PAC 404 Cura Interior e Batalha Espiritual
PAC 404 Cura Interior e Batalha Espiritual
PAC 404 Cura Interior e Batalha Espiritual
E BATALHA ESPIRITUAL
PAC 404
.
Wadislau Martins Gomes.
Setembro, 2009
Cura Interior e Batalha Espiritual – Wadislau M. Gomes – 2009 2
ORIENTAÇÃO
OBJETIVO
O objetivo geral da matéria é familiarizar o aluno com o material e as propostas de
cura interior e de batalha espiritual, discernindo os diferentes processos à luz da sã
doutrina. O objetivo específico é fornecer ao aluno uma visão da cura do coração
em termos de autoconfrontação ou de aconselhamento que seja realmente
redentivo, e uma visão da batalha espiritual que seja realmente a luta que todos
temos de enfrentar.
REQUISITOS E AVALIAÇÃO
A avaliação não visa coibir o aluno, mas, sim, fornecer parâmetros para melhor
aproveitamento da matéria, fixação do aprendizado e justa recompensa pelo bom
esforço. A avaliação leva em conta:
• Freqüência regular às aulas segundo o padrão da escola.
• Participação adequada e pertinente nas aberturas para discussão com o instrutor
e com os colegas, buscando compreensão ou demonstrando entendimento da
matéria dada. (Valor: 20 por cento da gradação final.)
• Leituras de, pelo menos, 900 páginas selecionadas entre as obras
recomendadas. A leitura de 1200 páginas acrescenta, 1 ponto à nota final. A
declaração de leitura deverá ser entregue até três meses depois da finalização do
módulo. (Valor: 30 por cento da gradação final.)
• Resenhas de três dos livros recomendados (5 laudas cada, fonte 12, 1 ½ entre
linhas), e uma declaração de posicionamento quanto às questões da cura interior
(2 laudas) a ser entregue até três meses depois da conclusão do módulo.
LEITURA RECOMENDADA:
CONTEÚDO
NATURAL E SOBRENATURAL
REALIDADE
LÓGICA
VERDADE
A “SOLUÇÃO” HÍBRIDA
RELAÇÃO DA PSICOLOGIA COM O ACONSELHAMENTO BÍBLICO
O ESQUEMA DO PENSAMENTO GREGO
CONFIGURAÇÃO DAS IDÉIAS
ANTROPOLOGIA BÍBLICA, TERAPIA E REDENÇÃO
A QUESTÃO DA FÉ (PÍSTICA) E DA MORAL
NATUREZA DA BATALHA
EXEGESE, HERMENÊUTICA E PRÁTICA CRISTÃ
DINÂMICAS DA VIDA ESPIRITUAL
NATUREZA DA CURA
ESPIRITUALIDADE
VISÃO SECULAR DA ESPIRITUALIDAE
VISÃO BÍBLICA DA ESPIRITUALIDAE
CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL
CONSCIÊNCIA DA SUPREMA SANTIDADE DE DEUS
CONSCIÊNCIA DA PROFUNDIDADE DO PECADO HUMANO
MODELO BÍBLICO DE REAVIVAMENTO ESPIRITUAL
CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL DO EVANGELHO “EM CRISTO”
JUSTIFICAÇÃO: SOMOS ACEITOS PELA GRAÇA MEDIANTE A FÉ
JUSTIÇA DE DEUS E JUSTIFICAÇÃO DO ÍMPIO
POR QUE A JUSTIFICAÇÃO?
COMO SE PROCESSA A JUSTIFICAÇÃO?
QUAL É O RESULTADO DA JUSTIFICAÇÃO?
SANTIFICAÇÃO: LIBERTOS DAS CADEIAS DO PERCADO
FÉ ARREPENDIDA
SANTIFICAÇÃO É GRAÇA MEDIANTE A FÉ
SATISFAÇÃO COM A OBRA COMPLETA DE CRISTO
HABITAÇÃO DO ESPÍRITO: NÃO ESTAMOS SÓS
OBRA TRINA
AUTORIDADE: CAPACITADOS PARA AS BOAS OBRAS
CONSCIÊNCIA DAS OBRAS QUE DEUS JÁ TEM PREPARADO
INSTRUÇÃO
COMUNHÃO
DONS ESPIRITUAIS
ADORAÇÃO
PALAVRA E ORAÇÃO
SERVIÇO
EVANGELISMO IMPLOSIVO
Cura Interior e Batalha Espiritual – Wadislau M. Gomes – 2009 5
INTRODUÇÃO
Qual é a diferença que existe entre os movimentos de cura interior e de batalha
espiritual e a nossa posição de conselheiros bíblicos de orientação reformada? Lou Priolo,
respondendo a outro tipo de questão, diz bem: “Um conselheiro realmente cristão é aquele
cujo modelo de aconselhamento reflete a Escritura em cada ponto.” Um conselheiro que
apenas é cristão, geralmente, tenta integrar diferentes fontes com sua própria leitura da
Palavra (ou sequer isso). “Um conselheiro cristão constrói seu aconselhamento de maneira
mais exegética” – continua Priolo. “Ele [...] não tem uma ‘teoria de aconselhamento’, mas
uma ‘teologia do aconselhamento’”. Priolo completa o pensamento, dizendo que uma das
grandes diferenças é a base pressuposicional de cada um. 1
Os modelos de cura interior e de batalha espiritual que hoje vemos, formam uma
síntese de coisas que têm estado por aí já há muito tempo, e que têm sido discutidas pelo
segmento da igreja que pauta pela soberania de Deus e sua revelação na Escritura: o Deus
que é o criador e sustentador de todas as coisas e que criou o homem, à sua imagem e
semelhança, como um ser responsável.2 Tais pressuposições estabelecem as linhas
divisórias para o discernimento da verdadeira batalha espiritual e da verdadeira cura
interior.
Jesus disse aos fariseus e saduceus que lhe pediam um sinal dos céus, que nenhum
sinal seria dado senão o de Jonas (no ventre do grande peixe?). Ele os advertiu de que
presumiam conhecer o tempo, mas não discerniam os verdadeiros sinais do céu (Mateus
16.1-3). Paulo escreveu aos coríntios que sua pregação não se baseava em poder humano
nem era mediante persuasão de humana sabedoria, mas poder e sabedoria de Deus. O
verdadeiro testemunho de Deus é Cristo “e este crucificado”. Não o poder e a sabedoria
deste mundo, mas aquilo que é revelado pelo Espírito. Seguindo o pensamento, ele fala,
então, do homem interior e do conhecimento das coisas do mundo – negados ao homem
natural (psuchikos), mas acessíveis àquele que é nascido de novo e tem a “mente de
Cristo”, discernindo as coisas espiritualmente (1Co 211-16; ver 1-16).
Há uma batalha espiritual de que todos nós participamos, e há uma cura interior
incluída na redenção de todo crente. Para vencer a batalha e para curar o coração, será
preciso aprender a discernir entre a Palavra de Deus e seus poderes e as vozes deste mundo
e seus poderes, entre o nosso próprio coração e seus desígnios e o curso deste mundo.
Como disse Francis Schaeffer, para onde quer que nos tornemos, “somos
impressionados com o fato de que há pouco conteúdo de fé. Tudo é experiência; a emoção
(ou sentimentalismo) é a base. Certamente, deveremos ser cautelosos, aqui, porque não
estamos dizendo que não deva haver experiência nem emoção. Há e deveria haver. Mas
nem experiência nem emoção configuram base de fé”.3
1
Priolo, Lou. What do you Presuppose? The Journal of Modern Ministry, Jay Adams, ed. Stanley, NC,
Timeless Texts. Vol. I, Issue I, Spring 2004, pp. 65-66.
2
Ver Carrol, Robert. Presuppositions One and Two: God’s Sovereignty and Man’s Responsibilities. The
Journal of Modern Ministry, Jay Adams, ed. Stanley, NC, Timeless Texts. Vol. I, Issue I, Spring 2004, pp.
67-73.
3
Schaeffer, Francis A. The New Super-Spirituality. London, Hodder and Stoughton, 1973, p. 26.
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NATURAL E SOBRENATURAL
Recentemente tem havido mais conversa sobre o diabo por
causa do reavivamento do oculto e o levantamento dos
ministérios de libertação carismática especializados em
exorcismo, mas é difícil dizer se tais fatores estimulará o
satanismo prático ou o retardará por meio da reação que
provoca.4
Richard Lovelace
Cornelius Van Til, em The Reformed Pastor and the Modern Thought (O pastor
reformado e o pensamento moderno) discorre sobre as cosmovisões cristãs e não cristãs.
Segundo ele, as diferentes pressuposições do pensamento cristão e do não cristão são
irreconciliáveis.
REALIDADE
4
Lovelace, Richard F. Teologia da Vida Cristã. São Paulo, Shedd Publicações, _______ , p. 134.
