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CRIANDO MODELO DE NEGÓCIOS SUSTENTÁVEIS: HORTALIÇAS

2014 - Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Distrito Federal - Sebrae no DF


Todos os direitos reservados.
A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei no. 9.610)

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Federação da Agricultura e Pecuária do Distrito Federal – FAPE/DF; Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Distrito Federal – FACIDF;
Federação das Indústrias do Distrito Federal – FIBRA; Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Distrito Federal – FECOMÉRCIO-DF; Fun-
dação Universidade de Brasília – FUB; Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico do Distrito Federal – SDE; Serviço Brasileiro de Apoio às Micro
e Pequenas Empresas – SEBRAE/NA

PRESIDENTE DO CONSELHO DELIBERATIVO ESTADUAL


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DIRETORIA EXECUTIVA
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Diretor de Atendimento
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Gestor do Projeto Brasil Central Agronegócios no DF


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Apoio
Brasil Central Agronegócios, projeto de integração entre unidades Sebrae nos estados de Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul

Centro Sebrae de Sustentabilidade


Suênia Sousa, Renata Taques e Jéssica Ferrari

Conteúdistas, Projeto Gráfico e Diagramação


Luiz Phillipy M. Sampaio e Joao Batista R. Sampaio - Vélum Marketing Digital

Versão 2014   S443c  

                                 Sebrae  no  DF.  

                     Criando  modelo  de  negócios  sustentáveis  :  hortaliças  /  Sebrae  


no  DF.  –  Brasília  :  Sebrae  no  DF,  2014.  

44  p.  :  il.  

1.  Produto  rural.  2.  Modelo  de  negócios.  3.  Canvas.  4.  


Hortaliças.  I.  Título.  

              CDU  641.13  
Sumário

Apresentação 7
Público-alvo 10
Mercado 10
Responsabilidade Social 12
Organização do Processo Produtivo - Ciclo de vida 13
Implantação de produção em horticultura sustentável 14

Práticas ecoeficientes na horticultura 17

A importância do selo de certificação 18

Alface 21

Tomate 24

Exigências legais e Normas Técnicas 26

Selo de identificação da participação da agricultura fami- 28


liar (SIPAF)
Norma ISO 14001 29

Rainforest Alliance Certified 29

30
Ecocert
30
Instituto Biodinâmico
31
Desenvolvimento do padrão de Modelo de Negócios Sus-
tentável
Plano e Viabilidade Financeira 40
Referências 42
6 Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças
Criando modelo de negócios
sustentáveis: Hortaliças

Apresentação

O termo sustentabilidade começa a fazer parte do dia a dia


das pessoas, tanto de produtores rurais quanto de empre-
sários e profissionais das áreas do conhecimento. Entende-se, a
partir do significado mais amplo da palavra, que a sustentabi-
lidade está na qualidade ou condição do que é sustentável [1].

Considerando o estudo sobre modelos de negócios sustentáveis


para os produtores rurais, podemos utilizar o termo sustentabi-
lidade associado ao ambiente empresarial, com isso fazendo o
bom uso dos recursos naturais de modo que as atividades rurais
possam ser realizadas com menor impacto ao meio ambiente e,
consequentemente, ao ser humano, gerando lucro ao produtor.

Os consumidores têm-se tornado cada vez mais exigentes


quanto aos produtos que compram nos verdurões, nos super-
mercados e nas feiras livres, e buscam alimentos livres de agro-
tóxicos, que tenham sido o resultado de práticas que respeitem
o meio ambiente, agregando valor ao benefício da escolha, ou
seja, que promovam uma alimentação saudável.

Produtos caracterizados como sustentáveis, sejam eles provin-


dos da agricultura orgânica, natural, biodinâmica ou agroeco-
lógica, são basicamente produzidos, processados e elaborados
de maneira equilibrada, observando a biodiversidade.

1. Definição adaptada do Dicionário Aurélio.

Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças 7


Atualmente, os produtos com apelo sustentável, a exemplo dos
orgânicos, têm uma participação no mercado mundial e repre-
sentam 2% do total de alimentos produzidos no mundo. Esse
mercado movimentou, em 2012, aproximadamente US$ 63 bi-
lhões e está se tornando mais importante à medida que há um
crescente interesse dos consumidores e de grandes empresas em
consumi-los nos mais diversos segmentos [3].

Nesse crescimento, é importante também que o produto tenha


uma marca confiável e reconhecida. Estudos [2] revelam que os
produtos naturais estão em mais de 90% nos lares brasileiros,
com um forte apelo à saúde. Segundo a FIESP/Brasil[3], 86%
dos consumidores estão conscientes de que o produto orgânico
é saudável, e reconhecem o selo obrigatório que o identifica
e atesta sua qualidade, conferindo mais segurança na hora de
consumi-lo.
No Brasil, pesquisas in-
Portanto, o forte apelo fundamentado pela visível necessidade
dicam que o consumidor
de sustentabilidade e de adoção de seus princípios nos modelos tem a necessidade de
de negócios dos empreendimentos – em particular os rurais – es- adquirir alimentos mais
saudáveis, nutritivos,
timula essa mudança de comportamento do consumidor. Diante funcionais e de baixas
desse novo contexto, os produtores de hortaliças necessitam de calorias. O varejo apre-
sentou um crescimen-
ferramentas que os auxiliem a manter seus empreendimentos to de 2,2% em volume
rurais sustentáveis, levando-se em conta os três pilares em que e 3,7% em valor, im-
pulsionado não apenas
se baseiam a sustentabilidade: o ambiental, o econômico e o pelo aumento da ren-
social. da do consumidor, mas
também pela busca por
O Modelo de Negócios CANVAS – ferramenta desenvolvida por produtos de maior valor
agregado [6].
Alexander Osterwalder e Yves Pigneur – descreve a lógica de
como uma organização “cria, entrega e captura valor”, aliada
aos princípios da sustentabilidade. Além disso, traz indiscuti-
velmente aspectos de diferenciação para o produtor enfrentar as
novas exigências do mercado consumidor.

8 Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças


Essa ferramenta auxiliará o produtor rural de hortaliças,
por exemplo, no que se refere a ter uma visão mais am-
pla de seu empreendimento rural em apenas uma única
folha de papel. Além de ser um recurso dinâmico e mais
visual que um plano de negócios, permitirá que sejam
testadas, confirmadas e mudadas todas as variáveis que
poderão influenciar no sucesso de um empreendimento.

Assim, o objetivo desta publicação é apresentar ao pro-


dutor que ele é capaz de criar um modelo de negócios
CANVAS para seu empreendimento a fim de conseguir
ver como seu negócio funciona, como ele pode diferen-
ciar seu produto dos demais concorrentes, o que o mer-
cado prefere comprar, além de outras questões de suma
importância para que o desenvolvimento de seu negócio
seja economicamente viável, socialmente includente e
ambientalmente sustentável [4].

