Apostila Eletroquimica-2021
Apostila Eletroquimica-2021
Apostila Eletroquimica-2021
ELETROQUÍMICA
Em uma solução eletrolítica isotrópica que não está submetida a nenhum tipo de
influência externa, os íons, em seu interior, estão em constante movimento. Mas, na prática,
como as forças que rodeiam cada íon possuem características iguais, não existe movimento
líquido de íons no interior da solução. Assim, o balanço de cargas de uma lâmina de líquido,
em qualquer ponto da solução, será igual a zero. Logo podemos afirmar que a neutralidade
elétrica reina em todos os pontos da solução.
O que ocorre com o equilíbrio de distribuição de cargas quando um metal é
introduzido na solução eletrolítica? Os íons que se encontram nas proximidades do
metal passam a sofrer a ação (atração ou repulsão) dos átomos do reticulado cristalino
deste. Em consequência, nesta região, passam a atuar sobre os íons forças características
tanto do reticulado cristalino do metal como da solução, originando uma região
anisotrópica, denominada interfase, onde a eletroneutralidade característica da solução
é quebrada. A atmosfera elétrica dessa região é bastante complexa dando origem a
fenômenos como: separação de cargas, gradientes de potencial, adsorção específica de
íons e de moléculas orgânicas, orientação de dipolos de água, etc.
O fenômeno acima exposto ocorre todas as vezes que introduzimos uma fronteira
(interface ou separação entre duas fases diferentes) no interior de uma solução
eletrolítica, desde que as duas fases em contato possuam partículas carregadas ou dipolos
permanentes ou induzidos, podendo ocorrer também com semicondutores, líquidos com
densidades diferentes, etc. O estudo das interações de natureza química e elétrica que
ocorrem nesta região é um dos domínios da eletroquímica.
A eletroquímica possui um campo muito amplo de pesquisa, que abrange tanto os
fenômenos que envolvem interações entre partículas carregadas no interior de uma
solução, como a formação de interfaces eletrificadas (como a descrita no parágrafo anterior)
onde possam ocorrer reações de transferência de cargas ou não. Denomina-se iônica a
parte da disciplina que se ocupa dos primeiros fenômenos, e eletródica a parte que estuda
os últimos. É do domínio da eletroquímica a produção de alumínio, de cloro e de soda,
e também as medidas de proteção contra a corrosão.
Do ponto de vista da compreensão dos fenômenos de corrosão e de sua
prevenção, e também da produção de energia a partir de reações eletroquímicas, que
interessam de perto ao engenheiro, o tipo de interface de interesse é aquele formado
pela associação de um metal (condutor eletrônico) com uma solução eletrolítica
(condutor iônico) através da qual ocorre transferência de cargas. Esta associação é
denominada eletrodo. Portanto, neste módulo iremos abordar apenas os fenômenos que
ocorrem em interfaces que possuem estas características.
Os condutores eletrônicos mais comuns são os metais sólidos, os metais
fundidos, grafite, óxidos, sulfetos e semicondutores. A condução ocorre devido ao
movimento de elétrons em sentido contrário ao da corrente convencional. Os
condutores eletrolíticos, por sua vez, são as soluções de solventes polares e solutos
constituídos por sais, ácidos e bases orgânicos e inorgânicos. A condução se deve ao
fluxo de cátions e ânions em sentido contrário, exigindo a presença de condutores
eletrônicos em seus terminais.
1
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++++
- - - - ++++++++++++++ +Q
+ - - +
+ - - + d E
+ - Me - +
+ - - + - - - - - - - - - - - - -- -Q
- - - -
++++
Solução
2
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eletrodo. Neste momento, admite-se que não existe acúmulo de cargas na interface
metal/solução, não havendo, portanto, efeitos de natureza elétrica, mas apenas a
possibilidade de ocorrência de reações químicas. Assim, não estamos ainda no campo da
eletroquímica, e:
q M qS 0
Onde:
qM = carga acumulada na interface do lado do metal;
qS = carga acumulada na interface do lado da solução.
De acordo com a termodinâmica, todos os sistemas do universo tendem para a
condição de menor energia. Desta maneira, no eletrodo em consideração, a partir do
instante de imersão, íons Ag+ tendem a deixar espontaneamente a solução passando
para o reticulado cristalino do metal. Este movimento é favorecido pela diminuição da
energia livre dos íons Ag+. Esta situação está esquematizada na fig. 2, a qual leva em conta
a barreira de ativação presente no caminho de toda reação química.
Eletrodo (Ag)
𝐺#
𝐺#′
𝐺 S
𝐺M
Coordenada reacional
Figura 2 - Variação da energia livre do íon metálico em função da coordenada reacional
até sua incorporação no retículo cristalino (GM < GS).
Na fig. 2:
GM energia livre do Ag+ no reticulado cristalino do metal;
GS energia livre do Ag+ na solução eletrolítica;
G# energia de ativação para a passagem do íon metálico da solução eletrolítica
para o reticulado cristalino do metal;
G#' energia de ativação para a passagem do íon metálico do reticulado
cristalino do metal para a solução eletrolítica.
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sempre haverá íons Ag+ com energia suficiente para ultrapassar a barreira de ativação,
adquirindo a configuração mais estável de íon metálico no reticulado cristalino do metal.
