Homeopatia e Saneamento
Homeopatia e Saneamento
Homeopatia e Saneamento
Ilustrações
Maria Bevilacqua Alves
Lucas Cupertino Vaz
Estudantes da EFA Puris - Araponga
Versões anteriores desta cartilha contaram com apoio dos Programas e Projetos:
1 - Programa de Extensão DFT/UFV – “Divulgação das Plantas Medicinais,
da Homeopatia e da Produção de Alimentos Orgânicos”
2 - Projetos aprovados no Programa Institucional de Bolsas de
Extensão (PIBEX) de 2010, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015. (DER-UFV)
3 - Projeto Popularização da ciência, saberes e práticas (PROEXT – 2015, DER/DFT/DEE/DEC)
4 - Programa de Capacitação em Saneamento (PROEXT – 2015, DEC/DER-UFV)
Apresentação
O
riginalmente, os temas que são da cartilha. Na Parte 2, o tema é A água,
tratados nesta cartilha (Sanea- pois esse bem precioso merece de nós
mento Rural e Homeopatia) foram todo cuidado e atenção, principalmen-
abordados em atividades de pesquisa e te nos dias atuais, quando sua falta
de extensão universitária realizadas pela na quantidade e qualidade necessária
Universidade Federal de Viçosa (UFV) na evidencia riscos para vida humana no
Escola Família Agrícola Puris (EFA-Puris), planeta. Na Parte 3 é discutida A vida no
localizada no município de Araponga- rio e sua relação com as formas de uso
Zona da Mata de Minas Gerais. da terra (solo), com as matas e as árvo-
res. Nesta parte também aprendemos
Todo o trabalho foi motivado pelo sobre os tipos de águas que poluímos
reconhecimento da importância do e que formam os esgotos. Na Parte 4 é
saneamento na qualidade de vida e na apresentado um Manual de Sistemas de
sustentabilidade ambiental. Em nos- Esgotamento onde podemos encontrar
sas interações, muito foi aprendido, propostas de tratamento para esgoto
tanto pelos professores e estudantes doméstico rural. E, finalmente, a Parte
da própria Universidade, quanto pelas 5, intitulada Homeopatia, Florais e EM
EFAs e seus pais agricultores. Por isso, a para o Saneamento, são apresenta-
produção desta cartilha pretende popu- das, em detalhe, orientações sobre os
larizar as experiências e conhecimentos processos de produção dos preparados
adquiridos. e remédios homeopáticos, dos florais e
o EM (Micro-organismos Eficazes) para
A cartilha está dividida em cinco partes. uso no saneamento. Esses são insumos,
Na Parte 1 são discutidos os conceitos que o próprio agricultor e sua família
introdutórios sobre Saneamento e podem produzir e que ajudam no trata-
Homeopatia que são o ponto de partida mento dos esgotos e na recuperação do
para melhor entendimento do restante equilíbrio ambiental.
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Saneamento na EFA-PURIS
Um pouquinho da história do insetos e outros bichos, como pernilon-
tema na escola gos e vermes. O incômodo foi grande.
1
Esse é um texto coletivo produzido por Carina Ribas, Geovan, Carina Martins, José Dias, Marciana, Natália
e Iracema Aparecida, estudantes do 1º ano da EFA Puris de Araponga - 2011
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Sumário
Apresentação................................................................................................................... 3
Saneamento na EFA-PURIS.............................................................................................. 5
Um pouquinho da história do tema na escola................................................................ 5
PARTE 1: INTRODUÇÃO
Saneamento rural e Homeopatia................................................................................ 9
O que é saneamento?.................................................................................................. 9
Você conhece a Homeopatia?..................................................................................... 9
Ética no uso da Homeopatia no meio rural............................................................... 11
Homeopatia com saneamento rural?........................................................................ 11
PARTE 2: A ÁGUA
Mas... o que podemos fazer para ter água em quantidade e qualidade mais perto
das nossas casas e propriedades? .............................................................................14
Mas, por que devemos observar a drenagem da água no solo?..............................15
O que devemos fazer? .............................................................................................15
O que é Bacia Hidrográfica?.......................................................................................15
Os cuidados com as Nascentes: berço da vida .........................................................16
Os cuidados com o solo..............................................................................................18
Os cuidados com os córregos e o rio.........................................................................19
Como captar água de chuva...................................................................................... 20
Água para consumo humano e animal...................................................................... 21
Parte 1: Introdução
Saneamento rural e Homeopatia o aparecimento de insetos e roedores.
