No Quarto Ao Lado - Drica Fernandes PDF
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ÍNDICE
NO QUARTO AO LADO
Capítulo: It was meant to be
Capítulo 2: You've never loved
~ Victoria ON~
Capítulo 3: Maybe that's the reason
Capítulo 4: If I let you know
Capítulo 5: Makes no sense to me
Capítulo 6: Slip out of my mouth
~ Semanas depois ~
Capítulo 7: When you smile
~Victoria ON~
Capítulo 8: Your hand fits in mine
~ Victoria ON~
~ Flashback ON~
~ No outro dia~
Capítulo 9: No Sense
~ Harry ON~
~ Victor ON~
~ Victoria ON~
A festa CONTINUA...
Capítulo 10: All those conversations
~ Narradora ON~
~ Festa na piscina~
Capítulo 11: But I want you to
~ FlashBack da Maya ON ~
~ Flash Back da Maya OFF~
Capítulo 12: The sound of your voice
~ Victoria ON~
~ MARIA ON~
Capítulo 13: You'll never love yourself
~ Victoria ON~
Capítulo 14: Your stomach or your thighs
~ Harry ON~
Capítulo 15: The Bottom of your Spine
Capítulo 16: Without
~ Narradora ON~
Capítulo 17: I Won't Let
Capítulo 18: It's Made Just for Me
Capítulo 19: The Secrets that I Keep
Capítulo 20 : You never want...
Capítulo 21 : I'm here for you
~ Narradora ON ~
Capítulo 22: Makes No Sense to Me
~ Narradora ON~
Capítulo 23: You're Perfect to Me
Capítulo 24: They add up to...
Capítulo 25: You still have to squeeze into your jeans
~Victoria ON~
Capítulo 26: You'll never treat yourself right
Capítulo 27: Maybe You'll love...
Capítulo 28: But if I do...
Capítulo 29: All These Little Things!
Capítulo 30: How Much?
~Maria Flashback ON~
~ Maria Flashback OFF~
Capítulo 31: Because it's You!
~ Narradora ON~
Capítulo 32: I'm Joining up the Dots
Capítulo 33: I'm in love with you
~ Narradora ON~
~Ligação ON ~
~Ligação OFF~
Capítulo 34: I've just let...
~ Na manhã seguinte~
Capítulo 35: Your Eyes
~ FlashBack Maya On~
~ Maya OFF~
Capítulo 36: The dimples in your back
Capítulo 37: Endlessly
~Narradora On~
Capítulo 38: Fits...
Capítulo 39: It's you
~Narradora On~
Capítulo 40: Mind ...
Capítulo 41: You never want to know...
~ Narradora ON ~
~ No outro dia ~
Capítulo 42: In Love ...
~Flash Back ON~
~Flash Back OFF~
~ O casamento Jones/ Miller~
~Flash Back ON~
~Flash Back OFF~
~ FIM DA 1ª TEMPORADA~
NO QUARTO AO LADO
Drica Fernandes
***
***
Um dia qualquer da semana minha mãe acordou bem cedo e foi me chamar, como de
costume. Senti seu cheiro de manhã e o calor de seus beijinhos na minha testa, pedindo com
carinho para que eu acordasse. Levantei, com a preguiça matinal de sempre, me arrumei, tomei
meu lanche com os dois à mesa. Meu pai já estava atrasado para o trabalho e saiu primeiro,
mas antes disse que me amava muito e desejou-me boa aula. E então lá estava o rotineiro ''eu te
amo até o fim dos tempos''. Já achava isso engraçado.
Ela pegou o carro e nós partimos até a minha escola. Nem ao menos tinha trânsito. Abri
minha mochila e mostrei a ele um desenho que tinha feito: lá estava eu e ela, em um lindo
jardim, e na parte superior havia uma mensagem que dizia: '' Te amo, mamãe :) até o fim dos
tempos''. Percebi que ela tinha se emocionado, virou seu olhar rapidamente para a parte de trás
do carro onde eu estava...
— Que lindo filha, eu também te amo muito. — Seus olhos brilharam e ela estampou um
doce sorriso em seu rosto.
E, então, teve uma espécie de vácuo... um silêncio total que me dominou, era como um
transe que logo foi quebrado. Foi quando tudo girou e um barulho ensurdecedor penetrou meus
ouvidos. Foi muito rápido, nada era claro, parecia fora da realidade e logo tudo em volta foi se
apagando lentamente. Só me lembro de acordar com uma luz muito forte... em um lugar todo
branco. Meu pai estava ao meu lado. Perguntei pela minha mãe. Ele apenas me abraçou e nós
dois começamos a chorar, eu estava fraca e, naquele momento, desejei nunca ter acordado.
Pelo que fiquei sabendo apenas anos depois do acidente, um carro atravessou o sinal no
momento errado e, quando minha mãe viu que ia se chocar com ele, tentou desviar, mas
acabou capotando. Apesar de todos me dizerem que o motorista do outro carro estava errado,
nunca vou tirar da cabeça que eu fui a culpada pela morte da minha mãe. Afinal, eu a distraí.
Eu deveria estar morta, não ela.
Minha vida passou e eu nunca mais fui a menina doce que tinha sido. Pelo menos, é isso
que os parentes cochicham quando acham que não estou perto. Mas, sinceramente, não havia
motivos para eu sorrir verdadeiramente, ainda mais quando estava próxima da família, que só
me lembrava ainda mais dela. Sem a minha mãe eu não era nada, nada fazia sentido.
Decidi muito nova que, obviamente, não queria sentir aquilo tudo outra vez. Então, o
ideal era não se apegar muito a ninguém, para não sofrer quando me abandonassem. Porém, a
vida não funciona assim, não temos controle pleno dos nossos sentimentos. Mesmo assim,
sempre busquei vestir uma armadura. Não diria que minha mãe tenha me abandonado, mas...
ela devia estar comigo agora. Sei que ela também deseja isso, aonde quer que esteja.
Tenho poucas amigas porque não tenho paciência para as frescuras de algumas meninas.
Nem todas são assim, mas algumas são e isso é muito irritante. Eu perdi a coisa mais
importante da minha vida, por isso não consigo ficar perto de pessoas que choram porque o
namorado não ligou ou porque a unha quebrou. Isso não é para mim. Além de tudo, sou meio
desbocada. Algumas pessoas dizem que eu devia pensar mais antes de sair falando por aí. Eu
tento, juro, mas não é fácil. Não tenho medo de ninguém. Se um garoto ou qualquer outra
pessoa gritar comigo ou se for grosseiro, vou gritar mais alto do que ele, vou ser mil vezes
mais grosseira. Não abaixo a cabeça. Isso me prejudica certas vezes, no entanto me sinto
protegida assim.
Três meses se passaram e chegou o grande dia. Eu odiava despedidas por isso não contei
a ninguém que iria embora. Eu também não tinha laços muito fortes de amizade em Chicago.
Isso pode parecer triste. Isso que dá matar tantas aulas ou ser suspensa ou ser inconstante, ou
sei lá por qual motivo poucas pessoas se aproximavam de mim. Só sei que era a realidade.
Peguei os pôsteres das minhas bandas preferidas, incluindo o do AC DC e o do The
Strokes. Anne falou que eu poderia ficar no antigo quarto da filha dela, Gemma. Ela tentava
ser sempre simpática e eu fingia muito mal retribuir suas gentilezas, porque meu pai pedia
muito. Na verdade, ele ordenou.
Entrei no avião, coloquei meus fones de ouvido e dormi praticamente a viagem inteira.
Meu pai já estava lá. Na verdade, ele ia para a Inglaterra praticamente toda semana e isso me
irritava profundamente.
Cheguei no aeroporto e meu pai e sua nova esposa estavam com uma plaquinha com o
meu nome escrito nome. Acenei e eles sorriram. Meu pai me abraçou forte e Anne fez o
mesmo. Achei estranho demorar tanto para chegar na cidade de fato.
Ao chegar lá tive mais uma surpresa. Meu pai disse que a cidade era mais calma do que
Chicago, eu só não esperava por aquilo. Que cidade mais parada... Aquele era o fim do mundo,
por acaso? Só faltava passar aqueles fenos solitários que tem nos filmes. Ok, não era uma
cidade deserta, só era muito diferente de Chicago. Muito mesmo.
Lá, vivíamos em um apartamento, podíamos ouvir o barulho das buzinas dos carros,
ambulâncias e carros de polícia a todo momento. Ali só havia pracinhas, mães passeando com
seus carrinhos de bebê, casas muito parecidas e arrumadinhas, pessoas idosas dando pão aos
pombos, que sono...
Chegamos na casa da Anne, que era bonita. Tinha dois andares, parecia aquelas casas
das famílias tradicionais mesmo, muito diferente do que eu estava acostumada. Madeiras
cobertas por tinta branca, muitas janelas, cercas brancas, jardins cheios de gramas e flores —
esse era o estilo da minha ''nova casa''.
Meu pai foi pegando as malas.
— Querida, sei que para você isso tudo deve ser uma loucura. Mas eu amo muito seu pai
e quero que você se sinta como se estivesse em sua casa. A partir de hoje essa é a sua casa
também. — Ela me abraçou de lado e sorriu.
— Obrigada, Anne. — Sorri de volta. Foi um sorriso de verdade dessa vez. Pela primeira
vez senti que ela se importava.
— Vem, vou te levar para conhecer o seu quarto. — Ela foi me mostrando as partes da
casa, até chegarmos ao quarto em que eu ia ficar. Tudo era muito bem arrumado e decorado.
— Aquela porta ali é de quê? — Apontei para uma porta de frente para o meu quarto.
— É do quarto do meu filho... Pena que ele não está em casa, mas logo você irá conhecê-
lo.
A ideia de ter um ''irmão'' me embrulhava o estômago. Nem sabia como tratar um desses.
Vai ser complicado. Espero que ele não seja um mala. Aí podíamos nos dar bem, ter irmãos
pode ser legal.
Tomei um banho e decidi que ia dormir um pouco, estava muito cansada da viagem. Fui
avisar ao meu pai... Passei pelo corredor e vi a porta do quarto do filho da Anne entreaberta.
Como sou muito curiosa, decidi entrar. Talvez, assim poderia ter uma prévia de como ele era.
Pelo pouco que sabia sobre irmãos, sei que acontecem muitas brigas, mas, no geral, irmãos se
dão bem e são parceiros.
Estava um pouco desarrumado, mas mesmo assim tinha um cheiro bom no ar. Nem
prestei muita atenção no resto, quando me deparei com uma estante cheia de discos de vinil.
Com certeza, era algo que me interessava muito em uma pessoa: seu gosto musical.
Eu adoro música e comecei a vasculhar para ver se achava alguma banda legal e me
surpreendi, eu amava aquelas bandas. Me senti feliz de repente. Uau, fiquei perdida ali...
— Quem é você e o que faz no meu quarto? — Uma voz rouca quase me fez ter um
infarto.
Por causa do susto me virei e agora, sim, iria ter um infarto de verdade. Que olhos... Que
boca... Que cabelos...Que corpo e que voz também...
Esse era o filho da Anne? Me segura! Muito bonito. Não sei se era seu aniversário, mas
estava de parabéns. Ele tinha os mesmos olhos cor de esmeralda da mãe, cabelos grandes que
formavam cachos e iam quase até seus ombros, lábios carnudos e avermelhados. Não espera
mesmo por uma figura como aquela. Não sei se isso era bom ou ruim. Afinal, sentir atração
por ele não seria algo muito bem aceito.
— Sou... a Victoria — decidi me apresentar, não ia ficar encarando ele para sempre.
Talvez pudéssemos mesmo ser amigos.
— Ei, o que você faz com isso? Não toca! É o meu disco preferido. — Ele tirou aquele
vinil das minhas mãos com brutalidade.
Nossa, prazer em te conhecer também, babaca! Que garotinho mal-educado, ele quase
arrancou minha mão junto com o disco. Não foi um bom desejo de boas-vindas.
— Desculpa garoto, não sabia. Da próxima vez, coloca em um cofre — eu disse, grossa!
Quem ele estava achando que era?
— Da próxima vez você não entra no quarto dos outros sem ser convidada. — Entreabri
a boca. Então, vai ser assim? Ok. Pelo que Anne descreveu de seu filho, achei que ele não me
trataria daquele jeito.
— Quer saber? Não vou ficar mais aqui — falei e me dirigi até a saída.
— Espera, você é a filha do George.
Olhei para a cara dele com pouco interesse. Ele parecia desconcertado, passou a mão nos
cabelos, parecia um pouco arrependido, mas já era tarde demais. Já tinha conseguido me irritar.
— Sou. E você é o filho da Anne. — Revirei os olhos. Senhor óbvio.
— Meu nome é Harry. Desculpa, acho que começamos do jeito errado. — Ele estendeu a
mão e eu o deixei no vácuo.
— Não, eu acho que a gente começou do jeito certo. — Simplesmente disse e saí. Quem
esse garoto acha que é para me tratar desse jeito? Eu acabei de chegar e já acontece uma
situação terrível dessas.
Entrei no meu quarto e tranquei a porta. Agora, eu ia morar na mesma casa de um garoto
insuportável. Valeu mesmo, pai. Sua felicidade em troca da minha desgraça. Ótimo. Agora não
tinha a menor ideia de como seria o meu futuro naquela casa, com aquelas pessoas que nem
conhecia. Iria começar uma vida nova à força. Queria mesmo que meu pai fosse feliz, mas eu
também queria ser.
~ Victoria ON~
Meu pai me obrigou a ir conhecer Holmes Chapel com o Harry. Olha o nome dessa
cidade! Pelo amor, né? Isso é a última coisa que eu ia querer fazer na vida. Na primeira
oportunidade fugi dele.
Entrei no meio da multidão, comprei um sorvete quando ia saindo da sorveteria, esbarrei
em alguém e o meu sorvete caiu no chão. Minha sorte apenas aumenta, não é possível!
— Mas que drogaaaa! — gritei, grossa. — Quem foi a desgraça cega que derrubou meu
sorvete??? — Virei para trás e... Oh, Lord...
Reclamei cedo demais. OK. Talvez eu não fosse a pessoa mais azarada da face da terra.
Um garoto muito lindo estava lá parado, acho que boquiaberto com a minha falta de delicadeza
com as palavras. Ele tinha os cabelos em um loiro escuro muito bonito e um topete que me
deixou sem fôlego.
— Poxa, desculpa aê... — ele disse. Nossa, só isso?
— Desculpas não vão trazer meu sorvete de volta. Ainda bem que não me sujou, porque
senão...
— Eu te compro outro — falou a criatura dos céus.
— Tudo bem — respondi, boa parte pelo sorvete e uma outra por ele ser muito gato.
Nós entramos na sorveteria novamente. Acompanhei seus movimentos de canto de olho.
Esse garoto não se parecia nada com os outros ingleses que encontrei pelo caminho.
— Que sabor você quer? — Você! Seu lindo, eu pensei, um sorriso idiota deve ter se
formado em meu rosto, mas disfarcei. Eu não era assim tão oferecida, naquela hora queria
apenas o meu sorvete.
— Chocolate — falei, o mais sério que consegui. Ele foi até o caixa e comprou.
Entregou-me e sorriu para mim, seus olhos não eram nada inocentes. Talvez, aquela
cidade não fosse assim um completo tédio.
— Obrigada por ter derrubado o meu sorvete, mas ter pago outro.
Ele riu.
— Posso saber o nome da Sr. Engraçadinha? — Eu nem fui engraçada.
— Engraçadinha? — Arqueei minha sobrancelha.
— Aham. E aí? Qual o seu nome? — Ele mordeu o lábio. God damn!
— Meu nome é Victoria.
— Você está de visita aqui na cidade?
Quem me dera.
— Infelizmente, não. — Ele riu do meu tom depressivo.
— Não vai querer saber meu nome? — Sussurrou e chegou mais perto.
— Não, só queria o sorvete e você já me deu. Agora, adeus. — Falei seriamente, fingi
que ia embora, ele me olhou confuso! E eu voltei. Ele acreditou mesmo que eu ia embora?
Jesus.
— Você é maluca.
Eu ri. Talvez ele estivesse certo.
— Foi mal. Deveria ter visto a sua cara... Senhor...???
— Meu nome é...
''PHILLIP.''
Ouvi uma voz que infelizmente eu já conhecia vindo em nossa direção. Humm... Phillip,
esse era o nome dele. E... Oh Deus, acho que meu irmãozinho não gostava muito dele. Pela sua
cara, acho que estou encrencada.
O Harry estava com uma cara de bravo, pensei que ele ia me matar. E, por algum motivo, senti
que ele e Phillip não se gostavam muito. Talvez fosse porque os dois se olhavam como se
fossem se atracar a qualquer momento.
— O que foi agora, Harry? Não tá vendo que eu estou ocupado aqui? — Ele acariciou
meus cabelos. Ah, então ele é do tipo que provoca? Gostei.
— Agora você não está mais. Vick, vem aqui agora! — ele disse, irritado. Até usou meu
apelido. Esses meninos não prestam.
— Não — eu disse, convicta. E realmente não ia.
— Eu não estou pedindo.
Nossa, esse meu new brother não faz ideia de com que está lidando para falar desse
jeito comigo.
— Quem você pensa que é para mandar em mim? — Falei alto, tão alto que a sorveteria
praticamente parou para olhar nós três.
— Deixa ela em paz, cara. Você é o namorado dela por acaso? — Eu comecei a rir.
Phillip também é do tipo piadista.
— Fala sério! Eu nunca namoraria esse garoto. Harry, pode ir embora que eu já sei voltar
pra casa.
— Não, você vai comigo agora. Esse não era o combinado. — Ele se aproximou.
— Que combinado? Eu nem queria vir aqui.
— Só uma curiosidade: onde vocês se conhecem?
Eu e o Harry nos entreolhamos.
— Não importa — falei.
— O que importa é você deixar de ser chata e vir comigo.
Que mala, será que ele não está vendo que está atrapalhando um lance?
— Não tenho paciência pra isso não. Victoria, né? — Ele me perguntou e eu assenti. Eu
acabei de falar retardado...— Espero te encontrar outra vez.
Ele me deu um beijinho no rosto e saiu. Eu estava meio embriagada pelo perfume dele.
Que lindo... Que grande porcaria! Se não fosse pelo estúpido do Harry acho que teria rolado
algo com aquele garoto. Fiquei observando ele indo embora.
Até que senti aquelas mãos grandes e quentes pressionarem meu pulso.
— Hey, me larga! — Eu vou socar esse garoto!
— Você é retardada, garota? Isso não se faz, você me fez correr por toda a festa.
Eu ri ao lembrar do que tinha feito.
— Primeiro: isso é uma festa? Onde? No convento? E, segundo: Isso só começou por
sua causa. — True fact!
— Como, por minha causa? Você que começou a correr feito uma maluca! — Olhando
para seu rosto eu podia perceber, ele realmente tinha corrido. Nossa...
— Você não me emprestou o casaco, tive que me esquentar de alguma forma. — E deu
certo, aquele gato me esquentou toda.
— Retardada. Vamos embora, não aguento mais. Nunca mais eu saio com você.
— Aleluiaaa, consegui o que queria. Graças ao bom Lord — disse, irônica. Pelo menos
tenho uma garantia de que esse babaca não vai empatar mais nada.
Fomos pelo caminho inteiro em silêncio. Eu estava com frio e o imprestável não me deu
a droga da jaqueta. Chegamos em casa, e meio que caiu a minha ficha que eu ia morar com
aquele garoto por tempo indeterminado. Até ele ter 18 anos e ir embora, são aí 2 anos, putz, eu
não ia aguentar. Hoje descobri que ele é um mala completo.
Subi a escada. Acho que meu pai e a Anne já estavam dormindo. Entrei no meu quarto e
vesti meu pijama, basicamente uma calça folgada de foguetinhos e uma blusa imensa dos
Lakers. Fiquei olhando para o teto sem sono nenhum, senti sede e fui até a cozinha beber um
copo de chá.
Quando estava voltando para o quarto, vi o Harry saindo do banheiro só de boxer... Pela
primeira vez pude verdadeiramente ver que ele era lindo, completamente lindo. Ah, não,
Senhora Victoria, ele é um chato que agora quer mandar na sua vida. Mas sem dúvidas tem
um corpo esculpido pelos deuses. Isso, nem que eu quisesse, poderia negar. Mentalmente
claro.
— Oh, meu querido. Vai colocar uma roupa, que ninguém tá querendo ver essas coisas
aí não — eu disse, provocante.
— Duvido que você não tenha gostado. — Lá estava, um olhar malicioso. Até então os
outros olhares de Harry só me irritaram, mas aquele fez o meu corpo pulsar.
— Nem é convencido. — Soltei uma risada sarcástica. Tadinho, pensa que abala. Na
verdade, abala, mas nem é tudo isso.
Tem cabelos grandes meio encaracolados que batem um pouco acima dos ombros, olhos
verdes hipnotizantes, um corpo maravilhoso, uma voz rouca que destrói, mas não,
definitivamente não ia sambar para cima do meu lado.
— Sou, porque posso.
Olha isso! Meu Deus.
— Não, não pode. — Cerrei os olhos.
— Ah, não é? — Sua voz saiu em um tom sedutor, ele veio se aproximando...
— Nã... — Eu nem terminei de dizer o fim da palavra e ele já estava me pressionando na
parede do corredor. — Hey, o que está fazendo? — O ar faltou em meus pulmões.
— Estou só mostrando pra você quem manda aqui. — Ele foi até o meu ouvido e
sussurrou.
— Você pode ser o dono da casa, mas em mim não vai mandar nunca — eu disse
convicta e ele me apertou mais ainda contra o concreto e colou seu corpo bem junto ao meu.
Segundo dia naquela casa e eu realmente não estava acreditando no que estava
acontecendo.
— Eu já mando em você, maninha — ele sussurrou no meu ouvido outra vez e eu me
arrepiei instantaneamente. Mas que porra!
— Haha, que piadista — eu disse, já um pouco fraca e provavelmente de forma patética.
— Sai de perto de mim...
— Vou sair, só queria te deixar arrepiada e acho que consegui, não é?
Que vontade de matar esse garoto. Ele está mesmo querendo brincar comigo.
— Até parece. — Fui empurrando ele
— Boa noite, maninha. Sonhe comigo.
Até parece, repeti mentalmente. Mas que droga, eu devo ter parecido uma patinha
assustada. Inferno!
— Isso seria um pesadelo, não um sonho. — Consegui encontrar essas palavras antes de
vê-lo entrar no quarto. Entrei no meu e tranquei a porta.
Enfim, pude respirar. Esse garoto não pode me intimidar, não pode, repeti isso na minha
cabeça umas três vezes e deitei na cama. Fiquei divagando, sem conseguir dormir. Não
conseguia parar de pensar em como tudo tinha mudado de uma hora para a outra. Eu não tinha
mais nada em que me apoiar, era tudo novo.
Coloquei meus fones de ouvido.
Cometi o erro de colocar uma música triste e, depois de muito tempo, chorei. Não foi um
choro diferente de outros que já tive, esse continuava contendo lágrimas de raiva, de ódio, de
desespero. Minha vida estava sendo tirada de mim. Nem poderia chamar de ''minha'', já que
decisão nenhuma sequer passou pela minha aprovação. Eu era apenas uma tralha que meu pai
tinha que carregar por todo lado.
Dormi pesadamente e acordei com dois olhos verdes olhando para mim docemente. No
começo achei que fosse um sonho e sorri levemente, ainda com a vista embaçada. Mas depois
vi que era um pesadelo. Levantei em um pulo.
— Mas que porcaria você está fazendo no meu quarto??? — gritei. Eu estava tremendo.
Como ele tinha entrado???
— Desde quando um irmão não pode vir dar um ''bom dia '' especial à sua maninha?
Que filho da mãe, sonso.
— Não sou sua maninha, seu ridículo, e como entrou aqui? Eu tranquei a porta. —
Estava indignada.
— Tenho a chave, né? — ele falou com o tom mais debochado. Ah, que raiva!
— Só o que me faltava. — Abaixei a cabeça me sentindo derrotada outra vez.
— Não quero conversar com você. Vim apenas para dizer que nossos pais saíram e que
você é toda minha. — Ele me olhou malicioso, só que não funcionou. Eu queria matá-lo.
Peguei o travesseiro e o joguei na cara dele.
— Sai do meu quarto, me deixa dormir!!! — eu disse, com raiva.
Ele jogou o travesseiro de volta e saiu. Depois de um tempo rolando na cama, decidi
tomar um banho. Quando me olhei no espelho vi que estava horrorosa, meu cabelo uma
bagunça, minha maquiagem borrada, e aquele desgraçado me viu assim, derrotada apenas.
Coloquei um short jeans um pouco curto e uma blusa dos Beatles. Estava morrendo de
fome e desci para comer alguma coisa. Harry estava na sala, apenas de calça de moletom,
assistindo a algum programa idiota. Eu nem prestei atenção. Fui para a sala depois que comi.
— Harry, deixa eu ver se já começou a minha série ali no outro canal? — perguntei,
sentando no sofá
— Eu estou assistindo, não tá vendo? — ele respondeu grosso, sem nem tirar os olhos da
TV. Paciência, por que tu não me pertences?
— Por favor. Seu programa já vai terminar. — Tentei ser o mais meiga possível. Queria
quebrar a cara dele.
— Não — ele falou sem nem me olhar.
— Ah vai, é rapidinhooo! — Segurei o braço dele e ele o puxou.
— Eu estou assistindo! — ele gritou
Em um movimento rápido peguei o controle das mãos dele e comecei a correr pela sala.
Se eu não iria assistir, ele também não ia.
Ele me olhou bravo e começou a correr atrás de mim. Foi uma loucura, ele não
conseguia me alcançar. Até que senti suas mãos envolvendo a minha cintura e me jogando com
tudo no sofá. A partir dali, foi um bolo só. Eu tentava de todas as maneiras não deixar que ele
pegasse o controle, até que ele se posicionou em cima de mim, eu estava com o controle
embaixo de mim. Estávamos suados e ele me segurava forte, nossas respirações estavam
pesadas e se misturavam.
— Você é uma pestinha mesmo — falou, ofegante.
— Se acostume com isso, eu sempre ganho — eu disse, tentando me desvencilhar de seu
corpo. Sem sucesso.
— Quem disse que já ganhou? — Ele me olhou e continuou tentando pegar o controle.
Até que ficamos com os rostos tão perto um do outro que eu me afoguei naqueles olhos
verdes. Acho que fiquei cega. Ele não parou de me olhar por um tempo, apesar de continuar
querendo pegar o controle. O clima estava ficando pesado, vi seus olhos encararem minha boca
e só pensei: fudeu.
Não, não, não! De novo não, precisamos manter uma linha de raciocínio aqui. Isso não
daria certo, o que vai ser? Vamos ficar nessa palhaçada? Decidi ceder antes que desse merda.
— Chega! Toma essa porcaria de controle. — Saí dali e o entreguei.
— Cansou, é? — Sua cara era de decepção. Sei lá.
— Cansei de ficar tão perto de você. Acho que vou ter que tomar outro banho agora. —
Eu disse que estava um calor louco ali? Não fazem ideia. Deserto do Saara perde para aquilo.
— Eu ganhei, então — ele disse vitorioso e estendeu os braços.
— Ridículo.
Eu tive que desistir porque naquela hora que a gente estava muito perto um do outro, eu
senti vontade de fazer uma coisa. E fazer isso estragaria tudo, ele iria me zoar para sempre e
vamos combinar que não tinha muito como fugir dele e não olhar mais para a cara dele. Se eu
sentisse vontade de ficar com um garoto qualquer, ficaria sem pestanejar, mas agora as coisas
eram outras e eu não ia ficar me matando, ele não era o último cara gato do universo.
Fui para o meu quarto e fiquei mexendo no computador. No dia seguinte começariam as
malditas aulas na nova escola. Eu mal podia esperar por aquele momento. Só que não.
A professora logo chegou na sala. Ela tinha uma cara de mal-encarada, oh Lord. Eu fiquei
tentando conversar com o Phillip, que estava a umas quatro cadeiras da minha. Como já era
esperado, chamaram minha atenção. Seu nome era Miranda e ela parecia aquelas mulheres que
ficaram para titia.
— Você que não para de conversar, deve ser a aluna nova, que veio de Chicago — ela
disse, se dirigindo a mim.
— É, sou sim — eu disse e a ignorei, voltando a falar com o Phillip. Todos os alunos
olhavam para mim
— Venha até aqui e fale um pouco de você.
Sério isso? Em que época estamos? Sem necessidade. No way que vou lá na frente.
— Não, obrigada. – Dei um sorriso irônico.
— Não estou pedindo.
Que mulher chata. OK, eu vou.
Levantei com cara de tédio e sem nenhuma paciência. Cada aluno da sala olhava para
mim, que inferno. Olhei para o Harry, que ódio eu senti dele. Como ele me deixou vir correndo
igual louca? Ele vai ver, vou contar tudo para a mãe dele. Putz, no que eu estou pensando?
Virei x9 agora? Jardim de infância predomina.
Se tem uma coisa que eu odeio na vida é gente fofoqueira. Cheguei lá na frente. A
verdade é que já estava muito acostumada a esses primeiros dias em escola nova. Era sempre a
mesma droga, acho que já estava mais do que na hora daquela tradição escrota mudar. Para
alguém novo que não conhece ninguém, a última coisa que a pessoa quer ia era se expor para
todos os alunos. Sorte minha que não dava a mínima para o que aqueles babacas de
cidadezinha pequena achavam de mim.
— Meu nome é Victoria. — Fiz uma longa pausa, olhei e encarei aqueles rostos à minha
frente, dei um sorriso de canto. — Só estou aqui nesse fim de mundo porque fui obrigada pelo
meu lindo pai. É isso. Obrigada pela atenção — disse sarcasticamente e algumas pessoas
estavam boquiabertas. Eu não estava nem ligando, só disse a verdade. Realmente, mais uma
vez pensei, o que diabos estava fazendo ali? Naquela cidade, com aquelas pessoas... Surreal.
Harry abaixou a cabeça como se estivesse envergonhado ou apenas dizendo em um gesto
silencioso que eu era uma idiota, já sabia disso. Ele vai ver só quando eu estiver sozinha com
ele. Vou quebrar aquele rostinho em mil pedaços.
Voltei para a minha carteira, olhei para a frente e a professora me observou como se eu
fosse um novo problema para ela. Porém, não me disse nada. Eu não queria arrumar confusão,
mas o que fazer se a confusão me amava e me perseguia por todo lugar? O Phillip olhou para
mim, riu timidamente e sussurrou algo como ''Você é louca''. Harry olhou para trás e, quando
nossos olhares se encontraram, ele balançou a cabeça negativamente. Fuck you, Harry Miller.
— Oi, eu sou a Maya! — uma garota disse e me despertou, quase dormi a aula inteira
daquela professora.
— E aí? Eu sou a...
— Victoria, eu sei, vi sua apresentação. — Ela deu um sorrisinho.
Ela parecia ser bem descolada, tinha os cabelos grandes e pretos, assim como seus olhos
amendoados e negros. O que ela queria falar com a garota nova e louca?
— Eu quero te desejar boas-vindas. Você parece ser legal. — Parece que minha estreia
na sala causou boa impressão em alguns.
— Obrigada. Você também. Me fala uma coisa: a aula dessa professora sempre dá sono
assim?
— Vai se acostumando. Tem dias que trago até meu travesseiro. — Ela riu. Aquilo era
muito eu.
— Você é das minhas, então. Na outra escola, teve um dia frio que eu levei meu
cobertor, fiz uma cama com três cadeiras e dormi em uma aula de matemática insuportável. —
Maya quase caiu de tanto rir com a história, seguida de mais uns cinco alunos que ouviram o
que eu falei.
— Posso saber qual é a graça? — Miranda, minha querida professora, disse zangada.
— Nada demais, é que eu tava aqui contando como eu adoro dormir em aulas chatas que
nem a sua — eu disse e todos tiraram o sorriso do rosto...
Onde estava o filtro das palavras quando eu precisava dele?
A professora me olhou com uma cara de ódio, parecia que ia me matar. Poxa Victoria,
que recorde... Você conseguiu ficar exatamente por 1h e 23 minutos sem ser tirada de sala. Ela
já ia fazer sinal para eu sair, mas entendi o recado, peguei minhas coisas e fui indo...
— A gente se vê, Maya.
— Sinto muito por isso. — Ela estava com o rosto vermelho de vergonha.
— Ah, já estou acostumada. — Pisquei para ela. Justo quando estava fazendo uma
amizade, aconteceu aquilo.
Ia saindo quando aquele grupo de meninas que me olharam com cara de nojo quando
entrei na sala estavam confabulando e eu ouvi quando aquela que parecia ser a líder delas, ou a
mais nojenta, dizer: ''Já vai tarde''. Baixinho claro, porque acho que deu para perceber que eu
não tenho medo de ninguém e no quesito dar uma lição em patricinha mimada, digamos que
sou medalha de ouro. Ótimo, mal cheguei e já tenho pessoas para colocar na minha listinha do
foda-se.
Estava andando pelo corredor quando alguém me puxou pelo braço. Virei assustada e era
o Harry.
— O que foi? — eu disse, me soltando dele. Que susto esse bastardo meu deu.
— Você tá maluca? Quer ser expulsa no primeiro dia de aula? — Ele parecia nervoso.
Mais uma vez querendo de verdade dar uma de irmão, sendo que de manhã não pensou duas
vezes em me deixar no meio da rua sozinha.
— Isso não é da sua conta. — Meu tom de voz era pura irritação.
— Eu prometi ao seu pai que cuidaria de você. Se você se meter em confusão, ele vai
brigar comigo. — Ah, sério? Miller, querido, vai se ferrar!
— Não precisa se preocupar com isso. Eu sei me virar.
— Tô vendo, sendo mandada para a diretoria no primeiro dia de aula. Está se saindo
muito bem parabéns mesmo — ele disse, irônico.
— Harry, vamos fazer uma coisa? Me esquece, cara. Já não basta agora a gente ter que
viver na mesma casa, você ainda vem encher meu saco na escola? Ah, e só para você saber, eu
ainda não me esqueci da sacanagem que você fez comigo de manhã.
— Você acha que eu queria morar com você? Pelo amor de Deus. Você é insuportável,
garota. — Seus olhos verdes estavam mais intensos. Ele realmente devia me odiar do mesmo
jeito que eu não suportava ele.
— Você que é um idiot.... — Quando eu estava falando, fui puxada com toda a força e
rapidez para uma sala escura.
— Shhh... — A mão do Harry cobriu minha boca.
— Mas que porcaria é essa? — falei, conseguindo tirar sua mão.
— O inspetor quase nos pegou no corredor — ele sussurrou.
— E daí?
— E daí que a gente ia ganhar advertência. — Advertência por estar em um corredor?
Dá licença.
— Nossa, que colégio chato. Quando eu ia falar, ouvimos um barulho se aproximando da
porta
— Vem aqui.
Ele se sentou rápido no chão em um canto escuro atrás de uma pilha de livro e me puxou
para baixo. Eu caí no seu colo. Harry me espremeu contra seu corpo e fechou minha boca com
as mãos novamente. Eu pude sentir o calor do seu corpo bem perto do meu. Senti uma coisa
esquisita. Ele me olhou nos olhos. Aqueles segundos foram tensos, meu coração estava
acelerado, não sei se por causa do perigo ou se porque estava praticamente agarrada com meu
irmãozinho postiço.
Estava claro que se nos pegassem ali, iríamos os dois estar muito encrencados. Muito
mais do que se estivéssemos apenas no corredor.
Um homem entrou na sala, eu nem sabia bem se era um homem, mas pelos sapatos era
sim.
Logo saiu da sala. Eu pude respirar e me levantei.
— Uau, essa foi por pouco — falei, ajeitando minha roupa.
— Você atrai confusão, não é? — Ele me olhou, mas sua expressão não era rígida, era
apenas debochada.
— Era exatamente isso que eu estava pensando agora mais cedo. É a vida. — Sorri.
— Então, fica longe de mim. — Ele passou as mãos grandes nos cabelos bagunçados.
— Olhando para você, não parece que é tão certinho assim. — Cheguei perto dele e
ajeitei o colarinho de sua camisa.
— Bem, eu não costumava ser, mas minha mãe disse que se eu continuasse a aprontar
ela ia tirar o Jimmy de mim. — Jimmy?
— Hummm... Seu namorado, é? Que triste isso. Então, se comporta mesmo.
— Não, sua idiota. — Ele me empurrou de leve. — Esse é o nome da minha guitarra, eu
não sou gay.
— Hey, não precisa esconder nada de mim, não sou homofóbica. — Encostei minha mão
em seu ombro em sinal de apoio e estava morrendo de rir por dentro.
— Você quer que eu te prove que não sou gay, é? — Em um único movimento ele me
pressionou na parede, colou nossos corpos e a minha respiração se acelerou. Que droga. De
novo isso?
— Me larga, seu idiota — sussurrei, minhas pernas já demonstrando sinal de fraqueza.
— Eu sei que você não resiste a mim. — Ele me encarou de novo.
— Haha, até parece. — Inferno!
— Agora você ainda me acha gay? — Ele parecia me desafiar.
— Acho.
— E um gay te faria isso? — Ele segurou minha nuca e começou a beijar meu pescoço.
Ah não, meu pescoço é o meu ponto fraco.
— Para... para com isso... — Quase soou como um gemido.
— Você tem um cheiro bom. — Ele apertou minha cintura. Minhas pernas quase não
aguentavam mais meu corpo.
Tive que encontrar forças do além.
— Mas que droga Harry, me larga — eu disse, brava.
Aí também já estava passando dos limites. Idiota. Logo me soltei dele e saí de perto. Eu
estava parecendo uma maldita marionete em suas mãos.
— Vou falar com o diretor. — Saí, sem esperar resposta.
Esse garoto está querendo me enlouquecer, é isso.
Cheguei na diretoria e, por algum motivo, o diretor já sabia que eu apareceria por lá.
Tivemos aquela mesma conversa chata de tentar dar o máximo de si, dar uma oportunidade a
nova escola e blá-blá-blá... Eu tinha que fazer isso, senão meu pai me mataria, mas qual é? A
professora também provocou.
Quando voltei para a sala, outro professor estava lá. Ele era bem gato, na verdade. Eu me
sentei no mesmo lugar e o Phillip acenou para mim.
— Uau, o Phill está caidinho por você — Maya, a garota que eu tinha conhecido
anteriormente, falou.
— Ah, não tá nada, a gente só está se conhecendo. — Eu espero que esteja. Tenho que
distrair meus pensamentos. Lembrar daquela salinha apertada e dos momentos que se
passaram minutos antes ainda perturbava minha mente.
— Não, eu acho que ele está mesmo a fim. Quem não vai gostar nada disso é a Rafaella,
a ex-namorada dele. Ex é Ex, querida.
— Ela é da sala? — Por favor, que não seja.
— Aham, é aquela ali de blusa roxa.
Droga! Olhei para a frente e era uma das meninas que tinham cara de patricinha.
— Putz, quem são as outras? — Queria saber quem eram e se fazia sentido elas me
olharem com cara de nojo.
— Karolinne e Joanne. — Maya informou.
— Deixa eu adivinhar: esse é aquele grupinho que adora falar mal dos outros e só vive
para fazer compras no shopping. — Argh. Pior que futilidade sempre existe em cada escola
que passo.
— É tipo isso. A Karolinne e a Rafaella são bem cruéis, a Joanne não muito, ela só vai
na onda.
— Esse é o pior tipo. Isso significa que ela não tem personalidade o bastante para ser
diferente das amigas
— Ela até que é legal, sozinha, mas quando está com elas... O lance é a Karolinne, ela só
deixa ficar do lado dela quem pensa igual.
Como pode existir gente assim no mundo?
— Putz, odeio esse tipinho, quero distância. Ela que não se meta comigo.
— Lembrei da Elis agora — ela riu de leve
— Quem é essa?
— Minha amiga. A Karolinne pegou no pé dela o ano passado inteiro só porque a Elis e
ela gostavam do mesmo garoto.
— Cadê ela? — Olhei pela sala.
— Não veio hoje — bufou.
— Nossa, essa menina desse ser obcecada por esse garoto, hein? Para perturbar a menina
só porque ela gosta dele. Muito ilógico.
— Verdade. A Karolinne é louca pelo Harry mesmo.
Eu fiquei boquiaberta quando ela disse o nome dele. Tinha que ser o gostosão da parada.
Ninguém merece.
— Harry?... Harry Miller? — perguntei só para confirmar, mas era óbvio.
— É, ele é amado por todas as garotas, vai dizer que também já está afim dele? —
— Nããããooooo!!! Claro que não — disse convicta e até ri. Nunca. AHAHA Lord, pelo
amor.
— Ele e o Phillip pegam todas por aqui, de vez em quando ficam meio que competindo
para ver quem é o ''macho alfa'' da escola.
— Que idiotice. — Que saco, pensei que o Phillip era mais legal que isso. Tenho uma
conexão com os mais babacas da sala, era só o que faltava.
— Pode crer. Aquele ali é o meu irmão. — Ela apontou para um garoto moreno,
realmente bonito, que se parecia com ela. Deviam ser gêmeos para estar na mesma sala.
Ela disse que o nome dele era Victor, e que o os outros eram James, Nev e Louis, os
melhores amigos do Harry. Descobri que o meu maninho era um safado que só pensava em
pegar todas. Claro que não disse à Maya que ele era meu irmão postiço. Assim, pude tirar
bastante informação dela. Pelo pouco que ouvi, ele era o típico idiota popular do colégio.
Acabaram as aulas, eu passei o recreio bem longe de tudo e de todos, na biblioteca. Não
que eu fosse antissocial nem nada, só que às vezes minha solidão é preciosa. Na hora da saída,
vi Harry conversando e rindo com os amigos na parte de fora da escola. Não queria atrapalhar
e fui andando sozinha para casa. Passei por eles rapidamente.
No caminho, um carro para ao meu lado, ai meu Deus. Já estava me preparando para
correr quando a pessoa desceu o vidro. Vi o lindo sorriso daquele garoto, era o Phillip, ele me
ofereceu carona. Respirei aliviada por não ser um maluco sequestrador e claro, aceitei.
Nós fomos conversando pelo caminho inteiro. Tínhamos coisas em comum: música,
gosto para festas, e ele já tinha estacionado o carro em frente à minha casa sem eu nem
perceber. Eu tirei o cinto de segurança e ele fez o mesmo.
— Você é meio maluquinha, né? Não acreditei quando você deu aquele fora na
professora — disse, rindo. Não foi nada demais, só minha boca sendo desobediente.
— Eu nem pensei na hora, só falei.
— Você costuma fazer coisas sem pensar antes? — ele perguntou com um sorriso
malicioso no rosto... Eita. Segura o forninho.
— Às vezes — eu disse, me fazendo de inocente. Meus olhos deviam mostrar o
contrário.
— Sabia que desde aquele em dia que eu te vi, tenho uma vontade enorme de... — Ele
colocou uma mecha do meu cabelo para trás e foi se aproximando.
Naqueles poucos segundos fiquei pensando, beijo ou não beijo? Mas então o que Maya
disse me veio à cabeça e... no way.
— Ai, Phillip... acho melhor eu entrar — eu disse, cortando o momento.
Sei lá, era o meu primeiro dia na escola. Bem, não sou o tipo de garota que fica fazendo
doce só para se fazer de donzela, normalmente faço o que tenho vontade. Obviamente, não era
falta vontade porque ele era bem atraente para mim, porém eu não quis beijá-lo. Achei melhor
assim. Deixar para uma próxima.
— Tá bom. — Ele fez um biquinho de decepção.
— A gente se vê na escola amanhã. — Dei um beijo na bochecha dele e sorri.
Realmente, essa escola está sendo meio louca. Estou tendo uma atenção por parte desse
garoto que acho que nunca tive, exceto pelo Caio, meu ex-crush babaca. Meu jeito
normalmente afasta as pessoas. Então, só fico com pessoas em festas onde nem precisa
conhecer para beijar. Melhor assim.
Entrei em casa e decidi tomar um banho. Até que o dia foi legal, apesar de ter ido parar
na direção. Conheci a Maya que é ótima e o Phillip foi super gentil comigo e está na minha
sala. Coloquei meu shortinho com a bandeira dos Estados Unidos, saudades eternas, e meu
sutiã. A Anne deixou comida para mim e o Harry na geladeira, mas eu não tinha fome.
Coloquei um som maneiro e decidi dormir um pouco. Quando estava quase dormindo, ouvi um
barulho, olhei em direção à porta assustada e era o Harry...
— Você tá louca? Te procurei pela escola toda. Onde você estava? Por que não me
esperou?
Que mala! Dica número um para ser meu amigo: nunca, mas nunquinha interrompa
meu sono.
— Hey, são muitas perguntas. Eu estava dormindo. Sai do meu quarto. — Levantei da
cama e fui em direção a ele.
— Que roupa é essa? — O desgraçado me olhou de cima a baixo.
— Que droga, Harry! Sai agora. — Empurrei ele.
— O que tem de linda, tem de chata. — Ele está mesmo me elogiando? De um jeito
irritante.
— O quê? Você me chamou de chata?
— Ha-ha-ha! Você é demais mesmo. Todas as outras garotas do mundo reparariam que
eu as chamei de lindas, mas você não. — Ele saiu do quarto.
E eu fiquei lá com ódio, raiva e mais uma porção de sentimentos jogados e confundindo
minha cabeça. É claro que eu reparei que ele me chamou de linda, mas foi porque ele me viu
de sutiã, porque não sabe respeitar a droga do meu quarto. Não posso dar mole para ele. Tenho
que impor respeito. Aqui é Victoria, meu filho. Não é a casa da mãe Joana não. Ninguém vai
brincar comigo. Muito menos um conquistador barato do ensino médio.
Dormi a tarde inteira e acordei com uma fome daquelas. Levantei e decidi ir almoçar. Ou
jantar, sei lá. Saí do quarto e ouvi uma voz cantando... E que voz. Ela vinha do quarto do
Harry. Uau! Sabia que ele tinha uma voz rouca e bonita, mas não achei que cantasse daquele
jeito.
Abri um pouco a porta do quarto e o vi encostado na cama e cantando. Ele ainda não
tinha me visto. Então, fiquei lá admirando aquilo. Sua voz era muito doce. Fui encostar na
cômoda e derrubei um objeto, que ecoou no chão.
Ele olhou para mim, assustado.
— Ah, é você. Você adora invadir meu quarto sem ser convidada, né? — Ele colocou o
violão na cama e se sentou. Olha quem está falando.
— Dessa vez valeu a pena. — Eu ainda estava chocada com a voz daquele garoto.
Realmente nem parecia que era dele.
— Você estava aí há muito tempo? — Bagunçou os cabelos.
— Tempo suficiente.
— Você tá bem? Parece meio perdida... — Meio que estava.
— Ah... é que... eu acabei de acordar, sabe? — Quase gaguejei. Devia estar com cara de
otária.
— Eu te acordei? Estava tentando compor uma música aqui. — Ele compõe. Era só o
que me faltava.
— Sério? E é sobre o que? — Eu me aproximei.
— Não sei, a vida, garotas, festas...
— Uau, você está bem perdido aí no tema. Eu posso te ajudar.
— Olha só, você sendo gentil, essas sonecas da tarde fazem bem a você. — Dormir e
ouvir vozes lindas realmente me fazem bem.
— Não começa, hein? Deixa eu ver o que você tem. — Sentei na cama e peguei o
caderninho que ele tinha.
Era simples e parecia bastante gasto.
— Eu acho melhor não. — Ele arrancou o caderno das minhas mãos.
— Ah, para Harry, deixa eu ler. — O que será que tinha ali?
— É pessoal, acho melhor você sair.
Revirei os olhos.
— Depois eu que sou chata. — Eu me deitei na cama com biquinho e braços cruzados.
— E você sabe que é mesmo.
Talvez um pouco.
— Pelo menos, não sou uma periguete. — Ele começou a rir. Estúpido.
— Por que disse isso? — perguntou, ainda rindo.
— Porque é isso que você é.
— Eu sou periguete? — disse com um tom bem-humorado.
— É. Fica com qualquer uma. Sai por aí dando para geral — falei rindo e olhando para o
teto.
— Qualquer uma não, que eu tenho muito bom gosto — ele disse, se gabando.
— Ah, tá bom — disse, irônica. Fui levantando da cama e, em um rápido movimento, ele
me puxou, me jogou na cama e ficou por cima de mim.
— Você mal chegou na escola e já criou um estereótipo do que eu sou? — ele sussurrou.
É moda na Inglaterra fazer isso? Ou o meu querido irmãozinho gostava de me deixar
sem fôlego?
— É o que as pessoas dizem e eu não duvido nada que seja verdade — falei, olhando
para a cara de safado dele.
— Então tá, pensa o que você quiser. Ninguém me leva a sério mesmo. Então, que se
dane! — ele gritou e parecia zangado.
Não sabia que meu new brother além de irritante era também bipolar. Qual era o
problema daquele garoto? Ele estava bem calminho até agora. Levantou da cama e abriu a
porta como em um gesto para eu sair.
— Hi... ficou nervosinho. Deixa eu ir, então — falei cerrando os olhos. Saí e ouvi a porta
bater com força atrás de mim.
Loucooo, louquinho esse aí. Dane-se ele.
Desci e comi uma lasanha que a Anne deixou para o almoço. Amo. Vivo. Sou.
Eram umas seis horas da tarde e meu pai só chegaria à noite. De repente meu celular
começou a vibrar, era uma mensagem... Abri e era do Phillip.
''Oi linda, não sei se aguento ficar sem te ver até amanhã... Posso passar aí mais tarde?''
Que isso? Vai grudar em mim? Esse aí tá desesperado pra me pegar. Haha! Não vai ser
tão fácil assim baby, mas pode apostar que eu também quero, e muito.
Fiquei comendo a lasanha e pensando no que responderia ou até mesmo se eu ia
responder. Meu pai ia chegar e eu sei que ele adora encrencar com essa história de garotos.
Nem precisa tanto, porque não sou nenhuma pop star com os boys.
''Me encontra em 1h naquela sorveteria.''
Enviar... Ai meu Deus, o que eu fui fazer? Nem sei se quero mesmo ir. Por via das
dúvidas decidi ir tomar um sorvete, né? Se for para rolar, vai rolar.
Subi para o meu quarto, tomei um banho e comecei a me arrumar. Coloquei uma calça
porque já estava ficando frio, uma blusa e um casaco. Alguém bateu na porta... Eu abri e era a
Anne.
— Oi, linda. — Ela meu deu um beijo.
— Oi Anne, chegou faz tempo? — Continuei me arrumando e penteando meus cabelos.
— Aham, eu tô meio cansada, já jantei, vou só tomar um banho e dormir.
—Você sabe que horas o meu pai chega?
— Ele chega às 22h.
— Posso ir tomar um sorvete com umas amigas? — Fiz uma carinha de anjo. Era quase
impossível, mas consegui.
— Hummm, deixa eu pensar... tudo bem. Mas não volte tarde. — Eu a abracei. OK,
talvez a Anne não fosse a pior madrasta que alguém poderia ter. Na verdade, estou meio que
começando a gostar mais dela, ela não enche meu saco e isso já é ótimo. Não posso dizer o
mesmo de seu filhinho.
— Obrigada Anne. Boa noite! — Dei um beijo em sua bochecha.
Admito que a Anne é bem legal, é que às vezes eu desconto minhas frustrações em
pessoas que não têm nada a ver com a história.
Fiquei arrumando meu cabelo e passei perfume. Estava saindo do meu quarto e o Harry
vindo do andar de baixo só com uma calça de moletom.
— Não sabia que você se arrumava tanto assim para dormir.
Ah, iludido.
— Não, eu vou sair. — Continuei andando.
— Pra onde? — Ele ergueu uma sobrancelha.
— Não é da sua conta. — Fui seguindo meu caminho.
E então ele me pegou pelo braço com força. Eu sentia raiva quando ele fazia isso e ao
mesmo tempo queria que ele me pegasse mais forte ainda... Tá vendo? Esse garoto está me
fazendo pirar. Isso nem ao menos fez sentido.
— Claro que é da minha conta, ''maninha''. — Ele falou essa palavra de um jeito
enfático.
— Eu vou na sorveteria. Satisfeito? — Eu me soltei de sua mão.
— Com o Phillip?
Afff, que insuportável.
— É sim. Algum problema? Não, né? Então, tchau. — Fui descendo as escadas e ele não
disse mais nada.
Quando eu estava saindo, peguei em meus bolsos e meu celular não estava lá.
Droga!
Voltei, subi e entrei no meu quarto correndo. Senti aquela sombra entrar no quarto e em
um movimento rápido bater à porta e trancá-la.
— Mas o que é isso, Miller? Tá louco? Abre essa porta! — falei, brava.
— Acho que não vai dar.
Que filho da mãe debochado, quer me estressar, só pode.
— Para de graça. Você não pode estar falando sério em me prender aqui, né? —
Coloquei a mão na cintura. Really bitch?
— Claro que estou. — Ele falou, sério.
— Me dá essa chave aqui agora. — Fui em direção a ele que ficou brincando com a
chave entre as mãos.
— Acho que o seu sorvete vai derreter. — Ele riu, aquilo já estava me irritando muito.
— Vamos, me dá.
Comecei a travar uma batalha com ele. Já estava sem paciência...Que idiota, eu quero
matar ele. Infantil niver hard.
—Você é um estúpido, idiota, chato pra caramba. — Meu sangue subiu pelo corpo todo,
eu podia enforcá-lo — Você acha que é alguma coisa minha? Você quer mandar em mim, mas
não vai conseguir! — Eu gritava alto, estava super irritada. — Seu babaca, infantil...
Foi quando ele, em um movimento quase imperceptível, me puxou com uma das mãos e
me beijou de surpresa. Nossos lábios se tocaram e aquilo foi, mal sei explicar. Não sei o que eu
senti, mas logo percebi suas mãos em minha cintura.
Tentei lutar contra aquilo, mas nossos lábios estavam envolvidos e senti seu gosto,
aquela respiração bem junto à minha. Que beijo foi aquele? Perdi o fôlego.
— Fala mais... — ele disse, parando o beijo.
— Seu idiota... estúpido... — Quase um suspiro, seus lábios eram tão macios...
Ele me jogou contra a parede do meu quarto, segurou minha nuca e me beijou
novamente, nossas línguas travaram uma batalha uma com a outra. Harry apertou minha
cintura contra seu corpo me fazendo até mesmo levantar um pouco do chão. Puxei os cabelos
dele com agressividade. Ele mordeu meu lábio e parou de me beijar, eu estava de olhos
fechados ainda...
— Você fica bem melhor assim: caladinha. — Roçou seus lábios de leve nos meus.
— Por que você fez isso? — Eu, ainda ofegante, estava confusa, parecia um pouco tonta
com tudo aquilo.
— Para você calar a boca. — Ele deu um sorriso cínico.
Eu me afastei dele, e consegui respirar e enfim raciocinar. Mas que droga era aquela que
estávamos fazendo? Ele era um idiota mulherengo. E eu não queria sofrer, nem chorar mais
por ninguém. E agora havíamos nos beijado.
— Você é um babaca mesmo. Me dá essa chave — eu disse, fraca.
— O que foi? Ficou bravinha, é? — ele disse irônico e pegou em minha bochecha, que
babaca!
— Fiquei! — gritei, empurrando-o.
— Vai dizer que não gostou? — Ele veio se aproximando.
— Não, não gostei mesmo. — Eu me afastei, ele me entregou a chave, eu abri a porta.
— Gostou sim. — E me puxou de volta para seus braços.
— Se você me tocar de novo, já sabe. — Ele tentou me beijar e eu dei um tapa na cara
dele de leve. Queria que tivesse sido mais forte, mas eu nem me aguentava em pé.
— Ai, que malvada — disse, levando as mãos ao rosto.
— Tem muito mais de onde veio esse.
— Você ainda vai lá na sorveteria? — Ele parecia desconfortável.
— Vou, sim — disse convicta e saí.
Bati a porta da frente da casa e fui andando em direção à praça...
A verdade é que eu tinha esquecido meu celular de novo. Sentei no banco da praça e
estava decidida a não ir naquela sorveteria. Cada pelo do meu corpo estava arrepiado. Ele me
beijou e eu senti como se precisasse daquilo para sempre. O cheiro dele estava impregnado na
minha roupa, o perfume dele... Ah, como era bom! Eu quero ele. Isso vai acabar em confusão,
ele é tipo ''meu irmãozinho'' e não presta. E agora?
Fiquei naquele banco uns quarenta minutos e voltei para casa. Cheguei e meu pai estava
lá. Disse que tinha saído com as amigas para a sorveteria. Dei-lhe um beijo de boa noite e fui
dormir.
Entrei no meu quarto e bom... não era nenhuma novidade que ele estaria ali.
— A noite foi ruim, hein? Já voltou. Esse Phillip não é de nada — disse, rindo.
— Ele é melhor do que você. — Tirei meu casaco e joguei dentro do guarda-roupa.
— Você já ficou com ele?
Mas que inferno. Ele realmente queria me controlar.
— Claro que sim — menti. Queria sei lá, afastá-lo, e ao mesmo tempo, se fosse
realmente pensar, eu queria mais daquele beijo, podia ser só o beijo, sem esse idiota incluso.
— Você é pior do que eu. — Levantou da minha cama e saiu. Eu sou uma burra, devia
ter ido encontrar o Phillip, que pelo menos me trata bem.
— Sai daqui mesmo. Vai logo!
Deitei na cama e, por algum motivo, me deu uma vontade imensa de chorar, mas não o
fiz. Não mesmo, ele não merecia e também seria um choro completamente ridículo...
Fiquei ali deitada. Oh nãoooo. O Phillip! Peguei meu celular e tinha cinco chamadas
perdidas e três mensagens dele.
''Já tô aqui!''
''Já tá chegando?''
''Obrigada por me dar o bolo :/ ''
Tadinho! Que vergonha, o garoto foi tão legal comigo e eu deixei ele lá, plantado na
sorveteria... Amanhã tento me explicar...
~ Semanas depois ~
As semanas se passaram, o Phillip me perdoou e nós estamos cada vez mais amigos.
Conheci a Elis, a Bia e a Maria, que são amigas da Maya. Elas são muito legais também. A
cada dia que passa gosto mais da Anne. E com o Harry? Bom, a convivência continua cheia de
implicância e nenhuma palavra é dita sobre aquele beijo.
O irmão da Maya, o Victor, vai dar uma festa no fim de semana e todas nós, meninas,
vamos. Até mesmo a Bia, que é super nerd e tímida, foi convencida a ir. Estamos muito
animadas. O Harry vai estar lá e a cada dia que passa eu só quero... Queria... Eu só penso... Ah,
nem consigo compartilhar isso com ninguém. Isso tem que acabar.
Minha mãe vive falando que eu só faço besteira, bem... Acho que posso dar um pouco de razão
a ela. Eu beijei a Victoria... Cara, que loucura! Até agora, não entendo por que fiz aquilo, mas
ela ficava lá fazendo aquela cara de brava, me xingando de várias coisas das quais nem me
lembro e eu só conseguia prestar atenção no brilho de seus olhos e na movimentação daquela
boca.
Quando vi, ela já estava em meus braços, aquele cheiro doce dela já me envolvia. Perdi a
noção, mas tenho que me recuperar, jurei a mim mesmo que nunca mais faria aquilo.
Toc, toc...
— Posso entrar? — Fui tirado dos meus pensamentos enquanto olhava para o teto do
meu quarto.
Era o George, pai da Vick... O que será que ele fazia ali? Será que ela contou o que
houve? Por um momento, congelei.
— Pode sim. — Sentei na cama.
— Harry... eu queria conversar com você sobre uma coisa.
— Pode falar. – Se aquela garota tiver ido fofocar, eu mato ela.
— Primeiro, eu quero dizer que confio muito em você e o considero um amigo. — O
George era um cara legal, eu é que sou um idiota mesmo.
— Da minha parte, digo o mesmo de você.
— Você conheceu a minha filha e, pelo visto, vocês não foram muito um com a cara do
outro.
Não mesmo.
— É, acho que não somos muito parecidos. — Falei tentando não demonstrar que a
realidade era que nós nos odiávamos.
— Mas ela é uma boa pessoa. É que depois que ela já sofreu muito e, sabe... Nem gosto
de falar muito nessas coisas. — Ele abaixou a cabeça.
Não entendi muito bem. Ele estava tentando justificar a chatice da filha dele? Como
assim, sofreu muito? Ela tem tudo, ele é super carinhoso com ela, se eu tivesse um pai desses
iria estar feliz.
— OK, George, eu entendo.
— Ela é uma menina meiga, mas começou a ter essa má atitude de uns anos para cá. Eu
não sei como acabar com isso. Já fiz de tudo, psicólogo, esportes, aulas de dança, lutas
marciais, mas em nenhum desses ela se dava bem.
— Quem sabe ela não gostaria de aulas de música? — Falei e vi que os olhos dele se
ergueram, felizes.
— Você acha que ela ia gostar?
— Pelo pouco que conheço dela, acho que sim.
— Tá vendo? Sabia que você seria um ótimo irmão para ela. — Por algum motivo esse
''irmão'' me soou como um insulto.
Bem, talvez eu possa tentar amansar a fera, pensei alto e olhei para ele, que ria.
— Confio em você, Harry. Amo demais a sua mãe e quero que nós quatro formemos
uma linda família feliz. Fiquei sabendo que esse fim de semana vai ter uma festa na casa de um
amigo seu...
— É, vai ter sim.
— Você vai, né? — Eu assenti. — É que a Vick pediu para ir, mas eu ainda não dei a
resposta final, não sei se é uma boa ideia, ela sempre apronta nessas festas.
— É, você que decide.
— Eu deixaria ela ir se você cuidasse dela
— O quê? Eu? Cuidar dela? — Era só o que me faltava, eu sou o último cara que ela
ouviria.
— Harry, conto com a sua ajuda. Você pode ficar de olho nela, não deixar ela ir para o
mau caminho. — Eu ri com esse ''mau caminho'' Eu era o ''mau caminho'' da minha escola.
Isso é o que diziam, mas a realidade não era bem assim.
Foi legal me sentir como alguém em quem se pode confiar. O George foi a primeira
pessoa que me deu uma real responsabilidade, todas as outras pessoas me tratavam como se eu
fosse um moleque. Mas ele, não. Mostrou que confiava em mim. Decidi aceitar a proposta e
tentar controlar aquela pimentinha da filha dele.
Ele saiu do meu quarto e eu fiquei lá tocando um pouco meu violão... Até que decidi ir
ao quarto da Victoria, eu queria deixar bem claro que aquilo que fizemos foi um erro.
Bati na porta e fui entrando. Ela não estava ali, até que ouvi uma voz doce de menina
cantando uma canção de ninar. Fui bem devagar e a voz vinha do closet. A porta estava aberta
e olhei de canto.
Senti meu corpo esquentar quando a vi só de calcinha e sutiã em frente ao grande
espelho, em que cantava e escovava seus cabelos ao mesmo tempo. Fiquei admirado com
aquele corpo. Ela vestia sempre umas roupas folgadas que não marcavam suas curvas, que
agora eu podia ver que eram bem acentuadas.
Meu espírito moleque ressuscitou naquele momento e, mesmo sabendo que ela poderia
se enraivecer, resolvi dar um susto nela. Tranquei a porta do closet rapidamente, dando ao
mesmo tempo um susto que a fez gritar alto. Fiquei segurando a porta enquanto ela tentava
puxar.
— É você né, Harry? Seu babaca, abre essa droga de porta! — Ela gritava de desespero,
eu morria de rir.
— Não, vou te trancar aí para sempre.
— Nããããão! Para. Hey, espera... — Percebi que ela se soltou da porta. — Você por
acaso estava me espionando? — Ela estava com cara de quem ia me matar.
— HA-HA-HA – ri irônico. — Você acha que eu ia perder meu tempo te espionando?
— Acho, sim. Gostou do que viu?
Ridícula.
— Putz... nuncaaaa! — Falei para irritá-la. — Chama o São Jorge que o Dragão tá solto!
— Ri alto.
Quando senti a porta se abrindo, eu estava rindo e me distraí. Parei de segurar a porta
com força. Ela aproveitou a oportunidade e a abriu.
— Repete! Vai, repete o que você falou, seu idiota. — Ela estava bravíssima.
— O quê? Eu falei alguma coisa? — Preferi me fazer de cínico.
— É melhor correr, Miller!
Fiz o que ela mandou. E ela começou a correr atrás de mim no quarto. Pulei em cima da
cama dela, continuei tentando fugir, até que senti aquelas mãos puxarem meu cabelo para trás
com tudo. Nossa, que dor!
— Você tá louca? Aiii! — Gritei de dor.
— Isso é para você aprender a não me chamar de dragão.
— Agora vou me vingar... Regra número 1 baby: nunca toque em meus cachos. Olhei
para ela com um ar de matador.
Agarrei-a com força pela cintura e a joguei na cama. Fiquei por cima dela e comecei a
lhe fazer cócegas. Ela pareceu se descontrolar com aquilo, riu como nunca antes, pela primeira
vez conheci aquele lado dela, um lado risonho e alegre.
— Ah, não... para... vou morrer... — ela disse entre risos.
Aos poucos fui parando e ela continuava de olhos fechados. Admirei seu corpo, ali em
minhas mãos, praticamente nu, coberto apenas pela sua lingerie. Mas o seu jeito era tão
despojado que ela nem se incomodou com isso, o que me encantou mais ainda. Passei a mão
em sua barriga de leve e senti a respiração dela acelerar. Ela abriu os olhos e vi que eles
brilhavam...
— Harry... — ela suspirou e levou a mão até meu queixo, descendo e chegando à minha
nuca.
Aquilo me deixou louco. Ela olhava fixamente em meus olhos, me puxava em direção ao
seu rosto e passou o polegar de leve em meus lábios. Eu estava quase beijando-a quando
percebi que aquilo ia ser um erro. Juntei forças de algum lugar desconhecido e me afastei.
— Eu... eu... vou lá, acho que... — Estava completamente atrapalhado em minhas
palavras.
— É, eu também — ela respondeu com o rosto corado.
Aquela conversa foi sem pé nem cabeça, mas entendi que para nós dois tudo foi
compreendido. Não podíamos fazer aquilo de novo. Mas que eu senti vontade de agarrá-la ali
mesmo e arrancar aquelas peças mínimas de sua roupa e fazê-la ir às estrelas...
Bem, não posso negar que tive essa vontade. Mas não podia.
Saí de lá às pressas, tentando controlar meus batimentos cardíacos, que naquele
momento deveriam estar quase a ponto de me provocar um infarto fulminante. Fui para o meu
quarto e depois tomei um banho gelado. No jantar, apenas trocamos olhares estranhos. Olhei
para George e senti raiva de mim mesmo por estar sendo um canalha, ainda bem que me
contive e não a beijei novamente. O lance era que, para o bem da minha nova família, eu
deveria segurar minhas vontades e controlar meus hormônios.
~Victoria ON~
O Harry ficou em cima de mim e quase nos beijamos de novo. Ah, aquele par de olhos
verdes, seu cheiro, aqueles cachinhos que eu fiz questão de puxar bem forte... Tudo aquilo me
deixava louca. Nunca senti algo assim na vida, não tão forte. Nunca nada tão intenso. Acho
que é o fato de ser proibido. Claro que é isso, afinal eu e aquele idiotinha nunca vamos ficar
juntos. Ele é um pé no saco.
Eu já gostei de outros garotos, mas, para falar a verdade, nunca me declarei a nenhum
deles. E os de quem eu gostava sempre faziam algo extremamente idiota que logo me levavam
a perder o interesse. Fui ficando cada dia mais fria com relação a eles e hoje tenho muita
dificuldade para confiar, sempre acho que vão me decepcionar.
Eu comecei a ser dura com os outros e até mesmo comigo há alguns anos, quando a falta
da minha mãe começou a ser quase impossível de suportar. Sabe aquelas coisas de menininha
que conversa com a mãe sobre o primeiro sutiã, a primeira menstruação, o primeiro amor? Eu
nunca pude compartilhar isso com ninguém.
Por isso, tinha tanta raiva daquelas patricinhas que iam fazer compras no shopping com
suas mães, ou iam a manicures com elas. Tinha inveja daquilo que elas tinham. Eu queria
minha mãe comigo para todos os momentos, para quando chorasse por causa de notas ruins, ou
porque o garoto de quem eu gostava estava de mãos dadas com outra garota, essas bobagens.
Sempre tive saudade disso, apesar de nem ao menos ter feito.
Senti meu celular vibrar, recebi uma mensagem... Era o Phillip.
''Tô aqui embaixo, vem cá.''
Ah, ele estava ali. O Phillip era tão legal e, apesar de andar com as pessoas mais
descoladas/metidas do colégio, sempre os abandonava para passar alguns recreios comigo. Ele
era divertido e me tratava tão bem... Além de ter aquele sorriso lindo...
Desci correndo as escadas. Abri a porta e lá estava ele, com aquele sorriso lindo.
— Oiii, Phi. — Eu o chamava assim (''Fi''), e o abracei.
— E aí, Vick? Você disse que queria aprender a andar de skate... Seu professor chegou.
— Ergueu os braços em direção a si mesmo.
— Uau, que massa! Espera, só um instante, vou pegar meu tênis.
— Eu trouxe um skate para você. — Ele pegou um skate lindooo, todo preto com umas
rosas roxas lindas na parte de trás.
— Ai que lindo, Phi!
— Sabia que você ia gostar, é pra você. — Ele me deu o skate.
— Mentiraaa! Amei! — Eu o abracei com força. Gente, como assim? Que presente mais
perfeito.
— Você merece, é uma das pessoas mais legais e divertidas que já conheci na vida —
Seus olhos encararam os meus.
— Você que é perfeito. — Dei um beijo em sua bochecha.
— Só isso? Eu não mereço mais? — disse com um beicinho, e eu sabia que merecia.
— Vou pensar no seu caso. — Pisquei o olho. — Vou pegar o tênis, volto já!
Subi e voltei para lá rapidamente. Phillip já estava pronto.
— Como começamos? — Eu estava animada, sempre quis saber andar de skate.
— Primeiro coloca os equipamentos, não quero que você se machuque.
Fui colocando as joelheiras, as paradinhas do cotovelo e tal, e ele, muito fofo, me ajudou
a colocar o capacete.
— Estou pronta! — imitei o Bob Esponja. Super legal fazer isso na frente do crush né?
Só que não. Ele deu uma risadinha.
— Tá, vamos começar. Veja, se consegue se equilibrar.
Eu subi no skate e comecei a tentar me mover. Estávamos em frente à minha casa. Ele
segurou com uma mão em minha cintura e com a outra entrelaçou a minha mão.
— Você dá o impulso e vamos ver se consegue se equilibrar.
— Tudo bem. — Dei o impulso e fui indo. Senti a brisa em meu rosto e logo impulsionei
novamente. Ele parou de segurar na minha cintura.
— Phi, não me solta, eu vou cair! — Senti medo, ia ser um baita tombo.
— Calma, estou aqui. Você vai conseguir. Eu vou te soltar depois do próximo impulso
Eu assenti e, em poucos segundos, já estava livre como o vento. Aquilo era demais.
— U-hulll! — gritei, enquanto me sentia top por estar andando de skate.
Até que, como era o esperado, eu me desequilibrei e caí com tudo de bunda no chão.
Que droga, por que sou tão desengonçada? Fiquei lá com dor e o Phi veio até mim. Eu já
sabia que isso ia acontecer.
— Nossaaa, que susto você me deu — ele falou, se aproximando.
— Ai que mico. — Gargalhei.
— Isso é normal, você até que foi bem para a primeira aula.
— Fui nada, você só diz isso porque é uma fofura. — Ele sorriu.
— E você é uma linda, sabia? — Ele foi se aproximando e eu ainda estava sentada no
chão.
Senti sua respiração bem perto da minha. Ele levou a mão até o meu queixo e o ergueu.
Nossos lábios quase se encostaram. Era o momento, eu estava um pouco nervosa, mas achei
que já estava na hora de ver no que ia dar com o Phillip. Tinha tudo para acontecer quando
ouvimos um pigarro.
Olhamos juntos e era um dos amigos do Harry, o Louis, com um sorrisinho malicioso no
rosto. Logo atrás dele veio Harry que, ao nos ver sentados no asfalto, lançou um olhar de fúria
em nossa direção, fazendo um calafrio percorrer meu corpo inteiro.
Todo mundo sabe que eu não sou exatamente o cara mais sério do mundo. Gosto mesmo é de
zoar, de fazer graça. Às vezes passo dos limites, mas esse é o meu jeito. Sou assim, e pronto.
Na escola, sou o mais bagunceiro. Somos. Eu e Harry, meu melhor amigo. Na verdade, ele
nem é tão louco assim, mas vai na minha onda e sempre nos divertimos demais.
Eu conheço o Harry desde os sete anos. Moramos na mesma rua e compartilhamos tudo.
Dificilmente brigamos. Sempre que saímos juntos, apostamos para ver quem pega mais
garotas. Infelizmente, ele quase sempre ganha, mas eu me esforço muito. Nunca fui de querer
namorar. A única vez que gostei realmente de uma menina, foi ... Eu nem gosto muito de
lembrar isso.
O nome dela é Elis. Ela se mudou para a minha rua quando eu tinha uns 13 anos. Gostei
dela assim que a vi. A partir dali comecei a me tornar seu amigo. E descobri que ela não era
apenas bonita, mas muito alegre, fofa e divertida também. Nós nos tornamos melhores
amigos., o Harry ficou um pouco enciumado com a atenção que eu dava a ela. Muitas vezes
saíamos nós três, ela sempre ficava elogiando o Harry, mas até aí eu nem ligava. Fomos
crescendo e eu já não aguentava mais ficar do lado dela e ser apenas seu amigo.
Até que um dia, ela disse que precisava me confessar algo, mas que era para ser um
segredo nosso. Eu disse que também tinha algo a dizer para ela. Nós nos encontramos embaixo
de uma árvore, na escola mesmo. Disse que ela podia falar primeiro. Então, ela disse:
— Louis, você sabe que eu confio muito em você. Então, vou te dizer uma coisa que está
me matando por dentro. Não aguento mais fugir desse sentimento. — Meu coração acelerou ao
ouvir isso.
Na hora fiquei mega confuso e entendi que era realmente aquilo que eu estava sentindo:
eu não conseguia mais parar de pensar nela.
— Eu também sinto algo assim.
— Ah, Lou... — é assim que ela me chamava. — Então, talvez você possa me ajudar. Eu
estou gostando de uma pessoa.
— Eu també... — Foi quando fui interrompido com uma facada no meio do peito.
— É o Harry. Eu estou apaixonada por ele, não consigo mais esconder. Queria beijar ele,
abraçá-lo, dizer tudo o que sinto. Eu nunca tive coragem de dizer isso para ninguém, só para
você. — Cada palavra dita por aqueles lábios estavam pisoteando o que havia restado do meu
coração. Eu estava destroçado.
— O quê? O Harry? Mas, não... — Eu mal conseguia falar.
— Eu sei Lou, eu nunca dei a entender tanto assim, mas é que ele é tipo perfeito. Eu
queria que ele gostasse de mim como gosto dele. Você poderia me ajudar?
O quê? Ela estava acabando comigo e ainda queria minha ajuda? Eu não conseguia nem
falar direito, a dor que eu sentia era maior que tudo. A garota que eu amava havia anos gostava
era do meu melhor amigo. Essa foi a única vez em que senti inveja do Harry, e até mesmo
raiva. Injustamente, já que eu sabia que o Harry não gostava da Elis. Além disso, ele sabia que
eu gostava dela e sempre me incentivava a dizer o que eu sentia. Elis me olhava com uma cara
de cachorro que caiu da mudança
— Você vai me ajudar, Lou?
— Não sei... eu... — Aquilo doía.
— Por favor. Não quero que conte a ninguém, mas bem que você poderia me dar umas
dicas, sei lá, para ele se interessar por mim. Me ajuda?
Fiquei meio sem ter o que dizer.
— Ajudo. — Abaixei a cabeça e ele me abraçou muito forte.
— Ai, Lou, sabia que você ia ser o fofo de sempre. Você é como um irmão para mim.
Nem preciso comentar que aquela última frase foi como um nocaute. Eu estava
despedaçado. Gostei de uma garota por anos e agora eu ia ajudá-la a conquistar meu melhor
amigo? Começou a me subir uma raiva terrível. Tinha que fazer alguma coisa para acabar de
vez com a possibilidade de a Elis tentar algo com o Harry.
Sei que fui um canalha, mau-caráter, pelo que fiz. Mas tive que fazer aquilo. No outro
dia na escola, contei que Elis gostava do Harry para Karolinne, que, na época, estava ficando
com Harry, E também contei para as amigas dela, Rafaella e Joanne. Nem preciso dizer o que
aconteceu depois... Começaram a zoar a Elis, dizendo que o Harry nunca ia querer nada com
ela, que ela era estúpida por gostar dele. Vi aquelas meninas humilharem-na diante de toda a
escola e só fiquei lá parado, como um covarde. Aquilo foi terrível.
O pior foi a carinha da Elis. Ela olhou imediatamente para o Harry, que não estava
entendendo nada. Afinal, para ele, ela sempre gostou de mim. Algumas lágrimas já brotavam
de seus olhos, enquanto Karolline e Rafaella lhe diziam crueldades. Harry deu um passo à
frente, como em um gesto para defendê-la, mas eu segurei seu braço e impedi que ele fosse.
Elis olhou para mim com os olhos vermelhos e raivosos. Passou por mim, me deu um
empurrão e me disse:
— Pensei que podia confiar em você... Eu te odeio, Louis. Nunca mais olha na minha
cara. — Ela saiu chorando e eu fiquei lá me sentindo um lixo, que era realmente o que eu era.
Depois daquele dia, eu e Elis nunca mais nos falamos. Achei melhor assim, coloquei na
minha cabeça que precisava tirá-la do meu coração. As meninas continuaram enchendo o saco
da Elis por muito tempo. Eu tinha vontade de acabar com a raça delas, e toda vez que via Elis
chorar meu coração se apertava.
Pedi ao Harry para se afastar dela também. Ele disse que o que eu tinha feito foi errado,
mas que estava comigo para o que fosse. Apesar dos meses, confesso que nunca a esqueci. Seu
sorriso ainda é o meu paraíso e me arrependo amargamente por tê-la feito sofrer.
— Tá no mundo da lua??? — disse uma voz zangada ao meu lado.
Realmente eu viajei um pouco, estava pensando nela, meus pensamentos voavam para o
infinito. Harry estava do meu lado no sofá, assistíamos a lutas do UFC.
— Ah, eu tava aqui pensando na quantidade de garotas que eu quero ficar na festa do
Victor — menti.
— Você só pensa nisso mesmo.
— Olha quem fala, o santinho Miller. — Ele riu — Sabe, aquela tua irmãzinha vai na
festa?
— Ela não é minha irmã — ele disse, zangado.
— Tá, sei. É modo de dizer. Mas então, ela vai?
— Por que esse interesse todo?
— Ah cara, ela é gata e tal. Veste preto demais para meu gosto, mas é gata e é novidade
na área.
— Esquece! — ele falou direto, sem tirar os olhos da TV.
— O quê? Como assim? Eu sempre desenrolei minhas primas para você. Que mal-
agradecido.
— Você sabe que eu arrumo umas meninas para você também, mas ela NÃO.
— Hey... espera aí. Não vai me dizer que você...
— Eu o que? — ele se fez de desentendido.
— Nãããão! Você ficou com ela?
— O quê? Claro que não. Tá louco? — Hummm... Ele estava nervoso. Estranho.
— Ah, tá. Por um instante achei que já tava pegando a irmãzinha.
— Para de dizer isso, não ficamos e ela não é minha irmã. Agora, vamos assistir a luta.
Terminamos de ver e decidimos ir na casa do Harry. Nós morávamos bem perto, então
sempre estávamos na casa um do outro. Fomos andando pela calçada, quando eu vi a Victoria,
a ''irmãzinha'' do Harry, sentada no asfalto com o Phillip, um cara super metido a riquinho,
bem próximo a ela. Parecia que iam se beijar.
Claro que não ia perder a oportunidade de trolar o Phillip. Cutuquei o Harry, ele olhou
aquilo e aumentou o passo em direção a eles. Fui na frente e soltei um pigarro, atrapalhando o
real momento romântico dos dois. Quando ouvi Harry rosnar atrás de mim, até me assustei.
— Victoria, entra já pra dentro! — gritou.
— Quem você pensa que é para mandar em mim? — ela disse, autoritária. — Hi, ia dar
confusão.
— Não me faça te carregar à força. — Ele pegou no braço dela.
— Não encosta nela! — Phillip disse e empurrou o braço do Harry para longe.
— Você tá a fim de apanhar de novo, só pode. Por que você não some daqui agora? —
Os dois se encaravam, aquilo não ia acabar bem.
— Por que você não vem me tirar? — disse imponente e se levantou.
Eu sabia que ia dar confusão. Confesso que adoro um barraco. Haha!
A Victoria levantou, já prevendo o que possivelmente iria ocorrer.
— Victoria, entra agora ou vou ser obrigado a quebrar a cara desse seu amiguinho!
— Você é um idiota mesmo. Vem, Phillip! — Ela pegou no braço dele, mas ele não
parou de enfrentar o Harry.
— Não, eu quero ver esse estúpido me tirar daqui. — Gente, o clima ficou pesado.
— Olha, não me provoca. Você já sabe do que eu sou capaz.
A tensão entre eles era tensa. Sei que isso é redundante, mas não tenho outras palavras
para dizer como estava a situação.
— Phillip, olha pra mim. — Ele enfim desviou o olhar do Harry.
— Esse garoto é um babaca, não vou deixar ele falar assim com você. — Phillip estava
mesmo querendo matar meu BFF, aquilo estava engraçado.
Ele ia se voltar para o Harry, mas a Victoria segurou na nuca do Phillip e lhe deu um
selinho rápido, bem ali na frente da gente. Harry ficou com cara de tacho.
— Vai pra casa, vai. Não quero confusão. Mais tarde eu te ligo. — Ela o abraçou e ele
saiu, mas antes lançou um olhar de ódio ao Harry.
— Isso, vai mesmo.
— Nossa conversa não acabou aqui, Miller. — Ele pegou o skate e desceu a rua.
— É voc... — Foi interrompido pela tempestade chamada Victoria Jones.
— Cala a boca, seu babaca. Você me paga por essa. Nunca mais grita comigo na frente
de ninguém! — Ela deve ter chamado a atenção da vizinhança inteira.
— Eu falo no tom que eu quero, na hora que eu quero.
— Você é um grosso mesmo. Um estúpido.
— Vocês vão ficar discutindo? Vou pegar minha pipoca para acompanhar a briga. —
comentei. Aquilo estava demais.
— Haha! Morri de rir agora — ela disse, irônica.
— Hiiii garota, vai com seu mau humor para longe de mim.
— Essa aí é uma azeda, Lou. — Harry falou.
— Sou mesmo, com quem merece. Quer saber? Cansei da idiotice de vocês, meu Q.I
deve ter descido vários pontos.
— E o que está esperando para sumir daqui?
— Babaca ridículo! — ela disse e saiu, pegando seu skate do chão.
Em seguida ela saiu. Harry devia ter cuidado e trancar a porta do quarto antes de dormir,
ela podia invadir de madrugada e dar umas facadas nele. Aquele olhar dela era de quem queria
ver o sangue do meu amiguinho.
— Uau, vocês dois se odeiam, hein? — Falei, sentando no meio fio.
— Viu só? É uma insuportável! Deixa eu contar para o pai dela que ela tava se agarrando
com aquele marginal no meio da rua.
— Nossaaa, você falou como um velho rabugento agora.
— Aff, é melhor eu entrar. Não tô com saco para jogar videogame.
— Ficou estressadinho, né? Haha! Ok, deixa para outra hora. Amanhã tem a festa do
Victor, não esquece.
— Já comprou o presente?
— Claro. A coleção da Playboy inteira, dos anos 2000 até o desse mês. — Foi muito
caro, mas valeu a pena. Comprei de um punheteiro da internet. Espero que as revistas não
estejam muito gastas.
— Uau Louis, que presente bacana, hein? Super descente, só que não. Se superou.
— Ele vai gostar, isso é o que importa.
~ Victoria ON~
Que ódio! Aquele idiota do Harry acha que manda em mim, me fez parecer uma
criancinha na frente do Phillip e do amiguinho dele. Garoto insuportável, ele ia se ver comigo.
Eu combinei com a Maya, a Elis, a Bia e a Maria de comprarmos roupas para a festa de
aniversário do Victor. Também tinha que comprar um presente, eu nem conhecia muito o
aniversariante, por isso pedi a ajuda da Maya.
A Maya é muito divertida e nem um pouco tímida. Quer dizer... ela só fica tímida
quando falamos sobre o garoto de quem ela gosta. Vamos dizer que ela é caidinha por ele, mas
nunca teve coragem de dizer. Afinal, talvez ele não sinta a mesma coisa. Ela me contou a
história de como tudo começou.
No ano passado, um garoto novo entrou na escola. Ele era muito bonito e Maya logo se
encantou pelos seus olhos lindos e brilhantes. Na primeira oportunidade que teve, foi falar com
o menino.
~ Flashback ON~
~ No outro dia~
~ Harry ON~
Hoje vai ser a festa do ano. Quando algum de nós dá uma festa, tem que ser a melhor. O
Victor alugou uma chácara com piscina e lá vai poder rolar de tudo. Só vai estar gente jovem,
nenhum adulto para encher o saco. Muitas menininhas louquinhas por um par de olhos
verdes... Ui. Vai ser demais. É uma pena que durante uma parte da festa eu terei que ficar
tomando conta da minha ''irmãzinha'', já que o George me pediu.
A senhorita Jones vai para a festa com as amigas dela e eu vou com o Louis. Nem sei a
que horas vou voltar, nem sei se quero voltar. Talvez, eu caia e durma em qualquer lugar. Logo
me arrumei e Louis e eu partimos para a chácara, que ficava a quase uma hora da minha casa.
Chegamos lá e a festa estava começando a bombar. Apesar de ser ainda cedo, já tinha várias
pessoas. Era uma pool party, então, bebida, mulher e piscina não podiam faltar.
Os meninos já estavam lá, o aniversariante super animado já ensaiava algumas manobras
com o aparelho do DJ. Nev, James e outros convidados já estavam dançando. Eu e Louis
estávamos checando o local para determinar os alvos da noite. Tinha muitas garotas bonitas...
Até que, wow! Vi aquela que, aos meus olhos, infelizmente parecia ser a mais linda. Victoria
Irritante Jones acabara de chegar, e ela estava incrível... Diferente... Muito gata. Isso é uma
tragédia, aposto que terei muito trabalho essa noite para espantar os urubus de sua volta.
Suas amigas também estavam lindas, mas eu estava impressionado com ela. Que idiota.
Isso é loucura.
— Noooossa, é hoje que eu pego a tua maninha! Muito linda — Louis gritou no meu
ouvido.
— Já te falei que sem chance. — Aquele palhaço não podia encostar na Victoria.
Eu não parava de observá-la. Ela e as amigas já se encontravam em um canto
conversando e examinando a festa inteira. Eu a vi dando risadas do outro lado, até que nossos
olhares se encontraram. Ela revirou os olhos e bebeu uma bebida.
— Cara, você tá de sacanagem. Eu sou um bom garoto. Vou cuidar direitinho dela.
— Por que você não fica com a Maya? Ela também tá gata.
— É, eu sei. Mas ela é irmã do Victor. Isso é trairagem. — Olhei para ele juntando
minhas sobrancelhas.
— Mas, pegar a minha irmã pode?
— Ela não é sua irmã, babaca. Você tá é arrumando desculpas aí para eu não pegar ela.
Ridículo. Quer saber? Vou, então, dar umas voltas para escolher outros alvos possíveis. — Ele
saiu dançando.
— Isso, vai mesmo! — gritei, rindo. Esse meu amigo é uma figura.
Encostei em um muro de frente para a pista de dança, que estava praticamente lotada e,
do outro lado, minha irmãzinha continuava a conversar com suas amigas. Logo uns amigos
meus chegaram e ficamos conversando.
Vi que ela se divertia muito e também que bebia algumas doses de tequila. De repente,
algo mudou no ar, e vi que ela sorriu em direção a alguma coisa... Olhei e era em direção a
alguém... Phillip chegara na festa. Que droga! Ele se aproximou dela e abraçou-a forte. Disse
alguma coisa em seu ouvido e vi os dois andando para longe dali.
Eu revirei os olhos e pensei comigo mesmo: ''Vou aproveitar a festa, ao invés de ficar me
preocupando com ela. Que se dane a Jones.”
Comecei a beber e a dançar, logo muitas meninas estavam praticamente em cima de
mim. Quando percebi, alguém apertou minha bunda. Olhei para trás e era a Karolline, que
estava linda como sempre. Ela me puxou para perto dela e começamos a dançar juntinhos. Já
tinha ficado com ela, e o legal é que ela era super fácil, tudo que eu pedia para fazer, ela fazia.
Estava dançando com Karolline quando a Victoria chegou na pista e começou a dançar
com o Phillip, eles pareciam se divertir. Mas eu estava com uma ira! A vontade que eu tinha
era de quebrar a cara daquele Phillip. Ele me olhava com um sorrisinho cínico. Pegou a
Karolline bem forte pela cintura e lhe deu um beijo bem escandaloso. Parei por falta de ar, e
olhei para a Jones, que me olhava de um jeito estranho.
Nós continuamos dançando todos juntos e a festa só ficava cada vez melhor. As pessoas
já começavam a ficar loucas com as bebidas, o que era super engraçado. as meninas começam
a tirar seus sapatos e a dançar nas mesas, os garotos já começavam a ficar sem noção.
O Victor apareceu pulando do meu lado e eu percebi que ele tinha bebido além da conta.
~ Victor ON~
Minha festa era só curtição, todos se divertiam muito. A música estava bem alta. Quando
desse uma hora da manhã já ia ter gente pulando na piscina. Mega legal. Só que eu comecei a
festa apressado demais e fiquei meio mal, bebi demais. Fui para a cozinha respirar um pouco e
quem eu encontro lá... a Rafaella!
— Rafaellaaaa, o que você tá fazendo aqui? Eu te convidei? — gritei e ela me ignorou,
parecia com vergonha. Isso não faz nem um pouco seu estilo.
Fui em direção a ela, segurei forte em seu braço e percebi que não era a Rafaella, era a
irmã dela. Dava para ver pela doçura de seus olhos, coisa que Rafaella não possuía. Nossa, ela
estava tão linda... E eu já não tinha muita noção dos meus atos.
— Ah, desculpa, você é a irmã dela... Você tá uma gata hein? — Segurei ela pela
cintura.
— Victor, você tá bêbado?
Tão inocente essa pergunta, como ela.
— Não, que isso! Tô nada. Olha que olhos lindos você tem. — Eu me aproximei mais.
— Tá sim, me solta Victor, por favor. — Ela foi forçando para sair dos meus braços.
— Que isso? Quer se livrar de mim igual a sua irmã fez? — Fui em direção à sua boca.
— Não, não, você vai me beijar agora... — Agarrei ela, eu é que estava sem noção.
Encostei nossos lábios, e ela continuava fazendo força para se soltar de mim, foi quando
ela me mordeu com força e eu a soltei.
— Você não devia ter feito isso! Seu idiota! — ela gritou, com lágrimas nos olhos.
Percebi a idiotice que tinha feito e olhei para baixo. Em fração de segundos, meu
estômago começou a embrulhar e eu pus a mão na minha barriga.
— Ai! — Segurei meu abdômen. — Eu acho que eu vou... — Corri para o banheiro
mais próximo e comecei a vomitar. Quando percebi, a Bia estava agachada ao meu lado
fazendo massagem nas minhas costas.
— Já vai passar, calma... — Ela carinhosamente massageava as minhas costas. —Acho
melhor você molhar a cabeça
Eu me apoiei nela, que me levou até o chuveiro e logo uma água fria começou a se
chocar contra a minha cabeça. Pareciam agulhas perfurando minha pele. Eu precisava daquilo.
Molhei minha camisa praticamente inteira.
—Você tem outras roupas aqui na casa? — Seu tom de voz parecia preocupado.
— Aham... lá no quarto ... lá em cima. — Minha cabeça parecia que ia explodir.
Ela foi me levando, eu estava apoiado em seus ombros. Apontei para um quarto e peguei
a chave que estava em meu bolso. Entramos, e fui direto para a cama, estava morto.
— Onde tem uma camisa seca para você?
Apontei para uma parte do guarda-roupa.
Enquanto ela procurava, tirei a camisa e a joguei no chão. Ela se voltou para mim com
outra nas mãos e vi que olhou para o meu corpo por alguns segundos. Depois, olhou para baixo
timidamente, me entregou a camisa e uma toalha.
Eu me sequei e coloquei a camisa... e aos poucos fui ficando mais sóbrio... Bem, eu já
sabia que não deveria ter tentando beijar Bia à força.
— Bia... É Bia, né? — Eu realmente nem lembrava.
— É, sim.
— Desculpa pelo que eu fiz lá embaixo.
— Não, tudo bem, você estava mal. Não tem problema.
—Tem sim, você é uma menina especial, diferente da sua irmã, não merecia aquilo. —
Ela sorriu tristemente. — Me desculpa? — Ela assentiu.
Fiquei ali por mais poucos minutos e depois nós dois descemos. A festa não era a
mesma, agora a parada tinha ficado sinistra. Vários casais se pegando, muita gente super
bêbada, de cair. Harry estava ficando com uma garota que eu nunca tinha visto na vida. O
James fazia o mesmo. Do Louis, nem sinal de vida... e o Nev estava beijando... O quê? Ele
estava beijando a Maya, a minha irmã??? Mas que porcaria é essa?!
Fui lá imediatamente acabar com aquela festa.
— O que é isso Maya? Nev, muito bonito, hein? — Disse, dando um susto nos dois.
Não é nada disso que você está pensando, Victor? — Nossa, olha a frase que o meu
querido amiguinho disse. Péssimo para ele.
— Ah, não. E o que é? — Aquilo não podia estar rolando.
— Querido irmãozinho, não fico pegando no seu pé, por que você não me deixa em paz?
— Ela gritava e estava vermelha.
— Deixaria, se você não estivesse pegando um dos meus melhores amigos. Nev, estou
decepcionando com você.
— Mas ...
Saí dali e deixei ele lá plantado, falando sozinho.
~ Victoria ON~
A festa estava incrível, mas o Harry não parava de me olhar nem por um segundo,
parecia que estava me vigiando. Meu pai deve ter falado alguma coisa, até estranhei ele ter me
deixado vir nessa festa. O Phillip era a única coisa que me distraía daqueles olhos verdes
grudados em mim. Ele me fazia rir. E eu já estava meio tonta por conta de algumas tequilas
que tinha tomado.
Prometi às meninas que não beberia muito, não quero pagar mico. O Phillip disse que ia
ao banheiro e fiquei sozinha esperando por ele, até que chegou o Harry perto de mim...
— E aí maninha, aproveitando a festa? — Definitivamente, não fui a única que bebeu.
— Aproveitaria mais se você não ficasse olhando para mim a cada segundo.
— Eu? Te olhando? Fala sério. — Ele desconversou. Ai, sai daqui idiota. — Você não
larga daquele mala do Phillip, hein?
— Ai Harry... Mala é você. Por que não vai atrás das periguetes que você tava ficando?
— Porque eu quero ficar aqui enchendo seu saco.
— Aêêê, até que enfim confessou que adora me perturbar.
— E você adora ser chata e puxar meu cabelo. — Ele foi chegando perto e eu segurei em
seus cachos, quase apertando.
— Porque você merece mesmo. — Puxei um pouco só para provocar.
Harry estava bem próximo de mim quando, de repente, o Phillip chegou me puxou para
o lado dele.
— Esse garoto está te incomodando? — Phi falou e eu sabia que iriam começar a brigar
de novo.
— Se eu estiver, você vai fazer o quê? — Quando o meu brother queria parecer bravo,
ele conseguia.
— Cara, você é muito chato. Por que você não deixa ela em paz? Parece até que gosta
dela, não sai de perto.
What? Não fala nem isso em voz alta. Isola.
— Eu gosto dela? Dela? há, há, há! Nunca. Só tô aqui porque tenho que cuidar da
criança — riu, irônico.
Eu fiquei com ódio daquela risada e daquelas palavras. Então, era isso? Ele estava
realmente me tratando como se eu fosse uma criança, me vigiando, tirando a minha liberdade.
Meu pai ia me pagar por isso. Agora não posso nem ir a uma festa me divertir sem ter uma
sombra me vigiando.
— Ah, então vai embora.
— De que adianta eu sair ou ficar? Você não vai conseguir beijar ela mesmo.
Quando ele falou isso meu sangue subiu.
— Não, ele não vai me beijar mesmo. — Falei, mais que decidida.
Phillip me olhou com uma cara triste
— Ha! Viu só, mané? — Harry falou, vitorioso.
— Ele não vai me beijar, eu que vou beijar ele...
Em um movimento, puxei a gola da camisa do Phillip, segurei sua nuca, encostei nossos
lábios e comecei a beijá-lo, aquele beijo no começo agressivo pelo meu jeito atrapalhado, que
depois foi se tornando calmo e lento. Aquilo era realmente bom... Dedicava ao mala que
possivelmente estava olhando a cena.
A festa CONTINUA...
Capítulo 10: All those conversations
~ Harry ON~
Eu não acreditei quando a Victoria começou a beijar o Phillip ali na minha frente. Mas, por
que não, Harry? Ela é solteira, livre, desimpedida, você e ela não têm nada. Por que eu
continuava a me sentir como se um caminhão estivesse passando por cima de mim?... Estava
ali parado enquanto ela o beijava, só pensando em como o que eu estava sentindo ia dar uma
enorme confusão. Ela parou de beijá-lo e me olhou.
— Isso é para você aprender que não mandar em mim. Eu faço o que eu quero, o que
tenho vontade e você não tem nada a ver com isso — ela disse, sendo completamente grossa e
estúpida. Falou como se soubesse que eu me importava. Oh não, ela não pode achar mesmo
isso.
— Sua babaca, eu não estou nem aí para quem você beija ou não. Você é só mais uma
vadia que esse idiota pega. Se liga! — Ela veio para cima de mim como se para me bater, mas
o Phillip a segurou.
— O seu erro é pensar que todos são como você, Miller — o imprestável disse. Que
vontade de quebrar os dentes desse Phillip.
— Você é um idiota! — ela disse de um jeito diferente, olhando nos meus olhos
profundamente. — Vem Phillip, vamos sair daqui. — Ela o puxou e eles saíram.
E daí que eu tenha magoado ela? Ela se atracou com um idiota na minha frente. Que
saco! Sentei em um canto isolado e fiquei olhando a festa de longe. Queria ficar sozinho, por
um tempo. Sei lá. Logo Nev parou do meu lado.
— Nossa, pensei que essa festa estava estranha, mas tive certeza quando vi o Harry
Miller sentando, quieto em um canto, sem nenhuma bebida. E, o mais surpreendente: sozinho...
Nenhuma garota ao lado dele. Louco!
Sim, o que diabos está acontecendo?
— Ah, é que eu tô meio desanimado.
— Por que, cara? — ele bebeu um gole de sua bebida.
— Ah, sei lá... aquele Phillip, eu não consigo engolir aquele idiota.
— Putz Harry, esquece isso. Até o Victor esqueceu quando ele pegou a Rafaella.
— Não é isso, é que...
— Ah, é porque ele tá pegando a sua irmãzinha. Putz... Não pensei que também você
fosse um irmão assim tão cuidadoso e ciumento como o Victor é...
— Ela não é minha irmã! Droga! — gritei alto e até o Nev se assustou.
— Foi mal aê, então. Não se fala mais nisso.
Passamos um tempo em silêncio.
— Você viu o Victor? — perguntei.
— Nem sei onde ele está desde que a gente discutiu — disse, cabisbaixo.
— Vocês discutiram por quê?
— Ah cara, foi uma loucura aí... eu fiquei com a Maya. — Ele abaixou a cabeça. Gente...
Essa festa não foi apenas uma confusão para mim. Para o Nev, deve estar tudo mais tenso
ainda.
— Nãããão, caramba. Que isso? Você sim pegou a irmã do amiguinho. Ha há!
— Ah, eu sei, mas é bem mais complicado que isso.
— Como assim?
— Eu fiquei com ela... Mas eu estou gostando dela de verdade. Por mim, eu namoraria
com ela, mas o irmão nunca permitiria.
— Hi, entrou em uma fria. — Eu nem saberia o que fazer se acontecesse algo assim
comigo.
— Eu sei que sim. Não estou mais aguentando essa situação. Olho para ela e a única
coisa que quero é estar do seu lado, sentir aquele cheiro.
Está caidinho.
— Wow, o negócio é sério mesmo, então? Cara, nem sei o que dizer... realmente o Black
é muito ciumento mesmo.
— E agora, Harry? Tenta falar com ele, você o conhece há mais tempo.
— Tá, vou tentar.
Passamos mais um tempo conversando e decidi ir procurar o Victor. Muita gente já se
jogava na piscina. E o som estava estridente, com muita música eletrônica. Olhei ao redor, vi
que James estava parado como se procurasse alguém também. Fui até ele.
— E aí, Jammie? Tá procurando alguém?
— Estou, sim. Você viu a Maria? — Ele parecia meio desorientado.
— Ah, não acredito. Procurando a best friend, ela deve estar se divertindo com as
amigas, deixa ela. — Que tedioso passar uma festa inteira procurando uma pessoa.
— Não, a Elis estava dançando, a Maya com a Bia conversando, a Vick com o Phillip e
nada da Maria.
Zzzzz...
— Continua procurando, então. Eu quero saber onde está o Victor.
— Ele deve estar lá dentro — disse, sem dar muita importância.
Fui até lá, nunca vi tanta gente jogada por uma casa assim na vida... Essa juventude de
hoje em dia está perdida. Logo vi Black na cozinha, ele estava preparando um chá? Oi? Planeta
terra chamando Victor... Eu nunca vi ele e um chá no mesmo ambiente. Como assim?
— Chá? Tá falando sério? — Ele devia estar mesmo doente.
— Ah... Oi, Harry. É cara, eu preciso ficar 100% para aproveitar a festa. — Mas claro,
os poderes cura-ressaca de um belo e simples chazinho.
— Ficou mal assim, é?
— Só não fiquei pior porque a Bia cuidou de mim.
Who?
— Bia? Quem é essa? — Eu não fazia a menor ideia de quem era a mina.
— É a irmã da Rafaella.
Nossa... Foi longe.
— Haha! Cara, você não esqueceu mesmo a Rafaella, tá até querendo pegar a irmã
gêmea dela. Esse meu amigo precisa aprender a seguir em frente. Por favor. Que bad.
— Idiota. A Bia é diferente da Rafaella. Ela é mais doce, sei lá.
Hummm, mais doce? Então ele já deve ter experimentado.
— Hi, tá gostando dela? — Que grande encrenca, Rafaella vai querer matar os dois.
— Não, que isso? Ela é só uma menina. Você sabe que eu gosto é de mulher.
Eu sei que ele gosta é de qualquer coisa que vista saias. Se for um poste usando saias,
ele vai dar em cima.
— Aham, sei. Hummm... Não é que esse chá está cheiroso? — Realmente, o cheirinho
estava ótimo. — Eu adoro esse cheiro.
— Desde quando você gosta de chá, Harry? — fez cara de surpresa.
Eu sabia bem o porquê. A Victoria não conseguia dormir sem antes beber um copo de
chá, era assim praticamente todas as noites desde que ela havia chegado. Aquele cheiro fresco
e doce invadia a casa inteira. Só de saber que ela estava ali, em um quarto ao lado do meu,
protegida, quentinha, aquilo me acalmava. True feelings. Muito melhor do que pensar nela em
uma festa agarrando um babaca qualquer.
— Ah, sei lá. — Saí do assunto. — Mas cara, o que foi que aconteceu entre você e o
Nev?
— Ele é um traíra, só isso. Não quero falar disso — disse, grosso.
— OK. — Melhor deixar para lá.
— Você vai querer o chá? — ele me perguntou.
— Acho que sim. — Sorri, lembrando dela.
— Nossa, eu e você bebendo chá na minha festa. É, acho que essa é a nossa festa mais
estranha mesmo. — Caímos na gargalhada.
— O bagulho é loucooo! — V1D4 L0K4 feelings. Somos thug life.
Bebemos e depois o Victor disse para todos da festa pularem na piscina. Isso sim era
algo que faríamos, sem essa de chá.
Eu decidi pular e foi muito divertido. Vi que o Louis já estava super bêbado. Quase
caindo e dançando feito louco com uma barra de metal. Que amigos fui arrumar na minha
vida!
— Louis? Louis? Cara, para de beber! — gritei, chegando perto dele, mas parecia que
ele estava em seu próprio mundo.
— O quê? Eu mal comecei... — respondeu embolando as palavras.
— E aí? Já pegou muitas garotas? — tinha que falar pausadamente, queria filmar isso e
zoar com ele depois.
— Já... Mas Harold... eu só penso nelaaa! — gritou.
— Em quem? — Eu meio que já sabia quem.
— Na Lis, cara. Na Lis. Por que ela não me ama??? — Ele estava gritando. O festival de
vergonha ia começar.
— Calma, Louis. Você tá mal, cara. Vem, deixa eu te ajudar, me dá esse copo. — Tentei
pegar o copo, mas ele afastou a mão derrubando um pouco do líquido no chão.
— Não... Eu quero falar com ela... Vou me declarar. — Quase nem entendi o que ele
falou, tudo embolado.
— Seu louco. Olha o seu estado.
— Não importa... Cadê ela? — Ficou como se procurasse e infelizmente a achou do
outro lado da pista, conversando com umas meninas. — Ali, lá está ela! Eu vou lá! — disse,
convicto.
— Não vai Louis, você vai se arrepender. — Segurei seu braço. Ia ser um vexame.
— Não, eu vou!
E saiu, praticamente cambaleando para onde Elis se encontrava. Ia ser um mico mesmo.
Ele só teria coragem de se declarar estando bêbado, porque sóbrio, nunca.
~ Narradora ON~
Victor Black era um dos caras mais populares, desejados e lindos da escola inteira.
Todos queriam estar em sua festa, mas poucos conseguiram. Só estavam lá as pessoas mais
top, inclusive de outras escolas. Tinha até pessoas da capital. Todos estavam se divertindo
horrores, apesar dos conflitos que transtornavam a vida de muitos ali. Sentimentos mal
resolvidos, relações proibidas, desejos impossíveis. Cada um com seus problemas.
