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PSICOLOGIA | LARISSA LIMA

PRIMEIROS PASSOS EM COSMOVISÃO CRISTÃ


PSICOLOGIA | LARISSA LIMA

SÉRIE PRIMEIROS PASSOS


EM COSMOVISÃO CRISTÃ

É com muita alegria e gratidão ao Senhor que o Instituto
Schaeffer de Teologia e Cultura apresenta a Série Primeiros
Passos em Cosmovisão Cristã.
A série será composta por livros digitais (e-books) introdu-
tórios sobre temas diversos, tratados de modo transversal à
Cosmovisão Cristã, com previsão de lançamentos mensais.
A compreensão do que seja a Cosmovisão Cristã e o seu
uso adequado são urgentes para os cristãos brasileiros, cujas
igrejas têm enfrentado desafios internos e externos no que
tange à comunicação e defesa da fé bíblica.
Oramos para que, apesar de nós, tais esforços sirvam à Igre-
ja de Cristo, de modo a auxiliá-la no preparo de seus membros,
enquanto aguardamos o breve retorno de Cristo.

PRIMEIROS PASSOS EM COSMOVISÃO CRISTÃ


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SOBRE O AUTOR

Larissa Lima, 23 anos, membro da Igreja Batista Maanaim
e estudante de psicologia (10º semestre,) interessada também
em Aconselhamento Cristão e em como essas duas áreas se
relacionam.

SOBRE O INSTITUTO SCHAEFFER


DE TEOLOGIA E CULTURA

O Instituto Schaeffer é formado por servos de Cristo, de va-
riadas denominações genuinamente cristãs, alcançados por
Sua Graça, que foram chamados para dedicar seus dons e ta-
lentos para a expressão da Glória de Deus em todas as suas
atividades, dentro e fora da igreja.

São homens e mulheres com longa trajetória de serviço em


suas igrejas locais e em ministérios paraeclesiásticos, que se
esforçam para demonstrar o Amor, a Verdade e a Justiça de
Deus em seus ambientes de estudo e trabalho.

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MINHA HISTÓRIA
COM A PSICOLOGIA

Entrei no curso de psicologia, em 2015, sem qualquer base


bíblica. Uma jovem de 18 anos que tinha acabado de se mu-
dar para a capital para estudar, e sem noção até mesmo dos
pilares da fé cristã. Também não estava congregando em uma
igreja ainda. Aconteceu que a Psicologia me colocou contra a
parede. Eu vi que tinha conflitos entre a psicologia e a minha
fé, e ouvia os professores na sala de aula dizendo que não
dava para conciliar cristianismo e psicologia.
Eu ouvi um professor dizer para mim que não importava
se eu fosse crente, o Espírito Santo tinha que ficar do lado de
fora do consultório quando eu fosse atender. Fora da sala de
aula, também ouvia cristãos dizendo “saia da psicologia por-
que não dá, é do diabo, é do demônio”, “não vá”, “não conti-
nue”, “saia do curso”.
Então, eu ouvia isso dentro da faculdade e também fora.
Enquanto eu tentava pelo menos seguir no curso sem o peso
de estar fazendo algo que “desagrada a Deus”, também pro-
curava meios de entender como atuar na área sem me dis-
tanciar de quem eu sou: uma cristã. Eu não entendia muita
coisa, mas sabia que essa era a minha identidade. Como dei-
xar Deus do lado de fora, se isso é parte de quem eu sou? Essa
grande confusão deu início ao que chamo de “minha crise
com a psicologia”. Por volta do terceiro semestre, comecei a
me interessar mais em estudos teológicos, queria realmente
entender o cristianismo e poder aplicar o que creio a todas

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as áreas da minha vida. Mas, no quinto semestre, minha cri-


se atingiu o ápice. Eu realmente achei que não dava, porque
estava lendo materiais de aconselhamento bíblico extrema-
mente anti-psicologia.
Foi aí que comecei também a perceber que não dava pra
fazer isso sem uma igreja, e corri para a comunidade onde
hoje faço parte. Busquei orientação com meu atual pastor e
ele me aconselhou a continuar, mesmo sem entender muitas
coisas, e continuar estudando. E estou estudando até hoje.
Tudo o que você vai ler aqui é um resumo do que tenho per-
cebido e aprendido com livros, artigos, muitas conversas e
alguns pedidos de socorro regados a desespero. Esse é o meu
contexto.

