ¡ei Filipe II de Portugal informara ao governador Gaspar
de Sousa que recebera informaçóes que Diogo de Meneses, an¡ecesso¡ dele, "tratava de
dar as aldeias dos gentios a senhores de engenho", o que era conrra as dererminaçóes da
Co¡oarre. Adorando o mesmo procedimento úmbém com relação ao Estado do Mara-
nháo, onde a Co¡oa rinha anleriormente aceitedo tel domínio, o mona¡ca voltava aarás
de sua decisáo, como ele próprio explicava: "fui informado que as pessoas a que fiz
mercê da capirania de aldeias nas partes do Ma¡anháo aveixam os índios por diversos
modos obrigando-os a r¡abalha¡ com excesso e demasia (...) (sem) os remediarem nem
p¡evenirem suas ûecessidades", impedindo-os de faze¡ suas ¡oças de mantimentos, des-
116 "Carta que o capiráo-mor do Maranháo, ,{nrônio Moniz Ba¡rei¡os, dá conta do que se passa
naquela conquìsra". de 6 de feve¡ei¡o de 1624, publicada nos Documentos P'tra a Histórí1l ¿,1
Conquìsta da costa leste-ocste do Braril. F.io ¿e Janeiro: Bibiìoteca Nacional, 1905, P. 25i.
Diogo de Campos Moreno, Líaro que ùi ruøao do E¡ado ¿o B,'lsxÌ. (1612). Recife: UFPE,
1955, p. i55. Ourro exemplo interessanre é relatado por lreì Agosrinho de Sanra Ì\4arìa, que
ao descrevcr a crmrda de Nossa Senho¡a do Rosário de Pirajá, no Recôncavo de Salvador,
conta que Baltasar Aranha, senhor de engenho, pelos anos de 1620 'Ìinha também a adrni-
nisrraçáo de uma aldeia de eenrios e assim vinha ser como cåcìque ou o principal deics" Ci
Frei Agosrinho de SânlaMa¡ia.. Santutbø M¿liano € h^tóîía das ímagens Milagrosas dz Nossa
Senhora (..). aparecidas em a arcebíspado dd Bahlø (1722)). Salvador: Insritu¡o GeográÊco e
His¡órico da Bahia, 1949 (Co¡responde ao 9'.'olume da obra integral), p. tl9.
"De quáo impo¡reûre seja a continuaçáo da residência dos padres da Companhia de Jesus da
P¡ovincia do B¡asil das aldeias dos índios narurais da terra, assim pa¡a o bem de suas almas
e servico de Deus c de Sua Majesrade, como o bem temporal de o Esrado e dos mo¡adores
dele" (sem data, mas p¡or.avelmente da p¡imeira ou segunda década do século XVII). A¡quìvo
Nacional da Torre do Tombo, Cartório dos JesLríras, maço 88, documento 222 f. 6 v.
lr9 "Carra de el-rei para Gaspar de Sousa" de 28 de março de 1613, publicada em Cartas para
Áh,aro /-c Sousa e Gaspzr de Soasa, Op. cit., p.186.
)41 Rodriqo Ricuoe¡o
sa forma Filipe III decidiu "que as capitanias de aldeias que estiverem dadas nas ditas
partes do Ma¡anháo a pessoas seculares se lhes ti¡em assim roda administraçáo"r20.
.A Coroa, porém, rráo conseguiu imPedir que tal domínio fosse mantido ou mes-
mo sancionado pela prática e pelo costume. Bons exemplos disso sâo, em primeiro
luga¡ a doaçáo feira por Bento Maciel Pa¡en¡e ao capitáo Ped¡o Teixei¡a. em resPeiio
aos se¡viçosno descobrimento de QuìIo e outros feitos em 25 anos, "em nome de Sua
Majestade, 300 casais de índios de administraçáo encomendados pela manei¡¿ ¿cima
decla¡ada e do mesmo modo que no ¡eino dos Qualios se encomendam com todos os
privilégios mercês concedidos aos ditos ercomendeiros", por três vidas, enrrando neste
e
número a aldeia de Faustino que o diro capitáo "desceu a sua custa"rrr- E, em segundo
Iugar, a inqniriçáo feiø. errL 1657 pela Câmara de Sáo Paulo a mando do Conde do
P¡ado, neto do anrigo governador-geral D. F¡ancisco de Sousa, visando provar que
a aldeia de Ba¡ue¡i de Nossa Senho¡a da Escada era fundada por este, que, segundo
restemunhas, "manda¡a baixar o gentio (...) a sua custa e os gove¡nou e administ¡ou
e deles teve e houve enquanto vir'eu como coisa sua própria e os (trouxe) a sLre custa e
com seu resgate e depois de sua morte romara a Câmara posse da dita aldeia"'tt, daí a
reclamaçáo do Conde, que procurava ¡etomar a posse da dita aldeia, encampada pela
Câma¡a da vila de Sáo Paulo.
Dessa maneira, convém ¡efo¡ça¡ duas idéias fundamentais, a primeira é que, in-
dependentemence das leis sobre a questáo indígena, os índios fo¡am ao longo do pe-
ríodo esrudado e em ¡odas as partes do Brasil o componenre cenr¡al da máo-de-ob¡a
utilizada. Outro aspecto que merece destaque é que, em praticamenre rodas as leis ou
alvarás que regulamentaram a maréria, o papel preponderan¡e cabia à administraçáo
colonial, que se rornava assim a chave para obtençáo ran¡o de esc¡avos como de "ad-
ministrados"-
120 'Alvará para se exrìnguirem as capiranias das aÌdeias do Maranháo" de 15 de março de 1624.
Arquivo r-acional da To¡re do Tombo, Chancelaria de Fì1ipe II1, Doaçóes, Livro 39, fl. 77
"Provìsáo em que Benro Maciel Parenre, governadorge¡al do Esrado do Ma¡anháo e Gráo
Pará, em nome de D. Joáo iV dá ao capìtáo Ped¡o Teixeìra r¡ezenros casais de índios de ad-
minisrracáo" de 29 de janeiro de 1640, publicado por Lucinda Saragoça. Op. cit., p.318.
122 "Insrrumenro de inquìriçáo de resremunhas que provam que aAldeia de MarLii'ri loi lundada
pelo Senhor D. Franc;sco de Sousa, governador-g€ral, que foi do Estado do Brasil. A inqui-
riçáo loi rirada a requerìmenro de D. Francisco de Sousa, Conde do Prado, neto daquele, e
por despacho da Câmara de Sáo Paulo, na capirania de Sáo Viceûre" de 25 de agosro de 1652
Bibliorece Pública de Ér'ora, Cód. CXVI / 2 13,n"17,p.21-
8" O patrimônio fundiário(tr)
Nest¿, tcrr¿ /,o Brasil (..) hi senhores Erc porsuent gra-n¿es teîritórios e
aeles muitos engenhos de açticar, os quais te-lntórlzs lhes há ¿,r'.¿o el-rei de Espadha-
A conquista daterra
 obra de Laval fòi escrìra durante a chamada "Llniáo lbérica", época cm que o rci da Êspa-
nha rambém c¡a o dc Porrugal. Francísco de P¡"rard Laval. Viagem de Fr¿nci:co dc PInrl
L¿¡t¿l (1615) (Traduç:o), 2 vols. Porro: Civìlìzaçáo, 1944,w).2. p.230
"Assim como rÌesres Rcinos de Portugal traz€m a c¡uz no peìro por insígnia da Ordcm e
Cavalaria de C¡is¡o, assim prouve a ele (D. Manuel) que esta terra se descobrisse a tempo
que o ral nornc (Te¡.a de Sanra Cruz) pudesse se¡ dado nestc santo dìa, pois havia de
ser possuída po¡ po¡ruguescs e fica. por herança de patrimônio ao mes¡rado da mesma
Ordem", I'ero de Magalh:es Gandavo, l1;¡lría da Pro¡tinci¿- dc S¡.nt¿ Cr¿z 3t Trø¿rlo d¿
Tcr¡ø do Br'zsjl (c. 1570 c 1576), Sáo Paulo: Obelisco, 1964, p. 26.
143
Rodrigo Ricupero
áreas próximas a esres, exc€çáo feita à conquista do Rio de Janeiro. Na segunda, ini-
ciada em meados da década de 1570, os porrugueses inicia¡am uma rápida expansáo
rerritorial que duraria até meados da década de 1610, quando a ocupaçâo da foz do Rio
.Amazonas, praricamen¡e encerrou a ocupaçáo da Faixa litorânea enr¡e o Pará no No¡¡e
e Sáo Vicente no Sulj.
As oito capiranias originais, ou seja, as consti¡uídas na década de 1530, nas quais
a colonizaçáo deu os primeiros passos, foram os pontos de apoio iniciais para a tarefa
de conquista. Es¡as, con¡udo, sofreram, como vimos, duro golpe na década seguinte,
obrigando a Co¡oa a reforçar sua participaçáo no ptocesso de ocupação do te¡¡itó¡io
com a criaçáo do Governo-geral e a fundaçáo da cidade do Salvador.
De qualquer fo¡ma, náo bastava ocupar os ponros chave da cosra com vilas e
cidades, era necessário criar rìma est¡rltura produriva que susrenrasse o esforço coloni-
zador, ou seja, era necessário que cada vila ou cidade dominasse o ¡er¡i¡ó¡io ci¡cunvizi-
nho e o aproveitasse, notadamente com a agriculrura da cana de açúcar1.
Essa ocupaçáo das re¡ras vizinhas e¡a fundamental, ume vez que, ao permitir
o surgimenro das pÌantaçóes e os primeiros engenhos, incenrivava a vinda de novos
povoadores, ávidos, como os primeiros, por terr¿s e e5cravos, pressionando por novas
conquistas; do conrrá¡io, a incapacidade de mante¡ sob conr¡ole as terras próximas,
afugentava os moradores, que entáo se mudavam para outras capiranias- Dessa manei-
ra, os núcleos urbanos coloniais que náo conseguiram domina¡ plenamenre a regiáo
ci¡cunvizinha e náo desenvolve¡am sua acividade açucareira vegeraram, exemplo disso
sáo as vilas das capitanias de Porro Seguro e Ilhéus, que, depois de um começo dos
mais promisso¡es, náo consegui¡am vence¡ a ¡esistência indígena, acabaram perdendo
o domínio do campo e ¡iye¡am seus ergenhos destruídos, enrrando em completa deca-
déncia e com sua populaçao em declrnio.
Daí a preocupaçáo, ranro an¡es como depois da criaçáo do Goveroo-geral, com a
defesa na escolha do local onde se¡iam erguidos os núcleos urbanos. Optou-se sempre
por fundálos em elevaçóes como, por exemplo, Olinda, Salvador, Sáo Paulo e Rio
de Janeiro - ou em ilhas - como Sáo Vicenre, Santos, Vitória, Irama¡acá -, medidas
defensivas básicas, e sempre que possír,el próximas a bons porros, g¿ranria pe¡manenre
da possibiiidade de ¡eceber a.juda e suprimenros do Reino ou de our¡as parrest.
À conquisra da regiáo dos Campos dos Goìracazes, arual norre flûminense, iniciada por vofta
de 1627 e concluída na década seguinre, pode ser consrde¡ada a úlrima erapa desse morimen
ro. C[ Alberro Lamego. A terra Gaytacá,8 vols. P¿ris e Bmxel¿s: LÉdition d'a¡r e Ni¡e¡ói:
Di¡,ro OÊ<i¿|. I.)lJ. 1i. vol. l. p. J+ (
'.guiaLe\.
Para uma visáo geral das vilas e cidades coloniais, consulre+e Aroldo ð.e Aze.ieëo. Vilas e Ci-
larles do Bru¡il Coloni¡t¿ Sáo Pâulo: FFLCH/USP, 1956 e Nestor GouIartRelsFi|l,o, Euoluçãa
Urban¿ do Brasil. SâoPaLrlo: Pioneira e Edusp, 1968.
Sobre a consrrução em Ìocais elevados, cf. Nesror Goular¡ Reis Fì1ho, O?. cit., p.114.
A formaçáo da elite colonial 245
Vèr. entre out¡os, Jheo¿.ora S^mp^io. Históri1z da Fundaç,io d-a Cidade do Salualor. Salvaàor
Benedirina. 1949.
Ver o "Regimento de Tomé de Sousa- de 17 de dezembro de 1548, publicado por Carlos
Malhei¡o Dias (Dir.), Hí'îóia ¿i. Coloníl,¿,ç,to Poútgu.eia ¿lo Brusil,3 rcls. Porto: Litografia
Nacionel, 1922, voi. IIi, p. 345 (Cirada daqui em diante apcnas como H*ória da Colonizaçáo
Portrguesa do Brasil).
Ibidem.
246 Rodrigo Ricupero
Cardoso, pro,.edor-mo¡ da fazenda real, argumentando "que a terra era sua e que lhe
despejassem o engenho"', en¡áo o único na capìrania e queJ ao que parece, reria sido
desr¡uído ou frcado muito arruinado após o ataque, Atacaram ainda out¡os mo¡ado¡es
e assakaram o gado de Garcia D'Ávila, criado de Tomé de Sousa. A ¡esPosra veio com
D. Ál"a.o da Cosra, filho do governador-geral, que após algumas virórias, obrigou os
Felisf,elo Flejre, Histórid ll'erritorl¿l do Brazil (1906),2" ed. fac¡ìmilar. Sal.'ador, Gove¡no
do Esrado, 1998, p. 16 e seguinres e Vand er\e1. Pinho. Hisairia dc an engcnho do recòncaw
2'ed. acrescida de um apêndice. Sáo PauLo: Companhia Editora Nacional, 1982, p 42.
"Carra de Mem de Sá para ei-rei' de 3l de março de 1560, pubiicada nos ln¿is ¿n Bibliotcc¿1
Na r ío n a /, rcI. 27, p. 227.
"Registro da carta de Mìguel de Mou¡a" de 1578 que consta do "Título onde se resgìstrm
rodas âs cerridóes em forma, que o provedor-mor passa. e outras do senlco d'el_reì Nosso
Senhoi', publicado na coleçáo Daatmentos Hi\ttilicos, 1Ì0 vols Rio de Janeiro: Brblroteca
Nacronal, 1928-55, vol. 14, p. 455.
Luís d,{rmas, serviu por quer¡o ânos e meio como tcsoureiro da Fazenda ¡eal cm Salvador e
foi rambém ouvjdor no Rio de Janeiro nos primciros anos da cidade. ¡e¡ornando no início da
década seguinre para a Bahia, mas, ao que parece, náo apror
cìrado "Insrrumenros de Mem de Sá", p. 172 e "Sentenca dada na Bahia, em 1576. pelo Go'
248 Rodrigo Ricupero
A. Capitania daBahia
vernado¡ Luís de B¡iro de -A.lmeida e pelo Ouvidor Geral Sebasriáo Alvcs, em recurso n¿ açáo
criminal movida conrra Jorge da Mota" de ti de novembro de 1583, publicado por Anrônio
Prado (Ed.). Ardens e Ill, p. 122
Proaizoens Rea1s. Rro deJaneìro: Jornal do Brasil, 1928,
Gabriel Soa¡es de Sous^. Tratd¿o l¿sctiti"o da Brusil ¿n 1587 j" ed. S:o Paulo, Companhia
Ëdirora \¿cional. lq8-. p. l4J e seguinre,.
O caso do Conde de Linhares que por "náo a querer vender ou aforar" certa parcela de rerra
impedìa a consrrucáo de até dois engenhos ou a exigência do pagamento de 29o de foro pelo
uso de dererminados de D. Álvaro da Cosra, o que impedia, pâra o auror, â
dos principals prop¡ietários do Recôncavo aponrados por Gabriel Soa¡es de Sousa ex-
póem a ligacáo ent¡e te¡ r¡m cargo na adminisrracáo colonial ou esrar inrimàm€nre
ligado a algum decento¡ de um cârgo e a consriruicáo de um patrimônio, como nos
revela, seguindo o trajero do autor, uma voha pelo Recôncavo, por r.olta de 1587rr.
Acompanhando o trajero deste aurot parrindo pela regiáo ao norte da cidade
e seguindo o sen¡ido anri-horário enconrramos em primeiro luear as propriedades
Cristóváo .Aguiar de Ahe¡o e de Ga¡cia D'Âila. O primeiro era proprietário de uma
fazenda na regiáo entre Paripe e Maruim e esrava const¡uindo um engenho de água
em Tapagipe, que, por ser próximo à cidade, Gabriel Soa¡es de Sousa ac¡edirava não
ser proveitoso. Capitáo-mor de Sáo Vcenre ent¡e 1543 e 1545. Crìstóvão Aguiar
de Alte¡o ¡e¡o¡nou ao Reino e de lá voliou com Tomé de Sousa em 1548, sendo o
primeiro a ocupar o posro de almoxarife dos a¡mazéns e man¡imenros da Bahia,j,
foi ainda muito ligado ao grupo do 2' Gove¡nado¡-geral, D. Duarre da Cos¡a e seu
filho Áh'a¡o da Cosrarl.
Garcia D'Ávila, o fundado¡ da Casa da To¡¡e, maior lacifúndio do período co,
lonial, quase dispensa apreserracóes- Na descriçáo do Recôncavo. apa¡ece como p¡o,
prierário de olarias e de um curral em Tapagipe; conrudo, ourras propriedades suas sáo
ciradas em momentos dirersos da ob¡a de Gab¡iel Soa¡es de Sousa. C¡iado de Tomé de
Sousa, Garcìa D'Ávila foi o primeiro feito¡ e aimoxa¡ife de Salvado¡rt.
Avançando para o Norre, na regiáo de Pìrajá, enconrramos o engenho de água
de Diog;o da Rocha de Sá, que, segundo nosso guia, e¡a "muito o¡nado de edifícios".
Nos próximos parágrafos, sahrc ourra indìcaçáo, as jnformâçóes sáo ft¡necìdas por Gabriel
Soares de Sousa. 1óll-¿m, p. 143 - 16\.
É eÌog;ado numa carra de D. Duarre da Costa ao rei, mâs já numa escrira pelo grupo hosril ao
qo"ernador-geral, or: seja, o grupo ligado ao Bispo lero Fernandes era cirado como não me-
rececio¡ de crédiro. Cl
"Ca¡ra de D. Duane da Cos¡a a el-¡ei, dando lhe conta da gt'erra, que
o genrio fazia a cidade do salrador" de 10 de junho de 1555 e "Car¡a dos o6ciais da Câma¡a
da cìdade do Salvadoi' ¿e 18 de dezemb¡o de 1556, pubiicadas îa Hist/jriá ¿ã Colonízaçáo
?ortugu.esa da Brasil,.o1. III. p. 377 e p. 381.
"Traslado da provisáo de fe;¡o¡ e almoxarìle desra cidade do Salvador e da alfancÌega dela, que
proveu o senhor gover¡ador (Tomé de Sousa)" de 1' de junho de 1549. que consra do "Ln ro
1'do regisrro de provimenros seculares e eclesìás¡icos da cidade da Bahra e terras do Brasil",
jniciado em 1549 e publicado na colecâo Docurnentos Hi¡t,jritos, Op. rít., rcls 35 e 36. O
documento ci¡¿do ercolrra+e no vol. 35, p. 34. Ve¡ também Ped¡o Ca.lmon, Hist¡jria da Cøsø
da Torre. Rio de laneiro: José Oli'mpio, 1958 ou Luiz AÌber¡o Moniz Bendejra, O Feu/0. Ria
de Janeìro: Cn'ilizacáo Brasileira, 2000.
?i0 Rodrieo Ricuoero
Es¡e era sob¡inho de Mem de 5á'6 e casado com a i¡má do alcaide-mor de Salvador,
Henrique Muniz Barreto:i; seu i¡máo, Maouel de Sá de Soto Maior, era provedor da
lazenda da Bahiars. Na mesma região, Joáo de Barros Cardoso, parenre, ou muito
provavelmente {ìlho, do provedor-mor Cristóváo de Barros, tinha um engenho de água
muito bem montado29.
Ainda em Pira.já, o mercador e lav¡ado¡ -Antônio Nunes Reimáo' possivelmente
flamengo, era proprietário de uma casa de meles. P¡óximo dele, Simáo rla Cama de
Andrade, que veio para a Bahia como capitáo da a¡mada real de 1550 e acabou frcando,
era proprietário de um engenho de águaio. Na regiáo encre Pirajá e Macuim, Antônio
de Oliveira Ca¡valhal, cavaleiro fidalgo, possuía uma fazenda, onde Posreriotmenle
ergueria um engenho. Este rambém veio para o Brasil como capitáo da armada real que
aporrou em 1551. Segundo Gab¡iel Soares de Sousa, era Aicaide-mor de Vila Velha e
sua Êlha casou com Duarte Muniz Barreto, Alcaide-mo¡ de Sal,'ado¡ir.
Seguindo agora para o norte, em Paripe, Francisco de Äguilar, "homem prin-
cipai", que fora rendeiro do açúcar em 1560, juntamente com Heito¡ Antunes, cinha
um engenho de bois "muito bem acabado"i2- Na mesma ¡egiáo, o desconhecido Vasco
Rodrigues Lobato era proprietário de ourro engenho de bois
26 É designado rambém como criado de Men de Sá, quando serviu como testemunha na doaçáo
de cerras do governador para a Companhia de Jesus. Cf. "Sesma¡ia do Camamu doada pelo
Gove¡nador Mem de Sá ao Colégio da Bahia" de 27 dejaneiro de 1563, publicada por SeraÂn
Leite (Sl). Cartat do: pritLeirosjesuitas zla Brasl, 3 vols. Sáo Paulo: Comissâo do 1V cen.enârio
da cidade de Sáo Pauio, 1954, r,ol. lII, p. 522
V/anderley Prnho, Testamen¡o de þlern /r Sl. Rio de Janeiro: Imprensa NâcionaÌ, 1941, P.
68, 88 e 90 e Frei ,\n¡ônro de Sanra Maria Jaboatáo, "Catálogo genealógico das principais
famílias ..." (Século XVIII), pubÌicado na Reazita do Inçìnoa Histô¡ica e Geogrtífco Bru:ikiro,
tomo 52, p.38/+.
28 Posceriormen¡e \fanuel de Sá de Soro Maio¡ também serviu como Provedor-mo¡
29 Essa rambém é r opiniáo Caimon (Eà.), Catálogo genealógíco ¿4t Prin,:iPã^ f,1mi/iã',
de Pedro
2 vols. Salvador: Emprcsa Grálìca da Bahia, 198i, p. 121 (Trata-se de uma reediçâo áo Cattl'
logo g'neal,igico de ket la6oatâa).
Simáo da Gama de Andrade ainda serviu como vereador em 1556 e ioi um grande apoiador
do cr¡baÌho de convcrsáo dos índios, desenvolvido pelos jesuítas. F¡ei \¡ìcenre do Salvador,
Hîtóría do Brasil(1627). 5" ed. Sáo Paulo: Melhoramentos, 1965, p. 163 e Àffonso Ruy, .llgd-
rtu ¿i Cånara Manícip¡.lda cídaìe do Saluador Salvador: Câma¡a Municipal, 1953, p. 342
"Con6rmaçáo de Duane Muniz Ba¡rero como alcarde-mo¡" de 16 de janeiro de 1573, .A.r<¡ui'
vo Nacional da'lbrre do Tombo, Chancelaria de D. Sebas¡ìáo e D. Hcnnque, Doaçóes, Livro
29, fl. 14j. Ver rambém Frei Jaboaráo, Op. ctt., p. 199 e EreìYicenre do Salvado¡ O2. rh, p.
),63.
'Àssenramenros das dignidades, cônegos, meios cônegos, capeláes e moços de coro" de 14 de
serembro de 1559, que consra do cirado 'Liv¡o 1' do regisrro de provinenros ...", pubhcado na
coleçâo Documento: Histórico', Op. cít., !o1.36, p. 93 em ûoÉ mârginal de 1j60. Era casado
A fo¡macáo da elire colonia] 2.51
P¡óximo dali, pelo rio Cotegipe abaixo, Jorge de MagaÌhães, fìdalgo, que fora
ouvido¡ da Bahja e oûciai da Câma¡a em 1589, e¡a dono de uma IIha "mui fò¡mosa
por estar roda lavrada de canaviais", onde cons¡¡uí¡a "nob¡es casas ce¡cadas de la-
ranjeiras arruadas e ourras árvores, coisa muito para se ver", nas palavras de Cab¡iel
Soares de Sousar'.
Rero¡nando Maruim, enconcramos Sebastiáo de Faria, dono de dois engenhos.
a
Possivelmen¡e ¡ambén ¡e¡rha servido como ouvidor geraÌ em lìns da década de i570. Cl.
"Scnrença dada na Bahia. em 1576. pelo Gove¡nador Luiz de Bruo de.{Lmeicla e pclo Ouvi-
dor Ge¡al Seb¿srráo Ái1'âres, em ¡ecri.so na acáo crìminal movida conrraJorge da trfora" de 13
de novemb¡o de 1583, prblicada por Ân ô^io P:aáo Jr., em A¿en: r Pnrizoens Real:. Rto à<
Janetro: Jornal do Brasii, 1928. III, p. 127 e "Processo de Gaspar Rodrigucs" (159.3). À¡qu!\rc
Nacional da To¡rc do l'ombo, lnquisiçáo de Lisboa, 11061.
43 Frei \¡ìcenre do Salvador , Op. cit., p. 30t) e 301.
44 Frei Jaboaráo, Op. ot., p. 1A7. Este foi capitáo de uma f¡ora de socor¡o a Paraíb¿ c¡¡ li73 e
vereador en ii92. CL
F¡ancisco Adollò de \¡arnhagen. Hírtória g,:ral do tsru:í|,5'ed. 5 vols.
Sáo Paulo: \lclho¡amentos: 1956, vol. l, p. 362 e Àffonso Ruy, Op. cí'., p. a43.
A formacáo da elire colonial 253
Na mesma ¡egiáo, Nuno Fernandes possuía uma ilha e Jorge Anrunes um enge-
nho de bois "mui pet¡echado de edifícios de casas", Os dois, filhos de Heitor Antunes,
eram irmãos da esposa de Sebastiáo de Faria, o que conferia a ambas as família imenso
pode¡ na ¡egiáo,ponto de se¡em conhecidos como a "gente de Matuim"lt.
a
Adian¡e, em Mataripe, Gab¡iel Soa¡es de Sousa cita dois antigos prcpriecários,
sem, contrido, nomear os no\as. O primeiro e¡a Deáo da Sé, possivelmenre Pero do
Campo, descendente do primeiro donatá¡io de Porto Seguro, que rinha sido dono de
uma fazenda em Mataripe. O out¡o era Ped¡o Fernandes, anrigo proprietário de uma
ilha com roças e canaviais, esre lora escrir'áo dos Con¡os em Salvador após 1555, rendo
provavelmente exe¡cido cargos diversos em outms capiranias{6.
Avançando mais um pouco, enconr¡amos o "formoso engenho de bois" de C¡is-
tóvâo de Ba¡¡os em Jacarecanga, "onde esrá tudo povoado de fazendas e lar'¡ado de
canaviais". Uma das mais imporrantes figuras do período, fìlho de Antônio Ca¡doso
de Barros, donatá¡io de cinqüenta léguas na chamada Cosra lesre-oeste e primeiro
provedor-mo¡. Veio como soldado para a Bahia nos primeiros anos da cidade, posre-
¡io¡men¡e foi capitáo-mor da frota gue veio do Reino em 1566 em auxílio dos funda-
do¡es do Rio de Janeiro, go*'ernador do Rio de Janeiro de 1572 até pelo menos 1575,
provedor-moi, como o pai, a pa¡dr de 1578, comandou a conquista de Sergipe em
1589, participou do Governo-geral interino ent¡e i587 e i591. Gab¡iel Soa¡es de Sousa
¡efe¡e-se somente ao seu engenho, mas tinha out¡as p¡opriedadesa:.
Ainda em Jacarecanga, o desconhecido Tristáo Rodrigues era dono de um en-
genho de bois e Luís Gonçalves Varejáo era dono de outro, também de traçáo animal,
Prímeira Visítaçtia do Santo Ofítio às Partes lo Brasil- Canfs:,is da BnLtû (\i91 92),2' e¿.
Rìo deJaneiro: Sociedade Capistrano de,Abreu. i935, p. 132 (daqul cm diante apenas Ca;rþ-
sóes d¿ Bahir).
Possivelmenre rambém renha enercido os olícios de escrir-áo no Rio dc Janeiro e cie escrii áo
da a¡mada em meados da década de 1560. Dado que o esctn-áo do Rio cie Janeiro rambém
seinriruLâra escri\'áo da armada e, como esse posto deve.ia ser Prorido em Salvador. e ¡ruiro
possír.el que seja a mesma pessoa. "TrasÌado da ca¡ta de Pero Fernandcs esc¡iváo dos con¡os"
de l5 de ourubro dc 1554, que consra do "Livro 1'do registro dc provinrentos ". pubÌicado
n^ colecáo Dacariento: Hi:t,trins. O?. cit., wl. 35, p 233 e Elvsio de Oliveira Belchior. C¿z-
qnistadorcs e Poroadares do Rio deJanen'o.Rrc àeJanciro: l-ìvraria Brasiliana, 1965, p. 201.
Ocu¡o.r ainda o posto de provedor da Santa Casa de Nlisericórdia da Bahìa e possuiu ourras
propriedades na Bahia, em Sergìpe e no Rro de Janeiro, onde te.-e tm engenho, além de ter
recebido aurorizaçáo pâre enviâr ce¡¡a quantidade de pau-brasil para o Rcino. Frei Vìcenie do
Salvador, O¡. ctt., passin. El,"-sto deOliveira Belchior. OP. .l¿. p. 77 FeLisbelo Frcirc, OP. cìt ,
p. 84- Joaquim Veríssimo Scrráo, a Ria le Janeìro no século XVI,2 vols. Lisboa: Comrssáo
N¡cjonal das Comemor?.çóes l.:).1965, Passìn Russel-'Vood, F:7algas e Filartropas. Brasilia:
1,N8, i981. p.295.
254 Rodrigo Ricupero
esre foi vereador em Salvado¡¡s. Rumando ao norte, Tomás Alegre era proprietário de
um "fo¡moso" engenho de água no rio Pitanga. Änrigo feico¡ de Lucas Gi¡aldes em
Ilhéusi', e¡a velho conhecido de Mem de Sá, ¡endo sido ¡estemunha de um processo
em que o governado¡, ainda no Reino, advogava em favo¡ de Lucas Giraldes5o.
