Direito Penal
Direito Penal
Direito Penal
Obras consultadas: Código Penal Comentado. Rogério Greco (2011). Direito Penal Parte Geral.
Juarez Cirino dos Santos (2007). BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito
Penal (1999). A moderna teoria do fato punível. Juarez Cirino dos Santos (2007). Tratado de
Direito Penal, Parte Geral. C. Roberto Bitencourt (2011). Súmulas do STF comentadas. Roberval
Rocha Ferreira Filho e outro (2011). Código Penal para concursos. Rogério Sanches Cunha
(2011). Nilo Batista. Introdução Crítica ao Direito Penal Brasileiro – Editora Revan, 2011.
Legislação básica: art. 1º, II; 5º, III; XLVII e XLIX, XLV da CF. Art. 59 do CP.
Obras consultadas: Código Penal Comentado. Rogério Greco (2011). Direito Penal Parte Geral.
Juarez Cirino dos Santos (2007). A moderna teoria do fato punível. Juarez Cirino dos Santos
(2007). Tratado de Direito Penal, Parte Geral. C. Roberto Bitencourt (2011). Súmulas do STF
comentadas. Roberval Rocha Ferreira Filho e outro (2011). Código Penal para concursos.
Rogério Sanches Cunha (2011). Nilo Batista. Introdução Crítica ao Direito Penal Brasileiro –
Editora Revan, 2011.
Legislação básica: arts. 107 a 120 do CP. Art. 168, §2º. Art. 312, §3º. Art. 337-A, §1º. art. 5°, XLV
da CF. Art. 2°, I Lei 8.072/90 e 1°, § 6° Lei 9.455/97. Lei 9.807/99. Art. 121, § 5° e 129, § 8°do CP.
Art. 140 § 1º, do CP. Art. 180, § 5°. Art. 29 da Lei 9.605/98.
Modificação legislativa: Lei 12.650/2012 acrescenta o inciso V ao art. 111 do CP: nos crimes
contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes, previstos neste Código ou em legislação
especial, da data em que a vítima completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo já houver
sido proposta a ação penal.
Obras consultadas: Código Penal Comentado. Rogério Greco (2011). Direito Penal Parte Geral.
Juarez Cirino dos Santos (2007). A moderna teoria do fato punível. Juarez Cirino dos Santos
(2007). Tratado de Direito Penal, Parte Geral. C. Roberto Bitencourt (2011). Súmulas do STF
comentadas. Roberval Rocha Ferreira Filho e outro (2011). Código Penal para concursos.
Rogério Sanches Cunha (2011). Nilo Batista. Introdução Crítica ao Direito Penal Brasileiro –
Editora Revan, 2011.
Legislação básica: artigo 289 do CP. Súmula 73, STJ.
Previsão legal: art. 289 do CP. Bem jurídico: proteção da fé pública, notadamente a
segurança da sociedade em relação à circulação da moeda, sendo de competência da Justiça
Federal, haja vista que a emissão de moeda é competência exclusiva do Banco Central. É crime
comum. O sujeito passivo imediato é o Estado, sendo que o particular poderá ser atingido
apenas mediatamente. No art. 289, caput, CP, a conduta consiste em falsificar moeda metálica
ou papel-moeda em curso legal no país ou no exterior. Se for outro tipo de moeda, como a de
curso convencional (dotz etc.), poderá estar configurado o crime de estelionato (Greco, 2011).
A falsificação pode ser a fabricação de moeda falsa (cédula nova) ou a alteração de moeda
verdadeira (alteração do valor de 10 para 100 reais, p.ex). Contrafação: criar materialmente a
moeda falsa. Para Greco (2011) e Nelson Hungria, as condutas de fabricar ou alterar moeda
falsa a partir de outra, de modo a diminuir-lhe o valor, não se subsumem ao tipo em causa, por
inferência lógica. Para Hungria, tal indivíduo não deveria ser submetido a processo penal, mas a
processo de interdição, por tal comportamento ser indício forte de loucura. O objeto material,
isto é, a moeda ou o papel precisam estar em curso legal, isto é, devem representar a moeda
vigente no país ou no exterior, não sendo possível o crime de moeda falsa em relação à moeda
retirada de circulação (poderá haver estelionato) ou inexistente (PRADO, 2010, f. 206). No art.
289, §1º, CP, há previsão de outras condutas (importar, exportar, vender, introduzir em
circulação etc.), caracterizando crime de ação múltipla. Segundo a doutrina, o autor da
falsificação não responde pelo §1º, mas apenas pelo caput, tratando-se de hipótese de post
factum impunível – progressão criminosa (PRADO, 2010, f. 209). A introdução de várias cédulas
em circulação, no mesmo contexto fático, configura crime único (e não continuado). Ambos os
tipos exigem dolo direto, inexistindo hipótese de crime culposo ou de dolo eventual. Não se
exige especial fim de agir (dolo específico), tal como o lucro. Se da conduta advém lucro, o
estelionato fica absorvido pela moeda falsa. Trata-se de crime formal, no qual a consumação
ocorre com a prática da conduta, independentemente da ocorrência de resultado material (é
indiferente se houve ou não a efetiva introdução da moeda). No art. 289, §2º, CP, tem-se tipo
privilegiado, pois, neste caso, o sujeito recebe a nota falsa sem saber, só vindo a tomar
conhecimento posteriormente, quando, para não ficar no prejuízo, busca repassá-la a terceiros.
Pune-se a reintrodução da moeda. Para ocorrer a desclassificação do caput/§1º para o §2º,
requer-se prova inequívoca, a cargo da defesa, na forma do art. 156 do CPP, de que a moeda
falsa foi recebida de boa-fé. Considerações importantes: Não se aplica o princípio da
insignificância. É crime que deixa vestígios, sendo necessária perícia. A fabricação, no mesmo
contexto, de diversas cédulas falsas caracteriza crime único. A falsificação precisa ser de boa
qualidade, apta a ludibriar o homem-comum (imitativo veri). Caso seja grosseira, a falsificação
ensejará a prática de estelionato (Súmula 73, STJ). O juiz não está adstrito ao laudo pericial,
podendo verificar, pessoalmente, a qualidade da falsificação. Moeda falsa e petrechos de
moeda falsa: para o TRF1, TRF3 e TRF4, no caso de o mesmo agente for encontrado na posse de
petrechos para falsificação e de moedas falsas, haverá consunção, constituindo o primeiro
crime antefato impunível. O crime de moeda falsa é o crime fim.
Crimes assimilados ao de moeda falsa (art. 290 CP): Conduta delituosa: consiste em: a)
formar cédulas, notas ou bilhete representativo de moeda com fragmentos de cédulas, notas ou
bilhetes verdadeiros; b) suprimir, em nota, cédula ou bilhete recolhidos, para o fim de restituí-
los à circulação, sinal indicativo de sua inutilização; c) restituir à circulação cédula, nota ou
bilhete já recolhidos para o fim de inutilização. Quanto ao recorte e colagem de pedaços de
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 01. Wesley Miranda Alves
cédula verdadeira em outra, para o fim de aumentar o valor, o STF entendeu configurado o
crime do art. 289 do CP. (RTJ 33/506). O objeto material é, em relação às três condutas
descritas, respectivamente: a) moeda formada com fragmentos; b) moeda com sinal de
inutilização suprimido; c) moeda recolhida para o fim de inutilização. Sujeitos do delito. O
sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. Sujeito passivo é o Estado. Elemento subjetivo. O dolo é
a vontade de formar moeda, com a consciência de que ela poderá circular. Quando se trata de
supressão de sinal indicativo de inutilização, exige-se a finalidade especial de restituir a moeda à
circulação. Consumação e tentativa. O crime se consuma, em relação às condutas: a) com a
efetiva formação de cédula idônea a enganar; b) com a supressão do sinal indicativo de
inutilização; c) com a restituição à circulação. Admite-se a tentativa nas três modalidades. Figura
qualificada (art. 290, parágrafo único). A reprovabilidade da conduta é maior, haja vista que o
funcionário que trabalha na repartição tem fácil acesso e é quem deve zelar pela manutenção
da idoneidade dos papéis referidos.
Petrechos para falsificação de moeda (Art. 291): Conduta delituosa: consiste em: a) fabricar
(construir, manufaturar, produzir); b) adquirir (obter, comprar); c) fornecer (entregar, propiciar,
prover, abastecer), a título gratuito ou oneroso; d) possuir (ter a posse ou a propriedade); e)
guardar (ter sob a guarda, obrigar). Objeto material: maquinismo, aparelho, instrumento ou
qualquer objeto especialmente destinado à falsificação da moeda. Sujeitos do delito: o sujeito
ativo pode ser qualquer pessoa, inclusive o funcionário da instituição em que imprime a moeda
(servidor da Casa da Moeda). Sujeito passivo é o Estado. Elemento subjetivo: o dolo é a
vontade livre e consciente de praticar as ações incriminadas, com o conhecimento da
destinação dos objetos. Consumação e tentativa: se consuma com a efetiva prática de uma das
ações. Nas modalidades de possuir e guardar é crime permanente. Admite-se a tentativa. A
ação penal é pública incondicionada e o crime é também é de competência da Justiça Federal.
Emissão de título ao portador sem permissão legal (art. 292 CP): Conduta delituosa: emitir
(colocar em circulação), sem permissão legal, nota, bilhete, ficha, vale ou título que contenha
promessa de pagamento em dinheiro ao portador ou que falte a indicação do nome da pessoa a
quem deva ser pago. Objeto material: é qualquer dos títulos inscritos no tipo penal, desde que
contenha promessa de pagamento em dinheiro ao portador, não o caracterizando aquele que
tem valor para serviços, utilidades ou mercadorias, ou a que falte indicação do nome da pessoa
a quem deva ser pago, sem permissão legal. Sujeitos do delito: sujeito ativo é quem emite
título ao portador, sem permissão legal, não exigindo qualquer qualidade especial. O subscritor,
caso não seja o autor da emissão, é co-autor. Sujeito passivo é o Estado e eventualmente
terceiro lesado pela conduta. Elemento subjetivo: o dolo. O agente deve ter conhecimento de
todos os elementos constantes do tipo penal em estudo. Consumação e tentativa: é crime
formal. Consuma-se com a circulação do título, independente da produção de dano. Admite-se
a tentativa, ressalvando a existência de corrente doutrinária contrária (Guilherme de Souza
Nucci).
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 02. Madjer Tarbine
ITEM A: Aplicação da lei penal no tempo.
Obras consultadas:
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito penal: parte geral, volume 1, 10 ed. - São Paulo:
Saraiva, 2006.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. 10 ed. Rio de Janeiro: Ímpetos, 2008.
DOTTI, René Ariel. Curso de Direito Penal: parte geral, 4. ed. - São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2012.
MASSON, Cleber. Direito Penal Esquematizado. 6.ed. São Paulo: Método, 2012.
Legislação Básica: artigos 2º, 3º e 4º do Código Penal.
Em regra, a lei penal aplica-se aos fatos ocorridos no período da sua vigência (“tempus regit
actum”). Uma lei vigora até ser revogada por outra. É o princípio da continuidade das leis.
A lei penal, todavia, depois de revogada, poderá continuar a regular fatos, desde que para
beneficiar o réu, o que se denomina extra atividade. Esta possui espécies: a retroatividade e a
ultra atividade. Por ter natureza processual, entende-se que o tratado de extradição tem
eficácia imediata.
Princípios aplicáveis: a) irretroatividade da lei penal: corolário dos princípios da legalidade e
da anterioridade da lei penal (art. 1º do CP e 5º, XXXIX, CF); b) retroatividade da lei mais
benigna. Acolhidos pela CF/88 (art. 5º, XL).
Hipóteses de conflitos de leis penais no tempo:
a) “Lex mitior”:
a.1) “abolitio criminis”- hipótese em que o legislador deixa de incriminar determinada
conduta. A lei nova, então, retroage para alcançar fatos praticados sob a égide de outra lei (art.
2º, §2º, CP), inclusive aqueles já definitivamente julgados, fazendo desaparecer todos os efeitos
penais, permanecendo os civis. É uma causa extintiva de punibilidade.
Não se confunde o princípio da continuidade normativo típico, caso em que a conduta
proibida migra para outro tipo penal. É a atipicidade relativa, tendo ocorrido com a conduta de
raptar mulher honesta (passou a ser sequestro qualificado – art. 148, §1º, V, do CP).
Atenção: A Lei 10.826/2003 (Estatuto do Desarmamento) trouxe um caso de “abolitio
criminis” temporária em seus art. 30 e art. 32 em relação aos possuidores de arma não
registradas. Nesse caso a atipicidade da conduta somente ocorre durante o período em que a
Lei assinala, não retroagindo efeitos para o tipo penal previsto anteriormente (art. 16 da Lei nº
10.826/2003). STF, HC 90995, Inf. 494.
OBS: “Vacatio legis” indireta: De acordo com Rogério Greco é a hipótese em que a lei, além
do seu normal período de “vacatio legis”, prevê em seu próprio corpo outro prazo para que
determinados dispositivos possam ter aplicação, a exemplo do que ocorreu com o art. 30 da Lei
nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 (Estatuto do Desarmamento)
a.2) “novatio legis in mellius”: lei nova, sem descriminalizar a conduta, é mais favorável ao
réu. A lei nova retroage mesmo que já haja sentença condenatória em fase de execução, pois
não há coisa julgada material em matéria penal, permanecendo apenas os efeitos civis da
decisão transitada em julgado (arts. 91 e 92, CP).
b) “Lex gravior”:
b.1) “novatio legis” incriminadora: lei nova considera crime fato até então não incriminado. A
lei nova não retroage. A lei revogada possui ultra atividade;
b.2) “novatio legis in pejus”: lei posterior que de qualquer modo agravar a situação do sujeito
não retroagirá. Súmula 711/STF: a lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao
crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência.
Para Bittencourt (2006, p. 207), toda lei penal, seja natureza processual ou material, que, de
alguma forma, amplie as garantias de liberdade do indivíduo, reduza as proibições e, por
extensão, as consequências negativas do crime, seja ampliando o campo da licitude penal, seja
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abolindo tipos penais, seja refletindo nas excludentes de criminalidade ou mesmo nas
dirimentes de culpabilidade, é considerada lei mais benigna.
Durante a sua “vacatio legis, a lex mitior” já pode ser aplicada aos fatos ocorridos nesses
período? Divergência doutrinária: Sim - Bittencourt (p. 210) e Hungria (1949, p.119); não –
Masson (2011, p. 115).
Competência para aplicar a lei penal mais benéfica: a) na fase do inquérito e até a prolação
da sentença - juiz de 1º grau; b) fase recursal – Tribunal; c) fase executória, com decisão
transitada em julgado – juízo da vara das execuções penais (Súmula 611-STF)
Lei intermediária: hipótese em que a lei a ser aplicada não seja nem aquela vigente à época
dos fatos, tampouco aquela em vigor quando da prolação da sentença. (Greco, pag. 112).
Quando favorável ao réu, deve ser aplicada (STF, RE 418876, j. 30.03.04).
Conjugação/combinação de leis penais (lex tertia): Hungria refutava a hipótese, sob pena de
transformar o julgador em legislador. É a teoria da ponderação unitária que considera a lei em
sua totalidade, aplicando-se uma ou outra.
F. Marques defende a combinação ao argumento de que o julgador está apenas
“movimentando-se dentro dos quadros legais” em obediência ao princípio da equidade. A
teoria da ponderação diferenciada consiste em analisar cada disposição de cada lei,
combinando-as em benefício do réu.
É possível a aplicação da causa de diminuição de pena prevista no art. 33, § 4º, da Lei
11.343/2006 sobre condenações fixadas com base no art. 12, caput, da Lei 6.368/76? No STF, o
tema ainda não está realmente resolvido, havendo decisões nos dois sentidos (ver informativo
n. 644, em que foi julgado o RE n. 596152/SP, interposto pelo MPF).
No STJ, o tema foi definido no sentido da impossibilidade da conjugação (Emb.Div. no RESP
1.094.499/MG). Entendimento defendido pelo MPF: impossibilidade de combinação, sob pena
de se formar uma 3ª lei. O CP Militar proíbe (art. 2, §2º)
OBS: se no caso de sucessão de leis o Magistrado não consiga identificar qual é a mais
benéfica para o réu, deve-se lembrar da lição de Nelson Hungria, segundo a qual deverá ser
ouvido o réu.
Leis excepcionais são aquelas cuja vigência é limitada a um lapso temporal ou a uma
determinada situação de anormalidade. Possuem ultra atividade (art. 3º, CP).
Leis penais em branco e conflito de leis no tempo: uma vez alterado o complemento da lei
penal em branco, posteriormente à realização da conduta, e beneficiando-se o agente, deve se
operar a retroatividade? Segundo Masson (2012, p.120), há divergência na doutrina: sim –
Basileu Garcia; não – Magalhaes Noronha e José Frederico Marques. Opinião do Masson (2012,
p. 120): se o complemento se revestir de situação de normalidade, a sua modificação favorável
ao réu deve retroagir; se revestir situação de excepcionalidade, aplica-se o art. 3º, CP, não há
retroação. Esse entendimento parece ter sido acolhido pelo STF no julgamento do HC 94397, j.
09/03/2010, no qual ficou decidido que tem efeitos retroativos a retirada do cloreto de etila da
lista de substâncias psicotrópicas de uso proscrito.
Tempo do crime: adota-se a teoria da atividade (art. 4º, CP), inclusive para aferição da
imputabilidade (art. 26, CP). Exceção: a fluência da prescrição abstrata se inicia no dia da
consumação (t. resultado).
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 02. Madjer Tarbine
ITEM B: Perdão, renúncia, perempção, decadência e prescrição.
Obras consultadas:
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito penal: parte geral, volume 1, 10 ed. - São Paulo:
Saraiva, 2006.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. 10 ed. Rio de Janeiro: Ímpetos, 2008.
DOTTI, René Ariel. Curso de Direito Penal: parte geral, 4. ed. - São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2012.
MASSON, Cleber. Direito Penal Esquematizado. 6.ed. São Paulo: Método, 2012.
Aulas do curso Alcance para segunda fase.
Legislação básica: Arts. 103, 104, 107 a 119 do Código Penal.
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ITEM C: Crimes contra a administração pública praticados por funcionário público
contra a administração em geral. Código Penal e leis especiais. Coautoria e
participação.
Obras Consultadas:
Capez, Fernando. Curso de Direito Penal, volume 3, parte especial: dos crimes contra os
costumes a dos contra a administração pública. 6. ed. - São Paulo: Saraiva, 2008.
Delmanto, Celso; Delmanto, Roberto; Delmanto Junior, Roberto; Delmanto, Fabio M. De
Almeida. Código Penal Comentado. 8 ed. São Paulo, Saraiva, 2010.
Código Penal e sua interpretação: doutrina e jurisprudência/ coordenação Alberto Silva Franco,
Rui Stoco, 8. ed. - São Paulo, Editora Revista dos Tribunais.
Legislação Básica: art. 318 a 327 do CP.
Obras consultadas:
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal. Vol. 1, 8ª edição. Editora Saraiva.
NUCCI, Guilherme de Souza. Código penal comentado. 10ª edição. Editora RT.
Obras consultadas:
Bitencourt, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, Parte Geral, vol. 1, 14ª ed. Ed. Saraiva.
Nucci, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado, 11ª ed. Revista dos Tribunais, 2012.
Cunha, Rogério Sanches. Código Penal para Concursos, 2ª ed. Ed. Juspodivm, 2009.
Legislação básica. Arts. 93 a 99 e do CP; arts. 743, 748 CPP; art. 202 LEP; arts 651 e 652 do
CPPM; Lei 11.105, art. 181; Lei 11.343/2006, arts. 45 e 47.
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GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 03. Luciano Godoi Martins
ITEM C: CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Obras consultadas:
BALTAZAR JR, José Paulo. Crimes Federais. Livraria do Advogado, 5a edição, 2010.
Usurpação de função pública – art. 328 - Sujeito ativo – “particular que usurpa função
pública, podendo o crime ser cometido, igualmente pelo funcionário, desde que aja
completamente fora da área de suas atribuições, sem relação com estas (STJ, AP 329/PB,
Carvalhido, CE, u., 20.9.06). Necessário distinguir a usurpação da função pública com a
incompetência na realização desta, de modo que não comete o crime o funcionário incompetente
que pratica o ato exorbitante dos limites de suas atribuições, como se o mesmo estivesse
compreendido na órbita funcional do seu cargo.” (BALTAZAR, 168)
Distinções – “Diferencia-se do estelionato porque neste o bem jurídico violado é o
patrimônio, enquanto no segundo protege-se a credibilidade da Administração Pública. Se o
agente, praticando ato de ofício de forma ilícita, obtém vantagem, comete usurpação de função
pública qualificada. Quando intitular-se funcionário público é meio para obtenção indevida de
vantagem econômica é estelionato.” (BALTAZAR, 170)
Simulação da qualificada de funcionário (LCP, art. 45) – “A mera apresentação do agente
como funcionário público, sem a prática de qualquer ato, configura a contravenção da simulação
da qualidade de funcionário (LCP, art. 45).” (BALTAZAR, 170)
Desobediência – art. 330 - “A posição mais tradicional é no sentido de que, por estar o crime
no capítulo relativo aos delitos praticados por particular contra a Administração em Geral, não
pode ser praticado por funcionário público no exercício das funções (STF, HC 7688/PI, Velloso,
Inf. 132, 25.11.98; TRF1, HC 01019935/MT, Leite Soares, 4ª T., u., DJ 15.10.90), sendo cabível,
eventualmente, sanção de ordem administrativa ou processual. (...)
A segunda posição, pela possibilidade da prática do crime por parte de funcionário público no
exercício das funções, é dominante na jurisprudência na jurisprudência atual do STJ (STJ, HC
12008/CE, Fischer, 5ª T., u., DJ 2.4.01; STJ, REsp. 422073/RS, Fischer, 5ª T., u., 23.3.04), em
especial no caso de ordem judicial (STJ, Resp. 442035/RS, Dipp, 5ª T., u., 2.9.03; STJ, Resp.
556814/RS, Arnaldo Lima, 5ª T., u., 7.11.06). No mesmo sentido: TRF5, HC 92.05.00260/PE,
Hugo Machado, 1ª T., u. O STF, a seu turno, admitiu a possibilidade de ser cometido em questão
por Oficial de Registro de Imóveis, delegatário de função pública (HC 85911/MG, Marco
Aurélio, 1ª T., 25.10.05).” (BALTAZAR, 173)
Ordem Ilegal – “Se a ordem é ilegal, não há crime (STJ, Resp. 66.854/DF, Cernicchiaro, 6ª T.,
u., DJ 16.12.96; ...” (BALTAZAR, 175)
Jurisprudência do STJ:
“PENAL – CRIME DE DESOBEDIÊNCIA – DETERMINAÇÃO JUDICIAL
ASSEGURADA POR SANÇÃO DE NATUREZA CIVIL – ATIPICIDADE DA CONDUTA.
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 03. Luciano Godoi Martins
As determinações cujo cumprimento for assegurado por sanções de natureza civil, processual
civil ou administrativa, retiram a tipicidade do delito de desobediência, salvo se houver ressalva
expressa da lei quanto à possibilidade de aplicação cumulativa do art. 330, do CP.
Ordem concedida para cassar a decisão que determinou a constrição do paciente, sob o
entendimento de configuração do crime de desobediência.”
(HC 16.940/DF, Rel. Ministro JORGE SCARTEZZINI, QUINTA TURMA, julgado em
25/06/2002, DJ 18/11/2002, p. 243)
Desacato – art. 331 - Noção – “O desacato é interpretado como uma ofensa ao funcionário
assemelhando-se com a injúria da qual constitui forma especial (Costa Jr., 1997; 03)”
(BALTAZAR, 180)
Presença do funcionário – “É indispensável por ocasião da ofensa. Assim, haverá injúria, e
não desacato se for praticada por escrito, e não na presença do funcionário.
Assim, por exemplo, no caso de ofensas ao Juiz e ao Promotor contidas em petições assinadas
por advogados (STJ, RHC 923/RJ, Assis Toledo, 5ª T., u., DJ 4.2.91) ... “(BALTAZAR, 181)
O STF na ADI 1127 entendeu que “a imunidade profissional do advogado não compreende o
desacato, pois conflita com a autoridade do magistrado na condução da atividade jurisdicional.”
Tráfico de Influência - Sujeito passivo – “Para o TRF1 : ‘O comprador de prestígio,
inobstante a imoralidade de sua conduta, é sujeito passivo secundário e não co-autor do crime de
tráfico de influência.’ (TRF1, 0100000055595, Carlos Olavo, 4ª T., u., DJ 19.7.02)”
(BALTAZAR, 183)
Tipo objetivo – “No crime de tráfico de influência, o traço marcante é a expressão a pretexto
de, que denota o fato de que o agente não detém, efetivamente, a possibilidade de influenciar o
funcionário, fazendo uma verdadeira venda de fumaça. Se o agente que exige, solicita ou cobra a
vantagem está em conluio com o funcionário, o que se tem é a participação no crime do
funcionário. Imagine-se que o funcionário corrupto tem um terceiro que faz a cobrança pelo ato.
Esse terceiro não faz a cobrança a pretexto de influir e por isso responde pelo crime de corrupção
passiva ou concussão em concurso com o funcionário.
No caso do crime de tráfico de influência, o funcionário que está sofrendo a influência não
sabe que a pessoa que lhe pede alguma coisa em nome de outra está cobrando alguma vantagem
dessa outra pessoa para influir.
O crime não se confunde com a atividade de lobby, sendo atípico o ‘oferecimento de serviço
de divulgação e esclarecimento junto a parlamentares, sem exploração de prestígio ou
propaganda de capacidade de influência por condições pessoais em relação ao agente público’
(TRF3, AC 200000399046338-0/SP, Cecília Mello, 2ª T., u., 27.11.07).” (BALTAZAR, 184)
Obras consultadas:
SOUZA, Artur de Brito Gueiros e JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano. Curso de Direito Penal.
1ª Edição. Ed. Elsevier. Ano 2011; BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal:
parte 1. 15ª ed. Editora Saraiva. 2010; PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito
Internacional Público e Privado. 3ª ed. Ed: Juspodivm. 2011.
Legislação básica: arts. 29, 30, 37, 22, 24 e 27, 2 da Convenção de Viena de 1961 sobre
Relações Diplomáticas – CVRD, promulgada pelo Brasil pelo Decreto 56.435/65. Arts. 27, §1º,
29, VIII e 53 da CF.
Nota: o resumo a seguir foi elaborado a partir do trabalho anterior do grupo de aprovados no 25º
concurso.
Obras consultadas:
SOUZA, Artur de Brito Gueiros e JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano. Curso de Direito Penal.
1ª Edição. Ed. Elsevier. Ano 2011.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte 1. 15ª ed. Editora Saraiva. 2010.
Legislação básica: arts. 91 e 92 do CP. Arts. 5º, XLVI; 15, III; e 243 da CF. Art. 25 da Lei nº
9605/98. Arts. 63 e 72 da Lei 11.343/06. Art. 7º, II, da Lei de Lavagem de Dinheiro. Art. 181 da
Lei 11.101/05. Art. 1º, §5º, da Lei 9.455/97
Além da imposição de uma sanção penal, a sentença condenatória produz outros efeitos, ditos
secundários ou acessórios, de natureza penal (espalhados no CP, CPP e LEP) e extrapenal. Os de
natureza extrapenal podem ser divididos em efeitos genéricos (art. 91 do CP) e efeitos
específicos (art. 92 do CP).
1. Efeitos genéricos: valem para todos os delitos e tem eficácia automática. A) Tornar certa a
obrigação de indenizar. A sentença penal condenatória pode ser executada no civil (é título
executivo judicial), desde que em face do réu (e não do responsável civil) ou de seus herdeiros
nos limites da herança (não é pena criminal, não se aplicando o princ. da pessoalidade).
Entretanto, a vítima não precisa aguardar o desfecho na esfera penal, o qual somente impedirá
eventual condenação civil se houver absolvição por inexistência material do fato, não
participação do autor no crime ou reconhecimento de excludente de criminalidade. Caso o
ofendido seja pobre, compete, a princípio (enquanto não estruturada a Defensoria Pública), ao
MP a propositura da ação civil exe. declito. A Lei nº 11.719/2008 passou a possibilitar a fixação
imediata na sentença penal de um valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração
(art. 387, IV, do CPP), o que já existia em leis esparsas, como na Lei 9605/98 (art. 20) e no CTB
(art. 297). B) Perda em favor da União dos instrumentos e produtos do crime. Lei de Lavagem de
Dinheiro tem previsão específica no seu art. 7º, I. Instrumentos do crime são os objetos utilizados
na execução do delito e produtos do crime é qualquer proveito auferido, direta ou indiretamente,
com a conduta delituosa. Somente haverá a perda dos instrumentos cujo fabrico, alienação, uso,
porte ou detenção constitua fato ilícito, não podendo ser prejudicados o lesado ou o terceiro de
boa-fé. Trata-se de verdadeiro confisco, autorizado constitucionalmente (art. 5º, XLVI, b), cujos
bens serão destinados ao Fundo Penitenciário Nacional (Funpen), conforme art. 2º, IV, da LC
79/94. A ação de sequestro somente pode recair sobre tais bens confiscáveis (art. 125 do CPP). O
art. 25 da Lei nº 9605/98 prevê a liberação dos animais apreendidos ao seu habitat ou a
zoológicos e a doação dos produtos perecíveis ou madeiras a instituições científicas, hospitais e
outras com fins beneficentes. Os instrumentos deverão ser vendidos, garantida a sua
descaracterização por meio da reciclagem. O art. 25 da Lei 10.826/03 determina o
encaminhamento das armas de fogo apreendidas ao Comando do Exército para destruição ou
doação. A Lei nº 11.343/06 prevê que os valores perdidos em favor da União deverão ser
revertidos diretamente ao Fundo Nacional Antidrogas (inclusive os imóveis expropriados por
força do art. 243 da CF), devendo as drogas serem destruídas (arts. 63 e 72).
2. Efeitos específicos: não são automáticos, pois devem ser motivadamente declarados na
sentença. Tem por objetivo reforçar a proteção dos bens jurídicos violados e prevenção da
reiteração (afasta a situação criminógena). Eles não se confundem com as penas de interdição
temporária de direitos (subespécie da restritiva de direito), as quais são consequências diretas (e
não reflexas) do crime, permanecendo pelo mesmo tempo da pena privativa que substituem. Já
os efeitos específicos são permanentes. A) Perda do cargo, função pública ou mandado eletivo. É
definitiva, não sendo alcançada pela reabilitação (art. 93,§ú. CP), salvo quanto a outro cargo,
função ou mandato. A.1) Por condenação superior a um ano, por crime praticado contra a
Administração Pública. Além da pena superior a um ano, é preciso comprovar que a infração foi
praticada com abuso de poder ou violação de dever inerente ao cargo ou função,
independentemente de estar no rol dos crimes funcionais (arts. 312 a 347 do CP). Para
Bitencourt, só há a perda da função por meio da qual foi praticado o crime, e não de qualquer
cargo, tanto que o funcionário não ficará impedido de ser investido em outra atividade pública.
A.2) Condenação superior a quatro anos, por qualquer outro crime. Aqui não é preciso o liame
entre a infração e a Adm. Pub., bastando a pena superior a quatro anos, reveladora de maior
desvalor do resultado. A Lei de Lavagem de Dinheiro prevê a interdição do exercício do cargo
público ou a de diretor/conselheiro das pessoas jurídicas utilizadas no crime em questão pelo
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PONTO N. 04 Helen Ribeiro Abreu
dobro da pena privativa de liberdade (art. 7º, II). O art. 15, III, da CF prevê a suspensão dos
direitos políticos pela condenação criminal transitada em julgado enquanto durarem seus efeitos.
A condenação pelo crime de tortura acarreta, automaticamente, a perda do cargo/função/emprego
público pelo dobro do prazo da pena (art. 1º, §5º, da Lei 9.455/97). B) Incapacidade para o
exercício de pátrio poder, tutela ou curatela. É necessária a prática de crime doloso em face de
filho, tutelado ou curatelado, cuja pena abstratamente cominada seja de reclusão (mesmo que não
venha ser aplicada no caso concreto). Não alcança os crimes contra a assistência familiar, pois
não cominam pena de reclusão, com exceção do art. 245, §§ 1º e 2º, do CP. Não precisa provar
abuso no exercício do pátrio poder. Se reabilitado, poderá ter novamente o poder familiar em
relação a outros filhos/tutelados/curatelados, mas não em face da sua vítima (art. 93, §ú, CP). C)
Inabilidade para dirigir veículo, utilizado em crime doloso. Ex.: prática de tráfico de armas por
meio de veículo (TRF 4, AC 20077010001827-8, 04/03/09). Não se confunde com a proibição
temporária – pena restritiva – aplicável para os crimes culposos no trânsito (art. 47, III, do CP) e
nem com a pena principal (isolada ou cumulativamente imposta com outras sanções) prevista
pelo CTB, qual seja, a suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para
dirigir, a qual terá a duração de dois meses a cinco anos (arts. 292/293). D) Inabilitação do
empresário nos delitos falimentares (art. 181 da Lei 11.101/05). A condenação por crimes
previstos na lei de falência tem por efeito secundário a inabilitação para o exercício da atividade
empresarial, direta ou indiretamente, além do impedimento para o exercício de cargo ou função
em conselho de administração ou diretoria das sociedades sujeitas à referida lei. Tal efeito não é
automático e perdurará por até 5 anos após a extinção da punibilidade, podendo, contudo, cessar
antes pela reabilitação penal.
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 04 Helen Ribeiro Abreu
ITEM C: Crimes contra a administração da Justiça.
Obras consultadas:
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal: parte 5. 4ª ed. Editora Saraiva. 2010.
BALTAZAR JÚNIOR, José Paulo. Crimes Federais. 6ª ed. Editora Livraria do Advogado.2010.
CUNHA, Rogério Sanches. Código Penal para Concursos. 4ª ed. Editora JusPodivm. 2011.
www.stj.jus.br. Uso de celular em presídio passa a ser crime na proposta do novo Código Penal.
Notícia do dia 07.05.2012.
http://www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?
tmp.area=398&tmp.texto=94935&tmp.area_anterior=44. Acessado em 18.05.2012.
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=121244. Acessado em
18.05.2012.
Legislação básica: arts. 338 a 359
Nota: o resumo a seguir foi elaborado a partir do trabalho anterior do grupo de aprovados no 25º
concurso.
Obras consultadas:
- em caráter principal: SOUZA, Artur de Brito Gueiros; JAPIASSÚ, Carlos Eduardo Adriano. Curso
de Direito Penal, v. 1. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012, p. 157-170.
- subsidiariamente:
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. 7ª ed. Rio de Janeiro: Ímpetos, 2006.
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro, v. 1. 4ª ed. São Paulo: RT, 2004.
SANTOS, Juarez Cirino dos. Direito Penal: parte geral. 4ª ed. Florianópolis: Conceito Editorial,
2010.
Artur Gueiros toma a palavra “conduta” como gênero a abarcar a ação e a omissão.
A teoria da conduta tem três funções dogmáticas: de classificação (abarcando de maneira
integral todas as formas de manifestação humana que possam interessar ao Direito Penal); de
definição, enlace ou união (condicionando e vinculando, como a coluna vertebral da teoria do
crime, as demais categorias do conceito analítico); de delimitação ou de exclusão de
indiferentes penais (seleção prévia ou filtragem de certos fatos/comportamentos com
relevância penal, antes de adentrar no exame dos demais pressupostos do delito). 1 As teorias
da conduta:
1. Conceito causal (ou clássico): conduta penalmente relevante é o comportamento humano
que causa um resultado no mundo exterior, ou que não o evita, no caso da omissão. Agir é, com
movimentos físicos, dar ensejo à causação de resultados típicos – sejam simples movimentos
corporais (crimes de mera atividade), sejam efetivas modificações no mundo exterior (delitos
materiais ou de resultado). Com a orientação neokantiana, procurou-se adaptar o conceito de
conduta ao mundo dos valores. Assim é que Regis Prado fala em duas espécies de teorias
causais:
- teoria causal-naturalística: com expoentes em Liszt e Beling, tem como ponto central a
causalidade de ordem puramente objetiva (não admite valoração). Críticas: não abrange os
crimes omissivos ao dizer que conduta é ação, e não aborda elementos subjetivos do injusto.
- teoria causal-valorativa: tendo como principais expoentes Mezger e Sauer, inspira-se na
filosofia neokantiana, trazendo um conceito valorativo de ação – o conceito de ação, bem como
o de culpabilidade, passa a ser também normativo. Críticas: conserva o conceito causal de
conduta (inadequado para explicar a omissão e a tentativa branca, da qual não resulta nenhuma
alteração exterior).
A fórmula da causalidade natural não diferencia o comportamento humano de outros
eventos naturais ou de animais (seria necessária a noção de dirigibilidade do curso causal), e
traz o problema do regresso ao infinito.
2. Conceito final: com Welzel, ressalta-se que o que caracteriza o agir humano é a
capacidade de dirigir a causalidade de acordo com a sua vontade (iniciar uma conduta para
atingir determinado fim).
Tornou-se a teoria preponderante na dogmática penal. Críticas: nem sempre há no delito
comissivo doloso rigorosa direção finalista (vide ações automatizadas e passionais); o núcleo da
ação final não se adéqua bem à omissão nem ao crime culposo; há excessiva subjetivação da
1Já Juarez Cirino fala em funções de unificação, fundamentação e delimitação.
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 05 Lúcio Mauro Carloni Fleury Curado
teoria da ação final, com preponderância desmedida da vontade sobre o resultado; há
dificuldade em condicionar-se ciência normativa, como o Direito, à ideia pré-normativa
(ontológica) das estruturas lógico-objetivas.
3. Conceito social: aqui correntes voltadas a situar o conceito de ação dentro de um marco
normativo da relevância social, tendo como pano de fundo concepções causalistas ou finalistas.
Para Schmidt, partindo do causalismo, conduta seria a voluntária causação de consequências
previsíveis e socialmente relevantes. Para Wessels, há que se falar em conduta socialmente
relevante, dominada ou dominável pela vontade humana. Já para Jescheck ação é um
comportamento humano com transcendência social, englobando a ação final e a omissão, esta
a demandar um juízo normativo da expectativa de um comportamento.
Críticas: não restam atendidas as funções limitadora e de classificação (excessivamente
abstrata a expressão “fato socialmente relevante”).
4. Conceito negativo: lastreia-se no princípio da evitabilidade, dividindo-se principalmente
em duas correntes:
- Herzberg: não evitar o evitável na posição de garantidor, o que incluiria tanto fatos
comissivos como omissivos. Autor é quem não evita um resultado evitável, quando o direito
ordenou sua evitação.
- Jakobs: conduta como a causação do resultado individualmente evitável – abarcando o
atuar doloso, culposo e omissivo. A conduta como descumprimento das normas vigentes na
sociedade (o que, segundo Schunemann, é definição tautológica).
Para Juarez Cirino, o princípio da evitabilidade integra todas as categorias do conceito de
crime, constituindo princípio geral de atribuição que não pode ser tido como específico do
conceito de ação.
5. Conceito pessoal de conduta: segundo Claus Roxin, conduta é a manifestação da
personalidade humana a ser devidamente valorada pelo Direito Penal – engloba todo
comportamento, positivo ou negativo, que expresse a personalidade do sujeito. Nesse sentido,
as hipóteses de ação que partem unicamente da massa mecânica do homem, sem submissão
ao seu “eu” não são conduta, o mesmo se dizendo de impulsos anímico-espirituais que não se
exteriorizam. Esse conceito abrange a voluntariedade da causalidade, a finalidade de Welzel, a
relevância social de Jescheck e a não-evitação de Jakobs, cumprindo a tríade de funções
exigidas pela dogmática. Artur Gueiros parece se alinhar a essa concepção.
Para Juarez Cirino, contudo, há críticas: essa teoria deixa de lado a realização do propósito, a
natureza constitutiva dos atos psíquicos para a estrutura da ação humana; além disso, há
manifestações da personalidade independentes do controle do ego e indiferentes às
conveniências do superego, vindo como assaltos de pulsões instintuais reprimidas do id.
Obs.: para Regis Prado, as teorias personalista (Roxin) e da evitabilidade individual (Jakobs)
são colocadas como espécies de teorias teleológicas ou funcionalistas.
Ausência de conduta: para Artur Gueiros, ocorre quando falta a manifestação de
personalidade do agente. Aqui se insere a ação decorrente de coação física irresistível e de
estados de inconsciência (sonambulismo e hipnotismo), bem como atos reflexos. Há conduta,
porém, nos movimentos impulsivos ou instintivos (“ações em curto-circuito” ou “explosivas”),
bem como nos movimentos habituais ou mecânicos.
A consequência da ausência de conduta é a desnecessidade dogmática de se perquirir acerca
dos demais pressupostos do crime (tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade).
Quanto ao resultado, pode ser jurídico (lesão ou perigo de lesão de determinado bem
jurídico) – acepção que abarca todos os delitos, por força do princípio da ofensividade – e
material (alteração do mundo exterior, prevista apenas em alguns tipos penais, os crimes
materiais).
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PONTO N. 05 Lúcio Mauro Carloni Fleury Curado
GRUPO IV – Direito Penal e Processo Penal
PONTO N. 05. Lutiana Valadares Fernandes
ITEM B: Tipo e tipicidade penal. Exclusão.
Obras consultadas:
Cezar Roberto Bitencourt. Tratado de Direito Penal. 10ª Edição. Ed. Saraiva.
José Henrique Pierangeli; Eugenio Raul Zaffaroni. Manual de Direito Penal Brasileiro - Parte
Geral - Vol. 1 - 4ª Edição. Ed.RT (consultado pelo colega do 25º concurso)
Luiz Regis Prado. Curso de Direito Penal Brasileiro, Volume 1, 5ª edição, RT. (consultado pelo
colega do 25º concurso)
Celso Delmanto; Roberto Delmanto; Roberto Delmanto Junior; Fabio M. de Almeida Delmanto.
Código Penal Comentado. 8ª Edição. Ed. Saraiva.
Rogério Sanches da Cunha. Código Penal Para Concursos. 4ª Edição. Ed.Jus Podivm
Anotações de aula do intensivo I do LFG professor Rogério Sanches da Cunha
Legislação básica.
CF art. 5º, XXXIX/ Arts. 1º e 20º do CP/ Pacto de são José da Costa Rica art. 9º
Obs.: mantive as citações bibliográficas do colega do 25º concurso mesmo sem ter acesso aos
livros por considerá-las relevantes
1. Noções Gerais.
“O tipo de injusto é expressão mais elementar, ainda que parcial da segurança
decorrente do princípio da reserva legal. Todo cidadão, antes de realizar um fato, deve ter a
possibilidade de saber se sua ação é ou não punível. (...)
Em verdade, o tipo cumpre, além da função fundamentadora do injusto, também
a função limitadora do âmbito penalmente relevante. Assim, tudo o que não corresponder a um
determinado tipo de injusto será penalmente irrelevante.” Bitencourt p. 325 (grifo meu)
2. Conceitos.
“Tipo é o conjunto dos elementos do fato punível descrito na Lei penal (...) é um modelo
abstrato que descreve um comportamento proibido” Bitencourt p. 322
“Tipicidade é a conformidade do fato praticado pelo agente com a moldura abstratamente
descrita na lei penal(...)”Bitencourt p. 323
Juízo de Tipicidade “consiste em analisar se determinada conduta apresenta os requisitos
que a lei exige, para qualificá-la como infração penal (...)”Bitencourt p. 323
Princípio da insignificância: Atua como instrumento de interpretação restritiva do direito
penal e exclui a tipicidade (para a doutrina majoritária). O princípio da intervenção mínima
apresenta duas características: fragmentariedade e subsidiariedade. Da fragmentariedade (o
direito penal ó intervém no caso concreto quando houver relevante e intolerável lesão ao
perigo de lesão ao bem jurídico tutelado) decorre o princípio da insignificância.
Tipicidade Conglobante: o tipo não pode proibir o que o direito ordena e nem o que ele
fomenta. Fundamenta-se na coerência do sistema.
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GRUPO IV – Direito Penal e Processo Penal
PONTO N. 05. Lutiana Valadares Fernandes
Tipo culposo. Não individualiza a conduta pela finalidade e sim porque, na forma em que se
obtém essa finalidade, viola-se um dever de cuidado, por meio de imprudência, negligência ou
imperícia.
Tipos omissivos próprios. Aqueles em que o autor pode ser qualquer pessoa que se
encontre na situação típica. O fato típico omissivo está previsto em tipo penal próprio (ex. art.
135 do CP).
Tipos omissivos impróprios ou comissivos por omissão. Para sua configuração é preciso que
o agente possua um dever de agir para evitar o resultado. Esse dever de agir não é atribuído a
qualquer pessoa, mas tão-somente àqueles que gozem do status de garantidoras da não-
ocorrência do resultado (art. 13, § 2º do CP). Dizem-se crimes de omissão qualificada porque os
sujeitos devem possuir uma qualidade específica, que não é inerente e nem existe nas pessoas
em geral. Esses tipos omissivos têm um tipo ativo equivalente.
Norma penal em branco: “(...)são normas que dependem de complemento normativo(...)”.
Classificam-se em “próprias: o complemento é dado por espécie normativa diversa (portaria,
por exemplo) e impróprias: o complemento é dado por mesma espécie normativa (lei
completada por lei)” Cunha. p. 10
3. Aprofundamento tipo e tipicidade
Segundo Zaffaroni ( pág. 444), tipo é a fórmula que pertence à lei, enquanto a tipicidade
pertence à conduta.
Prado leciona que o tipo legal engendra uma série de funções:
a) função seletiva – indica os comportamentos que são protegidos pela norma penal;
b) função de garantia e de determinação – diz respeito ao cumprimento do princípio da
legalidade dos delitos e das penas, formal e materialmente;
c) fundamento da ilicitude (ilicitude tipificada);
d) função indiciária da ilicitude – é a tipicidade a ratio cognoscendi da ilicitude;
e) criação do mandamento proibitivo – a matéria proibida ou determinada;
f) delimitação do iter criminis – assinala o início e o fim do processo executivo do crime.
Já Bitencourt (p. 324) aponta duas funções fundamentais do tipo penal: a função indiciária e
a função de garantia e, ainda, a função diferenciadora do erro.
A adequação típica pode ocorrer de forma imediata ou mediata. Enquanto na adequação
imediata o fato se subsume diretamente ao modelo legal, sem a intermediação de outra norma,
na adequação mediata é necessária a concorrência de outra norma de cunho extensivo que
alarga a figura típica (v.g. tentativa, participação) (Bitencourt p. 324).
A doutrina elenca três fases de evolução do tipo. Em princípio, o tipo possuía caráter
puramente descritivo, sem valoração, servindo tão somente para descrever as condutas
proibidas (teoria do tipo independente ou avalorado). Numa segunda fase, o tipo passou a ter
caráter indiciário da ilicitude (teoria indiciária). Já numa terceira fase, o tipo passou a ser a
própria razão de ser da ilicitude, ou seja, sua ratio essendi (teoria da identidade). Há, ainda,
uma última, que se acha estreitamente ligada à teoria da identidade, é a teoria dos elementos
negativos do tipo (tipicidade e ilicitude se encontram superpostas, ou seja, as causas de
justificação integram o tipo do injusto).
Tipicidade e Teorias do Delito (tabela elaborada pelo colega do 25º)
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GRUPO IV – Direito Penal e Processo Penal
PONTO N. 05. Lutiana Valadares Fernandes
Elementos do tipo:
a) Elementos descritivos: são aqueles que têm a finalidade de traduzir o tipo penal. “(...) são
identificados pela simples constatação sensorial” (Bitencourt p. 328).
b) elementos normativos: são aqueles criados e traduzidos por uma norma ou que
necessitam de uma valoração por parte do intérprete (atividade valorativa);
c) o dolo, que é por excelência o elemento subjetivo do tipo. O dolo se subdivide em:
i) dolo direto: o autor quer diretamente a produção do resultado típico; e,
ii) dolo eventual: não há uma aceitação do resultado como tal, e sim sua aceitação como
possibilidade.
EXCLUSÃO DA TIPICIDADE
Tipicidade conglobante como corretivo da tipicidade legal. A norma proibitiva que dá lugar
ao tipo não está isolada, mas permanece junto com outras normas também proibitivas,
formando uma ordem normativa, onde não se concebe que uma norma proíba o que outra
ordena ou fomenta. Portanto, a tipicidade penal não se reduz à tipicidade legal (adequação à
formulação legal), devendo evidenciar uma verdadeira proibição com relevância penal, para o
que é necessário que esteja proibida à luz da consideração conglobada da ordem normativa.
Consequências da tipicidade conglobante: O estrito cumprimento de um dever legal e o
exercício regular de um direito incentivado ao em vez de excluir a ilicitude, excluem a própria
tipicidade.
Principais casos em que se configura a atipicidade conglobante: a) Cumprimento de um
dever jurídico; b) Intervenções cirúrgicas; c) Lesões desportivas.
Princípio da insignificância
Requisitos para o STF e o STJ: Mínima ofensividade da conduta; nenhuma periculosidade
social da ação; reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; inexpressividade da lesão
jurídica provocada. Obs.: o STF admite a aplicação do princípio da insignificância aos delitos
funcionais, o STJ não. Nem o STF, nem o STJ admitem a aplicação do princípio da insignificância
aos delitos contra a fé pública.
A habitualidade tem sido considerada como fator que não autoriza a aplicação do princípio
da insignificância, mesmo que o valor, naquele caso, se apresente inferior ao mínimo legal
(Informativo STJ 338 - DESCAMINHO. PRINCÍPIO. INSIGNIFICÂNCIA). LEI N. 10.522/2002. No
caso, o débito tributário no delito de descaminho é um valor inferior ao mínimo legal estipulado
para a cobrança fiscal (art. 20 da Lei n. 10.522/2002). Contudo não se aplica o princípio da
insignificância penal uma vez que o agente se mostra um criminoso habitual nos delitos da
espécie. Ademais, mesmo que haja lei regulamentando a atividade de camelô, não se deve
concluir que o descaminho é socialmente aceitável. Assim a Turma denegou a ordem de habeas
corpus. HC 45.153-SC, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 30/10/2007.
Princípio da adequação social
Impossibilidade de se considerar como criminosa a conduta tolerada ou aceita pela
sociedade, ainda que se enquadre em uma descrição típica. “Nessa linha de raciocínio, a teoria
da adequação social se revela como um princípio geral de interpretação dos tipos penais, posto
que deles exclui os comportamentos considerados socialmente adequados (aceitos). É possível
afirmar que, em razão da sua aplicação, não são consideradas típicas as condutas que
praticadas dentro do limite de ordem social normal da vida, haja vista serem, assim,
compreendidas como toleráveis pela própria sociedade. Note-se que o objeto dessa teoria não é
a tipicidade formal da conduta. Em outras palavras, o comportamento continua sendo
formalmente típico, haja vista que se subsume perfeitamente à norma penal incriminadora. O
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GRUPO IV – Direito Penal e Processo Penal
PONTO N. 05. Lutiana Valadares Fernandes
que se atinge com a sua aplicação é a tipicidade material.”
(http://www.lfg.com.br/public_html/article.php?story=20080611115833517&mode=print
consulta em 05/06/2011).
Risco Permitido
“(...) não podemos confundir o risco permitido (que exclui a tipicidade) com as causas
excludentes da antijuridicidade (leia-se: causas justificantes, como legítima defesa, estado de
necessidade etc.).
O motorista de ambulância que conduz o veículo normalmente cria um risco permitido
(autorizado). Na eventualidade de que venha a se envolver em algum acidente (por culpa
exclusiva da vítima), não há que se falar em fato típico. A criação de risco permitido é causa de
exclusão da tipicidade.
O mesmo motorista que, para salvar uma vida, conduz o veículo de modo altamente
arriscado (infringindo normas regulamentares, passando no sinal vermelho etc.), pratica uma
conduta que cria risco proibido, porém, justificado (porque realizada para salvar bem jurídico de
grande valor).
Na primeira hipótese temos uma causa de exclusão da tipicidade. Na segunda, em razão do
estado de necessidade, temos uma causa de exclusão da antijuridicidade (uma justificante). Por
força da teoria do interesse preponderante, pratica-se uma conduta perigosa, mas para salvar
um interesse de valor reconhecido, socialmente valioso. Na primeira hipótese a conduta é desde
logo atípica. Na segunda a conduta é típica (criou um risco proibido), porém, resultou justificada
(em virtude da preservação de um interesse relevante).” (http://www.ipclfg.com.br/teoria-
constitucionalista-do-delito/risco-permitido-e-causas-de-exclusao-da-antijuridicidade/consulta
em 05/06/2012).
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GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 05. Márcio Lima de Oliveira.
ITEM C: Crimes de maus-tratos, tortura e abuso de autoridade.
Obras consultadas:
BALTAZAR JÚNIOR, José Paulo. Crimes federais. 6 ed. Porto Alegre: Livraria do advogado,
2010.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal. 70 ed. São Paulo: Saraiva, 2010.
Legislação básica. Art. 5º, III, CF. Art. 136, do Código Penal. Lei 9.455/97. Lei 4898/65.
MAUS-TRATOS (CP 136).
1. Considerações Gerais. Trata-se de crime de menor potencial ofensivo. 2. Bem Jurídico.
Tutela a vida e a incolumidade pessoal. 3. Sujeito Ativo. É crime próprio, praticado por pessoa
responsável por outra, que é mantida sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para o fim de
educação, ensino, tratamento ou custodia, tais como tutores, professores, carcereiros, pais, etc. O
STJ já admitiu a responsabilização do sócio que exerce a gerência de sociedade por cotas de
responsabilidade limitada, dedicada à exploração, com fins lucrativos, de clínica médica (HC
23362, DJ DATA:01/08/2005). Ausente essa vinculação jurídica, eventualmente, o crime poderá
ser outro. 4. Sujeito Passivo. Pessoas que estejam subordinadas aos pais, tutores, professores
carcereiros. 5. Objeto Material. Pessoa que sofre os maus-tratos. 6. Elemento Objetivo. O
núcleo é expor – colocar em risco a vida ou saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou
vigilância, privando-a da alimentação ou cuidados indispensáveis, sujeitando-a a trabalho
excessivo ou inadequado ou, ainda, abusando dos meios de correção e disciplina. Se constituírem
meio vexatório, o crime pode ser outro, v.g., castigar o filho em publico configura o crime de
injuria do art. 140, CP (CAPEZ/2008/p.266). 7. Elemento Subjetivo. É o dolo. Para REGIS
PRADO, trata-se de dolo direto ou eventual. Caso a intenção do agente for de causar lesão
(animus laedendi) ou causar a morte da vitima (animus necandi), o crime será de lesão corporal
ou homicídio ou suas formas tentadas. 8. Consumação e Tentativa. Crime de perigo concreto,
consuma-se com o efetivo perigo à saúde ou vida da vítima. 9. Classificações. Crime de forma
vinculada (a lei estabelece os modos pelos quais o crime pode ser cometido, v.g, privação de
alimentação; abuso do meio de correção, etc.). Comissivo ou omissivo. De forma tentada (só na
forma comissiva). Permanente na modalidade de privação de alimentos, de cuidados necessários
e sujeição a trabalho excessivo ou inadequado; na modalidade de abuso de correção em regra é
instantâneo, mas admite a forma permanente (dependendo do caso concreto e do modo de
atuação do agente, conf. STF, HC 86.711). Unissubjetivo. Plurissubsistente. 7. Peculiaridades:
Tipo misto alternativo (haverá crime único em caso de condutas praticadas no mesmo contexto
fático e contra a mesma vítima, reflexo na dosimetria da pena). Para Regis Prado, se não forem
ultrapassados os limites legais do abuso dos meios de correção ou disciplina, é exercício regular
de direito (CR, artigo 229: dever paterno de educar os filhos menores; invoca tb CC 1634, I e
VII). O animus corrigendi autorizaria privações curtas de liberdade e castigos corporais leves,
sendo elemento subjetivo daquela causa de justificação. Somente se aplica aos próprios filhos,
não existe um direito de correção dos filhos alheios, só se houver consentimento dos pais. Entre
marido e mulher não existe crime de maus-tratos, pois não há hierarquia / subordinação entre
eles na sociedade conjugal. Mesmo entendimento em relação ao filho maior, pois não há
qualquer vínculo jurídico de subordinação entre eles. IDOSOS: se o agente expõe um idoso a
perigo para sua integridade e saúde, sem qualquer das motivações previstas no art. 136 do CP
(educação, ensino, tratamento ou custódia), APLICA-SE o tipo penal do art. 99 da Lei
10.741/03, em razão do princípio da especialidade. CRIANÇA E ADOLESCENTE: cuidado com
o ECA 232, onde a vida ou saúde da vítima não é exposta a perigo (seria o caso de uma
reprimenda abusiva em público – Masson). Possui formas qualificadas pela lesão corporal de
natureza grave e pela morte. Causa de aumento de pena: vítima menor de quatorze anos. A ação
penal, tanto no crime simples, quanto no qualificado, é pública incondicionada.
