Bonciani, Rodrigo (Org.) - Encontros Luiz Felipe de Alencastro
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Coleção Encontros
PRÓXIMOS LANÇAMENTOS
Octavio Ianni
Waly Salomão
Luiz Felipe de Alencastro
organização
Rodrigo Bonciani
Encontros
6 Apresentação, por Rodrigo Bonciani
14 Um bom começo 1992
26 Os mal-entendidos da história 1996
48 Intelectuais falam de 68 1998
60 Conversa com o historiador
Luiz Felipe de Alencastro 2002
98 A faixa presidencial e o nó nas utopias 2005
112 A falência do governo Lula
pode trazer uma “onda reacionária” 2005
118 “Lula é a escolha popular” 2006
124 Para os países africanos saírem do deus dará 2006
132 País vê o último episódio da transição democrática 2007
140 “O que me assusta é a ideia de ter Michel Temer
como vice-presidente” 2010
154 A fronteira de outubro 2014
166 “Eu queria fazer História para entender o presente” 2015
202 Escravidão, política e história 2016
208 “Parlamentarismo troncho já existe no país” 2017
230 Cronologia do autor
Apresentação
POR RODRIGO BONCIANI
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Apresentação
POR RODRIGO BONCIANI
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Um bom começo
14
POR LAURENTINO GOMES
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Um bom começo
POR LAURENTINO GOMES
Originalmente publicada
na revista Veja,
em 10 de dezembro de 1992.
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O que é isso?
Até 1964, a opinião pública se restringia a Rio de Janeiro e
São Paulo, com um ou outro movimento regionalista. Hoje, o
Brasil é uma sociedade urbanizada, com uma opinião pública
homogênea nas grandes cidades. Na véspera da votação do
impeachment, as manifestações se alternavam diariamente em
todos os pontos do país. A opinião pública nacional é importante
para o federalismo brasileiro.
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A frase do ano é do ministro
Adib Jatene: “As empreiteiras
comandam o orçamento do
Estado”. Dita por um marxista,
seria uma chacota. Mas vem
de um conservador respeitado.
Retomar o controle do orçamento
é tornar efetiva a representação
da sociedade no Congresso.
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ENCONTROS
E há alguma solução?
A gestão dos problemas nas grandes cidades tem que mudar.
Acabou o tempo do jeitinho, em que o prefeito simpático ao go-
vernador ou ao presidente ganhava mais verbas e ia empurrando
seus problemas com a barriga. Os critérios de arrecadação e
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Os mal-entendidos
da história do Brasil
POR FERNANDO HADDAD
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Os mal-entendidos
da história do Brasil
POR FERNANDO HADDAD
Originalmente publicada
na revista Teoria e Debate,
em julho de 1996.
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E a elite?
A elite era quem tinha a dimensão e a experiência de Estado.
A versão conservadora da história do Brasil é mais consistente
até do que essa outra que prega uma continuidade das lutas do
povo. Se se crê numa humanidade difusa, vítima do capitalismo,
ela também escapa do território, ela não tem mais nada a ver
com a história nacional. É necessário olhar também para os
territórios guaranis do sul, pilhados pelos baneirantes, e Angola,
onde era a demanda brasileira que estava desencadeando um
cataclismo sobre esses povos. O Brasil participou ativamente da
pilhagem da África. Navios e comerciantes negreiros brasileiros
se associaram na pilhagem e escravização de aldeias africanas
no começo do século XIX, depois da Independência. Nós temos
uma responsabilidade diante dos estragos feitos à África por-
tuguesa em particular. Uma visão humanista deveria levar em
conta isso também.
Mas, para voltar à ideia das duas histórias nacionais, as
conservadoras até têm mais consistência, mas têm um grande
limite: a ideia equivocada de que os fenômenos só se resolviam
internamente, não vendo os dois lados do problema. Essa coisa
velha de ficar fazendo do barão de Mauá um sujeito com espírito
empresarial, vítima da burocracia estatal do Império, é um verda-
deiro absurdo. Na primeira revolução industrial era necessário ter
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O Brasil participou ativamente
da pilhagem da África. Navios
de bandeira brasileira foram
pilhar aldeias africanas no
começo do século XIX, depois
da Independência. Nós temos
uma responsabilidade diante
dos estragos feitos à África
portuguesa em particular. Uma
visão humanista deveria levar
em conta isso também.
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carvão e ponto. Se não tinha carvão não havia indústria, pois não
havia mercado mundial de carvão; não existia onde comprar. O
Brasil não tinha carvão, então não tinha indústria. E ademais, um
industrial não faz o capitalismo. Então, há uma espécie de mis-
tificação grotesca que a burguesia faz dos seus próprios heróis.
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existe há 120 anos e ainda não chegou ao Brasil. Não se faz prova
material, não se recolhem impressões digitais quando há crime.
A polícia brasileira é baseada no alcaguete, na tortura, na porrada
e na confissão. Isso vem dessa dupla herança da escravidão e da
Inquisição ibérica.
