Lima SandraCristinaFagundesde D
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Lima SandraCristinaFagundesde D
BANCA:
Campinas-SP
Agosto/2004
ii
AGRADECIMENTOS
À profª. Drª. Vavy Pacheco Borges, a quem serei sempre grata pela orientação
pontual, segura, crítica e construtiva. Sou grata também pela acolhida carinhosa.
À profª. Drª. Christina Lopreatto, pela leitura criteriosa e sugestões precisas durante o
exame de qualificação. Sou grata, sobretudo, por ter acreditado no projeto inicial.
À Profª. Drª. Helenice Ciampi, pela leitura criteriosa e sugestões precisas durante o
exame de qualificação.
À Fátima e ao Júlio, pelo incentivo desde o início, quando o projeto de pesquisa não
passava de idéias desconexas. Agradeço-lhes a leitura da tese e as sugestões que
contribuíram para tornar o texto melhor.
Ao sr. Delvar Arantes, srª. Regina Arantes e Vera Arantes pelas informações,
empréstimo de documentos e boa vontade em atender a todas as solicitações que lhes
dirigi.
Agradeço também a todas as demais pessoas que contribuíram para a realização desta
tese: André, Arlete, Bisinha, Conceição, prof. Dr. Ernesto S. Bertoldo, profª. Drª Jacy
A. Seixas, Dª Ione, Jô, Ronaldo, Silvia, Soene, Solaine, Stella, Valcicléia, Tony e
Wilmar.
RESUMO
Esta pesquisa tem como objetivo analisar a trajetória do professor, funcionário público (Inspetor
Municipal de Educação e chefe do Serviço de Educação e Saúde do Município), memorialista e
jornalista Jerônimo Arantes, no período que remonta aos anos de 1919 a 1961, vividos na cidade
de Uberlândia/MG. As questões que orientaram esta investigação giraram em torno da relação
existente entre, de um lado, as representações construídas por ele em torno da educação, do
exercício de um cargo no serviço público e da escrita da história e de outro a política. Nesse
sentido, as perguntas às quais procuramos responder podem ser formuladas nos seguintes termos:
Quais eram os liames estabelecidos entre a educação e o poder político local? Quais foram os
sujeitos sociais destacados por Arantes em sua revista Uberlândia Ilustrada? Como situar a
produção de Arantes, que, concomitantemente aos textos escritos, utilizava como fonte de
pesquisa, ainda que muito subsidiariamente, o testemunho dos “excluídos”, por meio do emprego
de depoimentos de ex-escravos e de trabalhadores braçais, muitas vezes, analfabetos? A
valorização das memórias daqueles que a escrita da história positivista renegava estaria
relacionada, em sua obra, a um deslocamento em direção à incorporação de novas fontes de
pesquisa? Para discutir esses aspectos, empregamos como fonte tanto os documentos
pertencentes à Coleção Professor Jerônimo Arantes (CPJA), depositados no Arquivo Público de
Uberlândia (APU) — jornais, livros, revistas, correspondência pessoal, provas de exames finais
elaboradas por Arantes e aplicadas aos alunos na sua escola particular, o Colégio Amor às Letras,
memorandos e ofícios expedidos e recebidos pelo Serviço de Educação e Saúde do Município e
também pelo Diretório Municipal de Estatísticas, recortes de jornais e revistas —, quanto jornais,
revistas e atas das reuniões escolares incorporados ao acervo geral daquele mesmo Arquivo.
Utilizamos, também, as fontes orais por meio de entrevistas e informações verbais obtidas junto a
pessoas que conheceram e conviveram com Arantes na cidade de Uberlândia. Os resultados aos
quais chegamos possibilitam apreender que, embora não tendo exercido nenhum mandato
político, Arantes não se afastou do poder local. Ao contrário, foram constantes os nexos
estabelecidos entre ele, a educação e a política durante o período que recortamos para a pesquisa.
Por meio de seu envolvimento com a educação (primeiro, em sua própria escola e, depois, no
serviço público inspecionando as instituições de ensino municipais) e de suas atividades no meio
jornalístico, assim como por intermédio de suas incursões no campo da produção da história
local, ele sempre esteve próximo da política, em particular, daqueles que ocuparam o poder
executivo no município. Concluímos, também, que os nexos estabelecidos entre Arantes e o
poder político não se fundaram em uma mera subserviência do primeiro ao segundo, mas, sim,
constituíram-se com base em uma gama de interesses e necessidades mútuas, assim como de uma
convergência entre projetos pessoais e coletivos.
ABSTRACT
This research aims at analysing aspects of the life of Jerônimo Arantes who worked as a teacher,
a civil servant, a memorialist and a journalist from 1919 to 1961 in Uberlândia, Minas Gerais,
Brazil. The concerns that guided this reflection were: The relationship between, on the one side,
representations constructed by Jerônimo about education, his role as a civil servant and his
writing of Uberlândia’s History and, on the other side, politics. Thus, these were the questions
this research seeks to answer: what were the boundaries established between education and the
local political power? Who were the social subjects pointed out by Arantes on the magazine
entitled Uberlândia Ilustrada? How to classify the production of Arantes that, beyond written
texts, used as research sources, although secondarily, the testimony of those marginalized by
taking reports of ex-slaves as well as common workers who were not always literate? Was the
valuing of the memories of those forgotten by positivist History, related in Arantes’ work, a
change in direction of new research sources? In order to discuss these issues, we used the
documents belonging to the collection of Jerônimo Arantes (CPJA), available in the public
archive in Uberlândia (APU) – newspapers, books, magazines, personal mails, final exams
elaborated by Arantes and applied to students at his private school – Colégio Amor às Letras –
official documents received and sent by the Educational and Health Departments of the city and
the Municipal Bureau of Statistics and clips of newspaper and magazines. Newspaper, magazines
and school records of proceedings from the same archive were also used as research sources. Oral
interviews and verbal information taken from people who knew and lived with Arantes in
Uberlândia were used as research sources, too. Results have shown that although Arantes has not
exercised any position as a politician, he was not away from local power. On the contrary, it was
very evident the connections he made between education and politics during the period elected
for this research. It was by getting involved with education – first in his own school and later as a
civil servant when he supervised the local teaching institutions – and also by working in journals,
that he was always linked to politics, particularly connected to those who were responsible for the
executive power in Uberlândia. Arantes has contributed to local history production. We have also
concluded that the relations established between Arantes and the political power were not based
on a mere subservience to local power, but on a set of interests and mutual necessities. Those
relations were also founded in converging personal and collective projects.
SUMÁRIO
LISTAS
ILUSTRAÇÕES
QUADROS
ABREVIATURAS E SIGLAS
INTRODUÇÃO
1
“Não se deve esperar que os reis filosofem ou se tornem filósofos, nem mesmo desejar isso, pois a posse da força
corrompe inevitavelmente o livre juízo da razão. Mas que reis ou povos soberanos (...) não deixem desaparecer ou
não reduzam ao silêncio a classe dos filósofos, mas a deixem se expressar publicamente, isso é indispensável a uns e
a outros para que possam ter clareza sobre seus próprios negócios. E desde que essa classe, por sua natureza, é imune
ao espírito faccioso e é incapaz de conspirar, não pode ser suspeita de fazer propaganda”. (KANT, E. À paz perpétua.
Porto Alegre: LP&M, 1989, p. 13).
2
“Costuma-se dizer, e eu concordo, que a política não tem seu lugar nas salas de aula das universidades. Não o tem,
antes de tudo, no que concerne aos estudantes. (...) mas a política não tem lugar, também, no que concerne aos
docentes. Mais do que nunca, a política está, então, deslocada. Com efeito, uma coisa é tomar uma posição política
prática, e outra coisa é analisar cientificamente as estruturas políticas e as doutrinas de partidos”. (WEBER, Max.
Ciência e política: duas vocações. São Paulo: Cultrix, 1993, p. 38).
3
“Tanto Pareto quanto Weber, rígidos e obstinados adversários de toda contaminação entre a obra do cientista e a
obra do político ou do moralista, estiveram inclinados a acreditar, e operaram em conseqüência como cientistas, que
em uma sociedade guiada por forças irracionais — (...) —, pela prevalência de ideologias (...) que são tomadas por
teorias científicas, em um universo irredutível de ‘politeísmo dos valores’ como efeito da impotência da razão, a
única empresa humana na qual deviam ser mantidos incontrastados o domínio e a orientação da razão seria a
ciência”. (BOBBIO, Norberto. Os intelectuais e o poder: dúvidas e opções dos homens de cultura na sociedade
contemporânea. São Paulo: UNESP, 1997, p. 128).
2
Ao lado das teorias que defendiam a separação entre a atividade intelectual e o exercício
do poder, germinava, há muitos séculos, o seu oposto, materializado na filosofia que propalava
que ambos os domínios não seriam dicotômicos, mas que, ao contrário, pensamento e ação,
ciência e política seriam domínios interpenetráveis, um não existindo sem a colaboração do outro.
Bobbio, ao abordar a questão dos intelectuais, estabeleceu a distinção entre aqueles que são
contrários à imbricação entre ciência e poder e aqueles que são favoráveis, classificando-os em
dois grandes grupos, a saber: intelectual puro e intelectual revolucionário. No primeiro grupo,
encontrar-se-iam aqueles que separaram o exercício do poder da atividade intelectual, tais como:
como Croce, Pareto e Weber. Estes autores refutaram a aproximação entre política e ciência e,
portanto, acreditaram que a tarefa do intelectual situar-se-ia em uma instância diferenciada, a que
a política não teria (ou não deveria) acesso. Já, para os revolucionários, o intelectual é sempre um
ser engajado e a atividade política é inerente ao ato de pensar. Marx, Lênin, Gramsci e Sartre são
alguns de seus signatários.4
O debate parece interminável, pois a defesa da indissolubilidade entre essas duas esferas
de atuação atravessou longos períodos, na Grécia antiga, por exemplo, Platão formulou a tese de
que o verdadeiro governo deveria ser exercido pelo filósofo. Desta forma, a solução para os
problemas da época consistiria na possibilidade de os reis tornarem-se filósofos e de os filósofos
tornarem-se governantes; não havendo, portanto, espaço para a separação entre ciência e
política.5
4
BOBBIO, op. cit.
5
PLATÃO. A república. São Paulo: Hemus, 1970, p. 150.
6
MARX & ENGELS, F. A ideologia alemã. Lisboa: Editorial Presença, s.d. , p. 33-34.
3
A lista de ambos os lados é longa e não se esgotaria no âmbito desta tese. Rechaçar a
união entre pensamento e ação ou entre ciência e política, ou, de outro modo, mostrar a sua
indissolubilidade, tem se constituído em um debate longo e de complexos contornos. Estariam os
intelectuais situados em uma esfera privilegiada que lhes possibilitaria uma compreensão do real
mais abrangente, livre de preconceitos?8 Ou, afastados do universo político, só lhes interessariam
os temas relacionados ao “espírito”? A atividade intelectual e o universo da política seriam, ao
contrário, esferas intercambiáveis, em que política e pensamento deveriam seguir uma mesma
trajetória? Embora exigindo posicionamentos diversos, subjaz às repostas para essas clivagens
entre ciência e poder, intelectuais e exercício da política, uma dada representação de projeto
social, bem como toda uma concepção filosófica calcada na relação entre política e ética.9 Trata-
7
“O indivíduo não entra em relação com os outros homens por justaposição, mas organicamente, isto é, na medida
em que passa a fazer parte de organismos, dos mais simples aos mais complexos. Desta forma, o homem não entra
em relações com a natureza simplesmente pelo fato de ser ele mesmo natureza, mas ativamente, por meio do trabalho
e da técnica. E mais: estas relações não são mecânicas. São ativas e conscientes, ou seja, correspondem a um grau
maior ou menor de inteligibilidade que delas tenha o homem individual. Daí ser possível dizer que cada um
transforma a si mesmo, se modifica, na medida em que transforma e modifica todo o conjunto de relações do qual ele
é o ponto central. Neste sentido, o verdadeiro filósofo é ⎯ e não pode deixar de ser . ⎯ nada mais do que o político,
isto é, o homem ativo que modifica o ambiente, entendido por ambiente o conjunto das relações de que o indivíduo
faz parte”. (GRAMSCI, Antonio. Concepção dialética da história. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991, p.
39-40).
8
Esta seria, segundo Löwy, uma das conclusões à qual chegaria Mannheim após analisar a relação entre utopia e
ideologia e estabelecer a distinção entre ambas, fundando um campo privilegiado de análise para os intelectuais.
Segundo Löwy, para o pensador húngaro, alguns intelectuais estariam “(...) destinados a realizar a grandiosa tarefa
da síntese dinâmica e da conciliação entre os vários pontos de vista. (...) Em primeiro lugar, justamente porque ela
não tem vínculos sociais, porque ela é livre. Outra vantagem é que, no seio da camada dos intelectuais, existem
indivíduos oriundos de várias classes sociais e, portanto, habituados a confrontar vários pontos de vista e a não
escutar uma só voz. O terceiro elemento é que, independentemente de sua origem de classe, o intelectual vive dentro
de uma certa comunidade com outros intelectuais vindos de outras classes e essa comunidade lhes permite a
formação de uma espécie de ponto de vista comum”. (LÖWY, Michel. Ideologias e ciência social: elementos para
uma análise marxista. 9 ed. São Paulo: Cortez, 1993, p. 84).
9
Bastos e Rêgo discutem, no ensaio introdutório de seu livro, a relação entre os intelectuais e a política, ressaltando a
dimensão moral que conforma o envolvimento dos primeiros com as experiências políticas e sociais do seu tempo,
bem como atentando para a vinculação dos intelectuais ao exercício da crítica como forma de aplicação da razão. Na
seqüência, as autoras reproduzem alguns textos produzidos por pensadores considerados clássicos que enfrentaram
esta questão desde o século XVIII até final do XX. (BASTOS, Elide R.; RÊGO, Walquíria D.L. (Orgs.). Intelectuais
e política: a moralidade do compromisso. São Paulo: Olho D'água, 1999).
4
se, portanto, como frisou Sirinelli, “...de tentar destrinchar a questão das relações entre as
ideologias produzidas ou veiculadas pelos intelectuais e a cultura política de sua época”.10
No Brasil, esse debate também remonta é antigo e vem sendo fecundado há muito tempo,
pois, em meados do século XIX, por exemplo, José de Alencar já discutia o “salutar” afastamento
que deveria haver entre política e intelectualidade. Transcorridas algumas décadas, já no início da
República, essa atitude consolidou-se e foi expressa, sobretudo, por Machado de Assis. Todavia,
segundo Gomes: “Não há como negar que durante todo esse tempo tivemos intelectuais doublés
de políticos, a demonstrar as tensões e seduções permanentes da relação”.11
10
SIRINELLI, Jean-François. Os intelectuais. In: RÉMOND, René (Org.). Por uma história política. Rio de Janeiro:
URFJ, 1996, p. 261.
11
GOMES, Ângela de C. História e historiadores: a política cultural do Estado Novo. Rio de Janeiro: Fundação
Getúlio Vargas, 1996, p. 139.
12
GOMES, 1996, op. cit., p. 139.
13
As ambigüidades inerentes à intelectualidade brasileira pertencente à geração modernista, em plena atividade
durante a década de 1920, foram trabalhadas por Lahuerta em um texto relativo ao tema em questão. O autor discute
os limites da crítica dos modernistas à sociedade vigente, problematizando a noção de moderno e as propostas de
ruptura daí decorrentes. (LAHUERTA, Milton. Os intelectuais e anos 20: moderno, modernista, modernização. In:
LORENZO, Helena C. de; COSTA, Wilma P. da (Orgs.). A década de 1920 e as origens do Brasil moderno. São
Paulo: UNESP, 1997, p. 93-114).
14
“Na busca de uma nova identidade, vêem-se os intelectuais confrontados com o poder sem a mediação de uma
perspectiva realmente política. O que faz com que se aprofunde a idéia de que lhes cabe um papel diferenciado no
processo social. Isto ocorre tanto no sentido organicista, que os vê como heróis civilizadores, como artífices da
modernização e fundadores da cultura nacional (...), quanto no sentido do 'jacobinismo', que os vê como
revolucionários em potencial aspirando ao assalto aos céus e à insurreição ... “. (LAHUERTA, op. cit., p. 100).
5
burocráticas criadas a fim de implementar seu projeto político, obter apoio de uma parcela da
15
LAHUERTA, op. cit., p. 101.
16
LAHUERTA, op. cit., p. 100-01.
17
LAHUERTA, op. cit., p. 106.
18
“Não se observava da parte de Getúlio Vargas, um grande empenho na mobilização das massas para participar da
política. O autoritarismo do Estado Novo se caracteriza, como já foi dito, pelo seu aspecto desmobilizador.
Considerando o povo brasileiro inepto para a participação política (a grande massa de analfabetos servia de reforço
para esse argumento), propunha-se a organização do novo Estado pelo alto, o que explica a preocupação do governo
em ganhar o apoio das elites intelectuais. A proposta de consenso era dirigida a elas e não aos setores populares”.
(CAPELATO, Maria Helena Rolim. Estado Novo: novas histórias. In: FREITAS, Marcos Cezar de. (Org.)
Historiografia brasileira em perspectiva. São Paulo: Contexto, Bragança Paulista: Universidade São Francisco,
1998, p. 211).
6
Velloso, ao abordar o mesmo período, também concluiu que o Estado Novo ao levar adiante a
Diferentemente dos intelectuais que foram incorporados pela República em suas primeiras
décadas ⎯ e, mesmo antes, no Império ⎯, que buscavam satisfazer às mais diversas exigências
daqueles que eram tributários do cargo que ocupavam, os intelectuais, a partir de 1930, ocuparam
postos que lhes exigiam, além de dedicação, a posse de um saber mais especializado, capaz de
Dentre esses intelectuais recém incorporados pelo governo, havia uma hierarquia tanto no
nível das funções quanto no que dizia respeito a salários. Pois, da mesma forma que o Estado
empregou uma elite intelectual que, em virtude de sua competência escolar e profissional, ocupou
poder político, serviram como assessores comissionados junto à Presidência, aos ministérios e
demais órgãos vinculados ao poder central.21 Essa configuração hierárquica, que perpassava a
19
VELLOSO, Mônica Pimenta. Cultura e poder político: uma configuração do campo intelectual. In: OLIVEIRA,
Lúcia Lippi; VELLOSO, Mônica Pimenta; GOMES, Ângela Maria Castro (Orgs.). Estado Novo: ideologia e poder.
Rio de Janeiro: Zahar, 1982, p. 71-2.
20
“Enquanto os anatolianos contavam com as sinecuras que os dirigentes oligárquicos lhes ofertavam como paga por
serviços prestados, os intelectuais do regime Vargas estavam muito mais vinculados aos figurões da elite burocrática
do que aos dirigentes partidários ou às facções políticas de seus respectivos estados. Os anatolianos participavam de
corpo e ânimo das campanhas eleitorais de seus manda-chuvas ou de candidatos por eles indicados, ao passo que os
intelectuais do regime Vargas se empenhavam com garra em ampliar, reforçar e gerir as ‘panelas’ burocráticas de
que faziam parte e só se sentiam credores de lealdade em relação ao poder central. Dessa maneira, os intelectuais
contribuíram decisivamente para tornar a elite burocrática uma força social e política que dispunha de certa
autonomia em face tanto dos interesses econômicos regionais como dos dirigentes políticos estaduais”. (MICELI,
Sergio. Intelectuais à brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 2001, p. 198).
21
MICELLI, op. cit., p. 210-11.
7
atuação dos intelectuais no interior do governo, deve ser relacionada a uma forte centralização do
22
No dizer de Velloso: “No Estado Novo, a alta centralização do poder político é evidentemente acompanhada pela
centralização do poder simbólico. O controle efetuado pelo DIP na tentativa de obstaculizar a divulgação dos outros
discursos configura um campo ideológico bastante homogêneo. A nítida demarcação de tarefas no campo ideológico
estabelece a função precisa que cada agente deve desempenhar. A produção simbólica se restringe a um círculo
especializado de teóricos e/ou dirigentes que se colocam como os ‘guardiães privilegiado das ideologias’. (...) À
elite intelectual cabe, portanto, a produção e a manipulação das representações que conformam o discurso estado-
novista. Aos intelectuais de menor projeção cabem as tarefas práticas da propaganda, no sentido de difundir para o
conjunto da sociedade o ideário já estabelecido”. (VELLOSO, op. cit., p. 77-8).
23
“É nítida, portanto, a tentativa do regime no sentido de estabelecer uma nova relação Estado-sociedade.
Configuram-se novas estratégias de poder, que prevêem uma ampliação considerável das funções estatais. O Estado
penetra nos domínios da sociedade civil, assumindo claramente o papel de direção e organização da sociedade.
Assim, se auto-elege o educador mais eficiente junto às classes trabalhadoras, argumentando ser o ‘bem público’ o
móvel de sua ação. O que se verifica, portanto, é um deslocamento de atribuições, onde o Estado assume funções que
até então estavam sob o encargo dos diferentes grupos sociais”. (VELLOSO, op. cit., p. 72).
24
LAHUERTA, op. cit., 109-10.
25
No entanto, em alguns casos, descolar a produção intelectual da função ocupada no interior do governo tornava-se,
na ótica de Velloso, uma tarefa quase impossível, uma vez que: “A função social dos intelectuais, no contexto do
Estado Novo, coloca-se como fundamental para definir o caráter de sua produção. Francisco Campos, como bem
define Jarbas Medeiros, é o 'típico ideólogo do Estado', exercendo tríplice papel de reformador do sistema de ensino
nacional, das instituições jurídicas e das instituições políticas. A posição social do autor na política brasileira se
evidencia pelos cargos e funções político-administrativas que exerceu em âmbito federal e estadual. Já Azevedo
Amaral não exerce funções diretamente vinculadas ao aparelho de Estado; desempenha sobretudo atividades
jornalísticas. O relativo distanciamento do aparelho de Estado confere à sua produção um caráter 'menos dogmático',
na medida em que se permite discordar de alguns dispositivos veiculados pela Constituição de 37. (...) ‘Quanto a
Almir de Andrade, além de desempenhar atividades de cunho acadêmico ⎯ professor da Universidade do Brasil,
fundador e diretor da revista Cultura Política ⎯ ocupa o cargo de diretor da Agência Nacional de 1943 a 45”.
(VELLOSO, op. cit., p. 78-9).
8
... mesmo os que não aderiram explicitamente ao Estado Novo, de uma maneira ou de
outra, adequaram-se ao seu projeto de ordem, revelando uma aceitação tácita do
autoritarismo que tinha por eixo a 'compreensão de que o atraso da nação estava, bem
ou mal, sendo sanado pela imposição de uma ditadura que acertava o passo dentro
das exigências do progresso'.27
O debate sobre o papel dos intelectuais na sociedade não se encerrou com o fim do Estado
Novo. Findo aquele período ditatorial, durante aproximadamente três décadas, ainda para grande
parte da intelectualidade cabia-lhe aproximar-se da sociedade e da cultura popular como
sinônimo de nacionalismo.28 A defesa do distanciamento da política e de todas as suas
implicações só se efetivará entre a intelectualidade após mais um período ditatorial.29
II
Refletindo sobre essa tensão entre poder e ciência, intelectual e político, entre ação e
filosofia e aceitando a premissa de que o passado interessa ao historiador porquanto pode
encerrar as chaves para a compreensão de problemas que se colocam no presente e que, portanto,
nossas pesquisas não são desinteressadas, o objetivo desta pesquisa é investigar a trajetória de
Jerônimo Arantes (1892-1983), buscando problematizar a relação por ele estabelecida entre
educação, história e política na cidade de Uberlândia no período que compreende as décadas de
1919 a 1961.
26
CAPELATO, 1998, op. cit., p. 211-12.
27
LAHUERTA, op. cit., p. 110.
28
LAHUERTA, op. cit., p. 110-13.
29
LAHUERTA, op. cit., p. 114.
9
A maior parte da produção de Arantes, bem como a sua atuação nos cargos públicos que
ocupou na esfera de poder municipal, situa-se nos anos que compreenderam de 1933 a 1961,
dentro do período em que houve no âmbito federal uma expansão da oferta de cargos públicos a
intelectuais. Partindo das análises de que na referida esfera alguns desses intelectuais a serviço do
Estado procuraram desvincular suas produções dos interesses políticos, ainda que, na maioria das
vezes, essa tentativa permanecesse circunscrita apenas ao plano discursivo, pergunta-se: de que
forma Arantes, que vivia na região do Triângulo Mineiro, interior de Minas Gerais, e atuava
como intelectual e homem de “ação” — embora não tendo exercido cargo político, uma vez que
não chegou a candidatar-se a vereador, prefeito, governador e/ou senador, ocupou cargos de
cunho político na área educacional, haja vista que foi nomeado inspetor de municipal de ensino e,
posteriormente, chefe do Serviço de Educação e Saúde do Município ⎯ enfrentou a clivagem
entre política e pensamento?
30
Embora alguns autores empreguem as expressões historiador, historiador não acadêmico, historiador
profissional, pensador da história e outros para se referirem àquele que lida com o passado sem, no entanto, ser
graduado em História, optamos por utilizar a denominação memorialista por entender que ela serve como baliza para
demarcar as particularidades inerentes ao trabalho realizado por uns e por outros. As três primeiras denominações
são encontradas em particular nas obras de: GOMES, A., 1996, op. cit. / RODRIGUES, Antônio E. M. O achamento
do Brasil e de Portugal: perfil intelectual do historiador luso-brasileiro João Lúcio de Azevedo. Acervo: Escritas do
Brasil. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, n. 1-2, p. 37-66, jan./dez. 1999, 2000. O último termo é empregado no
seguinte texto: GONTIJO, Rebeca. Manoel Bonfim, 'pensador da História' na Primeira República. Revista Brasileira
de História. São Paulo: ANPUH; Humanitas, n. 45, p. 129-54, julho 2003.
10
Uma outra questão que emerge ao investigar a trajetória de Arantes incide sobre a sua
longa permanência na inspetoria de ensino municipal (1933 a 1946) e também na chefia do
Serviço de Educação e Saúde do Município (1946 a 1959). Estes cargos, cujo ingresso se dava
por meio de nomeação do Prefeito, revestiam-se de um caráter marcadamente político e, como
tal, exigiam de seu titular, se não a cumplicidade total, pelo menos, o alinhamento com o plano de
governo em questão. Com base nessa constatação, pergunta-se: quais eram os liames
estabelecidos entre a educação e o poder político local?
Ainda que conhecidos e parentes de Arantes tenham afirmado em seus depoimentos que
ele não se envolveu em política e não fez campanha para nenhum candidato, como explicar o fato
de, em 1936, ele ter participado da caravana realizada em direção às escolas rurais para divulgar a
candidatura de Vasco Gifoni a prefeito de Uberlândia, pelo Partido Popular Progressista, recém
fundado na cidade? Ocupando, na época, a inspetoria municipal de ensino e gozando, portanto,
do prestígio que o cargo lhe conferia, sua presença na campanha de qualquer candidato
significava apoio, ainda que não explícito, sobretudo quando ela se realizava no ambiente escolar,
locus de sua atuação e “autoridade”. 31
Embora atuando apenas em Uberlândia, não se pode perder de vista que o trabalho de
Arantes na educação insere-se em um contexto nacional de acalorados debates entre os
defensores de uma escola renovada em métodos e conteúdos e os partidários da manutenção de
uma escola organizada sob propostas tradicionais. A eclosão do movimento em favor da
renovação da escola no Brasil culminou com a conclusão, já ao final dos anos de 1920, de um
amplo programa de reformas educacionais realizadas por quase todos os estados da federação,
com posteriores reformas efetuadas em âmbito federal, e prosseguiu com a publicação, em 1932,
do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nacional.32
31
VISITANDO o interior do município. Diário de Uberlândia, Uberlândia, p. 1, 05 maio 1936. APU. CPJA.
32
A partir dos anos de 1920 foram realizadas as seguintes reformas educacionais em âmbito estadual: São Paulo,
1920; Ceará, 1922-23; Bahia, 1928; Minas Gerais, 1927-28; Pernambuco, 1928; Paraná, 1927-28; Rio Grande do
Norte, 1925-28; Distrito Federal, 1928. (ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da educação no Brasil:
(1930/1973). Petrópolis: Vozes, 1998, p. 129).
No dizer de Romanelli: “Assim, por exemplo, enquanto apresenta uma concepção avançada da educação e suas
relações com o desenvolvimento, denunciando uma visão globalizante deste último, permanece, todavia, no terreno
do romantismo, quando cogita das causas dos problemas educacionais. Ao colocar estes como decorrência da falta de
uma ‘filosofia de vida’ por parte dos educadores, o Manifesto demonstra que a compreensão da realidade
educacional, por parte dos pioneiros, estava ainda muito próxima da concepção liberal e idealista dos educadores
românticos do século XIX”. (ROMANELLI, op. cit., p. 145).
11
Esse período, que remonta ao final dos anos de 1920, colocou a educação, seus
problemas, assim como as suas possíveis soluções em evidência no cenário educacional
brasileiro. Nesse sentido, a análise da atuação de Arantes no meio educacional de Uberlândia,
nessa mesma época, sugere a seguinte problematização: de que forma ele se posicionou diante
das transformações verificadas no pensamento pedagógico a partir desses movimentos? Ou, dito
de outra maneira, face ao embate entre os princípios da escola tradicional, criticada pelos
reformadores, e os alardeados pressupostos de uma escola renovada, em métodos e conteúdos,
como se movimentou Arantes?
Arantes viveu, pensou, trabalhou e produziu durante seis décadas, tendo, inclusive,
atravessado um dos momentos de transição política na cidade, quando novos sujeitos passaram a
dividir o espaço político-econômico e social com antigos representantes do poder local. Nesse
sentido, uma das questões que aflora ao tomarmos contato com a Uberlândia Ilustrada e demais
textos deixados por ele, gira em torno das formas de apreensão e representação das
transformações político-sociais que estiveram presentes na sua produção, e daí formulamos a
seguinte questão: quais foram os sujeitos sociais destacados pela sua revista?
12
Outra questão que surge, ao se tomar contato com a sua obra, relaciona-se às
características de seus trabalhos sobre a historia local, pois, em um período caracterizado por uma
historiografia de cunho marcadamente positivista, identificável no privilégio conferido aos feitos
de poucos homens, metamorfoseados em heróis nacionais, e no emprego das fontes textuais —
sobretudo dos documentos oficiais em detrimento da consulta aos testemunhos orais33 —, como
situar a produção de Arantes, que, concomitantemente aos textos escritos, utilizava como fonte de
pesquisa o testemunho dos “excluídos”, por meio do emprego de depoimentos de ex-escravos e
de trabalhadores braçais, muitas vezes, analfabetos? A valorização das memórias daqueles que a
escrita da história positivista renegava estaria relacionada, em sua obra, a um deslocamento em
direção à incorporação de novas fontes de pesquisa? Ao dar voz aos excluídos da historiografia
oficial e introduzir as suas memórias no discurso sobre a história de Uberlândia, estaria ele
incorporando a vivência deles na cidade, para além dos fatos revelados em suas memórias
atinentes ao passado?
III
Os deslocamentos obtidos pela pesquisa histórica nas últimas décadas, tanto no que diz
respeito ao tratamento conferido às fontes quanto no que tange à seleção dos objetos e ao
levantamento das problematizações, como também a crise dos paradigmas engendrada pelas
transformações sociais que atravessaram o ocidente, impossibilitam a pretensa interpretação
cristalizada e puramente objetivada da história, que resultaria em um (pseudo) resgate do passado
tal qual ele teria ocorrido.
33
Segundo Velloso, no afã de rechaçar as influências do liberalismo, durante o Estado Novo defendia-se e também
se praticava uma concepção de história tributária do positivismo. (VELLOSO, op. cit., p. 84-5).
13
a entrada em cena dos historiadores franceses ligados à revista dos Annales, viabilizaram a
compreensão de que as análises do passado, ainda que caracterizadas por uma pesquisa
abrangente, são sempre limitadas e, por conseguinte, permanecem abertas a inúmeras
problematizações.34
Devemos, no entanto, ressaltar que, ao buscar na trama histórica as imbricações entre uma
tessitura objetivada e outra de conotação mais subjetiva, não estamos pressupondo a ausência de
34
De acordo com Marc Bloch, “O passado é, por definição, um dado que coisa alguma pode modificar. Mas o
conhecimento do passado é coisa em progresso, que ininterruptamente se transforma e se aperfeiçoa”. (BLOCH,
Marc. Uma introdução a história. Lisboa: Edições 70, s.d., p. 55).
35
LE GOFF, Jacques. Uma vida para a história: conversações com Marc Heurgon. São Paulo: UNESP, 1998, p.
103.
14
tensões.36 Ao contrário, as representações são entendidas aqui como processo constituinte do real
por meio da elaboração dos significados que conferem sentido à realidade. Ao serem apreendidas
como processo, essas representações comportam dimensões conflituosas, pois, conforme
ressaltou Chartier, elas devem ser apreendidas em um campo do qual fazem parte
“concorrências” e “competições”.37
Embora enfocando a vida de uma pessoa “singular”, não tivemos a pretensão de elaborar
um estudo biográfico; o que exigiria o aprofundamento de muitos aspectos da vida de Arantes e
também o conhecimento de muitos fatos a ele relacionados que não se constituíram em nosso
36
Ao empregar o conceito de trama, buscamos em Paul Veyne a sua definição. Para esse historiador, os fatos não se
apresentam de maneira atomizada, mas, sim, de forma a constituir uma trama, e esta definiria o tecido histórico, pois
trata-se de: “uma mistura muito humana e muito pouco ‘científica’ de causas materiais, de fins e de acasos; de um
corte de vida que o historiador tomou, segundo sua conveniência, em que os fatos têm seus laços objetivos e sua
importância relativa; ...”. (VEYNE, Paul. Como se escreve a história. Brasília: Universidade de Brasília, 1982, p.
28).
37
“Como estando sempre colocadas num campo de concorrências e de competições cujos desafios se enunciam em
termos de poder e de dominação. As lutas de representações têm tanta importância como as lutas econômicas para
compreender os mecanismos pelos quais um grupo impõe, ou tenta impor, a sua concepção de mundo social, os
valores que são os seus, e o seu domínio”. (CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações.
Lisboa: DIFEL, 1988, p. 17).
15
objetivo.38 No entanto, ainda que não adotando a perspectiva biográfica, tivemos que fazer
incursões pela vida de Arantes para procurar responder às questões por nós propostas, e estas
incursões situam-se nos domínios do que se denominou trajetória, entendida, aqui, na acepção
que lhe dá Kofes, como sendo: “... o processo de configuração de uma experiência singular”.39 E
esta experiência fundamenta-se em um percurso que se compõe de deslocamentos ora previsíveis
ora inesperados e no qual a travessia torna-se mais relevante do que o ponto de chegada; com
efeito, é aquela e não esta o objeto do entendimento.
38
Há uma vasta bibliografia acerca da problemática que permeia os estudos biográficos e, que, por conseguinte
aponta para as limitações e também para as perspectivas que este método agencia; dentre estes estudos destacamos:
BORGES, Vavy Pacheco. Desafios da memória e da biografia: Gabrielle Brune-Sieler, uma vida (1874-1940). In:
BRESCIANI, Stella; NAXARA, Márcia (Orgs.). Memória e (res)sentimento. Campinas: UNICAMP, 2001, p. 287-
312./ _____. O historiador e seu personagem: algumas reflexões em torno da biografia. Horizontes. Dossiê: Temas
da história cultural. Bragança Paulista, v. 19, p. 1-10, 19 jan./ dez.2001/ BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In:
FERREIRA, Marieta de M.; AMADO, Janaína (Orgs.). Usos & abusos da história oral. Rio de Janeiro: FGV, 1998,
p. 183-91/ LEVI, Giovanni. Usos da biografia. In: FERREIRA; AMADO, op. cit., p. 167-82. / CHAUSSINAND-
NOGARET, Guy. Biográfica (História). In: BURGUIÈRE, André. Dicionário das ciências históricas. Rio de
Janeiro: Imago, 1993, p. 95-97./ LEVILLAIN, Philippe. Os protagonistas: da biografia. In: RÉMOND, op. cit., p.
141-84.
39
KOFES, Suely. Uma trajetória, em narrativas. Campinas: Mercado de Letras, 2001, p. 27.
40
ROSA, Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1980, p. 113.
41
BOURDIEU, op. cit., p. 184.
42
KOFES, op. cit., p. 25.
16
IV
A opção por esse corte cronológico justifica-se em função da relevância que ele assume
para o contexto de nossas investigações, pois 1919 foi o ano em que Arantes estabeleceu-se
definitivamente na cidade de Uberlândia, abrindo a sua escola particular, o denominado Colégio
Amor às Letras, e 1961, por sua vez, marca o fim da publicação da Uberlândia Ilustrada. Em
agosto daquele ano, Arantes publicava o último número de sua revista, em uma edição dedicada à
história da Vila Martins, um dos bairros da cidade em questão. Embora ele não tenha deixado de
trabalhar nos anos subseqüentes, estabelecemos como recorte esse período porque ele abarca a
maior parte de sua produção, incluindo as suas atividades docentes exercidas em seu colégio, os
anos no serviço público, a formação da maior parte de seu Arquivo Histórico, a publicação de
alguns de seus livros, assim como publicação de sua revista.
Contudo, mesmo estabelecendo esse recorte, não nos limitamos a ele rigidamente. Em
alguns momentos, tivemos que avançar, extrapolando o limite estabelecido em torno de 1961 e,
em outras ocasiões, recuamos, rompendo a barreira dos anos de 1919. No primeiro capítulo, por
exemplo, retrocedemos algumas décadas ao limite por nós imposto, a fim de buscar os elementos
que propiciariam recompor alguns aspectos relativos à trajetória pessoal percorrida por Arantes
nos anos anteriores à sua chegada em Uberlândia. Nos quatro capítulos, ainda que
subsidiariamente, empregamos documentos produzidos após 1961. Às vezes um artigo de jornal,
um livro deixado mimeografado, outras vezes, uma entrevista ou uma conversa informal nos
arremessaram para as décadas posteriores ao limite estabelecido. Mas, de forma geral, buscamos
privilegiar o recorte adotado.
O trabalho com as fontes textuais foi realizado no APU durante três semestres
consecutivos de pesquisa (1º. e 2º. de 2002, e 1º. de 2003). Como se tratava de um volume muito
grande de documentação e para conseguir fazer a leitura e seleção de todo o material, as visitas
àquela instituição tiveram de ser cotidianas. Mesmo depois de encerrada a fase da coleta dos
dados, quando estes começaram a ser analisados tivemos que retornar ao APU em diversas
ocasiões, ora íamos à procura do nome correto de um periódico e de uma data de jornal, ora
partíamos em busca de uma frase cujo sentido parecia comprometido. Enfim, uma gama de
detalhes atinentes a qualquer pesquisa com fontes textuais nos impeliu a transformar o APU em
um segundo “escritório”.
como esta se constituía em nosso objeto, concluímos que deveríamos primeiramente partir dali
para, em seguida, investigarmos a documentação complementar em busca de informações
adicionais e também de aprofundamento do que já havíamos coletado. Uma vez decidido por qual
coleção iniciar, optamos por trabalhar, inicialmente, com os jornais, adotando um procedimento
que incluía a leitura panorâmica de todas as páginas e a leitura minuciosa das matérias que,
porventura, tivessem sido assinadas por Arantes e ou daquelas que lhe dissessem respeito. Ao
abrir os periódicos, procurávamos, primeiramente, o nome de Arantes nas assinaturas das
matérias, bem como no conteúdo destas. Em seguida, buscávamos todos os assuntos cuja
temática incidia sobre questões relativas à escrita da história local e educação escolar em
Uberlândia, fosse estadual fosse municipal. Por fim, percorríamos as notícias referentes a fatos
ocorridos na cidade, no país e no exterior — relativas à economia, política e sociedade — que nos
colocariam em contato com a época investigada. Depois de concluída a leitura e anotado o que
iríamos precisar, demos início à transcrição do material selecionado.
Após realizar a leitura e a transcrição dos jornais, investigamos os conteúdos das pastas
temáticas, compostas de recortes de jornais, revistas e livros. Nessa etapa, não foi preciso
transcrever o material selecionado, pois o APU deixa à disposição uma fotocópia dos originais
para consulta e, neste caso, o pesquisador tem a autorização para xerocar o que lhe interessar. O
trabalho inicial com esta fonte não apresentou muitos embaraços, pois os conteúdos das pastas,
embora consideráveis (pois ao todo são 52 pastas repletas de documentos), encontram-se em bom
estado de conservação, uma vez que se trata de cópias dos originais bastante legíveis. Um dos
únicos empecilhos para a posterior utilização desses documentos, consistiu no fato de muitos
recortes terem sido arquivados sem a devida referência bibliográfica: às vezes, constava apenas o
nome do jornal de onde o texto havia sido retirado, faltando a informação relativa ao número do
periódico, a data da publicação e a página, outras vezes, não havia nenhum desses dados. Mas,
não obstante às limitações, insistimos em empregar os recortes, pois algumas informações eram
inéditas, posto que retiradas de periódicos já extintos e cujos números não foram preservados por
nenhuma instituição da cidade de Uberlândia.
Uma vez concluído o trabalho com os jornais e as pastas temáticas, iniciamos a leitura da
revista Uberlândia Ilustrada. Para empreender tal tarefa, não precisamos permanecer no APU
19
tempo todo, pois tal qual a documentação das pastas temáticas, e ao contrário dos jornais, das atas
e de demais documentos, aquela instituição dispõe de fotocópias para consulta de todos os
números da revista, que, por sua vez, podem ser reproduzidas em xerox pelo usuário, que, de
posse do material, tem a liberdade de trabalhar em casa. Mesmo assim, consultamos os originais
da Uberlândia Ilustrada — estes são interditados para o público e liberados apenas em casos cuja
consulta às cópias não resolvem o problema —, pois necessitávamos analisar as cores utilizadas,
o papel empregado na impressão e outros detalhes não revelados na reprodução em preto e
branco.
Finalmente, retornamos ao acervo de Arantes para consultar a sua biblioteca, tendo sido
esta a última fonte textual pesquisada. Na primeira fase da análise, verificamos quais eram os
20
temas que predominavam em meio aos títulos arquivados. Para tanto, classificamos os livros
dentro das disciplinas das quais faziam parte — ou seja, livros de História Geral, História do
Brasil, História Local, Geografia, romances, poesias —, a fim de apreender quais eram as áreas
de maior interesse de Arantes.
44
Nesse sentido, constatamos na prática a pertinência das seguintes considerações tecidas por Samuel: “Há verdades
que são gravadas nas memórias das pessoas mais velhas e em mais nenhum lugar; eventos do passado que só eles
podem explicar-nos, vistas sumidas que só eles podem lembrar. Documentos não podem responder; nem, depois de
um certo ponto, eles podem ser instigados a esclarecer, em maiores detalhes, o que querem dizer, dar mais exemplos,
levar em conta exceções, ou explicar discrepâncias aparentes na documentação que sobrevive. A evidência oral, por
outro lado, é infindável, somente limitada pelo número de sobreviventes, pela ingenuidade das perguntas do
historiador e pela sua paciência e tato”. (SAMUEL, Raphael. História local e história oral. Revista Brasileira de
História. São Paulo, v. 9, n. 19, p. 230, set. 89/ fev. 90).
21
elaborado.45 Nesse aspecto, a opção pelo esquema semi-estruturado, assim como a proposta de
trabalhar com questões abrangentes, foi norteada pela preocupação em possibilitar aos depoentes
maior liberdade e também maior flexibilidade no ato de rememoração. Acreditamos que, embora
precisássemos de algumas informações específicas, era necessário aos entrevistados estarem em
condições de recompor aquilo que lhes foi significativo, dialogando com o passado e trilhando
caminhos que, de alguma forma, marcaram as suas reminiscências.
O registro da maior parte dos depoimentos orais foi realizado por meio de gravação em
fita cassete mediante o consentimento dos entrevistados. Posteriormente, as fitas foram transcritas
em fichas. Mesmo tendo conhecimento de que a transcrição é um processo complicado — uma
vez que implica transformar em texto escrito a linguagem oral, repleta de gestos, mímicas e
sentidos ocultos — e que, mesmo quando cuidadosamente trabalhado, não traduz de forma plena
a oralidade, ainda que se empreguem vírgulas, exclamações, travessões e toda a gama de sinais
de pontuação, o processo de transcrição foi fundamental para analisar os dados coletados.47
45
Apêndice I - Roteiro de Entrevistas.
46
PORTELLI, Alessandro. Tentando aprender um pouquinho — Algumas reflexões sobre a ética na História Oral.
Recompondo a memória. Projeto História — Ética e História oral. São Paulo, n. 15, p. 17, abr. 1997.
47
PORTELLI, op. cit., p. 40.
22
48
“O documento não é inócuo. É antes de mais nada o resultado de uma montagem, consciente ou inconsciente, da
história, da época, da sociedade que o produziu, mas também das épocas sucessivas durante as quais continuou a ser
manipulado, ainda que pelo silêncio. O documento é uma coisa que fica, que dura, e o testemunho, o ensinamento
(para evocar a etimologia) que ele traz devem ser em primeiro lugar analisados desmistificando-lhe o seu significado
aparente. O documento é monumento. (...) É preciso começar por desmontar, demolir esta montagem, desestruturar
esta construção e analisar as condições de produção dos documentos-monumentos”. (LE GOFF, Jacques. História e
memória. Campinas: UNICAMP, 1996, p. 547-48).
23
nessas escolas, assim como dos liames existentes entre essas representações e o poder político
instituído em Uberlândia.
CAPÍTULO I
AMOR ÀS LETRAS
Todos aqueles que moraram e ou que trabalharam nas cercanias da Praça Rui Barbosa,
localizada na região central da cidade de Uberlândia, conheceram-no; afinal, a sua presença era
constante naquelas imediações, pois residiu no mesmo endereço durante seis décadas, uma vez
que para lá se mudara em 1918, jovem, cheio de planos e recém-casado com Juvenília Ferreira.50
Construiu sua casa no “lado da sombra, lado da meditação e da ternura, ainda mais pertinho da
Igreja ...”51. Seu nome: Jerônimo Arantes para uns, professor Jerônimo Arantes para outros,
Arantes, para nós, ou, simplesmente, “Jerominho, como nós o conhecemos nas rodas da
intimidade ...”52.
Na segunda década do século XX, quando Arantes mudou-se para ali com sua esposa, a
cidade ainda se denominava Uberabinha53 e sua reduzida população era estimada em
aproximadamente 5.000 habitantes.54 Os sons que preenchiam o cotidiano das poucas vias
públicas então existentes não eram produzidos por equipamentos elétricos e nem eletrônicos,
49
A expressão “breve século” foi tomada de empréstimo ao historiador Eric Hobsbawm que a emprega para
delimitar o período que remonta ao início da primeira Grande Guerra em 1914 e encerra-se com o fim da era
soviética em 1991. (HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos. O breve século XX, 1914-1991. São Paulo: Companhia
das Letras, 1996, p. 13).
50
A cerimônia de casamento foi realizada na cidade de Uberaba/MG no dia 20 de agosto de 1918. O casal teve cinco
filhos: Delicia, Délcio, Delvar, Délvia e Délio. (ARANTES, Delvar. Biografia: Professor Jerônimo Arantes.
Uberlândia, s.d. p. 5. [Datilografado]. Acervo Delvar Arantes).
51
ULHÔA, Domingos P. [Discurso proferido a propósito da homenagem que o Rotary prestou a Arantes]. In:
ROTARY Clube de Uberlândia. Título honorífico: Diploma. Uberlândia: [s.n.], não paginado, jan. 1977. Acervo
Delvar Arantes.
52
PROFESSOR Jerônimo Arantes. O Repórter, Uberlândia, p. 5, 22 jul. 1942. APU.
53
Inicialmente denominada São Pedro de Uberabinha, posteriormente a cidade passou a ser designada simplesmente
por Uberabinha, e assim permaneceu até 1929, quando, então, pela Lei Estadual nº. 1126, de 19/10/1929, seu nome
modificou-se para Uberlândia. No entanto, mesmo conhecendo a trajetória dessas designações, tomamos a liberdade
de, independentemente do ano, sempre que mencionarmos a referida cidade denominá-la Uberlândia.
54
O recenseamento federal realizado em 1920, dois anos após a chegada de Arantes na cidade, apurou um total de
5.453 habitantes distribuídos em 1.118 prédios. (UBERLÂNDIA e seu crescimento demográfico. A Tribuna,
Uberlândia, não paginado, 23 jul. 1939. APU. CPJ A).
26
Sobre suas ruas escuras, de traçado irregular — muitas das quais eram recortadas por
becos e vielas sem saída —, ladeadas por poucos casarões e muitos casebres de construção
rústica, enlameadas no período das chuvas, poeirentas na estação do inverno, ainda carentes de
saneamento básico e de pavimentação, trafegavam os toscos carros-de-bois, as vagarosas carroças
carregadas de sortimentos, bem como os cavaleiros e os poucos e conhecidos pedestres. Enfim,
como descreveu aquele antigo habitante, na antiga Uberabinha:
55
ARANTES, J. A cidade: Uberlândia dos primeiros tempos. Uberlândia, 1971a, p. 09. (Datilografado). Acervo
Delvar Arantes.
56
ARANTES, J., 1971a, op. cit., p. 14.
27
57
ARANTES, J., 1971a, op. cit., p. 15.
58
ARANTES, J., 1971a, op. cit., p. 11.
59
SILVA, Antônio Pereira da. As histórias de Uberlândia. Uberlândia: Paulo Antônio, v. 2, 2002, p. 53.
60
ARANTES J., 1971a, op. cit., p. 11.
28
Desses festejos, Arantes parecia entender bem, pois a praça Rui Barbosa, em cujo entorno
ele morava, abrigava uma igreja dedicada ao Rosário de Maria Santíssima —, primeiramente,
uma pequena capela, depois ampliada por meio de uma reforma e abençoada pelo Bispo de
Uberaba em um dia marcado por “solenes festejos” (10 de maio de 1931)62 —, que,
freqüentemente, era palco de quermesses e demais festas religiosas, como a Congada, realizada
anualmente em homenagem a São Benedito e a Nossa Senhora do Rosário, em uma ocasião
abençoada pelas preces dos devotos, colorida pelas vestimentas dos congadeiros e agitada pelo
som dos seus instrumentos de percussão, tais como: caixas, tambores, chocalhos, guizos, violas e
violões. Arantes deixou registrada em versos a movimentação festiva realizada pelos devotos de
N ª. Sª. do Rosário e São Benedito na praça em cujo entorno ele morava. Segundo o autor:
Na festa do Rosário
—também muito animada —
os negros que cantavam
dançando a Congada. (...). 63
61
DALBAS JÚNIOR. A festa no povoado. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 3, não paginado, maio 1939. APU.
CPJA.
62
A instalação daquela Igreja na Praça Ruy Barbosa reflete o preconceito racial das elites locais, pois conta-se que,
inicialmente, no final do século XIX, essa capela fora erguida no Largo do Rosário (atual praça Dr. Duarte) e, no ano
de 1891, um dos representantes da irmandade de Nossa Senhora do Rosário, Cel. Arlindo Teixeira, incomodado com
a origem social dos fiéis, solicitou autorização do Bispado para transferir a igreja para um terreno vago, distante de
sua residência, onde depois formou-se a praça Ruy Barbosa. (SILVA, Antônio Pereira da. As histórias de
Uberlândia. Uberlândia: Paulo Antônio, v. 1, [200-], p. 88).
63
ARANTES J., 1971a, op. cit., p. 11.
29
Nas primeiras décadas do século XX, nos dias em que não estava repleta de fiéis,
barraquinhas e congadeiros, aquela praça servia também como espaço para Arantes criar
galinhas, e o aglomerado destas aves tingia de branco a paisagem poeirenta, sendo motivo de
grande euforia entre a meninada.64 Espetáculo bucólico bem diferente do seu frenético cotidiano
na década de 1980, quando o seu entorno já denotava os sinais das transformações urbanas pelas
quais a cidade passava: arranha-céu, ruas asfaltadas, bares movimentados, casas comerciais,
cinema, motocicletas, automóveis e ônibus apressados espargindo fumaça. E em meio a tudo isso,
barulho, muito barulho: motoristas estressados acelerando rumorosos motores e buzinando por
quaisquer motivos; comerciantes afoitos anunciando suas mercadorias em alto-falantes ruidosos;
candidatos fazendo campanhas em carros de som escandalosos; betoneiras em plena atividade na
construção civil; silvos dos guardas de trânsito; clubes noturnos e boates cuja música executada
em volume excessivamente elevado extrapolava suas paredes indo de encontro ao descanso dos
vizinhos.65 Enfim, signos e sons da modernidade que se encontravam presentes em qualquer
centro urbano com mais de 100.000 habitantes, e Uberlândia, nessa época, já somava um total de
231.598 mil habitantes na zona urbana.66
No entanto, todo esse barulho, assim como o ritmo acelerado dos motores e a azáfama dos
pedestres, parecia não incomodar Arantes, um dos mais antigos moradores daquela praça. Este
era, ao contrário, um arauto entusiasmado das transformações pelas quais a cidade passava,
insistindo sempre em contá-las em seus livros, artigos e crônicas, cotejando passado e presente:
“As antigas ruas da cidade velha, na sua perene tranqüilidade, onde o arvoredo dava sombra de
suave frescor, são iluminadas agora pela luz branca das luminárias a vapor de mercúrio, vias de
intenso trânsito de veículos e pedestres, no labor cotidiano da cidade trepidante”.67
Com efeito, ele sabia como era a cidade velha, pois, embora tivesse nascido em Monte
Alegre/MG, em 23 de julho de 1892 — final do século que testemunhara importantes invenções,
dentre elas: o automóvel, o cinema e a fotografia, por exemplo —, mudou-se para Uberlândia em
64
ARANTES, D.: depoimento [maio 2000]. Entrevistador: Sandra Cristina F. de Lima. Uberlândia, 2000. 2 fitas
cassete (120 min), estéreo.
65
Segundo Schafer, ao longo da trajetória humana, o ruído sempre esteve associado ao poder, menos pelo simples
fato de que aqueles que o detém sempre puderam fazer o ruído mais alto e mais por terem sido revestidos da
autoridade para fazê-lo sem censura. (SCHAFER, R.M. A afinação do mundo. São Paulo: UNESP, 2001, p. 256-57).
66
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Secretaria Municipal de Planejamento. BDI: Banco de Dados Integrados.
Uberlândia, 1996, v. 1, p. 35. [Digitado]. APU.
67
ARANTES, J. Crônicas sociais. Uberlândia, 1977, p. 35. (Datilografado). Acervo Delvar Arantes.
30
1918. Tendo chegado ali logo nas primeiras décadas do século XX, foi lhe possível conhecer
tanto a parte “velha” quanto a “nova”, pois permaneceu nessa cidade até o início da década de
1980, mais precisamente, até 19 de maio de 1983, quando, vitimado por ataque cardíaco, sua
saúde, quase inabalável, não resistiu e ele então faleceu — era novamente final de outro século,
não menos importante em descobertas científicas do que o anterior no qual havia nascido, porém
matizadas, agora, por acontecimentos de caráter bastante violentos, como as duas grandes
Guerras, o nazismo, a revolução socialista, a guerra do Vietnã, enfim, o século dos “extremos”.68
Arantes atravessou o breve século XX e viveu a maior parte de sua longa trajetória em
Uberlândia, cidade que adotara como sua e para a qual reservava sempre dois carinhosos
adjetivos: “cidade encantadora” e “cidade bonita”. Ali, foi funcionário público, “educador,
professor exemplar e simpatizante da cultura”.69 Era um entusiasta da juventude, pois admirava a
mocidade, apreciava as festas, era alegre, comunicativo, brincalhão, não gostava de ir a enterros e
evitava assuntos fúnebres.70 Por isso, esquivava-se de um vizinho “agourento” que tinha por
hábito ir à sua casa comentar sobre a morte de conhecidos e parentes e também para vaticinar
sobre o dia em que chegaria o fim deles próprios. A presença desse pessimista lhe era
insuportável e, quando o encontrava na rua, sempre dava um jeito de mudar a direção, evadindo
do encontro sinistro que, por certo, lhe turvaria o dia. (Informação verbal).71 Afinal, a velhice
parecia não existir para Arantes, “... mas somente para o outro. E este outro é um opressor”72
que lhe atormentava com conversas indesejáveis.
Com efeito, a velhice, para ele, parecia não existir e, para afastá-la de si, ensinava aos
netos desde pequenos a chamarem-no de “paizinho”, evitando, com isso, o fatídico tratamento de
vovô, associado sobremaneira à senilidade.73 Ademais, para ele, a idade avançada não se
constituía em um período da vida que merecesse ser lembrado com freqüência e tampouco
68
HOBSBAWM, op. cit.
69
DINIZ, Cícero: depoimento [set. 2001]. Entrevistador: Sandra Cristina F. de Lima. Uberlândia, 2001. 1 fita cassete
(20 min), estéreo.
70
ARANTES, D.: depoimento [abr. 2001]. Entrevistador: Sandra Cristina F. de Lima. Uberlândia, 2001. 1 fita
cassete (60 min), estéreo.
71
Depoimento de Vera Regina Carrara Arantes sobre as memórias que conserva de seu avô, Jerônimo Arantes. Os
dados foram colhidos em 2001 por Sandra Cristina Fagundes de Lima.
72
CHAUÍ, Marilena de Souza. Os trabalhos da memória. In: BOSI, Ecléia. Memória e sociedade: Lembranças de
velhos. São Paulo: Cia das Letras, 1994, p. 19.
73
ARANTES, V., op. cit.
31
louvado. Em uma das lições elaboradas por Arantes, para compor a sua cartilha de alfabetização,
ele deixou transparecer sua hostilidade em relação ao envelhecimento:
Primeiro ele foi um pintinho. Piava todos os dias acompanhando sua boa mãe.
Cresceu ficou frango. Cresceu mais até ficar bem grande. Hoje ele é um galo. Sabe
cantar muito bem. Canta de madrugada e canta durante o dia. Vive sempre alegre.
Vive alegre porque é novo. Quando ele ficar velho, vai ficar feio e triste. Tudo no
mundo é assim.74
À primeira vista, o texto parece apenas uma ingênua história narrando a sucessão linear na
vida de uma ave. No entanto, não há como ignorar o tom rancoroso dirigido ao inexorável passar
dos anos que permanece subjacente às entrelinhas da fábula. Mas, afinal, por que enaltecer a
velhice, ou ocupar-se em demasia com ela? E para que falar em morte, uma vez que tinha saúde
“de ferro”, não se queixava de dores e parecia aspirar à vida eterna? E se não foi possível
eternizá-la, foi-lhe, no entanto, permitido vivê-la muito tempo sem transtornos físicos e mentais,
pois morreu, aos noventa anos, ainda lúcido e sem ter sofrido doença alguma que o tivesse
debilitado e/ou o impossibilitado para o trabalho — apresentava apenas um pequeno problema na
coluna vertebral do qual ele não se queixava, mas que o levou a dormir em rede, pois a cama
tornara-se-lhe incômoda.75
Portanto, o fato de ser nonagenário não se constituía em motivo para assumir a velhice
como impossibilidade para o trabalho, a diversão e, tampouco, deveria servir de pretexto para
mitigar-lhe a vaidade, haja vista que procurava apresentar-se elegantemente e, para tanto, não
abria mão do paletó verde, do terno bege, da gravata e do chapéu.76 Quando não estava usando
este, tomava as precauções necessárias para disfarçar a calvície, ora cobrindo a região central da
cabeça com os poucos fios que ainda lhe restavam nas laterais, ora disfarçando-a por meio do uso
de uma peruca, confeccionada por uma prima chamada Erotildes (Informação verbal).77 Sua
companheira desde os anos de mocidade, a acomia parece que lhe preocupava sobremaneira, haja
vista que encontramos uma foto sua na qual ele havia pintado fios de cabelo no espaço em que
estes começavam a lhe faltar.78 Vaidoso como era e, consequentemente, hostil ao
74
ARANTES, J. Cartilha brasileira. Uberlândia: Livraria Kosmos, 1938b, p. 50. Acervo Delvar Arantes.
75
ARANTES, D., [maio 2000], op. cit.
76
ARANTES, V., op. cit.
77
Depoimento de Paula Arantes sobre as memórias que conserva de seu tio, Jerônimo Arantes. Os dados foram
colhidos em jun. 2003 por Sandra Cristina Fagundes de Lima.
78
Figura 2 - Arantes aos 25.
32
De estatura baixa, abdome avantajado e óculos de aro redondo com lentes grossas,
ocultando-lhe os olhos muito pequenos e apertados, Arantes era presença freqüente no centro da
cidade, uma vez que não dispensava o passeio matinal, que sempre obedecia a um mesmo
itinerário: primeiro, uma passada na agência do correio, para despachar correspondência e
também para verificar o conteúdo da caixa postal; em seguida, dirigia-se até a prefeitura, a fim de
visitar amigos deixados no antigo local de trabalho e, também, visando buscar patrocínio para a
publicação de um livro acerca da história de Uberlândia;79 por fim, um pulo ao supermercado. No
lar, além de auxiliar na cozinha preparando as refeições, ele era encarregado de fazer as compras,
pois sua mulher, também idosa, já não tinha acuidade visual para sair à rua e orientava-se bem
apenas no interior da casa, quase centenária. Mas isso para ele não era um problema e
desempenhava essa tarefa sem reclamar, pois, no caminho, ia encontrando velhos amigos e
fazendo outros, uma vez que não dispensava uma prosa, sobretudo se esta fosse entabulada com
uma pessoa jovem.80 Conforme palavras de uma amiga: “... a jovialidade e mocidade é um
estado permanente em seu espírito afeito às belezas da vida e da natureza. Ele é tão jovem
quanto a sua fé, quanto ainda se produz sua fértil imaginação”.81
Em Arantes, esse espírito jovial, presente ainda no final da vida, parece guardar relação
com traços de uma personalidade extrovertida e alegre que marcou seus anos de mocidade,
vividos nas primeiras décadas do século XX. Nessa época, ainda era muito moço e festivo,
conforme ressaltou o orador do Rotary Clube de Uberlândia ao homenageá-lo na década de 1970:
“O adolescente Jerônimo, para aqui chegado [em Uberlândia] aos quinze anos, trazia n’alma,
tão somente o orvalho dos plenilúnios de maio das chapadas triangulinas e no coração a pureza
do moço que canta e que dança ...”.82
Esta mesma alegria também foi ressaltada por seu filho Delvar, que relatou o fato de seu
pai gostar muito de festas, fossem estas batizados, aniversários ou comemorações mais solenes,
como as formaturas de alunos e os eventos cívicos realizados pelas escolas locais. Ainda,
segundo Delvar, seu pai fora boêmio na juventude, fazendo parte, nas primeiras décadas do
século, de um grupo de violeiros, intitulado Grupo do Lenço Preto, executor de serenatas,
79
LUIZ Fernando. Adeus, professor Jerônimo. Correio de Uberlândia, Uberlândia, 21 maio 1983. 2°. Caderno, p.
12. APU.
80
ARANTES, V., op. cit.
81
ARANTES, Sebastiana. Traços genealógicos da família Arantes. Uberlândia, 18 abr. 1970, p. 3 (Datilografado).
Acervo Delvar Arantes.
82
ULHOA, Domingos Pimentel de. Merecida homenagem do Rotary Clube de Uberlândia. O Triângulo, Uberlândia,
[página não identificada], 10 jul. 1971. APU. CPJA. PT.
34
modinhas e catira.83 Das muitas apresentações daquele grupo musical Arantes recordou-se,
muitos anos depois, de uma em particular e escreveu uma crônica a qual denominou “aquela
inesquecível serenata”. O fato teria ocorrido no ano de 1915 quando:
... foi organizado pela classe caixeral o primeiro concurso para se eleger a 'miss
Uberabinha'. (...) Do galante programa comemorativo, constava uma cantata de
modinhas. A pedido de Juvenal Loureiro, abriu o recital os visitantes seresteiros
Felizardo Fontoura e Jerônimo Arantes, que duetaram ao som das cordas gementes do
violão a bonita modinha ....84
Do Grupo do Lenço Preto, Delvar lembra-se de fazer parte, além do aludido Felizardo
Fontoura, um alfaiate e um funcionário do Grande Hotel, instalado na cidade de Uberlândia. Os
ensaios eram realizados na casa do professor Arantes, mais especificamente, no cômodo
destinado às atividades de sua escola, nos dias e horários em que esta não estava funcionando. Os
músicos do referido Grupo não se limitavam às apresentações em ocasiões festivas, pois, como
resultado destas e também dos muitos ensaios realizados, gravaram, na cidade do Rio de Janeiro,
um disco de 78 rotações.85
Além da música, Arantes passava parte de seu tempo livre cuidando da sua criação de
galinhas e, nos meses de julho a setembro, divertia-se empinando papagaios com a criançada na
praça de fronte à qual morava, fato relembrado por amigos na década de 1970, quando, ao ser
homenageado pelo Rotary Clube de Uberlândia, o orador da solenidade referiu-se a esse seu
velho hábito: “Em 1959, [Jerônimo Arantes] aposenta-se com dignidade e respeito, mas com
tanta juventude que ainda pode empinar papagaios lá na sempre querida praça do Rosário”.86
83
Modinha: Inicialmente erudita, a modinha alcançou contornos populares no Brasil do século XIX, constituindo-se
com o tempo em um gênero muito apreciado por diversas camadas populares, isto é, por cantores de rua —
acompanhados por violão —, pianistas que ocupavam casas e saraus na segunda metade daquele século, tocando e
cantando essas canções que falavam sobretudo de amor. (ANDRADE, Mário de. Modinhas imperiais. São Paulo:
Casa Chiarato, 1930, p. 8).
Catira: Segundo definição de Ferreira, esta dança também conhecida como Cateretê, é mais conhecida no Brasil nos
estados do Sul e na região de Goiás, possui as seguintes características: “Dança rural, em fileiras opostas e cantada, e
cujo nome indica origem tupi, mas que coreograficamente se mostra muito influenciada pelos processos africanos de
dançar”. (CATERETÊ. In: FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário da língua portuguesa. 2 ed.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986, p. 369).
84
DALBAS JÚNIOR. Dias distantes: aquela inesquecível serenata. [Jornal não identificado]. 23 nov. 1974. APU.
CPJA. PT.
85
ARANTES, D., 2000, op. cit.
86
ULHOA, op. cit..
35
Mas não só de viola, papagaios e versos vivia Arantes. Sem outra fonte de renda a não ser
aquela proveniente do próprio trabalho, era preciso laborar para adquirir o sustento para si e para
a família. Para tanto, após instalar-se em Uberlândia, abriu em 1919, na própria residência, uma
escola primária, o Colégio Amor às Letras. Segundo ele, esta escola teria sido fundada: “ao
influxo de sadio idealismo de mestre, ainda no vigor da nossa esplendorosa mocidade”. O
Colégio Amor às Letras funcionou até 1933, quando seu proprietário, “a convite do prefeito
Lúcio Libânio, no regime ditatorial”, foi nomeado para ocupar a Inspetoria da Instrução Pública
Municipal, depois, em 1946, assumiu o cargo de chefe do Serviço de Educação e Saúde do
Município. Era, então, o início de uma longa carreira no serviço público, que só iria se encerrar
no ano de 1959, com a aposentadoria, após “10.183 dias de efetivo exercício”.90
87
A TRIBUNA falada. A Tribuna, Uberlândia, não paginado, 18 jun.1926. APU. CPJA.
A prática de mesclar “causos” com anedotas, sempre contados em dialeto caipira, já era empregada em São Paulo
desde a segunda metade da década de 1910. Recorrendo ao modelo sertanejo fundamentado nas tradições rurais
caipiras, e não nas nordestinas, como ocorria no Rio de Janeiro, essa prática foi inicialmente divulgada e
popularizada na cidade por Cornélio Pires por meio de palestras, peças teatrais, revistas, jornais, livros e discos.
Depois de ocupar espaço nas gravadoras, os “caipiras” ganharam os programas de rádio e as telas do cinema.
Censurados e perseguidos pela ditadura do Estado Novo, os caipiras, com o tempo estabeleceram uma relação
bastante ambígua com Vargas, pois, passado o período de perseguições, tiveram algumas canções liberadas e
cantavam no Catete para o presidente. (MORAES, José Geraldo V. Metrópole em sinfonia: história e música popular
na São Paulo dos anos 30. São Paulo: Estação Liberdade, 2000, p. 234-48).
88
ARANTES, J. Sem título. Triângulo de Minas, Uberlândia, não paginado, 01 mar. 1935. APU. CPJA.
89
ARANTES, J., 01 mar. 1935, op. cit.
90
ARANTES, J. Minha aposentadoria. Uberlândia: [s.n.], 1959a, p. 7; 16-17. Acervo Delvar Arantes.
36
Mas seu trabalho não se resumia no cargo ocupado na prefeitura e na escrita de seus livros
e artigos, pois Arantes cuidava pessoalmente da elaboração de sua Uberlândia Ilustrada e era
também colecionador de documentos relativos à história da cidade de Uberlândia. Quando estava
em casa, organizava a documentação que, gradativamente, ia se avolumando; nesses momentos,
separava os jornais, as fotografias, as revistas; recortava o que lhe parecia mais interessante,
montava pastas temáticas, datilografava legendas, assim como todos os demais escritos, em sua
antiga Remington, instrumento de trabalho indispensável em seu escritório.91 Em meio a tudo
isso, ainda encontrava tempo para receber as pessoas que o procuravam em busca de informações
acerca da história local.92
91
ARANTES, V., op. cit.
92
ARANTES, D., 2000, op. cit.
37
Além do trabalho na prefeitura municipal, ele foi nomeado, no ano de 1937, pelo Decreto
nº. 21, para fazer parte da comissão, não remunerada, que deveria organizar o serviço de
estatística e propaganda do município, cuja finalidade era demonstrar “...o valor e as
possibilidades do município, tornando conhecido o grau de adiantamento em que se encontram
todas as atividades, quer comerciais, industriais ou sociais...”.93 O resultado do primeiro
trabalho da referida comissão foi publicado em 1938 e consistia em um recenseamento da
população local e do número de residências existentes na cidade, ficando para depois o
levantamento da movimentação comercial, industrial e agro-pecuária.94
Um ano após formar essa comissão, foi criado o Diretório Municipal de Geografia —
órgão subordinado respectivamente ao Diretório Regional do Conselho no Estado de Minas
Gerais e ao Conselho Nacional de Geografia —, cuja presidência o prefeito Vasco Giffoni
assumiu, e para o qual Jerônimo Arantes foi designado como agente de estatística do município,
sendo nomeado secretário e suplente do presidente. Conforme publicou um jornal, as atribuições
desse Diretório eram as mesmas da Comissão formada anteriormente, quais sejam: “promover
um melhor conhecimento do território do município, quer de dos seus acidentes naturais (...),
quer das suas características humanas ...”.95
93
GIFFONI, Vasco. Prefeitura Municipal de Uberlândia: Decreto nº. 21. A Tribuna, Uberlândia, p. 02, 09 jun. 1937.
APU. CPJA.
94
RECENSAMENTO de Uberlândia. O Repórter, Uberlândia, não paginado, 22 maio 1938. APU.
95
CRIADO o Diretório Municipal de Geografia. O Repórter, Uberlândia, não paginado, 10 jul. 1938. APU.
96
MAGNÍFICA iniciativa. O Repórter, Uberlândia, não paginado, 3 abr. 1938. APU.
38
Conquanto tanto elogios, segundo depoimento de um de seus filhos, Arantes não era “um
apaixonado pela estatística”, não gostava de lidar com cálculos e tampouco tinha facilidade para
trabalhar com dados numéricos de qualquer espécie, em função disso, sempre que se fazia
necessário, requisitava-o para esta tarefa.98 Arantes gostava mesmo era de ocupar-se com
questões relacionadas à educação escolar e aos fatos do passado da cidade, pois ele “era
apaixonado pelo ensino e apaixonado pela cidade. Ele era louco com Uberlândia”.99 Esta última
preferência, por exemplo, ficou explícita em suas atividades à frente dos trabalhos realizados pelo
referido Diretório, em particular, em alguns documentos depositados em seu acervo, assinados
por ele, solicitando tanto a oficialização do nome de um fundador para a cidade, quanto novas
denominações para praças e ruas, alegando, para tanto, motivos históricos como justificativa para
as solicitações.100 Em um desses documentos, por exemplo, apresentou as seguintes
considerações:
97
A ÚLTIMA fase do censo local. A Tribuna, Uberlândia, não paginado, 08 mar. 1942. APU. CPJA.
98
ARANTES, D., 2001, op. cit.
99
ARANTES, D., 2000, op. cit.
100
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Diretório Municipal de Geografia e Estatística. [Ofício]. Uberlândia, 11
set. 1969. Ofício de Jerônimo Arantes ao Presidente da Câmara Municipal de Uberlândia sugerindo nova
denominação para ruas e praças da cidade. APU. CPJA. PT. / UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Diretório
Municipal de Geografia e Estatística. [Ofício]. Uberlândia, 06 jun. 1955. Ofício de Jerônimo Arantes ao Presidente e
demais membros da Câmara Municipal de Uberlândia sugerindo nova denominação para ruas e praças da cidade.
APU. CPJA. PT.
101
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Diretório Municipal de Geografia e Estatística. [Ofício]. Uberlândia, 09
ago. 1956. Ofício de Jerônimo Arantes ao Presidente e demais membros da Câmara Municipal de Uberlândia
sugerindo nova denominação para duas praças da cidade. APU. CPJA. PT.
39
Diretório de homenagear o primeiro jornal assim como o seu fundador, denominando dois
logradouros públicos com os nomes daqueles. Além disso, solicitava à “autoridade
administrativa” “...dar também publicidade oficial a uma resenha histórica sobre aquele
acontecimento, trabalho do mesmo Diretório”.102
Outro documento de teor análogo consiste na transcrição de uma palestra que Arantes
teria proferido em um programa veiculado pela Rádio Difusora. Nesta palestra, ele falara como
Secretário do Diretório Municipal de Geografia, e o tema abordado girou em torno do centenário
da criação do Distrito de Paz em São Pedro de Uberabinha (1852-1952). Em lugar dos números e
das estatísticas, o palestrante discorreu didaticamente sobre fatos, nomes, datas e documentos,
bem no estilo de sua vocação para professor e memorialista.103
Até aposentar-se em 1959, Arantes realizava essas atividades em meio à sua ocupação
principal: a educação, sobretudo a educação escolar. Nesta área, trabalhou tanto na esfera
particular quanto na pública municipal, em que atuou na escolarização das crianças, na
alfabetização de adultos e na fiscalização das escolas mantidas pela prefeitura. No princípio,
dedicou-se à docência no ensino primário particular, foi professor e proprietário de escola.
Posteriormente, ingressou no serviço público, em que fiscalizou e organizou os trabalhos
escolares no município, primeiramente, como inspetor municipal de ensino (1933-1946) e,
depois, como chefe do Serviço de Educação e Saúde do Município de Uberlândia (1946-1959).
No limiar da década de 1980, já fazia vários anos que deixara o magistério e que, por
conseguinte, fechara a sua escola; no entanto ainda era conhecido como professor, ofício que
exerceu desde 1907 até 1933, quando ingressou no serviço público. O seu comportamento parecia
reforçar a relação que se estabelecia entre ele e a docência, pois, mesmo contando com noventa
anos e já tendo se aposentado há mais de 20 anos, não perdia hábitos peculiares aos professores.