Cura Interior e Batalha Espiritual – Wadislau M. Gomes – 2009 7
Van Til diz ainda que “tanto o cristão quanto o não cristão mantêm que suas
posições estão ‘de acordo com os fatos da experiência’”. O cristão que tem uma
cosmovisão bíblica mantém isto porque interpreta tanto os fatos quanto a experiência em
termos de sua crença. Deus é quem sustém a “uniformidade da natureza”, a estabilidade
dos dias e noites, que lhe permite conhecer os “fatos”. “A coerência que ele vê é tomada
como analógica de, e na verdade, resultado da absoluta coerência de Deus”, diz Van Til. O
não cristão mantém certa coerência com suas próprias pressuposições. Por exemplo, a
pressuposição da inexistência de uma irracionalidade final. Os fatos não têm ligações com
outros fatos. Incoerentemente, “há a pressuposição de que toda realidade é reacional em
termos do alcance da lógica manipulada pelo homem”. Acaba que “a natureza de qualquer
fato seria idêntica à natureza de qualquer outro fato, ou, resumindo, um único fato
universal”. Mais incongruente ainda, nessa linha de pensamento, é que não havendo
conexão entre os fatos, não poderia haver mudança, e, não havendo mudança, não poderia
haver experiência. Por isso é que os cientistas sem ciência, dizendo-se incrédulos quanto
ao conhecimento ou descoberta de fatos além deles mesmos, crêem que são bastante
poderosos para conhecer qualquer coisa.
LÓGICA
Para Van Til, cada um, cristão e não cristão reivindicam que sua posição está “de
acordo com as demandas da lógica”. A lógica, para o cristão, é um dom de Deus, sendo
manipulada pelo homem em termos da revelação de Deus sobre a relação do homem com o
mundo. “Gênesis diz-lhe, que a natureza é colocada em sujeição ao homem, e que ambos
estão sujeitos a Deus e seu propósito. Portanto, sua lógica está engrenada com a realidade,
mas não afirma controlar o próprio Deus e, assim, toda possibilidade.” O não cristão
também afirma que sua posição é lógica, sem, contudo conseguir atribuir nenhum
significado inteligível à sua posição. “Sua lógica opera no vazio. Não tem contacto com o
mundo. Se ele opera segundo a pressuposição da finalidade de todos os fatos, então sua
lógica é conseqüentemente destruída porque perde sua individualidade”. Trata-se de uma
lógica puramente formal. “Seria somente uma lógica de identidade, dizendo meramente
que A é A, pois tudo seria uma só coisa.”5
VERDADE
5
Van Til, Cornelius, The Reformed Pastor and the Modern Thought, Phillipsburg, New Jersey, Presbyterian
and Reformed Publishing Co., 1980
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Todos os aspectos da psicologia secular têm algo da verdade (como não poderia
deixar de ser, uma vez que a realidade é feita da verdade, e a inverdade é a verdade
suprimida). O problema é que o pensamento humano rejeita a verdade pela injustiça. A
psicologia secular observa a realidade perceptível e coleta seus dados, mas os utiliza para
fugir de Deus, para negá-lo e para adorar e servir a criatura em lugar do Criador (Romanos
1:18-32). O resultado disso é que, sem acepção de pessoas, todos os homens têm,
naturalmente, um dilema moral que afeta sua consciência e seus pensamentos (Romanos 2.
11-16). Como conhecê-lo no que se refere à inteireza do seu ser, à integridade interna e sua
integração relacional, se o próprio julgamento de si mesmo está comprometido por causa
da injustiça?
Vem daí a necessidade de uma psicologia bíblico-teológica que permita o
aconselhamento cristão. As excelentes observações e dados da psicologia secular deverão
ser reciclados, isto é, desconstruídos e reorganizados numa estrutura de pensamento
bíblico.
Cura Interior e Batalha Espiritual – Wadislau M. Gomes – 2009 9
A “SOLUÇÃO” HÍBRIDA
CURA INTERIOR
Novamente, é preciso reafirmar a existência de coisa tal como cura interior. Jesus
Cristo, o Messias sofredor, de Isaías 53, “foi traspassado pelas nossas transgressões e
moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas
pisaduras fomos sarados” (v. 5). O autor de Hebreus indica: “fazei caminhos retos para os
pés, para que não se extravie o que é manco; antes, seja curado” (12.13). A questão é: de
que tipo de cura é que estes textos estão falando? Certamente não é a mesma cura interior
apregoada pelo evangelicalismo. Este tipo de cura interior porta um conteúdo de
concentração no eu (do curador ou da pessoa curada) perdido e anônimo no meio de uma
sociedade sem referencial externo e infinito.
6
Powlison, David. Power Encounters. Grand Rapids, Michigan, Baker Books, 1995, p. 25.
7
Jones, Peter. A Ameaça Pagã. São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2002, p. 36.
8
Entre bem e mal, certo e errado, verdade e erro, Deus e Satanás, humano e animal, macho e fêmea,
homossexual e heterossexual, heresia e ortodoxia, razão e irracionalidade.
9
Jones, Peter. A Ameaça Pagã. São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2002, p. 38-41.
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Esse tipo de individualismo, que tem especial afinidade com nossa cultura terapêutica,
assume que todas as pessoas têm direito de expressar um singular cerne de intuições e
sentimentos. Basta ligar a televisão para ver isto em ação! Não importando quão
embaraçoso seja a revelação, não importando quão íntimo seja, as pessoas querem falar
sobre suas coisas interiores. Querem falar ao mundo todo! Só podemos pensar que o studio
de televisão tenha se transformado em um novo confessionário. É o lugar, em vez de a
igreja, aonde pessoas depõem seus pesares.10
vai tomando conta do eu e da sociedade. Basta observar que, com toda a ênfase na
espiritualidade, a dissolução dos valores das esferas de autoridade, tais como limites da
individualidade, casamento, família, igreja e comunidade, ocorre, até mesmo, nos meios
evangélicos. Tudo isso faz parte da luta pelo poder. Certamente há, também, aqueles que
promovem movimentos de batalha espiritual e cura interior como meio para o
crescimento de igreja, utilizando-os como estratégias de marketing. Isso é a luta pelo
poder, aberta e descarada.
Uma das áreas mais exploradas nessa lutas de poder, que realça a centralização do
eu é a da cura interior. A igreja deixou de ser a proclamadora da redenção, para ser, antes e
unicamente, uma comunidade terapêutica. Para isso, a linguagem evangélica bíblica teve
de ceder lugar à psicologização.12
O pensamento grego fez permear suas idéias no pensamento secular de maneira que
nem mesmo os Pais da igreja escaparam à sua influência. As implicações do sistema
forma-matéria se opõem à epistemologia cristã. O pensamento cristão nega a autonomia
dos fatos e das particularidades da realidade criada e a da racionalidade humana,
considerando-as como sendo derivadas do Deus Criador.14
12
Ver: Gomes, Wadislau Martins, Psicologização do Púlpito e Relevância da Pregação, Fides Reformata,
Vol. X, No. 1, 2005, pp. 11-29.
13
Excerto da apostila de Fundamentos Bíblicos Teológicos do Aconselhamento Bíblico, Wadislau Martins
Gomes.
14
Gomes, Davi Charles. Fides et Scientia: Indo Além da Discussão de “Fatos”. Fides Reformata, 2/2 S.
Paulo, [1997], 129-146.
Cura Interior e Batalha Espiritual – Wadislau M. Gomes – 2009 12
Seguindo essa linha, como é o homem? Como é ele em sua situação presente? Qual
é o problema básico do homem? Como ele poderá ser ajudado? Todas essas questões
devem ser precedidas de outra ainda mais básica, se é que queremos ter um modelo bíblico
para o aconselhamento: Estamos falando sobre a questão evangélica ou sobre outras
questões? Se a resposta é a questão evangélica, então temos de pensar em termos de
valores evangélicos, isto é, de valores bíblicos. Isto fará a diferença entre as respostas
redentiva e terapêutica à primeira questão.
Por terapêutico, eu me refiro à aproximação ao ser humano e seus problemas para
cura e solução (o que implica o modelo médico). Por redentivo (neologismo consagrado na
teologia), entenda-se a ação do poder do evangelho que inclui:
MAL
Van Til, na sequência do pensamento anterior, diz que o cristão e o não cristão
defendem que, “com respeito ao problema do mal, sua posição está de acordo com sua
consciência.” O cristão crê que sua consciência moral é um aspecto de sua experiência
total. O Criador é o sustentador de todas as coisas é também o supremo Juiz. Encontra, no
plano de Deus revelado na Escritura, as respostas para todos os problemas do mal e do
pecado. A Palavra de Deus, pelo Espírito Santo é que promove as aprovações e
desaprovações da consciência humana, prossegue Van Til. O não cristão tem sua referência
final na própria consciência. Alega que o mal não teria entrado no mundo por causa da
desobediência do homem, mas faria parte da uniformidade da natureza humana... “ele é
metafisicamente final, isto é, ele apenas é”. Em última instância, o não crente alega que “o
que é, tem de ser” e, assim, o mal não poderá ser distinguido do bem. Para a maioria, ainda
que o bem fosse distinto e oposto ao mal, não seria correto pensar em termos de antítese,
mas de síntese. “Se, aqueles que pensam ser bons são bem sucedidos em fazer o que
pensam que é ‘bom’, prevalecem na terra, é somente mediante a supressão do ‘bem’ de
outros que também pensam ser ‘bons’. Assim, o poder político jamais substituirá todas as
distinções éticas.”15
Desde o início, Deus revelou aos homens a existência de um princípio de antítese
entre o bem e o mal. O bem é tudo o que Deus analogicamente criou; o mal, porém, não
tem existência em si mesmo, como coisa criada, sendo, na verdade, a quebra do bem com
suas conseqüências16. Havendo “quebrado” o bem, o homem não alcançou uma síntese do
bem e do mal, como o diabo prometera, mas, antes, perdeu sua comunhão original com
Deus e o Seu conhecimento, o que afetou todo o seu espectro de vida até a morte eterna.