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AFINAL, O QUE É
PSICOLOGIA

O nome psicologia vem do grego psique, que significa alma


ou mente, e logos, vem de estudo. Logo, psicologia é o estudo
da mente ou da alma. Segundo o dicionário, “a psicologia é
uma ciência que trata dos estágios e processos mentais, do
comportamento do ser humano, e de suas interações com o
ambiente físico e social.” Essa é uma definição mais resumi-
da.
A verdade, entretanto, é que não existe uma psicologia, mas
sim psicologias. Por ter um objeto de estudo complexo e nem
sempre fácil de observar, a psicologia tem mais de 100 abor-
dagens, e essas abordagens discordam entre si sobre quem é
o homem, o que o influencia e qual a solução para os proble-
mas que o afetam. Por isso que é difícil formular uma opinião
sobre “a psicologia”, porque existem várias diferentes. Algu-
mas psicologias estão mais perto da ciência, outras estão mais
perto da filosofia, outras são consideradas pseudociências.
A psicologia tem abordagens que não são científicas, mas,
por conta desse estudo geral sobre o comportamento huma-
no, é tratada como uma ciência: a ciência psicológica. 
A psicologia é uma ciência relativamente nova, principal-
mente aqui no Brasil. No mundo, ela foi estabelecida como ciên-
cia em 1879, quando Wundt fundou o primeiro laboratório de
psicologia na Alemanha. A psicologia foi regulamentada como
ciência e profissão no Brasil apenas em 1962. Sendo assim, é
possível perceber que muitos dos nossos conflitos para definir a

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psicologia vêm também do fato de que ela é uma ciência nova.


E, sendo nova, nós estamos ainda no processo de construir
essas definições.

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3 PROBLEMAS
COMUNS

Existem alguns problemas comuns quando a gente fala


sobre psicologia, e eu quis destacar três que considero prin-
cipais. O primeiro problema comum é o que diz que não há
espaço para a psicologia no meio cristão. Esse problema vem
mais dos cristãos que acreditam que não é possível conciliar,
visto que a psicologia é uma ciência da alma, e, segundo eles,
a Bíblia já trata de todos os problemas da alma. Sendo assim,
a psicologia se torna desnecessária.
O segundo é que não há espaço para o cristão na psicologia,
e esse problema é mais direcionado ao contexto da área
psicológica, sendo um pensamento recorrente entre psicó-
logos, terapeutas e professores universitários. Geralmente é
uma linha de pensamento dos não cristãos, como o meu pro-
fessor que disse que o Espírito Santo deveria ficar do lado de
fora. Segundo esse pensamento, a sua religião não pode en-
trar na sua vida profissional. Esse problema envolve muito
a dificuldade de conciliar uma cosmovisão cristã com a psi-
cologia, porque nas outras profissões não existe tanto essa
limitação, e na psicologia isso é bem forte. O código de ética é
bem duro quanto a isso.
E o terceiro problema: aceitação incondicional e as eva-
sivas admiráveis. Peguei emprestado o termo do psiquiatra
Theodore Dalrymple. Esse termo se refere ao problema de
usar algo para justificar os maus comportamentos, e não se

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pode negar que a psicologia tem sido muito utilizada pra isso
nos nossos tempos. De certa forma, há uma desresponsabi-
lização e uma aceitação incondicional. Não me entenda mal,
nem de longe quero dizer que não se deve aceitar a psicolo-
gia. Mas há um perigo quando essa aceitação ocorre de forma
acrítica e saímos gritando ao mundo que “todo mundo preci-
sa de terapia”, como se a terapia fosse a solução para todos
os problemas da humanidade. Nos próximos tópicos, vamos
falar sobre cada um desses problemas de forma detalhada.

