Fichamento Fonética PDF

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS


DEPARTAMENTO DE LINGUÍSTICA E LÍNGUA PORTUGUESA
CURSO: Fonoaudiologia DISCIPLINA: Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
PROFESSOR: Isaías Moreira Ferreira DATA: 23/10/2019 PERÍODO: 2019.2
ALUNO(A): Raiana de Souza Pires MATRÍCULA Nº: 20190060759

Fichamento por Transcrição: Segmentos Fonéticos

SEARA, Izabel Christine; NUNES, Vanessa Gonzaga; LAZZAROTO-Volcão,


Cristiane. Fonética e fonologia do português brasileiro : 2º período. – Florianópolis:
LLV/CCE/UFSC, 2011. P.25-p.46.

A divisão tradicional entre vogais e consoantes em nível de articulação deve ser


entendida a partir da liberação do fluxo de ar dos pulmões. Nas vogais, não há
nenhum impedimento a essa passagem de ar, ou seja, os segmentos vocálicos são
produzidos com o fluxo de ar passando livremente ou praticamente sem obstáculos
(obstruções ou constrições) no trato vocal. Já as consoantes são articuladas a partir
de alguma obstrução no trato oral, seja ela parcial ou total. Uma outra diferença entre
esses dois tipos de sons é que as vogais são vozeadas, isto é, são produzidas com
a vibração das pregas vocais, enquanto as consoantes podem ou não ser produzidas
com vibração das pregas vocais. Assim podem ser vozeados ou não-vozeados. (p.25)

1. Segmentos Vocálicos

Vogais são sons produzidos com o ar saindo dos pulmões (fluxo de ar


egressivo). Os sons vocálicos se diferenciam dos consonantais pela inexistência de
obstrução à saída de ar no trato vocal. (p.25)
As vogais podem ser ainda classificadas como orais e nasais. Na produção das
orais, o véu do palato fecha a passagem à cavidade nasal, fazendo com que o ar saia
somente pelo trato oral. Nas vogais nasais, o véu palatino encontra-se abaixado,
permitindo que o ar passe também pelas cavidades ressoadoras nasais.
Para a classificação articulatória das vogais, estão envolvidos o corpo da língua
e os lábios. O corpo da língua pode movimentar-se verticalmente, levantando-se ou
abaixando-se, ou horizontalmente, avançando ou recuando. A mandíbula auxilia na
abertura do trato oral para a diferenciação entre vogais abertas e fechadas. O
parâmetro que define o movimento vertical da língua é denominado altura e o que
define o movimento horizontal (avanço/recuo) denomina-se
anterioridade/posterioridade. Há ainda a possibilidade de os lábios estarem distensos
ou arredondados. O movimento de arredondamento dos lábios ocorre na produção
de vogais ditas arredondadas. As demais são articuladas com os lábios distensos e
são classificadas como não-arredondadas. (p.26)
Com relação à altura da língua, no PB, existem quatro níveis:

❖ Altas: Aquelas em que o dorso da língua se eleva ao máximo estreitando o


trato, mas sem produzir fricção (produção de [ i ] e [ u ]).
❖ Médias-altas: Aquelas em que o dorso da língua encontra-se em uma posição
intermediária entre a posição mais alta e a mais baixa, localizando-se, no
entanto, mais próximo da posição mais alta (produção de [ e ] e [ o ]).
❖ Médias-baixas: Aquelas em que o dorso da língua encontra-se em uma
posição intermediária entre a apresentada nas vogais altas e aquela mostrada
para as vogais baixas. A língua localiza-se, no entanto, em uma posição mais
próxima à vogal baixa (produção de [ Ɛ ] e [ ᴐ ]). (p.27)
❖ Baixas: Aquelas em que a língua se encontra na posição mais baixa no trato

oral (produção de [ a ] e [ ᵄ ]) (p.28)

Outros autores (MALMBERG, 1954; MAIA, 1991) têm classificado as vogais em


função da abertura/fechamento do trato oral. Dessa forma, como na pronúncia das
vogais altas o trato oral está mais fechado do que na pronúncia das vogais baixas, as
altas são classificadas como fechadas e as baixas como abertas, as demais seriam
meio-fechadas e meio-abertas.
Ainda conforme o avanço ou recuo da língua, as vogais podem ser classificadas
como:

