Movimento Black Rio de L
Movimento Black Rio de L
Movimento Black Rio de L
Ver a discografia do grupo na plataforma Discogs: http://goo.gl/MXpNBA. A bem da verdade, registra-
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se um lançamento de uma faixa pelo selo Tamla Motown, em vinil de 7 polegadas para jukebox, em 1975, na
Itália; ver http://goo.gl/wJJfq1.
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não deixam de participar desse espetáculo. É lícito exclamar-se: “menos ‘política
identitária’, menos ‘empoderamento’, menos ‘lugar de fala’ e mais luta de classes!”4
Por outro lado, ao inserir os bailes black, a música soul, os bailes funk e o funk
carioca no âmbito transnacional das manifestações da diáspora africana, ambos prestam
contribuição ao combate contra o racismo estrutural da historiografia musical brasileira,
onde, por exemplo, Mr. Funky Santos ocupa posição ambígua. Ao mesmo tempo que se
credita ao radialista e DJ (branco) Big Boy ter começado tudo em Botafogo, atribui-se a
Moura dos Santos o início dos Bailes Black, no extinto Astória Futebol Clube,5 no bairro
do Catumbi (Essinger 2005: 19). Organizador, desde 1972, das Noites do Shaft, no
Renascença Clube, no Andaraí, Dom Filó afirma:
Big Boy. Ele tocava eminentemente o rock! Botava lá um “James Brownzinho” no final do baile.
Então ele não era o black da hora, só que tinha o material. Outra coisa. O primeiro baile não foi no
Canecão. O primeiro baile foi na Zona Norte! O Big Boy só fazia no Canecão porque a sua clientela
era eminentemente branca. (Oliveira Filho et al. 2009)
A ideia de que o Black Rio — e, por decorrência, o funk carioca — tenha origem em
Botafogo parece derivar de um erro de interpretação da matéria de Frias, que afirma: “no
começo era apenas a [equipe] de Big Boy” (4). E cita Moura dos Santos (grafado “Santos
dos Santos” no texto): “O soul começou com Big Boy, Ademir, Monsieur Limá, por volta
de 1969, 1970” (6). Vianna (1988: 24) infere: “os primeiros bailes foram realizados na Zona
Sul, no Canecão”.
Seja pelos depoimentos coletados, seja pela iconografia reunida, 1976: movimento
Black Rio fornece farto material para um trabalho necessário de revisão historiográfica que
transcende o âmbito do tema tratado.
Referências
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Politics of Racial Comparison in 1970s Brazil”. Hispanic American Historical Review 89
(1): 3–39.
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Brackett, David. 2009. “Música soul”. Trad. Carlos Palombini. Opus 15 (1): 62–68.
Essinger, Silvio. 2005. “Em tempos de soul power”. Batidão: uma história do funk. Rio de
Janeiro e São Paulo: Record, 15–48.
Frias, Lena. 1976. “Black Rio: o orgulho (importado) de ser negro no Brasil”. Jornal do
Brasil, Caderno B, 17 jul., 1 e 4–6.
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festa: família, etnicidade e projetos num clube social da Zona Norte do Rio de Janeiro, o
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256.
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Lopes, Nei. 2006. “O sambalanço saúda o dia do samba”. Blog Nei Lopes, 1 dez. (Internet
Archive: Wayback Machine). http://goo.gl/mBGSKm.
Comunicação oral de um pesquisador que solicita anonimato.
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Fundado em 23 de outubro de 1934, o Astória Futebol Clube, “o Azulão do Catumbi”, fundiu-se com o
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Sport Club Minerva, fundado em 25 de abril de 1946, para dar origem, em 9 de maio de 1975, ao Helênico
Atlético Clube; ver História do futebol: a enciclopédia do futebol na Internet, http://goo.gl/ES9WYx.
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Marquand, Sean; Babo, Sergio. 2006. “União Black: The Black Sheep of Brazilian Soul”.
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Popular Music Studies 14: 33–62.
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Filó: Uma nova postura do negro, num contexto de repressão e autoritarismo”.
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