Nessa época, em um de seus passeios matinais, parou diante de um estabelecimento que
confeccionava placas de propaganda e cumprimentou o pintor de letras pela apropriação correta
102
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Diretório Municipal de Geografia e Estatística. [Ofício]. Uberlândia, 22
nov. 1947. Ofício de Jerônimo Arantes ao Prefeito Municipal sugerindo novas denominações para duas ruas da
cidade e também a publicação de uma resenha histórica sobre a imprensa. APU. CPJA. PT.
103
ARANTES, J. Centenário da criação do Distrito de Paz de São Pedro de Uberabinha (1852-1952). Texto da
palestra proferida pelo autor na Rádio Difusora Brasileira de Uberlândia, PRC6. Uberlândia, 21 maio 1952. APU.
CPJA. PT.
40
da língua portuguesa. Ao ler o anúncio pintado na placa, teria dito àquele: “Muito bem, Alugam-
se casas”. (Informação verbal).104
Essa intima relação com o ensino talvez encontre uma de suas explicações no fato de
Arantes ter começado a exercer a docência ainda muito jovem em Monte Alegre, sua cidade
natal, após ter concluído seus estudos primários no colégio Estadual e cursado a 4ª série ginasial
no Colégio Bandeira daquela cidade, cujo proprietário e professor, José Felix Bandeira, foi
homenageado por Arantes em sua Uberlândia Ilustrada no princípio da década de 1940:
“Professor de vasta cultura e perfeita vocação profissional, fez do livro o seu instrumento, com o
qual ganhou honestamente o sustento para os seus, até o dia que partiu deste mundo, findando
uma existência perene de benefícios”.105
Fiel ao seu antigo mestre, Arantes permaneceu em Monte Alegre até o final do ano de
1906 e, no ano seguinte, mudou-se para Uberlândia para acompanhá-lo, uma vez que sua escola,
o Colégio Bandeira, tinha sido transferida para aquela cidade. Após um período não determinado,
no qual deu aulas no referido colégio, Arantes deixou Uberlândia para fixar residência em
Itumbiara (município do estado Goiás, que faz divisa com Minas Gerais), onde, além de exercer a
docência na escola de sua propriedade, foi promotor de justiça no ano de 1917. Em visita àquela
localidade na década de 1970, Arantes assim se referiu ao período no qual o Colégio Amor às
Letras ali funcionou:
104
Informação de Enézio Rodrigues de Souza Filho sobre as memórias que conserva de Jerônimo Arantes, datadas
do final da década de 1970, período em que, por trabalhar na praça Rui Barbosa, via cotidianamente aquele
professor. Os dados foram colhidos em 2003 por Sandra Cristina Fagundes de Lima.
105
ARANTES, J. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 10, p. 11, jul. 1941. APU. CPJA.
106
ARANTES, J. Santa Rita que vi. Itumbiara que vejo. O Triângulo, Uberlândia, não paginado, 21 out. 1972. APU.
CPJA. PT.
107
ARANTES, J., 1959a, op. cit., p. 7.
41
providenciou para que outra, que já havia sido instalada em Itumbiara, fosse inaugurada: o
Colégio Amor às Letras, que funcionou até 1933. Ali, Arantes atuou tanto na administração
quanto na regência de suas salas de aula.
A escola fundada por Arantes incluía-se, portanto, nessa tendência privatista do ensino
que vigorou na região até os anos de 1940 — tendência que refletia, dentre outros fatores, o
desinteresse do Estado e a falta de verbas dos municípios para assumir a educação como uma de
suas atribuições —, com a ressalva, porém, de não ter sido essa escola de caráter confessional,
108
De acordo com Mello e Novais, no Brasil, o predomínio do ensino público sobre o privado só vai se acentuar na
década de 1960, quando: “O ensino de primeiro grau (os antigos primário e ginásio) (...) já era ministrado, pelos
estados e municípios, para cerca de 7,5 milhões de discentes, contra apenas os 860 mil dos colégios privados”.
(MELLO, João Manuel Cardoso de; NOVAIS, Fernando A. Capitalismo tardio e sociabilidade moderna. In:
SCHWARCZ, Lilia Moritz (Org.). História da vida privada no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, v. 4,
p. 594).
109
CARVALHO, Carlos Henrique de. e outros. Reflexões em torno da expansão escolar no Triângulo Mineiro. In:
Boletim CDHIS, Uberlândia, n. 22, ano 11, p. 5-7, 1º. semestre 1998, p. 6.
110
Segundo dados compilados pelo próprio Arantes, em Uberlândia, existiram, a partir do século XX, as seguintes
escolas particulares de ensino primário: Externato Carvalho, fundado em 1902 pelo professor João Basílio de
Carvalho; o Externato Carvalho de Brito, fundado em 1907 pelo professor Leôncio do Carmo Chaves e Colégio São
José, fundado em 1913 pela irmã Maria Marcelina. Além do Colégio São José, na década em que Arantes abriu a sua
escola, surgiram na cidade os seguintes estabelecimentos particulares, também de ensino primário: a Escola Rui
Barbosa, fundada em 1915 pela professora Juvenília Ferreira dos Santos; o Externato Violeta fundado em 1918, pela
professora Violeta Guimarães e o Instituto Fundamental, fundado em 1919 pela professora Margarida de Oliveira
Guimarães. (ARANTES, J. A luz das letras: 1935 — 1940. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 10, p. 7-8, jul. 1941.
APU. CPJA.).
42
como era o mais freqüente no período; pois, embora particular, o Amor às Letras caracterizava-se
por ser um estabelecimento de ensino laico.111
A escola do professor Arantes era pequena, instalada em prédio próprio — como muitas
outras espalhadas pelo país —, mais precisamente, em uma das salas localizada na parte da frente
da residência de seu proprietário.112 Em uma das visitas realizadas àquela escola, o funcionário
do serviço de inspeção registrou uma vaga descrição do referido prédio: “As aulas funcionam em
prédio pertencente ao citado diretor, amplo e com a metragem necessária”.113
Essas pequenas escolas, funcionando apenas em uma sala improvisada, muitas vezes,
contígua à casa do professor, constituíam-se no oposto do que a legislação educacional mineira
estipulava como critério para a construção dos grupos escolares desde a segunda década do
século XX. O Decreto n°. 3191, de 9 de junho de 1911, também denominado Regulamento
Bueno Brandão, especificou minuciosamente os aspectos que deveriam ser observados na
instalação física daqueles grupos, assim como forneceu detalhes acerca dos materiais didáticos
necessários para o seu funcionamento.114
111
“Percebe-se que o ensino privado predominou totalmente na região até 1908. Contudo, os números também
demonstram que, mesmo após o início da fundação de escolas estaduais em 1908, o ensino público não conseguiu
reverter o quadro na região senão a partir dos anos de 1940. Durante todo este longo período podemos inferir que a
formação educacional da elite do Triângulo Mineiro e adjacências esteve, em sua maior parte, nas mãos de interesses
particulares, notadamente católicos, uma vez que não encontramos, ainda, registro de alguma escola ligada a outro
credo religioso”. (INÁCIO FILHO, Geraldo. Escolas para mulheres no Triângulo Mineiro (1880-1960). In:
ARAÚJO, José Carlos S.; GATTI JÚNIOR, Décio (Orgs.). Novos temas em História da Educação Brasileira.
Campinas: Autores Associados, Uberlândia: EDUFU, 2002, p. 54).
112
ARANTES, D., 2000, op. cit.
113
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata do termo de visita realizada no dia 25 set. 1928. Uberlândia, 1928.
[Livro não identificado], p. 31. APU. CPJA. PT.
114
Apenas para ilustrar as diferenças entre o que a legislação previa para a construção desses grupos escolares e o
que a realidade mostrava sobre as escolas isoladas — em particular, o Colégio Amor às Letras —, reproduziremos
alguns aspectos relativos aos primeiros. Segundo Mourão, o referido Regulamento estabelecia que: “A construção
desses prédios deveria ser feita fora do alinhamento das ruas, inteiramente isolados de outros edifícios. O terreno
para a construção deveria ser seco e permeável e a área respectiva deveria ser de 1000 m². Além do edifício
principal, o prédio escolar deveria ter um jardim para estudo de Agricultura e Botânica e uma área nivelada, coberta,
macadamizada ou asfaltada, para ginástica e evoluções militares. (...) O prédio teria gabinetes, com aparelhos
sanitários, dois no mínimo para cada escola, (...). Nos grupos deveria haver um salão para museu e biblioteca; um
gabinete para o diretor, servindo também de sala de visitas, um salão para trabalhos manuais, além 4 a 12 salas de
aulas”. (MOURÃO, Paulo Krüger Corrêa. O ensino em Minas Gerais no tempo da República. Belo Horizonte:
Centro Regional de Pesquisas Educacionais de Minas Gerais, 1962, p. 192-93).
43
Esse primeiro grupo escolar instalado em Uberlândia obedeceu a muitos dos critérios
estipulados pelo regulamento Bueno Brandão, aludidos anteriormente. Foi construído em prédio
próprio, em uma vasta área localizada no centro da cidade, em frente a uma de suas praças
centrais. Além das salas de aulas, possuía um salão nobre para realização de eventos e
festividades escolares; contava com um diretor e com sete professoras; funcionava em dois
turnos, a saber, no período da manhã, o horário das aulas era das 7h às 11h e, no turno da tarde,
das 12h às 16h. No ano seguinte ao de sua inauguração, registrou um total de 787 crianças
matriculadas.117
115
FARIA FILHO, Luciano M. de; VIDAL, Diana G. Os tempos e os espaços escolares no processo de
institucionalização da escola primária no Brasil. Revista Brasileira de Educação, São Paulo, n. 14,
maio/jun./jul./ago. 2000, p. 27.
116
ARANTES J., 1971a, op. cit., p 9.
117
CARVALHO, Luciana B. de O. Bar. A configuração do Grupo Escolar Júlio Bueno Brandão no contexto
republicano (Uberabinha-MG, 1911-1929). 2002. Dissertação (Mestrado) — Faculdade de Educação, Universidade
Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2002, p. 61-63.
44
Além desses documentos, uma fotografia datada do ano de 1919 e tirada na parte externa
do colégio Amor às Letras, ou seja, no quintal da residência de Arantes, também serve como pista
para comprovar essa subvenção (Figura 3). A imagem retrata Arantes ao centro, apoiando o braço
esquerdo em um livro, ladeado por um grupo de alunos predominantemente pertencentes ao sexo
masculino, que também trazem em suas mãos um objeto que tanto pode ser livro quanto um
caderno. Embora se observe a pose altiva do professor, cuidadosamente trajado de terno e
gravata, e o esmerado cuidado no vestuário de alguns alunos, quatro crianças sentadas à frente
apresentam-se descalças, denotando ser provenientes de famílias pouco abastadas e, por
conseguinte, revelando a possível condição de alunos subvencionados.120
118
“Ilmº. srº. Professor Jerônimo Arantes (...) Dou abaixo os nomes dos alunos que, por conta da Câmara
freqüentaram o seu Colégio no ano próximo findo e que serão substituídos pelos que passo a indicar: (...). A
matricular mais por conta da Câmara ...”. (MARQUEZ, Eduardo. [carta]. Uberabinha, 15 jan. 1923. Carta do
presidente da Câmara Municipal de Uberlândia ao professor Jerônimo Arantes solicitando-lhe a matrícula no Colégio
Amor às Letras dos alunos subsidiados pelo legislativo. APU. CPJA. PT).
119
“Diz a abaixo assinada, viúva, paupérrima, residente nesta cidade, que necessitando dar instrução primária a seu
filho Geraldo, de 12 anos de idade, vem requerer a V. Exª. a matrícula do mesmo no Colégio Amor as Letras, desta
cidade, de que é professor o sr. Jerônimo Arantes, subvencionado pela municipalidade”. (CONCEIÇÃO, Miguela
Abadia da. [Requerimento]. Uberabinha, 10 fev. 1927. Requerimento expedido a Eduardo Marquez, presidente da
Câmara, solicitando-lhe o subsídio da matrícula de uma criança sem recursos financeiros no Colégio Amor às Letras.
APU. CPJA. PT).
120
Figura 1 - reproduzida na página seguinte.
45
A subvenção pública destinada aos estabelecimentos de ensino particulares era rotina nas
primeiras décadas do século XX. Sem recursos financeiros para abrir e ou manter escolas, o
Estado e, por vezes, os municípios destinavam parte de seus orçamentos ao pagamento de
matrícula e mensalidades de alunos carentes em escolas particulares. Tal prática era, no caso de
Minas Gerais, freqüente até o final dos anos de 1930. Na legislação educacional do Estado —
aprovada no início do século XX — constava, inclusive, dentre as atribuições dos inspetores
escolares, a responsabilidade de fiscalizar a aplicação da subvenção recebida pelas escolas
particulares e também a de selecionar escolas para receber tal benefício.121
121
MOURÃO, op. cit., p. 60.
46
Porém, a legislação que regulamentava tal prática determinava que essa subvenção só
poderia beneficiar a população estudantil de baixa renda e, sobretudo, aqueles que habitassem
cidades onde não houvesse vagas em estabelecimentos públicos de ensino. Três anos após a
proclamação da República, por exemplo, foi elaborada e sancionada uma lei com o objetivo de
reformar a instrução pública no estado de Minas Gerais, a Lei n°. 41 de 3 de agosto de 1892,
também conhecida como reforma Afonso Pena, além de reconhecer como válido o ensino
ministrado em alguns estabelecimentos particulares, estabelecia os seguintes critérios para sua
subvenção: Deveria ser “...escola primária particular, onde não houvesse pública;
estabelecimentos de ensino técnico; jardins de infância; asilos de cegos e surdos-mudos; escolas
de trabalhos manuais”.123
122
MOURÃO, op. cit., p. 204.
123
MOURÃO, op. cit., p. 29-30.
124
MOURÃO, op. cit., p. 323.
125
O documento que a especifica é o Regulamento do Ensino Primário, aprovado pelo Decreto n°. 7970-A, de 15 de
outubro de 1927. (MOURÃO, op. cit., p. 372).
47
126
COLLEGIO ‘Amor às Letras’. [Folder]. Uberabinha, s.d. APU. CPJA. PT.
127
O regulamento da reforma realizada na instrução pública em Minas Gerais durante o governo Júlio Bueno
Brandão, em junho de 1911, traçou as normas para o funcionamento desses cursos noturnos. A partir dessa reforma,
ficou estabelecido que as escolas noturnas seriam destinadas a adolescentes, ou mesmo a adultos que, em virtude de
trabalhar durante o dia, ficavam impossibilitados de freqüentar cursos diurnos. “Os seus programas, aprovados
conjuntamente com os dos grupos escolares e das escolas singulares, nada tinham, talvez, de específico, para a
finalidade. O regime desses cursos noturnos era o das escolas singulares, com quatro classes, que estudavam ao
mesmo tempo, cabendo ao professor, pela divisão das tarefas, mantê-las todas em atividade ao mesmo tempo. Só se
destinavam ao sexo masculino e poderiam ser instaladas desde que pudessem contar com a freqüência mínima de 30
alunos. As matérias de ensino eram: Língua Pátria, Aritmética, Geografia, Geometria e Desenho, Lições de Coisas.
As lições eram dadas apenas em 3 horas, todas as noites, com exceção do domingo”. (MOURÃO, op. cit., p. 211-
12).
128
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata do termo de visita realizada no dia10 [ilegível] 1919. Uberlândia,
1919. [Livro e página não identificados]. APU. CPJA. PT.
Esse horário de funcionamento do Colégio Amor às Letras aproximava-se daquele estipulado pela aludida reforma
realizada no ensino durante o governo de Júlio Bueno Brandão. De acordo o texto da lei, o início das aulas deveria se
dar às 11h. e o término às 15h. (MOURÃO, op. cit., p. 199).
129
“'Cada período de 10 ou 25 minutos, de acordo com o estado brasileiro, correspondia a uma aula e, portanto, a um
exercício. Aproximadamente a cada três aulas, efetuava-se uma pausa de 10 minutos, quando os alunos marchavam
no interior da sala. No meio do dia, fazia-se um recreio com duração de 30 minutos”. (FARIA FILHO, L. M. de;
VIDAL, D. G., op. cit., p. 25).
48
manhã, estudavam os alunos mais adiantados e, no da tarde, aqueles que se encontravam mais
atrasados.130 No entanto, a documentação consultada não fornece esse grau de detalhamento.
No que diz respeito à quantidade de alunos, os dados revelam que, embora não contando
com prédio próprio, funcionando, portanto, na residência de Arantes, a escola possuía um número
razoável de alunos para uma cidade que, além de localizar-se no interior do estado, distante, pois,
da capital e de outros grandes centros, tinha dimensões reduzidas, com uma população estimada
em apenas 5.453 habitantes no ano de 1920, 6.783 habitantes em 1925 e 9.560 habitantes em
1932.133
130
ARANTES, D., 2000, op. cit.
131
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Atas dos termos de visitas realizadas nos dias 29 jan.1924; 18 fev. 1924;
25 mar. 1924; 02 maio 1924; 16 jun. 1924; 12 ago. 1924; 26 ago. 1924; 17 set. 1924; 27 set. 1924; 15 out. 1924; 10
fev. 1925; 24 mar. 1925; 27 abr. 1925; 22 maio 1925; 27 jun. 1925; 23 jul. 1925; 27 jul. 1925; 28 ago. 1925; 29 set.
1925; 29 out. 1925; 30 nov. 1925; 23 fev. 1926; 25 mar. 1926; 27 mar. 1926; 28 maio 1926; 19 jun. 1926; 28 jul.
1926; 12 ago. 1926; 23 set. 1926; 28 out. 1926; 25 fev. 1927; 31 mar. 1927. Uberlândia, 1924-1927. [Livros e
páginas não identificados]. APU. CPJA. PT.
132
O regulamento da reforma de Júlio Bueno Brandão traçou as normas para o funcionamento desses cursos
noturnos. A partir dessa reforma, ficou estabelecido que as escolas noturnas seriam destinadas a adolescentes, ou
mesmo a adultos, que, em virtude de trabalhar durante o dia, ficavam impossibilitados de freqüentar cursos diurnos.
“Os seus programas, aprovados conjuntamente com os dos grupos escolares e das escolas singulares, nada tinham,
talvez, de específico, para a finalidade. O regime desses cursos noturnos era o das escolas singulares, com quatro
classes, que estudavam ao mesmo tempo, cabendo aso professor, pela divisão das tarefas, mantê-las todas em
atividade ao mesmo tempo. As matérias de ensino eram: Língua Pátria, Aritmética, Geografia, Geometria e Desenho,
Lições de Coisas. As lições eram dadas apenas em 3 horas, todas as noites, com exceção do domingo”. (MOURÃO,
op. cit., p. 211-212).
133
FLEURY, Othon. Efetivo predial e população da cidade de Uberlândia. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 4, p.
27, jul. 1939. APU. CPJA.
134
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata de exame realizado no dia 19 nov. 1926. Uberabinha, 1926. [Livro
não identificado], p. 30. APU. CPJA. PT.
49
dados mais precisos e, por intermédio deles, ficamos sabendo que, em 1928, existiam 119
matriculados na referida escola e, um ano depois, em 1929, o número de matrículas decresceu,
atingindo um total de 80 alunos.135 No entanto, ainda assim, a referida escola continuou sendo
caracterizada por contar com uma freqüência regular, apresentando números semelhantes aos de
outras instituições particulares de ensino primário existentes em Uberlândia no início da década
de 1930, como, por exemplo, o Colégio São José, que possuía, no mesmo período, 72 alunos
matriculados, e o Lyceu, que contava com 67 alunos.136
Com relação à freqüência no curso noturno, observamos que, no ano de 1924, foi grande a
evasão escolar, haja vista que a média de alunos presentes nos primeiros meses de 1924, para
uma matrícula de 62 pessoas, girava em torno de aproximadamente 30 alunos. Ao se aproximar o
final do mesmo ano, a situação agravou-se, tornando-se, inclusive, mais severas as críticas do
inspetor, pois, em visita à escola no dia 27 de setembro de 1924, ele verificou a presença de
apenas 9 alunos.137 Em outubro do mesmo ano, após examinar a freqüência e constatar uma
queda no seu índice para apenas 13 alunos, quando já havia sido registrada, em meses anteriores,
a presença de 30 alunos, o inspetor decretou o fechamento da escola a partir do semestre
subseqüente, seguido de uma nota de protesto pela falta de interesse da comunidade estudantil em
prestigiar o empenho com que o poder público municipal vinha investindo na educação escolar.
135
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata do termo de visita realizada no dia 25 set. 1928. Uberlândia, 1928.
[Livro não identificado], p. 31. APU. CPJA. PT. / UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata do termo de visita
realizada no dia 30 abr. 1929. Uberlândia, 1929. [Livro e página não identificados]. APU. CPJA. PT.
136
A VIDA escolar em Uberlândia. A Tribuna, Uberlândia, não paginado, 11 maio 1930. APU. CPJA.
137
Conforme seu relatório, nos dias anteriores, os números tinham sido respectivamente: “dia 18, quatorze alunos;
dia 19, quinze alunos; dia 20, a professora não deu aula por não terem vindo os alunos; (...) dia 22, quinze alunos; dia
23, dezessete alunos; dia 24, treze alunos; dia 25, quatorze alunos; dia 26, dezesseis alunos; dia 27, nove alunos; tudo
isto denota má vontade dos alunos para o estudo”. (UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata do termo de visita
realizada no dia 27 set. 1924. Uberlândia, 1924. [Livro e página não identificados]. APU. CPJA. PT).
138
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata do termo de visita realizada no dia 31 out. 1924. Uberabinha, 1924.
[Livro e página não identificados]. APU. CPJA. PT.
50
A baixa freqüência registrada entre os alunos era um problema recorrente nas escolas
durante as primeiras décadas do século XIX e não se restringia às escolas instaladas em
Uberlândia, mas, ao contrário, perpassava quase todo o país, conforme atestam Faria Filho e
Vidal: “A freqüência, por sinal, se ao longo do ano era pura ‘fantasia’ para alguns, (...), em
meses como dezembro, mês de festas, era mais fantasiosa ainda. Mas contra isso muito pouco
pôde fazer a escola, que, paulatinamente, foi deixando de funcionar no último mês do ano”.139
No caso específico dos cursos noturnos, a legislação mineira estipulava um total mínimo de 30
alunos para manter tais escolas.140
Esse número deve ter satisfeito às expectativas do inspetor, pois, em seus relatórios,
deixou de anotar as preocupações oriundas da evasão e durante todo o ano, ainda que não
fornecesse dados relativos ao programa de ensino ministrado, ressaltava o bom aproveitamento
dos alunos, assim como a dedicação do professor Arantes. Em uma de suas visitas, registrou a
seguinte observação:
Desta vez, como das demais, encontrei o professor em seus afazer de lecionar e notei a
grande atenção que lhe prestavam os alunos, bem como o estado de adiantamento de
todos eles. O ensino está bem desenvolvido pelo professor, o que indica que os alunos
estão em adiantamento.141
139
FARIA FILHO, L. M. de; VIDAL, D. G. op. cit., p. 27.
140
MOURÃO, op. cit., p. 212.
141
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata do termo de visita realizada no dia 22 maio 1925. Uberabinha, 1925.
[Livro e página não identificados]. APU. CPJA. PT.
51
conseguinte, com o aproveitamento satisfatório apresentado pelos alunos, fato que poderia
resultar em um bom desempenho nos exames finais, cumprindo, assim, o objetivo da
administração escolar. Segundo seu relatório: “...tive a oportunidade de verificar o adiantamento
dos alunos, devido aos esforços do professor, o que denota haverá bons resultados nos exames
finais; (...), pois, o professor trabalha com afinco e se esmera em ensinar”.142
Conquanto destinado a alunos dos dois sexos, predominava no Colégio Amor às Letras a
matrícula de meninos. Do total de 80 alunos registrados naquela escola em 1929, 60 eram do
sexo masculino e apenas 11 do sexo feminino.143 Em 1930, embora tenha diminuído o total de
alunos matriculados, observou-se a mesma predominância do sexo masculino, que somava 51
alunos, para apenas 9 do sexo feminino.144 O número maior de matrícula de alunos pertencentes
ao sexo masculino constituía-se em uma característica das instituições escolares noturnas
espalhadas por todo o país, sobretudo, aquelas que ofereciam os cursos técnicos. A própria
legislação que regulamentava o ensino no estado de Minas Gerais estabelecia que esses cursos
noturnos destinavam-se à população masculina, com idade oscilando entre 16 a 40 anos, que não
havia freqüentado a escola durante a infância.145
142
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata do termo de visita realizada no dia 23 set. 1926. Uberabinha, 1926.
[Livro e página não identificados]. APU. CPJA. PT.
143
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata do termo de visita realizada no dia 30 abr. 1928. Uberabinha, 1928.
[Livro e página não identificados]. APU. CPJA. PT. O documento consultado apresenta um problema relacionado ao
número total de alunos, pois somando os 60 meninos com as 11 meninas não se atinge o total de 80 alunos. No
entanto, esta Ata foi indicada como fonte por fornecer, ainda que de forma imprecisa, um quadro relativo à questão
de gênero existente no ambiente escolar de um dos colégios instalados na cidade de Uberlândia na década de 1920.
144
A VIDA escolar em Uberlândia, op. cit.
145
MOURÃO, op. cit., p. 195; 212.
146
RIBEIRO, Arilda Ines M. Mulheres educadas na Colônia. In: LOPES, Eliane M. T.; FARIA FILHO, Luciano M.;
VEIGA, Cynthia G. (orgs.). 500 anos de educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2000, p. 78.
52
preparatórios para as atividades agrícolas e/ou comerciais até as primeiras décadas do século XX,
quando predominavam alunos do sexo masculino. Esse era, por exemplo, o caso Lyceu de
Uberlândia, que, no ano de 1930, dos 67 alunos matriculados 63 eram do sexo masculino e
apenas 4 do feminino.147
No que concerne ao currículo do curso diurno oferecido pelo Colégio Amor às Letras, a
documentação não traz detalhes acerca do elenco de disciplinas existentes. Por exemplo, com
relação ao primeiro ano, o documento refere-se apenas à existência de Aritmética. No entanto,
outras disciplinas deveriam ser obrigatoriamente ministradas, uma vez que a reforma estadual,
implementada na educação em Minas Gerais no ano de 1906, prescrevia para o programa de
ensino primário as seguintes disciplinas: Leitura, Escrita, Língua Pátria, Aritmética, Geografia,
História do Brasil, Instrução Moral e Cívica, Geometria e Desenho, História Natural, Física e
Higiene, Trabalhos Manuais e Exercícios Físicos.148 Com relação ao segundo ano, o livro de ata
em que se registrou o termo de visita forneceu mais detalhes, e verificamos que constavam as
seguintes disciplinas: Francês, Aritmética, Geometria Prática, Geografia, História Natural e do
Brasil.149
147
A VIDA escolar em Uberlândia, op. cit.
Deve-se, no entanto, observar que nas escolas primárias de Uberlândia esta estatística invertia-se, conforme atestam
os dados apresentados a seguir.
ESTATÍSTICA DE MATRÍCULA POR SEXO
Estabelecimento Sexo masculino Sexo feminino Total de matriculados
Escola Normal 50 150 200
Externato Dr. Duarte 50 70 120
Colégio São José 28 44 72
Escola Ruy Barbosa 10 08 18
Grupo Escolar Bueno Brandão 550 580 1.130
Sub – Total 688 852 1.540
FONTE: A VIDA escolar em Uberlândia, op. cit.
148
FARIA FILHO, Luciano M. de; VAGO, Tarcísio M. Entre relógios e tradições: elementos para uma história do
processo de escolarização em Minas Gerais. In: VIDAL, Diana G.; HILSDORF, Maria Lúcia S. Brasil 500 anos:
Tópicas em História da Educação. São Paulo: EDUSP, 2001, p. 124.
149
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal, 10 [ilegível] 1919, op. cit.
53
Ademais, essa grade curricular constante da peça O pimenta aproxima-se muito daquela
estipulada em 1892 pela Reforma Afonso Pena para as escolas urbanas em Minas Gerais, que
deveria compreender: Leitura, Escrita, Língua Pátria, Aritmética, Instrução Moral e Cívica,
Noções de Agricultura; Higiene, Trabalhos de Agulha (apenas para o sexo feminino), Geografia
(Geral, do Brasil e do estado de Minas), História de Minas, Ciências Físicas e Naturais.151 Esse
elenco de disciplinas também se correlaciona com aquele que passou a vigorar a partir de 1892
nas escolas preliminares do estado de São Paulo. Segundo Souza, as disciplinas estabelecidas
para o curso primário, a partir de então, possuíam um caráter marcadamente científico e uma boa
dosagem de conteúdo moral.152
No curso noturno, eram oferecidas as seguintes disciplinas aos alunos do primeiro ano:
Leitura, Escrita, Língua Pátria, Aritmética e Educação Moral e Cívica. No segundo e terceiro
anos, essa lista ampliava-se: Leitura, Escrita, Língua Pátria, Aritmética e Geografia eram aquelas
oferecidas no segundo ano, e, no terceiro, os alunos tinham Leitura, Escrita, Língua Pátria,
Aritmética, Geografia, História do Brasil e Agricultura.
Não encontramos registro, seja em diários seja em relatórios, que nos permitissem aferir
quais eram os conteúdos trabalhados naquelas disciplinas oferecidas ao longo do período em que
a referida escola esteve em atividade. Entretanto, analisando alguns exames aplicados aos alunos
na primeira, segunda e terceira séries no final de 1925153 — ano em que o professor Arantes
assumiu a regência da classe noturna —, constatamos que, pelo menos naquele período, os
conteúdos avaliados nas disciplinas buscavam uma aproximação com a realidade dos alunos, em
150
DALBAS JUNIOR. O pimenta. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 6, p. 31, jul. 1940. APU. CPJA.
151
MOURÃO, op. cit., p. 28.
152
SOUZA apud: FARIA FILHO; VIDAL, op. cit., p. 27.
153
Anexo I. Inventário da Coleção Professor Jerônimo Arantes. Arquivo Público.
54
geral, oriundos da classe trabalhadora, conforme um artigo de jornal publicado na década de 1920
a propósito do início das aulas noturnas da escola municipal. O referido texto, ao convidar a
população a se matricular, mencionou a origem social de alguns alunos a quem se destinava a
escola noturna: “É necessário que a classe caixeral, os operários, os carroceiros, os empregados
municipais ou de fábrica, todos, enfim, se capacitem ...”.154 Além desse documento, em alguns
termos de visita do Colégio Amor às Letras, há menções acerca da origem social desses alunos
que possibilitam inferir que eram, na sua maioria, trabalhadores. Há, por exemplo, uma referência
ao fato de os alunos se atrasarem para as aulas em virtude de estas se iniciarem às 18h, quando
muitos deles ainda estavam saindo do trabalho.
Não foi possível apreender o conteúdo que era exigido em Leitura nas três séries, pois,
nos exames, consta apenas a média obtida pelo aluno.155 A Escrita constava de um pequeno
ditado no primeiro e no terceiro ano; no segundo, era exigido do aluno copiar três frases que já
vinham impressas no exame.156 No que se refere à Língua Pátria, era solicitado aos alunos do
primeiro ano formar sentenças com alguns substantivos; no segundo ano, pedia-se para escrever
corretamente uma frase repleta de erros, localizando os verbos e os substantivos; para o terceiro
ano, aumentava-se o grau de dificuldade, pois, além de corrigir uma frase, os alunos deveriam
redigir um recibo, um requerimento e também uma carta.
154
A ESCOLA municipal. A Tribuna, Uberabinha, não paginado, 29 jul. 1923. APU. CPJA.
155
No ano de 1925, entraram em vigor algumas instruções (aprovadas pelo Decreto 6758 de 1 de janeiro de 1925)
visando à organização dos programas de ensino a ser aplicados pelos grupos escolares e demais escolas primárias do
estado de Minas Gerais. No Anexo II (Programa Proposto para Leitura nas Escolas Primárias do Estado de Minas
Gerais), encontra-se o detalhamento das atividades propostas no programa de Leitura e que, possivelmente, eram
contempladas por Arantes em sua Escola.
156
Tanto o conteúdo ministrado em Leitura quanto aquele abordado pela Escrita passaram por transformações a
partir das décadas de 1920 e 1930, com o advento das mudanças engendradas pelos educadores ligados ao
movimento da Escola Nova. Conforme salienta Vidal: “Da mesma maneira que a escrita, a escolarização da leitura
repousou num movimento de impregnação das práticas culturais e sociais historicamente constituídas”. (VIDAL,
Diana Gonçalves. Escola Nova e processo educativo: In: LOPES, Eliane Marta Teixeira; FARIA FILHO, Luciano
Mendes; VEIGA, Cynthia Greive (Orgs.). 500 anos de educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, p. 504).
55
157
UBERABINHA. Prefeitura Municipal. Escola Municipal de Uberabinha (noturna). Provas de exame do aluno -
2º. Ano. Uberabinha, dez. 1925. APU. CPJA. PT.
158
UBERABINHA. Prefeitura Municipal. Escola Municipal de Uberabinha (noturna). Provas de exame do aluno -
3º. Ano. Uberabinha, dez. 1925. APU. CPJA. PT.
159
UBERABINHA, 2º. Ano, dez. 1925, op. cit.
56
plantio e colheita do feijão, milho, arroz, cana-de-açúcar, batata, mandioca, algodão. Outras
abordavam aspectos ligados à agropecuária, tais como: local onde se criavam aves, gado bovino,
suíno, caprino e outros. Por fim, no exame de Agricultura, havia também um terceiro grupo de
perguntas que incidiam sobre a economia do município, por meio das quais se exploravam
noções de exportação, importação e indagava-se acerca dos países com os quais o Brasil
mantinha comércio.160
Essas instruções, por sua vez, parecem fundamentar-se em uma proposta de reforma
curricular de âmbito nacional que lhe foi bem anterior, qual seja, os “Pareceres de Rui Barbosa
acerca da Reforma do Ensino Primário e das Várias Instituições Complementares da Instrução
Pública”, elaborados em 1883. Souza localiza, nesse documento, uma das referências para se
refletir sobre as propostas curriculares alternativas ao ensino literário predominante nos meios
educacionais brasileiros no final do século XIX e a adoção de conteúdos que se harmonizassem
com as necessidades educacionais existentes entre as camadas populares.161
160
UBERABINHA, 3º. Ano, dez. 1925, op. cit.
161
Deve-se ressaltar que: “A ampliação do programa com a introdução de novos saberes objetivando desenvolver a
educação física, intelectual e moral significou para as camadas populares maiores oportunidades de acesso à cultura.
No entanto, esse saber enciclopédico sumário tinha um caráter de classe e compreendia a cultura disponibilizada para
a instrução popular”. (SOUZA, Rosa F. de. Inovação educacional no século XIX: A construção do currículo da
escola primária no Brasil. Cadernos Cedes, São Paulo, n. 51, p. 24, nov. 2000).
57
O possível diálogo entre o conteúdo das provas aplicadas no Colégio Amor às Letras e as
propostas que fazem parte do referido parecer evidencia-se em todas as disciplinas avaliadas.
Segundo Souza, dentre outras questões, os Pareceres de Rui Barbosa continham uma proposição
de que o ensino de História deveria se deter nos aspectos relacionados à história local, com ênfase
na pátria. No caso da Geografia, por exemplo, o parecer sugeria que o conhecimento deveria
partir daquilo que estava mais próximo do aluno – a escola, o bairro etc. – para, depois, ampliar o
seu raio de visão, oferecendo-lhe informações acerca do que se encontrava mais afastado. Havia,
inclusive, como complemento de ambas as disciplinas, propostas para ministrar rudimentos de
Economia Política, cujo conteúdo deveria abranger noções relativas à riqueza, sua produção,
distribuição e demais características. Da mesma forma, os conteúdos avaliados por Arantes no
que diz respeito ao ensino da Educação Moral e Cívica também podem ser cotejados com as
propostas constantes no referido Parecer. Essas propostas alertavam o professor para o fato de
que essa disciplina deveria possibilitar:
Um dos desdobramentos dessa renovação curricular proposta por Rui Barbosa pode ser
localizado na tentativa de regionalização do ensino. Segundo Nagle, durante a primeira
República, circulou, nos meios educacionais brasileiros, um conjunto de orientações de
reformulação curricular que ficou conhecido como regionalização do ensino. Na sua base,
situava-se a preocupação em diversificar a escola com vistas a atender as particularidades
regionais, tornando o ensino mais dinâmico, “mais vivo”. Para tanto, fazia-se necessário ministrar
conteúdos que tivessem aproximação tanto com as experiências vivenciadas pelas crianças
quanto com a realidade sócio-cultural do meio social mais imediato.163
Nesse sentido, ao incluir as questões relativas à história local, ao relevo da região e aos
aspectos políticos locais, as avaliações aplicadas no Colégio Amor às Letras demonstram uma
certa familiaridade tanto com a proposta de Rui Barbosa quanto com os seus desdobramentos,
que se consubstanciaram nos preceitos da regionalização do ensino e nos programas curriculares
162
SOUZA, R. F. de, op. cit., p. 24.
163
NAGLE, Jorge. Educação e sociedade na primeira República. Rio de Janeiro: DP&A, 2001, p. 302.
58
defendidos pelos renovadores do ensino, a partir das décadas de 1920 e 1930, pois, ao contrário
do que convencionou uma dada vertente de análise acerca dos pressupostos da Escola Nova, este
movimento não pode ser confundido com um predomínio da Psicologia e com o conseqüente
emprego de seus conceitos em detrimento de preocupações acerca dos programas curriculares.164
Na sua escola, além daquelas disciplinas, o professor Arantes proporcionava aos alunos
uma iniciação ao teatro, pois escrevia textos para serem encenados por eles, sob a sua direção.
Parece que valorizava sobremaneira essa arte, apostando nos seus frutos não apenas como mais
um recurso didático, mas também como possibilidade de formação para os alunos que a
experimentavam, conforme se depreende de uma das lições referentes ao teatro infantil presentes
no livro Minha escola modelo, no qual salienta que: “A diretora diz sempre, que o teatro é
também uma escola onde muito se aprende”.165
Segundo Delvar Arantes, na escola de seu pai, os teatros — ou “teatrinhos”, como ele
denominou — eram realizados, principalmente, nos cursos noturnos, pois estes eram
freqüentados por alunos adultos, na sua maioria, trabalhadores, que precisavam de muito, muito
estímulo para permanecerem na sala de aula depois de um longo e estafante dia de trabalho.
Parece que essa estratégia didática era mesmo eficaz para cativar os estudantes, pois mesmo após
deixarem o curso noturno, alguns egressos da escola de Arantes ainda continuavam atuando nas
peças montadas pelo ex-professor.166
Alguns anos depois de ter fechado a sua escola, Arantes ainda apreciava esse tipo de
trabalho como recurso pedagógico, pois, em 1949, quando já era chefe do Serviço de Educação e
Saúde do Município, ao inspecionar a realização dos exames finais na Escola Pública Municipal
de Dourados (zona rural), registrou em ata as atividades desenvolvidas naquele dia e ressaltou a
representação de algumas cenas teatrais pelos alunos: “Em complemento aos trabalhos foi
164
De acordo com a análise efetuada por Cunha: “A Psicologia, embora uma das ciências básicas da Escola Nova,
(...) não constitui, isoladamente das ciências sociais, o cerne do pensamento escolanovista. A Psicologia fornece os
meios necessários para que a escola renovada investigue melhor as características infantis e seja um local capaz de
realizar plenamente os atributos de cada indivíduo. Mas a investigação desses atributos e o respeito à personalidade e
ao pleno desenvolvimento da criança não são tidos como fins em si, mas sim como instrumentos para a construção
de um projeto de sociedade. É de modo coerente com esse pensamento que os escolanovistas se recusam a colocar
em plano secundário os conteúdos das matérias, contidos nos programas de ensino”. (CUNHA, Marcus Vinicius da.
A educação dos educadores. Da Escola Nova à escola de hoje. Campinas: Mercado de Letras, 1995, p. 41).
165
ARANTES, J. Minha escola modelo. Uberlândia: Livraria Kosmos, 1938d, p. 20. Acervo Delvar Arantes.
166
ARANTES, D., 2001, op. cit.
59
representado pelo conjunto das classes um variado programa de poesias e cenas diversas com
bastante conhecimento por parte dos alunos da difícil arte do teatro”.167
Ao que indica o livro Minha escola modelo, o conteúdo das peças encenadas deveria ter
um objetivo pedagógico, tratando sempre de assuntos de conotação moral e instrutiva.168 Não
encontramos registros que informassem quais eram os textos encenados pelos alunos no Colégio
Amor às Letras; contudo, nas revistas Triângulo de Minas e Uberlândia Ilustrada, foram
publicadas três peças de autoria de Arantes, por meio das quais é possível apreender algumas das
temáticas abordadas, e uma vez que eram mencionadas como proposta de conteúdo curricular, a
compreensão delas é relevante para se aproximar dos pressupostos de ensino e de sociedade
subjacentes ao pensamento de Arantes.169
A segunda peça, O Pimenta, consiste em uma comédia infantil e aborda uma situação
vivenciada por dois estudantes, em véspera de exames escolares, envoltos com as peraltices de
um criado da casa, de cor negra, analfabeto e muito levado. Percebendo que os primeiros
estudavam para uma prova, o criado se põe a fazer estrepolias de forma a desconcentrá-los e
impedir que se preparassem para o exame do dia seguinte.171
167
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata de exames realizados no dia 19 out. 1949. Uberlândia, 1949. Livro
101, p. 27. APU. ARE.
168
ARANTES, J., 1938d, op. cit., p. 20.
169
Conforme ressaltaram Antônio F. Moreira e Tomaz T. da Silva: “O currículo não é um elemento inocente e neutro
de transmissão desinteressada do conhecimento social. O currículo está implicado em relações de poder, o currículo
transmite visões sociais particulares e interessadas, o currículo produz identidades individuais e sociais particulares.
O currículo não é um elemento transcendente e atemporal — ele tem uma história, vinculada a formas específicas e
contingentes de organização da sociedade e da educação”. (MOREIRA, Antônio Flávio B.; SILVA Tomaz T. da.
Sociologia e teoria crítica do currículo: uma introdução. In: MOREIRA, A. F. B.; SILVA T. T. da (Orgs.). Currículo,
cultura e sociedade. São Paulo: Cortez, 2002, p. 7-8).
170
ARANTES, J. Comédia em um ato. Triângulo de Minas, Uberlândia, n. 2, não paginado, jun. 1935. APU. CPJA.
171
DALBAS JUNIOR, jul. 1940, op. cit.
60
E, por fim, a terceira peça, intitulada O casamento do Tião, tem como enredo a cerimônia
de matrimônio — realizada no civil — de um casal de origem do meio rural. A situação retratada
na peça aborda o constrangimento deste casal, de costumes toscos e vocabulário parco, frente à
polidez inerente ao comportamento do juiz de paz que realizava a cerimônia de casamento de
ambos. Este era, aos olhos dos camponeses, educado e excessivamente formal.172
172
ARANTES, J. O casamento caipira. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, p. 29-32, dez. 1946. APU. CPJA.
173
GIROUX, Henry; SIMON, Roger. Cultura popular e pedagogia crítica: a vida cotidiana como base para o
conhecimento. In: MOREIRA, A. F. B.; SILVA T. T. da (Orgs.). Currículo, cultura e sociedade. São Paulo: Cortez,
2002, p. 104.
61
Alice Paes, servia também como material didático, uma vez que a referida inspetora afirmou ter
interrogado os alunos a seu respeito, “obtendo dos argüidos ótimas respostas”.174
No que concerne ao museu, o documento não traz nenhum dado que possibilite precisar
quais eram as suas características. No entanto, informações de depoentes, bem como a data
constante em alguns documentos depositados no acervo colecionado por Arantes, permitem
inferir que esse museu era constituído por jornais, revistas, fotos, mapas e, possivelmente, outros
documentos relativos à história da cidade e do Brasil.
Como havia na escola noções de Ciências Naturais, infere-se que esse museu também
contava com vegetação e insetos que poderiam constituir-se em objeto de estudo referente aos
conteúdos daquela disciplina. A legislação educacional mineira alude ao museu de ciências
naturais ao tratar do programa estipulado para o ensino primário no ano de 1906. De acordo com
o Decreto 1947, de 30 de setembro de 1906, o Museu Escolar deveria inscrever-se no âmbito das
disciplinas obrigatórias no ensino primário.175 No ano seguinte, o Decreto n°. 1969, de 3 de
janeiro de 1907, que aprovou o Regimento Interno dos Grupos Escolares e Escolas Isoladas no
estado de Minas Gerais, regulamentou a organização desses museus, estabelecendo que eles
deveriam ser de História e História Natural e também que a sua confecção, organização e
manutenção deveriam ser feitas pelos alunos “mais adiantados”, sob a orientação do professor,
fora do horário das aulas.176
174
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata do termo de visita realizada no dia 30 out. 1928. Uberlândia, 1928.
[Livro e página não identificados]. APU. CPJA. PT.
175
Eram estipulados os seguintes critérios para o funcionamento desses museus: “No ensino de Geografia, História
do Brasil, História natural, Física, etc., os professores terão, muitas vezes, necessidade de apresentar aos seus alunos,
como exemplo ou provas, coisas e objetos de que trata a lição. Para isso, deverão, com o material fornecido pelo
governo e com o concurso de donativos dos próprios alunos, organizar o Museu Escolar, onde poderão fazer
pequenas exposições de produtos agrícolas e industriais, plantas, animais, minérios, etc., conseguindo, desse modo,
um elemento dos mais importantes para o ensino intuitivo das crianças”. (MOURÃO, op. cit., p. 113).
176
MOURÃO, op. cit., p. 166.
177
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata do termo de visita realizada no dia 25 out. 1928. Uberlândia, 1928.
[Livro e página não identificados]. APU. CPJA. PT.
62
Desde 1912, os grupos escolares do estado de Minas contavam com um programa oficial
para a prática de atividades físicas, e que não se limitava ao exercício de pular corda. As
instruções para os exercícios físicos foram estipuladas naquele ano pelo Decreto 3405, que previa
atividades detalhadas e progressivas para cada uma das séries do ensino primário, abrangendo
tanto os grupos escolares, quanto as escolas isoladas.179 Esses exercícios compreendiam técnicas
de respiração, flexão e alongamento dos membros superiores e inferiores, assim denominados:
Forma, Movimento de tronco, Respiração, Movimento dos músculos, Mãos nos quadris. Pelo que
se depreende do seu detalhamento, a fundamentação que o orientava estava calcada nos preceitos
da disciplina e do treinamento militares.
178
ARANTES, J., 1938d, op. cit., p. 21.
179
Segundo o programa, os Exercícios Físicos deveriam ser introduzidos nos cursos primários, observando os
seguintes critérios: “Lições diárias, dirigidas sempre pela professora de cada classe, nos primeiros 15 minutos do
intervalo de recreio, nos grupos e escolas singulares. Uma série para cada lição. Os alunos de ambos os sexos, dos
quatro anos de curso, irão se exercitando progressivamente nos movimentos compreendidos em cada série e
recapitularão sempre os das anteriores, até que, no quarto ano, os tenham executado todos. As recapitulações poderão
ser feitas por mais de uma classe reunidas sob o comando do diretor ou de uma das professoras. Os movimentos
serão comandados por contagem: um! dois! três! etc”. (MOURÃO, op. cit., p. 215).
63
até correr, em que os alunos deverão levantar quanto possível os joelhos, fazendo todos
uniformemente o mesmo movimento”.180
Embora esse decreto regulamentasse a prática dos exercícios físicos nas escolas primárias
do Estado, a documentação consultada não possibilitou apreender – além da “pista” oferecida
pela literatura de Arantes – se a aula de “educação física” foi implementada no Colégio Amor às
Letras, conforme estava previsto no programa oficial. Sabemos, apenas, que na referida escola
havia ginástica, pois, conforme já mencionado, era mencionada nos relatórios das visitas
realizadas pelo serviço de inspeção.
Com relação às excursões, sabe-se que foram regulamentadas pelo mesmo Decreto n°.
181
1969. Este documento definiu que sua realização deveria ocorrer fora do horário escolar.
Delvar Arantes afirmou ter acompanhado o pai nessas caminhadas educativas. Segundo ele, esses
passeios eram realizados sempre aos domingos, com destino a uma região situada nas imediações
da cidade, próxima ao rio Uberabinha, para onde o professor Arantes partia a pé com seus alunos.
O objetivo dessas excursões era proporcionar aos estudantes noções práticas de conhecimentos
científicos, notadamente daqueles referentes à área de história natural. Nessas aulas de
laboratório realizadas ao ar livre, o professor, além de fornecer explicações rudimentares de
botânica e entomologia, coletava todo o material que julgasse de interesse educativo, tais como
folhas, cascas de árvores, borboletas, gafanhotos, lacraias e outros; em seguida, fornecia aos
alunos as explicações que julgava mais importantes acerca dos vegetais e insetos recolhidos.182
180
MOURÃO, op. cit., 217-18.
181
MOURÃO, op. cit., p. 162.
182
ARANTES, D., 2001, op. cit.
64
Além da afinidade com esse aspecto ressaltado por Souza, as atividades extracurriculares
que Arantes punha à disposição dos seus alunos parecem inscrever-se em uma perspectiva
didático-pedagógica que ficou conhecida como ‘método intuitivo’. Esse método foi amplamente
difundido na Europa na segunda metade do século XIX e chegou ao Brasil no final do mesmo
século, adentrou o XX e influenciou educadores brasileiros até os anos de 1930. Uma das
principais características do método intuitivo consistia na defesa do princípio segundo o qual a
aprendizagem ocorreria por meio de procedimentos naturais, e, portanto, era fundamental
entender que o elementar na educação escolar residiria no processo de aprendizagem obtido por
meio da relação concreta estabelecida entre o aluno e os objetos que lhe eram apresentados e não,
fundamentalmente, na transmissão de conhecimentos pelo professor.184
Essa etapa inicial, denominada “lições das coisas”, ficaria assegurada mediante a
observação dos objetos existentes na escola – mesa, carteiras, porta e janelas –; exploração de
mapas, gravuras impressas e também daqueles materiais trazidos de casa, tais como: lápis,
183
SOUZA, op. cit., p. 15.
184
RESENDE, Fernanda M. O método intuitivo em Minas Gerais na primeira república. In: LOPES, Ana A. B. de
M. e outros (Orgs.). História da Educação em Minas Gerais. Belo Horizonte: FCH/FUMEC, 2002, p. 440.
65
cadernos, livros e outros; assim como por meio de passeios, excursões e demais atividades
realizadas ao ar livre, fora do ambiente da sala de aula.185
Essa tentativa de tornar os conteúdos mais atraentes, por meio da sua aproximação com o
cotidiano das crianças, começou a ser difundida no estado de Minas Gerais a partir do ano de
1911, quando foi aprovado o novo regulamento geral da instrução do Estado. Nesse documento,
constavam algumas determinações que iam ao encontro dos princípios defendidos pelos
entusiastas do método intuitivo, tanto no que diz respeito aos processos de ensino quanto no
tocante aos recursos didáticos que deveriam ser utilizados para viabilizá-los.186
Na década de 1920, já havia se tornado uma prática mais ou menos empregada nos meios
educacionais de Uberlândia a necessidade de superar o método tradicional, voltado apenas para
as questões atinentes ao ensino, dedicando-se mais atenção aos aspectos relacionados com a
aprendizagem. A revista A Escola, periódico idealizado e dirigido pelo professor Honório
Guimarães, que circulou na cidade de Uberlândia durante a década de 1920, fornece um exemplo
da questão. Segundo Araújo, um dos traços distintivos dessa revista, em relação ao pensamento
educacional do período em que foi editada, incide sobre o seu “caráter inovador”, uma vez que
antecipou um “ideário moderno de educação”, que iria começar a propagar-se no país no final da
década de 1920. Um dos matizes da modernidade daquela Revista pode ser observado na defesa
da pedagogia moderna em detrimento de “métodos pedagógicos antiquados”, tema de vários
artigos publicados em suas páginas.187
185
FARIA FILHO, Luciano M. Instrução elementar no século XIX. In: LOPES, Eliane M. T.; FARIA FILHO,
Luciano M.; VEIGA, Cynthia G. (Orgs.). 500 anos de educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2000, p. 143.
186
Os artigos 188 e 290 do regulamento ilustram esse aspecto; o último, em particular, estabeleceu as seguintes
determinações: “Art. 290: São proibidas as teorias puras e as abstrações, considerados como tais todos os
conhecimentos que as crianças não puderem adquirir pela observação direta dos fatos e dos fenômenos. (...) O art.
188 do regulamento diz: São aparelhos necessários ao ensino e de que oportunamente todas as escolas serão
providas: 1º. Uma bandeira nacional; 2º. Um globo terrestre; dois mapas geográficos, sendo um do Brasil e outro do
Estado de Minas; 3º. Um contador mecânico e uma coleção de pesos e medidas; 4º. Sólidos e aparelhos necessários
ao ensino de geometria; estojo de desenho; 5º. Instrumentos para a execução de trabalhos manuais, incluídos na
classe: um sacho, uma sachola, um ancinho, um forcado, tesouras para arvores e de podar, um plantador, um
desplantador, uma pá, um regador, um podão, um canivete e um ingeridor; 6º. Aparelhos para o ensino intuitivo das
noções e princípios fundamentais, mais rudimentares, de física e de química; 7º. Pequenos museus ou coleções de
historia natural”. (RESENDE, op. cit., p. 446).
187
ARAÚJO, José C. S. Um capítulo da veiculação da discussão educacional na imprensa do Triângulo Mineiro: a
revista A Escola (1920 - 1921). In: ARAÚJO, J. C. S.; GATTI JÚNIOR, D. (Orgs.), op. cit, p. 125.
66
Com efeito, nos anos posteriores essas orientações prevaleceram, uma vez que, a partir de
1920 e 1930, as propostas visando a mudanças no processo educativo, anunciadas pelos
educadores envolvidos com a Escola Nova, incorporaram muitas das noções difundidas pelo
método intuitivo e as reformularam, a fim de adaptá-nas ao seu programa de reforma, conforme
ressaltou Vidal: “Já no fim do século XIX, muitas das mudanças afirmadas como novidades pelo
'escolanovismo' nos anos de 1920 povoavam o imaginário da escola e eram reproduzidas, como
prescrição, nos textos dos relatórios de inspetores e nos preceitos legais”.189 A reforma do
ensino realizada durante o governo de Antônio Carlos, no ano de 1927, no estado de Minas
Gerais, constitui-se um exemplo, pois a orientação para muitos dos pontos colocados em pauta
fundamentava-se em alguns dos princípios da Escola Nova.
Contudo, não se pode afirmar que a Escola Nova apenas incorporou os preceitos
estabelecidos pelo Método Intuitivo, pois aquele movimento apresentou pontos de afastamento
em relação ao referido método. Em seu texto sobre as propostas subjacentes ao escolanovismo
para a leitura e a escrita, Vidal comenta tanto a aproximação da Escola Nova com o método
intuitivo quanto os deslocamentos que aquela produziu em relação a este. Segundo a autora, para
a Escola Nova:
188
GONÇALVES NETO, Wenceslau. Imprensa, civilização e educação: Uberabinha (MG) no início do século XX.
In: ARAÚJO, J. C. S.; GATTI JÚNIOR, D. (Orgs.), op. cit., p. 214.
189
Dentre as propostas, situam-se: “... a centralidade da criança nas relações de aprendizagem, o respeito às normas
higiênicas na disciplinarização do corpo do aluno e de seus gestos, a cientificidade da escolarização de saberes e
fazeres sociais e a exaltação do ato de observar, de intuir, na construção do conhecimento do aluno”. (VIDAL, op.
cit., p. 497).
67
XIX, na organização das práticas escolares. Deslocado do 'ouvir' para o 'ver', agora o
ensino associava 'ver' a 'fazer'.190
À professora do 4º. ano fiz ciente da maneira mais intuitiva de ensinar o ponto sobre
Mares e Continentes, pelo estudo direto no mapa representando planisfério,
dispensando as lições por palavras, ensino mais moroso e de menos resultado prático,
mormente para adultos que não dispõem de tempo para consultar compêndios para
um estudo mais detalhado. 191
Nos livros escolares que escreveu, Arantes também sugeriu o emprego de alguns dos
preceitos difundidos pelo método intuitivo como estratégia de ensino e aprendizagem. Em Minha
escola modelo, por exemplo, ele apresentou, na penúltima lição, denominada Semana Instrutiva,
uma programação para ser cumprida com os alunos, que previa, para cada um dos dias da
semana, visitas orientadas a algumas instituições sociais e a determinados locais de trabalho, tais
como: oficina de marcenaria, carpintaria e serraria; sapataria; penitenciária; jardim público;
cultura de hortaliças e pomar do Ministério da Agricultura. Essa programação, segundo a lição do
livro, teria resultado em um bom saldo de conhecimentos para os alunos, denotando a eficiência
do método. A professora, personagem fictícia do livro, fez a seguinte avaliação destas atividades:
Este ano fomos bastante felizes fazendo o nosso trabalho de observação, visitando as
fábricas, as prisões e os campos de agricultura. (...) Muitas cousas viram. Somente
mostrei-lhes aquilo que poderá ser útil na vida que lhes espera no futuro, para onde
vão. Aprenderam com a própria observação, vendo e analisando.192
190
VIDAL, op. cit., p. 498.
191
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata do termo de visita realizada no dia 22 mar. 1938. Uberlândia, 1938.
Livro 95, p. 32. APU. ARE.
192
ARANTES, J., 1938d, op. cit., p. 59.
68
193
ARANTES, J., 1938b, op. cit., p. 44.
194
CHARTIER, Roger. O mundo como representação. Estudos Avançados. São Paulo: USP, v. 5, n. 11, p. 173-91,
jan./ abr. 1991, p. 180.
69
De uma forma geral, esses três livros, assim como a Cartilha brasileira, podem ser
situados no movimento de nacionalização da literatura infantil gestado no Brasil a partir da
última década do século XIX. No entanto, embora fosse enfatizada a necessidade de nacionalizar
os livros infantis – começando pela defesa da importância de ser os seus autores brasileiros, como
também ressaltando a necessidade de eleger temas oriundos da realidade nacional –, no país, essa
literatura caracterizou-se no seu início pela importação de temáticas e também de livros europeus,
que eram adaptados ao universo local, tendo como finalidade inculcar uma visão patriótica.
Como exemplo, Bastos cita: “...as traduções dos Contos seletos das Mil e uma noites, As
aventuras do Barão de Münchhausen, Robinson Crusoé, Coração e as versões abrasileiradas de
textos de Perrault, Grimm e Andersen”.196
Foi somente após a terceira década do século XX que a literatura infantil começou a
adquirir entre nós uma feição que se poderia denominar brasileira, quando a conjugação de
diversos fatores favoreceu o impulso da produção nacional de livros voltados para o público
infantil. Dentre os elementos que contribuíram para a gestação dessa literatura, situam-se: a
ascensão de uma classe média — promovida pelo impulso verificado na industrialização —;
maior escolarização das camadas urbanas e, conseqüentemente, a formação e expansão de um
público leitor; valorização da literatura e das artes promovida pelo movimento modernista e daí o
195
ARANTES, J., 1938b, op. cit./ ARANTES, J., 1938d, op.. cit./ ARANTES, J. Meu Aprendizado agrícola.
Uberlândia, s.d., p. 2. (Datilografado)./ ARANTES, J. Minha rica fazenda. Uberlândia, 1939. (Datilografado).
(Acervo Delvar Arantes).
196
BASTOS, Maria H. C. A educação do caráter nacional: leituras de formação. Educação e Filosofia, Uberlândia,
v. 12, n. 33, p. 34, jan./jun. 1998.
70
interesse dos autores em “renovar” a arte nacional, e, por fim, investimentos das editoras na
publicação de novos títulos.197
Esse último aspecto era muito relevante no período, pois os livros infantis produzidos
desde então tinham em comum o fato de ser leituras de formação ou aprendizagem por meio das
quais se esperava poder atingir o leitor, conformando o seu caráter por meio da divulgação de
valores patrióticos e exaltação das virtudes advindas com o trabalho, com a convivência em
família, com os relacionamentos estabelecidos na escola, igreja e demais instituições existentes
na sociedade.201
Com efeito, em várias lições constantes nas três obras produzidas por Arantes, ficaram
evidenciados o seu caráter normatizador; a sua mensagem disciplinadora, veiculada pelos
conteúdos marcados por forte apelo patriótico, bem como a preponderância de uma abordagem
unidimensional acerca da vida do narrador. Ao tratar a questão do aluno, por exemplo, o autor
197
LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. Literatura infantil brasileira: história & histórias. São Paulo: Ática,
1984, p. 47.
198
GOMES, A., 1996, op. cit.
199
ARANTES, J., s.d., op. cit., p. 2.
200
DUTRA, Aimoré. À maneira de prefácio. In: ARANTES, J., 1938d, op. cit., p. 4.
201
Para definir a “literatura de formação”, Bastos emprega o conceito utilizado por Freitag, para quem as leituras de
formação são aquelas em que “as instituições sociais como a família, a escola, a igreja, a fábrica, o hospital, pelas
quais transita o herói da obra, procuram influenciá-lo, moldá-lo, direcioná-lo, segundo seus valores e normas
específicas.” (FREITAG Apud. BASTOS, op. cit., p. 33).
71
apresenta, no livro Minha escola modelo, um perfil de estudante ideal: organizado, dedicado,
obediente e pontual. O título da lição na qual são discutidas as caraterísticas do que seria
considerado um bom aluno é bastante sugestivo, qual seja, Estudante modelo; além disso, o
conteúdo não deixa dúvidas quanto ao aspecto normatizador que o perpassava:
Agora estou pronta para ir à escola. Os meus objetos estão todos dentro da pasta. Já
estou vestida com o uniforme que usamos. (...) Quando chego da escola, troco o
uniforme pelo vestido que uso em casa. Todos os meus objetos escolares ficam
guardados dentro da pasta. Se tenho de fazer alguns deveres, retiro da pasta somente
os objetos que vou ocupar no trabalho. Tenho muito cuidado quando faço os meus
exercícios, para não errar e nem fazer borrões. Durante a aula observo atentamente
as lições da professora. Sempre estou com a atenção firme naquilo que temos por
dever de fazer em aula. Minha professora me diz sempre que eu sou estudante modelo.
Devemos fazer tudo com perfeição. 202
No outro livro, Meu aprendizado agrícola, ao discutir a escola freqüentada pelo narrador,
que é também uma personagem de conduta exemplar, cuja trajetória de vida é contada
linearmente na obra, iniciando no nascimento e finalizando na vida adulta, esse mesmo tema é
retomado e, novamente, o estereótipo do bom aluno reaparece, servindo, inclusive, como
metáfora para a ordem e a disciplina social:
Fui sempre tratado com carinho e distinção, devido ao meu comportamento exemplar
e dedicação aos estudos. Mamãe Olívia me ensinava sempre como eu devia proceder
em aula. Os meus colegas me estimavam, e eu sempre soube corresponder àquelas
amizades. Esforçava por fazer com perfeição os deveres escolares. Nunca sofri
castigos e nem repreensões por desobediência à disciplina, ou descuido com os
deveres ao estudo. Observei sempre os colegas que estavam contrariados
constantemente em aula, notando que a causa era justamente a falta de cumprimento
dos deveres indicados pelos professores. 203
No que se refere ao aspecto gráfico, os dois livros editados, a Cartilha Brasileira e Minha
escola Modelo, apresentam características semelhantes, a saber, uma edição pouco elaborada,
monocromática e com muita economia nas gravuras. Ao contrário da riqueza de ilustrações bem
como da profusão de cores presentes nas primeiras cartilhas de alfabetização produzidas no país,
as páginas da Cartilha Brasileira, por exemplo, eram monotonamente impressas em preto e
preenchidas apenas com letras e números. Nas lições impressas no aludido manual, utilizou-se
apenas a cor preta, e os únicos recursos empregados para destacar palavras, frases e/ou parágrafos
202
ARANTES, J., 1938d, op. cit., p. 16.
203
ARANTES, J., s.d., op. cit., p. 16.
72
foram o negrito e a diversificação no tamanho da fonte. Dessa forma, o seu autor, no intuito de
chamar a atenção dos leitores, empregava letras claras ou escuras, ora grandes ora pequenas. As
ilustrações, todas apresentando animais retratados no texto, aparecem apenas nas dez últimas
páginas, assim mesmo na forma de gravuras monocromáticas, ocupando um espaço exíguo no
início da página.
Minha escola modelo, por sua vez, já apresentava as páginas todas ilustradas em preto e
branco. Na maior parte delas, constam fotografias da sua personagem principal, que era
representada por uma aluna exemplar, e, no restante, foram reproduzidos apenas desenhos
simples, esquemáticos e sem colorido. Tanto as fotografias quanto os desenhos podem ser lidos
como se constituindo tentativas de estabelecer um vínculo entre o conteúdo do texto e a imagem
impressa, sem, contudo, acrescentar-lhes nenhum aspecto. Dessa forma, nas lições que abordam a
higiene pessoal, as ilustrações retratam a personagem lavando as mãos e escovando os dentes; em
outra lição, que discute a plantação de hortaliça, a figura mostra a personagem plantando e
regando o canteiro e assim por diante.
204
DIETZSCH, Mary J. Cartilhas: um mundo de personagens sem texto e sem história. Cadernos de Pesquisa, São
Paulo, n. 75, p. 39, nov. 1990.
73
que pudesse incrementar a edição de seus livros do que a sua inserção no mercado editorial de
livros didáticos, em franco processo de massificação.
A Cartilha brasileira, por exemplo, ao que indica uma carta recebida pelo seu autor, foi
escrita no final da década de 1920.206 No entanto, a sua primeira edição só saiu em 1936, e dois
anos depois, em 1938, publicou-se a segunda edição. Esse manual, conforme anunciado na
página de rosto, destinava-se àqueles que preferiam alfabetizar empregando o método silábico,
consistindo, para tanto, em um bom modelo.207 O processo de silabação e soletração caracterizou
os métodos de marcha sintética que predominaram nas primeiras cartilhas produzidas no país no
século XIX. O tal método consistia em iniciar o aluno nas seguintes habilidades:
... ensino da leitura com a apresentação das letras e seus nomes, de acordo com certa
ordem crescente de dificuldade. Posteriormente reunidas as letras em sílabas e
205
MORTATTI, Maria do R. L. Cartilha de alfabetização e cultura escolar: um pacto secular. Cadernos Cedes, São
Paulo, n. 52, p. 42, nov. 2000.
206
ARAÚJO, Aristides P. de. [carta]. Monte Alegre, 16.07.1929. Carta ao professor Jerônimo Arantes elogiando a
Cartilha Brasileira. Acervo Delvar Arantes.
207
ARANTES, J., 1938b, op. cit.
74
Condizente com essa definição, a Cartilha brasileira iniciava as suas lições pela
apresentação das vogais maiúsculas e minúsculas, os ditongos, a formação de sílabas, a
construção de palavras e, finalmente, a elaboração de frases simples, a princípio, isoladas e,
depois, reunidas.209
208
MORTATTI, op. cit., p. 42-43.
209
No Anexo III encontram-se duas páginas iniciais da referida cartilha.
210
MORTATTI, op. cit., p. 50.
75
Nesse sentido, o propósito de ensinar aos alunos a construção de sentenças mais longas,
Arantes conta a história de uma ave, batizada de “Lulu”, desde a sua formação no ovo até o seu
triste fim na mesa para servir de refeição. A narrativa desenrola-se de forma linear e
paradigmática, pois, ao tratar da trajetória de uma ave do nascimento à morte, discute questões de
ordem existencial, tais como o amor da mãe pelos filhos, o seu instinto de proteção, a ingratidão
destes ao crescer e abandonar o lar, os reveses da velhice. Por fim, o mesmo ciclo repete-se com
os filhotes de Lulu. Estes crescem, engordam, envelhecem e acabam morrendo em alguma
panela: “Lulu agora está no seu ninho. (...) Ficou contente porque ouviu um pio. Era o seu
pintinho que estava piando. Saiu o pintinho de dentro do ovo. Agora cresceu e já é frango. Agora
ele não gosta mais de sua mãe. Ah! Frango ingrato”.211
Portanto, ainda que não fosse de forma imediata, à Cartilha Brasileira encontrava-se
subjacente um conteúdo caracterizado pela apresentação de condutas normatizadoras e
exemplares; porém essa mensagem disciplinar não era emitida de forma direta, permanecia, ao
contrário, subentendida nas entrelinhas. E ler as entrelinhas é fundamental, pois conforme
salientou Apple:
Os produtos culturais não apenas 'dizem', mas eles também 'deixam de dizer'. (...)
qualquer texto não é necessariamente constituído por significados imediatamente
evidentes (...) que possam ser facilmente vistos por qualquer observador. Em vez disso,
um texto 'traz inscrito em seu interior as marcas de certas ausências determinadas,
que transformam suas significações em conflito e contradição'. Aquilo que não é dito
num texto é tão importante quanto o que é dito, uma vez que 'a ideologia está presente
no texto na forma de seus eloqüentes silêncios'.212
211
ARANTES, J., 1938b, op. cit., p. 49.
212
APPLE, Michel W. Educação e poder. Porto Alegre: Artmed, 2002, p. 172.
76
explícita. Acreditamos que a primeira dessas estratégias consistiu no fato de não propor
afirmativamente padrões de comportamento. Dessa forma, o manual de alfabetização escrito por
Arantes, ao contrário das demais cartilhas do período, não fornece exemplos, tais como: deve-se
fazer o bem, ou é preciso ajudar aos outros, servir à pátria etc. As prescrições de boa conduta
fazem-se pela reprovação de atitudes negativas, ou seja, mostrando o amor e os cuidados da mãe
com os filhotes e a ingratidão daqueles ao crescer e abandonar o “ninho”. Um outro aspecto da
Cartilha Brasileira, que comprova a nossa hipótese de que esta não apresentava claramente
prescrições normatizadoras, incide sobre o fato de ter empregado como personagem central uma
ave. Dessa forma, os exemplos fornecidos são trasladados do mundo dos homens para o reino dos
animais, e essa transposição parece, pois, cumprir a função de escamotear a sua mensagem,
tornando-a menos dogmática, sem, no entanto, suprimi-la.
Os animais têm uma função nesse universo maniqueísta, sendo apresentados com
muitas das virtudes e vícios humanos. Não é irrelevante que o lugar reservado para os
animais seja tão amplo. Sua presença no discurso da alfabetização quase nunca está
ligada à agilidade, nem a sua beleza, mas simplesmente ao fato de serem animais e
isso permitir-lhes praticar ações que podem ser levadas até as últimas
conseqüências.213
Afora esse aspecto, a referida Cartilha também compartilhava com suas contemporâneas a
adoção de uma relação discursiva assentada no monólogo e na impessoalidade e, por conseguinte,
perpassava as suas lições uma perspectiva redutora e limitadora do real. Esse traço de
impessoalidade esteve presente nas cartilhas editadas por quase todo o país e adotadas em
estabelecimentos de ensino localizados nas mais diversas regiões. Em geral, nos manuais de
213
DIETZSCH, op. cit., p. 41.
77
alfabetização empregados pelos professores nas escolas brasileiras as personagens não assumiam:
“...o status de pessoa, de modo geral são descaracterizadas, estereotipadas: muitas vezes não
apresentam nomes, ou recebem nomes anônimos, que se generalizam e na generalização
permitem que cada aluno se inclua, ou se submeta ao modelo proposto”.214
Além desse aspecto, o referido manual priorizava, nas discussões, os temas que pudessem
ser aplicados no dia-a-dia dos alunos, facilitando-lhes o trabalho. Nesse sentido, em todas essas
lições permanecem subjacentes conteúdos que tinham como finalidade orientar os alunos nas
questões de ordem prática, fornecendo-lhes instrumentos para se situarem no cotidiano. As lições
de n°. II e III, por exemplo, que tratam, respectivamente, do calendário e de noções de
quantidade, são voltadas para o interesse pragmático e, por isso, são citadas a seguir:
214
DIETZSCH, op. cit., p. 41
215
ARANTES, J., 1938b, op. cit., p. 17.
216
ARANTES, J., 1938b, op. cit., p. 22.
78
Além disso, se Arantes seguiu os conselhos de um dos seus amigos, que, após receber a
Cartilha, endereçou-lhe uma carta contendo um parecer repleto de elogios e sugerindo-lhe a
divulgação do livro, ele, provavelmente, deve ter introduzido essa sua obra nos estabelecimentos
de ensino primário espalhados pela cidade e, especialmente, naqueles existentes na zona rural,
pois conforme aquilatou o missivista:
... ´CARTILHA BRASIL´ [sic] é, sem lisonja alguma, a melhor possível, para o nobre
fim a que se destina. Li-o com a máxima atenção e boa vontade. E, julgando-o
merecedor de sinceros elogios e ampla divulgação, acrescento mais ser ele digno de
figurar no numero e conceito dos que são hoje adotados e tidos como pedagógicos, em
todas as escolas primárias do Estado.217
No que se refere aos outros três livros escolares que ele escreveu, não encontramos dado
algum que nos possibilitasse asseverar o seu emprego pelas escolas locais, ainda que o primeiro
deles, Minha escola modelo, tenha sido publicado em 1938. De qualquer forma, seus conteúdos
demonstram, como já analisado na Cartilha brasileira, as preocupações de Arantes com a
formação dos alunos para além da mera transmissão e aquisição de conteúdos formais, tais como
o aprendizado da língua pátria e da Aritmética.
217
ARAÚJO, A., op. cit.
79
nos conhecer somente o seu valor pedagógico e a sua força educativa, nos meios a que ele se
destina e que são os meios rurais. É um trabalho inestimável, sob esse ponto de vista”.218
O terceiro livro, Minha rica fazenda, embora sem edição, foi analisado por um amigo de
Arantes que evidenciou o fato de ser a população estudantil da zona rural o público alvo da
referida obra. Na carta que esse amigo endereçou ao autor, ficaram demonstradas as vantagens do
livro em questão, atendo-se ao aspecto de ele cumprir o objetivo de ir ao encontro das
necessidades da escola rural, dotando-a de uma literatura específica, que contemplava o dia-a-dia
do homem do campo, suas formas de trabalho e suas preocupações, constituindo-se, por isso,
numa síntese do que pode ser considerado o cotidiano de uma fazenda:
218
DUTRA, op. cit., p. 3-4.
219
ARANTES, Eugênio Pimentel. [carta]. Uberlândia, 15 jun. 1940. Carta ao professor Jerônimo Arantes elogiando
o livro Minha rica fazenda. Acervo Delvar Arantes.
80
A questão do meio rural com as suas idiossincrasias seria abordada de forma mais
consistente somente no terceiro livro, Minha rica fazenda. Ou seja, depois desse livro, o foco não
parte mais da cidade, mas desloca-se desta em direção à vida agrária. Aí, são apresentadas as
mais diversas características do cotidiano rural: o comportamento de seus habitantes, a lida diária
na lavoura, os trabalhos executados na criação dos animais e também no interior da casa, as
formas de lazer das crianças e os perigos existentes, tais como o contato com animais silvestres e
as moléstias.