Há de se convir que os jovens de hoje em dia estão bebendo demais. Porém, nada
comparado ao porre fenomenal do Louis. Ele estava completamente desligado do mundo real,
estava sem noção e àquela altura da festa já tinha tomado uns três tapas na cara por ter sido
invasivo com algumas mulheres. Para ser mais clara, ele estava super sem noção. Ele estava no
jardim, perto da piscina.
Louis decidiu que iria falar com Elis, a garota pela qual era apaixonado, mas que nunca
teve coragem de dizer. A mesma garota que estava com ódio dele pela fofoca que fez para toda
escola de que a Elis gostava do Harry. Bem... As coisas não seriam fáceis. Elis percebeu que o
Louis começou a chegar perto completamente bêbado e começou a desviar a cabeça, querendo
se esconder ou sumir dali.
— Lisss! Elis! Eu quero falar com você — ele disse, embaralhando as palavras.
— Não quero falar com você, Louis — ela disse e tentou ignorá-lo falando com as
garotas, que já estavam olhando fixamente para o louco na frente delas.
— Estão olhando o quê? Lisss, conversa comigooo! — ele gritava.
— Ai, meu Deus. Tá bom. Meninas, só um momentinho, já volto — disse revirando os
olhos.
— Elis...
—Você tá louco? Quer me fazer passar mais vergonha na minha vida? Vem cá — disse,
puxando-o para um lugar não tão barulhento.
— Desculpa pelo que eu te fiz... eu não devia... — Os olhos azuis do garoto expressavam
a sinceridade de suas palavras.
— É Louis, não devia mesmo. — Lis estava muito brava.
— Mas é que eu fiquei triste com aquilo, sabe? — Falou se referindo ao assunto do
passado dos dois.
— Com o quê? — ela perguntou, impaciente.
— Você gostar do Harry... — quase sussurrou as palavras.
— Por quê? Você achou que eu ia deixar de ser sua amiga? Claro que não.
— Não é por isso.
— E é pelo que, então? — Ela o encarou.
— Eu ... — teve uma tontura, mas arrumou coragem para dizer. — Eu queria que você
gostasse de mim, e não dele. — Os olhos da menina se arregalaram.
— O quê? Mas... — Ela não conseguia nem dizer nada.
— Eu te amo, Elis. É isso, eu sempre te amei, eu queria você perto de mim. — Ele a
agarrou pela cintura e foi em um gesto para beijá-la.
— O quê? Me solta, Louis... Você tá bêbado. Por que me diz isso agora? Não acredito
nisso. — Lis estava transtornada com a revelação, sua mente girava, ela nunca percebera nada.
— Me beija — ele disse, puxando-a mais forte.
— Não! — Ela o empurrou e saiu correndo com lágrimas nos olhos. — Foi como se
naquele gesto a última conexão de amizade que os ligava fosse rompida.
Louis se desequilibrou e caiu no chão com o coração pesado. Começou a se sentir mal.
Não acreditara no que tinha feito, mas sua cabeça começava a doer de uma forma insuportável.
Cambaleou até o sofá dentro da casa e lá ficou.
Em um outro núcleo dessa história, James estava em busca de sua melhor amiga, Maria.
Ele estava preocupado, acreditava que tinha o dever de protegê-la. Afinal, cresceram juntos e
seus pais eram muito amigos também. Ele a amava muito, mas não daquele jeito... Pelo menos
não ainda, porém as coisas começariam a ficar estranhas entre os dois.
O garoto percorreu todo o jardim da chácara e nada de Maria, até que a viu de
conversinha com um cara bem distante de onde todos se encontravam. Ela estava rindo e o
sujeito estava praticamente em cima dela, fazendo carinho em seus cabelos. James sentiu
ciúme na hora. E foi até lá.
— Maria, te procurei a festa inteira, garota.
— Oi, Jay. É, eu tava conversando com meu amigo. James, esse é o Taylor. —
Apresentou-o a um garoto que ele nunca tinha visto na vida, parecia mais velho. —Taylor, esse
é James, o meu melhor amigo.
O jeito com que Maria disse “melhor amigo” deixou James chateado. Bem, ele sabia que
era realmente o que eles eram, mas de vez em quando ele alimentava certos planos em sua
mente, e ser colocado na friendzone não era algo que ajudasse tais metas a serem
concretizadas. Mas cumprimentou o rapaz, educado como sempre.
— Maria, será que eu posso falar com você? — pediu gentilmente.
— Claro. Eu volto já. — Deu uma piscadela que o deixou irritado.
Os dois ficaram uns cinco metros distantes do rapaz.
— O que você tá fazendo com esse cara se esfregando em você? — disse, levemente
exaltado
— Você não viu que a gente está ficando? — Ela ergueu a sobrancelha.
— Não, você não pode ficar com ele — disse, em tom autoritário.
— E por que não?
— Eu não quero e pronto.
— Você não tem o direito de dizer com quem eu fico ou não. Nós somos amigos, você
não é meu namorado. — A garota deu ênfase à palavra “namorado”.
— Namorado? Quem falou nisso? — ele pareceu desconfortável.
— Você bebeu, Jay? — A garota o olhou nos olhos, não estava entendendo a postura do
amigo.
— Volta para a festa comigo. Vai, Maria — ele disse em tom de súplica.
— Jamie, você é um chato.
— É que eu tô passando mal — mentiu, pois sabia que Maria era super preocupada com
a saúde frágil dele
— Sério? O que você está sentindo, baby? — ela segurou-lhe o rosto.
— Uma dor aqui. — Ele apontou para o estômago
— Ah, não. Espera aí que eu já volto. Vou me despedir do Taylor.
James se sentiu vitorioso com isso. Ela voltou sozinha e eles foram para a cozinha.
Maria pegou um copo de água para ele.
— Maria, você está tão linda hoje — disse, abraçando-a por trás, coisa que eles já
estavam a acostumados a fazer sem nenhuma malícia.
Mas dessa vez foi diferente, algo no tom de voz dele, bem perto de seu pescoço
sussurrando ao pé de seu ouvido, fez Maria arrepiar-se.
— Ah... é... Obrigada Jay, aqui a sua água — disse, tentando disfarçar o arrepio.
— Obrigado, você sempre cuida de mim, é por isso que eu te amo. — Abraçou-a e lhe
deu selinho rápido.
A garota levou um susto com aquilo. James pareceu ter ficado envergonhado da ação e
logo inventou algum assunto para disfarçar aquele singelo momento que fez com que a
amizade deles começasse a mudar...
~ Festa na piscina~
Muita gente pulava na piscina. Harry observava tudo quando viu Victoria sozinha em um
canto, perto da borda da piscina, levemente tonta e com um copo na mão. Phillip tinha ido
buscar mais bebidas, apesar de perceber claramente que a garota já estava bem mal. Miller
olhava para ela enquanto dançava, pensava consigo mesmo no quanto ela era linda.
Foi quando um garçom passou tão próximo da garota que ela se desequilibrou e caiu
com tudo na água. Harry riu da cena, que praticamente passou despercebida por todos, já que o
som estava muito alto e as pessoas riam e conversavam entre si.
Ele ficou achando graça, mas começou a ficar preocupado quando a garota não subiu
para a superfície depois de alguns segundos.
Em um movimento espontâneo, pulou na piscina, instintivamente. Foi até ela e pegou-a
pela cintura. Levou-a até a parte externa e viu que ela respirava pesadamente. Ela o abraçou
forte, como se sua vida estivesse com Harry.
— Calma, respira. — Ele também estava nervoso com a situação.
— Eu tive câimbra. Sei lá... — Ela parecia alterada, provavelmente pelo efeito do álcool.
— Não consegui subir. Foi horrível, Harry.
Ficou um tempo para tentar recuperar o fôlego.
— Obrigada Harry, você me salvou. Por que fez isso?
— Que pergunta idiota. Você queria que eu te deixasse morrer? — Ele tirou o cabelo do
rosto dela.
— É que você tá sempre me xingando, me maltratando... Por que faz isso?
— Como se você fosse uma santa.
— Eu não quero brigar com você... Meu coração dói... Eu gosto de você, aquele beijo
que... — Ela embaralhava as palavras.
— Shhhh... Você está mal. — Ele a olhou, os olhos verdes brilhando bem ali perto dela.
— Não, eu estou bem. Eu quero você, Harry. Me faz sentir daquele jeito de novo, faz?
— E se aproximou mais ainda.
Vick entrelaçou sua mão nos cachinhos de Harry e começou a dar leves beijinhos e
mordidinhas sob o pescoço dele, fazendo-o pirar.
— Victoria... não faz isso comigo — ele falou, já sentindo o efeito dos toques em seu
corpo.
— O que, Harry? Fazer o quê? — Ainda dando aqueles chupões e fazendo Harry gemer
baixinho.
— As pessoas podem ver a gente... Vão fazer fofoca. — Nem ele mais ligava tanto para
aquilo.
— Não me importo. Só me beija, Harry. — Ela se jogou naquele mar.
A garota encostou os lábios nos de Harry e eles se olharam fixamente. Ambos queriam
aquilo. Ela fechou os olhos, mas Miller recuou um pouco quando a voz de Phillip deu um susto
em Vick.
— Mas o que é isso? Victoria, você pulou na piscina? — ele gritou.
— É, Phi! Tava quente, resolvi nadar. — Ela estava desconcertada.
— E o Miller, o que faz aí? — perguntou, implicando com o inimigo.
— A piscina é sua, por acaso? Não posso mais entrar?
Harry nem esperou para ouvir a resposta de Phillip. Só se levantou e foi saindo da
piscina. Todos continuaram se divertindo muito. Victoria Jones estava animadíssima e Phillip
também.
A festa durou por muito tempo. Mas, ao amanhecer... Tudo estaria mudado. Revelações
foram feitas, novidades apareceram, nenhum deles permaneceria igual. Algo se transformara
com cada personagem. Apesar do lema ''O que acontece nas Pool Parties fica nas Pool
Parties''. Bem... digamos que essa festa teria muitos reflexos na vida cada um.
Dor de cabeça... Dor no corpo... Onde eu estou? Que quarto é esse? Horrível acordar desse
jeito. Mas fiquei mais tranquila ao ver que Maya estava ao meu lado na grande cama de casal.
Eu estava com uma roupa que não era minha. Deve ter sido ela que me trocou. Decidi ficar
mais um pouco na cama. Logo Maya começou a despertar ao meu lado. Flashes da noite
passada vinham na minha cabeça, era tão confuso, algumas partes nem pareciam ser reais.
Tenho que me lembrar de nunca mais beber desse jeito.
— Oi... bom dia? — falei em tom de pergunta, o que a fez rir.
— É, acho que é um bom dia sim.
Eu ainda não tenho certeza disso.
— May, eu não me lembro de quase nada. Como vim parar aqui? — Minha cabeça
latejava, precisava de um analgésico urgente.
— Ah, o Phillip te entregou para a Elis e para a Bia, que te trocaram e te colocaram na
cama.
Pelo menos, não perdi minha dignidade por completo.
— E cadê elas? — Procurei no quarto e não tinha mais ninguém.
— Foram embora. Não ia dar para todas dormirem aqui. — Maya começou a arrumar
seu cabelo curto e desgrenhado.
— Nossa, eu nem me lembro de muita coisa. Só de eu ter... ficado com o Phillip. Aí eu
fiquei com raiva do Harry por algum motivo e depois... sei lá... — Realmente, era como um
branco na minha mente, um abismo entre cenas.
— O Harry já acordou, ele está lá fora com meu irmão e o Louis. Os outros meninos
foram embora ontem... Ah, por falar nisso, eu fiquei com ele. — Minha mente girou e eu senti
uma pontada no coração.
— O quê? Você ficou com o Harry? — Levantei da cama surpresa e chocada. Não
estava acreditando.
— Oi? Nããão sua louca... com o Nev. — Ufa, suspirei de alívio. E ela me olhou
desconfiada. Que grande papel de trouxa acabei de fazer.
— Ah, ainda bem — respondi, totalmente sem graça. O que diabos estava acontecendo
comigo? Devia ser a ressaca.
— Nossa, que ciúme do irmãozinho.
Vou ser zoada agora.
— O quê? Eu? Ciúme? Imagina, é que seria estranho. Mas hein... Me conta aí da história
com o Nev. — Mudei de assunto.
— Ah, enfim eu tive coragem para fazer o que eu tinha vontade, foi assim...
~ FlashBack da Maya ON ~
— Nossa, que bafão. Mas pelo menos você e o Nev deram um pontapé nessa história. —
Até que enfim alguma de nós estava se dando bem nos assuntos do coração.
— É verdade amiga, fiquei muito feliz. Ontem eu me belisquei várias vezes para
acreditar que aquilo tudo aconteceu mesmo. — Eu ri.
— Tenta conversar com o chato do seu irmão. Depois, talvez ele te escute. — Mas na
minha opinião ele deveria cuidar da própria vida.
— Vou falar mesmo. Que tal tomarmos um banho e descermos para tomar o café da
manhã? — Comida *—*
— Claro, eu tô com uma fome animal — rosnei, realmente minha barriga já estava
implorando.
— Eu vou primeiro, então. Você pode pegar alguma roupa aí nessa mala perto da
cômoda.
— OK.
Nós duas nos vestimos e fomos para a cozinha. Que bagunça por toda parte! Olhei para o
lado de fora e algumas pessoas estavam mortas na beira da piscina... Haha! Mentira... Mas
pareciam meio desmaiadas sei lá, zumbis... Sim zumbis descreveriam aquelas pessoas, enfim
whatever. Eu já estava começando a me sentir melhor.
— Bom dia belas adormecidas... — O Victor, irmão da Maya, nos cumprimentou.
— Para você estar chamando alguém de dorminhoco é porque realmente a pessoa não
dormiu, entrou em coma — Maya respondeu e ele riu.
— Ai que fome que eu tô. — De repente surgiu o Harry na cozinha, sem camisa, apenas
de calça jeans, com aquele estilo deus Grego. As mina pira.
— As pessoas realmente costumam ficar com fome quando estão de ressaca — ele me
alfinetou. Olha quem fala em ressaca.
— Bom dia para você também, Miller — comecei a comer uns pãezinhos muito
gostosos.
— Bom dia... — Ele se sentou e estava estranho. Eu olhei para ele e foi esquisito.
Fiquei com medo e comecei a comer. Depois, fui forçando minha memória e apareciam
de novo uns flashes na minha cabeça. Era o Phillip, depois eu estava na piscina com o Harry...
Tão perto, aqueles olhos verdes tão perto de mim. Minha cabeça doeu ao lembrar. Não
acredito, fucking vodca, nunca mais vou beber na minha vida. Será que eu disse alguma
besteira? Ai, não acredito.
— É... acho melhor irmos embora, Harry, meu pai deve estar preocupado. — Bebi o
resto do meu suco de pêssego.
— Eu avisei a ele que dormimos aqui, mas é melhor ir logo mesmo. — Ele vestiu a
camisa.
Eu me despedi da Maya e do Victor e fomos para casa. Louis, assim como eu, quer dizer
muito pior que eu, parecia estar com uma ressaca terrível. Entramos no carro e fomos a viagem
completamente em silêncio. Eu fiquei no banco de trás e encostei minha cabeça na janela
tentando me lembrar de alguma coisa. Rapidamente chegamos em casa.
O Louis foi para a casa dele.
Entrei em casa. Chamei meu pai, mas lá não tinha ninguém.
— Ué, cadê meu pai e a Anne? — perguntei para o Harry.
— Hoje é domingo, eles têm um almoço do clube de golfe para ir.
Clube de golfe? Dá licença.
— E agora? O que vamos almoçar? — Já estava com fome novamente.
— Você não sabe cozinhar? — perguntou, surpreso. Como se eu fosse obrigada a saber
cozinhar, né? Pelo amor.
— Sei fazer Miojo... Água quente, gelo, pipoca... Quer dizer, ``as vezes eu queimo a
pipoca, então acho que não conta. — Ele riu, mas era a verdade.
— Você, uma garota, não sabe cozinhar... que estranho.
Ah não acredito, machismo logo para cima de mim?
— Como se fosse uma regra, né? — Franzi o cenho. — E você tá falando o quê? Sabe
fazer alguma coisa?
— Ah, querida, você está falando com um mestre cuca, OK? — Convencido nível hard.
— Hummm, tá bom — Falei sem expectativa. Claro que ele estava mentindo, mas eu é
que não queria cozinhar e nem sabia. — Qualquer coisa que mate minha fome, serve. Vou lá
em cima trocar de roupa.
— Tudo bem, vou começar aqui.
Uau, até que o clima entre a gente não estava tão ruim assim. Ele estava me tratando
bem. Tenho que admitir que sou meio impossível às vezes, mas é que estou em modo
defensivo 24 horas por dia. Cresci assim, achando que outra imensa tragédia fosse me atingir a
qualquer momento.
Troquei de roupa, coloquei um short jeans velho e uma camisa. E coloquei a roupa da
Maya para lavar. Vi que tinha um bilhete do meu pai avisando que tinha ido almoçar com a
Anne. Ele é sempre tão atencioso!
Desci e o Harry já estava começando a preparar as coisas. E eu fiquei admirada com ele
de avental já começando a mexer os ingredientes da receite. Nunca pensei que ele pudesse
cozinhar. Isso é bem surreal. Sempre me surpreendendo.
— Nossaaaa, de avental e tudo! Haha! — Comecei a rir, mas admito que estava
charmoso.
— Você vai ficar rindo ou vai me ajudar? — Ele olhou para mim de um jeito falso sério.
— Hum, tudo bem. — Sorri, até que parecia ser divertido.
Começamos a mexer os ingredientes. E eu ficava ali fazendo mil perguntas porque
realmente não sabia de nada sobre culinária. O Harry estava se achando a Ana Maria Braga ali
comigo.
Foi quando eu joguei um pouquinho de farinha na roupa dele.
— Não. Você não fez isso — disse indignado e jogou de volta.
— Ah, não. Você jogou no meu rosto. — Não era justo.
— Você mereceu.
— Ah, é. Então, toma isso. — Joguei um ovo na camisa dele.
— Você quer briga, né? Então, toma. — Só a gente mesmo.
Então, começamos a maior briga de comida da história. Eu já estava completamente suja
e ele continuava jogando e eu tentando jogar também. Fui correr pela cozinha, só que o chão
estava gosmento ou molhado, sei lá. O Harry vinha atrás de mim e eu comecei a escorregar.
Quase que lentamente, segurei nele. Acabamos os dois caindo no chão.
Eu por cima dele.
Nossos rostos ficaram muito perto um do outro. E de repente paramos de rir quando nos
olhamos profundamente. Eu comecei a limpar restos de farinha que tinha pelo rosto dele. E ele
olhava para os meus olhos, minha boca. Passei meus dedos pela sua boca delicadamente.
Nossas respirações estavam unidas e meu coração batia muito forte, senti o coração dele bater
também, já que estávamos tão perto um do outro.
Eu não esperava o que ia acontecer nos próximos segundos. Ele segurou minha nuca e
me beijou, só que não foi um beijo agressivo ou desesperado como o nosso primeiro. Ele fazia
carinho no meu rosto e me beijava delicadamente, sentindo cada canto da minha boca bem
devagar. O beijo se acelerou um pouco, mas só porque entramos em perfeita sintonia. Logo ele
se levantou um pouco do chão, sem que eu saísse do seu colo. Sentou-se e eu passei uma perna
de cada lado de suas coxas.
Aquele beijo estava perfeito. Era pura emoção, lento até demais, como se fosse sofrido
ou algo do tipo. Algo como um beijo de saudade... Não sei, não saberia expressar com palavras
corretas o que aquilo significava. Estávamos no chão de uma cozinha completamente suja,
com roupas completamente sujas, entregando nossos sentimentos um ao outro daquela forma.
Tudo que eu sentia se esvaía para ele muito facilmente.
Harry e eu não parávamos de nos beijar. Quando perdíamos o fôlego, somente nos
olhávamos um pouco e depois instintivamente logo estávamos unidos outra vez. Eu mantinha
meus olhos fechados na maior parte do tempo como se fosse um sonho e, quando os abrisse,
acordaria para nunca mais voltar.
Ficamos ali por muito tempo, até que um cheiro de queimado começou a pairar sobre a
cozinha. Paramos rápido.
— Nãooo! O molho! — Eu me levantei depressa.
— Caramba! — Ele desligou rápido o fogo.
— Por pouco essa cozinha não pega fogo. — Ele me olhou maliciosamente, como se
dissesse ''Acho que pegou fogo sim''. O que diabos estávamos fazendo?
— Nosso almoço está arruinado — disse, colocando a panela na pia, embaixo da
torneira.
— Então... Vai ser Miojo ou pipoca queimada? — Ele riu.
— Acho que é melhor o Miojo mesmo — disse, com um meio sorriso decepcionado.
O Miojo ficou pronto e sentamos na bancada da cozinha para comer. Eu olhei em volta e
vi a enorme bagunça daquele lugar, ia dar um trabalhão para limpar. Depois observei o garoto
comendo e pensei nos nossos beijos poucos minutos antes. Nem sabia o que dizer ou o que
pensar a respeito disso.
Comemos e eu fui lavar a louça, enquanto Harry limpava o chão da cozinha. Logo estava
quase limpa e nós estávamos praticamente em silêncio, apenas jogando palavras soltas em uma
postura de constrangimento ou estranheza pelo que havia acontecido naquele chão da cozinha.
— Harry... Eu já terminei aqui. Vou tomar um banho. — Quem eu queria enganar?
Estava sem graça, e sem graça porque queria passar horas e horas naquele chão com o meu
irmãozinho postiço.
— Tudo bem. — Ele somente respondeu e continuou limpando o lugar.
Não tem mais volta. Nós nos beijamos e foi um beijo daqueles. E vai ficar esse clima
esquisito aqui em casa. Até quando? Eu sinto raiva do Harry às vezes, aí acontece isso e meu
coração parece que vai saltar pela boca. Por que eu sou tão confusa? Tão difícil? Tão
indecifrável? Até mesmo eu me perco nas minhas atitudes.
Tomei um banho e coloquei uma roupa qualquer. Fiquei com medo de descer e encontra-
lo, não sabia o que dizer. Tomei coragem e fui.
Harry não estava lá. Subi novamente e ele não estava em parte alguma. Fui até o quarto e
gritei seu nome. Eu sabia que seria em vão, já que ele não estava ali. Foi quando uma voz
rouca me respondeu.
''Eu estou aqui.''
A voz vinha da janela. Olhei e ele estava no terraço. Como assim? Que perigo.
Ele estava sentado olhando para o nada.
— O que você tá fazendo aí? Não tem medo de morrer? — Disse, olhando pela janela.
— Esse é o meu cantinho. Eu sempre fico aqui quando quero pensar ou ficar sozinho. —
Ai meu Deus, ele estava pensando...
— Ah. é... Então, eu vou ali e... — Ele me interrompeu.
— Vem aqui, eu preciso falar com você. — Seu tom de voz era sério, mas não do tipo
severo e sim como se estivesse preocupado. E sim, eu também estava.
Aquilo me fez tremer. Será que eu estou pronta para essa conversa?
Capítulo 12: The sound of your voice
~ HARRY ON~
O que eu estou sentindo aqui dentro? Não sei se é a adrenalina do proibido ou o cheiro que ela
tem ou o seu jeito ousado. Não sei o que é... Mas sinto algo forte, algo desconhecido por mim
referente a Victoria Jones.
Tudo sempre foi tão fácil para mim, queria ficar com uma garota, ia até ela e pronto,
conseguia. Mas agora é diferente. Não posso simplesmente começar a namorar uma garota que
vive na mesma casa que eu. Quando o pai dela depositou em mim a confiança de um irmão
mais velho sobre ela. Que tipo de pessoa eu era? Traindo a confiança de uma das poucas
pessoas que acreditou em mim.
E agora? Seria esse um labirinto sem saída? Será que vou conseguir simplesmente
apagar aqueles beijos da minha mente e seguir em frente? Foi por causa dessas mil perguntas
sem resposta que decidi ir para o meu telhado pensar um pouco. Lá que eu vou quando quero
espairecer sobre alguns assuntos. Mas desde a separação dos meus pais, não tenho um
problema tão grande assim.
Eu a ouvi chamar o meu nome... Resisti um pouco mas decidi chamá-la. Talvez, sei lá...
Se eu encarasse as coisas de frente e com responsabilidade ao menos uma vez na vida. Segurei
em sua mão e a puxei para o telhado.
— Nossa, a vista daqui é linda — disse, admirada. Realmente, havia uma bela vista para
a cidadezinha e um pouco das montanhas.
— Realmente, é um lugar privilegiado. — Ficamos um tempo observando a paisagem
— Vick, eu... É... sei lá. — Ele estava sem saber como começar aquele papo.
— Harry, eu não sei o que dizer. Nem ao menos sei explicar. — Realmente, a gente se
odeia. O que foi aquilo na cozinha? E na piscina da festa? E no quarto dele?
— Nem eu. Mas eu não sei se devemos. — Eu sabia sim e não, não devíamos continuar
com aquilo.
— Eu sei que não. — Ela abaixou a cabeça.
— Mas eu quero...— E ela me olhou surpresa — E isso é tão difícil... — ela afirmou
com a cabeça.
— Acho que a gente pode ficar aqui tentando encontrar respostas, mas não vamos achar.
A gente teve vontade e fez. Pronto, acabou. — disse, enfática. Acabou? Estava enganado
quando achei que estávamos pensando da mesma forma.
— Você pensa assim? — perguntei e tentei olhá-la da forma mais sincera.
— Não sei, Harry, eu não sei de mais nada. — Ela respirou fundo e desviou o olhar do
meu.
Ficamos um longo tempo em silêncio. Eu realmente não sabia o que dizer. Sentia um
pouco de raiva por estar em uma situação daquelas. Por não saber o que fazer ou o que dizer.
Eu sei que nos beijamos, eu senti uma coisa forte. Mas também não quero compromisso. E
quando eu não quero mais ficar com uma garota, eu simplesmente a ignoro e sigo em frente.
Só que... Como irei ignorar alguém que mora na mesma casa que eu? Como não saber
que amanhã já vou querer que ela suma? Não posso insistir em algo que não tenho certeza se
vai dar certo. Aliás, contando as inúmeras vezes que brigamos todos os dias, acho bem difícil
algo entre nós dois funcionar algum dia.
— Mas sabe Harry, acho legal a gente não estar brigando. Eu sei que fui chata, mas é
que tive medo, vim morar em uma casa que não é a minha, tive que me mudar. Isso me deixou
com ódio. — Pela primeira vez senti que ela estava se abrindo de verdade para mim. Pensando
bem, deveria ter sido assim desde o começo, talvez sem esse ar de mistério e provocação
poderíamos ser somente amigos. Agora, isso já estava arruinado.
— Te entendo, acho que também ficaria mal — respondi. Nunca me mudei daquela casa,
não sabia como seria, mas com certeza não seria legal.
— Eu nunca pensei que teria um irmão na minha vida. Isso é louco. — Ela riu e eu ergui
uma sobrancelha. Ela não sabe mesmo como é uma relação de irmãos para dizer isso para
mim. Se bem que adoro chamar ela de irmãzinha.
— Você sabe que irmãos normais não se beijam, não é? — Ela riu por alguns segundos.
E que risada linda ela tinha, um pouco escandalosa, mas encantadora.
— É, né? Acho que sabia disso. — Ela me empurrou de leve.
— Eu gosto da sua risada — assumi. — Você, na maior parte do tempo, parece estar
com raiva.
— Tá vendo? Eu sou assim, complicada. Não daria certo mesmo. — Do nada ela vem
com essas. Pensei que para ela era '' pronto, acabou''.
— O que não daria certo? — Eu me fiz de desentendido, ela pareceu ficar meio
desconfortável.
— Ah sei lá... A gente? — O quê? Será que ela acha que vamos namorar ou algo assim?
Não podemos.
— A gente? Eu acho que você tá viajando um pouco. — Nem eu sabia mais o que estava
dizendo, pensando e sentindo.
— Tudo bem Harry, desculpa. Esqueci que estava falando com o pegador da escola. —
disse, grossa. Revirei os olhos. Ela e seus estereótipos sobre mim.
— Podem até dizer que eu sou o pegador da escola, mas eu não troco essa vida por nada
— devolvi.
— Faz bem, Harry. Nenhuma garota merece ficar por mais de 15 minutos com você. —
Algo no tom de sua voz tinha mudado.
— Hi, já começou de novo. — Passei as mãos nos meus cabelos. E lá vamos nós outra
vez.
— Não. Está tudo bem, acho que eu consegui entender o que você quis dizer. — Ela deu
uma piscadela que, por algum motivo, me deu um arrepio de arrependimento e dúvida.
Mas realmente eu não quero nada sério agora. E fiquei com medo desse beijo representar
esperanças para ela ou algo assim. Realmente, não vazia ideia do que ela tinha em mente e
meus pensamentos eram pura confusão.
Ficamos em silêncio um pouco e depois ela começou a cantarolar alguma coisa.
— Você adora cantar, né? — observei.
— Como se eu soubesse fazer isso! Eu gosto de cantar, mas sou péssima.
— Mentira, eu te ouvi cantando e nem é tão horrível assim. — Não era uma Whitney da
vida, mas também não era desafinada.
— Até parece — disse, desacreditada.
— Você sabe tocar algum instrumento?
— Ah... Sim, eu tinha um...— ela parou repentinamente— É... um amigo que me
ensinou a tocar um pouco de bateria.
Interessante...
— Ah, tá. Eu posso te ensinar a tocar violão. — Falei no impulso, mas nem eu sabia se
queria ficar mais tempo do lado dela. Seria mais tentação.
— Nossa, que bondoso — disse, irônica.
— Eu tento ser.
De repente, ouvimos uma buzina anunciando a chegada da minha mãe e do George.
— Vamos sair logo daqui, porque se minha mãe me ver aqui vai brigar comigo. — Ela
sempre dizia que um dia eu ia acabar caindo.
Eu me levantei devagar e fui me arrastando até a janela. Depois, peguei na mão dela, nos
olhamos e a puxei para dentro. Ela se desequilibrou, mas eu a segurei em meus braços. Ela
estava tão perto de mim de novo, fui para beijá-la, mas ela virou o rosto.
— É... meu pai chegou. Deixa eu ir lá falar com ele.
Burro! Eu sou um burro. Por que fui querer beijá-la do nada?
— Tá bom — respondi, e nem sei como a minha voz saiu, aquilo foi embaraçoso.
O que eu era? Uma cadela no cio? Tenho que me controlar mais. O que temos não é
nenhum namorinho e nem um lance. Não podemos ter nada.
Ela saiu rapidamente do meu quarto.
~ Victoria ON~
É sério que o Harry tentou me beijar, mesmo depois que ele riu de mim quando eu falei
sobre se daria certo nós dois?
Ele até que está mais legal comigo, mas não é por isso que vou deixar ele me usar.
Entendi que ele realmente é só um cara para ficar. Não posso me envolver. Estou repetindo
essa frase na minha cabeça até agora. Não posso me envolver, muito menos me apaixonar por
ele.
Ai credo, só se fosse para sofrer mais ainda do que eu já sofri na minha vida. Socorro!
Ele nunca ia querer nada sério, e mesmo se quisesse ia acabar fazendo a namorada virar uma
chifruda. Oh, Lord... Não nasci para usar adereços na cabeça. E não sou mesmo o tipo de
garota ingênua que cai nas graças de qualquer um.
— Filha! — Meu pai sorriu ao me ver.
— Oi, Pai! Oi, Anne. — Cumprimentei os dois e me deitei no sofá.
— Oi, querida. Então... a festa foi boa?
A festa... Obrigada por me lembrar daquele monte de confusão que foi a festa do Victor.
— Foi sim. E como foi no clube de golfe? — Queria mudar de assunto. Não podia
oferecer nenhum detalhe decente sobre o evento para o meu pai e Anne.
— Ah, minha querida, aquelas mesmas pessoas chatas de sempre. O bom é que tem
comida boa. — Meu pai respondeu. Sabia que ele não era do tipo mauricinho que se ligava
nestas festas convencionais de velhos ricos e peruas metidas. Muito menos minha madrasta,
que concordou na hora.
— Você é das minhas, Anne. — Pisquei para ela — Pai, você não ficou chateado de eu
ter dormido fora de casa? — Queria verificar se tudo estava bem e ele não iria encrencar
comigo por causa da festa. Minha consciência realmente não estava nem um pouco limpa.
— Não querida, o Harry me ligou e explicou que era perigoso dirigir de madrugada.
Então, tudo bem... E você estava com ele. Eu me sinto seguro, ele é como se fosse um novo
irmão para você.
Obrigada pelas lindas palavras pai, agora me sinto uma aberração ambulante.
— Irmão? Não exagera, pai. — Dei uma risada nervosa. — Eu acho que vou dormir um
pouco, tá? — Precisava sair dali.
— Ainda cansada da festa?
Nem se eu dormir mil anos vou conseguir superar essa festa. Bebi mais que tudo.
— Pior que sim. Vou indo — falei, apressada.
Subi as escadas e fui para o quarto do Harry. Ele estava tomando banho. Então, fiquei
fuçando as coisas dele. Fiquei olhando os CDs e discos. Aí, eu vi um caderninho. Era aquele
caderninho que ele não queria me deixar ver. Deitei na cama e comecei a ler. Tinha alguns
trechos de músicas muito boas... Uau, ele era talentoso. Não acreditaria que tinha sido ele
mesmo que tinha escrito se não fosse a letra e os rabiscos que demonstravam pensamentos
sobre a letra. Eram tão sensíveis...
Fiquei viajando com aqueles versos lindos. Até que o Harry surgiu como um leão voraz.
— Eu não acreditooo nisso! — Ele estava de toalha, mas mesmo assim pulou em cima
de mim para me tirar o caderno das mãos. Ele estava com um olhar de fúria que me fez ficar
tensa.
— Calma aê! Deixa eu ver. — Fiquei fazendo graça com o caderno. Adorava essas
nossas brincadeiras de pega ou não pega, não era a primeira vez que fazíamos isso.
Ele esfregava aquele corpo molhado em mim. E eu ria muito e coloquei o caderno
embaixo de mim.
— Me dá isso agora, senão...! — gritou.
— Senão o quê? Vai me matar? O que vai fazer comigo, Miller? — Eu o provoquei.
— Vou fazer isso.
Ele segurou meu cabelo com força e me beijou. Aquele beijo era agressivo e selvagem,
como se ele quisesse arrancar algo de mim. Eu, idiota como sempre, logo estava
completamente envolvida por lábios. Estava completamente entregue, como uma presa fácil
outra vez. Parecia estar fora de mim.
Sem aviso prévio, ele parou o beijo, mas antes me deu uma mordida forte no lábio
inferior e saiu de cima de mim com o caderno nas mãos.
— Uau, belo jeito de ser um babaca — eu disse, limpando o beijo e segurando meu lábio
que parecia estar cortado.
— A única idiota que vejo aqui é você. — Ele abriu os braços.
— Garoto, não precisa disso tudo. Eu só tava dando uma olhada. — Estava fraca, me
sentei na cama.
— Mas isso é meu. Não é pra ninguém olhar — ele disse, sério.
— Até que são bons, nem parece que foi escrito por você. — Eu comecei a rir. Não era
um riso real, eu só não queria ficar por baixo.
— Sua ridícula, sua mãe não te ensinou que não se deve mexer nas coisas dos outros sem
que elas deixem?
O quê? Eu não estava acreditando.
Ele falou da minha mãe. Por que ele estava falando da minha mãe? Não acreditei.
Levantei rápido da cama. E com todas as forças que tinha, joguei ele na parede e segurei em
seu pescoço. Ele não tentou se soltar, só parecia assustado, e era bom estar mesmo.
— Você nunca mais fala da minha mãe, tá ouvindo? Nunca mais! — eu gritei, furiosa, e
ele ficou apenas com aquela cara escrota dele.
Eu saí daquele quarto. Nunca mais pretendo voltar. Ele pode me xingar de tudo, falar das
minhas roupas, dizer que sou grossa, que não presto para nada. Mas não fala da minha mãe.
Não mesmo. Entrei no meu quarto e meu peito doía. Que dor terrível... Que saudade da minha
mãezinha. Como simples palavras podiam ferir tanto assim?
~ MARIA ON~
Depois de 16 anos de solidão parece que finalmente estou namorando. Não acredito, o
Taylor praticamente disse que me amava. Não nessas palavras, mas quase isso. Nunca pensei
que isso aconteceria comigo, às vezes pensava que morreria sozinha. Quer dizer, me lembro de
que, quando éramos crianças, eu e o James combinamos que nenhum de nós iria se casar, nós
iríamos morar juntos e dividir um apartamento enorme e lindo, igual aos dos filmes.
Que louco. Até agora, eu nunca tinha arrumado alguém, mas o Jay não. Esse adora
namorar, e namorar sério. Ele e esses relacionamentos duradouros. E 11, de 10 namoradas que
ele teve, tiveram ciúmes de mim. Faziam ele escolher: ''Ou essa sua amiguinha ou eu''. Nem
preciso dizer que ele me escolheu todas as vezes. E sempre disse que a nossa amizade era
muito mais valiosa para ele.
Podemos até ter outros amigos, mas a nossa relação a mais forte. Completamos frases
um do outro. Em pensamento, estamos cantando muitas vezes as mesmas músicas.
Conversamos apenas por telepatia ou por troca de olhares mesmo.
Alguém bateu na minha porta.
— Ah, sabia que era você.
Abri a porta e Jay entrou.
— Claro, né? Quem mais iria vir te perturbar a essa hora da noite? — Ele sempre
aparecia sem avisar e eu adorava isso.
— Só você mesmo. — Sorri.
— Tem o que de bom para comer aí? — Já foi indo para a cozinha.
— Você já sabe o caminho. — Folgado like ever, mas ele já sabia que a minha casa era
dele e vice-versa.
— Hummm, tem pipoca e chocolate. Vamos ver um filme? — ele sugeriu, animado.
— Claro.
— Que ótimo. Então, você escolhe. — A nossa sintonia era perfeita.
Eu escolhi uma comédia romântica e nós fomos para o meu quarto. Como a minha cama
era de casal, ficamos lá enrolados no cobertor, porque estava super frio. Morremos de rir com
o filme. E quase perto de acabar o James começou a implicar jogando pipoca em mim.
— Não, para! Chato. — Empurrei ele de leve, meu quarto ia ficar todo sujo.
— O quê? Fui agredido? Agora me vingarei de você — disse, como se fosse um vilão de
algum desenho animado.
Então, ele pulou em cima de mim sem nem dar tempo de eu gritar nem nada. Colocou
uma perna por cada lado do meu corpo e começou a me fazer cócegas. Eu adorava aquilo, mas
era muito fraca. Ria sem parar... Fechei os olhos, rindo. Porém, uma coisa super estranha
aconteceu.
Senti aqueles lábios quentes encostando na minha boca devagar, o corpo dele pairou
sobre o meu. E ele começou um selinho elaborado.
— Jay, o que você tá ... — ele me interrompeu colocando o dedo em meus lábios.
— Shhh, não fala nada — sussurrou ao meu ouvido.
Voltou a me beijar, só que agora eu cedi facilmente às suas investidas e, quando vi, já
estava em um beijo muito bom, cada momento era mágico. Era calmo sem pressa, eu sentia
cada movimento feito.
— Desculpa... — disse, parando.
— Nossa... que loucura. O que foi isso? — Eu estava tão mas tão confusa... Aquilo foi
estranhamente bom.
— Não sei. Você tá chateada? — Ele me olhou, envergonhado.
— Eu não consigo ficar chateada com você. Isso é um fato. Mas isso foi no mínimo
imprevisível. — Olhei e sorri de canto. Eu estava assustada. Meu coração parecia que ia sair
pela boca, estava nervosa.
— A gente perdeu o final do filme. Vamos voltar? — ele mudou de assunto.
E eu resolvi não falar mais sobre aquele momento louco. Nós nos beijamos, eu e o
James... Oi? Terra chamando lógica. Isso foi inacreditavelmente incrível... Oh, Lord. Como foi
bom! Eu me senti mal por achar isso, mas ainda conseguia sentir seu gosto, e o cheiro dele
ainda estava em mim.
A Jones é bipolar, só pode. Ela que mexe nas minhas coisas e depois fica irada por causa de
uma coisa completamente sem sentido. O que eu falei de tão errado? OK, não gosto que falem
da minha mãe, mas eu nem disse nada demais. Tenho que ter muita paciência com essa garota,
senão ela vai acabar me enlouquecendo.
Desci para jantar. Ela não estava lá.
— Cadê a Vick, Harry? — perguntou-me o George.
— Ela... Acho que dormiu. George, eu posso te fazer uma pergunta? — falei, um pouco
receoso.
— Claro, Harry. Você sabe que sim. — Ele estava colocando a mesa.
— Não vá ser inconveniente. — Minha mãe me repreendeu, o cara permite e ela
continua implicando comigo. Mães...
— Tá, é que eu queria saber por que a sua filha é desse jeito, sabe... — Desse jeito assim
tão insuportável. Não disse isso porque acho que não cairia muito bem em um jantar.
— Ah, Harry, ela sofreu muito, né? — Disse ele, como se aquilo fosse bem óbvio e a
minha pergunta fosse totalmente idiota.
— Sofreu com o quê? — Franzi o cenho.
— Sua mãe não te contou? — Ele olhou para a minha mãe.
— Achei melhor não — ela falou pesadamente. Do que diabos eles estavam falando?
— Não me contou o quê? — eu quis saber.
— A mãe da Victoria morreu em um acidente de carro quando ela ainda era apenas uma
criança.
O quê? Minha boca formou um “o”. Nunca iria imaginar uma coisa dessas. Pensei que os
pais dela eram apenas separados, assim como os meus, e que ela preferiu ficar com o pai,
assim como eu preferi ficar com a minha mãe. Sempre raciocinei e tirei minhas conclusões
com base no meu ponto de vista. Nunca parei para pensar que talvez a história dela não fosse
assim.
Não... O que eu fiz... Agora entendo porque ela ficou com raiva quando eu disse aquilo.
Eu sou um idiota.
— Viver sem a presença da mãe não é nada fácil — George completou, e suas palavras
eram dolorosas.
Claro que não. Não mesmo. Nem sei o que seria de mim sem a minha mãe. Eu fiquei na
mesa boquiaberto e pensativo. Se eu pudesse voltar atrás... Mas eu realmente não sabia de
nada. Não queria magoá-la.
Perdi a fome. Só fiquei lá remexendo a comida no prato. Depois que terminamos de
comer eu decidi ir lá em cima ver se ela ainda estava acordada e se queria jantar.
Bati na porta e nada...
Decidi entrar, ela poderia até não querer falar comigo, mas eu tinha que dizer que
lamentava ter falado sobre a mãe dela.
Entrei bem devagar, porque talvez ela estivesse dormindo. Fui até a beirada de sua cama
e vi que ela estava enrolada com o cobertor. Chamei seu nome baixinho.
— Jones, se estiver acordada, só queria dizer que sinto muito. Sei que não somos os
melhores amigos do mundo, mas eu gosto de você, às vezes. Por favor, fala comigo. — Saiu
quase como uma súplica.
Encostei em sua cabeça... Mas o quê?
Retirei o edredom rapidamente e ela não estava lá e sim uma trilha de travesseiros.
Truque velho.
Eu chamei seu nome mais alto e ela não estava. Olhei para a janela e vi que estava
aberta. Ela fugiu de casa. Onde será que tinha ido de noite e sem contar a ninguém?
Minha vontade era sair para as ruas de Holmes Chapel procurando por ela, mas se eu
saísse também minha mãe poderia desconfiar. Ainda era cedo o melhor era esperar que ela
voltasse.
Deitei em sua cama, seu cheiro estava por toda a parte, me perdi em pensamentos loucos,
e fiquei esperando... E esperando...
Por que ela tinha que ser tão imprevisível? Eu nunca sabia o que esperar dela, ela sempre
me surpreendia.
Acabei cochilando e acordei assustado, pois tive um pesadelo estranho.
Olhei no relógio. Eram quase três horas da manhã e ela ainda não tinha chegado.
Meu Deus... O que será que tinha acontecido? Fiquei preocupado, ela ia passar a noite
fora de casa? Onde será que ela estava? Coloquei minha cabeça para fora da janela e era uma
noite muito fria. Se alguma coisa acontecesse com ela por causa de uma idiotice que eu falei,
eu nunca iria me perdoar. Será que ela fugiu mesmo por causa do que eu falei? Pensando no
que descobri no jantar, creio que provavelmente sim.
Decidi que iria procurá-la. Fui até o meu quarto pegar um casaco...
Entrei no quarto para pular a janela e tive um grande susto. Ela estava ali, recém tinha
acabado de pular a janela.
— Vick! Eu fiquei tão preocupado... — Fui até ela e a abracei forte. O quê?
— Me solta, Harry! — disse ríspida, me afastando.
— Olha, eu sei que eu fui um idiota com você e... — Comecei a falar.
— Ah, que grande novidade. Quando você não é um idiota, Harry? Você é só um garoto
mimado que usa as pessoas, só isso. — Ela retirou o sobretudo.
— Calma, você está muito nervosa. — Tentei fazer com que ela se acalmasse. — Me
fala onde você estava. — Eu estava preocupado, será que ela não entendia isso?
— A partir de hoje Harry, esquece que eu existo, tá me ouvindo? — ela gritou.
— Eu não sabia... Eu não sabia que a sua mãe tinha morrido — eu disse, nervoso.
— Então, você só tá aqui porque está com pena de mim? — Ela estava com ódio nos
olhos. Virou-me as costas.
— Você entende tudo errado. — Por que ela não podia ser menos louca de vez em
quando?
— Não Harry, eu entendo certo. Você encontrou uma oportunidade e conseguiu se
aproveitar de mim, mas isso...
— O quê? — Eu a interrompi rapidamente. — Como assim eu me aproveitei de você?
Você não quis me beijar também? Agora vai se fazer de vítima? — Ela era algum tipo de
retardada?
— Olha o que você tá dizendo agora! É exatamente o que diziam para mim sempre que
eu chorava na frente das pessoas. Que eu estava me fazendo de vítima. — O que isso tinha a
ver com o que estamos falando? Ela continuou: — Eu sou uma idiota mesmo, uma idiota por
pensar que um dia a gente ficaria bem. — Sua voz estava ficando mais trêmula a cada palavra
dita.
— Eu quero que a gente fique bem, mas você não consegue ouvir as pessoas,
simplesmente forma uma opinião e pronto. — Eu estava completamente chateado.
— Sei que eu sou um erro da humanidade, que eu praticamente não tenho qualidades.
Ah por favor, e isso não é se fazer de vítima? Quem era aquela garota insegura ali na
minha frente? Não parecia a mesma confiante que conheci.
— Não fala isso. — Nesse momento eu percebi que a capa dura que ela tinha era só um
disfarce da sua fraqueza, dizer isso de si mesma era algo agonizante. Como ela podia se
depreciar daquela forma e na minha frente? Nunca achei que isso aconteceria.
— Falo sim porque é a verdade. Mas você... Você só pensa em si mesmo. — Voltou a
me atacar, mas era melhor do que atacar somente a si mesma. — Parece que você faz questão
de não enxergar o que as pessoas sentem e só pisa mais. — Outra vez isso.
— Você nem me conhece direito pra estar dizendo isso. — Ela estava me irritando.
— Não Harry, eu conheço sim. Eu vejo você e o seu amiguinho Louis rindo das pessoas
na escola, debochando delas, humilhando. — Balancei a cabeça, passando a mão em meus
cabelos.
— Você tá confundindo as coisas, é só uma brincadeira. — Eu só fazia para me divertir,
não era nenhum monstro como ela estava sugerindo. Quem ela pensava que era para querer me
julgar daquela forma?
— Ah sim, brincadeira super legal essa, em que só um lado se diverte. Quer saber,
Harry? — Olhou bem para mim com uma raiva e ressentimento que nunca tinha visto mais
forte. — Não quero mais ouvir seus papos furados. Não fala mais comigo. Finge que eu não
existo. Eu te odeio e espero que saiba disso. Agora, sai do meu quarto. — Ela foi me
expulsando.
Em algum momento já ouvi que algumas palavras doem mais do que um soco, acho que
esse foi um exemplo real disso. Ela me odiava? Como ela podia dizer isso para mim? Eu tentei
ser legal, até disse que a ensinaria a tocar violão. Agora, disse para eu fingir que ela não
existia...
Tudo o que tivemos foi fingimento? Eu não estava entendendo nada. Pedi desculpas por
ter falado da mãe dela, não sabia mesmo. Ela não precisava me tratar assim.
Eu: São suas palavras finais? — Ela apontou para a porta. — Tudo bem, você que sabe.
Saí do quarto dela e fui direto para o meu. Deitei na cama em vão, pois não conseguia
dormir. Algo estava me machucando por dentro. Como se estivessem jogando sal nos meus
ferimentos... Estava me sentindo um completo idiota por sentir isso.
Por que, Harry? Ela é só uma garota chata e complicada. Só sabe me dar patadas,
nunca uma garota me tratou tão mal como ela me trata... Tentava me convencer de que
deveria parar com aquilo, não era algo que eu faria por ninguém como ela.
Por que dói tanto? Ela não merece meu sofrimento. Eu nunca vou sofrer por ela. Não
mesmo. Eu nunca vou sofrer por ninguém. As pessoas que costumam sofrer por mim,
imploram para estar perto de mim e não ao contrário.
Ela me odeia? Então, eu também a odeio.
~ Victoria ON~
Acordei com uma dor de cabeça terrível, que dessa vez não tem nada a ver com ressaca.
É só porque dormi pouco. Quer dizer, praticamente não dormi. Cheguei mega tarde ontem,
resolvi sair para relaxar. Coisa que eu fazia sempre em Chicago. Saí pelas ruas praticamente
desertas, sentei numa praça, fiquei olhando o pouco movimento, entendi o porquê de nos
mudarmos para Holmes Chapel e não ao contrário. Meu pai queria me castrar, queria que eu
parasse de fazer coisas erradas, não acha que vai funcionar.
Quanto ao fato de sair sozinha, essa cidade não oferece risco algum. O que é bom,
porque tive bastante tempo para pensar em certas coisas até altas horas da madrugada.
Pensei no quanto eu estava me enganando em relação ao Harry e em como eu não
percebei isso logo. Ele não queria nada com nada. E muito menos comigo. Meu pai nunca iria
permitir, ou seja, estava só mergulhando em uma coisa que não tinha cabimento algum. Nós
não podíamos ficar juntos. Não mesmo. Não nasci para ser usada. Eu, que tenho as rédeas da
minha vida, não ia deixar um amador feito o Miller me colocar para baixo e brincar comigo.
Estou em uma escola nova e até agora praticamente não aprontei nada? Quem sou eu?
Não estou me reconhecendo. Sou como um pássaro, pronto para bater as asas e voar. Estou
presa em uma gaiola há semanas. Isso não é justo. Eu entendi como voltar a voar livre... A
partir de agora, a Victoria de Chicago voltou. Eu estou pronta para incendiar Holmes Chapel.
Desci para tomar café. E o Harry já estava lá, sentado à mesa, comendo. Uma enorme
vontade de jogar aquele café quente em sua cara me atingiu, mas não fiz. Ele merecia algo
muito pior do que simples queimaduras no rosto.
— Bom dia, querida! — disse com aquele sorriso.
— Bom dia! — eu disse, animada. Falsamente ou não.
— Nossa, você está animada hoje, hein? Viu o passarinho azul? — Na verdade,
pensamentos macabros me deixam com uma certa energia felina.
— Tipo isso. — Sorri e olhei para o Harry que, ao me olhar, franziu o cenho como se
estivesse confuso.
— Ah, então, se alimente aí. Porque saco vazio não para em pé. — ''Saco vazio não para
em pé''... Por favor Anne, não seja uma caipira logo no café, pensei.
— Claro. — Pressionei os olhos.
Comi o café da manhã e depois eu e Harry saímos com abraços calorosos de Anne. Logo
uma buzina soou do lado de fora. Deve ser ele. Olhei correndo pela janela e sim, era ele.
— Anne, deixa eu ir que a minha carona chegou. — Despedi-me dela.
— Eu achei que você iria com o Harry. — No way! Eu olhei para o Harry de cima a
baixo.
— Não, não. Eu vou com outra pessoa. — Pisquei. Não queria mais ficar nem um pouco
mais na presença do filhinho da Anne e muito menos ir para a escola com ele.
Fui saindo sem dar mais explicações. Olhei para o lindo carro que devia ter sido super
caro e que me esperava do lado de fora. Não pensei que o Phillip fosse tão rico a ponto de ter
mais de um carro. Eu achava um pouco demais ficar indo para a escola em carros como aquele.
— Bom dia, baby! — Ele deu aquele sorriso. Até perdoei o fato dele ser metido, com um
sorriso daqueles ele podia.
Fui até ele e lhe dei um abraço.
— Bom dia. — Eu ia entrar no carro, mas ele se colocou à frente e eu levei um susto. —
O que foi?
— Deixa eu abrir a porta para você. — Sorriu, fofo. Estranho...
Nunca um garoto havia aberto a porta para mim. Aquilo me impressionou, era muito
bom ser bem tratada. Eu me sentei no banco e delicadamente ele bateu a porta. Passou pela
frente do carro e pude ver o quanto ele era lindo e carinhoso. Ele entrou e deu a partida. Eu não
era uma garota que se impressionava fácil pelo que garotos faziam, talvez por isso mal tive
relacionamentos. Porém, aquilo não era de todo mau. Ao contrário, eu adorei aquela doce
atenção que ele estava me dando. Talvez, estivesse mesmo precisando daquilo.
— Na noite da festa, eu fiquei preocupado com você. Nós estávamos nos divertindo, mas
não pensei que você fosse ficar mal daquele jeito.
Ah, até tinha esquecido do meu vexame na festa de aniversário do Victor.
— Ah... Eu exagerei mesmo. Desculpa... — Não pedi desculpas por ter bebido e sim
pela vergonha que talvez ele tenha passado. Espero que ele saiba disso.
— Ah, não tem problema, acontece. É só que eu queria ter aproveitado mais com você.
— Que carinhoso. Acho que estamos indo para outro nível. Algo me diz isso.
— Eu também — respondi.
— E aquele beijo foi... — Disso eu me lembro, totalmente. Eu agarrei o Phillip para
passar na cara do Miller que ele não mandava em mim, e até que foi uma boa ideia.
— Me desculpa, ai eu te beijei do nada. — Ele deve ter se assustado. Foi preciso.
— Você pode fazer isso sempre que quiser. — Ele deu uma risadinha e desceu a mão até
minhas coxas. — Eu lhe dei um tapinha na mão.
— Seu tarado! — De qualquer forma, acho que aconteceu do jeito errado, pensei.
Realmente, o nosso primeiro beijo se resumiu a mim tentando irritar meu irmão postiço.
— Para mim foi como devia ser. Para você não foi bom? — Ele me olhou, severo.
— Foi sim, mas é que foi na frente do Harry. Sei lá, foi estranho. — Por que eu falei no
nome daquele imprestável? Socorro, não teve nada a ver. Minha mente está uma bitch.
— Estranho?... Por que ele podia contar para o seu pai? — Na verdade Phillip, é porque
a gente tem um lance. Ele me pegou no meu quarto, na cozinha, na piscina, ontem brigamos e
hoje eu não queria nem olhar na cara dele, só queria derramar café quente nele. É complicado,
eu pensei, mas obviamente não disse.
— É, por isso. — Menti, tentando parecer desinteressada.
Chegamos na escola e Phillip me surpreendeu de novo, repetiu o mesmo gesto, saindo
rápido do carro só para abrir a porta para mim. Não sei se vou me acostumar com isso, me
sinto estranha.
Todos da escola olhavam aquela cena, no mínimo incomum para o século XXI. Ele
segurou em minha mão e sem soltá-la fechou a porta do carro. Entrelaçou nossas mãos e me
guiou para dentro da escola. Isso bastou para que cada pessoa que viu aquilo comentasse
alguma coisa com a pessoa do lado. Bando de desocupados.
Ao longo do estacionamento vi Harry tirando o capacete da moto e olhando aquela cena
com a mesma surpresa das outras pessoas, mas com um certo ar diferente no olhar. Phillip
sussurrou no meu ouvido, me roubando sua atenção novamente.
— Não se preocupa com o seu ''irmãozinho''. Se você quiser, eu vou lá na sua casa
conversar com seu pai. — Na mesma hora eu olhei para ele com cara de espanto. O quê?
— É... Acho que não vai ser necessário. — O que ele queria dizer com ir conversar com
meu pai? Conversar o quê? Só pensava em uma coisa, mas espera, estávamos falando do
Phillip, ele não iria... Meu estômago até embrulhou.
Entramos no prédio e fomos direto para a sala. Na parte dos fundos. Na extrema direita.
Na esquerda estavam Harry e seus amigos, que olhavam com estranheza para Phillip e eu. Será
que todos pensavam que estávamos namorando? Que loucura. Mas o que era aquilo? Até
então, eu não sei o que o Phi acha disso tudo.
As aulas passaram rapidamente.
— Você quer que eu te leve pra casa? — ele sussurrou bem próximo do meu pescoço.
Arrepiei-me.
— Ah, eu ia para a casa da Maya depois da aula. — Queria estudar e conversar um
pouco também.
— Tudo bem, então. Mas será que a noite a gente podia sair?
Sorri.
— Tudo bem.
— Promete que desta vez não me dá um bolo? — Sou uma estúpida, quem podia deixar
um garoto como ele plantado por horas? Eu. Isso mesmo.
— Ai, Phillip, você não esquece isso.
— Um bolo nunca se esquece — fez biquinho. Esse foi um bolo de uns três andares,
coberto de glacê.
— Tá bem, não vou te dar bolo não, nunca mais faço isso. — Falei. Se dependesse do
que estava sentindo, acho que realmente nunca mais o deixaria esperando. Estava me sentindo
feliz de um jeito bobo.
— Então, tá marcado. — Ele me lançou uma piscadela. Queria beijá-lo ali mesmo.
A festa de Victor Black foi sensacional e ao mesmo tempo fez com que todos se sentissem
estranhos no outro dia. Muita coisa aconteceu, coisas incomuns, como por exemplo Bia, a ex-
cunhada nerd do garoto cuidando dele na festa. Ele acabou exagerando na bebida, mas não
tanto ao ponto de não se lembrar da bondade da garota e também de quando tentou beijá-la à
força. Foi uma grande estupidez da parte dele, mal sabia que era ela quem nutria os mais
sinceros sentimentos para com ele.
Black chegou na sala sendo recebido como sempre por sorrisos, apertos de mão e olhares
indiscretos das meninas, que normalmente caíam de amores por ele. Dessa vez ele nem prestou
muito atenção nesse detalhe, tinha algo em mente, uma coisa que não conseguia tirar da
cabeça.
Olhou no canto, a primeira cadeira. Lá estava uma garota com mechas grossas de
cabelos pendendo sobre o rosto com seus óculos grandes, com a atenção toda voltada para um
livro sobre o qual Victor provavelmente nunca ouvira falar e nem nunca iria ler. Ele se
aproximou bem devagar, enquanto seus passos eram seguidos por alguns alunos da sala.
— Bom dia, Bia — disse sorrindo entredentes.
A garota sentiu algo como um choque elétrico percorrer todo seu corpo ao ouvir aquela
voz. Seu coração praticamente saltou do peito. Ao olhar para aqueles olhos brilhantes ela se
sentiu confusa. Isso era totalmente incomum.
— Bo... bom dia — gaguejou e sorriu surpresa, uma surpresa que só não ultrapassava a
que todos da sala sentiam.
A maioria pensava: ''Por que o Victor está falando com essa Zé Ninguém? ''ou ''A
semana de caridade começou mais cedo esse ano?'' ''O fim do mundo está próximo!'' Enfim,
aquela cena foi surreal. O garoto se dirigiu até seu lugar, que ficava mais para os fundos da
sala. Até mesmo a posição geográfica dos dois era diferente. Como podiam sequer um falar
com o outro?
Isso se devia à festa, que modificou um pouco a vida deles. Afinal, o garoto popular
sabia que a Bia, por mais tímida ou não atraente que fosse, o havia ajudado e isso não era algo
que se esperasse de alguém que era ignorado o ano inteiro no colégio.
A aula seguiu normal, Victoria Jones e Phillip trocavam mensagens de texto e eram só
risinhos. Harry estava com mal-estar a aula inteira, ele sentia uma dor terrível na barriga. Na
última aula do dia a professora viu que ele estava estranho.
— Miller, você está se sentindo bem? — perguntou a professora, atenciosa.
— Ah, na verdade eu... Acho que não — disse, transmitindo a dor que sentia.
Seu estômago parecia estar sendo socado como em uma luta de UFC.
— Vai tomar um ar lá fora, passa na enfermaria — ela pediu.
— Tá bom. — Ele saiu apressado.
De um outro canto da sala, aquela cena havia despertado um sentimento de preocupação
em uma menina que até então estava desatenta. Victoria se preocupou com Harry, queria correr
até onde ele estava e perguntar o que estava sentindo, mas se lembrou dos momentos ruins que
tiveram. Aquele coração cheio de mágoas não permitiu que ela nem ao menos fosse atrás de
Harry depois da aula. Havia um bloqueio, seu orgulho não permitia que tentasse se entender
com ele.
Todos estavam pegando suas coisas e saindo da sala. Bia, como sempre, era uma das
últimas a sair, na verdade porque não tinha pressa nenhuma para ir a outro lugar e ia para casa
sozinha. Portanto, não tinha amigas para acompanhar. Estava colocando seus livros na bolsa
quando um Deus grego parou à sua frente. Era ele. O garoto dos seus sonhos. Seu coração
acelerou.
— Bia, eu queria te agradecer pela sua ajuda no sábado — Victor disse, em um tom
baixo e agradecido.
— Ah, que isso, não foi nada — disse em quase um sussurro. Estava nervosa com a
aproximação.
— Não, foi sim. Poucas garotas fariam aquilo, principalmente depois de eu ter sido um
babaca com você. — Ele lembrou.
Sabia que podia estar sempre cercado de garotas, mas no que elas mais prestavam
atenção era em sua beleza física, algumas nem se davam ao trabalho de conhecê-lo de verdade,
nem perguntar o que sentia nem o que pensava.
— Eu já esqueci isso, Victor — ela respondeu com um frio crescente na barriga.
— Tudo bem. Mas eu queria te recompensar por isso. — Ela não entendeu direito, mas
se sentia tão feliz por estar conversando com ele.
— Como assim me recompensar? — A garota estava sentindo que ia levitar a qualquer
momento. O garoto de quem ela gostava havia anos estava ali querendo recompensá-la. Ela só
não sabia o que isso significava.
— Sei lá, eu posso pedir para pararem de zoar com você. — Ao dizer isso, Black jogou
um balde água fria em tudo que Bia estava sentindo.
Claro, eu sou uma estúpida. Ele nunca ia querer nada comigo de verdade, somente sente
pena de mim por eu ser uma fracassada no colégio, pensou Bia com uma dor dentro de si.
— Ah não precisa se incomodar. Eu sei me virar — falou um pouco mais alto que o
normal, se levantou rispidamente e foi embora sem dar adeus.
—Tchau, a gente se vê amanhã — gritou do corredor, ele não entendeu por que a Bia
saiu tão depressa. — O que eu disse de errado? — pensou alto.
Black saiu da sala e acabou esbarrando com Rafaella, o seu ex-affair. E, por sinal a irmã
de Bia, para piorar, são gêmeas. Cuidado com o destino, ele pode brincar muito com as pessoas
de vez em quando.
— E aí, Vivi? Como foi a festa? Muita chata sem mim? — disse, em um tom debochado.
— Ao contrário, foi bom porque você não estava lá — disse com uma expressão de
poucos amigos. Somente a presença de sua ex já o deixava com um mau-humor terrível. Foi
saindo, mas foi impedido pela garota.
— Eu vi você falando com a minha irmã hoje na sala. O que foi aquilo? — Rafaella
cerrou os olhos.
— Não é da sua conta — respondeu, rude.
— Mas claro que é da minha conta, Vivi. — Sorriu diabolicamente. — Ela é a minha
irmã. Fica longe dela! — ameaçou.
— Não sabia que você era uma irmã assim tão protetora... — ironizou.
— Não sou, é só que você é o meu ex-namorado, não ia pegar bem você assim... Tão
perto da minha irmã... — Victor achou isso muito estranho. Não tinha esses pensamentos em
relação à Bia.
— O quê? Ai, que estúpida. Eu fico perto de quem eu quiser. Agora, me deixa ir. — Ele
só queria sair de perto daquela companhia desagradável.
Ele foi saindo e achou loucura da cabeça de Rafaella achar que ele teria alguma coisa
com a irmã dela. Eles eram de mundos diferentes, mas sim, poderia ser amigo dela. Mas algo a
mais? Não tem nada a ver, ele pensou. Realmente, pelo histórico de conquistas de Victor
Black, que obviamente não era uma lista pequena, não existia ninguém igual à Bia, nem no
visual e muito menos na forma de viver a vida. Definitivamente, ela não faz meu tipo, Victor
pensou.
Na saída encontrou Louis.
— Você viu o Harry? — perguntou o amigo.
— Ele já deve ter ido embora, ele estava passando mal. E você? Que cara é essa? —
Victor perguntou, pois a cara do Louis não era das melhores.
— A Elis não veio hoje — simplesmente respondeu.
— E? — perguntou, confuso.
— Eu estou com medo de encontrá-la amanhã, depois de tudo que eu disse. — Por mais
que tivesse bebido bastante, infelizmente não fora o bastante para que ele se esquecesse dos
vexames da festa de aniversário.
— Louis, para de arrumar problema por nada. Não entendo como te falta coragem para
dizer o que sente e te sobra para subir em cima da mesa do diretor e dançar a Macarena. —
Victor riu ao lembrar desse dia.
— É diferente. Esse Louis que dança Macarena é só fachada. É como um personagem
louco, uma parte muito ousada minha. Agora, esse Louis que não tem coragem de dizer o que
sente, bem, sou eu de verdade, a maior parte de mim — disse como se sentisse pena de si
mesmo.
— Nossa, que profundo. É, realmente não parece você — zombou.
— Vamos parar com essa conversa, então. Vou indo para casa — disse, irritado. Sua
cabeça estava a mil.
— Falou, até amanhã então. — Ambos foram para suas casas.
Victoria dispensara a carona de Phillip porque tinha planos de ir para a casa de Maya
estudar depois da aula. Porém seu pensamento se direcionava a cada momento para Harry.
Estava preocupada com o garoto. E sentia raiva de si mesma por nem ao menos conseguir
disfarçar isso.
— Você tá bem, Vick? Está em que mundo? — A garota acenou a mão em frente ao
rosto de sua amiga.
— Hã? — Ela se assustou com o gesto de Maya. — Eu... é... só estou pensando em umas
coisas aqui. — Sua cabeça estava mesmo na lua, ou em sua casa e em seu irmãozinho.
— Super estranha! — Maria pontuou.
— É, nem parece que está aqui — a dona da casa reclamou.
— Ai gente, acho melhor eu ir em casa — bufou. Só pensava em chegar logo em sua
casa.
— O Harry estava passando mal, né? É melhor você ver como ele está — disse Maria,
como sempre cuidadosa com as pessoas.
— Eu não tô nem aí para o Harry. Só quero ir pra casa — disse, grossa.
— Tá bom estressadinha. — Maya revirou os olhos. Sabia que a amiga estava
preocupada com Harry, só não queria admitir isso.
Harry havia ido para casa, pensou que melhoraria, mas estava a queimar de febre.
Tomou banho frio, remédio, mas nada funcionava. Ficou deitado em sua cama, com dor no
corpo, completamente enrolado em seu cobertor. Seu estômago ainda doía e agora a febre só o
deixava ainda mais cansado.
Jones chegou em casa e subiu as escadas lentamente. Sem bater, entrou no quarto de
Harry, viu que ele dormia. Foi devagar até a borda de sua cama. Ficou olhando para aquele
rostinho sereno e angelical, porém com traços masculinos marcantes, o queixo perfeitamente
delineado, mandíbula bem desenhada.
Não resistiu e levou uma das mãos até seus cabelos, que eram ondas bagunçadas. Logo
depois, descendo até seu rosto, suas covinhas. Ele possuía covinhas. Como alguém tão infernal
pode ter esses adereços tão fofos em seu rosto?, ela pensou.
Acariciou o rosto de Harry devagar e viu que o menino estava a acordar.
— Harry, você está queimando de febre — sussurrou, preocupada.
— Meu corpo está doendo — disse, em um tom agonizante
— Shhh, calma, você vai ficar bem, eu vou cuidar de você — disse e abraçou Miller,
sentindo aquele corpo quente encostar em sua pele.
— Victoria, você tá namorando o Phillip? — disse do nada, acho que os calafrios
estavam tendo efeito sobre ele.
— O quê? Por que está perguntando isso? — Ela o olhou, severa.
— Só me diz... — disse, fraco.
— Não, não estou.
Ele sorriu levemente.
— Harry, você comeu alguma coisa?
— Não, estou sem fome. — Apesar da resposta dele, ela sabia que ele precisava se
alimentar.
— Ah, não. Você vai ter que comer. Vou lá embaixo preparar alguma coisa para você.
— Pensei que você não soubesse cozinhar... — observou. Lembrou do desastre que sua
irmãzinha era na cozinha.
— Eu tenho meus truques. — Deu-lhe um beijo na testa e saiu do quarto.
Aquela atitude protetora e super imprevisível da garota deixou Harry completamente
confuso. Por que ela estava cuidando assim dele? Preocupando-se tanto? Ele não entendia, mas
sabia que estava adorando toda aquela atenção e cuidado. Nunca pensou que ela faria isso por
ele, algumas vezes ele só achava que ela mal tinha sentimentos, muito menos por ele.
A garota voltou depois com uma sopa. O cheiro invadiu o quarto. Apesar de simples,
parecia estar boa.
— Foi o máximo que consegui. — Ela riu baixo. Sabia que seria zoada.
— Nossaaa, sopa de saquinho? Isso é uma melhoria — disse, irônico.
— Ridículo, eu só queria ajudar — falou, brava.
— Hey, não fica chateada comigo, está com um cheiro ótimo, eu vou comer. Mas com
uma condição. — Olhou diretamente nos olhos dela.
— Que condição? — Cerrou os olhos.
— Se você me der na boquinha. — Deu um sorriso enorme, muito manhoso.
— Nem pensar. Garoto, você é muito abusado.
— Por favor... — fez biquinho.
A garota olhou para baixo e balançou a cabeça negativamente. Na verdade, não sabia
porque estava fazendo aquilo, mas sentia que devia fazer. Ela devia estar naquele lugar. Em
um gesto pediu para o garoto se posicionar na cama e Harry o fez com um sorriso no rosto.
E, então, aquela cena louca começou. Dois soldados de guerra, de lados opostos, rivais,
oponentes, imponentes... De mãos dadas de repente. Victoria dava comida na boca do garoto
de olhos verdes. E o coração de ambos se aquecia a cada colherada.
— Obrigada por isso. Acho que você deve estar drogada ou possuída. — Ambos riram
um pouco.
— Não — disse de repente, séria. — Eu só quero que você fique bem. — Suas palavras
eram realmente sinceras. Miller podia sentir isso.
— Pensei que me odiasse e queria que eu te esquecesse — disse com pesar. Ele ainda
estava confuso e magoado com sua relação com ela.
— Não quero que você morra. — Ela o olhou profundamente nos olhos.
— Por quê? — Ele segurou em sua mão.
Ela o olhou, percorreu seus olhos, suas maçãs do rosto, sua boca. Demorou alguns
incansáveis segundos até que ela respondesse.
— Porque eu te amo. — Era simples.
— Sério? — estava tudo tão confuso para ele.
— Sim, eu não consigo mais esconder isso. Não dá mais. A cada briga que temos, na
verdade eu queria estar te beijando, eu queria estar com você. — Sem perder tempo ele a
tomou em seus braços. Harry segurou a nuca de Vick e os dois começaram a se beijar
intensamente.
~ Harry ON~
Eu estava com ela em meus braços, oh sim, ela era minha. Não sentia mais febre, nem
mal-estar, na verdade. Era como se nunca tivesse ficado com tais sintomas. Eu estava curado,
ela era a minha cura. Victoria entrelaçou uma de suas mãos em meus cabelos, e vez ou outra
puxava meus cachos, fazendo aquele momento começar a ter um ar selvagem.
— Eu nunca pensei que você me amasse. Tudo aconteceu tão rápido — disse, ofegante.
As palavras saiam com certo eco, era tudo tão emocionante.
— Mas sim, Harry Joseph Miller, eu amo, muito.
Fiquei louco ao ouvi aquilo, era surreal. Ela começou a subir em cima de mim e se
sentou com uma perna de cada lado das minhas pernas. Eu comecei a beijar seu pescoço e ao
mesmo tempo que aquilo era exagerado e selvagem, logo se tornava irresistivelmente lento e
passional. Jones abriu os botões de sua camisa e eu não resisti e peguei em seus seios devagar.
Ela girou a cabeça para trás em sinal de aprovação.
Rapidamente a blusa dela estava no chão. E como estava linda, iluminada, seus cabelos
desgrenhados combinavam perfeitamente com o momento. Eu estava maravilhado com aquilo
que estava acontecendo, nem ao menos parecia real. Eu me ajoelhei na cama e ela fez o
mesmo. Logo tirei minha camisa e senti aquelas mãos tocando toda a extensão da minha
coluna bem devagar, e depois tudo se tornou uma deliciosa loucura...
De repente senti mãos pesadas tocando meu peito com força. Em um susto, abri os olhos
e ela estava lá. Caí da cama em seguida e meu corpo caiu com tudo no chão. Mas que diabos
estava acontecendo?
— Harry Joseph Miller, você estava tendo sonhos pervertidos comigo? Eu não acredito
— disse ela boquiaberta, com as mãos na boca.
Eu estava literalmente no chão. Minha mente estava uma bagunça. Não podia mesmo
acreditar.
— O quê? Eu... É... claro que não. Isso é jeito de acordar os outros? — eu disse, irritado.
— Não muda de assunto, eu ouvi bem quando você gemeu meu nome. — Ela estava
debochando de mim.
— O quê? Nunca. — Le levantei-me do chão e ela olhou rapidamente para mim e depois
começou a rir que nem louca.
— O que foi? — Olhei para baixo e droga! Esse sonho teve efeitos reais em mim. Eu
estava excitado e completamente humilhado agora.
— Que pervertido! Você é um tarado — disse, ainda com as mãos na boca.
— Você é louca, eu nunca ia sonhar com você. — Eu estava tremendo.
— Tá bom, então — disse irônica, aos risos. — Você tem problemas, eu não acredito. —
Não parava de rir.
— O que você tá fazendo aqui? Não ia para a casa da Maya? — Eu me cobri com o
lençol.
— É, mas eu decidi voltar. — Ela ainda estava com um sorriso de deboche estampado no
rosto.
— Voltou para cuidar de mim, não é? — Fui me aproximando. Eu tinha que sair por
cima, se é que isso era possível. O maior mico da minha existência estava acontecendo.
— Hi, Harry, sai pra lá com isso aí. — Apontou para a minha calça. E riu outra vez.
— Idiota, você não vai perguntar se eu melhorei? — Eu estava irritado.
— Ah querido, já deu para perceber que você melhorou. Que estranho você! Vou sair
daqui antes que você tenha outro ataque de tesão por mim. — A desgraçada continuava rindo
da minha cara. Eu merecia.
— O quê? Nãão, você, eu...— Ela não me deixou terminar e saiu correndo do meu
quarto.
Eu não acreditei nisso. Que sonho foi aquele? Podia jurar que aquilo era real, sentia
todos os toques dela, sentia seu cheiro perto de mim. O pior é que ela ouviu quando chamei seu
nome, agora vai me zoar para o resto da vida. Que droga! Odeio perder para ela, que inferno!
Isso só podia ser castigo divino, sem dúvidas foi o sonho mais louco que já tive, o mais real e
também o melhor...
Por que eu fui sonhar com ela desse jeito? Não, isso não podia mais acontecer. Era
inaceitável, ela já estava por toda parte, na minha casa, na escola, na mesa de jantar, não podia
mesmo começar a tê-la até em meus sonhos e muito menos em sonhos eróticos, ela devia estar
em pesadelos e não em sonhos maravilhosos como aquele.
Pelo menos eu melhorei, já estou bem melhor e praticamente sem febre.
O que foi aquilo? Harry estava sonhando comigo? E ainda por cima um sonho erótico. Acho
que nunca ri tanto em toda a minha vida, aquilo era totalmente hilário. Confesso que não fiquei
nem um pouco chateada, ao contrário, eu gostei de saber que os sonhos dele eram meus de vez
em quando, já que também me recordo de ver aqueles olhos verdes em minhas noites de sono.
Quando o ouvi gemer meu nome, meu coração saltou pela boca. Foi estranhíssimo. Afinal, era
tão íntimo estar presente nos sonhos de alguém... Não que isso pudesse ser algo que ele
escolheu, ou não, porém de um jeito totalmente louco me senti especial.
Resolvi tomar um banho.
Entrei no chuveiro e o meu não estava funcionando. Acho que o chuveiro tinha
queimado ou algo assim. A água fria me fez dar um grito.
Desci de toalha até o banheiro lá de baixo, para não ter que pedir ao Harry para usar o
dele. Tomei um banho bem devagar e depois subi as escadas, porém, como estava molhada,
acabei escorregando com tudo. Obrigada por ser tão desastrada.
— Oh... — Gemi com tudo quando minhas costas bateram com força no chão.
Logo apareceu o Harry ali com uma cara de assustado. Claro que ele tinha que aparecer
para ver essa cena ridícula minha. Eu me ajeitei com a toalha e já me arrependia por não ter
tomado banho frio.
— Mas o que aconteceu? — ele perguntou. Revirei os olhos.
Não é óbvio, idiota? Eu caí. Me ajuda aqui. — Estendi o braço que na hora em que
percebi que também estava dolorido.
Ele veio até mim e se abaixou.
— Vem, levanta. — E me puxou agressivamente. Quando o fez, a toalha desceu e
acabou mostrando um de meus seios. Fiquei toda atrapalhada e completamente sem jeito.
— Ah, seu babaca! — Ajeitei a toalha rapidamente. — Idiota! — Que ódio que eu
sentia.
— Hummm, que bela vista, hein? — disse com um sorriso malicioso. Quando você tem
aquela inocente ideia de que nada pode ficar pior, ela fica e muito. Ninguém merece!
— Ridículo, sai daqui, sai de perto, não preciso mais da sua ajuda. — Estava bufando de
raiva pelo que tinha acontecido.
— Calma, maninha — ele debochou. — Como se eu nunca tivesse visto seios na minha
vida. — Ele riu, convencido. Cerrei os olhos.
— É né, nos seus sonhos você deve ver muito. — Sorri irônica lembrando do episódio
dos sonhos. Ele ficou calado por um tempo.
— Por que você não levanta? — soprou, como se estivesse impaciente.
Realmente não queria ter que pedir a ajuda daquele imbecil, mas estava com muita dor,
não foi um tombinho, eu poderia facilmente ter quebrado ossos com aquela queda.
— Minhas costas estão doendo — disse, quase clamando piedade.
— Você sabe que eu poderia não te ajudar, não é? Você disse para eu esquecer que você
existe. — Harry às vezes parece um bebê chorão. Que grande garotinha mimada, não posso
falar nada e ele fica trazendo isso à tona toda hora.
— E eu não retiro isso. Quer saber? Não precisa me ajudar, não. Eu sei me virar. — Que
garoto mais insuportável...
Quando fui levantar vagarosamente, senti um pouco de dor. Devia estar com uma
expressão sofrida porque era o que estava sentindo.
Foi tudo tão rápido. Quando vi, já estava nos braços de Harry. Ele me levantou e foi me
levando escada acima.
— Pensei que não ia me ajudar. — Fiz uma careta para ele.
— É, mas você me mostrou seus peitos, então acho que posso retribuir isso. — Eu dei
um tapa forte nele. Como tem o dom de ser um idiota, impressionante.
— Você não podia ser mais idiota com essa frase. — Sorrimos.
— Eu sei que você gosta disso — sussurrou em meu ouvido e eu me arrepiei, então
decidi apenas ficar calada. Já bastava a cena de quando cheguei da escola, já estava bom por
hoje. Todo dia nessa casa pode ser uma surpresa e uma emoção diferente.
Chegamos ao meu quarto. E ele me colocou na cama. Ficou com uma mão estendida na
minha frente.
— Que isso? — Bati na mão dele.
— Cadê a gorjeta? — disse, totalmente sério. Esse garoto é um exemplo muito louco de
alguém muito babaca.
— Você é meu servo. Não tem que ganhar por isso — disse em tom de brincadeira
— Eu não ganho nada em troca? — ele sorriu e se aproximou de mim me fazendo
arquear as costas para trás na cama, quase deitando. Seu cheiro estava outra vez me sufocando.
— Não, o que você quer? — falei, olhando diretamente em seus olhos.
— Você sabe. — Ele deu ''aquele'' sorriso.
— Harry... — Eu ri sem parar, tentando não demonstrar o nervosismo que cismava em
me pertencer. — Entende uma coisa: você só vai conseguir me ter em seus sonhos mesmo.
Nada mais de tirar casquinha de mim. Agora sai do meu quarto.
— Tá vendo? Isso que dá ser legal. Uma hora eu vou me cansar, Victoria, e é você que
vai rastejar por mim. — Eu comecei a rir ironicamente.
— Sabe quando isso vai acontecer?... Nuncaaaa — O Miller viajava muito na maionese
de vez em quando.
— Tudo bem, você que sabe. — Ele saiu assobiando, bitch please.
Eu? Rastejar pelo Harry? Nunca, isso não tem possibilidade nenhuma de acontecer. Não
faz sentido. Eu rio de alguns momentos bons dele, mas se for contar o quanto que ele me irrita,
vence disparado.
Ele é um garoto estúpido. Daquele tipo que eu mais odeio. Galinha, mulherengo, safado.
Ai, que ódio. E pensar que eu caí nas garras dele. Como eu pude me sabotar dessa forma?
Parei para refletir e eu tinha me envolvido com dois dos garotos mais galinhas do colégio.
Belas escolhas! Olhei para o teto. Estou sendo a rainha das burras.
Meu celular vibra.
''Te pego às 19 h minha linda.''
By: Phill
Falando no capeta, olha ele ali. Se bem que ele estava longe de ser um demônio, porque
era a visão de um dia perfeito de verão, um pôr do sol, um sorvete em um dia quente. O quê?
Mas que porra é essa? Estou ficando totalmente louca.
Tinha que ver qual roupa iria usar. Comecei a me arrumar e, quando estava quase pronta,
ouvi a voz do meu pai.
— Oi, pai... — Acho que só pelo meu tom de voz ele já sabia que eu queria algo.
— Oi, filha. — Ele me olhou desconfiado.
— Então... É que hoje, o meu amigo Phillip me chamou para jantar. Eu posso ir, por
favor??? — Se você não deixar vou ter que pular a janela e talvez bagunçar meu cabelo e
entortar o pé. Então, por favor deixe que eu saia pela porta da frente, querido pai.
— Aquele Phillip? Que usa uns bonés estranhos e que anda com umas calças largas? —
Ele adorava implicar.
— É pai. Vai deixar? Sim ou claro? — Sorri tentando ser meiga e obviamente falhando.
— Não sei. Não o conheço. O Harry conhece ele?
Ah, não. Aposto que ele vai perguntar ao Harry se o Phillip é um garoto legal, a opinião
dele sobre a nossa relação, se ele acha que daria certo. Então, isso está totalmente fora de
cogitação.
— Por favor, me deixa ir. — Odiava ficar implorando tanto para conseguir as coisas.
Foi então que meu pai chamou o Harry. Eu simplesmente já fiquei possessa de raiva.
Claro que ele ia dizer coisas ruins sobre o Phillip, os dois não se suportavam, ia dizer para o
meu pai não deixar eu sair. Óbvio. Ah, mas se eles pensam que eu não vou, estão muito
enganados. Harry chegou na sala e olhou confuso para a minha cara, não somente confuso
como um pouco assustado.
— Que foi? — perguntou com uma careta.
— Então, a Vick está querendo sair com um garoto hoje. — Meu pai disse e o Miller
cruzou os braços. Mereço.
Não vou mesmo ficar aqui olhando o Harry dar palpite na minha e ainda por cima por
um pedido do meu pai. Quantos anos ele achava que eu tinha? Será que não sabia que já tinha
idade suficiente para saber com quem eu saio ou não?
— Ah, isso já tá ridículo. Agora vai ter reunião de aprovação toda vez que eu for sair
com alguém? Ninguém merece.
— Eu me preocupo com você, só isso. Você é nova aqui na cidade e o Harry conhece
todo mundo. — E por acaso você o conhece pai? De verdade? Creio que não.
— Pra que exatamente você me chamou, George? — ele disse, entediado.
— Ela quer sair com aquele Phillip. Eu devo deixar? — Fechei meus olhos soprando o ar
dos pulmões. Aquilo estava mesmo acontecendo?
Devo deixar? Pelo amor de Deus, meu pai se supera de vez em quando. Se ele soubesse
que a verdadeira má influência estava sob o mesmo teto que eu, nem estaríamos aqui.
— Ah, pai isso é tão... argh... É claro que ele vai dizer que ...— Foi quando ele me
interrompeu. Bruscamente. E eu parei de falar na mesma hora. Acho que não entendi muito
bem suas palavras, até ele repeti-las.
— Deixa, George. Ela parece que já sabe se cuidar. — Ele disse simplesmente, seu tom
era firme, confiável, estranho, cansado. Não sei, estou confusa, ele saiu da sala, indo em
direção à cozinha.
Eu fiquei boquiaberta, ele nem ao menos falou mal do Phillip, nem tentou acabar com a
minha felicidade como de costume. Fiquei com a pulga atrás da orelha. Não só com ela, mas
com sua família inteira. Isso foi totalmente imprevisível. Será que era algum truque? Lembro-
me muito bem da primeira vez que ia sair com o Phillip e meu querido Harryzinho me trancou
no quarto. Foi nesse dia que... Enfim.
Minha surpresa só aumentou com o que meu pai disse logo depois.
— Não volta tarde. — Realmente a relação dele com o Miller era algo muito forte. Senti
raiva e ciúme, meu pai confiava mais na opinião de alguém que acabara de conhecer do que na
minha vontade, mas eu era sua filha havia muito tempo. Desde que nasci.
— Tudo bem — respondi sem ânimo nenhum. Saí da sala e fui para a cozinha. Harry
estava bebendo água. Fiquei olhando-o desconfiada e com meus braços cruzados.
— Por que você não esculhambou o Phillip como de costume? — perguntei.
— Eu não estou nem aí. Se você quiser sofrer, fique à vontade! — ele disse, parecendo
ser completamente indiferente. Eu sabia que ele não era, pelo menos achava isso.
— O que você quer dizer com isso? Você não conhece o Phillip, ele nunca me faria
sofrer, ele gosta de mim de verdade. — Todos à minha volta viam isso. Harry deu uma risada
irônica.
Phillip me tratava como se eu fosse realmente alguém importante de verdade, nunca um
garoto fez com que eu me sentisse assim. Está em tudo, nos seus gestos, nos seus sorrisos, nos
seus carinhos. Sei que ele já ficou com muitas garotas, mas quem era Harry Joseph Miller para
falar sobre isso?
— Você está se enganando. A única pessoa que não conhece o Phillip aqui é você. Mas
espera que você vai conhecê-lo da pior forma possível. E, quer saber? Não vou interferir. Você
faz suas escolhas. — Que ódio senti ao ouvir isso.
— Quem você pensa que é? Não banque o irmão bonzinho. George nem está mais aqui
por perto — cuspi as palavras. — E é isso mesmo, da minha vida cuido eu. Fica longe. E pode
deixar que eu sei me virar muito bem.
Disse e saí. Subi para o meu quarto. Que garoto petulante, ficava dando uma de Mãe
Dinah. Aposto que só diz isso para eu ficar desconfiada do Phi, para que nós briguemos e eu
me afaste dele, mas nos conhecemos há pouco tempo e ele nunca fez nada que me
desagradasse. Sempre foi um fofo, me tratando super bem, sendo companheiro. E não me
usou, assim como Harry fez. Quer saber, tenho que parar de pensar nesse idiota. Ele está me
estressando. Não sei porque me importo com a opinião dele de vez em quando, se deveria
ignorá-las. A pessoa certa para eu ficar é o Phillip. Pelo menos ficar com ele não pode fazer
com que eu destrua a felicidade do meu pai com sua nova esposa.
Passei meu perfume e dei uma última olhada no espelho. Eu nunca me achei bonita, na
verdade nunca liguei muito para isso. Que se danasse. Mas às vezes eu gostava dos meus
olhos, da minha boca. Eram raras as vezes em que gostava de mim mesma. Na maior parte do
tempo, eu só não ligava tanto para a minha aparência e nem cuidava dela, esse não era um
desses dias.
Um som de carro me tirou dos meus pensamentos. Corro para baixo, não quero que o
Phillip bata na porta e corra o risco de encontrar o meu pai. Ou pior, o Harry...
Dei um tchau rápido para meu pai e Anne, que assistiam TV na sala, sem esperar pela
resposta. Saí depressa e lá encontrei Phillip. Ele estava lindo demais e me olhou de cima a
baixo dando um sorriso.
— Uau, você está maravilhosa! — Seus olhos eram tão bonitos, o mais belo castanho
que já vi, eram claros e muito brilhantes.
— Obrigada. Você tá um gato. — Ri brincando, como sempre fazíamos.
Ele abriu a porta do carro e deu a volta para entrar. Eu olhei para a casa, e pude ver a
silhueta de alguém da janela do quarto do Harry. Era ele. Como sempre, se preocupando com a
minha vida.
Aquela imagem me perturbou um pouco, mas logo fiz questão de apagar isso e tentar
aproveitar a noite com coisas concretas, reais.
— Para onde você vai me levar? — Estava até animada.
— Você vai ver. — Ele piscou.
— Hummm... Misterioso. OK.
Liguei o rádio e fomos cantando o caminho inteiro.
Chegamos em um restaurante que parecia ser super caro. Ele estacionou o carro na
frente. OMG! O Phillip era rico e fazia questão de mostrar isso, mas com essas atitudes e não
esnobando os outros, nem nada. Só de vez em quando, tenho que admitir, ele era metido com
quem não gostava muito.
Eu olhei para ele ainda dentro do carro.
— Tá brincando? Olha esse lugar. — Dei um sorriso.
— Eu adoro ver você sorrir.
Ele tirou o cinto e foi se aproximando. Pegou em meu rosto e aqueles olhinhos
brilhavam de um jeito que mexeu comigo. Eu cheguei mais perto e encostei nossos lábios,
dando nele um selinho muito bom, que era lento, mas cheio de segundas intenções.
Eu parei e sorri apontando para o lado de fora, onde um homem parecia esperar para que
pessoas saíssem do carro. Phillip revirou os olhos e sussurrou: '' Quero continuar isso.'' Ele me
deu um beijo na bochecha e saiu do carro. Eu ia abrindo a porta, mas ele chegou mais rápido e
a abriu. Segurou em minha mão e eu saí.
Ele entrelaçou nossas mãos e entramos no restaurante. Essa garota tendo a porta do carro
aberta por um príncipe que segura sua mão para que saía do carro definitivamente não tinha
nada a ver comigo. Porém, talvez seja legal ter uma vida nova.
— Boa noite Sr. Parker — disse uma bela e jovem recepcionista, que praticamente me
ignorou, ela só tinha olhos para ele.
— Boa noite. Eu quero a mesa de sempre — meu acompanhante disse com todo seu
charme.
— Me acompanhe, por favor. — Chegamos à mesa. — Sintam-se à vontade. — Ela nos
entregou o menu.
— Uau, a mesa de sempre. Traz muitas garotas aqui? — eu disse brincando, mas Phillip
me olhou meio estranho e pareceu ficar desconfortável.
— Que isso? É... Você é a primeira. — Coitado, não sabia nem mentir.
— Ah tá. — Dei um sorriso. Não me incomodei com aquilo, ele tinha um passado, talvez
eu tivesse um presente com outro garoto, o que poderia complicar tudo, mas enfim me
concentrei naquela noite e nele.
— O que você quer beber? — Ele perguntou e eu me senti em um daqueles filmes
clichês românticos.
— Eu gostaria que você me sugerisse algo. — É o que as mulheres quase sempre dizem
nesses filmes, como se não pudessem escolher por si mesmas, ninguém merece. Falei em uma
voz que tentava ser sexy, mas fiz com que ele risse.
— Ah, tem ótimos vinhos aqui, mas acho que você deveria provar o Phillip, que é uma
ótima pedida. — Que cantada boa para um retardado. Eu ri.
— Nossa, se superou com essa. Temos que brindar a isso! — Ele não riu do meu
comentário.
— Eu falo sério. — Ele se aproximou e me roubou um beijo.
Era para ser um beijo rápido, mas quando vi já tinha me envolvido e aquilo estava muito
bom. Eu fechei meus olhos e só me deixei levar. Até que ele colocou uma mão na minha perna
e então parei o beijo, para as coisas não fugirem do controle. Estávamos em um restaurante, se
bem que eu queria que embrulhassem para a viagem depois daquele beijo.
O jantar seguiu ótimo, com direito a muitas risadas.
— Eu tenho que dizer que você foi uma das poucas garotas que não se interessaram pelo
meu dinheiro e sim por quem eu sou. — Ele disse e foi aleatório. Claro que eu sabia que
garotas se interessavam pelo dinheiro dos caras, mas nunca estive com um cara que tivesse
dinheiro.
— O quê? Eu? Não, eu só queria era te dar o golpe do baú. Ah, e a propósito, estou
grávida. — Ele riu muito alto e um monte de gente me olhou estranho no restaurante.
— Não, é sério. Com você, eu sinto que posso ser eu mesmo, sem todo esse lance de
popularidade e tal. E somos amigos. — Sim, nós éramos, isso que eu gostava mais nele,
podíamos realmente conversar por várias horas.
— Você é demais, Phi, e está me ensinando a andar de skate. Então, pretendo continuar
com você até eu aprender, depois vou te dispensar. — Comecei a rir, ele ficou sério.
— Poxaaa, estou magoado, me sinto usado. — Fez uma carinha tão fofa que eu quis
guardar ele em um potinho.
— Apenas aceite que vai doer menos. — Comi uma colherada da minha torta alemã, que
estava uma delícia.
— Com base na constatação de que eu não posso mais não te ter na minha vida, queria te
perguntar uma coisa. — Ele me olhou e eu apenas sentia o gosto da minha torta.
— Fale, pode perguntar qualquer coisa. — Fui tomar um gole do meu drinque.
— Tá bom...— Ele fez uma pausa e eu fiz uma careta pra ele, fala logo louco! E então
ele disse: — Você quer ser minha namorada? — Agora eu estava cuspindo todo o meu
drinque.
Oi? Aquilo era real mesmo? Estava acontecendo...
Capítulo 16: Without
~ Victoria ON~
Oi? Como assim? O Phillip acabou mesmo de me pedir em namoro? Eu fiquei olhando para
ele por uns segundos, boquiaberta. Não faz tanto tempo que nos conhecemos, ficamos naquela
vez na festa, só que antes era apenas amizade e ele quer namorar comigo agora? Phillip Parker
era somente um dos garotos mais populares e pegadores da escola. Já era estranho estarmos
ficando e indo em restaurante e ele falando tanto comigo. Namorar? Isso estava como em um
universo paralelo. Definitivamente não sou o estilo de garota que se adequaria para ser
namorada dele. Não sei mesmo o que se passava em sua mente.
Será que não foi uma piada, ou sei lá?
— Esse silêncio está me deixando apreensivo. — Tomou um pouco da sua bebida.
Queria poder me teletransportar.
— Você tá brincando com essa pergunta, né? — Eu fiz tom de brincadeira, talvez fosse,
isso não escapava das possibilidades.
— Não, não estou. Eu pensei que você levasse nosso relacionamento mais a sério. — Ele
me olhou meio irritado, eu arregalei. O quê? Relacionamento... Será que eu estava inconsciente
em algum momento da nossa história? Estou confusa aqui.
Com aquela frase eu percebi que ele estava falando realmente sério, ele queria mesmo
me namorar. Nem eu sabia como isso funcionava e muito menos com alguém como ele. As
pessoas da escola iam encher o saco. No que eu estava pensando? Nos outros, nossa, eu era
realmente uma pessoa terrível, deveria me preocupar mais com ele. Phillip fez com que eu me
sentisse em casa, mesmo tendo mudado totalmente de vida, ele conversou comigo, foi meu
amigo e me deu atenção. Levei minha mão até seu rosto fazendo com que ele olhasse para
mim, já que no momento apenas encarava a mesa à sua frente.
— Você me pegou de surpresa E... Eu não sei, acho que é cedo. — Sim, era realmente
cedo para algo mais sério. Não me sentia... Preparada.
— Para o amor não existe cedo demais — disse pegando em minhas mãos e olhando
profundamente em meus olhos. Ele disse isso mesmo? Amor? Será que ele tinha ideia do que
estava falando? Não sei porque, mas senti uma aflição em meu coração.
Era para eu ficar feliz, não era? Eu não devia ser normal, deveria ter alguma síndrome. O
que diabos se passava com a minha mente?
— É... Eu... Phillip para de me olhar desse jeito, você tá me desconcentrando — Mal
conseguia pensar.
— Hummm, então eu te desconcentro, né? — Deu um risinho. Por que eu não dizia
apenas sim como qualquer pessoa normal? Eu não tinha namorado, estava livre leve e solta,
gostava dele. Então, o que me impedia de relaxar? Eu estava tensa. Meu corpo todo estava.
— Para falar a verdade, está fazendo isso comigo agora. E eu, Phi, eu é que... — Eu
nunca fui de gaguejar, consigo articular bem as palavras, não naquele momento. Estava
passando vergonha e ele não merecia isso.
— Tudo bem, você não gosta de mim. — Ele respirou fundo. — Entendi. — Soltou
minha mão.
Isso não poderia acabar bem, é lógico.
— Hey, olha pra mim. Eu te adoro, você me faz feliz, mas eu só não acho que seja o
momento certo para namorar. — Queria muito que ele não se magoasse.
— Você que sabe, então. Vamos pedir a conta? — Ele simplesmente ergueu a mão
fazendo um gesto para o garçom. Sou uma idiota.
— Você tá chateado comigo — falei, tentando que ele olhasse para mim e que ficasse
tudo resolvido.
— O quê? — Ele franziu o cenho — Não, não tô. — Deu um sorriso mais falso que a
Caroline da nossa sala.
— Tá sim e me desculpa mesmo, eu queria aceitar, mas... — Ele me interrompeu.
— Você gosta de outra pessoa? — Meu coração gelou.
— É... — Eu respondi como se fosse um desabafo, minha mente deu um bug muito
grande e só então eu percebi que não, eu não gosto e nem poderia e nem deveria gostar de
alguém... — Quer dizer não, nada a ver isso. Eu não estou gostando de ninguém. — Tentei ser
firme porque apesar de a imagem de uma pessoa ter vindo à minha mente, não mesmo, eu não
gostava de ninguém.
— Às vezes você parece meio distante. — Coçou a cabeça.
— Eu? Distante? Claro que não. Eu gosto de estar com você. Por favor Phillip, não fica
bravo comigo. — Não queria mesmo brigar, nossa noite foi tão legal.
— Bravo com você? Isso é impossível. — Ele sorriu docemente e de certo modo senti
tristeza.
O gerente trouxe a conta e mesmo eu xingando muito e implorando para dividirmos, ele
não deixou, pagou tudo. Entramos no carro e fomos conversando coisas aleatórias. Eu estava
com vergonha por ter recusado aquele pedido, parecia algo importante de verdade para ele,
mas eu não quis aceitar. Por que não? Eu só criei desculpas esfarrapadas, o Phillip era fofo,
divertido, romântico. Ao lado dele eu teria várias oportunidades de conhecer lugares novos,
pessoas novas, ele é o garoto que toda garota queria ter como namorado. Sei que sua fama era
de pegador, mas o jeito real dele, comigo pelo menos, mostrava praticamente um príncipe dos
sonhos.
Qual o meu problema?
Chegamos na minha casa. Tiramos o cinto e eu me virei para falar com ele. Precisava
checar se tudo estava bem entre nós, apesar do que tinha acontecido.
— Phi, olha sobre aquilo... Desculpa mesmo. — Toquei seu ombro.
— Não precisa se desculpar, eu entendo. — Ele mordeu os lábios.
— Não, acho que você não entendeu. Eu sou o problema, não você. Por que quer
namorar comigo? — Era uma pergunta que realmente quis fazer desde que estávamos no
restaurante. Por que eu? Por que não uma das garotas ricas, lindas, com corpos perfeitos que o
rondava?
— Por quê? — Ele deu uma risada, olhando para o teto. — Porque... Você é especial,
você é divertida, eu gosto de estar ao seu lado, eu gosto dos seus beijos. — Ele foi se
aproximando
Ele segurou em minha nuca e eu sorri abaixando a cabeça. Ergui e já encontrei seus
olhos ali, bem grudados aos meus. Naquele momento eu me senti extremamente estúpida, senti
que estava perdendo algo realmente legal. Tomamos um impulso e começamos um beijo feroz,
nossas línguas entraram em sincronia e ele me puxou pela cintura mais para perto, eu segurei
em seu cabelo. Como aquele beijo era bom, ele era demais... Só queria ficar ali mais e mais.
Paramos por falta de fôlego e ele deu um sorriso daqueles. O Parker era tão lindo que
parecia ter sido esculpido com muita leveza e paciência, seus traços eram alinhados, sua boca
perfeitamente desenhada.
Colocou meu cabelo para trás e beijou meu pescoço delicadamente.
— Seu cheiro é muito bom — sussurrou em minha orelha, me fazendo arrepiar e foi
beijando meu ombro.
— Phillip... Não me provoca assim — disse baixinho e sorrindo. Ele amava fazer o
garoto sedutor.
— Você é a única que gosta de provocar aqui. — Ele mordeu meus lábios bem devagar,
eu segurei em sua nuca e o beijei.
— Eu gosto disso... — falei quase em um sussurro.
— Então, aceita meu pedido — falou me beijando outra vez.
— Posso pensar? — Era a minha única carta na manga. Pensar mais e entender por que
sou tão otária.
— Eu te esperarei, quando estiver pronta, estarei aqui. — Ele devia parar de dizer coisas
tão perfeitas. Achei que nunca teria alguém que gostasse de mim e me dissesse essas coisas.
Parece que o jogo virou.
Eu olhei para ele e acho que não consegui disfarçar o quanto fiquei encantada com o que
ele disse. E não só por isso, mas por tudo. Cada gesto dele, ele fazia de tudo para me agradar,
sendo companheiro, me entendendo. Nossa, eu gosto do Phillip, gosto mesmo.
— Obrigada pela compreensão.
—Tudo por você, Vick. — Ele meu deu um selinho. Tinha que me acostumar com
aqueles momentos de fofura, ainda me sentia estranha por ser tão... Amada?
— Boa noite. — Dei-lhe um sorriso, fui saindo do carro e ele me puxou.
— Peguei isso para você, tenha bons sonhos.
Ele ergueu a mão e, entre seus dedos, estava uma rosa vermelha. Como ele conseguia me
encantar desse jeito em cada ato dele? Segurei-a e olhei com carinho. Fui até ele e lhe dei um
selinho.
— Você é demais. — Sorri e ele retribuiu.
Saí e fui na direção da porta da minha casa. Olhei para trás e ele meu deu um tchauzinho.
Sim, ele era demais, demais para mim. O que um garoto como ele, rico, lindo, fofo, divertido,
viu em mim? O que eu tenho? Nada. Eu não sou nada além de uma pessoa que não consegue
controlar seus impulsos e vontades, que simplesmente tem pane no cérebro de vez em quando
e enlouquece. E o principal de tudo: quando eu me machuco sou como uma granada que
explode e só quer ferir todos ao meu redor.
Entrei e a casa estava em silêncio, tirei meus sapatos e fui subindo as escadas em
silêncio.
Cheguei em meu quarto. Quando ia abrir a porta, ouvi passos vindos do banheiro, era
Anne. Que susto.
— Ah querida, já chegou? Seu pai já está dormindo. — Ela estava preparada para
dormir.
— É, cheguei cedo. Já vou dormir, boa noite Anne. — Abracei-a. Nossa relação estava
cada dia mais pacífica, o que era bem incomum, mas estava dando certo.
— Boa noite, querida. — Entrou no quarto dela.
Eu entrei no meu quarto e peguei meu pijama no guarda-roupa. Tomei banho e o vesti.
Decidi fazer um chá, eu adoro ler antes de dormir e uma bebida quentinha é sempre bom para
acompanhar.
Desci até a cozinha e para o meu ódio, o chá tinha acabado. Como isso pôde
acontecer??? Talvez à primeira vista não as pessoas não achem que tomo chá, talvez pensem
que só bebo café ou energético pelo meu jeito inquieto de ser, é exatamente por esse jeito que
bebo chá e porque tem um gosto aconchegante também.
Voltei para meus aposentos, quando já estava quase entrando, vejo o Harry saindo do
quarto dele completamente arrumado. Estava com uma calça Jeans, camisa de botão, os
cabelos penteados...
— Ué, está se arrumando para dormir agora? Não se preocupa que nos seus sonhos você
não usa roupa — debochei dele outra vez, mas pela a cara que fez não estava com um bom
humor.
— O que você tá fazendo aqui? Não ia sair com aquele almofadinha?
Eu revirei os olhos.
— Para sua informação, ele não é nenhum almofadinha. — Ele só sabia falar mal do
Phillip. Não sei o motivo para não ter dito isso na frente do meu pai mais cedo.
— Ah claro que não. E para onde você foram? Ah já sei, para algum restaurante caro, é...
Ele sempre faz isso. — Deu uma risadinha
— Faz isso o quê? — Como esse garoto tinha o dom de ser intrometido e completamente
aleatório.
— Awn, pobre Jones. — Chegou perto pegando em meus cabelos, mas eu tirei o braço
dele. Não queria mesmo que ele me tocasse muito menos com aquela arrogância e ironia.
— Fala o que você tem pra dizer. — Cruzei os braços.
— Você é só mais uma das vadiazinha com quem ele quer transar. Quanto ele te
ofereceu para você dar pra ele?