Neste material, você encontrará, também, infográficos


ilustrados que auxiliarão na implantação de práticas
sustentáveis, além do próprio “quadro” (CANVAS) para
criação de seu modelo de negócio sustentável.

Modelo de Negócios Canvas

Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças 9


Público-alvo
Na região Centro-Oeste, a construção de processos sustentáveis
não implica somente em adoção de ações que visem ganhos eco-
nômicos, mas também em melhorias sociais e ambientais para
as pessoas inseridas no processo. Nessa perspectiva, o desenvol-
vimento de um modelo de negócios sustentável torna-se fun-
damental para produtores rurais, empreendedores, gestores do
Sebrae, além de outros profissionais envolvidos na cadeia pro-
dutiva.

Quando se fala em modelo de negócios para o segmento de hor-


taliças, com foco em sustentabilidade, busca-se fornecer infor-
mações a quem deseja iniciar um empreendimento rural ou a
quem pensa em remodelar sua propriedade, a fim de buscar no-
vos mercados e novos desafios.

O comportamento do consumidor tem promovido mudanças nos


negócios, provocando a necessidade de ajustes que podem ser
respondidos por meio de inovações no meio rural. O forte apelo
do alimento saudável impulsiona novas oportunidades e irá re-
querer um modelo de gestão que possa inovar em seus processos,
agregando a eles os princípios da sustentabilidade.

Portanto, se você é produtor rural e já cultiva hortaliças ou tem


interesse em iniciar nesse segmento, o planejamento é o primeiro
passo para que suas próximas ações rendam bons frutos.

Mercado
Em virtude do crescimento populacional, um dos maiores desa-
fios de hoje é atender a demanda mundial de produção de ali-
mentos. Por causa disso, a palavra-chave é produtividade, a qual
deverá estar sintonizada com o tripé da sustentabilidade.

10 Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças


Ao investir em um pequeno negócio rural sustentável, os pro-
dutores modernizam a economia, combatem as desigualdades
sociais e a destruição do meio ambiente, disponibilizando seus
produtos ao mercado consumidor, que se encontra cada vez mais
exigente no que se refere ao consumo de produtos saudáveis.
Para isso, é necessário trabalhar com tecnologias rentáveis e
adequadas ao meio ambiente, que os permitam ocupar seus es-
paços, tornando-os mais competitivos.

O mercado brasileiro de alimentação vem passando por altera-


ções, provocadas pelas mudanças de hábitos dos consumidores.
Essas mudanças têm levado ao desenvolvimento de produtos que
consideram os aspectos qualitativos, a valorização da saúde e, a
valorização do aspecto ético na sua comercialização.

Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento


(Mapa), dados do setor mostram que a demanda por alimentos
orgânicos cresce 20% ao ano. Temos, como exemplo, redes de
supermercados – Pão de Açúcar, Carrefour, Extra, Walmart – que
estão investindo e ampliando sua comercialização de produtos
com apelo ecológico e que proporcionam benefícios aos consu-
midores mais exigentes e engajados.

Dessa forma, os diferentes tipos de processamento de hortaliças


O Brasil é considera-
do por alguns países têm sido valorizados por aqueles consumidores que apresentam
importadores o país interesse por novidades na área alimentar, para consumo não só
de maior potenciali-
dade no que se refere de produtos in natura (no caso do processamento mínimo), mas
à produção orgânica. também de produtos semiprontos, saudáveis e certificados.
Cerca de 60% dessa
produção destina-se A partir dessa oportunidade de mercado identificada, recomen-
à exportação, outros
30% são vendidos no da-se hoje um novo modelo de negócio para os produtores de
mercado brasileiro, e hortaliças, com um diferencial competitivo, no intuito de ofertar
o restante segue para
consumo próprio dos aos consumidores produtos de qualidade e seguros, cultivados
produtores [5]. por meio de práticas sustentáveis, em que os ganhos econômi-
cos, sociais e ambientais, valorizados pelos consumidores, cami-
nham juntos, aumentando a renda dos pequenos negócios rurais.

Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças 11


Responsabilidade Social
Para que seja de fato sustentável, a questão social no pequeno
negócio rural deve contribuir para o desenvolvimento de todas
as pessoas envolvidas no processo, de modo que sejam alcança-
dos ganhos sociais.

Entende-se que os ganhos no processo dependem cada vez mais


da eficiência e das motivações de todos os que nele trabalham.
O lucro continua sendo indispensável para a sobrevivência do
produtor rural, porém, junto com esse objetivo, é importante
que se somem outros de ordem humana, como a satisfação dos
colaboradores e dos clientes, além da proteção e da melhoria do
ambiente de trabalho.

A responsabilidade social deve começar no próprio empreendi-


mento rural, na busca contínua pelo bem-estar de seus colabo-
radores e dependentes, proporcionando um trabalho justo, com
ferramentas apropriadas e equipamentos de proteção individual
obrigatórios, além de ambiente organizado e adequado para re-
alização das atividades. Respeitar a legislação trabalhista tam-
bém é fundamental, a exemplo da carteira de trabalho assinada
e do respeito aos direitos do trabalhador. Além disso, deve-se
investir no crescimento pessoal, profissional e social dos fun-
cionários. Os produtores rurais que adotaram a responsabilidade
social na sua propriedade obtiveram ganhos crescentes desse
investimento, pois o maior bem que a propriedade possui são as
pessoas envolvidas no seu processo produtivo.

Ao conceito de responsabilidade social foi agregada também


a preocupação ambiental nos negócios. Os empreendedores se
deparam com uma nova realidade e não podem focar suas estra-
tégias apenas no preço e na qualidade dos seus produtos; devem
ir além e ter um comportamento ético e transparente em relação

12 Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças


à sua força de trabalho e ao meio ambiente. Tal atitude repercute
positivamente na sua imagem, refletindo-se no crescimento das
vendas.

A responsabilidade socioambiental das empresas tem como fun-


damento o crescimento sustentável que respeita o meio ambien-
te, seus colaboradores e seus consumidores – “é a forma ética
e responsável que a empresa adota para desenvolver todas as
suas ações, políticas, práticas e atitudes, tanto com a comunidade
quanto com seu corpo funcional, ou seja, com todos os ambien-
tes da organização, internos ou externos [1]”.

Essa mudança de atitude por parte do produtor rural, feita de


forma planejada e organizada, irá trazer consequências positivas
ao seu negócio, tais como: ampliação de mercados, retenção de
talentos, valorização do produto e da marca, aumento de novos
consumidores e acesso a recursos financeiros.

