Paulo Freire No CMI
Paulo Freire No CMI
Paulo Freire No CMI
So Leopoldo
2009
Tese de Doutorado
Para obteno do grau de Doutor em
Teologia
Escola Superior de Teologia
Instituto Ecumnico de Ps-Graduao
rea: Religio e Educao
So Leopoldo
2009
So Leopoldo
Outubro de 2009
Dedico
Minha gratido
A Deus, no Cristo Libertador, aquele que Paulo Freire encontrou nos trabalhadores e no
nas estruturas hierrquicas da Igreja;
Aos meus amigos-irmos mestres e doutores Jaider, Clemildo, Manolo, Edgar e Jos Luis,
pela acolhida, apoio, incentivo e pelos longos e bons tempos de conversa. Todos eles so
aqueles amigos mais chegados que irmos.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Balduino Antonio Andreola, engajado, sempre amigo,
competente, pelo compromisso freireano para com a educao e a vida.
Ao Instituto Porto Alegre da Igreja Metodista, por ter contribudo de forma extraordinria na
minha jornada acadmica.
Aos colegas, professores e professoras do Centro Universitrio Metodista IPA, pela
convivncia que me permitiu um outro e novo olhar sobre a educao.
Ao Sydney, nosso pastor, amigo e sbio e sua esposa Ceclia, amvel e hospitaleira.
Ao Prof. Dr. Rudolf von Sinner, Rev. Dr. Ioan Sauca, Prof. Dr. Odair Pedroso Mateus, por
tornarem o meu caminho em Genebra menos pedregoso e cuja ajuda no tenho como
pagar.
Faculdade Boas Novas, que me deu o privilgio de trabalhar novamente com a Teologia e
a Pedagogia e conviver com estes campos do saber.
Faculdade Salesiana Dom Bosco, uma instituio confessional catlica romana por ter
acolhido a mim, um protestante. Aos estudantes, na sua maioria das ordens religiosas,
pela nossa convivncia ecumnica.
Edilza, companheira.
Aos meus filhos, Gabriel que me ajudou nas tradues e Laila, por sua doura.
SUMRIO
INTRODUO ............................................................................................................. 10
CAPTULO I PAULO FREIRE: VIDA, OBRAS, FORMAO, INFLUNCIAS E EXLIO NA
AMRICA LATINA ........................................................................................................ 16
1.1
1.2
1.3
1.4
1.5
1.6
RESUMO
Nos modelos econmicos em que o lucro a finalidade subordinam-se todas as instituies sociais
para garantir os benefcios de uma minoria, sustentada pela opresso de uma maioria. Nos territrios
ocupados pelos pases ibricos desde o sculo XV estabeleceu-se uma poltica de controle sobre as
massas denominada de colonialismo. Essa poltica ganhou o selo oficial da Igreja que administrava o
direito internacional e autorizava as ocupaes. Com isso, criou-se nestes territrios uma mentalidade
colonial. Embora independentes, as colnias mantiveram esta mentalidade que deve ser superada e
contra a qual os oprimidos se julgavam incapazes de enfrentar, alimentados pelo discurso
determinista religioso. Este trabalho trata da trajetria de Paulo Freire e do Conselho Mundial de
Igrejas (CMI). Ambos nascidos no sculo XX. Paulo Freire uma pessoa, CMI uma organizao
internacional. Os esforos de ambos so comuns: contribuir na Missio Dei visando a libertao da
pessoa humana. Um contribuiu com sua prxis epistemolgica, outro com o aporte financeiro e
ambos em resposta aos anseios humanos de libertao. A trajetria de Paulo Freire no Brasil, Chile e
Estados Unidos trabalhada no primeiro captulo, e a do CMI no segundo captulo. O captulo trs
reservado para descrever a trajetria de Paulo Freire a partir do CMI. O texto nos oferece leituras de
itinerrios. uma contribuio para manter aceso os ideais do andarilho a esperana que so, num
primeiro momento, a conscientizao, seguida pela libertao e pela emancipao humana.
Palavras-chave: Paulo Freire; Conselho Mundial de Igrejas; conscientizao; libertao.
ABSTRACT
In the actually economic models where sometimes profit its the aim ambition of some groups of
people. All of the socials engagement centers has been usually subordinate to keep safe all of
minoritys privileges which is supported by endless majoritys oppression. Since the XV century, a
massive policy, called by colonialism has been established by iberic countries over crowed of people.
This policy received an official seal of Church which had the responsibility to administrate international
rights and used to concede occupations permission. As a consequence; in this areas, it were created
colonial mentality. Thought independent, colonies have been keeping this kind thought witch must to
be changed, reason why oppressed people judge themselves not able to face this situation, this group
of people have been fed by religious determinism. This work treats to Paulo Freires trajectory in part
to World Council of Churches (WCC). Both of them were born in the XX century. Paulo Freire its a
person, WCC its an International Found. Both efforts are common, it means: to contribute with Missio
Dei seeking freedom of human person. The first one helps with his epistemological praxis and the
second one with the financial support and both with humanities desires of freedom. The Paulo Freires
trajectory in Brazil, Chile and USA its seemed in the chapter one and second one talks about the
WCC. The chapter three its reserved to broach Paulo Freires trajectory from WCC. This work also
offers us itinerary readings. Its just contributions to keep in evidence all of Hopes walkers ideals
whose represents conscietization in the first sight e finally followed by freedom and human
emancipation.
Keywords: Paulo Freire; World Council of Churches; conscientization; freedom
10
INTRODUO
Especialmente sobre esta questo podemos considerar as obras de Istvan Mezsros, dentre elas Para alm do capital.
In: REIS, Jos Carlos. Anos 1960: Caio Prado Jr. e "A Revoluo brasileira". Rev. bras. Hist. V. 19 n. 37, So Paulo,
set. 1999, p. 20.
11
In: BARBEIRO, Herdoto. Histria Geral. So Paulo: Editora Moderna, 1976, p. 156-157.
AZZI, Riolando. O Catolicismo Popular no Brasil. Coleo Cadernos de Teologia e Pastoral - 11, Petrpolis, Vozes, 1978,
p.14.
5
In: SILVA, Clemildo Anacleto; RIBEIRO, Mario Bueno. Intolerncia Religiosa e Direitos Humanos: mapeamentos de
intolerncia. Porto Alegre: Sulina, 2007.
4
12
13
14
15
16
17
Assim, apesar da tarefa dura com a qual nos deparamos, que a de escrever
sobre a vida de Paulo Freire, esta torna-se menos difcil pelo fato de seu
pensamento e sua epistemologia expressarem sua vida e as aspiraes de tantos
outros na luta por um novo projeto de humanidade. Destacamos que esta tarefa se
realiza a partir da nossa subjetividade e da forma como lemos Paulo Freire.
Desta forma, pretendemos traar a trajetria de Paulo Freire e de sua
epistemologia e tentar compreender o que foi a sua vida, do Recife at Genebra, do
menino empobrecido ao maior educador do nosso tempo9, daquele que desde
pequeno queria fazer algo para ajudar aos homens quele responsvel por um
programa de educao de adultos do Departamento de Educao do Conselho
Mundial de Igrejas.
Entrevista que Paulo Freire concedeu a Luciana Burlamaqui em 17 de abril de 1997. Disponvel em www.paulofreire.ufpb.br.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Indignao: cartas pedaggicas e outros escritos. So Paulo: Editora UNESP, 2000, p. 25.
Neste texto, por grandes mestres Andreola refere-se a Mounier, Fiori, Petras, Du Pin, Ozanan, Buchez, Teilhard de Chardin,
Bernanos, Pguy, De Lubac, Chenu, Lebret, Dom Hlder Cmara, Duclerc, Habermas, Madre Teresa, Joo XXIII, Gandhi, entre
outros.
9
Entrevista
com
Balduno
Andreola:
Andarilhos
com
Paulo
Freire.
In:
<http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_tema_capa&Itemid=23&task=detalhe&id=469>. Acesso em 25 de
junho de 2009.
8
18
10
RODRIGUES, Neidson. Entrevista Paulo Freire: Crtico, radical e otimista. Revista Presena Pedaggica. Belo Horizonte,
Ano I, n. 1, jan/fev 1995, p. 5-12.
11
GERHARDT, Heinz-Peter. Uma voz europia: Arqueologia de um pensamento. In: GADOTTI, Moacir (org.). Paulo Freire:
uma biobibliografia. So Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire; Braslia: UNESCO, 1996, p. 163.
19
A resposta a esta reao a Paulo Freire dada por Andreola, pois tambm
feita em nome de opes (...), modismos que configuram formas remanescentes de
colonialismo cultural.13 Isto s pode ser resolvido a partir da aceitao da
originalidade do pensamento de Paulo Freire, o que de fato ocorre fora do Brasil.
por isso que Paulo Freire obteve reconhecimento internacional e ttulos doutorais
honoris causa em 26 universidades do Brasil e exterior, alm do seu ttulo doutoral
na Universidade do Recife, atual Universidade Federal de Pernambuco.
12
INSTITUTO HUMANISTAS UNISINOS. Andarilhos com Paulo Freire - Entrevista com Balduno Andreola. Disponvel em:
<http://amaivos.uol.com.br/templates/amaivos/amaivos07/noticia/noticia.asp?cod_noticia=8773&cod_canal=41>. Acesso em
15 de julho de 2007.
13
Idem, ibidem.
20
14
FREIRE, Paulo; GUIMARES, Srgio. Sobre educao: Dilogos. V. 1. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1982.
21
O que Paulo Freire fazia, ainda criana, sem a conscincia terica e ajudado
por uma professora adolescente, era a cincia hermenutica, de busca do sentido
primeiro das palavras, dos discursos. Esta atividade de impacto em Paulo Freire
permitiu-lhe, mais tarde, em sua ao-reflexo-ao usar e abusar dos termos, das
palavras, algumas muitas inventadas e reinventadas. Anos mais tarde, em encontros
com trabalhadores rurais, Paulo Freire, preocupado com sua linguagem acadmica
e consciente das diferenas semnticas e sintticas, entremeava seus discursos
com quer dizer, isto 15. Fazia isto como que querendo se fazer entender ou
explicar melhor o que lhes dizia.
Com a crise econmica e a falncia, o tio de Paulo Freire perdeu a casa e
todos tiveram de assumir uma vida mais modesta no bairro de Jaboato, distante
dezoito quilmetros do Recife, atualmente sede de municpio autnomo.
Paulo Freire afirmou
Minha famlia, que era de classe mdia, foi obrigada a deixar a casa em
Recife para morar em Jaboato, com a idia mgica de que saindo de l as
coisas melhorariam. No entanto, elas pioraram. Este fato provocou uma
16
mudana fundamental na minha vida.
15
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperana: um reencontro com a Pedagogia do oprimido. 6. ed. So Paulo: Editora Paz e
Terra, 1999, p. 24.
16
BARRETO, Vera. Paulo Freire para educadores. So Paulo: Arte e Cincia, 1998, p. 19.
17
FREIRE. Ana Maria Arajo. A voz da esposa: A trajetria de Paulo Freire. In: GADOTTI, Moacir (org.). Paulo Freire: uma
biobibliografia. So Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire; Braslia: UNESCO, 1996, p. 30.
22
18
CORTELLA, Mario Srgio; VENCESLAU, Paulo de Tarso. Entrevista Paulo Freire. Seo Memria. Revista Teoria & Debate.
So Paulo, EFPA, Ano 4, n. 17, jan/fev/mar, 1992.
23
19
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperana: um reencontro com a Pedagogia do oprimido. Notas de Ana Maria Arajo Freire.
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992, p. 207-208.
20
ROSAS, Paulo. Paulo Freire: aprendendo com a prpria histria. Disponvel em <http://www.fundaj.
gov.br/observanordeste/obex06.pdf>. Acessado em 08 de agosto de 2007.
24
A partir das relaes e vivncias nestes dois mundos, Paulo Freire passou a
se autodenominar de menino conectivo. E sua conectividade era com a realidade.
Viveu bons e maus momentos. Conheceu o que significa ser pobre. Nesta condio
afirmou: me tornei homem, graas dor e ao sofrimento que no me submergiram
nas sombras do desespero.22 Com a pobreza, conheceu a fome. E a compreenso
que teve da fome no foi dicionria.23, mas poderia afirmar como na poesia bblica:
antes eu te conhecia s de ouvir falar, mas agora os meus olhos te vem. (J
42.5). Sobre a questo da fome, h um relato interessante de Paulo Freire. Ele diz
que:
Eu tinha possivelmente onze, doze anos, um pouco faminto, mas no tanto
quanto dos meninos deste pas, desde continente.
Lembro-me de uma manh de domingo, uma manh sem chuva.
Estvamos, meus irmos mais velhos e eu, no fundo do quintal, num
gramado em que minha me plantara algumas roseiras para enfeitar a vida
difcil. Eis que uma galinha pedrs se aproxima de ns, distrada,
acompanhando com seu pescoo ondulante os pulos de um gafanhoto
incauto. Em certo momento, a galinha apanhou o gafanhoto. E ns
apanhamos a galinha. Pegamos a galinha num salto, sem haver um acerto
prvio.
A mediao da nossa ao era a fome dos trs, era a razo de ser da
prtica, e quando minha me ouviu os gritos da galinha e correu at ns no
quintal, ela j no gritava mais porque entrava nos estertores. Ns
havamos estrangulado a galinha.
E eu no esqueo que minha me, crist, catlica, sria, bem-comportada,
com uma conscincia tica bastante aguada, agarrou a galinha pedrs nas
mos e deve ter dito a ela mesma: o que fazer? Devolver esta galinha ao
proprietrio pedindo desculpa pelo ato dos seus filhos, como possivelmente
a sua conscincia tica sugeriria, ou, pelo contrrio, fazer com aquela
galinha o lauto almoo que h tempo no tnhamos?
Claro que ela nunca me disse isto, eu apenas traduzo a sua hesitao. De
repente, sem dizer palavra, vira para o terrao e encaminha-se para a
21
22
23
BARRETO, Vera. Paulo Freire para educadores. So Paulo: Arte e Cincia, 1998, p. 19.
BARRETO, 1998, idem.
FREIRE, Paulo. Sombra desta Mangueira. So Paulo: Editora Olho Dgua, 1995, p. 31.
25
24
26
Podemos considerar que esta pergunta de Gerhardt tem razo de ser, tanto
que foi respondida pelo prprio Freire que, ao falar de seus pais, afirma:
com eles aprendi o dilogo que procuro manter com o mundo, com os
homens, com Deus, com minha mulher, com meus filhos. O respeito de meu
pai pelas crenas religiosas de minha me ensinou-me desde a infncia a
respeitar as opes dos demais. (...) casei-me aos 23 anos com Elza Maia
Costa Oliveira (...) Com ela prossegui o dilogo que aprendera com meus
pais. De ns vieram ao mundo cinco filhos, trs moas e dois meninos, com
27
quem ampliamos a nossa rea dialogal.
Respondendo a uma pergunta de Vicente Madeira, Pr-Reitor de PsGraduao da Universidade Federal da Paraba, Paulo Freire afirmou que fez a
escola primria no perodo mais duro da fome. No da fome intensa, mas de uma
fome suficiente para atrapalhar o aprendizado.28
Foi neste contexto que, segundo Ana Maria Arajo Freire, Paulo
conheceu o prazer de viver com os amigos e conhecidos que foram
solidrios naqueles tempos difceis, sentiu o sofrimento quando viu sua
me, precocemente viva, lutar para sustentar a si e a seus quatro filhos,
fortaleceu-se no amor que entre eles aumentou por causa das dificuldades
que juntos enfrentaram, sentiu angstia devido s coisas perdidas e s
29
provaes materiais (...)
27
FREIRE, Paulo. Conscientizao: Teoria e Prtica da Libertao uma introduo ao pensamento de Paulo Freire. So
Paulo: Cortez & Moraes, 1979, p. 13 e 15.
28
FREIRE. Ana Maria Arajo. A voz da esposa: A trajetria de Paulo Freire. In: GADOTTI, Moacir (org.). Paulo Freire: uma
biobibliografia, 1996, p. 32.
29
FREIRE. Ana Maria Arajo, 1996, p. 28, 29.
30
FREIRE. Ana Maria Arajo, 1996, p. 62.