TORTURA (Lei 9.455/97 – LT).
1. Considerações Gerais. No CP, a tortura é agravante (61, II, d) ou qualificadora (121, §2º,
III). O Brasil subscreveu a Convenção da ONU contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas
Cruéis, Desumanos ou Degradantes, de 1984, adotada pelo D.40/91, bem como a Convenção
Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, de 1985, adotada pelo D. 98.386/89. É nítida a
influência deste último diploma na construção dos tipos da Lei de Tortura. Há também previsão
do crime de tortura no estatuto de Roma, qualificando como crime contra a humanidade,
imprescritível e passível de julgamento pelo Tribunal Penal Internacional. Vale ressaltar que nos
tratados internacionais, o crime de tortura é próprio, só pode ser praticado por quem ostenta uma
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 05. Márcio Lima de Oliveira.
condição especial: detentor de poder estatal, representante do Estado. A CF proíbe a tortura ou
tratamento desumano ou degradante (art. 5º, III). Contudo, a Lei 9.455/97 tratou o crime de
tortura como crime comum, destoando da previsão deste delito em outros. Assim, no Brasil é
tortura a ação praticada, tanto pelo policial que tortura um preso para praticar um crime, quanto o
credor que tortura o devedor para confessar uma dívida. Até o advento da Lei 9455 havia um
caso de tortura especial, prevista no art. 233 do ECA (vítima criança ou adolescente). Com o
surgimento da LT, esse artigo foi revogado e toda a matéria sobre tortura está regulamentada na
Lei 9.455/97. A lei de tortura não define o que é tortura, mas quais são os comportamentos que
constituem crime de tortura. (Quadro: aulas de Rogério Sanches - Intensivo II LFG)
SUJEITOS MODO DE RESULTADO FINALIDADE
EXECUÇÃO
Art. 1º, I Constranger “alguém” Com emprego de Causando-lhe a) Com o fim de obter
violência ou grave sofrimento físico ou informação
*S.A. Comum ameaça. mental.
(tortura-prova);
* S.P. Comum
b) Para provocar ação
Consumação criminosa
(tortura para ação
criminosa)
c) Discriminação
(tortura-discriminação)
Art. 1º, Submeter alguém sob Com emprego de Causando-lhe Aplicar castigo pessoal ou
II sua guarda poder ou violência ou grave INTENSO medida de caráter
autoridade. ameaça. sofrimento físico ou preventivo.
mental.
* S.A. Próprio
(autoridade)
(tortura-castigo)
* S.P. Próprio (sob a Consumação
autoridade)
Art. 1º, Submeter pessoa Mediante Causando-lhe (tortura por tortura)
§ 1º presa ou sujeita a comportamento sofrimento físico ou
medida de segurança ilegal mental.
* Sativo – Comum – não
necessariamente
* S. Passivo – Próprio violência,
– não
necessariamente
grave ameaça.
2. Bem Jurídico. A dignidade da pessoa humana, sua integridade física e mental. 3. Tipo
Objetivo. Constrangimento, ou seja, sujeição, anulação da liberdade de vontade. 4.
Consumação e Tentativa. O crime do inciso I(alíneas a, b e c) se consuma com a provocação do
sofrimento físico ou mental, independentemente da obtenção da finalidade visada - obtenção da
informação, a ação criminosa ou a efetiva discriminação (STJ: CC 102833 e Resp 610395).
Prevalece que para haver tortura (alínea b do inciso I) deve-se buscar do torturado crime, não
basta contravenção penal. Neste último caso, pode responder por lesão corporal, por homicídio,
etc. No caso da tortura-discriminação, só há o crime quando a discriminação se refere à raça
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 05. Márcio Lima de Oliveira.
ou religião. Homofobia não configura tortura-discriminação, pois esta não abrange a
discriminação sexual, a econômica, ou a social. Art. 1º, II(tortura-castigo): crime é bipróprio! Só
pode ser praticado por quem tem autoridade ampla sobre a vítima. Ex.: Pai com filho, tutor com
tutelado, curador com curatelado. O filho com relação à babá. O idoso com relação à enfermeira.
A diferença da tortura para o crime de maus-tratos, do art. 136, do CP, está na intensidade
do sofrimento da vítima, isto é, se não for intenso, aplica-se o art. 136, do Código Penal. De
acordo com o STJ, “enquanto na hipótese de maus-tratos, a finalidade da conduta é a repreensão
de uma indisciplina, na tortura, o propósito é causar o padecimento da vítima” (RESP 610395,
DJ DATA:02/08/2004). Modo de execução: nos incisos I e II é a violência ou grave ameaça (ex.:
roleta russa; Baltazar enfatiza a dificuldade probatória no caso de tortura psíquica). Já no § 1º
não precisa ser com violência ou grave ameaça, bastando que seja um ato ilegal. É a tortura do
encarcerado: para Baltazar, crime próprio de funcionário público (agente penitenciário, policial,
etc.), contra qualquer preso (mesmo civil, preso definitivo ou provisório ou o sujeito a medida de
segurança detentiva). Elemento normativo: o ato não pode estar previsto em lei ou resultar de
medida legal. Ex.: privar o detento de sono, confiná-lo em espaço minúsculo, em cela escura.
Crime doloso, não se exige finalidade específica. Aqui o sofrimento físico ou mental também
não precisa ser intenso. Diferente dos incisos I e II, no §1º o torturador age sem uma finalidade
(tortura pela tortura). O artigo 1º, §3º traz figuras preterdolosas, qualificadas pelo resultado
lesão grave ou morte. Atentar para o dolo: se a intenção do agente, desde o início, era lesionar ou
matar, mediante tortura, incide o CP. Omissão frente à tortura (1º, §2º): pena substancialmente
reduzida e regime inicial aberto. Críticas: a autoridade superior que se omite estaria na posição
de garante. Crime próprio, doloso. Não exige resultado para sua consumação. Causas de
aumento: vide art. 1º, §4º. Efeitos da condenação: vide art. 1º, §5º. Regime inicial fechado;
não cabe substituição de pena por ser praticado com violência ou grave. Caso de
extraterritorialidade incondicionada da lei penal brasileira se a vítima for brasileira ou se o
agente se encontrar em local sob jurisdição brasileira (art. 2º). Competência da JF quando o
delito for praticado, no exercício das funções, por agente federal, bem como militar das Forças
Armadas (não é crime militar – STF, RE 407721). Vedadas a fiança (LT 1º, §6º), a graça e a
anistia.
Obras consultadas:
GRECO, Rogério, Curso de Direito Penal, Vol. I, Parte Geral, Ed. Ímpetos, 10ª edição, revista e
atualizada, 2008;
BITENCOURT, Cezar Roberto, Manual de Direito Penal, Parte Geral, Ed. Saraiva, 6ª edição,
revista e atualizada, 2000;
1. Conceito e teorias: O nexo causal, ou relação de causalidade, é aquele elo necessário que
une a conduta praticada pelo agente ao resultado por ela produzido. As principais teorias sobre
o tema são:
A) Teria da causalidade adequada (von Kries, von Bar): causa é a condição necessária e
adequada a determinar a produção do evento. São levadas em consideração apenas as
circunstâncias que, além de indispensáveis, sejam idôneas à causa do evento. Tal idoneidade se
baseia em um juízo de probabilidade, de regularidade estatística.
B) Teoria da relevância: causa é a condição relevante para o resultado. Luís Greco afirma que
só o que é objetivamente previsível é relevante. Não é relevante, por exemplo, a conduta
daquele que joga um balde d’água em uma represa completamente cheia, fazendo com que se
rompa o dique.
C) Teoria da equivalência dos antecedentes causais ou equivalência das condições ou conditio
sine qua non (von Buri): É a teoria adotada pelo Código Penal. Diz que causa é a ação ou
omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. Verifica-se se o fato antecedente é causa do
resultado a partir de uma eliminação hipotética. Se, suprimido mentalmente o fato, vier a
ocorrer uma modificação no resultado, é sinal de que aquele é causa deste último. Este é o
chamado processo hipotético de eliminação de Thyrén. Crítica à teoria: permite considerar como
causa eventos extremamente remotos, em uma regressão ad infinitum. Desta forma, para evitar
tal regressão, devemos interromper a cadeia causal no instante em que não houver dolo ou
culpa por parte daquelas pessoas que tiveram alguma importância na produção do resultado
(teoria da imputação subjetiva).
D) Teoria da imputação objetiva: busca afastar a tipicidade ainda na análise da parte objetiva
do tipo. Surge para limitar o alcance da teoria da equivalência dos antecedentes causais sem,
contudo, abrir mão desta última. O fundamento é o chamado princípio do risco. Cria-se vários
critérios valorativos (juízo de valor) para verificar se o resultado causado pode ser atribuído ao
autor como obra própria dele.
Claus Roxin, ao desenvolver a teoria, aponta quatro vertentes que impedirão a imputação
objetiva:
a) criação de um risco proibido: Não ocorre quando se diminui o risco. No exemplo de Roxin,
se A empurra B para que a pedra que já iria mesmo atingir este último o atinja em região que
lhe causará menos dano, não se pode imputar a A ação típica. A conduta, na verdade, reduz a
probabilidade de uma lesão.
b) criação de um risco juridicamente relevante: Se a conduta do agente não é capaz de criar
um risco juridicamente relevante, ou seja, se o resultado por ele pretendido não depender
exclusivamente de sua vontade, este deverá ser atribuído ao acaso. Ex. A presenteia B com
bilhete aéreo esperando que o avião caia. Não há aumento significativo do risco quando não se
tem o domínio do processo causal.
50
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 06. Manoel Antônio Gonçalves da Silva
c) aumento do risco permitido: Se a conduta do agente não houver, de alguma forma,
aumentado o risco de ocorrência do resultado, este não lhe poderá ser imputado. O resultado
tem que ser fruto daquele risco proibido que o agente criou.
d) esfera de proteção da norma como critério de imputação: somente haverá
responsabilidade quando a conduta afrontar a finalidade protetiva da norma. Ex: se A atropela
B e, com isto, a mãe de B, sofrendo um abalo muito grande, também falece, A não será
responsabilizado por esta última morte.
Günther Jakobs, a seu turno, fundamenta-se no argumento de que cada um de nós exerce
determinado papel na sociedade. Para a responsabilização penal deve-se aferir quem não
exerceu ou exerceu de maneira deficiente seu papel na sociedade. A partir daí, Jakobs traça
quatro instituições jurídico-penais sobre as quais desenvolve a teoria da imputação objetiva:
a) risco permitido: O risco inerente à configuração social deve ser tolerado como risco
permitido. Assim, se cada um se comporta de acordo com um papel que lhe foi atribuído pela
sociedade, mesmo que crie risco de lesão ou perigo de lesão aos bens de terceira pessoa, se o
risco se mantiver dentro dos padrões aceitos pela sociedade, advindo da conduta algum
resultado lesivo, o mesmo será imputado ao acaso.
b) princípio da confiança: As pessoas que convivem numa sociedade devem confiar umas nas
outras. Confiar que cada uma cumpra seu papel, observe seus deveres e obrigações, evitando
danos. É o que nos permite, por exemplo, atravessar um cruzamento quando o sinal está verde,
confiando que o motorista da outra pista irá parar perante o sinal vermelho. Não se imputarão
os resultados a quem obrou confiando em que outros se manterão dentro dos limites do perigo
permitido.
c) proibição do regresso: Se determinada pessoa atuar de acordo com os limites de seu
papel, sua conduta, mesmo contribuindo para o sucesso da infração penal, não poderá ser
incriminada. Ex: Padeiro que, mesmo sabendo que certo cliente comprou um pão para
envenená-lo e servi-lo a um desafeto, não responderá pela morte, pois a atividade de vender
pães consiste no seu papel de padeiro.
d) competência (capacidade) da vítima: Jakobs agrupa duas situações que merecem
destaque. A primeira diz respeito ao consentimento do ofendido; a segunda, às chamadas ações
a próprio risco. Esta última se refere a infrações dos deveres de autoproteção. Assim, aquele
que se dispõe a praticar esportes radicais, sabe que corre o risco de se lesionar, não podendo tal
fato ser atribuído a seu instrutor, que agiu de acordo com sua capacidade, observando seu
dever de cuidado.
2. Espécies de causas (concausas):
As causas podem ser absoluta ou relativamente independentes. Ambas se subdividem em
preexistentes, concomitantes e supervenientes, de acordo com o tempo de sua ocorrência em
relação à conduta do agente. Quando uma causa absolutamente independente gera o
resultado, este não é atribuído à conduta do agente, o qual responderá apenas pela tentativa.
Quando causa relativamente independente concorre para o resultado, a regra é a de que o
resultado seja atribuído também à conduta do agente, respondendo este pelo delito em sua
forma consumada, salvo no caso da causa relativamente independente que, por si só, produzir
o resultado.
a) Causa pré-existente absolutamente independente: Ex: A, imbuído de animus necandi, atira
em B, que havia ingerido veneno antes do disparo e morre em exclusivamente em razão do
envenenamento. b) Causa concomitante absolutamente independente: Ex: Se A e B atiram ao
mesmo tempo em C, sem que aqueles estejam agindo em concurso, comprovando-se que o
disparo de A foi o que exclusivamente causou a morte de C, tendo o tiro de B atingido a vítima
no braço. c) Causa superveniente absolutamente independente: Ex: A, imbuído do animus
necandi, atira em B, causando-lhe um ferimento que o levaria à morte, porém, o prédio onde
ambos estavam desaba e B morre exclusivamente em razão do desabamento. d) Causa
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GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 06. Manoel Antônio Gonçalves da Silva
preexistente relativamente independente: Ex: A, querendo matar B e sabendo de sua condição
de hemofílico, nele desfere golpe de faca em região não letal, mas que, em razão da hemofilia,
acarreta séria hemorragia na vítima, causando-lhe a morte. e) Causa concomitante
relativamente independente: Ex (Damásio): A, imbuído de animus necandi, desfecha um tiro em
B, no exato instante que este está sofrendo um colapso cardíaco, restando provado que a lesão
contribuiu para a eclosão do êxito letal. f) Causa superveniente relativamente independente : É
aquela ocorrida posteriormente à conduta do agente e que com ela tenha ligação. Estas se
subdividem em: as que por si sós causam o resultado (Ex.: A, imbuído de animus necandi, atira
em B, que é levado para um hospital e, chegando lá, o prédio desaba, causando sua morte,
respondendo A somente pela tentativa); as que não por si sós causam o resultado. Estas
últimas são as que estão na linha de desdobramento natural da conduta do agente (Greco). Há
uma “soma de esforços”, uma “soma de energias” com a conduta do agente, gerando o
resultado (Bitencourt). Ex: A, imbuído de animus necandi, fere B com uma lâmina enferrujada
em região não letal, porém, B contrai tétano e morre. A responde por homicídio consumado.
3. Omissão como causa do resultado: A omissão também poderá ser considerada causa do
resultado, conforme dispõe o caput do art. 13 do CP. Para tanto, o omitente deve ter o dever
jurídico de impedir, ou pelo menos tentar impedir, o resultado lesivo. Nos termos do § 2º do art.
13 do CP, a omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o
resultado. A lei penal exige, portanto, o dever de agir e o poder agir. Os crimes omissivos podem
ser:
a) Crimes omissivos próprios, puros ou simples, segundo Mirabete “são os que
objetivamente são descritos com uma conduta negativa, de não fazer o que a lei determina,
consistindo a omissão na transgressão da norma jurídica e não sendo necessário qualquer
resultado naturalístico. Para a existência do crime basta que o autor se omita quando deve
agir”. Ex: Omissão de socorro, art. 135 do CP. São normas mandamentais.
b) Crimes omissivos impróprios, comissivos por omissão ou omissivos qualificados são aqueles
em que, por sua configuração, é preciso que o agente possua um dever de agir para evitar o
resultado (há a previsão de um resultado que deve ser evitado – nexo de evitação). Este dever é
atribuído por lei a pessoas com qualidades específicas, que são chamadas garantidores ou
garantes, os quais estão elencadas no § 2º do art. 13 do CP (tipicidade indireta/mediata, pois
depende da conjugação da norma incriminadora comissiva + art. 13, §2º). Esta espécie de crime
omissivo admite tanto a inação dolosa quanto a inação culposa como meio para se atribuir o
resultado ao agente. Ex: salva vidas que negligentemente é tardio no socorro. Encontram-se na
posição de garantido: a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância (Ex: a
obrigação dos pais em relação a seus filhos); b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de
impedir o resultado (Ex: alguém em uma praia que se disponibiliza a vigiar o filho de um pai
enquanto este dá um mergulho no mar). c) com seu comportamento anterior, criou o risco da
ocorrência do resultado (Ex: aquele que, num acampamento, depois de acender o fogo para
fazer sua comida, não o apaga posteriormente, permitindo que se inicie um incêndio). Há
divergência doutrinária sobre a necessidade de o comportamento anterior se dar ao menos
culposamente (Luiz Regis Prado) ou se necessita ser um ilícito (Juarez Cirino) ou se não precisa
nem de dolo nem de culpa (Bitencourt), bastando que o agente tenha com sua ação
proporcionado alguma situação de risco para o resultado.
52
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 06. Marcela Regis
ITEM B: ILICITUDE.
Obras consultadas:
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito penal: parte geral, volume 1, 11 ed. - São Paulo:
Saraiva, 2007.
ROXIN, Claus. Derecho Penal. Parte Geral. Fundamento. La estructura de la teoria del delito.
Madrid: Civitas, 2006.
TOLEDO, Francisco de Assis. Ilicitude Penal e causas de sua exclusão. Rio de Janeiro: Forense,
1984.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. 10 ed. Rio de Janeiro: Ímpetos, 2008.
MASSON, Cleber. Direito Penal Esquematizado. 2.ed. São Paulo: Método, 2009.
Legislação Básica: artigos 23, 24, 25, 128, 142, 146, §3, I , 150, §3, I e II ; art. 156, §2 do Código
Penal. art. 10 da Lei n. 6.538/78; art. 1210, §1 do CC ; art. 37, I da Lei 9.605/98
Obras consultadas:
Definição - crime ambiental é qualquer dano ou prejuízo causado aos elementos que
compõem o meio ambiente, i.e., o conjunto de condições, leis, influências, alterações e
interações de ordem física, química e biológica, que permite, obriga e rege a vida em todas as
suas formas, descritos na legislação pertinente.
Considerações Gerais - com a entrada em vigor da Lei 9.605, de 13/02/98 (Lei dos Crimes
Ambientais), o Brasil deu um grande passo legal na proteção do meio ambiente, pois a nova
legislação traz inovações modernas e surpreendentes na repreensão aos delitos ambientais. Em
seus 82 artigos, a referida lei atualiza a legislação esparsa, revogando muitos dispositivos, bem
como apresentando novas penalidades, reforçando outras existentes e impondo mais agilidade
ao julgamento dos crimes, com possibilidade de aplicação de institutos dos juizados especiais
(art.27 da Lei 9605/98 c/c. Lei 9.099/95). Ademais, a Lei Ambiental possibilita a
corresponsabilidade entre as diversas pessoas que tenham participado do delito, sejam
executores ou mandantes, o que inclui a pessoa física do diretor, administrador ou membro da
sociedade com poderes decisórios (art.2º). O art.3 o traz a maior novidade da lei, estabelecendo
a responsabilização penal da pessoa jurídica independente da pessoa física (“sistema da dupla
imputação”). A Lei continua inovando ao tipificar: os atos degradatórios da flora como crimes
(art. 38 a 53); a extração de florestas de domínio público ou consideradas de preservação
permanente ou unidade de conservação, sem prévia licença, permissão ou autorização
competente; a extração de pedra, areia, cal ou quaisquer espécies minerais; prevendo penas de
detenção de seis meses a um ano e multa (art. 44). CELSO FIORILLO afirma que “os arts. 29 a 37
procuram de fato trazer proteção à fauna enquanto bem ambiental, na medida em que os
animais não são sujeitos de direitos, porquanto a proteção do meio ambiente existe para
favorecer o próprio homem e, somente por via reflexa, as demais espécies”. Ademais, contém
previsão de crimes de poluição a vários elementos como o ar, a água, e demais componentes do
meio ambiente que venham a resultar danos à saúde humana ou provoquem mortandade de
animais ou destruição significativa da flora (art. 54). Ainda, elenca os crimes contra o
ordenamento urbano e o patrimônio cultural (art. 62 a 65), proibindo inclusive a pichação ou
grafitagem de edificações ou monumentos urbanos (art. 65), com pena de detenção de três
meses a um ano e multa. A última grande mudança deu-se em 2006, com a inclusão dos crimes
dos arts.: 38-A, 50-A e 69-A Erro! A referência de hiperlink não é válida. Importante
ressaltar que possibilita a condenação do autor do crime ambiental a custear programas
ambientais e contribuir com entidades ambientais ou culturais, públicas ou privadas (art. 23,I e
IV). No mesmo diapasão, as multas administrativas ficaram bem mais inibidoras, podendo
atingir significativas cifras, como R$ 50 milhões de reais (art. 75). Em síntese, a Lei 9605 de 12
de fevereiro de 1998 prevê um capítulo dedicado aos crimes contra o meio ambiente,
apresentando-se subdividido em 05 seções, respectivamente, reservadas: aos crimes contra
fauna (Seção I); aos crimes contra a flora (Seção II); à poluição e outros crimes ambientais
(Seção III); aos crimes contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural (Seção IV) e aos
crimes administração ambiental (Seção V).
Fundamentos – fundamentos constitucionais para que possam ser estabelecidas sanções
penais ambientais: (segundo CELSO FIORILLO): 1- Obediência aos fundamentos do estado
democrático de direito (art. 1°CF); 2- Obediência aos objetivos fundamentais da República
Federativa do Brasil (art. 3°CF); 3- Adequação ao direito criminal constitucional e ao direito
penal constitucional como instrumentos de defesa da vida de brasileiros e estrangeiros
residentes no país (art. 5°CF); 4- Obediência e adequação ao direito ambiental constitucional
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GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 06. Marcelo Lage
(art. 225 CF). Condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitam os
infratores a sanções penais. Pessoas físicas e jurídicas são consideradas constitucionalmente
infratoras diante da condição de poluidoras e estarão sujeitas a sanções penais (art. 225 § 3°
CF).
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GRUPO IV – PENAL
PONTO N. 07. Marcelo Malheiros Cerqueira
ITEM A: Imputabilidade penal. Responsabilidade penal da pessoa jurídica
Obras consultadas: BALTAZAR JUNIOR, José Paulo. Crimes federais. 7ª ed., 2011; CUNHA,
Rogério Sanches. Código Penal para concursos. 4ª ed., 2011; GARCIA, Leonardo de Medeiros;
THOMÉ, Romeu. Direito Ambiental. 3ª ed., 2011; GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal –
parte geral, vol. 1. 13ª Ed., 2011; ZAFFARONI, Eugenio Raúl; PIERANGELI, José Henrique.
Manual de Direito Penal Brasileiro – vol. 1. 9ª Ed., 2011; WIECKO, Ela. O projeto de Lei do
Senado nº 156, de 2009, que institui novo Código de Processo Penal e os crimes praticados
contra indígenas ou por indígenas, 2009.
Legislação básica. Arts. 173, § 5º, 225, § 3º, e 228 da CRFB/88, arts. 26, 27, 28, 61, II, l, 65, III, c,
97, 98, 121, § 1º, 173, § 5º, 225, § 3º, do CP, arts. 3º, 21, 22 e 23 da Lei 9.605/98.
Nota: o resumo a seguir foi elaborado a partir do trabalho anterior do grupo de aprovados no
25º concurso.
Imputabilidade penal
Introdução: a imputabilidade é um dos elementos da culpabilidade, ao lado da exigibilidade
de conduta diversa e da potencial consciência da ilicitude (cf. teoria normativa da culpabilidade,
de base finalista).
Conceito: o CP não traz um conceito positivo de imputabilidade, mas apenas um conceito
negativo, ao arrolar as hipóteses de inimputabilidade. Segundo ZAFFARONI e PIERANGELI,
imputabilidade é a capacidade de culpabilidade, isto é, a capacidade (estado ou condição) do
sujeito ativo de entender o caráter ilícito do fato e determinar-se de acordo com esse
entendimento. A imputabilidade é pressuposto da responsabilidade criminal (o imputável
responde por seus atos), mas com ela não se confunde, pois é possível um imputável que não
seja responsável (ex.: parlamentar imune pelos atos praticados na função).
Elementos (aspectos ou níveis) da imputabilidade: a) cognoscitivo ou intelectivo: capacidade
de entender a ilicitude do fato; b) volitivo ou determinação da vontade: capacidade de
determinar-se de acordo com o entendimento do caráter ilícito do fato (capacidade de atuar
conforme essa compreensão).
Sistemas de imputabilidade: a) sistema biológico ou etiológico: leva em consideração apenas
o desenvolvimento mental do acusado, independentemente se tinha ou não, ao tempo da
conduta, capacidade de entendimento e autodeterminação (ex.: “todo menor de 18 anos é
inimputável”); b) sistema psicológico ou psiquiátrico: leva em conta apenas as condições
psicológicas do agente à época do fato, pouco importando eventual incapacidade mental; c)
sistema biopsicológico ou misto: concilia os dois anteriores, de modo que é inimputável aquele
que, em razão de sua condição mental, era, ao tempo da conduta, inteiramente incapaz de
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento
(autodeterminação). O CP adota o critério biológico para a inimputabilidade natural e o critério
biopsicológico nos demais casos.
Causas de inimputabilidade (rol taxativo do CP – 3 hipóteses):
a) inimputabilidade por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado
(art. 26, caput, do CP): exige a presença de dois requisitos: i) comprovação de doença mental ou
desenvolvimento mental incompleto ou retardado; ii) verificar se o agente era, ao tempo da
ação ou omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se
de acordo com esse entendimento. Por isso é que, segundo o STF, “a incapacidade civil não se
confunde com a inimputabilidade criminal”, de maneira que a interdição no âmbito cível não
significa inimputabilidade, devendo o paciente ser submetido ao exame de insanidade mental
na seara penal (Info 584, HC 101930/MG, rel. Min. Carmen Lúcia, 27/04/2010).
59
GRUPO IV – PENAL
PONTO N. 07. Marcelo Malheiros Cerqueira
Se a incapacidade cognoscitiva e volitiva não for completa, poderá ser o caso de semi-
imputabilidade (ou imputabilidade diminuída), a qual, nos termos do §ú do art. 26 do CP,
permite a redução da pena de 1/3 a 2/3 para o agente 2. O semi-imputável, a princípio, está
sujeito a pena privativa de liberdade, a qual, porém, pode ser substituída por medida de
segurança (internação ou tratamento ambulatorial) no caso de necessidade de especial
tratamento curativo, pelo prazo mínimo de 1 (um) a 3 (três) anos, cf. art. 98 do CP.
Há, portanto, uma importante distinção: o inimputável do caput do art. 26 não pratica crime,
é absolvido e sofre só medida de segurança (absolvição imprópria); já o semi-imputável do §ú
pratica crime, é condenado e sofre pena ou medida de segurança 3. Anota GRECO (p. 390) que,
se o fato é típico e antijurídico e o membro do MP tem conhecimento da inimputabilidade do
art. 26, caput, do CP na fase extrajudicial, deve ainda assim propor a denúncia e pugnar pela
absolvição do réu, com aplicação de medida de segurança, visto que a propositura da ação
penal é a única forma de aplicar essa espécie de sanção.
b) inimputabilidade por imaturidade natural (art. 27 do CP e art. 228 da CRFB/88): o menor
de 18 anos, por questões de política criminal, é considerado presumidamente inimputável pela
Constituição e pelo CP (presunção absoluta), não importando que tenha eventualmente se
emancipado na esfera civil. Adota-se, portanto, o critério biológico. A maioridade penal
adquire-se no primeiro minuto da data do aniversário de 18 anos, independentemente da hora
em que nasceu o agente. Como não pratica crime, mas somente ato infracional, o menor de 18
anos se sujeita à aplicação de remissão, medida protetiva e/ou medida socioeducativa,
conforme o caso, nos termos da Lei nº 8.069/90 (ECA). Porém, no caso de crime permanente
cuja execução se iniciou antes da maioridade penal e se prolongou após o agente ter
completado 18 anos, deve-se considerá-lo imputável (CUNHA, p. 70). A doutrina controverte
sobre a possibilidade de alteração da maioridade penal para uma idade abaixo de 18 anos: 1ª
corrente (Luiz Flávio Gomes) → impossibilidade, por ser o art. 228 da CRFB/88 cláusula pétrea;
2ª corrente (Rogério Greco) → possibilidade, visto não se tratar de cláusula pétrea.
c) inimputabilidade por embriaguez completa proveniente de caso fortuito ou força maior
(art. 28, II, § 1º, do CP): a embriaguez consiste na intoxicação aguda e transitória causada pelo
álcool ou substância de efeitos análogos, como o ópio, a cocaína 4, etc. (interpretação analógica),
cujos efeitos podem progredir de ligeira excitação inicial até o estado de paralisia e coma. A
embriaguez, por si só, não é causa de inimputabilidade, fazendo-se necessário verificar se (a) é
completa ou não, bem como se (b) é involuntária (decorrente de caso fortuito ou força maior)
ou voluntária (dolosa ou culposa).
Para ser causa de inimputabilidade, a embriaguez deve ser involuntária e completa,
ensejando, ao tempo da ação ou omissão, a inteira incapacidade do agente de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. A embriaguez
involuntária (também chamada de fortuita ou acidental) ocorre quando o agente desconhece o
efeito inebriante da substância ou sua particular condição de suscetibilidade a tal substância
(caso fortuito) ou é obrigado a ingeri-la (força maior). A embriaguez completa (fase da
depressão) é aquela na qual se desvanece qualquer censura ou freio moral 5, sendo um estágio
intermediário entre a embriaguez incompleta (fase da excitação) e a comatosa (fase letárgica). A
2Segundo ZAFFARONI e PIERANGELI, essa redução é facultativa (p. 549); GRECO, diversamente, sustenta que a redução é obrigatória, pois é um
direito subjetivo do condenado (p. 665).
3Vale lembrar que o CP adotou o sistema vicariante, pelo qual se aplica pena ou medida de segurança para o agente. Antes da reforma de 1984,
aplicava-se pena e medida de segurança (sistema duplo binário).
4V. art. 45, caput, da Lei 11.343/2006, que inclui a dependência de droga como causa de inimputabilidade de acordo com o critério
biopsicológico, hipótese na qual o juiz poderá encaminhar o agente para tratamento médico adequado, ao absolvê-lo (p. u. do citado art. 45).
6No mesmo sentido, v. art. 46 da Lei 11.343/2006, que também alude à dependência de drogas.
61
GRUPO IV – PENAL
PONTO N. 07. Marcelo Malheiros Cerqueira
Responsabilidade penal da pessoa jurídica (PJ): tradicionalmente, vigorou nos
ordenamentos jurídicos de filiação romano-germânica a máxima societas delinquere non potest
(a sociedade não pode delinquir). Modernamente, contudo, essa premissa tende a ser
superada, tendo em vista a expansão da economia mundial, o aumento da criminalidade
financeira e econômica e as violações cada vez em maiores proporções do meio ambiente e dos
demais direitos difusos mediante a utilização de entes coletivos. Vejamos os principais
argumentos contra e a favor da responsabilidade penal da PJ (v. BALTAZAR JUNIOR, p. 676):
Argumentos contrários: a) inconstitucionalidade do art. 3º da Lei nº 9.605/98; b) ausência de
conduta e de vontade, conforme teoria da ficção de Savigny, pela qual as pessoas jurídicas têm
existência fictícia ou irreal, não sendo capazes de delinquir; c) incompatibilidade das penas
criminais com a natureza das PJs; d) inexistência de dogmática penal adequada; e) falta de
regulamentação suficiente a assegurar o devido processo legal.
Argumentos favoráveis (tese majoritária na jurisprudência): a) a própria CRFB/88 prevê
expressamente a responsabilização penal da PJ em matéria ambiental (art. 225, § 3º) e também
estabelece a possibilidade de a lei sujeitar as PJs às punições compatíveis com sua natureza, nos
atos praticados contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular (art. 173, §
5º); b) de acordo com a teoria da realidade (também chamada da personalidade real ou
orgânica), cujo precursor mais ilustre foi Otto Gierke, a PJ não é um ser artificial, criado pelo
Estado, mas sim um ente real, independente dos indivíduos que a compõem. Assim, a PJ pode
praticar condutas típicas e tem vontade própria, manifestada pela atuação do seu colegiado; c)
a dogmática penal aplicável às PJs assenta-se no conceito moderno de culpabilidade como
responsabilidade social (STJ, REsp 564960, j. em 2/6/2005).
Responsabilidade penal da PJ em matéria ambiental: no REsp 610114, j. em 19/12/2005, o
STJ admitiu expressamente a responsabilidade penal da PJ em matéria ambiental, destacando
que, “se a pessoa jurídica tem existência própria no ordenamento jurídica e pratica atos no
meio social através da atuação de seus administradores, poderá vir a praticar condutas típicas e,
portanto, ser passível de responsabilização penal [...] A culpabilidade, no conceito moderno, é a
responsabilidade social”.
O art. 3º da Lei nº 9.605/98 exige dois requisitos para a responsabilização penal da PJ: a)
“que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu
órgão colegiado”; b) “no interesse ou benefício” da entidade.
Além disso, de acordo com a teoria da dupla imputação, o delito jamais pode ser imputado
exclusivamente à PJ (STJ, REsp 865864, j. em 10/09/2009). Deve ser imputado à pessoa física
responsável pelo delito e à pessoa jurídica, tratando-se de responsabilidade penal cumulativa.
Consequentemente, “excluída a imputação aos dirigentes responsáveis pelas condutas
incriminadas, o trancamento da ação penal, relativamente à pessoa jurídica, é de rigor” (STJ,
RMS 16696, DJ 13/03/2006); obviamente, a recíproca não é verdadeira, de modo que a ação
penal pode prosseguir em face do dirigente, caso excluída a imputação em face da PJ.
Por essas razões, afirma-se que a responsabilidade da PJ é por ricochete, indireta ou mediata,
pois o principal responsável pelo delito é uma pessoa física. A PJ responde pelo fato de modo
indireto.
Quanto às PJs de direito público, existe controvérsia: 1ª corrente (Paulo Afonso Leme
Machado): é possível a responsabilização penal; 2ª corrente: não é possível, pois as PJs de
direito público são distintas das PJs de direito privado, estando vinculadas à legalidade,
moralidade e probidade. Assim, um crime não pode ser praticado em benefício da PJ de direito
público, não se aplicando o art. 3º da Lei 9.605/98. Ademais, a aplicação de sanções criminais às
pessoas jurídicas de direito público pode implicar prejuízos à própria coletividade (GARCIA;
THOMÉ, p. 309). Além disso, não há como a conduta ser praticada no seu interesse ou
benefício.
62
GRUPO IV – PENAL
PONTO N. 07. Marcelo Malheiros Cerqueira
De acordo com o art. 21 da Lei nº 9.605/98, as penas aplicáveis isolada, cumulativa ou
alternativamente às PJs são de (I) multa, (II) restritivas de direitos ou (III) prestação de serviços à
comunidade.
Ao contrário do que se ocorre em relação às pessoas físicas, as penas restritivas de direitos
para PJs são originárias, e não substitutivas. Isso porque não há possibilidade de pena privativa
de liberdade, não se admitindo, por esse motivo, a utilização de habeas corpus para PJ (STJ, RHC
16762, DJ 01/02/2005), embora seja possível o manejo de mandado de segurança para, p. ex.,
trancar a ação penal (STJ, AGRMS 13533, j. em 23/06/2008).
A duração das penas aplicáveis à PJ, na omissão da lei, é limitada à duração da pena privativa
de liberdade que seria aplicável às pessoas físicas. Aliás, a pena imposta à PJ deve guardar
proporcionalidade com aquela aplicada ao seu dirigente pelos mesmos fatos (BALTAZAR JR., p.
678).
A multa não ganhou tratamento específico para a PJ, aplicando-se o art. 18 da Lei nº
9.605/98. Como não é a única pena aplicável às PJs, sua prescrição não se dá em dois anos (art.
114, I, do CP), mas sim no mesmo prazo da pena privativa de liberdade prevista em cada tipo
penal (art. 114, II, do CP).
As penas restritivas de direitos (PRD) da pessoa jurídica estão especificadas no art. 22 da Lei
nº 9.605/98, e são distintas daquelas aplicáveis às pessoas físicas (art. 8º). São elas: (I) a
suspensão total ou parcial de atividades, (II) a interdição temporária de estabelecimento, obra
ou atividade e (III) a proibição de contratar com o Poder Público, que pode ser de até 10 anos
(para a pessoa física, essa proibição tem prazo 5 anos para crimes dolosos e 3 anos para crimes
culposos, cf. art. 10). A duração máxima, no caso dos incisos I e II, corresponde ao prazo
máximo da pena privativa de liberdade.
Por fim, a prestação de serviços à comunidade pela PJ está prevista no art. 23 da Lei
9.605/98, abrangendo (I) custeio de programas e de projetos ambientais; (II) execução de obras
de recuperação de áreas degradadas; (III) manutenção de espaços públicos; (IV) contribuições a
entidades ambientais ou culturais públicas.
O art. 24 da Lei 9.605/98 ainda prevê a possibilidade de decretação da liquidação forçada da
PJ constituída ou utilizada preponderantemente para a prática de crimes ambientais, hipótese
na qual seu patrimônio será considerado instrumento do crime e como tal perdido em favor do
Fundo Penitenciário Nacional. A doutrina afirma que, se a liquidação forçada pressupõe a
prática de crime, ela só pode ser aplicada como efeito de sentença penal condenatória
transitada em julgado, devidamente fundamentada (BALTAZAR JR., p. 679). Ademais, é
necessário que tenha pedido expresso da condenação para aplicar a liquidação forçada, a qual
pode ser objeto de ação própria no juízo cível proposta pelo MP.
63
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 07. Márcio André Sales de Carvalho Oliveira
ITEM B: Aplicação da pena. Código Penal e leis especiais.
Obras consultadas:
- BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. Vol. 1: parte geral. 13ª ed. Saraiva:
2008.
- MASSON, Cleber Rogério. Direito Penal Esquematizado – Parte Geral. 2ª ed. Método, 2009.
Legislação básica:
- Código Penal (arts. 59 e ss.)
65
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 07. Hebert Reis Mesquita
ITEM C: Crimes de Lavagem de Dinheiro.
Disposições Gerais: primeira ação com nova lei foi do MPF/GO, onde JF decidiu cautelar de
arresto de bens (caso “Juquinha” divulgado no sítio da PGR em julho/2012). Convenção de
Viena de 1988 (Decreto 154/91) estabeleceu mandado convencional de tipificação da lavagem
de recursos oriundos do tráfico de drogas. Money laundering: termo surgido em Chicago, anos
20. “Branqueamento de capitais”: termo em alguns países da Europa. lavagem é classificada
como crime derivado ou acessório ou parasitário (pressupõe a ocorrência de crime anterior).
Juiz Federal Sérgio Moro adverte sobre a possibilidade de vulgarização da lavagem, podendo
levar a um apenamento maior da lavagem em relação ao antecedente.
Gerações de legislação de lavagem: 1ª geração) só o tráfico de drogas permitia punição
também por lavagem; 2ª) rol exaustivo de crimes permite a lavagem (legislação brasileira até
antes da mudança); 3ª) qualquer infração penal (inclusive contravenção penal): fase atual da
legislação brasileira.
Fases da lavagem de dinheiro: a) conversão (ou ocultação ou colocação = placement):
transfere-se o dinheiro auferido ilicitamente para outro local (ex: colocação em mercado
financeiro, divisão em pequenas parcelas, transporte do dinheiro para fora do país); b)
dissimulação (empilage): dissocia o dinheiro da sua origem, para evitar rastreamento. Ex:
deposita dinheiro em contas fantasmas, em contabilidade de empresas de fachada ou não; c)
integração (integration): o dinheiro, misturado a dinheiro limpo ou “explicado” como de origem
lícita, é sacado e o lavador terá dinheiro limpo.
Inovações da Lei 12.693/12 segundo Márcio André Lopes Cavalcante (in Dizer o Direito): a)
infração penal ao invés crime como fato antecendente. Agora, até contravenção penal (ex: jogo
do bicho) pode ser infração antecedente, não havendo mais um rol taxativo (adotou-se a 3ª
geração); b) caberá ao juiz competente da lavagem decidir sobre a unidade de processo e
julgamento entre lavagem e antecedente (art. 2º), conforme conveniência; c) cabíveis: fiança e
liberdade provisória (revogou-se art. 3º que as vedava), o que veio ao encontro das recentes
decisões do STF, no sentido de que mesmo o crime inafiançável permite liberdade provisória,
tornando praticamente inútil o instituto da inafiançabilidade; d) medidas assecuratórias: foram
previstas no art. 4º a decretação de ofício, requerimento do MP ou representação do delegado,
de medidas assecuratórias (ao invés de apreensão ou sequestro de antes, que gerava
divergência acerca do cabimento ou não de arresto e hipoteca legal) de bens, direitos e valores
do investigado ou acusado ou existentes em nome de interpostas pessoas, que sejam
instrumento, produto ou proveito dos crimes previstos nesta Lei ou das infrações penais
antecedentes. São medidas para arrecadação cautelar para posterior confisco; e) alienação
antecipada (art. 4º, §1º): proceder-se-á à alienação antecipada (leilão) para preservação do
valor dos bens sempre que estiverem sujeitos a qualquer grau de deterioração ou depreciação,
ou quando houver dificuldades para sua manutenção. O §1º anterior afirmava que seriam
levantadas as medidas assecuratórias se não intentada a ação penal em 120 dias da conclusão
da diligência. Agora, não há mais prazo, salvo ser for medida de sequestro, a ser regulada pelo
CPP, com prazo de 60 dias (art. 131 do CPP). Nenhum pedido de liberação será conhecido sem o
comparecimento pessoal do acusado ou de interposta pessoa; f) a ação controlada foi mantida;
g) são efeitos da condenação (art. 7º) a perda, em favor da União ou dos Estados (se crime
estadual) de todos os bens, direitos e valores direta ou indiretamente relacionados, inclusive os
utilizados para prestar fiança, ressalvado o direito do lesado ou terceiro de boa fé. Nos
processos na JF, caberá a utilização, por órgãos federais encarregados da prevenção, combate,
da ação penal e do julgamento, de bens, direitos e valores objeto de perdimento; ou seja, MPF e
JF poderão ser agraciados, além de PF e COAF; h) a nova lei aumentou a responsabilidade de
pessoas físicas em informar transações financeiras, equiparando-as a pessoas jurídicas (art. 9º);
i) composição do COAF: incluirá também representantes da ABIN, MJ, Ministério da Previdência.
Não inclui MP nem Justiça; j) poder de requisição de dados cadastrais do Delegado e do MP (art.
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 07. Hebert Reis Mesquita
17-B), matéria não sujeita à reserva jurisdicional: autoridade policial e MP terão acesso,
exclusivamente, aos dados cadastrais do investigado que informam qualificação pessoal, filiação
e endereço, independentemente de autorização judicial, mantidos pela justiça eleitoral,
empresas telefônicas, instituições financeiras, provedores de internet e administradoras de
cartão de crédito; k) afastamento de servidor público em caso de indiciamento (duvidosa
constitucionalidade): em caso de indiciamento de servidor público, este será afastado, sem
prejuízo da remuneração e demais direitos, até o que o juiz competente autorize seu retorno; l)
cooperação internacional (art. 8o): o juiz determinará, na hipótese de existência de convenção
internacional (ou reciprocidade) e por solicitação de autoridade estrangeira competente,
medidas assecuratórias sobre bens, direitos ou valores oriundos de crimes descritos no art.
1o praticados no estrangeiro. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012), repartidos meio a
meio, se não houver previsão diferente.
Competência para julgamento: regra geral, justiça comum estadual. Será da justiça comum
federal se o crime antecedente for de processamento e julgamento por ela (ex: crime contra o
sistema financeiro) ou quando houver interesse, ou for bem ou serviço da União, na forma do
art. 109 da CF. Questão do TRF 5ª 2011: para lavagem, não se exige prova da participação do
acusado no crime antecedente.
Tipicidade do art. 1º: ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição,
movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou
indiretamente, de infração penal. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012) Pena: reclusão de
três a dez anos e multa. Antes da mudança da lei, STF (HC 109151/RJ, rel. Min. Rosa Weber,
12.6.2012. (HC-109151) entendeu que o crime antecedente praticado por “organização
criminosa” não possui previsão legal no Brasil, não sendo o Decreto 5.015/04 (que internalizou
a Convenção de Palermo) suficiente para tanto. É o pensamento de LFG (falta normatividade
suficiente, não sendo uma convenção lei em sentido formal e material). Não é o entendimento
do MPF. Essa discussão perde muito da razão de ser, pelo menos na lei de lavagem, porque
qualquer infração penal é crime antecedente.
Tipicidade dos §§ 1º e 2º: incorre na mesma pena quem, para ocultar ou dissimular a
utilização de bens, direitos ou valores provenientes de qualquer dos crimes antecedentes
referidos neste artigo: I - os converte em ativos lícitos; II - os adquire, recebe, troca, negocia, dá
ou recebe em garantia, guarda, tem em depósito, movimenta ou transfere; III - importa ou
exporta bens com valores não correspondentes aos verdadeiros. § 2o Incorre, ainda, na mesma
pena quem: (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012) I - utiliza, na atividade econômica ou
financeira, bens, direitos ou valores provenientes de infração penal; (Redação dada pela Lei nº
12.683, de 2012) II - participa de grupo, associação ou escritório tendo conhecimento de que sua
atividade principal ou secundária é dirigida à prática de crimes previstos nesta Lei. § 3º A
tentativa é punida nos termos do parágrafo único do art. 14 do Código Penal. § 4o A pena será
aumentada de um a dois terços, se os crimes definidos nesta Lei forem cometidos de forma
reiterada ou por intermédio de organização criminosa. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de
2012) –
Delação premiada: § 5o A pena poderá ser reduzida de um a dois terços e ser cumprida em
regime aberto ou semiaberto, facultando-se ao juiz deixar de aplicá-la ou substituí-la, a
qualquer tempo, por pena restritiva de direitos, se o autor, coautor ou partícipe colaborar
espontaneamente com as autoridades, prestando esclarecimentos que conduzam à apuração
das infrações penais, à identificação dos autores, coautores e partícipes, ou à localização dos
bens, direitos ou valores objeto do crime. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012)
Rito: processo seguirá rito comum ordinário. Independem do processo e julgamento das
infrações penais antecedentes, ainda que praticados em outro país, cabendo ao juiz competente
para os crimes previstos nesta Lei a decisão sobre a unidade de processo e
julgamento; (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012). Bastam indícios suficientes do crime
antecedente. Logo, pode haver condenação por lavagem de dinheiro decorrente do narcotráfico
ainda que o réu não tenha sido condenado por narcotráfico. Se o crime antecedente teve
extinta sua punibilidade (prescrição, por exemplo), isso não afetará a persecução pela lavagem
(STJ): HC 207.936-MG, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 27/3/2012. A lei agora é expressa
nesse sentido (art. 2º, §2º: A denúncia será instruída com indícios suficientes da existência da
infração penal antecedente, sendo puníveis os fatos previstos nesta Lei, ainda que desconhecido
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 07. Hebert Reis Mesquita
ou isento de pena o autor, ou extinta a punibilidade da infração penal antecedente. (Redação
dada pela Lei nº 12.683, de 2012)).
Julgamento defensor dativo se citado por edital não comparece: no processo por crime
previsto nesta Lei, não se aplica o disposto no art. 366 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro
de 1941 (Código de Processo Penal), devendo o acusado que não comparecer nem constituir
advogado ser citado por edital, prosseguindo o feito até o julgamento, com a nomeação de
defensor dativo. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012).
COAF (art. 14): É criado, no âmbito do Ministério da Fazenda, o Conselho de Controle de
Atividades Financeiras - COAF, com a finalidade de disciplinar, aplicar penas administrativas,
receber, examinar e identificar as ocorrências suspeitas de atividades ilícitas previstas nesta Lei,
sem prejuízo da competência de outros órgãos e entidades. Deverá, ainda, coordenar e propor
mecanismos de cooperação e de troca de informações que viabilizem ações rápidas e eficientes
no combate à ocultação ou dissimulação de bens, direitos e valores. O COAF poderá requerer
aos órgãos da Administração Pública as informações cadastrais bancárias e financeiras de
pessoas envolvidas em atividades suspeitas. ). O COAF comunicará às autoridades competentes
para a instauração dos procedimentos cabíveis, quando concluir pela existência de crimes
previstos nesta Lei, de fundados indícios de sua prática, ou de qualquer outro ilícito. O Coaf
será composto por servidores públicos de reputação ilibada e reconhecida competência,
designados em ato do Ministro de Estado da Fazenda, dentre os integrantes do quadro de
pessoal efetivo do Banco Central do Brasil, da Comissão de Valores Mobiliários, da
Superintendência de Seguros Privados, da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, da
Secretaria da Receita Federal do Brasil, da Agência Brasileira de Inteligência, do Ministério das
Relações Exteriores, do Ministério da Justiça, do Departamento de Polícia Federal, do Ministério
da Previdência Social e da Controladoria-Geral da União, atendendo à indicação dos respectivos
Ministros de Estado. (Redação dada pela Lei nº 12.683, de 2012). O Presidente do Conselho será
nomeado pelo Presidente da República, por indicação do Ministro de Estado da Fazenda. Das
decisões do COAF relativas às aplicações de penas administrativas caberá recurso ao Ministro de
Estado da Fazenda.
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 08. Marília Ribeiro Soares R. Ferreira
ITEM A: Interpretação e aplicação da lei penal. Concurso aparente de normas.
Obras consultadas:
Resumo elaborado pelo Grupo 25, p. 622.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal – Para Geral, 1. 17ª edição. Ed. Saraiva,
2012.
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal: parte geral, parte especial. 7ª edição.
Revista dos Tribunais, 2011.
Legislação básica: Art. 5º, XXXIX, XL, CF. Arts. 1º e 12, CP. Art. 9º, Pacto de São José da Costa
Rica.
7Bitencourt refere-se a princípios, ao passo que outros autores, como Nucci, fazem menção a critérios.
8Perigo para a vida ou saúde de outrem: Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente:
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.
9STJ Súmula nº 17 (DJ 28.11.1990): “Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido”.
70
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 08. Marília Ribeiro Soares R. Ferreira
progressivo (tem-se a incursão obrigatória pela infração penal menos grave – não se pode matar
sem ferir); 2) progressão criminosa; 3) fatos impuníveis: a) anteriores (são absorvidos pelo tipo
principal, que pode ser praticado sem violação da lei penal menos grave; b) concomitantes (ex.
ferimentos leves suportados pela mulher vitima de estupro); c) posteriores (ex.: o agente que
falsifica documento público e dele faz uso apenas responde pelo crime de falso – art. 297, CP).
71
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 08. Luciano Godoi Martins
ITEM B: Eficácia Da Sentença Estrangeira, Extradição E Entrega
Obras consultadas:
PEREIRA, Marcela Harumi Takahashi. Dos casos em que é desnecessário homologar uma
sentença estrangeira. 264 f. Tese (doutorado em direito internacional) ― Faculdade de
Direito, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.
PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado. Juspodivm, 3ª
edição, 2011.
“Extradição é o ato pelo qual um Estado entrega a outro Estado um indivíduo acusado de ter
violando as leis penais deste outro ente estatal, ou que tenha sido condenado por descumpri-
las, para que neste seja submetido a julgamento ou cumpra a pena que lhe foi aplicadas,
respondendo, assim, pelo ilícito que praticou.
...
A extradição é possível tanto na fase processual como após a condenação, desde que o
processo seja penal, ou que a condenação tenha ocorrido pela prática de ilícito penais, (...).
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 08. Luciano Godoi Martins
...
Ao contrário da expulsão e da deportação, que são atos de ofício, a extradição requer o
pedido do Estado interessado, feito por via diplomática.
...
ATENÇÃO! Portanto, as organizações internacionais ou organismos policiais de atuação
internacional, como a Interpol, não podem ajuizar pedido de extradição, o que não se confunde
com a ‘entrega’ (surrender), que pode ser requerida pelo tribunal Penal Internacional, (...).”
(PORTELA, 293/295)
A CF não admite a extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião (CF, art. 5º, II),
bem como a do nacional nato, mas admite a do naturalizado no caso de crime comum praticado
antes da naturalização ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e
drogas afins.
Quanto a entrega tem-se que “não configura uma extradição, visto que esta é um ato entre
Estados, ao passo que o TPI é um organismo internacional” (PORTELA, 307), havendo polêmica
acerca do cabimento ou não da entrega de um brasileiro nato ao TPI.
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 08. Mauro César Garcia Patini
ITEM C: Dos crimes contra a administração pública.
Obras consultadas:
DAMÁSIO. Código penal anotado. 18ª ed. Ed. Saraiva; MIRABETE. Júlio Fabrini; 2 edição, Editora
Atlas.
Legislação básica.
Artigos 359 “A” e seguintes do código penal, com redação dada pela lei 10028/2000; LC 101
(responsabilidade fiscal); lei 4320 (normas gerais de direito financeiro).
Nota: o resumo a seguir foi elaborado a partir do trabalho anterior do grupo de aprovados no
25º concurso.
Criados pela Lei 10.028/00 no título do CP destinado aos crimes contra a Administração
Pública. Tutelam o bem jurídico finanças públicas, pela observância de normas constantes da
Constituição (arts. 163-169) e da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF – LC 101/00). Para Regis
Prado, algumas das condutas previstas como delitos por essa lei não deveriam passar de
infrações administrativas, tendo em conta os princípios penais fundamentais da
fragmentariedade e da ultima ratio. Mesma opinião de Damásio: ilícitos administrativos
praticados na no exercício da função pública, no que tange ao controle, aplicação e
disponibilidade do erário, ganham status de crimes.
Todos são crimes dolosos, sem elemento finalístico específico. Todos de ação penal pública
incondicionada. Geralmente formais e de perigo abstrato (exceções discriminadas abaixo).
Prescindem de efetiva lesão ao erário (dispensam resultado naturalístico, com consumação na
prática dos verbos núcleos). Para Regis Prado, são normas penais em branco, por necessitarem,
para sua compreensão, de complementação por normas de Direito Financeiro. Quatro dos
crimes são de pequeno potencial ofensivo (competência dos JECrimF); os outros quatro, de
médio potencial ofensivo (nenhuma pena máxima em abstrato supera quatro anos). A violação
de dever para com a Administração Pública, para Masson, é inerente aos crimes contra as
finanças públicas, o que viabiliza, caso seja aplicada pena privativa de liberdade igual ou
superior a um ano, a decretação da perda do cargo, função pública ou mandato eletivo do
agente público, como efeito da condenação (CP 92, I, a).
CP 359-A (Contratação de operação de crédito sem prévia autorização legislativa ou fora dos
limites legais). Menor potencial ofensivo. As figuras do parágrafo único são lei penal em branco,
segundo Prado, porque remetem ao limite a ser observado, que deve constar de lei ou
resolução do Senado Federal. Tutela o LRF 32, incisos I e IV. Na modalidade realizar, é delito de
resultado. Punição ao desrespeito ao princípio da legalidade administrativa, quando realizadas
sem prévia autorização do Legislativo (expressão “sem prévia autorização legislativa” é
elemento normativo do tipo). Expressão “interno ou externo” permite criminalização em
operações de crédito nacional ou internacional. Sujeito ativo é agente público + quem tem
competência para ordenar ou autorizar operação creditícia. PREFEITOS: tipo especial no
Decreto-lei 201/1967 (art. 1º, XX). PRESIDENTE DA REPÚBLICA: tipo especial na Lei 1079/50 (art.
10).
