TeófiloOttoni - O Erro Do Imperador
TeófiloOttoni - O Erro Do Imperador
TeófiloOttoni - O Erro Do Imperador
sans
Gayeté
(Montaigne, Des livres)
Ex Libris
José Mindlin
•j*. _.,
SERIE PARA O POV® ,
Primeiro opusóulo
ERRO DO IMPERADOR
POR
JOAQUIM NABUCO
•s-
, I^IO DE JANEIRO
1886
SERIE PARA O P0V® -
Frimeiro opusóulo
ERRO DO IMPERADOR
POR
JOAQUIM NABUCO
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«* R^IO DE JANEIRO
1886
BROCHURAS, SEGUINTES
A Perseguição; dos E s c r a v o s
P o r q u e c o n t i n u o a s e r Liberal.*
A Nova Câmara
-A^.
PREFACIO
JOAQUIM NABUCO.
Ô ERRO DO IMPERADOR
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* *
Mas "por isso mesmo foi o que aconteceu. Alguns irre-
flectidos quando sahia da Câmara um deputado atiraram-lhe
uns projectis. Aquelles. falsos amigos do Abolicionismo não
sabiam que estavam lançando a faisca á mina que nos havia
de fazer saltar todos. Nos dias seguinies o Senado e a Câ-
mara apresentavam o aspecto mais, ridículo possível. A Legis-
latura estava em convulsões. A Convenção Franceza invadida
pe^as Sécções não se teria sentido mais ameaçada. Dir-se-ia
que os escravos tinham-se apoderado da capital; que uma
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*
1
Y
Todos sabíamos que a Dissidência e os Conservadores
desejavam um gabinete Saraiva. Este homem de Estado, a
historia o dirá, teve em suas mãos a sorte dos escravos, a
solução honrosa do maior problema de nossa pátria! O seu
prestigio—o maior prestigio político d'esta geração — teria
envolvido no seu brilho a dedicação e a popularidade do seu
predecessor, e P nome de todos que temos luetado no mesmo
tefrenOj precursores, iniciadores, prbpagándistas da àbojiçãoj
se elle tivesse querido plantar o marco redemptor no ponto
somente a que já havia chegado a nossa conquista ! Infeliz- •
mente o Sr. Saraiva subiu prevenido contra P seu antecessor,
contra os que haviam por Um dever de honra sustentado a
este, e contra todo o movimento da opinião durante o minis-
tério Dantas.
Não tenho o minimo dado para especificar o motivo
d'essa prevenção, que me limito a affirmar. Essa matéria é
muito delicada e eu não tenho vontade de improvisar uma
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* *
* • *
Agora o resumo.
Os factos que ahi vão fielmente narrados e os que para
não alongar deixei de referir com elles, são principalmente
os que se seguem.
Primeira phase: O Imperador em 1884 chama o Sr. Dantas
ao poder; dissolye a Câmara a pedido d'elle; vê as eleições
travadas no terreno, exclusivamente, da emancipação; observa
que a escravidão divide o partido Liberal e une õ partido Con-
servador, e só desse cimento negro resulta a segurança da
alvenaria opposicionista; vê do outro lado a esperança nacional
manifestar-se de todos os modos, por um enthusiasmo novo
no paiz. É a phase da Lucta,
Segunda phase: Ás eleições têm logar; o Imperador vê
a phalange escravista unida como um só homem constituir a
Çamará e derribár o ministério Dantas, e chama ao poder o
Sr. Saraiva. A escravidão abalada triumpha; os Conservadores
sentem-se no poder; a alliança consolida-se e resulta em um
projecto de lei satisfactorio para a lavoura e oppressivo para :
os escravos; quando esse projecto passa- na Câmara o Sr
Saraiva demitte-se. É a phase da Capitulação.
Terceira phase: O Imperador, depois de uma tentativa
Liberal manifestamente fingida, chama os Conservado
impõe-lhes desde logo um programma: fazer passar o p r o "
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tal qual foi votado na Câmara. A lei passa nas duas Casas. O
movimento abolicionista decrescfe em todo o paiz. O período
eleitoral é em toda a parte a livre vindicta da escravidão. Os
escravos "São perseguidos. A lei não é executada. As eleições
dão uma Câmara Conservadora- quasi unanime. É a phase da
Reacção.
* ••
* * .
Quem escreve estas linhas não é inimigo partidário nem
desaflecto pessoal do Imperador, muito pelo contrario, e, assim
como sempre falia respeitosamente do Chefe do .Estado, dese-
jara poder occupar-se da política do paiz sem envolver a alta
personalidade que a Constituição neutralizou, tornando-a irres-
pqnsavel. Mas seria evidente hypócrisia commentar os grandes
factos, a architectura do reinado, sem considerar a àcção do
Imperador, que se hão é tudo em nossa política, é quasi tudo.
O presente opusculo é pequeno demais para conter o desen-
volvimento da seguinte' idéa, mas do que eu Recuso o Impe-
rador quando me refiro ao governo pessoal, não é de exercer
o governo pessoal, é de não servir-se d'elle para grandes "fins
nacionaes. A aceusação que eú faço a esse déspota constitu-
cional, é de não ser elle um déspota civilizador; é de não ter
resoluçãp ou vontade de romper as • ficções de um Parla-
mentarismo fraudulento, como elle sabe que é o nosso, para
procurar o povo nas suas senzalas ou nos seus mecambós, e
visitar à nação no seu leito de paralytica.
* *
J. N.
P, S. — iq de Fevereiro.
O SÉCULO
ÓRGÃO LIBERAL DEMOCRÁTICO
Redactor — JOAQUIM NABUCO
BRASILIANA DIGITAL
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