Assim, as ações com saneamento podem
O que é saneamento? ser divididas em 5 frentes de trabalho:
Na EFA-Puris de Araponga, os estudan-
tes responderam essa pergunta assim: Drenagem da água (ou seja, dar a ela um
Saneamento é: bom destino ou ajudar na infiltração da água
da chuva na terra);
Coleta e tratamento de esgoto;
- “fossa, fossa séptica, tratamento de esgoto, Coleta do lixo e sua correta destinação
tratamento de água suja, rede de esgoto,...” Controle de vetores de doenças (como inse-
- “limpeza geral, recolher lixos, coleta de lixo, tos, vermes e roedores), e
coleta seletiva, tratamento de todo lixo de uma Tratamento e abastecimento de água.
propriedade...”
- “água potável, água tratada, água encanada,
higiene, higienização correta...” Mas... por que dividir essas frentes de
- “boa qualidade de vida, melhor condição de
vida, forma de poluir menos o ambiente!”
trabalho? Ao resolver todos esses pro-
- “Saneamento são os valores e atitudes básicas blemas do saneamento é que podemos
para uma boa convivência e preservação do local garantir a melhora no ambiente onde as
onde vivemos”.
- “Saneamento é o conjunto de medidas que pro-
pessoas moram ou trabalham. Por isso é
movem a sanidade física e mental de cada indi- preciso organizar as tarefas de forma a
víduo”. garantir que todas as frentes de trabalho
se realizem. Pois o objetivo do sanea-
Como vemos, é comum associar a pala- mento é a promoção da saúde e a me-
vra saneamento à ideia de esgoto, lixo lhoria da qualidade de vida das pessoas,
ou boa água de beber. Mas será que sa- bem como a melhoria do ambiente.
neamento é só isso mesmo? Temos que
acrescentar outras coisas. Por exemplo, Você conhece a Homeopatia?
as medidas de Saneamento podem evi- A Homeopatia é uma ciência e uma
tar a transmissão de doenças e controlar técnica. Ela teve início em 1796, na
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Alemanha, com o trabalho do médico minerais, venenos de animais, insetos e
Samuel Hahnemann, que pensou e outros.
construiu uma forma diferente de lidar
com as doenças e recuperar a saúde do Além disso, Hahnemann também desen-
homem. volveu uma técnica para fazer os prepa-
rados de forma que eles não ficassem
Hahnemann passou então a fazer ex- tóxicos para os homens e que ficassem
periências para identificar os efeitos de bem diluídos. Depois de um tempo,
algumas coisas (substâncias de plantas, também descobriu que se ele batesse
de minerais, de animais) no organismo essas diluições, elas ficavam ainda mais
humano. Curiosamente, ele viu que, sutis e, curiosamente, mais potentes,
num homem sadio, algumas substâncias ampliando seus efeitos para além das
provocavam efeitos que eram seme- dimensões físicas, atuando, também,
lhantes a algumas queixas das pessoas nas dimensões emocionais e mentais.
