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Vol. 1, N.

1 Dezembro/2017

Revista Estudos e Pesquisas em Administração

Journal of Studies and Research in Administration

FERRAMENTAS COMO FATOR DE INOVAÇÃO NAS MICRO E PEQUENAS


EMPRESAS
Idineia Bressan
Faculdade Católica de Mato Grosso – SEDAC – Campus Cuiabá

Ivana Aparecida Ferrer Silva


Universidade Federal de Mato Grosso

Simone Hirata
Universidade Federal de Mato Grosso

Willian Luan Rodrigues Pires


Universidade Federal de Mato Grosso

Elba de Oliveira Pantaleão


Universidade Federal de Mato Grosso
RESUMO

Desenvolver sustentavelmente tornou-se um desafio para as Micro e Pequenas Empresas


(MPE), visto que as exigências são inúmeras quando se fala em impactos ambientais, dessa
maneira, o principal objetivo desta pesquisa é descrever as práticas de inovações sustentáveis
que uma microempresa do ramo de lavanderia realiza e identificar as ferramentas utilizadas por
ela como estratégia para essas inovações. A pesquisa é teórica, na qual foram utilizadas técnicas
bibliográfica e documental, os dados são extraídos de fontes secundárias. Para a análise e
interpretação dos dados foi feito um estudo de caso da empresa pesquisada, cujos resultados 109
demonstraram que a empresa é inovadora no quesito desenvolvimento sustentável, além de ser
uma referência em sua área de atuação. Concluímos que as ferramentas que viabilizam a
inovação sustentável na empresa estudada são: Ecoeficiência, Produção Mais Limpa e a Política
de Gestão dos Resíduos Sólidos.

Palavras-chave: Micro e Pequenas Empresas; Estratégia; Inovação sustentável.

TOOLS AS A FACTOR OF INNOVATION IN MICRO AND SMALL BUSINESSES

ABSTRACT

Developing in a sustainable way has become a challenge for micro and small enterprises (MPE),
since the requirements are numerous when it comes to environmental impacts; thus, the main
objective of this research is to describe the practices of sustainable innovations that a micro
laundry business performs and identify the tools used as a strategy for these innovations. The
research is theoretical, in which bibliographic and documentary techniques were used, the data
were drawn from secondary sources. For the analysis and interpretation of the data a case study
of the researched company was conducted, whose results showed that the company is
innovative in terms of sustainable development, besides being a reference in its area of
operation. We conclude that the tools that enable sustainable innovation in the company studied
are: eco-efficiency, cleaner production and the solid waste management policy.

Keywords: Small Business; Strategy; Sustainable Innovation.