CP 359-B (Inscrição de despesa irregular em restos a pagar). Menor potencial ofensivo. Lei
penal em branco. Vide Lei 4.320/64, artigo 36. Elemento subjetivo é o dolo, sem exigência de
algo específico. Elemento normativo “que exceder limite estabelecido em lei”. Revogação ou
anulação ato administrativo não desconfiguram o crime (mas acarreta atenuante genérica).
CP 359-C (Assunção de obrigação irregular nos dois últimos quadrimestres do mandato).
Médio potencial ofensivo. Tutela o LRF 42. Não permitir ao administrador assumir obrigações
financeiras sem que haja recursos disponíveis para futuro pagamento. O tipo possui elemento
temporal expresso. Não se exigem finalidades específicas (prejudicar sucessor ou rival político).
Elemento normativo do tipo é “que exceda limite estabelecido em lei”. Crime praticado por ato
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 08. Mauro César Garcia Patini
administrativo (crime unisubsistente, que impede tentativa), sendo que anulação e revogação
administrativa não excluem a tipicidade (sem prejuízo de atenuante genérica).
CP 359-D (Ordenação de despesa não-autorizada). Médio potencial ofensivo. Agente
públicos + competência à autorização de gerar despesas públicas. Damásio usa expressão “dolo
abrangente”: sem finalidade específica + conhecimento que despesa não se encontra
autorizada em lei. Crime unisubsistente (sem tentativa), pouco importa que ordem seja
anulada/revogada que tipo permanece (permite atenunate). Discute-se a constitucionalidade
da tipificação nos casos em que a despesa não autorizada traz benefício para a Administração;
para Masson, o crime é formal e de perigo abstrato, prescindindo do prejuízo ao erário,
presumido, de forma absoluta, pelo tipo. Também o princípio da legalidade legitimaria a
previsão. Outra discussão: o estado de necessidade (CP 23, I e 24) albergaria a hipótese de
despesa feita em caso de calamidade pública, por exemplo. Prado admite, genericamente, a
incidência de causa de justificação. Masson entende que a Constituição não traz exceção à
exigência de autorização normativa da despesa pública; situações emergenciais seriam
contempladas pela previsão do artigo 167, §3º da Constituição (MP para despesas imprevisíveis
e urgentes).
CP 359-E (Prestação de garantia graciosa). Menor potencial ofensivo. Tutela a observância do
LRF 29, IV e 40, §1º LC 101 (garantias exigem contragarantias em valores iguais ou superiores ao
das garantias concedidas). Dolo não exige finalidade específica (favorecer políticos amigos).
Delito de resultado, consuma-se com a efetiva prestação da garantia. Para Luiz Flávio Gomes e
Alice Bianchini, é crime de perigo concreto, lição adotada acriticamente por Masson (Prado e
Damásio não se posicionam). O mesmo autor entende que o estado de necessidade legitima a
conduta – seria o caso da União prestar garantia graciosa a instituição financeira, garantindo
empréstimo a Estado atingido por enchentes.
CP 359-F (Não cancelamento de restos a pagar). Proteção à transição dos agentes públicos
(contas públicas dentro da regularidade, a se evitar efeito “bola de neve” em governos
sucessivos). Menor potencial ofensivo. Crime omissivo próprio (independe ulterior dano ao
patrimônio – impossibilidade de tentativa). Elemento normativo do tipo é valor superior “ao
permitido em lei”, sendo que se irregularidade for por outro motivo o fato será atípico (pode ser
responsabilização administrativa). Para Masson, exceção pluralística à teoria monista no tocante
ao concurso de pessoas. O funcionário público que deixa o cargo após inscrição incorre no CP
359-B; aquele que assume o cargo, no CP 359-F. Os dois agentes contribuem para o mesmo
resultado, mas incidem tipos distintos.
CP 359-G (Aumento de despesa total com pessoal nos últimos 180 dias de mandato). É a
incriminação de conceder aumento ao final do mandato, um velho costume político no Brasil
(Damásio). Médio potencial ofensivo. Tutela a observância do LRF 21, parágrafo único. Não
importa que haja recursos para honrar a despesa (diferentemente do CP 359-C). O tipo possui
expresso elemento temporal – a conduta só é crime se praticada nos últimos cento e oitenta
dias do mandato ou legislatura; aumento de gastos fora desse período é conduta atípica. Na
modalidade executar, é crime de resultado.
CP 359-H (Oferta pública ou colocação no mercado de títulos da dívida pública irregulares).
Médio potencial ofensivo. Tutela o LRF 61. Proíbe operações com títulos que não tenham sido
criados por lei ou que não tenham sido registrados em sistema centralizado de liquidação e
custódia. Para Regis Prado, na modalidade promover, é crime de resultado.
GRUPO IV – PENAL E PROCESSO PENAL
PONTO N. 09. Paulo Henrique Caldas
ITEM A: Culpabilidade Penal.
Obras consultadas:
ARTUR GUEIROS e CARLOS JAPIASSU, Curso de Direito Penal, Parte Geral, Ed. 2012, Ed. Campus
Jurídico.
Legislação básica.
Caderno de resumo de aulas LFG. Constituição Federal.
Nota: o resumo a seguir foi elaborado a partir do trabalho anterior do grupo de aprovados no
25º concurso.
1. Conceito: Possui três sentidos: (i) fundamento da pena: fato de ser ou não possível a
aplicação de uma pena ao autor de um fato típico e antijurídico, Liga-se ao conceito dogmático
de culpabilidade. É elemento do crime, o qual, por sua vez, é pressuposto da sanção penal; (ii)
elemento de medição da pena; (iii) conceito contrário à responsabilidade objetiva.
A culpabilidade tem como pressuposto lógico a liberdade de decisão ou de escolha da pessoa
humana, ou, em outras palavras, a capacidade antropológica de se determinar no sentido da
norma jurídica. A responsabilidade penal somente pode incidir sobre aquele que possua
aptidão de dominar seus instintos ao invés de cometer o fato antijurídico. Conforme explicitado
por Jeschek, no terreno da culpabilidade, faz-se necessário apartar os processos causais
naturais da força da vontade humana.10
Para o Direito Penal, a reprovabilidade se assenta no juízo de comparação dentro da situação
na qual se encontrava o agente. Deve-se, portanto, indagar se o autor poderia ter atuado de
outra forma, na medida em que – segundo a experiência em casos similares – qualquer outro
em seu lugar se comportaria de modo diverso ante a tensão da força de vontade que
possivelmente lhe falhou.11
2. Evolução do conceito de culpabilidade: (2.1) teoria psicológica (Von Liszt): relaciona-se ao
naturalismo-causalista, fundado no positivismo do século XIX. Culpabilidade era o vinculo
psicológico que unia o autor ao resultado produzido por sua ação. Dolo e culpa são a própria
culpabilidade, ou suas espécies. A imputabilidade era pressuposto da culpabilidade. Foi
dominante até parte do sec. XX, quando foi superada pela teoria psicológico-normativa. (2.2)
teoria psicologico-normativa (Frank): aparece no contexto de superação do positivimo-
naturalista e sua substituição pela metodologia kantiana, com o conceito neoclássico do delito.
Culpabilidade era, ao mesmo tempo, uma relação psicológica e um juízo de reprovação.
Dolo/culpa passam a ser seus elementos, ao lado da imputabilidade e da exigibilidade de outra
conduta (Freudenthal). O dolo deixa de ser apenas psicológico, e passa a ser também normativo
(dolus malus), constituído por vontade, previsão e consciência atual da ilicitude (dolo híbrido);
(2.3) teoria normativa pura: relaciona-se ao finalismo welziano. A culpabilidade é resumida
como a reprovação pessoal que se faz contra autor pela realização de um fato contrário ao
direito, embora houvesse podido atuar de modo diferente. É integrada pela imputabilidade,
potencial (e não mais atual) consciência da ilicitude (que é retirada do dolo) e pela exigibilidade
de conduta diversa; o dolo (natural, puramente psicológico, composto por consciência e
vontade) e a culpa são deslocados para o tipo. A essência da culpabilidade reside em “poder
agir de outro modo”.
10GUEIROS, Artur e JAPIASSU, Carlos. Curso de Direito Penal, Parte Geral, Ed. 2012, Ed. Campus Jurídico, pág. 233.
11Idem.
GRUPO IV – PENAL E PROCESSO PENAL
PONTO N. 09. Paulo Henrique Caldas
12
3. Elementos: (i) imputabilidade : capacidade ou aptidão para ser culpável, o que
pressupõe a compreensão do injusto e a determinação da vontade conforme essa
compreensão. Segundo Artur Gueiros, é a capacidade de livre autodeterminação. Ou, dito de
outra, é o conjunto de condições pessoais que dão ao agente a faculdade de atuar de modo
distinto, permitindo, assim, que lhe seja atribuída juridicamente, a responsabilidade pelo injusto
típico. Ausente a imputabilidade, não haverá que falar em liberdade de autodeterminação,
sendo, portanto, desculpável pelo fato que praticou. ; (ii) possibilidade de conhecimento da
ilicitude do fato (exige um juízo geral acerca do caráter ilícito do fato, e a possibilidade de se
atingir esse juízo, mediante um simples e exigível esforço da consciência – consciência profana
do injusto); (iii) exigibilidade de obediência ao direito: possibilidade concreta de o autor, capaz
de culpabilidade, adotar sua decisão de acordo com o conhecimento do injusto.
A culpabilidade é pressuposto da pena?
Segundo Artur Gueiros, trata-se de polêmica que já foi intensa no Brasil, mas que, na
atualidade, perdeu importância. Verifica-se que uma conduta típica e antijurídica só se converte
em crime se for possível a reprovação de seu autor. Sem a culpabilidade, não há delito e, sim,
um injusto típico, um fato descrito na norma penal e contrário ao direito 13. René Ariel Dorti e
Damásio de Jesus sustentam que a culpabilidade não seria elemento ou requisito do crime,
funcionando, tão somente como pressuposto da pena. Para aqueles autores, o conceito de
delito compreenderia a conduta típica e antijurídica, recaindo o juízo de reprovabilidade sobre o
sujeito que o praticou. Numa palavra, a culpabilidade funcionaria como condição de imposição
da pena. Exemplificando tal posição, a receptação(art. 180 do CP) seria tipificada, mesmo
quando isento de culpabilidade o autor do delito antecedente. De maneira diversa, a maioria da
doutrina pátria, na esteira do entendimento prevalecente no direito estrangeiro, considera que
o fato típico e antijurídico somente se converte em delito quando se reprova o seu autor. Faz-se,
assim, necessário o juízo de censura sem o qual não se completa o conceito analítico de delito.
Evidentemente, dada a sua riqueza e complexidade teórica, o juízo de culpabilidade, além de
ser um dos elementos essenciais do delito, projeta-se para a etapa subsequente, ou seja, para o
momento de quantificação da consequência jurídica do delito e critério mensurador da
aplicação da pena. Nesse sentido, Cezar Roberto Bitencourt, ao analisar a tese de que a
culpabilidade constituir-se-ia unicamente pressuposto da pena, sustenta que tanto tipicidade
quanto antijuridicidade também seriam pressupostos da pena, visto que a sanção penal é
consequência jurídica do crime, este, com todos os seus elementos, é pressuposto daquela.
Assim, não somente a culpabilidade, mas igualmente a tipicidade e a antijuridicidade, seriam
pressupostos da pena, que é sua consequência. Assim, uma ação típica e antijurídica somente
se converte em crime se houver o acréscimo da culpabilidade.
No que consiste a crise do conceito de culpa jurídico-penal?
Conforme as considerações antropológicas, o fundamento da reprovabilidade repousa na
capacidade de livre decisão do sujeito. Ocorre, todavia, que a premissa do poder agir de outro
modo, que se encontra no âmago do conceito da culpa jurídico-penal é, como visto,
empiricamente indemonstrável. Desta maneira, se a pena pressupõe a culpa e a reprovação,
própria da culpabilidade, se baseia num fundamento impossível de se comprovar, logo a
culpabilidade não poderia, cientificamente, servir de fundamento da pena. 14
12Como a “imputabilidade penal” já é objeto do item 7.a do programa de Penal, esse tema não será aprofundado neste resumo.
13Ibidem.
14GUEIROS, Artur e JAPIASSU, Carlos. Curso de Direito Penal, Parte Geral, Ed. 2012, Ed. Campus Jurídico, pág. 233.
GRUPO IV – PENAL E PROCESSO PENAL
PONTO N. 09. Paulo Henrique Caldas
Essa constatação acarretou aquilo que se pode denominar de crise do conceito de
culpabilidade. Isso fez com que alguns autores passassem a buscar outro fundamento
cientificamente válido para a reprovabilidade do autor do injusto típico.
Diante de tal fato, alguns autores como Juarez Cirino dos Santos, sustentam a incapacidade
da culpabilidade funcionar como fundamento da pena, advogando, simplesmente, que a
mesma deve ser utilizada como critério de limitação do poder de punir, ou, com a troca de uma
função metafísica – indemonstrável – de legitimação da retribuição por uma função política de
garantia da liberdade individual – garantia de que a pena não passará do grau de
reprovabilidade do sujeito.
Desse modo, seguindo pensamento daquele autor, a responsabilidade pelo comportamento
antissocial parece ser imprescindível à sobrevivência da sociedade, mas juízos de culpabilidade
ou reprovação fundados na liberdade de vontade perderam toda e qualquer base científica: a
ideia de liberdade de vontade representaria, no máximo, um sentimento pessoal.
Nesse contexto, conclui Juarez Cirino, a definição de culpa como agir conforme o direito
pareceria digna de registro por dois motivos: preservaria a função de garantia política do
princípio da culpabilidade como limitação do poder de punição e indicaria a gênese da
responsabilidade pessoal pelo comportamento antissocial, sem necessidade de pressupostos
metafísicos indemonstráveis.
Em síntese, a propalada crise da culpabilidade não infirma a compreensão normativa no
sentido do ser humano, dotado de certas faculdades, fazer-se responsável por seus atos. Por
conta disso, o estudo da culpa jurídico-penal consiste na pesquisa de defeitos na formação da
vontade ilícita: (1) no campo da capacidade de vontade, vale dizer, a existência ou não de
defeitos orgânicos ou funcionais do aparelho psíquico; (2) na área do conhecimento do injusto,
ou seja, a verificação de condições internas negativas, desse conhecimento(o denominado erro
de proibição); e (3) no terreno da exigibilidade, vale sublinhar, na pesquisa de condições
externas negativas do poder de dirigibilidade normativa, como pressões, restrições, coações etc.
4. Excludentes: 4.1) causas de inimputabilidade:(a) menoridade; (b) doença mental e
desenvolvimento mental incompleto ou retardado (art. 26, caput): inclui problemas de ordem
toxicológica, a embriaguez patológica, os estados emocionais patológicos e surtos psicóticos; se
tal estado biológico apenas reduzir a consciência/ autodeterminação do agente, haverá a
haverá culpabilidade diminuída, com redução da pena (art. 26, p. único). A maioria da doutrina
ainda situa os silvícolas como inimputáveis por desenvolvimento mental retardado, mas esse
entendimento não subsiste diante no atual paradigma da plurietnicidade, de modo que,
conforme defende ELA WIECKO: “a inimputabilidade dos indígenas segue as regras gerais
aplicáveis a todas as pessoas maiores de 18 anos. Todavia, é possível excluir a culpabilidade pelo
reconhecimento do erro de proibição ou da inexigibilidade da conduta diversa”; (c) embriaguez
completa acidental (art. 28, §1º, CP) - em razão de caso fortuito ou força maior, o agente perde
integralmente a capacidade de entendimento e de autodeterminação; se for acidental e
incompleta, haverá culpabilidade diminuída, com pena reduzida (art. 28, §2º). Bitencourt critica
essa previsão legal e defende que, na embriaguez acidental incompleta, deve-se afastar a
presunção de culpabilidade, aferindo-se se estão presentes, no caso concreto, os pressupostos
da responsabilidade penal. Para o CP (art. 28, II), não são causas de inimputabilidade a
embriaguez não acidental (dolosa ou culposa) e a embriaguez preordenada (art. 62, II, L), em
razão da adoção da teoria da actio libera in causa, segundo a qual se considera como marco da
imputabilidade o período anterior à embriaguez, em que o agente espontaneamente decidiu
consumir bebida alcoólica, ainda que, no momento do fato, ele esteja inconsciente. A doutrina
critica a aplicação dessa tese à embriaguez não acidental, que levaria à responsabilização
objetiva, entendo-a aplicável apenas à embriaguez preordenada; 4.2 inexigibilidade de conduta
diversa: têm-se admitido causas supra legais de inexigibilidade. No CP: (a) coação moral
irresistível - se for resistível, incide atenuante genérica para o coagido e agravante para o coator;
(b) obediência hierárquica a ordem não manifestamente ilegal – sg. a doutrina tradicional,
requer uma relação de direito público. Bitencourt critica (2011, p. 423 e 424), defendendo sua
incidência nas relações de direito privado. Se o subordinado cumprir ordem manifestamente
GRUPO IV – PENAL E PROCESSO PENAL
PONTO N. 09. Paulo Henrique Caldas
ilegal, tanto ele quanto o seu superior são puníveis, em concurso. 4.3 – causas de exclusão da
potencial consciência da ilicitude: erro de proibição escusável (art. 21-CP) 15.
15Como há, no programa de penal, item denominado “erro no Direito penal: espécies, requisitos e consequências” (15. a), o tema “erro de
proibição” não será aprofundado neste resumo.
GRUPO IV – PENAL E PROCESSO PENAL
PONTO N. 09. Paulo Henrique Caldas
Obs.: no livro do Artur Gueiros (págs. 239 e 240), ele faz menção a novas teorias da
culpabilidade, são elas: a) “teoria da atitude interna deficiente”. Enquanto que para o finalismo
o juízo de culpabilidade se formava em razão da valoração da vontade de ação, autores
subsequentes sustentam que o juízo de reprovabilidade possui um objeto próprio: a atitude
interna juridicamente deficiente do autor, a partir da qual se originou a resolução do
cometimento do fato.
Nesse sentido, Jeschek afirma que a atitude interna deve ser entendida não como uma
predisposição do agente, mas, sim, uma inclinação factual na formação da resolução delitiva.
Portanto, a culpabilidade significaria a reprovabilidade do fato diante da atitude interna
desaprovada que ativa sua perpetração. Segundo Jeschek, o que se reprova é sempre o fato, e
não somente a atitude interna. Contudo a reprovação apenas estará justificada na medida em
que a atitude interna do autor se manifesta de forma contrário ao Direito ou, mais exatamente,
contrariamente à pretensão de respeito do correspondente bem jurídico ao qual se dirige. É por
isso que a atitude interna, relativamente à pretensão de validade do bem jurídico protegido, é o
motivo pelo qual, em maior ou menor medida, reprova-se o autor ante a perpetração do fato.
b) com o funcionalismo teleológico-racional, Claus Roxin agregou à culpabilidade a categoria
superior da responsabilidade. Dessa maneira, para fazer-se merecedor da pena, não basta o
preenchimento da culpabilidade do agente, devendo-se verificar as necessidades preventivas da
sanção penal (geral e especial). Sendo assim, conforme teorizado por Roxin, a pena pressupõe
sempre a culpabilidade, de modo que nenhuma necessidade de punição, por maior que seja,
pode justificar uma sanção penal que contrarie o princípio da culpabilidade. Contudo, exige-se o
requisito adicional da responsabilidade, restringindo-se a possibilidade de punição da conduta
culpável quando, por razões político-criminais, a mesma não for preventivamente
imprescindível.
GRUPO IV – PENAL E PROCESSO PENAL
PONTO N. 09. Julia Teixeira
ITEM B: Tentativa e consumação. Crime impossível. Desistência voluntária e
arrependimento eficaz.
Obras consultadas:
Rogério Greco. Curso de Direito Penal (Parte Geral) – Rio de Janeiro: Ímpetos, 2008.
Jurisprudência sistematizada do STF e STJ – Niterói, RJ: Ímpetos, 2011. Cristiano Villela Pedras
e Leandro Velloso.
Principais julgamentos do STF e STJ. Editora JusPodivm, edição 2012. Org. Roberval Rocha
Ferreira Filho.
Legislação básica.
CP: arts. 14, 15 e 17.
Crime consumado é aquele em que o sujeito preencheu todas as elementares do tipo (art. 14,
I, CP). “Dá-se a consumação delitiva quando o autor realizou toda a conduta descrita no tipo de
injusto, provocando, ainda, o resultado, quando esse for por aquele exigido. Não se deve
confundir a consumação formal com a consumação material ou exaurimento, quando outros
resultados lesivos ocorrem - o autor alcançar o objetivo pretendido, além do resultado
consumativo.” (PRADO, 2010, p. 418).
A realização incompleta do tipo penal, por circunstâncias alheias à vontade do agente, é a
tentativa - conatus (art. 14, II,CP). Trata-se de norma de extensão (adequação típica mediata).
Não há tentativa em crimes culposos (salvo culpa imprópria), crimes preterdolosos, crimes
habituais, crimes unissubsitentes, crimes omissivos próprios, crimes de perigo abstrato, crimes
em que a tentativa é punida com as mesmas penas do crime consumado (ex.: evasão mediante
violência contra a pessoa), contravenções. Regra geral, a tentativa é punida com redução de 1/3 a
2/3 da pena prevista para o tipo (art. 14, parágrafo único, CP), mas há exceções: no genocídio, a
pena será de 2/3 (art. 5º), se a pena for a mesma do crime consumado, há o chamado crime de
atentado (art. 352, CP). A fixação da causa de diminuição será feita de acordo com o grau de
realização do crime, isto é, quanto mais perto da consumação, mais a redução se aproxima do
mínimo de 1/3 (STJ, AgRg no Ag 1321548, Rel. Min. Laurita Vaz, p. 14/06/2011).
Quanto à fixação da pena, há duas teorias principais: (a) teoria subjetiva (o desvalor da ação é
o mesmo, portanto, a pena deveria ser a mesma) e (b) teoria objetiva (o desvalor da ação é igual,
mas o desvalor do resultado é diferente, de modo que a pena deverá ser menor, haja vista o
perigo proporcionado ao bem jurídico). O Brasil adota a teoria objetiva, mas de forma mitigada,
pois, como dito, há possibilidade de fixação de percentual diverso ou, até mesmo, da mesma
pena (crime de atentado). Há tentativa perfeita (agente esgota todos os meios ao seu alcance p/
consumar o crime) e imperfeita (não há término da execução); branca (agente não consegue
atingir a pessoa ou coisa) e cruenta (bem jurídico sofre danos). O art. 14, II, do CP (crime “não
se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente”) adere somente à teoria da vontade,
segundo Greco (2008, pg. 265), de modo que a tentativa só se aplica para crimes praticados com
dolo direto, e não eventual. No caso de crimes complexos (fusão de dois ou mais tipos penais),
atentar para as divergências doutrinárias e jurisprudenciais quando há consumação de um tipo e
tentativa de outro. Ex.: numa situação típica de latrocínio, havendo homicídio consumado e
subtração tentada, é possível defender 3 posições – latrocínio tentado (Frederico Marques e
Greco), somente homicídio qualificado (Hungria) ou latrocínio consumado (STF, Súmula n.º
610).
De acordo com o art. 17 do CP, crime impossível é aquele que se verifica quando por
ineficácia absoluta do meio (o meio não é adequado para o alcance do resultado, ex. ministrar
açúcar pensando tratar-se de veneno) ou por absoluta impropriedade do objeto (objeto material
inadequado, tal como tentar matar um defunto), jamais ocorrerá a consumação. É conhecida por
tentativa inidônea. Quanto à natureza jurídica, tem-se a teoria subjetiva (considera-se a intenção
manifestada pela conduta, punindo-se o crime), a teoria sintomática (deve-se aplicar medida de
segurança) e objetiva (pura, que independe do grau da inidoneidade da conduta; e moderada, que
só se aplica quando a conduta for absolutamente inidônea). Esta última é a teoria adotada pelo
art. 17 do CP. Súmula 145 do STF: “não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia
torna impossível a sua consumação” (flagrante provocado). Há decisão afirmando que a
existência de câmeras de segurança e vigilantes não caracteriza crime impossível (STJ,
HC208958, Rel. Min. Og Fernandes, p. 17/08/2011).
Desistência voluntária (também chamada de tentativa abandonada) ocorre quando o sujeito,
após o início da execução do crime, desiste de finalizá-la por vontade própria (art. 15, CP).
GRUPO IV – PENAL E PROCESSO PENAL
PONTO N. 09. Julia Teixeira
Segundo a regra clássica de Frank, na desistência voluntária, o agente diz: “posso prosseguir,
mas não quero.” Já no arrependimento eficaz, o agente conclui a execução do crime, mas, antes
de o resultado vir a ser alcançado, pratica conduta contrária e dirigida a evitar a consumação do
crime, isto é, “impede que o resultado se produza” (art. 15, CP). Só é possível nos casos de
crimes materiais, pois está intimamente relacionada à ideia de resultado naturalístico. Em ambas
as hipóteses, o agente apenas responderá pelos atos já praticados, ou melhor, pelo resultado
objetivo decorrente dos atos já praticados (lesão corporal, por ex.), de modo que, evitado o dano
maior à vítima (morte, por ex.), ele deixa de responder por seu dolo inicial e passa a ser
responsabilizado pelo dolo do crime-meio (de homicídio tentado para lesão consumada, no
exemplo). Por fim, quanto à natureza jurídica destes institutos, há forte divergência doutrinária,
pois alguns entendem que é hipótese de exclusão da punibilidade (Hungria, Zaffaroni, Nucci,
Prado), tese majoritária, outros entendem que exclui a culpabilidade (Claus Roxin), e outros
entendem que excluem a tipicidade (Frederico Marques, Damásio, Basileu Garcia e Greco). Por
fim, se o arrependimento ou a desistência não forem eficazes, o agente não é beneficiado com os
institutos.
GRUPO IV – PENAL E PROCESSO PENAL
PONTO N. 09. Michel François Drizul Havrenne
ITEM C: Crimes contra a ordem tributária e contra a seguridade social.
Obras consultadas:
Crimes federais. José Paulo Baltazar Júnior. 3ª edição. 2008.
Curso de Direito Previdenciário. Fábio Zambitte Ibrahim. 16ª edição. 2011.
Crimes federais. Adel El Tasse. 2011.
Legislação básica.
Lei 8137/90. Art. 168-A do CP. Art. 337-A do CP. Art. 297 do CP. Art. 313-A e B do CP. Art. 171 do
CP. Sumula vinculante nº 24.
1. Ordem tributária.
A lei fundamental sobre o tema é a 8.137/90, sendo que os arts. 1º e 2º descrevem os crimes
em geral, enquanto o art. 3º trata dos crimes funcionais.
De início, é importante dizer que os arts. 1º, 2º e 3º da Lei 8.137/90 referem-se a normas
penais em branco, que merecem complementação por elementos conceituais próprios do
Direito Tributário (Adel El tasse, p. 26).
O bem jurídico afetado pelos crimes tributários é a ordem tributária, e não o tributo em si
considerado. Deve haver relevância econômica para que se configure o delito.
Nesse contexto, cabe a jurisprudência definir qual o valor mínimo para que incidam os
delitos.
Ela é pacífica ao determinar o patamar de R$ 10.000,00 para que exista lesão à Fazenda
Pública nos crimes tributários. A base para este entendimento finca-se no art. 20 da Lei
10.522/2002. Veja o recente julgado do STJ (18/06/2012):
“HABEAS CORPUS. APROPRIAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. VALOR SONEGADO
INFERIOR A DEZ MIL REAIS. CONDUTA DE MÍNIMA OFENSIVIDADE PARA O DIREITO PENAL.
ATIPICIDADE MATERIAL. CONDIÇÕES PESSOAIS DESFAVORÁVEIS. IRRELEVÂNCIA. PRINCÍPIO DA
INSIGNIFICÂNCIA. APLICAÇÃO. COAÇÃO ILEGAL DEMONSTRADA. ABSOLVIÇÃO DO RÉU QUE SE
IMPÕE.
1. A Terceira Seção desta Corte Superior de Justiça dirimiu a controvérsia existente em
relação ao crime de descaminho e firmou compreensão segundo a qual os débitos tributários
que não ultrapassem R$ 10.000,00 (dez mil reais), exe. vi do art. 20 da Lei 10.522/02, são
alcançados pelo princípio da insignificância.
2. A Lei 11.457/2007 considerou também como dívida ativa da União os débitos decorrentes
das contribuições previdenciárias, dando-lhes tratamento similar aos débitos tributários.
3. O objeto material do crime de apropriação indébita previdenciária é o valor recolhido e
não repassado aos cofres públicos, e não o valor do débito tributário após inscrição em dívida
ativa, já que aqui se acoplam ao montante principal os juros de mora e multa, consectários civis
do não recolhimento do tributo no prazo legalmente previsto.
4. A partir do momento em que se pacificou o entendimento no sentido de que o crime
tributário material somente se tipifica com a constituição definitiva do débito tributário, que
ocorre no lançamento do tributo, ou seja, quando não há mais discussão administrativa
acerca da dívida tributária, é nesse momento que se entende como consumado o delito, e tal
não se confunde com o da inscrição do débito em dívida ativa, oportunidade em que o Fisco
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inclui sobre o débito tributário (quantum debeatur) todos os consectários legais do seu
inadimplemento, objeto de execução fiscal.
5. Segundo a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, o princípio da insignificância tem
como vetores a mínima ofensividade da conduta do agente, a nenhuma periculosidade social da
ação, o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão
jurídica provocada.
6. Hipótese de apropriação de contribuições previdenciárias recolhidas e não repassadas à
Previdência Social no valor de R$ 4.097,98 (quatro mil e noventa e sete reais e noventa e oito
centavos), inferior, portanto, aos dez mil reais previstos no art. 20 da Lei 10.522/2002,
demonstrando-se desproporcional a imposição de sanção penal no caso, pois o resultado
jurídico, ou seja, a lesão produzida, mostra-se absolutamente irrelevante.
7. Embora a conduta do paciente se amolde à tipicidade formal e subjetiva, ausente no caso
a tipicidade material, que consiste na relevância penal da conduta e do resultado típicos em
face da significância da lesão produzida no bem jurídico tutelado pelo Estado.
8. Ordem concedida para cassar o acórdão combatido, absolvendo-se o paciente, com
fundamento no art. 386, III, do CPP, em razão da atipicidade material da conduta a ele
imputada.” (DJe 18/06/2012, Ministro Jorge Mussi, HC 195372 / SP)”.
Evidencia-se, assim, que o valor mínimo para a existência do delito tributário é de R$
10.000,00.
Ainda, o crime tributário material somente se constitui com o lançamento definitivo do
tributo (Súmula vinculante nº 24 do STF).
Quanto a sua natureza jurídica, há certa discussão jurídica, mas prepondera que se trata de
condição objetiva de punibilidade:
“CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA (ARTIGO 1º DA LEI 8.137/1990).AUSÊNCIA DE
CONSTITUIÇÃO DEFINITIVA NA ESFERA ADMINISTRATIVA QUANDO DO OFERECIMENTO DA
DENÚNCIA. FALTA DE JUSTA CAUSA PARA A PERSECUÇÃO CRIMINAL. CONDIÇÃO OBJETIVA DE
PUNIBILIDADE. LANÇAMENTO DEFINITIVO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO NO CURSO DA AÇÃO
PENAL. CONVALIDAÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. NULIDADE ABSOLUTA.
1. Consoante o disposto na Súmula Vinculante 24, "não se tipifica crime material contra a
ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da lei nº 8.137/90, antes do lançamento
definitivo do tributo".
2. No caso, estando pendente na seara administrativa a discussão acerca do débito
tributário, não há justa causa para a deflagração da ação penal.
3. O lançamento definitivo do tributo no curso da persecutio criminis, não convalida os atos
processuais até então praticados, eis que a inobservância da condição objetiva de
punibilidade constitui nulidade de natureza absoluta.
4. Recurso especial provido para anular toda a ação penal.” (REsp 1100959 / RJ, Rel: Ministro
Jorge Mussi, DJe 27/10/2011).
Nos arts. 1º e 2º da Lei 8.137/90, a conduta pode ser praticada por qualquer pessoa, sem
que haja exigência de condições especiais.
Para o cometimento do delito do art. 3º da Lei nº 8.137/90, é necessário que o agente exerça
função pública e que o ato praticado ocorra em razão desta função. O conceito de funcionário
público é retirado do art. 327 do CP.
No tocante ao sujeito passivo, é o Estado, sempre afetado pelos crimes contra a ordem
tributária.
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A doutrina ainda aduz que, como o art. 1º fala em supressão ou redução de tributo, ele se
caracteriza como material. Já o art. 2º da Lei 8.137/90 tem natureza formal.
No tocante à pena de multa, há regra específica, presente nos arts. 8 e 10:
“Art. 8° Nos crimes definidos nos arts. 1° a 3° desta lei, a pena de multa será fixada entre 10
(dez) e 360 (trezentos e sessenta) dias-multa, conforme seja necessário e suficiente para
reprovação e prevenção do crime.
Parágrafo único. O dia-multa será fixado pelo juiz em valor não inferior a 14 (quatorze) nem
superior a 200 (duzentos) Bônus do Tesouro Nacional BTN.
Art. 10. Caso o juiz, considerado o ganho ilícito e a situação econômica do réu, verifique a
insuficiência ou excessiva onerosidade das penas pecuniárias previstas nesta lei, poderá
diminuí-las até a décima parte ou elevá-las ao décuplo.”
Diga-se, por fim, que como o objetivo destes crimes é proporcionar a arrecadação de verbas
para o Estado, criaram-se causas específicas de extinção de punibilidade, consubstanciadas no
pagamento integral, assim como no parcelamento do tributo, as quais se somam às causas
gerais de extinção de punibilidade previstas no art. 107 do CP (Baltazar, p. 454).
Na Lei 9.249/95, o art. 34 prevê a extinção de punibilidade dos crimes da Lei 8.137/90, desde
que seja promovido o pagamento integral do tributo ou contribuição social, inclusive
acessórios, antes do recebimento da denúncia.
No entanto, sobrevieram as regras do art. 15 da Lei 9964/00 (REFIS), art. 9º da Lei nº
10.684/03 (PAES ou REFIS II), que reconheceram os efeitos do parcelamento.
Ainda, conforme Baltazar, o art. 9º da Lei 10.684/03 regulou de forma ampla o tema da
extinção de punibilidade, tendo revogado o art. 34 da Lei 9.249/95. Assim, tem-se:
a) o pagamento integral, mesmo após o transito em julgado, determina a extinção da
punibilidade para os crimes contra a ordem tributária em geral e crimes contra a ordem
tributária previdenciária, restando excluído o descaminho e outros crimes contra a previdência
social, como o estelionato;
b) o parcelamento, a qualquer tempo, determina a suspensão da punibilidade, em regime
que abrange os crimes contra a ordem tributária em geral, bem como a sonegação de
contribuição previdenciária, excluída a apropriação indébita previdenciária (art. 168-a do CP);
c) o art. 9º da Lei n 10684/03 é regra permanente e sua aplicação não fica limitada aos
parcelamentos concedidos no regime do PAES, mas tem efeito também em relação aos
parcelamentos ordinários ou regulados por leis posteriores;
d) o art. 34 da Lei 9249/95 foi revogado por incompatibilidade com o art. 9º da Lei
10684/03, de modo que não há falar em extinção de punibilidade em razão do mero
parcelamento, ainda que anterior ao recebimento da denúncia, o que possibilitará tão somente
a suspensão da punibilidade, operando-se a extinção apenas com o pagamento integral.
Verifica-se que jurisprudência recente do STJ também aduz que o pagamento do tributo a
qualquer tempo, mesmo que após o transito em julgado, acarreta a extinção da punibilidade.
Veja-se:
HABEAS CORPUS. PENAL. ICMS. CRIME CONTRA ORDEM TRIBUTÁRIA. ADESÃO AO
PROGRAMA DE PARCELAMENTO INCENTIVADO (PPI) E POSTERIOR PAGAMENTO DO DÉBITO,
APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 9.º,
§ 2.º, DA LEI N.º 10.684/2003. PLEITO DE SOBRESTAMENTO DA EXECUÇÃO PENAL ATÉ O
JULGAMENTO DE REVISÃO CRIMINAL. HABEAS CORPUS CONCEDIDO.
1. O art. 9.º, § 2.º, da Lei n.º 10.684/2003 estabelece expressamente que da quitação
integral do débito tributário pela pessoa jurídica, decorre a extinção da punibilidade.
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2. É entendimento jurisprudencial desta Corte Superior que com o advento da Lei n.º
10.684/03 o pagamento do tributo a qualquer tempo extingue a punibilidade quanto aos
crimes contra a ordem tributária. Precedente.
3. Habeas corpus concedido para sobrestar a execução do feito até que se julgue a Revisão
Criminal. (HC 232376 / SP, Relator: Ministra Laurita Vaz, DJe 15/06/2012.)
2. Seguridade social.
Duas figuras merecem realce quando se trata dos crimes contra a seguridade social. São os
crimes dos arts. 168-A, 337-A, todos do CP.
No art. 168-A do CP, a conduta fundamental está prevista no caput, enquanto que no par. 1º
constam as figuras equiparadas.
O pressuposto fundamental, segundo Adel El Tasse (p. 33), para que se tenha a tipificação da
conduta do caput é o efetivo recebimento da contribuição previdenciária. Em outras palavras,
existe a conduta com o recebimento ou recolhimento da contribuição e falta de repasse pelo
sujeito ativo aos cofres públicos.
É importante destacar que o STJ, em 2010 (Resp 1113735/RS) uniformizou entendimento no
sentido de que basta o dolo genérico, não sendo necessária a prova do “animus rem sibi
habendi” para a configuração do tipo previsto no art. 168-A do CP.
O bem jurídico tutelado é o patrimônio da Previdência.
Quanto à natureza jurídica deste crime, o STF (Inq 2537 AgR/GO, Relator Ministro Marco
Aurelio, 10/03/2008), afirmou que o crime de apropriação indébita previdenciária não se
consubstancia crime formal, mas omissivo material, no que é indispensável a ocorrência de
apropriação dos valores, com inversão da posse respectiva, e tem por objeto jurídico protegido
o patrimônio da previdência social.
Em relação à extinção da punibilidade, o par. 2º prevê que ela será extinta se o agente,
espontaneamente, declarar, confessar e efetuar o pagamento das contribuições, importâncias
ou valores e prestar as informações devidas à Previdência Social, antes do início da ação fiscal.
Para a exclusão, segundo Zambitte (p. 468), cabe o recolhimento integral do devido antes da
ação fiscal, que se inicia, em regra, pelo termo de início da ação fiscal – TIAF. O recolhimento
posterior não exclui a punibilidade, podendo, conforme o caso, gerar perdão judicial, se feito
antes da denúncia ou arrependimento posterior, se feito antes do recebimento da denúncia; ou
trazer circunstância atenuante, se feito após o recebimento da denúncia.
No tocante ao parcelamento, conforme Baltazar (p. 57), o delito do art. 168-A do CP não está
abrangido pela regra do art. 9º da Lei 10.648/03 na parte em que admite a suspensão da
punibilidade pelo parcelamento. Assim, sendo considerado revogado o art. 34 da Lei 9249/95 e
superada a interpretação jurisprudencial que emprestava ao parcelamento o efeito de extinção
de punibilidade imediata, tem-se que, para o delito do art. 168-A do CP, somente o pagamento
integral tem o efeito de determinar a extinção de punibilidade. O STJ aponta:
“RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA (ART.
168-A DO CÓDIGO PENAL). RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA. RESTRIÇÃO A
CRIMES AMBIENTAIS. ADESÃO AO REFIS. DESCUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES. NECESSIDADE
DE PAGAMENTO INTEGRAL DO DÉBITO. DATA DO PARCELAMENTO. APLICAÇÃO DA LEI Nº
9.964/2000. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. IMPOSSIBILIDADE. RETIRADA DA SOCIEDADE.
IRRELEVÂNCIA. DOLO ESPECÍFICO. DIFICULDADE FINANCEIRA DA EMPRESA NÃO EVIDENCIADA.
INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA. TESE A SER ANALISADO APÓS A INSTRUÇÃO CRIMINAL.
RECURSO IMPROVIDO.
1. A única previsão legal para a responsabilização criminal de pessoa jurídica ocorre nas
hipóteses de crimes ambientais e, mesmo assim, desde que haja também imputação à pessoa
física que por ela responde.
2. A adesão ao REFIS não implica, necessariamente, na extinção da punibilidade, que está
condicionada ao pagamento integral do débito. Considerando que a inclusão no REFIS ocorreu
em 28.04.00, quando já em vigor a Lei nº 9.964, publicada em 11.04.00, é esta a norma a ser
aplicada, daí decorrendo a exigência de pagamento integral do débito para a extinção da
punibilidade.
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3. O fato de o paciente não mais integrar a sociedade no momento do descumprimento das
obrigações assumidas no REFIS não altera esse quadro, considerando que a punibilidade estava
apenas suspensa, ficando sua extinção condicionada ao pagamento integral do débito, o que
não ocorreu.
4. O tipo previsto no art. 168-A do Código Penal não se esgota somente no "deixar de
recolher", isto significando que, além da existência do débito, deve ser analisada a intenção
específica ou vontade deliberada de pretender algum benefício com a supressão ou redução do
tributo, já que o agente "podia e devia" realizar o recolhimento.
5. Não se revela possível reconhecer a inexigibilidade de conduta se não ficou evidenciada a
alegada crise financeira da empresa, cabendo ao magistrado de primeiro grau melhor examinar
a matéria após a instrução processual.
6. Recurso improvido. ”( RHC 20558 / SP, Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, DJe
14/12/2009).
Ao contrário do que falou o professor Baltazar, o professor Zambitte (p. 470) assevera que o
STF vem decidindo que é possível a suspensão da pretensão punitiva nos crimes de apropriação
indébito previdenciária, mesmo quando o parcelamento é feito após a sentença condenatória,
desde que antes do trânsito em julgado. Veja:
Ementa: Penal e tributário. Habeas corpus. Adesão ao REFIS. Parcelamento do tributo na
vigência da Lei n. 10.684/2003. Suspensão da pretensão punitiva. Pretendida aplicação do art.
34 da Lei n. 9.249/1995. Indiferença para o deslinde da causa. 1. As Leis ns. 10.684/2003 e
9.249/1995 condicionam a extinção da punibilidade ao pagamento integral do tributo ou
contribuição social, inclusive acessórios. 2. Consectariamente, não cabe confundir pagamento
com parcelamento, mercê de que este tem como consequência lógica a suspensão da
pretensão punitiva, ao passo que a quitação do tributo, esta sim, implica a extinção da
punibilidade. 3. In casu, no dia 15 de dezembro de 2009, os recorrentes firmaram acordo
judicial para parcelar o débito tributário apurado no auto de lançamento nº 0016759729,
acarretando a suspensão da ação penal. 4. Obviamente, o parcelamento projeta a dívida para
o futuro e, por isso, somente há que se falar em ausência de justa causa para a persecução
penal após o cumprimento integral da obrigação tributária, com a consequente extinção do
feito administrativo consubstanciado no auto de lançamento que deu suporte à denúncia, até
porque o descumprimento do que pactuado tem como consequência a retomada do curso da
ação penal, qual revelado pela literalidade de ambos os textos legais. Precedentes: RHC
89.152/SC, 1ª T, Rel. Min. RICARDO LEWANDOWSKI, DJ de 22/09/2006; HC 102.348/SC, 1ª T,
Rel. Min. DIAS TOFFOLI, DJe de 25/08/2011; HC 99.844/SP, 1ª T, Rel. Ministro DIAS TOFFOLI, DJe
de 18/06/2010; E HC 96.681/SP, 1ª T, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, DJe de 10/02/2011. 5. Recurso
Ordinário em Habeas Corpus ao qual se nega provimento. (STF, RHC 109651, Relator (a): Min.
LUIZ FUX, Julgamento: 22/05/2012 Órgão Julgador: Primeira Turma)”.
O professor Zambitte (p. 472) entende que, por analogia in bonam partem, seria possível a
exclusão da punibilidade pelo pagamento, ainda que posterior ao início da ação fiscal.
No entanto, quando o parcelamento é feito após o início da ação fiscal, em regra, não há
exclusão da punibilidade. Cumpre dizer, todavia, que há divergência jurisprudencial no ponto,
com jurisprudência do STJ no sentido da exclusão da punibilidade, ainda que decorrente de
parcelamento tardio, porém anterior à denúncia (Resp 249812/SP; Resp 208527/SC).
Por fim, cabe aludir à existência de outros crimes que envolvem a seguridade social.
De início, a falsificação de documento público dos pars. 3º e 4º do art. 297, que tratam da
inserção ou omissão de dados relativos à Previdência Social. Enquanto o par. 3º trata de um
crime comissivo, o par. 4º versa sobre um crime omissivo.
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Caso a falsidade tenha sido feita no intuito de deixar de pagar contribuição previdenciária,
ela será absorvida pelo crime de sonegação de contribuição previdenciária, não se configurando
concurso de crimes (RHC 1506/SP, STJ) – Zambitte, p. 475.
Também, pode envolver aspectos de natureza previdenciária, o crime do art. 313-B, que
alude à modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações. É crime próprio. A
diferença básica deste para o crime do art. 313-A é a ausência de dolo específico, já que a mera
modificação ou alteração dolosa, com qualquer fim, caracteriza o tipo penal.
Por fim, cumpre mencionar o estelionato (art. 171, par. 3º, do CP), que lesiona o patrimônio
da seguridade social, sendo material (concretiza-se com a obtenção da vantagem indevida).
Em precedente do STF (HC 95379), a Corte decidiu que se trata de crime instantâneo de
efeitos permanentes, contando-se a prescrição do recebimento da primeira prestação do
benefício indevido.
...........................................................
Verifica-se que a Corte passa a distinguir o estelionato cometido pelo próprio beneficiário ou
por terceiro. No primeiro caso, o crime é permanente. No último, ele é instantâneo de efeitos
permanentes.
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PONTO N. 10. Felipe D’Elia Camargo
ITEM A: Crime: classificação. Crimes hediondos.
Obras consultadas:
ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Legislação penal especial. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de Direito Penal. São Paulo: Saraiva, 2001.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. São Paulo: Saraiva, 2007.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. parte geral. 8 ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
DELMANTO, Celso et alli. Código Penal comentado. 7. ed. São Paulo: Renovar, 2007.
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte geral. 5. ed. Niterói: Ímpetos, 2008.
JESUS, Damásio E. de. Código Penal anotado. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de Direito Penal. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal comentado. 5. ed. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2005.
NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais penais comentadas. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2006.
PRADO, Luiz Regis. Curso de direito penal brasileiro – parte geral. 7. ed. São Paulo: RT, 2008.
SILVA, Jose Geraldo da; GENOFRE, Fabiano; LAVORENTI, Wilson. Leis penais especiais anotadas.
8. ed. Campinas: Millennium, 2005.
1) quanto ao sujeito ativo: a) crime comum: pode ser praticado por qualquer pessoa; b)
crime próprio: somente pode ser cometido por uma determinada categoria de pessoas; c) crime
de mão própria: é o crime próprio cujo agente precisa agir pessoalmente. Não admite co-
autoria.
91
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 10. Felipe D’Elia Camargo
4) quanto à caracterização da consumação: a) de dano: somente se consuma com a efetiva
lesão ao bem jurídico; b) de perigo: consuma-se com a mera possibilidade do dano. Perigo
concreto: deve ser provado. Perigo abstrato: presumido pelo tipo penal.
O Brasil adotou o sistema legal (enumerativo): compete ao legislador enumerar, num rol
taxativo, quais são os crimes hediondos (art. 5º, XLIII, CF). É o art. 1º da Lei nº 8.072/90 que
define os crimes hediondos, todos tipificados no Código Penal, à exceção do genocídio.
Súmula Vinculante nº 26: Para efeito de progressão regime no cumprimento de pena por
crime hediondo, ou equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do art.
2º da Lei n. 8.072, de 25 de julho de 1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou
não, os requisitos objetivos e subjetivos do benefício, podendo determinar, para tal fim, de
modo fundamentado, a realização de exame criminológico.
Prevalece que homicídio qualificado, quando também privilegiado, deixa de ser hediondo,
bem como que o §3º do art. 158 (sequestro relâmpago) não é crime hediondo, mesmo com
previsão de morte, por falta de previsão legal.
92
ITEM B: Crimes contra a honra.
Obras consultadas:
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal. 16 ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de Direito Penal. volume 2. São Paulo: Saraiva, 2001.
BORNIA, Josiane Pilau. Discriminação, preconceito e direito penal. Curitiba: Juruá, 2007.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. parte especial. volume 2. São Paulo: Saraiva, 2003.
DELMANTO, Celso et alli. Código Penal comentado. São Paulo: Renovar, 2002.
GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Dos crimes contra a pessoa. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.
JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. volume 2. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.
JESUS, Damásio E. de. Código Penal anotado. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2001.
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de Direito Penal. volume 2. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal comentado. 5. ed. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2005.
OLIVEIRA, Frederico Abrahão de. Crimes contra a honra. Porto Alegre: Livraria dos Advogados,
1994.
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal brasileiro – volume 2. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2000.
SILVA, Jose Geraldo da; GENOFRE, Fabiano; LAVORENTI, Wilson. Leis penais especiais anotadas.
8. ed. Campinas: Millennium, 2005.
SILVEIRA, Fabiano Augusto Martins. Da criminalização do racismo: aspectos jurídicos e
sociocriminológicos. Belo Horizonte: Del Rey, 2006.
TOLEDO, Francisco de Assis. Princípios básicos do Direito Penal. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 1994.
O Código Penal, em seus artigos 138 a 145 (Capítulo V do Título I), tipifica e disciplina os
crimes contra a honra, que se dividem em três: calúnia, difamação e injúria.
2. Sujeitos: Sujeito ativo: qualquer pessoa. Sujeito passivo: qualquer pessoa física, inclusive,
inimputáveis e “desonrados”. Quanto aos inimputáveis, no caso de injúria, é indispensável,
porém, que tenham a capacidade de entender o caráter ofensivo da conduta do sujeito ativo
(Bitencourt, 2011, p. 347). Quanto às pessoas jurídicas, majoritariamente, entende-se que
podem ser sujeito passivo de difamação, mas não podem ser sujeito passivo de injúria, já que
não possuem honra subjetiva (nesse caso, os titulares da pessoa jurídica podem ter a honra
lesada). Já quanto ao crime de calúnia, há quem entenda que não podem ser sujeito passivo,
pois “alguém” é necessariamente pessoa natural, e há quem entenda que, no que diz respeito
aos crimes contra a ordem econômica e o sistema financeiro, a economia popular e o meio
ambiente, podem sê-lo, cf. art. 225, §3º, e 173, §5º, CR (Bitencourt, 2011, p. 319). Com relação
à punição da calúnia contra os mortos (art. 138, §2º, CP), argumenta-se que o que se tutela é a
honra dos parentes vivos (Bitencourt, 2011, p. 323).
4. Tipo Subjetivo: Os crimes contra a honra são crimes de tendência intensificada. Isso
significa que o tipo legal exige uma determinada tendência subjetiva de realização da conduta
típica, que é o animus diffamandi vel injuriandi, o qual engloba os três tipos penais, ou o
animus caluniandi, diffamandi ou injuriandi, conforme se trate de calúnia, difamação ou injúria,
respectivamente. Destarte, o tipo subjetivo dos crimes contra a honra é integrado pelo dolo
direto (vontade livre e consciente de realizar a conduta descrita no tipo penal) ou eventual (a
previsão e a assunção do resultado lesivo pelo agente) e pelo animus diffamandi vel injuriandi,
que é o elemento subjetivo especial do tipo (o especial fim de agir), consistente na intenção de
lesar a honra do ofendido. Como corolário dessa explanação, é certo que na ofensa à honra
fruto de incontinência verbal, provocada por explosão emocional ocorrida em acirrada
discussão, não se configuram os delitos previstos nos arts. 138, 139 e 140 do CP. Da mesma
forma, não restará configurado o tipo subjetivo dos crimes contra a honra nos casos em que o
agente age com animus narrandi (intenção de narrar um fato), animus criticandi (intenção de
apreciar negativamente um trabalho), animus defendendi (intenção de defender um direito),
animus corrigendi (intenção de admoestar uma pessoa), animus jocandi (intenção de caçoar,
gracejar) e animus consulendi (intenção de aconselhar, de informar), pois esses ânimos afastam
o animus diffamandi vel injuriandi.
Exclusão do crime – artigo 142. O presente artigo prevê três causas específicas de exclusão
de ilicitude, as denominadas causas justificantes ou descriminantes. Bitencourt e Prado afirmam
que haverá situações em que essas causas excluirão sim a ilicitude da conduta, porém haverá
casos em que excluirão a própria tipicidade da conduta, uma vez que excluirão o elemento
subjetivo especial do tipo (animus difamandi vel injuriandi). De outra banda, conforme se
constata da própria redação do artigo, tais excludentes não abrangem a calúnia, em virtude do
interesse do Estado na apuração de crimes.
Ação Penal – artigo 145. A ação penal de iniciativa exclusivamente privada é a regra nos
crimes contra a honra disciplinados no presente capítulo. Não obstante, a ação penal será
pública incondicionada nos casos de injúria real que produzam lesão corporal de natureza
grave. Caso haja mera via de fatos, a ação continua sendo exclusivamente privada. A
controvérsia reside nos casos em que há produção de lesão corporal de natureza leve. Prado,
Bitencourt, Capez e Delmanto afirmam que o advento da Lei nº. 9.099/95, que alterou a
natureza da ação penal nos crimes de lesão corporal leve, de pública incondicionada para
pública condicionada à representação do ofendido, interferiu também na interpretação do
presente artigo, no sentido de que somente nos casos de injúria real com lesões corporais
graves a ação penal será pública incondicionada, sendo pública condicionada nos casos de
injúria real com lesões corporais leves. Em sentido contrário, Nucci e Jesus afirmam que os
crimes de injúria real com produção de lesões corporais de natureza leve continuam sendo de
ação penal pública incondicionada, uma vez que se trata de crime complexo, não podendo ser
afetado pela Lei 9.099/95. A ação penal será pública condicionada à requisição do Ministro da
Justiça, por sua vez, quando o crime contra a honra for praticado contra o Presidente da
República ou contra chefe de governo estrangeiro. Ademais, a ação penal será pública
condicionada à representação do ofendido quando o crime contra a honra for praticado contra
funcionário público, em razão de suas funções (a legitimidade do MP é concorrente com a do
ofendido, mediante queixa – Súmula 714 do STF), e quando o crime for o de injúria
preconceituosa (art. 140, §3º).
ITEM C: Crimes de tráfico ilícito e uso indevido de drogas que causam dependência
física ou psíquica e de substâncias entorpecentes. Leis 11.343 e outras
complementares, anteriores e posteriores.
Obras consultadas:
ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Legislação penal especial. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
BALTAZAR JUNIOR, José Paulo. Crimes federais. 6. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010.
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. Legislação penal especial. 2 ed. São Paulo: Saraiva,
2007.
GOMES, Luiz Flávio; et al. Lei de drogas comentada. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2007.
NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais penais comentadas. 3. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2008.
A Lei n. 11.343/06 adotou a expressão “drogas” para definir o objeto material (art. 1º,
parágrafo único). Abandonou-se, portanto, a distinção entre entorpecentes e outras drogas.
Trata-se de norma penal em branco, é droga aquilo que estiver assim rotulado na Portaria da
Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde (SVS/MS) 344/98. O bem jurídico
protegido é a saúde pública. Bem por isso, critica-se a incriminação das condutas praticadas
pelo usuário ao argumento de que, sendo o bem jurídico protegido a saúde pública, o usuário
não a ofenderia, uma vez que só prejudica a si mesmo. O contra-argumento é que a saúde de
cada cidadão integra a saúde pública. É crime de perigo abstrato. Os crimes da Lei 11.343/06
são comuns, com exceção daquele do art. 38, na modalidade prescrever, que é próprio, pois o
ato é privativo de médico ou odontológico. O sujeito passivo é a coletividade.
Obras consultadas:
Luiz Regis Prado. Curso de Direito Penal Brasileiro. Volume 1. 10ª Edição. Ed. Revista dos
Tribunais.
Cezar Roberto Bitencourt. Tratado de Direito Penal. Parte Geral 1. 12ª Edição. Ed. Saraiva.
Cleber Masson. Direito Penal. Vol. 1. Parte Geral. 4ª Edição. Ed. Método.
Legislação básica. Código Penal – artigos 29 a 31
1. Noções Gerais.
2.2) Dualista (ou dualística): para essa teoria há dois crimes - os coautores incorrem num
crime (realizam a atividade principal) e os partícipes (desenvolvem uma atividade secundária),
noutro. Não foi adotada em nosso ordenamento.
