Ba e D-Vol 28-n 1-2018
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Impressão
EGBA - Tiragem: 100 exemplares
O acesso à informação e a 93
difusão do conhecimento no
fortalecimento da política de
educação profissional da Bahia
JOSÉ FR ANCISCO BARRE T TO NE TO
ANA MARIA FERREIR A MENEZES
A educação é um tema que nunca deixa de ser relevante na sociedade. Seja para pensar
os seus rumos futuros, seja para compreender sua trajetória passada, ou mesmo para
analisar com clareza o presente, a educação é um elemento-chave e que deve ser
sempre fruto de reflexões.
Abstract
Desenvolvimento, bem
viver e educação não formal:
práticas integrativas e trocas
de saberes na comunidade
Amazonas, em Salvador (BA)1
ANA MARIA FERREIR A MENEZES A NOÇÃO de desenvolvimento vem
Doutora em Administração Pública e mestre em
Economia pela Universidade Federal da Bahia sendo questionada na medida em que se
(UFBA). Professora plena da Universidade do
Estado da Bahia (Uneb) e professora permanente
volta mais para as questões econômicas,
do Doutorado Multi-Institucional e Multidisciplinar
como, por exemplo, o crescimento do
em Difusão do Conhecimento (DMMDC) da UFBA e
da Uneb. [email protected] Produto Interno Bruto (PIB), sem levar
M A R I A D E F AT I M A H A N A Q U E C A M P O S
em consideração outros determinantes,
Doutora em História da Arte pela Universidade
do Porto (U.Porto) e mestre em História da Arte como os relacionados por Sen (2000,
pela Universidade de São Paulo (USP). Professora
titular da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) p. 25): liberdades políticas, facilidades
e professora permanente do Doutorado
Multi-Institucional e Multidisciplinar em Difusão econômicas, oportunidades sociais,
do Conhecimento (DMMDC) da Universidade
garantias de transparência, e segurança
Federal da Bahia (UFBA) e da Uneb.
[email protected] protetora. Estes determinantes, ainda
K A R I N A M I Z U K I D I A S D O S S A N TO S
de acordo com Sen (2000, p. 17),
Doutora em Difusão do Conhecimento pela
Universidade Federal da Bahia (UFBA) e mestre são essenciais para a “expansão das
em Engenharia de Produção pela Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC). Professora- liberdades desfrutadas pelos membros da
assistente da Universidade do Estado da Bahia
(Uneb). [email protected] sociedade”. Essas liberdades possibilitam
um desenvolvimento inclusivo, que
promove direitos e oportunidades, que
levam à ampliação da qualidade de
vida e do bem viver, através de práticas
integrativas que se consubstanciam na
vitalidade comunitária.1
Não basta que Nesse contexto, salienta-se o objetivo do trabalho, que se volta para
haja crescimen- a análise do desenvolvimento, bem viver e educação da comunidade
to da econo- Amazonas, em Salvador-BA. Nessa perspectiva de análise, a valoriza-
mia medido ção do indivíduo e de suas potencialidades passa necessariamente pela
pelo seu PIB. cooperação, associação e solidariedade, que se constituem em noções
que compõem as ações sociais e/ou práticas integrativas. As práticas
É necessário
integrativas podem ser entendidas como ações participativas entre su-
que se busque
jeitos com diferentes saberes e que possibilitam a geração e ampliação
entender de-
da vitalidade comunitária.
senvolvimento
na perspectiva Assim, partiu-se de uma metodologia pautada numa pesquisa parti-
inclusiva, um cipante, com a qual se buscou apreender as práticas integrativas e as
processo no trocas de saberes da comunidade Amazonas, em Salvador-BA, que po-
qual se leva em dem ser proporcionadas pela educação não formal e pela vitalidade
consideração comunitária. Dessa forma, desenvolveu-se, inicialmente, uma noção de
a justiça social desenvolvimento inclusivo e bem viver. Posteriormente, foram analisa-
e o equilíbrio das a educação não formal e a vitalidade comunitária como possibilida-
ecológico des de trocas de saberes. Em seguida, passou-se à análise das práticas
integrativas e das trocas de saberes, a partir de indicadores da vitalida-
de comunitária e das atividades de geração de renda na comunidade
Amazonas, em Salvador-BA. Por fim, concluiu-se com os principais ar-
gumentos desenvolvidos.
O crescimento engendra o desenvolvimento desde que seus frutos pro- O bem viver é
longuem a vida e melhorem o nível de bem-estar social das populações uma concepção
desfavorecidas. Contudo, não basta fazer com que o crescimento eleve que surge da
os padrões de saúde e educação da coletividade, também é impres- necessidade
cindível que isso aconteça sem que sejam comprometidos os recursos de se entender
naturais das sociedades contemporâneas, o que inviabilizaria o desen-
as sociedades
volvimento das gerações futuras. (MENEZES; CAMPOS, 2013, p. 47).
historicamente
marginalizadas
Para que esse desenvolvimento ocorra é necessário que se associem
em uma mesma abordagem as questões econômicas, sociais e políti-
cas. Esta é a perspectiva trazida por Sen (2000) quando coloca que o
desenvolvimento tem que ser considerado como um determinante para
a liberdade.
Essa abordagem nos permite ainda reconhecer o papel dos valores so-
ciais e costumes prevalecentes, que podem influenciar as liberdades
que as pessoas desfrutam e que elas estão certas ao prezar. Normas
comuns podem influenciar características sociais como a igualdade
entre os sexos, a natureza dos cuidados dispensados aos filhos, o ta-
manho da família e os padrões de fecundidade, o tratamento do meio
ambiente e muitas outras. Os valores prevalecentes e os costumes so-
ciais também respondem pela presença ou ausência de corrupção e
pelo papel da confiança nas relações econômicas, sociais ou políticas.
O exercício da liberdade é mediado por valores que, porém, por sua
vez, são influenciados por discussões públicas e interações sociais,
que são, elas próprias, influenciadas pelas liberdades de participação.
(SEN, 2000, p. 23-24).
Assim, Gudynas e Acosta (2012) revisitam alguns aspectos da atual Bahia anál. dados,
construção das ideias de bem viver como crítica ao desenvolvimento
Salvador, v. 28, n.1,
p.6-24, jan.-jun. 2018
9
Desenvolvimento, bem viver e educação não formal: práticas integrativas
Artigos e trocas de saberes na comunidade Amazonas, em Salvador-BA
Estes autores explicam que isso ocorre por que cada local tem “[...] uma
lógica e identidade própria formada a partir de suas relações sociais,
econômicas, políticas e institucionais” (VASCONCELLOS SOBRINHO;
VASCONCELLOS, 2016, p. 19). E todas estas relações são, de uma forma
ou de outra, abordadas pela vitalidade comunitária. No Brasil, o desta-
que em relação ao local, quando se fala de desenvolvimento, ocorreu
por três motivos: enfraquecimento do termo “planejamento territorial”,
que não correspondeu às expectativas da sociedade; descentralização
das políticas, que passaram a ser locais; e aumento dos movimentos
locais de pressão sobre o governo (VASCONCELLOS SOBRINHO; VAS-
CONCELLOS, 2016, p. 19).
Para isso, é preciso que elas tenham atendidas questões básicas de vida,
como as sociais, políticas e culturais – que vão além das necessidades
econômicas –, assim como a vitalidade comunitária. De forma assertiva,
Max-Neef (2012, p. 28) resume essa questão dizendo que “[...] o melhor
processo de desenvolvimento será aquele que permitir o aperfeiçoa-
mento na qualidade de vida das pessoas”.
cotidiano. Ninguém melhor do que eles próprios [os sujeitos], que con- Ninguém me-
vivem com cada uma dessas situações diariamente, para identificar as lhor do que eles
prioridades, bem como propor alternativas viáveis a partir dos recursos próprios [os
existentes, ampliando as possibilidade de bem viver. sujeitos], que
convivem com
Partindo da responsabilidade social da Universidade do Estado da Bahia cada uma des-
(Uneb), que fica localizada em um bairro popular e que demanda desta
sas situações
instituição ações de pesquisa e extensão que possam contribuir para a
diariamente,
mudança de um cenário de fragilidade social, foram elaborados alguns
para identificar
projetos de pesquisa e extensão com caráter multidisciplinar e interde-
partamental, a exemplo de “Turismo de base comunitária na região do as prioridades
Cabula e entorno: processo de incubação de operadora de receptivos
populares especializada em roteiros turísticos alternativos”; e “Vitalida-
de comunitária: um estudo sobre a comunidade Amazonas, em Salva-
dor-BA”, que se pautam em uma metodologia de pesquisa participante.
Em função disso, utiliza-se a concepção de educação não formal como
possibilidade de troca de saberes através de, principalmente, atividades
de interação social entre professores, estudantes de graduação e de
escolas públicas e a comunidade.
A equipe do Sua localização é no bairro do Cabula, entre a BR-324 e a Av. Luís Viana
projeto vitali- Filho (Av. Paralela). A comunidade está assim delimitada: acima está
dade comuni- a Rua Silveira Martins, onde também se localiza a Uneb; à direita, o
tária iniciou as Colégio Governador Roberto Santos; à esquerda, a Lagoa da Pedreira
atividades na (Lagoa do Paraíso); e abaixo, o 19º Batalhão de Caçadores (19º BC).
comunidade
Na área existem diversas instituições religiosas, como centro espírita,
Amazonas em
igrejas batista e católica, Universal, Assembleia de Deus e terreiros,
2015, através de
como o de mãe Angélica, que abriga a Associação de Moradores da
contatos com Vila Amazonas (Amovila). Nessa associação os correios entregam as
lideranças correspondências de mais de 120 famílias, não só em função da ameaça
de violência nas ruas internas, como também porque muitas casas não
possuem CEP. Além dessa, existe a Associação de Moradores da Ama-
zonas de Baixo (AMAB), devidamente registrada.