Não, não, não, ele não disse isso. Como ele me fala isso? Sem pensar duas vezes meti a
mão na cara dele com tudo. Um tapa daqueles de deixar marca para ele aprender a nunca mais
falar uma coisa dessas. Não sei o que ele estava pensando, mas ninguém ia falar comigo
daquele jeito, muito menos ele.
— Você lava essa boca para falar de mim. Tá ouvindo, Harry? Você não presta. — Já
sentia meu corpo inteiro sendo invadido pela raiva.
— Isso é a mais pura verdade. Só isso. — Ele mexeu os ombros — Você vai ver o que
vai ganhar em ficar se agarrando com esse garoto dentro dos carros. — Fui para dar outro tapa,
mas ele segurou meu braço, eu nem senti dor na hora. Só fiquei possessa, queria arrebentar a
cara dele. Não sou esse tipo de garota que ele está falando. Nunca seria.
— Cala essa boca, quem é você para falar alguma coisa de mim? Seu mau caráter, você
só sabe usar os outros e depois jogar fora. — Ele forçou mais meu braço.
— Posso não ser perfeito, mas o meu maior erro na vida foi ter ficado com você. Com
você... — ele pausou e a forma como me olhou, eu não conhecia aquele Harry e de verdade
queria nunca ter conhecido. — Você é só uma qualquer, fica com os outros pelo dinheiro e por
popularidade. — Ele me empurrou e eu acabei me desequilibrando e caí.
Na verdade, deve ser porque minhas pernas tremiam. Eu inteira tremia com o poder
daquelas palavras sobre mim, era como se estivessem enfiando pregos por todo meu corpo. Ele
não podia... Ele não podia dizer isso, não pra mim. Eu ... Aqueles olhos verdes, agora se
tornaram tão cinzas. Minha vista escureceu. Meus olhos ardiam. Harry não podia estar mais
errado ao meu respeito e eu sentia ódio por isso.
— Você é pior do que eu imaginei — eu disse, tentando não permitir que as lágrimas
caíssem sobre meu rosto.
— Então, você continua com o seu príncipe perfeito. Ele deve estar te fazendo feliz, né?
— Fez o símbolo de dinheiro com os dedos e saiu porta afora.
Continuava sem conseguir me levantar, estava fraca. Não, não podia ser fraca. Eu tenho
que ser forte, passei por coisas que...Ah, mas nada importava, senti como se meu estômago
fosse amassado com mãos raivosas, meu coração ficava mais e mais apertado. Comecei a
chorar ali mesmo. Não aguentei, como eu pude? Estava chorando por causa desse garoto?
Não... Que raiva, que raiva de mim, que raiva dele. Que ódio!
Por alguns momentos achei que Harry pudesse gostar de mim de um jeito torto, mas eu
também era torta, tudo iria ficar bem. Depois do que ele disse, acho que nunca mais quero falar
com ele em toda a minha vida. Eu nunca ficaria com alguém por dinheiro ou por fama, isso era
totalmente não eu.
Deitei na minha cama me sentindo a pessoa mais amaldiçoada da terra. Sentia uma
amargura, flashes começaram a dominar minha mente. Lembranças que não queria relembrar.
A falta que a minha mãe me faz, a vida difícil nas escolas pelas quais passei, os beijos com o
Harry... Não, essa foi a pior coisa que eu já fiz. Nunca, nunca deveria ter me entregado a ele.
Como eu pude? Sou uma estúpida. Agora minha vida estava realmente amaldiçoada, como eu
iria fugir de alguém que mora na mesma casa que eu?
Depois de muitas horas tentando encontrar alguma solução, adormeci.
Acordei e senti como se meu corpo estivesse preso à cama, não queria levantar de jeito
nenhum. Olhei no espelho e nossa... Meus olhos estavam simplesmente inchados demais. Não
posso olhar para o Harry e mostrar para ele que eu sou uma estúpida que chora por causa das
idiotices que ele diz. Pelo que ele pensa sobre mim.
Vesti minha roupa e coloquei uns óculos escuros.
— Bom dia filha, que isso? Óculos de manhã? — Não sei onde estava o bom dia.
— Ah é, eu gosto. — Sorri fraco.
Peguei uma maçã e minha mochila.
— Ué, já vai? — Minha madrasta perguntou e eu só queria quebrar cada xícara daquela
cozinha.
— Senta para tomar o café da manhã direito, Victoria. — Meu pai falou.
— Ah, não quero. Estou sem fome. Eu vou indo. — Falei cada frase com determinação.
— A noite foi ruim ontem?
Ruim? Não pai, foi a pior noite de todas.
— Foi, foi sim. — Só queria sair dali logo.
— Aquele garoto que você saiu fez alguma coisa com você? — Oh...
Lembrei dos lindos momentos que tive com o Phillip e como isso me fez ficar ainda pior.
Aquele encontro foi extremamente perfeito, é muito bom se sentir especial, sentir que a pessoa
adora sua companhia, ele sempre fazia isso, quando estávamos falando no telefone, sempre era
eu quem desligava primeiro, e ele dizia ''Mas você não pode ficar mais um pouquinho?''
Percebi que deveria ter aceitado. Meu corpo só ficou mais pesado após concluir isso.
— O quê? Não. Eu dormi mal. O jantar com o Phillip foi ótimo.
— Hummm, ele é seu namorado? — Anne questionou com um sorriso e eu senti meu
peito doer.
De repente aquela voz que honestamente, eu tenho nojo, ecoa na cozinha, não queria ter
que olhar para a cara desse garoto nunca mais. Queria poder me teletransportar para Marte só
para não precisar ouvi-lo nunca mais.
— É, é sim. Para estar naquela pegação, deve ser namorado mesmo — Harry chacoteou.
Como eu me esforcei naquele momento, eu fechei os olhos cobertos pelos meus óculos
escuros, respirei fundo e não disse nada. Ele não merecia, só o meu silêncio para ele. Me
afastei e fui em direção a porta.
— Come alguma coisa! — meu pai disse novamente para mim, agora como uma ordem
e não! Eu me recuso a ficar no mesmo ambiente daquele demônio. Se eu pudesse gritava e
bateria minha cabeça contra a janela até que ela se quebrasse de tanto ódio.
— Não enche meu saco! — gritei muito alto e bati a porta com tudo.
Só queria ir para Marte agora, queria fugir dali e nunca mais voltar. Escola? Aula? Quer
sabe que se dane essa porcaria de escola, não vou hoje mesmo. Mas para onde vou?
Não conheço nada nessa cidade, a verdade é que provavelmente não há nada para
conhecer. Queria ir para um lugar que me faça esquecer tudo que estou sentindo, quero me
sentir livre outra vez, como quando morava em Chicago.
E agora? Para onde vou? Essa porcaria não tem nada. Já sei o que vou fazer.
~ Narradora ON~
A madrugada era o cenário da aflição de George, Anne e de Harry, já passavam das três horas
da manhã e Victoria ainda não havia chegado em casa. Ambos esperavam apenas completar as
24 horas para poder enfim dar queixa do desaparecimento da garota. Anne preparou um café
para George, que estava a ponto de ter um infarto de tanto nervosismo. Sentado na bancada da
cozinha, torcia para que aquilo fosse só mais uma das travessuras de sua filha, sentia que não
aguentaria mais uma perda tão dolorosa.
— Ela não conhece nada por esses arredores, Anny — disse, colocando as mãos sobre o
rosto inquieto.
— Com fé em Deus, ela vai estar bem — ela disse tentando acalmá-lo, apesar de estar
impaciente com aquela situação. Por mais que soubesse que a menina não a via da mesma
forma, para Anne Victoria era como uma filha, apesar de se conhecerem havia tão pouco
tempo. Sentia que queria cuidar da menina, mas a resistência dela impedia isso.
— Eu não sei... O que tem de errado? Ela nunca consegue se adaptar a nada, nem
ninguém, a lugar nenhum... Será que isso nunca vai acabar? — O pai da garota estava mesmo
desesperado.
— É uma fase, eu sei que vai passar, O Harry também já aprontou muito e agora está
mais calmo, mais centrado... Beba isso. — Entregou uma xícara de café.
Ele bebeu em silêncio, pensando que talvez a culpa fosse inteiramente dele por ter
passado tantos anos trabalhando demais, sem ter tempo para a filha. Lamentava por isso,
somente o fizera porque precisava recuperar seu coração quebrado pela perda de sua esposa. O
que não entendera naquele tempo era que, para a pequena menina, pode não ter sido apenas
uma perda e sim duas.
— Não sei, ela ainda sofre pela perda da mãe e isso é uma coisa que não posso curar,
tenho medo que termine mal. — Ele desabafou.
— Vamos dar um jeito. — Anne estava realmente nervosa, aquela era a primeira vez que
isso acontecia com ela, nunca nenhum de seus filhos fugira ou fizera algo do tipo.
— Não entendo, ela mesma disse que tinha arrumado amizades novas. E tem até esse
garoto que saiu com ela. O que será que faz com que essa menina faça essas coisas do nada?
— franziu o cenho.
Continuaram a conversar, apreensivos. Harry estava sentado nas escadas, se sentindo
impotente por não poder fazer nada. Já havia percorrido todas as ruas da pequena cidade e
nenhuma pista.
Sabia que a briga que tiveram fora o estopim para que Vick fugisse. Ele não deveria ter
dito aquelas coisas, pensou. Seu coração estava apertado e em sua mente somente havia
pensamentos negativos. Ele não se perdoaria se algo acontecesse a ela.
Estava de cabeça baixa quando ouviu um barulho de chaves tentando abrir a porta.
Imediatamente se levantou e foi em direção à porta, abriu-a e encontrou Victoria ali parada,
com os olhos vermelhos e visivelmente alterada. Por mais que as condições da garota não
fossem das melhores, seu pulmão se encheu de ar e ele pôde enfim respirar. Era como se tudo
que estava preto e branco se colorisse com aquela visão.
— Onde foi que você se meteu? — disse bravo, segurando-a. Ela se desequilibrou.
— Não interessa... Sai da minha frente, eu quero dormir. — Empurrou ele. Ela estava
bêbada e não era pouco.
Miller a olhou da cabeça aos pés e encarou sua face. Sentiu vontade de bater nela,
obviamente nunca faria isso, mas pensar nela por aí bebendo e totalmente frágil para que
qualquer um lhe fizesse algum mal, deixava-o louco de raiva. Apesar disso tentou se acalmar
para resolver a situação.
— Seu pai está super nervoso, se ele te vir assim, acho que manda você para algum
internato ou hospício — disse pausadamente para que ela entendesse.
— Claro que não, ele nunca faria isso! Você é mentiroso! — ela gritou descontrolada e
ele imediatamente tapou sua boca e segurou-a.
Queria mesmo que o pai dela a visse naquele estado. Iria tomar uma bronca gigante,
ficaria de castigo uns três anos, seria bom, mas outro lado queria que aquilo se resolvesse da
melhor forma possível.
— Vem comigo. — Olhou em seus olhos, que estavam vermelhos e perdidos. — Em
silêncio.
Ela mordeu a mão dele que antes estava em sua boca.
— Eu não vou a lugar nenhum com você. — Rapidamente fez com que ela se calasse
outra vez. Não sei mesmo por que estou me submetendo a isso, pensou. Mas ele só continuava
insistindo em querer ajudá-la a sair daquela situação.
— Cala a boca, vai sim. — Ele tapou a boca na menina. — Nossos pais estão na cozinha,
se você ficar quieta, eles não vão ouvir a gente subindo — sussurrou. Jones estava apenas
confusa sobre tudo, estava em outro universo talvez.
Ele olhou de ponta de olho, e Anne e George continuavam conversando. Subiram as
escadas, mas Vick tropeçou e caiu fazendo um barulho.
— Mas que droga! — Miller reclamou.
— Tudo bem aí, filho? — sua mãe perguntou e ele gelou.
— Tá sim, eu acho que vou dormir — falou, disfarçando.
— Vai mesmo filho, e não se preocupe. Ela vai voltar, meu amor. — Anne completou e
Harry continuou subindo.
Victoria olhou para Harry e deu um sorrisinho debochado. Terminaram de subir as
escadas e entraram no quarto da garota.
— Hummm, ficou preocupadinho comigo, hein? — Apertou a bochecha dele. — Que
fofo! — falou irônica.
— Sai! — disse tirando a mão dela. — Você é uma retardada. O que deu em você para
sumir desse jeito? — Agora que estavam sozinhos tudo o que a garota tinha aprontado veio à
tona para Harry. Ele pensou em como, com uma atitude infantil, ela deixara todos tão
preocupados, incluindo sua mãe.
— Ah, foi só uma voltinha, vovô. — Ela se jogou na cama, sentindo todos os efeitos do
álcool que consumira anteriormente.
— Acontece que, por causa dessa voltinha, seu pai vai chamar a polícia daqui a poucas
horas.
— Ai, sério? Vou ser presa? — ironizou. — Oh não!
A garota gargalhou alto e foi rapidamente contida por Miller. Ele tremia e não sabia
explicar o porquê. Se era por estar com raiva por ela estar daquele jeito ou simplesmente medo
do que poderia acontecer se Victoria não parasse de fazer loucuras como aquela. Ele se sentia
um pouco impotente.
— Acho melhor você fazer alguma coisa, inventar alguma história ou vai se dar muito
mal — ele dizia. Estava nervoso com tudo, parte de sua consciência achava melhor descer e ir
chamar George.
— Não ligo — ela respondeu, seu tom de voz distante. Encarou o teto por longos
segundos e respondeu, sem tirar seus olhos escuros de lá: — Pior do que eu já estou,
impossível. E, quer saber? Tudo bem. — Bufou sem paciência. Pegou o celular que estava em
seu bolso e o ligou. Estava desligado, por isso as tentativas de encontrá-la foram frustradas.
— O que você vai fazer? — Harry não entendeu nada do porquê e para quem ela estava
ligando.
— Shhiu, cala a boca e não atrapalha. — Discou um número e logo colocou o aparelho
sobre a orelha, respirou fundo umas cinco vezes.
— Alô, alô pai. — Harry olhou com uma cara de indignado. O que diabos essa garota
está fazendo? — Pensou ele, sabendo que estava totalmente encrencado. — Então... — Ela
parou, como se ouvisse o que ele dizia. — Ah, tá bom pai, eu sei eu sei, eu estou bem, é que eu
me perdi. — Parou e, mesmo de pé, Harry conseguia ouvir a voz alta de George, claramente
desesperado. — É, eu quis conhecer algum lugar novo, mas acabei me perdendo e não
conseguia voltar. — Jones revira os olhos ao ser interrompida novamente, — Meu celular
descarregou. Eu só consegui um lugar para recarregá-lo agora. — O garoto em pé e atento
balançou a cabeça pensando em como aquela era uma desculpa esfarrapada. — Ah, já disse
que estou bem. — Ela continuou. — Eu estou na casa de uma amiga.
Victoria olhou para Harry, que parecia incrédulo com aquela cena e com a cara de pau da
garota em mentir daquela forma. Ele se perguntava se George era tão tolo a ponto de acreditar
naquilo. Porém, sabia que só de ouvir a voz de sua impetuosa filha, ele já estaria melhor. Não
que ela fosse fugir do castigo.
— Não, você não conhece. — Bufou novamente ao falar. — Tá, eu sei, tá... Que saco —
disse mais baixo. — Hi pai, a ligação está ruim. Amanhã, eu volto. Tchau, boa noite. —
Desligou.
Ficou parada por segundos, o álcool ainda mexendo com seus sentidos e a ânsia se
aproximando. Encarou seu irmão postiço mais uma vez. Ele a encarava com a sobrancelha
levantada.
— Você tem sérios problemas mentais. Você acha que ele vai acreditar nisso? —
perguntou cruzando os braços.
— Sei lá, isso é algo para ver amanhã. Ele vai me dar uma bronca e aí? — prendeu os
cabelos desgrenhados em um coque com dificuldade.
De repente, passos começam a chegar mais perto e logo uma voz. Era Anne, seu tom de
voz certamente mais aliviado do que minutos antes.
— Harry, você não vai acreditar... — ela disse entrando no quarto dele, que estava vazio.
— Harry, filho? — ela falou novamente.
Imediatamente, Jones se escondeu debaixo da cama. Harry permaneceu no mesmo lugar.
Na verdade, ele ainda não estava acreditando naquela situação.
Anne entrou no quarto ao lado e viu o filho ali em pé no quarto da garota.
— Filho, o que está fazendo aqui? — Ela o abraçou.
— Ah, eu, é... — Ele coçou a cabeça. — Só tava vendo se tinha alguma pista.
— Não precisa mais ficar tão preocupado. Ela está bem, acabou de ligar para o George
— disse, passando a mãos nos cabelos do filho.
— Ela disse onde estava? — Ele não acreditava que talvez a história de Jones tivesse
dado certo.
— Na verdade, ele disse que a ligação foi meio confusa e antes que ele pudesse
perguntar onde ela estava para ir buscá-la, ela desligou. Parece que estava na casa de amiga ou
algo assim. — Anne abaixou a cabeça preocupada com a situação. — Ele está super bravo.
— Nossa, que louca. — Ele soltou um pigarro como se aquilo fosse conscientizar a
menina embaixo da cama a assumir a verdade. Sem sucesso.
— Filho, eu vou dormir, OK? O George vai tomar um calmante e fazer o mesmo. A
noite foi longa e estamos todos muito cansados. Por favor, não demore a dormir. — Ela beijou
o topo de sua cabeça.
— Boa noite, mãe. — Miller estava mesmo chateado com a situação naquele momento,
porque uma garota que havia entrado em sua vida havia tão pouco tempo já estava bagunçando
tudo ao seu redor e também dentro dele mesmo.
Anne saiu do quarto e minutos depois Victoria saiu debaixo da cama, rindo que nem
boba. Para ela, aquilo estava muito engraçado, estava acostumada a fazer coisas assim, mas
nunca tinha tido um cúmplice.
— Eu estou ferrada demais. — Gargalhou, colocando a mão na boca. — Meu pai vai me
matar, então acho melhor eu fazer isso sozinha antes. — Lançou um olhar enigmático para
Harry, que queria mesmo tapar a boca dela com as próprias mãos outra vez. Riu de canto e
correu para a janela.
Projetou seu corpo para fora como se fosse pular. Harry a segurou pela cintura e a jogou
agressivamente na cama. Estava ficando realmente impaciente com aquilo. Pensava em como
ela não conseguia mesmo pensar em tudo aquilo e em como seu humor falso e sarcástico era
perturbador. Era como se fizesse piada de sua própria parte sombria.
— Qual o seu problema, você bebeu? — ele perguntou retoricamente porque era óbvio
que sim.
Ela parou por alguns segundos olhando-o de cima a baixo. Lembrando de palavras que
ouvira.
— Não, Harry Miller... Eu tava me prostituindo. Não foi isso que você disse que eu
faço? Que eu me vendo? Parabéns, você estava certo. — Soltou uma risada. — E adoro.
Ele apenas a observou sem dizer nada. Sabia que a tinha magoado, mas para ele nada
justificava essa atitude infantil de se vingar do mundo e dele sendo uma estúpida com sua mãe
e seu próprio pai.
A garota sentiu seu estômago embrulhar, sua cabeça pesou, e ela se deu conta de que já
estava no chão de seu banheiro, passava muito mal e vomitou até nem ter mais o que vomitar.
Harry, ligou o chuveiro e arrastou-a. Molhou a cabeça da garota. Aos poucos, foi tirando
a blusa com dificuldade e logo depois a calça. A essa altura não era o álcool que afetava tanto,
mas sim as consequências dele em seu estômago, fígado e sua cabeça que já explodia.
— Esse efeito desse negócio tem que passar. — Miller falou, segurando-a ainda mais
debaixo da água.
— Essa água tá fria! — reclamou, mas quase nem conseguia mais falar.
— Assim que é bom — disse, ríspido.
— Por que você se importa? Não precisa fazer isso só porque meu pai falou aquilo de
irmão mais velho
— Não é por causa disso — falou com raiva e ficaram minutos apenas com aquele banho
torturante para a garota.
— Então, é por quê? — disse olhando nos olhos dele.
— Shhh, quieta. Você não tá ajudando — disse e colocou os cabelos da garota para trás e
molhou seu rosto.
Ela apenas o olhou de um jeito estranho, não estava tão bêbada a ponto de conseguir dar
uma boa desculpa a seu pai e muito menos para não perceber que o que Harry estava fazendo
era no mínimo incompreensível.
Miller pegou uma toalha e a enrolou. Foi até o armário e pegou um dos pijamas que
tinha por lá, uma calça de moletom e uma camisa grande. Sabia que ela gostava de dormir
assim, bem confortável. Entregou-lhe. Victoria o olhou franzindo o cenho e segurou tudo,
fazendo um sinal com a cabeça.
Harry saiu do banheiro. Ele sentou na cama da garota secando suas mãos com uma
toalha de rosto. Pensou em como tudo era tranquilo em sua vida antes daquela granada
aparecer. Agora tudo era frágil e poderia explodir a qualquer momento.
Jones conseguiu vestir a roupa e escovou os dentes para dormir. Logo saiu do banheiro
com os cabelos úmidos e a maquiagem ainda persistindo em seu rosto.
— Você tem que tomar juízo, essa sua doideira não foi nada legal, as pessoas ficaram
realmente preocupadas — ele disse enquanto ela secava os cabelos.
— Vai me dar sermão, Miller? Se eu estivesse a fim disso tinha descido lá embaixo para
ouvir o do meu pai. — Ela parou e colocou a mão na cintura. — Sabe, ontem você me disse
aquelas coisas terríveis, eu sei que me odeia, mas me tratar daquele jeito? Você não tem
coração.
Ela pegou uma escova e começou a pentear os cabelos.
— Pior que eu tenho... — Ele respirou fundo. — Me desculpa, eu fiquei com raiva de
você — declarou.
— Por quê? O que eu fiz? — Ela colocou a mão na cintura.
— Você saiu com o Phillip — apenas disse. Ela deu um sorriso de canto.
— Ah não, espera aí, você teve ciúmes de mim? Não acredito. — Olhou para cima, um
sentimento estranho a invadindo.
— Ciúmes? — Ele balançou a cabeça. — De você? Nós não temos nada. — falou
enfaticamente
— É, não temos mesmo — disse séria. — Então, vai viver sua vida e me deixa viver a
minha.
— Então, pode deixar que é o que eu vou fazer. — Harry aumentou um pouco o tom de
voz.
— Então, vai. — Chegou mais perto. Estava o desafiando. Ambos se encaravam em um
olhar intenso que não era rompido.
— Pois eu vou mesmo. — Estavam frente a frente.
— Pode ir.
Ao mesmo tempo em que diziam aquelas coisas, era como se algo estivesse os unindo,
como se estivessem conectados. Se olharam por um momento sem dizer nada, e então o
inevitável aconteceu. Victoria pulou nos braços de Harry, segurando em seu pescoço e
enroscando as pernas em sua cintura.
Eles se abraçaram por longos segundos, como se tudo aquilo só fizesse sentido para
aquele momento. Ambos respiraram juntos várias vezes até que seus olhos puderam se
encontrar novamente. Harry mordeu seu lábio inferior fazendo toda a atenção dela se voltar
para aquele gesto, então encostaram os lábios e começaram a se beijar ferozmente.
Quando o ar se fez necessário voltaram a agarrar um ao outro com toda a força. A
energia que transmitiam um para o outro era quase selvagem, primitiva, pura e natural.
— Nunca mais, nunca mais some desse jeito, tá me ouvindo? — disse no ouvido da
garota, ainda de olhos fechados
Ele jogou-a na parede e ela começava a subir sua camisa, passando a mãos nas costas
largas do garoto. Colocou-a na cama e ela tirou a camisa dele jogando-a no chão. Estavam tão
conectados naqueles gestos, no que estavam sentindo, que mal conseguiam raciocinar fora
daquele pequeno mundo em que apenas os dois habitavam naquele momento.
Jones tirou a camisa, ficando apenas de sutiã. Ela entrelaçou as mãos nos cabelos dele e
puxava devagar. Ela virou-o ficando por cima dele, começou a beijar seu pescoço de um jeito
que fazia Harry tremer de tão bom que era. Beijaram-se novamente, ela começou a passar as
mãos sobre o abdômen dele, até parar sobre o zíper de sua calça.
Nunca sentira algo tão eletrizante em toda sua existência, somente ele tinha feito isso
com ela, era como se juntos não tivessem limites.
— Tira, tira tudo, eu quero que você seja o meu primeiro — disse, ofegante.
Então, houve um grande blackout no cérebro de Harry. Ele parou tudo que estava
fazendo e ficou estático.
— O quê? Seu primeiro? Você é... virgem? — Ele a tirou de cima. Não esperava isso.
Ficou em pé, tentando recuperar o fôlego, passou a mão sobre os cabelos pensativo. Para
ele, Jones parecia, como se pode dizer, experiente. Era algo em sua atitude, ele não sabia
explicar, só achava isso desde que a conhecera.
— É, sou. Você se incomoda com isso? Vem cá — foi puxando-o para outro beijo. Ele
não se incomodava na verdade, mas isso era inesperado, ele não sabia como estava se sentindo.
— Não. — Ele a afastou um pouco e olhou em seus olhos. — Não tem que ser desse
jeito, você ainda tá meio mal — referiu-se ao seu estado anterior.
— Ah... — Ela o olhou, estava realmente se sentindo doente agora, não pela ressaca, mas
por aquela situação. — Você não quer, então vai embora. Agora, de verdade. Estou cansada de
ser humilhada — falou, sentindo todo o peso do que havia acontecido com Harry atingi-la.
Sentia-se estranha perto dele, nunca gostava de ficar para baixo com ninguém. Quando alguém
a tirava do sério, ela fazia questão de esculachar até conseguir que a pessoa ficasse mal, mas
com ele se sentia como se sempre ''perdesse'' a luta apesar de algumas vezes dizer que
''ganhou''.
— Você entende tudo errado — ele chacoalhou a cabeça.
— Pode ir, Harry. Tenha uma boa noite. — Foi fazendo um gesto com as mãos, até que
ele já estivesse fora. Ele a olhou profundamente como quem diz um sinto muito silencioso. Ela
fechou a porta em sua cara.
Victoria se deitou na cama e não demorou cinco minutos já estava em um sono
profundo.
Harry entrou em seu quarto e, diferente dela, não conseguiu pregar o olho, aquela
situação toda o tinha perturbado. Sentia que não saberia viver sem os beijos dela, sem sentir
aquela pele colada na dele. O que o impedia?, ele pensou. Pensou em uns mil e um motivos
para não seguir em frente com aquilo que sentia. Mas nenhum conseguiu ser forte o bastante
para deixar de sentir o que sentia, para deixar de pensar em seus lábios tocando os dela, em seu
corpo sobre o dela ou vice e versa. Pensou em como seria se não tivessem interrompido,
pensou em uma noite inteira com ela. Já estava desfeito.
Na manhã seguinte, Victoria acordou com um peso sobre seu corpo, a cabeça doendo
como em todas as vezes que teimava em beber e, um grande susto, seu pai estava em seu
quarto, parado, observando-a.
Ela acordou em um pulo e quase caiu da cama.
— Bonito, hein? — Ele respirava fundo, não queria se exaltar tanto porque a presença
deles naquela casa ainda era muito recente, mas aquela situação o desagradava totalmente. —
Muito bem, você chegou que horas?
— Sei lá pai, sei lá — disse coçando os olhos
— Você acha que tudo bem sumir assim e voltar, deitar na cama? — Ele fechou os olhos
tentando buscar equilíbrio. — Eu não sei o que faço com você, Victoria.
— Vai começar o sermão. Eu já entendi tá, nem precisa começar a dizer ... Eu não quero
ter que ouvir tudo de novo. Já sei que sou um peso na sua vida. — Ela colocou o cabelo para
trás da orelha.
— Você só repete os mesmos erros. Onde você se meteu? — gritou
— Fui dar uma volta em Londres.
Ele arregalou os olhos. Londres ficava a muitas horas daquela cidade.
— Londres? Você perdeu o juízo? — Ele colocou as mãos na cabeça sem nem conseguir
acreditar no que sua filha havia feito e no perigo que poderia ter corrido.
— Tive que ir sozinha. Afinal, desde de que chegamos aqui você não saiu para nenhum,
para absolutamente nenhum lugar comigo. Você só se importa com esse trabalho, e com essa
sua nova família. — Olhou para a porta do seu quarto. — Às vezes parece que prefere ficar
conversando com o Harry do que comigo.
— Você está com ciúmes do Harry? Esse é o problema?
Ela puxou um pouco seus cabelos, arfando.
— Não, o problema é que eu posso estar rodeada de pessoas, mas me sinto sozinha. Eu
não tenho a pessoa que eu mais amava do meu lado para conversar e me dizer o que são essas
coisas que eu estou sentindo. Eu quero morrer, quero estar junto dela, ela tinha que estar
comigo, eu não sei o que está acontecendo, isso, eu... — Os olhos dela já estavam cheios de
lágrimas. — Estou assustada. Tudo mudou. E todo dia é a mesma coisa, eu chego em casa,
almoço sozinha, durmo de tarde ou fico no computador, você chega à noite, trocamos meia
dúzia de palavras durante o jantar, e vamos dormir. Só isso e se repete todos os dias, não
aguento mais. — As lágrimas escorriam pelo seu rosto. Ela realmente não tinha a intenção de
dizer tudo aquilo, mas as palavras foram apenas saindo.
— O que você quer que eu faça? Você não conversa comigo, não me conta nada, fica em
silêncio na maior parte do tempo. Você não se ajuda, você poderia fazer essa família dar certo,
mas não se esforça. — Ele sentou na cama e sentiu como se suas mãos estivessem atadas. Sua
filha estava envolta em uma adolescência complicada e ele não sabia como iria ajudá-la.
— Deve ser porque você me colocou para morar na casa de pessoas que eu nunca havia
visto na vida. — Respirou fundo. — Essa foi a pior decisão que já tomou.
— Você não está feliz aqui?
Essa simples pergunta fez muitas coisas girarem na mente de Victoria, ela realmente não
sabia o que era felicidade de verdade, eram como pequenas felicidades momentâneas, mas
nada comparado ao que sentia antes de seus 10 anos. Tudo em sua vida se tornou em antes e
depois da morte de sua mãe e, por enquanto, ainda não sentia que achara seu lugar, ainda
estava perdida, ainda não havia superado.
— Não, não estou — respondeu olhando para baixo.
— Você quer ir embora? — Ela o olhou. — Quer ir morar com a sua avó?
Não era a primeira vez que George falava no assunto. Ele tentava pensar em diversos
modos que fizessem com que o comportamento de sua filha fosse amenizado e muitas vezes
colocava a culpa em sua criação. Talvez uma figura feminina e até materna pudesse ser o
melhor, ele pensou diversas vezes. Porém, quando Vick ouviu isso foi como se fosse concreto
que para seu pai ela era apenas uma bagagem, algo que pode ser despachado, jogado de um
canto para o outro e não uma parte que ninguém pode separar.
— O quê? Você está me despachando? — Cruzou os braços.
— Eu nunca faria isso, só quero que seja feliz. — Ela deu uma risada irônica ao ouvir
seu pai dizer isso.
— Esse é o seu papinho sempre. OK, então sim, eu vou, vou ir embora daqui. Chega
disso.
Victoria se levantou da cama, jogando seu cobertor no chão. Entrou no banheiro e bateu
a porta com força. Encarou-se no espelho e só conseguiu sentir dor. Uma dor terrível.
Estou sentindo uma enorme vontade de sumir daqui e nunca mais voltar. Eu não quero morar
com a minha avó paterna, ela é muito chata. Cheia de frescura com tudo. Não pode fazer isso,
não pode fazer aquilo. Senta direito, olha a postura! Vai ser um inferno. Além de que
verdadeiramente nem tenho tanta intimidade com ela. Mas eu tenho vontade de sair dessa casa.
De fugir disso tudo que está me afetando tanto. Parece que tudo está me engolindo e eu não
vou conseguir escapar.
Não aguento mais olhar para o Harry, sem querer fazer... Ah, não posso pensar nessas
coisas. Ou posso? Tudo que o envolve é uma confusão na minha mente. Algumas vezes chego
a nem conseguir interpretar o que é real ou o que é coisa da minha cabeça. Se nas vezes que ele
olha para mim de maneira tão doce e sincera ele estaria fingindo ou se nem ao menos ocorrera
tal fato.
Eu estava bem alterada na noite anterior, mas me lembro, me lembro que nos beijamos,
ainda consigo sentir seu gosto. Me lembro de mandá-lo embora do meu quarto por algum
motivo. Não me lembro bem exatamente porquê.
Isso nem importava, eu mais uma vez fugi, tentei escapar da minha realidade. Fui para
outra cidade, encontrei pessoas diferentes, fui em lugares diferentes. Tentei até fugir de mim
mesma bebendo bebidas fortes que eu sabia que me deixariam fora de si rapidamente. Eu já
não era mais uma menina ingênua, vítima das descobertas da vida, eu já havia conhecido
aquilo, já tinha ido em festas, bebido, experimentado coisas de que eu nem me orgulho tanto,
eu sabia dos perigos, porém mesmo assim me arrisquei.
E só então quando estava retornando para Holmes Chapel de carona com um grupo de
pessoas que eu nunca havia visto na vida, e nem ao menos me recordo de seus rostos, que
percebi que poderia percorrer mil quilômetros, mas nunca escaparia de mim mesma e isso era
o pior de tudo.
Arrumei-me e desci para tomar café da manhã, já estava atrasada. Meu pai estava de cara
amarrada ainda, e eu também não estava lá com a expressão mais feliz do mundo. Anne me
abraçou e disse que ficou preocupada. Eu pedi desculpas e contei a mesma lorota que havia
contado para o meu pai. Era algo patético quando eu tentava me convencer de que foi
exatamente aquilo que aconteceu, só que eu me lembrava que estava mentindo.
De repente, Harry veio descendo as escadas, me surpreendi, pois pensei que ele já havia
ido para a escola. Já estava tarde, era para ter saído há uns quinze minutos.
— Você demorou hein? Vai se atrasar — disse terminando de tomar seu café e
arrumando sua bolsa.
— É... Já deu para perceber — disse grosso, pegando um sanduíche e colocando dentro
de sua mochila. Ele realmente não parecia estar bem e pelos seus olhos aparentava ter dormido
muito mal.
— Hi, mal-humorado — reclamou sua mãe.
Sua energia estava pesada e ele nem olhou para mim. Não daria, já que cada gesto que
realizava fazia de cabeça baixa, parecia mesmo que ele não queria contato comigo. Não como
se estivesse me evitando, era mais como se estivesse tentando fugir.
— Fui — falou com pressa, caminhando para a saída dos fundos.
Fiquei curiosa para saber o motivo daquilo porque, até onde sei, quem deveria estar
fugindo de alguém era eu dele, já que ele foi estúpido comigo.
— Harry, espera, eu vou com você. — Peguei minha mochila correndo e ele ficou meio
estático na porta.
— Seu namorado não vem te buscar hoje? — disse, já na moto. E mais uma vez me
lembrei que tudo que a gente vivia era como em ''como se fosse a primeira vez'' só que em vez
de um só esquecer de tudo que acontecesse no outro dia, éramos nós dois que fingíamos
esquecer, umas vezes eu, outras ele, quando era conveniente. Só que eu já estava me cansando
dessa situação. Posso ter bebido na noite anterior, mas não a ponto de esquecer que nos
beijamos. Ele deveria pelo menos ter olhado para a minha cara.
— Harry... — Respirei fundo para não começar mais uma das nossas infinitas discussões
matinais. — Cala a boca e dirige! — Subi na moto e apertei meus braços em sua cintura. Pude
ouvir sua respiração pesada, ele soltou o ar dos pulmões.
— Você que manda, Senhorita Marrenta. — Não via seu rosto, mas poderia jurar que ele
revirara os olhos irresistivelmente verdes. Grande bitch!
Ele acelerou e saímos pelas ruas da pequena cidade. Não estávamos a 300 quilômetros
por hora, estávamos mais para uns 60 e eu gostava disso porque pelo menos o percurso
demoraria mais para ser completado. Eu estava grudada nele, sentia aquele cheiro de banho
recém-tomado e um perfume suave que me embriagava. Deitei a cabeça em suas costas e pude
relaxar e pensar um pouco na minha noite louca.
Não sei onde estava com a cabeça quando decidi ir a Londres, ficava a algumas horas de
distância e eu nem conhecia ninguém, mas fui. Peguei um trem e parti. Foi uma das mais
loucas experiências, nunca havia feito isso em Chicago, nunca precisei, já que era como um
parque de diversões para mim. Quando cheguei na capital, nem perdi tempo com pontos
turísticos. Fui em busca do que realmente estava procurando — diversão garantida ou seu
dinheiro de volta. E lá fui em um pub que estava super movimentado na frente. Sabia que era
menor de idade e que seria barrada. Então, somente me infiltrei no meio de algumas pessoas
que estavam super animadas e pareciam ser descoladas e clientes fixos do local. Quando me
dei conta, já estava lá dentro. Diferente da minha outra cidade, não via tantas meninas com
bronzeamento artificial e roupas curtas e garotos musculosos de academia. As mulheres, em
vez de saltos imensos usavam botas e camisas de bandas de rock, os homens usavam xadrez e
tinham cabelos em diferentes estilos de corte. Gostei. Somente encostei no bar e logo um cara,
que parecia ser um pouco mais velho do que eu, me ofereceu uma bebida. Eu aceitei, mas nem
lhe dei muita atenção, logo fui para a pista de dança e me acabei de dançar.
Um pigarro me despertou do meu transe, eu estava pensando tão profundamente na noite
que nem me dei conta do tempo passando.
— Oi? Já chegamos.
Abri os olhos e lá estava a gente de frente para a escola. Eu abraçada ao Harry e ele me
olhando com um sorrisinho debochado e com a sobrancelha arqueada. Devia estar parecendo
uma otária. Na verdade, talvez fosse exatamente o que eu era.
Larguei-me dele e desci da moto. Que vergonha, ainda bem que ninguém viu aquela
cena ridícula. Quer dizer, assim espero.
— Tenha uma boa aula, irmãzinha — disse, dando um tchauzinho.
— Estudamos na mesma sala, babaca. — Ajeitei minha roupa, que há pouco estava
sendo amassada junto às costas do Miller.
— Eu sei, é que é bom ser o irmão mais velho e responsável. — Sorriu de canto. O que
ele estava falando? Oh, céus.
— Ah, claro. Você é um ótimo irmão para mim. Só não sei se o fato de você abusar de
mim te qualifica pra isso.
— Eu abuso de você? — Ele gargalhou ironicamente. — Não se lembra de ontem?
Até que enfim ele iria querer falar de ontem.
— O que tem ontem? — perguntei e ele sorriu, malicioso.
E logo o alarme tocou, anunciando que os alunos deveriam entrar.
— Que pena, temos que entrar. — Ele simplesmente virou-me as costas.
— O que teve ontem? — Eu me lembrava de muitas coisas, mas não sei se de tudo,
estava ficando nervosa com aquele assunto.
— Não posso chegar atrasado, tchau. — Começou a correr em direção à escola e eu o
segui.
Entramos na sala juntos e o professor ainda não havia chegado. Eu e Harry nos olhamos
sorrindo por um tempo. Eu queria arrastar aquela carinha linda no asfalto, ele amava me deixar
fora do sério. Foi quando essa interação visual foi interrompida com Phillip me agarrando pela
cintura e me dando um selinho.
— Oi, você me pegou de surpresa. — Eu sei que fiquei sem graça e, sem tentar dar na
cara, olhei rapidamente para o Harry, ele andava em direção à cadeira.
— Você fala assim como se nada tivesse acontecido? — Ele deu um sorriso perdido. —
Eu fiquei preocupado com você. Onde você se meteu? — Eu esqueci de avisar isso para ele
quando nos conhecemos. Eu faço isso, esqueço de tudo e de todos e somente faço coisas que
muitas vezes machucam as pessoas.
— Te conto mais tarde. — Dei um sorriso para tentar amenizar, se bem que não estava a
fim de me explicar ou de falar mais sobre a noite que tive.
— Tudo bem. Senti sua falta. — E me deu outro beijo, agora mais demorado. Eu não sei
o que estava acontecendo comigo.
Por que depois de beijá-lo fui olhar exatamente para o Harry? Quando meus olhos se
encontraram com aqueles olhos esverdeados, me senti mal. Ele balançou a cabeça e olhou para
o outro lado. Sei que ele odiava o Phillip, mas teria que se acostumar, não é mesmo? Afinal,
estávamos praticamente namorando. Só então me dei conta disso, era realmente sério, o Phillip
estava me beijando em plena turma. Ele queria afirmar algo a todos, mas será que eu também
estava querendo isso?
Fomos sentar no nosso lugar de costume e praticamente todos os alunos falaram comigo,
dizendo que ficaram preocupados. Maria, Maya, Elis e Bia me deram um abraço apertado. E
me xingaram um pouco por eu ser uma sem juízo. Fiquei sem graça por todos estarem de certa
forma acompanhando a minha vida. Isso era tão coisa de cidade pequena... Não estava
acostumada a isso.
De repente eu ouvi uma voz no mínimo desagradável
— Todos ficam aí se preocupando com essa ridícula. Não estão vendo que ela só está
querendo aparecer?
Senti meu sangue começar a bombear mais rapidamente.
Olhei para trás e claro... Quem falou isso? Foi a patricinha mimada da Karolinne, que até
então ainda não tinha me encarado de frente, só com sua mania de ficar cochichando por aí e
falando de mim pelas costas. Mas não sei qual foi a coragem que ela teve hoje para fazer isso.
— Você me chamou de quê? Repete! Repete que eu quero ouvir! — eu disse
aumentando o tom de voz. Já estava de saco cheio dessa garota.
Ela pensava que era quem?
— Isso mesmo que você ouviu. — Deu um sorrisinho sonso. Minha vontade foi de
arrancar todos aqueles fios loiros um por um.
Eu já ia até ela quando o Phillip me puxou e o professor entrou na sala. Essa Karolinne
não tem ideia de com quem está mexendo. Desde que entrei nesse maldito colégio ela adora
jogar indiretas e falar de mim.
Eu nunca fiz nada com ela... Ainda.
— Que garota estúpida. Não liga para ela não — falou Maya que estava do meu lado.
Não ligar? Até parece.
— Ah, eu ligo. Isso não acabou aqui. — Dei um sorriso.
Phillip me olhou preocupado.
— Hey, não quero você se metendo em confusão. Essa escola é muito rígida e toda
certinha com essas coisas de brigas. Não quero que te aconteça nada. — Ele falou segurando a
minha mão.
Ele tinha esse dom de me acalmar. Tentei relaxar mais, realmente acho que deixei
preocupados todos que gostam de mim. Grande sinal de que sempre foi melhor eu estar
sozinha, mas como me afastar de pessoas tão gentis comigo? Eu me sinto até... feliz. O que
poucos meses atrás era quase inimaginável sentir isso — uma alegria verdadeira.
As aulas se passaram e eu já não estava mais aguentando ficar ali. A última aula foi com
uma professora de Filosofia, que começou a perguntar o que todos queriam fazer da vida.
Ficamos em círculo na sala. Essa pergunta me afligia um pouco porque de fato acho que nunca
parei para pensar de verdade nisso. Tudo o que eu fiz sempre foi momentâneo, eu tinha o
pensamento mórbido de que todo dia podia ser o meu último dia, então somente me jogava
sem pensar em consequências ou no amanhã. O problema é que o amanhã estava se
aproximando cada vez mais de mim.
— Quem pode começar? — A professora sorriu ao começar a discussão do tema. — O
que vocês querem fazer da vida no futuro?
Claro que uma pessoa no mínimo desnecessária já começou a falar sem nem pedir
licença. Depois ainda tem a ousadia de dizer que sou eu que gosto de aparecer.
— Eu quero continuar milionária. Ser famosa. Ter um programa que fala da minha vida
na MTV.
Como pode ser tão fútil? Se essa Karolinne me odeia, isso me faz ter orgulho de mim
mesma porque a pessoa dela é desprezível.
— Nossa, volta pra caixa, Barbie — falei sem conseguir me segurar. Revirei os olhos e
alguns alunos riram.
Não podia ficar calada, olha o que ela estava respondendo. Se não tivesse me irritado
mais cedo talvez eu tivesse apenas rido como todos, mas agora ela tinha travado uma guerra
comigo, guerra que eu pretendia ganhar.
Ela deu um risinho irônico e olhou para o Harry.
— Pelo menos não sou uma drogada, bêbada, que foge de casa — disse e sorriu
diabolicamente. Nisso eu acho que acabei de perder toda a minha paciência. Eu ia acabar com
essa patricinha escrota.
— Como é? — me levantei.
Vi a professora chegar perto rapidamente e segurar meu ombro
— Senta na sua cadeira Jones. Agora! — disse imponente. Não disse nada para a idiota
da Karolinne.
— Você tá brincando com o perigo, garota. — Apontei pra ela. E ouvi a professora gritar
meu sobrenome outra vez em forma de repreensão.
Um silêncio se prolongou na sala e eu só queria arrastar aquela garota para fora dali e
ensiná-la a não mexer com quem ela não conhece.
— É, eu vou dizer o meu agora — Maya disse tentando disfarçar o ocorrido e apaziguar
as coisas. Claro que não me faria parar de sentir o ódio que estava sentindo.
— Pode falar — a professora disse ajeitando os cabelos. Ela parecia tão despreparada...
Acho que nunca tinha separado uma briga entre alunos, quem sabe eu possa dar essa primeira
experiência a ela?
Maya continuou.
— Eu quero ser uma produtora de eventos. Sabe, organizar peças de teatro, shows de
rock ou festas épicas — disse, animada.
Isso com certeza refletia parte da personalidade de minha amiga, era ela ao mesmo
tempo empolgada e organizada com as coisas. Algumas pessoas muitas vezes só conseguem
ser uma coisa ou outra, mas ela possuía o dom de ser ambas. O próximo a falar foi Louis, o
melhor amigo do canalha do meu irmãozinho, que, por algum motivo, ficava balançando o pé.
Por que eu não parava de olhar? Eu que era a errada.
— Eu quero ser um ator, sou com certeza o novo Jim Carey. — Todos riram. — Podem
rir, quando eu for famoso e ganhar o Oscar, vocês vão ver quem vai rir por último.
Esse garoto era uma comédia, se não escolhesse tão mal suas amizades, talvez eu
pudesse até ser sua amiga.
Uma das cachorrinhas de estimação da Karolinne levantou o braço para falar. Ela era
bonita, mas parecia de certa forma apagada perante as duas outras. Era sua personalidade que
não colaborava.
— Eu quero ser ... — Ela foi interrompida pela própria ''amiga'', a rainha da
inconveniência.
— Você vai ser minha assessora, não se lembra? Já está decidido.
Nossa, que garota nojenta. Por que não fazem um abaixo assinado para essa garota calar
a boca por todo o resto do ensino médio? Seria, sim, um ato lindo de se fazer. Um ato de
misericórdia para os meus ouvidos.
— Não, na verdade eu quero ser jornalista — disse, decidida. Ela respondeu. E pela cara
que fez quando sua queridinha a interrompeu ela estava bem chateada. Quem sabe possa
querer me ajudar a dar uma surra em Karolinne na saída?
— Ui, vejo que alguém se demitiu aqui — Louis zombou.
— Cada um que aguente as consequências de seus atos. Cerrou os olhos em direção a
Joanne, que ficou calada.
Ela falou isso em um tom de ameaça e eu não consegui mesmo compreender que espécie
de amizade era aquela. Amigos não fazem aquilo uns com os outros, pelo menos o pouco que
sei de amizade me fez aprender isso.
— Eu quero ser uma agente secreta. Sabe, tipo as panteras, aquilo é muito legal. —
Rafaela, a gêmea da Bia, que parecia uma toupeira quando abriu a boca disse e foi inevitável a
zoação que se iniciou.
Somente sua irmã não riu. Se fosse o contrário, duvido que ela não zombaria da Bia. Isso
é algo revoltante de se ver, a forma como ela trata mal a Bia, mesmo ela sempre provando que
a amava.
— Tá, tudo bem, vamos continuar — disse, fazendo com que todos parassem de gritar.
A rodinha continuou e os alunos foram um de cada vez tendo seu espaço para falar e as
respostas eram diversas. Das mais loucas, como de Nev, que simplesmente disse que queria ser
uma batata, tirando gargalhadas de todos menos da professora. Ele ainda teve a cara de pau de
justificar, dizendo: ''Batatas são vegetais divinos, são redondinhos, brilhantes e, a melhor parte:
são magicamente e deliciosamente gostosas.'' A professora com certeza quis matá-lo em
pensamento.
Todos foram dizendo seus anseios para o futuro. ''Eu quero ser veterinária, eu adoro
animais. E assim podia ficar mais próximo deles'', disse Maria. ''Eu quero ser médico. Aí iria
cuidar de todas as crianças fofinhas que estiverem doentes'', falou James com o olhar sonhador.
Victor disse que queria ser um empresário famoso, da música ou dos esportes. Elis
respondeu, decidida: ''Quero fazer Direito e ser promotora de justiça.'' Eu ficava comovida em
como as pessoas pareciam estar tão certas do que iriam fazer. E para mim parecia algo muito
complicado de se decidir. Chegou a vez do meu quase talvez futuro namorado responder.
''Quero viver minha vida ao máximo, quero viajar para muitos lugares, poder andar nos
melhores carros do mundo.''
— Sim, mas que profissão deseja seguir? — a professora questionou.
— Sei lá, eu só quero ser feliz. — É, essa é uma ótima filosofia de vida para alguém
bilionário.
Também gostaria de viver minha vida viajando pelo mundo só não sei se não tendo
algum emprego isso seria possível.
— Quero ser artista plástica — Bia disse quando a professora apontou para ela. Seu jeito
era tímido, mas seus olhos eram cheios de paixão e sonhos, mesmo por baixo dos óculos
grandes dava para ver isso, era algo motivador.
— Não sabia que você gostava de desenhar — A professora comentou. Bia apenas
assentiu. Victor a olhou e sorriu, como se admirasse o seu sonho. — Harry?
— Meu sonho mesmo é estar em um palco com uma quantidade x de pessoas, não
importa se muita ou pouca gente. Eu só queria que elas cantassem minha música, que
estivessem alegres, ou mesmo que a letra as tocasse de alguma forma, que essa letra chegasse
até sua alma. Eu queria poder transmitir o que eu sinto através das letras e poder viver disso.
Nunca pensei que aquela seria a resposta dele. Esperava algo como, quero ganhar na
loteria e sair por aí pegando todas as mulheres mais gatas. Pelo visto, eu não devo conhecer
tanto assim o Harry como acho que conheço. Ou, talvez, meus problemas com ele só fazem
com que eu o subestime. Porém, em vários momentos ele me surpreende, não posso negar isso.
Essa resposta foi mesmo muito inspiradora. Assim como muitas que ouvi durante quase uma
hora e meia de debates sobre o assunto.
— Bem, acho que só está faltando uma pessoa falar... — Todos olharam para mim. Foi
estranho me sentir tão envergonhada e nervosa.
E agora? Eu que sempre tenho algo a dizer, a pessoa da respostinha na ponta da língua,
estava ali muda, com todos me olhando. Não sei o que dizer, nunca consegui parar quieta em
nada, nem em esporte nenhum, nem em aulas de dança, nem em qualquer atividade que
comecei.
Não sei de que matérias gosto. Na verdade, naquelas que tenho mais facilidade, durmo
nas aulas. E naquelas que acho chatas, acabo dormindo também. Não que eu durma no sentido
real da palavra. É mais como simplesmente não me concentrar. E então eu estava ali vendo as
consequências do meu desprendimento com tudo. Não tinha o que dizer, me senti vazia, sem
conteúdo no meio de pessoas que, por mais que possam ter respondido coisas bobas ou
desinteressantes, tiveram o que dizer. Ao contrário de mim.
— Victoria Jones, quais são suas perspectivas para o futuro? — A professora repetiu
diretamente para mim, como se eu já não estivesse consciente de que era a minha vez de falar.
Acontece que eu não sabia o que dizer.
— Futuro... — Falar em futuro é tão difícil quando se está preso a teias do passado.
Nunca me senti mais impotente na vida. Todos estavam fixados em mim.
— Sim, como você se vê daqui a alguns anos?
Como eu me via? E se eu não me visse? Se fosse tudo em branco? Não podia? Olhei
para aqueles rostos que me encaravam e nenhum deveria estar entendendo o que se passava em
minha mente. Eu estava apenas fazendo papel de boba.
— Não sei, eu não consigo... Eu... — Olhei para o chão várias vezes.
— Não pensa em nada, não tem nada em mente? — Mais uma vez tentou obter algo de
mim, sem sucesso.
Por que essa professora fica fazendo essas perguntas perturbadoras? Isso está fazendo
laços e laços em minha mente e estes estavam se embolando. Eu não sei, não sei para onde
vou, não tenho ideia. Só me vejo fugindo e correndo pelos cantos. Não me vejo parada em
algum lugar. Não me vejo em um futuro.
— Você está bem? Se não quiser responder... — Vi aquelas três cobras cochichando
alguma coisa. Que ódio dessas garotas, elas estavam me provocando.
— É... Eu quero ser, quero... — Eu tentei pensar em algo, mas me pareceram coisas
muito incoerentes. Poderia falar qualquer coisa, médica, bombeira, policial, dentista, corretora
e mil outras profissões, podia ser uma resposta rápida e simples, mas não consegui.
— Pode dizer, sempre tem algo de que a pessoa goste.
O que eu mais gostava no mundo? Só uma coisa veio à minha mente.
— Eu gostava quando minha mãe cantava pra mim — disse baixinho, muito baixo,
talvez só para mim para que ela soubesse, aonde quer que estivesse, que era disso que eu
gostava. Eu me sentia tão perdida ali... Sem ela. Sei que foi a coisa mais nonsense que poderia
ter dito e agradeci por ninguém ter escutado, mas apenas disse. Foi maior que eu.
— O que disse? Fale alto para a turma toda.
Não conseguia mais suportar, aquela sala parecia cada vez menor, estava quase me
engolindo.
— Nada. Eu posso beber água? — disse sem esperar resposta, apenas saindo da sala.
Queria poder respirar um pouco. Isso é um grande dilema na minha vida. Não sei
realmente o que farei depois da escola. Não posso ficar morando com meu pai para o resto da
vida. Preciso me decidir, mas não sei o que fazer, não sei por onde começar a me decidir.
Respirei fundo e bebi um pouco de água tentando encontrar equilíbrio para voltar
naquela sala e fingir que nada havia acontecido.
Voltei e as cadeiras já estavam dispostas em seus devidos lugares. A professora estava
terminando de dizer algo.
— Espero que essa atividade tenha servido para que vocês se conheçam mais e para que,
quem sabe alguns não começam a refletir sobre o que querem realmente fazer? — Ela olhou
diretamente para mim.
A aula acabou e todos foram saindo. Phillip pegou em minha mão e foi me guiando até a
saída.
— Quer ir lá pra casa? — Seu tom era brincalhão.
— O que vai ter lá? — sorri debochada, eu sabia das suas intenções.
— Só depende de você. — Deu um sorrisinho malicioso.
— Que isso? Tá querendo me seduzir? Eu, uma jovem donzela indefesa? — Fiz uma
cara de inocente, não sei se consegui fazer direito.
Phillip me agarrou e nos beijamos na portaria do colégio. O cheiro dele é tão bom, e nem
preciso falar que o garoto beija muito bem. De repente, uma sombra pairou sobre nós dois.
Abri os olhos e vi aquele ser parado, com os braços cruzados, cerrando os olhos. Parei o beijo.
Parker se virou e revirou os olhos ao ver que Harry estava ali parado.
Eu não sei o que ele está fazendo ali, mas sei que o clima não vai ficar leve por muito
tempo.
—Você não se manca, né? — Phillip falou e me separei um pouco dele.
— Psiu, fica na sua que o meu papo não é com você. — Ele desviou o olhar para mim.
— Estou te esperando na moto.
— Quem disse que ela vai com você? — Phillip deu um passo à frente e eu segurei sua
mão.
— Eu estou dizendo. Cinco minutos. — Praticamente ignorou a irritação do garoto do
meu lado e saiu.
— Esse garoto é um mala, como você aguenta morar com ele? — perguntou e eu mais
uma vez me senti completamente mergulhada naquilo tudo. Exatamente, como eu conseguia?
Será que aguentaria por mais tempo?
— Não sei Phillip, realmente não sei. — Eu o abracei e por algum motivo sorri. Não era
fácil. Sabia disso mais que ninguém.
— Você já vai? — Olhou em meus olhos como quem pede algo.
— Tenho que ir, senão meu pai briga comigo — menti. Eu só precisava colocar uma
história a limpo.
Nós nos beijamos e eu corri em direção ao estacionamento. Queria que ele estivesse lá,
queria sentar em sua garupa e inalar seu cheiro, deitar minha cabeça naquelas costas e
permanecer ali até chegar em casa. E essa vontade estava destruindo a minha mente. Como eu
podia ter esse tipo de desejo por alguém que parecia não gostar de mim?
Uma fina chuva umedecia meus cabelos e meu rosto. Olhei para a vaga e ele não estava
lá. Mas que droga! O que custava esperar um pouco? Abaixei a cabeça e me virei para tentar
alcançar Phillip para que ele me desse uma carona. Ou simplesmente iria ter que andar várias
quadras na chuva.
De repente uma buzina forte me assustou, Harry surgiu ali na minha frente. Já de
capacete.
— Tá esperando o quê? Vamos logo! — ele disse me apressando.
Eu rapidamente subi na moto e, quando vi, a brisa com pingos de chuva já invadia meu
rosto. Abracei-o forte e fechei os olhos para multiplicar aquele momento por mais vezes que
fosse possível. Logo já estávamos em casa. Harry estacionou a moto e dessa vez eu desci sem
ser mandada. Entramos em casa um pouco molhados. Ele foi em direção à cozinha.
— Você pensa que eu esqueci, não é? — disse da sala.
— O quê? — Fui até a cozinha.
— Você acha que eu esqueci da minha pergunta sem resposta.
Estávamos sozinhos em casa. Acho que era o momento de esclarecermos o que tinha
acontecido e talvez o que iria acontecer, porque a situação, pelo menos para mim, estava
ficando bastante confusa.
— Que pergunta? — Ele se fez de sonso.
— O que aconteceu ontem? — Eu coloquei minhas mãos na cintura.
— Você não se lembra de nada? — Ele riu.
— Me lembro. Lembro que nos beijamos, de novo, infelizmente. — Não era verdade, ou
talvez fosse. Por um lado era sim, infelizmente, de fato.
— Ah claro, você pareceu odiar — disse irônico.
— Ridículo. O que aconteceu mais?
— Além de você não ter juízo, fazer todos ficarem preocupados, correr perigo nas ruas e
etc. Graças a mim, mais nada. — Ele parou e bebeu um pouco de suco de laranja. — Não se
lembra por que você me expulsou do quarto? — Ele olhou diretamente em meus olhos.
— Não, por quê?
— Só porque eu não quis tirar a sua virgindade. Estava desesperada. — Ele riu. Eu parei
por alguns segundos. Não estava acreditando em como seu tom era debochado em relação a
algo tão particular meu.
— Seu idiota, ridículo. — Eu me aproximei rápido e comecei a dar tapas nele. Ele
merecia. — Não sei em que mundo está para inventar algo assim. — Meu Deus, será que fiz
mesmo isso? Será que cheguei ao ponto de quase... Nunca mais vou beber.
— Viu? Ainda está brava por causa disso? Não seja por isso, eu só não fiz ontem porque
você estava meio grogue, mas hoje... Quem sabe? — Ele me agarrou pela cintura com força e
me levantou, me apoiando no balcão da cozinha.
Eu dava chutes nele, mas ele conseguiu segurar minhas pernas e se colocar entre elas.
Acariciou meu rosto, parecia uma espécie de mágica para fazer eu me acalmar. Se aproximou
mais, encostou os lábios na minha bochecha, percorrendo a lateral do meu rosto até descer
chegando ao meu pescoço e distribuindo beijos naquela região.
— Não, sai! Não quero! Você é um aproveitador! — Empurrei-o de leve, mas sem
afastá-lo por completo.
— Não quer? — Ele me encarou. — Então, tudo bem. — Ele se afastou um pouco. Só
que eu desejei o contrário. Em um impulso o segurei pela gola da camisa e puxei até mim.
Colando nossos lábios, comecei a beijá-lo.
— Pensei que não queria. — Sussurrou separando seus lábios dos meus.
— Shhhh, fica quietinho. — Beijei-o outra vez, queria mesmo que aquilo provasse que
não era loucura da minha cabeça, alguma coisa muito louca estava acontecendo ali.
Ele me agarrou pela cintura e eu entrelacei minhas pernas em sua cintura. Harry foi me
levando para a sala, nos deitamos de uma só vez no sofá. Não paramos de nos beijar, nossas
línguas pareciam ser feitas uma para outra. Ele estava por cima de mim. Eu comecei a tirar a
camisa dele, ele me ajudou. Seu corpo era tão quente e forte, sua pele era como a oitava
maravilha do mundo, tão macia, que gostaria de me cobrir com ela todas as noites, como
naquele momento.
Arranhei suas costas e abracei-o sentindo seu cheiro.
— Não para — disse enquanto ele beijava meu pescoço, chupando-o e dando leves
mordidinhas. Ele adorava brincar com a língua, e alguns dos meus sentidos começaram a se
aguçar.
Começou a levantar minha blusa, passando a mão pela minha barriga. Eu o ajudei a tirá-
la, ficando só de sutiã. Ele olhou para os meus seios e mordeu os lábios com uma expressão de
desejo. Estávamos tão quentes, eu o queria mais do que quis qualquer presente de Natal em
todos os anos da minha vida, desejei-o da forma mais verdadeira... Foi beijando meu colo, indo
e voltando do pescoço até aquela região. Depois foi querendo tirá-lo, mas eu o impedi, receosa.
Não queria que fosse além, queria continuar apenas sentindo o gosto de seus lábios, sem me
preocupar com outras coisas.
— Harry, não quero que seja assim — disse, fazendo com que ele olhasse diretamente
para mim. Ele sabia do que eu estava falando e senti algo poderoso em seu olhar:
compreensão. Ele simplesmente me entendeu.
— Tudo bem, tudo vai ser do jeito que você quiser. — Ele abaixou a cabeça até mim, me
deu um beijo na bochecha e depois me beijou carinhosamente, um beijo lento e meigo. Nunca
havíamos nos beijado daquele jeito e eu gostaria de mais exemplos daquilo.
Eu estava tão envolvida que me tremi quando algo nos interrompeu.
— Eu não acredito nisso! Vocês dois? — uma voz conhecida gritou!
Meu coração gelou na hora. Harry saiu de cima de mim em um impulso.
Eu devo ter problemas mentais. Que ideia foi essa? Ficar com o Harry às escondidas? O que
me deu? Eu devo ter pirado ou algo assim, mas quando eu estava com ele ali na minha frente
somente despejei tudo, até mesmo meus desejos mais profundos. Mesmo que esses fossem
totalmente insensatos.
O pior é que a cada dia que passa o Phillip me conquista mais e mais. Aquele jeitinho
dele me envolve tanto... Porém, tem esse lance com o Harry que me faz entrar em combustão
completa. Com certeza vou para o inferno por causa disso, o que é uma tristeza. Não sei se é
normal se sentir uma pessoa ruim. Talvez faça parte do nosso descobrimento, em determinado
momento, achar que se é um ser desprezível, egoísta e de péssimo caráter. O que eu estava
fazendo era controlar tudo à minha volta com base no que eu queria, no que eu tinha vontade.
Mesmo que fosse ferir pessoas, estava manipulando a situação, porque somente assim eu não
correria o risco de ser manipulada.
Por mais que fosse considerada uma pessoa ruim por ficar com o Harry e enganar o
Phillip, era isso que os meus impulsos me faziam querer mais e mais. Eu escolhi o mal. Escolhi
minhas tentações. Mesmo que o Parker me tratasse como uma princesa, mesmo que ele tivesse
se arriscado e tenha aberto mão de seu estilo de vida por mim, mesmo assim escolhi querer
ficar com meu ''irmão''. Concluindo, provavelmente eu não presto. E fim. Não posso me
maltratar tanto por isso.
De repente minha amiga chama a minha atenção.
— Meninas, sabe o que eu estava pensando? — disse, me tirando desses meus
pensamentos loucos.
— Nossa... Maya, você pensa? Isso é uma novidade pra mim — disse irônica, colocando
a mão sobre a boca.
— Haha! Morri de rir. — Mais irônica ainda.
— Fala Mah: o que de tão genial estava pensando? — perguntou a Bia.
Estávamos reunidas na casa da Maria fazendo um trabalho de Física, que foi facilmente
realizado com a ajuda da Bia, que domina totalmente a matéria. Só estávamos terminando de
passar a limpo.
— Que tal uma festa do pijama? — disse animada.
— Uau! Festa do pijama? — Putz, que piegas... Parece coisa de filme americano,
pensei.
Acho que nunca iria pensar em viver para ouvir um convite para uma festa do pijama,
não sei se é o novo país, mas tudo está mesmo diferente. Sempre fui solitária. Aqui nessa nova
cidade que eu denominei pequena e sem graça, tenho amigos, tenho um garoto lindo que gosta
de mim, tenho amostras de uma felicidade espontânea todos os dias. Isso me espantava de vez
em quando.
— Tipo uma noite só de meninas? — Bia questionou com brilho nos olhos. Essa
pergunta fazia com que essa ideia fosse algo muito estúpido, mas mesmo assim começava a
querer fazer mesmo isso.
— Ah, que legal, adorei. Vamos fazer sim. — Elis finalmente deu sua opinião. Ela
estava bem calada esses dias. De todas as meninas era com quem eu tinha menos contato. Ela
era um pouco fechada e acho que, por saber de seu interesse no meu irmão postiço, só me fez
não tentar grandes aproximações com ela.
— Sabia que iam gostar! — Black sorriu ao colocar seus curtos cabelos pretos atrás da
orelha.
— O que sugere? Filmes, pipoca, tratamentos de beleza? — Maria sugeriu e eu revirei os
olhos.
Não estávamos no século passado. Tratamentos de beleza? Por favor, vamos nos divertir
de verdade, garotas!
— Hey, por favor, hein? Olha a palhaçada. Não quero ir para ficar fazendo as unhas e
arrumando o cabelo. Se for para acontecer, vamos fazer alguma coisa divertida — falei com
empolgação.
— Para a maioria das garotas fazer a unha e arrumar o cabelo é algo divertido — Elis
disse. Franzi o cenho, não sei mesmo em que parcela da população ela estava se baseando.
Talvez na sociedade das peruas unidas.
— Ah, então provavelmente eu tenha um pênis entre as pernas — zombei. — Mulheres
são muito mais do que esmaltes e maquiagem!
Maya ainda estava rindo do meu ''pênis''.
— Só você mesmo — falou entre suas gargalhadas. — É, eu também não sou muito
chegada nessas coisas não. Vamos ver filmes, ouvir música, comprar pizzas, conversar, comer
as pizzas. Que tal? — Perfeito! Só faltou a tequila...
Ah não, me lembrei da minha décima promessa de que nunca mais iria beber. Ri de mim
mesma. Eu e minhas promessas que nunca vou cumprir.
Todas aceitamos aquela proposta de Black. Parecia ser legal. Era a primeira vez que eu
tinha amigas desse jeito. Eu me sentia tão bem perto delas, elas não eram entediantes, eram
pessoas muito legais mesmo. Olhei para cada uma e sorri em silêncio. Adorava estar ali com
elas.
Combinamos que a festinha seria na casa da Maya, já que ela era a mais rica, brincamos,
mas era a verdade, sua casa era a maior e, por tabela, seu quarto também.
Ficamos conversando por mais tempo e quando começou a anoitecer decidimos ir para
nossas casas.
Cheguei em casa e meu pai estava na sala com Anne, os dois arrumados. Meu pai vestia
uma camisa social preta, estava muito elegante com seus sapatos preferidos, que eu lhe dei em
um dia dos pais. E minha madrasta, elegante como sempre com um vestido vinho que ia até
um pouco acima de suas coxas, além disso tinha um belo decote. Eles faziam um belo par.
— Pensei que não ia mais chegar — meu pai reclamou assim que cruzei a porta.
— Fui fazer trabalho pai, eu tinha avisado — falei me encostando no sofá. Queria me
deitar ali e ficar assistindo qualquer coisa, estava exausta de tanta Física. Encarei os dois. —
Hummm, vão sair? Nossa, que produção, hein Anne? — Pisquei. — Está muito bonita.
— Obrigada, hoje eu caprichei. — Ela me olhou, doce. Meu pai não parava de olhá-la, a
forma como seu olhar dirigia-se a ela me fez ter um mix de sentimentos. Estava feliz por ele,
mas senti medo, medo porque era muito provável que ele a amava mais que a mim, eram
amores diferentes claro, porém não consegui evitar sentir isso.
— Vocês vão para onde, pombinhos? — perguntei, jogando minha mochila na poltrona e
me sentando em seguida.
— Na verdade, é uma surpresa. — Meu pai respondeu com mistério nos lábios. Me
lembrei do quão romântico ele era... ''Te amo até o fim dos tempos''. Senti meu coração se
apertar ao lembrar da frase que ele dizia para minha mãe todos os dias.
Porém, depois dela ele nunca tinha feito isso com mais ninguém, nunca conheci
nenhuma namorada ou mesmo uma ficante. Sabia que ele devia ter alguma, mas nunca me
apresentou. Quando fez isso, acabei me mudando para a casa dela em poucos meses. Meu pai
às vezes é mesmo um ser imprevisível. Fiquei olhando os dois e como eles pareciam
apaixonados. Se não fosse por alguns pensamentos que tenho às vezes, diria que estou
exatamente onde deveria estar.
— Acho melhor nós irmos. — Meu pai encarou seu relógio, levantando e passando a
mão na calça social azul-marinho para desamassá-la. — Eu estava só esperando você chegar.
— Deu-me um beijo na testa.
— Você vai trazer comida pra mim? — Olhei com os olhos pedintes. Adorava quando
traziam comida para casa. Era ter o melhor dos dois mundos, comer comidas boas sem precisar
ir naqueles restaurantes e esperar tanto tempo para o pedido chegar.
— Acho que dessa vez não. Não nos espere acordada... — disse com um sorriso e
mordeu os lábios para Anne, que o pegou pelo braço. Ela deu uma piscadela para mim.
Esses dois... Sorri ao vê-los sair pela porta.
Meu pai adorava agradá-la, mas está certo. Uma mulher linda como a Anne tem mais é
que ser agradada mesmo. Não pensei que fosse gostar dela, achei que íamos brigar todo dia.
Afinal, para mim, o que ela estava fazendo era interpretar um papel de boa pessoa para que eu
aprovasse o relacionamento com meu pai. Mas não, ela era realmente agradável, nunca tentou
mandar em mim ou me destratou em nenhum momento. Serviço que seu querido filho fez com
louvor em seu lugar.
Subi as escadas para tomar um banho. Ouvi o típico som de um violão vindo do quarto
do Sr. Miller. Na verdade, a gente estava brigado novamente, para variar. Acontece que ele se
irritou comigo hoje na escola. OK, talvez eu tenha exagerado um pouco, disse para qualquer
pessoa que pudesse ouvir na sala que ele tinha uma foto da professora de Ciências (que é muito
bonita, para não dizer ao contrário) e que dormia com a foto do seu lado. Pensando bem não
era para tanto, foi só uma brincadeira boba e desnecessária.
A professora ficou toda vermelha e Harry também, só que não de timidez e sim de raiva.
Começamos a bater boca na sala e ele disse que eu era detestável e blá-blá-blá. Só por causa de
uma brincadeirinha. Eu abri a porta devagar e lá estava ele, divino como sempre, mesmo que
simples... Com uma calça de moletom azul-marinho, sem camisa, com os cabelos umedecidos
e um cheiro de banho recém-tomado.
— Posso entrar? — eu disse, já entrando. Ele me olhou rapidamente e depois me
ignorou. — Harry... Não acredito. Você está chateado por causa daquilo? Que ridículo,
ninguém acreditou... Só a professora, acho que ela tá a fim de você. — Comecei a rir. Talvez
estivesse. Se eu tivesse um aluno como ele provavelmente iria precisar ler o livro de ética no
trabalho outra vez. Por mais que Harry fosse um chato de vez em quando, ele era bonito
demais e seu charme poderia facilmente destruir carreiras.
— Não tem graça nenhuma. — Ele bufou, ainda zangado.
— Claro que não. Ser zoado não tem graça. Entendeu agora? — Coloquei a mão na
cintura e ele me olhou revirando os olhos. — Você não consegue lidar com ninguém te zoando
porque você nunca foi zoado. Pimenta nos olhos dos outros é refresco.
— Uau, Parabéns, você conseguiu me dar uma lição. — Sua voz exalava ironia. —
Satisfeita? Agora pode ir. — Ele me despachou.
— Tudo bem, eu vou mesmo. E eu não vou ficar com peninha de você, não. Não mesmo.
— Não tinha mesmo o porquê de ele ficar bravo por causa daquilo, era tão idiota. Ninguém
nem levou a sério. Depois eu que não tinha senso de humor.
Saí do quarto e logo pude ouvi-lo voltando a tocar. Entrei no meu quarto, coloquei meu
material na cama, deitei um pouco e depois fui tomar um banho. Logo saí e comecei a ouvir
música no meu notebook.
Coloquei meu pijama de cereja, era o meu preferido. Deitei na cama e comecei a mexer
nas minhas redes sociais. Estava distraída com um vídeo bobo no YouTube quando ouvi
pedrinhas batendo na minha janela.
Malditos moleques, pensei. Ficam jogando pedras nas casas e acabando com a minha
paz. Agora eles iam ver só.
Coloquei minha cabeça para fora e já fui falando. Ou melhor, gritando:
— Por que vocês não vão jogar pedras nas janelas das suas avós, bando de desocupados
vagabundos! — gritei e quando pude enfim encarar o chão por debaixo da minha janela,
Phillip estava lá embaixo boquiaberto, com um uma flor nas mãos. Levei minha mão até a
boca, assustada.
— Tudo bem, então. — Ele falou quase rindo. — Vou lá jogar pedra na janela da minha
avó.
— Nãããão! — gargalhei de vergonha. — Desculpa ter gritado com você, mas também
que louca essa ideia. O que aconteceu com o tradicional tocar a campainha da casa? — Só ele
mesmo para fazer isso. — O que faz aqui? — perguntei, me esgueirando na janela.
— Tenho que ter uma desculpa para ver a minha namo... — ele parou de falar e eu fiquei
meio sem graça. Eu ainda não tinha aceitado namorar com ele, apesar de ele me pedir
praticamente toda semana. — Só queria te ver — ele disse, olhando para baixo.
— Eu vou descer, ou você quer subir? Meu pai e a Anne não estão em casa — falei,
tentando deixar o clima leve.
— Jura? — Deu um sorriso malicioso. — Tudo bem, abre a porta para mim. — Assenti e
só depois me lembrei de um detalhe. Estava sozinha com o Harry e ele odiava o Phillip.
Se o Harry visse o Phillip aqui a essa hora da noite com certeza iria arrumar confusão
gratuitamente, ele adora implicar. Olhei pela fresta da porta de seu quarto, ele estava usando o
computador. Que ótimo, isso distrai bastante ele.
Desci e abri a porta para o Phillip, que estava com aquele sorriso majestoso dele.
Abraçou-me forte.
— Você demorou. Pensei que ia me deixar plantad... — falou, quando fiz um gesto para
que ele entrasse na minha casa.
— Ah, eu tive que verificar uma coisinha. — Rebati.
— Então, está sozinha em casa? — Ele me pegou pela cintura beijando meu pescoço,
seus lábios macios fizeram um quente contato com a minha pele.
— Não diria sozinha, sozinha... O... — Olhei para cima.
— O Harry está aí, claro. — Expirou. — Você já jantou? — perguntou, mudando de
assunto.
— Não. — Aliás estava com fome.
— Que coincidência, nem eu. Que tal irmos comer alguma coisa? — Essa proposta era
tentadora... Comida e Phillip.
— Eu bem que queria, mas... Meu pai não está em casa. — Fiz uma careta de decepção.
— Uau, você dando tanto valor à permissão do seu pai! Estou impressionado. Então,
tudo bem, vou embora... — Deu as costas, me senti idiota porque ele veio me ver afinal. Eu
segurei seu braço impedindo que ele fosse.
— Tudo bem, eu vou. Só preciso de 10 minutos, não posso sair na rua de pijama. —
Apontei para mim mesma. Ele me olhou de cima a baixo.
— Ah, você faria sucesso. Eu amei essas cerejinhas. — O jeito que ele falava... Ele mal
sabia do poder de sedução que possuía, ou talvez soubesse e pensar isso me deixava totalmente
acesa.
— Volto já — disse e fui subindo as escadas. Não ia fazer mal sair um pouco e jantar
algo que não fosse requentado.
Entrei no meu quarto e comecei a escolher uma roupa. Nunca fui de demorar muito para
escolher ou me preocupar tanto, mas não podia ir malvestida porque o Parker estava tão
bonito, mesmo que informal com um jeans escuro e uma camisa dos Lakers.
Coloquei uma calça skinny, meu sneaker e uma camisa do The Strokes que era uma das
minhas preferidas. Não coloquei acessórios, caprichei no perfume.
Assim que saí do quarto, ouvi uma discussão. Eram o Phillip e o Harry. Claro que eu não
ia sair intacta de casa. Como fui ingênua em achar que seria fácil! Desci até o barulho dos dois.
— Não quero saber, sai da minha casa agora! — Miller falou com tanta grosseria que vi
a hora dele pular em cima do Phillip e matá-lo com suas próprias mãos.
— Eu fui convidado pela Vick, então vou esperar ela aqui — falou, imponente.
— A casa é minha, então sai agora. — Ordenou e eu intervi. Ele não pode ficar fazendo
isso. Até onde eu me lembro, a casa também passou a ser minha depois que vim morar aqui.
— Você não pode fazer isso, Harry. Ele é meu amigo — retruquei, fazendo os dois me
olharem.
Harry me olhou de cima a baixo e cerrou os olhos para mim. Parecia ofendido por me
ver arrumada.
— Ia fugir com ele, é? Deixa só seu pai saber disso — falou ameaçador. Por favor, ele
sabia que esse papo de ''vou contar tudo para seu pai'' não colava comigo. Achei que já
tínhamos passado dessa fase.
— Ah, então vai ser assim? — Eu arrumei mais meus cabelos que estavam soltos. —
Então conta tudo mesmo, fofoqueiro. — Provoquei — Eu sei que vou sair com o Phillip e
pronto.
Dei um passo em direção ao Parker, que parecia estar perdendo a paciência também. O
que esses garotos têm? Parecem dois selvagens ou dois animais querendo saber qual o mais
predador. Isso era tão ridículo.
— Não, você não vai. — Ele segurou no meu braço. Ele sabia que eu odiava quando ele
mandava em mim e quando achava que podia usar a força para me impedir de fazer algo.
— Me larga, Harry. Agora! — eu gritei. Ele não ia me fazer passar vergonha como
naquele dia no meio da rua.
— Solta ela ou eu...— Phillip falou com fúria no olhar e Harry o interrompeu.
— Você vai fazer o quê, seu mauricinho? Chorar para o seu papai? — De repente o
Phillip deu um soco bem dado no rosto do Harry, que até cambaleou. Meu Deus!
E aí a confusão estava armada. Eu gritei e, quando vi, o Harry já tinha partido para cima
do Phillip. Os dois ficaram se batendo no chão, ambos distribuindo golpes um no outro, só se
ouviam os choques, que pareciam ser dolorosos.
Eu tentei separar, mas não adiantou. Precisava de algo para chamar a atenção deles e
corri até a cozinha. Peguei uma frigideira, que foi a primeira coisa que vi. Eles iam se matar,
precisava fazer algo. Então, fiz a coisa mais estúpida do universo. Comecei a bater neles com o
objeto. Sem querer, querendo acabei acertando a cabeça do Harry. Ele ficou muito zonzo e,
quando me dei conta, ele tinha apagado.
— Ai meu Deus. O que eu fiz? Não, não! Harry? Harry? — Coloquei a cabeça dele em
meu colo e comecei a dar tapinhas em seu rosto.
— Calma, ele tá vivo, infelizmente — disse, pegando no maxilar com cara de dor.
— Vocês dois são uns moleques, ficam se batendo como uns selvagens. — Eu estava
muito tensa com tudo aquilo. — Melhor ir embora, Phillip.
— Me desculpa Vick, eu não podia ver ele te segurando daquele jeito. Eu agi por
impulso. — Percebi, né? Que loucura isso.
Não disse nada, apenas observei ele indo embora.
Ele saiu e eu fiquei igual uma louca. Harry estava respirando, mas estava desacordado.
Qual o meu problema? Eu podia ser presa por tentativa de homicídio. Essa foi a pior ideia da
história do mundo sobre como acabar com uma briga, apesar de ter funcionado.
O que eu podia fazer? Como se acorda um desmaiado? Hummm... Já sei... Mas espera aí,
só vi isso em desenhos animados, não sei se daria certo na vida real. Peguei um copo da água e
joguei no rosto dele. Instantaneamente ele começou a se levantar do chão.
— O quê? Que isso? — Falou olhando para si mesmo, percebendo que estava molhado.
— Tá louca? — Ele estava atordoado.
— Calma, que bom que você acordou. — Suspirei, aliviada. — Eu já pensei que estava
encrencada.
— Cadê ele? Foi ele que fez isso comigo, agora ele vai me pagar. — Levantou e
começou a andar pela casa igual a um louco. Fiquei observando ele de braços cruzados.
— Para com isso! Tá parecendo um idiota. O Phillip já foi embora e, além do mais,
quem te derrubou fui eu e não ele. Então, desconta em mim, se quiser.
Eu estava com fome e ainda precisei ficar separando briguinha desses garotos. Mereço.
— O quê? É por sua culpa que minha cabeça parece que vai explodir? — Ele levou a
mão à cabeça. Eu sabia que a pancada tinha sido forte.
— Foi mal, mas tinha que parar vocês de algum jeito. — Me justifiquei, mesmo sabendo
que aquilo mal fazia sentido. Poderia ter machucado ele seriamente.
— E por que não bateu nele em vez de bater em mim? — Good question... Não sei o
porquê.
— Ah sei lá, na hora, nem pensei direito. Mas a culpa disso tudo é sua por ser um grosso.
— Ele encarou o chão por um tempo.
— Não... Você me acertou com aquela panela? — Ele estalou a língua me apreendendo.
— Oops... — falei como se pedisse desculpas. Ele me olhou com aquele olhar de quem
diz ''você vai se arrepender disso''. Senti meu corpo vibrar apenas com aquele contato visual.
— Eu vou te matar! — Ele me pegou pela cintura e me jogou no sofá de um jeito
agressivo.
— Hey, você tá pensando o quê? — Falei enfurecida. Ele me colocou de costas e
segurou minhas mãos juntas.
— Eu devia te matar mesmo, era isso que eu devia fazer — sussurrou, e eu senti seu
hálito quente no meu pescoço.
— E por que não faz isso? — disse, já ofegante. Sentia o peso de seu corpo nas minhas
costas.
— Você quer tortura, então já sei direitinho como te torturar... — Oh não, sua voz rouca
ao dizer aquilo já me fazia ter ideia de como ele pensava em me castigar.
Ele me abraçou pelas costas e jogou meu cabelo só para um lado, assoprou em meu
ouvido já me fazendo arrepiar. Logo beijou carinhosamente o meu pescoço. Só que de repente
ele segurou forte em meus cabelos, me pressionando contra o seu corpo. Soltou um gemido de
dor por aquele gesto, ele nunca havia feito algo do tipo, eu estava suando e meu peito pulava
de emoção.
— Se liga, Harry Joseph Miller, isso aqui não é 50 Tons de Cinza! — disse, ainda
envolvida pelo seu domínio.
— Shhh, fica quietinha, não fala nada. — De repente ele me virou, me levantou e me pôs
nos ombros. Eu comecei a gritar e a espernear.
Confesso que aquilo estava me deixando louca. Meu coração estava a ponto de pular
para fora, era muita emoção. Nunca havia me sentido assim com ninguém, ele me fazia perder
as estribeiras, esquecia até do meu nome e de quem eu era quando ele me tocava. Quando
sentia aquela voz rouca e sedutora entrar nos meus ouvidos, falava tão baixo e tão firme. Isso
era tortura da pesada mesmo. Eu não sabia aonde isso iria parar.
Ele subiu as escadas comigo ainda comigo em seus ombros.
Chegando lá, levou-me até o meu quarto e me jogou na cama. Encarei o ser acima de
mim, seus olhos verdes de desejo. Torture-me Harry, encha-me com seu desejo de vingança,
eu imploro. Eu engoli seco, ainda estava com fome, mas com fome dele, queria me alimentar
até que estivesse satisfeita.
Logo pela manhã, George foi acordar Victoria para que ela pudesse tomar café com ele.
Os dois não falaram mais sobre o assunto da mudança da menina para a casa de sua avó.
Ambos ignoraram o fato, o pai porque, apesar de querer muito que sua filha se adaptasse a algo
e fosse feliz, não conseguiria viver sem ela, e a filha porque ainda não sabia direito o que
queria da vida. Em alguns momentos queria somente fugir daquela casa e em outros sentia que
finalmente havia achado um lugar especial para viver. Eram pensamentos contraditórios que
invadiam a mente da jovem sem pedir licença.
— Acorda, filha. Hoje é sábado. — Massageou os cabelos da garota.
Ela se espreguiçou, disse um ''bom dia'' sonolento para o pai, que a deixou sozinha no
quarto outra vez. Jones foi até o banheiro, escovou os dentes e deu um jeito em seu cabelo.
Desceu e Anne estava pondo a mesa. Vira que ela havia caprichado. Deu-lhe um abraço de
bom dia. A relação das duas só melhorava a cada dia e George se sentia feliz com isso. Mesmo
com as inconstâncias de sua filha, ele sentia que uma hora ou outra ela iria se sentir finalmente
em casa e iria assumir aquela nova família como sua de fato.
Harry estava tomando um banho quando seu telefone tocou. Era Victor, disse que seus
pais viajariam para um fim de semana romântico e que ficaria sozinho em casa. Perguntou se
ele queria ir dormir lá, junto com os outros meninos para uma noite do Clube do Bolinha,
como aquelas que costumavam fazer quando mais novos. Harry prontamente aceitou.
O engraçado é que hoje coincidentemente era o dia da festa do pijama de Victoria e suas
amigas. Que seria na casa de Maya. A irmã de Victor...
Ele desceu as escadas animado. Deu um abraço apertado em sua mãe. Trocou sorrisos e
olhares com Vick. Foi uma das primeiras manhãs em que os dois não queriam se matar. Todos
estavam sentados à mesa, menos George, que logo apareceu com um sorriso farto.
— Então, crianças... — introduziu o assunto ao sentar. Ele tinha novidades.
— Nossa, que mania de chamar a gente de criança, hein? — disse irritada.
— Desculpe-me Sra. Adulta — falou, irônico. — Enfim, sem enrolação, eu e Anne
queremos contar uma novidade para vocês dois. — Os dois seguraram suas mãos em um gesto
de parceria.
— Estamos muito animados com isso. — Ela deu um sorriso.
O que será dessa vez? Da última vez que meu pai me olhou desse jeito era para dizer
que iria se casar, aquele dia não foi nada bom para mim, pensou Victoria ansiosa pelo que seu
pai e sua madrasta tinha a dizer.
— Falem logo o que é. — Harry incentivou bebendo seu suco de amora. George soltou o
ar dos pulmões antes de dar a notícia com empolgação.
— Encontramos uma casa no centro da cidade. E nós a compramos! — ele disse
animado e Anne o abraçou de lado. Harry parou por um momento, digerindo o que seu
padrasto tinha acabado de dizer. Ele estava tentando compreender...
— Vamos nos mudar? Para uma casa maior? — Os olhos de Vick brilharam.
— Sim, a casa é linda e... — Anne falava, mas foi bruscamente interrompida por seu
filho, que não gostou nada do que eles acabaram de anunciar.
— Não acredito, eu não acredito nisso! — ele gritou. Estava transtornado.
— O que foi Harry? — George levou uma de suas mãos no ombro do garoto.
— Como vocês tomam essa decisão sem falar comigo antes??? — Levantou-se da mesa.
— Eu não vou me mudar, eu moro nessa casa desde criança!
Falou com determinação e certa fúria.
— Mudanças são boas, filho. — Anne tentou se aproximar, mas nada feito. Miller não
estava com ânimo para aquele assunto.
— Eu não saio daqui e pronto! — declarou. — Podem desistir dessa ideia.
Com passos pesados saiu da cozinha e subiu para o andar de cima. Sua mãe o seguiu.
— O quê? Você acha que tudo gira em torno de você, Harry? Nós tomamos essa decisão
para o bem de todos, você é meu filho e vai comigo. — Ela disse nervosa ao alcançá-lo.
— Para o bem de todos? — riu irônico. — Eu estou muito feliz onde estou. E não vou
me mudar e pronto! — gritou.
— Claro que vai — disse imponente.
— Não vou e ninguém vai me obrigar. — Empurrou o abajur do corredor fazendo com
que ele se despedaçasse no chão.
Anne estava chocada com a atitude agressiva do filho, achou que ele iria gostar da ideia,
mas foi totalmente o contrário.
George se ofereceu para conversar com ele, mas Anne disse que era melhor deixá-lo
sozinho por um tempo. Ela estava muito nervosa e foi acalmada por seu marido.
Vick ouviu toda a discussão do andar de baixo e estava tremendo. Os gritos de Harry
faziam com ela se sentisse na obrigação de ajudá-lo, ela precisava falar com ele, fazer com que
ficasse bem.
Foi atrás de Harry. Na verdade, sabia muito bem onde ele estava.
Minha mãe me trata com uma criança. Será que ela não consegue perceber que eu já cresci?
Custava ela ter conversado comigo antes sobre essa tal casa? Não, claro que não. Ela
tinha que simplesmente vir me informar de que a gente ia se mudar. Simples assim, sem nem
ao menos perguntar o que eu achava da ideia.
Se ela pensa que vai ser fácil assim me tirar daqui, ah, mas não vai mesmo. Essa foi a
casa que eu vivi minha vida inteira, tenho memórias que nunca poderia ter em outro lugar,
recordações de quando tinha uma família feliz. Como posso concordar com essa ideia de me
mudar?
Começo a ouvir a voz da Victoria me chamar de dentro do meu quarto. Estou no telhado,
sentado sobre a casa em que nasci e a casa aonde vou passar o resto da minha vida.
— Harry? Harry? — Ela insistia em me chamar. Ah, que saco! Não devia ter contado
sobre meu esconderijo no telhado para Vick. No momento que eu quero ficar sozinho, ela vem
para cá.
— Vai embora, me deixa! — Respondi, continuei jogando pedrinhas na rua. Obviamente
ela não me obedeceu, mais teimosa que qualquer outra coisa.
— Harry, eu queria falar com você. — Seu tom de voz era baixo e preocupado. Ouvi
quando ela pulou a janela de meu quarto, se aproximou de mim e sentou ao meu lado.
— O que você quer? — olhei bravo para ela. Ela mediu todos meus traços e esperou um
pouco para responder.
— Não fica tão chateado, vai ser uma mudança boa — ela disse. Mal acreditei. Ela
estava mesmo dizendo isso para mim?
— Uma mudança boa? Sério, se você veio aqui para ficar enchendo minha cabeça, é
melhor ir. — Fiz um gesto para que ela fosse embora.
— Não, tudo bem, deixa eu só ficar aqui então. Com você. — Eu olhei para ela sem
saber do porquê ela estar fazendo aquilo, não era de seu feitio. Foram raras as vezes em que ela
se preocupou com o que eu estava sentindo. Para mim, geralmente ela só se importava consigo
mesma.
Assenti. Deitei no telhado, com a cabeça sobre meus braços, ela ficou encarando o
horizonte por um tempo...
— Eu sei que você está mal porque morou aqui por tanto tempo, eu também fiquei com
ódio por ter me mudado para cá... — Fez uma pausa, eu sabia muito bem que ela odiou a
mudança com todas suas forças, não poupou voz em gritar várias vezes que nunca deveria ter
saído de Chicago, mas ela continuou: — Mas se eu não tivesse mudado não teria te conhecido.
Isso me pegou completamente de surpresa. Foi a primeira vez que me senti alguém
especial para ela. Não sabia se ela estava dizendo aquelas palavras para me acalmar e me fazer
aceitar a mudança, mas gostei de ouvir. Inspirei, soltando um sorriso irônico.
— Qual o seu problema? Acordou de bom humor? — Encarei-a e ergui meu corpo,
ficando sentado.
— Hummm, é, eu ouso dizer que dormi bem sim, tive bons sonhos. — O jeito que ela
me olhou, tão... pura e serena. Quando vou parar de me surpreender com cada atitude dela?
Sempre que acredito que já a conheço, ela me mostra que é muito mais complexa do que eu
achara. — Mas esse não é o motivo, é só que apesar da gente sempre brigar por coisas
estúpidas e às vezes nem tão estúpidas assim, eu gosto. — Ri por dentro, sabia disso. Se tinha
algo que eu sabia sobre ela é que adorava estar brigando, discutindo, lutando. Mesmo que nem
houvesse o porquê fazer isso, ela se encontrava na defensiva quase sempre e também atacava
como nunca
— Eu sei que gosta de brigar comigo. Faz isso sempre que tem uma oportunidade. —
Ela me empurrou de leve.
— Você merece... Eu queria que você desse uma chance a essa nova ideia. Sei que essa
casa é importante para você, mas somos uma nova família, aqui é um lugar muito de vocês,
talvez em um novo ambiente poderíamos recomeçar, de verdade. — Ela dizia tudo tão
tranquila, ela não queria me convencer ou mostrar que sua opinião era a melhor, ela somente
mostrou seu ponto de vista de forma pacífica, outra coisa rara.
— OK — respondi simplesmente. — Vou pensar sobre isso.
Olhou-me com certa gratidão. Ficamos apenas observando o horizonte em silêncio.
— Você não vai tomar café da manhã? — ela perguntou.
— Vou ficar mais um pouco aqui. — Não estava sentindo fome. Toda aquela história
havia mexido comigo. Afinal, seria como mudar minha vida de cabeça para baixo. Com a
separação dos meus pais ocorreu uma grande transformação, mas não física como seria esta.
— Tudo bem, eu vou lá. Sei que quer ficar sozinho.
Victoria se inclinou para me dar um beijo na bochecha, mas eu não tinha visto e acabei
virando o rosto. Aquilo acabou se tornando um selinho com o toque acidental de nossos lábios.
Foi rápido, nos afastamos, ela com uma cara de surpresa e um sorriso inocente, parecíamos
duas crianças dando seu primeiro beijinho. Olhei aqueles olhos tão próximos ao meu rosto,
olhei para sua boca. Segurei sua nuca e dei-lhe um outro selinho, só que agora mais elaborado,
apenas tocando seus lábios delicadamente. Parei, nos olhamos, ela abaixou a cabeça sem
graça... Victoria Jones sem graça por causa disso? Achei que nunca viveria para presenciar
essa cena. Aquilo foi tão simples, mas de uma forma estranha, muito íntimo.
— É... Eu vou lá — anunciou e se levantou depressa.
Aquilo foi diferente. Nunca tínhamos nos beijado daquele jeito... Até parecíamos um
casalzinho apaixonado. Um casal daqueles fofinhos e meigos que tomam sorvete na mesma
taça. Que estranho... Nossos beijos não são daquele tipo, são loucos, quentes, selvagens,
inesperados. Esse foi inesperado, mas foi mais... Foi mais verdadeiro. Parecia que tinha...
Sentimento? E um sentimento bom, puro, leve.
Deitei sobre o telhado mais uma vez, fiquei ali por alguns minutos e depois desci para
tomar o café da manhã. Pude ver que George estava no jardim lendo um livro e minha mãe
estava na cozinha sentada à mesa, olhando para o nada. Sei que fui grosso com ela, mas estava
nervoso. Ainda estou um pouco perturbado.
— Não gostei nada do jeito que você reagiu. — Ela disse assim que me sentei com uma
xícara de leite e achocolatado.
— Eu também não gostei do que você fez. — Estávamos empatados, afinal.
Ficamos algum tempo em silêncio. Eu bebi o leite e comi algumas torradas com geleia.
— Eu queria fazer uma surpresa para você — falou, cortando o silêncio. — Mas bem
que o George falou para conversar com você antes... Só não esperava aquela reação. — Então,
definitivamente, ela não me conhecia.
— Ah, claro. Porque eu deveria achar engraçado sair da casa onde cresci. — Respirei
fundo. — Por que, mãe? Por que isso agora? — Eu adorava essa casa, não era tão pequena,
dava para viver muito bem ali.
— Filho, essa casa foi importante para a gente, mas agora temos uma nova família, uma
vida nova. — Ela colocou uma das mãos em cima da minha, como se pedisse atenção. — Eu
durmo no mesmo quarto que foi meu e do seu pai um dia. Vivemos muitas coisas boas aqui,
mas é hora de dar adeus ao passado.
Como eu posso dar adeus?
— Temos uma vírgula. Você tem uma nova família. Eu sou só um acessório. Tanto que
você tomou essa decisão sozinha com o seu marido. — Vi minha mãe abaixar a cabeça e
passar a mão em seus cabelos.
— Harry... — olhei seus olhos começaram a lacrimejar. — Eu só quero finalmente ser
feliz por completo.
Pressionei os olhos, estava claro que ela estava decidida, não a culpava, queria mesmo
que ela buscasse sua própria felicidade onde se sentir melhor. Tenho 16 anos, talvez eu possa
morar sozinho em minha casa, isso poderia ser legal. O que eu não pensava mesmo era em
trocar isso por qualquer outro lugar. Não sei se minha mãe gostaria da ideia de me deixar,
porém me parece a única opção plausível, além de ela mudar de ideia.
Ela parou por um momento se recompondo e, como eu previra, não ia desistir tão fácil,
não antes de tentar usar de todos seus artifícios.
— Seu quarto é muito maior e lá tem uma surpresa. Na verdade, eu não queria muito,
mas o George insistiu... — disse voltando a colocar um pouco de animação em sua voz.
Balancei a cabeça.
— Que surpresa? Piscina? — falei debochando. Não tinha nada contra piscinas, mas eu
não seria ''comprado'' ou ''convencido'' por causa disso.
— Lá tem piscina também... — sorriu boba. — Mas não é isso... — Ela fez cara de
suspense, achava mesmo que depois de tudo que eu disse, iria simplesmente mudar minha
opinião por causa de alguma coisa.
— Aham... — respondi terminando finalmente de comer.
— Na segunda vamos visitar a casa, aí você vai ver. — Ela piscou para mim. Minha mãe
estava passando por algum tipo de perda de memória curta? Porque acho que ela não estava
lembrando de tudo que eu tinha dito. Eu não estava brincando.
Minha mãe queria me convencer a ir morar lá sem reclamar, isso é uma missão
impossível. Mas o que será que essa casa tem que eu vou gostar tanto? Ela conseguiu deixar
uma pulga atrás da orelha. Eu gostava da minha casa, minha mãe deu apenas motivos
emocionais para se mudar, a casa era boa, não era imensa ou luxuosa, mas confortável e
aconchegante.
Não tenho a mínima ideia de como será essa casa que eles compraram, nunca fui de
perguntar muito sobre o dinheiro do George, mas sei que ele é muito bem-sucedido. Descubro
que compraram uma residência até com piscina, não deve ser nada simples. Isso não me
importava. Não troco meu lar por nenhuma mansão do mundo.
Após levar minha xícara até a pia e lavá-la junto com o resto da louça ali presente, fui
para a sala. A Jones estava esparramada no sofá vendo algum programa de TV. Eu sentei sobre
as pernas dela, ela não desgrudou os olhos do aparelho.
— O que você tá vendo? — perguntei, tentando captar um pouco de sua atenção.
— Ah, um programa aí — disse e continuou assistindo sem nem ligar para a minha
presença. Já estou um pouco mais calmo Victoria, obrigada por perguntar. Garota bipolar.
Percebi que ela não estava nem prestando atenção no que estava vendo porque me olhou de
canto de olho e, quando me virei para encontrar seus olhos, ela desviou. Estava me ignorando?
O que aconteceu?
— Por que você tá assim? — Apertei a coxa dela, estava com um short de algodão curto
e uma camisa velha do The Killers que ela usava em casa.
— Assim como? — disse ainda sem olhar na minha cara, como se não soubesse do que
eu estava falando.
— Me ignorando desse jeito. O que foi que eu fiz dessa vez? — Eu apertei a barriga
dela, sabia que ela odiava.
— Sai, para com isso. — Me afastou. Sua expressão não era de raiva de mim, ela estava
pensando em alguma coisa e eu queria saber o que era.
— O que eu fiz? — Ela finalmente olhou pra mim, de um jeito... Oh. Meu Deus, o que
aconteceu? Quando vamos ter mais de 24 horas de paz?
— Eu só... Sei lá... — deu de ombros.
— Fala. — Apertei a bochecha dela rapidamente. — Se não me disser não poderei
consertar. Ela parou de respirar por alguns segundos me olhando, depois soltou o ar.
— Nada. — Suspirou e voltou a olhar para a televisão.
— Hey, maninha... — Passei a mão em seu cabelo. — Tem certeza? — Ela olhou para
mim e sei que ela odiou o ''maninha''. Adorava irritá-la.
— Tenho, maninho. — Cerrou os olhos e deu um sorrisinho falso.
— Estamos bem? — Eu fui para abraçá-la. Ela me empurrou.
— Ah garoto, para de encher o meu saco! Sai daqui. Estou assistindo, não tá vendo? —
Gritou grosseira. Essa garota é bem louca.
— Bipolaridade... A gente se vê por aqui. — Levantei do sofá. — Beijo, mergulhe na
sua escuridão eterna. Eu vou me divertir. — Saí da sala.
Fui para a casa do Louis e ficamos conversando sobre tudo como sempre. A maioria dos
assuntos eram bobagens, nosso tipo de conversa dominante. Ele estava animado com a noite
dos garotos na casa do Victor. Falou até de uma história de contratar uma striper. Eu ri disso,
mas até que não cairia nada mal. Seria divertido. Estava precisando de uma noite louca para
me esquecer de alguns problemas.
Fomos para o quarto e ele me mostrou as três garrafas de vodca que tinha roubado do seu
tio. Estavam escondidas debaixo de sua cama.
— Três? Tudo isso? — falei, impressionado. — Coma alcoólico feelings.
— Ah, a gente não precisa beber tudo hoje. Só sei que vou gravar vários vídeos de vocês
bêbados, será foda! — Ele riu. Esse meu amigo é retardado desde sempre.
Pensei um pouco sobre nossa amizade e resolvi tocar no assunto da mudança, que eu não
iria fazer de jeito nenhum.
— Sabe a nova do dia? — falei e ele fez um gesto para que eu contasse. — Minha mãe
está querendo se mudar. — Ele arregalou os olhos.
— O quê? Como assim? — perguntou, surpreso. — Querem acabar com Larry de vez?
— falou brincando com uma voz afetada.
Contei tudo que sentia e sabia sobre essa nova mudança para o Louis. Eu estava triste e
ele também. Moramos praticamente a vida inteira juntos. Crescemos naquela rua. Aquilo fazia
parte de mim, do que eu sou, do que me tornei. Não poderia simplesmente virar as costas e
dizer adeus. Não era o momento.
Vimos um pouco de uma série que estávamos acompanhando e depois decidi ir embora.
— Passo na sua casa às oito da noite e a gente vai junto para a casa Black. — Eu assenti
antes de sair.
Voltei para casa e minha mãe brigou comigo porque eu tinha demorado para ir almoçar.
Eu disse que não me importava e almocei sozinho. Estava de saco cheio daquilo tudo. Ela em
nenhum momento ouviu de verdade o que eu tinha a dizer.
Subi para o meu quarto e ouvi uma música alta vindo do quarto da Vick. Abri a porta
devagar, deixando apenas uma fresta, vi que ela dançava e pulava cantando junto com a
música. Estava com os cabelos soltos, livres, assim como seu espírito, totalmente entregue
àquele momento. Segurava uma escova de cabelo nas mãos que fazia de microfone. Quem era
aquela menina? Meu interior gargalhou com aquela cena e algo em mim me fez gostar mais
ainda dela depois de ver aquilo.
Eu comecei a bater palmas e ela se virou no maior susto. Mais uma vez peguei ela
desprevenida, desprotegida, sem aquela capa de durona. De pouco em pouco estava
desvendando quem era Victoria Lea Jones.
— Ah, seu idiota, sai! — ordenou. Ela veio para fechar a porta, mas eu coloquei uma
perna para dentro e consegui entrar. Como estava brava.
— Você dança bem, hein? — Eu ri.
— Como se você fosse algum dançarino profissional — retrucou. Amarrou seus cabelos
em um coque.
— Te garanto que danço melhor que você. — Olhei desafiador.
Eu me ajoelhei em sua frente. Ela colocou as duas mãos em sua cintura debochando do
meu gesto.
— Me concede essa dança? — Olhei para ela que tentava segurar o riso.
— Ah, para. — Revirou os olhos. — Eu ergui a mão e ela a segurou.
Eu levantei, puxei ela pela cintura e comecei a dançar algo como uma valsa, estávamos
percorrendo todo o espaço disponível do quarto. Ela estava rindo de forma desesperada, não
parava de gargalhar um minuto. Girei-a no ar, e depois fiz ela voltar colando nossos corpos.
Depois inclinei o corpo dela.
Estávamos tão perto e eu acabei a beijando.
— Não! — Ela me empurrou e acabou se desequilibrando e caiu no chão.
Eu só fiquei a olhando sem entender direito. Ergui minha mão para ajudá-la a se
levantar, mas ela recusou e levantou-se sozinha. Definitivamente, eu não conseguia entendê-la.
Pensei que tínhamos avançado um passo naquele telhado de manhã, nós parecíamos tão
conectados e agora ela estava forçando a barra para que brigássemos ou algo do tipo.
— Para de fazer isso, não tem nada a ver. — Ficou de costas para mim apoiada no
cômodo como se recuperasse o fôlego ou apenas pensasse.
Talvez ela estivesse com medo de sermos pegos no flagra, eu nem tinha trancado a porta.
Não queria que isso nos afastasse assim, sabia que precisávamos tomar cuidado.
— Desculpa, eu sei que minha mãe ou seu pai poderia entrar a qualquer momento...—
falei, mas fui interrompido por uma Victoria perdida em seu próprio mundinho.