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fatalidade. A gente não sabe qual efeito isso pode ter na própria
União Europeia, se vai atrasar essa política neoliberal que con-
servadores da Alemanha impõem à Europa, se vai enfraquecê-la
perante a Ásia e a América, ou se isso vai dar numa sociedade
de tipo diferente, mais pobre, mas mais igualitária. Enfim, não
estão definidas as condições. Há uma tendência no horizonte,
mas há um movimento social que não se casa com isso. Há um
potencial de luta ainda muito grande, não há desmobilização
política. Pode haver uma dessindicalização, mas num país como
a França isso não é uma boa notícia para o patronato, porque
é o sinal do retorno a uma insurreição de trabalhadores, a um
modo de protesto social difuso que é muito mais prejudicial para
o capitalismo do que um sindicalismo organizado.
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Intelectuais falam de 68
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POR RICARDO MUSSE
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Intelectuais falam de 68
POR RICARDO MUSSE
Originalmente publicada na
Folha de S. Paulo, em
10 de maio de 1998.
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de consumo etc.
[José Arthur Giannotti] Estava na cara sua ambiguidade. De meu
ponto de vista privilegiado, era evidente que a reação estudantil
era informe. Quando se organizava, o fazia na base da teoria
do foco de Debray e na transposição das experiências da Revo-
lução Cubana, o que nos parecia um disparate, considerando
que estávamos em plena época do “milagre econômico” e que
a guerrilha, ao vir para a cidade, não teria apoio suficiente para
se transformar num verdadeiro processo político. Era chover
no molhado fazer conferências para os alunos, no Grêmio da
Filosofia, alertando contra os perigos de um confronto direto
com os militares. Mas era de chorar ver aquela meninada se
preparando para ser torturada e morrer. Por certos os estudantes
me consideravam um reacionário e um mandarim, mas ficavam
desnorteados quando me propunha a dar seminário sobre Marx
na Faculdade ocupada. Era uma forma de dizer que estava com
eles, mesmo discordando deles.
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POR JOSÉ G. V. DE MORAES E JOSÉ M. REGO
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repúdio ao golpe. Foi por causa dessa ameaça que tive ajuda para
obter a bolsa francesa. Houve a intervenção, junto à embaixada
francesa, de pessoas francófilas e ligadas ao governo do Jango,
como Victor Nunes Leal, Evandro Lins e Silva, Hermes Lima, que
eu conhecia e que tentaram me proteger. Depois que eu saí a
barra ficou muito mais pesada em Brasília. O meu amigo e vice-
-presidente da FEUB, Paulo de Tarso Celestino e o Honestino Gui-
marães, nosso calouro e sucessor na FEUB, foram assassinados
pela ditadura. Outros foram presos, torturados e abandonaram
seus estudos. Isso me marcou pelo resto da vida. Chegando na
França, fiquei amigo de um casal de estudantes parisienses. Disse
a eles que estava com vontade de fazer História e não Ciência
Política. Ciência Política era muito conservadora em Paris. Aí eles
me disseram, “vá a Aix-en-Provence que é a melhor faculdade de
História da França e é um lugar muito agradável; com essa pouca
grana da sua bolsa, lá você se vira”. E eu fui para lá. Inscrevi-me
em Ciência Política, conforme me obrigava a bolsa francesa, mas
comecei também a fazer a graduação de História. E tive a sorte
de encontrar professores formidáveis, como Paul Veyne, Maurice
Agulhon, Michel Vovelle, Georges Duby. Aix-en-Provence possuía
a Faculdade de História mais avançada da França, e talvez da
Europa, naquela altura. A cidade era pequena e fui um pouco
adotado pela estudantada e pelos professores, naquele clima
fraternal do final dos anos 1960. Aproximei-me bastante de al-
guns professores e fiquei amigo do Duby e de sua família. Em Aix
também conheci alguns estudantes africanos, uns caras muito
preparados, muito dignos e sofridos por causa das tragédias que
atravessavam seus países e o seu continente. Com eles aprendi
que na África as coisas são sempre piores do que no Brasil e na
América Latina. Rolava muita coisa na cidade. O movimento
“occitan”, em favor da autonomia do sul da França; estudantes
da Córsega que depois entraram na luta pela independência
da ilha. Havia também estudantes americanos, alguns deles
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Já que citou Braudel, você teve algum tipo de contato com ele?
Muito pouco, porque ele já estava fora do circuito do ensino.
Eu publiquei um artigo em 1980, um resumo da primeira parte
da minha tese, mandei para ele e aí a gente conversou. Mas
foi uma das poucas vezes. Na época, ele estava redigindo e
reescrevendo os capítulos do seu livro Civilização material,
economia e capitalismo. Era sempre muito amável com os
brasileiros, mas estava concentrado neste trabalho e creio que
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A entourage…
Uma parte da entourage dele. Aí eu pensei: “Ah, isso eu quero
ver de perto”. Devo dizer, mesmo depois das diversas decepções
sofridas, que a vitória do Mitterrand, em junho de 1981, e as se-
manas seguintes, com a esquerda ganhando também as eleições
legislativas, foram das coisas que me deixaram mais feliz na vida.
