Segmentos Básicos Da Linguagem - Consoantes

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Vídeo 1 Basic “Segments of speech (consonants)”

Quantas vogais encontramos em inglês?

Muitos alunos, sem conhecimento prévio em fonética, diriam que são cinco vogais: I, E, A, O e
U. No entanto, essa resposta está baseada na ortografia, com pouca ou nenhuma relação com
a fala.

A Definição de Vogal em Termos Articulatórios

Se aplicarmos termos articulatórios, nos deparamos com uma definição completamente


diferente. Vogais são sons da fala que envolvem ar pulmonar e uma passagem de ar livre para o
trato vocal. Eles não podem ser produzidos com ar glotálico ou velar, então esses dois tipos de
corrente de ar estão fora da produção de vogais.

Diferença Entre Vogais e Consoantes

Ao contrário das consoantes, que podem ser descritas com base em diferentes pontos de
articulação, as vogais não podem ser facilmente descritas apenas com critérios articulatórios.
Em vez disso, são definidas em termos de um espaço vocal abstrato, que serve como um
sistema de coordenadas conhecido como quadro de vogais cardinais.

Desenvolvimento do Quadro de Vogais Cardinais

O quadro de vogais cardinais define quatro pontos de referência em termos puramente


articulatórios, representando os limites extremos possíveis da qualidade das vogais. Esses
limites dependem da posição da língua: onde a língua cria um estreitamento na boca e qual a
altura da língua. Assim, podemos definir quatro extremos:

1. Uma vogal com a posição mais alta da língua e a qualidade mais anterior. Este é o som
"E" mais alto possível.

2. Uma vogal oposta, com a posição mais baixa da língua, ou seja, com a boca aberta, e a
qualidade mais posterior. Este som envolve a língua baixa e posicionada para trás.

3. Um ponto de referência onde a língua está extremamente baixa e tem a qualidade


mais anterior.

4. Um som produzido com uma qualidade posterior, onde a língua está extremamente
alta na boca.

Construção do Quadrilátero das Vogais

Se combinarmos esses pontos extremos, obtemos um quadrilátero. Este quadrilátero, quando


retirado da boca, mostra os quatro pontos de referência: E, A, O e U. Esse quadrilátero, em
uma forma modificada com proporções geométricas bem definidas, serve como um modelo de
referência para a definição da articulação de outras vogais.

Definindo as Proporções do Modelo de Referência

Para construir este modelo de coordenadas:


 Precisamos de uma linha superior de quatro medidas de comprimento, desenhada
horizontalmente.

 Uma linha vertical direita de três medidas em relação às quatro da linha superior,
formando um ângulo de 90 graus.

 A linha inferior tem metade do comprimento da linha superior, também formando um


ângulo de 90 graus com a linha vertical direita.

 Finalmente, ligamos as extremidades das duas linhas horizontais para obter as


dimensões básicas do quadro de vogais cardinais.

Parâmetros para a Classificação de Vogais

Esse quadro de referência permite definir dois parâmetros principais para classificar as vogais:

1. Anterioridade-Posterioridade: vogais produzidas na frente da boca, onde a posição da


língua cria um estreitamento, são contrastadas com vogais posteriores, onde o
estreitamento ocorre na parte de trás.

2. Altura da Língua: vogais com posição alta da língua e vogais com posição baixa.

Assim, obtemos os quatro pontos de referência: E (vogal alta e anterior), A (vogal baixa e
anterior), O (vogal baixa e posterior) e U (vogal alta e posterior).

Inserção de Outros Pontos e Definição de Vogais Adicionais

Entre esses quatro pontos principais, podemos inserir dois passos equidistantes em termos
auditivos, definindo outras vogais. As linhas horizontais auxiliares nos ajudam a identificar duas
outras vogais:

 Uma vogal média-alta anterior ("E") e outra ("E").

 Uma vogal posterior "O" e outra "O".

O Parâmetro de Arredondamento dos Lábios

Um terceiro parâmetro importante é o arredondamento dos lábios. Algumas vogais são


produzidas com lábios arredondados (como "O"), enquanto outras têm lábios esticados (como
"E"). Esse parâmetro permite criar dois conjuntos de vogais cardinais:

 Conjunto Primário: com vogais que têm características específicas de altura,


anterioridade/posterioridade e arredondamento.

 Conjunto Secundário: obtido ao inverter o parâmetro de arredondamento, usando


lábios esticados onde antes eram arredondados e vice-versa.

Esses dois conjuntos de vogais cardinais permitem uma classificação completa e detalhada dos
sons vocálicos, usando o quadro de vogais cardinais como referência para estudar e comparar
diferentes qualidades vocálicas.

Video 2 – “Basic segments of speech (vowels I)"


Tradução e Tópicos
Tópicos:

1. Articulação de Vogais

2. Diagrama das Vogais Cardinais

3. Monoftongos e Ditongos

4. Nasalização

5. Sonorização

6. Semivogais

7. Importância do Treinamento Fonético

Tópicos Detalhados:

1. Definição e Articulação das Vogais

o Características principais das vogais: ar pulmonar e passagem livre de ar

o Diferenças fundamentais entre vogais e consoantes

2. Parâmetros de Classificação das Vogais

o Posição da língua (anterior, central, posterior)

o Altura da língua (alta, média-alta, média-baixa, baixa)

o Arredondamento dos lábios (lábios arredondados ou não arredondados)

3. Diagrama das Vogais Cardinais

o Construção do diagrama como referência para descrever vogais

o Posições extremas para a definição de qualidade das vogais

o Utilização do diagrama para comparar vogais em diferentes línguas

4. Classificação dos Tipos de Vogais

o Monoftongos (vogais simples) e suas características

o Ditongos (vogais compostas) e os tipos de transição:

 Ditongos ascendentes (ou "ditongos de fechamento")

 Ditongos descendentes (ou "ditongos de abertura")

 Ditongos centrais (ou "ditongos centralizados")

5. Nasalização das Vogais

o Definição do processo de nasalização

o Papel do véu palatino (ou véu) na produção de vogais nasais

o Exemplos de nasalização em línguas como o francês e o polonês


6. Sonorização e Vogais Não Sonoras

o Definição de sonorização e vozes das vogais

o Vogais não sonoras em línguas específicas, como o japonês

o Marcação de vozes não sonoras com diacríticos (círculo subscrito)

7. Semivogais e Aproximantes

o Semivogais (aproximantes) e como elas se assemelham a vogais

o Diferença entre semivogais e vogais em termos de constrição

o Exemplos de semivogais, como /j/ e /w/, e seu uso em várias línguas

8. Importância do Treinamento Fonético

o Necessidade de prática auditiva para distinguir e classificar vogais

o Recomendações de ferramentas e exercícios para treinamento fonético

o Uso do "Virtual Linguistics Campus" para desenvolvimento de habilidades


fonéticas

Tradução do Conteúdo:

1. Definição e Articulação das Vogais


As vogais são definidas como sons produzidos com ar pulmonar e uma passagem livre de ar
pela cavidade vocal. Diferentemente das consoantes, que podem envolver obstruções ou
constrições em partes específicas da boca, as vogais são caracterizadas por uma passagem de
ar desimpedida, criando sons claros e abertos.

2. Parâmetros de Classificação das Vogais


Existem três parâmetros principais para a descrição e classificação das vogais:

 Posição da Língua: Onde a língua se posiciona na boca em termos de avanço (anterior,


central ou posterior).

 Altura da Língua: Refere-se ao quão alta ou baixa a língua está na boca ao produzir a
vogal. Isso inclui categorias como vogais altas, médias-altas, médias-baixas e baixas.

 Arredondamento dos Lábios: Algumas vogais são produzidas com lábios arredondados,
enquanto outras têm lábios não arredondados ou estendidos (espalhados).

3. Diagrama das Vogais Cardinais


O diagrama de vogais cardinais é uma ferramenta visual usada para descrever as vogais. Ele
define posições extremas para representar os limites das qualidades de vogais possíveis. Essas
posições ajudam a categorizar e comparar as vogais das línguas do mundo, servindo como um
sistema de referência para a descrição fonética.

4. Classificação dos Tipos de Vogais

 Monoftongos: São vogais simples que envolvem uma única posição articulatória e não
mudam de qualidade durante a pronúncia. Estão presentes em todas as línguas e
podem ser posicionados no diagrama de vogais cardinais em relação às suas
qualidades extremas.

 Ditongos: São vogais compostas que envolvem uma mudança de qualidade ao longo
da pronúncia, criando um som que parece ter duas partes: um "início" e um
"término", separados por uma transição (chamada de deslize ou glide).

o Ditongos Ascendentes: Também chamados de "ditongos de fechamento",


terminam em uma posição alta.

o Ditongos Descendentes: Também chamados de "ditongos de abertura",


começam em uma posição alta e terminam em uma posição mais baixa.

o Ditongos Centrais: Têm um início nas bordas do diagrama de vogais cardinais e


um término mais centralizado.

5. Nasalização das Vogais


A nasalização ocorre quando o véu palatino se abaixa, permitindo que parte do ar entre na
cavidade nasal. Esse fenômeno adiciona ressonância nasal ao som da vogal e é comum em
línguas como o francês e o polonês. Nas vogais nasalizadas, a cavidade nasal age como uma
segunda câmara de ressonância.

6. Sonorização e Vogais Não Sonoras


A maioria das vogais é sonora, o que significa que as pregas vocais vibram durante a produção.
No entanto, algumas línguas, como o japonês, possuem vogais não sonoras, especialmente em
contextos específicos, como no final de sílabas ou após fricativas não sonoras. Essas vogais são
representadas com um diacrítico de círculo subscrito.

7. Semivogais e Aproximantes
As semivogais, ou aproximantes, são sons que se assemelham a vogais, pois permitem uma
passagem quase livre de ar. No entanto, elas têm um nível de constrição ligeiramente maior do
que as vogais correspondentes. Exemplos incluem o /j/ (aproximante palatal) e o /w/
(aproximante lábio-velar), que ocorrem em várias línguas.

8. Importância do Treinamento Fonético


Para distinguir e classificar corretamente as vogais, é necessário treinamento fonético
intensivo. Isso envolve o uso de ferramentas de prática auditiva e de exercícios fonéticos, como
os oferecidos no "Virtual Linguistics Campus". Este treinamento ajuda os alunos a identificar e
relacionar as vogais de diferentes línguas com as vogais cardinais, desenvolvendo uma
habilidade essencial para a análise fonética.

Video 3 - Segmentos sonoros em uma palavra


Introdução:
Neste breve vídeo, quero mostrar como determinar o número de segmentos sonoros em uma
palavra ou em uma passagem curta.

Exemplo 1: Análise Ortográfica da Palavra "Knowing"


Vamos usar a palavra em inglês knowing como exemplo:

 Análise Ortográfica: Parece simples. Contamos as letras, resultando em:


o Consoantes: K, N, W, N e G (cinco consoantes)

o Vogais: O e I (duas vogais)

 Limitação: Esse método é válido apenas para línguas com sistemas de escrita
fonográficos.

Abordagem Alternativa: Análise Fonética


Uma abordagem mais geral, aplicável a todas as línguas, é a análise fonética:

 Representação Fonética: Cada segmento sonoro é representado foneticamente.

 Resultado para Knowing: Três segmentos vocálicos e dois segmentos consonantais.

Análise Fonêmica com Pronúncia Recebida (RP)


Ao considerar o sistema sonoro do inglês padrão (RP - Received Pronunciation):

 Fonema Único para "O": O som O é tratado como um único fonema vocálico.

 Resultado Final: Duas consoantes e duas vogais.

Exemplo 2: Análise da Expressão "Match Play"


A frase match play fornece outro exemplo:

 Análise Fonética: Oito segmentos sonoros (cinco consoantes e três vogais).

 Análise Fonêmica em RP:

o CH: Considerado uma africada (fonema único).

o A: Tratado como um ditongo (fonema único).

o Resultado Final: Seis segmentos no total (quatro consoantes e duas vogais).

Procedimento Geral para Análise de Segmentos Sonoros


Para qualquer língua, o procedimento recomendado é:

1. Transcrever Foneticamente: Primeiro, transcreva o item foneticamente e isole os


segmentos sonoros.

2. Análise Fonêmica: Se possível, realize uma análise fonêmica para refinar a contagem de
segmentos com base no sistema sonoro da língua.

Exemplo Comparativo: "SALT" (Inglês) vs. "WALTZ" (Alemão)

 Em inglês, o grupo consonantal T e S em SALT é tratado como duas consoantes (uma


plosiva e uma fricativa).

 Em alemão, WALTZ é considerado um único fonema consonantal africado.