❖ Anteriores: Na produção de vogais anteriores, a língua se eleva para frente,


como se observa na pronúncia de [ Ɛ ], [ e ] e [ i ].
❖ Posteriores: Nas vogais posteriores, o dorso da língua progressivamente se
eleva para trás, como ocorre na pronúncia de [ ᴐ ], [ o ] e [ u ] .
❖ Centrais: Na pronúncia da vogal [ a ], a língua está abaixada e um pouco mais

avançada do que para a produção da vogal [ ᵄ ] . (p.28)

As vogais podem ser classificadas ainda pela posição assumida pelos lábios.

❖ Arredondadas: Vogais produzidas com os lábios arredondados. São elas: [ ᴐ ],


[ o ] e [ u ]. As vogais arredondadas são também chamadas de labializadas
❖ Não-arredondadas: Vogais produzidas com os lábios distendidos. São elas: [

Ɛ ], [ e ], [ i ], [ ᵄ ] e [ a ].(p.30)

1.1 Vogais Cardeais

Para que se pudesse fazer comparações entre as vogais de diferentes línguas,


foram determinados pontos ideais de articulação de vogais, que serviriam como
referência para a localização das vogais de diferentes línguas. Esses pontos são
estabelecidos a partir de limites articulatórios. Essas vogais são chamadas de
cardeais e, em princípio, não pertencem a nenhuma língua específica.

1.1.1 Vogais Cardeais Primárias

Para o estabelecimento dos pontos de referência para vogais cardeais


primárias, são produzidas duas vogais. Conforme Cagliari (1981), a primeira (VC 1)
deve ser pronunciada com a ponta da língua para baixo e o mais elevada possível,
sem causar fricção quando a corrente de ar passar por esse estreitamento, ficando a
maior constrição nas regiões palatoalveolar e palatal. A segunda vogal (VC-5) deve
ser produzida com a língua na posição mais retraída e abaixada possível na porção
posterior do trato oral, também sem causar nenhuma fricção. (p.32)
A partir da posição da primeira vogal e conservando sempre a língua na posição
mais avançada possível, marcam-se três pontos equidistantes, auditiva e
articulatoriamente, sendo que o terceiro deles determina a posição da língua mais
avançada e abaixada possível. Surgem então as vogais cardeais primárias VC-1, VC-
2, VC-3 e VC-4. (p.32-33)
Com a posição da segunda vogal (VC-5), anteriormente mencionada, e
conservando-se a língua o mais recuada possível, determinam-se mais três pontos
equidistantes, auditiva e articulatoriamente, em direção do palato, novamente sem
causar fricção. Daí são estabelecidas as vogais cardeais primárias VC-5, VC-6, VC-7
e VC-8.
Para essas vogais, é considerada a posição dos lábios. Para a articulação das
vogais VC-1 a VC-4 não há protrusão dos lábios, mas, para as vogais VC-5 a VC-8,
há uma crescente projeção dos lábios para frente e estreitamento do orifício labial.
(p.33)