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INTRODUÇÃO

A responsabilidade socioambiental tornou-se um diferencial nas empresas


contemporâneas que têm como desafio atual produzir e ofertar produtos e serviços de forma
sustentável, abarcando a preocupação com o desempenho e o desenvolvimento de suas
atividades e os seus impactos no ambiente. Como os recursos naturais precisam ser preservados
por não serem ilimitados, existe em contraponto à necessidade de fomentar a economia e
atender as demandas da sociedade. Surge nesse momento a necessidade de inovar
sustentavelmente, um processo que requer uma visão holística do sistema organizacional de
forma a atender a três demandas essenciais: econômica, social e ambiental.
No Brasil surgiu a Lei de nº 10.973/2004 com o objetivo de incentivar a inovação através
das Micro e Pequenas Empresas (MPE´s), que em seu artigo 21 estabelece que “as agências de
fomento deverão promover, por meio de programas específicos, ações de estímulo à inovação
nas micro e pequenas empresas, inclusive mediante extensão tecnológica realizada pelas
Instituições Científica e Tecnológica”. Apesar das questões burocráticas, acredita-se que o
desenvolvimento de políticas de fomento à inovação seja importante para viabilização da
efetividade das práticas inovadoras nas MPEs.
As empresas inovam para se adequar às legislações ambientais, cujas normas servem
como resposta do poder público às denúncias crescentes da sociedade aos órgãos de proteção
ao meio ambiente. Um exemplo é a Lei nº 12.305/2010 que instituiu a Política Nacional de
Resíduos Sólidos (PNRS), na qual se determina que as empresas insiram no processo de
produção a logística reversa5, além de estabelecer a responsabilidade compartilhada entre a
empresa, o consumidor e o poder público.
Dias (2013) afirma que existe no mínimo 3 motivos pelos quais as MPEs devem se
preocupar em desenvolver práticas sustentáveis. O primeiro refere-se às cobranças de uma 110
sociedade que está cada vez mais consciente e, em consequência, tende a exigir leis mais
rígidas. O segundo está relacionado às exigências das grandes empresas, visto que estas
preferem fornecedores e parceiros que adotem estratégias sustentáveis nos processos. O terceiro
engloba questões de competitividade, pois compreende que o governo também tem
responsabilidade social. Neste último caso, podemos citar como exemplo, uma licitação em que
um dos critérios de escolha da empresa considere atitudes sustentáveis desenvolvidas pelos
participantes do certame.
Diante da alta competitividade e do capitalismo empresarial, a inovação é um pré-
requisito para a inserção e manutenção das empresas, inclusive para as MPEs, diante da
concorrência de mercado. Os consumidores estão mais exigentes e informados, procuram e
preferem produtos ecológicos que possam ser reaproveitados, reutilizados e reciclados,
exigindo que as organizações se posicionem diante dos problemas ambientais.
Dessa maneira, o objetivo dessa pesquisa é analisar as práticas que uma microempresa
do ramo de lavanderia realiza, identificando as ferramentas utilizadas por ela como estratégia
para Inovação Sustentável.
Nesse contexto, passamos a levantar a seguinte questão: quais as ferramentas que as
micro e pequenas utilizam ao desenvolver a inovação sustentável? Observamos que a
obrigatoriedade exige mudanças que em princípio são tidas como de alto custo, mas que em
longo prazo, podem ser compensatórias através de benefícios como: reduções de custos fixos,
minimização do desperdício de matéria-prima, além de melhoria da imagem institucional junto
aos parceiros e ao público.

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Segundo SEBRAE (2014), existe no Brasil 8,9 milhões de micro e pequenas empresas
que representam 27% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, um percentual relevante e que
demonstra a importância das MPEs na economia brasileira como geradoras de emprego e renda.
Tendo em vista que as empresas de pequeno porte são consideradas como as principais
geradoras de riqueza no comércio brasileiro, com 53,4% do PIB (SEBRAE, 2014) neste setor,
inovar é uma estratégia que resulta em vantagem competitiva para as organizações e quando
aliada ao fator sustentabilidade, pois agrega valor à sua reputação diante do mercado
consumidor e de sua concorrência, atendendo às expectativas e às necessidades demandadas
pelos stakeholders.
Por isso, é imprescindível que as MPE´s tenham atitudes inovadoras que favoreçam a
produção sustentável, ou seja, que atendam as necessidades presentes sem impactar gerações
futuras. Justifica-se a relevância desse estudo pela importância do mapeamento prévio das
ferramentas utilizadas no processo de inovação sustentável para esse perfil de empresa e assim
minimizar a probabilidade de insucesso do empreendimento.

REFERENCIAL TEÓRICO

A revisão bibliográfica é composta pela fundamentação de inovação, no qual serão


identificadas também algumas ferramentas utilizadas na Gestão Ambiental de uma
Microempresa, com a Ecoeficiência, Produção Mais Limpa e a Política dos 3Rs.