Subjazia a todas as histórias um caráter educativo, porém, não apenas literário, mas,
sobretudo, voltado para o mundo do trabalho, visando contribuir para o desenvolvimento da
economia rural. O objetivo era, nesse sentido, preparar o aluno para as atividades agrícolas que,
segundo permanece implícito nas obras, se bem orientadas, poderiam constituir-se em
prosperidade dos negócios e, por conseguinte, fonte de enriquecimento. O autor assim anuncia os
seus propósitos, que não pareciam nada modestos:
Como sonhadores que somos, da grandeza do nosso querido Brasil, pelo trabalho de
seus filhos, idealizamos essa série de livros escolares, com o fito de contribuir com o
nosso obscuro trabalho para o progresso da agricultura. Aos educadores,
responsáveis pela formação do ‘brasileiro de amanhã’, entregamos os nossos
modestos livrinhos, esperançosos de ver realizados o nosso sonho.220
Aliado a esse aspecto educativo de cunho mais pragmático, implícito nos ensinamentos
veiculados por essa literatura observamos um caráter disciplinador, cujo objetivo seria preparar o
aluno para uma vida social ordeira, laboriosa e próspera. Na apresentação que redigiu para o
terceiro livro, Minha rica fazenda, Arantes evidenciou os fins moralizantes que almejava atingir
com a sua obra:
No segundo livro de leitura, foi o nosso tema uma organização de trabalho agrícola
numa escola de aprendizado, aliando, na descrição da história, o cooperativismo, a
moral, o ensino positivo e os sentimentos de amor paternal. No presente volume, o
terceiro da série, tratamos da formação da personalidade do aluno — tão necessário
se nos afigurou o tema — com dados incontestáveis para uma vida próspera e
verdadeiramente feliz, em todas as fases do período que se descreveu o tema
escolhido.221 (Grifos nossos)
220
ARANTES, J., 1939, op. cit., p. 3.
221
ARANTES, J., 1939, op. cit., p. 3.
81
222
NUNES, Clarice. As políticas públicas de educação de Gustavo Capanema. In: BOMENY, Helena (Org.).
Constelação Capanema: intelectuais e políticas. Rio de Janeiro: FGV, 2001, p. 112-13.
223
HORTA, José S. B. A I Conferência Nacional de Educação ou de como monologar sobre educação na presença de
educadores. In: GOMES, Ângela de C. (Org.). Capanema: o ministro e seu ministério. Rio de Janeiro: FGV, 2000, p.
149.
224
GANDINI, Raquel. Intelectuais, estado e educação. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos 1944-1952.
Campinas: UNICAMP, 1995, p. 73.
82
225
“O projeto pedagógico do positivismo estava voltado, em particular, para a elaboração da pedagogia como ciência
(ou 'ciência da educação'), por um lado, e, por outro, para uma redefinição dos curricula formativos, colocando em
seu centro a ciência, vista como o conhecimento típico e central do mundo moderno baseado na indústria e como um
feixe de disciplinas altamente formativas, tanto no plano intelectual como no do caráter. Ao lado destes aspectos
dominantes deve, porém, ser destacada também a presença de outras características típicas da posição ‘positivista’: a
valorização da educação como ‘dever’ essencial das sociedades modernas e como ‘direito’ de cada cidadão e,
portanto, como meio primário para operar uma evolução no sentido laico e racional da vida coletiva; a atenção aos
problemas da escola, sentida como o instrumento essencial desse crescimento educativo das sociedades industriais”.
(CAMBI, Franco. História da pedagogia. São Paulo: UNESP, 1999, p. 467).
226
GANDINI, op. cit., p. 85.
83
nos textos de seus livros escolares – quanto no tocante ao conteúdo moral implícito na sua
literatura escolar, autoriza-nos a atestar a existência de traços positivistas em seu projeto de
escola.
Pensamos, também, que seu projeto educacional revela um certo matiz de cunho
iluminista. A princípio, pode até parecer que a conjugação dessas duas vertentes filosóficas seja
algo impensável, posto que estaríamos buscando uma aproximação de tendências antagônicas,
uma vez que um dos teóricos do positivismo, Augusto Comte, em sua formulação filosófica,
reiterou a necessidade de solapar o pensamento crítico, próprio do iluminismo, e, em seu lugar,
instaurar a ordem positiva calcada, dentre outros aspectos, nos preceitos da observação das leis
naturais que regeriam todos os fenômenos.227
No entanto, a análise da obra deixada por Arantes permite-nos uma leitura aproximativa
entre essas duas correntes, porquanto constatamos não existir em seu pensamento uma influência
teórica de bases sólidas, fosse orientada pelo iluminismo, fosse calcada nos pressupostos do
positivismo. Ao contrário, verificamos uma fragilidade de sua formação teórica aliada a uma
forte dose de empirismo. Nesse sentido, quando atribuímos à sua produção características do
projeto iluminista, não pretendemos, com isso, afirmar que essa corrente de pensamento
representasse para ele uma fundamentação teórica, mas, sim, que algumas de suas categorias
foram por ele assumidas por fazerem parte de um conjunto de representações que circulava no
período e que, portanto, estava presente nos meios freqüentados por ele.
A epígrafe que imprimiu em uma das páginas de sua revista, a Uberlândia Ilustrada, não
deixa dúvidas quanto a essa influência iluminista: “A grandeza do saber supera todas grandezas
do mundo”.228 Acreditamos que o nome com o qual batizou a sua escola, Amor às Letras, bem
como o entusiasmo que demonstrava ao lidar com as questões relativas à profissão docente e ao
conhecimento (cultura) como uma forma de aprimorar o indivíduo e, por conseguinte, promover
o desenvolvimento da sociedade e contribuir para a “formação do país” são igualmente tributários
227
COMTE, A. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 103-05.
228
DALBAS JÚNIOR. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 21, não paginado, jun. 1956. APU. CPJA.
84
229
Pallares-Burke, ao analisar a questão da educação das massas como uma das “sombras” contidas no projeto
iluminista, chama a atenção para o fato de alguns dos filósofos ligados ao iluminismo terem defendido a educação
como elemento central no desenvolvimento humano. (PALLARES-BURKE, Maria L. G. Educação das massas: uma
“sombra” no século das luzes. In: VIDAL, Diana G.; HILSDORF, Maria L. S. (Orgs.). Brasil 500 anos: Tópicas em
História da Educação. São Paulo: EDUSP, 2001, p. 54-57).
230
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata de instalação da escola pública municipal de Boa Vista realizada no
dia 13 maio 1939. Uberlândia, 1939. Livro 96, p. 49. APU. ARE.
231
CATANI, Denice Bárbara. Metáforas da iluminação: observações acerca do estudo da história da educação
republicana. In: SOUSA, Cynthia P. de. História da educação: processos, práticas e saberes. São Paulo: Escritura,
1998, p. 43.
232
DULCI, Otávio S. Política e recuperação econômica em Minas Gerais. Belo Horizonte: UFMG, 1999, p. 50.
233
Um desses periódicos, a revista A Bandeira, publicada no país durante o período de 1927 e 1929, “... operava com
signos de progresso, dinamismo, força e unidade, produzindo com eles, metonimicamente, imagens de um país
dinâmico e próspero, que surgiria de propostas de organização social, política e econômica que propagandeava. Entre
elas, figuravam projetos de aprimoramento estratégico, técnico e conceitual de defesa nacional, de crescimento
industrial, de modernização agrícola, de ordenação política, de saneamento e educação. (...) É neste quadro que a
educação ganha estatuto de peça fundamental de uma política de valorização do homem como fator de produção e de
integração nacional”. (CARVALHO, Marta M. C. de. A escola e a república. São Paulo: Brasiliense, 1989, p. 6-17).
85
capacidade que a escola teria de sanar os males que acometiam o regime republicano,
notadamente no que dizia respeito à instauração da ordem cívica, permitindo, assim, o pleno
desenvolvimento das instituições implementadas pelo Regime.234 Além disso:
234
Segundo Carvalho: “Nos anos 20, na avaliação da República instituída, feita por intelectuais que se propõem a
pensar o Brasil, a política republicana é acusada de ter relegado ao abandono ‘milhões de analfabetos de letras e de
ofícios’, toda uma massa popular, núcleo da nacionalidade. Esta legião de excluídos da ordem republicana aparece
então como freio do Progresso, a impor sua presença incômoda no cotidiano das cidades. A escola foi, em
conseqüência, reafirmada como arma de que dependia a superação dos entraves que estariam impedindo a marcha do
Progresso, na nova ordem que se estruturava”. (CARVALHO, M., 1989, op. cit., p. 7).
235
CARVALHO, Marta M. C. de. Educação e política nos anos 20: a desilusão com a República e o entusiasmo pela
educação. In: LORENZO, Helena C. de; COSTA, Wilma P. da (orgs.). A década de 1920 e as origens do Brasil
moderno. São Paulo: UNESP, 1997, p. 121.
236
GONÇALVES NETO, op. cit., p. 203.
237
“... ao longo dos anos 30, o tema que prevalece entre a intelectualidade é o da organização nacional, resultando
numa saga modernizadora, que tem no 'monopólio da razão por parte de uma intelligentsia ativa, prometéica, agindo
em nome do bem comum', a sua pedra angular. A tendência de subordinar a dinâmica da sociedade e de seus
conflitos ao princípio abstrato da organização vai ser constante nesses anos. E explica em larga medida o frenesi
pedagógico que pretende reformar a sociedade pela educação. Criando técnicos e renovando as elites”.
(LAHUERTA, op. cit., p. 98).
86
No estado de Minas Gerais, a partir do segundo decênio do século XX, a educação tornou-
se também panacéia para a resolução dos problemas que obstavam a transformação do quadro
político e a implementação das mudanças em gestação. Nesse sentido, as reformas no sistema
educacional (cursos primário e normal) começaram a ser implementadas por Francisco Campos –
Secretário dos Negócios do Interior na gestão do governo Antônio Carlos – no decorrer da década
de 1920 e, grosso modo, tinham como justificativa adequar a educação no Estado aos princípios
liberais postulados pelo governador em exercício no período.
Desta forma, assim como nas demais regiões do país, a inclusão da educação na agenda de
reformas implementadas durante o governo de Antônio Carlos significou a tentativa realizada
pelas elites rurais de acomodarem parte do conflito existente entre os interesses das classes
médias urbanas e aqueles provenientes dos grupos proletários e, com isso, assumirem o controle
de possíveis distúrbios sociais: “Esperava-se da escola que ela renovasse a formação das elites
dirigentes. Enquanto agência de instrução básica deveria preparar o indivíduo para bem
escolher seus representantes quando da utilização do voto secreto”.239
A educação deveria, então, ocupar uma posição estratégica, pois além de possibilitar a
formação de mão de obra para atender às crescentes necessidades criadas com a urbanização em
curso, a escola também tinha como função garantir a escolarização para uma centena de
analfabetos, ampliando, assim, o seu direito ao voto. Nesse sentido, explica-se o fato de o Estado
ter trazido para si a responsabilidade de remodelar a escola primária e normal. Segundo Peixoto:
238
Segundo Nagle, ambos os períodos, denominados por ele respectivamente de entusiasmo pela educação e
otimismo pedagógico, podem ser definidos da seguinte forma: “... de um lado, existe a crença de que, pela
multiplicação das instituições escolares, da disseminação da educação escolar, será possível incorporar grandes
camadas da população na senda do progresso nacional, e colocar o Brasil no caminho das grandes nações do mundo;
de outro lado, existe a crença de que determinadas formulações doutrinárias sobre a escolarização indicam o caminho
para a verdadeira formação do novo homem brasileiro (escolanovismo). A partir de determinado momento, as
formulações se integram: da proclamação de que o Brasil, especialmente no decênio da década de 1920, vive uma
hora decisiva, que está exigindo outros padrões de relações e de convivências humanas, imediatamente decorre a
crença na possibilidade de reformar a sociedade pela reforma do homem, para o que a escolarização tem um papel
insubstituível, pois é interpretada como o mais decisivo instrumento de aceleração histórica”. (NAGLE, op. cit., p.
134).
239
LEROY, Noêmia M. I. P. O gatopardismo na educação ⎯ reformar para não mudar: “o caso de Minas Gerais”.
Rio de Janeiro: Dois Pontos, 1987, p. 37.
87
Nesse sentido, para as camadas médias urbanas importava assegurar a educação como
instrumento de acesso à participação política e também como uma possível garantia para seus
representantes esquivarem-se da proletarização. O segundo grupo, por sua vez, poderia encontrar
na escolarização uma das vias de ascensão social capaz de minimizar as privações a que estava
sujeito. Dessa forma, ao assumir os encaminhamentos para a remodelação do ensino escolar em
Minas Gerais, o governo estadual tentava evitar maiores conflitos entre esses grupos, tornando o
acesso à escola uma possibilidade real para segmentos diferenciados da população, e, ao mesmo
tempo, assegurando o controle da situação, dado que a iniciativa de implementar as mudanças
almejadas partia do alto, mais especificamente das camadas detentoras das decisões no nível do
executivo e do legislativo:
Embora ainda não tenhamos estudos aprofundados que nos permitam compreender o
significado dessa reforma do ensino para o município de Uberlândia, sabemos que, a partir de
1920, a cidade também foi varrida pelo vento que trazia consigo a crença na educação como
possibilidade de conduzir o desenvolvimento da nação e, por conseguinte, de transformar o
homem em um cidadão republicano, pois:
240
PEIXOTO, Anamaria Casassanta. Educação no Brasil anos vinte. São Paulo: Loyola, 1983, p. 72-73.
241
PEIXOTO, op. cit., p. 169.
88
Entre nós, de todos os males é o analfabetismo, sempre crescente aos nossos filhos, o
que mais desorganiza a família, enfraquece a República e ameaça assustadoramente o
futuro da nacionalidade. O Brasil como país novo e de possibilidades econômicas
extraordinárias, tem pela frente a solucionar problemas imediatos e imperiosos. A
instrução é sem dúvida nenhuma o maior deles. O número de escolas que possuímos
em todo o país, para a nossa já avultada população infantil, é alarmantemente
deficiente.244
Com efeito, encontramos, nos jornais da cidade, em diversas ocasiões, a defesa da escola
como instrumento eficaz de progresso da nação e de desenvolvimento individual. Nesses artigos,
ao lado de comentários genéricos acerca da importância da educação escolar, fazia-se a apologia
ao ensino primário, alvo, então, das preocupações daqueles que se voltavam para a questão da
escola e, sobretudo, para a desanalfabetização da sociedade.245 A propósito do início das aulas
noturnas em uma escola municipal, o jornal A Tribuna, por exemplo, publicou, no ano de 1923,
242
GONÇALVES NETO, op. cit., p. 210.
243
CARVALHO, L., op. cit., p. 56.
244
CÂMARA FILHO. Uma escola pelo amor de Deus. Jornal de Uberlândia, Uberlândia, não paginado, 18 abr.
1937. APU. CPJA.
245
O trecho reproduzido a seguir, extraído de um dos jornais que circulava na cidade, compõe um artigo que
comenta uma visita realizada à escola noturna instalada no Grupo Escolar Bueno Brandão. Por meio dele, obtivemos
um exemplo desse aspecto genérico com que era abordada a importância conferida à educação escolar: “O mundo
marcha para época do aproveitamento de valores. A humanidade, como que pressentindo a aproximação de uma
nova era, em que o homem será qualificado não pela fortuna mas pelo seu saber, e deixando de parte todos os
preconceitos errôneos que a tornam incapaz de adquirir o necessário grau de civilização, encaminha-se para as
escolas, num desejo incontido de desvendar as ciências, as artes e todos os ramos da atividade humana”. (ESCOLAS
noturnas. A Tribuna, Uberlândia, não paginado, 12 ago. 1934. APU. CPJA).
89
um artigo por meio do qual elogiava a iniciativa das autoridades locais em prol da escolarização
dos habitantes da cidade e, na oportunidade, hasteava a bandeira do ensino primário em
detrimento dos outros graus de escolarização:
Em Uberlândia, a partir dos anos de 1920, o entusiasmo com a escola e a defesa veiculada
pelos jornais em favor da alfabetização de crianças e adultos – consubstanciando na apologia ao
curso primário –, podem ser explicados em função de algumas transformações sócio-econômicas
pelas quais a cidade começou a passar desde a primeira metade da segunda década do século XX.
Transformações que tiveram o seu primeiro impulso desencadeador com a chegada dos trilhos de
ferro, implantados pela Cia. Mogiana de Estradas de Ferro. Segundo Arantes:
A despeito desse entusiasmo, a instalação da estrada de ferro, no ano de 1896, não trouxe
isoladamente o imediato crescimento econômico para a cidade. A estatística da movimentação
comercial efetuada na região, referente aos primeiros anos do século passado, apresentada por
Guimarães, ao analisar a transformação econômica do Triângulo Mineiro ou do Sertão da Farinha
Podre, fornece alguns dados reveladores da inexpressividade comercial representada por
Uberlândia em âmbito micro-regional até aquele período. Os números levantados pelo autor
demonstram que, em 1905, ou seja, transcorridos nove anos da instalação dos trilhos de ferro,
Uberlândia ainda não desfrutava de uma posição econômica privilegiada, pois ocupava o último
lugar dentre as oito cidades do Triângulo Mineiro avaliadas pela referida estatística. Os dados
coletados representam o desenvolvimento do comércio na região durante os anos de 1904 a 1905,
incidindo sobre o número de estabelecimentos comerciais e também sobre o montante das vendas
246
INSTRUÇÃO primária. A Tribuna, Uberlândia, não paginado, 29 jul. 1923. APU. CPJA.
247
ARANTES, J. Memória histórica de Uberlândia: Setor ferroviário. Alta Mogiana. Uberlândia: [s.n.], [1970], p. 1.
Acervo Delvar Arantes.
90
anuais de seus produtos. Nesse período, a movimentação comercial observada em Uberlândia era
ultrapassada por cidades como Araguari, Patrocínio, Monte Carmelo, Monte Alegre e outras.248
O primeiro fator que, aliado à Mogiana, impulsionou o crescimento da economia local foi
a construção da Ponte Afonso Pena. Inaugurada em 1909, esta ponte significou para Uberlândia a
extensão de seu mercado consumidor e a ampliação das transações comerciais, pois, após sua
inauguração, tornava possível escoar a produção agro-pecuária por uma vasta região. Segundo
Pezutti: “... o rápido surto de Uberabinha se acha intimamente ligado a um acontecimento de
vital importância qual foi a feitura da magnifica ponte ‘Afonso Pena’, (...) a qual pôs em estreito
contato de comércio todo o sudoeste de Goiás com esta parte do Triângulo Mineiro”.249
248
o rio Paranaíba foi construída a ponte Afonso Pena, canalizando para Capoeirinha todo o
comércio do sudoeste goiano”.250
250
CARNEIRO, Ceres de Alvim. Lágrima comprida. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1960, p. 60.
251
De acordo com esse periódico: “Para que a ponte nos proporcione os melhoramentos que dela esperamos, é
preciso que as estradas convergentes, ofereçam também o necessário trânsito, sem o empecilho de qualquer espécie,
razão pela qual entendemos que conjuntamente com a construção da ponte, se faça a reforma de estrada, a fim de
que, quando constar nos lugares mais afastados do sul de Goiás que a ponte está concluída, se saiba igualmente que
as estradas são de fácil acesso, oferecendo as necessárias comodidades”. (DESENVOLVIMENTO comercial. O
Progresso, Uberlândia, p. 1, 28 jun. 1908. APU. CPJA).
252
ARANTES, J. Cidade dos sonhos meus. 2. ed. Uberlândia, 1981b, p. 101. (Datilografado). Acervo Delvar
Arantes.
253
GUIMARÃES, op. cit., p. 27.
92
Mesmo assim, com a elevação no volume das transações comerciais, teve início, em
âmbito local, a partir da segunda metade dos anos de 1910, um processo de transformação social
– ainda que lento –, caracterizado pelo surgimento de postos de trabalho relacionados ao
comércio e às atividades dele derivadas ou por ele fomentadas. Esse processo trouxe em seu bojo
a reivindicação, por parte de um segmento da população local, de um grau mínimo de
escolarização, capaz de suprir a necessidade de uma mão-de-obra portadora de conhecimentos
que não mais se restringiam ao domínio das habilidades requeridas para o exercício do trabalho
agrícola.255 Estavam sendo postas, naquele momento, as concepções que associavam educação e
crescimento econômico, traduzidas em um artigo publicado no jornal A Tribuna, do qual
transcrevemos um trecho a seguir.
254
RODRIGUES, Jane de F. S. Trabalho, ordem e progresso: uma discussão sobre a trajetória da classe trabalhadora
uberlandense. O setor de serviços. 1924-1964. 1989. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas, USP, São Paulo, 1989, p. 36.
255
Há quem defenda, inclusive, que um impulso industrializador teria sido verificado em Uberlândia já no início do
século XX. De acordo com Rodrigues, “Significativo foi o crescimento da economia do município em torno da
atividade principal, o comércio, que conseguiu imprimir um caráter eminentemente citadino no seu núcleo urbano.
Ao lado do comércio e da agropecuária, crescia a indústria, mesmo que incipiente. (...) Ao lado do crescimento
econômico do município com base nas transações comerciais, o tema da industrialização começou a se impor, a
partir da primeira década deste século”. (RODRIGUES, J., op. cit., p. 31; 69).
93
primário deve ser nacionalista, mas não pode esquecer o seu objetivo econômico: – o
de formar homens produtivos, úteis, a si e à sociedade.256
256
SILVEIRA, Luiz C. da. A função econômica do ensino. A Tribuna, Uberlândia, não paginado, 24 abr. 1939. APU.
CPJA.
257
GONÇALVES NETO, op. cit., p. 224.
94
por exemplo, o jornal A Tribuna publicou um artigo no qual se celebravam aspectos dessa
“pedagogia nova”, em particular, defendia-se a necessidade de restringir a autoridade dos mestres
em favor da espontaneidade da criança no ato de aprender:
Ainda que não tenha sido um entusiasmado divulgador das mudanças em curso na
educação escolar, a partir da inserção dos pressupostos da Escola Nova, Arantes apresentava
algumas afinidades com as idéias renovadoras então em fase de debate e de tentativas de
implantação. A importância em proporcionar aos alunos atividades de experimentação por meio
das quais eles pudessem adquirir os conhecimentos ministrados pelo professor e as aulas de
ginástica constituem-se em alguns exemplos que podem ser acrescidos a esses outros publicados
em um jornal da cidade de Itumbiara:
Todavia, acreditamos que a renovação com a qual Arantes dialogava de forma mais
próxima ancorava-se antes nas transformações propostas pelo método intuitivo do que
propriamente nas mudanças gestadas pelo escolanovismo.
Além disso, a docência lhe interessava na mesma medida em que nutria um interesse pela
pesquisa histórica: colecionava documentos, dentre eles, destacavam-se os jornais e as revistas;
registrava depoimentos acerca da história da cidade em seus mais diversos aspectos: econômico,
político, cultural; fotografava os seus depoentes, as ruas e jardins públicos, as instituições de
ensino escolar – primeiramente, o seu colégio, depois as escolas rurais que inspecionava – e os
258
PELA instrução. A Tribuna, Uberlândia, não paginado, 15 jan. 1933. APU. CPJA.
259
ALMEIDA, Sidney. Notas históricas de Itumbiara. Apud ARANTES, J. 1977, op. cit., não paginado.
95
demais aspectos da paisagem urbana que lhe pudessem ser úteis na construção da história da
cidade; e, por fim, organizava os dados coletados, escrevendo e publicando textos e livros acerca
dos resultados das pesquisas realizadas.
Também pela análise da sua literatura escolar, compreendemos que as suas preocupações
com o ensino extrapolavam o âmbito da escola, pois, mais do que servir como instrumento
pedagógico para o professor, o conteúdo abordado em seus livros revela uma preocupação em
contribuir para um projeto de urbanização que cristalizasse o ideal de uma cidade ordeira,
dinâmica e próspera. Ele destinou parte de seus livros escolares para discussão dos aspectos
relativos à vida no campo, e não poderia ter sido diferente, posto que lidava, no serviço público,
diretamente com o ensino rural. No entanto, mesmo que parte do conteúdo se restringisse ao
modo de vida camponês, os valores que subjazem aos seus textos são correspondentes àqueles
presentes no discurso disciplinarizador e dizem respeito às condutas de ordem mais gerais,
podendo, por isso, servir como paradigma também para as representações de um modo de viver
caraterístico daqueles que habitavam a cidade.
Arantes não exerceu nenhum mandato político e, conseqüentemente, não pôde se valer da
tribuna para defender ou divulgar concepções ufanistas acerca do desenvolvimento da cidade,
nem pode criar projetos ou propor legislação no mesmo sentido. Não obstante ter sido
proprietário de uma escola primária, Arantes também não pode ser considerado um empresário
no sentido lato da palavra, dado que aquele estabelecimento de ensino não poderia ter sido
tomado como um empreendimento empresarial, conforme aludimos nas páginas precedentes. Em
suma, ele não desfrutava de uma posição privilegiada nas esferas do poder político-econômico
instalado no município. Portanto, por essas vias ⎯ representação política e atividade empresarial
96
⎯ não lhe teria sido possível projetar-se na sociedade local e tampouco elaborar e divulgar as
representações do dinamismo da cidade.
No entanto, ele driblou o que parecia ser uma limitação e utilizou os elementos de que
então dispunha a seu favor, tais como o envolvimento com a educação e a literatura escolar, para
se destacar nos domínios da elite local, contribuindo para a edificação de uma dada memória
concernente à história da cidade, ao mesmo tempo em que alinhava os fios da trama que
comporiam as representações acerca da memória que parece ter desejado edificar de si mesmo.
Nesse sentido, ao propor os elementos que fariam parte de uma dada história do desenvolvimento
da cidade, Arantes também trabalhava para construir e perpetuar a sua própria memória. Por meio
desse feito, realizava uma operação através da qual fundia as suas representações no quadro das
representações da história da cidade, nos seus mais diversos aspectos: político, econômico e
cultural.
Dessa forma, tanto as atividades realizadas em seu Colégio quanto a literatura escolar que
escreveu favoreceram também para compor a sua memória. Como escritor, ao abordar questões
relativas à escola, ele prestava a sua contribuição, para que, de forma paulatina, fossem sendo
difundidas concepções de ordem, de positivação do trabalho, de disciplina aliada à prosperidade,
que serviram para engendrar o discurso oficial referente às características que se acreditavam
próprias da cidade. Os conceitos subjacentes aos seus livros eram os mesmos que perpassavam as
representações que a elite local construía sobre a cidade. Os discursos proferidos por essa elite
eram sempre pautados nos lemas de ordem e progresso e visavam, sobretudo, justificar as ações
político-empresariais empreendidas em favor do crescimento da cidade.260
Detectamos, tanto na prática docente quanto na literatura escolar produzida por Arantes,
uma cumplicidade com esse discurso e daí pudemos inferir o seu envolvimento com a política
local, pois, mesmo antes de ter ocupado cargos de confiança na administração pública municipal,
sua fala já se alinhavava com uma dada representação do real que era produzida pelo poder
político instalado em Uberlândia.
260
MACHADO, Maria Clara T. Muito aquém do paraíso: ordem, progresso e disciplina em Uberlândia. História &
Perspectivas, Uberlândia, n. 4, p. 45, jan./jun., 1991.
97
Todavia, não queremos com isso afirmar que, nos projetos defendidos por Arantes,
predominava um viés pragmático que orientaria a organização de sua escola, assim como
conduziria a temática abordada em seus escritos escolares em função de uma possível aquisição
de benefícios pessoais ou profissionais. Ao fazer uma leitura aproximando a atuação de Arantes
do cenário político local, buscamos mostrar que o exercício da política foi incorporado por ele,
sem, no entanto, ter se envolvido diretamente com a ocupação de mandatos políticos. A sua
prática política não estava circunscrita ao âmbito de ações deliberadamente selecionadas com fins
pragmáticos, mas, por outro lado, não era descolada de ações alheias ao contexto em que estavam
inscritas.
Caro mestre,
Pode fazer desta modesta propaganda o uso que lhe convier. José Luciano foi seu
aluno, freqüentando apenas o 2º ano primário, no sempre lembrado COLÉGIO
'AMOR ÀS LETRAS', que o senhor dirigiu, como bom professor, muitos anos, no
tempo de Uberabinha, aí no Largo do Rosário. Quantos pais e mães de famílias que
hoje são, estudaram naquele bom colégio, do qual tenho profunda saudade.262
261
A relevância da educação no período pode ser atestada, dentre outros fatores, pelos resultados obtidos em uma
investigação realizada em São Paulo, ao final dos anos de 1950, com o objetivo de classificar 30 profissões
existentes no país. Os moradores daquela cidade, ouvidos na pesquisa, classificaram a profissão de professor
primário em 9º. Lugar, acima do pequeno empresário. (MELLO; NOVAIS, op. cit., p. 587-88).
262
LUCI- [ilegível], José. [carta]. S.l., set. 1962. Carta de um ex-aluno ao professor Jerônimo Arantes a fim de
apoiar-lhe a candidatura a Juiz de Paz da Comarca de Uberlândia. APU. CPJA. PT.
263
DINIZ, Cícero, op. cit.
98
mantido pela prefeitura. Primeiro foi nomeado como inspetor de ensino e, posteriormente,
assumiu a chefia do Serviço de Educação e Saúde do Município, iniciando, assim, a sua longa
carreira no serviço público municipal.264
As portas do serviço público foram-lhe abertas a partir de sua atuação no Colégio Amor às
Letras, na condição de educador, pois, nesta escola, teria prestado “... os mais relevantes serviços
ao progresso moral e intelectual de seus numerosos discípulos, cujo número aumenta dia a dia
graças à capacidade de trabalho prático e eficiente adotado por seu diretor”.265 Mas foi no
decorrer do período em que atuou na fiscalização das escolas municipais que Arantes produziu
parte dos requisitos que tornou possível construir as suas representações acerca da história local,
assim como reuniu as condições necessárias para que se produzissem as representações acerca de
si próprio.
264
O caminho percorrido por Arantes remete aquele seguido por muitos intelectuais nas primeiras décadas do século
XIX. Gontijo salienta que: “Esta trajetória, que vai da ocupação de cargos públicos ao trabalho de escrever livros
educativos, pode ser vista como estando de acordo com a perspectiva de uma missão a ser cumprida pelos
intelectuais em sua época, qual seja: lutar pelo projeto da 'educação como redenção nacional, supondo que sua
implementação seria capaz de garantir uma progressiva transformação da sociedade brasileira, contribuindo para a
definição de algumas precondições indispensáveis para se pensar no Brasil como nação”. (GONTIJO, op. cit., p.
135).
265
PROFESSOR Jeronymo Arantes. A Tribuna, Uberlândia, não paginado, 02 ago. 1925. APU. CPJA.
99
CAPÍTULO II
SERVIÇO PÚBLICO
Embora não tenha ficado explícito, pode-se depreender do texto dessa Reforma que as
nomeações dependiam mais da relação pessoal do governante com a pessoa nomeada do que
propriamente da competência desta para o exercício das habilidades requeridas pelo cargo
ocupado. Situação muito característica da constituição do Estado brasileiro e, por conseguinte, da
história do serviço público no Brasil. Segundo Sérgio Buarque de Holanda, o Estado burocrático
em que predominam a especialização de funções e o ordenamento impessoal não floresceu no
266
MOURÃO, op. cit., 184.
100
país, pois, entre nós, ao contrário, “A escolha dos homens que irão exercer funções públicas faz-
se de acordo com a confiança pessoal que mereçam os candidatos, e muito menos de acordo com
as suas capacidades próprias”.267
267
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1991, p. 106.
268
GOMES, Ângela de C. O ministro e sua correspondência: projeto político e sociabilidade intelectual. In: GOMES,
A. de C. (org.). Capanema: o ministro e seu ministério. Rio de Janeiro: FGV; Bragança Paulista: Universidade São
Francisco, 2000, p. 32.
269
No livro Trabalhadores do Brasil, o autor emprega como fonte a correspondência enviada ao Presidente Getúlio
Vargas, por intermédio da Secretária da Presidência da República, para investigar aspectos relacionados à cultura
política dos trabalhadores e os liames desta com a burocracia estatal, durante o início da década de 1930. Em seu
estudo — principalmente nos três primeiros capítulos, respectivamente: A cultura política dos trabalhadores no
primeiro governo Vargas, José e os Sírios: opressão social e cultura política camponesa e, finalmente, Getúlio
Vargas, o povo e a Secretaria da Presidência —, Jorge Ferreira também conclui que, a despeito de se tratarem de
textos produzidos individualmente, predominavam nas cartas os pedidos. Os missivistas pediam ao presidente
emprego, promoção no trabalho, aumento salarial, reparação de uma injustiça sofrida e outras solicitações.
(FERREIRA, Jorge. Trabalhadores do Brasil: o imaginário popular. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1997,
p. 24).
270
MOURÃO, op. cit., p. 185.
101
Alguns anos após a aprovação dessa legislação, em 1921, a revista A Escola dedicou um
artigo à relevância do trabalho de inspeção do ensino, e nele são apresentadas algumas das
atividades do inspetor escolar, dentre estas, destacam-se: criação de escolas, seleção dos prédios
onde estas seriam instaladas, montagem do material didático, fundação das caixas escolares e
outras.271
271
PRADO, Cândido. A Inspeção do ensino. A Escola, Belo Horizonte, v. 9, n. 8-9, p. 7, abr./maio 1921.
272
FORTES, Maria de F. A. Escola rural mineira: observações produzidas a partir de depoimentos de antigas
professoras. Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 18, n. 19, p. 86, dez. 1993/ jun. 1994.
273
INSTRUÇÃO primária. A Tribuna, Uberlândia, não paginado, 11 mar. 1923. APU. CPJA.
274
No período que compreende as décadas de 1940 e 1950, durante o qual Arantes chefiou o Serviço de Educação e
Saúde do Município, as atribuições dos governos dos municípios no tocante à educação eram bastante limitadas,
pois: “... a administração federal se ocupava do controle, regulamentação, inspeção, reconhecimento e cassação de
escolas e de professores. Às administrações estaduais restava o remanejamento e reorganização de suas respectivas
redes de escolas, o aparelhamento de seus órgãos centrais, admissão e remoção de professores. Pouco sobrava para
os municípios, que cuidavam de sua própria rede de ensino sem recursos e sem autonomia: estabelecer vencimentos,
criação de cargos e atribuição de doações a entidades públicas, como bibliotecas, ou a associações de caráter privado,
além de desapropriação de terrenos para a construção de prédios escolares”. (GANDINI, op. cit., p. 29).
102
Além de cumprir a maior parte dessas atividades, Arantes organizou os dados relativos ao
ensino público municipal em Uberlândia, desenhando mapas de localização dos estabelecimentos
escolares, criando um jornal voltado para a divulgação das atividades realizadas no interior das
escolas mantidas pela Prefeitura Municipal de Uberlândia, confeccionando um álbum de
fotografias de professores e alunos das escolas dos municípios, arquivando alguns documentos
escolares e também elaborando estatísticas.276 Embora longa, a citação a seguir fornece-nos
detalhes acerca desse trabalho realizado por ele na inspetoria de ensino municipal.
275
FORTES, op. cit., p. 84.
276
A preocupação de Arantes com a estatística educacional inscreve-se em uma perspectiva histórica de positivação
do conhecimento racional da realidade por meio dos números, engendrada na transição do século XIX para o XX e
amplamente empregada durante o governo de Getúlio Vargas, sobretudo no Estado Novo, após a criação do IBGE.
Voltaremos a essa questão ao final desse capítulo.
277
INSTITUIÇÕES municipais de ensino. O Estado de Goyaz, Uberlândia, p. 3, 11 ago. 1935. APU. CPJA.
103
No período em que Arantes atuou como inspetor de ensino, a maior parte das escolas
municipais estava localizada na zona rural e, por conseguinte, o seu trabalho era quase totalmente
voltado para a fiscalização daqueles estabelecimentos. Segundo uma estatística publicada no
periódico A Escola Rural, no ano de 1933, a prefeitura manteve seis escolas rurais para quatro
urbanas, sendo que, dentre essas últimas, havia duas funcionando apenas no período noturno,
uma para o sexo feminino e outra para o masculino, para as quais não havia sequer denominação
no referido jornal. De acordo com o artigo, as escolas mantidas pela prefeitura municipal eram as
seguintes:
278
ROMEIRO, Orávia. O professor rural. A Escola Rural, Uberlândia, não paginado, 15 jul. 1934. APU. CPJA.
279
RELAÇÃO das escolas urbanas e rurais... . A Escola Rural, Uberlândia, não paginado, 15 fev. 1934. APU. CPJA.
104
urbanas. Enquanto as primeiras já somavam vinte e quatro, as outras haviam sido reduzidas para
apenas três.280
Durante o período que compreende os anos de 1934 a 1941, verificou-se a maior expansão
no ensino rural em Uberlândia com a abertura de 17 novas escolas. A partir de então, o total de
estabelecimentos rurais elevou-se de seis, existentes até 1933, para 24 no ano de 1941. Seis anos
após a coleta destes dados, em 1947, nova estatística revelou que a zona rural do município de
Uberlândia já contava com 30 escolas em funcionamento, onde se matricularam 1.181 alunos.281
Como forma de conter um pouco a aceleração do êxodo rural em curso no final do século
XIX e princípios do XX, procurando fixar o trabalhador no campo, durante o período que vai de
1910 a 1930, ampliou-se o sistema escolar rural por meio do investimento em abertura de mais
escolas rurais e de uma adequação destas às particularidades regionais, processo conhecido como
“ruralismo pedagógico”.282 Por meio da apologia da vida no campo e, por conseguinte, da defesa
da necessidade de proporcionar aos camponeses acesso ao conhecimento mínimo que lhes
retirasse a “escuridão” da ignorância buscava-se arrefecer o êxodo rural. De acordo com Leite,
essa idealização da vida campesina tinha como objetivo escamotear uma das principais
preocupações dos latifundiários e também de parcela dos capitalistas urbanos ligados aos
interesses daqueles, a saber, “O esvaziamento populacional das áreas rurais, enfraquecimento
social e político do patriarcalismo e forte oposição ao movimento progressista urbano, isso
principalmente por parte dos agro-exportadores”.283
280
Segundo os dados apresentados pela revista, as escolas urbanas mantidas pela prefeitura municipal em Uberlândia
no ano de 1941 eram apenas três: Noturna, fundada em 02.05.1933; São Vicente, fundada em 02.02.1938 e Grupo
Noturno, fundado em 05.05.1938. As escolas localizadas na zona rural eram as seguintes, com as respectivas datas
de fundação: Cruzeiro, 09.06.1930; Quilombo, 05.02.1930; Machados, 01.02.1930; Tenda, 01.04.1931; Paraíso,
02.05.1933; Pontal, 12.08.1933; Caetanos, 02.02.1934; Burity, 14.05.1934; Rocinha, 03.10.1934; Mateiro,
19.07.1934; Marimbondo, 05.08.1934; Rio das Pedras; 12.04.1936; Sobradinho, 07.09.1936; Moreno, 13.05.1937;
Xapetuba, 16.08.1937; Salina, 05.07.1938; Terra Branca, Cobaços, Paranan, Divisa, Samambaia e Santa Maria,
13.05.1939; Pombo, 13.05.1940; Santa Tereza, 19.04.1941. (RELAÇÃO dos Estabelecimentos de Ensino que
Funcionam na Cidade de Uberlândia. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 10, p. 31, jul. 1941. APU. CPJA).
281
O ENSINO rural: resultado do ano letivo. O Repórter, Uberlândia, não paginado, 17 nov. 1947. APU.
282
LEITE, Sérgio Celani. Escola rural: urbanização e políticas educacionais. São Paulo: Cortez, 1999.
283
“Ao mesmo tempo, ideologicamente, o ruralismo esteve vinculado a outras fontes sócio-políticas e culturais da
época (o movimento nacionalista e o movimento católico do início do século), ocasionando, de certa forma, a
valorização da visão fisiocrata, na qual a riqueza tem origem na produção agrícola e, também, a tendência de colocar
o Brasil em um destino econômico agro-pecuário”. (LEITE, op. cit., p. 28-29).
105
A escola rural deve contribuir para que a população da faixa a que serve adote novos
processos de trabalho agrário, dedique-se à cultura dos vegetais próprios da zona,
estabeleça sistemas de cooperativismo, ponha diuturnos os conselhos da higiene
elementar, para que a saúde do trabalhador rural não corra os perigos que o álcool,
as endemias e verminoses representam permanentemente. (...) Assim, pois, a escola
rural deve encaminhar suas atividades de modo a despertar na criança o sentimento
da nobreza do trabalho agrário, com o que estará contribuindo para fixá-la ao meio
rural que vai se despovoando assustadoramente. 284
Desde logo, convém assinalar que a escola rural é simples luxo de expressão com que,
entre nós, se batizou a escola isolada, que funciona nas fazendas. Ela só é rural
porque funciona no campo, e defronta a miséria do campo. Mas é urbana, pela
mentalidade de seu titular, pelo seu horário, pelo seu programa, pelas suas
finalidades. Eles não percebem que cada escola é um organismo típico, que deve atuar
em função das necessidades mesológicas. 285
284
FLEURY, Renato Séneca. A escola rural. A Escola Rural, Uberlândia, não paginado, 16 dez. 1936. APU. CPJA.
Um outro artigo, publicado em 1926, complementa as propostas do ruralismo para a organização dos trabalhos
escolares dentro das escolas rurais: “Por que não havemos de proporcionar à petisada do campo um ensino
apropriado a seu meio, à sua profissão, à sua vida? Seria de alto alcance para o desenvolvimento da nossa capacidade
econômica, a ruralização do ensino primário na roça. Ao lado da alfabetização, a camara [sic] incrustaria noções de
agricultura, onde o aluno iria encontrar ensinamentos de grandes utilidade para o desempenho de sua vida futura”.
(GEREMIAS. Notas agrícolas: escolas rurais. Triângulo Mineiro, Uberabinha, não paginado, 27 jun. 1926. APU.
CPJA).
285
FAGUNDES, Abel. A biblioteca e a imprensa na escola rural. Diário de Uberlândia, Uberlândia, não paginado,
26 maio 1936. APU. CPJA.
106
Mas, a inadequação da escola rural aos princípios do ruralismo não foi um fenômeno
restrito à Uberlândia. Ao analisar a educação escolar brasileira durante a primeira República,
Nagle comenta que a penetração da ideologia do ruralismo ocorreu apenas no âmbito do
pensamento educacional, sem produzir resultados que se consubstanciassem na modificação da
natureza escolar no final do período em questão.286
A partir da década de 1930, portanto, o ruralismo foi perdendo espaço no Brasil, sem,
contudo, como se sabe, ter atingido seus propósitos, e as vantagens de uma escola urbana ligada
aos interesses da indústria nascente e “ao desenvolvimento de uma política educacional voltada
para o ensino vocacional urbano, destinando especialmente às classes populares”,287 foram se
impondo em detrimento de uma educação rural, destinada ao aperfeiçoamento do homem do
campo.
De acordo com Lopes, passado o período de ampliação da rede escolar pública no Estado,
cujo ápice ocorreu no final da década de 1920, o início dos anos de 1930 ficou marcado não só
por uma redução nos investimentos em educação, que impediu a abertura de novas salas, como
também por uma contenção geral de gastos para a área, o que determinou o fechamento de muitas
286
NAGLE, op. cit., p. 304.
287
LEITE, op. cit, p. 30.
288
RODRIGUES, J., op. cit., p. 36.
107
escolas consideradas ineficientes, infreqüentadas e sem prédios próprios que garantissem o seu
funcionamento.
Todavia, Lopes afirma que esses argumentos apresentados para justificar o fechamento
das escolas não encontravam correspondência na realidade, pois os resultados de pesquisas
realizadas com diversos prefeitos do estado de Minas Gerais, durante o período de novembro de
1931 e julho de 1932, publicadas no jornal Estado de Minas, demonstram uma situação escolar
diversa, pois expõem uma demanda da população em torno da escolarização. Portanto, a
realidade educacional no período não correspondia àquele quadro pintado pelo governo e
empregado como causa para a extinção de escolas e/ou contração de suas unidades educativas.289
Em meados dos anos de 1930, mesmo sem que as finanças tivessem sofrido alterações que
indicassem uma elevação na soma de tributos arrecadados – havendo, inclusive, um aumento na
dívida pública –, verificou-se nova expansão da escolarização no estado e, conseqüentemente,
nos seus municípios. Segundo Lopes, a explicação para essa aparente contradição, ou seja,
extinção de escolas em função de carência de verbas e, ao mesmo tempo, expansão da
escolarização sem que as finanças tivessem sido corrigidas, incide sobre os interesses políticos
orientando a ação do governo no que se referia à distensão do sistema escolar.
289
“... quase todos os prefeitos referem-se às escolas que haviam sido cortadas no início de 1931, indicando o
número existente anteriormente, e alegando que a freqüência às mesmas atendia às exigências legais, muitas vezes
ultrapassando o mínimo exigido de 30 a 35 alunos para as escolas rurais e 35 a 40 para as escolas distritais,
determinadas por lei (art. 260 e 261 do Decreto 7.970-A de 15.10.1927)”. (LOPES, Ana Amélia B. de M. A
expansão/contenção do ensino em Minas Gerais (1931-1934): um jogo político. In: LOPES, Ana A. B. de M. e
outros (Orgs.). História da Educação em Minas Gerais. Belo Horizonte: FCH/FUMEC, 2002, p. 599-600).
290
LOPES, op. cit., p. 602.
108
A mesma exaltação tomou conta dos jornais O Repórter e Correio de Uberlândia, grandes
“entusiastas” da administração do prefeito Vasco Gifoni, que sempre reservavam espaços em
suas páginas para anunciar os resultados do investimento que aquele administrador vinha
realizando no âmbito da educação. Em 1938, por exemplo, foi divulgado nas páginas de O
291
INSTRUÇÃO municipal. Correio de Uberlândia, Uberlândia, p. 2, 15 dez. 1951. APU.
292
ESTATÍSTICA escolar. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 15, p. 12, jan. 1952. APU. CPJA.
INSTRUÇÃO municipal. Correio de Uberlândia, Uberlândia, não paginado, 25 abr. 1955. APU.
293
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata de Instalação da Escola Pública realizada no dia 13 maio 1939.
Uberlândia, 1939. Livro 96, p. 37-38. APU. ARE.
Na mesma data outras escolas foram inauguradas e o tom do discurso de Arantes permanecia o mesmo, conforme se
depreende das seguintes atas redigidas durante as cerimônias:
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata de Instalação da Escola Pública realizada no dia 13 maio 1939.
Uberlândia, 1939. Livro 96, p. 35-36; 47; 49-50. / Livro 99, p. 02./ Livro 100, p. 02. APU. ARE.
109
Repórter um artigo contendo elogios ao desempenho do referido prefeito no que concerne aos
recursos que estava destinando ao desenvolvimento da educação pública em Uberlândia.
No ano seguinte, foi a vez do jornal Correio de Uberlândia publicar o saldo positivo dos
investimentos que o prefeito local vinha consagrando à alfabetização da população de
Uberlândia. Segundo esse periódico:
294
INSTRUÇÃO. O Repórter, Uberlândia, não paginado, 25 dez. 1938. APU.
295
UBERLÂNDIA, 1939: mais dez escolas. Correio de Uberlândia, Uberlândia, p. 18, 14 jul. 1939. APU.
296
Em uma pesquisa realizada na década de 1990 no estado de Mato Grosso, por exemplo, Januário denuncia a
presença de professores leigos no ensino ministrado nas escolas rurais. Conforme o autor, os critérios adotados para a
seleção e contratação daqueles profissionais eram bastante simplificados: “Na escolha do professor leigo é levada em
consideração aquela pessoa que apresenta desenvoltura na escrita e na leitura, interesse pela atividade e,
principalmente, que tenha um bom relacionamento com a comunidade”. (JANUÁRIO, Elias R. da S. O ensino
escolar na zona rural do município de Cuiabá, Mato Grosso. Cadernos de Educação, Cuiabá, v. 2, n. 1, p. 120,
1998).
Em outro estudo realizado no estado do Ceará, por exemplo, constatou-se a existência, no ano de 1985, de um
número alarmante de professores leigos ministrando aulas no ensino urbano e rural. Naquele ano, o referido Estado
contava com “... 48.534 professores no 1º. grau, dos quais 23.706 (48,8%) eram leigos. Em relação à zona rural, essa
proporção era bem maior: de um total de 20.369 professores, 18.084 (88,8%) eram leigos. Com essa dimensão, as
professoras ‘leigas’ representam uma categoria profissional comparável à [sic] dos bancários ou à [sic] dos
metalúrgicos, professores de 2º. grau, têxteis, petroleiros, e muitas outras existentes no estado”. (ALENCAR, José F.
de. A professora ‘leiga’: um rosto de várias faces. In: THERRIEN, Jacques; DAMASCENO, Maria N. Educação e
escola no campo. Campinas: Papirus, 1993, p. 177).
110
No tocante ao segundo aspecto, ou seja, o que diz respeito à situação do espaço físico das
instituições de ensino escolar existentes em Uberlândia, constatamos que a situação da escola
rural, tanto com relação à sua infra-estrutura quanto no que concerne às condições mínimas
necessárias ao seu funcionamento, era extremamente deficiente. Faltavam, por exemplo, móveis
escolares suficientes para acomodar os alunos e os professores, tais como carteiras, mesas,
armários, livros, um quadro negro em bom estado de conservação, cadernos e, às vezes,
registrava-se, inclusive, a ausência do filtro de água.
Há que se acrescentar que a escola primária urbana mantida pelo governo estadual não
apresentava condições de funcionamento muito melhores do que as localizadas na zona rural e
inspecionadas pelo município. No ano de 1952, um jornal criticou a atuação do governo do
estado no tocante à manutenção de suas escolas. Naquele ano, a imprensa local divulgou uma
série de denúncias acerca do descaso do governo estadual para com os problemas existentes no
Grupo Escolar Coronel Carneiro, dentre essas, destaca-se a seguinte:
297
Segundo o mesmo artigo, no ano anterior, tinham sido verificados problemas em outra escola estadual: “Em 7 de
julho do ano passado, analisamos a mesma situação no Grupo Escolar Bueno Brandão, que está caindo aos pedaços
porque o Estado não faz reparos no prédio”. (MARIA TERESA. Gravíssimas falhas em matéria de educação dentro
da cidade. Correio de Uberlândia, Uberlândia, não paginado, 11 mar. 1952. APU).
111
indignado, pois a fragmentação das classes daquela escola não denotava ser aquele
estabelecimento um “verdadeiro” grupo escolar, conforme se constata pelo trecho a seguir:
Pela leitura dos jornais da época, formamos um panorama das dificuldades pelas quais
passava o ensino primário no município de Uberlândia, tanto aquele mantido pelo estado quanto
aquele sob a responsabilidade da prefeitura, e, ao acrescentar a esses documentos uma análise das
atas das reuniões escolares, depositadas no APU, obtivemos um quadro rico de informações
acerca do ensino rural e, em especial, das representações construídas a seu respeito por Arantes.
Nas atas produzidas durante o tempo em que Arantes esteve à frente da educação em
Uberlândia, fosse como inspetor de ensino fosse como chefe do Serviço de Educação e Saúde do
Município, ficaram registradas algumas das atividades desenvolvidas tanto pela inspetoria de
298
SECRETÁRIO de Educação desconhece o ensino em Uberlândia. Correio de Uberlândia, Uberlândia, não
paginado, 30 dez. 1956. APU.
299
900 CRIANÇAS uberlandenses estão sem seu grupo escolar. Correio de Uberlândia, Uberlândia, não paginado,
25 fev. 1958. APU.
PAES, Lycídio. Os problemas dos grupos escolares de Uberlândia. Correio de Uberlândia, Uberlândia, não
paginado, 27 maio 1958. APU.
112
ensino quanto pelo Serviço de Educação e Saúde. Dentre essas atividades, conforme discutimos,
encontramos a realização de visitas técnicas do inspetor de ensino às escolas, fiscalização dos
exames aplicados aos alunos nos finais de semestre, instalação de escolas, inauguração de novos
prédios escolares, assim como nomeação e exoneração de professores.
Para além desses dados, a leitura dessas atas descortina o conjunto de representações
tecido por Arantes por meio do qual apreendemos: a forma como ele se relacionava com os
docentes e também com os alunos; a análise que elaborava acerca do funcionamento – em grande
parte deficiente – dessas escolas e, sobretudo, dos problemas que perpassavam o ensino primário
sob a responsabilidade da Prefeitura Municipal, tanto o rural quanto o urbano; enfim, esses
documentos nos põem em contato com o significado atribuído por Arantes à escola primária,
notadamente, a rural, em que mais atuou.
Em uma das visitas realizadas à Escola Noturna Feminina e outra feita ao Colégio Bueno
Brandão (ambas urbanas), por exemplo, Arantes, na qualidade de inspetor municipal de ensino,
113
não poupou elogios às alunas, bem como ao trabalho desenvolvido pelas professoras e diretora.
Segundo ele:
Estão bem feitos todos os exercícios nos cadernos de provas mensais e nota-se bom
aproveitamento nos estudos pelo que assistimos nas diferentes aulas. Nada tendo a
observar sobre a disciplina da escola, que é ótima e bem assim a execução do
programa que vem sendo aplicado fielmente.300
O mesmo tom amistoso era dirigido aos professores que trabalhavam nas escolas
localizadas na zona rural. Arantes sempre deixava registrado o empenho daqueles em ensinar aos
alunos os conteúdos propostos; a dedicação em manter a sala de aula organizada, na qual deveria
reinar a disciplina; e, por fim, nunca se esquecia de ressaltar a responsabilidade com que os
professores mantinham em ordem a documentação escolar. Ao visitar a Escola Pública Municipal
de Paraíso, ainda que não mencione, em particular, o trabalho desenvolvido pela professora, ele
registrou a seguinte observação: “Revendo os livros de escrita, encontrei tudo em perfeita
organização tendo conhecimento da boa ordem que reina nesta escola e aproveitamento nos
trabalhos”.302
300
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata do termo de visita realizada no dia 13 maio 1939. Uberlândia, 1939.
Livro 96, p. 35-38; 47; 49-50. APU. ARE.
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata do termo de visita realizada no dia 26 jul. 1933. Uberlândia, 1933. Livro
95, p. 3. APU. ARE.
301
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal, 26 jul. 1933, op. cit.
302
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata do termo de visita realizada no dia 26 fev. 1938. Uberlândia, 1938.
Livro 97, p. 5. APU. ARE.
303
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata de exames realizados no dia 16 nov. 1942. Uberlândia, 1942. Livro
101, p. 5. APU. ARE.
114
Algumas das professoras que trabalharam com Arantes nas décadas de 1940 e 1950, ao
serem questionadas sobre o tratamento que ele lhes reservava no período em que atuou como
inspetor de ensino e chefe do Serviço de Educação e Saúde do Município, salientaram a
inexistência de problemas, pois afirmaram que, além de ele ser um homem muito educado, era
também uma pessoa alegre, descontraída e sempre pronta para um elogio.305 Há no depoimento
de uma delas uma referência interessante a esse respeito. Segundo essa professora, ao chegar em
visita de inspeção à escola rural onde ela trabalhava, Arantes teria comentado as dificuldades
encontradas no percurso e, por conseguinte, o cansaço sentido com a longa viagem, mas, em
seguida, teria afirmado que todos os transtornos teriam valido a pena, pois “a professora era
muito bonita”.306
Outra professora que trabalhou com Arantes nas escolas urbanas durante a década de
1940, ao falar sobre a mesma questão, também recordou a cordialidade com a qual ele tratava
todas as pessoas e, como decorrência disso, o bom relacionamento que mantinham com ele.
Segundo ela: “O sr. Jerônimo foi um entusiasta da educação. Ele era muito dado. Visitava os
pais, a família dos alunos, visitava todo mundo. Soltava pipa junto com os meninos (...). Comigo
ele sempre foi muito bom, muito companheiro mesmo”.307
Em uma carta recebida por Arantes no ano de 1972, proveniente de uma professora que
havia trabalhado com ele em décadas anteriores, também ficou registrado esse traço amistoso de
seu comportamento:
304
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata de exames realizados no dia 03 dez. 1946. Uberlândia, 1946. Livro
101, p. 24. APU. ARE.
305
CARVALHO, Edith de S.: depoimento. [jul. 2002]. Entrevistador: Sandra Cristina Fagundes de Lima.
Uberlândia, 2002. 1 fita cassete (30 min), estéreo.
SANTOS, Alice G. de C.: depoimento [julho 2002]. Entrevistador: Sandra Cristina F. de Lima. Uberlândia, 2002. 1
fita cassete (30 min), estéreo.
306
SANTOS, A., op. cit.
307
ARANTES, Marites: depoimento [set. 2001]. Entrevistador: Sandra Cristina F. de Lima. Uberlândia, 2001. 2 fitas
cassete (120 min), estéreo.
115
No ano de 1970, Arantes foi homenageado pela Câmara Municipal, e o vereador autor da
homenagem também se referiu ao bom relacionamento que ele mantinha com os profissionais
ligados à educação escolar no período em que chefiou o ensino municipal:
Nas poucas ocasiões em que Arantes fez alguma observação sobre o trabalho docente, não
deixou transparecer no texto nenhum tom severo na sua crítica; na maior parte das vezes,
solicitou da professora apenas mais empenho para aumentar o número de alunos freqüentes. Em
visita à Escola Pública Municipal de Cabaças, por exemplo, ele anotou a seguinte observação: “A
escola está com número de freqüentes baixo, devendo a professora se esforçar para aumentar
mais o número para que a escola continue funcionando para o ano vindouro”.310 Em outra
escola, limitou-se a sugerir a adoção de um método de ensino mais adequado ao conteúdo.311
Da mesma forma, o tratamento que dispensava aos alunos caracterizava-se pela cortesia.
Em geral, elogiava a disciplina e o bom aproveitamento das aulas, reflexo das boas notas obtidas
308
ARANTES, Noeme Fonseca. [carta]. São Paulo, 29 set. 1972. Carta recebida por Arantes de uma ex-professora e
colega de trabalho, acusando e agradecendo o recebimento da revista Como Fizeram Uberlândia, que ele havia lhe
enviado. APU. CPJA. PT.
309
PAVAN, Angelino. Saudação oficial. Uberlândia: [s.n.], não paginado, 18 abr. 1970. Acervo Delvar Arantes.
310
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata de exames realizados no dia 13 nov. 1942. Uberlândia, 1942. Livro
99, p. 5. APU. ARE.
311
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal, 22 mar. 1938, op. cit.
116
nos exames finais; ressaltava, também como ponto positivo, o fato de aqueles estarem
devidamente uniformizados. Ao redigir a ata de exames aplicados aos alunos da Escola Pública
Municipal da Fazenda Paraíso, anotou a seguinte observação:
Segundo depoimento de um de seus filhos, a imagem de cordialidade não impedia que ele
fosse severo quando a ocasião assim o exigia. Representava um perfil de professor que
conquistava a confiança e também o respeito dos alunos por meio do diálogo e nunca pelo
emprego de castigos, que não eram aplicados em seu Colégio:
O pai na escola era bravo. Não era violento, era severo – naquele tempo usava
–. Mas não era mau. Ele era muito enérgico na fala. Nas outras escolas se
falava em ajoelhar em cima de vidro e receber castigos de palmatória, no
Colégio dele isso não acontecia. O forte dele era conversar, tinha uma
argumentação muito objetiva.313
As críticas aos alunos, quando havia, incidiam, algumas vezes, sobre a infreqüência e
quase sempre sobre alguma questão relacionada à falta de disciplina; problema que se verificava
fora da sala de aula. A indisciplina ocorria no pátio da escola e, outras vezes, fora de seus muros,
pois, conforme registrou em ata: “Quanto à disciplina interna é a melhor que se pode exigir, não
continuando a mesma fora das salas, onde os estudantes juntam-se fazendo uma algazarra digna
312
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata de exames realizados no dia 22 out. 1952. Uberlândia, 1952. Livro 97,
p. 19. APU. ARE.
313
ARANTES, D., 2000, op. cit.
Ademais, os castigos físicos, ainda que se constituíssem em uma prática adotada em alguns estabelecimentos
escolares, já haviam sido suprimidos das escolas mineiras pela legislação que regulamentava a instrução pública (e,
por conseguinte, a particular) no Estado desde 1893. O Decreto nº. 655, de 17 de outubro de 1893, estabelecia, no
artigo 129, a proibição de se aplicar castigos físicos e ou penas degradantes aos alunos, mesmo que tivessem sido
autorizados por seus responsáveis. Segundo Mourão, “No tempo do Império havia até tabuletas com dizeres
deprimentes a serem afixadas no peito dos alunos que fossem julgados merecedores desses epítetos desmoralizadores
(...)”. (MOURÃO, op. cit., p. 38).
Em anos posteriores, ficaram estabelecidas as penalidades a que estavam sujeitos os alunos das escolas primárias do
Estado (tanto aqueles matriculados em Grupos Escolares, quanto os demais, estudando em escolas isoladas), caso
infringissem o regulamento. Observa-se, contudo, que, não obstante a suspensão da aplicação de castigos físicos, as
punições ainda eram severas, pois eram permitidas as seguintes penalidades: advertência, repreensão particular,
repreensão perante a classe; privação de recreio; reclusão na escola por meia hora no máximo; suspensão de
freqüência até 15 dias e cancelamento da matrícula. (MOURÃO, op. cit., p. 158; 346).
117
de censura não somente dentro do pátio, como ao saírem do portão”.314 Deve-se, no entanto,
ressaltar que esse aspecto era levantado nas visitas realizadas à escola noturna que funcionava no
Grupo Escolar Bueno Brandão, pois essa observação não foi encontrada em nenhuma ata relativa
a visitas às escolas rurais. Nestas, a crítica relacionada aos alunos era proveniente apenas da falta
de assiduidade, problema também verificado nas escolas urbanas.315
314
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata do termo de visita realizada no dia 14 set. 1936. Uberlândia, 1936.
Livro 95, p. 22. APU. ARE.
315
As oscilações verificadas com relação à freqüência nas escolas rurais podem ser atribuídas, em grande parte, ao
fato de o calendário destas escolas obedecer aos ditames da educação urbana e não se adequar às reais necessidades
impostas pela vida no campo, tais como os ciclos de trabalho na lavoura, conforme ressaltaram Schütz e Chesterfield
em seus estudos acerca da pesquisa educacional para o meio rural. (SCHÜTZ, Paulo; CHESTERFIELD, Ray.
Pesquisa educacional para o meio rural. Educação e Realidade, Porto Alegre, v. 3, p. 36, Jan. 1978).
316
HOLANDA, op. cit., p. 108.
118
Outro aspecto depreendido da leitura dos documentos, em particular, das atas, incide
sobre as condições de funcionamento das escolas rurais. Pela leitura das atas redigidas por
Arantes e também pela análise de alguns periódicos, constatamos a existência de diversos
problemas relacionados à educação escolar municipal. Sendo que um dos mais criticados era
aquele relativo à falta de infra-estrutura das escolas onde atuavam os professores do município.
Os investimentos públicos, muitas vezes, não eram suficientes para construir edifícios específicos
onde pudessem ser ministradas as aulas. Em função disso, improvisavam-se salas de aula nos
lugares mais inadequados, como desabafa um professor rural em artigo publicado no jornal O
Repórter em 1935:
Não era apenas em prédios velhos que se encontravam instaladas algumas escolas, mas
denominavam escolas rurais aquelas salas de aula funcionado nos locais mais impróprios
existentes nas fazendas, conforme se depreende do relatório produzido por um inspetor técnico de
ensino:
O primeiro elemento negativo da escola rural é o edifício onde se instala. Ora é o
rancho de capim, abrigo precário para as épocas de estiagem, desabrigo absoluto na
estação chuvosa; ora a cabana de pau a pique, ensombrada, estreita, com uma porta e
uma janela interior, onde é proibida a entrada do sol e onde o ar penetra por excesso
de boa vontade; ora o antigo paiol ou depósito da fazenda, refugio de parasitas, (...).
Paredes sujas, raramente pintadas a tabatinga, chão duro, de terra semi-solta, úmido
de chuva.318
Esse problema não foi ignorado por Arantes, pois, em 1947, já na qualidade de chefe do
Serviço de Educação e Saúde do Município, registrou na ata de exames realizados na Escola
Municipal do Bairro Samambaia (rural) a precariedade das instalações onde eram ministradas as
aulas da referida escola e ressaltou a necessidade de a administração pública providenciar solução
para o problema. Deduz-se das suas observações que o estado de abandono ao qual se
317
AS ESCOLAS rurais. Jornal de Uberlândia, Uberlândia, não paginado, 11 ago. 1935. APU. CPJA.
318
FAGUNDES, A., op. cit.
119
Quanto à parte da casa alugada a outro inquilino, opino que se faça uma parede
separando a parte da sala das dependências ocupada pela família formando-se um
corredor onde ficam as duas portas internas vedando desse modo o contato dos alunos
com o interior da casa.321
No entanto, como se pode presumir, estas instalações improvisadas das escolas rurais não
eram exclusividade do município de Uberlândia. De acordo com Fortes, ao pesquisar a atuação
de professoras que trabalharam nesse ramo de ensino, no período que compreendeu os anos de
1918 a 1933, tal opção teria acompanhado a existência dos estabelecimentos rurais de ensino
implantados por todo o estado e era ainda no de 1982 apontada pelos técnicos regionais como
solução para o problema da carência de edifícios escolares no meio rural em Minas Gerais.322
319
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata de exames realizados no dia 25 out. 1947. Uberlândia, 1947. Livro
100, p. 11. APU. ARE.
320
Segundo Brandão, a expressão casa de escola é empregada na região amazônica por professores leigos e
populações ribeirinhas para designar as instalações provisórias de algumas salas de aula, que tanto podem ser um
rancho de palha, uma casa abandonada e/ou um canto de salão comunitário. “Não há placas nem sinais exteriores que
digam ao passante que ali é ‘a escola’. Apenas por dentro os sinais do ofício: carteiras, quadro negro, quadros e
cartazes”. (BRANDÃO, Carlos R. Casa de escola. Campinas: Pirineus, 1983, p. 142).
321
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata do termo de visita realizada no dia 14 maio 1951. Uberlândia, 1951.
Livro 109, p. 5. APU. ARE.
322
FORTES, op. cit., p. 84.
120
dos animais no pátio e no interior das escolas, conforme atestou Arantes em relatório referente a
visitas realizadas no ano de 1939:
Quando a localidade contava com salas de aula, mesmo que instaladas em prédios
impróprios como aqueles descritos acima, não havia recursos sequer para dotá-las com os móveis
e utensílios necessários para o funcionamento adequado ao ensino. Móveis que também faltavam
nas escolas urbanas, conforme a visita realizada por Arantes no Grupo Escolar Bueno Brandão:
Encontramos tudo em boa ordem, notando a falta de uma estante para o arquivo dos
objetos escolares que ali não podem ficar por motivo de serem as salas ocupadas
durante o dia pelos alunos do Grupo. Ordenei a Diretora requisitar uma estante
pequena para as professoras guardarem os objetos de uso nas classes.326
323
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata do termo de visita realizada no dia 03 mar. 1939. Uberlândia, 1939.
Livro 94, p. 24. APU. ARE.
324
ENSINO municipal: louvável esforço das autoridades. O Repórter, Uberlândia, p. 1-4, 18 nov. 1947. APU.
325
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata de exames realizados no dia 22 out. 1955. Uberlândia, 1955. Livro
100, p. 17. APU. ARE.
326
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata do termo de visita realizada no dia 11 jun. 1937. Uberlândia, 1937.
Livro 95, p. 26. APU. ARE.
121
Havia carência também de sanitários, livros, filtros de água, iluminação – esta, quando
existia, era quase sempre precária – e demais condições mínimas necessárias para que o professor
pudesse desempenhar suas funções de forma a assegurar um ensino de qualidade. Havia escassez,
inclusive, de carteiras. Na Escola Pública Municipal Conceição de Cima, por exemplo, os alunos
não compareciam às aulas, ano de 1956, em virtude da falta desse móvel, conforme o registro em
ata: “Mais três carteiras duplas completarão o número para os alunos restantes que não
freqüentam a escola por falta de lugar nas carteiras”.327 Em outras escolas do município, cujos
nomes não foram divulgados pelo jornal, no ano de 1959, as carteiras também se constituíam
artigo de luxo. O texto denunciando o estado de miséria que assolava alguns dos
estabelecimentos de ensino mantidos pelo município evidencia a carência desse mobiliário
escolar:
Outra escola que tem 40 alunos dispõe de 10 carteiras. Cada aluno se defende como
pode, como em circo de cavalinho super lotado em dia de espetáculo. Podia-se sugerir
à professora um sistema escolar de rodízio de assentos. Escolas existem onde os
alunos escrevem no chão, assentam-se no chão. E felizes se dão quando encontram
caixotes de querosene para bancos escolares. 328
As escolas urbanas também eram carentes de recursos, sendo a iluminação, quase sempre,
insuficiente, conforme relatou Arantes em uma das visitas que realizou no Grupo Escolar
Noturno da cidade Uberlândia:
Até mesmo o quadro negro, instrumento essencial quando não se têm livros em número
suficiente para atender às necessidades dos alunos, era sempre desgastado e/ou inexistente.
Arantes anotou em ata esta observação em uma das escolas visitadas: “A escola está bem
instalada, faltando um quadro negro e uma talha que virão no mês seguinte”.330 Em suma, tão
precária quanto às instalações, era o interior dessas “escolas”, pois:
327
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata do termo de visita realizada no dia 25 maio 1956. Uberlândia, 1956.
Livro 95, p. 5. APU. ARE.
328
ASSIS, Ruth de. Muito problema difícil. Correio de Uberlândia, Uberlândia, p. 4, 12 maio 1959. APU.
329
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata do termo de visita realizada no dia 30 jul. 1937. Uberlândia, 1937.
Livro 95, p. 27. APU. ARE.
330
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata do termo de visita realizada no dia 27 mar. 1941. Uberlândia, 1941.
Livro 97, p. 09. APU. ARE.
122
331
FAGUNDES, A., op. cit.
332
A ausência de recursos era o argumento mais empregado para justificar a falta de investimentos nas escolas: “Não
há verba. Apenas cr$ 100.000,00 para atender a todas as escolas municipais na zona rural e urbana. Durante um ano.
Uberlândia é, alem disso, o município que maior número possui de escolas. Mas, custeia ensino na cidade, que não é
da competência econômica do município, e sim do Estado”. (ASSUNTOS do município: em verdadeiro abandono se
encontrava o ensino rural. Correio de Uberlândia, Uberlândia, não paginado, 19 mar. 1955. APU).
333
PAES, L. Em torno de um libelo. Diário de Uberlândia, Uberlândia, não paginado, 29 maio 1936. APU. CPJA.
334
FORTES, op. cit., p. 82.
123
Essas iniciativas dos fazendeiros, tendo em vista garantir aos seus camponeses acesso à
educação escolar, eram, inclusive, reivindicadas pela imprensa como forma de auxiliar os
“esforços” que as autoridades locais vinham empreendendo em favor do ensino rural. O editorial
de O Repórter, no ano de 1947, depois de demonstrar os percalços da escola rural no município,
sem, contudo, deixar de elogiar o desempenho do prefeito, sugere a necessidade de a população
residente no campo assumir responsabilidades no tocante à manutenção das escolas instaladas em
suas propriedades.
Os interessados que são os fazendeiros e todos os habitantes dos bairros servidos por
esses institutos, devem, entretanto, desenvolver sua solicitude para melhorar essa
situação, dando às professoras e aos estudantes um pouco de conforto e as condições
higiênicas necessárias à sua saúde.337
335
AS ESCOLAS rurais, 11 ago. 1935, op. cit.
336
FORTES, op. cit., p. 83.
337
ENSINO municipal: louvável ... , 18 nov. 1947, op. cit,. APU.
124
Patrimônio da Rocinha fizeram uma coleta de dinheiro com a finalidade de auxiliar nas despesas
necessárias à construção do prédio onde deveria funcionar a escola que a prefeitura havia se
proposto a construir.338 No ano seguinte, foi instalada a escola rural no Córrego dos Caetanos,
sendo que o prédio onde esta funcionava havia sido “construído pelo povo do bairro”.339
Arantes, ainda que de forma descontínua, também reforçava o coro daqueles que
depositavam na iniciativa privada, em particular, na figura dos fazendeiros, parte da
responsabilidade sobre a edificação dos prédios e manutenção das escolas rurais. No ano de 1941,
por exemplo, ao visitar a Escola Municipal de Machados, ele deixou registrado em ata o seguinte
elogio: “Aqui deixo consignado o meu agradecimento a todos que atenderam o apelo da
Inspetoria Escolar para que se fizesse a casa própria. Mais uma vez, o povo unido e progressista
de Machados deu prova de amor a instrução”.340 No ano seguinte, ao inspecionar os exames
realizados na Escola Municipal de Dourados, Arantes voltou a tocar na mesma questão:
Este prédio foi construído às expensas dos homens de representação das zonas
interessadas pela educação das famílias passando este valioso patrimônio para o
município, como testemunho da operosidade de um punhado de lares brasileiros que
deseja zelar pela cultura intelectual daqueles que vão dirigir os destinos da pátria no
futuro.341
Pelos diversos registros, portanto, concluímos que essas escolas funcionavam em grande
parte em virtude do interesse e também devido aos esforços da comunidade rural em prol da
escolarização de suas crianças. Situação que não permaneceu circunscrita ao município de
Uberlândia, mas que também pode ser verificada em outras regiões do estado de Minas Gerais,
conforme analisou Fortes em seu trabalho sobre a escola rural mineira.343
338
PELA instrução. A Tribuna, Uberlândia, não paginado, 18 jan. 1933. APU. CPJA.
339
NOTAS. A Escola Rural, Uberlândia, não paginado, 15 fev. 1934. APU. CPJA.
340
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata do termo de visita realizada no dia 29 jul. 1941. Uberlândia, 1941.
Livro 94, p. 31. APU. ARE.
341
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata de exames realizados no dia 14 nov. 1942. Uberlândia, 1942. Livro
101, p. 06. APU. ARE.
342
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata de inauguração do novo prédio da Escola Municipal da Fazenda do
Salto realizada no dia 31 set. 1951. Uberlândia, 1951. Livro 100, p. 14. APU. ARE.
343
FORTES, op. cit., p. 83.
125
Quem vem da cidade, aonde encontra todo o conforto que oferece a civilização
moderna, não pode ter boas impressões, sobre a escola rural, o ambiente que a
cerca, e o pobre proletário que a dirige. Já antes de chegar, as estradas cheias
de acidentes de toda natureza, arrasadas pelas chuvas, mal feitas ou mal
conservadas, requerem de quem as percorre, um tanto de espirito heróico e
aventureiro. Aqui uma tronqueira de pau, mais adiante uma cerca de arame.
Além barrancos que se debruçam sobre abismos. Obstáculos sobre obstáculos. 344
Tal situação também foi denunciada de forma contundente por um inspetor técnico do
ensino, que, a propósito de discutir a necessidade de implantação de biblioteca e da imprensa nas
escolas rurais do município de Uberlândia, revelou a situação de completo abandono em que
estavam mergulhadas tais escolas, visível na falta de material didático, precariedade de suas
instalações e, particularmente, no despreparo de seus professores. Os problemas destes são
pintados com cores fortes, mas, nem por isso, distantes da realidade a que estavam relacionados:
344
ROMEIRO, op. cit.
126
onde ela será uma desambientada, hostil e hostilizada, fugindo para o seu lar urbano
aos sábados e nos feriados, licenciando-se com freqüência, esforçando-se desde o
início para se remover para a cidade.345
Pior do que isso [baixos salários] ainda é a dependência moral a chefes políticos, nem
sempre orientados pelos princípios de justiça e de eqüidade. O governo nomeia e
demite ao sabor das conveniências partidárias dos seus amigos, sem a menor
consideração pela competência, pelo esforço, pela capacidade profissional do
candidato. 346
345
FAGUNDES, A., op. cit.