Vídeo 4- Suprassegmentais
Segmentos de Vogais e Consoantes e Características Suprassegmentais

Vogais e Consoantes são os blocos básicos da fala. Juntas, elas formam sílabas, unidades
maiores e, eventualmente, enunciados completos. Sobre os segmentos, há características
adicionais que não afetam apenas um único segmento, mas uma sequência de segmentos.
Essas características adicionais são conhecidas como características suprassegmentais, não
segmentais ou prosódicas. Utilizaremos o termo mais comum, suprassegmental, e
discutiremos suas bases fonéticas.

Características Suprassegmentais

1. Intensidade (Loudness):

o Definição: Refere-se à percepção de intensidade sonora, medida em decibéis


(dB). Sílaba com intensidade aumentada é percebida como "mais forte" e
indica sílabas tônicas.

o Aplicação Fonética: Em uma fala normal, algumas sílabas são acentuadas com
maior intensidade. Isso se deve ao aumento da atividade respiratória, em que
mais ar é empurrado dos pulmões para produzir sílabas tônicas. A identificação
de sílabas tônicas ocorre através de uma combinação de intensidade, altura
(pitch) e duração da vogal.

o Exemplo: Em "Manchester United", as sílabas "Man" e "night" recebem mais


intensidade e são as principais na estrutura tônica da palavra.

2. Altura (Pitch):

o Definição: Percepção de frequência sonora, medida em hertz (Hz). Durante a


fala, a altura varia continuamente, contribuindo para a entonação, que
organiza a fala em grupos tonais.

o Exemplo Fonético: Frases podem ter diferentes níveis de altura (pitch) que
ajudam a dividir a fala em partes significativas. Em inglês britânico padrão, por
exemplo, "Mary gave money to her father" apresenta três níveis de pitch,
enquanto "I sat by the window reading a book" possui quatro níveis de pitch.

o Análise de Entonação: A entonação inclui a identificação de um núcleo em


cada grupo tonal, que é a sílaba mais proeminente. Elementos estruturais
como "cabeça" (sílabas antes do núcleo) e "cauda" (sílabas após o núcleo)
ajudam a entender a melodia da fala.

3. Duração (Length):

o Definição: A duração refere-se ao tempo que um som ou sílaba é mantido,


medido em segundos ou milissegundos.

o Aplicações Fonológicas: A variação de duração é usada para diferenciar


significados (por exemplo, "seat" vs. "sit" em inglês britânico, onde a duração e
a qualidade da vogal diferenciam as palavras) e para expressar emoções (um
"sim" prolongado pode indicar entusiasmo).

o Exemplos Cross-linguísticos: Em alemão, a duração pode variar entre sílabas


tônicas e átonas, como em "Boot" (barco) e "moral" (moralidade), onde a
duração da vogal distingue o sentido.

Articulações Secundárias
1. Labialização:

o Definição: Adição de arredondamento labial a um som, marcado com um "w"


como subscrito ou sobrescrito.

o Exemplo: Esse efeito pode ocorrer junto com outras articulações primárias.

2. Palatalização:

o Definição: Elevação da língua em direção ao palato duro, marcada por "j"


como subscrito ou sobrescrito.

o Exemplo: Consoantes palatalizadas são comuns em idiomas eslavos, como o


russo, onde diferenças como em "брат" (irmão) e "брат" (com palatalização)
são perceptíveis.

3. Velarização:

o Definição: Elevação da parte posterior da língua durante outra articulação,


marcada por um til (~).

o Exemplo: Em inglês, o "L" velarizado é observado em palavras como "pool" ou


"bill".

4. Faringealização:

o Definição: Estreitamento na área da faringe, comum em consoantes em árabe.

o Exemplo: Esse efeito é indicado por um subscrito ou sobrescrito específico.

Coarticulação

 Definição: A coarticulação ocorre quando duas articulações acontecem


simultaneamente, como o movimento de "fronting" (movimento da língua para frente)
ou "retraction" (recuo da língua).

 Exemplo: Em palavras como "width" em inglês, o efeito de frente (fronting) altera a


produção do som "d" devido ao fricativo dental final.

Resumo

A palestra discute as principais características suprassegmentais:

 Intensidade e sua contraparte física, intensidade sonora.

 Altura (Pitch) e sua contraparte física, frequência.

 Duração (Length) e sua contraparte física, duração.

 Articulações Secundárias como labialização, palatalização, velarização e


faringealização.

Estas características são cruciais para a percepção e produção da fala natural, pois contribuem
para a clareza, ritmo e melodia da fala. O entendimento dessas características requer prática e
estudo aprofundado de fonologia suprassegmental.
4o

Vídeo 5 – Mecanismos centrais da produção da fala:

1. Introdução à Anatomia da Fala

 A e-aula sobre "Anatomia da Fala" introduz os mecanismos centrais da produção da


fala, abordando as diferentes formas como o ar é utilizado para gerar sons. Entre esses
mecanismos, destacam-se o sistema respiratório e a produção de ar pulmonar,
fundamentais para a articulação da maioria dos sons da fala.

 Em muitas línguas, a produção de som se baseia no fluxo de ar pulmonar, onde o ar é


expelido dos pulmões, sendo a fonte de energia para quase todos os sons vocais. Este
processo ocorre de forma natural e automatizada na respiração, mas, na fala, é
controlado para gerar sons específicos.

 Além do fluxo de ar pulmonar, a aula explora outros mecanismos, como o fluxo de ar


glotal e o fluxo de ar velárico, que dependem de diferentes pontos de oclusão e
movimentos nas estruturas da garganta e da boca. Esses fluxos alternativos são usados
em algumas línguas e produzem sons característicos, como os cliques e as consoantes
ejetivas.

2. Fluxo de Ar Pulmonar

 Definição: O fluxo de ar pulmonar refere-se ao ar que sai dos pulmões, considerado a


fonte principal de energia para a produção de sons em quase todas as línguas do
mundo. Este tipo de fluxo é natural para a fala e é o mais comum, sendo a base para a
articulação de consoantes e vogais.

 Mecanismo Egressivo: No fluxo de ar pulmonar egressivo, o ar é expelido dos pulmões


através de um movimento descendente da caixa torácica e/ou ascendente do
diafragma. Este movimento gera uma pressão que permite a produção de sons ao
longo da cavidade vocal. O fluxo egressivo é utilizado na fala regular e é responsável
pela produção da maioria dos sons da fala em várias línguas.

 Mecanismo Ingressivo: O fluxo pulmonar também pode ser ingressivo, onde o ar é


puxado para dentro. Embora seja raro na fala comum, esse tipo de fluxo é usado
ocasionalmente para expressar emoções como dor, surpresa ou simpatia. Exemplos
disso são expressões de sofrimento ou um suspiro profundo.

3. Fluxo de Ar Glotal

 O fluxo de ar glotal é produzido através de duas oclusões simultâneas: uma oclusão


ocorre na glote (fechamento das cordas vocais), e a outra em algum ponto da cavidade
vocal. Este fluxo é ativado pelo movimento da laringe.

 Variantes:

o Fluxo Glotal Egressivo (Ejetivos): Nesse caso, o ar é empurrado para fora


quando a laringe se move para cima, criando uma pressão que resulta em um
som ejetivo quando a oclusão oral é liberada. Sons ejetivos são comuns em
algumas línguas, como o Quechua e o Amárico, e são representados com um
apóstrofo como diacrítico após o símbolo fonético.

o Fluxo Glotal Ingressivo (Implosivos): Para produzir um som implosivo, a


laringe se move para baixo enquanto a oclusão é mantida, o que resulta em
uma leve entrada de ar quando a oclusão é liberada. Esse tipo de som é
característico de línguas como o Suaíli e é geralmente vozeado, ou seja, as
cordas vocais vibram durante a sua produção. Implosivos têm uma sonoridade
única devido à combinação de movimentos e a pressão negativa na cavidade
vocal.

4. Fluxo de Ar Velárico

 O fluxo velárico requer duas oclusões: uma na região velar (parte posterior da boca,
onde a língua se aproxima do palato mole) e outra na parte frontal da boca. Esta
configuração cria uma câmara fechada entre as duas oclusões.

 Fluxo Velárico Ingressivo (Cliques): Quando a parte central da língua é abaixada, cria-
se um efeito de sucção, que resulta em um som de clique ao liberar a oclusão frontal.
Esses sons são comuns em línguas africanas, especialmente nas do grupo Khoisan.
Cliques são utilizados em diversos contextos culturais e linguísticos e são divididos em
tipos, como:

o Cliques Bilabiais: Criados com o fechamento dos lábios (como um som de


"beijo").

o Cliques Laterais Alveolares: Produzidos com o lado da língua, semelhante ao


som usado para chamar atenção.

 Esses sons são geralmente surdos (sem vibração das cordas vocais), mas pode-se
adicionar um zumbido vozeado como articulação secundária.

5. Airstreams Menos Comuns

 Pulmonar Ingressivo: Embora o fluxo pulmonar egressivo seja o mais comum, o fluxo
pulmonar ingressivo também existe, embora seja usado raramente na fala normal.
Pode ser encontrado em expressões emocionais específicas, como suspiros ou
lamentos.

 Velárico Egressivo: Este tipo de fluxo é quase impossível de ser produzido por causa
das limitações anatômicas dos órgãos vocais. Ao contrário dos outros fluxos de ar, o
velárico egressivo exige uma configuração de pressão que os órgãos humanos
normalmente não conseguem gerar com facilidade.

6. Articulação Secundária - Zumbido (Humming)

 O zumbido (ou humming) pode ser adicionado como uma articulação secundária,
especialmente com sons de clique. Isso introduz um elemento de vozeamento em sons
que normalmente são surdos. O zumbido é produzido pela vibração das cordas vocais
e pode ser utilizado para enriquecer sons ou adicionar uma camada de expressão
durante a fala.

 Em línguas onde o zumbido é comum, ele complementa a estrutura sonora,


permitindo maior variedade de expressões emocionais e prosódicas. Ele pode ocorrer
simultaneamente com cliques ou outros sons e é particularmente útil em contextos
onde se deseja adicionar um tom ou uma qualidade especial ao som.

7. Resumo da Aula

 A e-aula oferece uma visão abrangente dos diferentes mecanismos de fluxo de ar


usados na produção de sons da fala. Cada mecanismo de fluxo de ar contribui para a
diversidade de sons entre as línguas do mundo.

 Com o entendimento dos fluxos pulmonar, glotal e velárico, além das variações e usos
específicos de cada um, os alunos são capazes de compreender melhor como esses
mecanismos afetam a pronúncia e a estrutura dos sons. Este conhecimento é essencial
para a análise fonética e para a descrição das características únicas dos sons em
diversas línguas, permitindo uma análise mais completa da diversidade linguística.

Este desenvolvimento detalhado organiza o conteúdo de modo a facilitar a compreensão dos


mecanismos de fluxo de ar e suas aplicações, além de destacar a importância de cada
componente na produção e na articulação dos sons da fala.

Vídeo 6 - Estrutura do Alfabeto Fonético


Internacional (IPA), seus Princípios, Tipos de
Sistemas de Transcrição e Aplicação na Língua
Inglesa:
Estrutura do Alfabeto Fonético Internacional (IPA)

1. Consoantes:

o O sistema de consoantes no IPA é organizado de acordo com o lugar de


articulação (onde o som é produzido na cavidade vocal, como nos lábios,
dentes, palato, etc.), o modo de articulação (como o ar é manipulado, por
exemplo, plosivas, fricativas, nasais) e o estado da glote (se as pregas vocais
vibram ou não, definindo se o som é sonoro ou surdo).

o Exemplo: A fricativa retroflexa surda é um som produzido com a língua


dobrada para trás (retroflexa), sem vibração das pregas vocais (surda). Este
som possui um símbolo específico no IPA para representá-lo.

o Além das consoantes pulmônicas (que utilizam o fluxo de ar dos pulmões, o


mais comum), o IPA também contempla consoantes não-pulmônicas, como
cliques (sons que utilizam um fluxo de ar velárico) e ejetivas (usam um fluxo de
ar glotal). Esses sons são característicos de algumas línguas africanas e
indígenas americanas, e cada um tem um símbolo próprio no alfabeto
fonético.

