Nervurada Bidirecional
Nervurada Bidirecional
Nervurada Bidirecional
1. OBJETIVO
O objetivo deste artigo é o de fornecer esclarecimentos sobre o comportamento estrutural de um
piso de um edifício formado por lajes nervuradas com nervuras em duas direções e espaço entre
nervuras preenchido por material inerte, usualmente blocos cerâmicos, e mais recentemente blocos
de EPS (Poliestireno expandido).
Este sistema estrutural tem tido sua aplicação ampliada com a adoção de nervuras com armadura
treliçada e material de enchimento em EPS. Particularmente temos desenvolvido uma série de
projetos de edifícios com grandes vãos sem vigas e com a adoção de nervuras treliçadas com
sapata de concreto pré-fabricada em uma direção e nervuras com armaduras montadas in-loco na
outra direção. Este sistema estrutural, ilustrado na figura 01, apresenta as seguintes vantagens:
9 50 9 CONCRETO LANCADO
IN LOCO
17
16
3
EPS
13 VIGOTA
PRE-CONCRETADA
ARMADURA
9 50 9
ADICIONAL
4
17
16
3
ARMADURA
EPS
4,5 4,5 SECUNDARIA
montagem da obra, vencer vãos da ordem de 1 metro até 2 metros, dependendo da altura da
treliça, minimizando a quantidade de escoras. Os blocos de EPS já podem ser cortados de forma tal
a se apoiarem sobre as nervuras treliçadas em uma direção e a formarem uma aba que sirva de
forma para a nervura em outra direção, dispensando assim o uso das fôrmas de fundo.
c-) Maior rigidez do painel de laje. O fato de possuir nervuras em duas direções proporciona ao
painel de laje uma rigidez maior que os painéis com nervuras em uma única direção. Desta forma o
volume total de concreto e armaduras da laje tende a ser menor e suas deformações também.
Vigas na
espessura
da laje
d-) Maior qualidade da obra. Além das nervuras treliçadas que são pré-fabricadas com a armadura
necessária especificada em projeto, os blocos de EPS já podem vir cortados de fábrica com as
dimensões especificadas em projeto, proporcionando assim um nível de qualidade para a estrutura
superior a aquele que se obteria com a montagem de todos os elementos in-loco, como no caso
das antigas lajes nervuradas com blocos cerâmicos.
e-) Redução de custos da estrutura: Pelo fato de trabalhar com grande quantidade de materiais
industrializados, este sistema proporciona uma baixa de perda de materiais durante a montagem,
se comparado a um sistema de lajes totalmente moldadas in-loco. Além disto o sistema é o que
apresenta menor volume de concreto e armaduras entre todos aqueles que permitem grandes vãos
com plantas flexíveis.
Não obstante as vantagens apresentadas, este sistema estrutural ainda apresenta alguma
dificuldade de penetração no mercado. Estas dificuldades se devem, em parte, ao
desconhecimento de seu potencial por parte de engenheiros projetistas e também a uma atitude
equivocada por parte de alguns fabricantes de laje que tentam vender o sistema como se vendem
as tradicionais lajes armadas em uma direção. Neste último caso, com certa freqüência, o vendedor
recorre a algumas tabelas onde cruza informações de vãos e carregamento e, a partir daí,
determina a espessura e armadura da laje e, consequentemente, o seu custo. No caso do sistema
48%
2% 2%
48%
No entanto, existem situações especiais onde uma laje que, naturalmente teria um comportamento
unidimensional, passe a apresentar um comportamento bidimensional, mesmo que ligeiramente
discreto. No projeto apresentado na figura 04, isto foi conseguido graças a colocação de nervuras
transversais apoiadas sobre faixas maciças, na espessura das lajes, engastadas nos pilares. O
comportamento ligeiramente bidimensional da laje fica evidente pelas curvas de isodeslocamentos.
Se o comportamento fosse unidimensional estas curvas seriam linhas paralelas. Nota-se no
desenho apresentado que nos painéis intermediários é característico o comportamento
unidimensional, mas nos painéis de extremidade torna-se evidente o comportamento bidimensional.
largura, e os blocos de EPS se apoiam sobre as sapatas de concreto ao longo de 2 cm, adotamos
para as nervuras ao longo destas treliças a espessura de 9 cm. As nervuras na outra direção são
projetadas com cerca de 10 cm.
b-) Sincronia de nervuras em cada painel
No caso do pavimento de um edifício formado por várias lajes nervuradas, um detalhe importante a
se observar é a sincronização das nervuras em lajes contíguas e contínuas estruturalmente. Se
esta sincronia não for observada a continuidade entre as lajes ficará comprometida.
