Euguénio de Andrade
Euguénio de Andrade
Euguénio de Andrade
e frio no coração.
e olhos de oiro
onde ardiam
e silêncio
Eugénio de Andrade
Vamos primeiro fazer uma breve contextualização sobre o poeta. Eugénio de Andrade é um
tradição lírica portuguesa; está presente a simbologia do corpo, da natureza, dos animais e da
água. Os poemas são na maioria breves, ora eufórios, ora melancólicos e sempre avessos à
morte mas todos com uma linguagem simples. O poema que vamos analisar chama-se
“amantes sem dinheiro” e foi publicado em 1950. Este poema está no nosso manual, pelo que
antes de analisarmos vamos lê-lo.
Antes de começarmos a dita análise, acho que ao ler-mos o poema se aperceberam de que
existem alguns versos começados com o verbo “tinham”. O titulo do poema tem como função
conjunto com cada estrofe, em separado, vão reparar que parece que faz mais sentido o que é
Apesar de parecer que há um contraste entre o sentido de escassez que o titulo anuncia, e os
versos que iniciam cada estrofe, o poema revela que o amor pode trazer outras formas de
riqueza e outras formas de “ter” que ultrapassam o lado financeiro. Este poema serve então
amor não é descrito como sendo perfeito, um ambiente em que tudo “é um mar de rosas”. No
entanto, ao longo do poema percebemos que é por causa disso mesmo, do amor, que os
Os verbos “tinham, ardiam, fazia e nascia” são verbos que se destacam no poema por estarem
Em relação à estrutura externa, o poema é composto por 2 tercetos e duas sextilhas com a
Recursos expressivos:
( Conseguimos encontrar neste poema três recursos expressivos, alguém me sabe dizer quais
que deveriam ter algum jardim com um lago ou uma fonte porque é referido a água
Metáfora: verbos 16-18 – A referencia ao pássaro transmite uma ideia de liberdade no sentido
de criarem sensações ricas um com o outro, em casal, fruto do amor, mais valiosas do que o
dinheiro. Como forma de conclusão do poema, no verso 16 está presente uma conjunção
coordenativa adversativa, que tal como já dissemos, vem referir que a riqueza sentimental,
quero dizer que nos dias de hoje, também se pode criticar o materialismo e o consumismo.
Com a ajuda deste poema, queremos dizer-vos que vivam a vida de forma simples e leve com
base em sonhos e em coisas não materiais, que não se compram, com valor emocional e não
um valor financeiro, porque são essas pequenas coisas que nos vão fazer ser pessoas mais
felizes.
ADEUS
e eu acreditava.
Já gastámos as palavras.
Adeus.
Eugénio de Andrade
Análise
• O título “Adeus” indica-nos uma despedida, uma conclusão ou provavelmente um fim. Em relação
ao conteúdo do poema, transmite-se a ideia de um amor gasto, corrompido pelo tempo, e agora
estéril, e se esse amor não mais existirá, chegou ao fim. • Relativamente ao aspecto do poema,
pode-se dizer que se trata de uma relação amorosa que há muito foi perfeita, cheia de magia e bons
momentos, mas agora a química acabou e acabaram por cair na realidade. Consegue-se perceber ao
longo do poema a existência de um “Eu” que já não ama o “Tu” e portanto quer se livrar de tudo o
que acontecera em tempos, quer se despedir de tudo o que lhe faça relembrar o “Tu”, visto que o
sonho acabara, o paraíso já não é mais um lugar mágico, mas a realidade humana. Já não vê nele o
“para sempre”, acordou do sonho que vivera agarrado ao “Tu”, e sente que é altura de deixar o
passado.
13. Análise (continuação) • Ao nível da pontuação apenas de destaca os dois pontos para introduzir
falas anteriores do “Eu” que são palavras intensas para o “Tu”, o que sugere um Tu choroso e traído
pelo o “Eu”. • A existência das imagens fabulosas que o sujeito poético nos transmite ao longo dos
versos, ajudam a entender os sentimentos de impaciência, tristeza, cansaço, e de coragem para
deixar aquele que já o fez muito feliz. • O poema é constituído por seis estrofes e trinta e sete
versos. A primeira estrofe é uma oitava, a segunda estrofe é uma nona, a terceira e a quarta estrofe
são sétimas, a quinta estrofe é uma quintilha e a sexta estrofe é um monóstico. Sendo assim, as
estrofes estão dispostas de forma irregular e não apresenta esquema rimático uma vez que se trata
de versos soltos. • Escansão métrica: – Já/gas/tá/mos/as/pa/la/vras/pe/la/rua,/meua/mor, –
Em/es/pe/ras/inú/teis.
14. Análise (continuação) • 1º estrofe: A repetição do verbo gastar revela a inutilidade de palavras
trocadas, do barulho e discussões, das lágrimas derramadas, da troca de toques entre ambos, do
tempo desperdiçado à espera para reparar os erros cometidos e para salvar a relação. O “Eu” trata
esta relação como algo irremediável, e devido a todo o cansaço e frustração gasta nesta relação,
deseja calar o “Tu” e afastá-lo de vez. • 2º estrofe: Agora não sente nada, não lhe deve nada ao
“Tu”, mas antes, quando estava apaixonado, sentia que o “tu” era dele, passaram bons momentos,
inesquecíveis, e quanto mais sorrisos, trocas de afectos e um amor em crescimento eles tinham,
maiores, mais importantes e felizes momentos eram. Antes o “Eu” acreditava em tudo o que o “Tu”
dizia, como os olhos verdes como peixes, pois ao lado do “Tu” tudo era possível, real, verdadeiro,
um mundo só deles.
