Unidade 1
Unidade 1
Unidade 1
Direito Econômico
Material Teórico
Economia Contemporânea Brasileira
Revisão Textual:
Prof.ª Me. Natalia Conti
Economia Contemporânea Brasileira
• Introdução;
• Entre a Orientação Liberal e Estatizante;
• O Retorno do Modelo Estatista e o Desenvolvimentismo;
• Período Militar (1964-1985): Entre o Estatismo e a Orientação Liberal;
• A Nova República (1985): Fracassos Sucessivos de Planos Econômicos.
OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Analisar os aspectos concernentes à ordem econômica nas Constituições de 1946,
1967 e 1988;
• Caracterizar a política econômica do Pós-Guerra;
• Descrever as políticas econômicas do governo militar (1964-1985);
• Compreender os principais aspectos das políticas econômicas da Nova República.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Economia Contemporânea Brasileira
Introdução
Nesta unidade, o aluno deve desenvolver uma visão geral sobre os aspectos
fundamentais das políticas econômicas do Pós-Guerra, até o governo Lula, com a
ênfase dos aspectos legais constantes nas sucessivas constituições e emendas cons-
titucionais e sua forma de tratamento do sistema econômico. Esta análise abran-
gente e interdisciplinar não pretende ser, no entanto, exaustiva, sendo necessário
um aprofundamento posterior neste tema – o das relações entre a norma jurídica e
a economia – com o intuito de julgar as principais orientações ideológicas concer-
nentes ao papel do Estado na Economia.
Este estudo sistemático está permeado de informações complementares e ati-
vidades desafiadoras com o intuito de favorecer um processo mais consistente de
compreensão do fenômeno dos processos econômicos em suas relações com os
marcos legais.
Esperamos que você tenha um bom aproveitamento intelectual e adquira uma
capacidade maior de entendimento da situação atual da economia brasileira nos
dias de hoje.
Bons estudos!
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É de se observar, ainda, que em relação à livre iniciativa e à repressão ao abuso
do poder econômico, a Constituição de 1946 acabou consagrando uma ambigui-
dade, uma vez que o capitalismo de
Estado já existente em relação às indús-
trias de base - siderurgia, portos e pe-
tróleo - era compatível com monopó-
lio pela própria escala dos negócios,
relativizando-se a preocupação com o
abuso do poder econômico, que é típi-
ca da concepção liberal.
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Figura 2
Fonte: Wikimedia Commons
Na sequência, quando Vargas foi eleito (1951), foi retomada uma orientação
mais estatizante, embora mais moderada. O governo de Vargas se dividiu em
duas etapas:
• Primeira fase: buscou a estabilização da economia, através do equilíbrio das
finanças públicas, permitindo a adoção de uma política monetária restritiva,
reduzindo a inflação;
• Segunda fase: buscou realizar empreendimentos e obras públicas na área de
infraestrutura.
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Durante a segunda fase, foram criadas duas empresas estatais, - o Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) e a Petróleo Brasileiro S.A.
(PETROBRAS), a quem coube o monopólio da extração do petróleo, cabendo às
companhias estrangeiras o mercado distribuidor de combustíveis.
Sobre a história da Petrobras, ver: DIAS, José Luciano de Mattos; QUAGLINO, Maria Ana;
Explor
Figura 3
Fonte: causaoperaria.org.br
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Figura 4
Fonte: senado.gov.br
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Para tal, foi estabelecido o Plano de Ação Econômica do Governo (PAEG). As suas
metas para a inflação indicavam uma estratégia do tipo gradualista. O Plano não visou
a suprimir o processo inflacionário em curto lapso de tempo, mas o diminuiu ao lon-
go de três anos, admitindo ainda uma inflação de dois dígitos (10%) no terceiro ano.
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Esse diagnóstico determinou algumas medidas corretivas, tais como um programa de
ajuste fiscal, com base em metas de aumento da receita (via aumento da arrecadação
tributária e de tarifas públicas) e de contenção (ou corte, em 1964) de despesas go-
vernamentais e um mecanismo de correção salarial (GIAMBIAGI, 2011).
Por sua vez, buscou-se realizar as chamadas reformas estruturais, que tiveram
por foco a estrutura tributária e a financeira.
A seguir, o Choque dos preços do petróleo entre 1973-74 deu início a uma
longa fase de dificuldades para a economia brasileira, pois estabeleceu restrições
externas de bens de capital e de insumos industriais, além de subir os preços dos
combustíveis.
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O Plano Cruzado foi adotado no governo Sarney em agosto de 1985,
estabelecendo uma Reforma Monetária e um congelamento, determinando o
cruzado como o novo padrão monetário nacional, à paridade de Cr$1.000 =
Cz$1. Esta mudança tinha dois objetivos:
1. criar a imagem de uma nova moeda forte;
2. permitir a intervenção nos contratos, já que ficava estabelecida uma nova
unidade monetária.