Quando ele morreu, em 1996, fui com meu filho na homenagem
fúnebre organizada na praça da Bastilha, onde a vitória de 1981
havia sido comemorada. Meu filho ficou impressionado, porque
era a primeira vez que ele via uma tristeza coletiva dessas, uma
grande multidão recolhida e emocionada.
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sos parceiros. Como vai ficar depois, eu não sei. Mas vai mudar
radicalmente a instituição e talvez a torne menos pluridisciplinar,
o que será ruim.
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Angola é a centralidade…
Angola e os portos africanos de tráfico são a centralidade,
porque é a partir deles que se forja a unidade das diferentes
capitanias e, depois, das diferentes províncias do Império do
Brasil. Isso se dá em três tempos. Num primeiro tempo, o Estado
do Grão-Pará e Maranhão, ou seja, parte do atual Rio Grande do
Norte, o Ceará, o Piauí, o Maranhão e o Pará, incluindo aí toda
a Amazônia, não se comunicava com o restante do Brasil por
causa das correntes marítimas adversas. Ao inverso, as correntes
do anticiclone de Capricórnio uniam os enclaves escravistas do
Nordeste e do Rio de Janeiro a Angola e à Costa da Mina. Até o
final do século XVII, a soma das histórias das diversas capitanias
não é suficiente para entender a história da América Portuguesa.
A conta que proponho é mais complexa, e consiste na operação
seguinte: tome-se o total das capitanias da América Portuguesa,
subtraia-se o Rio Grande do Norte, o Ceará, o Piauí, o Mara-
nhão e o Pará (a Amazônia) e adicione-se Angola ao restante
do Brasil. O que existe na América Portuguesa são economias
regionais e comunidades dispersas. Gente que eu chamo, como
Brito Freire e outros autores seiscentistas, de “brasílicos”, não
de luso-brasileiros ou de “brasileiros”. Essa gente “brasílica” já
possuía uma identidade diferente da dos reinóis, dos portugueses
de Portugal – como os moradores de Goa, de Macau e os outros
luso-asiáticos espalhados na imensidão do Estado da Índia –, mas
não tinha ainda ideia de seu pertencimento a uma comunidade
única encravada na América Portuguesa. Isso é a economia do
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Para quem não leu o seu trabalho essas suas ideias podem
parecer uma determinação econômica da história, um econo-
micismo de sua parte…
Mas quem ler o livro vai ver que não é…
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E o Gilberto Freyre?
É ainda mais complicado. Mais complicado, porque em 1974,
quando estourava a descolonização portuguesa, aparecia o pre-
fácio dele à edição de bolso francesa de Casa-grande & senzala
onde ele reiterava suas teses sobre o luso-tropicalismo, sobre a
adaptação dos portugueses aos trópicos. Naquela altura, nem
o Vaticano acreditava mais nisso. Em 1970, no auge da guerra
colonial portuguesa, o papa Paulo VI teve a audácia de encontrar
os dirigentes do MPLA [Movimento Popular para a Libertação
de Angola], da Frelimo [Frente de Libertação de Moçambique]
e do PAIGC [Partido Africano para a Independência da Guiné e
Cabo Verde] para ver se garantiria ali a continuidade do catoli-
cismo depois do desabamento da colonização portuguesa. O
recenseamento de 1960 mostrava que só havia 1% de mulatos
entre os habitantes de Angola, menos do que na África do Sul do
apartheid, onde havia 9%.
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A faixa presidencial
e o nó nas utopias
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POR LAURA GREENHALGH
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A faixa presidencial
e o nó nas utopias
POR LAURA GREENHALGH
Publicada originalmente no
jornal Estado de S. Paulo,
em 6 de março de 2005
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É a ressalva que faço. Tudo leva a crer que Fidel Castro deixará
o comando só quando morrer. Isso é uma tragédia para o povo
cubano, que mereceria uma transição política com Fidel vivo,
visando a um futuro mais seguro e menos obscuro. Essa é uma
questão crucial da democracia no continente. A centro-esquerda
latino-americana deveria ter em mente que o povo cubano está
cada vez mais vulnerável à revanche dos americanos, dos exilados,
dos grupos anticastristas, numa situação muito difícil. A transição
não deveria depender do tempo de vida que resta a Fidel.
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Por quê?
Condoleezza é uma intelectual, uma professora univer-
sitária com experiência administrativa, uma estudiosa com
visão abrangente do mundo, ainda que sua especialidade seja
a Rússia. Powell é, acima de tudo, um militar. Um fato pode
exemplificar o que estou dizendo: foi Condoleezza quem levou
Sérgio Vieira de Mello para ter um encontro discreto com Bush,
antes de ele ser apontado administrador da ONU no Iraque.
Ela fez as apresentações, o que denota a existência de uma
rede própria de contatos. Zoellick, como já disse, entende de
América Latina. O recente anúncio da venda de aviões militares
do Brasil para a Venezuela já foi comentado no Comitê de Re-
lações Exteriores do Congresso americano por Roger Noriega,
subsecretário de Estado para o Hemisfério Ocidental. Ele diz
que o governo acompanha o caso e que as vendas do Brasil
para Chávez não preocupam os EUA. Enfim, logo houve uma
manifestação.