No mesmo rio Pitanga, Ma¡cos da Cosca, que viria a ser juiz ordinário em 1614
e 1621, possuía uma casa de melestr, perto dali, enconrramos o eogenho "mui o¡nados
de edifícios" de Miguel Baris¡a, este, provavelmente, ¡ambém me¡cado¡, mantinha
relaçóes comerciais com Mem de Sá, inclusive no tempo em que o governador esreve
no Rio de Janeiro'i.
Seguido para Mataripe, André Mon¡ei¡o, antigo feiror do engenho de Mem de
Sá, possuía uma "fo¡mosa" fazenda e o desconhecido João Adriáo era proprietário de
uma casa de meles. P¡óximo dali, no Caípe, Marrim de Carvalho e¡a dono de um
engenho de bois "de duas moendas, peça de muira esrima", nas palavras de Gabriei
Soa¡es de Sousa. Esre loi se¡canis¡a em Porro Seguro por volta de 1567, depois, por
casar com a filha de Fe¡náo Vaz da Cos¡al1 e de Luísa Do¡ia, c¡iada da Rainha, foi no-
meado resou¡eiro em i572, depois disso pa(sou â ocupar imporrances cargos: provedor
da Bahia em 1584, provedor em Pe¡nambuco em 158i, provedor da Armada de Diego
Flores que foi à Paraíba em 1j84, além de encarregado de our¡as rarefas ¡elacionadas
à Fazenda Realir.
FreìJabo:.ráo, O¿. rlr., p.478. Segundo Pedro Calnon, chamava-se Diniz Goncaives \¡arejáo.
Ct. Pedro Calmon (Eð,.), Catálogo genealógico las prinàpais þníliaJ, O?. cìt., p.772.
Frei Vicente conra que Lucas Giraldes, cansado de o feitor mandar pouco açúcar, escrer-eu a esse
"-Ihomazo, quicre que te diga, manda la asuc¡e deixa ìa parolle, e assinou sem escrever
mais lerra" (man¡ida aquì a gralìa original). F¡ei Viccnre do Salvador, Op. ùt., p. t23.
"Cana do Pad¡e Rui Pe¡eira aos Padres e I¡máos de Porrugal" de 6 de abul de 1561, publicada
por Sereiìm Lcitc (SJ). Cattas dos primeira: je:uhas do Bra:í/, Op. ch.,voi. Iil, p. 328; "ln\ en!.Ìrio
do engenho de Sergipe para enrrega pelo rendeiro judicial ao procurado¡ dos he¡deiros'' dc i576
e "Cc¡ridáo de díridas que se pagarrm por nìorre de Mem de Sá", ptblìc:Låos em Docu¡nentos
parø a Hisúria r:1o Açúmr, J vols. Rio de Janerro: iAÀ, 1956, vol. III, rcspecrivamenre, p. 360 e
446 e "Ca¡ra de conlì¡maçáo de sesmaria de Lucas Giraldei' de 19 de setembro de 1556. Àrqui-
vo NacionaÌ da Torre do Tombo, ChanceLa¡ia de D. Joáo IIl, Doaçócs, Liv¡o 65, fl. 176.
S.lluzdoL (1536'\732). Sat-ador: Benedìrina, t945. p. r08 Lito prìneirc y'o Goueno do Ùrc,-
rl1 Rio de Janeiro: Minisrério das Relaçócs Exrcrìores, 1958, p. 374 e Líuro 2 do Gouerno do
B¡¿rt¿ Lisboe: CNCDP e S:o Paulo: \{useu PauLsta,2001, p. 176.
Ct "lnvenrário que se fez da fazenda quc veio do Reino do governador Mem de Sá ..," de 1578,
pt$Iicado em Docunentos para a Hisúría lo Açzicar, Ap cit., .tol IIL, p. 296 en¡¡e ou¡ras.
53 Ësre, além de exercer diversos cargos, era sobrrnho do governador-ge¡al D. Duar¡e da Cosra.
54 Pero de Magalhães Ga ndavo, Ap. clt., p. 94; " P¡ovimen¡o de Mar¡im de Carvalho" de t5 de
novemb¡o de 1í72, Arquivo Nacional da To¡¡e do Tombo, Chancelaria de D. Sebasciáo e D.
Henrrque, Doaçóes, Livro 30, fl. lt6t Irineu FerreinPinto. D¿¡z¡ ¿ Notas pø.ø. a Hísróritt la
A formaçáo da elite colonial 255
Parøiba,2 vd,s. Joâo Pessoa: Univ€rsitáriâ, 1977, vol I, P. 17; e Pereua ða Cosra, A¡zai¡ P¿¡'
nambudnos,l0 vols. Recile:ÀrqLrivo Público Es¡aduaÌ, 1951, vol. I' p. 560.
55 F¡ei Vicence do Salvador, O¿. cít., P 300.
56 Cl "Tiruìo do regisrro dos mandados dc Pegamenros, c de ourras despesas" iniciado peLo
prìmeiro provedor-mor em 1549 e pubìicado nos volumes li e 14 da série Datzqn¿ntoJ Hîtó-
rico:. Op. Cit. Neste caso, ver o mandado dc número S4 Oliveira Belchìor' Conquistadores t
potoaàares do Rio de Jaze;ra. Rio deJaneiro: Brasiliana, 1965 p. i30
F¡ei Vicen¡e do Sah'ador, Op. cir., p. 173 e 181; Frei Jaboaráo, Ap. .¡t., p. Ij9 e seguinles e
F¡ancisco de Ässis Ca¡'¡a|ho Franco, Dícian¿íria de Bandeìrante: e Ser¡az¡s¡¿s. Sáo Paulo: Co-
missáo do lV cen¡ená¡io, 1954, p. 12.
63 "Caria de Quirício Caxa" de 22 de dezembro ð,e 1575, apuà Pad,re SerañmLeiæ. Hlstória dd.
Co'apanhia deJesus no B¡¿¡ll. 10 vols. Lisboa: Portugália e Rio deJaneiro: CiviÌizaçáo Brasi-
leira, 1938, vol, II, p- 175 e seguinres e Gabriel Soares de Sousa, O?. cít., p.86.
Francisco Ädolfo de Varnhagen. O¡. cir., vol.I, p- 335,342 e 346. 'Livro primeiro do registro
de provinrenros ,..", publicado na coÌeçáo Datumentot Hittólicot, Op. cù., vol.36, p. 196.
Ao que parece, depois de alguns anos, deixou de se¡vir o cargo pessoaimenre, conseguindo
que um dos subsrituros fusse seu cunhado Beichio¡ Dias. Posreriormenre o ¡ei desmembra¡ia
o cargo, nomeando ourras pessoas, com a perda da propriedade de Francisco de Àraújo, con-
rudo, este ainda conseguiria que seu 6lho Domingos de.A.raújo fosse provido no cargo. "Pro-
vimenro de F¡ancisco de,{raújo, escriváo da Àlfândega e Provedoria dos Defunros" de l8 de
dezembro de 1i75, Arqui!'o Nacional da Torre do Tombo, Chanceiaria de D. Sebasriáo e D.
Henrique, Doaçóes, Livro 34, fl. 182; "Provimenro de Belchior Dìas Câ¡amuru, escriváo da
Alfândega" de 6 de fevereiro de 1592 "Provimenro de Diogo Baracho, escriváo daÀlfândega"
de 4 de maio de 1603 e "Provimen¡o de Domingos de.A.raújo, escriváo da Alfândega" de 7 de
junho de 1617, ,A.rquivo Nacional da Tor¡e do Tombo, Chancela¡ia de Filipe II de Porrugal,
Doaçóes, respecrivamen¡e, Liv¡o 2, ll. 73 r-, Livro 10, t. 256 e Livro 41, Â. t2i.
"Ca¡ra de sesmarìa de Ba¡rolomeu Fernandes" de 10 de março de 1600, publicada por Felis,
belo Freire, AV. rit., p.346.
A formaçáo da eiite coloniai 151
Caramuru, que, aliás, iria ocupar o mesmo ofício quase no final do século6t. Fran-
cisco de Araújo possuía barcos, negociava pau-brasil e tencou a¡¡enda¡ o cont¡ato do
dízimo e "mais di¡eitos" nas capitanias da Bahia, Pe¡nambuco e ltam¿racá- É co-
nhecido ainda por te¡ incirado a defesa de Salvado¡ em 1582 quando barcos ingieses
enr¡a¡am na Baía de Todos os Santosó
Na regiáo do Paraguaçu, Antônio de Paiva possuía uma ilha "aproveitada com
canaf iais". Frei Jaboatáo no Catálogo Geneahgico o intitula capitão, casou ne descen-
dência de Diogo Álva¡es Ca¡amuru6e. P¡óximo dali, An¡ônio Peneda (ou Penella) era
proprietário de uma casa de meles, junto do rio Paraguaçu, esre seria o avaliado¡ dos
bens de Mem de Sá no espólio, tendo sido também juiz e alcaide na década de 158070.
Outro proprietário na regiáo, eraAnrônio Lopes Ulhoa, dono de um engenho de água
no rio Paraguaçu "de muiros canaviais e fo¡mosas fazendas"- O irmáo, Diogo Lopes
Ulhoa, foi encarregado de busca¡ os ¡emanescenres da expediçáo de Gab¡iel Soa¡es de
Sousa, além de ter participado da conquista de Sergipe. Os Ulhoa e¡am uma åmília
rica, envolvidos no contrato dos dízimos, e, no mapa do ¡ecôncavo ð,o Liuro que ziá
røzáo do Eçødo /,o Brasil, aparecen dois engenhos com a designaçáo "do Ulhoa"T'-
Ainda no Rio Paraguaçu, Antônio Rodrigues, provavelmente, antigo feitor de
Mem de Sá era dono de uma casa de meles- Ali também Joáo B¡iro de Almeida, tlho
do 4' governador-geral Luís de B¡i¡o de Almeida, que assumiu o governo inrerìno da
capitania da Bahia, quando o pai foi à Paraíba:2, e¡a dono de 'um notável e bem as-
sentado engenho" de água no rio Paraguaçu, que pela descriçáo de Gabriel Soa¡es de
Sousa devia se¡ um dos melhores engenhos da Bahia.
Pe¡¡o dali, o pai Luís de B¡ìto de Almeida, possuía metade de um engenho de
água "mui bem acabado", em parceria com Rodrigo Martins, que antes moía suas ca-
nas no engenho de Mem de Sá7'. Neto de Diogo Álr'ares Caramu¡u e filho de Afonso
Rodrigues, Rodrigo Marrins fè'i feito cavalei¡o Êdalgo em 1607, juntamente com o
A Êlha casou com Bahasar dc Âragáo, que posrerio¡mente seria um imporrante senhor de
engcnho na regiáo. CÊ Frei Jaboatáo, Op. ci'., p. 93 e segþir\tes.
F¡ei Vcente do Salvador, Ap. cit., p. 299 e "Cana Régìa para o governador-geral Lourcnço
da Veiga. sobre o cont¡ato dos dízimos" de 29 de dezcmbro de Ì579, Instituto Histórico e
Geográ6co Brasileiro, Documentos manusc¡itos copiados no século XIX por ordem de l-;
?edro II, Códice 1.2-1í - Registros - Tomo I - Conselho UÌtrama¡ino Porrugués
69 Frei Jaboatáo, Op. cit., p. 115.
70 Wanderley Pinho, Teçamento de Mem de Sá, AP. cit., p. 93.
Frei Jaboaráo, Op. cit., p. 303. Diogo de Campos Mo reno. Lìuro quc dá razio do Eçado
y'-a
71
Bra:i/. (1612). Rìo de Janeiro: lNL, 1968 (edicáo fac-sìmilar com os mapas).
72 Confssíes da Bahia, Op. rit., p. 1.68.
73 "lnlenrário do engenho de Sergipe por morte de Mcm dc Sá" de 1572, publicaào em Dacu'
tneittos paru a Ht:t,jria ào Açica.r, Op. rlr., vol. III, p. 56-
258 Rodrigo Ricupero
i xJi*t"t" c"i,.iìii,"i t",n"t"o. ,omo capicÁo. cf. Frei J úoaáa. op. ctt., r40 e F¡¡ncis'
co Adolfo de Varnhagen, Op. cit.,'toI.lI, p.33.
75 Gabriel Soares de Sousa, Ol. rll, p. 63; Frer Vicente do SaLvado¡ Op. cìt., 304. Yer aind,a,
"lnvenrárìo do cngenho de Sergipe para enrrega pelo rendeiro jLrdicial ao procurador dos
herdei¡os" de 1576, publicado em D oc'lmentos ?,ztu ¿ Hi"óría do Açúcar, Op. cn., vol. III, p.
363 e "Ca¡ra de el rer ao Bispo D- Pedro de Cascrlho ordenando que mande no Conselho
'e.
da Índìa os despachos de se¡r,iços pres¡ados dis¡riro <la Brhia do Salvador, por ilraro
¡o
Rodrigues e seus irmáoi' de l8 de dezembro de 1606, Biblioreca da.A.jLrda. códicc t1 vll-15,
Consultas dc Governo, f. 103.
76 Enrre ou¡ros, ve¡ Francisco Àdollo de Varnhager. Op. ch, vo1. I, secçáo XVll.
.Doaçáo
77 da Capirania de Peroaçu de Dom Áh ¿ro d¡ Cos¡¡ d< IJ de ma¡co dc 1t71, pììbli-
ca.ð.a em Docun¿n¡os Httóricos, Op. rit., vol. 13, p. 224 (A doaçáo irricial feira pelo pai é de l6
de janerro de 1557).
Perto dali, no rio Jaguarþe, encontramos Fernáo Cabral de A¡aíde, famoso por abrigar
a "heresia" dos índios, chamada Santidade, em seu engenho de água, "obra mui formosa e
ornada de nob¡es edifícios"sr- Próximo dali, no rio Irajuí, Gaspar de Freitas de Magalhâes
possuía uma casa de meles "de muita fábrica"- Segundo FreiJaboarão, era fidalgo e veio para a
Bahia como pro.'edor da Alfândega, conudo, o ceÍo é que foi nomeado escriváo da alånde-
'1572
ga da Bahia em e que comandou um barco conûa os ingleses na Bahia em 158T:.
Adianre, no lrajuí, Diogo Correia de Sande possuía um engenho, avaÌiado por
Gab¡iel Soa¡es de Sousa como "uma das melhores peças da Bahia, porque está mui
bem acabado, com grandes aposentos e outras oIìcinas"; pouco além, "na ribeira que
se diz Jaceru" erconr¡amos seu segundo engenho, também muito bem montado. No
tempo do governado¡ ManueÌ Teles Barreto, Diogo Cor¡eia de 5a¡de e Fernáo Cabral
de Ataíde, "que possuíam muitos escravos e tinham aldeias de índios fo¡¡os" foram in-
cLrmbidos pelo gove¡nado¡ de combater os aimorés em ilhéus. Era natural de Porrugal
e, segundo Jaboatáo, "da casa dos Co¡reias de Sá, tronco dos viscond€s de -Asseca"si.
Na mesma regiáo, Gabriel Soa¡es de Sousa, nosso famoso guia pelo recôncavo náo
deixou de inclui¡ seu engenho de água no rio lrajui, o qual descrele sem modéstia como "um
soberbo engenho", com uma "grande e formosa igreja de S. Lourenço, onde vìvem muitos
vizinhos numa poroaçáo que se diza Graciosa. Estaé mui¡o fé¡til e abas¡adade todos os men-
rimenros e de muitos canaviais". AIém desse engenho, Gabriel Soa¡es de Sousa eslava come-
çando a construçáo de um segundo. Ele foi rereado¡ de Salvado¡ em 1580 e acabou 1àlecendo
du¡ante sua malsucedida expedição em busca de riqueza minerais pelo interioC'.
na coleçia Doa,Lnento! Hìltóïícas. 07. rlr., respccrir-amenre, vol. 35. p 385 e vol 36, p 152
A 6lha casou com o já citado Ma¡tim dc Ca¡vaLho. Cl Frei Jaboatáo. OP. .it., P.264
Canf:sóe: da. Bahia, A7 rlr., p. 28 e Ronaldo \ãinfas. A htr¿si¿ dos hdias Sáo Paulo: Compa
nhia das Lerras. 1995-
Frer Jaboatáo, OP.rit.,p.241, F¡ei Vicen¡e, Ol cít., P 300 e "Provrmento de Gaspar dc
Freiras. €scrìváo da Âliândega da Bahia" de 19 de janeiro dc 1572. Arquìr'o Naclonal da
Torre do Tombo, Chancelaria de D. Sebas¡iáo e D. Hcnrique, Doaçóes, Ln ro 2Z fl. 372. Seu
1ìlho casou em seg'.rndas núpcias com D- Brites de Meneses. Êlha dc DLrarre Munjz R:rre¡o
alcaidc-mor de Sah ador. Cl Frei Jaboaráo, Op. ctt.. p. 146.
Era casado com Joana Ba¡bosa, 6lha do provedor da capirania da Ilahia,{nrônio Riber¡o e
afilhada do scgundo gor.ernador gcral D. Duar¡e da Costa. Cl F¡ej \¡icente do Salvador' O¡
,rr..¡. lo6.l-e l¿bo¿r¿o.OP.¡r. F. l8:.
Foi casado com .A.na de Argolo. fi1ha do primeiro provcdor da Bahia, Rodrigo de Argolo. Cf
"Juramenco feiro pela cìdadc da Bahia a el-¡ei D. Fllpe" de 19 maio de 1582, publicado cm
A¡ Gat'et¿s d¿ Tone d.o Tornbo.l2 rrcls. Lrboa: Cen¡ro de Estudos Histó¡icos Lllr¡amarinos,
1960- 77. lII. p. >6: F rei Vicenre do Salvador, AI rit., p. 312 e "P tocesso de Berna¡do Ribei-
ro' (1591), Arquno Nacional da Torre do Tombo, Inquisiçáo de Lisboa. 13957
260 Rodrigo Ricupero
Descendo mais ao Sui, encontrâmos Fernáo Rodrigues de Sousa st. Esre possuía
um engenho de água "mui bem acabado e aperfeiçoado" no ¡io Tai¡i¡i com "uma po-
pulosa fazenda", onde havia "mui¡os homens de soldo para se delenderem da praga dos
aimorés"; era ligado às famílias Ado¡no eZorrrtlla, foi aindajuiz ordinário no rempo
do governador Diogo BorelhosG-
Avançando pa¡a a enrrada da Baía de Todos os San¡os, Domingos Saraiva da
Fonseca, mercador, possuía uma ilha, com gnndes criaçóes por se¡ terra "frøcø" para
canassi. Perro dall, Lopo de Rabelo possuía uma ilha na frenre da barra do Jaguaripe
"de onde se rira muita madeira". Moço fidalgo da Câma¡a d'el-¡ei, foi escriváo da alça-
da "des¡e Brasil", ofício que lhe deu o rei pelo que perdeu em A¡zila no Mar¡ocos¡s.
Con¡inuando a descriçáo do Recôncavose, chegamos às ilhas da Baía de Todos os
imporrante, ltaparica, foi dada em sesma¡ia, juntamenre com a de I¡a-
Sancos. -4. mais
maratiba, por Tomé de Sousa ao Conde da Castanheira, "ao que veio com embargos a
Câma¡a da cidade de Salvado¡". O Conde, contudo, possuiu uma gigantesc¿ sesmarie na
Bahia, ao no¡te da cidade do Salvado¡ que posreriormente seria aforada a Gonçalo Piresec
Em ourros documenros do periodo, aparcce como Fernáo Ribeiro de Sousa, como, por exempLo,
em Diogo de Campos Ìvloreno, mas ran¡o Gabriel Soares de Sousa como Diogo de Campos Mo-
reno se rele¡em ao dono de um engenho localizado no mesmo ponto. Diogo de Campos Moreno,
"Relaçáo das praças forres, povoacóes e coisas de imporrância quc Sua Majesrade rem na cosn do
Brasil, lazendo princípio dos baixos ou ponta de Sáo Roque para o sul do esrado e Celensáo delas,
de seus i¡u¡os e rendimentos, leira pelo sargeno mo¡ desra cosra..." de 1609, Arquivo Nacional da
Torre do Tombo, \,liniscério do Reino, Coleçáo de Planras, mapas e outros documenros, Docu-
menro 68. Esre documenro foì publicado na Rrz lsta da hsrinto A:.qzealóg1co, Histório e Gngrlfco
P¿mar,tktc¿no, LYII, 1984, p. 216.
8ó Ci. Pi'¡¡tein Witaçáo y'o Santo Aflc¡o às Partes do Brasil - Dettuncia.çáes da
ßaLia. Sao l>atlo,
192i, p. 280 (daqui em dìanie, apenas Denuntíagõu lø Baht¿) e "Periçáo ¿o golernado¡ Dio-
go Botelho" de 4 de novembro de 1604, publicad.a na Reuisra da Instiana Httritito e Gagrifca
Bra:lleira, rorno 73, p. 18.
''Inrenrário do engenho de Sergipe para entrega ao rendeiro judicial Gaspar da Cunha e por
este a dntônio da Ser¡a, procurador dos herdcrros" dc 1574, pubiìcaào zm Doernuuos pan rt
História do Àçicar, ôp. tit.,rcl.III, p.112 e 135.
Recebeu o cargo por roda a vida, Cf. Canf:sae: la. Bahia, Op. d.r., p. 56; "Provimenro rìc
Lopo de Rebelo, escriváo diance do ouvidor geral" de 8 de junho de lii4, Insrirùro His!órìco
e Geográlìco Brasilciro, Documenros manuscriros copiados no sécuio XIX por ordern de D.
Ped¡o il,Códice 1.2.15 - Rcgisrros - Tomo I Conselho Llcramarino Porruguês. Recebeu
uma granile sesmaria no Rio deJaneiro, que náo loi aproveirada. Cl \lonsenhorJosé Pizarro
de SoLrza Azevcdo e Àraújo. 'Relaçáo das sesr¡a¡jas do Rio de Jancrro", Rcutt¿ ¿o I sitt'.'a
I:ltstóríco e GngrnJìco Brasìleiru, t 63, paræI190Ì, p. Ì08. Sua irmá casou con un 1ìlho de
Diogo Áivares Câ¡amu¡u. Cf Frei Jaboaráo, Op. ctt., p. ?65
89 Neste ponto, saimos um pouco da ordem dada por Gabriel Soares de Sousa.
90 "Seis lógua.s de rerra com seus ma¡os no serráo da Taruapa¡e nâs cabcceiras da rerr¿ do dìto
Ga¡cia D'Ávila que ele rem afo¡ada ao Conde da Casianheira e para o senáo quarorze lJguas
A forrnaçáo da clirc colonial 161
ea García D'Ávila, que) em seu res¡amenro, decla¡ava re¡ "de prazo em farioratì do Con-
de da Casranhei¡a seis léguas de rerra que começam de Jacoipe para o Sul na fo¡ma do
aforamenco", te¡ras onde, inclusive, consrruiu a famosa Casa da To¡re e, dessa maneim,
cabia ao he¡dei¡o F¡ancisco Dias D'Ávila pagar o foro ao senhorioet.
Junto da Ilha de ltaparica, Joáo Fidalgo, Iocotenente do Conde da Castanhei¡a,
possuiu uma ilheta e, na própria ilha. Gaspar Pacheco e¡a dono de um engenho de
bois. Na ex¡¡emidade da ilha, Cosme Garçáo, procurador do Conde de Castanhei¡a,
era proprierário de um cu¡rale3,
Concluindo, nossa vokai Gab¡iel Soa¡es de Sousa. ainda anoca que João Noguei-
.a era proprietário de duas ilhas, a dos F¡ades e a que ficou conhecida pelo seu nome;
e¡a soldado no governo de Tomé de Sousata e que Bârtolomeu Pires possuía um enge-
nho de bois na Ilha da Maré, era mesrre de capeJa da Sé de Salvado¡ desde 1559'qi-
Do ponro de vista quantitarivo, podem-se reunir estes dados em 6 grupos, a
sabe¡: A. G¡andes do Reino; B. Deten¡ores de cargos na administraçáo colonial;
C. Familiares e criados dos detento¡es de cargosi D. Pessoas que participaram do
governo da conquisra, sem possuírem cargos formais na administraçáo colonial e
seus familiarese¡; E. Pessoas que não participârâm do governo e sem ligaçáo familiar
com as pessoas da governança e F. Pessoas sobre as qúais náo conseguimos nenhum
que corre por rírulo de aforamcnco de Cosme Garçáo por procurador do Condc . .". CL "T¡es-
passo que faz Gonçaio Prres aos padres dc Sáo Benro de seis léguas dc terra ..." de 17 de janerro
de 1606, que coasla do Líura Wlho /.0 TomÌ¡o do Mo¡ciro dc S,i,t Bento t/¡ cíd¿de à'a Sal¡'adar.
(t536-\732), Op. cìt., p. 31t e 316.
"Prazo-. no cz:o.:igniJîm "proprìel,ade h ruiz, àc E-e o lona nncel'e a ot¡¡en o senhorio ú'tì1,
no Brasil en lugar das que lhe c{eram já" de 20 dc outubro de i565. publìcada por Ierácio Àc-
cìoli dc Cerqueìra e Sil¡a, Me¡nóri¿s Hi:tó¡ica: ¿ PoÌític¡'¡ r!¿ Ê¡hia,6 ¡ols. Salvador: Imprcnsa
OÊcial, 19i9'40, vol i. p.276.
93 \'c¡ nota 86.
jniciado
94 Ci "Tírulo do regisrro dos rnandados de pagamenros, e de ouiras desPcsas" Pelo Pri-
meiro provedor-mor cm 1549 e publicado nos 13 e 14 da série Dorun¡entas Hi:tóríros,
''oLumcs
Op. Or. \þa-se o mandado de núme¡o 727.
"Nomeaçáo e aprcscntaçáo da conezia para Rui ?imen¡a" de tl de dezemb¡o de 1559. que
consra <io 'l-ir'¡o l" do registro de provimcntos . .'. publicado na coleç^o Do.utlctttor Htt¿;';
ca:, AV. tit., rc| 36. p. 46.
Excmpìos dessa siruaçâo sáo os comandanres dc expediçóes mìlirarcs, os capiráes das tropas
lornadas pelos rnorado¡cs, se¡tânis¡as â mando do governo, rendeiros de impostos' membros
da Câ¡r¡a¡a, en6m, a¡ividades ligacas à governanca da re¡ra.
26? Rodrigo Ricupero
ripo de informaçáo, fato que provavelmenre indica a náo exisrêocia de vínculos com
a adminisr¡açáo colonialet.
Dessa forma, os 62 nomes, citados por Gab¡iel Soares de Sousa, divididos nos 6
grupos já discriminados, apresentariam os seguintes resultados: grandes do reino com 2
nomes; derentores de cargos com 22; familiares e pessoas direramente ligadas a deten-
rores com outros 11; pessoas que exerceram ou¡¡as arividades ligadas à administraçåo
rarefas milirares, rendeiros de imposros, senanisras, memb¡os da câmara erc. - com 13
nomes; pessoas que aparenremente ráo mantiûham felaçóes diretas com os derento¡es de
cargos com 10 e, por fim, 4 nomes sob¡e os quais náo consegtimos nenhùma informa-
çáo. Porranro, mais da metade das pessoas citadas estaliam nos glupos B e C, somando aí
os membros do grupo D, reríamos três quarros das pessoas citadas ligadas à governança
da rerra, contra menos de um qua¡lo apa¡enremen¡e sem reiaçáo, incluindo aqui rodos
aqueles para os quais náo obrivemos informaçáo (ver Tabela 1 abaixo).
Tabela 1:
Proprietários no recôncavo de Saivador (c. 1587)
Legenda
À- G.¡ndes do Reino
F SeD informacáo
Regisrre-se que cada pessoa só sc¡á ìncluída em un grupo, dando,se, no caso de unra pessoa
poder ser arrolada em mars de um grupo, sempre preferência para o primeiro grupo possír,el.
Assim, por exempLo, uma pessoa que pudesse ser arrolada no grupos B, C ou D foi arrola<l¡
apenas no B; ourra no C ou D,lài no C.
A formaçáo da elite colooial 763
Nome A B c D E F
Co¡de de CasunheÌ
Co¡de de Linhares
C¡istóváo de Ba¡ros
D. Álra¡o da Cosra
F¡ancisco de Åeuìl¿¡
Fr¿ncis.o de Àr¿ujo
Carcia DÀvila
Legenda
F - Sem irfo.maçáo
A formação da elite colonial 265
B C D E F
Ân!ôn'o Di,sAdorno
Antonio Lopes Ulhoa
Diogo da Rocha de Sá
Fc ìáo Ceb¡ãldeAraíd€
Frâncisco de.{suilâr
Ma¡tim de Ce¡r¿lho
Mem d€ Sá
I 6 9 3
?66 Rodrigo Ricupero
Tabela 3:
Resumo das tabelas 1 e 2
Legerda:
À'Gra¡des do Reino
F Sem lnformaçáo
P.op.ietários em ge¡àl 2 t9 8 t6 62
Serhores dc Engcnho 8 I 2l 9 !3 3;
As capitanias do Centro-Sul
99
100 "Carca do Pa<l¡e Manuel da Nóbrega ao ?adre Miguel dc Torres c Padrcs e irmáos de Por-
jauíturs ¿o
tugal" de 5 julho de 1559. publicada por Se.a6m Leìrc (Sl)' Cartas tlos pïlneùos
Bø:i/, Op. cit.,salL.IIl, p 58.
"Carra do padre AnrônÌo Gonçahes, da casa de S:o Pcdro do Porro ScgLrro do Brasrl para o
em Padre
padre Diolo Mrrón, ?¡o.-rnciaÌ de Po¡tugal de 15 de levereiro de 1>66, publicada
r\rprcu.l." Natr..o e o¿tos. Cart¿'s At uÌsa¡ Belo Horrzonre: ltarìaja e Sáo Paulo: Ëdusp'
1988, p. 502 ('frata-se da reedìcáo do II lolume da coleçáo Carras Jesuícicas publìcada pela
Academia B¡asrleÌ¡a de Leuas na década de 1930)
268 Rodrigo Ricupero
das suas mãos ihes tomaram ramanho medo que em se dizendo aimorés despe-
jam as lazendas e cada um r.abalhe para se por em sah,oior.