INOVAÇÃO
Para Shumpeter (1982) inovar significa introduzir um novo produto, um método de
produção, abrir um novo mercado, a conquista de uma nova fonte de matéria prima ou uma 111
nova organização de qualquer indústria. Para Oslo (2005) a inovação não está apenas
relacionada com a tecnologia, mas também com o aprimoramento das práticas produtivas, dos
bens e de serviços disponibilizados no mercado, sendo vista como uma ferramenta de estratégia
para a competitividade.
Muitos confundem as palavras Inovação e Invenção. A primeira remete a progressão,
ao desenvolvimento por meio de um descobrimento quando colocado em prática (LABIM,
1995). A criação de um produto nem sempre será uma inovação. Para que seja considerado
como tal “é preciso que o processo ou o produto seja rentável economicamente” (ZAWISLAK
1995, p. 148).
Silva (2012) afirma que as MPEs têm algumas vantagens na hora de inovar, pois são
mais flexíveis quanto às mudanças, possuem profissionais multifuncionais e as decisões são
centralizadas. Entretanto, percebe-se que é comum inovarem para corrigir algum erro, e não
por exercitar a capacidade de inovar.
A mesma autora descreve quatro formas de conceito de inovação sustentável que se
dividem em: a) Modelos Organizacionais: no qual política interna agrega princípios de gestão
sustentável, sensibilização dos colaboradores e consultoria interna; b) Processos de Inovação
Sustentáveis: no qual em suas práticas é desenvolvido algum processo inovador e ou sustentável
em relação aos produtos, aos equipamentos e processos; c) Produtos inovadores e sustentáveis:
registro de patentes, criação de produtos com ciclo de vida fechado e d) Pesquisa e
Desenvolvimento: pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e processos (SILVA, 2012).
Dessa maneira Silva (2012) destaca que a inovação sustentável não se limita a uma única
maneira de adoção. A sustentabilidade é vista como a melhor das inovações deste século, pelo

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motivo de proporcionar o equilíbrio com a natureza por meio de padrões produtivos


sustentáveis.
Para Tidd, Bessant e Pavitt (2005) as inovações ocorrem quando o processo
organizacional é integrado à estratégia da empresa, resultando em vantagem competitiva. Os
autores descrevem o processo de inovação em quatro etapas: analisar o ambiente interno e
externo para poder identificar ameaças e oportunidades relacionados à mudança; decidir
estrategicamente como desenvolver a mudança e quais demandas atender; obter recursos
necessários para responder, por meio de serviço ou produto novo, pesquisa e desenvolvimento
ou pela transferência de tecnologia. A última etapa refere-se à implementação do projeto, no
qual irá desenvolver a tecnologia e o mercado irá atender.
Contudo, para a promoção da inovação, é preciso a articulação de três agentes principais,
que segundo Silva (2012) são: o Estado, que fomenta políticas públicas; as universidades e
institutos de pesquisa, que compartilham conhecimentos e as empresas, que investem na
transformação dos produtos e serviços, viabilizando o desenvolvimento do país.
O governo com objetivo de incentivar a inovação no país, no ano de 2004 criou a Lei nº 10.973
na qual estabelece medidas que viabilizam a pesquisa científica e tecnológica no ambiente
produtivo. No artigo 2º, inciso IV, da referida Lei, encontramos o conceito de inovação como
“introdução de novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo ou social que resulte em
novos produtos, processos ou serviços”. Surgem então as agências de fomento, compreendidas
em Instituições Científica e Tecnológica (ICT) e os Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs)
entre outras. Essas agências de fomento devem promover, por meios de programas específicos,
estímulo à inovação nas MPEs.
Apesar da existência de instituições públicas que promovem a inovação nas empresas
de Mato Grosso, tal como a Secretaria de Estado de Ciência e tecnologia (SECITEC) e o
Escritório de Inovação e Tecnologia (EIT) da UFMT, grande parte das empresas do Estado 112
desconhece este suporte ou não participam dos editais por motivo de capacidade técnica ou por
não ter confiança nos programas de inovação promovidos pelo governo (SILVA, 2012).
Para Barbieri (2007) não basta apenas que as empresas inovem, é necessário que elas se
desenvolvam sustentavelmente considerando três dimensões: (1) Social, em que a empresa deve
assumir responsabilidade social, pois as suas ações causam impactos internos e externos e por
isso deve prestar suporte à comunidade, desenvolver os recursos humanos, além de promover
e participar de projetos sociais; (2) Ambiental, que se refere ao atendimento das legislações,
produção de produtos ecologicamente corretos, tecnologias limpas, reciclagem e tratamento de
efluentes e resíduos, cujas práticas demonstrem a preocupação com o meio ambiente; e (3)
Econômica, que está relacionada à obtenção de lucro e vantagem competitiva no mercado.
Assim, para que o negócio seja sustentável deve ser em suma: ecologicamente correto,
economicamente viável, socialmente justo e culturalmente aceito (SACHS, 2004). Atender
essas dimensões torna o processo de inovação mais valorizado, visto que permite obter
resultados positivos não apenas para a população, mas também para a organização.
Nesse contexto, o desenvolvimento sustentável deve ser visto não separadamente do
desenvolvimento econômico, mas como um grande modelo de gestão que traz a vantagem
competitiva de ser ecologicamente melhor (DONAIRE, 1999).
Barbieri (2004, p.20) afirma que esses valores “auxiliam para dotar a organização de
vantagens competitivas sustentáveis, já que a empresa se antecipa no atendimento de novas
demandas por meio de ações legítimas e verdadeiras, criando um importante diferencial
estratégico”. Empresas menores encontram maior dificuldade para obter financiamento do que
as grandes que já possuem destaque para produção de tecnologia e produtos inovadores.