— Não é só por isso... Você está... — Ela parou de falar como se tentasse encontrar
palavras melhores para dizer algo. — Fica me olhando desse jeito, para com isso. Eu não
quero, eu não gosto desses olhares. — Mas o quê? Do que diabos ela estava falando? Não era
uma brincadeira, ela precisava realmente procurar um analista.
— Agora você pirou, né? Que olhares? — Fiz uma careta.
— Não sei, esse jeito... — Ela falava baixo. — No telhado também aconteceu isso... Eu
só não gosto. Para já com isso. — Essa garota quer me enlouquecer. Como vou parar com uma
coisa que eu nem comecei? Não consigo ver o olhar com que a olho. Dizer isso para mim nem
faz sentido.
— Vamos fazer assim: você toma seu remedinho e depois a gente conversa. Beleza? —
Fiz joinha com meus polegares. Já deu dessa sessão de psicose maluca por hoje. São muitos
tons de uma mesma pessoa para um dia só. Minha mente vai bugar desse jeito.
— Isso, sai daqui, me deixa sozinha. Ainda bem que eu não vou dormir em casa hoje.
Assim fico longe de você.
Espera... Como é que é? Olhei para ela. Se for isso que estou pensando... Ah, mas ela
não sai dessa casa mesmo. Não, de jeito nenhum.
— Uau... Não sabia que te fazia tão mal assim. Não parecia hoje de manhã. — Passei em
sua cara. — Vai dormir na casa do seu namoradinho? — disse seco.
— Não interessa — respondeu fria.
— Se for pela minha presença pode ficar em casa hoje, porque eu que não vou dormir
em casa essa noite. — Pisquei. Hoje era a reunião na casa do Black, dormiríamos por lá.
— Ótimo. — Cruzou os braços, fazendo gesto para que eu me retirasse.
— Ótimo — repeti mal-humorado. Ela tinha esse efeito de mudar completamente meu
humor em poucos passos. Devia fazer um tutorial no YouTube para ajudar outras pessoas a
estragar a vida umas das outras.
Saí do quarto dela com passos pesados no chão. Eu já morei sozinho com duas mulheres,
minha mãe e minha irmã. Mas tenho que dizer que nenhuma das duas tem uma TPM mais
rigorosa do que a da Victoria, isso sem falar sobre suas mudanças constantes de
personalidade... Como eu fui gostar de alguém assim?
~ Narradora ON~
A noite logo pairava sobre Holmes Chapel. Na casa dos Black a confusão se armara. Os
pais de Maya e Victor viajaram para um fim de semana a dois. Ambos trabalhavam muito e
decidiram tirar alguns dias de descanso. E os irmãos ficaram responsáveis por cuidar da casa.
Maya havia falado para sua mãe que chamaria algumas amigas para passar a noite lá, normal, a
mãe disse que tudo bem. A garota sempre teve muitas amizades, seu jeito despojado e
extrovertido só atraia mais e mais pessoa à sua volta.
Victor por sua vez havia falado com seu pai sobre uma reunião, ele prontamente liberou
a vinda de seus melhores amigos para a casa, desde que ele fosse responsável. Se tratando do
filho sabia que era um dever bem complicado, porém decidiu confiar, afinal ele estava
crescendo afinal.
Agora Maya e Victor estavam em um confronto. Seus pais já haviam viajado e pela
conta de ambos os irmãos, seus amigos já estavam a caminho. Ou seja, não tinha como
cancelar nenhum dos dois eventos.
— Eu tinha falado com a mamãe. Você vai para a casa de outro amigo — falou
imponente.
— Pedi ao papai. Qual é, Maya? Por que você não vai fazer essa festinha do pijama
idiota na casa de outra amiga? — disse sem paciência.
A garota cruzou os braços.
— Ah, Victor, de jeito nenhum. Sabia que você é o pior irmão do mundo? — Já iam
começar mais uma discussão intensa para decidir a situação, até que de repente a campainha
tocou.
— Quem será? — ele ergueu a sobrancelha.
— Por favor Victor! — pediu.
— Faz assim: fica dentro do seu quarto e me deixa aqui com meus amigos. — A garota
gargalhou irônica.
— Ah, que lindo você. E a gente nem vai poder assistir os filmes que alugamos aqui na
sala? Você é incrível mesmo. — A campainha soa de novo.
Os irmãos se olham. Ela toma a frente e atende a porta, revira os olhos quando vê que
era James, não que ela não gostasse dele, é só que estava irritada com aquela situação. E ver
um dos amigos do irmão só afirmava que aquilo não daria certo.
— Uau, que recepção! — falou sarcástico. — Boa noite para você também Maya Black.
— Ele entrou e viu o amigo, cumprimentou-o. — Que cara são essas? Não era hoje o negócio?
— perguntou confuso.
— Quem dera se não fosse — resmungou a garota batendo os pés intensamente no chão.
— O que aconteceu? — James sussurrou só para Victor ouvir.
— A minha irmãzinha aí chamou as amiguinhas para vir aqui hoje — disse revirando os
olhos.
— Ah, que legal. A Maria vem também, Maya? — perguntou animado.
— Vem — disse monossilábica e sem humor.
A campainha toca novamente e dessa vez quem está na porta é Elis e Bia. Maya abre a
porta e sorri. Elas entram, Elis fala com Victor e James já Bia diz apenas um ''oi'' tímido e
quase não consegue olhar diretamente nos olhos do garoto pelo qual sonha todos os dias.
Talvez por medo de se perder no brilho de seus olhos. Só o fato de estar no mesmo ambiente
que o irmão de sua amiga já faz com que seu coração bata forte e sua respiração se torne mais
difícil.
Todos ficam sentados na sala meio sem assunto, os donos da casa ainda desapontados
com a confusão, até que outra pessoa chega. Dessa vez é Maria. James rapidamente se anima e
vai ao seu encontro, começam a conversar rompendo o silêncio que se estendia pela sala. Maya
estava impaciente ainda mais quando Louis e Harry chegaram, todos animados, entraram
fazendo bagunça, dizendo que tinham trazido bebidas. Até que perceberam que não estavam só
entre eles.
— Que isso? Não era a noite dos garotos? — Louis disse colocando uma sacola na
mesinha de centro.
— Noite dos garotos? Sério, Victor? — debochou. — E ainda riu da minha festa do
pijama. Pelo menos ela não se chama Noite das Garotas. — Revirou os olhos.
— Não entendo. — Miller se manifestou. — Pensei que a casa estaria reservada só pra
gente. — Sentou-se no sofá.
— Então, querido, acontece que essa casa também é minha e eu vou ter uma festa do
pijama aqui. Hoje, essa noite, fim — falou Maya, decidida.
A campainha toca de novo, claro são muitos amigos convidados. Aquela casa grande
ficaria pequena para tantas personalidades distintas.
Victoria chega ao mesmo tempo que Nev. Ela até mesmo acha que o rapaz está lá para
ver sua amiga, mas se assusta quando chega e vê tanta gente na casa.
— Oi Maya... Oi... Todo mundo? O quê? Pensei que... — Louis interrompeu Jones.
— Pensou que seria só vocês. Tá, já entendemos — o garoto falou impaciente.
Nev olhou para Maya que estava meio brava, mas foi só ver aquele sorrisinho
tipicamente irlandês que ela logo se derreteu toda. Incrível como olhar para ele, apenas isso,
fazia com que ela se sentisse melhor.
— E agora? Como vamos resolver isso? — Victor fala ganhando a atenção de todos.
— Vocês, meninas, podem ir para outra casa... Que tal? — sugeriu Louis como se fosse
a melhor ideia do mundo.
— E você poderia ir tomar no ... — Elis ia completar, mas foi interrompida.
— Não comecem, por favor! — Harry repreendeu.
— Não sei, realmente não sei. Nós já preparamos tudo. Temos as bebidas, o campeonato
de videogame. — Black disse agora desanimado.
— Vocês iam se embebedar? Um monte de garoto junto? Desse jeito? São nessas
oportunidades que acontecem os ''acidentes''. — As meninas morreram de rir com o
comentário da melhor amiga de James.
— Hahaha! — Harry riu de forma irônica. — Você é muito engraçada, Maria. Por que
não vai ser comediante lá na Turquia? — Ela cerrou os olhos.
— Acho melhor dividirmos a casa... A gente fica com uma parte e vocês com outra. —
Maya sugeriu, já perdendo a vontade de fazer qualquer coisa. Era sua última tentativa de
resolver a situação.
— Ou... — Nev se pronunciou.
— Ou o quê? — Black perguntou com curiosidade.
— A gente podia ficar todo mundo junto. Qual é, gente? Temos praticamente a mesma
idade, somos da mesma sala. Por que ficar separados? — Ele sugeriu e todos pensaram no
assunto.
— É verdade, por mim tudo bem — apoiou James.
— Por mim também — Maria concordou.
— Sério? — Louis fez cara de descontente. — E o que íamos ficar fazendo? — Cruzou
os braços.
Não pensava nas meninas enchendo a cara e jogando Fifa, talvez Victoria bebesse até
cair, mas no caso não conseguiria jogar videogame depois. Todos olharam para Nev esperando
uma resposta para o que iriam fazer naquela noite, pessoas que se conheciam apenas de vista e
não tinham tantas afinidades em comum ou simplesmente mal se conheciam.
— Muitas coisas... — respondeu com um sorriso nos lábios.
Eles não eram os melhores amigos do mundo. Na verdade, a maioria deles nem se conhecia
direito. Só estavam ali por uma confusão do destino. Mas certas vezes as confusões são as tais
armadilhas que um Senhor Todo Poderoso chamado Destino utiliza para fazer com que as
coisas simplesmente sejam como devem ser. Um sentimento de ''nada a ver estarmos aqui
juntos'' havia pelo menos circulado nas mentes da maioria ali. Mal sabiam que estavam
exatamente onde deveriam estar.
A mesinha de centro da sala já estava coberta por guloseimas, salgadinhos, refrigerante e
também bebidas alcoólicas. Alguns bebiam, outros não. A maioria conversava com alguém ou
assistia um DVD do David Guetta que Maya insistiu em colocar. Até que estavam se
divertindo, mas poderia ficar melhor e alguém estava pensando sobre isso.
— Vocês só pensam em bebidas. Nunca vi — reclamou Maya. — Para que trazer tanto?
— disse ao ver as várias garrafas de álcool que os garotos haviam trazido.
— A gente nem ia beber tudo — Harry respondeu dando um sorriso para o Louis que o
chamou de canto.
Os dois se reuniram discretamente.
— Olha para essas garotas, Harry — disse erguendo o olhar para o grupo de meninas que
conversavam na sala.
— O que tem elas? — perguntou inocente bebericando um pouco do drinque de
morango que havia feito a pouco.
— Que tal deixar as coisas mais animadas por aqui? — Seu amigo fez uma cara
maliciosa.
— Animadas? — Soltou uma gargalhada. — Você está querendo ficar com alguma? —
Sabia que provavelmente sim.
— Não sei, talvez... — Sorriu.
— Com a Elis, né? Eu sei...— Para Miller era um fato que seu amigo ainda sentia algo
por Elis. Era inegável quando ele via a forma como Louis olhava para a garota quando ela não
estava prestando atenção. Ele praticamente a comia com os olhos. Sabia que algo ainda iria
acabar acontecendo entre eles.
— Não! — gritou. — Com essa aí nem pensar. Eu estou esquecendo dela. — Cruzou
seus braços. — Não tenho nenhum alvo por enquanto, mas eu digo animar no sentido de deixar
elas louquinhas... O que acha? — Harry arqueou uma sobrancelha ao ouvir isso.
— Você quer embebedar elas? — perguntou inocente e apenas a expressão do melhor
amigo foi suficiente para saber que era o que ele estava pensando. Concordou na hora que seria
muito engraçado.
Os dois foram até o centro da sala se juntar à Victor e Nev.
— O James parece um idiota perto da Maria, né? — comentou Victor com os amigos,
zombando do amor platônico que James sentia pela amiga de infância.
— Idiota não. Acho que apaixonado — Nev disse.
— Tem alguma diferença? — Black debochou. — Os apaixonados agem como idiotas,
eu que não quero isso pra mim. — Falou virando seu copo com soda e vodca.
— Ah eu quero. — disse Nev de imediato. — Isso não importa se você está do lado de
quem ama — falou passando as mãos sobre seus cabelos loiros.
Os amigos ficaram olhando para a cara dele sem entender a fala do amigo porque até
então não sabiam que ele estava apaixonado por ninguém. Somente Miller sabia que seu amigo
estava caidinho pela irmã do Victor.
— Até parece que está apaixonado, né? — Harry riu ao dizer e Nev cerrou os olhos e
pisou em seu pé discretamente.
— Não sei como a Maria não se liga... — Falou Victor. — Está na cara que ele gosta
dela. Olha o jeito que ele fica a olhando enquanto ela fala alguma coisa.
Do outro lado da sala Elis, Maria, Bia, Vick, Maya e James conversam sobre cinema,
música embalados ao som do DJ Guetta. Se bem que a dona da casa não está prestando muita
atenção no papo, já que na maior parte do tempo concentra seu olhar para Nev, que
disfarçadamente retribui.
Na cabeça dela acha aquilo tudo uma palhaçada. Ela deveria ter o direito de ficar com
quem quisesse, em qualquer lugar, sem que ninguém a proibisse, muito menos seu irmão. Isso
não fazia sentido, mas em respeito à Nev ela concordou em ir com calma.
— Amiga, hey, oi... — cutucou Maya chamando a atenção dela.
— Que foi? — respondeu assustada.
— Para de encarar tanto aquele loiro oxigenado — Elis falou bem-humorada. — Daqui a
pouco o garoto cai desidratado no chão de tanto você secar ele. — A menina empurrou a outra
com o outro dando um sorriso triste.
— Ah, Lis, está difícil. — Suspirou. — Minha vontade mesmo era te ir até ele e agarrá-
lo.
— May... — Balançou a cabeça. — Já te disse: que se dane o seu irmão. Vive esse amor.
— Ergueu a mão como se estivesse em batalha.
— Meu irmão é um mala mesmo — resmungou. — Nada a ver isso. — Revirou os olhos
e Elis concordou.
— Migs, eu queria alguma coisa para beber... Alguma coisa que já não esteja batizada —
falou rindo.
— Lis, a casa é sua. — Ergueu seu copo com bebida batizada. — Você sabe onde é a
cozinha. Tem refrigerante e suco na geladeira. — Piscou.
Elis chegou na cozinha e revirou os olhos ao ver que Louis estava no balcão de costas,
parecia que cortava limões ou algo assim. Fingindo que ele nem estava ali, foi até a geladeira e
pegou a jarra de suco. Imediatamente ele percebeu a presença da garota e assoprou
pesadamente. Ficava nervoso e confuso na presença dela. Ela colocou a jarra na mesa e ficou
procurando onde ficavam os copos. Para seu azar, ficavam na parte do armário que se
encontrava em cima do balcão onde Louis estava apoiado preparando o drinque.
Elis balançou a cabeça negativamente e falou para si mesma: Uau, sou tão sortuda... Só
que não. Mas que droga, pensou. Agora teria que se comunicar com o garoto.
— Tem como você me dar licença? Tenho que pegar um copo aí nessa prateleira —
disse em um tom educado de voz, apesar de por dentro estar querendo socar a cara do Louis.
Louis a olhou de cima a baixo e simplesmente a ignorou, voltando a fazer o drinque. Elis
sentiu seu corpo queimar de raiva. Pensou em como um dia poder ser amiga dele, em como
pode confiar naquele ser, contar seus maiores segredos. E agora ele estava sendo um estúpido.
Como alguém pode mudar tanto assim? — Cerrou os olhos ao se questionar. Tentou se
acalmar, mas sua paciência estava esgotada.
— Você não cansa de ser um babaca, não? — Foi em direção a ele sem paciência e o
empurrou, afastando o garoto do balcão. Ela estava envolta por ódio e tristeza sobre tudo que o
envolvia em sua vida.
— Quem você pensa que é para me empurrar? — disse, nervoso. Ela parou, controlando
as batidas fortes do seu coração, tentando não partir para a violência.
— Não sei Louis, por um momento eu achei que era alguém na sua vida, mas não. Você
mostrou pra mim que nunca foi meu amigo de verdade — despejou.
— Ah, não? — ele levou as mãos na cintura. — Nunca fui? Uau... — Balançou a cabeça.
— Você é uma ingrata, isso sim. — Virou as costas.
— Eu sou ingrata? — Deu uma risada irônica. — Você tem noção do idiota que você tá
sendo? — Aumentou o tom de voz.
— E você? Não vê que é outra idiota? Por isso todos debocharam de você na escola.
Porque você é ri-dí-cu-la! — disse pesadamente no intuito de atingi-la mesmo. Ele estava
magoado profundamente ferido, somente refletiu isso na garota.
Elis sentiu seu sangue ferver e sem pensar duas vezes deu um tapa na cara de Louis,
fazendo o rosto dele virar para o lado. Ele levou uma das mãos até a bochecha e voltou com
um sorriso sonso no rosto. Não era a primeira vez que isso acontecia, ele pensou.
Ela estava nervosa com a situação, já tinha lágrimas em seus olhos. O ar faltando em
seus pulmões, o que ela construiu por Louis era tão sincero, verdadeiro, pensou que a amizade
dos dois fosse durar por toda a eternidade, nunca achou que passaria por momentos como
aquele. O mundo dá muitas voltas.
E apesar de sentir isso e de tudo que aconteceu nos últimos meses, sentia raiva de si
mesma por ainda ter esperanças de ser amiga de Louis novamente, mesmo que trave uma luta
interna com si mesma para nunca o perdoar. O que ele fez foi grave, traiu sua confiança, ainda
mais com algo que era imensamente delicado para ela.
— Esse tapa não é nada...— Louis falou arfando e disse como se estivesse tão cheio de
mágoa que fez com que ela tremesse ao encarar seu olhar. — Não é absolutamente nada do que
eu senti quando você disse aquilo pra mim — falou tão cheio de rancor que as palavras saíram
rasgando sua garganta.
Elis o olhou e demorou um pouco para codificar aquela frase. Lembrou-se da festa, em
que Louis bastante alterado lhe disse aquelas coisas... Ele estava se referindo ao dia que ela
disse que gostava de Harry. E na festa ouviu do garoto bêbado que ele era apaixonado por ela.
— Eu não sabia, tá legal? — disse entre as lágrimas. — Eu não sabia que você gostava
de mim. Eu sinto muito, mas o que você fez... — Sua voz mergulhada em mágoa. — Provou
que não me amava de verdade.
Ao ouvir isso o garoto ficou transtornado, afinal se tem uma coisa que ele sabia era sobre
seus sentimentos por ela. Pensou nisso como um louco por vários anos.
— Eu não te amava? — Apoiou suas duas mãos na bancada como se buscasse forças. —
Eu pensava em você todas as noites antes de dormir, acordava todos os dias só na esperança de
ouvir sua voz, de encontrar seu sorriso. Eu não te amava? Não venha me dizer isso. — Disse a
última frase com certa agressividade.
Elis estava se sentindo estranha com aquelas palavras. Nunca tinha ouvido ele falar
conscientemente daquele jeito. Demonstrando tanta profundidade. Na festa achou que era
apenas uma brincadeira de mau gosto. Ali ele estava sóbrio e dizia aquilo, com uma dor
difundida no olhar. Um flashback se formou em sua cabeça, fazendo ela analisar cada
momento que passaram juntos, tentando forçar sua memória para que enfim pudesse se
lembrar dos sinais do amor de Louis em todos aqueles anos de amizade. Não encontrou.
— Louis, eu... — Sem reação, assim estava Lis. Não existia uma forma de responder
aquilo. Era informação demais ao mesmo tempo. Revelações demais para assimilar tudo.
— Não fala mais nada — disse seu tom de voz agora mais baixo ainda sofrido. — Já
ficou bem provado que as palavras machucam. Então, chega disso. — Abaixou a cabeça. Só
ele sabia o quanto estava sendo difícil se expor daquela forma, colocar tudo que sentira em
vários anos de uma vez, colocar todas as cartas na mesa.
— Eu juro, Louis, que eu pensei que nossa amizade fosse pra sempre. É difícil agora
estar ouvindo isso, eu não sei o que dizer... — Encarou o chão.
— Você não precisa dizer nada, Elis. — O modo como Louis disse seu nome, por algum
motivo deixou ela mais mal do que já estava. — Eu te amei, sim amei. Posso ter feito aquilo,
mas eu só não ia conseguir suportar... — Ele parou por um momento, lembrando da dor que
sentiu quando ela disse que gostava de seu melhor amigo. Foi demais, foi como ser rejeitado só
que mil vezes pior.
— Você achou que fazendo aquilo sua dor diminuiria? Me fazer sofrer com certeza era a
melhor solução — disse com sarcasmo se lembrando da forma cruel com que seu ex amigo
espalhou para a escola sobre seus sentimentos.
— Pode não ter sido, mas já aconteceu não tem como mudar isso... — falou sério. — A
única coisa que eu mudaria na minha vida foi ter me apaixonado por você, foi a pior coisa que
poderia ter acontecido. — Foi difícil dizer aquilo, mas ele disse.
Louis olhou para baixo encarando o chão pensativo, olhava para ao mesmo tempo para
os sapatos de Elis que estava bem na sua frente. Quando subiu seu olhar até ela, sentiu seu
coração doer. Ela estava com lágrimas nos olhos.
— Não esperava ouvir isso de você... Eu só... Não tenho culpa de tudo isso. Não sabia
que seria assim, não tenho culpa te ter gostado um dia do Harry — disse com a voz embargada.
— Não chora, por favor... — ele disse e ela levantou uma sobrancelha.
— Qual o seu problema, Louis? Você me diz essas coisas e depois fala para eu não ficar
triste? Como não? Tudo bem, eu nunca fui apaixonada por você, mas eu te amava, você era
tudo pra mim, meu melhor amigo, ouvir essas coisas de você... É tão... — Caiu uma lágrima de
seus olhos, que ela rapidamente limpou. Não sabia o que dizer, tudo aquilo era pesado demais.
De repente Nev surge na cozinha e antes mesmo de entrar por completo pôde sentir que
a energia daquele lugar estava mais que carregada. Estava pesada, sentimentos, dúvidas e
revelações estavam praticamente asfixiando todo o local. O clima estava praticamente
insustentável.
— Eu vim pegar alguma coisa para comer, mas acho melhor voltar depois. — Foi dar
meia volta sem graça por claramente ter atrapalhado algo que estava acontecendo ali.
— Não, não precisa ir. — Limpou as últimas lágrimas que insistiam em molhar seu
rosto. — Eu já vou indo, acho que a conversa acabou. — Olhou para Louis, que tinha aquela
mesma dor no olhar.
Saiu da cozinha e correu para o banheiro, não queria que suas amigas percebessem que
tinha chorado. Aliás assim que fechou a porta do cubículo da casa de Maya acabou chorando
mais ainda por tudo que tinha acontecido. Todas as palavras, tudo que descobriu em uma
conversa de poucos minutos.
Nev foi até seu amigo que estava encostado no balcão e apoiou a mão no seu ombro.
— O que foi Louis? Vocês tiveram a tão esperada conversa? — Ele ergueu o olhar e
assentiu, o amigo o abraçou.
Victor chegou na cozinha e estranhou aquela depressão toda. Definitivamente aquilo não
estava parecendo uma festa e nem nada parecido a uma.
— Mas o que está acontecendo?! — chegou gritando. — Vamos animar, rapaz. Que
festa é essa que não tem o Louis sendo um palhaço? — Deu tapas nas costas dele.
— Não é uma hora tão boa, Victor — alertou Nev.
— Ah, qual é? As meninas querem brincar de verdade ou consequência, vai ser
divertido. Vamos?
Aquela surtiu como uma boa ideia apesar dos ânimos estarem abalados.
Louis aos poucos foi tentando voltar ao seu estado normal, o que ele sabia que não
conseguiria fazer cem por cento naquela noite. Nev terminou de fazer os drinques e depois os
levou para a sala. Já estavam todos em uma grande roda, no chão da sala, menos uma pessoa...
— Cadê a Lis? — Maya perguntou fazendo todos olharam em volta. A garota não estava
ali. Louis sentiu seu coração doer e decidiu ir atrás dela.
— Eu vou ver onde ela... — Já estava se levantando quando uma voz que ele conhecia
muito bem surgiu.
— Estou aqui. — Entrou na sala e seus olhos cruzaram com os de Louis, ela abaixou a
cabeça e sentou na roda, passou a evitar olhar de novo para ele. Sentia que assim tudo se
tornaria mais fácil. Só estava atrasando o momento. Precisava pensar em tudo com calma.
— Então... vamos começar esse jogo — Victoria falou animada. Já tinha jogado aquilo
antes e havia sido extremamente bom. Afinal ali todos poderiam se conhecer melhor.
— Uhuuuu! Vamos lá, quem começa? — disse James mais animado do que a maioria.
Ele gostava de estarem ali todos juntos.
— Eu posso começar! Vamos lá. — Maria girou a garrafa primeiro, o objeto de vidro
escuro dançou no meio da roda. Todos olharam atentamente para o destino em que ela pararia.
Acabou parando em Nev.
— Lembrando que se for ''verdade'', as respostas são com ''sim ou não'' — Maya lembrou
uma das regras do jogo.
O garoto loiro escolheu a opção desafio em vez de verdade e Maria o fez virar três doses
de vodca seguidas. Todos riram das expressões faciais que Nev fazia ao beber, o líquido forte
queimando sua garganta.
O jogo continuou e todos faziam várias perguntas. Os meninos zoando uns aos outros.
As risadas preenchiam a sala. Todos ali como bons amigos desconhecidos.
Era a vez de Maya girar e a garrafa parou em Bia que estava mais animada do que o
costume, talvez porque Louis conseguiu batizar seu refrigerante. A menina nunca havia sequer
estado em algum ambiente como aquele, se sentindo tão incluída apesar de ficar quase sempre
mais em seu canto. Gostava de olhar para aquelas pessoas que observava em segredo na
escola, alguns tão populares que nem sequer haviam falado com ela antes. Estava entre eles.
Como um deles. Mesmo que apenas por uma noite.
— Hummm, Bia... Bia... Bia... — Sua amiga a olhou desafiadora. — Verdade ou
desafio? — Maya estava adorando aquilo e já tinha uma pergunta em mente.
— Verdade. — Bebeu um gole do seu ''refrigerante''. Pelo menos estaria um pouco mais
relaxada pelo que estava por vir bebendo algo com álcool. Ou não.
— OK... — Ela sabia exatamente o que perguntar, ansiava por aquela resposta a muito
tempo, era o momento ideal. — Você nunca falou do garoto que você gosta para a gente...
Então... — Bia abaixou a cabeça e gelou. Não acreditava que a amiga iria fazer justamente
aquela pergunta. Em sua cabeça apenas a imagem do irmão da amiga estava. E seu coração
bateu acelerado porque ele estava ali naquela sala e provavelmente olhando para ela já que
estava no centro das atenções.
— Aê May, mandou bem! — Victoria gritou falando sobre a pergunta porque também
gostaria muito de saber o crush da amiga mais tímida. As duas bateram as mãos em
comemoração.
Bia já sentia seu corpo inteiro tremer em um calafrio, até que algo surgem em sua mente
brilhante, talvez ser a nerd da turma não seja algo tão ruim quando seu cérebro está sempre
funcionando a todo vapor. Uma das regras do jogo a salvariam da temida pergunta. Não
conseguiria dizer ''Victor Black'' ali no meio de todas aquelas pessoas e muito menos na frente
do próprio. Seu amor platônico continuaria em segredo guardado a sete chaves em seu coração.
— É... Ma... mas, só são respostas ''sim e não'' — disse nervosa, gaguejando um pouco.
Na mesma hora as expressões de suas amigas demonstraram desapontamento.
Realmente. ela tinha razão sobre aquilo. Concordaram.
— Droga! — retrucou a irmã de Victor. — Mas tudo bem... Vou reformular minha
pergunta... — disse, malévola. — O garoto que você gosta por acaso está nessa sala? — Bia
sentiu suas bochechas queimarem e na hora e abaixou a cabeça, tímida. Ela não precisou dizer
nada, afinal sua própria reação fez o favor de entregar.
— Ah não, oh meu Deus, oh meu Deus! — gritou Victoria chocada. Não poderia
acreditar, estava surpresa e então pensou em uma pessoa que normalmente era alvo do amor de
muitas garotas... Será que a Bia é outra apaixonada pelo Harry?, pensou.
— Socorrooo, responde sim ou não Bia — Maya pediu com curiosidade apenas para que
a garota confirmasse sua quase certeza de que sim, o garoto pelo qual ela estava apaixonada
estava naquela sala.
Bia pressionou os olhos com força como se aquilo fosse um pesadelo. Se pudesse
evaporaria dali. Ela nem conseguia olhar nos olhos de ninguém naquela sala. Balançou a
cabeça positivamente e depois tampou seu rosto com as mãos. Não acreditava que aquilo
estava mesmo acontecendo.
— OMG! Quem será? — A dona da casa gritou animada e olhou para cada garoto
presente naquela sala. Havia cinco possibilidades. Esperava sinceramente que não fosse Nev,
porque esse já pertencia a ela.
Maria, a mais sensível de todas as meninas, percebeu o desconforto de Bia perante toda
aquela atenção que estavam dando a ela. Sabia que sua amiga era mais reservada e aquele
momento devia estar sendo terrível para ela. Então resolveu ajudar a mudar o foco.
— Genteee, se controlem. A pergunta já foi feita e ela já respondeu. — Franziu o cenho
para Maya e Vick, como se dissesse ''para com isso, a garota daqui a pouco vai cavar um
buraco e se esconder de tanta vergonha''. Elas prontamente entenderam.
Bia agradeceu a Maria com um sorriso fraco. Eles continuaram jogando.
— Minha vez. — Victor girou a garrafa e parou no James. Sorriu para ele.
— Eu vou querer... Desafio — falou um pouco indeciso porque sabia que seu amigo não
pegava tão leve.
Victor esbanjou um sorriso vitorioso, era exatamente o que gostaria de escutar. Se bem
que, assim que a garrafa parou no amigo, ele soube que não importava se ele escolheria
verdade ou consequência, qualquer uma das opções iria levar a uma pessoa: Maria. Já estava
mais do que na hora de algo acontecer, ele pensou.
— Ótima escolha, meu caro amigo. — Seu olhar misterioso deixou James com medo do
que estava por vir. — Eu te desafio a dar um beijo daqueles na Maria, só isso. — Falou como
se fosse a coisa mais normal do mundo. James cerrou os olhos de raiva para Victor, ele não
podia ter proposto aquilo. O que Maria iria pensar dele? Isso poderia estragar a amizade dos
dois. Mil pensamentos passaram pela sua mente.
— De onde tirou essa ideia? Somos amigos — falou com suas mãos suando de
nervosismo.
— É só um beijinho, você tá criando caso por nada — Victor disse tentando fazer o
amigo cair na real e tirar aquela cara de espanto do rosto. Afinal, a reação dele estava estranha.
Então, a voz da melhor amiga de James apareceu, fazendo-o congelar.
— Não tem problema. Vamos fazer isso! — disse de maneira natural e todos se voltaram
para ela.
— Como assim? — perguntou, confuso. Ele nunca iria esperar por aquela resposta.
Maria não se incomodou nem um pouco com o desafio de Victor.
— Você escolheu Desafio, jegue. — Deu um tapinha em seu pescoço de leve. — Agora
é obrigado a cumprir o desafio ou sai do jogo. — Deu de ombros. — Vem cá. — Chamou-o
para mais perto, o que foi fácil, já que eles estavam lado a lado. James não poderia acreditar
que aquilo ia mesmo acontecer.
— Tem certeza? Não precisa fazer isso, eu posso ficar de fora — disse em seu ouvido
para que só ela ouvisse. Não queria que sua amiga fizesse algo que não queria apenas para
salvá-lo. E muito menos queria que o primeiro beijo dos dois acontecesse por uma obrigação.
Mas aqueles lábios volumosos dela o chamavam.
— Shhh, Jay, fica quietinho — sussurrou, preparada para o que estava por vir. Era
apenas um beijo, ela pensou. Não tiraria pedaço. Os dois eram amigos desde sempre.
Sem dar aviso, Maria em um só movimento já encostara seus lábios nos de seu melhor
amigo. Como reação espontânea ele levou uma de suas mãos até seu rosto e a outra até a
cintura dela. Acariciou a maçã do rosto da garota com o polegar. Parecia muito surreal.
De repente se ''despertenceram'', o beijo foi ficando envolvente, estavam em perfeita
sincronia, giraram as cabeças, uma, duas, três vezes. Até que ouviram frases como: ''Agora não
param mais'', ''Eita, o negócio tá bom'' e outros comentários que fizeram com que parassem...
James ainda estava de olhos fechados para ver se tudo aquilo não tinha sido um sonho.
Maria deu-lhe um abraço forte e o acordou de seu sonho com a seguinte frase:
— Viu, gente? Não teve nada demais, ele é meu amigo. Meu melhor amigo — falou
meiga, e isso feriu o coração do garoto. Só que ele não sabia é que a garota sentiu toda sua pele
se arrepiar assim que sussurrou em seu ouvido que ela não precisava fazer aquilo. A verdade é
que ela nem sabia o porquê, mas só sentiu. Quis beijar seu melhor amigo de infância e adorou
cada segundo daquele momento, apesar de ser estranho pensar nos dois juntos daquele jeito.
— Agora o negócio ficou bom — Harry disse gargalhando. — Vamos continuar... — Os
jogos continuaram e sempre que os garotos propunham algum desafio, era relacionado a beber,
já que assim as verdades talvez saíssem mais rápido, o que seria muito engraçado.
— Hummm... Senhorita Jones... — falou Louis com uma cara de sério pensando no que
perguntaria à garota. — Vamos lá.
— Olha lá, hein? — Ela cerrou os olhos e logo depois sorriu. Pensou no que ele sabia
sobre Harry e ela, mas acreditava que não iria perguntar nada relacionado àquilo, já que
segundo Miller, prometera sigilo absoluto.
— Verdade, então... OK... Você ainda é... virgem? — perguntou malicioso, pensando no
quanto seu melhor amigo estava caidinho por aquela garota louca.
Victoria imediatamente olhou para Harry com ódio no olhar. Aquilo era algo tão pessoal
dela... Só havia falado com suas amigas e com um garoto daquela sala. Seu sangue ferveu...
Com certeza ele deve ter falado isso para o Louis, e ele está me perguntando agora, pensou.
Ele não tinha o direito de sair falando de mim com os amiguinhos dele. Será que ria e fazia
piada de mim pelas costas? — ela se indagou. Sentiu ódio e raiva, mas tentou disfarçar. Deu
um risinho e tomou um gole de sua bebida. Sabia exatamente o que ia dizer. Não via
problemas em ser virgem, somente não queria Harry falando sobre ela por aí.
— Não, não sou mais — disse, decidida, apesar de ser mentira.
Harry e as amigas olharam para ela e a reprovaram.
— Não pode mentir, amiga — Maya falou bebendo mais do conteúdo em seu copo.
— É... Realmente... — concordou Miller. Quando ela ouviu sua voz foi como se alguém
disparasse uma granada.
Lembrou da conversa que tiveram sobre confiança. Como poderia ter confiança em
alguém que fica falando do outro pelas costas? — pensou, revoltada.
— Cala a boca, Harry. Fica caladinho aí. Eu não sou mais virgem, perdi com o Phillip na
semana passada, eu só não tive tempo de contar. Se quiserem que eu prove, posso
simplesmente... — ameaçou abaixar a calça, mas deu um risinho e encarou Harry, que bebeu
sua bebida e não disse mais nada.
A verdade é que a forma como a garota tinha dito pareceu bem convincente, mas Harry
tentava acreditar que era só uma trapaça ou algo assim, mas por que mentiria sobre isso? Era
algo tão babaca de se fazer.
O jogo prosseguiu e era a vez de Nev perguntar algo ao dono da casa, porém ele
escolheu desafio. Pensou um pouco, não sabia o que pedir, não tinha mais graça nenhuma
pedir para a pessoa beber. Então, pensou em algo... Uau, isso seria jogo sujo, mas engraçado.
— Eu quero que você dê beijos calientes no pescoço da... Tan tan tan tan Biaaaa... —
falou gritando, já sentindo o efeito do álcool.
Bia, que estava atenta à brincadeira do outro lado da roda, tremeu ao ouvir seu nome. Ela
estava em pânico. Isso a pegou completamente de surpresa, temeu por ter dado bandeira sobre
de quem gostava e por isso aquele desafio. Olhou para baixo. Black cerrou os olhos para Nev.
Claro que ele fez aquilo porque Bia era somente a irmã gêmea de sua ex-namorada. Que
sacanagem, ele pensou. Mas por algum motivo não quis parecer um idiota na frente de Bia.
Ela o havia ajudado quando ele passara mal na festa do seu aniversário. Isso ele não podia
esquecer. Sabia que ela era uma pessoa boa.
Bia estava com as bochechas rosadas, o que Victor achou fofinho. Ele foi engatinhando
devagar em direção a ela e, a cada vez que chegava mais perto, a garota sentia que seu coração
ia explodir. Ele chegou a ficar de joelhos na frente dela.
— Desculpa aí Bia, eu vou ter que te fazer passar por essa tortura. — Sua voz soava tão
naturalmente sexy. — Mas fazer o que, se tenho amigos idiotas? — Sorriu docemente.
Ela não disse nada, apenas acompanhou cada gesto que ele fez. Na verdade, ela não
conseguia dizer nada. O moreno levou a mão até seus cabelos e jogou apenas para um lado.
Segurou seu pescoço e lentamente foi aproximando seu rosto do dele.
Victor sentiu o cheiro doce de Bia pela primeira vez. Abandonou toda ideia de obrigação
por ter que fazer aquilo e sentiu vontade de realmente fazer, apenas pelo cheiro dela. Enquanto
isso ela tremia e já estava arrepiada, mesmo que os lábios dele nem ao menos tivessem
chegado a encontrar sua pele. Tentava se controlar para que suas reações não permitissem que
todos ali naquela sala soubessem que o garoto do qual gostava era Black. Enfim, ele tocou os
lábios naquela pele macia e a garota sentiu uma corrente elétrica atravessar seu corpo.
Lentamente ele foi tocando lugares no pescoço da garota. Beijava delicadamente, foi
quando levou sua língua até a pele dela. A garota teve um ataque cardíaco e morreu.... RIP
BIA! OK, também não foi para tanto, mas foi como se sua alma tivesse saído do seu corpo,
dado três piruetas e retornado. Victor parou e a olhou, ela abriu os olhos e encontraram aqueles
dos quais não resistia. Olhos pretos brilhantes cheios de mistério. Ela não resistia a eles. Não
sabia como ainda conseguia estar respirando depois daquele momento.
— Sobreviveu? — Ele sorriu tímido e ela retribuiu com o mesmo sorriso.
Sem dúvida, aquele momento foi o melhor de toda sua vida. Depois de anos gostando do
mesmo garoto com toda a dedicação, havia sentido seus lábios a tocarem daquela forma, tão
suave, sem pressa alguma, com tanta devoção... Ela estava vivendo um sonho.
Os jogos tiveram mais algumas poucas perguntas e desafios, até que chegou ao fim.
Todos já estavam cansados e bem alterados com as bebidas, o sono já alcançava alguns. A
madrugada já estava na metade.
— Vamos assistir a um filme? Vocês escolhem aí enquanto eu faço pipoca, OK? —
Todos assentiram e ela voltou os olhos para Nev. Trocaram informações por telepatia, ou
melhor, por troca de olhares.
Enquanto todos se amontoaram nos colchões que colocaram na sala e nos sofás, um
brigando com o outro para escolher o filme, já que uns queriam ação, outros comédia, outros
um terror assustador, sendo que era provável que a maioria dormisse sem nem conseguir
terminar de ver os trailers do filme.
Nev se dirigiu até a cozinha, viu no micro-ondas a pipoca girando, mas nada de Maya.
De repente uma mão o puxa para dentro da dispensa.
— Mas o quê? — disse assustado, mas relaxou assim que entrou em contato com aquele
perfume irresistível que ele sabia muito bem a quem pertencia.
De repente, os braços de Maya já estavam passando pelo seu corpo e eles já se beijavam
ferozmente, de um jeito nunca feito. De modo intenso, a garota pulou no colo dele, prendendo
as pernas em volta de sua cintura. Foi quando esbarraram em uma prateleira e derrubaram
várias coisas.
— Meu Deus... — A garota riu com o barulho.
— Foi mal, mas também você pula desse jeito em cima de mim — falou passando a
mãos dos cabelos claros.
— Aí você se desequilibra? Tá me chamando de gorda, Nev? — Cruzou os braços
fazendo biquinho.
— Que isso, meu amor? Nunca, nunquinha, você é perfeita pra mim — disse sem
conseguir esconder a paixão que sentia por aquela menina. Estava encantado por cada parte de
seu rosto, corpo, jeito.
— Você não sabe a vontade que eu tava de te beijar... Sabe, a noite inteira — derreteu-se
a morena.
— Eu também, meu amor. Mas nós vamos acabar com isso — falou firme, e pensou em
algo. — Pode marcar o dia que venho pedir sua mão para o seu pai.
A garota arregalou os olhos ao ouvir aquilo. Enfim, estava acontecendo. Seu coração se
alegrou mais ainda.
— O quê? Pedir minha mão para o meu pai? E por acaso EU já aceitei o pedido? —
Colocou a mão na cintura.
— Oi? — perguntou confuso e logo depois se deu conta do que ela estava dizendo —
Ah, é mesmo. Você Maya Black quer... Ser minha princesa, minha companheira, minha
namorada? — Seus olhos azuis cor do céu brilharam mais ainda.
Maya olhou para aqueles olhos ansiosos e ao mesmo tempo felizes e apenas pulou nos
braços de Nev. Beijou-o carinhosamente. Aquela noite não poderia acabar de melhor maneira.
— Óbvio que sim — respondeu, alegre.
— Então... Somos namorados — ele disse todo bobo.
— Sim, somos. — Sorriram e deram vários selinhos.
— Eu posso mudar meu status do Facebook para ''relacionamento sério''?
Maya morreu de rir com o comentário do seu ''namorado''. Adorava pensar nele assim,
era tudo o que queria. Ele a fazia tão feliz que parecia que tanta felicidade não ia caber dentro
de si. Mal via a hora de contar para o mundo inteiro que os dois estavam juntos.
Voltaram para a cozinha e colocaram a pipoca em recipientes para levar para o pessoal
na sala. Ainda não podiam assumir o relacionamento porque o irmão de Maya com certeza iria
implicar com a ideia. Mas eles não ligavam mais para isso. Os dois iam ficar juntos de
qualquer forma.
— Eu vou primeiro. Depois você vai, OK? — ela falou com um sorriso nos lábios. —
Senta perto de mim na hora do filme, namorado. — Era tão bom dizer aquilo, ela pensou.
— Tá bom, namorada. — Ela sorriu bobamente ao ouvir Nev dizer aquela palavra.
Na sala todos estavam em suas posições, prontos para assistir a um filme de terror. Era
um filme assustador de verdade.
A noite ainda não acabou.
O filme estava quase terminando e Bia se levantou para ir até o banheiro. Ela havia
cochilado em boa parte do filme, pois em sua rotina comum não ficava acordada até aquela
hora da madrugada, então não estava acostumada. Olhou para os outros assistindo ao filme e
decidiu fazer uma coisa que sempre teve vontade. Era arriscado, mas acreditava que nunca
teria outra oportunidade como aquela. Estava no lugar certo.
Avistou a porta com adesivos de super-heróis e teve certeza de que esse era um momento
de ouro para matar sua curiosidade. Girou a maçaneta devagar... Até que seus planos foram
destruídos justamente pela voz presente em seus sonhos de todas as noites.
— O que está fazendo? — A voz de Victor fez Bia tremer e provavelmente se dividir em
mil pedaços.
Se ela pudesse provavelmente evaporaria para sempre. Ele estava com um sorriso nos
lábios, algo que fazia até a tímida garota parecer uma presa pronta para o abate.
— E... eu... — gaguejou nervosa.
— Você gosta de desenhar, não é mesmo? Vem cá para eu te mostrar uma coisa. —
Avançou na frente e abriu a porta. Ela ficou receosa.
— Não precisa... Se não quiser — disse baixo. Ele fez um gesto para que ela entrasse de
uma vez.
— Foi mal a bagunça... — falou coçando a cabeça, reparando em sua roupa de cama
bagunçada e algumas roupas pelo chão. — Mas aqui está.
Black tirou algumas coisas do caminho e enfim expôs para Bia seu grande mural, com
tirinhas de quadrinhos, alguns rabiscos, desenhos terminados. Lá estavam as caricaturas que
ele disse que fazia, pensou ela. E seu coração gelou quando quase na central estava o seu
desenho... O desenho que ela fizera do garoto. O que diabos estava fazendo ali?, ela se
perguntou. Não fazia sentido estar ali, ela o desenhara várias vezes, em vários ângulos,
sorrindo, sério. Porém, não tinha como ele saber da existência daquelas obras.
— O quê? Meu ... — Apontou o desenho sem saber as palavras certas para usar.
— Ah sim, esse é o desenho que sua irmã me deu. — O sangue dela ferveu. Agora ela
compreendia. Lógico. Sua irmã havia pegado um de seus desenhos, havia dado para Victor,
que era seu namorado, um ótimo presente. Mas ela não tinha o direito de fazer isso. Bia tremia
de raiva.
— Aquela vaca... — pensou alto, sem conseguir aguentar aquela fúria dentro de si. Ele
mordeu os lábios, pensativo.
— Sabe, ela me deu isso e eu fiquei tão feliz na época. — Pegou o desenho em suas
mãos — Isso é algo especial, é a coisa mais especial que alguém já fez por mim — falou com
um sorriso nos lábios.
— Sério? — Ela sorriu também, mas ao mesmo tempo estava triste. Porque sua irmã
havia tirado isso dela, e ela nunca nem ao menos saberia se não estivesse ali naquela noite, na
casa e no quarto do garoto. Nunca saberia que seus traços feitos com tanta paixão foram
usados daquela forma por uma irmã que nunca se importou com ela.
— É, é sim. — Balançou a cabeça negativamente, suspirando em seguida. Victor não
saiu ileso do relacionamento com Rafaela. Ele gostava dela e foi traído, isso ainda mexia com
ele. — Eu sou um idiota mesmo. Caí direitinho — afirmou.
— Caiu direitinho em quê? — ela perguntou com a testa franzida.
— Se lembra daquela vez que eu fui na sua casa e vi seus desenhos? — ele perguntou e
ela assentiu, lembrava que foi chamar sua irmã e, quando retornou à sala, lá estava o garoto
pelo qual era apaixonada, segurando seu caderno de desenhos. — Quando eu os vi eu tive
certeza de que não foi sua irmã que me desenhou e sim você. Ela mentiu pra mim. Não sabia
nem desenhar bonequinho de palito e do nada aparece com aquele desenho, dizendo que havia
feito para mim. Eu deveria ter sido menos trouxa.
Bia não disse nada, só estava com uma expressão de decepção no rosto. Não iria falar
mal de sua irmã com Victor, apesar de ela bem merecer pelo que havia feito. Porém, irmãs
eram irmãs. Ela sabia que a sua errava muito e que quase sempre nem dava valor para ela, mas
apesar disso os laços de sangue ainda as uniam.
— Eu nem gosto de falar muito dela, eu me apaixonei de um jeito e era tudo um engano.
— Ouvir aquilo fez o coração da menina pesar. Nunca havia escutado aquilo daquela boca.
Não era fácil.
— Você se apaixonou mesmo por ela, né? — perguntou, tentando esconder a tristeza em
sua voz.
— Pior que sim, mas depois do que ela fez hoje eu não a suporto — falou, magoado.
Black desprezava Rafaela e não entendia como se deixara envolver por tanto tempo,
namorando sério com ela, deixando sua antiga vida de farras e garotas passageiras para se fixar
justamente em alguém que não merecia isso.
Algo veio na mente de Bia. Ela não tinha certeza se teria coragem para perguntar tal
coisa, mas se não fosse ali, quando seria? Sem pensar muito, como fazia geralmente, apenas
deixou que as palavras saíssem.
— É ruim para você olhar pra mim? — Victor olhou-a com confusão, então ela
continuou explicando em seguida o que queria dizer. — Não sou boba como pensa, vi o jeito
que olhou para o Nev quando ele propôs o desafio... Você não queria fazer por muitos motivos
e também porque eu lembro ela. Tenho a mesma cara, na verdade — disse, sem conseguir
esconder a frustração. Não conseguiu mais olhar para ele e se afastou um pouco.
— É Bia, eles quiseram me zoar, mas nessa brincadeira eu percebi uma coisa... — Seu
tom de voz era firme e sincero. — Apesar de você ser irmã gêmea da Rafaella, vocês duas não
têm nada a ver, isso dá para ver, dá para sentir. — Ele levou uma das mãos até a maçã do rosto
dela.
A garota sentiu um calafrio percorrer seu corpo, só o toque dele já mexia completamente
com sua estrutura, apenas um olhar já fazia algo, quando ele a tocava então, era como um
despertar. Ela sabia que não tinha mesmo nada a ver com a irmã, todos sempre diziam isso,
que Rafaela era a gêmea simpática, carismática e adorada, enquanto ela era estranha, nerd e
calada, era aquela que preferia a companhia dos livros à de outras pessoas. Quase sempre
sozinha, isolada e quieta.
— Eu não sou tão bonita quanto ela... — desabafou. — Nem mais legal e nem... — ele a
interrompeu, porque talvez a garota não estivesse entendendo o que ele quis dizer com aquilo.
— Bia, você é sem dúvida melhor que ela... — afirmou. — O brilho que você tem nos
olhos... — De repente ele foi apenas descrevendo aspectos que gostava nela, características
que nem ele sabia que tinha conhecimento. — O jeito como desvia o olhar quando eu te olho
dentro dos seus olhos... Aquele dia em que você me ajudou, foi incrível, vi que era uma pessoa
boa, diferente da sua irmã... Você é especial. — Ele falava manso e Bia se derretia mais e
mais. Sua respiração já começara a se desregular.
Ela olhava atentamente para o garoto com medo e tensão. Aquilo estava passando dos
seus limites, do que ela achava que poderia aguentar. Estavam tão próximos... Só ela sabia
quantas noites antes de dormir pensou naquele olhar, naquele sorriso... Estar com ele dizendo
aquelas coisas, quase a matava. Estava com vontade de gritar ou de sair pulando, mas apenas
permaneceu em silêncio e imóvel.
— Foi muito difícil desenhar? — disse ele, tirando Bia de seus devaneios.
— É, eu não sei. Acho que foi fácil. — Ela se sentia incomodada de ter que falar sobre
algo que era só dela. Observá-lo durante tantos anos era um esporte secreto que ela fazia. Falar
disso e ainda mais com o próprio era, no mínimo, estranho para ela.
— É porque você desenha muito bem, mas para qualquer outro teria sido difícil. E o
único trabalho que sua irmã teve foi te pedir para fazer. Ainda ficou com todo o crédito. — ele
disse, incomodado.
Ele achava que foi assim, que Rafaella tinha encomendado o desenho com Bia. Mal
sabia que o que ela fez foi roubar uma das várias representações que sua irmã fizera dele
durante anos.
— Seus desenhos são ótimos, não sabia que eram bons desse jeito. — Bia elogiou
observando os desenhos à sua frente.
— É uma das coisas que mais amo fazer, eu pareço outra pessoa quando faço isso. —
Ela sorriu ao ouvir isso, porque era sem dúvida como ela se sentia. Incrível terem isso em
comum, uma paixão tão forte pela arte.
— É, acho que a paixão transforma as pessoas... — Ele ergueu uma das sobrancelhas ao
ouvi-la dizer isso e, percebendo, tentou se explicar. — Sabe... É... Quando a pessoa gosta de
alguma coisa mesmo e faz aquilo...Acho que muda — disse nervosamente. Por que estou
falando de paixão com ele?, pensou, batendo mentalmente em si mesma.
— Entendo. — Sorriu, achava charmoso a forma como as bochechas da menina
ganhavam um tom de rosa quando ela se atrapalhava ao falar algo.
— Eu acho melhor ir ver o fim do filme, não é? — ela sugeriu, querendo sair logo dali.
Ele assentiu com um enorme sorriso nos lábios, que fazia Bia perder o fôlego.
Deu passagem para ela e logo os dois seguiram para a sala. Victor gostou de conhece
mais Bia, achava ela interessante, diferente do que as pessoas do colégio diziam, que ela era
estranha e antissocial. Ele não achou isso.
Na sala, Maria havia adormecido sobre os braços de James, que fazia carinho em seus
cabelos. Maya não estava na sala e Nev estava dormindo no sofá.
Entre todos os possíveis casais daquela noite, talvez seja o romance de Elis e Louis um
dos mais complicados. Como dar adeus a uma amizade de tantos anos? Nada mais poderá ser
como antes, o mal/bem está feito, ele já está apaixonado, como voltar atrás? Não é possível,
talvez se ele tivesse dito sobre seus sentimentos antes... Talvez, se nunca tivessem se
conhecido... Somente assim poderia ser evitado tudo que aconteceu e o que estava por vir.
Não há outro modo de tentar desembaralhar essa confusão senão encarando ela de frente.
Com uma breve troca de olhares lá estavam Louis e Elis sentados na calçada da casa dos
Black. Era mais uma noite congelada em Holmes Chapel, mas mesmo assim seguiram para a
parte de fora, queriam apenas ficar a sós. Queriam resolver de vez os problemas que não
deixavam que eles seguissem em frente.
— Ainda não terminou de dizer tudo o que queria pra mim? — Elis perguntou, se
mostrando ainda magoada com o que havia acontecido mais cedo.
— Lis, eu... Eu queria... — O garoto tentava organizar suas ideias para não provocar
mais nenhuma discussão acalorada.
— Será que você um dia vai conseguir falar simplesmente o que sente para mim? Antes
que seja tarde outra vez — ela disse e revirou os olhos.
— Como se fosse fácil...— ele comentou, irritado. Não gostou de como Elis dissera
aquilo. Como se o que sentisse fosse um peso em sua vida.
— Vou confessar uma coisa: desde aquele dia na festa, tudo bem sei que não estava
sóbrio, mas desde aquele dia tenho pensado em como seriam as coisas... Se elas fossem sabe,
diferentes. — Louis foi pego totalmente desprevenido por aquelas palavras, até mesmo
duvidou que ela queria mesmo dizer aquilo. Na festa, ele havia enfim se declarado, estava
bêbado, mas aconteceu. E ali descobriu que ela havia pensado na possibilidade.
— Como assim? — ele perguntou, receoso. E desejava que fosse mesmo o que ele havia
pensado. Estavam sentados na calçada, muito próximos um ao outro.
— Eu queria tentar uma coisa... — falou baixo, com certo medo. — Mas não sei se é
certo.
Olhou para o lado e lá estavam os olhos doces e gentis que ela tanto gostava. Sim, ele era
e sempre fora somente um amigo, mas a ideia de um algo a mais invadiu seus pensamentos
alguns dias antes. Parecia estar sendo impossível conviver com aquela dúvida. Precisava testar
aquela possibilidade.
Elis aos poucos aproximou seu rosto e ele sentiu seu coração bater mais forte, havia
chegado o momento que ele tanto havia esperado. A garota estava temerosa como se aquela
atitude fosse um risco, porém ela decidiu que era um risco que deveria correr.
Aproximou seus lábios, que pareceram dar um choque ao se encontrarem. Logo estavam
envolvidos em um beijo lento e extremamente cuidadoso, como se pudesse fugir ou
simplesmente sumir a qualquer momento. Foi leve, doce e cuidadoso.
Louis abriu os olhos e pôde perceber a garota ainda de olhos fechados à sua frente...
Uma alegria o dominou quando lentamente e ainda sem abrir os olhos, a expressão de Elis
suavemente revelou um sorriso. Sim, ela havia sentido algo. Não que tivesse se apaixonado só
com um beijo, as coisas não eram tão rápidas assim, mas havia gostado, surpreendentemente
havia gostado.
— Já pode parar de sorrir... — ele disse, brincalhão.
— Eu não estava rindo, seu convencido. — Ela deu-lhe um tapa fraco na cabeça. Ele
somente riu. — Vamos entrar? Está tão frio aqui... — falou, estremecendo seu corpo com os
poucos graus que estavam fazendo.
— Acho que arrumamos uma forma de esquentar as coisas — ele disse, malicioso. Ela
balançou a cabeça, rindo do quanto Louis era tão sexy e retardado ao mesmo tempo. Levantou-
se e foi abrindo a porta.
Louis a abraçou pela cintura e entraram na casa dessa forma. Todos que estavam na sala
viram aquela cena. E estavam surpresos. Afinal, poucas horas antes os dois nem se falavam e
quando faziam isso era para se agredir. Enfim, voltaram a ser amigos, ou mais que isso.
— Fizeram as pazes, foi? — Victor perguntou ao amigo e este assentiu, enviando um
sorriso em direção a Lis, que foi se sentar próximo à Bia no sofá. — Cadê a Maya? — Olhou
ao redor e não viu sua irmã.
— Ela me disse que ia arrumar o quarto lá em cima para a gente dormir, Victor — Elis
informou.
Parecia ser a hora para irem dormir. A maioria dormiu sem conseguir ver o fim do filme,
estavam cansados e mortos de sono. Enquanto isso, dois deles pareciam mais acordados que
nunca, aproveitando a grande cama de casal e a liberdade que tiveram, Harry e Victoria. Ao
ouvirem a barulhenta turma ir em direção ao espaço dos quartos em que se encontravam,
pararam imediatamente de se beijar.
— Eles estão vindo — Jones disse, assustada. — Oh, meu Deus, veste sua camisa! —
Jogou-a em cima dele.
— Arruma esse cabelo, está todo bagunçado. — Harry foi até ela, passou a mão nos
cabelos como se para ajeitá-lo e deu-lhe um selinho.
Esses dois não tomam jeito. Sempre acabavam suas brigas e desentendimentos com
muitos beijos e bastante amassos. Harry mal conseguia disfarçar a vermelhidão da sua boca,
provocada pelas constantes mordidas que Vick lhe dava. Ela, por sua vez, era denunciada pelos
cabelos desgrenhados e por uma cara de quem aprontou, que não conseguia tirar do rosto.
Toda a tensão de suas discussões e brigas só faziam com que a chama da atração que sentiam
um pelo outro aumentasse mais ainda.
— Você acaba comigo... — declarou Miller com malícia exposta em seu rosto e saiu do
grande quarto, deixando-a sozinha.
Victoria se jogou na cama de casal com o corpo cansado e, ao mesmo tempo, leve como
uma pluma. Não conseguia tirar um sorriso feliz do rosto. Nem sabia de quem era aquele
quarto, devia ser o de hóspedes. Na verdade, perdeu os sentidos de onde estava a partir do
momento em que começou a beijar Harry. Logo deixaram se levar como sempre pelas batidas
de suas vontades.
Ela não fazia a menor ideia de quanto tempo iria durar até que tivessem outra briga por
qualquer motivo, só sabia que não estava pronta para dizer adeus àquilo tudo. Se sentia cada
vez mais dependente do toque de Harry, de sua pele na dele. Estava se tornando um perigoso
vício. Vício tão grande quanto o de provocá-lo.
Os garotos se organizaram para ver onde cada um dormiria. Todas as meninas couberam
no quarto de Maya, que desde que ouviu falar no nome de Joanne perdeu por completo seu
humor. Ela bem sabia que seu agora namorado havia tido, digamos... Um lance com a garota.
E só de pensar nisso seu estômago embrulhava. Sabia que era estúpido, mas não conseguia
evitar se sentir assim. Recebeu uma mensagem antes de dormir...
''Estou triste... não queria que ficasse brava comigo... Sou seu namorado, sou seu,
somente seu. Se esqueceu disso? : ( ''
Nev
Ler aquelas palavras foi o suficiente para ela se dar conta de que estava perdendo tempo
magoada por uma bobagem.
Maya se levantou da cama... Saiu do seu quarto com o pijama de pandas e bateu na porta
do quarto do Victor... Após a permissão, entrou. Olhou o quarto e viu que o irmão não estava.
Lá estava somente quem lhe interessava. Pulou na cama, em cima de seu namorado. Beijou-o
docemente.
— Desculpa eu ser uma boba — disse, suspirando.
— Que bom que está aqui comigo. — Ele a abraçou.
Beijaram-se mais uma vez de maneira meiga e cativante como só eles entendiam e
sabiam como fazer. Maya sabia que com Nev podia estar segura, mas fazer o que se às vezes
tinha seus ataques de ciúmes? Ninguém é perfeito. Mas cada um pode ser perfeito na visão de
alguém, assim como ela era para o garoto, perfeita para ele.
— Tenho que ir, antes que o meu querido irmãozinho barraqueiro entre. Boa noite! —
Deu um selinho.
— Só isso? Quero mais. — Ela deu vários rapidamente. — Sonhe comigo, minha linda.
Boa noite.
Maya seguiu para o seu quarto. Certeza que sonharia com aqueles olhos azuis.
Vick e Bia já dormiam exaustas, foram muitas emoções. Logo chegou James carregando
Maria em seus braços. Ela parecia estar adormecida.
— Dá licença Maya, essa menina é uma folgada — pediu educadamente James entrando
no quarto.
— Hey, eu ouvi isso — Maria disse e sorriu de olhos ainda fechados.
— Viu só? Fingiu que estava dormindo só para que eu a carregasse. Folgada Master. —
Colocou a menina onde ela dormiria.
— Obrigada, meu príncipe — ela agradeceu.
— Estou mais para um servo — ele disse derrotado e os dois se abraçaram rindo.
Trocaram ''eu te amo'' e “boa noite” Os dois se tratavam daquela forma, com muito carinho.
Pareciam muito mais um casal meloso em lua de mel que um casal de amigos.
James ia saindo e fechando totalmente a porta quando ouviu algo que lhe interessou.
Lutou contra seu bom senso de ir embora e respeitar o espaço das meninas, porém sua
curiosidade falou mais alto, e era um assunto que lhe dizia respeito. Permaneceu parado no
corredor e conseguiu ouvir...
— Meninaaa, que beijo foi aquele? — Maya berrou, animada.
— Deu pra perceber? Ah... — O tom de voz de Maria parecia tão surpreso e ao mesmo
tempo animado, com uma sensação nova a dominando.
— Você gostou? Foi bom? — Black fez as perguntas com entusiasmo. Enquanto isso,
Jay estava ouvindo atentamente do outro lado.
— Não foi bom. — Imediatamente ao ouvir James se entristeceu, mas, para sua total
surpresa e extrema felicidade, ela continuou: — Não foi bom, foi ótimo. — Maria disse como
se fosse algo de outro mundo. Porque para ela era, sim. Nunca achou que gostaria tanto de
beijar seu melhor amigo.
Ele sorriu instantaneamente ao ouvir a declaração da garota. Podia dormir feliz depois de
ouvir aquilo. Ainda não sabia o que faria com aquela descoberta, mas não poderia continuar da
mesma forma que estava. Seguiu para o quarto onde dormiria.
Logo todos da casa adormeceram... Os sonhos foram repletos de incógnitas e reflexões.
O importante é que todos acordaram de bom humor e tomaram café da manhã juntos.
Harry havia acabado de sair do banheiro quando Jones o puxou no corredor e deu um
beijo saudoso nele, passando seus dedos sobre os lábios grossos e vermelhos do garoto,
sentindo a textura de que tanto gostava. Trocaram um sorriso carinhoso.
— Bom dia, Miller — ela disse sapeca e piscou o olho antes de sair deixando-o no
corredor sedento por mais doses de Victoria.
A noite havia sido agradável e cheia de surpresas e descobertas. Tinha tudo para dar
errado, começou mal com a briga dos irmãos e no fim deu tudo certo. Eles se encaixaram,
curtiram, se conheceram mais. Será que momentos como aquele poderiam se repetir?
Tudo estava muito bom. Até a página dois.
Era mais uma manhã serena e calma em Holmes Chapel, tudo que se podia ouvir eram os
cantos angelicais e harmônicos dos pássaros. Hoje era o grande dia em que os dois irmãos
postiços conheceriam a sua futura casa. Victoria dormia pesadamente, como sempre. Logo
sentiu lábios macios e quentes em seu pescoço que a fizeram se arrepiar instantaneamente.
Uma voz rouca e enlouquecedoramente lenta tocou-a, ao ponto de achar que tudo aquilo fosse
um incrível sonho bom.
— Hey esquentadinha... Acorda... — Passou a mão em seu rosto, ela abriu os olhos e
ergueu a sobrancelha sorrindo. Adorou ser acordada daquela forma, mesmo que odiasse
quando a acordavam.
— Me deixa dormir mais... — pediu, manhosa.
— Não dá, levanta, a gente tem que ir visitar a tal casa nova... — Miller não estava
animado com a atividade do dia. Ao contrário, ele ainda não tinha engolido a ideia de ter que
se mudar. Mas para não ficar brigando com sua mãe decidiu ''dar uma chance'', mesmo que
tenha aceitado da boca para fora.
A garota apenas sorriu com o lembrete, levantou e foi ao banheiro, enquanto Harry
deitou em sua cama de pernas cruzadas. Ficou olhando o teto e cantarolando baixinho uma
música.
Jones podia até ser resistente e driblar todas as situações sentimentais que aquele
relacionamento poderia ter. Porém, mal podia esperar a hora de chegar em casa e encontrá-lo e
muitas vezes ficavam apenas horas conversando sem malícia, o que era extremamente estranho
já que, por natureza, o santo deles não batia muito. A não ser na hora dos calorosos beijos.
As coisas não estavam mudando, elas já haviam mudado, Vick apenas preferiu omitir
tais fatos. Os dois estavam em sintonia, gostavam da companhia um do outro, estavam se
curtindo de verdade, sem grandes pressões ou rótulos para explicar o que estavam fazendo ou o
que eram um para o outro. Apenas estavam seguindo seus desejos, apesar das complicações.
— Você se trocou no banheiro? Estou esperando aqui por nada? — ele disse com uma
falsa irritação quando ela finalmente terminou o banho.
— Idiota, já te falei para sair daqui enquanto eu tomo banho. Vou começar a trancar a
minha porta — reclamou, mas com um leve humor embutido na voz.
— Ah, não adianta esconder mais, que eu já vi tudo. — Harry declarou sorridente e se
jogou na cama da garota com os braços apoiando a cabeça.
— Mentiroso, você nunca me viu completamente nua. — A garota terminava de arrumar
seu cabelo prendendo-o em um rabo de cavalo simples.
— Ainda não — ele disse desafiador.
— Sonha Miller, que é sempre bom. — Ela sorriu com sarcasmo.
Harry adorava o mau humor matinal que Victoria possuía, por isso adorava acordá-la em
grande estilo. Só para poder irritá-la e deixá-la com a carinha de brava que o fazia enlouquecer.
Mesmo irritada, ela conseguia encantá-lo por sua espontaneidade, sua forma louca de dizer
exatamente o que estava pensando.
Decidiu deixar sua irmã postiça se arrumando e seguiu para o andar de baixo. Nem
acreditava que possivelmente iria abandonar a casa que tanto amava em poucos dias. Parecia
um pesadelo.
Nos últimos dias havia acontecido algo imprevisível. Depois de séculos, seu pai ligou
para marcar algo. Ele não gostava muito da ideia, mas sua mãe insistiu. Não conseguia se
esquecer das brigas de seus pais, que fizeram com que se separassem. Seu pai era um homem
muito rico na região, e a família Miller era poderosa e sólida. Até que escândalos envolvendo a
fidelidade, no caso a falta dela, acabaram jogando o nome da família na lama.
Por situação do destino, o pai de Phillip, o quase namorado de Victoria, era advogado de
seu pai em um caso em que o Sr. Miller estava sendo processado por ter engravidado uma
mulher, a secretária dele na época. Parker ficou sabendo disso através de seu pai e espalhou
para a escola inteira. Aquilo não foi legal. Harry ficou furioso, afinal isso fez com que todos
falassem de sua vida, de sua família, de sua mãe, até hoje não o suportava pelo que fez e por
muito mais. Ainda mais agora que eles ''dividem'' algo...
Todo esse passado de seu pai fez com que Harry sofresse muito. Aquela visão de ''pai
herói'' se esvaiu sem que ele pudesse fazer nada. Quando sua mãe apareceu com George em
casa, ele ficou desconfiado, mas, ao perceber como ela estava feliz, apenas concedeu a bênção
ao casal. Já que sua mãe havia sido muito infeliz, humilhada para toda a cidade, tendo a família
que construiu destruída, sua vida completamente modificada.
Dias antes George chamou Harry no velho escritório da casa. Mostrou-lhe o anel de
noivado que havia comprado para Anne, que era lindo, estupendo. Ele pretendia pedir Anne
em casamento assim que se mudassem para a nova casa. Perguntou se Harry lhe daria a
bênção, ele apenas sorriu e abraçou-o. Sentia que depois de tanto sofrer sua mãe merecia
alguém especial, e era isso que George era. Uma oportunidade de recomeço e felicidade.
~Victoria ON~
Estava quase pronta. Harry saiu do meu quarto e disse que ia me esperar lá em baixo. Eu
terminei de me arrumar e desci depressa, estava empolgada com o dia. Ser acordada daquele
jeitinho pelo Miller só fazia com que tudo parecesse muito bom. De um jeito que nunca foi.
Somente Anne estava na cozinha, meu pai já havia ido trabalhar. Era um lindo sábado de
sol, coisa rara nessa cidadezinha. Até que comecei a me apegar a Holmes Chapel. Sempre
gostei de buzinas, trânsito, arranha-céus... Mas foi nesta pequena e tranquila cidade que
comecei a descobrir quem eu realmente sou. Foi no silêncio, que no começo achei perturbador,
que pude, enfim, escutar a mim mesma.
Talvez eu não seja tão durona assim. Talvez todas as minhas ignorâncias e respostas
cruzadas sejam um mecanismo de defesa que eu criei, apenas para não me deixar sofrer
novamente. Nada disso funciona, se for para sofrer, você irá sofrer, não tem jeito. Estou
tentando pelo menos me controlar um pouco.
Eu até que estou me comportando bem, quase não vou à sala do diretor, só quando a
insuportável da Karolinne decide me infernizar... Ainda se faz de vítima no final. É
principalmente com ela que perco minhas estribeiras, certas vezes tenho vontade de estrangular
aquela infeliz e arrancar cada fio dourado de sua cabeça com minhas próprias mãos.
Certo dia, vi aquela vadia se esfregando no Harry. Não sei o que me deu que passei com
o refrigerante perto dela e misteriosamente tropecei, molhando os dois. Ela ficou com aquela
cara de pastel dela, gritando e fazendo escândalo. Miller ficou com aquele sorriso sarcástico
insuportável no rosto. Mesmo que também estivesse todo encharcado, ele não se importava,
porque me ver me ''importando'' era o que parecia interessá-lo...
— Oh, meu Deus... Desculpa, Kah, eu não queria... — fiz voz de cínica. Falsa.
Sarcástica. Irônica. Tudo que ela merecia.
— Você é uma vadia, eu vou te matar. Essa blusa é um ... — Ela falou uma marca lá que
eu nem sabia do que se tratava. Podia ser marca de velas, para mim nem fazia sentido, eu
estava pouco me lixando.
Logo, os dois capachos dela, Rafaella e Joanne, chegaram e começaram a tentar limpá-
la. Foram correndo para o banheiro, mas antes claro que ela disse que aquilo não ficaria assim.
Todo o recreio olhava para aquela cena. Bando de fofoqueiros. Não, não ficaria mesmo assim,
essa garota estava me irritando e não fazia pouco tempo. Pensei que ela iria me deixar em paz,
porém se ela prefere me encarar, vamos lá.
— Uau... — Miller comentou com aquela cara de safado dele.
— Que sorrisinho é esse? Achou engraçado? — gritei, brava. Ele precisava me respeitar.
O pior é que eu achava que isso não passava de vingança, claro. Eu saio com o garoto que ele
menos gosta na escola toda e o idiota faz o mesmo comigo. Só não xingo de filho da puta
porque cada dia adoro mais minha querida madrasta Anne.
— Isso tudo é ciúme? — Ergueu uma sobrancelha. Ciúmes... Ele estava tirando com a
minha cara mesmo.
— Ciúme? Hahaha! — Ri pausadamente, com ironia. — Eu com ciúme de você? Sai
desse mundo paralelo, Miller.
— Então, por que essa cena toda? — Abriu os braços mostrando que estava molhado.
— Que cena? Eu tropecei. — Menti, me fazendo de inocente. — Quer saber? Deixa eu ir
ficar com o garoto que eu realmente gosto. Dá licença. — O empurrei e saí.
Fui em direção ao grupo do Phillip, que estava no lugar de sempre do pátio. Chamei-o de
canto e me certifiquei de que Harry havia seguido meus passos. Lá estava ele olhando
disfarçadamente para nós dois. Olhei para o garoto loiro na minha frente, que sorria sem
entender o porquê do meu tom de urgência ao chamá-lo.
— Que foi? — ele perguntou sorrindo. Eu nem sabia o que estava fazendo ali.
— Fiquei com saudades... — falei. Era verdade? Não sei.
Ele me pegou pela cintura e eu segurei o rosto dele com as duas mãos, beijei-o
delicadamente. Ele quis avançar, mas eu parei. Olhei imediatamente para o agora espaço vazio
em que Harry estava, ele foi embora. Meu coração se apertou, talvez não fosse necessário eu
vir aqui beijar o Parker na frente dele.
Dei um selinho no meu ficante fixo/quase namorado/caso enrolado e disse que a aula já
ia começar.
Quando entrei na sala, o meu ''irmãozinho'' não estava lá. Quando voltou para a aula
estava de braços dados com Karolline. Ela estava com o maior sorriso e estava com o casaco
dele, escondendo a blusa manchada. Não senti raiva daquela cena, foi pior que isso... Senti
uma dor no coração, foi algo que embrulhou meu estômago. Quis chorar ali mesmo, mas me
contive claro, não iria dar esse gostinho a ele.
Voltamos para casa em silêncio. No caminho ele acelerou a moto, fazendo eu me
pressionar contra suas costas. Aquilo ainda estava me matando por dentro, mas eu não queria
demonstrar. Não fazia sentido eu sentir ciúmes do Harry, ele que tinha isso... Ele que
implicava com meu quase namorado. Era ele, não eu. Não podia começar a me enganar em
algo, namorados podiam sentir ciúmes um do outro, casais fazem isso, Harry e eu não
podemos.
Cheguei e desci rapidamente da moto. Fui direto para a cozinha. Peguei dois pedaços da
pizza da noite anterior, esquentei e subi com a comida e um copo de Coca-Cola. Ele já estava
em seu quarto, ouvi o barulho do chuveiro.
Entrei no meu quarto, tirei minha roupa e fui tomar banho. Estava me sentindo estranha,
me senti estúpida por sentir uma dorzinha que talvez só se acalmasse com lágrimas. Mas não
chorei. Coloquei um moletom preto e um shortinho de camisola listrado. Comi meu ''almoço'' e
coloquei o prato sobre a mesinha.
Me deitei na cama e adormeci...
Estava tudo escuro, ouvia vozes, risadas, lamentações... Tinha pássaros que se desfaziam
em anjos negros. Um caminho de luz cegou meus olhos por um momento... Abandonei o vazio
da escuridão e andei até o ponto iluminado. Ela estava lá... Sorriu. Fez um gesto com as mãos
para que eu chegasse perto. Minha mãe... Estava linda como sempre, seus olhos brilhavam
amor e atenção. “Meu anjinho”, era assim que ela me chamava.
Ergueu as mãos para mim e, como um verdadeiro anjo, voei ao seu encontro, quando
pude sentir o seu toque. Os anjos negros me seguraram, eu esperneava tentando me soltar.
Minha mãe não parou de sorrir, eu pedia socorro, mas meu grito não saía. Tudo estava mudo...
Ela começou a se desmanchar em cinzas negras... Sem abandonar aquele sorriso. Não ela não
pode ir, não de novo. Eu queria ir com ela. Ou ela tinha que ficar comigo. Precisava dela.
Senti alguém me chacoalhando, tomei um susto, acordei atordoada.
Sentia meu corpo todo suado. Aqueles olhos verdes me olhavam com preocupação.
Antes de sentir as batidas do seu coração. Harry me pressionou contra seu peito, me abraçando
e passando as mãos delicadamente em meus cabelos.
— Calma, está tudo bem agora, eu estou aqui. — Apoiou sua cabeça na minha e beijou
minha testa.
Eu apenas o abracei forte, como se ele tivesse sido enviado para me salvar. Aqueles
malditos pesadelos. Fazia tempo que não tinha um desses, cheguei até a pensar que eles
haviam acabado. Deitei-me novamente e pedi para que ele ficasse ali comigo. Posicionei-me
sobre seu peito e contei sobre meus pesadelos. Só quem sabia deles era meu pai e mais
ninguém. Ficamos em silêncio por um tempo, eu apenas sentia sua respiração e suas mãos
massageando meus cabelos e minhas costas. Consegui dormir outra vez. Agora tranquila, me
sentindo protegida.
Acordei e ele não estava mais ali, como era de costume. Fui até o quarto dele, queria
agradecer ou apenas ter mais de sua companhia, foi quando o ouvi conversando ao telefone.
Ele gritava e dizia que odiava a pessoa, dizia que ela não deveria ter feito aquilo. Sua voz
estava trêmula, nervosa, desesperada, cheia de mágoa e rancor, nunca o havia visto daquele
jeito.
Desligou o telefone e o jogou contra a parede. Ele de repente se ajoelhou no chão e... Oh,
não. Ele estava chorando. Bati suavemente na porta e quando aqueles olhos vermelhos olharam
em minha direção... Fui até ele e me ajoelhei em sua frente. Era como se a dor fosse em mim e
percebi o quanto me importava com ele.
— O que foi? Quem era? — perguntei, nervosa.
— Eu não... — Ouvir sua voz entrecortada era como ter cortes em meu coração. — Não
quero falar sobre isso. — Limpou as lágrimas.
— Não precisa me contar se não quiser... — Ele virou o rosto para o lado e olhou para o
nada. Uma lágrima caiu de seu olho.
Eu limpei com o polegar. Sentei ao seu lado. Segurei sua cabeça e a apoiei em meu colo.
Ele desabou ali.
— Você quer ir para o telhado? — falei baixinho. Sabia que era um lugar que o
acalmava nas situações ruins. Achei que esse era um daqueles momentos.
Ele assentiu. Nós nos deitamos sobre o telhado e ficamos em silêncio, apenas olhando as
estrelas daquela noite. Eu o abracei de lado e afundei meu rosto em seu peito. Lá eu podia
ouvir as batidas de seu coração. Acariciei seu abdômen lentamente. Senti seus dedos tocarem
meu rosto, me fazendo erguer a cabeça. Lá encontrei duas esmeraldas que brilhavam mais do
que todas as estrelas juntas.
Eu me apoiei em meu braço e aproximei meu rosto do dele. Beijei sua bochecha com
carinho. Ele brincou com meu cabelo com uma das mãos, massageando meu lábio inferior com
seu polegar. Não sabia se olhava mais para seus olhos ou para seus lábios carnudos. Desejei tê-
lo outra vez. Aproximei-me vagarosamente, nossas bocas se encontraram suavemente.
Passei uma perna em cima dele e dei-lhe um beijo rápido. Encostei minha cabeça
novamente sobre sua extensão. Ele me segurou forte em seus braços. Fechei os olhos e
suspirei. Depois de um tempo, por conta própria ele me contou a história de seus pais, sobre
ele ter traído sua mãe, mencionou algo sobre o Phillip ter espalhado isso para a escola, mas eu
disse para não falar sobre ele, não agora.
Conheci um pouco mais da história daquela família, que agora era a minha. Pensei de
forma egoísta que só eu tinha problemas. Olhava para o Harry antes e não conseguia ver nada
além de um garoto lindo, popular, com uma mãe carinhosa que o amava e cuidava tão bem
dele, uma pessoa que tinha tudo, completamente feliz e sem problemas na vida. Estava errada.
Ouvimos Anne entrar no quarto e eu apenas me separei um pouco dele.
— Vocês estão aí... Não sabe o quanto eu fico feliz de ver que vocês estão se tornando
grandes amigos. — Ela sorriu honestamente.
— Não somos amigos... Somos? — Ele olhou para mim.
Bem, refleti rapidamente sobre aquela pergunta... Ele sabia muitos dos meus segredos,
minhas intimidades, sabia a forma certa de como me irritar. Eu sabia que ele tinha um amor
secreto por gatos, mas que escondia isso com medo do que os outros iam pensar. Bobagem!
Ah, isso é realmente um grande fato sobre o Miller, ele sempre se preocupa com o que vão
achar dele. Eu sabia de sua mania idiota de dormir pelado algumas vezes ou de vestir calças
super apertadas. Quando ele estava bravo, dificilmente dava o braço a torcer.
Uma vez ficamos sem se falar por três dias seguidos, ele apenas me olhava e cerrava
aqueles olhos inacreditavelmente verdes para mim. O que eu achava mais fofo era de como ele
agia em relação a Anne. Ele adorava assustá-la enquanto ela cozinhava, fazia cócegas, gritava
do nada. Ele a amava muito. Isso era algo que não deixava passar despercebido. Agora, o
melhor jeito de conhecê-lo verdadeiramente era quando cantava. Aquela voz... Parecia que as
letras das músicas eram levadas exatamente para o lugar certo apenas por estarem sendo
declamadas por aquela voz. Então, só existia uma resposta para aquela pergunta e eu disse sem
medo.
— Não, não somos amigos... Somos irmãos agora. — Eu o abracei, me deu vontade de
fazer aquilo.
— Ai, que coisa mais linda... Isso é perfeito, posso tirar uma foto? — Anne falou com
tanta alegria que ela nem parecia se conter dentro de si.
Já o seu filho...
— Claro que não! Me solta, garota chata. — Ele me empurrou e se levantou. Pulou a
janela e entrou na casa novamente...
— O que deu nele? — Ela arregalou os olhos, ainda o chamou, mas sem resposta.
— Não sei... — respondi totalmente sem graça por aquilo, realmente não sabia. Ah,
talvez ele fez aquilo para não dar bandeira de nada para a Anne, pensei na hora. É, devia ter
sido isso.
Anne e eu descemos para o jantar. George disse que Harry havia saído sem dizer para
onde ia. OK, isso foi estranho. Estava preocupada, afinal ele tinha se estressado com seu pai,
sabia que esse lance de família mexia demais com nossos sentimentos, não queria que nada
ruim acontecesse.
— Ele deve ter ido para a casa do Louis — tentei dar cobertura. Podia ser que ele só
quisesse espairecer, como fiz daquela vez.
Comemos e depois eu subi. Fiquei conversando com o Phillip pelo Skype. Ele teve que
viajar por uma semana para Los Angeles para visitar a mãe. Eu achei demais, gostava muito de
L.A. Seu pai era advogado e a sua mãe era uma apresentadora muito importante nos Estados
Unidos.
Parker era o filho do meio, tinha um irmão mais velho, que já morava sozinho, e o
caçula, que morava com a mãe. Quando seus pais se separaram, ele optou por ficar com seu pai
em Holmes Chapel. Olhei no relógio. Já eram quase uma hora da manhã e nada do Harry
chegar.
— Você está meio estranha... — disse com tom de desconfiança. — Estranha?... Nossa,
obrigada. — Revirei os olhos.
— Não estranha na aparência. Você tá nervosa com alguma coisa? — Podia ver seus
olhos preocupados do outro lado do computador.
— Não — menti. — Eu estou bem. Quando você voltar vamos andar de skate, OK? —
mudei de assunto.
— Perfeito. Eu comprei um skate daqueles maiores... Vamos andar juntos.
— No mesmo skate?
— Aham, juntinhos. Eu e você. — Ele falava de um jeito fofo. — Sabia que ontem
sonhei com a senhorita. O que acha disso?
— Sou demais, estou sempre nos sonhos das pessoas — falei isso e só pensei no Harry.
— Ah tá, convencida. Por acaso ficou sabendo de mais alguém que sonhou com você?
Arregalei os olhos.
— O quê? Não... Ninguém mais sonhou comigo... Eu não fiquei sabendo. — Droga, por
que eu gaguejei? Poderia facilmente ter saído dessa, mas estava nervosa. Onde o Harry se
meteu? Só conseguia pensar nisso.
— Tá vendo, está super estranha. — Ele riu.
— Estranho é você. Dá próxima vez, vê se coloca uma roupa pra falar comigo. — Ele
estava apenas de boxer, não me incomodava, claro.
— Ah, nem vem que você bem que gostou. — Seu sorriso safado habitual estava lá,
presente.
Conversamos por mais alguns minutos. Como ele mesmo disse, eu não estava normal,
porque meu pé ficava batendo no chão nervosamente. Não sabia onde o Harry estava e não
queria que ele fizesse alguma besteira. Phillip se despediu de mim, ele tinha que sair com os
amigos.
Coloquei meu notebook na mesinha e o desliguei. Mas que droga... Já estava ficando
preocupada com ele. Por que não chega em casa? Uns vinte minutos depois eu ouço passos no
corredor. Corro até lá e vejo que é ele. Meu coração se alivia instantaneamente.
— Você demorou. Onde estava? — perguntei calmamente, chegando mais perto.
— Não te interessa. Por que ficou me esperando? Vai dormir, garota — disse
grosseiramente. ''Garota''... Ele só falava assim quando estava muito irritado, mas eu não sabia
o que tinha feito de errado.
— Depois eu que sou a bipolar. Pensei que estávamos bem... — falei com paciência. —
Sabe, o que aconteceu de tarde foi importante para mim. — Referia-me ao meu pesadelo e a
tudo o mais.
— Tá tudo bem entre nós, afinal somos irmãos. — Deu ênfase na última palavra e entrou
no seu quarto. Eu fui atrás e fechei a porta, afinal não queria acordar a casa inteira. Ele parecia
magoado e eu sabia que estava.
— Ah, não creio. Você ficou chateado por causa disso?
— Fiquei. Qual é o seu problema? — perguntou bravo.
— Calma Harry, a Anne não vai desconfiar de nada. A gente não precisa ficar fingindo
que se odeia o tempo todo... Podemos nos dar bem. — Ele ergueu as sobrancelhas para mim.
Queria que pudéssemos contar um com o outro sempre.
— Eu não preciso fingir que te odeio, eu realmente te odeio. — De má vontade começou
a procurar seu pijama no guarda-roupa. Eu sabia que não era verdade. Quem odeia não cuida
como ele cuidou de mim.
— Você me odeia? — falei irônica. — Ah, para com isso... Eu sei que você só fala isso
da boca pra fora, na verdade você me adora muito. — Fui até ele e abracei sua cintura.
— Sai daqui. — Ele se soltou de mim e me jogou violentamente na cama, eu acabei
machucando meu braço porque bateu com força na madeira.
— Que isso, valentão? O que deu em você? Idiota. — Peguei no meu braço, com certeza
aquilo ficaria roxo. Estava latejando.
Olhei para ele, certamente ele não estava normal, seu peito ia e vinha, se enchendo e
retrocedendo, como se ele estivesse realmente tenso. Só queria ajudá-lo, entender o que estava
acontecendo.
— Quer saber o que deu em mim? É isso mesmo. Eu não te odeio, eu simplesmente não
consigo mais te odiar... — Suas palavras eram tão ressentidas. — Porque eu... Eu te amo, eu te
amo de verdade e droga, isso dói demais — disse extremamente rápido e como se cada palavra
fosse engolindo-o à medida que ele falava.
Eu fiquei atônita, não conseguia falar nada. Eu só gelei, fiquei parada igual a uma pedra,
minha cabeça girou. Aquelas palavras deram voltas e voltas na minha cabeça. Faltou o ar...
Desoxigenou meu cérebro. Respirei pesadamente. Minhas pernas estavam fracas. Quando criei
forças para olhar em sua direção, ele estava de costas para mim, com uma das mãos na cabeça.
Eu me levantei e fui chegando bem perto dele, ergui uma das minhas mãos até o seu
ombro. Mas antes de tocá-lo...
— Esquece o que eu falei...— Ele falou abruptamente.
— Não posso esquecer, Harry. Não dá para esquecer. — Ele se virou e vi que estava
visivelmente nervoso.
— Eu não queria ter dito aquilo, para o seu bem e para o meu. Por favor, esquece isso.
— Ele fechou os olhos e fez um gesto para que eu saísse. Não conseguia falar nada que fizesse
sentido. Estava tudo girando.
— Não te entendo... Sério. — Eu saí do quarto. Não entendia. Não entendia nada.
Nem sei como consegui chegar no meu quarto, eu estava cega. Deitei na minha cama e
não consegui dormir naquela noite. Meus olhos se fechavam e a primeira coisa que vinha na
minha cabeça era aquele momento, eram aquelas palavras, as palavras circularam em minha
mente e não me deixaram dormir de jeito nenhum.
Na manhã seguinte, ele agiu como se nada tivesse acontecido. Como se nunca tivesse
dito aquilo para mim, como se ele tivesse esquecido, mas eu não, não tinha mesmo como
esquecer.
Não toquei no assunto, talvez por medo, talvez por covardia. Eu não soube como agir ao
ouvir aquilo... Eu não estava pronta para ouvir.
Voltamos a ser apenas colegas de casa por um tempo. Às vezes tínhamos aqueles
momentos de amizade, mas esses eram quebrados facilmente. As nossas pegações se tornaram
escassas, quando aconteciam se tornavam rapidamente estranhas. Parávamos assim que a
ressaca da adrenalina saía de nossos corpos. Não podíamos fazer aquilo ''sóbrios''... Seria
errado.
Depois desses episódios voltamos a ficar mais sintonizados, ele voltou a ser mais
carinhoso, me acordar de manhã, mas tudo havia mudado. Não era tão simples. Não sei se ele
disse da boca para fora, não sei se foi impulsivo, se fez sem pensar, só sei que ele disse ''eu te
amo'' e foram as palavras que mais mexeram comigo em toda a minha vida.
Hoje conheceríamos nossa casa nova, eu estava muito animada. Aquele quarto não me
pertencia. Não era da cor que eu queria, não tinha espaço para colocar meus livros, minhas
coleções de CDs e de revistas em quadrinho. Estava empolgada com a casa nova. Seria um
novo começo. De verdade. Para todos.
Anne nos levou. Quando ela estava chegando eu reconheci a rua... Oh, my Lord, não
podia ser. Agora que o meu irmãozinho ia adorar mais ainda aquele lugar, só que não. O
Phillip morava naquele mesmo condomínio. Só os mais ricos da cidade moravam ali. Sei que
meu pai é bem-sucedido em seus negócios e que estava conseguindo mais sociedades em
Holmes Chapel, mas aquilo era de alto nível. Nunca moramos em casas como aquela, na
verdade sempre em apartamentos bons, mas não luxuosos, apenas confortáveis.
Harry mexeu em seu celular praticamente o caminho inteiro. Ele só se despregou do
aparelho quando um grande portão de metal estava à nossa frente. Anne falou algo no interfone
e aquele enorme portão se abriu. Aquilo não era uma casa, era uma mansão.
— Oh, meu Deus. Isso é grande demais — falei, surpresa e boquiaberta. Nem parecia
real.
— Somos só nós quatro que vamos morar aqui ou a torcida do flamengo vem também?
— ele disse, mais mal-humorado do que deveria.
— Linda, não é? Vocês têm que ver por dentro, isso aqui é um sonho. — Anne estava
tão feliz!
Aquela casa era perfeita. Minha madrasta estacionou o carro de frente para a grande
porta. Logo estávamos dentro... A sala era perfeita. Toda branca com móveis brancos e pretos.
Uau, fiquei boba!
— Gostou da decoração? Eu que ajudei a escolher... — Anne disse, orgulhosa.
Realmente estava deslumbrante, muito bonito mesmo.
— Ah, ficou lindo — elogiei.
— Você devia ver seu quarto... — O quê? Ela que escolheu a decoração do meu quarto?
Medo disso... Confiarei no bom gosto dela. Porém, achei que eu iria escolher.
Passamos pela grande cozinha e, como na outra casa, essa tinha os quartos no andar de
cima, porém com muito mais espaço e sofisticação. Quando abri a porta do meu quarto, quase
caí para trás, aquilo só podia ser um sonho... Era lindo, perfeito, do jeito que eu queria. Pulei
na grande cama, que estranhamente era de casal. Era um quarto em tons de roxo e alguns
detalhes dourados. Possuía um banheiro e também uma sacada linda.
Ouvi um grito vindo de algum outro quarto. Segui o som, cheguei e encontrei Harry
levantando Anne em um abraço.
Se o meu quarto era legal, o dele devia ser mil vezes melhor. Como assim? Era a cara do
Harry e de canto vi o motivo da alegria exacerbada... Uma guitarra preta com detalhes
prateados. Simplesmente mágica. Ele queria muito aquilo havia muitos meses.
— Sei que você queria isso faz tempo... Então... — A futura Senhora Miller disse tão
animada que contagiava até mesmo o seu filho.
Se por fora era uma casa muito linda, por dentro enchia os olhos.
— Você não vai acreditar no que tem no fim do corredor... — Ela disse com um sorriso
bobo no rosto.
Harry correu e eu fui atrás, quando ele abriu. Entrou e colocou a mão na boca... Levou as
mãos à cabeça como se pensasse se aquilo tudo não era um sonho. Eu também estava chocada
com a surpresa. Queriam mesmo convencer o Harry a se mudar.
O quarto era um estúdio de música, com isolamento sonoro, com detalhes em prata e
vermelho. Harry me abraçou e começou a me girar, eu mandei ele me largar. Parecia uma
criança feliz no parque de diversões.
— E aí, Harry? Aceita se mudar pra cá? — falei de maneira até debochada e ergui a
sobrancelha.
Eu ri daquilo. Claro que depois do seu quarto incrível, uma guitarra e um lugar para
ensaiar, ele ia querer morar na casa nova. Saímos do estúdio e a Anne disse que esperava a
gente lá embaixo, já que ela ainda ia trabalhar depois. Harry ficou olhando a sacada pensativo,
olhei e aquela era uma bela vista.
— Essa casa é perfeita... — comentei, mal podia esperar o momento de mudar de vez
para aquele lugar.
— Não... Falta uma coisa. — Ele parecia pensativo. Ah não, se ele criar defeito nesse
pedacinho de paraíso vou puxar esses cabelos.
— O que seu louco? Tem até piscina nessa bodega — eu disse, rindo. Impossível não
adorar aquela casa.
— Nessa casa não tem... Nosso telhado. — Fez uma cara triste olhando diretamente em
meus olhos.
Eu o encarei de volta. Ele disse ''nosso'', nosso telhado. Como se fosse mesmo uma
propriedade de nós dois, apesar de antes ser somente dele. Era como se ele o dividisse
generosamente comigo e foi sim algo que eu adorei. Aquele telhado era mesmo mágico,
gostava de ir lá para pensar e entendia que ele sentiria falta daquilo. Aquela pequena casinha
em um bairro mais ou menos de Holmes Chapel me fez viver coisas e sentir coisas que nunca
esperaria sentir. Eu o abracei forte. No fim das contas, não importava onde estivéssemos e sim
se estaríamos juntos.
Os dias do ano passaram rapidamente. Parece até que foi ontem que uma garota marrentinha
chegou na cidade. Nunca nenhum de seus colegas de sala irá esquecer daquela chegada
triunfal, logo no primeiro dia foi retirada da sala por suas malcriações e sua forma de agir sem
pensar.
Não que Jones tenha virado uma gatinha meiga e domada depois desses meses. Seu
sangue ainda fervia rapidamente quando as garotas mais esnobes da escola falavam sobre
assuntos fúteis e desnecessários perto dela. Ainda se metia nas brigas de suas amigas com
quem quer que fosse, e ainda respondia na mesma altura ou mais alto ainda quando alguém lhe
falava alguma grosseria. Continua em sua essência sendo alguém difícil de lidar, porém estava
aos poucos descobrindo que a vida podia ser muito mais que brigas e momentos explosivos.
Amadurecia aos poucos, descobrindo o mundo à sua volta, se permitindo enxergar além
de suas dores e mágoas do passado.
— Vick, você vai na festa da Carly? — questionou Maya enquanto as duas assistiam a
um seriado na casa dos Black.
— Ah, ela é bem legal. Provavelmente sim. — Sorriu. Fazia algum tempo desde que fora
em uma festa. Não tinha mais tantos eventos ou saídas como em Chicago, era uma vida mais
calma para ela e surpreendentemente nunca se sentira tão feliz.
— Estão dizendo que vai ser uma festa ótima — disse animada, comendo uma mão
quase cheia de M & Ms.
— Assim espero, estamos precisando mesmo nos divertir. Todos os meninos vão? — A
pergunta ideal para ela ''Harry vai estar lá?'' Mas não foi o que perguntou, até porque mais fácil
ela saber disso do que Maya.
— Meu irmão e o meu namorado lindo vão sim — disse, apaixonada. — Os outros não
sei, mas acho que vão. — Deu de ombros.
Depois daquela noite de joguinhos na casa dos Black, todos começaram a se falar cada
vez mais. Foram a cada dia descobrindo afinidades. Foi um encontro imprevisível que deu
muito certo.
Uma das maiores surpresas foi a incrível afinidade que Louis e Victoria descobriram um
no outro. Parecia coisa de outro mundo, os dois eram ousados, isso dava para perceber
nitidamente. Mas não era apenas isso que possuíam em comum. Eles começaram a conversar
sobre vários assuntos e a perceber o quanto combinavam. Harry não gostava muito disso,
afinal agora as duas pessoas com quem ele mais gostava de conversar conversavam entre si e
ele ficava a ver navios.
Louis já havia um dia pensado em ficar com Jones porque achava ela bonita e charmosa,
mas depois desistiu da ideia completamente. Já havia passado por situações de triângulo com
seu melhor amigo e de jeito nenhum queria repetir a experiência.
Além disso, percebeu que mesmo que Harry não quisesse admitir em voz alta, ele
realmente gostava de Vick e não de um jeito selvagem e instintivo, e sim de um jeito
romântico e profundo. Achava que Miller ia se ferrar, porque ela não dava muitos sinais de que
gostasse dele daquele mesmo jeito. O que podia fazer era apoiá-lo.
— May, eu vou nessa, OK? — disse Victoria se despedindo da amiga após o episódio da
série acabar. — Tenho que terminar de arrumar minhas coisas para a casa nova — falou
colocando seu casaco.
Maya se ofereceu para ajudá-la, mas faltavam poucos detalhes para ficar tudo pronto,
então Victoria decidiu não incomodar a amiga. Vestiu sua touca e o cachecol e foi rumo à sua
casa.
Casa essa que em poucos dias deixaria para trás.
Aquele era o tempo rotineiro naquela cidade. Quase sempre nublado. Ela caminhava a
passos lentos pelas ruas, sentindo a brisa gelada no rosto. A ponto de deixar seu nariz e
bochechas rosadas pelo choque térmico.
Estava com o capuz e ouvia uma música uma de suas músicas preferidas do Coldplay no
seu mp3. A casa de Maya ficava a três longos quarteirões da sua. Mas gostava de andar, ainda
mais no silêncio e inatividade daquelas avenidas.
Caminhava distraidamente quando sentiu duas mãos na sua cintura e pulou de susto. Já
se virou com os punhos fechados para agredir aquele que em sua cabeça era um assaltante,
maníaco, estuprador ou algo do tipo. Quando ouviu um grito feminino, abaixou o braço e viu
Bia com as duas mãos na boca segurando o riso, apesar do susto que ela mesma levou ao tentar
assustar a amiga.
— Você sabe que ia quebrar meus dentes, não é? Sua louca! — Bia disse, assustada. —
Está preparada para tudo, não é? — Sorriu, respirando aliviada.
— Bia, você me assustou. Ainda bem que meus reflexos são bons, senão você estava no
chão agora. — As duas riram.
— Eu estava indo na sua casa agora. A Maya falou que você tinha acabado de sair
quando eu liguei para ela.
— Ah, então vamos. — As duas seguiram lado a lado, eram parceiras em um trabalho de
Física que tinha prazo final na semana seguinte. Teriam que ser rápidas.
Por causa de seu temperamento, Victoria era muito cobrada pelos professores e pelo
diretor. Suas notas deviam ser excelentes para tentar compensar algumas atitudes que teve
durante o ano.
Rapidamente chegaram na rua daquelas casas bonitas e clássicas, com cercas brancas e
jardins gramados. Ao passar em frente à casa do seu agora amigo, Louis, Victoria o vê da
janela e acena para ele, que fez um gesto para que ela fosse até lá.
Pega na mão de Bia e as duas vão até a porta, que logo é aberta. As duas logo começam
a ouvir gritos e um barulho de videogame muito alto. Lá estavam Victor e Harry jogando
freneticamente, até suavam com a adrenalina presente naquela atividade. Ambos eram bastante
competitivos.
Louis abraçou Vick e cumprimentou Bia, pediu que as duas entrassem. A mais tímida
estava encabulada. Não queria entrar, parecia estar incomodando. Além do mais, Victor estava
ali, o que por si só já fazia suas pernas tremerem.
— Oi, gamers! — disse Jones, que recebeu como resposta ''oi'' e um ''e aí?'' dos dois, que
nem tiraram os olhos do jogo, praticamente ignorando-a.
— Você tá super gelada — falou o dono da casa para Victoria se referindo à sua pele
fria.
— Está muito frio lá fora — ela disse, sentando na poltrona da sala. Chamou Bia que
ainda estava desconcertada, porque era a primeira vez que entrava na casa de Louis.
—Vocês querem chocolate quente? — ofereceu gentilmente.
— Hummm... Quero sim — respondeu a vizinha, que chamou Bia e as duas se
espremeram na poltrona juntinhas, assim até mesmo esquentavam uma à outra. A outra disse
que também queria um pouco de chocolate quente. Solícito, Louis foi buscar em sua cozinha.
Victor e Harry continuavam jogando descompensados. Pareciam outras pessoas. Os dois
queriam muito ganhar aquela partida de futebol do videogame, estavam em um campeonato,
por enquanto equilibrados, e aquele jogo era o grande desempate.
Bia somente ria de suas expressões de desespero quando um ou outro estava prestes a
fazer um lance ou um gol. Victoria se empolgou com o jogo dos garotos e não deixou de
demonstrar.
— Vai Victor, chuta pela esquerda — gritou nervosa. — Nossa! Vai! — Começou a se
movimentar na poltrona enquanto acompanhava o jogo.
Foi assim por muitos momentos, Harry já estava ficando irritado.
— Cala a boca, coisa insuportável — disse nervoso, mas sem desfocar do jogo. Victoria
cerrou os olhos, agora mesmo que ia gritar e até torcer pelo amigo de seu irmão postiço.
Odiava quando mandavam ela calar a boca, ainda mais quando Miller o fazia.
— Vai Black, vai Black! — gritava aflita o sobrenome do amigo de Harry e então
aconteceu o que ele não queria. — Gollllll! Golaço, arrasou! — começou a zoar Harry e bateu
as mãos nas de Victor.
— Você está me desconcentrando... — bufou frustrado. — O que está fazendo aqui? Vai
pra casa! — disse agora perceptivelmente irritado. Jones levantou a sobrancelha encarando o
rosto do garoto.
— Calma aí nervosinho, aprende a perder. E foi o dono da casa que me chamou, então,
aqui estou. E não é você que vai me tirar daqui. Fico onde eu quiser. — Soltou um beijinho no
ar para o mesmo. Harry revirou seus olhos verdes. Estava a ponto de ir embora.
— Vamos continuar. Parem de discutir — Victor disse para apaziguar a situação e os
dois continuaram jogando.
Logo Louis surge na sala com duas xícaras grandes com um chocolate quente muito
cheiroso e quentinho, perfeito para um dia como aquele, tão frio. Os olhos das meninas
brilharam ao ver aquilo. Pegaram as xícaras agradecendo e começaram a beber. Miller também
agradeceu mentalmente porque achou que pelo menos assim Victoria iria estar com a boca
ocupada e falaria menos.
— Muito bom, Lou — elogiou a garota pela bebida, que estava deliciosa. — Obrigada
por me chamar para tomar esse chocolate quente perfeito. — Deu ênfase no ''me chamar'' só
para passar aquilo na cara do Harry.
— Eu que fiz, já posso me casar. — Ele piscou e ela concordou sorrindo e bebendo mais
um pouco. Ele lembrou do motivo inicial pelo qual chamou Vick até ali. — Também te chamei
para você pegar isso. — Mostrou o tecido na cor preto e branco, estava com o cachecol de
Victoria, a grossa lã entre suas mãos. — Você esqueceu aqui ontem à noite. — Entregou-o. Ela
pegou e agradeceu naturalmente, para alguém daquela sala isso não era considerado normal.
Ao ouvir isso, Harry simplesmente esqueceu do jogo e sua mente começou a borbulhar.
O que diabos ela estava fazendo aqui de noite na casa do Louis?, pensou e, desatento,
logo foi despertado, ouviu um grito alto de golllll!!!
E viu que seu rival no videogame havia feito mais um gol e estava fazendo uma
dancinha esquisita da vitória. Ele nem ligou. Não conseguiu ficar sem dizer nada, se importava
demais para deixar para lá.
— Já está até esquecendo coisas na casa do Louis... — comentou quase como se
estivesse resmungando. — Daqui a pouco vai acabar esquecendo a escova de dentes, né? —
disse sarcástico, com uma cara de ironia pura. Mostrava seu descontentamento.
— Ah claro! Daqui a pouco eu vou me esquecer na casa do Louis. — Piscou mais
irônica ainda para ele e bebeu seu drinque achocolatado.
Harry olhou para seu melhor amigo com ressentimento. Era certo que teria DR de
amizade mais tarde. Ele só queria ir embora dali depressa, se sentia como um tolo, perdido em
seus pensamentos e suposições.
As meninas colocaram as xícaras sobre a mesinha de centro. O jogo terminou e eles
ficaram falando sobre coisas paralelas. Harry e Victoria estavam implicando um com o outro a
cada momento. Ele não estava com um espírito muito leve.
— Nem fala — disse Louis comentando sobre assuntos escolares com Victor. — Essa
parte de Matemática II está super complicada, ainda bem que eu fui bem na prova do trimestre
passado. — Respirou aliviado. Não tanto quando seu amigo.
— Já eu... — Black fez uma careta. — Não posso repetir outra vez, senão meus pais me
matam.