2. Vogais:

o As vogais no IPA são organizadas com base no gráfico de vogais cardinais, que
define as posições extremas da língua (mais à frente, mais atrás, mais alta,
mais baixa) para produzir os diferentes sons vocálicos.
o No gráfico, as vogais primárias incluem sons como "zzz" (que representa uma
vogal anterior alta, sem arredondamento) e "ooo" (uma vogal posterior
arredondada).

o Alterando o critério do arredondamento dos lábios (como em "nnn" para sem


arredondamento ou "llll" para com arredondamento), obtemos um sistema
secundário de vogais. Assim, o IPA permite registrar tanto vogais arredondadas
quanto não-arredondadas.

o Além disso, o IPA inclui vogais centrais (como o som schwa /ə/, que ocorre em
sílabas átonas em muitas línguas). Essa classificação central é comum em
várias línguas, incluindo o inglês.

3. Diacríticos:

o Diacríticos são marcas adicionais que indicam características fonéticas


específicas dos sons, detalhando aspectos como aspiração, palatalização,
velarização, entre outros.

o Exemplo: O diacrítico "ʰ" indica que uma plosiva é aspirada, como o "p" em
"Paul" na transcrição estreita, onde o som tem uma pequena "explosão" de ar
após a produção.

o Com o uso de diacríticos, o IPA é capaz de representar nuances na produção de


sons, o que permite uma descrição mais precisa dos sistemas sonoros de várias
línguas. Esses detalhes podem ser essenciais para a compreensão de sotaques
ou variações dentro de uma língua.

Princípios do IPA

1. Fundação e Objetivos:

o O IPA foi fundado em 1886 como Associação de Professores de Fonética, com


o objetivo de criar um alfabeto universal aplicável a todas as línguas. A ideia
era desenvolver uma representação fonética padronizada que pudesse ser
utilizada por linguistas, professores de línguas e estudiosos.

o Fundadores Importantes: Entre os principais fundadores estão:

 Paul Passy: Professor francês e editor do primeiro jornal da IPA, que foi
um dos pioneiros na padronização fonética.

 Otto Jespersen: Linguista dinamarquês, conhecido por seu trabalho


em fonética e gramática.

 Henry Sweet: Linguista britânico, cujo trabalho influenciou


profundamente a fonética e a fonologia modernas.

2. Princípios-Chave:

o Um símbolo por fonema: Cada som distinto (fonema) deve ter um símbolo
único, evitando combinações ou letras múltiplas para representar um único
som.
o Consistência: Um símbolo específico deve representar o mesmo som em todas
as línguas, garantindo uma representação uniforme.

o Uso de caracteres romanos: Sempre que possível, são utilizados caracteres do


alfabeto romano, para facilitar o uso e a familiaridade.

o Minimização de diacríticos: Os diacríticos devem ser utilizados apenas quando


necessário para evitar complexidade excessiva.

3. Publicações e Manutenção:

o O IPA publica atualizações periódicas em seu manual e revista oficial,


revisando símbolos e introduzindo novos quando necessário.

o Desde sua primeira versão em 1888, a IPA se esforça para melhorar o alfabeto,
corrigindo símbolos problemáticos e expandindo a cobertura para mais
línguas.

Tipos de Sistemas de Transcrição

1. Transcrição Fonética Estreita (Narrow):

o Representada entre colchetes angulares [ ], a transcrição estreita captura


detalhes específicos de pronúncia, como variações alofônicas e pequenas
diferenças entre sons.

o Exemplo: Na palavra "Paul", uma transcrição fonética estreita incluiria detalhes


adicionais, como a aspiração da plosiva inicial (indicada por "ʰ") e a velarização
do "l" final, adicionando precisão à representação fonética.

2. Transcrição Fonêmica Ampla (Broad):

o Representada entre barras oblíquas / /, essa transcrição usa um símbolo para


cada fonema, focando nos sons distintivos e ignorando variações menores.

o Exemplo: Em "Paul", um símbolo especial é usado para a vogal "R", mas


detalhes como aspiração ou velarização são omitidos, representando apenas
os fonemas essenciais para distinguir palavras na língua.

3. Transcrição Fonêmica Simplificada:

o Utiliza símbolos disponíveis em teclados padrão (ex: teclado de computador),


com o objetivo de facilitar a leitura, especialmente para aprendizes de línguas.

o Origem: Este sistema remonta aos esforços de Henry Sweet e Daniel Jones,
que procuraram criar um sistema mais acessível para o uso cotidiano e para o
ensino.

Aplicação na Língua Inglesa

1. Transcrição no Inglês Britânico (RP):


o O Received Pronunciation (RP), considerado o dialeto padrão do inglês
britânico, utiliza um sistema de transcrição específico publicado no Longman
Pronouncing Dictionary.

o Esse sistema foi desenvolvido com base nos estudos de linguistas renomados,
como John Wells, e é amplamente utilizado para padronizar a pronúncia
britânica em recursos educacionais.

2. Transcrição no Inglês Norte-Americano:

o O sistema de transcrição para o inglês norte-americano é encontrado no Atlas


of North American English, uma obra importante de William Labov, que
mapeou as variações fonológicas regionais nos EUA.

o Este sistema se baseia nas contribuições de estruturalistas americanos, como


Leonard Bloomfield, e reflete as características específicas da pronúncia norte-
americana.

IPA (International Phonetic Alphabet):


O IPA é uma ferramenta essencial para a representação precisa dos sons de todas as línguas,
promovendo a padronização e consistência na análise fonética. Os sistemas de transcrição
(estreito, amplo e simplificado) dentro do IPA oferecem diferentes níveis de detalhamento,
permitindo que o alfabeto seja adaptado para fins diversos, como a pesquisa linguística, o
ensino de línguas e a descrição fonética detalhada. Cada sistema é cuidadosamente
desenvolvido para atender às necessidades específicas dos usuários, seja um linguista, um
estudante de línguas ou um professor.

IPA (International Phonetic Alphabet), ou Alfabeto Fonético Internacional (AFI) em português,


é um sistema de símbolos criado para representar, de forma precisa e padronizada, os sons das
línguas do mundo. Esse alfabeto é utilizado por linguistas, professores de línguas,
fonoaudiólogos e estudiosos para transcrever foneticamente qualquer língua de maneira
consistente e compreensível, independentemente das variações na escrita.

Características do IPA

 Símbolos Exclusivos para Cada Som: No IPA, cada som (ou fonema) tem um símbolo
único, evitando ambiguidades. Isso permite que sons que não têm uma representação
exata no alfabeto regular (como o som de "th" no inglês) sejam representados de
forma clara.

 Cobertura de Todas as Línguas: Foi desenvolvido para ser aplicável a qualquer idioma,
cobrindo sons comuns e específicos, como cliques e ejetivas, usados em algumas
línguas africanas.

 Organização Estruturada: O IPA é organizado em três categorias principais:

o Consoantes: Organizadas pelo ponto de articulação (onde o som é produzido)


e pelo modo de articulação (como o som é produzido).

o Vogais: Posicionadas em um gráfico que reflete a posição da língua e o


arredondamento dos lábios.
o Diacríticos: Pequenos sinais que detalham características adicionais de
pronúncia, como nasalização, aspiração ou palatalização.

Princípios do IPA

 Consistência: O mesmo símbolo deve representar o mesmo som em qualquer língua.

 Uso de Caracteres Romanos: Sempre que possível, são usados caracteres do alfabeto
romano para facilitar a leitura.

 Evitar Ambiguidade: Cada som tem um símbolo único, evitando múltiplas letras ou
combinações para o mesmo som.

Importância e Aplicação

O IPA é amplamente utilizado em:

 Linguística: Para estudar e comparar sons entre línguas.

 Ensino de Línguas: Ajuda alunos a entenderem e reproduzirem sons que não existem
na língua nativa.

 Fonoaudiologia: Para transcrever sons específicos em diagnósticos e tratamentos de


distúrbios da fala.

Em resumo, o IPA é uma ferramenta essencial para representar sons de maneira universal e
detalhada, facilitando a comunicação entre estudiosos e profissionais de linguagens e sons ao
redor do mundo.

Steven Pinker: Linguistics as a Window to


Understanding the Brain | Big Think (Professor de
Psicologia na Universidade de Harvard:

Meu nome é Steve Pinker, sou professor de psicologia na Universidade de Harvard, e hoje vou
falar sobre a linguagem. Embora eu não seja linguista, sou cientista cognitivo.

Meu interesse pela linguagem não é como um objeto em si, mas como uma janela para a
mente humana.

Principais Pontos:

1. Importância da Linguagem para a Ciência Humana:

o A linguagem é uma característica essencial que distingue humanos de outras


espécies.

o Fundamental para a cooperação humana, permitindo a troca de


conhecimentos e coordenação de ações.

2. Misteriosos Científicos da Linguagem:

o Questões sobre a evolução da linguagem e como o cérebro processa a


linguagem.
o Importância prática da linguagem para a vida humana cotidiana.

3. Linguagem como Habilidade Natural e Complexa:

o A linguagem é tão natural para nós que esquecemos o quão milagrosa é.

o Exemplo: escutar alguém fazermos ruídos ao exalar que se convertem em


ideias, revelando o poder expressivo da linguagem.

4. A Universalidade da Linguagem:

o Todas as culturas estudadas têm linguagens complexas.

o Segundo Darwin, "o homem tem uma tendência instintiva para falar".

5. Linguística: A Complexidade da Linguagem:

o Estudo de gramática, fonologia (sons), semântica (significado) e pragmática


(uso em conversação).

o Psicologia linguística: como processamos e adquirimos a linguagem, incluindo


neurolinguística.

6. Distinguir Linguagem de Escrita, Gramática e Pensamento:

o A escrita foi inventada apenas poucas vezes na história humana.

o Diferença entre gramática descritiva (como as pessoas falam) e prescritiva


(como deveriam falar).

o A linguagem é um meio de expressar pensamento, mas muitas formas de


pensamento não dependem da linguagem.

7. Exemplo de Dialeto:

o Exemplo da Língua Vernácula Afro-Americana, onde construções como “he be


workin’” têm significados diferentes de “he workin’”.

8. Aquisição da Linguagem em Crianças:

o Crianças formam frases com base em regras internas, como "hold on, sticky"
para expressar ideias complexas.

o Chomsky sugere uma "gramática universal" inata, que guia a aquisição da


linguagem.

9. Questão da Criatividade Linguística e Estrutura da Frase:

o Chomsky propôs que a linguagem é composta de uma estrutura interna


complexa e uma capacidade criativa infinita de formar novas frases.

10. Dificuldades da Tecnologia de Reconhecimento de Voz:

o Variabilidade nos sons das palavras e falta de segmentação clara entre palavras
em discursos contínuos.

11. Pragmática: Contexto na Compreensão da Linguagem:


o A pragmática lida com o entendimento baseado em contexto, como o uso de
“se você pudesse passar o guacamole” interpretado como um pedido gentil.

12. Linguagem como Fenômeno Natural e Cultural:

o A linguagem não é apenas um conjunto de regras, mas um fenômeno dinâmico


que evolui com o uso e contexto social.

o Importância de distinguir entre linguagem como fenômeno natural e as


normas sociais de uso correto.

13. Conclusão: Linguagem como um Talento Humano Distintivo:

o A linguagem conecta várias áreas da experiência humana, como o


pensamento, as relações sociais, a biologia humana e a evolução.

o É uma janela para a natureza humana e uma das maravilhas do mundo natural.

Desenvolvimento dos tópicos:

1. Importância da Linguagem para a Ciência Humana

 A linguagem é um dos tópicos fundamentais nas ciências humanas. Ela é uma


característica única que destaca os humanos de outras espécies. Sem a linguagem, a
complexa cooperação humana, que possibilita a troca de conhecimentos e a
coordenação de ações, seria inviável.

 Ao longo da história, a linguagem tem sido o meio pelo qual realizamos coisas
extraordinárias, como desenvolver sociedades e transmitir conhecimentos. Essa
capacidade de compartilhar e coordenar ações por meio das palavras coloca a
linguagem no centro de estudos que buscam entender a natureza humana.

2. Misteriosos Científicos da Linguagem

 A linguagem não é apenas um meio de comunicação, mas também um tema cheio de


mistérios científicos. Entre as principais questões estão: "Como a linguagem evoluiu
apenas na nossa espécie?", "Como o cérebro humano processa a linguagem?".

 Essas questões têm profundas implicações sobre o que significa ser humano, e a
exploração dessas questões é essencial para entender tanto a biologia quanto a
psicologia humana. Esses estudos podem revelar como nosso cérebro se diferencia dos
cérebros de outras espécies e esclarecer os processos internos que tornam possível a
comunicação linguística.

3. Linguagem como Habilidade Natural e Complexa

 A linguagem parece algo tão natural para os humanos que muitas vezes esquecemos
quão complexa e milagrosa ela é. Steve Pinker destaca que basta ouvir alguém fazendo
ruídos ao exalar (ao falar) para perceber que esses sons são, na verdade, informações
codificadas.