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PRÁTICAS E FERRAMENTAS PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL


ECOEFICIÊNCIA E PRODUÇÃO MAIS LIMPA
A ecoeficiência é uma estratégia ambiental, pois refere-se à utilização dos recursos
disponíveis no planeta com a máxima eficiência, e tem como princípio basilar a redução do
consumo de energia e de matéria prima (BARBIERI, 2007).
Essa ferramenta agrega valor aos processos produtivos, pois otimiza o uso dos recursos,
além de minimizar os resíduos provenientes da produção, posto que seus objetivos são: reduzir
o consumo de água, energia e materiais não renováveis com bens e serviços; viabilizar a
reciclagem e o aproveitamento dos materiais, aumentar o consumo de recursos renováveis,
diminuir as substancias tóxicas; fomentar a competitividade entre as empresas e minimizar os
impactos ambientais (DIAS, 2006).
O World Business Council for Sustainable Development (WBCSD, 2000) entende que
a ecoeficiência é uma filosofia de gestão que possibilita ao empresariado procurar melhorias
ambientais que resultem em benefícios econômicos. Concentra-se em oportunidades de negócio
que permitem às empresas serem mais lucrativas e mais responsáveis ambientalmente, de modo
a incentivar a inovação e, em consequência, o crescimento e a competitividade. No
entendimento de Salgado (2007 apud ALVES et al., 2009) a ecoeficiência é uma das
ferramentas que viabiliza a sustentabilidade empresarial, e surge como uma resposta das
empresas para a as cobranças diárias de ações que integrem o desenvolvimento sustentável.
Para a efetivação da ecoeficiência, torna-se comum a adoção da Produção Mais Limpa
(P+L) prática que se refere a realização contínua de estratégia econômica, ambiental e
tecnológica voltada para a prevenção da poluição nos processos e produtos. A P+L engloba
qualidade, planejamento, segurança, meio ambiente, design, saúde ocupacional e eficiência do
sistema produtivo (ELIAS et al., 2004).
Nascimento (2012) infere que práticas ecoeficientes geram melhorias econômicas, pois 113
estas além de respeitar o meio ambiente, minimizam os custos mantendo a qualidade dos
produtos e serviços prestados. O autor enfatiza que isso gera vantagem competitiva e
potencializa os mercados já existentes.
Dessa forma, Kraetz e Alencastro (2013) enfatizam que P+L é o uso ininterrupto de uma
estratégia ambiental preventiva e se refere aos processos produtivos (conservação de matérias
primas e energia, eliminação de matérias primas tóxicas, redução da quantidade e da toxidade
dos resíduos e emissões gases poluentes), produtos (redução dos impactos negativos ao longo
do ciclo de vida de um produto, desde a extração da matéria prima até sua disposição final) e
serviços (incorporação de preocupações ambientais no planejamento de entrega dos serviços)
para aumentar a ecoeficiência e reduzir os riscos na saúde humana e no meio ambiente.
Para Almeida (2002) a empresa aprende a valorizar os resíduos antes do descarte, ou
seja, os rejeitos passam a ser colocados no mercado com valor e serviços agregados. Isso
estimula a criatividade, direciona para a inovação e, portanto, a novos produtos.
Nesse sentido, existem no processo de produção três elementos exigidos pela P+L: a melhoria
tecnológica, aplicação de know how e a mudança de atitudes, o que se torna um diferencial
quando comparada com outras técnicas produtivas (NASCIMENTO, 2012).
De acordo com o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável
(CEBDS, 2015), a P+L pode ser utilizada como ferramenta para melhoraria de gestão ambiental
da empresa no qual atinge:
• O ambiente interno: os gestores e colaboradores da organização
• As autoridades ambientais: por meio da adequação as exigências legais e ambientais.
• Os parceiros que interagem com a organização: terceirizados, fornecedores e
distribuidores.