346
PAES, L., 29 maio 1936, op. cit.
347
FORTES, op. cit., p. 81.
348
Segundo as autoras, nas escolas pesquisadas: “Não há estrutura hierárquica interna: estão entregues a professoras
que, além das atividades docentes, desempenham múltiplas funções (preparo de merenda, limpeza da escola, tarefas
administrativas: controle de matrícula, registro de evasão, repetência, promoção, etc.) e que transmitem, na prática, o
pouco que aprenderam, fazendo uma seleção que consideram necessário e compreensível do discurso escolar. Neste
tipo de escola, predominam as classes multisseriadas, onde uma única professora leciona ao mesmo tempo para duas
e até três séries diferentes, o que compromete ainda mais a qualidade do ensino”. (AZEVEDO, Ederlinda Pimenta
de; GOMES, Nilcéa Moraleida. A instituição escolar na área rural em Minas Gerais: elementos para se pensar uma
proposta de escola. Cadernos Cedes, São Paulo, n.11, p. 32, 1984).
127
sacrifício, não têm na sua totalidade a competência necessária, visto que são obrigados a
lecionarem simultaneamente conhecimentos referentes aos 4 anos do curso primário”.349
Saem eles das suas casas, vão para o campo em casas particulares, sem acomodações,
alimentando-se miseravelmente, sem material escolar, quasi sem esperanças de verem
realizados seus esforços, tamanhas são as dificuldades que tem de enfrentar. Adoecem
do corpo e do espírito, recebendo em troca, ordenado escasso. (...) Lutam contra a
ignorância, contra a falta de higiene, e no fim dessa luta, estão mais sem recursos do
que no início dela, pois além de tudo, deixam em casa do roceiro a sua saúde.351
349
FREITAS, Renato de. O ensino rural. Correio de Uberlândia, Uberlândia, não paginado, 3 jul. 1955. APU.
350
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata do termo de visita realizada no dia 28 jul. 1939. Uberlândia, 1939.
Livro 98, p. 5. APU. ARE.
351
SILVA, A. Escolas e professores rurais. O Estado de Goiás, Uberlândia, p. 1, 31 maio 1942. APU. ARE.
128
professores, assim como o auxílio que eles prestavam ao poder público municipal no sentido de
contribuir para a manutenção da escola primária.
O olhar dirigido por Arantes ao ensino do município era benevolente e, por conseguinte,
matizado pela complacência. Desta forma, reconhecia que eram parcos os recursos, mas, por
outro lado, acreditava que o poder público municipal empenhava-se, dentro das suas limitações,
para garantir à população um ensino primário de acordo com os padrões do que deveria ser uma
boa escola – professores preparados, infra-estrutura adequada e prédios higienizados – e, por isso,
não aceitava passivamente as críticas publicadas em um ou outro jornal. Ao contrário, sempre
que a ocasião permitia, tornava público o seu reconhecimento pelo trabalho que os prefeitos
vinham desempenhando em benefício da escolarização dos habitantes da cidade e da zona rural.
Ao proferir um discurso, durante a cerimônia de inauguração da Escola Pública Municipal do
Bairro Divisa, ele enfatizou a atuação positiva da prefeitura local em prol da educação escolar:
Disse bem do interesse do governo municipal para instruir a mocidade rural outrora
desprotegida dos governos que não cuidaram da instrução dos habitantes do
município, agora carinhosamente cuidada como se pode atestar com o grande número
de escolas que funcionam em diversos pontos do município ... .352
A abertura de escolas, por exemplo, era sempre motivo para cobrir de elogios o chefe do
executivo, conforme registrado nas atas redigidas em maio de 1939, quando nove escolas rurais
foram inauguradas. Em uma delas, encontramos a seguinte descrição:
352
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata de instalação da Escola Pública Municipal do Bairro Divisa realizada
no dia 13 maio 1938. Uberlândia, 1938. Livro 98, p. 3. APU. ARE.
353
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata de instalação da Escola Pública Municipal do Bairro Cabaças
realizada no dia 13 maio 1939. Uberlândia, 1939. Livro 99, p. 2. APU. ARE.
129
Em várias passagens das atas que redigiu, fosse quando visitava as escolas em inspeção,
fosse quando acompanhava o trabalho das bancas examinadoras dos alunos, Arantes deixou
registrados os aspectos positivos da atuação dos prefeitos em benefício do desenvolvimento do
ensino escolar em Uberlândia. Reconhecia a existência de vários problemas, mas, sobretudo,
ressaltava as iniciativas do chefe do Executivo em solucioná-los. Em um discurso que proferiu
durante a primeira reunião dos professores primários municipais, ao encerrar as aulas no primeiro
semestre de 1933, ele referiu-se ao empenho do prefeito com as seguintes palavras:
Em outra ocasião, ao visitar as salas noturnas que funcionavam na escola Bueno Brandão
sob a responsabilidade do município, ele enfatizou a reivindicação do prefeito em favor da
instalação de um grupo escolar noturno, que deveria ser mantido pelo governo do estado, e
acrescentou os seguintes elogios ao chefe do executivo de Uberlândia: “zeloso para tudo que
constitui progresso para a sua terra natal”.355
354
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata da primeira reunião dos professores primários municipais em
comemoração ao encerramento das aulas realizada no dia 03 jul. 1933. Uberlândia, 1933. Livro 96, p. 4. APU.
ARE.
355
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata do termo de visita realizada no dia 02 maio 1935. Uberlândia, 1935.
Livro 95, p. 13. APU. ARE.
130
professores.356 Tal artigo saiu no jornal do dia 11 de agosto, e uma semana após, no próximo
número – nessa época, a periodicidade desse jornal era semanal –, no dia 18, publicou-se a
réplica do inspetor de ensino, que, segundo o redator, teria ido à sua casa para esclarecer os fatos
e, portanto, contradizer as críticas do professor “rebelde”. Na ocasião, Arantes teria levado
consigo fotografias das escolas rurais na tentativa de assegurar a veracidade de suas informações.
... trouxe-nos em nossa casa o sr. Jerônimo Arantes, inspetor das escolas rurais
que veio “não protestar contra as palavras” mas “prestar alguns informes.”
Disse o mesmo não ter razão o “tal professor” em se queixar do pouco que
percebe, porquanto o mesmo vem ganhando, mais ou menos tanto quanto um
seu colega do Ginásio. (...) “Também não cabe razão, ao professor informante,
no que toca aos prédios. É verdade que não são palacetes, porém estão eles de
acordo com a verba — é verdade que bastante exígua — da prefeitura e com a
boa vontade manifestada pelos fazendeiros onde são localizadas as escolas”.
(...) Mostrou-nos, então, o sr. Jerônimo Arantes, várias fotografias, ilustrando
assim seus informes.357
É também nesse sentido que procurava com freqüência valorizar os empreendimentos que
a comunidade rural realizava tanto na construção de escolas, quanto na doação de edifícios para
que estas funcionassem e/ou no financiamento das reformas de antigos prédios, dando a entender
que as iniciativas particulares eram uma conseqüência natural do civismo do homem do campo e
da consciência de seu dever para com a instrução de crianças e que, por isso, não poderiam ser
interpretadas como significado da omissão dos governos municipais diante da sua obrigação em
356
AS ESCOLAS rurais, 11 ago. 1935, op. cit.
357
AS ESCOLAS rurais. Jornal de Uberlândia, Uberlândia, não paginado, 18 ago. 1935.APU. CPJA.
358
AS ESCOLAS rurais, 18 ago. 1935, op. cit.
359
AS ESCOLAS rurais, 18 ago. 1935, op. cit.
131
assegurar a educação pública primária a todos aqueles que dela necessitassem. Em várias atas
encontramos de forma explícita essa sua posição, sendo que a seguinte sintetiza as demais:
Era ciente também da situação de debilidade das instalações onde funcionavam algumas
escolas, mas fazia o possível para mitigar o estado de penúria de muitas delas, como, por
exemplo, na descrição otimista que fornece da instalação precária e imprópria da Escola Pública
Municipal do Bairro Estivinha: “A escola funciona num rancho de palha oferecendo boa
acomodação aos escolares, comportando folgadamente os móveis de uso”.361
No entanto, o teor do fragmento acima se constitui em uma exceção, pois, sempre que
possível Arantes procurava ressaltar as qualidades, muita vezes ignoradas, segundo ele, dos
mestres que atuavam no ensino primário municipal, conforme homenagens prestadas a Carlos
Fonseca na revista Uberlândia Ilustrada e a Virgílio S. Soares na ata de exames:
360
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata de exames realizados no dia 16 out. 1952 . Uberlândia, 1952. Livro
104, p. 8. APU. ARE.
361
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata de exames realizados no dia 25 out. 1949. Uberlândia, 1949. Livro 2,
p. 2. APU. ARE.
362
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata de exames realizados no dia 15 nov. 1941. Uberlândia, 1941. Livro
98, p. 11. APU. ARE.
132
nunca sairiam das trevas da ignorância. À sua memória estas singelas palavras
como expressão de reconhecimento e saudade.363
Da mesma forma, de acordo com o que se depreende dos seus registros oficiais, sabia
como era difícil a vida no campo e não exigia muito dos alunos, a não ser assiduidade, um bom
desempenho nas provas dos exames finais e um comportamento e aparência adequados à
disciplina necessária ao pleno desenvolvimento das atividades escolares, conforme registrou em
uma das atas de exames: “... revelando os alunos bom aproveitamento nos estudos, estando em
boa ordem todos os trabalhos escolares, estando a escola uniformizada de cáqui com belíssima
aparência”.365
Não ignoramos, todavia, que essa positividade com a qual Arantes tecia as suas
considerações acerca do ensino público no município – e que, conforme analisamos, perpassava
também muitas crônicas, artigos, editoriais e demais textos publicados na imprensa local – fazia
parte de um conjunto de representações pacientemente elaborado, cuja finalidade era valorizar a
educação pública municipal e, por conseguinte, majorar a sua própria atuação na condição de
educador e, depois, funcionário público a serviço da educação mantida pela prefeitura local.
Os traços dessa visão otimista ficaram impressos não só nos artigos que ele publicou na
imprensa local, tanto aqueles veiculados pelos jornais quanto os que apareceram nas páginas da
revista Uberlândia Ilustrada, mas podem ser encontrados também: nos registros das atividades
escolares constantes nas atas das reuniões escolares, discutidos nas páginas precedentes; no seu
interesse pela elaboração e divulgação de dados estatísticos referentes ao ensino público em
funcionamento na cidade e, principalmente, nas várias fotografias das escolas rurais com que ele
colaborou para que fossem produzidas e que depois manteve em seu arquivo.
Sobre o interesse que Arantes parecia nutrir pela estatística, podemos supor que estivesse
relacionado ao reconhecimento que esse método de investigação passou a desfrutar nas primeiras
363
PROFESSOR Carlos Fonseca. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 10, p. 32, jul. 1941. APU. CPJA.
364
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata de exames realizados no dia 18 out. 1955. Uberlândia, 1955. Livro
101, p. 31. APU. ARE.
365
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata de exames realizados no dia 18 out. 1956. Uberlândia, 1956. Livro
114, p. 04. APU. ARE.
133
décadas do século XX. Dentre as representações que emergiram a partir de então, destaca-se a
valorização das estatísticas como um dos instrumentos eficazes para se obter a plena
racionalidade do conhecimento acerca dos fatos que compõem o real. Engendrou-se a crença de
que a elaboração de dados estatísticos, assim como o seu emprego, garantiria aos estados a
prerrogativa de intervir no real de forma racionalizada, posto que fundamentados em dados
extraídos da realidade. Nesse sentido, o conhecimento dos números poderia significar o salto em
direção ao tão propalado mundo civilizado.366
Tendo, pois, como preocupação esse emprego racionalizado dos números e, por
conseguinte, a possibilidade que eles engendravam de servir como propaganda política, a
estatística educacional foi amplamente empregada no estado de Minas Gerais, assim como nos
demais estados da federação, a partir do final do século XIX.367 Essa apologia em torno dos
366
“O século XIX viu florescer numerosas pesquisas estatísticas cobrindo domínios tão variados quanto a
prostituição, as condições de vida dos operários, os traços antropométricos de conscritos ou de criminosos, os
sistemas industrial e agrícola. Esses registros estatísticos tinham uma finalidade precisa: melhor delimitar o
fenômeno para melhor controlá-lo o nele intervir. Mas, progressivamente, esta finalidade 'social e política' se
desdobrou numa finalidade científica: melhorar o conhecimento de certos fenômenos sociais ou humanos. A crença
na idéia de que um conhecimento quantificado dos fatos da sociedade permite melhor conhecê-los e eventualmente
modificá-los era muito promissora, tanto para os administradores do Estado quanto para os cientistas. A estatística
estava 'quase por toda parte', era largamente difundida”. (MARTIN, Olivier. Da estatística política à sociologia
estatística. Desenvolvimento e transformações da análise estatística da sociedade (séculos XVII-XIX). Revista
Brasileira de História, São Paulo: ANPUH/Humanitas, n. 41, p. 14, 2001).
367
Faria Filho e Bicas ressaltam que as primeiras estatísticas educacionais elaboradas no estado de Minas (assim
como em outros estados do país) caracterizavam-se pela imprecisão e pela manipulação grosseira dos dados: “Em
Minas Gerais, por exemplo, nas primeiras décadas deste século, muitos Secretários do Interior e, mesmo, Presidentes
de Estado, reclamavam da ausência de bases estatísticas confiáveis sobre os quais eles pudessem desenvolver
diagnósticos, definir prioridades e traçar metas de ação. É evidente que boa parte desses sujeitos acabaram, eles
também, por mistificar a importância da estatística. No entanto, não parece restar dúvida que eles lidavam com uma
dificuldade concreta e, até hoje, desafiadora para o melhor conhecimento da realidade educacional”. (FARIA
FILHO, Luciano M. de; BICCAS, Maurilane de S. Educação e modernidade: a estatística como estratégia de
conformação do campo pedagógico brasileiro (1850-1930). Educação e Filosofia, Uberlândia, n. 27/ 28, p. 185,
jan./jun./jul./dez 2000).
134
dados numéricos também contagiou Uberlândia e, como Arantes, além de inspetor de ensino era
membro do IBGE, ele investiu na organização dos números relativos à educação no município e,
sobretudo, na sua divulgação nos veículos impressos existentes no período, tais como os jornais
que circulavam em Uberlândia e a revista de sua propriedade.368
Arantes apresentava dados comparativos por meio dos quais era possível acompanhar a
trajetória ascendente dos investimentos municipais aplicados na educação escolar, e como os
dados divulgados circunscreviam-se aos aspectos positivos da questão, em detrimento da
divulgação dos problemas existentes, os seus efeitos revestiam-se sempre de uma conotação
positiva.369
368
Algumas das estatísticas publicadas na década de 1950 podem ser encontradas nos seguintes jornais:
MELLO, João Edson de. A instrução primária em Uberlândia. Correio de Uberlândia, Uberlândia, não paginado, 14
dez. 1950. APU.
INSTRUÇÃO municipal, 15 dez. 1951, op. cit.
EDUCAÇÃO pública municipal. Estatística escolar. Correio de Uberlândia, Uberlândia, p. 03, 31 dez. 1952. APU.
PREFEITURA Municipal de Uberlândia. Suplemento Comercial Ilustrado, Araguari, p. 06, 1952. APU. CPJA.
INSTRUÇÃO municipal, 25 abr. 1955, op. cit.
369
Além da falta de critérios na elaboração das estatísticas educacionais e da imprecisão dos dados, presentes,
sobretudo, nos trabalhos elaborados no século XIX, a manipulação dos seus resultados era outro obstáculo que
impedia ⎯ e ainda hoje impede ⎯ o emprego sem questionamento dos seus dados. Em 1882, ao apresentar ao
Parlamento Brasileiro os seus Pareceres sobre a Reforma do Ensino Primário e Várias Instituições complementares
da Instrução Pública, Rui Barbosa já alertava sobre esse problema. (FARIA FILHO; BICCAS, op. cit.).
135
Arantes, portanto, objetivava com a utilização desse instrumento, por um lado, tornar
visível as ações municipais — das quais era co-responsável — em prol da escola pública no meio
urbano e rural; por outro, evidenciar a si próprio, fosse como agente municipal de ensino fosse
enquanto pesquisador e ordenador de dados. Nesse sentido, a eficácia da sua estratégia seria tanto
mais profícua quanto mais se difundisse a legitimidade dos números apresentados, e esta
legitimidade estaria garantida, uma vez que os dados partiam de uma autoridade do ensino
municipal e também de um homem cujo trabalho com a pesquisa era do conhecimento público.370
370
“Os usuários das estatísticas se apoiam nelas para definirem construções mais amplas, tanto para gerirem o mundo
social, tomarem decisões, repartirem os recursos e ajustá-los aos fins, como para argumentarem no quadro de um
debate. Em todos estes casos, a estatística é uma referência supostamente segura, e é esta legitimidade que lhe dá
força”. (DESROSIÈRE, Alain. Entre a ciência e o universal e as tradições nacionais. In: BESSON, Jean-Louis
(Org.). A ilusão das estatísticas. São Paulo: UNESP, 1997, p. 182).
371
Para Kossoy: “O assunto, tal como se acha representado na imagem fotográfica, resulta de uma sucessão de
escolhas; é fruto de um somatório de seleções de diferentes naturezas (...) seleções essas que ocorrem mais ou menos
concomitantemente e que interagem entre si, determinando o caráter da representação”. (KOSSOY, Boris.
Realidades e ficções na trama fotográfica. Cotia: Ateliê Editorial, 2002, p. 27).
136
Em seu depoimento, Delvar Arantes comentou que, durante as visitas realizadas por seu
pai às escolas rurais, a fim de inspecionar as provas dos exames finais dos alunos, fazia parte da
comitiva, além dos professores e administradores escolares que compunham a banca
examinadora, um fotógrafo chamado Marinho Lozzi.372 De fato, os documentos pesquisados
freqüentemente apresentam comentários acerca da recepção oferecida pela comunidade escolar
das fazendas visitadas às autoridades do meio educacional do município que iam inspecionar as
provas dos exames finais dos alunos e, por meio deles, comprovamos também a realização de
sessão fotográfica. Tal sessão parecia ser muito valorizada por Arantes, pois, além de ficar
registrada em ata, no ano de 1946, ao documentar os exames realizados na Escola Pública
Municipal de Dourados, ele assim mencionou: “Pelo fotógrafo da banca foi retratado o aspecto
festivo onde compareceu grande número de pessoas residentes no meio, dando brilho às
solenidades do encerramento das aulas nesta importante escola rural”.373
372
Segundo Delvar, a presença desse fotógrafo era imprescindível nessas ocasiões, pois, além de documentar com as
suas imagens o trabalho realizado nas escolas, ele também fotografava os depoentes que, porventura, o professor
Jerônimo Arantes encontrasse nas localidades visitadas. Dessas pessoas, o professor Jerônimo buscava dados
relativos à história de Uberlândia e região para subsidiar a pesquisa com a qual pretendia escrever o livro contando a
história da cidade. (ARANTES, D., 2000, op. cit.).
373
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. , 03 dez. 1946, op. cit., p. 25.
137
Além de esses exames significarem uma cerimônia oficial, para cuja realização concorriam todos
os esforços dos alunos e dos professores das escolas rurais, revestiam-se de uma outra conotação
que se caracterizava pelo aspecto inusitado da ocasião, alterando a rotina dos trabalhos, fossem
aqueles realizados no interior da escola, fossem aqueles executados na lavoura e nas residências
dos agricultores. Naqueles momentos as escolas preparavam-se para receber autoridades que
comumente não as freqüentavam, tais como diretores de escolas, professores e inspetores de
ensino provenientes da cidade. Nessas ocasiões, os professores procuravam acrescentar à
exposição dos resultados dos trabalhos desenvolvidos ao longo do ano, as atividades escolares
realizadas pelos alunos, e esses, por sua vez, contribuíam mantendo a disciplina e apresentando-
se uniformizados. No ano de 1942, consta em uma das atas a seguinte informação: “No recinto do
salão figuram trabalhos dos escolares, lindos desenhos e mapas, demonstrando o esforço da
dedicada professora da cadeira e capricho dos alunos. A escola está com o uniforme oficial e
notando-se ótima disciplina e correção nos trabalhos escolares”.374
374
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal, 16 nov. 1942, op. cit.
138
Até mesmo a rotina doméstica modificava-se nessas ocasiões, uma vez que sempre era
oferecido aos visitantes um festivo almoço ou, dependendo da hora, um farto jantar. Em 1933, o
jornal A Tribuna publicou um artigo comentando a realização de um desses exames ao qual
estivera presente Arantes na qualidade de inspetor municipal de ensino, e, assim, tornou-se
possível compreender algumas das atividades desenvolvidas naquelas ocasiões:
A prefeitura, por seu digno inspetor escolar, prof. Jerônimo Arantes, está procedendo
aos exames nas inúmeras escolas rurais, distribuídas por todos os recantos do
município. No dia 4, esse complexo serviço teve início na escola instalada na fazenda
Paranan regida pela professora Graciema Rios. Depois de terminados os exames, o
representante do sr. prefeito, professor Arantes, pronunciou um vibrante discurso,
análogo ao ato (...). Foi servido um rico lanche aos alunos e convidados. Tiraram-se
diversas fotografias, tendo o sr. Tiquino oferecido, na sede da fazenda um lauto
almoço...377
As fotografias eram, portanto, tiradas em um momento muito especial, pois esses exames
375
INSTRUÇÃO Municipal. A Tribuna, Uberlândia, não paginado, 03 dez. 1933. APU. CPJA.
376
Algumas professoras que trabalharam nas escolas rurais no estado de Minas Gerais formularam representações
acerca dos anos em atuaram no magistério e, dentre essas representações, Fortes destacou a impressão deixada pelas
visitas dos inspetores de ensino: “Localizadas em pequenos núcleos povoados e fazendas geralmente distantes das
cidades, essas escolas rurais, entregues aos cuidados de uma única professora, recebiam, de vez em quando, uma
visita importante: o inspetor, elo entre a escola e o poder central estadual ou municipal. Apesar de serem esparsas as
visitas de inspeção, quebrava-se a rotina da escola rural com a chegada do inspetor. A professora se via, de repente,
às voltas com um visitante que, mesmo não participando do dia-a-dia da escola e das dificuldades que surgiam, tinha
poder de interferir e fiscalizar o trabalho ali realizado”. (FORTES, op. cit., p. 85).
377
INSTRUÇÃO rural em Uberlândia. O Estado de Goyaz, Uberlândia, p. 1;4 , 07 nov. 1940. APU. CPJA.
378
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata de exames realizados no dia 10 nov. 1941. Uberlândia, 1941. Livro
94, p. 32. APU. ARE.
140
representavam para a comunidade escolar uma cerimônia revestida de respeito, na qual todos os
participantes tinham a preocupação de apresentar-se da melhor forma possível, e, ao fotografar as
escolas apenas nesses instantes extraordinários, Arantes legou uma imagem da educação rural
mantida pelo município que não correspondia ao cotidiano mais rotineiro daquelas escolas. As
imagens constituíam-se antes em instantâneos de uma situação inabitual, obtidos por meio de
uma encenação cujo cenário e figurinos eram muito bem dirigidos. Conforme ressaltou Kossoy,
as fotografias “... nos mostram um fragmento selecionado da aparência das coisas, das pessoas,
dos fatos, tal como foram (estética/ideologicamente) congelados num dado momento de sua
existência/ocorrência”.379
Era, então, a imagem congelada das escolas rurais em dias festivos, em momentos
excepcionais, que parece ter sido eleita por Arantes para retratar a situação do ensino municipal
em Uberlândia na época em que ele foi uma de suas principais autoridades. Ao tentar cristalizar,
por meio do registro fotográfico, a representação das escolas municipais como locus da
disciplina, da abastança e da harmonia, ele, ao mesmo tempo, produziu a representação de seu
trabalho como fonte do sucesso dessas instituições de ensino.
Devemos, contudo, ressaltar que, para tornar eficaz essa sua imagem, era necessário
também elevar o padrão do ensino municipal, fosse reivindicando a ampliação do número de
estabelecimentos de ensino e tentando melhorar o estado de conservação daqueles já existentes,
fosse acompanhando o trabalho dos professores, elogiando os seus esforços e estimulando-os a
melhor desempenhar as suas funções no magistério, conforme já destacamos. No de 1951, o
jornal Correio de Uberlândia prestou uma homenagem a Arantes na qual frisou a sua luta em
benefício do aperfeiçoamento da escola pública na cidade, sobretudo, do aprimoramento do
ensino primário, por meio do qual se reforçava essa representação:
379
KOSSOY, op. cit., p. 21.
380
INSTRUÇÃO municipal, 15 dez. 1951, op. cit.
141
De fato, o esforço que envidou no sentido de construir uma memória edificante para a
educação municipal e, por conseguinte, de tentar associá-la a si próprio não parece ter sido em
vão, pois, sempre que se discutia a educação escolar em Uberlândia, Arantes era citado como
sinônimo de trabalhador devotado às grandes causas do ensino primário no município,
particularmente, ao ensino ministrado na zona rural. Em 1942, depois de elogiar a administração
do prefeito Vasco Giffoni, o jornal A Tribuna louvou a atitude do prefeito em ter nomeado, na
década anterior, Arantes como inspetor municipal de ensino:
381
UM progresso soberbo fixa uma ótima administração. A Tribuna, Uberlândia, não paginado, 05 jul. 1942. APU.
CPJA.
382
‘MINHA aposentadoria’. Elite Magazine, Uberlândia, n. 16, p. 8, maio 1959. APU. CPJA.
383
PAVAN, Angelino. Jerônimo Arantes: cidadão uberlandense. O Triângulo, Uberlândia, não paginado, 02 maio
1970. APU. CPJA.
142
Mesmo naqueles artigos nos quais os autores ensaiavam uma tímida crítica aos parcos
investimentos públicos direcionados à educação, Arantes era lembrado por ter desempenhado as
suas funções com responsabilidade, não descuidando da tarefa de proporcionar à população
estudantil acesso às escolas. Em outros poucos artigos, cujas críticas ao ensino mantido pelo
município e, também, ao desinteresse dos prefeitos em implementá-lo eram contundentes, o seu
nome era poupado. Se, ao contrário dos casos precedentes, não elogiavam a atuação do inspetor
de ensino e depois chefe do Serviço de Educação e Saúde, também não o mencionavam como co-
responsável pelos problemas que perpassavam a sua Secretaria.
No ano de 1952, foi publicado um artigo no jornal Correio de Uberlândia cujo autor, após
visitar a Escola Municipal Padre Anchieta, um dos estabelecimentos de ensino mantidos pela
prefeitura, denunciou alguns problemas que obstavam o seu funcionamento — assim como o das
demais escolas públicas municipais —, principalmente aqueles decorrentes do número
insuficiente de professores e, embora tenha criticado a falta de iniciativa do prefeito, não atribuiu
nenhuma parcela de responsabilidade ao chefe do Serviço de Educação e Saúde do Município.
Conforme se lê no aludido texto:
É de se lamentar que o sr. prefeito municipal que tanto zelo tem pelas cousas publicas
entregue ao esquecimento de qualquer providência as escolas do município. Elas
caminham por si graças aos esforços das professoras abnegadas, com verbas
insuficientes, com turmas de diferentes graus de adiantamento estudando na mesma
sala e no mesmo horário ou com professoras de um curso lecionando em outros dentro
do mesmo horário escolar.384
A única exceção encontrada a esse respeito pode ser verificada em um artigo publicado no
jornal Correio de Uberlândia no ano de 1952, no qual a autora, depois de enumerar os problemas
existentes no Grupo Escolar Augusto César (tais como excesso de alunos para pouco espaço e
professoras sobrecarregadas pelo trabalho em classes multisseriadas), refere-se criticamente à
atitude defensiva assumida por Arantes em favor das escolas municipais:
O nosso artigo não mereceu compreensão construtiva do sr. Jerônimo Arantes, chefe do
Serviço de Educação da prefeitura Municipal. Em vez de providenciar junto aos poderes
municipais competentes para sanar as falas apontadas, veio com uma “carta aberta” pelo
jornal local 'O Repórter' em que usava a falta de fatos para contestar verdades de fatos,
adjetivos mais enfileirados sobre a nossa pessoa — tentando fazer crer que nós éramos
mentirosos. E procurando dar a entender ao povo que as ESCOLAS municipais primam pela
384
CARLOS, Ozilio. Sem professoras a Escola Municipal “Padre Anchieta”. Correio de Uberlândia, Uberlândia, p.
5, 10 ago. 1952. APU.
143
boa instalação dos prédios e das salas — de modo que as professoras que ganham ordenados
enormes podem realizar prodígios na educação. 385
Pela reação de Arantes, deduzimos quão importante era para ele salvaguardar a educação
pública municipal de quaisquer críticas que pudessem macular as escolas, bem como tomamos
conhecimento das suas tentativas de defender as iniciativas do prefeito e, sobretudo, de ressaltar o
seu próprio trabalho.
Ao acentuarmos o carinho patriótico com que o prefeito Vasco Giffoni atende à parte
administrativa que se refere ao ensino, é de justiça que não se esqueça da abnegação
profícua com que é auxiliado pelo professor Jerônimo Arantes, inspetor escolar
municipal, cuja incansável operosidade já se tornou um patrimônio moral da
prefeitura. A ele que tem uma paciência beneditina no seu espinhoso mister e uma
confiança absoluta na ação do governo a que serve, deve-se na obra de civismo que é
a alfabetização de nossa infância um contingente de subido valor.387
385
MARIA TERESA, op. cit.
386
‘RELATÓRIO escolar’. O Repórter, Uberlândia, não paginado, 12 dez. 1937. APU.
387
INSTRUÇÃO pública municipal. O Repórter, Uberlândia, p. 2, 29 nov. 1941. APU.
144
Toda essa representação não se deu de forma natural, ao contrário, contou com a
diligência de Arantes que, para construí-la, recorreu às estatísticas e aos relatórios, revelando a
expansão do número de escolas e, portanto, de crianças alfabetizadas pelo município; utilizou-se
da imprensa como veículo propagador de seu trabalho, pois publicava nos jornais os resultados
dos levantamentos estatísticos, escrevia artigos combatendo as críticas que porventura eram
dirigidas à educação municipal; por fim, deixou diversas fotografias retratando o ambiente
escolar da zona rural em momentos extraordinários.
388
INSTRUÇÃO municipal, 15 dez. 1951, op. cit.
145
No que tange ao primeiro aspecto, concluímos que as festas realizadas nas escolas
representavam para a pequena cidade de Uberlândia, notadamente até a década de 1950, uma
ocasião muito especial. E essa relevância não se circunscrevia apenas àquela cidade, pois de uma
forma geral esses momentos festivos eram muito valorizados no país durante o período em
questão. Além da importância de que gozavam junto à população local, as festas escolares eram
amplamente defendidas por alguns teóricos da educação, sobretudo por aqueles ligados à
Associação Brasileira de Educação (ABE) ⎯ fundada no Rio de Janeiro em 1924 ⎯, por se
constituírem em possibilidade de disciplinamento do cotidiano intra e extra escolar. Segundo
Carvalho:
A eficiência pedagógica das comemorações festivas escolares era, no círculo
educacional, a razão de existência de tais práticas (...). Educando ‘pela representação
ou evocação de fatos dignos de ser imitados’, as festas forneciam às crianças
‘oportunidade para gravar, indelevelmente, muitas lições proveitosas’. (...) Quando
isto não ocorresse, as festas teriam pelo menos influência indireta sobre eles,
‘elevando a escola e o papel do professor’.389
Essas festividades eram realizadas pelos mais diversos motivos, tais como inauguração de
escolas, formaturas, comemoração de datas cívicas — nestas, incluíam-se, além daquelas já
consagradas (como descobrimento e independência do Brasil, proclamação da República e
libertação dos escravos), o dia da árvore e do professor — e provas de exames finais. Entre os
convidados, ao lado dos diretores, professores, alunos e familiares, era freqüente a presença das
autoridades mais respeitadas do município, tais como o prefeito e seus secretários, juiz de paz,
promotor de justiça, inspetores de ensino, proprietários de jornais e outros.
389
CARVALHO, M. , 1989, op. cit., p. 76-77.
146
alunas, teria sido realizada uma cerimônia religiosa, com a entoação de hinos e dramatização de
textos cristãos. O jornal prosseguia descrevendo o evento:
Teve lugar na noite de ontem a festa de entrega de diplomas do curso primário aos
alunos da Escola Luiz Pasteur desta cidade. (...) Após o programa, que constou de
números de canto, declamação, bailado e entregas de prêmios aos alunos que mais se
destacaram no curso, usou da palavra o Professor Jerônimo Arantes, representante do
prefeito municipal, pronunciando mais um de seus belos discursos, ressaltando o
interesse do poder municipal em torno da instrução.391
390
GRUPO ‘Bueno Brandão’. A Tribuna, Uberlândia, não paginado, 20 set. 1933. APU. CPJA.
391
ENTREGA de diplomas na Escola Luiz Pasteur. O Repórter, Uberlândia, não paginado, 03 dez. 1954. APU.
147
estado de São Paulo durante a primeira República, Carvalho ressalta o papel que essas ocasiões
desempenhavam na relação estabelecida entre a escola, o poder político e a comunidade:
Como signo da instauração da nova ordem, a escola devia fazer ver. Daí a
importância das cerimônias inaugurais dos edifícios escolares. O rito inaugural
repunha o gesto instaurador. (...) Para fazer ver, a escola devia se dar a ver.
Daí os edifícios necessariamente majestosos, amplos e iluminados, em que tudo
se dispunha em exposição permanente. Mobiliário, material didático, trabalhos
executados, atividades discentes e docentes ⎯ tudo devia ser dado a ver de
modo que a conformação da escola aos preceitos da pedagogia moderna
evidenciasse o Progresso que a República instaurava.392
Nas escolas localizadas na zona rural, ainda que não contassem com a presença maciça de
todas as autoridades locais, as festas escolares também serviam ao poder público municipal como
fonte de propaganda política. Sendo a escola primária rural o locus principal de atuação do
município no âmbito da educação, era para as fazendas que os políticos direcionavam a
divulgação dos investimentos em educação e era para lá também que eles se dirigiam em busca
de seus eleitores na época da inauguração dos prédios escolares.
Cerca das 15,30 horas do dia 6 deste, o prefeito municipal Tubal Vilela da
Silva, em companhia de sua ilustre comitiva, composta de dos senhores
vereador (...), prof. Jerônimo Arantes, chefe do Serviço de Educação e Saúde do
Município (...), inaugurou no distrito de Cruzeiro dos Peixotos mais um grupo
escolar. (...) Várias homenagens foram prestadas à comitiva municipal.394
Por um lado, portanto, os liames existentes entre a política e a educação instituíam-se por
meio da freqüentação, pois os políticos e/ou seus representantes, incluindo-se Arantes,
392
CARVALHO, M., 1989, op. cit., p. 23; 25.
393
GRUPOS escolares municipais. Correio de Uberlândia, Uberlândia, p. 2, 01 dez. 1953. APU.
394
INAUGURADO em Cruzeiro dos Peixotos o grupo escolar Odilon Beberens. Correio de Uberlândia, Uberlândia,
p. 3, 10 jan. 1953. APU.
148
Pelas atas das reuniões escolares, concluímos que apenas sete escolas foram visitadas com
mais freqüência durante toda a década de 1930. Nessa época, há registro de visitas aos seguintes
locais: Escolas Municipais Machado, Alagoas, Paraíso, Divisa, Escola Cabaçais, Olhos D’água e
Samambaia.395 No entanto, nesse período, mais precisamente no ano de 1938, o total de escolas
existentes na zona rural perfazia um número de 27.396 No início da década de 1950, o total de
escolas instaladas na zona rural era de 41 estabelecimentos.397 Em 1954, mais dez escolas tinham
sido inauguradas.398 Entretanto, durante todo os anos que compreendem as décadas de 1940 e
1950, apenas 13 estabelecimentos, relacionados a seguir, tiveram o registro de visitas da inspeção
municipal: Paraíso, Divisa, Cabaçais, Olhos D’água, Samambaia, Dourados, Governador
Valadares, Gordura, Água Limpa, Sobradinho, Felipe dos Santos, Boa Vista e Cruz Branca.399
395
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. APU. ARE.
396
INSTRUÇÃO. Correio D’oeste, [S.l.], p. 2, 09 jan. 1938. APU. CPJA.
397
EDUCAÇÃO Municipal. O Repórter, Uberlândia, não paginado, 25 dez. 1950. APU.
398
INSTRUÇÃO Municipal, 25 abr. 1955, op. cit.
399
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. APU. ARE.
400
Palestra de Antônio Pereira da Silva sobre a história da educação escolar em Uberlândia, apresentada no I Ciclo
de Palestras em História da Educação, promovido pelo programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade
Federal de Uberlândia, Uberlândia, MG, 09 ago. 2002.
149
O que explicaria a ausência de inspeção presencial nessas escolas? Segundo Silva, o fator
principal desse descaso residiria na seguinte questão: a comunidade rural que habitava a região
onde estavam instalados tais estabelecimentos escolares não representava peso político.
Normalmente, eram localidades para as quais os fazendeiros não destinavam muitos recursos e
que, por conseguinte, não poderiam contribuir com o financiamento das campanhas políticas.
Além disso, por não serem grandes proprietários de terra, não exercendo, portanto, o poder
oriundo da riqueza, era quase inexistente sua capacidade de influência sobre seus agregados e/ou
demais habitantes da região. Nesse sentido, seus votos não se consubstanciavam na garantia do
voto dos seus funcionários, vizinhos e/ou familiares, e, provavelmente por isso, as escolas
existentes em suas terras permaneciam relegadas ao abandono.
Situação que não se restringia à cidade Uberlândia e região mais próxima, uma vez que
essas relações de interesse que se estabeleciam entre o poder político e a educação também foram
verificadas por Fortes nas escolas rurais mineiras, localizadas no município de Belo Horizonte,
onde: “... o ensino primário rural (...) sofreu forte influência dos políticos locais, que viam na
escola um instrumento de barganha. Essa influência se fez sentir na instalação de escolas e na
indicação de professoras”.401
401
FORTES, op. cit., p. 92.
402
O Partido Popular Progressista foi fundado em Uberlândia no ano de 1936, com a extinção do Partido
Republicano Mineiro (PRM), saindo vitorioso nas eleições realizadas em 7 de julho daquele mesmo ano.
(ARANTES, J.. Dr. Vasco Giffoni. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 09, p. 19, abr. 1941. APU. CPJA).
150
Assim, além das escolas localizadas nas fazendas mais abastadas serem freqüentemente
inspecionadas, os candidatos aos cargos políticos no município tinham na figura dos fazendeiros
ali residentes os seus mais fortes aliados e, igualmente, os mais eficientes cabos eleitorais. Deve-
se, contudo, ressaltar que, no estado Minas Gerais, essa forma de clientelismo não incidia apenas
sobre as escolas rurais, pois até meados do século XX, os núcleos urbanos padeciam de
problemas semelhantes. Ao analisar as transformações verificadas na organização da educação no
referido Estado, Leroy concluiu que o sopro de modernização que atingiu Minas Gerais com a
ascensão de Antônio Carlos ao governo em 1926 e a conseqüente transformação operada no
sistema educacional, especialmente no que concerniu à centralização estadual da
responsabilidade pela educação, não foi suficiente para extirpar o uso pessoal que alguns
políticos locais faziam da escola. De acordo com a autora:
A gerência dos negócios da Educação pelo Estado não reduziu, porém, a manipulação
desta pelos chefes políticos, que passaram a ter no Sistema Estadual de Educação um
instrumento de prestígio e projeção política, à medida que a localização de escolas e a
escolha de professores eram decididas de acordo com seus interesses.404
403
VISITANDO o interior do município. Diário de Uberlândia, Uberlândia, não paginado, 05 maio 1936. APU.
CPJA.
404
LEROY, op. cit., p. 38.
405
LOPES, op. cit., p. 603.
151
Tal situação já fazia parte, inclusive, do anedotário acerca dos laços entre política e escola
rural, conforme divulgado no Correio de Uberlândia em 1959. Segundo a matéria publicada, a
professora rural não poderia ser responsabilizada pela precariedade da escola onde atuava,
mesmo que fosse leiga, pois o problema da maioria das escolas rurais partia dos jogos de
interesses existentes entre os políticos e alguns fazendeiros. Para reforçar a sua tese, o autor
transcreveu a seguinte anedota a respeito do tema:
O inspetor chegou sem aviso prévio, entrou na sala de aula e começou a interrogar a
meninada (...). ⎯ Você aí nesse canto... Sim, você mesmo. Me diga quem foi que
incendiou Roma. (...). ⎯ Não fui eu, não senhor. Juro que não fui! Ai interveio a
mestra, com pena do menino, que já estava soluçando. ⎯ O senhor pode acreditar no
Pedrinho. É menino muito direito, muito bem comportado. Se está falando que não foi
ele, é porque não foi mesmo não. O inspetor voltou para o arraial próximo e procurou
o chefe político, dizendo-lhe que era preciso demitir logo a professora, mais do que
muito ignorante. ⎯ O que?! Você está é doido. Ela é filha do Zeca Lopes, que sempre
foi o meu melhor cabo eleitoral. Se for demitida, perco duzentos votos na certa.406
Embora o texto tenha uma conotação irônica, ele é ilustrativo dos fortes laços que uniam
os políticos aos fazendeiros abastados — pautados pelo jogo de interesses — e dos reflexos desta
situação para a escola rural. Reflexos que não resultavam em proveitos para toda a comunidade
escolar, visto que retirava desta quaisquer possibilidades de decidir e também de organizar os
trabalhos escolares em suas localidades de forma autônoma. Nesse sentido, o clientelismo
político “... exercido sobre o sistema escolar, como conseqüência, subtrai a escola à própria
comunidade, nomeando/demitindo seus agentes e controlando a indicação de elementos do
sistema educacional para os cargos de maior poder”.407 Por isso, o saldo dessa relação era
sempre negativo para a maioria dos envolvidos no processo educacional, sendo que seus
benefícios só atingiam uma diminuta parcela daqueles envolvidos com a educação no meio rural
— e também com a urbana, onde os mesmos nexos se faziam presentes.
406
ALENCAR, Gilberto de. A professora rural. Correio de Uberlândia, Uberlândia, p. 7, 2 abr. 1959. APU.
407
AZEVEDO; GOMES, op. cit., p. 34.
152
torno de si todos os elementos de prestígio daquela região, não só os seus parentes como também
os seus amigos...” 408
A esse comício, como em muitos outros ocorridos nas fazendas que abrigavam escolas,
não faltou Arantes que, embora se dizendo apartidário, teria proferido um longo discurso em prol
do candidato em campanha. Como estudioso e pesquisador que era, empregou na sua fala os
conhecimentos acerca da história local para ilustrar a seriedade do Partido Social Democrático
(PSD)409, bem como a importância que seus representantes devotavam à instrução escolar no
município:
Falou por último, fechando com chave de ouro, agradecendo em nome do sr. Aristides
Fernandes, o prof. Jerônimo Arantes, inspetor escolar municipal, que fez um
minucioso histórico da vida de Uberlândia que nasceu justamente ali, na Tenda (...).
Fez uma análise da política para melhor positivar o trabalho do partido que ora
realizava aquele comício, lembrando o interesse tomado no sentido de se semear a
instrução no município, e abrir estradas por onde são canalizadas as riquezas das
lavouras.410
Desde o seu ingresso no serviço público, Arantes acompanhava o prefeito Vasco Giffoni
em suas campanhas. Em 1936, por exemplo, ele integrou a comitiva do Partido Popular
Progressista, que visitou várias localidades situadas na zona rural. No mês de abril, alguns
membros desse partido político estiveram em Santa Maria, distrito do município de Uberlândia,
e, embora o jornal não tenha fornecido o seu itinerário, não sendo possível, portanto, saber se eles
se reuniram na escola local, a relação dessa visita, de cunho marcadamente político, com a
educação é clara, pois Arantes estava presente.411
Em entrevista com professoras que atuaram no ensino rural em Minas Gerais, no período
compreendido entre 1918 a 1939, Fortes ressaltou o prestígio que o cargo de inspetor conferia aos
seus postulantes.412 Em âmbito local, também localizamos vestígios dessa representação
conspícua acerca da figura do inspetor de ensino. Na revista A Escola, publicada em 1921, por
408
MAIS um grandioso comício do PSD realizado ontem na Tenda. O Repórter, Uberlândia, não paginado, 26 set.
1954. APU.
409
Partido fundado em Uberlândia no ano de 1945. (ARANTES, J. Política, políticos e partidos. Uberlândia
Ilustrada, Uberlândia, n. 20, não paginado, dez. 1955. APU. CPJA).
410
MAIS um grandioso comício ..., op. cit.
411
PRIMANDO pelo entusiasmo em torno do Partido Popular. Diário de Uberlândia, Uberlândia, não paginado, 27
abr. 1936. APU. CPJA.
412
FORTES, op. cit., p. 86.
153
Verificamos, uma grande proximidade entre Arantes e o político Vasco Gifoni e, para nós,
essa aproximação explica-se muito mais em função das características personalistas representadas
pela política em todo o Brasil do que em decorrência de alguma fidelidade partidária. Ao
investigarem o comportamento dos partidos políticos em Minas Gerais, Bastos e Walker
corroboram a nossa análise, pois assinalaram a fragilidade que caracterizaria aquelas agremiações
e, conseqüentemente, a personalização da trama política, que fazia com que figuras
individualizadas sobressaíssem aos partidos organizados. Segundo os autores:
413
PRADO, C., op. cit.
414
Uma das depoentes de Fortes assim se refere às questões políticas subjacentes à inspetoria de ensino: “Depois
chegou a cunhada do prefeito de Raul Soares, com curso e quis a inspetoria... perdi o lugar e fui para Inhapim. Eram
cargos muito visados. Achavam que a inspetora tinha autoridade, consideravam a inspetora com um nível social
alto”. (DIVA, Apud FORTES, op. cit., p. 86).
415
BASTOS, Tocary A.; WALKER, Thomas W. Partidos e forças políticas em Minas Gerais. Revista Brasileira de
Estudos Políticos, Belo Horizonte, Faculdade de Direito da UFMG, n. 31, p. 126; 137; 140, 1971.
154
Por outro lado, também não afirmamos que houvesse uma mera subserviência de Arantes
em relação ao poder político em exercício. Ao contrário, avaliamos que a sua longa permanência
no serviço público ancorou-se, primeiramente, na confluência das aspirações nutridas por ele em
favor da escola com os projetos políticos implementados no momento.
416
LEROY., op. cit., p. 16.
155
Nesse sentido, nossa análise convergiu para compreender que os nexos estabelecidos entre
o poder político e Arantes não se definiram apenas nos estreitos limites de uma cooptação desse
por aquele. Ao contrário, a trama de interesses e também de necessidades, que configura o espaço
ocupado pelos políticos e o outro preenchido por Arantes, apontou para uma interação, que tanto
pode se estabelecer com base nos interesses de Arantes em ocupar e manter-se em um cargo
público, quanto das necessidades dos próprios políticos em tê-lo ao seu lado.
Portanto, não pensamos que a mera cooptação sirva para explicar a longa permanência de
Arantes no serviço público – durante vinte e seis anos exerceu cargos de confiança do(s)
prefeito(s). Ainda que ele tenha trabalhado para atender às expectativas dos representantes
políticos, não pensamos que Arantes tenha se subordinado incondicionalmente ao poder. Pois
este também necessitava de sua contribuição para atender parte dos anseios da população fosse
no tocante à questão educacional fosse no que se referia à história que se desejava construir para
a cidade. Por isso, acreditamos que as relações que se estabeleceram entre ele e o poder político
se conformam mais no âmbito de uma confluência de interesses que a partir de um caminho
unívoco.
417
Segundo Gomes, a análise dos intelectuais a partir dessa perspectiva rompe com algumas premissas teóricas
muito utilizadas em estudos da mesma natureza, quais sejam: “... a idéia de ‘manipulação’ dos intelectuais pelo
ministro e de ‘alienação e traição’ por parte dos intelectuais, em função de suas ligações com as políticas
ministeriais”. Por isso, ao abordar a correspondência privada de Capanema a partir da perspectiva de entendê-la
como um ‘lugar de sociabilidade’ para os intelectuais brasileiros no período de 1930 a 1940, a autora tem como
objetivo: “... realizar uma análise das relações tecidas entre ministro e intelectuais, desvendando um processo de
construção identitária que abarque a figura do próprio Capanema, o papel de um ministério ‘revolucionário’ e o lugar
da comunidade intelectual diante de ambos”. (GOMES, 2000, op. cit., p. 15).
418
GOMES, 2000, op. cit., p. 34.
156
Mas, além dessa “rede de sociabilidade”, a estabilidade gozada por Arantes no serviço
público assentava-se também nas próprias características do jogo político local em torno do poder
existente no período, que não se definia por antagonismos ideológicos claramente delineados.
Haja vista que, conforme ressaltou Rodrigues, tão freqüentes quanto as dissidências internas eram
as coligações partidárias.419
Após 1945, a política partidária praticada em Uberlândia, tal qual aquela existente em
todo o estado de Minas Gerais, dividia-se entre representantes do PSD e da União Democrática
Nacional (UDN), apoiados, sobretudo, pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).420 Conforme
analisou Leroy, o revezamento daqueles dois partidos no poder não implicava mudanças
substanciais na organização social, pois “Os partidos (PSD-UDN) sempre constituíram formas
de representação das diferentes frações da mesma classe. Portanto, a alternância de um ou outro
desses partidos à frente do governo não significou mudança de poder...”.421
419
RODRIGUES, J., op. cit., p. 135.
420
Os três partidos políticos foram sucintamente definidos por Bastos e Walker ao estudar a organização partidária
em Minas Gerais: “A UDN articulava as tendências anti-getulistas da sociedade brasileira. O PSD atraía os grupos
políticos que tinham colaborado com a administração Vargas e gozado de grandes oportunidades para o avanço
político durante o Estado Novo. E, finalmente, o PTB, liderado pela burocracia sindical trabalhista criada durante o
período Vargas, procurava atrair a classe operária e alguns setores da classe média baixa urbana”. (BASTOS e
WALKER, op. cit., p. 129).
421
LEROY, op. cit., p. 46.
422
WIRTH, John D. O fiel da balança: Minas Gerais na federação brasileira 1889-1937. Rio de Janeiro: Paz e Terra.
1982, p. 336.
157
suas funções sem se envolver em querelas político-partidárias, sem se indispor com professores,
diretores, inspetores estaduais e outras pessoas envolvidas diretamente com a educação
municipal, Arantes pode, ao longo dos anos, solidificar sua carreira no serviço público e adquirir
a confiança dos prefeitos até a data de sua aposentadoria.
423
CIDADE perde mestre, poeta e historiador. A Notícia, Uberlândia, p. 02, 21 maio 1983. APU.
159
CAPÍTULO III
Segundo Delvar Arantes, o interesse que seu pai nutria pela história de Uberlândia era
imenso, pois, em todos os locais por onde andava, buscava idosos que lhe pudessem relatar
acontecimentos relativos ao passado da cidade e região. De acordo com o depoente, quando
Arantes dirigia-se para as escolas rurais, a fim de inspecionar a banca que avaliava os exames
realizados pelos alunos, ele abordava as pessoas mais velhas que por ali compareciam em busca
de dados para a sua pesquisa histórica. Caso encontrasse alguém disposto a relatar-lhe fatos do
passado, colhia o depoimento e, quando era possível, tirava fotos do depoente.425 O trabalho
realizado por ele no âmbito da produção de uma memória acerca da cidade de Uberlândia foi,
posteriormente, registrado por Gonçalves no prefácio que escreveu para o livro de Teixeira:
424
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata do encerramento do ano letivo realizada no dia 07 dez. 1963.
Uberlândia, 1963. Livro 117, p. 18. APU. ARE./ UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Ata de comemoração do
aniversário da cidade realizada no dia 30 ago. 1963. Uberlândia, 1963. Livro 117, p. 11. APU. ARE. / AS semanaes
do Rotary Club. Homenagens ao 8º. centenário do Reino Português e Batalha do Riachuelo. O Estado de Goyaz,
Uberlândia, p. 1, 16 jun. 1940. APU. CPJA.
425
ARANTES, D., 2000, op. cit.
160
temos conseguido que possa figurar como documentário válido dos fatos que tornaram
uma capela e uma escola um dos centros mais evoluídos do país. 426
A Elite Magazine, revista que circulou na cidade de Uberlândia durante a década de 1950,
também ressaltou o trabalho que Arantes desenvolvia em torno da produção de uma história local
e, sobretudo, o interesse que denotava sobre o tema em questão:
426
GONÇALVES. In: TEIXEIRA, Tito, Bandeirantes e pioneiros do Brasil Central: história da criação do
município de Uberlândia. Uberlândia: Uberlândia Gráfica, v. 1, 1970, prefácio.
427
JERÔNIMO Arantes. Elite Magazine. Uberlândia, n. 6, maio 1958, p. 48. APU. CPJA.
428
TEIXEIRA, Edelweiss. [carta]. Prata, 15 jan. 1950. Carta a Jerônimo Arantes comunicando-lhe o estágio em que
se encontravam os estudos que vinha realizando acerca da genealogia de sua família e solicitando-lhe cópia de duas
certidões de óbitos, para dar continuidade ao referido trabalho. APU. CPJA. PT.
429
ANIVERSÁRIOS. Correio de Uberlândia, Uberlândia, p. 2, 22 jul. 1956. APU.
161
Posteriormente à sua morte, essa documentação foi adquirida pela Prefeitura Municipal e,
atualmente, compõe a Coleção Professor Jerônimo Arantes do Arquivo Público de Uberlândia,
inaugurado em 1988. Dentre os documentos iconográficos, encontram-se: clichês, fotografias,
quadros pintados à óleo, plantas e mapas. Dos documentos escritos, destacam-se: jornais locais e
jornais avulsos de outras localidades; revistas locais, revistas de outras regiões e uma estrangeira;
folhetos e livros de autoria de Arantes; livros de história, atlas geográfico, estatutos do Grêmio
Literário; correspondência recebida e expedida por Arantes e recortes de jornais e revistas.430
Em uma homenagem póstuma, o jornal Primeira Hora registrou em suas páginas que o
acervo de Arantes seria doado, conforme era seu desejo, à escola Bueno Brandão — primeiro
grupo escolar fundado na cidade.432 No entanto, não obtivemos confirmação desse dado, uma vez
que seus familiares entrevistados afirmaram desconhecer tal intento.
De acordo com depoimento de sua neta, Vera Arantes, as primeiras tentativas de passar
para o domínio público o Arquivo Histórico formado por Arantes ocorreram no período quando
ele ainda vivia. Segundo ela, professores da Universidade Federal de Uberlândia teriam
procurado seu avô no início da década de 1980, a fim de lhe propor a doação de seus documentos
para o acervo de um centro de pesquisa que estava sendo organizado pelo curso de História.
430
Anexo I. Inventário da Coleção Professor Jerônimo Arantes. Arquivo Público.
431
LE GOFF, 1996, op. cit., p. 535.
432
MORRE Jerônimo Arantes, o historiador de Uberlândia. Primeira Hora, Uberlândia, p. 4, 20 maio 1983. APU.
162
Porém, de acordo com a depoente, Arantes não teria se interessado pela proposta, menos por se
tratar de uma doação e não de uma compra, mas, principalmente, pelo fato de o proponente ser a
Universidade, instituição que não gozava, para ele, do mesmo prestígio que a Prefeitura local ―
esta última teria tido uma grande significação na vida de Arantes, pois, mesmo depois de ter se
aposentado ali, ele não deixava de visitar aquela instituição todos os dias. (Informação verbal).433
De qualquer modo, fosse doando para a Escola Estadual Bueno Brandão, para a
Universidade ou para a Prefeitura, não parece improvável que seu titular pretendesse tornar
público o seu Arquivo Histórico, pois “O ato deliberado de construir um arquivo pessoal implica,
no mais das vezes o desejo de torná-lo público um dia”.434 No caso de Arantes, isso começou a
ser realizado logo após sua morte.
433
ARANTES, V., op. cit.
434
FRAIZ, Priscila. Arquivos pessoais e projetos autobriográficos: o arquivo de Gustavo Capanema. In: GOMES,
Ângela de Castro, (Org.). Capanema: o ministro e seu ministério. Rio de Janeiro: FGV; Bragança Paulista:
Universidade São Francisco, 2000, p. 98.
435
REZENDE, Zaire. Proposta para a ação do governo municipal. Uberlândia, 1982, p. 4. APU.
163
436
MASSARO, Mirian Colluci.: depoimento [mar. 2003]. Entrevistador: Sandra Cristina Fagundes de Lima.
Uberlândia, 2003. 1 fita cassete (60 min), estéreo.
437
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. [Ofício 124]. Uberlândia, 06 de julho de 1984. Ofício de Yolanda de Lima
Freitas, Secretária Municipal de Cultura, aos vereadores da Câmara Municipal de Uberlândia enviando projeto de
aquisição de dois acervos de material histórico e apresentando justificativa acerca da relevância que ambos
representavam para a memória da cidade. APU. CPJA.
438
MASSARO, op. cit.
439
Segundo Alvarenga: “Os titulares da Administração Municipal formavam um grupo novo na estrutura de poder
político local que lutava para sedimentar as bases do espaço que ia sendo aberto no bojo do processo de
redemocratização que vivia o país. (...) Foi uma Administração que teve as linhas mestras de seu programa
assentadas na participação popular e no atendimento das necessidades mais urgentes das classes populares. O
cumprimento, ainda que parcial, deste programa era condição indispensável para consolidar e garantir o apoio
popular nas eleições vindouras”. (ALVARENGA, Nízia Maria. Movimento popular, democracia participativa e
poder político local: Uberlândia 1983/88. História & Perspectivas, Uberlândia, n. 4, p. 103-29, jan./jun., 1991).
164
dos dois acervos em questão, pelo valor total de trinta milhões de cruzeiros.440 Embora no
referido documento não conste o valor pago a cada uma das coleções separadamente, podemos
supor que deve ter girado em torno de quinze milhões de cruzeiros, uma vez que o valor
estipulado pela família de Arantes para a venda de seu acervo era da ordem de dezesseis milhões
de cruzeiros.441
Uma vez efetuada a compra da coleção, teve início o trabalho de limpeza, restauro e
organização; tarefa de execução difícil e morosa, visto que grande parte dos documentos carecia
de cuidados especiais. Como se tratava de um acervo particular, armazenado na própria
residência de seu proprietário e também muito antigo (por exemplo: jornais publicados desde o
final do século XIX), seu estado de conservação encontrava-se comprometido. Segundo um
relatório técnico elaborado em 1987, a situação dos documentos caracterizava-se por:
Além dos fatores aludidos, a situação precária de muitos desses documentos, quando
adquiridos pela prefeitura, deve ser atribuída ao fato de terem ficado guardados durante
aproximadamente doze meses, intervalo que vai da morte de Arantes, em 1983, à compra do
acervo no ano seguinte. Nesse período, os papéis não foram manuseados e, assim, não receberam
nenhum tipo de tratamento visando a sua conservação. Ademais, quando foi elaborado o referido
relatório, os documentos já estavam há três anos em poder da Prefeitura e ainda não tinham sido
completamente recuperados e/ou conservados. Exceção feita apenas aos clichês, que já estavam
sendo limpos e revelados, e os jornais, submetidos a um processo inicial de restauro e
440
UBERLÂNDIA. Lei n. 4070, de 16 de julho de 1984. Autoriza o município a adquirir os acervos históricos de
Jerônimo Arantes e Argemiro Costa e dá outras providências. APU. CPJA.
Atualizado para o dia 15 de junho de 2004, e tendo como data de referência 16 de julho de 1984, o valor total
corresponde a vinte e um mil, quatrocentos e cinqüenta e seis reais. (Cálculo efetuado por Valentina Tavares Pezzini,
técnica da Contadoria da Justiça Federal, Subseção de Uberlândia - MG).
441
ARANTES, D. Relação dos documentos históricos existentes no “Arquivo Histórico do prof. Jerônimo Arantes”.
Uberlândia, 20 mar. 1984. APU. CPJA.
442
BARROS, Marluce de; MASSARO, Mirian C. Relatório Técnico. Uberlândia, 22 set. 1987. APU. CPJA.
165
Entretanto, antes mesmo de ter sido comprado pela Prefeitura Municipal de Uberlândia,
este Arquivo Histórico já era bem conhecido pelo público, posto que Arantes abrigava a sua
documentação em um pequeno escritório construído no interior de sua residência e a deixava à
443
BARROS, Marluce: depoimento [fev. 2003]. Entrevistador: Sandra Cristina Fagundes de Lima. Uberlândia, 2003.
1 fita cassete (20 min), estéreo.
444
FRAIZ, op. cit., p. 77-78.
445
MASSARO, mar. 2003, op. cit.
446
Fraiz, op. cit., p. 78.
447
Segundo depoimentos de Barros e Massaro, especialistas oriundos da Casa Rui Barbosa e do Arquivo Nacional do
Rio de Janeiro avaliaram a documentação e sugeriram que a prefeitura enviasse os seus funcionários para serem
treinados no Rio, para depois eles próprios realizarem o trabalho de restauração e conservação nos documentos.
(BARROS, M., 2003, op. cit. / MASSARO, 2003, op. cit.)
166
disposição para todos os que necessitassem de informações contidas nos jornais, revistas,
fotografias, livros e outros documentos ali depositados. Alunos das escolas secundárias,
professores e memorialistas procuravam o referido arquivo em busca de dados para a escrita da
história local, ou, simplesmente, para conhecimento de dados relativos ao passado.
Em um texto escrito em homenagem ao pai, Delvar Arantes comentou que, muitos anos
após ter se aposentado Arantes continuou atendendo em seu escritório professores, estudantes e
todos aqueles que pesquisavam a história local, “recebendo por parte dele preciosas
informações”.448 De fato, em seu depoimento, Silva, um dos memorialistas ainda em atividade
em Uberlândia, relatou ter procurado Arantes na década de 1960 para obter informações a
respeito de aspectos relacionados à história do transporte rodoviário no município:
Desde que surgiu ‘Elite Magazine’ temos recebido constantes provas de simpatia E
coleguismo de Jerônimo Arantes que, inclusive, nos tem oferecido os seus préstimos
facultando-nos todas as facilidades em seus arquivos para pesquisarmos
documentação, informações, etc. sobre o que desejamos sobre a história da cidade que
ele conhece a fundo.450
448
ARANTES, D. , s.d., p. 4.
449
SILVA, Antônio P. da: depoimento [nov. 2001]. Entrevistador: Sandra Cristina Fagundes de Lima. Uberlândia,
2001. 1 fita cassete (30 min), estéreo.
450
JERÔNIMO Arantes, maio 1958, op. cit., p. 34.
167
Muitas vezes estive em sua casa, na praça Rui Barbosa. (...) Ele abria seus guardados
e mostrava coisa por coisa, página por página do crescimento desta cidade. São
poesias, crônicas, documentos muito bem acondicionados. Era muito caprichoso e
zeloso das coisas. Tive até o privilégio de manusear todo o volume de Memórias
históricas de Uberlândia.451
No interior do APU, onde está armazenada, essa coleção representa o maior índice de
procura pelo público pesquisador. Os jornais, os números da revista Uberlândia Ilustrada e Elite
Magazine, assim como as diversas fotografias que a compõem servem de fontes de pesquisa para
451
PINHEIRO, José L. José Lucindo escreve sobre Jerônimo Arantes. Primeira Hora, Uberlândia, p. 4, 20 maio
1983. APU.
452
GOMES, op. cit., 2000, p. 18.
168
profissionais oriundos das mais diferentes áreas do conhecimento – História, Ciências Sociais,
Publicidade, Jornalismo e Geografia são algumas delas.453 Essa mesma documentação também é
consultada por pesquisadores não acadêmicos, interessados, na maioria das vezes, em genealogia.
Há também aqueles que buscam documentos comprobatórios de vínculos empregatícios a fim de
requer aposentadorias.454 Com efeito, a Coleção Professor Jerônimo de Arantes destaca-se em
meio à documentação depositada no Arquivo Público, tanto que um jornal da cidade registrou a
seguinte observação a seu respeito: “O acervo impressiona pela riqueza. São livros, folhetos e
revistas da virada do século 20. (...) As correções feitas à mão pelo autor, juntamente com as
colagens, dão um tom especial à obra”.455
Como Arantes conseguiu reunir tantos papéis, de onde estes vieram e como chegaram até
ele? Infelizmente não conseguimos informações precisas sobre a forma como ele obteve a maior
parte dos documentos que compunham o seu Arquivo Histórico, mas alguns indícios demonstram
que a doação foi uma das formas – talvez a mais usual – pela qual seu titular pode colecionar
grande parte de sua documentação.
453
MASSARO, 2003, op. cit.
Muitos desses trabalhos são realizados em programas de pós-graduação ligados a universidades localizadas fora de
Uberlândia e, nem sempre, seus autores remetem cópias das dissertações e das teses para o APU, o que torna difícil
elaborar uma relação completa e/ou um inventário atualizado. Contudo, apresentamos no Apêndice II uma lista
contendo a referência bibliográfica de algumas pesquisas que utilizaram a CPJA.
454
UBERLÂNDIA. Arquivo Público. Livro de presença de pesquisadores do Arquivo Público de Uberlândia.
2001/2002.
455
A HISTÓRIA quer ser lida: obra com dados históricos sobre Uberlândia espera publicação. Correio, Uberlândia,
30 ago. 2002, Revista, D-6. APU.
456
CERTEAU, Michel de. A escrita da história. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2002, p. 82.
169
A doação ficou registrada, primeiramente, nos poucos livros e revistas de sua biblioteca,
pois nestes materiais foram anotadas dedicatórias por meio das quais atestamos que algumas
obras lhe foram presenteadas, como, por exemplo, na revista Acaica, onde se lê: “Ao amigo
Jerônimo Arantes companheiro nas lutas pela história de nossa terra e de nossa gente. Com
abraço do Tito Teixeira”.457 Em outro livro, foi escrito: “Ao amigo Jerônimo Arantes. José
Camim”.458 Em uma terceira obra, encontramos: “Ao distinto colega e ilustre professor Jerônimo
Arantes”.459
Conforme se lê em uma das cartas recebidas, eram lhe enviadas doações também de
outros documentos: “Tenho também colecionado um grande número de coisas úteis para a sua
maravilhosa biblioteca, as quais estou guardando para levar na minha próxima viagem”.461 Por
meio de uma outra carta, recebida de um amigo e educador que residiu em Uberlândia até o final
457
TEIXEIRA, Tito. In: Acaiaca, Ituiutaba. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1953. APU. CPJA.
458
CAMIM, José. As águas do Rio das Velhas: aproveitadas como força motora. Uberlândia: Pavan, 1943. APU.
CPJA.
459
PESSOA FILHO, Salazar. Uberabinha versus Uberlândia; (duas histórias ainda não contadas aos meus benévolos
leitores). Uberlândia: Manhãs, 1968. APU. CPJA.
460
GUIMARÃES, Honório. [carta]. Belo Horizonte, 12 set. 1941. Carta a Jerônimo Arantes agradecendo-lhe a
homenagem recebida na Uberlândia Ilustrada de n˚. 10, informando-lhe sobre os projetos que estava desenvolvendo
na capital mineira e comunicando-lhe que enviaria alguns clichês, assim que encontrasse “portador seguro”. APU.
CPJA. PT./ GUIMARÃES, Nenem. [carta]. Araguari, 11 dez. 1942. Carta a Jerônimo Arantes comentando o
esclarecimento de um mal entendido que havia ocorrido entre ambos e comunicando-lhe que em breve enviaria,
conforme solicitado, uma fotografia sua a fim de ilustrar a próxima edição da Uberlândia Ilustrada. APU. CPJA.
PT./ PAES LEME, Fernando Monteiro. [carta]. [S.l.] [195-]. Carta a Jerônimo Arantes fornecendo-lhe dados sobre a
história do atletismo em Uberlândia e enviando-lhe fotografias do primeiro campeonato de atletismo realizado na
cidade e também cópia da ata de instalação da Sociedade Esparta-Brasileira. APU. CPJA. PT./ SILVEIRA, Gladys.
[carta]. Araguari, 9 jun. 1958. Carta a Jerônimo Arantes enviando-lhe, conforme solicitado, fotografia a fim de
ilustrar a homenagem programada para a próxima edição da Uberlândia Ilustrada. APU. CPJA. PT.
461
SILVA, Argemiro L. da. [carta]. Rio de Janeiro, 14 out. 1941. Carta a Jerônimo Arantes comunicando-lhe
publicação no Diário Oficial do registro no Departamento de Imprensa e Propaganda ― DIP ― da revista
Uberlândia Ilustrada. O autor informa-lhe também que estava de posse de “coisas úteis” para compor a biblioteca de
Arantes e que as entregaria quando visitasse Uberlândia. APU. CPJA. PT.
170
Nesse sentido, acreditamos que a origem dos jornais, de algumas fotografias, assim como
de outros documentos antigos pode ter sido a mesma, ou seja, objeto de doação. No entanto, se
essa última correspondência ajuda a esclarecer um pouco sobre a forma como Arantes obteve
uma parcela dos documentos que compõem a sua coleção, por outro lado, lança sementes de
dúvidas sobre o destino dessa documentação, pois, ao que se deduz da sua leitura, o interesse de
Arantes era constituir um arquivo na própria Prefeitura e não formar um acervo particular.
Vejamos como a questão emerge na referida carta: “Estou [sabendo] que organizará um arquivo
aí na própria Prefeitura. Arranjarias e catalogarias tudo, de modo a ficar perpétuo. Vasco
[Giffoni] colaboraria nessa tua obra de mérito incomparável”.463
Um outro fator que contribuiu ainda mais para obscurecer a trajetória desse acervo incide
sobre a existência de documentos pertencentes ao Serviço de Educação e Saúde em meio aos
recortes de jornais e revistas, assim como entre os vários papéis avulsos pertencentes a Arantes.
462
GUIMARÃES, Honório. [carta]. Belo Horizonte, 14 out. 1941. Carta a Jerônimo Arantes louvando a sua
iniciativa de “historiar” a cidade; informando-lhe também acerca da doação de jornais e incentivando-o na criação de
um arquivo histórico na Prefeitura. APU. CPJA. PT.
463
GUIMARÃES, H., 14 out. 1941, op. cit.
464
TEIXEIRA, T., op., cit., v. 1, não paginado.
171
Será que por ser funcionário público, exercendo cargo de confiança do prefeito, Arantes
achou-se no direito de guardar com ele documentos oficiais, não separando o domínio público do
privado? Não possuímos pistas suficientes para responder com certeza a essa questão; no entanto,
se, de fato, a indeterminação entre o público e o privado foi um dos fatores que o levou a se
apropriar da documentação pública, isso não seria uma característica apenas sua, pois a
imprecisão das fronteiras entre o público e a esfera privada é do domínio comum, tendo sido
apontada por Sérgio Buarque de Holanda como sendo um dos traços definidores de alguns
homens que ocuparam funções públicas no Brasil. Influenciados pela cultura patriarcal, aqueles
teriam se deparado com muitas dificuldades para estabelecer os limites entre um e outro
domínio.466
De fato, por meio da análise da documentação consultada, inferimos que, como não se
tratava de assuntos polêmicos, que talvez interessasse manter em sigilo, Arantes os teria guardado
para documentar suas próprias pesquisas acerca da história local. O interesse particular, nesse
caso, teria sobrepujado os fins objetivos e definido a conduta do funcionário público, em uma
atitude que, de fato, não seria exclusiva de Arantes, pois:
465
CAMIM, José. Dois dedos de prosa com meus colegas cafeicultores; sobre a regeneração dos cafezais eshauridos.
Uberlândia: [s.e.], 1944. APU. CPJA.
466
Segundo o autor, entre nós, o puro burocrata, aquele que agiria segundo os preceitos da racionalidade, teria sido
suplantado pelo funcionário “patrimonial”, para quem: “... a própria gestão política apresenta-se como assunto de seu
interesse particular; as funções, os empregos e os benefícios que deles aufere, relacionam-se a direitos pessoais do
funcionário e não a interesses objetivos... “. (HOLANDA, op. cit., p. 105-06).
467
HOLANDA, op. cit., p. 106.
172
grande de documentos e uma vez que a observação individual dos recortes, livros, mapas,
revistas, jornais e fotografias constitui-se em uma tarefa de proporções elevadas, que não caberia
no contexto de nossa pesquisa, optamos por reunir essa documentação em três grupos, a fim de
produzirmos uma análise que contemplasse parte de seu conjunto, a saber, as fotografias; a
biblioteca, composta por livros, jornais e revistas; por fim, as pastas temáticas contendo
documentos avulsos e correspondência.468
No que diz respeito às fotografias colecionadas por Arantes, concluímos que parte delas,
como já dito, resulta do período em que esteve à frente da administração do serviço educacional
no município, pois muitas imagens têm como tema situações escolares. De um total de 1269 fotos
existentes na coleção, 577 referem-se a prédios escolares, alunos, professores e desfile escolar.
Há também muitos retratos, somando, nesta temática, um total 460 fotografias. As demais se
referem a casas comerciais, cinemas e clubes recreativos, comunicação, esportes, eventos,
fazendas e chácaras, hospitais, hotéis, igrejas, indústrias e fábricas, instituições bancárias,
instituições sociais, monumentos, outras localidades, paisagens, política e políticos, pontes,
estradas e rodovias, postos de gasolina, praças, recreação, residências, ruas e avenidas, serviços
públicos, trabalhadores rurais, transportes e vista parcial da cidade.469
As fotografias foram utilizadas, tal como a documentação avulsa, para compor a revista
produzida por Arantes, servindo de ilustração para as suas páginas cobertas de imagens, pois,
quando ia editar algum número da Uberlândia Ilustrada, separava os originais e os enviava para
São Paulo a fim de que fossem produzidos clichês para serem revelados e impressos em seu
periódico. Na sua correspondência, encontramos diversas cartas recebidas tratando da confecção
desses clichês, contendo especificações para a sua elaboração, quantidades e valores pagos.470
468
Não pretendemos neste item esgotar a análise da documentação pertencente ao arquivo de Arantes, pois no
capítulo subseqüente, abordaremos a questão das fontes de pesquisa utilizadas por Arantes e ali voltaremos ao tema
ao tratarmos da iconografia fotográfica e da cartografia. Para uma visualização mais abrangente do seu acervo
apresentamos o Anexo I. Inventário da Coleção Professor Jerônimo Arantes. Arquivo Público.
469
Essa classificação foi elaborada pelos funcionários do APU, quando organizaram a Coleção Professor Jerônimo
Arantes. (BARROS, 2003, op. cit.).
470
APU. CPJA. PT.
173
encontravam presentes, ele reservava um espaço na página para fixá-las, no qual expunha uma
legenda informando quais fotos empregaria.
471
COSTA, Guiomar de F. Guiomar de Freitas Costa homenageado na Santa Casa. Correio de Uberlândia,
Uberlândia, p. 4, 10 abr. 1962. APU.
472
Anexo I. Inventário da Coleção Professor Jerônimo Arantes. Arquivo Público.
174
Esses jornais não se caracterizavam pelo tom oposicionista, haja vista que se encontram
ausentes de suas páginas notas e discussões acerca dos conflitos existentes na sociedade local.