Dessa forma, a resisrência bem sucedida dos aimo¡és ao avaûco da ocupaçáo dos
po¡rugr¡eses seria registrada em pra¡icamenre rodos os c¡onisras do período. Gabriel
Soa¡es de Sousa conra que a capirania de Ilhéus, após rim período de florescimenco,
com irvesrimeûtos feitos por homens ¡icos de Lisboa e pelo novo donarário, Lucas
Giraldes, chegou a possui! oro ou rove engenhos, e que depois da pra,ga ttos dimoré¡
náo havia mais que seis engenhos que.¡á náo faziam acúca¡, conrudo, fornece apenas o
nome de dois senhores de engenho- O primeiro era Luís Álvares de Espinha, que pos-
suía um engenho pe¡ro do rio de Taipe e o segundo era Henrique Luís, dono de dois
engenhos onde esra\¡am as duas únicas aldeias de rupiniquirs da capirania, as "quais
tem já muito pouca genre"r0i- Sabemos, contudo, que um dos outros engerhos - o
Santana, construído por Mem de Sá era dos padres da Companhia de Jesus e, prova-
-
veÌmenre, os ourros dois e¡am dos herdei¡os de Lucas Gi¡aldesr0a.
Ao que rudo indica, râi núme¡o de eûgenhos náo se ahera.ia nos aros seguinres.
As descriçóes que apreserram esrimarivas sobre o número de engenho, na capirania
I engenhos, sem precisar se esravam em arividade ou náo. No ânal de
oscilam ent¡e 4 e
1626, Anrônio Simóes, procurador do donatá¡io, ofe¡ece um quadro mais de¡alhado
dos eogenhos aii insralados- Ao todo, seriam i4 engenhos, 5 no norte da capitania,
próximos da Bahia, construídos, provavelmence, ro século XVIi. Na regiáo próxima
da Vila de SãoJorge, seriam 9, sendo que 3 despovoados. Esrariem em funcionamen!o:
o de Santana dos padres da companhia; o Esperança de Filipe Cavalcance; o de Taipe
de António de Araújo de Sousa; o Sanriago de Baltasa¡ Peixoto da Silva; o da llha de
Afonso Goncalves e o Tabuna da viúva de Manuel do Couro, Iernbrando que o dona-
rário D. Joáo de Cas¡ro seria dono de mecade do engenho de Taipe e do da Cachoeira,
esre um dos inarivosrot.
Os dados biográÊcos dos proprietários indicam suas ligacóes com o gove¡no
da conquisra. O primeiro senhor de engenho citado, Luís Áiva¡es de Espinha, era
6lho de Henrique Luís de Espinha, que foi feicor em um dos engenhos de Lucas
Giraldes e depois capirão-mo¡ de llhéus'o¿. Foi responsável Po¡ uma entreda no
sertáo, que, segundo Frei Vicente do Salvado¡, sob p¡etexto de fazer guerra "a
ce¡ras aldeias daí a rrinta léguas, por have¡em em elâs mo¡ros alguns brancos, po-
rém ¡áo se contentou com lha faze¡ e cativa¡ todos aqueles aldeãos, senáo P¿ssou
¿di¿nrc c desceu intniio gentio .
r'
Luís Álvares de Espinha era casedo com D. Inês de Eçar03, seu primeiro fiìho,
Manuel de Sousa de Eça, era cavaleiro do hábito de Santiago, e teve uma das mais in-
teressanres carreiras do funcionalismo colonial, pois' além de parricipar ativamente da
conquista do Ma¡anháo e da reconquista de Salvado¡, foi nomeâdo, en¡re oùt¡os car-
gos, provedor da Fazenda dos Defuntos em Pernambuco, provedor da Fazenda Real na
Paraíba, provedor da Fazenda Real no Maranháo, capitáo-mor do Pará'0e- O segundo
Êlho, Ba¡tolomeu de Sousa de Eça, foi provedor dos Defuntos de llhéus e o terceiro'
homònimo do pai, Henrique Luís de Espinha é provavelmente o segundo senhor de
engenho citado por Gab¡iel Soares de Sousar'o.
106 Ver a acima citada "Carta do Pad¡e Rur lerei¡a aos Padres e I¡máos de Porrugal" Henrique
Luis de Espinha também é rcstemunha, ao lado de Tomás,{legrc' cm 1548, num negócio
en'oh,endo Lucas Giraldes e o en¡áo donatário de Ilhéus' Jorge de FÌgueiredo Correra, que
nessc momenro era rePresentado por Mem de Sá Cl "Ca¡ta de con6rmaçáo de sesmarìa de
Lucas Gi¡aldes em llhéus" de 19 de sete¡rbto de 1556, Ârquiro Nacronai da To¡re do Tombo,
Chancelarìa de D. Joáo III, Doaçóes, Ofíc1os e Mercês, Li'rc 65, fl i76- Fica a dúr;da con-
tudo, se Henrique Luis de Espinha serìa a mesma pessoa citada por Pe¡o de Góes' donatá¡io
da capiranìa cie Sáo lomé, simplesmenre como Henrìque Luís' que loi com um caraveláo ¡cs
gatâr nå costa, náo satisfeito prendou o indio P¡incipal eliado dos crrstáos, exigindo resgâte'
mesmo esse sendo pago preferiu entregar o dito índio aos conr¡á¡ios dele, os quais o comeram'
o que protocoLr um letantamento geral que culminou na morte de mui[os Porrugueses' inclu-
sìve em fe¡imentcs no donarário, c¿.usando ainda perda das lazendas e gueima dos
canaliais
Cf. "Car¡a de ?edro de Góes escrita da Vila da Rainha a D Joáo III'
de 29 de ab¡r L de 1j46'
pl*:Iicado na. Hístóia /.a Coloniz¿çáo Porhquesa d-o Brdsil, vol III, p 263'
ln F¡er Vicen¡e do Salr'ador cita reÌ elgenho ainda cono propriedade do pai. Cf-. Frei Vrcente do
Salvaàor, Op. cir., p.124
I12 Frer Jaboaráo, Ap. cít., p. 33t.
113 Ibidern. p. 323. O i¡máo Francisco de Sousa de Eca foi casado com úr:sula da Fonseca, iì]ha
do capiráo-mor Lucas da Fonseca Sarana. qLre rambém sen-iu como ieiro¡ do engenho de
Mem dc Sá em Ilhéus. Cf. "lnvcnrário que se lez da fàzenda quc veio do Reino do governaclor
\{em de Sá delunro ..." de 2t de junho de t572, pubiicado em D orua¿n¡os p¿r¿ a hinjrin ¿to
açticar Op. dt., vol- III, p. 237.
1t4 Gab¡ìel Soa¡es de Sousa, Op. cít , p.85.
Ì15 Diogo de Campos Moreno. Liun qu¿ ¿¿ ldz,ãa do Estado do Br¿sit_ (1612). Recìlie: UFpE,
1955, p. 126 e seguintes.
A formaçáo da eli¡e coionial 2?1
porém, o local exato do engenho do Duque de Aveiro, que possivelmente deve¡ia se¡
o mais importanterr6.
Com relaçáo ao primeiro senhor de engenho citado, Joáo da Rocha, aliás, Joáo da
Rocha Vicente, sabemos que abandonou Porto Seguro, indo residir em Pirajá, ao norte
de Salvador, e que, posteriormente, mudou-se Pera a capitania de Sergipet'7- Além dis-
so. e¡a casado com Mecia Ba¡bosa, frlha. de "Gonçala Pìres. defunto' caPittio que þi de
Porto Segtra", o te¡ceiro senho¡ de engenho citado por Gab¡iel Soa¡es de Sousa'r3.
Àvançando para Sul, chegamos à capicania do Espíriro Saoto. A hisrória da ca-
pitania rambém é marcada pelo conflito com os índios, cuja vítima mais famosa é
Fernando de Sá, filho de Mem de Sáj morto em 1558. O auxílio de Salvado¡ foi' mais
de uma v'ez, tecessário para evitar a de¡¡ota dos mo¡adores, dada a falca de ¡ecu¡sos do
primeiro donarário no final de sua vida"e. Mem de Sá tentou incorporar a capitania à
Co¡oa, mas esra náo aceirou, devolvendo o con¡¡ole ao herdeiro do donacário'r0.
A ameaça indigena, conquanto meno¡ do que nas vizinhas capiranias de Porto
Seguro e Ilhéus, e a proximidade da capitania real do Rio de Janeiro, mais atr¿tiva aos
ponugueses quevinham para as patres do Brasil, podem ajudar a explicar o pouco desen-
volvimento da capitania no período. O número de engenhos de açúcar, depois de certa
oscilaçáo, f¡uto da destruiçáo causada pelos índios hostis, estabilizou-se' ent¡e tns do
rrabando com Lrm navio cstrângei¡o Cf. "sesmaria de Marcos Fe'nandes" de 20 de março
de 1600, publicada po¡ FelìsbeÌo Freìre, ,¡1À¿ ótia de SergiVc, Op ãt ' p 346 e "Cons¡rlra do
Conselho da Índia sobre conrrabando' dc 1600, publìcada por Frédéricl'\au:,o' Le Br¿sil au
XVIII siecle. Coimt¿rl Imprensa da Llnilersiàaðe. 1961, p ' 227
/-a
Depoimenros de Mecia Ba¡bosa e de sua máe À4a¡ra Ba¡bosa' em 1591. nas Denunciaçóu
ßllhi¿, Ap. cít.. p- 453 e 456. Regisrre-se tambóm que Estácio dc Sá tinha em Pirajá um fèìtor
chamado GonçaLo Pires. Cf "lnr-entário que se lez da fazenda que veio do Reino do gcverna-
dor L{em de Sá ...' de 1578. publìcado em Do crmentor Para a Hi$óïía /'o 'Lçúcar. OP cíl
"¡o1
p.279.
111,
lì9 "No povoar desta capìranìa qasrou Vasco Fernandes Coutinho muiro mìl cruzados' que ad
quìnL' na india e rodo patrimônìo qLre rìnha em lonugal' que todo para rsso vendeu' o qual
acabou nela ráo pobremente, que chegou a darem-lhe de comer pelo amor de Deus e não sei
se teve um lençol seu, em que o amortalhassern". Gab¡iel Soares de Sousa. Op cit p 93 '
120 Cf. José Teixeira de Olileira., Históril ¿o En¿¿o ¿o E\Plrítn Sãnto.F.io de Janerro: IBGE' 1951'
272 Rodrigo Ricupero
Diogo de Campos Moreno, "Relaçáo das pracas forres, povoacóes e coisas de imporränciaque
Sua Majesrade tem na cosra do Brasil, fazendo princípio dos baixos ou ponra de Sáo Roque
para o sul do esrado e defensáo delas, de seus fruros e ¡endimenros, fèira pelo sargenLo mor
desta cosra (...)" de 1609. puhlicado na Retista do ln*itato Arquealógica, Histórìco e Geognífco
Pe¡nambucano, LYII, 1984, p.221.
122 O 'Azeredo" é subsri¡uído com freqùência na documenraçáo por'Äzevedo".
t23 Bairhaza¡ da Silva Lisboa. Aznaes d.a Rio d-e Janeiro. (t834). Rio de Janer¡o: Insriruro Euvaldo
Lodi, 1973, p. 320 (Ediçáo fac-similar).
"Traslado da lrovisáo do escriváo diante do provedor, feiror e almoxarife, aÌfândega da capi-
tania do Espíriro Sanro" de 27 de feve¡eìro de 1550, que consra do cirado "Livro l. do regisrro
de provimenros ...", publicado na colecáo D¿atmentos Histtiicos, Op. cít., voI.35, p.62;"Provj-
menco de Belchior de.{zeredo, provedor da Fazenda do Espíriro Saoro" de 3 de março de 156J,
Arquivo Nacional da To¡re do Tombo, Chancela¡ia de D. Sebasriáo e D. Hen¡ique, Doaçó€s,
Livro 14, fl. 431 v e "Carra de Mem de Sá para os jLrízes, vereadores e porrc da capirania do Es-
pírito Sarrro" de 3 de agosro de 1560, publicada por Bahhazar da Silva Lis6oa, Op. cit., p.322.
Ci "Carta por comissáo do Pad¡e Brás Lourenço ao Padre Miguel de Tor¡cs" de t0 de junho
de 1562, publicadâ por Serafirn Leire (SJ). Cartas dos primeiros jesuitas do Bru¡í|, Op. cir.,vol.
IlI, p. 464 e Elysio de Oliveira Belchio¡ Op. cít., p.62;
t26 Diálogos das Granàezas zlo Bra:il (1618), I' edicáo inregral segundo o apógrafo de Leiden por
José Antonio Gonsalves de Mello. Recife: Imprensa Uûiversirária, 1962, p, 36. A ob¡a e arri-
buida a Ambrósio Fernandes B¡andáo.
A form¿cåo d¿ eli¡e colonial 2l)
hábi¡o da O¡dem de Cristo com quarenra mil réis de rencarrT. Segundo Carvalho Fran-
co, Marcos de Azeredo foi nomeado em 1605 capitáo-mor do Espíriro Santo por Fran-
cìsco de Aguiar Coutinho, terceiro donatário; pouco depois se¡ia rambém nomeado,
mas dessa vez pelo rei, para se¡vir como provedor da Fazenda Real na capitaniar2s.
O i¡máo de Ma¡cos de Aze¡edo, Miguel de .{zeredo, também possuía um en-
genho na capitania. Capitáo-mor do Espíriro Santo entre, pelo menos, 1592 e 1605,
Miguel de Azeredo era ligado ao padre José de Anchieca, que, no final da vida, apro,
veitaria uma viagem à Bahia para negociâr com o governador D. F¡ancisco de Sousa
dive¡sos assuntos ¡elativos à capirania, inclusive uma provisáo sobre as ent¡adas dos
mo¡ado¡es ao se¡cáor2t- Por fim, também vale enfatizar que tanto Marcos como Miguel
de Aze¡edo possuíam aldeias de índios],0.
O próximo senhor de engenho cirado é F¡ancisco Gomes Pe¡eira, moço de câma-
¡a da infanta D. Maria, ria do rei Filipe I, que, em .espeiro aos sewiços feiros nas partes
do B¡asil, foi nomeado provedor da Fazenda dos Defuntos e Ausen¡es da capitania do
Espírito Santo e, Iogo em seguida, provedor da Fazenda Real da mesma capitaniari-
Com ¡eÌacão a Manuel Teixeira, dono do ou¡ro engenho da capirania, sabemos,
II de Ponugal, que era mercado¡ e acabou se envolvendo no
por carta do rei Filipe
con¡rabando de pau-brasil com Rodrigo Pedro, holandês que viveu no Espírito Sanro,
e implicava também o dona¡á¡io F¡ancisco de Aguiar Coutinho- O monarca, em ourra
carta para governador Gaspar de Sousa, sobre os procedimentos a serem seguidos no
caso, instruía o governador para que "depusesse logo ao dito Manuel Teixeira do cargo
127 Frei Vicente do Sâh.âd or, Op. c;t., p. 65. A r';'ercê de fato foi cferivada e a renca esrava incluída
na "lolha geral da despesa ordinária que se faz em cada um ano no Estado do B¡asil (...)" de
22 de outubro de 1616, gue consa do Liuro 2 do Goueno lo Brasí|, Op. cit., p.36. Posterior-
me¡re, a Coroa renrou en..iálo nor'amenre a busca das csmcraldas, mâs, ao que parece, em
vjrtude de sua idade avançada, raljornada náo se reelizou. Cl "Ca¡ra d'el-rei para Gaspar
de Sousa" de 22 de fevereiro de 1613, publicaàa. em Cartas para Áluaro le Sousa e Gaspar dt
S¿z¡¿. Lisboa: CNCDP e Rio deJaneiro: Minrstério das Reiaçóes Exteriores, 2001, p. 180.
t28 Ci Francisco de Assis Carvalho Franco. Dlrion¿íno de Bandera.ntes e Sertanistas, Op- ctt-, p-
43r "Provimento de Ma¡cos de Aze¡edo, provedor da Fazenda do Espír;ro Santo" de 25 de
seternbro de 1607, A.rquivo Nacional da Torre do Tombo, Chancelaria de Filipe lI, Doaçóes,
Livro 18. 0. 233.
"Carta âo capiráo Miguel de Azeredo" de 1' de dezeobro de 1592, publicada ern José de An-
chiera. Cartas, ínformacõæ, fragnentos h;stó,'irot e semões.2'ed. Belo Horizonre e Sáo Paulo:
ftatiaia e Edusp, 1988, p. 290 e seguintes (Coletânea, publìcada originalmenre pelaAcademia
Brasileira dc Ler¡as em 1933, era o volumc III da coieçáo Cartas Jcsu iticas)
130 Ct Sera6m Leire (SJ), Hisørta, la Conpanhia de Jesus no Braszl, Ap. rtt., rcL11, p.71.
131 "Provimcnto de F¡ancisco Gomes Pereira, provedor dos Defun¡os do Espíriro Sanro" de 2 de
outubro de 1586 e "P¡ovimento de Francisco Gomes Perei¡a, provedor da lazenda Real do
Êspíriro Sanro" de 17 de março de 1588, Arquìvo Nacional da To¡¡e do Tombo, Chancelaria
de ¡ilipe I, Doaçóes, respectivamenre, livro 15, n. 408 y e livro 17, A. 163 \.
274 Rodrigo RicuPero
que servisse, mandando lhe notitcar que não vivesse mais na dita capitania do Espiriro
Santo, e sendo da naçáo ... que náo servisse mais na dita caPitania, nem em outro ofício
algum", porém, em nenhum momento, diz qual era o cargo exercido pelo réu'''
A denúncia do caso foi feita por out¡o senho¡ de engenho, Leonardo Fróes, do
qual náo temos outras informaçóes O holandês Rodrigo Pedro, acabou preso pelo
feito¡ de Marcos Fe¡nandes Monsanco, senho¡ do sexto engenho, que' susPeitamos.
¡esidia no Reino, da mesma maneira que Diogo Rodrigues de Évo¡a. também dono
de um engenho; por Êm, o úlcimo engenho da capitania era do desconhecido Ro-
drigo GarciaÌ3r.
Primeira região a ser eferivamente povoada pelos porcugueses' a capirania de Sâo
Vicenre teve um su¡to inicial de prosperidade, pois foi lá que se iniciou a produçáo
de açúcar. Todavia, a es¡reita faixa de terra entre o ma¡ e a Se¡¡a do Mar e a distância
maior em reiaçáo a Porrugal fizeram que nos ânos seguinres a capirania perdesse o vi-
gor inicial. De ¡al forma, Gabriel Soares de Sousa ¡egistrou que, os engenhos da regiáo
"fazem pouco açúcar, por náo irem Iá navios que o t¡agam"ri4.
Assim, enquanto o in¡e¡io¡ da capicania, com a ocuPaçáo do planalto' ganhou
uma dinâmica própria, diferente das demais partes do Brasil até et¡ão, o lito¡al se
manreve esragnado. Ao longo do século XVI, o núme¡o de engenhos de açúcar, ¡egis-
rrados pelos c¡onistas oscilou en¡re 3 ou 4 e 9 ou i0. Novamence é Gabriel Soa¡es de
Sousa é quem fornece maiores de¡aihes, dando indicaçóes sobre 7 engenhos, deixando,
porém, de esclarecer quem seriam os donos de ou¡¡os 2 ou 3tlt.
O primeiro engenho é o famoso Sáo Jorge dos Erasmos, originalmence montado
por mercadores flamengos em pârceria com Martim Afonso de Sousa, que Gabriel
Soa¡es de Sousa nomeia como o "engenho dos esquertes de frandes", ou melho¡ Scherz,
me¡cado¡es de Fland¡esr16.
132 "Carra do rei pa¡a D. Luís de Sousa" de 29 de agosto de 1618, que consra do ¿luro 2 da Go-
¡terna do Bra¡il, Op. rlr., p. 106; "Provisáo clue el-rei mandou ao senhor Gaspar de Sousa sobrc
a enrrada de uma navera na capicanra do Espiriro Santo, quc era ilglesa' de 8 de oucubro de
1612, publicada em Cartas para Áluaro le Sarsa e Gasp,zr ,1.e Sousa, AP. cít , p. 151 e "Cana
de Diogo de Meneses pera el-rei" de 3 de levereiro de 1609, publicada nos Anais d¿ Biblíatec¿
Nø.cional. Ap. cit., rcL 57,p.46.
131 A única rele¡éncia a Rodrigo Garcia na documentaçáo consultada náo fornece maiores infàr-
maçóes sobre sua vida- Cl. "Carta ao capìráo Miguel de,A.zeredo" de 1" de dezembro de 1592,
publicada em José de Än.hier:r, OP. ¡:it., p.290
Ì34 G¿bnel Soa¡es de Sousa, O¿. crr., p. 111.
135 Âlguns desres engenhos esrarian na capirania de Santo Äma¡o ou, pelo mcnos. na rcgiáo
fronteiriçe enrre essa e a de Sáo Vrcen¡e (Ver nora 39 do 3'capírulo desre rrabrLho).
136 Cf A colecânea de documenros "Os Scherz da capicania de Sáo Vicenre" in: Publicaçóes do
Arquivo NâcionåI, voì. XIV, p, 9 e seguintes. Rio de Janeiro: Arqui\rc Nacional, 1914. \¡er
A formacáo da eli¡e colonial 175
O segundo era o do genovês José Ado¡no, casado com Cararina Monteiro, des-
cendente de importantes Êguras da capitaniar'.. Mui¡o próximo dos jesuítas, Ädo¡no
teve papel de destaque na guer¡a conrra os tamoios e na conquisra do Rio de Janeiro.
onde ob¡eve sesma¡iasl's.
Con t inu¿ ndo su¿ de.cri.åo da capirania. Gabriei 5o¿res de Sou.¿ ¿presen¡¿ m¿ì.
alguûs nomes: F¡ancisco de Ba¡ros, Paulo de Proenca, Domingos Leitáo, Antônio do
Vãle e Manuel de Olivei¡a. Quanto ao primeiro, náo existem maio¡es inform¿cóes
sobre quem seria, já Paulo de Proença foi mo¡ador em Sanro André, onde foi oñcial
da Câma¡a'r"; volrou ao litoral posteriormente, casando com uma filha de B¡ás Cubas,
que aÌém de ser capitáo de São Vicente por dois períodos, ai¡da ¡inha acumulado ou-
t¡os cargos: como o imporrante posro de provedor da Fazenda na capirania e rambém
o de alcaide-mo¡, cargos que depois rambé¡n fo¡am exe¡cidos peio frlho Ped¡o Cubas.
Vale o regisrro. que ¡an.o o pai como o filho receberam impo¡tanres sesma¡ias no Rio
de Janeiro, mas, ao que pa¡ece, opraram por concerìrrâr suas arencões em Sáo Vicenre,
embora um ¡amo da família tenha permanecido no Rio deJanei¡o. Brás Cubas e¡a sem
dúr'ida a principal figura da capitania de Sáo Vicente tanto pelos cârgos que ocrlpou
como pelas rerras que possuiu, influêncía que se manteve com seus descendenres¡40.
Dencre os senhores de engenho da capitania, encontramos Domingos Leitáo,
casado com a filha de Luís de Góes, primeiro proprietário do engenho da Mad¡e de
Deus. Es¡e e¡a i¡máo de Pe¡o de Góes, donará¡io da f¡acassada capitania de 5áo Tomé
no atuâl norte flúminense e capitáo-mo¡ da Cos¡a duranre o governo de Tomé de Sousa
'''- Pa¡a os estudjosos dos primeiros tempos da capitania. náo é cerro que Domingos
Leitáo renha vivido em 5ão Vicente, porém, o que se sabe é que seu engenho era admi-
nistrado por seu irmáo Jerönimo Leitão, capitáo-mor de Sáo Vicente ent¡e 1572 e 1592.
O genro de Jerônimo Leitáo era Antônio do Vãle, o penúltimo senhor de engenho
Amaro, nc¡a de Jorge Ferreira, capiráo mor de Sáo Vicenrc e bìsnete de Joáo Ramalho. Cl
Américo de Mou¡a. Os pouoal-ores lo ca,rnVo lt Pì1',1tíiling'r. SâoPàulo: Separara da Revrsra do
IHGSq 19i2, p.9.
Ì38 Eì,vsio dc Olneira Belchior, Op. cir., p. 16
i40 El1'slo de Oliveira Belclúo\ OP. cif., p. 142 e 1j1: Francisco de Assis Can alho Franco. Dlrl¿-
¿10 Brasll. Op. .ít., p. 129 e Lcirc Cord.ciro. Brtís Cubas e a
1l.i1io de B.ln¿/eítu tes c Scrt¿nista:
CÉl,ita,ri'1¿€ Sáo Vicerl¡¿. Sáo Paulo: S/N, Ì951.
El¡ìo de Oliveira Beichior, Op. cit.. p.228.
776 Rodrigo Ricupero
citado por Gabriel Soares de Soúsa, que, prova,.elrnente e¡a filho de ou¡ro Antônio do
Vale, anrigo rabeliáo e escriváo das sesmaria da capiraniar¡2,
Por fim, o úftimo senhor de engenho era Manuel de Oli"ei¡a Gago, ouvidor na
capirania e casâdo com Genebra Lei¡ão, filha de Diogo Rodrigues, imporcante mem-
bro da governança de Sancos e de sua mulhe¡ Isabel Leitáo, da familia de Jerônimo e
Domingos Leitáo1ii.
As guerras cont¡a os índios que resisriam à ocupaçáo do te¡ritó¡io pelos portu-
gueses também aringiram a capitania Sáo Vicence em dife¡entes momentos do século
XVI, ranto no liro¡al como no inrerior..A mais importante delas foi a gLle¡ra contra os
amoios, aliados dos franceses, que vinham da regiáo da Baía da GLranaba¡a araca¡ os
e5r abelecimenro,i da capitanìa vicenrina.
O ápice dessa iuta foi a expulsáo dos franceses e o povoamento do Rio de Janei-
ro, que, em conjunto, foram pro.'avelmente o primeiro graode empreendimento do
Governo-geral, bem como dos colonos estabelecidos nas pa¡res do Brasil, exigindo
a reuniáo das forças dispersas para, em duas etapas, derrocar os f¡anceses em 1í60 e
funda¡ a cidade em 1565-
Náo cabe aqui um ¡elato pormenorizado dos acontecimentos, por demais co-
nhecidos, sobre a expulsáo dos franceses efecuada peia expediçáo comandada por
Mem de Sá, nem sob¡e a fundaçáo da cidade por Estácio de Sá, ressalte-se apenas
que em ambos os episódios participaram mo¡ado¡es vindos, pelo menos, das se-
guintes capiranias: Bahia, Ilhéus, Porto Seguro, Espíriro Santo e Sáo Vicente, além
de reforços do reino'i¡-
O esforço, contudo, teria sua compartida..As re¡¡as e os cargos da nova capita-
nia fo¡am rapidamente disrribuídos para seus conquistadores e primeiros povoadores,
principalmente colonos de ourras capitanias que em muitos casos opt¿¡am pela nova
área, iniciando assim a formaçáo da elite locaitrt.
Bom exemplo disso é F¡ancisco Dias Pinto, cavaleiro frdalgo, antigo capitáo de
Porto Seguro, que foi provido por Mem de Sá, em respeito eos se¡viços prestados com
144 Para uma descrição lacrual dos aconrecimentos, ver F¡ancisco Âdolfo de Varnhagen, O¿. rzr.,
vol. I, seçóes XVIII e XIX.
t45 Ver, por exemplo, a declaraçáo de \4anuei de Salinos quando requercu uma sesmaria: "Or
Geus parenred mais que todos foram enquanro viveram leais cavalejros e servidores d'el-rei,
nosso senhor, e em seu serviço na conquisra desu cidade (do Rio de Janeiro) e suas rerras
gastaram roda sua fazenda e seu sangue e vidas". "Carra de sesma¡ia dos sobejos de rerra que
pediu Mannel de Salinos" de 29 dejulho de 1602, que consta do Tarnbo das cartas de s¿:naria
do Rio de Janeiro (1594-1595 e t6A2-t605). P.lo de Janeiro: Arquivo NacionaI, 1967, p. t2I.
A lormrcio d¿ el¡r( colonial 171
i46 "T¡aslado da Provisâo Francisco Dias Pìnro para senir de Alcaide mor desLa cidade" de 1j de
aeosro de 1i6l 'Apresenraçáo que fez Francisco Dìas Pinro, alcaìde mor para Diogo l-ernan-
des Pinto seu lìlho sc¡vir o dito cargo" de 2Ì de se¡embro de 1572 e "Traslado da Provisáo por
que Francisco Dias linro se¡..e de Ouvrdo¡ em esra cìdade" de 5 dc maio de 1572, publìcadas
\o Arclríi.to ¿o Distlicto F¿d,eral.Rlo de Janeiro: lreËirura do Dìsr¡iro Fede¡al, 1894 -1897,
respectìvamente, r'o1. I, p. 563 e vol. IV, p. 103 e 101.
i47 Cl. Balthaza¡ da Silva Lisboa, O?. cit., p.327 e EI\,sío de OL!.srra Bclchro¡. OP. cit., p.369.
148 "Carra das terras de Crìspim da Cunha da Lranda além da cidade velha" de 8 de janeiro de
1574 e "Cana de sesma¡ìa das re¡ras de Crisróváo de Barros que csráo em Masé" de 27 de
ju)ho de 1579, que constam ðo Ta¡nbo ¿/a: Cart"s dc Se:¡n'¿n¿¡ do Rio de Janetro (1573-4 t
7528-9), publicado na coleçâo Docunento: Hist¡jricos, .ol. il1 (nova série). Rio de Janeiro:
Biblioreca Nacional, 1992 ¡espectivâmenre, p. 90 e 209.
149 Cl El¡sio de Olivelra Belchior, Op. rh, p. 154. lnteressanre também é que for o próprio Cris-
rór.áo dc Bar¡os, como provedor rnor, que deu quitaçáo das contas de Crispim da Cunha. Cl.
"Quìraçáo ¿åda, em 1588, na Bahìa, por Crisróváo de Barros. provedor mor da Real fazenda,
a Crispim da Cunha, feiro¡ e Almoxa¡ife da mesma fazenda no Rio de Janeiro" de 30 de Iu-
nho de 1588, pubiicada por Antônio Prado Jr, en- Ordens e Proúzoens Rcøyz. Rio de la'r,eiro
Jornal do Brasil, r928. Ill, p. i25.
150 Fernáo Cardir;,, Tr¿tados da Tena c Gcnte ¿o Brasll (sêcu1o XVI)- Sáo Paulo: Companhìa
Ediro¡a Nacional, 1978, p. 210 e padre José de Anchjera, "Informacáo da Provincia do Brasil"
de 1585, publicada em Anchiera, Op. cit., p. 428.
i51 Gab¡ielSoarcs de Sousa, Op. .lt, p. 108.
