Alguns Mitos Mesopotâmicos
Alguns Mitos Mesopotâmicos
Alguns Mitos Mesopotâmicos
A Epopeia de Atra-hasis é um poema épico cuja cópia mais antiga é de 1600 a.C.,
durante invasões hititas, narrando a trajetória de Atrahasis, “o muito inteligente”,
Estando os deuses reunidos, Anu, admite que os jovens divinos que não queriam mais
servir os deuses mais antigos tinham razão sobre suas queixas. Por isso eles decidiram
criar os homens para realizarem o serviço para os deuses. Para realizar isto era
necessário o sacrifício de um deus, O sangue dele deveria ser misturada com argila, de
maneira que a natureza divina e a natureza material estivessem misturadas, constituindo
um único ser. Os deuses presentes concordaram que Wé, um deus citado apenas neste
poema, fora o escolhido. Ele foi degolado e seu sangue recolhido por Ea e Ninhursag
que misturaram com a terra enquanto pronunciavam encantamentos mágicos. Ninhursag
então cortou a argila em catorze pedaços, dividindo entre as sete genitoras, que deram a
vida a sete varões e sete mulheres, criando os primeiros humanos que foram
encarregados imediatamente do trabalho para os deuses.
A deusa então permite que os seres humanos se reproduzam e a disseminação dos
homens traz problemas para Enlil, que não consegue mais dormir por causa do barulho
da humanidade. Para reduzi-los, o deus então envia uma série de aflições contra a
humanidade: pragas, secas e fome, nesta ordem. Mas, como Ea intervém, ensinando os
homens a fazerem oferendas aos deuses, nada que ele faz afeta gravemente os homens.
Enlil então decide enviar uma tempestade a humanidade. Para salvá-los, Ea avisa Atra-
hasis em um sonho. Ele deveria construir um barco, e levar consigo sua família e salvar
um casal de cada um dos animais que andavam sobre a terra. A destruição da
humanidade horroriza os deuses, que logo começariam a sentir fome e sede pois agora
não possuíam mais as oferendas para seu sustento. Eles então intervém diante de Enlil,
pedindo ao deus que permitisse que a família de Atra-hasis repovoasse a terra.
Enlil concorda porém ele propõe uma série de novas regras. A primeira é que a partir de
agora os seres humanos seriam mortais. Eles agora viveriam apenas um período e a
morte os levaria da Terra. E a segunda ordem era que eles teriam agora apenas um filho
de cada vez, e inclusive criaram alguns demônios com a finalidade de caçar as crianças,
para que nem todas chegassem a idade adulta.
Ziuzudra/Zinsuddu
O rei Ziuzudra é um dos muitos personagens ligados a mitos de dilúvios na
Mesopotâmia. Seu mito é sumeriano. Ele era rei da Suméria, filho de Ubara-
Tutu,“aquele que viu a vida”, e sacerdote de Shuruppak.
Conta seu mito, conhecido em apenas uma tábua, datada do século XVII a.C.. Nela se
conta a criação do mundo e, após um parte perdida, que os deuses decidiram enviar um
dilúvio ao planeta. Ea/Enki, deus da água doce, adverte o rei, aconselhando-o a construir
um grande barco. O tamanho deste barco se perdeu também com o tempo. O texto
continua dizendo que uma tempestade caiu sobre a Terra, inundando todo o planeta, e
somente no sétimo dia Shamash/Utu apareceu novamente no céu. Quando o deus brilhou
no céu, Ziusudra sacrificou em sua homenagem um boi e uma ovelha. Novamente um
grande parte do texto se perdeu e quando o mito é retomado, o rei estava prostrado
diante de Anu e Enlil, que lhes concedem o “fôlego eterno”, dando-lhe a imortalidade, e
convidando-o a viver em Dilmun, o reino dos deuses. O mito ainda comenta que que
após o dilúvio, a realeza desceu do céu e se estabeleceu em Kish.