Sob uma postura pseudo-apartidária, tais periódicos veiculavam, em seus editoriais, concepções
genéricas (e ideológicas) sobre alguns dos interesses locais e nacionais. O jornal O Progresso,
por exemplo, afirmava que seu objetivo consistia em divulgar a riqueza da cidade e contribuir
para seu pleno desenvolvimento e, para tanto, não se imiscuía em política partidária, mas
colocava-se ao lado do povo, zelando pelos seus interesses. “Dizia ainda prosseguir assumindo
as mesmas posturas de imparcialidade, independência e moderação sem envolvimento com a
politicagem apaixonada”.473
As revistas são, em sua maioria, de origem local e regional. Com relação às primeiras,
além de alguns números avulsos de publicações descontínuas acerca de assuntos educacionais,
econômicos e turísticos (como, por exemplo: Praia Clube, A Camponesa, Escola Normal, Nossa
Terra, Uberlândia Rotária, Uberlândia 96 anos e outras), foram arquivados os exemplares de
todos os números publicados da Uberlândia Ilustrada — tema do próximo item deste capítulo —
e quase todos os números da Elite Magazine, revista mensal publicada em Uberlândia no período
que compreende o final dos anos de 1957 a 1959. Essa revista possuía algumas características
semelhantes à Uberlândia Ilustrada, tais como variedade de temas abordados, ilustração das
matérias e cobertura das atividades comerciais, industriais, políticas e sociais desenvolvidas na
cidade.
473
LIMA, Soene Ozana de. O poder da imprensa na construção do imaginário social: Uberlândia 1907-1916. 1999.
Monografia (Graduação) — Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 1999, p. 15.
175
Acreditamos que o conjunto dessas revistas reflete o interesse de Arantes pela história,
seja aquela da cidade, seja aquela do Brasil, bem como demonstra a sua necessidade de manter-se
informado sobre os assuntos de ordem sócio-político-econômica do país. Pensamos, também, que
aqueles periódicos de caráter informativo e conteúdo genérico, tais como Manchete e O Cruzeiro,
podem ter lhe servido como inspiração para elaborar a sua própria revista, fornecendo-lhe
sugestões de assuntos, modelo de diagramação e acabamento, conforme se lê nas anotações
deixadas por ele em meio à sua documentação.474
No que concerne aos livros, deparamo-nos com uma realidade similar àquela discutida
com relação às revistas, pois se dividem em temas locais, regionais e nacionais, sendo a maioria
deles referentes à história local e regional. Não encontramos, dentre essas obras, títulos que
abordassem temas relativos à teoria da História e nem a outra área do conhecimento, assim como
não registramos a presença de nenhum livro de teoria ou de metodologia. Versando sobre
assuntos econômicos e políticos, alguns são de sua autoria, outros escritos por memorialistas da
cidade e região.
Ao consultar os livros e as revistas, constatamos que os conteúdos mais lidos por Arantes
diziam respeito aos temas relacionados à história de Uberlândia e da região do Triângulo
Mineiro; foi somente nesses assuntos que ele deixou impressas marcas de suas leituras. Nos
474
APU. CPJA. PT.
176
capítulos ou nos itens em que as obras abordavam aspectos da história da referida cidade e da
região onde esta se localiza, Arantes imprimia sinais na lateral da página, sendo que o símbolo
mais utilizado para tanto era um “x” feito com caneta de tinta vermelha (salvo raras exceções,
quando esta caneta foi substituída por lápis). Uma outra característica da leitura de Arantes
consistia na elaboração de resumos dos textos lidos, escritos ora a mão, ora datilografados e, na
maioria das vezes, colados na contra-capa das obras às quais diziam respeito. Não anotava muitas
coisas, apenas alguns fatos, suas respectivas datas, nomes de pessoas e o número das páginas
onde essas informações estavam localizadas.
Em um livro sobre o município do Prata, por exemplo, nas partes em que o autor tratava
da história do Sertão da Farinha Podre, antiga denominação da região do Triângulo Mineiro,
Arantes anotou nas margens algumas datas, fez contas também referentes à datação, fixou na
contra-capa uma folha contendo anotações próprias referentes a quatro datas e seus respectivos
acontecimentos e intitulou-as: “História do Triângulo, apontamentos”.475 Em outro livro sobre
uma missão católica no município de Campina Verde, situado no Triângulo Mineiro, Arantes
assinalou um dos documentos reproduzidos pelo autor, tratava-se da “Carta do padre Leandro ao
Dr. José Teixeira de Vasconcelos e narração descritiva do Sertão da Farinha Podre”.476 Nesse
documento, o autor narrava a chegada da missão à região onde se localiza o referido município,
descrevia aspectos do relevo, comentava o encontro com os indígenas habitantes do local e
abordava outros aspectos. Em outra obra sobre o município de Paracatu, Arantes anotou na
contra-capa o resumo de duas páginas do livro nas quais o autor tratou da origem do nome
daquele município.477 No extenso livro sobre a história de Uberaba, contendo 570 páginas,
Arantes deixou, ainda, algumas breves anotações coladas na contra-capa. Estas se referem a
indicações sobre o curso de três rios que banham a região, a saber, rio das Velhas, ribeirão Bom
Jardim e rio Uberabinha. Na página de número 55 da referida obra, Arantes assinalou o parágrafo
em que o autor descreveu os limites da cidade de Desemboque, próxima à Uberaba.478
475
TEIXEIRA, E. Prata de ontem. [S.l.]: [s.n.], 1967. APU. CPJA.
476
MACEDO, Nicodemus. Campina Verde e a Congregação da Missão de São Vicente de Paulo. Uberaba: Jardim
& Comp., 1941. APU. CPJA.
477
GONZAGA, Olympio. Memória histórica de Paracatu. Uberaba: Jardim & Comp., 1910. APU. CPJA.
478
PONTES, Hildebrando. História de Uberaba e a civilização no Brasil Central. [S.l.]: Academia de Letras do
Triângulo Mineiro, 1970. APU. CPJA.
177
Esses autores eram, tal qual Arantes, interessados pelos fatos relativos às cidades onde
nasceram e/ou viveram e movidos pela curiosidade partiam em direção às fontes que lhes
permitiriam elaborar as suas narrativas. Os seus trabalhos são, por conseguinte, análogos e
apresentam as seguintes características: abordam a história das cidades desde a sua fundação até
o momento em que começaram a escrever suas obras; privilegiam os aspectos político-
institucionais, enfocando personalidades, fatos e, sobretudo, datas; as narrativas são estruturadas
de forma linear, começando sempre com a chegada dos bandeirantes à região, passando pelos
primeiros habitantes e culminando na elevação dos povoados à categoria de vilas, depois distritos
e, finalmente, municípios. Em um desses livros, muito semelhante aos demais, o autor trata da
história de Paracatu e divide a primeira parte de sua narrativa nos seguintes capítulos:
Preliminares (a Descoberta, o arraial de Sant’Anna), Bandeirantes, Povoamento (primeiros
arraiais, riquezas e genealogias), Alguns fatos e Elevação do arraial à vila.479
479
GONZAGA, op. cit.
178
“...a Mesopotamia entre os dois rios – Paranaíba e Rio Grande...”480. O outro livro, não menos
enfático que o anterior, exaltou a cidade de Uberaba, como sendo uma portadora dos seguintes
atributos: “... esmeralda preciosa, cravada na forte e pitoresca bacia formada pelas seis amenas
colinas, que quase em círculo a circundam (...). De um clima salubérrimo (...), é o maior
conjunto humano não só do Triângulo Mineiro, como também de todo o Brasil Central...”481
Mas quantos conheceram de perto o distinto mineiro [Dr. Manoel de Melo Franco]
são acordes em reconhecer e louvar não só a grande capacidade médica que nele se
encarnava, senão igualmente a sinceridade dos seus sentimentos patrióticos, a
lealdade e honradez de seu caráter e seu gênio cavalheiresco e filantrópico, que o
levou, no exercício da clínica, à prática de numerosos atos de verdadeira caridade,
que lhe ilustram o nome, impondo estima e respeito à sua memória.482
480
TEIXEIRA, E., 1967, op. cit., p. 4.
481
TOTI, Gabriel. Álbum de Uberaba. Uberaba: Santos, s.d., não paginado. APU. CPJA.
482
GONZAGA, op. cit., p. 40.
483
ARANTES, J. Colibri. Literatura infantil. Uberlândia, 1976. (Datilografado). Acervo Delvar Arantes./
ARANTES, J. Cromos. Musa vadia de Dalbas Júnior. Uberlândia: [s.n.], 1981a. APU. CPJA.
484
ALENCAR, José de. Sonhos D’ouro. São Paulo: Saraiva, 1959. APU. CPJA./ COSTA, Cruz. Como é o amor em
Goiás. [S.l.]: Alvina, 1930. APU. CPJA./ DINIZ, Júlio. Os fidalgos da casa mourisca. São Paulo: Saraiva, 1963.
APU. CPJA./ DUMAS, Alexandre, Emma Lyonna. São Paulo: Saraiva, 1969. APU. CPJA.
179
Ademais, apenas em dois desses livros encontramos sinais de leitura, são eles: Os fidalgos
da casa mourisca e Como é o amor em Goiás. No primeiro, um romance de ambientação
campesina, Arantes grifou a seguinte informação referente à biografia do autor: “vítima de
tuberculose, mal hereditário do século”. No entanto, essa marca, por si só, não pode servir como
comprovação da leitura de toda a obra, pois, além de a referida frase encontrar-se na capa e não
no interior do livro, não há nada que confirme que o grifo tenha sido feito por Arantes, a não ser
o emprego da caneta de tinta vermelha que, como já analisamos, era muito utilizada por ele. Ao
contrário desse livro, o poema de Cruz Costa, retratando uma história de amor ambientada no
estado de Goiás, está todo grifado e com páginas faltosas; no lugar destas Arantes anotou duas
observações, a saber, “suprimidas em plagas goianas” e “retirado para o livro Cidade dos
sonhos meus”.485 No entanto, não encontramos em Uberlândia: Cidade dos sonhos meus
informação alguma que remetesse a tal poema. Esse livro, escrito por Arantes, narra em versos
aspectos da cidade de Uberlândia e não faz nenhuma referência a Cruz Costa, seja como autor de
alguns dos poemas, seja como fonte inspiradora.
Além dessas duas obras, nos demais livros, sejam romances, sejam poesias, não há
anotações, marcas e quaisquer outros sinais de leitura; o que nos leva concluir que Arantes não
era estudioso desses gêneros literários, praticava-os mais por prazer pessoal, com o auxílio da
intuição, do que como meios de estudos especializados que o instrumentalizassem para abordá-
los em profundidade.
O segundo grupo dos documentos que compõem o seu acervo referem-se às pastas
temáticas. Em meio aos clichês e às fotografias, bem como aos exemplares completos de jornais,
revistas e alguns livros, Arantes arquivou uma infinidade de recortes de jornais e revistas, que
tinham como finalidade oferecer-lhe subsídios para produzir seus artigos, escrever seus livros e
elaborar os 28 números de sua revista Uberlândia Ilustrada. Junto a esses papéis, encontra-se
também a sua correspondência pessoal, sobretudo as cartas recebidas. O volume dessa
documentação era tal que, ao ser organizada a Coleção Professor Jerônimo Arantes pelo Arquivo
Público de Uberlândia, deu origem a 52 pastas, denominadas de Pastas Temáticas.
485
ARANTES, J. In: COSTA, Cruz, op. cit.
180
Concluímos que esses recortes serviam, primeiramente, além de outros propósitos – como,
por exemplo, a consulta aos dados referentes à história local –, para a pesquisa dos temas
abordados na Uberlândia Ilustrada, pois constatamos uma grande concordância entre os
conteúdos de muitos deles e os temas explorados no referido periódico. Documentos relativos a
vários aspectos tratados na revista podem ser encontrados nas referidas pastas, tais como, a
história do esporte, da comunidade negra, biografias de personalidades do meio político e
empresarial, dentre outros.
As pastas de número 0001, 0002 e 00003, por exemplo, contêm o material que deve ter
sido consultado para a elaboração dos números 6 e 9 da sua revista, que tratam respectivamente
da origem do município de Uberlândia e das comemorações do cinqüentenário de sua autonomia
político-administrativa. As pastas 00014, 00015, 00016 guardam informações sobre a
organização da educação escolar no município, tema da revista número 10, totalmente dedicada à
história da instrução municipal. A pasta número 00018 abriga dados sobre o esporte na cidade e
região, o mesmo assunto desenvolvido no número 19 da Uberlândia Ilustrada. Exemplos como
estes aparecem como freqüência ao se cotejar o conjunto dessas pastas com os 28 números
publicados da referida revista.
Nossa hipótese justifica-se também pelo fato de existirem anotações em alguns recortes,
feitas por Arantes, remetendo à revista. Há, por exemplo, em um dos recortes arquivados na pasta
de número 00045, uma inscrição feita sobre uma gravura em que se lê que a capa de um dos
números da Uberlândia Ilustrada deveria seguir aquela mesma diagramação.
Além dos recortes, as pastas temáticas contêm a correspondência pessoal de Arantes, por
meio da qual foi possível deduzir alguns aspectos referentes às representações que foram
181
construídas a seu respeito em momentos diversos de sua vida.486 No entanto, essa análise poderia
ter sido ampliada, caso o seu acervo se compusesse de um número mais significativo de sua
correspondência pessoal, especialmente daquela expedida, denominada “ativa”. As cartas
preservadas somam um total de 135 missivas,487 que se referem, na sua maioria, àquelas
recebidas (chamada “passiva”), perfazendo um total de 114 (84,44% do total), para apenas 21
cartas expedidas (15,56%).
A importância conferida por Arantes à publicação de sua revista pode ser atestada pelo
conteúdo de muitas missivas, uma vez que, de um total de 114 cartas recebidas, 101, ou seja,
88,59%, dizem respeito a assuntos concernentes à sua Uberlândia Ilustrada. Os temas tratados
cingem-se à produção de clichês, versando sobre critérios para a sua confecção (acordo sobre
486
O estudo de correspondências como objeto de investigação, ainda que não muito praticado pelos historiadores
brasileiros, constitui-se em uma fonte valiosa para a historiografia contemporânea. De acordo com Gomes, algumas
das razões que explicam a novidade no estudo de correspondências e, igualmente, que justificam a sua prática ainda
incipiente, decorrem dos seguintes fatores: “Se por um lado ele [estudo de correspondências] remete ao uso de uma
fonte tradicional e bastante valorizada pela historiografia, por outro, ao defini-la como seu próprio objeto de
investigação, o pesquisador acaba por distanciar-se do que é ainda freqüentemente realizado nos estudos históricos.
A essa ‘novidade’ soma-se ainda a dificuldade de lidar com documentos que podem ser numerosos, heterogêneos e,
em certos casos, dispersos, o que desafia o pesquisador quantitativa e qualitativamente”. (GOMES, 2000, op. cit., p. 20).
487
APU. CPJA. PT.
488
Ao justificar o emprego dessa fonte, Gomes ressalta que: “Um dos objetivos do estudo de correspondências
pessoais é permitir que o pesquisador se aproxime de aspectos subjetivos, integrantes e mesmo definidores de redes
de sociabilidade, mas de difícil acesso quando se utiliza outro tipo de fonte. Entre tais aspectos está toda uma
dimensão expressiva, um clima intensamente emocional que se pode detectar da troca de cartas. Ele envolve
aproximações e afastamentos entre os missivistas, momentos mais estratégicos na construção dos relacionamentos e
também diversas espécies de integrantes da rede, conforme os graus de afetividade nela explicitados”. (GOMES,
2000, op. cit., p. 41).
182
preços e justificativas sobre alguns atrasos na remessa); aos agradecimentos dirigidos a Arantes
pela envio da revista e saudações pelo seu empreendimento, bem como às respostas aos pedidos
de patrocínio feitos por ele.
489
De acordo com Gomes, a análise desta parte com a qual se iniciam as cartas é fundamental para a compreensão da
“imagem” construída acerca do titular das missivas, pois: “O tratamento — isto é, as primeiras palavras com que se
cumprimenta o destinatário — é uma parte expressiva do documento, indicando tanto o teor das relações entre os
missivistas quanto a natureza do tema a ser tratado naquele documento. Nele se pode sentir de imediato a existência
de hierarquias e relações muito pessoais, embora seja evidente todo um código epistolar que prescreve as formas a
serem seguidas por quem escreve cartas”. (GOMES, 2000, op. cit., p. 41).
490
Tomamos de empréstimo a Gomes essas duas categorias, dentro das quais inserimos as formas de tratamento
encontradas em nossa fonte. Acreditamos que elas iam ao encontro das especificidades de nosso objeto e, guardadas
as particularidades, ao fazê-lo, incorporamos também muitos aspectos da definição que a referida autora faz de cada
uma delas: “... o tratamento ‘pessoal’, aquele mais efetivo e expresso por fórmulas como: meu caro, meu querido,
meu amigo, meu velho amigo etc. (...) O tratamento ‘formal’, expresso por fórmulas polidas como: ilustríssimo
senhor, doutor, excelentíssimo, eminente, prezado ministro da Educação e Saúde etc”. (GOMES, 2000, op. cit., p.
41-42).
183
senhor, diretor da Revista, ilustríssimo senhor diretor gerente da revista Uberlândia Ilustrada,
Professor Jerônimo Arantes, Senhor Gerente, Senhor Jerônimo Arantes e mais os que se seguem.
A partir dessa categorização, chegamos ao seguinte resultado: 35 cartas (ou seja, 34,65%
do total) empregavam o tratamento pessoal para se dirigirem a Arantes, enquanto 66 (65,35%) o
tratavam formalmente.491 Dentre as primeiras, encontramos cartas de ex-alunos, professores que
trabalharam com Arantes e amigos. No segundo grupo, localizamos cartas provenientes de
prefeituras, órgãos de imprensa, empresas de publicidade, institutos culturais (Instituto de Cultura
Hispanica e Associação de Intercâmbio Cultural do estado de Mato Grosso), sociedades de
classe, instituições filantrópicas (Rotary Club de Uberlândia), órgãos governamentais
(Departamento de Imprensa e Propaganda – DIP –, Secretaria de Educação e Cultura – não
consta o Estado –, Secretaria de Educação e Saúde Pública de Minas Gerais), Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro – IHGB –, Serviço Radiotelegráfico de Minas Gerais, Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística – IBGE –, Consulado dos Estados Unidos, colaboradores e outros.
491
O total empregado para o cálculo da porcentagem foi o de 101 cartas, e não o de 114, que é a soma
correspondência recebida, uma vez que em 13 não constava forma alguma de tratamento.
184
Acreditamos que os elogios contidos nessas cartas revestiam-se de maior autoridade pelo
fato de não partirem de correspondência remetida por amigos, mas, sim, por instituições e
pessoas fora do seu círculo de intimidade, que, justamente por serem formais, não teriam motivos
para gabos duvidosos provenientes apenas de questões de ordem afetiva ou sentimental. Preservar
essa correspondência, portanto, poderia assegurar maior notoriedade ao trabalho realizado por
Arantes e garantir os elementos necessários para a construção de uma memória prodigiosa acerca
de sua atuação e, é claro, de si próprio.
Uma outra conclusão a que chegamos com base no resultado obtido com a análise dos
tratamentos impressos na correspondência de Arantes — conclusão aprofundada pela leitura do
conteúdo das cartas — refere-se à quase inexistência de registros concernentes à sua vida privada.
Mesmo as cartas nas quais encontramos o tratamento pessoal, portanto aquelas escritas por
pessoas mais próximas, nas quais poderíamos esperar referências mais consistentes à sua família,
esse fato não se verificou: os familiares de Arantes, quando citados, o são de forma genérica, sem
alusões a nomes próprios e/ou menção de lembranças de fatos ocorridos nos quais eles
estivessem presentes. A única exceção foi encontrada em uma carta proveniente de Campinas/SP;
nesta, após agradecer a Arantes pela revista enviada e comentar fatos corriqueiros, o autor
despede-se e faz menção a uma das filhas de Arantes: “Minhas recomendações a todos os seus e
185
especialmente à inteligente e boa amiguinha Delícia”.492 Porém, esse fato não se repetiu nas
outras cartas, prevalecendo o distanciamento e a referência polida.
Duas dessas cartas, por exemplo, foram-lhe enviadas no ano de 1941 pela mesma pessoa,
Honório Guimarães, amigo e ex-colega de profissão. Em uma delas, o autor inicia saudando
Arantes e seus familiares da seguinte forma: “Jeromynho, meu velho amigo e companheiro
vitorioso das grandes e nobres labutas, amplexo fortíssimo, com a minha saudação e as de
Margarida e nossos filhos a tua exma. esposa e dignos filhos”.493 Na segunda missiva, o autor
menciona as mesmas pessoas e estende as felicitações natalinas dirigidas a Arantes à sua esposa e
filhos.494 Em uma outra carta, proveniente do Rio de Janeiro, o autor inicia com o afetivo e
íntimo tratamento de “Caríssimo amigo Jerônimo Arantes”, e refere-se formalmente à família do
destinatário, com a seguinte despedida: “Sem mais abraços a todos da família e uma saudosa
recordação do velho amigo”.495
492
CARLINHOS. [carta]. Campinas, 13 maio 1941. Carta a Jerônimo Arantes de agradecimento pelo exemplar
recebido da revista Uberlândia Ilustrada, contendo muitos elogios ao seu trabalho. O autor menciona também a
entrega de um exemplar da referida revista a um amigo em comum, residente como ele em Campinas e encerra com
a justificativa de não se estender mais em função de estar convalescendo de uma forte gripe. APU. CPJA. PT.
493
GUIMARÃES, H., 12 set. 1941, op. cit.
494
GUIMARÃES, Honório. [carta]. Belo Horizonte, 22 dez. 1941. Carta a Jerônimo Arantes felicitando-o, assim
como à sua família e à redação da Uberlândia Ilustrada, pelas festas de final de ano e desejando-lhes felicidades ano
que se aproximava. APU. CPJA. PT.
495
SILVA, A., 14 out. 1941, op. cit.
496
ARANTES, J. Professor José Felix Bandeira. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 10, jul. 1941, p. 11. APU.
CPJA.
497
BANDEIRA, [Chiquinha] de Mesquita. [carta]. Frutal, 24 out. 1941. Carta a Jerônimo Arantes de agradecimento,
emocionado, pela homenagem que aquele teria prestado a Bandeira [José Felix Bandeira, antigo professor de Arantes
e proprietário do Colégio Bandeira, estabelecimento de ensino onde Arantes teria iniciado a sua atividade como
professor] na Uberlândia Ilustrada, n. 10, op. cit. APU. CPJA. PT.
186
amizade existente entre ambos, não menciona a família de Arantes: “Acuso o recebimento da
revista Uberlândia Ilustrada de sua remessa, que é motivo de muito agradecer pela sua
delicadeza de amigo velho e de velho amigo”.498
Sem citar os laços de aproximação com a esfera privada, os temas tratados nas cartas,
incluindo aquelas inseridas na categoria Pessoal, circunscreviam-se aos domínios da atividade
profissional do destinatário, tais como: envio de fotografias para publicação na revista,
agradecimento por exemplares recebidos, congratulações pelo trabalho realizado na Uberlândia
Ilustrada e outros. Para nós, esse distanciamento da família, presente mesmo nas cartas recebidas
de pessoas pertencentes ao seu círculo de amizade, reforça a hipótese anterior de que o núcleo da
correspondência recebida por Arantes dizia respeito à produção da Uberlândia Ilustrada – sem,
contudo, apresentar relação com aspectos mais privados de sua vida – e, a partir daí, deveria
servir como elemento para a construção da memória que pretendia ver relacionada ao seu
trabalho.
Em síntese, podemos concluir que o acervo formado por Arantes constitui-se em uma
fonte de pesquisa por meio da qual é possível dialogar com uma dada forma de se escrever sobre
o passado, qual seja, aquela concernente à produção da história local segundo a ótica dos
memorialistas que se debruçaram sobre a escrita da história sem serem, no entanto, historiadores
profissionais. Encontramos ali as fontes, anotações e seleção de documentos reveladores de como
esses memorialistas desenvolviam os seus trabalhos, de onde partiam para as suas elaborações e
como tornavam possíveis algumas conclusões a que chegavam. Para nós, essa documentação
encerra ainda a possibilidade de compreensão do universo de seu autor, assim como permite
generalizações desse universo para contextos mais amplos. Concordamos, pois, com
Schwartzman, que, ao analisar o acervo deixado por Gustavo Capanema, chegou à seguinte
conclusão: “O que este tipo de material [acervos particulares] permite é adquirir uma visão muito
mais rica e complexa dos fenômenos históricos, a partir das motivações e visões de seus
protagonistas”.499
498
BERNARDES, Honorato. [carta]. Monte Alegre, 29 set. 1959. Carta a Jerônimo Arantes de agradecimento pelo
número recebido da Uberlândia Ilustrada. APU. CPJA. PT.
499
SCHWARTZMAN, Simon; BOMENY, Helena Maria Bousquet; COSTA, Vanda Maria Ribeiro. Tempos de
Capanema. São Paulo: Paz e Terra, Fundação Getúlio Vargas, 2000.
187
Não é sem razão que encontramos, em meio a esses documentos, vários recortes de
jornais em que foram registrados comentários da imprensa local sobre a Uberlândia Ilustrada,
sempre laudatórios, é claro. Os fragmentos a seguir fornecem alguns dos exemplos do teor dos
recortes arquivados. “Está circulando o n˚. 10 desta excelente revista ilustrada, sob a direção
inteligente do professor Jerônimo Arantes.” “Circulou ontem mais uma edição da primorosa
revista ‘Uberlândia Ilustrada’...” Em outro recorte está escrito: “Uberlândia Ilustrada: — A
magnífica revista do nosso confrade Jerônimo Arantes, nos visitou mais uma vez...” Um quarto
recorte menciona: “Temos sobre nossa mesa de trabalho, a belíssima revista ‘Uberlândia
Ilustrada’...” 500
Localizamos ainda, no interior das pastas temáticas, recortes de vários artigos escritos e
publicados por Arantes em jornais da cidade, diversas correspondências recebidas e cópias de
algumas cartas expedidas, quase sempre, tratando de questões relativas à referida revista, cujo
tema incidia sobre os aspectos positivos que caracterizariam o trabalho desenvolvido por Arantes.
Nesse sentido, se esse acervo constitui-se como pista útil para adentrarmos nos projetos
reservados por Arantes à escrita e pesquisa acerca dos fatos relacionados ao passado da cidade de
Uberlândia, ao mesmo tempo, a referida coleção consubstancia-se em uma fonte por meio da qual
apreendemos os indícios das representações construídas por ele a respeito das fontes de pesquisa
e dos aspectos da memória que ele pretendia legar. Pois, de acordo com as análises de Le Goff:
“A intervenção do historiador que escolhe o documento, extraindo-o do conjunto dos dados do
passado, preferindo-o a outros, atribuindo-lhe um valor de testemunho (...) insere-se numa
situação inicial que é ainda menos ‘neutra’ do que a sua intervenção”.501 Dessa forma,
acreditamos que os documentos não foram acumulados aleatoriamente por Arantes, mas, ao
500
APU. CPJA. PT.
501
LE GOFF, 1996, op. cit., p. 547.
188
contrário, por trás de cada recorte arquivado, de cada carta, de cada fotografia, assim como de
cada jornal, livro e revista havia um critério de seleção presidindo a sua escolha, bem como a sua
conservação e manutenção no interior do Arquivo Histórico.
O que orientava essas escolhas? A forma como deveria ser lida a vida de Arantes,
segundo ele mesmo. Pois, por meio da análise dos documentos acumulados e preservados seria
possível não apenas adentrar nos projetos de seu titular para a produção de seus estudos sobre a
história da cidade, mas, fundamentalmente, penetrar na intricada trama de representações que ele
ajudou a tecer acerca de si próprio, compondo parte do que poderia denominar-se de um projeto
autobiográfico, “... em que a presença do eu é simultaneamente testemunhal e autoral. (...)
porquanto, construindo seu arquivo, ele constrói sua expressão individual, sua imagem, seu eu,
efetuando o pacto com o leitor (no caso, o usuário do arquivo)”.502
O estudo de seu acervo demonstrou, em suma, que a fatia da memória que Arantes parecia
ter a intenção de legar foi alvo de uma cuidadosa seleção realizada por seu titular, cujo objetivo
parece ter sido o de registrar a importância de seu empreendimento jornalístico – relativo à
elaboração e publicação de sua revista –, bem como ressaltar a relevância de seu trabalho com a
pesquisa e produção de uma das versões sobre a história de Uberlândia, conforme analisaremos
no item subseqüente, relativo à Uberlândia Ilustrada.
Grande parte da documentação de tal acervo foi produzida, coletada e depois empregada
para a composição de seus livros e, principalmente, da sua revista Uberlândia Ilustrada. Com a
publicação desse periódico, Arantes deu vida à documentação – dado que a utilizava para
produzir seus textos – e, por conseguinte, engendrou as condições necessárias para que seu
trabalho desenvolvido no âmbito da história da cidade atingisse um maior número possível de
leitores. Nesse sentido, a revista representou o instrumento por meio do qual Arantes construiu
uma das versões da história local, divulgou-a para o seu público leitor e produziu as suas
representações.
502
FRAIZ, op. cit., p. 92.
189
Pensamos que foi por intermédio da literatura específica sobre a história da cidade e
principalmente por meio de sua revista, a Uberlândia Ilustrada, que tais representações foram
produzidas e divulgadas. Um memorialista residente em Uberlândia, ao ser questionado sobre o
significado para a sociedade local do periódico editado por Arantes, fez a seguinte análise:
O interesse [pela revista] talvez fosse o do prazer de ver citado o nome de familiares.
(...) Na época da revista, a cidade era formada por famílias que já vinham desde o
século passado residindo aqui, raras eram as pessoas que chegavam de fora, então eu
acho que o interesse que a revista despertava era exatamente porque estava falando
de antepassados das pessoas que liam.503
503
SILVA, A., nov. 2001, op. cit.
190
imagem idealizada das riquezas naturais do município (“Das imensas riquezas naturais que
possui o município de Uberlândia, é inquestionavelmente o rio Uberabinha a sua jóia mais
preciosa”.); o discurso apologético das ações implementadas pelos dirigentes políticos (“Como
vereador da primeira Câmara Municipal e reeleito em períodos sucessivos, [Cel. Arlindo
Teixeira] defendeu sempre projetos de leis visando o progresso da cidade ...”.); o exagero nas
proporções do desenvolvimento econômico e crescimento de Uberlândia (“Instalam-se por todos
os recantos fábricas de vários gêneros, em franca produção”.) e, por fim, a valorização de seu
próprio trabalho como arauto de tantas glórias: “Reaparece agora a preciosa revista ‘Uberlândia
Ilustrada’ divulgadora das riquezas de nossa gleba e magazine a que o professor Jerônimo
Arantes vem emprestando todo o vigor de sua inteligência”.504
Antes, porém, dessa “epopéia” jornalística, Arantes produziu dois jornais avulsos de
duração efêmera. Do primeiro deles, denominado A Escola rural, foram publicados apenas três
números nos meses de fevereiro, março e julho de 1934. O outro, Jornal dos professores
municipais, teve vida ainda mais breve, extinguindo-se após a publicação de apenas um número,
em fevereiro de 1950.505
O objetivo desses jornais, segundo consta no editorial de um deles, era servir de “...
bússola que norteará o destino dessa parcela pequenina, do número vultoso desses humildes
obreiros do progresso da humanidade, que são os esquecidos professores primários”.506 Nesses
pequenos periódicos dirigidos por Arantes, publicavam-se poemas de alunos e de professores;
artigos sobre eventos escolares, especialmente aqueles relacionados às comemorações das datas
cívicas; panegíricos de professores ilustres; notícias sobre a realização de eventos escolares,
assim como os relatórios produzidos pelo Serviço de Educação e Saúde do Município, repletos de
dados estatísticos sobre o número de escolas e de alunos matriculados. Dessa forma, cobria os
eventos relacionados à educação pública primária, sobretudo a educação rural, local onde Arantes
mais atuou, porquanto as escolas rurais ficavam sob a responsabilidade do poder público
504
RIO Uberabinha. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 4, p. 6, jun. 1939. APU. CPJA./ ARANTES, J. Política,
políticos e partidos, dez. 1955, op. cit./ ARANTES, J. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 21, jun. 1956, não
paginado, jun. 1956. APU. CPJA./ O LÁBARO. Noticiário da imprensa. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 13, p.
7, dez. 1946. APU. CPJA.
505
A ESCOLA Rural, Uberlândia, n. 1, 15 fev. 1934; n. 2, 15 mar. 1934; n. 1 [numeração incorreta], 15 jul. 1934.
APU. CPJA./ JORNAL dos Professores Municipais, Uberlândia, n. 1, fev. 1950. APU. CPJA.
506
ESTE Jornal. Jornal dos Professores Municipais, Uberlândia, n. 1, p. 1, fev. 1950. APU. CPJA.
191
municipal, e, tendo sido ele inspetor de ensino e, posteriormente, chefe do Serviço de Educação e
Saúde também do município, conviveu de perto com o cotidiano dessas escolas e tentou ressaltar
o esforço dos professores, o desempenho dos alunos, bem como divulgar o seu trabalho, dando
visibilidade à sua própria atuação.
Ao cotejar os conteúdos desses jornais dirigidos por Arantes com aqueles analisados por
Cruz nos periódicos paulistas, de natureza escolar, publicados nas primeiras décadas do século,
encontramos algumas semelhanças. Segundo a autora, esses jornais produzidos pelas escolas
adquiriam quase sempre: “...uma feição literária tradicional, publicando poemas, pequenos
artigos ufanistas sobre as datas pátrias e princípios de moral e civismo, crônicas de autoria dos
alunos e professores e poesia e prosa de expoentes das letras paulistana e nacional”.507
Periódicos escolares como aqueles editados por Arantes passaram a ser produzidos em
algumas capitais (São Paulo, por exemplo) a partir do final do século XIX, no momento em que
começava a se difundir a instrução privada e pública. Tidos como leituras domingueiras, por
saírem aos domingos e/ou porque se destinavam à leitura de domingo, inicialmente,
circunscreviam-se ao âmbito das escolas privadas, freqüentadas pela elite, pois eram produzidos
quase exclusivamente no interior dos cursos preparatórios para a Faculdade de Direito. Todavia,
com a expansão da escola pública e das classes noturnas, esse tipo de jornal expandiu-se para
domínios mais populares e começou a ser produzido pelos grupos escolares e pelas demais
escolas primárias.
Essa forma de jornal também se popularizou no interior, haja vista que, além daqueles
dois títulos publicados por Arantes, no Arquivo Público de Uberlândia encontram-se depositados
outros periódicos com as mesmas caraterísticas. São eles: A Escola, AESU – Jornal (Jornal da
Associação dos Estudantes Secundaristas de Uberlândia), Escola Normal, Maria (editado pelo
Colégio Nossa Senhora das Lágrimas), Brasil Central (publicado pelo Colégio com o mesmo
nome), O Ginasiano, O Escolar, Vida Escolar, O Secundarista, Tribuna Acadêmica e A
Escolar.508 No entanto, todos esses periódicos, assim como as duas folhas escolares editadas por
Arantes, tiveram existência efêmera.
507
CRUZ, Heloísa de Faria. São Paulo em papel e tinta: periodismo e vida urbana, 1890-1915. São Paulo: EDUC;
FAPESP; Arquivo do Estado de São Paulo; Imprensa Oficial SP, 2000, p. 99.
508
APU. CPJA.
192
No entanto, sua atuação mais duradoura nesse ramo não ocorreu no âmbito dos jornais,
mas sim na concepção e edição da Uberlândia Ilustrada, revista de vida longa, pois, no período
que compreende os anos de 1935 a 1961, foram publicados vinte e oito números, nos quais
Arantes figurou como redator e editor, idealizando e produzindo a maioria dos textos.510 A
longevidade desse periódico contrariou os prognósticos pessimistas de “um colega” que duvidara
da possibilidade de êxito daquele empreendimento jornalístico, vaticinando: “Qual. Você não
‘fura’. Uma revista aqui em Uberlândia com esse programa? Pode ser. Eu duvido que você
continue. Aqui muito em segredo: santo de casa não faz milagre”.511
509
Em 1925, ao homenageá-lo a propósito de seu aniversário, A Tribuna ressaltou o fato de ele ser correspondente de
O Jornal, um periódico do Rio de Janeiro. Contudo, não encontramos nenhuma outra informação a esse respeito e
tampouco exemplares desse jornal em meio à sua documentação. (PROFESSOR Jeronymo Arantes, 02 ago. 1925,
op. cit.).
510
Anexo I. Inventário da Coleção Professor Jerônimo Arantes. Arquivo Público.
511
UM COLEGA: Fragmentos. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 3, não paginado, maio 1939. APU. CPJA.
512
CRUZ, op. cit., p. 146.
Sodré também apresenta em sua obra um quadro extenso da proliferação e da rápida extinção de muitos jornais e
revistas publicadas por todo o país no período que se inicia logo nas primeiras décadas do século XX, indo até
aproximadamente o final dos anos de 1940. (SODRÉ, Nelson W. História da imprensa no Brasil. Rio de Janeiro:
Mauad, 1999, p. 275-389).
193
De fato, parecia não ser nada fácil produzir e manter por longas décadas, em uma cidade
interiorana como era Uberlândia e com poucos recursos gráficos, uma revista como aquela
concebida por Arantes.514 Distante das capitais, onde abundavam instrumentos materiais e mão-
de-obra minimamente especializada e também onde se encontravam as editoras e gráficas
aparelhadas para produzir periódicos daquela natureza, o proprietário da Uberlândia Ilustrada
teve que ir superando os obstáculos e vencendo as dificuldades que surgiam pelo caminho. Nos
anos de 1940, um articulista ao resenhar a revista de n˚. 10 reconheceu os esforços de Arantes e
denominou a Uberlândia Ilustrada de “vitoriosa”.515 Na década seguinte, o jornal Correio de
Uberlândia tocou na mesma questão:
... a revista utilíssima que o prof. Jerônimo Arantes vem mantendo nesta cidade com o
devotamento de um crente dos nossos destinos e com as dificuldades que são
conhecidas de todos que se abalançam a empreendimentos dessa natureza,
principalmente no interior, onde a incompreensão é maior do que nos grandes
centros.516
513
ARANTES, J. [carta]. Uberlândia, 27 set. 1940. Carta ao diretor do jornal Lavoura e Comércio, da cidade de
Uberaba, com a finalidade de solicitar-lhe esclarecimentos acerca de problemas com assinaturas do referido
periódico, envolvendo o seu nome. APU. CPJA. PT.
514
Não obstante as dificuldades havia aqueles entusiastas, prontos para exaltarem as qualidades de Uberlândia e, a
partir daí, fazerem prognósticos otimistas acerca do sucesso da revista de Arantes: “Em Uberlândia têm-se elementos
para manter uma boa revista. Cidade rica, culta e bela. A meu ver, o meu nobre amigo será bem sucedido”.
(BARROSO, Luciano. Fragmentos. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 3, não paginado, maio 1939. APU. CPJA).
515
UBERLÂNDIA Ilustrada. Correio de Uberlândia, Uberlândia, [194-]. APU. CPJA. PT.
516
REGISTRO. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n, 16, p. 30, jun. 1953. APU. CPJA.
517
JERÔNIMO Arantes, op. cit., p. 34.
194
O trabalho que Arantes parece ter mobilizado para elaborar os próprios textos, organizar
todas as matérias produzidas pelos colaboradores e para publicar a revista, deve ter de fato lhe
rendido mesmo alguns fios brancos na cabeça, ainda mais que, de acordo com uma de suas netas,
as atividades jornalísticas executadas por ele eram altamente centralizadas: além de idealizar e
administrar a produção e circulação da Uberlândia Ilustrada, ele executava grande parte das
etapas implicadas na publicação, uma vez que datilografava os manuscritos, realizava pesquisas,
redigia alguns artigos, selecionava as fotos ilustrativas de algumas matérias e concebia as capas
das revistas. 518
518
ARANTES, Vera R. C., op. cit.
Esse trabalho centralizado, desempenhado por Arantes na produção de sua revista, pode ser relacionado ao processo
de inserção das elites intelectuais e letradas no ramo jornalístico, verificado em São Paulo nas primeiras décadas do
século XX. Segundo Cruz, a partir desse período homens ligados às letras e também ao próprio jornalismo
assumiram o papel de editores independentes e passaram a dedicar-se à produção de “revistas domingueiras”. Em
meio a esses empreendedores, era comum encontrar pessoas que combinavam as suas atividades profissionais,
exercidas, sobretudo, no magistério e na “burocracia governamental”, com o trabalho jornalístico. (CRUZ, op. cit., p.
102-03).
519
Anexo I. Inventário da Coleção Professor Jerônimo Arantes. Arquivo Público.
195
Todavia, essa diversidade não era um atributo exclusivo da Uberlândia Ilustrada. Outras
revistas publicadas na cidade, no mesmo período, também possuíam característica semelhante,
como, por exemplo, a Elite Magazine, que, em todos os números publicados, apresentava igual
multiplicidade de temas, que iam desde poesia, esporte, música, passando por notícias políticas,
artigos técnicos, estatísticas, economia, anúncios e reportagens diversas.520 No editorial do
primeiro número publicado da Elite Magazine, consta a sua pretensão de se firmar como uma
revista de temas muito diversificados, da mesma forma que o periódico editado por Arantes:
“Nossa revista está programada para ser o espelho da vida artística, econômica, social e
intelectual de nossa terra. (...) aparecerão trabalhos de nossos intelectuais, de nossos artistas,
onde se refletirá a pujança econômica de Uberlândia”.521
Essa propensão ao geral perpassava jornais e revistas produzidos por todo o país nas
primeiras décadas do século XX. Estes, na tentativa de diferenciar-se da imprensa diária, “mais
rápida e dinâmica”, pareciam pretender abarcar “... ‘tudo que interesse a todos’”. 522 No caso de
Arantes, em particular, pensamos que a generalidade presente nos temas tratados pela Uberlândia
Ilustrada, ainda que estivesse em sintonia com as caraterísticas das revistas produzidas no mesmo
período, relacionava-se muito mais com o seu projeto de construção da história local, conforme
discutiremos adiante.
Havia sempre poemas na Página Feminina, muitos, inclusive, assim como na Página
Infantil (denominada também Galeria Infantil); nas demais seções, também eram publicados
versos, porém sem a mesma freqüência verificada nas duas anteriores. Às vezes, Arantes
520
Anexo I. Inventário da Coleção Professor Jerônimo Arantes. Arquivo Público.
521
A REVISTA da Elite. Elite Magazine, Uberlândia, n. 1, out./ nov. 1957, p. 1. APU. CPJA.
No entanto a revista não conseguiu se solidificar, extinguiu-se no segundo ano de publicação.
522
CRUZ, op. cit., p. 106.
196
Afora esse aspecto estratégico, acreditamos também que a presença da linguagem literária
nas revistas de variedades guarda relação com um contexto histórico muito específico, qual seja a
conformação dos jornais nos moldes da imprensa de cunho mais objetivo e de caráter informativo
e a conseqüente redução do espaço destinado às colaborações literárias, inicialmente, transferidas
para o rodapé e, posteriormente, separadas do corpo do jornal, dando origem aos suplementos
literários. O resultado desse processo foi o gradativo expurgo dos textos literários das páginas dos
jornais, bem como o afastamento de muitos colaboradores literatos do interior das redações.525
Perdendo espaço nas páginas desses jornais, muitos intelectuais voltaram-se para a produção ou
colaboração em revistas ilustradas, nas quais encontravam solo fértil para publicar seus textos.526
523
UBERLÂNDIA Ilustrada, Uberlândia, n. 27, não paginado, abr. 1961. APU. CPJA.
524
CRUZ, op. cit., p. 109.
525
No entanto, esta oposição entre literatura e jornalismo de informação deve ser relativizada. Wirth faz a seguinte
reflexão ao tratar da imprensa no estado de Minas Gerais,: “Não deve ser negligenciada a pátina cultural que
freqüentemente enfeitava suas páginas. Poesia, observações sobre livros e comentários literários aumentavam seu
prestígio diante daqueles que valorizavam a civilização”. (WIRTH, op. cit., p. 131).
Ao analisar a dinâmica da imprensa em Uberlândia, elegendo como fonte as crônicas do jornalista Lycídio Paes,
Santos também avalia que não houve uma separação drástica entre literatura e jornalismo de informação, uma vez
que: “... o jornal sempre popularizou os literatos, divulgou suas primeiras produções, sempre incentivou as vocações
artísticas em qualquer lugar do território nacional”. (SANTOS, Regma M. dos. Plumitivo claudicante: impressões
cotidianas, memória e história nas crônicas de Lycidio Paes. 2000. Tese (Doutorado) — PUC, São Paulo, 2000, p. 94).
526
“É um pouco dessa transformação que decorre a proliferação das revistas ilustradas que ocorre a partir daí. Nelas
é que irão se refugiar os homens de letras, acentuando a tendência do jornal para caracterizar-se definitivamente
como imprensa; as revistas passarão, pelo menos nessa fase, por um período em que são principalmente literárias,
embora também um pouco mundanas e, algumas, críticas”. (SODRÉ, op. cit., 297).
197
A troca de nome da revista não altera o seu plano, trazendo ela o nome da cidade
onde nasceu. Continuará o seu programa, que é o da aliança entre os municípios
componentes do Brasil Central, tudo fazendo no plano da boa imprensa, que trabalha
em pról do engrandecimento dessa região prodigiosa do ‘hinterland’ brasileiro,
obedecendo sempre os sentimentos de são patriotismo. 529
De fato, a revista tentava esta “aliança”, estampando, em todos os números, uma matéria
sobre a história de algumas cidades próximas a Uberlândia. A publicação de algumas cartas
recebidas dos prefeitos das cidades de Tupaciguara e Monte Alegre, municípios vizinhos,
527
À revista Cultura Política (revista mensal de estudos brasileiros, publicada durante o período de 1941 a 1945 pelo
Departamento de Imprensa e Propaganda do governo ditatorial de Getúlio Vargas) também integrava uma seção
voltada para a história, denominada Textos e documentos históricos, cujo objetivo era “resgatar momentos
fundamentais de nosso passado”. (GOMES, 1996, op. cit., p. 129).
528
Apêndice III - Uberlândia Ilustrada.
529
Nos dois primeiros números, a revista surge com o título de Triângulo de Minas, a partir do terceiro, o seu nome
passa a ser Uberlândia Ilustrada. Segundo justificativa publicada pela revista, essa alteração decorreu de algumas
confusões entre o seu título, Triângulo de Minas, e o nome de um jornal da cidade de Araguari, Jornal Triângulo.
Por guardarem certa semelhança, estaria havendo transtornos no envio de correspondências e muitas cartas estariam
chegando trocadas. (NOVO Título. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 3, não paginado, maio 1939. APU. CPJA).
198
também corrobora o interesse de Arantes em estabelecer, por meio de sua revista, um diálogo
com as cidades adjacentes.530
Este “pacto consensual”, estabelecido entre as elites em torno de um mesmo projeto, não
era uma novidade engendrada no Triângulo Mineiro. Wirth, em seus estudos sobre Minas Gerais,
destacou que uma das particularidades de toda a região consistia justamente no fato de, mesmo se
encontrando mergulhada em um processo de desaceleração econômica e sendo dividida
internamente em micro-regiões com características muito singulares — processo denominado
pelo autor de mosaico mineiro —, as suas elites conseguirem mitigar as querelas internas e
preservar a influência política em termos de Brasil, pois:
... o principal recurso do estado não era seu poder econômico, os recursos fiscais ou a
força militar, mas a unidade política. Unido, Minas ocupava uma posição privilegiada
para pedir favores econômicos ao governo federal em troca de apoio político. (...)
Essa força eleitoral, acompanhada de uma bancada grande e disciplinada – apelidada
de ‘rebanho de ovelhas’ – era o instrumento do poder mineiro.533
Todavia, acreditamos que, além desse caráter político, no aspecto mais particular, a
tentativa de aproximação verificada entre a revista Uberlândia Ilustrada e os municípios vizinhos
teve outros significados no âmbito do projeto jornalístico empreendido por Arantes, tais como a
530
BERNARDES, Paulo. [carta]. Monte Alegre, 14 jun. 1963. Carta a Jerônimo Arantes informando-lhe dados
solicitados para o número da revista em que seria publicada a resenha histórica do município de Monte Alegre. APU.
CPJA./ PONTES, Manoel Ferreira. Fragmentos. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 3, não paginado, maio 1939.
APU. CPJA.
531
Abordaremos este aspecto no último item deste capítulo.
532
DEL PICCHIA, Menotti. Uberlândia. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n.5, p. 5, jun. 1940. APU. CPJA.
533
WIRTH, op. cit., p. 231-32; 236.
199
Circulou esta semana nesta cidade a bem feita revista ‘Triângulo de Minas’, já de há
muito esperada, sob a direção do professor Jerônimo Arantes, entusiasta da imprensa
e acatado inspetor escolar municipal de Uberlândia. ‘Triângulo de Minas’ se
apresenta com regular matéria de colaboração e um interessante editorial
humorístico, de fina inspiração e muitas ilustrações que muita elegância e espírito
emprestam à novel revista, que se publicando mensalmente enormes benefícios poderá
trazer à zona do Triângulo, não só como veículo de propaganda, também como
alevantamento cultural ... . 535
534
O ESTADO de Goiaz de Uberlândia. Como a imprensa amiga se manifestou referindo o aparecimento de
‘Uberlândia Ilustrada’. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 4, p. 2, jun. 1939. APU. CPJA./ LAVOURA e Comercio
de Uberaba. Como a imprensa amiga se manifestou referindo o aparecimento de ‘Uberlândia Ilustrada’. Uberlândia
Ilustrada, Uberlândia, n. 4, p. 1, jun. 1939. APU. CPJA.
535
REGISTRO: a voz da imprensa amiga anunciando o aparecimento desta revista. Triângulo de Minas, Uberlândia,
n. 2, não paginado, jun. 1935. APU. CPJA.
536
SÜSSEKIND, Flora. Cinematógrafo das letras: Literatura, técnica e modernização no Brasil. São Paulo: Cia. das
Letras, 1987, p. 36.
537
O uso da fotografia pela imprensa escrita não se generalizou apenas no âmbito das revistas de variedades, mas,
como ressaltou Gomes, tal uso foi amplamente explorado pela imprensa diária. Ao analisar o suplemento Autores e
Livros do jornal A Manhã (publicação do governo ditatorial de Vargas que circulou no período de 1941 a 1945) a
autora ressalta a “... utilização de uma farta ilustração para os padrões da época”. (GOMES, 1996, op. cit., p. 33).
200
Além das modificações plásticas, a publicação de imagens nos periódicos trouxe consigo a
possibilidade de ampliação do número de leitores, pois as páginas ricamente ilustradas poderiam,
a partir de então, ir além de sua destinação, circunscrita apenas ao público alfabetizado, e abrir-se
também para as pessoas analfabetas, “extrapolando as barreiras impostas pela norma
escrita”.538
Além dessa possibilidade de ampliar o seu alcance em relação aos leitores, a ilustração
engendrou uma fonte de financiamento para estas revistas, uma vez que a publicação de retratos
das elites constituiu-se em uma atraente “estratégia de sobrevivência” para esses periódicos. Ao
analisar as revistas ilustradas, existentes no Brasil nas primeiras décadas do século XX, Sodré
teceu o seguinte comentário acerca do papel desempenhado pela publicação de fotografias das
elites no âmbito de revistas, como aquela editada por Arantes: “Entre 1900 e 1931, circulou A
Rua do Ouvidor, de Serpa Júnior, mundana e literária, sempre com um figurão na capa, figurão
que garantia a continuação da revista pelo menos por uma semana mais”.539
538
CRUZ, op. cit., p. 112.
539
SODRÉ, op. cit., p. 298.
540
ARANTES, D., 2000, op. cit.
201
Parece-nos, com efeito, que o envolvimento de Arantes com a produção de sua revista não
se ancorava em um conjunto de interesses utilitaristas que encontraria no lucro e no
enriquecimento financeiro os seus mais prementes objetivos. Ao contrário, idealizar, produzir e
publicar a Uberlândia Ilustrada teria muito mais relação com aspectos relacionados à valorização
dos atributos da inteligência em detrimento do trabalho utilitário, denotando, com isso, a
permanência de traços da herança católica, presente entre os ibéricos, de recalcitrância ao culto
protestante em torno da atividade utilitarista. Segundo Sérgio Buarque de Holanda, um dos traços
constantes de nossa vida social consistiria na: “... posição suprema que nela detém, de ordinário,
certas qualidades de imaginação e ‘inteligência’, em prejuízo das manifestações do espírito
prático ou positivo”.541
Talvez tenha sido em decorrência desses fatores que Arantes não obteve muitos
patrocinadores fixos para Uberlândia Ilustrada, ainda que, em todos os números, estivesse
presente a propaganda que, a partir da segunda década do século XX, teria encontrado nas
revistas de variedades o seu mais eficaz veículo de promoção.542 De fato, em todos os números da
revista de Arantes, encontravam-se estampados anúncios de empresas, comércios e profissões
variadas. Nesse sentido, circulava pela revista o Indicador Profissional, composto pelos anúncios
de profissionais liberais oferecendo serviços de advogados, médicos e dentistas. Em maior
número, encontrava-se a publicidade de lojas de tecidos e confecções, sapatarias, joalherias e
relojoarias, óticas, armazéns de secos e molhados, máquinas de beneficiar arroz, tipografias,
livrarias, sorveterias, alfaiatarias cerâmicas, laticínios, padarias, hotéis, bares, agências de revistas
e jornais, casa de móveis, farmácias, floricultura, imobiliárias, concessionárias de automóveis,
postos de gasolina, hospitais e escolas.
541
HOLANDA, op. cit., p. 50.
542
CRUZ, op. cit., 157.
202
543
Estes anúncios começaram a decrescer nos três últimos números publicados da Uberlândia Ilustrada,
respectivamente o 26, 27 e 28. Os dois últimos não publicaram os grandes anúncios de primeira página e o primeiro
não apresentou publicidade na última página. (UBERLÂNDIA Ilustrada, Uberlândia. APU. CPJA).
544
ARANTES, V., op. cit.
545
PONTES, Manoel F. [carta]. Tupaciguara, 24 out. 1936. Carta a Jerônimo Arantes respondendo a sua solicitação
de verbas para publicar um dos números de sua revista Uberlândia Ilustrada. APU. CPJA. PT.
203
reportagem sobre o município de Nova Ponte. (...) Todavia, município novo, (...) não é
possível ao seu governo empregar soma elevada com o serviço de publicidade... 546
Além disso, em algumas das edições, a partir da década de 1950, há referências explícitas
a alguns patrocinadores, como, por exemplo, a Sociedade Médica Uberlandense, Associação dos
Cirurgiões Dentistas do Brasil, Colônia Portuguesa de Uberlândia, Diretórios Políticos
Municipais, Sociedade da Gente de Cor de Uberlândia, Sociedade Cultural Recreativa Ítalo-
Brasileira de Uberlândia e Sociedade Farmacêutica do Triângulo Mineiro, sediada em
Uberlândia. A carta de um médico, cujo fragmento foi publicado pela Uberlândia Ilustrada,
corrobora o patrocínio. Depois de cumprimentar Arantes pelo número dedicado à classe médica,
o autor da missiva deixou a seguinte observação: “Mande cobrar a importância do nosso
anúncio”.547 Em todas essas edições, além de constar da capa a denominação do patrocinador, em
cada revista, havia uma longa reportagem sobre a instituição ou “grupo” homenageado,
ressaltando a sua história, seus mais ilustres expoentes e perspectivas para o futuro.548
Em outros números, que figuraram como edições especiais, embora não haja a menção
explícita ao patrocinador, é possível inferir que os homenageados, e/ou seus representantes,
contribuíram para a sua publicação, como foi o caso dos números dedicados respectivamente ao
cinqüentenário da autonomia administrativa de Uberlândia, cinqüentenário da imprensa de
Uberlândia 1897-1947, entidades esportivas e culturais de Uberlândia, cinqüentenário da
fundação da Livraria e Tipografia Kosmos e ao centenário de nascimento de João Pinheiro.549
546
VEIGA, Octávio. [carta]. Nova Ponte, 5 maio 1939. Carta a Jerônimo Arantes comunicando-lhe o fato de aceitar
a publicação de uma matéria sobre o município de Nova Ponte e informando-lhe que a contribuição para a revista
teria que ser inicialmente pequena, pois o referido município era novo e não contava com recursos suficientes para
investir em publicidade. APU. CPJA. PT.
547
FREITAS, Fausto. Registro. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 17, p. 29, out. 1953. APU. CPJA.
548
ESTA edição especial circula sob o patrocínio da ‘Sociedade Médica de Uberlândia.’ Uberlândia Ilustrada,
Uberlândia, n. 16, capa, jun. 1953. APU. CPJA. / PATROCINA esta edição especial a Associação dos Cirurgiões
Dentistas do Brasil Central. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 17, capa, out. 1953. APU. CPJA. / PATROCINA
esta edição Colônia Portuguesa de Uberlândia. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 18, capa, fev./ out. 1954. APU.
CPJA. / EDIÇÃO patrocinada pelos Diretórios Políticos Municipais. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 20, capa,
dez. 1955. APU. CPJA./ EDIÇÃO patrocinada pela Sociedade da Gente de Cor de Uberlândia. Uberlândia Ilustrada,
Uberlândia, n. 21, capa, jun. 1956. APU. CPJA. / PATROCINA esta edição especial a Associação dos Cirurgiões
Dentistas do Brasil Central. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 22, capa, set. 1957. APU. CPJA. / PATROCINA
esta edição especial a Sociedade Farmacêutica do Triângulo Mineiro sediada em Uberlândia. Uberlândia Ilustrada,
Uberlândia, n. 24, capa, jun. 1958. APU. CPJA.
549
NO cinqüentenário comemorativo da autonomia administrativa do município de Uberlândia. Uberlândia
Ilustrada, Uberlândia, n. 9, capa, abr. 1941. APU. CPJA. / EDIÇÃO especial em comemoração ao cinqüentenário da
imprensa de Uberlândia, 1897-1947. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 14, capa, dez. 1947. APU. CPJA./
EDIÇÃO especial dedicada às entidades esportivas e culturais de Uberlândia, com o Concurso da Rainha do Esporte.
Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 19, capa, mar. 1955. APU. CPJA. / EDIÇÃO especial, comemorativa ao
cinqüentenário da fundação da Livraria e Tipografia Kosmos. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 25, capa, set.
1959. APU. CPJA. / EDIÇÃO especial, dedicada ao centenário de nascimento de João Pinheiro, 1860-1960.
Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 26, capa, dez. 1960. APU. CPJA.
204
550
O período no qual Arantes contou com um montante maior de verba para aprimorar a sua Uberlândia Ilustrada
coincide com a fase de desenvolvimentismo do país, tão bem caraterizada por Mello e Novais. De acordo com os
autores: “Os mais velhos lembram-se muito bem, mas os mais moços podem acreditar: entre 1950 e 1979, a sensação
dos brasileiros, ou de grande parte dos brasileiros, era a de que faltava dar uns poucos passos para finalmente nos
tornarmos uma nação moderna. (...) Entre 1945 e 1964, vivemos os momentos decisivos do processo de
industrialização, com a instalação de setores tecnologicamente mais avançados, que exigiam investimentos de grande
porte; as migrações internas e a urbanização ganham um ritmo acelerado”. (MELLO; NOVAIS, op. cit., p. 560).
205
Produzir e divulgar a própria publicação, tal qual o fez Arantes, foi uma das
características dos grupos que se dedicaram à produção de jornais e revistas de periodicidade
semanal (alguns se tornaram, posteriormente, 56 quinzenais, mensais e semestrais) no início do
século: “Revelando desde o início preocupações com a montagem de organizações editoriais
independentes da imprensa diária, tais grupos buscam estabelecer estruturas editoriais mais
profissionalizadas, que dessem conta da produção e divulgação de suas publicações”.551
Mesmo que não tenha montado uma verdadeira estrutura editorial (prevalecendo
características domésticas em sua atividade jornalística), a correspondência recebida e depositada
junto com seu acervo no Arquivo Público de Uberlândia, cujos trechos foram publicados em
alguns números do seu periódico, revela que Arantes não media esforços para levar o seu
trabalho aos mais distantes cantos do país e também do exterior. A revista de número 21, por
exemplo, registrou cartas de agradecimentos por exemplares recebidos da Biblioteca Pública da
Bahia, Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro, Jornal do Caeté no Pará, Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro e do Instituto de Cultura Hispãnica.552 Sem contar as muitas cartas
recebidas de amigos residentes em outras cidades agradecendo-lhe exemplares que lhes foram
enviados pelo correio.
551
CRUZ, op. cit., p. 103.
552
REGISTRO. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 21, não paginado, jun. 1956. APU. CPJA.
206
Ilustrada. Pelos temas abordados, é possível inferir que a revista dirigia-se a todos os membros
da “família uberlandense” e das demais famílias do Triângulo Mineiro, perfazendo, portanto, um
amplo espaço de inserção social.
Aos pais, às mães e aos filhos, a revista reservava sua Página (ou Galeria) Infantil. Esta
seção era composta de fotografias de crianças – em geral, filhos provenientes das famílias de
poder aquisitivo maior (incluindo os próprios netos de Arantes) –, poemas e versos com temáticas
infantis. Nos retratos, as crianças, algumas vezes, eram flagradas sozinhas, em outras ocasiões
apareciam acompanhadas de irmãos e de seus pais. As fotos eram seguidas de legendas indicando
o nome do homenageado, o de seus progenitores e a cidade onde residiam. Nas legendas,
elogiava-se também a beleza e enaltecia-se o desenvolvimento físico-intelectual da criança em
evidência. O exemplo citado a seguir repete-se em quase todos os números da revista, mudando-
se apenas o homenageado: “Elizabeth Lannes Bernardes. Mimosa e inteligente filha do casal
prof. Euler Lanes Bernardes e sra. Edma da S. Lannes”.553 Em alguns números da revista, na
Página Infantil, acrescentavam-se às fotos, bem como às suas enaltecedoras legendas, poesias
infantis dedicadas a alguma criança em particular: “Ao Arnaldinho, mimoso pimpolho que
encanta o lar feliz dos seus ilustres pais Arnaldo e Kriemilda”.554 Em seguida, publicava-se a
poesia em questão.
Como deleite para as mulheres, o periódico apresentava a sua Página Feminina. Nesta
seção, eram publicadas poesias de autoria de Arantes, assim como de autores conhecidos em
nível nacional (Humberto de Campos, por exemplo) e de poetas residentes na cidade e região
(Clóvis Cesar, Felizardo Fontoura, Deusdete Moreira, Zulma Bessa, Honório Guimarães e
outros); aforismos acerca do “papel” da mulher e da mãe na sociedade e outros acerca do amor,
como este de autoria do dramaturgo Procópio Ferreira: “Sem a doçura do amor, todas as alegrias
da vida são amargas e sem expressão. A vida só vale pelo amor”.555
553
PÁGINA Infantil. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 25, não paginado, set. 1959. APU. CPJA.
554
PÁGINA Infantil. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 27, não paginado, maio. 1961. APU. CPJA.
555
FERREIRA Procópio. In: Fragmentos. Páginas Femininas. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 24, p. 26, jun.
1958. APU. CPJA.
207
aumentar o brilho e outras para evitar a queda de cabelos. A publicação de fotografia das rainhas
da beleza, miss Uberlândia e miss Brasil eram freqüentes neste caso. A seção apresentava
também muitas fotografias de jovens da cidade e região, sempre acompanhadas de legendas
elogiosas, como esta que se segue: “Para o encanto de nossas amáveis leitoras organizamos
nesta seção a ‘página da beleza’. Figuram hoje nesta galeria de graça e encantamento, as lindas
senhoritas de nossa escol social”.556
Outros temas que poderiam interessar àquele público giravam em torno das realizações de
alguns prefeitos e breves notas sobre a política local. Sem contar os números especiais destinados
a evidenciar determinadas entidades e associações de profissionais liberais, conforme
556
PÁGINA de Beleza. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 23, p. 12, jan. 1958. APU. CPJA.
557
PÁGINAS Femininas. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 23, p. 11, jan. 1958. APU. CPJA.
558
ANDRADE, Alcebíades de. Fatores econômicos de Uberlândia. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 4, p. 29,
jun. 1939. APU. CPJA
208
Além das características de cada seção, bem como de seus conteúdos, um outro aspecto da
revista que possibilita inferir acerca de sua pretensão em abranger um vasto universo de leitores,
incide sobre a análise dos temas explorados nas capas de todos os números publicados da
Uberlândia Ilustrada. As capas das revistas, como ressaltaram Andrade e Cardoso, constituíam-
se em uma importante estratégia para atrair os leitores, por isso, eram cuidadosamente
trabalhadas tanto pelos autores quanto pelas editoras. Ao analisar a revista Manchete essas
autoras concluíram que, em meados da década de 1950, a referida revista:
... aprimorou a qualidade gráfica para ficar cada vez mais colorida, atraente e fácil de
ler. Eram as condições exigidas para manter e conquistar mais leitores. Dado que o
público leitor só podia ser definido experimentalmente, os editores levavam em
559
BRAGA, Antônio. Florão de Glórias. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 20, não paginado, dez. 1955. APU.
CPJA.
560
ARANTES, Jerônimo. Percorrendo o município: Rocinha. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 5, p. 29, jun.
1940. APU. CPJA.
209
561
ANDRADE, Ana Maria Ribeiro de; CARDOSO, José Leandro Rocha. Aconteceu, virou manchete. Revista
Brasileira de História, São Paulo, n. 41, p. 247, 2001.
210
A seleção das fotos impressas nas capas parece ter obedecido a um critério
cuidadosamente observado, qual seja: evidenciar as imagens que melhor representassem o ideário
progressista tão caro às elites locais. Desta forma, Arantes tentou contemplar vários aspectos
passíveis de monumentalizar a cidade e, por conseguinte, a sua própria revista. Nesse sentido, a
praça destacada era sempre a Tubal Vilela, “...um verdadeiro primor de arte e beleza”.562 Foi
inclusive a fotografia deste jardim que abriu o primeiro número da revista, quando ainda se
denominava Triângulo de Minas e aquele era conhecido como Praça da República. Décadas
depois, a Tubal Vilela voltou a figurar nos números 14 e 16 do mesmo periódico. As duas
fotografias destas últimas capas realçavam a praça e seu entorno localizado à rua Duque de
Caxias, com destaque para o edifício do Fórum e a matriz de Santa Terezinha. Na revista de nº.
16, a fotografia aérea focalizou, em primeiro plano, a praça, em seguida, a rua Duque de Caxias,
onde estavam instalados os dois edifícios mencionados anteriormente; ao fundo, aparecia o
prolongamento da cidade ultrapassando a estação da Cia. Mogiana de Estradas de Ferro.
Em decorrência dessa centralidade, aquele espaço público figurou, durante muitos anos,
como a imagem preferida para ilustrar cartões postais da cidade. O uso feito por Arantes da
562
ARANTES, J. Memória histórica de Uberlândia: Organização e administração do município de Uberlândia.
Uberlândia, 1962, não paginado, v. 2, p 104. (Datilografado). Acervo Delvar Arantes.
563
A centralidade gozada pelas praças no cotidiano de Uberlândia, em particular, pela Tubal Vilela, foi abordada por
Oliveira em sua pesquisa sobre as experiências boêmias em Uberlândia na década de 1940. Segundo o autor:
“Visíveis do alto e também usufruídas intensamente pela população na sua cotidianidade eram as praças, que, desde
o crepúsculo da década de 40, eram tratadas com zelo e acuidade, constituindo-se em motivo de regozijo e orgulho
para toda a sociedade e também para a imprensa local. (...) Das diversas praças existentes em Uberlândia
destacavam-se, em particular, a Antônio Carlos (hoje, Clarimundo Carneiro) e a República (hoje, Tubal Vilela), uma
vez que nas suas proximidades estavam localizados diversos estabelecimentos comerciais, tais como: bancos, cafés,
lojas de tecidos e cinemas. Nos seus interiores, eram realizados, além das comemorações públicas, festas populares e
religiosas, encontros cotidianos em que desenvolvia uma sociabilidade doce e perene caracterizada pelo namorar,
passear e conversar”. (OLIVEIRA, Júlio C. de. Ontem, ao luar.... experiências boêmias em Uberlândia na década de
40. História & Perspectivas. Uberlândia, n. 23, p. 189-90, jul./dez. 2000). Além do referido estudo, a praça Tubal
Vilela, em particular, tem sido objeto de algumas dissertações de mestrado, dentre estas destacamos: ALVES, Josefa
Aparecida. Sociabilidades urbanas: o olhar, a voz e a memória da praça Tubal Vilela (1930-1962). 2004. Dissertação
(Mestrado) - Instituto de História, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2004. / REDUCINO, Marileusa
de Oliveira. Uma praça e seu entorno: plasticidades efêmeras do urbano. Uberlândia - século XX. 2003. Dissertação
(Mestrado) - Instituto de História, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2003.
211
imagem retratando a Tubal Vilela foi similar àquele presente nos referidos cartões, uma vez que
os três números nos quais aquela praça surgiu estampada nas capas não trouxeram nenhum
conteúdo a respeito deste e/ou de outro jardim público, em particular. Dessa forma, a sua função
parece não ter sido outra se não aquela de ilustrar e chamar a atenção do leitor para o referido
periódico, por intermédio da apresentação de um local que se constituía em referência para todos
os habitantes de Uberlândia, fossem esses jovens e/ou adultos de ambos os sexos. Ao destacar
essa praça em sua revista, publicando a sua imagem na capa de três números editados, Arantes
buscava, portanto, identificação com o leitor por meio de uma triangulação composta pela praça,
a cidade e sua revista.
Além dessas imagens, dos 27 exemplares publicados (os números 7 e 8 saíram em uma
mesma edição), os retratos femininos estiveram presentes em 12 revistas, ou seja, este tema
ocupou 44% do total de capas da Uberlândia Ilustrada. E quem eram as mulheres
homenageadas? Jovens provenientes da elite local que obtiveram premiação em concursos de
beleza, elegeram-se como rainha dos esportes, do comércio, princesa de clubes de lazer, misse
negra etc.
564
NOSSA capa. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 25, p. 1, jan. 1958. APU. CPJA.
565
ENTROU em funcionamento a pista asfaltada do aeroporto internacional de Uberlândia. Uberlândia Ilustrada,
Uberlândia, n. 25, não paginado, set. 1959. APU. CPJA.
212
Em geral, essas fotos não remetiam a nenhuma reportagem e/ou artigo que compunha o
conteúdo tratado na revista; excetuando-se os números 19 e 21, respectivamente, uma edição
especial dedicada às entidades desportivas e outra patrocinada pela Sociedade da Gente de Cor de
Uberlândia, cujas fotografias publicadas eram, na primeira, a de uma das candidatas ao concurso
para eleger a rainha dos esportes e, na segunda, a misse negra, eleita em um concurso patrocinado
pela revista. Além destas, a Uberlândia Ilustrada de nº. 18, ao abordar em seu interior o tema da
capa, uma fotografia de Omeida Aparecida Monteiro, eleita rainha do comércio, fê-lo somente a
título de informação, dedicando apenas uma página para cobertura do concurso que a elegera. Os
dados a seguir possibilitam visualizar a ausência de correlação entre a imagem feminina
reproduzida na capa e o tema ao qual a revista destinou um maior espaço.
566
Em um pequeno texto, consta a seguinte justificativa para tal homenagem: “A efígie de Cilene Freitas, estampada
na primeira página, aparece ali como reflexo do nosso sentimento e a expressão da homenagem que rendemos à sua
memória, lamentando o seu desaparecimento, tão cedo, do meio da mocidade uberlandense, de onde era ela figura de
realce, oriunda de uma das mais distintas famílias da nossa escol social”. (NOSSA Capa. Uberlândia Ilustrada,
Uberlândia, n. 3, não paginado, maio 1939. APU. CPJA).
213
6, por exemplo, informou em sua capa que, naquela edição, se publicava “a história da fundação
de Uberlândia”, todavia ilustrou-a com foto de Ruth de Freitas, apresentando a seguinte
justificativa, em nada reveladora da matéria publicada na capa como manchete:
A revista de nº 20 informou igualmente em sua capa que aquela edição fora patrocinada
pelos Diretórios Políticos Municipais e que publicava um “histórico político de Uberlândia”, no
entanto ilustrou-a com a fotografia de Valquíria de Souza, senhorita “da nossa elite social, eleita
rainha do Praia Clube em 1955.” Imagem completamente alheia ao tema ao qual a revista
destinara mais da metade de suas páginas, ou seja, 18 das 34 existentes (53% do total).
Acreditamos que, ao estampar essas fotografias nas capas de sua revista Arantes estivesse
tendo em vista torná-la atraente para um maior número possível de seus leitores, não restringindo
o seu alcance apenas àquela fatia interessada no assunto em foco no interior do periódico. Dessa
forma, em uma época na qual os concursos de beleza mobilizavam a população e que, por
conseguinte, as suas mais eminentes representantes, tais como as misses e as “rainhas” de toda
natureza, constituíam-se em objeto de desejo para uns, em fator de admiração e fonte inspiradora
como padrão de moda e glamour para outros, trazer essas beldades na capa das revistas poderia
constituir-se em uma eficaz estratégia de marketing, por meio da qual seria possível amenizar a
densidade de alguns temas, convidar o leitor a folhear a revista e despertá-lo para a leitura de
outros assuntos discutidos naqueles números e, quem sabe, capturá-lo para conhecer os
próximos.568
567
NOSSA capa. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 6, p. 23, jul. 1940. APU. CPJA.
568
Ao tratar a forma como as revistas brasileiras, por meio de seus anúncios publicitários, contos e conselhos,
construíam as representações do glamour e do sex-appeal no período que compreende os anos de 1940 a 1960,
Sant'Anna tece os seguintes comentários: “A 'batalha pela beleza' conquistava bairros populares, se fazia presente
nos programas de rádio e televisão, ganhava atenção de psicólogos e outros profissionais das ciências humanas. As
misses e as atrizes de sucesso começavam a funcionar como garotas-propaganda”. (SANT'ANNA. Denise B. de. Do
glamour ao 'sex-appeal': notas sobre a história do embelezamento feminino entre 1940 e 1960. História &
Perspectivas, Uberlândia, n. 23, p. 125-26, jul./dez., 2000).
214
Ainda que diversificando a temática, a análise de todas essas capas possibilita apreender
um traço de unidade entre elas, qual seja, aquele que incide sobre as representações de progresso,
beleza e também sobre a conseqüente omissão acerca dos problemas existentes na cidade,
registrados em atas do Legislativo e também divulgados em alguns jornais. A beleza feminina, a
monumentalidade dos edifícios e o ufanismo foram características das imagens ressaltadas nas
capas da Uberlândia Ilustrada, que, presentes igualmente em seus textos, contribuíram, de um
lado, para reforçar as representações positivas acerca da cidade e, portanto, para que o periódico
fosse associado às imagens grandiosas que divulgava; de outro lado, essa estratégia poderia
viabilizar a inserção da revista em meio a um público bastante diversificado.
Ainda que não tenhamos dados que nos permitam cotejar os números apresentados pela
Uberlândia Ilustrada com o de outras revistas editadas em Uberlândia, a comparação entre
aquela e a população local já demonstra um pouco da sua pretensão.570 Até o final da década de
1950, a população da cidade não ultrapassava o total de 85.000 habitantes, assim, levando-se em
conta que era grande o número de analfabetos, o total de exemplares publicados por Arantes em
cada um dos números da sua revista era considerável.571
569
Deve-se, contudo, incorporar essas informações acerca da tiragem com um pouco de precaução, sobretudo
aquelas que apresentam totais elevados, pois, conforme salienta Cruz, o número informado pode servir apenas para
atrair anunciantes, ampliando, assim, a fonte de financiamento para a consecução do projeto. Nesse caso, a
apresentação do número da tiragem funcionaria muito mais como uma estratégia de marketing do que como um dado
seguro para caracterizar alguns periódicos. (CRUZ, op. cit., p. 139).