Uma tentativa unicamente terapêutica para recuperar o ser humano da Queda sem a
permissão de Deus, portanto, constitui rebelião contra Deus, de parte de uma mente
revertida e cujas perspectivas estão sempre de ponta cabeça. Os resultados serão mais
como os das famosas lobotomias frontais que encontraram solução para os problemas da
agressividade por meio da transecção da parte afetiva do cérebro (Antonio Egas Munis,
português, prêmio Nobel (1949), introduziu, em 1935, o conceito de se separar os lobos
frontais do paciente, quando tudo mais falhava e o paciente não tinha mais esperanças de
15
Van Til, Cornelius, The Reformed Pastor and the Modern Thought, Phillipsburg, New Jersey, Presbyterian
and Reformed Publishing Co., 1980
16
Cf. Francis A. Schaeffer, Genesis in Time and Space, The Complete Works of Francis Schaeffer, Vol. 2,
Book One, Wheaton, Ill.: Crossway Books, 1982.
Cura Interior e Batalha Espiritual – Wadislau M. Gomes – 2009 15
cura, imaginando que o paciente não poderia mais fazer associação que lhe pareciam
perturbadoras).
Isso significa que não só o mal é retirado, mas ainda a possibilidade do bem – o que
é o próprio mal. A tentativa de remover o mal à parte de Deus implica perda de vida, pois o
mal é o bem quebrado. (Teria sido essa a razão pela qual Deus proibiu aos homens o
acesso à árvore da vida?) Somente uma aproximação redentiva poderá oferecer uma boa
terapia para o problema do homem – simplesmente porque uma aproximação redentiva
procede de Deus (teologia) para alcançar o homem (psicologia, sociologia, ecologia),
enquanto que uma aproximação meramente terapêutica procede do homem, e não
chegando a Deus, que é a Fonte da Vida, não poderá alcançar o homem em sua totalidade
nem em todas as suas necessidades. Em suma, quanto ao aconselhamento cristão, não me
coloco totalmente contra o termo terapia, mas defendo que ele só tem significado quando
encasulado no termo redentivo.
Cura Interior e Batalha Espiritual – Wadislau M. Gomes – 2009 16
NATUREZA DA BATALHA
Com base no que vimos até agora, qual será nossa posição quanto à natureza da
batalha e a natureza da cura para o coração humano? Estaríamos divididos entre reino
material e espiritual, como em uma virtual “guerra nas estrelas”? Ou há um só reino, cujo
Rei e Senhor é Deus. Haveria uma divisão entre natureza e graça, ou há uma separação
entre a facção do reino das trevas, revoltada contra o Soberano Deus, e o poder redentor e
unificador do Glorioso Santo? O mundo espiritual é indistintamente separado do mundo
material? O centro da espiritualidade reside no mundo interior? A cura ocorre “de dentro
para fora”?
Para nós, questões como essas somente poderão ter resposta na Palavra de Deus,
mediante corretas e honestas exegese e hermenêutica.
17
Powlison, David. Power Encounters, pp. 39-48.
18
Lovelace, Richard F. Dynamics of Spiritual Life. Madison, MI, Intervarsity, 1979, pp. 254-255.
Cura Interior e Batalha Espiritual – Wadislau M. Gomes – 2009 17
Certamente, esta é uma área com que a maioria não se incomoda e sobre a qual um
grupo barulhento se preocupa exageradamente, mas que deveria ser considerada. O
apóstolo Paulo, escrevendo aos efésios, diz:
Uma leitura isolada deste texto poderá dar a idéia errada e tão em voga, de que o
principal aspecto de nossa luta é contra o oculto. Entretanto, uma leitura cuidadosa dará
importância à expressão “quando ao mais”. O versículo não está isolado do contexto geral
da Epístola, o qual se refere à totalidade da experiência da igreja, sua natureza, caráter e
missão. Tudo isso não será fácil, diz Paulo, portanto devemos nos fortalecer. O mundo em
que vivemos, incluindo nossa própria carne, é dominado por forças cujo caráter é real, cuja
natureza é má e cuja experiência influencia a vida.
David Powlison comenta sobre o movimento de batalha espiritual moderno,
dizendo que ele surgiu em 1960, em, pelo menos, quatro variedades. Os carismáticos,
representados por Don Basham (autor de Deliver Us From Evil, 1972), Derek Prince e
Benny Hinn; os dispensacionalistas de aproximação não carismática, representados por
Mark Bubeck (O Adversário, 1975), Merril Unger (What Demons Can Do to Saints, 1977)
e Fred Dickson (Demon Possession and the Christian, 1987); a chamada “terceira onda”
do Espírito Santo, representada por John Wimber, Charles Kraft, John White e Wayne
Grundem; e uma visão mais evangélica, representada por Neil Anderson, Timothy Warner,
Tom White e Ed Murphy.19
Powlison vê seis pontos fortes no movimento de batalha espiritual:
19
Powlison, David. Power Encounters, pp. 32-34.
20
Ibid., pp. 36-37.
Cura Interior e Batalha Espiritual – Wadislau M. Gomes – 2009 18
2. Os seres humanos são sempre agentes morais responsáveis e não podem culpar o
diabo por seus próprios pecados.
3. Ainda que o Antigo Testamento reconheça a existência do mal e do diabo, a
Escritura afirma que Deus está no controle e com autoridade sobre a carne, o
mundo e o diabo.
4. O Antigo Testamento apresenta uma maneira para realizar a batalha espiritual.21
1. Tentação
2. Opressão
3. Obsessão
4. Possessão
Powlison fornece alguns passos para um melhor caminho, com base no Novo
Testamento, aqui adaptados:
21
Ibid., pp. 50-52.
22
Ibid., pp. 66-68.
Cura Interior e Batalha Espiritual – Wadislau M. Gomes – 2009 19
EU x NÓS
EXPERIENCIAL x REVELADO
NOVAS REVELAÇÕES x BÍBLICO, HISTÓRICO
AQUI E AGORA x AQUI, AGORA E PARA SEMPRE
ESPIRITUAL x ESPIRITUAL/MATERIAL
SINAIS E MARAVILHAS x REAL, NORMAL, AÇÃO SOBRENATURAL
LUTAS DE PODER x LUTAS NO PODER DE CRISTO
DE DENTRO PARA FORA x DE CIMA PARA DENTRO E PARA FORA
TERAPÊUTICO x REDENTIVO
Cura Interior e Batalha Espiritual – Wadislau M. Gomes – 2009 20
NATUREZA DA CURA
ESPIRITUALIDADE
Existe, por aí, mais perguntas do que respostas em relação à espiritualidade. O que
é espiritualidade? Como posso ser espiritual? O que posso fazer (devocional)? A
grande pergunta, contudo, foi feita de maneira completamente diferente: Onde habitas?
A palavra habitação, na Bíblia, é um termo bastante “elástico” que apresenta
impressionantes figuras descritivas da vida espiritual. Isaías 57.15, diz: “Porque assim
diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no
alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para
vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos.”
Considere o Evangelho de João:
Escritura e em Cristo23 – disse: “O avanço do bem estar, portanto, parece não ser o
propósito da sociedade, mas, antes, uma tarefa secundária na qual vê uma oportunidade
para preencher seu verdadeiro objetivo no campo espiritual... Mas eu expresso minha
crença de que o homem moderno retornará a Deus por meio da clarificação de sua cultura e
propósitos sociais. O conhecimento da realidade e a aceitação de obrigações que guardam
nossa consciência, uma vez firmemente realizadas, revelarão Deus no homem e na
sociedade”.24
Embora reconhecendo o fato de que o indivíduo e a sociedade não construirão a
habitação de Deus (“O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do
céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas” – At. 17.24), cremos
mais, que Deus revelou sua vontade na Escritura e em Cristo, e realizou sua habitação em
nós, individualmente e na igreja, para que habitássemos nele por meio da obra completa e
consumada de Cristo, o qual anunciamos ao mundo como glória e salvação vinda de Deus.