Antes de prosseguir, devemos parar e fazer uma reflexão de que quando se fala
em reações envolvendo espécies atômicas não se pode dizer que elas ocorrem
apenas em um único sentido (no mundo atômico não existem vias de mão única).
Assim, existem também íons Ag+ que conseguem deixar o reticulado cristalino do metal e
passar para a solução. Logo, quando afirmamos que íons Ag+ deixam a solução e passam
para o reticulado do metal, na realidade estamos dizendo que estes íons passam da
solução para o reticulado com maior frequência do que o inverso. Esta situação é
favorecida pela menor altura da barreira de ativação para que a reação ocorra neste
sentido, e gera um movimento líquido de Ag+ da solução para o reticulado.
De acordo com o exposto acima, logo após a imersão do eletrodo de Ag na
solução ocorre a passagem líquida de íons Ag+ da solução para o reticulado cristalino
do metal. Essa reação é equivalente ao ganho de elétrons por parte destes íons, e é
denominada reação de redução. Este movimento deixa o metal com excesso de cargas
positivas (o eletrodo metálico encontra-se isolado do exterior). Já a reação no sentido
inverso, embora ocorra com menor intensidade, corresponde à perda de elétrons por
parte da Ag, sendo, portanto, uma reação de oxidação.
Um modo alternativo de representar o que está descrito no parágrafo acima é
mostrado a seguir, onde os tamanhos das setas indicam as velocidades relativas das
reações nos sentidos direto e inverso:
Agaq. e Ag metal
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Por outro lado, o movimento dos íons que passam do reticulado para a solução
(inicialmente desfavorecido pela termodinâmica) se dá na mesma direção do campo
elétrico. Assim, pode-se concluir que este processo será tanto mais intenso quanto maior
o campo elétrico dirigido do metal para a solução, pois a realização de trabalho ocorre
a favor do campo elétrico.
Campo Elétrico
+ -
Metálico (Ag) + -
Pelo que foi apresentado até agora pode-se concluir que o campo elétrico que
surge na interface, devido à transferência líquida de cargas de um lado para o outro desta,
age no sentido de igualar as velocidades das reações direta e inversa. Assim, ele
diminui a intensidade do processo inicialmente favorecido pela termodinâmica ao
mesmo tempo que aumenta a intensidade do processo desfavorecido por esta, levando
o sistema a uma situação de equilíbrio dinâmico.
Em termos energéticos o acúmulo de cargas positivas na superfície do metal
aumenta a energia livre global deste lado da interface, dificultando a incorporação de
novos íons Ag+ ao reticulado. Por outro lado, o excedente de cargas negativas no lado
da solução contribui para diminuir a energia livre global desta, estabilizando os íons
Ag+ na solução e favorecendo sua permanência nesta. Pela presença de uma componente
de natureza elétrica, estas energias passam a ser denominadas energias livres
eletroquímicas (∆𝑮 ̃ ). A fig. 4, apresenta esquematicamente a atuação do campo elétrico
no sentido de igualar as energias nos dois lados da interface.
~
E (V) G (J/mol) G (J/mol)
Solução Solução Solução
+ =
Eletrodo Eletrodo Eletrodo
Pelo acima exposto, a passagem de íons de um lado para outro da interface alterou
da seguinte maneira a situação na região da interface:
5
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~
G energia livre eletroquímica (J/mol);
z carga do íon;
F constante de Faraday (96500 C, carga de um mol de elétrons).
Na dedução das equações acima, para o cálculo de G, adotou-se a convenção de
que todas as reações devem ser escritas no sentido da redução, e o campo elétrico
foi medido a partir da superfície do eletrodo.
É claro que poderíamos ter desenvolvido o raciocínio para a compreensão do
equilíbrio eletroquímico, partindo do princípio de que em t = 0, na ausência de campo
elétrico, a energia livre dos íons no reticulado cristalino (GM) era maior que a
energia livre destes mesmos íons em solução eletrolítica (GS). Neste caso haveria
uma maior tendência à saída de íons do reticulado do metal para a solução, e o campo
elétrico, originado pela transferência de cargas, iria se opor ao prosseguimento da reação
neste sentido e ajudar o processo no sentido oposto. Esta situação está representada
esquematicamente na fig. 5 e também leva a interface para o equilíbrio eletroquímico.
~
E (V) G (J/mol) G (J/mol)
Solução Solução Solução
Eletrodo
Eletrodo
Eletrodo
+
Δ𝐺𝑀
Δ𝐺𝑆 ̃𝑀
Δ𝐺 ̃𝑆
Δ𝐺
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z
Mesol.
IA
Meaq. ze
z
. ze Mesol.
IC
Meaq
Nesse ponto é interessante frisar que essas correntes possuem a mesma direção,
porém sentidos contrários, e também que o sinal atribuído a cada uma delas é arbitrário.
Na presente discussão, a corrente positiva será aquela gerada por uma reação de
oxidação (perda de elétrons), enquanto às reações de redução (ganho de elétrons) será
associada uma corrente negativa. Logo, no equilíbrio:
I A IC I0
como: AA AC e I A IC
ia ic i0
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equilíbrio, sendo a primeira indicação da cinética da reação. Logo quanto maior o valor
de “io” para a reação de um determinado eletrodo em uma solução, mais fáceis são
as reações de transferência de cargas na interface, ou seja, melhor a cinética da
reação.