15. Análise (continuação) • 3º estrofe: O “Eu” deixou de ver no “Tu” um ponto de abrigo, o seu lar, o
seu aquário, uma vez que os seus olhos eram peixes verdes. O “Tu” era o paraíso para o sujeito
poético, o lugar ou a pessoa com quem podia abandonar a realidade e aventurar-se (mergulhar) no
mundo da fantasia. Triste e magoado, olha para si próprio e vê-se novamente humano, é igual a
todos os outros. O “Tu” fazia do sujeito poético um ser único, especial, só do “Tu”. • 4º estrofe: O
excesso de comunicação, nasceu para esquecer a inquietação que o pressentimento do fim faz sentir
e os amantes gastaram até à exaustão todos os recursos que tinham para recuperar a felicidade
perdida. Mas agora, sabe que nada se passa no coração dele, a relação está destruída, estão
separados e entre ambos já não existe mais nada que os una. No entanto, antes da falta de
comunicação ou do excesso, os dois estavam muito apaixonado, eram felizes, não se cansavam um
do outro, havia uma magia naquele amor, provocava no sujeito poético um nervosinho miudinho só
de ouvir o nome do “Tu”.
16. Análise (continuação) • 5º estrofe: Ao reinventarem o mundo só deles, dia após dia, desgastaram
a capacidade limitada das palavras para exprimirem o que estava em transformação permanente. O
sujeito poético estava preso naquele paraíso, no “Tu”, na magia que é o amor, e devido a palavras
que mascaram sentimentos, o “Eu” e o “Tu” ficaram presos do que diziam e rediziam um ao outro. A
magia daquele amor e das palavras desabou, e o paraíso que ambos criaram desapareceu, deixando
apenas o frio, e momentos de solidão, tédio, desinteresse e por fim o gasto de tudo. O passado
agora já não é relevante, ficou para trás, assim como os momentos e palavras usadas. • 6º estrofe: O
amor que ambos tinham um pelo o outro chegara ao fim, já não há nada a fazer ou dizer e portanto,
o sujeito despede-se do “Tu” para sempre, afasta-se.
17. Análise (continuação) • “…meu amor”: apóstrofe. • “para afastar o frio de quatro paredes.”:
perífrase (silêncio). • “Gastámos…”: anáfora, uma vez que se repete várias vezes ao longo do poema.
• “…os teus olhos são peixes verdes.”: metáfora. • “…tempo dos segredos”: perífrase (tempo que só
os 2 sabiam da vida um do outro). • “…teu corpo era um aquário,”: imagem. • “só de murmurar o
teu nome/ no silêncio do meu coração.”: antítese. • “Já gastámos as palavras…”: e todos os versos
em que aparece “Já gastámos…” é imagem.
As palavras
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.
Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.
Desamparadas, inocentes,
leves.
e são a noite.
E mesmo pálidas
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
Formalmente, o poema é constituído por quatro estrofes, duas sextilhas e duas quadras,
num total de 20 versos, maioritariamente brancos ou soltos, à exceção do 1 e do 3, que apresentam
rima cruzada, e aborda o tema da reflexão sobre o valor polissémico das palavras.
Logo a abrir, as palavras são comparadas a um cristal, revelando-se, assim, desde logo o seu
sentido polissémico, devido ao facto de os cristais possuírem várias faces, tal como a palavra possui
vários sentidos. Além disso, como os cristais, as palavras podem adquirir vários significados
(polissemia), podem ser claras, transparentes, belas, brilhantes, isto é, são “multifacetadas”. De
seguida, são identificadas com um punhal, metáfora que remete para a agressividade, dor, morte e
sofrimento que podem carregar; com um incêndio, pois podem queimar, destruir, aludindo pois à
sua capacidade de destruição e também de regeneração; e finalmente com o orvalho “apenas”,
metáfora que nos conduz à suavidade das palavras, capazes de despertar a calma, a brandura, o
amor e a esperança.
A segunda estrofe ensina-nos que as palavras são essenciais na comunicação entre os seres
humanos e intemporais, pois têm carregado, através dos tempos, as histórias e os segredos dos
homens. Com o passar do tempo vão recebendo novos significados, evoluindo, carregando os
segredos da história dos homens e acompanhando os seres humanos como instrumento
indispensável de comunicação; trazem consigo um saber muito antigo (“Secretas vêm, cheias de
memória”). Em simultâneo, porém, também causam insegurança e agitam as pessoas, fazendo-as
estremecer como os barcos, que agitam as águas, e os beijos, que também fazem estremecer. Com
efeito, os versos 8 a 10 (“Inseguras navegam / barcos ou beijos / as águas estremecem”) revelam
insegurança quer das palavras, que agitam as pessoas, quer dos barcos, que agitam as águas. Ao
amor representado pelos beijos, ninguém lhes fica indiferente, assim como às palavras.
O poema termina com duas interrogações retóricas, através das quais o eu poético chama a
atenção do leitor, dizendo-lhe que lhe cabe o papel de intérprete das palavras, do seu significado, de
acordo com a sua experiência de vida, com o seu modo de sentir. É o leitor que vai abrir as conchas
puras, com as palavras lá dentro cheias de mistério, atribuindo-lhes um sentido. As interrogações
retóricas “Quem as escuta? Quem/as recolhe, assim, /cruéis, desfeitas, /nas suas conchas puras?”
apelam à releitura das palavras.
VER CLARO