27
Paulo Freire refere-se experincia que teve aps discursar para uma platia
de operrios na dcada de 1960 e ouvir o discurso de um destes. Paulo Freire relata
que cada frase do operrio fazia com que ele afundasse na cadeira, lanando
razes profundas na sua reflexo. O operrio disse que entenderam as palavras as
palavras de Paulo Freire em sua sintaxe, outras foram mais difceis de entender.
No geral todo o discurso do Dr. Freire foi entendido. E o operrio, corpo surrado e
castigado pela crueza da vida nordestina lhe expe sua dor e a de seus
companheiros. O operrio conseguiu at mesmo descrever com detalhes como era
a casa de Paulo Freire. E disse que a sua vida e sua casa eram diferentes. Paulo
Freire concordou com toda a descrio do operrio e percebeu,
nas idas e vindas da fala, na sintaxe operria, na prosdia, nos movimentos
do corpo, nas mos do orador, nas metforas to comuns ao discurso
popular, ele chamava a ateno do educador (...) para que, ao fazer o seu
discurso ao povo, o educador esteja a par da compreenso do mundo que o
32
povo esteja tendo.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperana: um reencontro com a Pedagogia do oprimido., 1999, p. 25-26. Das pginas 25 a
28 est o relato completo deste fato.
32
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperana, 1999, p. 27.
33
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperana, 1999, p. 28.
28
estranha interconexo34. Ler e estudar Paulo Freire nos faz perceb-lo como
algum que se ocupou com vrios ramos do conhecimento humano, pois para ele o
humano no pode ser entendido de forma fragmentada. Paulo Freire, a partir de sua
prxis trilha caminhos diversos, nos campos da filosofia, antropologia, psicologia,
teologia, lingstica, comunicao, sociologia, sempre em dilogo com muitos
autores. Faz estes caminhos todos porque o seu pensamento, ao ser encarnado
realimenta a sua prxis.
Paulo Rosas afirma que os anos da dcada de 1950 foram importantes para a
solidificao do pensamento de Paulo Freire. Rosas destaca o referencial
bibliogrfico do texto de 1959, Educao e atualidade brasileira que tornou Paulo
Freire conhecido como educador progressista. Freire era leitor de isebianos como
Roland Corbisier, Hlio Jaguaribe, Djacir Menezes, Guerreiro Ramos, lvaro
Vieira Pinto e clssicos, maneira de Rugendas e Saint-Hilaire, alm de
Fernando Azevedo, Ansio Teixeira, Gilberto Freyre, Karl Mannheim, Gabriel
Marcel, Jacques Maritain, Caio Prado Junior. (...) achados mais pessoais
(...) como Zevedei Barbu. (...) Emmanuel Mounier, Georges Gurvitch,
35
Lebret.
34
29
37
30
chegou a Paulo Freire, em sua casa, numa tarde clara no Recife, na Rua Rita de
Souza, 224, Bairro da Casa Forte, por intermdio de um grande amigo com quem
tinha divergncias polticas mas no afetivas, Paulo Rangel Moreira.
Dias antes de ser convidado para este trabalho Paulo Freire passou por uma
experincia interessante40 que o tirou da advocacia e o lanou efetivamente como
educador. Paulo Freire contou esta histria a Paulo Rangel. Este acontecimento que
envolveu um odontlogo endividado, naquela tarde de 1947, e a fala da esposa Elza
foram influncias importantes para a deciso e formulao do pensamento de Paulo
Freire e de sua aceitao para trabalhar no SESI. Ele relata que
Naquela tarde, redizendo a Elza o dito a conversa com o jovem
odontlogo devedor [grifo meu] no poderia imaginar que um dia, tantos
anos depois, escreveria a Pedagogia do oprimido, cujo discurso, cuja
proposta tem algo a ver com a experincia daquela tarde pelo que ela
significou tambm e sobretudo na deciso de aceitar o convite de Cid
Sampaio, que me trazia Paulo Rangel. (...) dizer sim ao chamado do SESI,
para a sua Diviso de Educao e Cultura, cujo campo de experincia, de
estudo, de reflexo, de prtica se constitui como um momento indispensvel
41
gestao da Pedagogia do oprimido .
tendentes promoo de bem-estar dos trabalhadores e suas famlias favorecendo-lhes as melhorias das condies de vida.
Confederao Nacional da Indstria cabia, segundo o Decreto-Lei, proporcionar assistncia social e melhores condies de
habitao, nutrio, higiene dos trabalhadores e, como resultado, desenvolver o esprito de solidariedade entre empregados e
empregadores. Ao desenvolver o esprito de justia social entre as classes, os elementos disseminadores de influncias
dissolventes e prejudiciais aos interesses da coletividade seriam destrudos.
Isto significava, segundo Ana Maria, que o documento em questo fala de dificuldades de ps-guerra, quando o Brasil poderia
ter sado enriquecido do perodo blico, desde que, anteriormente a ele, tinha sido um dos pases fornecedores de estoques de
produtos diversos essenciais ao momento guerreiro. Outros considerandos escondem o receio do comunismo. Traduzem o
medo do regime antagnico ao capitalismo, o da cata s bruxas ordenada pelos pases do Norte. Indicam uma camuflao
para o no desvelamento, claro e consciente, da luta de classe. Pedem a aceitao calma e passiva das discrepantes
diferenas das condies materiais entre empregadores e empregados. Assistem referente ao assistencialismo [grifo
meu] para no enfrentar. (cf. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperana: um reencontro com a Pedagogia do oprimido. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1992, p. 211-212).
40
Um odontlogo individado procurou Paulo Freire que era o quase advogado do seu credor, para justificar-se sobre a dvida.
Ao final da conversa Freire aperta a mo do odontlogo dizendo que no era mais advogado nem do credor e nem de mais
ningum. Vai para casa no final do dia e conversa com a esposa Elza, comentando sua deciso de abandonar o Direito e
dedicar-se Educao. Elza responde: Eu esperava isto, voc um educador
41
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperana, 1992, p. 18.
*
Sobre o tema trama sugerimos a leitura do livro Pedagogia no encontro de tempo: ensaios inspirados em Paulo Freire, de
autoria de Danilo R. Streck, especialmente nas pginas 13 a 30. O livro foi publicado em 2001 pela Editora Vozes.
31
fundamental para o seu pensamento, porque ali teve contato direto com os adultos
trabalhadores analfabetos. Mas no eram somente adultos analfabetos. Paulo os via
e percebia como desumanizados, oprimidos, sem palavra. Mas no os via assim
porque fizeram opo por isso. Os via como seres que foram aviltados, roubados,
despossudos. Com isso, perderam a palavra e viviam na cultura do silncio.
Andreola, na obra Andarilho da Esperana: Paulo Freire no CMI trata desta questo
ao referir-se glotofagia42
No contexto em que viveu Paulo Freire, em sua fase de formao na
educao bsica, nos anos vinte e trinta do sculo XX, acontecia no Brasil um
movimento reivindicatrio de mudanas na educao brasileira, especialmente pela
constituio de uma poltica educacional. Era o advento da Escola Nova no Brasil.
Do ponto de vista educacional, alicerado nas idias liberais, o escolanovismo era
um movimento importado dos Estados Unidos e que se opunha pedagogia
tradicional e pretendia uma educao democrtica e universalizadora, isto , com
acesso a todos. O cone brasileiro deste movimento foi Ansio Teixeira que, por ter
sido amigo e aluno de John Dewey, o maior expoente norte americano das idias
escolanovistas, transplantou estas idias para o Brasil. A obra clssica de John
Dewey, Educao e Democracia, foi traduzida para o portugus por Ansio Teixeira.
Ansio Teixeira, somado a mais vinte e quatro brasileiros43 foram signatrios
de um documento: o Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, lanado como um
documento ao povo e nao. O teor deste documento reivindicava para o Brasil a
educao laica, gratuita e democrtica para todos, indistintamente e o fazia para um
pas que ainda no possua uma poltica ou um sistema de educao.
42
Literalmente a palavra significa comer a linguagem. Por extenso, a partir de Paulo Freire e da apropriao do termo
cultura do silncio podemos entender como supresso da prpria linguagem e assuno da linguagem do opressor.
Especialmente no nordeste brasileiro Paulo Freire reconhecia uma "cultura do silncio", significando que esta populao estava
destituda da palavra. O silncio afirmado por Freire no era da palavra falada, mas da ausncia do som consciente das mentes
obscurecidas por um sistema de dominao cultural. Era preciso "dar-lhes a palavra ou melhor ainda, ajudar-lhes a dizer a
sua palavra (cf. Fiori afirma no Prefcio da Pedagogia do Oprimido) para que transitassem para a participao na construo
de um Brasil, que fosse dono de seu prprio destino e que superasse o colonialismo.
43
Fernando de Azevedo, Afrnio Peixoto, Antonio de Sampaio Doria, Ansio Spinola Teixeira, M. Bergstrom Loureno Filho,
Roquette Pinto, J. G. Frota Pessoa, Julio de Mesquita Filho, Raul Briquet, Mario Casassanta, C. Delgado de Carvalho, A. Ferreira
de Almeida Jr., J. P. Fontenelle, Roldo Lopes de Barros, Noemy M. da Silveira, Hermes Lima, Attilio Vivacqua, Francisco
Venancio Filho, Paulo Maranho, Cecilia Meirelles, Edgar Sussekind de Mendona, Armanda Alvaro Alberto, Garcia de Rezende,
Nobrega da Cunha, Paschoal Lemme e Raul Gomes. (Os signatrios esto relacionados no prprio documento, disponvel na
ntegra em <http://escolanova.net/pages/manifesto.htm>. Acessado em 28 de agosto de 2008.
32
33
45
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica. Disponvel em < http://www.ibge.gov.br>. Acesso em 20 setembro de
2008.
46
Elementos disponveis em <http://www.bcb.gov.br/pec/boletimregional/port/2009/01/br200901b1p.pdf>. Acessado em 20 de
setembro de 2008.
34
ele
considerava
nada
sofisticadas***
para
tentar
entender
alguns
Fvero tambm conheceu Paulo Freire quando deste perodo frutfero de sua
trajetria. Na citao abaixo o autor descreve, como testemunha, como era a
atuao de Freire no SESI. Ele afirma que
Paulo trabalhava no SENAI [o autor deve estar se referindo ao SESI
grifo meu], pegando pequenos textos tirados do jornal sobre salrio, sobre
condies de trabalho, condies de sade, com os operrios
semialfabetizados no SESI, ele era diretor do SESI. Primeira notcia que eu
tenho de Paulo Freire, deve ter sido 1961, ele era um professor curioso, ele
usava o epidiascpio, um aparelho enorme, hoje a gente tem o retroprojetor,
mas tem tambm o epidiascpio, que voc pe o texto debaixo (sic), num
jogo de espelhos, e projeta na parede e discute as condies de vida dos
49
operrios e tal, faz um processo educativo diferente.
47
ROSAS,
Paulo.
Paulo
Freire:
aprendendo
com
a
prpria
histria.
Disponvel
em
http://www.fundaj.gov.br/observanordeste/obex06.pdf, p. 8. Acessado em 08 de agosto de 2007.
***
Quando Paulo Freire se refere a pesquisas nada sofisticadas no significa que sejam pesquisas sem valor cientfico. Eram
formas de Freire coletar dados teis nos dilogos com as pessoas com as quais trabalhava.
48
FVERO, Osmar. Programa Salto para o Futuro. Rede TVE Brasil. 2003.
49
FVERO, 2003.
35
50
36
era acusada de ser uma fbrica de eleitores quando o pas estava passando por um
processo de redemocratizao e era necessrio refazer a base eleitoral no Brasil.
Fvero discorda desta viso das elites ao afirmar que esta Campanha tambm se
deslocava dos grandes centros e atingia tambm a zona rural.
No perodo desta primeira Campanha constatou-se que o analfabetismo era
da ordem de 60% (sessenta por cento) no Brasil (segundo dados do IBGE era de
56,1%), mas os ndices do Nordeste eram maiores. Ao promover esta Campanha e
as conseqentes outras Campanhas que ocorrero o governo mostrou que apenas
alfabetizar no resolveria o problema, mas havia necessidade de aes conjuntas
alfabetizao junto s comunidades. Fvero afirma que a partir desta primeira
Campanha gera-se
uma segunda campanha, um pouquinho mais tarde, no final dos anos 40,
meados dos anos 50. Essa campanha curiosa, pouco estudada, ela
tambm est no Ministrio de Sade, no Ministrio da Agricultura. A ela vai
trabalhar diretamente a partir de sade, a partir de higiene com as
populaes, vai conseguir formar quadros mdios, tcnicos... Chamava, na
poca, o Departamento Nacional de Crianas. Todo esse grupo que
51
trabalha com a extino da malria, controle de endemias rurais e tal (...)
Essa segunda Campanha foi coordenada pelo socilogo Artur Rios e tinha um
cunho mais sociolgico e, segundo Fvero, a sua fora estava no grupo de
sanitaristas, de mdicos, de tcnicos agrcolas e no cooperativismo, mas lamenta
que haja poucos dados dessas campanhas, especialmente dados estatsticas.
Fvero faz uma boa leitura da educao na dcada de 1950 e 1960. Ele
afirma que Juscelino Kubitschek, presidente de 1955 a 1960 no endossava estas
Campanhas de Alfabetizao. Mas foi no governo de Juscelino, a partir da
convocao e realizao do II Congresso de Educao de Adultos, na cidade do Rio
de Janeiro que Paulo Freire ficou conhecido com educador progressista.
Neste Congresso, realizado entre os dias 6 e 16 de julho de 1958 Paulo Freire
apresentou um relatrio de sua autoria, intitulado A Educao de Adultos e as
Populaes Marginais: o Problema dos Mocambos***, que com certeza era fruto de
sua experincia no relacionamento com os trabalhadores assistidos pelo SESI.
51
FVERO, 2003.
Palavra de origem africana, do quimbundo mu'kambu, que pode significar habitao miservel.
***
37
Segundo Fvero, este Congresso tratou muito mais do ensino primrio do que
de educao de adultos. Os Congressos de Educao eram chamados de regionais
mas, na verdade, eram estaduais. Todos os Estados traziam relatrio dos
Congressos Estaduais ou Regionais e traziam teses para serem discutidas. Era um
grande encontro de acadmicos. Fvero classifica o relatrio de Freire como
esplendoroso ao afirmar que o problema no era o analfabetismo e que alfabetizar
no era a soluo. O problema era a misria do Nordeste. Ou se enfrentava a
misria do Nordeste, ou ento alfabetizao era a mesma coisa que tentar enxergar
o fim do mar. Desde o incio Paulo se situava na perspectiva da transformao das
estruturas injustas de uma sociedade elitista e de construo de uma nova
sociedade.
Neste sentido, Vanilda Paiva equivoca-se ao reduzir a proposta de Freire a
um atrelamento ideologia do nacional desenvolvimentismo que vigorava poca.
E Ana Maria Freire quem vai contestar Paiva ao destacar que quando da
realizao do II Congresso Nacional de Educao, no ano de 1958, Juscelino
Kubitscheck se afirmava no poder e tambm manifestava a sua preocupao com a
misria brasileira. E queria solues para as mazelas nacionais, dentre elas a
educacional. Juscelino tentou encaminhar pela via que conhecia: a populista. No
deu resultado pois naquele mesmo perodo, se no mente a histria, Paulo Freire,
encarnava e fazia discurso e prtica (...) por um caminho autenticamente popular, e
no populista, sendo mais tarde convidado pelo governo federal para liderar o Plano
Nacional de Alfabetizao.
52
38
53
Preferimos sempre separar por hfem barra estas palavras pois as entendemos como compostas.
39
*
Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil. A criao do MEB fruto de duas experincias da Igreja Catlica: as escola
radiofnicas do SAR Servio de Assistncia Rural, em Natal/RN e o Sirese Sistema Radio Educativo de Sergipe, em
Aracaju/SE.
54
FAVERO, Osmar. MEB Movimento de Educao de base: primeiros tempos: 1961-1965. In: ROSAS, Paulo. (org.). Paulo
Freire: Educao e Transformao Social. Recife: Editora Universitria da UFPE, 2002, p. 133.
55
FVERO, 2003.
56
FVERO, 2003.
57
FVERO, 2003.
