Escavando A Verdade

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Escavando a verdade

QUINTA-FEIRA, 4 DE DEZEMBRO DE 2008

Há uma história feita de pessoas e fatos que marcaram lugar no mundo.


Há outras histórias contadas apenas em livros ou no relato do povo. Qual delas
é real e qual é inventada? Poderia a ficção ser distinta da realidade ao se
narrar a saga de como chegamos a ser o que somos? Sem as marcas do
passado, em esculturas, lápides, artefatos e fragmentos desenterrados, ficção
e realidade seriam fios inseparáveis do mesmo tecido. Embora os achados
arqueológicos sejam pequenas peças no quebra-cabeça dos mistérios da
antiguidade, eles trouxeram à tona fatos há séculos soterrados.
Mas até que ponto as conclusões baseadas em pedaços de cerâmica ou
tabletes de argila com uma escrita remota podem redefinir o que conhecemos
do mundo? Israel Finkelstein e Neils Asher Silberman, especialistas em
Arqueologia, respondem. Eles acreditam que é possível derrubar deuses do
Olimpo e implodir dogmas da fé. Recentemente, esses estudiosos tiveram seu
livro lançado no Brasil, com o título E a Bíblia Não Tinha Razão. A pergunta
que se segue é: esses autores têm razão? A narrativa bíblica seria tão
quimérica quanto qualquer obra de ficção? Como diferenciar ciência
arqueológica da arqueologia rocambolesca, ao estilo Indiana Jones? Vamos às
evidências.
Criação e dilúvio –
Diz a Bíblia que no princípio Deus criou os céus e a Terra. Depois, o
dilúvio quase acabou com tudo, restando Noé, sua família e seus animais,
protegidos da catástrofe em uma arca de madeira. Por vários anos, acreditou-
se que as histórias da criação e do dilúvio universal eram lendas apenas dos
judeus. Porém, escavações nas ruínas de Nínive, antiga capital do Império
Assírio, apresentaram ao mundo os documentos da biblioteca real de
Assurbanipal II, que viveu no sétimo século a.C. Duas epopéias importantes na
literatura do Antigo Oriente Médio foram encontradas em seus registros. São
elas:Enuma Elish, um relato sobre a criação, e Gilgamesh, uma versão do
dilúvio.
A semelhança desses relatos com a versão bíblica é impressionante. Em
ambos os relatos os personagens principais são avisados por uma divindade
que uma grande destruição estava prestes a vir e que um barco deveria ser
construído para sua proteção. Esse fato revela que os judeus não inventaram
tais histórias. Embora os tabletes da biblioteca real sejam do sétimo século
a.C., o texto é muito antigo. Alguns sugerem que os escritores hebreus
simplesmente copiaram estas histórias e as batizaram com uma roupagem
monoteísta. Todavia, a presença de narrativas semelhantes a estas em
culturas tão diversas ao redor do mundo, como China, Índia e México nos
sugerem que o mesmo evento foi a fonte para tais relatos. Como haveria
surgido relatos tão semelhantes em lugares e culturas tão diferentes? É no
mínimo intrigante.
Período Patriarcal
Qual seria sua reação se fosse encontrado um jornal da época de
Juscelino Kubitschek afirmando que a moeda corrente na época era o real? É
lógico que isso não seria levado a sério. E o que dizer das informações bíblicas
sobre os pais da religião israelita como Abraão, Isaque e Jacó?
Diversos códigos legais foram encontrados em importantes cidades da
Mesopotâmia, como Nuzi, Eshnuna, Mari e também em Babilônia, atual
território do Iraque. Essas leis descobertas revelaram que os costumes
mesopotâmicos no terceiro milênio a.C. são semelhantes àqueles encontrados
nas histórias dos patriarcas da Bíblia. O Gênesis relata a intenção de Abraão
adotar seu servo como herdeiro. Depois conta que ele teve relações sexuais
com uma serva, indicada pela própria mulher, por ela ser estéril. As duas
práticas correspondem exatamente às leis da época.
Além disso, nomes como Serug, Terá, Abraão e Isaque são comuns no terceiro e
segundo milênios a.C. Curiosamente, eles desaparecem depois dessa época.
Êxodo
A miraculosa história da libertação dos israelitas do Egito também é
considerada uma peça literária, criada por judeus levados cativos para
Babilônia, por volta do ano 600 a.C. De fato, nenhum arqueólogo encontrou
qualquer documento egípcio que mencione o nome de Moisés ou a travessia
do Mar Vermelho. Mas a ausência de um registro egípcio sobre o êxodo não é
de se estranhar, principalmente em relação a uma derrota tão humilhante. Os
egípcios não seriam os primeiros nem os últimos a suprimir passagens
autodepreciativas da história.
Ainda assim, há evidências arqueológicas que devem ser consideradas.
O papiro de Ipwer, datado de aproximadamente 1400 a.C., menciona diversas
tragédias no país dos faraós, inclusive o Nilo transformando-se em sangue,
conforme conta o Êxodo. Outra evidência é a estela do faraó Merneptah, uma
pedra polida do tamanho aproximado de uma porta que traz a inscrição mais