A necessidade de sincronia entre as lajes torna difícil a adoção de modulações diferentes para as
lajes de um painel de um edifício.
c-) Faixas de ajuste
Ao encaixar os blocos de EPS dentro de um painel de laje, nos deparamos com situações onde as
dimensões do painel são tais que não permitem a adoção de um número inteiro de blocos,
obrigando o recorte dos blocos em alguns dos bordos da laje. Para se evitar estes recortes
podemos lançar mão das faixas de ajuste, que não são nada mais, nada menos, que faixas de
concreto sem blocos. Para execução destas faixas torna-se necessário o lançamento de uma forma
de fundo, mas a quantidade destas em um pavimento de edifício é tão pequena que não chega a
comprometer a vantagem da eliminação de fôrmas proporcionada por este sistema.
As faixas de ajuste são úteis também para permitir a sincronização das nervuras em vários painéis
de lajes no pavimento de um edifício.
A colocação destas faixas de ajuste, se feita com critério, permite ainda enrijecer os painéis de laje,
diminuindo sua deformabilidade. Por isto é interessante coloca-las ao longo das regiões mais
deformáveis da laje.
d-) Enrijecedores de laje
Usualmente estamos acostumados a idéia de sistemas estruturais de lajes apoiadas em vigas.
Nestes sistemas as lajes são dimensionadas como se fossem apoiadas sobre as vigas em apoios
indeformáveis. Posteriormente as vigas são dimensionadas com o carregamento das lajes.
Como as vigas apresentam deformações surge aí uma incompatibilidade entre as análises das lajes
e das vigas. Conforme já dissemos, em sistemas hiperestáticos, como este de lajes nervuradas em
duas direções, não é correto separar os elementos estruturais lajes vigas e pilares, e analisa-los de
forma independente um do outro. As deformações dos apoios alteram significativamente a
distribuição de esforços entre eles.
Nos pavimentos de edifícios com grande quantidade de vigas de alta rigidez e lajes de pequena
espessura a rigidez das vigas é muito maior que a das lajes, fazendo com que as deformações das
vigas sejam desprezíveis perto das deformações das lajes. Neste caso, o modelo de análise com
lajes e vigas separadas se torna bastante próximo da realidade.
Já no sistema que se propõe, com pouca quantidade de vigas, com lajes de grandes vãos e
consequentemente de grande espessura, a rigidez das vigas e das lajes não são tão diferentes.
Desta forma a análise convencional não é mais recomendada para este caso. O pavimento deve
ser calculado como um todo com a interação entre vigas e lajes.
Existem situações em que as alturas de vigas devem ser pequenas para facilitar passagens de
tubulações, colocação de forros, ou até mesmo para escondê-las na espessura do painel formando
o que se chama tradicionalmente de viga chata. Nestas situações desaparece completamente o
conceito tradicional de vigas como apoio para as lajes. As mesmas passam a ser nestas situações
enrijecedores de laje, ou seja elementos colocados para dar mais rigidez às lajes de tal forma a
diminuir suas deformações em alguns pontos importantes.
O projeto apresentado na figura 06 ilustra bem a situação
Uma situação limite ocorre quando as vigas têm sua altura reduzida a espessura da laje e a mesma
passa a ficar apoiada diretamente sobre os pilares. Nestas situações ocorre uma grande
concentração de momentos negativos e cortantes nas nervuras próxima ao pilar. Como a laje
nervurada tem uma boa resistência a flexão positiva, devido a presença da mesa de compressão na
capa da laje, mas uma baixa resistência a flexão negativa, é conveniente retirar os blocos de
enchimento desta região no entorno do pilar formando uma região maciça que é usualmente
denominada de capitel.