40
58
41
61
Sobre a CEPLAR indico a obra muito bem escrita e fundamentada de SCOCUGLIA, Afonso Celso. Educao popular: do
Sistema Paulo Freire aos IPMs da Ditadura, Joo Pessoa: Editora Universitria UFPB/So Paulo: Cortez Editora: Instituto
Paulo Freire, 2000.
62
ROSAS, Paulo. Paulo Freire: aprendendo com a prpria histria. Disponvel em <http://www.fundaj.
gov.br/observanordeste/obex06.pdf>, p. 6. Acessado em 08 de agosto de 2007.
63
USAID a sigla em ingls para Agncia dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional. Foi fundada em 1961
pelo presidente americano J. F. Kennedy. O Ministrio da Educao do Brasil fez, na dcada de 1960 uma parceria para
organizar a reforma do ensino no Brasil, que deu a conformao da educao bsica em 11 anos e no em 12 anos como se
estrutura a educao em pases europeus. Com esta reforma foram suprimidos disciplinas de carter reflexivo, como Filosofia,
Sociologia, Educao Poltica. Outras disciplinas humansitcas tiveram sua carga horria reduzida e foi inserida como disciplina
obrigatria o ensino da Lingua Inglesa. A poltica de interveno estrangeira no Brasil foi continuada pelo governo militar mas
sofreu fortes crticas da opinio publica internacional. A instituio ainda sobrevive e, por ser uma agncia federal americana,
mantm escritrios em vrios pases, especialmente os ditos emergentes e pobres, realizando o que chamo de caridade
americana de cunho primeiro ideolgico e depois assistencialista.
42
experincia piloto do mtodo ou Sistema Paulo Freire. Na obra Paulo Freire para
educadores h uma descrio desta experincia que transcrevo:
O trabalho de alfabetizao de Vila Helena Maria, do qual participamos, foi
realizado pela UEE /SP (Unio Estadual dos Estudantes) e deveria servir de
incio a uma ampla campanha de alfabetizao a ser desenvolvida pelos
universitrios paulistas.
O bairro de Vila Helena Maria era, em 1963, um dos mais pobres e
afastados de Osasco, importante municpio da Grande So Paulo. Sua
populao, constituda em grande parte por migrantes de Minas Gerais,
apresentava um alto ndice de analfabetismo. O bairro no dispunha de
rede de luz nem de esgoto. A gua era retirada de cisternas (da, a palavra
geradora: sarilho) e nem sempre em condies de ser bebida ou utilizada
no preparo de alimentos.
Um texto-memria desta experincia nos conta: Naquele tempo comeava
a circular a notcia de que um professor nordestino estava desenvolvendo
um trabalho de alfabetizao de adultos no Recife e em Angicos. Dizia-se
que ele conseguia uma alfabetizao extremamente rpida, partindo de
palavras extradas do vocabulrio popular. Falava-se, tambm, que este
trabalho ampliava o nvel de conscincia dos alfabetizandos. O nome deste
desconhecido professor: Paulo Freire.
A capacitao inicial da equipe que trabalhou em Vila Helena Maria foi feita
pela equipe de Paulo Freire. Jomard de Brito, Elza, mulher e colaboradora
de Paulo, e Aurenice Cardoso, alm do prprio Paulo, estiveram em So
Paulo durante uma semana na qual se discutiu a realidade brasileira, o
modelo de educao vigente, o autoritarismo sempre presente na nossa
64
histria.
64
43
foram feitos para ensinar a ler, mas, sim, para ler. Nos valemos de jornais e
revistas. Sem ter grande clareza da importncia do que estvamos fazendo,
centramos nosso trabalho na prpria ao sobre a escrita, o que foi muito
65
positivo.
A Comisso Nacional de Cultura popular foi presidida por Paulo Freire. Com
isso, o Ministro Paulo de Tarso desejava implantar o Plano Nacional de Educao
criando a Comisso Regional de Cultura Popular do Distrito Federal, com o
propsito de desenvolver e avaliar experincias de alfabetizao em Braslia pelo
mtodo Paulo Freire, para verificao da convenincia de adoo deste mtodo em
nvel nacional.67
A inteno do Plano Nacional de Alfabetizao, atravs da epistemologia
freireana, segundo Ana Maria Freire, era alfabetizar, politizando, cinco milhes de
adultos brasileiros. Isso significava, no Brasil, aumentar o contingente de eleitores
em quase 50%. Preocupados com a conscientizao poltica de significativa parcela
dos eleitores brasileiros, as classes dominantes colocaram-se contra o Programa,
65
66
67
44
que oficializado em 21 de janeiro de 1964, pelo Decreto no 53.465, foi extinto pelo
governo militar em 14 de abril do mesmo ano, atravs do Decreto n 53.886.68
Assim, o Programa durou exatos oitenta e trs dias.
Segundo Almeri Bezerra69, que corrobora a questo acima apresentada, o
sucesso da campanha de Angicos e o conseqente sucesso (que foi abortado) do
Programa Nacional de Alfabetizao se deu porque partia da
tomada de conscincia que os alfabetizandos faziam da sua situao de
oprimidos, em uma sociedade onde eles eram excludos at do direito de
*
votar , as classes dominantes logo perceberam o risco e os partidos,
movimentos e lideranas de esquerda comearam a sonhar (se no a
ameaar!) com milhes de recm-alfabetizados, munidos de um ttulo de
eleitor, e virando legalmente a mesa, ou seja, votando esquerda! Pode?
No pode!, foi o que me disse, afvel e corts, o Coronel Governador do
Cear, a quem fui candidamente explicar o que estava tentando fazer em
Fortaleza: explicar o mtodo Paulo Freire a um grupo de universitrios que
queriam iniciar uma campanha de alfabetizao de adultos. No pode! me
disse o Governador. E me explicou: aqui no Cear ns tivemos muito
trabalho para estabelecer um equilbrio de foras que eu no permitirei ver
posto em risco por quem quer que seja. A explicao era clara e sincera: se
houver uma injeo de um nmero significativo de novos eleitores que iro
votar supe-se, esquerda as regras preestabelecidas do jogo iro para
o ar.
Foi preciso o golpe militar para que a classe dominante tirasse de cena os
que ameaavam as regras preestabelecidas e organizasse ela mesma as
condies em que a incluso dos analfabetos pudesse ser feita no apenas
sem risco, mas, sobretudo com vantagens. A manipulao das massas
analfabetas no precisava mais do insuportvel e oneroso cabresto. O
controle dos meios de comunicao de massa - rdio e televiso - em
vertiginosa expanso, garantiria a incluso dos analfabetos com direito a
voto, dentro da ordem estabelecida.
Situao anloga o Brasil tinha conhecido quando das discusses sobre o
fim da escravido. Como libertar os escravos, quando a forma de
escravido vigente no interessava mais s elites, sem medir os riscos de
enormes distrbios que as hordas de ex-escravos, sem donos, sem
responsveis e sem comida, haveriam de causar? Foi preciso inventar o
70
caminho de uma abolio gradual e segura.
45
71
ROSAS, Paulo. Paulo Rosas rene Yves Mota, Maria Adozinda, Argentina Rosas, Jarbas Maciel, Juracy Andrade, Almeri
Bezerra, Germano Coelho para conversa para debate sobra passagem dos anos 50 para os 60, Idem.
46
Do Chile Paulo Freire mudou, por curto perodo, para Cambridge, estado de
Massachusetts, nos EUA, onde permaneceu como Professor Convidado na
Universidade de Harvard, importante centro de estudos na rea de educao,
lecionando livremente sobre sua epistemologia. Paulo foi para ficar pouco tempo,
pois tinha planos de aceitar outro convite que permitira a ele cumprir com seu papel
de educador comprometido com o ser humano oprimido. Ficou apenas dez meses
no EUA.
Gadotti afirma que
O momento histrico que Paulo Freire viveu no Chile foi fundamental para
explicar a consolidao da sua obra, iniciada no Brasil. Essa experincia foi
fundamental para a formao de seu pensamento poltico-pedaggico. No
Chile, ele encontrou um espao poltico, social e educativo muito dinmico,
rico e desafiante, permitindo-lhe reestudar seu mtodo em outro contexto,
72
avali-lo na prtica e sistematiz-lo teoricamente.
73
47
constituiu este organismo que oferecer todo o aporte para Paulo Freire, viajando
pelos cinco continentes, abordando o tema da educao, conscientizao, libertao
e da emancipao humana e agindo em favor dos esfarrapados do mundo. Somente
ento, depois de tratarmos do CMI, retomaremos a trajetria de Paulo Freire a partir
da Europa e da Europa para o mundo.
48
2.1 Ecumenismo
Definindo o vocbulo
Para tratarmos sobre o Conselho Mundial de Igrejas (CMI), resultado do
moderno movimento ecumnico importante definir o que seja o termo ecumnico.
Este termo um vocbulo que deriva do substantivo grego que significa
casa, o lugar em que vivemos, o nosso espao vivencial, domstico no qual
deveramos nos relacionar mais profundamente e do verbo grego que
significa habitar ou hospedar-se, a depender do contexto em que esteja colocado.74
Especificamente, no sentido atual, quando tratamos de ecumenismo, nos referimos
a uma globalidade, a uma abrangncia integral das relaes, em todos os mbitos
da vida humana. No sentido da eclesiologia, a palavra nos remete unidade visvel
da Igreja que ultrapassa todos os obstculos teolgicos, polticos, culturais,
geogrficos e religiosos.
Mas nem sempre foi esta a compreenso. Santa Ana75 desenvolve o seu
pensamento ecumenista e descreve quais foram as compreenses do termo
oikoumene na viso do Ocidente. Refere-se ao mundo habitado. Os autores gregos
especialmente os do sculo IV desenvolveram uma compreenso do termo que se
74
Para conceituar o termo utilizamos a obra GINGRICH, F. Wilbur. (Trad. de ZABATIERO, Julio). Lxico do Novo
Testamento Grego/Portugus. So Paulo: Vida Nova, 1984, p. 144 e 133.
75
SANTA ANA, Julio H. de. Ecumenismo e Libertao: Reflexes sobre a relao entre a unidade crist e o Reino de Deus.
Petrpolis: Vozes, 1987. O autor definido por Juan Bosch Navarro na obra Para compreender o Ecumenismo, p. 35, como
telogo ecumenista.
49
76
77
50
78
51
79
EUSBIO de Cesaria. Histria Eclesistica. Traduo de Wolfgang Fischer. So Paulo: Editora Novo Sculo, 2002. (As
questes apresentadas encontram-se especialmente nos Livros II e III).
WALKER, WILLINSTON. Histria da Igreja Crist. V. 1. 3. ed. Rio de Janeiro/So Paulo: Juerp/Aste, 1981, p. 326
80
52
81
No incio do sculo XVI quatro movimentos eclodiram: o luterano, o anglicano, o calvinista e o anabatista. Destes, o mais
impactante foi o luterano.
NICHOLS, Robert Hastings. Histria da Igreja Crist. 7. ed. So Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1988, p. 159.
82
53
83
GONZLEZ, Justo. Uma Histria Ilustrada do Cristianismo: A Era dos reformadores. V. 6. So Paulo: Edies Vida Nova,
1983, p. 64.
84
NICHOLS, 1988, p. 151.
85
O termo hertico tem sua origem no grego que significa faccioso, cismtico, causador de divises (cf.
GINGRICH, F. Wilbur; DANKER, Frederick W. Lxico do Novo Testamento: Grego/Portugus. So Paulo: Edies Vida Nova,
1984.
54
86
Adulterari non potest sponsa Christi, incorrupta est et pudica. Unam domum novit, unius cubiculi sanctitatem casto pudore
custodit. Haec nos Deo servat, haec filios regno quos generavit assignat.
Quisquis ab Ecclesia segregatus adulterae jungitur, a promissis Ecclesiae separatur; nec perveniet ad Christi praemia, qui
relinquit Ecclesiam Christi. Alienus est, profanus est, hostis est.
Habere jam non potest Deum patrem, qui Ecclesiam non habet matrem. Si potuit evadere quisquam qui extra arcam Noe fuit,
et qui extra Ecclesiam foris fuerit evadit.
Monet Dominus et dicit: Qui non est mecum, adversus me est; et qui non mecum colligit, spargit (Matth. 12, 30). Qui pacem
Christi et concordiam rumpit adversus Christum facit. Qui alibi praeter Ecclesiam colligit Christi Ecclesiam spargit. In:
CARTHAGINENSIS, Cyprianus. Liber De Catholicae Ecclesiae Unitate. Documenta Catholica Omnia. Disponvel em
<http://www.documentacatholicaomnia.eu/>. Acesso em 10 de dezembro de 2008.
55
descreve
como
aconteceu
dcimo-nono
Conclio
87
O Sacro Imprio Romano-Germnico foi a unio de territrios da Europa Central que durou quase um milnio, vigorando
a partir do sculo IX, dentro do sistema feudal, e se desfazendo a partir das conquistas napolenicas no sculo XIX. Durante a
sua existncia o Sacro Imprio era composto pelos atuais pases Alemanha, ustria, Blgica, Eslovnia, Frana, Holanda, Itlia,
Liechtenstein, Luxemburgo, Polnia, Repblica Tcheca, Sua. O territrio sofria ampliaes e diminuies, dependendo dos
movimentos, conflitos e guerras acontecidos na Europa Central. Os atuais pases da Pennsula ibrica e a Inglaterra no
compunham o Imprio.
88
Sobre esta questo, ver DREHER, Martin. Introduo. In: CONFISSO DE AUGSBURGO: 1530-1980. So Leopoldo: Editora
Sinodal, 1980, p. 7-11.
56
89
FISCHER-WOLLPERT, Rudolf. Lxico dos Papas: de Pedro a Joo Paulo II. Petrpolis: Vozes, 1991, p. 235.
FISCHER-WOLLPERT, 1991, p. 236.
91
SHELLEY, Bruce L. Histria da Cristianismo: ao alcance de todos. So Paulo: Sheed Publicaes, 2004, p. 308. Obs.: (A
grafia dos nomes so diferentes para Shelley e Walker).
92
AYALA, Igncio Lopes de. El sacrosanto y Ecumnico Concilio de Trento. Prlogo. 3. ed. Madrid: Imprenta Real, 1787.
(Obra traduzida do latim para o espanhol pelo autor. Original da Biblioteca de Catalunya. Digitalizado pela 12 mai. 2008).
Traduo livre do espanhol.
90
57
93
58
de
do
na
de
na
94
BESEN, Jos Artulino (Pe.). A Reforma da Igreja: O Conclio de Trento. Jornal Misso Jovem. Disponvel em <
http://www.pime.org.br/missaojovem/mjhistdaigrejatrento.htm>. Acesso em 10 de fevereiro de 2009.
95
FISCHER-WOLLPERT, 1991, p. 132.
96
Gianni Cardinalle. A Grande Rede das Misses. Disponvel em <http://www.30giorni.it/br/articolo.asp?id=9185>. Acesso
em set.
2008.
59
60
faleceu como prisioneiro dos franceses em agosto de 1799, meses antes da tomada
do poder na Frana por Napoleo Bonaparte. O seu sucessor, Pio VII somente foi
eleito em maro de 1800, no mosteiro beneditino S. Giorgio, sob proteo
austraca.97 O catolicismo ficou completamente desarticulado na Europa e pensouse que seria extinto. Esse era o desejo dos mais importantes filsofos iluministas
franceses da poca. Voltaire afirmara, na segunda metade do sculo XVIII, a
necessidade de destruio da Igreja e do Cristo. Sua crtica ao catolicismo romano
era cida. Segundo ele
apenas na Igreja Romana, acrescida da ferocidade dos descendentes dos
hunos, dos godos e dos vndalos, que se v essa srie contnua de
escndalos e barbries desconhecidos de todos os sacerdotes das outras
religies do mundo. Em toda parte, os sacerdotes abusaram, porque so
homens. (...) A Igreja Romana ganhou em quantidade de crimes de todas as
98
seitas do mundo porque teve riquezas e poder.
Com
desarticulao
da
Igreja,
Fischer-Wollpert
destaca
que
reorganizao da Igreja foi difcil em quase todos os pases europeus, que haviam
sido afetados pela Revoluo Francesa. (...) Com numerosos pases da Europa
foram firmadas concordatas.99 Nesse sentido podemos afirmar que o sculo XIX
ser decisivo para a Igreja catlica resgatar o seu poder e prestgio junto aos
governos.