Segundo Lovelace, a verdade revelada pelo Espírito Santo para nos livrar dos
poderes da carne, do mundo e do diabo, e para nos conduzir ao triunfo na batalha e ao
descanso espiritual, é o ensino bíblico que revela o caráter santo de Deus, a profundidade
de nosso pecado, e os elementos da verdade redentora em Jesus Cristo. Tal verdade é o
ponto central da continuada renovação espiritual.25 Assim, adaptamos de Lovelace a
estrutura seguinte:
I. Consciência espiritual
A. Da suprema santidade de Deus (justiça e amor)
B. Da profundidade do pecado humano (individual e coletivo)
II. Consciência espiritual do evangelho “em Cristo”
A. Justificação: somos aceitos pela graça mediante a fé
B. Santificação: somos libertados das cadeias do pecado
C. Habitação do Espírito: não estamos sós
D. Sob autoridade: somos capacitados para as boas obras
III. Consciência das obras que Deus de antemão preparou
A. Instrução: edificação pessoal e eclesiástica até termos a mente de Cristo (des-
aculturação e assimilação da vida pela Palavra)
B. Comunhão: unidade com Deus e com a igreja, ajuda mútua
C. Adoração: culto público, familiar e individual, meditação na Palavra e
dependência em oração.
D. Serviço: na igreja e da igreja no mundo (missões)
23
Gomes, Davi Charles. De Rattonibus Cordis Coram Deo: The Limits of Michael Polanyi, pp. 220, 221.
24
Polanyi, Michael. Science, Faith and Society. Chicago, University of Chicago, 1946, p. 84.
25
Lovelace, Richard F, Dynamics of Spiritual Life. p. 91.
Cura Interior e Batalha Espiritual – Wadislau M. Gomes – 2009 22
CONSCIÊNCIA ESPIRITUAL
Porque qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o seu próprio espírito,
que nele está? Assim, também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o
Espírito de Deus. Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o
Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado
gratuitamente. Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria
humana, mas ensinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais.
Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são
loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Porém
o homem espiritual julga todas as coisas, mas ele mesmo não é julgado por
ninguém. Pois quem conheceu a mente do Senhor, que o possa instruir? Nós,
porém, temos a mente de Cristo” (1Co 2. 11-16).
Quando, pois, os gentios, que não têm lei, procedem, por natureza, de
conformidade com a lei, não tendo lei, servem eles de lei para si mesmos. Estes
mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes também a
consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou defendendo-se
(Rm 2.14-15).
Jeremias proclama: "o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saber que
eu sou o Senhor e faço misericórdia, juízo e justiça na terra; porque destas coisas me
agrado, diz o Senhor" (Jr 9.24); Oséias exorta: "Conheçamos e prossigamos em conhecer
ao Senhor; como a alva, a sua vinda é certa; e ele descerá sobre nós como a chuva, como
chuva serôdia que rega a terra" (Os 6.3); Jesus diz: "E a vida eterna é esta: que te
conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste" (Jo 17.3).
Tal não é um conhecimento apenas cognitivo nem apenas sentimental, mas o
verdadeiro conhecimento pessoal da revelação divina, o conhecimento experimental do
próprio caráter de Deus - do caráter santo de Deus. É o conhecimento do controle, da
presença e da autoridade de Deus.
Ana havia derramado seu coração na presença do Senhor sob forte desejo de gerar
um filho, o qual seria consagrado ao Senhor; recebida a bênção, ela orou, dizendo: "Então,
orou Ana e disse: O meu coração se regozija no Senhor, a minha força está exaltada no
Senhor; a minha boca se ri dos meus inimigos, porquanto me alegro na tua salvação. Não
há santo como o Senhor; porque não há outro além de ti; e Rocha não há, nenhuma, como
Cura Interior e Batalha Espiritual – Wadislau M. Gomes – 2009 23
... graça e paz vos sejam multiplicadas, no pleno conhecimento de Deus e de Jesus,
nosso Senhor. Visto como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas todas as
coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que
26
João Calvino, As Institutas ou tratado da religião cristã, 4 vols., trad. de Waldyr Carvalho Luz, São Paulo: Casa
Editora Presbiteriana, 1985, 1.1, cf os. 53-54.
27
Lovelace, Dynamics, 82.
Cura Interior e Batalha Espiritual – Wadislau M. Gomes – 2009 24
nos chamou para a sua própria glória e virtude, pelas quais nos têm sido doadas as
suas preciosas e mui grandes promessas, para que por elas vos tomeis co-
participantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção das paixões que há no
mundo (2 Pd 1.2-4).
28
Ibid.,73.
29
Veja ibid., 85.
Cura Interior e Batalha Espiritual – Wadislau M. Gomes – 2009 25
O que é que nos motiva a buscar mais espiritualidade? Escrevi, em Terras dos
Brasis, que a analogia da filiação, fraternidade e serviço que temos em Cristo alarga nossa
compreensão do "nome de Deus" na Grande Comissão – Pai, Filho e Espírito Santo. Deus
triuno opera em nós de maneira que nos identifiquemos, pela graça mediante a fé, com sua
própria natureza.
A motivação do crente que realmente se apropriou dos benefícios da obra de Cristo
é pactual antes de "outras coisas". Não vem a Deus por causa de suas bênçãos, mas porque
é Deus. Acolhe as bênçãos com gratidão porque Deus é bom e sua misericórdia dura para
sempre. Não é grato a Deus porque responde a orações, mas porque ele é o Deus que faz o
querer e o realizar; ora porque Deus o quer, e não exige, mas roga pela compreensão da sua
vontade, a dele e não a própria. Não segue a Cristo porque é crente, mas é crente pelo que
Cristo é. Não se deixa salvar por "qualquer coisa", mesmo boa e louvável, que não seja
Jesus Cristo. Não deseja o dom do Espírito para ter poder, mas entrega-se ao poder do
Espírito para toda a boa obra. Não quer os dons para ajuntar "brinquedos", mas para dar e
receber na comunhão dos santos.30
Na verdade, não existe outro princípio para o avivamento espiritual individual e
corporativo senão o evangelho da redenção consumada em Cristo, nem outro método senão
a redenção de Cristo aplicada à vida integral e eterna.
Sua Palavra e para ser o meio humano da Palavra viva, Jesus Cristo (Rm 9.4,5), interpretou
de forma errada a questão da justiça, tendo zelo por Deus, mas sem entendimento.
Porquanto, desconhecendo a justiça de Deus, e procurando estabelecer a sua própria, não
se sujeitaram à que vem de Deus (Rm 10).
A justiça que vem de Deus estabelece, primeiro, sua própria identidade: Deus é
justo e bom (Sl 145.17). Em segundo lugar, estabelece que as justiças humanas, por causa
do pecado, são como trapos de imundícia (Is 64.6). A justificação do homem diante de
Deus é a conciliação de Sua justiça e Sua bondade em Cristo Jesus, que se fez por nós:
sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção (1Co 2.20). Paulo escreveu aos romanos
dizendo acerca da justiça de Deus: " ... visto que a justiça de Deus se revela no evangelho
de fé em fé, como está escrito: O justo viverá pela fé" Rm 1.17. E Antony Hoekema
comentou assim: “A ‘justiça de Deus’ que Paulo tinha em mente não era a justiça punitiva
que levava Deus a punir os pecadores, antes, era a justiça que Deus ofertava ao pecador
necessitado, e que este aceitava pela fé”.31
31
Antony Hoekema, Salvos Pela Graça, São Paulo, Editora Cultura Cristã, 1997, 59.
Cura Interior e Batalha Espiritual – Wadislau M. Gomes – 2009 27
todo o mundo seja culpável diante de Deus “... pois todos pecaram e carecem da glória de
Deus” (Rm 3.19-20, 23).
Mais uma vez, fica a pergunta: Então, por que Deus escolheu o povo de Israel?
Certamente para conhecer e viver a santidade da lei, segundo a Sua aliança, e para
pregar a Sua justiça a todos os povos, a fim de que houvesse um testemunho Escrito e vivo
de que a justiça de Deus existe e que ela foi transgredida por todos os homens. Só assim os
homens podem diferenciar entre justiça própria e justiça de Deus e compreender toda a
extensão do seu pecado. Só assim o homem pode compreender a extensão da bondade de
Deus para conosco, assumindo sobre Si mesmo, em Cristo, a ira de Sua justiça. Por isso
Paulo diz ainda:
Mas, agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos
profetas; .... mediante a fé em Cristo Jesus .... sendo justificados gratuitamente por sua
graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus; a quem Deus propôs, no seu sangue,
como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, .... tendo em vista a
manifestação da sua justiça no tempo presente para ele mesmo ser justo e justificador
daquele que tem fé em Jesus (Rm 3.21-22,24-26).