Tiamat/Nammu
Deusa primordial do mar salgado, ela é o símbolo do caos primordial, a vida não
manifestada. Segundo o Enuma Elish, ela existia antes do céu acima e da terra abaixo.
Com ela existia apenas Apsu, “o primeiro, o gerador”, o deus da água doce, com quem
se uniu, “misturando suas águas”, e deu a luz a primeira geração de deuses. Tiamat tem
catorze filhos: Qingu, o primogênito; Bashmu, Mushumushu, Usumgallu, Mushmahhu,
Mummu, Ugallu, Uridimmu, Girtablullu, Umu Dabrutu, Kulullu, Lakhmu, Lakhamu e
Kusarikku.
A criação teria se dado onde hoje se localiza o Bahrein, conhecido durante a Antiguidade
como Dilmun. Nas praias do país, é perceptível a diferença da densidade da água do mar
e da água doce que brota em nascentes
Sua família reinou até quando Apsu percebeu que os deuses descendentes de Anshar e
Kishar, seus netos, filhos de Lakhmu e Lakhamu, os deuses do horizonte, planejavam
matá-lo e destroná-lo. Ea acreditava que Apsu desejava matar todos os deuses mais
jovens por causa do caos que eles estavam criando. Ea então convenceu os outros deuses
a atacar os deuses antigos e aprisionou Apsu. Quando isto aconteceu, Tiamat considerada
a deusa brilhante assume a forma de um dragão marinho e ataca os deuses, sendo morta
por Marduk, filho de Enlil, que usou como armas um arco e flecha que voavam como o
vento, uma rede, um porrete e uma lança invencível. É com seu corpo, após morto,
usando suas costelas para sustentar o céu, seus ossos para construir as montanhas, seus
olhos chorosos se tornam as fontes dos rio Tigre e Eufrates, sua cauda se torna a Via
Láctea e sua carne para preencher a terra que Marduk constrói o planeta para depois
criar os humanos misturando a carne de Tiamat e o sangue de seu filho, Qingu.
Ea/Enki
“O imanente”, deus sumeriano do conhecimento, do artesanato e da magia. Patrono da cidade de
Eridu, antes da invasão babilônica, o planeta Mercúrio estava ligado a ele. Estavam associado ainda
a Enki as estrelas próximas ao horizonte ao sul, chamadas de Estrelas de Ea, e com a constelação
conhecida como Ashiku, “o campo”, que hoje forma o corpo da constelação de Pégaso. O número
40 era reverenciado como seu e, portanto, sagrado (às vezes seu nome era substituído pelo número).
Sua planta sagrada era o junco.
Um grande número de mitos sobre ele foram coletados em locais desde a Mesopotâmia até os reinos
hititas e hurritas além das costas fenícias, mas seu principal local de culto era o templo de E-Abzu,
“a casa das águas”, um zigurate cercado por pântanos, às margens do Golfo Pérsico. A entrada do
templo possuía uma piscina de água doce, em que os visitantes precisavam atravessar lavando seus
pés. Nesta piscina habitavam os animais sagrados do deus, as carpas. Ele era representado com dois
fluxos d’água em seus ombros que representavam os rios Tigres e Eufrates e sempre trajando um
manto de escamas de peixe.
Os principais mitos de Ea são relacionados com a criação a partir do casamento do deus com
Ninhursag. Ele vivia em Dilmun, o paraíso, o lugar das duas águas, identificado como o atual
Bahrein, Apesar deste ser “o lugar onde o corvo não soltava gritos, o leão não matava, o lobo não
arrebatava o cordeiro, o cão matador de crianças era desconhecido, como o javali devorador de
cereais”, lá não havia água doce. Motivos de reclamação da deusa Ninsikil, “a senhora da terra”, um
dos nomes de sua esposa Ninhursag. Ele então, com ajuda de Shamash/Utu, trouxe a água doce para
o paraíso, fertilizando toda a terra.