570
Uma das revistas que mais se aproxima desta produzida por Arantes, tanto em abrangência temática, quanto em
diagramação e total de páginas é a Elite Magazine. No entanto, em nenhum de seus números constam informações
acerca de sua tiragem.
571
UBERLÂNDIA. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 25, não paginado, set. 1959. APU. CPJA.
215
Tanto esforço para a consecução desse periódico não parece ter sido em vão, assim como
não passou despercebido pelos leitores da revista o trabalho jornalístico de Arantes. Vários
números da Uberlândia Ilustrada trazem trechos de algumas cartas recebidas, principalmente,
daquelas enviadas por órgãos de imprensa da cidade e região, por meio dos quais tomamos
conhecimento das representações que foram tecidas em torno dessa revista.
572
NAÇÃO Brasileira do Rio de Janeiro. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 7 e 8, p. 32, ago. set. 1940. APU.
CPJA.
573
MINAS Jornal de Conselheiro Lafaiéte. Como a imprensa amiga se manifestou referindo o aparecimento de
‘Uberlândia Ilustrada’. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 4, p. 1, jun. 1939. APU. CPJA.
574
O REPÓRTER. Registro. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 21, não paginado, jun. 1956. APU. CPJA.
575
O REPÓRTER. Publicações. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 24, p. 28, jun. 1958. APU. CPJA.
216
As cartas destacam, ainda, as representações que pareciam ser mais caras a Arantes, quais
sejam, aquelas que diziam respeito ao seu envolvimento com a história ou com o seu trabalho de
memorialista. Em uma delas, o tom apologético confere ao seu trabalho conotações santificadas,
uma vez que o compara às inscrições sagradas.
... Muita gente que lê a revista de Jerônimo Arantes talvez ignore o que esse modesto
trabalho tem de grande e de louvável. Esse homem anda faiscando aqui e ali, pobre e
crente como um meia-praça dos garimpos, à cata alegre dos ‘chibius’ fugidios.
Remexe aluviões, remove grupiaras, rebusca sem cansaço, as misteriosas chaminés
genealógicas de toda gente do Novo Sul para recompor, nas carcassas de Farinha-
Podre, as fisionomias legitimas dos patriarcas da história confusa dos sertões
triangulinos. Está esculpindo num granito sagrado como o do Sinai, as primeiras
lições de heroísmo e de bondade que a coragem dos bandeirantes gritou nas selvagens
plagas de Goiás.576
As cartas constituíram-se em uma importante fonte para apreendermos como esta revista
foi recebida por alguns de seus leitores e quais impressões lhes causou. Além disso,
possibilitaram-nos compreender que a revista, além de ter sido o instrumento por meio do qual
Arantes construiu e divulgou as suas representações acerca da cidade, da sua história e do seu
576
DUTRA, Aimoré. Um rasgador de diplomas. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 11, p. 20, dez. 1941. APU.
CPJA.
577
PIRES, Álvaro. [carta]. Uberlândia, 10 fev. 1961. Carta a Jerônimo Arantes agradecendo-lhe exemplar recebido
da Uberlândia Ilustrada e elogiando o seu trabalho como historiador, manifesto nas páginas do referido periódico.
APU. CPJA. PT.
578
‘UBERLÂNDIA Ilustrada’. Correio de Uberlândia, Uberlândia, não paginado, 25 abr. 1955. APU.
217
povo, revelou-se também como a vitrine onde ele exibiu seus dotes jornalísticos, seu trabalho de
memorialista e, por extensão, seu empenho em recuperar dados relativos ao passado da cidade.579
Seu envolvimento com a Uberlândia Ilustrada foi fundamental para produzir essas
representações e, sobretudo, para promover a sua circulação, pois, conforme análise de Gomes,
participar de jornais, assim como de núcleos menores (e mais seletos), como aquele composto
pelas revistas, “... era fundamental, não só por que fazia parte de qualquer estratégia de
ascensão intelectual (o que não ocorria sem suportes político-sociais), mas também porque os
periódicos eram a base da circulação de idéias da época”.580
579
Em todos as seções da Uberlândia Ilustrada listadas abaixo se encontram publicadas estas cartas: REGISTRO.
Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 2, não paginado, jun. 1935. APU. CPJA./ FRAGMENTOS. Uberlândia
Ilustrada, Uberlândia, n. 3, não paginado, maio 1939. APU. CPJA./ COMO a imprensa amiga se manifestou
referindo o aparecimento de ‘Uberlândia Ilustrada’. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 4, p. 1, jun. 1939. APU.
CPJA./ SOBRE esta revista. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 7 - 8, p. 32, ago./ set. 1940. APU. CPJA./ DUTRA,
op. cit./ UBERLÂNDIA Ilustrada: noticiário da imprensa. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 13, p. 7, dez. 1946.
APU. CPJA./ REGISTRO. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 16, p. 29, jun. 1953. APU. CPJA./ REGISTRO.
Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 17, p. 29, out. 1953. APU. CPJA./ REGISTRO, jun. 1956, op. cit. /
PUBLICAÇÕES. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 24, p. 28, jun. 1958. APU. CPJA.
580
GOMES, 1996, op. cit., p. 46.
218
Podemos inferir que fato semelhante ocorreu no que tange ao seu Arquivo Histórico e à
revista Uberlândia Ilustrada, porém aqui não se tratava apenas de eleger um aspecto da realidade
(a educação, no caso anterior) para com ele produzir suas representações, mas, sim, de tomar o
conjunto do real para produzir a história triunfante sobre o passado da cidade e de seus
fundadores, propor interpretações confiantes para o futuro que servissem para dar continuidade à
suposta exemplaridade do passado, bem como construir a imagem de historiador arguto que teria
tido a capacidade de monumentalizar todas essas glórias, como previu um amigo: “... tenho para
mim que Jerônimo Arantes passará um dia para a história de Uberlândia como um dos
principais forjadores da grandeza desta mesma terra”.581
Ainda que o projeto desenvolvido na revista tenha sido muito ambicioso, pensamos que
ele não teria produzido os resultados satisfatórios, se não tivesse contado com as imagens que
Arantes produziu para si à frente do Colégio Amor às Letras e no serviço público, na época em
que inspecionava as escolas municipais. Aquelas representações produzidas por um funcionário
público “exemplar”, trabalhando em benefício da população e esforçando-se para garantir a esta
uma escola primária capaz de mitigar a vergonha da analfabetização, refletiram-se sobre o
reconhecimento de suas incursões no campo jornalístico, assim como contribuíram para que o seu
periódico fosse recebido de forma amistosa, conforme depreendemos de um artigo publicado na
imprensa local:
Redigida pelo seu proprietário prof. Jerônimo Arantes, prosador e poeta de apreciável
espírito rabelesiano, funcionário exemplar do operoso e estimado prefeito do
município no complexo Departamento da Instrução, a Revista, que tem à frente um
elemento assim, por certo triunfará, para glória de seu diretor e satisfação unânime
do povo de Uberlândia.582
581
PIRES, op. cit. (Grifos do autor).
582
RIOS, Joaquim. Uberlândia Ilustrada. O Estado de Goyaz, Uberlândia, p. 4, 13 mar. 1941. APU. CPJA.
219
Pensamos, no entanto, que a imagem positiva auferida com o trabalho na educação não foi
o único fator responsável pela longevidade da Uberlândia Ilustrada, pois a esse acrescentaram-se
elementos oriundos da própria revista – alguns já discutidos, como por exemplo as representações
que produziu e divulgou acerca da cidade e a destinação a um público leitor diversificado ―,
que, uma vez somados, garantiram ao projeto jornalístico de Arantes uma fecundidade e
durabilidade inigualáveis em outros periódicos fundados em Uberlândia no mesmo período. A
abordagem com a qual apreendeu a história da cidade e o tratamento que conferiu aos
empreendimentos da elite de Uberlândia, tanto a política quanto a empresarial, foram outros
elementos aos quais tributamos o sucesso de sua revista.
583
CAPELATO, Maria Helena. Imprensa, uma mercadoria política. História & Perspectivas, Uberlândia, n. 4, p.
133, jan. jun. 1991.
221
CAPÍTULO IV
Arantes nunca fez curso de História, não dava aulas dessa disciplina em nível ginasial e
tampouco colegial (equivalentes ao final do ensino fundamental e a todo o ensino médio existente
nos dias atuais). De acordo com a análise dos volumes depositados em sua biblioteca, ele também
não fazia leituras acerca de teoria e metodologia da história. No entanto, a pesquisa e a produção
de uma história da cidade constituía-se, para ele, na ocupação privilegiada para a qual destinava
grande parte de seu tempo. Um perfil, portanto, muito semelhante ao de outros intelectuais
brasileiros, seus contemporâneos, que se dedicaram à pesquisa e à produção de uma história do
país sem ser, contudo, historiadores profissionais. Considerando que as distinções entre as
disciplinas só começaram a se tornar mais nítidas a partir de 1930 – e, por conseguinte, a
especialização em história só começou a se processar no mesmo período –, quando se instalaram
no país as primeiras Faculdades de Filosofia, Ciência e Letras, os historiadores eram até então, no
dizer de Gomes, “homens de letras”, tais como: poetas, romancistas, juristas e, praticamente
todos, jornalistas militantes.584
Arantes era, de fato, um “homem de letras”, cujo envolvimento com os fatos relacionados
ao passado de Uberlândia o teria colocado, segundo Dantas, entre os quatro principais (e
primeiros) memorialistas que a cidade conheceu: Capri, Pezzuti e Teixeira.585 Esse trabalho de
pesquisa deve ter consumido muito do seu tempo — especialmente após ter-se aposentado no
584
GOMES, 1996, op. cit., p. 38.
585
DANTAS, Sandra M. Veredas do progresso em tons altissonantes: (Uberlândia, 1900-1950). 2001. Dissertação
(Mestrado) - Instituto de História, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2001, p. 73.
Cada um desses memorialistas produziu uma obra a respeito da cidade de Uberlândia. Capri publicou na segunda
década do século XX um livro contendo 38 páginas nas quais deixou registrados aspectos da história da cidade de
Uberlândia. (CAPRI, Roberto. Município de Uberabinha: physico, econômico, administrativo e suas riquezas
naturaes e agrícola. São Paulo: Capri, Andrade & Cia., 1916, p. 43). Na década seguinte, Pezzuti, um cônego
residente em Uberlândia, publicou a sua versão para os mesmos fatos em um livro de 86 páginas. (PEZUTTI, op.
cit.). E, finalmente, aproximando-se das últimas décadas do mesmo século, Teixeira publicou seu livro sobre
Uberlândia, contendo dois volumes. Sendo que um deles era destinado à publicação de panegíricos. (TEIXEIRA,
Tito. Bandeirantes e pioneiros do Brasil Central: história da criação do município de Uberlândia. Uberlândia:
Uberlândia Gráfica, 1970. 2 v.).
222
serviço público –, pois teria resultado, segundo o autor, de “fatigantes pesquisas”.586 Com efeito,
“Não se faz história sem esforço e investimentos pessoais”,587 e quando se trata de história local,
as dificuldades não diminuem, pois esta é uma “... história que não é fácil, que exige muito
tempo, diligência, aplicação; a pesquisa é longa, às vezes decepcionante, os métodos são pouco
seguros, os ‘modelos’ insuficientes ...”588
Uma outra característica que emerge da análise sobre os escritos de Arantes reside no
caráter localizado da sua abordagem acerca da história. Ou seja, não transparecem em seus textos
indícios da tentativa de desenvolver estudos comparativos por meio dos quais pudessem ser
cotejadas as suas descobertas com a história de âmbito mais geral. Ao contrário, o estudo começa
e encerra-se em torno dos fatos ocorridos em nível local, ou seja, Uberlândia. Dessa forma, o
desbravamento, a formação do povoado, a instalação do município, a sua organização
administrativa, a situação econômica, bem como os aspectos sociais que compunham o cenário
586
ARANTES, J. Cidade dos sonhos meus. Uberlândia, 1975. (Datilografado). Acervo Delvar Arantes.
587
GOMES, 1996, op. cit., p. 45.
588
THUILLIER, Guy; TULARD, Jean. Histoire locale et régionale. Paris: Presses Universitaires de France, 1992, p.
20. (Tradução livre da autora).
No original: “... une histoire qui n’est pas facile, qui exige beaucoup de temps, de zèle, d’application; l’enquête est
longue, parfois décevante, les méthodes sont mal assurées, les ‘modeles’insuffisants ...”.
589
Cientes da realidade à qual cincunscrevia o trabalho de Arantes, assim como o de outros memorialistas, não
esperaremos encontrar naquele, posturas teórico-metodológicas estranhas ao seu universo. Por isso, os apontamentos
acerca das características que perpassam sua obra não têm como objetivo cobrar aquilo que ele não propôs realizar,
mas, sim, esclarecer o que deixou escrito.
590
Rodrigues, ao tratar da obra de João Lúcio de Azevedo — historiador luso-brasileiro, cuja produção concentra-se
no final do século XIX e início do XX—, comenta que, na sua produção, assim como na de muitos de seus
contemporâneos, não havia indícios de apropriação dos debates teóricos em curso fim do século XIX.
(RODRIGUES, A., op. cit., p. 47).
223
citadino são enfocados em uma perspectiva local, sem o estabelecimento de conexões com a
situação que se desenrolava em outras partes do Brasil e do mundo no mesmo período. Tudo
transcorre como se a história daquela cidade gravitasse em torno de sua própria órbita, sem a
concorrência de fatos, situações, experiência e interesses que foram contemporâneos àquela e
que, sobretudo, contribuíram para o seu transcurso.
Essa prevalência do particular destituído de relações com fatos gerais parece ser uma
característica da maioria das obras deixadas pelos memorialistas que se dedicaram à pesquisa e
produção da história local e regional. Um processo análogo caracterizou também a historiografia
elaborada durante o período ditatorial do presidente Getúlio Vargas. Naquela época, os textos de
história do Brasil veiculados pela revista Cultura Política careciam de correlação entre os fatos
divulgados, tanto acerca do povo brasileiro quanto no que diz respeito à história de outros
povos.591
Esse fato não se circunscreve apenas aos domínios da realidade brasileira, mas inscreve-se
também em meio à produção francesa. Em seus estudos sobre a história local e regional
produzidas na França, Guy Thuillier e Jean Tulard, ao abordar os princípios subjacentes a essa
forma de se escrever a história, ressaltam algumas de suas características, e uma delas muito se
aproxima dos trabalhos de Arantes. Segundo os autores, a história local é: “... uma história
setorial” e “o historiador local não costuma deduzir a história de quaisquer idéias gerais a
priori ...”.592
Mesmo não fazendo estudos comparativos, Arantes mantinha um forte vínculo com os
fatos relativos ao passado de Uberlândia e parecia mesmo sentir-se o mais autorizado para
discutir o assunto, afinal, possuía um acervo de proporções inigualáveis na cidade e passava todo
o tempo disponível imerso em seus documentos, tentando desvendar fatos, personalidades,
origens, genealogias e tudo o que dissesse respeito à história do município. Ele próprio não se
incluía na categoria de memorialista, ao contrário, inseria-se no rol dos historiadores, sendo que,
591
GOMES, 1996, op. cit., p. 159.
592
THUILLIER; TULARD, op. cit., p. 22-23.
No original: C’est une histoire sectorielle (...) l’historien local ne saurait déduire l’histoire de quelques idées
générales a priori .... “
224
Na carta aberta, o tom da crítica empregada por Arantes afastava-se bastante da cortesia,
da polidez e da camaradagem, que, conforme analisamos, lhe eram atribuídas pelos seus
subordinados no Serviço de Educação e Saúde do Município. De fato, o sentido que perpassa o
referido documento extrapola o da mera reprovação e resvala em uma descompostura ao seu
autor, pois Arantes não hesitou em utilizar expressões vulgares, tais como “mancada”, “amargar”
e “balofa”, assim como não conteve o cinismo, que transformou sua carta em um grito de guerra.
Vejamos os argumentos que empregou para desqualificar o trabalho publicado pelo antigo
colega:594
Li, com bastante carinho a sua carta endereçada ao Correio de Uberlândia. O seu
assunto causou-me verdadeira surpresa. A sua audácia em dar conhecimento a todo o
mundo de Uberlândia’, do centenário da ‘criação do Distrito de Uberabinha’, que se
ocorrerá em 1952, foi um verdadeiro disparate, que merece corrigenda, pelo
593
ARANTES, J. Uma página do passado. Resenha histórica da Comarca de Uberlândia, 1892–1952. Uberlândia
Ilustrada, Uberlândia, n. 15, p. 1, jan. 1952. APU. CPJA.
594
Até o registro deste episódio, ao que indica a correspondência de Arantes, ambos eram amigos, pois Teixeira
solicitava-lhe cópia de documentos arquivados em Uberlândia (na paróquia, no cartório e no próprio arquivo de
Arantes) e, também, pedia-lhe orientações acerca das pesquisas que realizava na cidade do Prata, com o objetivo de
elaborar a árvore genealógica de seu filho recém-nascido. Algumas correspondências trocadas entre ambos e listadas
a seguir testemunham a amizade de outrora: TEIXEIRA, E. [carta]. Prata, 07 set. 1949. Carta a Jerônimo Arantes
comunicando-lhe a elaboração da árvore genealógica do filho e solicitando-lhe informações sobre antepassados.
APU. CPJA. PT. / ARANTES, J. [carta]. Uberlândia, 5 out. 1949. Carta a Edelweiss Teixeira, respondendo à sua
correspondência anterior e cumprimentando-lhe pela chegada do primeiro filho. APU. CPJA. PT. / TEIXEIRA, E.,
15 jan. 1950, op. cit. Carta a Jerônimo Arantes, contendo detalhes acerca do levantamento dos dados que estava
fazendo com a finalidade de completar a sua pesquisa e solicitando-lhe documentos arquivados em Uberlândia. APU.
CPJA. PT.
225
Arantes prosseguiu enumerando os dois erros que teria cometido Teixeira. O primeiro
incidia sobre a imprecisão na data da criação do distrito e nos nomes de suas mais proeminentes
autoridades; o segundo erro incorria também sobre datação, só que agora referente ao ano em que
se teria iniciado a exploração das terras devolutas no antigo Sertão da Farinha Podre. Em seguida
continuou a desferir golpes com sua língua afiada e passou a citar a bibliografia específica sobre
a história da região, produzida por indefectíveis autoridades, que aquele deveria ter lido para não
cometer os graves equívocos enumerados: “Menino, escuta o meu conselho. Não se escreve
sobre um assunto de tamanha responsabilidade, sem primeiramente consultar os mestres que nos
legaram esse precioso patrimônio histórico da nossa região”.596
Depois de citar literalmente os estudos realizados por autores eruditos, por meio dos quais
acreditava poder demonstrar ao seu interlocutor os sérios erros cometidos, Arantes concluiu a sua
carta aberta ressaltando a grandiosidade do seu acervo e convidando Teixeira para visitá-lo – com
a ressalva de que o convite fora feito em tom falsamente modesto:
Sentindo-se ultrajado pelas críticas que lhe dirigiu Arantes, Teixeira não tardou muito
para devolver-lhe a resposta e o acusou, então, de autoritário, insolente e “guardião feroz” da
história local. Conforme se lê no fragmento a seguir, o teor empregado não foi nada favorável ao
memorialista de Uberlândia. Depois de sugerir, em tons sarcásticos, que ele organizasse um
“Curso Popular de História de Minas e de Uberlândia”, que deveria ser ministrado por ele
(Arantes) e por intelectuais da área de História, procedentes da cidade, de municípios adjacentes,
da capital do estado de Minas Gerais e também de São Paulo, o médico prosseguiu nos insultos:
595
ARANTES, J. A pedidos. Carta aberta ao Exmo. Sr. Dr. Edelweiss Teixeira. Correio de Uberlândia, Uberlândia,
p. 1, 1 jun. 1950. APU.
596
ARANTES, J. ,1 jun. 1950, op. cit., p. 1.
597
ARANTES, J., 1 jun. 1950, op. cit., p. 4. (Grifos do autor).
226
Infelizmente, até o momento assim não pensou o prof. [Arantes]. Sofrendo ele do
defeito crônico de tantos intelectuais brasileiros ― o louco afã de destruir uns aos
outros ―, julgando-se “dono” da história de Uberlândia, sentiu-se melindrado por
um outro ter entrado no assunto sem o seu prévio consentimento. Guardião feroz e um
tanto sádico, está disposto a zelar diuturnamente pelo sono de sua bela Adormecida,
que não deseja nunca acordada (...), não quer ouvir ressoar passos de profanos que
ousem transpor os umbrais do Antanho e espanejar a caliça do tempo. (...) ao tomar
conhecimento de minha carta, enfureceu-se (...).598
A ira de Teixeira não era sem fundamento, afinal, ainda que não sendo especialista na
história da cidade de Uberlândia, ele, como membro dos Institutos Históricos e Geográficos de
Minas Gerais e São Paulo — segundo informou em um dos artigos que escreveu599 —, sentia-se
revestido de autoridade e competência suficientes para também tratar do assunto relacionado aos
fatos do passado de Uberlândia e, portanto, as críticas que lhe endereçava Arantes seriam
injustas.
Infelizmente, a polêmica não continuou nas páginas dos jornais e não tomamos
conhecimento sobre o seu desfecho. Transcorridos apenas dois anos ele novamente envolveu-se
em outra querela, só que desta vez a discussão referia-se à história do cinema em Uberlândia.
Aceitava-se como dado inquestionável que o primeiro cinema instalado na aludida cidade teria
sido o Cinema São Pedro, de propriedade de Custódio da Costa Pereira, inaugurado em 1909.
Arantes publicou, assim, um artigo discutindo que este cinema tinha sido precedido por dois
outros que funcionaram nos anos de 1908 e princípio de 1909.600
Após a publicação desse seu texto, Arantes recebeu uma carta na qual o autor, que assinou
apenas com pseudônimo, contestou a tese defendida por ele. Arantes, não perdoando a insolência
do interlocutor desconhecido, partiu rápida e veementemente em defesa própria. Editou, então, no
mesmo jornal, outro artigo ratificando o seu ponto de vista, no qual deixou registrado o seu
desprezo pelo correspondente quase anônimo:
condena a nossa afirmativa (...). Ficamos muitíssimo grato ao nosso prezado confrade,
pela crítica elucidativa sobre o assunto, ― feita em linguagem sadia, dentro das
normas de bom vernáculo ― demonstrando o seu elevado grau de cultura ao par de
conhecimentos como nós outros da história desta traquina filhinha de Uberaba.
Sentimos profundamente não receber a lição do mestre. 601
Mesmo após a morte de Custódio da Costa Pereira (09/10/1961), ele prosseguiu insistindo
nos resultados de suas pesquisas. Naquela ocasião, circulou em um dos jornais da cidade a
biografia daquele empresário e comerciante, em que, novamente, lhe era atribuído o pioneirismo
na empresa cinematográfica local.602 Ao tomar conhecimento do fato, Arantes publicou outro
artigo e, com o intuito de apresentar pêsames à família de Pereira, aproveitou o ensejo para
retomar o assunto referente ao cinema. Reafirmou, na oportunidade, o resultado de suas pesquisas
e corrigiu o autor da biografia aludida, utilizando, para tanto, a autoridade assentada no fato de
que os dados que apresentava eram (supostamente) do conhecimento do principal envolvido na
polêmica, agora já falecido, o empresário Custódio Pereira:
601
DALBAS JÚNIOR. Na poeira dos arquivos. Respondendo uma carta anônima, procedente de Uberaba. O
Repórter, Uberlândia, p. 2, 11 out. 1952. APU.
602
CUSTÓDIO da Costa Pereira. Uma vida, um exemplo. [Recorte], sem data. APU. CPJA. PT.
603
DALBAS JÚNIOR. Ainda o cinema São Pedro. [Recorte], sem data. APU. CPJA. PT.
228
(...).
(1) Histórico ― Em 1908 o sr. Urias Rodrigues da Cunha foi o empresário do
primeiro cinematógrafo da cidade. O cinema ‘Alhambra’ foi instalado num barracão
na praça onde fica hoje o Colégio Estadual. 604
Outra altercação na qual se envolveu Arantes consistiu no fato de tentar corrigir a grafia e
a pronúncia do sobrenome do suposto fundador de Uberlândia. Para tanto, dedicou parte de seu
tempo tentando provar que a forma como vinham escrevendo e também pronunciando o
sobrenome do distinto cidadão estava incorreta, pois o certo seria escrever o nome Carrejo
empregando a letra “e” e não Carrijo com “i”, como era usual, pois, segundo ele: “pronuncia-se
Carrejo e não Carrijo”. (Grifos do autor).606 Pinheiro, funcionário da Câmara Municipal desde a
década de 1970, ao redigir, a nosso pedido, um depoimento sobre Arantes, fez a seguinte
observação acerca do fato:
604
ARANTES, J. Cinema. In: ARANTES, J., 1971a, op. cit., p. 13.
605
PINTO, Luziano Macedo. Situações de cinema: tramas e imagens de sociabilidade. Uberlândia 30 a 50. 2001.
Dissertação (Mestrado) — Instituto de História, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2001, p. 42.
606
ARANTES, J. Corografia ilustrada de município de Uberlândia. Uberlândia, 1967b, p. 26. (Datilografado).
607
PINHEIRO, José L. Algumas notícias sobre o professor Jerônimo Arantes. Uberlândia, 17 jun. 2002. (Digitado).
Arquivo Sandra Cristina Fagundes de Lima.
229
De fato, na década de 1970 Osvaldo Vieira saiu em defesa de seu ponto de vista e
publicou um longo artigo no jornal Correio de Uberlândia,em que, a propósito de provar que a
grafia correta deveria ser Carrijo, recorreu a explicações de ordem histórica (“Tal família sempre
se identificou como 'família Carrijo' e jamais como 'família Carrejo'“.) e a outras fundamentadas
em estudos etimológicos das línguas portuguesa e espanhola, concluindo que “Os registros de
antropônimos, tanto espanhóis quanto portugueses, não incluem as formas Carrijo ou Carrejo.
(...) Carrijo possivelmente teria sido uma corruptela de 'Carrillo'“.608
Parece mesmo que Edelweiss Teixeira não havia exagerado ao acusar Arantes de
pretender ser único a pesquisar e produzir a história local, pois, embora se autodenominando
608
GONÇALVES, Oswaldo Vieira. Correio de Uberlândia, Uberlândia, [recorte], [197-]. APU. CPJA. PT.
609
PESSOA FILHO, Salazar. Fundação da cidade. Correio de Uberlândia, Uberlândia, [recorte]. APU. CPJA. PT.
610
De acordo com Gontijo, esta teria sido, inclusive, uma das formas utilizadas por Manoel Bonfim para assegurar a
sua identidade como historiador nas três primeiras décadas do século XIX. (GONTIJO, op. cit., p. 134).
611
TEIXEIRA, E., 1950, op. cit.
230
calouro, ele, ao contrário, parecia muito seguro do que escrevia, não aprovava integralmente as
iniciativas de colegas que se aventuravam em pesquisas acerca do tema que havia elegido para
dedicar-se e insistia em afirmar e confirmar as hipóteses que levantava.
Como resultado parcial de suas investigações, além dos artigos publicados na revista
Uberlândia Ilustrada, foram editados alguns folhetos e quatro livros, de poucas páginas, nos
quais ficaram registradas as facetas da sua concepção da história da cidade em seus mais diversos
612
ARANTES, J. Cidade dos sonhos meus: memória histórica de Uberlândia. 2 ed. revista, ampliada e ricamente
ilustrada, Uberlândia, 1981c. (Datilografado). Acervo Delvar Arantes.
613
ARANTES, J. Cidade dos sonhos meus. Memória histórica de Uberlândia. Ed. Ampl. E ricamente ilust.
Uberlândia: EDUFU, 2003.
231
aspectos. Os demais escritos permaneceram datilografados, aguardando uma edição que não
ocorreu.614
O recorte temporal adotado por Arantes recaía sempre sobre os fatos localizados no
passado da história do município. Assim, tanto esta opção cronológica quanto a prevalência dos
temas políticos em seus estudos guardam semelhanças com os trabalhos oriundos do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro – IHGB –, realizados por historiadores brasileiros. Segundo
Callari, a análise das conferências proferidas por membros daquele Instituto, assim como do
conteúdo da revista que publicavam, demonstra a predominância dos “grandes temas políticos”,
tais como: o Descobrimento “...momento que assinala a integração do Brasil ao time das nações
614
ARANTES, J. Corografia ilustrada de município de Uberlândia. Uberlândia, 1967b. (Datilografado). APU.
CPJA.
_____. Cromos. Musa vadia de Dalbas Júnior. Uberlândia: [s.n.], 1981a. APU. CPJA.
_____. Cartilha brasileira. Uberlândia: Livraria Kosmos, 1938b. Acervo Delvar Arantes.
_____. Cidade dos sonhos meus. Uberlândia, 1975. (Datilografado). Acervo Delvar Arantes.
_____. Cidade dos sonhos meus. 2. ed. Uberlândia, 1981b. (Datilografado). Acervo Delvar Arantes.
_____. Cidade dos sonhos meus: memória histórica de Uberlândia. 2 ed. revista, ampliada e ricamente ilustrada,
Uberlândia, 1981c. (Datilografado). Acervo Delvar Arantes.
_____. A cidade: Uberlândia dos primeiros tempos. Uberlândia, 1971a. (Datilografado). Acervo Delvar Arantes.
_____. Colibri. Literatura Infantil. Uberlândia, 1976. (Datilografado). Acervo Delvar Arantes.
_____. Corografia do município de Uberlândia. Uberlândia, Pavan, 1938c. Acervo Delvar Arantes.
_____. Crônicas sociais. Uberlândia, 1977. (Datilografado). Acervo Delvar Arantes.
_____. Memória histórica de Uberlândia: Fundação da cidade. Uberlândia: Livraria Kosmos, 1969. Acervo Delvar
Arantes.
_____. Memória histórica de Uberlândia: Organização e administração do município de Uberlândia. Uberlândia,
1962, não paginado. V. 2. (Datilografado). Acervo Delvar Arantes.
_____. Memória histórica de Uberlândia: Setor ferroviário. Alta Mogiana. Uberlândia: [s.n.], [1970]. Acervo Delvar
Arantes.
_____. Meu Aprendizado agrícola. Uberlândia, s.d.. (Datilografado). Acervo Delvar Arantes.
_____. Minha escola modelo. Uberlândia: Livraria Kosmos, 1938d. Acervo Delvar Arantes.
_____. Uberlândia, cidade dos sonhos meus. Uberlândia: [s.n.], 1967c. APU. CPJA.
232
Ao conteúdo dos temas abordados nos textos escritos por Arantes, subjaz uma
representação que tem como objetivos, primeiro, buscar a origem do município na figura de
“pais” fundadores; segundo, depois de cumprida esta tarefa, legitimar a ação destes por meio da
afirmação da lisura de seu caráter, dos seus propósitos messiânicos e desinteressados e,
particularmente, da legalidade de suas posses; em terceiro lugar, demonstrar que essas qualidades
foram herdadas por sucessores, que, imbuídos do espírito de progresso, legado de seus ancestrais,
deram continuidade à sua obra grandiosa.
A obsessão pela origem de Uberlândia e também pela instituição de pais fundadores para
a referida cidade ocupou um papel central no âmbito da produção de Arantes. A insistência na
figura de Felisberto Carrejo como tendo sido o fundador da cidade consistiu em uma de suas
principais fontes de preocupação, conforme ressaltou um jornalista da cidade:
Com efeito, Arantes envidou muito esforço a fim de instituir oficialmente Carrejo como o
fundador de Uberlândia, nesse sentido, transcreveu documentos atestando a chegada daquela
família à região do Triângulo; em todos os seus livros e artigos, ressaltava o pioneirismo de
Felisberto Carrejo na formação do núcleo urbano e fundação do povoado que futuramente daria
origem a Uberlândia; realizou pesquisas a fim de reunir dados para que fosse pintado um retrato
(falado) do suposto “pioneiro”,617 e, como se não bastasse, lutou para se implantar em uma das
615
CALLARI, Cláudia R. Os institutos históricos: do patronato de D. Pedro II à construção do Tiradentes. Revista
Brasileira de História, São Paulo, n. 40, v. 1, 2001, p. 73.
616
PAES, Lycidio. [carta]. Uberlândia, 10 maio 1969. Carta a Jerônimo Arantes de agradecimento pelo exemplar
recebido do livro de sua autoria “Memória histórica de Uberlândia”. APU. CPJA. PT.
617
No livro de Tito Teixeira, há uma reprodução dessa imagem contendo a seguinte legenda: “Arranjo fotográfico
inspirado por Jerônimo Arantes e conseguido das informações fornecidas de velhos alunos do professor Felisberto A.
Carrejo, um dos fundadores da cidade”. (TEIXEIRA, T., 1970, v. 1, op. cit., não paginado).
O referido quadro encontra-se no APU.
233
Após tentar conferir a Carrejo a primazia na fundação620 do povoado que, anos depois,
daria origem ao município de Uberlândia, o passo seguinte consistiu em ressaltar as suas
qualidades que, de acordo com o que se depreende da leitura dos textos produzidos por Arantes,
não eram poucas: honestidade, laboriosidade, religiosidade e instrução eram alguns dos atributos
conferidos ao pioneiro.
618
ARANTES, J. Enaltecendo o nosso patrimônio histórico. Correio de Uberlândia, Uberlândia, p. 5, 17 jul. 1943.
APU.
619
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. Diretório Municipal de Geografia e Estatística, 11 set. 1969, op. cit.
620
Usamos o conceito de fundação, remetendo–o àquele empregado por Chauí em seu estudo sobre as representações
construídas acerca do Brasil e dos brasileiros, no qual a autora pontua as diferenças existentes entre o conceito de
fundação e o de formação. Este estaria relacionado à história e a todas as suas representações, “... sejam aquelas que
conhecem o processo histórico, sejam as que o ocultam (isto é, as ideologias)”. A fundação, ao contrário, implicaria a
supressão do processo histórico, inerente à formação, e na conseqüente incorporação do a-temporal. A fundação “...
refere-se a um momento passado imaginário, tido como instante originário que se mantém vivo e presente no curso
do tempo, isto é, a fundação visa a algo tido como perene (quase eterno) que traveja e sustenta o curso temporal e lhe
dá sentido. A fundação pretende situar-se além do tempo, fora da história, num presente que não cessa nunca sob a
multiplicidade de formas ou aspectos que pode tomar. Não só isso. A marca peculiar da fundação é a maneira como
ela põe a transcendência e a imanência do momento fundador: a fundação aparece como emanando da sociedade (em
nosso caso, da nação) e, simultaneamente, como engendrando essa própria sociedade (ou a nação) da qual ela
emana”. (CHAUÍ, Marilena. Brasil: mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo: Fundação Perseu Abramo,
2001, p. 9-10).
234
Em suas histórias sobre Uberlândia, Silva também mencionou estes conflitos, com a
particularidade de os localizar no município de Uberlândia, mais próximos ao universo retratado
por Arantes em seus estudos:
621
VASCONCELLOS, Diogo de. História antiga das Minas Gerais. Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado de
Minas Gerais, 1904, p. 80-81. APU. CPJA.
622
SILVA, A., 2002, op. cit., p. 57.
623
BOSI, Antônio de P. Conflitos sociais na constituição do espaço urbano: São Pedro de Uberabinha na década de
1890. História & Perspectivas, Uberlândia, n. 18/19, jan./dez. 1998, p. 57.
235
No entanto, mesmo conhecendo a obra de Pezzuti e citando-a em seus livros, Arantes não
mencionou os embates políticos existentes no final do século XIX. Esta estratégia de silêncio—
denominada por Marc Ferro de “silêncios da história oficial”624 — também foi adotada pela
historiografia brasileira ao reportar a períodos variados de nossa história, um exemplo pode ser
buscado no tratamento conferido à instauração da República no país. Não obstante os
testemunhos em contrário, na tentativa de mitigar conflitos nas primeiras décadas de instauração
do novo regime e também de amenizar exasperadas contestações que ameaçavam eclodir em
momentos posteriores, quando se acirravam as disputas pelo poder, prevaleceu, na memória sobre
o período, uma versão, também acolhida e incorporada por muitos historiadores, de que entre nós
a República teria sido instaurada de forma natural, pacífica, alheia a conflitos e vozes
discordantes. Como resultado dessa operação, muitos trabalhos historiográficos produziram uma
forma narrativa “... lógica e contínua na qual os testemunhos contestadores cederam lugar às
nuanças dos triunfadores e os acontecimentos se ajustaram em encadeamentos que não
possuíam, adquirindo inatacável coerência”.625
624
Segundo o autor: “Ligados ora às exigências da razão do Estado, de sua legitimidade, ora à identidade de uma
sociedade e à imagem que ela quer dar de si mesma, esses silêncios jogam um véu pudico sobre alguns segredos de
família — cada instituição, cada etnia, cada nação tem os seus”. (FERRO, Marc. A história vigiada. São Paulo:
Martins Fontes, 1989, p. 34).
625
JANOTTI, Maria de L. M. O diálogo convergente: políticos e historiadores no início da República. In: FREITAS,
Marcos C. Historiografia brasileira em perspectiva. São Paulo: Contexto, 1998, p. 143.
236
... Felisberto Alves Carrejo, o mais instruído dos irmãos. Era homem culto e religioso.
Não se preocupava com as riquezas materiais. Compreendendo que já era tempo de se
cuidar da cultura espiritual daquele povo laborioso, que aspirava somente o
engrandecimento material de seu meio, resolveu abrir uma escola primária no seu bairro.
Nesse templo de luz iria se instruir a primeira geração daquela gente inculta.626
Carrejo não só teria tido competência para gerir a sua propriedade rural, como também
sabia ler, escrever e, sobretudo, tinha interesse em socializar esses conhecimentos. Como era
alfabetizado, tomou a iniciativa de abrir em sua propriedade, na fazenda da Tenda, a primeira
escola da região, levando um pouco de luz à população “inculta” e desprovida de conhecimentos
escolares, que vivia sob os seus domínios.
A figura do fundador não estaria completa se não fosse acrescida a essas duas qualidades
uma outra que se somava às anteriores, a saber, o seu potencial empreendedor. Como traço da
capacidade empreendedora de Carrejo, Arantes cita a grandiosidade da tarefa executada por
aquele ao ter deixado a sua propriedade e ter tomado a iniciativa de fundar um povoado e, depois,
organizá-lo administrativamente, dotando-o das condições necessárias para que, décadas mais
tarde, pudesse se constituir em município.
Muitos anos o mestre Carrejo viveu na ‘Tenda’, dirigindo a sua escola, cercado de
amigos que muito o consideravam. Outros ideais forçavam agora a sua retirada
daquele ambiente que ele tanto estimava. (...) Era chegado também o tempo de se
congregar o povo destas zonas, para a formação de um povoado, que seria a base de
uma cidade. Era essa preocupação que atormentava agora o espírito creador de
626
ARANTES, J. De onde Uberlândia veio. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 6, p. 7, jul. 1940. APU. CPJA.
627
Esta representação de Felisberto Carrejo construída por Arantes aproxima-se de uma das mitificações de
Tiradentes, elaborada e difundida pelo Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais — IHGMG. Segundo
Callari, o primeiro grande estudo revisionista acerca da Inconfidência Mineira, elaborado em 1927, por um dos
membros do referido instituto (professor Aurélio Pires), ao tratar o tema, evocou a figura de Tiradentes empregando
atributos religiosos para caracterizá-lo, por meio do quais rendia-lhe um verdadeiro culto, apresentando-o como
“exemplo pedagógico e cívico”. (CALLARI, op. cit., p. 80-81).
628
ARANTES, J., 1981b, op. cit., p. 30.
237
Felisberto Alves Carrejo. Para abrigar o grande número de pessoas, que por certo o
acompanharia, adquiriu Felisberto Alves Carrejo uma área de terra, de campos e
cultura (...). Aí se fundou a primitiva povoação. (...) Ele foi sempre o pioneiro de tudo
que se fez para o desenvolvimento da povoação. 629
Nesse sentido, teria sido sobre o tripé capacidade administrativa, domínio do saber escolar
e cristianismo, que se teria assentado a origem do município de Uberlândia, pois eram essas as
qualidades apresentadas como sendo inerentes ao seu “pai fundador” e que iriam compor o “mito
das origens” subjacente às interpretações elaboradas por Arantes. Pensamos que a questão desse
mito pode ser relacionada ao que Rodriguez denominou provincianismo e mentalidade
provinciana.630 O autor remete essas categorias à apropriação do espaço geográfico e à
configuração do território, e discute como, desse liame, institui-se o mito de origem. De acordo
com as considerações de Rodriguez, para a mentalidade provinciana tanto a história como a
geografia permanecem atadas à “obra individual de certos personagens, cujo esforço tenaz e
civilizador dá origem à comunidade”.631
Deve-se observar que as representações que buscam o mito de origem não podem ser
explicadas apenas pela influência do provincianismo e/ou da mentalidade provinciana e nem são
629
ARANTES, J., jul. 1940, op. cit., p 8-9.
630
Segundo sugere Manuel Rodriguez, o provincianismo deve ser tomado como uma cultura e uma maneira de ser,
um estilo de comportamento que tanto pode ser individual como social, e a mentalidade provinciana como uma
categoria mental e espacial que se apresenta como uma maneira de pensar, um conjunto de hábitos, costumes e
tradições próprio daqueles que permanecem fortemente atados a um lugar de origem. (RODRIGUEZ, Manuel.
“Microcosmos”, Introducción para un estudio de la mentalidad provinciana. Disponível em:
<http://surdelsurpatagonia.com/lafrontera/microcosmos.htm>. Acesso em 07 maio 2004).
631
RODRIGUEZ, op. cit., p. 5.
No original: “... obra individual de ciertos personajes, cuyo esfuerzo tesonero y civilizador da orígen a la
comunidad”.
632
RODRIGUEZ, op. cit., p. 5.
No original: “Los pioneros son los héroes de las tierras difíciles y las comarcas lejanas. El mito de los pioneros forma
parte indisoluble de la mentalidad provinciana y está en la base fundacional de las identidades locales y regionales”.
238
exclusividade da história que Arantes lutou para engendrar, pois algo muito semelhante teria
ocorrido no âmbito da historiografia produzida em outro continente, conforme ressaltou Marc
Bloch.633
O mesmo procedimento também teria sido adotado para explicar a fundação de muitas
cidades brasileiras. Pesavento, por exemplo, também toca nessa questão, ao tratar dos discursos
que tiveram como objetivo analisar as origens da cidade de Porto Alegre no Rio Grande do Sul.
Segundo a autora, atravessa esses discursos a tentativa de reconstruir a gênese da cidade a partir
da mitificação das origens. Nesse caso, o mito fundador teria por função promover o sentido da
pertença e, com ele, garantir a unidade da população em torno de projetos políticos, por
exemplo.634
Por extensão, essa mesma estratégia inscreve-se no âmbito das explicações construídas
pelos “intérpretes do Brasil” no que diz respeito às tentativas de construção de uma identidade
nacional. Seria possível localizar alguns “lugares comuns” nesses estudos sendo que um deles
residiria justamente no retorno mitológico às origens, porquanto, conforme análise de Bresciani:
“... recorre-se com insistência a mitos ou lendas de origem, nas quais as características físicas
633
Segundo o historiador francês, a explicação histórica, assentada na categoria das origens, era uma opção arriscada,
uma vez que por origem tanto poderíamos pretender definir um começo, quanto estabelecer causas. E, nesse caso, a
busca das origens constituiria, ela mesma, na tentativa de explicação histórica: “Para o vocabulário corrente, as
origens são um começo que explica. Pior ainda: que basta para explicar. Aí mora ambigüidade; aí mora o perigo”.
(BLOCH. Marc. Apologia da história: ou o ofício do historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2001, p. 56-57).
634
Ao tratar da obra de Augusto Porto Alegre, a autora tece o seguinte comentário: “Sua obra histórica tem uma
‘posição’ literária, e seu discurso sobre o passado compõe uma coerência de sentido mítica. O horizonte de
temporalidade desse mito é o passado, e a sua narrativa busca reconstituir a sociedade antiga com vistas a consolidar
um sentimento identitário. O mito fundador, como se sabe, é fundamental para a representação de um pertencimento,
que construirá uma comunidade simbólica de sentido”. (PESAVENTO, Sandra J. O imaginário da cidade. Porto
Alegre: UFRGS, 2002, p. 246).
635
BRESCIANI, Maria Stella M. O charme da ciência e a sedução da objetividade: Oliveira Vianna interpreta o
Brasil. 2003. Tese (Titular) – Departamento de História, UNICAMP, Campinas, 2003, p. 69.
239
Ao discutir os impasses engendrados pelas tentativas de produzir uma versão oficial para
a proclamação da república brasileira, Carvalho ressaltou a luta que se travava nos bastidores em
torno da disputa pelo título de mito/fundador do 15 de novembro. Digladiavam-se os defensores
do Marechal Deodoro, os partidários de Quintino Bocaiúva, os discípulos de Floriano Peixoto e
os signatários do nome de Benjamin Constant. As qualidades deste último, ressaltadas pelos seus
prosélitos como justificativa para sua escolha, são muito semelhantes àquelas elaboradas por
Arantes em torno dos supostos atributos de Carrejo:
Tal qual Bejamin, Carrejo não deveria ser reconhecido pelo uso da força, mas tão somente
pelos seus valores religiosos e seus dotes intelectuais. Na ausência da discussão sobre possíveis
conflitos que teriam perpassado o processo de povoamento instituído e liderado por Carrejo,
somos levados a concluir que a população sucessora da família desse pioneiro seria herdeira das
mesmas virtudes que lhe foram atribuídas. Aí reside, para nós, o terceiro objetivo que perpassa o
trabalho de Arantes, qual seja, perpetuar nos sucessores daquele fundador as suas supostas
virtudes.
Entendemos que o recurso empregado para tal representação foi a produção de pequenas
biografias, mais apropriadamente, seria denominar esses escritos de panegíricos, pois eram textos
apologéticos nos quais se evidenciavam as virtudes de caráter e enalteciam-se os feitos dos
primeiros desbravadores do Sertão da Farinha Podre, bem como de personalidades políticas,
intelectuais, empresários e profissionais liberais que nasceram em Uberlândia ou ali vieram fixar
636
BRESCIANI, op. cit., p. 23.
Marilena Chauí também abordou a construção mítica elaborada desde o século XVI para explicar as origens do
Brasil. (CHAUÍ, 2001, op. cit., 57-87).
637
CARVALHO, José M. de. A formação das almas: o imaginário da República no Brasil. São Paulo: Cia. das
Letras, 1990, p. 40.
240
residência.638 Em geral, as personalidades selecionadas por Arantes para figurarem nos “vultos da
nossa história” – título de uma das seções de sua revista – eram do sexo masculino. Homens
laboriosos, persistentes e altruístas, cuja trajetória de vida remontaria a uma origem modesta e
culminaria no progresso material, obtido a custa do próprio trabalho. As citações abaixo são
paradigmáticas dessa abordagem:
[Capitão Sebastião Ribeiro dos Santos] Homem afeito ao trabalho, foi industrial,
proprietário de uma grande cervejaria, estabelecendo-se depois no comércio com
confeitaria, hotel e armazém (casa Aurora). Exerceu diversos cargos públicos, sendo
agente do Correio em 1910, delegado de polícia e Juiz de Paz durante 20 anos, sempre
reeleito pelo seu prestígio pessoal, se conduzindo sempre como autoridade impoluta e
político de destaque no partido.641
638
A produção de biografias foi largamente estimulada no Brasil a partir da década de 1930. Segundo Gomes, esse
fator explica-se em função da reorganização dos conteúdos de História Geral e do Brasil implementada com as
reformas realizadas no ensino, em 1931, por Francisco Campos e em 1942, por Gustavo Capanema. A primeira
reforma organizou o ensino em círculos concêntricos, por meio dos quais a matéria ensinada no curso fundamental
seria aprofundada no curso complementar. Dessa forma, na primeira série os alunos eram iniciados no estudo da
“história biográfica e episódica” entrando em contato com a “... narrativa da vida de grandes nomes ligados à história
do Brasil e da América”. A reforma instituída por Capanema reforça essas orientações, pois postulava que a
formação da consciência dos alunos do curso secundário deveria ser buscada por meio dos acontecimentos e da vida
de personalidades principais do passado. Dessa forma: “A admiração pela personalidade humana e por seus grandes
feitos estava na base da compreensão do sentido de nossa história e da construção das noções de dignidade e
responsabilidade cívicas. (...) Com a função de motivar e de iniciar os alunos do curso secundário nos estudos
históricos, as biografias — sobretudo a dos vultos nacionais — desempenhavam um papel-chave no sistema
educacional, além de, por tradição, constituírem um gênero acessível e agradável ao grande público”. (GOMES,
1996, op. cit., p. 153-54).
639
ALBUM de Uberabinha. Vultos da nossa história. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 3, não paginado, maio
1939. APU. CPJA.
640
POLÍTICA, políticos e partidos. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 20, não paginado, dez. 1955. APU. CPJA.
641
ALBUM de Uberabinha. Capitão Sebastião Ribeiro dos Santos. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 21, não
paginado, junho 1956. APU. CPJA.
241
Os traços da apologia conferida a Carrejo e, por extensão, aos seus sucessores, não foram
produzidos exclusivamente por Arantes. Uma análise sobre as suas fontes bibliográficas revela
que já se encontravam presentes em autores por ele consultados aspectos dessa mesma
representação. A história do município de Uberlândia, escrita no princípio do século XX, por um
memorialista do estado de Goiás, citada em um dos livros de Arantes, constitui um exemplo do
esforço de mitificar as origens, fossem estas da cidade, fossem dos seus primeiros habitantes,
atribuindo-lhes conotações messiânicas:
Foi debaixo desses princípios [cristãos] que Felisberto Carrejo iniciou os seus
trabalhos, sempre com a fé criteriosa de que o braço Divino o amparava naquele
desideratum para todos, e de fato conseguiu ver coroado de feliz êxito os seus
acrisolados esforços. (...) Nesse rancho de Felisberto Carrejo, reinava a paz, a união,
o sossego, tranqüilidade e alegria. Ali rezavam o terço todas as noites, antes de se
acomodarem e diversas orações da Aurora Matutina, antes de começarem os
trabalhos.642
Capri, outro memorialista que produziu um livro sobre o município e que antecedeu a
Arantes, também enfatizou esse aspecto como sendo caraterística da “índole do povo” de
Uberlândia. Segundo o autor, a população local era: “...hospitaleira, franca e ativa, concorrendo
tudo isso para o seu engrandecimento. O povo é laborioso e inteligente”.644 Depois dele, Pezzuti
também abordou o assunto e ressaltou os mesmos atributos: “População em geral pobre, mas
muito laboriosa e ambiciosa de melhorar ...”.645
642
SANTANA, J. T. de. Apud ARANTES, J., 1967b, op. cit., p. 25.
643
SANTANA, J. T. de. Apud ARANTES, J., 1967b, op. cit., p. 26.
644
CAPRI, op. cit., p. 43.
645
PEZZUTI, op. cit., p. 12.
242
Assim como Arantes não inventou tais representações, ele também não as esgotou, pois
encontramos na obra de memorialistas que o sucederam uma descrição de Carrejo, que, em tudo,
se assemelha à idealização anteriormente comentada. Ao falar sobre aquele eleito por Arantes
como tendo sido o “fundador da cidade”, Tito Teixeira apresenta-o com a mesma versão
trabalhada por Arantes:
Felisberto Alves Carrejo era professor, dotado de perfeita formação moral e religiosa,
adquirida de ancestrais e consolidada na fonte espiritual do colégio dos missionários
catequistas da confraria de São Bento do Tamanduá (...). Fixando sua residência na
fazenda da Tenda, criou para aquele local um ponto de convergência de todas as
atenções das regiões ocupadas, onde seus posseantes iam buscar conselhos e
orientação para a solução de questiúnculas comerciais, sociais ou familiares.
Felisberto Carrejo criou em torno de sua figura patriarcal um culto de admiração e
respeito de tal envergadura, que o transformou em apóstolo da família. 646
Mesmo que tenha incorporado algumas representações produzidas por intelectuais que o
antecederam, a contribuição prestada por Arantes, no âmbito da construção de uma memória
grandiloqüente para a cidade, não encontrou paralelo nos temas trabalhados por outros
memorialistas que escreveram sobre o mesmo assunto. Acreditamos que a originalidade de seu
trabalho consistiu, primeiramente, no fato de ter produzido uma “paternidade” para Uberlândia
— embora seus precursores citassem Carrejo, não o apresentavam como “o fundador”. Afinal,
parecia pouco conhecer o passado, era, pois, necessário torná-lo grandioso, amalgamando-o à
figura de um homem, meticulosamente edificado como “herói”. O segundo aspecto que tornou
sua interpretação singular incidiu no fato de ter produzido uma memória para a cidade segundo a
qual as virtudes que seriam inerentes ao caráter de Carrejo estenderam-se aos companheiros que
o ajudaram na construção do povoado; aos seus sucessores, políticos que se encarregaram da
administração municipal; e também ao próprio Arantes.
646
TEIXEIRA, T., 1970, v. 1, op. cit., p. 21.
647
FERRO, op. cit., p. 19.
243
Mesmo que todas essas crônicas retratassem aspectos históricos da cidade, tais como
biografias de algumas personalidades políticas, relatos de acontecimentos pitorescos, datas
significativas para a história da cidade, o autor parecia não incluí-las no rol de seus trabalhos
acerca da história local. Nas crônicas, sobressai o emprego de dados oriundos mais da memória
social, e, em função disso, aquelas se diferenciam de suas outras obras, nas quais se propõe a
investigar o passado de Uberlândia mediante a fundamentação de suas conclusões em uma base
documental mais objetiva.
648
ARANTES, J., 1977, op. cit., não paginado.
649
ARANTES, J., 1977, op. cit., não paginado.
650
ARANTES, J., 1977, op. cit., p. 60-62.
244
primeiras décadas do século XX, cujas características foram definidas por Callari nos seguintes
termos: “a transição de um período em que a tradição e a memória coletiva confundem-se com a
história – a chamada concepção clássica – para o período da concepção moderna, alicerçada na
cientificidade e na base documental”.651
Não é sem motivo, portanto, que, no prefácio das Crônicas sociais, o autor tenha
ressaltado que se tratavam de “textos de juventude”, nada que revelasse o amadurecimento do
memorialista que, anos após, se orgulharia de ser um dos maiores conhecedores dos fatos
relacionados ao passado de Uberlândia, conforme depreendemos das polêmicas nas quais se
envolveu.
No que diz respeito às fontes de pesquisa, Arantes empregava aquelas mais variadas
possíveis, tais como documentos impressos, depoimentos orais e iconografia. Dentre os
primeiros, encontramos citados em seus textos: documentos paroquiais, tais como livro de
registro de óbitos, anuário eclesiástico da Diocese de Uberaba e livro de apontamentos da receita
e despesas da Capela de Nossa Senhora do Carmo. Recorreu, também, aos documentos cartoriais,
visto que pesquisou livros de escrituração do município. Além disso, buscava dados nos arquivos
por onde passava, dentre estes, visitou o Arquivo da Subdelegacia de Polícia e Arquivo Público
Mineiro —neste local, teria pesquisado as cartas de sesmarias referentes à região onde se instalou
o município de Uberlândia.
651
CALLARI, op. cit., p. 74.
652
ARANTES, J., 1962, op. cit., p. 6.
245
Como complemento dessas fontes, utilizava e citava em seus textos os artigos publicados
em jornais, assim como a pesquisa realizada por memorialistas da região. Nesse sentido, referiu-
se aos livros de história local, escritos por missionários sertanistas residentes na região de
Desemboque; aos trabalhos de pesquisa de autores dos municípios de Uberaba, Cataguazes e
Campina Verde; além do livro deixado por um memorialista residente em Uberlândia.653
653
Anexo I. Inventário da Coleção Professor Jerônimo Arantes. Arquivo Público.
246
Estado Novo, conforme se depreende dos comentários existentes no suplemento Autores e Livros
que compunha o jornal A Manhã. 654
Com relação às fontes orais, verificamos que Arantes buscou dados para as suas pesquisas
entre as pessoas mais idosas que encontrou, que tanto poderiam ter origem abastada quanto não
possuírem quase nenhuma renda. Buscava depoentes onde quer que encontrasse pessoas
dispostas a compartilhar com ele aspectos relativos ao passado da cidade de Uberlândia. No afã
de conhecer a história local, não valorizava somente dados oriundos de uma memória meramente
elitista. Ao contrário, seus entrevistados tanto poderiam ser membros da elite quanto poderiam
ser encontrados entre a camada popular excluída de qualquer notoriedade, fosse esta de ordem
política, econômica ou social. Entrevistava antigos políticos, empresários, comerciantes,
professores, camponeses, auxiliares de boiadeiros, filhos de escravos, enfim, todos aqueles que
julgasse relevantes para os seus propósitos de pesquisa. Em uma dessas entrevistas, ele deixou
registrada a seguinte consideração a respeito dessa fonte de pesquisa:
O critério utilizado para a escolha do depoente parecia repousar simplesmente sobre três
aspectos, a saber: a idade, que sempre deveria ser avançada; a integridade da memória, pois era
preciso que essas pessoas conservassem ainda viva a capacidade de lembrar; e, finalmente, a
disposição em conversar, em narrar fatos passados na cidade e adjacências. Buscava as memórias
desses depoentes para compor a história que tecia em torno da cidade, valendo-se, para tal, de um
procedimento assaz antigo, próximo àquele empregado por Heródoto, que, ao tratar da memória,
654
Destacava-se nesta publicação: “... a presença e a valorização, nas obras mais elogiadas, do uso não só de uma
grande variedade de documentos escritos oficiais, como de documentos ‘pessoais’, não-oficiais, e também de
documentos visuais. Os elogios feitos às obras de Nabuco, Oliveira Lima e Alcântara Machado ressaltam fortemente
esse trabalho com fontes, que permitiria ao escritor compor uma narrativa ‘colorida’ e ‘vívida’ de sentimentos e
aspectos da vida cotidiana”. (GOMES, 1996, op. cit., p. 123).
655
DALBAS JUNIOR. Visão do passado. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 9, p. 16, abr. 1941. APU. CPJA.
247
parecia querer “... salvar o memorável, resgatar o passado do esquecimento, buscando nas
palavras das testemunhas a lembrança das obras humanas”.656
Eu sou natural de Fortaleza, capital do Ceará. Vim para a corte do Rio de Janeiro em
1864, com 25 anos mais ou menos. E, fugindo do recrutamento para a Guerra do
Paraguay, ou a Guerra do Lopes, dei com os costados aqui, em 1865. Isto aqui era um
sertão à toa. Tinha algumas casas melhores um pouquinho, ali perto da igreja, que era
igreja e cemitério ao mesmo tempo. As gentes mais de importância eram sepultadas
debaixo do soalho da sacristia. Os pobres eram enterrados sem caixão, embrulhado
num pano preto, em redor da igrejinha. Eu era camarada de boiadeiro (...).658
⎯ Boa tarde.
⎯ Boa tarde. (estamos na residência do sr. Vitor Cotta Pacheco.)
⎯ Que calor hein!!
⎯ É verdade. O amigo por aqui...
⎯ Perfeitamente. A minha presença se justifica pela seguinte finalidade: nesta edição
da nossa revista ‘Uberlândia Ilustrada’.... . 659
656
GAGNEBIN, Jeanne M. Sete aulas sobre linguagem, memória e história. Rio de Janeiro: Imago, 1997, p. 26.
657
Gomes ressalta que a valorização do cotidiano do homem comum, além dos feitos daqueles considerados grandes
homens, já se fazia presente na historiografia brasileira do final do século XIX, em particular, nos textos do
historiador maranhense João Francisco Lisboa. (GOMES, 1996, op. cit., p. 87, 104)
658
REVIVENDO o passado na voz da gente antiga. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 4, p. 30, jun. 1939. APU.
CPJA.
659
DENTISTAS, dentes e dentaduras: Ouvindo um dentista antigo (...). Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 17, p.
1, out. 1953. APU. CPJA.
248
Estamos na rua 13 de Maio. Batemos palmas à porta de uma casinha humilde. Uma
moreninha alegre e robusta vem nos atender e volta.
⎯ Vovô tem um moço de óculos chamando o senhor.
⎯ Eu? Quem será meu Jesus da Lapa! (...).660
No entanto, como não havia registro mecânico, é de se supor que lhe escapassem muitos
aspectos nas anotações realizadas no decorrer das entrevistas. Podemos inferir que alguns dados
fossem alterados em função da dificuldade que consiste em ouvir, prestar atenção e, ao mesmo
tempo, escrever, e Arantes fazia questão de anotar tudo.
Ao utilizar as falas dos depoentes não se limitava apenas a reproduzir o que as pessoas
haviam lhe relatado, mas acrescentava detalhes acerca das subjetividades observadas no ato da
entrevista. Por exemplo, encontramos, em seus textos, referências ao fato de o entrevistado elevar
ou abaixar a voz quando discutia um assunto determinado; há também menção de expressões
faciais de agrado e desagrado, sorrisos, lágrimas, suspiros e demais gestos empregados pelos
entrevistados para expressar seus sentimentos. Ao escrever sobre o cinqüentenário da criação do
município de Uberlândia, Arantes transcreveu o depoimento que obteve de Mãe-Preta, uma
negra filha de escravos, acerca do passado da cidade, e acrescentou ao texto os seguintes detalhes
das expressões manifestas pela depoente:
Quando lhe fizemos a primeira pergunta, ela levou a mão magra à testa enrugada,
como se quisesse arrancar daquele repositório um punhado de lembranças e idéias
adormecidas (...). [Depois] Enxuga com a manga da camisa uma gôta de lágrima,
prestes a desprender-se do ôlho neblinado; engole a saliva, movendo-se com queixo
(...). Ela medita alguns instantes, dando asas ao pensamento e continua, revivendo o
seu passado distante (...). 661
Os exemplos como esse não se constituem exceção, mas, ao contrário, multiplicam-se nos
textos deixados por Arantes. Pensamos que a abundância de informações contidas em suas
transcrições seja decorrente de uma estratégia empregada por ele, a fim de dissipar quaisquer
suspeitas que pudessem pairar acerca da integridade dos dados reproduzidos. Uma vez que não
estava diante de fontes consideradas “objetivas”, como o documento escrito, por exemplo, fazia-
se necessário conferir credibilidade aos depoimentos, e uma das formas encontrada para tal
parece ter sido mostrar-se o mais literal possível no emprego dos dados obtidos pelas entrevistas.
660
REVIVENDO, jun. 1939, op. cit.
661
DALBAS JÚNIOR, abr. 1941, op. cit., p. 16.
249
Alguns anos depois, em 1941, ao realizar pesquisas nas primeiras fazendas instaladas no
atual município de Uberlândia, ele registrou em fotos vários aspectos das localidades rurais
visitadas.666 Nesse mesmo ano, fotografou Mãe-Preta, outra depoente citada nas páginas
precedentes.
As fotografias eram empregadas por Arantes sem que houvesse trabalho de crítica, da
mesma forma que os demais documentos. Sua função, no âmbito da pesquisa, parecia ser a de
ilustrar os temas tratados, denotando muito mais aquele entusiasmo dirigido ao uso das imagens
662
REVIVENDO, jun. 1939, op. cit., p. 30.
663
Reportamos a esse aspecto no capítulo três.
664
ARANTES, J. Os Pereiras Rezendes. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 11, p. 1, dez. 1941. APU. CPJA.
665
REVIVENDO, jun.1939, op. cit., p. 31.
666
ARANTES, J., dez. 1941, op. cit., p. 4.
250
Contudo, pensamos que o fato de Arantes ter empregado essa fonte apenas como
ilustração não invalida o seu caráter de documento, pois, ao analisar a sua produção, constatamos
que as fotografias desempenharam um papel fundamental em seus textos (fossem aqueles
publicados em revistas e jornais fossem outros que compunham seus livros, impressos ou não).667
Se, por um lado, o seu uso parecia ter como objetivo apenas ilustrar os temas abordados, tornando
o texto atraente e agradável, por outro lado, as imagens pareciam ter como função comprovar a
veracidade das informações impressas, pois não se podia por em questão o que a imagem
revelava. Conforme comentou Kossoy: “Graças a sua natureza fisicoquímica – e hoje eletrônica –
de registrar aspectos (selecionados) do real, tal como estes de fato se parecem, a fotografia
ganhou elevado status de credibilidade”.668
Nesse sentido, as imagens tinham como função produzir elas mesmas uma verdade, como
foi o caso das fotografias retratando as escolas rurais (já comentadas no capítulo III); pois, a
realidade que revelavam parecia não ter existência concreta fora do alcance da objetiva do
fotógrafo que acompanhava Arantes. Como ressaltou Chauí, fizemos da “...verdade o equivalente
da visão perfeita. (...) cremos que as coisas e os outros existem porque os vemos e que os vemos
porque existem”.669 Desta forma, bastaria olhar as fotografias das escolas rurais para certificar-se
do pleno funcionamento do universo que elas pretendiam revelar.
667
Conforme ressaltou Kossoy: “As imagens fotográficas, entretanto, não se esgotam em si mesmas, pelo contrário,
elas são apenas o ponto de partida, a pista para tentarmos desvendar o passado”. (KOSSOY, op. cit., p. 21).
668
KOSSOY, op. cit., p. 19.
Também segundo Flusser: “No curso da História, os textos explicavam as imagens, desmitizavam-nas. Doravante, as
imagens ilustram os textos, remitizando-os”. (FLUSSER, Vilém. Filosofia da caixa-preta. São Paulo: Hucitec, 1985,
p. 62).
669
CHAUÍ, Marilena. Janela da alma, espelho do mundo. In: NOVAES, Adauto (Org.). O Olhar. São Paulo:
Companhia das Letras, 2000, p. 31.
251
como para uma certa vertente do pensamento ocidental que encontrou em Aristóteles um de seus
teóricos, o olhar se sobrepõe aos outros quatro sentidos por ser o olho o instrumento mais capaz
de discernir e, por isso, o mais apto para aproximar o homem do conhecimento.670
Por outro lado, a insistência de Arantes em empregar as fotografias como fonte guarda
relação com aqueles que mitificaram a imagem mecânica nas primeiras décadas do século XX,
pois, nesse período, “... a aparência de ‘evidência’ que adquiria qualquer cena fotografada, foi a
regra”.671 Remete-nos, igualmente, aos profissionais contemporâneos, pois, mesmo entre alguns
historiadores da atualidade, o emprego da fotografia, assim como de outras fontes iconográficas,
ainda resvala em um caráter eminentemente ilustrativo. Ao problematizar a questão das fontes
visuais e propor um tratamento mais ampliado por meio do qual tais fontes cedam espaço para o
estudo da visualidade como uma dimensão que perpassa tanto a vida social quanto os processos
sociais, Meneses ressalta o emprego, ainda hoje, ilustrativo das imagens no âmbito de trabalhos
historiográficos.672 Nesse sentido, entendemos que o uso ilustrativo que Arantes fazia das
fotografias não estava em dissonância com o seu meio intelectual, e a sua contribuição residiu no
fato de ter produzido um acervo iconográfico para as futuras pesquisas acerca da história local.
670
De acordo com Chauí, esta supremacia da visão é uma das heranças do pensamento aristotélico, pois, para o
filósofo grego: “... a vista é o instrumento mais apto para a investigação e por isso é o sentido que maior prazer nos
causa, pois, por natureza, desejamos conhecer. A aptidão da vista para o discernimento — é o que nos faz descobrir
mais diferenças — a coloca como primeiro sentido de que nos valemos para o conhecimento e como o mais poderoso
porque alcança as coisas celestes e terrestres, distingue movimentos, ações e figuras das coisas, e o faz com maior
rapidez do que qualquer dos outros sentidos. É ela que imprime mais fortemente na imaginação e na memória as
coisas percebidas, permitindo evocá-las com maior fidelidade e facilidade”. (CHAUÍ, 2000, op. cit., p. 32, 38).
671
SÜSSEKIND, op. cit., p. 35-36.
672
Segundo o autor: “Com efeito, a História continua a privilegiar ainda hoje, a despeito da ocorrência de casos em
contrário, a função da imagem com a qual ela penetrou suas fronteiras no final do século atrasado. É o uso como
ilustração. Certamente, de início, a ilustração agia como direção fortemente ideológica, mas não é menos
considerável seu peso negativo, quando o papel que ela desempenha é o de mera confirmação muda de conhecimento
produzido a partir de outras fontes ou, o que é pior, de simples indução estética em reforço ao texto, ambientando
efetivamente aquilo que de fato contraria”. (MENESES, Ulpiano T. B. Fontes visuais, cultura visual, História visual.
Balanço provisório, propostas cautelares. Revista Brasileira de História. O ofício do historiador, São Paulo, n. 45, v.
23, p. 20-21, jul. 2003).
673
Anexo I. Inventário da Coleção Professor Jerônimo Arantes. Arquivo Público.
252
Concluímos que Arantes valorizava muito o emprego dessa fonte, pois, além dos mapas
regionais e locais existentes em seu acervo, encontramos em sua biblioteca um Atlas histórico,
contendo mapas do Brasil, compreendendo os séculos XVI ao XX; da organização dos estados e
repúblicas americanos (tanto do norte quanto do sul do continente); guerras de religião; mundo
antigo e outros aspectos.675 Em todo esse Atlas, encontramos vestígios de leitura – tais como
anotações e grifos e outros sinais mais destrutivos, como, por exemplo, os recortes de figuras e,
às vezes, de páginas inteiras –, o que nos levou a concluir que os mapas eram uma fonte muito
consultada por Arantes.
Pelos mapas que Arantes possuía, concluímos que, primeiramente, o seu interesse pela
cartografia relacionava-se tanto com sua atividade docente quanto com suas pesquisas sobre a
história de Uberlândia. Nesse sentido, pensamos que o Atlas depositado em sua biblioteca, por
exemplo, deveria ser útil em suas atividades destinadas aos alunos, pois abordava aspectos
relativos à história geral, e estes não se incluíam no rol de suas pesquisas sobre a cidade. Já os
mapas avulsos, por tratarem da cidade e região, eram empregados em seus escritos sobre a
história local. Em segundo lugar, podemos concluir que, em Arantes, o apelo a essa fonte
encontra correspondência na produção de corografias, muito em voga entre os memorialistas nas
674
ARANTES, D., 2000, op. cit.
675
PEQUENO Atlas histórico. Guia dos 4º. e 5ª. anistas no estado da História Universal. Rio de Janeiro: Francisco
Alves, 1991. (APU. CPJA).
253
primeiras décadas do século, visto que ele mesmo chegou a publicar um estudo desta natureza na
década de 1930.676
Deve-se considerar que essa forma de apropriação das fontes não era atributo apenas de
Arantes, mas circulava em meio aqueles que se embrenhavam pelo trabalho com a história sem
serem historiadores formados pela academia, fosse em Uberlândia, fosse em outras regiões.
Nesse sentido, o emprego que Arantes fazia da documentação como forma de atestar uma
possível “verdade histórica”, foi compartilhado com muitos memorialistas. Rodrigues, por
exemplo, ao analisar a obra do memorialista luso-brasileiro, João Lúcio de Azevedo, toca nessa
questão. Segundo o autor, depreende-se da obra de Azevedo que: “O ideal do historiador é
676
ARANTES, J., 1967b, op. cit.
677
ARANTES, J., jul. 1940, op. cit., p. 3-13. / ARANTES, J. O histórico do município de Uberlândia e o
cinqüentenário de sua organização administrativa. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 9, p. 3-15, abr. 1941. APU.
CPJA. / ARANTES, J., dez. 1941, op. cit., p. 1-11. / ARANTES, J., jan. 1952, op. cit. p. 1-10. / ARANTES, J. O
negro de Uberlândia: 1818-1956. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 21, não paginado, jun. 1956. APU. CPJA.
678
UBERLÂNDIA Ilustrada: mais um número da popular revista está a venda. Correio de Uberlândia, Uberlândia,
não paginado, 04 mar. 1948. APU.
254
Com o emprego dessas fontes, Arantes foi tecendo a trama que consistiu no levantamento,
formação do acervo, organização dos dados e, posteriormente, na escrita de livros contendo
aspectos da história da cidade. Embora tratando de questões locais, a pretensão de Arantes parece
ter sido a de escrever a “história definitiva”, aquela que deveria encerrar todos os fatos da
trajetória de Uberlândia, iniciando com o seu povoamento e encerrando na década de 1970,
quando concluiu o seu livro. Pretensão que não se circunscrevia apenas ao âmbito do seu projeto
de escrita, mas que se encontra presente igualmente no trabalho de outros intelectuais, refletindo
as ambigüidades das obras dedicadas ao estudo dos temas locais, seja no Brasil, seja na Europa.
Jacquart, ao refletir sobre a produção dos memorialistas franceses, chegou à seguinte conclusão:
“Toda história local é micro-história (...) Mas, ao mesmo tempo, toda história local é história
total. A ambição de uma monografia freqüentemente é recuperar a evolução de um território e
de um grupo humano, das origens aos nossos dias”.680
Com o emprego dessas fontes, Arantes produziu uma dada representação da história, que
se cingiu à memória da cidade e, que, até os dias atuais, fora do meio acadêmico, é tomada como
umas das versões oficiais do passado político, econômico e social de Uberlândia.681 Em seus
artigos, livros e demais escritos construiu um conjunto de representações que parece ter tido
muita aceitação pela quase totalidade do poder local, tanto entre os políticos quanto entre a classe
constituída por empresários, comerciantes e intelectuais. Comentários como o que se segue,
679
RODRIGUES, A., op. cit., p. 49-50.
680
JACQUART, Jean. Histoire générale, histoire locale. In: CROIX, d’Alain; GUYVARC’H, Didier. Guide de
l’histoire locale. Paris: Seuil, 1990, p. 27.
No Original: “ Toute histoire locale est micro-histoire attachée aux petits faits, à l’événement minime. Mais en même
temps, toute histoire locale est histoire totale. L’ambition d’une monographie communale est de retracer l’évolution
d’un terroir et d’un groupe humain, des origines à nos jours”.
681
As obras dos memorialistas, de uma forma geral, por serem por muito tempo as únicas que se debruçam sobre a
história das cidades, acabam se tornando a principal de fonte de pesquisa para trabalhos realizados por alunos do
ensino fundamental e médio. Ao discutir o livro escrito por Tito Texeira, Freitas chega a esta mesma conclusão.
(FREITAS, Eliane M. de. Memórias de uma “odisséia”: Tito Lívio (Teixeira) e a construção da memória histórica
sobre a “Revolução de Trinta” em Uberlândia/MG. 1999. Dissertação (Mestrado) — Instituto de Filosofia Ciência e
Letras, UNICAMP, Campinas, 1999, p. 24).
255
louvando o trabalho de Arantes, eram freqüentes tanto na imprensa quanto nos vários
documentos consultados nas décadas selecionadas para a esta pesquisa:
682
CINQÜENTENÁRIO da imprensa em Uberlândia. Correio de Uberlândia, Uberlândia, não paginado, 18 jan.
1947. APU.
683
GARCIA, Durval Gomes. Prefácio. In: ARANTES, J. , 1962, op. cit., p. 8.
