HISTORIAL

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Enquadramento

A 1ª Guerra Mundial decorreu entre 1914 e 1918. Porém, muito antes disso, os conflitos que
levaram à guerra tinham começado. Entre as últimas décadas do século XIX e o início da
Primeira Guerra, a Europa estava a viver a chamada Belle Époque1, sendo este o período mais
próspero deste continente, onde existiram grandes avanços em termos científicos, como por
exemplo o cinema, a fotografia, o automóvel, os aviões, entre outros, sendo Paris o grande
impulsionador de todos esses avanços. Porém, por trás de toda essa prosperidade que se vivia na
altura, existiam conflitos em curso, sendo esses os principais catalisadores da Guerra.
Primeiramente, a grande disputa imperialista entre os países europeus que disputavam vários
territórios da Ásia e da África, principalmente a França e Inglaterra. A unificação da Alemanha
veio ameaçar esse poderio, sobretudo da Inglaterra que era considerada a maior potência da
época. O principal motivo do eclodir da guerra foram as rivalidades existentes entre os países. A
Alemanha e a França eram o rosto dessa grande rivalidade, uma vez que a França tinha perdido o
território de Alsácia-Lorena2, no final do século XIX, durante a guerra

Artilharia Antiaérea

Como se sabe, a Primeira Guerra Mundial foi um conflito mundial em grande escala onde se
verificou um colossal avanço tecnológico. Como tal, essas tecnologias/inovações que
despontaram, foram colocadas à prova no conflito, sendo muitas destas testadas pela primeira
vez e que acabariam por interferir no desenrolar das batalhas e até mesmo no desfecho da guerra.

Uma das inovações que mais se desenvolveu foi, sem dúvida, a aviação. Esta foi importantíssima
nos primórdios da guerra, sendo utilizada particularmente para reconhecimento e espionagem,
expondo assim a localização de áreas e pontos fortes do adversário, e obtendo assim uma
vantagem crucial. Como é natural, para combater esta ameaça, foi necessário desenvolver meios
e armas que fizessem face aos mesmos. Foi então que despontou a Artilharia Antiaérea (AAA).
“Logo que os dirigíveis e aeroplanos surgiram nos campos de batalha, evoluindo sobre as frentes,
reconhecendo e descobrindo a situação das tropas, a localização das Baterias e a posição dos
ninhos de metralhadoras, foi primordial cuidar-se do fabrico de canhões com métodos e
processos adequados de tiro, para o abate e o derrube desses importantes e indiscretos novos
observadores. À medida que a navegação aérea progredia, era natural que a par desses estudos,
se procurasse o melhor modo de destruir esta nova máquina de combate. A Artilharia Antiaérea
organizou-se e revelou-se como uma das armas em que os Países mais investiram” (A artilharia
antiaerea nos países da NATO, 2006). No Armistício de 1918, a AAA era já uma certeza da
guerra, e já se estabeleciam os traços básicos da sua aplicação e organização. Foi nessa altura que
se atribuíram tetos para a AAA, sendo que este conceito diferenciava o que era o teto máximo, o
prático e eficaz. O teto máximo era aquele em que o projétil atingia o limite máximo contra a
atração da gravidade; o prático era aquele em que o projétil alcançava o ponto mais alto da
detonação da espoleta; e o eficaz era o teto em que é exequível combater um avião durante um
período de tempo vantajoso. O progressivo e constante aperfeiçoamento dos aviões era um
desafio para os projetistas de canhões antiaéreos. Os crescentes tetos de voo constituíam uma
dificuldade adicional já que o alcance máximo de tiro não conseguia alcançar essa evolução.
Como a esperança de bater um alvo com tiro direto é remota, todas as granadas eram dotadas
com uma espoleta de tempo (Meretskov, 2014).

2.3.2. Artilharia de Costa

A Artilharia, na sua generalidade, caracteriza-se por ser a arma que consegue executar fogos em
profundidade, com disponibilidade, flexibilidade e potência suficientes, de modo a que se
constitua como o meio de AF mais eficiente e poderoso que um comandante tem ao seu dispor,
de modo a influenciar decisivamente o combate, podendo ainda esta atuar sob quaisquer
condições atmosféricas, de visibilidade ou de terreno. A artilharia de costa tem o principal papel,
no que ao Exército diz respeito, à defesa costeira. Face á sua especificidade

e até alguma complexidade, apenas o total domínio dos materiais, das suas possibilidades de
emprego, e da sua forma de atuação, permite atingir o seu rendimento, na máxima plenitude
(Exército, MC-22-5 Manual de Táctica de Artilharia de Costa, 1992). A artilharia de costa era
um ramo distinto dentro dos exércitos de 1901 a 1920. Tinha como missão nuclear na altura,
proteger bases de frotas, combater e neutralizar ataques navais e aéreos contra cidades e portos,
fazer frente a ameaças que comprometessem a defesa terrestre, e por fim servir como uma
reserva para as forças do campo de batalha (Stanton, 1984). Como foi possível verificar no
primeiro subcapítulo (Principais armas utilizadas pelos Alemães e pelos Aliados), existiram
diversas armas de artilharia de costa que foram empregues no campo de batalha, devido à pouca
existência de meios de artilharia, principalmente por parte dos aliados no eclodir da guerra. Com
o aproximar do seu término, estas armas foram desaparecendo do terreno, dando lugar às
diversas e mais sofisticadas armas que despontaram com o passar do conflito.