Figura 6
Fonte: camara.gov.br
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Figura 7
Fonte: cnts.org.br
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O Plano Collor I recebeu críticas, apesar de ter conseguido baixar a inflação de
80% ao mês para 10% nos meses seguintes. Mas a inflação aumentou novamente
e o bloqueio dos recursos foi considerado uma inadmissível intervenção estatal, que
gerou a perda de confiança dos poupadores no sistema financeiro nacional, com
graves consequências para o País.
Para resolver estes problemas, foi lançado o Plano Collor II, cujo objetivo era
conter as taxas de inflação, na época em torno de 20% ao mês, estabelecendo
medidas tais como a racionalização dos gastos nas administrações públicas, deter-
minando o corte das despesas.
Figura 8
Fonte: une.org.br
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Os Anos Lula
A posse de Luís Inácio Lula em 2003 marcou a ascensão da esquerda ao poder,
através do Partido dos Trabalhadores (PT), o que exigiu o enfrentamento das tare-
fas concretas da governança na área econômica.
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Outro elemento importante para justificar o apoio do mercado que sucedeu a
atitude de desconfiança que precedeu a eleição de Lula foi o compromisso do novo
governo com as chamadas “reformas estruturais”, que foi visto como uma dispo-
sição de gerar uma continuidade em relação às reformas, ainda incompletas, de
1995-2002. Este compromisso se traduziu em duas ações políticas:
• O envio ao Congresso da proposta de reforma tributária;
• O encaminhamento, em paralelo com a reforma tributária, da proposta de
reforma da Previdência Social.
No âmbito da política econômica dos anos Lula, convém ainda destacar a es-
truturação do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) em 2007 como
parte de uma política econômica voltada para o crescimento econômico. O PAC
englobava os orçamentos da União, dos estados e dos municípios e os recursos
da iniciativa privada. Era composto de investimentos em infraestrutura e medidas
institucionais. As obras de infraestrutura se subdividiam em vários eixos, dentre os
quais Logística, Energia e Social.
Figura 10
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Explor
‘’O papel desempenhado pelo Estado brasileiro durante o governo Lula sugeriu modelos
de atuação e propostas de desenvolvimento que ora o aproximam da perspectiva que se
convencionou chamar de “neoliberalismo”, ora o afastam, se associando a modelos como
o keynesianismo. Ou seja, apesar da forte predominância das finanças e da liberalização fi-
nanceira, observamos algumas evidências empíricas distintas da política neoliberal (apesar
de pontos em comum), o que transformou o desenvolvimento econômico e social intro-
duzido durante o governo Lula em um fenômeno de grande interesse sociológico. Nosso
argumento é que, apesar da aparente (e inquestionável) dominação das finanças, o Esta-
do coordenou os mercados durante o governo Lula, produzindo bens e serviços por meio
de empresas estatais e parcerias com o capital privado, estabelecendo projetos com base
nos recursos oriundos do mercado financeiro – especialmente dos fundos de pensão e do
BNDES, via emissão de títulos públicos e por meio de investimentos diretos nas empresas –,
assim como coordenou certa regulamentação, “domesticação” e/ou “moralização” do mer-
cado financeiro (Jardim, 2007).
Nesse contexto, apresentaremos aqui evidências empíricas de que o Estado exerceu violên-
cia simbólica nos mercados, o que significa concretamente, que o Estado “deu as regras do
jogo”. Para Boschi e Gaitán (2008), no governo Lula houve um novo tipo de intervencionismo
estatal, que adquiriu particularidade em relação ao do passado, já que neste haveria mais
uma modalidade híbrida de coordenação econômica ou de recriação de existentes, do que
um retorno do Estado produtivo propriamente dito. Bresser-Pereira (2004, 2006) fala de um
“neodesenvolvimentismo”, que difere do “nacional-desenvolvimentismo” que vigorou na
década de 1970 e do neoliberalismo, a partir dos anos 1990. O papel do Estado no governo
Lula reafirmaria a importância da dimensão política do Estado-Nação para o novo desen-
volvimentismo, ao mesmo tempo que delinearia a América Latina como área geopolítica
de sua aplicação, seguindo a referência tradicional do pensamento estruturalista cepalino.
Já autores como Boito (2003, 2012) e Antunes (2004) defendem que no governo Lula pre-
dominou o modelo neoliberal de desenvolvimento, tendo em vista que as relações entre
Estado e finanças foram bem íntimas, com clara submissão do Estado ao jugo das finanças.