Pio IX, o papa que mais tempo ficou no poder, de 1846 a 1878 pode ser
considerado uma das mais importantes e destacadas figuras da Igreja no sculo
XIX. O seu governo foi marcado pelo ano de 1848, o mais emblemtico do sculo
por conta das Revolues republicanas e nacionalistas, anti-absolutistas na Europa.
O Brasil tambm sofreu os impactos da chamada Primavera dos Povos, como
ficaram conhecidas tais Revolues. Entretanto, enquanto que o povo pedia mais
participao nos governos e Marx e Engels publicavam seus textos questionando a
religio, a poltica, o modelo econmico, a Igreja se fechava cada vez mais em torno
da figura do papa. O centralismo papal ficou conhecido como ultramontanismo.100
Lage relata que
97
61
papa no italiano (alm dos montes). O nome toma outro sentido a partir do reinado de Filipe, o Belo (sculo XIV) na Frana,
quando postularam os princpios do galicanismo, no qual defendiam o princpio da autonomia da Igreja francesa. O nome
ultramontano foi utilizado pelos galicanos franceses, que pretendiam manter uma igreja separada do poder papal e aplicavam o
termo aos partidrios das doutrinas romanas que acreditavam ter que renunciar aos privilgios da Glia em favor da cabea
da Igreja (o papa), que residia alm dos montes. O ultramontanismo defende portanto o pleno poder papal. Com a
Revoluo Francesa, as tendncias separatistas do galicanismo aumentaram. As idias ultramontanas tambm. Nas primeiras
dcadas do sculo XIX, devido a freqentes conflitos entre a Igreja e o Estado em toda a Europa e Amrica Latina, foram
chamados de ultramontanos os partidrios da liberdade da Igreja e de sua independncia do Estado.
101
LAGE, Ana Cristina P. in: LOMBARDI, Jose Claudinei; SAVIANI, Demerval; NASCIMENTO, Maria Isabel Moura. (orgs.)
Navegando pela Histria da Educao brasileira. Campinas: Grfica FE: HISTEDBR, 2006. (CD-Rom)
62
102
103
63
No que diz respeito aos irmos separados, cabe aqui uma considerao de
extrema importncia. No documento de convocao do conclio o papa Joo XXIII
afirma que
No momento, pois, em que generosos e crescentes esforos de vrias
partes so feitos com o fim de reconstituir aquela unidade visvel de todos
os cristos que corresponda aos desejos do divino Redentor, muito
natural que o prximo Conclio ilustre mais abundantemente aqules
captulos de doutrina, mostre aqueles exemplos de caridade fraterna que
tornaro ainda mais vivo nos irmos separados o desejo do mais auspicioso
retorno unidade e para quem como que prepararo o caminho para a
105
conseguir.
104
64
107
ANDERSON, Justo. Historia de los bautistas. Tomo 1. Sus bases y princpios. 3. ed. El Paso, Texas: Casa Bautista de
Publicaciones, 1993, p. 167. (texto traduzido do espanhol)
65
Deveriam
ocupar,
conforme
atualmente
estado
de
do
denominacionalismo
norteamericano
detectaram
algumas
66
108
109
110
111
REILY, Duncan Alexander. Histria Documental do Protestantismo no Brasil. So Paulo: ASTE, 1984, p. 19-20.
REILY, 1984, p. 19.
REILY, 1984, p. 20.
REILY, 1984, Idem.
67
evangelizao dos povos (fim) seja pelas denominaes, seja pelas suas redes de
organizaes voluntrias (Sociedade bblicas, de tratados, de reformas sociais, de
educao, de assistncia mdica, etc) que poderiam ser criadas por denominaes
particulares ou pelo conjunto das denominaes. O que importava era atingir o
objetivo comum: a evangelizao.
Os historiadores eclesisticos Reily e Mendona, descrevem como os
norteamericanos se instalaram no Brasil. O processo pode ter sido semelhante no
restante do mundo evangelizado pelos norteamericanos. Sempre estiveram
imbudos do Destino Manifesto, que era uma idia que se impregnou na cultura
norteamericana no af da Conquista do Oeste, ligando a nao do Atlntico ao
Pacfico. Reily indica que, ao modo bblico de Josu, os americanos viam como seu
destino manifesto conquistar o continente de Oceano a Oceano, espalhando os
benefcios de uma civilizao republicana e protestante por toda a parte.112 Este
ideal era interno, mas alastrou para outros recantos do planeta.
O destino manifesto americano tornou-se senso comum e foi difundido em
todos os aspectos da vida americana, especialmente a partir da primeira metade do
sculo XIX e, quando as denominaes norteamericanas decidiram pela
evangelizao dos povos, carregavam com eles o modo americano de ser.
Os metodistas afirmavam, desde o incio do movimento na Inglaterra, que
Deus os havia levantado para reformar a nao, especialmente a Igreja, e espalhar
a santidade bblica sobre a face da terra.113 Este slogan metodista pode ter
influenciado o destino manifesto norteamericano, quando do domnio da era
metodista, como bem descreve Reily, pois as denominaes norteamericanas que
se lanaram s misses possuam o desejo reformador e carregavam consigo os
supostos benefcios da cultura americana. Este convico de ser povo escolhido
por Deus lhes dava a autoridade para alcanar as ditas naes pags com a sua
tica, sua religio e cultura. Neste caminho, Mendona salienta que
Pelo menos no sculo XIX, o melhor e mais eficiente condutor da ideologia
do Destino Manifesto foi a religio americana, ou melhor dizendo, o
protestantismo americano com sua vasta empresa educacional e religiosa,
112
113
68
podemos
denominacionalismo,
afirmar
sua
que,
gestao
se
as
razes
nascimento
do
esto
CMI
nas
est
no
Associaes,
Federaes e Alianas feitas pelos cristos nos sculos XIX e XX, bem como nas
discusses sobre o modo de se evangelizar os povos.
114
MENDONA, Antonio Gouva. O Celeste Porvir: a insero do protestantismo no Brasil. So Paulo: Paulinas, 1984, p. 57.
69
determinada pela sua relao com a cultura e a sociedade, nas e das quais est
profundamente vinculada, da o seu fechamento para o mundo moderno.
Citamos anteriormente, mas retomamos aqui que nos sculos XVIII, XIX e
parte do XX os movimentos de maior impacto no cristianismo europeu foram, por
certo, o Iluminismo, as Revolues Francesa e Industrial, o Racionalismo, as
relaes de trabalho, o capitalismo industrial e comercial e uma srie de outros
movimentos ditos de secularizao que solaparam da Igreja o seu papel regulador
da sociedade.
Citamos tambm as crticas cidas que Voltaire fazia Igreja. A Filosofia,
antes subjugada Teologia, vai ter em Imannuel Kant uma projeo extraordinria
quando este afirma que David Hume o acorda do sono dogmtico e o faz romper
com a Metafsica Clssica, grega e crist. Neste despertar de Kant, outros filsofos o
seguiram, construindo correntes de pensamento que estabeleceram uma nova forma
de perceber a religio e conseqentemente a maneira de perceber Deus,
praticamente negando o seu ser. Na concepo filosfica kantiana, abraada por
muitos outros pensadores
a idia metafsica de Deus a idia de um ser que no pode nos aparecer
sob a forma do espao e tempo; de um ser ao qual a categoria de
causalidade no se aplica; de um ser que, nunca tendo sido dado a ns,
posto, entretanto, como fundamento e princpio de toda a realidade e de
toda a verdade. Assim, a idia metafsica de Deus escapa de todas as
condies de possibilidade do conhecimento humano e, portanto, a
metafsica usa ilegitimamente essa idia para afirmar que Deus existe e
115
para dizer o que ele .
Gonzalez faz uma defesa de Deus, afirmando que Kant no O nega. Para o
autor quando Kant filosofa que
Se a existncia , por exemplo, no um dado que provm da realidade,
mas uma das categorias da mente, no h modo algum de provar a
existncia de Deus ou da alma. To pouco (sic) possvel falar de uma
eternidade que consista na ausncia do tempo, posto que nossa mente
no pode verdadeiramente conceber tal coisa.
Por outro lado, tudo isso no sofre uma negao absoluta de Deus, da alma
ou da imortalidade. O que indica simplesmente que, se tais coisas
existem, a razo incapaz de conhec-las, de igual modo que o ouvido
116
no pode ver nem o olho ouvir [grifo meu].
115
70
Navarro indica, e Santa Ana concorda com ele, que foi a partir destes
movimentos e instituies crists de juventude leiga, associados, que o moderno
movimento ecumnico teve solo frtil para germinar e nascer.
Dentre os movimentos associativos Navarro destaca:
Associao Crist de Moos (ACM/YMCA) fundada em 6 de junho de
1844 por um grupo de doze jovens liderados por George Williams, na propriedade
de W. D. Owen, em Londres. A Associao nasceu da necessidade que seus
fundadores sentiram de pensar o mundo crtico da Revoluo Industrial e discutir
sobre os problemas de sua sociedade e as profundas transformaes scioeconmicas em curso, a introduo de jornadas de trabalho de seis horas, a
117
71
118
72
pois
reunia
mulheres
das
mais
variadas
121
73
122
WHO are we? Disponvel em <http://www.wscfglobal.org/>. Acesso em 26 de novembro de 2008. Traduo livre do texto
original: WSCF was founded in 1895 by the North American evangelist and global ecumenist John R. Mott. Mott's ecumenical
vision and missionary zeal also contributed to the beginnings of the World Council of Churches.
Students who join an SCM are encouraged to study their Christian faith and their world with the same depth and passion they
bring to their studies. SCMs are renowned for their openness to searchers as well as believers and for a strong commitment to
social justice.
In 2004 the General Assembly of WSCF affirmed the following statement as the guiding vision of the federation:
"The WSCF is a global community of Student Christian Movements committed to dialogue, ecumenism, social justice and peace.
Our mission is to empower students in critical thinking and constructive transformation of our world by being a space for prayer
and celebration, theological reflection, study and analysis of social and cultural processes and solidarity and action across
boundaries of culture, gender and ethnicity.
Through the work of the Holy Spirit, the WSCF is called to be a prophetic witness in church and society.
This vision is nurtured by a radical hope for God's reign in history
74
123
WORLD Alliance for Promoting International Friendship through the Churches. Disponvel em
<http://archives.oikoumene.org/query/Detail.aspx?ID=40897>. Acesso em 27 de novembro de 2008.
124
World Alliance for Promoting International Friendship through the Churches. Idem.
125
DIAS, Agemir de Carvalho. Caminhos do Ecumenismo. Revista de Histria Regional. Ponta Grossa: Universidade Estadual
de Ponta Grossa, Ano 9, v. 2, Inverno 2004, p. 69
75
Eis uma questo bsica a ser resolvida pelas juntas missionrias. Havia uma
problemtica
missionria
mundial.
Urgia
aos
delegados
das
Conferncias
126
127
128
76
129
GONZALES, Justo L. A era dos novos horizontes. V. 9. So Paulo: Vida Nova, 1983, p. 208. Uma histria ilustrada do
cristianismo.
77
130
131
78
132
MATOS. Erasmo Braga e o movimento cooperativo evanglico
<http://www.mackenzie.br/7110.html> Acesso em 13 de setembro de 2008.
no
Brasil.
Disponvel
em
79
O Congresso do Panam
A CCAL organizou o Congresso de Ao Crist na Amrica Latina, conhecido
como o Congresso do Panam, que se reuniu em 1916, na cidade com o mesmo
nome. O Congresso foi uma reao Conferncia de Edimburgo. A voz de Speer
era a justificativa que os protestantes desejavam para manter a atividade e presena
missionria na Amrica Latina cristianizada. E Speer era o lder do Congresso do
Panam. Em 1909 Speer havia lanado uma obra intitulada Missions in South
America no qual expunha a necessidade da misso na Amrica Latina e que foi
importante para justificar a realizao do Congresso do Panam. Segundo
Mendona os motivos que fizeram com que Speer organizasse um Congresso
Latino-americano foram:
A Igreja Catlica no fora capaz de garantir a educao e a moralidade do
subcontinente; no dera a Bblia ao povo na sua prpria lngua; no formara
clero idneo, intelectual e eticamente; pregara um evangelho deformado e
134
no tinha recursos para evangelizar toda a Amrica latina.
133
MATOS, Alderi Souza de. Erasmo Braga e o movimento cooperativo evanglico no Brasil. Idem.
MENDONA, Antonio Gouva. Evoluo histrica e configurao atual do Protestantismo no Brasil. In: MENDONA, Antonio
Gouva; VELASQUES FILHO, Prcoro. Introduo ao Protestantismo no Brasil, p. 30-31.
134
80
135
MATOS, Alderi Souza de. Samuel Escobar e a Misso Integral da Igreja: Uma Perspectiva Latino-Americana. Revista Vox
Scripturae. So Bento do Sul: Unio Crist, Ano 8, N.1, jul 1998, p. 96.
81
O Congresso de Havana
Tambm
denominado
Congresso
Evanglico
Hispanoamericano,
82
que
trabalhou
na
organizao
da
juntas
para
consolidao
do
movimento ecumnico no sculo XX. Reconhecido como uma das figuras mais
importantes do mundo ecumnico, Mott, aps a Conferncia de Edimburgo viajou
para a regio asitica de misses para organizar conferncias missionrias. Como
Secretrio Geral da ACM e Presidente da Aliana Mundial da ACM fundou o
Conselho Internacional Missionrio. Mott deu a tnica da Conferncia Internacional
de Misses e das Conferncias missionrias posteriores e das quais trataremos
adiante. Nestas Conferncias Mott enfatizava que as divergncias teolgicas e
eclesiais eram uma realidade, mas no seriam entraves para a unidade visvel dos
cristos. Dessa forma, Mott
destacou-se como lder das Conferncias, promovendo o equilbrio nas
divergncias organizacionais das comunidades eclesiais, sem que isso
afetasse os objetivos ecumnicos. (...) em 1946 recebeu o Prmio Nobel,
137
por sua luta pela paz e por acolher pessoas politicamente perseguidas.
137
ANDREOLA, Balduno Antonio; RIBEIRO, Mario Bueno. Andarilho da Esperana: Paulo Freire no CMI. So Paulo: ASTE,
2005.
83
138
139
84
Mott que era prximo de Jones e sua obra, sugeriu pedir-lhe que
140
desenvolvesse a idia. Jones a nomeou de secularismo.
da
mensagem
crist
aos
povos
no-cristos.
Novamente
os
140
141
85
142
ZWETSCH, Roberto E. Misso e Ecumenismo: desafios e compromissos. Revista Caminhando com o Itepa. Passo Fundo:
Instituto de Teologia e Pastoral de Passo Fundo/RS, ano XX, n. 71, dez 2003, p. 12-31.
143
LONGHINI NETO, Luiz. Misso das Igrejas, Misso de Deus. In: _______. Pastoral como o novo rosto da Misso: um
estudo comparativo dos conceitos de Pastoral e Misso nos Movimentos Ecumnico e Evangelical no Protestantismo Latinoamericano 1960-1992. Tese de Doutorado. So Bernardo do Campo: IEPG-CR, 1997, p. 4. (Tese de Doutorado).
86
afirmou: quando a Misso tem como ponto central a Igreja, ela precisa mudar, pois
tem um ponto central errado144. Foi nesta Conferncia que se questionou a
hegemonia europia e norteamericana nas misses e os delegados das igrejasjovens, fruto das misses, declararam que apenas a unidade da Igreja permite o
avano da misso e a eficcia no testemunho dessa misso de Deus, que tambm
o missionrio.
A penltima Conferncia organizada pelo CIM antes de sua integrao ao
CMI foi a Conferncia de Achimota, em Ghana, Africa, em 1957/1958 na qual foi
dito aos europeus e norteamericanos, pela primeira vez, segundo Brennecke, citado
por Longuini, que antes a Misso tinha problemas, hoje a Misso em si um
problema.145 Ainda na Conferncia de Achimota se estabeleceu a proviso de
recursos para ajudar na construo de instituies e de bibliotecas visando a melhor
formao de liderana e ministros das igrejas que estavam unidas no propsito
missionrio.
A ltima reunio organizada pelo CIM foi a Conferncia de Nova Delhi,
ndia, no ano de 1961 e na qual decidiu-se pela fuso irrestrita do CIM ao CMI. Com
a deciso a discusso se desenvolveu em torno da seguinte questo: se o Conselho
Internacional de Misses, que era, especialmente, uma federao mundial de
sociedades missionrias, por ter se fundido a um Conselho Mundial de Igrejas no
teria a sua tarefa missionria prejudicada pela interferncia direta das Igrejas que
compunham tal Conselho? A resposta a esta questo se deu na Conferncia do
Mxico, de 1963, quando o CIM no mais existia.