278 Rodrigo RicuPero
'Alvará Régio concedendo a Cristóváo de B¿rros poder rirar da capitania do Rio de Janeiro,
seiscentos quinrais de Pau Brasil" de l7 de dezembro de 1571, rodos publicados porJoaquim
Ve¡íssimo Serráo, Op. ctt.,vol.II, p.86,87 e93-
ti3 t\'io.-r< Ol;v.ir: Belchior. Op at. p.
t54 Ëxe é o rírulo de ume obra de Luis .'l'orron. ,4 Dìntcia dos Sás w Bra:ll Lìsboa, 1943. Vale
lembrar rambém que ouuo ramo da iamília de t'{em de Sá optou pela Bahia, abandonando as
rerras recebidas no Rìo deJaneiro como é o caso dc Diogo da Rocha dc Sá, senhor de engenho
do Recôncavo de Salvador. Êlysio <le Oliveira BeLchior, Op. cit., p. 394.
15i Ibiden, p.412 e seguimes.
1t6 Charles R. Boxer, S¿l¿,¿dor Corr¿i¿ ¿le S'í e a htta pelo Bra:il e Angala, 1602-1686 lrraàuçâo)
Sáo Paulo, Companhia Edirora Nacional e Edusp, 1973.
A formação da elite colonial 7?9
t57 Ver, enrre outros, Elysio de Oliveira Belchior, Op. cit. e o ìnteressanríssimo livro de viagens
do pirata inglês Anrhony Knivet, que foi, como ele mesmo dì2, "escravo" dos Sás. Anthonv
Kniler. Uú i1l Flrtrn¿ e E:trdnhos þados.SâoPaulo: B¡asiliense, l94Z P. 90 e 101 enrre outras-
Ve¡ ¡ambém "Carta de sesmarìa das ter¡as e águas de Marrim de Sá e Gonçalo Correia de Sá
... ', que consta do Tambo l¿s C¿rtøs à.as Sesnaria,; ào Rio de Janeiro (1594-1595 e 1602-1605).
Rro deJaneiro: Arquivo Nacional, 19/l, p. ò8.
l5E ladre Jacome ì\'forterìo. "Relaçáo da pro..Íncia do Brasil' de 1610, publicada por Seralìm
Le¡e (SJ), Hisró¡in da Companhia de Jesus no BrasíL, O?. cit., rcl.VIll, P- 393
1i9 Frei Vicenre do SaÌr,ador. Op. cít., p.366.
160 Com relacáo ao Rro dc Janeiro, os recentes estudos de Joáo lragoso mostrâm a imPortåncie
do núcleo origrnal de familias dos conquistadores, primeiros povoadores e membros da admi-
nistraçáo denrro do que ele chama de "primeira clite senhorral do Rio de Janeìro", inclusive
a utilizaçáo dos cargos como lorma de gerar p¿trimónio. lo;o Fr¿goso. -Â formacáo da eco-
nomra colonial no Rio de Janeiro e de sua prrmeira elite senhorial Géculos X\''l e XVII)" nr:
Joáo Fragoso, Maria Fernanda Bicalbo e Maria de Fá¡ima Gouvóa (Orgs.). O Anttgo Regrne
no: 'lrópico:. Rto de Janeiro: Civilizaçáo Brasileira, 2001, p. 29.
90 patrirnônio fundiário (IX)
Me constoa ser exorbitante em qaantidøda d-e terras a repartiçãa que d-elas fez Jerônima
dt Albuqu,erqu,e capitã-o que foì dø capìtazia do Rio Grand.e a seus flbos ... se partìráo
ø.s ditas terras pelo meìo ... fcando a metad.e aos f.lhos do d,ìto Jcrónimo dz Albuquerqac
Filipe II de Portugai J.
Pernambuco eltamaracâ
Os o6ciais de rodos os ofícÌos sejam nas tais parres (Pernambuco) táo pode-
rosos e assim os ve¡eadores da rerra, tenham todos engenhos de açucares...,
Domingos de Abreu e Briror.
Cf. "Traslado do Auro e mais diligêncìas que se 6zeram sob¡e as daras de te¡ras da ca-
piranìa do Rio Grande, que se ¡inham dado" de 1614, publicado na Reaista do Instbato
Htsajrtco do Cear¡í. Fo¡raleza: Ins¡icLrto Hìsrórico do Ceará, romo 19, p- 1li.
Domìngos deÂbreu e B¡iro, "Sumá¡io e desc¡içáo do Reino deAngola e do descobrimenro
cia ilha de Luanda" (c. I591), publicado por Alfredo cie Âlbuquerque Felner. Ltnt inquërita
à xilã ¿¿ninilttu1tir,a e rconótnîa de Angola c do Brasì|. Coimbrt Imprensa da Universida-
ð,e, ).933, p.72.
281
282 Rodrigo Ricr:pero
mal fe¡ido e mui apertado ...", mas graças ao seu esforço, náo somenre "se defendeu
valerosamente, mas ofendeu e resistiu aos inimigos, de maneira que os fez afasta¡ da
povoaçáo e despejar as te¡¡as vizinhas aos moradores"t.
Nos últimos anos de vida de Duarte Coelho, contudo, o controle porruguês
sob¡e as re¡¡as da capitania ainda e¡a ¡eduzido. Em Êns de 1554, aProveitando-se de
confllro ent¡e os índios, os moradores de Pernambuco conseguiram ampliar a ocuPa-
ção da várzea do Capibaribe e dominar a regiáo entre as vilas de Olinda e de lgaraçu".
Os confliros, porém, continuaram, e Jerônimo de Albuquerque, irmáo da mulhe¡ de
Dua¡¡e Coelho, que en.áo govetnava a capitanìa, contavà, num¿ ca¡ra ao ¡ei, as difi-
culdades causadas peia guerra, com a destruiçâo total de dois engenhos e a parcial de
um terceiro, provavelmente os únicos da capitania, o que fez que os mercadores nâo
achassem "açúcares em que emp¡egar seu dinhei¡o", retornando sem carga, o que a¡¡a-
palhava o e'forco de ocupacjo do cerritório-.
Francisco Adolio de Varnh.ager', Histórit gera.ldo Bn¡¡|,5'eð'- j vols Sáo P¿uÌo: Melhora
menros, 1956, vol. I, p- 192 e seguinrcs.
Hans Srederr, Duas Viagers ao Bra:l/ (t5i7)(rraduçáo), Belo Ho¡ìzo¡te: katiaia, 1974, p. 46
oua versáo do mesmo rexro publicada em lo rtinL:i ¿etoftl Hanr St¿7l¿2, Sáo P.ìuÌo, Tcrceiro
Nome, 1998, p. 24 (Àlguns rrechos sáo bem diferentes nas duas craduçóes)'
Gabriel Soares de Sous a, Tr¿tur/o ¿le:crîiw ¿la Bì-ø,sil ¿n 1587. Sâa Pauio: Companhia Edìrora
NacionaL, 1982 p.58.
Frei Vicenrc do Sal..ador, Hi:tória rto Br¿sí/ (\627). i' ed. Sáo Paulo, Melho¡amencos, 196j, P.
t36.
''Carra Jerônimo de .A.lbuquerquc" de 28 de agosro de l5í5, publicada por Carlos tr4alheìro
de
Dirs (Djr.), Históri¿ ¿,2 Coloniza,t',io ?orrugtesa d.o Brasí|, 3 voIs. Porro: LicograÊa Nacional,
1922, vol. Ill, p. 380 (Citada daqui em diante apenzs como Hì*ória y'a Colonizaçtio ?arngue-
sa da Brusil).
A formaçáo da elite colonial 283
pela terra a dent¡o e sessenta ao longo da costa'o. Gab¡iel Soa¡es de Sousa, ¡ambém
desc¡evendo esre processo de conquista, conta como Duarte de Albuquerque Coelho
fez guerra aos íodios ''malt¡arando e carivando neste gentio, que é o que se châme cee-
ré, que o fez despe.ja¡ a cosra toda, como está hoje em dia, e afas¡ar mais de cinqüenra
léguas pelo sertáo"Ì!.
A ocupaçáo efetiva da laixa lito¡ânea da capirania de Pernambuco, tanto ao norre,
como ao sul de Olinda, permiciu a apropriaçáo das terras e o cativeiro dos indígenas,
possibilitando, assim, o rápido flo¡escimen¡o da produçáo acucar€ira. O núme¡o de
engenhos cresceu, no início da década de 1570, das 3 unidades, citadas por Jerônimo
de Albuquerque em 15i5, para 23, incluindo nestes 3 ou 4 em construçâo, confo¡me
Pero de Magalháes Gandavo; informaçáo que o próprio ajusraria, poucos anos depois,
para quase 30 engenhosrr. Essa evoluçáo continua¡ia nas décadas seguinres, ranto que
Gab¡iel Soa¡es de Sousa, escrevendo por volta de 1582 estimava em 50 ou 53 os en-
genhos da capirania e Domingos de Äb¡eu e Brito, pouco anos depois, apontara 63
engenhos em Pe¡nambucolj. Nenhum destes autores, cor¡udo, esclarece quaìs seriam
os donos dos engenhos pernambucanos, tal informaçáo somente poderá ser encontrada
na "Relaçáo das praças fortes, povoaçóes e coisas de imPo¡tância que Sua Majestade
rem na Cosra do B¡asil, fazencio princípio dos baixos ou ponta de Sáo Roque para o
.A.lònso i.uiz Piloro & Benro Teìxcì¡a. ,\2¡tfio.gìa d- P,osapapea. (1601). Recife: UFPE, 1969.
P.i7.
Gabriel So¿rcs de Souse, Op. ct1., p. j8.
Sob¡c o cariveiro indigena er:r Pernarnbuco ieja+e,
por exenplo, "Carra do Ped¡e An¡ónro Pi¡es .ros Padres r I¡máos de Coimbra" de 2 de agosro
de 15il e "Cana do Padre Manuel da r-óbrega a Tomé de Sousa" de i ¿e julho de 1tt9,
publicadas por Seralìm Leire I,Sl)- Cartas dos prim¿ilas je't¿íl'rs ¿o Btutsll, 3 vols. Sáo Paulo:
Comìssáo clo lV cenrená:io d¿ cidade de Sáo Paulo, 19j4, respecrìvamente, voì. I, p. 261 c
voi. 1ll, p. 79 ou ainda His¡oria de ia iuodacìon del colegio (da Companhia de Jesus) ie la ca'
pirr-nla de Pernambuco" de i576, pubìrcaclo nos Ânais da Biblioreca Nacional, r'ol. 49, p. 48 e
seguintcs. Em Pernambuco, a náo-de-obra indígena loi determinanre nas prirneiras cìÉcades,
¡¡as em me¿dos da déc.rda de 1580 a subsriruiçáo do rrabalho indígera pelo alricano j.r er.r
notável. 1ã1 làro podc ser cxplicaclo, entre ourros mocivos, peìas grandes vrrórias porruguesas
na regiáo, quc 1ìzeraer quc os índios se alascassem cada vez mais da capi:ania, dilìculrando
assim o suprin:ìearo de cârivos, qùe prssaram a ser lo¡necidos em número cada vez maior pelo
rráIìco negreiro. Ci. Fe¡náo Cardin, ll¡¡¿¿lo' da Terr¿ ¿ G¿nt¿ do ßr¿:i/ Géculo XVI). Sáo
ParLìo: Companhia Editor.: ìiacion¿l, 1978, p.201.
PÈro de Mâgalhies Galråavc¡. Hi¡¡,jìa l¡r ?roz,íncì¿t de S¿r¡t Cntz Et'Ízndo l¿ Ii:n¿ 1¿ B¡asi/
(1j76 ¡ c. ij70). Sáo Paulo: Obelsco, )964,p. i-ae38.
Gabriel Soa¡es de Sousa, descrevendo a regìáo próxima à vila de lgaraçu, relar: a exisréncia de
3 cngerhos, posreriornerre, quando crara da regráo dc OLnda, csrima cm 50 o ror.rl Ce enge,
rhos da capìtania, uáo fic¿ndo claro se inciui os i ci¡ados anre¡iormen¡e ou náo. Ver ¡ambém
Domingos Ce AbreLr e B¡i¡o, "SLr:¡ário c descriçáo co Rcino de Àngola e do descobrimenro
dâ ilha d€ Luandå" {c. li9l), publicado por Alt'ìedo de Albuquerque Felner, Op. cit , p 5 t-.
A formaçáo da elire colonial 285
Sul do Esrado e defensáo delas, de seus f¡u¡os e ¡endimentos, feita pelo sargento-mo¡
desta Costa Diogo de Campos Moreno no ano de 1609"'a " '5.
 reÌaçáo de Diogo de Campos Moreno, escrita apenas três anos attes do seù
famoso Liuro que dd ra-zão do Estado do Brasil6, guarð,a munas semelhanças com esce
t¡abaiho, conrudo, não pode ser considerada como um texto prévio, pois os cex[os
sáo completamenre dis¡intos. O texto de 1609, porém, além de apresentar infor-
maçóes sobre as capitanias do Sul do Estado do Brasil, possui uma parcicularidade
muiro especial, como apontou José Ân¡ônio Gonsalves de Mello, seu primeiro di-
vulgador, "a de apresenta¡ o ¡ol dos engenhos de açúca¡ de Pernambuco, Itama¡acá,
Paraíba, Bahia e EspÍrito Santo"'7.
No caso de Pernambuco e de ltama¡acá, Diogo de Campos Mo¡eno listou os
nomes dos proprietários dos 78 engenhos existentes na primeira capitania e dos 10 da
segunda, no início do século XVII'g, No caso dos engenhos pernambucanos, o autor
os a¡¡olou segundo os "ramos ou dist¡i¡os, conforme a repartiçáo em que cobram os
dizimos os conr¡atadores", dessa fo¡ma, os 78 engenhos se dividiam em 15 dist¡iros,
apresentados pelo autor do norte para o sul de Pe¡nambuco.
O primeiro e segundo distritos, correspondentes à regiáo de Igaraçu possuíam
naquele momenro 9 engenhos. Os dois primeiros, um em Paratibe e o outro em Jagua-
ribe, eram de propriedade de Gaspar Fernandes Anjo, mercado¡ envolvido no comé¡cio
Diogo de Campos Moreno, "Relaçáo das ¡raças fortes, povoaçóes e coisas de in:ìPoriånci¿ quc
Sua Malestade rem na costa do B¡asil, fazendo princípìo dos baixos ou pona de Sáo Roque
para o sul cìo esrado e dclensáo delas, de scus fruros e rendimen¡os. leira pelo sargento-nor
desra cos¡a ..." de 1609, pLrblicado na Rezítta ¿¿ hßriutu Atqlrcológno' H;:l,jrico e Gcogtuífn
n, nanb¡,cono \ol. i l18l p iq< e.eguinic(.
,4. opçáo de iazer o ìcvantamenro dos senbo.es de engcnho de Pernambuco a parrir das dcnun-
ciaçóes e confissóes perante o San¡o Oficio em meados da úi¡ìma década do sécu1o XVi apre-
senra algunas diÂculdadcs- A mais impor:anre é quc ncn corios os senho¡es de engcnio sáo
cxpLcrtamcnre ciiados como tais, o qLre deixa uma margcm de ciúvida Problema <1ue
^mpÌa
nc arrolamcnro fetro por Diogo de Campos Moreno náo cxisre, embor2
ônus seja o fato de que o sargenro-mor escreveu seu ¡el¿¡órìo 40 ou 50 depois da monta-<em
de grandc parre dos cngenhos. o que difrculla o rastreamenro dos prinìirìvos ProP¡ie¡irios
Diogo de Campos }.{orenct, Llz¡a qte àzí rnz,;o àa E'tpào do Brasil Lloil) Recife: UFPE.
19ti.
José A.ntonio Gonsa|.es de MeLio, 'A'Relacáo das praças fortes do Brasil' (1609) de Drogo
dc Campos Morcno", publicado na Ra,ísta à'a kstituto Arqu-co\ógito. Histtírico e GcogLífco
Per¡ta¡¡brc¡dc¡. rcJ. 57, 1934. p- 178.
E aido Cab¡al de ìvlello, "Os,A.lecrins no Canavial: a açucarocracia peraambtcana ante-b¿llu¡n
(1570-i630)", publicado na Re¿,ista ¿.0 Lstituta Arqueológico, Histórico c Geogrifco ?e,na'nbta'
no. ¡oL 57, 1984, p. 156. 'lai arcìgo. ampliado, loi rePublicado com o ¡írulo cic "Os alecri¡s no
czna¡-ial" em Rub¡o Ve¡ø l"ed. Sáo PauLo: Alameda. 1992 p. 137
286 Rodrigo Ricupero
cf. cana de Diogo Boretho ao conde de Linharcs", escrira e,n otinda, aos 23 de agosro de
1602- Árquivo NâcionaL da Torrc do Tombo, Crrrório dos Jesuítas, maco 71, docurnenro 3 e
"Rclaçáo de Àmbrósio de Siqueira da receira e despesa do Estado do Brasiì" de 1605, publicado
nà Reu¡sta ¿oI sî¡tu.ta Ar4ueológica, Hístórico e GerytLífco Pernanbzrcaro, vol. 49, p. 124.
"Tradado do registro de uma provisáo de Diogo Bortlho. gorernador-3<r:l do Br.rsi1, oucor-
gando a Francisco de Oliveìra o cargo de escriváo da Fazenda, da AÌlåndega e Àlmoxarifàdo
da Capiranra de Pcrnambuco" de 15 de seremb¡o de 1604, Insriruro de.Es¡udos B¡asileiros d:
USP. Coleçáo Lamego, códice 8i, documenro Ì1.
Sobre a tànrilir de Gonçaìo Novo de Lira, \€jå-se Borges da Fonseca, Nobilùlúi¿ P¿iÌan'
buc¿nn. (1,748),2 tols., publicado ¡os An¿ts da Biblioteca Naciona/,
"ol.48. Rio de Janeiro:
Biblioreca Nacional, i935, vol. l, p. t58 e, especialmenre, p.400 e seguinces. Sobre Vrcenre
Correia, cf. "Regimento que loi dado ao licenciado Balrasar Ferraz pr.ra cobrar o que se deve a
R!,ísø ¿o hßthtúo Hi'tó-
lazenda de Sua Majesrade", de I2 de flve¡eiro de 1591, publicado na
rico t GngtLífto Brasíleiro. tom<t 67,p.
i' e"Carra da Cårnara de Olinda a el-rei noticrando
23
que o dcs€mbargâdor Sebasriáo de Carvalho pôs dúvrda em leva¡ em conr:. algumas despesas
ieitas com o drnherro da imposiçáo" de t0 de dezemb¡o de 1608. Bibl¡orece Nacronai do Rio
dejaneiro, Manuscriros, Cópia, códice I'4,3,4 n" 13.
Ci 'Processo de Ál"a¡o Velho Barr¡ro" (159j), ,{rquivo Nacional da Torre do Tombo, In-
quisrçáo de Lìsboa, 3475 e "Resposta ao pedido de ¿fo¡amcnro de ,{nrônio de Álbuquerquc,
morador em Olinda, feiro para Câmara de Olinda para rercenas ..." de 6 de leve¡eiro d¡ 1601,
lnsri!ùto Htstórico c Geográ6co Brasileiro, Documenros rÌanltscriros copiados no século
XIX por ordem de D. Pedro II, Códice 1.2.16 - Regisrros - Tomo II , Conselho ULrrama¡ino
Ponuguês.
A formação da elite colonial ¿87
de t61i e 'Ca¡¡a do Vice-rei de Porrugal Marquês de Alenquer para ei-rei sobre consuftas do
Conselho da Fazenda sob¡e Duarre Dias Henriques, conrrarador de Angola" de 25 de janei-
¡o de 1620. Àrchivo General de Simancas, Sec. Provinciales, respecrivamenre, códice 1í12,
Lir.ro de regisrros de carras e despachos régios no ano de l6li, Âs. 32 v e códice 1ti2, Carrås
originaìs do vice-rci dc Porrugal e ourros personagens sobre diversos assunros a el-rei do ano
1620,4s.23.
Ver Borgcs da Fonscca, OP. cit.,vo|.l, p.429 ot ainda na Prineird Vishaç,io ào Santo Ofcío
às Partet ¿a Bra 'D¿uunuaçóes e Confxóes de Pernanbuco (1593-159i), Op. cit.,p.ltle43I
das denunciacóes.
30 Cl "Hisroria de la fundacion del colegio (da Companh;a de Jesus) de la capirania de Pernam-
buco" de 1576, publicado íos An'rís ¿ø Biblioteca Naciona/,','ol. 49, p, 5 e seguinres e Zlzza l'
lo Goueno do Bru¡il, F.io de Janeiro: Minisrério das Relacóes Exte¡iores, 1958, p. 90 e 148.
31 Borges da Fonseca, Op. cit., vol.I, p. 164 e seguinres e vol. II, p. 238.
32 Cl "Provimento de ?ero Cardigo, resoureiro dos Defunros" de 1I de maio de 1568,,{rquivo
Nacion¿l da To¡re do Tombo, ChanceLaria de D. Sebasriáo e D. Henrique, Doaçóes, Livro
23, fl. 085 v.
Borges da Fonseca, Op. cit., rcLII, p- 259. A segunda expediçáo de Pero Coelho de Sous¿ ccve
um 6nal rrágico- Para a descriçáo de ambos, veja-se F¡ei Vicen¡e do Salvador, Ap. cb., p. 339 e
356, já as insrruçóes dadas por Diogo Borelho estáo no "Regimenro que há de seguir o capìråo,
mor Pero Coelho de Sousa nesrajornada e empresa, que por servico de Sua Majesrade vai fazer",
prblicaào na Reùsta Inst¡tl.ta Histórica € Geogftífco Brasileirc, ømo73, p.44. Sobre os índlos
do
que trouxe e o debace sobre se eram jusramenre câ¡ivos ou náo, ver "Carra Régia para Diogo
Borelho" de 22 de serembro de 1605, publicada na Reui'tu ¿o i'nstitu,ta Hístirlco e Geognífco
Bntsileito, rcrr,a 73, p.9, "Cana do bispo D. Ped¡o de Casrilho a el-¡ei" de 2 de junho de 1605
e "Carra de el-reì ao bispo D. Pedro de Casdlho" de 16 de agosro de 1605, Biblìorecå daAjuda,
respecrivâ.nenre, có¿ice il-VIIll9, Carras do bispo D. Pedro de Casrilho, fl. 182 v e códice
51-VIil-02 Canas de Sua Majes.ede pera o Bispo Pedro de Casrìlho, fl. 111 v.
A formacâo da eli¡e colonial ¿89
O sentror de engenho seguinte e¡a Antônio da Rosa, cujo irmáo, Joáo da Rosa,
foi rabeliáo em Olinda 34. Depois dele, encontramos F¡ancisco de Barros Rego, que foi
capitáo-mor da armada enviada pelo governador-geral D. Francisco de Sousa em apoio
de Manuel Masca¡enhas Homem, na conquisca do Rio G¡ande 3i. Fechando o ¡amo
4, aparece Ambrósio de Abreu, que era parente de Gomes de Abreu Soares, almoxarife
de Pernambuco, e, provavelmente, também de Gregório Lopes de Ab¡eu. Esre se¡viu
como capitáo na conquista da Pa¡aíba e era o proprierário anterio¡ do engenho de
Amb¡ósio de A,b¡eu'ó.
,Avancando para o ¡amo 5, o p¡imeiro engenho é o de Maria Goncalves Raposo,
vìúva de um filho de Domingos Bezerra, que era um dos "da governanca" da terrar'-. O
engenho seguinte é o dos Apipucos de D. Jerônimo de Albuquerque, que foi governa,
dor de Angola entre 1,593 e 1594 e que acabou ficando no B¡asil3s. Adianre, enconrra-
mos o engenho do desconhecido Ped¡o da Cos¡a.
Em seguida, aìnda no ¡amo J, surge o engenho de Esteváo Velho Ba¡¡eto, filho
de ÁI,,'a¡o Velho Ba¡¡e¡o, capiráo de um barco numa das expediçóes de conquista da
Paraíba e que se intirulou perance o San¡o Ofício como "dos da governança e principais
da ¡er¡a"re. Na seqüência, ercontremos o segundo engenho de Juliáo Paes, de quem
r¡aaaremos adiante.
CL 'Auro de enrrega que se fez de t¡és Âamengos :o mcstre Pero Lopcs Mareante" de 28 de
agosro de 16Ì7, quc co nstt do Lit ro 1" ¡l'o Gauerna da Bra:il, A?. cit ' P. 168 e "Prolisáo Pclâ
quaL o gor-ernador D. Lur's de Sousa nomeou Belchror Rodrìgues escriváo da devassa de ¡e-
sidéncra do our-idor da Capirania de Pernambr.rco Marcim \¡az de Moura" de 28 de lulho dc
1618, documenco a¡rolado por Eduardo de Casrro e -A.lmeìda' 1z¿¿¡t t'íria àas ¡lonttnentos re'
/¿t¡,)ot ¿o Btu'íl €x¡Jte tes no ArE4ua de Marinha t ulrr¿.mar de Li¡baa, 9 vols Rio de Janeiro:
Biblioreca Nacional, 1913 - 1951, vol. VI, p. l8 (Separatas dos lzais ¿/1 BibÌiotecø N'¿cia'Àal)'
"Ce¡ridáo da Câmara de Olinda sobre o governo de Diogo Botelho" de li de março de Ì603'
publicada na coletânea de documenros sobre o Cove¡no de Diogo Botelho' na Reù¡ta do
Instituto Htsajrico e Geogrrífca Brusileira, ¡omo 73, P. 2i e i{uro do que Êcou assenndo sobre
medidas a roma¡ contra o assal¡o dos holandeses as lortalezas de Pe¡nambuco em reunr:o
convocada por lv{atias de ,A.lbuquerque" de 16 de ourub¡o de 162l' pubLcado cm Baráo de
Srrdert, Dacumento: pztu á H^tó'/ía ¿o Btusil e especíalnezLre a do Cedrtí,4 vols , For:.aleza:
Minerva, 1909, voi. I, p.289.
Registre-se ainda que a primeira mulher de Pe¡o da Cunha de Ând¡ade, D. Àna de Vascon-
celos er: Êlha de Joáo Gomes de ìúelo e de,A.na de Holanda e, conseqüentemenre, nera dc
Arnao de Holanda, imporrantes 6guras da caPitlrniå, e seu r¡máo, Francisco Gornes rle Mclo
loì nomeado por Filipe Iil de Portugal capiráo-mor do Rio G¡ande em 1624 por seus scrr iços
presrados em Pernambuco e no Reino.
43 Cf. ?rínein Visitaçáo do Sanø Aflcío às Partes lo Brasil ' Denunàtçóes e Conf':óe; de ?er'
(,1593-li9i), Op. cit.,p.272e29 àaj ð.enùnciâçóesj "Certrdáo da Câmara Olinda
'z b co de
sobre o governo de Diogo BoteÌho" de li de março de 160i, cirada acima; "Provisáo ¿e Mâ-
nueL \¡az Pe¡eìra, médico em OÌinda" de 2 de novemb¡o de 1618, Arquivo tr-acional da Torre
do Tombo, Chanceiaria de Fìlipe II, Doaçóes, Livro 41, fl 203; "-lìaslado da periçáo que lez
o padre frei Cirilo:ro cåpiráo-mor e mâis PaPéis" dc 21 de maìo de 1621, que consr: do /.lrrz
1" do Golerna y'o Brasil, Op. cit., p.149.
A formaçáo da elice coÌonial /91
pot ser o vereador mais velho, assumido o governo da capitania em companhia do bìs,
po D. Antônio Bar¡ei¡os, na ausência de Manuel Masca¡enhas Homem, quando este
comandou a conquista do Rio G¡ande em 159V1. A imporcância de Dua¡re de Sá na
capitania de Pernambuco também pode ser aresrada pelas relaçóes familiares, sua filha
Filipa de Sá casou com Joáo de Albuquerque, filho primogênito do velho Jerônìmo de
Aibuquerque e de sua esposa Filipa de Melo. Sua neta, Marìa de ,{lbuquerciue, casou
com Francisco de Moura, filho de Alexandre de Moura, que governou a capitania de
Pe¡nambuco duranre murros anos no início do século XVIIaí.
Seguindo para o ramo /, encontramos os engenhos de Luís de Valença, Pero de
Laus e Ma¡ia Ferráo, para os quais náo pudemos obrer maio¡es info¡macóes. Além
Ca¡digo, de quem já falamos an-
desses, nesra região ficava o segundo engenho de Pe¡o
reriormeûte e o engenho de Domingos de Casrro, um dos sigrará¡ios, juntamente com
asprincipais personalidades da capirania, do documento favorável a Diogo Botelhoa('.
O último eneenho deste ¡amo e¡a o de N'fanuel Leitáo, que parricipou com des¡aque
da conquisra da Paraíba e da conquista do Rio Grander'.
No ¡amo 8, o primeiro dos proprietários arrolados por Diogo de Campos
Mo¡eno é Fernáo Rodrigues Vassalo, cuja única ¡efe¡ência na documen¡acáo do
período seria um provimenro de Filipe i para ocupa¡ o posro de escrivão diarre
do ouvidor geral do Brasil em i5961s. Em seguida, enconr¡amos os engenhos de
And¡é Soa¡es em Penanduba, de Diogo Soares em Suassuna e os dois de Fe¡náo
44 Cf. Pïit11eiø Vis¡ttlçáa da Santa Oficio às Parte: do Bnsil- Den.ncìações e Cotfs:óes de Peraan
bun (t593-t595). Op. cit., p. 3 e 228 ð,es denunciaçóesi "Resposta ao pedido de aloramenro
deAnrónio de Albuquerque, morador em OÌìnda. leno para Câmara de Olioda para rercenas
...de 6 de fcrerci¡o de 1601 e "Cer¡idáo da Câma¡a de Olinda sobre o governo de Diogo
Bo¡eiho" de 15 de março de 1603; "Pror-ìsáo de ManuelVaz Perer¡a. médrco em Olinda" de ?
de novembro de 1618, docLrmenros já cìrados
45 tsorges da Fonseca, Ol. r/;.. voì. ll. p. 23 e 365. Ëste auror rcfere que Duane de Sá, a camrnho
da Índia, ¡e¡ia naufraga¿o perto de Salvador, salvando sc com muito esforço- Na Bahia. o
governador Luís de Bri¡o de Almeida raleu¡e "de seu ralenro na guerra e possessáo do genrio,
onde em urna baraìha o a¡mou cavaÌci¡o. o L:z scu aifercs-mor c capi¡áo de uma gâlé qu€
do Brasil". passando, em seguida a lernambuco, onde se esrabeleccu.