Sentimento de pertencimento
[Há] a neces- que vai além das transformações da rua principal, com construções de
sidade de se condôminos habitacionais, escolas, centros comerciais, além do desma-
investir em tamento de uma grande parte da mata local (OLIVEIRA, 2014).
cursos de
empreendedo- Existe um projeto para transformar o antigo “campo de futebol” em uma
praça, que poderia ser um espaço de lazer e entretenimento para todos
rismo, o que
os moradores da comunidade, com um parque esportivo e uma creche.
possibilitaria
Outro projeto, já em andamento, é o de revitalização da Lagoa da Pe-
agregar valor
dreira, que não é mais utilizada para banho e para pesca e poderá servir
aos produtos também para geração de renda. Esse projeto é fruto de uma parceria
e propiciar a com a Bahia Pesca e a associação de pescadores.
identificação de
oportunidades, Além das atividades de geração de renda, a AMAB vem realizando cur-
transformando sos técnicos de contabilidade e de auxiliar de enfermagem. Destaca-se
os negócios o papel da secretária e esposa do presidente da entidade, que vem
atuando como instrutora das oficinas de artesanato promovidas pela
associação. Além das aulas de artesanato, ela também produz bol-
sas, camisetas, chaveiros e objetos de decoração para casa, vendidos
pelo Centro Público de Economia Solidária (Cesol), no qual ela tam-
bém atua como integrante do Grupo Coletivo Arte e Cultura do Cabula
(Cultarte), da Uneb.
participarem dos cursos oferecidos pelo Sesc, que são gratuitos e, em São necessá-
alguns casos, ainda oferecem transporte e alimentação. rias parcerias
para compra
Outra época importante é o fim de ano, quando as aprendizes de ar- de materiais e
tesãs confeccionam enfeites, objetos de decoração e guirlandas para equipamentos,
o Natal, além de artigos para presente. No encerramento da oficina, pois apenas
apresentaram seus trabalhos.
as oficinas de
artesanato e de
Percebe-se que, à medida que as pessoas vão aprendendo, começam a
percussão se
fabricar e vender seus produtos, gerando trabalho e renda. As peças de
artesanato (arranjos para cabelo, bolsas jeans, agendas, porta-retratos, mantiveram
tapetes de fuxicos, mandalas de CDs, porta-sabonetes, sachês, pesos
para portas) também são vendidas nos eventos da comunidade.
REFERÊNCIAS
ANDREWS, Susan. A ciência de ser feliz. 2. ed. São Paulo: Ágora, 2011.
Bahia anál. dados, DURSTON, John. Capital social: parte del problema, parte de la solución, su
22 salvador, v. 28, n. 1,
p.6-24, jan.-jun. 2018 papel en la persistencia y en la superación de la pobreza en América Latina
Ana Maria Ferreira Menezes, Maria de Fatima Hanaque Campos, Karina Mizuki Dias dos Santos Artigos
______. Educação não-formal e cultura política. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2005.
SILVA, Edelson Galvão da. Felicidade Interna Bruta - FIB. Curitiba: [s.n.], 2012.
URA, Karma et al. A short guide to gross national happiness index. Canada:
The Center for Bhutan Studies, 2010.
Abstract
Verifica-se que, Nunes, Mutim e Novaes (2017, p. 43) expõem que hoje não se pode falar
no contexto que não existem políticas e planos para a educação. A questão central,
capitalista, a que constitui um desafio, é a “[...] falta de efetividade de tais políticas e
política edu- planos, ou seja, como materializar as intenções, princípios, ações e me-
cacional está tas de maneira a melhorar as condições gerais dos sistemas de ensino”.
realmente
Novaes (2014, p. 53) considera que política educacional consiste em
subordinada às
“[...] um processo destinado a estabelecer um conjunto de ações que
imposições da
visam atender à diversidade de demandas da sociedade no que con-
política econô- cerne particularmente à educação”. Essas ações têm a finalidade de
mica atender às necessidades apresentadas pelas escolas, redes e sistemas
de educação, materializadas por meio da formulação e implementação
de programas oficiais.
Como recurso de política educacional, [o PNE] objetiva atender às neces- Como recur-
sidades educacionais da população, com a utilização dos meios para re- so de política
alizar o valor social da educação. Saviani (2010, p. 389) afirma que o PNE educacional,
é “[...] o instrumento que visa introduzir racionalidade na prática educa- [o PNE] objeti-
tiva como condição para superar o espontaneísmo e as improvisações, va atender às
que são o oposto da educação sistematizada e de sua organização na necessidades
forma de sistema”.
educacionais da
população
O PNE atual – Lei nº 13005, aprovada em 25 de junho de 2014, com vi-
gência até 2024 – é o segundo depois da LDBEN de 1996. O primeiro
PNE constituído em forma de lei foi o 10172/2001, aprovado no governo
Fernando Henrique Cardoso, com sérias restrições à sua execução, haja
vista o veto presidencial à estratégia de elevação de gastos públicos em
relação ao PIB aplicados em educação. Sendo assim, o plano se tornou
uma carta de intenções e não cumpriu as metas estabelecidas.
A educação tem contrárias aos avanços previstos nas metas do PNE estabelecidas de-
papel decisivo mocraticamente. O momento político é incerto e as metas estabelecidas
na construção correm um sério risco de tornarem-se letras mortas”.
de um país
mais justo, A avaliação de planos de educação passa a ser entendida não apenas
como instrumento articulado à correção dos seus rumos pelos gover-
sustentável e
nos, útil aos processos de regulação das políticas públicas, mas como
democrático
forma política voltada à prestação de contas dos governos à sociedade,
com vistas ao conhecimento de seu desempenho, resultados, impactos
e efeitos. (SOUZA, 2014, p. 142).
1
Intersetorialidade nas políticas públicas é compreendida como a integração de diversos setores
para a consecução das ações públicas. Ao mesmo tempo em que mantém as especificidades de
Bahia anál. dados,
34 salvador, v. 28, n. 1,
p.26-46, jan.-jun. 2018
cada área, vai além de cada setor, buscando a superação de práticas fragmentadas através da
articulação maior entre diversos saberes para alcançar os objetivos e resultados.
Cecilia Maria Mourão Carvalho, Avelar Luiz Bastos Mutim Artigos
(2015, p. 34), a noção da educação como “missão partilhada” pode nas- “[...] a educa-
cer daí, gerando o desenvolvimento da “[...] descentralização educati- ção não deve
va, que atribui um maior papel às coletividades locais no que se refere servir apenas
à educação”. como trampo-
lim para uma
Acerca da educação e desenvolvimento local, Dowbor (2007, p. 15) indi- pessoa escapar
ca o mesmo horizonte, afirmando que “[...] a educação não deve servir
da sua região:
apenas como trampolim para uma pessoa escapar da sua região: deve
deve dar-lhe os
dar-lhe os conhecimentos necessários para ajudar a transformá-la”. Ele
conhecimentos
complementa dizendo que
necessários
[...] a coerência sistêmica de numerosas iniciativas de uma cidade, de para ajudar a
um território, depende fortemente de uma cidadania informada. [...] transformá-la”
Assim, a democratização do conhecimento do território, das suas di-
nâmicas mais variadas, é uma condição central do desenvolvimento.
(DOWBOR, 2007, p. 17).
Figura 1
Território de Identidade Extremo Sul
Tabela 1
Dados populacionais dos municípios do Território de Identidade Extremo Sul – Bahia
Município População (em pessoas)
Alcobaça 23.376
Caravelas 22.740
Ibirapuã 8.852
Itamaraju 67.356
Itanhém 20.501
Jucuruçu 9.924
Lajedão 4.068
Medeiros Neto 23.586
Mucuri 42.072
Nova Viçosa 44.052
Prado 29.326
Teixeira de Freitas 161.690
Vereda 6.620
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2017b). Elaborada pela autora.
Tabela 2
Planos de educação dos municípios do Território de Identidade Extremo Sul – Bahia
Município Lei no Data de aprovação
REFERÊNCIAS
CERQUEIRA, Daniel et al. Atlas da violência 2017. Rio de Janeiro: IPEA, 2017.
Disponível em: <http://www.ipea.gov.br/portal/images/170609_atlas_da_
violencia_2017.pdf>. Acesso em: 18 maio 2018.
LÁZARO, André. Quem tem medo do SNE?. In: 3 ANOS de Plano Nacional
de Educação. [S.l.]: Observatório do PNE, 2017. p. 27-28.
Abstract
The present work aims to analyze the formative processes of the teacher
of High School and its contribution to the school success of the students.
It is linked to an investigation carried out in the Post-Graduation Program
in Education (PPGED/UESB) - Vitória da Conquista - Bahia. For the
methodological confrontation of the present study, we used an instrument of
information production, which we call “maieutic-provocative conversations”,
seeking as an initial basis the second part of the Socratic Method, called
Maieutic (FELIPE, 2017). In this study, it was possible to understand that the
guarantee of a formative itinerary of quality and that favors the success of the
students involves many complex and complementary aspects of the schooling
process, among them, the teacher training. We understand initial training as
a prerequisite for career entry and continuing education as a process that
occurs throughout one’s career and life. Despite being seen by many as just an
improvement stage for college entrance examination, high school education
has as its main goal the general education of the student and his preparation
for work and citizenship. We found that the theme focused on the formation
of the high school teacher presents very few academic productions, a fact that
points to an absence. This absence was also observed in the field of research
during the maieutic-provocative conversations that were established with
the teachers, since the training offered by the State has not occurred at the
expected level and that in the trajectory of teacher training has prevailed an
individual search by qualification.
Keywords: Formative processes. School success. High school.
Artigos
Processos formativos do
professor do ensino médio
e sua contribuição para o
sucesso escolar dos alunos
F R A N C I S CO F L ÁV I O A LV E S F E L I P E O PROCESSO de formação de professores
Mestre em Educação pela Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) se insere numa perspectiva que assegura
e doutorando em Educação pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro
a educação como direito, afirma a escola
(UFRJ). Docente da Universidade do pública como espaço desse direito, considera
Estado da Bahia (Uneb) – Caetité.
[email protected] o educador e o educando como sujeitos
centrais do processo pedagógico e almeja a
efetivação de uma educação de qualidade
social. Concebe-se a formação docente como
um mecanismo importante no que tange à
permanência dos estudantes na escola com
dignidade, pois eles projetam uma trajetória
escolar mais significativa quando percebem e
reconhecem que estão aprendendo e que os
seus direitos estão sendo respeitados.
Vista dessa forma, a formação continuada insere-se como uma das es-
tratégias para a valorização profissional, devendo contar com o apoio
técnico e financeiro do MEC e ser assumida pelas respectivas secretarias
de Educação e implementada pelas instituições de ensino superior.
Aprender não nifica vencer-se, superar-se, ‘ir além de si’, subir sob sua própria cabeça”
significa re- (FELDENS; BORGES; 2010, p. 2). Para que se consiga se constituir como
petir, tornar- um professor, tem-se que ir além das formações didáticas e teóricas. É
-se discípulo preciso caçar-se a si mesmo.
do outro, mas
Tome-se aqui, ao menos parcialmente, as contribuições da filosofia da
encontrar sua
diferença tal como proposta por Feldens e Borges (2010), que convida
própria forma
a privilegiar a mobilidade do que acontece no dia a dia como constan-
depois da expe-
tes aprendizes. Segundo essa visão, assim como na vida, a diferença
riência obtida e vem inquietar, instigar a misturar com o desconhecido, com o não sa-
vivenciada bido, com o não vivido ainda, para que, assim, se possa produzir algo
novo, singular, nossa diferença, “acima de nossas próprias cabeças”.