No trataremos aqui destas Conferncias posteriores a 1961, mas cabe
destacar a resposta a pergunta sobre a misso que foi apresentada. De acordo com
Longhini Neto
A partir da Conferncia do Mxico (1963), o primeiro evento ecumnico
de tal magnitude realizado na Amrica Latina, a expresso misso
mundial tomou realmente sentido [grifo meu]. Falou-se da misso no e
para os seis continentes. Desde ento, no tem mais sentido relacion-la
146
como uma empresa dos pases do ocidente cristo.
87
147
WCC. Commission on World Mission and Evangelism. Disponvel em <http://www.oikoumene.org/en/who-arewe/organization-structure/consultative-bodies/world-mission-and-evangelism.html>. Acesso em 10 de dezembro de 2008.
NAVARRO, 1995, p. 131.
148
88
149
150
89
151
90
152
153
91
154
SNCHEZ S.J., Jesus Hortal. E haver um s rebanho: histria, doutrina e prtica catlica do Ecumenismo. 2. ed. So
Paulo: Loyola, 1996, p. 191.
92
155
93
156
No Brasil, em meados da dcada de 1980 foi criado o CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Crists), do qual faz parte
tambm a Igreja Catlica Apostlica Romana. As grandes denominaes religiosas so autnomas e formam igrejas nacionais
(batistas, presbiterianos, metodistas, luteranos, pentecostais, etc)
94
157
95
162
163
96
estudantis
iniciadas
em
Paris
espalhada
pela
Europa,
164
165
97
controlados
ideologicamente.
Assemblia
assumiu
um
98
compromisso pela vida, expresso no tema Jesus Cristo, vida do mundo. Santa Ana
descreveu bem o contexto da poca e as preocupaes da Assemblia ao
reproduzir a mensagem de abertura que declara:
A corrida armamentista absorve em toda parte grande quantidade de
recursos que so desesperadamente necessrios para manter a vida
humana. Os que ameaam com o poderio militar esto jogando com
polticas de morte. Vivemos todos um momento de crise (...) A vida, dom
excelso de Deus, deve ser protegida quando a segurana nacional
utilizada como excusa a um militarismo arrogante. As razes da paz so
feitas de justia.
A vida um dom que recebemos. Contemplamos esse dom de Deus com
perene gratuidade. No culto de abertura da Assemblia uma me ergueu
seu filho na mesa do Senhor. Era um sinal de esperana e de continuidade
da vida. (...) As foras da morte so poderosas, mas mais poderoso do
dom da vida em Cristo. Comprometemo-nos a viver esta vida com todos os
seus riscos e alegrias, e por isso com todas as hostes celestes nos
atrevemos a proclamar: Onde est, morte, tua vitria? Cristo ressuscitou.
166
Ressuscitou verdadeiramente.
166
99
167
WCC. 8 Assemblia. Proyecto de declaracin sobre los nios soldados. Disponvel em
coe.org/wcc/assembly/child-s.html> Acesso em 13 de janeiro de 2009.
<http://wcc-
100
168
WCC. 9 Assemblia. Llamadas a ser la Iglesia Una: Una invitacin a las iglesias a que renueven su compromiso de buscar la
unidad y de profundizar su dilogo. Disponvel em <http://www.oikoumene.org/es/documentacion/documents/ asamblea-delcmi/porto-alegre-2006/1-declaraciones-documentos-aprobados/unidad-cristiana-y-mensaje-a-las-iglesias/llamadas-a-ser-laiglesia-una-tal-como-fue-aprobado.html>. Acesso em 13 de janeiro de 2009.
101
169
170
102
171
103
104
IGREJAS MEMBROS
ASSEMBLIA
COMIT CENTRAL DO
CMI
PROGRAMAS
6)
Assessoram o pessoal do CMI na orientao, execuo e avaliao
dos programas do organismo. So cinco:
RGOS CONSULTIVOS
1)
2)
3)
4)
5)
romana)
RGOS CONSULTIVOS
MISTOS
CONSELHOS
NACIONAIS e
CONFERNCIAS
4)
O CMI tambm estabelece dilogo e cooperao com Conselhos
Nacionais de Igrejas, Organizaes ecumnicas regionais,
Comunhes Cristas Mundiais, Ministrios especializados e
Organizaes ecumnicas internacionais
fonte: www.oikoumene.org
105
Paulo Freire era responsvel por uma sub-unidade deste Programa que
cuidava da Educaao Bsica de Adultos. No CMI, organismo de importante fora
formadora e mobilizadora voltada para o bem estar humano que Paulo Freire se
sentiu motivado a trabalhar e, trabalhando redescobriu sua ptria, sua terra.
Tratamos em captulo anterior sobre a vida de Paulo Freire. Sua trajetria
marcada pelo compromisso com o ser humano, e no somente com a vida biolgica
ou com o fato do ser humano estar no mundo. O compromisso de Paulo Freire foi
com o resgate da humanidade subtrada pelos esquemas ideolgicos de poder que
criam um sistema injusto e desigual entre os humanos. Seu compromisso foi
tambm com o ser mais em oposio ao ser humano oprimido que o ser
menos.
106
107
nos
recebeu
em
seu
escritrio,
numa
organizao
no
172
WERNER, Dietrich. Ecumenical Learning in Global Theological Education: Legacy and unfinished tasks of Edinburgh
1910. Disponvel em <www.edinburgh2010.org>. Acesso em 10 de fevereiro de 2009. [O texto uma traduo livre do
original.]
173
WERNER, 2009, Idem. [traduo livre do original]
108
174
109
177
110
111
utiliza
no
meio
ecumnico
termo
contextual,
contextualizao,
intercontextualizao, e etc.
178
HESSELGRAVE, David; ROMMEM, Edward. Contextualization: Menanings, methods and models. Grand Rapids: Baker Book
House, 1989, p. 28.
179
Ao referir-me a "luterano norte-americano" fao a distino ente a Igreja Evanglica Luterana e a Igreja Evanglica de
Confisso Luterana.
180
HESSELGRAVE; ROMMEM, 1989, Idem.
181
KOSCHORKE, Klaus; LUDWIG, Frieder; DELGADO, Mariano. A history of Christianity in Asia, Africa, and Latin America,
1450-1990. A Documentary Sourcebook. Grand Rapids: Eerdmans, 2007, p. 129.
112
Quando da nossa entrevista com Aharon Sapsezian, ele nos relatou sobre o
tempo em que trabalhou como um dos diretores associados do TEF em Londres e
de como se chegou ao termo que, como citamos acima, diferente dos dois autores.
Nicholls e Peters possuem um conceito fechado, restrito, de contextualizao. Para
os membros do TEF, a contextualizao proftica. Segundo Sapsezian, a criao
do termo se deu num pub ingls. Transcrevemos aqui parte da entrevista.
Educao teolgica no meu tempo era um fundo, era dinheiro ... claro que
era mais do que dinheiro ... tinha l certa viso das coisas e procurava
atravs do dinheiro incentivar um ministrio de atividades teolgicas ... por
exemplo, ns falvamos muito em teologia original, local, independente de
186
teologia estrangeira ... A ASTE , por exemplo, foi criada nesta poca j
com esta mentalidade ... Ns precisamos fazer dos seminrios brasileiros
instituies que caminhem com os seus ps ... todas as igrejas protestantes
eram teologicamente tributrias ... todas elas ... e no fim nem nos
orgulhvamos disso no ... ao contrrio ... porque achvamos que era a
grande teologia (...) Todas estas teologias ... ns, na mesma poca
[referindo-se ao termo conscientizao, de Paulo Freire] ... ns da
Educao teolgica criamos uma palavra que fez histria...
Contextualizao [palavra dita por Odair Pedroso Mateus, telogo
presbiteriano independente, que trabalha no CMI e que nos acompanhava
na casa de Sapsezian]. ... contextualizao ... e eu acho que ela de certo
modo ... [a esposa de Sapsezian, Zabel, interrompe, em tom de brincadeira,
perguntado quem foi que criou o termo, ao que Mateus responde: Shoki
Coe e Sapsezian] Pra dizer a verdade foi num pub, numa cervejaria l perto
da sede ... Shoki Coe e eu amos l noite. A gente ia l (...) falar de
teologia. O Shoki (...) era uma excelente cabea ... a noo (de
contextualizao) j existia, faltava uma palavra que encarnasse isso. Foi l.
182
Bruce J. Nicholls foi um missionrio na ndia que trabalhou com educao teolgica e como pastor na Igreja do Norte da
ndia. Foi tambm editor da Revista Evanglica de Teologia por 18 anos e editor dos Comentrios Bblicos para a sia, que
publica Livros da Bblia para serem lidos a partir do contexto vivencial asitico.
183
George W. Peters, norte-americano, foi professor de Misses Mundiais em Dallas Theological Seminary. Autor de A Biblical
Theology of Missions. Homem conservador que acreditava que o melhor caminho era converter as pessoas ao Evangelho e
somente ento a sociedade sofreria mudanas estruturais profundas.
184
HESSELGRAVE; ROMMEM, 1989, p. 149
185
HESSELGRAVE; ROMMEM, 1989, Idem.
186
ASTE Associao dos Seminrios Teolgicos evanglicos. uma instituio que foi criada no Brasil na dcada de 1960 e foi
a responsvel pela traduo de vrias obras na rea de Teologia.
113
Eu me lembro naquela noite, no pub ... a palavra pub vem de public house,
e o dono do pub era um publican. E o publicano l nos conhecia ... a ns
dois ... ramos fregueses assduos l. [Shoki Coe e Sapsezian tambm
almoavam no pub]. O pub fechava s onze [23h]. As onze tocava um sino
l. No podia mais servir. O pessoal ento tomava o ltimo golinho. Shoki e
eu ficvamos. E ele nos servia dizendo: no estou vendendo. Isto
presente da casa. De modo que ele no estava infringindo lei nenhuma. E
ns ficvamos noite adentro. A idia tava presente. Ele mesmo (Shoki)
falava em transplantar. Esta planta ns temos de plantar em terra nossa,
pra germinar l. Eu me lembro de um artigo dele que falava nisso. E eu
continuava ... todo esse evangelho que ele t falando coisa que germinou
numa cultura diferente da nossa. (...) Terceiro Mundo to diferente, t
saindo da colonizao, t querendo descobrir sua identidade prpria,
herdou esse negcio chamado Cristianismo, catlico ou protestante... Mas
isso aqui no pra repensar? Como que a gente pode ver o que
realmente original nisso e o que o cosmtico cultural de cada pas, cada
denominao, cada telogo europeu... Isto no existia. Nunca se falou em
telogo latino-americano. Palavra telogo logo levava seu pensamento a
um personagem importante no estrangeiro. Mesmo ns que estudamos fora
... eu fui um dos primeiros que tive este privilgio ... estudei fora, eu fazia
propaganda de Barth, Tillich, Niebuhr. (...) Eu, por exemplo, li Barth de cabo
a rabo, coisa que pouca gente fez ... traduo francesa ... quer dizer ... no
tinha nem terminado ainda a traduo francesa (...) Teologia era isso. Mas
depois a gente ficou desconfiando que no pode ser s isso. No s isso,
no. H alguma coisa que tem que levar a srio essa verdade to
187
diferente.
187
Entrevista com Aharon Sapsezian, realizada em 06 de agosto de 2007, em sua residncia no Canto de Vaud, Sua.
CHAMBERLIN, J. Gordon. Contextualization: Origins, Meaning and Implications A Study of What the Theological Education
Fund of the World Council of Churches Originally Understood by the Term "Contextualization," with Special Reference to the
Period 1970-1972. Journal of Ecumenical Studies. V. 34, 1997.
189
CHAMBERLIN, 1997, idem
188
114
115
193
NEWBIGIN, Lesslie. Theological Education in a world perspective. Ministerial Formation. Genebra, n. 110, april 2008, p.
25-26.
116
No que diz respeito reduo de custos, Werner aponta que no TEF a equipe
era composta de cinco pessoas trabalhando em tempo integral. No PET a equipe foi
reduzida para quatro pessoas e o Programa ETE tinha apenas uma pessoa
trabalhando em tempo integral at o incio o ano de 2007, sendo auxiliado por trs
ou quatro consultores regionais da ETE em vrios continentes.195 A ETE assumiu
como tema central de ao a Viabilidade da Educao Teolgica Ecumnica, que
pode ser entendida de duas formas: econmica ou como busca de renovao.
Preferimos ficar com a segunda, por conta da natureza do Programa para o CMI.
Para conhecer e compreender a trajetria do TEF/PTE/ETE, recomendamos a
leitura de uma publicao [que ousamos adjetivar de extraordinria] de 93 pginas,
devidamente documentada, com fotos e textos daqueles que construram a histria
da Educao Teolgica Ecumnica intitulado Ministerial Formation, n.110, April
2008. O Ministerial Formation publicado pelo PTE/ETE desde janeiro de 1978.
3.2 A Educao no-teolgica no CMI
A partir destes breves comentrios relativos trajetria da Educao
Teolgica no mbito do CMI podemos considerar que dentro deste espao mais
amplo de preocupaes com as questes educacionais e de formao teolgica
ecumnica se abriram espaos menores, e nem por isso menos importantes, para a
busca da humanizao dos sujeitos desumanizados nos continentes asitico,
africano e latino-americano, especialmente.
No ano de 1968 o CMI reuniu-se em sua Quarta Assemblia em Upsala e na
qual houve um amplo debate sobre a necessidade de reorientao dos padres
educacionais e estruturais do mundo moderno. Estas preocupaes so
seguramente os reflexos das manifestaes estudantis, de trabalhadores e de outros
grupos que buscavam assegurar os seus direitos.
194
195
WERNER, 2009, p. 8
WERNER. 2009, idem.
117
196
118
Muito provavelmente o convite para trabalhar no CMI se deu por conta das
aproximaes da Igreja catlica romana com o CMI.
3.3.1 Dois termos, dois brasileiros
J abordamos sobre o termo contextualizao como marca do terceiro
mandato do TEF, e criao do brasileiro Aharon Sapsezian. Outra palavra cunhada
que passou a fazer parte do cotidiano do CMI no seu Departamento de Educao foi
conscientizao. O termo foi introduzido por Paulo Freire. E essas duas palavras,
nesse frtil contexto de contradies, cunhadas por duas personalidades brasileiras
(uma de tradio protestante e outra de tradio catlica) faro a diferena dentro do
movimento ecumnico.
Werner afirma que no se pode deixar de mencionar a pessoa de Paulo
Freire quando se fala do tema da Assemblia de Upsala que era Eis que fao novas
todas as coisas. E a Assemblia aconteceu antes de Freire ir para o CMI. Junto a
Paulo Freire, Werner menciona tambm Ernst Lange, embora no tratemos deste,
que foi diretor do Instituto de Ao Ecumnica do CMI. A partir destes dois houve um
tempo de transformaes revolucionrias e um urgente chamado para uma
nova abordagem para a conscientizao e para uma pedagogia do
oprimido, numa reviso das abordagens anteriores, que eram elitistas. As
diferenas gritantes entre os hemisfrios Norte e Sul no chamado conflito do
desenvolvimento necessitavam de respostas urgentes que somente
197
poderiam ser dadas de forma pedaggica e educativa, [grifos meus]
197
WERNER, 2009, p. 7.