O sacrifício vicário de Cristo toma propícios diante de Deus todos aqueles que
foram chamados para depositar fé nele e na sua obra de redenção - a nós, que maculamos a
Sua santidade, ferimos Sua justiça e desprezamos Sua bondade. Ninguém pode se gloriar
por ter recebido Sua graça, porque a salvação é pela graça, mediante a fé, não por meio de
obras. Pela justiça verdadeira, o único direito que nos conferem as obras sem a fé em
Cristo é a morte por causa do pecado. Mas Deus justifica pela fé, confirmando a lei que diz
que ninguém é justo senão Aquele que é justo e justificador.
relação a ela. Antes, todos nós andávamos sob a estrada da lei, mortos e enterrados sob ela
por causa do pecado. Mas a Cristo, em Sua morte e ressurreição, nos vivificou, pelo
Espírito, dando-nos a capacitação para andar nela (Rm 8.1-11). Daí a continuidade da
argumentação de Paulo:
"E não somente isto, mas também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo
que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a
experiência, esperança. Ora, a esperança não confunde porque o amor de Deus é
derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi outorgado" (Rm
5.3-5).
Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido
por nós sendo nós ainda pecadores. Logo, muito mais agora, sendo justificados
pelo seu sangue, seremos por ele salvos da irá. Porque se nós, quando inimigos,
fomos reconciliados com Ele mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando
já reconciliados, seremos salvos pela sua vida ... " (Rm 5.8-10).
A paz com Deus, além do livramento da condenação do pecado, abre toda uma vida
de possibilidades na amizade com Deus. Agora sim, refeitos à imagem de Cristo temos
restabelecido em nós o propósito de sermos criaturas receptivamente criativas e ativamente
redentivas. Pessoas que vivem em comunhão com Deus, recebendo e refletindo Sua glória,
e frutificando no mundo para a vida eterna.
Da mesma forma como Paulo disse um dia que as coisas deste mundo não podiam
sequer ser comparadas às do porvir (Rm 8.18), assim também não se pode comparar a vida
antes da salvação com a vida em Cristo.
Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado
a morte, assim também a morte passou a todos os homens porque todos pecaram ...
reinou a morte desde Adão até Moisés, mesmo sobre aqueles que não pecaram à
Cura Interior e Batalha Espiritual – Wadislau M. Gomes – 2009 30
A justificação, como aí vista, não é apenas uma questão de justiça humana, mas a
justiça e o amor de Deus, são virtudes que pertencem à Sua própria essência, oferecida aos
homens pela graça, mediante a fé, para que se tornem suas próprias virtudes em Jesus
Cristo nosso Senhor (veja 2Pd 1.3-9).
Em um mundo em que a verdade é a verdade de cada um, em que o amor por si
mesmo vem antes de qualquer coisa e em que as obras de um homem visam produtividade
e não frutos de bondade – numa rebelião aberta contra a dependência do controle, presença
e autoridade de Deus – justificação é um termo de difícil entendimento. Para os católicos
romanos, a justificação vem pela fé, mas não depende única e exclusivamente da graça de
Deus. Não é pela graça mediante a fé. E, nesse caso, a fé se torna em obras. E qualquer que
creia que pode justificar a si mesmo por meio de obras, quer por devoção quer por ação,
banaliza a justificação e diminui a graça. A Escritura, claramente, revela que não pode
haver participação humana, no todo ou em parte, na justificação porque não há justiça no
homem e seu único direito é a penalidade do pecado.32 Essa é a parte da graça. Entretanto,
a justificação é pela graça mediante a fé, e a parte da fé é a aquiescência do homem. Como
disse John Owen: “A ratificação do coração acerca do modo da justificação de pecadores
feita por Jesus Cristo é proposta no evangelho como procedente da graça, da sabedoria e do
amor de Deus, contendo uma aquiescência interna quanto a seu interesse e condição”.33
Assim, o coração crê na Palavra de Deus para a justiça, espera no Espírito pela revelação
da graça, e confia no Filho para a justificação.
Havendo descrito a salvação como uma herança divina – legada pelo Pai, executada
pelo Filho e tutorada pelo Espírito Santo (Ef. 1) – e havendo demonstrado o recebimento
da herança tanto em termos individuais quanto corporativos, pela graça mediante a fé (Ef.
2—3), o apóstolo Paulo, inicia sua exposição sobre o usufruto da herança, dizendo:
Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação
a que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade,
suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por
preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz; há somente um corpo e um
Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há
um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é
sobre todos, age por meio de todos e está em todos (Ef 4.1-6).
32
Herman Bavinck, Our Reasonable Faith, Scandale, N.Y.: Baker Book House para Westminster Discount Book
Service, s/d, 457.
33
John Owen, The Works of John Owen, ed. William H. Gold (red. Edinburgh: Banner of Truth Trust, 1967, 5.93.
Cura Interior e Batalha Espiritual – Wadislau M. Gomes – 2009 31
A santificação é isso. É andar de modo digno da vocação para a união com Cristo,
avaliando cada um a si mesmo da maneira correta e apoiando uns aos outros na caminhada
cristã.
Depois, ele diz:
Mas não foi assim que aprendestes a Cristo, se é que, de fato, o tendes ouvido e
nele fostes instruídos, segundo é a verdade em Jesus, no sentido de que, quanto ao
trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as
concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e
vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão
procedentes da verdade" (Ef 4.20-24).
Enquanto o pecador não olhar para a cruz do Calvário e não ver a si mesmo ali
crucificado com Jesus ("E do modo por que Moisés levantou a serpente no deserto, assim
importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo o que nele crê tenha a vida
eterna" Jo 3.14-15), não verá a santificação. E morrer com Cristo não significa a morte do
poder do pecado. Para este, o Espírito Santo aplica o sacrifício vicário de Cristo na vida do
crente.
FÉ ARREPENDIDA
Como Lovelace escreve:
Sois assim insensatos que, tendo começado no Espírito, estejais, agora, vos
aperfeiçoando na carne? Terá sido em vão que tantas coisas sofrestes? Se, na
verdade, foram em vão. Aquele, pois, que vos concede o Espírito e que opera
milagres entre vós, porventura, o faz pelas obras da lei ou pela pregação da fé?”
(Gl 3.3-5).
34
Lovelace, Dynamics, 102.
35
Ibid., 107.
36
Ibid., 109.
37
Ibid., 114.
Cura Interior e Batalha Espiritual – Wadislau M. Gomes – 2009 33
vida cristã. Vem dai a busca de "poder" que assola a igreja.38 Tal problema refletiu no
movimento da vida profunda e Keswick e se tornou uma parte importante do movimento
neopentecostal. A doutrina da santificação pela graça mediante a fé deverá, portanto, fugir
de dois desvios: (1) a noção de "vida cristã vitoriosa" em termos de pietismo e (2) o
descanso nesta vida em termos de "quietismo". Lembre-se sempre do que Paulo disse:
"Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém,
muito mais agora, na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor;
porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa
vontade" (Fp. 2.12-13).
Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e
qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e
em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome;
assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece (Fp
4.11-13).
38
Veja meu livro, As Agridoces Cadeias da Graça, Brasília: Refugio, 2001.
39
Jay E. Adams, Biblical Sonship, Woodruff, SC: Timeless Texts, 1999, pp. 7-8, 19-20.
Cura Interior e Batalha Espiritual – Wadislau M. Gomes – 2009 34
Santo, que nos foi outorgado” (Rm 5.5). Temos uma nova direção de amor: "Porque
eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para Deus. Estou
crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e
esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e
a si mesmo se entregou por mim" (Gl 2.19-20); "Porventura, procuro eu, agora, o
favor dos homens ou o de Deus? Ou procuro agradar a homens? Se agradasse ainda
a homens, não seria servo de Cristo. Faço-vos, porém, saber, irmãos, que o
evangelho por mim anunciado não é segundo o homem, porque eu não o recebi, nem
o aprendi de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo" (Gl 1.l0-13);
"Mas longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo,
pela qual o mundo está crucificado para mim, e eu, para o mundo" (Gl 6.14).
Sem a satisfação exclusiva com a obra completa e consumada de Cristo,
jamais nos habilitaremos à verdadeira santidade, firme, frutífera e feliz, como disse
Spurgeon sobre o Salmo 1.
40
Kuyper, Abraham. The Work of the Holy Spirit, NY, Funk & Wagnalls, 1900, pp. 203-212.
41
Ferguson, Sinclair B. O Espírito Santo, São Paulo: Os Puritanos, 2000, p. 135.
Cura Interior e Batalha Espiritual – Wadislau M. Gomes – 2009 35
A OBRA TRINA
A Epístola de Paulo aos Efésios é uma exposição sobre a capacitação
individual e corporativa para a obra da igreja. Ela "apresenta uma dimensão do poder
de Deus que nos retira da religiosidade para a dinâmica da vida cristã".42 Nela, o
cristão percebe que os dons não são dados para a promoção da individualidade, mas
para o serviço cristão. Observe uma breve divisão e considerações sobre a epístola:
Proposição: Iluminação para o conhecimento da esperança da vocação, da riqueza da
herança, e da eficácia do poder da plenitude de Deus. (1.17-23)
Divisão:
Cap. 1 – O plano eterno do conselho da Trindade
Uma herança legada pelo Pai (1.1-6)
Uma herança executada pelo Filho (1.7-12)
Uma herança curada pelo Espírito (1.12-14)
Oração testamentária (1.15-23).