Coadunando-se com essa visão, Hardt (2006) afirma que aprender não
significa repetir, tornar-se discípulo do outro, mas encontrar sua própria
forma depois da experiência obtida e vivenciada.
Tem-se a compreensão de que um professor motivado, com uma for- Deve-se pensar
mação sólida, com condições de trabalho adequadas e envolvido em a escola como
um processo de formação contínua que lhe forneça elementos para a um ambiente
constante melhoria de sua prática, é o elemento mais importante para a educativo, no
educação de qualidade. Concordando com Aguiar (2009), deve-se pen- qual trabalhar
sar a escola como um ambiente educativo, no qual trabalhar e formar e formar não
não sejam atividades isoladas, mas articuladas e inovadoras.
sejam ativida-
des isoladas
A partir desse entendimento, a formação dos profissionais da educa-
ção, em especial a formação dos professores, tem lugar de destaque,
uma vez que em seus ombros recai parte da responsabilidade pelo su-
cesso ou fracasso escolar. Mas, infelizmente, esse destaque não vem
acompanhado do justo reconhecimento do papel que desempenham
nos processos de ensino-aprendizagem, como demonstram as precárias
condições em que se realiza a sua prática profissional em boa parte do
território nacional.
O ensino médio
os projetos educativos dos cidadãos. Segundo Costa (2011), o ensino Faz-se ne-
médio no Brasil foi implantado com o intuito de preparar as elites para o cessária uma
ensino superior. Apresentando uma natureza propedêutica e uma oferta reflexão sobre
limitada, perdurou até 1930, quando se instala no país a necessidade a formação do
de impulsionar o desenvolvimento nacional e, com ela, a escolarização professor que
atrelada à profissionalização. atua neste nível
de ensino [ensi-
Marchand (2007), ao analisar a afirmação do direito ao ensino médio na
no médio]
legislação brasileira, desde o período imperial à atualidade, afirma que,
até a elaboração da Constituição de 1988, a legislação nacional omitiu a
afirmação desse direito ou ofereceu débeis garantias para tal afirmação,
delimitando sua elitização.
O curso de li- Mas como ela também atua no ensino fundamental, tem oportunidade
cenciatura não de participar de momentos formativos bastante significativos, que, de
vai fazer o pro- alguma forma, contribuem com o seu fazer pedagógico no ensino médio.
fessor aprender
os conteúdos Em sua compreensão, o estado tem proporcionado muito pouco em
termos de formação. Existem poucas vagas em cursos de mestrado e,
curriculares
além disso, quando o docente do ensino médio consegue ser aprovado
que vai ensinar
em algum programa, enfrenta muitas dificuldades para ser liberado da
sua atividade docente, ainda que, neste momento, esteja sendo opor-
tunizado o programa de formação continuada denominado Pacto pelo
Ensino Médio.
verbal). Ela mencionou a sua participação no Progestão, que foi uma Em vez de acu-
iniciativa de formação mais voltada para a gestão escolar, e também mular o saber,
citou o Programa Gestão da Aprendizagem (Gestar), que foi concebido é mais impor-
para o docente do ensino fundamental, mas que era franqueado para tante dispor
professores do ensino médio. de uma apti-
dão geral para
Pensando na questão específica do ensino médio, a docente Louise
colocar e tratar
aponta para uma formação no início do ano letivo, que consiga unir
os problemas
teoria e prática, como forma de fortalecer a atuação docente desde o
e princípios
começo das atividades letivas. Ela defende a implementação de uma
formação que prepare o docente para a era digital, que contribua com organizadores
um trabalho voltado para as tecnologias da informação e comunicação. que permitam
Ela também advoga uma formação que auxilie o professor a fazer dife- ligar os sabe-
rente, que ensine o professor a mudar. Ela pensa num processo formati- res, dando-lhes
vo que se possa aplicar, que favoreça a intervenção, sem desconsiderar sentido
o papel, a importância do saber teórico.
A professora Rosa, por sua vez, prega uma formação que contemple
aspectos mais voltados para o campo das humanidades, ou seja, que
possibilite ao aluno aprender a se posicionar, opinar, decidir, se colocar
como sujeito. Morin (2010, p. 17) ajuda nessa reflexão:
O debate sobre De acordo com Crusoé (2009, p. 36), “[...] nesses termos, enquanto a
a interdisci- disciplinaridade se caracteriza pelo alto grau de especialização num
plinaridade determinado campo de estudo, a interdisciplinaridade propõe o dia-
não é novo, e logo fecundo entre os diversos campos do conhecimento”. Crusoé se-
a tentativa de gue dizendo que o debate sobre a interdisciplinaridade não é novo, e a
tentativa de implementá-la nas escolas de ensino fundamental e médio
implementá-la
teve início na década de 1970, através da legislação brasileira de ensino.
nas escolas de
ensino funda-
A docente Catarina, participante da pesquisa, pondera que é preciso
mental e médio compreender bem as bases de um trabalho docente interdisciplinar,
teve início na na teoria e na prática. A professora também entende que é necessá-
década de 1970 ria uma formação que contemple o ensino médio como etapa final da
educação básica, envolvendo questões curriculares, interdisciplinari-
dade, avaliação, aspectos metodológicos específicos de cada compo-
nente curricular, visto que, às vezes, sabe-se o conteúdo e não se sabe
como ensiná-lo.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 22. ed. São Paulo: Paz e
Terra, 1996a.
MELO, Savana Diniz Gomes. Continuidades e /ou rupturas nas políticas para
o ensino médio e educação profissional. In: REUNIÃO ANUAL DA ANPED, 29.,
2006, Caxambu, MG. Anais... Rio de Janeiro: ANPEd, 2006.
PINTO, Álvaro Vieira. Sete lições sobre educação de adultos. 14. ed.
São Paulo: Cortez, 2005.
Abstract
Encontra-se Outro aspecto cada vez mais presente na literatura de crescimento eco-
evidência de nômico (tratado de diferentes maneiras) é a variável institucional, como
relação positiva pode ser visto em Aron (2000). Basicamente, a ideia por trás da litera-
entre cresci- tura institucionalista relacionada à teoria do crescimento econômico é
mento econô- que “regras do jogo” que criam os incentivos corretos podem gerar mais
mico e esco- inovação e acumulação de capital físico e humano, enquanto instituições
ruins podem ocasionar desincentivo para que as pessoas empreendam e
laridade para
acumulem tanto tecnologia quanto capital físico e humano.
os municípios
mais pobres
Várias são as evidências empíricas de que o capital humano e as insti-
tuições importam para o crescimento, tanto para dados cross-country
como para dados regionais. No Brasil, muitos trabalhos têm sido cons-
truídos para testar o modelo de crescimento neoclássico para dados mu-
nicipais, sobretudo usando o capital humano como variável de controle.
São exemplos de trabalhos dessa natureza Nakabashi e Felipe (2007),
Pereira (2004), Firme e Simão (2011, 2014), Barreto e Almeida (2008),
Teixeira e Silva (2008), Santana e Barreto (2016) e, mais recentemente,
Días e outros (2017).
Para Pereira (1999, p. 34), “[...] a distinção entre capital humano e não
humano é real e analiticamente fundamental”. Enquanto os estudos
clássicos tratavam o capital de forma homogênea, a autora aponta para
a abordagem heterogênea na qual os teóricos do capital humano se Bahia anál. dados,
baseiam. Assim, o capital abrange muitas formas em sua composição,
Salvador, v. 28, n.1,
p.68-90, jan.-jun. 2018
71
Capital humano, instituições e convergência de renda nos municípios baianos:
Artigos uma abordagem de regressões quantílicas para o período de 2000 a 2010
Capital hu- que contribuem para o progresso econômico de diferentes regiões. Pe-
mano pode reira (1999, p. 40) ressalta que “[...] capital humano é o valor atual de
ser entendido investimentos passados nas habilidades das pessoas, não o valor das
como o nível de próprias pessoas”.
habilidade que
De maneira geral, capital humano pode ser entendido como o nível de
um indivíduo
habilidade que um indivíduo possui – no sentido de produzir bens ou
possui – no
serviços. Essas habilidades tendem a ser maiores quanto maior for o
sentido de pro-
nível de escolaridade; a quantidade de tempo gasta em treinamento
duzir bens ou profissional; a capacidade cognitiva; ou a exposição a boas condições
serviços de saúde. Schultz (1973) liga ao seu conceito o modelo de rendimento
em função da escolaridade elaborado pioneiramente por Mincer, a partir
da reaquisição do conceito de Adam Smith.
Para Becker (1993 apud VIANA; LIMA, 2010, p. 139), “[...] o conjunto
de capacidades produtivas que uma pessoa pode adquirir, devido à
acumulação de conhecimentos gerais ou específicos, pode ser utiliza-
do na produção de riqueza”. Assim, os rendimentos pessoais estariam
associados a quanto cada pessoa investiria em capital humano, o que
leva à existência de um trade-off que explica o aumento de produtivi-
dade, lucros, crescimento e desenvolvimento das economias em longo
prazo. Este trade-off é a causa pela qual as pessoas abandonam as
escolas, considerando-se que um indivíduo necessita de retornos finan-
ceiros, em curto prazo, para a sua sobrevivência básica. As necessidades
humanas, quando não bem atendidas, geram influência na ‘‘escolha’’
dos indivíduos, que precisam optar entre continuar a estudar ou partir
para o mercado de trabalho imediatamente. No entanto, Becker (1962
apud PEREIRA; LOPES, 2014) pressupõe que os indivíduos agem de
forma prospectiva quando investem em educação, capacitação profis-
sional, nutrição e cuidados médicos (sic) – formas de investir em capital
humano.
dorias, quando de fato o que é relevante para se determinar o cresci- Numa eco-
mento econômico são os acréscimos ao estoque de capital já existente, nomia com
ou seja, suas variações marginais; b) a adoção do pressuposto de tec- crescimento
nologia constante para determinar o índice de crescimento de uma equilibrado,
economia que está em processo de modernização; c) o conceito de o produto e a
tecnologia era restrito aos bens de capital, excluindo a terra e o homem
renda per capi-
e concentrando-se em estruturas e equipamentos, ou seja, adotavam
ta cresceriam
a ideia de mutação técnica, que é tratada como se fosse um processo
independente-
exógeno. (PEREIRA, 1999, p. 30-31).
mente da taxa
Tais fatores se tornaram obsoletos para explicar o progresso econômi- de poupança
co. Autores como Schultz (1973) requisitaram a observação marginal
da produtividade que poderia ser alavancada através de melhorias e
planejamento.