 Temos a habilidade de decifrar essas informações e compartilhar ideias. A habilidade


da linguagem não é só um meio de comunicação, mas um fenômeno expressivo com
vasto poder. Isso permite que discutamos temas variados, desde atualidades até as
teorias sobre a origem do universo.
4. A Universalidade da Linguagem

 Linguagem é um traço universal em todas as culturas estudadas até hoje. Existem cerca
de 6.000 línguas faladas no mundo, cada uma complexa à sua maneira, e antropólogos
nunca encontraram uma sociedade humana sem uma língua complexa.

 Darwin afirmou que "o homem tem uma tendência instintiva a falar", o que se observa
na forma como crianças começam a balbuciar. Em contraste, habilidades como
escrever ou cozinhar não são instintivas e precisam ser ensinadas. Essa universalidade
reflete uma capacidade inata da nossa espécie de se expressar verbalmente, algo que
se manifesta em todas as culturas, independentemente de seu desenvolvimento
tecnológico ou histórico.

5. Linguística: A Complexidade da Linguagem

 A linguística é uma disciplina complexa porque estuda as regras que organizam a


linguagem. Ela inclui áreas como:

o Gramática: Estrutura de palavras, frases e sentenças.

o Fonologia: Estudo dos sons na linguagem.

o Semântica: Estudo dos significados.

o Pragmática: Uso da linguagem no contexto das interações humanas.

 Cientistas da linguagem também investigam como o cérebro processa a linguagem


(psicolinguística), como as crianças a adquirem (aquisição da linguagem), e como o
cérebro humano executa essas tarefas (neurolinguística). Cada uma dessas áreas
contribui para nossa compreensão de como a linguagem é usada e entendida em
tempo real.

6. Distinguir Linguagem de Escrita, Gramática e Pensamento

 Escrita: Embora a linguagem falada seja universal, a escrita foi inventada apenas
algumas vezes na história, cerca de 5.000 anos atrás, sendo a escrita alfabética
inventada uma única vez pelos cananeus.

 Gramática: A gramática descritiva observa como as pessoas falam realmente, enquanto


a gramática prescritiva dita como elas “deveriam” falar em contextos formais. Muitas
dessas regras prescritivas, como a proibição de dividir infinitivos, vêm de analogias com
línguas antigas, como o latim, e nem sempre fazem sentido em inglês moderno.

 Pensamento: Embora muitas pessoas relatem pensar em linguagem, a cognição


humana também ocorre sem palavras. Bebês e alguns animais demonstram raciocínios
sofisticados sem a necessidade de linguagem. Muitas formas de pensamento, como o
raciocínio visual, acontecem fora da linguagem.

7. Exemplo de Dialeto

 Steve Pinker explica que os dialetos, como o Vernáculo Afro-Americano (ou Ebonics),
têm regras gramaticais complexas próprias. Por exemplo, em Ebonics, a expressão “he
be working” indica que uma pessoa possui um emprego, enquanto “he working”
significa que está trabalhando naquele momento.
 Essa distinção, inexistente no inglês padrão, mostra que dialetos são, na verdade,
sistemas linguísticos com suas próprias regras complexas, desafiando a ideia de que
são simplificações ou corrupções de uma língua “correta”.

8. Aquisição da Linguagem em Crianças

 As crianças aprendem a língua com base em regras internas, ao invés de memorizar


frases. Desde cedo, elas demonstram habilidades gramaticais, criando frases como
"hold on, sticky", que expressam ideias novas, mas não são copiadas de adultos.

 Chomsky propôs a ideia de uma "gramática universal" inata que ajuda as crianças a
aprenderem regras gramaticais rapidamente. O teste do “pobreza do estímulo”
argumenta que as crianças desenvolvem uma gramática complexa sem terem recebido
estímulos suficientes para aprendê-la apenas pela experiência.

9. Questão da Criatividade Linguística e Estrutura da Frase

 A criatividade linguística é uma característica central da linguagem humana. Noam


Chomsky mostrou que temos a habilidade de entender e produzir infinitas
combinações de frases, algo que apenas a gramática estrutural permite.

 Um exemplo famoso de Chomsky, “colorless green ideas sleep furiously” (ideias verdes
incolores dormem furiosamente), demonstra como a sintaxe pode estar correta
mesmo sem sentido. Esse conceito destaca a importância da estrutura interna da
linguagem, que permite construir frases novas de maneira significativa.

10. Dificuldades da Tecnologia de Reconhecimento de Voz

 A coarticulação e a ausência de segmentação clara entre palavras em discursos


contínuos tornam o reconhecimento de fala um desafio para computadores.

 Cada som (fonema) varia dependendo do som anterior e do som seguinte, o que gera
diferentes formas acústicas para o mesmo som, como no exemplo de "Cape Cod" no
texto.

 A linguagem falada não tem divisões claras entre palavras, o que complica ainda mais
para a tecnologia. Para humanos, essas divisões são naturais devido ao conhecimento
prévio e à capacidade de interpretar contexto, mas essa habilidade é difícil de
programar em máquinas.

11. Pragmática: Contexto na Compreensão da Linguagem

 A pragmática é a área que lida com o entendimento da linguagem no contexto de


interação humana e de acordo com as expectativas sociais.

 Uma frase como “se você pudesse passar o guacamole” é interpretada como um
pedido gentil e não como uma especulação hipotética, graças ao conhecimento
pragmático.

 Em contextos humorísticos, a ausência dessa habilidade em robôs ou personagens sem


pragmática, como na comédia Get Smart, torna-se fonte de humor. Esse exemplo
ilustra o quanto dependemos da pragmática para uma comunicação eficaz.
12. Linguagem como Fenômeno Natural e Cultural

 A linguagem é um fenômeno dinâmico, adaptando-se com as mudanças culturais e


acumulando novas expressões e gírias, moldadas pelo uso coletivo.

 Embora existam normas gramaticais, a linguagem não é estática, e cada geração a


transforma conforme suas necessidades expressivas. É um fenômeno que reflete a
adaptação e as interações sociais, possibilitando o crescimento e a diversidade
linguística.

13. Conclusão: Linguagem como um Talento Humano Distintivo

 A linguagem conecta áreas centrais da experiência humana — como pensamento,


relações sociais, biologia e evolução — tornando-a uma janela para a natureza
humana.

 É uma habilidade humana única que nos permite expressar infinitas ideias a partir de
um conjunto finito de ferramentas mentais. A exploração da linguagem não apenas
revela a complexidade da mente humana, mas também destaca a maravilha do mundo
natural, fazendo dela um campo de estudo profundamente fascinante e indispensável.

A CONTRIBUIÇÃO DE ESTUDOS FONÉTICOS E


FONOLÓGICOS NA FORMAÇÃO DO DOCENTE
ALFABETIZADOR
1. Introdução

Nos cursos de formação de professores, especialmente nos cursos de Pedagogia e Formação de


Professores (Normal), é evidente uma lacuna na integração entre teoria e prática, sobretudo na
relação entre estudos linguísticos e metodologias aplicadas em sala de aula. A ausência de uma
abordagem crítica e reflexiva que conecte esses dois aspectos, essencial para a atuação do
docente alfabetizador, é uma problemática central abordada neste artigo.

Diante desse contexto, levanta-se a seguinte questão: em que medida e sob quais condições
os estudos de fonética e fonologia são inseridos nos cursos de Pedagogia e Normal? Com
base nisso, este artigo busca evidenciar a importância desses estudos na formação de docentes
voltados para a alfabetização, destacando a relevância de articular teoria e prática para auxiliar
o processo de ensino-aprendizagem da criança em fase inicial de alfabetização.

Ao ingressar na escola, a criança experimenta um certo estranhamento, uma vez que seu
contato prévio com a linguagem limitava-se à oralidade informal e à comunicação cotidiana. No
ambiente escolar, surgem novas normas e exigências, como falar de forma “correta” e lidar
com a modalidade escrita da língua, o que pode ser abrupto para muitas crianças. Este contato
inicial com a escrita exige uma adaptação complexa, pois envolve um conhecimento prévio da
estrutura da fala que muitas vezes não é abordado de maneira explícita e gradual, levando a
uma transição que nem sempre é fluida.

Relevância dos Estudos Fonéticos e Fonológicos na Alfabetização

Vários estudos apontam para a importância de que a criança desenvolva habilidades de


processamento fonológico para o sucesso na alfabetização e no letramento. Tais habilidades
envolvem a capacidade de refletir sobre a estrutura da fala e manipular seus elementos
sonoros, aspectos que estão diretamente ligados à leitura e à escrita. Como destacado por
Othero (2005), a imitação da fala do adulto desde os primeiros anos de vida serve como base
para o desenvolvimento linguístico, e o input do adulto é essencial para a criança moldar seu
próprio output linguístico. Contudo, na fase escolar, a reprodução da fala nem sempre ocorre
com precisão, podendo gerar desvios que se refletem na aprendizagem da escrita.

A produção de fala infantil, embora pareça desordenada, possui padrões sistemáticos. Segundo
Leonard (1991 apud Othero, 2005), as crianças utilizam estratégias para simplificar as palavras
que ouvem, adaptando-as às suas capacidades de produção. A partir dessa observação, é
possível que o docente alfabetizador identifique desvios fonológicos na fala da criança e os
trate adequadamente, de modo a apresentar variações linguísticas da língua materna e ajudá-
la a desenvolver uma pronúncia eficaz e uma escrita correta.

A Lacuna nos Cursos de Formação de Professores

Nos currículos dos cursos de Pedagogia e Formação de Professores, nota-se a ausência de


disciplinas específicas de Fonética e Fonologia, bem como de estudos aprofundados sobre os
processos fonológicos envolvidos na aquisição da linguagem. Tais conteúdos costumam ser
abordados principalmente em cursos de Linguística, Psicologia e Fonoaudiologia, ficando,
portanto, fora do alcance dos futuros docentes alfabetizadores. Assim, este artigo objetiva
demonstrar que o conhecimento fonético e fonológico não apenas enriquece a formação do
professor, mas também facilita seu trabalho na alfabetização e no letramento das crianças.

Quando as crianças iniciam a educação formal, trazem uma realidade fonológica da qual seus
professores muitas vezes não têm pleno conhecimento. Por isso, estudos fonéticos e
fonológicos são fundamentais para que os docentes possam compreender e abordar de
maneira mais efetiva as dificuldades enfrentadas pelos alunos na transição para a língua
escrita, onde combinações de letras se correlacionam com fonemas (unidades sonoras), que
constituem a base da fala.

Discussão: A Conexão entre Alfabetização, letramento e Processos Fonológicos

Esta temática tem sido discutida amplamente por fonoaudiólogos, psicólogos e linguistas, que
demonstram a forte relação entre alfabetização, letramento e conhecimento dos processos
fonológicos na aquisição da linguagem oral e escrita. No passado, conforme Soares (2004), a
alfabetização foi abordada maioritariamente do ponto de vista psicológico, desconsiderando
aspectos linguísticos fundamentais, como a fonética e a fonologia. Houve uma crença
predominante de que a criança se alfabetizava apenas pela imersão no ambiente de escrita.
Embora os avanços na pesquisa de alfabetização tenham ampliado nossa compreensão, essa
visão ainda persiste em alguns aspectos do sistema educacional.

Processos Fonológicos e Seus Impactos na Aquisição da Escrita

Estudos de Yavas, Hernandorena e Lamprencht (1991) identificaram uma variedade de


processos fonológicos que variam de oito a quarenta e dois processos diferentes, interferindo
de maneira significativa na aquisição da escrita. Entre os processos mais comuns da fala na
Língua Portuguesa, alguns influenciam diretamente na forma como as crianças aprendem a
escrever, como demonstrado por Lamprecht (1986), Yavas, Hernandorena e Lamprecht (1991)
e Othero (2005). Este artigo apresentará e discutirá alguns desses processos para evidenciar
suas implicações práticas no ensino da escrita, salientando a necessidade de um conhecimento
fonológico estruturado na formação do docente.
Essa estrutura detalha cada ponto abordado inicialmente, expandindo a introdução e
fornecendo uma visão clara sobre a importância dos estudos fonéticos e fonológicos na
formação de professores, principalmente na área de alfabetização. Ela realça a necessidade de
integrar essas disciplinas aos currículos dos cursos de formação para que docentes estejam
aptos a lidar com os desafios linguísticos dos primeiros anos escolares.

a) Processos de Estruturação Silábica

Os processos de estruturação silábica referem-se a alterações na composição das sílabas


durante o desenvolvimento da fala. Esses processos são observados especialmente em crianças
em fase de aquisição da linguagem, podendo afetar a forma como elas produzem e
compreendem palavras. Dois processos principais incluem a redução de encontro consonantal
e o apagamento de sílaba átona. A seguir, explicamos cada um desses processos com
exemplos.