2
Génese da Artilharia Antiaérea

Sempre que aparece uma nova ameaça tem que se descortinar uma forma de a mitigar, pelo que,
tendo aparecido a vertente aérea, seria uma questão de tempo até à defesa AA. Segundo Borges
(2007, p. 14) “a AAA terá provavelmente „nascido‟ em Mauberg, a 26 de Junho de 1794,
quando pelas 8 horas da manhã, os exércitos austríacos, que sitiavam aquela cidade, procuraram,
sem sucesso, abater a salva tiros de canhão, o balão militar L’Entreprenant (com 9 metros de
diâmetro), guarnecido por 2 observadores franceses e situado a uma distância de 1000 metros.
Nesta batalha de Fleurus terá sido utilizado, pela primeira vez, o reconhecimento aéreo, aliás,
com grande influência na vitória dos contingentes franceses. (…) Em 1849, e já depois da
generalização dos balões militares como postos privilegiados de observação, Veneza seria a
primeira cidade a ser atacada com bombas, pelo ar, a partir de balões”. Apesar disso, só houve
estudos para a criação de uma arma específica de AAA entre 1904 e 1905, pois o primeiro voo
realizado numa aeronave a motor só foi feito em 1903 pelos irmãos Wilbur e Orville Wright,
data a partir da qual a ameaça aérea se tornou mais problemática. Apesar disso, o avião tem a sua
estreia ao serviço das forças militares

em 1909, sendo que a partir daí deu-se uma evolução nesta vertente, e no final da primeira guerra
já a própria AAA tinha eficácia, pois dos “450 aviões que durante 1918 atravessaram as linhas
aliadas para bombardear Paris, somente 35 conseguiram passar as linhas de barragem, evitando
assim a D.C.A. (Defesa Contra Aeronaves) que 415 aviões deitassem sobre Paris 290 toneladas
de explosivos” (Borges, 2007, p. 15). Esta evolução da capacidade da AAA e da aviação é
demonstrada pelo número de tiros que era necessário para abater um avião. Segundo estatísticas
inglesas no ano de 1917, eram necessários 8000 tiros para abater um avião, enquanto que no
último mês de guerra eram necessários apenas 1500 (Dias, 1938, p. 18). Com esta evolução a
ameaça aérea tornava-se ainda mais preponderante, e com o aproximar da segunda guerra,
existiu a necessidade de ter uma Defesa AA à altura da ameaça do vector aéreo (Ferreira, 2004,
p. 7). Existe então um “desenvolvimento dos materiais antiaéreos, em particular na Alemanha (as
Flak 20 mm, 37 mm, 105 mm e 128 mm), no Reino Unido (40 mm e 94 mm), nos EUA (12,7
mm, 37 mm, 40 mm, 90 mm e 120 mm) e na URSS (25mm, 37 mm, 76,2 mm e 85 mm), mas
também em países neutrais como a Suíça (Oerlikon, 20 mm) e a Suécia (Bofors, 40 mm)”,
passando os sistemas de armas de AAA a possuir meios de deteção que permitem uma eficácia
muito maior (Borges, 2007, p. 17).
O papel da Artilharia Antiaérea na protecção do estado e das populações no contexto da
conflitualidade actual

No contexto estratégico atual, os conflitos de matriz convencional centrados no EstadoNação


deram lugar a outros de matriz assimétrica, proliferando uma diversidade de atores e meios num
quadro de conflitualidade complexo e difuso. A novidade reside antes no facto de as partes
envolvidas em conflitos terem posto de parte as regras do “jogo da guerra”, seus preceitos, suas
normas e regulamentos, por via da aplicação das Convenções de Genebra de 1949, ou outras,
hoje marginalizadas pela realidade dos factos.

Actualmente, os prisioneiros de guerra são decapitados pelo “Daesh”, a população civil não é
poupada às barbaridades do conflito, tornando-se até um dos principais alvos, as execuções
sumárias são a norma, e o património cultural é intencionalmente vandalizado ou destruído. Mas
estas práticas também não são em si uma surpresa. O que representa uma novidade e se
transformou numa norma a nível da conflitualidade mundial, consiste no facto de as partes em
conflito, sejam elas estados, rebeldes, milícias, grupos radicais ou qualquer outra tipologia de
combatentes, não declararem, formalmente, a guerra aos seus oponentes, criando um ambiente
híbrido de incerteza e medo.