Um mito subsequente diz que em agradecimento a água doce, a deusa deitou-se com ele por nove
noites seguidas. Ela então engravidou a deusa Ninsar, “a senhora verdejante”. A deusa, no entanto,
abandonou seu leito e o deus, sentindo-se sozinho, estuprou sua própria filha, que engravidou e deu
a luz a Ninkurra, “a senhora frutífera”. Em sua solidão, quando a deusa Ninkurra se torna uma bela
jovem também é estuprada pelo pai que a deixa grávida de Uttu. Pela terceira vez, quando Uttu
amadurece, o pai-bisavô começa a cercá-la. Preocupada, ela pede ajuda a Ninhursag que a
aconselha a evitar as margens dos rios, pântanos e lugares que são inundáveis, lugares que Ea
apreciava. No mito de Uttu, ela segue o conselho da deusa, mas Ea ainda a persegue, até ela
esconder-se dentro de uma teia de aranha. Ele a convence a permitir sua entrada na teia
prometendo-lhe casar-se com ela antes de consumar o coito. Uttu convencida permite e estuprada
também. Ela clama por Ninhursag que aparece em seu auxílio.
A deusa retira de seu ventre o sêmen do marido e o lança na terra, onde oito plantas nascem
imediatamente. Ela então amaldiçoa as plantas, proibindo qualquer um de consumi-las. Porém, um
dia quando Ea caminhava com seu servo, Isimud, eles se depararam com as ervas e o deus curioso
quis consumi-las. Isimud avisou-lhes que Ninhursag as havia proibido, mas ele não dá ouvidos e
consome as oito frutas.
Consumindo o próprio sêmen, Ea fica doente. Ele tem inchaços em várias partes do corpo:
mandíbula, dentes, boca, quadril, garganta, membros, costelas e rins. Nenhum deus sabia o que
fazer para aliviar suas dores. Até que uma raposa pergunta ao rei dos deuses: “Se eu trouxer
Ninhursag ante de ti, qual será minha recompensa?”.
Convencida pela raposa, a deusa retirou o sêmen do corpo do deus, e colocou no próprio ventre, ela
então deu a luz a oito crianças que curaram cada um uma parte do corpo do pai: Abu para o maxilar;
Nintulla para o quadril; Ninsutu para os dentes; Ninkasi para a boca; Azimua para os rins; Enshag
para os membros, Nanshe para a garganta e Ninti para as costelas1.
Outro mito importante, narrado do Enuma Elish, diz que a sétima geração de deuses, conhecida em
acadiano como Shapattu2, os Igigi, filhos de Enlil e Ninlil, sobrinhos de Enki, entram em conflito
como Abzu e Tiamat. Enlil aprisiona Abzu e encarrega seu irmão de vigiá-lo, o deus o confia então
sob seu templo em Eridu, aprisionando em Kur/Irkalla, que se localiza sob a cidade, ele passa a
controlar sua saída apenas pelos canais de irrigação, permitindo que seu poder continue a fertilizar o
mundo. Contudo, Tiamat resolve vingar-se da prisão de seu marido. Ela convoca seu filho, Kingu,
para vingar-se e dá a luz a alguns monstros para ajudá-lo. No primeiro ataque dos deuses antigos, os
Igigi apelam pela proteção de Ea, que se recusa a envolver-se. Enlil que assume a liderança dos
jovens deuses se esses o aceitassem como rei dos deuses após a derrota de Kingu. Na versão
babilônica deste conto Enlil é substituído por Marduk e, para os assírios, é Assur quem lidera os
Igigi.
Numa versão o motivo desta batalha é o fato dos novos deuses não quererem mais servir aos antigos
deuses como servos. Quando os jovens deuses vencem então, eles matam Kingu e trazem seu
sangue, junto com o barro, para que Ea molde um novo servo para os deuses. Ele é inicialmente
1 O mito da deusa, mãe de todos, que nasce da costela do deus que vive num jardim que é o paraíso é, sem dúvida, a
inspiração para o mito bíblico de Adão, Eva e o Éden.