O capitel é também muito importante como elemento resistente à punção no entorno do pilar,
fenômeno característico de lajes apoiadas diretamente sobre pilares. A resistência à punção, em
um apoio sobre pilar, será tão maior quanto maior for a dimensão do mesmo. Por isto é interessante
em edifícios com vários pavimentos, e lajes apoiadas em pilares, manter-se constante as
dimensões dos pilares ao longo dos pavimentos para que o problema da punção não se agrave nos
andares mais altos, quando as dimensões dos pilares normalmente são reduzidas.
Existem situações onde a carga que chega ao pilar é tão grande que a espessura da laje não é
suficiente para a resistência à punção junto ao pilar. Nestes casos torna-se necessário um aumento
da espessura do capitel em relação a laje formando o que se denomina de laje cogumelo.
Em edifícios com poucas vigas, como em edifícios comerciais ou residenciais com o sistema
estrutural proposto, com a possibilidade de flexibilização de lay-out interno onde não há
coincidência de paredes nos diversos pavimentos, ou ainda com uso de divisórias leves, o problema
da falta de contraventamento do edifício começa a se tornar grave.
Estruturas especiais formadas por pórticos e pilares parede ao longo das fachadas e das caixas de
circulação vertical devem ser previstas com o fim específico de resistir às cargas de vento, sob pena
de se comprometer a estabilidade global do edifício.
6. MODELOS DE ANÁLISE
Devido as peculiaridades apresentadas, o sistema estrutural proposto necessita de ferramentas
apropriadas para obtenção dos seus esforços e deslocamentos. Não é possível se analisar um
painel de lajes deste tipo utilizando modelos de cálculo como as tabelas de Marcus, Czerny ou da
Teoria de Placas. Estes modelos se tornam tão mais imprecisos quanto mais próximas forem as
rigidezes das vigas das rigidezes das lajes. Os mesmos foram empregados com sucesso durante
muito anos, mas em situações de rigidez relativa tal que os erros cometidos eram pequenos.
Para o sistema proposto não há como se obter os esforços a não ser utilizando ferramentas de
análise computacional, baseadas no Método dos Deslocamentos, como os diversos programas
existentes no mercado.
Outro aspecto importante a se considerar na análise é a possibilidade de plastificação de momentos
negativos, que leva a um projeto bem mais econômico. Este consideração é ainda mais importante
neste tipo de laje onde a resistência aos momentos negativos é inferior à resistência aos momentos
positivos.
7. CONCLUSÃO
O sistema estrutural de lajes nervuradas com nervuras pré-fabricadas com armadura treliçada em
uma direção e moldadas in-loco na outra, com enchimento em blocos de EPS apresenta um grande
potencial de aplicação nas estruturas dos edifícios.
Seus benefícios são inegáveis do ponto de vista de criação de plantas livres, facilidade de
montagem, alta rigidez e baixo consumo de materiais.
Embora suas vantagens sejam evidentes a sua aplicação ainda não se tornou muito difundida
devido as peculiaridades de projeto deste sistema. Fica evidente que neste tipo de solução
estrutural a escolha do tipo de laje não pode ser feita por nenhuma outra pessoa que não seja o
projetista do edifício, ou por um engenheiro que o assessore em todas as fases do projeto. Como
as solicitações nas lajes dependerão do sistema estrutural como um todo, só um profissional que
conheça todos os elementos estruturais existentes no projeto e seus carregamentos pode
determinar as solicitações nas lajes e conseqüentemente fazer a especificação das mesmas.
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[01] Tesoro, Florentino R., Los Forjados Reticulares, CYPE Ingenieros.
[02] Montoya, P. J., Meseguer, A. G., Cabre, F. M., Hormigon Armado, Editorial Gustavo Gili S.A.,
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[03] CAD/Formas, Manual do Usuário, Interface e Processamento de Grelhas, TQS Informática, São
Paulo, 1996.
[04] Baykov, V. N., Sigalov, E. E., Estructuras de Hormigon Armado, Editorial Mir, Moscou, 1980.
[05] Figueiredo F, J. R., Assumpção, J. F. P., Comparação de custos entre estruturas convencionais
e em lajes sem vigas de concreto armado, XXV Jornadas Sul Americanas de Engenharia Estrutural,
Porto Alegre, 1991.
[06] Carbonari, G., Investigação da distribuição das reações de lajes retangulares isoladas sobre as
vigas de apoio considerando a flexibilidade das mesmas, XXV Jornadas Sul Americanas de
Engenharia Estrutural, Porto Alegre, 1991.