Para Solow (1956), alguns países são ricos porque têm altas taxas de
investimento em capital físico, despendem uma parcela considerável de
tempo acumulando habilidades, possuem baixas taxas de crescimen-
to populacional e altos níveis de tecnologia. Pressupõe-se, assim, que,
numa economia com crescimento equilibrado, o produto e a renda per
capita cresceriam independentemente da taxa de poupança, que só
afeta o nível da renda per capita no estado estacionário (GOMES; ES-
PERIDIÃO, 2016, p. 119).
A partir do No modelo de Solow (1956) com capital humano, o produto (Y) de uma
final da década economia é obtido por uma combinação de capital físico (K) e trabalho
de 1980, houve qualificado (H), de acordo com uma função Cobb-Douglas em retornos
uma renovação constantes , onde A representa a tecnologia aumentadora de trabalho
no interesse que cresce a uma taxa exógena (g).
sobre o capital
A partir do final da década de 1980, houve uma renovação no interesse
humano
sobre o capital humano, especialmente na tentativa de construção de
modelos de crescimento endógeno, como é o caso dos trabalhos de
Lucas Jr. (1988) e de Romer (1990).
(1)
(2)
(3)
Sendo que o tempo de meia-vida pode ser calculado usando outra apro-
ximação logarítmica:
(4)
Para tanto, foram utilizados dados da renda per capita dos municípios
para os anos 2000 e 2010, encontrados online na plataforma do Atlas do
Desenvolvimento Humano no Brasil (PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS
PARA O DESENVOLVIMENTO; FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO; INSTITU-
TO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA, 2016). Como proxy para
acumulação de capital físico, usou-se a série Capital Residencial Urbano,
disponibilizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
Para capital humano, utilizaram-se duas medidas: os anos de escolari-
dade, encontrados no Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil, e a
série Capital Humano Municipal, disponibilizada pelo IPEA. Por último, o
índice de qualidade institucional municipal (IQIM), disponibilizado pelo
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG). Todas as vari-
áveis de controle são do ano 2000, como indica o modelo da Equação 1.
Quadro 1
Indicador de qualidade institucional municipal
Variáveis %
RESULTADOS E DISCUSSÕES
(2)
Para que o modelo MQO torne-se melhor ajustado, são feitas alterações
na variável que representa o capital humano, utilizando-se a expectati-
va dos anos de escolaridade como proxy para medir o nível de capital
humano, e se acrescenta a qualidade institucional dos municípios, na
forma seguinte:
(3)
Figura 1
Distribuição espacial do nível de capital humano (anos de escolaridade) e do índice de
qualidade institucional municipal (IQIM), respectivamente da esquerda para a direita —
Municípios baianos — 2000
A educação No segundo modelo quantílico, a renda inicial tem o sinal esperado, indi-
posta como cando convergência condicional de renda para todos os quantis, e é sig-
capital huma- nificativa em todos eles, a 5%. No caso do capital físico, o sinal é positivo,
no, além de ser como esperado, para todos os quantis, e se mostra significativo, a 5%, ex-
a melhor pos- ceto no quantil mais alto. A escolaridade média tem sinal positivo quase
na totalidade de quantis, mas o quantil mais alto apresenta sinal negativo.
sibilidade de
Quanto ao nível de significância, os quatro quantis mais baixos se demons-
ascensão social,
tram significativos, a 5 %. Já no caso do IQIM, a variável tem sinal positivo
é importante
e é significativa, a 5 %, no primeiro, quarto, sexto, sétimo e oitavo quantil.
propulsora de
crescimento Nesse modelo, há evidência de que a escolaridade, embora não apareça
para os muni- significativa no agregado (modelo MQO), impacta positivamente o cres-
cípios mais po- cimento econômico nos municípios mais pobres, especialmente aqueles
bres da Bahia nos primeiros quantis. Esse resultado mostra-se aderente à noção de
que o prêmio salarial é mais alto em sociedades com baixo nível de capi-
tal humano. Em particular, isso implica um grande espaço para políticas
públicas focalizadas na educação nos municípios mais pobres do estado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Bahia anál. dados, Foram estimados modelos distintos, com MQO e com regressões quan-
84 salvador, v. 28, n. 1,
p.68-90, jan.-jun. 2018 tílicas. No primeiro modelo, com MQO, a variável de capital humano
Ingrid de Jesus Duarte, Carlos Eduardo Iwai Drumond Artigos
foi a medida de capital humano municipal desenvolvida pelo IPEA; no Para os mu-
segundo modelo, os anos médios de escolaridade. Em ambos os casos, nicípios mais
para o modelo MQO, capital humano e escolaridade, apesar do sinal pobres, o
positivo (como esperado), não foram significativos. capital huma-
no, medido
Foram refeitos os dois modelos com regressões quantílicas. No primeiro pela educação,
modelo quantílico, a renda inicial tem o sinal esperado para todos os
tem potencial
quantis e é significativa em todos eles, a 5%. O capital físico apresenta
de influenciar
sinal esperado, mas só é significativo a 5% nos três primeiros quantis. O
positivamente
capital humano, usando a variável medida pelo IPEA, não é significativo
em nenhum caso, confirmando o caso MQO robusto. A qualidade insti- o crescimento
tucional aparece significativa em seis casos, a 5%.
REFERÊNCIAS
ARON, J. Growth and institutions: a review of the evidence. The World Bank
Research Observer, [S.l.], v. 15, n. 1, p. 99-135, Feb. 2000.
APÊNDICE
APÊNDICE A
Resultado das regressões do primeiro modelo quantílico rodado, utilizando a variável
capital humano do IPEA
Quantis Coeficientes Erro Padrão Razão – t
APÊNDICE B
Resultado das regressões do segundo modelo quantílico rodado, utilizando a escolarida-
de como medida de capital humano
Quantis Coeficientes Erro Padrão Razão – t
ABSTRACT
This article aims to understand how access to information and the diffusion
of knowledge contributes to the strengthening of the Professional Education
policy of the state education system of Bahia in the perspective of regional
development. The guarantee of access to information has been the subject of
discussion in most countries and especially in Latin America, providing a strong
diffusion of knowledge and contributing to the strengthening of the process of
implementation of educational public policies. Studying these contributions
in the Professional Education policy is the object of investigation of this work.
To do so, based on a bibliographical survey, it presents the main concepts that
involve the guarantee of access to information and the diffusion of knowledge
in public spaces, and then seeks to characterize Bahian Professional
Education policy and its relationship with the territorial development, and
then, from a survey in the Ombudsman and Public Management System of
the General Ombudsman’s Office, make considerations about the possible
contributions of access to information in Bahia to strengthen the Professional
Education policy. It is hoped that the present work can, from the reflections
and inferences on the subject in question, provide educational managers with
a framework for the improvement of their practices and become constructs
for new research experiences. It is concluded that the guarantee of access
to public information contributes to the strengthening of the Professional
Education policy, contributing to the territorial development of the state.
Keywords: Access to information. Diffusion of knowledge. Professional
education. Territorial development.
Artigos
O acesso à informação e a
difusão do conhecimento no
fortalecimento da política de
educação profissional da Bahia1
J O S É F R A N C I S CO B A R R E T TO N E TO NAS ÚLTIMAS décadas, o direito de acesso à
Mestre em Políticas Públicas, Gestão
do Conhecimento e Desenvolvimento informação pública tem sido muito debatido
Regional pela Universidade do Estado
da Bahia (Uneb) e doutorando em
nos países ao redor do mundo e, na América
Difusão do Conhecimento pela Latina, tem ocupado os legisladores na elabo-
Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Assessor especial/ouvidor da Secretaria ração de leis que garantam esse direito. O as-
da Educação do Estado da Bahia.
[email protected] sunto tem sido destaque também nas agendas
ANA MARIA FERREIR A MENEZES dos organismos internacionais e da sociedade
Doutora em Administração Pública e
mestre em Economia pela Universidade civil que defendem os direitos humanos e vêm
Federal da Bahia (UFBA). Professora
plena da Universidade do Estado da
debatendo e monitorando a implementação da
Bahia (Uneb) e professora permanente
garantia desse direito. 1
do Doutorado Multi-Institucional
e Multidisciplinar em Difusão do
Conhecimento (DMMDC) da UFBA e da
Uneb. [email protected]
A obrigatoriedade de os agentes públicos pres-
tarem as informações produzidas pela gestão
pública, ou sob custódia do Estado, sobre as
políticas públicas, programas e ações de gover-
no tem favorecido uma maior difusão do co-
nhecimento. Isso proporciona um acompanha-
mento mais efetivo das ações e contribui para a
ampliação do exercício da cidadania, a partici-
pação e o controle social das políticas públicas.
Bahia anál. dados, Espera-se que este estudo possa contribuir com os gestores educa-
94 salvador, v. 28, n. 1,
p.92-109, jan.-jun. 2018 cionais no aprimoramento de suas práticas e com os demandantes da
José Francisco Barretto Neto, Ana Maria Ferreira Menezes Artigos
Nesse sentido, afirma também Pereira (2012, p. 354) que a educação Os centros
profissional deve superar dicotomias entre campos de saberes e reco- territoriais
nhecer a importância do conhecimento que contemple a pluralidade e são voltados
os processos sociais em sua complexidade. para atender as
vocações do de-
Outra característica da política de educação profissional da rede es- senvolvimento
tadual da Bahia é a integração entre o ensino médio e o profissional,
socioeconômico
articulando formação científica, sócio-histórica e tecnológica. Assim,
e ambiental dos
almeja-se a superação de um ensino voltado para o desenvolvimento
territórios de
de habilidades e competências requeridas pelo mercado na direção de
uma escola que possibilite a síntese entre teoria e prática e proporcione identidade
a valorização de saberes plurais socialmente referenciados.
Gráfico 1
Evolução da matrícula da educação profissional da rede estadual de ensino — Bahia —
2007-2018
98.392
1000
8000 75.214
69.353
66.681 67.083 67.155 67.222
57.567
6000
44.975
4000
32.452
23.078
2000 16.945
0
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Bahia anál. dados, Souza (1997, p. 15) ressalta a impropriedade de se reduzir a ideia de
100 salvador, v. 28, n. 1,
p.92-109, jan.-jun. 2018 desenvolvimento a plano econômico, crescimento e modernização. Ele
José Francisco Barretto Neto, Ana Maria Ferreira Menezes Artigos
É no território que se organizam as instituições públicas e privadas, que Bahia anál. dados,
devem estabelecer parcerias e redes para a concretização de uma nova
Salvador, v. 28, n.1,
p.92-109, jan.-jun. 2018
101
Artigos O acesso à informação e a difusão do conhecimento no fortalecimento da política de educação profissional da Bahia
Essa lei regula- Essa lei regulamenta e normatiza a transparência ativa [Lei 12.618/2012],
menta e norma- que consiste na obrigação de os órgãos e entidades públicas promo-
tiza a transpa- verem, independentemente de requerimentos, a divulgação em local
rência ativa [Lei de fácil acesso ou em sítios oficiais da rede mundial de computadores,
12.618/2012] no âmbito de suas competências, de informações de interesse coletivo
ou geral por eles produzidas ou custodiadas, sobre a implementação,
acompanhamento e resultados dos programas, projetos e ações dos
órgãos e entidades públicas, bem como metas e indicadores propostos.