2 Palavra que vai dar origem ao Sabath hebraico. E a tradição de descanso no sétimo dia tem como fundamento
também os mitos acadianos.
contra a ideia, inclusive fica horrorizado com a morte do príncipe Kingu, mas acaba realizando o
desejo dos novos deuses e assim cria os homens. Ele ouve o conselho de sua mãe, Ki, Uma oração é
dita enquanto ele confecciona os primeiros humanos: “Oh minha mãe, a criatura cujo nome tu
proferiste existe, liga nela a vontade dos deuses, misture o coração de barro que está sobre o abismo
aos bons e principescos modos, traga os membros para a existência, Ninhursag trabalhará acima de
ti e Nintu cuidará daquilo que decidires. Oh minha mãe decreta o destino destes recém-nascidos!”.
Um mito sumério, relatado no Discurso de Enmerkar, conta que também foi Ea quem fez com que
os homens falassem línguas distintas para que eles não pudessem se unir. O poema diz que é uma
forma de “conter” a humanidade3. Já o mito sumério do dilúvio cujas causas, segundo a Epopeia de
Gilgamesh, seriam a excessiva balbúrdia e confusão que os humanos causavam, tem uma
participação importante de Ea. Segundo o poema, Utnapishtim é avisado pelo deus: “Oh, homem de
Shurrupak, filho de Ubara-Tutu, põe abaixo a tua casa e constrói um barco. Abandona tuas posses e
busca tua vida preservar; despreza os bens materiais e busca tua alma salvar. Põe abaixo tua casa, eu
te de digo, e constrói um barco. Eis as medidas da embarcação que deverás construir: que a boca
extrema da nave tenha o mesmo tamanho que seu comprimento, que seu convés seja coberto, tal
como a abóbada celeste cobre o abismo; leva então para o barco a semente de todas as criaturas
vivas”4. Após sete dias de inundação, Enlil viu que um barco havia sobrevivido ficou furioso.
“Alguns destes mortais escaparam? Ninguém deveria ter sobrevido à destruição” 5. Foi Ninurta o
único que teve coragem para responder: “E que deus pode tramar sem consentimento de Ea?
Somente Ea conhece todas as coisas”6. Ea respondeu ao irmão que este era insensato por ter
causado o dilúvio, era um castigo por demais exagerado por um pecado tão pequeno, e que agora a
criação ainda existia e era preciso saber o que fazer com ela e, se seu número incomodava tanto os
deuses, era possível criar meios, como doenças, fomes e bestas, para evitar que a humanidade se
proliferasse como uma praga.
Ele era o guardião dos mes, os poderes divinos, até ser embriagado por Inanna, que o convenceu a
dar-lhes a ela. Na manhã seguinte da bebedeira, ele pediu seu mes ao seu servo, Isimud, que apenas
pode informá-lo que ele havia dado de presente para a deusa. Irritado, ele enviou os demônios Galla
para recuperá-los. Os demônios foram derrotados um a um pela mensageira da deusa, Ninshubur, A
guerra teria continuado se Inanna não tivesse enviado presentes ao deus, apesar de não lhe devolver
os mes, ela prometeu que ele continuaria recebendo as honras que já possuía.
Ereshkigal
Deusa do reino dos mortos, tem o título de Rainha do Enkur, o palácio em que se reunia
a assembleia dos deuses. Seu nome significa “senhora da grande terra”. Era filha de Sin,
o deus da lua, e Ningal, irmã dos gêmeos Shamash e Ishtar.
Ela é esposa de Nergal, o deus da peste. O mito do seu casamento envolve um banquete
organizado pelos deuses que a deusa não pode comparecer porque não podia abandonar
seu reino. Ela então enviou seu filho e vizir, Namtar, em seu lugar. Uma versão do mito,
o vizir foi bem tratado por todos com exceção de Nergal. Que como castigo foi exilado
no reino da deusa. Lá eles se conheceram e se apaixonaram, tornando-se marido e
mulher. Outra versão, o objetivo do banquete era dar um marido a deusa, houve uma
competição entre os deuses que foi vencida por Nergal. O casamento ocorreu no próprio
banquete com Nergal selando os votos com Namtar, o vizir.