— Ah, por isso que você e a Maya estão na mesma turma, você repetiu — constatou
Victoria. — Eu quase repeti uma vez... — Respirou fundo ao lembrar. — Me envolvi numa
briga, acabei sendo suspensa por um mês inteiro, perdi a matéria quase toda, mas no fim,
acabei conseguindo recuperar. — Passou a mãos nos cabelos.
— Também, você sempre está procurando confusão, bem feito — disparou Harry. —
Parece um monstro querendo destruir a cara dos outros. — Os meninos riram. Vick não achou
graça, sabia que ele estava mais estranho e seu modo de falar não era tão brincalhão como
sempre, estava quase agressivo.
— É claro, eu sou um monstro mesmo — afirmou emburrada. — Três garotas estavam
espancando uma garota indefesa só porque ela não estava entre os padrões de beleza que
achavam correto, eu sou um monstro por simplesmente entrar e começar a socar a cara de cada
uma ali. — Cruzou os braços, a expressão de Miller se desmanchou. Ele não esperava, achou
que era somente uma briga causada pelo temperamento da garota. — Sou um monstro, mas
não me arrependo, faria tudo de novo. — Todos ficaram em choque com a história.
— Uau! — disse Victor impressionado, achando aquela atitude muito bonita, apesar de
violenta. — Você é muito foda. E as garotas foram expulsas?
— Que nada. — Revirou os olhos lembrando. — Eram as mais riquinhas do colégio,
uma delas era afilhada do diretor, saíram como as vítimas. Parece até história de filme, mas
aconteceu mesmo. O mundo é injusto.
— E a menina? — Bia perguntou aflita porque, apesar de nunca ter sido agredida
fisicamente, era muitas vezes humilhada por algumas pessoas pelo seu jeito mais tímido e
isolado de ser.
— Ela... ficou mal. — Vick respondeu, triste. — Fiquei sabendo que fez terapia um
tempo. A dor maior é a psicológica.
Todos ficaram super impressionados com algumas histórias que Victoria contou, era
uma garota que, por se arriscar demais, já havia passado por poucas e boas. Sair do
convencional, da rotina, do normal, pode trazer muitos acontecimentos.
O assunto entre os amigos se estendeu. Começaram a falar sobre videogames e
novamente começou mais uma discussão boba de Harry e Vick. Esses dois não podem ficar
perto um do outro, pensavam Bia, Victor e Louis. Era algo fora do normal. Já estavam
irritando. Deviam resolver aquilo logo. Para tentar mudar o tom, começaram a falar sobre as
dificuldades na escola.
— É isso, eu estou mal em várias matérias — lamentou Black, ajeitando seu topete em
seguida.
— O ano tá quase acabando, mas ainda dá tempo de recuperar. — Victoria animou-o. —
Na verdade, eu conheço alguém que poderia te ajudar... — Ficou em silêncio e todos voltaram
seus olhares para Bia, que ficou levemente desconfortável por ser o centro das atenções. Era a
melhor aluna da sala, porém ficou nervosa por quem ela teria que ajudar.
— Eu? Ah, eu posso tentar, mas não sei se vou conseguir — respondeu com as mãos
suando por debaixo dos bolsos de seu moletom.
— Deixa disso, você é a garota mais estudiosa da classe. Não é possível que não consiga
— Harry afirmou.
— Só se o Victor for uma toupeira mesmo. — Louis zoou o amigo e todos riram. Até
mesmo o próprio, que sabia e reconhecia suas dificuldades na escola. Dirigiu-se até a garota.
— Você pode me ajudar, Bia? — Ele olhou-a nos olhos. Ela tremeu por dentro e sabia
que adoraria mesmo ajudá-lo.
— Tudo bem — respondeu, decidida.
— Beleza, depois eu te ligo para a gente combinar. — A garota ficou tão ansiosa por ele
ter dito aquilo que só alguns segundos depois notou um detalhe. Muito importante.
— Você não tem meu telefone... — ela falou.
— Não? — A garota balançou a cabeça negativamente. — Eu te tenho no Facebook,
combinamos por lá. — Ele sorriu de um jeito fofo fazendo-a se derreter por dentro.
Depois de conversarem bastante sobre a escola, festas, músicas, essas coisas.
As amigas disseram que iriam embora. Precisavam fazer o trabalho de Física, motivo
principal que fez Bia estar ali. Miller não conseguiu ficar quieto, tinha que alfinetar sua
querida irmãzinha de alguma forma.
— Já vai tarde! — disse bem alto e de uma maneira que irritava muito Victoria. Ela foi
até onde ele estava e deu um tapão em sua cabeça.
Harry segurou em seu braço e fez a garota rodar e cair em cima do sofá. Segurou em
seus braços e disse baixinho em seu ouvido ''a gente conversa em casa''. Jones imediatamente
puxou os cabelos ondulados do garoto.
— Harry, você não me assusta nem um pouco. — Ela se ergueu e foi em direção à porta,
borbulhando de raiva, não acreditava no quão Harry estava sendo um babaca com ela, ainda
mais na frente de seus amigos. Estava quase saindo, mas se virou e encontrou Louis. Abraçou-
o forte e disse em seu ouvido: ''Foi mal por isso Lou, mas o Harry merece.''
Desceu uma de suas mãos e apertou a bunda de Louis, que tomou um susto, entendendo
em seguida a intenção dela: irritar seu irmão postiço.
Harry olhou aquela cena atônito. A garota deu uma olhadinha para ele e piscou. Soltou
beijinhos para os garotos e saiu.
— Vick sua louca, eu vi mesmo essa cena? Você apalpou o Louis? — Bia disse sem
acreditar. Não sabia que os dois tinham algo.
— Foi só uma brincadeira — falou rindo do que havia feito e ao lembrar da cara de
Miller ao ver. — É que o Harry está com ciúmes, agora que eu e o Louis estamos nos tornando
amigos. — Seguiram até a casa dos Miller-Jones. Entraram rapidamente, estava mais frio que
antes.
— É, ele deve estar com muito ciúme do Louis, eles são muito amigos. Mas vem cá, por
acaso você e o Louis estão... Você sabe... — ela perguntou, curiosa.
— Ah, não. Ele é só um novo amigo mesmo. Ele é um cara super divertido, mas...
— É, eu sei, você não me contou, mas dá para perceber. — Ela riu pelo nariz ao subirem
as escadas da casa. No mesmo momento Jones resetou, ficou espontaneamente nervosa.
— Dá pra perceber o que, Bi? — perguntou na mesma hora.
— Você está apaixonada — disse convicta.
Victoria congelou. O quê? Ela deve ter percebido o jeito que eu olhava para o Harry, eu
sou uma estúpida, tenho que disfarçar melhor, ela pensou, receosa. Chegaram ao quarto da
garota.
— Eu? Apaixonada? Está louca, né? De onde tirou isso? Eu e o... Nãooo, não mesmo...
— quase gaguejava, falar daquilo com alguém era estranho. — A gente é assim mesmo, temos
intimidade — dizia apressadamente.
— Por que essa tensão toda? É só amor, e o Phillip é um cara legal quando quer, bonito,
todas as meninas são loucas por ele, mas parece que ele gosta mesmo é de você. — A
expressão de Vick ficou confusa e só então ela se deu conta do quanto fora estúpida e ao
mesmo tempo caiu em si. Rapidamente tentou raciocinar e não apenas ficar ali pensando em
mil aspectos que a fizeram pensar em paixão e em Harry ao mesmo tempo.
— Ele gosta, não é? — comentou sorrindo tristemente.
O Phillip gosta mesmo de mim e eu nem dou muita bola para ele, ignoro quando ele
tenta ter algo a mais comigo. O Harry merece ser usado, às vezes ele é super grosseiro
comigo, poucas vezes tem aqueles momentos fofos. Agora mesmo ficou debochando de mim em
todo e qualquer momento que podia. Já o Parker sempre me trata como se eu fosse alguém
especial. Sempre. Coisa que eu nunca achei que eu fosse. Ele merece uma chance de verdade,
pensou reflexiva. Apesar de a todo momento tudo isso ir contra o que sentia com Harry e
quando pensava nos momentos bons ao lado de Miller tinha mais vontade de chorar, porque
eram momentos bons perfeitos e os piores momentos ruins, com Phillip era sempre constante,
eram bons momentos.
Não gostava nada de como a relação com Miller era inconstante. Eles nunca poderiam
ser namorados e, pelo que sentia, nem amigos. Então, o que eram, afinal? Sentia como se
estivesse presa a um relacionamento informal e muito bipolar, com altos, muito altos e baixos
muito baixos. Se sentia cansada.
As duas começaram a fazer o trabalho de Física. A noite caiu e Bia disse que tinha que ir
embora. Vick se ofereceu para levá-la até em casa. Demorou um pouco. Na volta, ao chegar
em sua rua, logo avistou um belo carro estacionado na frente de sua casa. Andou poucos
passos e avistou um garoto lindo mexendo em seu celular na calçada.
Foi andando devagar.
Ele ergueu a cabeça ao ouvir seus passos, sorriu e se levantou. Ela correu e pulou o
abraçando forte.
— Isso tudo é saudade? — disse, apertando a cintura dela.
— É sim, eu estava pensando em você agora há pouco. — Sorriu.
— Eu também estava pensando em você. — Ele balançou a cabeça ao constatar algo. —
Faço isso sempre.
— Se lembra que eu falei que tinha uma novidade para te contar? — disse fazendo
suspense e ele incentivou-a para que contasse logo de uma vez. — Ah, não é nada demais... É
só que vamos ser vizinhos — ela disse e ele ficou sem saber. Estava feliz, mas não acreditava.
— Você está falando sério? — Achou que fosse mais uma pegadinha. Ela afirmou com a
cabeça, rindo. — Isso é incrível — ele comemorou e girou-a no ar, fazendo-a cair em
gargalhadas. Era isso que fazia com que ela sentisse tantas dúvidas em relação ao que sentia.
Phillip a fazia feliz. Sabia disso.
— É, eu estava até arrumando o final das minhas coisas, me mudo amanhã.
— Não brinca!!! Que demais! Quer ajuda? Diz que sim! — Juntou as duas mãos como
se fizesse uma prece. Ela assentiu.
Subiram as escadas devagar. Entraram no quarto da garota e fecharam a porta.
Começaram a embalar as últimas coisas que faltavam. Já estava quase tudo pronto, mas Vick
possuía uma mania de sempre deixar quase tudo para cima da hora, por isso ainda faltavam
alguns detalhes.
Phillip começou a guardar os chapéus e os cachecóis, fazendo a garota rir da atuação do
garoto ao imitar uma de suas professoras.
Aos poucos e cobertos por muitas risadas conseguiram arrumar tudo. Até se cansaram.
Logo alguém bateu na porta. Era George, o pai de Vick.
— Filha, eu e a Anne vamos pedir pizza... Você quer de que sabor? — ele perguntou da
porta mesmo.
— Ah... — ficou pensando. — Quatro queijos ou calabresa, por mim qualquer uma,
comerei tudo de todo jeito — ela respondeu, rindo.
O pai assentiu e disse para depois ela descer para o jantar.
— Humm, vai ter pizza, olha que tudo. Amo. — Comemorou.
— Pena que vou ter que ir embora — Parker disse fazendo carinha de triste.
— Por que vai ter que ir? — Ela franziu o cenho. Afinal, pela hora, achou mesmo que
ele jantaria ali. Seu pai já o conhecia, achou que não teria problema.
— Acho que seu pai não gosta muito de mim e tem o Harry... — ele falou com uma voz
de repulsa ao tocar no nome do garoto.
— Eu gosto de você. Quero que fique. Fica, por favor? — fez carinha de cãozinho que
caiu do carro da mudança.
— Não sei. — Ele riu de canto.
— E o que eu posso fazer para te convencer? — Foi engatinhando para perto dele.
Phillip a encarou e sorriu. Segurou seu rosto e começou a beijá-la devagar. Desde que ele
havia chegado não tinham se beijado ainda.
O beijo começou lento e calmo, mas logo o garoto já estava em cima dela dando beijos
ardentes ao longo de seu pescoço. Victoria fechou os olhos e simplesmente se rendeu ao
momento. Ele sabia como seduzi-la, sabia onde tocar, tinha as manhas, sabia como deixá-la
totalmente derretida. Não era por acaso ser um dos garotos mais desejados de todo o colégio.
— Você é perfeita... Esse cheiro... — Mordeu o lóbulo da orelha dela e depois voltou a
dar beijinhos no pescoço.
Estavam envolvidos, a boca da garota já estava avermelhada. Ela saiu de si, era
totalmente seus sentidos, aqueles toques.
— Ah, você sabe, que eu não resisto a isso — sussurrou, assim que Parker devolveu a
atenção ao seu pescoço, beijando e mordendo-o levemente. — Oh, Harry! Não faz isso, eu
adoro... — saiu quase como um gemido. — Não para, continua... — falou ao sentir o
afastamento repentino. Ainda estava de olhos fechados e segurando os cabelos dele. — Por que
você parou? Continua, eu estava gostando.
Phillip se sentou na cama imediatamente tomando certa distância dela. Não acreditava no
que acabara de acontecer.
— O que foi? Fiz alguma coisa de errado? — ela perguntou. Não fazia ideia do que
estava acontecendo, pensou em várias coisas, talvez tenha machucado seus lábios ou algo
assim. Não sabia mesmo o que estava acontecendo e por que ele se afastou de repente.
— Você me chamou de Harry?! — Ele estava surpreso e ao mesmo tempo já sentia o
choque daquele simples nome dito naquele momento.
Capítulo 27: Maybe You'll love...
~Victoria ON~
Certas situações na vida podem ser resumidas como simplesmente constrangedoras. O que eu
tenho na cabeça? Eu realmente falei o nome do Harry em uma hora dessas? Não posso
acreditar... O pior é a cara do Phillip. Nossa... Eu sou uma estúpida. Se eu pudesse me
enterrava agora só para não ter que me explicar, eu não tinha o que dizer. Não fazia a menor
ideia do que falar para tentar amenizar aquela situação.
O garoto à minha frente me olhava como se eu tivesse xingado a mãe dele de mil
maneiras ofensivas, estava muito bravo. E com razão. Porque não deve ser nada legal
acontecer algo assim.
— Você falou! Acabou de dizer ''Harry''. — Ele repetiu outra vez, acho que era uma das
raras vezes em que eu ficava vermelha de vergonha em sua frente. Aquilo era embaraçoso.
— É que eu... — Preciso arrumar uma desculpa logo, mas não tenho nada em meu
vocabulário, apesar de desculpas e explicações caras-de-pau serem minha especialidade.
Agora meu rosto estava queimando. Eu mal conseguia falar. Eu ouvi passos no corredor, deve
ser o Harry, esse garoto inferniza minha vida, outra vez pensando nele, devo estar com
alguma doença, necessito me curar e rápido. — Você está bravo com isso? — Peguei no
ombro dele.
O quê? Por que eu fui perguntar isso? Era no mínimo ridículo perguntar algo assim.
Dava para ver em sua face que ele iria, sim, ficar bravo.
— Eu deveria achar legal? — Ele estava chateado. Sem tom de voz era ríspido. Foi a
primeira vez que ele falava assim comigo.
— Lip, eu só... — Eu queria dizer algo, precisava, mas nada parecia ser bom o bastante
para explicar o que acontecera. — Eu não sei o que aconteceu, eu devia estar preocupada se ele
entrasse, eu perdi os sentidos. — Tentei, mas acho que não convenceu, nem a mim convenceu,
quanto mais a ele. Ele se levantou.
— Acho que vou embora.
Eu o segurei pela cintura.
— Não, não, desculpa, isso foi nada a ver. Não tem lógica. — Eu estava quase
implorando para que não fosse. Gostava dele, não poderíamos ficar brigados por causa daquilo.
— Isso foi meio esquisito, Victoria. — Ele olhou nos meus olhos. Eu vi mais confusão
do que de fato irritação.
— Sei disso, mas eu gosto de você, eu quero continuar o que estávamos fazendo. Me
desculpa. — Abracei-o forte, logo senti seus braços me envolvendo, sorri automaticamente.
Será que estou perdoada? Ele pode me perdoar, eu não me perdoo. Isso foi extremamente
bizarro.
Não sei o que eu faria se tivesse no lugar dele. Que vergonha. Que situação. Espero que
nunca mais aconteça, não posso garantir isso, já que não faço ideia do porquê disse o nome do
Harry. Eu estava tão relaxada, ele não veio claramente em minha mente, mas minha
inconsciência me pregou uma peça.
Voltamos a ficar numa boa, aos poucos aquela situação de minutos atrás foi sendo
''esquecida''. Coloquei uns vídeos na internet e ficamos vendo, rindo um pouco. Ele ainda não
estava totalmente à vontade, mas agiu como se o episódio anterior não tivesse ocorrido.
— Quando você vai aceitar ser minha namorada oficialmente? — Ele me encarou sério,
eu estava rindo de um dos vídeos, mas parei assim que ele disse aquilo. Dessa vez parecia que
ele queria uma resposta de verdade. Eu devia isso a ele. Estava até ficando chata aquela
situação. Era o maior caso de ''doce'' da história, estava cozinhando Phillip em banho maria.
Tinha tantas dúvidas.
— Acho que... Talvez... — Sorri de canto. Mais uma vez eu não poderia dizer
simplesmente ''sim'' ou ''não''. Ele seria um ótimo namorado, mas algo em mim estava me
enlouquecendo. Eu sabia o nome disso e não quero pensar nele, já que hoje mesmo vi uma
prova de como esse ''nome'' pode fazer com que eu me envolva em péssimas situações.
— O que está te impedindo? Você não tem outra pessoa, que eu saiba. Ou tem? — Ele
ergueu uma sobrancelha.
Estávamos deitados de frente um para o outro. Aqueles olhos estavam penetrando os
meus. Não sabia o que dizer, não sabia. Ele era uma pessoa incrível, eu gosto dele, gosto de
verdade. Isso é possível? O que isso faz de mim? Uma vadia? Eu gosto dele, dou esperanças,
mas não posso ser completamente honesta.
Estou envolvida e muito com outra pessoa, que certas vezes admiro a ponto de querer
ficar do lado da pessoa por horas e horas e ao mesmo tempo em alguns momentos quero ela
longe. Isso é a bipolaridade do meu sentimento por Harry. Minha mente briga desesperada,
nunca iria dar certo, até porque somos uma família, não podemos... Namorar. Já com Parker
isso é possível. Lembro da minha proposta indecente de ficar com os dois ao mesmo tempo.
Foi desleal da minha parte, principalmente quando percebo o quanto o garoto à minha frente
me faz bem.
Infelizmente não posso lhe dizer a verdade e ser totalmente honesta. A verdade daquilo
era um segredo que eu nunca poderia compartilhar com Phillip.
— Não tenho ninguém — menti, mas tive que fazer isso. — É só que...
—Você não gosta de mim daquele jeito? — Fez uma carinha triste
Eu gosto dele daquele jeito, eu adoro o cheiro que ele tem, a forma como me trata, o seu
sorriso, ele tem pegada, disso não posso reclamar. Então, o que falta? Por que eu insisto em
fazer essas perguntas idiotas para mim mesma quando sei exatamente a resposta? É por causa
dele. O que não faz sentido nenhum. Nós não daríamos certo. Eu e Harry namorados? Isso
mais parece uma piada...
Nós brigamos muito. Por bobagens, sempre nos provocamos, quase nunca temos
momentos de paz. Quem consegue viver assim? O que eu tinha na cabeça? Por que não
aceitava de vez o caminho certo a seguir?
— Eu gosto, Phillip. Eu gosto de você, sim. — falei. Havia um misto de sentimentos, me
sentia uma pessoa tão ruim, tão insuportável e desmerecedora. O que eu estava fazendo com a
minha vida?
— Me dá uma chance... — De repente ele se aproximou de mim, colocou uma mecha do
meu cabelo para trás, chegou perto do meu rosto. Eu precisava daquilo, de carinho, não queria
mais que gritassem comigo ou grosserias, queria alguém que me fizesse carinhos sempre. Me
arrepiei instantaneamente quando ele começou a sussurrar os versos de uma música em meus
ouvidos...
Ele parou de cantar e me encarou. Não nego que Justin Bieber não é bem o meu estilo
preferido de música, mas Phillip cantando aquele trecho diretamente para mim, com tanta
verdade e emoção, afinado apesar de não ser tão bom cantor, foi indescritível. Foi especial.
O que eu poderia fazer depois disso a não ser sorrir? Ele segurou meu rosto com as duas
mãos e nos beijamos lentamente, foi um momento singelo e diferente. Parecia uma
oportunidade do destino para que eu conhecesse algo novo, algo puro e doce. Nunca tive isso
em minha vida, sempre foi sempre brigas, confusões, gritarias. Era uma proposta de paz Parker
era um porto seguro.
— Isso foi um sim? — Sorriu de um jeito fofo.
E então mais uma vez me senti encurralada, não posso aceitar, não ainda. Minha cabeça
diz que sim, mas outras partes estúpidas do meu ser dizem que não é o momento.
— Phillip, eu não sou bem aquele tipinho de garota meiguinha e fofinha, não sou boa
com essas coisas de namoro. — Era verdade, nos dávamos bem como amigos coloridos, já
como namorados era bem diferente. — Você é um cara muito legal, mas não sei se daria
certo... — Ele assoprou e logo depois riu, estava rindo de mim de um jeito muito adorável.
— Você é difícil, garota. — Apertou minha bochecha. — Mas pode deixar que eu não
sou de desistir tão fácil. — Ele piscou.
Realmente não era, se fosse contar quantas vezes desconversei ou recusei ou deixei para
outra hora esse lance de namorar, demoraria anos. Foram muitas vezes e ele ainda estava ali,
firme, paciente, compreensivo, ele não desistiu de mim.
— Não são vocês garotos que são alérgicos a compromissos? — Ele me olhou
profundamente depois que fiz essa pergunta. Era uma questão importante, não podia negar o
passado dele, nunca foi o mais sério, pelo menos pelo que ouvi falar.
— Sim, somos. Pelo simples fato de que é difícil encontrar alguém especial que não nos
entedie ou que queremos ficar o máximo de tempo possível. — Ele segurou meu queixo e fez
com que nos olhássemos bem de perto. — Uma garota como você, divertida, que não se
importa com o que os outros dizem, que fala o que pensa... Que pensa... — Eu ri disso. Idiota.
Eu não merecia isso, ou merecia?
— Hummm, quantos elogios... Tem alguém querendo mesmo me conquistar aqui. —
Sorri abertamente.
— Eu não sou o tipo de garoto que faz tantos elogios assim... Então, sinta-se honrada. —
Ele entrelaçou minha mão na dele mais uma vez, mostrou seus dentes perfeitos em um lindo
sorriso. Olha para ele, conseguia fazer isso, mesmo depois que eu fui uma otária chamando-o
de “Harry”.
Não demorou muito para Anne bateu na porta falando para que eu descesse que a pizza
já havia chegado. Eu até havia me esquecido, foram muitos os acontecimentos no intervalo do
meu pai me avisar sobre a noite de pizza até ela chegar. Ainda bem que minha companhia era
surpreendentemente incrível. Ele disse que achava melhor ir embora, mas eu segurei em sua
mão de uma forma bem firme, e nós descemos.
Somente Anne e meu pai estavam lá sentados à mesa. Senti um imenso alívio por isso. A
minha atitude de insistir tanto para que Phillip jantasse aqui em casa poderia acabar muito mal,
mas também não seria tranquila. Assim que meu pai viu quem estava comigo, sua expressão
mudou, ele cerrou os olhos de um jeito muito rude. Esqueci que era ciumento ou talvez tivesse
medo, já que eu não era uma das pessoas mais ajuizadas do mundo.
— O que ele está fazendo aqui? Não sabia que não estava sozinha no quarto. Por que não
me disse que tinha gente com você? — disse levemente irritado, fazendo uma pergunta atrás da
outra. Fiquei com vergonha, ele podia ser menos intrometido e mais educado que aquilo.
— Calma, pai, ele estava me ajudando na mudança, enfim. — Arregalei os olhos a fim
de tentar fazer meu pai se tocar que estava sendo muito grosseiro. — O Phillip pode jantar com
a gente, né? — perguntei quase retoricamente.
— Não Vick, tudo bem, eu acho melhor ir para casa — falou ao meu lado. Ele estava
desconfortável, dava para notar pela sua voz.
— Ah não, claro que você fica — falou Anne prontamente. — Você é amigo da Victoria,
jante conosco. — Sorriu gentilmente e fez uma careta para meu pai que estava com uma cara
nada boa. Ainda bem que ela existia. Logo, nós os sentamos à mesa.
Estávamos comendo tranquilamente, Anne era realmente muito simpática. Era legal ver
de perto como uma ''mãe'' funcionava. Com certeza, o tipo dela é daquelas supermães que as
filhas têm como melhor amiga. Conseguiu deixar Phillip mais à vontade mesmo que meu pai
ainda estivesse com uma expressão de indiferença a tudo que ele dizia. Não estava gostando
dessa atitude dele. Talvez fosse uma vingança. Lembrei de quando conheci Anne e não fui
nem um pouco educada. Ao contrário... Como fui ridícula. Faria muito diferente se soubesse o
quão ela seria importante para mim.
Logo aquela voz invadiu a sala de jantar...
— Hummm, esse cheirinho de pizza... — Quando viu que Phillip estava ali, fechou a
cara instantaneamente. Pronto, agora eram duas caras amarradas.
— Senta, filho. Que cara é essa? — questionou a mãe ao ver os olhos semicerrados do
seu filho.
— O que ele está fazendo aqui? — disse grosseiramente. Na mesma hora Anne pareceu
se chocar com a reação de Harry. Para ela era algo novo, já para mim era apenas mais uma de
suas implicâncias.
— Harry, ele é amigo da Vick, por favor, sente-se já — disse imponente. Sem deixar de
cerrar os olhos em direção a Phillip, ele obedeceu a ordem.
— Tudo bem Anne, o Harry não vai muito com a cara do Phillip, mas a gente já vai sair,
não é? — Olhei para o Phillip. Não queria brigas, não queria passar vergonha na frente de
todos e do Parker, seria terrível.
— Claro que não. — Anne foi taxativa, parecia muito brava pela atitude do filho. —
Ainda tem outra pizza ali, vamos comer! — Ela pegou a outra e colocou na mesa. Pela
primeira vez na vida queria que a pizza acabasse logo.
Olhei para Miller que comia um pedaço de pizza com a mesma expressão de impaciência
anterior. Obviamente, ele se controlava porque sua mãe estava ali. Se ela não estivesse
provavelmente já teria retirado Phillip da mesa a pontapés. Como já fez outras vezes.
Comemos bastante, eu colocava os pedaços da boca com rapidez, ainda bem que gostava de
pizza.
Acabou e eu só queria sair logo dali, apenas incomum, meu pai, minha madrasta, Harry e
Phillip jantando juntos na mesma mesa. Nunca achei que viveria para ver algo assim.
Fui deixar minha doce companhia até a porta. Eu estava dois degraus mais alta que ele,
que segurou minha cintura com suas mãos acariciando minha pele devagar. Abaixei a cabeça e
o beijei devagar. Ele havia acabado de jantar com a minha nova família, isso era algo sério e
importante que fizemos juntos.
— Dirige com cuidado, OK? — Soltei-o de meu abraço. Ele tinha 16 anos e já dirigia
por aí, isso era muito legal.
— Tudo bem. Você vai na festa da Carly, não é? — Ah é, tinha até me esquecido disso.
— Vou sim. Pena que você não vai poder ir. — Lamentei, ele tinha outro compromisso
com sua família ou algo assim, queria sua companhia. — Nos vemos na segunda, então. — Ele
beijou minha bochecha.
— Boa noite. — Ele entrou no carro e mandou beijos com as mãos. Achei que essa noite
terminaria do pior jeito possível depois daquele acontecimento patético da troca de nomes, mas
graças ao carinho e compreensão.
Entrei no meu quarto, as luzes estavam apagadas. Estava suspirando pensando em como
essa noite foi bem louca. Quando acendi tive um susto. Harry estava na minha cama, ele
ergueu os olhos para mim... E aquele olhar já me disse muita coisa. A noite ainda não havia
acabado.
— Você me deu um susto, maníaco do parque — falei com a mão no coração, peguei um
elástico e amarrei meu cabelo. Lá vinha, precisávamos de fato conversar, estavam acontecendo
tantas coisas, não sabia se ainda éramos algo.
Sentei ao seu lado na cama. Fiz um gesto para que dissesse o que queria dizer.
— Eu não gosto do Phillip e você traz ele para jantar aqui? Que legal da sua parte! —
Tom de voz chateado, mal-humorado e impaciente. Por que isso não me surpreende? Ele acha
que eu trouxe Phillip para irritá-lo? Faça-me o favor.
— Ele é meu amigo Miller, fica na sua — falei com o tom até tranquilo. — Quantas
vezes seus amigos vieram comer aqui? — Tirei meu casaco já que no meu quarto não estava
tão frio.
— Eu nunca trouxe a Karolinne para casa. — Por que ele estava tocando no nome dessa
garota? — Acho que você vai gostar se ela vier, não é? — Deu um sorrisinho debochado.
— Cala essa boca, não se atreva a trazer aquele tipinho para cá, está me ouvindo? —
Agora eu não estava nem um pouco calma. Só o que faltava... Não era por ela ficar com ele ou
já ter ficado, era simplesmente pelo fato de que, desde o primeiro dia que pisei os pés na
escola, aquela criatura fez questão de me provocar e faz isso até hoje.
— Talvez eu traga um dia. Minha mãe iria amar ela. —Revirei os olhos assim que ouvi
isso. Ele queria me irritar, não é possível. Aquilo nem fazia sentido.
— Só que não. Ninguém gosta dela, ela é extremamente irritante. Não sei o que você viu
nela... — Balancei a cabeça. Realmente não sabia. Por que ele não podia ver que ela não era
uma pessoa boa para estar?
— Ela é gostosa. Isso não é bastante? — Sorriu cínico. Desgraçado!
— Ah claro que é. Por que acha que eu fiquei com você? Você é uma mula, um estúpido
e um idiota, mas é gostoso. — Retribuí, sarcástica.
— Obrigada. Eu sei que sou lindo mesmo. — Deitou na minha cama. Eu não devia levar
ele a sério. Por que ainda perco meu tempo?
— Já arrumou todas as suas coisas? — disse terminando de fechar uma das caixas da
mudança.
— Sim. Mas daqui a dois anos quero vir morar aqui de novo — ele falou, decidido. Não
sabia dessa ideia.
— Quando você completar 18? Ah Harry, muitas coisas ainda podem acontecer em dois
anos. Quem sabe você não dá a louca e vira hippie ou quem sabe se torne um cantor conhecido
internacionalmente e se mude para Londres... — Fui interrompida por suas risadas.
— É mais fácil eu virar hippie.
— Acredita em si mesmo, tudo pode acontecer. — Eu acreditava em seu talento, sua voz
era tão linda que acho que queria ouvir suas canções para sempre. Ele não se dava conta disso.
— Uau, esse foi o seu momento mais fofo em seus quase 16 anos de vida — falou,
surpreso.
— Eu sei, foi um momento estúpido. Esquece então, vira hippie, ia ser muito legal
mesmo. — Ele se sentou com um meio sorriso nos lábios.
— Você podia virar lutadora de vale tudo, que tal? — Ridículo. Ri por dentro. Eu sei que
me metia em brigas de vez em quando, mas não sei se é um caminho possível.
— É uma ideia a se pensar... — falei, mesmo que não fosse verdade. — Harry, eu queria
trocar de roupa para ir dormir, tem como você sair? Tipo... Agora. — Ergui os braços em
direção à porta. Acreditei que a nossa conversa estava terminada, me sentia cansada. Passei
horas fazendo o trabalho de Física e depois terminando de arrumar minhas coisas.
— Quanta educação... — Ele passou a mãos nos cabelos. — Uau. OK. Boa noite, então.
— Ele saiu. Respirei fundo. Não brigamos, afinal. Assim que cheguei no meu quarto e o vi ali,
achei com muita propriedade que discutiríamos feio, mas não foi o que aconteceu.
Eu coloquei meu pijama e desci para pegar um chá. Já eram quase uma hora da manhã.
Fui em passos lentos, não queria acordar ninguém. Passei pelo corredor e estranhei a porta
entreaberta do quarto do Harry. Olhei pela fresta, ele não estava naquele espaço. A cama
estava vazia, ele não estava ali, me aproximei... Um vento frio entrava pela janela escancarada.
Muito óbvio.
Ele era mesmo louco, estava muito frio desde cedo, ainda mais de madrugada.
— Harry, está muito frio aqui, você vai ficar doente desse jeito — disse, colocando a
cabeça para fora da janela.
Lá estava ele, sentado com apenas seu pijama e um casaco, pensativo, olhando para o
horizonte que estampava as luzes do centro da cidade. Nós moraríamos por aquela região que
ele observava. Para mim poderia ser mais uma mudança em pouco tempo, mas Harry sentia de
verdade aquela partida. Ele morou naquela casa por toda sua vida.
— Não me importo, eu só queria aproveitar mais um tempinho aqui — ele respondeu
com firmeza. Quis fazer o mesmo.
Eu peguei um cobertor do seu quarto, pulei a janela e sentei do seu lado. Enrolei ele e
ficamos perto um do outro. Tomei meu chá, que já estava quase frio, assim como tudo à nossa
volta.
— Você é um louco, agora eu estou aqui congelando por sua causa. — Respirei fundo
esfregando minhas mãos uma na outra.
— Ninguém está te obrigando a ficar aqui — disse ríspido. Harry sendo Harry.
— Eu sei disso, mas eu quero ficar. — Ele me olhou nos olhos e nos abraçamos.
Mais um daqueles momentos mágicos e surreais naquele telhado. Realmente tinha
alguma magia ali em cima. Nós podíamos brigar o dia inteiro, na mesa de café da manhã, no
caminho para a escola, na escola, na casa dos amigos, mas naquele lugar... Algo fazia ficarmos
mais tranquilos.
Eu ficava mais calma, mais segura, apesar da altura.
— Harry... Eu posso te perguntar uma coisa? — Achei que deveria falar isso, existia algo
sobre nós dois que eu não conseguia de jeito algum tirar da minha cabeça. Eu pensei nisso
quando Phillip me pediu em namoro mais uma vez.
— Fala...— ele falou sem muita expectativa.
— Não... Deixa pra lá. — Virei a cabeça, logo sinto suas mãos geladas tocando meu
rosto, meus olhos se encontraram com os dele, pediu em silêncio para que eu continuasse. —
Eu queria saber... Naquele dia, a um tempo atrás, você disse que me amav...— Ele me
interrompeu rapidamente.
— Eu disse para esquecer isso... Não foi assim que eu quis dizer, você entendeu errado.
— Balançou a cabeça. O que ele quis dizer, então? O que qualquer pessoa quer dizer com um
''eu te amo''? Será que o dele era diferente?
— Tudo bem, não que eu esteja querendo saber. — O quê? Por que eu disse isso? É
claro que eu queria saber, mas pelo jeito confundi as coisas, ele agiu por impulso, falou sem
pensar. — É que seria bem estranho...
— Eu sei, eu te amando... — Ele deu de ombros. — Isso seria estranho, não é? — Não
era isso que eu quis dizer, se ele me amasse não seria a coisa mais normal do mundo, claro.
Mas meu ponto era outro.
— Não é isso... — Fiquei receosa em continuar. — É que nenhum garoto nunca disse
que me amava, só isso. — Respondi rapidamente e respirei fundo.
Harry ficou em silêncio e eu preferi não dizer mais nada. Não sei se devia ter exposto
isso para ele, não sei o que ele pensou sobre. Talvez concordasse com isso, afinal poderia
pensar no quão seria difícil me amar, a mim, uma pessoa com tantos defeitos.
Minutos depois me levantei e ele me seguiu. Ficamos em pé por um momento.
— Acho que isso é uma despedida. — Eu abaixei a cabeça e me dei conta de que logo
não teríamos mais aquele telhado.
Entramos em seu quarto. Senti o choque térmico, estava bem mais quente ali.
— Às vezes não entendo por que a gente briga tanto — ele disse simplesmente,
desfazendo o silêncio. Eu sabia vários motivos pelos quais discutimos, mas não sabia por que
não conseguíamos resolver de formas melhores, sem atacar um ao outro.
— Nem eu. Mas é divertido brigar com você, eu sempre ganho — disse vitoriosa,
mesmo sabendo que não era bem assim.
— Só no seu mundinho, baby. — Sorriu, sarcástico.
— Bons pesadelos, monstro do Lago Ness — eu disse, saindo do espaço. Para quem
estava cansada até que eu resisti muito. Já devia ser muito tarde.
— Péssimos sonhos, Incrível Hulk — falou debochado. Eu era realmente explosiva
como esse super-herói. Porém, com menos verde no meu tom de pele.
Entrei no meu quarto e me afundei embaixo das cobertas. Sentirei saudades dessa casa,
alguns momentos que eu vivi ficarão marcados para sempre. Foi aqui que pude conhecer mais
sobre mim mesma.
Rapidamente adormeci.
Acordei, recolhi a roupa de cama e coloquei em outra caixa. Felizmente, agora teria uma
cama muito maior. Tomei um banho, coloquei um jeans e uma camisa grande. Desci as
escadas e a casa estava a todo vapor, caixas e caixas sendo levadas para fora onde se
encontrava um grande caminhão.
Sentei na bancada da cozinha e comecei a preparar um sanduíche. Harry chega somente
de calça na cozinha, ele estava descalço. Seus cabelos ainda molhados, e um cheiro muito bom
rondava o ar.
— Roupas para que, né? — disse e dei uma mordida no meu lanche. Ele olhou para seu
próprio abdômen.
Logo senti seu corpo encostando nas minhas costas. Seu cheiro bem próximo ao meu, até
que ele sussurrou em meu ouvido.
— É que ontem você disse que só ficava comigo por que eu era gostoso, então... Aí está.
— Eu me arrepiei com aquela voz, ele deu uma mordidinha na minha orelha. Ele não podia
fazer isso, sabia que sussurrar no meu ouvido era um dos meus pontos fracos.
— Não me provoca, Harry. Você só faz isso porque sabe que tem gente na casa e eu não
posso fazer nada.
— O que eu fiz? — disse de um jeito sonso.
Balancei minha cabeça, precisava ficar longe daquela tentação. Casa nova, vida nova.
Meu pai estava só nos esperando para nos levar até nosso novo endereço. De longe
avistei Louis sentado na calçada em frente de sua casa. Eu comecei a acenar para ele e o
chamei. Dei-lhe um abraço forte. Um lado ruim dessa mudança era que não seríamos mais
vizinhos, nem pude aproveitar tanto desse benefício.
— Que droga, hein? Logo agora que estamos nos dando bem, você vai morar longe... —
Fez biquinho.
— Querido Louis Williams, eu tenho uma bicicleta e muita disposição. Nunca se
esqueça disso. — Pisquei e ele sorriu espontaneamente.
Logo ele avista Harry e faz uma cara estranha. Eu não entendi o que significava.
— O que foi? — perguntei.
— Eu e o Harry discutimos ontem... — Será que foi por causa da minha pequena
provocação? Foi algo tão bobo. — Por causa de você... — Confirmou minhas suspeitas.
— Ah, não. Mentira. Me desculpa, Louis. Espera aí que eu vou chamar ele aqui agora...
— Precisava resolver aquilo, não queria ninguém sem se falar por causa de mim.
— Não, deixa... — Ele segurou meu braço. — A gente resolve depois. — Eu assenti. —
Você vai na festa da Carly?
— Aham. A gente se vê lá. — Não teria o Phillip, mas pelo menos sabia que teria outras
companhias legais, como o Louis.
O que o Harry tem na cabeça? Brigar com seu melhor amigo por causa de uma bobagem
daquelas e ainda mais implicar com nossa amizade, isso era muito egoísta de sua parte.
Despedi-me de Louis e também da minha casa, não iria chorar porque não havia me apegado
tanto à matéria e sim às pessoas, e estas eu estava levando comigo.
Chegamos na casa nova. Fui diretamente para o meu espaço. Eu organizei meus objetos
mais importantes no quarto. Arrumei meu guarda-roupa, coloquei minhas roupas e produtos
nas gavetas e prateleiras.
A foto da minha mãe na cabeceira da cama. Meus CDs, meus livros, minhas bugigangas,
tudo estava no lugar. Demoramos um pouco para nos mudar de fato, mas agora já estava tudo
pronto.
Minhas amigas me ligaram e fizeram questão de me apressar, realmente eu precisava
correr para me arrumar para a festa da Carly. Não demorei muito, já tinha a roupa em mente.
Vestido azul-marinho, meia-calça preta e uma bota cano baixo. Deixei meu cabelo solto e
coloquei alguns acessórios.
Essa casa também possuía dois andares, porém era muito maior do que a outra. Desci as
escadas e comecei a procurar por Harry. Desisto, ele não está mais lá. O desgraçado nem me
esperou... Achei que iríamos juntos. Não posso confiar mesmo nele. Tento me controlar para
não começar a noite irritada, mas é difícil.
Liguei para um táxi e em pouco tempo já estava indo em direção à festa.
Ao chegar lá, me surpreendi. Quantas pessoas! A decoração estava linda, com detalhes
em azul-claro e prata. Entrei e fui seguida por alguns olhares.
Logo vejo um certo Sr. Miller de costas...
Fui em direção a ele. Quando estou chegando perto, os amigos fazem sinal e ele olha
para trás... Não devia estar com a cara tão boa. Realmente, não estava feliz por ele não ter me
esperado.
— Obrigada Harry, por ter me esperado — falei brava e cruzei os braços.
— Você não a esperou, se eu fosse você tinha esperado, sério... — Victor me olhou de
cima a baixo. Ignorei ele. Apenas olhava para meu gentil e adorável irmão postiço.
— Até aqui você vem me encher o saco? Você não tem o direito de chegar e gritar com
as pessoas assim não. — Cruzou os braços imitando meu gesto.
— Grito com você na hora que eu quiser. — Afrontei-o.
— Por que você não some daqui? Sério... Tem horas que dá vontade de te matar — ele
assoprou.
— Que estranho, tenho vontade de matar toda hora...
— Não em todas as horas, docinho... — Fez um olhar malicioso. Docinho? Fechei meus
olhos com tanta impaciência, achei que iria explodir.
Acho que foi uma das vezes que mais senti ódio do Harry... Ele deve achar que eu sou
uma das vadias dele. Eu sou uma idiota. Tenho que aprender a me controlar. Acabou, chega
disso, chega de Harry. Chega dessas confusões mentais, dessas brigas, dessas reconciliações,
chega dos momentos lindos que são destruídos no dia seguinte, não consigo mais essa
instabilidade.
Estou perdendo meu tempo com alguém que nunca poderei ter, e por que eu me
importava tanto? Por que fazia tanta questão de sua companhia, de que ele tivesse
consideração e me esperasse? Por quê? Eu estava me enganando. Chega. Para mim já deu.
Mais uma festinha e com ela mais revelações, confusões e mais acontecimentos surreais...
Lá estava Victoria comendo um grande cupcake, furiosa.
— O que está acontecendo comigo? — ela se indagava.
Parecia que aquela pequena discussão com Harry fez com que sua noite acabasse. Agora
já se irritara por não ser normal, por parecer que veio de outro planeta esquisito. Recusou uma
oferta de namoro do garoto mais gato e popular da escola. É... Nem vou zoar, vai que é doença,
ela pensou sobre suas próprias atitudes.
Enquanto a garota irritadinha devorava bolinhos feito uma louca pensando em vários
aspectos aleatórios sobre si mesma, sua amiga Maya estava aos beijos com um loiro sexy na
parte de trás do grande salão de festas. Precisava mesmo daquilo? Não se sabia. Mas ambos
continuavam com a política do ''escondido é mais gostoso''. E escondiam a relação de todos os
seus amigos.
— Maya, você está tão perfeita essa noite... — disse, beijando seu pescoço.
— Nev, eu queria ir para um lugar mais tranquilo com você, não estou aguentando mais.
— Suspirou, cheia de desejo por seu namorado.
— Uau, tudo isso é desejo por mim? — Ele ergueu uma das sobrancelhas.
— O que você acha? — disse baixinho no ouvido do irlandês.
— Oh, assim você quer acabar comigo. — Isso saiu quase como um gemido.
Naquele espaço, tinham umas poltronas de madeira. Nev sentou e Maya sentou em seu
colo, subindo o vestido vermelho e que estava colado em seu corpo, ela colocou uma perna de
cada lado. Se beijaram intensamente.
Maya parou o beijo ofegante e encarou aqueles dois diamantes azuis à sua frente. Como
eles brilhavam em direção a ela. Não cansava de olhar, estavam juntos havia semanas e a cada
dia não conseguiam se cansar um do outro. Era algo mágico o que possuíam. Apesar de ela ser
uma esquentadinha, o garoto com sua doçura e jogo de cintura conseguia virar o jogo e os dois
estavam em um mar de rosas.
— Sabe o que eu estava pensando? — sorriu timidamente.
— O que, meu príncipe? — Dei-lhe um selinho rápido.
— Eu acho que... Não, na verdade tenho certeza... Eu te amo, Maya.
A garota sentiu uma alegria a contagiar quando ele acabou de dizer aquelas palavras.
Algo como um trem da alegria e êxtase percorria seu corpo. Não era de pouco tempo que
armazenava sentimentos por ele, então ouvir aquelas palavras foi algo mágico.
Maya segurou Nev com as duas mãos, massageou a maçã de seu rosto e beijou-o
delicadamente.
— Eu também te amo, Nev. — Sorriu ao encará-lo.
Podiam ser muito novos para entender sobre o que é de fato o amor. Mas de verdade, o
que importa saber o que é esse tal amor do qual tanta gente fala? O importante é sentir algo
especial, que ao mesmo tempo que faz seu mundo inteiro tremer pode simplesmente ser o lugar
mais seguro para ficar.
Em um outro setor, não menos quente, da festa os jovens dançavam sem parar ao som
das batidas mais agitadas do momento. Estavam envolvidos por toda aquela magia musical,
seus corpos bailavam e se moviam como se não houvesse amanhã. A festa estava só
começando, mas todos já se divertiam muito.
Elis conseguiu arrastar Bia para a pista de dança, ambas dançavam mais timidamente em
um canto da pista. Mal sabiam que estavam sendo observadas durante muito tempo. Na
verdade, os olhos brilhantes de Louis passaram minutos e minutos apenas mirando Lis. Ele
estava decidido a tentar uma maior aproximação com a garota novamente.
Depois do beijo que tiveram, aquela ideia fixa que ele possuía em relação a ela só
aumentou. De mansinho, chegou perto, dançando e bebendo um gim tônica. Como um gato
traiçoeiro e silencioso, ele enfim conseguiu se aproximar totalmente de Elis.
— A linda dama me cederia essa dança? — sussurrou com uma voz aveludada,
arrepiando a nuca exposta de Lis. Ele se encostava nas costas da garota e ela conseguia sentir
seu perfume.
Virou-se e sorriu instantaneamente ao encontrar o sorriso de Louis. Aquele garoto era
realmente atraente. Sim, isso ela não poderia negar nunca. Ele não somente possuía um belo
par de olhos azuis como sabia usá-los muito bem.
— Desculpa, lindo cavalheiro, mas estou dançando com a minha amiga no momento —
disse e se virou para Bia, que estava levemente desconfortável, percebendo que poderia ficar
de vela. Não queria atrapalhar nada.
— Tenho certeza de que a Bia não iria se importar, não é Bia? — Louis falou se
dirigindo à garota.
— Ah, claro que não. Vai dançar com ele, Lis. — Empurrou a amiga devagar para mais
perto dele.
— Eu não quero — disse ríspida.
— Vai logo. — Piscou e foi andando em direção à mesinha de doces. Sabia que ela
adoraria dançar com ele, só não queria deixá-la sozinha, mas Bia sabia se virar e também
entendia quando estava sobrando.
Os dois ficaram se encarando por um tempo, até que o garoto ergueu a mão e após ficar
em um rápido vácuo segurou a mão da garota com força e a puxou — estilo não muito fofo e
gentil de Louis Williams ser, mas ela gostava disso, não sabia explicar como ou por que, mas
gostava.
A música era agitada, mas ele fez um sinal para o DJ e de repente começou a tocar A
Thousand Years, uma linda e leve música. Até romântica demais. Elis cerrou os olhos para o
garoto, mas não conseguiu esconder um sorriso em seu rosto. Grosseiro e romântico ao mesmo
tempo. Como explicar?
Dançavam lentamente com seus corpos colados, Elis deitou a cabeça no ombro de Louis.
Certas vezes era como se estivessem apenas os dois no grande salão. Rapidamente a música
acabou e eles demoraram um pouco para perceber isso. A música lenta cedeu lugar a uma nova
batida eletrônica. Eles se largaram, a garota se afastou sem olhar nos olhos de Louis.
— Elis... — Ela não sabia como reagir ao que estava começando a sentir dentro de si.
— Nós já dançamos, não era isso que você queria? — Sorriu ironicamente.
— Na verdade, eu queria mais que isso... — Ele a agarrou pela cintura e quando a garota
percebeu já estava envolvida no beijo intenso de Louis.
Algumas pessoas estranharam aquela cena. A maioria ali sabia do amor platônico que
Elis um dia disse sentir por Harry, que é o melhor amigo de Louis. Isso era uma surpresa para
muitos.
— Louis, você está louco? Todo mundo viu isso! Idiota — disse, olhando para os lados.
Realmente, dava para perceber que estavam olhando a cena, nem disfarçaram.
— Desculpa, não sabia que tínhamos um segredo. — Revirou os olhos. Estava um pouco
chateado porque não se sentia satisfeito somente com aquele beijo. Queria mais. Muito mais.
— O que nós temos? — perguntou retoricamente confusa. — Oh, meu Deus. — Parou,
um pouco pensativa. — Olha só garoto, eu vou te falar só uma vez, e você presta bem atenção
no que vou te falar. — Disse brava e um tom alto, a poucos centímetros de distância dele.
— O quê? Já vai começar a brigar comigo de novo? — rebateu, irritado.
— Só vou te falar uma vez, então, presta atenção. — Ela se aproximou e sussurrou na
sua orelha, ele estava apreensivo. — Me encontra daqui a 10 minutos no banheiro feminino. —
Piscou e saiu.
Oh, Williams realmente não esperava por essa resposta. Ele ficou lá plantado no meio do
salão por segundos, apenas tentando se convencer de que aquelas palavras não foram pura
ilusão de sua mente. Parecia um de seus sonhos malucos. Não parou para pensar nem por mais
meio segundo e já se dirigiu ao local combinado.
Victor Black estava na sua terceira rodada da noite. Havia pegado duas morenas e estava
na primeira ruiva da festa. Era incrível o poder que tinha com as garotas, era rara aquela que
resistia aos seus charmes. Era um garoto bonito, possuía um topete bem modelo em seus
cabelos escuros, olhos castanhos poderosos e muita lábia com o sexo oposto.
Podia não ser tão bom em Física ou Matemática, mas em matéria da sedução ele já
estava fazendo doutorado.
— Você sabe por que o James não veio hoje? — perguntou a Harry, que estava parado
observando a festa. O amigo deles não compareceu à festa de aniversário em que estavam.
— Ah, ele viajou com a família — disse Miller, totalmente desanimado.
— Você tá parado hoje, hein Harry? Um monte de gata te dando mole e você aí...
Moscando — disse ao pegar dois drinques para eles.
— Ah, nem tem garotas tão bonitas aqui. — Recebeu o drinque e bebeu metade dele de
uma vez.
— Está de brincadeira, né? Você não viu a irmã mais nova da Kim Kardashian que eu
peguei minutos atrás? Fala sério, esse lugar está lotado de gatas, só esperando para serem
consumidas — falou mordendo os lábios, mania incontrolável.
Certamente, Harry não estava no mesmo clima que Victor. Os dois já saíram muito
juntos e tinham sintonia quando se tratava de festas e garotas, mas algo no garoto de olhos
verdes estava diferente e isso estava fazendo com que não fosse mais o mesmo. Quando
pensaria que chegaria em uma festa e não iria sentir vontade de ficar com ninguém? Era
impensável. Agora estava sendo realizado.
— Tudo bem, eu vou dar um giro por aí — disse Harry saindo. Queria passear pela festa
e recuperar seu antigo eu. Ele sentia saudades.
Harry encarou a festa, tinha garotas realmente bonitas naquele ambiente. É melhor eu
procurar a minha primeira vítima da noite, daqui a pouco vão começar a achar estranho eu
estar em uma festa sem pegar ninguém, nem eu sei explicar o que está acontecendo, ele
pensou. Ergueu o olhar e viu uma morena bonita que piscou para ele e riu para sua amiga.
Bingo!
Foi se aproximando até a dupla quando algo chamou a sua atenção completamente. Ele
avistou Victoria falando sozinha com dois cupcakes da festa.
Fez sinal de espera para a morena, que ficou sem entender direito, já que ele já estava a
ponto de falar com ela e de repente desviou totalmente seu rumo. Ele vai até o banquinho onde
sua irmãzinha postiça estava sentada e ouve um pouco da ''conversa'' sem que ela perceba.
— Sabe, você que me entende de verdade... Isso tá difícil pra mim. Eu gosto do Phillip,
não sei por que não posso só ser feliz com ele... Eu queria, mas não dá... — Falava
distraidamente como se o bolinho coberto de chantilly fosse dar algum conselho a ela a
qualquer momento.
— Uau... — Ela treme ao ouvir a voz rouca comentar, até pensa outra vez porque ele
sempre estava por toda a parte. — O Toddynho que você tomou devia estar batizado — disse
rindo.
— Ah, o que está fazendo aqui? Você é a última pessoa que eu quero ver. — Estava com
ódio no olhar e comeu um pedaço do seu ex-companheiro de papo.
— Quanta agressividade. Até então você estava mansinha com seu cupcake. — Ele se
aproximou mais.
— Eu não queria ouvir sua voz aqui perto de mim. — Passou a mão nos cabelos.
— Como você é chata. Mas eu posso fazer uma caridade por você... — Ela o olhou se
entender do que ele estava falando.
— Caridade? Que caridade? — perguntou confusa.
— Você não vai conseguir arrumar ninguém hoje, então... — Ele apontou para si
mesmo.
— O quê? — Levantou-se rindo alto e ironicamente. — Você acha mesmo que eu não
consigo ninguém? Miller, se enxerga. — Colocou a mão no ombro dele. — Você não é o
pegador? Vai lá pegar suas garotinhas, que você trata como objeto, e me deixa em paz! —
gritou.
— É isso que você quer? — ele perguntou desafiador.
— É sim. Sai de perto de mim. Eu decidi e não quero ficar com você nunca mais. —
Disse firme e continuou comendo seu bolinho. Harry ficou olhando bem para a expressão da
garota.
— Agora a noite acabou pra mim — disse irônico. — Quer saber? Eu vou comemorar
isso agora mesmo. — Miller estava cheio de todos aqueles altos e baixos.
Victoria acompanhou os passos dele, ainda sentia a raiva fervendo em suas veias. Além
de ser um grosso e de ter gritado comigo na frente dos outros, ainda vem continuar enchendo
meu saco, pensou alto, irritada. Não conseguia ver um futuro com ele. Não conseguia nem
raciocinar direito.
Quando ergueu os olhos, viu Harry com uma garota que nunca havia visto na vida...
Foram somente alguns segundos, seu coração bateu forte, seus olhos queriam se fechar, mas
ela não conseguia. Foi de repente. Ele a pegou pela nuca e deu um beijo com profundidade.
Ficaram se beijando por pouco tempo e depois ele parou, a morena começou a beijar seu
pescoço e ele olhou em direção a Vick. Harry deu de ombros e sorriu.
Ela não sabia descrever o que estava sentindo, devia ser normal... Ela devia se sentir
normal?, se perguntava. Mas não era o que a descrevia, sem dúvida ver aquilo mexia com ela,
destruía barreiras dentro dela. Barreiras que deviam se manter intactas. Ficou extremamente
abalada e então começou a crescer um sentimento de ódio dentro de seu coração, que
rapidamente a dominou por completo.
Esse idiota desgraçado safado, nunca mais eu vou chegar perto dele. Fica rindo,
debochando de mim. O que ele acha? Que eu me importo? Não estou nem aí... Ele que coma
todas as mulheres do mundo, por mim... Eu não estou nem aí, resmungava enquanto andava,
tentando se convencer daquelas palavras. Tinha que ser assim, ela não podia se abalar daquele
jeito. Avistou o bar da festa e não pensou em mais nada.
Victor estava passando com a sua bebida super empolgado para chegar na pista de dança
quando esbarrou em uma garota. Acabou despejando sua bebida azul e forte no vestido rosa
bebê da pessoa, deixando uma imensa mancha no tecido. Ao olhar para ver quem era...
Coincidentemente ou não, era Bia. O destino cismava com aqueles dois.
— Oh não, Bia. Mil desculpas. Olha isso...— Olhou para a grande mancha no vestido.
Ela não gostou nada de levar um banho de bebida alcoólica, ainda mais quando viu o estado do
garoto. Ele não estava bêbado, mas ela não gostava de quando ele bebia demais a ponto de não
se controlar.
— Era só o que me faltava mesmo, isso com certeza não vai sair. — Colocou a mão na
cabeça, foi saindo, mas Victor segurou em sua mão, ela arrepiou-se na hora.
— Vem cá comigo. Tem um tanque na cozinha desse salão, lá deve ter um detergente e
um pano para tentar limpar isso, sei lá. — Puxou-a na direção contrária à que ela ia.
Foram passando por todas aquelas pessoas, estavam tão envolvidas que nem perceberam
quando a nerd da turma passava sendo guiada pelo garoto mais popular do colégio. Na grande
cozinha do salão, onde não paravam de entrar e sair garçons, avistaram a pia e foram até lá.
Black pediu um pano para uma das assistentes da festa. Colocou um pouco de água e
detergente e aproximou da mancha que ficava abaixo da região do colo.
— Não é melhor eu limpar isso, Victor? — disse nervosa, já que a região da mancha
ficava próximo aos seus seios.
— Ah, pode deixar, não foi tão ruim assim — falou, sem parar seu trabalho na tentativa
de retirar a mancha.
Ele começou a passar o pano devagar por sobre a mancha. A garota se desesperou ao ver
os pelinhos de seu braço completamente arrepiados. Não estava conseguindo esconder o
quanto estava nervosa com aquela situação.
Victor continuava seu serviço, Bia se controlava para não ficar mais alterada do que já
estava.
— Não precisava fazer isso, eu não fiquei chateada com você por ter derrubado isso em
mim. — Pela primeira vez o olhou nos olhos por sua própria vontade, mas logo deu um jeito
de desviar quando encontrou os grandes olhos castanhos dele bem próximos ao seus. Não era
algo com que ela conseguisse lidar com tranquilidade.
— Eu ainda não me esqueci daquele dia que você me ajudou, realmente não precisava
ter feito aquilo, mas você fez. — Ele sorriu lembrando do episódio.
— Você não deveria estar falando comigo, isso pode acabar queimando seu filme, sei lá.
— Ela disse, ele franziu o cenho no mesmo momento.
— Quê? Isso não tem cabimento. Você é legal, eu falo com quem eu quero. — Piscou.
Olhou para a mancha e ela praticamente havia sumido, somente estava molhada naquela
área, mas logo secaria. Bia agradeceu pelo gesto inesperado do garoto, que nessa ação se
mostrou doce e gentil. Diferente de suas atitudes em algumas situações, já que era um brigão
por natureza.
Ele voltou para a festa e continuou com sua caçada e diversão. Bia ficou revivendo os
momentos em que esteve com Black tão próximo a ela. Às vezes tinha vontade de
simplesmente jogar tudo para o alto e falar o que sentia. Porém, minutos depois isso mais
parecia uma grande loucura, nunca teria coragem para falar isso. E pensava que nunca teria
chances, então, para que expor esse sentimento?
Em um banheiro perto dali, Louis e Elis se beijavam de maneira selvagem e quente. A
garota já havia tirado a camisa dele. Ele segurou-a pelas pernas e pressionou-a contra a parede,
colando seus corpos suados. Ambos sem desconectar a troca de olhares intensa.
Ela arranhou suas costas... Louis estava em êxtase, não conseguia mais pensar em nada
apenas nos toques da garota. Elis nunca havia sentido aquilo, não com aquela força. Deseja ter
Louis todo para ela.
— Ah, Elis... — gemeu baixinho.
Ouviram um barulho no banheiro e pararam por um instante. Parecia que umas cinco
garotas haviam entrado. No começo elas falavam alto, mas logo pararam e ficaram em
silêncio. Bateram na porta do box onde os dois estavam.
Elis tampou a boca de Louis rapidamente.
— Tem gente, mas que droga! — disse brava, respondendo às meninas.
Minutos depois elas saíram às risadinhas e Louis sorriu para Elis. Ela se soltou dos
braços do garoto que envolviam sua cintura. Deu um espaço e desceu seu vestido colocando-o
no lugar.
— O que foi? Estava tão bom, por que parou? — perguntou confuso e Lis abriu a porta
da pequena cabine e saiu.
— Você achou que ia acontecer aqui? Num banheiro? — Ergueu uma sobrancelha com
certo humor.
— Você quer ir para outro lugar? — Sorriu malicioso e abriu os braços.
— Acho que você já teve muito de mim por uma noite, Sr. Mão Boba. — Piscou e saiu
do banheiro, deixando o garoto com um enorme gosto de quero mais.
Louis viu seu reflexo no grande espelho à sua frente e não pôde evitar abaixar a cabeça e
sorrir. Seus cabelos estavam desgrenhados, e provavelmente suas costas deviam estar muito
arranhadas. Mas nada importava, ele se sentia como se tivesse pulado de bungee jump, livre e
feliz, adrenalina o fazia viver.
Saiu e avistou Elis sentada com Bia em uma das mesas. A amiga arrumava os cabelos de
Lis, que também se encontravam desarrumados. O garoto sorriu outra vez e foi tentar encontrar
seus amigos pela festa.
Depois de cantar os parabéns para a aniversariante Carly, a festa continuava, agora com
boa parte das pessoas descontroladamente felizes.
Victoria estava dançando na pista, havia bebido alguns drinques doces que fizeram com
que ficasse alcoolizada depressa e sem perceber. Três garotos estavam à sua volta. O álcool
acabou dando aquela coragem a mais para ela se divertir como se não tivesse ninguém ali. Ela
revezava a si mesma diante dos parceiros de dança, dançando com um e depois com o outro.
Esfregava seu corpo no deles e cantava a música bem alto.
Maya foi até seu encontro e pediu para a garota maneirar, mas isso só serviu para Black
levar uma patada da amiga.
Os caras começaram a passar a mão pelo corpo de Victoria. Obviamente, ela já não
estava sóbria, senão provavelmente já teria socado a cara de cada um deles. Mas, ao contrário,
apenas estava dando risadinhas e continuava rebolando ao som da batida. Foi quando avistou o
balcão do bar. Uma ideia muito louca passou em sua mente, já havia visto em tantos filmes.
Correu até lá e subiu com dificuldade.
Victor, Louis e Harry conversavam sobre aquela noite, estavam um pouco distantes da
pista principal. Era um lugar mais silencioso. Ambos já haviam ficado com algumas garotas,
agora apenas bebiam e conversavam.
Até que Nev surge empolgado e ao mesmo tempo nervoso, talvez com o êxtase do que
estava se formando na pista principal.
— Que cara é essa, Nev? — perguntou, rindo da expressão do amigo.
— Vocês não vão acreditar quem está quase fazendo um striptease em cima do balcão?
— falou sem conter o ânimo, a surpresa ou a ansiedade.
— Quem??? — Louis perguntou curioso, pensando em quem estaria fazendo esse show.
Já foi se levantando de onde estava sentado. Queria ir ver.
— A Victoria! — ele respondeu.
Quando Nev pronunciou o nome dela, Harry congelou. Seu rosto ficou rígido, era como
se toda sua paz fosse lhe tirada. Não demorou muito tempo naquele choque. Levantou-se
rapidamente e correu, atropelando quem estava na frente, sem dar ouvidos ao que falavam pelo
caminho. Só queria ver o que estava acontecendo.
Chegou até a pista principal que estava lotada de pessoas gritando, principalmente
garotos alucinados. Quando ergueu seu olhar viu Jones descendo até o chão com uma mão
descendo a alça de seu vestido.
Embaixo tinha vários garotos e também Maya, Bia e Elis gritando para que a garota
descesse de uma vez daquele balcão. Ela tinha a atenção de todos ali. Sem pensar duas vezes,
Harry saiu furioso empurrando e se espremendo naquele mar de gente.
— Victoria, desce daí!!! — gritou raivoso assim que chegou ao pé do balcão de madeira
em que eram entregues as bebidas do bar.
A garota, ao olhar que ele estava ali, sorriu sarcasticamente. Continuou dançando
provocante, como se ele nem estivesse ali. Isso só fez o sangue de Miller esquentar mais ainda.
— Não vou falar duas vezes, desce... Agora! — Ele estava vermelho de raiva.
— Vem me tirar, idiota! — desafiou e riu. Ela se desequilibra e quase cai, e ri outra vez
por causa desse incidente.
Harry quase não aguentava sua irritação. Em um só movimento ele segurou a mão dela e
puxou forte, a fazendo cair de joelhos no balcão. Segurou-a pela cintura e a jogou nos ombros
com muita dificuldade. Ela gritava e balançava as pernas com violência. A maioria dos garotos
gritava ''Seu estraga-prazer!'' ''Na hora que ela ia tirar a roupa, ninguém merece!'' Miller não
sabia como iria conseguir se acalmar diante de tudo aquilo.
As amigas de Vick acompanharam Harry, que pediu o carro de Louis emprestado. Maya
abriu a porta para que ele colocasse a garota no banco do carona. Ela ainda estava agitada e
xingava todos à sua volta, principalmente seu irmão postiço. Todos estavam abismados com
aquela reação.
— Cuida dela Harry, leva ela pra casa — Maya pediu antes do garoto dar partida no
carro.
Harry começou a dirigir e Victoria não calava a boca, ela parecia estar fora de si.
Continuava ofendendo-o e dizendo que ele não aguentava vê-la feliz e se divertindo, pedia
para voltar imediatamente. Ele estava com muita raiva e impaciente, em um nível tão elevado
que não estava conseguindo guiar o carro. Ele parou o veículo violentamente no meio de uma
rua escura.
— Quer saber? Eu devia mesmo ter deixado você lá! — gritou. — Devia deixar todos
achando que você é uma grande vadia louca. — Ele bateu suas mãos com força no volante.
— E por que não deixou? — Ela cruzou os braços.
— Eu precisava te tirar de lá! — falou com passando a mãos nos cabelos. Não entendia
como ela não percebia o que estava fazendo.
— Oh, please... Você agora é o meu irmãozinho que cuida de mim? Para de se enganar,
Harry! — rebateu.
— Eu me preocupei com você de verdade, mas você não merece! Não mesmo. — Ele
levou a cabeça até o volante e a bateu devagar.
— Na hora que estava se agarrando com aquela garota na minha frente você não se
preocupou comigo! — disse dando de ombros. Ele ergueu sem olhar até ela.
— É ótimo provar do próprio remédio, não é? — falou, lembrando das vezes em que vira
a garota beijando Phillip.
— Próprio remédio? — perguntou confusa.
— Eu pensei que você disse que podíamos ficar com qualquer pessoa. E o que a gente
tinha era só um passatempo — falou repetindo o que ela havia dito tempos atrás.
— E é isso mesmo — confirmou, apesar da bebida deixá-la um pouco lenta.
— Então, pare de sentir ciúmes de mim. — Revirou os olhos.
— Não estou com ciúmes, estúpido. — Pressionou os olhos.
— Pare de enganar a si mesma. — Ela ouviu essas palavras e fechou os olhos, sentindo o
peso delas, porque fazia sentido. Estava se enganando, não sabia até quando iria aguentar isso,
passou alguns segundos capturando oxigênio do ar a fim de esclarecer sua mente.
— E o que isso vai mudar? Desculpa, OK?... — Sua voz começou a ficar fraca e sua
garganta já dava sinais de que prendia algo importante. — Eu falei que não ia me apaixonar
por você
— Mas... Não deu. Já era. — E então sentiu como se tudo tivesse desabado. — Eu sou
uma estúpida, fraca, tudo isso... — Começou a lacrimejar sem aguentar o peso do que havia
dito.
Harry estava olhando para ela e sentiu um aperto em seu coração. Mas o que eles
estavam fazendo? Precisavam ficar juntos, ele pensou. Mas como? Ele a encarou e Victoria
abaixou a cabeça fechando seus olhos. Tudo aquilo a estava afetando. Era insano, nunca
pensou que lidaria com um sentimento como aquele. Estava destruindo seu coração. Miller
ergueu a mão até o rosto dela, precisava consertar tudo isso, precisava tê-la outra vez.
— Não me toca, Harry. Eu já percebi que isso tudo é um erro. Só me leva pra casa!
Agora! — disse nervosa sem deixar de manter seus olhos fechados. E fez isso até que o carro
pare.
Chegaram em casa rapidamente. Vick saiu do carro e foi direto para dentro de casa, sem
olhar mais para Harry em nenhum momento. Ele teve que voltar para entregar o carro para
Louis. Ainda não tinha a menor ideia do que faria a partir de tudo o que fora dito, de tudo o
que sentia.
Ela por sua vez entrou no seu novo quarto e se trancou. Jogou seu corpo na cama e só
retomou a consciência outra vez quando uma luz forte penetrou seus olhos... O sol parecia que
ia desmanchá-la em mil pedaços.
Capítulo 29: All These Little Things!
~ Narradora ON~
Era um novo dia na límpida e serena Holmes Chapel. As pessoas saíam para o trabalho, o
jornaleiro passava deixando as últimas notícias em cada casa, os estudantes se espreguiçavam
em suas camas, era hora de acordar. Para muitos iria ser difícil abrir os olhos e enfrentar a
realidade.
Harry dormiu por horas, mas continuava cansado, cansado de uma ânsia por respostas,
por conclusões, por atitudes, todas de sua parte. Ele nunca quis ser verdadeiramente aquele
cara de uma garota só, mas pela primeira vez sentiu que talvez se tornasse mais feliz sendo
exatamente assim.
— Bom dia, meu amor! — Anne disse com um sorriso aberto enquanto preparava
deliciosos waffles de café da manhã.
— Bom dia, mãe. — Ele respondeu, sentou-se na grande mesa de vidro da nova casa.
Tudo à sua volta havia mudado, menos sua família, até mesmo seus sentimentos estavam em
constante transformação. A sua moradia agora era maior, mais espaçosa, mais vazia de
lembranças, porém repleta de espaços para novos acontecimentos.
George havia acabado de sair para o trabalho. Ele insistiu para que Anne contratasse uma
empregada fixa para a nova e imensa casa, mas ela ainda estava se acostumando com a ideia de
ter mais uma pessoa morando ali com eles.
— Querido, eu vou ter que ir para o trabalho mais cedo hoje, tenho umas coisas para
resolver. Cuida de tudo, não esquece de chamar a Vick e dizer para ela comer alguma coisa
antes de ir para a escola, OK? — Deu-lhe um beijo na testa com certa pressa.
Harry apenas assentiu e terminou de tomar seu café. Estava pronto para ir para a aula.
Decidiu ir até o quarto de Victoria para chamá-la. Ia bater na porta, mas acabou abrindo-a
lentamente. Um barulho de chuveiro vinha do banheiro.
Decidiu sair, já que as coisas não estavam bem entre os dois. Até que avistou um porta-
retratos misturado com os lençóis da cama desarrumada. Foi até lá e era a foto de uma mulher
bonita e com os olhos brilhando felizes. Era a mãe da garota, sem dúvida, os traços em seu
rosto lembravam os dela.
— Larga isso, Harry! — gritou de repente dando um susto no garoto, que não percebeu
sua aproximação.
— Desculpa aí, eu só estava olhando... Não precisa ficar com raiva. — Colocou a foto na
cama novamente.
— Não estou com raiva, agora você já pode sair do meu quarto. — Foi em direção a
porta como se para abri-la. Estava enrolada em uma toalha e com os cabelos úmidos.
— Calma, eu quero conversar com você. — Ele pegou de leve em seu braço.
— Oh! Anneeee! Paiiii! — gritou do nada, e ele olhou-a, surpreso.
— Qual o seu problema? Eu só quero conversar com você, por que diabos está gritando?
— disse alto e sem entender a atitude infantil que ela estava praticando.
— Eu não quero conversar com você... Nunca mais. Entendeu ou vou ter que desenhar?
— falou firme e com seus olhos fuzilando as esmeraldas de Miller. Ele não esperava aquela
reação, não depois do que ouviu daquela boca na noite anterior, mas como em muitas outras
vezes, Victoria Lea Jones era uma caixinha de surpresas, quase sempre surpresinhas explosivas
e perigosas.
— Tudo bem... Se você quer assim. — Respirou fundo e decidiu não continuar com
qualquer discussão que poderiam ter. Estava cedo demais. E uma hora eles teriam que falar
sobre o que acontecera.
A garota terminou de se arrumar rapidamente, adicionou lápis em seus olhos e um pó
compacto para retirar algumas olheiras que marcavam presença em sua face. Lembrava de
alguns flashes da festa de Carly. Sabia que tinha bebido um pouco demais, sabia que tinha
passado vergonha. Isso nem a preocupava tanto quanto a outra parte daquela noite.
Apesar de não se lembrar de tudo, não conseguia esquecer do que mais queria não
conseguir se recordar. Tinha tido que estava apaixonada pelo Harry. Onde estava com a
cabeça?, pensou. Nem ela sabia se isso era verdade, mas então por que havia falado aquilo?
Pegou sua bolsa e desceu as escadas. Passou pela cozinha e pegou uma pera. Harry
estava na parte de fora da casa, ela passou por ele sem nem ao menos olhá-lo. Ele, por sua vez,
achou melhor nem chamá-la ou tentar conversar naquele momento. Viu quando um carro
passou em frente à casa, era Phillip. Pressionou os olhos tentando buscar autocontrole.
Victoria simplesmente entrou no carro.
Harry pegou sua moto e dirigiu por cinco minutos, logo estava na escola.
— E aí Harry? Como você está? — Victor disse animado ao ver o amigo entrando na
sala.
— Eu estou legal. — Respondeu sem nem metade da empolgação do outro, sentou-se e
colocou seus fones de ouvido. Queria ficar um pouco sozinho e pensar no que faria para
desatar esse nó que se formou dentro do seu coração.
Black estranhou o comportamento de Harry, mas resolveu deixar para conversar com ele
depois, já que percebera que ele gostaria de ficar sozinho. Sentou e ficou conversando com
seus amigos do time de futebol, estes estranham completamente quando ele interrompeu a
conversa para ir em direção à Bia, a garota digamos... Menos popular da sala e se era possível
concluir, de toda a escola.
— Oi, Bia. — Cumprimentou-a sorrindo.
— Oi — ela disse, colocando seus cadernos e livros na mesa.
— Eu sei que eu não mereço, ainda mais depois de ter sujado seu vestido na festa da
Carly. — Deu uma risadinha sem graça. — Mas é que eu estou precisando mesmo de ajuda
com a matéria, será que... — ele não terminou de dizer.
— Claro, eu já disse que te ajudo. — Ela afirmou balançando a cabeça.
— Ah, que ótimo, pode ser depois da aula? — sugeriu e ela engoliu seco, nem teve
tempo para se preparar e já iria acontecer um contato como aquele. Ele olhou-a nos olhos
buscando a resposta.
— Tudo bem. — disse baixo.
— Pode ser na minha casa? — a garota se assustou, pensou que seria na biblioteca ou
outra parte da escola. Apenas conseguiu assentir apesar de não ter tanta certeza de que
conseguiria explicar tanta matéria para o garoto pelo qual era apaixonada sem gaguejar em
cada palavra. — Hoje?
— Pode ser. — respondeu antes de se dar conta de que seria mesmo hoje o dia que
estudariam juntos. Victor abriu um sorriso, um dos que fazia o mundo de Bia chacoalhar, ela
segurou seu fôlego e seu coração e se sentou em seu lugar.
Logo o professor entrou na sala. Começou a escrever algo no quadro e de repente entram
na sala Phillip e Vick aos risinhos.
— Estão atrasados! — O professor decretou imponente e aborrecido pela interrupção.
— Foi mal aí. — Phillip disse como se não fosse grande coisa, segurou a mão da Vick e
os dois entraram.
Quando estava entrando dentro da sala, Victoria foi sendo metralhada com muitos
olhares, praticamente todos ali olhavam para ela. Não apenas olhavam, como também
cochichavam umas com as outras.
— O que foi? O que está olhando? — perguntou, perdendo a paciência com um garoto
cujo nome ela nem sabia. Ele estava olhando-a intensamente e mordendo os lábios.
— Quando vai fazer um striptease de novo? — Ela ouviu de um garoto que estava um
pouco distante. Ficou sem reação.
Todos da sala falavam sobre aquilo com certeza. Ela se sentia mal, enjoada por tudo
aquilo, e só de olhar para as risadinhas e cara de deboche de Karolinne e suas amigas tinha
vontade de voar em cima delas ou de sumir dali imediatamente. Não podia fazer isso, a aula já
iria começar e o professor ordenou que os dois se sentassem.
Eles foram para uma das últimas fileiras.
— Do que eles estão falando? — Phillip perguntou para Vick.
— Depois eu te falo — respondeu sem muita vontade de tocar naquele assunto, havia
bebido e exagerado demais na performance, mas isso não dava o direito de todos a julgarem,
pensou a garota que ficou em seu canto calada a aula inteira.
As aulas passaram rápido e no intervalo, Jones ficou com suas amigas, preferia assim,
gostava muito de ficar com Phillip, mas não se dava tão bem com alguns amigos e amigas
dele. Além disso, precisava ficar a par de detalhes da noite passada, havia se lembrado de boa
parte do que ocorreu, só queria confirmar que não esquecera nada.
Logo suas amigas contaram tudo o que aconteceu.
— Ainda bem que o Harry te tirou de lá, ele se preocupa mesmo com você — Bia
complementou, reconhecendo o ato cuidadoso do irmão postiço de sua amiga.
— Não sei disso... — revirou os olhos sem acreditar muito naquela afirmação de Bia,
apesar de saber que Harry havia demonstrado atenção.
— Se ele não ligasse, apenas te deixaria lá para pagar mico. Mas apesar de você ficar de
birra, ele te pegou e te levou pra casa. — Elis falou tentando mostrar que Vick deveria
agradecer à Miller.
— Nunca pensei que ele fosse assim, do tipo protetor. — Maria elogiou com surpresa.
— Verdade, mas deu para perceber que ele é, sim. — Victoria respirou fundo assim que
Maya disse isso. Ela estava farta de falar sobre isso, ainda mais porque tratou Harry tão mal
pela manhã.
— Ah, OK, meninas — falou, cortando o assunto. — Não quero mais falar disso.
— Vocês vivem brigando, mas dessa vez você realmente deveria agradecer a ele. — A
irmã de Victor insistiu. Achava que era a verdade e que precisava ser dita.
Não vou dizer obrigada para aquele garoto de jeito nenhum, pensou espontaneamente
Jones. Apesar de em sua consciência saber que precisaria fazer isso.
O sinal logo bateu, todos voltaram às suas salas. A garota ainda atordoada com os
últimos acontecimentos estava entrando na sala quando foi puxada com violência. Sentiu dor
em seu braço que estava sendo apertado, olhou em direção a quem estava fazendo aquilo. Era
Phillip e ela não entendia o que estava acontecendo.
— Mas o que é isso? Você está me machucando — falou raivosa, seja o que for que
estava se passando com ele não tinha o direito de tratá-la daquela forma tão violenta. Foi sendo
puxada pelo garoto, que estava bem alterado e nervoso.
Chegaram em um lugar mais escondido que não tinha quase ninguém passando perto do
pátio agora vazio com o término do intervalo.
— Por que está tão nervoso assim? — perguntou assim que viu o garoto parar de andar,
firmar seus pés no chão e passar a mãos em seus cabelos claros transtornado.
— Não se faça de sonsa, você estava dançando igual a uma vadia na festa da Carly. — A
garota entreabriu seus lábios. — Achou que eu não ia descobrir? Está me achando com cara de
palhaço? — gritou e ainda segurava o braço da garota com força.
— Me solta! — forçou seu braço e conseguiu soltar-se, fechou suas mãos em punho. —
Não fala assim comigo! Para de gritar. — Cerrou os olhos.
— Eu grito na hora que eu quero e com quem eu quero. — Jones cruzou os braços
tentando verificar quem era aquele ser que despejava besteiras na sua frente. — Todo mundo
da escola está falando de você, e eu que fico mal na fita. — Ela uniu suas sobrancelhas.
— O quê? Phillip...— ela estava tão chateada com as palavras e atitudes dele que nem
queria ter que discutir, mas tinha que dizer algo. — Não estou te entendendo, não somos
namorados! — falou firme. E mesmo que fosse, não achava que ele podia tratar alguém
daquela forma.
— E o que nós somos? A gente faz coisas que namorados fazem — ele disparou e
encostou seu corpo ao dela.
Jogou seu corpo contra o de Victoria, fazendo as costas da menina se chocarem contra a
parede. Tentou beijá-la, mas ela prontamente o empurrou. Gritou para que ele saísse de perto
dela. Quando estava tentando sair de perto dele, foi mais uma vez segurada.
— Você está se achando demais, garota. Eu até gosto de garota difícil, mas você já está
tirando minha paciência. — Definitivamente, Vick nem acreditava no que estava acontecendo.
— Nenhuma garota dessa escola jamais me recusou. Você acha que é quem?
— Não estou te reconhecendo, Phillip. — Cerrou os olhos. — Eu não te prometi nada,
quer saber... Me larga, me deixa sair — disse, irritada. Já havia chegado ao topo de sua
irritação e se ele dissesse mais alguma coisa capaz de não aguentar e partir para a violência
física.
Phillip negou e não largou. A garota bufava de raiva e também de tristeza porque
certamente o que ele estava fazendo era lamentável. Além de machista, estava agindo com
brutalidade.
Nev, um dos melhores amigos de Harry, havia saído para beber água e avistou a garota
aparentemente nervosa falando com Phillip.
— Oi Vick, está tudo bem aí? — Phillip olhou para trás com ódio no olhar ao encontrar
o loiro.
Após ter uma breve discussão com Nev por ele estar se intrometendo em algo que não
foi chamado, Parker decidiu acabar com aquela conversa, não sem antes dizer que Victoria
estava errada no que estava fazendo com ele.
Ela estava chocada com o jeito do Phillip, aquele não era ele. Não pode ser, sempre a
tratara tão bem, e agora fazia aquilo, completamente o oposto. Com certeza contaram sobre a
festa e sobre seu vexame, mas isso não era motivo para que ele fizesse aquilo. Sua cabeça dava
voltas e voltas.
— Ele te machucou? — O garoto que a ajudara perguntou, preocupado.
— Não Nev, eu só... — colocou a mão em sua testa pensativa, percebeu que tremia um
pouco. — Eu não estou me sentindo muito bem, acho que vou para casa. Nev se prontificou a
avisar a partida mais cedo para as amigas de Victoria para que elas não ficassem preocupadas
assim como pedira a garota.
Jones foi até a secretaria e pediu para sair mais cedo. Depois de muita insistência
conseguiu permissão. Não teria condições de continuar em uma aula no ambiente de pessoas
que estavam julgando-a e muito menos na de Phillip, que a fez ter se arrependido de algum dia
ter tido algo com ele.
Foi direto para casa. Caminhou a passos rápidos, só queria chegar logo em sua
residência.
Assim que chegou, tomou um banho e ficou assistindo filmes no seu notebook. Precisava
distrair sua mente e não ficar pensando tanto no que acontecera, mas era uma missão
impossível. Sabia que havia extrapolado outra vez na bebida. Talvez, sua própria
personalidade seria sua maior inimiga, mas ela não havia feito algo de tão drástico. E nem que
Phillip fosse realmente seu namorado, ou até seu marido, ele não tinha nenhum direito de
segurá-la como fez e de gritar daquela forma. Ainda se sentia paralisada e desacreditada em
tudo que aconteceu.
Nev retornou à sala imediatamente após a saída de Victoria da escola. Phillip também foi
assistir as últimas aulas, sua expressão era séria, de poucos amigos.
As meninas se perguntaram onde Vick estava e o irlandês apenas disse que ela estava
passando mal e foi para casa.
Harry, que estava a poucas cadeiras de distância. ouviu a informação e quis saber mais.
— Como assim passando mal, Nev? — perguntou baixinho para não atrapalhar a aula de
Química que acontecia.
— Ela ficou mal porque estava brigando com o Phillip, algo assim — ele respondeu
somente para que o amigo ouvisse. Já que sabia que os dois eram como ''irmãos'' não viu
problema em deixá-lo a par do que estava acontecendo.
Harry não disse mais nada, ficou quieto fingindo prestar atenção na nos processos físico-
químicos que a professora descrevia.
No fim da aula, todos saíam indo em direção às suas casas. Miller já estava quase
chegando até sua moto para fazer o mesmo quando ouviu a voz de Louis o chamar.
— Eu queria falar com voc. Está tudo bem mesmo entre a gente, né? — disse, segurando
seu ombro. Ele se referia ao desentendimento que os dois tiveram por causa da inusitada
amizade entre Louis e Victoria.
— Está, sim — falou, assentindo. — Não quero mesmo brigar com você por causa dela.
— Louis fez uma cara triste.
— Nem eu. Mas, por falar nela, o que aconteceu? Por que ela foi embora mais cedo? —
perguntou com preocupação.
— Sei lá. — Passou a mãos nos cabelos. — Eu já estava indo mesmo para casa. Quer ir
lá passar a tarde jogando? — sugeriu. Mesmo não sendo mais vizinhos, eles pretendiam manter
a amizade.
— Hoje não dá, eu combinei de encontrar a Elis na sorveteria — disse, todo bobo com a
notícia.
— Hummm... Vai lá, então. — Harry comentou, animado. Estava feliz pelo amigo estar
enfim se acertando com a garota de quem realmente gostava.
— Manda um beijo para a Vick, espero que ela esteja bem.
— Eu espero que o mau humor dela tenha passado. — Riu e os dois se despediram.
©
Ainda no portão do colégio, Victor encostado na grade esperava por Bia, sua parceira de
estudos.
Observava os alunos se dispersando para suas moradias, até que avista sua irmã
passando com um sorriso imenso nos lábios, claramente feliz.
— Onde você vai toda alegre? — perguntou desconfiado, chamando a atenção da
menina, que leva um susto porque achava que o irmão já havia ido para casa.
— É... Eu vou na casa da Bia, vamos passar a tarde juntas. — Maya mente, confiante.
Vê quando o irmão cerra os olhos e depois passa a mão no lábio inferior.
— É mesmo? Uau, então Maya, eu vou estudar com a Bia hoje. — Declarou, pegando a
irmã na mentira.
— Ah, eu falei Bia? Não...— riu dando uma tapinha no vento. — Eu quis dizer... Maria.
Victor não parece ter acreditado cem por cento no que a irmã dizia, mas deu de ombros. — Já
tenho que ir irmãozinho lindo, estuda bastante porque você está precisando. — Piscou
sorridente e saiu. Ele já estava acostumado com as zoações da irmã, é certo que sua falta de
dedicação atrapalhava e muito seu desempenho.
Logo Bia aparece e Victor a chama. Ela toma um susto, mas logo os dois caminham até
o estacionamento, o carro de Black não era dos melhores. Seu pai possuía muito dinheiro,
porém acreditava que seu filho deveria conseguir seu primeiro carro às custas de seu esforço.
Ele trabalhou aparando gramas e limpando piscinas até poder comprar seu veículo que estava
mesmo precisando de reforma.
A garota foi abrir a porta, mas não conseguiu, parecia emperrada, ele a ajudou e com um
jeitinho a porta se abriu. Entraram e foram pelas ruas do centro, os primeiros minutos em um
total silêncio, Bia fingia ver alguma coisa no celular. Estava nervosa, não sabia o que dizer e
nem que assunto começar.
— Você gosta de algum tipo de música? — Black questionou ao ligar o rádio rompendo
o silêncio do carro.
— Não sei, gosto de tudo um pouco.
— Você vai precisar ser um pouco mais específica para que eu te conheça melhor. —
Ele a olhou e a fez tremer. Então, ele queria conhecê-la melhor, isso girou na cabeça de Bia.
— Ah, eu não sei, gosto de coisas variadas, alternativas... Sei lá. — Realmente, seu gosto
pela música não era o padrão do que a maioria dos jovens ouvia, como pop ou hip hop. Ela não
queria fazer Victor achá-la tão esquisita. Ele a mediu com o olhar.
— Às vezes parece que você tem medo de mim... — declarou. — Calma, eu não mordo,
só quando me pedem. — Sorriu com a língua entre os dentes. Seu jeito safado só fazia com
que ela sentisse mais atração ainda por ele.
Bia o olhou e balançou a cabeça sorrindo de leve. A verdade é que estava entrando em
combustão e tentava providenciar mil formas de parecer confortável, ainda mais passando
horas estudando frente a frente do garoto que ela desejava havia tantos anos.
Não demorou muito para que chegassem até a casa do garoto.
— Vamos comer alguma coisa. — Ele falou assim que passaram pela porta.
— Não estou com fome — disse, tímida. O garoto seguiu para a cozinha.
— Hummm, tem torta de frango — gritou de lá.
A garota acanhada seguiu até o cômodo em que Victor estava. Percebeu que não ia
resistir àquela incrível torta assim que a viu. Os dois começaram a comer e rapidamente
acabaram.
— Isso não é o comportamento de alguém sem fome — disse e Bia corou.
— Ah, isso aqui está realmente bom. — Elogiou. — Black disse que foi sua mãe mesmo
quem preparou a comida. — Ele colocou os pratos na lava-louças.
— Onde você prefere estudar? — ele perguntou, não muito acostumado em formar
grupos de estudo.
— Sei lá, estamos na sua casa, você escolhe.
— OK, então vamos para o meu quarto. — Ela se assustou com a resposta imediata,
novamente iria entrar no quarto dele, um lugar que era rodeado por seus objetos, móveis,
cheiro, ela adorava aquele lugar, seguiu-o até o quarto
Ele estava mais arrumado do que a última vez que entrou. Black pegou alguns cadernos
e livros e colocou sobre a sua cama.
— Você quer começar com qual matéria? — ela questionou sentando na cama, pelo que
sabia, Victor estava precisando de auxílio em muitas matérias, umas mais que outras.
— Que tal... Matemática? — Ele fez uma cara ruim. Não era uma matéria de que ele
gostava. E era uma das que mais estava se prejudicando.
— OK, vamos lá. Em que parte da matéria você está mal? — ela perguntou para
organizar sua metodologia de ensino.
— Eh... — Ele coçou a cabeça pensativo. — Acho que... Toda ela. — Colocou a mão no
rosto um pouco desesperado.
— Hummm, interessante. — Riu. — Sem problemas. Então, vamos começar pelo
começo — falou com empolgação, ela queria mesmo ajudá-lo.
Victor se sentou na cama e Bia começou a ensiná-lo aos poucos. Realmente, aquela
matéria do segundo ano não era nada fácil. Mas a falta de interesse do garoto nos meses
anteriores só fez as coisas piorarem ainda mais. Porém, a garota tímida era boa em ensinar o
que sabia e a mente de Black começava a clarear em relação à matéria.
— Caramba Bia, você é muito inteligente. — Elogiou-a com admiração. — Deve ser
demais ser assim, saber das coisas tão facilmente. — Deitou na cama cansado depois de horas
de Matemática, fechou os olhos e Bia ficou olhando para ele. Naquele momento ela podia
olhar sem medo para toda a extensão de beleza do corpo dele.
— Obrigada, mas não é fácil, eu sei a matéria porque estudo muito. — Declarou.
— Ah, mas acho que você já nasceu com esse dom aí. Sério, muito obrigada mesmo por
me ajudar. — Agradeceu.
Black sentou na cama e a abraçou com gratidão, no começou Bia estava completamente
sem jeito, mas logo sentiu seu corpo amolecer junto com o dele. Sentir seu perfume invadindo
suas narinas e o calor daquele corpo com o qual sempre sonhara era uma sensação que a
preenchia totalmente.
Até que uma voz chega de surpresa faz seu coração pular.
''Oh, não sabia que estava com uma garota em casa, filho.'' — Era a Sra. Black, mãe de
Maya e Victor.
Victor soltou Bia e olhou-a rindo, ela estava muito vermelha.
— Ah, mãe, ela não é uma ''garota'' — fez aspas com a mão. — É uma amiga, a Bia,
aquela que eu disse que iria me ajudar a estudar. — Bia estava sonhando acordada, mas ao
ouvir isso de Victor ficou claro que ela nunca teria chances com ele. Afinal ele nem a
considerava uma ''garota''. Pensou desapontada.
— Eu já conheço ela. Oi querida, como vai? — Bia se levantou e a cumprimentou
educada. Já se conheciam porque Maya apresentou suas amigas, inclusive Bia, à sua mãe.
— Bem, obrigada! — sorriu um pouco sem graça.
— Ainda bem que você tomou jeito e resolveu estudar pra valer. — Falou para seu filho.
— E que bom que você está ajudando, sempre soube que era uma boa garota. Alguém tem que
colocar esse menino nos trilhos.
— OK, mãe. Também não vai ficar falando mal de mim, né? — colocou a mão na
cintura.
— Tudo bem, eu trouxe um lanchinho. Não estão com fome? — perguntou.
— Ah sim, nós estamos. — respondeu animado. Todas aquelas horas de estudo o
deixaram com um enorme apetite.
— Na verdade, eu já tenho que ir embora...— Bia falou baixo.
— Ah, que isso? Eu faço questão, vou colocar as coisas na mesa, vocês vão depois. — A
mãe disse e saiu do quarto deixando os dois novamente à sós.
Bia começou a juntar seu material sem dizer nenhuma palavra. Victor a ajudou.
— Você tem mesmo que ir? — ele perguntou um pouco triste por ela não poder ficar
mais. Gostava de sua companhia, os dois deram boas risadas, achou que seria um tédio ter que
estudar tanto, mas acabou sendo leve e ele sabia que era graças à garota.
— É eu vou, é melhor mesmo. — Victor sentiu algo no tom da menina, ela não parecia
bem.
— Você está estranha, o que foi? — tocou seu ombro.
— É, eu sou meio estranha. Nem uma garota eu sou, não é mesmo? — declarou
magoada. Não conseguiu esconder sua chateação com as palavras dele.
— Ah... — falou se dando conta de que falou bobagem. — Acho que você não entendeu
o que eu quis dizer, Bia. Não que você não seja uma garota, é claro que é, mas é que... Não o
tipo de garo... — Ela o interrompeu, não queria mesmo ter que ouvir mais, ainda por cima
coisas que fossem afetá-la mais do que já estava.
— Não precisa se explicar, Victor — falou, tentando parecer que já estava melhor. Não
conseguiu tanto, colocou sua bolsa nos ombros. — Eu já vou indo.
— Eu te levo — ele disse, se oferecendo para levá-la.
— Não precisa. E não se preocupe, eu continuarei te dando as aulas. — Sorriu
falsamente e saiu.
Ao sair, se despediu da Senhora Black, que insistiu para que a garota ficasse, mas Bia
deu mil desculpas falsas para sair dali logo. Só queria ir para casa.
Ficar tão perto de Victor não era algo fácil para ela. Em sua cabeça se passavam tantas
coisas, tinha medo de se machucar, medo de acabar se iludindo. As palavras do garoto, apesar
de terem a magoado, foram como âncoras que a puxaram para a realidade. Trazendo-a para a
verdade: não tinha chances com Victor, ela pensava.
Ele se sentou na mesa para lanchar com sua mãe.
— Ela é uma ótima garota — a mulher falava enquanto tomava café. — Por que não
namora com ela? — disse de repente e seu filho assustou-se.
— O quê? Está louca, mãe? — disse, como se ela tivesse dito algo insano. Para ele, era
realmente insano.
— Qual o problema? Ela é bonita, inteligente, doce, educada... Não vejo motivos para
todo esse espanto. — Realmente, ele concordava com os atributos que a mãe dera à Bia, só que
nunca tinha pensado na ideia de namorar com ela.
— Sei lá mãe... Somos de grupos diferentes, eu não sei... Isso nunca tinha me passado
pela cabeça. — Ele estava tentando processar aquela ideia de sua mãe.
Realmente, era a primeira vez que Victor pensava em Bia daquele jeito... Ele gostava dos
olhos dela e de como sorriam, meigos. Achava bonitinho a paciência que tinha para ensinar-lhe
as coisas. Mas... Parece que tinha um bloqueio para pensar nela como uma namorada. Seria
loucura. Ele pensava.
Nev e Maya passaram a tarde juntinhos assistindo a filmes variados na casa dele. A
garota obviamente havia mentido para seu irmão sobre o destino de seu dia. Estavam deitados
de frente um para o outro.
—Você tem que parar de ser assim tão linda... Isso está me aterrorizando — disse e
olhou-a profundamente.
— E seus olhos têm que ser um pouco menos azuis e brilhantes, isso fica me
humilhando. — Fez biquinho. Os dois realmente eram muito carinhosos um com o outro.
— Eu preferia ter meus olhos da cor laranja a ter que passar mais um dia da minha vida
sem olhar para seus olhos castanhos. — Sorriu e Maya começou a rir.
— OK, isso foi estranho, mas como tudo que sai da sua boca, fora os palavrões, foi
muito fofo. — Deu-lhe um selinho.
— Eu nem falo tantos palavrões assim — declarou.
— Ah não, né? — Fala irônica. — As partidas de videogame que o digam.
— Vamos parar de falar sobre isso e fazer algo mais interessante. — Ele a olha
maliciosamente.
Nev chegou perto de seus lábios e apenas os tocou lentamente, fazendo Maya, que estava
de olhos fechados, suspirar. Ele passou a mão sobre a barriga e cintura da garota, que se
arrepiou instantaneamente com o toque. Começaram um beijo intenso e quente.
Logo a garota se animou mais ainda, ela estava pegando fogo. Passou a mão pelo corpo
dele, Nev já estava sem camisa. Beijou seu pescoço lentamente, ficando por cima. Ele desceu
as duas mãos pelo seu corpo e a apalpou, segurando firme.
— Nev... — sussurrou em seu ouvido. — Eu quero você! — falou quente. Era seu
desejo.
— Eu também... — Ele sentou e ficaram abraçados um de frente para o outro, enquanto
Maya se movimentava em seu colo.
— Sua mãe chega quando? — ela perguntou, porque estava mesmo tendo ideias para
aquela tarde.
— Não pode ser aqui, né? — ele disse cortando a possível sugestão que ela faria. —
Quero que seja especial — disse, mordendo o pescoço dela. Ela se alegrava por saber que ele
pensava nela com tanto carinho e respeito.
— Eu também. Nossa primeira vez juntos. — Sabia que seria importante só por ser com
alguém tão incrível como ele.
— É, e tem que ser tudo perfeito, eu sei que é um momento especial, principalmente para
as garotas...
— Para as garotas? — perguntou, confusa. Eles eram um casal, ela não entendeu muito
bem o que ele quis dizer.
— É, sabe... A primeira vez. — Olhou-a e sorriu colocando uma mecha de seu cabelo
para trás com delicadeza. Maya ficou super sem graça. Ele tinha se enganado em relação
aquilo.
— Nev, baby...Eu não sou mais virgem. — Sorriu sem graça. Nunca pensou que ele iria
achar que era.
Ele ficou visivelmente surpreso, parecia espantando ou algo do tipo. Ele se movimentou
para trás pensativo e Maya saiu de seu colo.
— O que foi? Por que essa reação? Eu nunca te disse que era. — Ela falou sem
compreender porque ele estava agindo daquela forma, se mostrando tão incomodado.
— Eu pensei que fosse... Você disse que nunca namorou ninguém...— parecia perdido
em pensamentos.
— É, nunca namorei. — Confirmou cruzando os braços.
— Nossa, hein? — Revirou os olhos e Maya se irritou, porque claramente ele estava
chateado por algo tão banal.
— Ah, tá bom Nev, não vou ficar aqui sendo julgada por você, OK? Não sabia que
estava aguardando uma freira, que eu não sou. — Declarou, ficando de pé.
— Por que você está gritando? — reclamou.
— Porque você estragou tudo, só isso — disse e saiu de perto dele, indo para outro
cômodo da casa.
O garoto tentou chamá-la, mas ela não quis conversa e, decidida, chamou um táxi
rapidamente enquanto colocava os sapatos e foi embora.
Sua primeira vez foi horrível, com um cara que não prestava, não a merecia. Agora, pela
primeira vez se arrependia um pouco disso, nunca achou que perdê-la faria importância em
algum momento de sua vida. Mas acabou fazendo. Se tivesse esperado, poderia, quem sabe,
perder com Nev, que era quem realmente amava. Só que já era, já foi, não tem como voltar
atrás. Ele não pode cobrar alguma coisa de mim, e não ser mais virgem não diminui o amor
que sinto por ele e nem muito menos o meu valor como pessoa, pensou Maya enquanto
lacrimejava de volta para casa. E, estava muito irritada pelo que tinha acontecido.
Chegou em casa e tentou ficar normal. Sua mãe estava na cozinha e assim que viu a filha
soube que alguma coisa estava errada. Maya não conseguiu se segurar e começou a chorar.
Acabou contando tudo à sua mãe, sobre seu relacionamento com o Nev. E que era difícil
mantê-lo em segredo. A Sra. Black, percebendo todo o envolvimento de sua filha naquele
relacionamento, prometeu conversar com seu marido e disse que se ela gostava mesmo do
namorado tinha mesmo que viver esse amor com responsabilidade, mas sem que nada pudesse
atrapalhá-lo.
A várias quadras dali um garoto com os olhos tristes e cansados de olhar para a flor que
segurava nas mãos, enfim desistira de ficar plantado esperando por alguém que nunca iria
aparecer. Louis pediu a conta que traria o preço total dos três sucos que pediu enquanto
aguardava Elis na sorveteria. Ela não apareceu, ele estava arrasado e com ódio no coração.
Pagou a conta e jogou a flor murcha no lixo.
Ligou seu carro e dirigiu até sua casa, desapontado. Certamente, aquele foi um dos
piores dias da sua vida. Ele havia levado um bolo da garota que mais gostava. Achou que tudo
ficaria bem depois que os dois ficaram na festa de aniversário de Carly, mas depois de ficar
horas esperando convenceu-se do contrário.
Chegou em casa e sua mãe perguntou como foi o encontro. Ele não respondeu nada e
subiu até seu quarto.
Elis estava tranquilamente em casa ajudando seu irmão caçula no dever de casa. Sua mãe
obrigou a fazer aquilo e só então teria seu celular de volta. Enfim, conseguiu o que queria.
— Obrigada, mãe — disse sem ânimo. — Assim que pegou o celular viu sete mensagens
e foi quando as abriu que seu coração pulou. — Oh não, o encontro com o Louis — disse alto e
colocou a mão na boca.
Começou a se xingar mentalmente, pegou seu sobretudo e com a roupa que estava por
baixo ficou. Não acreditava no enorme vacilo que havia cometido. Claro que ele já foi embora,
pensou. Correu até a casa dele que ficava a algumas ruas das sua. Bateu na porta e a mãe dele a
abriu.
— Oi, Sra. Williams. Eu posso falar com o Louis, por favor? — perguntou
educadamente.
— Ah, querida, eu não sei se ele está muito bem, chegou aborrecido e se trancou no
quarto. Aconteceu alguma coisa? — ela perguntou, preocupada.
— Aconteceu, eu sou uma estúpida. Deixa eu tentar falar com ele, por favor? — Juntou
as mãos como se fizesse uma oração, implorando para que pudesse ter a oportunidade de se
explicar.
— Claro, vai até lá. — Deu passagem para que ela entrasse.
Elis foi rapidamente e parou em frente a porta do garoto.
— Louis... — bateu na porta. — Olha, me desculpa... Eu quero falar com você, por favor
abre a porta — disse com a boca próxima à madeira da porta.
— Sai daqui, o que veio fazer aqui? Sai! — gritou. Ele estava muito surpreso em ouvir a
voz dela ali em sua casa, mas era a última pessoa que gostaria de ver naquele momento.
— Ah, por favor... Eu sei, eu sei, fui uma idiota, desculpaaaa! — implorou.
— Já disse para ir embora — respondeu, bravo.
— Pois eu não vou. Só vou sair quando você abrir a porta e ouvir o que eu tenho para te
dizer.
Elis ficou minutos sentada na porta de Louis e ficou repetindo: ''Eu ainda estou aqui'' a
cada trinta segundos. Louis estava ficando sem paciência, ele ficou plantado horas igual a um
bobo que leva bolo dos outros e ainda tinha que ficar aturando a garota ali em sua casa — dizia
seu consciente.
Depois de muita insistência, ele abriu a porta. Elis olhou para cima e o viu. Ele estava
sem camisa e com calça jeans.
— Ai, Louis, desculpa? — levantou-se.
— Sério... Vai embora, você já me irritou muito por hoje. — Ele passava a mão na testa
impaciente.
— Lou, por favor... Eu estava sem meu celular, eu acabei me esquecendo, juro que não
queria. — Ela estava realmente envergonhada pelo que o fizera passar.
— Você só queria me humilhar para se vingar do que eu te fiz passar naquele tempo —
ela balançou a cabeça, negando.
— Claro que não. Por que eu viria aqui, então? — Colocou a mão na cintura.
— Para ser irritante, parabéns, está fazendo isso certo. — Ele cruzou os braços.
— OK, Louis, eu cansei por aqui, vim correndo igual uma idiota até aqui, fiquei
implorando para você abrir, eu sei que eu errei, mas já te pedi desculpas. Quer saber? Vou
embora. — Os dois trocaram olhares intensos, não se entendia muito bem o que eles queriam
dizer um ao outro.
— Pode ir... — Ela se virou para ir embora. Quando estava a quatro passos de Louis,
olhou para ele, que estava se apoiando na parede com aquele corpo bronzeado e descoberto.
— Quer saber? Você é tão... — Correu até ele e agarrou seu corpo. Ela empurrou-o para
dentro do espaço. Cravou suas unhas nas costas nuas dele, que fechou a porta do seu quarto.
Começaram a se beijar. Louis colocou-a na cama e ela não tirou as pernas da cintura
dele. Elis começou a arranhar as costas do garoto, que já era todo arrepios.
Ele tirou o sobretudo da garota, que ficou apenas com o pijama que vestia antes de ir
para a casa dele. Isso que dá sair às pressas de casa. Ele mordeu o lábio ao ver a garota tirando
a blusa e ficando apenas de sutiã. Beijou-a e foi descendo, dando beijinhos e mordidinhas no
pescoço e no colo da garota, que gemia baixinho.