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E assinou besteira.
Completamente. Ricupero tem razão ao dizer que é algo iné-
dito. Pela primeira vez na história da humanidade está se criando
a frio, sem guerra, uma unidade política nova. Uma unidade
que nasce pelo entendimento, pelo voto, pela negociação, pela
arbitragem. Aqui na Sorbonne, vejo os efeitos disso ao cruzar
com estudantes que vêm de Portugal, da Polônia, da Hungria...
A moeda européia está forte, já afeta o dólar. A Coréia do Sul
anuncia que vai aumentar suas divisas em euro. Então imagine
quando a Rússia preferir receber euros pelo petróleo que vende
ao mundo? O impacto da UE é impressionante do ponto de vista
cultural também. País membro não pode adotar a pena de morte.
Há um tribunal europeu de direitos humanos que é superior aos
tribunais nacionais, e a França já foi condenada algumas vezes,
com indenizações pesadas a pagar. Enfim, esse processo de
enquadramento jurídico tem efeito civilizador.
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Como historiador do Atlântico
Sul, eu olho o continente e diviso
uma realidade na América andina,
outra realidade na América índia e
ainda outra realidade na América
negra, que somos nós, brasileiros.
As ligações mais profundas do
Brasil são com a África e com as
Antilhas. Nosso passado indígena
não teve a grandiosidade do
passado inca, asteca, maia, com
suas reverberações contínuas.
Portanto, essa grande ‘pátria latino-
americana’ não existe. É uma figura
de retórica que dura 200 anos, sem
corresponder às matrizes históricas.
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112
POR FLÁVIA MARREIRO
LU I Z F E L I P E D E A L E N C A S T R O
Publicada originalmente no
jornal Folha de S. Paulo,
em 19 de setembro de 2005
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A única frase grave que houve na
crise, e que passou meio batida,
é a frase do Bornhausen: ‘Nós
agora vamos nos livrar dessa
raça por muitos anos’. A maneira
de falar da esquerda como raça
é um ranço profundo da UDN
mais reacionária, de onde o
Bornhausen vem, e é isso que
está no horizonte de um fracasso
do governo Lula e do PT. Não é
um retorno da situação anterior,
de uma presidência tucana
civilizada. É o retorno do recalque
mais boçal do Brasil.
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LU I Z F E L I P E D E A L E N C A S T R O
118
POR RAFAEL CARIELLO
LU I Z F E L I P E D E A L E N C A S T R O
Publicada originalmente no
jornal Folha de S. Paulo,
em 15 de outubro de 2006
120
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Faz todo o sentido a oposição
feita pelo Lula entre “povo”
e “elite”. Afinal o que se está
querendo neste país? Que os
evangélicos e a polícia resolvam
os problemas gerados pela
miséria e as desigualdades? É
fundamental que essas opções
sejam assumidas por um partido
inserido no jogo democrático, por
um presidente respeitador das
instituições. A ideia de conflito
de interesses é fundamental no
funcionamento da democracia.
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124
POR ÁLVARO KASSAB
LU I Z F E L I P E D E A L E N C A S T R O
Publicada originalmente no
Jornal da Unicamp,
em novembro de 2006
126
ENCONTROS
Houve um retrocesso?
Exatamente. Essas línguas já haviam sido dicionarizadas
desde o século XVI. E eram dicionarizadas em português, e não
em latim, alemão, inglês ou francês. Não houve uma renovação
e interesse por esse material. O Dicionário Houaiss já dá mais
atenção, mas não a devida. Esses dicionários mais antigos são de
fácil acesso. A Biblioteca Nacional de Lisboa, por exemplo, tem
duas dezenas de dicionários de língua africana, compreendendo
um período que vai do final do século XIX até o final do século
XX, alguns deles editados inclusive por missionários.
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ENCONTROS
E no campo diplomático?
Acho que, hoje, o Brasil está muito atento. De duas maneiras.
A primeira com a abertura de embaixadas na África. Temos hoje
cerca de 30, o que não é pouca coisa. E o Itamaraty tem um sis-
tema de recrutamento de estudantes negros, que já vem desde
os tempos do governo de Fernando Henrique Cardoso, de modo
que se trata de uma coisa consensual.
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POR GABRIEL MANZANO FILHO
LU I Z F E L I P E D E A L E N C A S T R O
Publicada originalmente no
jornal O Estado de S. Paulo,
em 9 de agosto de 2007
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Ser de esquerda é lutar por
justiça social. E a injustiça social
é a coisa mais espalhada que
há no mundo. No entanto, a
ideia de que se pode alcançar
a justiça social à custa de
ações do Estado chegou a um
limite. É preciso buscar novos
caminhos, mobilizar a sociedade
num ambiente onde atuam os
mecanismos de mercado.
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[SEM CRÉDITO]
LU I Z F E L I P E D E A L E N C A S T R O
Publicada originalmente no
jornal Valor Econômico,
em 12 de abril de 2010.
E a perspectiva política?