Outro importante mito de Ereshikigal envolve a descida de Ishtar/Inanna ao submundo.
A deusa queria conhecer o reino dos mortos e se dirigiu diante dela, a deusa permitiu sua
entrada, mas não sem antes humilhá-la e a prendeu no submundo. Para salvar a deusa,
Enlil construiu do barro uma ser perfeito, ao mesmo tempo homem e mulher, conhecido
como Asushunamir que desceu ao Irkalla sem encontrar obstáculos porque as portas e os
perigos se rendiam a sua beleza. Ao chegar diante da deusa, ela se apaixonou pelo mais
novo filho dos deuses e ofereceu um suntuoso banquete em sua honra, tentando seduzi-
lo. Ela dançou com o jovem e embriagou-se. Bêbada, ele ofereceu ao jovem a água da
vida, que foi servida por Namtar. Este guardou consigo um pouco da água e quando a
deusa foi vencida pelo vinho, ele correu para salvar Ishtar/Inanna como seu pai havia
ordenado. Ele encontrou a deusa em avançado estado de decomposição, ele, todavia, a
banhou com a água da vida e ela recuperou o viço e a beleza. Juntos, eles se prepararam
para fugir, mas o bater das asas dos deuses acordou Ereshkigal. Percebendo-se enganada,
a deusa amaldiçoou Asushunamir, obrigando-o a viver como um mendigo, comendo o
que era impuro e bebendo a água das valas.
Era mãe de Namtar, com Enlil, mas ao casar-se com Nurgal torna-se mãe de Nungal e
Ninazu.
Seu principal centro de culto se localizava em Kutha, que ficava no centro da
Mesopotâmia.
Inanna/Ishtar/Ninsianna
Deusa sumeriana da beleza, do amor, do sexo e do desejo, era também deusa da guerra e
da justiça, a batalha era chamada de “dança de Inanna”, sendo a deusa que protegia os
reis sumérios e, com a invasão, os acadianos (quando foi fundida com Ishtar 7).
Associada ao planeta Vênus, seu nome significa “senhor do céu”, indicando que
inicialmente ela era um deus masculino8. Padroeira de Uruk, seu principal centro de
culto. Seu símbolo era a estrela de oito pontas.
Apesar de deusa do amor, Inanna não é uma deusa do casamento, nem era vista como
uma deusa mãe. Suas descrições a fazem sempre como uma jovem impetuosa, sempre se
movendo de conquista em conquista. Um poema a descreve como uma sedutora que usa
apenas uma peça de roupa, “como os pobres sem nome” e sua “as pérolas de uma
prostituta” em volta de seu pescoço.
Em algumas versões ela aparece como filha de Enki, porém na maioria das tabuletas
encontradas ela é filha de Sin/Nanna, o deus da lua, e Ningal e irmã gêmea de
Shamash/Utu, o deus do sol, que são irmãos mais novos de Ereshikigal, deusa da morte,
No poema Enki e a ordem mundial, Inanna viaja para o templo do deus, E-Abzu, para
reclamar ao deus que quando este organizara o universo não lhe deu nenhum quinhão,
um mes. Os mes garantiam o poder dos deuses sobre a humanidade. O deus afirma que
sua beleza e sensualidade já eram um domínio imenso demais para que ele lhe cedesse
algo mais. Contudo, Inanna ainda era virgem, e não conhecia nenhum dos segredos do
sexo. Um hino conhecido como Inanna e Utu conta que a deusa pede ajuda a seu irmão
gêmeo para aprender sobre o sexo. Ele deveria roubar uma fruta da Árvore do
Conhecimento que crescia numa árvore em Irkalla/Kur, que quando a deusa comeu
concedeu-lhe o conhecimento sobre aquilo que ela desejava conhecer.