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(a)
Eletrodo M2
Solução
(c) (b)
+ - + -
+ - + -
+ - + -
Figura 6- (a) Se o segundo terminal, M2, do instrumento medidor de potencial for imerso
na solução, uma nova interface eletrificada é estabelecida entre M2 e a solução – vista
expandida (b) -, em adição à interface eletrificada eletrodo –s olução em estudo - vista
expandida (c).
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fio de Pt
H2 (g)
H+
Pt platinizada
2 Haq. 2e
H2( g ) E H0 / H 0, 0V
2
AgCl Sol e
Ag sol Claq.
0
E AgCl / Ag 0, 222V
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Fio de conexão
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A figura abaixo apresenta uma das várias configurações que podem ser assumidas
por este eletrodo.
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Imagem de um eletrodo
de cobre-sulfato de cobre
saturado
2+
O potencial do eletrodo varia com a concentração de Cu , e sua precisão, embora
adequada para a maioria das pesquisas em corrosão, é inferior à dos eletrodos de
calomelano saturado e de prata-cloreto de prata. É utilizado, principalmente, em medidas
de campo.
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Observe que para medir o potencial é necessário que o circuito esteja fechado,
pois é preciso que haja fluxo iônico entre as duas soluções eletrolíticas sem que, no entanto,
as mesmas se misturem. No esquema da fig. 9, a presença da membrana porosa impede
a mistura das soluções.
E = 0,34V em
-+
H2 Pt
Pt Cu
H2
H2 Membrana porosa (evita a mistura das soluções)
H2SO4 (H+ = 1N) 1N CuSO4
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a atividade do íon;
coeficiente de atividade;
C concentração do íon em solução.
O coeficiente de atividade é geralmente menor que um e depende da
temperatura da solução, da concentração do eletrólito e da presença de íons diferentes,
sendo determinado experimentalmente.
Entretanto, as reações de oxirredução também podem envolver sólidos
(geralmente o material do eletrodo), líquidos (geralmente a água) e gases (geralmente O 2H2
e Cl2). Para os sólidos e líquidos a atividade será sempre igual a 1, já para os gases a
atividade será igual à pressão parcial destes na solução.
A seguir são apresentadas algumas reações eletroquímicas que envolvem o
consumo ou produção de espécies gasosas.
Haq. e 12 H2( g )
Cl2( g ) 2e
2Claq .
O2( g ) 2 H2 O(liq.) 4e
4OHaq.
Nos casos que serão aqui abordados, a atividade das espécies iônicas nas
reações de oxirredução será sempre igual à concentração (coeficiente de atividade
unitário).
Retornando ao EPH, como a reação de equilíbrio é:
2 Haq. 2e H2( g ) E H0 / H 0, 0V
2
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2 Haq. 2e H2( g.) E H0 / H 0, 0V
2
2
. 2e Cusol. 0, 34V
0
Cuaq ECu 2
/ Cu
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Temos que, no equilíbrio, o potencial eletroquímico dos estados final e inicial são
iguais:
𝜇̃𝑀𝑒 = 𝜇̃𝑀𝑒 𝑧+ + 𝜇̃𝑒 −
𝜇̃ potencial eletroquímico.
Sabe-se que o potencial eletroquímico de uma fase é igual à soma do potencial
químico () e do potencial elétrico () que se estabelece nessa fase. Para uma reação
envolvendo um mol de espécies, temos:
𝜇̃ = 𝜇 + 𝑧𝐹𝜙
F constante de Faraday
potencial estabelecido na fase em questão.
O potencial eletroquímico de átomos metálicos neutros (Me) é igual a seu potencial
químico, logo, para a reação eletroquímica em questão:
𝜇̃ = 𝜇𝑀𝑒
𝜇̃𝑀𝑒 𝑧+ = 𝜇𝑀𝑒 𝑧+ + 𝑧𝐹𝜙𝑠𝑜𝑙
𝜇̃𝑒 − = 𝜇𝑒 − − 𝐹𝜙𝑀𝑒
Substituindo as relações acima na equação de equilíbrio eletroquímico apresentada
inicialmente, temos:
𝜇𝑀𝑒 = 𝜇𝑀𝑒 𝑧+ + 𝜇𝑒 − + 𝑧𝐹(𝜙𝑠𝑜𝑙 − 𝜙𝑀𝑒 )
Porém, para uma reação onde seja válida a isoterma de adsorção de Vant'Hoff, os
potenciais químicos () podem ser relacionados com a atividade através da seguinte
equação:
(continua)
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i i0 RT ln ai
SOLUÇÃO ÁCIDA
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Me z Figura 10 - Representação esquemática
de um eletrodo metal/íon metálico.
z
Metal
Me z Solução Meaq. ze Mesol.
Um exemplo típico de um eletrodo redox é aquele formado por uma placa de platina
+3 +2
imersa em uma solução eletrolítica contendo íons férrico (Fe ) e ferroso (Fe ), cuja reação
de equilíbrio está apresentada abaixo:
3 2
Feaq. e Feaq.