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• A comunidade em geral: por perceber as práticas de prevenção a poluição, na qual


minimiza os danos para a população.

Para orientar as empresas com interesse na implantação da P+L, foi criada no Brasil
uma rede denominada Rede de Produção Mais Limpa6, que tem como finalidade incentivar as
práticas sustentáveis que viabilizam a inovação e a vantagem competitiva nas empresas. Essa
rede produziu o “Guia da Produção Mais Limpa: faça você mesmo”, onde possui metodologias
para implantação da P+L.

POLÍTICA 3 RS DOS RESÍDUOS SÓLIDOS


A Política dos 3 Rs refere-se a um princípio voltado para a gestão dos resíduos sólidos,
no qual foi sugerido na Conferência da Terra realizada em 1992, com o intuito de diminuir o
consumo desmedido pela população. Na agenda global, dois dos objetivos destacados no 21º
capitulo são a redução ao mínimo dos resíduos e a maximização ambientalmente saudável do
reaproveitamento e da reciclagem dos resíduos. Um ano depois, em 1993 foi lembrado no 5º
Programa Europeu para o Meio Ambiente e Desenvolvimento.
Mousinho (1999, apud TRIGUEIRO, 2005) afirma que esse princípio tem como base
uma hierarquia de procedimentos, a saber: Reduzir (matérias-primas e energia, a quantidade de
material a ser descartado), este primeiro está ligado com o consumo consciente, reduzir o
desperdício; Reutilizar (os produtos usados, dando a eles outros usos) encontrar funções
secundárias para o produto que já realizou a sua função primária e que iria para o lixo; e Reciclar
(retornar o que foi utilizado ao ciclo de produção) e produzir um material a partir de um produto
já utilizado.
Ainda segundo a autora, “o princípio dos 3 Rs está orientado para uma mudança dos
padrões não-sustentáveis de produção e consumo, não devendo, portanto, a reciclagem ser uma 114
ação desvinculada dos dois primeiros Rs, o que poderia servir para legitimar o desperdício”
(MOUSINHO, 1999 apud TRIGUEIRO, 2005, p.73).
No Brasil, no art. 3º da Lei nº 12305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos
Sólidos, define a reciclagem como um “processo de transformação dos resíduos sólidos que
envolve a alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas ou biológicas, com vistas à
transformação em insumos ou novos produtos” e a reutilização como “o processo de
aproveitamento dos resíduos sólidos sem sua transformação biológica, física ou físico-
química.” Essas ferramentas podem ser aplicadas concomitantemente pelas empresas
interessadas que estejam interessadas em resultados mais sólidos e que possam abranger todos
os níveis de operação do negócio.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Trata-se de uma pesquisa exploratória e descritiva, na qual inicialmente foi realizado


um levantamento bibliográfico, baseado em artigos, tese de doutorado e livros. Vergara (1998)
afirma que pesquisa bibliográfica é o estudo sistematizado desenvolvido com base em material
publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas, isto é, material acessível ao público em
geral.
Realizou-se um estudo de caso em uma microempresa do ramo de serviços de lavanderia
localizada no estado de Mato Grosso. Segundo Yin (2001), um estudo de caso é uma pesquisa
empírica que investiga um fenômeno atual dentro de um contexto real e tem como diferentes
fontes e evidencia. Vergara (1998) entende como um circunscrito de um ou múltiplos casos, de
uma pessoa, família, um produto, uma empresa, um órgão público, uma comunidade ou um