1.1.2 Vogais Cardeais Secundárias

As vogais cardeais secundárias articulam-se com a mesma posição da língua


das vogais cardeais primárias, porém com a posição dos lábios invertida. Surgem
assim as vogais VC-9, VC-10, VC-11, VC-12, VC-13, VC-14, VC-15 e VC-16. Por
exemplo: a VC-9 tem a posição da língua empregada na articulação da VC-1 (ponta
da língua para baixo e o mais elevada possível) e a posição dos lábios empregada
para a articulação de VC-8 (protrusão labial). Já a VC-16 apresenta a posição da
língua utilizada na articulação da VC-8 e a posição dos lábios empregada na
articulação de VC-1. (p.33-34)
Além das vogais cardeais secundárias [...] ainda temos as vogais cardeais
secundárias periféricas. Em uma posição de língua intermediária entre aquela
empregada na articulação de VC-1 e a empregada para VC-8, encontram-se as
vogais secundárias periféricas VC-17 (sem protrusão dos lábios) e VC-18 (com
protrusão labial semelhante à da VC-8). Com a língua em posição intermediária entre
a articulação de VC-2 e VC-7, localizam-se as vogais secundárias VC-19 (sem
labialização) e VC-20 (com labialização similar à empregada para VC-7). Por fim, em
posição de língua intermediária entre a articulação de VC-3 e VC-6, encontram-se as
vogais secundárias periféricas VC 21 e VC-22. (p.34)
A partir dessas considerações, podemos analisar vogais e usar o diagrama [...]
a seguir para posicionar as vogais pesquisadas. (p.35) Caso não possamos ou não
queiramos representar a qualidade das vogais através do diagrama vocálico,
podemos transcrever essas vogais usando o símbolo das vogais cardeais mais
próximas e adicionando diacríticos*. (p.35-36)
*Diacríticos são sinais gráficos adicionados a um símbolo fonético para
representar deslocamentos em relação à qualidade das vogais cardeais. Esses
elementos auxiliam a representação dos sons da fala, pois os símbolos fonéticos não
dão conta de todas as variantes encontradas na fala natural. (p.36)

1.2 Vogais Nasais

[...] existem segmentos vocálicos que são produzidos com o véu do palato
abaixado, levando a corrente de ar a passar tanto pela cavidade oral quanto pela
nasal. Esse tipo de articulação traz modificações mais acentuadas para umas vogais
do que para outras.
❖ As vogais articuladas com a língua em posição elevada, como as altas [ i ] e [
u ], apresentam um pequeno abaixamento do véu palatino. (p.37)
❖ A articulação de vogais nasais que são produzidas com a língua na posição
mais baixa necessita de um maior abaixamento do véu palatino para elas
soarem como nasais. (p.38)
❖ As vogais que são realizadas com um gradual abaixamento da língua, como
as médias, terão, na produção de suas vogais nasais correspondentes, um
abaixamento também gradual do véu do palato. (p.39)

1.3 Propriedades Articulatórias Secundárias

Além das propriedades anteriormente apresentadas para a definição de


segmentos vocálicos, ainda podemos caracterizá-los a partir de algumas
propriedades articulatórias secundárias, como: duração, desvozeamento,
nasalização e tensão.
❖ Duração: É uma medida relativa, podendo ser usada para fins comparativos.

Os diacríticos empregados para marcar a duração são: [ ˑ ][ ː][ ̌ ]. Assim,

ˑ
vogais longas são representadas como [ a ]; vogais com duração média, como

[aː] ; e as breves, como [ ă ] . Qualquer vogal pode apresentar essa

propriedade. Esses símbolos só devem ser usados quando, de fato, tal


característica for relevante para a língua.

❖ Desvozeamento: Normalmente, as vogais são segmentos vozeados (sonoros),


isto é, em sua articulação as pregas vocais vibram. No entanto, esses
segmentos podem ser produzidos sem essa vibração, ocorrendo assim o
desvozeamento. O diacrítico que representa a não-vibração das pregas vocais,

quando estas deveriam vibrar, é [ ̥ ] .

❖ Nasalização: [...] o diacrítico que assinala a nasalização é o [ ~ ] . Além das


vogais nasais, que ocorrem com o abaixamento do véu do palato, deixando o
fluxo de ar sair por duas cavidades (a oral e a nasal), temos vogais que são
nasalizadas em função dos contextos vizinhos. É o que ocorre em palavras
como cama, ninho, tenho, nas quais o abaixamento do véu do palato para a
articulação da consoante nasal adjacente é realizado antes da completa
articulação da vogal que antecede esse segmento nasal. Isso faz com que tais
vogais sejam percebidas como nasalizadas. (p.41)

❖ Tensão: Segmentos tensos são aqueles realizados com maior esforço


muscular e opõem-se a segmentos frouxos. No PB, as vogais átonas finais
como em safári e pato são frouxas em relação às tônicas finais de jacu e saci. (p.
42)

1.4 Encontros Vocálicos


No PB, atesta-se a ocorrência de encontros de dois ou três segmentos vocálicos
aos quais se dá respectivamente o nome de ditongos ou tritongos. Eles são formados,
em geral, pelas vogais altas anterior [ i ] e posterior [ u ]. Quando essas vogais ocupam
as posições periféricas da sílaba são chamadas de semivogais e apresentam menor
proeminência acentual se comparadas às vogais que acompanham. Nesse caso, são
representadas respectivamente pelos símbolos fonéticos [ j ] e [ w ].

