Artigo - Rinaldo Zamai - MS-102A
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UNICAMP – [email protected]
Resumo: Este trabalho discorre sobre uma análise composicional e auditiva do quarteto de
cordas op. 59 n. 1 de Ludwig van Beethoven. Também apresenta qual a percepção e a
sensação emotiva evocada que a maioria das pessoas tem ao ouvir distintos trechos pré-
selecionados deste quarteto. Aborda ainda aspectos históricos e sociais, buscando fornecer
mais conhecimento a possíveis intérpretes. Por fim, busca elucidar como o compositor
envolve seus ouvintes e proporciona-os múltiplas experiências emotivas.
Perception, cognition and affection in the Strings Quartet Opus 59 n. 1 by Ludwig van
Beethoven. An analysis of composition and evoked emotions
Abstract: This paper discusses about a compositional and auditory analysis of the string
quartet op. 59 n. 1 by Ludwig van Beethoven. It shows what the perception and emotional
feeling evoked that most people have when listening to different pre-selected parts of this
quartet. It also addresses historical and social aspects, seeking to provide more knowledge
to potential interpreters. Finally, it seeks to elucidate how the composer engages his
listeners and provides them with multiple emotive experiences.
1. Contextualização histórica
Este primeiro quarteto conta com uma duração média de quarenta minutos,
algo que foi relevante para a época, já que a maioria dos trabalhos desse gênero tinha
uma duração aproximada de vinte a vinte e cinco minutos.
A primeira ideia musical temática segue até o compasso 122, onde se inicia
uma nova ideia que é concluída no compasso 132. As ideias temáticas apresentadas na
segunda área tonal mostram-se complementares, onde a primeira frase apresenta uma
função de antecedente e a segunda frase, função de consequente.
pausa no compasso 170. Logo, reapresenta o tema “A2”, dessa vez em Si maior. No
compasso 177 apresenta o motivo “X” ainda em Si maior, mas já caminhando para uma
modulação enarmônica, perceptível no primeiro violino que alterna lá sustenido por si
bemol nos compassos 183 e 184. Segue desenvolvendo o motivo “X” em diversas áreas
tonais, utilizando praticamente todos os acordes que o sistema tonal no início no século
XIX disponibilizava (maiores, menores, dominantes com sétima e diminutos). No
compasso 237 Beethoven realiza uma cadência com um acorde de Fá sustenido
diminuto, mas enarmarmonizando no violoncelo, escrito como Sol bemol ao invés do
Fá sustenido.
A coda é iniciada com uma fuga que começa ser apresentada pelo
violoncelo no compasso 404, depois agrega viola no compasso 407 e por último,
violinos no compasso 411, seguindo até reapresentar o motivo “X” (violoncelo) com
melodia (demais instrumentos) a partir do compasso 420 em Si bemol maior. Segue
apresentando e ainda desenvolvendo todos os elementos musicais já apresentados,
intensificando as cadências de dominante/tônica a partir do compasso 460 e concluindo
com muita energia os últimos quatro compassos.
MS – 102A Tópicos Especiais em Fundamentos Teóricos – Percepção, Cognição e Afeto
segundo semestre de 2018.
6. Percepção Musical
7. Cognição Musical
8. Emoção Musical
“Toda música tem o seu poder expressivo, algumas mais e outras menos,
mas todas têm um certo significado escondido por trás das notas, e esse significado
constitui, afinal, o que uma determinada peça está dizendo, ou o que ela pretende
dizer”.(COPLAND, 2013, p. 26)
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homofônico mais pomposo, leve e seccionado por pausas sutis, sempre criando
aparenta um caráter mais leve, delicado, amoroso (A3). Tercinas no primeiro violino
caráter mais enérgico. Cada instrumento caminha separadamente até cadenciarem juntos
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em Sol Maior. As tercinas dessa vez parecem mais vigorosas e com energia. Acordes
O tema (B) da segunda área tonal (Dó Maior) surge mais ornamentado, com
fluidez e às vezes em dueto. As tercinas voltam a aparecer a principio mais como um
comentário de brincadeira, depois como diálogo entre os instrumentos, tendo o primeiro
violino apresentando um comentário bem humorado a principio e depois mais
enfurecido. Por fim as tercinas são executadas homofonicamente com bastante energia,
mas com um caráter suspensivo.