1. NÃO HÁ ESPAÇO PARA A PSICOLOGIA


NO MEIO CRISTÃO

O homem é um ser complexo e cheio de diferentes aspec-


tos. Cada aspecto conversa entre si numa interação, e é difícil
separar um do outro. No seu livro “Morte na cidade”, Francis
Schaeffer fala um pouco sobre a origem dos problemas psi-
cológicos do homem: “Do ponto de vista cristão, todas as alie-
nações que nós encontramos no homem vieram por causa
da Queda histórica espaço-temporal do homem. Em primei-
ro lugar, o homem está separado de Deus; em segundo, ele
está separado de si mesmo (daí os problemas psicológicos da
vida); terceiro, ele está separado dos outros homens (daí os
problemas sociológicos da vida); quarto, ele está separado da
navtureza (daí os problemas de viver no mundo - por exemplo,
os problemas ecológicos).” 1 Assim como nós temos doenças
físicas por causa da queda, que afetou o nosso aspecto físico,
nós também temos problemas psicológicos porque a queda
também afetou a nossa mente. Se existem tantos aspectos e

¹ Francis Schaeffer. Morte na Cidade.

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eles se relacionam uns com os outros, depois da Queda, essa


interação também foi afetada pelo pecado. Um transtorno
mental não tem uma causa específica, costuma-se dizer que
ele é multifatorial. Isso significa que é um conjunto de fatores
que desencadeia tal condição. Portanto, negar a existência dos
transtornos mentais é negar as consequências da queda na
totalidade do homem. É deixar de reconhecer como o pecado
afetou o homem por inteiro.
Com a premissa de que a Bíblia é suficiente, alguns cris-
tãos dizem que não precisamos recorrer a psicólogos quando
se fala de saúde mental. Mas é preciso lembrar que a Bíblia
é suficiente para aquilo que ela se propõe, para assuntos re-
lacionados à salvação das nossas almas. David Murray fala
um pouco sobre o assunto: “Eu creio que a Bíblia é suficiente
para nos capacitar a ler a ciência e separar o trigo da palha,
separar observações e conclusões verdadeiras das falsas, e
dessa forma fazer uso do conhecimento que Deus, em sua
graça comum ou providência, revelou em sua criação.”2
A Bíblia não se propõe a tratar um transtorno mental, como
também não se propõe a curar um câncer. Essa não é a fun-
ção dela. Mas a Palavra de Deus nos dá princípios e diretrizes
para ler a ciência e filtrar tudo o que estudamos e direcionar
nossas atitudes.
Quando dizemos que não há espaço para a psicologia no
meio cristão, estamos deixando de perceber parte do manda-
to cultural. Sim, existem problemas na psicologia, mas nós,
cristãos, somos chamados para atuar na cultura de forma bí-
blica e relevante em todas as áreas possíveis. Como Ronald
Nash comenta: “Nós não temos de ter medo de qualquer ver-

² David Murray. Crente Também Tem Depressão.

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dade em qualquer área, pois o próprio Deus é o autor de toda


verdade. Não pense que você tem de correr da ciência, ou da
filosofia, ou de qualquer outra coisa, para proteger a sua fé.
Toda verdade é a verdade de Deus.”3
É importante ter em mente que Deus atua por meio de sua
graça comum na psicologia. As descobertas que as pesquisas
no campo do comportamento humano nos proporcionaram
são de grande utilidade para melhorar a vida das pessoas.
A solução, então, não é fugir da ciência psicológica, mas sim
conhecer cada vez mais os desafios e entrar nesse meio bem
municiados com a Palavra de Deus.

2. NÃO HÁ ESPAÇO PARA O CRISTÃO NA PSICOLOGIA

Grande parte das pessoas que dizem que não tem como ser
cristão na psicologia está baseada no mito da neutralidade
científica. Essas pessoas acreditam que, como os cristãos são
religiosos, a única possibilidade é se desfazer do cristianismo
quando estiverem em contato com sua área de atuação. Mas
a verdade é que todo homem é religioso, e não há ninguém
que atue na psicologia ou em qualquer outra profissão que
consiga se desfazer totalmente da cosmovisão que forma sua
identidade.
É ingenuidade acreditar que o homem pode realmente ser
neutro. Willem Ouweenel sobre esse mito: “A história da psi-
cologia deixa muito claro o quanto os psicólogos famosos fo-
ram influenciados nas suas pesquisas pela ideia que tinham
acerca do homem. Seja como for, os psicólogos cristãos são,
em geral, bastante sinceros para admitir que iniciam seu tra-

³ Ronald Nash. Cosmovisões em Conflito.