1.4.1 Ditongos

Os ditongos constituem-se de dois segmentos vocálicos. Há, no entanto, duas


possibilidades de sequência em uma mesma sílaba:
vogal + semivogal ou semivogal + vogal
As sequências finalizadas por semivogal são sempre inseparáveis e são
chamadas de ditongos decrescentes, pois terminam pela vogal com menor
proeminência acentual. Na sequência semivogal + vogal, chamada de ditongo
crescente, já que é finalizada pelo segmento de maior proeminência (a vogal), há a
possibilidade de esses dois segmentos constituírem sílabas separadas. (p.42)

1.4.2 Monotongação: Monotongação é o processo pelo qual o ditongo passa a


ser produzido como uma única vogal. Nesse caso, há um apagamento da semivogal.
(p.43)

1.4.3 Tritongos

Nos encontros de três segmentos vocálicos, em que somente um deles ocupa o


pico silábico, temos os chamados tritongos. Alguns estudiosos consideram os
tritongos como a fusão de um ditongo crescente e um decrescente; outros consideram
que tritongos, precedidos de oclusivas velares, seriam certamente consoantes
complexas seguidas de ditongo. (p.44-45)
1.4.4 Hiatos

Há ainda encontros de duas vogais, cada uma constituindo o pico de uma sílaba.
Nesse caso, temos os hiatos. O hiato pode ser intravocabular, quando ocorre dentro
de uma palavra; ou intervocabular, quando é consequência do encontro entre uma
vogal final de uma palavra e a vogal inicial de outra. (p.45)

1.5 Ordem para Classificação de Vogais

Quando classificamos os sons vocálicos, primeiramente consideramos a altura


da língua, em seguida os classificamos em função de movimento horizontal da língua,
isto é, quanto à sua anterioridade (avanço) ou posterioridade (recuo) da língua. Por
fim, anotamos as características relativas ao arredondamento dos lábios, caso seja
pertinente. (p.46)

Vogal Classificação Exemplos Transcrições

Vogal alta anterior não- picado [ pi ‘kadᶷ ]


[i]
arredondada digo [ ‘digᶷ ]
Vogal alta anterior não-
[ɪ] arredondada (átona final tapete [ ta ‘petɪ ]
de palavra)
terei [ te’ Րej ]
Vogal média alta anterior
[e] tapete [ ta ‘pet ɪ ]
não-arredondada leite [ ‘lejte ]
Vogal média baixa anterior pezinho [ pƐ’ zĩᶮᶷ ]
[Ɛ]
não-arredondada pé [ ‘ pƐ ]
acaba [ a’ kabᵄ ]
[a] Vogal baixa anterior
pacata [ pa’ katᵄ ]
Vogal baixa central
[ ᵄ ]
(átona final de palavra)
pacata [ pa’ katᵄ ]

Vogal média baixa pozinho [ pᴐ’ zĩᶮᶷ ]


[ᴐ]
arredondada pó [ ‘ pᴐ ]

colado [ ko’ ladᶷ]


Vogal média alta
[o]
arredondada
todo [ ‘ todᶷ ]
pato
[ ‘ pato ]
Vogal alta posterior tabulado [tabu ’ ladᶷ ]
[u]
arredondada tudo [ ´tudᶷ ]
Vogal alta posterior
[Ʊ] arredondada tudo [ ‘ tudᶷ]
(átona final de palavra)
Tabela 1: Classificação das vogais orais. (p.47)

Vogal Classificação Exemplos Transcrições

[ã] Vogal nasal alta cama [ ‘ kãma ]

[ẽ] Vogal nasal média tenho [ ´tẽᶮᶷ ]

[ĩ] Vogal nasal baixa ninho [ ‘ nĩᶮᶷ ]

[õ] Vogal nasal média onça [ ′õsə ]

[ũ] Vogal nasal baixa bumbo [ b ′ũbu ]

Tabela 2: Classificação das vogais nasais

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