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H+ Metal
2 Haq
. 2e H2( g)
AgCl sol. e
Ag sol. Claq.
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5. Polarização
Até o presente momento foram tratadas apenas situações de equilíbrio, onde o
eletrodo se encontra isolado e apenas um tipo de reação redox ocorre na interface com
a mesma velocidade em ambos os sentidos. Logo não existe passagem de corrente
líquida através da interface, somente uma troca dinâmica de espécies entre um lado
e outro da interface. O equilíbrio eletroquímico é atingido espontaneamente quando
colocamos um eletrodo metálico em solução de seus próprios íons.
O que ocorre com o potencial de um eletrodo e com a velocidade das reações
interfaciais quando o retiramos da condição de equilíbrio? Para responder a esta
questão será considerado um eletrodo, já em equilíbrio, o qual será conectado ao polo
negativo de uma fonte de tensão. Esta situação encontra-se esquematizada na fig. 12 para
t = 0, quando a fonte de tensão ainda se encontra desligada.
Fonte (desligada)
Figura 12 - Representação
esquemática de um eletrodo em
equilíbrio ligado ao polo negativo
+ - -+ de uma fonte de tensão externa
(t=0). Considere o circuito fechado
+ - -+ solução
como um todo: qM = qS . O polo
+ - eletrodo -+ positivo da fonte também se
+ - -+ encontra conectado a outro
eletrodo que não irá sair do
- equilíbrio.
+
O que acontece com o equilíbrio na interface quando a fonte de tensão é
ligada? Neste momento é estabelecido um fluxo de elétrons do terminal negativo em
direção ao terminal positivo. No entanto, como os terminais não estão diretamente
conectados, existindo entre eles os dois eletrodos e a solução, os elétrons, em seu
percurso em direção ao polo positivo, terão que participar de uma reação eletroquímica
na interface do eletrodo, pois a condução elétrica em uma solução eletrolítica ocorre
através do fluxo de cátions e ânions em sentido contrário. Assim, neste eletrodo,
forçosamente, o equilíbrio é deslocado no sentido da redução (consumo de elétrons).
z z 1
Meaq. e Meaq .
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(campo) + + (campo)
+ - - + + - - +
+ - - + + - - +
(a + - Eletrodo -+ (b) + - Eletrodo - +
+ - -+ + - - +
Solução + - - - + Solução
+
Figura 13 - Comparação entre os potenciais de um eletrodo ligado ao polo negativo de uma
fonte geradora (a) t=0, fonte desligada; (b) t=t1, fonte ligada.
Como , pela
Como, pelafigura 13, 17 E b Ea ,
Figura
~
G0
Ia
z
Meaq. ze Me
Ic
I Ia Ic 0
Como se pode verificar, na nova situação, existe uma corrente catódica líquida
(negativa por convenção) na interface metal/solução. Ou seja, o rearranjo de cargas
favoreceu à reação de redução, e diz-se que o eletrodo está polarizado catodicamente.
Analisemos agora a situação dinâmica. A chegada de elétrons ao eletrodo com
velocidade maior do que podem ser consumidos pela reação de redução gera três
consequências práticas:
1 – Modificação do potencial interfacial, que se torna cada vez mais negativo;
2 - Aumento gradativo da velocidade de consumo dos elétrons pela reação de
redução, já que o campo elétrico dirigido da solução para o metal (que atua no sentido
desta reação) se torna cada vez mais intenso, ajudando os íons da solução a ultrapassarem
mais facilmente a barreira de ativação. Já a passagem de íons do reticulado para a solução
(reação de oxidação) torna-se cada vez mais difícil, pois estes têm que vencer um
campo elétrico crescente. A corrente catódica líquida aumenta;
3 - A quantidade de elétrons que chega ao eletrodo a partir do circuito externo
tende a diminuir. Em virtude da oposição oferecida pelos elétrons que já se encontram
acumulados neste, ocorre um aumento da resistência do sistema, diminuindo a corrente
que circula pelo circuito externo.
Pelo acima expostos, pode-se concluir que, após certo intervalo de tempo, a
velocidade de chegada de elétrons ao eletrodo a partir do circuito externo (decresce com
o acúmulo de cargas negativas) torna-se igual à velocidade de consumo destes pela
reação de redução (cresce com o acúmulo de cargas negativas). Neste ponto a corrente
catódica líquida na interface, Ic, torna-se igual à corrente que circula pelo circuito
externo e o processo de polarização cessa, ou seja, não ocorre mais diminuição do
potencial do eletrodo, e o mesmo atinge um estado estacionário.
O tipo de polarização descrito acima é denominado de polarização catódica pois
a passagem de corrente elétrica através do circuito externo favoreceu o aparecimento
de uma corrente catódica líquida na interface. Na polarização catódica, o potencial do
eletrodo no estado estacionário é MENOR que o potencial de equilíbrio.
Passemos agora à análise da situação onde o eletrodo encontra-se ligado ao
polo positivo de uma fonte de tensão, ou seja, desta vez o eletrodo está ligado ao
sorvedouro de elétrons. A representação esquemática dessa situação está mostrada na
fig. 14 em dois momentos distintos, em t=0 (fonte desligada), e em t=t1 (fonte ligada). Para
este caso, a saída de elétrons do eletrodo em direção ao polo positivo da fonte geradora
deixará o mesmo com deficiência de cargas negativas (excesso de cargas positivas).