Conrudo, ¡ais ìnformaçóes náo podem ser nem con6¡madas, nem ncgadas, com base nos
PTine¡rã V;ri 1ç,io do Sltnto Ofcío às Partes do Btu;sil - Denlîtri¿ções e CotJìssõe: /t turnattba'
to 11593-1595), Op. cit., pussìtt.
!¡¿r Vicenre do Salvadot, Op. cit., p.266; Borgcs da Fonseca, Op. cit-,rc>l ll, p. 57 e 43L e
.Cana do rei para o governador Diogo cle lleneses" dc 2l dc no.embro de 16ìÌ, publicada
em Ca,tas pan Áh,øra le SoLtsa e Gaspar de Soust'., Op. cìt.. p.290.
Cl "Despesa do esrado cio Brasil a que a lazenda de sua Majestade tem obrigaçáo' do início
d¿ década de 1590, Bibliorecâ Nâcional de Lisboa, Reservados, Códices (Ëx Fundo Ge¡al),
ó37, 11. l3 c seguintcs.
O ouvidor geràl Marrim Leitáo o considerava o "mais ¡ico homcm do B¡asil", cl. ' P¿r.ccr úo
Padre G;spar Beliarte, da Companhia dc Jesus, que foi \¡isirador oo Brasìl, para quc låo "<
câiive o genrio nâqùeie Ësrado. Ourros pareceres de Cosmo Rangel, \'{arom Lei.áo. Añiò.io
de Àguiar, quc iòi ouvrdor geral no Brasil ..," dc 1t9i, Brblioteca da Âjuda, códicc 44 Xi\¡-
06, do Desembargo do Pâço - Tomo I\a f. lB5. \¡e¡ ¡ambém Borges da Fonseca, Op. cit.,vol.
It, p. 26 e Gilbcrro Osório de,{ndrade e Rachel Caldas Lins,/ala 2aís, da Cabo'o pantrc:,
:e'ts flhos, sezø engtnhor. Recit'è: Massangana, \982, passim.
ii F¡ei \¡iccnre do SalvadoÍ, OP. ctt., p. 196 e266.
A formacáo da elire colonial 293
gtifca Brasileìra, romo 73, p. 227 e segu Lmes: Primeha Vistøção t/o Santo O.fí,:ia às Pattes àa
ß7¿'i/ ' De/¿1t-,tc¡.1çóer e Co$ssae; de Pernankt':a (1i93-1i95), Op- crt., p. lli das denuncia-
cóes.
Borgcs da Fonseca, Op. rir., vol. II, p. 2.7 e Gilberto Osó¡io de Andrade e Rachel Caldas Lins,
Op. crt., p- 36.
Borges da Fonseca, Ap. dt., \'oI.I, p. 494; "Prorimeoro de Francisco Gomes de Melo, capi-
ráo¡nor do Rio G¡ande" de 13 de junho de 1624, Arquivo Nacionai da To¡re do Tombo,
ChanceLaria de Filipe IIl, Doaçóes, Livro 39, 1ì. 136 e Vicenre de Lemos. CøPtîú¿s-iini¿J e
gouernø.dorc: do Rio Gnnd¿ lo Norte. Rio de Janerro: Jornal do Comércio, 1912, p. 13.
6I Borge. d: l-ons<.a. Ot. r, . \ol. J. p. {08
62 Ch "Provimenro Anrônio de Barros Pimenrel, provedor da Fazenda dos Delunros das capira-
nias de Pernambuco e Itama¡acá" de 2l de jLrnho de 1577 e "Ptovimen¡o .A.ntônio de Bâr¡os
Pimenrel, provedor da Faz.nda dos Defunros das capiranias de Pcrnambuco e I¡amaracá " de
29 de janeiro de 1i87, .trquivo Nacronal da Torre do Tombo, respecrivamenre, Chancelaria
de D. Sebasriáo e D. Henrique, Doaçóes, livro 38, fl. 97 e Chåncelaria de Iilipe I, Doaçóes,
Lvro 11, I1.405 v.
Vel Pin¿irt! Vìsitaç'io da Santo Ofcio às Pørte: da Brasíl - Dexrncíaçóts z Cutfsóes de Pn-
nankrco (1593-1595), O?. clt., PtritirTt: Prin':ira Visitaçáo tlo Santo OJiào à: Parres do Brøsil
- Dnnciaçõ':: tl't Bah¿. Sáo Paulo, 1925, pa':in e "Livro àas Denunciaçóes que se fizeran
na Visiraçáo do Sanro Oficio a Crdade do Salvador ..., no ano de 1618", pLrblicado nos Anais
da Biblioreca Nacional, vol. 49. p. í3.
Cl Sumário das Ärmadas que se 1ìzeram e guerras que se deram na conquisr¿ do ¡io Pârai-
ba", publicado na Raartã ¿o Inrti'zlto H^tór¡ta e Geogrdfco Bra:ikiro, romo 36, p. 4Z 58 e 6ì
e F¡eì Vicenre do Salvaåor, Op. cit.,275 e283.
Borges da Fonseca, Op. cìt., rc1.I, p. 71 e rrcl l1, p. 52 e 457 e ?rimeira Vintaçáo '!o Santa
O Êlho e¡a meio-i¡máo de Cosmo Dias da Fonseca po¡ pa¡re de máe e foi casado com
D. Isabel de Mou¡a, irmá da mulher do meio-i¡máo. Anrônio Ribeiro de Lace¡da, se-
gundo Borges da Fonseca, "reve o foro de Fidalgo da Casa Real em 1624, por despacho
concedido a seu cunhado D. F¡ancisco de Mou¡a, quando veio governar a Bahia"73.
An¡ônio Ribeiro de Lace¡da foi mo¡to pelos holandeses no assalto ao forte de San¡o
A.nrônio, após se destacar em inúme¡as açóes, a tal Ponto que B¡ito F¡eire escreveu:
"ficar sem prêmio a morte de Antônio Ribeiro de Lacerda escandalizou o B¡asil"7a.
Ainda no mesmo ¡amo, aparece o engenho de Sebastião Coelho, meirinho da
Alfândega e do Mar no começo do século XVIITt, e o de Margarida Álvares de Casrro,
viúva de Miguel Fernandes de Távo¡a, cuja filha Catarina de Casc¡o casou com Esre-
váo Paes Barreto, o segundo morgado do Cabo, citado acima'6.
No ramo seguinte, o décimo quarto, ainda em lpojuca, estáo arrolados três enge-
nhos. O primeiro era "o que ficou" de C¡iscóváo Lins, um dos mais antigos mo¡adores
da capitania- Foi o capitáo da gente da várzea do Capibaribe na conquista da regiáo do
Cabo de Santo Ägostinho comandada por Jorge de Albuquerque Coelho, pardcipando
cambém da conquista das re¡ras do sul da capitania, o que the valeu receber o posto de
alcaide-mo¡ de Porro CaivoTr. Os dois our¡os engenhos eram do desconhecido Paulo
de Amorim Salgado e de Anrônio da Cosra Soei¡o, que serviu como ouvidor em Pe¡-
nambucoTs-
81 Cf. Primes¿ Visítaç,áa do Santo Ofícìo às Partcs do Br¿sil - Denanclaçóes e Coxfsõø de Ponam'
buco (.1593-1595), Op. cit., p.298 das áenunciaçóes e Borqes da Fonseca, Op. rh ' vol I, p 149
e vol. ll, p. 34, 2ti, 323 e 378.
82 Cf. Prln¿ira V:itaç,'0 lo Santo Ofîio a: f'artes do Brasil - Denuncía.çóes e Confssóes de Per-
nanbv.co (1593-1195), OP clt., P.246 ¿es ¿enunciaçóes; Borges da Fonseca, Op rlr', voÌ ll'
p. 209 e 382; "lnstrumenro público e defesa do Pad¡e Belchior Co¡deiro" de t1 de janeiro
de ií82 pubiicado por SeraÊmLeke, Nopt¿¡ CartasJesaítica:. Sâo Pariio: Companhia Editora
Nacional, 1940, p. 186.
83 da con-
Jerônirno Fragoso de Albuquerque e Gregório lragoso de Albuquerque participaram
quisca do Maranháo, sendo que o primeiro chegoLr a ocupar o posro de capháo-mor do Pará
em 1619, já Álvaro Frågoso de Àlbuquerque desracou-se na lura contra os holandescs, rendo
298 Rodrigo Ricupero
Cf. Prineirø Vîiruç,io rlo Sanro Ofício à: Partesdo Brasil- Denuncìø.ç,ies e Cotzfssóes de Pernatl
buca 11593-7-95), Ap. cit , p.359 àas denunciaçóes e p. 96 e 98 das con6ssóes.
Embora a assocìaçáo das lunçóes de capiráo do presídio e conrrarador dos dízimos parcça
es¡ranha, acreditamos dilícil que em anos ráo próriimos exisrissem duas pessoas chamadas
Duarre Ximenes Caminha. Cf. "Insrrumenros de Diogo Borelho" de 6 de serembro de 1603,
ptblicaào na Rnista do I- \tit .to Hlstót'ico e Gèográ.fco Brasileiro, romo 73, parre l, p. lii; '-¡.Ì-
vará de lìcença para Duarre Ximenes Caminha carregar açúcar" de 8 de ourubro de 1619, A¡-
quivo r.r-acional da Tor¡e do Tombo, Chancelarìa de Fìlipe III, Doaçóes, Livro 1, fl. 74: Auro
do t¡ue {ìcou assenrado sob¡e medidas a comar conrra o assako dos holandeses as lo¡ralezas de
?e¡n.rmbuco em reuniáo convocada por l4arias de Albuquerque" de 16 de ou¡ubro de 1621,
publicado pelo Baráo de Srudârr, Docnmentos para a História tlo Brasil e especì¿hnente a /,o
Ce¡¡¡i, 4 vols., Forr eza: Minerva, 1909, vol, I, p. 289 e "Relaçáo das visiras que o provedor-
mo¡ da lazenda do Esrado do Brasil lez nas lortaÌezas da Capitania de Pe¡nambuco e n¿s mais
do nor¡e" de 29 de dezembro dc 1623, publicada por Hélio Galváo, Hnóría ì¿ Fort¿leza da
B¿na da Rio Gr¿nle- Rio de Janeiro: Conselho Fede¡al de Cuhura, 1979, p. 2.46.
A formacáo da elite colonial 799
nhiasst- Adian¡e encontremos o engenho dos irmáos Diogo e Simâo de Paiva, filhos
de Migueì Á1.'.¡.s de Paiva que, segundo Frei Vicente do Salvador, foì levantado por
capitáo-mor da capitania de ltama¡acá. Â i¡má deles, Isabel de Paiva, e¡a casada com
Pero Lopes Lobo, que também foi capitão-mo¡ de ltama¡acá38.
Seguindo o arrolamenro de Diogo de Campos Moreno, enconrramos o desconhe-
cido Diogo Delgado e, em seguida, o engenho de Luís de Figueiredo em Goiana, que
ac¡ediramos se¡ filho ou parente próximo de Gaspar de Figueiredo Homem, ouvidor ge-
¡al do Estado do BrasjÌ na última década do século XVI, pois este casou em Pernambuco,
tornando-se proprietário de um engenho em Goiana de invocaçáo "da Santa Crul'^'. Os
últimos dois engenhos e¡am de Antônio de Holanda, Íìlho de Arnau de Holandato, e de
Jerônimo Rodrigues. cristáo-novo, que "foi mercador e ora está empob¡ecido, morado¡
na vila de ltama¡acá" e era primo de Joáo Nunes, citado acima'r.
Aplicando o mesmo critério utilizado no capítulo anterior com os senhores de
engenho da capitania da Bahia, ou seja, dividindo-os nos mesmos seis grupos (A -
G¡andes do Rejno; B - De¡enrores de cargos na administraçáo coJonial; C - Familia¡es
e criados dos deten¡ores de cargos; D - Pessoas que participaram do governo da con-
quista, sem possuírem cargos formais na administraçáo colonial e seus familiares mais
próximoser; E - Pessoas que náo participaram do go'ucrno e sem ligaçáo fämiliar com
as pessoas da governança e F - Pessoas sobre as quais náo conseguimos nenhum tipo
"Sumário das A¡madas que sc lìzcram e guerras quc sc dera'n na conquìsta do r;o Paraíba"
plùlicaáo na Reuista lo Instínta Hì:t,irico e Geogrnfco Br'zsílebo, rcmo 36. p. 34 e Borges da
Fonseca, O¡. rh, r'ol. Il, p. 392 e seguinres.
Frei Vrcen¡e do SaÌrador, O¡. dt" p. l4l; Pnmcira Visiøç,io do Santo OrÇtio à: Pa'na dø Bøtil ' De
urnctaç'es e Confssóes tu Prm¿mbuca 0593-1t95), O? cil. P. 372 ¿a.s ¿et'unciaçóes e Boges da
Fonseca, O¡. r:7, voì. I, p. 149 e vol.ll, p. 136. Pcro l-opes Lobo, por seus sen'iços' recebeu de Fìlipc
II dc Portugal o hábiro da Ordem de Cristo com uma tenca c a|'aú de lembrança paraserr Âlho ser
prolido BrasìLnumofício dejustìca ou fazenda' cl "Mc¡cè concedìdas PorSlraN{ajes-
nas panes do
tade a Pero Lopes Lobo" de 23 dc março de 1610, Àrchivo Generai de Simancas' Sec. Provinciâles'
códice 1498. Regisro de despachos e ca-nas régias para a Índia no ano de 1608' fl 78 r
F¡ei Vicen¡e do Salvad ctr. Op. cít , p 335 "Lì"ro das saídas dos navios e urcas ' de 1605' pu-
1¿licado na Reuista do Institato Aftluealógica, Htstötico e Geagrifco Peraatnbuano' "ol. i8, p.
1i3eAnthonyKnilet,Víri¿Fartu¡taeEstranhasFa,y'.os/'e.. (século XVII) (traducáo)' Sáo
Paulo: Brasiiiense. 1947. p. 166. Kniver. embora erre o nomc' nos informa que "Co¡an¿ t ur't
pequeno rio rye a ¿sse (rto) P¿raiba: (e) pertencc a Ga:par d-c S4ueira, qrc fu; thqfa da
fcalu,nto
ju*iça de toda a Brasil".
90 Borges da Fonscca, vol. I, p 324.
9t himei Visilliç,1o do Santo OJício às P¿rtes do Brnsil - Denancìaçôa da B'¿hii'. Sâo Pado'
t925. p. 557.
Exemplos dessa siruaçáo sáo os comandantes de exPediçóes militares' os caPiráes das troPâs
formadas pelos morado¡es, se¡tanistas a mando do go.erno, rendeiros de impostos' membros
da Câma¡a, en6m, arividades llgadas à governanca da re¡ra
300 Rodrigo Ricupero
de informação, faro que provavelmence indique a náo existência de vínculos com a ad-
ministraçáo colonial'j), teríamos os seguinres ¡esultados: derenrores de cargos com 17
senhores de engenho; åmiliares e pessoas diretamente ligadas a detentores com out¡as
15; pessoas que exerce¡am ourras arividades ligadas à adminisrração - tarefas militares,
¡endei¡os de impostos, sertanisras, membros da câma¡a etc. - com 19 nomes; pessoas
que náo mantinham relaçóes direras com os decen¡o¡es de ca¡gos com 17 e, por fim, l0
nomes sobre os quais náo conseguimos nenhuma info¡macáo (ver Tabela i abaixo).
Tabela 4:
Senhores de engenho em Pernambuco e ltañaracá (c. 1609)
Legenda:
A - Grandes do Reino
F'Sem informaçáo
B C D E F
Râoo de Iguâmssù 1
câsPr¡ ¡-e¡nandes,{njo
Esrcváo Gomes
GoncaLo Novo
Goncxlo No\.o
Registre-se que cada pessoa só será incluida em um grupo, dando,se sempre preferência para
o primeìro grupo possír'el, no caso de uma pessoa poder ser arrolada em mais de unr grupo.
Assim, por exemplo, uma pessoa que pudesse ser arrolada no grupos B, C ou D foi a¡rolada
apenas no B; ourra no C ou D, loì no C-
A formaçáo da elite coloniaÌ
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302 Rodrigo Ricupero
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Ànd.¿ do Cou¡o
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Esre!áo P¡es
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A formaçáo da elite colonial
Filipe de ALbuquerqúe l
Djogo Mâ¡rjns P€ssoâ l
Á1"â¡o F¡asoso l
0 t7 r5 r9 l l0
Duarr€ Ximenes
AnrônÌo Cavâlcanri I
Dioso Del.sado
Luís de Figueiredo
An¡ônio CaLalcanti
An¡ônio de Holandã i
Jerôn¡mo Rodrig!es
0 ). ) 2. 2
Portanto, dois quintos dos senhores de engenho citados estariam nos grupos B e C,
somando aí os membros do grupo D, teríamos dois terços destes ligados à governança
da rerra, concra menos de dois quintos aparentemette sem relação, incluindo equi todos
aqr¡eles pam os quais náo obtivemos infò¡maçáo (ver Tabela 6 abaixo)
J04 Rodrigo Ricupero
Tabela 5:
Resumo tabela 4
Legenda:
Ä - Grandes do Re,no
F Sem hformaçáo
94 Para uma descrição mais decalhada desse processo de conr¡Lrista, ver um clássico da historiogra-
fia pararbana, Irineu F erreiraPimo. D¿tas e Notãs pãîa 4 Hí'tóríã d¿ Païdíb'7.(1908) 2.ols. 2
ed. Joáo lessoa: Unn'e¡sidade Federal da Paraíba, 1977 e o trabalho ¡ecente de Regina Célìa
GonçaIves. Guerra: e Arúc¿ft¡ Polític¿ e ecz',tomi¿ nã caPit,lnnr da Palãib¿ (1585-1630) (-fese
Inédita defendida na USP em 2003). A prìncipal fonte para a conquisra da Pa¡aíba é o chamado
"Sumário das A¡madas que se 6zeram e guerras qte se deram na conquisra do rio Paraiba",
pu!\ica.ðo na Ra,ista la Ín*ituto Histórtco e Geognifco Brasilelro, rcno 36, p. 5-89 F¡ei Vicente
do Salvado¡ também dedica muì¡a a¡encáo ao tema, mas, salvo um ou ourro detalhe, repete as
infurmaçóes, múiras vezes copiando trechos rn¡eiros do "Sumárjo', cuia au¡oria é a¡¡ibuida ao
jesuíra Simáo Travassos- Sobre esta questáo, veja-sc: José Hooório Rod rìgùes. Hbtória ¿a Hrstó'
ria do B¡¿sí|.3 vols. Sâo Paulo: Companhìa Ediro¡a Nacional, 1979,p.450.
306 Rodrigo Ricupero
índios se levan¡am conlra cenos abusos praricados por alguns po¡rugreses, desrruindo
o engenho recém-levantado de Diogo Dias, "que era o derradeiro que esrava nâs fron-
teiras da capitania de ltamaracá"e5.
.{s primeiras renracivas, contudo, náo derañ ¡esulrados. Em 1575, o governedor
Luís de Brito de Almeida enviou o ouvidor geral e provedo¡-mo¡ Fernáo da Silva com
a ta¡efa de conquistar a regiáo, mas a expediçáo, após algumas pequenas vitórias, foi
obrigada a retornar a Pe¡nambuco, dada a grande resisténcia indígena. O próprio go,
vernador organizou, ainda em 1575, tma armada de 12 navios em Saivador para tentar
empreender a conqlrisra, mas o [empo náo lhe foi favorável, e apenas uma pane da
frota conseguiu atingir Pernambuco. Â expediçáo seguinte, em 1579, comandada po¡
Joáo Tavares, após monta¡ um fo¡tim numa ilha do Rio Pa¡aíba, também foi obrigada,
pela resistência indígena, a retornar a Pe¡nambuco.
O f¡acasso das expediçóes, mesmo com ¡efo¡cos vindos da Bahia e da ¡en¡ariva
de colonizaçáo, empreitada após negociaçóes diretas no Reino por Fruruoso Ba¡bosa,
fez que o Governo-ge¡al assumisse a tarefa. O ouvidor geral Martim Leitáo loi enviado
para Pernambuco e assumiu o comando de uma nova expedicáo, formada por tropas
e com oficiais da capitania de Pernambuco e ¡efo¡çada, ainda, pela presenca de uma
pequena armada cas¡elhana que retornava do est¡eito de Magalháes. Esta expedicáo
que acabaria consolidando definitivamente o domínio da regiáo, embora as guerras
ainda durassem alguns anos.
Vejamos agora quem foram os principais conquistadores e primeiros povoadores
da Pa¡aíba. O ouvidor geral Ma¡cim Leitáo foi o comandante geral da conquisra e seu
cunhado F¡ancisco Barrero era o segundo no comando, as companhias de ordenanças
eram comandadas por Simáo Falcão e Jorge Camelo pa¡a as de Olinda, Joáo Paes Bar-
rero para a do Cabo de Santo Agostinho Joáo Velho do Rego para a de lgaraçu, que
e
nas palevras expressivas de Pereira da Cos¡a e¡am "todos da principal e alentada no-
breza pernambucana"t6. ,{s companhias dos me¡cado¡es e¡am comandadas por Fernáo
Soares e Ämb¡ósio Fe¡nandes B¡andáo. ,Ainda ocupavam posros importantes, Mister
ou Micer Hipóliro e Gaspar Dias de Moraes que dirigiam duas companhias formadas
por "muitos mømelacos flhos da terrá" e que eram de confiança do otxidor geral "que
deu sempre dc comer à sua cast¿" indo na vanguarda das tropas. Os reforços de ltama-
racá eram dirigidos pelo capiráo da capitania Pero Lopes Lobo e as companhias eram
comandadas por Crisróvão Paes de Alte¡o, Baltasa¡ de Bar¡os e Antônio C avalca¡fleì.
Pe¡cebe-se, assim, que embora sob o comando do ouvidor geral e com parre dos
¡ecursos pagos peJa Fazenda Real, a conquista da Paraíba foi uma grande empreicada
da elire da capirania de Pernambuco, que, em seguida, assumiu os principais posros
da nova capitania, ocupou as ¡e¡¡as conquisradas e e¡gueu engenhos de açúcar. Além
disso, a Câma¡a de Olinda procurou interferi¡ nos assuntos da nova capitania, inclu-
sive elegendo Joáo Tavares, esc¡iváo da própria Câmara de Olinda, como primeiro
capitáo-mor da Paraíbaes.
O segundo capitáo-mor, Frutuoso Ba¡bosa, foi ofìcial da Câmara de Olinda em
1572 participava do cométcio com pau-b¡asil em Pe¡nambuco e acordou com a Coroa
um projeto de colonizaçáo da Paraiba, sendo nomeado capitáo-mor por dez anos. A
ten¡ativa inicial de F¡utuoso Barbosa náo foi bem sucedida, mas, pouco tempo depoìs
da conquisra da Pa¡aíba, pelo ouvidor geral Martim i-eirão, a Co¡oa conñrmou Fru-
tuoso Ba¡bosa no car€lo, que exerceû por três anosi possil_elmente como comPensacáo
dos gastos que .eve nas guer¡as da Paraíbaoo.
Com a saída de F¡utuoso Barbosa, Àndré de Albuquerque assumìu o posto de ca-
pitão-mor interinamen¡e. Este e¡a filho do velho Jerônìmo de Albuquerquc e. em 1593,
ou seja, logo após d€ixar o go!'erno interino da Pa¡aíba, tornou-se vereâdor ¡ra Câma¡a
de Olinda, tendo ainda sido capitáo-mor de Igaracu. Posteriormente seria ¡econduzido
ao posto por provisáo de Filipe lli00. Vale a pena ainda cita¡ Antônio de Àlbuquerque
98 Êxcmplo dessa interlcréncia é a carrâ em qu€ a Câmara de Olinda pedia ao rci â sùbstituiçáo
de F¡uruoso Ba¡bosa do poslo de capitáo mor, po;s esr€, Parå os oficrais, "náo soJ¡cnrc inqu;t-
¡a a Paraíb'a mas anres a nós nos causa moléstia além dc nos have¡ ¡enro custado (a conquisra
<ia Pa'aíba) e ora nos náo cusrará pouco ...", ci "Cana dos juizcs c vereadores da Vila de
Olinda para el'rei" de 28 de agosto de 1589. Arquno Nacional da Torre do Tomb'o, Corpo
Cronoiógico, parlc I, rnaço 112, docLrmento 5T Sobre a eleicáo de Joáo Tarares, cl "Carta
do cardeal arquìduque, para el-rei'dc l3 de outubro de 1586, Archilo Gencnl r{e sim:ncas
Sec. P¡or-rnciales, códice lii0, Cartas o¡isinais do cardeal arquiduquc, vice-reì de Portugal
para el-reì. sobre dn'ersos assunros dc 1586, fls. 536 e seguintes.
99 Cll¡incu Ferreira Pìnro, O!. cir,P.14e Sum ário das Armadas que se fizcran c gue..as que
scderanr na conquìsta do rio Paraíba , publicaào na. Reuiç¿ lo I¡tçituto Hi:tórico
Geognífn e
Brasileiro. romo 36, p.17. Ve¡ ainda, entre outros, os seguintes documenrosi "RePresenraçáo
da Cânara de Olinda ao Padre Geral (dos JesLrí¡as)" de 29 de janeiro de l57Z publicada pot
Pad.e Sera6m Lene, Hìstória da. Compa.nhia de Jcszs no Brnsil Op cít , rcL l' p 550 e "Pro-
r,imen¡o de F¡u¡uoso Barbosa, capiráo-mor da Paraiba por dez anos" de 25 de novembro dc
1579. Arquivo Nacional da Tor¡e rio Tombo, Chancela¡ia de D Sebas¡ráo e D. Hcnnque'
Doaçóes, Livro 42, 11. 382 r'.
100 Cf. F¡ej Vìcen¡e do Sah.ado¡ OP. cit.,309: Borges da Fonseca, Op c;t.,rc) II'p 386: Pri
neira \risit¿ção do Sa¡tta Oficia à: Partes lo Êrasil Denuntiaçóes e Co'nfssóe: rh Penankt
co (1i93'I59il, OP. cít.. p. 3 das dcnunciaçóes e ''Provìmento de .A.ndré de AÌbuqucrque.
capiráo-mor c1a Pa¡aíba de 21 de agosto de 1603, Arquivo Nacional da Torre do To'rbo,
Chancelar;a de Filipe I, Doaçóes, LÀ.ro Z fl.3671'.
308 Rodrigo Ricupero
0593-159t), Op. cit., p. 394 das denunciacóes. Salvo caso de homonímia, esteve enrrclvido
na compra de açúcar do espólio de Mem de Sá, cf "Invenrário do engenho de Sergipe para
enrrega ao rendeiro judicial Gaspar da Cunha e por este a,A.nrônio da Serra, procurador dos
herdeiros" de 1574, pul>Iicado er¡ Docu.meøos pa,¿ a H^ttiïi¿ ¿o Açúrøa 3 vols. Rio de Janeì-
ro: IAÂ, 1956, rrcl. III, p. 121 enrre ourras.
104 Cf- ?rimùra Visitação do Santo Oficio às Parte: do Brusi/, Denunciações e Canfssôes de Penan-
b ú t l<qj-1ict<1, OP. (i!.. p.20a dâ\denun( ¿(oes.
10i Cf, 'Provimenro de Gaspar Carneiro, escriváo da Fazenda dos Defun¡os" de 21 de abril de
1i84, "Provimenro de Caspar Carneiro, provedo¡ da Fazcnda dos Defuntos" de 8 de março
de 1584, "Provimenro de Gaspar Carnerro, esc¡iváo dos Defunros" de 24 de fevereiro de
1t84, "Provimenro de Jorge de AÌmeida Lobo, provedor da Fazenda dos Defuntos do Espiriro
Sanro" de 8 de ourubro de 1594 e "Provimenro de Nicolau Tejxei¡a de Barros, escnváo dos
delunros de Pernambuco" de 1'de março de 1616, respecrivamenre, Arquivo Nacional da
Tor¡e do lbmbo, Chancelaria de Filipe I, Doaçóes, livro 8, fl- 44 v.;1ì. 9, p.311; liv¡o 10,11.
129 v; liv¡o 31, 11. 20 v e Chancelaria de Filipe Il, Doaçóes, livro 36, fl. 8t v.
r06 "Livro das saídas dos navios e urcas" de 1605, publicado na Rr tta ¿o Inttítuto ArqaeoÌtigica,
Histório e Geogrulfca ?ernanbucano,vol- 58, p. lI8.
A formacáo da eliie colonial
rendo gasro muito dirhei¡o na sua conquista (e) em codas as gue¡¡as e enco¡r¡ros com
os gentios e [ranceses"l'2.
O último engenho da capitania liscado por Diogo de Campos Moreno em 1609
e¡a de Ântônio de Valadares, que foi capiráo de uma das companhias n¿ conquista
do Rio G¡ande e de ourra no combate aos índios que apoiaram os holandeses após a
expulsáo desces de Salvado¡"j. Aparece ainda como um dos signarários de dois au¡os
sobre a fortificaçáo da capitanìa, um de 1603, quando era oficial da Câma¡a, e out¡o
de 1618; pouco tempo depois arrematou os di¡eiros daAlfândega da Paraíba colocados
em pregáo pelo provedo¡-mo/'4.
Consolidado o domínìo da capitania da Pa¡aíba, o passo seguin¡e da expansáo
portuguesa f'oi a conquista da regiáo conhecida posreriormente como Sergipe d'el-rei,
enc¡e o Rio Sáo F¡ancisco e o norte do recôncavo da Bahia, que até o Ênal da década
de 1580 permanecia sob con¡¡ole de cribos inimigas,
-As primeiras rentativas de ocupaçâo do território de Sergipe ocorreram ainda no go-
verno de Luís de B¡ito de Almeida e ¡inham como principal responsável Ga¡cia D'Ávila,
porém acabaram limirando-se ao combate conc¡a os índios inimigos. Estes, contudo, no
final do gor.erno de ManuelTêles Barreto, segundo Frei Vicente do Sal,.ado., ptoc.,¡a¡am
acerta¡ um aco¡do de paz, sendo entáo enviada uma nova expediçáo que acabou sendo des-
truída pelos mesmos índios. A conquista de Sergipe propriamenre dita, iniciou-se, enúo,
como ¡espos¡a ao que os colonos conside¡aram uma traiçáo e foi dirigida por Cristóváo de
Barros, provedor-mot que nesse momenro pefticipara da junta que goveroava incerina-
mente o Estado do B¡asil devido ao falecimenro do governador'-geralL't.
p. lB6 e "Processo de.A.lva¡o \¡elho Ba¡rero" (1595), Ârquivo N:cional da To¡re do Toml¡o,
Inquisiçáo de Lisboa, 8475.