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ENCONTROS
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O que me assusta é a ideia de
ter Michel Temer como vice-
presidente. Ele é deputado há
décadas e foi presidente da
Câmara duas vezes. Controla a
máquina do PMDB e o Congresso
à perfeição. Vai compor chapa
com uma candidata que nunca
teve mandato e é novata no PT. O
presidencialismo pressupõe um
vice discreto, porque ele é eleito
de carona, para trazer alianças e
palanques.
ENCONTROS
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LU I Z F E L I P E D E A L E N C A S T R O
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ENCONTROS
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ENCONTROS
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LU I Z F E L I P E D E A L E N C A S T R O
150
ENCONTROS
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LU I Z F E L I P E D E A L E N C A S T R O
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ENCONTROS
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LU I Z F E L I P E D E A L E N C A S T R O
A fronteira de outubro
154
POR DIEGO VIANA
LU I Z F E L I P E D E A L E N C A S T R O
A fronteira de outubro
POR DIEGO VIANA
Publicada originalmente no
jornal Valor Econômico,
em 26 de setembro de 2014
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ENCONTROS
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Lula decidiu sozinho, impôs, não
teve convenção, nem nada. É
claro, já tem uma despolitização.
O PT foi decapitado também.
Não tem liderança política. O
mensalão decapitou o partido.
Não surgiu outra liderança com
experiência política. A única
liderança que apareceu foi o
Fernando Haddad,
e ainda dando cotovelada para
abrir espaço dentro do PT.
ENCONTROS
ninguém sabe bem o que é isso. O que Marina vai fazer? Essa
expressão passa também a ideia de um país sem conflito, sem
grupos sociais com visões profundamente divergentes. É despoli-
tizante. Ela vai ser presidente de um país dividido, com interesses
conflitantes. Isso é normal num país complexo. Um país onde os
interesses não se exprimam no jogo institucional ou é ditadura
ou é um país passivo diante do Estado.
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ENCONTROS
Pelo que o senhor está dizendo, ela anunciou que seu mandato
vai ser um tampão.
O que é uma grande ilusão, porque, fora do governo, o PT vai
ser um grande partido de oposição. Vai desabar aqui e lá, mas
vai se reestruturar. Marina é uma liderança carismática vinda de
um partido tão pequeno que não conseguiu se viabilizar. Ela se
instalou num partido maior, que não é seu. Esses ingredientes
estavam presentes nas crises de 1961 e 1992. Por isso, não me
parece absurdo lembrar Jânio Quadros e Fernando Collor.
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ENCONTROS
E quanto a Marina?
É a mesma ausência de articulação. A bandeira do meio
ambiente, em que o Brasil tem posição de destaque, com a de-
fesa da Amazônia, é um tema de interesse mundial e ela é uma
militante de base. Foi convidada na Olimpíada de Londres para
desfilar, foi a única brasileira. Há gente no mundo todo interes-
sada no que ela tem para dizer, mas ela não coloca em debate
a política externa.
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O senhor fez uma célebre defesa das cotas raciais nas universi-
dades, no STF, em 2010. Como avalia o que ocorreu de lá para cá?
Na época, argumentava-se que as cotas criariam conflitos. E
não há conflito. Há mais conflito com o trote do que com alunos
negros. Os estudantes receberam essa novidade pacificamente.
Tem sido um sucesso. A coisa mais visível para quem não morava
no Brasil, progressivamente, é a presença da população negra
em postos de classe média.
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POR ALEXANDRE MORELI, BERNARDO BUARQUE E
MARCO AURÉLIO VANUCCHI
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o dinheiro dessa sua bolsa, aqui em Paris, você não vai longe;
agora, em Aix-en-Provence, você vira um rei; com um Solex –
uma bicicleta motorizada –, um carnê de tíquetes do restaurante
universitário e a sua bolsa, você é dono da cidade." [risos] Eles
sabiam também que eu queria sobretudo estudar História e me
disseram que Aix tinha a melhor Faculdade de História da França.
Então foi para lá que eu fui.
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Todas mulheres.
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No Collège?
No Collège. Na aula inaugural do Foucault estava o tout Pa-
ris... [riso]. Na aula do Barthes havia o tchan intelectual e mais o
tchan elegante, moças e senhoras de chapéu... Na aula inaugural
do Duby tinha pouca gente na moda, mas penso que ele gostou
desse contraste. Ele escreveu livros de história da arte, de histó-
ria agrária e econômica, história das mentalidades, e também
reinventou a história das batalhas e a biografia histórica, como
em o Guillaume le Maréchal. Por isso ele achava que os velhos
mestres dos Annales já faziam o que Jacques Le Goff depois
intitulou la nouvelle histoire. A temática da biografia inserida
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ENCONTROS
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O Fluxo e refluxo.
Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a
Bahia de Todos os Santos, de 1968. Braudel dirigiu a tese e publi-
cou esse livro do Verger. Mas ele não cita o Verger em Civilisation
matérielle. Mais curioso ainda, ele diz que o esquema geral do
tráfico negreiro era o comércio triangular. Quando ele aborda a
questão do tráfico, cita essencialmente o livro do Philip Curtin
sobre a Senegambia, junta lá um outro material, mas não tem
Boxer, nem Verger... O livro do Curtin, sobre o balanço do tráfico
negreiro, saído em 1969, já era bem conhecido. Mas Braudel
também não o utilizou.