2.3) Pluralista (ou pluralística): trata-se de uma teoria subjetiva. A participação é tratada
como autoria ou crime autônomo, a cada participante corresponde uma conduta própria, um
elemento psicológico próprio e um resultado igualmente particular. Existem tantos crimes
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 11. Mônica Guimarães Lima
quantos forem os participantes do fato delituoso. Adotada excepcionalmente em nosso
ordenamento no caso do crime de aborto.
3) Requisitos:
a) pluralidade de pessoas e de conduta – o concurso de pessoas depende de pelo menos
duas pessoas, e, consequentemente, de ao menos duas condutas penalmente relevantes.
b) relevância causal de cada conduta (nexo causal eficaz para o resultado) – a conduta deve
ser relevante, de maneira a influir efetivamente no resultado. A contribuição deve ser prévia ou
concomitante à execução (a concorrência posterior à consumação configura crime autônomo –
receptação, favorecimento real ou pessoal, por exemplo). Mas é possível a contribuição após a
consumação, desde que tenha sido ajustada anteriormente. Ex: A se compromete, perante B, a
auxiliá-lo a fugir e a escondê-lo depois de matar C. Será partícipe do homicídio. A participação
inócua é irrelevante para o Direito Penal.
c) liame subjetivo ou psicológico entre as pessoas (concurso de vontade) - consciência deve
ser idêntica ou juridicamente uma unidade para todos a contribuir para uma obra comum. Os
agentes devem revelar vontade homogênea, visando à produção do mesmo resultado. É o que
se convencionou chamar de princípio da convergência. Sem esse requisito estaremos diante da
famosa autoria colateral. Contudo, o vínculo subjetivo não depende do prévio ajuste entre os
envolvidos (pactum sceleris), bastando a ciência por parte de um agente no tocante ao fato de
concorrer para a conduta de outrem – consciente e voluntária cooperação. Nessa linha decidiu
o STF, no caso mensalão:
“Não procede a alegação da defesa no sentido de que teria havido mero concurso de agentes
para a prática, em tese, dos demais crimes narrados na denúncia (lavagem de dinheiro e, em
alguns casos, corrupção passiva). Os fatos, como narrados pelo Procurador Geral da República,
demonstram a existência de uma associação prévia, consolidada ao longo do tempo, reunindo
os requisitos estabilidade e finalidade voltada para a prática de crimes, além da união de
desígnios entre os acusados.” ( inq. 2.245, rel. Joaquim Barbosa, Tribunal Pleno, julgado em
12.08.2007).
d) identidade do ilícito penal – o delito deve ser idêntico ou juridicamente uma unidade para
todos. Adotou-se, como regra, a teoria unitária ou monista.
4) Divisão:
A) Autoria e co-autoria
B) Participação
B.1- instigação
B.2-cumplicidade
B-3 cumplicidade
A) AUTORIA:
A.1) Teorias que buscam fornecer o conceito de autor :
B- PARTICIPAÇÃO:
Entende-se pro participação strito sensu a colaboração dolosa em um fato alheio. O sujeito
não realiza diretamente o núcleo do tipo penal, mas de qualquer modo concorre para o crime.
Tem, pois, sempre natureza acessória.
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*São dois os requisitos:
1- propósito de colaborar para a conduta do autor (principal)
2- colaboração efetiva, por meio de um comportamento acessório que concorra para a
conduta principal
*São dois os elementos:
1- Elemento objetivo – comportamento no sentido de auxiliar, contribuir (cooperação)
2- Elemento subjetivo – ajuste, acordo de vontades, ou melhor, suficiente a voluntária
adesão de uma atividade a outra. O partícipe deve agir com consciência e vontade de contribuir
para a prática do delito (dolo). Daí, não se falar em participação dolosa em crime culposo, ou
em participação culposa em crime doloso.
* São duas as espécies:
1- Induzimento ou Instigação – induzimento : induzir intencionalmente outro a cometer o
delito, isto é, fazer nascer na mente de outrem a vontade criminosa , mediante influência moral
ou por qualquer outro meio; instigação: reforçar a vontade criminosa que já existe na mente de
outrem.
2- Cumplicidade – prestar auxílio, colaborar, cooperar, contribuir de forma material. Nada
impede que a cumplicidade também ocorra sob a forma de omissão, quando o partícipe tem o
dever genérico de agir, como seria o caso do vigilante que deixa propositalmente aberta a porta
do estabelecimento para facilitar a ação do autor do furto.
a) Teoria da acessoriedade mínima: a conduta do autor precisa ser, pelo menos, típica, a fim
de que se puna o partícipe.
b) Teoria da acessoriedade limitada: exige que a conduta do autor seja típica e ilícita. É a
posição adotada pela maioria da doutrina, apesar de não resolver os problemas inerentes à
autoria mediata.
c) Teoria da acessoriedade máxima ou extrema: exige que a conduta do autor seja típica,
ilícita e culpável.
d) Teoria da hiperacessoriedade: o fato deve ser típico, ilícito e culável e o partícipe
responderá também pelas agravantes e atenuantes pessoais do autor.
OBS:
1- É possível a participação por omissão, desde que o omitente, além de poder agir no caso
concreto, tivesse ainda o dever de agir para evitar o resultado, nos casos previstos no art, 13, 2º
do CP. Ex. é partícipe do furto o policial militar que presencia a subtração de bens de uma
pessoa e nada faz porque estava fumando um cigarro e não queria apagá-lo.
2- Participação sucessiva: quando um mesmo sujeito é instigado, induzido ou auxiliado por
duas ou mais pessoas, cada qual desconhecendo o comportamento alheio, para executar uma
infração penal
3- Participação em cadeia ou participação da participação: alguém induz ou instiga uma
pessoa,para que esta posteriormente induza, instigue ou auxilie outra a cometer determinado
crime.
4- É firme o entendimento doutrinário de que não é possível a participação em crimes
culposos.
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5) Punibilidade no concurso de pessoas:
c) Participação impunível:
art. 31 – “o ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em
contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado”. Essa regra
decorre do caráter acessório da participação, pois o comportamento do partícipe apenas
adquire importância penal se o autor iniciar a execução do crime. A locução “salvo” remete-se a
situações taxativamente previstas em lei nas quais a punição do ajuste, da determinação, da
instigação e do auxílio são previstas como crime autônomo (ex. art. 286 e 288 do CP)
d) Circunstâncias incomunicáveis:
São aquelas que não se transmitem aos coautores ou partícipes de um crime, pois se referem
exclusivamente a determinado agente. Segundo o art. 30 do Código Penal, as circunstâncias e as
condições de caráter pessoal não se comunicam, apenas quando elementares do crime.
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PONTO N. 11. Oreste Dallocchio Neto
ITEM B: Crimes contra os índios e praticados por índios.
Crimes praticados por índios: a lei penal tem aplicabilidade diferenciada em relação a eles. A
CF legitima este aspecto, ao impor a necessidade de individualização da pena (art. 5º, XLVI); a
OIT 169, nos seus artigos 8º e 9º, também trata do assunto, impondo a necessidade de levar em
conta as tradições e costumes indígenas quando da aplicação da lei.
Para o MPF, o art. 56 do EI traz uma circunstância atenuante obrigatória, sendo que a maior
ou menor compreensão do índio acerca da cultura circundante serve apenas para graduar a
atenuante, não para deixar de aplicá-la.
Laudo antropológico. Prova pericial, produzida por profissional que tenha particular
conhecimento da cultura de um povo indígena específico, e que dela elaborará uma descrição,
para que juiz e MP formem convicção acerca do papel desempenhado pelas especificidades
culturais no cometimento do delito.
Posição da Dra. Ela Wiecko: para compreender o contexto cultural do depoente ou da
demanda, quando posta em favor ou contra indígenas, individual ou coletivamente, é
necessário o auxílio de alguém que conheça a organização sociopolítica e cultural do grupo
étnico. Em geral, será um(a) antropólogo(a) com especialização naquele grupo étnico.
A ausência de profissional capaz de estabelecer o diálogo intercultural faz com que o sistema
judicial ignore a diversidade cultural e aplique o direito sempre do ponto de vista étnico/cultural
dominante. Para Dra. Ela a falta de tradutor cultural configura ofensa ao devido processo
legal.
Chama o profissional de “tradutor cultural”.
Tese do MPF: imprescindível a realização deste laudo, sob pena de nulidade do processo.
Jurisprudência dominante: dispensabilidade, quando por outros meios o juiz puder verificar que
o índio é integrado (grau de escolaridade, título de eleitor, entendimento do idioma oficial, etc.
– STF HC 85198).
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PONTO N. 11. Oreste Dallocchio Neto
Regime de cumprimento de pena. O EI prevê que penas privativas de liberdade serão
cumpridas, se possível, em regime de semiliberdade, no local de funcionamento do órgão
federal de assistência mais próximo da habitação do condenado.
MPF: O art. 10, 1 e 2 da OIT 169, bem como o EI 56 (norma especial em relação ao CP),
garantem o direito a cumprir a pena em local que mantenha o índio em contato com sua
cultura, em geral sua própria tribo.
O STF, na ementa do HC 85198 (2010), diz que o regime de semiliberdade é direito
concedido pela simples condição de indígena, sem aprofundar no acórdão.
O STJ, no HC 30113 (2000 - impetrado pela Dra. Deborah Duprat), entendeu que o benefício
está ligado ao grau de integração do índio e à natureza do delito praticado.
Imputabilidade do índio. A doutrina tradicional elenca o indígena entre os inimputáveis, por
desenvolvimento mental incompleto ou retardado (Regis Prado e Rogério Greco, por exemplo).
MPF: o índio tem desenvolvimento pleno de suas faculdades mentais; pertencer a uma
cultura com valores diversos não significa ter desenvolvimento incompleto.
Desta feita, a punibilidade criminal do comportamento formalmente típico de um indígena
pode ser abordado tanto do ponto de vista da própria tipicidade quanto, especialmente, do
ponto de vista da culpabilidade, SEMPRE LEVANDO-SE EM CONSIDERAÇÃO O CONTEXTO
ÉTNICO, CULTURAL, POLÍTICO e ECONÔMICO no qual indivíduo se insere ou ao qual
inexoravelmente pertence.
No âmbito da tipicidade, AFFONSO DE LUCA esclarece que “algumas condutas dos indígenas,
inerentes à sua cultura, por serem fomentadas pelo Direito, não podem ser criminalizadas,
sendo, portanto, atípicas”, com base na Teoria da Tipicidade Conglobante de ZAFFARONI. Isto é,
se a própria CF determina que costumes e tradições indígenas devem ser respeitados e
protegidos (art. 231), formando, inclusive, o patrimônio cultural brasileiro (art. 216), não se
pode, ao mesmo tempo, tipificá-los como crimes.
No mesmo sentido é o entendimento de WIECKO ao afirmar que “as condutas de
charlatanismo e de curandeirismo, tal como definidos, deveriam ser descriminalizados,
principalmente o segundo, vez que evidente a colisão com os direitos de liberdade religiosa e de
práticas culturais de elementos formadores da nação brasileira (o índio e o negro), agasalhadas
na Constituição Federal”.
No âmbito da culpabilidade, WIECKO e BAJER afirmam que “a inimputabilidade dos indígenas
segue as regras gerais aplicáveis a todas as pessoas maiores de 18 anos (como já ressaltado
acima). Todavia, é possível excluir a culpabilidade pelo reconhecimento do erro de proibição ou
da inexigibilidade de conduta diversa. Villares (2009, p. 301) reporta a doutrina penal latino-
americana que desenvolve o conceito de ‘erro culturalmente condicionado’, que se aplica à não
compreensão do índio sobre a ilicitude de suas ações em relação ao sistema de punição da
sociedade não-índia”. Ressalta que Eugenio Raúl Zaffaroni identifica três formas desse conceito:
erro de compreensão, consciência dissidente e justificação putativa. Na primeira forma há uma
dificuldade inata para a compreensão da proibição normativa. A pessoa pode conhecer a
norma, mas razões culturais impedem que ela aja de modo diverso. Na segunda, a pessoa tem
conhecimento da proibição e da ausência de permissão legal, mas não se lhe pode exigir sua
interiorização. Na justificação putativa um indígena vê o não-índio como inimigo, o que justifica
atitudes contrárias ao direito que antecipam a ação inimiga”.
Em que pesem as considerações expendidas por WIECKO e BAJER com base nas lições de
LUIZ FERNANDO VILLARES, deve-se ter em mente que ZAFFARONI, na verdade, faz uma análise
das consequências jurídicas do condicionamento cultural em que se encontra um indivíduo, e
que pode dar azo a erros de compreensão que excluem a culpabilidade, situações de
justificação putativa e até mesmo a erros de tipo.
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PONTO N. 11. Oreste Dallocchio Neto
Neste sentido, o erro culturalmente condicionado pode gerar casos de atipicidade por erro
de tipo quando, por exemplo, membros de uma determinada cultura tenham um conhecimento
da causalidade completamente falso e que os coloca em situações de erro de tipo invencíveis,
excludentes do dolo. Ex.: curandeiro que, tentando curar uma ferida, utiliza substância que
acaba por infeccionar a lesão, levando à morte
Por outro lado, o erro culturalmente condicionado pode dar lugar a um erro de tipo
permissivo ou justificação putativa, como sucede com certos índios que atacam qualquer
“homem branco” pela crença de que este sempre terá a intenção de atacá-los. Outro exemplo
que pode ser citado é do indígena que querendo eliminar um “espírito maligno” que lhe
perseguia, mata na realidade uma anciã vizinha.
Por fim temos o erro de compreensão culturalmente condicionado que configura erro de
proibição. ZAFFARONI faz a seguinte divisão desta categoria jurídica em seu Manual (o que não
se verifica em seu Tratado): I – Erro que afeta o conhecimento da antijuridicidade, que pode ser:
a) direto, quando recai sobre o conhecimento da norma proibitiva, e b) indireto, que recai sobre
a permissão da conduta e que pode consistir ou na falsa suposição de existência de uma
permissão que a lei não outorga, ou na falsa admissão de uma situação de justificação que não
existe (justificação putativa); e II – Erro de compreensão que afeta a compreensão da
antijuridicidade, mas não o seu conhecimento.
De acordo com ZAFFARONI (tratado), o erro de compreensão da antijuridicidade ocorre
quando o agente possui um conhecimento (captação) de um determinado contexto jurídico,
mas não consegue se determinar de acordo com este conhecimento por não ter “internalizado”
ou “introjetado”, isto é, por não ser ou ter sido capaz de assimilar em seu aparato psicológico
tais normas de conduta. Ex.: sepultamentos ritualísticos que podem propagar enfermidades
perigosas, não poderão ser incriminados por eventual crime contra a saúde pública, pois os
agentes do aludido sepultamento não podem internalizar (compreender) a antijuridicidade de
suas condutas, porque diante da importância do ritual funerário, o risco lhes parecerá sempre
mínimo e não lhes poderá ser exigível que o compreendam de outra maneira (ZAFFARONI,
Tratado).
Quanto à questão do chamado infanticídio ritual, a punibilidade das pessoas pode ser
apreciada a partir de três soluções distintas (texto disponibilizado pelo colega Aldo):
1 - A solução da inimputabilidade ou da imputabilidade diminuída (Aníbal Bruno)
Alguns autores e sistemas jurídicos defendem como solução geral para os fatos
criminalmente ilícitos praticados por membros dos povos "indígenas" a impunidade por falta de
capacidade de culpa ou a atenuação da pena em virtude de uma imputabilidade diminuída.
Reconhecendo que os "indígenas" vivem à luz de concepções morais e sociais diferentes das
ocidentais, o que dá origem a uma incompreensão quase total destas últimas antes de serem
submetidos a um "processo educativo", esta doutrina equipara a situação dos ditos indígenas à
dos menores. Aparentemente mais favorável e aberta às peculiaridades das formas de vida,
esta solução assenta numa visão racista e paternalista que não respeita a diferença de culturas
e uma perspectiva multicultural de abordagem dos problemas baseada no valor
do pluralismo. Um tal critério corresponde e obedece a uma estratégia política de assimilação
e adaptação cultural dos ditos "silvícolas" aos valores da vida "civilizada".
2 - A solução do erro de compreensão culturalmente condicionado (Eugenio Zaffaroni)
Trata-se de uma especificação do erro de proibição que vale para aqueles casos em que,
pese embora o conhecimento da proibição, não é exigível ao agente a respectiva interiorização
porque ela é estranha à sua cultura, reconhecendo, no entanto, que o condicionamento cultural
pode dar lugar a outras espécies de erro. O "erro de compreensão culturalmente condicionado"
revela um grau de tolerância maior na resolução das situações de conflito pessoal entre
sistemas culturais distintos, dado que prescinde à partida da comprovação da censurabilidade
do erro. A admissão de um juízo de censurabilidade nas constelações a que o erro se
refere, pressupõe o reconhecimento da obrigatoriedade de assimilação dos valores dominantes
e isso representaria igualmente um desprezo pelas diferenças culturais.
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 11. Oreste Dallocchio Neto
3 - A solução do erro sobre o objeto.
Do ponto de vista da dogmática jurídico-penal, trata-se aqui de uma espécie de erro sobre o
objeto. Na base da deficiente identificação está, em suma, um problema sensorial. Nesses
casos, por detrás do erro está um problema de apreciação. Não há dolo em qualquer das suas
modalidades. Para a formação do dolo é decisivo, além do conhecimento fático, o
conhecimento das significações sociais dos elementos do fato típico praticado. A concretização
do "conhecer e querer", em que o dolo analiticamente se decompõe, não requer a comprovação
de qualquer estado psíquico do agente, mas a determinação de se ele apreendeu e se
identificou com os significados correntes e as representações de responsabilidade existentes no
seu mundo da vida. Posto isto, torna-se necessário, mediação de um processo comunicativo
entre dois polos constituídos pela linguagem legal, necessariamente aberta, e a linguagem
corrente na forma de vida do agente, com vista ao estabelecimento das correspondências entre
ambas. O juiz deverá penetrar nas representações correntes do mundo da vida do agente e
verificar se elas são ou não conversíveis nas palavras da lei. O cumprimento do dever de
cuidado deve aferir-se de acordo com o padrão de uma pessoa média da comunidade
tradicional e não segundo o procedimento de um cidadão qualquer.
Segundo DUPRAT, “fala-se que alguns grupos indígenas praticam infanticídio, dentre eles os
yanomami. Mais uma vez, a questão nuclear é a definição de vida. A mulher yanomami, quando
sente que é chegada a hora do parto, vai sozinha para local ermo na floresta, fica de cócoras, e a
criança cai ao chão. Nessa hora, ela decide se a pega ao colo ou se a deixa ali. Se a coloca nos
braços, dá-se, nesse momento, o nascimento. Se a abandona, não houve, na concepção do
grupo, infanticídio, pela singela razão de que a vida não se iniciou”.
Jurisprudência dominante: O EI só é aplicável ao índio “não integrado”. Aplicação do direito
penal indígena. O EI 57 foi recepcionado pela Constituição, pois reforça o reconhecimento da
organização social, costumes e tradições indígenas. Vide OIT 169, art. 9º, 1. Único limite: a
devida observância aos direitos humanos internacionalmente reconhecidos, não podendo o
Judiciário ingressar no mérito, justiça ou suficiência da punição.
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 11. Hebert Reis Mesquita
ITEM C: Crimes contra a liberdade pessoal.
Obras consultadas:
Janice Agostinho Barreto Ascari. Cybercrimes e a atuação do Ministério Público Federal. In
Direito e Processo na Justiça Federal – Coord. Eugênio Pacelli. São Paulo: Editora Atlas, 2011.
Douglas Ficher. A competência para julgar delitos de “pedofilia” praticados por intermédio da
internet. In Direito e Processo na Justiça Federal – Coord. Eugênio Pacelli. São Paulo: Editora
Atlas, 2011.
Ministério Público Federal. Crimes Cibernéticos – Manual Prático de Investigação. São Paulo,
2006.
Legislação básica.
Convenção sobre a Cibercriminalidade; art. 241 do ECA; Art. 155, § 4º, II, do CP.
1. Noções Gerais.
Diferenciam-se os conceitos de crimes cibernéticos e os crimes cometidos com auxilio de
computador (ASCARI, p. 149). “Cybercrime” é o termo específico usado para identificar
qualquer atividade criminal cometida ou facilitada pela Internet, o abuso ou mau uso de
sistemas e aplicativos. “Computer crime” designa qualquer ato criminoso cometido com o
auxilio de um computador, seja via Internet ou não, como roubo de componentes, falsificação,
pirataria digital, lesão a direitos autorais, hacking ou pornografia infantil. “Computer-related
crime” ou “computer-facilited crime” é termo usado para englobar as atividades criminosas nas
quais um computador foi envolvido em algum momento, ainda que perifericamente.
115
GRUPO IV – DIREITO PROCESSUAL E PENAL
PONTO N. 12. Luiz Eduardo C O Hernandes
Na vigência da Lei de Imprensa, Superior Tribunal de Justiça decidiu que uma (...) entrevista
concedida em um chat (sala virtual de bate-papo) se reveste de publicidade bastante para se
subsumir ao art. 12 da Lei nº 5.250/67 (STJ, AgRg na APn 442, j. 07/06/2006).
No AgRg no CC 74225, o STJ firmou entendimento no sentido de que o “(...) saque
fraudulento em conta corrente por meio de internet configura o delito de furto mediante fraude,
mas não o de estelionato”. Logo, ele se consuma no momento em que o agente se torna
possuidor da res furtiva, sendo competente o juízo de onde se localiza a conta fraudada e não
do lugar onde se efetuou o saque (STJ. AgRg no CC 74225, j. 25/06/2008). No mesmo sentido
ver : STJ - CC 81477. Idem: STJ - CC 67343 e CC 86.241.
De outra parte, o STJ já se decidiu que a consumação do ilícito previsto no art. 241 do ECA
ocorre no ato de publicação das imagens pedófilo-pornográficas, sendo irrelevante, para fins de
fixação da competência, o local em que se encontra sediado o responsável pelo provedor, pois
será competente o juízo do local onde está o computador (STJ, CC 29886, j. 12/12/2007 e STJ,
CC 66.981, j. 16/02/2009). Além disso, na análise do contexto do art. 241 do ECA, a conversa
realizada em "sala de bate papo" da internet, não está amparada pelo sigilo das comunicações
(STJ, RHC 18116, j. 16/02/2006).
O STI entendeu que só o fato de o crime ser praticado pela rede mundial de computadores
não atrai a competência da Justiça, exigindo-se o requisito da transnacionalidade para atrair a
competência da Justiça Federal (STJ, CC 111338, j. 01/07/10).
Entretanto, para Douglas Ficher, todos os casos que vierem a tratar de disponibilização
(publicação ou divulgação) de material pornográfico envolvendo crianças e ou adolescentes na
internet são, inegavelmente e por interpretação, de competência federal, conforme art. 109, V,
da CF. Isso porque este é um delito previsto em convenção internacional (Convenção da ONU
sobre os Direitos da Criança de 1989), cuja consumação pode ocorrer em qualquer parte do
mundo, haja vista que qualquer pessoa conectada à Internet poderá ter acesso ao material
proibido. Neste sentido, seria incabível exigir comprovação de que houve acesso do conteúdo
no exterior, pois tratar-se-ia de prova diabólica, excluindo quase por completo a competência
federal. Por isso, aqui deve ser utilizado o mesmo raciocínio aplicado para o caso de tráfico
internacional de entorpecentes sob a modalidade de exportar, quando este se consuma ainda
no Brasil. Contudo, simples troca de e-mails de material pornográfico não seria de competência
federal, por aí falta a divulgação, permanecendo apenas entre duas pessoas.
Já a “(...) divulgação, pela internet, de técnicas de cultivo de planta destinada à preparação
de substância entorpecente não atrai, por si só, a competência federal” (STJ, CC 62949, j.
11/10/2006).
Há precedente do STJ no sentido de que não há ilegalidade qualquer na prova obtida a partir
da atuação dos Auditores Fiscais que, de forma legal e constitucional, solicitaram aos
provedores de internet, as declarações falsas enviadas pelo paciente (STJ, HC 26769, j.
08/03/2005).
Entende o STJ que a competência será do local onde está o agente que pratica o crime contra
a honra ou o racismo, independentemente de onde esteja localizado o provedor ou a vítima.
Nesse sentido: STJ, CC 106625, j. 25/05/10; STJ, CC 107938, j. 08/11/10.
Por fim, o STF já entendeu que o crime de falsidade informática, previsto no art. 4º da Lei
portuguesa nº 109/91, não encontrava correspondente na legislação brasileira, deferindo, em
parte a extradição, quanto ao delito de burla informática, tipificado no art. 221º do CP
português, pois encontrava correspondência normativa com a figura do estelionato – art. 171
do CP brasileiro (STF, Ext 1029, j. 13/09/2006).
116
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 12. Alexandre Augusto Neves Figueiredo
ITEM B: Crime organizado. Conceituação, requisitos e marco jurídico.
Obras consultadas: BALTAZAR JUNIOR, José Paulo. Crimes Federais. 8ª ed. Porto Alegre: Livraria
do Advogado, 2012. CASTILHO, Ela Wiecko Volkmer de. Crimes antecedentes e lavagem de
dinheiro. Revista Brasileira de Ciências criminais, n. 47, p. 46-59, mar./abr. 2004. GOMES, Luiz
Flávio. O conceito de organização criminosa é um fantasma. Disponível em:
http://www.conjur.com.br/2011-mar-03/coluna-lfg-brasil-conceito-organizacao-criminosa-
fantasma; GOMES, Luiz Flávio. Que Se Entende por Crime Organizado (Parte 1). Disponível em
http://www.lfg.com.br - 2 de março de 2010. GOMES, Luiz Flávio. Que se entende por crime
organizado (Parte 2). Disponível em http://www.lfg.com.br - 3 de março de 2010. GOMES,
Rodrigo Carneiro. O Crime Organizado na Visão da Convenção de Palermo. 2ª ed, Belo
Horizonte: Del Rey, 2009. GRUPO DE TRABALHO 1 DA 2ª CCR. Terrorismo e Investigação de
Organizações Criminosas, pág. 08. Brasília, 12 a 14 de dezembro de 2011. Disponível em:
http://2ccr.pgr.mpf.gov.br/docs_institucional/eventos/xi-encontro-nacional-2011/Grupo
%201%20-%20Terrorismo%20e%20Investigacao%20de%20Organizacoes%20Criminosas%20.pdf
Legislação básica. Lei 9.613/98; Lei 11.343/06, art. 33, § 4º; Lei 2.889/56, art. 2º; Lei 7.170/83,
art. 16; Convenção das Nações Unidas sobre o Crime Organizado Transnacional (Convenção de
Palermo); Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção (Convenção de Mérida).
17GOMES, Luiz Flávio. O conceito de organização criminosa é um fantasma. Disponível em: http://www.conjur.com.br/2011-mar-03/coluna-lfg-
brasil-conceito-organizacao-criminosa-fantasma
19OBS.: a Convenção já traz mandamentos de criminalização e persecução penal da corrupção, ou seja, antes da assinatura, pelo Brasil, da
Convenção de Mérida (Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, em vigor no Brasil por intermédio do Decreto Presidencial nº 5.687,
de 31 de janeiro de 2006).
117
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 12. Alexandre Augusto Neves Figueiredo
20
informações sobre as atividades criminosas, (GOMES ). No campo da Cooperação Jurídica
Internacional a Convenção de Palermo prevê a assistência judiciária recíproca (na modalidade
do auxílio direto) sobre várias medidas (especialmente sobre provas, sua obtenção e
compartilhamento), serve de base para extradição, prevê a transferência de processos penais, o
confisco e apreensão de bens e instrumentos dos crimes, assim como recuperação e partilha de
ativos entre os Estados signatários (a partilha denomina-se asset sharing – PROVA OBJETIVA DO
25º CONCURSO), e programas de formação específicos entre os países signatários,
especialmente sobre as seguintes questões: métodos de combate ao crime organizado
transnacional por equipamentos de informática e redes de telecomunicações; técnicas de
controle de portos de zonas francas; rotas e técnicas utilizadas pelas pessoas suspeitas;
métodos utilizados para a proteção de vítimas e testemunhas; etc. (GOMES).
2. Conceito. Segundo parcela significativa da doutrina não existe em nenhuma parte do
nosso ordenamento jurídico a definição de organização criminosa, nem se podendo valer, para
esse efeito, da definição trazida pela Convenção de Palermo (LFG21) que, em seu Artigo 2º, ‘a’,
considera organização criminosa como “grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente
há algum tempo e atuando concertadamente com o fim de cometer infrações graves ou
enunciadas na presente Convenção, com a intenção de obter, direta ou indiretamente, um
benefício econômico ou outro benefício material”. Para LFG (fazendo coro desta vertente
doutrinária), tratados e convenções não podem servir de fonte do Direito penal incriminador,
ao fundamento de que restaria violada a dimensão democrática do princípio da legalidade,
pois no processo de incorporação destes documentos internacionais o que resulta aprovado
pelo Parlamento brasileiro, por decreto legislativo, não é fruto ou expressão das discussões
parlamentares, que não contam com poderes para alterar o conteúdo do que foi celebrado
pelo Presidente da República22. POSIÇÃO DA 2ª CCR DO MPF: “é equivocada a interpretação
sobre a necessidade de um conceito legal e de tipificação criminal de organização criminosa”,
pois “seu conceito já está internalizado pelo Decreto 5015/2004 (Convenção de Palermo)”,
havendo a “necessidade de que a questão (em análise no HC 96007) seja afetada ao Plenário do
STF”23. POSIÇÃO DO STF: questão pendente no referido HC 96007, já havendo dois votos no
sentido da necessidade de tipificação legal do crime de organização criminosa como
antecedente da lavagem de capitais (relator Marco Aurélio e Dias Toffoli). POSIÇÃO DO STJ:
entende que o conceito de organização criminosa já foi integrado ao ordenamento jurídico
brasileiro pela Convenção de Palermo (HC 171912, 11/2011, 5ª T; HC 129035, 08/2011, 6ª T).
3. Características. (BALTAZAR) 1) Pluralidade de agentes: trata-se de tipo de concurso
necessário; 2) Estabilidade ou Permanência: pretensão de praticar série indeterminada de
crimes; 2) Finalidade de Lucro: unanimidade na doutrina e na jurisprudência (STJ, HC 16334 de
2001); 3) Divisão de Trabalho ou de Tarefas: divisão de atribuições próprias para membros
diferentes da organização (STJ, HC 33669 de 2004); 4) Estrutura Empresarial: significa a
estruturação sob “forma empresarial” (STJ, HC 16334 de 2001) ou assemelhada; 5) Hierarquia:
(STJ, HC 16334 de 2001) presente de modo menos marcante nas chamadas “redes criminosas”,
e mais intensas nas organizações de modelo empresarial; 6) Disciplina: já foi reconhecida pela
jurisprudência (STJ, HC 16334 de 2001), mas não é traço essencial de toda e qualquer
20GOMES, Rodrigo Carneiro. O Crime Organizado na Visão da Convenção de Palermo. 2ª ed, Belo Horizonte: Del Rey, 2009.
21GOMES, Luiz Flávio. Que Se Entende por Crime Organizado (Parte 1). Disponível em http://www.lfg.com.br - 2 de março de 2010.
22GOMES, Luiz Flávio. Que se entende por crime organizado (Parte 2). Disponível em http://www.lfg.com.br - 3 de março de 2010.
23GRUPO DE TRABALHO 1 DA 2ª CCR. Terrorismo e Investigação de Organizações Criminosas, pág. 08. Brasília, 12 a 14 de dezembro de
2011.Disponível em: http://2ccr.pgr.mpf.gov.br/docs_institucional/eventos/xi-encontro-nacional-2011/Grupo%201%20-%20Terrorismo%20e
%20Investigacao%20de%20Organizacoes%20 Criminosas%20.pdf
118
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 12. Alexandre Augusto Neves Figueiredo
organização; 7) Conexão com o Estado: um dos principais traços definidores da criminalidade
organizada, seja mediante corrupção de servidores públicos encarregados da repressão da
criminalidade (STJ, HC 75459 de 2007 e HC 76114 de 2007), seja mediante prática de
“clientelismo” 24, consistente na relação de reciprocidade entre os mencionados servidores e os
grupos criminosos organizados em que ambas as partes se favorecem, seja mediante violência
contra tais servidores; 8) Violência: emprego de métodos violentos dirigidos ora contra os
próprios membros do grupo para manter a disciplina, hierarquia e o silêncio, ora quanto a
testemunhas e agentes públicos em geral (STJ, HC 45949 de 2007); 9) Entrelaçamento ou
Relações de Rede com outras Organizações: substituição do modelo ou paradigma mafioso, da
organização monopolística e fortemente hierarquizada, pela ideia de cooperação e relações
mais ou menos frouxas entre vários grupos criminosos conforme suas necessidades, formando-
se vínculos horizontais e não verticais entre os indivíduos e os grupos (facilitado pelas modernas
técnicas de comunicação), podendo ocorrer o entrelaçamento (ou formação do “novo” modelo
de “rede criminosa”) tanto em função da especialização dos grupos ou indivíduos em tarefas
determinadas, quanto no aproveitamento de habilidades, rotas e contatos para mais de uma
forma de atividade criminosa; 10) Flexibilidade e Mobilidade dos Agentes: consiste na enorme
capacidade do crime organizado para adequar-se às relações sociais modernas (em especial, ao
processo de globalização), sobretudo no âmbito econômico-empresarial; 11) Mercado Ilícito ou
Exploração Ilícita de Mercados Lícitos: é típico das organizações criminosas a atuação no
mercado de produtos ou serviços proibidos (e portanto ilícito) com alto grau de demanda social,
tais como drogas, armas, prostituição e jogos de azar, porém, alternativamente, também há a
exploração ilícita de mercados lícitos, em condições mais vantajosas ou em concorrência
desleal com o comércio regular, exp.: descaminho e contrabando de cigarros, produtos de
informática, eletrônicos, etc.; 12) Monopólio ou Cartel: consiste na imposição de um monopólio
ou a divisão do mercado entre certos setores do ilícito, característica esta que tem sido
questionada tem em vista a evolução acima apontada do modelo mafioso para o modelo de
rede das organizações criminosas; 13) Controle Territorial: consiste no estabelecimento de um
controle territorial de longo prazo de modo que as organizações possam se apresentar como
realidades sociais de poder estável, capazes não apenas de criar redes de colaboração com
autoridades legítimas e instituições oficiais, mas também de exercer pressão sobre elas. É típica
das organizações mafiosas no sul da Itália, e que no cenário brasileiro se apresentam nos casos
do jogo do bicho e do tráfico de drogas nas favelas do Rio de Janeiro, prática na qual os “donos”
da boca mantém o monopólio das vendas em regiões marcadas pela pobreza e segregação
social, realizando benfeitorias para a população local (bicas d’água, campos de futebol, etc.),
passando a ser considerados por esta como benfeitores. Estes territórios são chamados zonas
liberadas, onde a polícia não entra, ou então onde a população tem obrigações para com o
chefão local; 14) Uso de Meios Tecnológicos Sofisticados; 15) Transnacionalidade ou
Internacionalidade: não se trata de característica essencial, podendo ser pensada, do ponto de
vista da criação de um tipo penal, nas construção de um tipo penal agravado. Guarda relação
com a facilitação ou barateamento do transporte de bens e pessoas, assim como de
comunicações, com a abertura de fronteiras e intensificação do comércio internacional no
processo de globalização. Fenômeno comum especialmente em relação a mercados nos quais
os países produtores ou fornecedores (geralmente periféricos onde a persecução penal é menos
eficiente) não são os maiores centros consumidores dos produtos, como é o caso do tráfico de
drogas, armas, animais e pessoas (neste último caso, seja no fornecimento de mão de obra
ilegal, ingresso ilegal de emigrantes ou ainda tráfico de mulheres e crianças); 16) Embaraço do
Curso Processual: consiste no sistemático emprego de meios para evitar ou dificultar a
produção de provas, seja de forma antecipada pela imposição da lei do silêncio (como
fundamento para decretação de prisão preventiva - STF, HC 85964 de 2005), seja no curso do
processo, com ofertas de cooptação, pressão, violência efetiva ou disposição para o uso de
violência contra testemunhas, peritos e agentes públicos da persecução penal em geral (STJ, HC
30048 de 2003); 17) Compartimentalização: ligada à hierarquia, consiste na criação de uma
24Segundo BALTAZAR aqui reside a principal diferença entre organizações criminosas e grupos terroristas, pois enquanto estes últimos
pretendem a tomada do poder ou a substituição do grupo governante, as organizações criminosas valem-se dos contatos com o Estado para a
obtenção de lucros.
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PONTO N. 12. Alexandre Augusto Neves Figueiredo
cadeia de comando, de modo que o executor dos atos criminosos não recebe as ordens
diretamente do líder da organização criminosa, que se protege ao não praticar os delitos com
suas próprias mãos. Aliada à imposição da lei do silêncio e a uma eventual violência contra um
dos elos da cadeia, constrói-se em sistema criminoso eficiente semelhante à criação da
estrutura de células estanques adotadas por grupos terroristas.
4. Requisitos. Tendo em vista a supramencionada posição da 2ª CCR do MPF, bem como a do
STJ, no sentido de que o conceito de crime organizado em vigor no nosso ordenamento jurídico
é aquele disposto no Convenção de Palermo constante de seu Artigo 2º, ‘a’, vejamos seus
requisitos configuradores: A) grupo estruturado: que, segundo o art. 2º, ‘c’, da Convenção,
consiste num “grupo formado de maneira não fortuita para a prática imediata de uma infração,
ainda que os seus membros não tenham funções formalmente definidas, que não haja
continuidade na sua composição e que não disponha de uma estrutura elaborada”; B) de três
ou mais pessoas; C) existente há algum tempo; D) e atuando concertadamente; E) com o fim de
cometer “infrações graves”, que, segundo o art. 2º, b) da de Palermo, consiste em “ato que
constitua infração punível com uma pena de privação de liberdade, cujo máximo não seja
inferior a quatro anos ou com pena superior” 25 (o que, segundo GOMES, as afasta do conceito
de crime de menor potencial ofensivo segundo a legislação nacional); F) ou enunciadas na
presente Convenção: que são a participação em crime em um grupo criminoso organizado (art.
5º da Convenção e fato ainda atípico no Brasil), lavagem de capitais (art. 6º), corrupção em geral
(art. 8º) e “obstrução à justiça” (art. 23)26; G) com a intenção de obter, direta ou indiretamente,
um benefício econômico ou outro benefício material.
5. Marco Jurídico. De acordo com o exposto, os principais marcos jurídicos acerca do
tratamento dado ao crime organizado ocorreram, primeiramente, com a Lei 9.034/95 que
“Dispõe sobre a utilização de meios operacionais para a prevenção e repressão de ações
praticadas por organizações criminosas”, seguida da Lei 9.613/98 que prevê como crime
antecedente da para a configuração do delito de lavagem de capitais aquele praticado por
organização criminosa (que, segundo ELA WIECKO, serve como válvula de escape para abarcar
dos crimes contra a ordem tributária 27) e, conforme os supracitados entendimentos da 2ª CCR
do MPF e do STJ, com a integração normativa do conceito de organização criminosa ocorrida
com a entrada em vigor, no ordenamento jurídico brasileiro, da Convenção das Nações Unidas
sobre o Crime Organizado Transnacional (Convenção de Palermo) a partir do Decreto
Presidencial n. 5.015 de 12 de março de 2004.
25Quanto às infrações graves, a Convenção de Palermo aduz que: Art. 3º, (1) Salvo disposição em contrário, a presente Convenção é aplicável
à prevenção, investigação, instrução e julgamento de: Infrações graves, (...) sempre que tais infrações sejam de caráter transnacional e
envolvam um grupo criminoso organizado; (2) Para efeitos do parágrafo 1 do presente Artigo, a infração será de caráter transnacional se: a)
For cometida em mais de um Estado; b) For cometida num só Estado, mas uma parte substancial da sua preparação, planeamento, direção e
controle tenha lugar em outro Estado; c) For cometida num só Estado, mas envolva a participação de um grupo criminoso organizado que
pratique atividades criminosas em mais de um Estado; ou d) For cometida num só Estado, mas produza efeitos substanciais noutro Estado.
(OBS.: o problema aqui está na interpretação a ser dada à expressão “salvo disposição em contrário”).
26Segundo GOMES, a legislação brasileira não possui um tipo penal específico para a obstrução à justiça que congregue todos os elementos
do tipo num só artigo, porém possui diversos tipos penais esparsos no Código Penal que se enquadram em tal conceito, tais como os seguintes
crimes: constrangimento ilegal (art. 146), ameaça (art. 147), coação no curso do processo (art. 344), fraude processual (art. 347), falso
testemunho ou falsa perícia mediante suborno (art. 342, § 1º) e corrupção ativa de testemunha ou perito (art. 343).
27CASTILHO, Ela Wiecko Volkmer de. Crimes antecedentes e lavagem de dinheiro. Revista Brasileira de Ciências criminais, n. 47, p. 46-59,
mar./abr. 2004.
120
ITEM C: Crimes contra a propriedade intelectual
Obras consultadas: FRANCO, Alberto Silva; STOCO, Rui (Org.). Código Penal e sua interpretação.
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal Brasileiro -
Parte Especial (v.3). 7ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010; MASSON, Cleber Rogério.
Direito Penal Esquematizado - Parte Especial (v.2). 3ª ed. São Paulo: Método, 2011. NUCCI,
Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. 9ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009;
NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais penais comentadas. 4ª. ed. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2009;
Legislação básica. Constituição Federal, Código Penal, arts. 184 a 186; Lei 9.279/96; Lei
9.609/98; Lei 9.610/98; Lei nº 10.695/2003; Código de Processo Penal, arts. 525 a 530-I.
28Art. 1º Esta Lei regula os direitos autorais, entendendo-se sob esta denominação os direitos de autor e os que lhes são conexos.
4.1. Bem Jurídico. Segundo PRADO, são os direitos de autor (a propriedade intelectual).
FRANCO e STOCO destacam que o que se protege é a obra intelectual em geral (artística,
literária, científica, etc.), não a ideia. Estas, separadas de sua expressão (a obra), constituem
patrimônio cultural comum da humanidade.
4.2. Tipo Objetivo: Violar significa ofender ou transgredir, tendo por objeto o direito de autor
ou a sua produção intelectual. Trata-se de norma penal em branco, pois requer integração por
normas que protegem os direitos autorais (no caso, constantes da LDA). Pode se consumar de
várias formas, desde a simples reprodução ou cópia não autorizada (contrafação, atinge o
aspecto patrimonial) até o plágio (afeta principalmente o aspecto moral, porque há a usurpação
da autoria). ATENÇÃO 01: Segundo PRADO, é indispensável que a obra seja original (criação
própria, primígena), mas não se exige que seja inédita, isto é, que jamais tenha sido
apresentada na doutrina, no mundo artístico ou científico, por exemplo. ATENÇÃO 02: Verificar
que os arts. 46 a 48 da LDA dispõem sobre as exclusões, limitações e exceções à proteção dos
direitos autorais, estabelecendo condutas que não constituem ofensa a direitos autorais ,
estabelecendo, assim, causas de atipicidade para o delito em comento. ATENÇÃO 03: FRANCO
e STOCO, com forte inspiração em valores morais, entendem que os vídeos obscenos e
pornográficos, por reputarem ilegais, não são protegidos pela norma, entendimento este, no
entanto, que encontra respaldo em outros doutrinadores como PRADO, NUCCI e MASSON.
4.3. Tipo Subjetivo. Segundo PRADO é o dolo, direto ou eventual (FRANCO e STOCO não
mencionam o dolo eventual). Não se exige, no caput, a finalidade de obtenção de lucro. Não se
admite a modalidade culposa, bem como não se exige nenhuma finalidade específica.
4.4. Sujeitos Ativo e Passivo. Segundo PRADO, qualquer pessoa pode cometer o delito em
questão, admitindo-se co-autoria e participação, como por exemplo, do editor do livro plagiado.
Sujeito passivo é a pessoa física criadora da obra. Por serem alguns dos aspectos dos direitos
autorais transmissíveis por herança, falecendo o autor, o sujeito passivo serão seus herdeiros e
sucessores. Pessoa jurídica de direito privado ou público pode ser sujeito passivo, desde que
cessionárias dos direitos sobre a obra. Não é necessário que o autor da obra tenha registrado
sua criação, pois o registro não é constitutivo da titularidade e não se compõe como elemento
necessário ao tipo penal ora descrito. O registro tem a função de provar a autoria.
4.5. Consumação e tentativa. Consuma-se com a violação de qualquer dos aspectos dos
direitos de autor e dos que lhe são conexos. Não exige resultado naturalístico (crime formal). É
possível a tentativa já que se trata de crime plurissubsistente.
4.6. Concurso de crimes. Segundo FRANCO e STOCO “todas as formas de concurso são
admissíveis nos crimes contra a propriedade intelectual descritos no CP” (artigos 69 a 71),
porém a contrafação de vários exemplares contrafeitos pode influir na pena, mas não na
caracterização do concurso, pois tal hipótese configurará CRIME ÚNICO. Ademais, se a pessoa
que reproduz a obra teatral é a mesma que a representa, trata-se de crime único, pois haveria
progressividade criminosa e não conexidade.
4.7. Objeto material. É a obra intelectual violada (que não se confunde com a propriedade
intelectual, que configura a objetividade jurídica do delito).
4.8. Classificação Doutrinária. trata-se de crime comum, formal, doloso, de forma livre (pode
ser cometido por qualquer meio de execução), comissivo, e, excepcionalmente comissivo por
omissão, instantâneo, unissubjetivo ou de concurso eventual (pode ser praticado por um só
agente, mas admite concurso) e plurissubsistente (em regra vários atos integram a conduta).
Não há previsão legal de forma culposa.
4.8. Figuras qualificadas.
4.8.1. Art. 184, § 1o, do CP: Reprodução não autorizada. Análise Geral. Consiste na
utilização do núcleo base da modalidade simples do caput associado a uma maneira especial
de empreendê-lo, isto é, mediante reprodução, e agrega o especial fim de agir que consiste no
intuito de lucro (direito ou indireto segundo PRADO) . Trata-se de tipo misto alternativo.
Introduziu-se um elemento normativo do tipo, qual seja: “sem autorização do produtor ou de
quem o represente”. Segundo PRADO, reprodução, obra intelectual, interpretação execução e
fonograma são expressões cujo conceito legal é fornecido pela LDA (respectivamente, artigos
5º, inciso VI, 7º [de forma exemplificativa], e art. 5º, incisos XIII e IX), tratando-se, portanto, de
norma penal em branco. CONTROVÉRSIA: a doutrina diverge acerca da configuração ou não do
crime caso o objeto material do delito seja um “VIDEOFONOGRAMA”. Para Bitencourt, tendo
em vista que o preceito penal não inclui o ‘videofonograma’, o princípio da reserva legal
autoriza concluir que há uma lacuna na medida em que a previsão legal não abrange aquelas
hipóteses da locadora de vídeo (VHS, DVD’s, BD, HD-DVD, etc.) que aluga ou comercializa cópias
originais desses vídeos, adquiridas licitamente, mas que não são autorizadas à locação ou
comercialização. Em sentido contrário, FRANCO e STOCO entendem que ‘videofonogramas’
estão abrangidos pelo conceito geral de obra intelectual; além disso, geralmente (sic) essa
forma de fixação contém fonogramas. Não se discute que os fonogramas de uso doméstico, se
exibidos publicamente com intuito de lucro e sem autorização, caracterizará o crime de violação
de direito autoral. ATENÇÃO 01: segundo FRANCO e STOCO, a reprodução de filmes
(videofonogramas) através de download pela internet, desde que com intuito de lucro,
constitui o crime do § 1º, do art. 184. ATENÇÃO 02: caso o objeto material da conduta seja
programa de computador (software), a conduta se amoldará ao tipo penal previsto do art. 12
previsto na Lei 9.609/98. Tipo Subjetivo: segundo PRADO, é o dolo direito ou eventual, aliado à
finalidade específica caracterizada pelo intuito de lucro direito ou indireto. Consumação: ocorre
com a simples reprodução ilegal, com intuito de lucro direito ou indireto, ainda que não ocorra
a posterior venda. É admissível a tentativa.
4.8.2. Art. 184, § 2o, do CP: Guarda e comércio de reprodução não autorizada. Análise
Geral29. Tipo misto alternativo. Exige especial fim de agir consistente no intuito de lucro.
Presente dois elementos normativos do tipo: a) “com violação de direito de autor” na primeira
parte e b) “sem a expressa autorização dos titulares dos direitos ou de quem os represente”, na
parte final. Recebe as mesas classificações do caput, exceto pelas formas ocultar, expor a venda
e ter em depósito que são formas de crime permanente. Foi introduzida pela Lei 10.695/2003 a
figura típica daquele que aluga original ou cópia de obra reproduzida legitimamente, mas sem
a autorização do titular ou de quem o represente. Segundo PRADO, consuma-se com a efetiva
distribuição, venda, locação, aquisição (delitos de resultado); com a exposição à venda,
ocultação ou depósito (delitos permanentes) ou com a introdução no País de obra intelectual
ou fonograma produzidos com violação de direito autoral (delitos de mera atividade). Admite-se
a tentativa. ATENÇÃO: segundo FRANCO e STOCO, pode haver concurso formal de crimes se,
além de expor à venda CDs de música, oferece gravações de software, pois este tipo de
contrafação constitui crime previsto no art. 12, § 2º, da Lei 9.609/98 30.
4.8.3. Art. 184, § 3o, do CP: Oferecimento público não autorizado. Análise Geral. Dispositivo
incluído para adequar a lei às inovações tecnológicas, consistindo no oferecimento ao público
de obra ou produção e exigindo também o intuito de lucro.
4.9. Art. 184, § 4o, do CP. Redução do âmbito de abrangência da tipicidade. PRADO e NUCCI
consideram o dispositivo desnecessário e supérfluo, pois determina a não aplicação dos
parágrafos anteriores do artigo quando a cópia se dê em um exemplar para uso privado e sem
intuito de lucro. Na verdade, a simples ausência do intuito de lucro, por si só, já afastaria a
aplicação dos parágrafos mencionados. Ademais, tais limitações já se encontram dentre aquelas
previstas na LDA.
4.10. Ação Penal: art. 186 do CP.
Ação Privada: no caso do caput do art. 184.
Ação Pública condicionada: caso do § 3º do art. 184.
29Segundo o STJ: Em face do princípio da especialidade, o crime do art. 184, § 2º, do Código Penal, prevalece sobre o delito de descaminho,
independentemente da origem do fonograma ou videofonograma reproduzido com violação ao direito do autor . (RHC 21.841, DJ 05.11.2007
p. 293).
30“Na mesma pena do parágrafo anterior (reclusão de um a quatro anos e multa) incorre quem vende, expõe à venda, introduz no País,
adquire, oculta ou tem em depósito, para fins de comércio, original ou cópia de programa de computador, produzido com violação de direito
autoral”.
Ação Pública incondicionada: casos dos §§ 1º e 2º do art. 184 e quando o crime for cometido
contra entidades de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista
ou fundação instituída pelo Poder Público.
4.11. Competência. Via de regra, conforme entendimento do STJ é estadual31. No caso de
conexão entre crime de violação de direito autoral e descaminho, aplica-se a Súmula 122/STJ:
Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de
competência federal e estadual, não se aplicando a regra do Art. 78, II, "a", do Código de
Processo Penal32. No entanto, existem alguns julgados do TR4 firmando a competência da
Justiça Federal com base na Convenção de Berna para a Proteção das Obras Literárias e
Artísticas33, conforme se vê a seguir:
PENAL E PROCESSUAL. ART.184, § 2º DO CP. DIREITOS AUTORAIS. CD’S (“PIRATAS”) DE
AUTORES BRASILEIROS E ESTRANGEIROS. COMPETÊNCIA FEDERAL. MATERIALIDADE E AUTORIA.
ESTADO DE NECESSIDADE. ERRO DE PROIBIÇÃO. NÃO-APLICABILIDADE. CONDENAÇÃO
MANTIDA. 1. A introdução em território nacional de CD’s tidos como piratas de cantores
brasileiros e estrangeiros caracteriza a violação de direitos autorais (art. 184, § 2º, do CP) de
competência da justiça federal, a teor do inc. V do art. 109 da CF/88 (Convenção de Berna para
a Proteção de Obras Literárias). Precedentes. 2. A materialidade e autoria restaram
devidamente comprovadas, uma vez que o acusado, de forma consciente, trouxe do Paraguai,
com o intuito de lucro, cópias de fonogramas (CD’s) produzidos de forma irregular. (...). ACR
200070020042427, DJ 05/05/2004.
PROCESSO PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. CRIME DE VIOLAÇÃO DE DIREITO
AUTORAL DE ESTRANGEIRO. ARTIGO 184 DO CÓDIGO PENAL. DECRETOS NºS 75.699/75 E
76.906/75. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. ARTIGO 109, INCISO V, DA CARTA MAGNA. - As
convenções internacionais que tratam do direito de propriedade intelectual - das quais o Brasil
é signatário - acabaram por incorporar as normas penais dos países contratantes relativas à
matéria, não se distinguindo estas dos demais dispositivos originalmente previstos. - A
interpretação de dispositivos constitucionais exige menor rigidez, pois neles predomina o
elemento político, resultando maior mutabilidade nas relações e nos conceitos. - Recurso
provido. RSE 200271070059150, DJ 10/03/2004.
DESCAMINHO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. VIOLAÇÃO DE DIREITO AUTORAL.
COMPETÊNCIA. CONVENÇÃO DE BERNA. 1. Cabível a aplicação do princípio da insignificância
quanto ao delito de descaminho quando não há lesão significativa para caracterizar crime. 2.
Versando a questão sobre músicos estrangeiros, titulares de direitos autorais, que tiveram sua
obra contrafeita, caberá ao Juiz Federal processar e julgar o delito previsto no § 2º do art. 184
do CP, a teor do inc. V do art. 109 da CF (Convenção de Berna para a Proteção das Obras
Literárias e Artísticas). 3. Recurso parcialmente provido para determinar a remessa dos autos ao
Juízo a quo para o juízo de admissibilidade da peça inicial acusatória quanto ao delito de
violação de direito autoral. RSE 200104010688680, Relator
MANOEL LAURO VOLKMER DE CASTILHO34, DJ 15/05/2002.
31Segundo o STJ: Compete à Justiça Estadual processar e julgar crimes contra a propriedade intelectual, quando não praticados em
detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas. (Precedentes). Não opera o
deslocamento da competência para a Justiça Federal a circunstância de que os produtos teriam sido adquiridos no exterior, uma vez que, in
casu, o recorrente não foi denunciado por crime de descaminho. (Precedentes). (RHC 21.791/PR,DJ 05.11.2007). No mesmo sentido: CC 48.178-
SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 25/3/2009; HC 163716/RS, DJe 16/05/2012.
32Segundo o STJ: Havendo indicações da relação entre os apontados fatos criminosos – descaminho e violação de direito autoral
(mercadorias de origem estrangeira, entre as quais "CDs gravados") –, há, em consequência, conexão, isto é, trata-se de crimes conexos. (...)
Conflito de atribuições do qual se conheceu como conflito de competência, tendo a Seção proclamado competente a Justiça Federal para,
também, processar e julgar a indicada violação de direito autoral. (CAt .180/RS, DJ 06.03.2006)
Obras consultadas:
Cezar Roberto Bitencourt. Tratado de Direito Penal. Parte Geral 1. 13ª Edição. Ed. Saraiva.
2008.
Legislação básica.
Código Penal, arts. 69, 70 e 71.
1) Concurso material (art. 69, CP): ocorre quando o agente, mediante 2 ou mais condutas,
dolosas ou culposas, pratica 2 ou mais crimes, idênticos (concurso homogêneo) ou não (concurso
heterogêneo). Portanto, são seus requisitos: Pluralidade de Condutas e Pluralidade de Crimes.
1.1) Critério de aplicação da pena: cúmulo material. No caso de condenação a penas de
reclusão e detenção, executa-se primeiro a reclusão. Se uma pena for privativa de liberdade +
restritiva de direitos, a situação é diferente. Veja: conforme dispõe o art. 69, §1º, se o juiz não
consegue suspender a pena privativa de liberdade para um dos crimes, não poderá aplicar a pena
restritiva de direitos aos demais, que deverá ser convertida. Por fim, aplicadas duas penas
restritivas de direitos, informa o §2º que o condenado as cumprirá simultaneamente, se
compatíveis, e sucessivamente, se incompatíveis.