112 Cf. "Carra de sesmaria dc A.fonso Neco" de li de janeiro de 1615, publicada por Joáo de Lyra
Tavares, O¡. ch.,vo|.I, p.37.
Iti Frei Vicenre do Salvador, Op. cit.,p.323 e495.
114 Cf. 'Auco que mandaram fazer os o6ciais da Câ,na¡a sob¡e a forrifìcaçáo da barra do Cabe-
delo desra capirania da Paraíba" de 26 de abril de 1603, publicado na R¿utsta do Jn¡títtta Hx-
tórico e Geográfco Brastlella, @Í\o 73, p. 48 e 'Auro que man{ou lazer o senhor governador
e capiráo geral desre Esrado do Brasil D, Luis de Sousa sobre o lone novo que Sua Majcscade
ordena se faça, para forrilìcaçáo do porro desta capicanla (da Paraiba)" de 23 de novembro
de 1618, que consra do Liaro 1' do Gouerna ¿ta Brøs;l, Op. ut., p.254. \¡er ainda "Relaçáo das
visiras que o provedor-mor da lazenda do Esrado do B¡asil lez nas lonaìezas da C.rpirania de
Pernambuco e nas mais do no¡re" de 29 de dezembro de 1623, publicado por Hélio Galváo,
Op. cit., p.246 e o ma,luscrrro 2436 da Brb[oceca Nacronal de \,Íadrr cirado acim¿.
115 Frei Vicen¡e do 5 vùor, Op. cir..p.29i
e3A]t Ao contrário da conquisra da l'araiba, adc
Sergìpe náo possuí nada comparável ao "Sumá¡io das Armadaí', assim Frei VLcenrc do Sal
vador é a melhor lonre de ìnlormaçáo ainda que renha escriro pouco sobre o assunto. Parp.
¡en¡arivas an¡eriores de con<¡uista, pacíGcas ou náo, ver Felìsbelo Freire. Hi:ró a de Sngipe.2'
A formacão da elite colonial 311
motivos que levaram a que a área fosse transformada em capirania independente. Dio-
go de Campos Moreno creditava tal iniciativa ao monarca, mas, em documento anôni-
mo do início do século XVII, a medida era creditada ao governador-geral D- Francisco
de Sousa, o que teria, inclusive, provocado uma demanda, sustentada pelos moradores
de Salvador, contra tal separaçãor16.
De qualquer forma, os mo¡adores viam a conquism da regiáo como mais uma pos-
sibilidade de obtençáo de esc¡avos e de ¡e¡¡as, entáo escâssas no enro¡no de Salvado¡ Daí
a facilidade com que Cristóváo de Barros conseguìu recrutar ¿s troP¿s P¿ra a emPrcsai
aÊnal, como nos conta frei Vicente do Salvado¡ 'Apelidou por isso muitos homens desca
te¡¡a (Bahia) e alguns de Pernambuco, e uns e outros o acompanha¡am com mui¡a von-
rade, porque, sendo guerra táo.justa, dada com licença de el-rei, esperavam ¡raze¡ muitos
escravos""i, náo restando dúvidas sob¡e alegitimidade dos escraros capturados. Assim, náo
causa súrprcsa que os principais companhei¡os de C¡istóváo de Ba¡¡os fossem os senhores
de engenho Sebastiáo de Faria, comandante da retaguarda da expedição, e Rodrigo Mar-
tinsrrs, que juntamente com seu irmáo Álvaro Rodrigues"e, cåPicaneavam as troPas qùe
seguiam pelo interior.
'Alcançada a vi¡ória e cu¡ados os fe¡idos", ainda segundo Frei Vicente do
Salvador, Cristóváo de Ba¡¡os arrnou cavalei¡os "como fazem .- Áfti."", pot pto-
visóes do rei que para isso tinha, e
fez reparriçáo dos cativos e das terras, 6cando-lhe de uma coisa e out¡e muir¿
boa porçáo, com quc lcz ali uma grande fazenda de currais de gador e ouúos a
seu exemplo Êzeram o mesmo, com que veio a crescer cento pela bonda.ìe dos
pasros quc daÌi se provem de bois os engenhos da Bahia e Pe¡nambuco e os
açougues de carnetlo-
ed., Petrópolis: Vozes, 1972 caPírulo I, que publica ¡ambém uma ca¡ta do jesrírr Inácio de
Tolosa de 1575 que narra essas rentativas mal sucedidas.
116 Diogo de CamposMoreno, Liuro que dá razáa da Ecada h B¡¿s¡l' 11612), Op cit, P 161 e
"Relâçáo das cePjranias do Brasil" (início do século XVII), pubÌicada na Rev;sra do lnsrituto
Hisrórico e CeográGco Brasileiro, tomo 62' parte I' p 12.
117 F¡ei Vicen¡e do SaI.zdor, Op. cit , p.3A1.
118 Sob¡e esres dois seohorcs de engenho, veja-se o capírulo anrerior.
1i9 Áivaro Rodrigucs era um importaûte serranìsta, pois, segundo o governador-geral Diogo dc
Meneses. "os índios obedeciamlhe como ao sol" Ci Pedro Calmon (Ed)' Catáloga genealó-
gi ¿'/.s ?lincipnisfanítrg, 2 r'ols. Salvador: Empresa G¡á6ca da Bahia, 1985. p. 265 (Trata-se
de uma reedìcáo do CatáÌogo genealtigíco de Frei Jaboaráo).
120 F¡eì Viccn¡c do Sahador, O¿. cít.,p.302.
Jt2 Rodrigo Ricr.rpero
cem essâ capiEenie mais de duzen¡os moradores brancos, separados uns dos oucros a
respeiro de suas criaçóes, para as quâis sáo ráo cobiçosos de ocupar terras que há mora-
dor que rem uinra léguas de sesma¡ias em dife¡enres parres (Francisco Dias Ávila, 6-
lho de Garcia DÁvila), e Anónio Ca¡doso de Barros (1ìlho do conquisrador Crisróváo
de Barros) rem de sesmarias, desde o Rio Sergipe aré o Rio São lrancisco, por cosra e
121 Diogo de CamposMoreno, Liuro Ere drí raz,io do Estado do Brasil, (1612), Op. cit., p.163.
122 As sesmarias de Sergipe foram publicadas por Felisbelo Freire, 01. .l/., p. 328 e seguinces.
t23 Esre, na época da conquisra de Sergipe, divrdia o Governo geral inrerino com Crisróváo de
Barros.
124 Sob¡e as ¡er¡as sergipanas de Garcia Dá"il", ."'."-.nro, publicado por Pedro Cal,
"". """
mon, Hí'tór;/1 ¿/1 Cãia da Torre- F.lo àe laneno: José Olympio, 1958, p. 224.
125 Filho de Cris¡óváo de Ba¡ros e neto de,A.nrônio Cardoso de Barros, possuia, pelo menos,
dors engenhos na Bahia, além das rerras em Sergipe. Chamado de "morador nobre", por Si-
máo de Vasconcelos, teve desraque na campanha pela resrauração de Salvador ocupada pelos
holandeses em 1624 e 1625, ocupando o posro de coronel, renrou ainda, scm sucesso, obrer
o posto de capìráo-mor de Sergipe. Cf. Padre Barrolomeu Greneiro. Jornada dos Vassalos àa
Coroø de ?ortugal. (1625)- Rio d€ Jan€iro: Bibliorecâ Nacional, 1966, p. 69 e Frei Agosrinho
de SanraMa¡ia. Op. cit., p. 64. Yer ainda Sirnâo de Vasconcelos. Wda do Wnetui'e/ pa¿re José
d¿Anchieta. (Séc. XVII). 2 vols. Rio deJaneiro: Insriruro Nacional do Livro, 1943.
126 "Carta (de sesmaria) de MiguelSoares de Sousa" de 16 de maio de 1596, publicada por Felis-
belo Freire, O?. cir-, p.334.
A formaçáo da elite colonial lr3
pela rerra a denrro, mais de oito léguas morado¡es desta maneira ¡cm
ocupado com qu:Ltro currais t€rra que se podem acomodâr muiÞs genÈsrr¡.
Retrato dessa siruaçáo pode ser auferido no ¡elató¡io de Domingos da Cruz Porto
Car¡ei¡o ao Conde de Nassau, durante a ocupação de Sergipe pelos holandeses, onde
sáo Iistados i01 currais de gado, sendo queAntônio Ca¡doso de Bar¡os era proprietário
de um quarto delesrzs.
A expansáo cerritorial pelas partes do Brasil, comandada pelos altos membros do
Governo-geral e sustentada pelos grupos dominantes locais das capitanias primitivas.
serviu, como nos casos da Paraíba e de Sergipe, para o reforço destes grupos, imediata-
menre, por meio do cativeiro de escravos e pela apropriaçáo firndiária e, a médio prazo,
por meio da ocupação dos principais cargos régios, Tal processo con¡inua¡ia ainda
tumo ao Norte, como veremos em seguida.
A costa leste-oeste
-4. açáo reuniu forças das capitanias de Pernambuco, Itamaracá e Paraíba e, dent¡e seus
principais comandanres, vindos da Capitania de Pernambuco, estavam Francisco Bar-
ros Rego, Joáo Paes Bar¡ero, Manuel da Costa Calheiros e Manuel Leitáo, senho¡es de
engenho, e Pero Lopes Camelo, proprietário de uma fazenda; da Pa¡aíba, Antônio de
e Afonso Pamplona, dono de ¡e¡¡as na capitania. Entre
Valada¡es, senho¡ de engenho,
os religiosos, descacava-se F¡ei Be¡na¡dino das Neves, fiiho do primeiro capitáo-mor da
Paraíba, João Tavares, sendo por isso muito respeitado pelos potiguares-
Sem ent¡a¡mos em deralhes sobre as merchâs e corrc¡amarchas, combates, acor-
dos, rraiçóes e doenças, podemos, resumidamen¡e, dize¡ que as forças portuguesasJ
após algumas virórias, corseguiram dominar a região, fazendo as pazes com os in-
dígenas e fundando Natai em 25 de dezembro de 1592 sob o comando Jerônimo de
Albuquerque, após o retorno de Manuel Mascarenhas Homem para Pernambuco.
Como sempre, após cada nova conquisra, as terras foram rapidamente distribu-
ídas. A partilha das
¡e¡ras coube ao primeiro capiráo-mor Jerônimo de Albuquerque,
que aproveitou para distribuir úma enorme sesma¡ia aos filhos Anrônio e Matias de
Albuquerque. Além do ramanho, Jerônimo de Albuquerque soube escolher para os
filhos uma das melhores áreas da capitania e praticamente umas das poucas áreas favo-
¡áveis ao cukivo da cana de açúcar, aÂnai as ter¡as do Rio Grande eram mais propícias
à criaçáo de gado, "por serem para isso melhores do que para engenhos de açúcar"ti0.
Tal faro acabou provocando queixas, como a de um au¡o¡ anônimo, que, enrre
oùt¡as acusaçóes, criticava Jerônimo de Alblrquerque por ¡omar uma várzea inreira,
com ter¡as suficienres para oito engenhos, Relarava ainda que o capitão-mor teria res-
pondido aos inreressados em aprovei¡a¡ esras rerras "qLre pagaráo tributos a seus filhos,
em cûjo nome ele tomou aquelas terras"riL.
A.s reciamaçóes surtiram efeito e o rei, qualificando ¡al divisáo de "exo¡bitan-
te", acabou mandando que o capitão-mor de Pernambuco .Alexand¡e de Mou¡a e o
desembargador Manuel Pinro da Rocha, ouvidor geral do Esrado do B¡asil, fossem
até Naral e 1ìzessem uma nova redisrribuiçáo, reduzindo a doaçáo pela metader'2.
130 F¡ei Vicenre do Sal!àdor, O?. cit., p.329. Um documenro de o¡igem jesuírica de 1607 dividia
as te¡¡asdo Rio G¡ande do None em campos para o gado e várzeas para a cana-de-açúcar.
"ReÌacáo das cousas do Rio G¡andc, do sírio e disposiçáo dâ Terr¿" de 1602 publicado por
SeraÊmLeire, História da Conpaahia de Jents no Bra:i/, Op. ct' , \ol.I, p. 5t7
lil 'Ë'r¿do d"s, oir¡, no R,o C-¿nde , documcnro de ¡urori¿ nio 'dcnritcad¿
do século XVIL Biblìoreca Nacional de Lisboa, Rese¡vados, Colecáo Pombalìna, códice 642
i]s. 106 ' l07q
132 Ct "lìaslado do Àuro e maìs dihgências que se Ezeram sobre as daras de rerras da capirania
do Rio G¡ande, que se rinham dado" de 1614, pubÌicado na Reuistd ¿o Instítuto Hìrîóî.¡ca
do Ceará. Fornleza: Instr¡uro Hisrórico do Ceará, romo 19- Tal códice concim inumeros
documenros e uma lis¡a dc quase 200 sesmarias concedidas ou validadas após a dilìgéncia. Â
A formacáo da elire colonìai 3t5
doaçáo de terras e de uma saLna para os 6lhos de Jerônimo de -Albuquerque estáo nas p 132
e 135 ¡espectivamente.
À doaçáo para os jcsuítas era de quinze ou dezesseis léguas, c[ "Relaçáo das cousas do Rio
Grande, do síuo e disposiçáo da Terra" de 1607, publicado por Sera6m L.ire. Hi\ú/i'1 ¿¿
Conpanhía de Juus no Brasil, Op. cit., vol. L, p. 557
134 Cf. "T¡aslado do Àuto e mais dilìgéncìas que se 6zc¡a¡r sob¡e as da¡as de terras da capitania
<1o Rio Grande. que se ¡nham dado" de 1614' publicado na Ra¡ísta do Inciøto
Histó¡ica ào
Ce¿rá - F ortaleza: Itsttt uto Hìstó¡ico do Ccará. tomo 19, P. 116
t35 Drogo de Campos Moreno, "Relaçáo das pracas fortes, por.oaçóes e coìsâs de imPortância quc
Sua Majestade tem na cosca do Brasil, lazendo princípio dos baixos ou ponra de Sáo Roque
para o sul do estacio e delensáo delas, de scus fruros e rendimentos' fèìta pelo sargento-mor
desra costa ..." de 1609. publicado na Ratittu' ¿o l stit to AÍqa€akgico, Hie'j xo e G€ottifco
Pcrnanbucano. rcL17, 1934, p. i88
t36 Hélio Galváo, OP. cit., ?ãssin
137 'Auco de como pôs em conselho o go.'crnador Dìogo BoreJho a joroada do Maranháo, que
apro.-aram todos os nomeados nele e só Manuel Mascarenhas foì de contrário parecer" de 26
de janeiro de 1603 , pLrbiìcado ia Rütistá ¿o Inttltuta Histórlco a Geográfco Brasileiro rcma
73.p.41.
3L6 Rodrigo Ricupero
t38 Foi verear:o¡ de Filipéia (arualJoão lessoa), como sc vé em Frei Manuel da.lJhl N¿r¡¡t¡ix,t r!¿
Crr'ó¿ja l¿ Snata A"tódío r/o Bra:i/ 1162l). Perrópohs: \'ozes, 19õ, p. 120.
Ì39 \'e¡ Serafi¡r Lene, Histórìa la Conpanhiã. ¿te Jeszi no B/a:.i.l. \oL III, p.3
140 "Carra de Diogo de tr{eneses para o reì de l" de março dc 16i1, pr.hlicaà.t nos Anaís ltt Ili-
bliateca Naciana/ ,sol- 57, p.7i.
i41 Para um ¡¿su¡no oa ecapa inicial da conq'.rista do Cearã., ver \ãrnhagen. Op. cn.,II. p.56 e
I ljCe¡los Srudrrr Fi)ho. e..t Anigo [*at/o t/o MaradÀäo
e c szrts Capitat¡i¿s F¿u¿!øí¡. Farraleza:
I¡rСensâ Universìrária do Ceará. 1960, p. 81.
142 I)ocumcnros ¡ele¡en¡es ¿ l{a¡rim So:r¡es tr,lorcno pubiicados na Revis¡a do Instituto Hisró,
¡ico do Cca¡á, XlX, 1909, p.334. O docLrmenco é de 28 de ¿bril de tó22, mas iá !m Ì6Ì9
ltartim Soares \lo¡cno havia sido pro.;ido ro posro de capiráo-mor, scndo dispensado num
adendo de ir aré à Bâhia para lomar posse qLrc deveria ser dada pelo governador gcral. Cl
A formação da elite colonial 317
Ba¡áo de S¡udart. Dz¡¿ c nzctu! païa a Hiitó'tì¿ do Ccaní. (1896) 3 vols- Forraleza: Fundaç:o
'
\\àldemar Cosm, 2001,l, p.28 e 33.
i43 lara os preparativos e o desen¡oÌar dos fatos, r.er F¡ei Vicenre do Salvado¡' Op- cít ' p 403'
V-ale ainda lembrar que o grande cronisra da conquista loì Diogo de Campos À4oreno,lrra-
/,a do Maranháo po, ordan dc Sea llaje:tdy'.e felta- no ¿no /-c 1614. Rjo de Janeiro: Alhambra'
1984.
144 Paraa biograGa dcJcrónimo dc-Àlbrtquerque Maranháo' r'er Bor¡1es da Fonseca, OV cit p I
9 e Pe¡eira ria Costa. Dícionl'ría d'e Pern¿n¡buc¿'nas Cílebtes Op. rh, p 425. mas ressaite-se
o laro que csie ioi casado com D. Cararina Feijó' Âlha Anrônio Pinheiro Feijó' fcrtor-mor da
arrrada quc foi ao Maranháo.
145 Frci Vtcente do Saltador, Op. cit . p. 401
146 Marias de A.lbuquerqLrc, sLrcedendo o prlmo Jerônimo Fra¡¡oso de Aìbuquerque, foi governa-
dor do Pará. sendo <leposto cm Poucos dias. c ainda, no lìnaì da car¡eira' golernou a Paraiba'
casou no Rio de Janeiro com uma 6lha da elire local. mor¡endo no seu engenho de Cunhau
em t6S5 ìvfa¡uel dc SoLrsa de Eça taøbém foi, Post€rio¡menre. capitáo-mor do Pará Para
rodas as nomeaçóes, r'er: Berna¡do Perei¡a Berredo Ajtnaer H¡starico! do Estai"o do Matdnhao
(i7 t 8). Iquiros {Peru): .'\b1'a-Yala, 1898, p Ì 97: César Âugusto Ma rqtes Ditionírio Httóriro'
Gcagnífco da Pro!íncia ¿a M'xrcnhão.Río ¿.elanei¡o: Ediro¡a Fon-Fon, 1970' p 296; Anrônio
Ba.ena. Cornpênt/io dø.s Eras /¿ Protíacia la I'¿rtí (1838). Belém: U¡ive¡sidade Fede¡al do
Pará.. 1969, p. 25: Borges da Fonscc^. OP c¡r',I. P. Ìl e I'creira d¡. Costa. Dlclonárío de Per'
na¡nbuc¿no: Cé|,:bres. OP. cir.. P.717.
318 Rodrigo Ricupero
,{s rerras (do Maranháo) sáo muito férreis e se podem fazer ìn6niros crrgc-
nhos de açúcar, porque se dáo nelas mui formosas caûâs... mas lalcam homens
de posse quc facam lazendas, já no Maranháo há quarro engenhos e ourro\ prin-
cipiados e far-se-áo muiros facilmenre se Sua I,lajesrade puser os olhos naquela
conquista, fazenda mcrcé aos homens cue lá quiserem fazer engenhos, como se
Nesse sentido, oâo câusa su¡presa que os cinco engenhos da capitania. no tempo
da ¡evoka que expulsou os holandeses do N4aranhão em 164i, fossem: um de Benro
Maciel Pa¡ente, en¡igo capitáo-mor do Pará e governador-geral do Maranháo, ou¡¡o
do sargenro-mor Antònio Teixeira de N4elo e t¡ês de An¡ônio Muniz Barreiros. anrigo
capicáo-mor e, provavelmenre, a maior personalidade da capitania na p¡imeira metade
do século XVIIFT.
Fechando a conquista da costa leste-oeste e como conseqùência imediara da vi-
ró¡ia no Ma¡anháo, os porttlgueses ocuparam o Pa¡á, dominando a foz do Rio Ama-
zonasrtr. Nessa conquista, destacaram-se o capitáo-mor Francisco Caldeira de Cas¡elo
B¡anco, fundado¡ de Belém, o provedo¡ da fazenda real Manuel de Sousa de Eça, um
e
l5l Mário Marrins M etreles. Hol¿¡deses na Maïãtlh¿o Sâo Luí¡l Èà:jfma, 1991' p 1t4
lil \er lu<;rd¿ r¡ ¡go.¡. O/. cit. pr':"
153 Âugusro Meira Fllho. Ez,alryá-o Histórna de Betért da Gráo-Partí 2 rcIs Belem: Gra6sa 1976
terras para a esposa do prrmeiro caPìráo-mordo Pa¡á e um documcn¡o em que M:nuelde Sousa
Eça, alegando os ioúmcros gasros que fez no servìço d'el-rer' pede ajuda de cusro para poder
de
assumir o cargo de pro'edo¡ da fazenda Os documentos estáo pubLcados' mui
pectirrcs fac-símiles, anexos, sem númeraçáo de página, no 6nal de cada capírulo
1i4 An¡ônio Bacna. 02. cn., p. 25 c,Augusto Meira Filho. O/ .1¡, caPítulos I c 2
ri5 Sobre Manuel de Sousa de Eca, r'eia+e a nota i07 do capítulo 8 deste trabalho'
Considerações finais
décadas do século seguinte, em ¡icmos próprios a cada capitania, por meio da apro-
priaçáo privada de te¡ras e de homens. Daí a cent¡alidade das guerras de conquista de
novas áreas ao longo do litoral, a partir dos núcleos iniciais, pois, ao mesmo tempo em
que derrotavam a resistência indígena, possibilitavam, na ausência de tesouros mine-
rais de monta, a ocupaçáo de áreas mais amplas e o cativeiro de milhares de índios.
Foi esse processo, comandado pela administraçáo colonial, donata¡ìal orr ré-
gia, que permitiu uma espécie de "acumulaçáo primitiva coloniai", t¡ansformando
as terras em patrimônio privado e obrigando os índios, até entáo liv¡es, a t¡abalhar
para os novos donos, em cetiveiro explíciro ou náo. C¡iavam-se, assim, quase do
nada, lorrunas potenciais, que se realizariam plenamente, após a montagem de en-
genhos e a vinculaçáo da colônia ao comércio europeu.
A administraçáo colonial, ao controlar tal processo, dava aos seus memb¡os
dirigentes um enorme pode¡ pois cabia a estes a distribuiçáo das ter¡as e dos es-
321
)22 Rodrigo Ricupero
cravos capn¡rados. Esse poder seria mantido nos períodos posterìores, pois, tanto nos
momentos de guerra aberta como nos de paz, a administraçáo colonial conrinÙava
com suas prerrogarivas quanto à concessáo de rerras, bem como com ¡elacão ao acesso
à máo-de-ob¡a indígena nas variadas formas.
A administraçáo colonial forneceu a seus membros, ou a Pessoas a eles ligadas,
uma sé¡ie de possibilidades de auxílio à formaçáo de parrimônios, Iegais ou náo, for-
necidas pela peqùena a¡ca de me¡cés manejadas di¡ecamenre na colôni¿, ou mesmo
pela grande arca conrrolada pelo rei, cujo acesso era mediado em grande medida pela
adminisrraçáo colonial, por via cartas e certidóes-
No processo de formaçáo da elite colonial, o conr¡ole sobre a te¡¡a ocuPou um
papel central, pois, a partir da grande propriedade, ergueu to espaço coionial uma es-
trurura de poder, que, por um lado, buscava ¡¡ansfe¡i¡ a estracifrcaçáo estamental, ser-
vindo de base social à existência do Estado pacrimonial e) que, Por outro, cotc¡erizou
a aspiração senhorial dos vassalos. Assim, a grande propriedade, ao mesmo t€mpo que
garanria o conrrole sob¡e as principais atividades econômicas da colônia, possibilirava
rambém o conc¡ole sobre a populaçáo, tanto livre como câtiva.
O papel de ¡elevo da adminis¡¡açáo no processo de formaçáo da elite colonial
náo anula, conrudo, out¡as vias de acesso, particularmente secores mercanrìs que vin-
culados a grupos familiares espalhados por vários pontos do globo, chegavam à colô-
nia com recu¡sos que lhes permitiam ingressar na elite em construçáo, mantendo-se
alheios à produçáo ou náo- Nesse momenro, contudo, em que o patrimônio rerritorial e
principalmente humano e¡a náo só a base do poder econômico, mas também político,
a participaçáo na administraçáo era fundamental, tanro para criar fortunas como Para
desenvolvê-las.
Os dois movimentos de formaçáo da eii¡e colonial e de conquisra e consoli-
daçáo da fachada aclânrica fo¡am, portanto, paralelos e complemenrares. E, dado
que a necessidade de defesa do ter¡iró¡io recém-conquistado exigia o povoametto e a
instalaçáo de uma estrutura produriva, pode-se apontar que a dinâmica colonial, nos
moldes do chamado Anrigo Sisrema Colonial, estruturou-se tessa etapa.
Na trajetória desra pesquisa, pode-se dizer que nosso ponto de partida foi a busca
da gênese da elire colonial e que nosso ponto de chegada foi a montagem do.Antigo
Sis¡ema Colonial. A exis¡ência de uma elire coionial residente e engajada no processo
de colonizaçáo, todavia, fez que a exploraçáo que se estrururou nas partes do Brasil
acabasse romando feiçóes próprias, diferindo do que se implementou nas colônias in-
glesas, francesas e holandesas do Ca¡ibe.
Fontes e bibliografia
FoNTES MANUSCRITAS
Espanha:
Ms. 3014. 1609-1641 Cartas dc los reys Felipe II, 111, e lV que se rcâeren al gobierno de
Porrugal ¡ suas posesiones. 3014 - 4, 200/201',230, 239.
Ms. 3015. Relaçáo de todos os oficios da fazenda e jusriça que há nes¡e Estado do Brasil' fl
15 . 3015 - 23"", 24 e 53/7 5
Ms. 1S192. Fi. 11-13. (1623?). Vo¡o de Pedro de Toiedo en referencia e los negocios del Brasii-
Secretarias Provinciales:
323
324 Rodrigo Ricupero
XIII Cód. 1498 - Regisco de despachos e carras regìas para a Índi¿ no ¿no 1608.
XIV Cód. 1499 Livro de regisco de carras régias do ano de 1608.
Cód. 1520 Liv¡o de r€gisro de certâs régiâs rocânres à repâr¡ição da Fazenda do ano 1626
Cód. liiO Cartas originais do Cardeal arquiduque, Vice-Rei de Porrugal pârâ el-rci, sobre
diversos assuntos de 1i86-
Cód. 1487 - Livro de registo das cartas que Sua M{esrade manda a Portugal para os govcma-
do¡es, Vice-Reis e ourras personagens de Porrugal 1603 / 1604.
Cód. 1553 - Carras originais sob¡e dive¡sos assunros esc¡iros pelo governador de Porrugal Àr-
cebispo de Lisboa para el-rei D. Filipe III dos anos 1627 e 1628.
Cód. 15?6 - Lir,¡o de registo de carras sobre marérias da Companhia do Comé¡cio 1631 , 1633.
(em espanhol)
Cód. 1552 - Carcas origìnais do Vice-Rei de Porrugal e ourros personâgerls sob¡e diversos
assunros a el-rei do àno 1620.
Sccrera¡ia de Esrado:
Legajo 433
Portugal:
Série Azul:
Memória em duas rrrsões intitulada "Compêndio historiai de 1a jornada del Brazil v sucessos
deÌla. Donde se da cuenta de como gano el ¡ebelde olandez Ia ciudad del Salvador y Bahia
de rodos los sancros y de su restauración por las,{rmadas de Espaná..." porJuan de \¡alencia
y Gusman. 1626. ).25 p. + i48 p. (Códice. 315 mm x 220 mm e 212 mm x 150 mm). Ms
236 e Ms 382.1
Maço 5
Cerrdáo. 02l\5ll57 3- Maço 5, 39. Contrato de dore do casamen¡o ent¡e D Fernando deNo-
ronha e D. Filipa de Sá. filha de Mem de Sá, e lururos Conde e Condessa dc Linha¡es'
Mago 7
Maço 7. 13. I)ocumenco sobre disputa envol.'endo o Conde e a Condessa de Linhares
Maço 7, 20. Documenro sobre dispura por dívida na Bahia encre a Condcssa de Linha¡es e
Maço 8
Carra de para Porro, 00/01/1í81, Maço 8, 4. Carra sobre quesrões do pagamento do dízimo do
açúcar na allândega do Porro.
Ca¡ra de Rui Teixeira para o Conde de Linhares. da Bahia, 12105/1586, Maço 8, 10.
Car¡a de Fernáo de Orra d€ Luas (sìc) para o Conde de Linhares, da Bahia, 05/08/1588, Maço
8, 26.
Carra de Rui Terxeira para o Conde de Linhares, Bahia, 01/03/1i89, Maço 8, 28.
Carta de Joáo Rodrigues Colaço ao Conde de Linhares, Salvador, 15108/1597, Maço 8, 92.
Maço 8, 163. Bilhete para o Conde de Linha¡es. Sobre o governador Diogo Borelho, de
ú10411607.
Car¡a de Pero B¡ás Reis ao Conde de Lìnhares, SC, 20/04/1609, Maco 8, 188.
Maço 9
Carra de Be¡nardo Ribeiro a Condessa de Liîhares, 2610911612, Maço 9, 210.
Carra de ìvlanuel do Couro para a Condessa de Linhares de 0X 10i11607 (?), (2' vìa), Maço 9,
24t.
Venda de terras, Maço 9, 242.
Ca¡ra de BaÌ¡asa¡ da Mora para a Condessa de Lìnhares, da Bahia, 3010711617, Maco 9, 243.