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ENCONTROS
British Library. Hoje, você vai nos sites e está tudo lá, a coleção
completa digitalizada.
Entre outras coisas, eu percebi que havia um problema, no
século XIX, com o tráfico. Um problema que Caio Prado Jr. e
Stanley Stein já tinham observado: como o Império havia resis-
tido tanto tempo às pressões inglesas para manter o tráfico de
africanos até 1850? Achei que devia estudar o assunto do final
para o começo, seguindo o "método regressivo" aconselhado por
Marc Bloch, partindo de 1850 para os períodos anteriores. Meu
orientador, Mauro, tinha me proposto estudar o Barão de Mauá,
a ruptura do tráfico, a reciclagem de capitais negreiros, que era
história econômica. Eu pensei: não, bom é ir para trás. Propus a
mudança do tema e ele topou.
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Como assim?
As formulações dele passaram para o Roberto Simonsen,
para o Caio Prado, para Celso Furtado, e se estabeleceram como
padrão de modelos coloniais estudados nas universidades bra-
sileiras. Leroy-Beaulieu escreveu que há dois tipos de colônia,
colônia de exploração e colônia de povoamento. Todo mundo
estudou e ainda estuda isso no Brasil. Porém ele analisava expli-
citamente a segunda expansão europeia, estadunidense e russa
(no Cáucaso), que estava em curso quando ele publicou seu
livro. Leroy-Beaulieu desconsidera as feitorias e os entrepostos,
enfiando tudo na categoria de colônia de exploração, porque
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é algo que nem passou pela cabeça deles. Como também não
passou pela cabeça dos portugueses colonizar a China a partir
de Macau. Só os jesuítas tiveram essa ilusão, mas do jeito deles,
como "conquista espiritual".
Na América portuguesa o processo foi diferente, o que explica
em boa parte a sua singularidade: trata-se do único agregado
colonial europeu na América que não se fragmentou na indepen-
dência. De fato, a junção da exploração do ouro e da importação
maciça de africanos permitiu que Minas Gerais se tornasse o
centro dinâmico da economia brasileira no século XVIII, como
Celso Furtado mostrou. Antônio Cândido mostrou também que
este processo engendrou a literatura brasileira. Os dois escreve-
ram isso em 1959 nos seus respectivos livros, ambos intitulados
Formação: da economia brasileira e da literatura brasileira.
É isso que transforma o Brasil numa colônia: a soma da
dinâmica do ouro com a dinâmica negreira sul-atlântica. Aí
sim, quem quiser pode tascar o "C" maiúsculo. Não é à toa que
é também no início do século XVIII que o designativo "brasilei-
ro" vira substantivo de naturalidade. A propósito, note-se que o
Brasil e a Costa do Marfim são os únicos países do mundo que
têm nome de mercadoria, de commodity. E o Brasil é o único país
do mundo no qual o substantivo de naturalidade deriva de uma
função mercantil, no caso, comerciante de pau-brasil. Porque o
sufixo “eiro”, nas línguas neolatinas, em francês, em italiano, em
espanhol, em português, indica função, não naturalidade. Não
é brasiliense, ou brasiliano, como canadense ou americano, é
brasileiro, como pedreiro, carpinteiro, padeiro.
Para avaliar as transformações do século XVIII, quando
emergem o mercado interno e os contextos econômicos e
culturais protonacionais, é preciso entender como os enclaves
comerciais e produtivos do litoral se juntaram ao centro mineiro.
É claro que o ouro teve um papel fundamental, mas o Atlântico
Sul também. Graças ao fluxo maciço de africanos que chega aos
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E depois da Independência?
Sem entender que o Brasil tinha um pulmão em Angola não
se compreende por que o Império insistiu tanto, e quase foi à
breca em 1850, na sua obstinação em manter o tráfico frente
ao poderio da Inglaterra e da Royal Navy. Bernardo Pereira de
Vasconcelos, senador e conselheiro de Estado, um dos pais da
pátria, achava que o Brasil acabava se o tráfico fosse extinto.
Essa ligação orgânica das duas partes sul-atlânticas relativiza
a ideia de territorialidade. A economia brasileira tinha uma
dependência orgânica do acesso aos mercados negreiros afri-
canos, de Angola, mas também da Senegâmbia, da Costa da
Mina e de Moçambique. E isso é que é a diferença do Brasil,
no século XIX.
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Por quê?
Porque a historiografia dominante é baseada num modelo
calcado no Paul Hazard, na Inconfidência Mineira, situando a
crise do sistema colonial no século XVIII. Não, o problema já
vinha do XVII, quando Portugal estava sob domínio espanhol
e perdeu boa parte da Ásia, tendo assim que se associar às oli-
garquias dos colonos do Brasil para gerir o Atlântico Sul, para
reconquistar Angola e manter sua presença na Costa da Mina.