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país, a autora salienta que esse tipo de estudo tem como característica profundidade e
detalhamento. A principal característica de todos os estudos de caso é que estes tentam entender
e esclarecer o motivo de determinada decisão ou um conjunto de decisões, como elas foram
implementadas e quais os resultados conquistados (YIN, 2001).
Para coletar os dados da empresa foi realizada uma pesquisa documental, que para
Zanella (2009) refere-se à análise de documentos internos como os relatórios e manuais da
organização, notas fiscais entre outros ou externos da organização como as publicações (censo
demográfico, industrial) e dados de pesquisa já aplicadas. Os autores Lakatos e Marconi (2001)
inferem que a pesquisa documental é composta por dados de fontes primárias que pertence a
arquivos públicos ou particulares de empresas ou pessoas, podendo conter também dados
estatísticos, sendo estes documentos escritos ou não.
Gil (1999) afirma que esse tipo de pesquisa depende de materiais que ainda não foram
analisados, e por isso podem ser reelaboradas conforme o objeto de estudo do pesquisador.
Dessa forma utilizou-se no estudo um projeto de sustentabilidade (documento interno)
disponível no site da organização estudada e relatórios do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro
e Pequenas Empresas (SEBRAE, 2014).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A Empresa
A empresa “P” existe no mercado desde o ano de 2002 e atua no ramo de serviços de
lavanderia e tinturaria, sendo composta de uma matriz e uma filial na cidade de
Rondonópolis/MT e uma filial em Cuiabá/MT. O trabalho da empresa é tido como diferenciado
pelo fato de ser uma empresa inovadora por empregar em sua rotina de trabalho conceitos de 115
Desenvolvimento Sustentável até então não aplicados em empresas da região.
Em 2005, o proprietário passou a fomentar a ideia de inovar e oferecer serviços de
lavagem, tinturaria e pequenos ajustes de roupas mais adequados à sua pretensão de negócio,
visto que o mercado de lavanderia da região era composto basicamente por lavanderias
informais. Nesse viés, passou a pesquisar e promover a necessidade de mudar a gestão e os
processos da empresa, buscando incorporar a sustentabilidade ao seu ideal de negócio, seguindo
a premissa de que queria ser mais produtivo, fazer menor uso de água e energia elétrica para
que fosse oferecido menor preço aos consumidores.
Dentre os quatro conceitos de inovação sustentável citado por Silva (2012), a empresa
se enquadra no Modelo organizacional e Processos de Inovação Sustentáveis, pois a
organização agrega em sua política princípios de gestão sustentável, isso porque realiza um
trabalho de sensibilização e treinamento com os colaboradores além de inserir no processo uma
gestão inovadora que visa minimizar os impactos no meio ambiente, com auxílio de tecnologia
e equipamentos sofisticados.
Sabendo que no processo de lavagem são gastos elevada quantidade de água e de
produtos químicos (que causam sérios danos ambientais), gerando também gastos de energia,
o dono da empresa compreendeu que era necessário a busca pela inovação e sustentabilidade
ambiental, pois a gestão ambiental potencializa vários fatores que Dias (2006) identifica como
itens medidores de competitividade e são eles: custo, qualidade do produto e serviços.
Donaire (1999) afirma que há benefícios econômicos que são a diminuição dos custos e
de matéria prima, o incremento de receitas no qual se refere ao aumento da demanda e linha de
novos produtos; além de benefícios estratégicos, que agregam valor aos recursos de reputação,

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aumentam a produtividade, estimulam a criatividade para novos desafios, além de melhorar a