Organização do Processo Produtivo – Ciclo


de Vida

O planejamento das atividades e a estruturação da organização


física e dos processos produtivos, seja de um grande empreen-
dimento rural seja de um pequeno empreendimento rural, re-
presentam a base de todo o processo de gestão, como pode ser
observado na literatura específica. Esse planejamento é decor-
rente de fatores como: capacidade técnica e produtiva para aten-
dimento ao volume da demanda, efetivo de pessoal, novas exi-
gências do mercado, domínio de práticas específicas que possam
atender as novas demandas, variação de mercados, concorrência,
conhecimento das exigências específicas quanto à certificação,
característica e marca do produto.

Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças 13


Implantação de produção em horticultura
sustentável
A horticultura convencional é um sistema de cultivo no qual o
conjunto de práticas agrícolas usadas tem como principal obje-
tivo o aumento da produção e produtividade, desconsiderando
outros fatores importantes.

Na horticultura sustentável, não só os ganhos de produtividade


são importantes, mas principalmente o meio ambiente e seus ele-
mentos, entre os quais se destacam o uso eficiente da água, da
energia e do solo, bem como os colaboradores que participam do
processo produtivo.

A agricultura orgânica, um sistema sustentável, tem-se destaca-


do como uma das alternativas de renda para os pequenos e mé-
dios produtores rurais, em razão da crescente demanda mundial
por alimentos saudáveis. Segundo Brasil (2003), sistema de pro-
dução orgânico é todo aquele em que se adotam técnicas especí-
ficas, mediante o aumento do uso dos recursos naturais, sociais
e econômicos disponíveis e o respeito à integridade cultural das
comunidades rurais. Vale ressaltar que, para produtos orgânicos,
deve-se ter certificação.

No Brasil, há um número crescente de produtores orgânicos, que,


em sua maioria, são agricultores familiares ligados a associações
e a grupos de movimentos sociais, responsáveis por aproximada-
mente 70% da produção orgânica. Os outros 30% são produzidos
por grandes produtores rurais [5].

Optando por um cultivo orgânico ou não, é importante destacar


que, para vencer novos desafios, é necessário planejar, calcular
os riscos, conhecer a concorrência, os fornecedores, o mercado,
pois, antes de pensar em suas estratégias, o produtor deve pla-

14 Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças


nejar como irá construí-las. Sabemos que o planejamento é um
esforço humano, realizado de forma conjunta e organizada. Em
maior ou em menor grau, todos nós planejamos nossas ativida-
des.

Fundamental para qualquer atividade econômica, o planejamen-


to de uma produção de hortaliças com vistas ao comércio na
região deve seguir alguns passos iniciais. Assim, é estritamente
necessária a implantação de uma estratégia na qual a missão, a
visão e os valores funcionem como um facilitador administrati-
vo que conduza à sustentabilidade do empreendimento rural e
ao mesmo tempo comunique à sociedade o que o negócio tem a
oferecer.

Para começar o seu planejamento, defina os principais pontos


estratégicos, tais como missão, visão e valores:

A MISSÃO deve transmitir ao consumidor uma mensagem curta,


mostrando a razão de existência do empreendimento rural, ou
seja, a importância da empresa para a sociedade. A missão deve
responder aos seguintes questionamentos:

• O que o empreendimento rural faz?

• Por que ele faz?

• A quem se destinam seus produtos e serviços?

Por exemplo: “Fornecer hortaliças naturais de qualidade compro-


vada, contribuindo com a saúde e o bem-estar da sua família”.

A VISÃO é o sonho de um empreendimento rural. É aquilo que


se espera ser num determinado tempo e espaço. Trata-se de um
plano, uma ideia mental que descreve o que a empresa quer re-
alizar nos próximos anos de sua existência. Normalmente, é de
longo prazo (pelo menos cinco anos). É uma descrição clara das
intenções estratégicas do empreendimento rural em prazos deter-

Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças 15


minados. Responde as seguintes questões:

• Onde se deseja chegar?

• O que gostaríamos de mudar?

• Qual é a nossa motivação principal?

• O que nos diferencia dos demais?

• Quais são nossas prioridades?

• O que se pode oferecer para a construção de um mundo


melhor?

Por exemplo: Ser referência na região do Centro-Oeste na pro-


dução de tomate orgânico, disseminando a cultura da sustenta-
bilidade.

Os valores do empreendimento representam os princípios éticos


que norteiam todas as suas ações. Normalmente os valores com-
põem-se de regras morais que simbolizam os atos de seus fun-
dadores e colaboradores em geral. Vale destacar que os valores
devem realmente fazer parte da cultura do empreendimento, isto
é, devem ser percebidos por todos.

Exemplos de valores: respeito, senso de justiça, honestidade, le-


aldade, transparência, satisfação do cliente, qualidade, sustenta-
bilidade, comprometimento, responsabilidade, integridade, entre
outros.

16 Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças


Práticas ecoeficientes na horticultura
Na busca por sustentabilidade no empreendimento rural, os pro-
dutores devem observar quais ações são capazes de tornar seus
negócios ambientalmente mais eficientes. Isso significa usar de
forma inteligente os recursos, reduzindo impactos ambientais
nos sistemas de produção por meio de práticas de redução e oti-
mização.

São identificadas algumas práticas para promoção da ecoeficiên-


cia no segmento de horticultura, como, por exemplo:

a) Utilizar os resíduos gerados no processo produtivo como


composto orgânico, reutilizando na propriedade.

b) Processar o produto derivado do cultivo na propriedade,


agregando mais valor e, consequentemente, aumentando a
renda.

c) Treinar os funcionários para executar as tarefas de maneira


eficiente.

d) Na produção, usar água de qualidade de maneira racional,


a fim de diminuir o desperdício e alcançar a eficiência sem
comprometer os objetivos pretendidos.

e) Na propriedade, utilizar energia de forma eficiente, de modo


que haja diminuição de custos e, consequentemente, melhora
no processo produtivo.

A partir dessas e de outras condições, resgatamos alguns elemen-


tos da sustentabilidade e, com isso, aumentamos a ecoeficiência.

Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças 17


A importância do selo de certificação
O produtor, ao colocar no mercado hortaliças com selo de garan-
tia do seu produto, pode obter vantagens em relação à cultivada
de forma convencional. O consumidor tende a dar preferência a
um produto garantido em relação à qualidade, saúde e preserva-
ção ambiental.

A emissão do selo ajuda a eliminar a incerteza sobre a origem e a


qualidade dos produtos, oferecendo aos consumidores informa-
ções objetivas, que são decisivas no momento da compra.