Regulamenta ainda a transparência passiva, que consiste no atendimen-
to de requerimentos formais de pedidos de informações públicas.
Bahia anál. dados, Link para acesso ao Portal da Secretaria da Educação do Estado: <http://www.educacao.ba.gov.br/>.
104
2
salvador, v. 28, n. 1,
p.92-109, jan.-jun. 2018 3 Link para acesso à página da educação profissional: <http://escolas.educacao.ba.gov.br/apresentacaoep>.
José Francisco Barretto Neto, Ana Maria Ferreira Menezes Artigos
Gráfico 2
Pedidos de informação — Secretaria da Educação — Bahia — 2012-2017
2.500
2.064
2.000
1.738
1.512
1.500 1.379
1.042 991
1.000
500
0
2012 2013 2014 2015 2016 2017
Por fim, destaca-se que muito ainda precisa ser feito para a plena garan-
tia do direito de acesso à informação e difusão do conhecimento sobre
as ações de governo e as políticas educacionais, em particular, a de edu-
cação profissional. Considera-se que a formação integral do sujeito e a
sua inserção no mundo do trabalho de forma autônoma e que garanta o
desenvolvimento para a liberdade requerem que o cidadão esteja bem
informado e empoderado para a participação e o controle social. As-
sim, não é pretensão dos autores esgotar essa discussão, que continua
aberta para outras contribuições e novas interpretações que venham a
contribuir para uma melhor compreensão da temática em tela.
REFERÊNCIAS
Abstract
The present article aims to weave some aspects of Education and its effects on
organizations and collective enterprises, based on the bibliographical research
and the results of empirical researches. From the conceptual discussion about
poverty, it is intended to show how cooperative work based on the principle
of autonomy and emancipation of the individuals involved contributes to the
process of human, social, economic and cultural development of society. Taking
a reading of development beyond purely economic growth and understanding
Popular Education as a mechanism of emancipation in the strengthening of
self-managed work, this article also discusses the relevance of thinking about
work as an educational principle and the rescue of this conception in the
process of overcoming through the strengthening of popular cooperatives.
Keywords: Emancipation. Education. Poverty.
Artigos
Educação e cooperativismo:
trilhando o caminho
da autonomia através
da educação popular
LUA N DA N A I A D E O L I V E I R A DA S I LVA NÃO HÁ uma definição estática e unívoca
Mestre e graduada em Ciências Sociais
pela Universidade Federal da Bahia acerca do que é a pobreza ou sua redução
(UFBA). Professora substituta da
Universidade Estadual do Sudoeste da
à obtenção ou não de certos valores
Bahia (UESB). [email protected] econômicos. Para tanto, grande parte
TA Í S D O S S A N TO S F I G U E I R E D O
da literatura acadêmica que debate esta
Graduanda em Pedagogia
pela Universidade Estadual do questão a compreende como um problema
Sudoeste da Bahia (UESB).
[email protected] multifacetado e complexo (IVO, 2006;
MAURIEL, 2010; AZEVEDO; BURLANDY,
2010; GREEN, 2009). Dessa forma, a
discussão acerca da pobreza, seus fatores,
consequências e ressoar do tratamento ou
não desta questão são fundamentais para se
pensar o êxito, a partir da garantia dos direitos
universais, da vida humana e social em sua
integralidade, de modo que todos tenham
direito à dignidade e a viver outras dimensões
da vida social de forma satisfatória.
A maneira Dessa forma, outros grupos, que antes não se viam como partícipes de
como a pobreza uma dinâmica estrutural cujos alicerces encontram-se na forma como o
tem sido tra- Estado conduz sua política econômica, as distribuições das suas rendas
tada, tanto no e o sistema político e social subjacente, podem compreender a rele-
campo cientí- vância das suas ações como sujeitos de transformação social. Sendo
fico quanto no assim, trata-se de uma questão que deverá ser analisada não somente
em termos quantitativos, no tocante à variação dos níveis de renda,
âmbito da vida
mas em outros aspectos que impulsionam e reforçam a pobreza es-
comum, aponta
trutural existente no Brasil e os seus males. A maneira como a pobreza
para a descon-
tem sido tratada, tanto no campo científico quanto no âmbito da vida
textualização comum, aponta para a descontextualização e desistoricização, o que se
e desistori- configura um entrave para a realização de análises sobre o fenômeno
cização (MAURIEL, 2010; AZEVEDO; BURLANDY, 2010).
1 Amartya Sen, economista e Prêmio Nobel de Economia, é um autor de suma importância para
os debates teóricos acerca da pobreza. Pensando a partir da teoria da escolha social de Adam
Bahia anál. dados, Smith e teoria da justiça social de John Rawls, Amartya Sen desenvolveu, ao longo da sua traje-
112 salvador, v. 28, n. 1,
p.110-127, jan.-jun. 2018
tória acadêmica e pessoal, mecanismos para superação da pobreza e da fome. Tendo prefaciado
a obra de Ducan Green, suas ideias perpassam todo o trabalho deste autor.
Luanda Naiade Oliveira da Silva, Taís dos Santos Figueiredo Artigos
Aktinson reformulou suas bases teóricas. No texto La Pobreza, ele ex- Entender a
plicita duas vertentes de pensamento: uma que concede centralidade pobreza tão
ao acesso dos pobres a itens mínimos, pautada no consumo; e outra somente como
intitulada de conquista de direitos, focada no aspecto da cidadania. insuficiência
Desse modo, ele expressa: “Ingreso es preferido en el enfoque de de renda traz
los derechos, pero si su usa el punto de vista del nivel de vida se implicações sé-
debe ver inclinado por el consumo” (ATKINSON, 1989, p. 3). O autor
rias, pois exis-
está interessado na discussão sobre as linhas e demarcações de po-
tem países em
breza. Desta abordagem emergem os conceitos de pobreza absoluta e
que a pobreza
pobreza relativa, baseados em aspectos quantitativos que diferenciam
os “tipos” de pobreza. Em geral, o seu uso é justificado, conforme ex- é um fenômeno
plicitado por Rocha (2003 apud AZEVEDO; BURLANDY, 2010, p. 202): presente, mes-
mo que os indi-
Mesmo com todas estas implicações, dois fatores justificam a motiva- víduos tenham
ção pela abordagem de linhas de pobreza e indigência: primeiro, é que alcançado um
somente as medidas escalares permitem a ordenação de situações so- nível de renda
ciais alternativas; segundo, existe uma estreita correlação entre o nível razoável
de renda e os indicadores de bem-estar físico, uma vez que o acesso
a bens e serviços se dá no mercado através dos recursos monetários.
A cultura capitalista em geral opera no sentido oposto aos objetivos so- A cultura
lidários e sociais do cooperativismo popular. Para Quijano, como as co- capitalista em
operativas precisam produzir, um dos grandes entraves é que são sub- geral opera no
metidas ao mercado competitivo e especializado, enquanto que seus sentido oposto
princípios orbitam em direção oposta. É importante pontuar os limites aos objetivos
da ação cooperativa dentro do contexto socioeconômico globalizador solidários e
e capitalista, visto que a transformação propiciada por esse modelo de
sociais do co-
produção, organização e comercialização do trabalho impacta a vida
operativismo
dos sujeitos envolvidos. Um dos impasses do cooperativismo conside-
popular
rados pela literatura científica é a insegurança dos direitos sociais (o
trabalho cooperativo não é regido pelas mesmas leis do trabalho for-
mal, e, portanto, benefícios como abono salarial, aviso prévio e seguro
desemprego são negados), o que é observado como grande desvan-
tagem frente ao mercado, ocasionando a rotatividade dos cooperados
(as), dificuldades de organização coletiva, disciplina e organização dos
horários (LIMA, 2004; SILVA, 2007).
O estudo realizado por Silva (2007) revelou que existem as cooperativas O trabalho no
falsas, que não aplicam os princípios genuínos do cooperativismo e não cooperativis-
formam os seus associados para a cultura da autogestão, mas que, em mo popular,
tese, acentuam as hierarquias, mandos e desmandos de uns poucos e seguindo os
relegam a estes a tarefa de tocar a organização, tal como uma empresa princípios de
capitalista convencional. E existem as cooperativas que preservam e democracia,
conservam o esforço contínuo de formação de seus associados para a
gestão coletiva
autogestão, que deve estar combinada a uma cultura do associativismo,
e solidariedade,
do trabalho coletivo e democrático.
impulsiona a
Assim, a autogestão como proposta necessita estar articulada a uma
formação de
perspectiva política mobilizadora. [...] Entretanto, o crescimento de sujeitos eman-
empresas cooperativas e a construção de uma cultura de trabalho as- cipados
sociado podem constituir opção de trabalho mais satisfatória, em que
pese sua inserção num mercado competitivo, como acontece em países
europeus, por exemplo. (LIMA, 2007, p. 80).
os alicerces da trabalho capitalista não é natural, mas produzida pelos seres humanos.
Então a gente tomou curso, mas a experiência do dia a dia, né, o co-
tidiano da cooperativa, no dia a dia a gente experimenta trabalhando
com outras cooperativas, fazendo evento junto, a gente vai se capaci-
tando e vai criando alguma coisa, às vezes dá certo, entendeu? Tem que
criar alguma coisa, decidir inventar todo [...] [referindo-se aos atores
que contribuíram com processo formativo] [...] a ITCP, a Uneb deu o
curso, a gente, até desse pessoal todo que deu curso a gente e apoiou
a gente naquele tempo, a ITCP é que continua. (Cooperada A).
É outra discussão que agente trava até dentro do grupo, aqui mesmo
na Coofe, até o grupo perceber que cada um precisa voltar pra escola,
que a gente tá com um negócio, que o negócio vem desenvolvendo,
precisa que cada um tenha interesse de voltar pra escola pra melhorar
o negocio, né. A gente sempre conversa assim, ah... o empreendimento
de alimentação precisa de nutricionista, precisa de contador, precisa
de administração, precisa de advogado, precisa de psicólogo, precisa
de tudo, então até essa maturidade chegar nos empreendimentos é
difícil. (Cooperada D).
REFERÊNCIAS
ABREU, Alice Rangel de Paiva; SORJ, Bila (Org.). Trabalho a domicilio nas
sociedades contemporâneas: uma revisão da literatura recente. In: ______.
Trabalho invisível: estudos sobre trabalhadores a domicilio no Brasil. Rio de
Janeiro: Rio Fundo, 1993.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 41. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
2005.