imagem corporativa diante stakeholders.
Em seu Projeto de Sustentabilidade, a empresa expressa que seu cuidado com o meio
ambiente é divido em: a) ações operacionais, que compreendem as atividades operacionais e
utilizam a tecnologia, a padronização e a automação dos processos para diminuir os impactos
ambientais e b) ações administrativas, que são as aquelas em que a gestão de recursos e
processos são planejados e executados com finalidade de diminuir custos e uso de insumos.
Para que esse conceito de inovação sustentável fosse compreendido e incorporado ao negócio,
foram realizadas parcerias com os fornecedores de insumos e maquinários, possibilitando que
cada vez que uma nova máquina seja adquirida, seus funcionários possam ser treinados para
operá-la com segurança, evitando desperdício de insumos.
Com finalidade de consolidar o plano, adquiriu maquinário importado, estabeleceu
parcerias com empresas responsáveis pelo suporte e manutenção dos equipamentos de lavagem
e secagem das roupas, passou a oferecer treinamento para os colaboradores, padronizando os
processos e operações, dentre outras mudanças a seguir analisadas.
A etapa inicial do projeto se deu com a mudança de rotinas mais simples, tais como: o reuso de
sacolas na entrega dos consertos rápidos, a utilização de plástico ecológico para embalagem de
roupas lavadas e a implantação de varais para secagem nos casos de entrega superior a 24 horas.
A etapa posterior consistiu na importação de tecnologia da Espanha e Suécia
(maquinários); controle de consumo por processos de automação dos insumos/recursos de
lavagem (produtos químicos); adaptação dos equipamentos de passagem roupas.
No processo produtivo, houve redução de 32% no consumo de água e 42% de gastos com
manutenção de máquinas, visto que as antigas eram de operação manual e já estavam obsoletas.
Após a inovação com a implantação de equipamentos modernos e computadorizados, a lavagem
das peças passou a ser totalmente programada e controlada com medidor e redutor de consumo 116
de água, de energia elétrica e produtos químicos como: detergentes, amaciantes e alvejantes,
sendo estes selecionados com a quantidade adequada de acordo com a lavagem e o tipo de
tecido em um painel eletrônico disponível na máquina.
Cabe observar que a empresa optou pela troca de produtos químicos pelos
biodegradáveis certificados pelo Ministério da Saúde por meio da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA), além de realizar a neutralização do PH da água antes do
descarte na rede de esgoto.
Além de reduzir o uso da matéria-prima e fazer o uso consciente da água, a empresa
preza pelo uso eficiente da energia com o uso de energia eólica através de 12 exaustores que
servem tanto na secagem da roupa (denominado de “varal ecológico”) quanto na diminuição da
temperatura no ambiente. Tais práticas resultaram em 20% de economia no consumo de energia
no início da implantação do projeto, além de não emitir gases poluentes e nem gerar resíduos.
Isso é compatível ao que Barbieri (2007) postula sobre a ecoeficiência, principalmente quando
diz que o uso dos recursos disponíveis deve ser feito com a máxima eficiência com o objetivo
de mitigar o consumo de energia e de matéria-prima.
Para roupas com prazo de entrega de até 24 horas, são usadas secadoras que são movidas
a gás liquefeito de petróleo (GLP), que possui alto poder calorífico e transforma a mesma
quantidade de calor com menos quantidade de gás, reduzindo dessa maneira a emissão do
carbono, um dos gases causadores do efeito estufa. O consumo em média de GLP por quinzena
é de 185 kg.
As peças com prazo de entrega superior a 48 horas são colocadas em varais para secar
naturalmente, pois o clima quente da região centro-oeste favorece esse processo, reduzindo
ainda mais o consumo de energia elétrica.

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As entregas das roupas são feitas com um triciclo ao invés de um carro de grande porte,
por consumir menos combustível. Com essa troca foi gerada uma economia de 36% em
combustível e consequentemente, emissão de menos gases poluentes no ar como: dióxido de
carbono (CO2), monóxido de carbono (CO), óxidos de nitrogênio (NOx), hidrocarbonetos não
queimados (HC), e compostos de chumbo e dióxido de enxofre.
Dessa forma, é possível afirmar que existe a Produção Mais Limpa efetiva no processo
de trabalho da empresa estudada. Kraetz e Alencastro (2013) diz que a P+L é uma estratégia
ambiental preventiva, sendo assim visíveis nas atividades de produção da empresa, quando
economiza água e energia, elimina matérias primas tóxica, quando utiliza produtos
biodegradáveis e reduz a quantidade e a toxidade dos resíduos e emissões gases poluentes.
A ecoeficiência e a reutilização (3 R´s) estão presentes na redução do consumo de
recursos naturais, pois as sacolas utilizadas na entrega da roupa são de papel ou plásticas, todas
reaproveitadas ou reutilizadas, com exceção das embalagens dos edredons, colchas e
cobertores, que necessitam de uma embaladora específica (alimentada com plástico ecológico).
Essa atitude reduziu de 6 para 2 tipos de bobinas de sacolas plásticas, visto também que
consequentemente, houve uma redução segundo o empresário de 32% na compra desse tipo de
material, isto vem a conciliar com que o Nascimento (2012) diz que a ecoeficiência minimiza
os custos e melhora a economia empresarial.
A combinação da automação com o uso adequado dos insumos químicos promoveu a
uniformização dos processos e a diminuição dos custos, resultando em maior competitividade,
conforme Figura 1.
Figura 1. Fatores resultantes incorporados ao negócio