Além dos benefícios mencionados, percebe-se que os produtos


com esses pré-requisitos tendem a ter um desempenho diferen-
ciado na comercialização, pois atendem aos aspectos econômi-
cos, sociais e ambientais e, consequentemente, trata-se de um
produto saudável. Embora tais benefícios sejam reais, somente
serão alcançados mediante tomada de consciência do produtor e
dos envolvidos no processo produtivo.

Entre os fatores a serem levados em consideração no planeja-


mento para implantação de uma produção de hortaliças susten-
táveis, destacam-se, ainda:

a) Análise do local a ser usado no cultivo.

b) Identificação da vegetação anterior e atual do local.

c) Identificação das culturas anteriores: caso já tenha sido ex-


plorado comercialmente, é necessário obter o histórico do local
quanto às espécies cultivadas anteriormente, métodos de cul-
tivo utilizados e produtividades obtidas.

d) Solo: realizar análise química e física do solo para verifi-


car sua fertilidade e para identificar se houve uso de produtos
químicos.

18 Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças


e) Clima: obter dados meteorológicos da região principalmente
das temperaturas e da pluviosidade (chuva) de todos os meses
do ano. Isso contribuirá para a escolha das espécies e cultiva-
res de hortaliças mais adaptadas ao clima local.

f) Disponibilidade de água: verificar os sistemas utilizados pelo


produtor na captação de água, sua qualidade e estimar a quan-
tidade necessária para irrigação das hortaliças e outras cultu-
ras a serem instaladas na propriedade.

A busca por técnicas para reutilização de água torna-se eviden-


te quando avaliamos o desperdício pelo uso inadequado e pelo
alto custo da água utilizada no setor da agricultura, particu-
larmente da horticultura. É o que ocorre quando substituímos
o modelo tradicional de irrigação, no qual a área de cultivo
recebe imensa quantidade de água, por um modelo localizado
de gotejamento ou microaspersão. Ou seja, menos água por
tonelada produzida, gerando maior eficiência.

g) Comercialização: realizar levantamento de preços e volu-


me de hortaliças comercializadas na região. A identificação
do mercado consumidor (possíveis compradores) e dos locais
de venda contribuirá para que sejam escolhidas as espécies de
hortaliças a serem produzidas. A análise do padrão e da fre-
quência exigida pelo mercado local também podem contribuir
para a eficiência do negócio.

Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças 19


h) Armazenamento e transporte: ao serem armazenados e/ou
transportados, os produtos deverão ser higienizados de forma
apropriada. Devem ser usados equipamentos e instalações per-
mitidos na produção. Quanto ao produto sustentável a granel,
esse deverá ser armazenado em áreas separadas, identifica-
das e deve ser transportado isoladamente. Vale ressaltar que a
venda a atravessadores reduz a margem de lucro.

i) Logística reversa: é importante encontrar ações, procedi-


mentos e meios destinados a viabilizar a coleta de embalagens
e resíduos, visando ao seu reaproveitamento na propriedade,
em seu ciclo produtivo ou em outras destinações. Por exemplo:
o produtor, ao reutilizar as caixas de hortaliças da comerciali-
zação de seus produtos, já estaria fazendo logística reversa em
sua propriedade.

j) Responsabilidade compartilhada: desenvolver medidas que


tenham a participação de todos os envolvidos na cadeia pro-
dutiva, com o objetivo de promover o aproveitamento de re-
síduos, reduzir os desperdícios e a poluição, minimizando os
impactos causados à saúde humana e ao meio ambiente. Es-
timular a produção, o consumo e o mercado de materiais re-
ciclados e recicláveis é um exemplo de responsabilidade com-
partilhada.

Com base nisso, concluímos que é evidente a importância da


sustentabilidade, qualidade e ecoeficiência no desempenho eco-
nômico e ambiental e no uso racional de insumos na horticul-
tura. Dessa forma, é possível minimizar os riscos do negócio e
melhorar as relações sociais com as partes envolvidas.

Compreendemos que a horticultura sustentável é um sistema in-


tegrado de práticas de cultivo que, ao ser adotado, suprirá as
necessidades de alimentos. Como exemplo, recomendamos para
o cultivo sustentável as duas principais hortaliças produzidas e

20 Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças


com maior volume de comercialização no Centro-Oeste, segundo
as unidades do Sebrae na região.

Alface
A alface é uma planta rica em nutrientes e clorofila e tem como
principal função desintoxicar o organismo. Constitui também
uma importante fonte de vitaminas (A, C e niacina) e de sais mi-
nerais (enxofre, fósforo, ferro e cálcio).

A alface é uma planta originária de regiões de clima temperado.


Isso justifica seu bom desenvolvimento durante a fase vegetativa
em condições de clima mais ameno. Por sua vez, a fase reprodu-
tiva da planta, não comestível, ocorre em temperaturas mais ele-
vadas e em dias longos. No cultivo sob condições de temperaturas
elevadas, acima de 25°C, e em dias longos, ocorre redução da fase
vegetativa diminuindo sua comercialização.

A propagação da alface se dá por meio de sementes compradas


em casas de insumos agrícolas e em cooperativas. Inicialmente,
formam-se mudas em sementeiras ou bandejas de isopor. Quando
estiverem entre 5 cm e 7 cm de altura, são transplantadas para os
canteiros.

Recomenda-se escolher os solos de textura média, de baixa acidez


e elevado teor de matéria orgânica. Deve-se levar em considera-
ção o fácil acesso a água para irrigações. O solo deve ser corrigido
e preparado para o encanteiramento, mas, para diminuir o seu
revolvimento, deve-se dar preferência ao uso de canteiros semi-
definitivos, dando possibilidade para um cultivo mínimo. Devem

Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças 21


também ser construídos de maneira que facilitem as operações
de transplante e os tratos culturais. Recomendam-se canteiros
nas dimensões entre 1,0 m e 1,2 m de largura, deixando para o
carreador de 0,30 m a 0,40 m. Já os espaçamentos entre linhas
no canteiro variam entre 25 cm e 30 cm, dependendo das carac-
terísticas das cultivares.

40 cm de
distância
entre
canteiros

1m a 1,2 cm de largura 25 a 30 cm
de distância
entre fileiras

O plantio de alface pode ser realizado tanto em pequenas quanto


em grandes áreas. No verão, a colheita ocorre em períodos de 60
a 70 dias depois do início do cultivo; no inverno, estende-se em
torno de 80 a 90 dias.

No cultivo sustentável da alface, a adubação verde tem papel


fundamental no fornecimento de nitrogênio, com a incorporação
da massa vegetal e a reciclagem de nutrientes. Também auxilia
na restauração e manutenção do equilíbrio biológico do solo, na

22 Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças


diversificação e proteção do sistema de produção. É importante
lembrar que, nos cultivos apenas com adubo verde, a produtivi-
dade é baixa. Por isso, o uso da adubação verde deve ser asso-
ciado ou complementado com a adubação orgânica tanto para
os cultivos de alface quanto para as hortaliças de maneira geral.