1. Redução de Encontro Consonantal

 Este processo ocorre quando há uma redução no encontro de duas consoantes dentro
de uma mesma sílaba. A redução acontece pelo apagamento de uma das consoantes,
simplificando a estrutura silábica. Esse fenômeno é comum na fala infantil e reflete o
esforço da criança em adaptar palavras complexas à sua capacidade de produção.

 Exemplos:

o cobra → [«kø.ba]: neste caso, o encontro consonantal [br] é simplificado para


[b], resultando na forma “coba” para a fala infantil.

o fruta → [«fu.ta]: o encontro [fr] é reduzido para [f], produzindo algo como
“futa”.

2. Apagamento de Sílaba Átona

 O apagamento de sílabas átonas consiste em eliminar sílabas não acentuadas de


palavras multisilábicas. Esse processo ocorre frequentemente em sílabas que não
recebem ênfase (ou acento), podendo ser sílabas pré-tônicas (antes da sílaba tônica)
ou pós-tônicas (após a sílaba tônica). A tendência é simplificar a palavra tornando-a
mais fácil de pronunciar, um processo bastante comum na fase inicial da fala.

 Exemplo:

o bicicleta → [bi. «ke.ta]: neste exemplo, a sílaba átona pré-tônica [si] é


eliminada, resultando em uma pronúncia como "biketa".

Esses processos de estruturação silábica são parte de um conjunto mais amplo de adaptações
fonológicas que ocorrem durante a aquisição da linguagem. Identificar e compreender esses
processos auxilia o professor alfabetizador a apoiar melhor a criança em sua transição para a
linguagem escrita, pois o entendimento dessas adaptações permite antecipar e corrigir
possíveis interferências na aquisição da leitura e da escrita.

A estruturação silábica na fala infantil inclui diversos processos de simplificação da produção


fonológica, que facilitam a pronúncia de palavras complexas. Além da redução de encontro
consonantal e do apagamento de sílabas átonas, outros processos comuns envolvem o
apagamento de sons específicos, como fricativas e líquidas em várias posições dentro da
palavra. Abaixo, detalhamos esses processos com exemplos.

2. Apagamento de Sílaba Átona (Continuação)

 O apagamento de sílaba átona pode ocorrer tanto em sílabas pré-tônicas como pós-
tônicas, simplificando a palavra para tornar a produção mais fácil para a criança.

 Exemplo Adicional:

o fósforo → [«føs.u]: neste caso, a sílaba pós-tônica [fo] é eliminada, resultando


na pronúncia "fósu".

3. Apagamento da Fricativa Final

 Este processo consiste no apagamento do fonema fricativo /s/ em posição final de


sílaba dentro de uma palavra. É uma maneira comum de simplificação na fala infantil,
especialmente em palavras onde o /s/ final pode ser percebido como redundante ou
difícil de pronunciar.

 Exemplos:

o estrela → [i. «te.la]: o fonema /s/ é eliminado, produzindo "etrela".

o floresta → [fo. «re.ta]: a ausência do /s/ simplifica a palavra para "foreta".

4. Apagamento de Líquida Final

 Este processo envolve o apagamento de consoantes líquidas — que podem ser laterais
(como /l/) ou não-laterais (como /r/) — no final de sílabas ou no final de palavras. Isso
ocorre frequentemente em palavras que terminam com esses sons, sendo uma
simplificação comum na fala infantil.

 Exemplos:

o martelo → [ma.«te.lu]: a consoante líquida final /r/ é eliminada, resultando em


"matelo".

o porta → [pø.«ta]: o som /r/ é eliminado, levando à pronúncia "pota".

5. Apagamento de Líquida Intervocálica

 Neste caso, uma consoante líquida, seja lateral (como /l/) ou não-lateral, é eliminada
quando ocorre entre duas vogais. Esse processo reduz a complexidade da palavra ao
suprimir uma consoante interna, facilitando a articulação.

 Exemplos:

o borboleta → [bo.«e.ta]: o som /l/ entre as vogais é apagado, resultando em


"boreta".

o velinha → [ve.«i.μa]: o fonema /l/ é eliminado, levando à pronúncia "veinha".

6. Apagamento de Líquida Inicial

 Esse processo ocorre quando uma consoante líquida (lateral ou não-lateral) é apagada
no início de uma palavra. Esse tipo de apagamento é comum em palavras com
consoantes iniciais que podem ser difíceis para as crianças pronunciarem,
especialmente durante as fases iniciais da aquisição de linguagem.

 Exemplo:

o livro → [i.«vu]: a consoante inicial /l/ é eliminada, simplificando a palavra para


"ivro".

Esses processos de estruturação silábica são indicadores importantes no desenvolvimento da


fala e podem interferir na transição para a língua escrita. O conhecimento desses padrões
permite que educadores e profissionais envolvidos na alfabetização identifiquem dificuldades
específicas nas produções infantis, possibilitando intervenções pedagógicas que auxiliem as
crianças na correta articulação e reconhecimento da estrutura fonológica das palavras.

Além dos processos já mencionados, as crianças podem exibir outros fenômenos de


estruturação silábica em sua fala, como a metátese e a epêntese. Esses processos podem
refletir a busca da criança por adaptar as palavras à sua capacidade articulatória.

7. Metátese

 A metátese é a reordenação de sons dentro de uma palavra, onde um fone muda de


posição. Esse processo pode ocorrer simultaneamente com a semivocalização da
líquida, onde uma líquida (como /r/ ou /l/) é convertida em uma semivogal (como /y/).
Essas adaptações ajudam a criança a produzir sons que, inicialmente, podem ser mais
difíceis de pronunciar.

 Exemplos:

o trator → [tay. «toy]: o som [tra] é reorganizado para [tar], e o /r/ final é
semivocalizado, resultando em algo como "taytoy".

o placa → [«pay.ka]: o som [pla] é reorganizado para [pal], e o /l/ final é


convertido em [y], resultando em "payka".

8. Epêntese

 A epêntese é a inserção de uma vogal entre duas consoantes. Esse processo facilita a
produção de palavras ao adicionar uma vogal, tornando mais fácil para a criança
pronunciar encontros consonantais que poderiam ser complexos.

 Exemplos:

o brabo → [ba. «ra.bu]: uma vogal [a] é inserida entre as consoantes [b] e [r],
resultando em "barabu".

o gruda → [gu. «ru.da]: a inserção da vogal [u] entre [g] e [r] torna a palavra
"guruda".

b) Processos de Substituição

Além dos processos de estruturação silábica, a substituição de sons é um fenômeno comum na


fala infantil. Essa substituição ajuda as crianças a lidar com sons que, em certos estágios de
desenvolvimento, ainda são complexos para sua produção.
1. Desonorização da Obstruinte

 A desonorização ocorre quando plosivas, fricativas ou africadas sonoras são produzidas


como sons surdos. Esse processo simplifica a produção fonológica para a criança,
tornando mais fácil pronunciar certos sons.

 Exemplos:

o zebra → [«se.pa]: o som sonoro [z] é substituído pelo som surdo [s], e [b] é
substituído por [p], resultando em "sepa".

o gato → [«ka.tu]: o som [g] é substituído por [k], resultando em "katu".

2. Anteriorização

 A anteriorização envolve a substituição de consoantes palatais ou velares por


consoantes alveolares ou labiais, mais próximas da ponta da língua. Esse processo
reflete a tentativa da criança de simplificar a produção de sons que requerem uma
articulação mais recuada, facilitando a pronúncia.

 Exemplo:

o chave → [«sa.ve]: o som palatal [ʃ] é substituído pelo som alveolar [s],
simplificando a palavra.

Esses processos de substituição e estruturação silábica são característicos da fase de aquisição


da linguagem. A compreensão desses fenômenos é essencial para os educadores, pois lhes
permite auxiliar as crianças na transição para a linguagem escrita, corrigindo e guiando a
pronúncia conforme necessário. Esses conhecimentos também são fundamentais para
identificar padrões normais e desvios que possam requerer atenção específica.

b) Processos de Substituição (Continuação)

Dando sequência aos processos de substituição observados na fala infantil, a seguir


apresentamos mais categorias, incluindo a substituição de líquida, semivocalização de líquida,
plosivização e posteriorização. Esses fenômenos refletem a tentativa da criança de adaptar
sons difíceis a alternativas mais fáceis de articular, o que é comum nas fases iniciais de
aquisição da linguagem.

3. Substituição de Líquida

 A substituição de líquida ocorre quando uma consoante líquida (como /r/ ou /l/) é
trocada por outra líquida. Essa substituição pode ser uma adaptação para tornar a
produção sonora mais fácil, especialmente em palavras onde as líquidas são mais
complexas de articular.

 Exemplos:

o armário → [a.«ma.lyu]: o som [r] é substituído por [l], resultando em "amalio".

o dirigindo → [dZi.li.«_in.du]: aqui, o som [r] é substituído por [l], tornando-se


"dilijindu".

4. Semivocalização de Líquida
 Neste processo, uma consoante líquida (como /r/ ou /l/) é substituída por uma
semivogal, como [y]. Essa alteração simplifica a articulação da palavra, convertendo a
consoante líquida em um som mais próximo de uma vogal.

 Exemplos:

o comer → [ko.«mey]: o som [r] é substituído por [y], resultando em "comey".

o pular → [pu.«lay]: o som [r] é substituído por [y], resultando em "pulay".

5. Plosivização

 A plosivização é a substituição de uma consoante fricativa (como /v/ ou /s/) ou africada


por uma consoante plosiva (como /b/ ou /t/). Esse processo ocorre quando a criança
opta por sons mais fáceis de produzir, especialmente aqueles que envolvem uma
oclusão seguida de uma liberação do fluxo de ar (plosivas).

 Exemplos:

o vaca → [«ba.ka]: a fricativa [v] é substituída pela plosiva [b], resultando em


"baca".

o saia → [«taya]: a fricativa [s] é substituída pela plosiva [t], resultando em


"taya".

6. Posteriorização

 A posteriorização ocorre quando uma consoante labiodental, dental ou alveolar


(como /s/, /f/, /t/, /d/) é substituída por uma consoante palato-alveolar ou velar, mais
próxima da parte posterior da boca. Esse processo representa uma adaptação da
criança ao mover a articulação para uma área posterior, geralmente para sons que são
percebidos como mais fáceis.

 Exemplo:

o sapo → [«ka.pu]: a consoante alveolar [s] é substituída por uma velar [k],
resultando em "kapu".

Esses processos de substituição são observados em fases normais de desenvolvimento da fala


e ajudam a simplificar a articulação das palavras para a criança. A identificação desses
fenômenos é fundamental para profissionais da educação e da fonoaudiologia, pois permite
monitorar e apoiar o desenvolvimento linguístico infantil, garantindo uma transição mais fluida
para a pronúncia e a escrita corretas à medida que as habilidades fonológicas amadurecem.

Os processos de substituição incluem também fenômenos como a assimilação e a sonorização


pré-vocálica. Esses processos refletem ajustes na fala infantil, onde certos sons são
influenciados por outros na mesma palavra ou sofrem mudanças de sonoridade dependendo
de sua posição.

7. Assimilação
 A assimilação ocorre quando um som é modificado devido à influência de outro som
na mesma palavra. Esse fenômeno acontece quando um som adquire características do
som adjacente, tornando-se igual ou similar a ele, o que facilita a produção.

 Exemplos:

o girafa → [vi.«ra.fa]: o som [ʒ] é influenciado pelo som [v], resultando em "vira-
fa".

o corneta → [to.«ne.ta]: o som inicial [k] é substituído por [t] devido à


assimilação, resultando em "toneta".

8. Sonorização Pré-Vocálica

 A sonorização pré-vocálica ocorre quando consoantes surdas (plosivas, fricativas ou


africadas) tornam-se sonoras ao serem seguidas de uma vogal. Esse fenômeno reflete a
adaptação da criança para harmonizar sons próximos, especialmente em posições em
que a sonoridade facilita a fluência da fala.

 Exemplos:

o confusão → [gõn.vu.«zãw]: o som surdo [k] é substituído pelo sonoro [g], e [f]
é substituído por [v], resultando em "gonvuzão".

o tesoura → [dZi.«zo.ra]: o som surdo [tʃ] é substituído pelo sonoro [dʒ],


resultando em "dizo-ra".