Abstract
The present article analyzes historically the poverty, its concepts and its
relation with the emergence of the programs of minimum income and these
with the education. We present an overview of the minimum income programs,
with emphasis on the emergence of the Bolsa Família Program (PBF). With
the methodological contribution of the qualitative research and through the
content analysis, the research used as documentary sources data sources as
legislation referring to the PBF and evaluations carried out by the INEP / MEC
of the school performance of students of the Brazilian public school system
(municipal, state and federal levels) in the evaluations carried out between
2005 and 2011. From a critical perspective of the analysis of our social policies,
in particular the focused policies, among which the BPM is inserted, the
theoretical framework, associated to the sources consulted , allows us to infer
that, contrary to the social guarantees announced by the 1988 Constitution,
the linkage of education as conditionality of the PBF is part of the neoliberal
policies that have become a reality in our country in the 90s of the last century,
with strong influences in the educational area the linking of education as
preparation for work and qualification as a means of activation for the labor
market. The data collected from the INEP / MEC evaluations showed that the
school analyzed is far from reaching the minimum educational levels required
by the evaluating Body.
Keywords: Bolsa Família Program. Education. Poverty. Minimum income
programs.
Artigos
Bahia anál. dados, Os expulsos pela dissolução dos séquitos feudais e pela intermitente e
130 salvador, v. 28, n. 1,
p.128-154, jan.-jun. 2018 violenta expropriação da base fundiária, esse proletariado livre como
Luis Carlos Santos Oliveira Artigos
os pássaros não podia ser absorvido pela manufatura nascente com a O pobre, longe
mesma velocidade com que foi posto no mundo. Por outro lado, os que de ter reconhe-
foram bruscamente arrancados de seu modo costumeiro de vida não cida sua situa-
conseguiam enquadrar-se de maneira igualmente súbita na disciplina ção de vítima
da nova condição. Eles se converteram em massas de esmoleiros, assal- do processo, foi
tantes, vagabundos, em parte por predisposição e na maioria dos casos
encarado como
por força das circunstâncias. (MARX, 1996, p. 356).
parte respon-
sável por sua
Entretanto, por trás da punição dos que praticavam a “vagabundagem”,
condição
supostamente de forma voluntária, como demonstrou Marx, existia a
intenção de favorecer a manutenção do exército de mão de obra in-
dispensável à reprodução do capital, em franco movimento de consti-
tuição. A partir do século XVI, verifica-se então na Europa a formação
de exército de reserva para compor uma das características do siste-
ma produtivo que começa a ganhar corpo: a produção da pobreza em
massa, oriunda do processo de apropriação da riqueza pela burguesia
em ascensão. Como o mercado de trabalho não absorvia as grandes
levas de desempregados, e mesmo os que eram absorvidos estavam
em condições precárias, a pobreza passou a fazer parte da dinâmica so-
cial em níveis cada vez maiores. O pobre, longe de ter reconhecida sua
situação de vítima do processo, foi encarado como parte responsável
por sua condição.
A partir das políticas desenvolvidas pela lei dos pobres, a pobreza pas-
sou a figurar como objeto das primeiras tentativas de se compreender Bahia anál. dados,
suas causas e de se mensurar sua dimensão, aparecendo também nos
Salvador, v. 28, n.1,
p.128-154, jan.-jun. 2018
131
Artigos Programa Bolsa Família: limites e possibilidades no enfrentamento da pobreza e promoção do acesso à educação
promovido a
garantia de Nesse cenário, o Estado se apresenta como regulador do mercado, e,
para que possibilite à população o bem-estar, deve manter os meca-
direitos sociais,
nismos do mercado de trabalho e as relações capitalistas de produção.
não alterou
Entretanto, “[...] essa regulamentação estatal não é fruto de uma evolu-
o quadro de
ção do humanismo, mas das próprias contradições e conflitos de uma
pobreza nos pa- sociedade que produz incessantes riscos para a vida das pessoas e o
íses de capita- esgotamento da força de trabalho” (FALEIROS, 1986, p. 26).
lismo central
nem nos perifé- Longe de se constituir em um Estado voltado à classe proletária, tal
ricos regulação tem fundamento em ideais liberais progressistas visando à
manutenção do processo global de acumulação da riqueza capitalista,
fazendo frente às crises econômicas e ameaças sociais. Busca-se, dessa
forma, assegurar o lucro dos capitalistas, que, historicamente, tendem
a baixar pela forte disputa entre eles e pelo confronto do capital com o
trabalho. Entretanto, apesar das limitações de um Estado providencial
no capitalismo, as garantias advindas daí são fruto da luta entre as duas
classes em disputa a partir do processo de industrialização europeu:
burguesia e proletariado. Quanto a isso, Pereira (2006) afirma que esta
nova forma de regulação não mais se pauta na repressão e punição, mas
na cidadania. Assim, o welfare State europeu 2 , “[...] apesar de manter
a classe trabalhadora na mesma situação desigual, ofereceu proteção
social e segurança no trabalho” (PEREIRA, 2006, p. 241).
O Estado pro- prolonga até os dias de hoje, crise esta causada por desequilíbrios entre
vedor, garanti- acumulação e consumo e pela transformação do excedente produzido
dor de direitos pela economia real em capital financeiro. (PEREIRA, 2012, p. 731).
sociais, cede
lugar ao Estado As políticas sociais (e, neste movimento, as formas de conceber a po-
breza e, por assim dizer, o pobre) também passam a ser fomentadas
que deposita no
visando atender as demandas inerentes às transformações pelas quais
indivíduo a res-
vem passando o capitalismo. Assim, ao pobre é imposta a autorrespon-
ponsabilidade
sabilização por seu fracasso, o que demanda deles “[...] autossatisfaze-
pelos seus atos rem suas necessidades sociais; ou, então, a darem algo em troca pelos
auxílios públicos recebidos, como se fossem eternos devedores, e não
credores, de vultosas dívidas sociais” (PEREIRA, 2012, p. 738).
3 De acordo com Silva, Yazbek e Giovanni (2012, p. 97), em 1975, Antônio Maria da Silveira publicou
na Revista Brasileira de Economia o artigo “Redistribuição de Renda”, no qual argumentava que
a economia brasileira, conforme estruturada, não atendia às necessidades de sobrevivência de
todos, mesmo os que se encontravam inseridos no mercado de trabalho, não se verificando uma
relação adequada entre crescimento econômico e bem-estar. Defendia então que uma efetiva
Bahia anál. dados,
extinção da pobreza exigia uma intervenção governamental, apresentando uma proposta funda-
mentada no imposto de renda negativo.
Salvador, v. 28, n.1,
p.128-154, jan.-jun. 2018
139
Artigos Programa Bolsa Família: limites e possibilidades no enfrentamento da pobreza e promoção do acesso à educação
O estabele- Essa interpretação minimalista emerge mais uma vez à medida que o
cimento de PBE exige a frequência dos beneficiários à escola sem o desenvolvimen-
objetivos como to paralelo de ações que promovam alterações na própria estrutura das
o acesso à escolas. Mais ainda, difundiu-se a ideia de que aquela era uma estratégia
educação e à eficiente de combate à pobreza e de promoção da universalização da
educação.
saúde denota
a tentativa do
Embora o Bolsa Escola tenha inaugurado um processo de estratégias no
governo de cor-
combate à pobreza em âmbito nacional, não prosperou, sendo substi-
rigir distorções tuído, já nos anos iniciais do governo do presidente Luiz Inácio Lula da
historicamente Silva, pelo Programa Bolsa Família (PBF). Considerado um dos princi-
produzidas pais instrumentos dos últimos governos no combate à fome e à miséria
no país no Brasil, o PBF teve sua origem no Bolsa Escola. O Programa Bolsa
Família unificou os procedimentos de gestão e execução das ações de
transferência de renda do governo federal, especialmente as do Progra-
ma Bolsa Escola, Programa Nacional de Acesso à Alimentação, Progra-
ma Nacional de Renda Mínima Vinculada à Saúde (Bolsa Alimentação),
Programa Auxílio-Gás e Cadastramento Único do Governo Federal. Os
programas, que, até então, eram executados isoladamente foram uni-
ficados, incorporando gradativamente os beneficiários dos programas
remanescentes.
Dentre os tipos de benefícios ofertados, verifica-se que a maior parte Dentre os tipos
dos recursos é destinada às famílias com crianças e adolescentes. Em- de benefícios
bora essas famílias sejam privilegiadas, também podem ser beneficia- ofertados,
das as que, mesmo não possuindo crianças, encontrem-se em situação verifica-se que
de vulnerabilidade social. a maior parte
dos recursos
Para a concessão e manutenção do beneficio, as famílias precisam aten-
é destinada às
der algumas exigências, a exemplo do cumprimento das condicionali-
famílias com
dades concernentes à frequência escolar estabelecida no percentual
crianças e ado-
de 75% e 85%. Embora o Artigo 3º da Lei 10.836 (BRASIL, 2004b) te-
nha por exigência frequência escolar mínima de 85%, isso diz respeito
lescentes
apenas aos estudantes de 6 a 15 anos de idade, enquanto a frequência
mensal mínima de 75% é devida aos estudantes de 16 a 17 anos.
Quadro 1
Estabelecimentos de ensino, por dependência administrativa e etapa da educação
básica7 — Feira de Santana — 2012
Pré-escola Ensino fundamental Ensino médio Total
Quadro 2
Matrículas por dependência administrativa — Feira de Santana — 2012
Pré-escola Ensino fundamental Ensino médio Total
7 A nomeação das etapas da educação básica (pré-escola, ensino fundamental e ensino médio) foi
utilizada pelo autor com base na caracterização do IBGE, que é a origem dos dados coletados.
Bahia anál. dados,
Como se pode notar, essa divisão não abrange toda a educação infantil, posto que não informa
dados sobre a creche (0 a 3 anos), mas apenas para a pré-escola (4 a 5 anos).
Salvador, v. 28, n.1,
p.128-154, jan.-jun. 2018
145
Artigos Programa Bolsa Família: limites e possibilidades no enfrentamento da pobreza e promoção do acesso à educação
Tabela 1
Quantitativo de matrículas — 2006-2012
Ano Nº de alunos
2006 570
2007 630
2008 651
2009 630
2010 610
2011 640
2012 657
2013 780
Fonte: Tabela elaborada pelo autor a partir de dados coletados na unidade escolar Caminho das Letras.
Tabela 2
Número de matrículas na educação básica por dependência administrativa
Ano Total rede pública Federal Estadual Municipal Rede privada
8 Embora o marco da pesquisa limite-se ao ano de 2012, diante da existência de dados relativos
à matrícula no ano de 2013, este foi utilizado como forma de perceber o crescimento do número
de estudantes naquela unidade.