Obs.:.
a) suspensão condicional do processo. A suspensão condicional do processo somente é
admissível quando, no concurso material, a somatória das penas mínimas cominadas não
suplanta 1 ano (STF).
b) Na prescrição, cada crime prescreve isoladamente (art. 119 do CP), não se considerando o
concurso de crimes. Até então, cuida-se da única situação em que as penas não são somadas35.
c)Quando os crimes são objeto de processos diversos, aplica-se o art. 69, III, a, da LEP, ou
seja, essa norma dispõe que o juiz da execução tem a competência para somar ou unificar as
penas.
2) Concurso formal ou ideal (art. 70, CP): ocorre quando o agente, mediante 1 só conduta,
pratica 2 ou mais crimes, idênticos (concurso homogêneo) ou não (concurso heterogêneo).
Requisitos: Unidade de conduta e pluralidade de crimes.
2.1) Classificação: a) Próprio (ou perfeito): quando os crimes forem resultantes de 1 único
desígnio (pena aplicada pelo critério da exasperação, mas será aplicado o cúmulo material se
mais benéfico ao acusado); b) Impróprio (ou imperfeito): se forem dolosos, provenientes de
desígnios autônomos (pena aplicada pelo critério do cúmulo material).
2.2) Crimes culposos: é possível o concurso formal, desde que se trate de concurso formal
próprio.
2.3) Teorias: a) Subjetiva – exige-se unidade de desígnios na conduta do agente para a
configuração do concurso formal; b) Objetiva – bastam a unidade de conduta e a pluralidade de
resultados. É a teoria acolhida pelo CP, já que o concurso formal imperfeito foi admitido como
figura diversa.
2.4) Critérios para aplicação da pena:
A. Concurso formal próprio- i. Homogêneo Escolhe-se qualquer uma das penas; ii.
Heterogêneo Escolhe-se a pena mais grave. Em ambos os casos, escolhida a pena, esta é
aumentada, na terceira fase de aplicação da pena, de 1/6 a 1/2 (sistema da exasperação).
Segundo o STF, leva-se em conta o número de infrações penais praticadas. Quanto mais
infrações praticadas, mais próximo da metade; quanto menos infrações penais praticar, mais
próximo de 1/6.
Mas atente: em casos como estes, o concurso formal próprio/perfeito (que foi criado em
benefício do réu) acaba sendo mais prejudicial que o concurso material. Resolvendo a situação,
35 A soma vale para sursis, fiança, suspensão condicional do processo etc. Não vale para a prescrição.
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 13. Paulo Sérgio Ferreira Filho
dispõe o parágrafo único do art. 70 que “não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra
do art. 69 deste Código [concurso material]”. Aplica-se, então, o cúmulo de penas, mais justo
(CÚMULO MATERIAL BENÉFICO).
B. Concurso formal impróprio
No caso do concurso formal impróprio, afasta-se o sistema da exasperação, aplicando-se o
sistema da cumulação de penas.
3) Crime continuado (art. 71, CP): ocorre quando o agente pratica 2 ou mais crimes da mesma
espécie, mediante 2 ou mais condutas, os quais, pelas condições de tempo, lugar, modo de
execução e outras, podem ser tipos uns como continuação dos outros. Requisitos: Pluralidade de
condutas; Pluralidade de Crimes da mesma espécie, Elo de Continuidade.
Obs.:. Requisitos para o elo de continuidade (CEZAR ROBERTO BITENCOURT):
.Condições de tempo- “uma certa periodicidade que permita observar-se um certo ritmo, uma
certa uniformidade, entre ações sucessivas”
.Condições de lugar
.Maneira de execução- “A lei exige semelhança e não identidade.”
.Outras condições semelhantes-“ a doutrina aponta a mesma oportunidade e a mesma situação
propícias para a prática do crime.”
3.1) Classificação: a) Comum (ou simples): quando presentes os requisitos (71, caput); b)
Específico (ou qualificado): quando, além dos requisitos mencionados, tratar-se de crimes
dolosos, praticados com violência ou grave ameaça à pessoa e contra vítimas diferentes (71, §u).
No crime continuado qualificado, são seus requisitos: os mesmos do continuado genérico;
crimes dolosos; praticados contra vítimas diferentes; cometidos com violência ou grave ameaça à
pessoa.
Obs.:. É possível continuidade delitiva nos crimes contra a vida, tendo o art. 71, parágrafo
único, superado o teor da súmula 605 do STF.
3.2) Critério de aplicação da pena: exasperação (no continuado comum aumenta-se a pena do
crime mais grave de 1/6 a 1/3 e no continuado específico de 1/6 até o triplo)
3.3) Natureza jurídica: a) Teoria da unidade real – os vários delitos consistem num único
crime; b) Teoria da ficção jurídica – há vários delitos, mas a lei presume a existência de apenas 1,
para efeito de aplicação da pena (adotada pelo CP, pois este trata do tema como “concurso de
crimes”; c) Teoria mista – é um terceiro delito.
3.4) Teorias sobre a unidade de desígnios: a) Objetivo-subjetiva – para haver crime
continuado, é necessário, além das condições objetivas, que o agente deseje praticar um crime
como se fosse continuação de outro (posição dominante na doutrina e jurisprudência); b)
Puramente objetiva: bastam as condições objetivas semelhantes.
3.5) Crimes da mesma espécie: para o STJ, são crimes da mesma espécie aqueles que, além de
tipificados pelo mesmo dispositivo, tutelem os mesmos bens jurídicos. Assim, não são da mesma
espécie o roubo e latrocínio, conquanto previstos ambos no art. 157 (Resp 751.002/RS, 2009)
Obras consultadas:
FISCHER, Douglas. O Sistema Acusatório Brasileiro à Luz da Constituição Federal de 1988 e o PL
156. Disponível em http://www.prrj.mpf.gov.br/custoslegis/revista/2011_Dir_Penal_fischer.pdf,
acessado em 17/06/2012.
FERRAJOLI, Luigi. Direito e Razão, 3ª ed. São Paulo: RT, 2010.
RAMOS, André de Carvalho, e outros. Manual Prático de Direitos Humanos Internacionais.
ESMPU, 2010.
Legislação: Constituição, art. 5º.
O Direito Penal é a ferramenta mais pesada de proteção dos Direitos Humanos de que dispõe
um ordenamento jurídico. Ela deve funcionar, porém, de maneira dúplice: protegendo o
indivíduo contra os excessos punitivos estatais, mas também atuando contra violadores dos
direitos humanos.
Nesse sentido, é importante a observação feita por FISCHER sobre a adoção das ideias de
FERRAJOLI. O doutrinador italiano prega o garantismo, conceito que muitas vezes é
interpretado por setores da doutrina de forma desequilibrada, criando o que FISCHER chama
“garantismo hiperbólico monocular”.
FISCHER (pp. 5/6): “Quando (bem) compreendidos, os pilares do garantismo –
contextualizados à realidade vigente – não demandam a aplicação de suas premissas
unicamente como forma de afastar os excessos injustificados do Estado à luz da Constituição
(proteção do mais fraco). Quer-se dizer que não se deve invocar unicamente a aplicação
exclusiva do que se tem chamado de “garantismo negativo”. Hodiernamente (e já assim admitia
Ferrajoli embrionariamente, embora não nessas palavras), o garantismo penal não se esgota
numa visão de coibir (apenas) excessos do Leviatã. Em percuciente análise do tema ora
invocado, Gilmar Mendes já se manifestou de forma abstrata acerca dos direitos fundamentais
e dos deveres de proteção, assentando que “os direitos fundamentais não contêm apenas uma
proibição de intervenção [...], expressando também um postulado de proteção [...]. Haveria,
assim, para utilizar uma expressão de Canaris, não apenas uma proibição do excesso
(Übermassverbot), mas também uma proibição de omissão (Untermassverbot). Nos termos da
doutrina e com base na jurisprudência da Corte Constitucional alemã, pode-se estabelecer a
seguinte classificação do dever de proteção: [...] (b) Dever de segurança [...], que impõe ao
Estado o dever de proteger o indivíduo contra ataques de terceiros mediante adoção de
medidas diversas;[...] Discutiu-se intensamente se haveria um direito subjetivo à observância do
dever de proteção ou, em outros termos, se haveria um direito fundamental à proteção. A Corte
Constitucional acabou por reconhecer esse direito, enfatizando que a não observância de um
dever proteção corresponde a uma lesão do direito fundamental previsto no art. 2, II, da Lei
Fundamental. [...]”. Quer-se dizer com isso que, em nossa compreensão integral dos postulados
garantistas, o Estado também deve levar em conta que, na aplicação dos direitos fundamentais
(individuais e sociais), há a necessidade de garantir também ao cidadão a eficiência e
segurança, evitando-se a impunidade”.
Assim, se por um lado o indivíduo tem reconhecido seus direitos, à luz do garantismo, por
outro o Estado não deve considerar válida Lei que, à luz da Constituição, protege
deficientemente direitos humanos ao permitir que alguém se furte da aplicação da Lei penal.
Nesse sentido, há diversas convenções internacionais que tratam da repressão aos mais
variados crimes, crime organizado, crimes contra minorias, racismo, violência contra a mulher,
tráfico de pessoas etc., bem como a criação do TPI coloca o Direito Penal como matéria de
primeira ordem na questão dos direitos humanos.
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 13. Pedro Henrique Kenne
RAMOS (pp. 236-241) observa que a Declaração de Viena (1993) consagra o entrelaçamento
entre o Direito Penal e os Direitos Humanos, à medida em que atrelada à Declaração temos um
Programa de Ação para a promoção e proteção de direitos humanos, no qual os Estados são
instados à persecução penal com vistas a punir graves violações de direitos humanos, incluindo
a necessidade de ab-rogar leis de autoanistia. Citam-se no sistema interamericano os casos
Loayza Tamayo e Barrios Altos, tendo a Corte Interamericana rechaçado o inadimplemento de
obrigações internacionais com base em lei nacional. E, mais recentemente, temos o caso Gomes
Lund, que trata da Guerrilha do Araguaia e reforça a jurisprudência da Corte, coerente com os
precedentes firmados desde sua instalação.
Os Estados devem estabelecer um sistema interno eficiente de investigação, punição e
indenização às vítimas, além da obrigação de investigar de boa-fé as alegações de violações a
tratados internacionais de direitos humanos. A punição aos violadores de direitos humanos
evita que a tutela penal incida apenas sobre os marginalizados. A proteção a vida, incluindo a
proteção ao meio ambiente sustentável, é condição básica para a fruição de todos os outros
direitos humanos – e o Direito Penal é ferramenta, muitas vezes, necessária.
Além disso, a própria Constituição (art. 5º) contém mandados constitucionais de
criminalização, bem como disposições sobre maior rigor para determinadas condutas
(imprescritibilidade, inafiançabilidade, impossibilidade de graça ou anistia).
131
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 13. Hebert Reis Mesquita
ITEM C: Crimes contra a inviolabilidade do domicílio, de correspondência e dos
segredos.
Obras consultadas:
José Paulo Baltazar Junior. Crimes Federais. 7ª Edição. Ed. Livraria do Advogado.
Ela Wiecko. Artigo. A legislação penal brasileira sobre tráfico de pessoas e imigração
ilegal/irregular frente aos Protocolos Adicionais à Convenção de Palermo.
Ela Wiecko. Artigo. A criminalização do tráfico de mulheres: proteção das mulheres ou reforço
da violência de gênero? Cadernos Pagu (UNICAMP. Impresso), v. 31, p. 101-124, 2008.
Samuel Miranda Arruda. Artigo. Notas acerca do crime de tráfico de órgãos. Revista Eletrônica
PRPE, Maio de 2004.
Legislação básica.
Protocolo Adicional à Convenção de Palermo, relativo à Prevenção, Repressão e Punição do
Tráfico de Pessoas, em especial Mulheres e Crianças (Decreto nº 5.017/2004). Arts. 231 e 231-A
do CP.
135
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 14. Rafael da Silva Rocha
136
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 14. Ramiro Peres
ITEM B: Crimes contra as pessoas com deficiência. Crimes contra os idosos
Obras consultadas:
NUCCI, Guilherme de Souza. Lei Penais e Processuais Penais Comentadas, Revista dos Tribunais,
2009.
Legislação básica.
Normas Constitucionais:
- Constituição Federal, arts. 5º, IV, 7º, XXXI, e 230.
- Dec. no 6.949, de 25-8-2009 – Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência
Lei nº 10.741/2003 – Estatuto do Idoso, arts. 95 a 113.
Lei nº 7.853/1989, art. 8º.
NOTA 1: é imprescindível ressaltar que o presente resumo foi elaborado a partir do trabalho
anterior do grupo de aprovados no 25º CPR. Inúmeras passagens foram aproveitadas.
NOTA 2: André Luiz Bordignon de Araújo – Curitiba/PR – Julho de 2008; Cornélia Tavares de
Lanna, MG, 12/2009; citados pelo colaborador do grupo do 25º CPR.
2. Observações
Cabe notar, ainda, que os arts. 110 e 112 do Estatuto do Idoso trazem causas de aumento de
pena para delitos previstos no Código Penal, quando cometidos contra portadores de
deficiência.
3. Noções e Conceitos
Conceito de idoso da Lei nº 10741/03: a partir de 60 anos de idade.
Não confundir com o conceito do art. 115, CP:
Jurisprudência STJ: “O artigo 1º, do Estatuto do Idoso não alterou o art. 115, do Código
Penal, que prevê a redução do prazo prescricional para o réu com mais de 70 anos na data da
sentença. (RHC 16856-RJ, 5ª Turma, rel. Gilson Dipp, 02/06/2005, DJ 20/06/2005).
Jurisprudência STF: “A circunstância do critério cronológico adotado pelo Estatuto do Idoso
ser de 60 (sessenta) anos de idade não alterou a regra excepcional da redução dos prazos de
prescrição da pretensão punitiva quando se tratar de pessoa maior de 70 (setenta) anos de
idade na data da sentença condenatória.” (HC 88.083, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 3-
6-08, DJE de 27-6-08).
- Aplicação subsidiária da Lei n. 7.347/1985: nos processos criminais relacionados aos idosos
a LACP tem aplicação subsidiária.
- Aplicação da Lei n. 9.009/95 nos crimes punidos com reclusão de até quatro anos: quando
o artigo 94 estabelece ser cabível a aplicação da Lei n. 9.009/95, surgem duas correntes
distintas: (a) a primeira entende cabível o procedimento célere e os benefícios penais da Lei
dos Juizados Especiais para todos os crimes com pena de até quatro anos de reclusão, enquanto
a (b) segunda considera aplicável somente o procedimento mais célere aos crimes com pena
de até quatro anos e os benefícios da Lei n. 9.099/95 apenas às infrações de menor potencial
ofensivo (dois anos de pena máxima para suspensão do processo e um ano para transação). De
acordo com Nucci, a primeira corrente não deve ser adotada, sob pena de se considerar todos
os crimes com pena de reclusão de até quatro anos como delitos de menor potencial ofensivo,
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 14. Ramiro Peres
o que alargaria por demais esse conceito. Foi este o entendimento adotado pelo STF na ADI
3096-5, que deu interpretação conforme à Lei.
- A ação penal é pública incondicionada, não se aplicando as imunidades previstas nos
artigos 181 e 182, do CPP.
5. Crimes em espécie:
5.1 Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a operações bancárias,
aos meios de transporte, ao direito de contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento
necessário ao exercício da cidadania, por motivo de idade:
Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
§ 1o Na mesma pena incorre quem desdenhar, humilhar, menosprezar ou discriminar
pessoa idosa, por qualquer motivo.
O tipo vale-se da interpretação analógica para abarcar um sem número de situações de
discriminação de idosos, violando, segundo Nucci, o princípio da taxatividade.
Sujeito ativo: qualquer pessoa.
Sujeito passivo: idoso com mais de sessenta anos.
Elemento subjetivo: dolo e, segundo Nucci, deve haver o especial fim de agir
consubstanciado na intenção de rebaixar o idoso.
Crime comum, formal, de forma livre, comissivo, instantâneo, unissubjetivo,
plurissubsistente e admite tentativa.
São aplicáveis todos os benefícios da Lei 9.099/95.
Se o sujeito ativo estiver na posição de garante, a pena será aumentada de 1/3.
5.2 Deixar de prestar assistência ao idoso, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, em
situação de iminente perigo, ou recusar, retardar ou dificultar sua assistência à saúde, sem
justa causa, ou não pedir, nesses casos, o socorro de autoridade pública.
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
É o tipo correspondente ao artigo 135, do Código Penal.
Sujeito ativo: qualquer pessoa.
Sujeito passivo: idoso maior de 60 anos.
Elemento subjetivo: somente o dolo, sem elemento subjetivo diverso do dolo.
Perigo iminente: deve ser considerado perigo atual, já que o perigo iminente é impossível de
conceituação.
Recusa da vítima: deve-se respeitar a vontade do indivíduo, agindo contra ela somente em
estado de necessidade em que esteja em risco bem de valor superior à liberdade.
Objeto material: pessoa que precisa de socorro.
Objeto jurídico: saúde e integridade física do idoso.
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 14. Ramiro Peres
Classificação: crime comum, formal, de forma livre, omissivo, instantâneo, unissubjetivo,
plurissubsistente e não admite tentativa.
São aplicáveis todos os benefícios da Lei 9.099/95.
Figura preterdolosa: a segunda parte do tipo, que prevê punição para quem se recusar,
retardar ou dificultar a assistência à saúde de idoso permite a forma preterdolosa,
possibilitando a culpa.
Causa de aumento de pena: se do crime resultar lesão corporal grave a pena é aumentada da
metade e se resultar morte a pena é triplicada.
Os próximos cinco tipos são todos de menor potencial ofensivo, que possibilitam a aplicação
dos benefícios penais da Lei n. 9099/95, pois suas penas são de seis meses a um ano e multa.
Os tipos penais abaixo arrolados apresentam poucas variações quanto aos seus elementos,
mostrando-se dispendioso tecer comentários específicos. As alterações ocorrem no que pertine
aos benefícios penais, já que somente aqueles que tem pena máxima de um ano admitem
transação e aqueles que tem pena mínima de dois anos admitem suspensão do processo, que
são os benefícios da Lei n. 9.099/95.
5.5 Obstar o acesso de alguém a qualquer cargo público por motivo de idade;
Crime resultante de discriminação. Deve ser realizada interpretação extensiva, para se
enquadrar na expressão cargo os empregos e funções públicas.
5.8 Deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execução de ordem judicial
expedida na ação civil a que alude esta Lei;
5.9 Recusar, retardar ou omitir dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil
objeto desta Lei, quando requisitados pelo Ministério Público. É um delito de desobediência
específico, que exige o especial fim de agir.
5.10 Deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execução de ordem
judicial expedida nas ações em que for parte ou interveniente o idoso:
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 14. Ramiro Peres
5.12 Negar o acolhimento ou a permanência do idoso, como abrigado, por recusa deste em
outorgar procuração à entidade de atendimento:
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
5.13 Reter o cartão magnético de conta bancária relativa a benefícios, proventos ou pensão
do idoso, bem como qualquer outro documento com objetivo de assegurar recebimento ou
ressarcimento de dívida:
Pena – detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e multa.
5.15 Induzir pessoa idosa sem discernimento de seus atos a outorgar procuração para fins
de administração de bens ou deles dispor livremente:
Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
5.16 Coagir, de qualquer modo, o idoso a doar, contratar, testar ou outorgar procuração:
Pena – reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
5.17 Lavrar ato notarial que envolva pessoa idosa sem discernimento de seus atos, sem a
devida representação legal:
Pena – reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos.
Obras consultadas: Ricardo Antônio Andreucci. Legislação Penal Especial. 8ª Edição. Ed.
Saraiva.
Legislação básica. Arts. 4º e 5º da Lei 8.137/90; Lei 8.176/91; arts. 60 a 81 da Lei. 8.078/90; Lei
1.521/51
144
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 14. Raphael Bevilaqua
na, a exemplo das seguintes: art. 3º, incisos I e II, da Lei nº 1.521/51, bem como art. 4º, incisos I
e II, da Lei nº 8.137/90. Penas – detenção e multa, consoante a Lei nº 1.521/51.
5. Noções Gerais
Princípios: dois princípios devem ser relembrados, tendo em vista a vasta legislação acerca
do mesmo tema: 1. princípio da especialidade – prevalece a norma especial sobre a geral; 2.
princípio ne bis in idem – prevalece somente uma norma. Competência: da JUSTIÇA FEDERAL
para crimes CONTRA A ORDEM ECONÔMICO FINANCEIRA, nos casos determinados por lei (art.
109, VI, CF). Ante a inexistência de previsão legal de competência federal, será competente a
Justiça Federal quando estes delitos forem praticados em detrimento de bens, serviços ou
interesses da União, suas entidades autárquicas ou empresas públicas federais (art. 109, IV, CF).
Responsabilidade penal da pessoa jurídica: não obstante o direito brasileiro ser de raízes
romano-germânicas, que negam a possibilidade de
sociedade cometer delito penal, ao contrário do direito anglo-saxão, que a admite, a CF/88
previu duas
hipóteses de responsabilização penal da pessoa jurídica: (i) crimes ambientais – art. 225,
§3º, CF/88, regulamentado pela Lei nº 9.605/98 (art. 3º); e (ii) Crimes contra ordem econômica
– o art. 173, §4º, CF/88, aduz que a pessoa jurídica será responsabilizada pelos atos praticados
contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular, sujeitando-se a punições
compatíveis com sua natureza. Não houve regulamentação deste dispositivo constitucional no
sentido de atribuir responsabilidade penal à pessoa jurídica por crimes contra a ordem
econômica, entretanto, parte da doutrina defende esta possibilidade. Realização de perícia
para configuração do crime de venda de produto impróprio para consumo – a jurisprudência
do STJ (consolidando-se nas duas turmas) e do STF tem se firmado no sentido da necessidade
da realização do exame, tendo em vista que deve haver perigo concreto para haver tipicidade
material do crime de venda de matéria prima ou mercadoria em condição imprópria para o
consumo (assim, o crime não seria de perigo abstrato):
“HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO. ART.
7.º, INCISO IX, DA LEI N.º 8.137/90. INDICIAMENTO FORMAL APÓS O RECEBIMENTO DA
DENÚNCIA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO. MERCADORIA IMPRÓPRIA PARA
CONSUMO. PERÍCIA. NECESSIDADE PARA CONSTATAÇÃO DA NOCIVIDADE DO PRODUTO
APREENDIDO. ORDEM CONCEDIDA. 1. É consolidada a jurisprudência desta Corte no sentido de
que constitui constrangimento ilegal o indiciamento formal do acusado após recebida a inicial
acusatória. 2. Para caracterizar o elemento objetivo do crime previsto no art. 7.º, inciso IX, da
Lei n.º 8.137/90, referente a mercadoria "em condições impróprias ao consumo", faz-se
indispensável a demonstração inequívoca da potencialidade lesiva ao consumidor final. 3. No
caso, evidenciam os autos, mormente a sentença condenatória e o acórdão que a confirmou,
que não houve a realização de perícia
para atestar a nocividade dos produtos apreendidos. 4. Ordem concedida para anular o
indiciamento formal do Paciente e trancar a ação penal.” (STJ, HC 132257 / SP, Ministra LAURITA
VAZ, T5, julgado em 23/08/2011).
“AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. CRIME CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO.
ART. 7º, INCISO IX, DA LEI Nº 8.137/1990. PRODUTO IMPRÓPRIO PARA CONSUMO. PERÍCIA.
NECESSIDADE PARA CONSTATAÇÃO DA NOCIVIDADE DO PRODUTO APREENDIDO. AUSÊNCIA DE
FUNDAMENTOS IDÔNEOS A INFIRMAR A DECISÃO AGRAVADA. 1 - À míngua de argumentos
idôneos a infirmar a decisão agravada, mantenho-a por seus próprios fundamentos. 2 - Agravo
regimental a que se nega provimento.” (STJ, AgRg no REsp 1202213/RS, Ministro HAROLDO
RODRIGUES, T6, julgado em 19/05/2011).
145
ITEM A. O erro no Direito Penal: espécies, requisitos e
consequências.
Obras consultadas: Tratado de Direito Penal: parte geral. Cezar Roberto Bitencourt (2010).
Curso de Direito Penal: Parte Geral. Rogério Greco (2011). Guilherme de Souza Nucci. Código
Penal Comentado (2010). Resumo 25º CPR.
1 – Erro de tipo: Entende-se por erro de tipo aquele que recai sobre as elementares,
circunstâncias ou qualquer dado que se agregue à determinada figura típica ou ainda aquele
incidente sobre os pressupostos de fato de uma causa de justificação (erro de tipo permissivo).
O erro de tipo é o reverso do dolo do tipo: quem atua 'não sabe o que faz', faltando-lhe, para o
dolo do tipo, a representação necessária (falsa representação da realidade). Falta ao agente a
consciência de que pratica uma infração penal, afastando-se, portanto, o dolo (vontade livre e
consciente de praticar a conduta incriminada). 1.1. Espécies: Essencial, Acidental. Essencial:
recai sobre circunstância que configura elemento essencial do tipo; percepção da realidade
sobre um elemento do crime. Pode ocorrer nos crimes omissivos impróprios, por ex. quando o
agente desconhece sua posição de garantidor. Quando inevitável (não deriva de culpa), afasta o
dolo e a culpa, excluindo a tipicidade; quando evitável (provem da culpa do agente) também
exclui o dolo, mas permite a punição a título de culpa. Acidental: recai sobre dados diversos dos
elementos constitutivos do tipo penal (ou seja, sobre as circunstancias e fatores irrelevantes da
figura típica. A infração penal subsiste. Ocorre nas seguintes situações: (i) erro sobre a pessoa –
art. 20, §3º, CP; (ii) erro sobre o objeto; (iii) erro sobre as qualificadoras: o agente responde
apenas pelo crime efetivamente praticado; (iv) erro sobre o nexo causal (aberratio ictus): o
sujeito, acreditando ter produzido o resultado, pratica nova conduta com finalidade diversa e ao
final se constata que foi esta ultima que produziu o resultado; é irrelevante para o direito penal;
o dolo é geral e envolve todo o desenrolar da ação típica; (v) erro na execução (aberratio ictus –
art. 73, CP): o agente não se engana quanto à pessoa que desejava atacar, mas age de modo
desastrado, errando seu alvo e acertando pessoa diversa. Espécies: (a) com unidade simples: o
agente atinge apenas a pessoa diversa da desejada, sendo punido cf. art. 20, §3º; (b) com
unidade complexa: atinge a pessoa inicialmente desejada e outra pessoa; aplica-se a regra do
concurso formal próprio. Caso haja dolo direto ou mesmo eventual em relação às demais
pessoas atingidas, aplica-se a regra do concurso formal impróprio; (vi) resultado diverso do
pretendido (aberratio criminis - art. 74, CP): o agente desejava cometer um crime, mas, por erro
na execução, acaba por cometer outro. Espécies: (a) com unidade simples: o agente atinge
somente bem jurídico diverso do pretendido, respondendo por culpa, se o fato for previsto
como crime culposo. Entretanto, se o resultado previsto como crime culposo for menos grave
ou se o crime não tiver modalidade culposa, deve-se desprezar a regra do art. 74, segundo
parte da doutrina; (b) com unidade complexa: atinge o bem jurídico desejado e, culposamente,
outro bem; aplica-se a regra do concurso formal próprio. Caso haja dolo direto ou mesmo
eventual em relação aos demais bens atingidos, aplica-se a regra do concurso formal impróprio.
1.2. Consequências. Em regra, o erro de tipo exclui o dolo, e impede a configuração do delito.
Entretanto, como visto, há situações em que se permite a punição em virtude de sua conduta
culposa, se houver previsão legal. Pode-se falar então em erro de tipo invencível (escusável,
justificável, inevitável) e erro de tipo vencível (inescusável, injustificável, evitável).
Ocorre o erro de tipo invencível quando o agente, nas circunstâncias em que se encontrava,
não tinha como evitá-lo, mesmo tomando todas as cautelas necessárias. Sendo invencível o
erro, afasta-se o dolo e o fato é atípico (a ausência de qualquer dos elementos do tipo elimina o
próprio tipo). Tem-se como evitável o erro naquelas situações em que, se o agente tivesse
atuado com a diligência exigida, poderia ter evitado o resultado. Sendo evitável o erro, embora
o agente não responda pelo resultado a título de dolo, poderá ser-lhe atribuído a título de
culpa, se houver previsão legal para esta modalidade de conduta.
2 – O erro e as descriminantes putativas: As descriminantes são as causas legais que afastam
a ilicitude da conduta do agente (legítima defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 15. Renan Paes Felix
do dever legal e exercício regular de direito). A putatividade se refere àquelas situações
imaginárias, que só existem na mente do agente. Somente o agente acredita, por erro, que
aquela situação existe. As descriminantes putativas são, portanto, aquelas situações em que
agente imagina, por erro, estar em uma situação de descriminante, quando na verdade não
está. O agente, por exemplo, atua pensando estar em legítima defesa. Esses erros de tipo
permissivo, sobre as descriminantes putativas, podem ser escusáveis ou inescusáveis (art. 20, §
1º, CP). Para que se tenha um erro de tipo, nas hipóteses de descriminantes putativas, é preciso
que o agente erre sobre uma situação de fato que, se existisse, tornaria a ação legítima.
Quando o erro do agente recair sobre a existência ou mesmo sobre os limites de uma causa de
justificação, o problema não se resolve como erro de tipo, mas, sim, como erro de proibição,
nos termos do art. 21 do Código Penal. 2.1. As descriminantes putativas e as teorias
extremada e limitada da culpabilidade: Segundo Assis Toledo, para a teoria extremada da
culpabilidade, todo e qualquer erro que recaia sobre uma causa de justificação é erro de
proibição. Na teoria limitada da culpabilidade, se o erro do agente recair sobre uma situação
fática, estaremos diante de um erro de tipo permissivo; caso o erro do agente não recaia sobre
uma situação de fato, mas sim sobre os limites ou a própria existência genérica de uma causa
de justificação, o erro passa a ser o de proibição. O CP adotou a teoria limitada da culpabilidade,
conforme item 17 de sua Exposição de Motivos. Para Luiz Flávio Gomes, o erro de tipo
permissivo, segundo a moderna visão da culpabilidade, não é um erro de tipo incriminador
excludente do dolo nem pode ser tratado como erro de proibição: é um erro sui generis,
excludente da culpabilidade dolosa. Assim, sendo invencível, exclui a culpabilidade dolosa, não
restando responsabilidade penal para o agente; se vencível, o agente responde pela
culpabilidade negligente (pela pena do crime culposo, se previsto em lei). Bitencourt afirma que
o erro de tipo permissivo poderia constituir uma terceira espécie de erro, sendo um misto de
erro de tipo e erro de proibição indireto, pois o erro se constitui somente na crença do autor de
que a norma proibitiva é afastada, excepcionalmente, diante de uma proposição permissiva.
3 – Erro de proibição: É o erro incidente sobre a ilicitude do fato. O agente atua sem a
consciência de ilicitude, servindo, pois, de excludente de culpabilidade. Apesar de ser situação
excepcional, é possível que o agente pratique uma conduta típica sem ter noção de que é
proibida. Exemplo dado por Nucci: um soldado, perdido de seu pelotão, sem saber que a paz foi
celebrada, mata um inimigo, acreditando ainda estar em guerra. Trata-se de um erro quanto à
ilicitude do fato, uma vez que, durante o período de guerra, é lícito eliminar o inimigo. 3.1.
Modalidades de erro de proibição (sobre a ilicitude): a) erro de proibição direto: o agente
engana-se a respeito da norma proibitiva; b) erro mandamental: ocorre nos crimes omissivos,
próprios ou impróprios. O erro recai sobre uma norma mandamental, sobre uma norma
imperativa, sobre uma norma que manda fazer. Se alguém deixa de prestar socorro, por
exemplo, porque acredita, erroneamente, que essa prestação de socorro lhe acarretaria risco
pessoal, comete erro de tipo. Agora, se esse mesmo alguém, embora consciente da ausência de
risco pessoal, consciente da situação de perigo, da necessidade de socorro, deixar de prestá-lo,
por que acredita que não está obrigado, incorre em erro de proibição; c) erro de proibição
indireto: é o erro de permissão, porque o autor não crê que o fato seja lícito simplesmente, mas
porque desconhece a ilicitude, no caso concreto, em razão da suposição errônea da existência
de uma proposição permissiva (causa de justificação).
4 – Erro culturalmente condicionado (Zaffaroni): Espécies: (i) erro de compreensão: não é
exigível do agente a possibilidade de entender a antijuridicidade do fato, no sentido de
internalizar as normas. Nesse caso, há erro de proibição invencível. Aplica‐se, em alguns casos, à
situação penal dos índios; (ii) A consciência dissidente, por si só, não afasta a culpabilidade, mas
haverá situações em que mesmo a pessoa tendo conhecimento da proibição e da ausência de
permissão legal, não será possível dela exigir a sua interiorização; (iii) justificativa putativa: é
caso de erro de tipo. Um indígena vê o não índio como inimigo, o que pode justificar atitudes
contrarias ao direito.
Obs.: Para aprofundar o tema e evitar desnecessárias repetições, confira-se o texto que consta
no dropbox “O tratamento penal e processual do indígena no marco da plurietnicidade e
multiculturalidade”, do colega Alexandre Augusto.
3
GRUPO I – DIREITO PENAL
PONTO N. 15. Renata Maia da Silva
ITEM B: Crimes contra o patrimônio: furto, roubo, extorsão e dano.
Obra consultada:
Luiz Regis Prado. Curso de Direito Penal Brasileiro – Volume 2 – Parte especial – arts. 121 a 249.
8ª edição. Ed. Revista dos Tribunais.
Legislação básica.
Arts 155, 156, 157, 158, 159, 160, 163, 164, 165, 166 e 167, Código Penal. Arts. 62 e 63, Lei
9.605/98.
I. Furto
1. Tipo Objetivo. Subtrair (tirar, diminuir), para si ou para outrem, coisa alheia móvel (art.
155, CP), englobando energia elétrica37 ou qualquer outra que tenha valor econômico (§3º). A
doutrina entende que o furto se caracteriza quando o agente subtrai a energia elétrica antes do
medidor. No entanto, se ele utiliza qualquer instrumento para viciar o medidor, cuida-se de
estelionato. O furto de uso é conduta atípica. OBS: subtração por arrebatamento – quando o
sujeito ativo arrebata do pescoço, das mãos, do pulso da vítima a coisa que pretende furtar,
majoritariamente, entende-se cuidar-se de furto, já que o agente não busca reduzir a
possibilidade de resistência da vítima, somente exercendo violência sobre a coisa (Prado, pp.
303-304). 2. Bem jurídico tutelado. A propriedade, a posse e a detenção. 3. Sujeito Ativo.
Qualquer pessoa, exceto o proprietário da coisa subtraída. 4. Sujeito Passivo. O proprietário,
possuidor ou detentor. 5. Tipo Subjetivo. O dolo é o elemento subjetivo do injusto (especial fim
de agir consistente no apossamento da coisa subtraída, para si ou para outrem). Não é
necessário o ânimo de lucro. 6. Consumação e Tentativa. STF e STJ adotam a Teoria da Amotio
ou Apprehensio, consoante a qual o crime se consuma com a inversão do domínio da res
furtiva, ainda que o agente esteja sob vigilância da vítima, não sendo mansa e pacífica. (STJ,
AgRg no AREsp 3609). Na doutrina, entretanto, prevalece a filiação à Teoria da Ablatio, que tem
a consumação ocorrida apenas quando há a posse mansa e pacífica da coisa furtada (Prado, p.
303). 7. Causas de aumento de pena e tipos derivados. Há causa de aumento de pena quando
o crime é praticado no repouso noturno (§1º), ainda que a vítima não esteja no imóvel ou não
esteja repousando38. No §2º, há a hipótese do furto privilegiado. No §4º, depara-se com o furto
qualificado, que ocorrerá quando houver destruição ou rompimento de obstáculo à subtração
da coisa (inciso I), abuso de confiança, fraude, escalada ou destreza (inciso II), emprego de
chave falsa (inciso III) e concurso de duas ou mais pessoas (inciso IV). No §5º, há uma espécie
específica de furto qualificado, quando o veículo subtraído vier a ser transportado para outro
Estado ou para o exterior. OBS. O art. 156 do CP prevê o furto de coisa comum, que é delito
especial próprio, ou seja, restringe o número de potenciais autores, consistindo em subtrair o
condômino, co-herdeiro ou sócio, para si ou para outrem, a quem legitimamente a detém, a
coisa comum. 8. Ação Penal. Pública incondicionada. 9. Jurisprudência. (i) Entende o STJ que a
existência de sistema eletrônico de vigilância, alarmes ou seguranças não consubstancia crime
impossível (AgRg no Resp 1133055). (ii) Se o agente quebra o vidro do veículo para furtar o
próprio veículo, o STJ entendia que não incide a qualificadora, porém se quebra para furtar algo
dentro do veículo, incide (STJ, HC199386), o que nos parece ilógico. Assim, há entendimento no
STJ de que ambas as hipóteses seriam de furto simples (HC 117620 e AgRg no Resp 922395).
37Recentemente, o STF entendeu que a obtenção clandestina de sinal de TV a cabo não constitui furto, posto que não se trata de energia nem
há verdadeiramente subtração (HC 97261)
38A doutrina entende que se aplica o aumento somente na hipótese do furto simples (NUCCI, 2007, p. 671; PRADO, 2010, p. 304) O STF e o STJ
entendem que se aplica o aumento ainda que a casa não esteja habitada ou que a vítima não esteja repousando, ou que não se trate de
residência.
148
GRUPO I – DIREITO PENAL
PONTO N. 15. Renata Maia da Silva
(iii) O STF e o STJ vem admitindo a possibilidade de furto qualificado-privilegiado, desde que
compatíveis a qualificadora com os requisitos do crime privilegiado. (STF, STJ, AgRg no Resp
1111797, STJ, Eresp 842425).
II. Roubo
1. Tipo Objetivo. Subtrair coisa alheia móvel, para si ou para outrem, [mediante violência ou
grave ameaça a pessoa (violência própria), ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à
impossibilidade de resistência (violência imprópria)] (roubo próprio) [ou quando a violência ou
ameaça é exercida após a subtração, para assegurar a impunidade do crime ou a detenção da
coisa para si ou para terceiros] (roubo impróprio). 2. Bem jurídico tutelado. Inviolabilidade do
patrimônio (propriedade, posse e detenção), liberdade individual e integridade corporal. 3.
Sujeito Ativo. Qualquer pessoa, exceto o proprietário. 4. Sujeito Passivo. Qualquer pessoa,
incluindo o possuidor ou o terceiro que sofra a violência. 5. Tipo Subjetivo. Dolo, representado
pela vontade livre e consciente de realizar a ação típica e o elemento subjetivo do injusto
(especial fim de agir – o apossamento injusto da coisa em benefício próprio ou alheio). 6.
Consumação e Tentativa. a) roubo próprio - aqui, aplicam-se as mesmas considerações feitas
para o furto (vide supra), relativas às teorias da amotio e da ablatio; b) roubo impróprio – a
consumação se dá com o emprego da violência ou grave ameaça à pessoa, logo depois de
subtraída a coisa. No tocante à possibilidade de tentativa, há divergência doutrinária: uma
corrente entende inadmissível, em quanto outra admite o conatus, se a pessoa é flagrada no
momento em que está fazendo o uso de violência ou grave ameaça. 7. Causas de aumento de
pena e tipos derivados. O §2º traz as hipóteses do roubo circunstanciado 39, quais sejam:
emprego de arma de fogo40, concurso de duas ou mais pessoas 41, se a vítima está a serviço de
transporte de valores, se o veículo vier a ser transportado para outro Estado ou país, e se o
agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade. Por fim, o §3º traz a figura
do crime qualificado pelo resultado, que, se for a morte, caracteriza o latrocínio. 8. Ação Penal.
Pública incondicionada. 9. Jurisprudência. Tratando-se de crime contra o patrimônio, entende o
STF que se houver várias mortes mas apenas um patrimônio, trata-se de crime único de
latrocínio (HC71267). Lembrar da Súmula 61042, STF.
III. Extorsão
1. Tipo Objetivo. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a fazer, deixar
de fazer ou tolerar que se faça algo, com o intuito de obter vantagem econômica (art. 158, CP).
Diferencia-se do roubo pelo fato de, neste último, a conduta da vítima é irrelevante para a
subtração da coisa, enquanto que, na extorsão, a participação da vítima é essencial para a
obtenção da vantagem (PRADO, 2010, p. 332). 2. Bem jurídico tutelado. O patrimônio e a
integridade física e psíquica do ser humano. 3. Sujeito Ativo. Qualquer pessoa. 4. Sujeito
Passivo. Qualquer pessoa, inclusive quem sofre o constrangimento sem lesão patrimonial. 5.
Tipo Subjetivo. É o dolo e o elemento subjetivo do injusto consistente no fim de obter indevida
vantagem econômica. 6. Consumação e Tentativa. Trata-se de crime formal, consumando-se
com o emprego da violência ou grave ameaça, independentemente de obtenção da indevida
vantagem. Cabe a tentativa. 7. Causa de aumento de pena e tipos derivados. No §2º, há causa
de aumento de pena pelo concurso de pessoas ou emprego de arma. No §3º, prevê-se a
39Conforme súmula 443, STJ, o aumento deve ser fundamentado, não podendo considerar apenas o número de majorantes.
40Segundo a jurisprudência, não há necessidade de perícia na arma, se for possível confirmar sua potencialidade lesiva de outra forma (HC
103046). Não incide o aumento se a arma for de brinquedo, pois a Súmula 174, STJ, foi cancelada.
41Admite-se o concurso de roubo em concurso de pessoas com quadrilha (vide item 22b, de Direito Penal).
42Há crime de latrocínio, quando o homicídio se consuma, ainda que não realize o agente a subtração de bens da vítima”
149
GRUPO I – DIREITO PENAL
PONTO N. 15. Renata Maia da Silva
hipótese de crime qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte. E, no §4º, prevê-se
o denominado “sequestro-relâmpago”, muito comumente praticado quando a vítima é levada
para o caixa-eletrônico e forçada a fornecer a senha do cartão para que o agente efetue saques
em sua conta corrente. 8. Ação Penal. Pública incondicionada.
IV. Extorsão mediante sequestro
1. Tipo Objetivo. Sequestrar pessoa, isto é, arrebatá-la, tirá-la de circulação, a fim de obter
vantagem (de natureza econômica), como condição ou preço do resgate. 2. Bem jurídico
tutelado. Inviolabilidade patrimonial e liberdade pessoal. 3. Sujeito Ativo. Qualquer pessoa. 4.
Sujeito Passivo. Qualquer pessoa, não sendo necessário que a vítima da privação da liberdade
seja a mesma que sofre a lesão patrimonial. 5. Tipo Subjetivo. O dolo, consistente na vontade
livre e consciente de sequestrar, e o elemento subjetivo do injusto (fim de obter vantagem
indevida). 6. Consumação e Tentativa. É crime formal, consumando-se com o sequestro da
pessoa, independentemente da obtenção da vantagem. 7. Tipos derivados e causa de redução
da pena. No §1º, há a modalidade qualificada, quando o sequestro durar mais de 24 horas, se a
vítima é menor de 18 anos ou maior de 60, ou se o crime é praticado por quadrilha ou bando.
Nos §§2º e 3º, há previsão do crime qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte da
vítima. Por fim, no §4º, há hipótese de delação premiada, autorizando-se a redução da pena do
agente que denunciar os comparsas, facilitando a libertação da vítima. 8. Ação Penal. Pública
incondicionada.
OBS: No art. 160, há o crime de extorsão indireta, caracterizado por exigir ou receber, como
garantia de dívida, documento que pode ensejar procedimento criminal contra a vítima ou
terceiro. Trata-se de crime de mera atividade, na hipótese de exigir, e crime material, na
hipótese de receber.
V. Dano
1. Tipo Objetivo. Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia (art. 163, CP). O dano pode ser
total ou parcial. O objeto material do crime é a coisa alheia (bens móveis ou imóveis, públicos
ou privados). 2. Bem jurídico tutelado. Patrimônio, visando a garantir a integridade da posse e
a propriedade. 3. Sujeito Ativo. Qualquer pessoa; excepcionalmente, o proprietário e o
condômino. 4. Sujeito Passivo. O proprietário ou possuidor. 5. Tipo Subjetivo. Dolo (não
comporta modalidade culposa). 6. Consumação e Tentativa. O crime se consuma com a efetiva
destruição, inutilização ou deterioração da coisa alheia. Admite-se a tentativa. 7. Formas
Qualificadas. Circunstâncias qualificadoras (art. 163, parágrafo único): violência ou grave
ameaça (I); emprego de substância inflamável ou explosiva (II); ser praticado contra a União,
Estados, Municípios, concessionária de serviço público ou S.E.M (III) 43; motivo egoístico ou com
prejuízo considerável à vítima (IV). OBS: No art. 164, tem-se o crime de introduzir ou deixar
animais em propriedade alheia, sem consentimento do proprietário, causando prejuízo. Os
crimes previstos nos arts. 165 e 166 foram tacitamente revogados pelos arts. 62 e 63 da L.
9605/98. 8. Ação Penal. Os crimes do art. 163, caput (dano simples) e inciso IV do parágrafo
único (dano qualificado por motivo egoístico ou com prejuízo considerável para a vítima) e do
art. 164 (introdução ou abandono de animais em propriedade alheia) são de ação penal privada
(art. 167).
43A qualificadora não inclui o DF, autarquias, empresas públicas, permissionárias etc..
150
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 15. Tatiana A. de Andrade Dornelles
ITEM C: Crimes contra o sistema financeiro nacional e mercado de capitais.
Obras consultadas:
BALTAZAR JUNIOR, José Paulo. Crimes Federais. 7º Edição. Ed. Livraria do Advogado. 2011.
MAIA, Rodolfo Tigre. Dos Crimes Contra o Sistema Financeiro Nacional. 1ª Edição. Malheiros
Editores. 1999.
Legislação básica: Lei 7.492/86 e 6.385/64.
Nota: foi utilizado em parte o trabalho anterior do grupo de aprovados no 25º concurso.
Ainda há 3 artigos na Lei 6.385 que cominam crimes contra mercado de capitais. São eles:
Art. 27-C. Manipulação de mercado. Realizar operações simuladas ou executar outras
manobras fraudulentas, com a finalidade de alterar artificialmente o regular funcionamento dos
mercados de valores mobiliários em bolsa de valores, de mercadorias e de futuros, no mercado
de balcão ou no mercado de balcão organizado, com o fim de obter vantagem indevida ou lucro,
para si ou para outrem, ou causar dano a terceiros.
Art. 27-D. Uso de Informação Privilegiada, a qual deveria ter sigilo, para obter vantagens
indevidas. É o famoso Inside Trading.
Art. 27- Exercício Irregular de Cargo, Profissão, Atividade ou Função no mercado de capitais.
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 16. Ricardo Augusto Farias Monteiro
ITEM A: Penas: espécies e fins.
Obras consultadas:
PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal. Vol I. 6ª edição. Ed. RT
GRECCO, Rogerio. Curso de Direito Penal. Vol I. 14ª edição. Ed. Ímpetos
MASSON, Cleber. Direito Penal Esquematizado. vol I.3ª edição. Ed. Método.
Artigo da Ela Wiecko Volkmer de Castilho. Teorias atuais da pena e o Projeto de reforma penal
brasileiro.
Anotações de aula – CURSO ALCANCE.
Legislação básica.
Art. 5º, XXXIX a LIV, da CF. Arts. 32 a 76 do Código Penal.
Nota: o resumo a seguir foi elaborado a partir do trabalho anterior do grupo de aprovados no
25º concurso.
1. Noções gerais: Todo o crime possui o preceito primário, que é a conduta humana
selecionada como tipo penal, e o conceito secundário que é justamente a pena correspondente
ao delito perpetrado.
2. Conceito de pena: Sanção penal é o exercício do ius puniendi do Estado, à luz do devido
processo legal, ao responsável pela prática de um delito.
3. Pena e medida de segurança: Pena não se confunde com medida de segurança, já que
esta é imposta tendo em conta a periculosidade do agente inimputável ou semi-imputável,
enquanto que a pena tem por substrato a culpabilidade do agente imputável ou semi-imputável
(daí se dizer que a culpabilidade é pressuposto para aplicação da pena).
4. Espécies de pena: privativas de liberdade, restritivas de direito e de multa
5. A Pena e o Direito Penal: Classicamente, a pena privativa de liberdade era a principal do
direito penal, consistindo o que a doutrina tem chamado de direito penal de primeira
velocidade – a regra é aplicação desse tipo de pena com todas as garantias processuais-penais
ao agente.
Com a evolução do direito penal e por se vislumbrar o caráter estigmatizante do cárcere, o
direito penal de segunda velocidade passou a aplicar, prioritariamente, a pena restritiva de
direito, de modo a quase nunca segregar o agente ao tempo em que se mitigou alguns cânones
do clássico processo penal (embora aceitar um beneficio para não ser imposta a pena privativa
de liberdade não deva ser interpretado como confissão do delito, o agente, de certa forma, abre
mão de provar a sua inocência).
Terceira velocidade do direito penal (que contempla o Direito Penal do Inimigo) preconiza o
aproveitamento de parte da primeira velocidade (aplicação da pena privativa de liberdade) e
parte da segunda velocidade (arrefecimento do cipoal de garantias processuais).
6. Subdivisão das penas: PRIVATIVA DE LIBERDADE – Reclusão, Detenção e Prisão Simples;
RESTRITIVA DE DIREITOS – Prestação Pecuniária, Perda de Bens e Valores, Prestação de Serviços
à Comunidade, Interdição Temporária de Direitos e Limitação de Final de Semana. A regra é a
acessoriedade das penas restritivas de direito, embora haja previsão de tais tipos de penas
autônomas nos delitos de trânsito e no caso do artigo 28 da Lei 11.343/2006.E há ainda a pena
de MULTA.
155
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 16. Ricardo Augusto Farias Monteiro
- PENA DE RECLUSÃO pode ser cumprida em quaisquer dos regimes previstos (fechado,
semiaberto ou aberto), sendo que a determinação do regime será direcionada pelos seguintes
fatores: tempo da pena – superior a 8 anos, o regime será fechado; superior a 4 e até 8 anos, se
primário, o regime inicial poderá ser o semi-aberto; igual ou inferior a 4 anos, se primário,
iniciará o cumprimento em regime aberto.
Reincidência/primariedade – A regra é o regime fechado para o reincidente,
independentemente da quantidade da pena aplicada. Mas essa regra foi amenizada, ao menos
nos casos de penas igual ou inferior a quatro anos, pelo teor da Súmula n° 269 do STJ “ É
admissível a adoção do regime prisional semiaberto aos reincidentes condenados a pena igual
ou inferior a quatro anos se favoráveis as circunstâncias judiciais.”.
Circunstâncias judiciais do art. 59 do CP – A análise dessas circunstâncias é de suma
importância, pois pode ser o caso de um agente primário receber um regime mais rigoroso do
que o previsto para a quantidade da pena efetivamente aplicada. No entanto, essa possibilidade
exige acurada fundamentação, demonstrando a imprescindibilidade desse gravame, tendo em
vista o teor da Súmula 719 do STF – “a imposição de regime de cumprimento mais severo do
que a pena aplicada permitir exige motivação idônea”.
- PENA DE DETENÇÃO – Esse tipo de pena tem o seu inicio no regime semiaberto, não
importa a quantidade da pena nem se o agente é reincidente ou primário. Ou seja, o regime
inicial da pena de detenção não será o fechado, podendo, posteriormente, haver a regressão.
Assim, o reincidente condenado à detenção cumprirá a pena no regime inicial semiaberto; já o
primário condenado a pena superior a quatro anos, cumprirá a pena no regime inicial semi-
aberto, e se condenado a pena inferior a quatro anos terá o regime inicial aberto.
Fundamentadamente, poder ser o caso de se aplicar o regime semiaberto a condenado a pena
igual ou inferior a quatro anos.
Os Arts 69, 92, II e 97, CP - regras diferenciadores entre as penas de detenção e de reclusão;
- PENA DE PRISÃO SIMPLES – Se aplica só às contravenções penais e, nos termos do Art. 6º
do Decreto-Lei 3688/1941, deve ser cumprido sem rigor penitenciário em estabelecimento
especial ou seção especial de prisão comum. O agente que cumpre esse tipo de pena deve ficar
separado dos condenados à pena de reclusão ou detenção.
Quanto à PENA DE MULTA, não é prevista para todos os crimes. Para a quantificação dos
dias-multa visualiza-se a proporcionalidade da pena privativa de liberdade aplicada e para o
cálculo do valor de cada dia-multa deve ser levada em conta a condição econômica do agente.
Há o entendimento de que nos tipos em que há a previsão alternativa da pena de multa,
caberia a suspensão condicional do processo, ainda que a pena mínima seja superior a um ano.
FINS DA PENA – A esse respeito, há três teorias: Teoria Absoluta (Finalidade Retributiva),
Teoria Relativa (Finalidade Preventiva) e Teoria Mista ou Unificadora (Retributiva e Preventiva).
A TEORIA ABSOLUTA tem raiz no pensamento de Friedrich Hegel e Kant e, sinteticamente,
procura explicar a pena simplesmente como a imposição de um mal àquele que causou um
prejuízo à sociedade por meio de uma conduta criminosa. Não tem finalidade ressocializadora,
pois há a seguinte ideia: “Ao mal do crime, o mal da pena”. A função é meramente retributiva
A TEORIA RELATIVA traz como principal meta a prevenção. Interessa menos a punição e mais
a não realização de mais crimes futuramente. A prevenção é geral (dirigida a toda a sociedade)
e especial (direcionada ao agente criminoso). A prevenção geral pode ser NEGATIVA, em que se
busca dissuadir na prática do crime os membros da sociedade que ainda não delinquiram.
Busca demonstrar que o crime não compensa. Na faceta POSITIVA, a prevenção geral tem por
escopo reafirmar a existência, vigência e eficácia do direito penal. Ou seja, a intenção é
reafirmar a efetividade do sistema. Há ainda a prevenção especial, que se direcionando ao
agente, pode ser NEGATIVA – buscando intimidá-lo, de modo a que não venha mais a delinquir
156
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 16. Ricardo Augusto Farias Monteiro
– evita a reincidência; e no viés POSITIVO capacitar o agente a ter meios de se realizar fora do
crime (evolução da ideia utópica de ressocialização).
A TEORIA MISTA OU UNIFICADORA foi a adotada pelo CP brasileiro e constitui uma junção
das Teorias Relativa e Absoluta, já que tem como finalidade tanto a reprovação (retribuição)
como a prevenção.
Roxin, propõe a TEORIA DIALÉTICA DA PENA (ou Teoria Unificadora Dialética), advogando
que em cada momento (ou fase) deve prevalecer determinados fins da pena:
- Momento da cominação da penal: prevalece a prevenção geral, limitada pelos princípios da
subsidiariedade e da culpabilidade;
- Momento da imposição da pena: prevalece, em igualdade de condições, as teorias da
prevenção geral e da prevenção especial, limitadas pelo princípio da culpabilidade;
- Momento da execução da penal: é regida pela prevenção especial, principalmente no seu
aspecto positivo;
“A ideia de retribuição só é levada em consideração por Roxin como limite imposto à
prevenção pela culpabilidade”.
As diversas discussões que estão sendo travadas sobre o direito penal traz como substrato a
pena, em especial a privativa de liberdade, e os muitos efeitos que elas causam naquele sobre
quem ela recai. A esse respeito, tem ganhado espaço a teoria do ABOLICIONISMO PENAL
(preconiza uma ampla descriminalização e despenalização, já que a realidade estaria
demonstrando a falência dos sistemas penais, pois cresce continuamente os níveis de
reincidência), a teoria DAS JANELAS QUEBRADAS (que, advogando o inverso do abolicionismo,
intenta um maior rigor aos mínimos delitos, tendo raízes em experimentos no campo da
psicologia social norte americana, inspirou a política da “tolerância zero” em Nova York.
Defende que o que desmotiva a prática do crime é a certeza da punição e não,
necessariamente, penas elevadas. Já a JUSTIÇA RESTAURATIVA busca ultrapassar o enfoque do
Direito Penal na pena e, dessa forma, colocando em contato vítima (ou seu representante) e
ofensor, solidificar uma efetiva reparação e superação do mal causado pelo crime.