Esses processos de assimilação e sonorização pré-vocálica são estratégias que auxiliam a


criança na produção de palavras com sons complexos. A compreensão desses fenômenos ajuda
educadores e fonoaudiólogos a identificar padrões de substituição típicos do desenvolvimento
infantil, permitindo um apoio mais direcionado ao desenvolvimento da fala e da linguagem
escrita.

Tipificação do Texto

O texto aborda a relação entre os processos fonológicos na aquisição da fala e o papel deles na
alfabetização, argumentando que os estudos fonéticos e fonológicos são essenciais para a
formação dos professores alfabetizadores. A seguir, o conteúdo do texto foi dividido e
classificado em categorias principais, que descrevem e contextualizam as principais ideias
apresentadas.

1. Introdução ao Problema

 Lacuna Teórica e Prática na Educação: O texto inicia expondo a lacuna nos cursos de
Pedagogia e Normal em relação à conexão entre teoria e prática na formação de
professores alfabetizadores, especialmente no que diz respeito ao ensino fonético e
fonológico.

 Questão Central: A problemática gira em torno de como os estudos de fonética e


fonologia se inserem nos cursos de formação de docentes e qual a importância desses
conhecimentos para a prática da alfabetização e letramento.

2. A Primazia da Fala sobre a Escrita


 Visão Tradicional da Linguística: A fala é tratada como prioritária em relação à escrita,
sendo considerada essencial tanto estrutural quanto biologicamente. Lyons (1982)
defende essa ideia, argumentando que a fala é histórica, funcional e estruturalmente
básica, pois é um sistema inato e natural para o ser humano.

 Influência Histórica da Fala sobre a Escrita: Estudos do século XIX sugerem que
mudanças linguísticas observadas na escrita são, na realidade, reflexos de alterações
que primeiro ocorreram na fala.

3. Interdependência entre Fala e Escrita

 Escrita como Influenciadora da Fala: Schwindt et al. (2007), apoiados por Kato (1990),
desafiam a visão de uma relação unidirecional, afirmando que a escrita também exerce
influência sobre a fala após o estágio de letramento.

 Exemplos de Retroalimentação da Escrita: A pesquisa de Collischonn (2003) no sul do


Brasil exemplifica esse efeito bidirecional, observando que falantes escolarizados
apresentam menos epêntese em palavras como “digno” e “psicologia”, onde a escrita
normativa suprime a vogal epentética comumente observada na fala.

4. Outros Fenômenos de Influência Mútua

 Fenômeno da Harmonia Vocálica: Outro fenômeno examinado é a harmonia vocálica,


onde vogais médias assimilam características de altura das vogais seguintes (e.g.,
“minino” em vez de “menino”). A escolaridade reduz a ocorrência dessa característica
na fala, ilustrando o efeito da escrita.

 Bidirecionalidade da Fala e Escrita na Alfabetização: Estudos de Schwindt et al. (2007)


mostram que a relação entre fala e escrita é de "mão dupla" e que ambas se
influenciam mutuamente, reforçando o conceito de retroalimentação.

5. Estudos Empíricos sobre Fala e Escrita na Aquisição da Linguagem

 Pesquisas de Fronza e Colaboradores: Pesquisadores como Fronza (2003) e Fronza e


Varella (2003) analisaram como aspectos fonológicos característicos da fala influenciam
a escrita de crianças, especialmente em estruturas complexas como CCV e CVC. Esses
estudos sugerem uma “fonologia da escrita”, onde estratégias cognitivas da fala infantil
influenciam as representações gráficas.

 Projeto Longitudinal e Transversal na UNISINOS: Estudos recentes analisam


longitudinalmente (2 a 3 anos) e transversalmente (3 a 10 anos) a fala e escrita de
crianças, mostrando avanços fonético-fonológicos e indicando que, mesmo com o
domínio fonético, as crianças fazem ajustes ao representar essas estruturas na escrita.

6. Consciência Fonológica e Alfabetização

 Consciência Fonológica como Base para a Alfabetização: Pesquisas de Capovilla, Dias e


Montiel (2007) demonstram que a consciência fonológica, ou a habilidade de refletir
sobre a estrutura sonora da linguagem, é fundamental para a alfabetização e o
letramento. Componentes como rima, aliteração, segmentação e manipulação
fonêmica são cruciais para o desenvolvimento de habilidades de leitura e escrita.

 Desenvolvimento Gradual da Consciência Fonológica: Com base em testes em


crianças do Ensino Fundamental, os autores argumentam que a consciência fonológica
se desenvolve gradualmente, e sua falta pode dificultar o reconhecimento de rimas e
aliterações e a construção de sílabas na escrita.

7. Conclusão: A Importância da Relação Bidirecional entre Fala e Escrita

 Integração entre Fala e Escrita na Alfabetização: Os estudos revelam que fala e escrita
são elementos interdependentes na alfabetização, onde a escrita não apenas se origina
na fala, mas também a influencia. Isso exige que os professores compreendam as bases
fonológicas da fala para atuar efetivamente no processo de alfabetização.

 Relevância para a Formação Docente: Conclui-se que os cursos de Pedagogia e Normal


devem incorporar estudos fonéticos e fonológicos para preparar melhor os docentes
alfabetizadores. Esse conhecimento teórico-prático é fundamental para uma
alfabetização eficaz, em que a “via de mão dupla” entre fala e escrita seja
compreendida e aplicada.

8. Considerações Finais

 Panorama sobre Fonologia e Alfabetização: O artigo destaca a relevância dos estudos


fonológicos na formação do docente alfabetizador e argumenta que a teoria fonológica
permite que os professores trabalhem de forma mais segura e produtiva no processo
de alfabetização.

 Necessidade de Alinhamento Teórico-Prático: Por fim, reforça-se que a inclusão de


fonética e fonologia nos currículos dos cursos de formação docente é essencial para
melhorar a prática educativa e o desempenho dos futuros alfabetizadores.

A INVESTIGAÇÃO EM FONOLOGIA DO PORTUGUÊS:


Tipificação e Síntese do Artigo:

O artigo oferece um panorama dos estudos fonológicos realizados em Portugal, com ênfase nas
teorias desenvolvidas a partir da obra de Chomsky e Halle (1968). A estrutura do artigo
abrange desde o levantamento histórico dos estudos iniciais até as influências mais modernas
na fonologia portuguesa, destacando a continuidade e evolução das pesquisas. Os principais
aspectos abordados podem ser tipificados e sintetizados da seguinte forma:

1. Introdução aos Estudos Fonológicos em Portugal

 Contexto Histórico: O texto inicia-se com um panorama dos estudos fonológicos


prévios a 1968, onde o foco era predominantemente dialetal, filológico e estrutural. A
tradição de estudos fonéticos e fonológicos remonta a obras como a primeira
gramática de Fernão de Oliveira e o trabalho de Aniceto dos Reis Gonçalves Viana, que
fornecem as bases para a descrição do sistema fonológico português.

2. Estudos Dialetais e Filológicos

 Desenvolvimento do Estudo de Dialetos e Características Dialetais: Estudos


dialetológicos de figuras como Luís Lindley Cintra e Herculano de Carvalho focaram em
particularidades dialetais e na preservação da diversidade linguística portuguesa,
influenciando a investigação em fonologia nas Universidades de Coimbra e Lisboa.
 Enfoque nas Universidades: Os estudos dialetais mantiveram-se com o passar do
tempo, e a continuidade é notável nas pesquisas de Ivo Castro e Clarinda de Azevedo
Maia.

3. Transição para Fonologia Formal e Generativa

 Influência de Chomsky e Halle: A partir dos anos 60, com a introdução da fonologia
generativa (notadamente em The Sound Pattern of English), houve uma mudança de
foco na análise fonológica, incorporando métodos que buscavam entender a estrutura
subjacente dos sistemas fonológicos e suas regras.

 Aplicação ao Português: Trabalhos de Maria Helena Mira Mateus e Ernesto d’Andrade


adaptaram o modelo generativo clássico ao português, incluindo a análise de traços
distintivos e da morfologia fonológica.

4. Desenvolvimentos Pós-Fonologia Generativa

 Evolução das Teorias: O artigo diferencia a fonologia generativa clássica das teorias
subsequentes, como a fonologia auto-segmental e a geometria de traços. Estas teorias
focam na estrutura interna dos segmentos e nas relações hierárquicas dos traços,
promovendo uma análise mais detalhada e complexa dos sistemas prosódicos, como o
acento e a entoação.

 Teorias Contemporâneas e Estudos Prosódicos: Trabalhos mais recentes, como os de


Sónia Frota e Marina Vigário, exploram a prosódia, os padrões entoacionais e a
organização prosódica em português, aplicando teorias da fonologia lexical e da teoria
da otimidade.

5. Contribuições e Perspectivas Atuais

 Contribuições da Fonética Experimental e Inteligência Artificial: Estudos sobre


fonética acústica e síntese da fala têm contribuído para a compreensão da entoação e
do reconhecimento de fala em português. Investigadores como Fernando Martins e
Raquel Delgado Martins trabalharam nessas áreas, associando fonética experimental à
fonologia prática.

 Vitalidade e Continuidade: A bibliografia anexada ao artigo demonstra a vitalidade da


fonologia portuguesa, com contínua produção acadêmica e experimentação teórica.

Síntese Geral

 O artigo revela que os estudos fonológicos em Portugal passaram por uma transição
significativa ao longo do tempo, indo de descrições dialetológicas e estruturais para
uma abordagem formal e generativa, influenciada por teorias de ponta. Os linguistas
portugueses construíram sobre um rico patrimônio de estudos filológicos e dialetais,
adaptando teorias estrangeiras para uma análise aprofundada da fonologia do
português, incluindo a prosódia e a estrutura segmental.
Preparação da fonética e da fonologia no ensino do
português (ensino básico e secundário) algumas
considerações preliminares.

1. Introdução: Objetivos, Motivações e Limitações do Trabalho

Na introdução, o autor estabelece os objetivos principais de sua pesquisa, que incluem


promover o ensino de noções básicas de fonética e fonologia no âmbito das disciplinas de
Língua Portuguesa no ensino básico e secundário. Esse foco parte do reconhecimento de uma
lacuna significativa nos currículos, onde esses conteúdos são frequentemente negligenciados
em prol de uma ênfase maior em aspectos morfossintáticos.

O texto propõe-se a reorganizar e ampliar o espaço da fonética e da fonologia nos programas


escolares, defendendo uma abordagem mais estruturada e sistemática. A motivação para isso
decorre de estudos e evidências que mostram a relevância desses conhecimentos para a
compreensão e uso efetivo da língua. Além disso, o autor explora as limitações impostas pela
estrutura curricular atual, apontando para a necessidade de ajustes que tornem viável a
introdução e consolidação de conteúdos fonéticos no ensino da língua portuguesa.

2. Ponto de Partida

O autor define o ponto de partida com base na necessidade de um ensino sistemático e


explícito de conceitos fonéticos e fonológicos na língua materna. Ele argumenta que o ensino
da fonética e da fonologia é "justificado" por uma série de argumentos teóricos e
metodológicos, e é "benéfico" para os alunos, uma vez que esses conhecimentos facilitam a
assimilação de outros conteúdos programáticos.

Essas noções auxiliam os alunos na compreensão da relação entre som e escrita, aumentando
a sensibilidade fonológica e auxiliando na resolução de dificuldades ortográficas. O autor
também aponta que, sem esse conhecimento, os estudantes podem enfrentar desafios que
poderiam ser facilmente evitados com uma educação fonética precoce e clara. Esse ponto de
partida é reforçado pela análise de materiais didáticos e currículos, que mostram que a
fonética ainda não recebe a devida atenção.

3. Exemplos Introdutórios e Primeiras Considerações Teóricas

Para ilustrar a relevância da fonética e da fonologia, o autor utiliza exemplos de recursos


literários, como homofonia e aliteração. Noções fonéticas ajudam os alunos a compreender
melhor esses elementos e a interpretar nuances sonoras em textos literários, como a rima e o
ritmo, que muitas vezes refletem relações lexicais ou estilísticas importantes.

Essas noções também desenvolvem nos alunos uma "sensibilidade auditiva" que é essencial
para distinguir aspectos fônicos dos gráficos. Por exemplo, em versos poéticos onde o som das
palavras se repete, é importante que os alunos consigam identificar aliterações e assonâncias,
mesmo quando os sons podem parecer confusos devido à ortografia. Isso prepara os
estudantes para uma análise literária mais completa, permitindo-lhes apreciar os recursos
estilísticos que se baseiam em características fonéticas.
4. Argumentos Teóricos e Metodológicos

Nesta seção, o autor reúne argumentos a favor do ensino precoce de fonética e fonologia. A
fonologia é vista como um componente integral da língua e essencial para uma compreensão
completa da estrutura linguística, enquanto a sensibilização fonológica auxilia os alunos na
correção de erros ortográficos e na compreensão das variações linguísticas.