Calculando a variação de ∆𝐺̃ entre t e t1, pode-se verificar que ocorre um aumento de seu
valor, isto significa dizer que os íons no reticulado cristalino encontram-se em uma
situação mais instável (mais energética) em t1.
Vejamos o que ocorre com o campo elétrico na interface. À medida que os
elétrons saem do eletrodo em direção ao polo positivo com mais intensidade do que podem
ser gerados pelas reações interfaciais, este fica cada vez mais positivo (aqui também as
reações de oxidação na interface não são rápidas o suficiente para gerar todos os elétrons
necessários). Logo, o campo elétrico dirigido da solução para o metal fica cada vez mais
fraco. É interessante notar que, para a situação descrita, se a retirada de cargas do eletrodo
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for suficientemente intensa, pode ocorrer, inclusive, a inversão da direção do vetor campo
elétrico, o qual passará a ser dirigido do metal para a solução.
(campo) (campo)
+- - +
+- - + + - - +
(a) + - Eletrodo - + (b) Eletrodo
Solução Solução
+ +
I I a I c 0
Como se pode verificar, na nova situação, existe uma corrente anódica líquida
(positiva por convenção) na interface metal/solução, ou seja, o rearranjo de cargas
favoreceu à reação de oxidação, e dizemos que o eletrodo encontra-se polarizado
anodicamente.
A análise dinâmica da situação mostrará que após certo intervalo de tempo e
devido ao aumento do potencial do eletrodo a corrente anódica líquida na interface se
tornará igual à corrente que circula através do circuito externo. O eletrodo atinge uma
situação estacionária e não se polarizará mais.
O tipo de polarização descrito é denominado anódica, pois a passagem de
corrente elétrica através do circuito externo favoreceu o aparecimento de uma corrente
anódica líquida na interface. Nesta, o potencial do eletrodo no estado estacionário é
MAIOR que o potencial de equilíbrio.
Nas duas situações expostas dois pontos merecem ser relembrados:
1 - Devido à passagem de corrente pelo circuito externo, o eletrodo sai do
equilíbrio, o qual é atingido espontaneamente e onde a corrente líquida na interface é
igual a zero (Ia = Ic), e vai para uma condição polarizada (fora do equilíbrio) onde,
dependendo da direção do fluxo de cargas, uma das reações predomina sobre a outra.
Existe um fluxo líquido de cargas (corrente) na interface metal/solução;
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E(V)
Figura 17 - Representação
simultânea das curvas de
polarização anódica e
an catódica. Note que a corrente
líquida está sendo
representada em módulo. No
Ee - potencial de equilíbrio a
corrente líquida é zero.
cat.
i (A/cm2)
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ic
A(cat.) bc log
.
i0
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E(V)
Figura 18 – Curvas
de polarização em
escala
semilogarítmica
A(an) (curvas de Tafel).
Válidas para
situações onde a
Eeq -
sobretensão por
ativação é
A(cat) predominante.
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(continua)
(leitura complementar – continuação)
o íon fica em contato com outros íons do mesmo plano, porém continua livre para se
movimentar até encontrar uma descontinuidade e se incorporar ao reticulado
cristalino do metal.
Quando a velocidade de deposição é muito elevada, esta migração, ou difusão
superficial do íon, passa a controlar o processo de deposição, podendo ser a
causadora da polarização. Neste caso, novos íons só poderão se depositar sobre o metal
quando aqueles que preenchem a superfície conseguirem se incorporar ao retículo
cristalino do metal. Esse tipo de polarização depende da natureza do íon em questão, bem
como da superfície sobre a qual este se deposita, variando também de acordo com a
densidade de corrente que atravessa o eletrodo sobre o qual está ocorrendo a deposição
metálica. A figura abaixo ilustra as duas maneiras pelas quais os íons podem depositar-se
sobre um metal.
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6. Dispositivos eletroquímicos
Até o momento, os estudos se limitaram a processos em que o eletrodo
estava em equilíbrio, tendo sido abandonado este enfoque apenas no item relativo à
polarização, quando este foi conectado a uma fonte de tensão externa. Mas, mesmo assim,
foram analisados apenas os processos eletroquímicos que ocorreram na interface de um
eletrodo isolado. Foi visto que, na superfície do eletrodo, as reações eletroquímicas
envolvem a transferência de elétrons entre espécies gerando corrente que pode ser
transformada em trabalho útil. Em virtude deste fato surge uma pergunta: "Pode um
eletrodo isolado ser utilizado como um produtor ou consumidor de energia
elétrica?".
A produção de energia elétrica está associada a uma diferença de potencial entre
dois pontos, que faz com que os elétrons sejam transportados da região de menor potencial
para a de maior potencial. Porém, como já abordado, a ddp através de uma interface isolada
não pode ser medida diretamente, sendo necessário o acoplamento do eletrodo em questão
a um outro eletrodo (vide item sobre medição do potencial de um eletrodo). Este fato mostra
que é impossível o aproveitamento da corrente elétrica que atravessa o eletrodo na
região de interface, sendo necessário, para seu aproveitamento, que esta passe
através de um circuito externo ao qual esteja associado um dispositivo capaz de
realizar trabalho. Logo pode-se concluir que um eletrodo isolado não possui qualquer
utilidade quando se trata do processo de gerar trabalho (produção e/ou consumo de energia
elétrica).