O objectivo estratégico dessas organizações mais ou menos coesas, e respectivos grupos


afiliados ou meros simpatizantes, consiste na concretização de situações de instabilidade, onde a
noção de insegurança, a rotura e o caos nas sociedades possam provocar uma mudança política
em seu favor, substituindo-se na garantia da Segurança e Defesa das populações e dos territórios
em causa.

As Tecnologias da Informação e da Comunicação, as ditas “TIC”, são aqui o principal veículo


destes grupos radicais, garantindo também o seu recrutamento. Adicionalmente, para que seja
acionado o gatilho do caos social, organizações e grupos radicais recorrem a estruturas
operacionais leves e móveis de efetivo escalão companhia, raramente batalhão. Pese embora as
modalidades mais eficientes não ultrapassem a dimensão de uma secção, ou até de um único
elemento isolado que, graças aos meios tecnológicos disponíveis, pode atuar perfeita e
eficazmente sozinho. Recorde-se os aviões comerciais desviados por dezanove elementos da Al-
Qaeda que deram origem ao atentado do 11 de setembro de 2001.
A evolução tecnológica permitiu ao indivíduo singular aumentar a sua capacidade e alcance
destrutivo, usando a dualidade dos meios civis e militares, capacidade essa que,
tradicionalmente, era uma prerrogativa dos estados por via das suas forças legais e regulares –
Forças Armadas ou outras.

Para além do caos que geram na sociedade, estes fenómenos têm como consequência o
envolvimento direto e indiscriminado das populações no conflito, a partir de um aparente clima
de paz generalizado. Acresce a este facto o impulso que conferem os avanços tecnológicos e a
difusão dos mesmos ao poder destruidor, tanto individual como coletivo, mas sempre não
convencional, que atinge diretamente as multidões. O melhor exemplo ilustrativo desta realidade
alarmante consiste na facilidade de acesso a alta tecnologia ou produtos, de uso dual: os meios
balísticos, mísseis ou vetores utilizados no lançamento de satélites, as substâncias NBQR
(Nuclear Biológica, Química e Radiológica), energia nuclear, fertilizantes ou material para o
fabrico de bombas “sujas”, ou os sistemas aéreos não tripulados, drones telecomandados ou
meios de disseminação de explosivos ou agentes químicos. Adicionalmente, para além da
perversidade no uso destes meios, e sobretudo dos meios aéreos não tripulados, verificamos que
a lógica do baixo custo predomina como principal vetor na estratégia dos atores de matriz não
convencional. A novidade, e o grande perigo, encontram-se, sim, na fácil difusão e no acesso a
meios tecnológicos a preços reduzidos. Os custos de treino, de operação, de manutenção e
sustentação de vetores aéreos não tripulados são significativamente mais baixos do que os custos
inerentes a sistemas tripulados. Recorde-se o que ocorreu durante uma ação de campanha
partidária da Chanceler Angela Merkel, em 2013, quando um membro do Partido Pirata alemão
teleguiou um drone comercial, colocando-o a pouquíssimos metros da Chanceler. Apesar da
capacidade de transporte de carga ser nitidamente inferior à dos sistemas aéreos não tripulados
(Unmanned Aerial Systems – UAS) para fins militares, a ausência de legislação quanto ao seu
uso e comercialização torna este tipo de meio aéreo particularmente perigoso pela sua fácil
aquisição e variado uso. Nada impede a estes veículos aéreos comerciais de serem equipados
com uma pequena carga explosiva, ou um agente químico, e teleguiados para o interior de uma
central nuclear ou para um estádio de futebol.
No entanto, perante a evolução da ameaça aérea já referida, as Forças Armadas, e neste caso
concreto a Artilharia Antiaérea, devem demonstrar a sua capacidade de adaptação,
desenvolvendo meios e metodologias capazes de combater, tanto as ameaças convencionais,
menos difusas, como as ameaças não convencionais, hoje em dia, amplamente disseminadas.
Adicionalmente e face não só ao meio operacional híbrido, como à dispersão dos teatros
operacionais, da Colômbia ao Afeganistão ou do Mali à Europa Central, a Artilharia Antiaérea
terá de responder ao desafio, de tanto garantir a proteção do Território Nacional, a sua população
e os recursos diversos, como assegurar a proteção de forças militares destacadas.

Tal implica o investimento consciente no desenvolvimento e/ou aquisição de sistemas e meios


adequados que garantam a mobilidade da capacidade de resposta da Artilharia Antiaérea em
tempo útil como, por exemplo, no desenvolvimento de sistemas de armas aerotransportáveis para
os arquipélagos dos Açores e Madeira, ou para o exterior do Território Nacional e desenvolver a
flexibilidade/polivalência dos mesmos, procurando equilibrar o binómio custo/benefício, ao
mesmo tempo que permanece integrada no Sistema de Defesa Aérea Nacional.

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