157
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 16. Ricardo Pael Ardenghi
ITEM B: Crimes contra o patrimônio: esbulho possessório, apropriação indébita e
receptação.
Obras consultadas:
Guilherme de Souza Nucci. Código Penal Comentado. Ed. RT
Legislação básica.
Art. 161, §1º, II, §2º e §3º; art. 168; e art. 180, todos do Código Penal.
1. Esbulho Possessório: “Na mesma pena incorre quem: (…) invade, com violência a pessoa
ou grave ameaça, ou mediante concurso de mais de duas pessoas, terreno ou edifício alheio,
para o fim de esbulho possessório.”
1.1 Noções gerais - Espécie de crime de usurpação punido com detenção de 1 a 6 meses e
multa. Trata-se de crime comum44; formal; de forma livre; comissivo (excepcionalmente
comissivo por omissão); instantâneo; unissubjetivo ou plurissubjetivo; e plurissubsistente,
admitindo, portanto, tentativa. Não caracteriza o delito a intenção de turbar ou de causar dano.
O dolo deve vir acompanhado do especial fim de agir de privar o possuidor da sua posse,
elemento subjetivo do tipo específico (intenção de esbulhar). O crime somente ocorre quando a
invasão se dá com violência ou grave ameaça contra a pessoa45, ou, ainda, com concurso
necessário. Nucci destaca discussão sobre se o “concurso de mais de duas pessoas” deve se dar
além do agente, resultando numa exigência de no mínimo 4 pessoas (o autor e outras 3),
segundo entendimento majoritário; ou se tal concurso já envolveria o autor, de modo que
bastariam 3 pessoas (o autor e mais de duas). A pessoa também é objeto material do crime,
pois sofre a violência, sendo que seus objetos jurídicos são o patrimônio e a incolumidade física,
assim como a liberdade do indivíduo. Havendo violência contra a pessoa, esta deve ser punida
em concurso (§2º) e o crime é de ação pública. Procede-se mediante queixa quando for
cometido sem violência e contra propriedade privada (§3º).
2. Apropriação Indébita: “apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a posse ou a
detenção”.
2.1 Noções gerais – Crime punido com reclusão de 1 a 4 anos e multa, classificado como
crime próprio46; material; de forma livre; comissivo, omissivo ou, excepcionalmente, comissivo
por omissão; instantâneo; de dano; unissubjetivo; e unissubsistente ou plurissubsistente,
admitindo, então, tentativa. Não há a forma culposa e o elemento subjetivo é apenas o dolo,
não se exigindo o chamado dolo específico, pois o chamado animus rem sibi habendi é inerente
ao verbo “apropriar-se” (NUCCI). A posse da coisa alheia deve ser prévia e havida de forma
legítima, sem finalidade de apropriação, a qual se dá com a posterior inversão do ânimo da
posse, que é o seu momento consumativo. Não há que se falar em “dolo subsequente”. A coisa
alheia móvel, contudo, há de ser infungível, sob pena de não configurar o crime, haja vista que
coisa fungível pode ser restituída a qualquer tempo. Nucci destaca, porém, a hipótese em que a
coisa fungível é dada ao agente para que ele a entregue a terceiro, quando o apossamento
configuraria o crime. A reparação do dano, via de regra, não afasta a punibilidade (Jurisp.: item
d). Há aumento de pena47 em 1/3 (§1º) quando o agente recebeu a coisa em depósito necessário
“por ocasião de alguma calamidade, como o incêndio, a inundação, o naufrágio ou o saque”
(art. 647, II, do CC); na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário, inventariante,
testamenteiro ou depositário judicial (art. 647, I, do CC); ou em razão de ofício, emprego ou
profissão (art. 649 do CC). Há substituição da pena de reclusão por detenção, redução de 1/3 a
44 Se a vítima for empresa pública federal (CEF), competência da JF (STJ, CC 47687/SP, 3ª S., DJ 28/11/05)
45 Ao criticar a redação legal, Nucci salienta que não existe grave ameaça que não seja contra a pessoa (p. 704).
46 Para mim, Nucci confunde a característica do agente (funcionário público, comerciante, etc.) com a situação em que ele deve se
encontrar no tipo (possuidor). Qualquer um que tenha a posse de coisa alheia móvel e dela se aproprie comete apropriação indébita, não
se exigindo nenhuma característica especial do agente (comum).
47 O art. 102 da Lei n. 10.741/03 (Estatuto do Idoso) traz uma forma especial de apropriação indébita, qualificada pela qualidade da
vítima. Este crime é objeto do ponto 14b.
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 16. Ricardo Pael Ardenghi
2/3 ou aplicação somente de multa no caso de réu primário e coisa de pequeno valor (art. 170
c/c art. 155, §2º).
2.2 Casuística – Jurisprudência do STJ e do STF (2008-2012)
2. Inadimplemento de obrigação contratual não configura o crime: “não repasse de
determinado valor ao constituinte”, “honorários advocatícios” (STF, RHC 104588/RJ, 1ª T., DJe
30-08-11); “ex-comprador”, “amigavelmente desfeito contrato”, “deixa de restituir [o veículo]
incontinenti ao ex-vendedor.” (STF, AP 480/PR, Pleno, DJe 16-09-10); “contrato de leasing” (STJ –
RHC 29289/MG – 5ª Turma – DJe 20/05/2011); “a simples mora na sua entrega (…) não
configura o crime”, “ausência do dolo” (STJ, RHC 22914/BA, 5ª T., DJe 24/11/08);
3. “sacas de café́ (…) reintegração de posse (…) imóvel rural (…) todos os seus acessórios (…)
Ausência do elemento normativo do tipo 'coisa alheia'“ (STF, HC 96422/MG, 1ª T., DJe 04-06-09);
4. “vítima”, “associação [beneficente]”, “maior reprovabilidade” (STJ, HC 220270/SP, 5ª T.,
DJe 08/03/12);
5. “remansosa jurisprudência”, “devolução do 'bem' (...) antes do recebimento da
denúncia, não afasta o dolo”, “arrependimento posterior” (STJ, HC 200135/SP, 6ª T., DJe
08/06/11) 48;
6. “falsidade (…) meio para (…) apropriação indébita (…) absorvido (…) aplicada a regra do
art. 181 do Código Penal, a ré́ fica isenta da pena” (STJ, REsp 1185954/PE, 5ª T., DJe 01/02/11);
7. “personalidade do agente (…) advogado (…) Não há se falar em bis in idem (…)
apropriação indébita cometida em razão de ofício ou profissão” (STJ, HC 120126/SP, 5ª T., DJe
06/09/10);
8. “FGTS. Lesão a interesse particular. Justiça Estadual” (STJ, CC 111316/PA, 3ª S., DJe
18/06/10);
9. “inciso I do §3º do art. 168-A”, “unicamente à apropriação indébita de contribuições
previdenciárias” (STJ, RHC 26423/MG, 5ª T., DJe 22/03/10; HC 116167/SP, 5ª T., DJe 09/11/09);
10. “bicicleta [esquecida]”, “estado de embriaguez”, “não há falar em vontade inequívoca de
não restituir a coisa” (STJ, HC 92828/MS, 6ª T., DJe 08/02/10);
11. “§1º do art. 168 do CPB é circunsta ̂ncia de caráter pessoal”, “incomunicabilidade”, “MPF
pelo desprovimento” (STJ, REsp 1065472/AL, 5ª T. – DJe 24/08/09);
12. Insignificância – SIM: valor inferior a R$ 100,00, independentemente da natureza e das
condições pessoais do réu (STJ: AgRg no Ag 1329672/RS, 5ª T., DJe 25/04/11; HC 171584/SP, 6ª
T., DJe 09/03/11; HC 181756/MG, 6ª T., DJe 09/03/11; REsp 1102105/RS, 5ª T., DJe 03/08/09;
REsp 898392/RS, 5ª T., DJe 09/03/09.
13. Insignificância – NÃO: valor superior a R$ 100,00 (STJ, AgRg no REsp 1167449/ RS, 5ª T.,
DJe 22/11/10).
3. Receptação:
3.1 Simples - “Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou
alheio, coisa que sabe ser produto de crime (própria), ou influir para que terceiro, de boa-fé, a
adquira, receba ou oculte (imprópria)”. Trata-se de crime comum; material na modalidade
própria e formal na imprópria; de forma livre; comissivo (excepcionalmente omissivo
impróprio); instantâneo, mas permanente na modalidade ocultar; unissubjetivo;
plurisubsistente na modalidade própria e, para maior parte da doutrina, unissubsistente na
modalidade imprópria (Nucci discorda, p. 762), apenado com reclusão de 1 a 4 anos e multa. O
tipo é misto alternativo e cumulativo ao mesmo tempo, pois há crime único se praticado mais
de um verbo de cada modalidade, mas concurso entre elas. O autor do crime antecedente não
responde por receptação. O elemento subjetivo do tipo é o dolo, exigindo-se dolo direto, que
deve abranger a origem ilícita da coisa (para alguns: elemento subjetivo específico) e ser
concomitante com a conduta, não se admitindo dolo subsequente. A coisa deve ser alheia,
móvel e ter valor econômico (Jurisp.: item c). Deve, ainda, ser produto de crime, não
contravenção, não se exigindo que haja condenação pelo crime antecedente ou mesmo que ele
seja punível (art. 108 do CP), podendo sua existência ser provada no processo que apura a
receptação. Também não interfere o fato de ser “desconhecido ou isento de pena o autor do
crime de que proveio a coisa” (§4º), nem se exige que o crime antecedente seja contra o
patrimônio. Se o agente for primário e a coisa de pequeno valor – não pode haver outras
exigências (Jurisp.: item h) –, haverá substituição da pena de reclusão por detenção, redução de
48 Porém: “advogado que deixou de repassar a clientes quantia recebida em razão de ação trabalhista não há de ir adiante”,
“ressarcimento dos valores” (STJ, RHC 25091/MS, 6ª T., DJe 17/05/10).
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 16. Ricardo Pael Ardenghi
1/3 a 2/3 ou aplicação somente de multa (art. 180, §5º, c/c art. 155, §2º). Para Nucci não há
vedação à aplicação de tal dispositivo também à receptação qualificada, que é dolosa (p. 772).
3.2 Qualificada - “Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito,
desmontar, montar, remontar, vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito
próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial [ainda que na forma de
comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercício em residência (§2º)], coisa que deve
saber ser produto de crime” (§1º). Punida com reclusão de 3 a 8 anos e multa. Trata-se de crime
próprio; material; de forma livre; comissivo (excepcionalmente omissivo impróprio);
instantâneo, mas permanente nas modalidades “ter em depósito”, “expor à venda” e “ocultar”
(Jurisp.: item f); de dano; unissubjetivo; e plurissubsistente, admitindo, portanto, tentativa. Seu
advento gerou grande polêmica, tendo grande parte da doutrina se posicionado pela
inconstitucionalidade (DAMÁSIO, DELMANTO e SILVA FRANCO, p.ex.), por ofensa aos princípios
da proporcionalidade e da individualização da pena. Prevaleceu, contudo, o entendimento no
sentido de que a pena mais grave se justifica pela qualidade do agente (NUCCI), sendo possível
a sua punição tanto por dolo direto quanto eventual, pois é a expressão “que sabe”, isolada, que
exclui o dolo eventual, e não o inverso, estando implícito na expressão “que deve saber” o dolo
direto. Afastada a inconstitucionalidade e o STJ vem negando a aplicação a pena do caput à
forma qualificada (Jurisp.: item a). Mas há divergência na 6ª Turma.
3.3 Culposa49 - “Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre
o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio
criminoso” (§3º). Punida com detenção de 1 mês a 1 ano ou multa. Trata-se de crime comum;
material; de forma livre; comissivo (ou omissivo impróprio); instantâneo; de dano;
unissubjetivo; e plurissubsistente, mas não admite tentativa por se culposo. O agente pode
provar que tomou as cautelas devidas. Há possibilidade de perdão judicial quando o criminoso é
primário e outras circunstâncias judiciais o recomendem, como reduzido valor da coisa, bons
antecedentes ou culpa levíssima (§5º).
3.4 Qualificada pela propriedade do bem - A pena do caput é aplicada em dobro se o objeto
do crime forem bens públicos (§6º), o que deve ser abrangido pelo dolo. Receptação de bens da
ECT é qualificada (Jurisp.: item b).
3.5 Casuística – Jurisprudência do STJ e do STF (2008-2012)
a) “§1° do art. 180 (…) dolo eventual (…) não exclui (…) dolo direto”, “condição do agente (…)
maior reprovabilidade”, “Inocorrência de violação aos princípios constitucionais da
proporcionalidade e da individualização da pena.” (STF, RE 443388/SP, 2ª T., DJe 10-09-09) 50,
(Nesse sentido: STF, HC 97344/SP, 2ª T., DJe 28-05-09 e STJ, EREsp 879539/SP, 3ª S., DJe
11/04/1151)
b) “causa de aumento do §6º do art. 180 (…) bens da ECT, não implica interpretação
extensiva (…) bens da ECT afetados ao serviço postal compõem o próprio patrimônio da União”
(STF, HC 105542/RS, 1ª T., DJe 11-05-12);
c) “folhas de cheque”, “desprovidos de valor econômico” (STJ, 5ª T., HC 222503/SP, DJe
29/03/12; HC 149914/MS, DJe 08/04/11);
49 O crime de receptação na sua modalidade culposa ganhou mais destaque em razão da representação feita pelo Procurador Regional
da República Manoel Pastana à PR/GO, solicitando investigações relacionadas aos honorários pagos por Carlinhos Cachoeira ao advogado
Márcio Thomaz Bastos (R$ 15 milhões). A manifestação gerou polêmica e embate entre entidades de classe. Segundo o colega Wesley
Miranda, PACELLI achou tudo um absurdo. Disse que não é tarefa do advogado perquirir de onde vem o pagamento, a não ser que ele sabia
(dolo direto, conhecimento) que o dinheiro é produto de crime específico e determinado, com o que poderia responder por receptação.
Abaixo seguem os links da representação e das notas das entidades:
http://www.migalhas.com.br/arquivo_artigo/art20120531-04.pdf (representação)
http://www.conjur.com.br/2012-mai-30/associacoes-entram-briga-honorarios-marcio-thomaz-bastos (notas)
50 Para a 1ª Turma do STF, porém, a suposta inconstitucionalidade do §1º do art. 180 do CP configura “ ofensa constitucional indireta”
(RE 597180 AgR/SC, DJe 18-02-11).
51 Na linha da 3ª Seção do STJ: AgRg no REsp 1294758/RS (5ª T., DJe 23/04/12); REsp 1206041/RS (5ª T., DJe 22/03/12); HC 207544/SP
(5ª T., DJe 19/12/11); REsp 1274234/PR (6ª T., DJe 17/11/11); HC 133493/SP (5ª T., DJe 12/05/11); HC 128253/SC (5ª T., DJe 03/08/09);
AgRg no REsp 1046668/SP (6ª T., DJe 03/11/08).
Contra: “Violação aos Princípios da Razoabilidade e Proporcionalidade, bem como da individualização da pena. Aplicação, no caso, do
preceito secundário da receptação simples” (HC 136157/SP, 6ª T., DJe 15/03/10); “Não é razoável punir mais severamente o agente que
atua com dolo eventual se comparado àquele que age com dolo direto” (HC 115691/PR∫, 6ª T., DJe 22/02/10); “inaplicável (…) o preceito
secundário do art. 180, §1º, do CP, devendo-se prevalecer a previsão de pena da figura simples” (REsp 737184/RS, 6ª T., DJe 09/11/09).
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 16. Ricardo Pael Ardenghi
d) “crime de 'lavagem' (…). Sem esse especial elemento subjetivo (relacionado à finalidade)
descaracteriza-se o crime de ocultação, assumindo a figura típica de receptação” (STJ, APn
472/ES, Corte Especial, DJe 08/09/11);
e) “é perfeitamente legal a prisão em flagrante por receptação qualificada na modalidade
ter em deposito (…) sem mandado judicial (…) crime permanente” (STJ, HC 163378/SP, 5ª T., DJe
13/12/10);
f) Receptação e posse ilegal de arma de fogo - “objetividade jurídica diversa e momentos
consumptivos diferentes, não há que se falar em consunção” (STJ, REsp 1133986/RS, 5ª T., DJe
31/05/10);
g) “receptação dolosa”, “furto privilegiado (…) não se afigura legitima a exigência de
outras condições não dispostas no texto legal” (STJ, REsp 1105241/DF, 5ª Turma, DJe 03/08/09);
h) “simples presunção ou desconfiança da origem ilícita da res”, “sem (…) certeza”,
“modalidade culposa”, “MPF pela concessão da ordem.” (STJ, HC 114525/MS, 5ª T., DJe
29/06/09);
i) “consunção. Impossibilidade. (…) arma com numeração raspada (…) ou o próprio
acusado raspou a numeração (…) conhecia a origem ilícita do revólver” (STJ, AgRg no REsp
908826/RS, 6ª T., DJe 17/11/08, nesse sentido: STJ, HC 55469/RJ, 5ª T., DJe 08/09/08 e AgRg no
REsp 740038/RJ, 6ª T., DJe 10/03/08);
j) Insignificância – SIM: bens em valor inferior a R$ 100,00 (STJ: HC 223832/MG, 5ª T., DJe
02/03/12; HC 191067/MS, 6ª T., DJe 26/03/12; REsp 1113489/RS, 5ª T., DJe 03/08/09).
Insignificância – NÃO: bens em valor superior a R$ 100,00 ou “personalidade voltada à
pratica delitiva” ou “coisa receptada produto de crime cometido com grave ameaça” (STF: RHC
111044/DF, 1ª T., DJe 23-05-12; HC 104490/PR, 2ª T., DJe 16-06-11; STJ: HC 224928/SP, 5ª T., DJe
28/02/12; HC 150151/RS, 5ª T., DJe 13/12/10).
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PONTO N. 16. Roberto Vieira
ITEM C: Tutela Penal de Abusos da Liberdade de Imprensa
A repressão penal dos abusos da liberdade de imprensa foi regulada em parte pela Lei
5.250/1967. Ocorre que o Supremo Tribunal Federal reconheceu a não-recepção da referida Lei
pela Constituição Federal de 1988 na ADPF 130. Dentre todos os argumentos ali exposto, os
seguintes são merecedores de destaque: o reconhecimento de que a plena liberdade de
informação (art. 220, §1º, CF) não admite qualquer tipo de censura prévia; necessidade de
ponderação entre a liberdade de imprensa e os outros bens e direitos acolhidos pela CF (tal
como a honra, a imagem, a intimidade e a vida privada); a repressão através das
responsabilidades civil e penal deve ser proporcional, de modo a evitar que os outros valores
acolhidos pela CF fiquem desprotegidos e, ao mesmo tempo, não ser excessiva a ponto de
restringir a própria liberdade de informação.
O julgamento da ADPF 130 torna necessário o uso do Código Penal para a repressão de
abusos da liberdade de imprensa, em especial os crimes de calúnia, injúria e difamação (arts.
138/145, CP). É relevante atentar para o uso de legislação esparsa, a depender do contexto do
crime (e.g., os crimes dos arts. 323/326 do Código Eleitoral) e do bem jurídico protegido (e.g. os
crimes tipificados na Lei 7.170/1983, bem como o crime de racismo tipificado no art. 20, Lei
7.716/1989).
A declaração de não recepção provocou relevantes alterações em institutos que recebiam
tratamento diferenciado na Lei 5.250/1967, em especial a prescrição (na Lei 5.250/1967 o prazo
era de 2 anos, enquanto no CP obedece a escala do art. 109), a decadência (na Lei 5.250/1967 o
prazo era de 3 meses, enquanto no CP o exercício do direito de queixa deve ocorrer em 6
meses) e a competência (na Lei 5.250,1967 era fixada de modo imutável como o lugar da
impressão ou do estúdio, enquanto no CPP será o local de consumação da infração).
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 17. Tatiana A. de Andrade Dornelles
ITEM A: Penas Privativas de Liberdade.
Obras consultadas: Bitencourt, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal-Parte geral-1. 16ª
Edição. Editora Saraiva- 2011. Ferrajoli, Luigi. Direito e Razão- Teoria do Garantismo Penal. 3ª
Edição. Editora Revista dos Tribunais. 2010. Cunha, Rogério Sanches. CP para concursos.
3ªEdição. Editora Juspodivm. 2010l
Legislação básica: Código Penal ( arts. 33 a 42 do) e LEP.
Nota: o resumo a seguir foi elaborado a partir do trabalho anterior do grupo de aprovados no
25º concurso.
Obras consultadas:
BALTAZAR JÚNIOR, José Paulo. Crimes Federais. 6ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2010;
BITENCOURT, Cezar Roberto. Código Penal Comentado. 4ª ed. São Paulo. Editora Saraiva;
MIRABETE, Júlio Fabrini. Código Penal Interpretado. São Paulo: Editora Atlas, 2001.
Legislação básica.
Código Penal.
Nota: o resumo a seguir foi elaborado a partir do trabalho anterior do grupo de aprovados no
25º concurso.
Obras consultadas:
ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Legislação penal especial. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
BORNIA, Josiane Pilau. Discriminação, preconceito e direito penal. Curitiba: Juruá, 2007.
NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais penais comentadas. São Paulo: Revista
dos Tribunais, 2006.
SILVA, Jose Geraldo da; GENOFRE, Fabiano; LAVORENTI, Wilson. Leis penais especiais anotadas.
8. ed. Campinas: Millennium, 2005.
SILVA JÚNIOR, José. Preconceito racial (racismo). in FRANCO, Alberto Silva; STOCO, Rui. Leis
penais especiais e sua interpretação jurisprudencial. 7. ed. vol. 2. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2002.
SILVEIRA, Fabiano Augusto Martins. Da criminalização do racismo: aspectos jurídicos e
sociocriminológicos. Belo Horizonte: Del Rey, 2006.
Raça: Este é o elemento normativo que gera mais controvérsias em sua definição. O Supremo
Tribunal Federal, no julgamento histórico do Habeas Corpus 82.424, entendeu que a prática do
racismo abrange o antissemitismo, bem como que, em termos biológicos e antropológicos, o
ser humano não pode ser dividido em raças, pois existe apenas uma raça: a raça humana. Com
efeito, o termo raça deve ser compreendido mediante aspectos históricos, políticos, sociais e
culturais, abrangendo todo agrupamento humano que possa ser identificado historicamente,
politicamente, socialmente e culturalmente como distinto dos demais grupos humanos. Além
da definição do termo raça, outro ponto importante do julgamento do STF foi a definição do
termo racismo. Prevaleceu o entendimento de que, para se caracterizar o racismo, deve-se
considerar os elementos de eventual discurso racista. Logo, é racista o discurso que considera
determinado agrupamento humano uma raça inferior, que deve ser tratada como tal.
Os tipos penais da Lei 7.716/89 são complexos ou pluriofensivos, pois tutelam dois bens
jurídicos principais: igualdade e pluralismo, dois direitos fundamentais preciosamente
protegidos pela Constituição da República.
Os crimes da Lei 7.716/89 são exclusivamente dolosos, não existindo modalidade culposa.
Além do dolo, há um elemento subjetivo especial, um especial motivo de agir, que é o
preconceito decorrente de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Afasta-se o delito
se houver outro ânimo, como por exemplo, o de brincar (animus jocandi), fazer uma descrição
ou uma crítica artística, entre outros fatores. Outrossim, como o preconceito é uma condição de
caráter pessoal e elementar dos crimes da Lei 7.716/89, comunica-se aos demais co-autores e
partícipes, nos termos do artigo 30 do Código Penal, desde que estejam na esfera de
conhecimento dos participantes.
168
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 17. Felipe D’Elia Camargo
Os crimes da Lei 7.716/89 são crimes formais, consumam-se com a realização da conduta e
independem da ocorrência do resultado material. A tentativa somente é possível se os crimes
forem praticados por mais de um ato (plurissubsistente), pois só assim eles deixam de ser
unissubsistente, adquirindo um iter criminis que pode ser fracionado.
O artigo 5º., inciso XLII, da Constituição da República estabelece que a prática do racismo
constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei. O
Supremo Tribunal Federal, por sua vez, no julgamento do Habeas Corpus 82.424/RS, defendeu
com fervor a imprescritibilidade da prática do racismo.
Principal tipo penal da lei: Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito
de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Trata-se de crime de forma livre, razão pela
qual restará configurado por qualquer ação ou omissão por meio da qual haja prática de
discriminação, de induzimento ou de incitação à discriminação. O crime pode ocorrer por meios
diretos ou dissimulados, mediante justificativas somente aplicadas à pessoa discriminada. O
presente tipo penal é um tipo subsidiário. A conduta discriminatória somente se enquadrará
aqui se não se subsumir aos tipos penais anteriores (artigos 3º. ao 14), em razão do princípio da
especialidade. O conflito aparente de normas mais controverso reside naquelas situações em
que há dúvida sobre a incidência do presente tipo penal ou do tipo previsto no artigo 140, §3º.
do Código Penal (injúria qualificada por preconceito de raça, cor, etnia, religião, origem ou
condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência). O entendimento dominante é no
sentido de que se a ofensa for dirigida a pessoas determinadas, o crime será o de injúria
qualificada. Por outro lado, se a ofensa for genérica e dirigida a toda uma coletividade, o crime
será o deste artigo.
169
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 18. Tatiana A. de Andrade Dornelles
ITEM A: Penas de Multa.
Obras consultadas: Bitencourt, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal-Parte geral-1. 16ª
Edição. Editora Saraiva- 2011. Ferrajoli, Luigi. Direito e Razão- Teoria do Garantismo Penal. 3ª
Edição. Editora Revista dos Tribunais. 2010. Cunha, Rogério Sanches. CP para concursos.
3ªEdição. Editora Juspodivm. 2010.
Legislação básica: Código Penal ( arts. 39-52).
Nota: o resumo a seguir foi elaborado a partir do trabalho anterior do grupo de aprovados no
25º concurso.
1. O patrimônio é um bem jurídico que pode ser atingido por uma pena. As penas incidentes
sobre o patrimônio são denominadas patrimoniais e, quando impostas em dinheiro,
pecuniárias. A pena de multa é uma espécie de pena patrimonial, de caráter pecuniário,
consistente em pagamento ao fundo penitenciário de quantia fixada na sentença e calculada
em dias-multa. A CF/88, art. 5º, XLVI, exemplifica em suas alíneas as espécies de penas que o
sistema penal brasileiro pode adotar. Por sua vez, o Código Penal, art. 32, adotou o Sistema
Tripartite de Penas, ao verberar que “As penas são: I – privativas de liberdade; II – restritivas de
direitos; III – de multa”. Constata-se que a pena de multa não integra o gênero das penas
restritivas de direitos (sendo que este gênero engloba a “pena de prestação pecuniária”).
2. Natureza jurídica – a multa penal é, desde muito, reconhecida como verdadeira pena pela
doutrina e legislações modernas, estando, desse modo, submetida aos princípios que norteiam
as demais sanções criminais: o da legalidade, da culpabilidade, da individualização da pena e o
do devido processo judicial. A multa, em sendo sanção penal, é rigorosamente pessoal, não se
transmitindo aos herdeiros do réu ou a terceiros.
3. Sistemas de cominação da multa penal: a) sistema clássico de multa – é aquele segundo o
qual o juiz, em uma única operação, condena a uma determinada quantia concreto, de
conformidade com a gravidade da infração e a situação econômica do réu; b) sistema temporal
de multa – concebido na década de 60 por Baumann, na Alemanha, a pena de multa é fixada
em um número preciso de dias, semanas ou meses-tipo correspondentes a cada delito, segundo
as condições pessoais e econômicas do autor, reservando-lhe um mínimo indispensável à sua
manutenção e à de sua família. O pagamento da multa não é efetuado de uma vez e
imediatamente, mas ao longo de certo período de tempo; c) sistema de dias-multa –
originariamente de construção brasileira e não escandinava, foi concebido inicialmente, embora
de forma rudimentar, pelo Código Criminal do Império do Brasil de 1830, em seu artigo 55. O
sistema consiste em determinar a pena de multa não por uma soma em dinheiro (quantidade
fixa), mas por um número de unidades artificiais (dias-multa), segundo a gravidade da infração.
Cada dias-multa equivalerá a certo valor pecuniário, variável de acordo com a situação
econômica do condenado. Divide-se em duas fases distintas: i) preliminarmente é estabelecido
o número de dias-multa segundo a culpabilidade do autor e considerações de ordem
preventiva; ii) após, é arbitrado o valor do dia-multa, em conformidade com a condição
econômica do réu. Esse é o sistema adotado pelo Código Penal em vigor. O cálculo do valor é
realizado nos termos do artigo 68 do Código Penal, aplicando-se as três fases distintas (pena-
base, circunstâncias atenuantes e agravantes causas de diminuição e de aumento).
4. A Lei nº 9.268/1996 atribuiu nova redação ao artigo 51 do Código Penal, estatuindo que,
transitando em julgado, a multa fixada na sentença penal será considerada dívida de valor, com
aplicação da legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública. Com isso, restou revogada a
norma que estipulava a conversão da pena de multa em privativa de liberdade. Após polêmica
inicial, a questão se pacificou, restando reconhecido que o MP não detém legitimidade para
propor ação de execução da pena de multa (AgRg no REsp nº 111981/RS, 6ª Turma, relator
Ministro CELSO LIMONGI, DJe 17/12/2010).
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 18. Tatiana A. de Andrade Dornelles
5. Há, ainda, a multa substitutiva, pela qual a pena privativa de liberdade igual ou inferior a
um ano pode ser substituída pela de multa, observados os critérios do artigo 44 do CP. No caso
de violência doméstica e familiar contra a mulher, o artigo 17 da Lei nº 11.340/2006 veda a
substituição da pena que implique o pagamento isolado de multa.
6. Por fim, cumpre enfatizar que, nos termos do artigo 336 do Código de Processo Penal, com
a redação dada pela Lei nº 12.403/2011, o “dinheiro ou objetos dados como fiança servirão ao
pagamento das custas, da indenização do dano, da prestação pecuniária e da multa, se o réu for
condenado”.
7. Limites do CP: entre 10 e 360 dias-multa e entre 1/30 e 5 vezes o salário mínimo vigente
na época do fato. O juiz pode ainda elevá-la até o triplo. Na execução, será atualizado o valor
pelos índices oficiais de correção monetária. Quando possível, pode ocorrer por desconto no
vencimento ou salário do condenado (de 1/10 a ¼) e pode ser autorizado o pagamento em
parcelas. A execução é suspensa se sobrevém ao condenado doença mental.
8. Ferrajoli: considera a pena pecuniária aberrante por ser impessoal (outra pessoa pode
pagar), desigual (afeta distintamente pobre e rico) e desproporcional (no direito penal mínimo,
as condutas não graves não deveriam estar penalmente tuteladas; e a multa é muito leve para
uma conduta grave. Ou seja, se a pena de multa é suficiente, quer dizer que a conduta não
deveria ser penalizada).
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 18. Hebert Reis Mesquita
ITEM B: Crimes contra a liberdade sexual e corrupção de menores.
Disposições gerais e específicas.
Obras consultadas: Bitencourt, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal-Parte geral-1. 16ª
Edição. Editora Saraiva- 2011. Ferrajoli, Luigi. Direito e Razão- Teoria do Garantismo Penal. 3ª
Edição. Editora Revista dos Tribunais. 2010. Cunha, Rogério Sanches. CP para concursos.
3ªEdição. Editora Juspodivm. 2010.
Nota: o resumo a seguir foi elaborado a partir do trabalho anterior do grupo de aprovados no
25º concurso.
Crimes contra a liberdade sexual: estão dentro do título (dignidade sexual) e constituem o
estupro, a violação sexual mediante fraude e assédio sexual. Ação penal nas três hipóteses:
pública condicionada à representação, salvo se vítima for menor de 18 anos ou for pessoa
vulnerável (art. 225, parág. único), quando será incondicionada. Estupro com lesão grave ou
morte: incondicionada.
Estupro (art. 213) é modalidade especial de constrangimento ilegal. Tipicidade objetiva:
constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar
ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso. Formas qualificadas: se resulta lesão
grave ou se vítima tem entre 14 e 18 anos; se resulta morte culposa (12 a 30 anos). Conjunção
carnal é penetração do pênis na vagina. O tipo incorporou o atentado violento ao pudor. STF
(HC 101860/RS, em 5.4.2011): é hediondo o atentado violento ao pudor com violência
presumida, mesmo que na forma simples. Mulher pode praticar, homem pode ser vítima. Juiz
deve ter atenção em considerar a palavra da vítima se não houve testemunha (evitar a
síndrome da mulher de Potifar (mitologia): mulher rejeitada que imputa falsamente). Crime
antes da Lei 12.015/09 com vítima menor de 14 anos: incide a causa de aumento de pena do
art. 9º da Lei 8.072; é ultrativa por ser mais benéfica que o estupro de vulnerável (art. 17-A).
Crime contra menor de 14 anos após 12.015/09 (mais gravosa) é estupro de vulnerável, estando
derrogado o art. 9º, da 8.072, considerando a revogação expressa do art. 224. No 17-A não se
exige violência ou ameaça, sendo irrelevante o consentimento. Em 2009, ADIN 4301 (Dra.
Deborah Duprat) requereu inconstitucionalidade da interpretação do art. 225 (redação dada
pela 12.015/09) que exija representação no estupro decorrente de lesões graves ou morte, por
ofensa à dignidade da pessoa humana, da proibição de proteção deficiente e violação da
razoabilidade. Julgamento pendente. Para STJ, antes de 2009, não é necessariamente hediondo
se foi estupro presumido (consentimento da menor). A última decisão do STJ (3ª Seção, março
de 2012, Min. Maria Thereza) foi criticada por absolver réu em que vítima menor de 14 anos era
prostituta. Pela decisão, crianças já se dedicavam à prostituição, sendo a presunção de violência
relativa.
Crime foi anterior ao tipo de estupro de vulnerável. E hoje o tipo do 217 - A dispensa
violência/ameaça. Lesões leves do estupro são absorvidas pelo estupro, valorando-se
negativamente na 1ª fase da fixação da pena (art. 59 do CP). Admite-se tentativa. Várias
conjunções carnais feitas por vários agentes: concurso material e não um só estupro qualificado
pelo concurso de agentes. Não se exige perícia se foi com grave ameaça ou violência presumida
(HC 85.955-RJ, Elen Gracie), por não deixar vestígios. Se há violência, deve haver perícia. Hoje,
se o atentado violento ao pudor é mero e evidente “prelúdio ao coito”, há progressão criminosa
e absorção pelo estupro (HC 94714/RS, Carmen Lúcia), sendo circunstância judicial desfavorável
na 1ª fase da fixação da pena (art. 59 do CP). STJ (5ª Turma): estupro é hediondo em qualquer
das formas (HC 228287 / PE – 5/5/2012), ainda que presumido. HC 224296/SP (STJ),
22/03/2012: não cabe reconhecer continuidade delitiva se há habitualidade criminosa (falta de
unidade de desígnio). STJ (5ª T, 3/5/2011, HC 139334 / DF): estupro é misto cumulativo quando
não representar progressão criminosa à prática da conjunção (exe.: sexo oral, anal e conjunção
carnal, sem progressão criminosa, formam cúmulo material, ainda que no mesmo contexto
fático, pois inexiste homogeneidade na execução), mas cabe continuidade delitiva por serem da
mesma espécie (REsp. 970.127/SP, 07.04.2011, citado no HC 139334). Tal entendimento é
retroativo, por ser mais benéfico, cabendo ao juiz da VEC a implementação se já transitou. Em
suma: últimas manifestações do STJ (5ª T): misto cumulativo se não houver progressão
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 18. Hebert Reis Mesquita
criminosa; se houver, atos anteriores serão prelúdio ao estupro, agravado na 1ª fase da pena;
cabe continuidade delitiva, exceto se houver habitualidade criminosa. Súmula 608: no crime de
estupro, praticado mediante violência real, a ação penal é pública incondicionada. Nestor
Távora e Nucci entendem insubsistente a súmula. Pacelli entende em vigor ainda, o que vem ao
encontro à ADIN 4301. STF (HC 102683-RS, Ellen, julgado em 14/12/2010, 2ª T) entendeu em
vigor a súmula: (Caracterizada a ocorrência de violência real no crime de estupro, incide, no
caso, a Súmula 608/STF). O casamento ou união estável posterior do agressor com a vítima não
extingue mais a punibilidade (revogado pela Lei 11.106/05). Mas é ultrativa para quem cometeu
o estupro até 2005, mesmo que só tenha vindo a casar-se em depois da 11.106/05 (STF HC
100882/SP, 2010). Pacelli (pág. 157, livro de 2012) entende que o art. 244-A do ECA (submissão
de criança ou adolescente à exploração sexual) está revogado pelo art. 218-B ( Submeter,
induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém menor de 18
(dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone), em razão
da maior proteção do último.
Violação sexual mediante fraude (art. 215): ter conjunção carnal ou praticar outro ato
libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre
manifestação de vontade da vítima. Há multa se é cometido com o fim de obter vantagem
econômica. O agente induz ou mantém a vítima em erro para com ela manter relação sexual
sem retirar-lhe a consciência ou abusar de condição de vulnerabilidade. Portanto, a vítima da
violação sexual mediante fraude não é vulnerável, ela apenas acredita numa situação que, na
verdade, não existe. Exemplo: indivíduo contrata prostituta, ajusta preço e de má fé não paga.
Diferenças do estupro de vulnerável (por João Paulo Orsini Martinelli, Doutor em penal pela
USP): (a) no 215, a vítima está consciente mas possui uma falsa representação da realidade; no
217-A, não há consciência; (b) no 215, ainda há capacidade de resistência, que poderá ser
utilizada a partir do momento em que se percebe a situação real; no 217-A, a vulnerabilidade
da pessoa inconsciente retira qualquer capacidade de resistência; (c) No 217-A, existe a ideia de
violência presumida, uma vez que o agente aproveita-se da falta de capacidade da vítima; no
215, a vítima é presumidamente capaz, no entanto, a falsa percepção da realidade forma um
consentimento falho, que não existiria caso os fatos fossem realmente conhecidos
Assédio sexual (Art. 216-A): Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou
favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou
ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função. É crime de menor potencial
ofensivo (1 a 2 anos), na forma do caput. Aumenta 1/3 a pena se vítima é menor de 18 anos.
Exige-se que vise a obter vantagem ou favorecimento sexual se há relação de superioridade
profissional (subordinação é elementar). Homem ou mulher como sujeito ativo. É bipróprio.
Exige-se dolo específico: finalidade sexual. Consumação (posição majoritária): com a prática do
ato que evidencie o assédio, não sendo um crime habitual. Posição minoritária: crime habitual,
exigindo-se a insistência.
Corrupção de menores (art. 218): Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a
lascívia de outrem. Não se confunde com o crime de corrupção de menores previsto no antigo
art. 1º da Lei 2.252/54, hoje art. 244-B do ECA. Há concordância por parte do menor. Lascívia
não é ato de libidinagem nem conjunção carnal. Induzir (criar ideia que não existia) significa
fazer nascer na mente do menor de 14 anos a ideia de satisfazer a lascívia de outrem. Diferença
entre induzir e instigar: instigar é estimular ideia já existente, o que é atípico. Conceito de
lascívia: libidinagem, sensualidade exagerada, tesão. Momento da consumação: na prática da
indução, independentemente se a lascívia foi satisfeita pelo menor. Luiz Flávio Gomes sustenta
que este tipo só alcança as práticas sexuais meramente contemplativas (para deleite visual),
como induzir menor a se vestir sensualmente, por exemplo. Levar menor de 14 anos para
assistir à prática de ato de libidinagem será crime será do 218 - A. Se o(a) menor já era
corrompido, há crime assim mesmo. Diferença com o crime do art. 227, §1º, parte inicial, do CP:
o sujeito passivo do crime do novo art. 218 é o menor de 14 anos, enquanto, naquela outra
norma citada, o sujeito passivo é a pessoa maior de 14 e menor de 18. As condutas são as
mesmas.
GRUPO IV– DIREITO PENAL
PONTO N. 18. Thales Fernando Lima
ITEM C: Crimes de Responsabilidade (Lei nº 1.079 e Decreto-Lei nº 201/67).
OBRAS CONSULTADAS: Jurisprudência do STF. Obs.: O resumo deu enfoque nos aspectos
materiais dos crimes de responsabilidade, tendo em vista a existência do mesmo tema no ponto
19.c do programa de processo penal.
52Em razão das alterações promovidas pela Lei nº 10.028/2000, quando se tratar de "crime" contra a lei orçamentária (art. 10, da Lei 1.079/50)
o rol dos agentes sujeitos à responsabilização é maior e aplica-se "aos Presidentes, e respectivos substitutos quando no exercício da Presidência,
dos Tribunais Superiores, dos Tribunais de Contas, dos Tribunais Regionais Federais, do Trabalho e Eleitorais, dos Tribunais de Justiça e de Alçada
dos Estados e do Distrito Federal, e aos Juízes Diretores de Foro ou função equivalente no primeiro grau de jurisdição" (art. 39-A), bem como "I –
ao Advogado-Geral da União; II – aos Procuradores-Gerais do Trabalho, Eleitoral e Militar, aos Procuradores-Gerais de Justiça dos Estados e do
Distrito Federal, aos Procuradores-Gerais dos Estados e do Distrito Federal, e aos membros do Ministério Público da União e dos Estados, da
Advocacia-Geral da União, das Procuradorias dos Estados e do Distrito Federal, quando no exercício de função de chefia das unidades regionais
ou locais das respectivas instituições" (art. 40-A).
174
GRUPO IV– DIREITO PENAL
PONTO N. 18. Thales Fernando Lima
no "impeachment" brasileiro, segundo a Constituição e o direito comum (C.F., 1988, art. 52,
parag. único; Lei n. 1.079, de 1950, artigos 2., 33 e 34), de duas penas: a) perda do cargo; b)
inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública. VI. - A renuncia ao cargo,
apresentada na sessão de julgamento, quando já iniciado este, não paralisa o processo de
"impeachment" (MS 21689, Rel. Min. CARLOS VELLOSO, Tribunal Pleno, DJ 07-04-1995).
O Dec.-Lei 201/67 trata da responsabilidade dos Prefeitos e Vereadores. Diferentemente da
Lei 1.079/50, o Dec.-Lei 201/67, em seu art. 1º, caput, faz alusão a "crimes de responsabilidade"
não para designar infrações de natureza político-administrativa, mas sim para tipificar
verdadeiros ilícitos penais. Com efeito, as condutas tipificadas no rol do art. 1º, do Dec.-Lei
201/67, são crimes comuns, sujeitos que estão ao julgamento do Poder Judiciário,
independentemente do pronunciamento da Câmara dos Vereadores, e são sancionados com
pena de 02 (dois) a 12 (doze) anos de reclusão, nos casos dos incisos I e II, e com pena de 03
(três) meses a 03 (três) anos de detenção nos casos incisos III a XXIII.
Além da pena privativa de liberdade, a condenação em qualquer dos crimes definidos neste
artigo, acarreta a perda de cargo e a inabilitação, pelo prazo de 05 (cinco anos), para o exercício
de cargo ou função pública (art. 1º, § 2º). É pacífico na jurisprudência que a pena de inabilitação
não tem natureza acessória, e assim possui prazo prescricional próprio e distinto da pena
privativa de liberdade. "A pena de inabilitação para cargo ou função pública prevista no § 2º do
artigo 1º do Decreto-Lei nº 201/67 é independente e autônoma em relação à pena privativa
conjuntamente aplicada, sendo que seus prazos prescricionais são distintos" (AI 742100 AgR,
Rel. Min. DIAS TOFFOLI, Primeira Turma, DJe de 29-03-2011).
Os crimes tipificados no art. 1º, do Dec.-Lei 201/67 são crimes próprios. "Os delitos referidos
no art. 1º do Dec.-lei 201/67 só podem ser cometidos por prefeito, em razão do exercício do
cargo ou por quem, temporária ou definitivamente, lhe faça às vezes. Assim, o presidente da
Câmara Municipal, ou os vereadores, ou qualquer servidor do Município não podem ser sujeito
ativo de nenhum daqueles crimes, a não ser como co-partícipe (...)" (RHC 107675, Rel. Min. LUIZ
FUX, Primeira Turma, DJe de 11-11-2011). "A extinção do mandato do prefeito não impede a
instauração de processo pela prática dos crimes previstos no art. 1º do Decreto-Lei 201/1967"
(STF, Súmula 703).
"O Decreto-Lei nº 201/67 está voltado não apenas à proteção do patrimônio público como
também da moral administrativa, pelo que não há como agasalhar a óptica do crime de
bagatela" (HC 85184, Rel. Min. MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, DJ 08-04-2005). Em sentido
contrário: "Habeas Corpus. 2. Ex-prefeito condenado pela prática do crime previsto no art. 1º, II,
do Decreto-Lei 201/1967, por ter utilizado máquinas e caminhões de propriedade da Prefeitura
para efetuar terraplanagem no terreno de sua residência. 3. Aplicação do princípio da
insignificância. Possibilidade. 4. Ordem concedida" (HC 104286, Rel. Min. GILMAR MENDES,
Segunda Turma, DJe de 20-05-2011, RT v. 100, n. 909, 2011, p. 425-434).
Se o art. 1º, do Dec.-Lei 201/67, como visto, tipifica condutas que culminam na
responsabilidade penal do Prefeito, o art. 4º contempla em seus incisos um rol de infrações
político-administrativas sujeitas ao julgamento pela Câmara dos Vereadores e sancionadas com
a cassação do mandato (impeachment). Quanto aos Vereadores, o Dec.-Lei 201/67 não prevê
infrações de cunho penal, mas somente as de natureza político-administrativas previstas no art.
7º, segundo o qual "A Câmara poderá cassar o mandato de Vereador, quando: I - Utilizar-se do
mandato para a prática de atos de corrupção ou de improbidade administrativa; II - Fixar
residência fora do Município; III - Proceder de modo incompatível com a dignidade, da Câmara
ou faltar com o decoro na sua conduta pública".
175
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 19. Tatiana A. de Andrade Dornelles
ITEM A: Penas substitutivas das privativas de liberdade e penas pecuniárias.
Obras consultadas: Bitencourt, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal-Parte geral-1. 16ª
Edição. Editora Saraiva- 2011. Ferrajoli, Luigi. Direito e Razão- Teoria do Garantismo Penal. 3ª
Edição. Editora Revista dos Tribunais. 2010. Cunha, Rogério Sanches. CP para concursos.
3ªEdição. Editora Juspodivm. 2010.
Legislação básica: Código Penal.
Nota: o resumo a seguir foi elaborado a partir do trabalho anterior do grupo de aprovados no
25º concurso.
1. Penas substitutivas das privativas de liberdade. Em nosso país, após o advento da Lei
7.209/1984, responsável pela Parte Geral do Código Penal de 1940, acolheu-se o sistema de
penas alternativas, ou substitutivas. Tais penas têm caráter geral, haja vista que podem
substituir a pena privativa de liberdade abstratamente cominada na parte especial, desde que
presentes os requisitos autorizantes. São, de fato, substitutivas destas, de modo que sua
aplicação exige, em uma etapa preliminar, a fixação pelo juiz do quantum correspondente à
privação de liberdade, para ao depois proceder-se à sua conversão em pena restritiva de
direitos, quando isso for possível.
2. As penas restritivas de direito encontram-se em consonância com as chamadas “Regras de
Tóquio”, que recomendam ao juiz a aplicação, se necessário e conveniente, de “qualquer outra
medida que não envolva detenção pessoal”. As regras de Tóquio foram estabelecidas como
regras mínimas sobre as medidas não-privativas de liberdade no 8° Congresso da ONU,
realizado em 14 de dezembro de 1990.
3. Importante mencionar que embora o artigo 44 do CP diga que as penas podem ser
autônomas, GRECO menciona que até a edição da Lei nº 11.343/2006 não existiam tipos penais
nos quais a pena prevista no seu preceito secundário fosse única e exclusivamente a restrição
de direitos (art. 28). A constitucionalidade desse artigo, inclusive, está sendo analisada pelo STF,
por meio de Repercussão Geral (RE 635659).
4. As penas restritivas, e também substitutivas, se dividem em: a) genéricas: admitem a
aplicação substitutiva em qualquer infração penal, sem exigência específica (prestação
pecuniária, perda de bens e valores, prestação de serviços à comunidade ou a entidades
públicas, limitação de fim de semana). b) específicas: sua aplicação está limitada a
determinados delitos perpetrados no exercício de certas atividades, mediante violação do dever
a elas inerentes, ou a delitos culposos (interdição temporária de direitos). Espécies: a) prestação
pecuniária; b) perda de bens e valores; c) prestação de serviços à comunidade ou a entidades
públicas; d) interdição temporária de direitos; e) limitação de fim de semana.
Requisitos para Substituição:
Objetivos Subjetivos
- pena privativa de liberdade - não reincidência em crime doloso, salvo o disposto
aplicada não superior a 4 anos, no § 3º do artigo 44 do CP (3o Se o condenado for
desde que o crime não tenha sido reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde
cometido com violência ou grave que, em face de condenação anterior, a medida seja
ameaça à pessoa; ou, socialmente recomendável e a reincidência não se tenha
operado em virtude da prática do mesmo crime);
- condenação por crime culposo.
- culpabilidade, antecedentes, conduta social e
personalidade, bem como motivos e circunstâncias que
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 19. Tatiana A. de Andrade Dornelles
indiquem a substituição.
5. Na condenação igual ou inferior a um ano (antes era 6 meses), a substituição pode ser
feita por multa ou por uma pena restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena privativa de
liberdade pode ser substituída por uma pena restritiva de direitos e multa ou por duas
restritivas de direitos. Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição,
desde que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a
reincidência não se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime. O juiz pode deixar
de converter a penas restritiva em caso de condenação à pena privativa, caso seja possível o
condenado a cumprir.
6. Penas Pecuniárias: Penas pecuniárias são espécies de penas restritivas de direito. São
aquelas cumpridas mediante entrega de valores materiais, em geral dinheiro. As espécies de
pena pecuniária são a multa, a prestação pecuniária, a prestação inominada e a perda de bens e
valores. A multa está prevista nos artigos 49 e seguintes do Código Penal. A prestação
pecuniária está prevista no parágrafo 1.º do artigo 45 do Código Penal. Diferenças entre
prestação pecuniária e multa:
Abatimen
Possibili to de
Valor Destinação dade de Eventual
Conversão Indenização
Civil
Prestação 1 a 360 sm (art. Vítima, dependentes ou Sim Sim
Pecuniária 45, p. 1). entidade com destinação
Calculada em social (44, p. (art. 45,
salário mínimos 4) p. 1)
(art. 45, p. 1.)
1/3 a 1.800 sm Fundo Penitenciário
(art. 49). Nacional Não Não
Multa Calculada em (art. 51) (art. 49)
dias-multa. (art. 49)
A prestação inominada vem prevista no parágrafo 2.º do artigo 45 do Código Penal: “No caso
do parágrafo anterior, se houver aceitação do beneficiário, a prestação pecuniária pode consistir
em prestação de outra natureza.” A perda de bens e valores está prevista o parágrafo 3.º do
artigo 45 do Código Penal: “A perda de bens e valores pertencentes aos condenados dar-se-á,
ressalvada a legislação especial, em favor do Fundo Penitenciário Nacional, e seu valor terá
como teto – o que for maior – o montante dos prejuízo causado ou do provento obtido pelo
agente ou por terceiro, em consequência da prática do crime”, e encontra fundamento
constitucional na alínea b do inciso XLVI do artigo 5.º da Constituição Federal. Trata-se de
sanção penal, de caráter confiscatório, levando à apreensão definitiva por parte do Estado de
bens ou valores de origem lícita do indivíduo. Assim, difere-se do confisco-efeito da
condenação, que recai sobre os instrumentos e produtos do crime.
7. Prestação de serviço. Condenações superiores a 6 meses. Se a pena substituída for
superior a um ano, é facultado ao condenado cumprir a pena substitutiva em menor tempo,
nunca inferior à metade da pena privativa de liberdade fixada.
8. Interdição temporária de direitos. I - proibição do exercício de cargo, função ou atividade
pública, bem como de mandato eletivo; II - proibição do exercício de profissão, atividade ou
ofício que dependam de habilitação especial, de licença ou autorização do poder público (a I e II
é aplicada sempre que houver violação dos deveres que lhes são inerentes); III - suspensão de
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 19. Tatiana A. de Andrade Dornelles
autorização ou de habilitação para dirigir veículo; IV – proibição de frequentar determinados
lugares; V - proibição de inscrever-se em concurso, avaliação ou exame públicos. (Incluído pela
Lei nº 12.550, de 2011).
10. Limitação de fim de semana: obrigação de permanecer, aos sábados e domingos, por 5
(cinco) horas diárias, em casa de albergado ou outro estabelecimento adequado.
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 19. Nonom Nononom
ITEM B: Aplicação da pena.
Obras consultadas:
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 19. Tiago Misael de Jesus Martins
ITEM C: A tutela penal da probidade administrativa.
Obras consultadas:
Emerson Garcia e Rogério Pacheco Alves, Improbidade Administrativa, 6ª ed., ed. Lumen Juris,
2011.
Legislação básica.
Lei n. 8.429/92 e CP
Convenções da OEA e da UNU contra a Corrupção
180
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 20. Ticiana a Sales Nogueira
ITEM A: Suspensão condicional da execução da pena. Livramento condicional.
Obras consultadas:
Base do resumo do 25º Concurso
Ricardo Augusto Schmitt. Sentença Penal Condenatória, 6º Ed. Ed Jus Podivm, 2011. Pp 301-
307.
Cleber Masson, Direito Penal, vol.1, 5º Ed. Método, 2011. Pp 765-788.
Legislação básica: 77 e ss. CP e 156, LEP, 83 a 90, CP.
Obras consultadas:
José Paulo Baltazar Junior. Crimes Federais, 7ª Edição. Editora Livraria do Advogado.
Guilherme de Souza Nucci. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. 5ª Ed. RT.
Legislação básica:
Lei nº 8.666/93.
1. Noções Gerais.
Bem jurídico: moralidade administrativa e princípios da competitividade e isonomia.
Sujeito passivo: o ente público e, secundariamente, o servidor e demais licitantes.
Sujeito ativo: é o servidor público (definido segundo o art. 84, que traz definição mais ampla
do que o art. 327 do CP, prevendo, em acréscimo aos entes em que há equiparação com a
condição de servidor, as entidades controladas, direta ou indiretamente pela União, Estados,
Distrito Federal e Municípios) ou o beneficiário, dependendo do tipo. O prefeito municipal,
como ordenador de despesa, pode ser sujeito ativo do crime, não implicando bis in idem a
tipificação também pelo DL 201/67 (STJ, Resp 504785), ressalvada a hipótese de consunção
deste como crime meio (STF, Inq 3108). O servidor público condenado por crime de licitações
estará sujeito à perda do cargo, emprego, função ou mandato eletivo (art. 83).
Tipo subjetivo: todos os tipos penais da Lei n. 8.666/93 são dolosos apenas.
A ação penal é pública incondicionada (com expressa admissão da ação penal privada
subsidiária da pública – art. 103) e independe do resultado de processo perante o TCU.
A competência será da Justiça Federal quando a licitação for promovida pela União,
autarquia, fundação ou empresa pública federal, ou quando o contrato for pago com verba
federal sujeita a prestação de contas ao TCU ou que não tiver sido incorporada ao patrimônio
de outro ente federativo (súmulas 208 e 209 do STJ). O STF tem entendido que, ainda que não
haja verba federal envolvida, pode haver a competência da Justiça Federal, em razão de lesão
de índole eminentemente institucional, como no caso do FUNDEF (HC 100772).
A pena de multa não segue o sistema do CP: deve ser calculada com base em percentual do
valor da vantagem efetivamente obtida ou potencialmente auferível pelo agente, não podendo
ser inferior a 2% nem superior a 5% do valor do contrato licitado, e reverte em favor da Fazenda
Pública lesada no caso concreto.
2
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 20. Victor Oliveira de Queiroz
ITEM C: Crimes de perigo comum, contra a segurança dos meios de
comunicação e transporte e outros serviços públicos.
Obras consultadas:
Guilherme Souza Nucci, Código penal comentado. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,
2012.
Legislação básica.
Código penal brasileiro.
Código de processo penal brasileiro.
Lei 9605/98.
