O Êxodo e A Conquista de Canaã
O Êxodo e A Conquista de Canaã
O Êxodo e A Conquista de Canaã
Ao estudar a história do Antigo Israel notamos que existe três correntes que
disputam a narrativa historiográfica: maximalistas, que acreditam na sacralidade da
Torá; os minimalistas, que compreendem que a Torá tenha sido escrita após o
século VI a.C., de modo que não deve ser usada como fonte para analisar séculos
anteriores; e, por fim, os minimalistas-revisionistas, defensores do uso da Torá
como fonte para analisar a história do antigo Israel, apesar de sua datação
complicada e problemática. Mário Liverani, professor da Universidade de Roma La
Sapienza, cujos estudos serão a base de nosso trabalho, é o um dos mais destacados
defensores dessa última corrente. A historiografia tradicionalista, vinculada às
instituições religiosas e escolas teológicas, tem perpetuado uma interpretação
ultrapassada sobre a história do antigo Israel, fazendo com que mitos e lendas
sejam vistos como fatos históricos. Em vista da desatualização dos pesquisadores
brasileiros sobre essa temática, livros didáticos se aproximam da vertente
tradicional, no qual, os temas como o dilúvio, a abertura do mar Vermelho, a
história dos patriarcas, entre outros, são apresentados como fatos históricos, sendo
esse o principal motivo pelo qual essa pesquisa se faz importante no cenário
brasileiro.
mais do que isso, agora como nunca os exilados se identificam totalmente com a
história do cativeiro no Egito e o Êxodo, uma vez que eles estavam detidos na
Babilônia tal como seus antepassados estiveram no Egito. O interessante é que na
história da Conquista, Canaã está ocupada por diversos povos diferentes, o que não
corresponde a realidade do início da Idade do Ferro (período em que os redatores
diziam ter ocorrido a Conquista), ao contrário, os povos históricos e reais do
período do Ferro não são mencionados, o que evidencia que pelo menos parte da
narrativa foi escrita após o exílio, pois foi apenas durante esse período que Canaã
esteve ocupada por diferentes povos. Além disso, a imagem do povo em marcha
pelo deserto, totalmente diferente da forma como os beduínos se locomoviam,
parece estar atrelado as deportações imperiais. Outro traço significativo é que a
imagem do deserto do Êxodo não corresponde ao tipo pastoril, mas, sim, ao tipo
“zona de refúgio”, como se tivesse sido imaginada por escribas de origem citadina.
Ademais, não podemos nos esquecer de que a Conquista de Canaã foi feita por
Josué, o mesmo nome do homem que liderava os exilados judeus de volta a
Palestina. Inclusive, na narrativa da Conquista é feita uma diferenciação entre as
tribos do sul e as do norte, essa diferenciação não existia no início da Idade do
Ferro. São tantas as incongruências que o livro de Josué não pode ser lido sem
levar em consideração às intenções de um redator que tinha em mentes os
problemas de sua época, sobretudo o da tomada da terra pelos exilados