antiga com o nome Israel. Ali, os hebreus são definidos como um povo nômade
e inimigo do Egito, por volta de 1220 a.C.
Deve-se lembrar também que o pano de fundo da narrativa bíblica do
êxodo é egípcio. Há uma infinidade de nomes egípcios nesta parte do Antigo
Testamento. Diversas palavras hebraicas usadas pelo autor têm sua origem
em termos do antigo egípcio. Sendo que o apogeu da língua egípcia na região
ocorreu em meados dos anos 1500-1100 a.C., e não em 600 a.C., parece mais
razoável aceitar que esta história deve ter sido escrita por volta de 1400 a.C., e
não inventada no cativeiro babilônico quase mil anos depois, em um ambiente
caldeu.
Monarquia
A existência de um império israelita, como descrito pela Bíblia, é mais
uma fonte de dúvida para estudiosos. Mesmo porque, segundo alguns, a
população da Palestina no décimo século a.C. não era muito significativa. Um
dos proponentes desta visão é Philip Davies, acadêmico da Universidade de
Sheffield. Para ele, Davi não é mais histórico que o rei Artur e os cavalheiros da
Távola Redonda!
A lacuna das evidências, porém, começou a ser preenchida, em 1994.
Nesse ano, o arqueólogo Avraham Biran encontrou em Tel Dan, norte de
Israel, um fragmento de uma inscrição comemorativa, com a expressão
hebraica bytdwd. A expressão significa literalmente “casa de Davi”. Pela
primeira vez, o nome Davi foi encontrado num documento fora da Bíblia.
Os nomes de vários reis do período da monarquia dividida de Israel
também foram desenterrados pelos arqueólogos em documentos das nações
vizinhas. O “obelisco negro de Salmanazar III”, por exemplo, menciona o nome
do rei Jeú, que governou Israel durante 28 anos. Já o Prisma de Taylor,
descoberto em 1830, cita o nome de Ezequias (Khazakiau), rei de Judá, e o
nome da capital do reino, Jerusalém (Ursaliimu).
Exílio Babilônico
Babilônia, Nabucodonosor e Belsazar eram também considerados
elementos do universo da ficção, sendo reabilitados ao mundo real por
achados arqueológicos. Em meados de 1899, o alemão Robert Koldewey
escavou as ruínas de Babilônia. Com a descoberta das ruínas desta grande
cidade, uma infinidade de textos cuneiformes foram encontrados e traduzidos.
Nestes tabletes são mencionados os nomes Nabukudurriusur (Nabucodonosor)
eBelsharusur (Belsazar).
Novo Testamento
Da mesma forma que muitas histórias do Antigo Testamento contêm
evidências palpáveis de sua autenticidade, os relatos do Novo Testamento têm
demonstrações fora da Bíblia de que suas histórias correspondem aos fatos.
Até a década de 1950, o que se conhecia sobre Nazaré era o que os
evangelhos diziam. A informação parecia no mínimo duvidosa. Nenhuma outra
literatura mencionou uma cidade com esse nome até o sexto século d.C.
Conclusão: os escritores cometeram um erro crasso. Poucos anos depois, em
1955, o arqueólogo italiano Berlamino Bagatti encontrou as ruínas da antiga
Nazaré, que no primeiro século da era cristã não tinha mais de 700 habitantes.
O mesmo pode se dizer de Cafarnaum e outras cidades mencionadas nos
quatro evangelhos.
A historicidade de diversos nomes mencionados no texto dos
evangelhos também foi confirmada através de fontes arqueológicas. Pilatos,
Caifás, João Batista e Herodes são apenas alguns exemplos. Recentemente, a
tumba deste último personagem, o rei Herodes, foi encontrada pelo arqueólogo
Ehud Netzer, em Jerusalém.
Muitas práticas descritas nos evangelhos são mais uma vez confirmadas
hoje. O censo romano, os valores monetários e aquilo que os romanos
chamavam de crurifragium, o ato de se quebrar as pernas do crucificado para
apressar sua morte, são alguns exemplos destas confirmações.
Caminhos que se cruzam
Na realidade, a crença cristã é anterior aos achados arqueológicos e não
depende deles para existir. Por outro lado, a ciência arqueológica é
independente da revelação e trabalha dentro de seus próprios métodos. Mas
em vez desses dois caminhos se oporem, vimos que muitas vezes eles se
cruzam e o peso das evidências se une à realidade da revelação.
Pensando nisso, os cristãos não pretendem ter provas para todas as
dúvidas da Bíblia, mas também sabem que sua fé não é uma ficção irracional.
Há dúvidas, mas também evidências. Michael Hasel, arqueólogo americano,
disse certa ocasião: “Somente uma fração da evidência sobrevive debaixo da
terra. Somente uma fração dos possíveis sítios arqueológicos tem sido
localizada. Somente uma fração dos sítios localizados tem sido escavados.
Somente uma fração destes sítios escavados tem sido estudada na íntegra.
Somente uma fração do que tem sido escavado tem sido detalhadamente
examinada e publicada. E somente uma fração do que tem sido examinado e
publicado faz uma direta contribuição ao estudo da Bíblia”. Mais de uma vez,
quando esses fragmentos foram achados e estudados, chegou-se à conclusão
de que a Bíblia estava com a razão.

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