Porém, a associação de dois ou mais eletrodos em um circuito fechado pode
ser utilizada como um dispositivo eletroquímico. Dependendo do tipo de associação
realizada entre os eletrodos, existem dois tipos básicos de dispositivos eletroquímicos,
que serão discutidos com mais detalhes a seguir:
6.1. O produtor de energia;
6.2. O produtor de substância (não abordado nesta apostila);
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Zn Cu
Existe uma diferença de potencial entre os dois eletrodos. Logo, quando o circuito
externo for fechado, haverá uma movimentação de elétrons do eletrodo de menor
potencial para o de maior potencial (este fenômeno é justificado pelas leis da Física).
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Observe que, mesmo considerando que as espécies envolvidas vão sofrer reações
de oxidação, os sinais de potencial de eletrodo acima referidos são os potenciais de
redução, de acordo com a convenção da IUPAC de sempre realizar cálculos
eletroquímicos referindo-se às reações de redução.
Como as espécies não se encontram nas condições de equilíbrio padrão, é
necessário corrigir os potenciais fornecidos usando a equação de Nernst.
RT aox.
Ee E 0 ln
zF ared.
8, 3147 298 106
E 2 0, 44 ln 0, 617 V
e Fe / Fe 2 96.500 1
8, 3147 298 3
E 2 0, 34 ln 0, 354 V
e Cu / Cu 2 96.500 1
Os valores de atividade utilizadas no cálculo dos potenciais de equilíbrio foram:
- 1 para o Fesol. e o Cusol. (ared), pois a atividade de sólidos é sempre unitária;
++
- 3 para o Cu , que corresponde à concentração do íon na dissociação do CuSO4;
-6 ++
- 10 para o Fe , pois como esse íon não existia como constituinte original da
solução eletrolítica. Existe uma convenção na eletroquímica de que, quando a espécie
iônica não se encontra inicialmente na solução, sua atividade deve ser considerada como
-6
10 .
(continua)
40
PQI-2110: QUÍMICA TECNOLÓGICA GERAL – Eletroquímica
(exemplo – continuação)
A outra possível reação de produção de elétrons do sistema é a oxidação do
-
OH produzindo O2. Como essa reação envolve a formação de uma espécie gasosa
merece uma análise em separado. O potencial de equilíbrio dessa reação deve ser
calculado como se segue:
8, 3147 298 PO2 a H2O
2
E 0, 401 ln
e O2 / OH 4 96.500 4
aOH
8, 3147 298 1 12
E 0, 401 ln 0, 874 V
e O2 / OH 4 96.500 (108 )4
Comparando os valores de potencias de equilíbrio de redução encontrados
++
observa-se que o menor foi o do par Fe /Fe. Logo, a espécie que irá se oxidar
++
preferencialmente será o eletrodo de ferro, fornecendo íons Fe que irão para a solução.
Esse eletrodo será o anodo da pilha, enquanto o catodo será o eletrodo de cobre.
Para análise por parte dos alunos: Quem seria o anodo da pilha se tivéssemos
uma outra espécie em solução que pudesse fornecer elétrons, e que possuísse um
potencial de redução menor que o do par Fe/Fe+2? O anodo continuaria a ser o Ferro,
pois tem menor potencial que o Cobre, porém a reação anódica seria desta nova
espécie, com potencial de redução inferior ao do ferro.
(continua)
41
PQI-2110: QUÍMICA TECNOLÓGICA GERAL – Eletroquímica
(exemplo – continuação)
É necessário agora realizar os cálculos dos potenciais das espécies que podem
++ ++ +
sofrer redução, Zn , Cu , H , O2. As reações de redução e seus potenciais de equilíbrio
padrão são fornecidos a seguir.
2
. 2e Znsol. 0, 763 V
0
Znaq EZn 2
/ Zn
Haq. e 1 2 H2( g ) E H0 / H 0, 0 V
2
2
. 2e Cusol. 0, 34 V
0
Cuaq ECu 2
/ Cu
O2( g ) 2 H2 O(l.) 4e
4OHaq. EO0 / OH 0, 401 V
2
E 0,354 V
e Cu / Cu
Para o cálculo do potencial de equilíbrio das outras duas espécies que estão
envolvidas nas reações de redução serão feitas algumas considerações especiais, já que
envolvem gases.
8, 3147 298 a H
E 0, 0 ln 1
e H / H2 1 96.500 PH22
- A pressão do hidrogênio é 1 atm. As razões para que seja utilizado este valor
já foram apresentadas anteriormente para o Oxigênio.