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balho científico com uma concepção cristã do homem em


mente. É por essa razão que alguns cientistas acusam os psi-
cólogos cristãos de serem tendenciosos. E é verdade que eles
sejam tendenciosos! Mas devemos entender aqui que todos
os psicólogos são tendenciosos e que todos partem de uma
concepção preestabelecida do homem. Isso não significa que
os outros psicólogos sejam neutros, objetivos e imparciais,
enquanto os cristãos não o são. A diferença é que os psicó-
logos seculares partem de uma concepção do homem con-
cebida pelo próprio homem, enquanto os psicólogos cristãos
partem de uma concepção do homem baseada na revelação
de Deus.”14
Como Ouweneel fala, todo psicólogo sai de casa com uma
concepção estabelecida sobre quem é o homem e sobre o
mundo. O cristão não é diferente, ele tem (ou deve ter) sua
cosmovisão baseada na Bíblia. Não há como ordenar a um ser
humano que ele seja neutro, pois tudo o que ele faz está mar-
cado pelo que ele acredita, mesmo que não perceba. Segundo
James Sire, “Cosmovisão é um compromisso, uma orientação
fundamental do coração, que pode ser expresso como uma
estória ou num conjunto de pressuposições, que sustentamos
(consciente ou inconscientemente, consistente ou inconsis-
tentemente) sobre a constituição básica da realidade, e que
nos fornece o fundamento no qual vivemos, nos movemos e
existimos.”²
Não há um homem sem cosmovisão. A diferença é que al-
guns reconhecem que tem, e esses são, em sua maioria, os
cristãos. Dizer que não há espaço para o cristão na Psicolo-
gia é apenas preconceito. Os crentes não devem se acovardar


1
Willem Ouweneel, Coração e Alma.
² James Sire, Dando Nome ao Elefante.

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diante dos ataques, mas responder de acordo com aquilo que


Deus espera de nós. É verdade que existem coisas ruins na
Psicologia, mas isso talvez seja uma consequência de termos
passado tanto tempo fugindo daquilo que parece apresentar
um conflito. O conflito existe sim, mas há uma forma de lidar
com ele.

3. ACEITAÇÃO INCONDICIONAL E
AS EVASIVAS ADMIRÁVEIS

Na peça Rei Lear, de William Shakespeare, há uma citação


que demonstra o que estamos falando neste tópico: “Eis a su-
blime estupidez do mundo; quando nossa fortuna está aba-
lada - muitas vezes pelos excessos de nossos próprios atos
- culpamos o sol, a lua e as estrelas pelos nossos desastres;
como se fôssemos canalhas por necessidade, idiotas por in-
fluência celeste; escroques, ladrões e traidores por comando
do zodíaco; bêbados, mentirosos e adúlteros por forçada obe-
diência a determinações dos planetas; como se toda a per-
versidade que há em nós fosse pura instigação divina. É a
admirável desculpa do homem devasso - responsabiliza uma
estrela por sua devassidão.”
Desde o Éden, o homem procura algo para culpabilizar e
não assumir a responsabilidade pelos seus atos. É mais fá-
cil viver dessa forma do que mudar o seu comportamento.
Não se pode negar que a Psicologia, se aceita de forma acrí-
tica, pode ser usada para justificar as atitudes erradas do ser
humano. De fato, ela já está sendo utilizada para tal fim. Ao
mesmo tempo em que precisamos nos conscientizar sobre a
importância dela nos dias atuais, também precisamos pen-