Na irrigação, é importante o uso de água de boa qualidade vi-


sando assegurar o valor agregado ao produto pelo sistema de
produção. Essa é também uma condição limitante para obtenção
da certificação.

De maneira geral, a aspersão é o sistema de irrigação mais uti-


lizado nos cultivos de alface, embora o sistema de gotejamento
também seja recomendado, pois permite ao agricultor uma eco-
nomia de água. O importante é salientar que, qualquer que seja
o sistema utilizado, a aplicação de água em excesso aumenta o
índice de doenças na cultura.

A colheita deve ser feita nas primeiras horas da manhã ou nas


horas mais frescas, quando atingir o máximo de desenvolvimen-
to, sem sinais de florescimento. Sua comercialização dever ser
realizada o mais rapidamente possível e o mais próximo do local
de produção, pois é um produto altamente perecível.

Para melhores esclare-


cimentos, recomendamos
consultar um técnico
especialista.

Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças 23


Tomate
São muitas as propriedades benéficas que o tomate confere ao
organismo, por isso é recomendável consumi-lo com frequên-
cia. Um dos principais benefícios é a sua grande quantidade de
antioxidantes, característica que ajuda no controle de radicais
livres, os quais mantêm as células jovens e retardam o envelhe-
cimento. Além disso, os tomates contribuem para a melhoria da
circulação do sangue e para a redução dos níveis de colesterol.

Na escolha da área de cultivo, devem-se evitar áreas úmidas de


baixadas, sujeitas à neblina ou já cultivadas com espécies da
mesma família botânica (batata, pimentão e berinjela).

Para o plantio do tomate, o ideal é o clima seco e com alta


luminosidade, que favoreça a cultura. Temperaturas acima de
32°C e excesso de chuvas prejudicam a frutificação e causam
queda acentuada de flores e frutos novos.

Para produção de mudas, indica-se o copo de papel jornal ou


de plástico descartável, utilizados para refrigerantes, pois são
os mais recomendados. As mudas devem ser desenvolvidas em
estufas ou casas de vegetação, utilizando-se substratos de boa
procedência, que estejam de acordo com as normas de certifica-
ções. Com isso, as mudas produzidas serão comprovadamente
de melhor qualidade.

Quanto ao preparo do solo, sempre que possível deve-se adotar


o cultivo mínimo. Para sua cobertura, recomendam-se adubos
verdes, palhada de milho e plantas espontâneas, que devem ser
manejadas nas entrelinhas por meio de roçadas.

24 Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças


No plantio, as mudas são transplantadas quando atingirem de
10 cm a 12 cm de altura e quando possuírem de 4 a 5 folhas de-
finitivas. O espaçamento indicado varia de 1,2 m a 1,5 m entre
fileiras por 0,4 m a 0,5 m entre plantas.

0,4 a 0,5 cm de
distância

1,2 a 1,5 m
de distância entre as fileiras

A irrigação por gotejamento é a mais adequada. O sistema de


aspersão é contraindicado para o tomateiro, pois molha as fo-
lhas e umedece o ambiente em torno das plantas, favorecendo
a requeima.

O tomateiro é a hortaliça mais atacada por doenças e pragas,


as quais podem causar perdas parciais e até totais da lavoura.
Por isso, é intensivo o uso de agrotóxicos no cultivo da hor-
taliça. No entanto, se forem seguidos os princípios da agricul-
tura sustentável, é possível prevenir e/ou reduzir os danos na
lavoura com práticas saudáveis. Para o manejo, recomendam-

Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças 25


-se as seguintes medidas: escolher corretamente a área; evitar
plantios próximos a lavouras velhas; realizar o plantio na época
recomendada; realizar a adubação com base na análise do solo e
rotação de culturas.

A colheita inicia-se quando os frutos estão amarelados ou ro-


sados. Para mercados mais próximos, podem ser colhidos num
estágio de maturação mais adiantado, mas ainda bem firmes.
Para a limpeza dos frutos, realiza-se a imersão dos frutos, por 5
minutos, em solução de ácido acético (vinagre), na concentração
de 2%. Em seguida, deixar secar e proceder à embalagem. Para melhores
A comercialização do tomate acontece por meio do varejo ou no esclarecimentos,
atacado, cada um dos quais com suas peculiaridades inerentes a recomendamos
fim de oferecer aos consumidores um produto saudável, nutriti- consultar um téc-
vo e saboroso. nico especialista.

Exigências Legais e
Normas Técnicas
Quando o produtor rural resolve produzir e comercializar horta-
liças utilizando métodos da produção orgânica, é recomendável
que entre em contato com uma agência certificadora, onde obte-
rá informações sobre as normas técnicas de produção. O Sebrae
pode apoiá-lo nesse processo.

Para que um produto seja vendido como orgânico, ele deverá


receber uma avaliação de conformidade de uma certificadora
devidamente credenciada pelo Mapa, de acordo com a Lei nº
10.831 [2], e também acreditada pelo Inmetro. Essa certificadora
assegura por escrito ao produtor que seu produto, processo ou

26 Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças


serviço obedecem às normas e práticas da produção orgânica.
A certificação apresenta-se sob a forma de um selo afixado ou
impresso no rótulo ou na embalagem do produto.

Existem dois selos oficiais: um é resultado de um sistema parti-


cipativo e o outro se origina de uma certificação por auditoria.
Ambos são mecanismos de avaliação de garantia orgânica e são
obrigatórios para comercialização de qualquer
produto orgânico no Brasil.

O Sistema Participativo é formado pela reunião


de produtores e de outras pessoas interessadas
em organizar sua estrutura básica, que é com-
posta pelos membros do sistema e pelo Organis-
mo Participativo de Avaliação da Conformidade
(Opac). Os membros do sistema são pessoas fí-
sicas ou jurídicas que fazem parte de um grupo classificado em
categorias: distribuidores, comerciantes, transportadores e arma-
zenadores.

As certificadoras por auditoria atuam comercialmente na presta-


ção de serviços de certificação a produtores individuais e grupos.
Têm por obrigação avaliar e garantir a conformidade da pro-
dução orgânica sob sua responsabilidade. Devem estar regular-
mente constituídas para essa atividade e possuir mecanismos de
resolução de conflitos, atendimento a denúncias e aplicação de
sanções administrativas.

O selo é uma marca cedida pela certificadora, mediante contrato


assinado entre ela e o produtor. Trata-se de uma conquista do
produtor e reflete o fato de que seu sistema está nas conformi-
dades com as normas nacionais e/ou internacionais de produção.