+
- O valor da atividade do íon H é calculado como se segue:
pH 6
mas,
pH log aH
aH 106
Substituindo os valores de atividade na equação para o potencial de equilíbrio do
+
par H /H2, temos:
E 0, 355 V
e H / H2
E 0, 401 ln
e O2 / OH 4 96.500 4
aOH
(continua)
42
PQI-2110: QUÍMICA TECNOLÓGICA GERAL – Eletroquímica
(exemplo – continuação)
-
As considerações a respeito dos valores das atividades de H2O e do OH já foram
discutidas anteriormente. Porém com relação à pressão do O2 as considerações são
diferentes das apresentadas para a reação de oxidação:
- Para que a reação de redução aconteça é necessário que o O2 já esteja
presente na solução, portanto a pressão a ser considerada será de 0,2 atm, pois é o valor
da pressão parcial deste gás na atmosfera, e qual é igual à pressão do gás na solução.
Substituindo esses valores na equação acima:
E 0, 864 V
e O2 / OH
43
PQI-2110: QUÍMICA TECNOLÓGICA GERAL – Eletroquímica
e-
Figura 20 -
Anodo (-) (+) Catodo
Representação
esquemática de uma
pilha galvânica.
Fe Cu
solução
2
. 2e Cusol. 0, 34 V
0
Cuaq ECu 2
/ Cu
44
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2
solução menos concentrada Cusol. Cuaq. 2e
2 2
reação global Cuaq.( I ) Cuaq.( II )
e-
Cu Cu
++
No balanço global do sistema, é como se íons Cu estivessem passando da
solução mais concentrada para a solução mais diluída. A reação eletroquímica irá cessar
quando as concentrações nos dois compartimentos forem idênticas.
45
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elétrons
Figura 22 -
Representação
O2 O2 O2 esquemática de
uma pilha de
anodo Pt O2 Pt O2 catodo aeração
diferencial
O2 O2 O2 O2
(1) (2)
Nesse sistema, a reação de equilíbrio será igual nos dois eletrodos, porém PO 2(2)
PO2(1).:
2 H2 Ol O2( g ) 4e 4OHaq
. E 0 0, 401 V
0
E cat. E
2
RT aH2O .PO2 (2)
0,401
0,0592 PO (2)
log 2
ln
zF a OH 4 4
OH
4
0
E an. E
2
RT aH2O .PO2 (1)
0,401
0,0592 PO2 (1)
ln log
zF a OH 4 4
OH
4
aH2O 1 (líquido)
Epilha ( f.e.m.) E cat E an
0,0592 PO (2) 0,0592 PO2 (1)
f.e.m. 0,401 log 2 0,401
log
4 4 4 4
OH OH
f.e.m.
0,0592
4
logPO2 (2)
0,0592
4
log OH
4 0,0592
4
log OH
4 0,0592
4
logPO2 (1)
0,0592 PO (2)
f.e.m. log 2
4 PO2 (1)
Para que a fem da pilha seja maior que zero (condição de funcionamento), é
necessário que PO2(2) > PO2(1). Logo, o catodo será o eletrodo imerso na solução
eletrolítica mais aerada, e o anodo o eletrodo imerso na solução menos aerada.
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reação anódica 4OHaq. 2 H2 Ol O2(1) 4e
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A Motor
Ponte Salina
PtI
Zn Cu
Zn+2 Cu2+
SO42- SO42-
2
reação anódica Znsol Znaq. 2e
2
reação catódica Cuaq. 2e Cusol
2 2
reação da pilha Znsol Cuaq. Znaq. Cusol
48
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Até o momento não foi permitida a circulação de corrente através do circuito externo
das pilhas. Os eletrodos não foram desviados de suas condições de equilíbrio, e as análises
realizadas foram baseadas apenas em nosso conhecimento a respeito do fluxo de cargas
entre eletrodos com potenciais diferentes.
O que acontece com o potencial dos eletrodos à medida que ocorre passagem
de corrente através do circuito externo?
Como para os eletrodos isolados ligados à fonte de tensão, também aqui, ao se
estabelecer o fluxo de elétrons, os eletrodos irão se polarizar (serão desviados do
equilíbrio). O eletrodo de maior potencial (catodo) terá seu potencial diminuído em
relação ao potencial de equilíbrio (polarização catódica), enquanto o eletrodo de menor
potencial de redução (anodo) irá ter seu potencial aumentado em relação ao potencial
de equilíbrio (polarização anódica). No primeiro eletrodo passarão a ocorrer,
preferencialmente, reações de redução, enquanto no segundo ocorrerão preferencialmente
reações de oxidação. Isto ocorre devido à lentidão dos processos interfaciais em relação à
velocidade do fluxo de elétrons pelo circuito externo.
Qual a influência da polarização sobre o valor da ddp em uma pilha?
Para responder esta pergunta será analisado o que ocorre com uma pilha quando
o circuito entre os dois eletrodos é fechado. Inicialmente, na fig. 23, temos uma pilha em
circuito aberto com os eletrodos em equilíbrio. Como o circuito está aberto, não há
passagem de corrente líquida. Nesta condição (t = 0) a fem da pilha é dada por:
𝑓𝑒𝑚 = 𝐸𝑒(𝑐𝑎𝑡𝑜𝑑𝑜) − 𝐸𝑒(𝑎𝑛𝑜𝑑𝑜)
anodo catodo
+- -+ -+ +-
+- -+ -+ +-
+- -+ -+ +-
do eletrodo se desviar do equilíbrio, ou seja, quanto maior a polarização. Esta situação está
representada na fig. 24. Verifique que nesta figura o potencial do eletrodo (representado
pelas cargas negativas) é superior àquele representado na fig. 23. O aumento na
intensidade da reação de oxidação visa suprir os elétrons que estão indo para o circuito
externo.