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sar sobre responsabilidade humana. Uma psicologia boa vai


levar isso em consideração, mas uma psicologia ruim pode
jogar fora a decisão humana e levar em conta apenas o seu
passado ou o ambiente em que vive. Theodore Dalrymple, o
psiquiatra de quem peguei emprestado o termo Evasivas Ad-
miráveis, diz que “O desejo ou a ânsia de se transformar numa
vítima tornou-se tão grande que hoje as pessoas afirmam ser
vítimas de seu próprio mau comportamento.”¹5Temos que ter
cuidado para falar de Psicologia levando em conta essa res-
ponsabilidade humana, para que as pessoas não achem que
tem passe livre para agir como animais, dar liberdade a todos
os seus instintos e vontades e depois dizerem ser vítimas do
seu próprio comportamento.
Há um perigo quando fechamos os olhos para os proble-
mas da psicologia, e ele pode ter sérias consequências a lon-
go prazo. O psicólogo não é o salvador da humanidade e nem
deve ter a intenção de ser. Philip Rieff faz uma crítica a essa
situação: “O homem religioso havia nascido para ser salvo;
o homem psicológico nasceu para ser agradado. A diferença
foi há muito estabelecida, quando o “eu creio”, o brado do as-
ceta, perdeu a precedência para “a pessoa sente”, o caveat do
terapêutico. E se o terapêutico deve ganhar, então certamente
o seu guia espiritual secular será o psicoterapeuta.”²
Houve um tempo em que as pessoas procuravam ajuda
e aconselhamento em igrejas com líderes espirituais, e, por
mais benefícios que a psicologia nos traga hoje, a sua ascen-
são também provocou essa fuga. É importante ser crítico com
tudo o que estudamos e lemos e não acreditar, mesmo que
de forma inconsciente, que a psicologia tem a solução para o


1
Theodore Dalrymple, Podres de Mimados.

2
Philip Rieff, O Triunfo da Terapêutica.

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maior problema da humanidade, e muito menos usá-la como


desculpa para isentar o homem de assumir a responsabilida-
de pelos seus atos.
Alister McGrath nos lembra da realidade e da solução que
só o evangelho pode nos apresentar: “A ciência nos faz um re-
lato sobre a história e a natureza do mundo conhecido no qual
habitamos. Mas a ciência não conta a história toda. O cristia-
nismo é consistente com a história narrada pela ciência, mas
leva a história adiante. O cristianismo relata a história com-
pleta, da qual a ciência é apenas uma parte.”³6Embora possa-
mos encontrar verdades na psicologia, ela não nos conta toda
a verdade. Precisamos ser humildes ao reconhecer que ela é
uma parte importante da vida, mas jamais devemos elevá-la
a uma posição maior do que aquela que ela foi feita para ter.
McGrath é bem claro quando fala sobre os limites da ciên-
cia: “As ciências são simplesmente incapazes de oferecer res-
postas brilhantes e simples para as grandes questões da vida,
como as preferidas por Dawkins. Forçar as ciências a respon-
derem à questão que está além do escopo delas é abusar des-
sas ciências, não lhes respeitando a identidade e os limites.”³
A Psicologia não oferece uma redenção. Ela pode ser boa,
mas sempre vai ser limitada. A salvação e a solução última
para os nossos problemas só podem ser encontradas em Cris-
to Jesus, e é essencial ter isso em mente sempre que vamos
lidar com outro homem, também criatura de Deus, que está
diante de nós.


3
Alister McGrath, Surpreendido Pelo Sentido.

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É SUFICIENTE FAZER
UM BOM SAPATO?

Talvez você conheça a história de Lutero e do sapateiro.