doentes. Como Hipócrates, o pai da
Medicina que viveu na Grécia antes de Essas ideias do Hahnemann foram apli-
Cristo, havia ensinado que as doenças cadas por alguns agricultores em outras
poderiam ser resolvidas pelo Princípio coisas além do ser humano, em tudo
da Semelhança, ou seja, “o semelhan- que tivesse vida. Essa experiência dos
te cura o semelhante”, Hahnemann agricultores da Zona da Mata de Minas
concluiu: se os sintomas provocados Gerais motivou alguns pesquisadores
pelas substâncias são semelhantes da UFV a estudar o assunto. Assim, a
às doenças, então essas substâncias homeopatia passou a se utilizada em
podem trazer algum alívio para as estudos com outros seres vivos e na
pessoas doentes. Além disso, Hahne- resolução de problemas do ambiente, já
mann entendia que as doenças surgiam que ela estimula a autorregulação dos
como resultado de desequilíbrios que sistemas vivos, sua defesa, resistência
manifestou na pessoa e com aquelas e adaptação. Por analogias, ou seja, por
substâncias poderia reequilibrar a saúde comparações e identificação de seme-
das pessoas, para que provocasse lhanças, a vida de todo o ambiente vem
efeitos semelhantes e curasse sintomas sendo comparada com a vida do corpo
semelhantes. Dessa forma, ele chamou do ser humano. Por isso, agricultores e
de Homeopatia a essa prática de equili- pesquisadores da área entendem que os
bração da saúde humana, que significa preparados homeopáticos (homeopa-
vitalizar, dar mais vida, às pessoas. tias) promovem equilíbrio de tudo que
tem vida: seres humanos, animais, ve-
Por isso, na Homeopatia não existe getais, solos e águas. Como no sistema
doenças e sim doentes. Nosso organis- homeopático as doenças são disfunções
mo apenas terá algum problema (que e desequilíbrios gerais, não se trata
geralmente chamamos de doença) se apenas de cuidar de uma parte do corpo
ele estiver enfraquecido, sem resistên- ou do ambiente, mas todo o sistema, ou
cia, estressado. Já o organismo forte, seja, todo o corpo, de todo o ambiente.
sadio, dificilmente ficará doente. Para Se pensarmos dessa maneira sobre uma
reequilibrar os sintomas manifestos, propriedade, uma comunidade, pode-
Hahnemann usou partes de plantas, remos melhor entender como a vida
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Parte 2: A Água
A água é muito importante no planeta o tomate, a batata ou a vaca têm pouca
Terra, pois está em muitas coisas. A coisa além de água.
água é uma substância estranha, pois,
mesmo sem gosto, nós adoramos. Além A Terra deveria se chamar Planeta Água.
disso, precisarmos bebê-la, pois, nós Na terra existe 1,3 bilhão de quilômetros
seres humanos somos 65% água. E mais, cúbicos de água, que é toda quantidade
uma batata tem 80% de água, uma vaca de água que sempre dispusemos. O
tem 74%, um tomate tem 95%, ou seja, curioso é pensar que a água que a gente
Procurar usar insumos que não impactam ne- Os reservatórios têm que ter capacida-
gativamente o ambiente, como compostos de de armazenamento do volume de
orgânicos, caldas naturais, Bokashi, EM e Ho-
meopatias. água que cai no ano. Assim, levando-se
em conta o índice de chuva (pluvial)
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1. Os reservatórios devem ter um sistema de torneira ou registro para retirada da água, pois introduzir
baldes dentro do reservatório pode contaminar a água.
2. As primeiras águas de chuvas devem ser desviadas do reservatório, pois os telhados acumulam
poeiras e sujidades ao longo da época de estiagem ou seca.
3. Para fazer esse desvio das primeiras águas da chuva, a tubulação deve ser constituída por um man-
gote flexível. Quando chover, se o telhado (ou a superfície coletora) já se encontrar limpo, o mangote
deve ficar conectado no bocal de recepção do reservatório, permitindo o armazenamento da água.
4. Para uso no consumo humano e animal essa água deve ser desinfetada. O método de desinfecção
da água por radiação solar, técnica conhecida como SODIS, é muito utilizado em países africanos e
asiáticos. Esta é uma tecnologia social de simples utilização e baixo custo como descrita abaixo.
a. Um maior volume de água do rio! Quanto maior esse volume, maior será o número de micro-orga-
nismos que vivem nele.
b. Uma maior turbulência de suas águas (olhem as cachoeiras)! Quanto maior a turbulência maior
quantidade de oxigênio entra nas águas e mantém os micro-organismos vivos.
c. Um percurso mais longo do rio! Os microrganismos terão mais tempo para digerir qualquer matéria
orgânica que nele cair.
d. Uma quantidade menor de esgoto despejada no rio! Pois menor será a quantidade de matéria orgâ-
nica a ser digerida.
água está contaminada. Aí, teremos de luímos, o seu tratamento fica mais fácil
fazer alguma coisa para resolver este e ainda podemos reaproveitar essas
problema da contaminação. águas tratadas.