Bahia anál. dados, Considerando-se as dependências administrativas da rede federal, estadual e municipal.
146
9
salvador, v. 28, n. 1,
p.128-154, jan.-jun. 2018 10 Dados disponíveis no site do Inep <http://portal.inep.gov.br/resumos-tecnicos>.
Luis Carlos Santos Oliveira Artigos
Tabela 3
IDEB – Feira de Santana (anos finais do ensino fundamental)
IDEB observado Metas projetadas
Município 2005 2007 2009 2011 2007 2009 2011 2013 2015 2017 2019 2021
F. de Santana 2.7 2.8 2.8 3.0 2.8 2.9 3.2 3.6 3.9 4.2 4.5 4.8
Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (2018b).
A análise dos dados acima permite inferir que, entre os anos de 2005
e 2011, o desempenho da rede pública de ensino no município, embo-
ra fosse crescente, à exceção do ano de 2007, não alcançou o índice
projetado pelo MEC. Vale ressaltar que o IDEB foi criado em 2007 pelo
Ministério da Educação e varia em uma escala de 0 a 10. O índice é cal-
culado com base em dados referentes à aprovação escolar, obtidos no
Censo Escolar, e médias de desempenho nas avaliações do Inep (SAEB
e Prova Brasil), em que são avaliados conhecimentos nas área de língua
portuguesa e matemática.
Tabela 4
IDEB – Bahia (anos finais do ensino fundamental)
IDEB observado Metas projetadas
Estado 2005 2007 2009 2011 2007 2009 2011 2013 2015 2017 2019
Bahia 2.6 2.8 2.9 3.1 2.6 2.8 3.0 3.4 3.8 4.1 4.3
Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (2018b).
Tabela 5
IDEB – Brasil (anos finais do ensino fundamental)
IDEB observado Metas
2005 2007 2009 2011 2007 2009 2011 2013 2021
Total 3.5 3.8 4.0 4.1 3.5 3.7 3.9 4.4 5.5
Dependência administrativa
Pública 3.2 3.5 3.7 3.9 3.3 3.4 3.7 4.1 5.2
Estadual 3.3 3.6 3.8 3.9 3.3 3.5 3.8 4.2 5.3
Municipal 3.1 3.4 3.6 3.8 3.1 3.3 3.5 3.9 5.1
Privada 5.8 5.8 5.9 6.0 5.8 6.0 6.2 6.5 7.3
Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (2018b).
Tabela 6
IDEB - Unidade escolar Caminho das Letras (anos finais do ensino fundamental)
Metas projetadas
Escola
2005 2007 2009 2011 2007 2009 2011 2013 2015 2017 2019 2021
Unidade escolar 3.0 2.6 3.2 2.3 3.0 3.2 3.6 4.0 4.5 4.7 5.0 5.2
Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (2018b).
Entretanto, tais reuniões tratam apenas do aperfeiçoamento dos servi- Além de carac-
dores responsáveis pela coleta e envio dos dados de frequência escolar terizar-se no
dos estudantes beneficiários. seio das políti-
cas focalizadas,
As limitações da unidade escolar frente ao acompanhamento do desem- o PBF assenta-
penho dos estudantes beneficiários denotam fragilidades em termos -se na exigência
de alcance de resultados que ultrapassem a frequência escolar dos es-
de contrapar-
tudantes. Assim, a análise dos resultados em avaliações do Inep leva a
tidas nas áreas
inferir que a unidade não vem alcançando as metas projetadas, o que
de educação,
demanda a realização de estudos que problematizem os limites das
políticas públicas de cunho compensatório pautadas no cumprimento saúde e assis-
de condicionalidades, cuja garantia encontra-se asseverada no texto da tência social
Constituição federal.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
______. Censo escolar da educação básica 2011: resumo técnico. Brasília: INEP,
2012c. Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_basica/censo_
escolar/resumos_tecnicos/resumo_tecnico_censo_educacao_basica_2011.
pdf>. Acesso em: 1 out. 2013.
MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. São Paulo: Nova Cultural,
1996. Livro 1. Tomo 2.
Abstract
This article aims at making a quick exam on the influence of the Universidade
Federal Rural de Pernambuco in Garanhuns/PE-Brazil in the social development
of the teenagers in Semi-Arid Region of the State of Pernambuco. Its
relevance lies on checking whether the proposition to move the University to
the countryside has positively contributed to the social-spatial development
of the region considering its potentials once the phenomenon of school
dropout rates has been affecting college education since 1995 and is present
in the internal debates of the Academic Unit of Garanhuns (UAG). Thus, public
policies of support to education in the country were examined for the period of
2003 and 2010 when the expansion policy of college education was launched
as well as other cases of success. Works of authors such as Santos (2008),
Araújo (2014) and Pinto e Buffa (2006) were used as reference. Finally, the
data collected indicate advancements by UFRPE although it is still far from
achieving a steady contribution to regional development.
Keywords: Urban space. Regional development. Universities. Public policies.
Education.
Artigos
Estudo da influência da
Universidade Federal Rural de
Pernambuco, em Garanhuns,
no desenvolvimento social da
população jovem do agreste
meridional do estado
MARIA DO CARMO DE
ALBUQUERQUE BR AG A
ESTE TRABALHO realiza um breve estudo
Mestre em Geografia e doutora sobre a influência da Universidade Federal
em Desenvolvimento Urbano
pela Universidade Federal de Rural de Pernambuco (UFRPE), em
Pernambuco (UFPE). Professora
adjunta da Universidade Federal Garanhuns, no desenvolvimento da população
Rural de Pernambuco (UFRPE).
[email protected]
jovem da região do agreste meridional do
estado, considerando o papel exercido pela
universidade em contraponto ao que consta na
justificativa para sua inserção no
contexto regional e local.
Com base nessas colocações, este trabalho divide-se em quatro par- O sistema
tes, além da introdução e das considerações finais. A primeira oferece prevalente nas
um breve resumo sobre o ensino, no Brasil. A segunda explana sobre instituições de
as políticas públicas de apoio à educação no país. A terceira traz uma ensino superior
breve exposição sobre a Universidade Federal Rural de Pernambuco, no Brasil era o
evidenciando o caso da unidade acadêmica de Garanhuns. A quarta europeu
oferece como conclusão uma visão em termos da realidade, assim como
dos desafios para o campus avançado em Garanhuns.
Entre as edições dos PPA, outros planos foram instituídos como forma
de melhorar a educação no país. O Plano Nacional de Educação (PNE),
criado em 2001, lançou o Programa de Desenvolvimento da Educação
(PDE) para operacionalizar seus objetivos, implantando programas
como o Prouni, o FIES e o Reuni.
Quadro 1
Situação total geral dos discentes na UAG — 2015.1
Total geral – Unidade Acadêmica de Garanhuns
fev. 2015 mar. 2015 abr. 2015 maio 2015 jun. 2015 jul. 2015
Situação acadêmica Total
M F M F M F M F M F M F
Desistência 9 8 12 8 30 26 30 25 30 25 30 25 55
Desligamento 0 0 1 1 4 4 6 2 6 2 7 5 12
Formado 2 3 4 6 29 59 29 59 29 59 31 59 90
Integralizado 17 45 23 47 23 47 23 47 23 47 52 65 117
Intercâmbio 0 0 5 5 6 5 6 5 7 5 7 5 12
Matriculado 41 44 780 801 781 797 780 798 780 796 750 777 1527
Trancamento 4 1 21 23 27 29 27 29 27 31 27 31 58
Matrícula vínculo 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1
Total geral 73 101 846 891 900 967 1067 1091 1067 1091 1068 1091 2159
Fonte: Universidade Federal Rural de Pernambuco (2016).
Quadro 2
Situação total geral dos discentes na UAG — 2015.2
Total geral – Unidade Acadêmica de Garanhuns
ago. 2015 set. 2015 out. 2015 nov. 2015 dez. 2015 jan. 2016
Situação acadêmica Total
M F M F M F M F M F M F
Desistência 5 1 7 3 7 3 7 3 7 3 0 0 10
Desligamento 0 0 10 9 8 8 7 8 7 8 0 0 15
Formado 36 41 36 41 36 41 36 41 36 41 0 0 77
Intercâmbio 5 0 5 0 6 0 6 0 6 0 0 0 6
Matrícula vínculo 0 1 93 82 87 82 87 80 87 80 0 0 167
Matriculado 783 818 777 816 781 816 782 817 782 817 0 0 1599
Trancamento 25 15 33 19 36 21 36 22 36 22 0 0 58
Integralizado 9 23 9 23 9 23 9 23 9 23 0 0 32
Total geral 863 899 970 993 970 994 970 994 970 994 0 0 1964
Fonte: Universidade Federal Rural de Pernambuco (2016).
Gráfico 1
Participação dos estudantes dos cursos nos questionários aplicados pela UFRPE/CPA — 2015
Agronomia 55,56%
Zootecnia 59,21%
A parceria en- A falta de um modelo não contribui positivamente para uma gestão
tre os governos que tenha como base um plano estratégico que contemple ações inte-
deve resultar gradas. Isso implica ações sequenciais semelhantes, no dizer de Pinto
na oferta da e Buffa (2006), em “um círculo vicioso” que se inicia com processo de
infraestrutura desapropriação ou doação de área normalmente distante do centro ur-
bano, cujo valor de mercado é baixo.
necessária para
a instituição
Em Garanhuns, o processo seguiu esses passos, pois a área para im-
atender aos
plantação da unidade pertencia ao governo do estado e foi cedida, sob
seus objetivos condições específicas, por 40 anos. De fato, a área localiza-se distante
do centro urbano, ressentindo-se de comércio e serviços complemen-
tares necessários ao desenvolvimento das atividades acadêmicas. Além
disso, é carente de transporte, água, energia, restaurante universitário,
biblioteca, salas de aula, laboratórios, entre outros aspectos.
