Aulas de Filosofia Da Linguagem
Aulas de Filosofia Da Linguagem
Aulas de Filosofia Da Linguagem
Curioso por natureza, o homem quer conhecer o que lhe cerca. Quer
aprender sobre as formas do universo, manipular técnicas, compreender
artes e descobertas científicas. Busca, assim, aprimorar seu repertório de
informações. Acredita, com isso, garantir uma posição estratégica frente
a outros de sua espécie.
Faz parte do instinto humano a atividade de competir. Jogar significa
poder vencer o inimigo. “A ânsia de ser o primeiro assume tantas formas
de expressão quantas as oportunidades que a sociedade para tal oferece”
(HUIZINGA, 1971, p.119).
O jogo se complica à medida que se amplia o saber humano. As
respostas se tornam cada vez mais insuficientes. As perguntas cada vez
mais intrincadas. Assim se arma a trama (o texto cultural), que tem a
seguinte regra: os contatos com o exterior (o mundo da ocorrência dos
fenômenos) passam a ser sentidos em uma zona de incertezas, uma
zona cinzenta, um lugar desconhecido.
É nessa zona de incertezas que se desenvolvem o mito e a magia, é
nessa zona que circulam fantasias e espectros, que a palavra, o sinal, a
representação, se impõem com a evidência da coisa, que o rito apela
para a resposta de um receptor-interlocutor imaginário. (MORIN, 1988,
p.104). Nesse espaço se trava o combate da figuração. De um lado, as
informações já decodificadas pelo cérebro. De outro, o ambiente, o lugar
estranho, onde vigoram leis não-conhecidas, mas determinantes sobre o
que será a “realidade” humana. Pouco se sabe sobre esse terreno, a não
ser que é escuro. É preciso chegar até esse território e ultrapassá-lo. Mas
só há um caminho, repleto de obstáculos. Temos que vencer o não-
conhecido sob pena de se estagnar, ou morrer, o que vem a ser
ideologicamente o mesmo. Chegar a um certo nível de repertório e
estagnar é próprio do homem. O medo de conhecer, de aprender as
coisas novas é um sentimento incomensurável. Superá-lo requer um
ritual que depende de um combinado de forças: interesse, vontade e
condições físicas para o saber.
Praticamente, ao codificar uma informação nova, externa, o homem
estrutura sua noção de mundo. Conta com o trabalho de agentes
culturais, que se encarregam de préselecionar e divulgar objetos e fatos
que se tornarão modelos. Consumidos, reprocessados, esses modelos
serão a base do código de valores que norteará o jogo: suas regras.
Ordenado, o exterior humano ganhará significação. Codificado, o mundo
se convenciona. A zona de incerteza, cinzenta, se clareia. E o homem se
liberta, aprendendo. Mas se aprisiona, se condicionando.
Os lingüistas da Escola de Tartu, Iuri Lotman e Boris Uspenski, explicam
que o homem traz em si uma predisposição a regular sua convivência em
sociedade (LOTMAN;USPENSKI, 1979, p. 6). Conforme Baitello Jr.
(1997), sem a existência de um código ou um conjunto de códigos de
natureza social, não seria possível a formação e manutenção de
comunidades sociais. O teórico tcheco Ivan Bystrina chama esses códigos
de “secundários ou de linguagem”, determinando que suas unidades
mínimas são os signos. Na próxima aula veremos qual é a sistematização
da codificação da cultura humana proposta por Ivan Bystrina.
Aula: 04 - Temática: A noção de código de linguagem