Outro mito conta como Inanna roubou todos os mes de Enki. Ela foi visitá-lo em seu
templo e os dois começaram a beber juntos. A deusa, quando ele estava intoxicado,
convenceu Enki a ceder-lhe todos os poderes dos deuses. Inanna fugiu enquanto o deus
dormia levando consigo os mes. Ao acordar, Enki perguntou a seu servo, Isimud o que
acontecera naquela noite, e este o informou que a deusa havia levado consigo todos os
9 VIDAL, R. Benito. História mágicas de los dioses sumerios. Madrid: Edimat Libros, 1997.
10 EPOPEIA de Gilgamesh. São Paulo: Martins Fontes, 2001. p.122
Dumuzid/ Tammuz
É um deus dos pastores sumério, especialmente cultuado na cidade de Bad-tibira, que
aparece na lista dos reis anteriores a dilúvio. Ele teria sido filho de Enki e Ninhursag,
irmão de Geshtinanna, deusa da vegetação. Sua árvore símbolo é a tamareira. Seu rito
envolvia a criação de pequenos jardins que eram deixados para secar e depois
reanimados com água.
No poema Inanna prefere o fazendeiro, Dumuzid, o pastor, compete com Enkimdu, o
fazendeiro, pela mão de Inanna como sua esposa. A deusa preferiu o fazendeiro, mas
Dumuzid ofereceu presentes a Shamash, seu irmão gêmeo, dizendo que qualquer
presente que o fazendeiro pudesse lhe dar, ele era capaz de fazer melhor, e este deu ao
pastor a mão de sua irmã.
Casados, Inanna foi visitar sua irmã, Ereshkigal, no seu reino dos mortos, lá, foi proibida
de retonar, a não ser que alguém tomasse seu lugar. A deusa então, confiante no amor
que seu marido nutria por ela, enviou um mensageiro pedindo que Dumuzid tomasse seu
lugar. Contudo os demônios não o encontraram nem de luto, Ele estava luxuosamente
vestido e entretido pelas suas escravas. O deus então se negou. Ele escondeu-se com
ajuda de sua irmã, Geshtinanna, dos demônios Galla que foram arrastá-lo. Um poema
conhecido como o Sonho de Dumuzid diz que ele fora avisado do desejo de sua esposa e
fugiu antes dos demônios encontrarem-no. É sua irmã que os demônios encontram e é
ela quem diz que ele não tomará o lugar da esposa.
A perseguição dos galla começa a partir daí. Eles o buscam por toda Terra, e ele se
esconde se transformando em animais e se vestindo como mendigo.
Quando a deusa escapa do inferno, ela mesma vem buscá-lo. E o envia para o reino da
irmã, sem nenhuma pena. Contudo, a tristeza de Geshtinanna e de sua mãe, Ninhursag,
quando afastada do irmão e do filho faz com que toda a vegetação resseque e tudo
morra. Todo o planeta sofre junto com ela e os deuses imploram que Inanna perdoe
Dumuzid. A deusa então entra num acordo, permitindo que Dumuzid retorne a
convivência da irmã por seis meses no ano, durante a outra metade, ele continuaria a
sofrer os castigos que lhe eram reservados. Ele retornava aos ínferos no verão, durante o
mês que levava seu nome. Neste período as mulheres costumavam chorar sua morte e
assavam bolos em sua homenagem.
Outras versões existem da morte de Dumuzid. Em várias delas, Inanna também sofre
pela morte do marido. Como, por exemplo, num texto encontrado conhecido como
Inanna e Bilulu, em que a Bilulu e seu filho, Girgire, são os responsáveis pela morte de
Dumuzid enquanto este pastoreava os seus rebanhos. A deusa procura os assassinos de
seu marido que encontra em uma pousada, ela os transforma em odres. Nesta versão,
Inanna e a irmã do deus choram juntos a morte dele até que uma mosca conta aonde o
deus está e a deusa é capaz de trazê-lo de volta a vida.