— Oh, não... Sua mãe está lá embaixo — sussurrou, lembrando daquele fato.
— Ela não vai se importar. — Continuou beijando-a.
— Ah, isso é bem estranho, mas muito excitante. — Mordeu os lábios de Louis
lentamente, os dois riram.
— Ah, é sim. — Mais uma vez ela foi incendiada pelo olhar intenso e malicioso do
garoto, somente aquelas duas pedras azuis podiam devorá-la por completo.
As coisas começaram a ficar quentes, estavam suados e já seminus, continuaram
beijando-se intensamente. Louis se ajoelhou na cama e admirou o lindo corpo da garota a sua
frente, o corpo que ele tanto desejou. Olhou seu rosto novamente e sorriu malicioso quando
percebeu que ela lhe permitia ir adiante.
Depois dos minutos dando prazer um ao outro, mas sem ir até o fim, decidiram parar por
ali. Os dois estavam satisfeitos. Elis colocou suas roupas novamente e Louis iria a levar em
casa. Ao passar pela sala, ela deu um tchauzinho para a mãe dele que piscou e sorriu. Será que
ela ouviu alguma coisa? Sim ou claro?
Louis e Elis chegaram até a porta da casa da garota.
— Então... Ainda está bravo comigo? — Sorriu maliciosa.
— Essa foi uma ótima maneira de fazer as pazes. — Falou, apreciando o inusitado fim
de um dia péssimo. Aquela visita acabou por transformar um dos piores dias em um dos
melhores de toda a sua vida.
— Não vai se acostumando muito. — Ela o empurrou de leve.
— Acho que não dá mais. Vou querer fazer isso todo dia. — Ele sorriu abertamente.
— Boa noite Sr. Williams. Ps: Isso fica entre a gente, OK? — Piscou.
— Como quiser. — Seu olhar esbanjava malícia mais uma vez, sua fiel companheira.
Louis a pegou pela cintura e deu-lhe um selinho especial. Elis entrou em sua casa e
cambaleou fechando a porta. Sentiu algo forte, um êxtase que a consumiu. Nunca havia sentido
isso antes e sinceramente desejava mais daquilo.
©
Pela primeira vez Harry tomava um delicioso banho de piscina em sua casa nova, estava
de noite. A água quentinha o aquecia, boiava na água olhando para as estrelas no céu.
Ele podia se acostumar com aquela vida boa. Até que a sua nova casa era bem legal.
De repente, Victoria chega e se senta em uma das cadeiras que ficam em volta da
piscina. Miller dava mergulhos e assim que voltou para a superfície levou um susto ao vê-la.
Desde que chegara em casa a garota estava trancada no quarto, ele tentou falar com ela, mas
sem respostas.
— Enfim saiu do quarto, hein? — Sentou na borda da piscina, ficando de lado para onde
ela estava. — Por que você foi embora cedo hoje? — Ele queria saber o que de fato ocorreu.
— Nada — disse ríspida e moveu seus ombros. Não queria falar sobre o assunto.
— Vejo que o seu mau humor ainda não passou. — Revirou os olhos.
— Não começa, Miller. — Deu-lhe uma cortada e então se lembrou de algo. — Eu
queria te agradecer por ter me tirado daquela festa, você nem tinha essa obrigação, mas fez
mesmo assim.
— Ah, até que enfim reconhecendo meu valor. — Ele sorriu, percebeu que ela não
estava em seus melhores dias.
— Minhas amigas falaram para fazer isso — ela disse, se lembrando dos elogios que elas
fizeram ao seu irmão postiço. — Ah, tá. Obrigada mesmo assim.
— Você não lembra de nada daquela noite né? — Victoria olhou-o confusa e pareceu
saber em que ponto ele queria chegar. Uma hora ela teria que encarar esse fato, sua culpa por
beber demais e perder o controle sobre suas próprias palavras.
— Está falando de eu ter dito que eu estava apaixonada por você? — foi direta.
— Você se lembra? — Ele levantou as sobrancelhas, achou que ela não iria se lembrar
ou que fingiria que não se recordava de nada.
— Infelizmente, sim. — Abaixou a cabeça sem saber o que falar a respeito dessa louca
confissão.
— E então? — Ele perguntou receoso.
— Não sei... — Ela levou as mãos até à sua cabeça.
Harry a chamou para sentar ao seu lado na borda da piscina. Sentia a necessidade de
poder dar um rumo ao que estavam vivendo. Talvez ele pudesse esclarecer o que estava
acontecendo e melhorar de vez a relação, mesmo sem ter certeza se isso ajudaria ou se só
pioraria mais a situação. Ela apenas atendeu ao chamado e foi até ele.
Talvez fosse o momento, acho que não tinha mais saída. Depois de tanto pensar sobre isso e
chocar contra a parede tantas vezes, era somente óbvio que eu estava gostando mesmo do
Harry.
Eram tantas evidências...
Não aguentava vê-lo nem ao menos chegar perto de outra garota e os momentos que
passamos juntos não saem da minha mente nem por um minuto. Até mesmo nossas brigas
fazem meu coração bater mais forte. Mesmo que eu esteja envolvida, ou estava, com Phillip, é
em Harry que eu quase sempre penso antes de dormir e assim que acordo.
Não tenho a mínima ideia de onde estou pisando, mas não consigo mais viver sem tê-lo
comigo. E sei que isso vai me causar problemas.
— As pessoas estavam falando muitas coisas na escola hoje, não é? — disse baixo. Eu
estava encarando a água da piscina, tão azul, tão limpa e calma, diferente da minha mente que
estava travando lutas internas, nem um pouco tranquila.
— Se cada um cuidasse da sua própria vida seria melhor. — Revirei os olhos. Aquelas
pessoas da escola me irritam, mas, no final das contas, não me importo tanto.
— Por que você foi embora cedo? Por causa disso? — ele perguntou, olhando bem nos
meus olhos. Sabia que uma hora ou outra ele ia acabar sabendo. Talvez Nev já até tenha lhe
contado.
—Também, mas é que... — pausei, lembrando de tudo que havia acontecido. — Sabe, o
Phillip não reagiu bem à notícia. — Minha expressão não conseguiu ficar branda, eu tinha
conhecido um novo Phillip, de quem eu não gostava nem um pouco.
— Ele não tava com uma cara muito boa. Vocês brigaram? — Olhei pra ele, que parecia
estar interessado de verdade, quase preocupado. Assenti.
— Ele não tem que ter ciúmes de mim, não somos namorados nem nada. — Reclamei
com um pouco da revolta pelo que ocorreu me envolvendo. Nunca imaginei que Phillip me
trataria assim tão mal.
Harry deu um sorriso de canto quando eu falei isso. Acho que ele tem o Phillip como um
concorrente, mas não é bem assim. Não é como se Parker fosse o que nos impedia de ficarmos
juntos. Era muito mais que isso, era o meu orgulho, o orgulho dele, nossos pais, a situação
toda. Era imensamente mais do que um garoto com quem eu estava ficando.
Apesar de em parte compreendermos tudo o que estava envolvido, ainda nos arriscamos
a ter um relacionamento proibido, em que uma das primeiras regras era exatamente nada de
sentimentos. Não poderia dar certo mesmo. Que grande tola eu fui. Lembro-me do dia em que
falamos de somente ficarmos sem nos apaixonar. Era tudo tão inocente, brincamos com os
sentimentos, debochamos do amor. E agora o destino nos castigou. Pelo menos, me castigou.
Porque eu estou sentindo exatamente aquilo que disse com segurança que nunca sentiria por
Harry.
— Victoria... Eu queria... — Que mania de falar tão lentamente! Ele não conseguia
terminar, parecia receoso de apenas dizer, eu fiz um gesto de incentivo para que ele dissesse de
uma vez. — Tenho saudades... — Meu coração deu um pulo quando ele disse isso, senti
alegria e tristeza junto, porque era real, estávamos mesmo envolvidos demais. — Não gosto
quando a gente briga daquele jeito.
— Nem eu...Desculpa ter falado aquilo. — Abaixei a cabeça. Respirava fundo como se
aquilo fosse tirar a aflição do meu peito.
— Aquilo sobre eu ser um idiota, ridículo e etc.? — riu, irônico.
— Não, isso é um fato — afirmei rindo e ele continuou gargalhando. Até a risada dele
conseguia ser perfeita, aquilo só me sufocava. — Foi mal ter falado que eu estava... — Forcei
minha garganta, era tão difícil dizer aquilo outra vez — ...apaixonada por você. — Ele
arregalou os olhos em direção a mim. Logo depois olhou para a piscina e balançou a cabeça
como se estivesse tentando compreender.
— Você só disse isso porque estava bêbada, não é? — ele questionou, um pouco
desanimado.
— Sim e não — respondi porque era verdade. Eu nunca diria se não estivesse alterada,
mas não é mentira. Só não queria dizer isso para ele, não agora.
— Como assim? — perguntou, confuso.
— A gente precisa mesmo falar disso? — Estava me sentindo desconfortável e com
medo. Medo de em raros segundos soltar tudo que estava sentindo de uma vez.
Talvez não tivesse problema em adiar mais um pouco uma conclusão dos meus
sentimentos. Até porque eles podem ser somente uma fase, um problema passageiro que vai
sumir com o tempo. Talvez, tudo fique bem outra vez.
— Tudo bem... — ele falou um pouco desconfiado. — Enfim, fizemos as pazes? De
novo? — Sorriu. Parece que nossa vida se resume a brigas e reconciliações, às vezes nem nos
reconciliamos oficialmente e já brigamos de novo.
— Sim, fizemos — eu disse, firme.
Ele começou a aproximar o rosto do meu, estávamos lado a lado. Seus olhos estavam
próximos aos meus e brilhavam como a luz das estrelas. Seus lábios carnudos quase
encostavam nos meus. Quando íamos nos beijar, uma ideia surgiu em minha cabeça, decidi
aprontar com ele. Seus olhos já estavam fechados, juntei toda a força que eu tinha e o empurrei
na piscina com tudo. Ouvi o corpo dele se chocar contra a água e comecei a rir sem parar.
Harry ficou uma fera, logo vejo ele saindo da água e vindo e minha direção. Não tenho
tempo de protestar, eu levanto para correr, mas ele me joga na piscina de roupa e tudo.
Começamos uma lutinha de água. Eu joguei água no rosto dele e de repente Miller parou
e colocou a mão no rosto como se tivesse machucado.
Fui até ele para tentar ajudar, mas quando cheguei muito perto senti as mãos dele
pressionarem minha cintura muito forte. Ele olhou para mim com os olhos ardentes e
maliciosos. Jogou-me contra a parede da piscina. Envolvi minhas pernas na cintura dele e ele
segurou minhas coxas.
Começou a beijar meu pescoço, estávamos molhados e isso só deixava as coisas mais
excitantes. Quando enfim nossos lábios se tocaram, eu tive certeza de que queria fazer aquilo
por muito mais tempo na minha vida. Era tão... Diferente de tudo que eu já havia
experimentado. Era um toque só dele que me levava até as alturas. Não tinha nada igual.
Não paramos de nos beijar mais, até que ouvimos passos e vozes vindo em direção à
piscina, nos afastamos rapidamente. Harry mergulhou. Eu sentei na borda da piscina.
Devidamente separados.
— Ali estão eles — disse Anne animada, seguida por uma senhora que eu não conhecia.
— São lindos, pensei que fossem menores. Já estão praticamente criados — disse
animadamente a mulher que acompanhava minha madrasta, devia ser uma amiga dela.
— Crianças, essa aqui é a Carmen, ela vai nos ajudar aqui na casa de agora em diante —
ela apresentou. Oh, fiquei sabendo que meu pai e Anne queriam mesmo alguém para arrumar a
casa, já que era muito grande e os dois estavam trabalhando bastante.
Carmen era uma mulher que provavelmente já deveria ter mais de 50 anos, parecia ter
ascendência latina e, pelo seu nome, acredito que sim. Anne acrescentou que ela ajudaria com
a casa apenas por meio período. As duas seguiram para dentro outra vez depois que nós dois
cumprimentamos Carmem.
Saí da piscina, mas antes olhei para Harry e disse: ''Passa no meu quarto de noite'',
apenas para que ele ouvisse. Seu sorriso foi o bastante para meu coração pular de alegria. Era
tão impressionante como me sentia melhor estando junto dele. Subi as escadas suspirando,
aquilo era muito novo para mim.
Eu coloquei meu pijama e estava pronta para dormir. Deitei na cama e fiquei ouvindo
música com meu fone de ouvido. Deixei a porta aberta, olhei em volta e meu novo quarto era
lindo, estava incrivelmente decorado, agora tinha meus toques pessoais, praticamente já me
adequei ao novo ambiente.
Olhei no relógio e já passava da meia-noite, acho que é melhor dormir. Apaguei as luzes.
Logo fui adormecendo ao som das minhas canções preferidas.
Um hálito fresco respira profundamente no meu pescoço. Arrepio-me assim que isso
acontece. Levo minhas mãos ao encontro de seus cabelos, não vejo nada, mas posso senti-lo.
Seu toque, seu cheiro.
— Harry... — sussurrei em seu ouvido e ele fez o mesmo com sua voz rouca dizendo
meu nome de um jeito que me fez sentir cócegas no estômago.
Harry foi para debaixo do meu edredom e começamos a nos beijar intensamente. Meu
corpo fervia, eu tirei a camisa dele e pude sentir seu corpo grudado ao meu. Por um impulso
levei minha mão até o seu membro e senti sua reação. Estávamos sem dúvida na mesma
situação.
Invertemos as posições e eu agora beijava o pescoço e colo dele lentamente. Sua pele era
tão macia e tão quente, parecia ser feita para que eu a tocasse.
— Eu já te falei que você beija muito bem? — disse baixinho enquanto recuperávamos o
fôlego.
— Algumas vezes você sussurra ''Oh que gostoso'' ou ''Delícia'' então... — falei, boba. —
Acho que eu já sabia da sua paixão pelos meus carinhos — disse bem-humorada. Eu estava tão
melhor do que quando acordei, nossas vidas mudam a todo momento.
— Nem se acha, não é mesmo? — Ele beijou minha testa.
Aquilo foi tão inesperado e atencioso. Ficamos fazendo carinhos um no outro por um
tempo. Decido falar mais um pouco sobre ''nós''.
— Harry... As coisas vão continuar como estão? — Estava receosa ao questionar isso.
— Em relação à gente estar junto? — Não sei por que, mas sinto ele tão mais tranquilo
que eu em relação a tudo. Talvez porque eu seja a mais problemática de nós dois.
— É. Sei lá, acho que às vezes as coisas entre a gente ficam confusas e a gente precisa
ser honesto com o que achamos — falei honestamente.
— OK, eu sei que você sente ciúmes de mim –— disse do nada, tão convencido... Ele
que morre de ciúmes de mim. Logo retruquei.
— Oi? Eu sou ciumenta? — Sentei-me na cama.
— Ah, é sim. Você jogou refrigerante na roupa da Karolinne... — Seu tom de voz era
bem-humorado. — Tipo, obsessiva. — Ele fez uma voz afetada. Eu dei um tapa em seu braço.
Ele adorava implicar.
— E você caiu aos socos com o Phillip — lembrei. Esses dois nunca se deram bem, e,
para piorar, eu acabo me envolvendo com ambos. Foi sem querer, já que antes mesmo de ter
algo com Harry conheci Phillip.
— Esse é o ponto aonde eu queria chegar — falou sério. Fiquei ouvindo ele. — Não
quero mais você com ele. Na verdade, não quero mais ver você com ninguém — disse
rapidamente.
Como é? Esse ser deve estar sonhando ou tendo alucinações. Nunca vai ter esse poder de
mandar na minha vida dessa forma.
— Oi?! — exclamei e perguntei confusa. Liguei a luz do meu abajur e o olhei nos olhos.
Ele parecia certo do que dizia, mas seu olhar não era controlador, parecia apenas determinado.
O que ele queria dizer com isso? Será que isso é... Ah, não pode ser. Ou pode?
— Acho que... — resetou um pouco. — Não sei, talvez se... — Ele ficou lá, se enrolando
com as palavras. Isso me fez rir, não somente por esse jeito atrapalhado, mas também porque
os rumos daquela conversa estavam mexendo comigo, já estava pensando em algo, mas não
sabia se era isso que ele queria dizer. Precisava dizer logo, ele parecia ter desistido de dizer,
então tive que intervir.
— Você quer ser meu namorado. Eu sempre soube que você era apaixonado por mim —
disse, debochada e convencida. Ele começou a rir.
— Mas o quê? — Ele pareceu surpreso. — Não, não quero namorar com você. Ficou
louca?
Uau... Eu nem comecei a namorar com ele e já levo um pé na bunda. Rimos juntos.
Aquilo realmente era sem pé nem cabeça. Harry parecia extremamente surpreso pelo que eu
disse. Não fiquei chateada porque estávamos zoando sobre tudo aquilo, mas também não
esperava que ele nunca tivesse pensado nisso.
Posso não ser a pessoa mais experiente em relacionamentos, tive poucos, se é que posso
chamá-los de relacionamentos. Não foram nem um pouco perfeitos e nem duradouros. Mas,
para mim, quando duas pessoas ficam bastante e começam a gostar uma da outra, bem... Elas
ficam juntas. Ou pelo menos tentam. Ou pelo menos pensam sobre o assunto. Harry parece não
achar a mesma coisa que eu.
— O que você pretende então, Harry? — perguntei tentando não soar tão brava,
estávamos em um clima legal apesar do assunto tenso.
— Calma, não precisa se estressar. — Ele me abraçou de lado, não consigo mesmo
disfarçar minhas emoções, nos conhecemos há pouco tempo, mas ele já sabe tanto sobre mim.
— Essa coisa toda de namoro me assusta. Todas as meninas que eu fico me encheram o saco
com essa ideia de namoro, você foi a única que não. Mas agora... — Ah não, não mereço isso.
Ele acha mesmo que está me dando um fora?
— Espera aí... Você está drogado? — Afastei-me dele um pouco. — Você acabou de
dizer que não queria me ver com nenhum garoto. Eu achei que... — Não queria parecer uma
das bobinhas que ele falou. — Não te entendo.
Odiei mesmo ser comparada a outras garotas que ele já ficou.
— Por favor, não se irrita de novo, estava tão bom, a gente... — Ele pegou na minha
cintura e a apertou.
Eu me senti como se fosse qualquer uma, sem importância. Mais altos e baixos. Em
algum lugar uma vez eu ouvi que as pessoas que você mais gosta são as que mais vão te
magoar. Isso está acontecendo agora. Não consigo ter longos momentos de paz com ele,
porque espero muito e nada é exatamente como queremos.
Lembrei-me da minha mãe. Ela disse que um dia eu encontraria um príncipe encantado,
que ele me trataria como uma princesa e me faria sentir nas nuvens. Bobagem! Esse mundo de
conto de fadas não existe. O que existe são pessoas reais vivendo suas vidas e quase nunca se
importando com as outras pessoas.
— Acho melhor você ir dormir. — Afastei-me dele. Por que eu me sentia tão zangada?
Eu tinha uma resposta na minha cabeça, mas ela parecia tão estúpida... Nem parecia algo que
eu diria.
Eu estava com raiva porque queria que ele quisesse mesmo ser meu namorado? Isso é
tão humilhante. Queria sacudi-lo e perguntar por que diabos ele não disse outra coisa em vez
de ''eu não quero namorar com você, ficou louca?'' Essa foi a pior resposta. Mesmo que eu
estivesse falando em tom de brincadeira, não gostei disso.
— Não vou. Eu quero ficar com você aqui, quero dormir aqui — disse baixinho e tentou
me puxar para um abraço.
— Você não pode dormir aqui — falei sem pestanejar.
— Posso sim. E vou — disse, imponente. Eu já não estava mais relaxada, sou assim, não
consigo esconder tanto o que estou sentindo.
— Não, não vai. Pode ir embora, senão eu saio. — Levantei-me na cama. Queria ficar
sozinha. Ele também se levantou.
— Você vai ficar com raiva só porque eu não quero namorar com você? — Colocou a
mão na cintura, eu respirei fundo. — Isso existe? Tudo bem... — Ele parou e colocou a mão no
peito como se fosse dizer algo. Tão teatral! Cruzei meus braços para ver aquela cena patética.
— Victoria Lea Jones, você quer ser a minha namorada?
Toda aquela postura de lorde inglês e voz pomposa, ele merecia uns bons tapas. O mais
ridículo é eu estar sorrindo de canto por essa atuação no mínimo ridícula. Ele me olhou como
quem anseia uma resposta, arregalei os olhos e logo depois cerrei-os.
— Não — disse firme, mas com um sorriso no olhar ainda com meus braços cruzados.
Ele abaixou a cabeça encerrando sua cena com ar de derrota, só faltou se ajoelhar no chão e
chorar.
— Qual o seu problema? — Riu de canto passando a mão no rosto.
— O meu problema é você, Harry Joseph Miller. — Ainda mantinha distância.
— E o meu é você, Victoria Miller. — Olhei surpresa quando ele disse isso, não sei
como reagir bem a isso, ele se senta novamente na minha cama. — Vem pra cama, vem... Ela
fica melhor com você nela... — Mais uma vez ele usando essa voz manhosa.
O que fazer quando tem um gato sem camisa com os cabelos desgrenhados em cima da
sua cama te chamando? Não sei o que outras pessoas fariam, mas eu... Bem... Pulei em cima
dele, colando-me a seu tórax. Aquilo era intenso e selvagem, mas tinha uma pitada de romance
bem escondida. Não sei o que estava acontecendo comigo, mas eu queria experimentar todos
os tipos de sentimentos com aquele garoto.
Harry segurou meu cabelo com força, me fazendo gemer, começou a beijar meu colo e
colocou a mão por debaixo da minha blusa, apertando meus seios.
— Não vejo a hora de te ter por inteira... — sussurrou ao pé do meu ouvido. Fechei meus
olhos, era muito para eu conseguir encarar com os olhos abertos. Era demais.
Se dependesse dos meus hormônios aquele momento não demoraria muito, só não
poderia ser na minha casa em plena madrugada, com meus pais na casa e sem poder fazer
barulho nenhum.
Ficamos naquele chamego por mais alguns minutos, até que ficamos cansados demais.
Nós esquentamos a noite fria da Inglaterra, parecia que a gente estava no calor do deserto do
Saara em pleno meio-dia. Esse era o efeito que ele tinha sobre mim. Esquentava até o Polo
Norte.
Acabei adormecendo em seu peito, com sua pele em brasas e meu coração em chamas...
Sabia que ao amanhecer era provável que ele já não estivesse mais ali. Apenas dormi
tranquilamente por estar com ele naquele momento. Meu maninho/pseudo-namorado/ amante/
inimigo/ confidente Harry significava muitas coisas para mim, só não sabia qual descrição
falava mais alto.
Acordei e olhei ao redor. Ele não estava ali, mas seu cheiro estava por toda parte. A
cama estava completamente bagunçada, como se um furacão tivesse passado por ali, o que não
era uma total inverdade. Eu me arrumei e desci para tomar o café da manhã. Conversei um
pouco com meu pai e com a Anne. Harry desceu já pronto e nós fomos para o colégio juntos.
Quando cheguei lá, vi o Phillip e ele me olhou de um jeito estranho. Logo depois recebi uma
mensagem dele, dizendo que queria falar comigo depois da aula.
Senti raiva. Phillip foi a prova viva de que nós podemos nos enganar muito em relação às
pessoas. Achamos que as conhecemos, mas só vamos realmente conhecê-las nos seus
extremos, nos momentos de estresse.
Não sabia o que ele queria, mas eu queria mesmo falar com ele depois daquele episódio,
resolver tudo, colocar em pratos limpos. Enviei um ''OK'' e apenas fui para a minha sala.
As aulas se passaram rapidamente, porém ainda me enchendo de tédio, tentei prestar
atenção ao máximo. Afinal, o fim do ano já se aproximava e, com ele, as últimas provas. Na
hora do intervalo fiquei com as minhas amigas. Nós éramos muito diferentes, mas ainda assim
nos dávamos bem.
Maya era tagarela e falava tudo que pensava, assim como eu. Seus cabelos escuros e
curtos e os olhos castanhos e expressivos já demonstravam um pouco do seu poder e
imponência, apesar de ser muito gente boa e divertida. Quando a conheci ela era mais durona,
agora vive suspirando pelos cantos, totalmente apaixonada pelo Nev.
Elis era um pouco misteriosa, tinha os cabelos em um tom de castanho muito claro,
dourado em algumas mechas. Ela era mais na dela, gostava de planejar suas atividades, era
muito organizada. Por todo aquele papo dela gostar do Harry, no início fiquei receosa em me
aproximar, mas agora que a estou conhecendo mais, parece que ela e Louis estão tendo um
lance.
Bia era um doce de garota, posso até dizer que é ingênua às vezes. Por ser muito tímida
acaba não dizendo tudo o que quer dizer e algumas pessoas se aproveitam disso. É a mais
estudiosa e além disso tem uma veia artística impressionante. Tem cabelos escuros e uma
franjinha, acho que a ajudam a se esconder mais ainda do mundo.
Maria era a pessoa mais bondosa que já conheci na minha vida. Seus cabelos loiros e
dispostos em longos e lindos cachos a iluminam ainda mais que sua personalidade. Ela se
preocupa muito com todos, é amiga, conselheira. Um pouco insegura às vezes, mas é
determinada, quando quer uma coisa luta até conseguir. Nós e as outras meninas vivemos
zoando ela porque achamos que ela e James, seu melhor amigo, têm algo mais que amizade.
Ela sempre negou. Até hoje.
Maria estava animada contando como foi seu final de semana.
—Tem uma coisa que eu não contei para vocês... — disse, receosa.
— O que, menina? Conta. — Maya falou curiosa. Todas olhamos atenciosamente para
ela.
— James e eu... Fizemos aquilo.
O quê? Gente, esses dois não perdem tempo. Eu e as meninas entramos em êxtase
pedindo mais detalhes.
— Como assim??? — Elis perguntou surpresa.
— OMG! Como isso aconteceu? Conta! — Bia pediu ansiosa.
— Tudo bem, vou contar. — Ela falou e começou sua história. Todas estávamos
confusas e loucas para saber mais.
— Então, meninas, foi assim: nós fomos passar o fim de semana em um sítio que nossos
pais sempre alugam juntos no interior. Estava tudo normal, como sempre foi. Como meus pais
sabem que eu e James somos muito amigos, melhores amigos aliás, eles colocaram a gente no
mesmo quarto. O que não seria estranho, já que eu e ele já dormimos até mesmo na mesma
cama e nada aconteceu. Tudo sempre foi inocente. Nossos pais e nem a gente possuía malícia
alguma.
“O lugar é lindo, cheio de natureza e tem uma piscina maravilhosa. Eu adoro aquele
lugar, agora mais ainda. No primeiro dia, como nossos pais gostam de pescar, foram para um
lago próximo do sítio e nossas mães ficaram preparando o almoço. Coisas de gente mais
tradicional. Enquanto isso, eu e o Jay ficamos brincando na piscina.
“Estava tudo ótimo, até que de repente ele chega muito próximo de mim e segura em
minha cintura... E me levanta. Aquilo poderia surtir como uma brincadeira se não fosse pela
forma como ele me olhou. Parecia que queria invadir o fundo da minha alma apenas com o
olhar. Senti um arrepio percorrer meu corpo. Por algum motivo, eu o abracei. Talvez para
tentar dizer que tudo bem, foi apenas um momento. Senti suas mãos percorrerem meu corpo de
um jeito nada amigável. Ali percebi que tudo estava fugindo do controle.
— Jay, o que deu em você hoje? — perguntei confusa. Afinal nós tínhamos nos beijado
na brincadeira de verdade ou consequência, porém ainda continuamos apenas amigos.
— Desculpa, é que fica cada vez mais difícil pra mim fingir ignorar sua beleza. —
Aquilo foi imprevisível.
— Como? — Vocês não têm ideia de como me senti quando ele disse isso.
— Eu gosto de você... — disse baixo. Isso era óbvio para mim. Nós nos gostávamos,
éramos best friends.
— Ah, eu também te amo. — Sorri. Era a verdade.
— Não, é sério. Eu gosto de você e não é como amigo, eu quero te dizer isso há muito
tempo — disse rapidamente, e eu o olhei com estranheza.
“Sim, porque aquilo era diferente e estranho para mim. Nós tínhamos uma relação de
amizade, eu dormia do lado dele, já me troquei na frente dele, sem malícia nenhuma. Na mente
dele, minha cabeça dava pequenos giros. Precisava pensar naquilo tudo.
“Saí da piscina sem dizer nada. Não iria conseguir dizer nada. Aquilo deve ter sido
péssimo para ele, mas eu não podia ficar ali e dizer meia dúzia de abobrinhas, precisava
pensar.
“Será que eu gostava do James daquele jeito também? Digo, naquele dia na casa da
Maya, quando nos beijamos, eu senti algo forte. Então, só fiquei embaixo de uma árvore
refletindo. Na hora do almoço, ele ficou calado a maior parte do tempo e evitava me olhar nos
olhos.
“A noite logo caiu. Nossos pais fizeram uma fogueira e começaram a cantar músicas no
violão, como sempre. Era muito animado, mas eu não estava muito para festas e, pelo que eu
via, muito menos o James. Começaram a cantar uma canção romântica quando encontrei o
olhar dele...
“Ele parecia muito mal, de repente se retirou da rodinha em volta da fogueira, eu fui
atrás dele.
— Vai aonde, filha? — perguntou minha mãe.
— Vou lá falar com o Jay — respondi simplesmente.
— Vai sim, filha! — disse meu pai.
“Eles iam adorar que eu e James namorássemos. Quando a gente começou a entrar na
pré-adolescência começaram a falar essas coisas, mas logo pedi para pararem. Ele era meu
amigo, só isso. Bem... Até aquele momento. Fui correndo e encontrei ele no quarto que a gente
estava hospedado.
— Jay... Eu quero falar com você. — Quase sussurrei ao encontrá-lo deitado na cama.
— Não precisa, você não precisa fazer isso, não tem que ter pena de mim — ele disse
com um peso na voz.
— O quê? Não pensa assim, eu só fiquei surpresa, mas você é uma das minhas pessoas
preferidas no mundo, eu só nunca achei que você gostasse de mim desse jeito. — Sentei na
cama.
— Eu acho... Que sempre gostei. Mas de uns tempos pra cá só vem aumentando. — Ele
parecia um pouco desesperado com tudo aquilo.
— Sério? E é tão grande assim? — Ele se sentou e me olhou nos olhos.
— Eu só arrisquei nossa amizade porque eu sei que é... Mas vejo que fiz mal... — Ele
abaixou a cabeça. Meu coração estava transbordando de emoções, não sabia que emoções eram
aquelas, não sabia o que pensar, apenas sentia.
— Não, não fez, eu só preciso de um tem... — Parei de falar quando senti suas mãos
segurarem minha nuca rapidamente.
“Quando dei por mim, estávamos nos beijando novamente. Eu senti aquele sentimento
outra vez, só que agora mais forte e determinado. James segurou minha cintura e me puxou
para si, agarrei-me em suas costas as arranhando de leve. Mordi seu lábio inferior e paramos o
beijo com um selinho espetacular.
— Só queria que gostasse de mim como eu gosto de você. — Sorriu tristemente.
— Eu te amo, Jay. Acho que posso tentar fazer mais disso... — Puxei-o e beijei ele de
novo. Aquele beijo dele era muito bom, tão chamativo, queria mais e mais.
“Eu amava mesmo ele, acho que morreria por ele, assim como morreria pelos meus pais.
Ele era o meu melhor amigo e passei a minha vida inteira o vendo como um irmão. Agora
tinha que vê-lo como um garoto que me amava e queria ficar comigo.
“Nós paramos de nos beijar e eu o puxei pela mão. Voltamos para a fogueira e nossos
pais se entreolharam quando nos viram de mãos dadas e com sorrisos enormes no rosto. Será
que eles estavam imaginando coisas? Que estranho! Sentamos lado a lado e curtimos a luz do
luar, a fogueira e as canções bregas de acampamento.
“Dormimos juntos na mesma cama, mas sem maiores alterações. O que mudou foi a
minha sensação de dormir tocando sua pele, foi diferente.
“A manhã foi tranquila. Nossos pais estavam animados porque a noite sairiam para uma
degustação de queijos e vinhos em um Vinhedo perto dali. Eles nos chamaram, mas
resolvemos ficar ali no sítio mesmo.
“Fizemos fondue de chocolate e começamos a ver uns filmes muito legais. Na grande
sala amadeirada tinha uma lareira, a única luz que iluminava o ambiente, o que tornava as
coisas mais românticas. Estávamos enrolados em um edredom e decidi chegar mais perto dele.
Tão perto que sentei em seu colo. James fez carinho em meus cabelos e desceu pelas minhas
costas. Eu segurei a nuca dele e desci até seu pescoço, dei um beijo e depois suguei forte,
fazendo ele se arrepiar.
“Começamos a nos beijar, ele me segurou e me sentou em seu colo de um jeito muito
excitante. Jay me pegava de um jeito que não parecia ser ele ali. Tudo era novo e parecia
perigoso. Seus movimentos eram precisos, mas quase violentos. Ele agarrou meu cabelo e
mordeu meu pescoço várias vezes.
“Eu rapidamente tirei a camisa dele, comecei a beijar cada centímetro dele. James tirou
minha camisa e logo depois meu sutiã, o melhor é que eu não tinha vergonha dele, mas aquilo
era uma situação completamente hipotética. Todos sabem que ele é genial, teve uma ideia bem
louca, me pareceu tão insano na hora, mas depois pareceu mesmo a melhor ideia e pegou a
fondue, olhando-me com malícia.
Alguns minutos depois, eu estava tão extasiada que não sabia o que dizer.
— Jay... — Soltei um suspiro.
“Ele apenas olhou para mim e sorriu docemente. Estava ali outra vez, meu doce e gentil
melhor amigo. Era apenas o que eu precisava para me sentir segura. Nos abraçamos forte.
“No outro dia bem cedo colocamos o pé na estrada. Eu decidi ir no carro com ele, eu vim
deitada em seu colo a viagem inteira. E é isso...”
— Oh, meu Deus... Que loucooo! — Maya disse animada. Aquilo tudo era insano, mas
eu estava muito feliz pela minha amiga.
— Então, vocês estão namorando? — Bia perguntou com uma expressão de totalmente
shipper desse novo casal.
— Não oficialmente, mas... — Logo chega James com um milk-shake nas mãos.
— Olá meninas, oi Maria... — Sua expressão mudava ao falar o nome dela. — Eu trouxe
isso pra você. — Entregou a bebida e sorriu. Como ele era fofo. Nem dava para acreditar que
aquele garoto deixou minha amiga em chamas do jeito que ela disse. Uau, James, você tem
pegada. Não que eu queira checar de perto, acredito na minha amiga.
— Obrigada Jay. — Sorriu feliz.
Ele saiu e nós ficamos conversando muito animadas. Afinal, era uma grande novidade.
Esses dois nunca me enganaram.
Voltamos para a aula e, por incrível que pareça, essa estava interessante, meu humor
estava bom. Acabou rápido. Quando eu ia sair da sala, vi que Phillip me esperava na porta.
— Podemos conversar agora? — ele perguntou calmamente.
Lembrei que minha vida ainda estava longe de estar tranquila.
Não gostei quando eu e Phillip brigamos, apesar disso eu gosto de estar com ele, somos
amigos. Talvez aquilo tenha sido só uma reação momentânea que, apesar de muito assustadora,
serviu para me fazer despertar para o fato de que esse lance de amizade colorida talvez seja
realmente uma fria. Ainda mais com ele, que é o garoto mais popular da escola.
Não estou pronta para ter que mudar quem eu sou só pelo que os outros vão pensar, isso
não é o que eu sou. Não farei isso por garoto nenhum no mundo. Não quero ser cobrada.
Nós caminhamos até o jardim da escola, sentamos em uns banquinhos que tinham ali.
— Vick, olha pra mim. — Ele virou meu rosto em direção ao dele.
— Pode falar, Phillip, anda logo que eu não tenho muito tempo — disse com má
vontade. Afinal, estávamos ali pela forma grotesca com que ele me tratou. Nunca esperaria
isso dele.
— OK, você está com raiva de mim. Sei que fui grosso — admitiu. — Mas é só que eu
não te entendo, todas as garotas queriam ser minha namorada, menos você. — Ele olhou para
mim cabisbaixo.
— Aí, por isso você gritou comigo e machucou meu braço? — Cerrei os olhos. Não
tinha desculpa para o que ele fez. Não havia desculpas. Ele quis me intimidar, gritando comigo
e até querendo impor sua vontade por métodos físicos. Não foi nada legal.
— Desculpa por isso, eu só queria que você fosse minha. Não sei mesmo o que deu em
mim, fiquei descontrolado. — Olhou para mim, parecia nervoso.
— Mesmo que namorássemos isso não te dá o direito de querer mandar em mim e no
que eu faço. Eu só estava me divertindo, não tenho que te dar satisfação de nada — disse,
áspera.
— Foi mal, você não quer me desculpar, tudo bem. Beleza, fica sem falar comigo. — Ele
se levantou. Apesar de ter ficado muito chateada com o que ele fez, não era assim que eu
queria que ficássemos, não estava ali para isso.
— Espera. — Segurei sua mão. — Tudo bem, eu te perdoo, não quero ficar brigada
como você. — Sorri de canto. Ainda estava decepcionada, mas acho que por tudo que
passamos juntos, construindo uma amizade legal, não dava para acabar com tudo.
Ele olhou para mim e deu um grande sorriso, daquele de derreter o coração. Eu gostava
do Phillip, ele era um cara muito legal. Pelo menos eu acreditava nisso, depois de meses
estando com ele, aquela briga foi muito tensa para mim, exatamente por me mostrar um Phillip
que nunca conheci. Eu me levantei e nos abraçamos forte, ele começou a me girar, dizendo que
tinha sentido minha falta.
Quando paramos de girar, ele me colocou em sua frente e se curvou para me beijar, mas
eu prontamente desviei. Ele ficou confuso e me olhou estranhamente.
— Acho melhor sermos somente amigos — falei baixo, mas decidida. Não queria ferir
os sentimentos de ninguém. Mas era o que eu queria: ser apenas sua amiga.
— Por quê? Quer dizer... Por que isso agora? — Ele se afastou um pouco. Eu sabia que
ele não iria gostar da ideia.
— Estou precisando esclarecer algumas coisas na minha vida. Tem hora que dá um nó
estranho. — Resetei, eu não deveria falar desses assuntos com ele. — Vai ser melhor assim,
apenas amigos. Tudo bem pra você? — Olhei em seus olhos, ele pareceu raciocinar
rapidamente.
— Você está envolvida com outra pessoa? — Essa pergunta outra vez? Não posso contar
a verdade, ele vai querer saber quem é e em hipótese alguma posso dizer.
— Não. Não é isso. São coisas da vida... Espero que entenda. — Olhava diretamente em
seus olhos. Não queria me afastar dele, eu só não quero mais ficar com ele, apenas isso.
— Tudo bem... — Fez uma cara mais ou menos. Mas eu posso te pedir uma coisa? —
Riu, misterioso. Não entendi nada.
— Fala, Swag. — Debochei do apelido pelo qual outras pessoas o chamavam, “Swag'',
era engraçado, para não dizer um pouco brega.
— Que tal um último beijo? — E me olhou, malicioso. Eu definitivamente não estava
esperando por isso, e também não acho que seja uma melhor forma de começar uma amizade.
— Não sei... Acho que sei lá... — Não queria muito fazer isso. Mas talvez atendendo a
isso, ele me desse o espaço que eu queria.
Phillip chegou mais perto e segurou minhas mãos com as duas mãos. Eu virei o rosto,
mas ele começou a chegar mais perto do meu pescoço e a me beijar delicadamente, fazendo
minha nuca arrepiar.
Acho que perdi um pouco o controle da situação e achei que talvez fosse justo uma
despedida dos beijos incríveis que já trocamos. Nós nos olhamos e eu passei a mão no cabelo
dele, mas antes disse:
— Aproveita, que é o último.
Ele piscou e foi chegando mais perto dos meus lábios, mordeu de leve e começamos a
nos beijar delicadamente. Depois de alguns segundos eu parei o beijo.
— Acho que você é como uma droga pra mim — disse, ainda com meu rosto em suas
mãos. Se eu sou como uma droga, ele vai ter que se internar em uma clínica de reabilitação,
porque seu vício tem que ser controlado.
Eu apenas fiquei calada, fomos saindo em direção ao portão da escola. Íamos para o
mesmo lugar, afinal morávamos no mesmo condomínio agora. Porém, ele disse que ia sair com
alguns amigos. Nos despedimos amigavelmente, como deveria ser a partir de então.
Quando estava andando em direção à minha casa, me deparo com uma péssima presença.
Era Karolinne. Ia passar direto, até que ela me parou.
— O que foi? Além de vadia, virou pedágio agora? — disse, sarcástica.
Essa garota não me descia. Sempre fazia de tudo para me irritar. E tinha algo que ela
fazia em especial que me aborrecia muito. Ela me irritava sem saber quando ficava sempre
dando em cima do Harry. Sei que eles já ficaram e isso me deixa com muita raiva. Karolinne
não fazia ideia do quanto isso me chateava. Afinal, para ela, Harry e eu éramos apenas irmãos
postiços.
— Victoria, Victoria... — Ela falou meu nome com sua voz esnobe. — Você é muito
corajosa, é a única dessa escola toda que ama brincar com fogo — disse e pegou em uma
mecha do meu cabelo. Eu empurrei sua mão para longe.
— Pode acreditar, quem está brincando com fogo é você — disse, firme. Eu não era a
pessoa mais calma do mundo e naquele momento estava quase explodindo.
— Estou tentando te decifrar, garota. Você chega aqui, cheia de marra, me enfrentando
dentro da minha área. Ficando com um dos caras mais populares da escola e ainda por cima o
dispensando. Qual é a sua? — perguntou, imponente. Como alguém pode ser tão ridícula
assim? Área dela? Deve estar sonhando. Isso aqui não é ''Garotas Malvadas''. Mereço.
— Você está sabendo da minha vida, hein? — ri, debochada. — Eu vou te dar um gato
de presente, aí você vai ter sete vidas para cuidar, talvez assim esqueça da minha. — Sorri para
ela cheia de ironia, já estava perdendo tempo demais com essa idiota. Decido ir embora, fui
andando e ela gritou quando eu já estava um pouco longe.
— Vou descobrir seu ponto fraco, aí você vai se ver comigo! — Ameaçou-me. Ah,
Deus. Eu estava mesmo tentando ser uma pessoa melhor, fazia algum tempo que não me metia
em confusões, mas Karolinne estava passando dos limites. Ela acha que está em alguma série
boba adolescente para dizer algo assim para mim.
— Estou morrendo de medo... — disse irônica e fui para a minha casa. Mais uma vez eu
não entendo o que o Miller vê nessa garota.
Chegando lá, Harry estava jogado no grande sofá assistindo a algum filme. Joguei minha
mochila no sofá e puxei o cabelo dele só para implicar e também chamar sua atenção. Não
tínhamos nos falado desde a manhã. Ele não teve nenhuma reação, devia estar atento ao filme.
Estranhei, mas fui para a cozinha.
Carmen estava lá e o cheiro era impressionante.
— Uau... Que cheirinho bom. — Elogiei e ela se virou até mim com um sorriso.
— Caprichei, espero que vocês dois gostem do que fiz para o almoço — disse
gentilmente. Ela era um amor de pessoa.
— Só pelo cheiro, eu posso afirmar que sim! Você precisa de alguma ajuda? — ofereci.
— Ah não, já estou acabando por aqui — falou enquanto acrescentava algum tempero na
panela.
— Será que um dia poderia me ensinar a cozinhar? — Ela me olhou e parecia surpresa.
Realmente, pela minha aparência eu não demonstrava afeições pela culinária. Gostava de vestir
roupas mais confortáveis, para não dizer um pouco largadas, usava coturnos quase sempre.
— Claro que sim, querida. Vai ser um prazer. — Carmen falou sorrindo.
Eu peguei minha mochila e subi para o meu quarto. Nunca me interessei muito por
assuntos de casa, como cozinhar ou limpar, sempre fui preguiçosa para essas coisas, mas
sentindo aquele cheiro de comida boa, até quis aprender. Talvez a Carmen possa me ajudar
nisso. Anne até sabe fazer algumas receitas, mas é muito ocupada.
Tomei meu banho, coloquei uma roupa leve e logo desci. A mesa já estava quase pronta,
Harry colocava os últimos talheres.
— Hummm, olha que linda essa mesa. — Cheguei sorrindo.
— Espero que gostem. Eu vou ter que sair um minutinho, mas a mãe de vocês disse que
podia deixar vocês sozinhos. — Carmen avisou. Não era como se ela fosse nossa babá, apenas
cuidava da casa. Pelo menos era isso que eu pensava.
— Acho que já posso me cuidar. Obrigada Carmen, pode ir tranquila — Harry falou,
carinhoso. Gostava do jeito que ele tratava as pessoas.
— E obrigada pelo almoço, que parece estar uma delícia — falei, ela agradeceu e saiu.
Eu comecei a fazer meu grande prato, aquilo parecia estar uma delícia. Logo comecei a
devorar o alimento. O Harry estava comendo calado.
— O que foi, Miller? Vai ficar me ignorando? — Perguntei brava porque não tinha
motivos para estarmos sem nos falar. Ele parou de comer e olhou para mim. Seu olhar... Soube
que algo não estava bem.
— Vieram me dizer que você estava beijando o Phillip... — Ah, esqueci que aquela
escola tem olhos por toda parte. — Vocês voltaram? Então, a gente acabou — disse, firme.
— Como é? — perguntei rindo e um pouco nervosa.
— Você acha que eu estou brincando? O tempo inteiro você ficou alternando entre eu e
o playboy lá. Não dá mais, isso não tem cabimento. — Afastou o prato quase vazio. Eu não
entendia, ele também ficava com outras garotas, agora eu era a única errada da história.
— Qual o seu problema? O que está querendo? — perguntei um pouco alterada.
Lembro-me muito bem da nossa conversa de ontem, não foi nem há 24 horas. Ele debochou
quando falei em '''namoro'' e agora vem com esse papo.
— Eu quero que você fique só comigo — disse rapidamente.
Eu o olhei, cerrando os olhos, e pensando no que ele havia dito, Harry apenas pegava em
seu cabelo arranhando a raiz. Ele se levantou e encostou no grande balcão de mármore.
Sinceramente estava um pouco de saco cheio de tudo aquilo.
— O que disse? — Queria que ele repetisse se tivesse coragem. Porque ele parecia
perdido sempre.
— Eu não estou conseguindo mais... — O modo como ele falava, era como se estivesse
enfrentando uma batalha interna. — Toda vez que eu fico com alguma garota, só você me vem
à cabeça. Isso tá perfurando meu crânio, porque eu sei que é complicado e...
Eu o interrompi.
— Você está mentindo para mim, Miller? — levantei e o olhei desconfiada. O que ele
estava falando era muito forte. E eu me identificava um pouco, já que parte do meu destino
fracassado com Phillip era devido aos meus pensamentos serem destinados a todo momento
para aquele garoto de olhos verdes.
— Ah, você não tem ideia de como eu queria estar mentindo — falou como se estivesse
muito cansado, como se carregasse um peso enorme em seus ombros.
E se eu disser que eu gosto de ficar com você e de que quando você me beija o meu
mundo gira devagar? Queria dizer isso a ele, mas seria tão aleatório... Mas, apesar de bobo, era
o que eu sentia.
— Eu também gosto muito de ficar com você. Gosto de você — falei com firmeza.
— Então, por que estava beijando o Phillip?
Porque eu sou uma idiota.
— Foi uma despedida. — Ele cerrou os olhos para mim quando eu disse.
— Ah, despedida, aham sei — disse, desacreditado e triste.
— É, foi sim. Mas se não quiser acreditar... — Dei de ombros.
— Eu posso confiar em você? — Harry me olhava como se estivesse invadindo minha
alma somente com seu olhar.
— E eu posso confiar em você? — Olhei para ele, desafiadora.
Nós nos encaramos e, quando eu dei por mim, a distância que separava nossos corpos se
tornou nula. Senti-me arrepiar quando ele segurou forte minha nuca e apertou minha bunda,
me colando ainda mais a ele. De repente senti seus lábios quentes tocarem os meus, bem
devagar nos envolvemos em um beijo cheio de êxtase, paixão e entrega.
Harry me deu um impulso, segurando minhas pernas e me colocou em cima do balcão.
Eu estava de saia, o que tornou tudo mais fácil para ele. Segurou forte minhas coxas e foi
subindo e apertando enquanto me beijava sem parar. Paramos por falta de fôlego e ele levou
sua mão para cima da minha calcinha. Eu tremi na hora, mas senti algo forte por dentro.
— Aqui não, seu louco... — disse, fraca. Estávamos em plena cozinha.
— Por que não? Isso me lembra um dos nossos primeiros beijos... — Realmente aquela
vez na cozinha foi memorável.
— Mas, agora, a Carmen pode chegar... — Desci da bancada e lhe dei um selinho, me
virei para arrumar a mesa e ele me agarrou por trás, colando seu corpo no meu e beijando
minha nuca.
— Você me dá um trabalho, Senhorita Jones... Mas eu amo isso. — Como eu gostava de
ouvir coisas como aquela.
Eu sorri para ele. Arrumamos a cozinha e depois subimos para o quarto. Ele pegou o
violão e ficou tentando me ensinar algumas notas, mas descobri que não tenho coordenação
motora.
Logo depois ficamos ouvindo músicas no notebook e trocando carícias e beijos.
— Uau, a vista aqui é linda — disse da sacada do quarto do Harry.
Ele chegou por trás de mim e agarrou minha cintura. Eu fechei os olhos e só depois me
dei conta do que estávamos fazendo. Não podíamos ficar tão expostos. Empurrei-o de leve,
lembrando-o de que ainda não éramos tão livres quanto pensávamos ser.
O fim da tarde passou em um ritmo rápido. Tivemos que estudar para um teste de
química que aconteceria no dia seguinte. Estávamos super cansados, jantamos com nossos pais
e logo fomos dormir.
Acordei de madrugada e caminhei na ponta dos pés até o quarto do Harry. Entrei
lentamente, acomodei-me ao seu lado e ele beijou meu pescoço sorrindo. Ele estava sonolento,
abracei-me a ele, que me segurou em seus braços. Logo adormeci. De um jeito que adorava,
sentindo seu cheiro e o calor do seu corpo.
~ Narradora ON~
Era um belo fim de tarde quando um garoto estava com seu skate percorrendo uma das
ruas do seu condomínio devagar. Olhou para a grande casa em que morava sua mais nova
amiga, e apenas amiga. Ele não gostava nem um pouco da ideia porque queria mais que aquilo.
Muito mais que aquilo.
Deparou-se com uma cena nada apetitosa para ele ao olhar para uma das sacadas da casa.
Victoria envolvida por um abraço esquisito de Harry.
Então, é ele. É pior do que eu pensava, pensou Phillip no momento. Já que acreditava
que os dois não se davam nem um pouco bem, mas estavam ali em um carinho íntimo.
Voltou para casa e aquela ideia não saiu da sua cabeça. Se fosse mesmo aquilo, Harry e
Victoria juntos... Ele não iria deixar barato. Mais uma vez Miller entrava em seu caminho. Isso
somente fazia seu coração se encher ainda mais de ódio e rancor.
©
Em outra parte da cidade, Bia arrumava suas coisas para ir embora da casa de seu
''aluno''. Tinha sido um dia puxado, mas o garoto estava se esforçando ao máximo, até porque
seu pai disse que se ele repetisse de novo, perderia seu carro. Essa ameaça fez com que ele
despertasse mais ainda para os estudos. E, com a ajuda da nerd, estava conseguindo entender
aos poucos a matéria.
— Eu te levo — disse Victor pegando as chaves do seu carro.
— Ah, não precisa, eu vou andando — ela falou pegando sua bolsa e seus livros.
— De jeito nenhum, eu faço questão. — Sorriu. Ele achava que era o mínimo que devia
fazer. Afinal, Bia o estava ajudando sem esperar nada em troca.
Victor pegou a bolsa dos braços de Bia, que se viu obrigada a aceitar a carona do garoto.
Não queria incomodar e a presença constante dele fazia com que ela imaginasse coisas, se
iludisse. E ela não queria isso, afinal não se esquecera do que ele dissera, os dois não nasceram
para ficar juntos — ela repetia em sua mente sempre que seus pensamentos voavam
hipnotizados por aquele par de olhos castanhos.
Entraram no carro e rapidamente estavam na frente da casa da garota.
— Pronto, está entregue, Bia. Eu nem sei como te agradecer. Você está fazendo isso sem
me pedir nada em troca. Isso é demais. — Falou, agradecido.
— Não precisa agradecer. — Soltou o cinto. Ela estava fazendo de coração porque
gostava dele. Mesmo que ele não soubesse disso.
— Sabe, o garoto de quem você gosta é um cara de sorte — disse do nada e Bia se
engasgou com a própria saliva, quase teve um ataque. Seu coração bateu mais rápido.
— Do que você está falando? — perguntou nervosa, com os olhos arregalados.
— No jogo da verdade, você disse que gostava de alguém, não foi? — Lembrou calmo,
sem entender muito por que ela estava corada agora, achava fofo até.
— Isso é bobagem, o garoto de quem eu gosto, nunca ia querer ter nada comigo — falou
tristemente. Era irônico falar sobre isso justamente com o tal garoto. Fazia com que ela se
sentisse estranha.
— Duvido, você é super legal, inteligente, paciente e... — Parou de falar quando
percebeu que Bia o encarava de uma forma diferente.
Tem momentos em que a impulsividade mesmo que momentânea é o motor principal
para que se alcance coisas praticamente impossíveis.
Bia foi chegando muito perto do rosto de Victor e ele apenas acompanhou seus
movimentos sem entender muito bem o que estava acontecendo, mas apenas atento. Quando
ela estava para tocar os lábios do garoto, a garota apaixonada pareceu ter voltado a si. Foi se
afastar, mas, antes que conseguisse piscar os olhos, sentiu Black segurar a maçã de seu rosto e
tocar seus lábios bem suavemente.
Victor foi acariciando os lábios da garota devagar e a hipnotizou, ela estava embriagada
de paixão por ele. Ele começou um beijo delicado e sensível, como se o realizasse com
cuidado e precisão. Bia segurou na nuca dele massageando delicadamente. Estavam tão
entregues, era tão suave e ao mesmo tempo mexia com todos seus sentidos.
Foi quando uma voz acabou com aquele momento...
— Bonito, hein? Me ama tanto que até ficou com minha irmã gêmea nerd, Sr. Black.
Coisa feia!!! — Gritou Rafaella, a irmã de Bia do lado de fora do carro, estragando por
completo aquele momento único.
Os dois pararam aquele beijo e se olharam. Bia olhou para irmã e parecia estar assustada
e desesperada. Se pudesse matar-se naquele momento, o faria. Estava morta de vergonha.
Abriu a porta do carro e correu para dentro de casa, ignorando as provocações da irmã e os
gritos de Victor a chamando. O garoto olhou raivoso para sua ex-namorada e não disse nada,
apenas ligou o carro e saiu.
Pelo caminho e, para sua surpresa, pelo resto da noite e um pedaço da madrugada, não
conseguia tirar aquele beijo de sua cabeça, os lábios macios de Bia ainda pareciam tocá-lo.
O que estava acontecendo? E agora? Como seria o dia de amanhã?
Era amanhã, o dia tão esperado por um determinado casal. Pela primeira vez, o apaixonado
Nev Stones iria oficialmente conhecer os pais da sua futura oficial namorada. Conseguiram
esconder por semanas, mas aquilo já ficara impossível de se aguentar.
Victor não era bobo e percebia a troca de olhares insistentes dos dois, mas ficava na sua,
não dizia nada. Já havia avisado ao seu amigo para desistir daquela ideia absurda, mas parece
que, nesse caso, o amor falou mais alto que a amizade.
Antes da tão esperada visita de Nev, Maya já estava preparando o terreno havia alguns
dias. Sua mãe já sabia da história e, com delicadeza, foi passando a ideia para o Sr. Black, que
na hora a detestou, mas depois foi sendo amolecido por sua esposa.
A mãe de Maya fez questão de mencionar como sua filha estava encantada pelo rapaz e
que era sua primeira grande paixão. Enfim, o pai da garota decidiu dar uma chance para
conhecer o garoto, mas o irlandês que se preparasse, não seria nada simples convencê-lo de
que era o melhor pretendente para a filhinha dele.
A manhã em Holmes Chappel estava diferente, pela primeira vez em dias o sol brilhava
como nunca, iluminando a vida dos moradores e aposentando pelo menos por algumas horas
os casacos e cachecóis.
Victoria amanheceu com um sorriso no rosto, estava se sentindo bem demais como não
se sentia havia muito tempo. Foi tomar um banho e se lembrou de algo, dali a poucos dias seria
seu aniversário de 16 anos. Tinha até esquecido, sua cabeça estava ocupada com coisas demais
ultimamente. Seu pai havia comentado anos atrás que queria fazer uma daquelas festas
enormes de debutantes... Vick riu da ideia dele, aquilo definitivamente não fazia o seu estilo.
Grandes vestidos, valsas, príncipes, não era o que ela queria para o seu aniversário.
Ela pensou em algumas ideias, uma festa com muitos jovens, música boa, bebidas... Ou
uma viagem para algum lugar incrível do mundo. Não havia escolhido o que queria, mas não
seria de maneira nenhuma uma festa tradicional, disso ela tinha certeza.
— Harry? Já está pronto? — chamou-o ao entrar no quarto do garoto... Ele já não estava
mais ali.
Harry havia levantado mais cedo e conseguiu tomar café com George, que lhe contou
sobre o aniversário de Victoria. Queria fazer alguma surpresa para ela, mas sua filha era o
cúmulo da imprevisibilidade. Não dava para saber quando ela ia gostar de algo ou não. Miller
disse que o ajudaria e que pensaria em algo. O Sr. Jones aceitou, já que Harry era da mesma
idade de sua filha e podia ter mais ideia do que ela iria gostar em uma festa.
— Anne? Harry? — Vick gritou descendo as escadas. Achou que não tinha mais
ninguém em casa quando avistou Harry na sala.
Ele estava deitado no sofá somente esperando sua maninha para irem para a escola
juntos, como faziam praticamente todas as manhãs. Victoria foi até a cozinha e encontrou
Carmen, que havia feito um café da manhã maravilhoso. Comeu rapidamente uma panqueca de
maçã com café com leite e seguiu até a sala.
— Pensei que não vinha mais, estamos atrasados — disse o garoto se levantando do sofá.
Era algo que faziam constantemente juntos: eles se atrasavam. Quase sempre por conta do
sono eterno de Jones, que tinha uma dificuldade enorme em acordar no horário certo.
— Por que não foi sem mim? A escola é aqui do lado, eu posso ir andando — falou
pegando a bolsa. Não queria ouvir reclamações logo pela manhã.
— Eu sempre vou te esperar agora. — Olhou-a nos olhos, sorrindo através deles e
puxou-a colando seus corpos...
— Miller... A Carmen pode ver a gente — disse baixinho, apesar de querer muito sentir
o toque dele.
— É só um beijinho. — Avançou sobre o rosto da garota, que esquivou um pouco,
receosa pela proximidade de Carmem, ela estava logo no outro cômodo.
— Se controla, Sr. Covinhas, e vamos logo. Pensei que a gente estava atrasado. — Riu
se afastando e indo em direção à porta.
Harry olhou para cima e pensou: Essa garota ainda vai me matar um dia. A cada dia se
sentia mais e mais mergulhado nos encantos de Victoria Jones. Apesar de seu temperamento
explosivo e imprevisível, ele conseguia gostar cada vez que a conhecia mais. Estava se
apaixonando como nunca antes.
Seguiram até a escola a pé, já que a moto do garoto estava no conserto. Ao chegar na
escola, se entreolharam e logo se separaram, cada um foi para seu lado. Mal sabiam que desde
que saíram de casa, estavam sendo acompanhados pelos olhos espertos de Phillip. O amigo de
Vick não estava satisfeito em ser somente um amigo e ao sentir que algo estava acontecendo
entre Harry e Victoria, decidiu investigar por conta própria.
— E aí gente? Qual é a boa? — Harry disse ao chegar na rodinha onde se encontravam
seus amigos Louis, Nev e James.
— Harry, você não sabe da maior... — James falou animado. — O Nev vai ir na casa dos
Black amanhã pedir a Maya em namoro.
— Mas o quê? — perguntou surpreso e logo parabenizou o amigo. Já que sabia que os
sentimentos dele por Maya eram muito fortes e verdadeiros.
— Nev escondeu o jogo direitinho, mas já estava pegando a irmãzinha do Victor há
tempos. — Louis riu. Esse, como sempre perdia os amigos, mas nunca perdia a piada.
— Eu só não queria que o Victor ficasse com raiva de mim — revelou, sem jeito. Todos
dali sabiam que o irmão de Maya era muito ciumento.
— E você acha que agora ele vai ficar contente, né? Claro que não. Arruma um jeito de
falar pra ele logo. — Harry aconselhou, o garoto louro apenas assentiu, mas não tinha ideia de
como falaria isso para o amigo. Ainda não tinham conversado direito sobre o assunto.
O sinal logo tocou e os irmãos Black chegaram em cima da hora, mas conseguiram
entrar a tempo. Maya olhou rapidamente para seu namorado, que sorriu disfarçadamente, mas
tirou o sorriso do rosto quando Victor chegou perto dele, o cumprimentando.
— Que cara é essa, Stones? — Victor perguntou desconfiado, chamando o sobrenome de
seu amigo.
— Ah, nada não... — Nev respondeu rápido, mas logo depois inspirou um sopro de
coragem. — Na verdade é que eu preciso falar com você depois. — O outro balançou a cabeça
positivamente.
Estava marcado, não tinha mais escapatória, era chegado o momento de Nev deixar tudo
claro para Victor. Por mais amigos que fossem, não fazia sentido nenhum levar em frente um
namoro secreto por conta disso. Uma amizade pode sobreviver a algo assim, ainda mais
levando em conta que os Maya e Nev se gostavam de verdade. Ninguém poderia atrapalhar um
sentimento tão forte.
Victor estranhou um pouco o jeito apreensivo do amigo, mas resolveu deixar para
depois, como o próprio havia sugerido. Seus olhos percorreram a sala, pousando exatamente na
primeira cadeira da classe, estava vazia. Como ele achara que nunca havia visto antes.
Estranhou, Bia não era de se atrasar, muito menos de faltar.
Será que ela está doente? Ou será que não veio por causa do ocorrido no dia anterior?
Eram muitas dúvidas que penetravam a mente do garoto. Além de outras que eram assunto
proibido e que não podiam sair de seus pensamentos.
Victoria sentou-se no seu lugar de costume e de vez em quando trocava olhares rápidos
com Harry. Phillip acompanhava tudo e pensava em como tinha sido tão estúpido a ponto de
não ter percebido aquilo antes. Talvez estivesse pirando, ele pensava, mas sua intuição dizia
que ali tinha algo para ser explorado.
Perto dali Karolinne acompanhava os olhares de Phillip para Jones... Achou estranho
porque ele a olhava diferente, não era como nas outras vezes que parecia um predador
ansiando e desejando sua presa. Agora, seu olhar demonstrava desconfiança. Ela não deixou
passar isso despercebido. Tratou de guardar aqueles olhares na sua mente.
Na hora do intervalo, lá foi a garota até o grupo de amigos com o qual Parker passava
seus intervalos.
— Oi, Phillip, quero falar um lance com você. — Karolinne disse, decidida. Tinha algo
que queria mesmo descobrir.
— Se for recadinho da Rafaella, esquece. — Quase a ignorou, falando sem nem olhar
para seu rosto. — Já disse que ela é passado na minha vida. — Bebeu goles de sua soda
limonada e enfim olhou para a loira à sua frente.
— Não é nada disso. É sobre uma outra garotinha aí... — Pressionou os olhos e ele fez
uma cara de confuso. — É sobre a Victoria.
Karolinne disse decidida e Phillip decidiu acompanhá-la. Ela sabia que ele gostava
mesmo da garota rebelde, mas pelo jeito haviam brigado e obviamente iria utilizar essa
situação para tirar algum proveito e tentar arrumar um jeito para Vick se dar mal.
— O que você quer falar? Sabe de alguma coisa? — perguntou desconfiado, pensando
que, no grau de paixonite aguda de Karolinne por Harry, talvez ela também desconfiasse da
mesma coisa que ele.
— Nossa, você está obcecado por essa garota. O que ela tem que eu não tenho? —
Jogou-se para cima dele usando seu olhar sedutor e infalível... Espera, quase infalível. Parker
se afastou, rindo baixo.
— Você quer uma lista? Primeiramente, ela não é atirada igual a você. — Debochou. —
Vamos, fala logo o que você quer... — disse grosso e ela revirou os olhos.
— Vocês brigaram?
— Isso não é da sua conta. — Cruzou os braços impaciente.
— Swag, entenda, o meu lance não é você, é o Harry... Então, nossos alvos são
diferentes. — Ergueu a sobrancelha.
— Não estou te entendendo, Karolinne... O meu assunto com a Vick, eu vou resolver. E
você é estúpida por gostar desse babaca. Aliás, cuidado porque os dias dele estão contados. —
Ameaçou, mostrando todo a raiva que sentia de Miller.
— Você e o Harry ainda são brigados até hoje por causa daquela garota idiota? Ela já até
sumiu de vista e vocês ainda se odeiam por causa dela. — Falou relembrando um dos motivos
para a briga contínua dos dois. Esse era um assunto que particularmente para Phillip era muito
difícil, seu rancor ainda era imenso.
— Acabou, Karolinne? Eu tenho que ir — falou sem paciência e saiu sem esperar
resposta.
Phillip já estava irritado com o que rondava sua cabeça nas últimas horas, não queria
mais problemas e muito menos se partissem de Karolinne. Sentou com seus amigos
novamente. Ainda faltavam alguns minutos para o intervalo acabar.
Nev e Victor se reuniram sozinhos para conversar, colocar de vez as cartas na mesa...
Eles se sentaram em um banco longe das pessoas do pátio.
— Para que tanto mistério, Stones? — disse Black ao chegar no lugar mais reservado.
— É uma parada séria, não sei se você vai gostar muito... — Abaixou a cabeça. Uma
hora o seu amigo iria ter que saber, então que fosse por ele.
— Para com essa palhaçada e diz de uma vez — falou, impaciente.
O loiro começou a falar sobre a amizade dos dois e a importância que ela tinha em sua
vida, queria preparar o terreno para enfim falar que já estava namorando a irmã de Victor há
semanas, escondido dele e de todos. Porém, ao fazer essa introdução, perdeu tempo. Logo
chegaram quatro amigos do time de Black e começaram a conversar. Nev não conseguiu
concluir a conversa. Vendo que estava sobrando, saiu logo depois.
O sinal soou, fazendo com que todos voltassem para suas devidas salas de aula.
Victoria estava indo em direção à sua sala quando alguém a pressiona com rapidez na
parede do corredor. Era ele. Só ele tinha aquele toque. Só ele tinha aquele cheiro. Só ele tinha
aquele jeitinho todo especial de deixá-la completamente arrepiada.
— Harry, seu louco — disse, sufocada com aquele cheiro. — Enlouqueceu de vez? —
Estavam no meio do corredor. As pessoas passavam ao redor.
— Acho que sim, porque a única coisa que eu queria era te beijar agora... — disse no
ouvido da garota. Ela respirou fundo, pelo visto iria ter que ser o lado racional da relação
naquele momento.
— Não dá para esperar até chegar em casa? — pronunciou com os olhos fechados.
Como era complicado ser forte e resistir àquilo quando o hálito quente e sedutor de Miller
falava tão perto dela...
— Não... — ele falou. Victoria suspirou, não tinha jeito, seu cérebro funcionou rápido,
traçando um caminho. Logo já estava segurando Harry pega gola da camisa levando-o até a
sala de artes. A multidão dos alunos retornando às suas aulas talvez tenha até favorecido
aquela fuga, ninguém prestou tanta atenção e, se viu, não parecia nada demais. Ainda não era
nada demais. Ainda.
Fechou a porta.
Eles se olharam por alguns segundos, corações batendo fortes e, quando piscaram, já
estavam entregues um ao outro. Harry segurou a garota pelas coxas colocando-a sobre uma das
mesas violentamente. Beijavam-se intensamente, Jones segurava nos cabelos longos dele,
puxando-os forte. Ela adorava fazer aquilo, sentir as mechas macias sobre as vontades de seus
dedos. Os beijos eram sem igual, junto com eles vinham algo a mais, algo que a cada toque, a
cada carícia, só ia crescendo mais e mais em ambos. Era como se fosse chegar ao nível
máximo e incendiar tudo em sua volta. O casal estava em chamas, até que derrubaram uma
prateleira inteira cheia de pincéis, tintas e outros materiais, fazendo um enorme barulho. Harry
tentou ir arrumar, porém Vick sabia que não daria tempo e os dois se esconderam atrás de uma
enorme bancada. Ficaram alguns minutos até se darem conta de que provavelmente ninguém
havia ouvido. Precisavam sair dali e depressa.
— Isso é por sua causa — Jones reclamou.
— Você é uma santa, né? — Ele cerrou os olhos.
— Sim, eu sou. — Segurou o rosto de Harry e mordeu seu lábio inferior. Ela não resistia
aqueles lábios carnudos.
Eles se levantaram dali e saíram da sala. Entraram atrasados na aula e tomaram uma
chamada da professora.
Phillip olhou furioso para aquela cena. Ele tinha que fazer algo a respeito, só não sabia o
quê. Não acreditava na inocência deles. Como não havia pensando nisso antes? Mais uma vez
Harry se colocava em seu caminho, mas dessa vez não deixaria que ele roubasse sua garota.
Jones sentou-se em sua carteira, tentou prestar atenção na aula, mas aquele sentimento a
estava consumindo, era corrosivo, aqueles olhos verdes não saíam de sua mente. Ela só queria
senti-lo mais e mais. Sentia-se preenchida. Como se durante toda a vida estivesse estado vazia
e de repente ganhou algo com o qual se encher.
No fim da aula, todos seguiram para suas respectivas casas. Victor decidiu ir até a casa
da Bia ver se ela estava bem. Afinal, a garota que não era de faltar aulas, não deu as caras
naquela manhã. Sabia que Rafaella iria para o treino de líderes de torcida. Isso era bom, assim
não teria espaço para acontecer o que ocorreu da última vez que se encontraram. Ainda
lembrava da vergonha estampada no rosto corado de Bia. Precisava ver se ela já estava melhor,
se havia faltado por conta disso. Aquele beijo não saía de sua cabeça, e Black não tinha ideia
do porquê, já que Bia não fazia nem um pouco seu estilo, ele mal sabia do motivo de tê-la
beijado, só quis e muito.
Chegando lá bateu na porta cinco vezes e ninguém atendeu. Desistiu, mas quando se
virou para ir embora ouviu o barulho da porta se abrindo. Olhou para trás e lá estava Bia com
seus pijamas de gatinhos o encarando com espanto...
— O que você está fazendo aqui? — Ergueu a sobrancelha. Suas pernas chegaram a
tremer.
— Oi... — Victor virou-se e aproximou-se novamente da porta. — Eu queria... — ele
coçou a cabeça, não sabia o que estava fazendo ali, somente foi. — Você não foi na escola,
então decidi passar aqui. — Foi entrando sem ser convidado.
— Eu não me senti muito bem hoje, acho melhor estudarmos outro dia, Victor — falou
ainda segurando na porta. Não estava pronta para olhá-lo, por isso não foi a escola, não
adiantou nada. Já que lá estava ele em sua casa. Olhou para si mesma, estava outra vez com
pijamas constrangedores e nada sexy em sua frente. Pesadelo.
— Vamos ser diretos, o que aconteceu ontem... — Ele chegou mais perto e Bia sentiu
suas bochechas queimarem. Ela não queria magoar-se, já pressentia o que ele diria. E sabia que
ia doer demais.
— Não quero falar disso, eu sei que foi um erro. Não precisa dizer nada por pena. —
Tentou evitar olhá-lo, aquela situação foi tão embaraçosa, a forma como ela se descontrolou e
foi para beijá-lo dentro daquele carro, não entendia como tinha sito tão impulsiva. Quando
ouviu o que a garota disse Black franziu o cenho.
— Uau, Bia, como você é insegura... — Arregalou os olhos, ele não sentia pena
nenhuma dela. Bia olhou para ele com certa raiva pelo que disse. Ela era insegura porque não
era fácil gostar de alguém por anos, vê-lo beijando outras garotas, vê-lo beijando e namorando
sua própria irmã, ouvi-lo dizer que ela não era seu tipo de garota. Não era fácil.
— Sou mesmo, eu sou assim — falou com uma firmeza que Victor nunca havia visto. —
Não quero falar sobre isso. — Afirmou. Ele não sabia se deveria dizer, mas não era dos que
pensavam muito sobre tudo, apenas fazia e depois via as consequências.
— Eu gostei daquilo, mas pelo jeito... — Bia sentiu todo o seu corpo chacoalhar ao ouvir
aquilo, ele havia gostado e admitiu isso, sentiu-se uma fraca por não ter admito o mesmo. —
Eu na verdade, vim me desculpar, não deveria ter feito aquilo — falou arrependido, já que
claramente Bia não havia gostado na sua opinião.
— Você gostou? — perguntou surpresa, ela mal poderia acreditar. — Quer dizer... Tudo
bem, não precisa se desculpar. — Algo dentro dela dançava sem parar.
Ficaram em silêncio por algum tempo, ela com a cabeça baixa tentando não pular no
meio da sala e fazer com que Victor a achasse mais estranha do que já achava, ele a encarava
sem ter a mínima noção do que ela estava pensando. Era como uma incógnita.
— Estamos bem? — Black perguntou rompendo o silêncio.
— Sim — respondeu despertando. — Bem, eu... Eu estava assistindo a um filme... —
Colocou as mechas de seu cabelo detrás de suas orelhas. — Não quer ver comigo? —
perguntou receosa, talvez estivesse entrando em um mundo paralelo.
Primeiro Victor diz que gostou de beijá-la. Depois ela simplesmente decide convidá-lo
para ver um filme.
— Tem pipoca? — perguntou animado e a garota assentiu.
Ele aceitou sem nem pensar duas vezes.
Talvez realmente uma nova Era estivesse se iniciando para Bia. Ela somente foi buscar a
pipoca. Queria chegar a algum lugar em que estivesse sozinha para pular, mover seus braços,
porque no momento uma energia poderosa se esvaia pelo seu corpo. O seu maior crush da vida
inteira estava esperando sentado no sofá.
Victor se sentia feliz por estar feliz, por estar com Bia, por ser amigo dela. Nunca
imaginou que poderia ter amizade com a irmã de sua ex-namorada. Mas ao conhecê-la mais,
ao ver a generosidade e paciência com a qual ela o ensinava, a forma como ria tampando sua
boca e quando ria mais forte livrava-se das mãos e mostrava todo o seu sorriso. Talvez fosse
um erro envolver-se, mas ele não estava disposto a se afastar.
Não demorou muito para Bia aparecer com seu sorriso tímido e um balde de pipoca nas
mãos. Black suspirou. Os dois sentaram-se lado a lado. O popular. A excluída. O pior aluno da
sala. A melhor aluna da sala. Lado a lado.
Flores, anel de compromisso, palavras perfeitas. James havia planejado esse momento a
semanas. O dia em que pediria Maria em namoro. Estava super ansioso para que aquilo
acontecesse logo... Não tinha porque perder mais tempo. Depois da noite em que enfim foram
um do outro, ele estava certo de que queria oficializar as coisas.
Caminhou as duas quadras que separavam suas casas com seu coração batendo forte.
Não conseguia saber a fórmula que fez esconder por tanto tempo seus sentimentos. Desde que
começou a pensar em garotas, era de Maria que ele gostava. Era ela que habitava seus sonhos.
E sua realidade.
Cruzou a esquina chegando rapidamente no gramado da casa, de imediato pensou estar
vendo coisas, mas ao caminhar a passos lentos até mais perto da casa da moça.
Viu seu coração se desmanchar.
Maria estava beijando outro garoto, era aquele Taylor do dia da festa de aniversário do
Victor...
James não conseguia raciocinar direito, sentia uma imensa dor no peito.
Como ela foi capaz de fazer algo assim mesmo depois de ficarmos juntos? É claro que
ela não ia gostar de mim desse jeito, nunca... Para ela eu não sou nada além de um amigo...,
pensou angustiado. Aquela cena fazia seu estômago embrulhar, sua garganta se fechar.
Jogou as flores na rua e foi para casa arrasado e desapontado. Não sabia o que fazer para
que aquela dor acabasse. Parecia perdido...
***
Na casa dos Miller, Jones, um casal de adolescentes ainda não conseguia se desgrudar.
Depois de passarem a tarde juntos, Harry ainda queria mais e mais de Victoria.
— Harry... Deixa eu tomar banho, vai — disse tentando se soltar dos braços do garoto
que envolviam sua cintura.
— Só se eu for junto — sussurrou maliciosamente e beijou o pescoço dela que estava em
seu colo.
— Ah, coitado... O que te faz pensar que isso é possível? — olhou para ele cerrando os
olhos divertidamente.
— Você não iria se arrepender. — Beijou as costas da garota.
— Tudo bem — disse, incisiva, olhando para ele com seriedade.
— Como assim? Vai rolar? — perguntou surpreso. Ela assentiu, ele foi para beijá-la e
soltou um pouco suas mãos da cintura da garota.
Nesse momento, Victoria conseguiu sair do colo dele e correu em disparada para seu
banheiro, trancou a porta.
— Ah, consegui. Sai tarado! Sai daqui. — Gritou rindo. Harry fica frustrado, mas abre
um sorrido ao ver algo.
— Vai rindo... Você esqueceu sua toalha, baby... E eu vou ficar aqui te esperando na
porta. — Falou segurando a toalha da garota entre suas mãos.
Victoria sorriu e balançou a cabeça. Seu coração batia como nunca. Estar tão bem com
Harry a fazia muito feliz... Pela primeira vez, sentiu que ele seria o cara certo, se é que
existisse um. Logo espantou os pensamentos quando o garoto gritou do lado de fora do
banheiro...
— E aí? Já tirou a roupa?
Como alguém pode ser tão tosco e sexy ao mesmo tempo? pensou a garota apaixonada.
Capítulo 33: I'm in love with you
~ Victoria Jones ON~
Como alguém pode ser assim tão irritante? Estava há mais de 10 minutos presa no banheiro
porque o tarado do Harry não queria sair da minha porta. Ele estava se aproveitando do fato de
eu ter esquecido minha toalha do lado de fora. Observava meu banheiro, o piso amadeirado, os
azulejos brancos, somente toalhas de rosto tão pequenas que não me cobririam bem.
Já havia me cansado, aquele joguinho já passava dos limites. Estávamos muito mais
próximos nos últimos dias, por mais que as briguinhas bobas não nos abandonem nunca,
porém ele podia parar com essas brincadeirinhas sem graça para o bem da nossa paz.
Destranquei a porta, coloquei apenas minha cabeça para fora.
— Você não se cansa de ser chato não, Miller? — falei sem paciência nenhuma. — Me
passa a toalha agora. Você não vai ter o privilégio de ver meu corpo nu — disse desafiadora,
estava exausta, só queria me trocar.
— Você acha que eu nunca te vi pelada? Ingênua demais — pensou alto e eu
boquiaberta pensando nessa possibilidade.
— Quando foi isso? Oh Deus, Harry, você é um doente mesmo. — Peguei minha roupa
suja, tampei minhas partes íntimas e saí do banheiro apressada. Já deu.
— Essa era uma atitude óbvia desde o começo — riu debochado. — Mas ainda assim,
valeu a pena esperar...
Eu corri e vesti meu roupão que estava em cima da minha cama. Ele estava me olhando
maliciosamente, mas eu estava morrendo de raiva dele, não estava nem com cabeça para
pensar em nada além do que ele tinha dito. Como assim? Ele ficava me espionando, isso é
ridículo e doentio. Tenho um stalker dentro da minha própria casa. Privacidade não existe
praticamente.
— Hey, eu só tava brincando, Jones. — Ele aproximou-se percebendo que eu não tinha
levado nem um pouco o que ele disse na brincadeira. — Não fico olhando pelo buraco da
fechadura, eu ainda tenho dignidade na vida. — Ele me abraçou por trás e beijou meu pescoço.
— Hum, sei. — Cerrei os olhos para ele que riu. — Agora eu vou trocar de roupa. —
Direcionei meus olhos para a porta e ele saiu sem resistência nenhuma, todo aquele tempo que
passei presa no banheiro para que? Só para ele ficar mais tempo comigo, só pode. Ri sozinha
quando me vi sozinha em meu quarto. Isso agora era até um pouco raro de acontecer.
Troquei-me rapidamente, pela primeira vez em anos, decido usar um vestido que havia
ganhado da vovó no natal passado. Normalmente usava mais calças ou shorts. Talvez eu esteja
mudando em tudo, até mesmo no meu modo de vestir. Minhas possibilidades estavam sendo
expandidas, estava fazendo, vivendo, sentindo coisas que nunca achei que aconteceriam na
minha vida.
Estava pensando nisso tudo quando alguém bate na minha porta.
— Entra! — disse sem me levantar da minha cama e de repente Anne e meu pai surgem
ali com os maiores sorrisos do mundo. — Qual o motivo da felicidade? — perguntei sentando.
Assim que disse isso, Anne ergueu sua mão e lá estava um lindo anel que brilhava sem
parar. Eu tampei minha boca com as mãos surpresa. Corri até eles e os abracei. Aquilo nem
parecia mais a garota rebelde que fez um escândalo e foi super mal-educada no jantar em que
conheceu a nova namorada do pai.
Eu estava feliz. Nossa, eu realmente fiquei muito feliz com a notícia. Quando eu diria
que ao receber essa novidade iria correr e dar um abraço neles ao invés de quebrar cada móvel
daquela casa? Sem dúvida nenhuma, eu estou mudando.
— Oh Vick, eu fico tão feliz que hoje nos damos assim tão bem, você é como uma filha
para mim. — Anne falou me apertando mais no abraço. Nunca esperei que ela diria algo assim,
meu coração poderia transbordar. Falar em mãe e filha sempre foi tão delicado para mim, mas
ouvir aquilo somente me acalentou.
O sorriso do meu pai já valia por mais que mil palavras. Naquele gesto eu percebi que
poderia mesmo ter estragado tudo pelo meu jeito difícil de ser.
A família toda saiu para comemorar em um restaurante incrível. Estávamos mesmo
precisando fazer algo assim juntos, meu pai e Anne trabalham demais e é bom ter momentos
todos juntos. Como uma família. Nossa, nós somos uma família e em breve isso será oficial.
Contaram que ainda vão marcar a data do casamento. E que já estavam resolvendo os
detalhes da festa, com certeza seria uma linda celebração, Anne tem muito bom gosto. Ficamos
conversando sobre isso, até que meu pai lembra que meu aniversário seria daqui a apenas dois
dias.
— Você bem que podia me ajudar falando o que você quer, não é? — Meu pai falou. Ele
sempre ficava inseguro sobre o que comprar para mim.
— Me surpreenda, Senhor Jones. — Gargalhei. A verdade é que eu não sabia que
presente queria, não sentia como se precisasse de nada físico.
— Vamos Vick, só se completa 16 anos uma vez — Anne falou para me motivar.
— Toda idade só se completa uma vez — disse Harry, o Sr. Óbvio. Pensei em como ele
era viajante e tive uma ideia boba.
— Não sei, eu queria viajar para algum lugar. — Dei de ombros falando aleatoriamente,
era improvável que meu pai deixasse eu viajar.
— Me parece uma boa ideia. — Minha madrasta sorriu para mim. Santa Anne.
— Não sei... Sem nenhum responsável? — Meu pai ergueu a sobrancelha pensativo.
— Eu posso ir com ela — Harry respondeu como se tivesse a ideia mais genial do
mundo inteiro.
— O quê? Eu viajar com você? Gente, prefiro ficar em casa. — Revirei os olhos e Harry
me olhou confuso cerrando os olhos.
— É claro que a Vick vai preferir ir com as amigas dela não é filho? — falou Anne
passando a mão nas costas de seu filho, olhei para ele, mas desviou seu olhar do meu. Qual é?
Não falei por mal. Estava brincando. — Mas você pode combinar de viajar com seus amigos
também, eu deixo — falou sorridente, passando a mão nos cabelos dele.
— Você já pensa em algum lugar? — meu pai perguntou para mim. Existia mesmo a
chance de isso acontecer? Em Chicago eu tinha que sair de fininho nas madrugadas, ele não
me deixava ir nem na padaria comprar pão.
— Não sei, mas sério que vai me dar esse presente? — perguntei totalmente
desacreditada. Não queria me iludir.
— Nós veremos. — Ah, sempre fazendo suspense.
Logo nossa comida chegou, parecia deliciosa. Nós estávamos muito animados com o
casamento, Harry estava feliz também. Mas sempre que nossos olhares se encontravam, ele
desviava, isso começou a me irritar e eu passei a fazer o mesmo.
— Eu me lembro Harry que você disse que ia ensinar a Vick a tocar violão. E aí já
começaram as aulas? — George perguntou interessado.
— Ah pai, o Harry é um péssimo professor. Eu não aprendo nada. — Harry revirou
aqueles olhos verdes para mim quando eu disse isso. Acho que ele não está mesmo
conseguindo sincronizar no meu humor.
— Acontece George, que a sua filha não tem coordenação motora e muito menos
disciplina para nada. — Ele falou de um jeito tão rude, que desgraçado, continuou sem nem
olhar para mim. Sem nem pensar muito, chutei a canela dele por debaixo da mesa e acabei
entornando suco no meu vestido.
Atirei nele e eu que fui baleada.
— Oh, não. Deixa eu limpar, querida — disse Anne ao ver a grande mancha se
espalhando pela minha roupa.
— Não, pode deixar, eu vou lá no banheiro. — Levantei-me apressada, mas antes de sair
olhei furiosa para o Harry. Nem estava com raiva dele e sim da situação, outra vez brigando
por bobagens.
Entrei no banheiro e no grande espelho pude ver a mancha de suco de uva no meu
vestido. Claro que algo precisava acontecer para arruinar essa noite ótima.
Peguei uns lencinhos e fui tentando limpar. Não serviu de nada. Saí do banheiro
apressada, quando sinto aquelas mãos fortes me pressionando para o banheiro novamente.
Os olhos do Harry estavam raivosos, parecia que me trituraria apenas com o olhar.
— O que você tá fazendo? Não pode entrar aqui — disse, tentando lutar inutilmente com
a força dele.
— A gente precisa conversar agora! — gritou imponente. Ele acha que é quem para
gritar comigo?
— Não dá para esperar a gente chegar em casa? Coisa Insuportável! — Larguei-me e me
afastei um pouco dele.
Lá estávamos naquele banheiro, ele ficou sobre a porta.
— Não, não dá. Por que você tem que estragar tudo? A gente está feliz, está bem e aí
você começa a ser grossa comigo — ele dizia tão alterado, tão pensativo, como se estivesse
pensando muito a respeito de tudo. Mas eu não tinha feito nada.
— Harry... Para de fazer drama por favor. Não estou com muita paciência hoje. — Fui
sair do banheiro, mas ele me segurou outra vez. Respirei fundo, ele estava mesmo testando
minha paciência.
— Por que você não pode ser normal como as outras garotas? — Ele disse. O quê? Ele
disse mesmo isso? Eu olhei com ódio para ele ao ouvir isso. Tentei me concentrar para ver se
não havia entendido algo errado. Mas não, foi isso mesmo.
Passei a mão nos meus cabelos. E estou mesmo tentando ser uma pessoa melhor. Mas
assim fica muito complicado. Por que ele parece tão fora de si? Olhei bem no fundo daqueles
olhos.
— Quer saber, Harry? Vai então atrás das tuas garotas normais e me deixa em paz! —
gritei, decidida. Eu não preciso de um relacionamento abusivo. Só preciso buscar minha
felicidade.
Que saco! Não passa um minuto sem reclamar da minha personalidade. Se for para ficar
me comparando com essas vadias que ele já pegou, então é melhor acabar com essa palhaçada
logo. Saí do banheiro com o ódio preenchendo cada célula do meu corpo.
Cheguei na mesa tentando me controlar para não quebrar cada centímetro daquele
restaurante na cabeça do Harry. Como eu me iludo fácil, achando que tudo na minha vida está
ótimo e perfeito, mas basta um ataque do meu irmãozinho postiço para tudo desabar.
Ele chega minutos depois com os cabelos e rosto úmidos. A partir daquele momento não
olhei mais para a cara dele. Como toda a minha sobremesa em questão de segundos para tentar
me distrair de tudo, doce resolve muitos problemas que horas de conversa e terapia não
conseguem. Já Miller nem toca no mousse de morango que pediu.
O jantar terminou e voltamos para casa. Todos estavam cansados. Assim que chegamos,
subi para meu quarto, queria ouvir música, jogar damas, dançar tango, menos pensar no Harry.
Isso tudo está me deixando aflita, meu coração não aguenta mais se encher e secar toda hora.
Deitei na minha cama e fiquei olhando para a parede, estava quase dormindo quando
ouço um barulho vindo da piscina... Levantei, fui até minha sacada, olhei para baixo e Harry
estava nadando, olhei para o relógio e eram três horas da manhã... O que diabos esse garoto
estava fazendo? Nadando. Claro. Mas a essa hora? Perdeu o juízo de vez.
Peguei meu roupão e me cobri. Ao sair pela porta, senti o vento frio batendo em meu
rosto. Fiquei parada em frente a piscina de braços cruzados. Quando Harry voltou a superfície
e me encontrou, balançou os cabelos molhados sem falar nada. Mas eu percebi seus olhos.
Aqueles eram olhos tristes, olhos de quem estava magoado.
— Também não consegue dormir? — perguntei baixinho e ele olhou para mim
balançando a cabeça negativamente em seguida.
Miller se sentou na borda e eu o entreguei uma toalha. Ficamos em silêncio enquanto ele
se secava. Eu o puxei para dentro segurando sua mão. Um ato silencioso de cuidado. Estava
muito frio, ele poderia adoecer se ficasse exposto. Logo entramos na casa aquecida. Fomos
para a cozinha e eu comecei a esquentar água para um chá. Um chá das três. Nunca é cedo ou
tarde demais para aquecer o corpo e o coração com uma xícara de chá.
— Eu tenho medo — disse, completamente do nada.
Encarei-o, ele estava sentado em uma das cadeiras em frente a bancada de mármore da
cozinha.
— Medo de quê? — coloquei a água em duas xícaras e coloquei os sachês dentro.
— Medo de tudo. E agora parece que esse medo só cresce a cada dia que passa. — Ele
abaixou a cabeça. — Você fez isso comigo... — Algo em seu tom era tão inocente...
Como chegamos a esse ponto em que atingimos nossos pontos mais profundos? Cadê a
relação casual, apenas carnal, apenas dois adolescentes cheios de hormônios guiados pela
atração. Nessa brincadeira, acabamos colocando em jogo tudo o que sempre quisemos
preservar. Estamos expostos um ao outro.
— Eu também não estou imune a você Harry, infelizmente. — Respire, como falar
daquilo era difícil, só não era mais difícil que sentir tudo aquilo. Ele parou por um tempo. Sem
dizer nada. E só depois falou.
— Infelizmente? — Olhou para mim, seus olhos estavam vermelhos... Oh não. Isso não
era mais uma briguinha boba.
— Está vendo? Isso dói. — Sentei em uma das cadeiras também, não sei se conseguia
ficar em pé. O que era tudo aquilo? Era como se a cozinha estivesse coberta por um manto que
tornava tudo tão sensível, tão delicado, como se fôssemos quebrar a cada palavra maldita.
— Às vezes, quando você me trata mal na frente das outras pessoas, parece que o que a
gente vive é uma fantasia da minha cabeça. Parece que eu só existo para você quando estamos
a sós, isso é... — disse com pesar e dor. Eu entendia o que ele queria dizer. E isso só fez com
que meu coração ficasse mais mexido.
Pronto, estava feito... Meus olhos já começavam a arder, minha garganta já começara a
se fechar, meu estômago doía. Vê-lo daquele jeito, ouvir ele falando aquilo...
— A gente se meteu em uma enrascada...— falei sentindo o peso se apoderar das minhas
costas. — Eu não sei como vou conseguir sair, e eu sei que no fim, eu sairei machucada, como
sempre. No fim de todo e qualquer relacionamento que eu tive, eu saí ferida. — Enxugava as
malditas lágrimas que caíam sobre meu rosto.
— Para de chorar, eu não quero te ver assim — disse, levando sua mão até meu rosto e
secando minhas lágrimas. — Eu nunca, nunca mesmo iria querer te magoar.
Eu me levantei e o abracei. Harry se levantou e segurou minha cintura. Ele havia
praticamente acabado de sair da piscina, mas seu calor estava ali, no seu aconchego, sua pele
na minha é o que preciso para me aquecer outra vez.
— A gente tem que parar de brigar, desculpa mesmo, desculpa. — Ele segurou meu
rosto com as duas mãos e nós nos olhamos profundamente.
— Mesmo você sendo a pessoa mais chata do mundo...— Ele parou, respirou uma, duas,
três vezes. Como se pensasse no que diria. — Eu tenho que dizer que eu te amo, Victoria
Jones. — Meus olhos se iluminaram quando ele disse isso. Engoli em seco. Respirei, foi meu
sopro mais intenso, isso não era algo da minha mente, estava mesmo acontecendo. Amor...
Segurei-o pela nuca e dei-lhe um beijo, aquele foi um dos melhores beijos da minha
vida. Senti todos os pelos do meu corpo de arrepiarem. Ele disse que me amava...Só o que
tinha para dizer depois de ouvir algo assim, era bastante óbvio.
— Eu também te amo, Harry — Oh sim, era verdade. E eu consegui dizer em voz alta e
totalmente sóbria. Isso levou alguns meses, mas finalmente aconteceu.
A gente brigava.
Ele me irritava.
Ele dizia coisas que me deixavam fora de mim.
Mas sim, eu o amava.
Sentia isso. Não tinha como negar.
Não sei quando aconteceu, não sei em qual dos beijos que demos que isso começou a
existir. Mas existe.
— Acho que nosso chá esfriou... — disse ao perdermos o fôlego de mais um beijo.
— Isso aqui é melhor que chá. — Nos beijamos mais uma vez.
Olhei para o relógio e acho, só acho que eu vou dormir em todas as aulas de hoje. Mas
valeu a pena.
Algumas horas depois já estávamos quase prontos para ir para a escola... Eu estava
pegando minhas coisas e colocando na bolsa quando o Harry me chama do quarto dele...
Eu entrei e ele virou as costas nuas em minha direção.
— Olha, olha bem o que você fez — disse, bravinho. Fiz uma careta de ''ops''.
Nossa, eu realmente exagerei nos arranhões nas costas dele. Estava tudo vermelho.
— Oh baby, quer que eu sare com beijinhos? — Fiz biquinho rindo disso.
— Fica debochando, está ardendo muito. — Pegou sua camisa e vestiu-a.
Eu peguei ele e o abracei por trás e comecei a beijar as costas dele delicadamente. Como
ele é cheiroso... Meu Deus. Quando vou me acostumar a esse garoto?
— Assim tá bom? — disse distribuindo carinhos. — Você me perdoa agora? —
questionei manhosa.
Ele me olhou e sorriu. Pego-me pela cintura e me deu um beijo. Ele me apertou forte
com aquelas mãos grandes. Suspirei. Podemos implicar um com o outro. Mas nada muda o
detalhe básico que descobri nessa madrugada. Nós somos apaixonados um pelo outro. Acho
que nunca tive uma manhã tão feliz em toda a minha vida.
~ Narradora ON~
~No dia anterior~
Victor se despedia de Bia após uma tarde de muitas risadas em sua casa. Assistiram a
filmes, conversaram e a cada momento descobriam coisas novas em comum. Era muito surreal
como mesmo em mundos diferentes, conseguiam ter gostos tão parecidos. Bia mal conseguia
acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo com ela.
Black seguiu com seu carro até sua casa quando no caminho, pela vitrine da sorveteria se
depara com uma cena nada apetitosa. Sua irmã e um de seus melhores amigos aos beijos ...
Estacionou o carro incrédulo. Se achou um idiota, aquilo devia estar acontecendo há muito
tempo pelas suas costas. Entrou furioso na sorveteria, Maya se assustou ao ver que ele estava
ali. Não conseguia acreditar que seu amigo estava fazendo aquilo com ele.
— Victor... — Maya falou arregalando os olhos ao ver seu irmão entrando no
estabelecimento.
— Não acredito nisso, Maya! E logo você, Nev... Eu confiei em você. — Ele olhava com
pesar, balançando a cabeça.
— Victor, eu gosto da sua irmã de verdade. Não é como se... — O loiro começou a falar,
mas o outro, nervoso, ordenou que calasse a boca.
— Não grita com ele, a vida é minha, estamos namorando e vamos ficar juntos! — disse
a garota com firmeza.
— E nossos pais já sabem disso? — Ergueu a sobrancelha.
— Eu vou na sua casa falar com eles amanhã. — Nev declarou decidido. E Victor riu
debochado.
— Muito bem Nev, fazendo tudo pelas minhas costas, você é um traíra mesmo. Eu te
falei, pega a vadia que for, mas não se mete com a minha irmã — disse raivoso.
— Acontece que eu me apaixonei pela sua irmã. E aí? — Retribuiu também chateado
pela confusão que Victor fazia, não conseguia entender porque seu amigo não aceitava a ideia.
Victor o olhou com muita fúria. Depois disso, intimou sua irmã a ir embora. Mesmo que
Maya quisesse mesmo era mandar seu irmão para o inferno, decidiu ir embora, todos do lugar
olhavam para os três. Maya despediu-se de seu namorado com o olhar e disse que tudo iria
ficar bem.
Stones sentou-se atônito na mesa como se não acreditasse em tudo que acabara de
acontecer. Parece que sua amizade com Victor foi por água a baixo. Ele sentia muito por isso,
porém não estava disposto a desistir de Maya só pelas imposições do irmão dela.
Os dois irmãos foram para a casa brigando o caminho inteiro.
A algumas quadras dali beijos e mais beijos aconteciam... As coisas entre esse casal
pegavam fogo. Não conseguiam acreditar em como perderam tempo, tinha uma química
inigualável...
— Você sabe que eu fico louca quando você faz isso — sussurrou Lis enquanto Louis
mordia a pontinha de sua orelha e dava beijos em seu pescoço.
— Desse jeito? — falou manhoso e repetiu o ato, fazendo a garota virar os olhos.
Louis continuava seus beijos irresistíveis, eles estavam deitados na cama. Elis havia
prendido as pernas em volta da cintura de Louis. Ela levantava a camisa dele e o apalpava
lentamente. Até que a mãe de Louis bate na porta do quarto. Rapidamente, eles tentam se
recompor.
— Oi mãe...— o garoto fala revirando os olhos.
— Então, a pizza chegou. Quem aí está com fome? — disse com um sorriso no rosto.
Por comida, não se importavam de parar por algum tempo o que estavam fazendo.
Rapidamente foram até a cozinha comer a pizza. Sentaram-se à mesa. Estava tudo bem, até que
a mãe do garoto decidiu falar um pouco...
— Então Louis, já foi pedir a mão da Lis em namoro para os pais dela? — disse e Elis
sorriu desconcertada.
— Mãe, nós não estamos namorando, e quem hoje em dia vai pedir a mão da garota aos
pais? — debochou. Nev Stones não curtiu isso.
— Ah, eu pensei que estivessem afinal... — Olhou maliciosamente para eles, Lis ficou
envergonhada.
— É, mas a Lis não quer nada sério comigo então... — Elis deu tapa no garoto.
Preocupada com o que a mãe dele iria pensar a respeito dela.
— Hey, que falso. Eu nunca disse isso — falou, levemente brava.
— Ah, não? Então... — Ele soltou um pigarro como se estivesse preparando sua voz para
falar. — Você quer ser minha namorada?
Quando ele disse isso, os olhos de Elis se iluminaram... Ela realmente queria ser
namorada de Louis. E todo aquele passado em que gostou de Harry parecia não fazer sentido
algum. O que ela sentia pelo garoto nem se comparava a nada que ela já sentira na vida.
— E então? — perguntou a Sra. Williams animadamente.
— Claro que eu quero! — respondeu sorrindo. Não acreditava como cada passo
realizado desde a festa do pijama na casa dos Black fez com que tudo desse certo para os dois.
Não faz tanto tempo que fizeram as pazes e agora eram namorados.
Louis estampou seu sorriso mais sincero, ele queria dar piruetas no ar, pular pela casa,
em seu interior já realizava essas ações.
— Não precisam se incomodar porque eu estou aqui. Comemorem isso, vamos! — A
mãe motivou os dois, sorridente. Estava contente e sabia dos sentimentos de seu filho pela
garota.
Logo Elis e Louis deram seu primeiro beijo como namorados. Sorriram, felizes.
Com esses mesmos sorrisos chegaram na escola de mãos dadas no outro dia. Louis não
queria saber o que os outros iam dizer, só não queria perder mais tempo. Elis era sua namorada
e fazia questão que todos soubessem disso.
— Olha... Um novo casal na área! — Nev comemorou.
— Ah, eu sabia que ia acabar dando nisso! — Maya sorriu, vitoriosa.
— Não acredito! Louis Williams, eu exijo ser a madrinha dos filhos de vocês — disse
Victoria animada.
— Hi, Vick, tem um problema, o Harry já seria o padrinho, então acho que vocês dois
juntos podem ser. Será que conseguem a proeza de dividir um afilhado? — debochou e piscou
para a garota logo depois.
— Acho que sim... — Olhei para o Harry e trocamos nosso olhar secreto, não tão secreto
assim já que Louis como meu amigo e melhor amigo do Harry conhecia a gente muito bem e
sabia do que fazíamos quando estávamos sozinhos.
Logo Victor e Maya chegaram, Nev ficou totalmente desconfortável, mas se surpreendeu
quando ao bater o sinal indicando que deveriam entrar para as aulas. Sua namorada o
acompanhava, segurando forte sua mão. Entraram na sala assim juntinhos. Pela primeira vez
estavam mostrando para todos que estavam tendo algo.
Karolinne, Rafaella e Joanne lançaram olhares para os novos casais da sala e
comentavam sobre isso com certo ar esnobe.
James chegou de óculos escuros e aparentava estar de péssimo humor. Ao passar acabou
esbarrando em Joanne e derrubou as coisas dela no chão.
— Oh não, eu sou um distraído mesmo, foi mal. — Tirou os óculos e se abaixou para
apanhar.
— Ah, não tem problema, Jay. — Ele olhou-a nos olhos, poucas pessoas o chamavam
assim, olhou para frente e viu que Maria o observava atenta. Ela era uma dessas pessoas que o
chamavam daquele jeito.
— Tem problema sim, uma princesa como você não merece isso — disse galanteador em
alto e bom som para que chegasse aos ouvidos de Maria, queria atingi-la, assim como ela o
atingiu de maneira tão cruel.
Antes de sair dali, massageou a maçã do rosto da garota e sorriu. Maria o encarava
incrédula. Ele se sentou em seu lugar e deu uma piscadela em direção a Joanne que sorriu.
— Hi, o James está te dando condição, é isso mesmo? — Karolinne comentou rindo com
sua amiga.
— Ah, que isso? Imagina... — disse a outra, sem graça.
— Está sim, sua idiota! Aproveita. — Deu-lhe um tapa de leve.
— Ele tem namorada. — Joanne lembrou já que achava que Maria e James namoravam.
Muita gente na escola achava isso.
— E daí? — disse e Joanne revirou os olhos para ela.
O garoto pegou seus cadernos e colocou sobre a mesa. Sentiu alguém cutucá-lo. Era
Maria. Com uma expressão de pouquíssimos amigos.
— O que foi aquilo ali? — disse referindo-se à situação com Joanne.
— Você não tem mais nada a ver com isso. Esquece que eu existo — falou curto e
grosso.
Maria ficou chocada com as palavras de James, ele nunca havia falado com ela daquela
forma... Lágrimas começaram a invadir seu rosto. Ela não entendia o que se passava, o que
havia feito de errado?... Se questionava.
Foi quando lembrou de seu beijo com Taylor... Oh não, deve ser isso...
O dia se passou rapidamente e Maria não conseguiu uma maneira de falar com James,
não sabia como começar um assunto. Ele parecia muito magoado.
As aulas do dia acabaram.
Harry disse a Victoria que iria para a casa de Louis e por isso não iria voltar para casa
com ela.
A garota passou a tarde fazendo alguns exercícios que estavam atrasados da matéria. Ao
terminar, ficou entediada, decidiu ligar para Louis...
~Ligação ON ~
— O Harry mentiu para mim... — pensou alto. — Onde será que ele está? Se ele estiver
aprontando, ele vai se ver comigo! — falou brava.
A noite logo caiu e Nev respirava fundo, chegou o momento, teve coragem e tocou a
campainha dos Black, Maya a abriu sorridente e eles se abraçaram.
Os pais da garota receberam-no muito bem, tudo ocorreu da melhor forma possível,
Stones era muito adorável e logo a mãe e o pai de Maya puderam ver isso, assim como na
forma como ele olhava para a sua filha conseguia demonstrar todo o carinho que sentia por ela.
Victor decidiu não jantar com ele, não queria fazer parte daquilo.
— Então, Sr. Black e Sra. Black, eu queria saber se tenho permissão de namorar a filha
de vocês? — perguntou receoso.
— Nev, olha o tamanho desse sorriso — apontou para Maya, ela não conseguia esconder
sua felicidade. — Eu vou te dar esse voto de confiança — disse o pai, feliz pela atitude do
menino em ir até lá conhecê-los.
— Mas, vocês dois, juízo hein? Por favor — aconselhou a Sra. Black, Nev e Maya
sorriram apaixonados.
— Obrigada Pai, obrigada Mãe, esse é o melhor dia da minha vida. — A garota quase
gritou, seu coração batendo forte.
Do nada, Victor surge na sala de jantar... Nev fica nervoso ao vê-lo. Não queria uma
briga, muito menos ali, na frente dos pais, isso poderia atrapalhar tudo.