Perto dos locais onde são construídos onde plantamos espécies de folhas largas
os círculos de bananeiras para serem e que gostam de água. A bananeira, o ma-
despejadas essas águas cinzas é legal mão e a taioba são ótimos exemplos! As
utilizar plantas que “gostam de água”. A plantas plantadas na superfície do tanque
planta “lírio do brejo” é bom exemplo, utilizam os nutrientes e água do esgoto
pois é excelente para ambientes úmi- que vamos colocar dentro da fossa.
dos. Estas plantas aproveitam a água e
os nutrientes e ajudam no tratamento No fundo do tanque deverá ser feito um
das águas. Observe seu ambiente, quais túnel com pneus usados formando um
plantas da sua região gostam dos luga- espaço vazio dentro da fossa, o que faci-
res alagadiços? Também pode plantar lita a distribuição do esgoto na fossa. O
inhame ou araruta, mas não poderá utili- cano de entrada da água do vaso deverá
zar suas raízes na alimentação. Observe, chegar dentro desse túnel.
investigue e interaja com o ambiente!
Assim nos ajudamos mutuamente!
ATENÇÃO!!!
Construir a fossa em lugar que bate muito sol,
2 . TRATAMENTO DA ÁGUA pois essa fossa precisará da evaporação da água
ESCURA que é feita pelo solo e da transpiração que é feita
pelas folhas das plantas. Além disso, não deve-
A água escura é a água do vaso sanitá- mos construir a fossa próximo de outras árvores
rio. Existem várias formas de tratar essa que sombreiam. Devemos também observar se
água. Aqui vamos apresentar dois mo- há perigo de raízes das árvores avançarem pelo
chão e quebrar a parede da fossa, o que irá con-
delos de fossa, a FOSSA EVAPOTRANS- taminar o lençol freático com a água da fossa.
PIRADORA e a FOSSA BIODIGESTORA.
ETAPAS DE CONSTRUÇÃO
4. Após seco, comece a fazer o túnel de pneus no fundo do tanque. Introduza o cano de chegada do
esgoto dentro do túnel (para isso faça um buraco no primeiro pneu conforme a ilustração a baixo).
OBS: a cano de chegada de possuir um T na entrada da fossa para facilitar a inspeção do sistema.
IMPORTANTE: É bom que o cano de entrada no primeiro pneu sirva também de tubo de inspeção
para verificar o funcionamento da fossa, assim, ele deve ter continuidade para cima do tanque e ter
um Cap no topo (ver detalhe nas figuras seguintes).
5. Na sequência, coloque os
pneus enfileirados formando
um túnel.
Providencie pneus suficien-
tes para preencher todo o
comprimento do fundo do
buraco. Os pneus não preci-
sam ser do mesmo tamanho.
Coloque pequenas pedras
entre os pneus, fazendo pres-
são, de forma a criar espaços
que permitam a passagem
da água escura para fora do
túnel de pneus (câmara de
digestão).
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IMPORTANTE!
• Podemos comer as frutas plantadas e produzidas sobre a fossa, desde que elas não entrem em con-
tato direto com o solo. Mas, atenção! Se plantar o inhame, araruta e taioba suas raízes não devem
ser comidas.
• Para escolher o local de construção da fossa e garantir a preservação de rios, córregos e nascentes,
devemos manter uma distância de, pelo menos, 20 metros de qualquer curso d’água. Para construir as
fossas não é necessária a licença ambiental, mas devemos respeitar as várias Áreas de Preservação Per-
manente (APP) (Veja Cartilha Legislação Ambiental Básica para Agricultores Familiares de Minas Gerais).
ESQUEMA DE UM SISTEMA
DE FOSSA BIODIGESTORA
1. Válvula de retenção;
2. Suspiro, para saída de ga-
ses;
3. Curva de 90º;
4. “Tê” de inspeção;
5 e 6. Caixas de 1000 litros;
7. Registro e cano de 50mm.
A HOMEOPATIA NÃO POLUI E NÃO DEIXA RESÍDUOS. ELA É UMA TÉCNICA LIMPA!
A HOMEOPATIA NÃO EXTINGUE ESPÉCIES, RESPEITA E HARMONIZA OS ECOSSISTEMAS
Anotações
52 | Homeopatia no saneamento rural: promovendo a qualidade de vida e a sustentabilidade ambiental