Maço 11
Registros de rernessas do engenho de Sergipe do Conde, Maço 11, 5. Livro das conras de Bal-
rasar dâ Mora de 1611.
Meço ¡ 2
Esc¡i¡ura de A¡¡endamenro - Maço 12, 5.
A lormaçáo da elite colonial 317
Maço 13
l,embranças para a Coûdessa de Linhares sobre as suas fazendas de Sergipe - Maço 13' 7
2010711607.
Libelo da Condessa de Linhares; conrra Cristóváo Ba¡roso le¡ei¡a sobre a arrecadacáo da Pro-
duçáo e dívìdas de seus engenheiros - Maço 13' 8-
Libelo da condcssa de Linhares conrra cristóváo Barros Perei¡a sobre a arrccedação e dívidâs
Réplica da Condessa sobre a demande que trazìa com C¡istór'-áo Barroso Pereira
-Maço 13'
13.
128 Rodrìgo Ricupero
Aponramenros qLre ievou C¡istóváo Ba¡¡oso quando foi para feícor do Engenho Sergipe, Maço
13,14.
Tréplica de Crisróvão Barroso sobre as conras do Engenho - Maço 13, lj.
Informaçóes para os embargos de execuçáo do Engenho Sergipe. Levanramenro de todo o
dinheiro que se arrecadou no tempo dos Condes - Maço 13, i6.
Papel sobre as mediçóes de Sergipe do Conde, de que alcançou senrençâ o padre Francisco
de Araújo, conrra a Condessa de Linhares, nâ tercei¡â Ìéguâ que se meteu - Maço 13, 17
1677.
Fundamentos da Igreja de Sanro Anráo conrra â senrençâ dada a favor da Sanra Casa ... I -
Maço 13, 18.
Traslado da senrença dada pela Relaçáo sobre o Engenho de Sergipe e dos embargos da Mìseri-
córdia às diras sen¡enças - Maço 13, 21.
Papéis, das terras que vendeu Bahasâr dâ Mota, do Engenho de Sergipe - Maço 13, 34. Te¡¡as
vendidas em 1617
Venda que fez o procu¡ador do Conde de Linha¡es a Simáo do Vale de uma rerra c urn pcqucno
sobejo oa ilha da Boca - Maço 13, 3Z
Réplica da Condessa de Linhares; sobre cartas de um feiro¡ de eîgenho - Maço 13, 39.
Maço 14
Posse que tomou o CoÌégio de nexas ao Engenho - Maço 14, 1.
Esc¡iro sobre venda e arrendamenro do Engenho de Ilhéus, entre a Condessa de Linhares e Luís
Ramires - Maço 14, 4!.
Relacáo do esrado em que achei o engenho de Sergipe, 00/0711628, Maço 14, 52.
Lembrancas sobre o que devia fazer nos Engenhos o padre Simáo de Soro Maior, Maço 14,
t5.
Carta de Sesma¡ia não aucên¡ica a Fe¡náo de Cascelo Branco, acerca do Engenho de Sergipe,
Maco 14, 59-
A formaçáo da elite colonial i29
Maço 15
A¡¡endamentos do Engenho de Sergipe - Maço 15,3. Réplica da Condessa de Linhares a um
processo movido após a morte de seu marido.
Maco 17
Contas do Conde de Linhares (1586-1592) - Maço lZ 1.
Rol dos açúcares que C¡isróváo de Ba¡(os vendeu no Brasil - Maço 17, 10.
Fechamento do período em que Cristóváo Barroso foi feiror - Maço 17, 13'
Maço 39
Decrero, 2217111558. Maco 39,26 P¡owisáo do rei Pare que náo se prejudique terceiro com
certes isencóes,
Maço 52
Ce¡tjdáo da Sesmaria dada a Francisco Toscano em 1561 0010411622'llaço 52' 12'
Maço 52, 13. Documenro da disputa entre os colégios jesuiricos da Bahia e de Lisboa e a Santa
Casa da Bahìa.
130 Rodrigo Ricupero
Maço 68
Carra do Pad¡e Simáo Souro Maior para o Pad¡e Reito¡ do Colégio de Sanro Anráo Manuel
Fagundes. Bahia. 03/0111622 - Maço 68,163.
Traslado de uma carra do Pad¡e Bal¡asa¡ Barreira d.c 7910317612 sobr€ a ceusa do gove¡nedor.
Maço 68,385.
Àndré de Gou¡'eia ao Colégio de Sanro Anrâo (Bahia, 1810411626) - Maço 68, 394.
Ca¡ra do Pad¡e André de Gouveia para um superior (Bahia, 0410511626) - Maço 68,395.
Carta ânua da provincia do B¡asil de 1607, escrira por Manuel Cardoso. Bahia, 09/08/1608 -
Maço 68,429.
Maço 69
Carra de Sebasriáo Yaz para o padre Bento de Siqueira, Reitor do Colégio de Santo Anráo,
0311r/1629. Meço 69, 60
Sebasriáo Vaz a Diogo Cardim, provincial do colégio de Sanro Anráo - Maço 69,74.
05106/1628 (t).
Carra do Pad¡e Anrônio Gouveja ao Padre P¡ovincial (Bahia, 04/0 51t626) - Ma.ço 69,95.
Maço 70
Carra ao padre Cristóváo de Casrro (08/06/1623) - Maço70,87.
Ca¡ra sobre o estado da demanda com a Mise¡icórdìa da Bahia - Maço 70, 88, de 08/06/1623.
Carra do Pad¡e Manuel Couto para Esreváo de Cas¡ro. Pernambuco, O7ll2l1624, Maco
70,91.
Ao padre Mateus Tavares da Companhia de Jesus, procurador geral da provincia do Brasil em
Lisboa. 14/0911622, sobre a liberdade dos engenhos novos ou reediGcados nåo pâgârenr
dizi:mo - Maço 70 , 232 .
Pedido de conÉorme dos sobejos da terras de Sergipe do Conde dados pelo governador Diogo de
Mendonça Furrado aos padres do Colégio de Sanro Ancáo, sem data - Maço 70,475.
Lembranca de Joáo Lopes Ribeira do que deu ao procurador do Colégio de Sanro Anráo. Bahia
em 08/06/1625 , Maço70,476.
Mzço7l
Ca¡ra de Pe¡o Cor¡eia de Sergipe do Conde, 30l\tlß04 - Maço71,2.
Carra de Diogo Botelho ao Conde de Linha¡es, de Olinda,23108/1602 - Maço 7I,3-
Carra do Pad¡e Esreváo Pereirâ de Illlll162g-Maço7I,12_
A formaçáo da elire colonial 331
Cana de 0809/1630 ao Padre Simáo de Souto Maiot Procuredor do colégio de Sanro Antáo -
Maço 71, i3.
Car¡a de 26lo9lI63Q ao ?adre Simáo de Solrto Mâiot procurador do colégio de San¡o An¡áo
Carra com info¡macóes ge¡ais sobre o engenho de 09/01/16i5 - Maço 71' 80'
Maço 83
Cerridáo de Pedro Cadena de Vjlhasanri sobre os serviços do resou re iro -gerâ1 Antôn io Mendes
Licença para os jesuítas poderem menre¡ a doâçáo que lhes fez- Miguel de Moura - Ìr4aço 83'
r01.
Maço 87
Duas Car¡as. Uma para Lr.rís de Briro de Almeida qùe faïorcça a construçáo do co1égio da
Companhia de Jesus com certas medidas. Outra para Mem de Sá sobre as re¡ras dadas aos
colégios da Companhia deJesus - Maço 87' 3.
Maço 88
"De quão importante seja e continuâçáo da residéncia dos Padres da ComPânhia dc Jesus da
lrovíncia do Brasil das aldeias dos índios narurais da re¡râ' assim Pa¡a o bem de suas aLmas
e servico de Deus e de Sua \4ajestade. como o bem temPoral de o Esrado e dos mo¡ado¡es
dcle" (sem daca) - Maço 88, documenro 227
Maço 90
Rcsumo das cartas, alvarás e Provisóes reais conc€didas a Província do Brasil da Companhìa de
Jesus. 1624, feito no Dcsembargo do Paco - Maço 90, 103-
2 - Chancelaria Régia:
Chancelaria de D. Sebastiáo e D. Henrique - Doaçóes, ofícios e mercês - Lir'¡o s 1' 2' 4' 5'
6'7'
8,9, 11, 12, 13,t4.t5,16,t7,18,19,20,22,23,24.25,26,27,?8,29,3A,31'12,33'34,
3i, 36,37,38,39,40. 4t, 42' 43, 44, 45, e 46-
332 Rodrigo Ricupero
Chancclaria de D- Filipe I - Doaçóes, ofícios e mercés - I.ir,¡os 1, 2 ,3, 4, i, 6,7, 8,9, 10, ll, 12,
13, 15, ß, 17, 'r8, t9,2r,22,23,24,26,27,2.8,29,30,3'r e 32.
Livros:
01, 128 v - Brasil, Cana porque se esrabelece nesrâ parte a boa arrecadaçáo e paga de manti-
menro dos cabidos c mais minisrros das suas Sés. l8/06/1568.
02, 013 - B¡asil, Alvará de man¡imenro ao provisor e vigário do diro bispado. 10/03/1570 ou
10t03t1i69.
02, 013 v - Ca¡ca ao Provedor-mor para dar embarcacáo para que ele possa visìtar o bispado e
necessá¡ios. 10103/1569
02, 013 v - B¡asil, Alvará para a dignidade de Cura e benelìciados simpÌes do diro bispado
que náo riverem obrigaçáo de pregar no sobrediro bispado serem providos por oposiçäo,
12103/t569.
02, 042 - Olinda, Carra de vigário da lgreja do Salvador de O1inda ao padre Diogo Vaz Fer-
reira.02ll0/1577.
02, 138 Pe¡nambuco, Alvará para se dar a Igreja do Salvado¡, da cidade de Olinda na dita
capirania o que dererminou ¿ Visir¿cåo.
08, 7 v - OÌinda, Carta de apresenraçáo de benefício simples na matriz do Sah'ador <la vila de
Olinda a Luís Mende s. 0710711590
09, 194 - Pe¡nambuco, Cartâ de aPresenÌaçáo da vigararia da Igrcja Matrìz de Sáo Pedro na
r.
10, ?26 v - Pa¡aíba, Ca¡ta de apresentação do vigário da Igreja da dita terra ao padre Joáo
Barisra. 18/0íl1599.
12, 134 r.- Olinda, Carta de apresentacáo em um benefício dâ lgreja do Sah'arìor de Olinda
a
12, 140 - Pernambuco, Certa de eP¡esenreçáo em Lrm beneficio na lgreja do Salvador na dira
cidade a Belchio¡ de Carvalho.04l02l7625
i2, 149 - Pernambuco, Alvará para se criar o lugâr de Cu¡a da Igreja de Nossa Senho¡a da
Puri6caçáo de Una dâ cePitanie sobredita 03l0T/1625.
))+ Rodrigo Ricupero
12, 149 - Pernambuco, Carra de apresenracáo no curaro da Igreja de Nossa Senho¡a da Pu¡iÊ-
cacão de Una na sob¡edira capirania a Bakasar Joáo Cor¡eia. 0310711625.
12, 162 v - Parâ. Carta de apresentaçáo na viga¡aria da di¡a cidade ¡ Sìmáo Antunes.
22t03/1624.
12, 177 v - Paraíba, Ca¡¡a de Apresenraçáo na Igreja de Sanro Ancônio do Cabo a Gonçalo
Ribei¡o.04/10/1624.
12, 182 - Pe¡nambuco, Câ¡râ de âp¡esentâcáo na vigararia de Nossa Senho¡a do Rosário da
Muribeca a Joáo de Ab¡eu Soa¡es. 14/0lll62i.
12, 188 - Rio de Janeiro, Carra de apresenrâçáo ûâ vigararia de Sáo Sebasriáo da di¡a cidade a
Manuel da Nóbrega. 11/08/162i.
12, 190 r.- Rio de Janeiro, Alvará para o governador do Esrado do Brasil ap¡esenrar as digni-
dades, benefícios e ourros cargos, por inlormaçáo do administraçáo gcral da dita cidade.
21/06/1,62i.
Ì 2, t9 L r, - Rio de Janeiro, ,{lvará para o adminisrrador geral da capirania N.lareus da Cosra Abo,
rim, prover nos beneficios e mais dignidades eclesiásricâs, â exceçáo do deão. 2110611625.
12, 197 - Bahìa, Carca dc aprcsenracáo na Igreja da Sé da dira cidade a Cosme Casranheira.
07/0211616.
12, 198 - Pernambuco, Carra de Apresentacáo na Marriz da dira cidade ao licenciado Salvado¡
Tavares. 19103/7626.
12, 203 - Bahia, Alvará da Igreja laroquial de Paripe da dira cìdade ao padre Sináo Rodrigues.
06/0211626.
12, 210 v - Olìnda, Carra dc apresentacáo na coadjuroria da Igreja de Nossa Senhora do Rosário
de Muribeca, rermo da dita vila a Francisco da Cosra de Abreu. 241071I62G.
12, 214 y Ba[ia, Carra do cargo de ìr4esrre de Capela da Sé da dira cidade a Francisco Bo¡ges
da Cunha. 06/07/1626.
12, 217 - Bahia, Ca¡ra de apresenraçáo na coadjucoria da igreja Paroquial de Serinhaém, bispa-
do da dira cidade a Goncalo Pereira. 29l10/1626.
12, 226 - Bahia, Carta de apresenraçáo no Curaro de Nossa Senhora da Conceicáo de,{laeoa
do SLrl, bispado da dica cidade a Gonçalo Rìl¡eíro- 2511111626.
Ì2, 229 - Bahia, Ca¡ca de apresenracáo na lgreja de Cocegipe, bispado da dìra cidade ao Padre
Jerônimo lerreira da Coxa. ?010411627.
I?, 233 - Bahja, Carca dc apresenracáo na coadjuroria da lgreja do Rosárro de Mu¡ibeca, bis
pado da dira cidade a Gaspar da Cruz Barb ose. 23/0811627.
A. formaçáo da elite colonial )))
12, 233 v - Rio G¡ande, Carrâ de apresen.ecáo do curato da lgreja de Nossa Scnhora da Pu¡ìÊ-
cação da dita capirania, bispado da Bahia a Simáo do Soveral. IJl1011627-
12, 233 r.- Oljnda, CerÞ de apres€nteçáo na vigararia da lgreja do Rosá¡io da várzea, termo de
12. 234 - Bah\a. Carta de apresentacáo a Belchior Pereira. da coadjutoria da lgreja de Nossa
Senhora da luri6caçáo, bispado do Brasì1.
12. 248 - Bahia, Carta de apresenracáo do Curato de lg¡eja de Sáo Lourenço do Bispado da dira
cidade ao Padrc Gaspar Amt'rósio.2417011627.
12, 251 - karnaracá,llha no bispado da Bahia- Alr'a¡á a Mar¡im Ál"ares, vigário da Igreja do
Rosário, ¡ermo da sobredita ilha que o desobriga de rer coadiutor' 17112/1627
12, 252 - le¡nanbuco, Carte de apresenlâçáo da coadiutoria da Igreja de Sáo Migtel na drta
capitania a Jorge da Mora.. 70/l0ll'627-
12, 297 r.- Olinda, Catta de apresenÞçáo em um benefício na matriz da di¡a vìla de Olinda a
12, 408 v - Pernambuco, Provisáo Para continuar na serventie da Igreja de Sáo Lourenço da
dira cidade a Gonçalo Rì5eiro.2910511626-
14, 28i - Pernambuco, Alvará para se regular nes P¡ocìssóes e Prcsidéncias pelo cosrume ¡rati
cado na cidade da Bahia. 03107 /1617
15. 118 - Paraíba, Alvará ao licenciado Anrônio Terxeira Cabral para administrar a iurisdiçáo
eclesiástice no dìÌo Escado do Brasil. 1910211616-
15, i43 v - Pernambuco, Alvará para dos 6 beneÊciãdos da Metriz da dita terra se tirarcm 2 para
ejudarem o administ¡ador da jurisdiçáo eclesrástica na leraíba 04l03l1616
15. I44 - Paraí6a,Ptovisáo eo administrador da jurisdiçáo ecÌesiásrica desta terra para que nos
lugares onde náo houver eliube se metam os Presos nas cedeias seclrla¡es l1/03/1616
'leixeira Cabral para apresenrar os beneficios que
15, 144 v - Paraíba, ,tlvará ao Pad¡c Anrônio
vagarem na dita terra como adminis(rador da jurisdiçáo ecl€siásrica 11lO3l1616
17, I39 v - Brasil, Carra de apresentaçáo de cônego da di¡a Sé ao padre Paulo de Sousa.
291031t609.
21, 166 v - Bahia, Alvará para o cabido da Sé desra cidade (Salvador) e ourros serem pagos de
seus mânrimencos. 19 I 07 I 1612.
22,226 t - Pernambuco, Alvará de curato na Igreja da capitania da dica cidade ao padre Joáo
Rodrigues- 04/10/1623.
22, 228 - OLnda, Carra de apresenracáo na Igreja do Salvado¡ de Oiinda ao padre Antônio
Perei¡a Botelho. 20108/1620-
22, 314 - Rio deJaneiro, Alvará de prorrogaçáo 1-000$ réis por mais 8 anos ao colégio da Com-
panhia de Jesus da cidade. 7510511627.
22, 314 y - Bahia, Ah'ará de prorrogeçáo de 1-200$ de esmola por mais 8 anos ao colégio da
Companhia de Jesus. 1510511621.
25, 087 - Pe¡nambuco, Alvará e Aposrila para que as mercês feiras a Bernardino de Carvalho a
fl. 87 desre livro só tivessem efeiro depois de restituída a dita capitania a Coroa de Ponugal-
26l02.l 1644.
26, 165 - Pe¡nambuco, Cerre dc epresenração da igreja de Sáo Lourenço de Muribecâ ne dire
capitania ao Padre Gonçalo Ribeiro. 12/0211628.
26, 17i - Perna¡nbuco, Cârrâ de ep¡esenreçáo do coadjuror da lgreja de Sáo Lourenço de Mu-
ribeca, capitanìa de Pernambuco a Gaspar de Almeida Siqueira. 1,2105/1628.
26, 172 - Pernambuco, Carrâ de apreseûrâçáo de r.igário da lgreja de Nossa Senhora da Puriiì-
caçáo da dita capirania ao Padre Pedro Bo¡ ges. 02/(t6/1628.
26, 175 - Espírito Santo, Carta de apresenrâçáo do tesoureiro da lgreja de Nossa Senho¡a da
Vitória na dira capitania ao Padre Gonçalo Yaz P:.rtro.28l03/1628.
26, 186 v - Pe¡nambuco, Carta de apresentaçáo de vigário da Igreja de Santa Luzia da Lagoa do
Norte na dita capitania ao Padre B¡ás Velho. 01112/1628.
26, 192 v - Bahia, Carra de âpresenraçáo de Sac¡istáo Menor da Sé da dita cidade ao Padre
Domingos dos Reis Pinheno. \610311625.
26, L95 - Bahì2., Carra de apresenraçáo de Mestre de Capela da lgreja da Vila de Iguaraçu na
dira cldade a Simáo Fu¡râdo de Mendonça.1010411629.
26, 195 .. - Pernambuco, Carra de apr€sentaçáo de vigário na Igreja de Nossa Senhora da Puri-
6caçáo de Una, na dita capirania ao padre Pedro Borges Pe reira. 02/0417629.
26, 205 - Rio deJaneiro, Carta de apresentaçáo da lgreja da Vila de Sáo Paulo da dita ao Padre
ManreÌ Nunes. 2i108/1629.
318 Rodrigo Ricupero
26, 205 - Rio de Janeiro, Carta de apresentaçáo da Igreia Marriz da dita cidade :o Padre Ma-
26, 208 - Maranháo, Carca de apresentacáo de Mescre de Capeia da dira cidade a Manuel da
Nlora Bo¡elho. l8l 12 I 1629.
26,2t0 - Bahia, Carra de apresenracáo de meia prebenda na Sé da dira cidade ao Padre Filipe
Batis¡a. 10/05/1620.
26, 214 v - Pe¡nambuco, Cerra de APresentaçáo de beneficio na Igreja Matriz da dita vila ao
padre Gaspar Cardoso. 07107/1630.
26, 215 v - Rio de Janeiro, Alvará de mercê de mei¡inho dos clérigos na dica cidade a Àndré
Fernandes Vieira. 20/0711620.
26, 252 - Rio de Janei¡o, Carta dc meirinho do eclesiástico da administraçáo da dita cidade a
Gonçalo Lopes de Tavora. 28/07/1629.
26, 284 v - Bahia, Carra do escriváo do vigário geral do dico Bispado a Barisra de Almeida
12103/t629.
4 - Inquisição de Lisboa:
Processos:
00,279. A¡a de Miláo.
00.789. Filipe de Moura.
00.885 e 01.49 Ì. Joáo Nunes.
01.273. Díogo Gonçalves l-aso.
01.273. Guiomar Lopes-
01.287. Catarina Morena.
02.499. Gomes Rodrigues Miláo,
Ul.)1,/. lvl¿nuel da LosLâ L¿lne¡ros
02.529. Pedro Álvares A¡anha.
02.55Í. Joáo Gonplves.
02.562.loio Dias.
03.307. Paula de Siqueira.
04.309. Heiro¡ A,'rrunes.
05-391. André Lopes Ulhoa.
06.344. Diogo Nunes,
06.345. Diogo de Mo¡im Soares,
06.3>4. Antônio Rabelo.
06.3i6- A¡cônio da Rocha.
06.358- Ancônio de Aguiar.
06.3i9. A¡tônio Mendes-
06.359. Bernardo Pimentel.
06.360. A¡tônio Casranheira.
06.362. Brás Fernandes.
A formaçáo da elire coÌonial
1 i.6 I 8- .A.na.A.lcofo¡ada.
1 1.632. Simáo Rodrigues.
11.634. Simão Falcão.
Ì2.222. Pedro de Albuquerque.
12.229. Rodrigo Marrins.
12.230. Rodrigo de Almeida.
12.364. Diogo Lopes.
12.754. Luís de Rego Barros.
12.967. Pedro Cardìgo.
13.092. Ped¡o Fernandes Delgado.
13.250. Manuel Gonçalves.
13.957. Berna¡do Ribei¡o.
14.326. Esteváo VeÌho Ba¡re¡o-
16.394. ÁJvaro Lopes.
i7. 762- Gonçalo Fernandes.
17.813. F¡ancisco Afonso Cepare.
5- Corpo Cronológico:
Pa¡te I
-Ieles
Maço 31. documento 48. Cópia das canas que escreveram Manuel Barre¡o, governador
do B¡asil, Crisrówáo de Barros e Martim Carvalho, provedo¡ da fazenda em Pernambuco,
sobre a promoçáo quc o gove¡nador 6ze¡a aos soidados, e outro âssunros l4l08l1524 (sic)
(Data correta 14l08/1534).
Maço 83, documenro 78. Ce¡tidáo da. con¡a. de F¡ancisco Toscano. que foi provedor dos
defunros da Índia,
Maco 86, documenro 100. Carra de Filipe GuiJhem para Sua Majesraàe. 28/0711551 .
340 Rodrigo Ricupero
Maço 9Z documenro 21. Carta de Ca¡los V reclama do mau tratamento a seus tassalos dados
pelo o governador e olrtras justicâs tem dado nas costas do B¡asil, de seus súdi¡os que vem
do Rio da Prara. 24lll/15i5.
Maço 102, documento 92. Carta de Sebastiáo l,uís a Rainha em que lhe diz em pela nau em
que se perdeu o Bispo e ourros assuntos. Salvado¡, 08/0j/1558
Maço 106, documenro 122. Carca que Frei And¡é de Cisnei¡o esc¡eveu a Sua Maiestade em
como as órfás náo achavam casamenro no Brasìl que devia Sua Majesrade mandar que
descem os oficios a quem com elas casarem derrogando a ordem que em conrrário disro se
Maco 111, documen¡o 95. Ca¡ra ao Licenciado Simáo Rodrigues Cardoso, o rei diz que manda
Manuel Teles Barreco por capitáo e governador da capirania da Bahia e governador-geral
das oütrâs capitanias, erc. Lisboâ, I0/0211i82-
Mâço l1l, documento 100. Carra do ouvido¡ gerâl Cosmo Rangel para El-Rei. Saivado¡,
04/031t583.
Maço tl1, documenro 112. Carta de Jorge de Àlbuquerque Coelho ao vice-rei, escrita do
rei, em que reclâmâ que os oÊciâis ûáo lhe dáo muniçóes Pâ¡â mandar a suâ,:âPitân¡¿
121061t584.
Maço 111, documento 113. Carra de Ma¡tim de Ca¡valho dando Pârte da chegada a Pe¡ûâm-
buco, em uma nau desrroçada, de Pedro Sa¡mienro de Gamboa, goverûâdor do esrreiro de
Magalháes, encre our¡os assunros- Pernâmbuco, 00/09/1584.
Maço 111, documenro 114. Lembrança das cartas que El-Rei escreveù eo câ¡deal Arquiduque
pare se proceder nas coisas que estâvâm por concluir. Mad¡id, 20l10/1584.
Maço 112, documenro 3. Cópia de várias cartas de El-Rei para Frutuoso Ba¡bosa e Ma¡tim
Leitão sob¡e a feirura da fo¡taÌeza da Bar¡a da Pa¡aíba e como também a cópia da relaçáo
qrìe fez Lourenço Correia das diferencas que houver¿m enrre Joáo Álvares Sardinha e Joáo
Rodrigues Courinho, capitáo da Mina. 0l/10/1i85.
Maço 112, documento 49. Ca¡ra de Baltasa¡ Fe¡raz, desembargador excravagante da Relaçáo
do Brasil, dando parte a EÌ-Rei da sua chegada aquela cidade. Bahia, 22l10/1588.
Maço 112, documento 57 Carra dos juizes e vereadores da Vila de Olinda - Câmare de Oliû-
da ¡eferindo a El-Rei em que the dá parre de terern já escrico alg
capirania da Paraíba. 28/08/1i89.
Maço 115, documenro 8. Carra de Alexandre de Mou¡a dando conte e El-Rei execurar o que
lhe ordenarásobre os navios que se süspeireve fossem rome¡ carge eo Rio deJ¿n€iro e oLrrros
Mâco 11i, documenro 93. Carra de El-Rei para D. Cristóvão de Moura Marques de Cas¡elo
Rodrigo, Vìce rei, fazer jusrìca a Manuel Teles Ba¡rero e aos holandeses que com ele foram
presos na llha de São Tomé. Mad¡id, lOl03l1609.
Maço 1J5, documento i04. Ca¡ta da Câmara da Bahia agradecendo a El-Rei a mercó que lhe
6ze¡a em formar Casa de Relacáo naquela cidade, e nomear por chanceler eo douror Gâspar
da Cosra, no que sentiam seus morado¡es o maio¡ benefício e ouc¡os assunros.27101/1610.
Maço 115, documento 105. Ca¡ras da Câma¡a da Bahia a El-Rei em que lhe aeradece mandara
a ReÌacáo. pelos excessos que comerìem os mìnisrros e the pediam que o¡denasse aos gover-
nâdores não provessem por si só os ofícios da Casa que vagassem. Bahia, 01/03/1610.
Maco 115, documenro 106. Car¡a da Câmara da Bahia para El-Rei em que dá conta do miserá-
vel estado em que está das forciâcaçóes e da Igreja matriz e dos minrstros náo se¡virem bem
por esta¡em sujeiros aos governadores e sobre os gêne¡os da rerra. 0410411610.
Maço 116, documenco i04. Carra do rei aos governadores virem um memorial dc Diogo Bo(e-
lho, governador do Brasil, em que pede o rirulo de Vice Rei.
Maço 117, documento 74. Cana dc Cons¡antino Menelau que escrer'_eu do Rio de Janeiro em
que pede que se mãûde as carar.elas de muniçóes para i¡ faze¡ uma forti6caçáo em Cabo
Frio donde se pode rirar muiro pau-brasil, esc¡i¡a a 01/10/1625.
Parte II
Maco 315, documenro 180. Traslado dos provimentos que fez o desembargador Sebastiáo de
Carvalho em Pernambuco, sobre a ordem que se deve te¡ na ar¡ecadaçáo dos vinhos que
desembarcarem naquele porto. 30/09/1608.
Maço 351, documento 59. Acó¡dao da Relaçáo a cerca de s€ náo romar conhecimento de pe-
riçáo de agravo do procurador da Coroe po¡ ser intimida sobre o Coletor excomungâr os
primeiros juizes. 121 02/ 1629.
Maço 352, documenro 63. Requerimento de C¡iscóváo Vaz de Betancor, para se the perdoar os
anos que faltam para cumprir seu deg¡edo pelos serviços feiros na Bahia, 3l/0511630.
3+2 Rodrigo Ricupero
Pa¡te III
Maco 20, docunento 54. Cópia de alguns capírulos de cartas de Manuel Teles Barreto, go-
.,ernador do Brasil, do ouvìdor gerai de Pernambuco Ma¡rim Leiráo, e do provedor-mor
Crisróvão de Barros para El-Rei, sob¡e o escado daquelas terras, seus rendimentos De
r8/08/1584.
Maço 30, documenro 88 - Cópia de uma consultâ sobre a idâ de Matias de Albuquerque a llha
de Fernando dc No¡onha desaiojar os inimigos e rirar negros que os hoÌandeses iançaranr
lá.07/011t630.
6 - Fragmentos:
Livros:
l, fl. Oi5, l5ll2l1t78. Al.,ará determinando que seja norificada a Provisáo de 15/0311577 qtte
proibia a cultura do gengibre na llha de Sáo Tomé e no B¡asil.
2, fr,. O3O,2610711i96, Regimenro dos padres dâ Compânhia de Jesus enviados ao Brasil para
insrruírem os genrios-
2, A. 048 v,3ll07l1601, Carra de leÌ sobre concessóes feitas aos crisráos-novos para poderem ir
livremenre as parres da Índia e do Brasjl e Ilhas.
A formação da elite coionial 343
2, fl. 051 v.0511211598, Alvará para que os navios que tragam acúcar náo possam descarregar
no porto da llha da Madeira nem nos das oulras ìlhas.
2, fl. 080 n 0J/0i/1605, Ah.ará para pror.idencìar que os holandeses e zelândeses ráo 6zessem
fraudulentamen¡e comé¡cio com as madei¡as do Brasil.