Noções gerais: Os crimes de perigo comum estão previstos nos arts. 250 a 259 do CP. Os
crimes contra a segurança dos meios de comunicação e transporte e outros serviços públicos
estão previstos nos arts. 260 a 266 do CP. Os dois subgrupos, separados em capítulos distintos,
fazem parte do Título VIII, da Parte Especial: Crimes contra a Incolumidade Pública. Enquanto o
delito de dano consuma-se com a efetiva lesão a um bem juridicamente tutelado, o crime de
perigo contenta-se com a mera probabilidade de dano. Segundo Nucci, a melhor teoria
definidora do perigo é a mista ou integrativa, para a qual o perigo é tanto uma hipótese quanto
um trecho da realidade. A finalidade da punição dos crimes de perigo é evitar um mal maior.
Os arts. 250/259 tratam de crimes que oferecem perigo a toda a coletividade (perigo coletivo),
não cingindo seu potencial lesivo a um determinado grupo de pessoas (perigo individual). O
exemplo mais considerável é o incêndio (art. 250), com hipóteses majoradas (§1º). Há
modalidade culposa (§2º). Cuida-se de crime de perigo concreto, sendo indispensável, para sua
consumação, a prova do risco iminente de dano surgido para outrem, ainda que não seja pessoa
determinável. Incêndio é o fogo intenso que tem forte poder de destruição e de causação de
prejuízos. O dolo consiste na vontade de gerar um risco não tolerado a terceiros. Se a intenção é
expor a perigo determinada pessoa, haverá o tipo do art. 132 (perigo para a vida ou saúde de
outrem); se a intenção é atingir determinado patrimônio, ocorre a conduta do art. 163, §único,
II (dano qualificado). É crime comum, formal (o dano é mero exaurimento), comissivo
(excepcionalmente omissivo impróprio), admitindo tentativa na forma plurissubsistente. O
exame pericial é imprescindível, nos termos do art. 173 do CPP; o bem jurídico é a
incolumidade pública. Distingue-se do art. 41 da Lei 9.605/98, que tutela bem jurídico distinto:
mata ou floresta. No mesmo capítulo, há o crime de explosão (art. 251). Possui hipóteses
majoradas (iguais à de incêndio) e modalidade culposa. É de perigo concreto – tal qual o crime
de incêndio, impondo-se o perigo a um nº indeterminado de pessoas. Não havendo perigo
concreto à coletividade, pode estar configurado o art. 28 da Lei de Contravenções Penais. Crime
comum, formal, instantâneo e plurissubsistente. É de forma vinculada, porque o tipo define o
modo de conduta (mediante explosão, arremesso/colocação de engenho de dinamite ou
substância análoga), valendo-se de interpretação analógica. Tutela o mesmo bem que o tipo de
incêndio. Temos no art. 252 o crime de uso de gás tóxico ou asfixiante. Admite a forma culposa
(§único). Crime comum, formal, instantâneo. Com exceção do tipo do art. 253 e 257, todos
crimes de perigo comum são de perigo concreto (a probabilidade de dano deve ser provada
pelo órgão acusatório, em contraposição aos crimes de perigo abstrato, em que a probabilidade
de dano é presumida por lei). Art. 253 prevê o crime de fabrico, fornecimento, aquisição,
posse ou transporte de explosivos ou gás tóxico, ou asfixiante. Crime comum, formal,
instantâneo (porém permanente nas modalidades possuir e transportar), comissivo, de perigo
abstrato. Art. 254 prevê o crime de inundação. É possível a modalidade culposa. Trata-se da
conduta de provocar, dar origem ou produzir alagamento ou enchente. Crime comum, formal,
comissivo, instantâneo, admitindo tentativa na forma plurissubsistente. Art. 255 está o crime
de perigo de inundação. Crime comum, formal, comissivo, instantâneo, não admitindo
tentativa, pois é fase preparatória do crime de inundação (exceção de tipificação de ato
187
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 20. Victor Oliveira de Queiroz
preparatório). Art. 256 prevê o crime de desabamento ou desmoronamento. Admite-se a
forma culposa (§único). Crime comum, formal, comissivo, instantâneo, admitindo tentativa na
forma plurissubsistente. Art. 257 tipifica o crime de subtração, ocultação ou inutilização de
material de salvamento. É indispensável que o instrumento seja especificamente voltado ao
combate ao perigo, à prestação de socorro ou ao salvamento ou manifestamente adequado ao
serviço de debelação do perigo ou de salvamento, como bombas de incêndio, alarmes,
extintores, salva-vidas, escadas de emergência, medicamentos etc. Crime comum, formal,
comissivo, instantâneo (permanente na forma ocultar), de perigo comum abstrato, admitindo
tentativa na forma plurissubsistente. Art. 258 prevê as formas qualificadas do crime de perigo
comum, se, das condutas típicas dos arts. 250 a 257, resultar lesão grave ou morte. Ocorrerá,
assim, crime preterdoloso: o resultado deve resultar somente de culpa (REsp 945311, em
28.4.08). Art. 259 incrimina a difusão de doença ou praga. Nucci diz que o art. 61 da Lei
9605/98 (Disseminar doença ou praga ou espécies que possam causar dano à agricultura, à
pecuária, à fauna, à flora ou aos ecossistemas) prevalece sobre o art. 259 do CP, não somente
por ser lei especial, mas também por ser a mais recente. Ou seja, o art. 259 CP encontra-se
tacitamente revogado. A única alteração com a Lei 9605/98 é a extinção da forma culposa, que
passa a ser fato atípico. Já os crimes contra a segurança dos meios de comunicação,
transportes e outros serviços públicos são todos de perigo concreto, à exceção do art. 264, 265
e 266. O primeiro tipo é o perigo de desastre ferroviário (art. 260, caput). Material rodante são
os veículos ferroviários, que compreendem os de tração, como as locomotivas, e os rebocados,
como os carros de passageiros e vagões de carga. Material de tração é o veículo ferroviário que
serve de tração para os demais. Obra de arte são as estruturas que se repetem ao longo de uma
estrada ou linha férrea, tais como pontes, viadutos, túneis, muros de arrimo e outros. É possível
o concurso com o crime de furto, já que o agente pode retirar, com intuito de lucro, as peças de
linha férrea, assumindo o risco de perigo de desastre ferroviário (dolo eventual). Trata-se de
crime formal, comum, comissivo, instantâneo, admitindo a tentativa. Já o §1º prevê o desastre
ferroviário – crime preterdoloso (dolo no antecedente e culpa no consequente). O §2º prevê o
crime qualificado pelo resultado (culpa tanto no antecedente como no consequente). O §3º
conceitua o que se entende por estrada de ferro (Para os efeitos deste artigo, entende-se por
estrada de ferro qualquer via de comunicação em que circulem veículos de tração mecânica, em
trilhos ou por meio de cabo aéreo). Outro tipo importante é o atentado contra a segurança de
transporte marítimo, fluvial ou aéreo (art. 261), que abriga modalidade (i) preterdolosa,
quando resulta naufrágio, submersão ou encalhe da embarcação ou queda ou destruição da
aeronave; modalidade (ii) qualificada, quando praticado o crime com finalidade de lucro; e
modalidade (iii) culposa, que exige a ocorrência de desastre (TRF1, ACR 200041000026424). Por
ser crime de perigo comum, se aplica apenas a transporte coletivo (público ou privado, de
pessoas e coisas). O tipo não faz menção ao transporte lacustre, aplicando-se o subsidiário art.
262, que serve para qualquer meio de transporte público, porém não abrangidos pelo 260 e
261. Para todos estes tipos (260-263) há modalidade majorada na ocorrência de lesão corporal
(não diz grave) ou morte. Caso Legacy: atentado contra a segurança de transporte aéreo,
modalidade culposa (art. 261, §3º). O STJ decidiu que os controladores de voo responderiam
perante a Justiça comum e perante a Justiça Militar, pelo mesmo fato, sem violação ao ne bis in
idem53. O art. 264 incrimina o arremesse de projétil. Projétil é qualquer objeto sólido que serve
para ser arremessado, inclusive por arma de fogo. Apesar do tipo exigir que o veículo esteja em
movimento, Nucci entende que abrange o veículo que se encontra parado em um
congestionamento, somente não se configurando o art. 264 quando o veículo estiver
estacionado. Trata-se de crime comum, formal, comissivo, instantâneo, de perigo comum
abstrato, admitindo tentativa na forma plurissubsistente. O parágrafo único prevê o crime
qualificado pelo resultado – culpa no consequente (lesão corporal ou morte). O art. 265 prevê o
crime de atentado contra a segurança de serviço de utilidade pública. Trata-se de crime
comum, formal, comissivo, instantâneo, de perigo abstrato, não se punindo a tentativa por ser
crime de atentado, ou seja, a lei já pune como crime consumado o mero início da execução.
Delmanto e Paulo José da Costa Jr. entendem possível a tentativa no caso, reputando porém de
difícil ocorrência prática. Já o art. 266 do CP incrimina a interrupção ou perturbação de serviço
53CC 91016, 3ª Seção, 27.2.09.
188
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 20. Victor Oliveira de Queiroz
telegráfico ou telefônico. Trata-se de crime comum, formal, comissivo, instantâneo, de perigo
comum abstrato, admitindo tentativa na forma plurissubsistente. Dobra-se a pena do agente
quando a interrupção ou perturbação dos serviços ocorrer durante estado de calamidade
pública, tendo em vista a maior reprovabilidade da conduta (parágrafo único).
189
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 21. William Tetsuo Teixeira Iwakiri
ITEM A: Crimes contra a vida. Lesões corporais. Periclitação da vida e da saúde.
Obras consultadas:
MASSON, Cléber. Direito Penal, vol. 2, parte especial (arts. 121 a 212). 3ª Ed. São Paulo: editora
Método, 2011. Págs. 09-156.
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal. 7ª Ed. São Paulo: RT, 2011. Pág. 673.
Legislação básica.
Arts. 121 a 136, Código Penal.
HOMICÍDIO Art. 121 - classificação: crime comum; material; de forma livre; comissivo (em
regra); instantâneo; de dano; unissubjetivo; plurissubsistente. Topografia do artigo: caput –
simples; §1º – doloso privilegiado; §2º – qualificado; §3º – culposo; §4º – circunstanciado e §5º
perdão judicial.
Qualificadoras (§ 2º): I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo
torpe (motivo vil, repugnante, moralmente reprovável); II - motivo fútil (insignificante, de
pequena importância; desproporção entre a causa e o crime); III - emprego de veneno, fogo,
explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso (perfídia ou fraude) ou cruel (sofrimento
intenso, desnecessário), ou de que possa resultar perigo comum (possibilidade de dano a
número indeterminado de pessoas); IV - à traição (quebra de confiança), de emboscada, ou
mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido
(surpresa; efetuar disparo pelas costas); V - assegurar a execução (conexão teleológica), a
ocultação (conexão consequencial), a impunidade ou vantagem de outro crime.
O homicídio privilegiado qualificado (homicídio híbrido) é admitido, diante de qualificadoras
de índole objetiva (inc. III e IV), e não é hediondo, para a doutrina e a jurisprudência
majoritária.
A jurisprudência mais recente do STF tem afastado a possibilidade de homicídio qualificado
com dolo eventual, sustentando que é manifesta a incompatibilidade entre o dolo eventual, que
“implica numa mera aceitação de um resultado possível – e a qualificadora do recurso que
impossibilita a defesa da vítima, a qual reclama um preordenamento do agente à conduta
criminosa” (STF, HC 86.163)54.
INDUZIMENTO, AUXÍLIO OU INSTIGAÇÃO AO SUICÍDIO - Art. 122 - A participação deve ser
secundária, acessória; se for a causa direta e imediata, incorrer-se-á em homicídio. Não há
tentativa deste crime, cuja punibilidade exige o resultado morte ou lesão corporal de natureza
grave (crime condicionado). É atípico diante de lesões leves.
INFANTICÍDIO (Art. 123) - Estado puerperal: perturbação psíquica ou física que afeta a saúde
mental da mulher durante o parto, até o restabelecimento da condição pré-gravidez. Para a
doutrina majoritária, dispensa prova pericial, por ser inerente a todo parto (Masson, p. 63). No
concurso de pessoas, todos os agentes respondem por infanticídio (teoria monista).
ABORTO - Conceito: interrupção da gravidez com a consequente morte do feto. O correto,
segundo o uso médico, seria chamar ‘abortagem’. Aborto é o resultado da abortagem.
Classificação: - natural – interrupção espontânea da gravidez (impunível); - acidental – em
consequência de traumatismo (impunível); - criminoso (arts. 124 a 127); - legal ou permitido –
previsto no art. 128 e no caso de feto anencéfalo (ADPF nº 54 – infor. 661 – alguns ministros
54Em sentido diverso: “o fato de o Recorrente ter assumido o risco de produzir o resultado morte, aspecto caracterizador do dolo eventual, não
exclui a possibilidade de o crime ter sido praticado por motivo fútil, uma vez que o dolo do agente, direto ou indireto, não se confunde com o
motivo que ensejou a conduta, mostrando-se, em princípio, compatíveis entre si.”. (STJ, REsp 912.904/SP)
190
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 21. William Tetsuo Teixeira Iwakiri
consideraram esta conduta atípica, uma vez que o anencéfalo seria absolutamente inviável e,
portanto, não seria titular do direito à vida).
Art. 124 - Auto aborto ou consentir que outrem lho provoque. É crime próprio e de mão
própria, ou seja, admite partícipe, que apenas auxilie a gestante (induzindo, instigando,
custeando etc.). O terceiro que promove a execução material (enfermeira, anestesista etc.),
responde pelo art. 126 (exceção à teoria monista para a maioria da doutrina há adoção neste
caso da teoria pluralista – cada autor pratica um crime próprio, autônomo e distinto dos demais
-, embora haja quem defenda ter sido adotada a teoria dualista – há um crime para os autores e
outro para os partícipes).
Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante. Duas modalidades: não
concordância real (violência, grave ameaça ou fraude) e não concordância presumida (menor de
14 anos, alienada ou débil mental – art. 126, parágrafo único).
Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante. O caput do artigo presume a
capacidade da gestante em consentir, caso contrário a figura é a do parágrafo único.
Art. 127 – Majorantes (apenas para os arts. 125 e 126): I) + 1/3, se, em consequência do
aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza
grave; II) pena duplicada, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.
Art. 128 - Aborto legal ou permitido - Apenas se praticado por médico: I (aborto necessário) -
se não há outro meio de salvar a vida da gestante; II (aborto sentimental) - se a gravidez resulta
de estupro (ou de outro ato libidinoso, ou de estupro de vulnerável, em face da analogia “in
bonam partem”). A natureza jurídica é controversa: exclusão de ilicitude (Masson, p. 78), caso
especial de estado de necessidade (Fragoso, Hungria, Frederico Marques, Paulo José da Costa
Júnior) ou de inexigibilidade de conduta diversa (Rogério Greco). Com a ADPF nº 54, passou a se
admitir, independente de autorização judicial ou outra permissão estatal, o aborto de fetos
anencéfalos, sob o argumento de envolver “a dignidade da pessoa humana, o usufruto da vida,
a liberdade, a autodeterminação, a saúde e o reconhecimento pleno de direitos individuais,
como, direitos sexuais e reprodutivos das mulheres”.
LESÃO CORPORAL - Art. 129 - Ofender a integridade corporal (qualquer alteração anatômica
prejudicial ao corpo humano) ou a saúde (perturbações fisiológicas). É crime comum, doloso
(animus laedendi ou animus vulnerandi), culposo ou preterdoloso (nas suas diversas figuras),
comissivo ou omissivo, material, instantâneo e de resultado. Há causa supralegal de exclusão da
ilicitude por consentimento do ofendido, no caso de lesão corporal leve (ex.: tatuagem,
piercing, artes marciais) (Masson, p. 90). Lesões em atividades desportivas e esterilização de
sexo configuram exercício regular de direito (Masson, p. 91-103). A cirurgia de troca de sexo é
caso de atipicidade material, em face da melhoria da qualidade de vida do paciente e do
propósito terapêutico de adequar a genitália ao sexo psíquico (Resolução nº 1.652/CFM [Nucci,
p. 673]). Os crimes afetos à Lei nº 11.340/2006 (lei Maria da Penha) são de ação penal pública
incondicionada (STF, ADI nº 4424).
DA PERICLITAÇÃO DA VIDA E DA SAÚDE – Reúne crimes de perigo individual, concreto ou
abstrato. A estrutura de alguns destes ilícitos prevê resultado preterdoloso, no caso de lesão
corporal grave/gravíssima ou de morte, seja como majorante (arts. 135 e 135-A), seja como
qualificadora (arts. 133, 134 e 136); caso haja dolo de incorrer nos artigos 121 e 129, §§ 1º e 2º,
estes dois tipos penais prevalecem, por força do princípio da consunção.
Os crimes em questão são: PERIGO DE CONTÁGIO VENÉREO (Art. 130), PERIGO DE CONTÁGIO
DE MOLÉSTIA GRAVE (Art. 131), PERIGO PARA A SAÚDE OU VIDA DE OUTREM (Art. 132),
ABANDONO DE INCAPAZ (Art. 133), EXPOSIÇÃO OU ABANDONO DE RECÉM-NASCIDO (Art. 134),
OMISSÃO DE SOCORRO (Art. 135) CONDICIONAMENTO DE ATENDIMENTO MÉDICO-HOSPITALAR
EMERGENCIAL (Art. 135-A) e MAUS-TRATOS (Art. 136).
191
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 21. Cintia Campos da Silva
ITEM B: Crimes contra a fé pública: falsidades em geral.
Obra consultada:
Rogério Greco. Curso de Direito Penal – Parte Especial. Vol IV. 5ª Edição. Ed.Impetus, 2009.
http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?
n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5333
http://www.pucrs.br/direito/graduacao/tc/tccII/trabalhos2007_2/Viviane_Souza.pdf
Legislação básica.
Arts. 289 a 311 do Código Penal.
1. Noções Gerais.
A fé pública é o bem jurídico tutelado por meio dos tipos penais constantes no título X do
Código Penal. A fé pública é a crença na veracidade dos documentos, símbolos e sinais que são
empregados pelo homem em suas relações em sociedade. Características dos crimes de
falsidade. A imitação da verdade é o elemento típico dos crimes de falso, uma vez que se
pretende enganar o sujeito passivo. Deve haver potencialidade lesiva, ou seja, o falso deve
possuir a capacidade de iludir e causar o dano. Na hipótese da falsificação ser grosseira, a
conduta poderá configurar o crime de estelionato (súmula 73 do STJ). Todos os crimes contra a
fé pública são dolosos.
2. Da Falsificação de papéis públicos (art. 293 CP): crime comum, doloso, comissivo, de
forma livre. O delito se consuma com a prática de qualquer dos comportamentos previstos pelo
art. 293. A tentativa será possível em algumas hipóteses, quando puder ser fracionado o iter
criminis.
3. Petrechos de falsificação (art. 294 CP): Conduta delituosa: consiste em: a) fabricar
(construir, manufaturar, produzir); b) adquirir (obter, comprar); c) fornecer (entregar, propiciar,
prover, abastecer), a título gratuito ou oneroso; d) possuir (ter a posse ou a propriedade); e)
guardar (ter sob a guarda, abrigar). Objeto material: maquinismo, aparelho, instrumento ou
qualquer objeto especialmente destinado à falsificação de quaisquer dos papéis referidos no
art. 293 do CP. Não é preciso que o petrecho sirva exclusivamente à falsificação. Sujeitos do
delito: Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. Sujeito passivo é o Estado. Consumação e
tentativa: Se consuma com a efetiva prática de uma das ações. Admite-se a tentativa.
4. Da falsidade documental - Falsificação do selo ou sinal público (art. 296 CP): Conduta
delituosa: conduta de falsificar, fabricando ou alterando, selo público destinado a autenticar
atos oficiais ou selo ou sinal atribuído por lei a entidade de direito público, ou a autoridade, ou
sinal público de tabelião; usar selo ou sinal falsificado; utilização indevida de selo ou sinal
verdadeiro em prejuízo de outrem ou em proveito próprio ou alheio; alteração, falsificação ou
sinal indevido de marcas (sinais que se fazem em coisas para reconhecê-las), logotipos
(conjuntos de letras unidas em um único tipo, formando siglas ou palavras), siglas (sinais
convencionais) ou quaisquer outros símbolos (sinais, signos) utilizados ou identificadores de
órgãos da Administração Pública. A falsificação poderá ocorrer por meio da contrafação
(fabricação, com a criação de selo ou sinal público) ou pela alteração (modificação do
verdadeiro). Sujeitos do delito: sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. Sujeito passivo,
primeiramente é o Estado, em segundo lugar, o particular eventualmente prejudicado.
Elemento subjetivo: é o dolo. Consumação e tentativa: o crime consuma-se com a falsificação
do selo ou sinal público, na hipótese do caput do artigo 296. Na hipótese do parágrafo primeiro
do art. 296, o crime se consuma com a prática de qualquer dos verbos. Admite-se tentativa.
5. Falsificação de documento público (art. 297 CP): Conduta delituosa: a falsidade que este
art. 297 pune é a material, ou seja, aquela que diz respeito à forma do documento. São duas as
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condutas previstas: a) Falsificar, no todo ou em parte, documento público. É a contrafação, a
formação do documento. No todo, é a contrafação integral; ou em parte, quando se
acrescentam mais dizeres ao documento verdadeiro; b) ou alterar documento público
verdadeiro. Nesta modalidade, há alteração (modificação) do teor formal do documento.
Objeto material: é o documento público, considerando-se como tal o elaborado, de acordo com
as formalidades legais, por funcionário público no desempenho de suas atribuições. É abrangido
pelo conceito tanto o documento formal e substancialmente público, como o formalmente
público, mas substancialmente privado (por exemplo, as declarações de vontade recebidas de
particulares e redigidas por funcionários públicos). Também é incluído o documento público
estrangeiro, desde que originariamente considerado público e atendidas às formalidades legais
exigidas no Brasil. São também documentos públicos as certidões, traslados, fotocópias
autenticadas e o telegrama emitido com os requisitos de documento público. As fotocópias ou
xerox não autenticadas não podem ser considerados documentos, para fins penais. Existe
controvérsia doutrinária sobre a obrigatoriedade de o documento ser um escrito e constante
em um papel (ponto polêmico discutido no item 20). Sujeitos do delito: sujeito ativo pode ser
qualquer pessoa. Se funcionário público vide § 1o. Sujeito passivo é o Estado, primeiramente; e
a pessoa em prejuízo de quem foi o falso praticado, secundariamente. Elemento subjetivo:
exige-se o dolo. Não há punição a título de culpa. Consumação e tentativa: consuma-se com a
efetiva falsificação ou alteração. Admite-se tentativa. Documentos públicos por equiparação
(art. 297, §2º): para fins penais, são equiparados a documento público: a) o documento
emanado de entidade paraestatal; b) o título ao portador ou transmissível por endosso (cheque,
nota promissória, duplicata, warrant, etc.); c) as ações de sociedade comercial; d) os livros
mercantis e o testamento particular (não abrange o codicilo). Figuras equiparadas (art. 297,
§3o): buscando tutelar os interesses da Previdência Social e, subsidiariamente, do próprio
beneficiário, a Lei nº 9.983/00, acrescentou o § 3 o a este art. 297, punindo com as mesmas do
caput aquele que inserir ou fizer inserir, nos documentos que enumera, determinados fatos
falsos ou diversos dos que deveriam constar. O inciso I pune a conduta daquele que insere ou
faz inserir, na folha de pagamento ou em outro documento de informações destinado a fazer
prova perante a Previdência Social, pessoa que não possua a qualidade de segurado obrigatório.
De acordo com o art. 11 da Lei 8213/91, atualizada pelas Leis 9876/99 e 10403/02, entre
outras, são segurados obrigatórios as seguintes pessoas físicas: o empregado, o empregado
doméstico, o contribuinte individual, o trabalhador avulso e o segurado especial. O inciso II
incrimina a conduta de quem inserir ou fizer inserir, na CTPS, ou em documento que deve
produzir efeito perante a Previdência, declaração falsa (contrária à realidade, fictícia) ou diversa
(diferente, distinta) da que deveria ter sido escrita. O inciso III tipifica como crime a conduta
daquele que insere ou faz inserir, em documento contábil ou em qualquer outro referente às
obrigações da empresa perante a Previdência Social, declaração falsa ou diversa da que deveria
ter constado. O objeto material são os documentos enumerados nos incisos I, II e III. Em face da
inserção deste § 3o no art. 297, que cuida da falsificação de documento público, restaram
equiparados a este, além dos já previstos no § 2 o, os documentos mencionados nos incisos I, II,
e III. Sujeito ativo é qualquer pessoa. Tratando-se de funcionário público, não incidirá a causa
especial de aumento de pena do § 1 o, a qual, por sua localização neste artigo, aplica-se apenas
ao caput. Sujeito passivo, primeiramente é o Estado, representado pela Previdência Social,
secundariamente, o segurado e seus dependentes que vierem ser prejudicados. Ao contrário do
caput, a falsidade empregada pelo agente neste § 3 o é a ideológica, que se refere ao conteúdo
do documento. As condutas previstas nos três incisos são comissivas. A inserção de pessoa que
não seja segurado obrigatório, ou de declaração falsa ou diversa da que deveria constar, deve
ser juridicamente relevante e ter potencialidade para prejudicar direitos. Elemento subjetivo é o
dolo. Não há punição a título de culpa. O delito consuma-se com a efetiva inserção do dados
falsos. Outra figura equiparada (art. 297, §4 o): objeto jurídico, objeto material, sujeitos ativo e
passivo idênticos ao § 3o. Enquanto o § 3o trata de condutas comissivas, esta figura equiparada
incrimina condutas omissivas, punindo com as mesmas penas do caput aquele que omitir, nos
mesmos documentos enumerados no § 3o, as seguintes informações: o nome do segurado e
seus dados pessoais, a sua remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de prestação de
serviços. Na primeira hipótese só haverá crime se houver a omissão concomitante do nome dos
segurados e de seus dados pessoais. A omissão empregada pelo agente deve ser juridicamente
relevante e ter potencialidade para prejudicar direitos. Trata-se de crime doloso. Consuma-se a
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PONTO N. 21. Cintia Campos da Silva
partir do momento em que a inserção das informações referidas for juridicamente exigível pela
legislação previdenciária e/ou trabalhista. Não se admite tentativa. Competência dos delitos
previstos no art. 297, §3o e §4o: divergência entre o STF, STJ e o MPF. I) MPF enunciado nº 27
da 2CCR: “A persecução penal relativa aos crimes previstos nos §§ 3º e 4º do art. 297 do Código
Penal é de atribuição do Ministério Público Federal, por ofenderem a Previdência Social”. II) STJ
editou a súmula 62: “Compete à Justiça Estadual processar e julgar o crime de falsa anotação na
Carteira de Trabalho e Previdência Social, atribuído à empresa privada”. Apesar do
entendimento cristalizado na súmula, o STJ possui julgados divergentes, posicionando-se ora
pela competência da Justiça Estadual (CC 20334, 46029, CC 98.006, 100532) ora pela da Federal
(CC 58443, 97485). No conflito de competência n. 99.451, a Corte estabeleceu a seguinte
diferença: “Duas são as situações fáticas que devem ser analisadas para fins de fixação de
competência: (i) a primeira é a hipótese em que determinada empresa privada deixa de anotar
o período de vigência de contrato de trabalho de um empregado na CTPS ou anota período
menor do que o realmente trabalhado com o fito de não reconhecer o vínculo empregatício e
assim frustrar os direitos trabalhistas do indivíduo; (ii) a segunda hipótese é aquela em que são
inseridos dados falsos na CTPS, fazendo constar como período de trabalho que na realidade não
existiu, com o fito de serem criadas condições necessária para se pleitear benefício
previdenciário junto ao INSS. Na primeira, não se vislumbra qualquer prejuízo a bens, serviços
ou interesses da União, senão, por via indireta ou reflexa, do INSS na anotação da carteira, dado
que é na prestação de serviço que se encontra o fato gerador da contribuição previdenciária.
Entendimento da Súmula 62 do STJ. Na segunda, a lesão à União é evidente, porque a conduta é
cometida com a intenção de obter vantagem indevida às custas do patrimônio público”. III) O
STF, na ACO 1479 / PR e na ACO 1310 / SP, decidiu pela atribuição do MPF, pois o objeto jurídico
protegido pelos §§ 3º e 4º do art. 297 do CPB é a fé pública, em especial a veracidade dos
documentos relacionados à Previdência Social. Considerações: prevalece o entendimento de
que não há concurso com o crime de uso previsto no art. 304 do CP. Quando a falsidade do
documento público foi o meio para prática de estelionato, divide-se a jurisprudência e a
doutrina, dando lugar a cinco correntes diferentes: 1) O estelionato absorve a falsidade, quando
esta foi o meio fraudulento empregado para a prática do crime-fim que era o estelionato
(Súmula 17 do STJ – “Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é
por este absorvido”); 2) O crime de falsificação de documento público absorve o crime de
estelionato; 3) Há concurso formal; 4) O crime de falso prevalece sobre o estelionato; 5) Há
concurso material. É necessário exame de corpo de delito. Se a falsidade é usada como crime-
meio para a prática de sonegação fiscal, esta a absorve.
6. Falsificação de documento particular. Conduta delituosa: o que se frauda é a própria
forma do documento, que é alterada, no todo ou em parte, ou é forjada pelo agente, que cria
um documento novo. Objeto material: é o documento particular falsificado ou alterado.
Considera-se como tal o que não está compreendido como documento público, ou que não é a
este equiparado para fins penais. O próprio documento público, quando nulo por falta de
formalidade legal, poderá ser considerado documento particular. Para a lei penal, documento é
todo escrito devido a um autor determinado, contendo exposição de fatos ou declaração de
vontade, dotado de significação ou relevância jurídica (Heleno Fragoso). São requisitos do
documento: a) forma escrita. Não se incluem as fotografias, as reproduções fotográficas
(xerocópias) não autenticadas de documentos, as gravações, pinturas, etc. Deve o escrito ser
feito sobre coisa móvel, transportável e transmissível. Exige-se certa permanência, embora não
precise ser indelével. É irrelevante o meio empregado para escrevê-lo, desde que seja idôneo
para a documentação. No caso de reprodução mecânica é indispensável à subscrição
manuscrita, não se considerando documentos os impressos; b) que tenha autor certo. O escrito
anônimo não é documento. A identificação deve advir da assinatura ou do próprio teor do
documento; c) Seu conteúdo deve expressar manifestação de vontade ou exposição de fatos. A
simples assinatura em papel em branco não é documento, como também não o é o escrito
ininteligível ou desprovido de sentido; d) relevância jurídica. É necessário que seu conteúdo seja
juridicamente apreciável, que possa ter consequência no plano jurídico. Elemento subjetivo.
Somente o dolo. Sujeitos do delito. É crime comum. O sujeito passivo é o Estado e,
secundariamente, a pessoa prejudicada pela falsidade. Consumação e tentativa. Consuma-se
com a efetiva falsificação ou alteração. Admite-se tentativa. Comentários: Não há concurso com
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o crime de uso, previsto no art. 304, segundo a doutrina e jurisprudência dominantes. Quando
a falsidade foi meio para prática de estelionato, vide comentário do artigo anterior.
7. Falsidade ideológica (art. 299 CP). Conduta delituosa: a falsidade que este artigo
incrimina é a ideológica, que se refere ao conteúdo do documento. São três as modalidades
alternativamente previstas: a) Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele
devia constar. A conduta é omissiva; b) Inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser
escrita. O agente, diretamente, insere a declaração; c) Fazer inserir declaração falsa ou diversa
da que devia ser escrito. O comportamento é semelhante, mas o agente atua indiretamente,
fazendo com que outrem insira a declaração falsa ou diversa. Em qualquer das modalidades, é
indispensável que a falsidade seja capaz de enganar e tenha por objeto fato juridicamente
relevante. Quanto à simulação, não é pacífica na doutrina a sua caracterização como falsidade
ideológica. Na hipótese de abuso de folha assinada em branco, exige-se que se trate de papel
entregue ou confiado ao agente para preenchimento, caso contrário, o falso será material.
Objeto material: é o documento público ou particular. Sujeitos do delito: sujeito ativo pode ser
qualquer pessoa. Sujeito passivo, idem ao crime anterior. Elemento subjetivo: trata-se de crime
doloso com especial fim de agir: prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobra
fato juridicamente relevante. Consumação e tentativa: consuma-se no instante em que o
documento é criado, independente de sua utilização. Admite tentativa salvo na hipótese
omissiva.
8. Falso reconhecimento de firma ou letra (art. 300 CP): Conduta delituosa: o núcleo é
reconhecer (atestar, certificar) como verdadeira, no exercício de função pública, firma
(assinatura, seja por extensão ou mesmo abreviada, de alguém) ou letra (sinal gráfico elementar
com que se representa o vocábulo da língua escrita) que não o seja. Objeto material: firma ou
letra que não seja verdadeiro. Sujeitos do delito: trata-se de crime próprio, somente podendo
ser praticado por funcionário com fé pública para reconhecer. Elemento subjetivo: trata-se de
crime doloso. Consumação e tentativa: consuma-se com o efetivo reconhecimento. Admite-se
a tentativa.
9. Certidão ou atestado ideologicamente falso (art. 301 CP): Conduta delituosa: atestar ou
certificar falsamente, em razão de função pública, fato ou circunstância que habilite alguém a
obter cargo público, isenção ou ônus de serviço de caráter público, ou qualquer outra
vantagem. Objeto material: atestado ou certidão falso. Sujeitos do delito: trata-se de crime
próprio, somente podendo ser praticado por funcionário competente. Elemento subjetivo:
trata-se de crime doloso. Consumação e tentativa: consuma-se no instante em que o
documento é criado, independente de sua utilização. Admite-se a tentativa.
10. Falsidade de atestado médico (art. 302 CP): Conduta delituosa: o que se pune é dar
(entregar, fornecer, produzir) atestado falso. A falsidade deve ser praticada por escrito (pois se
trata de atestado) e relacionada com o exercício médico do atestante. A falsidade deve referir-
se a fato juridicamente relevante. Objeto material: é o atestado médico falso. Sujeitos do
delito: crime próprio, somente praticado por médico, no exercício da sua profissão. Elemento
subjetivo: trata-se de crime doloso. Consumação e tentativa: consuma-se com a efetiva entrega
do atestado ao beneficiário ou a outrem.
11. Reprodução ou adulteração de selo ou peça filatélica (art. 303 CP): tipo revogado pelo
art. 39 da Lei n. 6538/1978.
12. Uso de documento falso (art. 304 CP): Conduta delituosa: a conduta punível é fazer uso,
que tem a significação de empregar, utilizar, valer-se. Incrimina-se, assim, o comportamento de
quem faz uso de documento materialmente falsificado, como se fosse autêntico; ou emprega
documento que é ideologicamente falso, como se verdadeiro fosse. A conduta é comissiva e o
documento deve ser utilizado em sua destinação própria, com relevância jurídica. Exige-se o uso
efetivo, não bastando à mera alusão ao documento. Não haverá o crime de uso, se faltar ao
documento requisito necessário à configuração do próprio falso. Objeto material: é qualquer
dos papéis falsificados ou alterados a que se referem os arts. 297 a 302. Sujeitos do delito:
Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa, todavia, predomina o entendimento de que o autor do
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falso não pode responder, também, pelo uso. Sujeito passivo é o Estado primeiramente; a
pessoa prejudicada com o uso, secundariamente. Elemento subjetivo: crime doloso.
Consumação e tentativa. consuma-se com o efetivo uso. É admissível a tentativa. Comentários:
Súmula 200 do STJ: “O Juízo Federal competente para processar e julgar acusado de crime de
uso de passaporte falso é o do lugar onde o delito se consumou”.
13. Supressão de documento (art. 305 CP): Conduta delituosa: são três os núcleos
alternativamente indicados; a) destruir (eliminar, extinguir); b) suprimir (fazer desaparecer sem
destruir nem ocultar); c) ocultar (esconder, colocar em lugar onde não possa ser encontrado).
Objeto material: é documento público ou particular verdadeiro, de que não podia dispor.
Assim, desaparece a ilicitude quando o agente pode, livremente, desfazer-se do documento.
Sujeitos do delito: trata-se de crime comum. Sujeito passivo é o Estado e, secundariamente, a
pessoa prejudicada com a supressão. Elemento subjetivo: trata-se de crime doloso com
especial fim de agir, vale dizer, trazer benefício para si ou outrem ou causar prejuízo alheio. Para
muitos há ainda a finalidade de atentar contra a integridade do documento, como meio de
prova.
14. Falsificação do sinal empregado no contraste de metal precioso ou na fiscalização
alfandegária, ou para outros fins (art. 306 CP): Conduta delituosa: falsificar, fabricando ou
alterando, marca ou sinal empregado pelo poder público no contraste de metal precioso (que
serve para atestar o título ou quilate) ou na fiscalização alfandegária (usado para assinalar as
mercadorias liberadas); ou usar marca ou sinal dessa natureza, falsificado por outrem. Objeto
material: é a marca ou sinal empregado pelo poder público no contraste de metal precioso ou
na fiscalização alfandegária. Sujeitos do delito: crime comum. Na conduta de utilização de
marca ou sinal falsificado, somente poderá ser praticado por quem não for o próprio
falsificador. Sujeito passivo, o Estado. Elemento subjetivo: trata-se de crime doloso.
Consumação e tentativa: consuma-se com a fabricação ou alteração idônea, ou com o uso
efetivo. A tentativa é admissível, embora seja difícil ocorrer na modalidade “usar”. Modalidade
privilegiada: tem incidência se a marca ou sinal falsificado for o usado pela autoridade pública
para o fim de fiscalização sanitária, ou para autenticar ou encerrar determinados objetos, ou
comprovar o cumprimento de formalidade legal.
15. Falsa identidade (art. 307 do CP): Conduta delituosa: a conduta punida é atribuir-se ou
atribuir a terceiro falsa identidade. O silêncio ou consentimento tácito a respeito da falsa
identidade atribuída por outrem não se enquadra no dispositivo. Por identidade, entende-se o
conjunto de caracteres próprios de uma pessoa, que permite identificá-la e distingui-la das
demais. Sujeitos do delito: crime comum. Elemento subjetivo: Trata-se de crime doloso, com
especial fim de agir: obtenção de vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou causar dano a
outrem. Ressalta-se que a vantagem não pode ser econômica, pois assim o agente incorrerá no
delito de estelionato. Consumação e tentativa: consuma-se com a atribuição, sem necessidade
da ocorrência do fim desejado. O delito é expressamente subsidiário, e deve ser absorvido por
outro crime mais grave, quando constitui elemento deste. Autodefesa: o agente que atribui
falsa identidade perante autoridade policial, mesmo que para ocultar maus antecedentes,
incorre no crime em estudo. Nesse sentido, STF: RE 640139 RG e RE 639732 AgR. STJ: HC
151.802/MS. Mas há jurisprudência do STJ em contrário.
16. Uso de documento de identidade alheia (art. 308 do CP): Conduta delituosa: usar
(efetiva utilização), como próprio, passaporte, título de eleitor, caderneta de reservista ou
qualquer documento de identidade alheia; ceder, de forma gratuita ou remunerada, a outrem,
para que o utilize, documento dessa natureza, seja próprio ou de terceiro. Sujeitos do delito:
crime comum. Objeto material: todo documento admitido como prova de identidade.
Elemento subjetivo: trata-se de crime doloso. Consumação e tentativa: consuma-se com o uso
efetivo para prova de identidade, na primeira conduta; na segunda, com a efetiva entrega (em
ambos os casos, sem dependência de outro resultado). Admite-se a tentativa apenas na forma
de ceder. É delito expressamente subsidiário.
17. Fraude de lei sobre estrangeiro (art. 309): Sujeitos do delito: por se tratar de crime
próprio, somente o estrangeiro pode ser o sujeito ativo. Consumação e tentativa: consuma-se
com o efetivo uso do nome que não o seu para entrar ou permanecer, ainda que não consiga
atingir a finalidade. Não se admite a tentativa. Elemento subjetivo: trata-se de crime doloso.
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Modalidade qualificada: atribuir a estrangeiro falsa qualidade (termo amplo, que abrange os
dados que podem servir para identificá-lo), com a finalidade de promover sua entrada em
território nacional; nessa hipótese, o sujeito ativo pode ser qualquer pessoa.
18. Falsidade em prejuízo da nacionalização de sociedade (Simulação da figura de
proprietário ou possuidor em nome próprio) (art. 310): Conduta delituosa: O tipo penal pune
a simulação. Sujeitos do delito: crime comum. Consumação e tentativa: consuma-se com a
efetiva substituição do verdadeiro possuidor ou proprietário. Admite a tentativa. Elemento
subjetivo: trata-se de crime doloso.
19. Adulteração de sinal identificador de veículo automotor (art. 311 CP): Conduta
delituosa: adulterar (mudar, alterar, modificar) ou remarcar (tornar a maca) número de chassi
ou qualquer outro sinal identificador de veículo automotor, de seu componente ou
equipamento, a fim de não permitir identificação original do veículo. Objeto material: número
do chassi ou qualquer outro sinal identificador de veículo automotor, de seu componente ou
equipamento. Sujeitos do delito: Trata-se de crime comum. Sujeito passivo é o Estado e,
secundariamente, o terceiro prejudicado pela adulteração ou remarcação. Elemento subjetivo.
Crime doloso. Consumação e tentativa. Consuma-se com adulteração ou remarcação idônea a
enganar. Admite tentativa.
20. Ponto Polêmico: Documento eletrônico. Conceito: Toda e qualquer representação de
um fato, decodificada por meios utilizados na informática, nas telecomunicações e demais
formas de produção cibernética, não perecível e que possa ser traduzido por meios idôneos de
reprodução. Legislação: a medida provisória n. 2.200-2, primeiro documento legal a tratar do
tema, instituiu a Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileiras, disciplinando a autenticidade,
integralidade e validade jurídica de documentos eletrônicos com assinatura digital. A Lei n°
11.419 de 2006 reforçou o reconhecimento do documento eletrônico e realizou uma série de
definições importantes acerca das relações entre o documento físico e o eletrônico e entre as
noções de original e cópia. Tipos penais protetivos: objetivando proteger a segurança e a
regularidade dos sistemas informatizados de informações ou banco de dados da Administração
Pública, o legislador inseriu no Código Penal os tipos de inserção de dados falsos em sistema de
informações, art. 313-A, e modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações,
art. 313-B. Possibilidade de o documento eletrônico ser objeto material dos crimes contra a fé
pública: Existem duas correntes que procuram esclarecer o conceito de documento: teoria
estrita e teoria ampla. Pela teoria estrita, o documento deve ser escrito, mas não
obrigatoriamente em papel. Pela teoria ampla, documento não é somente o escrito, mas todo
suporte material que expresse ou incorpore dados, fatos ou narrações com eficácia probatória
ou qualquer outro tipo de relevância jurídica (conceito adotado pelo Código espanhol). Entendo
que as duas correntes, abrange o documento eletrônico, o que possibilita a conclusão de que
essa espécie pode constituir objeto dos crimes de falsidade.
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GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 21. Cintia Campos da Silva
ITEM C: Registro, posse e comercialização de armas de fogo e munição. SINARM. Lei
10.826/2003.
Obras consultadas:
Guilherme de Souza Nucci. Leis Penais e Processuais Penais comentadas. Ed. Revista dos
Tribunais. 3ª Edição. 2008.
Gabriel Habib. Leis Penais Especiais. Ed. Juspodivm. 2ª Edição, 2010.
Legislação básica:
Lei 10.826/03. Decretos 5.123/2004 e 3.665/2000.
1. Noções Gerais.
O Sistema Nacional de Armas (SINARM), instituído no Ministério da Justiça, no âmbito da
Polícia Federal, com circunscrição em todo o território nacional, é responsável pelo controle de
armas de fogo em poder da população, conforme previsto na Lei 10.826/03 (Estatuto do
Desarmamento).
Registre-se que: a) compete à União autorizar e fiscalizar a produção e comércio de armas de
fogo (art. 21, VI, da CF); b) é obrigatório o cadastro das armas de fogo no SINARM.
O referido Estatuto visa tutelar a segurança pública e a incolumidade pública, buscando punir
comportamentos irregulares relacionados à arma de fogo, acessório ou munição. O diploma
legal, além de estabelecer tipos penais referentes ao porte e uso de armas de fogo, também
dispõe acerca de questões administrativas atinentes ao registro, posse e comercialização de
armas de fogo e munição.
Salienta-se que o fato de haver o controle de armas pelo SINARM, órgão pertencente ao
Ministério da Justiça, não fixa abstratamente a competência da Justiça Federal para apreciar os
delitos previstos no Estatuto, ainda que a arma for de uso restrito ou privativo das Forças
Armadas (STJ, CC 40393, 10/03/04) ou tiver sido armazenada em quartel, por militar, uma vez
que não se cuida de crime militar (STJ, CC 28251, 28/09/08). Assim, a competência será da
Justiça Federal quando for constatado que a infração foi praticada em detrimento de bens,
serviços ou interesse da União e suas entidades autárquicas ou empresas públicas, ou quando
ocorrer qualquer outra hipótese prevista no art. 109. É o caso do delito previsto no art. 18
(tráfico internacional de arma de fogo), que é crime que se inicia no território nacional e tende
à consumação no estrangeiro (ou vice-versa), tendo o Brasil assumido, no plano internacional, o
compromisso de reprimi-lo por meio da Convenção Interamericana de 1997 (decreto 3229/99).
Destinação: armas, acessório e munições apreendidos que não mais interessarem ao
processo penal devem ser encaminhados ao Comando do Exército que poderá destruí-los ou
doá-los a órgão de segurança pública ou às Forças Armadas (art. 25 da Lei 10826/03 – TRF3, AC
97030375685, 12/05/00).
Por fim, o STF já declarou a inconstitucionalidade dos dispositivos contidos na lei que
vedavam a concessão de fiança e de liberdade provisória a alguns crimes previstos no Estatuto.
Vide: ADI 3112/DF.
2. Posse irregular de arma de fogo de uso permitido (art. 12). Conduta delituosa: possuir ou
manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição de uso permitido em desacordo
com determinação legal ou regulamentar. Esse elemento normativo do tipo tem complemento
em outras normas, especialmente nos decretos citados na legislação básica. Diferença entre
posse e porte: por posse, entende-se a conduta de manter a arma intra muros, no interior de
sua residência ou local de trabalho. Já porte é extra muros, fora da residência ou local de
trabalho. O transporte de arma de fogo no interior do veículo, ainda que seja instrumento de
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PONTO N. 21. Cintia Campos da Silva
trabalho como táxi e caminhão, configura o crime de porte ilegal de arma. Vide STJ: AgRG no HC
83680, HC 116052. Sujeitos do delito: crime comum na primeira parte. Na hipótese de possuir
ou manter arma, acessório ou munição no local de trabalho é crime próprio, pois o tipo exige
que o agente seja o titular ou responsável pelo estabelecimento ou empresa. Sujeito passivo é o
Estado. Consumação e tentativa: consuma-se o crime no momento em que o agente tem a
arma de fogo, acessório ou munição sob sua disponibilidade. A doutrina é controversa sobre a
possibilidade de tentativa (Nucci admite). Objeto material: arma de fogo (instrumento que
funciona através de deflagração de carga explosiva, lançando ao ar projétil), acessório (é o
apetrecho da arma de fogo), munição (é o artefato explosivo utilizado pelas armas de fogo).
Classificação doutrinária: crime de perigo abstrato, doloso, de mera conduta.
3. Omissão de cautela (art. 13). Conduta delituosa: deixar de observar as cautelas
necessárias (é o dever de cuidado objetivo, imposto a todos os que vivem sociedade) para
impedir que menor de dezoito anos ou pessoa portadora de deficiência mental se apodere de
arma de fogo que esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade. Sujeitos do delito: o
sujeito ativo é o possuidor ou proprietário da arma de fogo, tanto faz se legal ou ilegalmente. O
sujeito passivo é a sociedade. Secundariamente, a integridade do menor, do deficiente ou do
prejudicado pelo emprego indevido da arma de fogo. Consumação e tentativa: consuma-se
com o efetivo apoderamento da arma pelo inimputável. Inadmissível a tentativa por ser crime
culposo. Objeto material: é a arma de fogo que esteja sob a posse, ou seja, da propriedade do
agente. Classificação doutrinária: crime culposo, praticado por negligência, omissivo próprio,
de mera conduta, instantâneo e de perigo abstrato. Conduta incriminada: no parágrafo único,
do artigo, é incriminada a conduta do proprietário ou diretor responsável de empresa de
segurança e transporte de valores que deixarem de registrar ocorrência policial e de comunicar
à Polícia Federal (nota-se a dupla obrigação: registrar a ocorrência em qualquer repartição
policial estadual e comunicar a Polícia Federal) perda, furto, roubo ou outras formas de extravio
de arma de fogo, acessório ou munição que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte
quatro) horas depois de ocorrido o fato. Trata-se de crime próprio, pois somente podem ser
sujeitos ativos os proprietários ou diretores responsáveis de empresas de segurança e de
transporte de valores; doloso, pois é necessário que o agente tome conhecimento do fato e se
omita no dever de comunicá-lo à Polícia Federal e registrar a ocorrência (o registro e a
comunicação podem ser feitos por prepostos). Trata-se de crime omissivo próprio, logo não
admite a tentativa.
4. Porte Ilegal de arma de fogo de uso permitido (art. 14): Conduta delituosa: portar
(carregar consigo), deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar (levar o
instrumento de um local para outro), ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter,
empregar, manter sob guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido,
sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar. Sujeitos do delito: o
sujeito ativo pode ser qualquer pessoa. O sujeito passivo é o Estado. Consumação e tentativa:
consuma-se quando o agente realiza um dos verbos. Em tese, é possível a tentativa (em
algumas condutas), embora seja difícil configurá-la, pois, de regra, o início de um ato executório
de uma conduta já configura a consumação de outra. Arma desmuniciada: discussão
doutrinária gira em torno da configuração, ou não, do crime (se o bem jurídico é ameaçado ou
lesionado) se a arma que o agente porta ou transporta está desmuniciada e a munição não se
encontrava em local próximo, que possibilite a sua pronta utilização. O STF (HC 103539, HC
104410, HC 88757, HC 101994 e HC 107447) e o STJ (HC 177232, HC 211823) estão se
posicionando pela tipicidade da conduta, justificando no fato de se tratar de crime de perigo
abstrato. Haverá crime impossível, todavia, se a arma estiver avariada, restando impedido, de
forma permanente, o seu funcionamento (STJ, HC 26444, DJU 09/09/08). Arma de brinquedo.
Não é arma em sentido próprio, podendo ser objeto apenas de contrabando (STJ, REsp
213054,24/10/01. Elemento subjetivo: trata-se de crime doloso.
5. Disparo de arma de fogo (art. 15): Conduta delituosa: disparar arma de fogo ou acionar
munição em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde
que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime. Trata-se de crime
subsidiário. Distinção com o crime de periclitação da vida (art. 132 do CP): nesse crime, o
disparo ocorre no interior de local habitado, colocando em risco pessoa certa e determinada. Já
199
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 21. Cintia Campos da Silva
no crime de disparo de arma de fogo, o disparo ocorre em local aberto, colocando em risco um
número indeterminado de pessoas. Sujeitos do delito: o sujeito ativo pode ser qualquer
pessoa. O sujeito passivo é o Estado. Consumação e tentativa: com o primeiro disparo da arma
de fogo ou o acionamento da munição. A tentativa é cabível. Classificação doutrinária: crime
comum, de perigo abstrato, de mera conduta, doloso.
6. Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito (art. 16): Conduta delituosa:
possuir (manter a arma no interior de residência ou local de trabalho), deter, portar (carregar a
arma para fora da residência ou local de trabalho), adquirir, fornecer, receber, ter em depósito,
transportar (levar a arma de um local para outro), ceder, ainda que gratuitamente, emprestar,
remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de
uso proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou
regulamentar. As armas de uso proibido ou restrito estão elencadas nos decretos de números
5.123/2004 e 3.665/2000. Consumação e tentativa: em tese, é possível a tentativa (em algumas
condutas), embora seja difícil configurá-la, pois, de regra, o início de um ato executório de uma
conduta já configura a consumação de outra. Sujeitos do delito: o sujeito ativo pode ser
qualquer pessoa. O sujeito passivo é o Estado. Classificação doutrinária: crime comum, de
perigo abstrato, e de mera conduta, doloso, comissivo. Condutas equiparadas: descritas nos
seis incisos do parágrafo único do artigo: supressão (fazer desaparecer, raspar) ou alteração
(modificação ou remarcação) de numeração ou qualquer sinal identificador da arma de fogo ou
do artefato; modificar as características da arma de fogo, de modo a torná-la equivalente a de
uso proibido ou restrito, com especial fim de induzir a erro a autoridade policial, perito ou juiz;
posse, detenção, fabricação ou emprego (utilização) de artefato explosivo ou incendiário; porte,
na posse ou aquisição (compra), transporte ou fornecimento, ainda que gratuitamente, de arma
de fogo com a numeração ou sinal identificador raspado (processo de raspagem), suprimido (a
supressão pode ser não só através da raspagem, mas também com a utilização de produtos
químicos) ou adulterado (remarcação); vende (comercializa), entrega (transmite a posse) ou
fornece, ainda que gratuitamente, arma de fogo (de uso permitido ou não), acessório, munição
ou explosivo à criança (até doze anos incompletos) ou adolescente (de 12 anos até 18 anos);
produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização legal, ou adulterar, de qualquer forma,
munição ou explosivo.
7. Comércio Ilegal de Arma de fogo: adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar,
ter em depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou de
qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou
industrial (o legislador equiparou à atividade industrial ou comercial a qualquer forma de
prestação de serviços, fabricação ou comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em
residência) arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar. É necessária para a configuração do delito a prova da
permanência da atividade comercial, industrial ou prestação de serviços, já que a lei exige que
seja “no exercício”. Consumação e tentativa: consuma-se com a prática de qualquer das
condutas. Admite tentativa. Sujeitos do delito: crime próprio, pois o sujeito exige a condição de
comerciante ou industrial; O sujeito passivo é o Estado. Elemento subjetivo: é o dolo. Há
elemento subjetivo específico, qual seja, “em proveito próprio ou alheio”.
8. Tráfico internacional de arma de fogo: Conduta delituosa: importar, exportar, favorecer a
entrada ou saída do território nacional (o autor dessas duas últimas condutas pode ser
funcionário público ou não), a qualquer título, de arma de fogo, acessório ou munição, sem
autorização da autoridade competente (norma penal em branco – autoridade competente é o
Comando do Exército – art. 24). Crime especial em relação aos tipos dos artigos 334 e 318 do
CP. Porém, haverá o crime do art. 12 da Lei de Segurança Nacional se houver motivação política.
Sujeitos do delito: crime próprio. A participação das pessoas mencionadas nos arts. 6 a 8
(aquelas autorizadas a usar armas) determina a incidência de causa de aumento de pena.
Consumação e tentativa: com a prática de qualquer uma das condutas (tipo misto alternativo),
independente de resultado. A tentativa é admissível. Impossível aplicação do princípio da
insignificância em razão do alto grau de reprovabilidade da conduta e da potencialidade lesiva
do objeto (STJ, HC 45099, 15/08/06).
200
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 21. Cintia Campos da Silva
9. Abolitio criminis temporária: os artigos 30, 31 e 32 do Estatuto concediam o prazo de 180
dias após a publicação da lei para solicitar o registro. Os dispositivos foram alterados pela Lei n.
11.706/2008, concedendo o prazo até o dia 31 dezembro de 2008 para que os possuidores e
proprietários de arma de fogo de uso permitido ainda não registrada solicitassem o seu registro,
tornando a conduta de posse de arma de uso permitido temporariamente atípica, até a data
limite. O prazo previsto foi prorrogado até 31 de dezembro de 2009, pela lei 11.922/2009.
Reforça-se que o instituto somente é aplicado ao crime de posse de arma de uso de uso
permitido (STF: HC 98180; STJ: HC 90544). Por fim, o STF (HC 90995) e o STJ (RHC 22668) já
entenderam que a Lei n. 11.706/2008 é irretroativa por ser temporária, não alcançando os fatos
praticados antes de sua vigência.
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GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 22. Rafael da Silva Rocha
ITEM A: Crimes contra a saúde pública.
Obras consultadas:
Ela Wiecko Volkmer de Castilho. Artigo: Crimes contra a saúde pública. In: ARANHA, Márcio
Iorio (org.). Direito sanitário e saúde pública. Brasília: Ministério da Saúde, 2003. p. 113-124.
Cezar Roberto Bitencourt. Tratado de Direito Penal, volume 4. 16ª Edição. Ed. Saraiva.