50
PQI-2110: QUÍMICA TECNOLÓGICA GERAL – Eletroquímica
Agora juntaremos os dois eletrodos para que se possa visualizar o que ocorre em
uma pilha à medida que circula corrente entre seus eletrodos tornando-os polarizados:
1 - Em termos de fluxo de elétrons – devido à polarização dos dois eletrodos, o
anodo passa a ter um potencial mais positivo e o catodo um potencial mais negativo em
relação aos seus respectivos potenciais de equilíbrio. Isto resulta na diminuição da ddp
entre os eletrodos, e, consequentemente, na redução do fluxo de elétrons pelo circuito
externo.
2 - Em termos de velocidade das reações eletroquímicas nas interfaces - a
reação anódica (de oxidação) terá sua velocidade aumentada no anodo (devido à
polarização anódica). Ao mesmo tempo que no catodo, que se encontra polarizado
catodicamente, a reação de redução também aumenta de intensidade.
3 – Em termos de eficiência da pilha – a redução da ddp entre os dois eletrodos,
diminui a quantidade de energia que pode ser gerada pela pilha, reduzindo sua eficiência.
Do acima exposto, conclui-se que, com a polarização, enquanto a velocidade de
circulação dos elétrons pelo circuito externo (corrente) tende a diminuir, as
velocidades das reações na interface, de redução (no catodo) e de oxidação (no
anodo), tendem a aumentar (lembre-se que no equilíbrio, situação da pilha em circuito
aberto, não existe reação líquida nos eletrodos que compõem a pilha). Logo, depois de um
curto intervalo de tempo, a velocidade de chegada/saída dos elétrons nos eletrodos será
igual à velocidade de consumo/produção dos mesmos devido às reações de interface, e,
desde que não haja qualquer alteração, o sistema permanecerá em estado estacionário,
onde não haverá alterações nem nos valores de corrente nem nos valores de potencial de
cada um dos eletrodos (estamos considerando que os processos que ocorrem em cada
uma das interfaces não são suficientes para mudar a composição do eletrólito). No estado
estacionário temos a seguinte relação para as correntes:
Icirc. externo= Iinterface do anodo= Iinterface do catodo
Como em todos os instantes o eletrólito da pilha deve manter a eletroneutralidade,
a reação interfacial que tiver a cinética mais lenta irá dominar a velocidade da reação e,
consequentemente, a corrente que será gerada pela pilha durante seu funcionamento.
E o que significa a situação descrita nos parágrafos anteriores para a ddp da
pilha? Comparando a nova ddp com a fem teremos:
51
PQI-2110: QUÍMICA TECNOLÓGICA GERAL – Eletroquímica
Eeq.(anodo)
I (A.cm-2)
Pela fig. 27 pode-se observar que: o desvio do potencial dos eletrodos de suas
condições de equilíbrio (polarização), em virtude da circulação de corrente pelo
circuito externo, causa uma diminuição da diferença de potencial entre os mesmos.
Isto diminui a corrente efetiva que pode ser produzida pela pilha. Este
comportamento é indesejável pois diminui a energia útil que pode ser produzida.
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corrente
cátions
ânions
eletrólito
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LEITURA COMPLEMENTAR
REPRESENTAÇÃO DIAGRAMÁTICA DE UMA PILHA
A pilha eletroquímica pode ser representada por um diagrama, no qual, além de
constar todas as espécies que participam da reação de oxirredução, também constam
todas as nuances de construção.
A representação diagramática de uma pilha é governada por algumas regras
estabelecidas pela IUPAC, e que são apresentadas a seguir:
1 - O anodo deve ser sempre colocado à esquerda da representação, enquanto
o catodo deve aparecer sempre à direita;
2 - Os condutores metálicos (ou coletores inertes) são colocados nas
extremidades do diagrama;
3 - O limite entre duas fases (fronteira) é indicado por uma barra vertical sólida;
4 - Uma barra vertical interrompida indica uma junção entre duas fases líquidas
miscíveis, e que estão separadas por um meio poroso;
5 - Duas barras verticais no meio representam uma ponte salina, que permite o
fechamento do circuito eliminando, praticamente, o potencial de junção;
6 - As substâncias insolúveis e/ou gases devem ser colocadas em posições
internas, próximas aos metais. No caso de gases, estes devem ser acompanhados de
suas pressões parciais;
7 - As espécies solúveis são colocadas no meio do diagrama, acompanhadas
de suas concentrações ou atividades;
8 - As diferentes espécies solúveis presentes em uma mesma fase devem ser
acompanhadas de suas concentrações ou atividades, e devem ser separadas por
vírgulas.
Exemplos ilustrando a representação diagramática de uma pilha segundo as regras
acima são fornecidos a seguir:
2
1 PtI(sol) Zn(sol) Znaq 2
. a Zn 2 0,35 Cuaq. a Cu2 0,49 Cusol. PtII( sol)
55
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E (V)
EII
II
EI
I
Eeq. _
i (A.cm-2)
I1
Figura 32 - Curvas de polarização anódica de um mesmo metal em dois eletrólitos
diferentes (I) e (II).
56