“Um sapateiro convertido perguntou a Lutero o que deveria
fazer para servir bem a Deus. Ele talvez esperasse o conse-
lho de fechar o seu negócio e tornar-se pregador do Evange-
lho. Lutero respondeu: “Faça um bom sapato e venda-o por
um preço justo”. Ele serviria a Deus sendo um profissional
competente e honesto.”¹7É verdade que toda profissão feita
de forma digna e honesta glorifica a Deus. Mas, quando fala-
mos sobre psicologia, estamos falando sobre o ser humano, e
não sobre um sapato. Um sapato não tem alma e nem pecado.
Ao lidar com a ciência psicológica, é importante lembrar
que o papel do cristão não é apenas ser um bom psicólogo com
muitos títulos e um currículo surpreendente. É importante se
revestir da visão que o evangelho nos apresenta sobre o ho-
mem e a vida. Com isso não quero dizer que o psicólogo deve
ler a Bíblia ou orar quando estiver no momento de atuação
profissional, mas que ele deve levar em conta a cosmovisão
cristã desde o início do curso, para filtrar aquilo que é bom e
aquilo que não é.
Um cristão psicólogo pode ter mestrado, doutorado e PhD,
mas se não tiver uma cosmovisão cristã por trás de tudo o
que ele faz, talvez não esteja atuando da forma que deveria.


1
Michael Horton, O Cristão e a Cultura.

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Portanto, na psicologia não é suficiente “fazer um bom sapa-


to”, é preciso criar uma epistemologia cristã desde o começo.
Aqui vem a grande importância de ter uma boa base bíblica
ao iniciar o curso. Eu não tive, e por conta disso perdi muito
tempo. Passei por algumas disciplinas sem conseguir filtrar
o que me era dito, porque eu não tinha base suficiente para
criticar e saber o que aproveitar e o que jogar fora.
Não precisamos ter medo da psicologia, ela não é um mons-
tro que vai engolir sua fé. Mas, para aqueles que querem mer-
gulhar nessa área, é preciso estarem bem fundamentados na
Palavra de Deus para que nosso coração e nossa mente não
sejam sutilmente secularizados, enquanto ouvimos tantas
teorias diferentes daquilo que a Bíblia nos apresenta.

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EXISTE PSICOLOGIA CRISTÃ?

Diante do que foi apresentado, o desafio cristão é construir


uma psicologia boa, justa e verdadeira, que entenda seus li-
mites enquanto ciência, mas, ao mesmo tempo, nade contra
a maré dos reducionismos tão aclamados hoje em dia. Nossa
forma de enxergar a Psicologia deve ser moldada pela per-
cepção da realidade, e essa realidade só pode ser encontrada
aos pés da Bíblia. Não se pode esquecer que não é a Psicolo-
gia que nos ensina a ler a Bíblia, mas é a Bíblia que deve nos
ensinar a ler a Psicologia e qualquer outra ciência.
Não gosto de dizer que existe uma Psicologia Cristã, por-
que talvez ela ultrapassaria os limites da ciência e, de certa
forma, deixaria de ser psicologia (esse é um debate mais pro-
fundo que não cabe aqui). Mas sempre afirmarei que o cristão
pode ser psicólogo e glorificar a Deus com sua profissão, sem
medo de afirmar a sua identidade em Cristo. Se Psicologia
Cristã significa algo restrito aos cristãos e nos moldes de um
aconselhamento bíblico, a resposta, pra mim, é não. Para isso
já existe acompanhamento espiritual com líderes, pastores
e irmãos em Cristo. Mas eu acredito que cristãos, pensando
biblicamente, podem reter o que há de bom na ciência psi-
cológica e assim construir uma prática que não vá contra os
princípios bíblicos e também não fuja do próprio significado
do que é “Psicologia”.
Nesse sentido, me considero uma cristã psicóloga, porque
minha lente para ler a psicologia é a Bíblia, e não o contrário.
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É bem verdade que não podemos compreender o homem por


inteiro, mas Deus foi gracioso ao permitir que homens caídos
e limitados pudessem ser estudados e pudessem estudar as
complexidades relacionadas a si mesmos, para que o nome
dEle seja glorificado. Aqui temos reflexos de luz sobre o co-
nhecimento comum, mas ainda “vemos apenas um reflexo
obscuro, como em espelho” (1 Coríntios 13:12), e só veremos
a luz completa na Glória.
“Creio no cristianismo assim como creio que o Sol nasceu,
não apenas porque o vejo, mas porque por meio dele eu vejo
tudo mais.” (C.S. Lewis – O peso da glória)

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