Duetos harmônicos sutis são apresentados como se fosse algo que não
tivesse fazendo parte da música, parecendo um comentário, um sussurro. Depois forte e
vigoroso, como que se fosse um grito de furia.
música se alterna com contraponto imitativo e duetos até o primeiro violino insistir com
um ostinato ascendente deixando a música cada vez mais leve e suspensiva até tocar
sozinho uma única nota antes de todos retomarem com muita energia o tema secundário
(A2).
Beethoven inicia uma nova área tonal e um novo tema é apresentado (B)
pelo primeiro violino, com um caráter mais escuro, melancólico e dramático. Este tema
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é repetido mais vezes, cada vez com mais energia e sempre com alterações na
instrumentação. É diluído com uma escala descendente iniciada pelo primeiro violino e
concluída no violoncelo. Reapresenta timidamente o primeiro motivo direcionando
para apresentar o segundo motivo de forma mais alegre, leve e bem humorada com
elementos sincopados do primeiro violino. A harmonia começa a mudar e o elemento
sincopado que antes tinha um caráter leve e engraçado começa a se tornar tenso e
dramático. Para finalizar o trecho, Beethoven utiliza elementos escalares e uma parada
abrupta.
Reinicia com o tema leve e lírico (coral) que fora apresentado na exposição,
cadenciando e começando outro tema leve e de certa maneira infantil e ingênuo,
diferente do que foi apresentado anteriormente na exposição contrapondo a expectativa
do ouvinte. O tema carrega em seu final uma mudança repentina de humor através da
harmonia e da dinâmica que se intensifica, além da pulsação que é ralentada. O tema é
repetido com as mesmas características, mas desta vez a música segue ficando cada vez
mais furiosa e dramática. É seguida com muita energia até dissipar-se num tema leve e
delicado apresentado pelo primeiro violino. Um diálogo é iniciado entre os violinos e as
cordas graves sendo intensificado cada vez mais até todos tocarem juntos. A música
cresce gradualmente e a frase é interrompida com muita energia e tensão.
violino e finalizado com uma ornamentação e um arpejo. Todos cadenciam juntos com
um acorde de dominante em pizzacato. É esperado que se estabelecesse uma cadência
perfeita, para a finalização do movimento, mas Beethoven prolonga o final criando um
novo diálogo utilizando o mote principal. Inicia no primeiro violino, segue para o
segundo, depois para a viola e por fim todos atacam juntos e finalizam repetindo três
vezes o acorde da tônica do movimento.
A música segue até o primeiro violino iniciar uma cadência com apoio
harmônico dos demais instrumentos. O caráter musical perde sua densidade e
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Para a coda Beethoven inicia com uma fuga apresentada pelo segundo
violino utilizando motivos provenientes do tema folclórico e estabelece por um longo
período cadências autenticas imperfeitas. Antes de finalizar ainda utiliza passagem pela
subdominante e reapresenta o tema até diminui-lo quase que o deixando inaudível e
fazendo que o ouvinte acredite que a música seria finalizada desta forma. Beethoven
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emoção suscitada a euforia foi a opção mais escolhida com quarenta e dois por cento
das pessoas entrevistadas.
14. Conclusão
Referências:
COPLAND, Aaron. Como ouvir e entender música. Tradução de Luiz Paulo Horta. –
São Paulo: É Realizações, 2013.
KERMAN, Joseph. The Beethoven Quartets. New York: Alfred A Knopf Inc., 1966.
LEVITIN, Daniel. "This Is Your Brain On Music: The Science of a Human Obsession".
New York: Dutton/Penguin. 2006.
PARLOFF, Michael. Lecture on Beethoven Quartets; Op. 59, Nos. 1, 2, & 3. Disponível
em: < https://www.youtube.com/watch?v=W4uT9W9xaps&t=1469s> Acesso em 14
nov. 2018.