Isso se transformou numa cogestão portuguesa e luso-brasileira
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Como assim?
O espaço latino-americano é aspirado e dividido por forças
centrífugas interiores e exteriores ao continente americano. Re-
sumindo bastante, é possível afirmar que o México foi engolido
pelos Estados Unidos no âmbito da NAFTA, e o Chile e o Peru
se conectam à Ásia, através do Tratado Transpacífico. O peso da
China também puxa parte da América do Sul para o Pacífico.
Paralelamente, o Atlântico Sul e as ligações transversais entre a
África subsaariana e a América do Sul voltaram a crescer depois
da longa interrupção que vai do final do tráfico negreiro, em
1850, até a independência das colônias africanas, entre 1957 e
1975. Inclui-se aí também a articulação entre o Brasil e o Rio da
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ENCONTROS
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As conexões com a África vão bem
além das iniciativas da diplomacia
ou das empreiteiras brasileiras.
Há todo um circuito de trocas
que está sendo retomado. Sem
forçar os fatos, é possível dizer
que tem na África um soft power,
conceito definido por Joseph
Nye, que se refere à “influência
branda” cultural, oposta ao hard
power imposto pelas armas e pela
coerção econômica.
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POR RODRIGO BONCIANI
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Publicada originalmente na
Revista Latino-Americana de
Estudos Avançados, em julho de 2016
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Há uma dinâmica das relações
entre a América Latina e a
África que deve ser apropriada
pela sociedade civil e por
outras instituições, há também
o interesse genuíno dos
pesquisadores de recuperar
essa história e fornecer novos
elementos para essa construção
no presente e no futuro.
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“Parlamentarismo troncho
já existe no país”
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POR RICARDO MENDONÇA
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“Parlamentarismo troncho
já existe no país”
POR RICARDO MENDONÇA
Publicada originalmente
no jornal Valor Econômico,
em 11 de agosto de 2017
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política tal como ela foi feita no Brasil por 200 anos. A política
no Brasil sempre teve a autoridade local, que dependia de uma
oligarquia regional, e o governo central. Agora tem as decisões
da Justiça. Às vezes anônimas, às vezes sentenciadas por juízes
muito jovens entranhados na mídia.
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O filósofo Rui Fausto disse que torce para Lula ser absolvido,
mas acha que o melhor seria não ter Lula candidato. Concorda?
Ah, não adianta muito, a opinião da gente não pesa. Mas,
evidentemente, acho que o próprio Lula acha isso. O Lula, como
todo grande líder, tem um problema com a própria sucessão. Ele
escolheu a Dilma justamente porque ela não era uma ameaça
e deu no que deu. Se ele for cercado de ações judiciais, com o
tribunal hostil, ele sabe que não adianta dar soco na ponta de
faca. Seria uma coisa muito perigosa o PT não ter candidato ou
o Lula insistir numa candidatura que ficasse pendente de um
julgamento.
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E Ciro Gomes?
Ele faz maioria dos votos no Ceará, mas é 0,5% do Brasil. E
também reage de maneira exaltada a qualquer provocação. Vai
ter três por dia. Então é um candidato muito cheio de ciclos.
Aliás, é um bom termômetro: ele elogia Lula quando Lula está
em má posição, e ataca quando Lula sobe. Agora começou a
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ENCONTROS
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ENCONTROS
1975 1991
Reconhecimento do Estado brasileiro à inde- Fim do regime de apartheid na África do Sul.
pendência de Angola. “Eu acho que isso não é 1992
do lado positivo, mas do negativo, a ditadura Impeachment do presidente Fernando Collor,
botou novamente a diplomacia na mão do assume seu vice, do Partido do Movimento
salazarismo e matou o embrião de política Democrático Brasileiro (PMDB), Itamar
externa independente, que certamente iria Franco. “A importância desse período da
pesar numa aceleração das independências História está no aspecto político. Foi o ano
das colônias portuguesas.” do impeachment e da emancipação política
1976-1986 da sociedade brasileira”.
Escreve assiduamente no Le Monde Diplo- 1993
matique sob o pseudônimo de Julia Juruna. Plebiscito sobre a forma de governo no Brasil:
1978 monarquia, parlamentarismo ou presidencia-
Primeira conferência mundial da ONU para o lismo. Alencastro faz campanha a favor da re-
combate ao racismo e à discriminação racial, forma do sistema vigente, o presidencialismo.
realizada em Genebra, Suíça. Criação do Mo- 1994
vimento Negro Unificado, no Brasil. Fernando Henrique Cardoso é eleito, em pri-
1981 meiro turno, presidente do Brasil pelo Partido
Eleição de François Mitterrand para presiden- da Social Democracia Brasileira (PSDB), Lula
te da França, Alencastro decide continuar em fica em segundo lugar. A palavra “economia”
Paris “a vitória do Mitterrand em junho de é retirada do título da revista dos Annales.
