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DECISÃO
Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
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Regionais do Trabalho da 1ª, 5ª, 8ª, 9ª, 10ª, 15ª, 17ª e 18ª Região, as quais
“resultaram em bloqueio, arresto, penhora, sequestro e liberação de valores das
contas administradas pelo Poder Executivo para atender finalidade específica,
qual seja, execução de contratos públicos (convênios, contratos de parceria e
contratos de gestão na área da saúde pública)”.
Os atos jurisdicionais impugnados teriam realizado constrições de
recursos públicos oriundos do Fundo Estadual de Saúde (FES), que
devem ter aplicação compulsória na área de saúde.
Defende que as referidas constrições violam o princípio da
independência dos poderes (art. 2º); a competência do Chefe do Poder
Executivo para exercer a direção superior da Administração (art. 84,
inciso II); os princípios e regras do sistema orçamentário (em especial, o
art. 167, incisos VI e X); o princípio do pacto federativo (arts. 1º e 18); e o
princípio implícito da continuidade dos serviços públicos, todos da
Constituição Federal.
Ao final, requer a concessão de medida cautelar para determinar a
“imediata suspensão dos efeitos de decisões judiciais que impliquem em arresto,
sequestro, bloqueio, penhora e liberação de valores nas contas vinculadas ao
Fundo Estadual de Saúde (FES), decorrentes de convênios, contratos de parceria
e de gestão, com a devolução das verbas não repassadas a terceiros”, bem como
determinar aos órgãos da Justiça do Trabalho que se abstenham de
proferir decisões com esse teor.
Pelo despacho de 26/3/2020 (peça 17), anotei que o Requerente
deixara de juntar cópia dos atos impugnados, em desconformidade com a
exigência do art. 3º, parágrafo único, da Lei 9.882/1999, e determinei a sua
intimação para promover a regularização da instrução da petição inicial,
sob pena de indeferimento da presente arguição.
Pela manifestação apresentada em 19/5/2020 (Petição 34123/2020,
peça 19 e seguintes), o Requerente juntou documentos com informações
sobre o repasse e disponibilização de valores oriundos do Fundo Estadual
de Saúde para as entidades favorecidas pelos contratos de gestão que
menciona, bem como atos jurisdicionais da Justiça do Trabalho da 17ª
Região determinando a constrição de recursos financeiros em poder
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decisão em 9/3/1990).
Na hipótese em análise, fundada em juízo de probabilidade, entendo
presentes os requisitos para a concessão da medida cautelar pleiteada.
A organização financeira do Estado visa a efetivar uma série de
direitos fundamentais estabelecidos na Constituição Federal de 1988,
entre os quais se encontra o direito à saúde. Para cumprir esse objetivo, o
texto constitucional estruturou as competências e procedimentos cabíveis
a cada órgão.
No caso sob exame, as constrições realizadas pelo Judiciário
trabalhista, pelo menos em juízo de cognição sumária, parecem ter
usurpado competência do Legislativo ao promover uma transferência de
recursos de determinada categoria de programação orçamentária para
outra. Além disso, retiraram do Poder Executivo a possibilidade de fazer
a correta aplicação do dinheiro público constrito, cuja finalidade
encontra-se vinculada à promoção da saúde no Estado do Espírito Santo.
Tais violações podem comprometer a eficiência da administração
pública capixaba na prestação eficiente e contínua deste serviço público
essencial à população, especialmente se considerada a grave situação de
calamidade e emergência nos serviços de saúde pública em todo o país,
em decorrência da pandemia do novo coronavírus (COVID-19).
Assim, quanto ao fumus boni iuris, não se admite a constrição
indiscriminada de verbas públicas por meio de decisões judiciais, sob
pena de afronta ao preceito contido no art. 167, VI, da CF, e ao modelo
constitucional de organização orçamentária das finanças públicas. Além
disso, as decisões impugnadas na presente arguição afrontam o preceito
da separação funcional de poderes (art. 2º c/c art. 60, § 4º, III, da CF), o
princípio da eficiência da Administração Pública (art. 37, caput, da CF) e o
princípio da continuidade dos serviços públicos (art. 175 da CF).
A possibilidade de constrição judicial de receita pública é
absolutamente excepcional. O texto constitucional o permite apenas em
hipóteses que envolvem o pagamento de dívidas do Poder Público
mediante o sistema de precatórios, conforme o art. 100, § 6º, da CF, ao
tratar da possibilidade de sequestro de verbas em caso de preterição da
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