Caps. 2 e 3 – O plano de unificação
42
Ibid., 143
Cura Interior e Batalha Espiritual – Wadislau M. Gomes – 2009 36
Considerações:
A Epístola aos Efésios apresenta:
A mensagem de Efésios é simples: Deus nos chamou para ser profetas de sua
verdade, sacerdotes de seu amor e reis sobre as obras da criação, mediante a adoção de
filhos, união no corpo da igreja e edificação individual e coletiva.
O apóstolo Paulo, em outros lugares, descreve duas interações do ser humano que
estão envolvidas em batalha espiritual: a do homem interior e a do homem exterior. Na
primeira, ele usa os termos “homem interior” e “membros” (homem exterior): “Porque, no
tocante ao homem interior, tenho prazer na lei de Deus; mas vejo, nos meus membros,
outra lei que, guerreando contra a lei da minha mente, me faz prisioneiro da lei do pecado
que está nos meus membros” (Rm 7.22-23). Na segunda, ele fala da esperança de vitória
Cura Interior e Batalha Espiritual – Wadislau M. Gomes – 2009 38
no conflito: “Por isso, não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem
exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia” (2 Co.
4.16). A terceira, em Efésios, ele parte da premissa da ação do alto, de Deus, sobre o
homem interior, a fim de promover a compreensão das latitudes do homem exterior.
...para que, segundo a riqueza da sua glória, vos conceda que sejais fortalecidos
com poder, mediante o seu Espírito no homem interior; e, assim, habite Cristo no
vosso coração, pela fé, estando vós arraigados e alicerçados em amor, a fim de
poderdes compreender, com todos os santos, qual é a largura, e o comprimento, e a
altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo
entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus. Ora, àquele
que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou
pensamos, conforme o seu poder que opera em nós, a ele seja a glória, na igreja e
em Cristo Jesus, por todas as gerações, para todo o sempre. Amém! (3.16-21.)
43
Ver Gomes, Wadislau Martins. Aconselhamento Redentivo. São Paulo, Editora Cultura Cristã, 2004, pp.
92-92.
Cura Interior e Batalha Espiritual – Wadislau M. Gomes – 2009 39
TEO-REFERÊNCIA
Deus se manifesta como criador soberano glorioso e gracioso
Em controle da verdade Presente em amor Em autoridade sobre tudo
Criação: ser humano criado à imagem de Deus, dependente autárquico para refletir o caráter divino
Profetas da verdade de Deus Sacerdotes do amor de Deus Reis sobre as obras da criação
Queda: homem carente da glória por causa de descrença/reversão, infidelidade/inversão autonomia/reversão
Controlador da “verdade” Agradador (de si mesmo) Ditador (sobre pessoas e coisas)
Redenção: Deus, o Filho, fez-se carne, viveu, morreu, ressuscitou e ascendeu, manifestando glória e graça
Profeta: verdade e justiça Sacerdote: amor justificador Rei Senhor-Servo-Senhor
mediante quem o homem é transformado pela graça mediante a fé e feito à sua imagem
Filho/herdeiro Irmão-herdeiro Servo-rei
Resgatados “de” “para”: da morte para a vida, dos ídolos para Deus, de obras mortas para boas obras,
da inimizade para a paz, da solidão para a comunhão
Conquanto muitos crentes ortodoxos achem que qualquer ênfase no Espírito Santo
deveria ser considerada herética, já que o papel do Espírito seria o de apontar para Cristo,
muitos outros crentes estão convencidos de que esta é uma época de muita ênfase no
“poder” do Espírito e de pouca obediência e unção do Convencedor, Consolador, Selo e
Penhor da nossa salvação. Em muitos lugares, é dito que esta é a era do Espírito,
substituindo o verdadeiro evangelho e, em muitos outros, proíbe-se a oração ao Espírito
Santo. Lovelace crê que tal hesitação apresenta uma subordinação antinatural entre as
pessoas divinas e põe em risco a igualdade de poder e glória da Trindade. Essa reação
contra o “entusiasmo” (gr., enthousiasmos, extrabíblico, inspiração “divina” tal como o
sentimento das videntes de Delfos no momento de dar os oráculos) não é o único fator de
medo que tem impedido a igreja de entender a obra do Espírito Santo.45
Entretanto, o reconhecimento dos chamados cristãos pentecostais e dos
carismáticos, de que o Espírito Santo está presente e atuante, e de que os não estamos sós,
também apresenta um mal sem remédio: o desvio das verdades reveladas na Escritura
sobre o poder e a autoridade do Espírito Santo, a confusão entre o ministério do Espírito
Santo no indivíduo e no corpo, e a utilização indevida do poder e autoridade do Espírito
Santo em face do fenômeno da "cidade". Por que, da cidade?
Veja o que Michael Horton diz sobre o assunto:
44
Gomes, Wadislau Martins. Coração e Sexualidade. Brasília, Editora Refúgio, 1999.
45
Lovelace, Richard F. Dynamics, pp. 122-123.
Cura Interior e Batalha Espiritual – Wadislau M. Gomes – 2009 40
O encontro com Deus foi visto pelos reformadores, no Pentecostes, como tendo
ocorrido somente porque Deus havia descido - na encarnação, obediência, morte e
ressurreição de Cristo, e no derramamento do Espírito Santo. Os apóstolos não
tiveram um programa de "reavivamento", mas foram guiados pelo mandamento
direto do Cristo ascendente, o qual lhes deu não somente a salvação como dom
gratuito, mas também o dom de serem testemunhas de Cristo.47
Alguém já disse que a heresia é parasita da boa doutrina; também já foi dito que o
uso de um raio à guisa de eixo torna a roda excêntrica. Assim é que Lovelace diz que a
teoria triunfalista de que Jesus veio para destruir as obras do diabo como se tais obras
fossem somente as batalhas espirituais contras o ocultismo, diminui o poder e a autoridade
do Espírito de Cristo contra o mal e o pecado.48 Jesus Cristo veio para isto: "Para isto se
manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo" (1 Jo 3.8b). Por outro lado,
muitos cristãos ortodoxos, contentando-se em afirmar que o diabo já foi vencido na cruz,
46
Horton, Michael. Um Melhor Caminho. São Paulo, Editora Cultura Cristã.
47
Ibid.
48
Lovelace, Dynamics, p. 134.
Cura Interior e Batalha Espiritual – Wadislau M. Gomes – 2009 41
esquecem-se do perigo que a carne, o mundo e o diabo apresentam e da ordem para resistir
ao diabo e fugir da tentação.
Tal programa da igreja inclui instrução, comunhão, adoração e serviço. Por que
nesta ordem? Alguém poderia perguntar: "Não seria melhor colocar os elementos do
programa numa ordem de importância, tal como adoração, serviço, comunhão e
49
João Calvino, Sermons on Ephesians, Carlisle, Penn.: The Banner of Truth Trust, (1562) 1975, 167-168.
50
Veja Gomes, Wadislau Martins, As Agridoces Cadeias da Graça.
Cura Interior e Batalha Espiritual – Wadislau M. Gomes – 2009 42
instrução?" Não, porque sem instrução não haverá conhecimento da verdade (Rm 10.14),
sem comunhão não haverá exibição da verdade em amor (Ef 4.16) nem condições de
adoração (Mt 5.23-24), sem a adoração não haverá serviço que manifeste de modo
completo toda a obra de Deus.
INSTRUÇÃO
Quando falamos de instrução, estamos falando de des-aculturação e integração
para edificação pessoal e corporativa até que tenhamos a mente de Cristo. Uma das
passagens mais completas da Bíblia sobre a instrução em termos de espiritualidade é a de
Efésios 4.
Primeiro, o apóstolo Paulo roga que teoria e prática andem juntas na nossa
caminhada com Cristo, guardadas as implicações individuais e corporativas no vínculo da
unidade espiritual, pela graça mediante a fé, segundo o dom de Cristo (4.1-7).
Segundo, ele reafirma a impossibilidade de alguém alçar a si mesmo a Deus a fim
de ser espiritual; antes, tudo tem de ser e ocorrer na base do dom de Cristo, o qual desceu
para redimir e conceder dons aos homens para vivenciar tal redenção, e subiu para
finalmente nos elevar com ele (4.7-10).
Terceiro, o Senhor concedeu homens dotados como dons para a igreja, a fim de nos
elevar, individual e corporativamente, à verdadeira espiritualidade, à estatura de Cristo
(4.11¬15).
Quarto, a tensão entre a individualização e a socialização tem de ser desfeita. A
"cidade", hoje, e cada vez mais, orienta seus cidadãos a uma vida irreconciliável de
individualização e socialização, promovendo um artifício pecaminoso de unidade externa e
fragmentação externa. Tal estado de incongruência caracteriza, hoje, o indivíduo, a família
e o estado, as relações de vizinhança, empregatícias, etc. A proposta da Palavra de Deus é a
da uma verdadeira instrução que inclua verbo e vida, teoria e prática (4.15-20).