684
Em seu estudo sobre a história, Borges caracteriza as tendências historiográficas que vigoraram em diversos
períodos da história do Brasil e cita esta “história oficial” como tendo sido uma das modalidades, ao lado da história
não-oficial produzida pelos viajantes estrangeiros, daquela historiografia praticada no início da colonização.
(BORGES, Vavy Pacheco. O que é história. São Paulo: Brasiliense, 1984, p. 68-69).
256
Dessa forma, Arantes era adepto de um culto aos antepassados muito em voga entre os
praticantes de uma história institucional, qual seja, a construção de monumentos em praças
públicas com a finalidade de render homenagens aos supostos heróis locais. Na década de 1940,
por exemplo, sugeriu ao poder público municipal a edificação de um obelisco em homenagem
àquele que considerava o fundador da cidade e a um de seus mais “diletos” habitantes,
respectivamente, Felisberto Alves Carrejo e Cel. José Teófilo Carneiro. Publicou, nessa época,
um artigo elogiando a iniciativa do prefeito que acedia ao seu pedido, contendo a seguinte
explicação:
Todos nós que labutamos nesta sagrada terra que nos legou como tesouro precioso
aqueles que já estão ocultos na penumbra do passado, sabemos o quanto de
importante significa essa obra histórica, que refletirá, eternamente, o culto de
gratidão à memória de quem não devemos nunca esquecer.686
A elaboração de letras para hinos era outra prática cultivada por Arantes, próxima de uma
história oficial. Com os hinos rendia homenagens à cidade de Uberlândia, à sua bandeira, ao seu
parque industrial e a alguns municípios adjacentes, como sua terra natal, Monte Alegre. As letras
de todos os hinos que compôs denotavam uma visão apologética do homenageado e o
apresentavam sempre em uma perspectiva linear e progressista. Ressaltando aspectos
relacionados à origem, seus conteúdos eram repletos de faustos exemplos e de trajetórias
triunfantes. A letra que compôs para o hino de Uberlândia, na data em que seria comemorado o
aniversário de sua “emancipação política”, 687 contém todos esses aspectos e, por isso, serve de
paradigma para os outros que elaborou:
685
De acordo com as análises de Marc Ferro: “Através dos tempos e das culturas, domina o foco da história
institucional, porque esta encarna e legitima um regime pela história que esse foco produz. (...) a história
institucional é também a transcrição de uma necessidade, de certa forma instintiva, de cada grupo social, de cada
instituição, que assim justifica e legitima sua existência, seus comportamentos, quer se trate da Igreja, do Estado, do
Islão ou do Partido”. (FERRO, op. cit., p. 11).
686
ARANTES, J., 17 jul. 1943, op. cit.
687
Expressão empregada por Arantes no prefácio que redigiu em 1967 para a 2. ed. da Corografia ilustrada do
município de Uberlândia, que no entanto não chegou a ser editada. (ARANTES, J. 1967b, op. cit.).
257
Além dos hinos e dos demais aspectos ressaltados, uma outra particularidade que permite
aproximar a história de Arantes de uma vertente oficial reside no interesse demonstrado em
valorizar as datas.689 Mantinha-se atento sobre as datas que considerava relevantes para a história
local e, como forma de não deixar que fossem esquecidas, divulgava o “aniversário” da formação
do povoado, da elevação deste em distrito e, posteriormente, o da fundação do município. Além
dessas, anunciava o aniversário da imprensa, da formação da comarca e de todos os fatos que
julgasse de interesse para a história que tinha em mente produzir.690
A data que mais parecia atraí-lo era aquela referente ao aniversário da autonomia político-
administrativa da cidade. No ano de 1938, quando se comemorou o primeiro cinqüentenário da
fundação do município, ele participou ativamente dos preparativos para a grande festa: foi
membro da comissão organizadora do evento, compôs o Hino à Independência de Uberlândia,
688
ARANTES, J. Hino de Uberlândia. APU. CPJA. PT.
689
Para além da aproximação com alguns dos pressupostos da historiografia oficial, o interesse de Arantes pelas
celebrações das grandes datas parece fazer parte de uma prática disseminada pelo ocidente que, no dizer de Silva, se
inscreve em uma “política abusiva das comemorações”. Segundo a autora: “As utilizações sociais da memória são
visíveis nesse fenômeno das comemorações que, em todas as partes do mundo, vêm se impondo como um ritual
nacional. Consagrando o universalismo dos valores de uma comunidade, as comemorações buscam, nessa
'rememoração' de acontecimentos passados, significações diversas para uso do presente. Comemorar significa, então,
reviver de forma coletiva a memória de um acontecimento considerado como ato fundador, a sacralização dos
grandes valores e ideais de uma comunidade constituindo-se no objetivo principal”. (SILVA, Helenice Rodrigues da
“Rememoração”/comemoração: as utilizações sociais da memória. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 22,
n. 44, p. 432, 2002).
690
O papel ocupado pelas datas cívicas e pelas comemorações no âmbito da produção de uma história oficial e
também do ensino da história, em moldes tradicionais, foi discutido por: BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes.
“As tradições nacionais” e o ritual das festas cívicas. In: PINSKY, Jaime (Org.). O ensino de História e a criação do
fato. São Paulo: Contexto, 2001, p. 43-72.
258
dedicou um número de sua revista especialmente para tratar do assunto e participou das
solenidades que ocorreram na ocasião (realizaram-se, naquela data, exposições de trabalhos
escolares e de produtos da indústria local, missa campal, inauguração da sede própria da
Associação Comercial e posse da sua diretoria, visitas a estabelecimentos de ensino e baile de
gala).691 Na ocasião, atendendo a pedidos da editora Pavan, publicou a Corografia do Município
de Uberlândia. Neste livro, como indica o título, tratou dos aspectos geográficos do município e,
principalmente, dos fatos relativos à história de sua fundação.692
Muitos anos após essa comemoração, na década de 1960, quando já estava aposentado,
Arantes continuou participando dos eventos comemorativos do aniversário da cidade. Nas atas
das reuniões escolares, ficou registrada a sua participação nas festividades promovidas pelo
Grupo Felisberto Carrejo a propósito das comemorações do 75°. aniversário da autonomia
política de Uberlândia. Após a abertura da sessão, na qual se cantou o hino Canção de
Uberabinha, “... falou o inspetor aposentado Jerônimo Arantes, que em belas palavras nos fez
voltar ao passado, contando resumidamente a história desta linda e exuberante cidade”.693
Mesmo orientando-se por uma concepção linear da história, distante do trabalho de crítica
do diálogo com as fontes empregadas, não pensamos igualmente que a teoria positivista seja,
sozinha, a melhor classificação para o seu trabalho. Com efeito, ao analisar seus textos,
descobrimos que havia muitas semelhanças entre a sua abordagem da história de Uberlândia e
aquela formulada acerca da história do Brasil por historiadores de tradição positivista. Alguns
pressupostos que ele compartilhava com essa historiografia podem ser sintetizados nos seguintes
pontos: a valorização e o emprego de fontes de pesquisa oficiais, a abordagem linear e
progressista dos fatos694, bem como a crença em uma verdade histórica, que seria inerente aos
documentos, conforme anunciou na apresentação de um de seus livros que permaneceu inédito:
“... transladamos para estas páginas, sem deturpar a verdade, tudo que de positivo encontramos
691
COMMEMORAÇÕES do cinqüentenário. O Estado de Goyaz, Uberlândia, [Recorte]. APU. CPJA. PT.
692
ARANTES, J., 1938c., op. cit.
693
UBERLÂNDIA. Prefeitura Municipal. 30 ago. 1963, op. cit.
694
Segundo Falcon, o positivismo em sentido ampliado, ou seja, não circunscrito apenas ao sentido comteano,
aparece como: “Herdeiro do pensamento iluminista, sobretudo em relação aos seus princípios racionalistas e
universalizantes, bem como pela confiança inabalável na ideologia do Progresso ... “. (FALCON, Francisco. História
cultural: uma nova visão sobre a sociedade e a cultura. Rio de Janeiro: Campus, 2002, p. 67).
259
digno de fé, para enriquecer com esse precioso cabedal o patrimônio histórico do rico município
de Uberlândia”.695
Contudo, a despeito desses pontos em comum com a história oficial e com o positivismo,
pensamos que estas podem não ser as únicas balizas utilizadas para se compreender a
fundamentação teórica empregada por Arantes. Insistir em enquadrar o seu trabalho apenas no
rígido esquema oficial/positivista constitui-se em uma banalização da análise e uma simplificação
do conjunto da obra deixada por esse memorialista, bem como daquela produzida por outros,
como ressaltou Rodrigues a propósito de algumas das críticas reducionistas feitas acerca da
produção do memorialista luso-brasileiro João Lúcio de Azevedo e, por extensão, aos trabalhos
realizados pelos demais memorialistas:
695
ARANTES, J., 1962, op. cit., p. 6.
696
VELLOSO, op. cit., p. 84-85.
697
CENTRO Industrial de Uberlândia. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 3, não paginado, maio 1939. APU.
CPJA.
698
RODRIGUES, A., op. cit., p. 39.
260
... o primado do fato singular cria o culto do fatual e da ordem dos fatos que a isso
melhor se presta, a política. Por fim, essa história se organizou logicamente sob a
forma do relato, seqüência de fatos cuidadosamente ponderados e que se encadeavam
uns com os outros. 699
Entretanto, por outro lado, existia o emprego de fontes nada convencionais entre os
positivistas e os adeptos de uma historiografia oficial, como, por exemplo, as fotografias e os
depoimentos orais colhidos por meio das pessoas “anônimas”, que não participavam diretamente
da vida política do município e nem se destacavam pelo progresso material. Eram ex-escravos,
auxiliares de boiadeiros, camponeses empobrecidos, que, não obstante a vida modesta que
levavam, tinham algo a dizer para a história que Arantes pretendia produzir. Opção estranha aos
procedimentos próprios da historiografia positivista que consistia em: “... privilegiar
excessivamente os documentos escritos que, só eles, se prestam perfeitamente a suas
técnicas”.700
699
DUMOULIN, O. Positivismo. In: In: BURGUIÈRE, op. cit., p. 614.
700
DUMOULIN, op. cit., p. 614.
701
ARANTES, J., 1977, op. cit. / ARANTES, J., 1971a, op. cit. / ARANTES, J. Uberlândia, cidade dos sonhos
meus. Uberlândia: [s.n.], 1967c.
261
trabalho, não nos permite, por outro lado, atentar para aspectos que conferem à sua produção uma
singularidade no âmbito das análises realizadas por outros memorialistas da cidade, que
abordaram tema semelhante. Não desconhecemos, no entanto, que havia muitas características
comuns a essas obras. Dantas, inclusive, cita algumas delas em seu estudo sobre o discurso que
teve como objetivo associar à cidade de Uberlândia imagens de progresso, ordem, civilidade e
modernidade. De acordo com a autora:
Com efeito, identificamos no trabalho de Arantes todos esses aspectos, no entanto não
acreditamos que apenas esses sirvam como parâmetros para classificar a sua produção. Crônicas
Sociais, por exemplo, compõe-se de fatos do cotidiano, todos eles escritos em forma de crônicas
publicadas em jornais da cidade e, posteriormente, organizadas pelo autor em um livro, cuja
edição deveria ser ilustrada com diversas fotografias, retratando o assunto abordado. Outras
obras, intituladas A cidade: Uberlândia dos primeiros tempos e Uberlândia, cidade dos sonhos
meus, são compostas de poemas retratando aspectos da história local e destinavam-se ao público
estudantil, uma vez que foram organizadas tendo em vista servirem como programa para as
festividades escolares que, segundo o autor, estavam cada vez mais vazias de conteúdo, “sem
motivação que se pudesse apreciar”.703
Nas Crônicas Sociais, Arantes deixava um pouco de lado a história das origens de
Uberlândia, repleta de citações e de transcrições de documentos, para ocupar-se com aspectos do
cotidiano da cidade. Embora não tratasse, na referida obra, de analisar exclusivamente os dados
relativos à história política e econômica de Uberlândia, o passado desta cidade continuava a ser o
seu tema predileto. Entretanto, os fatos agora eram apreendidos por meio da valorização de temas
isolados, sem o rigor da linearidade, que caracterizou os outros estudos da história local, e
também sem a prevalência daqueles temas. Privilegiava a história de antigas ruas, da companhia
702
DANTAS, op. cit., p. 73.
703
ARANTES, J., 1967c, op. cit., não paginado.
262
Da mesma forma que modificou a temática nessas obras, Arantes alterou também a opção
pela seleção das fontes e pelo seu emprego. Tratava-se, agora, de minimizar o uso de fontes
oficiais e de documentação comprobatória (dentre estas, as diversas citações de cartas de doação
de sesmarias, escrituras de bens imóveis, certidões de óbitos e demais documentos) e recorrer a
outras fontes de ordem mais subjetiva, tais como fatos oriundos da memória, tanto aquela do
autor quanto a outra que provinha de antigos depoentes. Em função disso, alterou também o estilo
narrativo; pois deixou de lado o tom formal para resvalar em uma linguagem literária. No caso
dos dois últimos livros, A cidade: Uberlândia dos primeiros tempos e Uberlândia, cidade dos
sonhos meus, abandonou a prosa para abordar aspectos da história local em forma de poemas.
Todos os temas que compõem esses três livros foram desenvolvidos obedecendo a um
estilo de narrativa com forte apelo literário. Arantes apreciava a poesia, tendo chegado mesmo a
escrever e publicar seus poemas, e os traços dessa sua valorização da literatura ficaram impressos
em seus textos de história. Ao citar as entrevistas que realizava, conforme já discutimos, anotava
as expressões, os gestos e as impressões emanadas de seus depoentes e a esses trechos
acrescentava comentários de teor nitidamente literários. Ao conversar com um antigo dentista da
cidade, Vitor Cotta Pacheco, buscando subsídios para o número que a Uberlândia Ilustrada iria
dedicar à Associação dos Cirurgiões Dentistas do Brasil-Central, Arantes mencionou detalhes do
comportamento do depoente, obedecendo ao estilo por nós aludido:
704
DENTISTAS, dentes e dentaduras ..., out. 1953, op. cit.
263
“tipos populares”, relevo, instituições escolares, religiosas, desportivas e políticas e para muitos
outros aspectos concernentes às suas pesquisas sobre a história local.
Essa linguagem literária, preservada por Arantes, em alguns de seus textos referentes à
história, parece constituir-se em herança de suas atividades desenvolvidas no jornalismo. Mesmo
escrevendo em um período no qual, nos grandes centros, os literatos estavam sendo
gradativamente alijados da imprensa diária, Arantes permaneceu fiel àquele estilo e o manteve
nos textos que publicou na revista Uberlândia Ilustrada, nos jornais diários e nos livros que
escreveu.
Ao lado dessa herança, a linguagem literária presente nos textos de Arantes guarda
relação com características oriundas da própria historiografia, que, no século XIX,
primeiramente, foi classificada como gênero literário, para só depois adquirir o estatuto de
705
conhecimento científico, sendo que: “Até hoje essas duas posturas estão presentes no
discurso historiográfico, apesar de revestirem-se de novas roupagens, concebidas nas oficinas
da crítica ao cientificismo da escola Metódica e ao marxismo estruturalista”.706
Uma outra questão que emerge, ao analisarmos a obra produzida por Arantes, incide sobre
o fato de que a sua abordagem do passado, assim como os prognósticos que, por vezes,
anunciava, parece refletir e, em alguns aspectos, também constituir uma dada representação que
subjaz aos interesses de grupos hegemônicos que ocuparam posições estratégicas tanto nos
domínios da política quanto no aspecto sócio-econômico. A sua narrativa sobre a companhia de
telefones instalada na cidade fornece um exemplo dessas representações:
Em 1932, Tito Teixeira adquiriu a parte de seu irmão. Batalhador incansável, nunca
se esmoreceu na luta empreendida no afã de dotar a cidade de um perfeito serviço
telefônico. Em marcha, galgando posição, a 30 de setembro de 1941, sua companhia
inaugurava a instalação de telefones automáticos na cidade, cabendo a Uberlândia os
primeiros telefones automáticos instalados em todo Brasil Central.707
Essa visão triunfalista das ações de alguns homens perpassa a maioria dos textos deixados
por Arantes, tendo-lhe rendido até elogios no prefácio de um de seus livros inéditos: “Com seu
705
Como história e literatura não estavam completamente separadas, os historiadores, naquele período, deveriam
preocupar-se com a estética de “escrever bem”. (LE GOFF, Jacques. Reflexões sobre a História. Entrevista de
Francesco Maiello. Lisboa: Edições 70, 1982, p. 13).
706
JANOTTI, op. cit., p. 119.
707
ARANTES, J., 1981b, op. cit., p. 93-94.
264
trabalho o prof. Jerônimo Arantes está prestando um grande serviço à cidade, pois lhe coloca nas
mãos todo um repositório dos feitos dos nossos maiores”.708 Parece mesmo que, no caso dos
memorialistas a abordagem dos “feitos dos maiores”, se constituía a regra, havendo poucas
alternativas para suplantar a imbricação existente entre suas obras e uma dada representação do
real construída por intermédio de grupos detentores do poder político e econômico, pois os
memorialistas colocam-se ao lado daquele grupo que representa o poder, “seja como integrante
dele ou ocupante de cargo público, como a demonstrar sua capacidade intelectual ou mesmo
realizador e testemunha das diversas práticas que foram constituindo a cidade”.709
Com efeito, tais liames existiram e, para que possam ser desvelados, devem ser
perscrutadas as relações entre concepções de história e determinados projetos sociais
engendrados pela elite, pois, segundo aquilatou Fontana: “... história, 'economia política' e
projeto social – encontram-se indissoluvelmente unidas: (...) nenhuma é plenamente
compreensível separada da outra”.712
Desta forma, o olhar dirigido aos fatos, as interpretações do passado, a seleção das fontes
consultadas e as análises oriundas das pesquisas podem ser apreendidas tendo em vista
708
GARCIA, op. cit., p. 9.
709
DANTAS, op. cit., p. 73.
710
GOMES, 1996, op. cit., p. 52.
711
CALLARI, op. cit., p. 61.
712
FONTANA, Josep. História: análise do passado e projeto social. Bauru: EDUSC, 1998, p. 10.
265
Ao lado destes, Certeau também destacou a íntima relação existente entre a escrita da
história e o momento no qual ela foi produzida, desmistificando a pretensa autonomia do
indivíduo: “Como o veículo saído de uma fábrica, o estudo histórico está muito mais ligado ao
complexo de uma fabricação específica e coletiva do que ao estatuto de efeito de uma filosofia
pessoal ou à ressurgência de uma realidade passada. É o produto de um lugar”. 714
Por que falar de passado, buscar origens e associá-las a figuras heróicas? Por que escrever
panegíricos, divulgar a história em jornais, revistas e demais veículos de comunicação
disponíveis? Por que penetrar em velhos arquivos e mergulhar em papéis poeirentos, cobertos de
ácaros e toda sorte fungos? Por que também ocupar o pouco espaço disponível no lar com a
guarda de documentos variados, tais como jornais, revistas, folhetos, recortes, mapas, fotografias
e clichês como fez Arantes? São questões que intrigam e incomodam, especialmente, porque
aquele que melhor poderia respondê-las já não pode fazê-lo. De qualquer forma, é aí que reside o
nosso trabalho, ou seja, propor questões ao passado e tentar encontrar as suas soluções, ainda que
estas pareçam distantes e de difícil esclarecimento.
713
BLOCH, 2001, op. cit., p. 60.
714
CERTEAU, op. cit., p. 73.
266
porquês das perguntas pelo como. Ou seja, passamos a interrogar as fontes, buscando explicações
para compreender como Arantes abordou a história local, como trabalhou com a documentação
que tinha disponível e qual a relação que se pode estabelecer entre a sua produção e a sociedade
na qual viveu. Discutir a topografia na qual se inscrevem as produções referentes à história
propicia-nos apreender os não-ditos, aquelas parcelas do real que compõem, estruturam e limitam
o discurso historiográfico e que, no entanto, permanecem veladas sob o manto da pseudo-
objetividade. Não é sem motivo que Certeau frisa a relevância de buscar o “lugar social” do qual
emergem os trabalhos de história.715
Dessa forma, entendemos que o trabalho desenvolvido por Arantes, no tocante à produção
da história local – incluindo tanto a formação do seu arquivo e a produção de sua revista quanto a
elaboração dos textos e livros –, deve ser apreendido sem perder de vista a relação vivida com o
presente. Pois relacionar o seu envolvimento com a história apenas a um interesse em conhecer o
passado consiste em uma avaliação ingênua, que atribui ao conjunto de sua produção somente
uma função cognitiva, que se resumiria em buscar o passado tão somente para conhecê-lo. De
fato, fazia parte das preocupações de Arantes, conforme ele mesmo salientou em uma de suas
obras, pesquisar o passado, tendo em vista resolver problemas advindos do aspecto meramente
cognitivo:
Sempre recebemos pedidos de pessoas interessadas em conhecer o histórico do
Município, e na maioria das vezes dados sobre a fundação da Cidade. (...) E, pelo
motivo exposto, sem vaidade de sua autoria, fizemos esta modesta publicação,
dedicada aqueles que estudam com carinho a história bonita de nossa cidade bonita ... . 716
Entretanto, pensamos que esse aspecto não pode ser apreendido como sintetizando o
objetivo que permeia o conjunto da obra produzida por Arantes, pois, além dessa face ligada à
cognição, ou seja, à vontade de conhecer e desvendar o passado, o trabalho de pesquisa
desenvolvido por Arantes encerra também uma dimensão política. Por isso, os aspectos
relacionados ao presente no qual viveu o autor explicam, em grande parte, a sua produção, assim
como possibilitam inferir sobre algumas das motivações que o impulsionaram a colecionar
715
Segundo o autor: “Toda pesquisa historiográfica se articula com um lugar de produção sócio-econômico, político
e cultural. Implica um meio de elaboração que [é] circunscrito por determinações próprias: uma profissão liberal, um
posto de observação ou de ensino, uma categoria de letrados, etc. Ela está, pois, submetida a imposições, ligada a
privilégios, enraizada em uma particularidade. É em função deste lugar que se instauram os métodos, que se delineia
uma topografia de interesses, que os documentos e as questões, que lhes serão propostas se organizam”. (CERTEAU,
op. cit., p. 66-67).
716
ARANTES, J. Memória histórica de Uberlândia: Fundação da cidade. Uberlândia: Livraria Kosmos, 1969, p. 1.
267
Nesse sentido, acreditamos que a produção de Arantes não estava circunscrita apenas ao
seu interesse pelo passado como um conhecimento que se encerrava ali, mas, ao contrário,
pensamos que, subjacente à sua pesquisa e à produção de seus escritos, havia indícios de uma
pretensão de intervir no real, de tornar-se protagonista de questões que perpassavam a cidade de
Uberlândia no presente em que ele colecionou documentos e produziu seus textos, artigos e livros
sobre a história local, pois conforme ressaltou Gagnebin: “A rememoração também significa uma
atenção precisa ao presente, (...), pois não se trata somente de não se esquecer do passado, mas
também de agir sobre o presente”.718
No período em que Arantes iniciou a publicação de sua revista e nos anos subseqüentes,
durante os quais ele a editou, Uberlândia, gradativamente, começava a ser palco de um momento
caracterizado pela prosperidade do comércio, crescimento urbano, ampliação na sua malha
rodoviária, expansão e modernização do fornecimento de energia elétrica, concretização de
projetos que visavam ao desenvolvimento de um “espírito” intelectual – percebido, sobretudo, no
movimento em favor da instalação da Faculdade de Engenharia – e movimentação em torno da
edificação de uma cidade industrial.719
717
CERTEAU, op. cit., p. 74.
718
GAGNEBIN, Jeanne Marie. Memória, história, testemunho. In: BRESCIANI, Stella; NAXARA, Márcia.
Memória e (res) sentimento: indagações sobre uma questão sensível. Campinas: Unicamp, 2001, p. 91.
719
MACHADO, jan./jun., 1991, op. cit., p. 37-77. / CARVALHO, Rosana A. de; ALVES FILHO, Elói. O papel da
Associação Comercial, Industrial e Agropecuária na industrialização de Uberlândia: 1950-1970. História &
Perspectiva, Uberlândia, n. 22, p. 115-142, jan./jun. 2000.
720
MACHADO, Maria Clara T. A disciplinarização da pobreza no espaço urbano burguês; assistência social
institucionalizada, Uberlândia 1965-1980. 1990. Dissertação (Mestrado) - Dissertação de Mestrado. Universidade de
São Paulo, São Paulo, 1990.
268
Uma nova fase de crescimento econômico da cidade começou a processar-se a partir dos
anos de 1950 em decorrência da construção de Brasília e dos reflexos da política
desenvolvimentista de Juscelino Kubsticheck, que trouxeram vultosos investimentos federais
para Uberlândia e região, transformando a cidade em uma referência para o cruzamento de
estradas ligando sul, norte, nordeste com o centro-oeste do país. Sintonizado com essas
perspectivas de desenvolvimento para a cidade, oriundas da construção da nova capital federal,
Arantes dedicou uma página de sua revista para fazer prognósticos confiantes:
De fato, Uberlândia, pelo seu progresso, pelo seu dinamismo, pela sua limpeza e,
principalmente, pela sua posição geofísica e geo-econômica, irá experimentar um
grande surto de constante desenvolvimento nestes próximos dez anos, dado a sua
condição de cidade-chave na rota de Brasília.721
721
EM CONSTRUÇÃO o primeiro quartel de Brasília. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 24, p. 20, jun. 1958.
APU. CPJA.
722
SOARES, Beatriz R. Uberlândia: da boca do sertão à cidade jardim. Sociedade & Natureza, Uberlândia, n. 18, p.
95-123, jul./dez.97.
723
MACHADO, 1990, op. cit. / SOARES, Beatriz R. Uberlândia: anotações sobre o seu crescimento urbano.
Cadernos de História - Especial, Uberlândia, v. 4, n. 4, jan. 93, p. 49-62.
269
“nobre”.724 Verificava-se, assim, a gestação de uma urbe cuja imagem deveria ser a plena
tradução da ordem, limpeza e da modernidade, expressas em um espaço pretensamente asséptico
e homogêneo.725
724
OLIVEIRA, J., op. cit., p. 185-216.
725
Segundo Soares, o projeto urbanístico elaborado para Uberlândia entre 1907 e 1908, pelo engenheiro Mellor
Ferreira Amado, objetivava transferir o centro comercial, até então localizado no Fundinho (espaço urbano onde se
deu o povoamento inicial da cidade, cujo traçado das ruas era irregular e os terrenos ligeiramente acidentados), para
uma região plana, que favorecesse a expansão da cidade e, por conseguinte, das relações capitalistas. (SOARES, B.,
jul./dez.97, op. cit.).
726
“De uma forma geral, esses discursos creditam ao trabalho e à racionalidade a base e o sustentáculo de todo o
progresso econômico, e à ordem, entendida como a convivência harmoniosa entre o capital e o trabalho, o caminho
para a modernidade e a resolução de todos os problemas sociais. ‘Ordem e progresso’, uma empreitada positivista,
que requer projetos políticos que pressuponham o desenvolvimento econômico, alinhavado a um espaço urbano
disciplinarizado”. (MACHADO, M., jan./jun., 1991, op. cit., p. 45).
727
UBERLÂNDIA, cidade que cresce e progride. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 21, não paginado, jun. 1956.
APU. CPJA.
270
assemelhava, como tantas outras cidades do Brasil e do mundo – influenciadas pelo pensamento
positivista –, a um tabuleiro de xadrez constituído por uma área central e um conjunto de largas e
extensas avenidas arborizadas e ruas transversais.728 Com efeito, no traçado de Uberlândia
predominava a linha reta, e esta retilinidade conferia ao desenho da cidade um aspecto muito
semelhante ao tabuleiro de xadrez, pois, cortando o perímetro urbano, existiam três avenidas
longas e paralelas – João Pinheiro, Floriano Peixoto e Afonso Pena –, que seguiam na mesma
direção, estendendo-se para fora do perímetro urbano.729
Em síntese, em meados do século XX, a cidade já havia crescido tanto do ponto de vista
geográfico quanto comercial e foram realizadas modificações por meio das quais novos atores
entraram na cena política, ofuscando o brilho que outrora incidia, quase que exclusivamente,
sobre os feitos de coronéis e de sua prole. Mais do que ameaçar a perpetuação da memória desses
coronéis, a entrada no cenário de grupos até então excluídos da vida sócio-política da cidade,
particularmente daquela representada pelos discursos oficiais – tanto aqueles produzidos pelos
728
Segundo essa concepção reordenadora do espaço urbano, efetuada sob o olhar positivo da técnica e da ciência, o
desenho físico e simbólico da cidade seria elaborado obedecendo a quatro princípios básicos e imprescindíveis:
retilinidade, uniformidade, proporcionalidade e visibilidade; sendo que o princípio da visibilidade agrega os demais.
Pois, a partir dele, “... prescreve-se que o traçado das ruas, a localização das praças, as fachadas das edificações
devessem ser estabelecidas de modo a garantir o máximo possível de acesso à iluminação solar. Por outro lado, o
princípio faz-se igualmente recorrente como expressão da vontade de um projeto da cidade reformada fosse, em si
mesmo, visto e contemplado por toda a população como espetáculo simbolizador de uma nova sociedade em
edificação”. (KROPF, Simone P. Os construtores da cidade: o discurso dos engenheiros sobre o Rio de Janeiro no
final do século XIX e início do século XX. Projeto História: cultura e cidade, São Paulo: PUC, n. 13, p. 184-5, jun.
1996)
729
CARRIJO, Gilson G. Fotografia e a invenção do espaço urbano: considerações sobre a relação entre estética e
política. 2002. Dissertação (Mestrado) - Instituto de História, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2002,
p. 38.
730
MACHADO, 1990, op. cit.
271
É, então, nesse contexto, que se localiza a tentativa de Arantes de intervir no presente por
meio de sua produção referente à escrita da história da cidade, pois, se as condições necessárias
para as mudanças já haviam sido plantadas, se a cidade crescia e modificava-se em relação aos
diversos aspectos e se todas essas mudanças eram irreversíveis, restava ao memorialista atar esse
presente ao passado que lhe dera origem, demonstrando que o quadro atual não resultava de
ruptura, mas, ao contrário, assentava-se na mais perfeita continuidade e que, por conseguinte, o
futuro seria promissor.
Os primeiros passos haviam sido dados por Arantes ao insistir na afirmação e instituição
de um fundador para Uberlândia e em construir, para esse fundador, representações edificantes,
tanto no que dizia respeito às supostas qualidades de seu caráter, quanto no tocante aos resultados
de seus empreendimentos. Assim, essa persistência de Arantes em ressaltar a figura de Felisberto
Carrejo como fundador não encontra paralelo na obra deixada por outros memorialistas locais.
Capri, por exemplo, não abordou tal questão, pois, quando citou Carrejo em seu livro, não lhe
atribuiu papel algum de relevo na fundação de Uberlândia. Ao contrário, mencionou aquele nome
ao lado de Francisco Alves Pereira, para informar que ambos tinham sido procuradores nomeados
pela população para tratar dos assuntos de interesse da criação da Paróquia.732 Pezzuti, por sua
vez, demorou-se na descrição das qualidades inerentes ao caráter do primeiro entrante, João
Pereira da Rocha. Destacou, depois, a família de José Alves de Rezende e a família Cabral, que
teriam, ambas, se instalado na região poucos anos após os Pereira da Rocha. Finalmente, citou os
nomes daqueles que chegaram depois desses três grupos e mencionou, em meio a eles, o nome de
Felisberto Carrejo, que teria sido, ao lado de Francisco Pereira da Rocha, um dos procuradores
731
Conforme ressaltou Além: “A expansão da cidade torna o universo político e cultural tão diverso quanto o são as
forças produtivas locais. (...). As relações impessoais na vida cotidiana, a distância dos políticos e dos governantes, a
frieza da burocracia nas instituições públicas forçam um redirecionamento das ações políticas anteriores da classe
dominante. (...) Quando essa tendência predomina, a sociedade política já está transformada, porque a expansão
urbana é reflexo explícito da sociedade de classes consolidada, que tende a não comportar, gradativamente, práticas e
discursos políticos fundados nas relações pessoais e, portanto, os recursos ideológicos e culturais terão que ser
reelaborados com base em outros elementos”. (ALEM, João Marcos. Representações coletivas e história política em
Uberlândia. História & Perspectivas, Uberlândia, n. 4, jan./jun.1991, p. 100).
732
CAPRI, op. cit., p. 10.
272
dos habitantes do local. 733 Pezzuti e Capri atribuem a Carrejo apenas a função de “procurador”,
sem, contudo, destacar o seu papel de “fundador da cidade”.
Portanto, uma vez que não encontramos no trabalho dos memorialistas que antecederam
Arantes a idealização de Carrejo como sendo “o fundador”, deve ser atribuído aquele o feito de
produzir para a cidade uma paternidade e de tentar construir, a partir daí, um conjunto de
representações que a ligasse às origens do município. Nesse sentido, podemos conferir a Arantes
a tentativa de explicar a história a partir do ídolo das origens.734
733
PEZZUTI, op. cit., p. 7-13.
734
Segundo Burke, a ênfase excessiva conferida aos estudos sobre as origens seria um dos três “ídolos da tribo dos
historiadores” que o economista francês François Simiand já havia rechaçado no início do século XX. Esse sobre o
qual recai a explicação de Arantes seria o “ídolo cronológico”, caracterizado pela recorrência em se buscar, nos
estudos históricos, as origens. Ao lado deste, o economista francês criticava o uso de mais dois “ídolos”, a saber, o
“ídolo político”, advindo do culto à história política e aos fatos políticos e o “ídolo individual”, engendrado pela
insistência nos feitos de alguns supostos grandes homens. (BURKE, Peter. A Revolução Francesa da Historiografia:
a Escola dos Annales, 1929-1989. São Paulo: UNESP, 1991, p. 21).
735
CARVALHO, J., op. cit., p. 55.
273
A história dessa “urbe acelerada” deveria ser escrita levando-se em conta um passado do
qual a população pudesse se orgulhar, e mais, um passado que cobrisse de glória o presente,
legitimando as instituições políticas, tornando autênticas as iniciativas dos grupos sociais, bem
como louvando a economia e as ações dos homens de negócios.737 Por trás de tudo isto, Arantes
imprimia a figura de seu herói. Era como se Carrejo fosse a fonte de inspiração para a dinâmica
da cidade e que dessa não se descolasse, tornando-se um verdadeiro paradigma para todos
aqueles que o sucederam.738 Com efeito, a insistência em pesquisar as origens fez com que a obra
de Arantes explicasse a trajetória percorrida por Uberlândia a partir da herança deixada por seu
herói/fundador e estender as supostas virtudes daquele aos seus sucessores, representados,
primeiramente, na figura de líderes políticos, conforme se lê no fragmento a seguir:
736
BRESCIANI, op. cit., p. 106.
737
Esta tentativa de justificar o presente por meio do emprego de exemplos do passado foi, no dizer de Callari,
dominante também no IHGB, que tentou “... estabelecer os limites do Estado Nacional, buscando exemplos no
passado que legitimasse o presente e formassem os herdeiros desse Estado”. (CALLARI, op. cit., p. 74).
738
Conforme analisou Carvalho: “Herói que se preze tem de ter, de algum modo, a cara da nação. Tem de responder
a alguma necessidade ou aspiração coletiva, refletir algum tipo de personalidade ou de comportamento que
corresponda a um modelo coletivamente valorizado. Na ausência de tal sintonia, o esforço de mitificação de figuras
políticas resultará vão. Os pretendidos heróis serão, na maioria das hipóteses, ignorados pela maioria e, na pior,
ridicularizados”. (CARVALHO, J., op. cit., p. 55-56).
739
ARANTES, J. Cidade dos sonhos meus, 1981, op. cit., p. 45. Acervo Delvar Arantes.
274
Toda essa tentativa empreendida por Arantes, com o propósito de heroificar Carrejo,
encontra muita semelhança no mesmo processo empregado para eleger para a república brasileira
a figura de Tiradentes como símbolo do consenso. Segundo Carvalho, ao escolher o alferes
mineiro como a figura heróica da República brasileira, esperava-se revestir de coesão o novo
regime, dotando-o de uma unanimidade insuspeita. Além de Tiradentes, em meio àqueles que
lutaram pela queda da monarquia, não havia ninguém que pudesse expressar de forma tão
convincente o consenso e que pudesse promover junto à população o efeito de identificação em
torno dos mesmos ideais.742 Papel análogo teria sido reservado por Arantes a Carrejo na formação
do povoado e, depois, na consolidação de sua organização político-administrativa. Em meio aos
que habitavam primitivamente a região, somente a figura daquele pioneiro poderia ser recuperada
e metamorfoseada, para representar a unidade de objetivos e de projetos políticos.
Uma vez que as transformações em curso na cidade eram irreversíveis, restava, pois,
voltar-se para o passado, buscando lá os germes das mudanças no presente, resgatando a figura
do herói fundador, valorizando seus feitos e estendeu as suas supostas virtudes aos sucessores. Se
não havia como negar o presente, fazia-se necessário, por outro lado, ancorá-lo no passado,
740
Esta mesma representação foi localizada, por Bosi, no discurso que Pezzuti construiu acerca dos primeiros
políticos da cidade. (BOSI, op. cit., p. 58-59).
741
GARCIA, op. cit., p. 9.
742
Somente “... ele operava a unidade mística dos cidadãos, o sentimento de participação, de união em torno de um
ideal, fosse ele a liberdade, a independência ou a república. Era o totem cívico. Não antagonizava ninguém, não
dividia as pessoas e as classes sociais, não dividia o país, não separava o presente do passado nem do futuro”.
(CARVALHO, J., op. cit., p. 68).
275
Nesse sentido, acreditamos que tanto o objeto quanto os temas tratados por Arantes em
seus estudos sobre a história local tiveram uma dupla função, que, embora possam parecer à
primeira vista excludentes, desempenharam papéis complementares. De um lado, as suas
abordagens consistiram na tentativa de reabilitar o passado, esvaziando o presente de quaisquer
possibilidades de ruptura. Pensamos que alguns dos indícios desse apego ao passado residiriam,
além da insistência de Arantes em tratar do “mito das origens”, no fato de ressaltar o modo de
vida do homem simples e preservar, em seus textos, romances e poesias, o vocabulário
sertanejo.743
De outro lado, podemos ler a obra elaborada por Arantes perscrutando seus intentos de
legitimação para o presente, visíveis na tentativa de avalizar as mudanças em curso por meio da
ênfase conferida à semelhança existente entre a autenticidade das iniciativas políticas e
econômicas dos seus contemporâneos e os empreendimentos, igualmente legais, realizados pelos
desbravadores.
Essa característica, que perpassa os textos, artigos e livros elaborados por Arantes, não
pode ser cindida de sua trajetória profissional e intelectual, pois ele também, como “escritor-
funcionário”,744 transitava entre essas temporalidades e mantinha com elas compromissos
seriamente cumpridos. Ao passado, reservava uma parcela de seu tempo para pesquisar, coletar
documentos, formar seu arquivo, tentar produzir explicações históricas e construir os alicerces de
uma representação grandiloqüente para a história da cidade. Ao futuro, destinava parte de seu
trabalho em prol da alfabetização das crianças, jovens e adultos de Uberlândia, contribuindo, com
isso, para o desenvolvimento intelectual de sua população; dedicava, também, uma fatia de sua
produção para elaborar representações ufanistas sobre a cidade, seu crescimento e suas
perspectivas promissoras. Para tanto, valeu-se das páginas de sua revista, nas quais encontramos
743
Em seu depoimento, Silva ressaltou essa particularidade do trabalho de Arantes, dizendo achar interessante o fato
de ele preservar em seus escritos o vocabulário das pessoas simples, habitantes ou oriundas do meio rural. (SILVA,
A., 2001, op. cit.).
744
Expressão empregada por Carlos Drummond para classificar a atuação dos intelectuais, incluindo ele próprio, que
participaram do ministério de Gustavo Capanema (1934-1945). (BOMENY, Helena. Infidelidades eletivas:
intelectuais e política. In: BOMENY, H. (Org.). Constelação Capanema: intelectuais e política. Rio de Janeiro:
FGV, 2001, p. 30).
276
estampadas as representações otimistas das administrações públicas, bem como o patriotismo dos
empresários, comerciantes e de todos os profissionais liberais. A descrição do comerciante
Antônio Calábria sintetiza suas abordagens a respeito do tema:
Inferimos, pois, que, subjacente às características que emanam dos textos de Arantes e
também de seu trabalho, se encontram as duas fundamentações teóricas que acreditamos
caracterizar a sua produção: positivismo e romantismo, e ambas se assentariam sobre a
temporalidade tripartite: passado, presente e futuro. O positivismo estaria representado na suposta
indefectibilidade do presente e na crença depositada no desenvolvimento linear em direção a um
fim determinado localizado no futuro, que se faria por meio da superação de etapas sucessivas.746
Nesse caso, pensamos que a influência do positivismo sobre as análises efetuadas por Arantes
decorre das formulações de Augusto Comte e, não, especificamente, das sucessivas elaborações
que essa doutrina recebeu na historiografia.747
745
DOMINGOS Antônio Calábria. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 22, não paginado, set. 1957. APU. CPJA.
746
A Europa, na primeira metade do século XIX, estava mergulhada em conflitos de natureza diversa. A França, em
particular, ainda buscava soluções para as crises social, institucional e econômica gestada no bojo da Revolução
Francesa. O teórico francês Augusto Comte viveu esse período efervescente da história européia e não tardou a
elaborar uma explicação “científica” sobre o problema francês e, pretensiosamente, o problema da humanidade em
geral. Elaborou, então, uma filosofia da história, também denominada de “Lei dos três Estados”, que se caracterizou,
sobretudo, pela unidade. Partia do pressuposto de que toda a história da humanidade necessariamente deveria passar
por três etapas sucessivas de organização do pensamento: a forma de pensar “teológica”, a “metafísica” e a
“positiva”. As duas primeiras etapas foram concebidas como momentos provisórios e preparatórios ao advento da
“última” e “verdadeira” forma de pensar: o estado positivo. Nessa última fase os homens substituíram a busca das
causas absolutas e a sua conseqüente atribuição a seres sobrenaturais e forças abstratas pela descoberta das leis
imutáveis que regem todos os fenômenos. (COMTE, op. cit., p. 12-13).
747
“A história positivista praticamente não se alimenta das relações com a doutrina de Augusto Comte, embora sua
denominação reflita a importância que seus defensores conferiam ao termo ciência positiva. Pois a ambição científica
é o primeiro traço distintivo de uma escola histórica que reina sobre as primeiras gerações de historiadores de ofício
no fim do século XIX e no início do século XX”. (DUMOULIN, op, cit., p. 614).
277
Já, para nós, os traços definidores do romantismo nos escritos de Arantes guardam menos
relação com os pressupostos da corrente historiográfica, designada pelo mesmo nome,748 que,
propriamente, com as características do movimento romântico inspirador de um dos períodos da
literatura brasileira. Conquanto múltiplo e fluído, alguns dos traços definidores da literatura
romântica européia encontram-se na fuga do presente, na valorização do tempo e do espaço
distantes e na conseqüente idealização do passado e na ambientação dos enredos na remota Idade
Média. Guardadas as devidas particularidades, alguns aspectos dessa caracterização presidiram a
literatura produzida pela primeira geração do romantismo no Brasil. Seus autores buscaram
recuperar o passado de forma otimista e, para tanto, situaram as narrativas em épocas distantes,
marcadas por feitos gloriosos e gestos heróicos. Um dos expoentes dessa fase do romantismo foi
José de Alencar 749 — autor que não era ignorado por Arantes, uma vez que, em sua biblioteca, se
encontrava uma de suas obras, Sonhos D'ouro.
748
Na primeira metade do século XIX, o romantismo ganha espaço na historiografia e promove a reabilitação dos
estudos acerca da Idade Média. As razões da ascensão do romantismo, sobretudo em meio aos historiadores
franceses, segundo as análises de Glénisson, podem ser sintetizadas nos seguintes aspectos: “... reação cristã contra a
'filosofia', gosto pelo exotismo no tempo e no espaço, novos pontos de vista relativos à arte (principia a admiração
pelas catedrais góticas), influências germânicas (na França, Madame de Stael, conhecedora e admiradora da
Alemanha, contribuirá também para reabilitar a Idade Média)..., tudo se conjugando para levar ao êxito universal o
que, pouco tempo antes, fora tido como a idade das trevas e do barbarismo gótico”. (GLÉNISSON, Jean. Iniciação
aos estudos históricos. Rio de Janeiro, São Paulo: Difel, 1977, p. 49).
Para Josep Fontana, o romantismo consubstancia-se, em meio à historiografia francesa, na tentativa de ruptura com o
passado ilustrado e revolucionário que vigorou no século XVIII. Essa corrente historiográfica, tal qual o positivismo,
teria emergido como reação ao ideário crítico de décadas precedentes. Segundo o historiador catalão: “Na história,
seu grande representante foi Jules Michelet (1798-1874), que soube reunir a vontade de ruptura com o pensamento
ilustrado a algumas propostas políticas de um certo populismo progressista, que haviam de ajudar a conduzir as
forças sociais mobilizadas pela revolução pelo caminho de um nacionalismo burguês”. (FONTANA, op. cit., p. 123).
Falcon amplia as análises sobre o romantismo ao enfocar a história cultural tentando compreender o sentido de
sociedade e cultura. Para o autor: “Ao fazer a crítica do racionalismo universalista e naturalista do pensamento
iluminista, o romantismo sublinhou não propriamente uma espécie de ‘sentido histórico’ genérico, como
proclamaram seus representantes, mas uma certa idéia de cultura. Nos dois casos, o particular, o específico, o único
primam sobre o universal e genérico. Cultura e história, entrelaçadas, originam especificidades, permanências
irredutíveis a leis, impossíveis de serem apreendidas por uma razão lógico-matemática que se limita a aplicar ao
mundo dos homens, histórico por definição, os princípios e métodos de uma ciência da natureza — o paradigma da
Física newtoniana”. (FALCON, op. cit., p. 69).
749
CITELLI, Adilson. Romantismo. São Paulo: Ática, 1993, p. 76-77.
278
pesquisas sobre a história local, aspectos extraídos das lembranças de depoentes oriundos de uma
classe social menos abastada e presa às origens rurais, Arantes ancorava-se na tradição,
porquanto o seu compromisso parecia ter sido firmado com o interesse em apresentar o passado
como projetado no futuro.
Dessa forma, pensamos que a relação estabelecida por Arantes com os seus entrevistados
é perpassada por um certo matiz daquela mentalidade provinciana, a que nos referimos
anteriormente, posto que, segundo a ótica do provincianismo existiria uma forte vinculação com
o passado e com tudo o que dissesse respeito a esta temporalidade enquanto tradição e
experiência. Desta forma, para Rodriguez, a valorização da tradição e do próprio passado estaria
vinculada à suposta sabedoria que emanaria daí: “... o provincianismo é um olhar voltado
permanentemente para o passado; é o passado que fala ao presente. (...) a tradição é o conteúdo
essencial da sabedoria”.750
Analisando por este prisma, a relação que Arantes estabelecia com seus depoentes contém
traços desta mentalidade provinciana que buscaria no passado a sabedoria. Pois, com as
informações obtidas junto a estes depoentes, Arantes buscava acrescentar mais elementos aos
documentos escritos, que lhe possibilitassem ampliar os dados relativos ao passado de
Uberlândia, ou, como ele preferia explicar, dessa forma ia “revivendo o passado na voz da gente
antiga”. Esse era, inclusive, o título de uma das seções de sua revista na qual reproduziu parte
destas entrevistas.
750
RODRIGUEZ, op. cit., p. 8.
No original: “... el provincianismo es una mirada volcada permanentemente hacia el pasado; es el pasado que habla
en el presente. (...) la tradición es el contenido esencial de la sabiduría”.
279
Em outra crônica, que compõe o mesmo livro, Arantes mudou o enfoque, parecendo
colocar-se inteiramente em defesa do futuro, representado na ótica do progresso, em detrimento
do passado, caracterizado pelas edificações antigas e em estado de decomposição, que
“insistiam” em permanecer de pé, “manchando” a paisagem urbana composta de modernos
edifícios. Eis algumas passagens do Lamento da casa velha, que denotam a visão progressista de
Arantes, pouco afeita à preservação do patrimônio histórico arquitetônico:
Eu fiquei!!! Fiquei para sofrer o castigo que o destino me reservou. Agora nada mais
que uma tapera de horrível aparência!!! Um monstro em forma de casa!! Uma tapera
que ocupa o lugar onde já deveria estar uma dessas belíssimas construções que tanto
engrandecem o nome de nossa linda cidade (...). Como eu sofro, sabendo que a cidade
que eu vi nascer e progredir tanto, e por minha causa tem essa nódoa a manchar seu
nome de cidade moderna, (...). Eu devo desaparecer!! É chegado o momento. O povo
progressista desta cidade primor espera ansiosamente que isso aconteça.752
Esta oscilação entre a nostalgia do passado e a crítica aos seus vestígios – particularmente
aqueles de natureza arquitetônica –, bem como a apologia ao progresso, presente em algumas
análises de Arantes, não pode ser atribuída apenas a uma fragilidade teórica do memorialista, que,
carente de um instrumental metodológico, assim como dos conceitos e categorias analíticas
inerentes ao ofício do historiador, incorreria em equívocos ao trabalhar com as temporalidades. A
complexidade subjacente ao universo temporal é oriunda em parte do caráter cambiante do
próprio procedimento historiográfico que, para Certeau, faz com que, de um lado, a história
historicize o atual e, de outro, represente o passado como significando um dado incompleto: “... o
lugar que ela destina ao passado é igualmente um modo de dar lugar a um futuro. Da mesma
maneira que vacila entre o exotismo e a crítica, a título de uma encenação do outro, oscila entre o
conservadorismo e o utopismo, por sua função de significar uma falta”.753
751
ARANTES, J., 1977, op. cit., p. 35.
752
ARANTES, J., 1977, op. cit., p. 2.
753
CERTEAU, op. cit., p. 93.
280
Nas linhas que abaixo se lê, procuramos dar uma síntese do que tem sido o
governo moço e patriota do prefeito Vasco Giffoni, à frente dos negócios
públicos de sua terra, que também o é nossa, uns por direito de nascença,
outros porque a ela se radicaram, trabalhando pelo seu engrandecimento,
comungando os seus interesses, vivendo as suas horas amargas, partilhando dos
seus instantes de glória, mas todos visando um só fim: – a grandeza da terra
que é seu berço, ou que de braços abertos o acolhera.754
754
SETE anos de governo. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 9, p. 23, abril 1941. APU. CPJA.
281
Não obstante essa ambigüidade, o conjunto das representações que Arantes elaborou em
torno do passado, presente e futuro ficou registrado na memória de todos aqueles que lhe foram
contemporâneos. Assim, acreditamos que a melhor tradução dessa representação incidiu sobre a
sua múltipla atuação no cenário intelectual da cidade: o educador, que foi também memorialista,
produziu uma história e a divulgou nos meios de comunicação então disponíveis. Por isso,
quando se fala em Jerônimo Arantes, “... não sabe a que dar preferência: se à excelência do
historiador, se à maviosidade do poeta, se à distinção do pedagogo. Uma vez que tudo são
favetas de uma mesma personalidade, admira-se a esta e ter-se-á admirado a todos”.755
Com o seu trabalho no Colégio Amor às Letras, posteriormente com a sua atuação no
serviço público, bem como com a publicação de sua revista, livros e artigos, Arantes foi, pouco a
pouco, produzindo a memória de si e, concomitante, construindo e escrevendo a história dos
outros.
755
VIDA social. Correio de Uberlândia, Uberlândia, não paginado, 24 jul. 1943. APU.
756
PAES LEME, op. cit.
282
Primeiro foi esquecido pela imprensa, pelos seus “colegas”, como se referia aos
jornalistas. Durante o período que remonta aos anos de 1943 a 1957, os jornais Correio de
Uberlândia e O Repórter dedicaram-lhe, anualmente, uma nota de felicitações natalícias.759 No
757
Em um de seus livros Arantes narrou a história da cidade em forma de versos, tais como:
“Cidade de Uberlândia,
escrínio dourado,
onde tudo que é belo está nele guardado ...”. (ARANTES, J., 1971a, p. 36).
758
UBERLÂNDIA. Lei n. 1760, de 7 de novembro de 1969: Concede o título de Cidadão Uberlandense a pessoa que
menciona. Uberlândia, 07 nov. 1969. APU. CPJA. PT.
759
VIDA social, 24 jul. 1943, op. cit. / VIDA social. Correio de Uberlândia, Uberlândia, não paginado, 23 jul. 1944;
22 jul. 1945. APU. / SOCIAIS. Correio de Uberlândia, Uberlândia, não paginado, 23 jul. 1946; 23 jul. 1947; 24 jul.
1948; 23 jul. 1949; 23 jul. 1950; 23 jul. 1952; 23 jul. 1953; 24 jul. 1955; 22 jul. 1956. APU. / SOCIAIS. Correio de
Uberlândia, Uberlândia, p. 2, 23 jul. 1951. APU. / SOCIAIS. O Repórter, Uberlândia, não paginado, 23 jul. 195223
jul. 1953; 23 jul. 1954. APU./ ANIVERSÁRIOS. Correio de Uberlândia, Uberlândia, não paginado, 23 jul. 1957.
APU.
283
decorrer daqueles quinze anos, no dia 23 de julho ou um dia antes e/ou depois, foram publicados
cumprimentos ao professor Arantes, demonstrando que o seu aniversário era lembrado e
registrado pela imprensa, às vezes, apenas com uma frase, outras, na forma de um texto no qual
transbordavam adjetivos laudatórios, tais como: “antigo e laborioso ornamento do magistério de
Uberlândia ..”. Arantes era lembrando também como sendo um: “...ilustre jornalista e
historiador uberlandense, poeta de rara inspiração...”. Em outro ano, foi apresentado como:
“...culto e inteligente inspetor escolar neste município, jornalista brilhante de pena ágil (...),
historiador dos mais meticulosos, profundo conhecedor do passado dessa região”.760
Assim, ano a ano, em todos os aniversários, Arantes foi lembrado de forma laudatória e
cumprimentado com entusiasmo. Contudo, a despeito de tantos elogios, nos anos posteriores, até
1961 quando encerramos a pesquisa, o nome de Arantes desapareceu das páginas dos jornais na
data de seu aniversário; não se encontrava nos periódicos nem mais um texto, nem mais uma
nota... A imprensa o havia esquecido, ainda que ele continuasse a “cumprir anos”.
Daí, para que a população também o esquecesse, não foi muito difícil, pois, mesmo que o
prefeito tenha cumprido à risca o cerimonial fúnebre, decretando luto oficial por três dias e
hasteando em todas as repartições públicas a bandeira a meio mastro, nos dias em que seu corpo
foi velado no plenário da Câmara Municipal de Uberlândia, poucas pessoas compareceram para
lhe prestar as últimas homenagens e dar-lhe adeus.
De fato, a despeito das iniciativas de Arantes em produzir uma versão gloriosa para o
passado da cidade; auxiliar na construção de suas bases de civilidade, assentadas na educação
escolar; assim como propagar o desenvolvimento de Uberlândia nas páginas de sua revista, a sua
760
SOCIAIS, 23 jul. 1952, op. cit. / ANIVERSÁRIOS, 23 jul. 1957, op. cit. / SOCIAIS, 24 jul. 1955, op. cit.
761
PINHEIRO, 1983, op. cit.
284
memória não resistiu ao fim de suas atividades, e por quê? Talvez porque, como ressaltou Seixas,
haja uma gestão “racional e afetiva” tanto da memória quanto do esquecimento — perpassada por
“... manipulações e políticas, interesses e recalques, querer (ou dever) lembrar e querer (ou dever)
esquecer...”. — configurando as imagens que devem subsistir e aquelas que se esvairão.762
Dessa forma, como disse o cronista, Arantes foi professor e, embora não tenha
completado o raciocínio, podemos inferir o que desejava manifestar ao lembrar a profissão como
uma das possíveis causas do esquecimento do memorialista. Sabemos que enquanto atuava no
serviço público, Arantes gozou do prestígio que a escola conferia aos seus professores e
dirigentes, pois, conforme analisamos, vivia-se então o auge do “entusiasmo” pela educação.
Nesse contexto, a escola despontava como panacéia para sanar diversos problemas, que iam
desde a marginalidade na qual se encontrava mergulhada a população analfabeta, autora de
condutas repreensíveis, até os percalços do débil desenvolvimento econômico do país, fruto
também da carência de escolarização dos trabalhadores despreparados. No entanto, o que passou
a representar esta escola em meio à decadência da educação escolar pública, desencadeada a
partir do final da década de 1970 e 1980, se não desprestígio, desqualificação e obsolescência?
Em meio à desintegração daquele modelo de escola dissipava-se a memória daqueles que a
construíram e/ou a representaram.
Além disso, Arantes foi memorialista e, como tal, também não obteve a garantia da
perpetuação de sua memória por meio de seu trabalho, pois ser memorialista encerra uma dupla
interdição que, para nós, contribuiu para seu esquecimento, a saber, as características inerentes ao
seu trabalho e a matéria-prima que o engendrou. No que diz respeito ao primeiro aspecto, Arantes
abordava o passado segundo o prisma dos memorialistas e, como tal, os procedimentos
empregados em suas pesquisas eram decorrentes do cânone de uma história denominada, grosso
modo, positivista. Era uma história na qual predominava o relato dos acontecimentos que teriam
ocorrido, segundo Rancière, “... a sujeitos geralmente designados por nomes próprios”.763 Mas,
enquanto Arantes esteve em atividade, especialmente, até meados da década de 1970, essa
característica de seu trabalho não obnubilou sua imagem, pois aquela era a história possível e
aceita no meio ao qual ele pertencia. Contudo, com a efervescência do debate acerca da crítica à
762
SEIXAS, Jacy Alves de. Tênues fronteiras de memórias e esquecimentos: a imagem do brasileiro
jecamacunaímico. 2003, p. 129. (Digitado).
763
RANCIÈRE, Jacques. Os nomes da história: um ensaio de poética do saber. São Paulo: EDUC; Pontes, 1994, p. 9.
285
Mas o seu esquecimento também foi engendrado em função do que denominamos ser a
natureza da matéria-prima com a qual ele produzia o seu trabalho, qual seja, o passado. Afinal,
qual é o prestígio daquele que lida com a história, ou daquele que se ocupa do passado, em uma
sociedade que parece ter os olhos voltados apenas para o futuro? “Assim, pode ter sido pelo que
[ele] não esqueceu é que [ele] foi esquecido”.764 Ao lidar com os fatos passados, Arantes pode ter
agenciado o seu próprio esquecimento, uma vez que, ao situar as suas preocupações naquela
época a ser esquecida, tornou-se apenas um emblema daquele tempo que passou.765 Não é, pois,
estranho o fato de não ter obtido verbas da prefeitura para a edição do livro sobre a história local,
conforme lembrou um jornalista ao prestar-lhe homenagem póstuma:
A cidade ficou em falta com ele. Os poderes não lhe ofereceram condições de editar
um livro que teria grande valor histórico, e, que, certamente, serviria como arquivo
seguro à memória municipal. Já aos noventa anos, vi, diversas vezes, o professor
Jerônimo Arantes subir as escadas da Prefeitura. E ouvi a secretária dizer que o
prefeito não poderia atender’. (...). Já que não pode cuidar da educação, que a
764
KOFES, op. cit., p. 185.
765
KOFES, op. cit., p. 186.
286
secretaria cuide da cultura e gaste uma verba bem aplicada: mande imprimir o livro,
como a homenagem póstuma a Jerônimo Arantes. 766
Afinal, se o presente parecia promissor, apenas o futuro deveria ser a meta e, nesse
sentido, por que se preocupar com o passado? Por que saber de fatos que pareciam já sepultados?
É justamente sobre esse aspecto que aquele jornalista se ateve para cobrar do poder público a
edição do livro que Arantes escrevera e que estava à espera de um editor. Esse gesto seria uma
última homenagem que a cidade lhe deveria prestar: “Editar o livro do professor Jerônimo
Arantes. E, na primeira página, à guisa de prefácio, apenas uma frase: Adeus, professor
Jerônimo”.767 Esta cobrança fora feita em tom irônico, permeada pela crítica à negligência e ao
desinteresse do poder público em relação ao trabalho daqueles que lidam com a história:
766
LUIZ Fernando, op. cit.
767
LUIZ Fernando, op. cit.
768
LUIZ Fernando, op. cit.
287
é uma idéia importante...”.769 Por que, então, ocupar-se da história? Dar ouvido aos
memorialistas? E, principalmente, por que destinar verbas para a edição de um livro de história,
uma vez que esta se identificava, na ótica do poder público, apenas com o relato de fatos
acontecidos? Talvez seja porque:
Além do mais, por que atender ao pedido de um velho? Sim, embora não quisesse admitir,
Arantes já estava velho, pois morreu aos 90 anos. E o que podem oferecer os velhos ao “futuro
promissor”? O que eles têm a dizer aos ouvidos apressados dos homens que se ocupam com o
poder político sempre com os olhos voltados para o amanhã? E Arantes parecia ser sensível a
essa discriminação, tanto é que buscava a juventude a qualquer custo, fosse tentando disfarçar a
calvície, fosse ensinando os netos a chamarem-no de paizinho e não de avô, conforme já
relatamos. Mas, quando já não era mais possível esconder as marcas impressas pelo passar dos
anos, ele começou a lançar mão de um recurso por meio do qual parecia pretender registrar
apenas a sua juventude, pois tanto os seus artigos publicados na imprensa quanto os livros que
escreveu eram sempre ilustrados com uma mesma foto, com a particularidade de que esta datava
da época em que contava com, aproximadamente, 25 anos.771
Talvez ele já pressentisse o destino dos velhos em uma sociedade de “presente contínuo”,
que não valoriza o trabalho daqueles que lidam com os fatos no tempo e, igualmente, não perdoa
àqueles que insistem em permanecer no tempo, como a desejar prolongar o passado. Daí, a
marginalização dos velhos e, conseqüentemente, a depreciação de seu saber; como escreveu
Chauí: “... a sociedade capitalista impede a lembrança, usa o braço servil do velho e recusa seus
conselhos”.772 Nessa sociedade o velho já não tem mais espaço, pois nela, conforme assinalou
Benjamin, “As ações da experiência estão em baixa. (...) Ficamos pobres. Abandonamos uma
depois da outra todas as peças do patrimônio humano, tivemos que empenhá-las muitas vezes a
769
LE GOFF, 1982, op. cit., p. 13.
770
HOBSBAWM, op. cit., p. 13.
771
Figura 1, cap. I.
772
CHAUÍ, 1994, op. cit., p. 18.
288
um centésimo de seu valor para recebermos em troca a moeda miúda do ‘atual’”.773 Por isso,
não precisamos — ou não queremos —, mais dos ensinamentos dos velhos.
773
BENJAMIN, Walter. Experiência e pobreza. In: Magia e técnica, arte e política. Ensaios sobre literatura e
história da cultura. Obras escolhidas. São Paulo: Brasiliense, 1986, v. 1, p. 114,119.
774
Segundo Seixas, o esquecimento, tal qual a memória, não se processa em bloco, sendo, antes, intermitente,
desigual e, por isso, pode-se falar em muitas formas de esquecimento, “... ou melhor, de vários graus de
profundidade no esquecimento (assim como os há na memória) (...) é precisamente esta distinção que abre a
possibilidade de sua apreensão do ponto de vista histórico, ou melhor, da investigação histórica”. (SEIXAS, 2003,
op. cit., p. 133).
775
Seixas, reportando-se a Proust e Nietzsche, salienta a indissociabilidade existente entre memória e esquecimento.
Ainda que do ponto de vista historiográfico este apareça como a negação da memória, como uma de suas limitações,
de suas falhas, “O esquecimento, no entanto, forma par com a memória, isto desde os antigos gregos, apesar de que
uma história da memória certamente pontuaria vários momentos de conflito e, mesmo, de divórcio entre eles; mas a
indissociabilidade conceitual permanece”. (SEIXAS, Jacy A. Comemorar entre memória e esquecimento: reflexões
sobre a memória histórica. In: História: Questões e Debates, Curitiba: UFPR, n. 32, p. 78, jan./jun. 2000).
Todorov também ressalta o caráter inseparável que perpassa a relação existente entre memória e esquecimento. Para
o autor: “A memória é forçosamente uma seleção: certos detalhes do acontecimento serão conservados, outros,
afastados, logo de início ou aos poucos, e portanto esquecidos. Por isso é tão equivocado chamarem de 'memória' a
capacidade que têm os computadores de conservar a informação: falta a esta última operação um traço constitutivo
da memória, a saber, o esquecimento”. (TODOROV, Tzvetan. Memória do mal, tentação do bem: indagações sobre
o século XX. São Paulo: ARX, 2002, p. 149).
776
“É preciso reconhecer, portanto, na memória e no esquecimento, uma linguagem, uma narrativa feita
fundamentalmente de imagens, carregadas de afetos positivos ou negativos que enquadram (à sua maneira) a
possibilidade de reconhecimento e reconstrução (melhor seria dizer, atualização) do passado e, também, de projeção
em direção a um tempo futuro”. (SEIXAS, 2003, op. cit., p. 129).
289
Nesse sentido, temos que dizer ao poeta que sim, valeu a pena. Pois uma das
contribuições de Arantes para a produção da história consubstancia-se justamente no fato de ter
deixado uma “máquina gigantesca” a partir da qual outras histórias têm sido elaboradas além
daquela que ele mesmo idealizou. Dessa forma, pensamos que uma fatia da memória de Arantes
ainda permanece muito viva e, para entrar em contato com ela, basta-nos iniciar um “trabalho de
memória” por meio do qual podemos realizar interpretações para acontecimentos passados
relacionados à sua trajetória.
777
CERTEAU, op. cit., p. 82.
778
“Hoje em dia, dizem-nos com freqüência que a memória tem direitos imprescindíveis e que devemos constituir-
nos em militantes da memória. Mas convém dar-se conta de que, quando se ouvem esses apelos contra o
esquecimento ou a favor do dever de memória, na maioria das vezes não é para um trabalho de resgate da memória,
de estabelecimento e de interpretação dos fatos do passado que estamos sendo convidados (nada nem ninguém, em
países democráticos como os Estados do Oeste Europeu, impede qualquer um de realizar esse trabalho), mas antes
para a defesa de uma seleção de fatos dentre outros, aquela que garanta aos seus protagonistas a manterem-se no
papel de herói, de vítima ou de moralizador, por oposição a qualquer outra seleção que ameace atribuir-lhes outros
papéis menos gratificantes”. (TODOROV, op. cit., p. 206).
779
KOFES, op. cit., p. 181.
780
KOFES, op. cit., p. 188.
290
encontraremos as pistas que podem nos conduzir tanto aos bastidores de seu próprio trabalho
quanto nos sinalizar para caminhos novos por meio dos quais se torna possível ampliar o diálogo
com o passado e, assim, produzir uma outra história e, quem sabe, engendrar outras memórias.
291
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________. Santa Rita que vi. Itumbiara que vejo. O Triângulo, Uberlândia, não paginado, 21 out. 1972.
________. Sem título. Triângulo de Minas, Uberlândia, não paginado, 01 mar. 1935.
________. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 21, jun. 1956, não paginado, jun. 1956.
BRAGA, Antônio. Florão de Glórias. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 20, não paginado,
dez. 1955.
311
CÂMARA FILHO. Uma escola pelo amor de Deus. Jornal de Uberlândia, Uberlândia, não
paginado, 18 abr. 1937.
________. Dias distantes: aquela inesquecível serenata. [Jornal não identificado]. 23 nov. 1974.
________. A festa no povoado. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 3, não paginado, maio 1939.
DOMINGOS Antônio Calábria. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 22, não paginado, set.
1957.
DUTRA, Aimoré. Um rasgador de diplomas. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 11, p. 20, dez.
1941.
ESTA edição especial circula sob o patrocínio da ‘Sociedade Médica de Uberlândia.’ Uberlândia
Ilustrada, Uberlândia, n. 16, capa, jun. 1953.
FLEURY, Renato Séneca. A escola rural. A Escola Rural, Uberlândia, não paginado, 16 dez.
1936.
FREITAS, Fausto. Registro. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 17, p. 29, out. 1953.
GEREMIAS. Notas agrícolas: escolas rurais. Triângulo Mineiro, Uberabinha, não paginado, 27
jun. 1926.
NAÇÃO Brasileira do Rio de Janeiro. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 7 e 8, p. 32, ago. set.
1940.
PÁGINA Infantil. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 25, não paginado, set. 1959.
PÁGINA Infantil. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 27, não paginado, maio. 1961.
PATROCINA esta edição especial a Associação dos Cirurgiões Dentistas do Brasil Central.
Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 17, capa, out. 1953.
PATROCINA esta edição especial a Associação dos Cirurgiões Dentistas do Brasil Central.
Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 22, capa, set. 1957.
POLÍTICA, políticos e partidos. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 20, não paginado, dez.
1955.
PROFESSOR Carlos Fonseca. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 10, p. 32, jul. 1941.
UM PROGRESSO soberbo, fixa uma ótima administração. A Tribuna, Uberlândia, não paginado,
05 jul. 1942.
RELAÇÃO das escolas urbanas e rurais ... . A Escola Rural, Uberlândia, não paginado, 15 fev.
1934.
O REPÓRTER. Registro. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 21, não paginado, jun. 1956.
ROMEIRO, Orávia. O professor rural. A Escola Rural, Uberlândia, não paginado, 15 jul. 1934.
SILVEIRA, Luiz C. da. A função econômica do ensino. A Tribuna, Uberlândia, não paginado, 24
abr. 1939.
SOBRE esta revista. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 7 - 8, p. 32, ago./ set. 1940.
UBERLÂNDIA, cidade que cresce e progride. Uberlândia Ilustrada, Uberlândia, n. 21, não
paginado, jun. 1956.
A ÚLTIMA fase do censo local. A Tribuna, Uberlândia, não paginado, 08 mar. 1942.
Biblioteca
CAMIM, José. As águas do Rio das Velhas: aproveitadas como força motora. Uberlândia: Pavan,
1943.
________. Dois dedos de prosa com meus colegas cafeicultores; sobre a regeneração dos
cafezais eshauridos. Uberlândia: [s.e.], 1944.
317
GONZAGA, Olympio. Memória histórica de Paracatu. Uberaba: Jardim & Comp., 1910.
PEQUENO atlas histórico. Guia dos 4º. e 5ª. anistas no estado da História Universal. Rio de
Janeiro: Francisco Alves, 1991.
PESSOA FILHO, Salazar. Uberabinha versus Uberlândia; (duas histórias ainda não contadas aos
meus benévolos leitores ). Uberlândia: Manhãs, 1968.
TEIXEIRA, Edelweiss. Evolução histórica de Ituiutaba. In: Acaiaca. Ituiutaba. Belo Horizonte:
Imprensa Oficial, 1953.
TEIXEIRA, Tito. In: Acaiaca, Ituiutaba. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1953.
VASCONCELLOS, Diogo de. História antiga das Minas Gerais. Belo Horizonte: Imprensa
Oficial do Estado de Minas Gerais, 1904.
318
Livros
________. Cidade dos sonhos meus: memória histórica de Uberlândia. 2 ed. revista, ampliada e
ricamente ilustrada, Uberlândia, 1981c. (Datilografado).
________. Memória histórica de Uberlândia: Setor ferroviário. Alta Mogiana. Uberlândia: [s.n.],
[1970].
Demais Documentos
PAVAN, Angelino. Saudação oficial. Uberlândia: [s.n.], não paginado, 18 abr. 1970.
Depoimento
PINHEIRO, José L. Algumas notícias sobre o professor Jerônimo Arantes. Uberlândia, 17 jun.
2002. (Digitado).
Entrevistas
_____: depoimento [abr. 2001]. Entrevistador: Sandra Cristina F. de Lima. Uberlândia, 2001. 1
fita cassete (60 min), estéreo.
BARROS, Marluce: depoimento [fev. 2003]. Entrevistador: Sandra Cristina Fagundes de Lima.
Uberlândia, 2003. 1 fita cassete (20 min), estéreo.
CARVALHO, Edith de S.: depoimento. [jul. 2002]. Entrevistador: Sandra Cristina Fagundes de
Lima. Uberlândia, 2002. 1 fita cassete (30 min), estéreo.
DINIZ, Cícero: depoimento [set. 2001]. Entrevistador: Sandra Cristina F. de Lima. Uberlândia,
2001. 1 fita cassete (20 min), estéreo.
MASSARO, Mirian Colluci: depoimento [mar. 2003]. Entrevistador: Sandra Cristina Fagundes
de Lima. Uberlândia, 2003. 1 fita cassete (60 min), estéreo.
SANTOS, Alice G. de C.: depoimento [julho 2002]. Entrevistador: Sandra Cristina F. de Lima.
Uberlândia, 2002. 1 fita cassete (30 min), estéreo.
SILVA, Antônio P. da: depoimento [nov. 2001]. Entrevistador: Sandra Cristina Fagundes de
Lima. Uberlândia, 2001. 1 fita cassete (30 min), estéreo.
Informação verbal
Livro
ARANTES, J. Cidade dos sonhos meus. Memória histórica de Uberlândia. Ed. Ampl. E
ricamente ilust. Uberlândia: EDUFU, 2003.
323
ANEXOS
325
ANEXO I
Prefeitura Uberlândia
Zaire Rezende
Apresentação
Texto 1
Texto 2
Biografia
Texto 3
327
Índice
Apresentação – pg. 08
Biografia pg. 10
Biblioteca pg. 14
Fotografias pg. 31
Revistas pg. 64
Mapoteca pg. 72
Ex. Biblioteca
328
Revisão final
. Josefa Aparecida Alves
. Marluce de Barros
. Míriam Colucci Massaro
Digitadores Responsáveis
Carlos Henrique Máximo
Marcus Vinícius S. Fidelis
Apoio
Liliane Lima Maciel
Luiz Antônio Pereira de O. Júnior
Agradecimentos:
Delvar Arantes, Ciriam Gouveia, Fátima Maria Queiroz, estagiários da UFU, funcionários do Arpu e todos que
contribuíram para esta publicação, PRODAUB.
329
APRESENTAÇÃO
A aquisição do conjunto documental em l985, pertencente ao professor Jerônimo Arantes, se deu pôr
iniciativa da então Secretária de Cultura, Profª. Iolanda de Lima Freitas.
Jerônimo Arantes, ao longo de sua vida de educador e historiador, colecionou um número considerável de
documentos relacionados sobretudo a história da cidade de Uberlândia. Trata-se de uma coleção rica e variada
constituída por jornais e revistas que circularam na cidade a partir das primeiras décadas do século XX, além de
clichês, mapas, fotografias, obras literárias, dentre outros. Desde sua aquisição o Arquivo Público de Uberlândia vem
realizando o trabalho de preservação da coleção e a sua organização de acordo com a tipologia dos documentos,
sendo que, somente agora tornou-se possível a publicação do inventario.
A sua biblioteca é formada por 134 títulos e está organizada em ordem seqüencial numérica, e catalogadas
de acordo com os temas relacionados a Uberlândia, Triângulo Mineiro, Minas Gerais e Brasil.
Na hemeroteca, as revistas foram ordenadas de acordo com o título obedecendo uma única ordem numérica,
quanto aos jornais, respeitou-se a ordem cronológica. Com relação a serie iconográfica também estão em ordem
seqüencial e acondicionados em envelopes apropriados, tendo em vista as normas de conservação e preservação,
parte das fotografias encontram-se gravadas em clichês e impressas no papel couchê. Após as identificações que
foram feitas através das revistas Uberlândia Ilustrada e pelo filho do historiador Sr. Delvar Arantes, elaborou-se um
índice temático para viabilizar a pesquisa.
