A Hora Da Estrela: Clarice Lispector
A Hora Da Estrela: Clarice Lispector
A Hora Da Estrela: Clarice Lispector
CLARICE LISPECTOR
RESUMO
O romance narra as desventuras de Macabéa, uma moça
sonhadora e ingênua, recém-chegada do Nordeste ao Rio de
Janeiro, às voltas com valores e cultura diferentes. Macabéa
leva uma vida simples e sem grandes emoções. Começa a
namorar Olímpico de Jesus, que não vê nela chances de
ascensão social de qualquer tipo. Assim sendo, abandona-a
para ficar com Glória (colega de trabalho de Macabéa), cujo
pai era açougueiro, o que sugeria ao ambicioso nordestino a
possibilidade de melhora financeira. Sentindo dores
constantes, Macabéa vai ao médico e recebe um diagnóstico
de princípio de tuberculose, mas não conta a ninguém. Glória
percebe a tristeza da colega e a aconselha a buscar consolo
numa cartomante. Madame Carlota prevê um futuro feliz, no
qual ela conheceria um estrangeiro, homem louro com quem
casaria.
Os dois últimos livros escritos por Clarice foram: “A hora
da estrela” e “Um sopro de vida.”
Iniciado em 1974 e concluído em 1977, “Um sopro de
vida” foi o último escrito da autora, já escrito em meio às
dores da agonia, bem perto da sua morte, e
simultaneamente a outra obra sua “A Hora da Estrela”.
E por esse motivo as duas obras apresentam muita
semelhança, tanto quanto a sua estrutura, quanto ao
narrador masculino que narram a história de uma moça.
Mas ao mesmo tempo as personagens se diferem
totalmente, uma é contraste da outra.
Narrador e leitor
O narrador Rodrigo interage muito com o leitor, ele
conta a história de Macabéa como se realmente ele
conversasse com seus leitores.
A muitas passagens do livro que ele diz com tristeza a
situação de Macabéa, ás vezes, parece que tem um
sentimento que o envolvendo, e ele passa esse sentimento,
de estar ali sentindo junto com Macabéa.
Ele sabe de tudo que acontece na história na história e ao
mesmo tempo interfere de uma forma direita na história,
passando sua visão, sua opinião. Ele faz com que o leitor
reflita sobre essa criatura amargurada, a qual somente
ele ama.
Gênero literário
Clarice Lispector instala o livro num gênero literário um
tanto duvidoso, por passar muitos sentidos. Ela o atribui
ao gênero novela, o qual geralmente é atribuído aos
quais tem um número pequeno de conflitos e de
personagens, com uma rápida passagem do tempo.
Já Rodrigo, o narrador de A hora da Estrela, define a
história como um “desabafo”, um “melodrama”, entre
outros.
E por fim, os críticos de modo geral, atribui o livro ao
Romance.
Foco narrativo
O foco narrativo escolhido é a primeira pessoa. O narrador lança mão,
como recurso, das digressões, o que, aspectualmente parece dar à
narrativa uma característica alinear. Não se engane: ele foge para o
passado a fim de buscar informações.
O recurso usado por Clarice Lispector é o narrador-personagem, pois
conforme nos faz conhecer a protagonista, também nos faz conhecê-lo.
Ele escreve para se compreender. É um marginalizado conforme lemos:
"Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar pra
mim na terra dos homens". Quanto à sua relação com Macabéa, ele
declara amá-la e compreendê-la, embora faça contínuas interrogações
sobre ela e embora pareça apenas acompanhando a trajetória dela, sem
saber exatamente o que lhe vai acontecer e torcendo para que não lhe
aconteça o pior.
Macabéa, a protagonista, é uma invenção do narrador com a qual se
identifica e com ela morre. A personagem é criada de forma onisciente
(tudo sabe) e onipresente (tudo pode). Faz da vida dela um aprendizado
da morte. A morte foi a hora de estrela.
Narrador masculino?
Na maior parte da obra, ocorre a narração da personagem em terceira pessoa
(ela, Macabéa) e o narrador-personagem em primeira pessoa (eu, Rodrigo).
Rodrigo S. M. narra às situações existenciais e os fatos psicológicos das
personagens muitas vezes fundindo ao pensamento delas, criando um texto em
que ele pode ver e analisar o mundo com a personagem, por meio de seus olhos
e de sua experiência interior. Seus comentários sobre o estilo, sobre a
personagem e sobre si mesmo percorrem por toda obra, e tem por hábito dividir
com ele a culpa da vida miserável de Macabéa.