Quinto, a apreensão de Cristo, o Verbo que capacita e habilita o crente e a igreja
para andarem no Caminho envolve a instrução na Verdade e a educação na Vida, o que
implica a renovação do espírito do entendimento, o despojamento da carne e o
revestimento de Cristo. ("No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo
era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por intermédio
dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez. A vida estava nele e a vida era a luz dos
homens" – Jo 1.1; "Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão
por mim" – 14.6). (4.20-24).
A autoridade de Cristo é exercida sobre seus filhos, irmãos e servos por meio da
instrução, a qual confere o poder para pregar e viver segundo a vocação celestial. Dessa
maneira, autoridade não significa "autoridade" para obter dominância na concorrência da
"cidade" (cultura) nem para mandar em entidades das trevas, mas aprender a obedecer de
coração à Palavra de Deus. E "poder" não significa "fogos de artifício" tais como os “sinais
e maravilhas” que mais glorificam ao homem do que a Deus.
COMUNHÃO
O Senhor Jesus, na Oração sacerdotal, rogou ao Pai em favor da comunhão da
igreja:
Cura Interior e Batalha Espiritual – Wadislau M. Gomes – 2009 43
Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim,
por intermédio da sua palavra; a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai,
em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me
enviaste. Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um,
como nós o somos; eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na
unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste, como também
amaste a mim. Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo
os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste, porque me
amaste antes da fundação do mundo. (Jo 17.20-24.)
A comunhão da igreja reflete (glorifica) a união com Cristo; a união com Cristo
reflete a unidade e diversidade da Trindade. Qual seria o meio bíblico para aplicação do
princípio da união com Cristo na comunhão da igreja? Sem dúvida, a Ceia do Senhor é um
meio de graça que indica a base sobre a qual, pela mesma graça, a igreja processa a
comunhão por meio da vivência da diversidade da vida na unidade de Cristo. A Escritura
não trata do assunto de uma só vez, mas em diversos lugares, dado que é um tema que diz
respeito aos mais diversos aspectos do programa da igreja – instrução, comunhão, adoração
e serviço.
DONS ESPIRITUAIS
Não existe um atalho para a descoberta de dons espirituais. Eles fazem parte da
unidade e da diversidade da dinâmica da vida espiritual. A própria natureza dos dons
torna necessário que nos aproximemos deles segundo o propósito para o qual se destinam:
a capacitação individual para o aperfeiçoamento mútuo dos santos, para o desempenho
do serviço da igreja. Para entender tal propósito teremos de estudá-lo no contexto das
doutrinas bíblicas sobre Deus, sobre a salvação e sobre a igreja.51
Dons de quem?
Veja 1 Coríntios 11.4-7
V.4 –
______________________________________________________________________
V.5 –
______________________________________________________________________
V.6 –
______________________________________________________________________
51
Veja Gomes, Wadislau Martins. Em Terras dos Brasis.
Cura Interior e Batalha Espiritual – Wadislau M. Gomes – 2009 44
Conceitos
1. Dons (orig., charisma) espirituais (Rm 12): dons concedidos a cada um visando
exercício e compartilhamento para promover a plenitude do caráter de
Cristo (Is 11.2).
2. Dons (orig., dorea) de serviço (Ef 4): indivíduos exercitados nos dons, dados
para o serviço da igreja para promover o amadurecimento coletivo até a
estatura de Cristo.
3. Espirituais (orig., pneumatikos): correção do uso dos dons para aperfeiçoar a sua
aplicação na edificação da igreja e a proclamação do senhorio de Cristo.
4. Manifestação dos dons (I Co): independente da atuação humana.
APÓSTOLOS SABEDORIA
PROFETAS CONHECIMENTO FÉ
PROFECIA DONS DE CURAR
MESTRES
MINISTÉRIO APÓSTOLOS OPERAÇÃO DE
OPERADORES DE
ENSINO PROFETAS MILAGRES
MILAGRES
EXORTAÇÃO EVANGELISTAS PROFECIA
CURAS
CONTRIBUIÇÃO PASTORES / DISCERNIMENTO
SOCORROS
PRESIDÊNCIA MESTRES LÍNGUAS
GOVERNOS
MISERIÓRDIA INTERPRETAÇÃO
LÍNGUAS
Ordem espiritual:
Descrições
Dons espirituais
1. Profecia: dom de exortar, consolar, edificar (1 Co. 14.3), pregando a
Palavra para grupos maiores a fim de expor os segredos do coração
(1 Co. 14.24,25,29-32). Risco: ver o grupo e esquecer o indivíduo.
2. Ministério: dom de servir; percepção especial das necessidades do
trabalho e disposição para realizá-las (Atos 6.1; 1 Co. 16.15, 16).
Risco: tomar-se crítico dos que não cooperam.
3. Ensino: dom de transmitir as verdades da Palavra para treinar a outros no
estudo, no cumprimento e no testemunho (1 Co. 12.28); implica o
bom entendimento da Escritura (At. 16.28). Risco: gostar mais de
estudar do que de transmitir.
4. Exortação: dom de aconselhar, de apoiar, de encorajar (Cl. 3.16; At.
9.27). Inclui a habilidade para fazer a hermenêutica da Palavra e da
pessoa. Risco: dar conselhos sintéticos.
5. Contribuição: dom de multiplicar ganhos e dispô-los nas mãos de outros
e ou o dom de administrar os ganhos de outros para suprir as
necessidades da igreja (At. 9.36). Risco: dominância em função da
posição.
6. Presidência: dom de receber idéias opostas e de encaminhá-las para o
bem comum – inclui o discernimento de pessoas e suas
habilidades/capacidades (Tt. 1.5; 1 Tm. 5.17). Risco: querer
dominar; ver as qualidades dos amigos e a falta de qualidades dos
inimigos.
7. Misericórdia: dom da sensibilidade às necessidades das pessoas e
disposição para ajudá-las (2 Tm. 1.16). Risco: tornar-se crítico dos
que não são tão sensíveis.
Dons de serviço
1. Apóstolos: os que estabelecem os fundamentos da igreja.
2. Profetas: os que expõem a Palavra para audiências maiores.
3. Evangelistas: os que anunciam o evangelho.
4. Pastores-mestres: os que instruem na prática da Palavra e cuidam da vida
da igreja.
ADORAÇÃO
Os aspectos da adoração que queremos abordar, aqui, são os do culto público,
familiar e individual, e da meditação na Palavra e dependência em oração.
Como Lovelace bem disse, o princípio de renovação espiritual do indivíduo e da
congregação começa com a instrução da Palavra por meio de pregação forte e de ensino
efetivo que enfatize os elementos bíblicos da dinâmica espiritual, isto é, uma proclamação
Cura Interior e Batalha Espiritual – Wadislau M. Gomes – 2009 46
Não é de surpreender que uma história de capa da Newsweek sobre "A Busca do
Sagrado" observe que os que buscam coisas espirituais insistam em combinações
ec1éticas e recusem submeter-se à disciplina de se tomarem uma coisa ou outra.
Uma indústria de casas de campo, dedicada ao estudo sobre os "consumidores",
tem afirmado, repetidamente, que estamos lidando aqui com uma fascinação
generalizada pela espiritualidade consistente com a mistura e combinação auto
criada, juntamente com a rejeição da religião (entendida como firmada por crenças
particulares e relativamente estáveis, rituais, práticas e ações comunitárias). Gurus
do crescimento de igreja, freqüentemente, tomam isso como um requisito que,
simplesmente, deveríamos cumprir. Lealdade à marca é coisa do passado, e assim,
fora com o velho e vivas ao que é novo.54
52
Lovelace. Dynamics, p. 148
53
Gomes, Wadislau Martins. Em Terras dos Brasis, 104.
54
Horton, Michael. Um Melhor Caminho.
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Deus é não apenas central como objeto do culto, mas também o sujeito – um ator que
reconstitui a cada semana a reunião de estrangeiros e peregrinos como seu próprio povo
redimido.
O encontro com Deus foi visto pelos reformadores, no Pentecostes, como tendo
ocorrido somente porque Deus havia descido – na encarnação, obediência, morte e
ressurreição de Cristo, e no derramamento do Espírito Santo. Os apóstolos não tiveram um
programa de "reavivamento", mas foram guiados pelo mandamento direto do Cristo
ascendente, o qual lhes deu não somente a salvação como dom gratuito, mas também o
dom de serem testemunhas de Cristo.