Apresentamos aqui um fato que nos ajuda a compreender como a educao como conscientizao era muito cara a Paulo
Freire desde os anos de 1960 e que foi alvo das preocupaes dos conservadores brasileiros. Numa entrevista colhida pelo
Museu da Pessoa, em 1992, para o Projeto Memria Oral do Idoso, feita uma pergunta a Paulo Freire sobre a noite do evento
de encerramento do Curso de Alfabetizao de Angicos/RN, em 1963, quando um senhor de 70 anos, diante das autoridades
pede a palavra e afirma que a fome da cabea [a necessidade de conhecer, de se reconstruir, de ser mais] maior que a fome
da barriga. Eis a resposta de Freire:
Inclusive ele fez um discurso, foi muito interessante, porque o presidente da Repblica j tinha encerrado a reunio, quando
ele pede a palavra, quer dizer, no tinha nada que ver com os protocolos. Ele pede a palavra pra falar, e eu me lembro que um
198
119
dos presentes da comitiva do presidente disse assim: "Eita, quebrou o protocolo"! Ele virou-se e disse: "Quebrei o que?" E
ningum respondeu mais. E a o Joo Goulart, que era um homem muito simples, o presidente Goulart, disse: "Pois no, pode
falar". Ele levantou, e disse: "Alteza, chamou o presidente Goulart de Alteza. (risos) Ai disse: "Me lembro de que, uma vez, mais
ou menos assim, houve uma fome muito grande nesse Estado, e outro presidente, que era o Getlio Vargas veio aqui, ao RN,
para ajudar a gente a sair da fome da barriga. E hoje veio Vossa Alteza pra ajudar a gente a matar outra fome, a fome da
cabea, a fome do saber". Depois ele disse uma coisa que a imprensa, todo o mundo no deu, no noticiou, ele disse: "Ns
aprendemos aqui, presidente, mais do que assinar o nome, do que ler um bilhete. Ns aprendemos aqui a
mudar, tambm - sim, porque o Joo Goulart tinha citado no discurso dele, a leitura da carta do ABC do pas, que era a
Constituio. E ele disse: "Ns aprendemos, presidente, mais do que ler a carta do ABC do Brasil, aprendemos a mudar ela
tambm." Isso uma coisa fantstica, e esta afirmao dele no foi citada pela imprensa na poca. No foi. Mas ele disse isso.
E deve ter agravado essa frase dele, ele deve ter agravado os lderes do golpe que em seguida se deu. Se deu no
ano seguinte. E eu me lembro que estava presente nessa reunio e ouviu essas frase o general, ento general, o marechal
Castelo Branco. E ele estava presente, e era na poca comandante do IV Exrcito. E ele foi pra l. Mas naquela altura, ora voc
imagina, isso deve ter sido junho de 63. O golpe foi em abril de 64, quer dizer, naquela altura, o Castelo Branco tinha j o
esquema todo do golpe, no h dvida. E ouviu essa frase desse homem. Depois ele falou comigo e disse: "Professor, eu
acho que o senhor defende uma pedagogia sem valores." Eu nunca esqueo desse papo com o Castelo Branco. Eu
disse: "No, general, eu acho que pelo contrrio, eu, no, ele falou uma pedagogia sem hierarquia, parece que era isso. E eu
disse: No, o senhor est equivocado, eu defendo valores e os valores estabelecem hierarquias agora s que o
que que eu acho que a hierarquia que est a montada e estabelecendo princpios, pra ns, est precisando
mudar. Eu acho que est montada em bases injustas, etc ..."E ele falou pra mim: "E o senhor aceita de falar pra ns no
IV Exrcito?" "Falo onde o senhor quiser." Mas no deu mais nem tempo. E eu acho que aquele discurso acabou, n? Porque o
discurso daquele homem no ajudou, de jeito nenhum, o amaciamento do golpe. Deve ter, eu no diria que o discurso do
homem foi causa do golpe, seria uma loucura da minha parte, a histria no to simples assim, mas o discurso
do homem deve ter aguado um pouco as preocupaes conservadoras de ento. Quer dizer, hoje, voc v como a
histria bonita. Um discurso desse hoje no deixaria muita gente demasiado assustada. S um ou outro, mais conservador.
Mas naquela poca, um discurso desse assustaria 99% dos conservadores. [grifos meus] Disponvel em
<http://www.museudapessoa.net>. Acesso em 5 de maro de 2009.
199
KINSLER, Francis R. Relevance and Importance of TEF/PTE/ETE: Vignettes from the Past and Possibilities for the Future.
Ministerial Formation. Genebra, n. 110, april 2008, p. 12. Acessado em 8 de maro de 2009.
200
KINSLER, 2008, Idem.
120
Esta afirmao de Paulo Freire nos indica que ainda no Chile ele j estava
preocupado com a utilizao do termo, pois, para ele a conscientizao mais do
que saber o que se passa ao redor. um ato histrico do ser humano que se liberta
201
121
No ano de 1969 Paulo Freire estava, de certa forma, desgostoso com a sua
vida no Chile. Isso se dava tambm por questes polticas. Membros do Partido
Democrata Cristo o acusavam por ter publicado uma obra por que atentava contra
a democracia crist e contra o presidente do Chile. Alis, Freire publicou seis livros
quando estava no Chile: 1) Educao como prtica da liberdade que era uma verso
ampliada de Educao e atualidade brasileira, a sua tese apresentada na Escola de
Belas Artes da Universidade do Recife; 2) Pedagogia do Oprimido, entre 1967 e
1868 e seriam publicados pela primeira vez em 1970; 3) Educao e
conscientizao:
extensionismo
rural;
4)
Contribuio
ao
processo
de
205
122
voltou a fazer parte de sua fala especialmente a partir de 1974. Antes disso Freire
entendia que o termo estava banalizado.
No CMI Paulo Freire teve, alm da sua contribuio a partir da
conscientizao, uma atuao importante no que diz respeito educao como
prxis libertadora. O perodo no CMI foi de consolidao do seu pensamento.
3.3.2 O Itinerrio do Andarilho da Esperana: Paulo Freire no CMI
A partir dos documentos Acessos na biblioteca do CMI e do Instituto
Ecumnico de Bossey faremos meno de alguns contedos que nos permitem
caminhar com Paulo Freire durante o perodo em que ele trabalhou no CMI. o
itinerrio de uma vida que se entrelaou com muitas outras curiosas por conhec-la.
O primeiro documento (Anexo 1), de fins de 1972 ou incio de 1973, embora
no seja o primeiro produzido por Paulo Freire quando estava em Genebra est
redigido em francs e traz elementos interessantes, pois nele Paulo Freire narra sua
trajetria. Cuidamos de fazer uma traduo livre do texto para o portugus, pois o
documento de Paulo Freire e tem a sua assinatura.
Paulo Reglus Neves FREIRE
Situao familiar:
Cinco filhos:
123
124
At esta parte do documento Paulo Freire narra sua histria, que bem
conhecida dos freireanos. A partir deste tpico Paulo Freire passa a descrever como
foi a sua entrada no pas que o acolheu para completar o seu tempo de exlio, Sua.
O que muda no discurso de Paulo Freire a partir daqui que, enquanto estava no
Chile, estava na Amrica Latina. Seu mtodo de alfabetizao, como ele mesmo
descreve acima, foi encampado pelo governo chileno e ele estava trabalhando na
sua prpria construo epistemolgica. Ele j havia produzido seis obras e dentre
elas a sua obra prima, que havia sido publicada em ingls quando ele estava
morando nos Estados Unidos. Ele havia tambm acompanhado e contribudo
epistemologicamente para o despertar da Igreja na Amrica Latina, como pudemos
verificar acima, atravs da Conferncia de Medelln.
No final do ano de 1969, durante o inverno, Paulo Freire estava num impasse.
Tinha muitos convites para trabalhar. Mas tinha tambm seus receios, suspeitas e
posicionamentos ideolgicos. Poderia retornar ao Chile, onde estava ameaado por
conta de seus escritos. Poderia ficar nos Estados Unidos por mais um tempo, mas
como ele mesmo afirmou que queria conhecer a toca do bicho [referindo-se ao
capitalismo], e esta ele j conhecia e no agradava a ele ficar mais por l. esposa
Elza agradava a idia de ficar por mais um tempo. Poderia ir para o Canad [e foi
em junho de 1971], para trabalhar em Universidades em Otawa ou Montreal e tinha
uma carta-convite que chegou a ele do CMI, por conta de uma solicitao feita pelo
ex-padre e socilogo pernambucano Almeri Bezerra de Melo, amigo de Paulo Freire,
juntamente com mais dois sacerdotes catlicos romanos. Bezerra, que era assessor
125
eclesistico da JUC (Juventude Universitria Catlica) na qual usava o mtodo verjulgar-agir fez amizade com Paulo Freire, ao que parece, antes dos anos 60, pois
aps ter concludo o seu curso de ps-graduao na Universidade Catlica
de Paris, mais ou menos no incio do ano de 1963, assumiu a assessoria de
Paulo Freire, ligando-se ao MEB e a todo o Movimento de Cultura Popular
do Recife, tornado-se depois secretrio-executivo e, posteriormente, diretor
do Centro de Extenso Universitria da Universidade Federal do Recife,
206
quando Freire foi para Braslia.
Segundo Bezerra que nesta poca era exilado na Europa, sabendo das
aflies de Paulo Freire (relutante em retornar ao Chile, no querendo morar nos
Estados Unidos ou Canad e, no podendo retornar para a sua terra) dirigiu-se a
Genebra, acompanhado pelo Presidente e pelo Secretrio da Igreja Ps-Conciliar
para negociar a ida de seu amigo para trabalhar no CMI. Paulo Freire aceitou o
convite.
Na continuidade do documento Paulo Freire escreve:
Este documento que Paulo Freire no poderia mais renovar era como que um
passaporte. E ele fazia muitas viagens quando estava morando em Genebra. Paulo
Freire continua
206
CORTEZ, Lucili Grangeiro. O drama barroco dos exilados do nordeste. Fortaleza Editora da UFC, 2003, p. 54.
126
1970
Maro
No ms de maro Paulo Freire viajou para Black Forrest, na Alemanha e se
hospedou na residncia de Werner Simpfendrfer, que foi Secretrio-geral das
Associaes Ecumnicas das Escolas e Centros de Leigos na Europa. Estes centros
foram instrumentos importantes para a promoo de estudos ecumnicos,
especialmente depois da segunda guerra mundial.207. Nesta viagem Paulo Freire
juntamente com Will Kennedy e Ernst Lange se reuniram durante uma semana para
estudos sobre as suas tarefas como membros do Departamento de Educao do
CMI.
207
KINNAMON, Michael; COPE, Brian E. The Ecumenical movement: an anthology for Keys texts and voices. Genebra: WCC,
1997, p. 447.
127
208
Sobre Will Kennedy ver VANN, Jane Rogers. William B. Kennedy. Disponvel em <http://www.talbot.edu/ce20/educators/
view.cfm?n=william_kennedy>
209
Em 1968 o compromisso pela justia entrou no campo ecumnico com a fundao, junto ao Conselho Mundial das Igrejas,
em Genebra, de uma Comisso: SODEPAX (Sociedade Desenvolvimento Paz) com a participao de todas as grandes
Igrejas crists inclusive a catlica com o fim de suscitar e acompanhar, entre todos os cristos, iniciativas comuns diante
dos crescentes problemas de injustias e do desenvolvimento. SODEPAX foi uma grande e audaciosa iniciativa de doutrina e de
praxe social apoiada com coragem, humildade e viso do futuro de Paulo VI, como lugar de encontro entre todos os cristos a
servio da humanidade. In: PIERLI, MCCJ, Francisco. Rumo a uma praxe da famlia comboniana para a transformao
social. Disponvel em < www.combonimediacenter.org>. Acesso em 15 de abril de 2009.
210
O IRFED foi fundado em 27 de maro de 1958 e dirigido pelo padre Joseph Lebret , sob a forma de uma Associao
declarada sem fins lucrativos, atravs da lei de 1 de julho de 1901, da Frana.
128
De Paris Paulo Freire viajou para Bergen, na Holanda, para um dos mais
importantes encontros sobre educao promovido pelo CMI. Entre os dias 17 e 23
de maio o Departamento de Educao do CMI fez uma sria reflexo sobre a crise
mundial da educao e como as igrejas poderiam ser propositivas nesta questo.
Esta Conferncia de educao do CMI, denominada Seeing Education Whole
(Olhando a Educao por inteiro, ou Um olhar integral sobre a educao) resultou
num texto de 126 pginas, publicado pelo CMI intitulado Witness to liberation com a
autoria de Paulo Freire em co-autoria com Tom Paxton, Jacques Prevert, Charles
Hurst, Martins Conway e Ellis Nelson.
Junho
Paulo Freire retornou a Paris em junho para um encontro do Departamento de
Cincias Sociais da Unesco. Neste encontro, que durou uma semana, Paulo Freire
se reuniu com 15 especialistas de diferentes pases para discutir sobre O papel das
Cincias Sociais no processo de desenvolvimento e em seguida viajou para Viena,
na ustria, para um Seminrio sobre Ao Cultural e Revoluo Cultural a convite
de Ernst Winter, que na poca era o diretor do Departamento de Cincias Sociais da
Unesco.
Julho
At o ms de junho de 1970 Paulo Freire faz viagens pela Europa. Em julho
Paulo Freire embarca para um Seminrio sobre O processo de alfabetizao de
adultos como um ato do conhecimento na cidade de Patzcuaro, no Mxico. Neste
Seminrio Paulo Freire trabalhou com 75 educadores latino-americanos. Partindo do
Mxico, Paulo Freire viajou direto para Roma, na Itlia, para um encontro no
SODEPAX sobre o tema Desenvolvimento e Educao. Deduzimos que Paulo Freire
tenha ido para Roma para discutir sobre decises que a SODEPAX tinha tomado em
129
uma Assemblia realizada em Nemi, Itlia, no ms de junho pois o CMI queria criar
uma Comisso sobre a Participao das Igrejas no Desenvolvimento (CCPD). A
Comisso foi criada no ano de 1970.
Agosto
Em agosto de 1970 Paulo Freire viajou para Amsterd, na Holanda para a
Free University of Amsterdam para um Seminrio de trs dias sobre Ao Cultural
para a Liberdade. Nessa ocasio Paulo Freire, j conhecido foi entrevistado por um
grupo de jornalistas sobre sua experincia educacional na Amrica Latina, Estados
Unidos e no CMI.
Terminado o Seminrio de Amsterd, Paulo Freire proferiu uma palestra
pblica sobre o tema Ao Cultural para a Liberdade. Tambm teve um encontro
privado
como
jovens
telogos
protestantes
tratou
com
eles
sobre
130
211
FREIRE, Paulo. The political literacy process: An Introduction. Lutherische Monatschefte, Hannover, Alemanha, 1970
(artigo mimeografado).
131
Freire fez uma discusso sobre O papel do INODEP, suas escolhas, seu
compromisso com a ao cultural para a liberdade. Desse encontro participaram trs
telogos, incluindo Werner Simpfendrfer com os quais se discutiu tambm a
relao entre a Teologia e a Educao par a Libertao.
Hughes de Varine, muselogo e professor francs, numa entrevista a uma
revista, fez algumas consideraes sobre Paulo Freire no que diz respeito ao
INODEP. Ele escreveu que se encontrou com Paulo Freire nos anos de 1970 e
1971.
Antes do encontro com Paulo Freire, Varine diz que se ajuntou a um grupo de
missionrios catlicos franceses, que eram crticos maneira de se fazer misso
impondo um universalismo cristo ocidental (que, segundo ele era a cooperao
pelo desenvolvimento), e decidiram fundar
uma organizao no-governamental de vocao internacional e
composio ecumnica (sobretudo catlicos e protestantes), para promover
novas formas de cooperao ao desenvolvimento. Foi o Instituto Ecumnico
para o Desenvolvimento dos Povos (INODEP), que agora desapareceu mas
que foi muito ativo durante quase 20 anos na Europa, frica, sia e Amrica
Latina, notadamente como suporte ao comunitria nesse campo.
Procuramos desde o comeo uma personalidade eminente para presidir
esta associao, algum que poderia no apenas dar orientao ideolgica,
mas tambm nos formar na ao. Sugeriram-nos Paulo Freire que era
ento, no exlio, conselheiro para a educao no Conselho Ecumnico das
Igrejas em Genve. Eu o encontrei pela primeira vez indo v-lo em Genve
para lhe propor essa presidncia. Em seguida, durante 3 anos, at 1974,
pude trabalhar com ele, sendo eu mesmo responsvel pelo sector francs,
que assegurava a gesto financeira da organizao. E naturalmente, li suas
obras em ingls ou francs quando estavam disponveis. Minha participao
no INODEP era absolutamente voluntria e independente do meu trabalho
como director do ICOM, mas pude, naturalmente utilizar o que aprendia com
212
Paulo no INODEP no meu trabalho no ICOM.