De acordo com Norman Friedman, essa categoria de foco narrativo seria
chamada de autor onisciente intruso, apesar de Clarice Lispector privilegiar
muito a categoria denominada onisciência seletiva, pois aborda muito a técnica
do discurso indireto livre em suas obras.
Rodrigo S. M., autor onisciente intruso, tem a liberdade de narrar à vontade, de
colocar-se acima, ou, como quer adotando um ponto de vista divino, para além
dos limites do tempo e espaço. Rodrigo S. M. (na verdade, Clarice Lispector)
utiliza suas próprias palavras, seus próprios pensamentos e percepções, pois a
intrusão é a característica mais marcante nesta tipologia. Faz comentários sobre
a vida, os costumes, os caracteres, a moral e até dos seus sentimentos; todos
esses fatos podem ou não estar entrosados com a história.
Personagens
Macabéa é nordestina feia, miserável, tuberculosa,
dolosamente ignorante, profundamente solitária e carente
de relações familiares. Sua existência sugere uma
imagem preconcebida de pesquisa sociológica em
relação ao nordeste.
No penoso contato com a história que escreve, o
narrador vai privando Macabéa de características
tradicionais da feminilidade.
Como não há vínculos culturais ou sociais para Macabéa,
seu destino desde do começo de sua história era morrer, o
que faz disto para o narrador um questionamento crucial.
Olímpico
Olímpico se apresentava como Olímpico de Jesus
Moreira Chaves. E apesar de ter um nome que remete ao
Olímpio, lugar onde encontramos os deuses esculturais
gregos, de Deus ele não tem nada.
Trabalhava numa metalúrgica e não se classificava como
"operário": era um "metalúrgico". Ambicioso, orgulhoso e
matara um homem antes de migrar da Paraíba.
Trata sempre mal sua namorada, que, por medo de
perdê-lo sempre se desculpa quando deveria ser o
contrário.
Glória
Filha de um açougueiro, nascida e criada no Rio de
Janeiro, Glória rouba Olímpico de Macabéa. Tem um
quê de selvagem, cheia de corpo, é esperta, atenta
ao mundo. Amiga de trabalho (e a única) de
Macabéa, possuía todo o charme e “carnes” que a
outra não tinha.
“Mas mesmo oxigenada ela era loura, o que
significava um degrau a mais para Olímpico. (...)
apesar de feia, Glória era bem alimentada.”
A cartomante: Mistura de santa e prostituta, madame
Carlota é a entidade mística responsável por mostrar
para Macabéa a sua verdadeira condição social e
existencial, e por prometer- lhe coisas que ela
desejava: beleza, saúde, amor e dinheiro.
Espaço e tempo
O Rio de Janeiro é o espaço. Ocorre que o espaço
físico, externo, não importa muito nesta história. O
"lado de dentro"das criaturas é o que interessa aos
intimistas.
O tempo dele é cronológico, ao mesmo tempo em
que ele para de escrever diversas vezes, tentando
encontrar uma maneira de passar a história de
Macabéa.
Pelos indícios que o narrador nos oferece, o tempo é
época em que Marylin Monroe já havia morrido -
possivelmente a década de 60 em seu fim ou a de 70
em seus começos - mas faz ainda um grande sucesso
como mito que povoa a cabeça e os sonhos de
Macabéa.
O enredo de A hora da Estrela não segue uma ordem
linear: há flashbacks iluminando o passado, há idas e
vindas do passado para o presente e vice-versa.
Elementos temáticos
Temática social – personagem de vida simples,
submissa, capaz de aceitar tudo, cedendo aos
desmandos de todos.
Retrato de feminilidade- Ela mesma não via algo de
bom em si, era seca, sem peito e sem bunda e, além
de tudo isso, não podia ter filhos.
A morte
A condição do escritor
A obra A Hora da Estrela mostra o retrato da mulher na vida
urbana, ao mesmo tempo em que tenta ver a própria função do
escritor na literatura procurando ajudar essas pessoas. Clarice já
usou em sua escrita diversas classes literárias como romance e
crônica tentando achar sua própria identidade onde sempre teve
dificuldade, ao criar Rodrigo projeta sua amargura ao escrever se
sentindo fracassada, estando literalmente em uma crise existencial.
"Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar
para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado
e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser (...) (p. 35)
Clarice vivia sem esperança se sentindo "diante da morte", a
maioria dos escritores contemporâneos se sentem assim, estão
sempre tentando encontrar seu próprio lugar, criando assim uma
nova forma de vida em um mundo fictício.