A igreja medieval havia acumulado muitas inovações doutrinárias e cultuais, e o
leigo comum pouco sabia das Escrituras. Os cultos de adoração introduziram peças morais,
músicas insinuantes para excitar o senso de mistério e majestade, e se apoiaram em
imagens como sendo "os livros dos iletrados", se dizia. O Catecismo de Heidelberg, das
Igrejas Reformadas, troou em resposta: "Não, não deveríamos tentar ser mais sábios que
Deus. Ele quer que seu povo seja instruído pela pregação viva de sua Palavra - não por
ídolos que sequer podem falar".55 Se o povo não estava apto para crescer em maturidade
bíblica, a solução seria conduzi-lo ao crescimento, não, porém, acomodando-o à situação
de degeneração. Calvino chamou o culto, assim como a criação e a redenção, de
"maravilhoso teatro" no qual Deus desce para atuar diante de um mundo espectador. Como
vários escritores têm observado, isso se coloca em contraste com muito do que hoje é
proposto como sendo culto, quer derive sua orientação da alta cultura quer da cultura
popular. É a presença do Espírito através de meios ordenados que torna o culto o teatro da
graça no qual Cristo e todos os seus benefícios são comunicados àqueles que antes "não
eram povo" - quando viviam sem objetivos, sem nenhum enredo que fizesse sentido ou que
desse significado à sua vida fragmentada.
Enquanto nossa época, comumente rotulada de "pós-moderna", vai além,
celebrando essa fragmentação e perda de qualquer identidade estabilizadora, nossa resposta
deverá ser não a de um conservadorismo insensato nem a de uma acomodação igualmente
insensata.56 Os modernos movimentos de batalha espiritual e de cura interior perdem a
visão da “largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade” da adoração,
desconhecendo “o amor de Cristo, que excede todo entendimento”, deixando de ser tomada
de “toda a plenitude de Deus” (Ef 3. 18-19).
55
O Catecismo de Heidelberg (1563), O Dia do Senhor, Pergunta 98, no Ecumenical Creeds and Reformed
Confessions (Grand Rapids: CRC Publications, 1987), 56.
56
Ibid.
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PALAVRA E ORAÇÃO
Muitas bênçãos de Deus providenciadas para nos conduzir à vida e à piedade têm
sido mal utilizadas porque deixam de ser uma expressão de culto para ser uma forma
idólatra de suprimento autônomo das próprias necessidades. A oração é uma delas. A
oração esta ligada à instrução, comunhão, adoração e serviço como elemento de
"habitação" no Senhor em dependência obediente. Certamente ela trás consigo uma
promessa, mas a promessa é derivada do mandamento.
Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que, estando em mim, não
der fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda. Vós já
estais limpos pela palavra que vos tenho falado; permanecei em mim, e eu permanecerei em
vós. Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo, se não permanecer na videira,
assim, nem vós o podeis dar, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira, vós, os
ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada
podeis fazer. Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora, à semelhança do ramo,
e secará; e o apanham, lançam no fogo e o queimam. Se permanecerdes em mim, e as
minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes, e vos será feito. Nisto é
glorificado meu Pai, em que deis muito fruto; e assim vos tornareis meus discípulos. Como
o Pai me amou, também eu vos amei; permanecei no meu amor. Se guardardes os meus
mandamentos, permanecereis no meu amor; assim como também eu tenho guardado os
mandamentos de meu Pai e no seu amor permaneço. Tenho-vos dito estas coisas para que o
meu gozo esteja em vós, e o vosso gozo seja completo. O meu mandamento é este: que vos
ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que este: de
dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos. Vós sois meus amigos, se fazeis o que
eu vos mando. Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor;
mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a
conhecer. Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós
outros e vos designei para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que
tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda. Isto vos mando: que vos
ameis uns aos outros (Jo 15.1-17).
GLÓRIA DE DEUS
CONHECIMENTO CONHECIMENTO
DA REVELAÇÃO DA VONTADE
Linha da necessidade
IDOLATRIA E ARREPENDIMENTO
AUTOENGANO Área de liberdade DISCIPLINA
SERVIÇO
O serviço na igreja (família da fé – Tiago) e da igreja no mundo (Grande Comissão
– Mt 28.18-20) compõe o quadro da batalha espiritual, a qual requer guerreiros sadios,
interna e externamente curados, isto é, no coração e nas relações pessoais. O evangelho
que transforma nosso coração é o mesmo evangelho que pregamos.
A palavra chave deixa de ser “poder” ou “cura”, para ser “caráter”. O poder
redentor de Jesus Cristo, que cura o coração e vence a luta contra a carne, o diabo e o
mundo, é a fé que decorre da graça (1 João). Assim, o serviço cristão, no crescimento
pessoal e na expansão do reino, assume valor de fé mais do que de obras, e as obras de
nossas mãos refletem a graça de Deus.
Como exemplo, veja a questão da evangelização.
EVANGELISMO IMPLOSIVO
Suponha que você esteja voltando de um estudo bíblico sobre evangelização,
sentindo-se desafiado a falar do evangelho à primeira pessoa que dê tal oportunidade. Num
banco de praça perto de sua casa, um vizinho, professor de ciências do grupo escolar do
bairro, cumprimenta-o e, gentil, convida-o a sentar. Ao lado, um raro pau-brasil domina a
área; um cão pequinês fareja um rato no gramado úmido; o ambiente está pleno de
claridade e calor amainado pelo pela brisa.
Deixe-me fazer uma pergunta daquelas que a gente fica olhando com ar de quem
não se localizou ainda: Qual seria o ponto de contacto entre você e seu vizinho, que lhe
permitira uma conversa evangelizadora efetiva? A árvore, o cão, o sol, o vento? Como
poderia ser, se para o seu vizinho toda a natureza é produto do acaso ao longo do tempo?
Seria você mesmo? Como, ainda, poderia ser, se, além do antagonismo anticristão (a
despeito de toda gentileza) domina o não cristão? Seria ele mesmo? Como, também,
poderia ser, se ele se encontra perdido?
A única resposta seria: Deus mesmo é o ponto de contacto entre o crente e o
incrédulo; e a ausência de Deus, o ponto de contacto entre o incrédulo e Deus.
De posse deste conceito, há mais uma questão: Como é possível falar de coisas
espirituais a alguém que se encontra morto em delitos e pecados? Como disse o Senhor
Jesus a Nicodemos: "Se, tratando de coisas terrenas, não me credes, como crereis, se vos
falar das celestiais?" (João 3). Falar do evangelho a um incrédulo é com um estrangeiro
sem que os interlocutores falem a língua um do outro.
O pensamento pós-moderno (caracterizado pela ausência de absolutos e de
obrigação moral e pelo conceito de que tudo no mundo é construção linguística), agrava a
situação. Seu vizinho poderá até concordar que você tem o direito de crer como crê, mas
você terá de concordar que ele também tem tal direito. Sequer será politicamente correto
tentar uma aproximação proselitista.
O que fazer?
A proposta de um evangelismo implosivo segue o padrão da Grande Comissão:
Em Em Terras dos Brasis, ilustrei esse texto, dizendo que, indo, sob a autoridade de
Cristo, apontamos para Jesus andando sobre as águas para que outros o sigam; empurramo-
los para que, além de segui-lo, nadem com ele; e, finalmente, pulamos nas águas junto com
eles para gozar da presença de Jesus. Essa ação envolve realismo com esperança.
Não apontamos para um ideal romântico nem falamos de subir aos céus, mas
apontamos para o Deus conosco e falamos de Cristo em nós.
uma mensagem impessoal, mecânica, religiosa e mística que foge das características da
Grande Comissão.
Evangelização implosiva
Por que implosiva? Estou pensando em uma comunicação efetiva que, para bem da
economia do pensamento, preencha três solicitações: (1) um evangelismo (sistema baseado
no evangelho) que fale da obra completa de Cristo ao homem completo, de modo
substancial; (2) uma evangelização (ação de evangelizar) aconselhadora que responda às
questões das pessoas sobre a razão da esperança contra a desesperança de sofismas e idéias
opostas a Deus; e (3) um evangelho (boas novas da salvação) que proponha transformação
de caráter à semelhança de Cristo em termos individuais e corporativos.
O apóstolo Paulo, em Colossenses 1.15-28, fornece uma mostra do conteúdo
evangelístico que tenho em mente. Dado o fato de que a fé contempla o invisível, a
existência, o poder criado e a bondade de Deus (Hebreus 11.3,6), Paulo começa
localizando Jesus Cristo nesse contexto: ele é a imagem do Deus invisível, ponto
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referencial da criação, o qual se fez carne, habitou entre os homens, morreu, ressuscitou e
ascendeu aos céus, de onde enviou seu Espírito para vir habitar em nós, individualmente e
na igreja. E conclui: "Cristo em vós, a esperança da glória; o qual nós anunciamos,
advertindo a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, a fim de que
apresentemos todo homem perfeito em Cristo; para isso é que eu também me afadigo,
esforçando-me o mais possível, segundo a sua eficácia que opera eficientemente em mim"
(vv. 27b-29).
de participar por causa do pecado não confessado, é réu do corpo de do sangue de Cristo; e
quem é batizado, mas rejeita a fé, rejeitou o corpo de Cristo. Contudo, quem guarda a
Palavra, observa a comunhão com Deus e com os homens, e permanece na fé, este é
vitorioso - e ouvido quando evangeliza o amigo, o conhecido e o estranho.