Varine tambm faz um importante comentrio. Ele diz que se lembra muito a
recusa brasileira de autorizar a Unesco a convocar Paulo em Santiago213 no ano de
1972. Como veremos adiante, Paulo Freire esteve em Santiago, contrariando a
presso do governo brasileiro sobre a Unesco.
212
RESPOSTAS de Hugues de Varine s perguntas de Mrio Chagas. Cadernos de Museologia, n. 5, 1996, p. 8. (Texto
bilnge: portugus e francs).
213
RESPOSTAS de Hugues de Varine s perguntas de Mrio Chagas. Cadernos de Museologia, idem.
132
Ainda em dezembro de 1970 Paulo Freire teve um novo encontro com Werner
Simpfendrfer e Ernst Lange na cidade alem de Frankfurt no qual trataram sobre o
tema da Ao Cultural para a liberdade.
1971
Janeiro
Paulo Freire inaugura suas viagens no ano de 1971 na cidade de
Cuernavaca, no Mxico onde ficou por duas semanas para realizar um Seminrio
sobre Processo de Alfabetizao como um ato do conhecimento e os riscos da
conscientizao (idealismo, objetivismo). Participaram deste encontro 300 pessoas
da Amrica Latina.
Fevereiro a Abril
Entre os meses de fevereiro e abril Paulo Freire passou 8 dias na cidade de
Cambridge, no Estado de Massachusetts, nos Estados Unidos, em um workshop
sobre Processo de conscientizao e a realidade americana. Neste encontro
participaram 45 pessoas, dentre elas cientistas sociais, educadores e pessoas
comuns. Paulo Freire tambm fez um discurso pblico na Universidade de Harvard.
Dos Estados Unidos ele viajou para Santiago, no Chile, onde iniciou sua
colaborao oficial com o governo chileno atravs do CMI. Nesse tempo Paulo
Freire tambm manteve conversas nos Estados Unidos e Canad.
Maio
O ms de maio foi de intenso trabalho para Paulo Freire. Ele retornou, como
no ano anterior, ao Instituto de Estudos Sociais na cidade de Haia, na Holanda, para
um Seminrio sobre Ao cultural e libertao. Participaram deste Seminrio um
grupo de 30 estudantes oriundos da frica, Amrica Latina e sia.
133
De Haia Paulo Freire foi para Amsterd onde se encontrou com um grupo de
pessoas que trabalhavam de forma ecumnica os diferentes modos de ao cultural.
Saindo da Holanda, Paulo Freire foi para a cidade de Bruxelas, na Blgica para um
Seminrio sobre Conscientizao e Evangelizao no Instituto Internacional de
Catequese e de Pastoral.
Deixando a Blgica, Paulo Freire foi para Paris onde participou de um
Encontro com o Comit Catlico. O tema do Encontro foi Conscientizao,
Libertao e Salvao. Ainda em Paris ele participou de um Seminrio com o IRFED
sobre a Pedagogia do oprimido. a primeira vez que Paulo Freire vai tratar de sua
obra prima em um Seminrio.
Junho a Agosto
Em junho Paulo Freire viajou para Lyon, na Frana. De Lyon foi a uma
comunidade pequena prxima, chamada Eveux, onde participou de uma
Conferncia com o European Students Pastors (Estudantes Pastores Europeus).
Da Frana Paulo Freire viajou para o Canad onde participou de duas
atividades. [1] Em Ottawa realizou um Seminrio sobre um tema do qual tinha
trabalhado em outubro passado na Alemanha: O papel dos voluntrios do Primeiro
Mundo em suas atividades no Terceiro Mundo. O seminrio aconteceu na Canadian
University Overseas Service. [2] A outra atividade foi um workshop patrocinado pelo
Centro de Estudos de Desenvolvimento e Mudana Social da Universidade de
Harvard. O documento no claro, pois registra a realizao do workshop em
Montreal. Os temas deste workshop foram: a) Ideologias, Epistemologia e as
Cincias Sociais; b) Ao Cultural, Conscientizao e Revoluo Cultural. Paulo
Freire registra a participao de um grupo de cientistas sociais, de educadores e do
Prof. Paul Lin neste workshop.
Paul Lin era uma das grandes personalidades sino-canadenses. Nascido na
China, foi muito jovem para o Canad onde teve toda a sua formao escolar e
acadmica, sendo lder destacado durante as tensas relaes da China com o
Ocidente. Lin ficou conhecido por ter abandonado o doutorado em Harvard para
retornar a China, onde trabalhou por 15 anos (de 1949 a 1964). Em 1958 Lin
134
214
O Red Pencil foi, entre os anos de 1969 e 1972 um folhetim impresso e distribudo por professores e tratava de temas
sobre educao/pedagogia e ativismo social.
135
A resposta do CMI (Anexo 5), depois de uma troca de cartas, foi encaminhada
por Charles Spivey Jr. a Shamuyarira nos seguintes termos:
Eu confirmei a disponibilidade de Paulo Freire para a conferncia na data
proposta. Ele [Paulo Freire] pediu para que voc faa contato direto e
imediatamente com ele. Como ele est no Peru agora, por mais duas semanas,
pode ser que ele se atrase.
Setembro
Todo o ms de setembro Paulo Freire se dedicar frica. Ele viaja para
Zmbia e Tanznia. A passagem pela Zmbia foi rpida. No pas Paulo Freire
136
No perodo em que Paulo Freire esteve na Tanznia foi possvel seu contato
com um professor brasileiro, baiano e negro, reconhecido como um dos maiores
gegrafos do planeta: Milton Santos. Na dcada de 1970 Milton Santos foi
responsvel pela organizao do Curso de Ps-graduao em Geografia da
Universidade de Dar-es-Salaam. Seu exlio foi uma verdadeira via sacra.
Paulo Freire produziu um relatrio sobre a sua passagem pela Tanznia neste
perodo e retornou ao pas no ano seguinte para uma estada mais longa.
As impresses acerca da pessoa de Freire na frica foram apresentadas
numa correspondncia (Anexo 8) datada de 19 de setembro que diz:
Paulo Freire uma personalidade muito estimulante e desafiadora, tanto para
falar quanto para ouvir. Ele deixou uma excelente impresso aqui na
Universidade, tanto entre os ativistas do processo libertador, quanto entre os
marxistas-leninistas. Sua palestra programada para durar uma hora passou para
duas. Pena que ele nos visitou num perodo em que nossos estudantes esto de
frias.
Todas as pessoas aqui at o Vice-Chanceler (Vice-Reitor), gostaramos de v-lo
novamente aqui para ficar por mais tempo ensinando, conversando, palestrando,
etc. Eu no recebi um relatrio detalhado de Lusaka sobre o curso para
escritores, realizado recentemente em Mindolo. [A carta de 22 de setembro
Anexo 9, responde como foi o curso] Paulo Freire nos deu a impresso de que
foi um bom curso, mas o nmero de participantes foi muito menor que esperado.
Eu no sei ainda o que aconteceu com os outros dez ou mais participantes.
137
215
138
1972
Janeiro
No dia 19 de janeiro Paulo Freire, Werner Simpfendrfer e Will Kennedy
foram a Berna, capital da Sua, para um encontro de Comisses da Unesco. Os
trs tiveram participao ativa, discursando no Encontro.
Paulo Freire foi tambm a Bruxelas no ms de janeiro para ministrar um
Curso sobre a Prxis da Conscientizao, no Instituto Lumen Vitae216, conforme
atesta a Irm Claire-Marie Jeannotat, do CMI, quando apresentou um relatrio217,
provavelmente o que Paulo Freire teria produzido quando do seu retorno da
Tanznia.
Fevereiro
Paulo Freire esteve no comeo do ms em Viena, na ustria. No dia 14 ele
viajou para a Inglaterra, para a cidade de Iorque para se encontrar com Ian Lister
que na poca era professor do Departamento de Educao da Universidade de
Iorque onde Paulo Freire realizou um Seminrio sobre Educao.
Ian Lister foi Diretor de Pesquisa do Programa Nacional de Poltica de
Alfabetizao do Reino Unido na dcada de 1970 e por isso tinha interesse nas
idias de Paulo Freire. Na obra Politics of liberation: paths from Freire218 de autoria
de McLaren e Lankshear o captulo 3 um texto de Ian Lister intitulado
Conscientization and political literacy: A British encounter with Paulo Freire em que
ele trata do encontro com Freire e da aplicao das suas idias, especialmente no
que diz respeito conscientizao no campo educacional nas escolas inglesas.
Maio
216
O Instituto Lumem Vitae, uma instituio que oferece cursos e publica uma Revista Internacional sobre Catequese e
Pastoral. Possui convnio com a Universidade Catlica de Louvain.
217
GADOTTI, Moacir. (Org.) Paulo Freire: uma biobliografia, 2001, p. 129.
218
LISTER, Ian. Conscientization and political literacy: A British encounter with Paulo Freire. In: McLAREN, Peter; LANKSHEAR,
Colin. Politics of Liberation: Paths from Freire. Florence/KY/EUA: Routledge Pub, 1994.
139
140
1973
Fevereiro
Paulo Freire retomou suas viagens no dia 22 de fevereiro indo para a cidade
de Zurique, na Sua. Foi acompanhado de Will Kennedy e Werner Simpfendrfer
para um Seminrio na Paulus Akademic. Alm destes participaram do Seminrio 30
estudantes, dos quais alguns j tinha discutido a Pedagogia do oprimido e Max
Keller da Paulus Akademic alm de Sonderegger e Straub, ambos da Universidade
de Zurique e Pfarren Wildbolz.
Maro
No dia 2 de maro Paulo Freire fez um discurso numa Faculdade de
Formao de Professores (Teachers Training College) de Basel, na Sua. No dia 8
ele participou de um debate organizado por Pierre Further sobre Motivao de
adultos para estudar e a experincia de Paulo Freire para um pequeno grupo de
estudantes do Curso de Psicologia Industrial da Universidade de Neuchatel. Para a
Faculdade de Letras da mesma Universidade Paulo Freire fez um Seminrio sobre
Pedagogia.
Maio
Entre os dias 3 e 20 de maio Paulo Freire esteve na ndia, com uma agenda a
cumprir.
Nos dias 4 e 5 teve encontros fechados em Nova Delhi com a AIACHE (All
India Association for Christian High Education) que uma Associao Ecumnica
que rene instituies crists de ensino catlicas, protestantes e ortodoxas, visando
o trabalho conjunto para atender necessidades e servir s comunidades nacionais.
141
A OXFAM (Oxford Committee for Famine Relief) ou Comit de Oxford de Combate Fome uma organizao nogovernamental criada em 1942, durante a Segunda Grande Guerra, com a finalidade de atender populaes que sofrem fome e
injustia. Tem sua sede em Oxford, Inglaterra e escritrios em vrias cidades do planeta. Atualmente a OXFAM constituda de
13 organizaes internacionais e mais de 3000 parceiros.
142
Entre os dias 7 e 11 Paulo Freire foi para a Sucia, para uma srie de
Seminrios e Encontros. O primeiro deles foi com professores e estudantes da
Universidade de Gothenburg. Na seqncia fez um Seminrio com crculos de
estudos universitrios em Estocolmo e dois Seminrios especficos: um para
estudantes e outro para professores da Universidade de Estocolmo.
Paulo Freire, ainda em Estocolmo, fez um Encontro informal com algumas
pessoas envolvidas com a atividade de educao crist, especialmente aquelas
interessadas em educao para a libertao e educao no-escolar, ligadas s
Sociedades Missionrias suecas. Tambm se encontrou com professores e
pesquisadores do Instituto de Pedagogia da Universidade e com lderes missionrios
suecos. Nesse tempo Paulo Freire tambm teve um curto encontro com pessoas do
Conselho Ecumnico Sueco.
Paulo Freire fez uma palestra pblica com a Dag Hammrskjl Fundation sobre
Pedagogia da liberdade e desenvolvimento. Visitou a Associao dos Escritores
suecos e fez um Seminrio com a equipe da SIDA (Agncia Sueca de Cooperao
Internacional e Desenvolvimento). Tambm visitou o Instituto Latino-americano de
Estocolmo. Encontrou-se com missionrios estrangeiros e com algumas pessoas da
organizao Democracia Sueca.
Paulo Freire visitou o Ministro da Educaao da Sucia e fez muitos contatos
na cidade. Dentre estes Walter Persson das Sociedades Missionrias Suecas; Sven
Hamrell, da Dag Hammrskjol Fundation; Elizabeth Kvarnbck, da SIDA; Mariane
Maglund, que Freire encontrou em Estocolmo e posteriormente em Genebra; Carol
Berggren, pesquisadora sobre alfabetizao, especialmente a partir dos livros para
crianas e Stig Lindholm, que Paulo Freire encontrou primeiro em Paris e depois em
Estocolmo e que ficou sendo o contato sueco com o IDAC. Assim findou o ano de
viagens do ano de 1973.
143
1974
Janeiro
Paulo Freire iniciou a sua srie de viagens pela Alemanha. Esteve em
Tbingen onde contatou com Gilberto Calcagnotto, brasileiro gacho, radicado na
Alemanha. Nos dias 25 e 26 de janeiro Paulo Freire viajou para a Dinamarca onde
participou de um Encontro organizado pela Universidade de Aarhus e o SCM, que
um organismo do governo responsvel por Gesto de Suprimentos. No dia 25
Jrgen Lissner falou sobre Educao para uma alimentao saudvel e no dia 26
Paulo Freire falou sobre Educao para a Libertao.
Fevereiro
Nos dias 4 e 5 Paulo Freire esteve em Bruxelas, na Blgica. Foi ao Centro
Internacional de Estudos de Formao Religiosa, visitou o Instituto Lumen Vitae e
fez contato com o seu Diretor, o jesuta Jean Bouvy.
Abril e Maio
Nestes dois meses Paulo Freire fez uma de suas mais longas viagens. Ele foi
para a Oceania. Paulo Freire ficou de 16 de abril a 19 de maio no novssimo
continente. De 18 de abril a 5 de maio ficou na Austrlia; de 5 a 8 de maio na Papua
Nova-Guin; de 8 a 15 na Nova Zelndia e 16 a 17 nas Ilhas Fiji. A viagem foi
organizada por Cliford Wrigth, da Comisso de Educao Crist, residente em
Melbourne.
Abril
No dia 18 de abril Paulo Freire teve uma coletiva de imprensa na Scots
Church Hall. No dia 19 teve um encontro com os Aborgenes. No dia 20 ministrou
uma Conferncia de fim de semana sobre o tema Educao para a Libertao e a
Igreja que contou com a participao de 68 pessoas. No dia 22 Paulo Freire se
reuniu na casa de Cliford Wright para discutir o tema pobreza e fez uma palestra
pblica na Fitzroy Town Hall. No dia 23 Paulo Freire foi entrevistado pela ABC TV;
144
220
Ross Poole um filsofo australiano formado pela Universidade Macquarrie. autor de muitos artigos sobre nacionalismo,
tica, modernidade, multiculturalismo e direitos dos povos aborgenes. Ele escreveu obras importantes e dentre elas Moralidade
e Modernidade e Nao e Identidade.
145
146
1975
Fevereiro
221
Magnus Haavelsrud (Noruega) - professor de Educao na Universidade de Cincia e Tecnologia da Noruega e um dos
criadores da Comisso de Paz e Educao da Associao Internacional para a Pesquisa da Paz. Esteve no Brasil em agosto de
2009 no Congresso Mundial para a Paz nas Amricas, sendo um dos palestrantes. um crtico do modelo reprodutivista de
educao, denunciado por Pierre Bourdieu. Presidiu a Conferncia Mundial sobre Educao em 1974.
147
148
Setembro
Entre os dias 1 e 5 de setembro Paulo Freire estava em Perspolis, no Ir,
onde participou do Simpsio Internacional para a Alfabetizao. Neste encontro
Paulo Freire far um discurso em que declara que alfabetizar ensinar a usar a
palavra e pensar o mundo. E para ele escrever expressar juzo pensado sobre o
mundo (No Anexo 13 consta o discurso de Paulo Freire em francs. O texto foi
produzido originalmente em portugus e tambm h uma cpia em ingls). Os
contatos de Paulo Freire para a participao neste Simpsio eram Majid
Rahnema222, que j conhecia Paulo Freire desde sua atuao no Chile, pois ambos
trabalhavam para a Unesco e Lon Bataille, do Comit Patrocinador, autor de uma
obra chamada Um ponto decisivo para a alfabetizao.223
Entre os dias 7 e 22 de setembro Paulo Freire, aps contato do engenheiro
Mario Cabral, chefe do Alto Comissariado de Estado para a Educao e a Cultura do
governo de Guin-Bissau, por solicitao do Ministro da Educao, faz a sua
primeira visita ao pas, acompanhado de sua equipe do IDAC. A solicitao que
vinha do Ministrio era para que Paulo Freire e sua equipe pudessem ajud-los a
desenvolver seu Programa Nacional de Alfabetizao de Adultos. E esta ser a
primeira da srie de dez visitas que Paulo Freire far ao pas, sendo que quando
Paulo Freire fez a ltima visita, j tinha retornado ao Brasil.