Outros dois não apenas o estágio obrigatório para os estudantes, mas também a
aspectos que absorção dos profissionais formados semestralmente na universidade.
influenciam a O curso de Bacharelado em Ciência da Computação também sofre com
condição dos a falta de empresas que aceitem alunos para estágio supervisionado
cursos dispo- obrigatório e façam contratações futuras de profissionais. Contudo,
é importante ressaltar que os demais cursos, mesmo sendo relativos à
níveis na UAG
área rural, também enfrentam problemas de empregabilidade para os
são a evasão e o
futuros profissionais. Essas questões reforçam a necessidade de se tra-
sistema curri-
balhar com o planejamento estratégico e com parcerias entre os níveis
cular adotado de poder, bem como com a iniciativa privada, com base nas potenciali-
dades locais e regionais.
tes estabelecem entre si, com o objetivo de atingir interesses comuns. Os aspectos
Os sujeitos desse acordo podem ser públicos ou privados, individuais que conso-
ou coletivos, e a finalidade principal é a realização de intervenções vol- lidam uma
tadas ao desenvolvimento econômico e/ou social de um determinado universidade
grupo ou território. na região são as
parcerias que
A dura realidade encontrada em Garanhuns indica que a UFRPE tem-
ela pode e deve
-se esforçado, mas ainda carece de maior investimento nesse setor. As
fazer com os
parcerias existentes são do tipo público, em sua maioria, em que outras
demais setores
IES realizam acordos entre si, visando facilitar a mobilidade estudantil,
o intercâmbio e a troca de conhecimentos. da sociedade [..]
verifica-se que,
Dessa forma, verifica-se que, mesmo sendo maioria, as parcerias públi- mesmo sendo
cas devem ser mais estimuladas, especialmente aquelas com o poder maioria, as par-
local, já que este tem muito a oferecer em termos de áreas estratégicas cerias públicas
para a expansão e a infraestrutura necessárias para o bom funciona- devem ser mais
mento da universidade e para a prática profissional dos alunos. Nesse estimuladas,
sentido, observa-se que, em Garanhuns, mesmo esse tipo de parceria especialmente
ainda é muito incipiente, haja vista a dificuldade dos alunos em se colo- aquelas com o
car em estágios obrigatórios, por exemplo. Expressam-se ainda como poder local
fundamentais as parcerias público-privadas (PPP), que são acordos en-
tre os setores público e privado para a realização de serviços ou obras
de interesse tanto do governo quanto da sociedade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Abstract
This research aimed to map the public education policies that was implemented
after the publication of the Diretrizes Operacionais das Escolas do Campo
(Res. Nº 01, of April 03, 2002 / CNE / MEC) in the extreme south region of
Bahia. We investigated the struggles of rural social movements for education
and the limits found in the consolidation of rural education policies. It was the
theoretical reference of the research, authors such as: Koling and Molina (2004,
1999), Frigotto (2010), Vendramini (2007) and MEC Documents (CONSELHO
NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2002, 2008) and (BRASIL, 2010). The results
indicate that the educational levels in the cities are very low (especially in the
initial grades of elementary school); pedagogical and curricular proposals have
not been changed, educational levels have not been expanded and schools
have been closed in the last decade. The right is assured, but it is necessary
that the mobilization continues for the implementation.
Keywords: Public polices. Rural education. Social movements.
Artigos
O levantamento dos dados em campo foi realizado por dois anos con-
secutivos e contou com duas bolsistas de Iniciação Científica durante
todo o período (2011-2013). Os municípios pesquisados foram os que
integram o território de identidade Extremo Sul: Alcobaça, Prado, Ita-
maraju, Teixeira de Freitas, Nova Viçosa, Mucuri, Caravelas, Ibirapuã,
Itanhém, Medeiros Neto, Lajedão, Vereda e Jucuruçu.
Tabela 1
Percentual da população que reside na zona urbana
Pop. residente na zona Pop. residente na zona Qdte. de escolas na
Município Total população
urbana rural zona rural
7 Estes dados referem-se ao ano de 2013, quando foi concluída a pesquisa. Entretanto, eles variam
Bahia anál. dados,
190 salvador, v. 28, n. 1,
p.184-199, jan.-jun. 2018
muito, visto que algumas escolas foram fechadas, e outras foram abertas, nos municípios onde
os movimentos sociais do campo fazem acampamentos e pressionam as prefeituras.
Maria Nalva Rodrigues de Araújo Bogo Artigos
Níveis de atendimento
Coordenação pedagógica
A luta dos foram construídas 18 novas escolas nos municípios pesquisados, con-
movimentos trastando com o fechamento de 163 estabelecimentos, seguindo uma
sociais deman- tendência nacional.
dou do governo
políticas de Formação dos professores do campo
formação de
Os artigos 12, 13 da Resolução nº 1 do Conselho Nacional de Educação
professores do
(2002b) asseguram a necessidade da formação de educadores para atu-
campo
ar nas escolas do campo. O Art. 67 da LDB 9394/96 orienta os sistemas
de ensino a desenvolverem políticas de formação inicial e continuada
para habilitar todos os professores leigos e promover o aperfeiçoamen-
to do docentes. A formação de professores para atuar na especificidade
da educação do campo também é reafirmada na Resolução nº 2 (CON-
SELHO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 2008) e no Decreto presidencial nº
7.352, de novembro de 2010. O Art. 5º § 2º do referido decreto assegura
que a formação de professores poderá ser feita concomitantemente à
atuação profissional, de acordo com metodologias adequadas, inclusive
a pedagogia da alternância, e sem prejuízo de outras que atendam às
especificidades da educação do campo, e por meio de atividades de
ensino, pesquisa e extensão (BRASIL, 2010).
REFERÊNCIAS
CENSO AGROPECUÁRIO BRASIL: 1995 - 1996. Rio de Janeiro: IBGE, n.1, 1998.
CENSO DEMOGRÁFICO 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. Bahia anál. dados,
Salvador, v. 28, n.1,
p.184-199, jan.-jun. 2018
197
A virtualidade da luta por educação do campo e os limites para efetivação das conquistas legais:
Artigos um estudo sobre o extremo sul da Bahia
MARX, K.; ENGELS, F. A ideologia alemã. 5. ed. São Paulo: Hucitec, 1986.
Abstract
PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS
que os currículos dos cursos têm para a comunidade acadêmica. Para Muito se tem
Gadotti (1979), os currículos dos cursos devem priorizar uma educação avançado na
multicultural. Assim, concepção de
que é preciso
[...] uma educação para a compreensão mútua, contra a exclusão por considerar que
motivos de raça, sexo, cultura ou outras formas de discriminação e, para
os fenômenos
isso, o educador deve conhecer bem o próprio meio do educando, pois
humanos e so-
somente conhecendo a realidade desses universitários é que haverá
ciais nem sem-
uma educação de qualidade. (GADOTTI, 1979, p. 72).
pre podem ser
Posto isso, aplica-se a afirmação de Hoffmann (1993, p. 69) de que é quantificados
preciso, coletivamente, “[...] considerar as relações concretas que se
travam entre os elementos da ação educativa [...]” como um processo.
Já Charlot (2000), em relação à problemática, faz ressalvas
garantias para serão nomeados pelo Governador do Estado para mandato de qua-
tro anos, permitida uma recondução. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DA
que o governo
BAHIA, 2012).
dê à universi-
dade condições
Levando em consideração o ordenamento funcional da Uneb, destaca-
adequadas para -se que o reitor tem também as seguintes funções: representar a uni-
seu funciona- versidade; convocar e presidir o conselho universitário, que é a instância
mento máxima de decisão dentro da universidade; planejar as atividades da
universidade; elaborar a proposta orçamentária; indicar e coordenar o
trabalho dos pró-reitores, bem como de secretarias e outros órgãos
auxiliares à administração da universidade.
• Gabinete do Reitor:
O Gabinete do Reitor é órgão da estrutura da Reitoria, responsá-
vel pela articulação interna e externa das ações do Reitor da Uni-
versidade, assessorando-o e executando as atribuições inerentes
ao seu regular funcionamento. (UNIVERSIDADE DO ESTADO DA
BAHIA, 2012).
• Vice-Reitoria:
A Vice-Reitoria é órgão de cogestão universitária integrante da
estrutura da Reitoria, com atribuições delegadas pelo Reitor, ob-
servadas as disposições estatutárias. Substituir o Reitor nas suas
faltas, impedimentos e vacância, na forma do Estatuto e deste
Regimento; assessorar diretamente o Reitor em todos os assun-
tos relacionados com a Administração Universitária, inclusive em
articulação com os órgãos da Administração Superior e Setorial;
e exercer competências delegadas pelo Reitor. (UNIVERSIDADE
DO ESTADO DA BAHIA, 2012).
Bahia anál. dados,
206 salvador, v. 28, n. 1,
p.200-217, jan.-jun. 2018
Odílio da Silva Santos Artigos
Irecê, Velho Chico, Chapada Diamantina, Sisal, Litoral Sul, Baixo Sul,
Extremo Sul, Médio Sudoeste da Bahia, Vale do Jiquiriçá, Sertão do
São Francisco, Bacia do Rio Grande, Bacia do Paramirim, Sertão Pro-
dutivo, Piemonte do Paraguaçu, Bacia do Jacuípe, Piemonte da Dia-
mantina, Semiárido Nordeste, Litoral Norte e Agreste Baiano, Portal
do Sertão, Vitória da Conquista, Recôncavo, Médio Rio de Contas, Ba-
cia do Rio Corrente, Itaparica (BA/PE), Piemonte Norte do Itapicuru,
Metropolitano de Salvador e Costa do Descobrimento. (PARAFÁN;
OLIVEIRA, 2013).
Quadro 1
Os campi da Uneb nos territórios de identidade — Bahia
Território de identidade Campus Cidade
I Salvador
Metropolitano de Salvador
XIX Camaçari
Litoral Norte e Agreste Baiano II Alagoinhas
Sertão do São Francisco III Juazeiro
Piemonte da Chapada IV Jacobina
Recôncavo V Santo Antônio de Jesus
VI Caetité
XII Guanambi
Sertão Produtivo
XX Brumado
Piemonte Norte do Itapicuru VII Senhor do Bonfim
Itaparica VIII Paulo Afonso
Bacia do Rio Grande IX Barreiras
Extremo Sul X Teixeira de Freitas
XI Serrinha
Sisal
XIV Conceição do Coité
Piemonte do Paraguaçu XIII Itaberaba
Baixo Sul XV Valença
XVI Irecê
Irecê
XXIV Xique-Xique
Velho Chico XVII Bom Jesus da Lapa
Costa do Descobrimento XVIII Eunápolis
Médio Rio de Contas XXI Ipiaú
Semiárido Nordeste XXII Euclides da Cunha
Chapada Diamantina XXIII Seabra
Fonte: Parafán e Oliveira (2013). Elaborado pelo próprio autor com base na Coleção Política e Gestão Cultural da
Bahia.
Figura 1
O papel da Uneb multicampi nos territórios de identidade — Bahia
Uneb enquan-
to agente é
regionalizar
a educação na
tentativa de
compreender
os processos de
sua implemen-
tação, estrutu-
ração e funcio-
namento
Piemonte Norte do Itapicuru, no Campus VII (Senhor do Bonfim), oferta Bahia anál. dados,
os cursos de Pedagogia, Ciências Biológicas e Matemática. O território
Salvador, v. 28, n.1,
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Definições dos papéis organizacionais de uma universidade pública estadual: a qualidade acadêmica
Artigos e a relevância social dos cursos de graduação da Uneb nos territórios de identidade da Bahia
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
GADOTTI, M. História das ideias pedagógicas. 8. ed. São Paulo: Ática, 1979.
(Série Educação).
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