117

Fonte: Elaboração dos autores (2017)

O investimento total de R$ 152.000,00 foi recuperado em 02 anos e 7 meses, e o


faturamento mensal da empresa passou a ser 5 vezes maior quando comparado ao período
anterior às mudanças. Demais resultados são apresentados no Quadro 1.

Quadro 1- Resultados após implantação de processos de inovação sustentável

Fonte: Sebrae (2012-2014), adaptado.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A empresa “P” ao incorporar à sua visão empresarial os processos administrativos e


operacionais aos conceitos de desenvolvimento sustentável, passou a promover a inovação
sustentável em seu negócio, fator primordial para diferenciação no mercado e vantagem
competitiva.
Com o uso de insumos biodegradáveis, fontes de energia alternativa (GLP, luz solar,
eólica), reutilização de embalagem, automação de processos dentre outros recursos, a empresa
acabou por executar várias ferramentas de gestão ambiental sustentável, das quais destacamos
os 3Rs, a ecoeficiência e a P+L e não necessariamente um Sistema de Gestão Ambiental (SGA),
mas pequenas atitudes com o uso dessas ferramentas geram resultados satisfatórios para a
população, e as microempresas podem continuar competitivas respeitando o meio ambiente.
Diante dos resultados, concluímos que existem micros e pequenas empresas no Estado
de Mato Grosso com atitudes inovadoras e sustentáveis, pois são diversas as barreiras
identificadas, sendo a mais específica para esse porte de organização a dificuldade de acesso ao
crédito para investimentos. Por isso, é preciso mitigar as lacunas existentes entre as MPEs e as
instituições de fomento para que o desenvolvimento da inovação sustentável seja inserido
nessas organizações.
Apesar ter grande representatividade no Brasil, as MPEs geralmente têm uma estrutura
mais frágil quanto à qualificação de pessoal e tecnologia inserida no sistema organizacional, o
que inviabiliza a inovação, isso porque a maioria inova por necessidade, ou seja, de forma mais
passiva, enquanto as grandes organizações são mais ativas.
Por isso, é relevante ressaltar que para implantação desse sistema de controle de
lavagem, foi necessário o gestor investir em equipamentos de alto padrão tecnológico, o que 118
para uma micro e pequena empresa pode ser uma barreira pela falta de capital, e como Barbieri
(2004) afirma, as empresas menores têm maior dificuldade para conseguir financiamento.
Apesar da Lei de Inovação determinar incentivos a esse porte de empresa, segundo Silva (2012),
a maioria das empresas de Mato Grosso desconhece este suporte ou ficam excluídas de editais
por não conformidade, enquanto outras não se sentem seguras com os programas de inovação
proposto pelo governo.
O compromisso dos gestores em compartilhar e agregar valores ambientais ao seu
negócio, bem como a atualização e treinamento de empregados e parceiros fundamentados
nesse mesmo ideal possibilitou resultados positivos, inclusive da expansão da empresa como
franquia para outras cidades, posteriormente onde o modelo de gestão considerado de sucesso
foi replicado.
Fica explicito que as MPEs têm capacidade para a inovação sustentável e pode ser um
diferencial no seu mercado de atuação. Contudo, é oportuno salientar que para isso é preciso
que busquem parcerias com outras empresas, comunidade, governo, stakeholders e se adequem
a uma ferramenta de gestão ambiental, incluindo então a responsabilidade compartilhada no
processo e a incorporação desses fundamentos em todos os níveis de gestão e operação do
negócio.

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