Legislação básica.
Arts. 267-285 do CP.
Observação inicial: também existem crimes contra a saúde pública definidos em leis
especiais, tais como a Lei nº 11.343/2006 (tráfico de drogas) e a Lei nº 7.649/88 (o art. 9º
determina que o descumprimento das suas normas configura o crime previsto no art. 268 do
CP). Por outro lado, a Lei nº 9.605/98 (crimes ambientais) traz, nos arts. 54 e 56, o perigo de
dano à saúde humana como elemento do tipo. Por fim, na Lei de Contravenções Penais, a
emissão de fumaça, vapor ou gás (art. 38), classificada na categoria geral das contravenções
referentes à incolumidade pública, é a única que mais especificamente protege a saúde pública.
(Ela Wiecko, p. 116).
Bem jurídico tutelado: a incolumidade pública, particularmente em relação à saúde pública.
Segundo Hungria, incolumidade pública é o estado de preservação ou segurança em face de
possíveis eventos lesivos (apud Bitencourt, 2011b, p. 293). Também se protege a integridade
física e a saúde das pessoas atingidas pelas condutas incriminadas. Segundo Ela Wiecko (p.
114), o perigo abstrato ou concreto deve apresentar-se a um número indeterminado de pessoas
(e não a uma pessoa em particular), sem embargo de vir a ocorrer lesão em uma ou mais
pessoas determinadas. Sujeito ativo: qualquer pessoa, independentemente de qualquer
qualidade ou condição especial. Exceções: a) Omissão de notificação de doença (art. 269) –
apenas o médico; b) Medicamento em desacordo com receita médica (art. 280) – para alguns,
qualquer pessoa (Bitencourt, 2011b, p. 329); para outros, como Hungria, trata-se de crime
próprio (apud Prado, 2010, p. 200); c) Exercício ilegal da medicina, arte dentária ou
farmacêutica, na modalidade “excedendo-lhe os limites” (art. 282, segunda parte) – apenas o
médico, o dentista ou farmacêutico. Sujeito passivo: a coletividade (“crimes vagos”) e as
pessoas eventualmente afetadas pelas condutas. Tipo subjetivo: dolo (consciência de que pode
criar perigo para a saúde pública). Em geral, para a caracterização dos crimes contra a saúde
pública, não tem relevo os motivos ou a finalidade. No entanto, o exame desses aspectos é
importante porque, presente determinada finalidade na conduta, o enquadramento há de ser
outro (Ela Wiecko, p. 122). Exigem elemento subjetivo especial (especialmente finalidade
econômica): arts. 272, §1º-A; 273, §§1º e 1º-B; 276; 278; 282, parágrafo único; 284, parágrafo
único (Ela Wiecko, p. 121). Preveem modalidade culposa: arts. 267,0270; 271; 272; 273; 278;
280. Classificação: 1) Crimes formais (arts. 268 e 270, §1º), materiais (arts. 267, 270, 271, 272,
273) ou de mera conduta (os demais). (Ela Wiecko, p. 120). 2) Crimes de forma livre. Exceções:
a) Epidemia (art. 267); b) Omissão de notificação de doença (art. 269); c) Curandeirismo (art.
284). 3) Crimes de perigo abstrato. Exceções (crimes de perigo concreto): a) Falsificação,
corrupção, adulteração ou alteração de substância ou produtos alimentícios (art. 272); b) Outras
substâncias nocivas à saúde pública (art. 278) (Ela Wiecko, p. 120). Obs.: Epidemia (art. 267),
para alguns é crime de perigo abstrato (Bitencourt, 2011b), para outros é de perigo concreto,
sendo que outros (Ela Wiecko, p. 119), ainda, exigem concomitantemente dano para as pessoas
atingidas e perigo para as demais. Na modalidade qualificada, certamente é crime de dano, pois
exige o resultado morte. 4) Crimes comissivos. Exceção: a) Omissão de notificação de doença
(art. 269). 5) Crimes instantâneos. Exceções: 5.1) Crimes permanentes: arts. 270; 272, §1º-A;
273; 276; 277; 278; 5.2) Crimes habituais: a) Exercício ilegal da medicina, arte dentária ou
farmacêutica (art. 282); b) Curandeirismo (art. 284). 6) Crimes unissubjetivos. 7) Crimes
plurissubsistentes. 8) Normais penais em branco: a) Infração de medida sanitária preventiva (art.
268); b) Omissão de notificação de doença (art. 269); c) Emprego de processo proibido ou de
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GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 22. Rafael da Silva Rocha
substância não permitida (art. 274); d) Exercício ilegal da medicina, arte dentária ou
farmacêutica (art. 282) (Ela Wiecko, p. 117; a autora acrescenta que a complementação
heteróloga de tais normas seria de “constitucionalidade discutível”, à luz do princípio da
“reserva absoluta da lei penal”, além de permitir alegação de erro de tipo ou erro de proibição).
Apresenta causa de aumento de pena: Infração de medida sanitária preventiva (art. 268).
Apresentam qualificadora(s): a) Epidemia (art. 267); e b) Exercício ilegal da medicina, arte
dentária ou farmacêutica (art. 282). No entanto, há uma forma qualificada aplicável a quase
todos os crimes do capítulo. Atenção: se do crime doloso contra a saúde pública resulta lesão
corporal de natureza grave, a pena privativa de liberdade é aumentada de metade; se resulta
morte, é aplicada em dobro (forma preterdolosa). No caso de culpa, se do fato resulta lesão
corporal, a pena aumenta-se de metade; se resulta morte, aplica-se a pena cominada ao
homicídio culposo, aumentada de um terço (art. 285 c/c art. 258). Exceção: Epidemia (art. 267),
pois já tem a lesão corporal como integrante da conduta típica e a morte como resultado
qualificador. São hediondos: a) Epidemia com resultado morte (art. 267, §1º); b) Falsificação,
corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais em
todas as suas modalidades dolosas (art. 273).
Distinção entre Exercício Ilegal da Medicina, Arte Dentária ou Farmacêutica, Charlatanismo
e Curandeirismo: No exercício ilegal da medicina, o agente entende ser eficaz o tratamento ou
meio por ele prescrito, enquanto que no charlatanismo, o agente (ainda que seja médico)
conhece a ineficácia do meio por ele inculcado ou anunciado. No exercício ilegal da medicina, o
agente demonstra aptidões e conhecimentos médicos, embora não seja autorizado a exercer a
medicina, enquanto que no curandeirismo, o agente é pessoa ignorante e rude, que se dedica à
cura de moléstias por meios grosseiros (Bitencourt, 2011b, p. 334 e p. 336).
Impropriedades e inadequações da lei (Ela Wiecko, p. 121): As alterações legislativas,
inspiradas no movimento “lei e ordem”, desorganizaram a escala de proporcionalidade entre
crimes e penas. Por exemplo, a falsificação de um produto alimentício, tornando-o nocivo à
saúde, tem uma pena cominada de reclusão, de 4 a 8 anos, enquanto a venda de cosmético,
sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância sanitária, tem uma pena prevista de 10 a
15 anos.
Por outro lado, “as condutas de charlatanismo e de curandeirismo, tal como definidos,
deveriam ser descriminalizados, principalmente o segundo, vez que evidente a colisão com os
direitos de liberdade religiosa e de práticas culturais de elementos formadores da nação
brasileira (o índio e o negro), agasalhadas na Constituição Federal”.
203
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 22. Lívia de Oliveira Spessatto
ITEM B: Crimes contra a paz pública.
Obras consultadas:
Baltazar Júnior, José Paulo. Crimes Federais. 3ª ed. rev. atual. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2008.
Bitencourt, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. Vol. 4. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
Sanches, Rogério. Código Penal para concursos. 5ª ed. 2012.
Somente três crimes, ao contrário das legislações alienígenas, integram o Título IX do Código
Penal pátrio: incitação ao crime (art.286), apologia de crime ou criminoso (art.287) e quadrilha
ou bando (art.288). O legislador de então teve em vista fatos que, na sua ótica, atentariam
contra a tranquilidade social, a paz coletiva e o sentimento de sossego, que é indispensável a
toda vida comunitária. Nos crimes insertos neste Título, não há necessidade de uma
perturbação efetiva da paz pública, no sentido material, sendo suficiente que produza aquele
sentimento generalizado de alarma, vindo a comprometer o sentimento de paz e tranquilidade.
Incitação ao crime (art.286). Objetividade jurídica: tutela a paz pública. Sujeito ativo:
qualquer pessoa (crime comum). Sujeito passivo: a coletividade, abalada na sua tranquilidade
(crime vago) e, secundariamente, o próprio Estado, que tem a obrigação de garantir a segurança
e o bem-estar de todos. Conduta: consubstancia-se em incitar (induzir, provocar, estimular,
instigar), publicamente, a prática de determinado crime. Neste ponto, conclui-se que (i) inexiste
a infração quando a incitação visar à prática de contravenção penal, ato apenas imoral ou delito
culposo. Se a pessoa é incitada ao suicídio, o instigador responderá pelo crime do art.122; se
estimulada a prostituir-se, haverá o crime do art.228 (favorecimento de prostituição ou outra
forma de exploração sexual); (ii) é imprescindível que a incitação seja feita publicamente,
atingindo número indeterminado de pessoas, podendo ocorrer das mais diversas formas (crime
de ação livre); (iii) não é bastante que o agente incite publicamente a prática de delitos de
forma genérica para que se configure o crime, devendo apontar fato determinado, como, por
exemplo, conclamar publicamente titulares de determinado direito a fazer justiça com as
próprias mãos, o que constitui crime de exercício arbitrário das próprias razões. Ensina Hungria
que o crime não se configura quando apenas se faz a defesa de uma tese sobre a ilegitimidade
ou sem-razão da incriminação de tal ou qual fato (ex. o homicídio eutanásico). Não há, aqui, o
animus instigandi delicti, mas apenas uma opinião no sentido da exclusão do crime, de lege
ferenda. Tipo subjetivo: é o dolo, consistente na vontade consciente de incitar, publicamente, a
prática de crime (fato determinado), sabendo que se dirige a número indeterminado de
pessoas. Consumação e tentativa: a consumação ocorre com a incitação, independentemente
da prática do crime incitado (perigo abstrato). Vindo o instigado a praticar o crime, o instigador
poderá (se comprovado nexo causal) responder também por ele, em concurso material. De
qualquer sorte, é fundamental que a ação do agente se limite ao “estímulo”, sem a efetiva e
direta intervenção na deliberação concreta do agir do incitado, sob pena de aquele transformar-
se em verdadeiro partícipe do crime incitado. A tentativa é possível, desde que não se trate de
incitação oral.
Apologia de crime ou criminoso (art.287). Objetividade jurídica: tutela-se a paz pública.
Sujeito ativo: qualquer pessoa (crime comum). Sujeito passivo: a coletividade (crime vago).
Conduta: no delito anterior, a instigação é explícita, enquanto neste, o induzimento é implícito,
feito através de elogios, exaltação a fatos criminosos ou a seus autores. Consiste a figura
delituosa em fazer, publicamente, apologia (elogio, exaltação) de fato criminoso ou de autor de
crime. Afasta-se o crime na hipótese de o agente se referir à contravenção ou ao contraventor.
Apologia de crime culposo não é punível, pois não pode haver instigação à prática de ato
involuntário. Referindo-se a lei à apologia a fato criminoso, entende parcela da doutrina que o
delito elogiado deve ser passado (se futuro, incitação ao crime). Hungria discorda: para ele,
pouco importa que o fato criminoso seja considerado in concreto ou in abrstracto, como
episódio já ocorrido ou acontecimento futuro. É controvertida a necessidade de existência de
204
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 22. Lívia de Oliveira Spessatto
sentença condenatória irrecorrível contra o autor do crime elogiado. Tipo subjetivo: é o dolo de
fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime, sabendo que se dirige a
número indeterminado de pessoas. Consumação e tentativa: consuma-se o crime com a
apologia, independentemente da efetiva perturbação da ordem pública (perigo abstrato). A
tentativa é admissível. Jurisprudência: recentemente, o STF afastou a tese de apologia ao crime
nas denominadas “Marcha da Maconha”, destacando que não há apologia ou incitação a fato
criminoso, mas sim a discussão a respeito da descriminalização desta conduta (liberdade de
reunião e expressão). Neste sentido, ver ADPF 187 (liberdades fundamentais e marcha da
maconha – inf. 631 STF) e ADI 4274 (inf. 649 STF). Art. 33, § 2º, da Lei 11.343/2006 e
criminalização da “Marcha da Maconha” – 1. O Plenário julgou procedente pedido formulado
em ação direta, ajuizada pela Procuradora-Geral da República em exercício, para dar
interpretação conforme a Constituição ao § 2º do artigo 33 da Lei 11.343/2006 [“Art. 33... § 2º
Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga. Pena - detenção de 1 (um) a 3
(três) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos) dias-multa”], com o fim de dele excluir
qualquer significado que ensejasse a proibição de manifestações e debates públicos acerca da
descriminalização ou da legalização do uso de drogas ou de qualquer substância que leve o ser
humano ao entorpecimento episódico, ou então viciado, das suas faculdades psicofísicas. No
mérito, reiterou-se o que afirmado quando do julgamento da ADPF 187/DF (Informativo 631),
em que assentado que essas manifestações representariam a prática legítima do direito à livre
expressão do pensamento, propiciada pelo exercício do direito de reunião. ADI 4274/DF, rel.
Min. Ayres Britto, 23.11.2011. Art. 33, § 2º, da Lei 11.343/2006 e criminalização da “Marcha da
Maconha” – 2. O Min. Ayres Britto, relator, enfatizou que as liberdades de pensamento, de
expressão, de informação e de comunicação fariam parte do rol de direitos individuais de matriz
constitucional, tidos como emanação direta do princípio da dignidade da pessoa humana e da
cidadania. Registrou que o direito de reunião seria insusceptível de censura prévia e poderia ser
visto como especial veículo da busca de informação para uma consciente tomada de posição
comunicacional. Salientou, por outro lado, que a única vedação constitucional, relativamente a
esse direito, diria respeito a convocação cuja base de inspiração revelasse propósitos e métodos
de violência física, armada ou beligerante. [...] Por sua vez, o Min. Celso de Mello [...] asseverou
que a defesa em espaços públicos da legalização das drogas não caracterizaria ilícito penal —
quer sob a égide do Código Penal, quer sob o que estabelecido na regra em comento —, mas
sim o exercício legítimo do direito à livre manifestação do pensamento, sendo irrelevante, para
o efeito de proteção constitucional, a maior ou a menor receptividade social da proposta. ADI
4274/DF, rel. Min. Ayres Britto, 23.11.2011. (ADI-4274)
Quadrilha ou Bando (art.288). Objetividade jurídica: tutela-se a paz pública. Sujeito
ativo: qualquer pessoa. Trata-se de crime coletivo, plurissubjetivo ou de concurso necessário,
de condutas paralelas (umas auxiliando as outras), estabelecendo o tipo incriminador a
presença de, no mínimo, quatro associados (computando-se inimputáveis e pessoas não
identificadas). Sujeito passivo: a coletividade. Conduta: pune-se a associação de mais de três
pessoas em quadrilha ou bando, para o fim de cometer uma série indeterminada de crimes.
Elementos: (i) associação é a reunião de pessoas para determinado fim. A vinculação deve ser
sólida, quanto à estrutura, e durável, quanto ao tempo, o que não significa perpetuidade; (ii)
pluralidade de pessoas - é indiferente a posição ocupada por cada associado na organização, se
conhecem uns aos outros ou se há ou não hierarquia (poder de mando); identificando-se o
vínculo associativo estável e permanente, haverá o crime (diferencia-se do concurso de pessoas,
já que este é eventual e direcionado para a prática de crime determinado); (iii) finalidade é a de
praticar uma série indeterminada de crimes (e não contravenções penais). Tipo subjetivo: é o
dolo, havendo um elemento subjetivo especial do injusto, que é a finalidade de cometer crimes,
sem a qual o delito não se configura. Consumação e tentativa: a consumação do delito se
verifica no momento em que aperfeiçoada a convergência de vontades entre mais de três
pessoas. Para o agente que adere depois de formada a quadrilha, o momento a ser considerado
será o da adesão. Trata-se de crime autônomo (posição pacífica nos Tribunais Superiores), razão
pela qual a punição dos membros integrantes independe de condenação pela prática de algum
dos crimes pretendidos pelo bando. Trata-se de crime permanente, cuja consumação se protrai
no tempo. A retirada de um associado, deixando o grupo com menos de 4 agentes, cessa a
permanência, mas não interfere na existência do crime, já consumado para todos (Hungria). A
205
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 22. Lívia de Oliveira Spessatto
tentativa é inadmissível, pois os atos praticados com a finalidade de formar a quadrilha,
anteriores à execução, são meramente preparatórios. Importante: *o parágrafo único do
dispositivo em análise prevê pena em dobro se a quadrilha ou bando é armado. Tem-se
entendido não configurar bis in idem a condenação por quadrilha ou bando armado (basta que
um só de seus integrantes esteja a portar armas – STF) e roubo majorado pelo emprego de
armas, porque além de configurarem delitos autônomos e distintos, no primeiro, o emprego de
arma está calcado no perigo abstrato e, no segundo, no perigo concreto (STJ). *Admite-se,
outrossim, o concurso material entre quadrilha e um crime qualificado pela presença do
concurso de pessoas. *Admite-se o concurso entre quadrilha armada e porte ilegal de arma. *A
extinção da punibilidade nos crimes tributários pelo pagamento não afasta a punibilidade do
crime de quadrilha. *Tratando-se de crime permanente, há a cessação da quadrilha por ocasião
do recebimento da denúncia (STJ - HC 123763) ou da prisão do réu, se antes do recebimento
(STJ - HC 91428). Distinções: não há que se falar em quadrilha para a prática de tráfico de
drogas, diante da previsão em lei especial do crime de associação para o tráfico (princípio da
especialidade). Da mesma forma, para a prática de crime de genocídio, há modalidade
específica de associação (art.2º da lei n.º 2.889/56). Além disso, há previsão de pena
diferenciada para a quadrilha que visar à prática de crimes hediondos e equiparados (art.8º da
lei n.º 8.072/90).
206
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 22. Hebert Reis Mesquita
ITEM C: Crimes políticos e crimes militares.
Crime político: aquele que ofende a soberania de um Estado, criando situações desconexas
com aquelas estabelecidas pelo regime político da Nação.
Dois tipos de crimes políticos: próprio: visa à desestruturação e à subversão apenas do
regime político de cada Estado e somente lesam ou põem em risco a organização política (Celso
Delmanto), sem atingir outros bens do Estado ou individuais. Impróprio: visa a lesar, também,
bens jurídicos individuais e outros que não a segurança do Estado; ou seja, ofendem também
outros interesses além da organização política.
LFG: há três critérios para se definir o crime político:
a) objetivo: ataque a bens jurídicos do Estado Democrático, ao território nacional ou à
soberania;
b) subjetivo: motivação política;
c) misto: no Brasil vigora o critério misto, logo, é crime político (entre nós) o previsto na Lei
de Segurança Nacional (Lei 7.170/83), porém, desde que cometido por motivação ou objetivo
político. Exemplo: tentar desmembrar parte do território nacional para constituir país
independente (art. 11, da Lei). Cometido esse fato com motivação política, temos um crime
político.
Crimes violentos (homicídios, sequestros) podem ser tratados como políticos se houver uma
fundamentação direta e imediatamente política, num contexto de anormalidade institucional
(Não configura crime político, para fim de obstar a acolhimento de pedido
de extradição, homicídio praticado por membro de organização revolucionária clandestina, em
plena normalidade institucional de Estado Democrático de direito, sem nenhum
propósito político imediato ou conotação de reação legítima a regime opressivo (Extradição
1085 – Tribunal Pleno). O STF acabou reconhecendo que os fatos imputados a Cesare Battisti
eram crimes comuns, autorizando sua extradição. LFG criticou essa decisão por entender que os
crimes de Battisti foram crimes políticos contra a humanidade, com evidente finalidade política
(disputa partidária). E, para LFG, crimes políticos contra a humanidade, em que pese com estrito
escopo político, são imprescritíveis, não anistiáveis e extraditáveis.
CF trata de crime político em duas oportunidades: a) competência do judiciário (JF
competente para julgar o crime político e STF o recurso ordinário) e b) vedação de extradição
nos crimes políticos. CF não define crime político.
STF: atos de natureza terrorista não são crimes políticos, uma vez que CF repudia o
terrorismo (art. 4º). Logo, cabe extradição pela prática de atos terroristas. Genocídio não é
crime político e permite extradição.
Supremo Tribunal Federal e a doutrina pátria têm entendido que só há crime político quando
presentes os pressupostos do artigo 2º da Lei de Segurança Nacional (Lei nº 7.170/83), ao qual
se integram os do artigo 1º: a materialidade da conduta deve lesar real, ou potencialmente, ou
expor a perigo de lesão a soberania nacional, o regime representativo, a Federação e o Estado
de Direito, por exemplo, de forma que, ainda que a conduta esteja tipificada na Lei de
Segurança Nacional, é preciso que se lhe agregue a motivação política.
Lei 7.170/83: esta Lei prevê os crimes que lesam ou expõem a perigo de lesão: a integridade
territorial e a soberania nacional; o regime representativo e democrático, a Federação e o
Estado de Direito; a pessoa dos chefes dos Poderes da União. Quando o fato estiver também
previsto como crime no Código Penal, no Código Penal Militar ou em leis especiais, levar-se-ão
em conta, para a aplicação desta Lei: a motivação e os objetivos do agente; a lesão real ou
potencial aos bens jurídicos mencionados no artigo anterior.
Crimes da 7.170/83: entrar em entendimento ou negociação com governo ou grupo
estrangeiro, ou seus agentes, para provocar guerra ou atos de hostilidade contra o Brasil; tentar
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PONTO N. 22. Hebert Reis Mesquita
submeter o território nacional, ou parte dele, ao domínio ou à soberania de outro país; aliciar
indivíduos de outro país para invasão do território nacional; tentar desmembrar parte do
território nacional para constituir país independente; importar ou introduzir, no território
nacional, por qualquer forma, sem autorização da autoridade federal competente, armamento
ou material militar privativo das Forças Armadas; na mesma pena incorre quem, sem
autorização legal, fabrica, vende, transporta, recebe, oculta, mantém em depósito ou distribui o
armamento ou material militar de que trata este artigo; comunicar, entregar ou permitir a
comunicação ou a entrega, a governo ou grupo estrangeiro, ou a organização ou grupo de
existência ilegal, de dados, documentos ou cópias de documentos, planos, códigos, cifras ou
assuntos que, no interesse do Estado brasileiro, são classificados como sigilosos; Incorre na
mesma pena quem promove espionagem; sabotagem contra instalações militares, meios de
comunicações, meios e vias de transporte, estaleiros, portos, aeroportos, fábricas, usinas,
barragem, depósitos e outras instalações congêneres; integrar ou manter associação, partido,
comitê, entidade de classe ou grupamento que tenha por objetivo a mudança do regime
vigente ou do Estado de Direito, por meios violentos ou com o emprego de grave ameaça;
tentar mudar, com emprego de violência ou grave ameaça, a ordem, o regime vigente ou o
Estado de Direito; tentar impedir, com emprego de violência ou grave ameaça, o livre exercício
de qualquer dos Poderes da União ou dos Estados; apoderar-se ou exercer o controle de
aeronave, embarcação ou veículo de transporte coletivo, com emprego de violência ou grave
ameaça à tripulação ou a passageiros; devastar, saquear, extorquir, roubar, seqüestrar, manter
em cárcere privado, incendiar, depredar, provocar explosão, praticar atentado pessoal ou atos
de terrorismo, por inconformismo político ou para obtenção de fundos destinados à
manutenção de organizações políticas clandestinas ou subversivas; revelar segredo obtido em
razão de cargo, emprego ou função pública, relativamente a planos, ações ou operações
militares ou policiais contra rebeldes, insurretos ou revolucionários; fazer, em público,
propaganda:de processos violentos ou ilegais para alteração da ordem política ou social; de
discriminação racial, de luta pela violência entre as classes sociais, de perseguição religiosa; de
guerra; incitar: à subversão da ordem política ou social; à animosidade entre as Forças Armadas
ou entre estas e as classes sociais ou as instituições; à luta com violência entre as classes sociais;
à prática de qualquer dos crimes previstos nesta Lei; constituir, integrar ou manter organização
ilegal de tipo militar, de qualquer forma ou natureza armada ou não, com ou sem fardamento,
com finalidade combativa; fazer funcionar, de fato, ainda que sob falso nome ou forma
simulada, partido político ou associação dissolvidos por força de disposição legal ou de decisão
judicial; caluniar ou difamar o Presidente da República, o do Senado Federal, o da Câmara dos
Deputados ou o do Supremo Tribunal Federal, imputando-lhes fato definido como crime ou fato
ofensivo à reputação; ofender a integridade corporal ou a saúde de qualquer das autoridades
mencionadas no artigo anterior; qualifica se resulta lesão grave ou morte; matar qualquer das
autoridades.
CRIMES MILITARES (base para o resumo: jurisprudência do STJ, do STF e obra de FERNANDES
NETO, Benevides)
Origem do direito militar no Brasil: 1808 (Conselho Supremo Militar de Justiça).
a) puros ou próprios (puramente militares): somente estão definidos no Código Penal Militar
e cuja ação penal somente pode ser intentada contra militares, ou seja, exige-se uma qualidade
pessoal do agente, tais como a Deserção, a Embriaguez em Serviço e a Violência contra
Superior; em virtude da existência de delitos militares que não possuem igual definição na lei
penal comum e que são passíveis de cometimento por civis (p. ex: Dos Crimes contra o Serviço
Militar e o Dever Militar), não se pode afirmar que crimes propriamente militares são todos
aqueles que não possuam igual definição na legislação comum, como alguns conceituam, uma
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PONTO N. 22. Hebert Reis Mesquita
vez que os delitos acima mencionados não encontram definição no Código Penal e são
cometidos por civis.
b) impróprios: aqueles cuja definição típica também está prevista na lei penal comum, como,
por exemplo, os crimes de peculato e falsidade ideológica. A natureza castrense do fato
delituoso, no caso de crime impróprio, resulta da conjugação de diversos elementos definidos
no art. 9º, II, "c", e no art. 10, III, ambos do CPM, dentre os quais se destacam a condição
funcional do agente e a do sujeito passivo da ação delituosa, impondo-se, ainda, para a
caracterização do ilícito penal militar, a condição do agente se encontrar em situação de
atividade (REsp 555396 / MS). Situação de atividade é aquela em que ele não está na reserva ou
reforma. Os crimes impropriamente militares, ou acidentalmente militares, podem ser
cometidos por militares e, em situações excepcionais, também por civis. Ou seja, são os que,
comuns em sua natureza, podem ser praticados por qualquer cidadão, civil ou militar, mas que,
quando praticados por militar em certas condições, a lei considera militares, como os crimes de
homicídio e lesão corporal, os crimes contra a honra, os crimes contra o patrimônio, os crimes
de tráfico ou posse de entorpecentes, o peculato, a corrupção, os crimes de falsidade, entre
outros. São também impropriamente militares os crimes praticados por civis, que a lei define
como militares, como o de violência contra sentinela (CPM, art. 158)
Art. 9º do CPM: o legislador adotou o critério 'ratione legis', isto é, crime militar é o que a lei
obviamente considera como tal. Como se observa abaixo, a lei adotou critérios doutrinários
como 'ratione materiae', 'loci', 'personae' ou 'ratione numeris'. Ou seja, os crimes militares são
aqueles definidos em lei, adotando-se, portanto, o critério ratione legis, conforme se depreende
da leitura do inciso LXI do artigo 5º, artigo 124 e § 4º do artigo 125, todos da Carta Magna.
Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz: I - os crimes de que trata
êste Código, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos,
qualquer que seja o agente, salvo disposição especial; II - os crimes previstos neste Código,
embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados: a)
por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou
assemelhado; b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à
administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou
civil; c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza
militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar
da reserva, ou reformado, ou civil; d) por militar durante o período de manobras ou
exercício, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil; e) por militar
em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração militar, ou
a ordem administrativa militar; III - os crimes praticados por militar da reserva, ou
reformado, ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se como tais não só os
compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos: a) contra o
patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa militar; b) em
lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou assemelhado,
ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente
ao seu cargo; c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão,
vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou
manobras; d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em
função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação
da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquêle fim,
ou em obediência a determinação legal superior. Parágrafo único. Os crimes de que trata
este artigo quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil serão da competência da
justiça comum, salvo quando praticados no contexto de ação militar realizada na forma do art.
303 da Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica . (Redação
dada pela Lei nº 12.432, de 2011)
Art. 10. Consideram-se crimes militares, em tempo de guerra: I - os especialmente
previstos neste Código para o tempo de guerra; II - os crimes militares previstos para o
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PONTO N. 22. Hebert Reis Mesquita
tempo de paz; III - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual
definição na lei penal comum ou especial, quando praticados, qualquer que seja o agente:
a) em território nacional, ou estrangeiro, militarmente ocupado; b) em qualquer lugar, se
comprometem ou podem comprometer a preparação, a eficiência ou as operações militares ou,
de qualquer outra forma, atentam contra a segurança externa do País ou podem expô-la a
perigo; IV - os crimes definidos na lei penal comum ou especial, embora não previstos
neste Código, quando praticados em zona de efetivas operações militares ou em território
estrangeiro, militarmente ocupado.
Subsunção nos crimes militares: não basta que ocorra a subsunção do fato à norma típica,
uma vez que os crimes militares apresentam tipicidade indireta, ou seja, há necessidade de se
complementar as normas da parte especial com algumas das situações elencadas nos artigos 9º
(em tempo de paz) ou 10 (em tempo de guerra) do CPM. Nesse contexto, diante do caso
concreto, deve-se primeiro verificar se o fato encontra subsunção em algum dos delitos
previstos no Livro I (Crimes militares em tempo de paz) ou no Livro II (Crimes militares em
tempo de guerra) para, em seqüência, apontar se as circunstâncias que envolvem o delito
amoldam-se aos critérios previstos nos incisos I, II e III do artigo 9º e 10. Poderíamos assim
sintetizar a caracterização do crime militar, respondendo afirmativamente às três assertivas
abaixo:
1º) o fato está previsto na parte especial do CPM?
2º) a conduta se amolda às circunstâncias previstas em algum dos incisos do artigo 9º?
3º) a Justiça Militar é competente para julgar o sujeito ativo do crime (justiça militar estadual
não julga civil)?
O crime militar não se limita aos atos praticados por militares da ativa, mas também se
inserem nas condutas praticadas por militares inativos (reserva e reformado) e civis. Não se
pode confundir a figura do crime militar com os crimes praticados pelos militares. O militar,
estando de serviço ou de folga, pode praticar crimes definidos no CPM, bem como crimes
previstos em outras normas penais. Por outro lado, o CPM prevê diversas figuras típicas que
podem ser praticadas por civis.
CF: à Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei (artigo
124). Vê-se, portanto, que a Justiça Militar Federal tem sua competência delimitada ratione
materiae, ou seja, incumbe-lhe, sem exceções, julgar os delitos castrenses definidos em lei,
sejam estes praticados por militares da ativa, da reserva, reformados ou por civis, apontando-
se, em relação aos inativos e aos civis, que, nos exatos termos do inciso III do artigo 9º, sua
conduta deve ter por finalidade ofender as Instituições Militares. A Justiça Militar Estadual, por
sua vez, não possui competência tão abrangente quanto a sua congênere. De acordo com o § 4º
do artigo 125 da CF/88, compete-lhe processar e julgar os militares dos Estados nos crimes
militares definidos em lei. Nota-se, assim, que sua competência é ratione materiae e ratione
personae, ou seja, sua área de atuação é mais restrita que a Justiça Militar Federal, uma vez que
se lhe atribui competência para julgar, apenas, os crimes militares praticados pelos militares
estaduais, os quais, por força do artigo 42, abrangem os membros das Polícias Militares e dos
Corpos de Bombeiros Militares. Justiça militar estadual não julga civil.
Observação: não cabe (Damásio de Jesus sustenta que cabe) aplicação dos institutos da
9099/95 na justiça militar (o art. 90-A da 9.099/95 veda), mas cabe suspensão condicional da
pena, na forma do CPM.
Estrutura da justiça militar na CF
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PONTO N. 22. Hebert Reis Mesquita
Art. 122. São órgãos da Justiça Militar: I - o Superior Tribunal Militar; II - os Tribunais e Juízes
Militares instituídos por lei.
Art. 123. O Superior Tribunal Militar compor-se-á de quinze Ministros vitalícios, nomeados
pelo Presidente da República, depois de aprovada a indicação pelo Senado Federal, sendo três
dentre oficiais-generais da Marinha, quatro dentre oficiais-generais do Exército, três dentre
oficiais-generais da Aeronáutica, todos da ativa e do posto mais elevado da carreira, e cinco
dentre civis. Parágrafo único. Os Ministros civis serão escolhidos pelo Presidente da República
dentre brasileiros maiores de trinta e cinco anos, sendo: I - três dentre advogados de notório
saber jurídico e conduta ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional;II - dois,
por escolha paritária, dentre juízes auditores e membros do Ministério Público da Justiça Militar.
Art. 124. à Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei.
Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a competência da Justiça
Militar.
Art. 125. ... § 3º A lei estadual poderá criar, mediante proposta do T ribunal de Justiça, a
Justiça Militar estadual, constituída, em primeiro grau, pelos juízes de direito e pelos Conselhos
de Justiça e, em segundo grau, pelo próprio Tribunal de Justiça, ou por Tribunal de Justiça
Militar nos Estados em que o efetivo militar seja superior a vinte mil integrantes. (Redação dada
pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) § 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e
julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra
atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo
ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação
das praças. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) § 5º Compete aos juízes
de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos
contra civis e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de
Justiça, sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar os demais crimes
militares. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) ...
1ª instância da justiça militar federal chama-se Conselho de Justiça, que tem como sede
uma auditoria militar. O Conselho de Justiça se subdivide em Conselho Permanente de Justiça e
Conselho de Justiça Especial. A 2ª instância é direta do STM. a) ao Conselho Especial de Justiça:
formado juiz auditor (juiz militar federal) e quatro oficiais militares, sob a presidência do mais
graduado: julgarão os oficiais das Forças Armadas. b) ao Conselho Permanente de Justiça:
formado por juiz auditor (juiz militar federal) e três oficiais inferiores (até capitão-tentente ou
capitão) e um oficial superior, que será o presidente: julgarão os integrantes das Forças Armadas
não oficiais (praças).
1ª instância da justiça militar estadual a) Juízes de Direito, a quem compete julgar os crimes
militares praticados contra civis e as ações judiciais contra atos disciplinares militares ( habeas
corpus, mandado de segurança, ações civis ordinárias, etc.); b) Conselhos de Justiça, presididos
pelo Juiz de Direito e integrados por quatro oficias da ativa escolhidos mediante sorteio
realizado pelo Juiz togado.
Há duas espécies de Conselhos de Justiça: o Permanente, para julgar praças (do soldado ao
subtenente) e praças especiais (cadete e aspirante a oficial), e o Especial, para julgar os oficiais
(do 2º tenente ao Coronel). A 2ª instância em SP, MG e RS é do TJ Militar (com militares
participando da composição). Nos demais Estados a 2ª instância será uma Câmara Especializada
do TJ.
Obs: justiça militar estadual não julga civil (Súmula 53 do STJ). Logo, civil que mata
dolosamente policial ou bombeiro militar em serviço ou em razão do serviço será julgado pelo
Júri estadual.
Obs: crime militar e crime comum conexos: cisão processual.
Obs: civil que mata dolosamente militar federal em serviço ou em razão do serviço: justiça
militar federal (STF HC 91003 BA) . Não há tribunal do júri militar.
Obs: militar federal ou estadual mata dolosamente civil: júri (federal ou estadual) julgará, e o
crime será o do art. 121 do CP. Se vítima for militar, crime militar e justiça militar julgará.
Obs: crime de militar contra militar em folga: justiça comum. HC 110286/RJ, rel. orig. Min.
Dias Toffoli, red. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, 14.2.2012. (HC-110286).
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 22. Hebert Reis Mesquita
Obs: se justiça comum julga militar por crime comum (ex: tortura), a justiça comum lhe
determina a perda do oficialato. A JM o faz nos crimes militares (STF, maio de 2012: AG. REG.
NO AI N. 769.637-MG)
Obs: Júri julgará (e não JM): militar mata por motivo privado, sem relação com as funções.
HC N. 103.812-SP.
Obs: pode ser processado na JF e também na JM pelo mesmo contexto criminoso, desde que
por crimes distintos. Exemplo: responder na JF por crime de atentado contra a segurança aérea
(art. 261 do CP) e na JM por inobservância de lei, regulamento ou instrução e por homicídio
culposo.HC 105301/MT, rel. Min. Joaquim Barbosa, 5.4.2011. (HC-105301)
Obs: PM atira culposamente em oficial do Exército dentro de quartel federal: justiça militar
federal julga, pois houve lesão indireta à União. CC 107.148-SP, Rel. Min. Maria Thereza de
Assis Moura, julgado em 13/10/2010.
Obs: justiça comum julgar civil que causa lesão culposa em militar federal no serviço.
HC 99671/DF, rel. Min. Ellen Gracie, 24.11.2009. (HC-99671).
Obs: crime militar praticado conexo (ligado, relacionado) a crime comum: haverá cisão
processual, ou seja, pelo crime militar responde-se no juízo militar, pelo comum, no comum. Se
foi absolvido do crime comum na justiça comum, isso não implica absolvição no juízo militar. HC
N. 97.572-SP
Obs: furto de bem particular (pertencente a servidor militar) dentro de unidade militar: justiça
comum. Não houve violação (invasão) às instituições militares. CC 115.311-PA, 2011.
Obs: justiça militar julga militar da ativa em crime contra civil em lugar sujeito à
administração militar: CC 106.623-DF.
Obs: Justiça militar: lesão corporal de militar contra civil. Não houve animus necandi.
CC 120.201-RS, Rel.Min. Laurita Vaz, julgado em 25/4/2012.
Obs: Justiça militar não julga pichação em prédio residencial sujeito à administração militar. É
excepcional a prática, por civil, de crime militar. HC 100230/SP, rel. Min. Ayres Britto,
17.8.2010. (HC-100230).
Obs: policial militar reformado que injuria dois PM´s em serviço: juiz de direito. A
competência da justiça militar tem interpretação restritiva. HC 125.582-SP, em 27/4/2010.
Obs: à justiça comum (e não militar): homicídio culposo em acidente em que vítima e
acusado sejam militares, fora do serviço nem em lugar sujeito à administração militar (concurso
do TJ ES 2011).
Obs: Juízo comum pode decretar a perda da função pública por militar condenado por crime
comum (prova do TJ ES 2011).
Obs: insignificância e crime militar: os requisitos para reconhecimento da insignificância no
crime militar são mais severos que no direito comum, pois se levam em conta hierarquia e
disciplina. Não cabe insignificância na posse de droga (art. 290 do CPM).
súmula 555: é competente o tribunal de justiça para julgar conflito de jurisdição entre juiz de
direito do estado e a justiça militar local.
súmula 298: o legislador ordinário só pode sujeitar civis à justiça militar, em tempo de paz, nos
crimes contra a segurança externa do país ou as instituições militares.
stj 192: compete ao juizo das execuções penais do estado a execução das penas impostas a
sentenciados pela justiça federal, militar ou eleitoral, quando recolhidos a estabelecimentos
sujeitos a administração
estadual.
súmula 172: compete a justiça comum processar e julgar militar por crime de abuso de
autoridade, ainda que praticado em serviço.
súmula 90: compete a justiça estadual militar processar e julgar o policial militar pela pratica
do crime militar, e a comum pela pratica do crime comum simultaneo aquele.
súmula78: compete a justiça militar processar e julgar policial da corporação estadual, ainda
que o delito tenha sido praticado em outra unidade federativa.
súmula 47: compete a justiça militar processar e julgar crime cometido por militar contra
civil, com emprego de arma pertencente a corporação, mesmo não estando em serviço.
súmula 6 compete a justiça comum estadual processar e julgar delito decorrente de acidente
de transito envolvendo viatura de policia militar, salvo se autor e vitima forem policiais
militares em situação de atividade.
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 23. Rysklyft Factore
ITEM A: Crimes contra a Organização do Trabalho
Obras consultadas: CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. parte especial. volume 3. 8 ed.
São Paulo: Saraiva, 2008. CUNHA, Rogério Sanches. “Código Penal para Concursos”, Ed.
Juspodivm, 2ª ed., 2009. Anotações de aulas (diversos). DELMANTO, Celso et alli. Código Penal
comentado. 7. ed. São Paulo: Renovar, 2007. GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte
especial. Volumes 3 e 4. 5. Ed. Niterói: Ímpetos, 2008. JESUS, Damásio E. de. Código Penal
anotado. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de Direito Penal.
volumes 2 e 3. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2007. PRADO, Luís Regis. Curso de Direito Penal
Brasileiro. 6ª ed. Revista dos Tribunais, 2010. BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito
penal, v. 1, 2, 3, 4 e 5. 16 ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
Nota: o resumo a seguir foi elaborado a partir do trabalho anterior do grupo de aprovados no
25º concurso.
Obras consultadas: STRECK, Lenio Luiz. “Bem jurídico e Constituição: da Proibição de Excesso
(übermassverbot) à proibição de proteção deficiente (untermassverbot), ou de como não há
uma blindagem contra normas penais inconstitucionais”, disponívelem:
http://www.leniostreck.com.br/site/wp- content/uploads/2011/10/2.pdf, 2007. Anotações de
aulas (diversos). FELDENS, Luciano. “Direitos Fundamentais e Direito Penal”, Livraria do
Advogado, 2007.
Infrações, Penalidades e seu Procedimento – art. 125 (Análise somente dos incisos mais
relevantes)
ART. 125 – CAPUT – “Constitui infração, sujeitando o infrator às penas aqui cominadas”:
Inc. XI (infringir o disposto no art. 106 ou 107). Núcleo do tipo: infringir. É um tipo remetido,
sendo necessário consultar os arts. 106 e 107. Sujeito ativo e passivo: o sujeito ativo é o
estrangeiro regular ou irregular. O passivo é o Estado. Elemento subjetivo do tipo: dolo. Não
se exige elemento subjetivo específico. Não se pune forma culposa.
Objetosdesenvolvida.
material e
jurídico: material é a conduta proibida ao estrangeiro, embora por este
Jurídico é o interesse da Administração em regulamentar a presença do estrangeiro em solo
nacional. Classificação: crime próprio (só o estrangeiro); formal (não exige resultado
naturalístico); de forma vinculada (pode ser cometido pela infringência às condutas
expressamente expostas nos arts. 106 e 107 desta Lei); comissivo (o verbo indica ação);
instantâneo ou permanente, dependendo da forma de infringência; unissubjetivo;
plurissubsistente; admite tentativa. Benefícios penais: embora não se trate de infração de
menor potencial ofensivo, em razão da pena mínima comporta a suspensão condicional do
processo (art. 89 da Lei n. 9099/95). Entretanto, se tal benefício for concedido pelo
Judiciário, havendo a pena cumulativa – de ordem administrativa – que é a expulsão,
possivelmente o agente nem mesmo cumpra o referido sursis processual (essa conclusão
vale para todos os tipos).
Inc. XII (introduzir estrangeiro clandestinamente ou ocultar clandestino ou irregular). Núcleo
do tipo: introduzir ou ocultar. Tipo misto alternativo. Sujeito ativo e passivo: ativo é qualquer
pessoa. Passivo é o Estado. Elemento subjetivo do tipo: dolo. Não se pune a forma culposa.
Objeto material e jurídico: Material é o estrangeiro. Jurídico é o interesse da Administração
em regulamentar a presença do estrangeiro em solo nacional. Classificação: comum, formal,
de forma livre, comissivo, instantâneo (introduzir) ou permanente (ocultar), unissubjetivo,
plurissubsistente, admite tentativa.
Inc. XIII (fazer declaração falsa em processo de transformação de visto, de registro, de
alteração de assentamentos, de naturalização, ou para a obtenção de passaporte para
estrangeiro, laissez-passer, ou, quando exigido, visto de saída). Núcleo do tipo: fazer, cujo
objeto é a declaração falsa. O ato deve dar-se em procedimento relativo a visto. Sujeito ativo e
passivo: ativo é qualquer pessoa, passivo é o Estado. Elemento subjetivo: dolo. Exige-se
elemento subjetivo específico, consistente em obter a transformação do visto, do registro, da
alteração de assentamento etc. Não se pune a forma culposa. Objeto material e jurídico:
material é a declaração falsa. Jurídico é o interesse da Administração em regulamentar a
presença de estrangeiro em solo nacional. Classificação: comum, formal, de forma livre,
comissivo, instantâneo, unissubjetivo, plurissubsistente, admite tentativa.
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 24. Lívia de Oliveira Spessatto
ITEM A: Tempo e lugar do crime. Territorialidade e extraterritorialidade da lei penal.
Obras consultadas:
Bitencourt, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal, volume 1: parte geral. 14ª ed. rev., atual. e
ampl. São Paulo: Saraiva, 2009.
Greco, Rogério. Curso de Direito Penal: parte geral. 13ª ed. Rio de Janeiro, Ímpetos, 2011.
Zaffaroni, Eugênio Raúl e Pierangeli, José Henrique. Manual de Direito Penal Brasileiro, volume
1: parte geral. 8ª ed., rev. e atual. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009.
Tempo do crime:
Sobre o tema tempo do crime, três principais teorias merecem destaque:
- Teoria da atividade: tempo do crime será o da ação ou omissão, ainda que outro seja o
momento do resultado. Para essa teoria, o que importa é o momento da conduta, comissiva ou
omissiva, mesmo que o resultado dela se distancie no tempo.
- Teoria do resultado: determina que tempo do crime será, como o próprio nome sugere, o
da ocorrência do resultado. Aqui, sobreleva-se a importância do momento do resultado da
infração penal.
- Teoria mista ou da ubiquidade: concede igual relevo aos dois momentos apontados pelas
teorias Item A: Tempo e lugar do crime. Territorialidade e extraterritorialidade da lei penal.
Obras consultadas: Tratado de Direito Penal, Parte Geral. Cezar Roberto Bitencourt (2009).
Curso de Direito Penal: parte geral. Rogério Greco (2011). Manual de Direito Penal Brasileiro,
vol. 1. Eugênio Raúl Zaffaroni e José Henrique Pierangeli (2009).
Legislação básica: Código Penal.
1 – Tempo do crime: Sobre o tema tempo do crime, três principais teorias merecem
destaque: a) Teoria da atividade: tempo do crime será o da ação ou omissão, ainda que outro
seja o momento do resultado. Para essa teoria, o que importa é o momento da conduta,
comissiva ou omissiva, mesmo que o resultado dela se distancie no tempo; b) Teoria do
resultado: determina que tempo do crime será o da ocorrência do resultado. Aqui, sobreleva-se
a importância do momento do resultado da infração penal; c) Teoria mista ou da ubiquidade:
concede igual relevo aos dois momentos apontados pelas teorias anteriores, asseverando que
tempo do crime será o da ação ou omissão, bem como o do momento do resultado.
O nosso Código Penal adotou a teoria da atividade, conforme se verifica da análise de seu
art.4º, pois é neste momento que o indivíduo exterioriza a sua vontade, violando o preceito
proibitivo. Isso evita, por exemplo, o fato de uma conduta, praticada licitamente sob o império
de uma lei, poder ser considerada crime, em razão de o resultado vir a produzir-se sob o
império de outra lei incriminadora. Consoante Bitencourt, o CP, implicitamente, adota algumas
exceções à teoria da atividade, como, por exemplo: o marco inicial da prescrição abstrata
começa a partir do dia em que o crime se consuma; nos crimes permanentes, do dia em que
cessa a permanência; e nos de falsificação e alteração de assentamento do registro civil, da data
em que o fato torna-se conhecido (art.111). Sobre o tema, atentar, ainda, à redação da súmula
711 do STF.
2 – Lugar do crime: Aqui também três principais teorias procuram precisar o locus commissi
delicti, a saber: (i) teoria da ação ou da atividade, (ii) teoria do resultado ou do evento e (iii)
teoria unitária, mista ou da ubiquidade.
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GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 24. Lívia de Oliveira Spessatto
Nosso Código Penal adotou a teoria da ubiquidade, segundo a qual lugar do crime será o da
ação ou omissão, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado (art.6º). Com
a adoção da teoria da ubiquidade, resolvem-se os problemas já há muito apontados pela
doutrina, como aqueles relacionados aos crimes à distância, em que ação e resultado realizam-
se em lugares diversos. Evita-se, ainda, o inconveniente dos conflitos negativos de jurisdição (o
Estado em que ocorreu o resultado adota a teoria da ação e vice-versa). Eventual duplicidade de
julgamentos é superada pela regra constante do art.8º do CP, que estabelece a compensação de
penas, uma modalidade especial de detração penal. A teoria aludida resolve problemas de
direito penal internacional, razão pela qual não se destina à definição de competência interna,
mas, sim, à determinação da competência da justiça brasileira. Embora competente a justiça
brasileira, pode acontecer que, em virtude de convenções, tratados e regras de direito
internacional, o Brasil deixe de aplicar a sua lei penal aos crimes cometidos em território
nacional.
3 – Territorialidade da lei penal: Pelo princípio da territorialidade, aplica-se a lei penal
brasileira aos fatos puníveis praticados no território nacional, independentemente da
nacionalidade do agente, da vítima ou do bem jurídico lesado. A regra da territorialidade da lei
penal está insculpida, no ordenamento jurídico pátrio, no art.5º, caput, do CP, que determina a
aplicação da lei penal brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras do direito
internacional, ao crime cometido no território nacional. Percebe-se que o Brasil não adotou
uma teoria absoluta da territorialidade, mas sim uma teoria conhecida como temperada ou
atenuada, haja vista que o Estado, mesmo sendo soberano, em determinadas situações, pode
abrir mão da aplicação de sua legislação, em virtude de convenções, tratados e regras do direito
internacional.
O Código criou, pois, um temperamento à impenetrabilidade do direito interno ou à
exclusividade da ordem jurídica do Estado sobre o seu território, permitindo e reconhecendo,
em determinados casos, a validez da lei de outro Estado. É obséquio à boa convivência
internacional, e quase sempre sob a condição de reciprocidade, que o território do Estado se
torna permeável pelo exercício de alheia soberania.
Em sentido estrito, efetivo ou real, o território abrange o solo e o subsolo, sem solução de
continuidade e com limites reconhecidos, as águas interiores, o mar territorial, a plataforma
continental e o espaço aéreo.
O §1º do citado art.5º considera, para efeitos penais, como extensão do território nacional
(território por extensão ou flutuante) as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza
pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as
aeronaves e embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem
respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.
O §2º do art.5º determinou, outrossim, a aplicação da lei penal brasileira aos crimes
praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada,
achando-se as aeronaves em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo
correspondente e as embarcações, em porto ou mar territorial do Brasil. O legislador, como se
verifica, referiu-se tão somente às aeronaves e embarcações de propriedade privada, haja vista
que as de natureza pública ou a serviço de governo estrangeiro são também consideradas como
extensão do território correspondente à sua bandeira.
Cumpre, por fim, repisar que o Código Penal adotou, como regra, o princípio da
territorialidade e, como exceção, os seguintes princípios: a) real, de defesa ou de proteção
(aplica-se a lei de nacionalidade da vítima ou do bem jurídico lesado – art.7º, I e §3º); b)
universal ou cosmopolita (o agente fica sujeito à lei do país onde for encontrado – art.7º, II, a);
c) nacionalidade ativa (aplica-se a lei da nacionalidade do agente – art.7º, II, b); d)
nacionalidade passiva (aplica-se a lei da nacionalidade do agente somente quando este ofender
um concidadão – art.7º, §3º); e e) representação, da bandeira ou princípio da subsidiariedade
(a lei penal nacional aplica-se aos crimes praticados em aeronaves e embarcações privadas,
quando no estrangeiro e aí não sejam julgadas – art.7º, II, c).
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PONTO N. 24. Lívia de Oliveira Spessatto
4 – Extraterritorialidade da lei penal: Ao contrário do princípio da territorialidade, o
princípio da extraterritorialidade preocupa-se com a aplicação da lei penal brasileira às
infrações cometidas além de nossas fronteiras, em países estrangeiros. As situações de
aplicação extraterritorial da lei penal brasileira estão previstas no art.7º e constituem exceções
ao princípio da territorialidade. A extraterritorialidade pode ser (i) incondicionada, (ii)
condicionada ou (iii) hipercondicionada. (i) Extraterritorialidade incondicionada (art.7º, I e
§1º): aplica-se a lei brasileira sem qualquer condicionante (art.7º, I), na hipótese de crimes
praticados fora do território nacional, ainda que o agente tenha sido julgado no estrangeiro,
independentemente da concordância do país onde o crime ocorreu, do ingresso do agente no
território brasileiro (podendo, no caso, ser julgado à revelia) e da circunstância de o fato ser
lícito no país onde praticado ou de encontrar-se extinta a punibilidade do agente. (ii)
Extraterritorialidade condicionada (art.7º, II e §2º): aplicável a lei brasileira aos crimes
previstos no inciso II (alínea “a” – princípio da justiça universal; alínea “b” – princípio da
nacionalidade ativa; e alínea “c” – princípio da representação), praticados fora do território
nacional, desde que satisfeitas as seguintes condições: a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que praticado; c) crime extraditável, segundo a lei
brasileira; d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena; e)
não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a
punibilidade, segundo a lei mais favorável. (iii) Extraterritorialidade hipercondicionada (art.7º,
§3º): além das condições estabelecidas no §2º, a aplicação da lei brasileira ao crime previsto no
§3º se sujeita, ainda, às seguintes: a) não foi pedida ou foi negada a extradição; e b) requisição
do Ministro da Justiça.
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PONTO N. 24. Filipe Albernaz Pires
Item B: Crimes cometidos por particular contra a administração pública estrangeira.
Obras consultadas: Código penal comentado. Cezar Roberto Bitencourt (2009). Direito Penal,
vol. 4. Damásio E. de Jesus (2009). Curso de direito penal brasileiro, vol. 3. Luiz Regis Prado
(2010).
1 – Noções gerais: capítulo introduzido pela Lei 10.467/2002, a fim de dar cumprimento à
Convenção sobre o Combate à Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações
Comerciais, promulgada pelo Decreto 3.678/2000.
3 – Competência: são de competência da Justiça Federal, uma vez que se trata de crime
transnacional que o Brasil se obrigou a reprimir (CF, art. 109, V) 55.
55Em consulta à jurisprudência do STF, STJ e TRFs, não se constatou a existência de qualquer julgado relativo a “crimes cometidos por
particular contra a administração pública estrangeira”.
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PONTO N. 24. Filipe Albernaz Pires
Palavras-chave: regularidade das relações comerciais internacionais, corrupção ativa,
tráfico de influência, competência da Justiça Federal.
GRUPO IV – DIREITO PENAL
PONTO N. 24. Filipe Albernaz Pires
ITEM C: Trabalho escravo
Obras consultadas: CUNHA, Rogério Sanches. “Código Penal para Concursos”, Ed. Juspodivm, 2ª
ed., 2009. Anotações de aulas (diversos). DELMANTO, Celso et alli. Código Penal comentado. 7.
ed. São Paulo: Renovar, 2007. GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal: parte especial. Volumes 3
e 4. 5. ed. Niterói: Ímpetos, 2008. JESUS, Damásio E. de. Código Penal anotado. 17. ed. São
Paulo: Saraiva, 2006. BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal, v. 1, 2, 3, 4 e 5. 16
ed. São Paulo: Saraiva, 2011. CASTILHO, Ela Wiecko Volkmer. Considerações sobre a
interpretação jurídico-penal em matéria de escravidão. Estudos Avançados, São Paulo, v. 14, n.
38, p. 51-65, 2000. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S0103-40142000000100. CASTILHO, Ela Wiecko Volkmer. Novas
perspectivas para a tese da competência da Justiça Federal para o crime de trabalho escravo.
Boletim dos Procuradores da República, n. 66, 2005. Disponível
em:http://pfdc.pgr.mpf.gov.br/atuacao-e-conteudos-de-
apoio/publicacoes/trabalhoescravo/Artigo_Novas_Perspectivas_Dra_Ela.pdf. Acesso em
10/12/2011.
Nota: o resumo a seguir foi elaborado a partir do trabalho anterior do grupo de aprovados no
25º concurso.
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