2. fl !S4, 1S/Ot1605, Alvará sobre a navesaçáo na Índia, Brasil e ourras possessoes porrugue-
2. fl. 120 \ 02101/1606. Aiva¡á sobre administraçáo da jusriça com referência às partes do
ultrama¡.
2. fr. \71.24107/1609, Carta de lei declarando livre os genrios do B¡asil. Mad¡id, 30/0711609.
2. fl. 198 r., l\lO2/ló\2. Al¡zrâ d,etermin¿ndo que os 6lhos do vice-¡ei da lndia ou de gover-
nadores das ourras possessóes ult¡amàrin¿ç nâo visitem seus pâis. ncrn rcsidâm com eles
duranre o rempo de ser¡ gove¡no.
2, fr.. 210 v, 23l11l1612, Àlvará proibindo que andem de serl'erriâ os ofícios menores de jusriçâ
e dererminando qoe os seus p¡op¡ietá¡ios \'áo romar posse dos seus cargos sob pena de os
perde¡em.
Z, A. 222 10/09/1611, Ca¡ta de lei sobre os gcntios do Brasil, seus foros, adminisrraçáo de
",
sua jusriça, erc.
3. A. 079, 1810511617, Alvará para que o provedor-mor da fazeÐda real do Brasìl e os mais pro-
r.edores das capi¡anias de Pernâmbuco, Paraíba, Rio de Janeiro, todos os anos enviem ào
Consciho da Fazenda uma iista das avencas que ûesses per(es se 6zerem de escrevos.
3, fl. 094, 2710411618, Ah'ará concedendo po¡ queûo e¡ìos a Gonçalo da Costa e Almeida e
João Peres a exploraçáo das pérolas que tinham descoberro em certos lugares do B¡asil, no
mesmo mencionâdos, com a especificaçáo das condiçóes em que lhes e¡a concedida
3, A. 104.0510611619, Regimento para ouvidor geral das capitanias do Rio de Janeiro, Espírito
Sanro e Sáo Vlcente ao Bacha¡elAmâncio Rabelo.
3, fl. 107 v, 07ll|11619. Regimento do our.idor ge¡al do Maranháo, o bacharel Sebasriáo B¿¡-
bosa.
1, F,. 120, 03/1211621, Ah,ará sobrc a forma por que os governâdores do ultramar poderáo
proler os ofícios que vagarem nos seus gove¡nos.
3, fl. 132 r,3O/O3lle3, Ai..ará para que os almoxarifes das capitanìas do Estado do Brasil náo
possam valer-se de pror.isáo a1gùma pâssede pelos governadores na ocåsiãô ¡lc tlatem as
3, fl. 162, 1410411628, Regimenro do ouvidor geral do Brasil, o licenciado Paulo Leitão de
Abreu.
3, fl. 173,21103/1630, Regimento do ou"idor geral das capitanias do Rio de Janeiro, Espirito
Sanro e Sáo Vicente com o disrriro das minas, o bacharel Paulo Pereira'
8 - Papéis do Brasil:
Avulsos, 3, n' 6 (c. 16, e. 147, p. 6). Anotaçóes riradas dos liv¡o de mandados de pagamento
do provedor-mor Antônio Cardoso de Ba¡¡os logo após a fundaçáo de Salvador' Apresenta
uma lista em ordem alfabérica dos primeiros povoadores tiradas do diro liv¡o.
9 - Manuscritos do Brasil:
Manuscritos da Liv¡aria:
L. 1116, ll. 604- Documenro sem rítulo (Consuita da Mesa de Consciência e Ordens) Trara da
quesráo se seria Ìegitimo o cativei¡o dos índios que apoiaram os holandeses, (c I626)
L- 1116, fl. 610. Documenro sem ritulo (Consuka da Mesa de Consciência e O¡dens). Trata do
mesmo assunro do anteríor, darado ðe 2610611626.
10 - Ministério do Reino:
Documenro 68. Relaçáo das praças Êortes, povoåçóes e coisâs de imporrância que Sua Majesra-
de rem na costa do Brasil, lazendo princípìo dos baíxos ou ponra de Sáo Roque para o sul
do estado e defensáo delas, de seus lrutos e rendimentos, feita pelo sargenro-mor desta costa
Diogo de Campos Moreno (1609).
-4. formaçáo da elite colonial 345
Livros:
L 05
158, Bartolomeu de Vasconceios da Cunha, 1581-
L 09:
67 r., Diogo de Vasconceios, 1599.
L ÌO:
227v, Alexand¡e de Mou¡a, 1599.
L 11:
Caderno:
c 16:
Livros das ementas que conr¿m es mo¡edias e loros dos criados, frdalgos da Casa Real e algumas
mercês (7526-1527 e 1568-1654)
346 Rodrigo Ricupero
Livro 2
23, Simáo da Gama de Andrade, conÊrmaçáo de sesmaria dada por Tomé de Sousa,
27103/1i70.
Livro 4
204, D. Duane da Costa Êlho de D Álvaro da Costa, pagamenro do que foi acrescenrado de
escudeiro de moço de ãdaIgo. O3/07/1587.
Liv¡o 7
1Z Manuel Filipe Soares, ûlho de Álvaro Dias, possa usar o ofício de boricá¡ìo- |i10711586'
Livro 9
89, Consranrino Cadena, 6lho de Gaspar Cadena, Pagemento do âcrescenramento de "€scudci_
ro 1ìdalgo a que foi acrescentado de moço de Câmâ¡â" 0810611609
Livro 11
91, Francisco Marrins, vizinho de Caminha, Possâ usa¡ dos olicios de mestre e piloro das car_
¡eiras das Ilhas, Guiné, Sáo Tomé, Angola e Brasil. ll/08/1621'
91, Idern paraBarrclomeu de Olivei¡a, Gaspar Macieì, Anráo Vezinho de Viana, Antônio Fe¡-
nandes.
98, ,A.maro da C¡uz Porto Car¡ei¡o, âlho de Joáo Dias Porro Carreiro, Pâgâmenco do ac¡escen-
râmenro de "escudei¡o lìdalgo a que foi acrescentado de moço de Câmara" lIl08l162l-
I24,lacome Raimundo, 1ìlho de Pero Jacome Raimundo, Pegamento do
"escudeiro fidalgo a que foi acrescentâdo de moço 6dalgo" 12l12l1621
200, Que o cepitáo Pedro Cadena, possa usar dos ofícios de piÌoto des carreiras dâs Ilhâs, Gùi-
né, Cabo Verde, Angola e BrasiÌ e Índias de Castela. 12l08/1624.
13 - Cartas Missivas:
Maço I
164 - Carra de Mem de Sá a Frei André, religioso de Sanro Agostinho no Mosteiro da Graça de
Lisboa. Sah'ador, 00/0ilO000.
184 - Alvará sobre âs ermâdâs de Portugal e de CasteÌa para expulsar os Holandeses de Per-
nambuco.26110/(?).
A formacáo da elite colonial 341
224 - Relaçáo dos oiícios que há em Luanda, Reino de Angola e dos seus proprietários ou das
Pessoas que os servem.
397 - Carra de Mem de Sá a F¡ei Bartoiomeu, religioso de Santo Agostinho em Nossa Senhora
da Craca de Lìsboa, sobre o provimenro dos oficios da cidade do Salr.ador que El-Rei tinha
mandado aplica. a dores par da. cirfå. que do Reino Ihe enri¿¡am. 5¿lrzdor.
01/06/(?).
485 - Parecer quc se deu a El-Rei a fim de manda¡ vir da Pa¡aíba ao capiráo Felìciano Coelho
de Car.,alho que servia este posto há 5 anos e que rinha ido por r¡ês anos, sua mulher esrava
pobre e o rec'onora e.eus 6lho. etc.
Maço 2
56 - Ca¡ta de Mem de Sá para o Secretário de Estado Pedro de Alcacova Ca¡nei¡o lembrando-
Ìhe o perigo em que esráo as capiranias pela sua má ordem e pouca jusriça, lamentando que
Sua Alreza ... es cepirânies e os ofícios a pessoas sem a competência e pedindo por úlrimo
para se ¡eti¡ar. Salvador, l0/08/(?).
60 - Lembrança cic Rodrigo de Freitas sobre os liv¡os do a¡mazém e da matrícula em que defen-
de os seus atos e se queixe dâs perseguiçócs que lhe move¡am.
182 - Apontamentos do quc sc hevie de representa¡ a El-Rei acerca da cobrança dos dízimos.
Maço 3
149 - Carta de Filipe Guilhem para El-Rei parricipandoJhe a remessa de um inst¡umen¡o de
na1'egaçáo.
Caixa 29ri e Caixa 29'a. Amazonas, expediçáo de missionários jesuítas em 1618. com Ale-
xand¡e de Moura, ..., expulsáo dos franceses, notíciâs do gentio. Regresso a Portugal em
0210711621. Ve¡ Manuel Gomes.
Caixa 3li. Ilha da Trindadc, nora da doaçáo feira por D. Joáo III a Belchior Carvalho' registra-
da na Arquivo da Torre do Tombo.
Caixa 44 'r . Alvará para quc Gil Góes da Sih'eira posse renuociar à capitania de Sáo Tomé que
¡em no B¡asil. i605.
FG. 0255. Legislaçáo. Regimenros. prof isóes e câ¡tâs régias expcdidas em várias épocas ..., ìn:
Regimenros, provisóes e carras régìas-
348 Rodrigo Ricupero
FG. 0294. Domingos de Ab¡eu de Bri¡o, Sumário e descriçáo do reino de Angoia, 1592.
FG. 0302. Paraiba, poesias latinas em hon¡a de Mariim Leiráo, ouvidor geral.
FG. 0472. Notícias de geografra e história com descriçáo e documentos relrentes eo Brasil
FG.0475. Descriçáo de cåpirâniâs, rios, monres, costas, Povoâçóes erc- do Brasil, in: Geogra6a
Hisrórìca.
FG. 0600, fl. 303, 310, ô27 No¡ícias e curiosidades Dive¡sas ¡aças de índios aborígenes Diogo
ÁÌvares Cor¡eia, o Carâmu¡ù. Animais indígenas, noras sobre a fauna do Brasil
FG. 0630, n. 064. Bahia, governado¡es interinos que houve na cidade da Bahia
FG. 0630. Governadores interinos da Bahia in: Bahia, norícias acerca dos go'ernadores
FG. 0632 fl. 0t3. Despesa do Estado do Brasil a que a fazenda de Sua Majesrade tem obrigaçáo
FG. 0655, fl- 144 rP, 260. Descobrimenros e conquistas, etc. Noms hisróricas com muirâs indi-
caçóes bibÌiográfi cas (sécuÌo XVIi).
FG. 0674, n. 220. Gor.e¡nado¡es e câpiráes-mo¡es nomeados por Filipe IL
FG.2t6l. liioricìas Várias, in: Coleçáo de câ¡tâs de uso de Frei Vicente do Salgado-
FG. 229S, {1. 103. Degredados da África que váo acabar a pena no Brasil, 1607
FG. 4519. Lrvro que contém âs coises norá\.eis que r-êm nas carms da Europa e B¡asil desde
1572 a 1584. Grandc parte trata da missío e marrírio do padre lnácio de Àzevedo e seus
comPanheiros.
FG. 7626, fì. 131. G¡áo Pará e Ma¡anháo, separaçáo das duas capitanias.
FG.7627, P\. 00l. Exrensáo das capitaniâs cm qlre estâ\'â diviciido o BrasiÌ.
8G.7627, F,.003- Ouvidor geral Jorge da Sih'a Mascarenhas. Regimenro em que se revoga a
jurisdição das capirånias, doacóes e¡c, 1630.
FG.7627. F,. 024 e 26. Ouvidor do sul pretende ser equiparãdo €m aiçada e poderes aos ouvi-
dore, gvrai' de lng.l, e B: hra em po.se r crime.
FG.7627, F,.026. Espíriro Santo, ca¡ca do ouvido¡ da de Virória sobre jurisdiçáo.
"iia
A fo¡macáo da elite colonial 349
FC.7627, fl.032a40. Capitanias do Sul do Brasii. Regímencos que levou o ouvidor geral Paulo
?erei¡a em 1630 e 1643- In: Regimenros que em 1630.
FG. 7622 Ê. 036. Tomé Pinheiro da Vciga, emendâs que devem ser feiÉs no regìmento qüe em
1643 se deu ao ouvido¡ geral das capitaniâs do sul do B¡asil.
FG.7627, F,.037 Tomé Pinheiro da Veiga. Sumário do regimento do ouvidor geral do Escado
do Brasil.
FG.7627, fl. 040. Donatá¡ios, capitáes-mores e governadores que têm obrigaçáo de residir na
defesa das capitanìas. (1634).
FG.7627,Ê.156 a 158. Or,vidor geral dâs câPitanias do sul: sua a1çada e poderes Regimento
do ouvidor da capitaniâ do Rio de Jan€iro, Paulo Perei¡a- 1630.
FG.7627, fr. 158. Rio de Janeiro, ¡egimenro do oulidor gerel de câpirania do Rio de Janeiro.
Paulo Pereira, 1630.
350 Rodrigo Ricupero
FG. 7627 Administraçáo do Estado do Brasil. Papéis vários, apontamenros e documentos, dos
anos de 1620 c 1650, Ve¡ Douto¡ Tomé Pinheiro da Veiga.
FG. 7627 Conselho UÌtrama¡ino. Co¡sul¡as acerca da colonizaçáo no Brasil, sóculo XVII
FG.7642, f'. 185-9- Gove¡nadores e capitáes-mo¡es nomeados por Filipe il, in: Terços que se
levanra¡am -.. (Noricias que se enconr¡am num volume de apontamentos e obras inéditas
de M. Seve¡im de !a¡ia).
FG. 8397 Coleçáo dos brer-es pontilícios e leis sobre os índios do B¡asiÌ.
FG. 8504, n. 048. Bahia, capitanias das ilhas de Itaparica e Tamanda¡iva, ao Conde da Cas'
ranherra, 1i56.
FG. 8i70, fl. 103. Lrsra dos governadores aré 1619, in: Ànais e Pragmáricâs
Fl. 204, Informaçáo do procedìmenro ilegal do governador Diogo Borelho do Brasil por Benro
do Amaral-
F1. 239, Relaçáo das coisas que há, lhas do Pa¡á c ¡io Ama
zonas de 19 meses a esca parre,
Caderno das consultas que váo a Sua Majesrade de rodos os rrrbunais (1j89-1590). Lembrança
r:,. apir;nia. do Br¿sil.lcm rndi.c.
Documenro da Mesa de Consciéncia e Ordens (1608-1755).
Fl. 69, Razáo dos morado¡es da Bahia para que se conserv€ a relacão-
Fl. 635, Cana do Conde Meirinho-mor D. Duarre de Casrelo Branco para El-Rei, propóe
bispo para Lamcgo, governador para o B¡asil e câpicáo pâra Tanger.
Biblioteca da Ajuda:
Códices:
49-Y'-12 f.
014. 467 - Àviso de Luís da Sih'a, vedo¡, eo Provedo.-mor do Estado do B¡asiÌ,
mandando dar conrâ ao Conselho da Fazenda das 6anças que há nas capitaniâs de ?e¡oam-
buco, Itamaracá e Parâíbe, de ûavios que partiram de há 20 enos a esta Par[c e outros que
esráo ainda por desobrigar nas alfândega e dízimo das fazendas, de escrângeiros c natu¡aii-
Lisl¿aa,26103/7630.
49-X-12 f. 015. 469 - ?ona¡ia do governador da Bahia mandando eÂr¡egâr as Peçâs de f€r-
ro â ordem do almiranre D. Ancônio de Oquendo, para defesa de Pe¡nambuco. Bahia,
04/08/1630.
5l-VI-28 Miscelânea.
51-Vl-52 Mesa de Consciência _ Decretos, resoluções e assentos dela desde sua fundaçáo aré o
ano de 1726... recopilados pelo Dou¡o¡ Lázaro Leitáo A¡anha.
51'YI-54 f.121. 361 - Desenho do engenho de fâze¡ açúcar, novamente pintado ou t¡azido de
fora pelos ?adres da Companhia de Jesus do Brasil, ano de 1613' e eniado por Pedro da
Fonseca.
i1-V1-54 f.160 2166-229.2i7 - Relaçáo dos oÉícios da justiça e lazenda do Brasil' da aPresen-
râçáo de Sua Mâiestade e o que valem de rende e de comPre Bahia. 02/10/i606.
i1-VI-54 f. 169 a 180. 341 - Relaçáo das despesas do Estado do Brasil no ano de I 610
351, Rodrigo Ricupero
5l-YI-54 f.181 a 187. 340 - Traslado da lolha do que se há de pagar da fazenda de Sua Majes-
tade na ilha de e capirania de ltamaracá, neste ano que comecâ em 0l/08/1608 e acaba em
3ll07l1609, Oùr¡e dâ capitania da Paraiba.
t2-YIl-15 {. 1,89 a 222. 336 - Folha que se há de pagar nesta cìdade da Bahia e em suå caPiran ie
da fazenda de Sua Majesrade este âno que começou em 01/08/1608 e acaba em 31/07l1609.
t2-VIJ-15 L 223 a 228. 330 - Folha de despesas das capitanias de Pernambuco, lramaracá,
Paraíba e Rio Grande que mandou Diogo de Meneses, gove¡nador do B¡asil, no ano de
r618.
52 VIII-38 f. 059 a 61.400 - Lembrança das primeiras caravelas que forãm de socorro a Per-
nãmbüco ânres da parcida da armada e dâs pessoas que levaram por capiráes erc. Lisboa,
or/08/162i.
Documenros Avuisos:
54-VI.II-36, n" 80, Ca¡ta de Francisco Soares de Abreu (?) para o provedor da fazenda de Pe¡,
nambuco And¡éAlmeida da lonseca, com notícias de umês fazendas que vieram ao reino e
54-VIII-37 n' 1i4 e 208, i4-VIIi-38 n'290 e 370. 470 - Petiçáo que Francisco Soares de
Abreu, provedor-mo¡ laz a Sua Majestade pa¡a the manda¡ sucessor devido aos médicos
A formacão da elire colonial 353
aconselherem a ir ao Reino, e dizendo que aìnda que a saúde náo pcrigasse pedia a mesma
mercô por náo se atrever a lìcar com o governador-geral Diogo Luis de Olireira por com-
preender o risco que corria suâ honra, descrevc âs vá¡iâs laltas qüe este com€reu Bâhia,
0111011630. Ou¡¡as no mesmo senrido, Bahia 25109/1630.
54-Xl-26 n' 3 a. 404 - Informaçáo da capitania de Ilhéus dada por Antônlo Simóes, procurador
do senhor D. Joáo dc Cast¡o. senhor dela- 0611211616.
Caráìogo dos Govcrnado¡es c Vice-Reis da cidadc da Bahia e Brasjl Cód CXVI I 2 13 a n"
1, I pág.
Corsas mais notáveis do Brasil. Cód CXII / l-l a a f.73 ' 5 pâg
Resoluçáo que o Bispo ouvidor geral do Brasil romefâm sobre os injusros catir.ciros dos índios
e
Cód'
por despâcho da Câma¡a de Sao ?aulo, na capirania de Sáo Vicenre' de 25108/1657
CXVI / 2-13 a n' 17.
Catálogo <1os Capitáes-morcs do Pará (1615 '1745)- Có¿ CXY / 2-14 a n" 17'
Ämérica Abreviada, suas noticias e de seus naturais c em particular do Maranháo, títulos, con-
rendas, e ins!¡uçóes a sua conser\¡âçáo e aumento meis úteìs Pelo PadreJoáo de Sousa Fer-
354 Rodrigo Ricupero
Resposta aos capírulos que deu conrra os religiosos da Companhia (em 1662) o procurador do
Maranhao Jorge de Sáo Paio (Jorge de Sampaio). Cód. CXV / 2-Ir a f_ 152.
T¡asiado aurênrico do Livro Dou¡ado da Relaçáo da Bahia. Cód. CXV / 2-3 | yol. Fol. 647
folhas.
Brasil:
Annua do Provincial dos Jesuíras , 1584. T¡asiado de 27 serembro de t880. Seçáo de Manus-
c¡iros, L 31,25. 14.
-A.ponramenros que o Doutor Barrolomeu Ferreira Lagarco adminisrrado¡ que foi do Brasil
faz a um papel de advertências que chegou a suas máos acerca do soco¡ro de Pernambeico_
Mad¡id, 12109/1630. Original, I- 1,2,44¡'24.
Aucos e diligências, requ€rimencos e our¡os documentos do Conselho Ul¡rama¡ino ¡eferenres à
permanência dos franceses no Mãranháo e demais assun¡os a ¡espeiro da administracáo na
referida Capìrania. Forte de Sáo Luís, 16i5,i616. Cópias, II 32, 18,21.
B¡eve notícia hisrórica das missóes dos jesuíras no Brasil, Bahia, 1574.Cópia.l,B,J,).
Capírulo soho perrencenre a uma crônica da Companhia no Maranháo, capírulo l3 - )iorícia
dos princípios da missáo do l,{aranháo. Cópìa,Í, 6,2,24.
Carra de El-Rei por que faz mercê aAnrônio de Sousa lìdalgo de sua casa de o prover da capita-
nia do forte do Recife de Pernambuco. Ltsl¡oa, t61061I604. Cópia, I - 4, 3, 4 n" 12.
Carta régia a Diogo Luís de Oliveira ordenando-lhe para quando chegasse a pernambuco e
achasse Frencisco Coelho de Carvalho, que o mandasse imediaramente para o Maranháo.
Aranjuez, l\l\4l1625. Cópia, II - 32, 18,20.
Ca¡ra de Alexand¡e de Moura esc¡ira em Olinda para Ei-Rei de Castela ... Olinda, 27101/1607_
Cópia,I - 6,2., 48 n" 19.
A {brmação da elite colonial 355
Carra de Jorge de Albuquerque em que pede a El-Rei muniçóes e armas . Lisboa, 1210l/1630.
Cópiz.I - 6, 2. 48 n' 34-
Carra de Marias de Àlbuquerquc. S. 1., 03/04/1628. Original, I - 1,2, 44 n" 4.
Carra do gor.ernador Luís de Olivei¡a, a El-Rei, sobre náo ser verdadei¡a a informaçáo de es-
tarem 30 cara!'elas inimigas na paragem de llhéus- Bahia, 0710911628. Cópia' I - 6,2, 48
o'26.
Cartas de Matias de AÌbuquerque. Pernambuco, 181021)630 e 22102/1630- Cópias, I- 1' 2'
44, n" 3l.
Cer¡idóes de r¡aslado do liv¡o de saídas e desPachos de navios e urcas da a1fândega de Pernam-
Cópias das cartas de Antônio de Albuquerque, capitão da Paraíba em que dá conra a El-Rei em
como os holandeses ... Pa¡aíba, 1710211630. Inclui ca¡ta de lernáo Gomes de Quadros e
Declaraçáo do francés Guido Cornier, por o¡dem de D Francisco de Texada y Mendoza' sobre
a empresa do Maranhão. Sanlucar, 10/0411616- Cópia, ll - 31,28,27 n' 6
Excerro de uma ca¡ta de Manucl Gomes da Companhia de Jesus para um padre de mesmâ
companhia resÌdente em Lisboe. Behia, 27l0911597- Cópia.,II - 34' 9.2'
Informaçáo dada por Bcnro Maciel Pa¡ente, que foi governador do Maranháo' acerca da cap!
raniâ de Caité, em Madri noano de 1630. S. 1, n'd Cópia,I-1,2'44¡'26-
Informaçáo de frei Crisróváo de Sáo José acerca da chegada da ermada holandes: a Pernambu-
co e do mais que se Passou. S. 1,29104/1630 Cópia' I - 1,2,44 n" 33
Informaçóes prcstadas pelo gove¡nador da Bahia sobre o seminário daquela cidade' com a
provisáo de 12 de feve¡eiro de 1569 sobre a fundaçáo do Seminá¡io, além de out¡os docu-
meoros cor¡elaros. Bahia, 1i69. 8 documentos ll - 33, 18, 5 n'2-
Pareceresdo Conselho de Estado de Porrugal sobre e Perda de Pe¡nambuco Lìsboa, 1630'
Cópia,l - 1,2, 44 n" 34
356 Rodrigo Ricupero
Petiçáo do capiráo Simáo Escácio da Silveira a Sua Majesrade sobre a vantagem da abertura de
um caminho aprovcirâûdo um dos rios do Ma¡anháo pelo qual passariam as riquezâs de
Porosi, desrinadas à Espanha. Madri, 1i10611626. Cópia, ll - 32, i9, 42.
Probança echa de pedimenro del concado¡ André de Eguìno (André Igino) ânre el gob€¡nado¡
de la capirania de San Biçenre en la cosra del Brasil sobre el suçesso que rübo con eÌ yngles
que aÌlo en esre puerto". Sanros 14102/1583. Cópia.II - 35,21, 55.
Provimen¡o da A¡mada que por ordem do Marquês de Casrelo Rodrigo sc apresenta ... Lisboa,
28lII116)0 e 241121t630. Original, I - t,2,44 n' 48.
Relaçáo apresenrada a Sua Majestade a respeiro do araque aos hoÌandeses na Bahia. S. [.,
2qloj/t624. Original. ll- Ji. jl. 1..
Relaçáo de gence, armâ, muniçóes e mâjs coisâs com quc sc prolcram as parres do Brasil e mais
conquisras ... Lisboa,2I17211630. Original, I - 1,2, 44 n' 49.
Relacáo de gente, municóes, manrimenros e mais coisâs que se embarcaram nas quar¡o ca-
ratclas que váo em soco¡ro do B¡asil, rendo por cabo Cristóváo de Mendonça. l,isboa,
0i/01/i63Ì. Original, l' 1, 2, 44 n' 51.
ReJaçáo de serviço que os povos desre reino fazem a Sua M{csrade pa¡a resrauraçáo de Pernam-
buco. S. 1., 1630/1631. Original, I - 1,2, 44 n' 97.
Relacáo de sucesso que reve Silvesr¡e Mânso piloto do paracho ... da jornada que fez da ida e
Relaçáo verdadeira c b¡er e da romada da vila de Olinda .-. Lisboa, 1630. Orìgìnal, I - l, 2, 44
t" 22.
Relatórìo do PadreJoáo de Souro Maior ¿ ¡espeito do csrado de Pernambuco, ern quc apresenra
a Sua Vlajescade ... Bahia, 1630. Cópiâ, I - 6,2, 47 n" 9.
Tomo I (Arq. 1.2.15) e II (Arq. i.2.16) dos Regisr¡os do Conselho l-ilrramarino Porrugués
Relaçáo das capitanias do B¡asil, s/d-, Mss. Lata 67, documento 19-
Fontes impressas:
1933.
,{lRES, Marias. Re/rró es sobre a uaiclade dos Homens. (1752). SâoPal-rlo; Cultura, s/d
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ALBERNAZ, Joáo Te txeira. Est¿do do Brasil colígida d'as maìs ce714t notícias qu'e Po¿e aj ntal
D. Jerônino de Ata/dt (1631). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, i997-
da e revista por Ànronio Baiáo, 2 vols., 4' ed. Coimbra: Imprensa da Universidade l922'
Costa,1942.
Alguns doatnentas sabre 4 co¡ollizaç,ia do Brásll (Século XVI) Lisboa: Alfa, 1989
(1554'
,{NCHIETA, ?adre José d,e C¿rt¡zs' inforna.çôes, fragr,zentas histórícos e s¿rmões
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tugal, D. Jono, a III d-este nome,4 vols. (1613). Coimbra: Real OÊcina da Uni'ersidade'
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À Profa. Dra. llana Bli¡ (in memoriam), tespoosável pela escolha do ¡ema desta
pesquisa.
À Profa- D¡a. Ve¡a LuciaAma¡al Fe¡lini, ¡¡abalhado¡a incansável, o¡ientado¡a
paciente, professora dedicada e histo¡iadora exemplar.
Ao Programa de Histó¡ia Econômica da Unive¡sidade de Sáo Paulo, onde
defendi a tese que agora é publicada.
À Fapesp eà CátedraJaime Cortesáo, que p¡opiciarem os recu¡sos necessá¡ios
para a realização deste t¡abalho.
Aos P¡ofs. D¡s. Fe¡nando Novais, Joaquim Romero de Magalháes, Caio Bos-
chi e Ma¡ia Fe¡nanda Bicalho, memb¡os da banca, e ao Prof. Dr- Pedro Puntoni,
pelas críticas e sugestóes.
Em Portugal, agradeço aos Profs. Drs- Ped¡o Ca¡dim, Nuno Monteiro, Ma-
falda Soa¡es da Cunha, Tiago dos Reis Miranda, João Carlos Garcia e aos amigos
A.ntônio Simóes do Paço, Raquel Varela, Ca¡los Caetano e, em especlal, Dona
-Alexand¡ina Pe¡ei¡a.
À Joana Monteleone e Ha¡oldo Ceravolo Se¡eza pelas sugestóes e, especial-
mente, pela amizade cotidiana.
Aos amigos e coleg"t Ált'"to Bianchi, -Ana Paula Torres Megiani, Augusto
da Silva, -Avanete Pereira Sousa, Carlos Inácio (ìn memoriøtn), Fá¡ima Toledo,
Henrique Carnei¡o, lgor Lima, I¡is Kanto¡, Joáo Ferlini, Joely Pinheiro' José
Evando Viera de Melo, José Se¡eza, Lea Marks, Luana Schnaiderman, Lelio
Luiz de Olivei¡a, Lincoln Secco, Luís Filipe Silvério Lima, Luís Otávio Tasso'
Lucas Janoni, Lúcia Rodrigues, Luciana San¡oni, Pat¡ícia Valim, Paulo Gonçal-
ves, Rafael Coelho, Rafaella Pilo, Rosângela Fer¡ei¡a Leite, Ruy Braga, Sérgio
Alcides, Silvia Miskulin e Valério Arcary-
Aos funcioná¡ios do Museu Paulista da USP, especialmente Má¡cia de Carva-
Iho Mendo, Célia Ma¡ia de SantAnna, Rosemary Gonçalves, Helton Celso \Øan-
derley e Marlene Alonso. que durante grande parte da pesquisa fo¡am ve¡dadei¡os
"colegas de trabalho".
Aos funcioná¡ios do Insti¡uto de Es¡udos B¡asilei¡os da USP' particularmente
a Ma¡ia Icália Causin, Flo¡a Pacheco e Diva Fe¡ra¡i pela atençáo- Aos funcioná¡ios
391
392 Rodrigo Ricupero