A fonética e a fonologia fornecem a base para que os alunos identifiquem diferenças de


pronúncia, sons de diferentes dialetos e outros aspectos fonéticos da língua que não são
abordados por uma educação focada apenas na morfossintaxe. Além disso, a fonologia é
relevante para a formação de uma consciência mais ampla sobre as diferenças entre som e
escrita e para o desenvolvimento de uma compreensão mais profunda sobre as variações
linguísticas, como os dialetos e os socioletos.

5. Tratamento das Questões de Fonética e Fonologia nos Programas e Gramáticas Escolares

Aqui, o autor examina como os currículos escolares tratam a fonética e a fonologia. Nos
programas de ensino básico, há uma ênfase predominante em temas morfossintáticos,
enquanto a fonética e a fonologia recebem pouca atenção. No ensino secundário, ainda que
haja uma introdução desses temas, eles aparecem de forma fragmentada e insuficiente.

Além disso, o tratamento indireto desses conteúdos ocorre principalmente em disciplinas


como ortografia, onde a fonética e a fonologia são abordadas como suporte à grafia correta,
em variações regionais, e em análise literária (por exemplo, na análise de rimas e aliterações).
No entanto, esses temas são geralmente tratados como ferramentas de apoio, em vez de
serem abordados de forma sistemática e direta.

6. Gramáticas Escolares

O autor analisa quatro gramáticas escolares (Azeredo et al., 1985; Ferreira e Figueiredo, 1990;
Figueiredo e Bizarro, 1997; J. C. Pinto, 1998) para compreender o espaço destinado à fonética e
fonologia. Observa-se que poucas gramáticas dedicam capítulos específicos a esses temas; em
vez disso, frequentemente, eles são subordinados a outros tópicos como morfologia.

Em algumas gramáticas, a distinção entre plano fônico e gráfico é respeitada, mas em outras,
essa diferenciação não é clara, o que gera confusão entre transcrição fonética e ortográfica.
Apenas algumas gramáticas, como a de J. C. Pinto (1998), mantêm uma abordagem integrada,
oferecendo uma visão mais consistente desses conceitos.

7. Considerações Globais

O autor reflete sobre a ausência de uma abordagem explícita e estruturada para a fonética e
fonologia no ensino pré-universitário, sugerindo que esses temas são vistos como "domínios
menores". Ele defende a sistematização desses conteúdos, propondo uma estrutura
pedagógica que inclua a fonética e fonologia como elementos centrais do currículo.
Sugere-se que os programas escolares passem a considerar explicitamente a importância da
fonética e da fonologia, criando blocos específicos de ensino para esses tópicos. O autor
também propõe uma reformulação e atualização dos conceitos abordados nas gramáticas
escolares, promovendo um exame crítico das informações científicas disponíveis e da
terminologia utilizada para descrever fenômenos fonológicos e fonéticos.

8. Proposta Final

Na proposta final, o autor apresenta um "corpus mínimo" de conteúdos fonéticos e


fonológicos, que deveria ser introduzido progressivamente no ensino básico e secundário. Esse
corpus abrange:

 Esses conteúdos são vistos como essenciais para uma Aparelho fonador: Descrição
das partes e da função dos órgãos que produzem os sons da fala.

 Distinções fonéticas básicas: Consoantes/vogais, sons vozeados/não-vozeados, sons


orais/nasais.

 Modos e pontos de articulação: Distinção entre oclusivas, fricativas, etc., e entre


labiais, dentais, palatais e velares.

 Classificação das vogais: Em termos de altura (fechadas, médias, abertas) e posição


(anteriores, recuadas, arredondadas/não-arredondadas).

 Símbolos do AFI: Uso do Alfabeto Fonético Internacional para a transcrição de fonemas


do português.

 Diferença entre som e escrita: Enfatizando as correspondências entre grafemas e


fonemas.

 Marcas fonéticas das variações dialetais do português: Abrangendo variações


europeias e não europeias.

compreensão completa da língua e para o desenvolvimento de uma competência linguística


mais profunda entre os estudantes.

9. Fenômenos Fonéticos no Português Europeu Contemporâneo

O autor finaliza com uma proposta de temas avançados, sugerindo o ensino dos "grandes
fenômenos" fonéticos no português europeu contemporâneo, como:

 Vocalismo tônico: Características específicas das vogais tônicas.

 Acento livre: Variações de acentuação nas palavras.

 Diferenças entre plano fônico e plano fonológico: Explicação das distinções entre a
realização física dos sons (plano fônico) e sua representação abstrata e funcional na
língua (plano fonológico).

Esses fenômenos são considerados fundamentais para o ensino de uma fonética e fonologia
aplicadas, ajudando os alunos a entenderem a complexidade e as nuances da língua
portuguesa.
Conclusão

O autor defende a necessidade de uma reforma curricular para integrar a fonética e a fonologia
de forma mais visível e explícita no ensino da língua portuguesa. Essa abordagem sistemática e
progressiva, começando no ensino básico, é vista como essencial para que os alunos
desenvolvam uma compreensão completa e sofisticada da língua, possibilitando um uso mais
eficaz e consciente do português.

Desenvolver a consciência fonológica

1. Introdução à Consciência Fonológica

Objetivo: Explicar o que é a consciência fonológica e por que ela é importante no


desenvolvimento da leitura e escrita.

Como ensinar:

 Explique o conceito: Diga aos alunos que a consciência fonológica é a habilidade de


ouvir, identificar e manipular os sons da fala. Ela é a base para aprender a ler e
escrever, pois ajuda as crianças a entenderem que a escrita representa sons.

 Use exemplos cotidianos: Compare os sons da língua a blocos de construção que


formam palavras. Assim como precisamos juntar blocos para construir algo, juntamos
sons para formar palavras.

Atividade prática:

 Jogo de Identificação de Sons: Peça aos alunos para ouvirem atentamente uma série
de palavras e identificar quais palavras começam ou terminam com o mesmo som. Por
exemplo: "Qual palavra começa com o mesmo som que 'sol': 'sapato', 'pato' ou 'mel'?"

2. Unidades Fonológicas Relevantes

Objetivo: Ensinar sobre sílabas, constituintes silábicos e fonemas, ajudando os alunos a


perceber que as palavras podem ser divididas em partes menores.

Como ensinar:

 Divida as palavras em sílabas: Comece ensinando que palavras podem ser divididas em
sílabas, como em "ca-sa" ou "es-co-la". Peça aos alunos que batam palmas ou batam o
pé para cada sílaba falada.

 Ensine os constituintes silábicos: Mostre que as sílabas têm partes chamadas de


ataque (sons no início) e rima (núcleo e coda, ou seja, a vogal principal e os sons
finais). Por exemplo, em "sol", o ataque é "s" e a rima é "ol".

Atividade prática:

 Bater palmas para sílabas: Peça aos alunos para baterem palmas enquanto pronunciam
cada sílaba de palavras que você escreve no quadro. Isso ajuda a identificar as divisões
entre as sílabas.

 Jogo dos Constituintes: Dê palavras curtas, como "sol" ou "mar", e pergunte aos alunos
para identificar o ataque e a rima de cada palavra.
3. Métodos de Treinamento para Consciência Fonológica

Objetivo: Ensinar a progressão pedagógica para desenvolver a consciência fonológica de forma


gradual.

Como ensinar:

 Sílabas antes dos fonemas: Comece com atividades que envolvem sílabas (como
separar palavras em sílabas) e depois passe para a identificação de sons dentro das
sílabas (consciência fonêmica).

 Aprimore gradualmente: Ensine a identificar rimas e sons iniciais, depois passe para a
manipulação de sons, como remover, adicionar ou substituir sons em palavras.

Atividade prática:

 Completar Palavras: Mostre aos alunos imagens de objetos comuns (como "sol" ou
"pato") e peça que identifiquem a primeira sílaba ou o som inicial da palavra
representada na imagem.

 Jogo de Sílabas e Fonemas: Diga uma palavra e peça para os alunos identificar as
sílabas; em etapas mais avançadas, eles podem identificar os fonemas específicos.

4. Atividades de Estímulo e Exercícios

Objetivo: Trabalhar discriminação auditiva e características fonológicas como vozeamento e


ponto de articulação.

Como ensinar:

 Atividades auditivas: Faça jogos que incentivem as crianças a prestar atenção em sons
específicos, como encontrar rimas ou identificar sons repetidos em uma lista de
palavras.

 Características dos sons: Explique a diferença entre sons "vozeados" (com vibração nas
cordas vocais, como "z") e "não-vozeados" (sem vibração, como "s"). Use a mão na
garganta para sentir a vibração.

Atividade prática:

 Jogo de Vibração: Peça para os alunos colocarem as mãos na garganta enquanto dizem
palavras que começam com sons vozeados e não-vozeados. Eles devem identificar se
sentem a vibração.

 Sons do Cotidiano: Traga objetos que produzem sons distintos (como um sino e um
tambor) e peça que as crianças identifiquem os sons de olhos fechados. Relacione isso
com a discriminação de sons de fala.

5. Consciência da Relação Oralidade-Escrita

Objetivo: Explicar a relação entre oralidade e escrita, enfatizando a transição entre esses dois
sistemas.

Como ensinar:
 Explique a diferença: Fale sobre a diferença entre falar e escrever. Mostre que algumas
palavras são faladas de forma diferente do que são escritas, especialmente em dialetos
regionais.

 Atividades de leitura: Leia palavras que podem ser escritas de formas diferentes do
que se fala (por exemplo, a pronúncia de "próximo" versus "próxmo" no português
brasileiro) e discuta com os alunos.

Atividade prática:

 Lista de Palavras Regionais: Peça para os alunos darem exemplos de palavras que
conhecem e que são pronunciadas de maneira diferente em sua região. Isso ajudará a
perceber a diversidade linguística e as diferenças entre fala e escrita.

6. Consciência Fonológica no Contexto de Variabilidade Dialetal

Objetivo: Desenvolver a compreensão da variação dialetal e como isso impacta a fonética e


fonologia.

Como ensinar:

 Introduza a diversidade: Explique que, em diferentes regiões, as palavras podem ser


pronunciadas de formas diferentes. Use exemplos que os alunos conheçam, mostrando
que isso é natural e não significa um "erro".

 Comparação entre dialetos: Traga gravações ou exemplos de palavras em diferentes


dialetos para mostrar as diferenças de pronúncia.

Atividade prática:

 Jogo de Dialetos: Mostre aos alunos uma lista de palavras e discuta as diferentes
formas de pronúncia em várias regiões. Pergunte se eles conhecem alguma dessas
variações.

7. Propostas de Atividades para Consciência Fonológica

Objetivo: Fornecer atividades práticas para fortalecer a consciência fonológica.

Como ensinar:

 Estabeleça correspondências: Crie tabelas com correspondências entre sons e letras


para os alunos entenderem como os sons são representados graficamente.

 Use rimas e aliterações: Encoraje os alunos a encontrar palavras que rimam ou que
começam com o mesmo som, para desenvolver habilidades de segmentação
fonológica.

Atividade prática:

 Tabelas de Sons e Letras: Crie tabelas que mostrem letras e os sons correspondentes.
Peça para os alunos associarem imagens de objetos a essas letras e sons.

 Caça-Rimas: Escolha um som específico e desafie os alunos a encontrar palavras que


rimem com esse som.

8. Fenômenos Fonéticos no Português Europeu Contemporâneo


Objetivo: Ensinar sobre características fonéticas específicas do português europeu, como o
vocalismo tônico e o acento livre.

Como ensinar:

 Explique os fenômenos: Diga que, em português, a posição do acento pode mudar o


significado de uma palavra, como em "pelo" (do verbo pelar) e "pêlo" (fio de cabelo).

 Exercícios de acentuação: Peça aos alunos que identifiquem a sílaba tônica em


diferentes palavras e explorem como isso afeta o significado.

Atividade prática:

 Identificação da Sílaba Tônica: Dê aos alunos uma lista de palavras e peça para eles
identificarem a sílaba mais forte (tônica) em cada uma. Em seguida, discuta como a
acentuação pode afetar o significado.

 Jogo de Palavras com Acentos: Dê pares de palavras com significados diferentes, mas
que mudam apenas pela posição do acento, e discuta com os alunos.

Essas orientações e atividades fornecem uma base sólida para o professor introduzir a
consciência fonológica de forma gradual e prática, com atividades lúdicas que facilitam a
aprendizagem dos alunos e promovem uma compreensão mais profunda da língua.