1981, e as semanas seguintes, com a esquerda Alencastro faz a livre-docência no Instituto
ganhando também as eleições legislativas, de Economia da Unicamp.
foram das coisas que me deixaram mais feliz 1994-1996
na vida.” Pós-doutorado na Universidade de Paris IV
1986 (Sorbonne), com Kátia Mattoso, o plano era
Volta ao Brasil, onde se torna pesquisador do transformar sua tese de livre-docência em livro.
Centro Brasileiro de Análise e Planejamento 1997
(Cebrap) e professor de história econômica Organizador do volume II de História da Vida
na Unicamp (ambos até 1999). Privada no Brasil. Império: a corte e a moder-
1988 nidade nacional.
É promulgada a Constituição Federativa do 1998
Brasil. A abolição da escravidão no Brasil com- Fernando Henrique Cardoso é reeleito pre-
pleta 100 anos, o evento foi marcado por gran- sidente do Brasil em primeiro turno, Lula é o
de mobilização política, social e intelectual. segundo colocado.
1989 1999
Primeira eleição democrática para a presi- Retorna à França para ser professor visitante
dência do Brasil depois da ditadura militar, de história do Brasil na Universidade de Paris
Fernando Collor de Mello, do Partido da Re- IV - Sorbonne.
construção Nacional (PRN), vence Luís Inácio 2000
Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores Lançamento do livro O trato dos viventes:
(PT), no segundo turno. formação do Brasil no Atlântico Sul, séculos
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XVI e XVII. É aprovado em concurso para ser brésilien de l’Atlantique Sud 1550-1850”, na
professor titular da cátedra de História do revista Annales.
Brasil na Sorbonne (até 2014). 2009
2001 Professor visitante da Universidade de York,
Conferência mundial da ONU contra o racis- Toronto, Canadá.
mo, discriminação racial, xenofobia e formas Alencastro publica na Folha de S. Paulo
conexas de intolerância, realizada em Durban, (25/10), o artigo “Os riscos do vice-presiden-
África do Sul. cialismo” argumentando que Michel Temer,
2002 muito mais experiente do que Dilma Rousseff,
Lula é eleito presidente do Brasil no segundo poderá derrubá-la da presidência.
turno, José Serra (PSDB) é o segundo coloca- 2010
do. Alencastro é pesquisador sênior da John Parecer de Luiz Felipe de Alencastro no STF
Carter Brown Library na Universidade de contra a Arguição de Descumprimento de
Brown, EUA (também em 2004). Preceito Fundamental, ADPF/186, apresen-
2003 tada pelo partido Democratas (DEM) sobre
A Lei 10.639 determina a obrigatoriedade do a política de instituição de cotas raciais pela
ensino de História da África e da cultura afro- Universidade de Brasília (UnB). Em 2012, o
-brasileira no ensino básico no Brasil. Difusão relator Ricardo Lewandowski considerou a
de cursos de História da África nas universida- ADPF improcedente e considerou que as cotas
des brasileira. Luiz Felipe de Alencastro viaja visavam a superação de distorções sociais
para Angola, logo depois da primeira visita de históricas, os ministros, por unanimidade,
Lula ao país. Ao longo de dois governos, Lula acompanharam seu voto. Dilma Rousseff é
criou novas embaixadas na África. eleita presidente do Brasil pelo PT, depois de
2005 vencer José Serra (PSDB) no segundo turno.
No dia 14 de maio, a revista Veja denuncia 2011
esquema de corrupção nos Correios que se Eleito membro da Seção de História e Ar-
desdobrará no chamado escândalo do men- queologia da Academy of Europe, sediada
salão. Os 38 réus do processo foram julgados em Londres.
no STF, em 2012. 2012
2006 Professor visitante da Universidade de
Lula é reeleito presidente do Brasil no segundo Massachusetts Dartmouth, EUA. Publica
turno, Geraldo Alckmin (PSDB) é o segundo o capítulo “Mulattos in Brazil and Angola:
colocado. Alencastro declara ter votado em A Comparative Approach, Seventeenth to
Lula, “mas, agora, com um pé atrás. Os erros Twenty-First Centuries”, no livro Racism and
de Lula e os atos delituosos da direção do Ethnic Relations in the Portuguese-Speaking
PT suscitam reflexões pessimistas. Mas o World, Londres.
impulso para o progresso social e a confian- 2014
ça no processo democrático, explicitados Dilma Rousseff é reeleita presidente do Brasil
no voto majoritário que Lula obteve entre em segundo turno, Aécio Neves (PSDB) foi
as camadas populares e a população negra, o segundo colocado. Alencastro é professor
geram o otimismo da vontade de mudan- emérito da cátedra de História do Brasil na
ça.” Alencastro publica o artigo “Le versant Sorbonne (até 2024). Professor titular da
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Coleção Encontros:
a arte da entrevista
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Coordenação editorial
Amélia Cohn e Sergio Cohn
Projeto gráfico
Elisa Cardoso
Capa
Tiago Gonçalves
Foto
Sergio Cohn
Equipe Azougue
Rafaela dos Santos, Tiago Gonçalves e Welington Portella
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[ 2019 ]
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azougue - mais que uma editora, um pacto com a cultura
Trajetória de um polímato
POR SERGIO COHN