Novembro e Dezembro - Uma Assemblia...
No consta nos registros de Paulo Freire a informao de que tenha
participado de alguns eventos maiores do CMI, provavelmente por conta de suas
constantes viagens. A Assemblia de Nairbi, no Qunia, frica aconteceu entre os
dias 23 de novembro de 10 de dezembro, no tempo em que Paulo Freire
desenvolvia suas atividades ligado ao CMI.
222
Majid Rahnema, nascido em Teer, no Ir, foi diplomata de carreira. Foi representante do Ir na Assemblia Geral das
Naes Unidas (ONU) por 10 anos consecutivos (1962-1972). Trabalhou como Comissrio da ONU para Ruanda (para
supervisionar as eleies e no referendo realizado em 1960). Foi Vice-presidente da Unesco entre 1965 e 1967. Ele tambm
atuou como membro do Conselho Executivo da UNESCO entre 1974 e 1978.
223
BATAILLE, Leon. A turning point for literacy. Proceedings of the International Symposium for Literacy. Oxford.
Perganon, 1975.
149
1976
Fevereiro
Paulo Freire viajou para a Itlia. Esteve em Palermo, na Siclia entre os dias 4
a 8 e participou da Consulta Internacional sobre Educao Inovadora patrocinada
pela Fundao Ford e pela Federao Mundial de Estudos do Futuro.
No dia 14 Paulo Freire e sua equipe do IDAC estavam em Guin-Bissau para
sua segunda visita. Permaneceram no pas at o dia 4 de maro.
Maro
Entre os dias 13 a 22 Paulo Freire esteve na Berlim Oriental, capital da ento
Repblica Democrtica da Alemanha, a convite da Federao de Igrejas
Evanglicas daquele pas com trs atividades especficas: (1) uma consulta com
uma Comisso da Federao sobre o trabalho da Igreja com crianas e candidatos a
confirmao. Nesta consulta foi discutido com Paulo Freire qual a sua opinio em
relao igreja em geral, ao seu trabalho educativo, relevncia do seu conceito
150
151
Agosto
Paulo Freire fez a sua primeira visita a Angola entre os dias 18 e 31. Esta
visita tambm foi uma solicitao do Ministro da Educao com o objetivo de fazer
uma discusso sobre a possibilidade de CMI, atravs de seu Departamento de
Educao se envolver no campo da Educao no pas. A ida de Paulo Freire foi
articulada por Almeri Bezerra, que poca trabalhava no pas, no escritrio da
Unicef. Angola tambm conseguiu a sua independncia no ano de 1975. Dois
grupos tentaram o controle do pas MPLA e UNITA. O primeiro governa o pas desde
1975 que possua e ainda possui um alto ndice de analfabetismo.
Provavelmente Paulo Freire fez um levantamento da situao So Tom e
Prncipe e de Angola, pois na segunda visita, que ser conjunta, vir acompanhado
da equipe do IDAC.
Setembro e Outubro
Paulo Freire, acompanhado da equipe do IDAC faz a sua terceira visita a
Guin-Bissau. Ele permaneceu por 22 dias no pas. Freire chegou a Guin-Bissau
no dia 23 de setembro e retornou para Genebra no dia 15 de outubro.
Entre os dias 18 e 21 de outubro Paulo Freire estava em Paris para uma
Reunio sobre o tema Conscientizao, organizada pelo INODEP.
Deixando a Europa, Paulo Freire retornou para a frica, na Botswana. Entre
os dias 23 e 31 de outubro participou de um Seminrio sobre Educao organizado
pelos Estudantes Sul-Africanos (em conjunto com o Programa do Conselho Cristo
de Botswana e o Departamento de Juventude do CMI).
Novembro
Paulo Freire retorna a Europa para algumas viagens internas no continente.
No final do ms estar de volta na frica.
Entre os dias 11 a 14 Paulo Freire esteve em Bielefeld, na Alemanha onde
participou de um Encontro organizado pelo Departamento de Investigao e Estudos
152
1977
Fevereiro
Paulo Freire retoma a suas viagens de onde havia terminado no ano anterior.
Entre os dias 6 e 26 de fevereiro realizou a sua terceira visita a So Tom e Prncipe
e Angola. A impresso que temos que Paulo Freire retornou para Genebra para
preparar material para a atividade da qual participaria duas semanas depois.
Maro
Nos dias 9 e 10 de maro Paulo Freire foi a Paris e participou de um Simpsio
da Unesco-NGO224 sobre Alfabetizao e a Educao para toda a vida. O convite
para o Simpsio veio de Laurel Casinader da Aliana Internacional de Mulheres de
Londres. Encerrado o Simpsio, Paulo Freire estava de retorno frica, na sua
quarta visita a Guin-Bissau e a primeira visita a Cabo Verde. Paulo Freire chegou
224
153
de
vrios
pequenos
Seminrios
de
trabalho
sobre
tema
154
1978
Janeiro
Paulo Freire esteve rapidamente em Paris, no dia 20 de janeiro, para uma
breve reunio (one-day meeting) com estagirios do Instituto Internacional para o
Planejamento Educacional.
Nos dias 26 e 27 Paulo Freire foi convidado pelo Pastor H.P. Scheriber para ir
a Basel (ou Basilia) da Associao de Estudantes Reformados Evanglicos, para
um encontro com estudantes que estavam se dedicando a estudar as aproximaes
da educao freireana.
No dia 30 de janeiro Paulo Freire participou de um encontro significativo na
Universidade de Lyon, Departamento de Letras e Civilizao. Ele foi convidado para
falar sobre o Programa educacional que estava aplicando em Guin-Bissau e So
Tom e Prncipe. Neste encontro participaram vrios lingistas que debateram com
Paulo Freire a questo da alfabetizao e da linguagem.
Fevereiro
Paulo Freire viajou para Frankfurt entre os dias 2 e 5 de fevereiro para
participar de um Seminrio sobre Pedagogia no Terceiro Mundo. O convite veio da
Universidade Johann Wolgang Gethe.
No dia 12 de fevereiro Paulo Freire estava de retorno frica. Fez a sua
sexta visita Guin-Bissau. Paulo Freire ficou no pas at o dia 28. Esta visita de
Paulo Freire se reveste de uma importncia extraordinria, pois em Guin-Bissau ele
fez uma reunio internacional, entre os dias 15 e 27 de fevereiro, com os Ministros
da Educao de cinco pases africanos. Estiveram presentes para um encontro de
12 dias com Paulo Freire os Ministros de Angola, Cabo Verde, Guin-Bissau,
Moambique e So Tom e Prncipe. Alguns desses pases tinham relaes, via
155
igrejas, com o CMI e j conheciam o "Mtodo Paulo Freire antes da sua chegada
em Genebra.
Abril
O ms de abril ser especialmente pesado na agenda de Paulo Freire. Ele
viajou pela Inglaterra e Estados Unidos. Do dia 1 ao dia 5 Paulo Freire viajou para
Guilford, no Reino Unido, a convite de Rosemary Wilcock, presidente do Conclio
Geral e da Junta de Educao da Church House. O convite era para uma consulta e
dilogo entre pessoas interessadas no tema das relaes entre Educao, Igreja e
Sociedade. Entre os dias 6 e 9 de abril Paulo Freire esteve em Lincoln, tambm no
Reino Unido, a convite de Canon Rex Davis, que na poca havia sado do CMI para
ocupar o cargo de Deo de Lincoln, uma das maiores, majestosas e suntuosas
catedrais gticas da Gr-Bretanha. Nesta cidade Paulo Freire participou de alguns
encontros sobre Educao e Desemprego e Obra e pensamento de Paulo Freire.
Do Reino Unido Paulo Freire embarcou para os Estados Unidos. Entre os dias
19 e 22 de abril Paulo Freire esteve em Sacramento onde participou de atividades
na Universidade do Estado da Califrnia, mais especificamente na Faculdade de
Educao. O convite chegou a Paulo Freire atravs do Prof. John P. McFadden do
Departamento de Cincias do Comportamento daquela Universidade.
Entre os dias 22 e 25 de abril Paulo Freire esteve em Long Beach, tambm na
Califrnia, para atividades ligadas rea de Educaao. O convite foi feito por Dr.
Donald C. Thompson. Paulo Freire viajou para Ann Arbor, no Estado de Michigan, a
convite da Faculdade de Educao da Universidade do Estado. Desenvolveu
atividades desde o dia 26 at o dia 29 de abril quando ento recebeu o ttulo de
Doutor honoris causa pela Universidade de Michigan.
Paulo Freire encerrou sua viagem pelos Estados Unidos na Filadlfia,
visitando a Universidade da Pennsylvania. Foi Faculdade de Educao a convite
de Mary R. Hoover, Professora Assistente na Universidade.
156
Maio
Neste ms Paulo Freire dedicou-se completamente frica. Ele fez a sua
stima visita Guin-Bissau entre os dias 5 e 17 de maio. Nos dias 20 a 31 Paulo
Freire viajou para a realizar a sua quinta visita a So Tom e Prncipe.
Junho
Paulo Freire encerrou o primeiro semestre do ano de 1978 na frica. Ao sair
de So Tom e Prncipe, ele foi para a sua quinta visita a Angola. Permaneceu no
pas entre os dias 1 e 9 de junho.
Agosto
Paulo Freire e mais um grupo de pessoas foram para Stony-Point, no Estado
de Nova Iorque, Estados Unidos para uma reunio de trabalho. O Grupo pertencia a
sub-unidade do Departamento de educao do CMI do qual Paulo Freire fazia parte.
Segundo Antonio Faundez, na entrevista concedida, o CMI possui vrios
Departamentos, os quais possuem sub-unidades que desenvolvem programas
especficos. Paulo Freire era responsvel pelo Programa de Educao Bsica de
Adultos. A reunio do Grupo nos Estados Unidos durou duas semanas. Iniciou no
dia 25 de agosto e encerrou no dia 8 de setembro.
Setembro
Entre os dias 21 e 26 de setembro Paulo Freire fez a sua oitava visita
Guin-Bissau. Novamente Paulo Freire encerra o seu ano de atividades fora da
Europa trabalhando na frica.
157
1979
Fevereiro
Paulo Freire iniciou suas viagens no ano de 1979 indo para o Oriente. Esteve
entre os dias 7 e 14 de fevereiro na cidade de Nova Delhi a convite de P.T.
Kuriakose, do Centro Internacional da Juventude para participar de alguns
Workshops e Seminrios sobre Educao de Adultos.
Maro
Entre os dias 5 e 8 Paulo Freire viajou para Kassel, na Alemanha. Foi a
convite de Matthias Wessler das Escolas de nvel mdio de Kassel e da
Organizao Internacional de Economia Agrria, para participar de alguns
Seminrios sobre Educao Superior e Desenvolvimento Internacional.
Saindo de Kassel, Paulo Freire se dirigiu para a frica, onde permaneceu por
um ms. Foi para Cabo Verde, para a sua terceira visita ao pas, chegando em 9 de
maro e ficando at o dia 16. No dia 17 chegou a Luanda, capital de Angola, para a
sua sexta visita. Ficou no pas at o dia 23 quando ento embarcou para a sua sexta
visita a So Tom e Prncipe. Sua estada neste pas foi de 23 de maro a 6 de abril.
Abril
Neste ms, nos dias 21 e 22 Paula Freire foi para Duisburg a convite das
Escolas de nvel mdio para liderar um Seminrio sobre Educao. Cinco dias
depois, no dia 27 de abril Paulo freie estava em Alicante, na Espanha a convite do
Instituto de Cincias Sociais Aplicadas Juan XXIII com objetivo de ajudar na
avaliao de um Programa de Cultura Popular e para liderar um dilogo sobre A
Evoluo da conscientizao e o pensamento de Freire. Paulo Freire ficou na
Espanha at o dia 29 de abril.
158
Maio
Paulo Freire retorna frica. Entre os dias 13 e 27 de maio ele chega a
Guin-Bissau para a sua nona visita.
Junho
O retorno de Paulo Freire para o Brasil comea a ser
antevisto. O Projeto de Anistia estava para ser aprovado
pelo Congresso e o governo sofria presses para que tal se
realizasse. O ms de junho foi um ms gracioso para o
andarilho. Paulo Freire recebeu o seu primeiro passaporte
como cidado brasileiro. At ento viajava com um
Documento de Viagem concedido pelo governo suo, pois
o documento que o governo chileno lhe entregara havia
expirado em 1973.
Julho
Paulo Freire viajou, como no ano anterior, para Ann Arbor, Michigan, nos
Estados Unidos. Chegou cidade no dia 1 de julho e ficou at o dia 31. Ficou o
ms todo participando em um Programa de Vero da Universidade de Michigan.
Deve ter levado o passaporte no bolso, junto ao Documento de Viagem recebido
do governo suo. Estava na expectativa pela aprovao da Lei de Anistia ampla,
geral e irrestrita, sem benesses aos torturadores ou militares.
Agosto
Paulo Freire desembarcou no Brasil no dia 7 de agosto225, mesmo sem que a
Lei de Anistia estivesse aprovada. Visita So Paulo, Rio de Janeiro e Recife. No dia
22 de agosto de 1979 foi aprovada, por pequena margem de diferena: 206 a 201, a
Lei de Anistia brasileira. Em 28 de agosto, o presidente militar Joo Batista de
Oliveira Figueiredo sancionou a Lei n 6.683, anistiando todos os cidados punidos
por atos de exceo desde 9 de abril de 1964 (edio do AI-1). A Lei anistiava
225
Segundo Gadotti In: GADOTTI, Moacir. Atualidade de Paulo Freire: continuando e reinventando um legado.
Coordinamento Nacionale Comunit di Accoglienza/Centro Sociale Ambrosiano - Milano, 25 maggio 2002, p. 1.
159
Anistia.
Disponvel
em
160
Dezembro
Entre os dias 7 e 18 de dezembro Paulo Freire far a sua ltima viagem do
ano frica. De 7 a 17 de dezembro ele viajou para So Tom e Prncipe para a
sua stima e ltima visita ao pas. No dia 18 ele viaja para Luanda, capital de
Angola, que foi tambm a sua ltima viagem para aquele pas.
1980
161
162
CONCLUSO
163
164
165
166
seu trabalho no organismo. Tinha liberdade para exercer sua atividade, seu
pensamento, sem a necessidade de apresentar relatrios a qualquer pessoa. Seus
registros no so completos. Paulo Freire no cite alguns eventos de importncia do
CMI como a Quinta Assemblia realizada em Nairobi, Quenia, frica, mas sabemos
que ele participou do Encontro. E indiretamente Paulo Freire influenciou a nfase da
Assemblia no que diz respeito s questes de luta pela igualdade entre as
pessoas, a necessidade de um evangelho mais encarnado na realidade e menos
idealista.
Quando voltou para casa, em junho de 1980 Paulo Freire disse que dezesseis
anos de ausncia exigem uma aprendizagem e uma maior intimidade com o Brasil
da dcada de 1980 e 1990. Neste retorno terra ptria Paulo Freire veio para
reaprender o Brasil.
A trajetria de Paulo Freire no CMI pode ser resumida na sua fala em
entrevista ao Jornal One World, em julho de 1980, quando j tinha retornado para o
Brasil. Paulo Freire afirmou: eu estou feliz por poder dizer que eu era feliz aqui [no
CMI]. Eu no sei se dei alguma contribuio aqui ou no, mas sei que esta casa me
deu uma chance.227
De menino pobre e conectivo de Pernambuco ao Paulo Freire conectado aos
cinco continentes via CMI podemos afirmar: Paulo Freire ainda menino queria ajudar
os homens. Viveu pela causa. Ajudou continentes.
227
167
REFERNCIAS
168
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Acesso em 26 de
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ANEXOS
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