Além dos documentos citados faz parte da coleção alguns mapas da cidade, projetos de construção de
residências populares, caixa d’água, Hotel Colombo e outros relacionados à administração municipal como “casa
dos mortos”, “quadra para anjinhos”, “frente do cemitério”, dentre outros, todos organizados em ordem cronológica.
O acervo conta ainda com pastas de assuntos variados que estão guardadas respeitando a organização do
historiador, denominadas por ele de “Caderno sobre a História de Uberlândia”. Toda documentação foi xerocada e
posteriormente reorganizada em temas relacionados à historia e memória do município. Esses documentos inclusive
públicos ( originais e xerox), correspondências, recortes de jornais, revistas, convites e anotações do próprio punho,
foram inventariados analiticamente.
A coleção Jerônimo Arantes encontra-se disponibilizada para a pesquisa, e a constante procura vem
confirmar a riqueza e a importância desses registros.
Marluce de Barros
Valeria Maria Q. Cavalcanti Lopes
331
BIOGRAFIA
Professor Jerônimo Arantes
Quando o conheci, era ele já adulto – quase um quarentão – e eu ainda era um bebê, mas convivi bastante
participando de múltiplas tarefas domésticas. Minha mãe contava que um enorme “antraz” surgiu em suas coristas e
o Dr. Diógenes Magalhães teve de efetuar uma cirurgia para extirpá-lo e depois recomendou que se afastasse dos
problemas. Aí, toda a família se mudou para Araguari, onde vivemos uma curta temporada (4 ou 5 meses), numa
casa antiga com um vasto quintal cheio de mangueiras e outras árvores, numa rua bem próxima da estação da Estrada
de Ferro Goiás.
De volta ao nosso “Largo do Rosário”, tenho algumas curiosas lembranças: havia a igrejinha com o costado
para a Av. Floriano Peixoto e a frente voltada para o Sertãozinho – denominação que era dada para o setor com
acesso pelo corredor, atualmente rua Javari.
Criávamos galinhas da raça “legorhn” e quando as soltávamos a tarde, o bando alvejava tudo por ali, à
procura de ramos e insetos. Era uma festa de cerca de 30 minutos até a operação “retorno” para o galinheiro.
Outro hábito dele que me chamava a atenção, era a dedicação que tinha com as mães preocupadas com seus
filhinhos acometidos de bronquite, febres, tosses e outros “incômodos” as quais o procuravam, pois pacientemente
eram preparadas “doses” com seus vidrinhos de homeopatia que ele encomendava pelo correio do laboratório
Almeida Cardoso, do Rio de Janeiro, sendo o tratamento gratuito e acompanhado por várias semanas.
Era eu também o acompanhante quando ele partia em excursão pelos campos da Fazenda Campos Alegre,
orientando grupos de alunos mais adiantados para recolherem folhas e insetos (borboletas, louva-a-deus, grilos e
lagarto), para estudos de História Natural.
Nascido na cidade vizinha de Monte Alegre de Minas, em 23 de julho de 1892, sendo seus pais Antônio
Cândido de Siqueira e Virgilina Martins Arantes.
Seus estudos fundamentais foram feitos lá mesmo, no colégio dirigido pelo Prof. José Felix Bandeira, tendo
se tornado seu amigo e também conselheiro na difícil etapa de adolescência, tanto que no ano de 1907, o dito colégio
transferiu-se para Uberabinha, antiga denominação de nossa cidade, e ele se manteve como professor adjunto.
Em seguida, ocupou com discernimento, o cargo de Promotor Público na recém criada Comarca de Santa
Rita do Paranaíba, atualmente importante e estratégica cidade do sul do Estado de Goiás, hoje denominada
Itumbiara, onde conheceu a futura esposa, D. Juvelina Ferreira, com quem contraiu núpcias, em 20 de agosto de
1918, cerimônia celebrada na Capela Santa Rita de Cássia de Uberaba.
No ano seguinte, mudou-se para Uberabinha novamente e, em parceria com o Prof. João Basílio de
Carvalho, criou o Externato Carvalho na parte baixa da Rua Bernardo Guimarães, que teve curta duração. Imbuído
do ideal de ensinar, decidiu fundar o Colégio Amor às Letras, que alcançou grande prestígio com turnos diurno e
noturno, alfabetizando grande número de alunos, alguns deles tornando elementos de expressão na sociedade local,
não raro atingiram graduação de nível superior ou vieram a ocupar posições de vanguarda no campo empresarial na
cidade e região.
O sucesso obtido no seu conceituado colégio lhe valeu um honroso convite para abrir vagas no período
noturno, de preferência para estudantes mais “maduros”. Isto foi feito atendendo solicitação da Prefeitura, na gestão
do Prefeito Eduardo Marquez, a partir do ano de 1925.
Posteriormente o seu conhecido estabelecimento de ensino foi arrendado à profª. Julieta Resende no início
letivo de 1933, dando origem ao Externato N. Sr. Aparecida, o qual permaneceu no local onde também residia com
sua família, à Praça Rui Barbosa, 136, com classes regidas pelas professoras Lourdes de Carvalho, Cornélia Avelino,
Nísia Guerreiro, Antônia Vasconcelos, Cora Ferreira, em mão das quais centenas de alunos conseguiram diplomação
no 1º grau, com possibilidade de seguirem em frente.
Nesta ocasião o prof. Jerônimo Arantes foi nomeado pelo Prefeito Lúcio Libânio para a Inspetoria do
Ensino Municipal, depois transformada em Secretaria de Educação e Saúde, cargo que ocupou por lustros anos,
servindo a nada menos que 15 prefeitos, entre “eleitos” e nomeados, tal a dedicação e o empenho desafiante com que
ele encarou a complicada e espinhosa missão de proporcionar boas condições e oportunidades para os menos
favorecidos. Nesta trajetória estóica ele, pôde contar com a colaboração de dedicados professores urbanos e nos
distritos, em dezenas de escolas localizadas nos redutos mais populosos espalhados por toda a zona rural do
Município.
Devido ao seu jeito muito especial de lidar com as poesias e superar problemas visando sempre obter o
melhor no desempenho do seu ideal, usava de diplomacia e flexibilidade, por isso muitas figuras e entidades
importantes jamais lhe negavam o apoio necessário.
Em 31 de agosto de 1938, quando a cidade se engalanou para as festividades comemorativas do
cinqüentenário de fundação, o seu esforço foi titânico para conseguir trazer da roça a garotada uniformizada, para
332
desfilar em conjunto com os aluno locais, arrancando os aplausos e admiração dos populares aglomerados nas
principais avenidas e praças, os quais ainda desconheciam a excelência do seu árduo trabalho em prol do ensino
público.
Tal acontecimento serviu para alavancar o seu desejo de prosseguir nesta luminosa batalha para dar
oportunidades para os talentos escondidos nos principais aglomerados humanos disseminados pelo interior do
Município, abrindo as “chances” de sucesso para milhares de jovens ávidos de se elevarem na vida.
Ao final, após 40 anos de magistério, passou o bastão para seu particular amigo, Angelino Pavan,
encorajando-o a enfrentar a espinhosa luta, quando o vereador Homero Santos liderou junto a seus pares na Câmara
Municipal, uma moção de aplausos pela sua obra num ofício firmado pelo seu Presidente André Fonseca Ferreira,
em 5 de março de 1959, comunicando sua aposentadoria. Embora não admitisse, já contava com quase 67 anos de
idade.
Nesta oportunidade o dedicado educador divulgou os frutos do seu trabalho, mostrando em cifras o volume
de alunos matriculados e em freqüência na cidade e na zona rural em mais de 60 escolas isoladas e em grupos.
Mesmo depois de aposentado, continuou atendendo em seu gabinete particular, professores e estudantes que o
entrevistavam à procura de subsídios e para pesquisar sobre assuntos pedagógicos, recebendo por parte dele
preciosas informações.
HISTORIADOR
Reconhecido como grande historiador de Uberlândia, agindo e providenciando como membro do Diretório
do Instituto Brasileiro de Geografia, cuidou de erigir um marco na fazenda São Francisco, na época pertencente à
Vitalino Rezende do Carmo, marco este que homenageava estabelecimento, em 1821, da Sesmaria de João Pereira da
Rocha, início do povoamento dos primórdios colonizadores da nossa região.
Foi o historiador Jerônimo Arantes e autor intelectual da construção de um “obelisco” erigido no setor
central da Praça Cel. Carneiro, contendo o busto de Felisberto Alves Carrejo, o mestre-escola fundador do Arraial de
Uberabinha.
Nos anos quarenta, durante o Estado Novo, ele foi designado para responder pela Agência Municipal de
Estatística, se tornando membro do I.B.G.E., em razão disso, escreveu a monografia do Município, na qual foram
divulgados índices e fatos importantes que expressaram com destaque o crescente progresso da comuna, contando
com auxílio de Orlando Ferraciolli e Othon Gaudic Fleury.
Como jornalista, fundou e dirigiu com descortínio a Revista Triângulo de Minas, a qual, após o 2º número,
passou à denominação de “Uberlândia Ilustrada”, um repositório em capítulos da história completa de Uberlândia e
sua gente, sendo que em cada edição se homenageava, uma determinada classe, ou uma colônia de imigrantes
(italianos – ibéricos – sírio-libaneses – africanos), motoristas, médicos, educadores, e assim por diante.
A coleção completa dessa obra se encontra no arquivo da Secretaria Municipal de Cultura, aberta aos
leitores interessados. Efemérides e Leis Memoráveis (1810/1942) foi outra publicação de sua autoria muito disputada
pelos leitores em geral.
O escritor Jerônimo Arantes – usou durante sua vida, o pseudônimo de Dalbas Júnior, e publicou, livros e
folhetos, destacando-se:9 O Livro da Delícia – Didático9 Versos da Minha Gente – (Sertaneja)9 Saudades do
Sertão9 Versos Bravios9 Cenário Campesino, etc.
Amigos, seus contemporâneos, que mais tarde foram também meus amigos, revelaram que o jovem
Jerônimo Arantes era exímio violeiro. Cantava em contínuas serenatas, dançador de catiras e cateretês e chegou a
reunir um grupo folclorista denominado – Grupo de Lenço Preto e quando a indústria da gravação iniciou atividades
no Brasil, tal conjunto encarou uma arrojada viagem ao Rio de Janeiro – antiga capital federal, gravando um
conjunto com vários selos o qual conseguiu muito sucesso com os recortados, modas de viola, desafios, etc., em
“linguagem e música bem caipira”(1928), trajando vestimentas e acessórios à caráter.
O professor Jerônimo Arantes, foi pai de 5 filhos, a saber: Delicia Arantes, Delcio Arantes, Delvar
Arantes, Délvia Arantes e Délio Arantes
Todos os seus descendentes nasceram na cidade cujos partos eram feitos em sua própria residência, como
era de costume. Com seus cinco filhos foi criado por ele um seu enteado, Dimas Ferreira, sargento reformado do
Exército Brasileiro, quando na ativa serviu no Rio de Janeiro e no Quartel do II Exército, em São Paulo, pai de dois
filhos.
Nos últimos anos de sua atribulada e proveitosa vida, o prof. Jerônimo Arantes foi membro da Igreja
Presbiteriana, freqüentando seus cultos com absoluta regularidade. Neste templo comemorou com a família reunida
as bôdas de diamante, no ano de 1978.
Em maio de 1983, sofreu um mal súbito, foi internado na Mediclínica, onde foi atendido e ia reagindo bem,
mas, repentinamente sofreu parada cardíaca fatal. Seu velório ocorreu no salão nobre do Palácio dos Leões, quando
333
recebeu as últimas homenagens dos ex-colegas, dos familiares, dos amigos e do povo em geral. Em 20/05/83, foi
sepultado no jazigo da família, no Campo do Bom Pastor, numa cerimônia muito comovida.
334
001 Comarca de Uberlândia. Estado de Minas Gerais. Ação Declaratória; Autor: O Município de
Uberlândia. Ré Cia. Força e Luz de Uberlândia; Contestação Opposta pela ré. São Paulo,
EGRT, 1936 83 p.
002 Comarca de Uberlândia. Estado de Minas Gerais. Ação Declaratória; Autor: O Município de
Uberlândia; Ré: Cia. Fora e Luz de Uberlândia, Razões finais da ré. São Paulo, EGRT, 1936
58 p.
003 Comarca de Uberlândia. Estado de Minas Gerais. Ação Declaratória; com rito ordinário;
Autora: Prefeitura de Uberlândia, Ré: Cia. Força e Luz de Uberlândia. Belo Horizonte,
Oliveira, Costa e Cia, 1936 32p.
004 Almanach de Uberabinha. Uberabinha, Kosmo, 1912, ano II, 184p. (2 exemplares)
005 Almanach Uberabinhense . Uberabinha, Kosmo, 1911, anno I, 231p. (2 exemplares)
006 Comarca de Uberlândia. Apelação: Apelante- Artilio Alcides Betto; apelada- A justiça.
Alegações e razões. Uberlândia, Oeste, 1944 23p.
007 Arantes, Jerônimo. Álbum da Câmara municipal; O legislativo decreta a Instituição da
Ordem Municipal do Mérito. s. n. t. 15 p, 1980 (dois exemplares)
008 _____________. Anuário de Uberlândia. Indicações e Estatísticas. Uberlândia. Almeida.
1936. 91 p.
009 _____________. Como fizeram Uberlândia. s. l. , s. e. , 1972, 20 p (três exemplares)
010 _____________. Cromos. Musa vadia de dalbas júnior Uberlândia, s. e. , Dezembro/ 1981,
22 p.
011 _____________. Efemérides e Leis Memoráveis da Historia de Uberlândia; Pavan, 1° edição,
1942, 18 p. (dois exemplares)
029 Entrega da Carta Constitutiva Lions Clube de Uberlândia “Felisberto Carrejo” s.l., s.e. , 1966,
10 p
030 Estatutos da Associação dos Chauffeurs Mechanicos e Classes Connexas de Uberlândia.
Uberlândia, Pavan , 1938 , 34 p
031 Estatutos da Sociedade Humanitária. Uberlândia, Pavan s.d. , 6 p
032 São Pedro de Uberabinha. Câmara Municipal. Estatutos e Leis. Uberaba, Séc. XX, 1903, 137
p
Uberabinha. Câmara Municipal . Leis de n° 32 a 220 – 1903 à 1919. Uberabinha, Typ.
Popular, 12919, 203 p
____________. Câmara Municipal. Leis de b° 221 a 267 1919 à 1922: Uberabinha, Kosmos,
1926 . 197 p
033 Estatutos do Grêmio Literário e Recreativo de Uberabinha. Uberabinha, Typ Popular, 1920 ,
91 p
034 São Pedro do Uberabinha. Câmara. Estatutos e Leis da Câmara Municipal de S. Pedro de
Uberabinha. Uberaba, Século XX, 1903, 135 p (original e xerox )
035 Exposição. Feira Industrial, Agro-Pecuária e Comercial; Regulamento das Secções:
Industrial, agrícola e commercial; Abril/Maio – 1936, Uberlândia, Pavan, 1936, 8 p
036 Freitas, Domingos(org) Fábrica de Móveis Espirito Santo; A maior organização do Ramo no
Triângulo Mineiro; Secagem natural de madeiras, Uberlândia, Pavan, s.d. , 16 p
037 Freitas, Domingos (Org) Móveis Freitas (Além de listas de preços contém estatísticas do
município de Uberlândia, Uberaba e Araguary em 1936/38 ) s.n.t. , 33 p
038 Giffoni, Vasco. Uberlândia na palavra de seu Prefeito Municipal ; Uberlândia, Pavan, 1941,
19p
039 Indicador; de Uberlândia, Araguary, Uberaba, s.n.t. , 16 p
040 Indicador; Guia de Uberlândia:1941 – 1942. Uberlândia, Correio, s.d. ,66 p
041 Brasil Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Uberlândia MG. 51, 1910 n° 487 , 24 p (
2 exemplares)
042 Júnior, Dalbas. Devaneios; Um livro que fala de amor
( Datilografado), 1971,51
043 Lembrança do Carnaval de 1937. Uberlândia, “Estado de Goyas”, 1937, 34 p
044 Empresa Telefônica “Teixerinha”. Lista Provisória dos Assinantes de telefones automáticos
da cidade Uberlândia. Uberlândia, Pavan, s.d. , 9p
045 Livro dos telefones automáticos de Uberlândia; Março/1942 , s.n.t. , 122 p
046 Uberlândia. Prefeitura municipal. Monografia de Uberlândia. Rio de Janeiro , Universal
Publicidade, 1957, 54 p (dois exemplares)
047 Pezzutti, Pedro. Município de Uberabinha. Historia , Administração, Finanças, Economia.
Uberabinha, Kosmos, 1922, 82 p (original e xerox)
048 Nascimento, Dorivaldo Alves. Uberlândia- hoje, s.n.t. 17 p
049 Uberlândia, no cincoentenário;1888 – 1938. Uberlândia, Pavan, dezembro/1938, 18p
050 Uberlândia. Prefeitura Municipal. Lei n° 428, Orça a receita e fixa a despesa para o exercício
de 1954, s.l., manhãs, s.d.,
24 p
051 Uberlândia. Prefeitura Municipal. Lei n°2478; Orçamento para 1976. Uberlândia, Ubergral,
s.d. , 56 p
052 Paes, Agenor. Versos ( Datilografado). S.d. , 13 p
053 Pessoa Filho, Salazar. Uberabinha versus Uberlândia; (duas histórias ainda não contadas aos
meus benévolos leitores ) . Uberlândia, Manhãs, setembro/1968 , 12 p
054 Uberlândia Clube. I Festival de Música Carnavalesca: 24 a 26 de janeiro/1972. Uberlândia,
Zardo, 1972, 34 p.
055 Corte de Apelação de Minas Gerais. Apelação nº 9172 da Comarca de Uberlândia. Apelantes
e apelados: Prefeitura Municipal de Uberlândia Cia Força e Luz de Uberlândia e Cia de
Força e Luz de Uberlândia; Belo Horizonte, Oliveira Costa e Cia, 1937, 29 p.
336
TRIANGULO MINEIRO
MINAS GERAIS
087 MINAS GERAES. Código do processo civil mineiro (Lei nº 830 de 07 de setembro de 1922)
Araguary, Aurora, V.I . 1923, 13p.
088 MINAS GERAES. Assembléia Legislativa. Índice da Colleção de Leis; 1861. Ouro Preto,
Provincial, 1860, 113p.
089 GUIMARAES, Honório. Outubro, antes e depois; contém depoimentos para a História da
Revolução. Belo Horizonte, Papelaria e Tip. S. Leonardo, 1933, 119p.
090 MINAS GERAIS. Organização Municipal. Lei nº 6 de 8/10/1947 e nº 28 de 22/11/1947.
Belo Horizonte, Gráfica Belo Horizonte Ltda, 1947, 43p.
091 VASCONCELOS, Diogo de. História Antiga das Minas Gerais. Bello Horizonte, Imprensa
Official do Estado de Minas Gerais, 1904, 419p.
092 CAPRI, Roberto. O Brasil e seus Estados; Minas Gerais e seus municípios. São Paulo,
Capri, Andrade e C., 1916, 18-566p.
093 MINAS GERAES. Sec. De Educação. Código de Ensino Primário. Belo Horizonte,
Imprensa Oficial, 1950, 114p.
094 MINAS GERAES. Assembléia Legislativa. Colleção de Leis de 1862. Ouro preto,
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095 MINAS GERAES. Assembléia Legislativa. Colleção das Leis de 1864. Ouro Preto, Typ. De
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097 MINAS GERAES. Assembléia Legislativa. Colleção de Leis de 1868. Ouro Preto, J.F. de
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098 MINAS GERAES. Assembléia Legislativa. Colleção de Leis de 1870. Ouro Preto,J.F. de
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099 MINAS GERAES.. Colleção de Leis e Decretos; 1894. Ouro Preto, Imprensa Official,
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100 Minas Gerais, Constituição. Ouro Preto, Ordem, 1890, 32p.
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101 PEQUENO ATLAS HISTÓRICO; guia dos 4º 5º annistas no Estudo da História Universal.
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102 BRASIL. IBGE. Quadro dos Municípios Brasileiros vigorante no cinqüentenário de 1 de
janeiro de 1939 a 31 de dezembro de 1943; (&1º do art. 16 do decre. Lei nº 311 de 2 de
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103 ROCHA , Geraldo. Na Hora da Borrasca não se muda o Timoneiro! Rio de Janeiro, s.e.
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105 VARELA, Alfredo. Revoluções Ciplastinas: A República Rio Grandense. Porto, de Lello e
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106 ALENCAR, José de. Sonhos d’ouro. Coleção Saraiva. São Paulo. Saraiva, 1960, 182p.
107 ALMANAQUE. Correio do Povo, 1970. Porto Alegre. Guaíba, 1970, 336p.
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109 ANUÁRIO DOS DIÁRIOS ASSOCIADOS, Rio de Janeiro, o Cruzeiro, 1931, 340 p.
110 BRASIL, Dep. Nacional de Propaganda. A Nação ( proclamação ao povo Brasileiro) Rio de
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111 Lima, A. G. Atlas Escolar-Brasil; Porto Alegre, Barcelos, Bertaso & Cia, 1932, 37 p.
112 AMARAL, Azevedo. Renovação Nacional. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional, 1936, 77p.
113 BARBOSA, Orlando(org.). Álbum de Goyáz, São Paulo, Irmãos Vitale, s.d., 278 p.
114 FERREIRA, Barros, Meio Século de São Paulo. São Paulo. Ed. Melhoramentos, 1954,
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115 BELLO, José Maria. A Questão Social e a Solução Brasileira. Rio de Janeiro, Imprensa
Nacional, 1936, 49p.
116 CAMPOS, Francisco. O Espirito do Estado Novo; Interpretação da Constituição de 10 de
novembro de 1937, Rio de Janeiro, Emp. Graphica Mandarino & Molinari Limitada, s.d.
32p.
117 CORREA, Francisco Alves. ICAB X ICAR; Em quais pontos doutrinários e por quais
razões a Igreja Católica Apostólica Brasileira diverge da Igreja católica Romana. S.I., s.e.,
1948, 64 p.
118 CRUZ, Costa. Como é o amor em Goyaz. S.I., Typ. Tribuna, 1930, 13p.
119 FERNANDES, Orvenor. Cultura do Trigo; No Triângulo Mineiro e sudoeste goiano.
Uberlândia. Ind. Gráfica Brasil Central, 1959, 13p.
120 BRASIL, Departamento Nac. de Propaganda. Defendamos o Futuro. A participação de
elementos estrangeiros no levante comunista de novembro de 1935. Rio de Janeiro, Imprensa
Nacional, 1936, 17 p.
121 BRASIL, Departamento Nac. de Propaganda. Dever do Estado e Defesa do Regime
(Conclusão da Mensagem Apresentada e Defesa do Regime; (conclusão da Mensagem
Apresentada ao Congresso Nacional por S. Ex. o Sr. Dr. Getúlio Vargas, Presidente). Rio
de Janeiro, Imprensa Nacional, 1936, 42p.
122 DINIZ, Júlio. Os Fidalgos da Casa Mourisca; (Crônica da Aldeia). São Paulo, Saraiva, nº
183, 2º vol., Ago. 1963, 181p.
123 DUMAS, Alexandre, Emma Lyonna. São Paulo, Saraiva, nº 248, 5º vol. Janeiro, 1969,
p-665-832.
124 FERBER, Edna. Teatro Flutante. São Paulo, Saraiva, nº 171, 2º vol., julho 1962, 171p.
125 FERREZ, Gilberto. A Praça 15 de novembro Antigo largo do Carmo. Rio de Janeiro. Gráf.
Olímpica Editora Ltda., 1978, 68p.
126 FORNARI, Ernani. O que os brasileiros devem saber. Rio de Janeiro, Imprensa Nacional,
1936, 43p.
127 FREITAS, Osvaldo de. Do Direito à Renovação da Locação. S.1., s.e., 1960, 123p.
128 IHERING, Rodolfo Von. Atlas da Fauna do Brasil. São Paulo, Hartmann-Reichembach,
1971, 43p.
129 MEMORIAL, Juscelino Kubischek de Oliveira(recortes organizados pelo prof. Jerônimo
Arantes)
130 MIRANDA, Sylvio Pellico de. Goiânia a cidade sonho, Homenagem à Pedro Ludovico, o
criador da Goiânia; Uberlândia, Tip. Pavan, 1942, 9p.
131 BRASIL, Departamento Nac. de Propaganda. Missão de Jornalismo, Homenagem ao Exmo.
Sr. Dr. Getúlio Vargas, presidente da República, na Asso. Brasileira de Imprensa. Rio de
Janeiro, Imprensa Nacional, 1936, 33p.
132 OLIVEIRA, José Sabino de. O Rodoviarismo em Goiás; As Aventuras do Ford Bigode no
cerrado. Goiânia, ed. Barão de Itararé, 1975, 132p.
133 BRASIL, Departamento Nac. de Propaganda. Palavras aos Brasileiros; (discurso
pronunciado por sua exa. O Sr Dr. Getúlio Vargas em 1 de janeiro de 1936), Rio de Janeiro,
339
2- Iconografia
2.1. Clichês
em Uberlândia.
253 01 07 Manoel Rodrigues Serralha, Antônio Póvoa, Antônio
Domingues.
254 01 João Alves Garcia, João Agostinho, Manoel de
Oliveira
255 01 José Monteiro da Silva
256 01 Bernardo Cupertino
257 01 Orlanda Nascimento, princesa do concurso “Rainha do
comércio e da indústria de l954
258 01 Carlos Vilela Marquez, presidente do Aero Clube de
Uberlândia em l947
259 01 Nena Vasconcelos, poetisa montealegrense
260 01 Odilon Ferreira , professor, escritor, jornalista e
fundador dos jornais Esperança e Triângulo Mineiro
261 01 03 Equipe de futebol C.A. Juventus de Uberlândia,l947
262 01 Paulo Henrique Carrara Arantes aos 09 anos
263 01 Eleuza Lozi,professora
264 01 José Quércia, mecânico
265 01 Residência do Sr.Vitório Siquierolli, chácara metálico
Uberlândia
266 01 Ernesto Finotti
267 01 José Codô, diretor da seção Federal do Ministério da
Agricultura
268 01 03 Italo Guaratto, esposa e os filhos Rubens e Odilon
269 01 Célia Ramos
270 01 Isa Helou (professora) e o filho Ricardo Helou Doca
271 01 Antônio Maximiano Ferreira Pinto, farmacêutico
272 01 Divina de Oliveira Borges, “Miss conservatório
Musical de Uberlândia,” l959
273 01 Lourdes Carvalho, diretora do Grupo escolar Bueno
Brandão
274 01 Gelva Bernardes, filha de Ivo de Oliveira e Arleth
Bernardes
275 01 Frigorífico Caiapó.l954
276 01 Oficina de Móveis Testa S/A
277 01 Joaquim Roberto, professor estadual de l892 a l895
278 01 José Felix Bandeira, professor
279 01 Alunas da Escola Estadual de professora Alvina e
Souza
280 01 Maria Etelvina da Conceição Cardoso, professora
281 01 Judi Moreira Torres,diretora do Grupo escola Júlio
Bueno Brandão
282 01 03 Corpo docente do grupo Escolar Júlio Bueno Brandão
283 01 Raquel Andrade Fonseca, filha de Geraldo Fonseca e
Maria Andrade
284 01 Maria Cristina Cury,filha de Calil Abrão Cury e Izaura
B.Abrão
285 01 Paço Municipal de Indianópolis Dina Domingues da
contadoria, Agencia de Estatística e Augusto Reis,
secretário-tesoureiro da Prefeitura.
286 01 Pintura retratando Felisberto Alves Carrejo, autor:
Albertino Morais.
287 01 Margarida de Oliveira, professora, esposa do
Professor Honorio Guimarães.
347
Marilene, sentados.
317 01 03 Ângelo Testa e Roncarette Testa.
318 01 03 Giácomo Segatto e Rosa Favoretto
319 01 06 Silvio Rugani e Margarida Mantovani e filhos, 1935.
320 01 03 Atílio Valentini; casal Valentini filhos, genros e netos
em 1956.
321 01 03 Primo Crosara e Elvira Marega.
322 01 03 Clube Esparta Brasileira, competição de luta romana,
1923.
323 01 03 Uberlândia Esporte clube, 1923
324 01 03 Escola Distrital, 1890. R. Vigário Dantas, Colégio
Mineiro, 1909, R. Guarani, Colégio São José. Av.
Afonso Pena com Santos Dumont
325 01 03 Colégio Nossa Senhora, Praça Coronel Carneiro, 11.
326 01 03 Casa Póvoa -
327 01 03 João Severiano Rodrigues da Cunha. Presidente e
Agente Executivo da Uberabinha, 1912 a 1922
328 01 03 José Camin
329 01 02 Antigo edifício da R. Vigário Dantas onde foram
instalados a Intendência em 14 de Março de 1891,
Comarca em 25 de Janeiro de 1892 e a Câmara
municipal em 7 de Março de 1892
330 01 02 Praça da Independência, 1907, hoje Praça Cel.
Carneiro, Uberlândia ilustrada nº 04
331 01 02 Frente do prédio onde funcionou a Livraria e
Tipografia Kosmos. Rua Marechal Deodoro
332 01 03 Casa Comercial da Firma Teixeira Costa E Cia de
Uberlândia. Fundada em 1884, Praça Dr. Duarte nº 07
à 21, Praça Antônio Carlos, 239
333 Escola Pública Estadual de Uberabinha, 1905
334 01 03 Nascimento e Souza
335 01 03 Gelva Bernardes, Regina Márcia, Maria Cristina,
Luzia Crosara, Eliana, Véscia, Maria Regina, Irene,
Ângela, Raquel, Levinda Naves da esquerda para a
direita.
336 01 03 Ester de Abreu no coreto da Praça da República, 1954
337 01 03 Antônio Crescêncio de Mendonça
338 01 Antônio Bernardes da Costa, corretor de Empresa
Imobiliária Tubal Vilela
339 01 Ester de Abreu, cantora portuguesa
340 01 Capela do Arraial de N. Sr. do Carmo, que originou
Uberlândia
341 01 Casa onde se instalou a Tipografia da Gazeta de
Uberabinha, em 1898; R. Barão de Camargos, esq.
com Largo do Rosário.
342 01 Associação Comercial, Industrial e Agro-pecuária de
Uberlândia
343 01 João Severiano Rodrigues da Cunha (Joanico)
344 01 Egídio Parisi, Pe. Dirigente da Congregação da
Paróquia de Fátima de Uberlândia, 1957.
345 01 Praça da República-1912, 1ª exibição do time Rio
Branco e o Operário de Araguari com resultado de 5 a
0; escritório do Dr. Duarte, Juiz de Direito da
Comarca de Uberlândia ( neste local foi construído o
fórum); local onde se edificou a Igreja Matriz de Sta.
349
2.2. Fotografias
nº de data Identificação
ordem
001 Vista parcial de Indianópolis
002 Comício do Partido Republicano na Praça da República (Hoje Tubal Vilela)
003 Trecho da Av. Vasconcelos Costa
004 Prédio da Tipografia e livraria Pavan
005 Construção do Reservatório de águas de Uberlândia
006 Vista Parcial do Bairro de Fátima
007 Fábrica de balas “A Princesinha” de Antônio Serralha e Filhos
008 Edifício Avenida-Firma Irmãos Garcia
009 Desfile do Tiro de Guerra em Uberlândia
010 Cine Teatro Uberlândia
011 Armazéns Rezende e Cia. Av. Afonso Pena
012 Prédio da antiga Câmara Municipal de Uberlândia
013 Vista Aérea do Praia Clube
014 1946 Vista Parcial da Cidade
015 1852 Trecho da Rua Tupinambás antiga Rua Sertãozinho
016 Praça Rui Barbosa
017 Vista Parcial da Cidade. Bairro operário
018 Trecho da Av. Afonso pena
019 `Praça da República, Hoje Tubal Vilela
020 Edifício Avenida. Firma Irmãos Garcia (em construção)
021 Móveis Ipiranga
022 Charqueada Triângulo de Uberlândia. (Curral de Espera)
023 Grupo de pessoas em frente ao estacionamento comercial e residência de Vigilato Bonifasto
Medeiros. Rocinha.
024 Trecho da Av. Vasconcelos Costa
025 Posto das Indústrias Oliveira
026 Posto Brasil central de Margonari Lopes e Cia
027 Praça da República, Hoje Tubal Vilela
028 Ginásio Mineiro de Uberabinha. Atual Escola Estadual de 1º e 2º graus de Uberlândia
350
707 1923 Competição Esportiva da Eparta Brasileira. Levantamento de peso pelo espartano Araimitan
Paes Leme
708 1923 Competição esportiva da Esparta Brasileira. Demonstração de Levantamento de peso pelo
espartano Fernando Monteiro Paes Leme
709 1923 Competição esportiva da Esparta Brasileira
710 Competição esportiva da Esparta Brasileira
711 1891 Professores de Uberabinha
712 Chácara do S. José Cota Pacheco. Rua Caetés, hoje Dom Barreto
713 Primeira habitação do bairro Martins
714 Grande Hotel Central
715 1970 Alunos da Escola Normal de Uberlândia
716 1968 Cadeia Pública de Uberlândia. Rua Tiradentes
717 Chácara do padre João Dantas. Rua Silva Jardim esquina com 15 de Novembro
718 1925 Colégio São José. Rua Felisberto Alves Carrejo esquina com Rua Bernardo Giomarães
719 Hotel do Comércio, Rua Vigário Dantas
720 1932 Estacionamento de automóveis. Praça da República, hoje Tubal Vilela
721 1930 Praça da República, Hoje Tubal Vilela
722 1891 Escola Pública Municipal de Uberabinha
723 Residência de José Lelis França. Rua São Pedro
724 Grande Hotel Central. Praça Dom Pedro II, hoje Praça Adolfo Fonseca
725 1925 Acampamento Militar na Estação da Mogiana
726 Residência do Coronel Arlindo Teixeira. Praça Dr. Duarte
727 Estação da Mogiana
728 Desfile Escolar. Av. Afonso Pena
729 Desfile Escolar. Av. Afonso Pena
730 Missa Campal, Praça dos Bambús, hoje Tubal Vilela
731 Catedral de Santa Terezinha
732 Catedral de Santa Terezinha
733 Catedral de Santa Terezinha
734 Catedral de Santa Terezinha, em construção
735 Igreja da Matriz (1861-1943)
736 Capela primitiva (1846-1853)
737 Uberlândia Clube. R. Santos |Dumont
738 Alunos e professores da Escola Municipal Rural da Tenda
739 Alunos e professores da Escola Municipal Rural de Marimbondo
740 Alunos e professores da Escola Municipal Rural de Morenos e Pindaíbas
741 Residência de Felisberto Alves Carrejo (Escola Tenda)
742 José Rodrigues Peixoto do Nascimento, Ex-aluno de Felisberto Alves Carrejo
743 Manoel Gomes Martins, Ex-aluno de Felisberto Alves Carrijo
744 Noema Rosa Vaz
745 1955 Walkiria de Souza, rainha no concurso primavera em 1955
746 Walkiria de Souza
747 1954 Professora Walderez Mamede
748 Maria Cândida
749 Professora Eleuza Lozzi
750 Aparecida Álvares e Helena Álvares
751 Carlos Henrique, filho de Afonso Savastano e Maria de Lurdes O. Savastano
752 Maria Graciete, filha de Orozimbo Gomes e Otávia Artiaga
753 Luiz Antônio Rocha e Silva, filho de Luiz Rocha e Silva e Lygia Rezende e Rocha
754 Fábio Pereira de Andrade
755 Espetáculo Infantil pelas alunas do Externato Nossa Senhora Aparecida
756 Zulmira Batista Castro
757 Márcio, filho de José de Oliveira Pinto
365
758 Maria Helena Pepe, filha de José Pepe e Maria de Freitas Pepe
759 Carlos Alberto, filho de caio Frutuosos e Jalmira Machado Frutuoso
760 Ester de Abreu
761 Primo Crosara e senhora
762 Otília Soares de Freitas
763 Zélia de Oliveira
764 Sonia Mendonça
765 Nélida Vieira Monteiro
766 Hamilton Santos
767 Luzia Bueno
768 Newton Santos
769 Profª Erondina de Oliveira do Grupo Escolar Bueno Brandão
770 Profª Marlene Américo de Oliveira da Escola Normal de Uberlândia
771 Terezinha Carneiro Macedo
772 Maria Aparecida Altafim, filha de Caetano Altafim e Aída Bernardes Altafim
773 Mardem e Mauro Carneiro, filhos de João Pavan e Maria José Carneiro Pavan
774 Jarbas e Jairo Bernardes,filhos de Aristides Bernardes de Assis
775 Maria Lúcia Gouveia Porto, filha de Milton Porto e Maria Fausta Gouveia Porto
776 Angela Maria, filha de Ângelo Guizan e Aurila Valentim Guizan
777 Virginia Vidal
778 Vilda Aquino Cabral
779 Nísia Guerra. Diretora e proprietária do Externato N. Sra. Aparecida
780 Heloisa Helena Pacheco, filha de Sebastião Pacheco e Maria Favoreto Pacheco
781 Neusa Carrijo, rainha do Uberlândia Esporte Clube
782 Marcio Antonio Rodrigues da Cunha, filho de Omar Rodrigues da Cunha
784 Residencia de José Antônio de Medeiros, Cruz.
785 Professora e escritora Maria Aparecida Guimarães, de Araguari.
786 Bendito Nazário, chefe de Armazéns da Cia Mogiana.
787 1956 Professora Maria Belchiolina de Melo, da Escola Municipal Rural Boa Vista.
788 1956 Porfessora Aparecida Luiza de Jesus, da Escola Municipal Rural Conceição de Lima
789 Ruth de Freitas
790 Célia Ramos
791 Norma Macedo Costa
792 1956 Aroldo Ferreira dos Santos, contador e chefe dos escritórios da Organização Imobiliária
Argemiro Vicente Lopes.
793 Anísio Luiz Camilo, funcionário público municipal e presidente do Clube Recreativo José do
Patrocínio.
794 Dalva do Nascimento, contadora da Firma Crosara e Cia.
795 Cilene Freitas
796 Madame Elza (Modista)
797 Professor Gabriel Santos
798 Antonio Bernardes da Costa, corretor da Empresa Imobiliária Tubal Vilela .
799 Manoel Francisco do Nascimento. Fundador da irmandade Nossa Senhora do Rosário
800 1956 Elias Francisco do Nascimento. Presidente da irmandade de N. sra. Rosário.
801 Iris de Souza
802 Dorinha Fonseca
803 1954 Zilá Rezende. Princesa do Concurso “Rainha do Comércio e da Industria”.
804 Dinorá Pacca. Poetiza.
805 Cília Santos. Miss de Uberlândia
806 Eva Reis. Poetiza
807 Nair Augusta
808 Residência na rua do Sertãozinho
809 Projeto do busto de Felisberto Alves Carrejo
366
858 1959 Ilma Divina de Oliveira Borges. Miss Conservatório Musical de Uberlândia
859 Luiz Humberto, filho de Teofredo Gonzaga e Selva Mendonça Gonzaga
860 Maria Cristina, filha de Durval Carvalho e Maria Aparecida Carvalho
861 Mário Terra Filho, filho do dr. Mário Terra
862 Maria Augusta, filha de Durval e Maria Aparecida Carvalho
863 Antonio josé, Filho de Clarimundo Campos
864 Carmo Guimarães Gifone, filho de Dr. Vasco Gifone e Maria Aparecida Guimarães Gifoni
865 Marco Túlio, filho de Antonino Martins
866 Iliana Santos, filha de Ary Santos
867 Carlos Alberto, filho de Pedro Arcanjo
868 Maria Luiza de Novaes Melo, filha de João Edson de Melo e Elisa de Novaes Melo.
869 Marly Monteiro, filha de Benjamim Monteiro e Maria Silveira Monteiro
870 Foz do Ribeirão São Pedro. Rio Uberabinha
871 Marco de pedra do Patrimonio de N.S. do Carmo na nascente do corrégo Cajubá.
872 Maria Santos Finotti
873 Zuleika Oliveira Savastano, filha de Afonso Savastano e Maria de Lourdes Oliveira
Savastano
874 Sergio, filho de Dimas Machado Ferreira e Aurora Santos.
875 1951 Dóris Macedo Alvim, Rainha da Primavera.
876 Lila Chagas, filha de Jerônimo Chagas
877 Judí Moreira
878 Luis Eugênio, filho de Jose Carlos Côdo e Delvia Arantes Côdo
879 Carmem Silvia e Beatriz S. Oliveira, filhas do Dr. Branly Macedo e Carmita Santos Macedo
880 Cândida Cristina , filha de José Pimenta Bauru
881 1956 Maria Abadia, 1º princesa do Concurso Miss Negra de Uberlândia
882 Professora Irene dos Santos, da Escola Normal de Uberlândia
883 Jerônimo Plácido da Silva
884 Maria Auxiliadora e Vilma Helena, filhas de José Schweter e professora Olga Campos
Schweter
885 Luciano Amaral
886 Irene, filha de Benedito Mozart e Barbara Vilaça – Uberaba
887 Naia Mota Cardoso, filha de Rui Soares Cardoso e Aparecida Mota Cardoso
888 Elizabeth Lannes Bernardes, filha do Professor Euler Lannes Bernardes e Edna da Silva
Bernardes
889 José Márcio, filho de José Vieira e Terezinha Carvalho
890 Cláudia, filha de Rubens Firmino e Normy Barbosa
891 Nely Raquel, filha de Geraldo Vilela Arantes e Erotildes da Paz
892 Iara Maria, filha de Geraldo Vilela Arantes e Erotildes da Paz
893 Luiza Angelica Torres, filha de Hélio Torres e Professora Judi Moreira Torres
894 Luis Duarte Ulhôa, filho de Luiz Rocha e Profª Benedita Pimentel
895 Paulino Gorodeski, filho de Isac e Fani Gorodeski
896 Judí Moreira Torres, diretora do Grupo Escolar Júlio Bueno Brandão
897 Brenda Chaves, vencedora do concurso “Boneca Viva” em Monte Alegre de Minas
898 Angela Maria, Raquel Andrade e Eliane Franco, filhas de Rubens Pereira, Geraldo Fonseca e
Aluísio Franco
899 Raquel Andrade Fonseca, filha de Geraldo Fonseca e Maria Andrade
900 Gelva Bernardes, filha de Ivo de Oliveira e Aleth Bernardes
901 Regina Elena Pereira, filha de Pereira Rezende e Professora Noêmia Ribeiro
902 Maria Cristina Cury, Filha de Calil Abrão e Izaura B. Abrãao
903 Elizabeth e Rita de Cássia, filhas de Jerônima de Oliveira
904 Silésia, filha de José Arantes e Idalina Barcelo
905 José Rubens, filho de Rubens Guarato e Maria de Fátima Gaurato
906 1956 Oneida Monteiro, rainha do comércio
907 Marcelo Marquez, filho de Totó Marquez e Florinda Alves Marquez
368
908 Sandra Maria, filha de José Côdo e Professora Delvia Arantes Côdo
909 1939 Elzira Alves, miss Indianópolis
910 Diná Domingues, funcionária da prefeitura de Indianópolis
911 Cyro, filho de Cyro Franco e Stela Santa Cecilia
912 Jairo Guedes, filho do dr. Jonas Guedes e Maria da Purificação Guedes
913 Vasco e Ricardo, filhos de Pedro Vieira e Geralda Lozi
914 Atílio Valentin e família
915 Igreja N. Sra. do Rosário
916 Casa em São pedro de Uberabinha
917 Fac-Símile de documentos com nomes dos membros da 1ª Câmara Municipal de Uberabinha,
empossada em 07/03/1892
918 Alunos da Escola Municipal Rural de Rio das Pedras
919 Edilamar Helena, filha de Alvaro Caligari e Cléa Gonçalves Caligari
920 Júlio Cesar de Oliveira, filho de Júlio O. Arantes e Saturnina Silva
921 Cristina Maria Pavan Caparelli, filha de Vitório Caparelli e Cora Pavan
922 Alunas do Colégio N. Senhora
923 Sibipiruna da Praça D. Pedro II (Hoje Praça Adolfo Fonseca)
924 1968 Desfile em comemoração ao 80º Aniversário de Uberlândia. Autoridades no palanque oficial
925 1955 Solenidade de entrega de certificados às turmas quartanistas dos grupos escolares municipais,
em 15 de novembro, no Cine Teatro Uberlândia
926 1928 Funcionário do Fórum de Uberabinha
927 1923 Domingo esportivo às margens do Rio Uberabinha (Porangahy-Vaú) onde se realizaram
diversas provas de atletismo no dia 22 de abril
928 Jacy de Assis, fundador e diretor da Faculdade de Direito de Uberlândia
929 1938 Alunos e professores do Grupo Noturno Municipal Augusto César
930 Paineira da Estação da Mogiana
931 Copiões-Uberlândia Clube - Vista da Cidade, Praia Clube, Av. Afonso Pena, Palacete na R.
Goiás, Catedral de Santa Terezinha e prédio da Antiga Câmara Municipal
932 Copiões - Clube Monte Líbano, Av. Afonso Pena, Estação Rodoviária, Praça da República,
Colégio Estadual, Praça Antonio Carlos (Clarimundo Carneiro) e Cine Regente
933 Irene de Freitas, José Carneiro, Creusa Rezende e Virgílio Galassi (da esquerda para a
direita)
934 Aeroporto de Uberlândia
935 Caixa D’água do Jataí, fase de conclusão
936 Caixa D’água do Jataí, em construção
937 Caixa D’água do Jataí, em construção
938 Caixa D’água do Jataí, em construção
939 Ailton Rezende, aluno do Grupo Escolar N. Sra. do Carmo
940 Antonino Martins da Silva, tabelião do Cartório de Paz e Registro Civil de Uberlândia
941 Alunos e professores da Escola Municipal Rural do Salto
942 Alunos e professores da Escola Municipal Rural de Floresta
943 Alunos e professores da Escola Municipal Rural de Cruzeiro dos Peixotos
944 Aspectos da sala de traumatologia e ortopedia da Clínica do Dr. Fausto Gonzaga de Freitas
945 Aspectos da sala de traumatologia e ortopedia da Clínica do Dr. Fausto Gonzaga de Freitas
946 Aspectos da sala de traumatologia e ortopedia da Clínica do Dr. Fausto Gonzaga de Freitas
947 Colégio Amor às Letras (1919-1933). Praça Rui Barbosa 136
948 Prédio onde funcionou a Escola Pública e o quartel da Vila de São Pedro. Rua Vigário
Dantas
949 Discurso do Prefeito Municipal Vasco Gifoni em 24/07/37 no salão nobre da Câmara
Municipal
950 Alunos, professores e inspetores da Escola Normal de Uberlândia
951 1955 Solenidade de entrega de certificados às turmas quartanistas dos grupos escolares municipais
em 15 de novembro no Cine Teatro Uberlândia
369
952 Solenidade de entrega de certificados às turmas quartanistas dos grupos escolares municipais
em 15 de novembro no Cine Teatro Uberlândia
953 Solenidade de entrega de certificados às turmas quartanistas dos grupos escolares municipais
em 15 de novembro no Cine Teatro Uberlândia
954 1955 Solenidade de entrega de certificados às turmas quartanistas dos grupos escolares municipais
em 15 de novembro no Cine Teatro Uberlândia
955 Instituto Brasil Central
956 Alunos do Grupo Escolar Dr. Duarte Pimentel de Ulhoa. Diretora Cecy Cardoso
957 Prof. Sebastião Branquinho de Andrade
958 Alunos e professores da Escola Pública de Mateiro
959 Alunos da Escola Noturna Benedito Valadares
960 Alunos da Escola Noturna Benedito Valadares
961 Vigário Herculino. Capela da Rocinha
962 Vigário Herculino. Capela da Rocinha
963 Templo religioso
964 Francisco Pereira dos Santos, neto de João Pereira da Rocha
965 Francisco Pereira dos Santos, neto de João Pereira da Rocha
966 José Antonio de Mederios Cruz. Juiz Substituto da Comarca de Uberabinha, redator do Jornal
“A Reforma”, em 1897
967 1926 Grupo de pessoas em Martinópolis, hoje Martinésia
968 1929 Rolasimo Borges
969 Alunos da Escola Municipal Rural da Tenda
970 Homens trabalhando. Rua do Bairro Martins
971 Matadouro Municipal
972 Ponte do Vaú. Rio Uberabinha
973 Alunos e professores da Escola Pública Municipal José Gonçalves. Fazenda Buriti
974 Olaria de Poragahy
975 Olaria de Porangahy
976 Paineira da Estação da Mogiana
977 Alunos e professores da Escola Municipal Rural de Santa Maria
978 Alunos e professores da Escola Municipal Rural de Aprazível
979 Alunos e professores da Escola Municipal Rural de Buriti
980 Alunos e professores da Escola Municipal Rural de Paranan
981 Alunos e professores da Escola Municipal Rural de Machados
982 Alunos e professores da Escola Municipal Rural de Monjolinho
983 Alunos e professores da Escola Municipal Rural de Paraíso
984 Alunos e professores da Escola Municipal Rural de Divisa
985 Alunos e professores da Escola Municipal Rural de Aprazível
986 Alunos e professores da Escola Municipal Rural de Olhos D’Água
987 Alunos e professores da Escola Municipal Rural de Marimbondo
988 Alunos e professores da Escola Municipal Rural de gordura
989 Alunos e professores da Escola Municicpal Rural de Dourados
990 Diplomandos e professores da Academia do Comércio de Uberlândia
991 Alunos e professores do Grupo Noturno Municipal Augusto César. Da esquerda para direita:
Anita Vilela, Carmem Pimentel, Alyria Cunha Rezende, Helenita de Castro, Ruth Barbosa e
Sebastiana Arantes
0992 1941 Alunos da Escola Rui Barbosa. Diretora Junvenília Ferreira dos Santos
0993 Alunos da Escola Rui Barbosa. Diretora Junvenília Ferreira dos Santos
0994 1907 Alunos e professores do Colégio Bandeira. Diretor José Felix Bandeira
0995 1908 Colégio Mineiro
0996 Colégio São José. Av. Afonso Pena esquina com R. Santos Dumont
370
3. Hemeroteca
3.1 Jornais
3.2. Revistas
038 ESCOLA NORNAL, Orgam Literário e noticioso; O Instituto Brasil Central está no
Triangulo ao serviço do Brasil. Uberlandia, S.1., ano XI, nº 67, julho/agosto de 1938, 18p.
039 ILUSTRAÇÃO MINEIRA. literatura Crítica; Commércio e Lavoura. Uberlandia, s.1., 1926,
20p.
040 SUPLEMENTO COMERCIAL ILUSTRADO; Semanário gratuito, s.1., s.e., ano I, nº 1,
1951, 8p.
_____________________________________; Semanário gratuito, s.1., s.e., ano I, nº 2,
1951, 8p.
_____________________________________; Semanário gratuito, s.1., s.e., ano I, nº 3,
1951, 8p
_____________________________________; Semanário Gratuito, Araguari, Cruzeiro, ano
I, nº 4, 1951, 8p.
_____________________________________; Semanário Gratuito, Araguari, Cruzeiro, ano
I, nº 5, 1951, 10p.
_____________________________________; Semanário Gratuito, Araguari, Cruzeiro, ano
I, nº 6, 1952, 12p.
_____________________________________; Semanário Gratuito, Araguari, Cruzeiro, ano
I, nº 7, 1952, 12p.
_____________________________________; Semanário Gratuito, Araguari, Cruzeiro, ano
I, nº 8, 1952, 12p.
_____________________________________; Semanário Gratuito, Araguari, Cruzeiro, ano
I, nº 9, 1952, 12p.
_____________________________________; Semanário Gratuito, Araguari, Cruzeiro, ano
I, nº 10, 1952, 12p.
_____________________________________; Semanário Gratuito, Araguari, Cruzeiro, ano
I, nº 11, 1952, 12p.
_____________________________________; Semanário Gratuito, Araguari, Cruzeiro, ano
I, nº 12, 1952, 12p.
041 LEIA E CONHEÇA, Uberlândia 81 anos. Uberlândia, Tela-color Publicidade Ltda, ano I, nº
1, setembro 1969, 40p.
042 MAIA, órgão das alunas do Colégio e Escola Normal Oficial “Nossa Senhora”. Uberlândia,
s.e., nº XXIII, 1952, 26p.
043 NOSSA TERRA. Revista Mensal. Uberlândia, Pavan, ano I, nº 1, s.d., 18p.
044 O CRIME DO BURITI, s.1., s.e., 1933, 24p.
045 O JULIO VERNE, Uberlândia, Ubergral, ano I, nº 1, 1969, 35p.
046 ____________________________, ano I, nº 2, 1969, 44p.
047 O UBERLEÃO. VIII Convenção Distrito L-13. Uberlândia Sabe, 1974, 48p.
048 PLANALBANK – Revista dos funcionários do Banco do Planalto de Minas Gerais S. A ,
Uberlândia, Planalto, ano I, nº 6, 1963, 22p.
049 REFLEXO. De Uberlândia para o Brasil, Uberlândia, Correio, ano I, nº 1, 1956, 32p.
050 REVISTA DO “CIRCULO DE PAIS E PROFESSORES”, s.1., s.n.t., ano I, nº 1, 1935, 82p.
(original e xerox)
051 REVISTA OFICIAL DOS JOGOS DO II CAMPEONATO ABERTO DO INTERIOR.
Uberlândia “Ultra”, ano I, nº 2, Agosto, 1937, 27p.
052 TRIANGULO, Revista Mensal. Uberlândia, “AMIP”, ano I, nº 1, junho, 1952, 54p.
053 ___________________________, Uberlândia, “AMIP”, ano I, nº 2, novembro de 1951,
62p.
054 TRIANGULO DE MINAS. Revista mensal ilustrada. Uberlândia. Póvoa. Março/1935/ 22p .
(original e xerox)
055 TRIANGULO DE MINAS. Revista mensal ilustrada, Uberlândia. Pavan. JUNHO/1935/ 22p
. (original e xerox)
056 TRIANGULO MINEIRO ILUSTRADO, Uberlândia, Manhães, ano I, nº 1, dezembro de
1955, 38p.
057 UBERLEÃO. Boletim Informativo do Lions Clube Uberlândia, Uberlândia, s.e., ano IX, nº
383
TRIANGULO MINEIRO
093 GRAÇA E BELEZA. Uberaba, Triângulo, ano II, nº 20, maio 1946, 52p.
384
094 ______________. Uberaba, s.n.t., ano II, n°25 dezembro 1950, 104 p
095 O Guarani. Ano I, n° 3, Araguari, Tip. São José, junho/julho 1952, 58 p
MINAS GERAIS
096 Carvalho, Theophilo Feu de (org). Revista do Archivo Público Mineiro; Índice Geral: 1896 a
1913, Bello Horizonte, Imprensa Official, 1914, 133 p
097 ALTEROZA. Belo Horizonte, AlterosZ, Ano XXI, n° 307 Junho 1959, 96p
098 _________________________________ 311 Agosto 1959, 104 p
099 _________________________________ 339 Março 1961, 128 p
100 Revista do Archivo Público Mineiro. Ouro Preto, Imprensa Official, ANNO I, fasc. 1°
jan/Mar 1896, 196 p
101 _________________________________ Ouro Preto, Imprensa Official, ANNO I, fasc. 2°
197-399 p
102 _________________________________, Ouro Preto , Imprensa Official, ANNO I, fasc. 3°
jul/set 1896, 401 a 647 p
103 ____________________________ .Ouro Preto, Imprensa Official, ANNO I, fasc. 4°
Out/Dez 1896, 649 – 827 p
104 ____________________________ .Ouro Preto, Imprensa Official, ANNO II, fasc. 1°
Jan/Mar 1897, 187 p
105 ____________________________ .Ouro Preto, Imprensa Official, ANNO II, fasc. 2°
Abr/Jun 1897, 189 - 424 p
106 ____________________________ .Ouro Preto, Imprensa Official, ANNO II, fasc. 3° Jul/Set
1897, 423 – 598 p
107 ____________________________ .Ouro Preto, Imprensa Official, ANNO II, fasc. 4°
Out/Dez 1897, 599- 797 p
108 ____________________________ .Ouro Preto, Imprensa Official, ANNO II, fasc. 1° 1898,
248 p
109 ____________________________ .Bello Horizonte, Imprensa Official, ANNO III, fasc. II,
Abr/Jun 1898, 251 p
110 ____________________________ .Bello Horizonte, Imprensa Official, ANNO III, fasc. III e
IV Jul/Dez 1896, 465 – 927 p
111 ____________________________ .Bello Horizonte, Imprensa Official, ANNO IV, fasc. I e
II, Jan/Jun 1899, 394 p
112 _____________________________. Bello Horizonte Imprensa Official, ANNO VI fasc. I,
Jan/Mar 1901, 317p
113 ____________________________ .Bello Horizonte, Imprensa Official ANNO XIX 1921,
378 p
114 ____________________________ .Bello Horizonte, Imprensa Official, ANNO XX, 1924,
647 p
BRASIL E GERAL
118 EM GUARDA. Para defesa das Américas. Washington, Busines Publishers International
Corporation, s.d. ano I, nº 8, 40p.
119 _____________, Washington, Business Publishers International Corporation, s.d. ano 1, Nº
12, 44p.
120 _____________, Washington, Business Publishers International Corporation, s.d. ano 2, nº
05, 40p.
121 _____________, Washington, Business Publishers International Corporation, s.d. ano 2, nº
8, 40p.
122 _____________, Washington, Business Publishers International Corporation, s.d. ano 2, nº
8, 40p.
123 _____________, Washington, Business Publishers International Corporation, s.d. ano 2, nº
12, 40p.
124 _____________, Washington, Business Publishers International Corporation, s.d. ano 3,
nº1, 40p.
125 _____________, Washington, Business Publishers International Corporation, s.d. ano 3, nº
2, 40p.
126 _____________, Washington, Business Publishers International Corporation, s.d. ano 3, nº
6, 40p.
127 _____________, Washington, Business Publishers International Corporation, s.d. ano 3, nº
7, 40p. (2 exemp.)
128 _____________, Washington, Business Publishers International Corporation, s.d. ano 3, nº
8, 40p.
129 _____________, Washington, Business Publishers International Corporation, s.d. ano 3, nº
9, 40p. (2 exemp.)
130 _____________, Washington, Business Publishers International Corporation, s.d. ano 3, nº
10, 40p. (2 exemp.)
131 _____________, Washington, Business Publishers International Corporation, s.d. ano 3, n°
11, 40p. (2 exemp.)
132 _____________, Washington, Business Publishers International Corporation, s.d. ano 3, nº
12, 40p.
133 _____________, Washington, Business Publishers International Corporation, s.d. ano 4, nº 1
, 40p.
134 _____________, Washington, Business Publishers International Corporation, s.d. ano 4, nº
2, 40p.
135 _____________, Washington, Business Publishers International Corporation, s.d. ano 4, nº
3, 40p. (2 exemp.)
136 _____________, Washington, Business Publishers International Corporation, s.d. ano 4, nº
4, 40p. (2 exemp.)
137 _____________, Washington, Busines Publishers International Corporation, s.d. ano 4, nº 5,
386
40p.
138 _____________, Washington, Business Publishers International Corporation, s.d. ano 4, nº
6, 40p. (2 exemp.)
139 _____________, Washington, Business Publishers International Corporation, s.d. ano 4, nº
7, 44p.
140 _____________, Washington, Business Publishers International Corporation, s.d. ano 4, nº
8, 40p. (2 exemp.)
151 O MALHO, Rio de janeiro, ANNO XII, nº 576, setembro de 1913, 54p.
______, Rio de janeiro, ANNO XIII, nº 609, Maio/1914, 54p.
______, Rio de janeiro, ANNO XIII, nº 606, abril/1914, 50p
______, Rio de janeiro, ANNO XLIII, nº 68, setembro/1945, 69p.
152 REVISTA DA SEMANA. Rio de Janeiro, Cia Editora Americana, anno XL, nª 51,
novembro 1939, 54p.
153 REVISTA DOS NAMORADOS. Rio de Janeiro. Baptista de Souza e Cia. Ano 1, nº 2, junho
1951, 31p.
__________, . Rio de Janeiro. Baptista de Souza e Cia. Ano 1, nº 3, julho 1951, 31p.
__________,. Rio de Janeiro. Baptista de Souza e Cia. Ano 1, nº 4, agosto, 1951, 31p.
__________,. Rio de Janeiro. Baptista de Souza e Cia. Ano 1, nº 5, agosto, 1951, 31p.
__________,. Rio de Janeiro. Baptista de Souza e Cia. Ano 1, nº 11, março, 1952, 26p.
154 CORAÇÃO. Rio de Janeiro. Baptista de Souza & Cia., ano I, nº 3, março 1948, 28p.
155 URACAP, Em Revista. São Paulo, Guia Fiscal, ano III, abril/maio/junho/ 1949, nº 7, 48p.
387
156 VAMOS LER! Rio de janeiro. A Noite, ano XI, nº 519, 11 de julho,1916, 63p.
157 Edição PRÉ-COMEMORATIVA DO SESQUICENTENÁRIOS DA INDEPENDENCIA
1822-1972, Ed. Brasil-América, 1970, 34p.
158 As Grandes Religiões. A REFORMA PROTESTANTE. São Paulo/, Abril S/A Cultural
Industrial, Cap. 29, 1973, 449-464p.
159 Ribeirão Preto. JORNAL COMEMORATIVO DOS 122 ANOS. Ribeirão Preto, O Diário,
19 de Junho 1978, 91p.
4 . Mapoteca
026 Sem data Projeto de uma residencia à R. Princesa Isabel, Projeto: de João Jorge Coury
Proprietário: Maria de Lourdes Silva
027 Sem data Projeto de reforma para aumento e reforma do Projeto Luiz da Rocha e Silva
barracão à rua Goiás.
Propriet. Esterino Finotti e José dos Santos
028 Sem data Quadra para adultos (cemitério )
029 Sem data Loteamento do quarteirão 292 da Av. Cesário Prefeitura Municipal de
Alvim com Quintino Bocaiúva Uberlândia
Serviço de Patrimônio
030 Sem data Cálculo para concreto armado de lage e vigas do Projeto de João Jorge Coury
prédio á rua Santos Dumont com Floriano Peixoto Enge. Luiz da Rocha
Propriet. Nazir Zacharias
031 Sem data Projeto de construção da caixa d’água de
Martinópolis
032 Sem data Projeto de construção de casa de operário Escritório técnico de engenhara
Proprietário: Vital Ferreira Jr.. Vitorino Semola
033 Sem data Casa residencial para operário Projeto fornecido pela diretoria de
obras.
034 Sem data Projeto de residencias populares Prefeitura Municipal de
Uberlândia
Tubal Vilela da Silva
035 Sem data Terrenos da Empresa Construtora Uberabinha
036 Sem data Abastecimento de água de Morrinhos Projeto de Luiz Rocha Silva
037 Sem data Planta para reforma e aumento de um armazém. Projeto de João Jorge Coury
Propr. Jorge Abrão
038 Sem data Segundo Cemitério
039 Sem data Planta geral da Prefeitura Municipal de
Uberlândia(Câmara Municipal )
040 Sem data Planta do Distrito de Santa Maria
041 Sem data Quadro sinótico da História do Brasil Alberto Gosch
042 Sem data Planta baixa não identicada
389
5 – Pastas Temáticas
Numero de Ordem Datas Limites Tema
0001 1855 - 1972 Assuntos diversos sobre Felisberto Carrejo
0002 1828 - 1974 Assuntos diversos sobre famílias e pessoas
0003 1938 – 1941 Comemoração dos Aniversários de Uberlândia
0004 1960 – 1975 Comemoração dos Aniversários de Uberlândia
0005 1956 – 1957 Cultura e Lazer (Uberlândia Clube)
0006 1908 – 1963 Cultura e Lazer (Clubes, Cinema, Teatro, outros)
0007 1851 – 1977 Dados Históricos
0008 1935 – 1969 Dados estatísticos de Uberlândia
0009 1881 – 1976 Distritos
0010 1823 – 1973 Documentos Públicos diversos
0011 1898 – 1911 Documentos Públicos ( Registro de óbitos)
0012 1892 - 1894 Docums. Públicos (Livro de pedidos de licença p/ const. de prédio )
0013 1856 – 1978 Economia
0014 1911 – 1981 Educação
0015 1824 – 1927 Educação
0016 1836 – 1946 Educação
0017 1891 – 1981 Educação
0018 1937 – 1982 Esporte
0019 1900 – 1971 Imprensa
0020 1939 – 1968 Instituições Sociais
0021 1938 – 1972 Jerônimo Arantes
0022 1935 – 1979 Literatura
0023 1936 – 1957 Meios de Comunicação
0024 1938 – 1956 Negro
0025 1922 – 1947 Política
0026 1981 – 1982 Potencialidade de Uberlândia
0027 1943 – 1981 Realizações Adminstrativas
0028 1853 – 1982 Religiao
0029 1971 Reportagem sobre Uberlândia
0030 1935 – 1965 Revista Ilustrada
0031 1891 – 1981 Segurança Pública
0032 1895 – 1985 Transportes
0033 1919 – 1976 Urbanismo
0034 1830 – 1956 Cidades do Triângulo
0035 1866 – 1960 Cidades do Triângulo
0036 1867 – 1963 Cidades do Triângulo
0037 1873 – 1980 Cidades do Triângulo
0038 1839 – 1963 Cidades do Triângulo
0039 1820 – 1973 Triângulo Mineiro (Emancipação do Triângulo)
0040 1970 – 1981 Minas Gerais
0041 1932 – 1986 Brasil
0042 1913 – 1972 Brasil
0043 1954 – 1978 Brasil
0044 1938 – 1972 Brasil
0045 1955 – 1975 Brasil
0046 1939 – 1966 Brasil
0047 S/ data Brasil
0048 1973 – 1986 Brasil
0049 1876 – 1973 Brasil
0050 1930 – 1974 Brasil
0051 1961 – 1973 Assuntos Diversos
0052 1939 - 1945 Assuntos Diversos
391
ANEXO II
ANO CONTEÚDO
I- Exercícios de interpretação exata e expressão correta da leitura oral, bem como eficiência de
compreensão da silenciosa.
II- Desenvolvimento da habilidade de Ler com desembaraço.
III- Testes semanais para julgar a compreensão e o desembaraço na leitura.
3°. IV- Trecho desconhecido, para os testes, havendo perguntas escritas a serem respondidas com
espaços de tempo marcados, tanto para a leitura, como para as respostas.
V- Hábito de ler por prazer, no fim do 3°. ano. Vocabulário, leitura rápida e retenção dos
pensamentos essenciais do trecho. Escrita sob ditado.
I- Leitura como meio de informação para as outras matérias e como meio recreativo.
4°. II- Leitura como expressão e naturalidade, no fim do 4°. Ano, reproduzindo oralmente o
sentido. Hábito de ler. Biblioteca infantil, composta de boas obras.
ANEXO III
Cartilha Brasileira
APÊNDICE
397
APÊNDICE I
Roteiros para Entrevistas
Acredita que no período em questão a educação representava algum papel social? Qual?
Como era o relacionamento da Secretaria de Educação com as escolas?
O prof. Jerônimo Arantes comentava sobre o trabalho que desenvolvia acerca da história de
Uberlândia?
Ele comentava sobre as atividades que desenvolvia no IBGE?
Acompanhou a publicação da revista Uberlândia Ilustrada? Lembra-se de como esta revista era
recebida pela sociedade?
Ele mantinha ligação com a política local? Arantes apoiou algum candidato a prefeito, vereador,
deputado, governador e/ou presidente? Lembra-se de ele ter feito campanha política?
Qual era o meio de sobrevivência de Arantes?
Como a sociedade via o prof. Jerônimo Arantes?
APÊNDICE II
Dissertações e Teses que Utilizaram a CPJA.
ALVES, Josefa Aparecida. Sociabilidades urbanas: o olhar, a voz e a memória da praça Tubal Vilela (1930-
1962). 2004. Dissertação (Mestrado) — Instituto de História, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia,
2004.
CALVO, Célia Rocha. Muitas memórias e histórias de uma cidade: experiências e lembranças de viveres
urbanos, Uberlândia, 1938-1990. 2001. Tese (Doutorado) — PUC, São Paulo, 2001.
CARRIJO, Gilson G. Fotografia e a invenção do espaço urbano: considerações sobre a relação entre estética e
política. 2002. Dissertação (Mestrado) — Instituto de História, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia,
2002.
CARVALHO, Luciana B. de O. Bar. A configuração do Grupo Escolar Júlio Bueno Brandão no contexto
republicano (Uberabinha/MG, 1911-1929). 2002. Dissertação (Mestrado) — Faculdade de Educação,
Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2002.
DÂNGELO, Newton. Vozes da cidade: progresso, consumo e lazer ao som do rádio, Uberlândia – 1939/70. 2001.
Tese (Doutorado) — PUC, São Paulo, 2001.
FREITAS, Eliane M. de. Memórias de uma “odisséia”: Tito Lívio (Teixeira) e a construção da memória histórica
sobre a “Revolução de Trinta” em Uberlândia/MG. 1999. Dissertação (Mestrado) — Instituto de Filosofia
Ciência e Letras, UNICAMP, Campinas, 1999.
GARCIA, Renísia Cristina. Honra, sobrevivência e valentia: um estudo sobre trabalhadores e populações pobres
uberlandenses envolvidos em processos criminais (1922-1937). 1997. Dissertação (Mestrado) — PUC, São
Paulo, 1997.
LOPES, Valéria Maria Queiroz Cavalcante. Caminhos e trilhas: transformações e apropriações da cidade de
Uberlândia (1950-1980). 2002. Dissertação (Mestrado) — Instituto de História, Universidade Federal de
Uberlândia, Uberlândia, 2002.
MÁXIMO, Cirian Gouveia. Da ordem educacional ao progresso social: a concepção de educação veiculada pela
imprensa uberabinhense (1920-1930). 2003. Dissertação (Mestrado) — Faculdade de Educação, Universidade
Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2003.
NUNES, Leandro. Cidade e imagens: progresso, trabalho e quebra-quebras – Uberlândia – 1950/1960. 1993.
Dissertação (Mestrado) — PUC, São Paulo, 1993.
OLIVEIRA, Júlio César de. O último trago, a última estrofe: experiências boêmias em Uberlândia. 2000.
Dissertação (Mestrado) — PUC, São Paulo, 2000.
OLIVEIRA, Selmane Felipe de. Crescimento urbano e ideologia burguesa: estudo do desenvolvimento urbano
capitalista em cidades de médio porte. Uberlândia 1950-1985. 1992. Dissertação (Mestrado) — UFF, Niterói,
1992.
PINTO, Luziano Macedo. Situações de cinema: tramas e imagens de sociabilidade. Uberlândia 30 a 50. 2001.
Dissertação (Mestrado) — Instituto de História, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2001.
REDUCINO, Marileusa de Oliveira. Uma praça e seu entorno: plasticidades efêmeras do urbano. Uberlândia -
século XX. 2003. Dissertação (Mestrado) — Instituto de História, Universidade Federal de Uberlândia,
Uberlândia, 2003.
RODRIGUES, Jane de F. S. Trabalho, ordem e progresso: uma discussão sobre a trajetória da classe
trabalhadora uberlandense. O setor de serviços. 1924-1964. 1989. Dissertação (Mestrado) — Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas, USP, São Paulo, 1989.
400
SANTOS, Regma M. dos. Plumitivo claudicante: impressões cotidianas, memória e história nas crônicas de Lycidio
Paes. 2000. Tese (Doutorado) — PUC, São Paulo, 2000.
SANTOS, Regma Maria dos. Os meios de comunicação na memória e no discurso político em Uberlândia (1958-
1963). 1993. Dissertação (Mestrado) — PUC, São Paulo, 1993.
SOARES, Beatriz Ribeiro. Uberlândia: da cidade jardim ao portal do cerrado – imagens e representações no
Triângulo Mineiro. 1995. Tese (Doutor) — Departamento de Geografia, USP, São Paulo, 1995.
MOURA SOBRINHO, Vicente Batista de. Massificação do ensino em Uberlândia: a fala da imprensa (1940-1960).
2002. Dissertação (Mestrado) — Faculdade de Educação, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2002.
TEMER, Sérgio Batista. Idéias urbanísticas Uberlândia: de Uberabinha à “Curitiba” do cerrado. 2001. Dissertação
(Mestrado) — Urbanismo/FAU, PUCCAMP, Campinas, 2001.
VASCONCELOS, Maria Helena Falcão. Dias de violência – o quebra de janeiro de 59 em Uberlândia. 1993.
Dissertação (Mestrado) — Faculdade de Educação, UNICAMP, Campinas, 1993.
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APÊNDICE III
Uberlândia Ilustrada
Uberlândia Ilustrada
Conteúdos voltados para a divulgação de fatos relacionados à história local
Nº CONTEÚDOS
03 Vultos da nossa história: Joaquim marques Póvoa.
Através do Triângulo: conhecendo Indianópolis.
Revivendo o passado.
04 História do abastecimento de água de Uberlândia.
História da introdução do automóvel no Triângulo.
Álbum de Uberabinha: biografia de Arlindo Teixeira.
Através do Triângulo: Nova Ponte.
Revivendo o passado na voz de gente antiga.
Reminiscência de Uberabinha.
05 Percorrendo o município: Rocinha.
06 De onde Uberlândia veio: a família Carrejo.
7- 8 Reminiscências: recortes de jornais de 1915 com aspectos da cidade (cinema, concursos de beleza etc.)
09 Histórico do município de Uberlândia: cinqüentenário da organização administrativa.
Visão do passado: entrevista com “Mãe-preta” abordando aspectos de Uberlândia no passado.
10 História da instrução no município de Uberlândia.
11 História da família Pereira Rezende.
12 Nosso patrimônio histórico: história da primeira Igreja.
14 História da imprensa em Uberlândia.
História da Cia. Mogiana de Estradas de Ferro.
15 Uma página do passado: resenha histórica da Comarca de Uberlândia.
Tipos populares.
16 A prática da medicina antiga em Uberlândia.
Histórico do abastecimento de água em Uberlândia.
17 História da odontologia em Uberlândia.
Conservando nosso patrimônio histórico: ata da implantação do marco comemorativo.
18 Biografia de Joaquim Marques Póvoa.
19 Resenha histórica do esporte em Uberlândia.
Centenário da criação do Distrito de Paz em Uberlândia.
20 História da política em Uberlândia: partidos e representantes.
21 O negro em Uberlândia (1918-1956).
Álbum de Uberabinha: biografia do cap. Sebastião Ribeiro dos Santos.
Tipos populares.
22 Biografia de diversos membros da colônia italiana instalada em Uberlândia.
Patrimônio histórico: árvore “histórica”.
23 Efemérides e leis memoráveis (Uberlândia).
24 História das farmácias em Uberlândia.
25 História da arte gráfica em Uberlândia.
História da Livraria Kosmos (a primeira da cidade).
26 Centenário do nascimento de João Pinheiro.
Onde Uberlândia nasceu.
27 História do automóvel em Uberlândia.
28 Como nasceu a vila Martins (bairro de Uberlândia).
* O número 13 não apresentou nenhum artigo da mesma natureza.
Fonte: Uberlândia Ilustrada, Uberlândia. Arquivo Público de Uberlândia. Coleção Professor Jerônimo Arantes.