— Você... — Victor parou cerrando seus olhos, Nev acompanhou atento, logo a
expressão dele se suavizou. — Vê se cuida bem da minha irmã, entendeu? — Sorriu.
Sem dúvida, Nev estar ali conversando com seus pais, foi uma enorme prova para Victor
de que as intenções dele eram as melhores. Não seria ele a atrapalhar algo assim.
Nev se levantou e abraçou o amigo.
— Você não vai se arrepender. Eu te amo, cara! — Nev disse e aquela atitude fechou a
noite com chave de ouro.
Depois de um dia cheio, Harry chega em sua casa e se joga no sofá como de costume. Está
com os olhos fechados, descansando as costas quando sente o peso de uma sombra sobre si.
Abre os olhos e encontra uma garota aparentemente nada satisfeita, com os olhos
semicerrados, de braços cruzados e batendo o pé esquerdo em um ritmo constante.
Victoria só conseguia pensar em mil motivos terríveis para Harry mentir para ela. Suas
mãos tremiam e seu coração batia. Ela não queria ter que ouvir mentiras, mas talvez a verdade
pudesse machucá-la muito mais.
— Que foi? — perguntou confuso, olhando para ela. Sua testa estava franzida.
— O que foi? — repetiu, irritada. — E aí como foi a tarde de videogame na casa do
Louis? — perguntou tentando controlar a raiva que sentia, com um sorrisinho irônico no seu
rosto.
Esperava que Miller fosse entender o sarcasmo em sua vez. Mas ao invés disso ele soltou
um suspiro, apoiou as cabeças entre as mãos e respondeu.
— Ah, foi tudo na mesma... — falou sem ânimo, fechando os olhos outras vez como se
quisesse mesmo descansar.
Jones sentiu suas veias pulsarem. Ele estava mentindo de novo, sem nenhum sacrifício
ou remorso. Como se fosse muito fácil fazer tal ato.
Era doloroso saber que mesmo depois que tudo pareceu enfim se encaixar e mesmo
depois dele dizer que a amava, ainda fosse capaz de mentir daquele jeito.
— Ah é? — soltou o ar, fechando os olhos de raiva. — Não precisa mentir pra mim,
Harry. Nós nem somos namorados, para com essa cara de pau! — gritou brava sem conseguir
mais controlar o que sentia.
Ele se levantou e encarou-a. Sabia que a garota com lábios sedutores e olhar ameaçador
a sua frente não era nada fácil. Como era complicado lidar com ela, mentir para ela então...
Impossível. Achou que fosse conseguir escapar dessa, mas pelo visto não foi dessa vez.
— Eu estou mentindo? Como assim? — Se esforçou para parecer convincente, vendo
que não conseguira, decidiu ter outra abordagem. — Tudo bem, você tem razão, eu não preciso
mentir para você, eu não tenho que te dar satisfações da minha vida. Só precisarei fazer isso se
eu casar, e só se eu quiser me casar um dia!
— Coitada da mulher que te escolher como marido. Você não merece a confiança de
ninguém! — Ele a olhou abrindo a boca com o que ela disse.
— Você sempre vê o lado ruim das coisas, não tem nada a ver isso. Eu menti porque...
Porque... — Ficou sem palavras. Ele não sabia o que dizer.
— Não quero ouvir, Miller. — Falou se sentindo uma idiota por estar passando por
aquilo. Afinal bastava olhar para o passado de Harry para supor que ele não conseguia ficar
com apenas uma garota, ela lamentava internamente. — De certo estava com uma das suas
peguetes. Fez bem... Mas eu cansei de ser uma delas — falou tentando segurar o choro,
começou a subir as escadas pesadamente pensando em como tudo o que é bom, pode durar tão
pouco. Talvez poucas horas.
O garoto sentou no sofá e levou suas mãos até a cabeça. Fechou os olhos tentando buscar
equilíbrio para tentar consertar a situação entre os dois.
Quando esses dois vão parar de brigar?
Victoria foi para seu quarto, deitou na cama, ficou apenas cinco minutos. Estava
inquieta, precisava sair, respirar um pouco.
Não gostava de exercícios físicos, mas pela primeira vez em meses, tirou seu tênis de
corrida do fundo do guarda-roupa. Desceu as escadas ignorando a presença de Harry na sala e
saiu. Suar um pouco podia fazer bem.
Respirou fundo sentindo a brisa fria bater em seu rosto. Colocou seus fones no ouvido e
selecionou uma música para o início de sua corrida. A voz mórbida e tranquila do vocalista de
uma das suas bandas preferidas a acompanhava em seu trajeto pelo condomínio fechado mais
caro da cidade.
Logo chega em uma das áreas de lazer do lugar, era um jardim com direito a tulipas
coloridas e uma fonte com cascatas d'água.
Repousa ali, se apoiando em suas coxas, já exausta. Quando ouve alguém assobiar, olha
rapidamente e lá estava Phillip em sua bicicleta. Ele ao contrário dela, gostava de praticar
esportes e estava sempre se exercitando pelo condomínio.
— Oi Parker, faz tempo que não te vejo. Por que não foi à aula hoje? — perguntou se
aproximando um pouco, limpando o pouco de suor em sua testa.
— Acordei atrasado e decidi dormir um pouco mais. — Sorriu. Com ele era simples
assim. Fazia basicamente o que estava com vontade.
— OK, então boss. — Comentou sentando em um dos bancos de mármore do lugar. Não
estava acostumada a correr.
— Seu aniversário já está bem próximo, não é? — Ele fala pegando a garota de surpresa.
— Como sabe disso? — Arregalou os olhos. Talvez ele seja um outro stalker, pensou
rindo de seu próprio pensamento.
— Facebook, dã. — Fez uma careta engraçada. — Eu já comprei seu presente, mas só
vou te dar no dia. — Isso surpreendeu Victoria, ela sentiu que Phillip não ficou satisfeito com
o pedido de serem apenas amigos. Mas essa atitude fez com que ela acreditasse mesmo que ele
estava dando uma chance a aquela possibilidade.
— Oh Phillip, não precisava mesmo. Que atencioso. — Sorriu, agradecida.
— Você ainda nem sabe o que é! Espere só até ver. Quer ir lá em casa jogar guitar hero?
— Victoria pensou um pouco, não ir poderia deixar a situação estranha entre os dois. Jogar
videogame pode mesmo unir pessoas e torná-las amigas. Ela assentiu, aceitando a sugestão.
Pegou na mão dela e Vick subiu na parte de trás da bicicleta
Logo os dois chegaram na imensa Mansão dos Parker. Tudo naquela casa parecia e era
absolutamente caro, eles tinham quadra de basquete, piscina térmica, sauna, jacuzi. E muito
mais. Era muito luxuosa.
Os dois seguiram até o quarto do garoto. Era grande, tinham vários troféus e artigos
esportivos. A televisão enorme de plasma estava à disposição deles.
Começaram a jogar, Jones na guitarra e Phillip na bateria. Estava muito divertido,
cantavam juntos ao som de AC DC. Algumas horas depois desceram para comer alguma coisa.
— Lorenna, prepara uma coisa pra gente comer — disse rudemente para a empregada
assim que chegaram na cozinha.
— Na escolinha não te ensinaram o "por favor” e o “obrigada"? — Victoria perguntou
incomodada com o jeito que ele mandou preparem seu lanche.
— Elas estão sendo pagas e muito bem pagas para obedecer. — Ele piscou, a garota
revirou os olhos. Não gostava nada desse tipo de comportamento.
Rapidamente, o lanche estava pronto. Comeram os sanduíches, e estava delicioso. Vick
agradeceu a Lorenna fazendo Parker sorrir. Por mais que atitudes como pedir com gentileza e
agradecer parecessem comuns, em seu universo eram raros. Ele gostava do jeito de Jones, até
mesmo quando ela parecia tão diferente dele.
— O que vai fazer no seu aniversário? — questionou o garoto.
Apesar de ter desconfianças de que ela pudesse ter outra alguém, mais precisamente com
Miller, podia ser apenas coisa da sua cabeça. Ele ainda podia ter chances reais.
— Não sei, acho que talvez eu saia com as minhas amigas, mas ainda não combinamos
nada. A verdade é que eu nunca fui de comemorar meu aniversário, e essa é a primeira vez em
que tenho amigos de verdade para fazer isso — confessou.
— Eu queria mesmo passar essa data com você, pena que eu não estarei aqui no dia,
infelizmente minha vida está uma ponte aérea e esse fim de semana sou da mamãe. — Fez
biquinho decepcionado.
Os dois ficaram conversando por um tempo, e acabaram jogando um pouco mais.
Depois, Victoria se despediu de seu novo apenas amigo e seguiu para sua casa. Ela
estava feliz por voltar a ficar bem com Phillip, gostava dele e amigos nunca eram demais.
Seu pai, Anne e Harry conversavam na sala e imediatamente pararam quando a garota
entrou no ambiente. Vick cumprimentou rapidamente o casal e ignorou a presença de Harry
ali. Ao ver a imagem dele, relembrou o motivo inicial de ter ido correr um pouco.
— O que deu nela? — George questionou curioso apesar de saber que o gênio da filha
era mesmo complicado.
— Deve ser a TPM. — Miller zombou e depois falou animado. — Mas continuando... —
Seguiram conversando.
Do outro lado da cidade, Maria seguia até a casa de James. Chegando lá a mãe dele
atendeu com muito carinho, afinal ela era praticamente uma filha. Apesar de estar feliz de vê-
la ali estava preocupada com seu filho.
— O que aconteceu entre você e o Jay? Ele estava meio para baixo ontem... —
perguntou lhe entregando biscoitinhos que acabara de fazer assim que as duas sentaram-se à
mesa na cozinha.
Nós brigamos, mas foi por minha culpa, mas tia, eu amo muito ele — declarou
tristemente.
— As pessoas erram minha querida, não fique assim. — Deu-lhe um abraço. — Há
muito tempo acompanho esse amor que meu filho sente por você. E sei que vocês vão se
acertar. — Tranquilizou-a.
Depois de alguns minutos de conversa, James chega em casa, revira os olhos ao ver que
sua amiga de infância está ali.
— O que faz aqui, Maria? — perguntou grosso.
— Ela veio conversar com você, filho. Por favor, escute o que ela tem para falar. — Saiu
da cozinha, deixando os dois a sós.
Ele se encostou na parede e cruzou os braços. Não estava mesmo afim de ouvir nada do
que Maria tinha a dizer. Nada justificaria o que seus olhos viram. Nada apagaria aquela
imagem.
— Jay, eu sei porque você tá com raiva de mim, mas me desculpa... — Era tão difícil
saber que ela magoou tanto quem ela mais amava. — Aquilo foi um erro mesmo. Nunca
deveria ter permitido que aquilo acontecesse. — disse com lágrimas nos olhos, mas firme.
— Sabe... Naquele dia eu estava indo até sua casa para te pedir em namoro — falou com
pesar, porém com algo a mais — Acho que Deus me mostrou que eu estaria cometendo um
grande erro. — Riu mesmo que não fizesse sentido.
— Não, James, por favor não diz isso. — Começou a chorar, o seu coração parecia estar
sendo amassado e as lágrimas desciam por suas bochechas. — Você é tudo na minha vida, me
perdoa? — Ela foi para abraçá-lo, mas rapidamente ele a afastou.
— Não sou nenhum palhaço, Maria, você me traiu. — Falou tentando não começar a
gritar. — Acabou, não quero mais olhar pra você, tudo isso foi um erro.
— Não faz isso, eu não consigo viver assim sem o meu melhor amigo, eu te amo, você
sabe isso. Eu errei, mas eu prometo... — Ele a interrompeu.
— Chega, não fala mais nada. Já me cansei disso aqui. — Saiu e deixou Maria lá,
sozinha, desolada... Acompanhada apenas pela dor, pelo arrependimento, por suas lágrimas e
seu coração despedaçado.
Perto dali, no jardim dos Black, Maya e Nev olhavam as estrelas... Estavam sentados em
um balanço grande e acolchoado.
— Meu amor, eu estou tão feliz que agora somos livres para namorar onde quisermos. —
Ela disse sorrindo bobo.
— Não foi fácil, mas aqui estamos. — Entrelaçou sua mão à dela e beijou-a.
— Sabe de uma coisa? Eu estive pensando na gente... Sabe, naquele próximo degrau. —
Ele olhou para ela timidamente.
— Eu te desejo muito, mas você sabe que não precisa ter pressa em relação a isso.
— Oh Nev, você é o melhor namorado da face da terra, o mais fofo, o mais lindo, o mais
maravilhoso, o mais irlandês, o mais meu... — Depositou um selinho em seus lábios rosados.
— Acho que nossos amigos vão zoar muito a gente. Vamos ser o casal mais grudento da
história. — Riu abraçando-a.
— E você se importa com isso? — perguntou erguendo a sobrancelha.
— Eu só me importo com isso... — Deu-lhe mais um selinho. — Só em estar ao seu
lado.
Se abraçaram e continuaram apreciando a luz do luar.
Da janela do seu quarto, Victor acaba de checar o namoro da irmã. Deita-se na cama,
olha para o celular em cima do criado mudo e só uma pessoa lhe vem à cabeça... Bia.
Mas não podia ligar. Ela vai acabar pensando que eu estou a fim dela. Isso vai dar
confusão, ele pensou. A verdade é que Black já nem se importava com o carro que perderia se
não estudasse, só queria mesmo era que as horas das aulas passassem rapidamente para que
enfim, a cdf lhe ajudasse a estudar nas tardes. Nunca pensou que ficaria tão ansioso para
estudar. Gostava de aprender para mostrar para Bia que ele também conseguia, que não era o
garoto mais burro do universo.
Enquanto a garota explicava a matéria focada no livro, ele se pegava reparando no
movimento de sua boca e até mesmo nos detalhes físicos da menina. Como por exemplo o
sinal de nascença que tinha próximo a sua nuca. Este ficava sempre a mostra quando ela
prendia o cabelo em coque. A pele exposta dela fazia Victor quase perder a sua concentração.
A alguns minutos dali Bia desenhava mais uma vez os olhos expressivos do dono de seu
coração, sua paixão secreta. Nem acreditara que estava assim tão próximo dele, depois de tanto
sonhar com essa aproximação.
— Hey, oi? Terra chamando nerd!!! — Rafaella gritou, tirando Bia de seus devaneios.
— Que foi? — retrucou, sem paciência.
— Tava sonhando acordada, né? Hey espera aí ... — Em um movimento rápido, retirou o
desenho das mãos de Bia. — Victor? Outra vez isso? Você ainda não desistiu desse garoto? —
debochou. Rafaella acha a irmã uma idiota por gostar tanto de alguém tão diferente, achava
mesmo que ela nunca teria chances.
— Me devolve!!! — Puxou o desenho de volta. — Você não se cansa de infernizar
minha vida? — gritou, cansada de a irmã sempre fazer tudo para magoá-la.
— Eu só estou tentando abrir seus olhos, o Black não presta, nunca olharia para você, ele
só vai te machucar, e outra coisa... Vai ficar com os meus restos? — Zombou do fato dos dois
já terem namorado.
Bia olhou para sua irmã com ódio, se levantou da cama e começou a empurrá-la para
fora do espaço. Rafaella só ria debochada. Não aguentava mais tantas palavras de humilhação,
ainda mais partindo da pessoa que mais deveria amá-la.
— Você é ingênua demais irmãzinha, cuidado para não cair de cara no chão — disse
Rafaella antes de sair do quarto por vontade própria.
Bia se jogou na cama, gritou contra o travesseiro. Por que a vida dela não podia ser
diferente? Talvez, se fosse mais bonita, tivesse um corpo melhor, um jeito mais extrovertido e
simpático... Mas não, somente Rafaella podia ter aquilo, para ela só sobrava a feiura e a
esquisitice... — pensou, se angustiando.
~ Na manhã seguinte~
Elis e Louis eram o casal mais divertido da noite, dançavam sem parar, apesar de ambos
começarem a abusar demais das bebidas.
Maria, Bia e Maya conversavam sobre diversas coisas. Uma delas resolveu compartilhar
algo importante.
— Amigas, sabe... — Maya começou um pouco receosa. — Nev e eu estávamos tendo
conversas sobre aquilo a algumas semanas, ele dizia que precisava ser especial, que me
esperaria. E eu estava amando aquele jeito fofo dele, mas... — Parou de falar exibindo um
risinho de canto. Um sorrisinho de quem aprontou. Ou apenas seguiu seus instintos.
— Nãããããão...Você e ele... — Maria fez uma cara de surpresa e Bia repetiu a expressão.
— Quando foi isso? — A mais tímida perguntou curiosa.
— OK, vou contar...
— Nev e eu estávamos olhando as estrelas várias horas atrás e ele estava sendo o fofo de
sempre. Quanto estamos juntos mal vemos o tempo passar.
“Então, a gente precisou ir resolver o resto das coisas da festa de hoje. Eu já estava
arrumada, então fui com o Nev até a casa dele.
“Chegando lá, ele subiu para tomar banho e eu fui até a geladeira pegar as bebidas que
estavam lá. Coloquei-as sobre a bancada da cozinha, não havia ninguém em casa, a mãe dele
havia saído, ou seja, estávamos sozinhos. Ele demorou um pouco e eu decidi ir ver quanto
tempo faltava para irmos logo embora.
— Nev? — gritei, subindo as escadas de sua casa.
— Ainda estou no banho, amor... — respondeu do banheiro. Eu amava quando ele me
chamava de amor.
— OK, vou esperar aqui no quarto.
“Entrei no quarto dele e fiquei olhando seus objetos, seus pôsteres, suas fotos, suas
medalhas do campeonato anual de ''Quem como mais pizza'' e também de ''Quem come mais
cachorro quente''. Isso só me encantava mais. Não entendia como alguém tão magro podia ter
apetite tão grande.
— Impressionada com meus títulos — disse convencido, rompendo o silêncio. Eu me
virei para olhá-lo e responder algo engraçado, mas ele estava apenas de toalha. Não consegui
fazer nada a não ser observá-lo, a pele branca, os poucos pelos loiros, seus músculos
evidenciados pela nudez.
“Nev sorriu e balançou seus cabelos loiros bastante molhados. Eu acho que me perdi nos
meus devaneios, eu quis, realmente quis tê-lo todo para mim. Não que ele fosse o homem mais
sarado, mais sexy, mais lindo do mundo. Mas quer saber? Para mim, era como ele parecia, o
melhor do mundo, o mais meu. Eu não pensava em ninguém, a não ser nele.
— Para de me olhar desse jeito... Vou ficar com vergonha — zombou, cobrindo o rosto e
fingindo estar envergonhado. Isso fazia ele ficar mais adorável.
“Eu segui até ele em passos lentos e sem desconectar nossos olhares... Passei a mão em
seus cabelos. Nev agora parecia embriagado com o que a situação podia nos levar. Segurou
minha cintura e me puxou até ele. Nos beijamos de maneira intensa, harmoniosa e um pouco
selvagem.
“Parei com uma mordidinha forte em seu lábio inferior. Com um gesto ousado, comecei
a passar a mão na lateral da toalha como se para tirá-la. Ele segurou em minha mão e de olhos
fechados me beijou outra vez.
— Quando eu te pegar de verdade... Você vai parar de me provocar desse jeito. — Eu
comecei a beijar no pescoço dele, dando mordidinhas por aquela região.
— Nev, eu quero isso mais que tudo... — Declarei ainda de olhos fechados. Foi quase
como uma súplica ou autoafirmação. Oh, era a verdade. Não tinha dúvidas. Então para que
esperar?
“Empurrei-o de leve até a cama e caí por cima dele, nos beijamos de maneira quente, eu
já começava a perder os meus sentidos. Só queria senti-lo, tocá-lo, olhei-o nos olhos e foi o
que bastou para seguir adiante...
“Alguns minutos mais tarde, respirávamos intensamente quando abri os olhos. Saí de
cima dele e mirei o seu rosto... Lá estava o meu namorado, com os cabelos suados e
desgrenhados, olhos fechados e um sorriso no rosto.
— Acho que estou sonhando... Daqui a pouco minha mãe vai gritar: ''Acorda, vai se
atrasar pra aula!'' — Suspirou abrindo os olhos azuis mais lindos do mundo.
— Acorda, vamos nos atrasar para a festa... — Lembrei-o rindo.
— Eu queria ficar aqui, tipo... Para sempre. — Me puxou para si. — Eu te amo mais que
tudo. — Beijou minha testa.
— Também te amo, é bom saber que você é bom de cama. — Ele me olhou, convencido.
— Você também não é ruim... — Dei um tapa nele de leve.
“Stones me puxou e me beijou rapidamente. Depois fomos tomar um banho e enfim
viemos para a festa. E apesar de não ter sido minha primeira vez, acho que vou guardá-la para
sempre. Foi a primeira vez que... eu... senti aquela sensação com alguém. Foi incrível.
“Sei que não foi nada ensaiado como o Nev esperava, não tinha velas, nem morangos
com chantilly... Foi na cama barulhenta do quarto bagunçado dele, com a possibilidade de
alguém chegar a qualquer momento, mas foi especial. Porque, no fim das contas, o lugar é o
que menos importa. O bom mesmo é ser com aquela pessoa que você ama.”
~ Maya OFF~
— Eu queria que a minha primeira vez fosse especial assim — Bia comentou, feliz pela
linda experiência da amiga.
— Você vai encontrar a pessoa certa, meu bem, você merece — Maya disse pegando em
sua mão. Sabia que Bia ainda encontraria alguém que a amasse.
— Awn, que coisa mais fofa... Por que só eu que não consigo ser feliz? — Maria fala
com lágrimas nos olhos. — O meu melhor amigo e futuro namorado nem quer olhar na minha
cara... — Abaixou a cabeça e as amigas a abraçaram compreendendo sua dor.
— Amiga, não fica assim, vocês vão se acertar... — Bia tentou acalmá-la.
— Mas que idiota!!! — Maya quase gritou brava assim sem mais nem menos. — Maria,
vamos sair daqui! — ordenou, puxando-a repentinamente e fazendo a amiga ficar sem entender
sua reação.
— O quê? Por quê? — perguntou confusa, foi quando olhou para trás, lá estava James
com as mãos na cintura de Joanne caminhando em direção a piscina.
— Esse James é rapidinho... — Bia acrescentou, irritada.
Maria apenas olhou para aquela cena com a expressão mais triste de seu closet. Não dava
para esconder como aquilo machucava seu coração. E sabia mais do que ninguém que a culpa
era toda dela. Retribuiu ao beijo daquele garoto, não podia voltar no tempo e por isso só
sobrava o arrependimento.
Afastou-se das amigas, dizendo que queria ficar sozinha. Bia e Maya ficaram encarando
Joanne e o James por um bom tempo. A verdade é que o garoto só estava fazendo aquilo para
dar o troco em sua ex melhor amiga. Nem gostava de Joanne. Ela era legal e longe de suas
amiguinhas era realmente alguém legal de estar do lado, mas não sentia nada além disso.
— Oi meu amor, não quer dançar? — Nev disse ao chegar onde sua namorada e Bia
estavam sentadas. Ela olhou para ele e depois para sua amiga.
— Ah, agora não vai dar, Bia e eu estamos... — Bia a interrompe.
— Imagina, vai dançar com ele, May. — Empurrou a amiga devagar. Já estava
acostumada. Não era a primeira vez que acontecia. Parecia até implicância do destino.
— OK, daqui a pouco eu volto. — A amiga piscou e saiu sorrindo de mãos dadas com
seu príncipe encantado.
De longe Bia sorria ao ver como aquele casal estava feliz, dava para ver pela troca de
olhares que escorria doçura e verdade naquela relação.
— Oi. — Bia sentiu alguns pelinhos de sua nuca arrepiarem quando ouviu a voz dele.
Olhou para o lado e lá estava, mais lindo do que nunca. Com seu impecável topete e olhos
amendoados e brilhantes.
— Oi, Victor. — Sorriu timidamente e olhou para baixo, o garoto sentou ao seu lado.
— Gostei do que fez no cabelo. — Levou as mãos até bem perto do rosto da garota e o
tocou propositalmente.
— Eu só soltei ele... — Riu baixo, simplesmente havia soltado, já que quase sempre
usava ele amarrado. Gostou do fato de Black ter reparado.
— Ficou bonito. — Elogiou e sorriu, olhou para frente e mordeu o lábio inferior.
— Obrigada... — Responde sem graça, nunca se acostumaria a receber elogios dele,
justo dele. Alguns segundos se passam em silêncio, até que ela diz. — Nossa, está frio aqui
fora, não é? — Fala passando as mãos em seus braços.
Victor pensou em dar o casaco para ela, mas olhou em volta e estava diante de toda a
escola. Já deviam achar estranho o fato dele estar ali falando com a nerd da sala, imagina se
fizesse isso. Seria morte social. Queria era que todos desaparecessem, para ficar a sós com
aquela garota. Não deveria se importar tanto com a opinião dos outros, mas ele sentia isso e
medo e outros sentimentos estranhos a ele.
Black martelou uma ideia em sua cabeça umas mil vezes... Só sentia vontade de realizar
o que pensara. Decidiu arriscar.
— Você quer ir lá em cima? O Harry tem aquele videogame novo que você comentou
que queria muito. — Ele sugeriu mordendo o canto de seus lábios, e um sorriso iluminou o
rosto dela instantaneamente.
— Sério? Isso é perfeito. Vamos lá — disse, animada. Estava louca para jogar isso há
semanas. E não estava tão confortável naquela festa apenas observando todos se divertirem
enquanto ela estava parada, sentada, apenas bebericando uma Coca-Cola.
Subiram as escadas rapidamente. Bia entrou no quarto e o garoto veio logo atrás,
trancando a porta sem que ela visse. Bia olhava o quarto tentando achar o que havia vindo ver.
— Onde está? — perguntou curiosa olhando para todo o ambiente bagunçado. Não
estava achando o aparelho.
Sem aviso prévio, Black encostara a garota na parede segurando forte sua cintura e
pressionando seu corpo contra o dela. Bia estava chocada e tremia com o contato surpresa. Não
estava esperando por aquilo, mas logo sentia como se fosse entrar em combustão a qualquer
momento.
O garoto cheio de desejo foi chegando perto de seu rosto e beijou-o com delicadeza,
depositando seus lábios macios sobre a pele dela. Logo depois Bia segurou sua nuca,
massageando-a com suas mãos pequenas e leves. Esse foi o sinal verde para Victor seguir em
frente.
Bia se assustou quando ele avançou e soltou uma respiração pesada. Apenas tentou
diminuir o ritmo das coisas. Beijou-o delicadamente. Victor foi devagar levando a garota para
a cama de Harry e os dois caíram juntos nela.
Continuaram os beijos quentes, era tudo tão novo para Bia, nunca havia estado na cama
com um garoto daquela forma, seu coração pulava em seu peito, estava nervosa, nem parecia
real. Foi quando o garoto passou as mãos sobre os seios de Bia com força que na mesma hora
se sentiu estranha e desconfortável, não queria avançar tantas etapas, não estava preparada...
Ela parou de beijá-lo e o afastou com suas bochechas coradas em seu rosto.
— O que foi? — ele perguntou ofegante, mas sem dar tanta importância a pausa, estava
inebriado, só queria ter o gosto dela outra vez em sua boca. — Vamos continuar... — Segurou
no rosto dela e fez o movimento para beijá-la outra vez, porém ela desviou.
— Não, Victor, eu não quero... — Bia sentia-se nervosa, não queria estragar tudo, mas
não se sentia bem com aquilo. — Não quero que seja assim — disse, abaixando a cabeça,
tentando raciocinar novamente.
Victor não acreditou, era como um balde de água fria. Ele ficou irritado, pensou que de
todas as garotas que estavam lá embaixo loucas para estar com ele, decidiu ficar com Bia.
Sentiu que foi uma decisão ruim.
— Oh, meu Deus... — Soltou o ar sem esconder seu desapontamento com o modo que
Bia se afastou. — Você é virgem, por acaso? — Zombou de maneira ofensiva e ela olhou-o
magoada. — Deveria ter imaginado. — Riu falsamente levantando-se.
— Uau... Você é um idiota mesmo — Bia falou, sentindo um pouco de raiva invadir seu
corpo. Só queria sair dali, sentiu-se uma estúpida por ter se colocado naquela situação, por ter
insistido em gostar de alguém que nunca entenderia seu mundo, alguém tão diferente dela. Ela
apenas se levantou e foi em direção a porta.
— Não Bia, espera, eu não quis... — Black falou assim que viu como tinha afetado
aquela garota, era como se a dor dela estivesse sendo transmitida até ele. Ele se importava. —
É que... Eu... — Ele só conseguiu dizer isso, quando depois de destrancar a porta, ela saiu sem
olhar para trás, sem ouvir nada mais daquele ser que a magoou.
Ele deitou na cama com a mão na cabeça pensando na idiotice que acabara de fazer. Por
que ele não conseguia admitir para si mesmo o que realmente sentia? Não era apenas desejo de
ter a professorinha de reforço, uma conquista diferente de todas que já tivera, ele gostava dela.
Gostava de verdade.
Victoria dançava feliz na pista de dança que ficava perto a piscina, seu filhote estava
com Miller que discretamente olhava para cada movimento que ela fazia. Enquanto dançava,
logo os meninos começaram a rodeá-la para dançar junto, e ela continuou rebolando e se
divertindo. Harry entregou o pequeno Ed à Louis e foi até a pista.
— Acabou de chegar mais vodca pessoal, está lá na cozinha — gritou, fingindo
empolgação para os caras que estavam próximos do alvo de sua atenção. Os garotos se
dispersaram dali rapidamente.
Harry e Victoria se olharam e riram. Ela balançou a cabeça como se tivesse um
pensamento engraçado.
— Harry, suas desculpas são tão criativas... — falou em seu ouvido para que ele ouvisse,
apesar da música alta.
— E seu jeito convencido é tão... irresistível — respondeu, a última parte mais sedutor.
Tudo o que queria era beijá-la.
— Eu adoro quando você fala mansinho... — Suspirou e os dois trocaram mais olhares...
— Some daqui, a gente já está dando bandeira. — Ela piscou. — Mas serei toda sua.
Harry sorriu ao ouvir aquilo, apenas conseguiu mostrar aqueles dentes brancos, saiu
dançando e pegou Ed, levando o bichinho até seu colo novamente.
Jones estava pronta para continuar a dançar, até que viu Bia passar com os olhos cheios
de lágrimas e foi correndo ajudar a amiga que ia em direção a porta da grande casa.
— Hey Bia, o que houve? — Segurou em seu braço, quando Bia a viu deu-lhe um abraço
forte. Era o que ela precisava naquele momento. Ou desabaria. Quando envolvia Victor, Bia se
tornava totalmente quebrável a qualquer movimento brusco.
As amigas seguiram para o jardim na parte da frente, que estava mais vazio e silencioso.
Vick preocupada, pedia para a amiga se acalmar e contar o que aconteceu.
— Eu sou uma idiota, estraguei tudo, devia ter simplesmente deixado rolar, mas eu não
me senti pronta e ele foi um estúpido. — Ela dizia aos prantos e obviamente sua amiga não
entendia nada.
— O que você está dizendo? — Victoria indagou sem entender absolutamente nada.
— Eu gosto do Victor, o garoto que eu gosto é ele — confessou rapidamente cansando
de esconder seu segredo, querendo apenas que alguém lhe dissesse como ela deveria agir
naquele momento.
— Nossa, nunca iria imaginar... — A amiga chamou a outra para sentar na grama assim
podiam apenas relaxar e conversar. — Mas ele não tem nada a ver com você. — Comentou.
Victoria jurava que o crush secreto de sua liga era James ou Nev, alguém que combinasse com
sua doçura. Porém no caso, ela é apaixonada por um oposto ao seu jeito.
— Eu sei e... — Começou a chorar mais porque deveria ter raciocinado mais. Porém até
a garota mais inteligente da turma conseguia tomar atitudes estúpidas se guiadas pelo coração.
Victoria abraçou a amiga, disse que sobre o que havia acontecido naquele dia não
deveria mexer com sua mente. Não era sua culpa. E ninguém deve fazer nada do que não esteja
afim ou preparado.
Apesar de estarem em um momento de confissão, Jones decidiu não tocar no assunto do
"você me pegou no flagra com meu irmão postiço". Não era o momento.
Depois Bia disse que ia para casa. Não queria ficar mais ali, muito menos encontrar com
Victor outra vez naquela noite. Desejou Feliz aniversário novamente para amiga, Jones
colocou a garota em um táxi que havia chamado. E observou o veículo indo embora.
Na festa, James conversava animado com Joanne, ela era uma boa companhia. Quando
de repente, chega Maria completamente bêbada e com uma garrafa de uísque quase vazia em
suas mãos.
— Por quê??? Eu só me pergunto... O por quê??? — gritou a garota, desequilibrada. —
Essa garota... — Olhou para Joanne de cima a baixo. — James, por favor... — dizia com
dificuldade, sua língua embolava um pouco.
— Maria, você está bêbada? Meu Deus... — Foi até ela, nunca havia visto sua amiga
daquele jeito. Definitivamente ela não era de beber e agora se encontrava naquele estado.
— Não encosta em mim, você trouxe essa vadia para cá para me irritar, logo ela... —
Despejou de maneira ofensiva. — Ela não presta, não acredito que você fez isso. — Começa a
chorar, bebe mais um grande gole da bebida forte. Esta desce queimando sua garganta.
Acontece muito rápido. Sua mente gira assim que ela retira a garrafa de sua boca, fecha
os olhos e então tudo para.
Ela desmaia.
James assustado, ainda consegue segurá-la antes que esta caia de cara no chão.
Prontamente ele coloca ela em seu colo.
— Desculpa Joanne, você não merecia passar por isso. Eu vou cuidar dessa garotinha
aqui. — James avisa lamentando o vexame que Maria causou. Seguiu para dentro da casa a fim
de fazer a garota desmaiada acordar.
Joanne estava envergonhada pelo barraco que havia acabado de acontecer. Decidiu ir
embora, aquilo era demais para ela.
Depositou a garota no sofá, ela começava a recuperar a consciência.
— Me perdoa Jay? Não sei viver sem você... eu te amo — fala embolada, mas com
lágrimas em seus olhos.
— Shhh, quietinha. A gente conversa amanhã, agora bebe isso. — James pede e logo
depois entrega um copo com água para a garota. Ela aceita. E bebe.
Já passava das duas horas da manhã, muitos já estavam indo embora, muitos com as
pernas doendo de tanto dançar ou já bastante embriagados.
A polícia havia chegado a algumas horas atrás e a festa foi silenciada. Victoria comia um
pedaço da pizza que pediram, era legal fazer uma festa em sua própria casa, podia ficar
confortável e aproveitar.
— Essa festa está desanimada — Nev comentou. — Você não tem um violão, Harry?
Por que não toca pra gente? — Sugeriu para tentar agitar.
— Seria uma boa. — Elis sorriu curtindo a ideia.
— Acho que os vizinhos não chamariam a polícia de novo por causa disso...— Louis
piscou.
Harry subiu para pegar seu violão e encontrou Victor dormindo em sua cama. Ele o
acordou e Black decidiu que iria embora. Não quis falar nada com seu amigo, apenas foi. Não
estava com cabeça para mais festa.
Lá embaixo, todos que ainda permaneciam na festa se reuniram na sala, lá fora já estava
muito frio e chovia um pouco. James e Maria já não estavam mais ali, o garoto decidiu levá-la
para casa. Apesar de estar chateado com a garota, seu instinto protetor falava mais alto.
Os convidados da festa estavam em uma rodinha. Harry com eu violão preparava-se para
começar a cantar.
— Então, essa música é algo que eu estou trabalhando...— falou tímido. — É sobre uma
pessoa especial, pela qual eu me apaixonei em tão pouco tempo que até me assusta um pouco...
— declarou se posicionando com o violão. Respirou fundo.
— O pegador da escola apaixonado? Isso não faz sentido. — Dave, um dos amigos,
disse e muitos concordaram.
Eles não poderiam mesmo compreender Harry. Nem ele se compreendia. Apenas podia
sentir. Era só o que podia fazer.
Harry olhou rapidamente para Jones que levantou uma de suas sobrancelhas desafiadora
e sorriu. Ele começou a tocar.
Little Things
Pequenas coisas
Enquanto isso, Harry e Victoria checavam a casa... O ambiente estava uma bagunça só.
Copos espalhados por todo lado, o chão grudento, garrafas, restos de comida...
Com certeza teriam muito trabalho para o dia seguinte.
— Só de olhar para essa bagunça toda eu já fico cansado... — Miller comentou manhoso
e passou a mão nos cabelos.
— Cansado? Mas já? E o meu presente de 16 anos? — Victoria olhou-o de maneira
sensual.
— Não me olha desse jeito... — Ela morde o lábio inferior. — Você quer me
enlouquecer... — A voz rouca de Harry já deixa claro do que ele gostaria de fazer com a garota
a sua frente.
Vick foi até ele e começou a beijá-lo devagar o atiçando mais. Harry segurou-a pelos
cabelos e começou a morder seu pescoço lentamente. Disse baixinho em seu ouvido...
— Hoje é seu aniversário e eu serei seu servo... Deixa tudo por minha conta — sussurrou
de maneira provocante fazendo a garota arrepiar-se na mesma hora.
— Então me serve, escravo. — Ela depositou um selinho nos lábios carnudos de Miller.
— Enfim sós. — Sorriu e os dois se beijaram sentindo toda a magia daquele encontro.
Victoria e Harry estavam curtindo a companhia um do outro no sofá. Ele estava deitado sobre
ela que o abraçava com as pernas em sua cintura. As carícias delicadas e carinhosas já estavam
ganhando outro ritmo. Logo os beijos começavam a ficar mais demorados e selvagens.
Miller passou a mão por debaixo da blusa dela, sentindo a garota em suas mãos. Ele
começou a beijar calorosamente seu pescoço, cheirando os cabelos escuros e cheirosos de
Victoria.
— Vamos subir... — Ela arfou, quase sem fôlego.
Aqueles olhos verdes a encararam de perto, ardiam de desejo. Ao mesmo tempo, Harry
sabia que se subissem, ele não aguentaria se segurar outra vez. Ele estava envolto por aquela
chama, estava completamente entregue aos encantos de Victoria.
Jones fez com que ele levantasse e foi puxando-o pelo braço até as escadas. Antes de
chegar até lá, sem avisar o garoto a pega pela cintura e a põe em seus braços. Ele quis dar um
toque especial ao momento. Achou que aquela era uma forma legal de iniciar.
— Mas que palhaçada é essa? — Vick gargalhou no susto. — Me põe no chão, seu
louco. — Ela não esperava por aquilo. Porém sentir os braços fortes de Harry a envolvendo,
não era algo de que ela não gostasse.
— Como você é grossa, eu só quis ser o seu príncipe encantado... — A garota se
assustou ao ouvir aquilo, cerrou os olhos para ele. Aquela expressão não era de forma alguma
algo novo.
Ela encarou o garoto. Medindo seu olhar bem de perto. Victoria arregalou os olhos.
— Não acredito!!! — gritou, movendo-se para que ele a colocasse mesmo no chão. —
Você leu meu caderninho?
Victoria tinha um caderno de memórias em que escrevia sobre assuntos aleatórios da sua
vida ou sobre suas lembranças. Era especial para ela porque boa parte das páginas eram sobre
sua mãe. Era de certa forma como se ao escrever, estivesse conversando com ela.
Especialmente sobre o "príncipe encantado", um estereótipo bobo sobre garotos perfeitos
em seus cavalos brancos. Vick não acreditava neles, mas sua mãe sim. Ela sempre contava
histórias de princesas e castelos. E dizia que assim como aquelas princesas, Victoria um dia
também encontraria seu par perfeito, seu amor verdadeiro.
Era algo pessoal. E Harry violou.
— Não foi por mal, foi sem querer... — Ela o empurrou e foi subindo as escadas.
— Eu não tenho privacidade nenhuma na minha vida, ninguém merece!!! — reclamou
subindo com passos duros pelo chão.
Entrou em seu quarto e procurou pelo seu caderninho e lá estava, debaixo da sua cama.
Segurou-o contra seu peito como se daquele jeito, ele estaria protegido.
Miller dá duas batidinhas na porta e entra.
— Sai, Harry!!! — ela gritou do banheiro.
— Não vou sair até você me perdoar... — Sentou na cama. Uma noite tão legal como
aquela não podia terminar daquele jeito.
— Isso é uma coisa pessoal minha. — Cruzou os braços ao encontrá-lo naquele espaço.
— Me desculpa? Por favor... — fez biquinho.
— Não! — gritou – Você é um inconveniente, foi ridículo o que fez — reclamou
irritada.
— Como você é chata. — Puxou o ar. — Cansei! — Levantou-se da cama.
Ele já estava indo em direção a porta quando olhou para a garota que de braços cruzados,
batia seu pé esquerdo compulsivamente.
— O que foi? Já vai começar a dizer que eu tenho problema mental, que eu me irrito
fácil demais? Você fez por merecer...— Ela também não queria acabar aquela noite daquela
forma, mas estava chateada com a atitude dele. — Eu só queria que...— De repente a garota
perdeu as palavras.
Harry segurou forte em seus cabelos e em sua cintura. Beijou-a com agressividade.
Queria tanto aquele corpo para ele.
— Só assim para você calar a boca — fala ainda de olhos fechados. Aquele beijo o
deixava em êxtase.
Jones estalou com sua língua batendo nos dentes. Soltou uma risada. Muito rapidamente
segurou Harry pelos cachos e o olhou fervorosamente.
— Se ajoelha!! — ordenou, pressionando-o para baixo.
— Para, solta! Ficou louca? — Quase gemeu com a dor proporcionada pela dona de seus
pensamentos. — Não vou me ajoelhar para você — afirmou livrando seu cabelo daquele ato
malvado.
— É isso que príncipes fazem, se ajoelham na frente de suas princesas. — Piscou
sarcástica.
— Você não pode esquecer isso? — Ela balançou a cabeça negativamente, o garoto
sorriu de canto como se estivesse pensando em algo tolo. — Só dessa vez...
Então lá estava um dos garotos mais mulherengos da cidade de Holmes Chapel, aquele
que nunca namorava. Aquele que ficava com uma garota diferente a cada semana. Lá estava
ele rendido a apenas uma.
De repente, aquele quarto foi invadido pelas risadas mais altas já ouvidas no mundo.
Jones não conseguiu se segurar ao ver Harry se ajoelhando aos seus pés. Achou que nunca
viveria para ver algo assim.
Ao mesmo tempo, seu coração saltava alto em seu peito. Não era pouco o que estava
sentindo. Não era pequeno ou mesmo moderado. Era imenso. Queimava. Expandia. Existia.
— Nem acredito que você fez mesmo isso. — Parou de rir. — O que fazer com você,
Miller? — Segurou em seu cabelo, os dois se olharam de um jeito que somente eles sabiam o
que significava e em segundos se jogou em cima dele.
Harry se desequilibrou e caiu no chão com a garota em cima dele. Ela o abraçou e
segurou o rosto dele com as duas mãos. Deu-lhe um selinho demorado.
— Sua louca... — sussurrou mansinho, se virou e ficou por cima.
— Seu intrometido. — Ela começou a distribuir beijinhos e mordidinhas no pescoço do
garoto. Inalando seu perfume impossível de esquecer.
Ele colocou uma perna de cada lado dos quadris dela e tirou sua camisa. Ela passou a
mão pelo seu abdômen definido. Arranhando de leve aquela pele quente ao qual ela queria se
perder. Miller colocou o cabelo dela apenas para um lado e despejou carinhos enlouquecedores
pelo seu pescoço e colo.
— Minhas costas... — denunciou Vick quando sentiu a dor em suas costas pelo peso e
pressão que ele aplicava sobre ela.
Ele se levantou e a puxou, encaixando as pernas da garota em sua cintura. A intensidade
foi tamanha que ele acabou se desequilibrando e indo de costas na pequena estante de livros,
derrubando alguns. Victoria se agarrou na nuca dele.
Caíram na cama se beijando. Era como se aqueles carinhos não fossem o bastante para
demonstrar o que sentiam. Somente se ocorresse a fusão dos seus corpos, estariam satisfeitos.
— Oh... — respirou pesadamente quando sentiu o efeito do que Harry acabara de fazer.
— Isso, assim oh...
Ele estava dando mordidinhas no pescoço dela, o que fazia ela enlouquecer. Harry subiu
a blusa dela, deixando o sutiã a mostra. Trocaram olhares ardentes, o que foi o sinal verde para
que ele avançasse, ousasse mais em seus toques. Minutos depois, ele a puxou para a beirada da
cama.
— O que vai fazer? — ela perguntou, meio assustada com o movimento.
— Vou te fazer feliz. Vou cuidar de você. Vou te amar... — Dizia com aquela voz rouca
que fazia ela fechar os olhos de prazer.
Ele desabotoou o short da garota e depois foi retirando-o devagar. Deixando ela apenas
de calcinha. Victoria não queria admitir, mas estava apreensiva, tinha medo e ao mesmo tempo
queria aquilo mais que tudo.
Miller foi até o rosto dela e beijou-a delicadamente, ela segurou sua nuca e prolongou o
beijo. Ele foi descendo, distribuindo beijinhos pelo corpo dela, passou pelo colo, depois por
sua barriga. Segurou a lateral da calcinha, puxando devagar para baixo. Ele se ajoelhou no
chão e foi tirando a última peça de roupa que restara nela.
Encarou-a com olhos ardentes de desejo. Jones arqueou as costas para trás quando sentiu
Harry a consumindo, seu toque era suave e aquilo ao mesmo tempo que era a melhor coisa do
mundo, chegava a torturá-la de tão bom que era.
— Ah, Harry... Eu não estou mais aguentando, isso está... — Ele não parou e de repente
a vista dela escureceu um pouco. Fechou os olhos com a onda de prazer que eletrizou seu
corpo.
Harry sorriu ao perceber que ela chegara ao seu ápice. Foi até os seus lábios e a beijou,
ela sentiu seu próprio gosto direto dos lábios carnudos dele.
— Eu vou devagar, OK? Não precisa ter medo. — Ele lhe deu um selinho carinhoso.
Ela apenas sorriu e tinha certeza de que tudo ficaria bem.
Algum tempo depois, Harry deu um longo gemido e caiu sobre o corpo dela. Victoria o
abraçou. Os cabelos de Harry estavam molhados e os corpos estavam suados. Ele ergueu a
cabeça e a olhou com os olhos mais brilhantes já vistos. Sorriu e a beijou rapidamente.
Saiu de cima e se deitou ao seu lado. Puxou-a e ela encostou a cabeça em seu corpo
suado. Olharam ao redor e sim... Já estava tudo claro. Já era manhã. Como não se deram
conta?
Jones olhava para o teto e um milhão de pensamentos e inseguranças passaram pela sua
cabeça. Harry era um garoto experiente, deu para perceber. Será que eu fui muito mal?, pensou
a garota.
— Em que está pensando? — Segurou no rosto dela e o ergueu fazendo com que
encontrasse seus olhos.
— Nada, não. — Preferiu não perguntar, por medo da resposta. Não queria estragar o
momento com nada.
— Hey, você não gostou? — perguntou receoso e ajeitou seu cabelo.
Harry nunca havia se sentido tão completo. Em nenhum outro momento de sua vida se
sentiu daquele jeito. Queria mesmo que ela sentisse o mesmo.
— Claro que sim. E você? — perguntou baixinho.
— Foi perfeito... — A garota revirou os olhos. — Foi perfeito porque foi com você. —
Ela enfim sorriu.
— Fico feliz que tenha sido com você. — Passou a mão no rosto dele.
— Venho sonhando, pensando e imaginando esse momento há tanto tempo...— pensou
alto soltando um suspiro.
— Ah, sabia que tinha sonhos pervertidos comigo, e mesmo quando dizia que me
odiava, lá estava você desde a primeira vez que me viu...— Vick pareceu enfim relaxar por
completo. — Me imaginando sem roupa. — Apertou a bochecha dele.
— Como você é convencida... — Balançou a cabeça sorrindo.
Vick se moveu e sentiu seu corpo arder, reflexos de algumas horinhas de amor e sexo.
Mas se fosse assim ela queria sentir aquela dor para sempre por tudo que ela proporcionou.
— Sabe Miller, hoje é meu aniversário...Então, primeiro, eu quero que vá lá embaixo
pegar o resto do bolo para eu comer e depois...— Ele a mediu com os olhos. — E segundo
preciso de uma massagem, please — disse como se fosse uma rainha.
— Vida longa à rainha Victoria Miller — saudou-a. Ela gargalhou e ele piscou.
Levantou livrando-se do lençol que cobria seu corpo.
A garota se jogou na cama e admirou a silhueta nua de seu … De seu... De seu Harry.
Deixou a porta aberta e logo ela ouviu pequenos passinhos indo em sua direção.
— Quem é o cachorrinho mais fofo da vida? — Se inclinou até a beirada da cama e
pegou o filhote em seus braços. — Sabe Ed, hoje eu tive a minha primeira vez, sim, foi sim,
doeu? É, doeu um pouco, mas eu amei... É... — Riu sozinha. — Nós humanos somos meio
loucos, mas olha... Realmente foi bom mesmo. Mas isso não é conversa para você, não quero
você com namoradinha ainda, você é o meu bebê.
Ela o colocou em sua barriga e o abraçou. Levantou-se e colocou a camisa que Harry
usara na noite anterior. Passou em frente do espelho e se encarou. Bom, ela acabara de
completar seus 16 anos, acabara de perder sua virgindade e ainda de quebra com o garoto que
ela realmente gostava... O que passava pela sua cabeça?
Uau... Eu estou parecendo a Hermione nos primeiros filmes de HP, pensou alto e tentou
ajeitar seu cabelo. Desistiu, pegou Ed em seu colo e foi caminhando até a cozinha, já que seu
escravo era lento demais.
— Essa camisa ficou melhor em você — disse e piscou ao vê-la entrando na cozinha.
— Qual a dificuldade em partir um pedaço de bolo e levar pra mim? — implicou.
— Eu estava pegando alguns morangos, chantilly, e calda de chocolate também. —
Olhou-a maliciosamente.
— Garoto... Você acha que eu sou uma sexmachine? Eu só quero um pedaço de bolo e ir
dormir — disse prendendo os cabelos com as mãos.
— Eu sei, só tava brincando, não sou ninfomaníaco, apesar de que desde que a gente
começou a ficar seriamente que eu estou na seca, então... — Ele a segurou pela cintura e beijou
seu pescoço.
— É desse jeito que começa...— Falou sentindo o hálito de menta. — E essa cozinha
também, não é uma boa influência. — Afastou-a e pegou o bolo.
Começaram a comer, mas depois de um tempo, começaram a colocar bolo um na boca
do outro. Lamber o glacê que restara sobre o rosto, sobre o pescoço.
— Oh não, que vergonha, olha nosso filho olhando para nossa cara. — Riu e Harry
ergueu os olhos até o pequeno Ed, olhando curiosamente para aquela cena.
— Isso aqui meu amigão, é o amor... — Sem aviso prévio, a segurou pela cintura e a
inclinou. Se beijaram como nos filmes.
Depois de devorarem o resto do bolo. Foram para o andar de cima.
— Vou tomar um banho agora — avisa cansada indo para seu quarto.
— Posso ir junto? — perguntou maliciosamente.
— Não, eu disse ''tomar banho'' e não fazer outras coisas que você quer fazer... — Deu
um sorrisinho e foi andando pelo corredor.
— Ah, é assim é? Então OK. — Deu de ombros. — Me devolve minha camisa.
A garota olhou para trás cerrou os olhos, logo depois tirou a camisa bem devagar. Jogou-
a em Harry que estava admirando o corpo de sua... de sua... de sua Victoria.
— Aí está. Agora deixa eu ir lá, tomar meu banho... — piscou provocando.
— Que tal usar a banheira de hidromassagem? — Teve essa ideia genial.
— No quarto dos nossos pais? — perguntou com um sorrisinho no rosto.
— Eles não estão em casa... podemos aproveitar. — Animou-se.
Alguns minutos depois, estavam os dois dentro da grande banheira. Nunca haviam
sequer entrado naquele espaço. Victoria estava sentada no colo de Harry com uma perna de
cada lado dele. Se beijavam com intensidade e ele segurava os cabelos dela, beijando seu
pescoço. Quando ele estava beijando seu colo sentiu o peso de uma sombra ali. Olhou em
direção à porta e congelou. Ficou parado, sem reação.
— Que foi? — perguntou e, antes de olhar para o lado contrário, seu coração já estava
paralisado, esperando o pior...
Capítulo 37: Endlessly
~Victoria On~
Eu abaixei minha cabeça sentindo todo meu corpo formigar. Por que sempre tem que acontecer
alguma confusão em nossas vidas?
Lá estava Carmen, segurando firme o aspirador de pó, olhando para dois adolescentes
que eram socialmente como irmãos, pelados dentro de uma hidromassagem fazendo coisas que
não devíamos estar fazendo.
Tremi. Não estava preparada para as consequências do que eu estava fazendo. Peguei a
toalha que se encontrava fora da banheira, saí do colo do Harry que parecia mais irritado do
que preocupado ou desesperado como eu me sentia.
Enrolei-me no tecido. Olhei para o rosto da empregada da casa.
— Carmen, nós podemos explicar. — Foi só o que consegui dizer.
Carmen ainda estava boquiaberta na porta do banheiro. Ela parecia confusa. Somente se
mexeu para passar a mão sobre seus cabelos cacheados presos em um rabo de cavalo
desajeitado e para piscar seus olhos várias e várias vezes. Acredito que ela nem acreditava no
que seus olhos lhe mostravam.
— O que você está fazendo aqui, Carmen? Hoje não é sua folga? — perguntou antes de
sair da banheira, ele não parecia mesmo nervoso. Como ele conseguia? Eu continuava
tremendo, meu coração estava acelerado.
Percebi que não se tratava mais sobre o segredo em si. Era o que aconteceria depois que
fosse revelado. Eu não poderia ficar com Harry. Teria que me separar dele. Apenas cogitar
essa ideia já fazia com que uma sombra de tristeza pairasse sobre mim.
— Isso... — Carmen abriu sua boca para falar, mas ela parecia pensar tanto naquilo
como se fosse realmente inacreditável. — Isso não está certo. Seus pais pediram para eu vir
cuidar da bagunça da festa e chego aqui e encontro isso, não, não, não está certo. — Repetia
balançando a cabeça e parecendo decepcionada.
Nós ficamos calados. Ao contrário do que disse antes, talvez não houvessem maneiras de
explicar o que estava acontecendo. Não demorou muito e ela saiu do espaço. Deixando nós
dois lá. Olhando para o chão. Pensando no que estava prestes a acontecer.
Rapidamente segui-a. Se existisse uma forma de nos salvarmos. Eu o faria.
— Carmen, Carmen, por favor, não é nada daquilo, foi só daquela vez, não vamos fazer
mais. — Eu estava implorando enquanto ela apenas andava de costas para a gente indo em
direção à cozinha.
Miller me encarou de um jeito esquisito quando olhei para ele que vinha logo atrás de
mim. Será que ele não estava raciocinando sobre o que aconteceria se ela contasse tudo aos
nossos pais? Parecia tão intocável como se aquilo fosse pequeno. Não era.
— Seus pais são tão bons com vocês, dão uma casa boa, uma vida boa e vocês fazem
isso. Isso é coisa proibida. É pecado. — Ela dizia, enquanto ficava arrumando coisas, sem
olhar em nossos olhos. Eu sabia que Carmen era muito religiosa. Isso somente ferrava mais
ainda com tudo para Harry e eu.
— Hey, você sabe que não somos irmãos de verdade, né? — O tom de voz de Harry
soou insolente, ainda ergueu uma sobrancelha.
— Sei, mas isso está errado. Mentir para os pais é feio. Eles não vão gostar de saber
disso. — Ela nos encarou rigorosa e eu pensei: ''pronto, estamos ferrados''.
Meu irmão postiço estava com uma postura diferente da minha. Ele parecia impaciente.
Comecei a me perguntar quais as piores coisas que me aconteceriam, meu pai iria brigar
comigo até meu último dia de vida por ter estragado sua maior felicidade em anos que era
construir essa nova família, mas para meu egoísmo, isso era o de menos.
Com certeza, nossos pais iriam separar a gente de algum jeito. Ou eu iria morar com
minha avó, ou o Harry com o pai dele. De qualquer jeito, ficaríamos separados. Não iriam
aceitar ter dois adolescentes cheios de hormônios sob o mesmo teto vivendo uma paixão tão
intensa como esta.
— Qual é, Carmen? Você não precisa mesmo contar isso para nossos pais. Isso é algo
nosso. Assunto de família. — Ele pegou no ombro dela. Não estava entendendo essa estratégia
do Harry. Não sei se pressionar aquela mulher faria ela ficar de boca fechada.
— Não sei, isso parece muito errado. Mas não sei, não sei mesmo. — Ela estava perdida.
— Vão colocar uma roupa, e me deixem terminar meu serviço. — Fez um sinal para que
saíssemos. Voltou a tirar sua atenção da gente e a limpar objetos aleatórios. Ela estava nervosa.
Eu também.
Saímos do cômodo.
Eu não fazia ideia do que iria acontecer.
Mais uma vez minha mente foi invadida por vários pensamentos pessimistas.
Talvez aquilo fosse um sinal, aquela relação escondida não poderia durar muito tempo
mesmo. Era arriscado demais...Sempre foi.
Quando eu ainda transtornada estava chegando no meu quarto, sinto a mão de Harry
segurar em minha cintura, ele me puxou delicadamente até seu corpo e me deu um beijo na
testa.
Quando senti as batidas do seu coração foi como se um pouco do peso na minha
consciência aliviou.
— Fica tranquila, eu vou resolver tudo isso — falou baixinho e confiante, sem dizer
nada, apenas me afastei do seu abraço, entrei em meu quarto e fechei a porta.
Não estava com a mesma confiança que ele. Até porque ao contrário de Harry, eu já não
era a filha mais incrível do mundo. Aprontava e não era pouco. Então aquilo vir à tona seria
como um terremoto na minha vida.
Se eu não tivesse aceitado esse pedido insano de ir para banheira, provavelmente não
estaríamos nessa situação. Mas não dá para colocar a culpa nesse deslize. Várias vezes nós nos
arriscamos demais, essa foi uma destas vezes.
Meus olhos estavam pesados. Eu estava muito cansada. Afinal, nem havia dormido
naquela noite. Tomei um banho, deixei a água quente tirar um pouco da tensão em meus
ombros. Coloquei uma roupa folgada. Deitei na minha cama e ao contrário do que pensava,
adormeci rapidamente. Não lembro se sonhei naquele cochilo. Acordei com a voz do meu pai
me chamando... Levei um susto.
— Oi dorminhoca, já são 5 horas da tarde — ele informou e me surpreendi com o tanto
que acabei dormindo. — Vim te dar o seu abraço de aniversário. — Sorriu, carinhoso.
Naquele momento, abracei-o o mais forte que pude. Quando eu senti seu aperto, era
como se voltasse a ser uma criança. Uma criança perdida que só quer um pouco de colo e
carinho. Eu queria chorar e contar a ele o que estava acontecendo, mas não podia.
— Minha filhinha já tem 16 anos, isso é... Nossa... — Falou emotivo, vi pequenas
lágrimas se formando em seu rosto, o que me emocionou. — Eu me sinto tão velho... — Eu ri
tentando segurar o choro.
— Mas está conservado, pelo menos. — Pisquei. Realmente meu pai era muito bem
cuidado. Na verdade, era muito bonito.
— Claro, né? — Se gabou. — Não quer ganhar seus presentes? — Eu o olhei animada. E
assenti. Ele disse que ia pegar e eu fiquei esperando na cama.
Carmen ainda não havia contado, isso me deu uma ponta de esperança de que ela não
dissesse nada.
Logo meu pai estava de volta no meu quarto, junto dele estava Anne. Ela me deu um
forte abraço e entregou-me uma caixinha em seguida.
Sorri mesmo sem saber o que era porque seu abraço já fazia meu coração se encher de
felicidade.
Abri devagar e era um lindo colar, corrente muito fininha de ouro com um pingente
delicado com o que pareciam ser brilhantes. Parecia ser caro.
— Espero que goste, é uma joia de família. — Arregalei meus olhos ao ouvir isso.
Anne estava confiando algo tão importante a mim? Isso é realmente uma surpresa.
Aquela era a prova de que éramos uma família. Por mais que não convencional e nem unidos
por laços sanguíneos. O que éramos, era uma família.
E por mais que nos últimos meses construí uma linda relação de amizade e cuidado com
minha madrasta. Naquele momento não me senti digna daquele presente tão especial.
— Nossa Anne, não sei se posso aceitar... — disse meio sem jeito. — É uma coisa tão
importante. —Talvez ela repense sobre me dar ou não algo assim.
— Eu sei que nunca irei, e nem pretendo, tomar o lugar da sua mãe, mas você é como
uma filha pra mim. — Faltou ar quando ela disse isso, minha garganta já começara a engasgar.
— Mesmo com os probleminhas que já tivemos, eu te amo e te admiro como uma filha. — Ela
sorriu e eu desabei.
Nós duas nos abraçamos, chorando. Isso tudo, só me fazia ficar mais culpada pelo que
estava acontecendo com Harry. Sei que Anne nos ama. Mas, como ela reagiria ao saber da
verdade?
Eu aceitei o presente e logo meu pai me entrega um envelope. Eu estranhei. O que
poderia ser aquilo? Rapidamente abri. Quando vi o que tinha dentro, comecei a pular na cama.
Não estava acreditando, isso era real? Nunca em mil anos achei que ganharia algo assim. Eram
duas passagens para um tour França/ Espanha/Holanda. Uma viagem incrível por lugares
maravilhosos na Europa.
— Você pode levar quem quiser... — Meu pai acrescentou e isso me animou ainda mais.
— Tomara que não dê confusão entre suas amigas por causa dessa escolha — Anne
comentou.
Eu teria que escolher entre uma de minhas amigas. Porém, assim quando vi que eram
duas passagens e meu pai falou que poderia levar quem eu quisesse. Só consegui pensar em
uma companhia. Só não sabia se seria possível que isso fosse realizado.
Ainda estava explodindo de alegria quando nós descemos e conversamos sobre a festa da
noite anterior. A casa já estava completamente arrumada. E eu estava um pouco apreensiva.
Tentava me acalmar para não transparecer isso, mas era difícil.
Onde estava Carmen? E por que meu pai e Anne ainda não sabiam?
Harry havia saído. Onde ele estava?
— Ainda falta um presente, Victoria — meu pai falou descendo as escadas com algo
escondido nas costas.
— Esse é o melhor de todos os meus aniversários — comentei com Anne. O que será
que ele me daria desta vez?
— Só que esse aqui é de alguém que não está mais entre nós. — Meu coração se apertou
ao ouvir isso. — Tenho certeza de que ela nunca te abandonará. — Ele sorriu triste. E eu
estava muito, muito nervosa com aquele presente. Minha mãe deixou isso para mim?
Ele me entregou um pequeno baú de madeira decorado com lacinhos, era tão delicado, já
foi branco algum dia mais agora estava envelhecido pelo tempo. Era um pouco pesado. Senti
uma sensação indescritível quando o segurei.
— Isso... Isso é dela? — Minha voz falhava. Eu perdi minha mãe tão nova, é como se
uma parte dela voltasse a estar comigo naquele momento.
— É sim. — Meu pai respondeu, era notável a emoção em seu tom de voz, quando se
tratava da mamãe, ele sempre ficava assim. — Sua mãe guardava algumas coisas da juventude
dela aí nesta caixinha, você sabe que a maioria das roupas dela foram doadas, mas quis guardar
isso para você. E achei que seria especial lhe dar em seu aniversário de dezesseis anos.
Oh. Nem conseguia falar nada.
As palavras não saíam de minha boca, eu só tremia ao segurar algo que traria minha mãe
para tão perto de mim. Talvez com isso, eu conheceria mais dela. Meu pai me contava algumas
histórias, mas sempre se abalava demais e mudava de assunto.
— Acho que seria especial você abri-la sozinha, querida. — Minha madrasta massageou
minhas costas tranquilizando-me.
Ela tinha razão. Segurando forte o baú entre as mãos, subi as escadas para o segundo
andar. Entrei em meu quarto e fechei a porta.
Coloquei-o na cama e fiquei com medo de abrir, aquilo era a única coisa concreta que
talvez me respondesse tantas e tantas perguntas sobre a minha mãe. Respirei fundo e abri o
baú. De imediato encontrei alguns objetos, uma rosa seca e com ela uma etiqueta com uma
data... Eu conhecia aquela data, meu pai me contou histórias sobre esse dia. Foi o dia do
primeiro encontro deles, eu entrei em um estado de emoção, não consigo explicar como me
senti. Um laço de cabelo vermelho, algumas fotos de quando ela era bem mais nova, fotos
minhas quando bebê, achei alguns botons de suas bandas preferidas, entre outras coisinhas. Eu
estava envolvida por uma infinidade de emoções. Segurar aqueles objetos que um dia minha
mãe havia tocado e guardado com tanto carinho era inexplicável. Encontrei um velho e
empoeirado diário. Meu coração bateu mais forte. Como eu queria ler algo que ela escreveu.
Segurei-o delicadamente e o abracei olhando para cima, fechei os olhos e desejei que muitas
coisas estivessem escritas ali. Eu estava curiosa, mas meu estado emocional era tão intenso que
decidi guardar aquelas palavras para um momento em que eu estivesse mais calma. Não abri,
apenas o guardei junto com todas as outras coisas... Coloquei dentro do meu guarda roupa com
cuidado.
De todos os presentes, aquele era o mais especial. Não sei por que meu pai demorou
tanto tempo para me entregar aquilo. Talvez ele achasse que eu não estivesse pronta. Talvez
que eu ainda não merecesse. Mas era ali, naquele momento que eu necessitava desse baú.
Espero que ele me acalente e responda questões que achei que nunca saberia sobre ela.
Pensei nas últimas horas. Tantos acontecimentos em tão pouco tempo. Para descarregar
um pouco minha tensão e emoção decidi nada um pouco.
Não era uma noite fria, até poderiam ser vistas estrelas pelo céu. Quando meu corpo
tocou a água quentinha me senti mais relaxada. Nadei de um lado para o outro por algumas
vezes. Senti um pouco de sede e saí para beber água. Assim que coloquei meu corpo fora da
piscina. Meu pai disse que eu tinha visita. Enrolei-me em uma toalha, sequei um pouco dos
meus cabelos com minhas próprias mãos, lançando pingos de água pelo chão.
Fui até a sala e vejo aqueles olhinhos brilhantes e um sorriso sem igual... Era Phillip.
— Oi, aniversariante! — sorriu e eu o abracei rápido para não molhá-lo muito.
— Que bom que já chegou da sua viagem. — Ele me encarava de uma maneira bem
profunda.
— Você estava na piscina? Posso ir também? — Pediu com uma expressão sapeca, eu
assenti, andamos até a parte da piscina. — Eu queria te dar isso. — Ele pegou uma caixinha
preta e a ergueu.
Mais presentes.
Eu aceitei e sem muita expectativa abri, não tem como superar os presentes que havia
ganhado. Então meus olhos, oh... meus olhos.
Shine Bright like a diamonds.
Não estava acreditando, sério mesmo que ele havia me dado diamantes? Queria que
fosse falso, mas se tratando de Phillip Parker, o garoto que mora em uma mansão e reveza
carros de luxo, duvido muito.
Encarei a pulseira de diamantes com algo estranho no meu interior. Isso deve custar uma
fortuna. Na verdade, era óbvio que custava.
— Meu Deus Phillip, isso é... — Falei depois de passar um bom tempo sem conseguir
dizer nada. — Lindo, mas não dá, não posso aceitar. Não entendo porque está me dando isso...
— Eu estava sem jeito.
Sei que para ele poderia não ser nada demais. Mas na minha mente, só damos diamantes
com alguém realmente especial.
— Estou te dando porque você é a única garota do mundo inteiro que recusaria
diamantes... — Gargalhou bobo e depois parou passando a mão em meus ombros. — Eu sei
que sou exagerado, mas me perdoa e aceita o presente.
— Ai, Phillip... — Arfei. Ele me ajudou a colocar a joia e me abraçou. — Eu vou
guardar para não perder, volto rapidinho.
Subi as escadas e guardei a pulseirinha na minha gaveta. Não me recordo de ter nenhuma
outra joia mais cara que aquele.
Voltei e Phillip já estava sem camisa na borda da piscina...
Concentrei meu olhar no rosto dele para não dar margem para nenhum tipo de mal-
entendido.
Em alguns minutos já estávamos aos risos na piscina, jogando água um no outro. Em
determinados momentos, mesmo no contexto de brincadeira, sentia as mãos dele em minha
cintura de um jeito mais mal-intencionado.
Rapidamente me soltava naturalmente, sem deixar a situação embaraçosa. Precisava
deixar claro que era amizade o que teríamos e nada além disso.
— Sabe o que eu queria muito agora? — Passou as mãos nos cabelos loiros molhados
chegando mais perto de mim. — Te beijar... — Sussurrou em meu ouvido.
— Para com isso... — Afastei-me. — Querendo me atacar até na piscina. — Brinquei
para descontrair e ver se o clima mudasse. E ele desistisse de suas investidas.
— Você está fugindo assim de mim por quê? — Ele ergueu uma sobrancelha — É por
causa do Harry?
Gelei. O quê? Como? Oi? Por que ele está falando do Harry agora? Por que ele colocou
o Miller no meio dessa conversa? Oh, não... Eu tremi na base.
— Por causa do Harry? Eu... não te entendo. — Tentei ser firme, mas obviamente
gaguejei. E só falei para não ficar parada olhando para ele boquiaberta.
— Sei que estão mais próximos agora e eu vi uma coisa que me deixou meio
desconfiado, mas sei lá... — Eu franzi a testa.
— Desconfiado de quê? — perguntei receosa. Eu estava tensa.
— De que vocês estariam tendo um caso... — Ele disse sério, eu tremia. Começo a rir
igual uma louca.
Percebi que pouco a pouco todos iriam começar a desconfiar.
— Que ideia...Que loucura, nada a ver — comentei. Olhei para seu rosto e ele não
parecia estar desacreditando no que eu dizia.
— É, eu sei, foi um exagero da minha parte. Mas essa viagem me ajudou a parar de
neura, realmente é algo absurdo. Só que essa sua aproximação do Harry e distanciamento de
mim, foi um pouco chato...
— Mas não tem nada a ver. Te juro que nunca vou deixar de ser sua amiga. — Sorri e o
abracei.
Espero que seja o fim dessa desconfiança e desse assunto.
Realmente, eu sentia algo especial pelo Phillip antes. Sei que tivemos alguns momentos
de estresse, mas eu gostava muito dele... Hoje, apenas como amigo.
Obviamente, o Harry tinha que chegar exatamente na hora que eu estou abraçada com o
Parker. No pior momento.
— Está rolando festinha na piscina hoje, é? — Seu tom de voz era sarcástico, irritado e
magoado. Só não espero que ele falasse algo que voltasse a fazer Phillip desconfiar de nós
dois.
Phillip e eu olhamos para ele que estava com uma carranca e com seus braços cruzados
nos encarando.
— Harry, por favor, não começa — retruquei, prevendo futuras confusões, esses dois
sabiam fazer muito bem como realizar uma confusão.
— Se tiver não é da sua conta. — Parker respondeu sem nem um pingo de paciência.
Nesse ponto eu já estava a mais de dois metros de distância dele.
Por que Miller não estava compreendendo minha mensagem telepática para ele se
mandar?
Não quero esse garoto na minha casa e eu já tinha te falado isso, Victoria — disse como
se a casa fosse só dele. Ainda me chamou de "Victoria" ele só me chamava assim quando
estava bravo comigo.
— Eu também moro aqui, Harry. Só para você lembrar. — Cerrei os olhos, ele me
encarou e se comunicou comigo só com um olhar que demonstrava raiva e ao mesmo tempo
tristeza, talvez. Ele saiu.
Sabia que iriamos ter a mesma conversa que já havíamos tido antes.
— Esse garoto faz questão de ser chato. — Chacoalhou os cabelos molhados.
— Isso tudo é por causa daquela garota, né? — Ele me encarou e assentiu. Estava me
referindo a uma ex do Phillip.
— Agora me diz... — Seu olhar voltou a querer algo a mais. — O que eu posso fazer se
ela não resistiu ao meu charme? Ele tinha que aceitar, ela gostava mais de mim. — Se gabou.
— Só que ele tinha obsessão por ela e daí nunca nos entendemos mais.
Senti algo estranho. Quem era de verdade essa garota que tinha feito aqueles dois se
odiarem tanto? E se Harry ficou tão abalado, era porque a amava de verdade. Será que ele
ainda sentia algo?
Eu sentei na borda da piscina. Phillip veio em seguida e segurou em minhas pernas.
Conversamos por mais uns dez minutos e depois eu inventei uma desculpa qualquer para
entrar. Nós nos despedimos e ele foi para sua casa.
Peguei a toalha e me enrolei. Fui na geladeira e peguei um pote de pasta de amendoim,
quando me virei, tomei um susto.
— Ah, quer me matar do coração? — disse e coloquei a mão sobre o peito.
Miller havia chegado de mansinho e estava parado com os braços cruzados, com uma
cara nada boa. E mais uma vez rolaria uma discussão. Paciência, por favor.
— Às vezes, parece que você faz de propósito. — Balançou a cabeça negativamente.
Eu revirei os olhos e peguei uma colher no armário. Comecei a comer sem encrencar
tanto. Não queria brigar com ele no dia do meu aniversário.
— Você cria caso por tudo — disse irritada cansada dele me olhar cerrando os olhos.
— Como você reagiria se chegasse em casa e eu estivesse com uma garota pendurada no
meu pescoço dentro da piscina? Você não sabe o quanto que eu tive que me controlar para não
entrar lá dentro e desfigurar o rosto daquele babaca. — Ele despejou as palavras rápido e com
muita tensão.
— Ele é só meu amigo, entende isso. — Joguei a colher na pia e fui saindo.
— Os olhares que ele lança para você não são de amizade e fora que já ficou com ele
várias vezes...Não nasci para ser chifrudo. — Ri da última parte. Mas logo voltei a ficar séria.
— Não me chateia, não gosto quando desconfiam de mim. Aliás, o Phillip veio com um
papo esquisito que estava desconfiado de nós dois, mais um para a coleção. Essa história não
vai acabar bem. — Soltei as palavras e fui subindo as escadas sem olhar para trás.
Fui até o quarto de Anne e meu pai e os abracei agradecendo mais uma vez pelos
presentes especiais. Eles me deram Boa noite e eu fui para o meu quarto no fim do corredor.
Assim que entrei no quarto, já sabia quem estaria lá. Harry estava sentado na minha cama ao
lado de Ed que lambia a mão dele. Eu fui até meu guarda roupa e peguei meu pijama e uma
toalha seca. Foi quando senti as mãos quentes de Harry pressionando minha cintura e sua
respiração aquecendo meu pescoço. Fechei os olhos e apenas senti ele encostar seu corpo por
completo em mim. Puxou minha toalha e me deixou apenas com o biquíni.
— Eu odeio te ver com outra pessoa, você é minha... — Ele passou a mão em meus
braços e beijou minha nuca delicadamente.
— Não gosto quando você diz que sou sua... — Virei-me para ele.
— Mas você gosta de dizer que eu sou seu, né? — Mordeu meu pescoço e encarei seus
olhos verdes.
— Gosto. — Sorri, segurei em sua nuca e o puxei para um beijo.
Em seguida. Harry me presenteou com o melhor banho da minha vida.
Quando o banho finalmente acabou e nos enrolamos na mesma toalha. Sempre calados,
porque obviamente a gente precisava ficar em silêncio. Eu saí do abraço dele e fui vestir meu
pijama. Ele saiu e foi até o quarto dele colocar uma roupa.
Alguns minutos depois, ele entra e eu estou fazendo cafuné no Ed. Ele está com sua
calça de moletom azul e uma blusa leve branca.
— Assim eu fico com ciúmes. — Fez biquinho e se deitou na cama.
— Harry... Lembrei-me de uma coisa. Precisava perguntar. Nem sei como esqueci desse
detalhe. — E o lance com a Carmen? — Ele fez uma careta.
— Eu prometi que contaria tudo para nossos pais, em breve — disse com a maior
naturalidade.
— Como assim vai contar? Você vai mesmo? — Talvez, se fosse feito do jeito certo.
Não seria tão ruim assim. Se bem que não sei se existe um jeito certo para contar algo assim.
— Claro que não, minha mãe me mataria e o George nunca mais ia olhar na minha cara.
— Ele balançou a cabeça negativamente.
— Então, como vai fazer com a Carmen?
— Ainda não sei, mas vou resolver. — Assoprei. Isso não era brincadeira.
— Vai resolver como? Não tem jeito, só se a gente acabar e pronto. — Dizer isso era tão
terrível, especialmente depois de termos nos amado tanto naquele banheiro. — Aí, vai ser... —
Não consegui terminar? lágrimas começaram a descer em meu rosto.
— Hey, por favor, não quero que você sofra...— Me abraçou. — É, talvez minha mãe
tivesse razão. — Ele pensou alto.
— Razão sobre o quê? — Franzi o cenho. Do que ele estava falando?
— Nada não... Deixa pra lá — falou e pegou o Ed no colo.
— Agora me fala — exigi.
— Há alguns meses... Minha mãe que me conhece muito bem, veio ter uma conversinha
comigo.
— Ela falou o quê? — perguntei curiosa.
— Que ela me conhecia, e que tinha percebido os meus olhares em sua direção. Mandou
eu esquecer essa ideia e me fez prometer que nunca aconteceria. Na época eu até achei aquilo
possível, afinal, você só me irritava tão facilmente. Ela disse que você era uma garota frágil e
que não podia sofrer mais e que eu era o típico heartbreaker (Destruidor de Corações). Mas aí
com o passar do tempo, não cumpri a promessa, foi isso. — Deu de ombros.
— E você acha que ela tinha razão? — Olhei-o profundamente erguendo uma das
minhas sobrancelhas.
— Não sei... — Soltou o ar de seus pulmões. — Eu só acho que não quero ficar longe de
você. — Ele me encarou tristemente e nos abraços forte.
— Dorme aqui comigo, por favor? — pedi e realmente queria muito passar aquela noite
sentindo a presença dele perto de mim. Sua pele colada à minha.
— Tudo bem. — Sabia que ele ficaria só até eu dormir e depois sairia, mas ainda assim,
dormir ouvindo o som de seu coração era a melhor coisa do mundo.
Logo senti o sono me dominar e o cheiro e calor do corpo de Harry bem junto ao meu só
me protegia. Apesar de todos os problemas e conflitos que rodeavam essa relação.
Era muito arriscado, mas ao mesmo tempo bem lá no fundo do meu coração, eu sabia
que valia a pena arriscar.
~Narradora On~
Amanhecia em Holmes Chapel, o canto dos passarinhos, o frio constante e as folhas
caindo marcavam mais um dia, um novo dia.
Ainda bem cedo, lá estava um certo garoto encostado em seu carro de cabeça baixa em
frente à casa do objeto de seu pensamento por noites e noites seguidas...
Victor estava parado e se movimentou apenas ao ver a garota que sempre saía mais cedo
de casa, indo para fora da moradia.
— Bia? Oi... — Foi indo em direção a ela, que se assustou ao vê-lo ali. — Você não
atendeu minhas ligações e nem respondeu minhas mensagens. — Falou como se ela fazer
aquilo não tivesse sido proposital, apenas um acidente.
— Victor... Eu não quero conversar com você. Preciso ir para a aula. — Abraçada em
seus livros, desviou dele. Ignorando-o. Ela não havia esquecido do que tinha acontecido na
festa de Victoria.
— Por favor... — segurou no braço dela. — Me perdoa, eu fui um estúpido.
— Só me deixa em paz, Victor Black! — gritou e acredito que pela primeira vez foi
grossa e gritou com alguém, mas talvez o garoto merecesse aquilo.
Ela se soltou dele, pegou sua bicicleta e pedalou o mais rápido que podia. Victor abaixou
a cabeça e foi em direção ao seu carro...
Quando ouviu aquela voz, que infelizmente era bem familiar.
— Ora, ora, o popular dos populares na porta da minha casa a essa hora? — disse
Rafaella saindo de casa e Victor a ignorou.
— Hey, garanhão, eu quero falar com você. — Correu até ele.
— Mas eu não quero falar com você — disse e foi abrir a porta de seu carro, mas ela o
impediu.
— Você acha que eu sou boba, Black? Já percebi as suas intenções pela minha
irmãzinha, mas deixa eu só te falar uma coisa, esquece isso! — ordenou.
— Você não é ninguém para me dizer o que fazer. — Riu na cara dela.
— Desiste dela. É só o que eu peço. — Ele a olhou nos olhos.
— É tão difícil para você aceitar que eu prefira sua irmã a você? Ela não é igual a você, é
diferente. — Falou com determinação.
— Eu sei, eu sou uma vadia, fico com quem me dá na telha e sei disso. Mas ela não, nem
sei se já beijou alguém na vida inteira. E é por isso. Ela merece alguém especial, alguém que a
trate como ela merece.
— E quem disse que eu não posso a tratar bem? — falou ofendido.
— Ah, Victor — gargalhou e logo depois ficou séria, seus olhos semicerrados. — Eu
escutei os soluços dela de madrugada. Você só vai machucá-la, usar e depois jogar fora como
você está acostumado a fazer. Você já pegou metade das meninas da escola, gente como você,
não merece ter uma menina especial como a Bia e sim deve ficar com pessoas como eu... —
Despejava e Victor sabia que por mais que doesse. Era a verdade. — Você me critica, mas
somos iguais. O único problema é que você fica com várias e é considerado o bonzão, eu fico
com vários e sou considerada a vadia da escola. Só isso. Entendeu o que eu quis dizer?
Esquece a minha irmã, ela não é para o teu bico, entende isso.
Black não conseguiu falar nada, ele sabia que tudo que Rafaella falara fazia todo o
sentido. Sentia-se um lixo e Bia era como uma garota perfeita. Realmente, ela merecia alguém
melhor, ele pensou.
Ele entrou no carro mudo.
— Me dá uma caroninha, Black? — perguntou com um sorriso no rosto.
O garoto apenas acelerou o automóvel e deixou a garota o xingando irritada no meio da
rua.
Todos olhavam ansiosos para o envelope nas mãos do professor de Matemática. Para alguns,
aquela era a grande resposta para seu destino a partir dali, já que lá estava o resultado dos
aprovados e reprovados daquele ano.
Black estava mais nervoso que a maioria, se tivesse ido mal, com certeza ficaria de
recuperação e dificilmente se salvaria. Depois de tantas tardes de estudo, tinha esperanças de
ter conseguido atingir seu objetivo. Infelizmente, o professor ainda não tinha corrigido todas as
provas e o resultado de todos só estaria oficialmente pronto logo após o intervalo. Portanto
aqueles corações aflitos ficariam batendo mais forte por mais algumas horas.
Em meio à aula, Karolinne mandou um bilhetinho para Harry. Lá ela pedia para que ele
a encontrasse após as aulas, Miller não encarou com estranheza. Era normal ela abordá-lo e
muitas vezes ficaram depois do expediente, nas esquinas, ou por detrás dos muros, eles sempre
davam um jeito. Porém agora, obviamente, a situação era diferente. Ele já não estava mais tão
disponível.
Victoria cerrou os olhos ao ver Harry mandando um bilhetinho para a garota que ela
mais detestava em toda a escola. Não acreditava que ele podia ser tão cara de pau. Nem para
disfarçar, ela pensou soltando ar irritada. Seus ciúmes foram ativados com sucesso.
Harry apenas respondeu: ''Hoje não dá, estarei ocupado'', e fez uma cara fingindo estar
triste com a situação, porém ele nem ligou. Nem sabia porque havia ficado com ela antes,
talvez fosse pela sua aparência já que nunca chegaram a conversar por mais de cinco minutos.
Agora, beijar outra pessoa que não fosse Jones não passava pela sua cabeça.
Karolinne olhou o bilhete, estranhou, mas deu um sorrisinho falso. Como se não se
importasse, mas estava se corroendo por dentro. Não gostava de ser rejeitada, muito menos
pelo seu maior alvo de desejo. Ela não iria desistir tão fácil.
Victor ficou a aula inteira olhando para o vazio, estava olhando um ponto fixo, mas sem
enxergar nada. Apenas viajando em seus pensamentos.
Tudo em sua mente era indecisão e um sentimento que parecia desconhecer, mas que a
cada cinco minutos o fazia olhar de canto de olho para Bia, sentada a alguns metros dele.
Estavam a poucos metros de distância, porém parecia ser uma imensidão.
Enquanto isso, Nev estava alimentando sua paixão por Maya, a garota que não saia de
seus pensamentos nem por um minuto. Ele estava completamente apaixonado.
— Hey, meu biscoitinho, o que quer fazer hoje? — perguntou carinhoso a Maya, que o
repreendeu com o olhar no momento que ouviu.
— Biscoitinho, Nev? Meu Deus... — Ela revirou os olhos balançando a cabeça. —
Estamos em uma sala de aula. — Assoprou voltando a prestar atenção no que o professor
falava.
— Nossa... — reagiu, magoado. — E só estava tentando ser carinhoso com você. —
Agora foi sua vez de retirar sua atenção àquele assunto.
— Eu sei, Nev. Não quis te chatear, desculpa? — perguntou, mas como os dois estavam
sentados em fileiras diferentes, ele apenas a ignorou.
Maya assoprou forte demonstrando sua total falta de paciência. Milhares e milhares de
garotas iam querer ter um namorado super fofo e atencioso assim como Nev Stones. Porém
Maya transformava isso em defeitos. Em certos momentos ela somente não podia evitar ser
assim, não gostava de ser tão melosa.
— O que houve? — perguntou Elis quando as duas saíram para o intervalo, já que
percebeu pela expressão da amiga que alguma coisa estava errada.
— O Nev fechou a cara para mim e correu para a cantina sem me esperar — respondeu
ainda com cara de poucos amigos.
Quando as amigas iam conversar mais, Louis surge na frente delas com um sorriso
saudoso.
— Olá meninas, May, eu passei a aula inteira longe desse ser aqui, posso te roubá-la um
pouquinho? — perguntou segurando a cintura de Lis, que relaxou com seu toque.
— Claro que sim, eu vou lá falar com o Sr. Stones — disse e saiu deixando o casal de
pombinhos sozinhos.
Louis colou seu corpo ao de Elis e segurou as maçãs do rosto da garota delicadamente.
Se encararam e bem devagar o garoto começou a acariciar os lábios dela com a boca, ambos
fecharam os olhos e logo estavam se beijando de um jeito intenso e apaixonante. Willians se
esqueceu por alguns segundos de onde estava, pressionou Lis na parede e passou a mão pelo
corpo dela.
— Louis Williams, vão brigar com a gente. Estamos na escola, se controla. — Sua voz
saiu ofegante, ela estava tentando acalmar seu namorado e seu corpo ao mesmo tempo.
— Você faz isso comigo — declarou de olhos fechados e Elis lhe deu um beijo na testa.
— Estou com fome Lou, vamos lá na cantina comer alguma coisa? — Sorriu e o garoto
assentiu, de mãos dadas chegaram no local onde Nev degustava um enorme cheese burguer ao
lado de Victoria que comia seu terceiro cupcake de chocolate.
Harry olhava disfarçadamente para sua maninha e já tinha percebido que algo a
incomodava. Ele estava em cima da mesa com seu violão e algumas pessoas em volta, rodeado
de amigos como sempre. Porém queria estar com apenas uma daquelas pessoas naquele
momento.
Victor olhou em volta e não encontrou Bia, queria falar com ela, quem sabe isso ajudaria
a esclarecer tudo o que estava sentindo.
— Vocês sabem onde está a Bia? — ele perguntou baixinho para Maya e Vick.
— Com certeza na biblioteca ou com algum livro pelos jardins da escola. — Jones falou
como se fosse óbvio, e era. A garota gostava de passar seus intervalos daquele jeito, por mais
que tivesse amigas, o pátio e outras pessoas da escola, fazia com que ela se sentisse sempre
insegura.
— Provavelmente. Mas por que o interesse? — Maya ergueu uma sobrancelha curiosa
em direção ao seu irmão.
— Nada, não — falou rápido como se nem se importasse e saiu dali a passos rápidos.
As duas meninas se entreolharam e balançaram a cabeça negativamente, imaginando
tudo que poderia dar errado naquilo. Afinal Bia e Victor eram opostos. Uma era
completamente nerd e antissocial e o outro era popular e extrovertido.
— Se seu irmão fizer alguma coisa para magoar a Bi, eu acabo com a raça dele — Vick
falou brava.
— E eu te ajudo — disse firme e olhou para Nev que estava a sua frente, ele a olhou com
os olhos tristes, mas desviou. — Nev? Nev?? — Chamou-o e ele a olhou sem vontade.
— Que foi? — perguntou como se estivesse entediado. Ele estava magoado pelo jeito
que foi tratado pela garota.
Ela se aproximou, impaciente pelo gelo que estava recebendo de seu namorado.
— Você está sujo de ketchup, mané! — Deu um pescotapa leve nele.
Stones limpou o rosto e cerrou os olhos para a garota que andava em direção a sala e
cumprimentava praticamente todos enquanto passava. Essa marra e popularidade era algo de
família. O gênio difícil de lidar também.
Louis e Elis já haviam se jogado na piscina e estavam aos beijos dentro da água. Harry
estava com seu calção de banho, mas olhava para o relógio a cada cinco minutos. Onde
Victoria havia se metido?, ele se questionava mentalmente. Já estava ficando preocupado.
Phillip deu um giro por Holmes Chappel e levou Jones para uma das lanchonetes de seu
pai que era um empresário muito poderoso da região, tinha domínio sobre vários
estabelecimentos. Os dois almoçaram cheese burguers e batata frita. Aquilo foi ótimo para a
garota relaxar um pouco depois da surpresa de sua péssima nota em matemática.
— Ui, comi demais — falou Vick com dificuldade ao dar o último gole no seu milk-
shake.
— Eu sempre como demais quando saímos juntos, é incrível — Parker comentou, rindo.
Eles estavam se divertindo como grandes amigos mesmo. Quando terminaram, os dois
saíram da lanchonete, não precisaram pagar nada, afinal aquilo tudo era dele mesmo.
Jones roubou o boné de Phillip e o colocou. Olhou no vidro da lanchonete e debochando
de si mesmo com aquele visual.
— Eu estou parecendo aquelas patricinhas que dizem que são v1d4 lok4. — Parker riu
dela e sacudiu seu cabelo.
Os dois entraram no carro e ligaram o som no último volume, cantavam bem alto. Estava
tudo muito bem, até que ele sem dar um aviso prévio parou o carro no acostamento.
— Que foi? Não vai me dizer que acabou a gasolina? — Ela perguntou com cara de
espanto.
— Não é isso... — Sua voz saiu cheia de algo a mais. — É que... — Ele tirou seu cinto
de segurança. — Eu estou com saudades da gente ...
Ele foi se aproximando e beijou o ombro da garota delicadamente. Victoria já sabia que
teria que ser forte e firme para resistir aos encantos dele.
— Já conversamos sobre isso — disse fraca, quando o garoto alcançou seu pescoço. Ela
não podia, queria se teletransportar naquele momento.
— Mas... — Ele falou inalando o cheiro doce. — Eu quero conversar mais... — Era um
fato que Phillip estava completamente envolvido, não conseguia ser apenas amigo daquela
garota.
Parker alcançou os lábios da garota e começou a beijá-la delicadamente. Victoria virou
seu rosto. Não podia.
— Não dá, eu quero ser só sua amiga — disse de olhos fechados se afastando o máximo
que podia.
— Não consigo... — Declarou. — Não consigo ser só seu amigo. Quero mais. —
Segurou-a pelo cabelo e encostou seus rostos novamente.
— Eu não posso te dar mais que isso... — se soltou do cinto.
— O que aconteceu? Você não via problemas em ficar comigo antes, me diz o nome
desse cara. — Segurou no seu braço.
— Não tem cara nenhum, eu só não estou mais a fim, não quero misturar as coisas entre
a gente — falou firme.
— Tem sim, e eu vou descobrir quem é — falou decidido. — Um dia você vai ser
minha. — Ele a apertou pela cintura.
— Não, para, chega... — Abriu a porta e saiu do carro. Não queria brigar novamente
com Parker por aquilo.
— Eu gosto de você Vick, enxerga isso. E esse cara? Por que não te assume? Ele deve
ter namorada, né? Ele nem gosta de você de verdade. — Gritava as palavras, Jones já estava
fora do carro.
— Phillip, não viaja. — Revirou os olhos. — Vai logo embora, você está descontrolado
demais. — Bateu a porta do automóvel com força.
— Eu sou paciente, mas você cansa às vezes. Quer saber?... Fui.
E acelerou o carro dando partida, deixando a garota sozinha naquela rua desconhecida.
Ela ficou resmungando um monte de coisas, até chegar em uma lojinha de conveniência. Não
era fácil aceitar que Parker havia feito aquilo com ela, ele era um mimado, ela xingava alto
pelas ruas.
Pegou seu celular... E agora, para quem ligar? Não tenho dinheiro para um táxi, não
estou vendo movimentação de ônibus nessa rua..., ela pensava tentando achar uma solução.
''Lou, eu preciso que você venha me buscar por favor, estou na Rua Henrich XVIII, no
alto do Black Spirit. Quando você chegar, eu te explico.''
Enviou a mensagem e logo recebeu a resposta: ''Estou indo''.
Não foi Louis que recebeu e respondeu aquela mensagem, e sim Harry, já que o casal de
namorados estava na piscina.
— Posso pegar seu carro emprestado, Louis? — Harry perguntou ao amigo que ainda
dentro da piscina.
— Vai deixar a gente aqui sozinho? — perguntou confuso.
— Garanto que nem sentirão minha falta pombinhos, volto já. — Piscou e saiu depressa.
Estava um pouco nervoso e receoso com o que podia ter acontecido com Victoria.
Suas mãos tremiam, será que ela estava bem? Por que pediu ajuda a Louis e não a ele?
Por que demorou tanto? Muitas perguntas passavam pela cabeça de Miller, ele só queria
encontra-la logo para saber as respostas.
Victoria estava sentada em um banco em frente a tal lojinha que conseguiu encontrar.
Ficou triste por a amizade com o Phillip parecer ter acabado. Ela gostava da companhia dele,
mas por alguns motivos, decidiu finalizar com aquilo. Definitivamente nunca iriam conseguir
ser amigos. Então começou a pensar nos momentos lindos e românticos que viveu ao lado de
Parker. Pensando nisso, associou a algo que havia descoberto havia pouco tempo.
Burra, burra, o Phillip é um príncipe... Ele me deu uma rosa no dia do nosso primeiro
encontro... Sua boca se entreabriu. Igual à que meu pai deu para minha mãe. Isso foi um sinal,
por que eu não segui isso?, ela pensava alto.
— Você está se drogando? — Aquela voz rouca fez o coração da garota pular
despertando-a para o porquê de ela ter ignorado as perfeições românticas de Phillip.
— O que está fazendo aqui? Cadê o Louis? — perguntou confusa quando viu a figura de
Harry ali com seus cabelos desgrenhados e úmidos, uma calça rasgada qualquer e uma regata
preta que ele usava para lavar sua moto.
Não o chamou porque ele iria querer saber do que ela estava fazendo ali, e sem dúvidas
não gostaria de saber a verdade.
— Eu vim sozinho. O que diabos está fazendo aqui? — Sentou do lado dela.
— Eu tive uns probleminhas técnicos e perdi minha carona... — resmungou.
— Sempre em apuros... — Por um lado ele estava aliviado por ela estar bem.
— Tudo por sua causa — disse baixinho.
— Por quê? — Ele ergueu a sobrancelha.
Nada não, vamos para casa logo. — Pegou na mão dele e o puxou. Só queria sair logo
dali, ir para um lugar que ela conhecesse e não se sentisse tão perdida.
— Essa rua é bem desconhecida e distante... Acho que ninguém que conhecemos mora
por aqui... — sorriu malicioso.
— E daí? — Olhou-o como se ele fosse um babaca. Não estava entendendo em que
ponto ele quis chegar dizendo aquilo.
— E daí que eu queria um dia poder fazer isso...
E puxou-a pela cintura, levantou o rosto dela, massageou as maçãs do rosto e começou a
lhe dar um selinho bem lento, bem apaixonado. Ela se entregou por completo e quando se deu
conta já estavam dando um beijo inesquecível. No meio da calçada.
— Pronto, um dos meus desejos está realizado. — Sorriu.
— Satisfeito? Agora vamos... — Ela entrou no carro em seguida.
— Por falar em desejos... — disse entrando no carro. — Isso me fez lembrar de outro
que eu tenho. — Sorriu outra vez de um jeito safado.
— Qual é o sonho pervertido agora, Harry? — perguntou sem paciência.
— Sexo no carro — disse sério e a garota começou a rir.
— Para de falar idiotices e dirige... — Deu-lhe um tapa no braço. — Vamos logo que
daqui a pouco vai rolar uma tempestade horrível. — Informou um pouco brava.
— Uau... Você sabe como destruir os sonhos de uma pessoa. — Fez cara de triste.
Ele ligou o carro e deu partida. Logo pingos grossos de chuva começaram a cair.
— Olha, eu não conheço muito bem essa área, mas teve uma vez que eu vim no Black
Spirit e uns amigos pegaram um atalho e acho que é para a esquerda... — Alguns minutos
depois viraram à esquerda assim como ele havia descrevido.
Depois de algum tempo, aquele caminho começou a ficar estranho, era uma estrada de
terra. Raro naquela cidade que praticamente todas as ruas eram asfaltadas.
— Harry... Onde estamos? — perguntou, aflita.
— Calma, eu conheço isso aqui, o Klaus tinha um rancho por aqui por perto, já andei por
aqui uma vez — disse, distraído.
Vick revirou os olhos, mas confiou na palavra do garoto.
— Está quase anoitecendo, Harry. Por que parece que a gente nunca vai chegar a lugar
nenhum? — falou depois de alguns minutos dirigindo para o nada.
— Droga de GPS vagabundo.... — Miller bateu no aparelho, que provavelmente nunca
nem funcionou.
— Não vai me dizer que... — A garota levou as mãos até seu rosto pensando no que
parecia óbvio.
— É, estamos perdidos e a gasolina está acabando... — Fez uma carinha de quem fez
algo errado.
Ela cerrou os olhos e sentiu vontade de enforcá-lo ali mesmo. Estavam no fim do mundo,
chovia muito forte e não faziam ideia de como sair dali. A noite já dava seus primeiros sinais
de vida. Como iriam sair dessa?
Harry e eu já estávamos há mais de cinco minutos parados dentro do carro, eu estava olhando
através da janela para a chuva crescente que só aumentava a cada segundo. Os vidros estavam
embaçados e cobertos de pingos de água. Eu não fazia a menor ideia de onde estávamos e do
porquê meu querido irmão postiço foi inventar de pegar um atalho.
No momento que vi a imagem dele na frente daquela loja de conveniências, tive certeza
dos motivos pelos quais liguei para Louis e não para ele.
— Aqui nesse lugar nem sinal tem... — resmunguei, irritada.
Depois do dia que tive, da briga com Phillip, só o que eu queria era o aconchego da
minha cama ao meu redor. Mas ao invés disso, estava em mais uma aventura com o Senhor
Miller.
— E você quer que eu faça o quê? — respondeu, grosso. — Vamos só esperar a chuva
passar e depois a gente vê o que faz. — Ele nem ao menos parecia preocupado com a situação.
— Queridinho... — Tirei meu cinto de segurança. — Você tem noção de onde a gente
está? Daqui a pouco vai escurecer... — Falei, me desesperando um pouco com aquele fato. —
Oh Lord, isso aqui parece um pesadelo. — Olhei para cima implorando para que algo
milagroso nos tirasse dali.
— Calminha aí, não se esqueça de que tudo isso aqui é por sua causa. — Ele passou a
mão nos cabelos. Realmente a culpa era minha, devia ter sido menos ingênua, achar que o
Parker iria querer apenas ser meu amigo depois de tudo. Fui muito tola.
— Ah, maldito Phillip — rosnei pensando alto e só depois me toquei que não era para ter
feito aquilo. Harry imediatamente me olhou cerrando os olhos. Era tão ridículo eu ter saído
com Phillip e ainda achar que devia esconder isso do Harry, não daria para fazer isso.
— Como assim? Você estava com o Phillip? — Ele estava nervoso, como o esperado. —
O que diabos vocês vieram fazer no outro lado da cidade e por que ele te deixou sozinha aqui?
— perguntou levantando o tom de voz.
Passei a mão no meu rosto.
— Fala baixo, isso é assunto meu e dele — soltei com firmeza. Eu não estava mesmo
querendo falar sobre aquilo, era tão patético, meus pensamentos já estavam se ajeitando, não
precisava de nenhuma pressão, eu meio que já sei bem o que quero.
Não queria mais problemas, mas o Harry tem esse duelo idiota com o Phillip. Não quero
o mal de nenhum dos dois e sei que eles sempre que se encontram ficam a ponto de se
matarem. Porém aparentemente o meu maninho não ia deixar essa história quieta como eu
desejava. Por que esses garotos têm que ser tão estúpidos um com o outro?
— É melhor você me falar o que aconteceu ou eu mesmo vou lá perguntar a ele... — Ele
ameaçou. Olhei para sua face e nem o reconheci, era tudo tão sombrio, seus olhos quase me
afogavam.
— Não foi nada demais — disse, olhando dentro dos seus olhos. — Eu nem sei porque
eu toquei no assunto, a gente só discutiu e ele foi embora. — Cruzei os braços. Ele relaxou um
pouco, ainda estava tenso, porém menos.
— Vocês discutiram por quê? — questionou, ainda desconfiado. Encarei aquele ser ali
na minha frente, nos conhecemos havia tão pouco tempo e parece que ele já tem um enorme
peso sobre tudo que sou.
— Nós brigamos por sua causa, você é o problema. — Falei sem nem pensar direito.
Mas achei que isso já era óbvio, afinal, se não estou com Phillip, é em grande parte por causa
da minha paixão pelo meu irmãozinho.
— Por que eu sou o problema? — O tom dele ficou alto e tomou o carro inteiro. —
Porque você quer ficar com ele e eu estou atrapalhando? Se for isso tudo bem... — Sua
garganta pareceu falhar ao dizer isso. — Eu saio da sua vida. — Gritou e abriu a porta do
carro.
Ouvi o barulho forte da porta sendo fechada com violência, Harry andou alguns metros
com as mãos na cabeça. Estava chovendo muito. Por que a gente sempre briga? Praticamente
todos os dias discutimos sobre alguma coisa, por mais boba que seja. É como se fôssemos
movidos por esse fogo das nossas brigas. Mas nem sempre acaba tudo bem. Nos magoamos de
vez em quando.
Eu abri o vidro e gritei pelo nome dele.
— Volta para o carro, você vai pegar um resfriado — gritei e ele me encarou. Oh! Ele
estava com os olhos vermelhos.
Foi então que percebi o quanto aquilo o afetava, na mesma medida que também mexia
loucamente com cada víscera dentro de mim. Estávamos encrencados.
— Não aja como se isso importasse para você. — Ele se virou novamente. O quê? Como
ele fala isso para mim? Senti-me uma idiota. Que ideia estúpida aceitar carona do Phillip, que
ideia estúpida esconder isso do Harry, que ideia estúpida ter ligado para Louis e não para ele.
Eu abri a porta do carro e logo senti os grossos pingos de chuva machucarem meu rosto.
Corri até onde ele estava e abracei suas costas o apertando. Sentindo o calor de seu corpo. Ele
abaixou a cabeça como se estivesse se rendendo. Segurou em minhas mãos e se virou olhando
para mim.
— Nunca mais repita isso — disse brava e com pesar. Ele não poderia mais dizer que eu
não me importava, porque sim, me importava muito. Com ele e com tudo que nos envolvia,
por isso era tão complicado.
Mais uma vez o agarrei bem forte e não pretendia soltar tão fácil. A chuva me ensopava
com rapidez. Mas eu queria sentir o coração dele bater junto ao meu. Naquele momento
novamente era como se nada além de nós dois existia no mundo, apenas nosso amor e aquela
chuva, nem mesmo o solo existia porque era como se estivéssemos flutuando.
Um trovão nos tirou do transe e automaticamente corremos até o carro.
Entrei ensopada e ele muito mais. Tirei meu casaco e meu tênis e ele tirou a camiseta.
Seu corpo estava molhado assim como seus cabelos que ele jogou para trás.
Ficamos em silêncio por algum tempo. Até que ele decidiu romper, algo estava o
incomodando.
— O que você quis dizer quando falou que eu era o problema da sua discussão com o
Phillip? — Nossa, ele ainda estava pensando sobre isso. Será que não tinha compreendido?
Pelo jeito, não.
— Ah, Harry... — Falei sem muita paciência, o cenho dele estava franzido, decidi ser
sincera. — OK, é só que o Phillip queria algo a mais que amizade, mas eu não quero. Só isso.
— Dei de ombros.
— Ele tentou alguma coisa com você? — Sua postura ficou rígida.
— O quê? Não. — Balancei a cabeça. — Eu sei me defender, foi só isso mesmo, a gente
brigou e ele foi embora. — Assoprei triste ao lembrar dele me abandonando sozinha no meio
da rua.
— Está arrependida da sua escolha? — Não entendi muito bem essa pergunta.
Olhei para o Harry e ele tinha aquele sorrisinho estampado no rosto e encarando aqueles
olhos verdes esmeralda, tive certeza de que não me arrependia nem um pouco. A vida é feita
de escolhas, só o tempo dirá se foram certas ou erradas.
— Você se acha, não é Harry Miller? — Balancei a cabeça negativamente. — Agora por
sua culpa eu estou toda molhada. — Olhei para mim mesma, eu estava ensopada. O aquecedor
do carro, nem fazia efeito.
— E essa blusa branca te favorece muito... — Lá estava o meu safado preferido. Nada
tenso. Apenas cheio de segundas, terceiras, quartas e quintas intenções. Ele foi se aproximando
com aquele corpo úmido.
Passou uma de suas mãos até a minha cintura, subindo minha blusa de leve. Aproximou-
se mais de mim e segurou meu rosto com as duas mãos, somente seu olhar já me deixava
queimando em brasas. Colocou meus cabelos úmidos para trás e lentamente começou a me
beijar.
Eu coloquei a mão sobre sua nuca e intensifiquei o beijo. Sem dúvida, sua língua e a
minha eram melhores amigas porque as duas pareciam ter nascido para estarem juntas.