Selo produto Orgânico Brasil: Fonte: http://terra-flor.


blogspot.com.br/2013/04/caros-clientes-e-com-orgulho-
-que-terra.html

Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças 27


Além das regras formais descritas na legislação, existem acordos
informais entre instituições que estabelecem normas construí-
das ao longo do tempo entre os agentes que fazem parte desse
mercado, produtores, certificadores, comerciantes e consumido-
res. Esses acordos não estão escritos, mas estabelecem padrões
que, em muitos casos, têm mais força que as regras formais. Por
exemplo: a higiene dos produtos, seu manuseio, sua regularidade
e diversidade de oferta, a apresentação diferenciada dos outros
produtos, entre outras questões, são acordos construídos entre
produtores, vendedores e consumidores, que são consolidados e
melhorados com o passar do tempo.

Selo de identificação da
participação da agricultura
familiar (SIPAF)
O SIPAF foi instituído pelo Ministério de Desenvolvimento Agrá-
rio (MDA) para incentivar a política de sustentabilidade econô-
mica da agricultura familiar. É concedido a empresas, cooperati-
vas e agricultores para identificar produtos, tais como verduras,
polpas de frutas, entre outros, que tenham em sua composição a
participação majoritária desses agricultores, dando maior visibi-
lidade e promovendo a inclusão econômica e social dos envol-
vidos.

Selo SIPAC: Fonte: http://www.investagro.com.br/wp-con-


tent/uploads/2012/01/sipaf.jpg

28 Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças


Norma ISO 14001

O ISO 14001 certifica o sistema de gestão ambiental de empresas


e empreendimentos de qualquer setor. Em sua operação, a em-
presa deve levar em conta o uso racional de recursos naturais,
a proteção de florestas e a preservação da biodiversidade, entre
outros quesitos. No Brasil, quem confere essa certificação é a As-
sociação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Ao contrário das
demais certificações, não há um selo visível em produtos. Para
saber se uma empresa tem o ISO 14001, deve-se consultar seu
site ou centro de atendimento ao cliente.

Rainforest Alliance
Certified (RAC)
O RAC certifica produtos agrícolas, como frutas, café, cacau e
chás. Trata-se de uma certificação socioambiental. Comprova
que os produtores respeitam a biodiversidade, bem como os tra-
balhadores rurais envolvidos no processo. Com grande aceitação
na Europa e nos EUA, é auditado no Brasil pelo Instituto de Ma-
nejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora).

Selo ISO 14001: Fonte: http://novofocogestao.com.br/wp-content/uplo-


ads/2014/04/selo-iso-14001.jpg

Selo RAC: Fonte: http://stepforwardpaper.com/2013/09/04/step-forward-pa-


per-honored-to-be-rainforest-alliance-certified/

Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças 29


Ecocert
Certifica alimentos orgânicos e cosméticos naturais ou orgânicos.
Os alimentos processados devem conter um mínimo de 95% de
ingredientes orgânicos para serem certificados. Para receber o
selo de cosmético orgânico, o produto deve ter, ao menos, 95%
de ingredientes vegetais e 95% desses ingredientes devem ser
orgânicos certificados. No caso de cosméticos naturais, 50% dos
insumos vegetais devem ser orgânicos. Mas, por contrato com a
certificadora, o fabricante é obrigado a identificar no rótulo se o
produto é orgânico ou natural.

Instituto Biodinâmico (IBD)


O IBD certifica alimentos, cosméticos e algodão orgânicos. Além
de cumprir os requisitos básicos para a produção orgânica, garan-
te que a fabricação daquele produto obedece ao Código Florestal
Brasileiro e às leis trabalhistas. Os produtos industrializados de-
vem ter, ao menos, 95% de ingredientes orgânicos certificados.
A água e o sal são desconsiderados nesse cálculo tanto para cos-
méticos quanto para alimentos.

Selo ECOCERT: Fonte: http://brazil.ecocert.com/


Selo IBD: Fonte: http://terra-flor.blogspot.com.br/2013/04/caros-clientes-e-
-com-orgulho-que-terra.html

30 Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças


Desenvolvimento do padrão
de Modelo de Negócios
Sustentável
O Modelo de Negócios Sustentável CANVAS é um método que
visa dar suporte na gestão e na operacionalização do negócio,
por meio do qual é possível, a partir de uma única folha, visuali-
zar a forma pela qual se cria, como se entrega e como se captura
valor econômico, social e ambiental no empreendimento rural.
Para que seja feito e compreendido de forma correta, é necessá-
rio entender melhor como o modelo funciona.

O Modelo de Negócios Sustentável CANVAS tem sua base cons-


trutiva inspirada no modelo de Alexander Osterwalder e Yves
Pigneur, que contém os nove blocos principais. O bloco Proposta
de Valor foi modificado a fim de agregar valores para o Segmen-
to de Clientes, em termos econômicos, ambientais e sociais.

A fim de melhor ilustrar o desenvolvimento desse modelo de


negócios sustentável, iremos mostrar como começar seu desen-
volvimento de acordo com os seguintes passos:

Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças 31


Passos 1 e 2

Passo 1: primeiramente é importante definir a(s) hortaliça(s) a ser(em) cultivada(s), que será(serão)
trabalhada(s) no Modelo de Negócios Sustentável CANVAS (ex.: produção de tomate).

Passo 2: após a definição do passo 1, é importante pensar no seu diferencial perante os concorrentes.
O produtor deverá responder as seguintes perguntas: Quais são os fatores/requisitos que meu cliente
leva em consideração para decidir de quem irá comprar? Qual é a qualidade do produto? Qual é o
preço? Com que frequência ocorre a entrega? Qual é o volume? Qual é o diferencial do produto? Essas
variáveis são muito importantes, pois além de definirem o posicionamento do produtor no mercado,
vai ajudá-lo a definir melhor seu cliente-alvo.

32 Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças


Observação: como estamos falando de um Modelo de Negócios
Sustentável, é necessário oferecer ao mercado algo além de um
produto rentável e de boa qualidade. Esse produto deve apre-
sentar características que evidenciem a responsabilidade social
e ambiental do produtor, o que agrega valor ao produto e ao
segmento que o consome. Para tanto precisa ser benéfico para
o meio ambiente, gerar ganhos econômicos e também precisa
oferecer ganhos sociais aos envolvidos no processo. É necessário
pensar nessa questão: como produtor rural, como posso agregar
valores ambientais e sociais para o meu produto?

Por exemplo: produção de tomate sem agrotóxicos.