Nessa mesma linha, outros observadores entendem que o governo ambicionou praticar algo
que poderia ser denominado como social-liberalismo, o que significaria a manutenção do
modelo capitalista neoliberal, combinado com um pouco mais de crescimento econômico
e de políticas sociais compensatórias. Como podemos ver, as abordagens e interpretações
sobre o desenvolvimento aplicado durante o governo Lula não são nada consensuais.’’
(MARQUES; MENDES, 2006, p. 55).
Fonte: JARDIM, Maria Chaves; SILVA, Márcio Rogério. Programa de aceleração do crescimento (PAC)
[recurso eletrônico]: neodesenvolvimentismo? - 1. ed. - São Paulo: Ed. da UNESP, 2015, p. 55
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• Foram abandonados os estudos da área econômica realizados desde 2005,
destinados a elaborar um plano de longo prazo, visando à maior contenção do
crescimento da despesa, para atacar de modo mais vigoroso o desequilíbrio fiscal;
• A retórica ministerial deixou de enfatizar os aspectos de continuidade ligados
à manutenção das políticas herdadas do Governo FHC;
• Houve um incremento considerável do papel do BNDES na economia nacional.
Em síntese, pode-se dizer em relação aos anos Lula que o fim do ciclo das com-
modities representou o ponto de inflexão de uma política econômica pautada pelo
apoio significativo do BNDES, políticas sociais de caráter assistencial e arrefeci-
mento do cumprimento da meta fiscal.
Glossário
» Capitalismo - sistema econômico baseado na legitimidade da propriedade
privada e na liberdade de comércio e indústria, com o principal objetivo de
adquirir lucro. As empresas privadas ou indivíduos contratam mão de obra
em troca de salário.
» Déficit – É o que falta para completar determinada quantidade de numerário
ou para inteirar uma conta. Ou seja, consiste na diferença entre o que foi
previsto para atender a certa demanda e o que existe na realidade.
» Desenvolvimentismo - Nome conferido à estratégia política de desenvol-
vimento adotada durante o governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961),
que visava acelerar o processo de industrialização e superar a condição de
subdesenvolvimento do país. O desenvolvimentismo como modelo econômi-
co considerava que o crescimento dependia diretamente da quantidade dos
investimentos e da produtividade marginal do capital. No sentido mais am-
plo, o desenvolvimentismo como ideologia de desenvolvimento autônomo
no âmbito do sistema capitalista valorizava a riqueza e a grandeza nacional,
a igualdade social, a ordem e a segurança.
» Desindexação - Anulação do reajuste estabelecido pelas variações, índices
do mercado financeiro ou daqueles regulamentados pelo Estado. Exemplo: a
desindexação do salário mínimo com base na inflação.
» 7. Liberalismo - doutrina filosófica, baseada na defesa da liberdade individu-
al, nos campos econômico, político, religioso e intelectual, contrapondo-se
às interferências e ações de repressão do poder estatal.
» 8. Moratória - Dilatação do prazo de quitação de uma dívida, concedida
pelo credor ao devedor para que este possa cumprir a obrigação além do dia
do vencimento.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Brasil: de Getúlio a Castelo
Para ter uma compreensão sintética, mas abrangente da história política e econômica
do Brasil no século XX, ler: Skidmore, Thomas. Brasil: de Getúlio a Castelo. São
Paulo: Saga, n/d.
Evolução da Ordem Econômica no Contexto Político-Econômico das Constituições Brasileiras
Para uma análise aprofundada sobre o tratamento conferido à Ordem Econômica pelas
constituições brasileiras, consultar: BATISTI, Nelia Edna Miranda. Evolução da ordem
econômica no contexto político-econômico das constituições brasileiras. Dissertação.
Universidade Estadual de Londrina. CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS
MESTRADO EM DIREITO NEGOCIAL. 2017.
Vídeos
1985 - 30 anos de democracia: Governo Sarney - Parte 1
Sobre o panorama político e econômico do início da Nova República, ver: 1985 - 30
anos de democracia: Governo Sarney - Parte 1.
https://youtu.be/5eluLath8Ok
Filmes
Brasília: A Construção de Um Sonho
Sobre a política econômica de JK, assistir o seguinte documentário sobre a construção
de Brasília: ‘’Brasília: A Construção de Um Sonho. (Dublado) Documentário Completo.
https://youtu.be/qWNx_PFttRo
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Referências
BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Desenvolvimento e Crise no Brasil: história,
economia e política de Getúlio Vargas a Lula. 5ª ed. São Paulo: Editora 34, 2003.
SOUZA, Jobson Monteiro de. Economia Brasileira. São Paulo: Person, 2009.
(Biblioteca Virtual Universitária)
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