Estudando a melodia da fala: traços prosódicos e


constituintes prosódicos:
1. Introdução à Prosódia e Contextualização Histórica

 Objetivo: Explicar o que é prosódia e sua importância na língua portuguesa, abordando


o desenvolvimento histórico.

 Conteúdo:

o A prosódia se refere ao estudo de elementos suprassegmentais da fala, como


tom, intensidade, duração e ritmo.

o A história da prosódia remonta às primeiras gramáticas, com autores como


João de Barros (1540), que destaca a prosódia como uma das divisões
essenciais da gramática.

o Traços como tom, acento e duração são fundamentais na prosódia e são


associados aos elementos como sílabas e palavras.

 Sugestão de Abordagem em Sala de Aula:

o Introdução com exemplos auditivos: Apresente gravações de diferentes frases


em português e peça aos alunos que identifiquem variações de tom e
intensidade. Pergunte o que percebem em relação à "melodia" das frases.
o Discussão sobre "musicalidade" da fala: Introduza a ideia de que "falar é tocar
um instrumento", como sugerido por Coelho de Carvalho, explicando que a voz
possui elementos rítmicos e melódicos.

2. Elementos Prosódicos: Tom, Acento e Duração

 Objetivo: Diferenciar e descrever os principais traços prosódicos.

 Conteúdo:

o Tom (Pitch): Refere-se à altura da voz durante a fala, determinado pela


frequência da onda sonora.

o Intensidade: Associada à força ou volume do som, a intensidade contribui para


o acento prosódico.

o Duração: O tempo de articulação de sons e sílabas, que contribui para o ritmo.

o A interação entre esses traços resulta na entoação e no ritmo da fala.

 Sugestão de Abordagem em Sala de Aula:

o Exercício de tom e intensidade: Peça aos alunos para dizer uma palavra várias
vezes, aumentando e diminuindo o tom e a intensidade, e discutam como isso
altera a percepção do que foi dito.

o Atividade de duração: Use palavras curtas e longas para demonstrar a


diferença na duração das sílabas, explicando que o ritmo da língua depende
dessas variações.

3. Constituintes Prosódicos: Sílabas e Palavras

 Objetivo: Ensinar a estrutura e a importância das sílabas e palavras na prosódia.

 Conteúdo:

o A sílaba: É a unidade mais básica, composta por Ataque, Rima e, dentro da


Rima, o Núcleo e a Coda. Cada sílaba tem uma estrutura hierárquica que
influencia a organização da prosódia.

o A palavra prosódica: Vai além da palavra morfológica, integrando clíticos e


modificando acentos secundários.

 Sugestão de Abordagem em Sala de Aula:

o Identificação de sílabas e ataques: Faça um exercício em que os alunos


segmentem palavras em sílabas e identifiquem o ataque, rima, núcleo e coda.

o Jogos de acentuação: Crie um jogo em que os alunos têm que identificar a


sílaba acentuada em palavras e frases curtas, explicando o conceito de palavra
prosódica.

4. Relação entre Prosódia e Pronúncia

 Objetivo: Discutir a importância da prosódia na correta pronúncia e fluência.

 Conteúdo:
o Aspectos como tom e acento são fundamentais para uma boa pronúncia e
fluência.

o A prosódia ajuda a distinguir significados e funções sintáticas, como


diferenciação entre perguntas e afirmações.

 Sugestão de Abordagem em Sala de Aula:

o Atividade de leitura: Peça aos alunos para lerem frases com diferentes
intenções (perguntas, afirmações, exclamações) e discutam como a entoação
muda o significado.

o Prática de pronúncia com acentuação: Use pares de palavras que mudam de


significado com a acentuação (ex. "pelo" - cabelo e "pelo" - preposição),
explicando como a prosódia impacta a compreensão.

5. Ritmo e Entoação na Língua Portuguesa

 Objetivo: Ensinar os padrões rítmicos e de entoação que caracterizam o português.

 Conteúdo:

o No português, o ritmo é considerado silábico (o número de sílabas entre dois


acentos é regular).

o A entoação, ou curva melódica, define o contorno das frases, diferenciando


afirmações, perguntas e emoções.

 Sugestão de Abordagem em Sala de Aula:

o Exercício de ritmo: Peça aos alunos para bater palmas enquanto dizem uma
frase, focando no ritmo natural da língua.

o Análise de entoação: Leia uma frase como afirmação e depois como pergunta,
e peça aos alunos para identificarem as diferenças de tom e entoação.

6. Fonologia Prosódica e Teoria Autossegmental

 Objetivo: Introduzir teorias que explicam a estrutura da prosódia nas línguas.

 Conteúdo:

o A fonologia prosódica organiza a fala em unidades hierárquicas, como sílabas,


palavras prosódicas e sintagmas.

o A teoria autossegmental permite a análise de diferentes níveis da fala (acento,


tom, sílaba) de forma independente e interativa.

 Sugestão de Abordagem em Sala de Aula:

o Esquema hierárquico: Apresente um diagrama que ilustre a hierarquia


prosódica (sílabas, palavras, sintagmas), e peça aos alunos para organizarem
frases com base nesses níveis.

o Exemplo de análise: Use frases simples e destaque os constituintes prosódicos,


discutindo como cada nível contribui para o significado global.
7. Relação entre Prosódia e Gramática

 Objetivo: Explicar como a prosódia interage com outros componentes gramaticais.

 Conteúdo:

o A prosódia afeta a estrutura morfológica e sintática da frase, indicando limites


de unidades (como pausas entre sintagmas) e ajudando a diferenciar
construções sintáticas complexas.

 Sugestão de Abordagem em Sala de Aula:

o Exemplo prático de sintaxe e prosódia: Dê uma frase complexa e peça aos


alunos para marcá-la com pausas prosódicas, discutindo como essas pausas
facilitam a compreensão.

o Análise de clíticos: Mostre como pronomes átonos (como "me", "te") se unem
a outras palavras, formando palavras prosódicas, e como isso influencia o
ritmo e a entoação.

8. Diferenças Regionais e Rítmicas no Português

 Objetivo: Explorar as variações prosódicas no português europeu e brasileiro.

 Conteúdo:

o No português europeu, há uma maior presença de sílabas com ditongos nasais


e sequências consonantais, enquanto no português brasileiro o ritmo é mais
suave, com mais vocalizações e ritmo acentual.

 Sugestão de Abordagem em Sala de Aula:

o Comparação prática: Apresente gravações de português europeu e brasileiro, e


peça aos alunos para identificar as diferenças de ritmo e prosódia.

o Exercício de adaptação prosódica: Proponha uma atividade onde os alunos


leiam frases com o ritmo do português europeu e, em seguida, com o ritmo do
português brasileiro.

9. Considerações Finais sobre o Ensino da Prosódia

 Objetivo: Refletir sobre a importância da prosódia para a compreensão e fluência na


língua.

 Conteúdo:

o A prosódia organiza e estrutura o discurso, ajudando na clareza e fluência, e


contribui para a aquisição da língua materna e de uma segunda língua.

o A prática da prosódia é essencial para melhorar a compreensão auditiva e a


expressão oral dos alunos.

 Sugestão de Abordagem em Sala de Aula:

o Autoavaliação da pronúncia: Peça aos alunos para se gravarem lendo uma


frase e, depois, analisarem sua entoação, ritmo e acento.
o Discussão em grupo: Encoraje os alunos a compartilhar experiências sobre
como a prosódia influencia a compreensão e comunicação no cotidiano.

Fonética e Fonologia no Ensino da Língua Materna:


Modos de Operacionalização. Autora: Sónia Valente
Rodrigues:
1. Introdução

A introdução de conceitos de fonética e de fonologia no ensino básico e no ensino secundário


tem sido defendida por diversos estudiosos como uma ferramenta essencial para o ensino-
aprendizagem da língua materna. Esses conceitos são aplicáveis em domínios variados como
ortografia, evolução fonética, relações lexicais, e até em recursos estilísticos, como a
versificação.

Objetivos da Introdução

1. Desenvolver uma maior consciência fonológica entre os alunos.

2. Abordar os erros fonéticos e de uso, que frequentemente interferem na grafia e


compreensão da língua.

3. Promover uma análise mais detalhada entre a correspondência som-grafia, facilitando


a resolução de dificuldades ortográficas e estilísticas.

2. Conceitos Básicos de Fonética e Fonologia

A fonética e a fonologia são apresentadas como componentes fundamentais do ensino da


língua. Conceitos como fonemas, grafemas e suas relações são essenciais para a compreensão
das variações de pronúncia e grafia, essenciais no processo de alfabetização e na correção
ortográfica.

Principais Conceitos

 Fonema e Grafema: A importância de distinguir entre o som (fonema) e a


representação escrita (grafema).

 Erros Fonéticos e de Uso: Identificação e correção de erros comuns na língua falada e


escrita.

 Homofonia e Aliteração: Estudo de sons semelhantes e sua importância na estilística e


em atividades pedagógicas.

3. Aplicação Didática e Modos de Operacionalização

Propostas de atividades para a inclusão de conceitos fonéticos e fonológicos no currículo visam


desenvolver uma metodologia que engaje os alunos em práticas de reconhecimento e
aplicação desses conceitos.

Atividades Pedagógicas Sugeridas

1. Identificação de Rimas e Aliterações: Exercícios de escuta e reconhecimento.

2. Transcrição Fonética: Atividades para aprimorar a relação som-grafia.


3. Exercícios de Discriminação Auditiva: Estímulo à percepção das diferenças fonéticas
em palavras de som semelhante.

4. Estudo da Homofonia

A homofonia representa um desafio para os alunos devido à natureza do português, onde


palavras com a mesma pronúncia podem ter grafias e significados distintos. O ensino da
homofonia auxilia na compreensão de erros ortográficos comuns e aprimora a capacidade de
interpretação de textos.

Exercícios Práticos de Homofonia

 Análise de Palavras Homófonas: Exercícios de identificação e distinção de palavras


como “há” e “a”.

 Jogos de Palavras: Utilização de atividades interativas para fixação do conteúdo.

5. Transcrição Fonética e Exercícios

A transcrição fonética é uma ferramenta poderosa para compreender a estrutura sonora das
palavras e suas representações gráficas. A proposta inclui o uso do Alfabeto Fonético
Internacional (AFI) para facilitar a aprendizagem.

Tabelas e Exemplos

 Esquema de Correspondências Fonéticas: Tabelas de correspondência entre sons e


letras.

 Exercícios de Correspondência: Prática de ligação entre fonemas e grafemas.

6. Estudo da Aliteração

A aliteração é um recurso estilístico comumente usado na poesia para criar musicalidade. O


estudo desse recurso permite que os alunos explorem a expressividade linguística,
especialmente em textos literários.

Análise de Textos Literários

 Poesia de Luís de Camões: Exercícios de identificação de aliterações em "Os Lusíadas".

 Expressividade Sonora: Discussão sobre como a repetição de sons cria efeitos sonoros
específicos.

7. Normas para Transcrição Ortográfica e Exercícios Práticos

A transcrição ortográfica se torna essencial para que os alunos compreendam as diferenças


entre o discurso oral e o texto escrito. Normas e práticas específicas para a transcrição de
discursos são introduzidas para melhor compreensão das variações da língua.

Instruções de Transcrição

 Normas para Notação de Sons: Tabelas detalhadas com símbolos e exemplos de uso.

 Exercícios de Transcrição: Atividades para transformar discursos orais em texto,


ajudando na distinção entre fala espontânea e formal.

8. Variações Dialetais no Português


As variações dialetais oferecem aos alunos uma compreensão das diferenças linguísticas
regionais. Essa seção propõe atividades que promovem a audição e identificação das
características dos diferentes dialetos do português.

Atividades de Audição

 Exercícios de Escuta: Identificação de diferenças fonéticas em gravações de falantes de


regiões diferentes.

 Análise de Dialetos: Estudo da pronúncia e vocabulário característico de dialetos


regionais.

9. Conclusão e Notas Finais

A inclusão da fonética e fonologia no ensino básico e secundário é uma medida que visa
enriquecer a compreensão dos alunos sobre a língua portuguesa. Essa abordagem não apenas
facilita a aquisição de habilidades ortográficas e fonológicas, mas também aprofunda a
consciência sobre a diversidade linguística e a complexidade do idioma.

Considerações Finais

 Importância Pedagógica: A fonética e a fonologia, como instrumentos de ensino,


ajudam na compreensão e produção textual.

 Propostas para Implementação: Sugestões de atividades e estratégias para uma


integração eficaz desses conceitos no currículo escolar.

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