Dúvida: por que a produção de tomate sem agrotóxico pode ser


considerada um Modelo de Negócios Sustentável? O produtor
deve lembrar que, para o produto ser considerado sustentável, é
preciso gerar valor nas três áreas: a) econômica: venda do toma-
te de boa qualidade feita por um adequado preço em uma feira,
isto é, o produto tem valor por ser economicamente justo; b)
ambiental: o não uso do agrotóxico ou outros produtos químicos
irá diminuir os impactos negativos sobre o solo, a água e o ar, ou
seja, o produto possui valor por ser ambientalmente sustentável;
c) social: por não estarem manipulando agrotóxicos, e aprenden-
do novas técnicas de manejo sustentável, a família do produtor
e seus funcionários terão uma qualidade de vida melhor, seu
cliente não consumirá produtos tóxicos, e o produto carrega o
valor de ser socialmente includente. Sendo assim, essa cultura
de hortaliças atende aos requisitos básicos de geração de valor
nas três áreas; portanto, é considerada um Modelo de Negócios
Sustentável.

Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças 33


Passos 3, 4, 5 e 6

Passo 3: este é o momento de definir seu cliente! Na definição desse bloco, é importante levar em
consideração três aspectos de sua produção: qual é o volume que consigo produzir? Com que frequ-
ência consigo produzir esse volume? E, por fim, mas não menos importante: eu consigo produzir esse
volume nessa frequência sempre no mesmo padrão de qualidade? Após responder a essas três pergun-
tas, que não são simples de serem respondidas, ficará mais claro em qual segmento de clientes você,
produtor, poderá focar. Para isso, é importante que a propriedade receba sempre assistência técnica
especializada.

Revisando: com esses três primeiros passos, já é possível preencher os seguintes


blocos: Segmento de Clientes, diferenciando os problemas desse grupo de pesso-
as em relação ao volume, ao padrão e à frequência; Proposta de Valor Econômi-
co; Proposta de Valor Ambiental; e Proposta de Valor Social. O campo Solução
também poderá ser preenchido com o cultivo selecionado.

34 Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças


Passo 4: definição dos canais – o canal se refere aos dois aspectos básicos da entrega da Proposta de
Valor (produto) ao Segmento de Clientes (mercado). Primeiramente é importante saber onde o cliente
comprará o seu produto (ex.: feiras, supermercados, etc.). Outro aspecto importante é a maneira pela
qual o cliente terá ciência da existência do seu negócio. Isto é, como o cliente saberá que eu, produtor
de tomate sem agrotóxico, tenho esse produto? Por exemplo: participação em uma feira livre, divul-
gação em carro de som, participação em eventos do segmento rural, etc.

Passo 5: definição das formas de Relacionamento com o Cliente. Nessa parte do Modelo de Negócios
Sustentável, o produtor vai pensar em dois aspectos importantes: a) a forma de relacionamento que
será usada para adquirir novos clientes (ex.: amostras grátis para aumentar a percepção da qualidade
do produto); b) a forma de relacionamento que será usada para manter os clientes existentes (ex.:
entrega gratuita para compras acima de R$ 300, descontos nas próximas compras de produtos em sua
propriedade, entre outras).

Passo 6: Fonte de Receitas – finalmente chegou a hora de saber quanto e como o dinheiro entra no
seu bolso, produtor. Aqui você pode definir diversas formas de recebimento. Lembre-se de que as for-
mas de cobrança pelo produto poderão ajudar a inovar seu modelo de negócios. Um exemplo disso é
o produtor que vende hortaliças sem agrotóxicos por meio de uma assinatura mensal, como se fosse
uma mensalidade. Outra observação é que você também poderá pensar nos ganhos sociais e ambien-
tais do seu produto. O que eu ganho além das receitas provenientes da venda dos meus produtos?
Por exemplo: ganha-se dinheiro com a venda de tomates sem agrotóxicos, ganha o meio ambiente,
principalmente as reservas de água da sua propriedade, que não ficam contaminadas com resíduos dos
agrotóxicos, e ganha também sua família/funcionários, que não ficarão contaminados com os compo-
nentes químicos nocivos à saúde.

Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças 35


Revisando: no passo 4, foram definidos os canais de comercialização
do nosso produto, fazendo com que o Segmento de Clientes que es-
colhemos passe a receber nossa Proposta de Valor (Produto). Outros
Segmentos de Clientes também podem ser beneficiados, uma vez que
nosso Modelo de Negócios Sustentável agrega valor ambiental e social.
Por exemplo: maior qualidade de vida como Proposta de Valor Social
pela não utilização de agrotóxicos. No passo 5, foram definidas as
formas de Relacionamento com o Cliente, a fim de conquistar novos
clientes e manter os atuais. Por fim, no passo 6, foi definida a maneira
como o dinheiro entra na empresa

Até esse ponto do nosso CANVAS, já definimos a parte


na qual já foram estabelecidos os seguintes aspectos: o
mercado, o produto, o marketing e os recebimentos. Na
segunda parte, será definido o funcionamento interno de
nosso empreendimento.

36 Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças


Passos 7 e 8

Passo 7: Principais Recursos – em se tratando de hortaliças sustentáveis, você deve pensar quais são os
recursos necessários para que seu negócio, de fato, funcione. Por exemplo: para produzir tomates sem
agrotóxicos, vou precisar de uma área para o plantio, de sementes, de adubo, de pessoas para plantar e
fazer o manejo do cultivo, de pessoas ou máquinas para colheita, entre outros. Aqui também é impor-
tante levar em consideração quais recursos você utilizará para realizar seu negócio, considerando-se os
valores econômicos, ambientais e sociais. Lembre-se de que os Principais Recursos também devem ser
pensados para atender todos os blocos do Modelo de Negócios já desenhados até o presente momento.

Passo 8: Principais Atividades – quais são as atividades de produção e entrega que você precisa exe-
cutar? Nesse bloco do Modelo de Negócios Sustentável, você, produtor, deverá pensar em quais são
as atividades que precisa fazer para garantir a operacionalização da sua empresa. Lembre-se de que
você deverá executar as atividades que geram valores econômicos, sociais e ambientais. Tudo isso para
que seu modelo de negócios seja sustentável. Um exemplo disso é a incorporação de práticas e mane-
jo sustentáveis que irão envolver todo o processo desde o início da produção até a colheita: escolher
sementes; fazer plantio; planejar como será feito o controle de pragas e doenças; colheita; comercia-
lização e pós-venda.

Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças 37


Passos 9 e 10

Passo 9: Principais Parcerias – os parceiros podem ser classificados em três tipos básicos do ponto
de vista de um modelo de negócios: 1) aqueles que podem contribuir com recursos-chave (ex.: asso-
ciação que tem um trator, o qual pode ser utilizado para o plantio do tomate); 2) aqueles que podem
contribuir nas atividades-chave (ex.: empresa de transporte que vai fazer a entrega do seu produto
no supermercado); 3) aqueles que podem ajudar a minimizar os custos (ex.: compra de insumos para
propriedade de forma coletiva, unindo-se a outros produtores e aumentando o poder de barganha
junto aos fornecedores; familiares que trabalharão nos cuidados da lavoura e que não gerarão custos
operacionais). Lembre-se de que os parceiros são aqueles que podem contribuir estrategicamente para
o seu negócio em todos os aspectos (econômicos, sociais e ambientais).

Passo 10: Estrutura de Custos – nesse bloco, você, produtor, listará os principais custos do seu negócio.
Aqui devem ser incluídos tanto os custos da operação (ex.: custos das sementes) como também os cus-
tos de investimento (ex.: equipamentos, maquinários, etc.). Lembre-se de que os seus dois principais
custos serão os de produção/operação do negócio e os de aquisição de clientes, mais conhecido como
custo de venda! Por exemplo: em uma produção de tomate sem agrotóxico, além dos custos de cultivo
(pessoas, adubo, custos de colheita, entre outros), também precisamos estimar os custos de divulgação

38 Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças


Depois de passar por esses dez passos, você está de parabéns! Pois acaba de
desenhar seu primeiro Modelo de Negócios Sustentável. Agora você pode visu-
alizar seu modelo em apenas uma página, o que torna muito mais fácil testá-lo
e mudá-lo caso seja necessário!

Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças 39


Plano e Viabilidade Financeira
Todo modelo de negócios, sustentável ou não, precisa necessa-
riamente gerar ganhos financeiros para o seu empreendedor. No
seu caso, produtor, além de ganhos financeiros, o seu Modelo
de Negócios Sustentável vai também gerar ganhos sociais e am-
bientais.

A gestão financeira do seu Modelo de Negócios Sustentável tem


um papel muito importante no sucesso do seu empreendimento.
Para que se conscientize, aos poucos, de sua importância, iremos
listar algumas dicas para aumentar seu sucesso como produtor
rural:

Dica 1:
Realize seu fluxo de cai-
xas. Tenha um caderno no
qual você anotará todas as
despesas realizadas no dia.

Despesas
Com esse procedimento,
ao final do mês será possí-
vel calcular o custo do seu 01/10
negócio e também conhe- sementes R$ 30,00
cer os elementos que mais
02/10
consumiram recursos fi- compra de adubo R$ 50,00
nanceiros. Chamamos essa orgânico
prática de fluxo de caixa.
03/10
compra de embalagens R$ 45,00
para o tomate

Observação: adote para as receitas o mesmo procedi-


mento que você adotou para as despesas. Assim você
também saberá quanto ganhou no mês!

40 Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças


Dica 2:
Ao longo dos meses, faça uma comparação de tudo que ganhou e gastou com o mês anterior, a
fim de procurar saber o porquê dessas diferenças. Tenha sempre em mente que, em razão das
sazonalidades de produção e da variação dos preços de venda e dos insumos, os seus custos e
receitas podem sofrer acréscimos, e é sempre importante levar isso em consideração para se
preparar para tempos difíceis (“vacas magras”).

Dica 3:
Toda propriedade rural deveria ter outros pequenos modelos de negócios para garantir a sus-
tentabilidade do seu negócio rural. Isto é, se você, produtor, tiver uma produção de tomate sem
agrotóxico, pense também em, por exemplo, criar frangos caipiras, pois, além de gerar adubo
para as hortaliças, você garante outra fonte de renda complementar enquanto o período de
colheita não está concluído.

Dica 4:
Para obter financiamento de sua cultura, é sempre importante procurar um técnico da Emater,
pois ele pode orientá-lo na elaboração de uma proposta de financiamento para produção. Esse
tipo de financiamento pode ser usado tanto para investimentos (compra de trator) quanto para
custeio da produção (compra de insumos).

Dica 5:
Análise com frequência sua capacidade produtiva. Você vai pre-
cisar manter uma boa produtividade para garantir que o dinheiro
obtido na venda dos produtos vai ser suficiente para cobrir as
despesas. Para evitar problemas futuros, acompanhe diariamente
sua plantação de hortaliças.

Dica 6:
Se você já faz o controle de suas despesas e receitas, o próximo
passo é conseguir enxergar o que acontecerá com suas despesas
e receitas futuras. Quanto irei receber nos próximos seis meses?
Quais são as despesas que preciso realizar na minha produção
nos próximos seis meses? O produtor que é capaz de enxergar
um horizonte de gastos e ganhos para o próximo semestre estará
mais preparado para lidar com problemas de sustentabilidade fi-
nanceira do seu negócio.

Dica 7:
Procure sempre o Sebrae para obter apoio nas questões financeiras, de negócio ou de produção.
Eles dispõem de materiais e consultores que podem lhe ajudar a melhorar o desempenho do
seu negócio rural. Mas lembre-se de que a formalização do produtor rural, por meio de CNPJ,
Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), Inscrição Estadual Rural ou Registro Geral da Pesca, é
fundamental para um atendimento mais aprofundado.

Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças 41


Referências

1. BALERINI, Cristina. Pesquisa da ADVB mostra o que as


empresas têm feito. 2003. Disponível em: <http://saci.
org.br/index.php/www.soropositivo.org/sites.uol.com.br/
magest/www.retinavale.hpg.com.br?modulo=akemi&pa-
rametro=5361>. Acesso em: 24 out. 2014.

2. BRASIL. Congresso. Senado. Lei nº 10831, de 23 de de-


zembro de 2003. Dispõe sobre a agricultura orgânica e
dá outras providências. Brasília, DF, 23 dez. 2003.

3. LIU, Ming. Construindo a imagem de um país e exportan-


do a marca Brasil. Catálogo Nacional de Produtos Orgâ-
nicos, Naturais e Sustentáveis, São Paulo, p.28-29, mar.
2013.

4. SACHS, Ignacy. Desenvolvimento includente, sustentá-


vel, sustentado. Rio de Janeiro: Garamond, 2008. 152 p.

5. TERRAZZAN, Priscila; VALARIN, Pedro José. Situação do


mercado de produtos orgânicos e as formas de comercia-
lização no Brasil. Informações Econômicas, São Paulo, v.
39, n. 11, p.27-41, nov. 2009.

6. YONEYA, Fernanda. É a hora e a vez dos produtos orgâni-


cos, naturais e sustentáveis no varejo nacional. Catálogo
Nacional de Produtos Orgânicos, Naturais e Sustentá-
veis, São Paulo, p.6-9, mar. 2013.

42 Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças


Criando modelo de negócios sustentáveis: Hortaliças 43

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