Até que ele começou a me puxar para o seu colo. Cedi facilmente. Sentei em cima dele e
começamos a esquentar aquele carro. Eu rebolava em seu colo ao mesmo tempo que nos
beijávamos. Percebi ele ficar cada vez mais excitado embaixo de mim. A pele dele queimava e
me envolvia. Era como estar ardendo em uma febre muito boa, viciante.
Miller e sua mão esperta começaram a querer tirar a minha blusa. Então algo em mim
voltou a si e eu consegui abrir os olhos e tentar me desconectar daquele feitiço. A gente vai
mesmo fazer isso? Ele percebeu minha tensão.
Parei o beijo e saí do colo dele bruscamente. Sentando-me na cadeira do passageiro, me
distanciando o máximo que pude, era notável como eu estava ofegante. Minhas pernas estavam
no colo dele que respirava profundamente, seu rosto estava corado e seus lábios muito
avermelhados. Deixavam ainda mais apetitosos.
— Você adora me deixar assim... — Ele ofegou ao dizer e eu sorri maliciosa.
— Harry, eu não sei se quero fazer isso aqui. — Falei mais baixo. Eu estava insegura.
Perdi minha virgindade há pouco tempo, não era como se eu já soubesse de tudo e estivesse
desprendida de qualquer coisa.
— Qual o problema? De que importa o lugar? Nós estamos juntos, isso que importa —
Ele começou a massagear meus pés.
— É essa a conversinha que você jogava para as suas peguetes? Aí elas liberavam em
qualquer lugar, não é?... — Disse e pressionei os olhos quando ele começou a beijar meus pés.
— Não... — Como apenas a voz dele conseguia ser tão sexy e me deixar tão excitada?
— Eu faço outras coisas. — Ele me olhou maliciosamente.
Continuou beijando meus pés delicadamente e foi subindo, passando pelas minhas
pernas. Ele veio engatinhando, ficando entre as minhas pernas de joelhos. Se inclinou até o
meu pescoço e procurou minha orelha.
— Eu sei que você também quer... — sussurrou e mordeu o lóbulo da minha orelha.
— Mas Harry... — disse derretida em seus braços. Já sabia que iria acontecer. Eu queria
mesmo. Não queria saber de mais nada. Só dele.
— Eu vou fazer com todo carinho... Prometo. — Ele foi para o banco de trás e segurou
em minha mão me puxando.
Eu me deitei sobre o banco de trás e ele subiu em cima de mim. Nos beijamos
intensamente, pude sentir suas mãos sedentas atravessarem todas as minhas curvas.
Arranhei as costas de Harry o apertando e o puxando cada vez mais para perto. Ele
começou a puxar minha blusa e eu o ajudei a tirá-la. Mordeu seus lábios olhando para mim e
só com aquele gesto já senti meu corpo inteiro perdendo o equilíbrio. Aquele carro estava
pegando fogo, apesar da tempestade ser severa do lado de fora.
No momento em que ele foi tirar a calça, realmente foi complicado, mas com a minha
ajuda, logo estávamos completamente entregues um ao outro, podíamos sentir cada parte do
corpo um do outro.
— Eu quero ouvir você... — disse ao pé do meu ouvido e eu puxei os cabelos dele
devagar.
— E eu quero você todo pra mim... Agora... — disse fraca e soou quase como um
gemido, eu peguei a camisinha de sua carteira e o vesti.
Harry sentou no banco do carro, acariciou seu membro ereto e me puxou para o seu colo.
Fui até ele devagar.
— Hey, não se preocupa, vamos bem devagarzinho — falou abafado no meu ouvido.
Eu gostava do jeito cuidadoso do Harry, mas eu queria dar prazer para ele. Então,
segurei em seus cabelos, me posicionei e sentei lentamente sobre seu membro. Aquilo doeu um
pouco. Ele segurou forte em minha cintura e eu ia me movimentando para cima e para baixo
bem devagar. De repente aquela dor foi ficando cada vez mais prazerosa, ele passava a mão
pelo meu corpo e beijava meu pescoço. E eu gemia de prazer. Como ele tinha pegada.
Logo eu estava completamente confortável com aquela situação, comecei a rebolar em
seu colo, com ele por completo dentro de mim. Ele encostou as costas no carro e subiu um
pouco o corpo, percebeu que eu já estava um pouco cansada. Foi começando lentamente a se
movimentar e depois com mais intensidade. Eu virava a cabeça para trás pressionando os olhos
e ele não parava com suas entradas e saídas. O corpo suado dele se chocava com o meu e nos
movimentávamos juntos com total harmonia. Aquilo era muito bom.
— Ah... — ele gemeu alto. — Fica de quatro para mim... — sussurrou ao pé o meu
ouvido.
Confesso que me assustei com aquilo no primeiro momento, mas posicionei-me
rapidamente. Ele começou a acariciar minhas costas e cada uma das minhas nádegas. Se
encaixou novamente e me penetrou devagar. Começou com aquele ritmo leve, quente e muito
gostoso. Surpreendi-me por ter gostado tanto daquela posição. Em questão de minutos, o ritmo
já estava frenético. Ele acelerou as estocadas e chegava a ser quase violento. Eu gritava e
gemia, eu estava amando, meu corpo estava dominado pelas melhores sensações a cada toque.
Senti minha visão escurecer e minhas pernas ficaram fracas... Ele me segurou pela barriga para
que eu não caísse sobre o carro, continuou os movimentos por mais alguns segundos e deu seu
último suspiro profundo. Caiu por sobre meu corpo e eu pensei que fosse desmaiar de cansaço.
Eu estava exausta.
Parecia que eu saí do meu corpo, nem estava mais ali, só tive consciência do corpo
quente de Harry sobre o meu e de sua respiração no meu pescoço.
Harry ficou deitado por cima de mim e nós respirávamos juntos na mesma intensidade.
Ele se sentou no banco e passou a mão pelo meu corpo completamente desprotegido ali na sua
frente. Eu olhei para ele e vi aquele sorriso lindo que era só para mim e sua face cansada assim
como a minha deveria estar. Ele pegou sua boxer a vestiu e depois me deu seu casaco. Eu me
cobri. E o abracei de lado. Nem acreditava que tinha vivido algo assim.
— Eu já disse que te amo? — ele falou ao pé do meu ouvido. Sua voz mais rouca do que
o normal.
— Sabe... eu adoraria ouvir isso agora. — Sorri para ele.
— Eu te amo muito. — Miller beijou minha testa e eu o abracei forte. Queria dormir ali.
Alguns minutos depois, trocamos mais alguns beijos mais calmos e a chuva começava a
ceder. Infelizmente já estava bem escuro e provavelmente Louis e Elis já devem ter contado do
nosso sumiço aos nossos pais. Mal sabem eles que estamos aqui juntos, juntos mesmo.
Eu vesti minhas roupas e fui para o banco da frente enrolada com o casaco do Harry. Ele
sentou no banco do motorista e sorriu para mim. Como seu sorriso era lindo. Passei a mão
sobre seus cabelos e ele suspirou.
De repente, ele ligou o carro.
— Harry, a gasolina vai acabar daqui a poucos metros — informei. Ele não tirou o
sorriso do rosto e deu partida.
Não. Espera. O quê? Será que ele fez mesmo isso que eu estou pensando? Fiquei
boquiaberta. Quando vi seu sorrisinho safado enquanto dirigia tive certeza. Não acredito nisso.
— Desculpa por isso, mas sei que você também queria. — Acelerou o carro e foi
dirigindo como se fosse a pessoa mais genial da terra.
A droga da gasolina não estava acabando porcaria nenhuma. Nós nem estávamos
perdidos. Ele mentiu. Mentiu só para isso acontecer. Em um carro no meio do nada. Comecei a
dar tapas nele.
— Seu cara de pau, você não presta! — Comecei a gritar com ele, eu estava mais
surpresa do que chateada. Como ele faz algo assim?
— Para, sua louca. — Ele desviou, rindo. — Estou dirigindo. — Que maníaco filho da
mãe. — Eu te falei que era um desejo que eu tinha. Poxa... — Fez biquinho. — Vai dizer que
você não gostou? — Colocou aquele sorrisinho malicioso no rosto outra vez. — Eu ouvi seus
gritinhos pedindo para ir mais rápido... — Piscou. Eu lhe mostrei meu dedo do meio.
— Não fala mais comigo, dessa vez você passou dos limites. — Virei meu rosto para o
outro lado e ele pegou na minha coxa. — Não encosta! Não estou brincando. — Dei um tapa
em sua mão.
Aquilo no carro ia ser um dos melhores momentos da minha vida se não fosse fruto de
uma mentirinha deslavada. Harry é doente, só pode. Nós brigamos muito pelo simples fato
dele ser um idiota.
— Me desculpa, vai? Por favor, fiz por uma boa causa, queria fazer isso com você. —
Ele estava falando com animação? Sério isso produção? — Sempre tem essas aventuras de
casal que eles se perdem na floresta, ou numa ilha deserta, sei lá... Vivemos nossa primeira
aventura. — Falava alegre e eu revirei os olhos, sem olhar para ele. Fucking Psyco.
Rapidamente estávamos em uma via asfaltada. Como eu sou burra... Eu entrei em pânico
como se nós estivéssemos naqueles lugares desertos com aqueles serial killers. Estávamos a
uns dez minutos a pé da estrada. Fala sério. Ele me enganou direitinho. Muito dissimulado.
Logo chegamos na nossa casa. Ouvimos a voz de Louis gritando ''Harry chegou''.
Mas quem saiu da casa não foi ele e sim meu pai e em seguida Anne, eles não estavam
com as melhores caras do mundo. Anne correu até Harry e o abraçou como se ele tivesse
sumido por dias. E meu pai me olhava com desconfiança. Olha a diferença no tratamento.
Como se eu fosse mesmo a ovelha negra da família.
— Onde vocês se meteram? Já são quase nove horas da noite... — Meu pai disse irritado
olhando para o relógio.
— A Victoria me ligou para buscar ela e nós se perdemos no caminho — Miller
respondeu rapidamente.
— Vocês não têm telefone? O que custa ligar? — Anne falou preocupada, seu tom era de
nervosismo. Calma. Não é para tanto.
— Não tinha sinal nesse lugar que a gente estava. — Fomos entrando na casa e vimos
Louis e Elis sentados no sofá.
— Que diabos de lugar é esse que não tem sinal? — Meu pai questionou. Era em
Nárnia, pai. Que saco! Ele sempre fica mais desconfiado do que preocupado. Como se foda-se
como eu estou, ele apenas quer saber o que andei aprontando.
— Foi do outro lado da cidade — Harry falou e eu franzi o cenho para ele
imediatamente.
— E o que você estava fazendo do outro lado da cidade, mocinha? — George
rapidamente me afrontou. Claro que ele ia fazer essa pergunta. Era óbvio. Só o Harry que não
sabia disso e foi abrir essa boca enorme e carnuda para me deletar.
Se eu começasse a falar a verdade só ia acabar me complicando mais, então a boa e velha
mentira pareceu mais simples e fácil. Talvez usar um pouco de chantagem emocional seja mais
efetivo ainda.
— Precisei ir em uma loja que só tem lá. Uma loja que eu amava em Chicago. —Tentei
soar triste. — E como o meu pai nunca tem tempo para me levar a lugar nenhum, fui sozinha e
quando cheguei lá não tinha como voltar. Pedi para o Louis para me buscar, mas infelizmente
o Harry decidiu ir. — Olhei para ele e fiz uma careta.
— Você e suas historinhas, Victoria... Sempre me deixando de cabelo branco. —Meu pai
levou as mãos nos cabelos.
— Será que a gente pode ir comer alguma coisa? — Miller seguiu para a cozinha. Eu
também estava faminta.
— A Carmen preparou o jantar. — Quando ela disse o nome da Carmen, eu gelei.
Quando eu entrei na cozinha, Carmen me olhou com desconfiança. Ela já devia imaginar
que estávamos juntos. Não a encarei. Como isso era chato. Não ter paz nem dentro da sua casa.
— Nós ficamos preocupados com vocês. Depois eu vi sua mensagem no meu celular. —
Louis falou e eu fiz uma cara confusa para ele.
— Na mensagem tinha um endereço. — Falei baixo só para que ele ouvisse, ele deu um
sorrisinho de canto.
— Não quis atrapalhar os pombinhos, não é? — disse no meu ouvido e eu lhe dei um
tapa.
Que falso, ainda diz que ficou preocupado para nossos pais. Esse Louis...
Harry começou a comer como se fosse um animal faminto. Carmen olhava sem parar
para nós dois, não ia conseguir ficar ali. Eu disse que ia subir para tomar um banho e me deitar.
Despedi-me de Louis e Elis.
Subi as escadas e cheguei no meu quarto. Fui direto tomar um banho, eu precisava
daquilo. Fiquei por quase meia hora. Vesti meu roupão e saí do banheiro. Gelei quando vejo
que tem alguém na minha cama.
Era ela, Carmen. O que ela fazia ali?
— Preparei um lanchinho para você... — Sorriu e vi a bandeja com um sanduíche, uns
biscoitos e suco no meu criado mudo.
— Obrigada, Carmen... — disse sem graça.
— Olha, eu sei que você e Harry estavam juntos. — Ela disse e eu revirei os olhos. Não
gostava nada de ser encurralada, ameaçada. E era isso que ela estava fazendo. Estava cansada.
— Carmen, não quero falar sobre isso, você vai ameaçar contar tudo? Quer saber...
Então, conta. — Aumentei meu tom de voz. — Eu realmente não aguento mais tudo isso, é
difícil olhar para a pessoa que você gosta e não poder abraçá-la ou beijá-la na hora e no lugar
que você quer... Eu realmente não queria gostar do Harry, não queria, ele é errado, só faz
besteira e eu também sou toda errada, mas quando estamos juntos nos completamos, mas
depois... Isso dói tanto... — Eu somente despejei aquilo tudo de uma vez só.
De repente, senti meu coração doer e sem perceber me vi chorando ali na frente de
Carmen. Quase sem conseguir respirar. Ela veio até mim e surpreendentemente ela me
abraçou.
— Shhh, não fica assim... — Falou carinhosa. — Eu não vou contar nada. — Ela me
abraçou mais forte passando a mãos nos meus cabelos úmidos.
— Não vai? — solucei confusa.
— Não quero me meter nisso, já vi que é difícil para vocês e eu não quero deixar pior
ainda. — Uau, nunca iria esperar aquilo. — Mas se seus pais descobrirem e souberem que eu
já sabia, vou ser demitida — falou preocupada.
— Não se preocupe com isso, nunca vou dizer para ninguém que você sabe e não vamos
mais ficar aqui na casa nos seus dias de trabalho. Eu prometo. — Ela passou a mão pelas
minhas costas e sorriu de canto.
Estava muito surpresa por aquilo. Achei no momento que ela nos pegou no flagra que
contaria imediatamente. As pessoas podem nos surpreender.
Sentou-se na minha cama e comecei a comer, de repente me vi conversando com ela.
Desabafando sobre minha vida. E aquilo era ótimo. Porque eu queria alguém para falar sobre
tudo o que eu estava vivendo e não podia ser com ninguém antes e agora esse alguém era a
Carmen.
Por mais que eu sei que ela me julga um pouco pelo meu caso com o Miller, ela parece
somente um porto seguro nesse momento.
— Vocês não pensam em namorar sério? — Ela me perguntou e aquilo mexeu comigo.
Não sabia se isso seria possível por vários motivos. Dentre vários disse apenas um.
— O Harry não é do tipo que namora... — disse triste e então veio outro e mais
importante na minha mente. — E além do mais tem todo esse lance com nossos pais...
Pensando bem, nenhum de nós dois somos do tipo que namora, mas estamos envolvidos
e apaixonados. Acho que por nossa vontade, quer dizer, pelo menos da minha parte, eu queria
muito namorar com Harry.
— Se vocês conversassem direito com seus pais e mostrassem que isso que sentem é
real, talvez eles permitissem. — Ela sugeriu. E eu sorri com essa possibilidade. Sabia que ela
devia estar apenas querendo regular as coisas, só não sei se na prática era tão fácil assim.
No fim, estava eu deitada na minha cama, toda coberta. Carmen me deu um beijo de boa
noite e saiu do quarto com a bandeja. Uau, hoje aconteceram muitas coisas loucas. Mas acho
que ganhei uma grande amiga. Alguém que nunca imaginei que seria. Ela abriu a porta, eu
sorri e de repente meu pequeno cachorrinho Ed entrou no quarto.
— Parece que você vai ter companhia essa noite. — Sorriu e fechou a porta.
Ed foi até o pé da minha cama e eu o peguei. Esse foi o melhor presente do mundo
porque quando eu poderia estar sozinha, esse amiguinho estará comigo me dando o seu amor
mais puro e fiel. Abracei-o forte e em questão de minutos....
Sinto aquela língua molhada pelo meu rosto. Acordo no susto.
Não era Harry como de costume e sim meu cachorrinho mais fofo da vida. Sorri olhando
para ele que desceu da cama e parecia muito bem-disposto naquela manhã. Não tenho um
humor muito bom quando acordo, mas olhar para seu entusiasmo me contagiou.
Levantei-me e comecei a brincar um pouco com ele. Fui para o banheiro, tomei um
banho rápido, penteei meus cabelos. E escolhi uma roupa bem quentinha porque
aparentemente lá fora fazia um frio terrível. Assim que saí do meu quarto, Harry saiu do dele.
— Bom dia... — disse com um sorriso fraco.
— Bom dia — falei seca e fui descendo as escadas. Nem sei porque falei assim, força do
hábito, ah não, é porque ele é um mentiroso descarado.
— Eu não ganho nem um beijinho? — Falou só para que eu escutasse, seu hálito fresco
me fez delirar.
— Pensarei no seu caso... Um dia. — Pisquei. Desci as escadas depressa. Cheguei na
cozinha e já tinha o café da manhã na mesa.
Ele me agarrou por trás me prendendo entre ele e o balcão. Eu gritei e ele prontamente
tampou minha boca.
— Quietinha... — sussurrou. — Eu só quero um beijo de bom dia — disse sobre minha
nuca.
—Você sabe que sua mãe está em casa, não é? — Acho que ele estava enlouquecendo.
Só pode.
—Vai ser rápido. — Ele me virou e começou a me beijar bem devagar.
Ouvimos passos descendo as escadas e eu o empurrei forte. Harry se sentou na mesa, e
eu fiquei de costas me acalmando do susto encostada no balcão.
— Bom dia meus cupcakes... — Anne sorriu e deu um beijo no Harry e depois em mim.
— Hoje vou provar meu vestido de noiva... — avisou animadíssima. — Quer ir comigo, Vick?
Eu sorri com a pergunta e assenti. Mal podia esperar pelo dia do casamento dela com
meu pai, uma união tão linda se tornaria oficial.
Harry e eu fomos para a escola juntos. Obviamente não podíamos nos beijar pelo
caminho e nem dar mole. E isso acabava comigo. Eu queria ter ele em todos os momentos,
queria ir de mãos dadas como outros casais. Meu coração pesa em pensar que talvez nunca
tenhamos isso.
Quando chegamos na esquina do colégio, ele me parou.
— Só uma perguntinha... Estamos bem? — Ele me olhou com carinha de preocupado.
— Você é um tarado... — Olhei brava, mas logo depois relaxei. — Mas sim, estamos
bem. — Sorri e ele foi para me abraçar com o maior sorrisão. — Estamos quase em frente ao
colégio, Harry — alertei-o.
— Desculpa... — Ele olhou para os lados.
— Vamos entrar logo — falei receosa.
Nos separamos e entramos na escola. De longe vi Phillip, que me olhou tristemente e
depois desviou o olhar. Vai ser difícil ter que dividir algumas aulas com ele a partir de agora.
Mas vai ser bem melhor assim.
~Narradora On~
A manhã parecia tranquila na escola, Harry passou a aula inteira viajando, pensando em
Victoria e em tudo que tinham passo juntos, ele não conseguia entender o motivo de tudo
lembrar ela. Cada detalhe por mais simples que fosse, fazia com que os olhos da garota
voassem para sua mente.
Mal sabia ele que o dia ainda lhe reservava uma grande surpresa.
Na hora do intervalo, Maria decidiu ir até James e ter a conversa decisiva que pode
modificar suas vidas para sempre. Chamou-o para um canto mais privado do pátio. Não estava
aguentando mais aquela situação. Os dois nem se quer se olhavam.
— Oi Maria, o que você quer? — disse, já demonstrando estar impaciente.
— Senta aí, James, eu quero conversar sério com você. — Ele se sentou e ela o olhou
nos olhos.
— Pode falar — falou com uma carranca no rosto.
— Eu sei que eu errei e já pedi desculpas... Agora eu quero saber se você vai me perdoar
ou não. Porque James, eu te amo, e você é meu melhor amigo, o que deixa tudo pior. Mas se
você não for me perdoar, eu preciso seguir em frente... — Ela somente desabafou sobre tudo
que lhe afligia. Precisava resolver aquilo. Estava acabando com ela.
— Com esse ''seguir em frente'' você quer dizer ficar com aquele garoto? — ele ergueu a
sobrancelha.
— Não, aquilo foi um erro. A gente quase namorou no passado, mas é passado. Eu já
expliquei para ele, naquele mesmo dia que você viu tudo, eu falei para ele, que estava com
você — disse tristemente. Era verdade.
— Me promete que isso nunca mais vai acontecer? — pediu com pesar. James sabia que
não iria conseguir viver da mesma forma sem Maria em sua vida. Só ele sabia o quão estava
difícil sobreviver naqueles dias longe dela.
— Nunca, nunca mais, eu quero ser somente sua. — Falou com intensidade na voz e no
olhar. — Jay, você quer namorar comigo? — disse apressadamente.
— Hey... Eu sou muito chegado a tradições, eu que devia fazer essa pergunta e... — Ela
o interrompeu.
— Sim ou não? — questionou decidida. Ele a olhou e sorriu. Como uma conversa
sincera podia transformar tanto as situações.
— Eu te amo mais que tudo, Maria, claro que sim.
Ao ouvir essas palavras, Maria se jogou nos braços dele. Começou a dar vários selinhos
pelo seu rosto. E soltava palavras como ''senti sua falta'' ''minha vida sem você não faz
sentido''.
Quando se deram conta James e Maria já se beijavam apaixonadamente.
Voltaram para a turminha de mãos dadas e todos comemoraram aquilo. O garoto fez
questão de gritar em alto e bom som que estavam namorando e Maria estampava em seu rosto
o sorriso mais alegre do mundo. Harry e Vick olhavam aquela cena com alegria e ao mesmo
tempo algo a mais. Será que um dia seriam eles ali?
As aulas acabaram, Jones se despediu e foi correndo para encontrar com Anne, afinal
hoje era o grande dia de provar o vestido de casamento. Harry ia andando lentamente até sua
casa. Quando chegou, viu uma garota loira sentada em frente ao seu portão.
— Oi Karolinne, o que está fazendo aqui? — perguntou confuso, prevendo encrenca
para o seu lado.
— Eu vim dar um mergulho na sua piscina. — Sorriu, decidida.
— Eu não acho uma boa ideia. Está um dia muito frio. — Era óbvio, só olhar o tempo
para saber que piscina não estava nos planos de ninguém. — Sabe... Eu tenho que entrar, mas
foi bom te ver. — Revirou os olhos e deu as costas para ela. Não gostava quando insistiam
tanto.
— Harry... Harry... — Ela falou, debochada. — Se eu fosse você não me trataria assim.
— Ele olhou para ela com confusão no olhar. Não gostou do tom de voz que ela disse aquilo,
sabia que um dos hábitos de Karolinne era manipular as pessoas, ela sentia prazer naquilo. Mas
se dependesse dele, isso não aconteceria. Ele não cederia aos seus caprichos daquela vez.
— Realmente não estou a fim de conversar com você. Que tal outro dia? Ou outro
século? — Abriu seu portão.
— Que tal agora? — Quase gritou.
— Eu mereço... — Miller pensou alto.
— Se eu fosse você, baixaria sua bola e faria tudo que eu mandasse. — Ele arregalou
seus olhos quando ouviu ela dizer aquilo. O que ela estava pensando? Ele pensou. Deveria
estar em um mundo paralelo.
— Oi? — Franziu o cenho.
— Acho melhor você começar a me tratar do jeito que eu mereço. Eu sei de tudo Harry,
sei de todo seu segredinho com a sua irmãzinha — riu maligna e Harry gelou. Segurou-se no
portão.
Pronto. Carmen saber era uma coisa. Ela era uma pessoa sensata. Já Karolinne saber
significava que tudo, tudo mesmo estava em risco. Porque era uma menina sem escrúpulos que
fazia de tudo para ter o que queria.
— O que você quer? — Perguntou nervoso e sem paciência. Estava com raiva na
verdade. Não acreditava que estava sendo chateado por Karolinne, uma garota mimada.
— Eu quero você... Só para mim! — Seu olhar era sombrio. Ela apenas impôs sua
vontade e não ia sossegar sem antes ter o que queria.
Depois do pequeno desentendimento que Nev e Maya tiveram na escola, eles já não são o
mesmo casal. Black era muito orgulhosa e tinha um dos gênios mais fortes que Stones já havia
tido que lidar. Ele só queria amá-la e desejava que todos vissem o quanto ele gostava dela, mas
a garota não era muito fã de romances melosos.
Porém, um namoro com Nev só podia ser mais doce que mel.
Depois de algumas horas sem seu amor, Maya enfim engoliu seu orgulho e decidiu ir na
casa dele. Ela não fez isso antes porque achou que como das outras vezes seu príncipe iria
correndo fazer de tudo para eles fazerem as pazes. Mas seguindo o conselho de seus amigos,
seu namorado resistiu.
E como era difícil resistir ao beicinho que ela fazia quando seus olhares se cruzavam na
sala de aula. Ele tremia por dentro, mas não cedeu.
— Oi, Senhora Stones. Será que eu poderia falar com o Nev, por favor? — perguntou
sorridente quando sua sogra abriu a porta para ela.
— Sim, claro, como está querida? — ela disse e cumprimentou a garota. Maya disse que
estava bem e com a permissão da mãe, foi até o quarto do garoto. Chegando lá, bateu na porta
e ouviu um ''Entra!'' Abriu bem devagar e viu seu namorado deitado na cama, jogando
videogame. Ele se surpreendeu ao vê-la ali.
— Maya... O que... — Ele pausou o jogo e colocou o controle no criado mudo do lado da
cama.
— Eu precisava te ver... — Ela rapidamente se sentou na cama. — Desculpa pelas
minhas grosserias, você não merece isso. Você é o namorado perfeito, eu não te mereço, se
você acha que não devemos mais namorar, eu vou te entender – desembestou a falar. Disse
cada palavra em segundos.
— Hey, Shhh... — Ele engatinhou até onde ela estava e parou se encostando nas costas
dela e a abraçando de leve. — Eu nunca terminaria com você, isso nunca me passou pela
cabeça, por favor... — A voz dele soava preocupada e leve como se não quisesse quebrar algo.
— Mas, você me ignorou nas aulas... Eu pensei que... — Lágrimas saíam de seus olhos.
— Não me queria mais. — Ela deu de ombros.
— Sabe quando isso vai acontecer? — Ele a olhou com seus olhos azulados. — Nunca!
— disse decidido.
Ela virou seu corpo em direção a ele e pulou o abraçando. Caíram na cama, e Maya
passou a mão no rosto dele de leve. Nev apertou seus braços envolta da cintura dela. Olharam-
se com carinho e lentamente uniram seus lábios. O garoto de olhos fechados parecia degustar
cada cantinho da boca da menina.
— Senti saudade disso — disso no meio do selinho, ela segurou nos cabelos dele e
aumentou a intensidade do beijo.
Ficaram se curtindo um pouco, até que decidiram sair para comer alguma coisa. Stones
se despediu de sua mãe e dos dois saíram de mãos dadas com grandes e sinceros sorrisos nos
rostos.
Os Jones/Miller estavam à mesa, George acabara de agradecer pela bela e deliciosa
lasanha que sua belíssima noiva preparou. Anne estava super animada com o casamento, sua
filha mais velha Gemma finalmente conseguiu uma folguinha da faculdade e viria uma semana
antes da grande data para ajudar a sua mãe. Finalmente, Victoria a conheceria.
George estava feliz, não disse nada a sua futura esposa, mas já havia comprado duas
passagens para o Caribe, seria a lua de mel perfeita. Vick sorria sem parar e acompanhava o
entusiasmo de sua madrasta. Mas notou que seu... Seu... Era difícil definir o que eram, enfim,
Harry estava calado e distante.
— Harry, não se esqueça que na próxima semana, vamos comprar nossos ternos, OK? —
George lembrou-o e ele somente assentiu. Não demonstrava nenhum tipo de animação com o
evento assim como os outros três.
— Estou satisfeita... E super cansada, hoje o dia foi corrido. Crianças... Ge e eu já vamos
dormir. — Anne disse e puxou George que estava sentado.
— Boa noite filha, boa noite Harry! — O pai da menina falou, os dois saíram animados.
Com certeza, iriam falar mais sobre os preparativos para o grande dia e depois vão se
curtir um pouco, afinal eles estavam muito apaixonados. Isso era perceptível. Dava para sentir
no ar o clima de romance e amor verdadeiro.
Logo depois que seu pai e Anne saiu, Jones checou se ela já estava completamente
sozinha com seu amor, assim que isso se confirmou, ela correu e abraçou as costas dele.
— Senti falta do seu sorriso no jantar. Aconteceu alguma coisa? — Essa pergunta foi
como um soco no coração dele.
Sim. Havia acontecido algo. O perfume dela chegava até as narinas de Harry e isso só
fazia aquilo doer mais ainda.
— Não, nada não, eu só estou com dor de cabeça... — Fez uma carinha triste e a garota
massageou as maçãs do rosto dele. Ele não queria ter que dividir aquela angústia com ela.
Ainda mais sabendo do desentendimento que já existe entre Karolinne e ela.
— Eu vou pegar um remédio pra você. — Ela saiu de seus braços, mas ele a segurou.
— Eu já tomei, só me beija que eu vou ficar curado. — Sussurrou, como era bom ter ela
ali por perto.
Ela sorriu e segurou na nuca dele com as duas mãos, começou a beijá-lo lentamente,
logo sentindo a língua dele tocar a sua. Em um ritmo dolorosamente lento, Harry sentiu
vontade de chorar e soube que o que estava por vir, iria destroçar o coração não só dela como
ele imaginava, mas o dele também. Na sua visão, para ele seria pior. Muito pior.
Não seria fácil. Talvez ela nunca o perdoasse, mesmo sabendo que tudo que faria era
para protege-los.
— Nunca esquece que eu te amo, por favor — disse com pesar. Ela envolvida pelo calor
da pele dele, nem notou a tensão em sua voz.
— Também te amo muito. — Sorriu e deu-lhe um selinho.
Ele havia pensado em passar a noite com ela, não sabia quando seria a próxima vez que
isso aconteceria, se é que fosse existir essa próxima vez. Porém sabia que ia ser mais doloroso
ainda.
Os dois subiram para seus quartos.
Jones colocou seu pijama e sentiu falta de Ed, foi chamando ele pelo quarto e pelo
corredor, mas sabia o lugar onde procurar. Foi até o quarto de Harry, abriu a porta lentamente.
A sacada do quarto dele estava aberta. Foi devagarinho até lá... Viu Miller enrolado em seu
cobertor sentado olhando para o chão e fazendo carinho no pequeno Ed.
— Aí está o meu Ed lindo... — ela disse e o garoto se assustou ao vê-la ali.
Rapidamente levou sua mão até seus olhos rapidamente, tentando sem sucesso disfarçar
as lágrimas que ali estavam. Ele não queria chorar, não mesmo. Mas quando viu, já estava
acontecendo. Não pode evitar.
— Harry... — Ela se ajoelhou perto dele. — Por que está chorando? — perguntou
baixinho e parecia sofrer vendo aquela cena.
Sabia que algo estava fora do lugar desde o jantar somente não achava que era algo tão
grave ao ponto de deixar ele daquele jeito.
Harry não sabia o que dizer, lembrou da mensagem que recebera de Karolinne a alguns
minutos atrás. Ela havia tirado uma foto em seu celular de Miller e Jones se beijando, aquilo
era uma prova, uma prova fatal. Ele resolveu seguir o que ela ordenou.
— Ah, não estou chorando por nada, tudo você quer saber... — disse grosso. — Você
está me sufocando já. — Ele se levantou e entrou no quarto.
— Poxa, Harry, não vamos discutir, por favor... — disse se sentando do lado dele na
cama. Ela queria apenas ajudá-lo a ficar bem.
Ele estava silencioso, olhando para seu lençol branco, mil coisas passavam pela sua
cabeça. Aquilo tudo era muito arriscado. Karolinne prometeu deixá-lo em paz depois de um
mês, mas será que Victoria o perdoaria? Ele não podia contar nada para ela, esse era o que
Karolinne mais queria, que não existisse possibilidade de os dois voltarem depois do que
aconteceria.
Na verdade, Karolinne sempre teve tudo o que quis nas mãos, sempre muito rica, seus
pais deram tudo o que ela queria. Só esqueceram de uma coisa: caráter. Ela tem certeza que
ficando um mês com o Harry vai fazer ele se apaixonar por ela de uma vez por todas. E tem
convicção de que Vick vai pirar quando ver os dois juntos. Ela sabe que a garota não vai nem
um pouco com a sua cara. Ainda mais por ela se envolver com o garoto pelo qual ela está
tendo um caso.
Victoria tentava ser delicada com Harry, não estava a fim de brigar. O garoto por outro
lado só queria que aquele mês se passasse o mais rápido possível. Não sabia qual seria a reação
de Karolinne... Mas, não seria nenhum pouco boa com certeza.
— Eu quero dormir, amanhã tem aula — disse e se enrolou, deitando do lado oposto ao
que ela estava. Ficando o mais longe possível.
— Hey... Que tal eu ficar aqui até que você durma? — sussurrou ao pé do ouvido dele e
sem pedir, foi para debaixo das cobertas, abraçando ele pelas costas.
Miller pressionou os olhos ao sentir o perfume do cabelo da garota ali tão perto dele, ela
beijou as costas cobertas pela camisa dele. Começou a massagear os cabelos dele que estavam
acima de seus ombros.
Harry não disse mais nada, apenas fechou os olhos e tentou dormir, não conseguiu, seu
coração estava inquieto. Vick afastou o corpo de perto dele.
— Harry... Harry... — sussurrou e achou que ele já havia dormido, já que o garoto fingia
realmente estar.
Ela saiu devagar das cobertas, e antes de sair dali para ir ao seu quarto. Foi até a testa
dele e a beijou delicadamente. E sussurrou ''eu te amo''. Logo saiu dali, ao ouvir a porta do
quarto se fechando, Harry respirou pesadamente, sentiu seu coração ser espremido.
Já era dia em Holmes Chapel, Jones já estava no andar de baixo da casa esperando por
Harry que acordou com uma dor de cabeça perfeita para aquele dia. Só o que lhe faltava.
Desceu as escadas e viu a menina ali em baixo mexendo em seu celular jogada no sofá.
— Até que enfim... Você tem cinco minutos para comer alguma coisa ou vamos nos
atrasar — ela disse, sem deixar de mexer em seu aparelho.
Harry foi até a cozinha e abocanhou uma maçã... Colocou a fruta mordida no balcão ao
perceber que não ia conseguir comer nada. Não dava, ele não conseguia.
Dirigiu-se até a sala.
— Vamos? — disse pegando a sua mochila e indo até a porta. Victoria estranhou o jeito
do garoto. Ele parecia tenso. Não era assim, costumava ser sempre tão relaxado.
— Não vai nem me dar bom-dia? — Ela o olhou cruzando os braços.
— Bom dia! — Ele foi até ela e a abraçou forte. Isso tranquilizou-a um pouco.
Ela sorriu com o gesto e os dois seguiram para a escola. Chegando lá, ainda juntos,
Harry sentiu um frio na espinha ao ver Karolinne passando ao seu lado e piscando o olho. Ele
só torcei para que não acontecesse ali, não na frente dela. Não naquele momento.
Parece que Karolinne também não tinha planos para que acontecesse ali, não, ela queria
que todos vissem. Não podia ser assim pela manhã.
— É hoje, né? — Rafaella perguntou animada para a amiga quando as duas entraram na
sala.
— Sim, hoje começa tudo. — Karolinne falou com um sorriso sapeca nos lábios. — Um
dos garotos mais lindos e populares da escola vai ser todo meu na frente de todos. — Deu uma
risada escandalosa acompanhada pela amiga.
Victoria ia entrar na sala e esbarrou em Phillip.
— Ah, opa, desculpa. — Ela falou e só então viu em quem esbarrara.
— Não foi nada. — Deu um sorriso triste. A relação dos dois estava fria.
Ele somente saiu dali. Vick se sentiu mal por não serem mais amigos, mas realmente
gostava de outra pessoa. Gostava a ponto de não querer estragá-la por bobagens.
E sorriu ao ver seu objeto de desejo passar de seu lado. Ela sorriu de canto, mas ele não
fez o mesmo. Não estava no clima.
Sentia que somente algumas horas depois algo o separaria do amor de sua vida.
As aulas enfim acabaram, eu estava animada conversando com Elis e Maria sobre o fim de
semana enquanto colocávamos nosso material na mochila. Depois de tantas provas estava
mesmo querendo relaxar e naquele momento nada parecia me incomodar. Sentia-me bem. Mas
como alguém já disse sabiamente antes, tudo que é bom dura pouco e acaba cedo.
De repente, olho para uma cena nada agradável. Lá estava Harry com Karolinne
pendurada em seu pescoço. Eles falavam alguma coisa, eu observei atenta e as meninas
olharam também. Na verdade, eu tentava apenas relaxar, pensando em como Harry odiava
quando eu tinha ataques de ciúmes, ele mesmo já havia dito que nada a ver, que somente tinha
olhos para mim. E no fim das contas eu sabia que ela de fato se jogava em cima dele. Apenas
respirei fundo e olhei a cena sem tanta apreensão.
— Wow... Harry pegando a Karolinne em plena escola, como assim? — Maria comentou
com surpresa e isso foi a última coisa que eu consegui ouvir.
Logo depois acho que algo em mim adormeceu por completo, parecia que eu havia
perdido o chão. Eu entrei numa espécie de vácuo interno, como se todo o ar fosse roubado de
mim por causa de uma imagem: Harry começou a beijar a garota loira, era um beijo de
verdade. Não era possível. Minhas pernas tremiam, um imenso desespero começava a subir na
minha garganta.
Eu quis gritar, mas ninguém conseguiria ouvir a minha real dor, era tão grande que nem
cabia em mim. Harry seguiu beijando aquela garota que eu nem me importava mais quem era.
Ser Karolinne ou não, não fazia a menor diferença. Era ele que me destruía, ele nem ao menos
se preocupou com o fato de eu poder ver aquilo, de estar ali por perto, ele nem ao menos
pensou em mim e em como me sentiria, ele não ligou para mim. Mesmo depois de tudo que
disse, de todas as declarações e palavras bonitas, ele não pensou duas vezes, não hesitou em
pisar em tudo que achei que tínhamos construído.
Não foi fácil para mim, piscar e entender que eu precisava sair dali. Ter forças para
mover meus pés pelo chão, carregar todo meu peso que naquele momento deveria ser de mil
toneladas, eu me sentia imensa, repleta de sentimentos que estavam me afogando. Como ele
foi capaz de fazer isso comigo?
Peguei minha mochila e saí da sala às pressas, as meninas gritaram ''me espera'', mas eu
nem liguei. Só queria desaparecer dali.
— Amiga? Amiga? — Uma das minhas amigas gritou, mas eu nem olhei para trás. Elas
devem ter ficado sem entender nada, porém eu nem estava preocupada com isso.
Tudo aquilo já estava demais para mim. Corri praticamente o caminho inteiro, meu peito
queimava, eu queria correr até o fim do mundo para ver se aquela dor passava, nem consegui
segurar mais as lágrimas, chorei como nunca mais havia chorado. Me senti uma tola. Aquela
cena voltava a minha mente e pensava em como me iludi fácil em relação à Harry. Agora eu
estava sendo consumida por uma dor que latejava.
Coloquei a senha do portão rapidamente, corri e abri a porta da casa, subi as escadas,
Carmen falou comigo, mas eu a ignorei. Não queria falar com ninguém, só queria sumir. Entrei
no meu quarto, tranquei a porta e me joguei na cama. Ouvi a voz de Carmen me chamar do
outro lado da porta.
— Me deixa, por favor, só quero ficar sozinha! — gritei com a voz embargada e depois
ouvi seus passos pelo corredor.
Como eu fui ingênua em acreditar naquelas palavras, naquelas letras de música, naqueles
olhares. Eram tudo ilusão. Eu era apenas um capricho de Harry, ele apenas conseguiu o que
queria e depois jogou fora, assim como já fez repetidas vezes, mas eu achei que comigo iria ser
diferente. Por quê? Porque sou uma estúpida.
Passei minutos me revirando pela cama, bagunçando-a por inteiro, não sabia como
lançar o que eu estava sentindo para fora, até que pensei em algo. Rapidamente, fui até meu
guarda roupa e peguei o baú que ganhei de aniversário. Fui logo pegando o diário da minha
mãe nas minhas mãos... Estava apreensiva, ainda não tinha aberto. Mas foi um gesto quase
instantâneo, talvez significasse algo eu querer abrir aquilo naquele momento.
''Primeira vez que escrevo aqui. Ganhei esse lindo diário de presente de aniversário da
minha Madrinha Angela, eu estou muito feliz...'' Essas eram as primeiras palavras da minha
mãe em seu diário. Era tão intenso a forma como ela parecia estar ali falando aquilo em voz
alta para mim.
A partir dali, comecei a viajar pelas palavras da minha progenitora, ela contava algumas
coisas que fazia durante o dia e percebi que ela demorava a escrever, só escrevia quando
alguma coisa interessante acontecia, isso foi bom, pelo menos, sabia dos pontos principais.
Consegui dar um sorriso quando ela falou de seu primeiro beijo.
''O Mauro é gatinho, mas não gostei daquilo, foi super estranho. Ele parecia um lagarto.''
Era estranho e engraçado ler coisas sobre a vida da minha mãe. Nunca achei que teria a
oportunidade de saber detalhes de sua vida como aqueles, tão pessoais, que ela nunca contou a
ninguém, somente aquele diário e naquele momento para mim. Decidi não ler tudo de uma vez,
queria ter muitos e muitos momentos como aquele, de novas descobertas e conhecimentos
sobre a pessoa que eu mais amei em toda a minha vida. Guardei no baú e me agarrei ao
travesseiro. Passei alguns minutos sem pensar no que havia acontecido. Só mesmo minha mãe
para conseguir tal feito.
Fiquei tentando dormir, mas já não havia nada que me distraísse, tudo que eu fazia era
pensar nele. Em como ele pode beijar outra pessoa e justamente Karolinne? Como ele pode
ficar com outra garota depois de dizer que me amava? Nada do que ele me disse ou do que
vivemos fazia mais qualquer sentido. Precisava ser enterrado e esquecido.
~ Narradora ON ~
Enfim, o plano de Karolinne começou a ser posto em ação. Ela se certificou de que
Victoria estivesse por perto quando ele disse para Harry:
— É hora do grande beijo, só colabora comigo.'
Miller sentiu seu coração de apertar quando ouviu as cadeiras sendo movidas de lugar e
uma das amigas de Vick a chamar.
— Pronto... Já chega — disse baixo, parando o beijo.
Beijar aquela garota sabendo estar na frente de Jones fora sem dúvidas, uma das piores
coisas que já havia feito em toda sua vida. Sentia-se como um fracasso, alguém que perde a
guerra, alguém que erra e não tem direito ao perdão. Pensou em como ela deve ter se sentido
ao ver aquela cena, lembrou-se dos momentos que passaram juntos, de como Vick amoleceu e
se tornou a companhia mais leal e sincera, tudo isso destruído em um gesto, em segundos.
— Foi um bom começo, mas vê se da próxima vez se dedica mais ao beijo, OK? Sei que
você pode fazer mais que isso... — Karolinne não conseguia conter a felicidade dela com
aquela cena. Beliscou o lábio inferior dele com as unhas.
— Me deixa, eu só tenho que fingir por um mês e acabou. Não é isso? — Repetiu o
trato. Ele colocou sua mochila nos ombros, exausto.
— Exatamente, mas melhore o seu empenho ou já sabe — ameaçou e saiu dando uma
risadinha.
Harry já estava no portão do colégio, seus amigos o cumprimentavam e perguntavam do
porquê ele ter ficado com Karolinne mais uma vez se diz que ela é irritante. Ele não respondeu
nada, apenas se despediu e foi embora. Estava se sentindo um lixo.
Assim que entrou em casa... Carmen o cumprimentou e veio até ele.
— O que aconteceu com a Vick? Ela chegou da escola e se trancou no quarto... —
perguntou preocupada.
— Eu não sei... — falou com tristeza e foi para a parte de cima.
Harry andou bem devagar pelos corredores e encostou a cabeça no quarto da garota.
Ouvia folhas sendo viradas e suspiros.
Aconteceu o que ele já previa, ela estava magoada e devia odiá-lo nesse momento. Foi
para o seu quarto, tomou um banho e desceu para almoçar. Comeu com dificuldade, tentava
abstrair e não pensar no que havia feito ou mesmo tirar um pouco da sua culpa refletindo dos
motivos que o levaram a realizar ato tão sórdido.
Carmen pediu para que ele levasse a comida para sua irmã postiça, mas ele pediu para
que ela mesma levasse. Não tinha como ele olhá-la nos olhos depois do que fez. Como não
conseguiria ficar naquela casa, pegou sua velha moto e decidiu dar um passeio. Aquele
ambiente e tudo que sentia estava fazendo com que ficasse sufocado.
Toc, toc. Carmen bateu delicadamente na porta da garota de coração partido.
— Você não pode ficar tanto tempo sem comer, querida — falou quando não teve
nenhuma resposta da menina.
Vick concordou e achou injusto que ela ficasse sem comer por conta daquilo
Levantou-se da cama e a passos lentos, foi até a porta e a abriu. Somente abraçou
Carmen, queria um apoio, um ombro amigo. Nos braços da empregada, ela desabou. Estava
frágil e se sentindo boba por ter se envolvido a ponto de ter ficado tão mal pelo
desapontamento.
— Mas o que foi que aconteceu, meu bem? — massageou as costas dela. Carmen sabia
que podia ter a ver com Harry.
— ...eu confiei demais nele, eu não devia... — A voz saía completamente mastigada pela
mágoa e pelo choro. — Ele não podia ter ficado com ela... — dizia com a voz entrecortada.
— Hey... Vem cá. — Empurrou o corpo dela delicadamente para dentro do quarto e
fechou a porta — Logo você, uma menina tão forte, tão cheia de atitude chorando desse jeito
por causa disso? — Ela soltou. Mas apesar de saber que a empregada tinha razão, Victoria
apenas não sabia como não sofrer por aquilo.
— Eu... Eu só não consigo evitar... — soluçou. Deitou-se novamente na cama.
— Pode parar com isso, realmente tem certeza de que isso aconteceu mesmo? —
Perguntou e sentou na cama.
— Eu vi... Eu vi, foi na minha frente, ele é um sem caráter. Um mentiroso. — Declarou
com ódio no olhar.
— Você tem que esfriar a cabeça, tomar um banho, comer alguma coisa e depois pensar
no que vai fazer — aconselhou. Sabia que aquela história tinha grandes possibilidades de não
acabar bem no momento que viu os dois naquela banheira.
— Pensar no que eu vou fazer? — Balançou a cabeça. — Eu nunca mais quero que o
Harry fale comigo... Acabou... Acabou — repetiu, se dando conta do que aquilo significava.
Como ele pode jogar tudo fora por causa de uma garota como aquela?, Jones pensava,
não conseguia entender como ele foi baixo.
— Faça o que eu te falei... Vai ser melhor, toda essa dor e raiva que você está sentindo,
passa. Sim, passa meu amor. — Carmen abraçou a menina. Sentia muito por ela estar sofrendo
daquele jeito.
Após a mulher sair do quarto, Vick procurou forças para seguir os conselhos dados a ela,
pegou sua toalha e tomou banho quente e tentou não chorar, conseguiu. Levantou a cabeça.
— Não posso ficar chorando e sofrendo, não, não vou mais chorar... O Harry vai me
pagar por ter beijado aquela idiota — pensou alto. Sabia que tinha chorado a tarde inteira e seu
coração queimava, mas iria pelo menos tentar não ficar martirizando aquela situação.
Saiu do banheiro enrolada em sua toalha e levou um susto ao ver quem estava em seu
quarto. Era sem dúvidas a última pessoa que queria ver.
— O que você está fazendo aqui??? Sai agora!!! — gritou furiosa. Era demais para ela.
Não iria aguentar aquela presença.
Harry a olhou e teve certeza de que havia feito a coisa errada em ir ali e provavelmente
se arrependeria de ter tido essa grande ideia.
— Espera, eu preciso falar com você, me escuta. — Ele se atreveu a chegar um pouco
mais perto dela.
Algo em Victoria parecia formigar, ela ardia por completo, passava suas mãos nos
cabelos e no rosto com agressividade porque o que mais queria era avançar sobre Harry e
mata-lo, desfigurar aquele rosto com o qual ela sonhara em tantos sonhos.
— Fique exatamente onde está! — ordenou com o rosto vermelho de raiva. — Nada do
que me disser vai me convencer de que você não estava realmente beijando aquela vadia, eu vi
Miller, eu vi.
O ar do quarto faltou, pareciam estar no vácuo, Vick estava sufocada. Ainda mais com a
cara de pau de Harry de ir até ali como se nada tivesse acontecido.
— Eu realmente estava beijando ela, mas... Não precisa parar de falar comigo por causa
disso, né? — Ele se atreveu a dizer. Ela arregalou os olhos. Era pior do que imaginara. Então
era como se ele nem se importasse, ela pensou. Como se beijar outra fosse normal, algo que ele
faria sempre, e continuou fazendo mesmo depois que ficaram, a diferença é que nunca havia
sido pego no flagra. Pensar nisso só a feria mais ainda. E dava mais raiva para seu mix de
sentimentos.
— Eu sabia, eu sabia. Tudo isso entre nós dois para você é uma grande brincadeira,
aposto que durante todo esse tempo que ficamos juntos você me traiu com toda a cidade, você
não presta mesmo! — Fechou os punhos. Sua vontade no momento era de jogá-lo pela sacada.
— Não me lembro de você ter pedido exclusividade... — Miller só se complicava a cada
palavra que falava. Ele sabia que era impossível consertar o que havia feito, apenas queria que
por mais que tivesse acontecido aquilo, os dois pudessem permanecer juntos. Iludiu-se.
Jones o olhou e sentiu seus vasos começarem a pulsar. O que ele está dizendo?, pensou
ela. De repente seu coração começou a ficar minúsculo, começou a se lembrar de todas aquelas
palavras... Palavras que não valeram de nada.
— Eu confiei em você... — Sua voz saía dolorida, ela precisava colocar para fora, tentar
mostrar o que ele fez a ela. Todo esse mal. Tudo de ruim que estava sentindo por causa dele.
— Realmente me apaixonei e agora... — As palavras saíram embargadas e Harry sentiu que
não aguentaria esconder o joguinho de Karolinne por muito tempo, talvez o melhor fosse
contar a verdade. — Parei de falar com o Phillip para que você não ficasse com ciúmes, ele
sim me amava.
Ao ouvir isso, Harry cerrou os olhos. Mudou de ideia sobre contar a verdade porque não
pensou que escutaria aquilo. Não gostava nem um pouco de Phillip, mas ele nem vinha ao
caso, pensar que a garota que ele amava pensava em outro cara, o remexia por dentro.
Tudo o que ele ia aguentar nesse um mês de acordo com Karolinne fazia por amor a
Victoria. Para que não se separassem... Não queria ter que ouvir mais uma vez sobre Parker e
como ele a tratava bem. Apenas queria que o tempo passasse logo.
— Se eu pudesse voltar no tempo... — A garota pensou alto. Aquilo doeu no peito dele.
— Ainda dá para você consertar tudo, ir ficar com seu príncipe encantado. Não é isso
que você quer? Então, faça isso. — Falou o mais grosso que conseguiu.
— Não fala assim comigo, como se a errada fosse eu. Quem beijou outra foi você. Quer
saber?... Acabou essa palhaçada. — Foi em direção ao banheiro, ele a segurou. Ela
imediatamente cessou o toque.
— Acabou? Tem certeza? — Olhava intensamente para ela.
— O que você queria? Que eu concordasse com as suas safadezas? Não nasci para ser
feita de idiota — rebateu.
— Um dia você vai entender tudo isso — falou irritado e saiu do quarto.
Ela entrou no banheiro e se apoiou na porta.
— Entender? Entender o quê? Que ele é um safado? Que não consegue ser fiel a
ninguém? Bem... Isso eu já entendi — pensou alto, completamente furiosa.
~ No outro dia ~
Victoria estava no intervalo rodeada por suas amigas, havia curiosamente tido uma boa
noite de sono, talvez porque estava tão cansada que acabou dormindo direto. Não havia
comido nada até aquele momento que devorava um pedaço de pizza e Coca-Cola. Maya enfim
desgrudou um pouco do seu namorado e veio ficar um pouco com as amigas.
— Maria, fala a verdade, essa vida de ter namorado fofo não é uma loucura? — Maya
disse ao chegar na rodinha de meninas.
— Uma loucura muito boa, eu só fico pensando em como eu passei anos do lado do Jay
sem namorar ele. Era tão óbvio, já teríamos aproveitado muito mais... — Maria respondeu com
carinha de boba apaixonada.
— Ah gente, vamos falar de outras coisas, por favor — Victoria falou um pouco sem
humor. Desde o começo sua história era diferente de suas amigas.
Ela nunca conseguiria chegar ali e falar de seu relacionamento com Harry, afinal o que
eles tinham era um segredo, se é que era algo real, pelo menos era nisso que Vick pensava, que
tudo não passou de uma loucura de sua mente, nada daqueles sentimentos profundos existiu,
era apenas tesão, hormônios agindo e os desejos impulsivos seus e de seu irmão postiço.
— Poxa, amiga, não fica assim. — May abraçou-a de lado. — O seu príncipe vai
aparecer quando você menos esperar — falou sorrindo. Vick riu alto. Nem acreditava em
príncipe, mas decidiu entrar na brincadeira.
— Ah, não sei não. Parece que só entra sapo na minha vida. — Riu ao dizer.
— Como assim? Apareceu um gatinho na sua área e você nem contou para a gente? —
Maria comentou surpresa e curiosa.
— O quê? Não, não é de agora... — Jones desconversou.
— Não entendo você... Estava de rolo com o cara mais desejado do colégio e de repente
vocês nem se olham mais. Aconteceu alguma coisa? — Elis perguntou.
— Por favor, não quero falar do Harry agora. — Respirou sem paciência, e se deu conta
do que havia dito logo depois quando olhou a cara de espanto de suas amigas.
— Harry??? — a maioria quase gritou.
— O quê? Não... — Seu rosto queimou em brasas. — Eu quis dizer Phillip, é que... Ah,
estou cansada do Harry, ele é muito chato, não me deixa em paz. — Não deixava de ser uma
verdade.
— Ah, eu entendi, você terminou com o Phillip por causa do Harry? — Maya
questionou. — Eu te entendo, sei como é ter irmão ciumento em casa, oh se sei. — Revirou os
olhos ao lembrar de como seu irmão já foi um empecilho para ela por causa de ciúmes.
— Ele não é meu irmão. — Falou mais alto com as meninas e minutos depois decidiu ir
no banheiro. Só queria mesmo ficar um pouco sozinha.
Victor fazia o mesmo, queria ficar sozinho e buscar um lugar tranquilo para passar seu
intervalo. Ele havia pegado um livro na biblioteca a algum tempo, um livro que havia visto Bia
lendo a algumas semanas. Queria um lugar para se esconder dele mesmo, quer dizer... Da
imagem que ele havia criado no colégio.
Em todas as conversas, ele tinha que falar sobre futebol como se fosse o maioral ou falar
das garotas como se fossem objetos. Black havia se cansado disso faz tempo, mas conseguia
voltar a ser apenas um garoto amável, doce e carinhoso quando estava ao lado de uma certa
pessoa...Ao seu lado ele podia apenas ser ele mesmo, falar sobre tudo, até mesmo sobre coisas
que nunca havia dito a ninguém por medo de não ser compreendido.
— Ah, você está aqui... novamente — Victor disse ao encontrar Bia apoiada na mesma
árvore de outro dia e a assustando outra vez.
— Por que você sempre chega gritando? Eu sempre morro de susto. — Colocou a mão
no coração. Era sempre uma surpresa saber que ela tinha um certo convívio com o garoto que
gostava.
— Me desculpa. — Ele se sentou ao lado dela que o olhou confusa.
— O que está fazendo? Aqui não é seu lugar Black, saia antes que alguém te veja perto
de mim. — Ele a encarou ali tão de perto.
— Esse é o único lugar do mundo onde quero estar e ninguém vai me tirar daqui. —
Sorriu e colocou o livro que estava lendo em seu colo, Bia o encarou, mas não disse nada,
apenas sorriu de canto. Nunca esperava que ele leria algum livro em um intervalo, muito
menos aquele que ela adorava.
Então a garota continuou lendo seu livro e Black começava a ler o dele. Bem devagar ele
encostou seu braço no da garota. Ela sentiu a pele dele a tocar, mas não disse nada e tentou em
vão se concentrar de novo em seu livro, mas era muito difícil quando sentia toda a tensão e
desejo por mais daquele toque.
— Victor... — Cortou o silêncio, depois de alguns minutos. — Se você está aqui comigo
só por causa daquilo que aconteceu na festa da Victoria, não se preocupe, eu já te perdoei,
agora você já pode ir. — Encarou-o, não queria que ele tentasse se aproximar por culpa ou
algo parecido.
— Desculpa se eu te incomodo, mas é que eu gosto da sua companhia — declarou e
sorriu tristemente.
— E eu gosto da sua, mas não gosto quando você muda na frente dos seus amigos,
sabe... Não precisa ser assim. — Ela abaixou a cabeça.
— Preciso ser assim ou ninguém vai gostar de mim. — Imediatamente a garota olhou
para ele sem acreditar naquele Victor Black inseguro ali do seu lado.
— Hey... — Ela tocou no queixo dele com a ponta dos dedos, nunca achou que teria
coragem para fazer aquilo. — Eu acho que as pessoas iam gostar muito mais se você fosse o
que é de verdade.
— Duvido — falou tristemente.
— Eu gosto de você... — disse baixinho, Bia já gostava de Victor antes, mas ao conhecê-
lo de verdade parece que o que sentia se multiplicou várias vezes. Aquilo estava consumindo-a
por completo.
— Pensei que me achava um burro, sem conteúdo, idiota... — Agora, eles já estavam tão
perto que conseguia ouvir suas respirações.
— Não... — Ela nunca pensou isso dele. — Você só não era esforçado. Mas não é burro,
não mesmo. — Olhos colados. O perfume do garoto já fazia os músculos de Bia se contraírem.
Victor passou a mão nos cabelos da garota que apoiou mais a cabeça na árvore, ele se
aproximou do rosto dela, acariciou as maçãs de seu rosto e colou seus lábios nos dela
lentamente. Bia sentiu seu coração disparar desorientado. Sentir sua língua na dele, aquela pele
macia, aquele toque era algo sensacional e enlouquecedor. O beijo continuou delicado e calmo.
A garota se entregou aos carinhos e ao maravilhoso beijo de Black. Ele se afastou e
delicadamente mordeu o lábio inferior dela. Ao se separem Bia estava com as bochechas
coradas e ele mordia o lábio com uma cara de quero mais.
— Você não quer ir lá para casa estudar hoje? — sussurrou no ouvido da garota. Ele
queria muito mais daquele beijo. Já havia beijado muitas garotas, mas nada se comparava
àquilo.
Bia estava adormecia e encantada com aquele momento, apenas assentiu timidamente.
Black se inclinou e deu um selinho rápido nela. Levantou-se e com um sorriso saiu dali. Foi ao
encontro de seus amigos de time que eram de turmas mais avançadas que a dele. Estava com
uma alegria intensa dentro de si.
©
— Olhem isso aqui, meninas! — gritou Karolinne no fim da aula para Joanne e Rafaella,
porém a sala inteira ouvia. Era o que queria que acontecesse.
Ela mostrou sua mão e nela tinha um anel com uma pedra rosa. Victoria viu aquela cena
e apenas revirou os olhos e pegou sua bolsa, mas voltou a prestar atenção no que a patricinha
dizia quando ela falou a seguinte frase ''estou namorando''. Gelou.
— Sim, estou namorando, Harry me pediu em namoro, olha o anel que ele me deu. —
Mostrou novamente a joia.
Victoria tremeu. Não podia ser. Aquilo não poderia estar acontecendo. Ela estava
completamente tensa e travada. Estática em seu lugar.
Harry estava em sua cadeira e encarou o chão por um momento.
— Vem aqui, baby, vem falar com as suas cunhadinhas! — ela olhou para os olhos
entediados dele e os pressionou. Sem som nenhum sair da sua boca ordenou: — Agora!!!
Miller se levantou e foi até o lado de Karolinne, que o abraçou forte.
— Sim, estamos namorando — falou sem muita empolgação e a garota o cutucou. — Eu
já queria namorar com ela faz tempo, acho que agora é a hora certa.
— Hummm... Olha que fofo meu namorado, meninas. — “Bem melhor, assim que eu
gosto” sussurrou no ouvido dele.
Harry se afastou um pouco delas e ignorou o que as amigas de sua '' namorada'' falavam.
Foi quando olhou para Victoria, ela estava ali de pé tentando ser forte como Carmen a
aconselhou, mas seus olhos a desobedeciam. Lágrimas estavam se formando, deixando os
olhos vermelhos, mas sem nenhuma gota cair. Ele se sentiu um grande idiota, queria poder
explicar tudo para evitar que ela sofresse, mas estava sendo ameaçado. Viu a garota que ele
mais amava passar por ele e sair daquela sala sem olhar para trás.
Vick tentava ser forte: Não posso chorar aqui, vamos por favor, aguenta firme, você não
pode ser assim tão fraca, eu te odeio, por que tem que chorar? Esses pensamentos se
chocavam em sua mente com rapidez, ela estava cega, foi quando sentiu seu corpo bater em
outro corpo. Todos seus livros caíram ao chão e sem olhar quem era, se abaixou e começou a
recolhê-los com pressa.
— Hey... Você não parece bem... Calma, eu te ajudo. — Ela olhou para os olhos daquele
garoto e desabou. Mais uma vez era nele que ela esbarrava.
Phillip segurou-a, ele via em seus olhos que ela estava desmoronando aos poucos. Ele a
abraçou e Vick afundou seu rosto no pescoço do garoto. Suas pernas mal conseguiam sustentá-
las, ela só conseguia se perguntar: O que diabos está acontecendo? Por que tudo estava
desmoronando em sua cabeça?'
— Shhh, calma, vamos sair daqui. — Ele a ajudou a levantar, pegou seus livros e os dois
saíram juntos.
Parker abriu a porta do seu carro e colocou a garota lá dentro, ela chorava sem parar
cobrindo seu rosto com as mãos. Ele colocou o cinto de segurança nela, bateu seu lado da
porta, rapidamente foi até o outro lado, sentou e deu a partida. Ele não sabia o que acontecera,
mas sentia que teria que cuidar dela e levá-la para um lugar seguro.
Victor deu um jeito de despistar todos seus amigos e esperava Bia na esquina do colégio,
ele sabia que a garota passaria por ali de bicicleta. Assim que a viu passar, um sentimento leve
o consumiu, o cabelo da menina voava na mesma intensidade que o vento em seu rosto.
— Hey, Bia! — ele falou e ela, distraída, levou um susto se desequilibrou e quase caiu.
Victor saiu de seu carro e foi até ela.
— Você está bem? — Ele segurou sua cintura.
— Sim, eu só me desequilibrei. O que está fazendo aqui? — perguntou curiosa, saindo
da bicicleta.
— Eu vim te esperar, a gente não ia para minha casa? — Ele mordeu o lábio sem
perceber.
— Não sabia que seria depois da aula. — Falou passando a mãos nos cabelos
bagunçados pelo vento.
— Mas é porque nesse horário eu estou sozinho em casa... — Ela o olhou corando —
Não, não foi isso que eu quis dizer, não pensa besteira, é só porque assim podemos ver um
filme na sala, sei lá... — disse perdido. Não queria que ela ficasse com receio de estar com ele.
Queria que Bia confiasse nele.
— Tudo bem. Mas não posso deixar minha bicicleta no meio da rua. — Deu de ombros.
— Mas eu posso deixar meu carro aqui. Vamos para sua casa, ela é perto daqui. — Ele
sorriu.
— Vamos a pé? — Ele a olhou e riu com a língua entre os dentes.
—Tenho uma ideia melhor... — Piscou.
De repente a garota se sentia a pessoa mais feliz de todo mundo, o vento batia em seu
rosto e arrastava seus cabelos. Ela segurava na cintura de Victor para não cair. O cheiro bom
dele penetrava em seu nariz e fazia com que borboletinhas afagassem seu estômago. Ela estava
andando de bicicleta com o cara que ela mais amou em toda sua vida.
Black se sentia igualmente feliz com as mãos delicadas de Bia envolvendo sua cintura.
Logo chegaram na casa dos Blacks. Ela desceu da bicicleta e ele fez o mesmo, a deixando na
parte lateral da casa. Foi até a porta, destrancou-a e segurou na mão dela a puxando para
dentro.
— Eu estou com tanta fome, vamos comer alguma coisa e depois... — Mais uma vez o
garoto perdendo as palavras.
— Depois. podemos ver um filme — completou e ele assentiu.
Foi até a cozinha e a garota tentou se sentir confortável ali sozinha na sala. Foi quando
ele a chamou. Os dois começaram a preparar um sanduíche enorme com várias coisas que
tinha na geladeira. Eles riam sem parar com a grande mistura que aquilo estava se
transformando.
Como Victor sabia que Maya gostava de passar suas tardes com Nev, estava feliz por ter
bastante tempo para ficar a sós com Bia. Os dois terminaram de comer o lanche e foram para
sala. Ele devorava uma barra de chocolate inteira enquanto Bia bebia o resto de seu suco de
morango. Os dois estavam na sala e o garoto já havia colocado um filme para eles assistirem,
um de comédia.
— Você não vai querer chocolate? — ele perguntou.
— Ah sim, eu amo chocolate — disse e colocou seu copo na mesinha de centro.
— Então, pega aqui — falou maliciosamente quando colocou um pedaço de chocolate
entre os lábios.
Bia sorriu com aquilo, mas não recuou, foi lentamente, até a boca do garoto e pegou o
chocolate quase sem tocar em seus lábios. Black esperou que ela o mordesse e depois segurou
em sua cintura e a puxou para um beijo intenso e com gosto de chocolate.
Ele segurou nos cabelos dela e foi a deitando no sofá, encostando seu corpo no dela
delicadamente. Victor sabia que teria que ser bem cuidadoso dessa vez e se controlar. Bia não
era qualquer uma. Ele apenas a beijou delicadamente, mas com muita paixão. Queria estar com
ela, não importa se teria que ir devagar. Foi quando a campainha tocou. Black, com muita luta,
interrompe aquele beijo, depositando três selinhos delicados e atenciosos antes de se afastar
totalmente dela.
— Já volto... — Levantou-se e foi atender a porta, deixou Bia olhando para o teto como
se sonhasse acordada. Parecia mesmo um sonho. Ela tinha sérias dúvidas de que um dia se
acostumaria com aquilo.
Quando o garoto abriu a porta tomou um susto e a fechou rapidamente. Bia tomou um
susto e se levantou.
— O que foi? — perguntou, assustada.
— Meus amigos do futebol estão aí... — Falou com a expressão de surpresa e um pouco
de espanto. — Eles não podem te ver aqui. Por favor, se esconde? — ele pediu, nervoso.
— Sério? — Franziu a testa desacreditada, mas percebeu que era sério pela expressão de
Black. — Tudo bem então. — Ela encaminhou-se para a cozinha.
Victor voltou até a porta. Lá estavam Matt, Tyler e Jeff com cara de confusos.
— Você estava com mulher aí dentro, né? — Matt ficou olhando para o interior da casa,
sendo barrado pelo amigo.
— Não entendi, quem é que você está pegando que não pode mostrar aqui para os
companheiros? — O outro amigo enrugou a testa desconfiado, mas com ar de zombador.
— Aposto que é a maior gostosa, né? Deve ser uma líder de torcida, não é garanhão? —
Tyler bateu em suas costas.
— Ah, é sim, então... Vocês podem voltar outra hora? Quem sabe? — Victor sugeriu
quase ordenando com os olhos, os amigos deram tapinhas nas costas dele.
— Claro Garanhão, vai finalizar a menina. Valeu brothers, vamos embora. — Jeff disse
rindo e os meninos se despediram e foram embora, já que estavam atrapalhando um grande
momento.
Victor respirou aliviado ao voltar para o interior da casa.
— Desculpa por isso Bia, eu só não queria que os meus amigos implicassem com você
e... — Foi dizendo, mas quando entrou na cozinha ela não estava mais lá...
Olhou para a porta dos fundos que balançava com a força do vento, correu para fora e
pode ver a garota quase virando a rua pedalando depressa como se para fugir de algo, fugir
dele. Eu sou um verdadeiro idiota!, pensou alto e com raiva de si mesmo.
Na intensidade de suas pedaladas, Bia tentava respirar apesar de aquilo se tornar cada
vez mais difícil. Aquilo foi um tapa em sua cara. Ali ficou claro que para Victor ela nunca
seria nada, ele sempre teria vergonha dela. Sentia lágrimas descerem pelo seu rosto pensando
naquele momento humilhante e constrangedor... Queria pedalar para algum lugar distante para
que nunca ninguém o encontrasse outra vez. Porém, somente foi até sua casa. Precisava
aprender a desgostar de Black, para seu próprio bem.
©
Phillip parou em frente à casa dos Miller-Jones. Olhou para a garota no banco de seu
carro, ela ainda cobria o rosto com as mãos. Ele tirou o cinto e foi até ela, passou a mão em
seus cabelos e rapidamente Vick o abraçou. Precisava do apoio de alguém, mesmo que fosse
logo de Parker.
— O que aconteceu? Por favor... Não gosto de te ver sofrendo, se eu puder te ajudar —
disse calmamente. Estava muito preocupado, pelo estado que ela estava. Tão desolada.
— Desculpa... — Ela olhou para ele, seus olhos vermelhos e inchados. — Desculpa ter
feito a escolha errada, eu sou uma idiota. — Chorou mais ainda.
Phillip não entendeu o que ela quis dizer, afinal de que escolha ela falava. Somente foi
um ombro amigo enquanto sentia sua camisa ficar encharcada pelas lágrimas da garota.
Aquilo tudo era tão estranho... Victoria a garota cheia de atitude, que não abaixava a
cabeça para ninguém, que dava um cupcake para não entrar em uma briga e uma confeitaria
inteira para não sair dela. Essa mesmo, ela estava chorando desesperadamente, como um bebê,
estava frágil, fraca, temerosa.
Isso prova que quando amamos somos tudo e nada ao mesmo tempo. Jones se sentia
como ''nada'' naquele momento.
Parker viu que a garota se acalmara e a chamou para tomar um chocolate quente em sua
casa, mas ela não quis. Somente o abraçou e disse ''Obrigada, obrigada de verdade''. Ela saiu
do carro e entrou em sua casa.
Havia prometido não chorar mais por causa de Harry, mas saber que ele havia assumido
um relacionamento com Karolinne, ignorando completamente tudo o que viveram e sua
própria existência, a deixou em pedaços. Pedaços pequenos demais para serem colados sem
lágrimas.
Capítulo 42: In Love ...
~ Narradora ON~
Tudo parecia estar de ponta cabeça. Harry Miller estava assumindo um compromisso sério,
Victor Black simplesmente estava cada vez mais envolvido por uma garota que nunca nem ao
menos olhara com outros olhos. Nada estava igual e nunca mais seria como antes.
Karolinne não podia estar mais feliz, todas as meninas a invejavam, afinal Harry pode ter
pegado metade daquela escola inteira, mas no fim das contas a única que conseguiu namorar
com ele, foi ela. Além disso, ela se sentia particularmente vitoriosa, toda vez que via a cara de
Victoria quando ela chegava perto de Harry ou até mesmo quando falava sobre o namoro dos
dois. Não conseguia acreditar como não percebeu que eles tinham algo logo de cara.
— Vick, Vick, hey acorda. — Jones ouvia uma voz ao fundo, parecia em outro plano, ela
estava viajando naquela aula, e enfim despertou quando sentiu as mãos nada delicadas de
Maya a chacoalhando.
Infelizmente, não queria mesmo falar com ninguém naquele momento. Só estava
pensando em como sua vida estava um saco e em como ela se enganara sobre tantas e tantas
coisas. Em como era impulsiva e fazia coisas que sabia que iria se arrepender.
— Me deixa... — respondeu mal-humorada e afastou o corpo.
— Se esqueceu da sua péssima nota em matemática? Desse jeito você vai acabar ficando
de recuperação. — A amiga falou irritada, observara Jones a aula toda e ela nem ao menos
fingia estar ali. Não queria que repetisse por bobagens e desatenção.
— Não estou nem aí. — Revirou os olhos e deitou sua cabeça na cadeira.
— Poxa Vick, se ajuda, todas nós temos que passar, assim o acampamento no próximo
ano já vai estar garantido. — A garota a olhou irritada quando ouviu isso.
Afinal, o que era um acampamento quando tudo parecia estar dando errado? Não queria
sofrer tanto por causa de um garoto, mas sofria, queria mesmo ter forças para ligar o foda-se,
mas tudo em seu interior a puxava para um poço profundo e que parecia nunca ter fim.
— Eu estou me lixando para acampamento — falou em um tom de voz alto e o professor
chamou a atenção das duas.
O rosto de Jones estava vermelho de raiva. Ela estava abalada e se sentia tão fraca por
não conseguir controlar ou esconder aquilo. Queria desaparecer dali.
Maya não falou mais nada. Harry olhou de canto de olho para Victoria, como ele queria
poder ir até ela e falar que toda aquela história de namoro era apenas um acordo para salvar o
relacionamento dos dois. Entristece-se ao lembrar do que acontecera noite passada.
Harry chegou em casa e foi direto para seu quarto. Se perguntava em como sua vida se
tornou aquela palhaçada. Sendo ameaçado por uma pessoa sem escrúpulos como a Karolinne,
até parecia uma novela e ela uma vilã de meia tigela... Agora teria que passar por essa
humilhação por um mês. Um mês inteiro fingindo gostar de alguém tão detestável. Mas isso
nem era o pior... O pior era saber que alguém que ele amava tanto estava sofrendo e ele não
podia fazer nada.
E se ele contasse toda a verdade sobre o plano de Karolinne não seria mais fácil? Sim,
seria. Mas a menina maquiavélica havia pensando em tudo e disse aquele trato era só entre os
dois. Nem mesmo as suas melhores amigas ela contou.
Mil coisas passavam na cabeça de Miller, ele só queria que o tempo andasse um mês
para frente em segundos para aquela tortura acabar logo. Ele afagava a cabeça do pequeno Ed
que tentava tirar um cochilo depois de almoçar.
— Ed... Ed, meu amor... — assobio. — Ed... — Harry ouviu a voz dela chamando pelo
filhote no corredor.
Quando ela abriu a porta de seu quarto e o viu deitado na cama, seus olhos se
entristeceram.
— Ah, você está aí. — Foi até o cachorro e sem tocar em Harry pegou o animal no colo,
virou as costas.
Ele imediatamente se levantou e correu na frente da menina, fechando a porta e se
escorando nela parando de frente para a garota que não estava para brincadeiras. Ao contrário,
estava bem séria.
— Sai da minha frente, Miller! — ordenou irritada.
— Por favor... Deixa eu te explicar. — Ele abaixou a cabeça. O ar saía pesado de seus
lábios.
— Explicar? — gritou sem acreditar. — Então está bem, me explica como em um dia
você diz que me ama e no outro assume compromisso com aquela vaca? Vai!!! Me explica! —
Ela o empurrou com agressividade. Estava farta de toda aquela situação.
— Um dia você vai entender... — Ela voou no pescoço dele. Estava cheia daquela cara
de pau.
— Eu já entendi, você é um crápula, sem caráter. — Ela cravou as unhas em sua pele. —
Só queria me... Ah... — De repente ela o largou, não conseguia nem ao menos tocá-lo sem
sentir dor.
Ele levou as mãos até seu pescoço que estava ardendo com os arranhões violentos dela.
— Eu não queria te fazer sofrer... — ele disse baixinho, ela olhou em sua direção com os
olhos vermelhos.
— Eu sou uma idiota de ter acreditado no seu papinho, nas suas histórias. Mas juro
Harry que você nunca mais vai chegar perto de mim, nunca.
Aquelas palavras pareciam rasgar Harry por dentro à medida que eram ditas, todas suas
vísceras pareciam estar sendo reviradas ao ouvir aquilo sendo dito com tamanha dor e mágoa.
Após dizer isso, ela apenas pediu espaço com as mãos e saiu.
O cachorrinho parado olhando para os dois parecia entender aquela cena triste, Harry
sentou em sua cama com as mãos na cabeça e logo brotaram lágrimas de seus olhos. Estava
difícil suportar aquela situação.
Ed foi até a porta, olhou para o garoto e logo depois seguiu sua dona. Talvez mesmo em
sua inconsciência percebera que no outro quarto, havia uma frágil menina que precisava mais
de sua amizade e companhia.
Na escola, no período do intervalo, todo aquele teatro continuou, Karolinne fazia questão
de exigir várias coisas de Harry. Parecia estar mesmo castigando-o. Mandava ele pegar lanches
para ela comer e até pediu-lhe uma flor do jardim, mas ele mandou ela tomar vergonha na cara
e disse que isso nem estava no trato.
Alguns de seus amigos não entendiam como ele estava namorando alguém como
Karolinne, para estes, Harry nunca namoraria. Mas para seus amigos mais íntimos, isso não
procedia, quem conhecia mesmo Miller, sabia que no fundo ele era um cara romântico, só que
definitivamente Karolinne não fazia o tipo dele. Todos estavam surpresos com o novo
relacionamento.
Jones andava afastada de seu círculo de amizades, ela não aguentava mais aquela agonia
dentro de sim. Era muito difícil ter que omitir o fato de que estava completamente apaixonada
pelo cara errado. Estava duro ter que esconder algo que estava corroendo-a por dentro.
Foi para o jardim e ficou atirando pedrinhas para longe. Os pedacinhos de rocha se
chocavam ao chão e caminhavam para longe. Fazia isso repetidas e repetidas vezes.
— Oi. — Uma voz baixa e agradável a interrompeu. — Ela olhou para a pessoa e sorriu
instantaneamente, dando espaço para que esta se sentasse ao seu lado.
— Que milagre você não estar com nenhum livro — comentou sobre Bia, uma leitora
assídua. Sempre estava com um livro nas mãos. Lendo em cada oportunidade, era uma maneira
bem culta de se desligar do mundo e ainda acrescentar informações e conhecimento a si
mesma.
— Às vezes, eu gosto de ficar aqui só pensando na vida. — Suspirou. Realmente a
menina vinha muito naquela parte do jardim da escola, este ficava paralelo ao gramado do
campo de futebol, e era vazia na maior parte do tempo.
— Como está o lance com o Victor? — perguntou interessada, as duas não conversaram
muito sobre isso.
— Ah, sei lá... — Deu de ombros. — Acho que não sou garota para ele. — Abaixou a
cabeça sem esperança alguma na hipótese de ficar com Black. Vick deu uma risada alta e
irônica.
— Mais fácil ele não ser garoto para você. — Foi direta. — Qual é? Você é demais,
superinteligente, engraçada, tem personalidade, é carinhosa... Ele tinha que implorar para te
ter. — Para Jones era tão simples, somente a amiga não conseguia enxergar suas belíssimas
qualidades. Bia balançou a cabeça negativamente assim que ouviu aquilo. Nada do que
Victoria disse fazia sentido para ela.
— Você não entende, eu não sou como essas garotas lindas da escola, líderes de torcida,
com corpo perfeito. Teria que ser assim para um dia ele dizer para alguém que ficou comigo.
— Victoria arregalou seus olhos.
— Vocês ficaram? Quando foi isso? — questionou super curiosa. Sabia que a amiga era
reservada, mas não achou que esconderia algo assim.
— Não foi só uma vez... — Sorriu e começou a contar sobre toda essa trajetória curta e
intensa com Black.
Ao mesmo tempo que se sentia desesperada por estar se envolvendo e tendo grandes
chances de sair machucada, também era animador falar sobre o que eles já passaram juntos, era
surreal ter acontecido várias coisas que eram como sonhos realizados para ela. Desejos que ela
sempre teve, mas nunca achou que um dia se tornariam realidade. Como por exemplo, beijar
Black.
— Ele fez isso? Ah, mas deixa eu encontrar esse garoto, como assim ele manda você se
esconder? — Vick falou impaciente quando Bia contou-lhe sobre o que acontecera na casa de
Victor na última vez que eles se encontraram.
— Não, você não vai procura-lo, não vai falar nada, promete para mim, promete, por
favor — falou nervosa, não queria essa exposição. Não queria que ele pensasse que ela estava
contando sobre o que tiveram para a escola inteira, coisa que ela sabia que ele não gostaria, já
que fez questão de escondê-la daquela vez.
— OK... — Assoprou. — Não digo nada por enquanto, mas se ele fizer qualquer coisa...
— Inspirou fundo e disse ameaçadora. — Juro que o mato. — Bia riu do jeito exageradamente
protetor da amiga.
— E você e o Harry? — Victoria ergueu a sobrancelha. — Ah, você não acha que eu
acreditei naquela história de que você misteriosamente escorregou e caiu em cima da boca
dele, né? Eu sou a nerd do grupo, deveria ter pensando em uma desculpa mais inteligente. —
Ah sim, Vick deu essa desculpa a Bia por aquele beijo que ela vira em seu aniversário, sabia
que a menina nem tinha acreditado, por isso sempre encarou como se ela já soubesse da
verdade.
— Não tem como te enganar, né? Ah, amiga, eu só queria alguém para desabafar. —
Vick se deitou no colo da amiga. Talvez fosse bom ter o apoio de alguém que talvez
entendesse um pouco do que estava passando.
— Eu sirvo? — perguntou fazendo carinho nos cabelos dela que sorriu. Claro que servia.
Bia era uma ótima companhia, além de doce, era sincera e leal. Uma amiga de verdade.
As duas amigas ficaram conversando sem parar sobre suas vidas e desastres amorosos, e
logo o sinal bateu. Passar esse intervalo com Bia foi ótimo para a garota, que esqueceu um
pouco de todos seus problemas apesar de falar sobre eles. As duas estavam indo em direção a
sala quando a nerd repara em um casal se beijando perto do muro.
— Olha lá... — Chamou a atenção de Jones.
Quando ela se virou para ver o que acontecia, lá estava Phillip com outra garota, uma de
uma série mais nova que ela só conhecia de vista. Algo dentro dela reagiu aquela cena. Mas
admitiu que ele estava certo. Tinha que seguir em frente, se lembrou de que quando ele a quis,
ela o dispensou. Nada mais justo que ele encontrar alguém que corresponda totalmente ao que
ele sente.
— Vamos entrar, Bia... — falou brevemente e segurou a menina pelos ombros indo para
a sala.
Quando chegaram na sala, lá estava Harry na sua cadeira e Karolinne praticamente
sentada em seu colo. Jones observou aquela cena e pensou: Como o mundo gira... Há alguns
dias, eu tinha dois garotos que se diziam apaixonados por mim e hoje...Não tenho
absolutamente nada. Essa é a prova que qualquer pessoa pode te enganar se você não tomar
cuidando, alguns só querem te convencer a se entregar para eles. O que no caso de Harry
funcionou.
Como ela se arrependia da noite em que se entregou como nunca havia feito antes. Se
pudesse voltar no tempo, queria mesmo era ter feito mais escândalos para não se mudar. Mas
com isso nunca aprenderia lições que estava aprendendo naquele período difícil. Cada fase e
obstáculo é de extrema importância para o resultado final. Frase de Bia, que de fato tinha a ver
com química, física ou matemática, mas poderia ser usada para assuntos da vida também.
Apenas sentou-se em sua cadeira com má vontade e acompanhou as últimas aulas com
desanimo. No fim da aula, pegou suas coisas e foi saindo. Encontrou Phillip saindo de outra
sala, já que por algum motivo, ele havia sido transferido para aulas diferentes das que ela
frequentava.
— Oi, Vick. — Ele disse e a abraçou, para sua surpresa, já que apesar da carona não
achou que já tinham voltado a ser amigos. — Você está melhor? — perguntou preocupado.
— Sim, me desculpa por ter te dado trabalho, você não tinha que me levar pra casa. —
Falou colocando os cabelos detrás de sua orelha.
— Claro que eu tinha, mesmo que a gente tenha brigado, eu sempre vou te proteger. —
Ele sorriu. Foi somente por aquela garota à sua frente que seu coração pode ser esvaziado um
pouco de mágoas pelo que sofrera com o primeiro grande amor de sua vida, então sentia
sempre como se estivesse em dívida com Vick, apesar de ela não corresponder totalmente às
suas expectativas.
— Ah, claro, me largou no meio da rua e foi embora naquele dia, bela proteção —
lembrou a garota e ele coçou a cabeça. Somente saiu, não que ela quisesse voltar àquele
assunto, mas foi instantâneo.
— Me perdoa por isso? Não sei o que deu em mim... Quer dizer, sei sim, eu perdi a
cabeça. — Ele pareceu se entristecer.
— Hey, não tem problema. Vamos esquecer isso. — Falou com firmeza, ele a ajudara de
forma tão generosa, não tinha porque voltar a essa discussão. Phillip abriu um largo sorriso.
— Estamos bem? — A garota assentiu.
— Cuidado com esse sorrisinho, depois não reclama se eu for te incomodar na sua casa
toda hora para ir jogar seu super videogame — falou brincalhona e ele riu alto. Bem que ele
queria isso mesmo.
—Você pode ir a minha casa sempre que quiser, vizinha. — Ele piscou um de seus
olhos. Ela riu balançando a cabeça. Sabia que podia ir e seria bem-vinda, só não sabia se estava
pronta para aquilo e se era um bom momento.
— Bia... Hey, Bia, espera! — Victor corria atrás da garota no caminho da escola, hoje
ela por algum motivo não estava com sua bicicleta. Estava praticamente correndo pelas ruas,
segurando seus livros.
— Victor me deixa, sai de perto de mim, alguém pode te ver. — Gritou com sarcasmo.
Era a primeira vez que Black ouvia ela sendo sarcástica, se preocupou mais ainda.
— Me perdoa, eu sou um estúpido mesmo — falava à medida que tentava alcançá-la. —
Eu só não queria que eles falassem alguma coisa que poderia te magoar. — Ela estava
andando, mas parou bruscamente ao ouvir aquilo.
— Mais do que você me machucou? — perguntou com lágrimas pretendendo sair de
seus olhos. — Acho improvável. — Realmente qualquer deboche daqueles amigos de Victor
para ela seriam melhores do que ter sido esnobado por Victor na casa dele. — E você tem
medo que eles me chamem de quê? — Encarou o garoto que sentiu o coração pesar ao ver os
olhos vermelhos da garota. — De nerd, esquisita, feia? Eu já estou acostumada — falou quase
gritando.
— Desculpa por aquilo, eu só queria que... — Ele se sentia entre a cruz e a espada —
Ah... — gritou como se liberasse algo. — Você é a melhor pessoa que eu já conheci em toda a
minha vida — declarou.
— Não posso dizer o mesmo de você ... — Rebatou magoada. — Eu pensei que você
fosse uma boa pessoa. Eu sempre gostei de você, desde quando éramos pequenos — revelou
na força do momento algo que ela nunca achou que diria para ele. Black sentiu algo vibrar
dentro de si, sua boca caiu. Ele estava muito surpreso.
— O quê? Eu sou o garoto de quem você gosta? — perguntou incrédulo. Ainda estava
embasbacado com o que ela tinha acabado de dizer.
— Errado. — Cruzou os braços. — Você era o garoto de quem eu gostava — disse com
uma firmeza que nunca havia usado antes, ali não parecia estar uma garota frágil e sim um
exemplo de força e coragem. Ela se virou e fez um movimento como se fosse voltar a andar.
Ele a segurou pelo braço delicadamente e colou seus corpos em fração de segundos.
A garota se sentiu fraca ali tão perto dele. Era difícil ser forte ou parecer forte quando o
garoto dos seus sonhos a olhava de tão perto e com tamanha intensidade. Sentia-se muito
nervosa, Victor por sua vez, sentia algo que não conseguia explicar. Nunca havia sentido algo
naquela magnitude antes.
— Porque não me disse antes? — sussurrou fraco. Ele queria que ela tivesse dito. Só não
sabia se com isso seria possível ele corresponder da mesma forma que correspondia naquele
exato instante.
— Nós não nascemos para ficar juntos. — Para Bia era como uma faca no peito dizer
aquilo, mas para ela era a mais pura verdade. Bastava usar a lógica que ela entendia tão bem
em contas matemáticas, mas esqueceu ao envolver-se com Black. Ele a puxou pela cintura,
passou a mão em seu rosto, fechando os olhos ao sentir aquela pele macia em suas mãos.
Ele foi se aproximando e quase encostou seus lábios nos dela, mas a garota o empurrou
um pouco, encontrando forças de algum lugar que nem ela conhecia.
— Não, Victor... Você não vai me usar mais, não sou uma qualquer. Não se aproxima
mais de mim. — Falou com uma tristeza muito grande.
— Mas Bia, eu também gos... — A garota o interrompeu. Não queria se iludir e por
diversos momentos nos últimos meses, percebeu que imaginar que um dia teria algo com
Victor, era ilusão apenas.
— Não fala nada. Não me faz sofrer mais do que eu já sofri. — Disse amargurada e o
garoto ficou calado. O que ele poderia dizer ao ouvir aquilo? Não poderia prometer que nunca
mais a faria sofrer. Porque ele tinha uma vida. Tinha amigos. Tinha uma estrutura que não
sabia se estava disposto a abrir mão.
Não poderia garantir nada. Não disse mais nada. Como foi difícil desgrudar-se daquela
pele macia e quente, apenas assentiu com compaixão e foi andando no caminho oposto ao que
ela iria.
Bia respirou e começou a liberar lágrimas que segurava a alguns minutos.
Victor respirava pesadamente e chutava pedrinhas que apareciam em seu caminho.
Algo retornou a sua mente: Ela merece alguém melhor, alguém que a trate como ela
mereça... De acordo com a maioria das pessoas que ''conheciam'' Victor e Bia, ele com certeza
não era esse alguém para a garota. E nem ela garota para ele.
Eram perfeitos opostos, mas para o amor isso é apenas um detalhe. Um grande detalhe,
mas um detalhe.
— Ah, Louis... Eu tenho uma super novidade para te contar!!! Espera aí que estou indo
na sua casa. — Elis falava animadamente ao telefone.
Louis não tinha ideia do que seria, mas ao ouvir aquela voz alegre da garota que ele tanto
amava, sabia que não importava o que fosse, ele ficaria feliz também. Ele havia acabado de
sair de um banho e terminou de se vestir.
Em alguns minutos a campainha soa, ele desce correndo para atender já que a mãe não
estava em casa no momento.
— Oi, meu amor — disse abrindo a porta e já foi lhe dando um selinho carinhoso.
Elis entrou com um envelope nas mãos e com um sorriso de orelha a orelha. Williams
fechou a porta e a olhou com curiosidade.
— Lou, esse é simplesmente o dia mais feliz da minha vida. — A garota falava com uma
empolgação que a fazia querer pular por todos os cantos. — Você sabe que o meu sonho é
fazer Direito, então... — Fez suspense, mas não durou muito e logo disse: — Um amigo do
meu pai, dono de um escritório muito famoso me deu um emprego — disse com animação e
Louis a abraçou feliz, girando-a pela sala. Sabia que ela sempre quis começar logo na área para
confirmar que era realmente o que queria.
— Ah, que demais, estou muito feliz por você. Já sabe quando começa? — Perguntou e
deu-lhe um beijinho, segurando em sua cintura.
— No começo do próximo ano. — Sorriu agitada.
— Já está bem perto então — lembrou o garoto.
— Eu sei, tenho que organizar tantas coisas. Minha vida vai ficar uma loucura. —
Pensou em tudo que precisava para começar a oportunidade.
— Esse escritório é no centro da cidade? — A garota riu ao ouvir aquela pergunta.
— Não Louis, o escritório é em Londres — falou como se o Louis já soubesse. Só que
na verdade, não.
— Em Londres? — Espantou-se, imediatamente ele soltou seus braços da cintura dela e
se afastou. Aquilo foi um choque.
— Eu não tinha te falado que era em Londres? — Perguntou passando a mão nas costas
dele. — Louis, eu vou me mudar para lá. — Declarou agora se sentindo um pouco apreensiva
pela postura repentinamente tensa que seu namorado adotou.
— Se mudar? — Aumentou seu tom de voz, estava nervoso. — Você vai embora e age
com essa tranquilidade toda? E em relação a nós dois? Quer dizer que acabou? — Ele
perguntou com certa irritação.
— Louis, eu te amo. São só alguns meses, é uma grande oportunidade. Não quero que a
gente termine, só fica a umas três horas daqui. — Foi segurar no ombro dele, mas Louis se
esquivou.
— Não Lis, Londres não é tão perto daqui assim. Como vamos levar esse
relacionamento? — Levou as mãos à cabeça. Não acreditava que havia esperado tanto tempo
para finalmente ficarem juntos e quando isso acontecia, os dois seriam obrigados a separar-se
mais uma vez.
— Você está sendo egoísta Louis, você devia me apoiar e não ficar impedindo meu
sonho — falou, brava.
— Eu sou egoísta? Você que está me deixando para trás e em nenhum momento pensou
em mim. — Ele se sentou. Aquela notícia era recente demais para ele digerir.
— Pensei que você me apoiaria. Se fosse ao contrário, eu nunca te impediria de lutar por
seus sonhos. Falou irritada e saiu da casa, batendo a porta com força.
O garoto ficou lá jogado no sofá pensando em toda aquela confusão. Londres... Londres
não parecia tão longe assim. São só algumas horas dali. Mas para o amor parecia soar como o
Japão.
Como seria sua vida sem acordar e ir para a porta da casa dela para irem juntos para o
colégio? Como seria não ver aquele sorriso todas as manhãs, tardes e noites? Sem suas
brincadeiras ao fim da tarde? Alguns meses... Soava mais como uma eternidade para Louis e
seu coração apaixonada.
Essa história começou de fato com uma mãe de família separada a algum tempo, uma
mulher guerreira, criativa e muito carinhosa. Possui dois filhos do antigo relacionamento com
um homem que não a valorizava. Gemma, sua filha mais velha que estava em uma
Universidade no Canadá e Harry seu caçula que aos poucos começava a se tornar um homem
de verdade. Essa mulher se chamava Anne e por ação do Sr. Destino acabou por conhecer
George.
George era um viúvo que apesar das dores do passado, levava uma vida leve, sem vícios,
era muito simpático, divertido e romântico, ponto que encantou Anne de primeira. Porém o Sr.
Jones tinha uma filha, uma órfã. E somente isso já deixava a situação complicada. Victoria era
apenas uma criança quando sua mãe morreu em um acidente de carro, a pequena garota estava
no carro no acidente que levou à óbito a pessoa que ela mais amava na vida. Isso só intensifica
ainda mais a dor da menina, a falta que sua mãe faz é impreenchível.
A garota nunca mais foi a mesma. Em certos momentos parecia que ela não possuía
freios ou limites. Na cabeça dela, nada do que ela fizesse de bom a faria ter o que ela mais
queria de volta. George como o pai carinhoso que é, nunca desistiu da filha e não importa
quantas noites ele passasse em claro procurando a filha pelas ruas sujas de Chicago, ele a
amava. E sempre a amaria.
Esse homem bem-sucedido e essa mulher especial se conheceram em uma das viagens
de negócios de George a Londres. Ela estava participando de uma exposição artística de uma
amiga e de repente leva um banho de vinho tinto em seu vestido creme. Olhou para a terrível
mancha e já olhou para o sujeito que derramou o xingando, até que encontrou aquele par de
olhos. Perdeu a fala. Foi aí que tudo começou. Tudo começou com um clichê. Um cliché que
levou a um lindo e forte relacionamento.
George começou a frequentar a Inglaterra como nunca. E um belo dia decidiram que não
dava mais para ficar daquele jeito. Naquele vai e vem, naquelas passagens intermináveis por
aeroportos. Tinham que se ver todos os dias. Decidiram morar juntos. Compartilhar de verdade
uma vida.
Essa história começou com essa decisão e o dia da consagração dessa decisão finalmente
chegara. Os dois, inicialmente, iriam apenas se unir, morar juntos, mas para George isso não
demonstrava de verdade todo o amor que sentia por aquela mulher, ele queria começar tudo de
novo e do jeito mais certo possível. Ele queria casar com ela, queria que tivesse ternos e
vestido branco, convidados e bem-casado. Casar-se com Anne era o que ele mais queria em
toda a sua vida.
~ O casamento Jones/ Miller~
Tudo estava tão perfeito, a igreja repleta de begônias. Toda a família estava ali. George
já estava esperando fora da Igreja com aspecto nervoso. Anne era a noiva, portanto tinha o
direito a sua meia hora de atraso.
— Mãe, a senhora está linda — disse Gemma, encantada com a felicidade da mãe. Anne
estava tão feliz por ter sua filha com ela depois de quase um ano longe. Gemma possuía os
mesmos olhos verdes da mãe do irmão, mas seus cabelos agora estavam com mechas loiras, ao
contrário da mãe que era morena.
— Filha, acho que esse é o dia mais feliz da minha vida. — Sorriu e logo lágrimas
começavam a se formar em seus olhos.
— Não é para chorar, vai borrar a maquiagem — falou, mas sabia que sua mãe não
conseguiria se encontrar, estava repleta de emoções, era toda sentimentos. As duas se
abraçaram forte.
— Tem espaço para mim aí nesse abraço? — perguntou uma voz modesta ao entrar
naquele quarto.
— Claro, sempre. — Abriu os braços e apertou Victoria, que estava deslumbrante com
um vestido azul com decote nas costas.
— Hoje nós viramos oficialmente irmãs. — Gemma declarou feliz, as duas começaram
uma linda amizade nesses últimos dias em que a irmã mais velha esteve com eles. Vick até
conseguiu esquecer um pouco sobre Harry e tudo que o envolvia.
— Oh, minhas duas filhas lindas. — Passou a mão nos cabelos das duas. — Vamos logo
que não quero deixar seu pai lá no altar tendo um infarto — disse à Vick.
— Vamos logo, quase quarenta minutos de atraso. — Harry colocou a cabeça para
dentro o quarto e viu aquelas três mulheres lindas à sua frente, as mulheres que ele mais amava
no mundo inteiro.
— Já estão chorando? O casamento nem começou ainda. — Ele riu, entrando no espaço.
— A emoção já começou de agora. — Gemma sorriu e consertou sua maquiagem com
um lencinho. Estava muito feliz que sua mãe conseguira achar alguém especial, ela merecia
depois de ter sofrido tanto no último casamento.
— Mãe, eu já disse isso, mas vou dizer de novo: você é a mãe mais linda do mundo. —
Miller falou e Anne beijou o filho.
Harry esperou que sua irmã e Anne saíssem do quarto e encostou a porta para falar com
sua irmãzinha postiça. Olhou-a de cima a baixo, estava linda.
Victoria passava o batom em frente do espelho ainda sem notar que agora estava sozinha
com Harry, se assustou ao ouvir o barulho da porta sendo trancada. Olhou para trás e Harry
guardava as chaves no bolso. Não acreditava. Não era possível ele estar fazendo isso agora, em
plena entrada da mãe na igreja, era óbvio que era uma ideia muito estúpida.
— O que pensa que está fazendo, idiota? — perguntou brava colocando o batom na
penteadeira e indo em direção a porta para sair.
— Victoria... — Sua voz saia rouca, cheia de desejo. — Por favor. Vamos ficar bem, eu
te amo. — Foi se aproximando dela. O perfume doa garota só o chamava mais ainda.
— Sai de perto, Harry — falou, mas sem impedir que ele colasse seus corpos,
pressionando-a junto à penteadeira.
— Só um beijinho, vai? Eu preciso disso — sussurrou perto da orelha da garota.
— Sabe o que você merece? Um tapa na cara. — Imediatamente ela fez isso, chocando a
palma da sua mão no rosto dele com força.
— Ai! — reclamou com a mão no rosto, mas logo deu um sorrisinho safado. — Pensei
que você havia me dito que essa história não era 50 tons de cinza... — Falou malicioso. —
Adoro esse lance de tapas e beijos, o tapa já aconteceu, agora só falta o ...
— Aquilo só aconteceu porque eu estava carente. Não vai se repetir. Entende isso. Vai
procurar sua namorada. — Empurrou-o para longe, estava cansada dessa insistência e mesmo
depois de assumir compromisso com outra. Ás vezes se perguntava se não somente na zoeira,
mas sim na realidade se Harry não era mesmo retardado mental.
— Aquilo aconteceu porque você ainda me ama. — Segurou-a pela cintura. E lembrou-
se dos momentos que tiveram assim que a pele dela foi novamente de encontro à sua.
Tudo naquela casa estava uma loucura, o casamento seria dali a algumas semanas. Anne
e George haviam saído para fazer a prova de bolos. Estavam correndo com os preparativos e
fazendo de tudo para que o evento ser perfeito. Victoria estava em casa jogada no sofá
assistindo alguma série na televisão e trocando mensagens com Phillip que até então era
apenas seu amigo. Como assim ela desejava.
— Não tem mais sorvete? — A voz rouca tirou Vick de seu eixo. Ela tirou seus olhos da
televisão e olhou em direção à cozinha.
Harry Miller estava parado com um pote de sorvete nas mãos, de sunga branca, com os
cabelos úmidos e o corpo molhado.
— Você é cego?! Está aí no congelador, a Anne comprou mais ontem à tarde — disse,
fingindo indiferença total àquele corpo incrível que ela tanto desejou por muitas e muitas
vezes.
— Para de mentir, não tem sorvete nenhum nessa geladeira. — Ele falou, duvidando do
que ela dizia, sabia que isso a deixava irritada. A garota se levantou furiosa do sofá.
— Tudo sou eu nessa casa. — Respirou pesadamente e abriu a geladeira. — Aqui os
potes de sorvete, como alguém pode ser tão cego a ponto de não enxerg... — De repente sentiu
as mãos de Harry envolvendo sua cintura e colando seus corpos.
— Estou com saudades... — sussurrou sobre a nuca dela e como seus cabelos estavam
presos ela se arrepiou rapidamente. Mas ela achava isso era tão cruel da parte dele. Fazer
aquilo mesmo depois de tudo que aconteceu. Do quanto ela sofreu.
— Eu não acredito que você está fazendo isso comigo... — Sua voz saía um pouco
aguda. — Você me deixou — acusou-o tentando ser forte, apesar de quase pirar com a
respiração dele invadindo seu pescoço.
— Eu sei, e você tem todos os motivos para me odiar, mas eu ainda te amo e sei que
você me ama também e quer a mesma coisa que eu quero. — Ela olhou com fúria para aquele
garoto. Era como se para ele, nada mesmo tivesse acontecido. Como se ele não tivesse feito
nada de errado.
— Eu não te amo mais, está ouvindo? — gritou, porém algo queimou dentro dela, ela
queria testar algo, testar algo que tinha pensado. — Mas ...
— Mas... — Olhou-a confuso porque achou que ela tinha terminado. Então ele foi
invadido por um olhar que era puro desejo por parte daquela garota em chamas.
Rapidamente ela o empurrou na direção da bancada da cozinha, colando seus corpos e
puxando forte seus cabelos ondulados. Começou a beijar e lamber o pescoço dele. Harry
segurou ela pelas coxas e virou sua posição colocando ela sobre a bancada.
Encaixou-se entre suas pernas e a puxou para um beijo lento que imediatamente ela fez
com que se tornasse selvagem e violento. Não queria nada meigo ou romântico, queria apenas
a superficialidade de um encontro de desejos carnais.
— Vamos subir... — ela disse, ofegante.
Miller a prendeu em sua cintura e começou a andar com ela pela casa, subindo as
escadas, pelo caminho ela mordia o pescoço dele que estava fervendo de paixão, como sentiu
saudade daqueles toques, enfim chegaram ao quarto da garota. Jogou-a na cama e voltou para
trancar a porta. Victoria tirou a calça que vestia e a blusa rapidamente. Como se tivesse pressa
para que aquilo acabasse logo. Ela estava inquieta. Queria ação. Movimento.
— Vem Miller... — mordeu o lábio inferior. — Quero você agora — disse de maneira
sedutora.
— Eu te amo tanto... — disse convicto beijando cada parte do corpo seminu da garota,
ela puxou seus cabelos com força.
— Isso aqui não é sobre amor, é sobre sexo. Não para de fazer seu trabalho —falou
mandona e pressionou a cabeça dele sobre seus peitos.
Ao final de tudo, Miller foi puxá-la para perto dele como sempre faziam depois daqueles
momentos de intimidade, mas ela o empurrou, mesmo cansada pelo que haviam acabado de
fazer. Vestiu seu moletom e se levantou.
— Já está na sua hora, Miller — piscou e fez um gesto com as mãos.
— Como assim? — perguntou confuso, passou a mão nos cabelos, estava jogado na
cama da garota com o corpo suado e os músculos relaxados, queria ficar ali um pouco mais
com ela, aproveitando sua companhia, fazendo carinhos que ele adorava fazer, mas em todos
aqueles dias não pode, já que estavam brigados. Parece que a garota tinha outros planos.
— Acabou, pega suas coisas e sai do meu quarto. — Recolheu a sunga do garoto e jogou
em cima dele.
Harry a olhou chateado, vestiu sua sunga e saiu do quarto. Não gostou nada de ter sido
tratado daquela forma ainda mais com seu coração batendo por mais e mais momentos juntos
dela, ao lado dela.
Vick se jogou em sua cama exausta e respirou fundo, se deu conta de que mais uma vez
se entregou à Harry, mas dessa vez fez parecer que ele foi usado e não ela. E foi uma das
melhores vezes que já tiveram.
~ FIM DA 1ª TEMPORADA~